Rastros de luz 07

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Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida Jovem: Ao encontro de Jesus! de L uz um olhar na história rastros 2017 nº 7 julho Despretensioso convite para o retorno às coisas simples, belas e profundas do Evangelho. o ministério divino

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Eu sou o Caminho, a Verdade e a VidaJovem: Ao encontro de Jesus!

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julho

Despretensioso convite para o retorno às coisas simples, belas e profundas do Evangelho.

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Eu, no entanto, não dependo do testemunho de um homem; mas falo isso, para que sejais salvos. Ele era a lâmpada que arde e ilumina e vós quisestes vos alegrar, por um momento, com sua luz. Eu, porém, tenho um testemunho maior que o de João: as obras que o Pai me encarregou de consumar. Tais obras, eu as faço e elas dão testemunho de que o Pai me enviou.

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rJoão, 5: 19-47

Retomando a palavra, Jesus lhes disse:

“Em verdade, em verdade, vos digo: o Filho, por si mesmo, nada pode fazer, mas só aquilo que vê o Pai fazer; tudo o que este faz o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que faz; e lhe mostrará obras maiores do que essas para que vos admireis.

Como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho dá a vida a quem quer.

Porque o Pai a ninguém julga, mas confiou ao Filho todo julgamento, a fim de que todos honrem o Filho, como honram o Pai.

Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.

Em verdade, em verdade, vos digo: quem escuta a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não vem a julgamento, mas passou da morte à vida. Em verdade, em verdade, vos digo: vem a hora — e é agora — em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que o ouvirem, viverão. Assim como o Pai tem a

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Existe em Jerusalém, junto à Porta das Ovelhas, uma piscina que, em hebraico, se chama Betesda, com cinco pórticos.

Sob esses pórticos, deitados pelo chão, numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos ficavam esperando o borbulhar da água. Porque o Anjo do Senhor descia, de vez em quando, à piscina e agitava a água; o primeiro, então, que aí entrasse, depois que a água fora agitada, ficava curado, qualquer que fosse a doença.

Encontrava-se aí um homem, doente havia trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado e sabendo que já estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: “Queres ficar curado?”

Respondeu-lhe o enfermo: “Senhor, não tenho quem me jogue na piscina, quando a água é agitada; ao chegar, outro já desceu antes de mim”.

Disse-lhe Jesus: “Levanta-te, toma o teu leito e anda!”

Imediatamente o homem ficou curado. Tomou o seu leito e se pôs a andar.

Ora, esse dia era um sábado. Os judeus, por isso, disseram ao homem curado: “É sábado e não te é permitido carregar teu leito”.

Ele respondeu: “Aquele que me curou, disse: ‘Toma o teu leito e anda!’ “ Eles perguntaram: “Quem foi o homem que te disse: ‘Toma o teu leito e anda’?”

Mas o homem curado não sabia quem fora. Jesus havia desaparecido, pois havia uma multidão naquele lugar.

Depois disso, Jesus o encontrou no Templo e lhe disse: “Eis que estás curado; não peques mais, para que não te suceda algo ainda pior!”

O homem saiu e informou aos judeus que fora Jesus quem o tinha curado.

Por isso os judeus perseguiam Jesus: porque fazia tais coisas no sábado.

Questionado a respeito, Jesus lhes respondeu: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (João, 5:17).

E, em face dessa postura humilde, sincera, firme e taxativa, os judeus mais procuravam matá-lo,

vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo e lhe deu o poder de exercer o julgamento, porque é Filho do Homem.

Não vos admireis com isto: vem a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão; os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento.

Por mim mesmo, nada posso fazer: eu julgo segundo o que ouço, e meu julgamento é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

Se eu der testemunho de mim mesmo, meu testemunho não será verdadeiro; um outro é que dá testemunho de mim, e sei que é verdadeiro o testemunho que presta de mim.

Vós enviastes emissários a João e ele deu testemunho da verdade.

Eu, no entanto, não dependo do testemunho de um homem; mas falo isso, para que sejais salvos.

Ele era a lâmpada que arde e ilumina e vós quisestes vos alegrar, por um momento, com sua luz.

Eu, porém, tenho um testemunho maior que o de João: as obras que o Pai me encarregou de consumar. Tais obras, eu as faço e elas dão testemunho de que o Pai me enviou.

Também o Pai que me enviou dá testemunho de mim. Jamais ouvistes a sua voz, nem contemplastes a sua face, e sua palavra não permanece em vós, porque não credes naquele que ele enviou.

Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a vida.

Não recebo a glória que vem dos homens. Mas eu vos conheço: não tendes em vós o amor de Deus.

Vim em nome de meu Pai, mas não me acolheis; se alguém viesse em seu próprio nome, vós o acolheríeis.

Como podereis crer, vós que recebeis glória uns dos outros, mas não procurais a glória que vem do Deus único? Não penseis que vos acusarei diante do Pai; Moisés é o vosso acusador, ele, em quem pusestes a vossa esperança. Se crêsseis em Moisés, haveríeis de crer em mim, porque foi a meu respeito que ele escreveu. Mas se não credes em seus escritos, como crereis em minhas palavras?”

*

Por ocasião de uma festa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém.

Betesda

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porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai.

*

O Sábado em hebraico diz-se sabbat (Shabat), que quer dizer “descanso”. Este constitui um dos elementos fundamentais da tradição judaica. O Sábado é o sétimo dia, que é o dia de descanso.

Este dia recorda dois grandes momentos da história do povo judaico, são eles: o descanso de Jahvé depois de terminar a sua obra da salvação (Êx 20, 8-11; cf. Gén 2, 2) e a libertação do povo de Israel da escravidão do Egipto (Dt 5, 12-15).

De acordo com a tradição judaica, a ordem de um dia de descanso foi dada por Deus e institui um dos mandamentos do Decálogo.

Por isso, o Sábado, para alguns, constitui o mandamento mais característico do judaísmo em que se refere unicamente a Deus e ao povo de Israel, atendendo o que se diz no livro do Êxodo: “Portanto, os filhos de Israel guardarão o sábado, através de todas as suas gerações, como uma aliança perpétua. Entre mim e os filhos de Israel é um sinal externo de que o Senhor fez os céus e a Terra em seis dias, e que no sétimo dia terminou a obra e descansou” (Êx

31, 16-17).

Jahvé falou aos filhos de Israel por meio de Moisés para que estes guardassem o sábado, porque este é o sinal perpétuo estabelecido entre Deus e o seu Povo, de geração em geração. E, por isso, o sábado para esse povo é uma coisa santa (cf. Êx 31, 12-14).

O Sábado é o ponto culminante do ciclo semanal. A caminhada diária atinge o seu auge no sétimo dia. Este dia como que coroa a semana judaica. Na tradição judaica o dia começa com o pôr-do-sol e termina, igualmente, com o pôr-do-sol do dia seguinte. Assim, o sábado inicia-se na véspera, ou seja, ao pôr-do-sol da sexta-feira e termina ao anoitecer do sábado.

Durante este período de tempo nota-se o ambiente festivo e litúrgico nas casas e nas sinagogas, além do descanso exigido nesse dia. Há gestos e atos litúrgicos próprios para sua

celebração.

O mais notável da noção do Sábado, dia de descanso e dia santo, como dá a entender, verifica-se na abstenção de todo o tipo de atividade e de trabalho. Existem determinadas leis a observar neste dia. A ausência da ação laboral, no fundo, tem como objetivo a santificação deste dia santo, ou seja, a evitar a sua profanação, descansando como Deus descansou ao sétimo dia.

Há seis dias para trabalhar e o sétimo é oferecido exclusivamente ao Senhor. O Sábado é, por assim dizer, o dia de descanso total das atividades não litúrgicas. Os Fariseus, isto é, o grupo judaico responsável pela observância da Lei, levavam a sério a prática do Sábado, até ao último pormenor.

Jesus desafia a dureza da visão sabática dos escribas e fariseus (Mt 12,

12; Mc 3, 2-5; Lc 13, 10-16; 14, 1-6; Jo 5, 8ss; 9, 14). Ele próprio proclama-se Senhor do sábado, apresentando uma visão renovada e transformada do mesmo e colocando-o ao serviço da pessoa humana em vez da mera observância da lei.

O cristianismo desde a sua origem tem imitado a prática do descanso sabático dos judeus, mas passando-o

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para o Domingo: o primeiro dia da semana, o dia do Senhor, isto é, o dia da ressurreição de Jesus. Deste modo, os cristãos desejam diferenciar-se da sinagoga, seguindo a tal visão de Jesus acerca do Sábado, e assinalar o Domingo como dia santo e, de certa maneira, o seu dia de descanso.

Afirmou Jesus: O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado; de modo que o Filho do Homem é senhor até do sábado. (Marcos, 2, 27-28)

*

O questionamento não estava no fato de ser o sábado um dia descanso, mas do rigor estabelecido para sua observância.

