Relatório 2016 - Expedição S.A.S. Brasil Castelhanos 4

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Relatório de Expedição Baía Castelhanos Ilha Bela/SP Junho 2016

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Relatório de Expedição

Baía Castelhanos – Ilha Bela/SP

Junho 2016

Foto: Marcos Credie

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Foto: Marcos Credie

Resumo

Este relatório detalha as atividades dos dias 2 a 5 de junho, onde o S.A.S. Brasil

(Saúde e Alegria nos Sertões) rodou mais de 620km rumo à comunidade da Baía de

Castelhanos, no município de Ilhabela/SP, em sua primeira ação do grupo em 2016.

Foi a quarta visita do grupo à comunidade, com o intuito de dar continuidade ao

trabalho iniciado em 2015 e incentivar o desenvolvimento pleno da comunidade. Para

tanto, enxergamos a necessidade de focarmos nossos esforços nos próprios

moradores da comunidade.

O destaque da ação foi o Projeto Anariá, um mutirão de saúde para

esclarecimento, prevenção e exames de HPV nas mulheres da comunidade, com a

parceria da prefeitura de Ilhabela.

Mais uma vez, a equipe era multidisciplinar – característica que avaliamos ser

importante para que as atividades sejam complementares. No entanto, observamos que

o impacto das ações do S.A.S. Brasil não transforma apenas ao espaço da comunidade

e seus moradores, mas também essa equipe formada. Por isso, o processo seletivo

para os participantes sofreu (e ainda sofrerá) alterações ao longo deste ano, de

maneira que os participantes sejam cada vez mais complementares uns aos outros e

às comunidades, uma vez que buscamos destacar os melhores talentos de cada um. O

trabalho com a equipe, bem como as atividades desenvolvidas junto à comunidade,

teve parceria direta com o Acupuntura Urbana.

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Sumário

1. Cenário da comunidade

2. Descrição da expedição

3. Objetivos da expedição

4. Principais conquistas

5. Atividades realizadas e resultados

6. Desafios e lições aprendidas

7. Relatório financeiro

Foto: Marcos Credie

1. Cenário da comunidade

A Baía de Castelhanos está localizada no município de Ilhabela, litoral norte do

Estado de São Paulo. A região atrai cerca de 50 mil turistas por ano (números do Parque

Estadual de Ilhabela), que procuram a tranquilidade e a beleza dos seus cenários naturais

através das agências de turismo e invadem suas areias por lanchas no mar ou por uma

estrada íngreme e acidentada de 17km que corta o Parque Estadual (PEIb) da cidade em

veículos 4x4, enquanto a comunidade sofre de vulnerabilidade social. geradores

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Foto: Marcos Credie

Foto: Marcos Credie

São180 moradores, entre eles 45 crianças (0 a 14 anos), 38 jovens (15 e 25 anos),

28 mulheres, 53 homens e 16 idosos, da comunidade tradicional da Baía de Castelhanos,

composta pelas Praia da Figueira, Praia Mansa, Praia Vermelha, Saco do Sombrio, Codó

e Praia de Castelhanos (Canto da Lagoa e Canto do Ribeirão).

As informações a seguir foram coletadas nas visitas realizadas pelo S.A.S. Brasil em

2015, em documentos oficiais e através da experiência prática in loco de membros da

equipe nas funções de Orientador Social pela Secretaria de Desenvolvimento Social de

Ilhabela e Professor do Ensino Médio pela Sec. de Estado da Educação de SP:

1. Saneamento – A região não possui energia elétrica, água tratada, esgoto e antenas de

sinal. A comunicação se faz através de rádios amadores e de dois orelhões que

funcionam com placa solar via satélite e frequentemente necessitam de manutenção,

que muitas vezes demora a chegar. Alguns moradores são contratados pela prefeitura

para realizar a limpeza diária da praia e separar o lixo. A coleta é feita semanalmente

por um caminhão. A água da cachoeira é canalizada de forma artesanal até as casas.

