Religiosidade e Espiritualidade como fatores promotores de ... · Ciências Sociais e Humanas...

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências Sociais e Humanas Religiosidade e Espiritualidade como fatores promotores de Coping Resiliente na adultez e na velhice Clara Maria Freire Margaça Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde (2º ciclo de estudos) Orientador: Professora Doutora Rosa Marina Afonso Orientador: Professor Doutor Samuel Monteiro Covilhã, junho de 2015

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências Sociais e Humanas

Religiosidade e Espiritualidade como fatores

promotores de Coping Resiliente na adultez e na velhice

Clara Maria Freire Margaça

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Psicologia Clínica e da Saúde (2º ciclo de estudos)

Orientador: Professora Doutora Rosa Marina Afonso Orientador: Professor Doutor Samuel Monteiro

Covilhã, junho de 2015

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Dedicatória

Aos meus pais.

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Agradecimentos

Começo por agradecer àqueles que, de forma próxima e direta, assumiram um papel

determinante no desbravar deste caminho. É a eles a quem dirijo palavras de profundo

reconhecimento.

Um agradecimento inicial à Professora Marina Afonso por, mesmo ausente, se saber

fazer presente. Agradeço ainda todo o conhecimento transmitido, ao longo desta caminhada.

Ao Professor Samuel Monteiro, pela sua paciência e confiança, saber, motivação e exigência

partilhados nesta etapa. Agradeço, ainda, a ambos, todas as oportunidades de evolução e

crescimento.

Um agradecimento especial à minha família. Aos meus pais, pelo esforço, confiança e

estímulo diário, em todos os momentos, pelo seu suporte incondicional. À minha irmã Rosário,

pelas horas infindáveis de escuta mútua.

Aos amigos, nem todos de sempre, aos que sabem ser amigos, independentemente das

circunstâncias e da distância. À Carolina, pelas confidências e desabafos. À Susana, por

acreditar em mim, desde que nos conhecemos, desde sempre, pelo nosso lema: Hakuna Matata.

Pelos momentos de compreensão e partilha, carinho e desafio, pelo otimismo e

confiança em mim. Pela tua presença, na minha vida, na nossa vida. Pelo teu amor e inspiração,

Doni. Agradeço-te.

vii

Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.

José Saramago

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Resumo

A presente investigação de mestrado, na área de Psicologia Clínica e da Saúde, centra-

se no estudo da espiritualidade e religiosidade como potenciais fatores promotores de coping

resiliente, na idade adulta e na velhice. Esta focaliza a problemática da crescente investigação

no âmbito da resiliência, a qual tem vindo a identificar a espiritualidade e a religiosidade como

seus fatores de promoção.

A primeira parte é composta por dois capítulos, com o intuito de mostrar o trabalho

científico desenvolvido. Por um lado, o primeiro é constituído por um artigo de revisão teórica

de estudos realizados sobre o presente tema, por outro, o segundo capítulo, em concordância

com o primeiro, incorpora e sustenta empiricamente os objetivos desenhados e estruturados,

após a revisão da literatura efetuada – ambos foram submetidos para publicação em publicações

periódicas com revisão por pares.

A segunda parte desta dissertação é constituída pelos Anexos. O primeiro, por um lado,

reúne uma extensão da revisão da literatura, onde são delimitadas as temáticas centrais do

estudo; por outro lado, o Anexo 2 carateriza e apresenta a extensão do estudo empírico, onde,

através de testes estatísticos suplementares nos propomos a ir ao encontro dos objetivos

traçados.

Com uma amostra de 1310 sujeitos, com idades compreendidas entre os 25 e os 97 anos

- e a fim de alcançar os objetivos do estudo - foram realizados o teste t-student e Anova, para

comparar as diferenças entre grupos estabelecidos, efetuaram-se correlações e testes de

regressão e, por fim, efetuou-se um modelo de equações estruturais, com o propósito de

confirmar o impacto da espiritualidade, através das suas dimensões verticais e horizontais, ao

nível do coping resiliente.

A partir dos resultados obtidos, podemos concluir que a espiritualidade, na sua

dimensão horizontal - que diz respeito à forma como as pessoas dão sentido à sua vida -

constitui, nesta amostra, um preditor moderado do coping resiliente. Porém, ao nível das

Crenças foi alcançado um resultado disruptivo ao esperado, o que poderá estar associado ao ao

número de itens que compõem o fator. Podemos, igualmente, concluir que tanto a

espiritualidade como os níveis de coping resiliente são influenciados pelas idiossincrasias dos

indivíduos, nomeadamente ao nível da idade e do género, em diferentes fases do ciclo vital.

Palavras-chave

Espiritualidade; religiosidade; resiliência; envelhecimento; velhice.

x

xi

Abstract

This master's research, in the area of Clinical and Health Psychology, focuses on the

study of spirituality and religiosity as promoting factors of resilient coping, in adulthood and

old age. The focal point of the dissertation is the problematic of the growing research on

resilience, which it has been identifying spirituality and religiosity as its promoting factors.

The dissertation is composed of two chapters, with the purpose to expose the scientific

work developed. The first is constituted by a theoretical review article of studies realized on

this theme. The second chapter, in accordance with the first, incorporates and supports

empirically the designed and structured goals, after reviewing of the literature - both are under

evaluation and waiting for the publication.

The second part of this dissertation is comprised of the Appendices. The first compiles

the extension of the literature review, where are delimited the central theme of the study.

The Appendix 2 characterizes and presents the extension of the empirical study, where through

statistical tests we propose to accomplish the objectives outlined.

With a sample of 1310 Individuals - and in order to achieve the objectives of this study

- Student’s t test and ANOVA were realized to compare the differences between the established

groups; correlations and regression testing were made and lastly effectuated a structural

equation model, with the purpose to confirm the impact of the spirituality, through the vertical

and horizontal dimensions, at the level of the resilient coping.

Based on the results, we can conclude that spirituality, in its horizontal dimension –

that means how people give meaning to their life - in this sample is a moderate predictor of

the resilient coping. We can also conclude that the spirituality and the resilient coping levels

are influenced by the idiosyncrasies of individuals at different stages of the life cycle.

Keywords

Spirituality; religiosity; resilience; aging; old age.

xii

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Índice

Introdução Geral 1

Capítulo I – Espiritualidade e Religiosidade como fatores de coping resiliente na

idade adulta e na velhice: uma revisão (Artigo de revisão teórica submetido para

publicação)

3

Capítulo II - Espiritualidade e coping resiliente: diferenças na idade adulta e na

velhice (Artigo empírico submetido para publicação)

30

Considerações Finais

57

Anexos 60

Anexo 1 - Extensão da Revisão Teórica 61

Introdução 61

1. Resiliência na velhice 62

2. Religiosidade e Espiritualidade 64

2.1. Religiosidade e Espiritualidade: uma perspetiva psicológica 66

3. Religiosidade/Espiritualidade ao longo do ciclo vital: da adultez à velhice 67

4. Religiosidade e Espiritualidade como estratégia de coping e fatores de

resiliência

4.1. Coping resiliente: religiosidade/espiritualidade como fatores

promotores

4.1.1. Coping Religioso

71

72

73

Anexo 2 - Extensão do Estudo Empírico 76

1. Formulação do problema 76

1.1. Objetivos do estudo 76

1.2. Hipóteses 77

2. Método 77

2.1. Participantes 78

xiv

2.2. Instrumentos 78

2.2.1. Questionário Sociodemográfico 79

2.2.2. Escala de Espiritualidade em contextos de saúde 79

2.2.3. Escala Breve de Coping Resiliente 80

2.3. Procedimentos 82

2.4. Análise estatística 82

2.5. Resultados 82

2.5.1. Análise de um modelo de equações estruturais 85

2.6. Discussão dos Resultados 89

Considerações Finais 92

Referências Bibliográficas 95

Anexo 3 102

Anexo 4 103

xv

xvi

Lista de Figuras

Figura 1 - Diagrama de caminhos (Path Diagram) do modelo especificado.

xvii

xviii

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Estratégias de Coping Religioso (Pargament, Tarakeshwar, Ellison & Wulff, 2001).

Tabela 2 – Características dos estilos de Coping Religioso (Pargament et al., 2001).

Tabela 3 – Tabela de Frequências relativa à variável Idade.

Tabela 4 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala de Espiritualidade.

Tabela 5 – Cálculo da confiabilidade da Escala de Espiritualidade em contextos de saúde e

respetiva comparação com a Escala original.

Tabela 6 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala breve de Coping Resiliente.

Tabela 7 – Cálculo da confiabilidade da Escala breve de Coping Resiliente e respetiva

comparação com as escalas original e adaptada à população portuguesa.

Tabela 8 - Análise das diferenças entre o género e as variáveis Coping Resiliente, Crenças e

Esperança/Otimismo, através do teste t-student.

Tabela 9 – Resultados obtidos, através das estatísticas de teste Anova, da diferença entre

grupos etários.

Tabela 10 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as dimensões Crenças

e Esperança/Otimismo.

Tabela 11 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as variáveis frequência

de locais de culto e frequência de oração.

Tabela 12 – Regressão das variáveis Coping resiliente, Crenças e Esperança/Otimismo.

Tabela 13 - Índices de ajustamento do modelo estrutural base estimado.

Tabela 14 - Estimativas estandardizadas da solução final do modelo base.

1

Introdução Geral

A presente dissertação de mestrado, na área de Psicologia Clínica e da Saúde, insere-

se numa linha de investigação que focaliza, diacronicamente, a espiritualidade e a religiosidade

como potenciais fatores de promoção do coping resiliente. Esta tem como objetivo principal

analisar a magnitude do impacto destes dois fatores na resiliência dos indivíduos, em diferentes

fases do ciclo vital.

Esta investigação centra-se na problemática da crescente investigação no âmbito da

resiliência, a qual tem vindo a identificar a espiritualidade e a religiosidade como seus

promotores. Atualmente, apesar de a ciência, ainda, desvincular a espiritualidade das causas

e cura de patologias, para muitos indivíduos sujeitos a situações de doença, a espiritualidade

pode constituir um importante mecanismo de coping.

No âmbito da revisão da literatura efetuada, apesar de se encontrarem estudos sobre

os fatores relacionados com a resiliência na velhice, deparámo-nos com pesquisas pouco

robustas, do ponto de vista metodológico, que nos permitam discutir a dimensão

desenvolvimental da espiritualidade e da religiosidade enquanto promotores da resiliência na

idade adulta. Desta forma, procura-se com este trabalho, analisar e discutir o eventual papel

da espiritualidade como fator promotor face ao coping resiliente na adultez e velhice,

sustentando-se esta abordagem empiricamente.

A dissertação estruturou-se à luz dos objetivos nela incorporados, sendo fracionada em

três componentes fundamentais: dois capítulos e os Anexos ao trabalho desenvolvido.

Os Capítulos I e II são constituídos por dois artigos já submetidos para avaliação por

pares, visando expor o trabalho científico desenvolvido. O primeiro artigo1, referente ao

primeiro capítulo, teve como objetivo apresentar uma revisão teórica de estudos relevantes

realizados sobre o tema da espiritualidade e religiosidade como fatores de resiliência, com o

intuito de identificar aspetos comuns, pontos de discordância entre autores e questões em

aberto na literatura. O segundo artigo2, desdobramento do primeiro e incorporado no segundo

capítulo, analisa e procura sustentar empiricamente os objetivos gizados e estruturados, após

a cuidada revisão da literatura, numa amostra de 1310 sujeitos, com idades compreendidas

entre os 25 e os 97 anos.

Uma componente final da dissertação inclui os Anexos e subdivide-se, também ela, em

duas partes. A primeira, consignada a aspetos teóricos, delimita as temáticas centrais em

estudo, conferindo-lhes um enquadramento teórico-conceptual. A contextualização da

temática é efetuada mediante a seleção e revisão de fontes bibliográficas científicas,

periódicas e não periódicas, a partir das quais se procura enquadrar, justificar e problematizar,

1 Este artigo foi submetido à revista Psicologia USP e encontra-se, nesta dissertação, formatado à luz das normas para autores. 2 Este segundo artigo foi submetido à revista Temas em Psicologia, Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia e encontra-se, nesta dissertação, formatado à luz das suas normas de publicação.

2

tanto no plano teórico como no plano da prática, a pertinência e valor científicos deste tema

de investigação. Na segunda parte deste anexo é enquadrada, caraterizada e apresentada a

extensão do estudo empírico, anteriormente referido no segundo capítulo. Através deste visa-

se testar e comprovar, de forma incisiva e detalhada, os objetivos propostos à investigação.

No termo desta dissertação são expostas considerações e reflexões integrativas,

limitações e asserções à prossecução futura da investigação realizada, terminando-se com a

apresentação das referências bibliográficas e anexos.

3

Capítulo I – Espiritualidade e Religiosidade

como fatores de coping resiliente na idade

adulta e na velhice: uma revisão

(Artigo de revisão teórica submetido para

publicação)

4

Espiritualidade e Religiosidade como fatores de coping resiliente na

idade adulta e na velhice: uma revisão3

Resumo

Este artigo, através de uma revisão da literatura, discute a questão da espiritualidade e

religiosidade enquanto fatores promotores da resiliência, em dois momentos distintos do

ciclo vital: a idade adulta e a velhice. Atualmente, a investigação psicológica tem vindo

a atribuir maior importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo no que se refere à

compreensão da forma como as crenças interferem ao nível da saúde e da aprendizagem

de estratégias resilientes. A revisão da literatura efetuada revela que a religiosidade e a

espiritualidade podem estar associadas a uma maior resiliência em condições stressantes,

situações de perda e, sobretudo, na velhice. Todavia, não foram encontradas investigações

consistentes, do ponto de vista metodológico, que permitam a discussão sobre a dimensão

desenvolvimental da espiritualidade e religiosidade como promotores da resiliência,

especialmente, na idade adulta. Assim, torna-se sumamente importante analisar e discutir

o seu papel e contribuição para a resiliência psicológica.

Palavras-chave: resiliência; espiritualidade; religiosidade; envelhecimento.

Abstract

This article, methodologically based on a review of the literature, discusses the spirituality

and religiosity as promoting factors of resilience in two different moments of the life

cycle: adulthood and old age. Presently, psychological research has been placing high

importance on the individual's spirituality, especially in regard to the understanding of

3 O Anexo 1, da secção Anexos, desta dissertação está consignado a aspetos teóricos, delimitando as temáticas centrais do estudo, dando continuidade de forma mais incisiva e detalhada a questões teórico-conceptuais.

5

how beliefs affect the level of health and the learning of resilient strategies. A review of

the literature demonstrates that religiosity and spirituality could be associated with more

resilience under stressful conditions, loss situations, and especially, in old age. However,

the research did not enable the discussion of the developmental dimension of spirituality

and religiosity as promoters of resilience in adulthood and old age. Thus, it still is

important to review and discuss its contribution in enhancing psychological resilience.

Key-words: resilience; religiosity; spirituality; ageing.

Resumé

Cet article, méthodologique basée sur une revue de la literature, traite de la spiritualité et

la religiosité comme facteurs de promotion de résilience en deux moments différents du

cycle de vie: l'âge adulte et la vieillesse. Actuellement, la recherche psychologique a été

de placer une grande importance à la spiritualité de l'individu, en particulier en ce qui

concerne la compréhension de comment les croyances influent sur le niveau de la santé

et l'apprentissage de stratégies de résilience. Une revue de la littérature démontre que la

religiosité et la spiritualité pourraient être associés à plus de résilience dans des conditions

stressantes, les situations de perte, et surtout, dans la vieillesse. Toutefois, la recherche

n'a pas permis à la discussion de la dimension développement de la spiritualité et de la

religiosité en tant que promoteurs de la résilience à l'âge adulte et la vieillesse. Ainsi, il

est toujours important d'examiner et de discuter de sa contribution au renforcement de la

résilience psychologique.

Mots-clés: résilience; religiosité; spiritualité; vieillissement.

Resumen

6

En este artículo, metodológicamente basado en una revisión de la literatura, se analiza la

espiritualidad y la religiosidad como factores protectores de la capacidad de recuperación

en dos momentos diferentes del ciclo de vida: la edad adulta y la vejez. En la actualidad,

la investigación psicológica ha estado colocando gran importancia a la espiritualidad de

la persona, especialmente en lo que se refiere a la comprensión de cómo las creencias

afectan el nivel de la salud y el aprendizaje de estrategias resilientes. Una revisión de la

literatura demuestra que la religiosidad y la espiritualidad pueden estar asociados con una

mayor resistencia bajo condiciones de estrés, situaciones de pérdida, y sobre todo, en la

vejez. Sin embargo, la investigación no permitió la discusión de la dimensión de

desarrollo de la espiritualidad y la religiosidad como promotores de la resistencia en la

edad adulta y la vejez. Por lo tanto, sigue siendo importante para revisar y discutir su

contribución en la mejora de la capacidad de recuperación psicológica.

Palabras-clave: resiliencia; religiosidad; espiritualiadad; envejecimiento.

7

As crenças espirituais e religiosas podem ser consideradas fatores de proteção

em momentos de stress, uma vez que estas se encontram associadas a melhores

habilidades para lidar com eventos stressantes, melhor bem-estar psicológico e

resiliência, procurando dar sentido às experiências de vida e compreensão sobre a causa

dos acontecimentos stressantes (Hood, Hill & Spilka, 2009). Ao longo do processo de

envelhecimento, um self resiliente facilita a adaptação às perdas e promove novas

oportunidades de crescimento (Carstensen & Freund, 1999). A religiosidade e

espiritualidade podem, assim, constituir um mecanismo de fortalecimento e resistência.

O indivíduo que considera a religião como parte imprescindível à sua vida, utiliza-a

como processo de coping resiliente, influenciando as suas perceções e atribuições.

Becker e Newsom (2005) consideram que a resiliência se manifesta de variadas formas

nas diversas culturas. Para exemplificarem esta questão fazem alusão ao uso do coping

religioso e instrumental como forma de lidar de modo adaptativo com contextos

adversos. Segundo estes autores, a avaliação da resiliência deve ter em consideração a

idiossincrasia de cada indivíduo e o seu universo cultural e geracional.

Park (2005), adotando uma perspetiva adaptativa, considera que as atribuições

religiosas estão associadas a eventos stressantes, e que estes, em última instância,

promovem o crescimento pessoal, através de atitudes resilientes. Segundo Walsh

(2007), vários estudos constataram crescimento individual após um acontecimento

traumático positivo em cinco dimensões: i) surgimento de novas oportunidades; ii)

relações estreitas e compassivas com os outros; iii) sentimento de confiança perante o

futuro; iv) reorganização das prioridades e plena apreciação da vida; e v)

aprofundamento da espiritualidade. Nesta linha, Jimenez-Ambriz (2011) afirma que, em

variados trabalhos de campo, foi sugerido que a adaptação positiva a situações de risco

(resiliência) era proveniente de fatores externos à pessoa, nomeadamente a família,

8

caraterísticas ambientais ou os contextos sociais e culturais, do qual faz parte o meio

religioso.

Segundo Tavares (2002), “o conceito de resiliência evoluiu do concreto para o

abstrato, das realidades materiais, físicas e biológicas para as realidades imateriais ou

espirituais” (p. 45). Ou seja, é atribuída ao indivíduo a responsabilidade de criar formas

para fortalecer e desenvolver a capacidade de ser resiliente, através, também, de

atividades religiosas/espirituais (Chequini, 2007). Assim, segundo Walsh (2007), a

espiritualidade evidencia a existência de potenciais forças escondidas no Homem, que o

envelhecimento faz despoletar. A investigação sobre resiliência em idosos,

desenvolvida por Silva e Alves (2007), concluiu que a espiritualidade se revelou um

forte indicador de resiliência na superação de adversidades, bem como na capacidade de

encontrar significado na vida a partir da fé religiosa.

