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-MARILENE NASCIMENTO DE SOUSA MARLENE NASCIMENTO DE SOUSA

REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAO INFANTIL: Realidade ou utopia?

Belm-Pa 2002

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REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAO INFANTIL: Realidade ou utopia?

MARILENE NASCIMENTO DE SOUSA MARLENE NASCIMENTO DE SOUSA

Trabalho

de

Concluso

de

Curso

apresentado ao Curso de Pedagogia do Centro de Cincias Humanas e Educao da UNAMA, como requisito parcial para obteno do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia com Habilitao no Magistrio da Educao Infantil 4a srie do Ensino Fundamental e Superviso Escolar com nfase em Educao Infantil, orientado pela Professora Ms. Leila Freire.

Belm-Pa 2002

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REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAO INFANTIL: Realidade ou utopia?

MARILENE NASCIMENTO DE SOUSA MARLENE NASCIMENTO DE SOUSA

Avaliado por:

Data: ____/______/______

Belm-Pa 2002

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Dedicamos aos nossos pais, pela fora e coragem que existe em vocs e que nos transmitiram durante estes quatros anos. Aos professores que contriburam para a construo da pessoa que somos hoje. nossa orientadora, nossa mola propulsora de conhecimentos e motivao para que conclussemos este trabalho. Anne Karolynne pela compreenso, apesar dos quatros aninhos, e pacincia em nossas ausncias passaram. nestes quatro anos que se

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Agradecemos Deus. Aos nossos Pais. Aos nossos amigos. Aos nossos colegas de trabalho pelo apoio e estmulo repassado durante o percurso deste curso. todos que contriburam direta ou

indiretamente para que chegssemos at aqui.

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A Educao da criana deve oferecer a oportunidade a conhecer a realidade, de acordo com o momento das fantasias que ela projeta no brincar e no jogar, estabelecendo elos de ligao entre o plano ideolgico e o mundo concreto de suas aes. Educar a criana segundo uma dimenso autnoma possibilitar seu pleno desenvolvimento. Freinet

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RESUMOO estudo proposto refere-se a anlise do RCNEI na proposta expressa pela LDB 9394/96 no sentido de dinamizar o processo educativo na perspectiva infantil presente na sociedade brasileira. Objetiva-se traar uma anlise reflexiva acerca do contedo e as orientaes expressas nos RCNEI e sua aplicabilidade no cotidiano da pr-escola. Partindo de um estudo bibliogrfico, concentrado especialmente nos volumes que consolidam os RCNEI, o estudo foi desenvolvido usando-se como tcnicas de elaborao o uso de resumos e resenhas que possibilitaram produo do pensamento ora exposto. Atravs de intensivas pesquisas e entrevistas com educadores foi possvel relacionar a aplicabilidade ou no do RCNEI na prtica pedaggica dos professores, e obteve-se como resultado um olhar de conhecimento e de realidade acerca das idias contidas no documento produzido pelo MEC no cotidiano da pr-escola. Contudo o RCNEI no se descreve no cotidiano escolar de modo to formalizado como se manifesta em sua elaborao, mas no depoimento dos professores entrevistados, ressalta-se as suas particularidades se fazerem presente, o que certamente comprova sua relevncia no sentido de melhorar a qualidade da educao infantil oferecida sociedade brasileira.

Palavras-chave:

criana,

educao

infantil,

sociedade,

mudanas,

desenvolvimento, cidadania, transformao, qualidade.

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SUMRIOAPRESENTAO

PARTE I O TEMA EM ESTUDO 1.1 A Justificativa.......................................................................................................12 1.2 A Situao Problema...........................................................................................14 1.3 Os Objetivos.........................................................................................................15 1.4 A Metodologia......................................................................................................16 1.4.1 1.4.2 1.4.3 PARTE II REFERENCIAL TERICO 2.1 Perspectiva Histrica da Educao Infantil..........................................................18 2.2 Educadores que influenciaram a Educao Infantil............................................22 2.3 O Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil - RCNEI.............24 PARTE III RESULTADOS 3.1 Sobre a coleta de dados.......................................................................................36 3.2 A anlise dos dados.............................................................................................38 CONSIDERAES FINAIS BIBLIOGRAFIA ANEXOS Tipo de Estudo......................................................................................16 Local e informantes do estudo..............................................................16 Tcnicas de coleta e anlise de dados.................................................17

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LISTA DE SIGLAS

MEC Ministrio da Educao e Cultura. RCNEI Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. UEI Unidade de Educao Infantil

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LISTA DE QUADROSQUADRO I Perfil do professor QUADRO II Conceito de Criana QUADRO III Concepo de Brincar QUADRO IV Concepo de Educar QUADRO V Concepo de Cuidar QUADRO VI RCNEI Perspectiva de uma Educao Infantil qualitativa QUADRO VII RCNEI Flexvel ao contexto scio, cultural e financeiro QUADRO VIII Aes pedaggicas vivenciadas do RCNEI

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APRESENTAO

O estudo em exposio permite fazer uma anlise do Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil, discutindo se as diretrizes nele estabelecidas se concretizam na realidade do cotidiano da pr-escola ou se trata apenas de propostas inalcanveis. Objetiva-se analisar de modo reflexivo crtico as propostas expressas no RCNEI no mbito da pr-escola, especialmente na rede pblica de ensino, em que o desenvolvimento infantil concebido como importante aspecto a ser alcanado. No momento que as propostas expressas nos RCNEI se apresentam no trabalho docente se revela um importante olhar para efetivao de mudanas no processo educativo oferecido as crianas, em especial na Rede Pblica Municipal de Ensino. O estudo est organizado em primeiro plano pela perspectiva histrica da Educao Infantil no Brasil e seus respectivos tericos que influenciaram na elaborao de propostas educativa e em segundo analisado o RCNEI de acordo com o texto nele expresso. Em terceiro plano apresentado um breve estudo acerca da utilizao do RCNEI na escola pblica municipal, e certamente que as anlises apresentadas permitem lanar um olhar sobre a realidade aponta na Educao Infantil, e as reflexes acerca do quadro que os RCNEI despontam na pr-escola so considerado.

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PARTE I O TEMA EM ESTUDO

As transformaes ocorridas na sociedade brasileira nas duas ltimas dcadas do sculo XX culminaram em significativas mudanas no contexto educacional, concretizada pela implantao da LDB 9394/96 que trouxe novos olhares a Educao Infantil atravs dos artigos 29 a 31, que estabelecem orientaes especficas voltadas s aes relacionadas ao ensino em creches e pr-escolas. O estgio atual do capitalismo em que as classes trabalhadoras (mulheres) so mais exigidas quanto a sua presena no mercado de trabalho, possibilitou desenvolver outros olhares a Educao Infantil, principalmente no sentido de melhorar seu atendimento populao. Assim, umas sries de mudanas ocorreram e impulsionaram a elaborao do Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil no Brasil. Estas mudanas devem ser analisadas, especialmente no sentido de discutir a realidade apresentada nesse nvel de ensino, e as propostas constantes nos textos definidos pelos rgos normativos, pois necessrio entender o discurso e confront-lo com a realidade. As propostas apresentadas no Referencial Curricular Nacional de Educao Infantil que foram deliberadas pelo MEC, voltadas implementao do ensino qualitativo da Educao Infantil em nosso pas no conseguem ser plenamente desenvolvidas na pr-escola, devido a uma variedade de problemas, os quais compromete o ensino e consequentemente a qualidade oferecida s crianas. Assim, o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil, concebido como documento norteador oficial do Estado, relativo a Educao Infantil merece ser estudado no sentido de entender de fato as intenes presentes no oferecimento do conhecimento necessrias integrao da criana sociedade.

1.1 Justificativa O contexto da Educao Infantil na sociedade brasileira merece ser investigado, pois atuando na rea da educao desde 1996, constatamos uma srie de problemas de ordem poltica, pedaggica, social, cultural que conjuntamente comprometem a sua

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qualidade, e nessa perspectiva relevante aprofundar nossos olhares a respeito da Educao Infantil, refletindo sobre o Referencial Curricular Nacional que norteia essa modalidade atravs das aes a serem implementadas na pr-escola brasileira. Eu, Marlene Nascimento de Sousa, cursei o magistrio no Instituto de Educao do Par e aps a concluso fiz concurso para monitoria na FUNPAPA em 1996, conseguindo ser aprovada para o preenchimento de 40 vagas ofertadas pela Prefeitura Municipal de Belm para atuar nas creches enquanto essa instituio ainda ofertava um atendimento na dimenso assistencialista. A transio da FUNPAPA do assistencial para o pedaggico concretizou-se no momento que a LDB 9394/96 implementada na sociedade brasileira, mudando, assim, as aes da referenda instituio do trabalho, passando assim a desenvolver aes pedaggicas exigindo maior preparao e conhecimento dos professores. Portanto, senti que a minha formao pedaggica necessitava ser ampliada, o que foi possvel atravs da realizao do Curso de Pedagogia com habilitao em Educao Infantil oferecido pela UNAMA e este possibilitou examinar o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil permitindo refletir sobre o quadro vivenciado no cotidiano de minhas intervenes, e assim nasceu o questionamento acerca da realidade ou utopia que demarca o presente documento. Enquanto concluinte do curso de pedagogia com habilitao em Educao Infantil e de 1a a 4a sria, penso que o estudo relativo ao RCNEI, importante ser feito, especialmente ao educador comprometido com esse nvel de ensino na sociedade brasileira. Tambm, eu Marilene Nascimento de Sousa ao ingressar no Curso de Pedagogia habilitao em Educao Infantil, observei ao longo do contato que tive com a prescola nos estgios supervisionados que a realidade em que realizado o processo educativo das crianas nem sempre se assemelham com as propostas presente no documento elaborado pelo MEC para orientar o ensino da Educao Infantil. O quadro diferenciado entre as propostas com princpios psicopedaggicos e filosficos apresentados no RCNEI e a realidade do ensino oferecido criana, principalmente nas instituies pblicas merece ser investigado no sentido de se formular um quadro capaz de ser compreendido pelo educador, comprometido com