Algumas casas não possuem banheiros. A energia elétrica é obtida através de

geradores particulares e poucas placas solares que, por falta de orientação adequada,

quase sempre falham.

2. Vida social – Embora tenham laços de parentesco, há pouca interação entre os

núcleos familiares gerando conflitos que atravessam gerações. Os problemas não são

debatidos em grupo, o que os impede de se fortalecerem enquanto comunidade.

Muitos núcleos familiares têm as mães ausentes, que abandonaram o lar por causa de

maus tratos e alcoolismo dos homens e deixam as crianças para viverem na cidade. s

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Foto: Marcos Credie

As crianças sofrem de subnutrição, carência afetiva, déficit de atenção, problemas de

aprendizagem, cáries, além de serem agressivas e hiperativas. Há muitos jovens e

adolescentes com deficiência física e mental (mudez, dislexia) causada por

relacionamentos consanguíneos entre os pais. Os moradores estão expostos a uma

variedade de riscos como alcoolismo e drogas, subnutrição, sexualidade precoce,

fragmentação familiar, violência, relacionamentos consanguíneos, deficiências físicas

ou mentais, infecções crônicas e outras fontes de estresse.

3. Saúde – Não há posto de saúde, mas uma equipe médica visita o lugar a cada 45 dias

e atende os pacientes de forma improvisada. Poucas casas possuem geladeira e a

agricultura de subsistência, que era a principal atividade da região no século passado,

já não existe mais. A alimentação dos moradores é fraca em nutrientes o que causa

dificuldade de aprendizagem, depressão e redução da capacidade cognitiva. As

crianças sofrem de desnutrição, carência afetiva, déficit de atenção, problemas de

aprendizagem, cáries, além de serem agressivas e agitadas. Há casos de hanseníase,

amputações, diabetes, deslocamento de retina e cegueira, devido às condições da

atividade pesqueira.

4. Trabalho – Os homens vivem da pesca artesanal com rede e com cercos flutuantes

(técnica japonesa) em condições informais. O pescado é vendido ao turista ou aos

restaurantes da praia ou armazenado em caixas de isopor com gelo e transportados

por canoas a motor até São Sebastião ou Caraguatatuba. Recentemente a

comunidade foi contemplada com uma máquina de gelo através de um projeto de

compensação da Petrobras. Outra fonte de renda é o turismo de massa, embora os

moradores não trabalhem diretamente com os turistas em cargos como cozinheiro,

garçon, auxiliar de cozinha, operador de lancha de desembarque. Os três restaurantes

que recebem a clientela das agências de turismo são administrados por empresários

da cidade. Apenas 5 famílias trabalham com comércio (restaurante, lanchonete,

mercearias, camping). A maioria das mulheres e dos jovens vive na ociosidade.

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da cidade. Apenas 5 famílias trabalham com comércio (restaurante, lanchonete,

mercearias, camping). A maioria das mulheres e dos jovens vive na ociosidade.

5. Educação - A vida escolar da comunidade é recente, a primeira turma do Ensino Médio

se formou em 2014. As classes são multisseriadas e unidocentes e não existe um

projeto político-pedagógico específico e apropriado às reais necessidades da

comunidade. As escolas funcionam em casas alugadas sem espaços adequados

(quadra poliesportiva, refeitório) e sem manutenção (tetos sem forro, fossas abertas,

carteiras quebradas). As crianças e adolescentes da comunidade apresentam baixa

capacidade comunicativa e dificuldade em expressar opiniões e escrever frases com

coerência, são dependentes da voz de comando do professor e incapazes de atingir as

competências mínimas de leitura e escrita.