Atualmente, a ciência ainda desvincula a espiritualidade das causas e da cura das

doenças. Contudo, para muitos indivíduos que experienciam situações de doença, em

termos dinâmicos e pessoais, a espiritualidade pode constituir um importante

mecanismo de coping resiliente. Assim sendo, tem-se começado a atribuir maior

importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo, no que diz respeito à

compreensão da forma como as crenças interferem ao nível da saúde e da aprendizagem

de estratégias resilientes (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Na cultura ocidental, segundo

Silva e Alves (2007), podem ser destacados, como exemplo da vivência da

espiritualidade/religiosidade como fator de equilíbrio, os estágios de luto, onde o

indivíduo almeja repercussões de melhor resiliência e bem-estar subjetivo.

Um indivíduo resiliente é aquele que, face à exposição a fatores de risco, tem a

capacidade de fazer frente à adversidade com estratégias e fatores de proteção. Segundo

Masten (2001), a resiliência é influenciada pela espiritualidade/religiosidade, dentro do

9

contexto sociocultural em que o indivíduo se insere. Simão e Saldanha (2012) afirmam

que a espiritualidade é uma “ponte” para o ser humano, quando ocorre uma crise na sua

vida, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma ótima estratégia de adaptação com

consequências positivas ao nível da estruturação da resiliência. Os mesmos autores

consideram que, através da espiritualidade, como fator promotor de resiliência

psicológica, os indivíduos adotam uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas

formas de adaptação e recursos internos de superação, sobretudo, a população idosa.

Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão teórica de estudos realizados

sobre o tema da espiritualidade e religiosidade como fatores de resiliência, com o intuito

de identificar aspetos comuns, pontos de discordância entre autores e questões em

aberto na literatura.

Religiosidade e espiritualidade: fatores de resiliência

Segundo Werner (1996), embora a Psicologia não tenha dado grande relevância

à espiritualidade, a investigação sobre a resiliência tem vindo a identificar a

espiritualidade e a religiosidade como fatores promotores da mesma. Todavia, alguns

estudos demonstraram que a religião e a espiritualidade têm um peso semelhante ao de

outros fatores identificados como sendo fatores protetores de resiliência (Kim &

Esquivel, 2011). Conceitualmente, tem sido proposto que a espiritualidade e a

religiosidade podem facilitar a resiliência em quatro formas: 1) construir e manter as

relações pessoais; 2) facilitar o acesso ao suporte social; 3) fortalecer os valores morais;

e 4) oferecer oportunidades para desenvolvimento e crescimento pessoal (Van Dyke &

Elias, 2007).

A dimensão espiritual/religiosa tem sido descrita como sendo relevante, por

exemplo, na atribuição de significado ao sofrimento advindo de uma doença crónica e,

10

também, como recurso de esperança face às mudanças no estado de saúde provenientes

do decorrer da idade (Greenstreet, 2006). Os indivíduos passam por um processo de

ajustamento ao longo da vida, podendo este ser imprevisível e complexo (Avgoulas &

Fanany, 2013), que exige que a pessoa se adapte de forma diferente a vários estados

(e.g., saúde), dependendo a eficácia da sua adaptação das estratégias de coping

adotadas. O papel da religião tem-se revelado particularmente relevante como estratégia

de coping individual para se lidar com os eventos de vida, sendo a fé religiosa,

frequentemente, apontada como uma importante fonte de resiliência, com um papel vital

no apoio a pessoas que experienciam uma crise (Pargament & Cummings, 2010).

Yunes (2003) considera que a espiritualidade/religiosidade é um dos processos

principais de resiliência, sendo vista como uma importante oportunidade para o

crescimento e descoberta interior, ao longo de todo o curso de desenvolvimento. A

pesquisa de Fry e Debats (2010) revelou que indivíduos com elevado índice de

espiritualidade, quando comparados com indivíduos com baixos níveis de

espiritualidade, superam melhor as situações de morte/luto, constituindo um recurso

como um contributo significativo para o bem-estar psicológico. A prática religiosa

continuada, ou seja, uma maior religiosidade, é um fator relevante na promoção de

qualidade de vida da população idosa (Koenig, 2009) e promove estados positivos de

saúde mental que, consequentemente contribuem para o sucesso cognitivo, emocional e

envelhecimento ativo no geral (Martin et. al., 2015).

Lago-Rizzardi, Teixeira e Siqueira (2010) referem que a religiosidade aparece

como sendo a primeira ou segunda estratégia de coping mais usada em condições de

dor. Os autores referem que a influência da religiosidade é evidenciada em resultados

fisiológicos significativos, tais como a diminuição da pressão arterial sistólica e da

frequência cardíaca e respiratória. Os autores referem, também, que com as atividades

11

religiosas, a ativação do córtex pré-frontal aumenta significativamente ocorrendo um

aumento dos mediadores envolvidos na dor, como GABA, serotonina e dopamina.

Assim, a religiosidade tem sido apresentada como fator relevante na promoção de

qualidade de vida para o idoso, pelo que a sua relação com a saúde, bem-estar e

resiliência tem sido apoiada (Sommerhalder & Goldstein, 2006).

O coping religioso, por sua vez, é o processo através do qual o indivíduo

aprende a lidar com importantes desafios pessoais ou situacionais da sua vida, através

das suas crenças/comportamentos religiosos (Santos, Giacomin, Pereira & Firmo,

2013). Pargament (1997) propôs quatro estilos de coping religioso: 1) autodirigido; 2)

delegação; 3) colaboração; e 4) súplica. Tendo por base os objetivos da religião, o

coping religioso pressupõe: a procura de significado, o controlo, o conforto espiritual, a

procura de intimidade com Deus e outros membros da sociedade, a

transformação/aceitação da vida e o bem-estar físico, psicológico e emocional

(Tarakeshwar & Pargament, 2001). A pesquisa de Vittorino e Viana (2012), enunciada

na Tabela 1, conclui que o grupo mais idoso do estudo apresentou atitudes e

comportamentos religiosos mais significativos do que os menos idosos, valorizando a

espiritualidade como fator de estabilização no envelhecimento.

Religiosidade e Espiritualidade

São vários os fatores enunciados para explicar a resiliência dos indivíduos, tais

como a competência, sentido de coerência, hardiness e estratégias de coping ativo

(Lindström, 2003). Assim, os fatores protetores que promovem comportamentos

resilientes provêm de três possíveis fontes: a) atributos pessoais (inteligência,

autoestima, autonomia, competência emocional e competência social); b) apoios do

sistema familiar; e c) apoio social, proveniente da comunidade (Pesce et al., 2004).

12

Entre os vários fatores que contribuem para a resiliência surge, também, a dimensão da

religiosidade e espiritualidade (Jimenez-Ambriz, 2008), que constitui, frequentemente,

o principal fator de apoio social (Koenig, 2009). Através das instituições religiosas, os

idosos socializam, inserem-se em grupos, participam em atividades sociais que

acontecem com regularidade no contexto das comunidades religiosas.

As perspetivas mais tradicionais da Psicologia consideravam a religião como um

mecanismo de defesa passivo, uma negação idealizada, ou como uma forma de coping

evitante, com vista a lidar com os problemas da vida (Pargament & Ano, 2004). Freud

(1961, citado por Lewis, 1994) sugeria ainda um paralelo entre as práticas religiosas e

as ações obsessivas, acrescentando que tanto as práticas neuróticas como as religiosas

serviam de medidas defensivas e de autoproteção envolvidas na repressão dos impulsos

instintivos. Durante o século XX, pensava-se que a religião teria os dias contados,

considerando-se como uma reminiscência que o Homem guardava de um período

primitivo do seu desenvolvimento. Freud explicava, ainda, que a religião era vista como

uma expressão social da ilusão, mostrando-se o mundo como um molde dos próprios

desejos do individuo (princípio do prazer).

A religião é concetualizada de forma diferenciada em cada contexto

sociocultural e histórico, dependendo da perspetiva teórica que a sustenta (Rodrigues,

2007). A religião é um sistema organizado de mitos, ritos, crenças e símbolos que

produzem um modelo de relação do ser humano com o transcendente, diferentemente da

espiritualidade, que teria relação com uma busca pessoal de sentido (Koenig, Larson &

Larson, 2001). Embora haja proximidade conceitual entre religiosidade e

espiritualidade, esta última, segundo Pinto e Pais Ribeiro (2007), constrói-se nos

contextos socioculturais e históricos, estruturando e atribuindo significado a valores,

13

comportamentos e experiências do ser humano, sendo que, por vezes, se materializa na

prática de um credo religioso específico.

A espiritualidade, segundo Volcan, Sousa, Mari e Hirta (2003), está vinculada a

uma procura pessoal de sentido, com ênfase no aperfeiçoamento do potencial humano.

No caso da definição de religiosidade, esta inclui crenças, práticas organizacionais

(como as atividades institucionais da igreja) e compromisso com o sistema

teológico/teorético da religião da qual faz parte (Rodrigues, 2007). Neste contexto, do

ponto de vista psicológico, é pertinente realçar que diferenças no estilo cognitivo, na

personalidade ou no tipo de motivação influenciam a forma como a religião é vivida.

Por seu turno, a espiritualidade, etimologicamente, refere-se ao domínio do espírito, à

dimensão imaterial, normalmente descrita como algo invisível e intangível ao indivíduo

(Hufford, 2005 citado por Stroppa & Almeida, 2008). Assim, a espiritualidade pode ser

entendida como uma força capaz de auxiliar o indivíduo a superar as dificuldades,

detendo também um sentido de conexão com algo superior a si, podendo ou não incluir

participação religiosa formal (Gutz & Camargo, 2013; Batista, 2007). Por sua vez, a

religiosidade inclui comportamentos, atitudes, valores e crenças, sentimentos e

experiências e refere-se ao grau de aceitação ou ligação que cada indivíduo tem face à

instituição religiosa, nomeadamente no que diz respeito à frequência da igreja,

participação nas atividades religiosas e à forma como se põe em prática as crenças e os

rituais (Rodrigues, 2007).

A atitude religiosa, além de incluir crenças e práticas religiosas, envolve também

sentimentos positivos e negativos associados a essas crenças (Hill & Hood, 1999). O

indivíduo, através da religiosidade, pode atribuir significados aos fatos,

compreendendo-os como parte de algo mais amplo, mediante a crença de que nada

ocorre ao acaso e de que acontecimentos da vida são determinados por uma

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força/entidade superior. Tais fatos, segundo os mesmos autores, associados às crenças

pessoais, podem levar a um enriquecimento individual, como sabedoria, equilíbrio,

maturidade e resiliência.

Religiosidade e resiliência: da adultez à velhice

Durante o ciclo vital, o indivíduo é desafiado a estabelecer novas relações

consigo e com o mundo, bem como a encontrar estratégias de superação das limitações

(Ribeiro de Lima & Coelho, 2011). A perspetiva do desenvolvimento ao longo do ciclo

vital (Life-Span) compreende o desenvolvimento a partir do indivíduo e do que é

comum aos membros de determinada sociedade (Ribeiro de Lima e Coelho, 2011). A

Life-Span é uma abordagem de orientação dialética que mudou paradigmas em relação à

velhice e que enfatiza as dinâmicas de desenvolvimento ao longo de toda a vida (Baltes,

Lindenberger & Staudinger, 2006).

As crenças e práticas que caraterizam a vida espiritual flutuam ao longo do ciclo

de vida, consoante as circunstâncias de vida e o desenvolvimento do indivíduo (Miller

& Kelley, 2005). Faller, Melo, Versa e Marcon (2010) referem que as práticas religiosas

fornecem suporte emocional, principalmente para o idoso, que com o avançar da idade,

conta com a repercussão da sua religiosidade, nas relações sociais, na saúde física e

mental.

As teorias psicodinâmicas, assim como as do desenvolvimento pós formal veem

a espiritualidade entrelaçada com o processo maturacional e com as experiências

associadas à meia-idade (Wink & Dillon, 2008). No meio da vida, segundo Fagulha

(2005), os adultos são confrontados com experiências que exigem reestruturações

relacionais e que apelam para uma tomada de consciência, por exemplo, em relação à

morte (e.g., perda dos progenitores), sinais de envelhecimento e adaptação à

15

emancipação dos filhos. Para os indivíduos adultos são vários os fatores que

influenciam a perceção de sentido na vida: os fatores internos, que estão ligados ao

desenvolvimento do indivíduo (personalidade, estratégias de coping, religiosidade,

espiritualidade e sentimento de pertença), e os fatores externos, que pertencem ao meio

e corroboram o significado que as pessoas dão à vida - oportunidades sociais, trabalho,

lazer e segurança (Sommerhalder, 2010).

São propostos, por Argyle e Beit-Hallahami (1975), três modelos que procuram

descrever as mudanças comportamentais e as convicções religiosas ao longo do

desenvolvimento: 1) o modelo tradicional, onde é apresentado um decréscimo da

atividade religiosa entre os 18 e os 30 anos, seguindo-se um contínuo aumento, após

esta faixa etária; 2) o modelo da estabilidade, onde se considera não haver alterações

relativas à idade; e 3) o modelo sem compromisso que considera haver um declínio

contínuo da atividade religiosa à medida que a idade avança. Todavia, autores como

Bender (1968) e Cameron (1969) defendem a evidência de que, com o avançar dos

anos, aumentam a importância do rezar, da perceção da importância da religião e do

interesse na religião e frequência de locais de culto – o que corrobora o defendido pelo

modelo tradicional. Como referido na Tabela 1, o estudo de Baker e Nussbaum (1997),

os idosos inquiridos referiram ter mais espiritualidade àquela data do que quando

tinham 45 anos.

De acordo com a perspetiva life-span, o desenvolvimento e a manutenção de

padrões efetivos de envelhecimento dependem de fatores de natureza genético-

biológica, e, também, da influência de fatores socioculturais (Baltes, 1987), onde se

insere a dimensão religiosa-espiritual (Ribeiro de Lima & Coelho, 2011). Segundo

Koenig (2009), através da religião, os idosos socializam, inserem-se em grupos,

participam em atividades sociais regulares, sendo que, para muitos, a sua comunidade

16

de fé torna-se a rede principal de apoio social. As pessoas idosas relatam a importância

da religiosidade na vivência das dificuldades que atravessam no processo de

envelhecimento. A espiritualidade é uma fonte importante de suporte emocional,

contribuindo decisivamente para o bem-estar na velhice, sobretudo, pela rede de suporte

social e pelas estratégias para lidar com o stress (Monteiro, 2004).

Envelhecimento, resiliência e espiritualidade

A resiliência encontra-se estreitamente relacionada com o facto do indivíduo,

apesar das perdas associadas à velhice, conseguir envelhecer de forma ativa e com

êxito. As pessoas idosas resilientes são, assim, as que conseguem manter a sua saúde

física, cognitiva e social, através de adaptações para manter a sua qualidade de vida e

bem-estar, ao longo do ciclo vital (Jimenez-Ambriz, 2011). Os idosos tendem, por

exemplo, a usar estratégias de coping, que reduzem o impacto negativo das perdas da

velhice e, consequentemente, este torna-se o fator para que o indivíduo possa ser mais

resiliente (Afonso, 2012).

Um envelhecimento com êxito traduz, assim, mecanismos de resiliência, sendo

alcançado através da interação de vários fatores, tais como relações pessoais próximas

com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e produtivas (Fernandez-

Ballesteros, 2008), e atividades de caráter cultural e religioso (Farias & Santos, 2012).

Moraes e Sousa (2005), ao investigarem fatores associados ao envelhecimento bem-

sucedido, concluíram que as crenças dos indivíduos proporcionam significado para a

vida. Assim, o envelhecimento saudável e ativo pressupõe uma associação à ideia de

que o indivíduo preserva o seu potencial de desenvolvimento durante o seu curso de

vida, através de novas aprendizagens, onde se prevê, também, um equilíbrio entre

limitações e potencialidades (Baltes, 1987). Fernandez-Ballesteros (2008) resume os

17

critérios para um envelhecimento ativo a: condições de saúde, bom funcionamento

físico e cognitivo, afeto positivo e participação social.

A plasticidade desenvolvimental é uma das caraterísticas subjacentes à teoria

life-span, que se refere ao potencial de mudança de um indivíduo e à sua flexibilidade

para lidar com novas situações (Baltes, 1987) e integra fatores relativos à espiritualidade

(Lerner, Dowling & Anderson, 2010). Apesar de, segundo Neri (2006), a velhice ser

caracterizada pelo declínio de plasticidade e das funções biológicas, é igualmente uma

fase de re-adaptação constante, que Baltes et al. (2006) descrevem como uma

otimização seletiva com compensação (modelo SOC). Nesta compensação, a

espiritualidade pode ser reconhecida como um recurso para o bem-estar na velhice

(Sommerhalder & Goldstein, 2006). Desta forma, a participação em ambientes

estimulantes (e.g., locais de culto), e a presença de oportunidades de desenvolvimento,

coadunadas com os fatores espirituais-religiosos, segundo Scoralick-Lempke e Barbosa

(2012), têm-se mostrado fundamentais para um melhor desenvolvimento ao longo do

ciclo vital. Langer (2008) refere que durante a velhice, os indivíduos estão sujeitos,

frequentemente, a agressões físicas, emocionais, sociais e espirituais. Baltes et al.

(2006) ressaltam que, mesmo quando estes sinais de fragilidade são pronunciados, os

idosos são capazes de fazer as modificações, ajustes e compensações necessárias aos

seus objetivos e aspirações, recorrendo, com frequência, às suas crenças religiosas

(Scoralick-Lempke & Barbosa, 2012). O modelo SOC procura explicar o modo como

decorre a orquestração da vida, sendo, por isso, visto como um modelo de adaptação,

sobretudo, a partir da meia-idade e durante a velhice. Fatores como a regulação

emocional e espiritual ou a sabedoria são importantes para uma mudança contínua e

positiva (Kunzmann, 2004). As conclusões do estudo de Gall, Malette e Guirguis-

Younger (2011) mostraram que a espiritualidade para os idosos contribui para o

18

processo de otimização seletiva do modelo proposto por Baltes et al. (2006). Em suma,

o modelo SOC defende que os ganhos e as perdas evolutivas do envelhecimento são

resultantes da interação entre recursos individuais e do ambiente, onde se insere o meio

religioso, procurando este modelo realizar uma descrição do ciclo vital e descobrir

como os indivíduos se adaptam às mudanças biológicas, psicológicas, sociais e

espirituais (Neri, 2006).

Vários estudos sobre o envelhecimento dão ênfase à importância da religião para

conseguir recursos para fazer face aos desafios que a idade impõe - isolamento social,

enfraquecimento cognitivo e incapacidade física (e.g., Bevins & Cole, 2000). Estes

recursos, encontrados na religião, segundo Koenig (2009) e Pargament (1997), atuam de

forma a diminuir a depressão, a ansiedade e o suicídio - situações comuns em

populações idosas.

Conclusão

A literatura sugere que, um indivíduo resiliente é aquele que, face à exposição a

fatores stressantes, tem a capacidade de sobrepor à adversidade os fatores de proteção.

A espiritualidade/religiosidade, encontra-se relacionada com a resiliência dentro de

determinados contextos socioculturais em que o indivíduo se insere (Masten, 2001). A

revisão da literatura efetuada sugere que a espiritualidade e a religiosidade podem

funcionar como mediadores para o indivíduo em momentos stressantes, onde ser

religioso/espiritual passa a ser uma estratégia de adaptação com ganhos ao nível da

estruturação da resiliência.

A resiliência encontra-se estreitamente relacionada com o facto de o sujeito,

apesar das perdas associadas à velhice, conseguir envelhecer de forma ativa,

permitindo-lhe, através de adaptações para manter a sua qualidade de vida e bem-estar,

19

manter a sua saúde física, cognitiva e social, ao longo do seu ciclo de desenvolvimento.

