Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

57

description

O Monumento ao Trabalhador era localizado em frente a Estação Ferroviária de Goiânia-GO-BR e foi demolido durante a ditadura de 1964.

Transcript of Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

Page 1: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução
Page 2: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

GOIÂNIA -GO

O OBJETO

2

Page 3: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

ESTE RELATÓRIO TRATA DA LEGITIMIDADE DA RECONSTRUÇÃO DE MONUMENTOS HISTÓRICOS EM VISTA DA SEGUINTE QUESTÃO:

“PODENDO UM AUTORITARIAMENTE DEMOLIR, PODEM TODOS DEMOCRATICAMENTE RECONSTRUIR?”

A TESE

3

Page 4: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

Afinal, muito já se disse que temos memória curta, porque há quem acredite que o passado nada tem a dizer ao presente.

Pinheiro Sales

EPÍGRAFE

4

Page 5: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

TitularesAguinaldo PachecoMaria Eliana Jubé RibeiroAluízio Antunes BarreiraMarcantônio Dela CôrteCarlos Ribeiro dos SantosAlberto Ribeiro do Carmo

SuplentesIvanor Florêncio MendonçaCarlos Dias de Medeiros JúniorKátia do Carmo de PaivaJoão Rabelo dos SantosPaulo Silva de JesusHoriestes Gomes

DECRETO N° 1.805, DE 24 DE JULHO DE 2003.

Constitui Grupo de Trabalho para avaliar o resgate do Monumento do Trabalhador e dá outras providências.

Pedro Wilson GuimarãesPrefeito de Goiânia

5

GRUPO DE TRABALHO

Page 6: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

FOTOGRAFIAS

Arquivo Ex-vereador Paulo Arruda VilarFotógrafo Hélio de OliveiraFotógrafo Walter Soares em O POPULARCedoc - O POPULARCedoc - Secom - PMGArquivo Doraci G. Lemos Nery

ILUSTRAÇÕES

Arquiteto Aguinaldo PachecoEstagiário Luis Otávio Teixeira Vieira

PESQUISA HISTÓRICA

Arquiteta Kátia do Carmo PaivaProfessora Dóris Dey de Castro PereiraPesquisadora Vera Gomes

TEXTOS Jornalista Macantônio Dela Côrte Arquiteto Aguinaldo Pacheco

a aProf .Dr . Glacy Queirós de Roure - AnáliseJornalista Adriano Godoy - Revisão

MATERIAIS

Vidrotil Indústria e Comércio [email protected] - Arquitetura e Luz - Rubem - 062 [email protected]

APOIO

Lídia Rodrigues CardosoEstagiária Patrícia Laine AlvesEstagiário Bruno Abreu Murici Guimarães

CONSULTAS E COMENTÁRIOS

Elder Rocha LimaHeleno GodóiMiguel JorgeCarlos Fernando MagalhãesMaria GuilherminaAmaury MenesesD.J.OliveiraÂngelo KtenasAlexandre LiahSandro Ramos Di LimaRogério BorgesFarid HelouYahweh A.O. ParreiraJosé Mendonça TelesReney Oliveira SoaresDoraci G. Lemos NeryPedro Ribeiro dos Santos

FONTES

!Câmara Municipal de Goiânia!Lei Orgânica do Município de Goiânia!Divisão do Patrimônio Histórico!Instituto Histórico e Geográfico - Arquivo Amália Hermano

!Agepel - Agência Goiana de Cultura!Seplam - Secretaria de Planejamento

!

!Ofício n° 467/02-PRESI - IPHAN!Processo n° 1500-T-2002 - IPHAN

a!Ofício n° 235/03 GAB/14 SR/IPHAN !Processo n° 12695951- PMG - Despacho n° 191/99.

!Autógrafo de Lei n° 0048, de 30 de agosto de 1988.

!Casa de Cultura de Arraras - SP!Http://www.gougon2.tripod.com/mosaicocontemporaneo

!Lei 8.915 de 13/10/1980 - Tombamento Estadual

!Despacho n° 1.096 de 18/10/82 - Tombamento Estadual

!Decreto 4.943 de 31/08/1998 - Tombamento Estadual

!Lei 12.926 de 16/06/1996 - Tombamento Estadual

O POPULAR

COLABORADORES

6

Page 7: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

INTRODUÇÃO

7

Page 8: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

Criado para avaliar e apresentar proposta de reestruturaçno e resgate do Monumento aos Trabalhadores, o Grupo de Trabalho constituído pelo Sr. Prefeito Pedro Wilson Guimarães, através do Decreto nº 1805, de 24 de junho de 2003, julga importante fazer algumas considerações iniciais.

Construído no final dos anos 50 no Governo de José Feliciano Ferreira e do Prefei to Jaime Câmara, o monumento em questão, atendeu a reivindicações de vários sindicatos trabalhistas que desejavam que a cidade de Goiânia possuísse algum monumento que homenageasse os trabalhadores de um modo geral, e que expl ic i tasse, concretamente, a importância de sua luta e de seu trabalho produtivo através dos tempos.

Infelizmente, o Monumento aos Trabalhadores teve uma existência tão efêmera quanto inglória! Logo no início do ano de 1969, grupos políticos de direita, contrários ao seu conteúdo, utilizando piche fervido, cobriram inteiramente os dois belos painéis alusivos às lutas e conquistas dos trabalhadores de todo o mundo idealizados pelo artista Clóvis Graciano, destruindo aquela que talvez se constituísse na mais importante obra de arte monumental que, como tal, pertencia ao Patrimônio Histórico e Cultural de Goiânia, assim como do

Brasil. Contudo, durante todo esse tempo, e a despeito de tantas outras reivindicaçoes, nada foi feito no sentido de sua reconstrução.

O resgate ou a reconstrução do Monumento aos Trabalhadores tem suas raízes históricas e culturais fundamentadas nos princípios mais elementares de incentivo e preservação por parte do poder constituído das manifestações artísticas de um povo, e, por isto mesmo, sua conservação torna-se elemento fundamental para que o elo do passado com o presente não seja rompido, quebrando e descaracterizando a história daquela praça e desta cidade. Da mesma forma, as razões políticas e ideológicas que ensejaram sua c o n s t r u ç ã o , s ã o s u m a m e n t e importantes ainda hoje em dia, quando a história das conquistas trabalhistas tornou-se universal, demonstrando o avanço das sociedades modernas em tornar a vida do trabalhador menos árdua e sofrida como foi no passado. Assim, quando retrata os “enforcados de Chicago”, a obra de Clovis Graciano expressa essa realidade, cujo conteúdo temos a obrigação cívica de eternizar através deste Monumento, viabilizando sua reconstrução.

A falta de uma consciência coletiva mais preocupada com os nossos monumentos artísticos e com a

história de como Goiânia foi planejada e construída, tem acarretado graves pre ju í zos à conservação e a preservação de nossos prédios e símbolos como, por exemplo, a destruição do Mercado Central de Goiânia, na década de 70, com o intuito de construírem ali um outro prédio que consideravam, na época, uma obra arquitetônica avançada que iria modernizar e revitalizar o centro da cidade. O tempo demonstrou, irremediável e implacavelmente, o quanto estavam errados!

O exemplo mais cruel desta face sombria e alienada do ser humano é jus tamen te es sa ausênc ia de con s c i ênc i a p r e se r vac ion i s t a ; ingrediente desanimador, pois denota uma omissão preocupante que, infelizmente, atinge quase toda

INTRODUÇÃO

8

Page 9: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

soc i edade go iana , de sde o s intelectuais, passando pelos políticos e terminando no homem comum: cidadãos alienados e indiferentes ao que acontece à sua volta. Isto explica, pelo menos em parte, o que aconteceu com o Monumento aos Trabalhadores e a injustificável demora dos gestores públicos em tomar alguma iniciativa no sentido de sua reconstrução.