6. Cultura – O artesanato que representa a cultura tradicional caiçara é feito com bambú

(balaios, cestos) e madeira (canoas e remos em miniatura) e são poucos os que ainda

dominam as técnicas. A feitura da farinha de mandioca quase não existe mais, apenas

uma família possui uma casa de farinha em atividade. As casas de pau-a-pique estão

quase extintas e as poucas que restam estão degradadas. Os jovens gostam de surfar

e escutar música. O gênero musical mais escutado é o funk e o sertanejo universitário,

trazido por turistas que acampam na região. A presença da igreja evangélica (Deus é

Amor e Congregação Cristã) é forte e os religiosos obedecem a doutrina a risca

(mulheres não cortam os cabelos e não usam calça, a música “mundana” e a televisão

são proibidas).

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Foto: Marcos Credie

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7. Turismo - Cerca de 200 turistas frequentam a praia diariamente através de agências de

turismo da cidade que exploram a região através da venda de passeios com Jeep 4x4

ou lanchas. Na temporada de verão e feriados prolongados o número de visitantes

chega a 400 por dia. Os “jipeiros” acompanham os turistas até a Cachoeira do Gato e

em seguida os encaminham a um dos três restaurantes que mantêm convênio com as

agências. Sem conhecimento e treinamento adequados, a maioria os “jipeiros” não

informa os turistas sobre as características e curiosidades da região, o que faz com

que os passeios muitas vezes não sejam caracterizados como atividade turística.

Poucos moradores tem contato com o turista.

Vê-se com todos esses pontos, portanto, que o cenário da comunidade de

Castelhanos é de uma população socialmente vulnerável.

O engajamento nas atividades realizadas em 2015 não alcançou as expectativas do

grupo, tendo em vista que os moradores são tristes, apáticos e pouco abertos para o

diálogo e para novidades.

No entanto, observamos grande interesse por parte das crianças, que estavam

sempre por perto, querendo descobrir, ajudar e fazer/receber companhia. Acreditamos que

elas são importantes no processo de dar continuidade às atividades que aprenderam –

principalmente se continuarem a receber estímulos, pois acabam por difundir as ideias

com os adultos.

2. Descrição da expedição

Em junho de 2015 o S.A.S. Brasil decidiu trocar o sertão pelo mar e criou a sua

primeira ação recorrente na Baía de Castelhanos, mantendo a identidade e as

características das ações de Saúde, Alegria e Sustentabilidade.

Entre junho e dezembro de 2015 foi possível criar ações de desenvolvimento

comunitário em parceria com as lideranças da comunidade e da prefeitura de Ilhabela que

tinham como objetivos:

1. Fortalecer a atuação voluntária e colaborativa, através de uma equipe multiprofissional;

2. Promover ações de curto prazo e impacto duradouro junto à comunidade;

3. Transformar a realidade local com informações e tecnologias de impacto positivo;

4. Avaliar o impacto de atuações recorrentes para aprimorar o planejamento e as ações.

Para dar continuidade ao trabalho iniciado em 2015 e incentivar o desenvolvimento

pleno da comunidade, enxergamos a necessidade de focarmos nossos esforços nos

próprios moradores da comunidade, tendo como forte aliados, as crianças.

Sabemos que a força e o potencial de uma comunidade está nas pessoas e nas

suas relações. Tecendo novos sonhos e fortalecendo redes de parcerias, o retorno à

comunidade traz novos desafios de articulação comunitária e mais possibilidades de

engajamento da população como um todo, por meio da valorização e celebração das

histórias únicas das pessoas que habitam este lugar.

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Foto: Marcos Credie

Foto: Marcos Credie

3. Objetivos da expedição

1. Fortalecer a atuação colaborativa, através de uma equipe multiprofissional.

2. Revelar os melhores talentos da equipe e da própria comunidade em prol de um

desenvolvimento pessoal e coletivo.

3. Promover ações de curto prazo e impacto duradouro que fazem sentido à comunidade.

4. Testar novos projetos pilotos.

5. Transformar a realidade da comunidade visitada, levando informações e tecnologias

que gerem impactos positivos.

