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    12 FISIOTERAPIA E PESQUISA 2008;1 5(1)

    Reeducao postural global e alongamento esttico segmentar na melhora daflexibilidade, fora muscular e amplitude de movimento: um estudo comparativo

    Global posture reeducation and static muscle stretching on improving flexibility,muscle strength, and range of motion: a comparative study

    Jos Lus Pimentel do Rosrio1, Adriana de Sousa2, Cristina Maria Nunes Cabral3,Silvia Maria Amado Joo4, Amlia Pasqual Marques4

    1 Fisioterapeuta; Ms.

    2 Fisioterapeuta; mestranda emCincias da Reabilitao no

    Fofito/FMUSP (Depto. deFonoaudiologia, Fisioterapia eTerapia Ocupacional daFaculdade de Medicina daUniversidade de So Paulo,So Paulo, SP)

    3 Fisioterapeuta; Profa. Dra. doPrograma de Mestrado emFisioterapia, UniversidadeCidade de So Paulo, SoPaulo, SP

    4 Fisioterapeutas; Profas. Dras.do Curso de Fisioterapia,

    Fofito/FMUSP

    ENDEREOPARACORRESPONDNCIA

    Amlia P. MarquesFofito/ FMUSPRua Cipotnea 51 CidadeUniversitria05360-160 So Paulo SPe-mail: [email protected]

    APRESENTAOset. 2006

    ACEITOPARAPUBLICAOago. 2007

    RESUMO: Exerccios de alongamento so usados para aumentar a flexibilidade eamplitude de movimento (ADM). Entre os mtodos existentes, destacam-se areeducao postural global (RPG), que promove o alongamento global das cadeias

    musculares, e o alongamento segmentar, que alonga um msculo ou grupo muscularespecfico. Este estudo visou comparar o alongamento segmentar e o global pelatcnica de RPG quanto ao ganho de flexibilidade, ADM e fora muscular. Trintamulheres foram distribudas aleatoriamente em trs grupos (n=10 em cada): ogrupo global fez alongamento de cadeias musculares; o grupo segmentar realizoualongamento segmentar; e o grupo controle no fez alongamento. Antes e depoisdo tratamento, em todos os grupos, foram avaliadas a ADM de extenso da perna,flexibilidade pelo teste 3o dedo-solo e fora isomtrica de flexo da perna em 45e 90. Os dois grupos experimentais realizaram oito sesses de alongamento de30 minutos cada, duas vezes por semana. Toda a anlise estatstica foi realizadacomp

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    INTRODUOOs exerccios de alongamento tm

    como principal objetivo proporcionarmaior flexibilidade a qual, segundo

    Bandy et al.1, a habilidade de ummsculo aumentar seu comprimento,possibilitando a uma ou mais arti-culaes, em seqncia, se moveremem uma determinada amplitude demovimento (ADM).

    Na prtica clnica, freqentementeo alongamento esttico o mais utili-zado por ser considerado mais seguro,pois uma fora relativamente constante aplicada vagarosa e gradualmenteat um ponto tolerado pelo paciente

    (que representa o ponto de maior com-primento muscular possvel, de formaa evitar o reflexo de estiramento) emantida por um curto perodo detempo2,3. Ainda que Lardner4 considerealongamento esttico s o que reali-zado por uma fora passiva, externaao paciente (por exemplo, um fisiote-rapeuta), o mesmo pode ser realizadopelo prprio indivduo, desde que hajarelaxamento muscular na posioalongada.

    O alongamento esttico normal-mente utilizado para alongar isola-damente um msculo at um pontotolervel e sustentar a posio por cer-to tempo, da ser considerado segmen-tar. Por sua vez, o alongamento globalalonga vrios msculos simultanea-mente, pertencentes mesma cadeiamuscular, e parte do pressuposto deque um msculo encurtado cria com-pensaes em msculos prximos oudistantes5. Essa tcnica, conhecida

    como reeducao postural global(RPG), preconiza a utilizao de postu-ras especficas para o alongamento demsculos organizados em cadeiasmusculares, sendo considerado de lon-ga durao (aproximadamente 15 minu-tos em cada postura). De acordo com aRPG, as cadeias musculares so cons-titudas por msculos gravitacionais quetrabalham de forma sinrgica dentroda mesma cadeia. Por exemplo, todosos msculos da cadeia posterior possi-

    bilitam a manuteno da posioortosttica contra a ao da gravidade.

