Relatório de Arte – 2º semestre/2018

Turma: 7º ano

Professora: Agda Brigatto

Coordenadora: Maria Aparecida de Lima Leme

OSGEMEOS

Ao final do primeiro semestre, como descrito em relatório anterior, durante um projeto

interdisciplinar em parceira com a disciplina de inglês, os alunos estudaram as imagens

produzidas pelos grafiteiros brasileiros OsGemeos. A partir deste estudo, realizaram imagens,

em duplas para a criação de um painel feito com a técnica de lambe-lambe (outra técnica

utilizada na arte urbana). No final de junho, os alunos realizaram a pintura e a colagem dos

desenhos na parede da escola.

Após realizar a colagem, já no início do segundo semestre, os alunos criaram

assinaturas em formato de símbolos para a respetiva dupla e, utilizando a técnica do stencil.

Assim, puderam experienciar o uso do spray, desejado desde o início do estudo de grafite,

para passar as assinaturas para a parede.

Tal projeto contou com o envolvimento de toda a turma e, deixando um legado para o

ambiente da escola, teve coerência com as atividades que seriam desenvolvidas no segundo

semestre deste ano.

No primeiro semestre, considerando o tema dessa turma nas aulas de arte,

Paisagismos, os alunos estudaram como a arte pode representar a paisagem por meio da

pintura, escultura e outras técnicas artísticas. No segundo semestre, a proposta se constituiu

em compreender como a arte, principalmente as técnicas contemporâneas, modificam, se

relacionam ou são modificadas pela paisagem (pelas ações climáticas) ou pela intervenção

do próprio espectador que pode adentrar, vivenciar com os sentidos diversos (não apenas

visão) e, muitas vezes, modificar a obra por sua ação.

PAISAGISMOS

Estudos apontam para o início da arte contemporânea a partir da década de 1960,

momento marcado pelo rompimento com a arte moderna. A partir desse período, fica difícil

enquadrar a arte dentro de categorias fechadas como pintura, escultura, gravura, pois as

obras misturam diferentes linguagens – dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura,

audiovisual, recursos tecnológicos – e se utilizam de materiais simples e cotidianos.

As novas manifestações artísticas buscam dirigir a arte às coisas do mundo, à

natureza, à realidade urbana, ao mundo da tecnologia e criticam aquilo que é vendido, exposto

e reconhecido com o status de arte no mercado cultural em detrimento de outras

manifestações artísticas menos prestigiadas como as manifestações populares, a arte

indígena e a expressão da sociedade que vive às periferias das cidades.

Dentro desse contexto surgiram as Instalações, a Land Art (ou arte ambiente), as

Intervenções e a Performance como forma de expressão que mesclam diferentes linguagens,

modificam ambientes, reestruturam relações humanas, desautomatizar o olhar de quem se

depara com suas obras e despertam todos os sentidos humanos durante sua fruição, pois

pode ser tocada, podemos sentir seus cheiros e ouvir sons e somos convidados a andar

dentro, ao entorno ou em cima das obras desconstruindo a imagem de arte como algo

intocável onde é permitida apenas sua observação passiva.

Os alunos foram apresentados ao conceito de arte contemporânea aqui descrito e, a

partir daí, iniciaram os estudos das manifestações artísticas capazes de modificar, serem

modificadas e até criar novas e inusitadas paisagens.

INSTALAÇÃO

As instalações se constituem em ambientes construídos dentro de espaços de

exposições criando novos cenários, utilizando-se de técnicas das artes plásticas, audiovisuais

e até técnicas arquitetônicas. Essas novas paisagens, artisticamente criadas, possibilitam

despertar diversas sensações no espectador e podem necessitar de sua ação direta para que

seja plenamente realizada como é o caso da Instalação Bions (Adam Brown & Andrew H.

Fagg).

