Relatorio ETES Completo

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OS ESTUDANTES E OS SEUS TRAJECTOS NO ENSINO SUPERIOR: Sucesso e Insucesso, Factores e Processos, Promoção de Boas Práticas RELATÓRIO FINAL António Firmino da Costa João Teixeira Lopes (coordenadores) No âmbito do Programa de Promoção do Sucesso Escolar e Combate ao Abandono e ao Insucesso no Ensino Superior (MCTES) Projecto de investigação com financiamento FCT PSE/DIV/0001/2006 2008

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  • OS ESTUDANTES E OS SEUS TRAJECTOS NO ENSINO SUPERIOR:

    Sucesso e Insucesso, Factores e Processos, Promoo de Boas Prticas

    RELATRIO FINAL

    Antnio Firmino da Costa Joo Teixeira Lopes

    (coordenadores)

    No mbito do Programa de Promoo do Sucesso Escolar e Combate ao Abandono e ao Insucesso no Ensino Superior (MCTES) Projecto de investigao com financiamento FCT PSE/DIV/0001/2006

    2008

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    Equipa do projecto

    Coordenadores:

    Antnio Firmino da Costa (CIES-ISCTE) Joo Teixeira Lopes (ISFLUP)

    Investigadores:

    Ana Lusa Pereira (FCDEFUP e ISFLUP) Antnio Firmino da Costa (CIES-ISCTE) Antnio Teixeira Fernandes (ISFLUP) Carlos Manuel Gonalves (ISFLUP) Dulce Magalhes (ISFLUP) Eduardo Vtor Rodrigues (ISFLUP) Eduardo Alexandre Rodrigues (CIES-ISCTE) Fernando Lus Machado (CIES-ISCTE) Helena Carvalho (CIES-ISCTE) Joo Ferreira de Almeida (CIES-ISCTE) Joo Teixeira Lopes (ISFLUP) Jos Lus Casanova (CIES-ISCTE)

    Jos Madureira Pinto (FEUP e ISFLUP) Lusa Pinheiro (IPVC) Maria das Dores Guerreiro (CIES-ISCTE) Maria Teresa Patrcio (CIES-ISCTE e MCTES) Miguel Nogueira (Mapoteca-FLUP) Nuno de Almeida Alves (CIES-ISCTE) Patrcia vila (CIES-ISCTE) Pedro Abrantes (CIES-ISCTE) Rui Pena Pires (CIES-ISCTE) Susana da Cruz Martins (CIES-ISCTE) Virglio Borges Pereira (ISFLUP)

    Consultores:

    Bernard Lahire (cole Norm. Sup. Lettres Sciences Humaines, Lyon) Mariano Fernndez Enguita (Univ. de Salamanca) Paulo Santiago (OCDE)

    Bolseiros:

    Ana Caetano (CIES-ISCTE) Ana Carolina Mendona (ISFLUP) Ana Filipa Rodrigues (ISFLUP) Ana Isabel Couto (ISFLUP) Andr Freitas (CIES-ISCTE) Catarina Egreja (CIES-ISCTE) Ctia Santarm (ISFLUP) Denise Esteves (ISFLUP) Hernni Veloso Neto (ISFLUP) Jerusa Costa (CIES-ISCTE)

    Jorge Horta Ferreira (CIES-ISCTE) Linda Costa (CIES-ISCTE) Patrcia Amaral (ISFLUP) Pedro Jacobetty (CIES-ISCTE) Snia Gonalves (CIES-ISCTE) Tnia Cardoso (CIES-ISCTE) Sandra Lima Coelho (ISFLUP) Tnia Leo (ISFLUP) Vanessa Rodrigues (ISFLUP)

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    ESTE PROJECTO FOI REALIZADO COM A COLABORAO DE DIVERSAS ENTIDADES CUJO APOIO FOI INESTIMVEL, COLABORAO QUE SE PROLONGAR EM PARCERIAS FUTURAS. CIPES Centro de Investigao de Polticas do Ensino Superior DGES-MCTES (Direco de Servios de Acesso da Direco Geral do Ensino Superior) Federao Acadmica do Porto GPEARI-MCTES Instituto Politcnico de Leiria (SAPE Servio de Apoio ao Estudante e Escola

    Superior de Tecnologias do Mar) Instituto Politcnico do Porto (em particular o Instituto Superior de Economia e

    Gesto) Instituto Politcnico de Santarm (Escola Superior de Educao e Escola Superior de

    Enfermagem) Instituto Politcnico de Viana do Castelo Instituto Superior de Servio Social do Porto Instituto Superior Tcnico (GEP Gabinete de Estudos e Planeamento) Professor Doutor Vasco S Universidade do Algarve Universidade de Aveiro Universidade da Beira Interior Universidade Catlica Portuguesa Porto Universidade Lusfona Universidade do Minho Universidade do Porto . Reitor da Universidade do Porto . Vice-Reitora da Universidade do Porto . Faculdade de Letras da Universidade do Porto . Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro (em particular a Vice-reitoria da

    Formao, Avaliao, Acreditao e Qualidade do Ensino)

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    NDICE

    ndice de quadros 11 ndice de figuras 13 ndice de cartogramas 15 1. INTRODUO: UM MODELO TERICO E METODOLGICO PARA A ANLISE DO SUCESSO, INSUCESSO E ABANDONO NO ENSINO SUPERIOR Antnio Firmino da Costa, Joo Teixeira Lopes, Jos Madureira Pinto, Ana Caetano, e Eduardo Alexandre Rodrigues 17

    1.1. Problema e objectivos 17 1.2. Estudos de referncia, modelos tericos e nveis de anlise 20 1.3. Metodologia 35 1.4. Referncias bibliogrficas 37

    2. ANLISE ESTRUTURAL: O QUE MOSTRAM OS INDICADORES Nuno de Almeida Alves, e Pedro Jacobetty 49

    2.1. Introduo 49 2.2. Oferta e procura do Ensino Superior em Portugal: 1998-2006 50 2.3. Taxas de sobrevivncia no Ensino Superior 60 2.4. Durao dos percursos formativos 73 2.5. Fluxos de diplomados e inscritos no Ensino Superior 83 2.6. Concluso 97 2.7. Referncias bibliogrficas 100 2.8. Anexo 101

    3. ANLISE ESTRUTURAL: O ENSINO SUPERIOR NO TERRITRIO NACIONAL Ana Filipa Rodrigues, Hernni Veloso Neto, e Miguel Nogueira 107 4. ANLISE ESTRUTURAL: FACTORES EXPLICATIVOS A PARTIR DE UM INQURITO AOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR Susana da Cruz Martins, Helena Carvalho, e Patrcia vila 117

    4.1. O sucesso e insucesso escolar no ensino superior 118 4.2. Sucesso e insucesso escolar: uma caracterizao sociodemogrfica 119 4.3. Sucesso e insucesso escolar: contextos familiares e de residncia 121 4.4. Sucesso e insucesso escolar: uma caracterizao das origens sociais 123 4.5. O sucesso e insucesso na trajectria escolar 126 4.6. Sucesso e insucesso escolar: cursos e instituies educativas 130 4.7. Sucesso e insucesso escolar: apontamentos sobre o quotidiano 133 4.8. Sucesso e insucesso no ensino superior: um modelo de interpretao 135 4.9. Referncias bibliogrficas 140

    5. ANLISE INSTITUCIONAL: FACTORES ORGANIZACIONAIS, REPRESENTAES DOS ACTORES E PRTICAS DE PROMOO DO SUCESSO ESCOLAR (ESTUDOS DE CASO) Hernni Veloso Neto, Ana Carolina Mendona, Ana Isabel Couto, Sandra Lima Coelho, e Tnia Leo 143

    5.1. A anlise institucional-organizacional enquanto objecto 143

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    5.2. A gesto e promoo do sucesso escolar como princpio e fim: deambulaes entre as aces e representaes organizacionais apreendidas e as oportunidades de desenvolvimento perspectivadas 152

    5.3. Convergncias e divergncias: um olhar cruzado sobre os quadros de representao dos agentes institucionais relativamente ao sucesso, insucesso e abandono no ensino superior 320

    5.4. Referncias bibliogrficas 325 6. ANLISE INSTITUCIONAL: FACTORES FAVORVEIS E DESFAVORVEIS AO SUCESSO DO PONTO DE VISTA DOS ESTUDANTES Ana Caetano, e Ana Isabel Couto 327

    6.1. Factores, processos e contextos organizacionais favorveis ao sucesso: a perspectiva dos estudantes 328

    6.2. Factores, processos e contextos organizacionais desfavorveis ao sucesso: a perspectiva dos estudantes 329

    6.3. A relao dos estudantes com as instituies de ensino superior: diversidade de contextos organizacionais e variaes individuais 331

    6.4. Anlise detalhada dos principais factores, processos e contextos organizacionais favorveis ao sucesso: a perspectiva dos estudantes 333

    6.5. Anlise detalhada dos principais factores, processos e contextos organizacionais desfavorveis ao sucesso: a perspectiva dos estudantes 348

    7. ANLISE INSTITUCIONAL: PERSPECTIVAS DE DIRIGENTES ASSOCIATIVOS ESTUDANTIS Denise Esteves, e Jerusa Costa 367

    7.1. Breve introduo metodolgica 367 7.2. Descrio das categorias analticas 368 7.3. Anlise de contedo das entrevistas aos dirigentes associativos 369 7.4. Consideraes Finais 380 7.5. Anexo 381

    8. ANLISE BIOGRFICA: RETRATOS SOCIOLGICOS DE ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR (ESTUDOS DE CASO E ANLISE TRANSVERSAL) Antnio Firmino da Costa, Joo Teixeira Lopes, Ana Caetano, Ana Filipa Rodrigues, Ana Isabel Couto, Andr Freitas, Catarina Egreja, Ctia Santarm, Denise Esteves, Jerusa Costa, Jorge Horta Ferreira, Linda Costa, Patrcia Amaral, Pedro Jacobetty, Sandra Lima Coelho, Tnia Cardoso, Tnia Leo, e Vanessa Rodrigues 383

