Relatório Animais Decompositores Manguezal

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ANIMAIS DECOMPOSITORES DE MATÉRIA ORGÂNICA NO MANGUEZAL DO CABARAQUARA, GUARATUBA – PR, BRASIL Aline Cardoso Hohenzollern da Rocha, Bianca Cristini da Silva, Talitha Pires Borges Leite, Tathiane Alessandra Maciel, Thays Verônica Prestes Resumo: Os manguezais ocupam mais de 1 milhão de hectares do território brasileiro, são de suma importância, tanto para a ecológica quanto para a econômica, pois servem como proteção da linha de costa, e como área de reprodução, abrigo e alimentação para várias espécies animais. Possuem uma grande riqueza biológica e de nutrientes, e devido a isto o objetivo deste estudo foi identificar e quantificar as espécies animais decompositoras de matéria orgânica no manguezal de Cabaraquara, no município de Guaratuba, em três diferentes zonas. Foram coletados troncos em decomposição, buscando amostrar o zoneamento do manguezal em três classes: Zona Superior, Zona Média e Zona Inferior, estes foram abertos manualmente para retirada dos animais e então pesados. Em laboratório os indivíduos foram quantificados e classificados com auxilio de manuais da fauna em questão. Destacamos neste estudo que o filo Arthropoda é o que apresenta maior abundância e maior riqueza no número de famílias, e que a zona inferior apresentou uma maior densidade e abundância de indivíduos quando comparada a zona média e a zona superior. A riqueza das espécies não foi amplamente utilizada devido a forma de amostragem, que inviabilizou a comparação entre as três zonas. Palavras-chave: manguezal, decompositores, Cabaraquara

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Relatório realizado para a Disciplina de graduação em Ciências Biológicas, Biologia de Campo II, no manguezal de Guaratuba - PR

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ANIMAIS DECOMPOSITORES DE MATÉRIA ORGÂNICA NO MANGUEZAL DO CABARAQUARA, GUARATUBA – PR, BRASIL

Aline Cardoso Hohenzollern da Rocha, Bianca Cristini da Silva, Talitha Pires Borges Leite,

Tathiane Alessandra Maciel, Thays Verônica Prestes

Resumo:

Os manguezais ocupam mais de 1 milhão de hectares do território brasileiro, são de suma

importância, tanto para a ecológica quanto para a econômica, pois servem como proteção da linha de

costa, e como área de reprodução, abrigo e alimentação para várias espécies animais. Possuem uma

grande riqueza biológica e de nutrientes, e devido a isto o objetivo deste estudo foi identificar e

quantificar as espécies animais decompositoras de matéria orgânica no manguezal de

Cabaraquara, no município de Guaratuba, em três diferentes zonas. Foram coletados troncos

em decomposição, buscando amostrar o zoneamento do manguezal em três classes: Zona

Superior, Zona Média e Zona Inferior, estes foram abertos manualmente para retirada dos

animais e então pesados. Em laboratório os indivíduos foram quantificados e classificados com

auxilio de manuais da fauna em questão. Destacamos neste estudo que o filo Arthropoda é o

que apresenta maior abundância e maior riqueza no número de famílias, e que a zona inferior

apresentou uma maior densidade e abundância de indivíduos quando comparada a zona

média e a zona superior. A riqueza das espécies não foi amplamente utilizada devido a forma

de amostragem, que inviabilizou a comparação entre as três zonas.

Palavras-chave: manguezal, decompositores, Cabaraquara

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Introdução

Manguezais são ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes terrestre e

marinho sujeitos ao regime de marés. Para o desenvolvimento e manutenção de um

manguezal são necessários cinco requisitos: (1) temperatura média do mês mais frio superior a

20 ºC com a amplitude térmica anual não excedendo 5ºC; (2) substratos lodosos com alto teor

de matéria orgânica; (3) áreas abrigadas, livres da ação de marés fortes; (4) presença de água

salgada; (5) elevada amplitude de marés (Walsh, 1974), por isso eles só são encontrados nas

regiões tropicais e subtropicais do globo.