A plasticidade desenvolvimental, caraterística subjacente à teoria life-span, refere-se ao

potencial de mudança e à flexibilidade do indivíduo para lidar com novas situações,

integrando também fatores relativos à espiritualidade (Lerner, Dowling & Anderson,

2010). Embora a velhice possa ser caracterizada pelo declínio de plasticidade e de

funções biológicas, é igualmente uma fase de readaptação constante, descrita como uma

otimização seletiva com compensação (Baltes et al., 2006). Nesta linha de pensamento,

a espiritualidade pode considerada um recurso para o bem-estar na velhice, pelo que a

participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto), e a presença de

oportunidades de crescimento, coadunadas com os fatores espirituais-religiosos têm-se

mostrado fundamentais para um melhor desenvolvimento ao longo do ciclo vital e,

consequentemente, promovendo melhores níveis de resiliência (Scoralick-Lempke &

Barbosa, 2012). Por outro lado, para os indivíduos adultos, a espiritualidade e a

religiosidade aparecem associadas a vários fatores que influenciam a perceção de

sentido na vida. Por um lado, os fatores internos, os quais se relacionam com o

desenvolvimento idiossincrático do indivíduo (e.g., estratégias de coping, religiosidade,

espiritualidade) e, por outro, os fatores externos, que se referem às oportunidades

sociais, trabalho, lazer e segurança (Sommerhalder, 2010).

Numa perspetiva adaptativa, as atribuições religiosas estão associadas a eventos

stressantes, e estes, em última instância, promovem o crescimento pessoal, através de

atitudes resilientes (Manning, 2014; Park, 2005). Em suma, as crenças espirituais e

religiosas poderão ser consideradas fatores de proteção em momentos de stress, uma

vez que estas se encontram associadas a melhores habilidades para lidar com eventos

stressantes, melhor bem-estar psicológico, assim como resiliência. Ou seja, ao longo de

todo o ciclo vital, é atribuída ao indivíduo a responsabilidade de criar formas para

20

fortalecer e desenvolver a capacidade de ser resiliente, através, também, de atividades

religiosas/espirituais.

No âmbito da revisão da literatura efetuada, apesar de se encontrarem estudos

sobre os fatores relacionados com a resiliência na velhice, os fatores

espiritualidade/religiosidade aparecem menos explorados/analisados. Ao longo da

revisão realizada, deparámo-nos, igualmente, com escassas pesquisas, sobre a

resiliência na idade adulta. A revisão da literatura levada a cabo revela que a

religiosidade e a espiritualidade podem estar associadas a uma maior resiliência em

condições stressantes, situações de perda e, sobretudo, na velhice. Contudo, não foram

encontradas investigações robustas do ponto de vista metodológico que nos permitam

discutir a dimensão desenvolvimental da espiritualidade e da religiosidade enquanto

promotores da resiliência na adultez e velhice. Ou seja, seria importante analisar e

discutir, por exemplo, se a religiosidade e espiritualidade funcionam como fatores de

resiliência na adultez e velhice ou se são específicos de uma determinada fase do

desenvolvimento, de determinadas condições, situações e/ou gerações. A caracterização

e compreensão do papel da espiritualidade e religiosidade na resiliência, numa

perspetiva desenvolvimnetal, poderá constituir um importante contributo para se

potenciar a dimensão resiliente que estes fatores podem constituir nalguns contextos e

nalguns indivíduos.

21

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28

Tabela 1

Sumário dos principais estudos revistos

Autor(es)

Ano

Objetivo Participantes Metodologia Conclusões

Baker e

Nussbaum

(1997)

Avaliar as

dimensões

espirituais e

religiosas

atualmente

e aos 45

anos;

60 Idosos

institucionaliza

dos;

Estudo Cross-

sectional;

Os participantes

percebiam-se mais

espiritualizados

naquele momento

do que quando

tinham 45 anos;

Moraes e

Sousa

(2005)

Investigar

os fatores

associados

ao

envelhecim

ento bem-

sucedido;

400 Idosos; Estudo Cross-

sectional;

As crenças pessoais

proporcionam

significado para a

vida e foram

identificadas como

fatores de

influência para

envelhecer bem;

29

Vittorino e

Viana

(2012)

Avaliar o

coping

religioso/es

piritual de

idosos

institucional

izados;

77 Idosos; Estudo

epidemiológico,

analítico, com

desenho

transversal e

amostragem não

probabilística;

O grupo mais idoso

da amostra

apresentava atitudes

e comportamentos

religiosos mais

significativos que

os menos idosos,

valorizando a

espiritualidade

como fator de

estabilização no

envelhecimento;

Manning

(2014)

De que

forma os

componente

s espirituais

promovem

estratégias

de coping

resiliente na

velhice?

6 Mulheres

com mais de

80 anos,

inquiridas em

múltiplos

momentos.

Estudo

qualitativo, de

hermenêutica

fenomenológica;

abordagem

centrada na

pessoa.

O estudo revelou

que a

espiritualidade

desenvolve

melhores níveis de

bem-estar e

qualidade de vida,

promovendo a

resiliência.

30

Capítulo II - Espiritualidade e coping

resiliente: diferenças na idade adulta e na

velhice

(Artigo empírico submetido para

publicação)

31

Espiritualidade e coping resiliente: diferenças na idade adulta e na

velhice4

Resumo

Ao longo do processo de envelhecimento, um self resiliente, além de não se adaptar,

apenas, às perdas, desenvolve e fortalece novas oportunidades de crescimento, podendo

a religiosidade e espiritualidade constituir um mecanismo de fortalecimento e resistência.

Este estudo tem como objetivo analisar a religiosidade/espiritualidade como fatores

preditores de resiliência, numa amostra de 1310 indivíduos, adultos e idosos, assim como

a relação destas variáveis com dados sociodemográficos relevantes. Para alcançar estes

objetivos foram realizados o teste t-student para comparar as diferenças nas médias entre

grupos e o teste Anova, a fim de testar diferenças nos grupos estabelecidos; realizaram-

se correlações e testes de regressão e, por fim, efetuou-se um modelo de equações

estruturais, com o propósito de confirmar, na globalidade, o impato proficiente da

espiritualidade, no papel das suas dimensões verticais e horizontais, ao nível do coping

resiliente. A partir dos resultados obtidos, podemos concluir que a espiritualidade, na sua

dimensão horizontal - que diz respeito à forma como as pessoas dão sentido à sua vida -

constitui, nesta amostra, um preditor moderado do coping resiliente.

Palavras-chave: Espiritualidade; religiosidade; resiliência; envelhecimento.

Spirituality and resilient coping: differences in adulthood and old age

Abstract

4O Anexo 2, da secção Anexos, desta dissertação é exposto como desdobramento deste artigo empírico, visando testar e comprovar, de forma incisiva e detalhada, os objetivos e hipóteses propostos à investigação.

32

Throughout the aging process, a resilient self, besides to not only adapt to losses, develops

and strengthens new growth opportunities, and the religiosity and spirituality can

constitute a mechanism of strengthening and resistance. This study aims to analyze the

religiosity/spirituality as resilience predictor factors, in a sample of 1310 adults and

elderly, as well as the relationship of these variables with relevant socio-demographic

data. To achieve these objectives Student’s t test were realized to compare the differences

of the averages between groups and the Anova test in order to test differences in the

established groups; correlations and regression testing were made and lastly effectuated

a structural equation model, with the purpose of confirming the proficient impact of

spirituality, in the role of the vertical and horizontal dimensions, at the level of the

resilient coping. Based on the results obtained, we can conclude that spirituality, in the

horizontal dimension – that means how people give meaning to their life - is, in this

sample, a moderate predictor of resilient coping.

Key-words: Spirituality; religiosity; resilience; aging.

Espiritualidad y enfrentamiento resiliente: diferencias en la edad adulta y la vejez

Resumen

A lo largo del proceso de envejecimiento, el yo resiliente, ensuciado para adaptarse no

sólo a las pérdidas, desarrolla y fortalece nuevas oportunidades de crecimiento, y la

religiosidad y la espiritualidad pueden constituir el mecanismo de fortalecimiento y

resiliencia. Este estudio tiene como objetivo analizar la religiosidad/espiritualidad como

factores predictores de resiliencia, en una muestra de 1310 adultos y ancianos, así como

la relación de estas variables con fechas sociodemográfico pertinentes. Para lograr estos

objetivos se realizaron la prueba t de Student para comparar las diferencias de los

33

promedios entre los grupos y la prueba de Anova para probar las diferencias en los grupos

establecidos; se hicieron correlaciones y pruebas de regresión y por último se ha efectuado

un modelo de ecuaciones estructurales, con el propósito de confirmar el impacto de la

espiritualidad, en el papel de las dimensiones vertical y horizontal, a nivel del

afrontamiento resiliente. Con base en los resultados obtenidos, podemos concluir que la

spiritualidad, en la dimensión horizontal - que significa cómo las personas dan sentido a

su vida - es, en esta muestra, un predictor moderado de afrontamiento resiliente.

Palabras-clave: Espiritualidad; religiosidade; resiliência; envejecimiento.

34

A resiliência reporta-se à adaptação bem-sucedida, às dificuldades e adversidades da vida,

que implica flexibilidade mental, emocional e comportamental (APA, 2006). Encarada a

resiliência como uma capacidade de o sujeito em responder de forma satisfatória a

situações adversas, as estratégias de coping funcionam como um pré-requisito

fundamental para uma adaptação com sucesso, enquanto variáveis mediadoras dos efeitos

do stress (Pais Ribeiro & Morais, 2010). O coping é considerado como um esforço

cognitivo e comportamental face a exigências internas e externas excessivas (Sinclair &

Walltson, 2004), promovendo uma adaptação positiva face ao stress elevado (Lazarus &

Folkman, 1984 citado por Pais Ribeiro & Morais, 2010). Apesar de coping e resiliência

não serem sinónimos, o conceito de coping torna-se fundamental para a compreensão da

capacidade de resiliência do indivíduo (Pais Ribeiro & Morais, 2010). Por um lado, o

coping ocorre num momento determinado e, por outro lado, a resiliência prossegue ao

longo do desenvolvimento. Sinclair e Walltson (2004) afirmam que a principal

característica diferenciadora do coping resiliente é a capacidade deste para promover uma

adaptação positiva, apesar do elevado índice de stress. Os indivíduos resilientes tendem

a usar mais estratégias de coping de confronto direto com o problema e menos estratégias

de evitamento (Pesce, Assiss, Santos & Oliveira, 2004).

São vários os fatores enunciados para explicar a resiliência dos indivíduos. Ao

considerarmos a resiliência como um constructo multidimensional da personalidade, os

indivíduos resilientes possuem normalmente diversas caraterísticas ou capacidades

positivas, como competência, otimismo (Petterson, 2000), felicidade, autoestima,

sentido de coerência, hardiness e estratégias de coping ativo (Lindström, 2003). Assim,

os fatores protetores que promovem comportamentos resilientes provêm de três

possíveis fontes: a) atributos pessoais (inteligência, autoestima, autonomia, competência

emocional e competência social); b) apoios do sistema familiar; e c) apoio social,

35

proveniente da comunidade (Schuck & Antoni, 2014; Pesce et al., 2004). Entre os

vários fatores surge, também, a dimensão da religiosidade e espiritualidade (Jimenez

Ambriz, 2008).

A ideia de resiliência na velhice abrange, por um lado, a reintegração de uma

adversidade e, por outro lado, o desenvolvimento, conservação e ativação de

capacidades adicionais de resistência face às perdas, desafios e adversidades que são

mais frequentes nesta etapa do ciclo vital do que noutras fases mais jovens (Afonso,

2012). Entre os vários fatores que contribuem para a resiliência na velhice, destaca-se a

religião, que constitui, frequentemente, o principal fator de apoio social (Koenig, 2009).

Através das instituições religiosas, os idosos socializam, inserem-se em grupos,

participam em atividades sociais que acontecem com regularidade no contexto das

comunidades religiosas. A espiritualidade e as crenças religiosas foram identificadas

como recursos protetores e de compensação, sobretudo, em casos de perda e trauma

(Granqvist & Hagekull, 2000). A pesquisa de Fry e Debats (2010) revelou que

indivíduos com elevado índice de espiritualidade, quando comparados com indivíduos

com baixos níveis de espiritualidade, superam melhor situações de morte/luto,

mostrando-se este recurso como um contributo significativo para o bem-estar

psicológico.

As crenças e práticas que caraterizam a vida espiritual flutuam ao longo do ciclo de

vida, consoante as circunstâncias de vida e o desenvolvimento do indivíduo (Miller &

Kelley, 2005). As teorias psicodinâmicas, assim como as do desenvolvimento pós

formal veem a espiritualidade entrelaçada com o processo maturacional e com as

experiências associadas à meia-idade (Wink & Dillon, 2008). Assim, apesar de a idade

adulta não ser definida de forma estanque, a chamada “meia-idade” deverá ser vista no

contexto do ciclo de vida com caraterísticas únicas que devem ser integradas em

36

dimensões biológicas e socioculturais complexas (Wink & Dillon, 2002). No meio da

vida, segundo Fagulha (2005), os adultos são confrontados com experiências que

exigem reestruturações relacionais e que apelam para uma tomada de consciência, por

exemplo, em relação à morte (e.g., perda dos progenitores), sinais de envelhecimento e

adaptação à emancipação dos filhos. Wink e Dillon (2002) referem que os padrões de

participação religiosa se estabelecem no início da idade adulta e tendem a permanecer

estáveis. Estes autores defendem que parece existir uma clara ascendência do nível de

espiritualidade na meia-idade, podendo esta ser considerada um fenómeno característico

desta etapa do ciclo de vida, uma vez que o seu desenvolvimento requer autonomia

pessoal e consciência do relativismo contextual que, normalmente, se desenvolve nesta

altura. Para os indivíduos adultos são vários os fatores que influenciam a perceção de

sentido na vida: os fatores internos, que estão ligados ao desenvolvimento do indivíduo

(personalidade, estratégias de coping, religiosidade, espiritualidade e sentimento de

pertença), e os fatores externos, que pertencem ao meio e corroboram o significado que

as pessoas dão à vida (oportunidades sociais, trabalho, lazer e segurança)

(Sommerhalder, 2010).

Religiosidade e espiritualidade: fatores de resiliência na adultez e velhice

As crenças espirituais e religiosas podem ser consideradas fatores de proteção em

momentos de stress, uma vez que estas se encontram associadas a melhores habilidades

para lidar com eventos stressantes, melhor bem-estar psicológico, assim como

resiliência, procurando dar sentido às experiências de vida e entender a causa dos

acontecimentos stressantes (Hood, Hill & Spilka, 2009). Ao longo do processo de

envelhecimento, um self resiliente além de não se adaptar, apenas, às perdas,

desenvolve e fortalece novas oportunidades de crescimento (Carstensen & Freund,

37

1999), podendo a religiosidade e espiritualidade constituir um mecanismo de

fortalecimento e resistência. Becker e Newsom (2005) ao afirmarem que a resiliência se

manifesta de variadas formas nas diversas culturas, exemplificam esta questão fazendo

alusão ao uso do coping religioso e instrumental como forma de lidar de modo

adaptativo com contextos adversos, pelo que a avaliação da resiliência deve ter em

consideração a idiossincrasia de cada indivíduo e o seu universo cultural e geracional.

Numa perspetiva adaptativa, para Park (2005), as atribuições religiosas estão associadas

a eventos stressantes, e estes, em última instância, promovem o crescimento pessoal,

através de atitudes resilientes. Jimenez-Ambriz (2011) afirma que, em variados

trabalhos de campo, foi sugerido que a adaptação positiva a situações de risco

(resiliência) era proveniente de fatores externos à pessoa, nomeadamente a família,

caraterísticas ambientais ou os contextos sociais e culturais, do qual faz parte o meio

religioso.

A espiritualidade evidencia a existência de potenciais forças escondidas no Homem, que

o envelhecimento faz despoletar (Walsh, 2007). A investigação sobre resiliência em

idosos, desenvolvida por Silva e Alves (2007), concluiu que a espiritualidade se revelou

um forte indicador de resiliência na superação de adversidades, bem como na

capacidade de encontrar significado na vida a partir da fé religiosa. Apesar de,

atualmente, a espiritualidade ser desvinculada das causas e da cura das doenças no

quadro clínico científico, para quem a experiencia como um processo dinâmico e

pessoal, pode constituir um importante mecanismo de coping resiliente. Assim sendo,

tem-se assistido à alteração de paradigma no sentido em que se começa a dar maior

importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo, no que diz respeito à

compreensão de como as crenças interferem ao nível da saúde e da aprendizagem de

estratégias resilientes (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Na cultura ocidental, segundo Silva

38

e Alves (2007), podem ser destacados, como exemplo da vivência da

espiritualidade/religiosidade como fator de equilíbrio, os estágios de luto, onde o

indivíduo almeja repercussões de melhor resiliência e bem-estar subjetivo. Simão e

Saldanha (2012) afirmam que a espiritualidade se torna numa ponte para o ser humano,

quando ocorre uma crise na sua vida, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma ótima

estratégia de adaptação com consequências positivas ao nível da estruturação da

resiliência. Os mesmos autores afirmam que, por meio da espiritualidade como fator

promotor de resiliência psicológica, os indivíduos através da fé religiosa têm uma

perspetiva positiva do futuro, procuram novas formas de adaptação e recursos internos

de superação, sobretudo, a população idosa. Neste sentido, este estudo tem como

objetivo analisar a religiosidade/espiritualidade como fator preditor de resiliência

adultos e idosos, assim como a relação destas variáveis com dados sociodemográficos

relevantes dos indivíduos (e.g. idade, género …).

Método

Participantes

A amostra por conveniência é constituída por um total de 1310 indivíduos, com idades

compreendidas entre os 25 e os 97 anos, sendo que 589 dos inquiridos são de

nacionalidade portuguesa e 686 brasileira. No que diz respeito à variável idade, foram

estabelecidos três grupos de comparação, com as respetivas médias de idades: Grupo 1

(25 – 45 anos): 34.234; Grupo 2 (46 – 65 anos): 53.872; Grupo 3 (66 – 97 anos):

75.439. Apresentando uma divisão equitativa quanto ao género, 44.7% dos participantes

da amostra são homens e 55.3% mulheres. Relativamente ao nível de escolaridade,

76.8% apresenta um nível de escolaridade superior, seguidamente, a segunda maior

fatia (9.5%) corresponde apresenta até 12 anos de escolaridade, 3.9% apresenta

39

escolaridade até 9 anos, 1.4% até 6 anos e, por fim, 6% dos inquiridos apresentam

escolaridade até 4 anos. No que diz respeito ao estado civil, a amostra subdivide-se em

2 grandes grupos, os casados (45.8%) e os solteiros (22.9%); os restantes, e numa

percentagem consideravelmente menor, situam-se os comprometidos afetivamente

(6.0%), os viúvos (6.3%) e os unidos de facto e os divorciados, com percentagens iguais

(9.2%).

Por fim, no que concerne à filiação religiosa, 741 (56.6%) dos participantes diz ser

católico, porém, 27.9% da amostra não respondeu a esta questão; a restante amostra

apresenta valores residuais no que toca a outras filiações: 5.1% espiritas, 3.9%

evangélicos, 3.2% outra religião, 2.1% protestantes, .6% agnósticos e, por fim, .2%

ateus.

Instrumentos

Foi elaborado um questionário sócio - demográfico, com especial incidência na

experiência religiosa dos sujeitos, de modo a fornecer um quadro exaustivo das

características da amostra, sob o ponto de vista da experiência religiosa. Como medida

de Espiritualidade/Religiosidade foi utilizada a Escala de Espiritualidade em contextos

de saúde (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Esta escala contém cinco itens que quantificam a

concordância do individuo com questões relacionadas com a dimensão da

espiritualidade, sendo que as respostas podem variar entre o «Não concordo» (1),

«Concordo um pouco» (2), «Concordo bastante» (3) e «Plenamente de acordo» (4). Da

análise fatorial resultaram duas subescalas, uma constituída por dois itens que se

referem a uma dimensão vertical da espiritualidade (item 1 – As minhas crenças

espirituais/religiosas dão sentido à minha vida; item 2 – A minha fé e crenças dão-me

forças nos momentos difíceis), a que os autores denominam como «Crenças» e outra

40

constituída por três itens (item 3 – Vejo o futuro com esperança; item 4 – Sinto que a

minha vida mudou para melhor; item 5 – Aprendi a dar valor às pequenas coisas da

vida), referentes a uma dimensão horizontal da espiritual, denominada

«Esperança/Otimismo». A cotação de cada subescala é efetuada através da média dos

itens da mesma, sendo que quanto maior o valor obtido em cada item, maior a

concordância com a dimensão avaliada. A consistência interna desta escala é de α=

.800, o que é indicador de uma boa consistência interna, comparativamente à escala

original (A consistência interna desta escala é de α=.74). No que concerne ao fator

Crenças, obtivemos consistência de α= .94 e, o segundo fator Esperança/Otimismo

revelou uma consistência de α= .76. Ambos superiores aos valores da escala original

(α= .92 e α= .69, respetivamente).