A reconstrução do referido monumento, além de resgatar sua própria história, trará para a realidade atual elementos importantes capazes de forçar parte da sociedade goiana a tomar consciência de seu passado quanto à preservação de tudo que diz respeito ao seu Patrimônio Histórico e Cultural, fazendo com que novas menta l idades sur jam e novos comportamentos sejam incentivados no sentido de melhorar o nível cultural da cidade.

Sua reconstrução terá também um outro significado não menos importante, que é a demonstração da vontade dos homens de consciência e dos gestores públicos envolvidos neste processo, em aceitarem o desafio de reconstruir aquilo que parecia condenado a existir somente na memória de algumas pessoas e em poucos documentos; felizmente, porém, os dados levantados por essa comissão são suficientes para que o

mesmo seja reconstruído com quase absoluta fidelidade ao que era originalmente.

A reconstrução do Monumento aos Trabalhadores será, acima de tudo, uma eloqüente demonstração da capacidade de nossos arquitetos, artistas e administradores em criar as condições necessárias à reconstrução de uma obra tão complexa quanto significativa, fato que consagrará, sem dúvida, o talento e a vontade política do governo atual da cidade no sentido de realizar aquilo que tanto a Lei Orgânica, os estudos de viabilidade artística e arquitetônica realizados por este Grupo de Trabalho, quanto o bom senso ora determinam.

Senão vejamos: do ponto de vista legal, a Lei Orgânica do Município de Goiânia, nas Dispos ições Transitórias, no seu Art.10, estabelece que: “O Poder Executivo fica autorizado a adotar todos os procedimentos necessários à reconstrução do Painel/Monumento da Praça dos Trabalhadores...”. Assim, tomando como base o supracitado Artigo, fica claro o objetivo da referida Lei e dos legisladores quanto a reconstrução do Monumento, como também evidencia-se, objetivamente, o nome definitivo daquela praça que, justamente devido à existência do referido monumento, ficou conhecida como Praça do

Trabalhador. Do ponto de vista político, a reconstrução dos painéis de Clovis Graciano passará à história da cidade, como sendo uma obra de grande visão administrativa que vê o futuro ao tempo em que preserva o passado, eternizando este momento através do ato criador de reconstruir.

Do ponto de vista cultural, a reconstrução da obra deste artista é, no momento , uma expressão de sensibilidade humana que coloca o poder público municipal a serviço do que há de mais essencial no ato de reparar, preservar e reconstruir aquilo que a insensibilidade, a insensatez e a intolerância um dia destruíram.

Marcantônio Dela Côrte

INTRODUÇÃO

9

Page 10: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

BASE LEGAL

Lei Orgânica do Município de Goiânia

Disposições Transitórias

Art. 10 - O Poder Executivo fica autorizado a adotar todos os procediemntos necessários à reconstrução do Painel/Monumento da Praça dos Trabalhadores e o antigo coreto da Praça Joaquim Lúcio em Campinas e o prédio “Castelinho” no Lago das Rosas.

Goiânia, de de 1990.

10

Page 11: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

LEGISLAÇÃO PATRIMONIAL

Carta de Veneza

Todo trabalho de reconstrução deverá, portanto, ser excluído a priori, admitindo-se apenas a anastilose (urbano também?)*, ou seja, a recomposição de partes existentes, mas desmembradas. Os elementos de integração deverão ser sempre reconhecíveis e reduzir-se ao mínimo necessário para assegurar as condições de conservação do monumento e restabelecer a continuidade de suas formas.

Carta de Burra

Artigo 1° - Para os fins das presentes orientações:- o termo conservação designará os cuidados a serem dispensados a um bem para preservar-lhe as características que apresentem uma significação cultural. De acordo com as circunstâncias, a conservação implicará ou não a preservação ou a restauração, além da manutenção; ela poderá, igualmente, compreender obras mínimas de reconstrução ou adaptação que atendam às necessidades e exigências práticas.- o termo manutenção designará a proteção contínua da substância, do conteúdo e do entorno de um bem e não deve ser confundido com o termo reparação. A reparação implica a restauração e a reconstrução, e assim será considerada.- a preservação será a manutenção no estado da substância de um bem e a desaceleração do processo pelo qual ele se degrada.- a restauração será o restabelecimento da substância de um bem em um estado anterior conhecido.- a reconstrução será o restabelecimento, com o máximo de exatidão, de um estado anterior conhecido; ela se distingue pela introdução na substância existente de materiais diferentes,

sejam novos ou antigos. A reconstrução não deve ser confundida, nem com a recriação, nem com a reconstituição hipotética, ambas excluídas do domínio regulamentado pelas presentes orientações. - a adaptação será o agenciamento de um bem a uma nova destinação sem a destruição de sua significação cultural.

Artigo 17° - A reconstrução deve ser efetivada quando constituir condição sine qua non de sobrevivência de um bem cuja integridade tenha sido comprometida por desgastes ou modificações, ou quando possibilite restabelecer ao conjunto (urbano também?)* de um bem uma significação cultural perdida.

Artigo 18° - A reconstrução deve se limitar à colocação de elementos destinados a completar uma entidade desfalcada e não deve significar a construção da maior parte (urbano também?)*da substância de um bem.

Artigo 19° - A reconstrução deve se limitar à reprodução de substâncias cujas características são conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou documentais. As partes reconstruídas devem poder ser distinguidas quando examinadas de perto.

Carta de Lisboa

Reconstrução dum edifício os essenciais ao traço original.

Qualquer obra que consista em realizar de novo, total ou parcialmente, uma instalação já existente, no local de implantação ocupado por esta e mantendo, nos aspectos essenciais

ao traço original.

Carta de Nairóbi

Recomendação relativa à salvaguarda dos conjuntos históricos e sua função na vida contemporânea - Conferência Geral da UNESCO - 19ª sessão - Nairóbi - 26 de novembro de 1976

Carta de Washington

Carta internacional para a salvaguarda das cidades históricas - ICOMOS - Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - Washington, 1986.

Ver Cartas Patrimoniais , de Isabellr Cury - Organizadora - em Edições do Patrimônio - 2ª edição - Revista e Aumentada - IPHAN - Governo federal - Ministério da Cultura.

(urbano também?)* Pergunta do GT.

11

Page 12: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

ANTECEDENTES RECENTES

Coreto de Campinas 2002Destruído por ação de administrador

Goiânia -GO

Cruz do Anhangüera 2002Destruída por enchenteGoiás - Goiás

Lei Orgânica do Municípo de Goiânia Das Disposições Transitórias Art. 10 - O Poder Executivo fica AUTORIZADO a adotar todos os procedimentos necessários à RECONSTRUÇÃO do ...... Antigo coreto da Praça Joaquim Lúcio em Campinas, ....

Reconstruído de pois de uma consulta popular que definiu “qual Coreto” deveria ser r e c o n s t r u í d o , j á q u e existiram dois de épocas diferentes. Foi reconstruído o mais antigo.

Reconstrução - Técnicas do instituto estão avaliando a possibilidade de reconstrução do casarão destruído e o nível de comprometimento do outro imóvel atingido. Maria Elisa disse que a idéia é tentar reconstruir pelo menos a “caixa”, o “invólucro” do prédio.Ela sugeriu que o trecho em frente à construção incendiada e a rua lateral, onde está localizado o outro casarão atingido, sejam isolados durante as comemorações do dia 21 de abril.

Reconstruído integramente apenas na aparência externa, por decisão do IPHAN e da comunidade e adaptado a nova atividade.

Reportagem - Maria Elisa Costa Presidente do IPHAN

Ouro Preto - MGCasarão destruído por incêndio

Reconstruída réplica pelo IPHAN, após uma g rande po l êm i ca pública com a comuni-dade, que optou pela reconstrução. A Cruz original foi recolhida o u M u s e u d a s Bandeiras.