6. Avaliar o impacto do S.A.S. Brasil em uma comunidade de contato mais duradouro,

aprimorando ações e desenvolvendo novas.

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4. Principais conquistas

a) Parceria com a prefeitura da Ilhabela para o piloto do Projeto Anariá – Mutirão de

HPV: o projeto de HPV é de extrema relevância por conta da gravidade do Câncer de

Colo de Útero e alta incidência na sociedade brasileira. Existe uma dificuldade de

acesso ao exame, que é somada ao tempo longo de leitura do exame e de início de

tratamento quando necessário. Com o propósito de garantir que mais mulheres façam

o exame, e que tenham acesso ao resultado mais rapidamente, o S.A.S. iniciou uma

parceria com a Roche para ter acesso aos kits de coleta do exame.

O projeto recebe o nome de Anariá, em homenagem à Anariá Recchia (1983 – 2016),

mulher, ativista e guerreira, que sempre acreditou na valorização das mulheres e na força

feminina. O S.A.S. Brasil compartilha e luta pela realização desse sonho.

b) Parceria com o laboratório Daza para leitura dos exames de HPV: também

fechamos parceria com o Laboratório Daza para leitura dos exames de HPV colhidos,

para que possamos dar encaminhamento nos tratamentos que forem necessários.

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c) Parceria com Acupuntura Urbana: o AU é um negócio social que tem como missão

transformar espaços públicos de forma ativa e participativa, fortalecendo relações que

estimulem o protagonismo da sociedade civil na construção de uma cidade mais

humana.Consolidou-se em 2013, depois de encontros pessoais e o despertar de três

mentes inquietas e prontas para colocar a mão na massa.

A primeira parceria com o S.A.S. Brasil aconteceu na expedição da Chapada do

Araripe, em novembro de 2015, onde foi possível ver que nossos trabalhos se

complementavam.

Saiba mais: acupunturaurbana.com.br/

Acompanhe: www.fb.com/acupunturaurbana.au

d) Parceria com o grupo de teatro Passajero: a parceria com o grupo de teatro foi

importante para diversificar as atividades de alegria durante a expedição. Principalmente

em comunidades isoladas do Brasil, existe uma dificuldade de acesso à programas

culturais variados.

Com a parceria com um grupo de teatro, o S.A.S. passa a oferecer um momento

único e diferente para as crianças dessas comunidades, que passarão a ter uma vivência

com outra opção de lazer.

Saiba mais: https://m.facebook.com/Grupo-Passarejo-1071469549543765/

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Foto: Marcos Credie

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Foto: Marcos Credie

5. Atividades realizadas e resultados

O carro chefe dessa expedição foi na área da Saúde, com a realização do piloto do

Projeto Anariá, de prevenção de HPV. Com o apoio da Roche, levamos os testes

(Cobas®) para realizar o diagnóstico da doença, em formato de mutirão. A parceria com a

equipe de saúde da prefeitura de Ilhabela também foi essencial para que mais mulheres

pudessem ser examinadas.

Após a leitura dos exames, a ser realizada pelo parceiro Laboratório Daza,

tomaremos as devidas ações e procedimentos para que os tratamentos necessários

sejam realizados.

“Foi uma sensação única oferecer a essas mulheres uma coleta de exames

adequada usando um material de primeira linha, que tem como principal vantagem, o fato

de resultados negativos fazerem com que essas mulheres só refaçam o teste em 5 anos.

Além disso, a parceria com a prefeitura de Ilhabela foi muito importante e bem vinda”, diz

Adriana Mallet, médica e coordenadora geral do S.A.S. Brasil.