    8.1. Introduo 383 8.2. Percursos tendenciais (percursos esperados) 390 8.3. Percursos de contratendncia (percursos inesperados) 561 8.4. Percursos focados na educao 693 8.5. Percursos com inflexes 903 8.6. Percursos com problemas de transio (para a vida adulta, para o ensino

    superior) 1095 8.7. Percursos com dificuldades de conciliao (entre esferas de vida) 1203 8.8. Percursos com dificuldades de integrao no ensino superior (institucional,

    relacional) 1343

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    8.9. Percursos com problemas nos modos de estudar 1419 8.10. Concluso 1505

    9. Concluso Antnio Firmino da Costa, e Joo Teixeira Lopes 1589

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    NDICE DE QUADROS Quadro 2.1: Estabelecimentos e Unidades Orgnicas, 1998 2006 51 Quadro 2.2: Cursos e Graus 1998 2006 52 Quadro 2.3: Cursos por Categorias da Classificao Nacional de reas de Educao e Formao, 1998 2006 54 Quadro 2.4: Taxa de Feminizao da Educao Terciria 59 Quadro 2.5: Taxas de Sobrevivncia nos Pases da OCDE (2004) 60 Quadro 2.6: Taxa Bruta de Inscritos na Educao Terciria nos pases da OCDE (2004) 62 Quadro 2.7: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por tipo de ensino 85 Quadro 2.8: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por grau 87 Quadro 2.9: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por categorias da Classificao Nacional de reas de Educao e Formao 89 Quadro 2.10: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por dimenso do par curso/estabelecimento 91 Quadro 2.11: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por proporo de inscritos em cursos do segundo e terceiro ciclos 92 Quadro 2. 12: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por Regies 93 Quadro 2.13: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por Percentagem de vagas preenchidas 95 Quadro 2.14: Inscritos no primeiro ano pela primeira vez e diplomados por Nota do ltimo colocado 96 Quadro A2.1: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por Tipo de Ensino 101 Quadro A2.2: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por graus 101 Quadro A2.3: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por nmero de anos de formao 101 Quadro A2.4: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por categorias da CNAEF 102 Quadro A2.5: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por dimenso do par curso/estabelecimento 102 Quadro A2.6: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por proporo de inscritos no segundo e terceiro ciclos 102 Quadro A2.7: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por regies 103 Quadro A2.8: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por percentagem de vagas preenchidas 103 Quadro A2.9: Diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por nota do ltimo colocado 103 Quadro A2.10: Durao dos percursos formativos por tipo de Ensino 103 Quadro A2.11: Durao dos percursos formativos por grau 104 Quadro A2.12: Durao dos percursos formativos por nmero de anos de formao 104 Quadro A2.13: Durao dos percursos formativos por categorias da CNAEF 104 Quadro A2.14: Durao dos percursos formativos por dimenso do par curso/estabelecimento 104 Quadro A2.15: Durao dos percursos formativos por proporo de inscritos no segundo e terceiro ciclos 105 Quadro A2.16: Durao dos percursos formativos por regies 105 Quadro A2.17: Durao dos percursos formativos por percentagem das vagas preenchidas 105 Quadro A2.18: Durao dos percursos formativos por nota do ltimo colocado 105 Quadro 4.1: Indicador de sucesso e insucesso dos estudantes no 1 ciclo do ensino 118

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    superior (em percentagem) Quadro 4.2: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo o nvel etrio 119 Quadro 4.3: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo o sexo 120 Quadro 4.4: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1. ciclo do ensino superior segundo o contexto familiar 121 Quadro 4.5: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo o contexto de residncia em perodo lectivo 122 Quadro 4.6: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo indicadores de caracterizao das origens sociais 123 Quadro 4.7: Indicador do grau de sucesso e insucesso escolar anterior dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo indicadores de caracterizao das origens sociais 125 Quadro 4.8: Indicadores de sucesso e insucesso dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior 126 Quadro 4.9: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo o grau de sucesso escolar anterior entrada no ensino superior (em percentagem) 127 Quadro 4.10: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1. ciclo do ensino superior segundo indicadores de caracterizao da trajectria anterior 128 Quadro 4.11: Indicador do grau de sucesso e insucesso escolar anterior dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo indicadores de caracterizao da trajectria passada 129 Quadro 4.12: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo indicadores de caracterizao das instituies educativas e das reas de estudo em que se inscrevem 131 Quadro 4.13: Indicadores de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo as reas de estudo no ensino superior 132 Quadro 4.14: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo a distribuio de horas semanais declaradas na ocupao em diferentes actividades 133 Quadro 4.15: Indicador de sucesso e insucesso escolar dos estudantes do 1 ciclo do ensino superior segundo as principais despesas declaradas pelos estudantes (euros/ms) 134 Quadro 4.16: Sucesso e insucesso no ensino superior: factores determinantes (regresso logstica) 136

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    NDICE DE FIGURAS Figura 1.1: Modelo analtico de Jos Madureira Pinto (2002) 22 Figura 1.2: Modelo analtico de Vincent Tinto (1997) 25 Figura 2.1. Inscritos no Ensino Superior (milhares) 56 Figura 2.2. Inscritos no 1 ano pela primeira vez no Ensino Superior por ciclo de formao 56 Figura 2.3. Diplomados do Ensino Superior 57 Figura 2.4 Fluxos de Inscritos no 1 ano pela 1 vez e diplomados por gnero (totais de formao terciria) 58 Figura 2.5: Taxas de sobrevivncia por tipo de ensino 63 Figura 2.6: Taxas de sobrevivncia por grau 64 Figura 2.7: Taxas de sobrevivncia por nmero de anos previstos no plano curricular 65 Figura 2.8: Taxas de sobrevivncia por reas da Classificao Nacional de reas de Educao e Formao 66 Figura 2.9: Taxas de sobrevivncia por dimenso do par curso/estabelecimento 68 Figura 2.10: Taxas de sobrevivncia por proporo de inscritos no segundo e terceiro ciclos 69 Figura 2.11: Taxas de sobrevivncia por Regies 70 Figura 2.12: Taxas de sobrevivncia por percentagem de vagas preenchidas 71 Figura 2.13: Taxas de sobrevivncia por nota do ltimo colocado 72 Figura 2.14: Durao dos Percursos Formativos 74 Figura 2.15: Durao dos Percursos Formativos por tipo de ensino 75 Figura 2.16: Durao dos Percursos Formativos por Grau 76 Figura 2.17: Durao dos Percursos Formativos por nmero de anos de formao 77 Figura 2.18 Durao dos Percursos por reas de Educao e Formao 78 Figura 2.19 Durao dos Percursos por dimenso do par curso/estabelecimento 79 Figura 2.20 Durao dos Percursos por proporo de alunos inscritos no 2 e 3 ciclos 80 Figura 2.21 Durao dos Percursos por Regio 81 Figura 2.22 Durao dos Percursos por percentagem de vagas preenchidas no par curso/estabelecimento 82 Figura 2.23 Durao dos Percursos por nota do ltimo colocado 83 Figura 2.24 Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por tipo de ensino 85 Figura 2.25 Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por grau 86 Figura 2.26 Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por categorias da Classificao Nacional de reas de Educao e Formao 88 Figura 2.27 Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por dimenso do par curso/estabelecimento 90 Figura 2.28 Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por proporo de inscritos no segundo e terceiro ciclos 92 Figura 2.29 Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por Regies 93 Figura 2.30Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por percentagem de vagas preenchidas 94 Figura 2.31: Rcios entre fluxos de diplomados e inscritos no primeiro ano pela primeira vez por nota do ltimo colocado 96 Figura 5.1: Esquema (modelo) analtico 145 Figura 5.2: Estrutura e parmetros analticos 147 Figura 5.3: Aproveitamento escolar no 1 ano do curso Y 174

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    Figura 8.1.: Quotas de entrevistados CIES-ISCTE 386 Figura 8.2: Quotas de entrevistados ISFLUP 387 Figura 8.3: Guio de entrevista 388 Figura 8.4: Principais percursos-tipo identificados CIES-ISCTE 1306 Figura 8.5: Principais percursos-tipo identificados ISFLUP 1312 Figura 8.6: Retratos sociolgicos: percursos-tipo, dimenses e factores CIES-ISCTE 1318 Figura 8.7: Retratos sociolgicos: percursos-tipo, dimenses e factores ISFLUP 1355

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    NDICE DE CARTOGRAMAS Cartograma 3.1: Ensino Superior Universitrio e Politcnico em Portugal, em 2007, por unidade orgnica 109 Cartograma 3.2 Ensino Superior em Portugal, em 2007, por unidade orgnica e tipo de tutela 110 Cartograma 3.3: Ensino Superior em Portugal, em 2007, por unidade orgnica, tipo de estabelecimento e tipo de tutela 112 Cartograma 3.4: Alunos inscritos (1 ano, 1 vez) no Ensino Superior Universitrio e Politcnico em Portugal, no ano lectivo de 2004/05, por unidade orgnica e tipo de estabelecimento 113 Cartograma 3.5: Diplomados no Ensino Superior Universitrio e Politcnico em Portugal, no ano lectivo de 2004/05, por unidade orgnica e tipo de estabelecimento 115

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    1. INTRODUO: UM MODELO TERICO E METODOLGICO PARA A ANLISE DO SUCESSO, INSUCESSO E ABANDONO NO ENSINO SUPERIOR Antnio Firmino da Costa, Joo Teixeira Lopes, Jos Madureira Pinto, Ana Caetano, e Eduardo Alexandre Rodrigues 1.1. Problema e objectivos

    A problemtica do sucesso escolar no ensino superior tem vindo a ganhar, progressivamente, crescente interesse pblico. Compreende-se que seja assim, num quadro societal em que o conhecimento de elevado ndice de elaborao formal se tornou mola central dos processos de criatividade, inovao e desenvolvimento, e em que a expanso alargada da escolarizao das populaes passou a abranger tambm o ensino superior.1

    A formao de nvel superior deixou de representar, antes de mais, um status prestigiante de uma minoria extremamente reduzida da populao, para se constituir numa aquisio certificada de conhecimentos e competncias de alta qualificao por parte de um conjunto cada vez mais vasto de pessoas. Este processo incide em particular nas novas geraes, mas envolve tambm, de maneira crescente, geraes mais velhas, empenhadas em iniciativas de formao ao longo da vida.