Igreja Matriz de Pirenópolis-Go, reconstruída integralmente a arquitetura, por decisão do IPHAN e da comunidade.

Pirenópolis - GODestruída por incêndio

Itabira - MGFazenda do Pontal - Casa de Drummond

Demolida por Empresa Privada

Reconstituída usando parte do material original, mas em outro local, pela Prefeitura, ITAURB, Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, IEPHA, Companhia Vale do Rio Doce e comunidade e transformada em Centro Cultural. Ver Publicação “Fazenda do Pontal: O casarão que reapareceu no mapa”.

12

Page 13: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

RELATÓRIOVISUAL

13

Page 14: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

FOTOS DA PRAÇA

14

Page 15: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A AGRESSÃO os painéis foram pichados

depois as pastilhas foram arrancadasposteriormente os cavaletes foram demolidos.

15

Page 16: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

MONUMENTO AO TRABALHADOR

ESTUDOSPARAA RECONSTRUÇÃO

Painel Esquerdo - A Luta dos Trabalhadores

Painel Direito - O Mundo do Trabalho

OS PAINÉIS

16

Page 17: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

DETALHESé possivel

reconstruir os painéis.

17

1 cm

1 cm

Page 18: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

O DESENHO

11,4

59

m7,

0m

3,0

m1,5

m

1,0m

Calculo da distância entre pilares em ângulo

12=4piR/612=2,094395RR=12/2,094395R= 5,7295m +_ 6m

Ângulo120/7= 17,14285

A=17,14285º

12m

18

Page 19: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

O CAVALETERECONSTRUIDO

19

Page 20: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A RECONSTRUÇÃODO CAVALETE

É POSSIVEL

20

Page 21: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A PRAÇA ANTIGA

21

Page 22: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A PRAÇA ONTEM E HOJENão é mais possível reconstruir a Praça do Trabalhador, tal como era nos anos 50/60.

22

Page 23: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A PRAÇA HOJE

23

Page 24: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

OS CONFLITOSCOM O EXISTENTE

PALMEIRASIMPERIAIS

BUSTO DR. SOLON

ESTAÇÃO DE CONTROLE DA QUALIDADE DO AR

MONUMENTOAO TRABALHADOR

24

Page 25: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A PRAÇA HOJE

A NOVA PRAÇA

O visual da estaçãoestá obstruidopelas palmeiras

A estação ficamais visível apenascom o Monumento

ao Trabalhador

25

Page 26: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A PRAÇA NOVA

15

Page 27: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A ESTAÇÃO E O MONUMENTO

27

Page 28: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

28

Page 29: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

A ESTAÇÃOE O MONUMENTO

29

Page 30: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

30

Page 31: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

ORÇAMENTO

31

Page 32: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

32

Page 33: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

33

Page 34: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

34

Page 35: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

35

Page 36: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

36

Page 37: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

37

Page 38: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

ORÇAMENTO

38

Page 39: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

ORÇAMENTO

39

Page 40: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

RELATÓRIOFINAL

40

Page 41: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

RELATÓRIOFINAL

O Prefeito Municipal de Goiânia, Professor Pedro Wilson Guimarães, através do Decreto n° 1.805 de 24 de junho de 2003, nomeou um Grupo de Trabalho GT para avaliar a possibilidade de reconstrução do “Monumento ao Trabalhador” - obra de Clóvis Graciano - em cumprimento ao disposto no artigo décimo, das disposições transitórias da Lei Orgânica do Município, aprovada em 1990.

Inicialmente o GT reuniu-se nas dependências do Grupo Executivo de Revitalização do Centro (GECENTRO), no Paço Municipal, onde compareceram todos os titulares nomeados. Neste momento, ficou definido que as demais reuniões seriam realizadas na Secretaria Municipal de Cultura. Diante da complexidade de ordens simbólica, histórica e política que envolve uma possível reconstrução do Monumento, observou-se a necessidade de se realizar i n i c i a l m e n t e u m i n v e n t á r i o . Nesse sentido, algumas ações foram desenvolvidas pelos membros do GT:

1. Foram obtidas fotografias do monumento, pertencentes ao acervo do ex-vereador Paulo Vilar;

2. Foi contatado o Arquiteto Elder Rocha Lima, autor do cavalete-suporte do painel;

3. Foram obtidos slides de quatro fotos de parte dos painéis, de posse da Arquiteta Doraci G. Lemes Nery, que elaborou um trabalho sobre a reconstrução de monumentos históricos e que em razão disso os tem sob sua guarda. Tais fotos foram doadas a ela por um Prof. da FAU-USP, de nome Gustavo, e que pelas características

dos negativos sugerem que todo o painel foi fotografado cena a cena;

4. Vale ressaltar que, de fato, uma correspondência de 1988 faz referência a existência de slides do monumento, que foram encaminhados à Empresa Vidrotil para avaliação e orçamento;

5. Foi feita uma pesquisa sobre a existência de familiares do artista, especialmente junto à Casa de Cultura de Araras-SP, sua cidade natal, mas até agora infrutífera;

6. Para garantir ainda mais a fiel reprodução do desenho do artista, procurou-se obter informações sobre a existência do projeto original de Clóvis Graciano. Até o momento, isto não foi possível;

7. Objetivando um maior número de informações sobre o Monumento, foram entrevistadas pessoas que fizeram comentários sobre o processo de construção e demolição do mesmo. Foi ainda pesquisada a obra do artista Clóvis

1Graciano ;

8. Foram contatadas duas empresas fornecedoras de material compatível com o original do painel e estas forneceram orçamentos estimativos do custo do material. A Vidrotil de São Paulo e a Arquitetura e Luz de Goiânia. Os demais orçamentos foram estimados pelo próprio GT, que chegou a um valor médio para a reconstrução apenas do monumento de R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais);

9. Foram ainda ouvidos os artistas, contemporâneos dos fatos, Maria

Guilhermina, Ângelo Katenas, Elder Rocha Lima, Heleno Godoy, Miguel Jorge, Amaury Menezes e D.J. Oliveira em relação às dimensões sócio-política e estética que envolvem a reconstrução do dito Monumento. Fomos informados que o próprio Frei Confaloni liderou um movimento pela reconst rução do Monumento;

10. Foram ainda ouvidas pessoas l igadas à construção do monumento, especialmente o sindicalista Pedro Ribeiro dos Santos, ex-presidente da Federação dos Trabalhadores de Goiás e anistiado político, que o reivindicou, além do depoimento do Engenheiro Farid Helou,

2que o construiu ; 11. Fez-se ainda um apelo à

comunidade goianiense através do jornal “O Popular” para que todos aqueles que possuíssem fotos ou documentação sobre o Monumento pudessem fornecê-las ao GT

41

Page 42: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

para cópia digital. Em relação a esse último item, vale

ressa l tar que a lguns goianienses responderam ao apelo de forma expressiva. Ferroviários, ainda hoje moradores do Setor Norte Ferroviário, informaram que possuem algumas fotos. O fotógrafo Hélio de Oliveira, principal documentarista de Goiânia, forneceu ao GT cópias digitais de fotos importantes que constam de seu acervo particular, sendo estas agregadas ao relatório. Também o artista Alexandre Liah relatou à comissão a realização de um documentário fotográfico feito por ele sobre o setor Norte Ferroviário, ainda que nesta época o monumento já houvesse sido demolido. Fazemos ainda referência a Ruth, filha de ferroviário, e ao estagiário da SEDEM, o estudante de arquitetura Reney, que compareceram espontaneamente à Secretaria de Cultura e afirmaram possuir fotos de interesse sobre a Estação e o Monumento e forneceram documentos que ajudaram na reconstrução virtual da Estação.