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a melhoria da qualidade do ensino voltado as crianas, seja no mbito privado ou pblico. As implicncias sociais e polticas que se expressam na Educao Infantil em nosso pas merece ser discutida nos meios educacionais uma vez que o Estado elabora documentos utpicos que no se concretizam no cotidiano da pr-escola, prejudicando as crianas e comprometendo o trabalho do educador, nesse caso, a anlise no RCNEI, oferece possibilidades de construo de um posicionamento necessrio a superao do quadro expresso na Educao Infantil. Desse modo, investigar a temtica proposta relevante, pois oferece oportunidades de se construir novos olhares a respeito da Educao Infantil, numa perspectiva contextualizada realidade que o cotidiano pedaggico expressa. Olhar a realidade pode ser socialmente importante ao desenvolvimento de novas aes a serem implementadas na pr-escola, que contribuam decisivamente para o processo qualitativo da aprendizagem da criana. A pesquisa proposta pode contribuir para reflexes em torno do trabalho da Educao Infantil, rompendo-se com as propostas homogeneizadoras e padronizadas impostas pelos documentos do MEC, que em diversos momentos no conseguem ter aplicabilidade no cotidiano da atividade docente do professor.

1.2 A Situao Problema As propostas do MEC voltadas a educao sistematizada na sociedade brasileira assume um carter voltado homogeneizao do ensino atravs da elaborao de documentos que servem como norteadores da prtica na escola, e nesse contexto revela-se na Educao Infantil a presena do RCNEI, documento esse que estabelece orientaes a respeito da ao pedaggica na pr-escola. Porm, o problema estrutural vivenciado na pr-escola instiga novos olhares os quais merecem ser discutidos em fruns que possibilite mostrar as distores que a realidade expressa na educao infantil, especialmente no momento em que as propostas no encontram embasamento favorvel de se concretizar no plano real das aes.

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O contato dirio com as crianas demonstra a fragilidade do ensino pblico voltado a contemplar as necessidades das classes que buscam na pr-escola o atendimento de suas necessidades educativas, e assim a atividade educacional comprometida resultando em balanos negativos. Diante do discurso progressista e qualitativo constante no RCNEI, em que o ensino da criana direcionado para desenvolver em elevados nveis qualitativos suas mltiplas dimenses, o contraste dos recursos, estruturas e condies presente na pr-escola, nos levam a problematizar: Como se desenvolve no cotidiano da Pr-escola Pblica Municipal de duas UEIs as propostas contidas no RCNEI, visando elevar qualitativamente o aprendizado das crianas? Este problema merece ser investigado, no sentido de buscar a compreenso e construo de um quadro favorvel efetivao de melhores ndices de qualidade ao ensino ofertado na Educao Infantil, especialmente na esfera pblica onde as implicncias se revelam em propores mais acentuadas. Considerando o disposto o problema em exposio investigado partido de algumas questes que norteiam seu estudo, possibilitando conhecer suas dimenses, as quais merecem ser analisados e conhecidos pelos educadores e assim, descrevese: As propostas contidas quanto ao pr-escolar no RCNEI vm se

transformando em realidade no contexto de duas UEIs da Rede Pblica Municipal de Belm? Qual os princpios filosficos e psicopedaggicos contidos no RCNEI? Como as propostas contidas nos RCNEI se materializam na pr-escola de duas UEI da Rede Pblica Municipal da Cidade de Belm?

1.3 Objetivos Geral Analisar se a proposta contida no RCNEI para o Pr-escolar vem se transformando em realidade no contexto de duas UEIs da Rede Pblica

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Municipal de Belm, contribuindo qualitativamente para o desenvolvimento infantil. Especfico Avaliar a utilizao das propostas contidas nos RCNEI no trabalho docente na Rede Municipal de Ensino da Cidade de Belm Identificar se os princpios psicopedaggicos e filosficos contidos no RCNEI, so concretizados no trabalho docente em duas UEIs Pblicas da Rede Municipal de Belm. Perceber nas aes docentes desenvolvidas na pr-escola de duas UEIs, da Rede pblica Municipal de Belm, as que materializam as propostas contidas no RCNEI.

1.4 Metodologia 1.4.1 Tipo de estudo O estudo foi desenvolvido dentro da abordagem qualitativa de pesquisa entendida por Trivins (1995, p.48) como importante aspecto considerado nas cincias sociais para conhecer de modo compreensivo o problema em investigao, de modo que o entendimento do quadro investigado possvel mediante reflexes qualitativas sobre o objeto investigado. A constante interao com o objeto investigado, permitem ao pesquisador ter amplo conhecimento de suas particularidades e que permite a construo de um quadro compreensivo de sua realidade, e nesse caso possvel ao educador construir um olhar favorvel ao entendimento da situao.

1.4.2 Local e informantes do estudo O estudo teve como contexto duas Unidades de prestao de servios educacionais pblicos voltados Educao Infantil da Rede Municipal, sendo todas elas na cidade de Belm, por apresentarem facilidade de acesso s informaes.

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Os informantes foram dois professores da Educao Infantil de cada Unidade, adotando como critrio de participao experincia profissional mnima de dois anos de exerccio nas atividades docente.

1.4.3 Tcnicas de coleta e anlise de dados Este estudo se desenvolveu em etapas conforme est descrito abaixo: Na primeira etapa recorremos pesquisa bibliogrfica no RCNEI e outras fontes necessrias, que permitiram elaborar o arcabouo terico da pesquisa. Na segunda etapa utilizamos questionrios (em anexo) com questes abertas e fechadas, constando perguntas pertinentes investigao prvia da temtica complementada pela observao da prtica dos professores objetivando coletar maiores informaes. Por fim, a terceira e ltima etapa que a anlise dos dados, que foi feita atravs do confronto dos dados coletados nos questionrios com os referenciais tericos que subsidiam a pesquisa, construdo o conhecimento esperado, e assim ser possvel entender as dimenses do problema objeto de investigao.

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PARTE II SOBRE O REFERENCIAL TERICO

2.1 Perspectiva Histrica da Educao Infantil A histria da Educao Infantil marcada por aspectos diversos ligados a fase da infncia da criana, investigados no sentido de compreender as influncias que revelam os fatores psicossociais no desenvolvimento do aprendizado no mundo infantil, que incidem diretamente na elaborao da personalidade da criana. Considerando a ampliao da sociedade capitalista, exigindo um maior contingente de fora de trabalho adulto nos processos produtivos, a mo de obra feminina comea a se fazer presente nas fabricas, agricultura, comrcio e outras ocupaes, principalmente no sculo XIX, em que o desenvolvimento de nveis produtivos provocou a conseqente fragmentao da famlia, logo, a criana aos poucos deixa de ser educada no lar e institucionaliza-se a escola, sendo assim, responsvel pelo processo educativo infantil, e diante do quadro descrito pelo capitalismo Kulmann (1998, p. 16) destaca:As Instituies de Educao Infantil sugerem esse tipo de considerao. As instituies de educao da criana pequena esto em estreita relao com as questes que dizem respeito histria da infncia, da famlia, da populao, da urbanizao, do trabalho e das relaes de produo.

A Educao Infantil na perspectiva institucionalizada pela escola torna-se o meio que o modo de produo capitalista, oferece para guardar a criana como alternativa de contar com a mo de obra feminina no mundo do trabalho, visto que os custos envolvidos no processo produtivo da utilizao feminina ser menor, atendendo aos interesses do capital, e nesse contexto, surge especialmente na Europa, escolas de cunho assistencialista no sculo XIX se apresentavam. Contudo o discurso pedaggico a respeito da Educao Infantil, como modalidade diferenciada de aprendizado humano se revela a partir do sculo XVIII, tendo como principais representantes Rousseau, Comenius, Pestalozzi, Froebel que influenciaram a pedagogia moderna, concebendo a criana em sua singularidade, rompendo-se com a concepo de adulto em miniatura, que at ento prevalecia sob os olhares discriminatrios da idade mdia, especialmente defendo pela igreja.