    As repercusses desta grande alterao verificada no ensino superior so decisivas para a vida pessoal de cada um dos detentores dessas formaes certificadas de nvel elevado, tanto no plano das suas capacidades profissionais e oportunidades econmicas como nos dos acessos culturais e do exerccio da cidadania. O mesmo se pode dizer, j no s a nvel dos indivduos mas tambm a nvel das sociedades, quanto aos potenciais acrescidos de uma populao crescentemente qualificada para gerar modernizao e desenvolvimento e para melhorar a qualidade de vida num pas, num contexto global cada vez mais interdependente mas tambm cada vez mais exigente.

    Em suma, para o ensino superior a questo j no a de regular o acesso ao status acadmico de uma minoria muito restrita mas a de assegurar uma formao efectiva de nvel superior a uma populao estudantil alargada. A promoo do sucesso escolar no ensino superior, incluindo o combate ao insucesso e ao abandono, situa-se nuclearmente neste quadro.

    Dito de outro modo, a promoo do sucesso escolar no ensino superior no pode deixar de ser considerada actualmente um objectivo fundamental de polticas pblicas e da aco das instituies universitrias e politcnicas, e o insucesso e o abando escolar no podem deixar de ser considerados problemas preocupantes (para os estudantes por ele afectados, para o sistema de ensino superior e para a sociedade portuguesa no seu conjunto), tanto mais quanto se verifica hoje em dia um conjunto de circunstncias especficas, entre as quais: a importncia crescente que tm as qualificaes superiores no quadro actual de uma economia cada vez mais alicerada

    1 Ver, entre muitos outros, Reich (1991), Giddens (1990 e 2007), Florida (2002 e 2008), Costa, Machado e vila (2007), OECD (2007 e 2008).

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    no conhecimento e na inovao; a importncia que essas qualificaes tendem rapidamente a adquirir numa sociedade em que o acesso cultura, a qualidade de vida e o exerccio da cidadania implicam tambm, cada vez mais, a aquisio e a mobilizao de conhecimentos e competncias de nvel elevado; os acentuados dfices de qualificaes que continuam a verificar-se na sociedade portuguesa, nomeadamente os dfices de qualificaes superiores, apesar do intenso alargamento da escolarizao registado nas ltimas dcadas, nos vrios nveis de ensino; o persistente atraso comparativo da sociedade portuguesa neste domnio, no mbito de espaos internacionais como a Unio Europeia ou a OCDE, com as limitaes s capacidades de competio e colaborao internacional que esse atraso comporta, designadamente nas esferas econmica e poltica, cientfica e tecnolgica, artstica e cultural. No ser difcil admitir que os nveis de insucesso e abandono verificados no sistema de ensino superior portugus resultem em desperdcio de recursos, frustrao de expectativas e perda de potencialidades pessoais, profissionais e sociais.

    As perguntas que se colocam habitualmente a este respeito so: Quais as taxas de sucesso, insucesso e abandono que se verificam no sistema de ensino superior portugus e nos seus diversos segmentos? Que caractersticas tm os estudantes e as instituies que apresentam maior vulnerabilidade ao abandono e insucesso, e quais as caractersticas de estudantes e instituies que apresentam maior propenso para resultados de sucesso? Como agir, e a que nveis, para potenciar o sucesso e diminuir o abandono e o insucesso dos estudantes do ensino superior?

    H j alguns elementos de resposta a estas perguntas, provenientes de indicadores administrativos nacionais e estudos diversos realizados no pas. Mas o diagnstico est longe de se poder considerar suficientemente esclarecedor, abrangente e aprofundado. Dispe-se, igualmente, de um conjunto alargado de estudos e investigaes realizados noutros pases, cuja consulta comparativa pode ajudar a situar a questo e a avanar na sua anlise. Aps ponderao, por um lado, das aquisies mais importantes registadas na bibliografia especializada internacional e dos trabalhos j realizados ou em curso a nvel nacional, a seguir sinteticamente referenciados, chegou-se a um novo conjunto de perguntas, mais especficas e precisas, para a resposta s quais este projecto pocurou dar contributos significativos. Estas perguntas de partida, j mais focadas e pressupondo uma elaborao conceptual e metodolgica que adiante se explicita, podem formular-se da seguinte maneira:

    i) Que modalidades principais, ou percursos-tipo, assumem os trajectos estudantis de sucesso, insucesso e abandono no ensino superior? ii) Que factores condicionantes, ou, mais precisamente, que combinaes de factores e processos favorecem as situaes de sucesso e quais esto na base dos problemas de insucesso e abandono no ensino superior? iii) Que identificao possvel fazer de variveis alterveis, isto , de aspectos susceptveis de interveno efectiva, escala de influncia e no mbito de aco das diversas instncias e agncias envolvidas, no sentido de suscitar medidas eficazes e promover boas prticas, com vista a potenciar o sucesso e diminuir o abandono e o insucesso no ensino superior?

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    O presente projecto centrou-se nas trs perguntas anteriores. Foi nesta perspectiva que a equipa procurou trazer contributos de valor cognitivo acrescentado especfico, dadas as experincias e competncias de dominante sociolgica que teve a possibilidade de convocar. Outras equipas e outras instncias esto certamente mais vocacionadas para contributos de natureza diferente e complementar. o caso de equipas que tm vindo a desenvolver no pas programas de pesquisa sobre sucesso/insucesso no ensino superior, segundo abordagens de dominante psicolgica, na rea das cincias da educao. tambm o caso, noutro plano, dos levantamentos e indicadores de carcter institucional, abrangendo regularmente todo o ensino superior nacional, como os do GPEARI, embora seja necessrio completar e aperfeioar o sistema nacional de indicadores institucionais neste domnio, para o que este projecto procurou tambm fornecer alguns contributos. o caso, ainda, de equipas que, tambm numa perspectiva de dominante sociolgica, realizaram ou esto a realizar anlises de mbito mais localizado, centradas numa determinada instituio.

    Perante um problema de carcter to complexo e multidimensional, fundamental que se consigam complementaridades produtivas entre diferentes perspectivas e agentes. Nesse sentido, o presente projecto, para alm dos seus objectivos especficos de pesquisa e anlise (dirigidos ao fornecimento de respostas aprofundadas s trs perguntas de partida acima enunciadas), incluiu tambm um conjunto de contactos e desenvolveu uma rede alargada de colaboraes com instituies de ensino superior, associaes de estudantes, equipas de interveno e outros grupos de investigadores, assim como com as instncias nacionais de produo institucional de indicadores.

    No conjunto, os objectivos deste projecto foram, pois, os seguintes: a) identificar e analisar as modalidades relevantes de percursos estudantis no

    ensino superior, a nvel nacional, nomeadamente percursos-tipo de sucesso, insucesso e abandono;

    b) identificar e analisar as constelaes de factores explicativos que se conjugam na produo desses percursos-tipo;

    a) identificar variveis alterveis neste domnio e fornecer indicaes fundamentadas susceptveis de serem utilizadas a nvel das polticas pblicas, das instituies de ensino superior e da interveno cvica (estudantil ou outra) na promoo de medidas institucionais e de boas prticas que ajudem a potenciar o sucesso e combater o insucesso e o abandono no ensino superior;

    b) produzir resultados de diagnstico, a respeito dos tpicos anteriores, combinando abordagens analticas aprofundadas, intensivas e multidimensionais com uma perspectiva abrangente, de mbito nacional, e um levantamento de informao alargado, nos diversos subsistemas do ensino superior;

    c) produzir um conjunto de contributos analticos a partir do sistema nacional de indicadores existente neste domnio, procurando explorar algumas das suas potencialidades e limites, com vista ao aperfeioamento de uma monitorizao quantificada de parmetros relevantes do sucesso, insucesso e abandono dos estudantes do ensino superior;

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    d) contribuir para o avano do conhecimento, em particular no domnio especfico da investigao sobre o ensino superior, mas tambm no mbito alargado das cincias sociais em geral, designadamente atravs da explorao das virtualidades cognitivas de um modelo terico e de uma estratgia metodolgica que colocam os trajectos pessoais no centro de uma anlise sociolgica a trs nveis: estrutural, institucional e individual;

    e) contribuir para o envolvimento reflexivo das instituies de ensino superior e das estruturas associativas estudantis na anlise desta questo e na interveno sobre ela;

    f) contribuir para o conhecimento recproco e a cooperao cientfica entre grupos de investigao, estudo e interveno que no pas se debruam, sob diversas perspectivas, sobre o tema aqui em causa, e estabelecer redes de colaborao a este respeito com instituies de ensino superior e associaes de estudantes;

    g) formar jovens investigadores, contribuindo para aumentar o potencial cientfico nacional neste domnio;

    h) difundir os contributos cognitivos relevantes deste projecto junto da comunidade cientfica nacional e internacional.

    1.2. Estudos de referncia, modelos tericos e nveis de anlise Os fenmenos de abandono, insucesso e sucesso no ensino superior contam j com um importante e considervel corpo de trabalho de investigao, sobretudo nos Estados Unidos da Amrica, mas tambm no Canad, na Austrlia e em pases europeus como o Reino Unido ou a Frana. Trata-se, neste sentido, de um domnio de estudos consolidado, no s porque tem vindo ao longo dos anos a apresentar contribuies fundamentais para a compreenso dos trajectos dos estudantes neste nvel de ensino, como tambm por se orientar, em termos gerais, de acordo com uma lgica de cumulatividade do conhecimento cientfico e pelo dilogo profcuo e operatrio que os diferentes trabalhos mantm entre si2. Neste mbito, possvel identificar um importante conjunto de ferramentas analticas que podem ser mobilizadas com vantagem para uma abordagem centrada nas configuraes dos percursos estudantis pelo ensino superior. Atendendo ao facto de que esses trabalhos se tm vindo a debruar sobre diferentes nveis de anlise, importa neste contexto recuperar as principais contribuies em trs vertentes analticas que, embora distintas, assumem um cariz complementar e articulado: a estrutural, a institucional e a individual. O nvel estrutural de anlise caracteriza-se pela nfase atribuda a variveis externas ao sistema de ensino superior e aos enquadramentos sociais desse sistema e dos seus agentes. De facto, possvel mapear um conjunto de trabalhos que coloca em evidncia a importncia de factores como a idade, o sexo, a etnia, as origens sociais ou a relao com o mundo do trabalho na explicao dos percursos dos estudantes pelo ensino superior. Se alguns autores, nesta perspectiva especfica, destacam sobretudo a

    2 Ver Braxton e Hirschy (2005), Grayson e Grayson (2003), Harvey, Drew e Smith (2006) e Pascarella e Terenzini (1991, 2005) para o mapeamento dos principais contributos nesta rea.

