Reiniciados

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Você saberia o que é verdade se sua mente tivesse sido apagada? TERI TERRY

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"Reiniciados", sim, este é o título do livro em português, que em breve estará à venda nas livrarias, concorre a mais um prêmio, o Rotherham Book Award! Agora ele é finalista de oito premiações no exterior.

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As lembranças de Kyla foram apagadas,sua personalidade foi varrida e suas

memórias estão perdidas para sempre.

Ela foi reiniciada.

Kyla pode ter sido uma criminosa e está ganhando uma segunda chance, só que agora ela terá de

obedecer as regras. Mas ecos do passado sussurram em sua mente.

Alguém está mentindo para ela, e nada é o que parece ser. Em quem Kyla poderá confi ar em

sua busca pela verdade?

“Excitante, assustador e memorável.” Th e Guardian

Você saberia o que é verdade se sua mente tivesse sido apagada?

T E R I T E R R Y

TE

RI

T

ER

RY

Depois da queda... Os anos de 2020. A desvalorização da moeda, o colapso econô-mico que assolou a Europa, o Reino Unido separado da União Europeia, suas fron-teiras fechadas. Um período conturbado. A maioria das manifestações de estudantes era pacífi ca, no início. Mas a frustração e a raiva cres-ceram. Havia o movimento da Lei e da Ordem que criou os Lordeiros: tolerância zero para a violência e desobe-diência civil; punição pesada para os infratores da lei. Os jovens (os manifestantes, as gangues) deviam ser reabi-litados, mesmo que muitas vezes o que faziam não fos-se culpa deles. Era culpa de

sua origem, do local onde haviam sido criados, do que haviam sofrido. A solução: um certo procedimento que apagava a memória das pes-soas. Perfeito para a coalizão governamental: em vez de punir severamente os crimi-nosos, suas memórias seriam apagadas. Os infratores se-riam Reiniciados. Um reco-meço. Uma segunda chance. Bastava seguir as regras e não fazer perguntas.

ISBN 978-85-62525-72-8

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Estranho.Tudo bem, não tenho muita experiência nisso para emba-

sar este julgamento. Posso ter dezesseis anos, não ser lenta, ou retardada, nem ter sido trancada num armário desde o nas-cimento — até onde eu saiba —, mas ser transformada numa Reiniciada faz isso com você. Deixa a pessoa vazia de expe-riências.

Leva um tempo para que tudo deixe de ser novidade. Pri-meiras palavras, primeiros passos, primeira aranha na parede, primeira topada no dedão. Você entende: primeiro tudo.

Então, me sentir estranha e desconhecida hoje poderia ser só por isso.

Mas estou roendo as unhas, esperando que minha mãe, meu pai e Amy venham me buscar no hospital para me levar para casa. Só que não sei quem eles são. Nem sei onde fica minha “casa”. Eu não sei de nada. Como pode isso não ser... estranho?

Bzzzz: uma suave vibração de aviso do Nivo no meu pul-so. Caí para 4.4, o lado errado da felicidade. Então como um

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pedaço de chocolate e ele começa a subir lentamente enquanto saboreio e observo.

— Se continuar ficando nervosa, vai ficar gorda.Dei um pulo.Doutora Lysander está no beiral da porta. Alta, magra, ves-

tida de branco. Os cabelos escuros esticados para trás. Óculos pesados. Ela desliza, silenciosa como um fantasma, dizem os rumores, sempre parecendo saber antes de alguém cair no ver-melho. Mas ela não é como algumas das enfermeiras que po-dem trazer você de volta com um abraço. Ela não é exatamente o que você chamaria de gentil.

— Está na hora, Kyla. Venha. — Preciso mesmo? Não posso ficar aqui?Ela balança a cabeça. Um lampejo de impaciência em seus

olhos parece dizer Já ouvi isso um milhão de vezes antes. Ou, ao menos, 19.417 vezes, já que 19.418 é o número do meu Nivo.

