Redes sociais invólucro da insegurança

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1 Redes sociais - Invólucro da insegurança Maria da Penha Boina Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento Desde os meados anos 90 passei a me interessar pela comunicação mediada por computador através da rede mundial, o que não era tarefa fácil, não existiam muitas pessoas utilizando esse meio e, os poucos que utilizavam não eram do Brasil. Foi tamanha a minha curiosidade na época que, acabei escrevendo o meu trabalho de conclusão de curso sobre o assunto. Bem vivendo nesse meio, e acompanhando a evolução da Internet, sua velocidade e junto a facilidade de uso pelo avanço dos aplicativos de comunicação, chego aos dias de hoje, saudosista dos anos 90. Em decorrência da inclusão social às tecnologias da informação e comunicação (TIC) e a não seletividade de conteúdos disponíveis, por não existir um mecanismo de controle eficaz à informação divulgada, perdemos a nossa liberdade de consulta e vivemos sob rótulos e amarras dos robôs de sites de pesquisas que nos indexam, idealizando o nosso perfil segundo as nossas pesquisas aleatórias. Perdemos a nossa autonomia do que queremos realmente ver, consultar e ler. Na verdade, temos somente em nossas consultas 1% daquilo que existe na Internet, os restantes 99% podemos encontrar na Deep Web. Tirante a parte negativa do que é divulgado no submundo da Internet concluo que, as pessoas dos anos 90 que utilizavam a Internet para se comunicarem, deverão para a Deep Web migrar, ou por lá já andam para fugirem das futilidades que aí se encontram. Ficarão assim, no anonimato, podendo consultar e ler o que realmente desejam nas profundezas do oceano, na rede livre, negando essa tal rede "democrática" da superfície. Saindo da rede invisível, que não é para qualquer um dos mortais, e não sendo o objetivo desse texto, volto ao assunto sobre as redes sociais mais utilizadas hoje. Como experimento, criei várias contas em redes sociais, aceitei muitos "amigos" e comecei a fazer a leitura dos muitos comportamentos. A experiência foi incrível. As redes sociais não passam da espera de um "curtir", e os que curtem, nem sabem o que estão a curtir, são os que andam a espera de serem curtidos e curtidos, literalmente, ficam. Não existe nada sociável nas redes sociais, com exceção daqueles que andam a caça da alma gêmea ou do risco das algemas. As redes sociais passaram a ser um divã, acompanhado de vários "psicoterapeutas" curiosos ou totalmente desinteressados. As pessoas se postam por horas e horas diante do computador e vivem o seu "eu" ou as suas curiosidades, vislumbrando e medindo forças com os outros, através das fotos disponibilizadas que retratam as suas riquezas, viagens, etc., vivem as ilusões e criam um universo para si de sofrimento e angústia, verdades inexistentes, felicidade alucinada, submergindo num mundo onde só existe aparência para a autoafirmação. O universo das redes sociais tem por função a exibição gratuita do desejo de ser invejado em decorrência negativa da sua própria inveja. Os indivíduos, sendo eles bestiais, caem na esparrela de necessitarem da cobiça dos outros, por terem perdido a autoconfiança, a autoestima, achando que todos os milhares de "amigos" são sempre melhores, mais ricos e mais felizes. Instauram neles próprios, abalos nos seus sentimentos, ficando inseguros com a noção da perda de superioridade, passando a não existir confiança no próprio talento e apelando para rituais de proteção. Dependendo da frequência e da intensidade, esse temor pode se tornar algo patológico.

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Redes sociais - Invólucro da insegurança

Maria da Penha Boina

Mestre em Engenharia e Gestão do Conhecimento

Desde os meados anos 90 passei a me interessar pela comunicação mediada por computador

através da rede mundial, o que não era tarefa fácil, não existiam muitas pessoas utilizando

esse meio e, os poucos que utilizavam não eram do Brasil. Foi tamanha a minha curiosidade na

época que, acabei escrevendo o meu trabalho de conclusão de curso sobre o assunto.

Bem vivendo nesse meio, e acompanhando a evolução da Internet, sua velocidade e junto a

facilidade de uso pelo avanço dos aplicativos de comunicação, chego aos dias de hoje,

saudosista dos anos 90. Em decorrência da inclusão social às tecnologias da informação e

comunicação (TIC) e a não seletividade de conteúdos disponíveis, por não existir um

mecanismo de controle eficaz à informação divulgada, perdemos a nossa liberdade de

consulta e vivemos sob rótulos e amarras dos robôs de sites de pesquisas que nos indexam,

idealizando o nosso perfil segundo as nossas pesquisas aleatórias. Perdemos a nossa

autonomia do que queremos realmente ver, consultar e ler. Na verdade, temos somente em

nossas consultas 1% daquilo que existe na Internet, os restantes 99% podemos encontrar na

Deep Web. Tirante a parte negativa do que é divulgado no submundo da Internet concluo que,

as pessoas dos anos 90 que utilizavam a Internet para se comunicarem, deverão para a Deep

Web migrar, ou por lá já andam para fugirem das futilidades que aí se encontram. Ficarão

assim, no anonimato, podendo consultar e ler o que realmente desejam nas profundezas do

oceano, na rede livre, negando essa tal rede "democrática" da superfície.