Esse primeiro mapeamento de informações coletadas pelo GT possibilitou a produção, por meio digital, de ilustrações sobre o Monumento em diversas perspectivas. Foi produzido ainda um pequeno clipe, de 100 segundos, posicionando o monumento no local exato em que foi construído para verificar as possíveis interferências visuais com o edifício tombado da Estação Ferroviária de

3Goiânia . Dando continuidade ao relatório,

faz-se necessário ressaltar que, no decorrer

do trabalho, inúmeras questões foram levantadas em relação aos critérios de natureza técnica, conceitual e política a serem observados no sentido de uma possível reconstrução do Monumento .

A primeira delas, já respondida por este relatório, é a referente à posse de documentos suficientes para que uma possível reconstrução do Monumento se dê com o máximo de fidelidade, como é exigido pelas cartas patrimoniais.

A segunda refere-se à legitimidade da reconstrução de um monumento histórico cuja demolição (destruição) parece apontar para razões político-administrativas.

De modo geral , as car tas pa t r imonia i s recomendam a não reconstrução. Mas há exceções. Admite-se a anastilose, o que não é o caso, salvo se encontrarmos os vestígios das fundações do monumento no local original ou até mesmo as pastilhas originais, que podem estar guardadas em algum local a ser descoberto.

Inicialmente é importante ressaltar que o Monumento ao Trabalhador não é um bem tombado no "stricto senso", visto que não há um ato administrativo que o tombe diretamente. Assim, do ponto de vista legal, e salvo melhor juízo, as cartas patrimoniais não o atingem diretamente com suas recomendações. O que não significa que, enquanto lugar de referencia na cidade, não possa vir a ser considerado como patrimônio antes mesmo de receber um aval oficial.

Entretanto, mesmo considerando tal possibilidade, diante da complexidade de uma intervenção a ser realizada por esta prefeitura, mesmo com o apoio da

comunidade, o painel/monumento não foi avaliado por este GT , como um objeto arquitetônico tombado legalmente como p a t r i m ô n i o h i s t ó r i c o , t a m p o u c o estabeleceu-se em relação a este critérios de valor artístico: se é belo ou não. Isto é, o monumento não foi avaliado a partir de abordagens patrimonialista, arquitetônica ou plást ica concebidas de forma individualizada. De fato, optou-se por considerá-lo essencialmente como um “objeto-testemunho”, uma referência histórica e simbólica da política goiana, do Brasil e da própria democracia. Talvez um “patrimônio imaterial”, entretanto já presentificado em nossa memória.

Para Rodrigues “... o patrimônio é um retrato do presente, um registro das possibilidades políticas dos diversos grupos sociais expressas na apropriação de parte da herança cultural, dos bens que materializam e documentam sua presença

42

RELATÓRIOFINAL

Page 43: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

no fazer histórico da sociedade. (Revista do Patrimônio, IPHAN, 1996, p.195)

Seguindo nessa direção, no nosso entendimento, tanto o ato de se construir como o ato de se demolir um monumento dedicado a relembrar a luta dos trabalhadores pela conquista de direitos sociais entre eles a jornada de oito horas de trabalho e a referência ao mundo do trabalho tem em si uma especificidade que vai além do objeto arquitetônico e da beleza plástica que o materializa. Concebido como uma forma simbólica de se elaborar a nossa relação com o passado, a demolição deste Monumento parece indicar mais que um descaso político-administrativo mas, sobretudo, uma espécie de silenciamento tácito da história de nossos trabalhadores.

Muito apropriadamente escreve o jornalista Pinheiro Sales em seu artigo “A direita coloca suas garras de fora” veiculado em O Popular de 15 de agosto de 2003, onde diz: “Afinal, muito já se disse que temos a memória curta, porque há quem acredite que o passado nada tem a dizer ao presente”. Isto seria o próprio fim da história.

Quanto ao ato de se reconstruir monumentos históricos em Goiás e no Brasil é poss íve l observarmos inúmeros antecedentes, sendo alguns deles bastante semelhantes ao caso atual. Recentemente foi reconstruída a “Cruz do Anhangüera”, destruída pela enchente que assolou a cidade de Goiás, mesmo debaixo de acirrada polêmica sobre a pertinência da ação.

Já há algum tempo, aqui mesmo em Goiânia, em razão do já citado dispositivo constitucional municipal, qual seja, o artigo

décimo das disposições transitórias, foi reconstruído o Coreto da Praça Coronel Joaquim Lúcio, no bairro de Campinas, também destruído totalmente por razões administrativas. O mesmo ocorreu com o Castelinho situado no Lago das Rosas. Ambos símbolos de nossas raízes e história.

Com certeza os desastres naturais, incêndios, guerras e tantos outros são motivos para ensejar a reconstrução de monumentos destruídos. Nessa direção, temos presenciado destruições no Afeganistão e no Iraque de monumentos importantíssimos e cuja reconstrução poderá vir a ser demandada não apenas por sua população visto que muitos dos bens culturais que ali se encontravam podem ser considerados como patrimônio universal.

Semelhante problemática tem sido enfrentada atualmente pela China, que na esteira da construção de uma grande barragem monumentos foram transpostos, por inteiro, para outros locais. Isto é, foram demolidos e reconstruídos, como a única forma de salvá-los. Também no Egito um processo análogo foi realizado. Entendemos que as regras criadas pelas cartas patrimoniais são princípios e que estes precisam ser aplicados pragmaticamente dentro de conjunturas. Contudo, os monumentos não devem ser concebidos apenas como objeto de especialistas, mas também como memória histórica e simbólica que dá materialidade aos caminhos e trajetórias percorridos por um povo. E neste ponto vale lembrar que o “Monumento ao Trabalhador” é um Monumento dedicado aos trabalhadores de Goiânia. Sendo assim, é a esta população

que cabe dirimir dúvidas sobre a possibilidade de se reconstruir ou não este determinado monumento. É bom lembrar que foi através de um plebiscito realizado em Campinas que se decidiu o que reconstruir como Coreto da Praça Coronel Joaquim Lúcio.

Uma outra questão levantada no interior do GT foi em relação à originalidade de uma obra de arte. Em caso de desaparecimento ou destruição de uma obra, cujo artista responsável fosse, falecido seria sua reconstituição um ato de “falsificação”?

Em relação ao Monumento ao Trabalhador, vale esclarecer que este se c a r a c t e r i z a v a c o m o u m a o b r a mecanicamente reproduzível, já que as pastilhas poderiam ser colocadas por outra pessoa, que não o próprio artista, como de fato o foi. Fato que tira da obra a "manualidade" e, portanto, tal como uma

RELATÓRIOFINAL

43

Page 44: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

gravura, ou mesmo uma foto, ou um cartaz, poderia ser reproduzida tantas vezes quanto se quisesse sem caracterizar uma “falsidade”. No caso, mesmo sendo ela “uma cópia” única. Portanto, caso venha a ser reconstruído, o monumento será de fato uma réplica, tal como as inúmeras gravuras de um mesmo tema o são. Nem por isso, menos importante que o “original”.

Ainda em relação a este aspecto, vários artistas foram consultados e posicionaram-se quanto ao fato de não considerarem tal reconstituição como um ato de falsificação, além de reafirmarem a possibilidade de se refazer o painel com as informações fotográficas disponíveis.

Quanto à reconstituição do Monumento, as opiniões entre os artistas plásticos consultados foram divergentes: enquanto alguns posicionaram-se contra a reconstrução e sugeriram a realização de um concurso público para a escolha de uma nova obra, outros posicionaram-se a favor da reconstrução contrapondo-se a idéia de um “monumento ao monumento”.

Por último surgiu a questão dos tombamentos da Estação Ferroviária, em especial o ainda não homologado tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN - dentro do processo Art Déco de Goiânia - e seu entorno envolvente e a “anexação” a este de um objeto arquitetônico e artístico, significativo em forma, volume e cor, que poderia ser “concorrente”.

