Religião e Literatura Em Adélia Prado

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LITERATURA, RELIGIAO E SACRALIDADE EM ADLIA PRADO

Jos Antonio Santos de Oliveira

RESUMOO objetivo deste trabalho fazer uma reflexo acerca da relao entre religio e literatura na obra literria de Adlia Prado, e como em suas obras se d uma estreita aproximao entre ambas, ressignificando o carter sagrado do cotidiano. Tal relao permite-nos dizer que Adlia Prado retrata o cotidiano com perplexidade e encanto; ela lrica, bblica, existencial. Conclumos que a potica adeliana fortemente imbuda de um anseio que eleva o cotidiano a algo sublime. A poetisa tem como objeto a vida em seus diferentes mbitos. No trivial da existncia onde acontece o encontro com Deus, e esse encontro se d de forma simples na vidinha corriqueira do campo ou da vida de uma metrpole.

Palavras-chave: Religio. Literatura. Poesia

1 IntroduoEm nosso trabalho, as experincias potica e religiosa so colocadas em patamares anlogos, haja vista que a nossa poetisa as reverencia, ambas, por possurem carter epifnico, que estimulante e desafiador. O intuito fazer uma abordagem que una a poesia e experincia religiosa em Adlia Prado. Para poetisa, o cotidiano pleno de mistrio, de modo que a experincia da vida, das coisas mais banais e triviais, uma experincia de Deus, agrupando os cacos de vidro a trivialidade em um vitral a existncia. A poesia possibilita o resgate do sentido da experincia da realidade que o nosso mundo ps-moderno[footnoteRef:1], ciberntico, parece recusar. O Poema Bendito retrata com altivez o anseio do eu lrico que em meio secura da vida, ao odor do pecado, dureza da existncia encontra sinais da presena de Deus. [1: Embora as poesias de Adlia tenham como instrumento o cotidiano rural e simples da vida do campo, podemos transpor a ressignificao que acontece por meio de sua poesia para a dia a dia de uma metrpole, de uma cidade, onde o cotidiano est imbudo de tecnologias.]

BENDITOLouvado seja Deus, meu senhorPor que meu corao est cortado a lminaMas sorrio no espelho ao que revelia de tudo se promete;Por que sou desgraadocomo um homem tangido para a forca,Mas me lembro de uma noite na roaO luar nos legumes e um griloMinha sombra na parede.

Louvado sejas por que eu quero pecarcontra o afinal stio aprazvel dos mortos,Violar as tumbas com o arranho das unhas,Mas vejo a tua cabea pendidae escuto o galo cantarTrs vezes em meu socorro.

Louvado sejas, porque a vida horrvelPorque mais o tempo que eu passoRecolhendo os despojos- velho ao fim de uma guerra como uma cabra -Mas limpo os olhos e o muco de meu narizPor um canteiro de grama.

Louvado sejas por que eu quero morrer, mas tenho medoE insisto em esperar o prometido

Uma vez quando eu era meninoAbri a porta de noiteA horta estava branca de luarE acreditei, sem nenhum sofrimento:LOUVADO SEJAS!!!! ( PRADO, 1991, p. 62)