Ainda sobre o sábado, leiamos abaixo mais esta passagem da Boa Nova (Marcos, 3: 1-6), que nos faz melhor entender o posicionamento de Jesus, se contrapondo aos rigores do sábado: Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho. Ou seja, o Senhor da Vida não parou em nenhum momento de trabalhar, menos ainda no sétimo dia. E ele, por conseguinte, também não o faria, pois Ele e todos nós devemos ser senhores de nossos dias, dando-lhe a devida utilidade:

E Jesus entrou de novo na sinagoga, e estava ali um homem com uma das mãos atrofiada. E o observavam para ver se o curaria no sábado, para o acusarem.

Ele disse ao homem da mão atrofiada: “Levanta-te e vem aqui para o meio”.

E perguntou-lhes: “É permitido, no sábado, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou matar?”

Eles, porém, se calavam.

Repassando estão sobre eles um olhar de indignação. E entristecido pela dureza do coração deles, disse ao homem: “Estende a mão”.

Ele a estendeu, e sua mão estava curada.

Ao se retirarem, os fariseus com os herodianos imediatamente conspiraram contra ele sobre como o destruiriam.

Não se tratava da luta entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância.

Apesar de tantos séculos que se passaram, aquelas agressivas demonstrações de preconceito e fanatismo - próprio de quem ainda guarda a cegueira espiritual, a surdez para os ensinos libertadores dos limites acanhados da brutalidade, a mudez para palavras de tolerância, a clareza mental do entendimento do valor imorredoura da fraternidade, a limpidez do sentimento da solidariedade, a grandeza da compreensão que todos somos irmãos e merecemos, no mínimo, respeito e consideração -, ainda são encontradas entre nós, em pleno século 21.

São preconceitos de raça, de credo, de posição social, de opções sexuais, de partidarismos político.

Preconceitos dogmáticos fazem vítimas, em todos os tempos, e os herdeiros do Cristianismo não faltaram nesse concerto de incompreensão.

Ainda hoje os processos sectários, embora menos rigorosos nas manifestações, continuam ferindo corações e menosprezando sentimentos.

Noutra época, os discípulos procedentes do Judaísmo provocavam violentos atritos, em face das tradições referentes à comida impura; agora, não temos o problema das carnes sacrificadas no Templo; entretanto, novos formalismos religiosos substituíram os velhos motivos de polêmica e discordância.

Há sacerdotes que só se sentem missionários em celebrando os ofícios

que lhes competem e crentes que não entendem a meditação e o serviço espiritualizante senão em horas domingueiras, com a prece em exclusiva atitude corporal.

O discípulo que já conseguiu sobrepor-se a semelhantes barreiras deve cooperar em silêncio para estender os benefícios de sua vitória.

Constituiria absurdo transpor o obstáculo e continuar, deliberadamente, nas demonstrações puramente convencionalistas, mas seria também ausência de caridade atirar impropérios aos pobres irmãos que ainda se encontram em angustiosos conflitos mentais por encontrarem a si mesmo, dentro da ideia augusta de Deus.

Quando reparares algum amigo, prisioneiro dessas ilusões, recorda que o Mestre foi igualmente à cruz por causa dele. Situa a bondade à frente da análise e a tua observação será construtiva e santificante. Toda vez que houver compreensão no cântaro de tua alma, encontrarás infinitos recursos para auxiliar, amar e servir.

*

Jesus, Mestre por excelência, aproveitando-se da oportunidade, expôs sua missão na Terra e o seu vínculo de Filho para com o Pai, a fim de atender os preceitos do Senhor Onipotente, anunciando a Boa Nova, conforme anotamos no início deste capítulo.

E confirmava não apenas com palavras, mas com feitos, com os ditos milagres.

Eu, porém, tenho um testemunho maior que o de João: as obras que o Pai me encarregou de consumar. Tais obras, eu as faço e elas dão testemunho de que o Pai me enviou. Também o Pai que me enviou dá testemunho de mim.

Em nenhum momento de sua jornada de luz entre nós, Jesus deixou de se

posicionar como Filho sob a orientação do Pai, não só fazendo distinção entre Deus Pai e Ele, o Filho Dileto, como demonstrando estar agindo em plena consonância e interação com o Senhor da Vida.

E ainda, afirmou ser o Caminho, a Verdade e a Vida, e que ninguém chegará ao Pai, a não ser por Ele, não a pessoa, mas a sua missão sublime e as Leis Divinas que veio nos ensinar e convocar a seguir fielmente.

Mas não se impôs, deixando-nos liberdade de escolha: quem quiser vir após mim, tome de sua cruz e siga-me.

Registrou, no entanto, ser a Luz do Mundo, e o Mestre por excelência.

Sim, o Senhor apareceu, voltou para que nunca mais nos sintamos a sós.

A sinfonia da esperança cantava no ar a balada dos júbilos sem-fim.

A Era Nova se estabelecia, fundando os seus alicerces na Ressurreição de Jesus, sem cuja base tudo se reduziria a mitos injustificáveis.

*

Amélia Rodrigues comenta assim sobre essa passagem bíblica:

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Jerusalém, a tradicional cidade dos profetas, era também o núcleo acadêmico das dissensões e da presunção.

Capital orgulhosa de Israel, ali se disputavam os ouropéis e vaidades humanas, ao ônus de intrigas, de bajulação, do vil comércio da corrupção moral.

O Templo soberbo no monte Moriá deslumbrava pela imponência. Desde que reerguido e embelezado por Salomão, tornara-se o símbolo da raça vencida, mas não submissa, e do poder do pensamento monoteísta no imenso oceano politeísta.

As festas religiosas celebradas tinham também um caráter civil, nacionalista, e vice-versa, graças às quais os judeus demonstravam aos romanos o seu desdém por César, pelos seus deuses e por eles todos.

Com habilidade, às vezes mal disfarçada, exteriorizavam o desprezo que nutriam pelo estrangeiro dominador e pelas suas tradições.

Portadores de fina ironia, fariseus e saduceus anatematizavam o jugo político e seus chefetes, beneficiando-se das migalhas que disputavam com exacerbada cupidez e sob veladas ameaças punitivas, quando não deles mesmos, de Deus, para quem transferiam os seus anelos de vingança rancorosa.

A festa de Pentecostes atraíra as gentes de todas as tetrarquias e de outras terras.

As evocações do passado eram

predominantemente afirmações da eleição especial de que gozavam por parte da Divindade.

Estavam no ar os salmos, as hosanas, as fanfarras, os sons melódicos dos instrumentos de prata e a mixórdia de cores, de vozes, de animais e pessoas pelos átrios, nos seus arredores, dentro do Templo.

Exibiam-se os poderosos, mendigavam os desprovidos de recursos, discutiam os aventureiros, negociavam os ambiciosos, tramavam os perversos.

A Torre Antônia, esguia e poderosa, velava próxima, com os olhos romanos direcionados, provocativamente, para as suas áreas.

Os ódios espumavam entre dentes rilhados, e as suspeitas se alimentavam de ignóbeis ardis.

Respiravam-se, na cidade, glória e miséria, poder e carência, beleza e vilania moral.

Fora dos muros, o Jardim das Oliveiras espreguiçava-se monte acima, assinalado pelo verde-musgo das árvores venerandas, sobranceiras, generosas...

Ir a Jerusalém era sempre uma ambição máxima de todo israelita que vivesse em outras

O Libertador(Dias venturosos. Amélia Rodrigues, cap. 10. Divaldo Franco)

terras.

Sacrificar aves e animais em sinal de arrependimento dos erros, de reparação de crimes ou de gratidão a Deus, representava honra disputada com veemência.

Jerusalém era-lhe o pináculo da glória, e o Templo, a felicidade total...

*

Naquela cidade, deveria o Mestre desvelar-se.

Os intelectos, vazios de luz e atulhados de textos confusos, sutilmente utilizados a benefício próprio, compraziam-se nas intérminas

A região do Monte do Templo

O Monte do Templo, situado em Jerusalém, é um dos menores montes da região, com 743 metros acima do nível do mar. Ele faz divisa ao oriente com o Portal Dourado (foto) – segundo a tradição cristã, através dele Jesus entrou em Jerusalém, e, na tradição judaica, é por onde entrará o Messias, pois os judeus não creem que Jesus o seja.Jerusalém é uma cidade montanhosa e, entre todas as montanhas, o Monte Moriá é o mais próximo à Cidade Velha de Jerusalém, fazendo divisa a oeste com o Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado do mundo para os judeus por ser o que restou do Segundo Templo.O Monte do Templo, um dos vários nomes do local, possui importante sentido sagrado para cristãos, mu-çulmanos e judeus, a despeito das discórdias entre as tradições. Os judeus acreditam que ali deve ser reergui-do o grande templo, nos tempos de seu messias, que ain-da não veio. Sua tradição proíbe o acesso à área, pois o local é sagrado para eles e poderiam, sem querer, violar a área em que antigamente se situava o Santo dos Santos, área do templo em que só o sumo sacerdote poderia pi-sar para falar diretamente com Deus. Como não se sabe exatamente onde a estrutura interna do templo ficava, proíbe-se a área em geral.Várias mesquitas foram construídas ao redor do cume do monte, em volta da grande cúpula forrada de ouro que pode ser vista a quilômetros de distância, dominan-do a paisagem da atual Jerusalém.