Em relação a este ponto, alertamos que a Estação Ferroviária foi tombada pelo Estado de Goiás em 1982, através do Despacho n° 1096 de 18 de outubro de

1982 do então governador Ary Valadão, e que, salvo melhor juízo, o cavalete do monumento ainda estava lá, sendo destruído quando da construção da Avenida

4Goiás Norte em 1985 . F o t o publicada em O Popular de 16 de setembro de 2003, de autoria do fotógrafo Walter Soares, e datada de 04 de junho de 1981, registra que o cavalete ainda estava lá, inteiro. Cabe observar que, quando se tomba um objeto qualquer, como principal, o acessório agregado que o compõe também o é, ou seja, o cavalete enquanto testemunho da existência do monumento também o fo i . Conf i rmada es ta característica de objeto agregado, e portanto parte, trataria-se uma anastilose, o que necessariamente implicaria em sua reconstituição.

Reforçando ainda mais este argumento, convém lembrar que a praça ali existente era inicialmente conhecida como “Praça da Estação”, sendo posteriormente resignificada pela população como “Praça do Trabalhador” por se encontrar referida ao Monumento do Trabalhador”, daí “Praça do Monumento ao Trabalhador”.

De fato, o nome legal da Praça até 1990, quando o nome “Praça do Trabalhador” foi usado e consolidado na Lei Orgânica Municipal, era “Praça Americano do Brasil”, conforme lei n° 1.486 de 07 de março de 1959. Contudo, já em 08 de maio de 1967 a planta do Departamento Estadual de Saneamento já trás anotado o nome “Praça do Trabalhador”. E só em 1985 a área foi permutada com a Rede Ferroviária Federal S/A - RFFSA. Assim, até

1985 o cavalete ainda estava lá. Vale observar que a reforma realizada em meados dos anos 80, com a destruição da Praça, foi feita após a permuta com a

5RFFSA . Em relação à estátua hoje existente,

em frente à Estação, do busto do Dr. Sólon Edson de Almeida, o GT pensa que este se encontra deslocado de sua função, visto que temos nas proximidades uma Praça s i tuada en t re a Rua 67-A e a Av.Independência com o nome do homenageado. Na verdade, por razões por nós desconhecidas, o busto foi retirado desta Praça e recolocado na Praça do Trabalhador. Somos, portanto, pela sua recolocação no local devido.

Quanto à concorrência que o Monumento ao Trabalhador traria ao edifício da Estação, hoje valorizado por ser um representante da art déco, temos a observar dois aspectos: o primeiro é de que

RELATÓRIOFINAL

44

Page 45: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

a Estação Ferroviária foi inaugurada em 1952, portanto é uma art déco tardia, provavelmente uma revivência do estilo, que nasceu no pós-guerra de 1914 e teve seu auge nos anos 20/30 do século passado. O segundo é de que o “Monumento ao Trabalhador” faz parte da nascente arquitetura moderna no Brasi l , é contemporâneo da construção de Brasília, po i s f o i i n augu rado em 1959 . Arqui tetonicamente tem a mesma linguagem que a Catedral de Brasília, por exemplo.

Logo, a Estação é o fim do movimento art déco e o Monumento é o estado nascente de outro, que trouxe a mode rn idade ao B ra s i l . Ambos , representantes de uma arquitetura internacional, portanto resignificados por nossas manifestações culturais locais. Qual é mais importante para a nossa história? Ambos, é obvio. Assim, não havendo precedência de um sobre o outro, os dois podem conviver no mesmo espaço, mostrando inclusive a diversidade característica de nossa arte.

Quanto a um possível bloqueio visual a ser provocado pelo Monumento, as ilustrações mostram que ele será quase inexistente, em razão da preocupação patente em seu projeto original, que o fez totalmente vazado e leve. Mesmo existindo a l g u m a i n t e r f e r ê n c i a , e l a é significativamente menor que a provocada pelas atuais palmeiras imperiais, lá plantadas em razão do projeto paisagístico elaborado em meados de 1980. No entender deste GT, este adorno sim é equivocado e deve ser removido e

replantado em outro local, já que tais palmeiras podem (e devem ) ser reaproveitadas.

Isto posto, a conclusão a que o Grupo de Trabalho chegou foi a de que: quanto à Praça do trabalhador, ela já não é mais passível de reconstrução em seu todo, pois com a construção da avenida Goiás Norte parte do terreno originalmente ocupado pela mesma foi cortado e incorporado ao sistema viário hoje existente. Em relação à reconstrução do monumento, pensamos que esta seja legítima, pois além de pertencer historicamente a envolvente da Estação e, portanto, parte dela, reafirma uma história de luta do cidadão trabalhador. Em função dos documentos coletados a reconstrução é passível de ser realizada com fidelidade no mesmo local onde este foi construído no final dos anos 50. Nesse sentido, fazemos as seguintes recomendações:

1. Que seja reconstruído o Monumento ao Trabalhador, no mesmo local, nas mesmas dimensões e com a maior fidelidade possível ao original. Nesse sentido, sugere-se um inventário mais exaustivo sobre esta obra, sua história e seu artista.

2. Como a Estação Ferroviária é tombada nos níveis municipal, estadual e federal, este relatório deve ser encaminhado para as três instâncias, para que os seus respectivos conselhos de patrimônio apreciem e dêem parecer, cumprindo assim as leis de proteção.

3. Que seja contratado diretamente um artista plástico público e notório, que se disponha a fazer o trabalho de reconstrução do desenho do painel em todos os seus detalhes de cor e forma, bem como escolher o material para sua execução e acompanhar a fabricação e toda a aplicação das pastilhas.

4. Que sejam contratados arquiteto e engenheiro reconstrutores do p ro j e to do cava l e t e - supo r t e do Monumento. Como o autor original do cavalete, arquiteto Elder Rocha Lima, ainda está no exercício da profissão, recomenda o código de ética que o mesmo seja consultado, já que a preferência neste projeto de reconstrução é dele. Na impossibilidade, recusa ou desinteresse, que seja contratado profissional igualmente qualificado e competente.

5. Que seja elaborado, pela Divisão de Patrimônio da Secretaria de

RELATÓRIOFINAL

45

Page 46: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

Cultura, um inventário histórico detalhado e o mais completo possível sobre o monumento, o artista, os diretamente envolvidos na construção e na demolição, para que seja instalada, na Estação, sala com estas informações históricas.

6. Que o p roce s so de reconstrução do Momento ao trabalhador seja considerado menos como um ato tomado por um sentimento nostálgico do passado, mas sim como o reconhecimento simbólico da história de nosso povo. E que no decorrer do processo de sua recons t rução, caso se ja de fa to reconstruído, sejam realizadas atividades culturais que discutam as relações entre patrimônio cultural, cidadania e memória social . Momento de fundamental importância para o estabelecimento de uma política de identificação e proteção do patrimônio cultural.

7. Decidida a reconstrução, sugerimos que o mesmo seja inaugurado no dia 1º de maio de 2004.

R e s p o n d i d o s t o d o s o s questionamentos até nós chegados e em resposta objetiva à nossa incumbência advinda do Decreto n° 1.805 de 24 de junho de 2003 finalizamos: é possível e desejável historicamente a reconstrução do “Monumento ao Trabalhador”. Salvo melhor juízo,

é o que temos a relatar.

À sua superior consideração,

Assinam este, como membros titulares e

suplentes do Grupo de Trabalho:

Arquiteto Aguinaldo PachecoCoordenador

Arquiteta Maria Eliana Jubé Ribeiro

Arquiteto Aluízio Antunes Barreira

Jornalista Marcantônio Dela Corte

Artista Carlos Ribeiro dos Santos

Professor Alberto Ribeiro do Carmo

Artista Ivanôr Florêncio Mendonça

Cenógrafo Carlos Dias Medeiros Júnior

Arquiteta Kátia do Carmo de Paiva

Senhor João Rabelo dos Santos

Senhor Paulo Silva de Jesus

Professor Horiestes Gomes

Goiânia, 09 de setembro de 2003.

