Questão 52 - Da Relação Dos Anjos Com Os Lugares. - Suma Teologíca - Sto. Tómas de Aquino

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Questão 52 - Da relação dos anjos com os lugares. - Suma Teologíca - Sto. Tómas de Aquino

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Sumateolgica

Tomas de Aquino

Prima pars

PRIMEIRA PARTE

Questo 52: Da relao dos anjos com os lugares.

Em seguida se trata do lugar que ocupa o anjo. E, sobre este ponto, trs artigos se discutem:

Art. 1 Se o anjo est em algum lugar.

(I Sent., dist. XXXVII, q. 3, a. 1; II, dist. VI, q. 1, a. 3; De Pot., q. 3, a. 19, ad 2; Quodl.I, q. 3, a. 1; Opusc. XV, De Angelis, cap. XVIII)

O primeiro artigo discute-se assim. Parece que o anjo no est em nenhum lugar.

1. Pois, diz Bocio:A opinio comum entre os sbios, que os seres incorpreos no esto em nenhum lugar1;e Aristteles diz quenem tudo o que existe est em algum lugar, mas s o corpo mvel2.Ora, o anjo no corpo, como se demonstrou. Logo, o anjo no est num lugar.

2. Demais. O lugar uma quantidade com posio. Logo, tudo o que est em algum lugar tem alguma situao. Ora, ter uma situao no pode convir ao anjo, cuja substncia independente da quantidade, cuja propriedade diferencial ter posio. Logo, o anjo no est em um lugar.

3. Demais. Estar em um lugar ser medido e contido por ele, como se v pelo Filsofo3. Ora, o anjo no pode ser medido nem contido pelo lugar, porque o continente mais formal que o contedo, como, p. ex, o ar do que a gua, como diz o Filsofo4. Logo, o anjo no est em um lugar.

Masem contrario o que se diz na Coleta (do Completrio):Os teus santos anjos, que habitam nessa casa, nos guardem em paz.

SOLUO. Convm ao anjo estar em um lugar, mas s equivocadamente que se diz que o anjo e o corpo esto num lugar. Pois, o corpo est em um lugar pelo ocupar, segundo o contato da quantidade dimensiva; ora, esta no existe nos anjos, mas sim a quantidade virtual. Portanto, pela aplicao da virtude anglica, de algum modo, a algum lugar, diz-se que o anjo est num lugar corpreo.

Donde claro que no se deve dizer que o anjo seja comensurado pelo lugar, ou que tenha uma situao no contnuo. Pois, tal convm ao corpo situado num lugar enquanto dotado de quantidade dimensiva. Semelhantemente, tambm no se deve dizer tal, fundando-se em que o anjo seja contido pelo lugar. Pois, a substncia incorprea, atingindo pela sua virtude a coisa corprea, contm-na sem que por essa seja contida. Assim, semelhantemente diz-se que o anjo est num lugar corpreo, no como contido, mas como contendo, de certo modo.

Donde resulta clara A RESPOSTA S OBJEES.

1. De hebd.

2. Phys., lib. IV, lect. VIII.

3. Physic., lib. IV, lect. XX.

4. Phys., lib. IV, lect. VIII.

Art. 2 Se o anjo pode estar em vrios lugares simultaneamente.

(Supra, q. 8, a. 2, ad 2; infra, q. 112, a. 1; I Sent., dist. XXXVII, q. 3, a. 2; IV dist.X, q. 1, a. 3, qa. 2; Qu. De Anima, a. 10, ad 18).

O segundo discute-se assim. Parece que o anjo pode estar em vrios lugares simultaneamente.

1. Pois, no menor a virtude do anjo que a da alma. Ora, a alma est simultaneamente em vrios lugares, por estar toda em qualquer parte do corpo, como diz Agostinho1. Logo, o anjo pode estar em vrios lugares simultaneamente.

2. Demais. O anjo est no corpo assumido; e, como tal corpo contnuo, resulta que o anjo est em qualquer parte dele. Ora, as diversas partes deste lhe determinam os diversos lugares. Logo, o anjo est simultaneamente em vrios lugares.

3. Demais. Damasceno2diz queo anjo opera onde est. Ora, s vezes ele opera simultaneamente em vrios lugares, como se v do anjo que subverteu Sodoma. Logo, o anjo pode estar em vrios lugares simultaneamente.

Masem contrariodiz Damasceno, queos anjos, estando no cu, no esto na terra3.

SOLUO. O anjo tem virtude e essncia finitas. Pelo contrario, a essncia e a virtude divina infinita e a causa universal de tudo; por isso, tal virtude atinge todos os seres em toda parte e no s em alguns lugares. Porm, a virtude do anjo, sendo finita, no atinge todos os seres, seno um ser determinado. Ora, necessrio que o ser relativo a uma virtude, o seja como ser uno. Assim, pois, como o universo dos seres se refere, como dotados de unidade, universal virtude de Deus, assim qualquer ser particular se refere, como um ser uno, virtude anglica. Por onde, o anjo, estando em um lugar pela aplicao de sua virtude a esse lugar, segue-se que no est em toda parte, nem em muitos lugares, mas em um somente.

