RELAÇÕES PRECOCES

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RELAÇÕES PRECOCES – VINCULAÇÃO: Muita coisa se decide na infância. A investigação psicossocial tem demonstrado que os primeiros três anos de

vida são essenciais para o desenvolvimento da personalidade da criança, e que uma relação precoce fiável, com figuras adultas seguras e estáveis, é o primeiro passo para assegurar um futuro promissor.

A prematuridade e o desenvolvimento lento do bebé traduzem-se num conjunto de sintomas, como a duração interminável da infância, que consequentemente leva a que a criança até muito tarde dependa do adulto que a sustenta, a protege e lhe proporciona aprendizagens úteis à adaptação. No entanto, durante séculos, o recém-nascido foi encarado como sendo pouco mais do que um indigente. Julgava-se que não via, não ouvia, não distinguia cheiros, não sentia emoções, pensava-se que era destituído de memória e incapaz de qualquer aprendizagem.

No século XVIII, J. Rousseam publica a sua obra ‘Emile’ no qual advoga os direitos da criança, sendo esse conceito antigo de infância ultrapassado; agora considera-se a criança como um indivíduo activo e promovido de competências próprias ao seu estado de desenvolvimento. Deste modo, a partir do século XVIII assistimos um exponencial desenvolvimento da medicina pediátrica e a uma maior protecção, dada a criação dos Direitos da Criança. No entanto, infelizmente, e apesar da evolução psicossocial, ainda hoje em muitos quadrantes culturais o período da infância é desprezado no ciclo de vida dos indivíduos.

Na psicologia, o desenvolvimento infantil é um assunto de eleição, sendo vários os psicólogos que chamaram atenção para um novo conceito de infância, na qual desde o nascimento a criança tem de efectuar caminhadas nas vias intelectuais, afectivas e sociais, sendo que todos eles admitem que o desenvolvimento é dinâmico envolvendo relações sociais - Piaget com a tese do interacionismo, Freud advogando a teoria psicossexual e Erickson dando grande importância à componente psicossocial.

Actualmente, admite-se que a criança é portadora de necessidades que exigem ser satisfeitas e capacidades que requerem ser desenvolvidas.

Quando nasce a criança é portadora de uma bagagem sensorial que compreende sensações, sabendo olhar, ouvir, cheirar e sentir frio, calor, dor, prazer, fome ou sede - estas constituem o seu esquema reacção aos estímulos do meio. Portanto, qualquer criança nasce provida de actos reflexos que contribuem para a sua sobrevivência e adaptação à vida. Do seu equipamento natural faz também parte a predisposição para competências relacionais, sendo o choro a forma mais eficaz de se relacionar com os outros. O sorriso é outra competência relacional. Segundo Spitz, entre as três e as seis semanas, o bebe sorri para as outras pessoas; trata-se, segundo ele, da primeira manifestação de sociabilidade do bebe. Outra habilidade da criança é a capacidade de imitar expressões faciais, que prenunciam as enormes capacidades de aprendizagem que se virão a manifestar no futuro.

Também a mãe necessita de desenvolver competências biológicas, sociais e emocionais para estar à altura do relacionamento precoce desencadeado pelo bebe. Entre as competências biológicas conta-se a entrada em funcionamento do sistema hormonal, designadamente a nível dos ovários, da hipófise e das glândulas mamárias. As competências sociais prendem-se com as aprendizagens que a mãe tem de fazer para cuidar adequadamente da criança. As emocionais relacionam-se com um conjunto de sentimentos, como amor, carinho, ternura e dedicação que proporcionam à criança uma estadia agradável no mundo.

Por tudo isto, concluímos que somos seres inter-relacionais, sendo a mãe (não obrigatoriamente a mãe biológica) o nosso primeiro interlocutor com o mundo. Assim, a vinculação é biológica, emocional, afectiva, psicológica, social e cultural, sendo a tendência dos bebes para permanecerem junto da mãe durante os primeiros

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tempos de vida, estabelecendo com ela laços positivos de afecto. Apresenta-se, segundo J. Bowlby, como uma

relação de interacção comunicativa tão importante quanto as necessidades básicas vitais para a criança.

Estudos de alguns etólogos como Harlow, com o estudo das macacas Rhesus, ou K. Lourz com a teoria do Impriting, influenciaram o estudo da vinculação humana. Na experiência de Harlow concluiu-se que a procura de contacto corporal e de proximidade física são mais importantes que a necessidade de alimentação. Esta necessidade de agarrar, de estar junto da mãe, obtendo conforto e segurança é essencial no desenvolvimento do bebé, sendo, no entanto, a privação ou défice de estimulação sensorial, perceptiva e social por parte da mãe a razão de perturbações físicas, afectivas e mentais futuras.

Os resultados das experiencias efectuadas com animais não podem ser alargadas ao ser humano, dada as diferenças existentes entre o Homem e os restantes animais, mas permitem concluir que os bebes humanos necessitam de criar laços afectivos com alguém que interaja com ele para que posteriormente tenham a capacidade de viver estavelmente numa sociedade.