Notas:

1 Na realização das pesquisas e entrevistas colaboraram a Professora Dóris Dey de Castro Pereira e a pesquisadora Vera Gomes.2 Os comentários de cada um dos entrevistados encontram-se registrados como anexos a este relatório e arquivados na Divisão do Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura.3 A reconstituição virtual do Monumento bem como o clipe

demonstrativo deste foram realizados pelo estagiário Luis Otávio Teixeira Vieira. 4 Em comentário o Sr. Reney Oliveira Santos, um ferromodelista informado e apaixonado pela nossa Estação, confirma que jogou bola na área do monumento e que em março de 1984 ele ainda estava lá.5 Aliás, toda a história da “Praça do Trabalhador” está documentada em relatório, juntado ao Processo n° 122695951/1999, elaborado por arquitetas da Secretaria de Planejamento Municipal - SEPLAM, em especial pela Arq. Maria Aparecida de Jesus Cuevas.

RELATÓRIOFINAL

46

Page 47: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

RELATÓRIO FINAL FAC SIMILI DAS ASSINATURAS

47

Page 48: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

ANEXOS

48

Page 49: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

Resgate difícil

Prefeitura vai apoiar reconstrução do Monumento ao Trabalhador, emfrente à Estação Ferroviária, mas projeto enfrenta muitos empecilhos

Rogério Borges

O grupo formado em julho pela Prefeitura de Goiânia para estudar a possibilidade de reconstruir o Monumento ao Trabalhador, em frente à Estação Ferroviária, apresentou suas conclusões ao prefeito Pedro Wilson. Os profissionais recomendam que a estrutura, danificada em 1969 e totalmente demolido em 1985, seja reerguida. A obra era constituída por dois grandes painéis que representavam cenas da luta dos trabalhadores por liberdade. A autoria dos murais era de Clóvis Graciano, com projeto arquitetônico de Elder Rocha Lima (veja quadro). Os defensores da restauração dizem que a iniciativa corrigiria uma atrocidade cometida pelo regime militar. “Temos de fazer essa reconstrução para que erros assim não se repitam”, alega Marcantônio Delacorte, um dos integrantes do grupo.

O resultado da avaliação conta com o apoio do prefeito Pedro Wilson, que quer levantar novamente o monumento até o final de 2004. Uma equipe de técnicos foi destacada para coordenar as ações nesse sentido. Entretanto, o prefeito informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que só irá liberar a construção depois que obtiver o consentimento da família de Clóvis Graciano. Caso seus descendentes concordem, serão convidados a vir a Goiânia para a inauguração do monumento. A arquiteta Lana Jubé, coordenadora de projetos diretamente ligados ao gabinete do prefeito e uma das responsáveis por levar adiante a recuperação da estrutura, avisa que a obra depende ainda da permissão de Elder Rocha Lima, que será convidado a refazer seu trabalho arquitetônico.

Negativa“Não concordo com essa reconstrução, não aceito o convite para participar dela e não autorizo, de forma nenhuma,

Goiânia, 3 de dezembro de 2003

Perspectiva de como ficaria o novo monumento: características originais preservadas

49

Page 50: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

a reprodução do meu projeto arquitetônico”, antecipou Elder Rocha Lima à reportagem do POPULAR. “Se eles quiserem fazer um outro monumento que lembre o primeiro, aí sim eu apoiarei e até me envolverei no projeto”, completou. “Ainda precisamos conversar melhor com o Elder”, diz Lana Jubé. Caso o arquiteto mude de idéia, mas não aceite participar diretamente da obra, deverá ser aberto um concurso para escolher quem irá reconstruir o monumento. O mesmo processo seria adotado para a elaboração da réplica dos painéis de Graciano. Além de Elder, membros do próprio grupo que formulou o relatório têm reservas quanto à pertinência de se levantar outra vez o monumento, tal qual ele era. Houve votos em separado na aprovação do documento, que fazem contrapontos à iniciativa.

Para Lana Jubé, a construção de réplicas de monumentos desaparecidos vai na contramão do que o urbanismo e a preservação do patrimônio em todo o mundo recomendam. “O aconselhável é que se tenha outro tipo de manifestação para lembrar o que foi destruído”, observa. “Mesmo quanto à restauração, não é aconselhável fazer a reforma se não houver, pelo menos, 70% da estrutura ainda em pé”, prossegue. Ela admite que a componente histórica tem sua força no caso específico do Monumento ao Trabalhador. “Porém, a própria história pode ser recontada de muitas outras maneiras”, argumenta. O prefeito Pedro Wilson determinou que seja inserido no projeto a montagem de uma sala, dentro da Estação Cultura, que explique todo a trajetória do caso.

PatrimônioO documento produzido sobre o Monumento ao Trabalhador também assegura que no local onde a estrutura ficava há a permissão para uma nova obra. A dúvida sobre um possível impedimento nesse sentido foi suscitada em virtude de a área da Praça do Trabalhador fazer parte do Conjunto Art Déco de Goiânia, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Por lei, áreas tombadas pelo patrimônio histórico não podem sofrer intervenção sem o devido acompanhamento do instituto, sob pena de perder o título. De acordo com o relatório, o tombamento ainda não foi realizado, considerando assim que o monumento não desfiguraria a praça. No entanto, o Iphan informa que a homologação do tombamento foi feita na semana passada.

Salma Saddi, superintendente do Iphan em Goiás, explica que o espaço destinado ao Monumento ao Trabalhador pode sofrer algumas modificações, desde que acatem especificações estabelecidas pelo Instituto. “Isso já aconteceu, por exemplo, com a reforma da Avenida Goiás”, cita. Ela revela que o órgão só poderá se pronunciar sobre a possível reconstrução do monumento depois que receber o projeto completo da obra. Além de pertencer ao patrimônio nacional, a Estação Ferroviária também é resguardada pelo patrimônio histórico estadual. O relatório garante que este também não é um entrave. De acordo com as investigações do grupo, o tombamento foi promulgado no dia 18 de outubro de 1982. Nessa época, os painéis já tinham sido destruídos, mas os cavaletes e os muros que os sustentavam ainda estavam de pé. Portanto, o monumento também teria sido protegido pela lei.

DinheiroO preço da obra é outro obstáculo para a concretização da proposta. No relatório apresentado ao prefeito, há orçamentos que variam de acordo com o material a ser utilizado na reconstrução. Reerguer o monumento, por esses cálculos, oscilaria entre R$ 107 mil e R$ 200 mil. Há ainda a sugestão de fazer algumas adaptações na própria Praça do Trabalhador para receber a nova atração. Nesse caso, os custos totais girariam entre R$ 204 mil e R$ 320

50

Page 51: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

mil. “Para que tenhamos uma réplica exata, o valor é o maior”, previne Lana Jubé. “As pastilhas italianas são cotadas em dólar”, complementa.

A verba não está prevista na proposta orçamentária da Prefeitura para 2004, que está sendo discutida na Câmara Municipal. “Não está e não deveria estar”, adverte Lana Jubé. Ela afirma que o compromisso firmado pelo prefeito Pedro Wilson estabelece que o dinheiro para a construção do novo monumento deve ser angariado junto ao Ministério da Cultura, dentro do programa Monumenta. “O projeto ainda não está finalizado. Já estamos conversando com a Secretaria Municipal de Cultura para que, quando a proposta estiver pronta, ela seja adequada para poder conseguir os recursos”, conta a arquiteta. Um dos pontos que ainda precisam ser definidos é o que será feito das palmeiras imperiais que hoje ocupam o espaço onde ficava o monumento. Um estudo sobre o assunto já foi pedido ao Departamento de Parques e Jardins da Prefeitura de Goiânia.