“O consultório montado pelo S.A.S. devolveu a autoestima às mulheres da Baía de

Castelhanos pois pela primeira vez elas foram tratadas com dignidade e respeito. Sem um

posto de saúde na comunidade, a maioria delas desistia dos exames pela dificuldade de

acesso à cidade de Ilhabela. Desta vez elas tiveram até momentos de descontração na

sala de espera, onde a atuação da equipe S.A.S. fez toda a diferença. Durante todo o dia,

o bate-papo foi alto-astral e inspirador!”, Carol Dias, moradora da comunidade e

intermediadora S.A.S.-comunidade.

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Foto: Marcos Credie

Ao longo dos dias 2 e 3 de junho, Adriana coordenou a equipe (que contou com o

apoio da prefeitura de Ilhabela) que fez as coletas dos exames. Um dos ganhos de

realizar esse teste, é que as mulheres que tiverem o resultado negativo podem ficar por 5

anos sem realizar o Papanicolau. Isso é importante para a comunidade de Castelhanos

por conta da dificuldade de conseguir acessar o outro lado da Ilha, que tem toda a

estrutura de saúde.

Como a proposta do S.A.S. é a de trazer uma visão multidisciplinar, integramos essa

ação de saúde a uma ação de alegria. As mulheres que passaram pelos exames

ganharam kits de maquiagem e uma sessão de cuidados com os cabelos e unhas. Essa

atividade foi proposta pela voluntária Elisângela Ribeiro, que além de médica, mostrou-se

super criativa e cuidadosa.

A ideia dessa atuação conjunta da saúde com a estética foi a de trazer o conceito de

cuidado e valorização da mulher a partir de um olhar mais amplo, além de trabalhar a

autoestima dessas mulheres.

Mulheres examinadas 32

Kits de maquiagem distribuídos 23

Fotos: Sarah Garrido

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Foto: Marcos Credie

Na área da Alegria, tivemos a parceria com o grupo de teatro Passarejo, que fez a

apresentação de um teatro infantil bastante interativo, com uma linda mensagem de

amizade e valorização de cada ser.

Uma das carências das crianças da comunidade é o acesso a programas culturais

variados, uma vez que elas ficam restritas ao espaço e estilo de vida da comunidade.

Pensando nesse contexto, a parceria com o grupo de teatro foi relevante para dar

oportunidade às crianças de vivenciarem algo diferente e especial, que ficasse guardado

na memória delas.

O teatro foi realizado na noite de sábado, e teve a participação não só das crianças,

como também dos adultos da comunidade. Com muitos sorrisos e diversão da plateia,

ficou nítido o quanto uma opção de lazer diferente foi bem recebida por todos.

“O grupo Passajero teve o cuidado de usar linguagem adequada às crianças e com

um repertório inédito foi capaz de prender a atenção de todos os presentes”, diz

Elisângela Ribeiro, médica voluntária participante da expedição.

Para aproveitar o momento de descontração e as crianças reunidas, nossos super

heróis distribuíram a super-fórmula (vermífugo). A interação com as personagens do teatro

só deixou a ação ainda mais rica.

Espectadores do teatro 30

Super-fórmula 30

Foto: Marcos Credie

Foto: Marcos Credie

O S.A.S. levou mais doação de livros (infantis) para a Biblioteca Ondas do Saber.

Eles foram doados pelo Itaú e Livraria Cultura.

Na área da Sustentabilidade, o S.A.S. buscou uma parceria com a empresa

Acupuntura Urbana. A proposta idealizada pela equipe foi a de trazer um olhar para o

resgate da cultura, das histórias e dos valores da comunidade.

Durante visitas prévias à expedição (somado ao trabalho do S.A.S. ao longo de

2015), ficou nítido o quanto a comunidade estava perdendo parte da sua essência pela

falta de troca de histórias e de diálogo entre as pessoas de que vivem em praias

diferentes. É uma comunidade que tem uma cultura muito rica, com rituais de pesca

típicos, com práticas de artesanato e interação com a natureza.