A Escala Breve de Coping Resiliente (Pais-Ribeiro & Morais, 2010) é um instrumento

que permite avaliar a resiliência como uma estratégia de coping, a qual foi adaptada e

validada para a população portuguesa, a partir da versão original Brief Resilient Coping

Scale (Sinclair & Wallston, 2003). Inicialmente, a escala incluía nove itens, entre os

quais foram selecionados os quatro que, segundo os autores, operacionalizam o

construto de coping resiliente, emergindo-se temáticas como o otimismo, a

perseverança, a criatividade e o crescimento positivo face às adversidades. Esta é uma

escala de autorresposta, unidimensional, composta por quatro itens, que visam descrever

o padrão ativo de resolução de problemas, o que, por sua vez, reflete o padrão de coping

resiliente. A resposta aos itens é dada numa escala ordinal, em formato de Likert, de

cinco posições e sem cotação invertida: 5 – quase sempre, 4 – com muita frequência, 3

– muitas vezes, 2 – ocasionalmente, e 1 – quase nunca, cuja nota de capacidade para

lidar com o stress de forma adaptativa varia entre 4 e 20. Segundo os autores da escala

original, consideram-se com baixa resiliência os sujeitos com uma pontuação inferior a

41

13 e com uma resiliência elevada os sujeitos cuja pontuação seja superior a 17 (Sinclair

& Wallston, 2003).

A consistência interna desta escala é de α= .85, o que reflete uma boa consistência

interna (Marôco & Garcia-Marques, 2006), comparativamente com a escala original (α=

.68) e com a escala adaptada para a população portuguesa (α= .53).

Procedimentos

Este estudo insere-se na investigação “Saúde, bem-estar e felicidade, ao longo do ciclo

de vida PT/BR”, a qual tem como objetivo avaliar os níveis de saúde, bem-estar e

felicidade em portugueses e brasileiros, assim como avaliar outras áreas relacionadas. A

recolha da amostra foi efetuada no período de três meses (novembro a fevereiro)

referindo-se a natureza do estudo e assegurando o anonimato e confidencialidade da

apresentação dos dados. As tarefas a realizar envolviam a forma dita “papel e lápis”,

para os indivíduos com mais de 65 anos e houve, igualmente, um questionário online

para os restantes indivíduos. O preenchimento dos questionários foi efetuado num

momento único.

Os dados recolhidos foram analisados com recurso ao software SPSS (Statistical

Package for Social Sciences), bem como ao AMOS, ambos versão 22, com a finalidade

de suportar a investigação e os estudos efetuados. Procedeu-se, em primeiro lugar, ao

cálculo das frequências, média, desvio padrão, estatística descritiva para caracterização

da amostra, no que diz respeito aos dados sócio - demográficos, experiência religiosa e

coping resiliente. Para alcançar os objetivos do estudo foram realizados o teste t-student

para comparar as diferenças nas médias entre grupos e o teste Anova, a fim de testar

diferenças nos grupos estabelecidos, com base numa variável dependente, efetuaram-se

correlações e testes de regressão e, por fim, efetuou-se um modelo de equações

42

estruturais, com o propósito de confirmar, na globalidade, o impacto proficiente da

espiritualidade, na papel das suas dimensões verticais e horizontais ao nível do coping

resiliente.

Resultados

Foi realizado um t-test (Independet Sample Test), de forma a comparar os resultados na

escala de coping resiliente e nas duas dimensões de espiritualidade (crenças e

esperança/otimismo) em relação ao género, tal como é demonstrado na tabela 1.

Relativamente à variável Coping Resiliente, os homens (M=15.046, DP= 3.527)

apresentam valores médios de coping mais elevados do que as mulheres (M=14.332,

DP= 3.638), alcançando-se valores estatisticamente significativos t(df=1260.549)=

3.584, p≤ .05). Seguidamente, no que diz respeito à dimensão Crenças, são as mulheres

quem pontuam valores maiores (M=3110, DP= .855), quando comparadas com os

homens (M=2.872, DP= 1.002), revelando-se resultados estatisticamente significativos

t(df=1146.797)= -4.624, p≤ .05).). Por fim, no que concerne à dimensão

Esperança/Otimismo, são novamente as mulheres que alcançam melhores médias

(M=3.290, DP= .583), comparativamente aos homens (M=3.229, DP= .630), porém,

não se encontram resultados estatisticamente significativos t(df=1201.005)= -1.818, p=

.069).

43

Tabela 1 - Análise das diferenças entre o género e as variáveis Coping Resiliente,

Crenças e Esperança/Otimismo, através do teste t-student.

Na tabela abaixo, foi efetuada uma one-way betwwen-groups analysus of variance de

forma a analisar o impacto da idade nas escalas de Coping Resiliente e de

Espiritualidade. Os participantes foram divididos em três grupos de acordo com a sua

idade. Desta análise, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, a um

nível de significância de p< .05, entre os grupos, em todas as variáveis estudadas; no

Coping resiliente (F(2; 1270)= 23.055 , p≤ .05).), na dimensão de espiritualidade

Crenças (F(2; 1270)= 13.869 , p≤ .05) e, por fim, para a dimensão Esperança/Otimismo

(F(2; 1270)= 21.443, p≤ .05).).

Género Média Desvio Padrão T p

Coping Homem

Mulher

15.046

14.332

3.527

3.638

3.584 .000

Crenças Homem

Mulher

2.872

3.110

1.002

.855

-4.624 .000

Esperança/Otimismo Homem

Mulher

3.229

3.290

.630

.583

-1.818 .069

44

Tabela 2 – Resultados obtidos, através das estatísticas de teste Anova, da diferença entre

grupos etários.

Através de comparações post-hoc, através do teste Gabriel, pode inferir-se que existem

diferença significativas, na variável coping resiliente, entre todos os grupos (p≤ .05).),

sendo o Grupo 2 a alcançar pontuações médias mais elevadas (M=15.471; DP= 3.487).

Relativamente à dimensão Crenças, testes post-hoc Gabriel revelaram que existem

diferenças estatisticamente significativas entre o Grupo 1 e o Grupo 2 (p≤ .05) e o

Grupo 1 e o Grupo 3 (p≤ .05), sendo aqui o Grupo 3 a obter melhores pontuações (M=

3.256; DP= .753). Por fim, no que diz respeito à dimensão Esperança/Otimismo,

utilizando o mesmo teste post-hoc, encontramos diferenças estatisticamente

significativas entre o Grupo 1 e o Grupo 3 (p≤.05) e entre o Grupo 2 e o Grupo 3

Idade M DP F P

Coping Resiliente 25 – 45 anos

46 – 65 anos

66 – 97 anos

14.549

15.471

13.445

3.509

3.487

3.693

23.055 .000

Crenças 25 – 45 anos

46 – 65 anos

66 – 97 anos

2.900

3.071

3.256

.570

.609

.657

13.869 .000

Esperança/Otimismo 25 – 45 anos

46 – 65 anos

66 – 97 anos

3.289

3.348

3.031

.580

.609

.657

21.443 .000

45

(p≤.05), sendo agora o grupo de idade compreendida entre os 46 – 65 anos a obter

melhores médias (M=3.348; DP= .609).

Foram posteriormente efetuadas quatro correlações entre as duas dimensões de

espiritualidade (crenças e esperança/otimismo) e o coping resiliente e, posteriormente

entre o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de oração. A

análise efetuada com coeficiente de correlação de Pearson, entre o coping resiliente e a

dimensão de Espiritualidade “Crenças” indica uma correlação positiva, estatisticamente

significativa e classificada como fraca (r= .155; p˂.01), como é indicado na tabela 3.

Tabela 3 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as dimensões

Crenças e Esperança/Otimismo.

**p<.01 (2-tailed)

Porém, quando é realizado o mesmo teste entre o coping resiliente e a segunda

dimensão da Espiritualidade “Esperança/Otimismo” é indicada uma correlação positiva,

estatisticamente significativa e classificada como forte5 (r= .435; p˂ .01).

5 De acordo com os valores propostos por Cohen: tamanho pequeno do efeito: r= .1 – .23; moderado: r=

.24 – .36; grande: r= .37 ou superior (1988, citado por Pallant, 2011).

Coping Resiliente Crenças Esperança/Otimismo

Coping Resiliente - .155** .435**

Crenças .155** - .428**

Esperança/Otimismo .435** .428** -

46

Tabela 4 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as variáveis

frequência de locais de culto e frequência de oração.

**p<.01 (2-tailed)

A relação entre o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de

oração foi investigada utilizando o coeficiente de Pearson. Verificou-se que, apenas,

existe correlação positiva entre frequência de locais de culto e a frequência de oração

(r= .503, p< .01).

Tabela 5 –Regressão das variáveis Coping resiliente, Crenças e Esperança/Otimismo

R² = .191; R² ajustado = .190; F(p) = 154.126(p˂.001)

Coping

Resiliente

Frequência locais de culto Frequência Oração

Coping Resiliente - -.010 -.035

Frequência Locais

de culto

-.010 - .503**

Frequência de

oração

-.010 .503** -

Variável Critério Preditor B EPB β t

Coping Resiliente Crenças

Esperança/Otimismo

-.151

2.699

.107

.164

-.039

.452

- 1.412

16.418

47

Avaliando a capacidade de predição da espiritualidade no coping resiliente, a regressão

linear simples demonstra-nos que enquanto variável explicativa do coping, a

espiritualidade apresenta um valor estatisticamente significativo F=154.126 , p˂.001.

Ao nível do seu coeficiente de regressão verifica-se que a espiritualidade se apresenta

como um bom preditor do coping resiliente, sendo estatisticamente significativo β= -

.039 t= -1.412 , p˂.001 para a dimensão “Crenças” e β= .452 t= 16.418 , p˂.001 para a

dimensão Esperança/Otimismo.

As conclusões retiradas das análises de regressão e o referencial teórico desenvolvido,

na primeira parte desta pesquisa, estiveram na base da especificação e estimação de um

modelo de equações estruturais (cf. Figura 1), que assumiu o propósito de confirmar o

impacto da espiritualidade, no papel das suas dimensões verticais e horizontais6, ao

nível do coping resiliente. Após a especificação e estimação do modelo, a sua

adequação foi avaliada em função dos seguintes índices de ajustamento: ² - indicador

que avalia a qualidade do ajustamento do modelo; GFI (Goodness-of-Fit Index), criado

como alternativa ao ², explica a proporção da covariância observada entre as variáveis

manifestas, explicada pelo modelo ajustado; CFI (Comparative Fit Index) compara o

ajustamento do modelo e corrige a substimação; TLI (Tucker-Lewis coeficiente) é

considerado um indicador global de adequação do modelo; e RMSEA (Root-Mean-

Square Error of Approximation) estima o erro de aproximação ou a discrepância

existente no ajustamento do modelo hipotético à matriz de covariância populacional. No

nosso modelo o RMSEA surge com o valor de .050 que não sendo perfeito entra no

intervalo aceitável.

6 Idealmente, cada fator deve ser constituído por três itens. A literatura refere que uma

escala composta, apenas, por um fator deve possuir, no minímo, por quatro itens; e,

aquelas que são constituidas por mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois

itens por fator – devendo ser encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004).

48

Figura 1 - Diagrama de caminhos (Path Diagram) do modelo estimado.

Sumariamente, a partir dos resultados obtidos (cf. Tabela 6) parece plausível um

modelo de associação entre o Coping Resiliente e as duas dimensões de espiritualidade.

Tabela 6 - Índices de ajustamento do modelo estrutural base estimado

*p<.001

O modelo base estimado revelou um ajustamento adequado: ²(24 g.l.) = 102.205, ²/df

= 4.26, IFI = .983, TLI = .979, CFI = .986, RMSEA = .050. Todavia, a dimensão

vertical da espiritualidade revelou valores negativos de loading fatorial, contrariamente

ao que é retirado da literatura e dos resultados esperados.

Cohen (1988) faculta intervalos de interpretação da magnitude dos efeitos para as

ciências sociais, nomeadamente: tamanho pequeno do efeito: r = .1 - .23; moderado: r =

Modelo ²* Df GFI TLI CFI RMSEA*

Modelo estrutural

base estimado

102.205 24

.983 .979 .986 .050

49

.24 - .36; grande: r = .37 ou superior. Aplicando esta grelha de análise às relações

estatisticamente significativas podemos considerar que relativamente à dimensão

Crenças, esta não apresenta um impacto esperado significativo, de baixa magnitude na

variável coping resiliente, sendo que os resultados alcançados apontam num sentido

contrário ao hipotetizado (cf. Tabela 7). A associação entre a dimensão

esperança/otimismo e a variável coping resiliente permite apreender um impacto mais

forte, podendo considerar-se no intervalo de grande magnitude, indo os resultados ao

encontro do hipotetizado.

Tabela 7 - Estimativas estandardizadas da solução final do modelo base.

Em termos individuais, todos os indicadores apresentam valores de loading fatorial

superior ao ponto de corte .50 e, em oito variáveis, superiores a .70 (Hair, Black, Babin

& Anderson, 2010).

Discussão e Considerações Finais

Em concordância com os resultados obtidos nesta pesquisa, Nygren, Aléx, Josén,

Gustafson, Norberg e Lundman (2005) e Connor e Davidson (2003) encontraram

diferenças no género, relativamente ao coping resiliente, sendo as mulheres que

alcançam maiores pontuações – o que se contrapõe com o presente estudo. Porém

Wagnild e Young (1993), aquando da construção da Escala de Avaliação da Resiliência

aferiram que não existem diferenças entre homens e mulheres, no que diz respeito a esta

Critério Preditor Estimativas Estandardizadas

CopRes <--- Crenças -.133

CopRes <--- EspOpt .607

50

variável. No entanto, Sinclair e Wallston (2004) ao desenvolverem a Brief Resilient

Coping Scale – que esteve na base da construção da escala usada neste estudo –

afirmam que são os traços de personalidade e o meio onde se inserem os indivíduos que

determinam o processo de coping resiliente.

No estudo de Pinto e Pais-Ribeiro (2009) é encontrada consonância com os resultados

obtidos, relativamente às dimensões da espiritualidade aqui abordadas. Estes autores,

inferiram que quanto ao género, a espiritualidade assume um valor superior para as

mulheres, quer na dimensão das crenças, como na da esperança/otimismo, revelando-se

haver diferenças estatisticamente significativas entre homens e mulheres. Também

Simpson, Cloud, Newman, Fuqua (2008), Bryant (2007) e Maselk e Kubzansky (2006),

nas suas investigações encontraram resultados que corroboram a existência de

diferenças significativas, ao nível da espiritualidade, entre homens e mulheres.

Contrariamente aos resultados encontrados neste estudo, a pesquisa de Connor e

Davidson (2003) evidenciou não haver diferenças estatisticamente significativas entre o

coping resiliente e a variável idade. Apesar das diferenças obtidas, e ao contrário do que

diz a literatura, não foi o grupo com idade mais avançada que revelou maior resiliência.

Estudos como o de Laranjeira (2007) referem que são os idosos os mais resilientes,

comparativamente com outras faixas etárias. Porém, em contrapartida,

No que concerne às dimensões da espiritualidade, Baker e Nussbaum (1997), no seu

estudo com idosos, referem que os indivíduos mais velhos possuem mais espiritualidade

àquela data do que quando tinham 45 anos, o que corrobora os resultados aferidos nesta

pesquisa. Vittorino e Viana (2012), concluíram que o grupo mais velho da amostra

apresentava atitudes e comportamentos religiosos mais significativos do que os mais

novos. Do mesmo modo, Pinto e Pais-Ribeiro (2009) salientam na sua investigação que

51

as pessoas mais velhas da sua amostra apresentaram médias superiores em relação as

crenças, pelo que se pode inferir que utilizam mais frequentemente esses recursos.

Contrariamente às premissas presentes na literatura, que nos dizem que a resiliência é

influenciada pela espiritualidade/religiosidade (Masten, 2001), relativamente à relação

causal entre o coping resiliente e à dimensão vertical da espiritualidade constatou-se que

esta relação não se verifica de maneira tão acentuada. Neste sentido, quanto maior o

coping resiliente dos indivíduos, menor serão as suas crenças. Por outro lado, quando se

trata da variável relativa à dimensão horizontal da espiritualidade

(Esperança/Otimismo), verifica-se uma relação forte. Tal vai ao encontro das pesquisas

de Sommerhalder (2010), que consideram existir uma clara ascendência do nível de

espiritualidade na meia-idade, uma vez que o seu desenvolvimento requer autonomia

pessoal e consciência do relativismo contextual que, consequentemente, influenciará o

seu sentido de vida.

Em dissonância com o presente estudo, está a pesquisa de Scoralick-Lempke e Barbosa

(2012), onde a participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto) se mostrou

fundamental para um melhor desenvolvimento de estratégias resilientes.

Os resultados deste estudo demonstraram, ainda, que a espiritualidade tem um efeito

positivo e significativo sobre o coping resiliente. Autores como Simão e Saldanha

(2012) consideram que, através da espiritualidade, como fator promotor de resiliência

psicológica, os indivíduos adotam uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas

formas de adaptação e, sobretudo, recursos internos de superação. A partir dos

resultados obtidos da análise do modelo estrutural pode concluir-se que a

espiritualidade, na sua dimensão Esperança/Otimismo, constitui, nesta amostra, um

preditor moderado do coping resiliente.

52

Se por um lado estudos apontam que, à medida que a idade avança, há indicadores de

que as crenças e a fé ocupam um lugar mais central na vida das pessoas, por outro, o

aumento da perceção da religiosidade não está, nesta faixa etária, diretamente

relacionado com elevados níveis de resiliência. Assim, podemos inferior que a

espiritualidade e a religiosidade parecem não ter o mesmo peso como fator explicativo

da resiliência na adultez e velhice. Tal pode estar relacionado com os fatores que

influenciam a perceção de sentido da vida, na idade adulta: os fatores internos

relacionados com a personalidade e sentimento de pertença; e os fatores externos, que

se relacionam com as oportunidades sociais, trabalho, lazer e segurança. Já para os

indivíduos idosos os padrões de resiliência, que levam a um envelhecimento com êxito,

são mantidos através da interação de vários fatores, como relações pessoais próximas

com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e de caráter cultural e

religioso, sendo que veem na religião um suporte fundamental no último período da sua

vida e na forma de enfrentar as adversidades nesta fase terminal.

Em suma, a resiliência incorpora as idiossincrasias de cada individuo, as quais lhes

permitem ultrapassar, positivamente, as adversidades, revelando-se uma característica

multidimensional, que varia de acordo com contexto, tempo, idade, género e origem

cultural.

53

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57

Considerações Finais

A presente componente da dissertação, reservada a considerações finais, é composta

por uma síntese da informação, teórica e prática, que a compõe, procurando-se refletir sobre

os contributos da investigação levada a cabo, respetivos limites e diretrizes para futuros

estudos complementares.

A partir de uma revisão da literatura, apresentada no artigo teórico, delimitámos as

temáticas centrais em estudo, conferindo-lhes um enquadramento teórico-conceptual.

