Relatório 3 – Oleoquímicos

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Relatório 3 – Oleoquímicos

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Autoria e Edição de Bain & Company 1ª Edição Maio 2014

Bain & Company Rua Olimpíadas, 205 - 12º andar 04551-000 - São Paulo - SP - Brasil Fone: (11) 3707-1200 Site: www.bain.com

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Este trabalho foi realizado com recursos do Fundo de Estruturação de Projetos do BNDES (FEP), no âmbito da Chamada Pública BNDES/FEP No. 03/2011. Disponível com mais detalhes em <http://www.bndes.gov.br>.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Índice

Oleoquímicos ........................................................................................................................................ 4

1. Escopo ............................................................................................................................................ 4

2. Condições da demanda ............................................................................................................... 5

2.1. Mercado global ..................................................................................................................... 5

2.2. Mercado brasileiro ............................................................................................................... 8

2.3. Balança comercial ................................................................................................................. 9

2.4. Sofisticação da demanda ................................................................................................... 11

3. Fatores de produção .................................................................................................................. 12

3.1. Matérias-primas ................................................................................................................. 12

3.1.1. Palma e palmiste ............................................................................................................ 16

3.1.2. Soja ................................................................................................................................... 21

3.1.3. Mamona ........................................................................................................................... 22

3.1.4. Sebo bovino ..................................................................................................................... 26

3.1.5. Cana-de-açúcar ............................................................................................................... 27

3.2. Rotas produtivas e escala econômica dos investimentos ............................................. 29

3.3. Tendências tecnológicas .................................................................................................... 30

3.4. Custo de capital e financiamento ..................................................................................... 31

3.5. Infraestrutura ...................................................................................................................... 31

4. Dinâmica da indústria ............................................................................................................... 32

4.1. Estratégia de atuação dos players ..................................................................................... 32

4.2. Situação econômica das empresas ................................................................................... 34

4.3. Acesso ao mercado interno e externo .............................................................................. 34

5. Potenciais oportunidades de investimentos no segmento “Oleoquímicos” ...................... 35

5.1. Produção de oleoquímicos com a palma e o palmiste no Pará.................................... 36

5.2. Polo oleoquímico no Sudeste: cana-de-açúcar, soja e sebo .......................................... 39

5.2.1. Matérias primas para o polo ......................................................................................... 41

5.2.2. Módulos de produção de oleoquímicos ...................................................................... 42

5.3. Produção de ricinoquímicos à base de mamona na Bahia ........................................... 44

ANEXOS .............................................................................................................................................. 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 47

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Oleoquímicos

1. Escopo

O segmento de “Oleoquímicos” compreende os químicos derivados de óleos e gorduras de origem animal ou vegetal. Estes óleos e gorduras podem ter diferentes origens e classificações, por exemplo1:

i) Óleos vegetais comestíveis: amendoim, babaçu, canola, coco, gergelim, girassol, milho, oliva, palma, palmiste, semente de algodão, soja, etc.2

ii) Óleos industriais: óleo de mamona, óleo de linhaça, óleo de oiticica, etc. iii) Gordura animal: banha de porco, gorduras, sebo comestível e não comestível iv) Óleos de origem marinha: óleos de peixe

Os óleos de origem marinha estão excluídos do escopo deste Relatório, devido a não aplicabilidade para a indústria de Oleoquímicos no País.

Além das matérias-primas tradicionais de vegetais oleaginosas e gorduras animais, mais recentemente, foram desenvolvidas tecnologias para a fabricação de oleoquímicos em escala comercial com base no açúcar, o que expandiu as possibilidades de insumos para o segmento.

O açúcar pode ser obtido a partir de matérias-primas classificadas como de primeira ou de segunda geração. As matérias-primas de primeira geração também são utilizadas como alimento, como é o caso da cana-de-açúcar. As de segunda geração envolvem resíduos e fontes alternativas como bagaço da cana e, portanto, estão desvinculadas do mercado alimentício. Matérias-primas de segunda geração apresentam potencial interessante para o desenvolvimento da indústria química, contudo, ainda é necessário avançar no desenvolvimento da tecnologia para que se tornem viáveis comercialmente. Desta forma, o presente Relatório se aprofundou apenas nas matérias-primas de primeira geração, que representam oportunidades mais concretas para o Brasil no curto e médio prazo3.

Com base nestas matérias-primas, são produzidos os oleoquímicos básicos, que podem ser classificados em ácidos graxos, álcoois graxos, glicerina e outros (por exemplo, ésteres graxos e óleos epoxidados). A partir dos oleoquímicos básicos são produzidos seus derivados, que possuem uma grande variedade de aplicações como, por exemplo, detergentes e cosméticos.

1 Classificação do Departamento de Agricultura (não exaustiva) 2 Os óleos de babaçu, coco, palma e palmiste são muitas vezes chamados de óleos de palma, devido a algumas características comuns. Para fins deste Relatório, a nomenclatura de óleo de palma se referirá exclusivamente ao óleo extraído da palma. 3 O Relatório de “Novas Tecnologias” traz um detalhamento mais aprofundado sobre todo o espectro de matérias-primas que podem ser utilizadas na química de renováveis.

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Esta cadeia de valor simplificada de oleoquímicos, com alguns exemplos de matérias-primas pode ser observada na Figura 1.

Figura 1: Cadeia oleoquímica simplificada

É importante ressaltar que esses óleos e gorduras também são utilizados para outras finalidades. Em 2012, 75% da produção mundial de óleos e gorduras foi destinada à indústria alimentícia, 15% para a produção de biodiesel, e apenas 10% para a indústria oleoquímica4.

2. Condições da demanda

2.1. Mercado global

O mercado global de oleoquímicos alcançou cerca de 14 milhões de toneladas5 em 2012, segundo levantamento da consultoria LMC International. Esse mercado subdivide-se em três oleoquímicos básicos: ácidos graxos (aproximadamente 7,6 milhões de toneladas), álcoois graxos (aproximadamente 2,8 milhões de toneladas) e glicerina (aproximadamente 3,6 milhões de toneladas).

4 Especialistas da indústria. 5 Estimativa não considera em os grupos de Ésteres Graxos e Óleos Epoxidados.

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Esses oleoquímicos básicos são utilizados em uma grande variedade de aplicações, conforme ilustrado na Figura 2. Os álcoois graxos formam o grupo de produtos com maior concentração em uma única aplicação, aproximadamente 75% do seu consumo é direcionado à produção de detergentes. Ácidos graxos e glicerina têm um maior espectro de aplicações, das quais se destacam as aplicações para sabões e detergentes, cosméticos, fármacos e surfactantes6.

Figura 2: Consumo mundial de ácidos graxos, álcoois graxos e glicerina por aplicação

Os mercados globais de ácidos graxos e álcoois graxos cresceram a um ritmo de 9,1% e 4,4% ao ano entre 2008 e 2012, respectivamente, com suas projeções indicando um ritmo de 3,8% e 3,3% entre 2012 e 2025 (Figura 3 e Figura 4).

6 A maior parte dos surfactantes é utilizada para produtos de limpeza e cosméticos. Fonte: Frost & Sullivan (Hernán Cavarra)

Fonte: Especialistas da indústria.

ÁCIDOS GRAXOS ÁLCOOIS GRAXOS GLICERINA

Mercado mundial por tipo de uso (Mt; 2012)

Mercado mundial por tipo de uso (Mt; 2012)

Mercado mundial por tipo de uso (Mt; 2012)

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Figura 3: Mercado global de ácidos graxos

Figura 4: Mercado global de álcoois graxos

O mercado mundial de glicerina, no entanto, é mais dinâmico. A produção de glicerina apresentou crescimento de 9,3% ao ano entre 2008 e 2012 (Figura 5). A expectativa de crescimento até 2025 é de 3,5% ao ano.

Fonte: LMC International

CAGR 08-12: 9,1%

CAGR 15-25: 3,9%

Projeção

CAGR 12-15: 3,4%

Fonte: LMC International

CAGR 08-12: 4,4%

CAGR 15-25: 3,4%

CAGR 12-15: 3,0%

Projeção

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O crescimento apresentado entre 2008 e 2012 foi impulsionado, principalmente, pelo aumento na produção do biodiesel7 no mesmo período. Este aumento de produção gerou um excesso de oferta de glicerina bruta e, consequentemente, uma queda no preço deste produto no mercado global, incentivando o desenvolvimento de aplicações para a glicerina. Um exemplo foi o aumento do uso da glicerina na indústria de tintas e vernizes, substituindo parcialmente outros polióis, como, por exemplo, o pentaeritritol e o trimetilolpropano, ambos da cadeia petroquímica. Também merece ênfase o surgimento das primeiras plantas de escala mundial para a fabricação de propilenoglicol (PG) 8 e da epicloridrina (ECH)9 a partir da glicerina.

O propilenoglicol é utilizado em produtos como desodorantes e loções e em atividades como a exploração de petróleo. Já a epicloridrina é utilizada na produção de produtos como plásticos, tintas e têxteis e como surfactante na fabricação de cosméticos, borracha e produtos agrícolas.

Figura 5: Mercado global de glicerina bruta

2.2. Mercado brasileiro

O mercado brasileiro de oleoquímicos básicos alcançou aproximadamente 400 mil toneladas10 em 2012, representando cerca de 3% do mercado global em volume. Nesse mesmo ano o mercado de ácidos graxos foi de aproximadamente 100 mil toneladas (1% do mercado global), enquanto o de álcoois graxos foi de 90 mil toneladas (3% do mercado global) e o de glicerina de 210 mil toneladas (6% do mercado global).

7 A glicerina pode ser obtida por diferentes rotas tecnológicas. Uma destas é a rota de produção do biodiesel, onde a glicerina é obtida como um subproduto. 8 Planta de 125kta de propilenoglicol construída em 2010 pela Archer Daniels Midland, nos Estados Unidos. 9 Planta de 100kta de epicloridrina construída em 2012 pela Solvay, na Tailândia. 10 Mercado considerado: ácidos graxos, álcoois graxos e glicerina. Fonte: Análise Bain / GasEnergy.

Fonte: LMC International

CAGR 08-12: 9,3%

CAGR 15-25: 2,5%

CAGR 12-15: 6,6%

Projeção

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A maior participação do Brasil no mercado mundial de glicerina se deve, principalmente, à maior oferta deste produto no mercado interno. O Brasil é um dos maiores produtores de biodiesel do mundo e, consequentemente, de glicerina bruta.