Templo de Salomão

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discussões de insignificâncias da Lei, da Torah, das vacuidades a que davam magnitude.

Essas pessoas eram profissionais da retórica inútil e dourada, as fomentadoras das perturbações sociais e político-religiosas.

Fariseus, que se celebrizaram pela pusilanimidade, ostentavam vestes brancas, alvinitentes, que lhes não abafavam o odor de cadáveres vivos...

Saduceus presunçosos desfilavam aparência pudica, arremetendo contra tudo, na sua atormentada incredulidade.

Nutriam-se de acusações permanentes e engalfinhavam-se em debates vigorosos, anelando pelo apedrejamento dos seus opositores.

Ninho de serpentes perigosas aguardava o Cordeiro; matadouro infecto esperava a vítima...

Jesus o sabia; mas não se impressionava com eles nem os temia com as suas

exprobações e aparências mentirosas.

Mais de uma vez os enfrentara e desarmara. Silenciara-os, levando-os à incontida fúria.

Por isso mesmo, deveriam matá-lO. Urdiam planos; seguiam-nO; vigiavam-nO; interrompiam-nO, esperando surpreendê-lO.

Multiplicavam-se, aparecendo em todo lugar, erva má que eram e não necessitava ser plantada, medrando em abundância...

O Mestre ergueu-se diante deles e do povo, dizendo, intemerato:

– Não pode o Filho fazer nada por si mesmo se não vir o Pai fazê-lo, pois tudo quanto o Pai faz, também o Filho o faz igualmente. Porque o Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo quanto faz; mostrar-lhe-á obras maiores do que estas, de modo que ficareis admirados... (João: 5: 19 a

47)

Um grito rouquenho interrompeu-o:

– Quem pensas que és? – Estrugiu em ruidosa, histérica gargalhada.

Sem oferecer-lhe importância, Ele deAntu curso à revelação em paz:

– Assim como o Pai ressuscita mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida àquele que quer. O Pai não julga ninguém, mas entregou ao Filho o poder de tudo julgar, para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai, que O enviou. Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e acredita naquele que me enviou tem a vida eterna e não incorre em condenação, mas passou da morte para a vida.

Erguendo os punhos fechados e agitando-se, velho barbudo, fariseu confesso, descarregou o ódio:

– Blasfêmia! Ele blasfemou. Diz-se

igual a Deus e até maior do que Deus. Morte ao traidor!

Murmúrios, imprecações, empurrões toldaram a paz do ambiente.

Jesus ainda não havia terminado e, com a voz inalterada, insistiu:

– Digo-vos que a hora vem, e é já, em que os mortos hão de ouvir a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem, viverão. Assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim também concedeu ao Filho o ter a vida em si mesmo, e deu-lhe o poder de julgar, por ser Filho do Homem.

Ali estavam muitos cadáveres que respiravam. Eram mortos para a verdade e estavam ouvindo-a sem a entender, quando poderiam incorporá-la e viver.

Mas havia outros mortos, para os quais o Mestre falaria...

– Não vos admireis com isso – acentuou, vigoroso – porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a sua voz; os que tiverem praticado boas obras sairão, ressuscitando para a vida, e os que tiverem praticado o mal, hão de ressuscitar para a condenação. Eu nada posso fazer por mim mesmo; conforme ouço é que julgo e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.

Novo alarido e interrupção.

– Levemo-lo ao poste das lapidações – Berrou truculento esbirro do Sumo Sacerdote – É passível o seu crime de morte sem julgamento.

O julgamento está impresso na consciência de cada ser. Mesmo os mortos, ao despertarem na vida, não fugirão do Estatuto Divino que carregam em si mesmos. A sua defesa são as boas obras, e a sua condenação, as más.

Jesus nada pode fazer, porquanto,

Torre Antônia

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cada qual é o seu próprio juiz, seu acusador, seu defensor.

A palavra viril, irretocável, prosseguiu explicando:

– Se eu desse testemunho de mim mesmo, o meu testemunho não seria considerado verdadeiro. Outro é o que dá testemunho de mim, e eu sei que o testemunho que Ele dá de mim é verdadeiro. Vós mandastes emissários a João, e ele deu testemunho da verdade. Não é de um homem que eu recebo testemunho, mas digo-vos isto para que vos salveis; João era uma lâmpada que ardia e brilhava, e vós, por um momento quisestes regozijar-vos com a sua luz. Mas eu tenho um testemunho maior do que o de João, pois as obras que o Pai me deu para consumar, essas mesmas obras que faço, atestam a meu respeito, que o Pai me enviou. E o Pai, que me enviou, deu, Ele mesmo, testemunho de mim.

Nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face, e a sua palavra não habita em vós, porque não acreditais no que Ele enviou. Esquadrinhais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna; são elas que dão testemunho de mim, e não quereis vir a mim para terdes a vida. Não é dos homens que recebo a glória, mas conheço-vos e sei que o amor em Deus não existe em vós.

Aquelas palavras penetraram os hipócritas como afiados punhais. Deus não lhes habitava a alma.

Elogiavam-se reciprocamente e repartiam homenagens inúteis entre eles.

Coroavam-se de folhas de louro mortas e de metais cinzelados também sem vida.

Adornavam-se uns aos outros, porque não acreditavam realmente na vida eterna.

Tanto haviam mentido a respeito da imortalidade, da justiça de Deus, do seu amor, que ficaram áridos, sem fé, sem Deus...

O silêncio fez-se sepulcral.

Ele, então, agigantando-se mais, concluiu:

– Vim em nome de meu Pai, e não me recebeis, mas se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis. Como podeis acreditar, vós que tirais a glória uns dos outros e não buscais a glória que vem de Deus? Não penseis que eu vou acusar-vos ao Pai; outro vos acusará... Moisés, em quem depositastes a

vossa esperança. Se acreditásseis em Moisés acreditaríeis em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Mas se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?

Calou-se. Havia estupor nas faces macilentas, sorrisos nos rostos sofridos, alegrias nos puros de coração, esperanças nos deserdados do mundo, que gritaram:

– Aleluia! Exultemos e ouçamo-lO, a Ele que conhece a verdade.

De fato, Jesus não acusa jamais. Ele é todo amor. Porém Moisés, a Lei que todos conhecem, apontará no tribunal da consciência quem é justo e quem é criminoso...

Jerusalém era a capital de Israel.

Jesus é a Luz do Mundo.

Libertador!

Amélia Rodrigues

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19

a

A seguir, enviou-os a diferentes partes para que pudessem preparar os alicerces do reino que viria a ser implantado nos corações.

dos dozemissão

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20 21RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

mMateus, 10: 1-42; Marcos, 6:

7-13; Lucas, 9: 1-6

Missão dos Doze —

Chamou os doze discípulos” e deu-lhes autoridade de expulsar os espíritos imundos e de curar toda a sorte de males e enfermidades.

Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão, também chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu ir mão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, o filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu.

Jesus enviou esses Doze com estas recomendações: “Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos.

Dirigi-vos, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel. Dirigindo-vos a elas, proclamai que o Reino dos Céus está próximo.

Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça dai.

Não leveis ouro, nem prata, nem cobre nos vossos cintos, nem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem cajado, pois o operário é digno do seu sustento.

Quando entrardes numa cidade ou num povoado, procurai saber de alguém que seja digno e permanecei ali até vos retirardes do lugar.

Ao entrardes na casa, saudai-a. E se for digna, desça a vossa paz sobre ela. Se não for digna, volte a vós a vossa paz. Mas se alguém não vos recebe e não dá ouvidos às vossas palavras, saí daquela casa ou daquela cidade e sacudi o pó de vossos pés.

Em verdade vos digo: no Dia do Julgamento haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade.

Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.

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22 23RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

Os missionários serão perseguidos —

Guardai-vos dos homens: eles vos entregarão aos sinédrios e vos flagelarão em suas sinagogas.

E, por causa de mim, sereis conduzidos à presença de governadores e de reis, para dar testemunho perante eles e perante as nações.

Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados em saber como ou o que haveis de falar. Naquele momento vos será indicado o que deveis falar, porque não sereis vós que estareis falando, mas o Espírito de vosso Pai é que falará em vós.

O irmão entregará o irmão à morte e o pai entregará o filho. Os filhos se levantarão contra os pais e os farão morrer.

E sereis odiados por todos por causa do meu nome.

Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.

Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. E se vos perseguirem nesta, tornai a fugir para uma terceira.

Em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem.

Não existe discípulo superior ao mestre, nem servo superior ao seu senhor. Basta que o discípulo se torne como o mestre e o servo como o seu senhor.

Se chamaram Beelzebu ao chefe da casa, quanto mais chamarão assim aos seus familiares!