    Rosrio et al. Comparao entre alongamento global e segmentar

    O alongamento segmentar de um des-ses msculos, ao no levar em contaas compensaes secundrias queocorrem na respectiva cadeia mus-cular, poderiam torn-lo menos

    eficiente6

    .Em relao ao aumento de ADM,

    alguns estudos foram realizados parademonstrar os benefcios do alongamen-to segmentar. Bandy et al.2 compararamos efeitos de diferentes repeties diriase duraes do alongamento ativosegmentar dos msculos isquiotibiaissobre a flexibilidade, medida pelo en-curtamento dos mesmos msculos. Ossujeitos avaliados foram divididos emcinco grupos: o primeiro realizou trs

    repeties de alongamento comdurao de um minuto, o segundo trsrepeties com durao de 30 segun-dos, o terceiro, uma repetio de alon-gamento por um minuto, o quarto umarepetio com 30 segundos de duraoe o quinto foi o grupo controle. Osalongamentos foram realizados duran-te seis semanas com freqncia decinco vezes semanais. Os autoresconstataram que, quando o objetivo aumentar a ADM, alongamentos com

    durao de 30 segundos mostram-seefetivos, e que no houve diferenaquando a durao do alongamentoaumentou de 30 para 60 segundos oua freqncia de uma para trs vezesdirias.

    Guirro et al.7 avaliaram a flexibili-dade e fora dos msculos isquiotibiaisem contrao isomtrica com a pernafletida a 30, 90 e 120, aps umprograma de alongamento segmentarem mulheres sem leso musculoes-

    queltica. O programa foi realizadodurante cinco semanas com fre-qncia de trs vezes semanais, sendorealizadas 15 repeties de alonga-mento passivo mantidas por 60 segun-dos. Os resultados mostraram diminui-o do encurtamento dos msculosisquiotibiais e aumento da fora mus-cular em todos os ngulos avaliados.

    Na prtica fisioteraputica, sousados com freqncia os exercciosde alongamento de msculo ou grupos

    musculares, ou seja, o alongamentosegmentar. Clinicamente, o alonga-

    mento global tem se mostrado eficien-te no tratamento dos desvios posturaise no ganho de flexibilidade, porm aliteratura ainda escassa6,8,9. Dessaforma, o objetivo deste estudo foi

    comparar os dois tipos de alongamento segmentar e global pela tcnica deRPG na melhora da flexibilidade,fora muscular e ADM de indivduossem leso musculoesqueltica.

    METODOLOGIAO estudo foi realizado no Centro de

    Docncia e Pesquisa do Departamentode Fonoaudiologia, Fisioterapia e Te-rapia Ocupacional e o projeto foi apro-

    vado pelo Comit de tica do Hospitaldas Clnicas da Faculdade de Medici-na da Universidade de So Paulo.

    SujeitosParticiparam do estudo 33 volun-

    trias sem leso musculoesquelticade tipo algum, selecionadas de acordocom os seguintes critrios:

    ter idade entre 21 e 30 anos;

    ser do sexo feminino, para garan-tir maior homogeneidade daamostra;

    apresentar encurtamento dosmsculos isquiotibiais, considera-do como uma perda de, pelomenos, 15 na extenso da perna;

    consentir em participar do estudoe assinar o termo de consenti-mento ps-informao, livre eesclarecido.

    Foram excludas as voluntrias comalgum tipo de algia musculoesquel-tica dos membros inferiores e de pa-tologia que limitasse a amplitude demovimento; as participantes querelatassem mudana na freqncia e/ou intensidade de prtica esportivadurante o tratamento; e as que faltas-sem a uma sesso e esta no fossereposta na mesma semana.

    Trs participantes, devido s faltas,no completaram o tratamento. Dessa

    forma, a amostra final foi constitudapor 30 mulheres, distribudas aleatoria-

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    mente em trs grupos com 10 indi-vduos cada: o grupo global fezalongamento pela tcnica de RPG; ogrupo segmentar (fez alongamentosegmentar; e o grupo controle no fez

    alongamento.

