Rede de Atenção às Urgências de Minas Gerais

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  • 8/14/2019 Rede de Ateno s Urgncias de Minas Gerais

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    A Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias em Minas Gerais

    Welfane Cordeiro Jnior ([email protected])

    Adriana de Azevedo Mafra ([email protected])

    Introduo

    A ateno s urgncias e a ateno primria necessitam de maior discusso pelos

    gestores de sade. H em todos os pases aumento constante na demanda por ser-

    vios de urgncia e conseqente presso muitas vezes insuportvel sobre estruturas

    e profissionais. A urgncia a principal causa de insatisfao da populao que uti-

    liza o sistema de servios de sade.

    A organizao dos sistemas est razoavelmente bem estabelecida pela experincia

    e literatura existentes. Existe consenso de que sempre haver uma demanda por

    servios maior que a necessidade e que o aumento da oferta sempre acarreta em

    aumento da demanda, criando-se assim um sistema de difcil equilbrio. A soluo

    de gesto tem sido:

    racionalizao da oferta,

    estratgias regulatrias.

    A sociedade moderna e sua mudana na demografia, no perfil de consumo, no a-

    cesso informao e no constante deslocamento populacional alterou o fluxo de

    procura dos servios de sade, exigindo nova organizao do processo econmico e

    do perfil de resposta.

    A OMS vem, desde 2003, propondo uma modificao no modelo de classificao de

    doenas que se adapte s atuais necessidades de resposta e de organizao dos

    sistemas de sade. Esta diviso sai do foco de classificao em doenas infecciosas

    ou no infecciosas para a classificao em condies agudas e condies crnicas.

    A imensa prevalncia das condies crnicas principalmente nos pases desenvolvi-

    dos tem gerado uma reengenharia na organizao e no modo de atuar dos sistemas

    de sade modernos. As estratgias de enfrentamento destes problemas comeam

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    pelo estabelecimento de redes de servios de sade com todos os seus componen-

    tes. O conceito de redes atualmente quase que universalizado em todas as reas

    de organizaes humanas como uma necessidade para o enfrentamento de ques-

    tes que se tornaram cada vez mais complexas na medida em que ns interligamos

    todo o mundo (Castells). A organizao de redes passa pela conexo entre estrutu-

    ras que compartilhem e dividam entre si a responsabilidades e os resultados de uma

    resposta frente a uma demanda, assumindo em conjunto a responsabilidade pelo

    resultado final.

    O desenvolvimento de sistemas de informaes uma das condies essenciais

    para a potencializao de estabelecimento de redes integradas de servios. A dis-

    cusso contempornea de redes, portanto, se tornou quase que uma pr-condio

    para a soluo de problemas sociais e econmicos.

    O fracasso dos modelos anteriores de organizao de servios de sade est na

    crnica incapacidade de organizar os servios de forma sistmica, com manuteno

    da lgica da resposta em pontos isolados, sem conexo e complementaridade (au-

    sncia de comunicao).

    A rede de servios de sade organizada ultrapassa as fronteiras clssicas geopolti-

    cas. As estratgias de descentralizao adotadas nas reformas dos sistemas de sa-

    de no mundo a partir da dcada de 1970 resultaram em melhor controle do sistema

    por parte dos usurios, mas no foram suficientes para a soluo de todos os pro-

    blemas. O modelo brasileiro de descentralizao gradual da gesto at o nvel muni-

    cipal comprometeu a integralidade e o estabelecimento de redes interligadas de ser-

    vios.

    Novos modelos de organizao vm sendo propostos. O modelo de regionalizao

    cooperativa (Mendes) contempla escala, qualidade, estrutura existente e acesso na

    organizao de uma rede articulada de servios de sade.

    O Estado de Minas Gerais trabalha o processo de regionalizao usando estas pre-

    missas e ainda associa o desenvolvimento de processos de gesto da clnica focado

    em condies de sade. A base a ateno primria diferenciada que ir estruturaras redes integradas de servios de sade. Na resposta a uma demanda de urgncia,

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    estas premissas so fundamentais para melhor utilizao dos recursos e melhor re-

    sultado.

    A organizao da rede, entretanto, no determina uma satisfao imediata de quem

    utiliza estes servios. Os recursos de um sistema de sade so limitados e, numa

    sociedade de consumo, a questo do desejo um poderoso impulsionador de de-

    mandas (Habermas). A organizao de fluxos e estratgias de regulao de acesso,

    que determinam prioridades e tempos de espera por um procedimento eletivo, pres-

    sionam os usurios para as portas de urgncia.