De acordo com participantes da indústria, a perspectiva de crescimento do mercado de oleoquímicos no Brasil é positiva, como indicado na Figura 6. Este otimismo está relacionado, em grande parte, à expectativa de crescimento dos principais mercados consumidores, à maior penetração dos oleoquímicos nestes mercados e ao desenvolvimento de novas aplicações e mercados.

Figura 6: Crescimento dos principais mercados fim de oleoquímicos

A penetração dos oleoquímicos nas diversas aplicações depende principalmente do grau de desenvolvimento de cada um de seus mercados. Em sabões e detergentes, por exemplo, a maior penetração dos oleoquímicos está associada à evolução na qualidade dos produtos, que ocorre, por exemplo, com a substituição do sabão de baixa qualidade por detergentes mais sofisticados.

Entre as novas aplicações, destacam-se aquelas ligadas ao desenvolvimento de novos produtos substitutos dos com origem petroquímico (por exemplo, utilização do metil éster sulfonado em substituição ao alquilbenzeno linear sulfonado no segmento de tensoativos) e aquelas ligadas à exploração do pré-sal (por exemplo, os ésteres graxos). Novas aplicações da glicerina vêm sendo pesquisadas pela Braskem, mais especificamente no desenvolvimento de um processo de produção do propeno a partir da glicerina. Para a exploração do pré-sal, pesquisas com ésteres vêm sendo realizadas para atender novas exigências impostas para os fluidos de perfuração.

2.3. Balança comercial

A balança comercial do segmento apresentou um déficit de 52 milhões de dólares em 2012. Os itens com maior impacto na balança foram os ácidos graxos, com déficit de 56 milhões de dólares, a glicerina, com superávit de 33 milhões de dólares e os álcoois graxos, com déficit de 29 milhões de dólares (Figura 7).

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Figura 7: Balança comercial 2012 em valor financeiro

O déficit comercial com os ácidos graxos vem crescendo ao longo dos últimos anos (Figura 8). Em 2012 este déficit representou 33%11 do mercado interno de ácidos graxos. Já o déficit com os álcoois graxos foi reduzido em 2009 a partir da inauguração de uma planta da Oxiteno em 2008 em Camaçari, atingindo o equivalente a 14% do mercado estimado em 2012. Cabe ressaltar que, apesar do déficit, os álcoois graxos importados em maior volume são os de cadeia C16-C18 (que possuem mais de 50% do volume total importado em toneladas), que possuem menor preço médio em comparação a outros álcoois, como o láurico. 12

O superávit da balança de glicerina é resultado do aumento da produção de biodiesel no Brasil. Considerando a possibilidade do governo aumentar o percentual exigido de biodiesel no diesel utilizado no País, a oferta de glicerina bruta deverá crescer e, consequentemente, suas exportações. Vale ressaltar que, apesar de ser um dos maiores produtores de glicerina bruta do mundo, o Brasil importa glicerina purificada.

11 Déficit e mercado em toneladas. 12 Aliceweb; análise Bain/Gas Energy

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Figura 8: Histórico de importação e exportação de oleoquímicos

2.4. Sofisticação da demanda

A sofisticação da demanda local de oleoquímicos está atrelada ao nível de exigência encontrado, principalmente, em 3 mercados: cosméticos, produtos de limpeza e exploração e produção de petróleo (E&P).

No Brasil, os mercados de cosméticos e de produtos de limpeza apresentam, de forma geral, baixo grau de sofisticação. Apesar de existir um potencial de desenvolvimento da classe média local e uma perspectiva de crescimento, acima da média global, destes mercados no Brasil, a maior parte dos produtos consumidos localmente é de formulação simples e inferior à demanda típica observada nos países desenvolvidos13. Por consequência, os tensoativos, principais insumos utilizados na produção de cosméticos e de produtos de limpeza, comercializados no Brasil também apresentam em geral um baixo grau de sofisticação14.

A demanda por oleoquímicos em E&P no Brasil possui uma maior sofisticação em relação à demanda dos demais países devido às particularidades da exploração da camada do pré-sal 15 . A demanda mais sofisticada neste mercado está associada a pesquisas de desenvolvimento de fluidos de perfuração. Apesar de, neste caso, ser uma demanda potencial, esta necessidade motiva o desenvolvimento de oleoquímicos com novas propriedades que podem atender a indústria de E&P global.

13 Entrevistas com especialistas das indústrias de cosméticos e produtos de limpeza. 14 Maior detalhamento sobre a sofisticação da demanda local observado nesses mercados pode ser encontrado nos Relatórios: “Tensoativos” e “Cosméticos e higiene e limpeza”. 15 Maior detalhamento sobre a sofisticação da demanda local de E&P pode ser encontrado no Relatório: “Químicos para E&P”.

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3. Fatores de produção

3.1. Matérias-primas

Conforme já citado, há diversas matérias-primas que podem ser utilizadas na cadeia produtiva dos oleoquímicos. As matérias-primas tradicionais são espécies vegetais oleaginosas e gorduras animais, embora também exista possibilidade de produção de oleoquímicos com base no açúcar.

Deve-se ressaltar que alguns produtos da cadeia oleoquímica podem ser substituídos por produtos petroquímicos, por exemplo, álcoois sintéticos16 produzidos a partir do eteno, sendo a relação de preço entre a matéria-prima de base natural e de base sintética um dos principais critérios para essa substituição. Ainda assim, o Consórcio acredita que o risco de substituição dos oleoquímicos com base renovável por produtos de origem petroquímica é baixo. Entre as razões para este baixo risco se destacam: (i) a alta correlação entre os preços dos óleos e o do petróleo, e (ii) a capacidade limitada desta substituição para os principais mercados finais dos oleoquímicos, como cosméticos e produtos de higiene pessoal. Um mapeamento da ICIS para álcoois graxos mostra que a rota natural tem ganhado participação frente à rota sintética (de 35% em 1980 para 60% em 2000) e a perspectiva é de manutenção desta tendência.

A capacidade de produzir diferentes derivados na cadeia oleoquímica depende da origem da matéria-prima. Cada feedstock é composto por uma determinada distribuição de cadeias carbônicas, sendo, portanto, mais adequado para a produção de determinados grupos de químicos básicos e derivados. A Figura 9 traz alguns exemplos das matérias-primas mais comuns (açúcar, óleos vegetais e gordura animal) e sua distribuição carbônica típica.

16 A Shell, por exemplo, produz o “Neodol”.

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Figura 9: Distribuição carbônica por tipo de óleo

Analisando a figura anterior, é possível notar, por exemplo, que o óleo de palmiste é mais adequado para a produção de derivados das cadeias C12 e C14. Já o sebo (gordura animal) é mais adequado para a produção de derivados do C16 e C18. Este relacionamento entre feedstock e produto final mostra a importância de se diversificar o investimento em matérias-primas nas quais o Brasil seja internacionalmente competitivo, aproveitando-se de vantagens das diferentes regiões do País para adensar as cadeias produtivas.

O aumento da produção local de óleo vegetal e gordura é de grande relevância para a cadeia de suprimentos da oleoquímica. Esta necessidade de aumento é mais acentuada nos óleos com maior concentração de C16 e C18, pois a importação de óleos com estas características (óleos de palma) tem apresentado maior crescimento.

O volume das importações para atender o mercado doméstico (alimentício, químico, etc.) aumentou 37% entre 2007 e 2012, atingindo 553 mil toneladas, conforme descrito na Figura 10.

*Açúcar processado por microalgasFonte: GUZMAN, D., Cognis

Nome Açúcar*Óleo de palmiste

(PKO)

Óleo de palma

Óleo de soja

Gordura animal

Óleo rícino

C8 Caprílico 4

C10 Cáprico 5

C12 Láurico 50

C14 Mirístico 15 2 1

C16 Palmítico 7 42 8 31 1

C18 Esteárico 2 4 4 13 1

C18:1 Oleico 15 41 28 46 6

C18:1-OH Ricinoleico 87

C18:2 Linoleico 1 10 53 6 4

C18:3 Linolênico 6 1

C20 Araquídico 2

Cad

eia

de c

arb

on

os

Concentração das distribuições carbônicas por tipo de óleo (%)

Óle

os

cust

om

izáveis

Maior concentração de comprimentos de cadeia de carbono nos ácidos graxos

NÃO EXAUSTIVO

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Figura 10: Importações de óleos por cadeias de carbono

Dado o cenário de importação dos óleos, o Consórcio priorizou para análise as 5 culturas que se mostram mais promissoras para o segmento de oleoquímicos no Brasil: palma e palmiste, soja, mamona, sebo e cana-de-açúcar. A seleção dessas culturas deveu-se a dois fatores principais: (i) disponibilidade e competitividade da oferta no Brasil e (ii) potencial de uso da matéria-prima na indústria química versus outros mercados consumidores. Pode-se observar na Figura 11 uma breve descrição das matérias primas selecionadas e exemplos de algumas que não serão abordadas em detalhe.

Figura 11: Matérias primas estudadas em profundidade

Importações de óleos por cadeia de carbono(kt; 2008-2012) VOLUME

~1,4x

Nota: (1) Os óleos desdobrados em cadeia de carbono são: palma, palmiste e mamona; (2) Os óleo no grupo outros não foram classificados por cadeia de carbono: oliva, girassol e coco, além de outros de menor volume.

Fontes: AliceWeb; Análise Bain / Gas Energy.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

As matérias-primas selecionadas foram analisadas com base em alguns indicadores, os quais se encontram de forma resumida na Figura 12.

Figura 12: Panorama competitivo das culturas selecionadas

A seguir, é apresentado um breve panorama sobre a competitividade dessas matérias-primas no Brasil.