    InstrumentosForam utilizados um gonimetro de

    acrlico transparente (Carci) commarcaes de zero a 360; fita mtri-ca; dinammetro (Filizola) cilndricocom capacidade de 50 Kgf, devida-mente calibrado; colchonetes e macapara as sesses de alongamento.

    Procedimentos de avaliaoA avaliao de todas as partici-

    pantes, realizada na primeira e ltimasesses, consistiu em: preenchimentode um protocolo onde se registraramdados pessoais; e avaliao dasseguintes variveis:

    Encurtamento dos msculosisquiotibiais: foi medido pelaamplitude de extenso da perna.A voluntria ficava em decbito

    dorsal, mantendo as pernas fleti-das com os ps apoiados nocolchonete. A coxa direita foi po-sicionada em flexo de 90 esolicitava-se que estendesse ati-vamente a perna, aplicando-se ogonimetro com o brao fixoapontando para o trocnter maiordo fmur, o fulcro no centro daarticulao do joelho seguindo alinha do epicndilo lateral dofmur, e o brao mvel apontan-do para o malolo lateral2,10. As

    medidas foram obtidas sempre nojoelho direito.

    Flexibilidade: foi utilizado o teste3o dedosolo. A voluntria ficavaem posio ortosttica com osps paralelos e em seguidarealizava flexo do tronco man-tendo os braos e a cabea rela-xados. O avaliador media a dis-tncia perpendicularmente doterceiro dedo da mo direita aosolo10,11.

    Fora muscular: medida pelo

    teste realizado com a voluntriaem decbito ventral, com o dina-mmetro fixado parede e presoa seu tornozelo por meio de umafaixa de tecido sinttico inexten-

    svel. O objetivo foi medir a in-tensidade da fora isomtrica(em Kgf) da flexo da perna a 45e 90, sendo realizadas trsrepeties de 6 segundos comintervalos de 30 segundos entrecada repetio. Um tempo dedescanso de dois minutos foi dadoantes da mudana de angulao.A instruo dada era que as vo-luntrias fizessem o mximo defora no sentido da flexo daperna assim que ouvissem ocomando inicial, e relaxassemao comando final. Durante ascontraes isomtricas, foramdados estmulos verbais por partedo examinador. Foi consideradaa maior medida obtida nas trsrepeties em cada posio7.

    Sesses de alongamentoAs sesses tiveram durao de 30

    minutos e foram realizadas duas vezes

    por semana durante quatro semanas,com intervalo mnimo de 48 horasentre as sesses.

    No grupo RPG, as participantesforam submetidas a duas posturas dealongamento mantidas por 15 minutoscada, em abertura e fechamento dongulo coxofemoral. A deciso sobrequais posturas seriam utilizadas emcada sesso teve como parmetros ostestes de abertura e fechamento dengulo coxofemoral e membrossuperiores, segundo procedimento deMarques12. Essas posturas eramrealizadas em decbito dorsal quandoo objetivo era trabalhar com maiornfase os membros superiores e o seg-mento cervical da coluna vertebral;na posio sentada, quando a nfaseera no trax e coluna vertebral; e emp, quando se focalizavam tronco emembros inferiores.

    Em todas as posturas eram tomados

    alguns cuidados: no permitir compen-saes em outras articulaes, como

    aumento da lordose lombar ou protru-so de ombros; evitar que as costelasadotassem a posio inspiratria; e osegmento lombar da coluna vertebraldeveria permanecer retificado.

    No grupo segmentar, foram alonga-dos msculos que fazem parte dascadeias musculares e que tambm fo-ram alongados no grupo global. Cadaalongamento durava 30 segundos,realizado passivamente ou de maneiraautopassiva, bilateralmente, semprecom a preocupao de fixar os seg-mentos prximos a fim de evitarcompensaes. Os exerccios dealongamento foram baseados emKisner e Colby13 e Kendall et al.14.