No Brasil manguezais ocupam cerca de 1.225.444 hectares, desde o Oiapoque, no

Amapá, até Laguna, em Santa Catarina (MMA, 2009) estando associados às margens de

baías, enseadas e reentrâncias costeiras. Os manguezais desempenham diversas funções

naturais de grande importância ecológica e econômica ao longo da zona costeira, como

proteção da linha de costa, funcionando como barreira mecânica à ação erosiva das ondas e

marés; retenção de sedimentos carreados pelos rios; filtro biológico natural da matéria orgânica

e área de retenção de metais pesados; área de concentração de nutrientes; área de

reprodução, de abrigo e de alimentação de inúmeras espécies e área de renovação da

biomassa costeira e estabilizador climático.

Possuem uma grande riqueza biológica e de nutrientes, servindo como fonte de

alimentação e de abrigo para diversas espécies animais (Schaeffer-Novelli, 1995). A fauna

associada à vegetação do manguezal é diversa, constituída por animais residentes, como

crustáceos e moluscos e visitantes, como peixes, aves e mamíferos. Vários desses animais já

são estudados, mas poucos são os trabalhos publicados sobre a teia trófica (Odum&Heald,

1975; Robertson et al. 1992) e decomposição nos manguezais (Mfilinge et al. 2003;

Raghukumar et al. 1995), estes últimos sendo principalmente sobre fungos e bactérias

decompositoras.

O presente trabalho tem o objetivo de identificar e quantificar as espécies animais

decompositoras de matéria orgânica no manguezal em três diferentes zonas tendo como

hipóteses um número geral de indivíduos e número de formas jovens de insetos maior na zona

superior.

Materiais e métodos

O local de estudo foi um manguezal localizado na região do Cabaraquara no município de

Guaratuba, Paraná (Fig. 1). Esta região encontra-se dentro do Parque Nacional

Saint-Hilaire/Langue, que ocupa um trecho da Serra do Mar, conhecida como Serra da Prata,

um dos últimos refúgios naturais de Mata Atlântica (Fig. 2). O Cabaraquara também é

conhecido como Roteiro das Ostras o que faz do local um potencial turístico para a cidade.

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Figura 1 – Baía de Guaratuba. Ponto em vermelho indicando o Morro do Cabaraquara. Fonte: Google maps.

Figura 2 – Vista da região a partir do mangue. Fonte: o autor.

Para a coleta dos troncos em decomposição um trecho do manguezal foi dividido em

três zonas, de acordo com as espécies vegetais encontradas. Na Zona Inferior são

encontradas Rhizophoramangle; na Zona Média Avicenniaschaueriana; Zona Superior

Laguncularia racemosa.

Os troncos em decomposição foram escolhidos de acordo com o tamanho e estado de

decomposição, quanto maior e mais decomposto melhor para a análise. Estes troncos foram

coletados em cada zona e separados em baldes identificados. Após a coleta, os troncos foram

dispostos em grandes bandejas e abertos manualmente, a fim de retirar todos os organismos

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decompositores possíveis. Para o auxílio desta atividade foram utilizadas machadinha na

abertura e secção dos troncos, e pinças para a retirada dos animais.

Os pedaços de madeira foram pesados com uma pesola com capacidade para 5kg. Já

os animais encontrados foram depositados em recipientes (um por zona) com água, que

posteriormente foram armazenados em freezer até o dia da classificação destes em

laboratório.

Depois do trabalho de coleta em campo, na semana seguinte houve uma etapa em

laboratório. Os animais foram colocados em placa de petri e observados em lupa, realizou-se a

contagem de indivíduos e a identificação. Para a classificação foram utilizados manuais e livros

da fauna em questão. Alguns animais foram depositados em álcool e destino para o acervo de

coleções, e os demais foram descartados.