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    posse diferencial de recursos econmicos, escolares e culturais (dos estudantes e das suas famlias de origem) quer no acesso, quer no desempenho acadmico, quer ainda na relao mais vasta que estabelecem com e nas instituies de ensino superior3, outros referem-se sobretudo importncia das matrizes de socializao de gnero4 e s diferenas tnicas5 e outros ainda destacam a relevncia de variveis como o desempenho de uma actividade profissional, a situao conjugal e a existncia de filhos nos trajectos dos estudantes denominados no tradicionais6. Importa tambm referir que, j desde as suas origens, a sociologia em Portugal tem dedicado especial ateno populao estudantil do ensino superior. Ainda que muitos desses estudos no direccionem o foco analtico para a configurao dos percursos dos estudantes no que diz respeito aos fenmenos do sucesso, do insucesso e do abandono, encontra-se j desenvolvido um importante corpo de trabalhos sobre as desigualdades de acesso ao ensino superior e sobre as condies sociais dos estudantes7. Deve tambm ser destacado um conjunto de investigaes e anlises sociolgicas pertencente ao domnio da sociologia da educao que, embora no se reporte ao ensino superior, assume grande relevncia para a compreenso dos fenmenos do sucesso, insucesso e abandono, porquanto se centra nos estudantes e nas suas vivncias e prticas, no insucesso escolar noutros nveis de ensino, nas mudanas institucionais na escola e tambm nos processos sociais de transio dos jovens para a vida adulta (Abrantes, 2003; Benavente et al., 1987; Benavente et al., 1994; Cabral e Pais, 1998; Grcio, 1997; Guerreiro e Abrantes, 2004; Guerreiro e Pegado, 2006; Lopes, 1996; Pais, 1993)8. No mbito das anlises que evidenciam a importncia de factores estruturais para a compreenso do sucesso, insucesso e abandono, destaca-se sobretudo a proposta analtica de Jos Madureira Pinto (2002) que, perspectivando o ensino superior como um subsistema que estabelece relaes sociais especficas entre agentes, conceptualiza essas relaes de forma indissocivel dos traos estruturais e vectores de transformao da sociedade global (ver figura 1). Assumir que o ensino superior tem lgicas de funcionamento e transformao induzidas, em parte, por factores exgenos obriga a aproximar os fenmenos do sucesso, insucesso e abandono de processos

    3 Ver, a este respeito, Berger (2000), Brint e Karabel (1989), Cabrera et al (1992), Cabrera, Nora e Castaneda (1993), Carpenter, Hayden e Long (1998), Gilbert (1991), Gilbert e Auger (1988), Gilbert et al. (1997), Grayson (1997), Grignon (2000, 2003), Grignon e Gruel (1999), Gruel (2002), Karabel (2005), Karabel e Astin (1975), Leathwood e OConnell (2003), Longden (2004), Martin, Karabel e Jaquez (2005), Paulsen e John (2002), Quinn et al. (2005). 4 Ver, a este respeito, Gruel (2006), Gruel e Thiphaine (2004), McNabb, Sarmistha e Sloane (2002), Richardson e Woodley (2003), Watts (1997). 5 Ver, por exemplo,, Grayson (1998). 6 Tambm designados por mature students. Ver, a este respeito, Bean e Metzner (1985), Laing e Robinson (2003), Ozga e Sukhnandan (1998), Wylie (2006). 7 Ver, por exemplo, Almeida, Costa e Machado (1988), Almeida et al. (1996), Almeida et al. (2003), Balsa et al. (2001), Casanova (1993), Costa, Machado e Almeida (1990), Eurostudent Report (2005), Fernandes et al. (1998), Fernandes (2001), Machado, Costa e Almeida (1989), Machado et al. (2003), Martins, Mauritti e Costa (2005), Mauritti (2002), Nunes (2000). 8 Importa tambm referir os contributos de vrias correntes da sociologia da educao das ltimas dcadas (van Zanten, 2000), desde as chamadas teorias da reproduo e teorias da resistncia s que se centram na escola, nos currculos e nos modelos pedaggicos.

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    sociais aparentemente to distantes como o da evoluo das estruturas econmico-produtivas e do emprego, o das lgicas e estratgias de mobilidade social e de reconverso classista ou o da natureza do movimento de transformao cultural em curso nas sociedades contemporneas para alm, obviamente, dos que dizem directamente respeito s orientaes de poltica educativa e cientfica, influenciadas, elas prprias por sistemas de valores e desgnios ideolgicos mais ou menos explcitos.

    Figura 1.1: Modelo analtico de Jos Madureira Pinto (2002)

    (3) Projecto

    (7)

    (B) Sistema de emprego; perspectiva de sadas profissionais

    (1) Origem e trajectrias sociais

    (A) Estratgias de reproduo/ reconverso sociais

    (2) Percurso escolar

    (4) Competncias/ investimento escolar

    Heterogeneidade de perfis estudantis

    (5) Performance escolar Relao prof./aluno (...) Integrao acadmica

    Prticas culturais extra-escolares Relao c/ pares (...)

    (6)

    Integrao social

    Valores, representaes e padres culturais juvenis

    (D)

    Insero/retraco/ excluso (In)sucesso

    Modelo de carreiras acadmicas

    Modelos Pedaggicos

    Modelos Organi-zacionais

    Polticas educativas e Cientficas (C)

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    Apesar da importncia atribuda a este nvel analtico, o autor no deixa tambm de considerar a especificidade e a diferenciao interna do sistema de ensino superior portugus, que se manifesta sobretudo em trs modalidades distintas: distino entre Universidade/Ensino Politcnico e Pblico/Privado, sendo ainda necessrio cruzar os seus termos, para uma melhor compreenso do alcance de tal diferenciao; distribuio entre grandes blocos disciplinares Cincias Exactas, Cincias Experimentais, Cincias Sociais, Humanidades , a que correspondem estratgias e prticas de ensino-aprendizagem, bem como padres de incidncia de sucesso e insucesso escolar com exigncias assaz heterogneas; e configurao do tringulo ensino/investigao/prestao de servios nas instituies de ensino superior.

    De acordo com Madureira Pinto (op. cit.), pensar o sistema de ensino superior como conjunto de colectivos de trabalho obriga ainda a ponderar o(s) modelo(s) organizacionais que, independentemente dos outros factores de diferenciao assinalados, nele se privilegiam. Apesar da relutncia do sector de ensino superior em interiorizar a problemtica pedaggica, a verdade que o servio que mais marca o dia-a-dia dos estabelecimentos e dos seus profissionais diz respeito, como sabido, a actividades de ensino, e estas abrangem um conjunto de destinatrios que, nas ltimas dcadas, no tem cessado de se expandir. Tal expanso trouxe consigo, como no podia deixar de ser, maior heterogeneidade social dos pblicos estudantis, caracterstica que tem de ser tomada em conta sempre que esteja em causa pensar e reformar planos curriculares, contedos e mtodos pedaggicos, com vista, nomeadamente, a uma promoo efectiva do sucesso escolar e a um combate consequente ao abandono e insucesso neste nvel de ensino.

    Entretanto, os nveis de afeio e sucesso escolares no dependem apenas das dinmicas de ensino-aprendizagem (que continuam a ter na sala de aula o seu espao privilegiado de desenvolvimento), mas tambm das modalidades de relacionamento entre jovens que os mesmos estabelecimentos promovem. Os estudos sobre prticas culturais e modos de vida juvenis revelam que o universo dos colegas est longe de se confundir com o universo dos amigos e que os lugares de encontro predominantes e mais marcantes no quotidiano dos estudantes do ensino superior transcendem em muito o contexto fsico das escolas. Mas o que tambm se verifica que as aulas e bibliotecas, os bares, as cantinas das faculdades, bem como, obviamente, as respectivas festas, surgem em lugar de relevo no conjunto de locais de encontro com os amigos que so referenciados no grupo juvenil sob anlise. Para os estudantes em geral, e porventura ainda mais para os que no residem com o respectivo agregado familiar, o espao de sociabilidade das escolas assume importncia crucial no desenho do seu quotidiano. Madureira Pinto destaca tambm a importncia da influncia especfica de estratgias de reconverso ou confirmao classista accionadas pelos protagonistas dos processos em causa como que a sugerir que a interiorizao, por estes, de conhecimentos sobre as referidas lgicas ter acabado por intervir, enquanto componente dotada de autonomia relativa, na relao das classes sociais com a escola.

    A especificidade dos percursos escolares propriamente ditos muito dependente dos circunstancialismos organizacionais, dos modelos pedaggicos e dos padres interaccionais presentes na instituio escolar anteriormente referenciados foi sendo, do mesmo modo, inserida, em lugar de destaque, nas anlises em causa. A inteno foi trazer a primeiro plano, nas explicaes sociolgicas e propostas de

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    interveno em matria de sucesso e insucesso acadmico, a espessura prpria das relaes sociais que, a nvel institucional, impem limites e abrem oportunidades s prticas, segundo lgicas no redutveis a determinaes estritamente estruturais.

    Mas os modelos de anlise sobre insucesso escolar tm vindo a integrar tambm a dimenso das trajectrias sociais virtuais, tal como surgem interiorizadas nos estudantes, sob a forma de vocaes, projectos socioprofissionais, motivaes, nveis de auto-satisfao, etc. A dimenso, s na aparncia exclusivamente subjectiva, da formao de aspiraes sociais no pode, entretanto, deixar de ser definida, pelo menos em parte, e tendo em conta desfasamentos temporais no despiciendos, por referncia s dinmicas objectivas do mercado de trabalho e aqui est como, nesta matria, importante dar ateno a factores supraindividuais e suprainstitucionais do investimento escolar.

    A evoluo do universo simblico-cultural dos grupos juvenis (que tem na cultura escolar apenas um dos seus plos), pode, por sua vez, estar associado inculcao de disposies , ao desenvolvimento de competncias e mesmo ao surgimento de uma atitude global face ao saber e s tcnicas da sua transmisso relativamente divorciadas dos padres e critrios de excelncia institudos no e pelo sistema de ensino.