— Não. Você sabe que isso não é possível. Precisamos do quarto. Venha.

Ela se vira e atravessa o vão da porta. Pego minha sacola para segui-la. É tudo o que eu tenho, mas não é pesada.

Antes de fechar a porta lanço um olhar para minhas quatro paredes. Dois travesseiros, um cobertor. Um guarda-roupa. A pia com uma lasca no canto direito, a única coisa que diferen-cia meu quarto da fileira interminável de quartos deste andar e dos outros. As primeiras coisas de que me lembro.

Por nove meses foram os limites do meu universo. O quar-to, o escritório da doutora Lysander, a academia e a escola, no andar de baixo, onde encontro os outros como eu.

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Bzzzz: mais insistente agora, ele vibra em meu braço, exi-gindo atenção. Os níveis caíram para 4.1.

Muito baixo.Doutora Lysander se vira, aparentando desaprovação. Ela

se inclina até que nossos olhos estejam na mesma altura e co-loca a mão no meu rosto. Outra das primeiras coisas de que me lembro.

— Acredite, você ficará bem. E, no início, vou ver você a cada quinzena.

Ela sorri. Um breve espasmo de lábios entre os dentes que parece desconfortável em seu rosto, como se ela não tivesse certeza de como aquele sorriso chegara ali ou o que fazer agora que chegou. Eu estou tão surpresa que esqueço meu medo e começo a me afastar do vermelho.

Ela balança a cabeça, ajeita o corpo e caminha pelo corre-dor em direção ao elevador.

Descemos em silêncio os dez andares para o “Térreo”, de-pois seguimos por um curto corredor até uma outra porta. Por-ta que eu nunca havia atravessado antes, por razões óbvias. So-bre ela está escrito “P&L”: Processo e Liberação. Uma vez que alguém passa por essa porta, nunca mais será visto novamente.

— Vá em frente — ela diz.Paro indecisa, mas depois empurro a porta até a metade.

Me viro para dizer adeus, ou por favor não me deixe, ou as duas coisas, mas ela já está desaparecendo no elevador, com um sa-colejo do casaco branco e dos cabelos escuros.

Meu coração bate muito rápido. Eu inspiro e expiro, e conto até dez de cada vez, até que ele começa a desacelerar,

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como eles nos ensinaram; endireito então os meus ombros e escancaro a porta. Do lado de dentro, um longo cômodo com uma porta na extremidade oposta, cadeiras de plástico ao longo da parede, dois outros Reiniciados sentados, com uma sacola como a minha no chão em frente a eles. Reconheci os dois das aulas, embora eu tenha estado aqui por mais tempo. Assim como eu, eles estão livres dos macacões de algodão azul desbotado que sempre usamos e vestem um jeans de verdade. Seria apenas outro uniforme? Eles estão sorrindo. Emocionados por finalmente deixar o hospital com suas fa-mílias.

Não importa se eles nunca se viram antes.Uma enfermeira, na mesa encostada à outra parede, ergue

o olhar. Eu atravesso a porta, relutante em deixá-la se fechar atrás de mim. A enfermeira franze levemente a testa e agita a mão num convite para que eu me aproxime.

— Você é a Kyla? Precisa registrar-se comigo antes de dar saída — ela diz, com um largo sorriso.

Forço o passo até sua mesa; meu Nivo vibra quando a por-ta fecha com estrondo atrás de mim. Ela segura minha mão e escaneia meu Nivo enquanto ele vibra com força: 3.9. Ela balança a cabeça; com uma das mãos segura forte meu braço e enfia uma seringa em meu ombro com a outra mão.

— O que é isso? — pergunto, retirando e esfregando meu braço, embora eu já desconfie do que se trata.

— Apenas algo para manter o seu nível até que você seja o problema de outra pessoa. Sente-se e espere seu nome ser chamado.