INDICADORES PALMA SOJA MAMONA SEBO CANA

Produção Mundial(Mt)

• N.D • 242 • 2,0 • N.D • 1794

Produção MundialÓleo (Mt)

• 52 • 43 • 0,68 • 7 • N.A

Crescimentoesperado da produção mundialde óleo (12-16) (% a.a)

• 3% • 2% • 8% • 2% • N.D

ProduçãoBrasileira (Mt)

• N.D • 65,8 • 0,14 • 0,94 • 721

ProduçãoBrasileira Óleo(Mt)

• 0,39 (óleo de palma)

• 0,05 (PKO)

• 7,3 • N.D • N.D • N.A

Produtividadecultura Brasil vs.

líderes (ton/ha)

• BRA:11,9

• IDN: 16,7

• MAL: 21,9

• BRA: 2,92

• EUA: 2,95

• ARG: 2,90

• BRA:0,64

• CHI:0,91

• IND:1,84

• N.A • BRA:71,3

• IND:68,3

• CHI:68,8

Rendimento geral(kg óleo/ha)

• 3.450 • 527 • 705 • N.A • N.A

Preço Unitáriomédio óleo(US$/kg, mundial)

• 1,0 • 1,2 • 2,0 • 1,0 • N.A

Condições de Demanda local

• Versatilidade de aplicações;Demanda crescente para fins alimentícios

• Demandada por diversos setores, principalmente alimentação animal, exportação e biodiesel

• Demanda prin-cipal na indústria química. Óleo não é comes-tível e alta densidade e viscosidade limitam uso para combustíveis

• Demanda concentra-se na produção de sabões e outros setores da indústria química.Também usado para biodiesel

• Açúcar e etanol são os principaissubprodutos com forte demanda nacional e mundial

Condições de Oferta local

• Baixaespecialização e organização da cadeia. Requer assimilação de novas tecnologias que aumentem sua produtividade

• Cadeia produtivabem estruturada com alta produtividade e alto domínio de tecnologia de produção

• Baixaespecialização e organização da cadeia. Requer assimilação de novas tecnologias que aumentem sua produtividade

• Subproduto da produção de carne, cujo volume é expressivo no Brasil. País é exportador do insumo

• Cadeia produtivabem estruturada com alta produtividade e alto domínio de tecnologia de produção

Notas: Valores referem-se às safras 2011/2012. Exceção para produção e produtividade da mamona brasileira, em que se adotou a referência da safra 2010/2011; N.D = não disponível; N.A = não aplicávelFonte: Embrapa; IBGE; CONAB; Agrianual 2013; CGEE; Maxiquim; Nexant; FAPRI; FAO STAT; Elaboração Bain/ Gas Energy

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3.1.1. Palma e palmiste

A palma é uma oleaginosa de alto rendimento energético que permite extração de dois tipos diferentes de óleo com características bem distintas: o óleo de palma (extraído da polpa) e o óleo de palmiste (extraído da amêndoa). O primeiro equivale a cerca de 90% do volume de óleo extraído, enquanto o segundo completa os 10% restantes17.

Ao redor do mundo, a palma e o palmiste têm se consolidado como os principais feedstocks para a produção de óleos para usos industriais. Entre outras razões, pelo relativo baixo custo de produção dessa cultura e alta produtividade em toneladas de óleo por hectare plantado.

No mundo, o óleo de palma, rico em C16 e C18, é utilizado principalmente na indústria alimentícia e de biodiesel. As aplicações oleoquímicas incluem ácidos e álcoois graxos para surfactantes, lubrificantes, cosméticos, entre outros. Estima-se que cerca de 15% do consumo global de óleo de palma seja relacionado a oleoquímicos, enquanto os demais 85% são destinados a alimentos e outros usos18.

Já o óleo de palmiste, rico em C12 e C14, é utilizado como matéria-prima para a produção de uma ampla gama de produtos, entre eles cosméticos e produtos de limpeza em geral. No mundo, cerca de 60% do óleo de palmiste é destinado a oleoquímicos, enquanto os demais 40% são destinados a alimentos e outros usos.19

A Malásia e a Indonésia são responsáveis por mais de 80% da produção global de óleo de palma e palmiste, como mostra a Figura 13. Ambos os países também dominam as exportações globais, majoritariamente destinadas à Índia, China e União Europeia20.

17 Relatórios do setor 18 FAPRI, USDA, Malaysia Oil Sciences & Technology 19 FAPRI, USDA, Malaysia Oil Sciences & Technology 20 USDA

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Figura 13: Produção mundial de óleo de palma e palmiste (PKO)

Cabe destacar que o modelo de cultivo extensivo adotado pelos países do sudeste asiático é causa de parte expressiva da devastação da floresta tropical nativa da região. Para combater essa prática, foi criada a RSPO (Roundtable on Sustainable Palm Oil), com o objetivo de promover a produção sustentável de derivados da palma. Em 2012, apenas 12% dos produtores globais eram certificados com o selo de sustentabilidade da organização. Grandes consumidores mundiais já anunciaram metas de uso de produtos certificados. Dessa forma, além do aumento de restrições ambientais, a pouca disponibilidade de terra e o aumento dos custos de mão-de-obra em países asiáticos devem desacelerar o crescimento da produção de palma na Malásia e na Indonésia.

Os produtores que atuam nestes dois países, como: Wilmar, com capital de origem em Cingapura, IOI (Malásia) e KLK (Malásia), entre outros estão cada vez mais integrados no downstream, frequentemente produzindo os derivados oleoquímicos básicos e as especialidades21. O aumento da produção destes derivados na Ásia deverá limitar a oferta de óleo para a exportação, pressionando os preços de compra das empresas consumidoras não integradas na produção agrícola.

Desde 1994 o governo da Indonésia passou a taxar as exportações de óleo de palma bruto (CPO), visando garantir sua oferta no mercado local. A introdução da taxa resultou em queda no preço do óleo bruto no país e fortaleceu a indústria oleoquímica local.

21 Apesar da crescente integração, essas empresas ainda realizam compra de insumos como amêndoas para processamento e produção de óleo de palmiste.

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Fonte: USDA; FABRI; Elaboração Bain/Gas Energy

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Projeção

Projeção

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18

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Esta taxa de exportação é revisada mensalmente, possuindo quatro variáveis em seu cálculo. A tarifa de exportação, que é definida mensalmente pelo ministro de finanças; o preço de referência (check price) do CPO, que é determinado pelo ministro de comércio exterior com base no preço internacional do CPO em Roterdã; o volume exportado; e a taxa de câmbio22.

A Malásia, seguindo a estratégia adotada pela Indonésia, também passou a taxar a exportação de CPO, em 1994, utilizando uma formula similar àquela pela Indonésia23 para o cálculo da alíquota de exportação.

Em abril de 2014, as taxas de exportações se encontravam em 13,5% na Indonésia24 e 5,5% na Malásia25. Cabe ressaltar que a fórmula de cálculo da taxa de exportação já foi alterada diversas vezes por ambos os países ao longo dos anos.

Nos dois países, a estratégia de taxar exportações é adotada para todo segmento de derivados de óleo de palma, desde o CPO e o CPKO (óleo de palmiste bruto), até o biodiesel de óleo de palma. As tarifas de exportações são ajustadas para que produtos que estão mais próximos da base da cadeia (CPO e CPKO) tenham tarifas de exportação maiores que aqueles mais próximos do consumidor final (como biodiesel, por exemplo).

Segundo especialistas entrevistados, a adoção da tarifa de exportação resultou em muitos investimentos, em ambos os países, na capacidade de refino e processamento do óleo de palma e palmiste.

Atualmente as plantas industriais de ácidos e álcoois graxos desses países estão operando com baixo nível de utilização da capacidade instalada, entre 60% e 70%. Espera-se que esse cenário continue para os próximos 3 anos, o que preocupa players nacionais que trabalham com esses compostos26.

Algumas regiões do Brasil possuem condições climáticas adequadas para o plantio da palma, topografia que permite maior mecanização e menores custos de produção, e disponibilidade de áreas para expandir a produção atual. O País possui até 28,9 milhões de hectares de áreas propícias para expansão em condições ideais para a cultura, sendo 12,3 milhões de hectares localizados no Pará, segundo a Embrapa27. Como comparação, Malásia e Indonésia têm hoje, somadas, 8,5 milhões hectares plantados com palma, uma área cerca de 45% menor do que dispõe o Brasil28. Cabe ressaltar que a área plantada nestes países asiáticos está em um terreno mais acidentado do que o disponível no Brasil, o que permitiria uma mais fácil mecanização da cultura local.

22 Rifin, Amzul. The Effect of Export Tax on Indonesia’s Crude Palm Oil (CPO) Export Competitiveness, 2010 23 Rifin, Amzul. The Effect of Export Tax on Indonesia’s Crude Palm Oil (CPO) Export Competitiveness, 2010 24 Reuters, 2014 25 Bloomberg, 2014 26 Entrevistas com especialistas 27 Zoneamento Agrológico do Dendezeiro, 2010 28 FAPRI, USDA, Malaysia Oil Sciences & Technology

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19

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Apesar desse potencial, em 2012 a área plantada com palma no Brasil ocupava apenas 180 mil hectares. Nessa área foram produzidas, em 2012, cerca de 400 mil toneladas de óleo de palma e 50 mil toneladas de óleo de palmiste29, uma produção irrisória frente ao potencial de produção brasileiro. O baixo aproveitamento desse potencial levou o Governo a criar o Programa Nacional de Produção Sustentável de Palma, que visa estimular e regulamentar o plantio e estabelecer um zoneamento agroecológico econômico.

Atualmente a maior parte do óleo de palma brasileiro é destinada à produção de biodiesel, enquanto o óleo de palmiste (PKO) é destinado principalmente à geração de energia e à indústria alimentícia. Nos últimos anos, houve grandes esforços para aumento efetivo da produção nacional do óleo de palmiste30, a qual cresceu aproximadamente cinco vezes entre 2007 e 2012. Dentre importantes projetos para a produção de palma no Brasil, destaca-se a atuação da Petrobrás Biocombustíveis (PBio) e da Biopalma, subsidiária da Vale.

No caso da PBio dois projetos estão sendo desenvolvidos: (i) criação da empresa Belém Bioenergia do Brasil, em joint venture coma GALP, que deverá exportar entre 250 a 300 mil toneladas de óleo de palma para Portugal; e (ii) o Projeto Pará que visa produzir 200 mil toneladas de biodiesel para atender a demanda da região norte do País. Já a BioPalma planeja usar a palma para produzir biodiesel B20, a partir de 2015, com foco no atendimento de suas operações ferroviárias no Pará, para transporte de minério de ferro.

Apesar do alto crescimento da produção de óleo de palmiste, as plantas brasileiras de oleoquímicos ainda dependem da importação de um volume expressivo de óleo de palmiste. No mesmo período, de 2007 a 2012, as importações de palmiste aumentaram de 88 para 170 mil toneladas31.