Falar abertamente e sem medo -

Não tenhais medo deles, portanto. Pois nada há de encoberto que não

venha a ser descoberto, nem de oculto que não venha a ser revelado.

O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia: o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados.

Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Tomei antes aquele que pode destruir a alma e o corpo na geena. Não se vendem dois pardais por um asse? E, no entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento do vosso Pai!

Quanto a vós, até mesmo os vossos cabelos foram todos contados.

Não tenhais medo, pois valeis mais do que muitos pardais.

Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus.

Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus.

Jesus, causa de divisões —

Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra.

Em suma: os inimigos do homem serão os seus próprios familiares.

Renunciar a si mesmo para seguir a Jesus —

Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim.

Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.

Aquele que acha a sua vida, vai perdê-la, mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai achá-la.

Conclusão do discurso apostólico —

Quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou.

Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. E quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo.

E quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa. “

Bem mais numerosos foram os que creram por causa da palavra dele e diziam à mulher: “Já não é por causa do que tu falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que esse é verdadeiramente o salvador do mundo”.

Aquele, porém, que perseverar

até o fim, esse será salvo.

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24 25RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

O colégio apostólico estava reunido e pronto para a grande tarefa de ensinar os homens a serem construtores de seus próprios destinos, edificando, com suas ações, o Reino dos Céus nos próprios corações.

Estavam para sair pelos caminhos da vida, visitando os vilarejos, as cidades, as praças públicas, as sinagogas, os lares, para deixar em cada mente e coração, a semente da luz inapagável, que veio para ficar iluminando o mundo, como sol de meio-dia, sem jamais se por.

Para isso eles retomaram as vestes de carne no solo da Terra.

O meigo Rabi ali estava, como sempre, junto deles, para os últimos arranjos e orientações, a fim de se desse início, com largueza e continuidade, na silenciosa, porém transformadora revolução dos valores humanos, lançando as bases da Nova Jerusalém, dos tempos do porvir, a partir do hoje.

Jerusalém, em hebraico Yerûshalayim,, que a mais provável significação quer dizer “a cidade da paz”, fixou o conceito do Deus único, numa civilização de então, repleta de deuses e cultos.

E Israel, significando “o homem que vê Deus”, tem total congruência com a cidade da paz que honra e louva um Deus único, que não desconsidera os demais deuses, mas que apresenta acima de todos eles.

Assim, uma Nova Jerusalém para a Terra, traz, implícito, uma metáfora que seria a construção da paz em todo o mundo, em todos os corações, sob as bênçãos e regência de Deus.

E o Mestre Zeloso, repassava as

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26 27RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

diretrizes de atuação.

Não prometeu facilidades, enunciou o trabalho: Atender os espíritos, atender os homens, curar toda sorte de males e enfermidades. Afinal, os sãos não precisam de médico.

Não iludiu, alertou-os: Eis que eu vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas.

Não apresentou a irrealidade, falou do que efetivamente poderiam encontrar: Guardai-vos dos homens: eles vos entregarão aos sinédrios e vos flagelarão em suas sinagogas.

Afiançou que nada temessem, pois jamais estariam em desamparo: Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados em saber como ou o que haveis de falar. Naquele momento vos será indicado o que deveis falar, porque não sereis vós que estareis falando, mas o Espírito de vosso Pai é que falará em vós.

Não disse que o enfrentamento deveria ser por desforço pessoal, mas com resiliência, a fim de que pudessem alcançar seus objetivos maiores. O enfrentamento seria do conhecimento contra a ignorância: Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. E se vos perseguirem nesta, tornai a fugir para uma terceira.

O cantou o hino da esperança, elucidando que a semeadura precede a colheita, e esta viria a se dar logo mais no porvir, conforme das disposições franqueadas pelos corações de cada um, no acolhimento da Boa Nova: Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.

Era o momento da Luz do Mundo

ser apresentada ao mundo: O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia: O que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados.

Conclamou à compreensão do próximo, não julgamentos: Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.

E concluiu suas orientações, indicando o resultado, mesmo que não visto pelos olhos da carne: Quem vos recebe, a mim me recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou.

Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá uma recompensa de profeta. E quem recebe um justo na qualidade de justo, receberá uma recompensa de justo.

E quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que não perderá sua recompensa.

E fez deles pescadores de homens, embaixadores do Reino.

E indicou-lhes o mundo como a seara a ser trabalhada, o que se daria dando-se um passo de cada vez

*

Recorremos as anotações de Amélia Rodrigues, trazendo comentários a respeito desse momento apostólico:

As anêmonas marchetavam a orla dos caminhos com verdadeiras explosões de delicadas e volumosas flores de tons variegados. As folhas de tabaco verdejantes compunham as paisagens exuberantes, na qual as árvores frutíferas apresentavam os seus frutos abundantes aguardando a colheita.

A Primavera entoava hinos de luz e cor em toda parte, enquanto o casario à margem noroeste do lago de Tiberíades em pequenos e volumosos aglomerados, que se estendiam por quase vinte quilômetros, falavam sem palavras da expansão humana, política e social na região.

A sinagoga de Cafarnaum, erguida aproximadamente um século antes de Jesus, era o referencial para o culto religioso, estudos e resoluções administrativas da cidade. Tiberíades, logo adiante, com as características helênicas, esplendia com as suas majestosas construções em homenagem ao imperador Tibério César.

Mas entre as cidades grandiosas, os povoados, os aglomerados de casebre de agricultores, pescadores e vinhateiros, salpicavam os caminhos movimentados à beira-mar ou entre sebes oscilantes ao vento. O Mestre dera início ao ministério e atraía multidões que se avolumavam ao seu lado, com curiosidade, interesses pessoais, necessidade de todo tipo.

Eles a todos atendia, ampliando, porém, os Seus ensinamentos, a fim de que os indivíduos se libertassem da miséria mais grave, a ignorância sobre si mesmos, a verdade e a vida.

Por isso, as lições se assemelhavam a pérolas que fossem sendo distendidas por todos os lugares a fim de que, em momento próprio, pudessem ser enfeixadas em um grande colar que unisse todos os indivíduos em u m tesouro de amor.

Inicialmente, porque as obsessões fossem cruéis e i numeráveis, em intercâmbio de impiedade que resultava da ignorância, o Mestre convidou os discípulos e deu-lhes poder de expulsar os Espíritos impuros, assim como a energia curativa para os males do corpo e da alma de todos quantos viessem até eles martirizados pelas doenças.

A seguir, enviou-os a diferentes partes para que pudessem preparar os alicerces do reino que viria a ser implantado nos corações. Recomendou-lhes prudência e coragem, generosidade e inteireza moral, a fim de que não se imiscuíssem em questiúnculas descabidas, nem se perturbassem com os gentios, com os discutidores inúteis, mas que fizessem todo o bem possível, curando as doenças, afastando as perturbações, mas anunciando a Era que logo mais se iniciaria.

Era como a apoteótica Abertura de uma Sinfonia de incomparável beleza, anteriormente jamais ouvida.

- Eu vos envio - disse Ele - como ovelhas para o meio dos lobos; sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tende cuidado com os homens: hão de entregar-vos aos tribunais..., mas não os temais, porque o Pai falará por vossas bocas.

Os amigos partiram emocionados, cantando esperanças no coração, sem ter ideia de como reagiriam as criaturas à nova proposta. Ensinaram pelos

Anúncio do Reino

(... Até o fim dos tempos. Amélia Rodrigues, cap. 10. Divaldo Franco)

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28 29RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

caminhos e veredas, detiveram-se na s praças e nas praias, narraram o que haviam visto e ouvido, expuseram o pensamento do Rabi, mas não foram tomados em consideração.

Somente quando as palavras foram coroadas pelos feitos, arrancando das traves invisíveis das doenças, aqueles que as padeciam, é que lhes concediam alguma atenção, dando-lhes as costas de imediato e sugerindo que viesse pessoalmente o Messias...para que o vissem e pudessem testificá-lo.

Por sua vez, Jesus foi também pregar em outras cidades, especialmente a respeito de João, o Batista, causando espanto a sua coragem, em razão do filho de Zebedeu e Isabel encontrar-se prisioneiro na Pereia por ordem de Herodes, insuflado por sua mulher e cunhada Herodíades, com quem vivia em concubinato.

Os ventos generosos da estação perfumada levaram a Mensagem de boca-a-boca, disseminando-a por toda a parte até os confins das fronteiras no além Jordão.

Uma grande calmaria emocional passou a viger nas almas em expectativa. Os comentários se faziam frequentes e as interrogações levantavam-se nos grupos que se reuniam nos diferentes lugares. A música do Seu verbo iria inflamar os corações e provocar incêndios nos sentimentos e nas mentes apaixonadas, que não estavam preparadas para a mudança radical de comportamento que Ele propunha. Já agora não era mais possível deter a odisseia em pleno desenvolvimento.