A instalação Bions presentes na exposição “Consciência Cibernética” (2017, Itaú Cultural - São Paulo) é composta por centenas de formas de vida sintéticas, tridimensionais, brilhantes e falantes (chamadas Bions) que, munidos de sensores especiais, comunicam-se entre si quando detectam a presença humana. Dentro desta bonita instalação de pequenos olhos azuis brilhantes é possível ouvir o sons coletivos e individuais dos seres eletrônicos.1

Essas instalações podem criar cenários irreais, enganar nossos sentidos, modificar

nossa forma de ver o mundo, despertar nossa percepção para pequenos detalhes jamais

1 Fonte: http://www.itaucultural.org.br/conscienciacibernetica/obra/bion/

pensados. Imagine entrar em uma sala onde todos os móveis, peças decorativas,

eletrodomésticos e eletrônicos apresentassem apenas de uma cor, alterando sutilmente seus

tons.

Desvio para o vermelho, Cildo Meireles, 1967 - 1984, Inhotim

Essa sala, com exceção das paredes brancas, possui todos os seus objetos em variações de tons monocromático, ou seja, apenas uma cor que varia entre tons mais claros ou mais escuros.

O que é primordial nessa manifestação artística é a intenção do artista, ou seja, a ideia

do artista ao realizar a obra.

Apresentados a esse conceito, os alunos, surpreendidos e inspirados por essas e

outras obras apreciadas durante a leitura de imagens, ficaram instigados a criar suas

instalações. Sem impor limites ao ato imaginativo, os alunos puderam criar projetos de

instalação, por meio do desenho, que tivesse como objetivo principal alterar o ambiente da

escola. Nesse projeto, eles puderam criar instalações inusitadas e, inclusive, impossíveis de

serem executadas pela escolha de materiais ou pela complexidade do projeto.

A escola ganhou piscinas, as carteiras foram pregadas no teto da sala de aula, uma

fogueira foi trazida para seu interior a fim de representar os dias quentes de verão no ambiente

escolar.

Após realizar esse inusitado projeto, os alunos partiram para a ação. A sala foi dividida

em dois grupos. Os alunos dispunham das carteiras, livros, tecidos coloridos, pregadores de

roupa e barbante. Primeiramente, eles deveriam refletir sobre sua intenção. O que vocês

desejam que o observador sinta ao adentrar sua instalação? Com essa pergunta em mente,

emergiram dois projetos tão distintos, mas dialogando em sua complexidade teórica e poética.

Um projeto se constituiu em um túnel de carteiras escolares, cobertas com tecido (por

isso escuro), que não apresentava saída, pois terminava de encontro com uma das paredes

da sala de aula. Uma música ruidosa foi escolhida para receber o espectador em sua

experiência ao adentrar a obra e um barulho intenso vindo da parte superior do túnel sinalizava

seu final sem saída e perspectiva. Os alunos que construíram essa instalação, ao perceber

que o espectador se aproximava do final do caminho, percussionavam suas mão sobre as

carteiras de maneira intensa criando um barulho ensurdecedor.

A outra instalação criava um clima totalmente oposto. Os alunos empilharam as

carteiras e as cobriram-nas com tecidos com o objetivo de criar uma pequena e aconchegante

sala com livros e uma música tranquila ao fundo. Durante a construção da sala, os alunos

encontraram, em meio aos materiais das aulas de leitura da disciplina de português, uma

caixa de sachês de chás que estavam com o prazo de validade vencido. Os alunos se

apropriaram desse novo material, rasgaram os sachês e os espalharam pela obra, que fazia

referência a uma biblioteca exalando cheiro de uma tranquila leitura regada a um quente chá

da tarde.

Ambos os trabalhos geram uma experiência estética altamente emocionante para os

alunos que fruíram dessas propostas, assim como para mim, como professora que deixei a

escola, nessa data, transformada.

LAND ART

Land art se trata uma tendência da arte contemporânea que se volta para o espaço –

incorporando o ambiente natural, da galeria ou urbano à obra, transformando-o. O espectador

é convocado a se colocar dentro da obra, experimentando-a, não como observador

distanciado, mas parte integrante do trabalho. A noção de arte ambiente entra no vocabulário

da crítica de arte nos anos 1970.

O ponto principal que define essa tendência é que o lugar onde a obra é

criada/instalada completa o sentido da criação. Essa obra não pode ser alterada de local sem

alterar seu sentido original concebido pelo artista. A obra precisa estar em seu lugar

específico.