Estimativas realizadas por especialistas dessa indústria apontam que o custo de produção de óleo de palma nos países líderes atualmente encontra-se entre 300 e 450 dólares por tonelada. Os custos para os demais países são estimados em uma faixa de 400 a 500 dólares por tonelada. O PKO, por ter processo de produção similar ao do óleo de palma, possui custos semelhantes.

Especialistas acreditam que o Brasil apresenta condições climáticas e geológicas para proporcionar à cultura da palma níveis de produtividade (em toneladas por hectare) semelhantes aos observados em países como Indonésia e Malásia. Mesmo atingindo esta produtividade, especialistas apontam outros desafios para que o Brasil alcance a mesma posição de custo desses países: (i) aumentar o grau de automatização das colheitas32 e (ii) proporcionar a garantia de posse da terra33.

29 CONAB 30 Produção cresceu de 10 mil toneladas para aproximadamente 50 mil toneladas entre 2007 e 2012 31 Aliceweb; análise Bain / Gas Energy 32 A geografia plana dos terrenos brasileiros permite maior grau de automatização das colheitas 33 Atualmente, ainda existe certa insegurança de alguns grupos empresariais para investirem no setor dada a instabilidade da posse e do zoneamento.

Page 20: Relatório 3 – Oleoquímicos

20

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

No mercado internacional, os preços do PKO tiveram grande variação em termos reais, passando por vales próximos a US$ 300 por tonelada e picos acima de US$ 1.600 por tonelada, nos últimos 15 anos. A partir das projeções do World Bank para os preços do óleo de palma e de uma relação de 1,24 entre o preço do óleo de palma e o PKO (média verificada entre 1998 e 2012), projeta-se os preços do PKO até 2025 (Figura 14).

Figura 14: Preços históricos e projeções dos óleos de palma e palmiste

Segundo especialistas da indústria, o custo de transporte da tonelada de óleo do palmiste do Pará até a região sudeste varia de US$ 150 a US$ 300, enquanto do sudeste asiático para mesma região varia entre US$ 60 e US$ 100. Ou seja, trazer o produto do exterior custa menos do que realizar o transporte interno.

Cabe ressaltar que o aumento da escala da produção agrícola de palma no Brasil poderia aumentar a demanda de cabotagem para transporte dos óleos de palma e palmiste, reduzindo os custos de frete e viabilizando a comercialização de oleoquímicos paraenses nas demais regiões do País.

Portanto, mesmo com a atual desvantagem em custo logístico, ainda seria factível ter uma produção de palma competitiva no estado do Pará. O risco estaria nos cenários de oscilações negativas de preço, onde os competidores mais bem posicionados na curva de custo estariam mais aptos a permanecerem na indústria34.

34 Players integrados verticalmente apresentam vantagem de custo neste segmento. Esta tendência é descrita na seção “Dinâmica da Indústria”.

199819

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2320

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25

Preço do óleo de palma e PKO*(US$/t)

Estimativa

*Óleo de palma (Malásia), 5% bulk, c.i.f. N. W. Europe; PKO (Malásia), c.I.f. RotterdamNota: valores nominaisFonte: World Bank; Análise Bain / Gas Energy

800

992

Spread PKO / Óleo de palmaEstimativa

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Destaca-se também que, além do alto potencial para produção de palma no Pará, a Bahia também apresenta regiões propícias para a cultura. Uma vantagem da produção de palma e seus derivados na região seria a proximidade da cadeia oleoquímica instalada no Polo de Camaçari.

3.1.2. Soja

A soja é uma das oleaginosas mais consumidas no mundo. Seu manejo é relativamente mais simples em comparação a outras culturas, pois exige menor uso de fertilizantes. Em contrapartida, o seu processamento para geração do óleo de soja apresenta maior complexidade35.

Atualmente, o maior produtor global de soja é os Estados Unidos. O Brasil possui a segunda maior produção de soja do mundo 36 , apresentando um dos maiores índices de produtividade (cerca de 2,9 toneladas por hectare). O País é responsável por quase 30% da produção mundial, que foi de cerca de 253 milhões de toneladas na safra 2011/2012. A competitividade da soja brasileira torna o insumo atrativo para a produção de oleoquímicos. A Figura 15 mostra os dados de produção entre os países.

Percebe-se que, apesar da relevância do Brasil na produção de soja, o País apresenta menor destaque na produção de óleo de soja. Isso ocorre porque o Brasil se posiciona como forte exportador do grão da soja, perdendo participação frente a outros players que possuem maior capacidade interna de processamento, como a China.

Figura 15: Produção e área plantada de soja – mundo

35 Entrevistas com especialistas do setor 36 Cerca de 25 milhões de hectares de área plantada na safra 2011/2012.

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8

Fonte: FAO STAT/ FAPRI; Elaboração Bain/Gas Energy

Soja

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Projeção

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

A soja é a matéria-prima mais utilizada no continente americano para a geração de óleos, entretanto, trata-se de uma oleaginosa que não possui bom adensamento energético quando comparada com outras matérias-primas, gerando um menor rendimento de óleo por tonelada de matéria-prima (cerca de 4 vezes inferior ao rendimento da palma, segundo a USDA). Entretanto, esta desvantagem é compensada pelo menor custo e maior facilidade de manejo necessário para sua produção37.

Para o sucesso da utilização dessa espécie oleaginosa na produção de biocombustíveis e produtos químicos de alto valor agregado são necessários avanços em áreas como melhoramento genético, sistemas de produção sustentáveis e processos agroindustriais eficientes.

Atualmente, os maiores mercados de soja no Brasil são o setor alimentício (animal e humana), a exportação do grão (o óleo é exportado apenas como produto secundário no País) e a formulação de biodiesel.38 Mesmo havendo concorrência com outros usos, a integração do beneficiamento de óleo de soja em um complexo oleoquímico pode oferecer uma vantagem relevante, tanto de sinergia quanto de escala.

3.1.3. Mamona

A mamona é a oleaginosa com maior concentração de óleo ricinoleico (aproximadamente 90%), o que a torna única para determinados usos. Dentre as aplicações dos óleos derivados de mamona estão os lubrificantes e fluidos hidráulicos, polióis para poliuretanos, plastificantes de resinas e borrachas, fungicidas e poliamidas, dentre outras.

A produção mundial de mamona vem crescendo a uma taxa média anual de 2,4% desde os anos 1960. Nos últimos dez anos (2003 a 2012), entretanto, a produção foi intensificada e cresceu em média 5,3% ao ano, como mostra a Figura 16. Em 2012, a produção mundial de mamona foi de cerca de 2 milhões de toneladas, após um pico de 2,8 milhões em 2011.

Figura 16: Evolução da produção mundial de mamona

37 Entrevistas com especialistas 38 Especialistas do setor

1961

1963

1965

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1971

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2011

Produção mundial de mamona (kt)

Fonte: FAO

CAGR CAGR(61-12) (03-12)

2,4% 5,3%

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

O crescimento se deve em grande parte ao aumento do uso de derivados de mamona em graxas, colas, adesivos, selantes, polióis, cosméticos e entre outras aplicações39.

Apesar do crescimento do mercado global, a produção brasileira de mamona caminhou em sentido contrário. Nos anos 1970 e em parte dos anos 1980, o País foi o líder mundial em produção de mamona. No entanto, a produção doméstica sofreu forte redução durante a segunda metade dos anos 1980 e na década 1990. A Figura 17 mostra o histórico de produção, área plantada e produtividade brasileira no cultivo da mamona.

Figura 17: Histórico de área cultivada, produção e produtividade da mamona

Atualmente, o País produz em torno de 100 a 120 mil toneladas por ano de mamona, ocupando a 4ª posição entre os maiores produtores mundiais. A Índia, com produção de 1,6 milhões de toneladas em 2012, é a líder mundial, suprindo cerca de 80% da demanda global. A Figura 18 a seguir mostra o histórico da evolução da produção dos principais países40.

39 Entrevista(s) com participante(s) da indústria. 40 O Consórcio não teve acesso a dados públicos com projeções referentes à produção global e nacional de mamona

Área cultivada - mamona (k ha, barras)

Fonte: Conab; FAO; Análise Bain / Gas Energy

Produção de mamona(kt, linha)

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6/77

197

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0/11

Produtividade (kg/ha)

Safras

Safras em que Brasil foi maior produtor mundial

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 18: Produção mundial de mamona

Grande parte do declínio da produção da mamona brasileira pode ser explicada pelo histórico de baixos investimentos em tecnologia durante as décadas de 1980 e 199041. Entre as décadas de 1970 e 2010, a produtividade do cultivo brasileiro caiu 62%. Como comparação, a soja, fonte de incentivos governamentais e investimentos privados, teve a produtividade incrementada em 95%, como mostra a Figura 19. A falta de investimento em tecnologia teve impacto na produtividade: na década de 70, estima-se que a produtividade da mamona brasileira era 85% superior à mamona indiana. Na década de 2010, a produtividade indiana registrada foi 3 vezes superior à produtividade brasileira42.

41 Entrevista(s) com participante(s) da indústria. 42 USDA; FAPRI; Análise Bain / Gas Energy

Fonte: FAO STAT

Page 25: Relatório 3 – Oleoquímicos

25

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 19: Produtividade histórica da soja e da mamona brasileiras

A baixa produtividade da produção de mamona no Brasil é uma das principais causas do declínio da indústria ricinoquímica no País. Especialistas indicam que melhorias na produtividade agrícola do cultivo da mamona - o grande gargalo para o crescimento e o fortalecimento da indústria ricinoquímica no Brasil - podem reposicionar o País como um player relevante do setor no médio prazo. Ações para melhoria da produtividade dessa cultura no País estão ligadas, principalmente, a três fatores:

• Melhoramento genético de sementes; • Melhoramento dos tratos culturais (irrigação, semeadura, técnicas de plantio etc.); • Maior mecanização agrícola (mecanização do preparo da terra, do cultivo, da colheita

etc.)

Embora ainda haja espaço para melhorias nas três dimensões, especialistas apontam a mecanização como a área com maior potencial para desenvolvimento no País.

No Brasil, o cultivo e a colheita da mamona ainda são muito artesanais e pouco mecanizados. Devido às características particulares da planta, pesquisas e desenvolvimentos específicos seriam necessários. A mecanização poderia criar uma vantagem competitiva para o Brasil frente ao produto da Índia, onde a colheita não é mecanizada.

Especialistas estimam que atualmente a produção mundial de óleo de mamona seja de aproximadamente 680 mil toneladas por ano. Deste volume total, aproximadamente 78% é produzido na Índia e 12% na China.