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O sentimento em relao infncia tem sido discutido em diversos ngulos, principalmente no sentido de garantir um modelo de educao diferenciada as crianas, pois no momento que a sociedade estabelece a partir da estrutura social classista, os sentimentos e concepes que se descrevem ao mundo infantil de submisso e passividade, e esse olhar foi construdo historicamente, conforme revela Kuhlmann (1998, p.24).A infncia burguesa e aristocrtica muito mais conhecida: os tratados de medicina e de educao, a correspondncia privada, os retratos de famlia, deixaram numerosos traos indicadores das atitudes, dos cuidados, da educao e dos sentimentos.

A construo de hbitos, atitudes e comportamentos considerados vlidos na educao infantil, so determinados pelas imposies que a sociedade estabelece nos diferentes momentos histricos, e assim o direcionamento do contexto pedaggico expresso em relao educao da criana influenciada pela viso de mundo que se estabelece entre a classe dominante que se consolida atravs da poltica educacional legitimada pela Legislao do Estado. Ento, h necessidade de pensar a criana como sujeito histrico, na sua materialidade, no seu nascer e viver e como parte constitutiva da sociedade merece ser respeitada na sua dimenso infantil. E a complexidade de sua relao e interao no plano social. A influncia do modo de produo capitalista na Educao Infantil marcante e as instituies escolares comeam a se fazer presente no cenrio brasileiro no sculo XIX e incio do sculo XX apresentando um carter assistencialista visando atender atravs de regime de creches, crianas na faixa etria de zero a seis anos de idade. Destaca-se no ano de 1899 a fundao do Instituto de Proteo e Assistncia Infncia no Rio de janeiro e tambm a inaugurao da Creche da Companhia de Frao e Tecidos Corcovado (RJ) destinada a filhos de operrios da referida fbrica. Nesse contexto observa-se a presena da iniciativa privada participando, mesmo em carter assistencial de promoo da Educao Infantil no Brasil, visto que na ausncia do Estado em suprir as referidas necessidades da populao menos favorecidas, outros segmentos da sociedade se encarregam de desempenhar tal papel.

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Por outro lado ressalta-se que a presena da pr-escola no Brasil, descrita numa dimenso favorvel ao desenvolvimento do aprendizado da criana e prioritria das instituies privadas no final do sculo XIX, em que o jardim de infncia era oferecido as famlias ricas, e segundo Kuhlmann (1998, p.84) o elitismo se revela, especialmente na regio sudeste conforme descreve:O setor privado da educao pr-escolar, voltado para as elites, com os jardins de infncia, de orientao froebeliana, teve como principais expoentes, no Rio de Janeiro, o do Colgio Menezes Vieira, fundado em 1875, e em So Paulo, o da Escola Americana, de 1877.

Revela-se que apesar do desenvolvimento industrial brasileiro no final do sculo XIX e incio do sculo XX se efetiva no plano social, contudo, a oferta da educao infantil populao sonegada pelo poder Pblico e apenas algumas industrias de tecelagem ofereciam creches e escolas maternais a seus funcionrios, e assim a ausncia de uma poltica educacional que atendesse em dimenses qualitativas a educao infantil se revelava em nosso pas e reflete at os dias atuais. Diversas aes promovidas por alguns segmentos representativos da sociedade civil mobilizam-se no incio do sculo XX, influenciado pelas idias socialistas e anarquistas e exigem melhorias sociais populao, especialmente no sentido de garantir condies de melhorias as crianas nas creches, e atravs do Instituto de Proteo e Assistncia Infncia, sediado no Rio de janeiro, algumas aes so direcionadas, conforme descreve Kuhlmann (1998, p.92).Os objetivos do IPAI, segundo seus estatutos de 1903, mostram preocupao com a questo jurdica e tambm com a educao: inspecionar e regulamentar a lactao, inspecionar as condies de vida das crianas pobres... difundir meios de combate tuberculose e outra doenas comuns s crianas.

O assistencialismo revelado buscava-se minimizar o elevado coeficiente de mortalidade infantil registrado no Brasil no incio do sculo XX, de modo que esta iniciativa apesar de no atender na totalidade as necessidades educativas, contudo deve-se considerar o carter social nele revelado. Pensa-se que essas iniciativas isoladas aos poucos deram oportunidades de avanar novos olhares a respeito da Educao Infantil no Brasil.

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Efetivamente a Educao Infantil no Brasil perpassou o carter assistencialista e atravs de aes da iniciativa privada estabeleceu essa modalidade de ensino exclusivo a classe burguesa, sendo o estado principalmente no momento da fase do Bem-estar, incentivou as empresas a subsidiar a educao infantil atravs de programas representados pelo salrio-educao e criao de creches e pr-escolar. Porm a poltica para Educao Infantil se descreve especialmente nas dcadas do sculo XX, pela implementao da LDB 9394/96, em que so estabelecidas diretrizes a serem alcanados e objetivos definidos em relao a esta modalidade de ensino no nosso pas. Ainda assim, os dficits relativos a Educao Infantil se apresentam, e milhares de crianas na faixa etria de zero a seis anos no conseguem ter contemplado suas necessidades educativas, o que nos leva a refletir a respeito do papel e do compromisso do estado no sentido de oferecer a populao seus direito de educar seus filhos de acordo com as determinaes do texto constitucional. Oliveira (2000) revela que a Educao Infantil, numa perspectiva scio-interacionista deve levar em considerao os condicionantes que influenciam em seu processo de desenvolvimento, e ento possvel se verificar no contexto educacional brasileiro, especialmente nas duas ultimas dcadas do sculo XX, a discusso nos meios educacionais, a relevncia do social no processo educativo da criana, e ento:Para o scio-interacionismo, aprendizagem, ensino e desenvolvimento so processos distintos que interagem dialeticamente. Eles no existem de forma independente, mas possibilitam a converso de um no outro, isto , a aprendizagem promove o desenvolvimento e este anuncia novas possibilidades de aprendizagem. (p.29)

A partir da presena das teorias scio-interacionistas no contexto educacional infantil, a pr-escola deixou de ser considerada o local que as crianas eram deixadas pelos pais, apenas para passar o tempo livre, enquanto estes executavam suas tarefas no processo produtivo. A Pr-escola passou a sofrer considerveis mudanas nas propostas pedaggicas destinadas promoo do ensino s crianas nas faixas etrias de zero a seis anos, o que permitiu lanas novos olhares nas perspectivas pedaggicas, e o avano da Educao Infantil em nosso pas se revela principalmente com a contribuio de

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Vygotsky atravs das teorias psicolgicas fundamentadas no materialismo histrico e dialtico. Conceber o processo educativo numa perspectiva dialtica, em que a criana sujeito do conhecimento que produz, permitiu a pr-escola, redimensionar seus mtodos, tcnicas, e acrescentar ao trabalho docente novos modelos de abordagens que favorecesse de fato a produo de conhecimentos pela criana. Assim a Pr-escola no Brasil ganhou novas faces, atravs dos olhares que se lanaram sobre a educao infantil, enquanto processo educacional formador do desenvolvimento da criana, e estes avanos se expressam na presena da modalidade na LDB 9394/96, em que so direcionadas algumas caractersticas peculiares sobre o ensino destinado a faixa etria de zero a seis anos.

2.2 Educadores que influenciaram a Pr-escolar De acordo com Nicolau (1985), as propostas pedaggicas dos pensadores e contribuidores para a pr-escola, destacam-se pelos seus mtodos e principalmente pela viso que cada um deles desenvolveu com relao as crianas nas vrias etapas de sua vida. Assim ressalta que no podemos deixar de destacar a tica de Rousseau como foco de partida, pois a partir da viso iluminista desse pensador tambm conhecido como Pai da Pedagogia que outros estudiosos como Johann Heinrich Pestalozzi puderam ter um referencial prtico para o trabalho dentro de um campo real. Conforme Nicolau (1985), as instituies criadas por Pestalozzi retratavam um ambiente o mais prximo possvel da viso de lar, (com o convvio dirio de professores e alunos) uma em especial permitiu o contato do mestre influenciador e seu discpulo seguidor mais dedicado: Froebel. Froebel considerado o Pai da Educao Infantil, por ser o pioneiro em criar o primeiro jardim de Infncia em 1837, este intitulado Kindergaten, neste a Educao toma a forma de processo de humanizao e criana relegado o direito de crescer como elemento da essncia humana, a prpria humanidade como representao mxima da Divindade advinda da conscincia.