    Um estudo recente feito no Canad mostra que a presso dos usurios sobre as

    portas de urgncia invariavelmente a principal causa de insatisfao dentro de um

    sistema de sade. O enfrentamento deste problema na organizao do sistema a

    determinao de uma linguagem que permeie toda a rede estabelecendo o melhor

    local para a resposta a uma determinada demanda. As experincias mundiais vm

    mostrando que esta estratgia (Classificao de Risco) poderoso instrumento arti-

    culador em uma rede de servios de urgncia. H vrios modelos utilizados j vali-

    dados no mundo, apesar da sua utilizao ser muito recente.

    O Acolhimento com Classificao de Risco

    HISTRICO

    O conceito de triagem nasceu da concepo militar. Os feridos no campo de batalha

    eram submetidos a rpida avaliao: aqueles em melhor situao voltavam para a

    batalha e os outros teriam prioridade no atendimento mdico.

    A palavra triar vem do verbo francs trier que remete necessidade de escolha. A

    triagem nos pontos de ateno sade surge com intensidade na dcada de 1950

    por profunda transformao social experimentada aps a ll Guerra Mundial. At en-

    to a ateno sade era feita pelos chamados mdicos de famlia que atendiam

    casos de urgncias.

    A urbanizao acelerada promoveu o surgimento de servios de urgncia ancoradosem hospitalais de retaguarda. As pessoas passaram a procurar os servios de ur-

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    gncia e reduziram a ligao com seu mdico de confiana . Apareceram, ento,

    problemas de definio de prioridade. Surgiram os primeiros protocolos sistematiza-

    dos de triagem na tentativa de sistematizao e ordenamento do fluxo dos pacientes

    que vo aos servios de urgncia.

    COMPARAO ENTRE OS MODELOS

    Os modelos de triagem tm grande variao de acordo com as vrias experincias

    em servios geralmente isolados (sem concepo sistmica). H modelos que utili-

    zam de 2 nveis at 5 nveis de gravidade, sendo os ltimos mais aceitos na atuali-

    dade. So cinco os modelos de triagem mais avanados e que passaram a ter uma

    concepo sistmica, ou seja, so utilizados por uma rede de servios:

    Modelo Australiano (Australasian Triage Scale - ATS) - Foi o pioneiro e usa

    tempos de espera de acordo com gravidade;

    Modelo Canadense (Canadian Triage Acuity Scale - CTAS) - Muito semelhan-

    te ao modelo australiano, muito mais complexo e est em uso em grande

    parte do sistema canadense;

    Modelo de Manchester (Manchester Triage System - MTS) - Trabalha com al-

    goritmos e determinantes, associados a tempos de espera simbolizados por

    cor. Est sistematizado em vrios pases da Europa;

    Modelo Americano (Emergency Severity Index - ESI) - Trabalha com um nicoalgoritmo que foca mais na necessidade de recursos para o atendimento. No

    usado em todo o pas;

    Modelo de Andorra (Model Andorr del Trialge MAT) - Baseia-se em sinto-

    mas, discriminantes e algoritmos mas de uso complexo e demorado.

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    Caracterstica ATS CTAS MTS ESI MAT

    Escala de 5 Nveis SIM SIM SIM SIM SIM

    Utilizao universal no pas SIM SIM SIM NO SIM

    Baseado em categorias de sintomas N O N O SIM N O SIM

    Baseado em discriminantes chave SIM NO SIM SIM SIM

    Baseado em algoritmos clnicos NO NO SIM SIM SIM

    Baseados em escalas de urgncia pr-

    definidas

    SIM SIM NO NO SIM

    Formato eletrnico (Informatizado) N O N O SIM N O SIM

    Fonte:J.Gimenez :Emergncias 2003;15:165-174

    Na comparao entre os modelos observa-se que todos utilizam escalas de 5 nveis,

    mas os nicos que tm formato eletrnico e se baseiam em algoritmos clnicos so o

    protocolo de Manchester e o de Andorra. O MTS, alm disso, baseado em catego-

    rias de sintomas e no em escalas de urgncia pr-definidas que podem induzir a

    diagnstico, o que no desejvel num protocolo de classificao de risco.