Subsequentemente, o estudo empírico, incluído no segundo capítulo, visou expor, testar e

analisar, os objetivos e hipóteses propostos à investigação. Com base nesta revisão, é sugerido

que a espiritualidade e a religiosidade podem funcionar como mediadores para o indivíduo em

momentos stressantes, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma estratégia de adaptação

com ganhos ao nível da estruturação da resiliência. De igual modo, vários autores referem que

é na velhice onde se constata o aumento da perceção da importância da religião. Porém, no

nosso estudo foi o grupo da meia-idade que revelou dar mais importância a este fator. Tal

resultado pode remeter a duas questões: a primeira prende-se com o facto de o número de

indivíduos em cada grupo ser diferente; e, por outro lado, importa dar atenção à dimensão

horizontal da espiritualidade, que diz respeito à forma como as pessoas dão sentido à sua vida.

Assim, tendo em conta que os adultos na chamada “meia-idade” são confrontados com

experiências que exigem reestruturações relacionais, são vários os fatores que influenciam a

perceção de sentido de vida e esperança no futuro, onde se destaca a espiritualidade. De forma

a sustentar esta ideia, como vimos, Erikson e Jung consideram que a espiritualidade está ligada

ao processo maturacional e às experiências associadas à idade adulta (Barros, 2000). Nesta

linha, Polk (1997) identifica um padrão fisiológico que incorpora atributos à resiliência, como

as crenças pessoais, as quais promovem um sentimento de pertença e uma melhor perspetiva

de vida.

Uma outra ideia a destacar desta investigação é a que que a resiliência incorpora as

idiossincrasias de cada indivíduo, as quais lhes permitem ultrapassar, positivamente, as

adversidades (Connor & Davidson, 2003). Estes autores referem que as investigações sobre a

temática, nos últimos 20 anos, têm demonstrado que a resiliência é uma característica

multidimensional, que varia de acordo com contexto, tempo, idade, género e origem cultural.

O nosso estudo revelou ir ao encontro destes dados, uma vez que foram encontradas diferenças

consideradas estatisticamente significativas, relativamente ao género e à idade.

Se por um lado estudos apontam que, à medida que a idade avança, há indicadores de

que as crenças e a fé ocupam um lugar mais central na vida das pessoas, por outro, o aumento

da perceção da religiosidade não está, nesta faixa etária, diretamente relacionado com

elevados níveis de resiliência. Assim, podemos inferior que a espiritualidade e religiosidade

parecem não ter o mesmo peso como fator explicativo da resiliência na adultez e velhice. Tal

pode estar relacionado com os fatores que influenciam a perceção de sentido na vida, na idade

adulta, por um lado: os fatores internos relacionados com a personalidade e sentimento de

58

pertença; e, por outro, os fatores externos, que se relacionam com as oportunidades sociais,

trabalho, lazer e segurança. Já para os indivíduos idosos os padrões de resiliência, que levam

a um envelhecimento com êxito, são mantidos através da interação de vários fatores, como

relações pessoais próximas com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e de

caráter cultural e religioso, sendo que veem na religião um suporte fundamental no último

período da sua vida e na forma de enfrentar as adversidades nesta fase terminal.

Outro aspeto importante a realçar reside no facto de, apesar de as pessoas mais velhas

poderem frequentar menos os locais de culto e participar menos em rituais religiosos, a

espiritualidade e a religiosidade continuarem a ser uma dimensão relevante. A menor

frequência de locais de culto e em rituais religiosos pode estar relacionada com perdas de

autonomia e funcionalidade, não significando que ocorra uma diminuição do interesse na

religião. Constata-se, inclusivamente, que a atividade não organizacional religiosa – igreja

eletrónica ou mediatizada – tende a aumentar neste grupo de sujeitos, bem como a meditação

e a oração.

No que diz respeito à investigação efetuada surgiram algumas limitações, que podem e

devem ser colmatadas em estudos futuros. Assim sendo, começamos por destacar a escassez

de estudos, em Portugal, acerca da temática em questão, sobretudo, no que diz respeito à

associação entre a espiritualidade e a religiosidade com o coping resiliente. Tal como foi

referido acima, futuramente seria importante reunir uma amostra equitativa nos grupos de

comparação, de forma a ter resultados generalizáveis. Ainda nesta linha de pensamento, outra

limitação a ser apontada pode ser a utilização de uma abordagem transversal. Para a obtenção

de melhores resultados, poderia ser de interesse adotar uma abordagem longitudinal,

permitindo a análise das variações das características de uma mesma amostra. Uma outra

limitação que pode ser apontada reside no fato de as escalas em uso possuírem poucos itens.

Autores como Coelho e Esteves (2007) argumentam que escalas com poucos itens podem não

fornecer uma boa discriminação das respostas (reduzindo a habilidade de encontrar diferenças

significantes entre segmentos), o que limita o método de análise dos dados. Porém, a escolha

deste tipo de escalas fundamenta-se no fato de serem escalas simples e pequenas, sem

redundâncias e de fácil utilização, o que vem facilitar a sua aplicação, sobretudo, a pessoas

idosas. Sendo estas escalas constituídas por poucos itens, invitavelmente, terão fatores com

poucos itens. Idealmente, cada fator deve ser composto por três itens. A literatura refere que

uma escala que engloba, apenas, um fator deve ser constituída, no minímo, por quatro itens;

aquelas que apresentam mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois itens por fator

– devendo ser, efetivamente, encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004).

Como potencialidades desta investigação podemos destacar o número de participantes

da amostra. Uma amostra com estas dimensões permite uma representação honesta da

população, conduzindo-nos à estimação das caraterísticas da população com grande precisão.

Este estudo permitiu, ainda, compreender o papel que a espiritualidade e a religiosidade podem

desempenhar ao nível da resiliência psicológica dos indivíduos, em dois momentos diferentes

do ciclo vital.

59

Em suma, este estudo ao avaliar o impacto da espiritualidade e da religiosidade no

coping resiliente, na idade adulta e na velhice, pode representar um contributo fundamental,

para o conhecimento dos fatores relacionados com a resiliência psicológica e,

consequentemente, permitir a compreensão dos possíveis processos inerentes a um

envelhecimento ativo e com êxito. Assim, investigações futuras deverão suplantar as suas

limitações e considerar as singularidades da amostra em estudo, pelo fato de ser integrada uma

população mais idosa, pelas suas idiossincrasias e características na fase do ciclo de vida em

que se encontra.

60

ANEXOS

61

Anexo 1 - Extensão da Revisão Teórica

Introdução

A resiliência reporta-se à adaptação bem-sucedida, às dificuldades e adversidades da

vida, que implica flexibilidade mental, emocional e comportamental (APA, 2006). Esta pode

ser perspetivada como um processo dinâmico – denominando-se como resiliência - ou como

sendo um traço, usando-se o termo resiliente (Luthar, Cicchetti & Beker, 2000). O constructo

de resiliência é proveniente da física7, sendo considerada, numa perspetiva psicológica, como

um fenómeno ou processo que reflete a adaptação a contextos de risco e adversidades. A

resiliência pode não ser mensurável de forma direta, podendo ser avaliada através de

dimensões que, indiretamente, refletem que a pessoa se adaptou e recuperou o equilíbrio

apesar das ameaças e adversidades a que está ou esteve exposta (Luthar et al., 2000; Masten,

2001).

A resiliência enquanto processo, pode ser conceptualizada como sendo dinâmica, capaz

de influenciar a capacidade de se lidar com as contrariedades, a sobrevivência, a superação, a

aprendizagem e a capacidade de recuperar de experiências de catástrofe, através da

incorporação e da mobilização de características internas como a autoeficácia, e fatores

externos como o suporte social, que promovem a adoção de estratégias de coping (Resnik,

2008). Nesta linha, pode ser, também, conceptualizada como uma estratégia de coping, sendo

inclusivamente adotado o termo de coping resiliente. Encarada a resiliência como uma

capacidade de o sujeito em responder de forma satisfatória a situações adversas, as estratégias

de coping funcionam como um pré-requisito fundamental para uma adaptação com sucesso,

enquanto variáveis mediadoras dos efeitos do stress (Pais Ribeiro & Morais, 2010). O coping é

considerado como um esforço cognitivo e comportamental face a exigências internas e externas

excessivas (Sinclair & Walltson, 2004), promovendo uma adaptação positiva face ao stress

elevado (Lazarus & Folkman, 1984 citado por Pais Ribeiro & Morais, 2010). Apesar de coping e

resiliência não serem sinónimos, o conceito de coping torna-se fundamental para a

compreensão da capacidade de resiliência do indivíduo (Pais Ribeiro & Morais, 2010). Por um

lado, o coping ocorre num momento determinado e, por outro lado, a resiliência prossegue ao

longo do desenvolvimento. Sinclair e Walltson (2004) afirmam que a principal característica

diferenciadora do coping resiliente é a capacidade deste para promover uma adaptação

positiva, apesar do elevado índice de stress. Os indivíduos resilientes tendem a usar mais

estratégias de coping de confronto direto com o problema e menos estratégias de evitamento

(Pesce, Assiss, Santos & Oliveira, 2004).

7Capacidade de um material readquirir, integralmente, as suas propriedades anteriores, depois de um agente externo exercer ação sobre ele.

62

A resiliência enquanto traço é definida como uma caraterística de personalidade que

modera os efeitos negativos do stress e promove a adaptação (Jacelon, 1997). Alguns estudos

identificaram as seguintes caraterísticas em indivíduos resilientes: i) equanimidade – perspetiva

equilibrada da experiência de vida; ii) perseverança – persistência, apesar da adversidade; iii)

auto-resiliência – crenças nas próprias capacidades; iv) ‘meaningfulness’ – perceção de que a

vida tem um propósito e valorização das suas contribuições; e v) solidão existencial – perceção

de que a vida de cada pessoa é única (Wagnild & Young, 1993). Assim, a resiliência enquanto

traço é vista como uma característica pessoal que ajuda o indivíduo a lidar com as dificuldades

e a alcançar uma boa adaptação, perante um problema (Ong, Bergeman, Bisconti & Wallace,

2006).

São vários os fatores enunciados para explicar a resiliência dos indivíduos. Ao considera-

la como um constructo multidimensional da personalidade, os indivíduos resilientes possuem

normalmente diversas caraterísticas ou capacidades positivas, como competência, otimismo

(Petterson, 2000), felicidade, autoestima, sentido de coerência, hardiness e estratégias de

coping ativo (Lindström, 2003). Assim, os fatores protetores que promovem comportamentos

resilientes provêm de três possíveis fontes: a) atributos pessoais (inteligência, autoestima,

autonomia, competência emocional e competência social); b) apoios do sistema familiar; e c)

apoio social, proveniente da comunidade (Pesce et al., 2004). Entre os vários fatores surge,

também, a dimensão da religiosidade e espiritualidade (Jimenez Ambriz, 2008).

1. Resiliência na velhice

A resiliência pode ser descrita como uma caraterística individual que, provavelmente, se

desenvolve ao longo do tempo (Stephens, Breheny & Mansvelt, 2014). Enquanto constructo

psicológico, começou por ser estudada em relação à infância e adolescência. Posteriormente,

a resiliência foi analisada e discutida em relação à velhice, onde parece assumir algumas

especificidades.

A ideia de resiliência na velhice abrange, por um lado, a reintegração de uma

adversidade e, por outro lado, o desenvolvimento, conservação e ativação de capacidades

adicionais de resistência face às perdas, desafios e adversidades que são mais frequentes nesta

etapa do ciclo vital do que noutras fases mais jovens (Afonso, 2012). As pessoas idosas

experienciam, frequentemente, mudanças associadas à idade, tais como quedas, declínios na

saúde e no funcionamento, dores crónicas, diminuição de mobilidade, morte do cônjuge,

diminuição da segurança, reforma ou ageism8 (Martin, Distelberg, Palmer & Jeste, 2015).

Apesar de a idade cronológica não indicar diretamente quais as mudanças e perdas existe uma

crescente probabilidade de ocorrerem incapacidades físicas e cognitivas com o envelhecimento

8 Ageism refere-se, essencialmente, segundo Macnicol (2006), às atitudes que os indivíduos e a sociedade apresentam para com um grupo de pessoas em função da idade, em particular os idosos.

63

(Araújo, Ribeiro, Oliveira & Pinto, 2007), o que gera um esforço crescente de flexibilidade e

resistência ao qual a maioria das pessoas idosas consegue responder. Assim, o desenvolvimento

psicológico modifica-se através do tempo e pode variar de cultura para cultura (Masten, 2001),

sendo que as variáveis que o acompanham são processos subjacentes à resiliência (Jimenez-

Ambriz, 2011a).

A resiliência encontra-se estreitamente relacionada com o facto de a pessoa, apesar

das perdas associadas à velhice, conseguir envelhecer de forma ativa e com êxito. As pessoas

idosas resilientes são, assim, as que conseguem manter a sua saúde física, cognitiva e social,

através de adaptações para manter a sua qualidade de vida e bem-estar, ao longo do ciclo vital

(Jimenez-Ambriz, 2011b). As pessoas idosas tendem, por exemplo, a usar estratégias de coping,

que reduzem o impacto negativo das perdas da velhice e, consequentemente, este torna-se o

fator para que o indivíduo possa ser mais resiliente (Afonso, 2012).

Um envelhecimento com êxito traduz, assim, mecanismos de resiliência, sendo

alcançado através da interação de vários fatores, tais como relações pessoais próximas com

familiares e amigos e a participação em atividades sociais e produtivas (Rowe & Kahn, 1998), e

atividades de caráter cultural e religioso. O envelhecimento saudável e ativo pressupõe uma

associação à ideia de que o indivíduo preserva o seu potencial de desenvolvimento durante o

seu curso de vida, através de novas aprendizagens, onde se prevê, também, um equilíbrio entre

limitações e potencialidades (Baltes, 1987). Fernandez-Ballesteros (2008) resume os critérios

para um envelhecimento ativo a: condições de saúde, bom funcionamento físico e cognitivo,

afeto positivo e participação social. A perspetiva do desenvolvimento ao longo da vida - Life-

Span - (Baltes, 1991) ao explicar o envelhecimento bem-sucedido, sugere que: (1) o curso do

desenvolvimento é individual e variável; (2) existem diferenças relevantes entre

envelhecimento, normal, ótimo e patológico; (3) durante o processo de envelhecimento, o

potencial de desenvolvimento é salvaguardado; (4) os prejuízos desta etapa podem ser

minimizados, através da ativação das capacidades de reserva e resistência; (5) as perdas

cognitivas podem ser compensadas por ganhos e (6) com o avançar da idade, os mecanismos de

autorregulação da personalidade mantêm-se intatos. Assim, os mecanismos que permitem à

pessoa idosa ser resiliente situam-se ao longo do ciclo vital, numa dinâmica de regulação,

otimização e compensação de perdas que permitem o envelhecimento com êxito.

Entre os vários fatores que contribuem para a resiliência na velhice, destaca-se a religião,

que constitui, frequentemente, o principal fator de apoio social (Koenig, 2009). Através das

instituições religiosas, os idosos socializam, inserem-se em grupos e participam em atividades

sociais que acontecem com regularidade no contexto das comunidades religiosas. A

espiritualidade e as crenças religiosas foram identificadas como recursos protetores e de

compensação, sobretudo, em casos de perda e trauma (Granqvist & Hagekull, 2000). A pesquisa

de Fry e Debats (2010) revelou que indivíduos com elevado índice de espiritualidade, quando

comparados com indivíduos com baixos níveis de espiritualidade, superam melhor situações de

morte/luto, mostrando-se este recurso como um contributo significativo para o bem-estar

psicológico. A prática religiosa continuada (maior religiosidade) é um fator relevante na

64

promoção de qualidade de vida da população idosa (Koenig, 2009) e para o desenvolvimento de

estados positivos de saúde mental que, consequentemente, contribuem para o sucesso

cognitivo, emocional e envelhecimento ativo no geral (Martin et al., 2015).

2. Religiosidade e Espiritualidade

A religião é conceptualizada de forma diferenciada em cada contexto sociocultural e

histórico, dependendo da perspetiva teórica que a sustenta. A religião é um sistema organizado

de mitos, ritos, crenças e símbolos que produzem um modelo de relação do ser humano com o

transcendente (Rodrigues, 2007), diferentemente da espiritualidade, que teria relação com

uma busca pessoal de sentido (Koenig, Larson & Larson, 2001). Embora haja proximidade

conceitual entre religiosidade e espiritualidade, esta última, segundo Pinto e Pais Ribeiro

(2007), constrói-se nos contextos socioculturais e históricos, estruturando e atribuindo

significado a valores, comportamentos e experiências do ser humano, sendo que, por vezes, se

materializa na prática de um credo religioso específico. A espiritualidade, etimologicamente,

refere-se ao domínio do espírito, à dimensão imaterial, normalmente descrita como algo

invisível e intangível ao indivíduo (Hufford, 2005 citado por Stroppa & Almeida, 2008). Assim,

esta pode ser entendida como uma força capaz de auxiliar o indivíduo a superar as dificuldades,

detendo também um sentido de conexão com algo superior a si, podendo ou não incluir

participação religiosa formal (Gutz & Camargo, 2013; Batista, 2007). Por sua vez, a religiosidade

inclui comportamentos, atitudes, valores e crenças, sentimentos e experiências e refere-se ao

grau de aceitação ou ligação que cada indivíduo tem face à instituição religiosa, nomeadamente

no que diz respeito à frequência da igreja, participação nas atividades religiosas e à forma

como se põe em prática as crenças e os rituais (Rodrigues, 2007). A religiosidade, sendo

derivada e vinculada ao contexto religioso, é definida como a vivência ou apropriação dos

elementos determinados de um conjunto de crenças (Franco, 2013).

As visões mais tradicionais da Psicologia consideravam a religião como um mecanismo

de defesa passivo, uma negação idealizada, ou como uma forma de coping evitante, com vista

a lidar com os problemas da vida (Pargament & Ano, 2004). Freud (1961, citado por Lewis,

1994) sugeria ainda um paralelo entre as práticas religiosas e as ações obsessivas,

acrescentando que tanto as práticas neuróticas como as religiosas serviam de medidas

defensivas e de autoproteção envolvidas na repressão dos impulsos instintivos. Durante o século

XX, seguindo a tese da secularização, pensava-se que a religião teria os dias contados,

considerando-a como uma reminiscência que o Homem guardava de um período primitivo do

seu desenvolvimento. Freud explicava, ainda, que a religião era vista como uma expressão

social da ilusão, mostrando-se o mundo como um molde dos próprios desejos do Homem

(princípio do prazer).

A espiritualidade continua a ser um conceito de difícil entendimento, sendo que esta é

experienciada e expressa, segundo Hill e Hood (1999), através da compreensão religiosa

65

convencional. Porém, a conceção de espiritualidade contemporânea ocidental distingue a

mesma da religião. Beck (1986) e Booth (1984), por seu lado, sugerem que a espiritualidade

intensifica e aprofunda a experiência interna, possuindo a pessoa espiritual valores positivos e

criativos, bem como traços de consciência, uma perspetiva holística, integração, gratidão,

esperança, aceitação e coragem. A espiritualidade, segundo Volcan, Sousa, Mari e Hirta (2003),

está vinculada a uma procura pessoal de sentido, com ênfase no aperfeiçoamento do potencial

humano. Nesta linha de pensamento, Elkins, Hedstrom, Hughes, Leaf e Saunders (1988)

propuseram um modelo constituído por nove componentes, tocando estes, entre outros, os

conceitos de transcendência, missão de vida, consciência da sacralidade, sacralização da vida,

altruísmo, idealismo e consciência do trágico. Mais tarde, Ingersoll (1994) propôs um modelo

de espiritualidade composto por sete dimensões: 1) significado; 2) conceção de divindade; 3)

relação; 4) mistério; 5) jogo; 6) experiência; e uma dimensão 7) integrativa.