SOJA MAMONA

Produtividade média por década (kg/ha) Produtividade média por década (kg/ha)

Décadas Décadas*Média das safras de 1976/77 a 1979/80 (1970) e de 2010/11 a 2012/13 (2010)Safras por década: 1980/81 a 1989/90 (1980); 1990/91 a 1999/00 (1990); 2000/01 a 2009/10 (2000)Fonte: Conab

95%-62%

15%

27%

21%

10%

-37%

-17%43%

-49%

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

3.1.4. Sebo bovino

No Brasil, há grande disponibilidade de sebo de origem bovina. O destino mais comum do sebo brasileiro é a produção local de sabões e sabonetes (61% em 200743). Ração animal, biodiesel e oleoquímica também são fins significativos do produto. O País também exporta sebo bovino (4 milhões de toneladas em 201244).

Aproximadamente 50% da produção local está concentrada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, cada uma responsável por cerca de 25% do volume total produzido45. O fornecimento de sebo, em geral, está ligado a empresas produtoras de carne e derivados. A cadeia produtiva no Brasil passou por intenso processo de consolidação ao longo dos últimos anos. Atualmente, o frigorífico JBS é o maior produtor brasileiro, responsável por cerca de 40% da oferta doméstica do insumo46. Segundo especialistas, apesar dessa liderança, o mercado brasileiro ainda pode ser considerado pulverizado47.

Embora a Índia possua um rebanho mais numeroso que o Brasil, a disponibilidade de sebo bovino aqui é muito maior, uma vez que o abate não é permitido na Índia. Desta forma, caso se considere apenas o rebanho comercial, o Brasil se posicionaria como o primeiro produtor mundial. A Figura 20 mostra tamanho do rebanho bovino nos principais países criadores. O Consórcio não teve acesso a números específicos referentes à posição de custo da produção de sebo no Brasil, contudo, dada a relevância do País na criação bovina, acredita-se que a produção local de sebo seja competitiva.

Figura 20: Rebanho bovino por país

43 Martins et al., 2011 44 NCM 15021019 - Outros sebos bovinos. 45 CONAB 46 Entrevista(s) com participante(s) da indústria. 47 Entrevistas com especialistas

Fonte: USDA

Rebanho bovino por país (M cabeças de gado)

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Estima-se que cada boi forneça cerca de 23 quilos de sebo (Bellaver e Zanotto, 2004). Segundo o Anuário da Pecuária Brasileira (ANUALPEC), em 2011 foram abatidas 41 milhões de cabeças de gado no Brasil, o equivalente a aproximadamente 943 mil toneladas de sebo.

Em geral, a demanda por gorduras animais, como o sebo bovino, tem permanecido estável por razões de saúde. Outra tendência relevante percebida com relação ao consumo desta matéria-prima no Brasil envolve a substituição gradual da venda de sabões e sabonetes em barras pela venda destes produtos em forma líquida. Esta tendência do mercado de produtos de limpeza e higiene pessoal deve levar a um excedente da produção de sebo no Brasil, o qual deve passar a ser absorvido por outros mercados consumidores.

3.1.5. Cana-de-açúcar

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, seguido pela Índia, China e Tailândia. A cana é uma das principais culturas brasileiras, em face das ótimas condições climáticas para sua produção e da experiência local acumulada ao longo dos anos com a cultura. Na safra brasileira de 2011/12, registrou-se no Brasil uma colheita de aproximadamente 720 milhões de toneladas, proveniente de uma área plantada de cerca de 8 milhões de hectares48. Este volume de produção representou aproximadamente 40% da produção global de cana-de-açúcar no ano, conforme mostrado na Figura 21.

Figura 21: Produção de cana-de-açúcar no Mundo

48 USDA e CONAB

Fonte: FAO STAT; FABRI; Elaboração Bain/ Gas Energy

Projeção

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

A escala e a alta produtividade (aproximadamente 80 toneladas de cana por hectare) conferem ao Brasil uma das melhores posições de custo mundial na produção de açúcar, conforme mostra a Figura 22 .

Figura 22: Comparação internacional do custo de produção do açúcar

Com base na sacarose da cana-de-açúcar é possível obter lipídeos de composição idêntica ou assemelhada a um óleo vegetal natural. Ao contrário das oleaginosas tradicionais, a produção biotecnológica com uso de microrganismos, que metabolizam o açúcar, permite a produção de óleos customizados especiais. Ou seja, óleos cuja distribuição carbônica pode ser definida pelo produtor, de acordo com a necessidade do consumidor.

Um desafio à captura deste potencial está no fato de que a tecnologia para produção de químicos básicos a partir da cana ainda é recente e, portanto, ainda apresenta eficiência menor que a tecnologia utilizada em matérias-primas mais tradicionais, como a palma. O óleo a base de cana, por exemplo, precisa de refino para poder ser utilizado na produção de álcoois graxos, devendo passar por processo de hidrogenação.

Outra dificuldade se refere à ampla utilização da cana-de-açúcar como insumo para a indústria alimentícia e de biocombustíveis. Iniciativas voltadas à produção de oleoquímicos com base na cana enfrentariam competição por matérias-primas com estas indústrias.

Apesar destes obstáculos, percebe-se um número crescente de empresas investindo no domínio de tecnologias relacionadas à cana-de-açúcar, como a LS9 (adquirida em 2014 pela empresa Renewable Energy Group), a Codexis e a Solazyme. Como exemplo desta tendência, pode-se citar o recente investimento conjunto entre Solazyme e Bunge para a produção de químicos a partir da cana-de-açúcar no Brasil. Os players deste mercado têm optado por atuar de forma integrada com a produção da matéria-prima, pois a consideram um fator relevante de vantagem competitiva.

Maiores produtores

Nota: Dados de 2010 ajustado pela variação da taxa de câmbio e inflação, o custo estimado da África do Sul como a Tailândia, pois apresenta métodos de produção semelhantesFonte: LMC International e Bunge RI (Agosto/2010); LCA; Euromonitor

Page 29: Relatório 3 – Oleoquímicos

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

3.2. Rotas produtivas e escala econômica dos investimentos

A cadeia produtiva tradicional dos oleoquímicos começa na purificação (desodorização e branqueamento) dos óleos vegetais naturais e gorduras. Esta purificação também é necessária para a produção de óleos para alimentação. Este processo é contínuo e deve ser realizado em grande escala49.

Vale ressaltar que uma grande parte da importação brasileira de óleos é de produtos já purificados e que a etapa de purificação não é necessária para óleos obtidos a partir da ação de microalgas (processo utilizado pela empresa Solazyme). Os óleos obtidos a partir deste processo (microalgas) possuem maior grau de pureza, não necessitando de qualquer espécie de purificação anterior à ação das algas.

Já na etapa de produção dos ácidos graxos, o processo utilizado é de hidrólise dos triglicerídeos, a partir dos quais são feitos os outros derivados50. É um processo contínuo, e uma escala de 100 kta (como a da Oxiteno, em Camaçari, na Bahia) é considerada adequada.

A produção de álcoois e de outros derivados pode ser feita tanto em processo contínuo como em batelada. Independente da maneira, os processos são sempre multipropósito. O aumento da escala pode reduzir os custos de investimento. Por outro lado, a consequência é o aumento dos custos de produção, sobretudo pelo tempo requerido para adequar as instalações e limpar as linhas de produção para a mudança de produto. A escala típica para a produção de álcoois graxos é da ordem de 100kta51.

A Figura 23 ilustra de forma esquemática um exemplo de uma rota produtiva clássica da oleoquímica baseada no palmiste.

49 Cerca de 100 kta. 50 Rotas tecnológicas e análise de mercado dos derivados serão abordados nos Relatórios específicos dos demais segmentos estudados. 51 BCC Research.

Page 30: Relatório 3 – Oleoquímicos

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 23: Cadeia oleoquímica do PKO

3.3. Tendências tecnológicas

As principais tendências tecnológicas encontradas podem ser divididas em 3 grupos:

• Processos biotecnológicos para produção de óleos a partir do açúcar: são rotas que possibilitam a obtenção de óleos com a cadeia de carbono desejada a partir do açúcar, de primeira geração (por exemplo, cana de açúcar) ou de segunda geração (por exemplo, bagaço de cana de açúcar). A produção a partir do açúcar de segunda geração tem o mérito de não competir com a cadeia alimentar. A biotecnologia pode viabilizar a competição do açúcar da cana com os óleos vegetais naturais na produção de ácidos graxos específicos..

• Melhoria e adaptação de processos químicos clássicos: a produção de n-parafinas a partir diretamente dos triglicerídeos por hidrotratamento é um exemplo de melhoria de processo (processo químico de hidrogenação similar ao utilizado em refino). Outro exemplo será a “metathesis” para o rearranjo molecular de produtos complexos com baixo uso em produtos de maior valor no mercado (a Elevance é líder na tecnologia do catalisador para este processo).

• Tecnologia de produtos com o objetivo de desenvolver novas aplicações: o exemplo mais expressivo na atualidade é o desenvolvimento de ésteres para fluidos de perfuração em E&P com melhor estabilidade que os ésteres convencionais, como pesquisados pela Elevance atualmente. A Figura 24 ilustra algumas empresas envolvidas nestas tendências tecnológicas.

Page 31: Relatório 3 – Oleoquímicos

31

Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 24: Novas empresas com rotas alternativas inovadoras para produção de oleoquímicos

3.4. Custo de capital e financiamento

Com relação ao custo de capital e às fontes de recursos para financiar os investimentos nesse segmento, o Consórcio avalia que não há grandes diferenciais ou desvantagens relacionadas à competitividade destes itens no Brasil frente às condições predominantes em outros países. A informação foi obtida por meio de entrevistas com especialistas envolvidos no processo.

Deve-se ressaltar que este custo é apenas um dos aspectos que podem afetar os investimentos, não aparecendo como o item de maior relevância para a tomada de decisão.

A principal fonte de financiamento de longo prazo no Brasil, para este setor, é o BNDES, de modo que o custo do capital estará intimamente associado às próprias políticas do Banco. Observam-se investimentos recentes do Banco neste segmento, principalmente relacionados a tecnologias baseadas em matérias-primas em que o Brasil apresenta diferencial competitivo. Podem ser citados nesta linha, os investimentos recentes do BNDES em projetos de biotecnologia, como no caso da joint venture entre Solazyme e Bunge (produção de oleoquímicos a partir de cana-de-açúcar).