    Uma eventual tendncia para a criao de focos de resistncia e de dissidncia cultural (ausncia s aulas, participao relutante nas suas dinmicas comunicacionais) ser uma das manifestaes desse divrcio. Mas, porventura, s-lo- tambm, ainda que de forma paradoxal, a adeso entusistica a prticas de convivialidade ou a actividades ldico-artsticas que, embora circunscritas ao espao fsico das escolas, contendem com o ritmo e as tarefas escolares convencionais. O modelo proposto por Madureira Pinto, apesar de enfatizar as componentes estruturais para a anlise do sucesso, insucesso e abandono no ensino superior, integra, como se viu, um conjunto diversificado, complexo e articulado de dimenses e nveis analticos e nessa medida que se assume como um contributo fundamental para a compreenso desses fenmenos.

    Um segundo grupo de trabalhos evidencia, em particular, a importncia dos contextos institucionais na anlise dos percursos dos estudantes pelo ensino superior. Neste mbito, o modelo terico proposto por Vincent Tinto (1975, 1982, 1988, 1993, 1997) adquiriu reconhecidamente, na bibliografia especializada desta rea, o estatuto de modelo paradigmtico, orientando, mais ou menos explicitamente, muita da produo terica direccionada para estas temticas nos ltimos 30 anos. Influenciado pela anlise de Durkheim (2001) sobre o suicdio tal como o trabalho de Spady (1970), que Tinto utilizou como referncia para a anlise do abandono no ensino superior , este modelo tem como premissa bsica que a deciso de abandono ou de permanncia no ensino superior indissocivel do grau de integrao dos estudantes nos sistemas social e acadmico das instituies que frequentam. Cada estudante ingressa num estabelecimento de ensino com um conjunto de caractersticas individuais, associadas ao meio social de origem, ao percurso escolar anterior e aos seus atributos individuais, e encontra-se empenhado na prossecuo de objectivos, nomeadamente a concluso de determinado curso, em determinado estabelecimento de ensino. Incorporando uma perspectiva longitudinal, o autor considera que estes objectivos, apesar de serem dotados de alguma durabilidade, podem ser reformulados atravs das relaes que os estudantes mantm no contexto institucional, encontrando-se, nesse sentido,

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    dependentes do grau de integrao acadmica desses estudantes na instituio (onde tm lugar actividades e interaces mais centradas na educao formal e onde os diversos agentes do estabelecimento de ensino assumem particular importncia) e do nvel de integrao social no estabelecimento de ensino (onde decorrem actividades e interaces exteriores ao domnio mais formal de ensino-aprendizagem).

    O insucesso e o abandono so, portanto, explicados fundamentalmente pela falta de adequao entre os valores e expectativas dos estudantes e os valores e caractersticas do contexto acadmico que frequentam, ou pela ausncia de experincias significativas e positivas de interaco socializadora. Ambos os processos acabam por originar um dfice de integrao. Nveis altos de integrao acadmica e social reforam os objectivos e o nvel de dedicao do estudante relativamente ao curso e instituio.

    Figura 2.2: Modelo analtico de Vincent Tinto (1997)

    No obstante o seu estatuto paradigmtico no contexto dos estudos sobre o sucesso e insucesso, e particularmente sobre o abandono no ensino superior, este modelo analtico tem sido sujeito a vrias crticas que lhe apontam algumas limitaes, das quais podem aqui ser referidas algumas das mais importantes (Berger e Braxton, 1998; Braxton, Hirschy e McClendon, 2004; Cabrera et al., 1992; Cabrera, Nora e Castaneda, 1993): o pouco espao concedido aos factores de construo de percepes, comprometimentos e preferncias externos instituio que contribuem para explicar o insucesso; a ateno insuficiente dada s percepes e experincias dos

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    estudantes tal como so por eles subjectivamente veiculadas; a inadequao do modelo relativamente aos diferentes tipos de contextos institucionais (consoante sejam residenciais ou no, por exemplo); o nmero restrito de factores que tem em considerao para explicar as decises de abandono; a conceptualizao do abandono como um fenmeno puramente negativo; algumas limitaes quanto s variveis explicativas da integrao social e uma definio pouco clara do conceito mais geral de integrao. A crtica mais comum que feita ao modelo de Tinto prende-se com a conceptualizao das variveis ditas externas, entendidas como influenciando apenas os objectivos iniciais dos estudantes. De acordo com Cabrera et al. (1992, 1993), os factores externos (como, por exemplo, o apoio e encorajamento da famlia e do grupo de amigos) desempenham um papel crucial na configurao das experincias acadmicas. Em resposta a estas crticas, Tinto tem vindo a aperfeioar o seu modelo, nomeadamente com a introduo de mais variveis externas, como possvel ver na figura 2.2 (Tinto, 1997).

    Outros autores, trabalhando com o modelo terico de Vincent Tinto, tm vindo a modific-lo com o objectivo ltimo de o tornar mais eficaz em termos heursticos, seja acrescentando-lhe dimenses analticas9, seja articulando-o com outros modelos, como o elaborado por Bean10 (Cabrera et al., 1992; Wylie, 2006) ou o elaborado por Astin11 (Berger e Milem, 1999). Nesses esforos de sntese terica so referidos os ganhos de inteligibilidade dos fenmenos do insucesso e abandono que se conseguem pela combinao de vrios modelos explicativos, que podem ser vistos como complementares.

    Este conjunto de trabalhos partilha, portanto, uma nfase atribuda s dinmicas das experincias dos estudantes no seio das instituies de ensino superior, destacando a importncia de factores organizacionais na integrao acadmica e social dos mesmos12. De referir, em particular, factores como a rea de estudos, o tipo de instituio, a estrutura curricular do curso, as prticas pedaggicas, o tamanho das turmas, os processos de avaliao, os calendrios acadmicos, as estruturas de apoio

    9 Ver, a este respeito, Beekhoven e Hout (2003), Berger e Braxton (1998), Berger (2000), DesJardins, Ahlburg e McCall (1999), Elkins, Braxton e James (2000), Pascarella e Terenzini (1977, 1979), Pascarella, Duby e Iverson (1983), Pascarella, Terenzini e Wolfle (1986), Strauss e Volkwein (2004). 10 O modelo de Bean (1980, 1983) analisa a influncia das intenes comportamentais (de abandonar ou persistir) no processo de abandono. O autor explora o cariz interactivo de crenas, atitudes e intenes, e a articulao entre estas e a experincia acadmica dos estudantes. destacada a importncia articulada de trs conjuntos de factores sobre as atitudes e decises e, portanto, na explicao do fenmeno do abandono: individuais, organizacionais e ambientais/externos. 11 Para Astin (1984, 1987), o fenmeno do abandono deve ser entendido a partir dos graus de energia fsica e psicolgica que os estudantes dedicam experincia acadmica, sendo que esses graus de envolvimento devem ser compreendidos mais em termos comportamentais do que em termos representacionais. Este autor afirma que o envolvimento est relacionado com os resultados acadmicos obtidos, sendo por isso encarado como o principal factor explicativo. 12 No nvel institucional, de sublinhar a proficuidade de articulao destes trabalhos com as potencialidades analticas de um conjunto vasto de teorizaes e investigaes que abrange desde as chamadas teorias dos sistemas de regras sociais e teorias neo-institucionalistas s teorias do individualismo institucionalizado (Burns e Flam, 2000; Beck e Beck-Gernsheim, 2001; Powell e DiMaggio, 1991; Scott, 2001).

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    aos estudantes (servios de aconselhamento e acompanhamento, apoios financeiros, etc.), a qualidade e quantidade dos equipamentos e dos vrios recursos colocados disposio dos estudantes (bibliotecas, recursos informticos, etc.) e as modalidades de divulgao de informaes direccionadas para os futuros alunos13. Mantz Yorke (1998a, 1998b, 1999, 2000, 2001a, 2001b, 2001c)14, por exemplo, direcciona o foco analtico do seu trabalho para conjuntos de itens que permitem dar conta da qualidade da experincia acadmica dos estudantes. De um conjunto de 36 factores identificados como potencialmente explicativos do abandono do ensino superior, o autor elaborou 6 factores compsitos, cuja importncia relativa para os vrios grupos de estudantes varivel: fraca qualidade da experincia acadmica, incapacidade para lidar com as exigncias do curso, insatisfao com o ambiente social da instituio, escolha errada de curso, dificuldades econmicas, insatisfao com os recursos institucionais. Uma parte significativa dos trabalhos que tm vindo a ser desenvolvidos em Portugal sobre os fenmenos do sucesso, insucesso e abandono enquadra-se tambm neste tipo de abordagens, que enfatiza a influncia dos contextos institucionais nos percursos dos estudantes pelo ensino superior. Em termos gerais, apresentam como principais objectivos identificar as causas e factores que intervm privilegiadamente na configurao de perfis de sucesso e insucesso15 de modo a desenvolverem estratgias de interveno. As causas do insucesso tendem a ser associadas no apenas aos alunos que ingressam no ensino superior com diferentes nveis de preparao acadmica, de motivao e com expectativas e objectivos diferenciados e diversificados16 , como tambm aos professores cujo trabalho muitas vezes limitado pelas dificuldades que o sistema de ensino lhes coloca e que tm muitas vezes uma fraca preparao pedaggica17 , aos currculos nem sempre correctamente estruturados e s prprias instituies que tendem a considerar os alunos no pela sua singularidade, mas por

    13 Ver tambm Astin e Oseguera (2005), Braxton e Mundy (2001-02), Christie, Munro e Fisher (2004), Grayson (1997, 1998), Herzog (2005), Jansen (2004), Johnes (1997), Ozga e Sukhnandan (1998), Pike e Kuh (2005), Pike, Kuh e Gonyea (2003). 14 Ver tambm York e Thomas (2003) e York e Knight (2004). 15 Para uma discusso mais alargada das principais causas do abandono e do insucesso acadmico no ensino superior em Portugal ver, por exemplo, Bessa (2002), Cabral e Tavares (2002), CNE (2002), Curado e Machado (2006), GAPE (1991), Martins (2004), Nvoa, Curado e Machado (2005), Soares e Taveira (1999), Tavares et al. (2000) e Tavares et al. (2002a). 16 Ver, a este respeito, Almeida e Ferreira (1999), Almeida et al. (2000), Bessa (2000), Bessa e Tavares (2000), Bessa e Tavares (2005), Fernandes (2001), Gonalves et al. (2001), Morais, Almeida e Montenegro (2006), Pereira (1999), Santos (2000), Soares, Almeida e Vasconcelos (2001), Tavares et al. (2003). De referir tambm que, em termos gerais, a bibliografia nacional atribui muita importncia transio do ensino secundrio para o ensino superior, como se pode ver em Almeida (2001), Almeida, Vieira e Raimundo (2006), Azevedo e Faria (2001), Bessa e Tavares (2004), Diniz e Almeida (2006), Estrela e Fries (2001), Martins e Campos (2005, 2006), Mendes (2006), Monteiro, Tavares e Pereira (2005), Ramos et al. (2006), Santos (2000), Santos e Almeida (2001), Soares et al. (2000), Soares e Almeida (2001), Tavares, Santiago e Lencastre (1998) e Tavares et al. (2000). 17 Ver, a este respeito, Gonalves et al. (2001), Huet e Tavares (2004), Melo et al. (2000), Reimo (2001), Santiago (2001), Santiago, Ferreira e Teixeira (2001), Silva (2005), Souza et al. (2001), Souza, Tavares e Brzezinski (2004), Tavares (1999), Tavares (2005a, 2005b) Tavares e Huet (2004), Tavares, Huet e Silva (2001), Tavares et al. (2002b).