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A maioria das realizaes e reflexes de Froebel, por conseguinte tambm teve grande influncia sobre os demais estudiosos contemporneos seus, principalmente devido a independncia de seu mtodo criativo, capacidade de raciocnio e esprito crtico e aguado sempre antenado s reformulaes possveis que ele poderia implantar no conjunto de idias vigentes inclusive s suas prprias. Portanto, por outro lado Montessori, j visualiza certamente por sua formao mdica a necessidade constante de uma observao positiva sobre o aluno e, assim que ela prope sua Pedagogia Cientfica aplicada ao cotidiano da sala de aula. O constante registro das atividades dos alunos por parte do professor daria a este material suficiente, para uma maior e mais ampla investigao dos fenmenos psicolgicos que permitam uma mais completa adequao do ambiente s condies necessrias para a criana desenvolver-se livre em toda plenitude de sua natureza. Angotti (1994) ressalta que alm das vises froebelianas sobre a educao, o caminho da educao infantil contou com Maria Montessori (1871 1932), conforme j foi comentado anteriormente, com seus princpios de liberdade e adaptao do ambiente s crianas; Celestin Freinet (18961966) incitando a livre expresso, as aulas de passeio e a correspondncia interescolar e Ovide Decroly (1871 1932), com seus centros de interesse. Estes so os pioneiros, mas existem dezenas de outros pedagogos que dedicaram sua vida ao aprimoramento de Educao Infantil na pr-escola. Celestin Freinet merece destaque dentre os percussores da Educao Infantil, pois, atravs de sua concepo do processo educativo voltado para o equilbrio entre o homem e o meio social, prega uma vida totalmente liberta das amarras autoritrias e coercitivas manipuladas pelos adultos. Para ela a liberdade mxima que deve ser passada as crianas tem fundamental reflexo no aumento das potencialidades e carga de responsabilidade que ela pode assimilar. A educao pr-escolar, a partir do trabalho desses pensadores, tomou um rumo voltado a funcionar como meio propiciador de condies que possibilitem o poder de manifestao e expresso externa crtica, enfim, o desenvolvimento da criana de forma global, respeitando as limitaes e necessidades de cada indivduo.

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O referencial terico estruturado sobre as propostas pedaggicas de Frederico Froebel, Maria Montessori, Decroly e Celestin Freinet so subsdio para desenvolver-se uma viso ampla e real da Educao Pr-escolar e sua finalidade. Portanto, os avanos dados no sentido de propiciar criana o direito a uma educao mais eficaz, necessitam evoluir conjuntamente com a sociedade no que diz respeito ao real papel do educador no meio em que ele tem uma maior influncia: o infanto-juvenil.

2.3 O Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil RCNEI A promulgao da LDB 9394/96 trouxe a tona um dos deveres do Estado e direito da criana que o atendimento educativo, j previsto na Constituio Federal no artigo n. 208o inciso IV. A partir do disposto, a educao Infantil passou a ser dentro da viso legal, um dever do estado e da criana. A nova LDB 9394/96, no artigo 21o trata a Educao Infantil como parte integrante da Educao Bsica (Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio), antes dividida em apenas dois segmentos, o antigo 1o e 2o grau. Assim, considerada a primeira etapa da Educao bsica. Devendo ser oferecida em creche (zero a trs anos) e em pr-escolar (crianas de quatro a seis anos), conforme consta no artigo 29o. A finalidade desta primeira etapa da Educao Bsica est bem explicito no artigo 29o , onde consta que a Educao Infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criana em seus aspectos fsicos, psicolgicos, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade. Conforme consta no RCNEI, o MEC com base no artigo 9o inciso IV da LDB 9394/96 onde consta A unio incumbir-se- de (...) estabelecer, em colaborao com os Estados, o Distrito Federal e os Municpios, competncia e diretrizes para a educao infantil (...) que nortearo os currculos e seus contedos mnimos, de modo a assegurar formao bsica comum e preocupado que a finalidade da Educao Infantil expressa na LDB 9394/96, no viesse a tornar-se realidade, pois prevalecia o cunho assistencial ou preparatrio para as sries iniciais em nossa sociedade, promoveu pesquisas e encontros com os educadores e especialistas em Educao Infantil a nvel nacional elaborando um documento tendo como base os

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princpios e objetivos da Educao Infantil que est disposto na LDB 9394/96. Este documento foi denominado Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil - RCNEI. Assim, surgiu o RCNEI com o objetivo de integrar a Educao infantil nos diversos nveis escolares, proporcionando o direcionamento desta para a formao crtica e analtica dos cidados consciente do seu papel na sociedade, firmando a base real e concreta da educao. O RCNEI valoriza a socializao e a discusso, propondo orientaes curriculares tendo como embasamento o processo de desenvolvimento e de aprendizagem da criana, buscando a perspectiva construtivista. Este um instrumento de reflexo do cunho educacional da educao infantil, respeitando os estilos pedaggicos e a diversidade cultural. Porm, apesar deste referencial subsidiar e instrumentalizar os profissionais, atuantes nesse nvel escolar, no de cunho obrigatrio. O RCNEI mostrar o carter educativo do atendimento criana de 0 a 6 anos, onde a creche (0 a 3 anos) deixa a funo assistencialista (uma vez que era considerada como um meio de sanar problemas scio-culturais dos menos favorecidos, os de baixa renda) para partilhar, juntamente com a pr-escola (4 a 6 anos), o carter educacional qualificado e que no haja diviso de classe atendimento. Contm referncias e orientaes pedaggicas que visam contribuir com a implantao ou implementao de prticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condies necessrias para o exerccio da cidadania das crianas Brasileira. Este referencial subdivide-se em trs volumes, assim distribudos: Volume 1: Introduo Volume 2: Formao pessoal e social. Volume 3: Conhecimento de mundo. Abaixo descrevemos cada volume do RCNEI, com snteses dos tpicos. social em seu

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RCNEI VOLUME 1: INTRODUOConforme descreve os quadros abaixo o primeiro volume, faz um resgate geral das caractersticas do RCNEI, aps descreve o conceito de criana, educar, cuidar e brincar, fazendo um perfil do profissional do professor de educao infantil, em seguida descreve como sua organizao est estruturada e os objetivos gerais da educao infantil a partir dos conceitos j delineados, e finalizando relata sugestes de como a instituio e o projeto educativo pode organiza-se ou planejar-se de forma ampla, respeitando as diferenas econmicas e scio-culturais. 1. Caractersticas Contm um conjunto de referncias tericas e pedaggicas, visando a contribuio e implantao de prticas educativas de qualidade que possibilitem o exerccio da cidadania pelas crianas. Sua funo subsidiar a ao dos trabalhadores em educao e os sistemas de ensino estaduais e municipais, contribuindo com as polticas e programas de educao infantil, promovendo a socializao de idias e discusses.

2. Conceitos Criana - A criana real e concreta, situada social e historicamente, sendo um ser nico, com suas particularidades e diferenas, que pensa, opina, discorda e constri conhecimento a partir das interaes que estabelecem com as outras pessoas e com o meio, enfim, um sujeito ativo, construtor da sua histria. Educar envolve o proporcionar concomitante de situaes de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas, possibilitando o desenvolvimento das capacidades infantis de relao interpessoal, de ser e estar com o outro em uma atitude bsica de aceitao, respeito e confiana, e o acesso, pelas crianas a uma gama de conhecimentos da realidade social e cultural. Cuidar - O cuidar est interrelacionado com o educar, pois a ao cuidar, referese em ajudar o outro a se desenvolver como ser humano, portanto significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. Brincar - poder exercer a capacidade de criar, atravs de brincadeiras ou aprendizagem ldicas, com espao amplo para diversidade nas experincias, desenvolvendo atravs da linguagem simblica a auto-estima e a autonomia. 3. Perfil profissional para os professores da Educao Infantil Ser polivalente, trabalhar contedos que abrangem desde cuidados bsicos essenciais at conhecimentos especficos das diversas reas de conhecimento.

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4. Forma de organizao do RCNEI A estrutura do RCNEI organizada por faixa etria (0 a 3 anos: creche, e 4 a 6 anos: pr-escola) e compreende: Dois mbitos de experincias: formao pessoal e social e o conhecimento de mundo. Oito eixos de trabalho: 1 Identidade 2 Autonomia, 3 Movimento, 4 Artes visuais, 5 Msica, 6 Linguagem oral e escrita, 7 Natureza e sociedade, 8 Matemtica. Inicia no Objetivo geral (vol 1), para assim, nortear os objetivos especficos (vol 2 e 3) alcanar nos mbitos e eixos a ser trabalhados, propondo contedos, a cada eixo, necessrios para que se possa ter xito na ao educativa de forma global. As orientaes didticas vem subsidiar, buscando interagir os objetivos e contedos a ser trabalhados. Os mbitos so compreendidos como domnios ou campos de ao que do visibilidade aos eixos de trabalho educativo para que o professor possa organizar sua prtica e refletir sobre a abrangncia das experincias que propicia s crianas.

5. Objetivos gerais da Educao Infantil Objetivos contidos no RCNEI foi elaborado com base no que proposto na LDB 9394/96 e os conceitos de criana, cuidar, educar e brincar, construdos e disposto neste referencial. - Desenvolver uma imagem positiva, descobrindo e conhecendo gradativamente prprio corpo e construindo sua independncia e confiana das capacidades e limitaes. - Desenvolver e valorizar hbitos de cuidado com a prpria sade e do prximo. - Estabelecer vnculos afetivos com todos as pessoas que a rodeiam. - Observar e explorar o espao com curiosidade, percebendo-se como integrante e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para suas conservao. - Brincar expressando emoes, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; - Compreender e utilizar os diversos tipos de linguagens (corporal, musical, plstica, oral e escrita) ao expressar suas idias, sentimentos, necessidades e desejos. - Ter conhecimento de algumas manifestaes culturais, expressando atitudes de interesse, respeito e participao e valorizando-as.