AdliaLuziaPradoFreitas, mineira de Divinpolis, nasceu no dia13 de dezembro de 1935, filha de Joo do Prado Filho e de Ana Clotilde Corra. Com uma vida simples na pequena cidade, inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato. Sua me viera a falecer em 1950, levando-a aos seus primeiros versos. Conclui o ginsio na Escola Nossa Senhora do Sagrado Corao, na mesma cidade. No ano posterior, d inicio ao magistrio na Escola Normal Mrio Casassanta, concluindo em 1953.Leciona em 1955 no Ginsio Estadual Luiz de Mello Viana Sobrinho. Casa-se em 1958 com Jos Assuno de Freitas, com o qual tem cinco filhos. Ambos, antes do nascimento da ltima filha, iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Divinpolis. Em 1972, seu pai falece e, em 1973, forma-se em Filosofia. Nesta poca envia seus poemas ao poeta e crtico literrio Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete apreciao de Carlos Drummond de Andrade. Por volta de 1975, Drummond sugere Editora Imago, na pessoa de Pedro Paulo de Sena Madureira, que publique os poemas deAdlia; em 1976 lanado com o nome de Bagagem. Em 1978, marca o lanamento deO corao disparado; em 1977, lana Soltem os cachorros, estreando na prosa; em 1980, publica Cacos para um vitral; em 1981, Terra de Santa Cruz; em 1984 publicado Os componentes da banda; em 1988 publica A Faca no Peito e participa da Semana Brasileira de Poesia em Nova Iorque; em 1991 publicado sua Poesia Reunida; em 1994, O homem da mo seca; 1996 a estreia da pea Duas Horas da Tarde no Brasil, adaptada da obra da autora pela filha Ana Beatriz Prado e por Kalluh Arajo, no Teatro Sesi Minas, em Belo Horizonte; em 1999, Orculos de Maio e Manuscritos de Felipa; em 2000, estreia do monlogo Dona da Casa, adaptao de Jos Rubens Siqueira; em 2001 publicada sua Prosa Reunida; 2005, Quero Minha Me; em 2010, lana A durao do dia; 2011, Carmela vai Escola e, em 2013, Miserere.2 - Religio e LiteraturaPara Gullar, a poesia nasce do espanto para Adlia, ela vem da terceira dimenso da alma; em ambos, os momentos inspiradores vm subitamente, dada ao poeta apenas a funo de instrumento para transp-los em versos, em letra (Ubiratan Brasil. Folha de So Paulo, 2013 ). A escrita existe para revelar o que, por vezes, parece obscuro aos nossos olhos e sentidos; ela um signo que requer intepretao para se chegar ao mais profundo de seus significados e mensagens e, de um modo privilegiado, ajuda na discusso sobre a religio e na religio. Os elementos sagrados de uma tradio religiosa ficam resguardados pela escrita. O ato de escrever guarda em si um conflito: ao passo que se faz conhecer a sacralidade, deixa de lado concepes contrrias, pois apenas registra aquilo de que lhe interessa. Como ento conjugar literatura e religio? Primeiro, para que se faa tal ligao, preciso colocar de lado qualquer monoplio de sacralidade, posto que textos literrios e religiosos podem ou no possuir a mesma especificidade de sacralidade, a saber, os textos considerados mais profanos deixam transparecer a religiosidade que os envolviam. Em textos antigos se torna difcil analisar, de formas separadas, a sacralidade e a profanidade, pois estas aparecem entrelaadas (GROSS, 2002).Nenhum tipo de literatura dispe de tcnicas peculiares apenas ao seu modo de interpretar, pois dessa forma estaria enviesando a intepretao[footnoteRef:2]. Notamos que h textos literrios com uma religiosidade profunda, e textos religiosos com uma literalidade exuberante, com a mais alta beleza esttica (GROSS, 2002). [2: Se faz necessria uma abertura para o processo de interpretao, deixando espao para todos o modos de se fazer uma hermenutica.]