3.5. Infraestrutura

A questão da infraestrutura tem peso relevante no segmento de oleoquímicos devido às grandes distâncias típicas existentes entre os centros consumidores e as áreas fornecedoras de matérias-primas (por exemplo, extração de palma do Pará ou de mamona na Bahia).

Page 32: Relatório 3 – Oleoquímicos

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

O Pará é hoje o principal produtor de matéria prima para a oleoquímica. Este polo possui uma vocação para exportação devido a dois aspectos: o maior valor do produto que pode ser obtido com o selo de sustentabilidade local e os elevados custos com os fretes entre o Pará e a região sudeste do Brasil, que tornam o produto paraense pouco competitivo frente às importações do sudeste asiático.

Como citado, o custo de transporte da tonelada de óleo do palmiste do Pará até a região sudeste varia de US$ 150 a US$ 300, enquanto o proveniente do sudeste asiático para mesma região varia entre US$ 60 e US$ 100. Este é o principal entrave para a utilização do produto nacional como matéria prima para um polo oleoquímico, mas que poderia ser contornado com o aumento da escala da produção agrícola, que aumentaria a demanda de cabotagem para transporte dos óleos de palma e palmiste, reduzindo os custos de frete.

4. Dinâmica da indústria

4.1. Estratégia de atuação dos players

A dinâmica do mercado e as estratégias de atuação dos players nos mercados global e local podem ser melhor compreendidas a partir da análise de como as margens de lucro estão distribuídas ao longo da cadeia de valor. Segundo um especialista do setor, na cadeia de valor da palma as margens são mais elevadas nos elos de plantação, extração e no elo de produção dos derivados dos oleoquímicos básicos, enquanto que no elo de produção dos oleoquímicos básicos, as margens tendem a ser menores52. Dado este cenário de margens por elo da cadeia de valor, observa-se um movimento de verticalização (Figura 25).

52 Derivados dos oleoquímicos básicos serão retratados nos demais Relatórios específicos dos demais segmentos aprofundados pelo Consórcio.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 25: Grau de integração de empresas oleoquímicas

No contexto dos oleoquímicos no Brasil, observam-se diferentes posicionamentos. No elo de matéria prima, JBS, Bunge e Agropalma atuam apenas na produção de feedstock e fornecimento de óleo enquanto Cargill e Petrobras Biocombustível integram a produção dos óleos à produção de oleoquímicos básicos. Agropalma, Cargill e Petrobras Biocombustível tem maior foco no suprimento e produção de biodiesel. Uma expansão no escopo de mercado destas empresas poderia fortalecer o suprimento de óleos para a indústria química.

No elo de produção dos oleoquímicos, se observa uma tendência de integração com a produção de derivados, mas ainda há um grande número de produtores de pequeno porte de ácidos graxos que não estão integrados à jusante. A indústria brasileira produtora de ácidos graxos com base em sebo bovino, por exemplo, possui baixa escala, é fragmentada e vista como pouco estruturada por especialistas. Tecnologias utilizadas no setor são ultrapassadas e pouco eficientes53.

A tendência de integração do elo de produção de oleoquímicos básicos com o elo de derivados é observada no Brasil em empresas como a Oxiteno, a Clariant e a Croda. Esta integração possibilita ao produtor o acesso a um mercado que possui margens mais altas.

Também vale ressaltar que uma potencial integração a montante por parte das empresas produtoras de oleoquímicos representaria uma segurança de suprimento de matéria prima (óleos e gorduras). Esta segurança poderia ocorrer a partir da aquisição de produtores de feedstocks ou através de acordos comerciais e/ou operacionais de longo prazo com estes produtores.

53 Entrevista(s) com participante(s) da indústria

FEEDSTOCKS E MATÉRIAS-PRIMAS OLEOQUÍMICOS BÁSICOS DERIVADOS

Agropalma

JBS

Bunge

Cargill

Petrobras Biocombustível

Oxiteno

Croda

Clariant

Players de menor escala*• Braido• Campineira• Bom Brasil

Wilmar

IOI

KLK

*Não exaustivoFonte: Websites das empresas; Análise Bain / Gas energy

Em

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oNÃO EXASUTIVO

1

2

3

4

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Também fica clara a tendência mundial pela integração até à produção das oleaginosas, seja diretamente ou através de “joint-ventures”. Esta tendência diminui o risco de compressão de margens provocado pelas flutuações dos preços das commodities, ao mesmo tempo em que amplia o potencial de desenvolvimento de clusters no setor oleoquímico.

No mundo, os maiores players do setor tendem a atuar nos três elos da cadeia, como é o caso da Wilmar, da IOI e da KLK. Inicialmente concentradas no primeiro elo da cadeia, esses players têm aumentado a participação no elo dos oleoquímicos e dos derivados em suas matrizes de receita.

4.2. Situação econômica das empresas

A Figura 26 apresenta uma fotografia da margem EBITDA de uma seleção de empresas produtoras de palma do sudeste asiático. As margens das empresas que concentram suas receitas na atividade de venda de óleo de palma são superiores às demais, que integram as atividades de produção de oleoquímicos básicos e de óleo de palma com o restante da cadeia. É importante ressaltar, no entanto, que as empresas que concentram suas atividades somente na produção de óleo de palma estão mais vulneráveis a variações no preço desta matéria prima. Não foram obtidos dados sobre a rentabilidade de unidades locais de oleoquímicos.

Figura 26: Dados financeiros de players selecionados

4.3. Acesso ao mercado interno e externo

As principais barreiras identificadas para a entrada de novos produtores de ácidos graxos e álcoois graxos está associada ao acesso à tecnologia no caso das rotas alternativas e, dependendo do porte da planta, segurança no suprimento de óleos e/ou feedstocks.

Page 35: Relatório 3 – Oleoquímicos

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

A empresa americana Solazyme, associada à Bunge, está entrando no mercado local para a produção de óleos e oleoquímicos a partir da cana de açúcar. Como já mencionado neste Estudo, a produção de óleos a partir da cana é uma tecnologia ainda em desenvolvimento que necessita de investimentos em pesquisas. A Solazyme trouxe conhecimento e capital para investimento em pesquisa e desenvolvimento e se associou à Bunge, garantindo uma maior segurança no suprimento de cana de açúcar. Desta forma, a empresa se fortalece com a integração a montante e com a detenção do conhecimento nesta nova rota tecnológica.

Não há barreiras à exportação e o mercado externo é uma alternativa para escoar a produção de uma planta de larga escala com capacidade superior à demanda doméstica. No entanto, vale notar que o mercado interno tende a oferecer melhores margens para o produtor, uma vez que as importações incorrem em impostos e custos logísticos.

5. Potenciais oportunidades de investimentos no segmento “Oleoquímicos”

As oportunidades selecionadas para aprofundamento neste Estudo e listadas nesta seção do Relatório consideram o potencial competitivo do Brasil no início da cadeia dos oleoquímicos. Observa-se que o País já apresenta ou pode apresentar vantagens competitivas ligadas a algumas matérias-primas utilizadas na cadeia de valor dos oleoquímicos. Além disso, o Brasil já possui um mercado oleoquímico relevante e com boas perspectivas de crescimento.

Após a análise do segmento e o tratamento criterioso das entrevistas realizadas com os participantes do segmento de oleoquímicos, foi possível ressaltar três configurações como oportunidades para aprofundamento. São elas:

1. A partir da palma e do palmiste, produzir oleoquímicos no estado do Pará; 2. A partir da cana-de-açúcar, da soja e do sebo, criar um polo oleoquímico na região

sudeste; 3. A partir da mamona, produzir ricinoquímicos na Bahia.

Outras duas oportunidades estão relacionadas à utilização da glicerina, subproduto da produção de biodiesel que deverá ter sua oferta aumentada com a implementação do biodiesel B6 (conteúdo mínimo de 6% de biodiesel na mistura do diesel) e, posteriormente do biodiesel B7, como matéria prima.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

A primeira refere-se às rotas alternativas para produção de químicos renováveis com base na glicerina, como a epicloridrina e o propilenoglicol, e está abordada no relatório Químicos com base em fontes renováveis. A segunda oportunidade, relacionada ao uso da glicerina, seria a instalação de unidades fabris para a purificação da glicerina bruta - um subproduto da produção de biodiesel e de ácidos graxos, que não será desenvolvida no Estudo, pois já há investimentos anunciados pela Granol com este escopo: a empresa terá capacidade para produzir aproximadamente 27 mil toneladas de glicerina purificada por ano em sua unidade de Cachoeira do Sul 54 . Este volume é superior às importações brasileiras de glicerina purificada registradas em 2012, cerca de 17 mil toneladas.

Ressalta-se que para as oportunidades que envolvam a exportações de produtos oleoquímicos para regiões mais desenvolvidas, como EUA e Europa, deve-se atentar a possíveis exigências para que os produtos obedeçam ao padrão Kosher.

5.1. Produção de oleoquímicos com a palma e o palmiste no Pará

Conforme apresentado ao longo deste Relatório, a área plantada atual e a produção de palma no Brasil ainda não são representativas frente aos principais líderes globais. Entretanto, há grande potencial para expansão da produção no País, com possibilidade de atuação em cerca de 12 milhões de hectares disponíveis no Pará em condições ideais para o plantio da palma.

Em situação oposta, Malásia e Indonésia enfrentam dificuldades relacionadas à disponibilidade de novas áreas para o plantio de palma e à sustentabilidade ambiental de sua produção agrícola, o que deve comprometer o ritmo de crescimento das exportações de óleo de palma e óleo de palmiste desses países.

Outra vantagem das iniciativas domésticas de produção de palma, em sua maior parte localizadas no Pará, refere-se aos parâmetros de sustentabilidade indicados pela Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO). Em 2012, apenas 12% dos produtores globais eram certificados pela RSPO, como mostra a Figura 27.

54 Entrevista(s) com participante(s) da indústria

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 27: Produtores certificados com selo da RSPO

Acredita-se que a produtividade da palma no Brasil possa se igualar àquela observada atualmente em países asiáticos55. As iniciativas de aclimatação e aperfeiçoamento genético da semente de palma que vêm sendo desenvolvidas pela Embrapa têm permitido o plantio de variedades tão produtivas quanto às asiáticas.