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6. A instituio e o projeto educativo A construo de um projeto educativo deve se constitui de forma coletiva e cooperativa, com a participao de professores, demais profissionais e tcnicos, sob uma gesto democrtica.

VOLUME 2: FORMAO PESSOAL E SOCIALO segundo volume, restringe-se ao mbito formao Pessoal e Social que contm os eixos de trabalho Identidade e autonomia, no qual refleti o favorecimento do processo de construo da identidade e autonomia de um indivduo, iniciando com a concepo deste mbito, descrevendo-o em trs prismas: processo de fuso e diferenciao, construo de vnculos e expresso da sexualidade, em seguida, descreve a aprendizagem atravs da imitao, brincar, oposio, linguagem e apropriao da imagem corporal. Aps relata os objetivos a alcanar por faixa etria e os contedos a serem desenvolvidos, finalizando registra orientaes didticas para o professor. Considerando a abrangncia desse estudo - pr-escolar - o qual compreende a faixa etria de quatro seis anos, ser descrito apenas os objetivos, contedos e orientaes didticas relativos esta faixa etria no segundo e terceiro volume do RCNEI. 1. Concepo A criana constri sua identidade de acordo com as particularidades que se expresso no seu meio, e a escola precisa planejar suas aes educativas auxiliando no processo de construo da identidade e da autonomia de acordo com o modelo scio-cultural. 2. Aprendizagem A aprendizagem da criana se d em contato com a interao que ela realiza com os outros a imitao, e outros recursos so utilizados. 3. Objetivos dos eixos: Identidade e Autonomia crianas de quatro a seis anos - Para esta fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etria de zero a trs anos devero ser aprofundados e ampliados.

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4. Contedo dos eixos identidade e autonomia crianas de quatro seis anos - Estes so alguns contedos: - Iniciativa para resolver pequenos problemas, pedindo ajuda se necessrio. - Identificao progressiva de algumas singularidades prprias e das pessoas com as quais convive no seu cotidiano em situaes de interao. - Participao em situaes de brincadeira (futebol, casinha) de meninos e meninas igualmente, nas quais escolham os parceiros, objetos, temas, o espao e personagens 5. Orientaes didticas quatro a seis anos Nome: A identificao pelo nome da criana na escola importante e este pode ser expressa nos pertences da criana, pois, auxilia no reconhecimento. Imagem: a construo da imagem da criana pode ser desenvolvida na escola visando estruturar sua personalidade. Independncia e autonomia: a independncia da criana deve ser construda de acordo com seu desenvolvimento e esta favorece a autonomia que lhe possibilita fazer sozinho suas atividades. Respeito diversidade: a escola deve oferecer criana o aprendizado que a auxilie a respeitar s diferenas seja elas em relao ao gnero, etnias e outra. A aceitao da diversidade deve ser enfocada noo cotidiano da escola. Identidade de gnero: o respeito s particularidades devem se manifestar na escola visando oferecer criana a construrem e se identificarem sexualmente. Interao: a interao na escola deve possibilitar sua extenso famlia e o professor pode desenvolver atividades que contemplem essas aes. Jogos e brincadeiras: as brincadeiras e jogos oferecem espao para o processo de integrao acontecem na escola e acriana explora o corpo nas maiores dimenses. Cuidados pessoais: A escola deve oferecer criana a formao de hbitos de higiene e condutas corporais que preservem sua sade, e o professor pode desempenhar importante papel neste processo de aprendizado.

RCNEI VOLUME 3: CONHECIMENTO DE MUNDOJ no volume trs enfatiza-se o mbito conhecimento de mundo, que contm os seis eixos de trabalho facilitadores construo das diferentes linguagens pelas crianas

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e para as relaes que estabelecem com os objetos de conhecimento. Estes eixos so: Movimento, Msica, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemtica. Assim, descreve individualmente a concepo de cada eixo e os objetivos, contedos e orientaes didticas.

1. Movimento O movimento est presente desde a vida intra-uterina, a cada movimento desenvolvemos controle sobre nosso corpo e percebemos possibilidades de interao com o mundo, atravs deste, expressamos sentimentos, emoes e pensamentos. 1.1 Objetivos: Crianas de quatro a seis anos Ampliar as possibilidades expressivas do prprio movimento, utilizando gestos diversos e ritmo corporal nas suas brincadeiras, danas, jogos e demais situaes de interao. 1.2 Contedos Selecionar contedos que possibilitem as mltiplas experincias corporais fundamental, por isso, os contedos esto organizados em dois blocos: 1o bloco: expressividade do movimento e 2o bloco: equilbrio e coordenao 1.3 Orientaes didticas 1o bloco: Expressividade do movimento O espelho possibilita a construo da identidade e da imagem corporal, atravs de brincadeiras que as crianas podem fantasiar-se e representar personagens. Brincadeira de roda, possibilitar a percepo do ritmo comum e a noo do conjunto, alm do carter de socializao. 2o bloco: Equilbrio e coordenao carter instrumental Propor brincadeiras que componham aspectos ligados coordenao do movimento e ao equilbrio. Exemplo: empinar pipa, correr, jogos motores de regra, esttua. 2. Msica Conforme consta no RCNEI a msica uma das formas de expresso dos sentimentos, pensamentos e comunicao, que est presente em nossa cultura (em formas de cantigas passada de gerao a gerao), na educao esta deve ser cultivada por proporcionar a integrao e interao.

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2.1 Objetivos crianas de quatro a seis anos - Explorar e identificar elementos da msica para se expressar, interagir com os outros e ampliar seu conhecimento do mundo. - Perceber e expressar sensaes, sentimentos e pensamentos, por meio de improvisaes, composies e interpretaes musicais. 2.2 Contedos Este contedo est dividido em dois blocos o fazer musical e apreciao musical. 2.3 Orientaes didticas O trabalho com msica nesta faixa etria deve ser conduzido de maneira a possibilitar criana o enriquecimento e crescimento dos diversos aspectos referentes produo musical. fundamental a apreciao de msica sem textos, para que a criana perceba, sinta os diversos sons e possibilidades de melodias. 3. Artes Visuais As artes visuais so linguagens relevantes na formao do indivduo, pois integra os aspectos sensveis, afetivos, intuitivos, estticos e cognitivos com os de interao e comunicao social. 3.1 Objetivos crianas de quatro a seis anos - interessar-se pelas prprias produes, pelas de outras crianas e pelas diversas obras artsticas (regionais, nacionais ou internacionais) com as quais entrem em contato, ampliando seu conhecimento do mundo e da cultura. - Produzir trabalhos de arte. 3.2 Contedos O contedo de Artes visual est dividido em dois blocos: Fazer artstico e Apreciao em artes visuais

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3.3 Orientaes didticas Fazer artstico Ao desenvolver as atividades referentes o fazer artstico, deve-se possibilitar o contato, uso e explorao de materiais. Podem ser desenvolvidas com sucatas. Ao utilizar o desenho possibilitar criana ter liberdade de utilizar os mais variados tipos de lpis ou recursos experimentando e construindo. Outra atividade propor a criana fazer leitura de uma cena, figura pedindo que observem e desenhem o que perceberam, construindo uma situao ou histria. Leitura de imagens A apresentar gravuras ou cena, fazer questionamento, no o que observou, o que mais gostou, como o artista constitui estas cores, quais os instrumentos utilizados para executa-lo. Assim, descobriremos o que a criana conhece, percebe, portanto, perceberemos a estrutura cognitiva da percepo e da sensibilidade de observao. 4. Linguagem Oral e Escrita A linguagem oral e escrita uma das formas de insero e de participao do indivduo na sociedade e nas variadas prticas sociais existentes que necessite de leitura e escrita. 4.1 Objetivos crianas de quatro a seis anos - Ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicao e expresso - Familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros, revistas. - Reconhecer seu nome escrito, sabendo identifica nas diversas situaes do cotidiano. 4.2 Contedos O trabalho atravs do oral, leitura e escrita, deve ser de forma integrada e que se complementem, partindo deste pressuposto, os contedos ficaram organizados em trs blocos: falar e escutar, prticas de leitura e prticas de escrita.

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4.3 Orientaes Didticas Falar e escutar O trabalho do educador neste eixo enfatiza-se saber escutar, dar ateno e demonstrar compreenso criana. Possibilitar as crianas ouvir historia, recontar e representar no papel. Prticas de leitura Neste o professor pode possibilitar aos alunos situaes em que participe de leituras de variados tipos de textos pelos adultos, proporcionando assim a criana situaes em que percebam o que est escrito e o falado. Apresentando fichas com os nomes dos colegas da turma, e solicitar a leitura do prprio nome dentro os colegas, de variadas formas e maneiras. Prticas de escrita O texto deve esta presente em sala de aula de forma constante, atravs de escrever para no esquecer uma informao, enviar mensagens, identificar um objeto apresentando em sala, quanto esto presentes hoje, a data do dia, e outros. O ditado em pares para as crianas maiores tambm uma forma de proporcionar a escrita, pois ambas se ajudam. E principalmente criar um clima de integrao e cooperao na turma para se ter xito em qualquer atividade proposta. 5. Natureza e Sociedade As crianas esto rodeadas de fenmenos naturais e sociais, em casa, na rua, na escola, ao perceberem estes fenmenos ficam curiosas e investigativas, manifestando-se atravs de perguntas e buscando respostas aos questionamentos e curiosidades. Os fenmenos mais comuns que as crianas percebem e interessam-se so os pequenos animais, bichos de jardim, os tubares castelos, filmes, tempestades. 5.1 Objetivos crianas de quatro a seis anos - interessar-se e demonstrar curiosidade pelo mundo social e natural, formulando perguntas, imaginando solues para compreende-lo, manifestando opinies prprias sobre os acontecimentos, buscando informaes e confrontando idias. - Estabelecer algumas relaes entre o modo de vida caracterstico de seu grupo social e de outros grupos. - Estabelecer algumas relaes entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se estabelecem, valorizando sua importncia para a preservao das espcies e para a qualidade da vida humana.