Com os dados obtidos em laboratório realizou-se uma tabela para uma melhor

disposição dos resultados, e também cálculo da densidade de indivíduos nos troncos, ou seja,

o número de indivíduos dividido pelo peso dos troncos.

Resultados

No presente estudo foram encontrados representantes dos filos Annelida, Mollusca e

Arthropoda, conforme demonstrado na Tabela1 abaixo e fotos do anexo. Puderam ser

identificadas cinco espécies de caranguejos da ordem Decapoda, representantes das famílias

Sesarmidae, Ocypodidae, Panopeidae, Xanthidae, e Grapsidae, sendo que desta ultima não foi

possível chegar a nível de espécie. Ainda da classe Malacostraca identificamos uma família de

Amphipoda, Gammaridae. Junto com os representantes do filo Arthropoda duas ordens de

insetos, Coleoptera e Diptera, podendo considerar este filo o de maior abundância e também

com a maior riqueza no número de famílias deste estudo, sendo 51,3% e 77,8%

respectivamente. (Ver gráficos 1 e 2)

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Tabela 1 - Lista de Famílias Encontradas

BivalviaMyoida Teredinidae

TeredoraDicyathiferTerodothyvaUperotus

PolycheataPhyllodocida Nereidae

InsectaColeoptera CupesidaeDiptera - Cyclorrhapha

MalacostracaDecapoda Sesarmidae

ArmasesrubripesArmasesbenedicti

OcypodidaeUca uruguayensis

PanopeidaeEurytiumlimosum

XanthidaeHexapanopeusangustifrons

GrapsidaeAmphipoda Gammaridae

Fonte: o autor

Ao total foram recolhidos 158 indivíduos, sendo que na zona superior o galho coletado

tinha 1.900 g e deste foram retirados 22 indivíduos, da zona média com 8.550 g e retirados 66

indivíduos e da zona inferior com 3.400 g e retirados 70 indivíduos. Levando em consideração

a diferença do esforço amostral por zonação, podemos indicar a zona inferior como a de maior

abundância, para este estudo com 10,3 indivíduos a cada ½ Kg de substrato (Ver gráfico 3),

sendo 5,8 e 3,8 indivíduos a cada ½ Kg de substrato para a zona superior e média

respectivamente, não sendo analisado a zona de maior riqueza devida esta diferença na

amostragem.

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Gráfico 1 – Número de Indivíduos por Zona

0 2 4 6 8 10 12

InferiorMédioSuperior

Nº indivíduos / 500g

Zonas

Fonte: o autor

Tabela 2 – Número de Indivíduos por Família

Animais Superior Médio Inferior TotalBivalvia Teredinidae 6 38 18 62

Poliqueta Neveidae 10 0 5 15Insecta Cupesidae 3 0 25 28

Malacostraca

Sesarmidae 1 19 10 30Ocypodidae 1 3 2 6Panopeidae 0 4 0 4Gammaridae 1 0 4 5

Xanthidae 0 2 0 2Grapsidae 0 0 2 2

Fonte: Próprio autor

Além do destaca para a zona inferior do manguezal, também foi observado no estudo

uma maior participação de moluscos bivalves da família Teredinidae, sendo encontrados em

todas as zonações um alto número de indivíduos, supostamente com uma maior concentração

na zona média, desconsiderando a diferença da amostragem (Ver Tabela 2).

Analisando por zonas separadamente observamos um maior número de indivíduos da

família Neveidae na zona superior, e ausência de indivíduos das famílias Panopeidae,

Xanthidae encontradas somente na zona média e Grapsidae encontrada somente na zona

inferior (Ver gráfico 4). A família Teredinidae se destaca na zona média, não sendo

encontrados indivíduos das famílias Nereidae, Cupesidae, Gammaridae, comuns na zona

superior e inferior, e da família Grapsidae (Ver gráfico 5). Já na zona inferior foi encontrado

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maior número de indivíduos da família Cupesidae, que também foi encontrado na zona superior

com menor representatividade, e ausência de indivíduos das famílias presentes somente na

zona média, Panopeidae e Xanthidae (Ver gráfico 6). As famílias Teredinidae, Sesamidae e

Ocypodidae são encontradas em todas as zonações.