Por vezes, muitos dos modos de se fazer a ligao entre literatura e religio se torna insatisfatrio, alguns aceitam a sacralidade como dogma j presente no texto, algo que nos traz um problema, pois nem todos os textos literrios tm em si a sacralidade em evidncia. Outra forma encontrada seria a da obviedade, que tambm traz um problema, pois uma mera aplicao de interpretao faz um recorte e consequentemente uma perda de sentido. Notamos que essas duas formas de se conjugar literatura e religio traz em si outro problema: a ausncia de uma tradio com elementos de religiosidade em textos literrios que no apresentem sinais de sacralidade (GROSS, 2002).Quando o ser humano se depara com problemas em quaisquer reas da existncia, a se faz necessrio um pouco mais de ateno e aprofundamento, pois no se espera verdades prontas, dogmticas, mas a busca incessante pela tentativa de buscar respostas para tais problemas. Esse o ambiente em que se situa a tentativa de conjugao entre literatura e religiosidade, a presena e a falta; mbito que evidencia que ainda no sabemos muita coisa sobre a literalidade religiosa e a religiosidade literria. Muitos so os caminhos por onde podemos fazer a ligao entre literatura e religio e podem ser divididos em eixos: encontrar resqucios de religiosidade em meio ao mundo ps-moderno, pois em meio profanidade o mundo no se realiza sem as lembranas do sagrado, a saber, pela contraposio a um sagrado que uma realidade profana pode se estabelecer; um segundo eixo nos leva a uma busca por fundamentos comuns religio e literatura e, por fim, um terceiro eixo que apresenta anlises literrias de textos religiosos, aplicando tcnicas de interpretao externas obviedade religiosa que lhes intrnseca e sem uma pretenso reducionista (GROSS, 2002). fcil perceber que mesmo em um mundo ps-moderno no se apaga a ligao entre smbolos e mitos, e a transformao do religioso no literrio a empreitada da anlise dos textos. preciso deixar a poesia ser poesia, a literatura ser literatura, para que seja possvel estabelecer uma relao complexa com a origem da linguagem religiosa, pois a poesia e a literatura surgem como recursos para transmitir o carter indizvel da experincia mstica[footnoteRef:3] que no pode ser comunicada pela linguagem ordinria. [3: A literatura como expresso da mstica, visto que, tal experincia se torna difcil uma explicao que a abarque em toda a sua complexidade.]