Quando os discípulos retornaram e relataram os acontecimentos que tiveram lugar à sua volta, o Mestre definiu que aquele era o momento de dar curso ao messianato.

Ergueu-se como um gigante e se expôs por amor, arrostando todas as consequências dos Seus severos sermões, Suas graves admoestações, Suas generosas concessões.

Esclareceu que o reino de Deus se encontrava dentro da criatura humana, que deverá alcançá-lo com muito empenho e arrojada decisão, negociando tudo que é transitório para a aquisição eterna.

Abrindo os braços às multidões que sempre o cercariam, naquela oportunidade abençoou o

mundo e os seus habitantes, compondo a m ais notável sinfonia de todos os tempos, musicada pelas Suas palavras e atos ao compasso do inefável amor.

Amélia Rodrigues

Tiberíades

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30 31RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

Por sua vez, Emmanuel, Espírito, anotou através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, considerações a respeito de uma das citações de Jesus, em seu diálogo com os apóstolos.

Leiamos.

A espada simbólica

(... Caminho, verdade e vida.Emmanuel, cap. 104. Francisco Cândido Xavier)

“Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada.” — Jesus. (Mateus, 10: 34)

Inúmeros leitores do Evangelho perturbam-se ante essas afirmativas do Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se dos movimentos da vida.

Jesus não poderia endossar tranquilidade desse jaez, e, em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo.

O Mestre veio instalar o combate da redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente da batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano. E Ele mesmo foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos.

Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos renovadores, e ai daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!

Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviar-se da luz, fugindo à vida e precipitando a morte. No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.

Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra, encontram, nEle, a serenidade inalterável. É que Jesus começou o combate de salvação para a Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sinceros.

Emmanuel

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33

Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua frente a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para sua colheita”.

embaixadoresReinodo

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34 35RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

mLucas, 10: 1-24Missão dos setenta e dois

discípulos — Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua frente a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para sua colheita.

Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros entre lobos.

Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias, e a ninguém saudeis pelo caminho.

Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa!’ E se lá houver um filho de paz, a vossa paz irá repousar sobre ele; senão, voltará a vós. Permanecei nessa casa, comei e bebei do que tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não passeis de

casa em casa.

Em qualquer cidade em que entrardes e fordes recebidos, comei o que vos servirem; curai os enfermos que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’.

Mas em qualquer cidade em que entrardes e não fordes recebidos, saí para as praças e dizei: ‘Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos pés, nós a sacudimos para deixá-la para vós. Sabei, no entanto, que o Reino de Deus está próximo’.

Digo-vos que, naquele dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade. Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Pois se em Tiro e Sidônia tivessem sido realizados os milagres que em vós se realizaram, há muito teriam se convertido, vestindo-se de cilício e sentando-se sobre cinzas.

Assim, no Julgamento, haverá menos rigor para Tiro e Sidônia do que para vós.

E tu, Cafarnaum, te elevarás até ao céu? Antes, até ao inferno descerás! Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza a mim despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou”.

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36 37RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

Qual é o motivo de alegria para os apóstolos — Os setenta e dois voltaram com alegria, dizendo: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!” Ele lhes disse: “Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago!

Eis que eu vos dei o poder de pisar serpentes, escorpiões e todo o poder do Inimigo, e nada poderá vos causar dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos se vos submetem; alegrai-vos, antes, porque vossos nomes estão inscritos nos céus”.

O Evangelho revelado aos simples. O Pai e o Filho — Naquele momento, ele exultou de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.

O privilégio dos discípulos — E, voltando-se para os discípulos, disse-lhes a sós: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes! Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vós vedes, mas não viram, ouvir o que ouvis, mas não ouviram”.

*

Estando Jesus a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: “Segui-me e eu vos farei pescadores de homens”. Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram...”

Iniciava-se assim a reunião de doze homens, estruturando-se o colégio apostólico em doze pilares, a fim de que Jesus, com esse apoio basilar, erigisse e apresentasse ao mundo a grande catedral do amor, como sendo essa a Casa do Pai, o Reino de Deus que cada coração humano comportaria.

A saga da implantação do Reino de Deus dentre os homens continua seu curso.

Muito se tem feito nesse sentido. Muito ainda a se fazer.

E dizia-lhes: “A colheita é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie operários para sua colheita”.

Cada pessoa pode muito fazer, sózinha. Juntando-se a outras, mais farão.

Lemos em Eclesiastes (4 : 9 a 12) bela alusão à união:

Mais vale dois que um só, porque terão proveito do seu trabalho. Porque se caem, um levanta o outro; mas o que será de alguém que cai sem ter um companheiro para levantá-lo? Se eles se deitam juntos, podem se aquecer; mas alguém sozinho como vai se aquecer? Alguém sozinho é derrotado, dois conseguem resistir, e a corda tripla não se rompe facilmente.

Jean de la Fontaine contribui: Toda força é fraca se não é unida.

E o Venerando Benfeitor Espiritual, Bezerra de Menezes, enriquece o tema com seu apontamento: Solidários, seremos união. Separados uns dos

outros seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.

Desde as primeiras ações, ditas públicas, de Jesus, Ele contou com a força da união.

E ampliou Sua rede de trabalhadores, sempre em regime de união, como bem se conhece pela narrativas de Lucas (10

: 1): Depois disso, o Senhor designou outros setenta e dois, e os enviou dois a dois à sua frente a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir.

Já se vai o tempo e se faz urgente a formação de grande Rede do Bem, incondicional, independente de credo, de raça, de posição social, de país, a fim de poder corresponder como devido e esperado aos apelos de dor e de padecimentos múltiplos que a Humanidade sofre.

Do mesmo modo que quando pessoas se dão as mãos não se dá um nó entre elas, mas um entrelaçamento, as malhas de uma rede também se entrelaçam, a fim de que seu cordame prossiga até a extensão que se pretenda para a tecedura completa. Sem interrupção. Sem solução de continuidade.

Assim deve ser a nossa Rede: tecida com mãos acostumadas ao serviço do Senhor da Vida, entrelaçando as malhas da solidariedade com laços fortes do trabalho comum ao próximo. E guiados pelas mãos do Celeste Pescador, arremessar a Rede Luminescente do Bem com mãos tolerantes e firmes, determinadas e destemidas, confiantes e corajosas, fraternas e amigas.

Cristãos, homens de boa vontade! Consolidemos a grande equipe de trabalhadores, agindo em perfeita interdependência e solidariedade.

Da qualidade do nosso esforço nasce o êxito ou surge o fracasso do conjunto.

Fala-nos ao coração o Espírito

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38 39RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

Emmanuel :

[...] somos levados a reconhecer que o servidor do Evangelho é compelido a sair de si próprio, a fim de beneficiar corações alheios.

É necessário desintegrar o velho cárcere do “ponto de vista” para nos devotarmos ao serviço do próximo.

Aprendendo a ciência de nos retirarmos da escura cadeia do “eu”, excursionaremos através do grande continente denominado “interesse geral”. E, na infinita extensão dele, encontraremos a “terra das almas”, sufocada de espinheiros, ralada de pobreza, revesti da de pedras ou intoxicada de pântanos, oferecendo-nos a divina oportunidade de agir a benefício de todos.

Foi nesse roteiro que o Divino Semeador pautou o ministério da luz, iniciando a celeste missão do auxílio entre humildes tratadores de animais e continuando-a através dos amigos de Nazaré e dos doutores de Jerusalém, dos fariseus palavrosos e dos pescadores simples, dos justos e dos injustos, ricos e pobres, doentes do corpo e da alma, velhos e jovens, mulheres e crianças...

Ouçamos a voz doce e suave de Jesus, repetindo no dia de hoje, o convite feito a Simão, conforme narrativa de Lucas (5 : 4 e seguintes):

Simão, “Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca”.

Simão respondeu: “Mestre, trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar; mas, porque mandas, lançarei as redes”.

Fizeram isso e pescaram tamanha quantidade de peixes que suas redes se rompiam.

E por fim, Jesus disse a Simão, este então muito surpreso: “Não tenhas medo! Doravante serás pescador de

homens”.

E eles O seguiram...

Para nós, já desponta a aurora de um novo dia, tendo Jesus, nosso Sol de Primeira Grandeza, a iluminá-lo. Em meio da grande noite do sofrimento humano, é necessário acendamos a nossa luz.

Jesus conclama: hora de se iniciar a pescaria de hoje. Lançai a rede para o lado direito do barco, e achareis...

Fora da caridade não há salvação!

Fora do amor não há caridade, uma vez que caridade é o próprio amor em ação.

Lance a rede...

*

Acompanhemos os comentários de Amélia Rodrigues sobre o tema deste capítulo:

Dois a dois(Vivendo com Jesus. Amélia Rogrigues, cap. 12. Divaldo Franco)

Amanhecendo a Era da esperança e da alegria, a paisagem humana nas praias do mar da Galileia começou a modificar-se.

Os semblantes, anteriormente carregados de revolta e ressentimento, abriam-se em sorrisos de generosidade e bem-estar, após os incomparáveis contatos com Ele.

