Quem é Doutor Scudufum?

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INDEPENDENTE S/A Conheça Doutor Scudufum, fundador da “editora que funciona num quartinho no fundo de casa”, através da entrevista ao Rafael, da Bagatelas, Revista de Contos do Rio de Janeiro.

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INDEPENDENTE S/A

Conheça Doutor Scudufum, fundador da “editora que funciona num quartinho no fundo de casa”, através da entrevista ao Rafael, da Bagatelas, Revista de Contos do Rio de Janeiro.

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Scud, por que a opção pelo livro artesanal? Inicialmente optei pelo livro artesanal por falta de grana, depois, ao conhecer o mercado de livros, acho que tomei a melhor decisão.

O ideal não seria produzir livros de forma convencional? Para produzir um livro de boa qualidade as gráficas são o melhor caminho, mas para obter um custo razoável é preciso encomendar pelo menos 500, 1000 exemplares. O livro fica pronto, o custo por exemplar é razoável, mas surge, então, outro problema, ainda mais difícil de resolver: vendê-los. Você fica com um mico nas mãos (risos).

Então, não há outra alternativa senão o livro artesanal? Alguns independentes optam pelas gráficas rápidas, pois elas produzem tiragens mínimas, de 10, 100 exemplares a um custo atraente.

Por que, então, não optou pelas gráficas rápidas? Não optei por razões ideológicas e também porque gosto desse jeitão artesanal do livro produzido em casa. Gosto de botar a mão na massa (risos).

Mas o aspecto artesanal não desvaloriza o trabalho? Sinto que o aspecto artesanal dos meus livros constitui um diferencial para o leitor convencional. É algo que o agrada.

Como é o sistema que utiliza na produção de seus livros? É um sistema simples, que requer um investimento baixo: um computador, uma impressora conectada a um sistema bulk-ink, um grampeador, uma guilhotina e tintas chinesas. Isso é tudo.

Para o escritor interessado na produção artesanal, quais dicas você daria? Há duas etapas na produção que requerem muito da minha atenção: a capa e a escolha dos materiais. A capa é importante porque ninguém compra um livro sem referência mínima sobre a obra e o autor. O leitor precisa de uma referência mínima. A capa e a contra-capa são, por isso,fundamentais. Elas são decisivas para influenciar o consumidor, no entanto, a capa pode ser linda,

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mas se o livro for caro, acaba o estímulo. As pessoas resistem muito em apostar um real num livro que não conhecem, de um escritor desconhecido. E o que encarece o custo é o tipo de material utilizado em sua confecção, por isso, escolho muito bem o material que vou utilizar. Comparo as opções de papel, a qualidade dos materiais, o custo de cada item. Valorizo muito a pré-produção. Uma etapa que, às vezes, me faz postergar mais do que desejaria o lançamento de um livrinho, mas o resultado final compensa. Embora o jeitão de livro artesanal, meus livros transmitem ao leitor uma sensação de dedicação e capricho. Livro artesanal não deve ser sinônimo de livro mal feito.

Qual o preço médio de seus livros? O preço deve refletir o equilíbrio entre qualidade e número de páginas. Quando digo o preço, vendo-os com relativa facilidade. Isto torna possível investir em novos títulos.

Já pensou em colocar seus livros em alguma livraria? Tentei algumas vezes, mas não consegui. Você tenta convencer o proprietário, pede um espaço pro gerente, tem que implorar, então, acaba percebendo que o fato de ser independente significa, pra muita gente, que o seu livro é ruim. É uma visão preconceituosa.

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Preconceito? É. Você entra numa livraria e vê livros de uma penca de escritores que um dia foram independentes: Manuel Bandeira, Clarice Lispector, Glauco Mattoso, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, mas sente que o livro artesanal, independente, não é bem-vindo.

Então não compensaria optar pelas gráficas e buscar as livrarias? Olha, se o que pretende é ver o seu livro exposto na vitrine de uma livraria, o livro convencional torna a coisa mais fácil, mas é preciso vender o livro e é aí que o bicho pega.

Como assim? É que ainda que se tenha um livro convencional exposto na vitrine ou estante de uma livraria, você não tem garantia de que irá vendê-lo. Se vender o lucro é mínimo, se não vender a livraria devolve.

...a tal venda consignada? Isso mesmo. O escritor se empenha, gasta muito de seu tempo até colocar seu livrinho na estante de uma livraria e, de repente, recebe tudo de volta (risos).

Você disse que o lucro do escritor é mínimo... Sim, as livrarias ficam com 40, 60% do preço da capa e demoram a pagar, em geral, 3 meses. Isso acontece com todas as editoras e, é claro, com o independentezinho também. O modo como as livrarias atuam constituem um abuso que o público desconhece. As editoras, que arcam com todos os custos e, os escritores, devem ficar satisfeitos se, no final, ficarem, cada um, com uns 10%. Prefiro me manter independente, pois na venda direta, o lucro é todo meu e isso ajuda a investir em novos projetos.

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É difícil vender mesmo quando se consegue expor numa livraria? Sim, e por vários fatores. Poderíamos pensar muito sobre eles, mas uma das razões é que hoje há muitas editoras no Brasil. Essas editoras colocam dezenas de títulos no mercado todo o mês, por isso, as livrarias tem grande rotatividade, então, quando precisam abrir espaço na estante para algum novo título, sacrificam os que vendem pouco, entre eles, os independentes. É dureza!

Então você prefere vender pela internet? A internet é minha vitrine. Gosto de vender através da rede, pois alcanço leitores em vários estados do Brasil e brasileiros residentes em outros países. O problema é que se vende pouco através da rede. O jeito é participar de eventos, apelar para a venda direta. Alguns eventos são bacanas. Você faz contatos, divulga seu trabalho, sente a reação do público e vende bem. Outros são maçantes.

Dá pra ganhar dinheiro com livro independente? Olha, se você pensar em ganhar dinheiro vendendo livros, vai se decepcionar (risos). O escritor, como qualquer artista, quer compartilhar seu trabalho. Vender livro não dá dinheiro, a gente insiste porque quer ser lido.

E se uma editora lhe fizesse uma proposta? Aceitaria na hora – claro!, especialmente se o trabalho de distribuição, de divulgação, fosse bom. Se isso acontecesse ficaria, obviamente, muito feliz, mas enquanto não acontece (risos): - leia nossos livrinhos. Pense neles como uma opção diferente, original, para presentear amigos, em outras palavras, ajude a manter o meu trabalho vivo. Obrigado!