Autores como Freud e Bowlby advogam que a vinculação serve essencialmente para a satisfação de uma necessidade biológica. No entanto, esta ideia encontra-se já ultrapassada, sendo a vinculação sinónimo de afectividade, de sociabilidade, de conforto, de segurança e de reciprocidade. M. Awsworth, aprendiza de Bowlby, supera a teoria do seu mestre introduzindo a vinculação paterna nas relações precoces do bebe e o papel da sociedade nas suas relações. Em tempos idos, o pai não era considerado na relação afectiva desenvolvida na infância, em virtude da definição clara de papéis orientada por critérios de género: a mãe dispensava o amor, cabendo ao pai a autoridade. Nas sociedades contemporâneas, pai e mãe partilham funções formando o círculo maternante. A acção directa dos pais sobre a criança tem duração limitada, sendo posteriormente introduzido o terceiro elemento da tríade, a sociedade.

Outros autores advogam ainda que a vinculação tem como função a resolução de tensões internas; W. Bion enaltece o papel das vivencias na estrutura do psiquismo da criança, interpretando a relação de vinculação em termos de continente/conteúdo, sendo que a mãe funciona como o continente onde a criança vive e onde capta as primeiras representações do mundo. Ana Freud, após um estudo efectuado em infantários fundados no tempo de guerra, concluiu que apesar de as crianças estarem bem cuidadas em termos de alimentação e higiene, quase todas apresentavam perturbações emocionais atribuídas à ausência de afecto. Também os sintomas do síndrome do hospistalismo observados por Spitz em crianças a viver em orfanatos mostram que a alimentação e os cuidados básicos não substituem por si só o afecto maternal.

Assim, um relacionamento deficiente entre a criança e o ciclo maternante compromete a evolução psicoafectiva da criança, como demonstraram Ana Freud com as crianças da guerra, Bion com as crianças afastadas da família e Spitz com as vítimas do hospitalismo.

RELAÇOES INTERPESSOAIS – COGNIÇAO SOCIAL:COGNIÇAO SOCIAL - apresenta uma dimensão social, na medida em que um grande número de pessoas partilha uma serie considerável de noções comuns.

IMPRESSOES – CATEGORIAS - EXPECTATIVAS – ATITUDES – REPRESENTAÇOES (processos implicados nas nossas interacções sociais)

IMPRESSOES – noções criadas espontaneamente no contacto com as pessoas, que nos fornecem um quadro interpretativo para as julgarmos no que elas são e nas suas reacções. As impressões respeitam à avaliação global de uma pessoa (gestaltismo / holismo) baseada em informações que obtemos directamente ou por meio de outras pessoas. Estas avaliações permitem a organização da sociedade em categorias, associando-as por afinidades, reduzindo-se a complexidade social.

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Isto significa que as impressões nos permitem fazer a CATEGORIZAÇAO SOCIAL, isto é a inclusão das pessoas em categorias ou grupos sociais.

CATEGORIZAÇAO SOCIAL – construção de quadros conceptuais de apreensão dos outros, com base na semelhança

das suas propriedades, ou seja faz-se com base na generalização.

O psicólogo Allport atribuiu à categorização a capacidade de incluir pessoas, coisas e acontecimentos em conjuntos organizados; integrar num conjunto o máximo de informação, facilitando a actuação na realidade; identificar rapidamente objectos e acontecimentos portadores de marcas próprias de uma categoria e por fim, atribuir aos objectos categorizados um complexo de ideias que passam a permanecer neles. Ou seja, a categorização é um processo racional legitimo, desde que parta de verdades devidamente comprovadas.

O conhecimento das pessoas e a sua categorização organizam-se à roda de traços centrais, gestalt, que constituem uma espécie de directriz ou padrão de caracteres que dão sentido a outros que se lhe subordinam. Asch refere-se ao ‘efeito primazia’ para designar o papel das primeiras impressões que, a semelhança dos traços centrais, condicionam as cognições posteriores.

ESPECTATIVAS – atitudes psicoafectivas que, em face de certos indícios, conduzem as pessoas a antecipações de determinadas ocorrências sociais.

Na vida real, as primeiras impressões, ao vincarem-se nas pessoas, condicionam as avaliações posteriores. Assim, implicado nas expectativas, o efeito primazia é o factor de inércia quando se trata de alterar os nossos juízos. Contudo, não pode ser algo interpretado como algo de irreversível, pois muitas vezes acabamos por simpatizar com pessoas que durante muito tempo detestávamos.

ATITUDES – predisposições adquiridas e relativamente estáveis que levam as pessoas a reagirem de forma positiva ou negativa em relação a objectos de natureza social.

As atitudes resultam de uma crença (elemento intelectual) que, em conjugação com o elemento emocional (sentimentos), gera um elemento comportamental que consiste numa predisposição ou intenção de fazer alguma coisa.

- DISSONANCIA COGNITIVA - Fertinger – dissonância cognitiva é a situação de inconsciência psicológica verificada nos casos em que o elemento intelectual colide com o emocional, determinando um conflito de actuação (tensão

psicológica). Segundo a teoria da dissonância cognitiva, para reduzir a tensão psicológica, as pessoas tendem a racionalizar e a distorcer a realidade, adoptando atitudes que se ajustem melhor ao seu comportamento.

REPRESENTAÇÃO SOCIAL – modalidade de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objectivo prático, constituindo para a constituição de uma realidade comum a um conjunto social.

Designam-se de sociais porque:

- (ORIGEM) tem origem na comunicação ou interacção entre pessoas;

- (ADESÃO) são partilhadas por elas;

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- (FUNSÃO) são uma espécie de programa de acção para a sociedade (carácter pragmático – PRATICO).