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5.2 Contedos Os contedos esto organizados nesta faixa etria em cinco blocos: Organizao dos grupos e seu modo de ser, viver e trabalhar; Os lugares e suas paisagens; Objetos e processos de transformao; Os seres vivos e Fenmeno s da natureza. 5.3 Orientaes didticas Ao trabalhar este eixo o educador, deve sempre possibilitar a formulao de perguntas, com participao ativa ao apresentar problemas e solicitar soluo. Possibilitando, que as crianas confrontem suas idias com as de outras. Manipulao de objetos e instrumentos para buscar informaes, como fotografias, documentos, livros lupas, binculos. Agindo assim, o professor permitir a criana ampliar o conhecimento de acontecimento e fatos sociais e fenmenos naturais. 6. Matemtica A matemtica est presente no cotidiano da criana, desde o conferi figurinhas, dividi balas e brinquedos com os colegas at a mostrar com os dedos a idade, possibilitando a elaborao de conhecimentos matemticos. A educao infantil ir ajudar a criana a elaborar as suas informaes e estratgias e adquirir novos conhecimentos. 6.1 Objetivos crianas de quatro a seis anos - Reconhecer e valorizar os nmeros, as operaes numricas, as contagens orais e as noes espaciais como ferramentas necessrias no seu cotidiano. - Comunicar idias matemticas, hipteses, processos utilizados e resultados encontrados em situaes-problema relativas a quantidades. - Ter confiana em suas prprias estratgias e na sua capacidade para lidar com situaes matemticas novas, utilizando seus conhecimento prvios. 6.2 Contedos Os contedos esto organizados em trs blocos: Nmeros e sistema de numerao, Grandezas e medidas e Espao e forma.

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6.3 Orientaes didticas Jogos de esconde-esconde ou pega onde a criana tem que contar, e cantigas como a da galinha do vizinho bota um, bota dois... podem ser trabalhado para desenvolver o contedo de nmeros e sistemas de numerao. Quanto a grandezas o professor deve partir de exemplos prticos, propondo situaes problemas, como o comparar o litro, quilograma, colher, xcara e a pitada de sal fazendo anlise, questionando e expondo as idias. A matemtica na educao infantil abordada em variedades de brincadeira e jogos. Exemplos de brincadeiras so: as cantigas, brincadeiras da cadeira, quebracabea, domins, dados, jogos de encaixe, jogos de cartas.

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PARTE III RESULTADOSNa parte trs deste trabalho vamos falar do contexto em que a pesquisa foi realizada, o processo de coleta de dados, e por fim a anlise dos dados coletados.

3.1 Sobre a coleta de dados A coleta de dados foi efetivada em duas Unidades de Educao Infantil da Rede Municipal de Belm. Para descrio da diagnose das UEIs, denominaremos de UEI A e UEI B As Ueis tem estrutura fsica de alvenaria e funcionam em regime integral, no horrio de 7:30 s 18:30. As crianas tm dois professores, o 1o entra s 7:30 junto com as crianas e sai s 13:30, e o outro professor entra s 12:30 e sai s 18:30 juntamente com as crianas. A UEI A est localizada em um bairro de classe de mdia, porm, as crianas atendidas so de toda regio de Belm. A UEI A composta de: 1 Berrio I, 1 Berrio II, 1 Maternal I, 1 Maternal II, 2 Jardim, 1 Jardim II, a clientela de crianas atendidas compreende o total de 157. A UEI A tem infra-estrutura simples, com sete salas, sendo duas salas com o ambiente organizado para o atendimento de bebs (berrio I e II). O berrio contm espelho ao nvel da faixa etria, corrimo para a criana apoiarse e emborrachado em uma parte do piso, tem uma cozinha exclusiva para preparar o alimento de forma propcia a esta faixa etria., no esquecendo o banheiro que exclusivo do berrio, contendo pias, penicos e chuveiro para os bebs, este espao acima citado fica no final do prdio escolar. As outras cinco salas esto situadas prximo ao porto de entrada, uma ao lado da outra, em forma vertical, as 3 primeiras so destinadas a turmas pr-escolar Jardim II e I e as duas ultimas so destinadas ao maternal I e II. No lado oposto das salas, est a outra parte do prdio em que consta o refeitrio de tamanho mdio, no canto existe uma pequena sala onde est instalada a secretaria .

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Em frente o refeitrio est uma cozinha ampla e ao lado dois grandes banheiros com trs sanitrios cada, e quatro chuveiros dos quais as crianas se utilizam para o banho e necessidades fisiolgicas. Dando seguimento ao refeitrio no final est o berrio e suas dependncias j citadas acima. Tem uma rea livre no final da UEI, uma parte acimentada com desenhos de amarelinha, carrossel de nmeros e vrios crculos em que a criana pode utilizar para brincar, a outra parte desta rea com areia, destinado ao parquinho com escorrega bunda, carrossel e casinha de boneca. A UEI B funciona em um Centro Comunitrio, a estrutura do prdio est organizada em semi-crculo, ficando assim a rea livre no centro da UEI, o atendimento maior do prprio bairro, contendo seis salas, o refeitrio e um banheiro. A clientela atendida de 150 crianas, contendo 25 crianas em cada sala, divididas em 2 Maternal I, 2 Maternal II, Jardim I e Jardim II, no h atendimento de Berrio. Na entrada consta um grande porto com muro, ultrapassando o porto no lado direito o primeiro compartimento do prdio o banheiro seguido de trs salas (2 Maternal I e 1 Maternal II), posteriormente, no fundo, formando um ele (L) est o refeitrio com uma cozinha bem estruturada e organizada e ao lado a secretaria e no lado esquerdo do prdio formando o semi-crculo consta as outras trs salas (1 Maternal II e 1 Jardim I e 1 Jardim II). As UEIs onde ocorreu a pesquisa, por ser destinada somente Educao Infantil, possuem toda uma estrutura desde as cadeirinhas e mesas at os vasos sanitrios propcios para a faixa etria atendida, sempre diferenciado as instalaes do local e ambiente com a idade da turma. H preocupao de ser constitui perante a comunidade um espao educativo. Portanto visvel a organizao do espao de forma propcia para o acesso da criana visando desenvolver a livre expresso, autonomia e organizao espacial pela criana. Para efetivao da pesquisa de campo, a coleta de dados foi aplicada a dois professores da pr-escola de cada UEI, encaminhando, assim, para a anlise dos dados coletados.

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A pesquisa relevante para o conhecimento do quadro real, que se mostra nos RCNEI, de acordo com as propostas de renomados educadores que apontam medidas de cunho voltado ao social e ao cognitivo dos alunos, de modo que a realidade da criana considerada como aspecto relevante na elaborao da proposta educativa.

3.2 A anlise dos dados A pesquisa descreve um contexto que demarca as relaes expressas na Educao Infantil, atravs de entrevistas com profissionais da rea, e esses olhares so importantes serem descritos para auxiliar a compreenso dos RCNEI no cotidiano das aes docentes. Especialmente os olhares dos professores foram relevantes, o que possibilitaram conhecer a realidade da aplicabilidade das diretrizes propostas. Para fins de anlise deste estudo, organizamos as questes em quadros onde transcreve as respostas dos sujeitos desta pesquisa que passaremos a descrever a baixo:

QUADRO I Perfil do professor Sujeitos Prof A Prof B Prof C Prof D Sexo M F X X X X Tempo de atuao na Educao Infantil 2 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 15 anos X X X X J leu o RCNEI Sim No X X X X

No quadro que se revela o perfil do professor apontado a presena da mulher, no mercado de trabalho bem visvel, sendo na educao infantil em quantidades significativas, e nesse campo se destaca o quanto as relaes de gnero se manifestam levando a mulher a abraar o magistrio e a afetividade com a criana levada em considerao.

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O tempo de servio na educao infantil varia entre dois dez anos de exerccios profissionais, perodo em que a pr-escola estava se difundindo enquanto instituio pedaggica. O conhecimento do RCNEI geralmente relevante em suas vidas enquanto educadora. Observa-se em linhas gerais que o perfil do professor da Educao Infantil, se resguarda de acordo com as exigncias que o quadro social descreve, inclusive na prtica educativa.