No sábado de manhã, o protagonismo das crianças na atividade de reconhecimento

do território e coleta das histórias de seus moradores foi um dos pontos mais fortes. Pela

primeira vez elas tiveram contato direto com depoimentos dos anciãos mais antigos da

comunidade. Esta experiência trouxe a elas a percepção de que o passado que lhes

pertence é valioso e precisa ser propagado, para que o conhecimento que atravessa

gerações continue a mover as tradições do lugar. Registramos suas histórias e tiramos

fotos de seus autores. “Com olhos brilhantes pelo entusiasmo da descoberta, elas

reproduziram as histórias que ouviram naquela manhã com riqueza de detalhes e orgulho

de pertencerem àquele lugar." Carol Dias.

No período da tarde de sábado, com fotos e histórias em mãos, fizemos um painel

com a proposta de ter um espaço de reconhecimento das pessoas que fazem parte da

cultura da comunidade. Esse painel foi montado em uma das escolas locais, com a ideia

de que as crianças estejam em contato constante e aprendam a valorizar a riqueza da

sociedade do grupo de pessoas do qual fazem parte.

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Foto: Marcos Credie

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Foto: Marcos Credie

Crianças participantes 35

Histórias ouvidas 10

Fotos impressas 10

Placas feitas 30

Além do painel, construímos junto com as crianças, placas que indicavam quais as

referências de cada espaço. Por exemplo, onde encontrar artesanato, onde estão os

restaurantes dos moradores da comunidade, onde estão os pescadores e etc.

A proposta das placas é a de mostrar para os turistas quais as belezas culturais que

interagem com as belezas naturais do espaço.

Importante dizer que a comunicação das mesmas era não violenta: ao invés de falar

"proibido jogar lixo", falamos "a praia é mais linda sem lixo".

Ao término de cada dia, houve rodas de conversa e fogueira para feedbacks sobre

as atividades, para ouvirmos a comunidade e vice-versa sobre as percepções e

aprendizados.

“Minha conclusão é que dá sim pra ter um impacto positivo nessa comunidade, mas

precisamos nos esforçar para engajar mais os adultos. Foi muito especial ver a mudança

de comportamento das crianças, que ficaram super carinhosas e mais comportadas. Eles

se engajaram bastante nas atividades, de crianças a adolescentes”, diz Renata Minerbo,

coordenadora do AU.

Foto: Marcos Credie

Foto: Marcos Crediec

Fotos: Márton Pederneiras

Foto: Marcos Crediec

Foto: Marcos Credie

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Foto: Marcos Credie

6. Desafios e lições aprendidas

A visita à Castelhanos nos trouxe novas resoluções, desafios e lições aprendidas, dada

nossa persistência em visitar e conhecer cada vez mais a comunidade, a fim de

aperfeiçoarmos nossas ações:

● As visitas continuadas gera confiança no nosso trabalho por parte da comunidade (por

exemplo, as mulheres já sabiam o nome da médica (Adriana) e conheciam a organização

e por isso, participaram sem grandes receios);

● Reforçamos que propor atividades em que as crianças (e toda a comunidade em geral)

se engajam em todo o ciclo: construção e vivência, funciona muito bem e desperta o

interesse;

● O S.A.S. Brasil reforçou a importância de selecionar projetos coerentes às

necessidades da comunidade. A ideia foi selecionar os voluntários a partir de suas ideias

para complementar as ações;

● Notamos a necessidade de uma pessoa encarregada única e exclusivamente pela

logística da expedição, para que todas as informações sobre deslocamento de materiais,

cronograma e etc sejam sempre atualizadas e passadas aos presentes na expedição –

evitando mal entendidos e gerindo quaisquer mudanças que surjam no meio do caminho.

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Foto: Marcos Credie

7. Relatório Financeiro

O detalhamento da prestação de contas do S.A.S. Brasil referente à terceira

expedição em Castelhanos está resumida na tabela a seguir:

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Foto: Márton Pederneiras