Com relação aos custos, mesmo que o País apresente desvantagem frente ao custo de mão-de-obra na Ásia, este gap poderia ser compensado pela maior mecanização da colheita dos cachos de dendê no Brasil56, dado que a natureza plana do terreno no País proporciona condições para automatizar a colheita melhores que aquelas existentes nos países asiáticos.

O principal desafio para esta oportunidade, entretanto, não está nos custos de produção, mas sim na logística, conforme descrito anteriormente. Outro desafio a ser contornado, segundo especialistas da indústria, é o fato de que a comercialização da palma e do palmiste para a indústria oleoquímica remunera menos o produtor agrícola do que a produção para biodiesel ou alimentos. Embora haja menor remuneração, especialistas da indústria projetam que a utilização de palma e palmiste em oleoquímicos deva crescer nos próximos anos 57 , demonstrando que se trata de uma alternativa economicamente viável para os produtores agrícolas.

55 Entrevistas com especialistas da indústria 56 A Agropalma, em parceria com a Stihl, vem trabalhando no desenvolvimento de cortadores de palma, sendo que dois modelos comerciais já foram lançados. Fonte: Agropalma 57 FAPRI; Oil World; EIU; análise Bain/Gas Energy

Fonte: USDA; RSPO

Produção global de óleo de palma / palmiste (Mt)

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Considerando o atual cenário para os mercados da palma e do palmiste no Brasil, o Consórcio observa uma oportunidade de instalação de uma fábrica no Pará com capacidade inicial de 50 mil toneladas58, expansível para 100 mil toneladas, para a produção de ácidos e álcoois das cadeias láurica (C12) e mirística (C14) com foco em exportação59.

A localização da produção de oleoquímicos no Pará é estratégica pela possibilidade de integração com a produção agrícola e pela proximidade ao porto de Belém, que tem tradição exportadora desde a década 1970, atendendo os mercados europeu, norte-americano e japonês com bens como madeira, pimenta-do-reino, castanha-do-pará, palmito, peixe e camarão.

A proximidade da matéria-prima é uma característica tanto de grandes produtores globais, como a Wilmar, KLK e IOI, como de empresas específicas. Por exemplo, a Elevance, que possui uma biorrefinaria na Indonésia alimentada pela palma local.

O foco em exportação é devido a dois aspectos fundamentais. Primeiramente, maior valorização do produto com selo sustentável nos países europeus. Em segundo, os altos custos de frete do Pará para a região sudeste do Brasil, que tornam o produto paraense pouco competitivo frente às importações do sudeste asiático.

Com relação ao modelo de negócio para atuação neste mercado, existem três possibilidades principais:

(i) Por meio de integração vertical, os produtores nacionais de biodiesel poderiam ampliar o escopo de atuação para o setor oleoquímico e passariam a produzir também os ácidos e álcoois graxos. Nesse modelo, os candidatos a explorar a oportunidade são a Petrobras Biocombustível, a Vale (Biopalma) e a Agropalma.

(ii) Os produtores de biodiesel poderiam se associar a um produtor oleoquímico, como a brasileira Oxiteno ou a belga Oleon. Nesse modelo, a empresa oleoquímica seria responsável pela produção de ácidos e álcoois, enquanto os produtores de biodiesel já estabelecidos no Pará forneceriam o óleo de palmiste e o óleo de palma.

(iii) Atrair um player que já atua na indústria oleoquímica de outros países de forma integrada com a produção agrícola, como a Wilmar, de Cingapura. Neste caso, o player integrado aportaria sua experiência acumulada em outras operações.

A decisão sobre qual modelo adotar depende do interesse dos potenciais candidatos a explorar a oportunidade.

Linha de ação: incentivos à produção de oleoquímicos a partir da palma do Pará

Para incentivar a produção de oleoquímicos a partir da palma e do palmiste cultivados no Pará é necessário aumentar a produção de palma e palmiste, reduzir o custo de produção e disponibilizar infraestrutura logística para viabilizar o escoamento da produção a custos competitivos.

58 Mantendo a produtividade atual, para cada incremento de 50 mil toneladas na produção de PKO, seriam necessários 180 mil hectares de área plantada com palma. 59 Também seria possível atender ao mercado doméstico se o frete para a Bahia e para a região sudeste for competitivo.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Dentre as possíveis ações de incentivo ao aumento da produção e a redução dos custos de produção de palma e palmiste, destacam-se:

• Regularização fundiária no Pará com o objetivo de resolver os conflitos de terra no Estado;

• Fomento a pesquisas direcionadas a maior produtividade da cultura (ex.: semente e manejo);

• Incentivo ao investimento na lavoura (ex.: mecanização); • Investimentos em infraestrutura e/ou soluções logísticas (ex: cabotagem utilizando

barcaças oceânicas) para viabilizar o escoamento da produção a custos competitivos.

O Consórcio acredita que, com uma maior escala de produção e com os investimentos em infraestrutura que estão sendo realizados pelo governo, pode-se viabilizar uma alternativa de transporte viável para o atendimento da demanda brasileira com base no Pará.

Alternativamente à produção de palma no Pará, poderia se investir na ampliação do cultivo de palma na Bahia, região que também apresenta condições climáticas e de solo favoráveis a essa cultura.

5.2. Polo oleoquímico no Sudeste: cana-de-açúcar, soja e sebo

O Brasil possui um mercado representativo de oleoquímicos básicos e seus derivados. Porém, pode-se observar que boa parte do mercado local de óleos (por exemplo, óleos de palma e palmiste) e de oleoquímicos básicos (por exemplo, ácidos graxos e álcoois graxos) é atualmente atendida por importações. Mesmo possuindo uma razoável oferta de feedstocks que são utilizados na cadeia de valor oleoquímica (por exemplo, a cana-de-açúcar, o sebo e a soja), o País ainda necessita importar diversos produtos, distribuídos nos vários elos da cadeia de valor oleoquímica.

O Consórcio acredita que a posição competitiva de custo do Brasil nestas matérias-primas tende a se aprimorar ainda mais nos próximos anos. Isso decorreria da maior escala de produção prevista, que deve ocorrer com base nas crescentes demandas dos programas brasileiros de produção de etanol e biodiesel (que incentivam a produção de cana-de-açúcar e de soja) e da posição do Brasil como amplo exportador do mercado de carne (que incentiva a criação local de gado e a produção de sebo60).

Um obstáculo ao estabelecimento de um polo baseado nessas matérias-primas está relacionado ao fato de que as culturas de cana e soja enfrentam concorrência do mercado alimentício e de combustíveis. Este obstáculo pode ser mitigado pelo estabelecimento de contratos de longo prazo que garantam o suprimento das matérias primas e por estratégias de proteção à variação nos preço das commodities.

60 Com relação ao sebo, também se identifica uma tendência de redução do preço da matéria-prima local, devido à crescente substituição dos sabões em barra e em pó pelo sabão líquido no mercado de home care. Esta substituição deve proporcionar um excedente de sebo no Brasil que poderia ser empregado no polo oleoquímico proposto.

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Outro desafio mais específico refere-se à tecnologia ainda recente para a produção de oleoquímicos a partir da cana, que ainda tem dificuldade em competir com outras rotas mais tradicionais. Neste contexto, deve-se garantir maior investimento em pesquisa e desenvolvimento para que o Brasil consiga acumular experiência mais rapidamente neste processo produtivo.

Estrutura do polo oleoquímico

A escolha da localização geográfica é crítica para a configuração de um projeto de polo oleoquímico, pois está ligada ao acesso ao mercado consumidor e à matéria-prima (feedstock). O estado de São Paulo tem a maior concentração de produtores de oleoquímicos do País e fácil acesso a matérias-primas importantes para a cadeia oleoquímica, como a cana-de-açúcar, o sebo e a soja. Além disso, o Estado de São Paulo possui infraestrutura logística com qualidade acima da média nacional61 e maior disponibilidade de profissionais especializados62.

Em termos de produção agrícola, o Estado de São Paulo também está bem posicionado. A região sudeste é a maior produtora brasileira de cana-de-açúcar e possuía, em 2011, o segundo maior rebanho bovino do País. Além disso, a região é vizinha da região centro-oeste, líder na produção de soja e com o maior rebanho bovino do Brasil. A Figura 28 sumariza a distribuição geográfica dos insumos da indústria oleoquímica considerados nesta seção.

Figura 28: Distribuição geográfica da produção de soja, cana-de-açúcar e do rebanho bovino

61 São Paulo possui a maior malha rodoviária do País e acesso relativamente fácil a portos, como o de Santos e o de Paranaguá. 62 De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), o estado de São Paulo possuía, em 2011, 13 universidades ou faculdades com conceito máximo no MEC, enquanto no mesmo ano, esse numero era 6 para o estado de Minas Gerais e 5 para o estado do Rio de Janeiro.

Fonte: Conab; Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis (CMA)

Distribuição geográfica da soja, cana-de-açúcar e rebanho bovino

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

A criação de um polo pode ser um mecanismo eficiente para o aproveitamento do potencial oleoquímico brasileiro, principalmente nas cadeias à jusante. Alguns benefícios podem ser proporcionados às empresas participantes, como a redução de custos de investimento e ganhos de escala resultantes das sinergias da integração física. Michael Porter lista alguns dos benefícios em artigo para a Harvard Business Review (1998):

• Aumento da produtividade das empresas participantes do polo, devido aos fatores: o Maior acesso a profissionais qualificados; o Maior acesso a fornecedores; o Maior acesso e intercâmbio de informações; o Existência de complementariedades; o Acesso a instituições e a infraestrutura pública; o Maior motivação dos participantes; o Facilidade para mensurar desempenho;

• Estímulo à inovação pela troca de informações e exposição a clientes sofisticados; • Estímulo à criação de novos negócios pela proximidade com diversos potenciais

clientes e fornecedores, disponibilidade de infraestrutura e mão-de-obra especializada e, em geral, custo de capital reduzido.

O polo pode ser organizado em três blocos por matéria prima (biorrefinaria base sebo, base açúcar e base soja) e em módulos para a produção de oleoquímicos de forma atender a demanda interna e de exportação. Para referência sobre a estrutura detalhada proposta para o polo oleoquímico, consultar o Anexo 1.

5.2.1. Matérias primas para o polo

A partir do sebo

Como já mencionado, a indústria brasileira de produtores de ácidos graxos com base em sebo bovino possui baixa escala, é fragmentada e é pouco estruturada. Tecnologias utilizadas no setor são ultrapassadas e pouco eficientes63.