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Meu estômago está revirado. Sento-me. Os outros dois me olham espantados. Posso sentir o Elixir da Felicidade come-çando a se espalhar por minhas veias, relaxando, mas isso não cessa meus pensamentos mesmo quando meu Nivo lentamen-te se eleva para 5.

E se meus pais não gostarem de mim? Mesmo quando eu realmente me esforço — o que, para ser sincera, não acontece com frequência —, as pessoas não parecem se encantar comi-go. Elas ficam chateadas, como a doutora Lysander, quando não faço ou não digo o que esperam.

E se eu não gostar deles? Tudo que sei são seus nomes. Tudo que tenho é uma foto, emoldurada e pendurada na pa-rede do meu quarto no hospital, e agora enfiada em minha sacola. David, Sandra e Amy Davis: papai, mamãe e irmã mais velha. Eles sorriem para a câmera e parecem bem simpáticos, mas quem sabe como eles realmente são?

No final das contas, nada disso importa, porque não im-porta quem eles sejam, tenho de fazê-los gostar de mim.

Fracassar não é uma opção.

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“Registrar” não é grande coisa. Sou escaneada, fotografada e pesada. Verificam minhas impressões digitais.

No final das contas, “Liberar” é que são elas. A enfermeira me instrui sobre como devo dizer olá para minha mãe e meu pai, explica que vamos assinar alguns papéis para atestar que somos todos agora uma família feliz, e então iremos embora juntos para vivermos felizes para sempre. Claro que eu perce-bo o problema logo à frente: e se eles derem uma olhada em mim e se recusarem a assinar? E aí?

— Ajeite essa postura! E sorria — ela resmunga, e então me empurra por uma porta.

Tasco um largo sorriso no rosto, certa de que isso não irá me transformar de assustadora e infeliz em angelical e alegre; estava mais para uma demente.

Paro na entrada da porta, e lá estão eles. Quase espero vê--los na pose da fotografia, usando as mesmas roupas, como bonecos. Mas cada um está com uma roupa diferente, numa posição diferente, e os detalhes pedem uma nota: é muita

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informação, todas ameaçando me dominar e me enviar para o vermelho, mesmo com o elixir da felicidade ainda ativo em minhas veias. Ouço a voz tediosa da professora, as mesmas pa-lavras se repetindo, como se ela estivesse parada ali na minha frente: uma coisa de cada vez, Kyla.

Foco em seus olhos e deixo o resto para depois. Os do pai são cinzentos, indecifráveis, contidos; os da mãe são de um castanho suave e brilhante, olhos impacientes que me lembram a doutora Lysander e que, como os dela, não perdem nada. Minha irmã também está lá. Grandes olhos escuros, quase negros, me encaram curiosos, numa pele cintilante como um veludo cor de chocolate. Quando a foto me foi enviada, algu-mas semanas antes, perguntei por que Amy era tão diferente dos meus pais e de mim, e me disseram secamente que a raça é irrelevante e não é mais digno de nota ou comentário sob a gloriosa Coalizão Central. Mas como ignorar?

Sentam-se os três a uma mesa, diante de um homem. To-dos os olhares estão em mim, mas ninguém diz nada. Meu sorriso é cada vez mais artificial, como um animal morto que agora está em meu rosto num sorriso de morte.

E então o pai salta da cadeira. — Kyla, estamos muito satisfeitos por recebê-la em nossa

família — e sorri e pega minha mão, beija minha bochecha, seu bigode arranha. Seu sorriso é carinhoso e real.

A mãe e Amy estão lá, também; os três são bem mais altos do que eu, com minha insignificante altura de pouco mais de um metro e meio. Amy passa o braço sobre o meu e acaricia meus cabelos.

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— Uma cor tão linda, como cabelo de milho. Tão sedoso!A mãe também sorri, mas seu sorriso é como o meu.O homem atrás da mesa dá um pigarro e mexe em alguns

papéis.— Assinem aqui, por favor.A mãe e o pai assinam onde é mostrado, depois o pai me

entrega uma caneta.— Assine aqui, Kyla — diz o homem, apontando para uma

linha em branco no final de um longo documento, com “Kyla Davis” digitado abaixo.