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    aquilo que so os padres, exigncias e requisitos comummente partilhados para a frequncia do ensino superior.

    Neste sentido, as dimenses de anlise definidas por estes autores para o estudo do insucesso acadmico dizem respeito, precisamente, aco dos agentes identificados e relao estabelecida entre eles nas instituies de ensino superior. Veja-se, por exemplo, o quadro analtico desenvolvido por Silva et al. (2001)18 constitudo por quatro dimenses de anlise: individual (percurso escolar, desempenho escolar, dados socioeconmicos, contactos pessoais e factores psicolgicos), pedaggica/didctica (interaco professor-aluno, nvel de atractividade do curso, ritmos de trabalho, organizao curricular e transmisso de conhecimentos), institucional (equipamentos e servios, condies de frequncia e grau de integrao/participao) e ambiental externa (transio para um novo espao de vida cultural e geogrfico). O insucesso acadmico foi tambm analisado pelos autores portugueses por referncia ao conjunto de subsistemas identificados nas instituies de ensino superior (Tavares et al., 2000): funcional (mecanismos formais de participao dos alunos na tomada de deciso e procedimentos da resultantes), informacional (sistemas de informao direccionados para a integrao e apoio aos alunos), cultural (crenas, representaes, mitos e smbolos desenvolvidos por professores e alunos relativamente instituio e aos processos em que nela participam), poltico (processos institucionais de negociao entre alunos e outros actores da instituio), social (motivaes, expectativas e auto-representao dos alunos) e pedaggico/cientfico (organizao dos currculos, do conhecimento cientfico, dos processos de ensino-aprendizagem).

    O conjunto de trabalhos (nacionais e internacionais) direccionados para a anlise dos contextos institucionais conceptualiza o ensino superior como um subsistema relativamente autnomo, cujas estruturas, processos e dinmicas devem ser compreendidos na sua diversidade e complexidade. Alguns autores, mobilizando o conceito de habitus de Pierre Bourdieu (1979), referem-se mesmo existncia de habitus institucionais para designar a especificidade de cada contexto organizacional e das matrizes de socializao que nele so actuantes e que contribuem acentuadamente para a configurao das experincias estudantis (Reay, David e Ball, 2001; Thomas, 2002)19.

    O trabalho desenvolvido por Bernard Lahire (1997) sobre os modos de estudar assume-se tambm como um importante contributo para a compreenso da diferenciao interna do subsistema de ensino superior. De acordo com o autor, os estudantes no s no prosseguem todos o mesmo tipo de estudos, como tambm no o fazem nas mesmas condies materiais, culturais, escolares e familiares. A relevncia destas consideraes indissocivel da diferente valorizao social e escolar dos

    18 Tambm presente em Correia (2003), Correia, Gonalves e Pile (2004), Loureno e Mendes (2000a, 2000b, 2000c) e Mendes, Loureno e Pile (2001). Neste mbito, ver tambm o esquema analtico aplicado na Universidade do Algarve em Tavares et al. (2000) que contempla quatro dimenses referentes aos relacionamentos no interior da instituio: aluno, aluno-professor, aluno-universidade e aluno-outros. 19 Hermanowicz (2003) refere-se antes estrutura e cultura de reteno das instituies de ensino superior para dar conta dos processos e mecanismos organizacionais que influem nas decises dos estudantes de permanecerem ou de abandonarem o ensino superior.

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    diversos estabelecimentos de ensino superior. Na realidade, as instituies apresentam diferentes graus de legitimidade social e cultural, assumem potencialidades distintas relativamente empregabilidade dos seus estudantes e, por conseguinte, podem influir no desempenho futuro de actividades profissionais diferenciadas em termos simblicos e econmicos. Neste sentido, possvel identificar perfis de estudantes de acordo com as instituies frequentadas e segundo os cursos em que ingressam, na medida em que os diferentes tipos de escola e curso so produtores de estilos de trabalho escolar distintos e configuram modos de investimento no estudo tambm eles diferenciados.

    A anlise levada a cabo pelo autor permite perceber que as origens sociais influem fortemente no acesso dos estudantes a diferentes tipos de estudos, mas que no constituem necessariamente a principal varivel explicativa das experincias estudantis no seio de cada contexto institucional. Lahire refere a importncia das matrizes de socializao caractersticas das instituies, reas de formao e cursos na configurao dos percursos estudantis e no investimento dedicado aos estudos. Neste mbito, identificou para o contexto francs quatro grandes linhas de clivagem relativamente s diferenas entre estabelecimentos e cursos: estudos curtos e profissionalizantes/estudos longos e generalistas; estudos cientficos/estudos literrios; forte enquadramento pedaggico/fraco enquadramento pedaggico; e forte grau de renncia relativamente ao extra-escolar/fraco grau de renncia relativamente ao extra-escolar.

    O contributo de Lahire para a compreenso dos fenmenos de sucesso, insucesso e abandono estende-se ainda, e sobretudo, elaborao de ferramentas tericas e metodolgicas para abordagem do nvel de anlise individual. Embora no se tenha debruado especificamente sobre o ensino superior, a este nvel, o autor analisou os percursos escolares de crianas provenientes de meios mais desfavorecidos, procurando perceber a existncia de trajectrias distintas (sucesso, insucesso e abandono) delineadas em contextos sociais similares (Lahire, 1995)20.

    Este trabalho enquadra-se na obra mais vasta de Lahire, na qual tem vindo a explorar em particular as variaes inter e intraindividuais dos comportamentos, procurando explicar a complexidade interna dos indivduos. Trabalhando sobre a matriz terica de Pierre Bourdieu (1979), o autor recupera o conceito de dsiposies e, neste sentido, a importncia do passado incorporado dos agentes na anlise das suas prticas e comportamentos. Contudo, de acordo com Lahire (2002, 2004, 2005), o sistema de disposies no deve ser entendido como totalmente unificado, coerente e presente em todos os momentos e domnios das prticas dos indivduos. O patrimnio disposicional fundado em elementos heterogneos de foras desiguais, sendo que numa mesma pessoa coexistem disposies heterogneas e sincrticas resultantes de diferentes tipos de socializao (familiar, sociabilidades, trabalho, escola, etc.), que constantemente se vo actualizando. Isto porque as sociedades contemporneas, sendo profundamente diferenciadas, so constitudas por mltiplos e heterogneos universos, campos e contextos de socializao e interaco. Evoluindo atravs desses quadros sociais durante toda a sua existncia, cada indivduo interage no apenas com estruturas heterogneas que vai incorporando, como tambm com toda uma infinidade

    20 Para um trabalho semelhante desenvolvido em Portugal alguns anos antes ver Benavente et al. (1987).

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    de outros indivduos, portadores de sistemas de disposies com graus diversos de contraste ou congruncia com os seus. Este quadro de plurisocializao potencia a incorporao de sistemas de disposies dissonantes e sincrticos que subjazem a constelaes multmodas de hbitos e prticas. Cada indivduo constitudo por uma conjuno de disposies variadas que no tm necessariamente de possuir uma ligao de homologia entre si. A importncia da classe social, por exemplo, enquanto instrumento analtico explicativo central, mas h tambm que atender s caractersticas que diferenciam os indivduos, mesmo aqueles que se posicionam no espao social de forma similar. Esta noo encontra-se particularmente presente na anlise que o autor elaborou sobre os trajectos escolares das crianas provenientes de meios populares e fundamental para compreender a configurao de percursos escolares considerados de contratendncia, ou inesperados, por referncia s condies sociais da famlia de origem dos estudantes21.

    O principal contributo de Lahire para a anlise dos percursos estudantis passa, ento, pela conceptualizao das variaes individuais como resultando da interaco entre a pluralidade de disposies incorporadas e combinatrias sempre diferentes e, por isso, nicas de feixes de inseres e interrelaes variveis. Atendendo ao conjunto de pessoas com as quais um indivduo interage, posio que ocupa nessas relaes, s actividades em que investe no relacionamento com essas pessoas, o patrimnio de disposies e competncias encontra-se, de acordo com o autor, sujeito a foras de influncia diferentes. O que determina a activao de determinada disposio num contexto especfico , no fundo, o produto da interaco entre foras internas disposies constitudas no decurso das socializaes passadas e externas respeitantes aos elementos do contexto que influenciam, em maior ou menor grau, o indivduo, no sentido em que constrangem ou solicitam elementos dos seus sistemas de disposies.