QUADRO II Conceito de Criana

Questo 1 Qual o seu conceito de criana? Prof A Criana um ser em princpio que precisa ser moldado. Prof B Um ser social que necessita de ateno, cuidados e investimentos para que possa desenvolver todas as suas possibilidades, cujos direitos devem ser absolutamente respeitados, uma vez que a mesma um cidado e em qual tal deve ser tratado. Prof C Para mim criana um ser histrico e social. Sujeito de um processo que pensa e age de modo especial o qual nato de cada criana. Portanto criana um ser que interage em seu meio contribuindo de forma clara e objetiva. Prof D Um ser em formao.

O conceito de criana observado nas perspectivas apresentadas pelos professores, especialmente voltados a essncia na dimenso social em que o ser humano se descreve. Relata-se um ser em formao, e de acordo com as expectativas que se demonstraram no processo de desenvolvimento, expresso a questo ligada a relao homem e meio. O conceito de criana, no momento que se estabelece como extremamente direcionado aos princpios filosficos e sociolgicos, ora numa perspectiva materialista histrica, ora seguindo o modelo durkheiminiano, se revela contido nas falas dos professores; esta questo voltada ao ser comprova o quanto os professores tem a idia de serem agentes, enquanto educadores do papel modelador do sujeito.

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Quadro III Concepo de Brincar

Questo 2 Como voc v o brincar na Educao Infantil? Prof A essencial, porque atravs do brincar se educa a criana de uma maneira saudvel, sem que ela perceba. Prof B O brincar na educao infantil imprescindvel. Principio norteador de toda as prxis pedaggicas. Contudo o ldico precisa ser melhor explorado e resgatado, principalmente nas Ueis onde a criana passa 12 horas por dia. Decerto que o brincar precisa ser resignificado em favor de uma educao infantil de qualidade. Prof C De suma importncia, pois atravs do brincar que a criana se desenvolve e mostra o potencial criativo que casa criana tem, Destacando tambm sua identidade, autonomia e a sociabilidade. Brincando a criana ler o mundo de modo especial desenvolve a linguagem oral e escrita esse ato dinmico e transformador. Prof D Importante, mas no pode ser o brincar por brincar.

Em relao concepo de brincar, observado que os professores visualizam essa dimenso importante no mundo infantil no momento que associam o uso do ldico um importante instrumento facilitador do aprendizado, e nessa perspectiva a criana d significado ao mundo que a cerca. A brincadeira concebida pelos professores como um momento que possibilita desenvolver a criana em seus aspectos motores, cognitivos e sociais, o que a torna um excelente recurso didtico ao professor utiliza-lo no processo de desenvolvimento da socializao, como tambm das dimenses cognitivas da criana.

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Quadro IV Concepo de Educar Questo 3 Qual a sua concepo de Educar? Prof A Educar formar e praticar os valores da vida, para que o indivduo se torne um bom cidado. Prof B Educar um ato de interao scio-poltico-cultural, pelo qual aperfeioamos o ser social que somos. Meio de instrumentalizao para desenvolvimento pleno, que no se d num plano unilateral, mais interliga inexoravelmente todos e todas envolvidas no contexto escolar. Prof C Educar para mim criar situaes que propicie no s a transmisso dos conhecimentos mas que permita que a criana se envolva em situaes de brincadeiras, relaes afetivas, relaes sociais e culturais que contribua para a formao e para o desenvolvimento de cada criana. Prof D Formar pessoas capazes de se auto-direcionar.

Na concepo de educar ressalta-se numa perspectiva voltada ao processo de acabamento humano, o que merece ser discutido no momento que os professores vislumbram a criana como um ser em formao, e nesse caso, o ato de educar se projeta como a alternativa voltada a construo de hbitos, valores e atitudes consideradas vlidas socialmente. De acordo com as propostas do RCNEI, a concepo de educar se descreve de acordo com as diretrizes que so apresentadas no quadro proposto pelos encaminhamentos que se descrevem nas diretrizes emanadas para o desenvolvimento da educao infantil na sociedade brasileira.

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Quadro V Concepo de Cuidar

Questo 4 Qual sua concepo de Cuidar? Prof A praticar bons hbitos de higiene e ensinar a criana a cuidar de seu prprio corpo. Prof B Cuidar no s e to somente limpar dar de comer, arrumar quando esto sob o nosso cuidado, tambm isso. Cuidar ultrapassa tal dimenso, significando tambm uma das formas pelas qual podemos ensinar nossas crianas. Prof C Para mim, cuidar e educar andam lado a lado no se pode pensar em educar e no pensar em cuidar. E para que isso ocorra preciso que estejamos compromissados com quem queremos cuidar. Quando voc transmite algum conhecimento, ou valores; deve-se ter cuidados com essa transmisso porque voc pode est formando um ser crtico ou no. Ento a partir do momento que h preocupao h cuidados. Logo voc est cuidando e educando. Prof D So princpios bsicos que acompanham a pessoa desde o nascimento.

A dimenso do cuidar se mostra articulada ao pensamento proposto nos RCNEI, contudo os professores entrevistados apresentam um olhar no sentido de proteger a criana ao mesmo tempo, que constroem hbitos saudveis que devem ser aprendidos por elas nas suas relaes cotidianas. Assim o cuidar relacionado a um aprendizado que a criana recebe desde as fases em que comea a interagir com o outro, e nesse caso, suas dimenses se tornam importantes serem estimuladas desde cedo.

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Quadro VI RCNEI Perspectiva de uma educao Infantil qualitativa

Questo 5 Partindo de sua prtica, voc considera que as propostas contidas no RCNEI contribuem significativamente para uma Educao Infantil de qualidade? Justifique. Prof A Sim! Porque nos ajudam na prtica das atividades do dia-a-dia, auxiliando. Prof B Sim, pois serve de um arcabouo terico que servir de um dos norteadores da nossa prxis pedaggica. Prof C Claro. Toda teoria significativa, pois, permite que os horizontes se abram para o mundo basta que voc queira e esteja disposto a buscar esses horizontes e por em prtica. Prof D Acredito que sim, mas as vezes na teoria tudo lindo, tudo d pra fazer, mas na prtica a histria outra.

Os professores concebem a dimenso qualitativa da educao infantil, como um importante referencial a ser conseguido no processo educativo da criana, especialmente por ela se apresentar como um processo impar. No momento que as ajudas que o professor d a criana no sentido de desenvolver seu aprendizado, revela o quanto se torna importante a participao do outro no processo ensinoaprendizagem. De acordo com os RCNEI, a dimenso qualitativa deve se fazer representar no processo educativo da criana, especialmente no sentido de contextualizar as aes educativas ligadas realidade que elas vivenciam no cotidiano. O recorte no cotidiano, permite ao professor direcionar o processo educativo em melhores condies criana se desenvolver.

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Quadro VII RCNEI Flexvel ao contexto scio, cultural e financeiro

Questo 6 As propostas existentes no RCNEI, podem ser aplicadas nesta realidade de Prescola Municipal ou esto fugindo da realidade com propostas que exigem recursos inacessveis para a rede municipal? Prof A Podem ser adaptados de acordo com a realidade, no seguindo totalmente, pois uma realidade diferente da outra. Quando se quer fazer encontra-se um meio. Prof B Pode, diria, ser adaptada nossa realidade, dada s nossas limitaes de instalao; recursos humanos e materiais; mas no algo impossvel de ser feito. Prof C As propostas do RCNEI,podem ser aplicada qualquer realidade, desde que haja estudos de certa forma com um cunho de criticidade e adequada a cada realidade. Prof D Tudo relativo, certas propostas sim e algumas no. Referente s questes que envolvam as dimenses scio-cultural e financeiro, observa-se nas falas dos professores que a adaptao realidade da vivncia da criana apresenta-se como importante fator que a perspectiva educacional deve considerar. Segundo os RCNEI, o contexto scio-cultural da criana, as condies que ela vive e as situaes que demarcam o mundo infantil deve se fazer representar em seu processo educativo. Observa-se nessa perspectiva a necessidade de flexibilizao que os professores devem ter no momento em que adaptam os currculos de acordo com a realidade que a criana apresenta, valorizando a relao que elas estabelecem dialeticamente com o ambiente que lhes oferecido no contexto escolar. O RCNEI no momento que prope a flexibilizao levando-se em considerao o contexto em que se insere, possibilita desenvolve-la em suas mltiplas dimenses, preservam de suas condies reais de adaptao ao meio em que interage com os outros.

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Quadro VIII Aes pedaggicas vivnciadas do RCNEI

Questo 7 Relate algumas atividades, aes (atitudes), que esto contidos em sua prtica que retratem as propostas do RCNEI? Prof A Dramatizaes, gincanas, atividades ldicas etc... Prof B Deixe-me ver: a dramatizao / relatos de experincias / aula passeio / faz-de-conta que as crianas adoram. E ainda o canto / o reconto de historinhas continuadamente lidas. Prof C As atividades extra-classe, as aulas passeio, a sociabilidade de casa criana, o cuidar e o educar de momentos chaves como: o banho, o almoo, o escovar dos dentes e cabelos, o momento do repouso todas essas atividades esto contidas no referencial de maneira que percebemos que no estamos to longe do que prope o referencial. Prof D Tornar a criana um ser ativo, ou seja, fazer com que essa criana se sinta parte da histria, ou seja, voltar as aulas para satisfazer as necessidades, expectativas dessas crianas.