No caso da definição de religiosidade, esta inclui crenças, práticas organizacionais

(como as atividades institucionais da igreja) e compromisso com o sistema teológico/teorético

da religião da qual faz parte (Rodrigues, 2007). Neste contexto, do ponto de vista psicológico,

é pertinente realçar que diferenças no estilo cognitivo, na personalidade ou no tipo de

motivação influenciam a forma como a religião é vivida. De acordo com Dong e Eun-kyoung

(2006), há várias dimensões da religiosidade que podem ser analisadas, mas as mais

amplamente investigadas são: a religiosidade subjetiva (visão que o sujeito tem da sua própria

religiosidade, ou seja, o quão religioso se considera), a denominação religiosa (religião

praticada pelo indivíduo) e práticas religiosas quotidianas (número de vezes que uma pessoa

vai à igreja e/ou frequenta atividades ou serviços religiosos). Assim, ao passo que a religião

estaria vinculada às instâncias de organização institucional, a espiritualidade tem em conta as

dimensões afetivas, pessoais e experienciais (Pargament, 1997). Em suma, a religião pode ser

considerada como o sistema que fornece o conteúdo simbólico, moral e ritual das crenças; a

religiosidade é caraterizada pela forma como o indivíduo se apropria desse sistema,

atualizando-o, a partir das suas vivências; e, por fim, a espiritualidade é conceptualizada como

um sistema próprio e independente de potências como a criatividade, liberdade e autenticidade

(Franco, 2013).

A atitude religiosa, além de incluir crenças e práticas religiosas, envolve também

sentimentos positivos e negativos associados a essas crenças (Hill & Hood, 1999). O indivíduo,

através da religiosidade, pode atribuir significados aos fatos, compreendendo-os como parte de

algo mais amplo, mediante a crença de que nada ocorre ao acaso e de que acontecimentos da

vida são determinados por uma força/entidade superior. Tais fatos, segundo os mesmos

autores, associados às crenças pessoais, podem levar a um enriquecimento individual, como

sabedoria, equilíbrio, maturidade e resiliência. A religiosidade, segundo Fetzer (2003, 1999),

envolve sistemas de culto e de doutrina e é compartilhada dentro de um grupo e pode ter,

66

conforme referem Allport e Ross (1967), duas orientações: intrínseca e extrínseca9 e, para

Baker (2003) pode, igualmente, seguir duas vertentes: organizada e não organizada10.

2.1. Religiosidade e Espiritualidade: uma perspetiva psicológica

Num dos artigos de Stroppa e Almeida (2008) é referenciado que, nos séculos XIX e XX,

época em que alguns dos intelectuais eram influenciados por uma visão antirreligiosa, a

religiosidade era considerada como um estado intelectual e social primitivo. Esta perspetiva

não foi fundamentada por investigações, contribuindo as opiniões e teorias pessoais para a

disseminação da ideia de que a religiosidade/espiritualidade teriam um impacto negativo sobre

a saúde mental. Também Charcot e Maudsley, médicos da época, criticaram e consideraram

várias experiências e práticas religiosas como sendo patológicas. Freud, por sua vez, influenciou

médicos e psicólogos, sugerindo que a religiosidade teria uma influência irracional e neurótica

sobre o psiquismo humano, acrescentando que esta era o resultado da desvalorização da vida

e da distorção da visão do mundo real (Stroppa & Almeida, 2008). Ellis, fundador da Terapia

Relacional Emotiva, sugeriu que a religiosidade equivalia a um distúrbio emocional. Assim,

embora dominasse uma visão negativa da religiosidade, também existiram outros autores que

não partilhavam da mesma opinião. Jung, por exemplo, considerava a religião como aspeto a

considerar na vida do sujeito, bem como um fenómeno histórico e sociológico.

Ao longo do tempo, intelectuais e investigadores do século XX, pressupuseram o

desaparecimento ou diminuição da religiosidade. Contrariamente ao esperado, nas últimas

décadas, observou-se a manutenção de elevadas percentagens de pessoas que se consideram

religiosas, levando a um aumento do interesse por parte dos investigadores, na área da

Psicologia, sobre esta temática (Stroppa & Almeida, 2008).

9 Intrínseca - a pessoa internaliza as suas crenças de tal modo que a religião (força major) faz parte integrante da sua vida diária; Extrínseca - a pessoa utiliza a religião como forma de atingir os seus próprios fins (encontrar segurança, status social, consolo e interação social). O compromisso com os valores religiosos é mais superficial. 10 Organizada (práticas religiosas públicas na igreja ou sinagoga) e não organizada (práticas religiosas privadas: oração pessoal, meditação, leitura de textos religiosos e da Bíblia, audição de música religiosa e visualização de programas religiosos na televisão).

67

3. Religiosidade/espiritualidade ao longo do Ciclo Vital: da

adultez à velhice

Durante o ciclo vital, o indivíduo é desafiado a estabelecer novas relações consigo e

com o mundo, bem como a encontrar estratégias de superação das limitações (Ribeiro de Lima

& Coelho, 2011). A perspetiva do desenvolvimento ao longo do ciclo vital (Life-Span)

compreende o desenvolvimento a partir do indivíduo e do que é comum aos membros de

determinada sociedade (Ribeiro de Lima e Coelho, 2011).

A Life-Span é uma abordagem de orientação dialética que tem colaborado

expressivamente para as mudanças de paradigma no que diz respeito à velhice, sobretudo, no

que diz respeito ao desenvolvimento intelectual dos idosos (Baltes & Baltes, 1990). Esta

perspetiva concebe o envelhecimento de três formas, que não são passiveis de uma

interpretação rígida: i) normal, onde são referidas as mudanças esperadas e inevitáveis

inerentes ao processo de envelhecer; ii) patológico, onde se encontram os casos de doença,

disfuncionalidade e descontinuidade do desenvolvimento; e iii) ótimo ou saudável,

caraterizando-se, este último, por um ideal sociocultural de qualidade de vida, funcionalidade

física e mental plenas, baixo risco de doenças e incapacidade, bem como motivação de viver

(Baltes, 1987). Uma vez que o funcionamento mental providencia importante informação

acerca da forma como os indivíduos aprendem a lidar com as diferentes circunstâncias de vida,

Faller, Melo, Versa e Marcon (2010) referem que as práticas religiosas fornecem suporte

emocional, principalmente para o idoso, que com o avançar da idade, conta com a repercussão

da sua religiosidade, nas relações sociais, na saúde física e mental.

As crenças e práticas que caraterizam a vida espiritual flutuam ao longo do ciclo de

vida, consoante as circunstâncias de vida e o desenvolvimento do indivíduo (Miller & Kelley,

2005). As teorias psicodinâmicas, assim como as do desenvolvimento pós formal, veem a

espiritualidade entrelaçada com o processo maturacional e com as experiências associadas à

meia-idade (Wink & Dillon, 2008). Assim, apesar de a idade adulta não ser definida de forma

estanque, Barros (2000) organiza esta etapa em três grupos: o adulto jovem (dos 25 aos 45

anos), o adulto médio (dos 45 aos 65 anos) e o adulto sénior (a partir dos 65 anos). A chamada

“meia-idade” deverá ser vista no contexto do ciclo de vida com caraterísticas únicas que devem

ser integradas em dimensões biológicas e socioculturais complexas (Wink & Dillon, 2002). No

meio da vida, segundo Fagulha (2005), os adultos são confrontados com experiências que

exigem reestruturações relacionais e que apelam para uma tomada de consciência, por

exemplo, em relação à morte (e.g., perda dos progenitores), sinais de envelhecimento e

adaptação à emancipação dos filhos. Autores como Erikson e Jung consideram que a

espiritualidade está ligada ao processo maturacional e às experiências associadas à idade adulta

(Barros, 2000). Wink e Dillon (2002) referem que os padrões de participação religiosa se

estabelecem no início da idade adulta e tendem a permanecer estáveis. Estes autores defendem

que parece existir uma clara ascendência do nível de espiritualidade na meia-idade, podendo

68

esta ser considerada um fenómeno característico desta etapa do ciclo de vida, uma vez que o

seu desenvolvimento requer autonomia pessoal e consciência do relativismo contextual que,

normalmente, se desenvolve nesta altura. Para os indivíduos adultos são vários os fatores que

influenciam a perceção de sentido na vida: os fatores internos, que estão ligados ao

desenvolvimento do indivíduo (personalidade, estratégias de coping, religiosidade,

espiritualidade e sentimento de pertença), e os fatores externos, que pertencem ao meio e

corroboram o significado que as pessoas dão à vida (oportunidades sociais, trabalho, lazer e

segurança) (Sommerhalder, 2010). Assim, é possível apontar alguns fatores explicativos da

religiosidade/espiritualidade adulta: 1) procura de significado para a vida – relacionado com a

origem e desenvolvimento religioso, como resposta a interrogações existenciais; e) desejo de

auto transcendência – o indivíduo acredita que, apenas, a fé pode dar a plena transcendência;

3) globalidade – a religião possui um caráter totalizante, exprime-se na sua complexidade sob

um princípio organizador capaz de dar significado a tudo, procurando integrar e interpretar

aspetos menos claros do passado; 4) autonomia motivacional – uma religiosidade adulta é fonte

motivacional do comportamento; 5) dinamicidade – a religião adulta funciona como tarefa

aberta, como tendência heurística, flexível e não estereotipada; e 6) consequencialidade – a

verdadeira religião exige condutas coerentes (Barros, 2000).

De acordo com a perspetiva life-span, o desenvolvimento e a manutenção de padrões

efetivos de envelhecimento dependem de fatores de natureza genético-biológica, e, também,

da influência de fatores socioculturais (Baltes, 1987), onde se insere a dimensão religiosa-

espiritual (Ribeiro de Lima & Coelho, 2011). Segundo Koenig (2009), através da religião, os

idosos socializam, inserem-se em grupos, participam em atividades sociais regulares, sendo

que, para muitos, a sua comunidade de fé torna-se a rede principal de apoio social. As pessoas

idosas relatam a importância da religiosidade na vivência das dificuldades que atravessam no

processo de envelhecimento. A espiritualidade é uma fonte importante de suporte emocional,

contribuindo decisivamente para o bem-estar na velhice, sobretudo, pela rede de suporte social

e pelas estratégias para lidar com o stress (Monteiro, 2004).

A plasticidade desenvolvimental é uma das caraterísticas subjacentes a esta perspetiva,

que se refere ao potencial de mudança de um indivíduo e à sua flexibilidade para lidar com

novas situações (Baltes, 1987) e integra fatores relativos à espiritualidade (Lerner, Dowling &

Anderson, 2010). O grau de plasticidade é inerente à capacidade de reserva11 de cada pessoa,

a qual é constituída por recursos internos e externos que mudam de acordo com o tempo e o

meio envolvente (Baltes, Lindenberger & Staudinger, 2006). Apesar de, segundo Neri (2006), a

velhice ser caracterizada pelo declínio de plasticidade e das funções biológicas, é igualmente

uma fase de readaptação constante, que Baltes et al. (2006) descrevem como uma otimização

seletiva com compensação. Nesta compensação, a espiritualidade pode ser reconhecida como

um recurso para o bem-estar na velhice (Sommerhalder & Goldstein, 2006). Desta forma, a

participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto), e a presença de oportunidades

11 Segundo Staudinger, Marsiske e Baltes (1995), o termo capacidade de reserva refere-se ao potencial de cada indivíduo para a mudança e, especialmente, o seu potencial de crescimento, face às adversidades.

69

de desenvolvimento, coadunadas com os fatores espirituais-religiosos, segundo Scoralick-

Lempke e Barbosa (2012), têm-se mostrado fundamentais para um melhor desenvolvimento ao

longo do ciclo vital. Langer (2008) refere que durante a velhice, os indivíduos estão sujeitos,

frequentemente, a agressões físicas, emocionais, sociais e espirituais. Baltes e Baltes (1990)

ressaltam que, mesmo quando estes sinais de fragilidade são pronunciados, os idosos são

capazes de fazer as modificações, ajustes e compensações necessárias aos seus objetivos e

aspirações, recorrendo, com frequência, às suas crenças religiosas (Scoralick-Lempke &

Barbosa, 2012). O modelo SOC (Seleção, Otimização e Compensação), proposto por Baltes e

Carstensen (1996), procura explicar o modo como decorre a orquestração da vida, sendo, por

isso, visto como um modelo de adaptação, sobretudo, a partir da meia-idade e durante a

velhice. Baltes e Staudinger (2000) referem que os adultos mais velhos tendem a investir mais

tempo em tarefas de compensação do que em tarefas de otimização. Contudo, fatores como a

regulação emocional e espiritual ou a sabedoria são importantes para uma mudança contínua e

positiva (Baltes & Staudinger, 2000; Kunzmann, 2004). As conclusões do estudo de Gall, Malette

e Guirguis-Younger (2011) mostraram que a espiritualidade para os idosos contribui para o

processo de otimização seletiva do modelo proposto por Baltes e Baltes (1990). Em suma, o

modelo SOC defende que os ganhos e as perdas evolutivas do envelhecimento são resultantes

da interação entre recursos individuais e do ambiente, onde se insere o meio religioso,

procurando este modelo realizar uma descrição do ciclo vital e descobrir como os indivíduos se

adaptam às mudanças biológicas, psicológicas, sociais e espirituais (Neri, 2006).

Alguns estudos sugerem a existência de efeitos geracionais, indicando que os

adolescentes e jovens adultos são considerados menos religiosos em relação aos adultos mais

velhos (Hood, Spilka, Hunsberger & Gorsuch, 1996). Assim, dentro desta temática, levanta-se

uma questão: de que forma é que a idade se relaciona com a religiosidade dos indivíduos?

São propostos, por Argyle e Beit-Hallahami (1975), três modelos que procuram

descrever as mudanças comportamentais e as convicções religiosas ao longo do

desenvolvimento: 1) o modelo tradicional, onde é apresentado um decréscimo da atividade

religiosa entre os 18 e os 30 anos, seguindo-se um contínuo aumento, após esta faixa etária; 2)

o modelo da estabilidade, onde se considera não haver alterações relativas à idade; e 3) o

modelo sem compromisso que considera haver um declínio contínuo da atividade religiosa à

medida que a idade avança. Todavia, autores como Bender (1968) e Cameron (1969) defendem

a evidência de que, com o avançar dos anos, aumentam a importância do rezar, da perceção

da importância da religião e do interesse na religião e frequência de locais de culto – o que

corrobora o defendido pelo modelo tradicional.

Fowler (1991), tendo por base os estádios de desenvolvimento cognitivo de Piaget e

moral de Kolberg, sugeriu que a fé religiosa individual obedece a um processo evolutivo,

correspondente a uma sequência de seis estádios: 1) fé primitiva (0 – 2 anos) – definida por

desenvolver a confiança entre a criança e o seu cuidador; 2) fé intuitiva e projetiva (primeira

infância) – caracterizada pelas imagens criadas para representar o bem e o mal, despertadas

pelos padrões morais; 3) fé mítica/literal (idade escolar) – primeiras expressões de fé, através

70

de linguagem simbólica e metafórica; 4) fé convencional (da adolescência à primeira idade

adulta) – caracterizada pela conformidade entre a autoridade religiosa e o desenvolvimento da

identidade pessoal; 5) fé individual e refletiva (da juventude à idade adulta) – definida pela

autoconsciência e compromisso com o sistema religioso; 6) fé conjuntiva (idade adulta) –

caracterizada pelo reconhecimento e compreensão do paradoxo entre a transcendência e a

realidade; e 7) fé universalizada (da idade adulta à velhice) – perspetiva transcendente,

caracterizada por sentimentos de unidade e compaixão (Oser, Scarlett e Bucher, 2006; Fowler,

1991).

A identidade religiosa e espiritual, no final da vida, e a fé religiosa são de extrema

importância. Assim, segundo Bradley, Fried, Kasl e Idler (2000) levantam-se duas questões: a)

até que ponto a fé e a espiritualidade são importantes no período precedente à morte?; e b)

será que as crenças e práticas religiosas permanecem estáveis ao longo desta última etapa da

vida?.

Vários estudos sobre o envelhecimento dão ênfase à importância da religião para

conseguir recursos para enfrentar os desafios que a idade impõe - isolamento social,

enfraquecimento cognitivo e incapacidade física (e.g., Bevins & Cole, 2000). Estes recursos,

encontrados na religião, segundo Koenig (1999) e Pargament (1997), atuam de forma a diminuir

a depressão, a ansiedade, suicídio - situações comuns em populações idosas, pois é na velhice

que surgem momentos que representam maior desafio (Pargament, 1997). Outros estudos (e.g.,

Vecchia, Ruiz, Bocchi & Corrente, 2005; Panzini, Rocha, Bandeira & Fleck, 2007) que se

debruçaram sobre a relação entre religião e qualidade de vida em idosos revelam que os efeitos

da religiosidade no bem-estar são maiores neste grupo etário do que nos mais novos (Ferreira,

2005). Ainda que, segundo Barros (2000), os idosos desinvistam, progressivamente, nos contatos

com o mundo, podem, no entanto, e do ponto de vista religioso, investir na entrega a funções

e atividades na igreja. A frequência destas atividades correlaciona-se com um maior bem-estar,

mais felicidade, utilidade e adaptação, diminuição do medo da morte e, por conseguinte, uma

elevada resiliência (e.g., Mackenzie, Rajagopal, Meilbohm & Lavizzo-Mourey, 2000). De referir

que a diminuição da frequência/participação, se deve, frequentemente, a problemas de

autonomia (doença ou incapacidade física) para a pessoa se deslocar a locais de culto onde

ocorrem os rituais religiosos e não a uma diminuição do interesse constatando-se,

inclusivamente, que a atividade não organizacional religiosa – igreja eletrónica ou mediatizada

– tende a aumentar nos idosos (Ferreira, 2005). Constata-se ainda que os idosos com uma

vivência verdadeira de fé e que acreditem na vida depois da morte veem na religião um

sustentável apoio no último período da sua vida e na forma de enfrentar as doenças nesta fase

terminal (Koenig, 1999).

De acordo com o European Social Survey (ESS1, s.d., citado por Rodrigues, 2010), 83%

da amostra portuguesa considera-se católica, 3% de outras religiões e 14% afirma não ter

religião. A assistência à missa semanal corresponde a 30% da amostra, prevalecendo a

assistência ocasional, 48%. Segundo European Value Survey de 1999, a prática de oração diária

é destacada por 33% de população, superada pelo somatório de oração semanal e ocasional,

71

51% (26, 25, respetivamente), e 17% nunca reza (Arroyo-Menéndez, 2007). Em comparação com

outros países católicos, apenas a Irlanda e a Polónia apresentam maiores taxas quer de

participação semanal na missa, quer de oração diária (Arroyo-Menéndez, 2007). Em Portugal,

a religiosidade é marcada, claramente, por uma elevada confiança na Igreja enquanto

instituição, uma crença num Deus bastante humanizado, no sentido que a Bíblia lhe dá, um

Deus cujo Homem foi criado à imagem e semelhança, pese ainda o facto de os portugueses

relacionarem a fé com aspetos mais mundanos e menos transcendentes (Arroyo-Menéndez,

2007).

4. Religiosidade e espiritualidade como estratégia de coping e

fatores de resiliência

Segundo Werner (1996), embora a Psicologia não tenha dado relevância à

espiritualidade nos seus campos de estudo, a pesquisa que se debruça sobre a resiliência tem

identificado a espiritualidade e a religiosidade como fatores promotores da mesma. Todavia,

alguns estudos demonstraram que a religião e a espiritualidade são semelhantes aos fatores de

proteção da resiliência (Kim & Esquivel, 2011). Conceitualmente, tem sido proposto que a

espiritualidade e a religiosidade podem facilitar a resiliência em quatro maneiras distintas: 1)

construir e manter as relações pessoais; 2) facilitar o acesso ao suporte social; 3) fortalecer os

valores morais; e 4) oferecer oportunidades para desenvolvimento e crescimento pessoal (Van

Dyke & Elias, 2007).