A literatura e a religio mantm entre si traos estreitos, mas h quem discorde de tal relao e que, para um melhor desenvolvimento de ambas, uma autonomia se faz necessrio. A ideia de autonomia da literatura algo do esprito crtico da modernidade. A arte sempre viu a religio sob certa suspeita. No entanto, durante o sculo XX, a literatura no desconhece a suspeita fundamental que ideias iluministas cultivavam da religio e, muitas vezes, sua viso de emancipao do ser humano. Diante disso, certas expresses de arte se tornaram elementos constitutivos da crtica subjacente modernidade; a literatura foi se afastando da religio (MAGALHES, 2009).Por muito tempo a arte foi determinada no estilo e no contedo pela Igreja, alcanando uma autonomia graas criatividade artstica de muitos que forjavam muitas de suas mensagens de forma irnica, no compreendida assim pelos representantes do poder eclesistico. Com o Renascimento, expresses artsticas vo se emancipando, adquirindo uma maior liberdade de falar, de escrever e de expressar livremente os temas tratados pela arte; com isso, a suspeita de que o Cristianismo era aquilo mesmo que ele condenava a arte: engano e idolatria comeam a se alastrar.Para Bacon, a tradio, de modo especial a tradio crist, dos grandes empecilhos verdadeira libertao do ser humano. Os artistas ficavam a merc dos ditames da Igreja, que determinava os temas, selecionava as formas de desenvolv-los e as mensagens a serem vinculadas. A literatura assume uma viso crtica que desconfia da capacidade esttica e tica da Igreja em definir os critrios de elaborao e criao (MAGALHES, 2009).Feuerbach abordou o tema da projeo do ser humano em seu Deus e, se Ele uma projeo, a transcendncia no deve ser trabalhada fora do ser humano; preciso que ele seja conduzido ao seu prprio caminho de transcendncia, e tal caminho se d pela literatura, proposta de transcendncia esttica que se apresenta como superao da transcendncia proposta pela religio. (MAGALHES, 2009.)Em Freud, o ensinamento religioso visto como negao da libido, e ento uma ameaa ao prprio desenvolvimento da criatividade artstica, pois priva a liberdade criativa. Se a religio coloca a doutrina como a finalidade ltima, como o alvo maior, ento ela castra o processo criativo ao coibir o sentimento de liberdade que habita no corao do homem (MAGALHES, 2009).Marx v a religio como uma ideologia, tratando-a como o pio do povo; preciso uma libertao, e, para a emancipao social, se faz mister que a superemos em favor de relaes justas da sociedade. A literatura deve estar livre das amarras religiosas, para que ela desempenhe tambm sua funo social e poltica (MAGALHES, 2009).No romantismo, o mais importante era o desenvolvimento do ser humano com a beleza da verdade. Ele procurou ser algo que se distinguia tanto da arte que nega a religio e da religio que nega a esttica, quanto da cincia que se impunha como aquela que sobrepujava ambas. A literatura precisa de liberdade, pois ela mesma a expresso mais profunda da transcendncia. A literatura se distancia da religio e a tira o poder sobre os aspectos transcendentais da vida; a criatividade artstica agora como a maior expresso de transcendncia (MAGALHES, 2009).A religio e arte em nosso caso a literatura - de diversas formas, tentaram responder ao ser humano o porqu de sua busca pelo sentido mais profundo da vida. O caminho no mais permitir que a religio seja um pressuposto para a vida e o pensamento do artista.3 - Religio e literatura em Adlia PradoAdlia nos apresenta, em sua obra, o sagrado como composio total do mundo Ousamos dizer que em Adlia a relao literatura e religiosidade precisa e peculiar, elas so intrnsecas. Sua poesia apresenta tudo como divino. A sua obra essencialmente potica, no entanto nem toda constituda de poemas; h livros de prosa, onde o eu revela a sua experincia do cotidiano. Em seus poemas, a sacralidade est em evidncia, o sentido imediato em que as palavras enunciam como em um texto religioso. O fato que, para Adlia, a poesia religiosa, sagrada; no entanto, apesar de afirmar a presena divina em sua poesia, ela no a retira do mundo, parte constituinte. A poesia sinal de presena do sagrado no mundo humano, at mesmo aquela sem referncia direta ao sagrado, religiosa, pois revela um mundo que no se deixa aprisionar em meio aos nossos preconceitos e esteretipos.Adlia ver a poesia como fenmeno de natureza epifnica, pois revela a beleza da experincia de Deus no mundo. Qualquer assunto serve para a poesia, para ela qualquer coisa casa da poesia, no recusa absolutamente nada da experincia humana, porque contm aspectos do divino. A autora caracteriza a poesia como linguagem divina e o poeta, o artista, no criador de sua obra, apenas passa por ele, a linguagem potica transcende, a poesia verdadeira revela o ser. Se alguma coisa , ela bela. E a arte revelao. O que essencial no o que est sendo dito, mas como est sendo dito. No a coisa, mas como ela se move atravs da mo do criador, e isso que ns chamamos forma, ela no escolhe tema nem enredo, nem assunto. A arte para Adlia est no mesmo caminho da f religiosa e da mstica,porque ambas so independentes da razo, so experincias religiosas porque unem a um centro de significao e de sentido. (Adlia in Revista Magis Caderno de F e Cultura, 1997) Em Adlia Prado, o sagrado se apresenta como o princpio de organizao do universo. Tudo sagrado, pois cada coisa, por mais trivial que seja, vem de uma mesma essncia divina[footnoteRef:4]. As aes da natureza humana como o comer, dormir, a libido, as necessidades fisiolgicas, os pequenos gestos da vida cotidiana simples e comum, tudo mostra a presena de Deus. O divino, o sagrado, no mais o que est distante, mas o que est prximo, experimentado e vivido pelos sentidos humanos; nela, tudo sacralizado. O eixo central da f de poetas como Adlia Prado a prpria linguagem em estado de graa, que seria sinnimo de estado potico. [4: Grifo nosso.]

Como se verifica na poesia de Adlia Prado, a divindade no est distante do homem, ela emerge com toda a sua fora transfiguradora no cotidiano, na experincia banal que rege o dia de cada um. A juno do sagrado com o cotidiano acontece, na poesia adeliana, pela juno do sublime com o comum.Com a absoro do cotidiano e da vida material, a poetisa alimenta suas questes metafsicas com as realidades mais vivas da matria: a sexualidade e o desejo, a rotina diria e as frustraes menores. Tudo isso, porm, tocado pela imagem de um deus que acompanha, que antes expectador tambm do desenrolar da vida, do que o ditador e senhor dos destinos. Tal deus, desprovido das pompas institucionais, transforma a vida numa extenso de sua prpria presena viva.Adlia Prado impregna no cotidiano - nas coisas simples, triviais um carter de sacralidade, desconstruindo a noo de distino entre sagrado e profano, elevando a experincia cotidiana a um plano superior, esquecido na vida moderna. preciso perceber o rastro do sagrado nas coisas. Seus poemas sacraliza o banal, a vida privada, a rotina, a repetitividade do dia a dia, como mostra o poema seguinte:

rf na janelaEstou com saudades de Deus,uma saudade to funda que me seca.Estou como palha e nada me conforta.O amor hoje est to pobre, tem gripe,meu hlito no est para sales.Fico em casa esperando Deus,cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,querendo um pster dele, no meu quarto,gostando igual antigamenteda palavra crepsculo.Que o mundo desterro eu toda vida soube.Quando o sol vai-se embora pra casa de Deus que vai,pra casa onde est meu pai. (OCD . In Poesia Reunida, 2011., p 211)

A obra de Adlia busca comprovar a dimenso sacra da realidade do dia a dia, a poesia lugar que revela o sagrado. Podemos notar em sua obra que h experincias poticas que so religiosas, pois para a autora, e segundo Jean Lauand (In Interfaces, 1997) seria a presena de Deus no cotidiano que alimenta a arte e a percepo do belo. A poesia em Adlia beleza, e beleza o que traduz o real, e o real o cotidiano que est permeado do sagrado.A insistncia no cotidiano por parte da autora se d por ser a nica coisa que possumos, e no mundo atribulado em que nos encontramos muito difcil se dar conta de que todos ns s temos a ele, que ordinrio[footnoteRef:5], e atravs dele que a metafsica e a beleza se revelam. O cotidiano um tesouro. neste lugar comum onde as coisas, cada ato, cada pensamento so ordinrias, e nesta dimenso do que se faz presena a todo instante, podemos encontrar o sagrado, e isso objeto de transcendncia. [5: Em nosso dia a dia atribulado no percebemos que a nica coisa que de fato possumos o cotidiano, e, se somente o que temos, ento devemos fazer dele o lugar por excelncia de encontro com o sagrado.]

- O nosso heroico, o nosso herosmo deste cotidiano... nossa vida linda: o cotidiano o grande tesouro, como diz um filsofo: admirar-se do que natural que o bacana; admirar-se desta gua aqui, quem que se admira da gua, a que estamos to habituados? Mas a alma criadora sensvel, um belo dia se admira desse ser extraordinrio, essa gua que est tremeluzindo aqui na minha frente e, na verdade, eu no entendo a gua, eu no entendo o abacaxi, eu no entendo o feijo.O exemplo do feijo promissor:- Algum aqui entende o feijo? Admirar-se de um bezerro de duas cabeas, qualquer dbil mental se admira, mas admirar-se do que natural, s quem est cheio do Esprito Santo. Eu quero essa vidinha, essa que a boa, com toda a chaturinha dela e suas coisas difceis... O cotidiano tem para mim esse aspecto de tesouro (...) (In...www.sempreumpapo.com.br/audiovideo/index.php. acesso em 09/2014)

O sagrado, a inspirao, o cotidiano e a arte so os elementos essenciais que guiam toda a obra de Adlia. De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra e vejo pedra mesmo( Adlia Prado. Prosa Reunida. p. 199). salutar perceber que em sua poesia o cotidiano objeto de transcendncia. Ela diz:Onde que esto os grandes temas? Para mim, a que est o grande equvoco. O grande tema o real, o real; o real o grande tema. E onde que ns temos o real? na cena cotidiana. Todo mundo s tem o cotidiano e no tem outra coisa. Eu tenho esta vidinha de todo dia com suas necessidades mais primrias e irreprimveis. nisso que a metafsica pisca para mim. E a coisa da transcendncia, quer dizer: a transcendncia mora, pousa nas coisas... est pousada ou est encarnada nas coisas. ( Prado, Adlia Poesia e Filosofia, In Lauand Jean. Interfaces, So Paulo, Hottopos, 1997, pp. 23-24).