Gráfico 2 - Famílias Zona Superior

Tered

inidae

Neveid

ae

Cupesidae

Sesar

midae

Ocypodidae

Panopeid

ae

Gammari

dae

Xanthidae

Grapsid

ae0

10

20

30

Superior

Superior

Famílias

N° d

e In

diví

duos

Fonte: o autor

Gráfico 3 - Famílias Zona Média

Tered

inidae

Neveid

ae

Cupesidae

Sesar

midae

Ocypodidae

Panopeid

ae

Gammari

dae

Xanthidae

Grapsid

ae0

10

20

30

Médio

Médio

Famílias

N° d

e In

diví

duos

Fonte: o autor

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Gráfico 4 - Famílias Zona Inferior

Tered

inidae

Neveid

ae

Cupesidae

Sesar

midae

Ocypodidae

Panopeid

ae

Gammari

dae

Xanthidae

Grapsid

ae0

10

20

30

Inferior

Inferior

Famílias

N° d

e In

diví

duos

Fonte: o autor

Discussão

Nas três zonas estudadas no Manguezal da baía de Cabaraquara, é possível perceber

diferentes perfis para a distribuição dos animais encontrados nos troncos em decomposição

(Gráfico 4, 5 e 6). Para tornar viável a comparação entre as zonas foi realizada a análise da

densidade demográfica, medida esta que expressa a relação entre o número de indivíduos e

um determinado espaço, resultando em 10,3 indivíduos a cada ½ Kg para a Zona inferior, 3,8

para a Zona Média e 5,8 indivíduos a cada ½ Kg para a Zona Superior. Através do cálculo da

densidade demográfica é possível inferir a abundância, sendo a zona inferior a mais abundante

quando comparado as três zonas.

O estudo também avaliou a riqueza, ou diversidade, de espécies em cada uma das

Zonas. A zona Inferior apresentou um total de 70 animais coletados distribuídos em 9

diferentes táxons, desconsiderando a influência do método de amostragem, esta seria a zona

com maior riqueza de espécies. A zona Média apresentou 66 animais coletados distribuídos

em 8 táxons e zona Superior, 22 animais distribuídos em 7 táxons.

A zona Média, mesmo apresentando um esforço amostral maior, tendo sido coletados

8550g de madeira em decomposição, obteve a menor densidade demográfica observada e

uma riqueza de espécies menor.

Anteriormente a realização das análises, foram formuladas duas hipóteses, a primeira

prevê que na zona Superior seria realizado uma amostragem maior de indivíduos, devido ao

fato de ser uma área mais estável comparada à zona Inferior que por conta da maré apresenta-

se alagada em certos períodos.

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A segunda hipótese prevê que na zona Superior seria coletado mais formas juvenis de

insetos por ser uma zona que não sofre inundações e esses organismos serem terrestres.

A primeira previsão se mostrou incorreta a partir dos dados obtidos. A zona Superior

apresentou poucos troncos em decomposição, refletindo o menor peso total dos galhos, 1900g,

entre as três zonas e apresentando também a segunda menor densidade.

A segunda previsão também não se confirmou, pois a zona Inferior foi a que apresentou

o maior número de formas juvenis de Diptera e Coleoptera coletados.

Uma possível explicação para esse resultado seria a que a abundância desses insetos

apresenta uma correlação com a precipitação e com a temperatura no manguezal (Gonçalvez,

2011), considerando o atual inverno na região, a zona Superior poderia apresentar-se mais

seca e assim os insetos ocuparam mais os troncos da zona Inferior.

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Referência bibliográficas

Cabaraquara. Disponível em: <https://parnasainthilairelange.wordpress.com/cabaraquara/>.

Acesso em: 27/08/2015.

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manguezal e fragmento de Mata Atlântica na região de Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro,

Brasil. Revista Brasileira de Biociências

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