HISTÓRIA DO MONUMENTO

O Monumento ao Trabalhador foi erigido entre os anos de 1958 e 1960, a mando do então governador do Estado, José Feliciano Ferreira, e do prefeito de Goiânia na época, o jornalista Jaime Câmara. A construção era formada por dois grandes murais de concreto, com 12 metros de comprimento cada, dispostos em semicírculo, em que foram montados painéis, em pastilhas italianas, que reproduziam cenas ligadas à luta operária. Entre as ilustrações estava o episódio dos Enforcados de Chicago, chacina de trabalhadores que originou as comemorações do 1º de maio.

Os murais eram sustentados por grandes cavaletes de concreto de linhas sinuosas, projetados por Elder Rocha Lima, referente à arquitetura Moderna, que dá os traços da maioria dos prédios de Brasília. A estrutura logo se tornou um ponto turístico da cidade, onde os visitantes poderiam ver os trabalhos do artista plástico Clóvis Graciano, considerado um dos melhores muralistas do país. Como retratava cenas de opressão à classe trabalhadora, a obra desagradou o regime militar instaurado no país em 1964. No início de 1969, os painéis amanheceram recobertos de piche. Em seguida, as pastilhas que compunham o mural foram arrancadas, ficando apenas a base de concreto. Na construção da Av. Goiás Norte, em 1985, a estrutura foi totalmente demolida.

Detalhe da obra de Clóvis Graciano: crítica social

51

Page 52: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

TCU cobra mais proteção a prédios históricos Após incêndio em Ouro Preto, governo deve enviar ao tribunal propostas de preservação

SANDRA SATO e EDUARDO KATTAH O Tribunal de Contas da União, em Brasília, vai cobrar providências do governo federal para proteger os patrimônios histórico e cultural do País, para evitar tragédias como o incêndio que destruiu um casarão e atingiu parcialmente outro na segunda-feira, em Ouro Preto. Em 30 dias, o governo deverá enviar ao tribunal uma série de informações. Entre elas, por exemplo, se o Plano Plurianual, com as diretrizes para gastos do Orçamento da União, conterá propostas de preservação dos patrimônios históricos. O ministro do TCU, Marcos Vinícios Vilaça, ficou assustado com a verba disponível no orçamento deste ano para o Instituto do Patrimônio Histórico

e Artístico Nacional (Iphan) preservar monumentos e cidades históricas. "Descontados os recursos destinados ao custeio, como pagamento de servidores ativos e inativos, o Iphan dispõe de ridículos R$ 17 milhões para aplicação na área fim." A assessoria do ministro apurou que existem 15 bens inscritos como Patrimônio Mundial no Brasil. "O Poder Público tem responsabilidades pela proteção, conservação e manutenção do patrimônio histórico e artístico, pertencente à sociedade brasileira", cobrou Vilaça. Em Ouro Preto, a presidente do Iphan, Maria Elisa Costa, cobrou ontem um melhor aparelhamento do órgão e disse que o incêndio serve como um "alerta" para a necessidade de se fortalecer o processo de fiscalização e preservação dos bens tombados do País. Segundo ela, que esteve ontem na cidade histórica, o instituto foi "muito maltratado" nos últimos anos. Entre as principais deficiências, ela aponta a falta de recursos humanos e materiais. Em Minas, por exemplo, são apenas seis arquitetos responsáveis para cuidar do patrimônio das cidades históricas do Estado. Ela solicitou a abertura de concursos para a contratação de pessoal para o órgão. Segundo ela, as últimas contratações foram feitas em 1987. A Superintendência do Iphan em Minas possui ao todo 50 servidores no Estado, que atuam na sede, em Belo Horizonte, e em outras quatro sub-regionais - Ouro Preto, Diamantina, Serro e Sabará - além de museus e escritórios em São João Del Rey, Tiradentes e Caeté. Maria Elisa disse que o orçamento do Iphan ainda não foi definido e não soube informar a quantidade de recursos que foram destinados ao órgão no ano passado. Em 2002, a Superintendência de Minas recebeu R$ 100 mil. Reconstrução - Técnicos do instituto estão avaliando a possibilidade de reconstrução do casarão destruído e o nível de comprometimento do outro imóvel atingido. Maria Elisa disse que a idéia é tentar reconstruir pelo menos a "caixa", o "invólucro" do prédio. Ela sugeriu que o trecho em frente à construção incendiada e a rua lateral, onde está localizado o outro casarão atingido, sejam isolados durante as comemorações do dia 21 de abril.

Auremar de Castro/Estado de Minas/AE

Ruínas de prédio no centro histórico de Ouro Preto: para MPE, há hipótese de incêndio criminoso

52

Page 53: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

REVITALIZAÇÃO DO CENTRO:O OLHAR DA CULTURA NOS 70 ANOS

A cidade nasceu para a autonomia e a diversidade. É o lugar de tudo e de todos. Junto à sua invenção nascem os conceitos de cidadão como aquele que detém direitos civis e políticos.A diversidade obriga a convivência com os diferentes. Para isto se fez necessárias a civilidade e a

urbanidade.Mas cidadão é também aquele que tem sentimentos, idéias e costumes que denotam o estado de civilização. O

cidadão é culto, instruído, polido, cortês, e afável.A cidade é o espaço da cidadania. Goiânia foi construída com esta visão civilizatória. Entendiam os seus idealizadores e construtores que o contato com o objeto civilizatório, civiliza. Por isso mesmo,

diversos equipamentos culturais foram construídos antes de sua “inauguração”, que foi chamada inclusive de batismo cultural.

Considerando esta deliberada origem cultural da cidade, um estilo arquitetônico - que simboliza a racionalidade matemática ligada às nossas origens latino-americanas - foi adotado em todos os edifícios públicos: o Art Déco. Estado construtor quis sinalizar com isto a importância das ações culturais para a consolidação das qualidades de uma cidade.

Passados 70 anos vemos que o centro histórico de Goiânia foi abandonado. Os equipamentos culturais originais esquecidos. O centro não é mais um lugar para se morar.Diversos problemas surgiram em razão deste fenômeno, que não é só goiano, mas mundial. Contribuiram para

isso os conceitos de renovação urbana que predominaram até os anos 70. Desenvolvimento seria então substituir ou abandonar o histórico pelo novo. E nesse afã de modernidade confundiram padrão de vida com qualidade de vida e optaram pelo primeiro.

Novos bairros surgiram e foram também abandonados. Hoje, o "moderno" são os condomínios fechados, que de novo nada tem pois só estamos retornando ao que de

pior existia antes da invenção da própria cidade, as paliçadas que caracterizaram as primeiras "ocupações urbanas” no Brasil do século XVII. Modernos guetos. A mesmice. O fim da cidade de tudo e para todos.

Os poderes públicos tiveram (e têm) uma responsabilidade muito grande pela deteriorização do centro. Pode até não ser esta responsabilidade o determinante, mas foi ele o primeiro a “detonar” o nosso patrimônio histórico (o velho) para construir o moderno (o novo). Deu o mau exemplo.

Citamos todas as desastradas alterações da Praça Cívica, desde a mudança do nome Praça Cívica - na ânsia do culto à personalidade -, passando pelas demolições do Correio, do Obelisco Principal (onde ele está?), das construções do Centro Administrativo, do Palácio das Campinas, dos anexos absurdos aos Tribunais e outras repartições públicas.

Mau exemplo continuado com a destruição da Estrada de Ferro, até a pior de todas as intervenções urbanas que

53

Page 54: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

foi a destruição da Avenida Anhanguera, por uma solução atrasada e não sustentável para o transporte urbano.Seguindo este rastro de destruição da história e da sustentabilidade econômica do centro, não se cuidou em ter

um Plano Diretor que evitasse a demolição sem reposição imediata das edificações, o que fez do centro um cemitério de lotes vagos e subutilizados socialmente para estacionamentos de carros. Não se construiu nada para abrigar os carros salvo coberturas de amianto e cimentados que, além de impermeabilizarem deteriorando o sistema de coleta de águas pluviais. E o maior malifício, provocam um esvaziamento do centro no período noturno.