4 - Consideraes finaisEm Adlia podemos notar como literatura e religio esto interligadas, chegando ao ponto de no desassoci-las; nota-se uma intimidade e uma proximidade com o sagrado. Adlia professa a f catlica, mas no deixa influir em sua literatura, a ponto de fazer uma poesia, confessional, convencionalmente litrgica e teolgica, catequtica ou religiosa no sentido mais tradicional e restrito do termo. A f que perpassa a obra adeliana rene todos os mbitos dos mais triviais aos mais ditos sublimes - da vida cotidiana e os colocam em estado de sacralidade, assim como uma epifania. A poesia derivada da mesma fonte da religio e a da mstica, pois o so de natureza epifnica; em Adlia Prado, ela exerccio espiritual, elevando o cotidiano ao status de sacralidade. O profundo sentimento de plenitude, religio e literatura, Deus e humano, finito e infinito so caractersticas da potica adeliana. O mundo, o cotidiano, no so abandonados, esquecidos; redescoberto seu sentido.Toda arte uma expresso do divino, que se comunica primeiro. A arte, mesmo quando pergunta, uma resposta. H belssimas oraes que, por serem inspiradas, dizemos que so ungidas e todas, podemos conferir, so pura poesia. Esto a os Salmos entre elas. A poesia, na sua natureza ntima, religiosa, tenha ou no feitio de orao. J vivi momentos em que tendo visto o rio, no o via mais. A desolao experincia humana, no apenas dos crentes. Santa Teresinha ensinou: na secura da f continue fazendo as obras da f. Quando a treva escurece o sol, pode acontecer que duvidemos de que ele exista e que sua presena era um delrio, uma fantasia nossa. So experincias necessrias. (PRADO, 2013, Mquina de escrever in g1.globo.com acesso em 11/2014)

5 REFERNCIAS

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JNIOR, Josias da Costa. Religio e literatura na potica mstica de Adlia Prado. Horizonte, Belo Horizonte, v. 10, n. 25, p. 120-135, jan./mar. 2012.

MAGALHES, Antonio. Deus no espelho das palavras. 2ed. So Paulo: Paulinas, 2009.

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OLIVEIRA, Cleide Maria de. O poeta ficou cansado. Ipotesi, Juiz de Fora, v.16, n.2, p. 183-200, jul./dez. 2012.

OLIVEIRA, Paloma do Nascimento. Cotidiano, religiosidade e erotismo em Adlia Prado. 2012. 129f. Dissertao (Mestrado em Letras), Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal da Paraba, Joao Pessoa, 2012.

PRADO, Adlia. Poesia reunida. So Paulo: Siciliano, 1991._____________. Prosa Reunida. So Paulo: Siciliano, 1999._____________. In Mquina de Escrever. Disponvel em: g1 .globo. com/ platb/ maquinadeescrever/ 2013/12/22/adelia-prado-aproxima-a-poesia-da-experiencia-religiosa/. Acesso em novembro de 2014._____________. Mstica e poesia. Revista Magis Caderno de F e Cultura, n. 21, ano 1997. Disponvel em: http://www.clfc.puc-rio.br/pdf/fc21.pdf. Acesso em 27/07/2014._____________. VIDEO I: Entrevista Sempre um papo. TV Senado. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=rpPYsMVZkDw&featur=related . Acesso em setembro de 2014. ______________. VIDEO II: Entrevista Adlia Prado: a simplicidade de um estilo. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=BcFhohzPc7Q . 09/ 2014. ______________.VDEO III: Entrevista Roda Viva. TV Cultura. Disponvel em http://www.youtube.com/watch?v=vuMudGCZSj0. Acesso em 24/09/2014.______________. VDEO IV. Adlia Prado em So Joo del Rei. Disponvel em: http:// www.youtube. com/watch?v=tqNELuD9o38&list =PLo_xdGcq9-Y7V6A5Kgn 46Enzt aT s 9ScF4. Acesso em 10/10.

SOUZA, Doimar Dantas de. O sagrado e o profano nas poticas de Hilda Hilst e Adlia Prado. 2003. Dissertao (Mestrado em Letras). Universidade Presbiteriana Mackenzie, So Paulo, 2003.

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