Há oportunidade para consolidar o setor com a instalação de uma planta de escala global integrada ao polo oleoquímico. Uma planta com maior escala poderá ser mais competitiva frente às importações e, com custos menores, estimular o crescimento de aplicações à jusante.

Neste contexto, grandes players no mercado de sebo (por exemplo, a JBS) poderiam se associar a uma biorrefinaria que utilizasse o mesmo substrato. A parceria facilitaria a criação de uma planta moderna e de escala mundial para a produção de ácidos graxos. A oportunidade de produção de ácidos graxos seria mais bem aproveitada por um player robusto o suficiente para iniciar um processo de consolidação da indústria.

A partir da cana-de-açúcar Conforme citado, as tecnologias para produção de químicos a partir da cana-de-açúcar ainda são recentes, mas novos players estão investindo nelas, como, por exemplo, a Solazyme e a Bunge64.

63 Entrevista(s) com participante(s) da indústria

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Uma perspectiva positiva que pode trazer ainda mais competitividade para essa rota é o uso do açúcar celulósico (segunda geração). Esta alternativa utiliza matéria prima de menor custo em relação aos açúcares de primeira geração e poderá ser um fator importante para viabilizar uma maior quantidade de produtos com base nessa tecnologia emergente. Trata-se de uma vantagem adicional no médio prazo, que pode favorecer as exportações no segmento. A expectativa de maturação deste processo é de cerca de cinco anos65.

Desta forma, existe a oportunidade de integração da biorrefinaria com a produção de diferentes oleoquímicos. A capacidade de produzir óleos customizados e a possível competitividade em custos, especialmente considerando o açúcar de segunda geração, colocam a biorrefinaria baseada em microalgas em posição privilegiada para suprir o polo com diferentes óleos.

A partir da soja

O Brasil é um grande produtor mundial dede soja, o que tornaria seu beneficiamento em um polo oleoquímico um projeto valioso para o país.

A demanda por oleoquímicos a partir da soja tem potencial de crescimento em função de novas aplicações, como óleos isolantes em transformadores de potência. A utilização de biolubrificantes como óleos para transformadores em substituição aos óleos minerais naftênicos vem sendo desenvolvida há muitos anos pela indústria especializada. Segundo fonte especializada do setor, os Estados Unidos já utilizam 20% de óleos vegetais nos seus transformadores, enquanto no Brasil, esta utilização ainda é de apenas 3%.

5.2.2. Módulos de produção de oleoquímicos

A estrutura de um polo oleoquímico a partir das três matérias-primas propostas permitiria o aproveitamento de oportunidades relacionadas à produção local de diferentes oleoquímicos com diferentes cadeias de carbono.

A principal vantagem da criação de um polo oleoquímico seria a substituição de importações. Um polo oleoquímico com capacidade de produzir ácidos graxos e álcoois graxos com diferentes cadeias de carbono poderia suprir grande parte da importação destes produtos. Conforme demonstrado neste Estudo, em 2012, o Brasil, além de importar um total de 107 e 56 milhões de dólares em ácidos graxos e álcoois graxos, respectivamente, ainda possui perspectivas de crescimento acelerado da demanda por estes produtos.

Além da possibilidade de substituição da importação de ácidos e álcoois graxos, um polo oleoquímico no sudeste poderia incentivar a produção de outras classes de oleoquímicos para suprir o mercado doméstico, como os ésteres e as aminas. Dentre estes produtos, se destacariam a produção de aminas graxas para surfactantes e a utilização de oleoquímicos na indústria de E&P.

64 As empresas anunciaram investimentos em uma biorrefinaria de óleos customizados integrada à produção de açúcar da usina Moema, em Orindiuva, no interior de São Paulo. O objetivo do empreendimento é fornecer óleos para aplicações industriais no mercado brasileiro. A capacidade da planta está estimada em 100 mil toneladas de óleo por ano. 65 Entrevista(s) com participante(s) da indústria. O estágio atual e as perspectivas do açúcar de segunda geração são analisados em outro Relatório desse Estudo: Química dos Renováveis

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Entrevistas com especialistas apontaram uma demanda crescente de aminas graxas para a produção de surfactantes e, potencialmente, também para químicos usados como adjuvantes para glifosatos. Hoje, esta demanda não é atendida por uma carência com a oferta de matérias-primas66. Desta maneira, o Estudo identificou uma oportunidade para a instalação de uma planta para a produção de aminas graxas, integrada com a produção de ácidos (downstream) e dos próprios surfactantes (upstream), utilizando como insumos os óleos customizados. Um possível player para atuar na oportunidade seria a AkzoNobel.

A expansão das atividades de exploração e a produção do petróleo no País, associada às indicações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) sobre a necessidade de padrões mais rigorosos quanto à biodegradabilidade dos fluídos de perfuração, também devem estimular a demanda por ésteres e por olefinas internas neste mercado.

Além da propriedade de biodegradabilidade, estão sendo realizadas pesquisas para o desenvolvimento de ésteres com maior estabilidade térmica para utilização em fluidos de perfuração do pré-sal. A obtenção de ésteres com esta propriedade será outro fator que deverá aumentar a demanda por ésteres.

Linha de ação: incentivos à participação no polo oleoquímico

Embora as perspectivas de desenvolvimento do mercado de oleoquímicos sejam positivas, a criação de um programa para atração de investidores pode ser uma estratégia de estímulo fundamental para alavancar o segmento. Abaixo são listados alguns incentivos potenciais, que deveriam ser direcionados a empresas com interesse em investir em ativos no polo oleoquímico:

• Benefícios fiscais durante um determinado período. • Acesso a linhas de financiamento atrativas. • Incentivos à exportação. • Centros de pesquisa compartilhados. • Centros de treinamentos e formação de profissionais (nível técnico e superior). • Processo ágil para aprovação de novos produtos e empreendimentos no polo. • Selo de sustentabilidade.

Como referência, abaixo está descrito o pacote de incentivos do Palm Oil Industrial Cluster (POIC), na região de Pahang, na Malásia. O polo é parte da zona econômica para desenvolvimento na costa leste do país (ECER). Exemplos de incentivos oferecidos pelo POIC estão listados na Figura 29.

66 Entrevista(s) com participante(s) da indústria.

Page 44: Relatório 3 – Oleoquímicos

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Figura 29: Pacote de incentivos do POIC (Palm Oil Industrial Cluster) - Não exaustivo

5.3. Produção de ricinoquímicos à base de mamona na Bahia

O aumento da produção de mamona e de seu óleo (óleo ricinoleico) é uma oportunidade para a redução o déficit da balança comercial nos segmentos de oleoquímicos e nos mercados a jusante. Além disso, o aumento da produtividade desta cultura pode tornar o País um player relevante no mercado global devido às condições climáticas e de solo favoráveis.

O Brasil possui demanda por óleo ricinoleico e seus derivados, mas apresenta dificuldades para suprir o mercado doméstico a custos competitivos, seja com a produção local de óleo de mamona ou via importação.

Este cenário torna os investimentos para expansão da produção particularmente atrativos, devido às vantagens competitivas que o Brasil possui no cultivo da mamona, principalmente na Bahia.

É importante ressaltar que, apesar do aumento dos impostos de importação do óleo de mamona realizado em 2010 ter incentivado o investimento na produção local, esta medida pode também apresentar riscos ao desenvolvimento da cadeia. O aumento dos impostos pode enfraquecer a indústria consumidora do óleo de mamona, que pode perder competitividade versus seus substitutos importados.

Empresas de desenvolvimento de infraestrutura do polo

• 100% de isenção de imposto de renda, por cinco anos

• Isenção do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias nas despesas de capital por cinco anos.

• Isenção de taxas de registro de contratos de aquisição ou locação de propriedade de terrenos para o parque industrial.

Treinamento

• Incentivo para não residentes para estabelecimento de programas de educacionais aprovados pelo Ministério da Educação

• Treinamento para empregados em nível técnico por instituições certificadas

• Incentivos fiscais para gastos com treinamento

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

• Doações para institutos de pesquisa

• 50% de isenção de impostos de renda recebidos

Promoção e reinvestimento

• Reinvestimento em petroquímicos e manufaturados

• Promoção do polo no mercado externo

• Deduções dobradas para despesas incorridas no polo

Promoção a exportações

• Pagamento de prêmios para seguradoras locais credenciadas por carga exportada

• Promoção das marcas locais

• Certificados reconhecendo qualidade de padrões e sistemas

Fonte: Malaysian Investment Development Authority

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

Linha de ação: incentivos à produção de mamona

Desta forma, é necessário um programa coordenado de incentivo que dê segurança ao investidor, mas que também fortaleça a indústria consumidora do óleo ricínico. Dentre as ações deste programa coordenado destacam-se:

• Investir na mecanização da produção de mamona o Criar parcerias entre a Embrapa, os produtores agrícolas e a indústria

ricinoleica, com o incentivo do Ministério da Agricultura, para desenvolver técnicas de mecanização do cultivo e colheita da mamona.

• Investir em sistemas de irrigação o Criar linhas de financiamento especiais para a construção de sistemas de

irrigação que mitiguem o risco de seca no semi-árido. • Estimular a profissionalização do setor

o Estimular a entrada de grandes produtores agrícolas, com experiência em outras culturas, no mercado de mamona por meio de incentivos fiscais e linhas de financiamento atrativas.

o Estimular a criação de cooperativas de pequenos produtores para dar robustez aos agricultores.

o Dar suporte às cooperativas criadas, através de programas federais e estaduais (BA) que viabilizem o envio de técnicos as áreas agrícolas, para treinamento dos produtores em técnicas de cultivo avançadas.

o Criar linhas de financiamento para que os produtores filiados às cooperativas adquiram cultivares geneticamente mais produtivos.

• Investir na infraestrutura do setor o Construir as estradas necessárias para o escoamento eficiente da produção

agrícola. o Criar linhas de financiamento especiais para que os produtores agrícolas e a

indústria transformadora construam galpões de armazenagem. o Estimular a entrada de provedores logísticos no mercado de mamona com

incentivos fiscais e linhas de financiamento atrativas. • Ajustar a tarifa de importação do óleo de rícino para estimular a produção de

derivados no Brasil

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

ANEXOS

Anexo 1: Configuração do polo oleoquímico proposto

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Potencial de diversificação da indústria química Brasileira - Relatório 3

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