O privilegiamento que se deu ao automóvel fez com que os pedestres fossem jogados no meio da rua e os passeios convertidos em rampas impossíveis de se andar.

A invasão dos espaços públicos pelo mal educado automóvel e seu motorista e o comércio irregular fez com que árvores fossem arrancadas, passeios rebaixados com rampas e desníveis, tornando um verdadeiro inferno andar pelo centro.

A falta de uma política urbana voltada para a função social da propriedade e de uma legislação urbana desarticulada e defasada permitiu o uso predatório da propriedade privada e a existência de prédios abandonados em diversas fases de construção e imóveis vazios que chegam a quase uma dezena de milhares.

Todas estas ações públicas e privadas trouxeram a desvalorização imobiliária, a transformação negativa do perfil econômico, o esvaziamento residencial, a degradação ambiental.

Destroí-se para colocar nada no lugar.O complexo formado pelos passeios danificados, ausência de árvores, abusos dos donos de automóveis, um

transporte coletivo caótico, soluções urbanísticas desastradas e mais a questão da violência urbana e das novas modalidades de comercio advinda dela e da competição desenfreada, fez do centro um hostil.

Tudo isto sem nem pensar em consultar os cidadãos. Daí, ninguém mais quer morar no centro. Nada disso existia quando Goiânia foi construída. Havia no seu desenho original a ordem geométrica e uma

harmonia entre o meio ambiente, o pedestre e os automóveis emergentes.Mas felizmente nos anos oitenta junto com a evolução do pensamento ecológico e do conceito de

desenvolvimento sustentado, no seu amplo sentido, surgiram os RE e a cidade “velha” passou a ser vista com os olhos do valor histórico, ligado ao desenvolvimento econômico sustentado.

Daí se começou a Restaurar, Recuperar, Revitalizar e Requalificar os centros das cidades. Nos países do dito primeiro mundo este processo já está bastante desenvolvido, revertendo o esvaziamento dos

centros históricos e dando a eles novamente um valor econômico, social e cultural.O centro de Goiânia é um lugar com todas as qualidades e serviços urbanos essenciais. Tem toda infra-estrutura

urbana. Tem todo tipo de equipamentos, o que torna sua reocupação mais barata do que a construção de novos bairros.Para revitalizar o centro precisamos, antes de tudo, mostrar para as pessoas e empresários que a Revitalização é

um PROCESSO, composto de muitos projetos e ações, tanto do poder público quanto da comunidade. Ações simples tais como a normatização de uso de letreiros, o tratamento das fachadas, a recuperação dos

passeios em benefício dos pedestres, um novo mobiliário urbano, uma iluminação diferencial, novas redes de energia telefonia que não entrem em conflito com a arborização, o tratamento de praças e ruas, um plano de transporte público e privado sustentável , um plano de negócios para o centro, tratando-o como um cluster (um shopping a céu aberto)

54

Page 55: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

propiciando sinergia entre os empreendimentos e que leve a um crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável e a preservação e controle da destruição dos aspectos arquitetônicos.

Todas elas são ações desejáveis neste momento.A prefeitura já vem fazendo sua parte ao construir o Mercado Aberto, ao restaurar e revitalizar a praça Cel.

Joaquim Lúcio e seu Coreto, a Biblioteca Marieta Teles, o Museu de Artes de Goiânia, a Praça dos Artistas no Setor Sul, ao promover o tombamento de imóveis significativos, ao projetar a recuperação da Avenida Goiás, a restauração do Mercado Popular da Rua 74, da Estação Ferroviária. Do Centro Livre de Artes e outras obras significativas e simbólicas da vontade política de revitalizar o Centro.

Agora entra em cena a Secretaria Municipal de Cultura, por entender que equipamentos culturais, sejam cinemas, teatros, centros culturais, escolas, seja a própria recuperação da arquitetura Art déco, fará com que o goianiense volte a descobrir o centro. Aliás, também, descobrir o centro no sentido de mostrar as fachadas Art déco dos prédios particulares e que não foram tombados junto com o traçado urbano de Goiânia. Tombamento este que é a principal ação de revitalização promovida em conjunto pelas três esferas de poder e que dá a Goiânia a sua cara cultural, através desses monumentos arquitetônicos característicos de nossa cidade.

Goiânia é a capital da Art déco. Somos únicos.A SeCult pensa assim pois os equipamentos e atividades culturais têm o poder de manter o “fluxo vital” da cidade

nas diversas horas do dia. Neste conceito, por exemplo, está em elaboração a revitalização da Rua 8 , que se pretende em conjunto com os

empresários e entidades que circundam este espaço urbano tão rico em tudo: tem hotéis, cinemas, bancos, livrarias, museus, serviços públicos, bares, restaurantes, teatro, etc. Todos estes empreendimentos tradicionais e que se operassem como um complexo urbano comercial e cultural poderão transformar a região em uma Rua 24 horas, dinamizando este setor central de nossa cidade.

No sentido de criar um dinamismo e uma sinergia em pontos vitais da cidade, a Secretaria de Cultura vem desenvolvendo dois tipos de ações integradas e integradoras de equipamentos culturais existentes e a serem projetados.

Partimos as nossas ações dos dois eixos estruturantes de nossa cidade, em especial de nossa cidade histórica, que são os eixos formados pelas Av. Anhanguera, que corta e integra a cidade de leste a oeste e o eixo da aV. Goiás, no sentido mais amplo de sua configuração que corta e integra a cidade de Sul a Norte.

Nestes dois eixos estão instalados diversos complexos culturais que se ativados darão à cidade a coluna vertebral cultural necessária ao seu soerguimento.

Já citamos Complexo Cultural do Centro composto pela Rua 8 e seus arredores, que deve ser estendido até o cruzamento da Tocantins com o Teatro Goiânia, até a Araguaia agregando o Mercado Central, até a Parnaíba com o Mercado Aberto e Praça Cívica e os principais edifícios da Art déco, bem como os equipamentos culturais mais importantes . Agregam-se a ele o Complexo Cultural Bairro Popular que contém elementos diversos e importantes como, Mercado Popular da Rua 74, Cefet, Mercado Aberto, Mutirama,e Bosque Botafogo, etc. O Complexo Cultural Estação Ferroviária. O Complexo Cultural Chafariz-Praça Universitário. O Complexo Cultural Bosque dos Buritis. O Complexo Cultural Lago das Rosa e por fim o importante Complexo Cultural de Campinas.

55

Page 56: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução

Outros Complexos Culturais poderão ser constituídos e/ou construídos nestes dois eixos.Pois é a partir destes dois Eixos e destes Complexos que a Cultura vai dar sua contribuição, , ao processo de

recuperação, restauração requalificação e por fim de revitalização do centro de Goiânia. Na comemoração dos 70 anos é neles que acontecerão nossos eventos e projetos indo do Jardim Botânico ao Pic-Textil. Da Praça universitária a Praça Coronel Joaquim Lúcio.

Desta forma, ao amarmos nossa cidade, valorizá-la, diferenciá-la, outros assim também a verão e atrairemos mais civilização, mais desenvolvimento, mais qualidade de vida.

Goiânia não foi a primeira cidade construída através de um projeto com objetivo civilizatório e de ocupação territorial do Centro-Oeste.

Outras cidades vieram e virão, pois a cidade é uma invenção que consolidou a qualidade humana da sociabilidade.

E Goiânia é a nossa cidade.No momento único de comemorarmos os 70 anos de Goiânia, na criação dos Ministério das Cidades devemos

promover esta ação política emblemática que venha mostrar como se deve tratar a cidade que residimos e que escolhemos para conviver com outros humanos civilizados. Revitalizando-a .

Aguinaldo PachecoSecretaria Municipal de CulturaGoiânia, 06 de fevereiro de 2003.

56

Page 57: Relatório Monumento ao Trabalhador-Estudos para Reconstrução