    Foram alongados os seguintes msculosnas posies:

    decbito dorsal: msculos isquio-tibiais, flexor curto e longo dosdedos, flexor profundo e super-ficial dos dedos, flexor curto elongo do hlux, paravertebrais,glteos, msculos lombares, fle-xor longo do polegar e adutor dopolegar, subescapular, deltide,pronador redondo e pronadorquadrado;

    decbito ventral: msculos gas-trocnmios e sleo, peitoralmaior, peitoral menor, bcepsbraquial e braquial;

    sentada: msculos adutores demembro inferior, iliopsoas, tra-pzio superior, pronador redondoe pronador quadrado.

    Anlise estatstica

    Foi realizada com nvel de signifi-cncia de 5% e os intervalos com coe-ficientes de confiana de 90%, pelostestes qui-quadrado, t de Student,ANOVA e Kruskal-Wallis. O teste qui-quadrado foi usado para analisar avarivel qualitativa atividade fsicadas voluntrias.

    O teste ANOVA foi usado paracomparar os grupos sob suposio denormalidade e igualdade de varincia.A confirmao dos resultados da

    ANOVA foi feita pelo teste de Kruskal-Wallis, que no paramtrico. Os

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    5

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    19

    Global Segmentar Controle

    Melhorarelativa

    Limite Superior

    Mdia

    Limite Inferior

    Ganho relativo de ADM: intervalos com 90% de confiana

    0

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    4

    6

    8

    10

    1 2 3 4 5 6 7 8

    Melhorarelativa

    Limite superiorMdia

    Limite inferior

    VarivelGlobal(n=10)

    Segmentar(n=10)

    Controle(n=10)

    pAnova

    p K-W

    Encurtamento dosmsculos isquiotibiais () 16r3,8 12,6r7,8 0,9r4,1 0,001 0,12

    Flexibilidade (cm) 9,6r8,8 2,7r2,5 1,3r0,9 0,02 0,28

    Fora muscular a 90 (Kgf) 1,1r1,4 1,4r2,0 -0,5r1,3 0,02 0,92Fora muscular a 45 (Kgf) 2,2r1,1 3,1r3,2 -1r1,8 0,02 0,92

    intervalos de confiana para a mdiados grupos foram construdos para aidentificao dos grupos discrepantes.Para confirmao do que foi visuali-zado nos grficos de intervalos de

    confiana, o teste Kruskal-Wallis foiutilizado na comparao dois a doisdos grupos.

    A varivel utilizada em todos ostestes estatsticos foi o ganho relativo(GR) comparando-se o pr e o ps-trata-mento, de acordo com as seguintesfrmulas:

    GR = 100 X (ps-pr)/pr, no casoonde aumento significa melhora;

    GR = 100 X (pr-ps)/pr, no caso

    onde diminuio representamelhora.

    Os procedimentos estatsticos utili-zados neste trabalho podem ser encon-trados em detalhe em Noether15.

    RESULTADOSA anlise dos dados demogrficos

    (Tabela 1) no evidenciou diferenaestatisticamente significante entre osgrupos em relao idade (p=0,16) eao nvel de atividade fsica (p=0,5).Alm disso, todas as voluntrias eramdo sexo feminino, estudantes e solteiras.

    Os valores mdios do ganho rela-tivo de ADM da extenso da perna,de flexibilidade e de fora de flexoda perna a 45 e 90 so apresentadosna Tabela 2. Foi observada diferenaestatisticamente significante entre ostrs grupos no ganho de ADM,flexibilidade e fora muscular (p

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    que no diferem significantemente en-tre si, porm diferem do grupo controle.

    Na Grfico 2 est representado oganho relativo de ADM de extensoda perna intra-sesses para os gruposglobal e segmentar. A interseco entreos grupos indica ausncia de diferenaestatisticamente significante. Nota-seem ambos que a melhora relativa foimaior nas primeiras sesses, decres-cendo ao longo das mesmas.

    DISCUSSOO objetivo deste estudo foi compa-

    rar o efeito da RPG e do alongamentosegmentar no ganho de flexibilidade,fora muscular e ADM, sendo que ahiptese inicial era que exerccios dealongamento com tempo de manuten-o mais prolongado e em cadeiasteriam resultados mais favorveis. Osdados dos dois grupos estudados apre-sentaram ganhos significantes aps arealizao dos alongamentos, pormos exerccios de curta e longa durao(alongamento segmentar e RPG, res-pectivamente) mostraram-se igual-mente eficientes.