    Assim, o patrimnio disposicional dos indivduos no se encontra totalmente activo em todos os contextos, sendo que, face a cada situao nova que se lhes apresenta, mobilizam, ainda que nem sempre conscientemente, esquemas incorporados solicitados pela situao especfica com que se deparam. Os contextos em que se encontram podem ser mais ou menos ajustados face aos seus sistemas de disposies incorporados, manifestando algum grau de harmonia ou entrando mesmo em contradio com os mesmos. Portanto, apesar da situao presente no explicar por si mesma prticas e representaes, no fundo ela que desperta e mobiliza, constrange e deixa em estado de viglia, ou actualiza os hbitos incorporados dos agentes. No fundo, o grande desafio do seu trabalho precisamente destacar a produo social do indivduo e demonstrar que o social no se reduz ao colectivo, estando igualmente presente nas caractersticas mais singulares de cada pessoa. De acordo com o autor, o indivduo a realidade social mais complexa passvel de ser analisada, contendo em si, atravs dos seus sistemas de disposies e dos mltiplos contextos em que se insere, aquilo que designa por plis singuliers du social (Lahire, 1998). Outros autores tm vindo tambm a centrar o seu foco analtico nos indivduos, particularmente nos estudantes, mas num sentido distinto do de Lahire. Em termos gerais, muitos desses trabalhos abordam os fenmenos do sucesso, insucesso e abandono no ensino superior numa perspectiva psicolgica, recorrendo a anlises

    21 Ver tambm Benavente at al. (1987), Feinstein e Peck (2008) e Feinstein e Vignoles (2008).

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    quantitativas extensivas que permitem identificar os factores que os estudantes consideram influir com maior intensidade nos seus percursos22. Estes trabalhos centram a explicao dos fenmenos em variveis individuais como a motivao, a vocao, as competncias, a autonomia, a auto-regulao ou a satisfao23. O principal contributo destes trabalhos reside na considerao de que o sucesso, o insucesso e o abandono so tambm constitudos por dimenses subjectivas e no apenas pela quantificao de classificaes escolares e do tempo despendido para concluir disciplinas e o prprio curso. Pontos de convergncia A quantidade e diversidade de trabalhos de investigao realizados sobre as temticas aqui em anlise evidenciam no s a relevncia social que os fenmenos de sucesso, insucesso e abandono no ensino superior assumem nas sociedades contemporneas, como tambm a importncia do seu estudo para um conhecimento aprofundado dos factores e processos que participam na sua configurao. Em termos gerais, encontram-se j mapeados os principais factores explicativos, ainda que nas diferentes abordagens lhes sejam dadas nfases distintas. A existncia de um dilogo profcuo entre grande parte dos trabalhos referidos e a partilha de referncias paradigmticas, como o caso do modelo de Vincent Tinto, possibilitam a identificao de um conjunto de pontos de convergncia entre os diversos trabalhos que podem ser mobilizados como instrumentos analticos para qualquer estudo sobre os percursos estudantis. Antes de mais, importa destacar o reconhecimento generalizado da complexidade dos fenmenos do sucesso, insucesso e abandono no ensino superior, o que resulta na criao e mobilizao de modelos de anlise que permitem dar conta da sua multidimensionalidade e da diversidade de agentes que neles intervm. Embora muitas abordagens, como se viu, enfatizem em particular certas dimenses e escalas de observao, na realidade reconhecem tambm a importncia de outros factores e vertentes analticas na explicao dos fenmenos. No fundo, ainda que centrem, em termos gerais, a anlise nas perspectivas dos estudantes, que so entendidos como os principais agentes destes processos (embora no os nicos), no se restringem, em grande parte dos casos, aos contextos institucionais dos estabelecimentos de ensino que

    22 Em Portugal destacam-se os questionrios Experincias na Transio Acadmica para o Ensino Superior (ETApES) (Bessa e Tavares, 2004), Questionrio de Envolvimento Acadmico (QEA) (Soares e Almeida, 2005), Questionrio de Experincias e Transio Acadmica (QETA) (Azevedo e Faria, 2001), Questionrio de Satisfao Acadmica (QSA) (Soares, Vasconcelos e Almeida, 2002), Questionrio de Vivncias Acadmicas (QVA) (Almeida e Ferreira, 1997), Questionrio de Percepo dos Alunos do Secundrio e do Superior (QPASS) (Souza, Tavares e Brzezinski, 2004), Questionrio Percepo do Ensino pelos Alunos (PEA) (Morais, Almeida e Montenegro, 2006), Escala de Integrao Social no Ensino Superior (EISES) (Diniz e Almeida, 2005) e Modelo Multidimensional de Ajustamento de jovens ao contexto Universitrio (MMAU) (Soares et al., 2006). 23 Ver, por exemplo, Allen (1999), Clifton et al. (2004), di Pietro (2004), Jackson (2003), Kahn e Nauta (2001), Larose et al. (1998), Leathwood e OConnell (2003), Mkinen, Olkinuora e Lonka (2004), McKenzie e Schweitzer (2001), Napoli e Wortman (1998), Rickinson (1998).

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    os estudantes frequentam e reconhecem tambm a importncia de outras esferas por onde os mesmos se movem e a influncia de factores exgenos relao que estabelecem com as instituies de ensino. Outra noo partilhada pela generalidade dos trabalhos referidos a importncia que assume o 1 ano de frequncia do ensino superior, por ser nesse perodo que os estudantes enfrentam maiores dificuldades de adaptao e de integrao nos contextos institucionais, o que pode ser determinante para a deciso de permanecerem ou de abandonarem esse nvel de ensino. Esta fase indissocivel dos processos de transio (para o ensino superior, para a vida adulta) que experienciam e do facto de se encontrarem no entrecruzamento de mltiplas esferas sociais (escolares, familiares, sociabilidades, lazer, trabalho).

    O conceito de integrao, geralmente recuperado do modelo proposto por Tinto, tambm um dos elementos mais referidos nas diversas abordagens. Nem sempre conceptualizado da mesma forma, mas tende a ser utilizado como instrumento de questionamento e problematizao acerca dos modos de relao entre os estudantes e as instituies e da forma como os mesmos se inserem nas vrias esferas dos estabelecimentos que frequentam. tambm importante destacar que, em termos de conceptualizao dos fenmenos aqui em anlise, existe o reconhecimento, particularmente em Portugal, de que o abandono e o insucesso no so sinnimos, nem o segundo deve ser percepcionado como a nica causa do primeiro, ainda que possam surgir, em muitos casos, associados. Para alm disso, so muitos os autores que se referem ao facto de o insucesso no se restringir a quantificaes formais das instituies relativamente ao nmero de anos de concluso dos cursos, incorporando tambm uma dimenso subjectiva que d conta do sentido que os estudantes atribuem aos seus percursos pelo ensino superior. A demonstrao de que existe uma forte ligao estatstica (a que corresponder uma relao de determinao social igualmente ntida) entre a origem de classe dos estudantes e os seus percursos escolares constitui tambm uma das aquisies mais consolidadas da sociologia da educao, encontrando-se tambm presente em muitas abordagens sobre os fenmenos do sucesso, insucesso e abandono no ensino superior. Por outro lado, se a origem social uma varivel explicativa central no que diz respeito ao acesso ao ensino superior, j durante o perodo de frequncia dos cursos a sua influncia deve ser pensada em estreita articulao com as matrizes de socializao caractersticas dos diferentes contextos institucionais.

    Grande parte dos trabalhos desenvolvidos tem por objectivo contribuir, mais ou menos directamente, para a criao e implementao de planos de combate ao abandono e ao insucesso24. Muitos deles tendem, nesse sentido, a delimitar reas prioritrias de interveno e medidas concretas de aco que passam, sobretudo: (i) por

    24 Ver, por exemplo, Bessa (2002), Braxton, Milem e Sullivan (2000), Braxton, Hirschy e McClendon (2004), Campbell e Campbell (1997), Cabrera, Amaury e Castaneda (1993), Cabral e Tavares (2002), Estrela e Fries (2001), Faria (2001), Gansemer-Topf e Schuh (2006), Guilherme et al. (2003), Jansen (2004), Jardim e Pereira (2005), Kahn e Nauta (2001), McKenzie e Schweitzer (2001), Ozga e Sukhnandan (1998), Pascarella, Terenzini e Wolfle (1986), Pascarella e Terenzini (2005), Pereira et al. (1999), Pereira et al. (2006), Rickinson (1998), Santiago et al. (2001), Seidman (2005), Tavares et al. (2002a), Tavares et al. (2006), Tinto (2005, 2006).

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    aces de informao, esclarecimento e orientao aos estudantes candidatos ao ensino superior; (ii) pelo desenvolvimento de competncias cognitivas e acadmicas (organizao e gesto do tempo e do volume de trabalho, mtodos de estudo, autonomia, auto-regulao) e relacionais (intrapessoais e interpessoais); (iii) pela promoo da sade psicolgica (estabilidade emocional, bem-estar, motivao, orientao vocacional) e fsica (preveno de comportamentos de risco face a determinado tipo de doenas e dependncias) atravs de apoio psicolgico individualizado de forma continuada; (iv) pelo apoio financeiro e aconselhamento relativo gesto de recursos econmicos; (v) pelo estmulo do debate, da reflexo e da partilha de vivncias entre estudantes, professores e instituies de ensino superior; (vi) pela reorganizao e reestruturao de horrios, avaliaes, carga horria e currculos; (vii) pelo fomento da insero dos estudantes nas comunidades acadmicas atravs da criao de servios e programas de apoio e de mentorado e realizao de actividades extracurriculares que possibilitam a criao de grupos de partilha de interesses; (viii) pelo acompanhamento e monitorizao da aprendizagem dos alunos durante todo o seu percurso acadmico; (ix) pela contnua formao e avaliao de professores; (x) pela promoo de estgios e sadas profissionais. A implementao das estratgias definidas por estes programas implica uma mobilizao dos diversos agentes do meio no apenas para a organizao de sesses de formao com grupos de estudantes, onde estimulado o desenvolvimento de competncias (atravs da realizao de determinadas actividades e trabalhos) e o debate, reflexo e partilha de experincias entre professores e alunos, como tambm para a criao de gabinetes de apoio aos alunos, particularmente de acompanhamento psicolgico, e de mecanismos de acompanhamento e avaliao dos professores. Os indcios empricos disponveis relativamente ao xito de algumas iniciativas destinadas a combater o insucesso e abandono so ainda muito escassos. Por outro lado, o facto de algumas estratgias poderem vir a ser bem sucedidas no pode de forma alguma garantir a sua aplicabilidade noutros contextos institucionais, particularmente em pases diferentes. Questes em aberto e perspectivas inovadoras

    Nos estudos acima referidos, desenvolvidos a nvel nacional e internacional, permanece em aberto um conjunto de questes importantes.