A magia do Seu verbo e o encanto da Sua presença acalmavam as ansiedades mais perturbadoras e diluíam os sentimentos inamistosos, sem que se dessem conta aqueles que os sofriam.

Sidom

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40 41RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

As notícias corriam de boca a ouvido e se espalhavam como pólvora incendiada entre os infelizes.

Cada vez chegavam à região os desvalidos e chibatados pelo abandono, aguardando solução para as suas cargas aflitivas, os seus sofrimentos superlativos.

Ele os atendia com ternura incomum, irmão de todos e amigo especial de cada um, dando-lhes a impressão de que viera somente para socorrê-los, a cada qual de maneira coloquial e única.

Essa, porém, não era a finalidade da Sua mensagem. Usava de misericórdia e de compaixão porque era a única forma de ser seguido nas circunstâncias, tendo em vista a magnitude da proposta que apresentava em parábolas, a fim de não os assustar. Imaturos e sofridos, o importante era-lhes a diminuição das dores e das penas momentâneas, como os apelos do estômago esfaimado, de modo a poderem ouvir o que Ele tinha a lhes dizer.

Porque os ventos gentis da alegria estivessem no ar, era necessário levá-los a outras regiões, além da simplória Galileia.

Ainda não estava consolidado pela confiança e pelo conhecimento o grupo que O deveria seguir e testemunhar-lhe fidelidade quando cada um fosse chamado ao mesmo.

Ele tomou a decisão formosa de multiplicar as vozes e ampliar o círculo da esperança, preparando as veredas humanas que visitaria depois.

O Seu verbo deveria entoar a musicalidade sublime do perdão aos ouvidos moucos dos desesperados ou insensíveis dos poderosos de um dia...

Reuniu alguns daqueles ouvintes mais frequentes e sinceros, deu-lhes instruções e recomendou-lhes prudência durante o período de divulgação.

As ideias devem ser expostas para poderem ser compreendidas ou combatidas. Quanto mais comentadas, mais amplo o curso da sua difusão. O silêncio em torno delas asfixia -as na ignorância dos seus conteúdos.

O mar generoso era assinalado por aldeias e grupamentos, urbes famosas e de alta movimentação, como se fosse um colar de pérolas à sua volta com diferentes modelos presos ao fio de segurança.

Desse modo, depois de elegê-los, reuniu-os em doce aconchego e dispensou-lhes especial atenção, dizendo: — Grande é, em verdade, a seara, mas os obreiros são poucos; rogai, pois, ao Senhor da seara que envie obreiros para a sua seara.

Houve uma expectação incomum, assinalada pelo entusiasmo dos que se candidatavam a seareiros.

Então, Ele prosseguiu:

— Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.

A advertência oportuna dava-lhes dimensão do que iria ocorrer, porque a confiança e o respeito humano haviam cedido lugar à desconfiança e à rapina. Fazia-se necessário apresentar-se desarmados, de modo a conseguirem ser amados.

Logo vieram as recomendações graves:

— Não leveis bolsa, nem alforje, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho.

Desde que estariam a serviço da renúncia e da abnegação, não lhes seria lícito conduzir objetos desnecessários, valores que despertam cobiça e agressão. Despojados, seriam iguais aos visitados, confundindo-se com eles, sem os destaques que chamam a atenção e criam antipatias.

Logo prosseguiu:

— E, em qualquer casa onde entrardes, dizei primeiro: paz seja nesta casa. E, se ali houver algum filho de paz, repousará sobre ele a vossa paz; e, se não, voltará para vós. E ficai na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem, pois digno é o obreiro de seu salário. Não andeis de casa em casa. E, em qualquer cidade em que entrardes, e vos receberem, comei do que vos for oferecido.

Estava mantida a ética do comportamento social, o respeito às ocorrências, com simplicidade, sem exigências nem extravagâncias. Eles seriam aceitos ou não pela maneira de se comportarem.

Agora, eram as providências iniciais em favor dos que os receberiam:

- E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: é chegado a vós o reino de Deus. Mas em qualquer cidade, em que entrardes e vos não receberem, saindo por suas ruas, dizei: até o pó, que da vossa cidade se nos pegou, sacudimos sobre vós. Sabei, contudo, isto, que já o reino de Deus é chegado a vós.

A psicologia de Jesus era toda centrada no Amor, nada de violência, de imposição dos Seus ensinamentos. Da mesma forma, nenhuma submissão ao mundo perverso e às suas determinações. A independência moral fazia parte do seu programa, porque somente aqueles que são livres podem comentar a bênção da liberdade.

Seguindo as circunstâncias, Ele passou a explicar os perigos para as cidades e pessoas que desprezassem o convite, optando pela ilusão que, às vezes, sobrepõem-se à realidade.

As pequenas pérolas, às margens do mar Galileu: Corazim, Bethsaida, estavam recebendo o anúncio do mundo melhor, mas também Cafarnaum,

Magdala, Dalmanuta seriam bafejadas pela notícia revolucionária.

Também Tiro, Sidom e outras distantes, igualmente Jerico das águas cantantes e cristalinas seriam convidadas ao banquete com a opção de o aceitarem ou não.

Logo depois, as referências finais:

— Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita Aquele que me enviou.

Partiram os mensageiros e visitaram os recantos da região assinalada e de outras, vivendo o ensinamento que transmitiam, amparando-se reciprocamente, por isso, os mandara, dois a dois, para que a solidão não se transformasse em desespero em cada coração.

Transcorreram os dias justos e propostos, quando eles retornaram em inusitado júbilo.

O verdadeiro regozijo não se deve apoiar nas vitórias sobre os outros, sejam Espíritos ou criaturas, mas na superação das próprias imperfeições, na consciência íntegra, decorrente do dever nobremente cumprido.

Ele os mandou, dois a dois, para anunciar o Seu Reino que se estava instalando no mundo.

— (...) Alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.

Amélia Rodrigues

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42 43RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

Embaixadores do Reino

(Vivendo com Jesus. Amélia Rogrigues, cap. 28. Divaldo Franco)

A sinfonia da Boa Nova encontrava-se no auge da sua musicalidade, enternecendo os corações antes em angústia e confortando as mentes que se encontravam desarvoradas.

Em toda parte, no abençoado solo de Israel, o doce canto penetrava a acústica das almas, da mesma forma que o sândalo aplicado suavemente faz-se absorvido por qualquer superfície porosa.

Tratava-se de uma epopeia que atingia o clímax e nunca mais se repetiria na Terra, jamais igualada em todo o seu esplendor.

A paisagem iridescente por onde Ele deambulava enriquecia-se de belezas espirituais, e uma permanente aragem de esperança e de paz permaneceria assinalando as ocorrências ditosas.

Em madrugada que se fazia bordada de luz, Ele reuniu os Seus, em Cafarnaum, às margens do mar-espelho, e lhes explicou ternamente como seria o programa de engrandecimento moral que estava traçado para toda a humanidade.

Era necessário empreender a desafiadora façanha de informar às gentes de todo lugar o seu conteúdo invulgar.

Na Sua condição de Rei, deveria visitar as regiões bravias e difíceis de comunicação, nas quais necessitava instalar os alicerces do Reino, para tanto enviaria embaixadores que se encarregariam de anunciá-lo, de abrir clareiras nas selvas dos sentimentos

devastados pelas paixões primárias, proporcionando espaços para a fixação dos pilotis do amor e da compaixão, sobre os quais seria erguido o altar da caridade.

Aqueles eram dias de egoísmo, de soberba, de intérminas batalhas nas quais predominavam os ódios e as rixas perversas.

O ser humano era escravo dos dominadores mais astutos e impiedosos, que os submetiam ao talante das suas misérias morais interiores.

Não brilhava o sol da esperança e muito menos a doce possibilidade da compaixão.

A miséria espiritual transbordava, e as pessoas encontravam-se submetidas aos preconceitos, às situações de penúria ede abandono.

De certo modo, ainda hoje é quase assim...

O processo da evolução íntima do Espírito, que deve abandonar o primarismo de onde procede, na busca dos alcantis do infinito, é longo e penoso...

Envolvendo os discípulos selecionados para o mister especial, tocou-os, um a um, transmitindo-lhes a santificada energia que O caracterizava, e esclareceu:

- Ide em paz e com irrestrita confiança no Pai.

Nunca temais, seja o que for,

porquanto estais investidos do mandato superior, e conseguireis avançar imunes às agressões, às picadas dos escorpiões e das serpentes, que ficarão esmagados sob vossos pés, enquanto as vossas vozes calarão a agressão dos Espíritos perversos, zombeteiros e causadores de pânico nas multidões desavisadas...

Seguireis amparados pelas legiões angélicas, encarregadas de trabalhar a humanidade e nela renascer através dos séculos para recordar e ampliar as sublimes propostas que apresentar eis.

Inspirar-vos-ão e ouvir-vos-ão, num contínuo intercâmbio de amor.