O

RCNEI

apresenta

diversas

sugestes

de

situaes

de

aprendizagens

disponibilizadas nas orientaes didticas, nas falas acima observa-se que os professores em diversos momentos da prtica pedaggica se valem das propostas contidas. Visto que o cotidiano da criana refere-se ao brincar no sentido de desenvolver suas dimenses cognitivas, motoras, sociais, e nesse contexto, os RCNEI se descrevem como importante caminho a ser seguido. A prtica educativa dos professores salienta, no cotidiano da criana, o uso de atividades que fazem parte de seu mundo, e assim consegue-se aproximar as propostas expressas nos RCNEI e o mundo da vida da criana caracterizada especialmente pelo brincar, jogar e outras atividades que se revelam importantes para a construo do aprendizado qualitativo. A questo da autonomia do professor na elaborao e conduo do processo educativo infantil constantemente observado nas falas do professores e este aspecto observa-se no RCNEI, o qual tem como caractersticas ser apenas referncia, portanto, aberto de acordo com as vivncias que se revelam no cotidiano da ao pedaggica e situaes surgidas na prtica docente visando oferecer o ensino adequado realidade.

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Apesar dos RCNEI se mostrarem como alternativa de ensino, no que diz respeito a presena de uma variedade de informaes disponibilizadas ao professor, estes ainda no conseguem dimension-lo em sua prtica, ou ao menos sistematizar as orientaes que se sugerem no documento elaborado pelo MEC, voltado Educao Infantil.

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CONSIDERAES FINAIS

A Educao infantil representada nas propostas contidas nos RCNEI, se descrevem como importante caminho no sentido de sistematizar aes voltadas ao aprendizado qualitativo e do desenvolvimento dos potenciais da criana de acordo com as perspectivas que se estabelecem socialmente. No intuito de desde a infncia forma o futuro cidado, as perspectivas que despontam nos RCNEI abordam amplamente a educao como um processo articulado as vivncias scio-culturais que a criana manifesta e de acordo com a realidade que vive. Esse olhar prioritrio na valorizao dos aspectos ambientais e scio-culturais eleva o nvel de elaborao do RCNEI, no sentido de promover qualitativamente o ensino da criana na sociedade brasileira. Pensamos que a consistncia terica revelada nos RCNEI, mostra o quanto sua utilizao como dimenso orientadora da prtica pedaggica do professor merece ser considerada, visto que anteriormente as propostas se efetivavam desarticuladas de uma dimenso mais concreta, assim a fundamentao terica descrita permite dar melhor consistncia nas aes dos professores no cotidiano. Especialmente as bases conceituais ligadas Educao Infantil possibilitam aos professores orientar sua atividade educativa, tendo claramente definido a concepo de criana, do brincar, do jogo e outras perspectivas que fazem da Educao Infantil um processo diferenciado, exprime o quanto o MEC deseja avanar no sentido de promover melhorias na educao destinada a criana brasileira. Por outro lado, necessrio que o professor tenha no referencial o caminho para conduzir sua prtica educativa, entendendo-se que no possvel a Educao Infantil se revelar no expontanesmo e na improvisao, mesmo se concebendo o mundo infantil como um momento em que a formalizao no se efetiva, mas as bases e orientaes que os RCNEI fornecem ao professor podem ser o caminho para elevar a qualidade do ensino oferecido criana. Consideramos importantes as bases tericas propostas nos RCNEI, principalmente no sentido de buscar o desenvolvimento infantil numa perspectiva de totalidade, em

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que as aes promovidas na pr-escola devem ser sistematizadas visando elevar qualitativamente o aprendizado da criana brasileira. So ressaltados os valores ticos e morais que fundamentam as aes educativas na perspectiva de formao do futuro cidado, capaz de intervir positivamente na sociedade e transforma-la. O olhar voltado construo da criana, pautado na prtica do exerccio da vida cidad, torna o RCNEI, um importante aliado do professor no sentido de sugerir aes que devem se fazer presente no processo educativo da criana. Na consistncia terica e aspectos metodolgicos oferecidos pelo RCNEI, demonstra-se o alto nvel que se espera alcanar na promoo da Educao Infantil, contudo ainda prevalece o olhar de desconfiana dos educadores, especialmente dos professores em relao aos aspectos inovadores que se expressam no RCNEI, e assim expressa-se a perspectiva do rompimento das prticas ligadas ao senso comum, e o uso da criatividade do professor na conduo do processo educativo. Considerando os olhares lanados ao RCNEI, devemos construir a possibilidade de ser possvel suas propostas se concretizarem no plano das realidades ligadas ao processo educativo da criana brasileira, contudo ele perpassa por profundas mudanas polticas e estruturais que se esperam alcanar na sociedade, no momento que as condies de vida, de situaes que muitas vezes so expostas a criana nos leva a crer que os RCNEI existem dentro de uma utopia. Mas preciso conceber que a busca da Educao Infantil de qualidade na sociedade brasileira, possvel no momento que as propostas comeam a ser apresentadas, e certamente que os RCNEI no se revelam como um documento pronto e acabado que deve orientar permanentemente a prtica pedaggica dos professores, mas entende-se que por meio dele possvel adaptar o ensino e voltalo ao atendimento das necessidades reais da criana na sociedade brasileira, respeitando seu contexto e as fases que ela se encontra. A dimenso orientadora presente nos RCNEI deve ser constantemente discutida entre os educadores no momento que elaboram suas propostas de atividades de ensino, e nesse caso, a adaptao realidade deve ocorrer, o que facilita o uso e a aplicabilidade do RCNEI no cotidiano da escola, rompendo com os olhares lanados de ser apenas um documento produzido nos gabinetes do MEC para engessar a educao infantil em nosso pas.

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BIBLIOGRAFIA

ANGOTTI, Maristela. O Trabalho Docente na Pr-Escola: revisitando teorias, descortinando prticas. So Paulo: Pioneira, 1994. BRASIL, Lei de diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei no 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. ______________. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. So Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1988. KUHLMANN, Moiss Jr. Infncia e Educao Infantil: Uma abordagem histrica. Porto Alegre: Editora mediao, 1998. OLIVEIRA, Zilma Demoraes Ramos (org.). Educao Infantil: muitos olhares. So Paulo: Cortez, 2000. ______________. Ministrio da Educao e do Desporto. Secretaria da Educao Fundamental. Referenciais Curriculares nacionais para a educao infantil. Vol. 1, 2 e 3. Braslia: MEC/SEF, 1997. NICOLAU, Marieta Lucia Machado. A educao Pr-escolar Fundamentos e Didtica. So Paulo: tica, 1985. Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil. MEC. Braslia, 1998. TEIXEIRA, Elizabeth. As trs metodologias. Belm: Cejup, 2000. TRIVINS, Augusto. Introduo Pesquisa em Cincias Sociais. So Paulo: Atlas, 1995.

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ANEXO

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ANEXO IUNIVERSIDADE DA AMAZNIA UNAMA CENTRO DE CINCIAS HUMANAS E EDUCAO - CCHE CURSO DE PEDAGOGIA Caro professor, Estamos desenvolvendo o trabalho de concluso de curso TCC, sobre o tema: REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAO INFANTIL: Realidade ou utopia? A pesquisa de campo um das etapas do TCC, assim, contamos com a sua colaborao para que esta etapa se realize preenchendo este questionrio. Lembramos que o seu nome no ser revelado e as respostas sero sigilosas. Sua colaborao importante, pois as informaes prestadas com clareza e fidelidade sero de fundamental importncia para o xito desta pesquisa de campo. Marilene Nascimento de Sousa e Marlene Nascimento de Sousa I PERFIL DO PROFESSOR: NOME: (OPICIONAL)___________________________________________________ 1. SEXO masculino feminino

2. TEMPO DE ATUAO PROFISSIONAL NA EDUCAO INFANTIL (prescola) 2 a 5 anos 5 a 10 anos 10 a 15 anos

3. J leu o Referencial Curricular Nacional de Educao Infantil RCNEI? Sim No

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II CONCEITUANDO A EDUCAO INFANTIL 1. Qual o seu conceito de Criana?

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

2. Como voc v o brincar na Educao Infantil?

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

3. Qual a sua concepo de Educar?

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

4. Qual a sua concepo de Cuidar?

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

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_________________________________________________________________ _________________________________________________________________

5. Partindo de sua prtica, voc considera que as propostas contidas no RCNEI contribuem significativamente para uma Educao Infantil de qualidade? Justifique.

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

6. As propostas existentes no RCNEI, podem ser aplicadas nesta realidade de Pr-escola Municipal ou esto fugindo da realidade com propostas que exigem recursos inacessveis para a rede municipal?

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

7. Relate algumas atividades, aes (atitudes), que esto contidos em sua prtica que retratem as propostas do RCNEI?

R:_______________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

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