A dimensão espiritual/religiosa tem sido descrita como sendo relevante na atribuição de

significado ao sofrimento advindo de uma doença crónica e, também, como recurso de

esperança face às mudanças no estado de saúde provenientes do decorrer da idade

(Greenstreet, 2006). Os indivíduos passam por um processo de ajustamento ao longo da vida,

podendo este ser imprevisível e complexo (Avgoulas & Fanany, 2013), que exige que a pessoa

se adapte de forma diferente a vários estados (e.g., saúde), dependendo a eficácia da sua

adaptação das estratégias de coping adotadas. O papel da religião tem-se revelado

particularmente relevante como estratégia de coping individual para se lidar com os eventos

de vida, sendo a fé religiosa, frequentemente, apontada como uma importante fonte de

resiliência, com um papel vital no apoio a pessoas que experienciam uma crise (Pargament &

Cummings, 2010). Por seu turno, Yunes (2003) considera que a espiritualidade/religiosidade é

um dos processos principais da resiliência, onde esta é vista como uma oportunidade importante

para o crescimento e descoberta interior, ao longo de todo o curso de desenvolvimento.

Lago-Rizzardi, Teixeira e Siqueira (2010) consideram que a religiosidade aparece como

primeira ou segunda estratégia de coping em condições de dor, sendo evidenciados resultados

fisiológicos significativos como diminuição da pressão arterial sistólica e da frequência cardíaca

e respiratória. Os autores referem, também, que com as atividades religiosas, a ativação do

72

córtex pré-frontal aumenta significativamente ocorrendo um aumento dos mediadores

envolvidos na dor, como GABA, serotonina e dopamina. Assim, a religiosidade tem sido

apresentada como fator relevante na promoção de qualidade de vida para o idoso, pelo que a

sua relação com a saúde, bem-estar e resiliência tem sido comprovada (Sommerhalder &

Goldstein, 2006).

4.1. Coping Resiliente: religiosidade/espiritualidade como fator

promotor

As crenças espirituais/religiosas podem constituir fatores de proteção em momentos de

stress, uma vez que estas se encontram associadas a melhores habilidades para lidar com

eventos stressantes, melhor bem-estar psicológico, assim como resiliência, procurando dar

sentido às experiências de vida e entender a causa dos acontecimentos stressantes (Hood, Hill

& Spilka, 2009). Ao longo do processo de envelhecimento, um self resiliente além de não se

adaptar, apenas, às perdas, desenvolve e fortalece novas oportunidades de crescimento

(Carstensen & Freund, 1999), podendo a religiosidade e espiritualidade constituir um

mecanismo de fortalecimento e resistência. Assim, o indivíduo que vê a religião como uma

parte imprescindível à sua vida, usá-la-á no seu processo de coping resiliente, pois o contexto

do evento influencia as perceções e as suas atribuições. Becker e Newsom (2005) ao afirmarem

que a resiliência se manifesta de variadas formas nas diversas culturas, exemplificam esta

questão fazendo alusão ao uso do coping religioso e instrumental como forma de lidar de modo

adaptativo com contextos adversos, pelo que a avaliação da resiliência deve ter em

consideração a idiossincrasia de cada indivíduo e o seu universo cultural e geracional.

Numa perspetiva adaptativa, para Taranu (2011), as atribuições religiosas estão

associadas a eventos stressantes, e estes, em última instância, promovem o crescimento

pessoal, através de atitudes resilientes. Segundo Walsh (2007), vários estudos apuraram um

crescimento individual após um acontecimento traumático positivo em cinco dimensões: i)

surgimento de novas oportunidades; ii) relações estreitas e compassivas com os outros; iii)

sentimento de confiança perante o futuro; iv) reorganização das prioridades e plena apreciação

da vida; e v) aprofundamento da espiritualidade. Jimenez-Ambriz (2011a) afirma que, em

variados trabalhos de campo, foi sugerido que a adaptação positiva a situações de risco

(resiliência) era proveniente de fatores externos à pessoa, nomeadamente a família,

caraterísticas ambientais ou os contextos sociais e culturais, do qual faz parte o meio religioso.

Segundo Tavares (2002), “o conceito de resiliência evoluiu do concreto para o abstrato,

das realidades materiais, físicas e biológicas para as realidades imateriais ou espirituais” (p.

45). Ou seja, é atribuída ao indivíduo a responsabilidade de criar formas para fortalecer e

desenvolver a capacidade de ser resiliente, através, também, de atividades

religiosas/espirituais (Chequini, 2007). Assim, segundo Walsh (2007), a espiritualidade

evidencia a existência de potenciais forças escondidas no Homem, que o envelhecimento faz

73

despoletar. A investigação sobre resiliência em idosos, desenvolvida por Silva e Alves (2007),

concluiu que a espiritualidade se revelou um forte indicador de resiliência na superação de

adversidades, bem como na capacidade de encontrar significado na vida a partir da fé religiosa.

Apesar de, atualmente, a espiritualidade ser desvinculada das causas e da cura das

doenças no quadro clínico científico, para quem a experiencia como um processo dinâmico e

pessoal, pode constituir um importante mecanismo de coping resiliente. Assim sendo, tem-se

assistido à alteração de paradigma no sentido em que se começa a dar maior importância à

espiritualidade do indivíduo, sobretudo, no que diz respeito à compreensão de como as crenças

interferem ao nível da saúde e da aprendizagem de estratégias resilientes (Pinto & Pais-Ribeiro,

2007). Na cultura ocidental, segundo Adrião (2013), podem ser destacados, como exemplo da

vivência da espiritualidade/religiosidade como fator de equilíbrio, os estágios de luto, onde o

indivíduo almeja repercussões de melhor resiliência e bem-estar subjetivo.

Um indivíduo resiliente é aquele que, face à exposição a fatores de risco, tem a

capacidade de sobrepor à adversidade os fatores de proteção, pelo que, segundo Masten (2001),

a resiliência sofre influência da espiritualidade/religiosidade, dentro do contexto sociocultural

onde esse indivíduo se insere. Simão e Saldanha (2012) afirmam que a espiritualidade se torna

numa ponte para o ser humano, quando ocorre uma crise na sua vida, onde ser

religioso/espiritual passa a ser uma ótima estratégia de adaptação com consequências positivas

ao nível da estruturação da resiliência. Os mesmos autores afirmam que, por meio da

espiritualidade como fator promotor de resiliência psicológica, os indivíduos através da fé

religiosa têm uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas formas de adaptação e

recursos internos de superação, sobretudo, a população idosa.

Na perspetiva da Psicologia da Religião, o coping consiste numa procura de significado,

quando ocorridas situações de stress, culminando num processo através do qual o sujeito

procura entender e lidar com os desafios (Stroppa & Almeida, 2008), assumindo este um papel

central na relação entre a religiosidade e a saúde.

A ativação de estratégias de coping pressupõe que: 1) a avaliação que indivíduo faz do

evento/experiência seja stressante; 2) a interpretação do indivíduo é influenciada pela cultura,

que modela a avaliação da situação (Santos, Giacomin, Pereira & Firmo, 2013). A religiosidade

influencia os mecanismos de coping e, comummente, permite ao individuo manter uma visão

positiva e de satisfação com a vida (Serra, Watson, Sinclair & Kneale, 2011). Algumas pesquisas

demonstraram que, durante o processo de envelhecimento, existem alegrias, tristezas e

perdas, sendo que as estratégias utilizadas para lidar com estes eventos dependem das

experiências prévias, da idade e da cultura e, também, do grau de espiritualidade/religiosidade

do sujeito (Zenevicz, Yukio, & Madureira, 2012).

4.1.1. Coping Religioso

O coping religioso, por sua vez, é o processo pelo qual o indivíduo aprende a lidar com

importantes desafios pessoais ou situacionais da sua vida, através das suas

74

crenças/comportamentos religiosos (Santos, Giacomin, Pereira & Firmo, 2013). As estratégias

de coping religioso podem ser classificadas como positivas e negativas. Entende-se por coping

positivo, as estratégias religiosas que conduzem a resultados benéficos, tais como procurar o

amor e proteção em Deus ou reavaliar o agente stressor como potencialmente benéfico. Por

outro lado, quando os efeitos são prejudiciais, o coping religioso define-se como negativo, são

exemplo disso o expressar descontentamento relativamente a Deus ou reavaliar o agente

stressor como uma punição de Deus. A Tabela 1 elucida acerca de alguns exemplos do coping

positivo e negativo.

Tabela 1 – Estratégias de Coping Religioso (Pargament, Tarakeshwar, Ellison & Wulff, 2001).

Foram propostos por Pargament (1997) quatro estilos de coping religioso: 1)

autodirigido; 2) delegação; 3) colaboração; e 4) súplica, como é demonstrado na Tabela 2.

Tendo por base os objetivos da religião, o coping religioso pressupõe: a procura de significado,

o controlo, o conforto espiritual, a procura de intimidade com Deus e outros membros da

sociedade, a transformação/aceitação da vida e o bem-estar físico, psicológico e emocional

(Tarakeshwar & Pargament, 2001).

Estratégias Positivas Descrição

Reavaliação religiosa benevolente Redefinir o stressor através da religião como

potencialmente benéfico.

Coping religioso de colaboração Tentar controlar e resolver os problemas em

parceria com Deus.

Foco religioso Procurar o alívio da situação stressante focando-

se na religião.

Perdão religioso

Apoio Espiritual

Procurar ajuda na religião para mudar os

sentimentos de raiva, mágoa ou medo.

Procurar conforto e renovação de confiança

através do amor e cuidado de Deus.

Estratégias Negativas Descrição

Reavaliação de Deus como punitivo Considerar o stressor como forma de punição

divina para os pecados individuais.

Reavaliação dos poderes de Deus Redefinir os poderes de Deus para influenciar a

situação stressante.

Coping religioso de delegação Esperar passivamente que Deus resolva os

problemas.

Descontentamento religioso

interpessoal

Expressão de confusão e descontentamento com

os membros da instituição religiosa.

Intervenção divina Suplicar por intervenção divina direta.

75

Tabela 2 – Características dos estilos de Coping Religioso (Pargament et al., 2001).

Estilo Descrição

Autodirigido (self-directing) O indivíduo considera-se responsável pela

resolução dos problemas; Deus tem um papel

passivo; Assenta na perspetiva de que Deus dá ao

indivíduo a liberdade e os recursos para dirigir a

sua própria vida.

Delegação (deferring) Atribui-se a Deus a responsabilidade de resolução

dos problemas; indivíduo tem um papel passivo.

Colaboração (collaborative) Corresponsabilidade entre Deus e o indivíduo na

resolução dos problemas; O indivíduo e Deus

“trabalham” em parceria no processo de coping.

Súplica (pleading ou petitionary) Tentativa de influenciar a vontade de Deus,

através de petições por intervenção divina.

76

Anexo 2 - Extensão do Estudo Empírico

1. Formulação do problema

1.1. Objetivos do estudo

A extensão da componente empírica desta dissertação visa expor e descrever, de uma

forma contínua e detalhada, os objetivos e hipóteses do estudo e respetivos dados estatísticos

obtidos, sobretudo, aqueles que não tiveram lugar anteriormente. É apresentada uma

redundância deliberada, integrada com o que foi referido anteriormente, nomeadamente, no

artigo empírico, a fim de melhor complementar todas as componentes aqui implicadas.

A pertinência da temática, que visa o estudo da espiritualidade como potencial fator

de promoção de resiliência, resulta de duas questões: Será que o grau de espiritualidade está

relacionado com o grau de resiliência dos sujeitos? Haverá diferenças, a este nível, entre os

indivíduos em diferentes fases do ciclo vital?

Neste sentido, a resiliência pode ser descrita como uma caraterística idiossincrática

que, segundo Stephens, Breheny e Mansvelt (2014), se desenvolve ao longo do tempo, e é

considerada como uma adaptação bem-sucedida, às adversidades da vida, o que implica

flexibilidade mental, emocional e comportamental (APA, 2006). Enquanto constructo

psicológico, começou por ser estudada em relação à infância e adolescência. Posteriormente,

a resiliência foi analisada e discutida em relação à velhice, onde parece assumir algumas

especificidades. Em contrapartida, na idade adulta, os sujeitos são confrontados com

experiências que exigem reestruturações relacionais, apelando para uma tomada de

consciência, por exemplo, em relação aos sinais de envelhecimento (Fagulha, 2005).

Atualmente, constatamos que a investigação psicológica tem vindo a atribuir maior

importância à espiritualidade do indivíduo, sobretudo no que se refere à compreensão da forma

como as crenças interferem ao nível da aprendizagem de estratégias resilientes. A revisão da

literatura desta temática revela que a religiosidade e a espiritualidade podem estar associadas

a uma maior resiliência em condições stressantes, situações de perda e, sobretudo, na velhice.

Assim, partindo do pressuposto que a espiritualidade/religiosidade influencia a resiliência dos

indivíduos, através desta investigação pretende-se estudar as especificidades existentes entre

diferentes momentos do desenvolvimento, relativamente aos níveis de religiosidade e

resiliência.

77

1.2. Hipóteses

A base de sustentação para a formulação de hipóteses advém da revisão de estudos

anteriores, bem como dos principais objetivos propostos para este estudo. A formulação das

hipóteses do estudo é a que se segue:

H1: Existe diferença estatisticamente significativa no coping resiliente entre homens e

mulheres;

H2: Existe diferença estatisticamente significativa nas crenças entre homens e mulheres;

H3: Existe diferença estatisticamente significativa na Esperança/Otimismo entre homens e

mulheres;

H4: Existe diferença estatisticamente significativa no coping resiliente em função da idade.

H5: Existem diferenças estatisticamente significativas na espiritualidade em função da variável

idade:

H5a: Existem diferenças estatisticamente significativas nas crenças em função da

variável idade;

H5b: Existem diferenças estatisticamente significativas na esperança/otimismo em

função da variável idade;

H6: Existe associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e as crenças;

H7: Existe associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e

esperança/otimismo;

H8: Existe associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e a frequência em

locais de culto;

H9: Existe uma associação estatisticamente significativa entre coping resiliente e a frequência

de oração;

H10: As crenças e a Esperança/Otimismo influenciam o coping resiliente:

H10a: As crenças influenciam o coping resiliente;

H10b: A Esperança/Otimismo influenciam o coping resiliente.

2. Método

Esta investigação tem por base um design cross-sectionl/transversal de natureza

correlacional, recorrendo a uma amostra por conveniência e a um tratamento quantitativo dos

dados. Este tipo de design envolve a abordagem a uma amostra de sujeitos apenas uma vez,

permitindo estabelecer comparações entre grupos e analisar relações entre variáveis. Um

estudo correlacional tem como objetivo avaliar/medir o grau de relação entre duas ou mais

variáveis, num determinado contexto, acabando por quantificar as relações. A principal

vantagem deste tipo de estudo é saber como se comporta uma determinada variável,

78

conhecendo o comportamento de outras variáveis relacionadas. Assim, os estudos quantitativos

tendem à recolha de dados numéricos que permitam testar hipóteses, centralizando as suas

análises em métodos estatísticos (Sampieri, Collado & Lucio, 2006).

2.1. Participantes

A amostra por conveniência é constituída por um total de 1310 indivíduos, com idades

compreendidas entre os 25 e os 97 anos, sendo que 589 dos inquiridos são de nacionalidade

portuguesa e 686 brasileira. No que diz respeito à variável idade, foram estabelecidos três

grupos de comparação, como é demonstrado na tabela 1. Apresentando uma divisão equitativa

quanto ao género, 44.7% dos participantes da amostra são homens e 55.3% mulheres.

Relativamente ao nível de escolaridade, 76.8% apresenta um nível de escolaridade superior,

seguidamente, a segunda maior fatia (9.5%) corresponde apresenta até 12 anos de escolaridade,

3.9% apresenta escolaridade até 9 anos, 1.4% até 6 anos e, por fim, 6% dos inquiridos

apresentam escolaridade até 4 anos. No que diz respeito ao estado civil, a amostra subdivide-

se em 2 grandes grupos, os casados (45.8%) e os solteiros (22.9%); os restantes, e numa

percentagem consideravelmente menor, situam-se os comprometidos afetivamente (6.0%), os

viúvos (6.3%) e os unidos de facto e os divorciados, com percentagens iguais (9.2%).

Por fim, no que concerne à filiação religiosa, 741 (56.6%) dos participantes diz ser

católico, porém, 27.9% da amostra não respondeu a esta questão; a restante amostra apresenta

valores residuais no que toca a outras filiações: 5.1% espíritas, 3.9% evangélicos, 3.2% outra

religião, 2.1% protestantes, .6 agnósticos e, por fim, .2% ateus.

Tabela 3 – Tabela de Frequências relativa à variável Idade.

2.2. Instrumentos

Após uma pesquisa ponderada e uma análise detalhada, foram apurados os

questionários que se revelaram adequados à recolha de informação, tendo em conta a

população alvo, relativa aos objetivos propostos, nomeadamente o questionário

sociodemográfico, a Escala breve de coping resiliente e a escala de espiritualidade em

contextos de saúde. Seguidamente, caraterizamos os referidos instrumentos.

Grupo Média Mediana Moda DP

Idade 1. 25 – 45 anos 34.234 34.000 28.000 5.937

2. 46 -65 anos 53.872 53.000 50.000 5.287

3. 66 – 97 anos 75.439 74.000 67.000 7.709

79

2.2.1. Questionário sociodemográfico

Este questionário foi elaborado com especial incidência na experiência religiosa dos

sujeitos, de modo a fornecer um quadro exaustivo das características da amostra. Composto

por respostas abertas e fechadas, este questionário inclui, maioritariamente, perguntas de cariz

sociodemográfico, tais como idade, escolaridade, nacionalidade, situação professional, etc..

2.2.2. Escala de Espiritualidade em contextos de saúde (Pinto &

Pais-Ribeiro, 2007)

Como medida de Espiritualidade/Religiosidade foi utilizada a Escala de Espiritualidade

em contextos de saúde (cf. Anexo 4) (Pinto & Pais-Ribeiro, 2007). Esta escala contém cinco

itens que quantificam a concordância do indivíduo com questões relacionadas com a dimensão

da espiritualidade, sendo que as respostas podem variar entre o «Não concordo» (1), «Concordo

um pouco» (2), «Concordo bastante» (3) e «Plenamente de acordo» (4). Da análise fatorial

resultaram duas subescalas, uma constituída por dois itens (item 1 – As minhas crenças

espirituais/religiosas dão sentido à minha vida; item 2 – A minha fé e crenças dão-me forças

nos momentos difíceis) que se referem a uma dimensão vertical da espiritualidade, a que os

autores denominam como «Crenças» e outra constituída por três itens (item 3 – Vejo o futuro

com esperança; item 4 – Sinto que a minha vida mudou para melhor; item 5 – Aprendi a dar

valor às pequenas coisas da vida), referentes a uma dimensão horizontal da espiritualidade,

denominada «Esperança/Otimismo». A cotação de cada subescala é efetuada através da média

dos itens da mesma, sendo que quanto maior o valor obtido em cada item, maior a concordância

com a dimensão avaliada.

Tabela 4 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala de Espiritualidade.

Média DP Mediana Min. Máx.

CopR1 3.65 1.095 4.00 1 5

CopR2 3.56 1.068 4.00 1 5

CopR3 3.83 1.060 4.00 1 5

CopR4 3.60 1.120 4.00 1 5

Coping Resiliente 14.65 3.611 15.00 4 20

A consistência interna desta escala é de α= .800, o que é indicador de uma boa

consistência interna, comparativamente à escala original (a consistência interna desta escala

é de α= .74). No que concerne ao fator Crenças, obtivemos consistência de α= .94 e, o segundo

fator Esperança/Otimismo revelou uma consistência de α= .76. Ambos superiores aos valores

da escala original (α= .92 e α= .69, respetivamente) (cf. Tabela 5).

80

Tabela 5 – Cálculo da confiabilidade da Escala de Espiritualidade em contextos de saúde e respetiva

comparação com a Escala original.