    Neste trabalho, a RPG foi aplicadapor um perodo de 15 minutos em cadauma das duas posturas, enquanto ogrupo segmentar alongou vrios ms-culos, razo de 30 segundos cadamsculo, resultando em um tempototal de alongamento dos dois gruposde aproximadamente 30 minutos porsesso. Em relao ao tempo de ma-nuteno, os achados deste estudo vocontra o postulado por Kisner e Colby13,de que o alongamento de 20 minutosou mais traria melhores ganhos que osde curta durao.

    A RPG pode ser enftica em ummsculo, mas sua proposta o alonga-mento mximo no permitindo quehaja compensaes, ou seja, consistenum tratamento que tem como umade suas premissas alongar um nmerogrande de msculos de uma nica vez.Por isso, outra possibilidade para expli-car a similaridade entre os grupos glo-

    bal e segmentar nas variveis flexibili-dade e encurtamento dos msculos

    isquiotibiais pode ser o fato de que aRPG, por distribuir a fora de alon-gamento pelos msculos das cadeias,diminui a intensidade sofrida por cadamsculo isoladamente. Como, pela

    Lei de Hooke16

    , o grau de deformao igual fora aplicada multiplicadapelo tempo de aplicao, pode-se terencontrado um resultado no estatisti-camente significante entre os grupostratados pelo fato de o alongamentosegmentar promover uma intensidadealta o suficiente para compensar ocurto tempo de alongamento.

    Torna-se necessrio discutir a inten-sidade do alongamento pela RPG nosmsculos posteriores dos membros

    inferiores, j que essa tcnica usacontraes excntricas para a evolu-o das posturas, enquanto o alonga-mento segmentar trabalha os msculospassivamente. Salvini17 e Alter18 des-crevem a eficcia da contrao excn-trica no ganho de ADM e hipertrofiamuscular. Portanto, esperava-se que,no presente estudo, houvesse no grupoglobal um ganho maior de flexibili-dade, ADM de extenso da perna e,em especial, de fora muscular, tantopelo aumento da energia potencialelstica relativa maior ADM deextenso da perna quanto pelo treinodireto de fora contrtil da muscula-tura. Mas tal fato no ocorreu, ou seja,no foram encontradas diferenassignificantes dessas variveis entre osdois tipos de alongamento. Isso podesignificar que, durante o tratamentocom alongamento global, no houveestimulao contrtil suficiente nosmsculos isquiotibiais para provocaras diferenas esperadas.

    Alguns estudos investigaram os efei-tos do alongamento muscular segmen-tar na ADM, considerando como formade avaliao o encurtamento dosmsculos isquiotibiais. Bandy et al.2

    observaram que, em uma populaode adultos jovens, o tempo de manu-teno de 30 segundos suficientepara obter ganhos de flexibilidade.Grandi19 no obteve diferenas entre18 e 30 segundos de manuteno nomesmo tipo de populao, enquanto

    Feland et al.20

    constataram um aumen-to na ADM de extenso da perna aps

    a realizao de alongamentos manti-dos por 60 segundos estudandoindivduos idosos. Como a populaodeste estudo tinha idade entre 21 e 30anos, inferiu-se que 30 segundos em

    posio de alongamento eram su-ficientes para aumentar a flexibilidadee ADM.

    Outros autores estudaram os efeitosda tcnica de RPG e do alongamentosegmentar no tratamento de pacientes.Cabral et al.9 trataram pacientes comsndrome fmoro-patelar por oito sema-nas e observaram que ambas as tcni-cas aumentaram a ADM de extensoda perna, porm o alongamento globalproduziu maior ganho de flexibilidade.

    Essa diferena em relao ao presenteestudo pode ter ocorrido pela etiologiaespecfica dessa sndrome, baseadaem encurtamentos musculares. JFernndez-de-las-Peas et al.8 tratarampacientes com espondilite anquilosan-te e observaram uma melhora da mo-bilidade do esqueleto axial aps arealizao de ambas as tcnicas, oque, apesar das diferentes regiesavaliadas, est de acordo com osresultados obtidos neste estudo.

