Relato de Caso - 13ª Edição da Revista Cearense de Cardiologia

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Revista Cearense de Cardiologia 55 Relato de Caso Videocirurgia Cardíaca no Ceará Josué V. Castro Neto A cirurgia cardíaca é uma especialidade médica que vive um momento de profunda transformação. As inovações e modificações técnicas necessitam, progressivamente, ser incorporadas à prática clínica de modo a tornar os procedimentos mais eficazes e seguros para nossos pacientes; sempre guiados pelo juízo ético. Em 2010 comemorou-se o centenário de um interessante fato médico. Justamente há cem anos um clínico sueco, trabalhando em Estocolmo, utilizava pela primeira vez uma cânula para observar o interior do tórax. Hans Christian Jacobaeus seu nome. Nascia a toracoscopia. Hoje um método videocirúrgico amplamente utilizado em diversos procedimentos. Como ciência, a cirurgia avança rapidamente para procedimentos menos invasivos e traumáticos. Dentro de uma plataforma de áreas cirúrgicas, talvez a cirurgia cardíaca seja uma das últimas a incorporar técnicas ditas minimamente invasivas. Mesmo assim, é possível hoje realizar de forma videocirúrgica as cirurgias das valvas atrioventriculares e arteriais, dos defeitos do septo, dos tumores cardíacos, do pericárdio, das arritmias cardíacas e a dissecação dos enxertos. Na verdade, a videocirurgia cardíaca teve através de Fortaleza uma das portas de entrada no Brasil e no Nordeste, a partir de 2006. O fundamento deste tipo de procedimento reside, essencialmente, na capacitação adequada de um time. Este time está integralmente suportado por um conhecimento profundo da anatomia do tórax, na seleção criteriosa do paciente, na utilização de instrumental adequado, no desenvolvimento de habilidades e competências em videocirurgia, em uma mudança conceitual e filosófica e em extrema determinação. Com a experiência acumulada fui convidado a realizar este tipo de procedimento no Hospital Onofre Lopes da UFRN, em Natal; e também nos hospitais PROCAPE da UEPE e Real Hospital Português, em Recife. Mais recentemente, em Junho de 2012, capacitamos aqui em Fortaleza cirurgiões de Belo Horizonte e Alagoas. Nesta técnica o acesso passa a ser realizado por quatro portais intercostais: um principal de quatro cm e três de 0,5cm. Fica claro, portanto, que se trata de uma reconfiguração da cirurgia cardíaca. Esta disposição traz benefícios e dificuldades em potencial. Os benefícios: - para o paciente: maior proteção da área operada, menor dor no sítio operatório, menor sangramento, menor taxa de infecção, melhor cicatrização, menor internação e melhor recuperação; - para o time: melhor compartilhamento do campo operatório, menor contaminação, divisão de responsabilidades, menor número de visitas e melhor qualidade de vida para o cirurgião. Dificuldades inerentes: acesso a dois espaços no tórax, canulação periférica, maior tempo cirúrgico durante a curva de adaptação ao método, maior custo para formatação do programa e adaptação a instrumental longo. Acredito hoje que a técnica videocirúrgica possa ser empregada de forma alternativa à tradicional com esternotomia completa, em casos selecionados; sem abdicar da segurança do paciente. determinação

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Revista Cearense de Cardiologia 55

Relato de Caso

Videocirurgia Cardíaca no Ceará

Josué V. Castro Neto

A cirurgia cardíaca é uma especialidade médica que vive um momento de profunda transformação. As inovações e modificações técnicas necessitam, progressivamente, ser incorporadas à prática clínica de modo a tornar os procedimentos mais eficazes e seguros para nossos pacientes; sempre guiados pelo juízo ético. Em 2010 comemorou-se o centenário de um interessante fato médico. Justamente há cem anos um clínico sueco, trabalhando em Estocolmo, utilizava pela primeira vez uma cânula para observar o interior do tórax. Hans Christian Jacobaeus seu nome. Nascia a toracoscopia. Hoje um método videocirúrgico amplamente utilizado em diversos procedimentos. Como ciência, a cirurgia avança rapidamente para procedimentos menos invasivos e traumáticos. Dentro de uma plataforma de áreas cirúrgicas, talvez a cirurgia cardíaca seja uma das últimas a incorporar técnicas ditas minimamente invasivas. Mesmo assim, é possível hoje realizar de forma videocirúrgica as cirurgias das valvas atrioventriculares e arteriais, dos defeitos do septo, dos tumores cardíacos, do pericárdio, das arritmias cardíacas e a dissecação dos enxertos. Na verdade, a videocirurgia cardíaca teve através de Fortaleza uma das portas de entrada no Brasil e no Nordeste, a partir de 2006. O fundamento deste tipo de procedimento reside, essencialmente, na capacitação adequada de um time. Este time está integralmente suportado por um conhecimento profundo da anatomia

do tórax, na seleção criteriosa do paciente, na utilização de instrumental adequado, no desenvolvimento de habilidades e competências em videocirurgia, em uma mudança conceitual e filosófica e em extrema

determinação. Com a experiência acumulada fui convidado a realizar este tipo de procedimento no Hospital Onofre Lopes da UFRN, em Natal; e também nos hospitais PROCAPE da UEPE e Real Hospital Português, em Recife. Mais recentemente, em Junho de 2012, capacitamos aqui em Fortaleza cirurgiões de Belo Horizonte e Alagoas. Nesta técnica o acesso passa a ser realizado por quatro portais intercostais: um principal de quatro cm e três de 0,5cm. Fica claro, portanto, que se trata de uma reconfiguração da cirurgia cardíaca. Esta disposição traz benefícios e dificuldades em potencial. Os benefícios: - para o paciente: maior proteção da área operada, menor dor no sítio operatório, menor sangramento, menor taxa de infecção, melhor cicatrização, menor internação e melhor recuperação; - para o time: melhor compartilhamento do campo operatório, menor contaminação, divisão de responsabilidades, menor número de visitas e melhor qualidade de vida para o cirurgião. Dificuldades inerentes: acesso a dois espaços no tórax, canulação periférica, maior tempo cirúrgico durante a curva de adaptação ao método, maior custo para formatação do programa e adaptação a instrumental longo. Acredito hoje que a técnica videocirúrgica possa ser empregada de forma alternativa à tradicional com esternotomia completa, em casos selecionados; sem abdicar da segurança do paciente.

determinação

port o po onhe mento prof do atom