Saindo da rede invisível, que não é para qualquer um dos mortais, e não sendo o objetivo

desse texto, volto ao assunto sobre as redes sociais mais utilizadas hoje. Como experimento,

criei várias contas em redes sociais, aceitei muitos "amigos" e comecei a fazer a leitura dos

muitos comportamentos. A experiência foi incrível. As redes sociais não passam da espera de

um "curtir", e os que curtem, nem sabem o que estão a curtir, são os que andam a espera de

serem curtidos e curtidos, literalmente, ficam. Não existe nada sociável nas redes sociais, com

exceção daqueles que andam a caça da alma gêmea ou do risco das algemas.

As redes sociais passaram a ser um divã, acompanhado de vários "psicoterapeutas" curiosos

ou totalmente desinteressados. As pessoas se postam por horas e horas diante do computador

e vivem o seu "eu" ou as suas curiosidades, vislumbrando e medindo forças com os outros,

através das fotos disponibilizadas que retratam as suas riquezas, viagens, etc., vivem as

ilusões e criam um universo para si de sofrimento e angústia, verdades inexistentes, felicidade

alucinada, submergindo num mundo onde só existe aparência para a autoafirmação.

O universo das redes sociais tem por função a exibição gratuita do desejo de ser invejado em

decorrência negativa da sua própria inveja. Os indivíduos, sendo eles bestiais, caem na

esparrela de necessitarem da cobiça dos outros, por terem perdido a autoconfiança, a

autoestima, achando que todos os milhares de "amigos" são sempre melhores, mais ricos e

mais felizes. Instauram neles próprios, abalos nos seus sentimentos, ficando inseguros com a

noção da perda de superioridade, passando a não existir confiança no próprio talento e

apelando para rituais de proteção. Dependendo da frequência e da intensidade, esse temor

pode se tornar algo patológico.

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Nas muitas experiência que fiz, uma delas foi quando postei uma frase minha e esperarei

comentários ou curtidas, não houve um ser humano que a achou interessante. Passado algum

tempo postei a mesma frase, mas como se fosse uma frase de um autor famoso, muitas

pessoas comentaram e curtiram. Outra, foi quando coloquei um texto enorme e interessante

que foi curtido no mesmo segundo que enviei, bem, não leram o texto, mas foi maravilhoso

porque curtiram. Fotos e frases feitas são adoráveis. Piadas também. Falar da economia, da

política, da educação, da violência entre outras coisas que estão nas mídias, não resulta em

nada, pois todos postam as mesmas coisas dos mesmos sites, assuntos em voga. Não existe

crítica, só postagens para se dizerem atentos aos acontecimentos, como se ninguém soubesse.

Existem outros que não são amigos e vivem viajando nas redes de relacionamentos e ficam

vendo as coisas públicas dos demais, só para sofrerem em paz. Outros que também não são

amigos, deixam coisas públicas que fazem referências a alguém e depois que sofrem com o

revide se desesperam, bloqueiam, fazem chacota, apagam e acham que apagando não existe

mais, esquece que tudo fica guardado na "nuvem". Fora os que são naturalmente ridículos,

depravados, mas têm personalidade assumida. Engraçados são os familiares que resolvem

discutir publicamente na rede social, degradando a própria família e depois, postam coisas

sobre religião e amor, e aí vai, são muitas as emoções. Existem também, os que não utilizam as

redes sociais, uns por opção, outros, por estarem tão enrolados, que preferem a exclusão com

medo de incorrer em erro por um deslize qualquer.

Conclusão, rede social é um invólucro da insegurança. Apropriando-me do poeta Paulo Bonfim,

as pessoas que utilizam as redes sociais vivem num mundo sob rótulos e amarras, mascarados

de verdades postiças e de disfarces emprestados. Durante todo o tempo que estive numa rede

social, com raríssimas exceções, li algo que fosse da autoria de um "amigo". Portanto, tenho

saudade dos velhos e bons tempos, não que eu seja retrograda, mas existem coisas que por

um lado evoluem e por outro se degradam, infelizmente. Não existe fórmula mágica enquanto

reinar a ignorância. Não existe similitude em "estar" e "ser" um utilizador de redes socais.

Aqueles que somente "estão", são o nada, não obstante, aqueles que "são", contribuem,

desenvolvem, aprendem e inovam, crescem individualmente e socialmente, são os

formadores de opinião e digo, são poucos. Para estar e participar de redes sociais, primeiro

tem que aprender a ser.