— O que é isso? — pergunto, as palavras saindo antes que eu pudesse pensar e depois falar, como a doutora Lysander está sempre me dizendo.

O homem do outro lado da mesa levanta as sobrancelhas, enquanto sua expressão passa de surpreso a irritado.

— Documento padrão de soltura do tratamento obrigató-rio para a sentença externa. Assine.

— Posso ler primeiro? — pergunto. Algum resquício de teimosia me faz agir assim, embora outra parte de mim sus-surre que é uma péssima ideia.

Os olhos dele se estreitaram e ele suspira.— Sim. Pode. O resto de vocês aguarde enquanto a senho-

rita Davis exercita seu direito legal.Eu folheio, mas se trata de uma dúzia de páginas com um

longo texto flutuando diante de meus olhos, e meu coração começa a bater forte novamente.

O pai coloca a mão em meu ombro e eu me viro.— Está tudo bem, Kyla. Vá em frente — diz ele, o rosto

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calmo me tranquiliza; suas palavras e as da mãe são as que devo ouvir de agora em diante. Me recordo de uma enfermeira me explicando tudo isso pacientemente na semana anterior: isso é parte do que há nesse contrato.

Eu coro e assino: Kyla Davis. Não mais apenas Kyla — o nome escolhido por um dos diretores quando abri meus olhos pela primeira vez nesse lugar onze meses atrás, em homena-gem à sua tia, que, segundo ele, tinha olhos verdes como os meus. Agora um segundo nome me pertence, por fazer parte dessa família. Isso também está em algum lugar do contrato.

— Pode deixar que eu levo — diz o pai, pegando minha sacola. Amy me dá o braço e atravessamos a última porta.

Dessa maneira, deixamos para trás tudo o que eu conheço do mundo até então.

A mãe e o pai me observam pelo espelho retrovisor enquanto nos deslocamos no estacionamento do hospital em direção à saída. É justo que eu também os observe.

Eles provavelmente estão se perguntando como consegui-ram filhas tão incompatíveis. Nada a ver com a cor da pele, o que eu supostamente não deveria notar.

Amy está sentada ao meu lado no banco traseiro. Ela é alta, peitos fartos e três anos mais velha do que eu, dezenove anos. Eu sou baixinha e leve, com cabelos ralos e loiros; os dela são escuros, grossos e pesados. Ela tem um tchã, como diz um en-fermeiro sobre uma enfermeira por quem ele tem uma queda. E eu...

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Meu cérebro busca por uma palavra que defina o opos-to de Amy, mas não encontra nada. Talvez seja essa mesma a resposta. Sou uma página em branco. Uma página sem graça.

Amy está com um vestido estampado vermelho de mangas longas, mas ela levanta uma delas para que eu veja seu Nivo. Meus olhos se arregalam de surpresa: então ela também foi Reiniciada. Seu Nivo é de um modelo antigo, grosso e largo, enquanto o meu é uma fina corrente dourada com um visor pequeno, feito para se parecer com um relógio, mas que não engana ninguém.

— Estou tão feliz por você ser minha irmã — ela diz, e fala com sinceridade, já que seu Nivo marca 6.3 em enormes números digitais.

Chegamos ao portão; os guardas estão lá. Um vem até o carro e os outros olham por trás do vidro. Papai toca em alguns botões e todas as janelas do carro e o porta-malas se abrem.

Mamãe, papai e Amy puxam as mangas de suas roupas e colocam as mãos para fora das janelas; eu então faço o mesmo. O guarda olha para os pulsos vazios de mamãe e papai e ba-lança a cabeça, depois vai até Amy, segura algo sobre seu Nivo e ele bipa. A seguir ele faz o mesmo comigo, e o meu também bipa. Ele olha o porta-malas e o empurra para fechar.