Ninguém terá como silenciar-vos as vozes, e todos se vos submeterão ao canto

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incomparável com as revelações da Verdade...

(...) Depois, eu próprio vos seguirei empós, fixando as estrelas do Evangelho no zimbório das almas em escuridão.

Abençoo-vos em nome de meu Pai, e despeço-vos em paz.

Eram setenta discípulos preparados para a propaganda e difusão da Sua mensagem insuperável. No futuro, seriam milhares vezes setenta. Estavam assinalados pela autoridade moral e identificados pelo profundo sentimento de fraternidade.

Haviam renascido para participar da gloriosa envergadura espiritual, e deveriam trabalhar enriquecidos pela alegria inaudita do bem fazer.

Quando o Sol diluía nas águas doces e transparentes do mar os seus raios de ouro disparados com certeira pontaria, eles partiram em cânticos de júbilos...

A partitura imensa, na qual estavam grafadas as harmonias da Boa Nova, alcançava aldeias humildes e cidades orgulhosas, perpassava pelos caminhos impérvios e se expandia pelas estradas bem cuidadas, em perfeita identificação com o Cantor, onde quer que se encontrasse.

A sociedade terrestre sempre aflita e sofrida, que transpirava horror e decomposição espiritual, passou a receber o bálsamo curador e a força revigorante para que pudesse superar a difícil conjuntura do seu estágio primitivista.

Ele inaugurava, naqueles dias, a era das provas e expiações, proporcionando os recursos valiosos para que se pudessem suportar as dificuldades da evolução.

O largo período de selvageria e impiedade cederia lugar lentamente a uma fase nova de esperança e de certeza de paz.

Os dias correram céleres na ampulheta do tempo, e os embaixadores desincumbiram-se da responsabilidade que lhes foi concedida.

Num entardecer de sol, desfiando plumas de luz de cor variada, eles retornaram exultantes.

Diante da multidão, na mesma praia de Cafarnaum, de onde saíram, eles se apresentaram e depuseram:

- Em toda parte proclamamos a Era Nova, explicando que um Reino de paz se acercava, iniciando-se no coração do ser humano, e que avançará ditoso no rumo do futuro feliz.

Desafiados por saduceus hipócritas e pretorianos insensíveis, perseguidos por fariseus fanáticos e cínicos, assim como pela malta sempre revoltada, demonstrando o poder que nos foi conferido, curamos as suas mazelas em nome do nosso Rei, submetemos Espíritos vingativos, saramos feridas, restituímos visão aos cegos, audição aos surdos, movimentos aos paralíticos e alegria aos tristes em momentos de inconfundível ligação com Deus.

Nenhum Mal nos aconteceu, e sempre conseguimos anunciar o amanhecer de um novo tempo com os olhos iluminados pela alegria e os corações pulsando felicidade.

Algumas cidades de prazer e de loucura gargalharam das nossas palavras, mas sempre encontramos infelizes à espera de compaixão e de ajuda.

Vimos rostos desfigurados pela lepra sorrir de alegria, e vidas despedaçadas recomporem-se ao toque da esperança.

A Vossa palavra em nossas bocas soava como cânticos nunca dantes enunciados ou ouvidos, e nossas presenças tornaram-se fortaleza para os fracos e apoio para os oprimidos.

Estão lançadas as balizas do Reino que Vos pertence,

Senhor!

Jubiloso, o Rabi sábio novamente os abençoou, e dirigindo-se à massa em expectativa emocionada, lamentou:

— Ai de ti, Corazim, ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se fizessem as maravilhas que em vós foram feitas, já há muito, assentadas em saco e cinza, se teriam arrependido.

Portanto, para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no juízo, do que para vós.

E tu, Cafarnaum, que te levantaste até ao céu, até ao inferno serás abatida.

Leve palor tomou-Lhe a bela face, como resultado da percepção de que as grandiosas Corazins e Betsaidas do futuro, por largo período prefeririam o bezerro de ouro à ave de luz do Seu amor.

Passaram muitos séculos, Seus embaixadores continuam renascendo, em todas as épocas proclamando a Boa Nova, e os ouvintes permanecem moucos com os sentimentos enregelados nas paixões vergonhosas.

Em consequência, acumulam-se as nuvens borrascosas na imensa Galileia moderna, a Sua voz continua chamando vidas para o Seu Reino, enquanto o corcel rápido da fantasia e da luxúria é conduzido, pelos seus cavalgadores na direção dos abismos...

Ai de vós, que tendes ouvido e visto o amanhecer de bênçãos, e optais pela triste noite de pesadelos e de horror!

Os embaixadores estão ao vosso lado: cuidai de ouvi-los quando se inicia o período de regeneração da humanidade!

Amélia RodriguesPorto de Tiro

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muitos

Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.

tornarampara trás

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48 49RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

mJoão 6: 60 - 71Muitos, pois, dos seus discípulos,

ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?

Sabendo, pois, Jesus em si mesmo que os seus discípulos murmuravam disto, disse-lhes: Isto escandaliza-vos?

Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?

O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida.

Mas há alguns de vós que não creem. Porque bem sabia Jesus, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.

E dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lhe for concedido.

Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.

Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?

Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. E nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.

Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze?

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Realidade que permanece até os dias atuais: muitos os chamados, poucos os escolhidos. Nem todos que dizem Senhor, Senhor, entrarão no Reino dos Céus.

Quem quiser vir após mim, tome de sua cruz, negue-se a si mesmo, e siga-me.

Quem quiser.

Não há imposição.

Livre para pensar, Livre para obrar, para fazer.

E nem sempre se faz conforme se sabe, até porque há razoável lacuna entre o saber e o fazer.

Vocês que sabem essas coisas, bem-aventurados serão, se as praticarem, se as vivenciarem, dito em outras palavras por Jesus.

Os discípulos foram muitos, desde o início, quando começou a ressoar o cântico da redenção, a oferta do pão da vida para dar sustento na jornada de renovação.

No entanto, toda e qualquer mudança gera resistência.

E uma mudança exterior não se concretiza se não for precedida de uma mudança interior.

O mesmo quanto a valores morais, entendendo-se como moral, regra de bem proceder, de se distinguir o bem do mal, o certo do errado, segundo as Leis Divinas.

Conforme nossas crenças, adotamos nossos valores existenciais, nossas atitudes, nossos objetivos e rumos.

Quando uma de nossas crenças sofre modificação, as atitudes resultantes também serão diferentes.

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Aí reside uma das causas de insucessos nas empreitadas humanas: buscar-se realizações sem acreditarmos nelas, sem as desejarmos de pensamento e coração. Fazer por fazer, nem sempre se consegue o melhor, nem dá satisfação.

Agora, pensemos nos recuados tempos de mais de dois mil anos, em peregrinar por caminhos agrestes, com todas as dificuldades de uma região e de um povo ignorante (aqui entendendo-se povo sem conhecimento, sem maiores noções de vida), pregando a chegada de um novo Reino, não na Terra, mas que deveria estar nos corações.

Considere os costumes de então decorrentes de uma nação teocrática, ou seja, um governo em que justificativas de natureza religiosa orientam a formação do poder instituído. Na maioria dos casos, o chefe político é visto como um representante direto de alguma divindade ou chega a assumir a condição de divindade encarnada, e ali se propor uma nova ordem de ideias, inclusive de um Deus Amor, Deus Pai, devendo ser a ordem comportamental: a solidariedade, a tolerância, a somente atirar a primeira pedra, quem esteja sem pecados; o perdão das ofensas, o amor ao próximo, em que todos somos irmãos, sem distinção de credo, de raça e de cor.

E então ali se falar em nome do Messias, que ainda hoje o mesmo povo ainda espera sua chegada.

Falar de somente fazer aos outros o que gostaríamos que fosse feito para nós, para um povo em que linchamentos até a morte era permitido por lei, conforme o pecado.

Pregar um novo Caminho, o qual conduz a Deus, não precisando mais de templos, sacrifícios e sacerdotes, como intermediários. Que o único sacrifício que agrada a Deus é o sacrifício do orgulho, da vaidade, do egoísmo, para que sejam substituídos pela humildade,

pela simplicidade, pela caridade.

Sim, duro é esse discurso, quem o pode ouvir?

A desilusão é a visita da verdade. Acontece que para muitos, a ilusão se fez sua verdade, sua razão de viver. Modificar-se é como um novo recomeço, a necessidade de se apresentar como um novo homem, transformando o homem velho. Inicialmente, a recusa da Verdade ofertada é a primeira reação, por confrontar dos pés à cabeça o que se é. Nem todos, num primeiro momento, têm essa força e essa determinação. No geral dos homens, somente o tempo é capaz de corroer valores que a ferrugem carcome, afim de que se renove com valores que a traça ou a ferrugem não atacarão jamais.