    No existe consenso em relao freqncia com que os exercciosdevem ser realizados. Bandy et al.2 eFeland et al.20 realizaram alongamen-tos com freqncia de cinco vezes porsemana e Grandi19 apenas uma vez porsemana. Neste estudo, os exercciosde alongamento foram realizados duasvezes por semana e os resultados foramsatisfatrios no ganho de flexibilidadee fora muscular e na diminuio doencurtamento dos msculos isquio-

    tibiais.O aumento da fora muscular rela-

    tivo ao ganho de flexibilidade emhumanos foi descrito por Guirro et al.7.Resultados semelhantes foram encon-trados neste estudo, j que os grupostratados tiveram melhor desempenhodo que o controle, porm sem diferenaentre si. Alis, talvez nem seja poss-vel falar apenas sobre aumento de for-a muscular, mas tambm de um me-canismo de maior vantagem mecni-

    ca possibilitando um melhor rendi-mento21 pela otimizao do uso da

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    energia potencial elstica22-24. Tendoem mente esse mecanismo de aprovei-tamento de energia potencial elstica, possvel relacionar os resultados defora muscular com o encurtamento

    dos msculos isquiotibiais, pois os doisgrupos alongados se comportaram demaneira semelhante, ganhando igual-mente flexibilidade e vantagem me-cnica.

    No presente trabalho, foi verificadoum aumento da fora muscular dosgrupos que realizaram alongamento.Isso significa que a energia potencialelstica obtida pelo aumento daflexibilidade e ADM no substituiu afora perdida por uma suposta com-

    placncia do tendo. Os resultadosaqui obtidos levam a concordar comDeyne25, que calculou uma intensida-de enorme da tenso gerada peloalongamento concentrada no msculo. muito provvel que o alongamentono afete negativamente a transmissode fora, e que, ao contrrio, exeraum efeito positivo nessa tarefa.

    Analisando o ganho de ADM obtidointra-sesses, no houve diferena

    entre os grupos alongados aps ainterveno. Como alguns autores26,27

    afirmam que o alongamento estticode 45 segundos resulta num relaxa-mento do estresse viscoelstico instan-

    tneo de 18 a 20%, com o encurta-mento usual voltando em menos de 1hora, supe-se que o ganho intra-sessotenha relao com a viscoelasticida-de. No Grfico 2, possvel notar quea viscoelasticidade diminui progressi-vamente com as sesses, mostrandoque quanto mais alongada uma pessoaest, mais difcil o ganho maior dealongamento por efeito viscoelstico.

    Outra justificativa para a respostahomognea dos grupos que o tra-

    tamento foi realizado seguindo osmesmos princpios: no permitindocompensaes, estimulando um ritmorespiratrio lento e sem bloqueio inspi-ratrio. O alongamento estticosegmentar de execuo mais sim-ples, o que facilita sua aprendizagem.Porm, seu procedimento adequado,com ateno cuidadosa, se faz neces-srio para obteno do efeito obser-vado no presente estudo.

    As sesses dos dois grupos foramindividuais, permitindo um atendi-mento mais personalizado e semprecom o mesmo fisioterapeuta, o que fa-cilita o vnculo e fortalece a motivao

    para atingir as metas teraputicas. Afigura do terapeuta que cuida e orientafaz parte do papel pedaggico na con-duo e aprendizagem dos exerccios,sugerindo sua influncia nos resultados.

    CONCLUSOAs duas tcnicas de alongamento

    utilizadas, reeducao postural globale esttico segmentar, foram igualmen-te eficientes no ganho de flexibili-

    dade, amplitude de movimento e foramuscular de indivduos sem lesomusculoesqueltica; ambas levaram aresultados superiores aos do grupocontrole. Dessa forma, infere-se queambas podem ser utilizadas em situa-es clnicas. Porm, para ampliar asrepercusses clnicas, recomenda-se arealizao de estudos semelhantescom diferentes leses musculoesque-lticas.

    Rosrio et al. Comparao entre alongamento global e segmentar

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