    Na bibliografia especializada, so mencionados de forma recorrente problemas de conceptualizao e de medida, de explicao e de interpretao, de comparao e de modalizao. Por exemplo, na interpretao do significado dos elementos quantitativos de sucesso/insucesso acima referidos, no se pode deixar de ter em conta, por um lado, que em dados e estudos relativos aos Estados Unidos da Amrica ou a diversos pases europeus, se encontram valores no muito distantes dos nacionais. Mas, por outro lado, tambm no se pode descurar o facto de, nesses estudos e registos, nem sempre serem usados os mesmos indicadores e os mesmos processos de medida.

    Os prprios conceitos utilizados so muito menos claros do que pode parecer primeira vista. O que tomado como sucesso, insucesso e abandono varia bastante de estudo para estudo, e, em consequncia, muitas vezes os dados empricos correspondentes tambm no so directamente comparveis. Se a bibliografia em

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    Portugal se centra sobretudo em trs conceitos (sucesso, insucesso e abandono), por outro lado, a literatura anglo-saxnica recorre a um amplo conjunto de designaes para se referir aos mesmos processos (retention, completion, attrition, withdrawal, drop-out, departure, non-completion, stopout). Torna-se, por exemplo, complicado encontrar uma designao correspondente ao conceito de insucesso geralmente utilizado nos trabalhos desenvolvidos em Portugal, na medida em que o nmero de anos de concluso de um curso parece assumir maior importncia no contexto portugus, sendo raramente referido nos diversos trabalhos sobre estas temticas realizados noutros pases. A literatura anglo-saxnica especializada, por sua vez, mobiliza recorrentemente um conceito que adquire um sentido totalmente diferente daquele que atribudo ao mesmo conceito em Portugal. Se a noo de reteno encarada de forma positiva, por exemplo, nos Estados Unidos da Amrica, uma vez que significa a manuteno dos estudantes no sistema de ensino superior, por outro lado em Portugal o mesmo conceito assume geralmente um cariz negativo, por estar associado ao prolongamento indefinido dos trajectos estudantis devido a reprovaes e a fracos desempenhos escolares. Importa, pois, reelaborar estes conceitos de forma mais precisa, quer no plano terico, quer no plano operatrio, como condio essencial para tornar comparveis as respectivas medidas e interpretveis de forma mais fina os seus significados.

    Para alm disso, no se pode deixar de ter em conta que os sistemas de ensino superior e os contextos sociais envolventes so tambm muito variados. As comparaes tm, pois, de ser feitas com alguma cautela em termos analticos. O mesmo se pode dizer, por maioria de razo, das inferncias interpretativas e explicativas que se apoiam nessas comparaes.

    As investigaes e os estudos realizados neste domnio, tendo sem dvida contribudo para originar aquisies tericas e empricas significativas (e mesmo relativamente consolidadas, em certos casos), apresentam ainda algumas limitaes visveis no plano cientfico, quando se pretende produzir resultados cognitivos teoricamente elaborados e empiricamente suportados, e no plano da interveno, quando se pretende tomar os referidos estudos como base para a aco institucional, com vista promoo do sucesso e ao combate ao insucesso e ao abandono.

    Muitos desses estudos, apesar da diversidade de pressupostos, teorias e modelos que neles se podem encontrar, desenvolvem estratgias analticas semelhantes, procedendo no s identificao estatstica, em determinadas populaes estudantis, de factores de sucesso/insucesso, como tambm medida do peso explicativo de cada factor nessas populaes. Embora essas pesquisas permitam identificar um conjunto de factores explicativos, revelam tambm que o peso de cada um deles, e a maneira como se combinam, variam muito de instituio para instituio. Alm de que a varincia explicada por cada factor, em si mesmo, em geral baixa. Importa, pois, dar ateno analtica suplementar identificao de constelaes de factores, e sua capacidade explicativa relativamente a cada situao tpica, seja a nvel das instituies, seja a nvel dos indivduos.

    Para alm disso, variveis como sejam a motivao, as expectativas, os objectivos e as metas pessoais so frequentemente utilizadas como factores independentes que tendem a moldar o desempenho acadmico dos estudantes e a influir decisivamente nas decises de permanncia ou abandono do ensino superior. De um ponto de vista sociolgico, ser mais rigoroso e profcuo em termos analticos

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    encarar essas variveis como fazendo parte de sistemas mais amplos de representaes, valores e disposies individuais que, estando recursivamente articulados com os comportamentos, no deixam eles prprios de ser encarados como factores dependentes de estruturas, processos e dinmicas localizados quer fora, quer dentro das instituies de ensino superior.

    Por outro lado, os resultados de investigao acumulados convergem, de um modo geral, na importncia atribuda aos percursos sociais e escolares dos estudantes, isto , ao carcter decisivo da dimenso diacrnica destes fenmenos. Porm, os estudos levados a cabo, normalmente atravs de inquritos e testes aplicados num determinado momento temporal, no assentam num desenho metodolgico que permita aprofundar essa dimenso de trajecto pessoal dos estudantes. Torna-se, pois, da maior importncia prosseguir uma estratgia analtica que incida de maneira pormenorizada e aprofundada nos trajectos pessoais e escolares dos estudantes do ensino superior, procurando identificar percursos-tipo (do ponto de vista do sucesso/insucesso/abandono) e caracterizar as constelaes de factores interferentes nesses percursos.

    Outros estudos, voltados prioritariamente para a anlise das medidas de promoo do sucesso e combate ao insucesso e ao abandono, focam aspectos organizacionais e preconizam e/ou avaliam a aco ao nvel das instituies. Estas anlises so muito importantes para identificar parmetros e processos organizacionais mais ou menos relevantes, mas os efeitos da aco institucional, tal como se inscrevem nos trajectos escolares concretos dos estudantes, no tm ficado suficientemente esclarecidos a este nvel. Tanto para a compreenso em profundidade de processos multifacetados to complexos como os implicados nos trajectos de sucesso/insucesso no ensino superior, como para a concepo e aplicao de estratgias eficazes de interveno e para o desenvolvimento de boas prticas, parece pertinente, pois, procurar desenvolver um esforo de diagnstico com caractersticas especficas, em certa medida inovadoras neste domnio.

    Em sntese, procurar-se aqui apoiar esse diagnstico, fundamentalmente, numa anlise sociolgica a trs nveis (estrutural, institucional e individual), integrando-a segundo uma perspectiva processual focada centralmente nos trajectos pessoais e escolares dos estudantes.

    1.3. Metodologia

    Em consonncia com os objectivos e as concepes tericas que se mencionaram, o projecto desenvolveu uma metodologia mltipla, envolvendo fundamentalmente: anlises documentais; anlises de indicadores estatsticos e de bases de dados institucionais; anlises de inquritos extensivos; realizao de entrevistas em profundidade. O procedimento metodolgico central foi a entrevista biogrfica a estudantes do ensino superior.

    O plano metodolgico do projecto devedor de trs grandes contribuies do progresso do conhecimento cientfico em cincias sociais: a) o cariz cumulativamente conflitual do patrimnio de aquisies cognitivas sempre provisrias e forjadas na e pela pesquisa emprica; b) o exerccio do pluralismo metodolgico, assente na conjugao bem temperada entre intensividade e extensividade, abordagens

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    quantitativas e qualitativas, procedimentos indutivos e dedutivos, fruto, enfim, do reconhecimento do cariz relacional do objecto de estudo (o insucesso escolar um fenmeno que se constitui em diferentes domnios de actividade, contextos institucionais, momentos de socializao e de incorporao de disposies, elas prprias com gneses e propriedades desiguais); c) uma especial ateno s relaes sociais de observao que atravessam os processos de pesquisa, envolvendo prticas sociais especficas em que confrontam agentes diversificados e com recursos e lgicas de aco e justificao igualmente distintos.

    Desta forma, ao nvel de anlise estrutural fez-se corresponder metodologicamente, por um lado, o levantamento de indicadores quantitativos sobre o sucesso escolar, recolhidos a partir de fontes oficiais (GPEARI, DGES), e a respectiva anlise, explorando comparativamente as potencialidades e limites de diversas medidas do fenmeno em estudo (captulo 2). Em complemento, efectuou-se uma anlise de base cartogrfica das distribuies territoriais de alguns desses indicadores (captulo 3). Ainda ao nvel estrutural levou-se a cabo uma anlise aprofundada, com recurso a mtodos estatsticos de regresso logstica, de dados de um inqurito nacional a uma amostra representativa de estudantes do ensino superior, na qual se procuraram determinar factores causais de percursos escolares com ou sem reprovaes (captulo 4).

    O nvel de anlise institucional tambm foi operacionalizado atravs de diversos procedimentos metodolgicos: um conjunto de estudos de caso organizacionais de instituies de ensino superior, accionando um feixe integrado de tcnicas de pesquisa, sobretudo anlises documentais e entrevistas a diversos tipos de actores sociais envolvidos, nomeadamente estudantes, professores, responsveis de rgos de gesto e responsveis de servios de apoio (captulo 5); uma anlise dimensional das representaes de um conjunto amplo de estudantes do ensino superior sobre o sucesso/insucesso escolares e os seus factores, obtidas por entrevista (captulo 6); uma anlise das perspectivas expressas sobre o tema de dirigentes associativos estudantis, recolhidas igualmente por meio de entrevistas (captulo 7).

    Quanto ao nvel de anlise individual, o procedimento metodolgico utilizado consistiu na realizao de um conjunto alargado de estudos de caso de estudantes do ensino superior, contemplando uma grande diversidade de trajectos pessoais e escolares. Partiu-se da realizao de entrevistas de cunho biogrfico, as quais foram trabalhadas e analisadas segundo diversos procedimentos analticos, culminando na elaborao de 170 retratos sociolgicos (Lahire, 2002), a partir dos quais foi possvel identificar percursos-tipo dos estudantes do ensino superior, assim como as dimenses e os factores desses percursos (captulo 8).

    Cada um destes captulos corresponde a um conjunto especfico de resultados do projecto. Porm, de acordo com os fundamentos tericos e com o desenho metodolgico da pesquisa, esses resultados so complementares entre si, procurando-se com eles proporcionar uma anlise multi-nvel integrada de um fenmeno complexo, o dos percursos de sucesso, insucesso e abandono dos estudantes do ensino superior.

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