Mas, neste ponto, alguns se enganaram. Assim, certos, no podendo furtar-se imaginao, conceberam a indivisibilidade anglica como a do ponto; e por isso acreditaram que o anjo no pode estar seno num lugar como o do ponto. Porm manifestamente se enganaram. Pois o ponto um indivisvel que tem uma situao, ao passo que o anjo um indivisvel existente fora do gnero da quantidade e da situao. Por onde, no necessrio se lhe determine um lugar indivisvel pela situao, mas sim divisvel ou indivisvel, maior ou menor segundo aplique voluntariamente e mais ou menos a sua virtude a um corpo. E assim a todo corpo ao qual ele se aplicar, pela sua virtude, corresponder-lhe- um lugar.

Nem contudo necessrio, se algum anjo move o cu, que esteja em toda parte. Primeiro, porque a sua virtude no se aplica seno ao que primariamente move. Ora, uma a parte do cu na qual primariamente est o movimento, a saber, a do oriente. Por isso, o Filsofo4atribui parte do oriente a virtude de motor dos cus. Segundo, porque no ensinam os filsofos que uma substncia separada mova todos os orbes imediatamente. E, por isso, no necessrio esteja ela em toda parte.

Por onde claro que estar em um lugar convm diversamente ao corpo, ao anjo e a Deus. Pois, o corpo est em um lugar circunscritivamente, porque medido pelo lugar. O anjo, porm, no circunscritivamente, por no ser medido pelo lugar, mas definitivamente, pois se est em um lugar que no est noutro. Deus, enfim, nem circunscritiva nem definitivamente, pois est em toda parte.

E daqui se deduz facilmenteaRESPOSTA S OBJEES; pois, tudo aquilo ao que se aplica a ao do anjo, imediatamente, se lhe reputa por lugar, embora seja este contnuo.

1. De trinit., VI, cap. VI.

2. Orthod. Fid., I, cap. XIII.

3. Orthod. Fid., II, cap. III.

4. Physic., VIII, lect. XXIII.

Art. 3 Se vrios anjos podem estar simultaneamente no mesmo lugar.

(I Sent., dist. XXXVII, q. 3, a. 3; De Pot., q. 3, a. 7, ad 11; a. 19, ad 1; Quodl.I, q. 3, a. 1, ad 2)

O terceiro discute-se assim. Parece que vrios anjos podem estar simultaneamente no mesmo lugar.

1. Pois, vrios corpos no podem estar simultaneamente no mesmo lugar pelo encherem. Ora, os anjos no o enchem, porque s o corpo enche o lugar de modo a no haver vcuo, como se v pelo Filsofo1. Logo, vrios anjos podem estar no mesmo lugar.

2. Demais. O anjo e o corpo diferem entre si mais do que dois anjos. Ora, o anjo e o corpo podem estar simultaneamente no mesmo lugar, por no haver nenhum lugar que no esteja cheio pelo corpo sensvel, como o prova Aristteles2. Logo, com maioria de razo, dois anjos podem estar no mesmo lugar.

3. Demais. A alma est em qualquer parte do corpo, segundo Agostinho3. Ora, os demnios, embora no se intrometam na mente, intrometem-se, contudo, por vezes, nos corpos; e assim a alma e o demnio esto no mesmo lugar. Logo, por semelhante razo, o mesmo se d com quaisquer outras substncias espirituais.

Masem contrario. Duas almas no podem estar num mesmo corpo. Logo, pela mesma razo, nem dois anjos podero estar no mesmo lugar.

SOLUO. Dois anjos no podem estar simultaneamente no mesmo lugar. E a razo por ser impossvel duas causalidades completas procederem imediatamente de um mesmo agente. O que se evidencia em todo gnero de causas, pois, uma a forma prxima de uma coisa e um o motor prximo, embora possam existir vrios motores remotos. Nem vale a instncia apoiada no fato de vrios puxarem um navio; porque, como a fora de cada um, por si, insuficiente para mov-lo, nenhum deles o motor perfeito, mas todos, simultaneamente, exercem a funo de um s motor, enquanto todas as foras se agregam para produzirem um si movimento. Por onde, entendendo-se que o anjo est num lugar porque sua virtude imediatamente ocupa um lugar ao modo de um continente perfeito, como j se disse4, em um mesmo lugar no pode estar seno um s anjo.

DONDE A RESPOSTA PRIMEIRA OBJEO. No o implemento o que impede estejam vrios anjos no mesmo lugar; mas outra causa, como j se disse.

RESPOSTA SEGUNDA. O anjo e o corpo no esto do mesmo modo num lugar. Por isso a objeo no colhe.

RESPOSTA TERCEIRA. Tambm o demnio e a alma no se comparam com o corpo segundo a mesma relao causal; pois, a alma a forma do corpo, no, porm, o demnio. Por onde, a objeo no colhe.

1. Physic., IV, lect. XI, X.

2. Physic., IV, ibid.

3. De Trinit., VI, cap. VI.

4. Q. 52, a. 1.