Já com suas claras afirmativas, mesmo em forma de metáfora (figura de linguagem em que um termo substitui outro em uma relação de semelhança, a fim de que aquilo que é de uso comum, possa servir de base para entendimentos mais amplos, mais subjetivos. Um certo simbolismo): eu não vim trazer a paz, mas a espada; vocês vão como cordeiros para o meio dos lobos, Jesus deixava claro que a empreitada dEle e de quem o quisesse seguir e com Ele trabalhar, não seria fácil. Os riscos e os impedimentos eram preditos.

Era preciso renunciar a si próprio, assumir a tarefa com ardor e determinação, com coragem e fortaleza de ânimo. Fazer a escolha por Deus, abandonando Mamom (deus pagão, que

representa, nas citações bíblicas, o deus da riqueza, dos valores do mundo, dos costumes mundanos).

Se fosse o caso, seria preciso perder sua vida pela causa Divina (como aconteceu com Jesus e outros dos apóstolos, logo mais tarde).

Eu sou o pão que desceu do Céu... que veio para alimentar e saciar a “fome do espírito”.

Em outro momento brilhante, afirmou Jesus: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém chegará a Deus a não ser por mim...

E, por esse discurso claro e assertivo, e pelo significava de fato a sua assunção, então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.

Tornaram para trás. Deixaram de seguir e viver por Jesus, para retomarem ao que eram e como até então viviam. Não tiveram forças para prosseguir. Não mais andaram com Ele.

E o Suave Rabi da Galileia, cantando o amor com a melodia da compreensão, elucidou: E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. (João, 12 : 47)

Sem imposições. Quem quiser vir após mim...

O livre-arbítrio de cada um para se escolher o rumo.

Há rumos que escravizam, como o escolhido por Adolf Eichmann, um dos idealizadores do holocausto, que dizimou milhões de judeus.

E rumos que libertam, como o escolhido por Maria Madalena ou por Paulo de Tarso, o apóstolo; ou ainda como foi a opção de Helen Keller, escritora, conferencista e ativista social

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americana. Foi a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado. Ela poderia ter optado pela vida silenciosa num isolamento, cobrindo-se com o lençol da autocompaixão. Mas não, optou por estimular as pessoas a quem vissem a luz interior, mesmo quando não conseguissem divisar a luz do Sol; a falarem do bem e da vida, sonorizando pela mensagem da esperança e do amor, mesmo que emudecidas momentaneamente. Esse cântico mudo então seria ouvido primeiramente por quem entoasse a sublime canção da resignação e da felicidade possível, e depois, pela força de um coração fiel ao bem, alcançaria multidão pelos quatro cantos do mundo, pois o grito da esperança, dado por uma voz mesmo que silente, é muito mais forte e poderosa, do que um grito de dor, reclamando da amargura, como se acusando à Deus pelos males do mundo.

Foi o que Helen fez, se fazendo ouvida e sentida, mesmo cega e surda.

*

Saibamos um pouco mais sobre Helen.

Helen Keller nasceu em 1880 e, antes de completar dois anos de idade, estava cega e surda.

A escarlatina a sentenciou a uma reclusão perpétua no escuro e no silêncio. Uma “solitária”, para o resto de sua vida. E antes que tivesse tido a chance de aprender qualquer tipo de comunicação.

A única que se arriscava era a filha da cozinheira, de seis anos, que passava o dia levando puxões e empurrões.

Com 6 anos de idade Helen era uma criança violenta.

Aprisionada em seu mundo por 4 anos, não entendia sua situação nem sua própria existência.

Seus pais decidiram então buscar

ajuda e, com toda a precariedade da época, conseguiram passar por vários especialistas, até serem encaminhados para uma escola especializada. O diretor da escola resolveu entregar o caso para uma de suas ex-alunas: Anne Sullivan, também cega, e de apenas 20 anos.

Ali nascia uma história de 49 anos entre as duas.

Na primeira visita, logo que se conheceram, Anne reparou que a menina carregava uma boneca. Segurou então a pequena mão de Helen e escreveu com o dedo na palma a palavra “b-o-n-e-c-a”. Sem saber que cada objeto tinha um nome, Helen não entendia nada e se frustrava a cada nova tentativa.

Suas reações foram ficando cada vez mais violentas, até que um dia explodiu de raiva e destruiu sua boneca. Foi então que Anne teve a ideia de colocar a mão de Helen sob a água e escrever em sua palma “á-g-u-a”.

Foi como se a porta da prisão finalmente tivesse se aberto.

A partir deste dia, uma obsessão tomou conta de Helen, que agora reconhecia uma lógica e queria aprender todas as palavras do mundo. Aprendeu inglês, francês e alemão. Anos perdidos eram recuperados com a maior velocidade possível e a comunicação entre as duas crescia a cada dia.

Anne ensinou Helen a “ouvir”, colocando seus dedos sobre sua

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garganta, lábios e nariz. Associava vibrações e palavras. Seu tato se desenvolveu a um patamar sofisticadíssimo, capaz de diferenciar as mais sutis diferenças no ambiente. Ficou proficiente em braille e em linguagem de sinais na palma da mão.

Aos 20, Helen escreveu uma autobiografia à mão. Ingressou no estudo formal e foi a primeira cega/surda a se formar em uma universidade.

Anne, apesar de não ter qualquer experiência prévia com ensino, ajudou Helen a se libertar de sua prisão, emoldurando um grande modelo do que é ser um professor, um missionário. Acompanhou Helen até o final de sua vida, como uma assistente, mesmo depois de casada. Em 1936 morreu em estado de coma, com Helen segurando sua mão por todo o tempo.

Helen publicou 12 livros, foi condecorada pelo presidente dos Estados Unidos com a medalha da liberdade, o maior reconhecimento que um civil pode receber. Em 1965 entrou para o National Women’s Hall of Fame.

Em 1951, sua história virou uma peça de teatro, e em 1962, um filme, dirigido por Arthur Penn, que conquistou dois Oscars. Um dos únicos filmes que mantém um 100% no Rotten Tomatos (Site de agregação de revisão de filmes. Filmes que são revisados por pelo menos cinco críticos , e que todos esses críticos consideram bons filmes, têm uma classificação de 100%).

Helen morreu no dia primeiro de junho de 1968, aos 87 anos de idade, enquanto dormia em sua casa.

Helen transpôs os impedimentos, superou os obstáculos, autossuperou-se.

Não voltou para trás, nem deixou de andar com Ele, prosseguiu com determinação, coragem e destemor.

*

E Jesus perguntou aos doze: vocês também querem retirar-se?

E Pedro, sempre o grande Pedro, responde pelos demais: E para quem iremos nós? Suas são as palavras de vida eterna. Sabemos que é o Cristo, o Filho de Deus.

Sobre esse momento em especial, Emmanuel, o nobre Benfeitor, comenta pelas mãos do abnegado médium Francisco Cândido Xavier, conforme se lê no livro Pão Nosso, capítulo 151, sob o título Ninguém se Retira: “Respondeu-lhe Simão Pedro:

Senhor, para quem iremos nós? tu tens as palavras da vida eterna.” — (João, 6 ; 68.)

A medida que o Mestre revelava novas características de sua doutrina de amor, os seguidores, então numerosos, penetravam mais vastos círculos no domínio da responsabilidade. Muitos deles, em razão disso, receosos do dever que lhes caberia, afastaram-se, discretos, do cenáculo acolhedor de Cafarnaum.

O Cristo, entretanto, consciente das obrigações de ordem divina, longe de violar os princípios da liberdade, reuniu a pequena assembleia que restava e interrogou aos discípulos:

- Também vós quereis retirar-vos?

Foi nessa circunstância que Pedro emitiu a resposta sábia, para sempre gravada no edifício cristão.

Realmente, quem começa o serviço de espiritualidade superior com Jesus jamais sentirá emoções idênticas, a distância dEle. A sublime experiência, por vezes, pode ser interrompida, mas nunca aniquilada. Compelido em várias ocasiões por impositivos da zona física, o companheiro do Evangelho sofrerá acidentes espirituais submetendo-se a ligeiro estacionamento, contudo, não perderá definitivamente o caminho.

Niguém se Retira(Pão Nosso. Emmanuel, cap. 151. Francisco Cândido Xavier)

Quem comunga efetivamente no banquete da revelação cristã, em tempo algum olvidará o Mestre amoroso que lhe endereçou o convite. Por este motivo, Simão Pedro perguntou com muita propriedade:

— Senhor, para quem iremos nós?

É que o mundo permanece repleto de filósofos, cientistas e reformadores de toda espécie, sem dúvida respeitáveis pelas concepções humanas avançadas de que se fazem pregoeiros; na maioria das situações, todavia, não passam de meros expositores de palavras transitórias, com reflexos em experiências efêmeras. Cristo, porém, é o Salvador das almas e o Mestre dos corações e, com Ele, encontramos os roteiros da vida eterna.

Emmanuel

Nunca se pode concordar em

rastejar, quando se sente ímpeto de voar.

Helen Keller

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58 RASTROS DE LUZ | O DIVINO MINISTÉRIO

deLuzum olhar na história

rastros

PRÓXIMO FASCÍCULO:Necessário nascer de novo.

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