Uma cancela se ergue em frente ao carro e nós atravessamos.— Kyla, o que você gostaria de fazer hoje? — pergunta ma-

mãe.Mamãe é rechonchuda e afiada, e, não, isso não é ridículo.

Sua forma é rechonchuda e suave, mas os olhos e as palavras são afiados.

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O carro pega a estrada e eu me viro para trás. O complexo hospitalar que eu conheço, mas só por dentro. Estende-se de lado a lado e para cima. Fileiras intermináveis de janelinhas com grades. Cercas e torres altas com guardas a intervalos re-gulares. E...

— Kyla, eu te fiz uma pergunta!Levo um susto.— Não sei — eu disse.Papai ri.— Claro que não, Kyla; não se preocupe. Kyla não sabe o

que quer fazer, ela não sabe o que existe para se fazer.— Mas, mamãe, você sabe — diz Amy, balançando a ca-

beça. — Vamos direto para casa, deixar ela se acostumar um pouco com as coisas, como orientou o médico.

— Sim, porque médicos sabem de tudo — suspira mamãe, e eu prevejo uma longa discussão.

Papai olha o retrovisor.— Kyla, você sabia que cinquenta por cento dos médicos se

formam como um dos últimos de sua turma?Amy ri.— Honestamente, David — diz mamãe, mas ela também

está sorrindo.— Vocês já ouviram aquela do médico que não sabia a di-

ferença de esquerda e direita? — pergunta papai, mergulhan-do em uma longa história de erros cirúrgicos que eu espero que nunca tenham acontecido em meu hospital.

Mas logo me desvio de tudo o que eles estão fazendo e di-zendo e me distraio olhando pela janela.

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Londres.Uma nova imagem começa a se formar em minha men-

te. O hospital New London está perdendo seu lugar, engoli-do pelo mar que o cerca. Estradas para todos os lados, carros, edifícios. Os mais próximos ao hospital estão enegrecidos e lacrados; outros estão cheios de vida. Nas varandas, plantas e cortinas esvoaçam das janelas. E por toda parte: gente. Nos carros, andando pelas ruas. Multidões de pessoas, lojas, escri-tórios e mais multidões de pessoas apressadas, em todas as di-reções, ignorando os guardas nas esquinas que se tornam mais escassos quanto mais nos afastamos do hospital.

Doutora Lysander havia me perguntado muitas vezes por que tenho compulsão em observar e saber tudo, memorizar e mapear todo relacionamento e ponto de vista.

Não sei. Talvez eu não goste de me sentir em branco. Há tantos detalhes perdidos, que precisam ser organizados.

Após dias reaprendendo a colocar um pé diante do outro e a não cair, eu havia andado, contado e mapeado com imagens em minha mente cada andar do hospital cujo acesso era per-mitido. Eu seria capaz de encontrar cada posto de enfermagem, laboratório e sala pelo número, e de olhos vendados; eu pode-ria fechar meus olhos agora e ver tudo isso diante de mim.

Mas Londres é outra história. Uma cidade inteira. Eu teria de subir e descer cada rua para completar o mapa, e parecía-mos estar em uma viagem de linha reta em direção ao “lar”, um vilarejo uma hora a oeste de Londres.

Eu havia visto mapas e fotos, é claro, na escola do hospi-tal. Todos os dias eles levavam horas nos alimentando com

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conhecimento geral, o quanto nossos cérebros em branco pudessem absorver, para nos preparar para quando fôssemos soltos.

A variedade era grande. Eu me agarrei a cada fato, memo-rizando, desenhando e escrevendo várias vezes em um cader-no para não esquecer. A maioria dos outros era menos recep-tiva. Muito ocupados distribuindo enormes sorrisos dopados para tudo e para todos. Quando nos tornamos Reiniciados, eles intensificam a felicidade em nossos perfis psicológicos.

Se eles aumentaram a minha capacidade de sorrir, devem ter tido de começar do zero.