A polêmica obra de Richard Serra (1939):

Arco inclinado, 1981 Richard Serra

Federal Plaza, Nova Iorque

O artista instalou em meio a Federal Plaza,

Nova Iorque, uma parede de aço com o título

Arco inclinado (Tilted Arc) em 1981. Muitos

ficaram descontentes em ter de contornar o

muro para chegar aos seus destinos e, após

audiências públicas, foi pedido ao artista que a

obra fosse transferida para outro lugar. Mas o

artista argumentou que, sendo uma land art, o

local escolhido importava para o significado da

obra e em 1989, o Poder Público decidiu pela

retirada do muro.

Outro ponto importante que pode ser evidenciado pela Land Art é o possível uso de

materiais não convencionais como os elementos disponíveis na natureza. No trabalho de

Andy Goldsworthy, por exemplo, os materiais são por ele selecionados, classificados (por cor,

tamanho, espessura, etc.) e reorganizados de maneira estética. Seu trabalho é caracterizado

por sua efemeridade, pois pode ser desfeito pelo vento, por mudanças de temperatura ou pela

subida da maré.

Coluna de gelo equilibrada Andy Goldsworthy

Helbeck Craggs, Cumbria 5 de janeiro de 1985

Outras obras, ainda, utilizam materiais sintéticos para alterar paisagens naturais ou

se utilizam de fenômenos climáticos para criar uma nova experiência estética, como no caso

do “Campo de Relâmpagos” do artista Walter de Maria.

Campo de relâmpagos, 1977

Walter de Maria

Walter fez um campo de 400 para raios em um imenso plateau ao sul do Novo México. O campo atrai uma chuva de raios.

Após analisarem essas obras, os alunos, divididos em grupos, foram convidados a

realizar uma intervenção no ambiente da escola, utilizando apenas materiais naturais

encontrados nesse ambiente, que fossem efêmeros em sua concepção. O resultado que se

criou foi muito poético e impactou outras crianças da escola que passaram, posteriormente,

pelas criações, brincando com as mesmas e desmanchando-as.

A turma do sétimo ano também experienciou manifestações artísticas de intervenção

e performance como linguagens que podem alterar os sentidos da paisagem. Todos se

surpreenderam por seu amplo repertório em arte, pelas frutíferas e animadas discussões ao

ler uma obra de arte e pela empolgação ao criar seus trabalhos expressivos.

Para finalizar o ano, os alunos realizaram, no dia 23 de novembro um Estudo do Meio

no Museu de Arte Moderna de São Paulo que finalizou o tema de paisagem trabalhado com

a turma esse ano. O acervo do MAM na exposição de 70 anos do museu, compilam todas as

manifestações artísticas vistas pelos alunos do sétimo ano em 2018.

Na entrada do Museu, há um painel realizado pelos grafiteiros OsGemeos. Em frente

a fachada da instituição há o Jardim das Esculturas, onde obras de diversos artistas

complementam a bonita paisagem do parque do Ibirapuera, algumas abertas a intervenção e

participação do observador. Dentro do museu, os alunos irão presenciar algumas obras que

registraram alterações da paisagem realizadas por diferentes artistas.

Ao estudar o Jardim das Esculturas e seus artistas, os alunos conheceram o trabalho

de Amilcar de Castro. Amilcar criar esculturas utilizando formas geométricas e dobras simples

que fazem com que uma folha de metal possa ser fixada em pé. Os alunos criaram um

pequeno Jardim de Esculturas, inspirados pelo trabalho do artista, na mesa da professora.

Esculturas de Amilcar de Castro

Gabriel Lucas

Maria Clara Taveira Giovanna Antunes

Yann Júlio

Bruno Cecília

Gustavo Beatriz Marcucci

Beatriz Lisardo Melissa

Guilherme Maria Clara Ravagnani

Maria Giovana Tavares

Lucas Vivian

A visita ao MAM selou esse projeto que foi emocionante, envolvente e esteticamente

muito interessante devido ao perfil empolgante da turma do sétimo ano.