2.2.3. Escala Breve de Coping Resiliente (Pais-Ribeiro & Morais,

2010)

A Escala Breve de Coping Resiliente (cf. Anexo 3) (Pais-Ribeiro & Morais, 2010) é um

instrumento que permite avaliar a resiliência como uma estratégia de coping, a qual foi

adaptada e validada para a população portuguesa, a partir da versão original Brief Resilient

Coping Scale (Sinclair & Wallston, 2003). Inicialmente, a escala incluía nove itens, entre os

quais foram selecionados os quatro que, segundo os autores, operacionalizam o construto de

coping resiliente, emergindo-se temáticas como o otimismo, a perseverança, a criatividade e o

crescimento positivo face às adversidades. Esta é uma escala de autorresposta, unidimensional,

composta por quatro itens, que visam descrever o padrão ativo de resolução de problemas, o

que, por sua vez, reflete o padrão de coping resiliente. A resposta aos itens é dada numa escala

ordinal, em formato de Likert, de cinco posições e sem cotação invertida: 5 – quase sempre, 4

– com muita frequência, 3 – muitas vezes, 2 – ocasionalmente, e 1 – quase nunca, cuja nota de

capacidade para lidar com o stress de forma adaptativa varia entre 4 e 20. Segundo os autores

da escala original, consideram-se com baixa resiliência os sujeitos com uma pontuação inferior

a 13 e com uma resiliência elevada os sujeitos cuja pontuação seja superior a 17 (Sinclair &

Wallston, 2003).

Cronbach’s Alpha

Escala original .74

Crenças .92

Esperança/Otimismo .69

Escala no estudo (n=1310) .80

Crenças .94

Esperança/Otimismo .76

81

Tabela 6 – Comparação das médias de resposta aos itens da Escala breve de Coping Resiliente.

Média DP Mediana Min. Máx.

Cren1 2.94 .967 3.00 1 4

Cren2 3.07 .951 3.00 1 4

EspOp1 3.22 .743 3.00 1 4

EspOp2 3.13 .815 3.00 1 4

EspOp3 3.45 .648 4.00 1 4

Crenças 3.01 .931 3.00 1 4

EspOp 3.25 .605 3.33 1 4

A consistência interna desta escala é de α= .85, o que reflete uma boa consistência

interna (Marôco & Garcia-Marques, 2006), comparativamente com a escala original (α= .68) e

com a escala adaptada para a população portuguesa (α= .53) (cf. Tabela 7).

Tabela 7 – Cálculo da confiabilidade da Escala breve de Coping Resiliente e respetiva comparação com as

escalas original e adaptada à população portuguesa.

2.3. Procedimentos

Primeiramente, iniciou-se a exploração do tema, no que diz respeito ao estado da arte,

desenvolvendo de seguida a questão de investigação e gerando hipóteses de investigação, bem

como o delineamento dos respetivos objetivos. A par deste processo, foram realizados dois

artigos, atualmente, submetidos para publicação, um dos quais de revisão da literatura e outro

empírico.

Este estudo insere-se na investigação “Saúde, bem-estar e felicidade, ao longo do ciclo

de vida PT/BR”, a qual tem como objetivo avaliar os níveis de saúde, bem-estar e felicidade

em portugueses e brasileiros, assim como avaliar outras áreas relacionadas. A recolha da

amostra foi efetuada no período de três meses (novembro de 2014 a fevereiro de 2015)

referindo-se a natureza do estudo e assegurando o anonimato e confidencialidade da

apresentação dos dados. As tarefas a realizar envolviam a forma dita “papel e lápis”, para os

indivíduos com mais de 65 anos e houve, igualmente, um questionário online para os restantes

indivíduos. O preenchimento dos questionários foi efetuado num momento único. Importa

ressalvar que a colaboração dos participantes foi voluntária, sendo que ao longo de todo o

Cronbach’s Alpha

Escala original (Sinclair & Wallson, 2003) .68

Escala adaptada à população portuguesa .53

Escala no estudo .85

82

estudo foram cumpridos os princípios éticos e deontológicos preconizados pela ordem dos

Psicólogos Portugueses para a investigação em Psicologia.

2.4. Análise Estatística

Os dados recolhidos foram analisados com recurso ao software SPSS (Statistical Package

for Social Sciences), bem como ao AMOS, ambos versão 22, com a finalidade de suportar a

investigação e os estudos efetuados. Procedeu-se, em primeiro lugar, ao cálculo das

frequências, média, desvio padrão, estatística descritiva para caracterização da amostra, no

que diz respeito aos dados sócio - demográficos, experiência religiosa e coping resiliente. Para

alcançar os objetivos do estudo foram realizados o teste t-student para comparar as diferenças

nas médias entre grupos e o teste Anova, a fim de testar diferenças nos grupos estabelecidos,

com base numa variável dependente, efetuaram-se correlações e testes de regressão e, por

fim, efetuou-se um modelo de equações estruturais, com o propósito de confirmar, na

globalidade, o impacto proficiente da espiritualidade, na papel das suas dimensões verticais e

horizontais ao nível do coping resiliente.

2.5. Resultados

Foi realizado um t-test (Independet Sample Test), de forma a comparar os resultados

na escala de coping resiliente e nas duas dimensões de espiritualidade (crenças e

esperança/otimismo) em relação ao género, tal como é demonstrado na Tabela 2.

Relativamente à variável Coping Resiliente, os homens (M=15.046, DP= 3.527) apresentam

valores médios de coping mais elevados do que as mulheres (M=14.332, DP= 3.638), alcançando-

se valores estatisticamente significativos t(df=1260.549)= 3.584, p≤ .05), sendo assim aceite a

Hipótese 1.

Seguidamente, no que diz respeito à dimensão Crenças, são as mulheres quem pontuam

valores maiores (M=3110, DP= .855), quando comparadas com os homens (M=2.872, DP= 1.002),

revelando-se resultados estatisticamente significativos t(df=1146.797)= -4.624, p≤ .05), sendo

aceite a Hipótese 2. Por fim, no que concerne à dimensão Esperança/Otimismo, são novamente

as mulheres que alcançam melhores médias (M=3.290, DP= .583), comparativamente aos

homens (M=3.229, DP= .630), porém, não se encontram resultados estatisticamente

significativos t(df=1201.005)= -1.818, p= .069), rejeitando-se, deste modo, a Hipótese 3.

83

Tabela 8 - Análise das diferenças entre o género e as variáveis Coping Resiliente, Crenças e

Esperança/Otimismo, através do teste t-student.

Na tabela abaixo, foi efetuada uma one-way betwwen-groups analysus of variance de

forma a analisar o impacto da idade nas escalas de Coping Resiliente e de Espiritualidade. Os

participantes foram divididos em três grupos de acordo com a sua idade (grupo 1: 25-45 anos;

grupo 2: 46-65 anos; grupo 3: 66-97 anos). Desta análise, foram encontradas diferenças

estatisticamente significativas, a um nível de significância de p< .05, entre os grupos, em todas

as variáveis estudadas, respetivas às Hipóteses 4, 5a e 5b; no Coping resiliente (F(2; 1270)=

23.055 , p≤.05), na dimensão de espiritualidade Crenças (F(2; 1270)= 13.869 , p≤ .05) e, por

fim, para a dimensão Esperança/Otimismo (F(2; 1270)= 21.443, p≤ .05).

Tabela 9 – Resultados obtidos, através das estatísticas de teste Anova, da diferença entre grupos etários.

A partir de comparações post-hoc, através do teste Gabriel, pode inferir-se que existem

diferença significativas, na variável coping resiliente, entre todos os grupos (p≤ .05), sendo o

grupo 2 a alcançar pontuações médias mais elevadas (M=15.471; DP= 3.487). Relativamente à

dimensão Crenças, testes post-hoc Gabriel revelaram que existem diferenças estatisticamente

significativas entre o grupo 1 e o grupo 2 (p= .011) e o grupo 1 e o grupo 3 (p≤ .05), sendo aqui

Género Média Desvio Padrão T p

Coping Homem

Mulher

15.046

14.332

3.527

3.638

3.584 .000

Crenças Homem

Mulher

2.872

3.110

1.002

.855

-4.624 .000

Esperança/Otimismo Homem

Mulher

3.229

3.290

.630

.583

-1.818 .069

Idade M DP F p

Coping Resiliente 25 – 45 anos

46 – 65 anos

66 – 97 anos

14.549

15.471

13.445

3.509

3.487

3.693

23.055 .000

Crenças 25 – 45 anos

46 – 65 anos

66 – 97 anos

2.900

3.071

3.256

.570

.609

.657

13.869 .000

Esperança/Otimismo 25 – 45 anos

46 – 65 anos

66 – 97 anos

3.289

3.348

3.031

.580

.609

.657

21.443 .000

84

o grupo 3 a obter melhores pontuações (M= 3.256; DP= .753). Por fim, no que diz respeito à

dimensão Esperança/Otimismo, utilizando o mesmo teste post-hoc, encontramos diferenças

estatisticamente significativas entre o grupo 1 e o grupo 3 (p≤.05) e entre o grupo 2 e o grupo

3 (p≤.05), sendo agora o grupo de idade compreendida entre os 46 – 65 anos a obter melhores

médias (M=3.348; DP= .609).

Foram posteriormente efetuadas quatro correlações entre as duas dimensões de

espiritualidade (crenças e esperança/otimismo) e o coping resiliente e, posteriormente entre

o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de oração. A análise efetuada

com coeficiente de correlação de Pearson, entre o coping resiliente e a dimensão de

Espiritualidade “Crenças” indica uma correlação positiva, estatisticamente significativa e

classificada como fraca (r= .155; p˂ .01), como é indicado na tabela 4. É, desta forma apoiada,

a Hipótese 6.

Tabela 10 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as dimensões Crenças e

Esperança/Otimismo.

**p<.01 (2-tailed)

Porém, quando é realizado o mesmo teste entre o coping resiliente e a segunda dimensão da

Espiritualidade “Esperança/Otimismo” é indicada uma correlação positiva, estatisticamente

significativa e classificada como forte12 (r= .435; p˂ .01), corroborando a Hipótese 7.

12 De acordo com os valores propostos por Cohen: tamanho pequeno do efeito: r= .1 – .23; moderado: r= .24 – .36; grande: r= .37 ou superior (1988, citado por Pallant, 2011).

Coping Resiliente Crenças Esperança/Otimismo

Coping Resiliente - .155** .435**

Crenças .155** - .428**

Esperança/Otimismo .435** .428** -

85

Tabela 11 – Correlação: Valores correlacionais do Coping Resiliente com as variáveis frequência de locais

de culto e frequência de oração.

**p< .01 (2-tailed)

A relação entre o coping resiliente e a frequência de locais de culto e a frequência de

oração foi investigada utilizando o coeficiente de Pearson, rejeitando-se assim as Hipóteses 8

e 9.

Tabela 12 – Regressão das variáveis Coping resiliente, Crenças e Esperança/Otimismo.

R² = .191; R² ajustado = .190; F(p) = 154.126(p˂ .001)

Avaliando a capacidade de predição da espiritualidade no coping resiliente, a regressão

linear simples demonstra-nos que enquanto variável explicativa do coping, a espiritualidade

apresenta um valor estatisticamente significativo F=154.126 , p˂ .001. Ao nível do seu

coeficiente de regressão verifica-se que a espiritualidade se apresenta como um bom preditor

do coping resiliente, sendo estatisticamente significativo β= -.039 t= -1.412 , p˂ .001 para a

dimensão “Crenças” e β= .452 t= 16.418 , p˂ .001 para a dimensão Esperança/Otimismo,

suportando, deste modo, as Hipóteses H10a e H10b. Apesar de ser verificada significância

estatística ao nível da dimensão “Crenças” podemos, também, destacar um resultado disruptivo

ao esperado. O facto de se obter um resultado negativo nesta dimensão pode dever-se ao

número de itens que compõem este fator.

2.5.1. Análise de um Modelo de Equações Estruturais

A modelação de equações estruturais constitui um exemplo de uma técnica

multivariada complexa, que articula aspetos de regressão múltipla e da análise fatorial para

estimar uma série de relações, diretas e indiretas, de forma interativa e simultânea, sendo que

Coping

Resiliente

Frequência locais de culto Frequência Oração

Coping Resiliente - -.010 -.035

Frequência Locais de

culto

-.010 - .503**

Frequência de oração -.010 .503** -

Variável Critério Preditor B EPB β T

Coping Resiliente Crenças

Esperança/Otimismo

-.151

2.699

.107

.164

-.039

.452

- 1.412

16.418

86

é utilizada para testar a validade de modelos teóricos que definem relações hipotéticas e

padrões de associações, entre variáveis (Marôco, 2010).

As conclusões retiradas das análises de regressão e o referencial teórico desenvolvido,

na primeira parte desta pesquisa, estiveram na base da especificação e estimação de um

modelo de equações estruturais (cf. Figura 1), que assumiu o propósito de confirmar o impacto

da espiritualidade, no papel das suas dimensões verticais e horizontais, ao nível do coping

resiliente. A avaliação de um modelo com este cariz permitiu reforçar a conceção de que a

espiritualidade afeta, de forma direta, o desenvolvimento de estratégias resilientes,

reforçando o modelo anteriormente estudado, testando as variáveis em simultâneo.

A partir da revisão da literatura são (re)formuladas as seguintes hipóteses de relação

entre variáveis:

H10a: Existe uma relação significativa e positiva entre a variável Crenças e a variável

coping resiliente.

H10b: Existe uma relação significativa e positiva entre a variável Esperança/Otimismo e

a variável coping resiliente.

Figura 1 - Diagrama de caminhos (Path Diagram) do modelo estimado.

Após a especificação e estimação do modelo, a sua adequação foi avaliada em função

de diferentes índices de ajustamento13 disponíveis na literatura e calculados a partir do

programa estatístico adotado (Amos Graphics 22), sendo estes: a) ² - indicador que avalia a

qualidade do ajustamento do modelo. Assim, valores iguais a 1 revelam um ajustamento

perfeito, valores inferiores a 2 suportam um bom ajustamento bom, inferiores a 5 o

13 Índices de ajustamento absoluto; Índices de ajustamento relativo; Índices de ajustamento de parcimónia; Índices de ajustamento de discrepância populacional; e Índices de ajustamento baseados na teoria da informação (Marôco, 2010).

87

ajustamento é considerado aceitável e, por fim, valores superiores a 5 revelam ajustamento

inaceitável; b) GFI (Goodness-of-Fit Index), criado como alternativa ao ², explica a proporção

da covariância observada entre as variáveis manifestas, explicada pelo modelo ajustado.

Valores inferiores a .9 indicam um mau ajustamento, valores entre .9 e .95 sustentam um bom

ajustamento e para um ajustamento muito bom teremos de alcançar valores superiores a .95;

c) CFI (Comparative Fit Index) compara o ajustamento do modelo e corrige a subestimação que

ocorre (geralmente, quando se usa o NFI com amostras pequenas); valores inferiores a .9

indicam mau ajustamento, valores entre .9 e .95 são indicadores de um bom ajustamento e

valores superiores ou iguais a .95 suportam um modelo com muito bom ajustamento; d) TLI

(Tucker-Lewis coeficiente) é considerado um indicador global de adequação do modelo; os

valores variam entre 0 e 1, mas não estão limitados a este intervalo, sendo que valores próximos

de 1 indicam um ajustamento muito bom; e e) RMSEA (Root-Mean-Square Error of

Approximation) estima o erro de aproximação ou a discrepância existente no ajustamento do

modelo hipotético à matriz de covariância populacional. Estes residuais ajustados, idealmente,

deverão ser próximos de zero, indiciando um bom ajustamento do modelo aos dados. Um

ajustamento menor do que .05 indica um ajustamento perfeito, quando menor do que .08 um

ajustamento aceitável. No nosso modelo o RMSEA surge com o valor de .050 que não sendo

perfeito entra no intervalo aceitável.

Sumariamente, a partir dos resultados obtidos (cf. Tabela 13) parece plausível um

modelo de associação entre o Coping Resiliente e a espiritualidade, nomeadamente, na sua

dimensão horizontal.

Tabela 13 - Índices de ajustamento do modelo estrutural base estimado.

*p<.001

O modelo base estimado revelou validade e um ajustamento adequado: ²(24 g.l.) =

102.205, ²/df = 4.26, IFI = .983, TLI = .979, CFI = .986, RMSEA = .050. Todavia, a dimensão

vertical da espiritualidade revelou valores negativos de loading fatorial, contrariamente ao que

é retirado da literatura e dos resultados esperados. Segundo a literatura, os fatores que

constituem uma escala devem ser compostos por três itens. É referido que uma escala

composta, apenas, por um fator deve ser constituída, no mínimo, por quatro itens; aquelas que

são constituídas por mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois itens por fator –

devendo ser encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004). Tal fato pode ser explicativo

dos resultados obtidos neste estudo, que fogem à expetativa inicial, uma vez que as nossas

escalas são de tamanho reduzido e, por conseguinte, os seus fatores são constituídos por poucos

itens.

Modelo ²* df GFI TLI CFI RMSEA*

Modelo estrutural base estimado 102.205 24

.983 .979 .986 .050

88

A partir dos valores das estimativas estandardizadas na solução final do modelo base

podemos fazer algumas considerações relativamente aos efeitos e sua magnitude. A magnitude

do efeito consiste numa medida da força do relacionamento entre duas variáveis. Na verdade,

revela-se importante saber não somente se uma determinada associação apresenta significância

estatística, mas, também, no caso em que tal se verifica, qual o tamanho e a magnitude dos

efeitos14. Cohen (1988) faculta intervalos de interpretação da magnitude dos efeitos para as

ciências sociais, nomeadamente: tamanho pequeno do efeito: r = .1 - .23; moderado: r = .24 -

.36; grande: r = .37 ou superior.

Aplicando esta grelha de análise às relações estatisticamente significativas podemos

considerar que relativamente à dimensão Crenças, esta não apresenta um impacto esperado

significativo, de baixa magnitude na variável coping resiliente, sendo que os resultados

alcançados apontam num sentido contrário ao hipotetizado. A associação entre a dimensão

esperança/otimismo e a variável coping resiliente permite apreender um impacto mais forte,

podendo considerar-se no intervalo de grande magnitude, indo os resultados ao encontro do

hipotetizado (cf. Tabela 14).

14 A adequação das relações não é indicativa de relações causais, mas, antes, de uma associação preditiva ou de determinação.

89

Tabela 14 - Estimativas estandardizadas da solução final do modelo base.

Em termos individuais, todos os indicadores apresentam valores de loading fatorial

superior ao ponto de corte .50 e, em oito variáveis, superiores a .70 (Hair et al., 2010).

2.6. Discussão dos resultados

Em concordância com os resultados obtidos nesta pesquisa, Nygren, Aléx, Josén,

Gustafson, Norberg e Lundman (2005) e Connor e Davidson (2003) encontraram diferenças no

género, relativamente ao coping resiliente, sendo as mulheres que alcançam maiores

pontuações – o que se contrapõe com o presente estudo. Porém Wagnild e Young (1993),

aquando da construção da Escala de Avaliação da Resiliência aferiram que não existem

diferenças entre homens e mulheres, no que diz respeito a esta variável. No entanto, Sinclair

e Wallston (2004) ao desenvolverem a Brief Resilient Coping Scale – que esteve na base da

Critério Preditor Estimativas Estandardizadas

CopRes <--- Crenças -.133

CopRes <--- EspOpt .607

Cren1 <--- Crenças .943

Cren2 <--- Crenças .936

Esp/Opt1 <--- EspOpt .754

EspOpt2 <--- EspOpt .748

EspOpt3 <--- EspOpt .647

CopRes1 <--- CopRes

.773

CopRes2 <--- CopRes

.738

CopRes3 <--- CopRes

.787

CopRes4 <--- CopRes

.770

90

construção da escala usada neste estudo – afirmam que são os traços de personalidade e o meio

onde se inserem os indivíduos que determinam o processo de coping resiliente.

No estudo de Pinto e Pais-Ribeiro (2009) é encontrada consonância com os resultados

obtidos, relativamente às dimensões da espiritualidade aqui abordadas. Estes autores,

inferiram que, quanto ao género, a espiritualidade assume um valor superior para as mulheres,

quer na dimensão das crenças, como na da esperança/otimismo, revelando-se haver diferenças

estatisticamente significativas entre homens e mulheres. Também Simpson, Cloud, Newman,

Fuqua (2008), Bryant (2007) e Maselk e Kubzansky (2006), nas suas investigações encontraram

resultados que corroboram a existência de diferenças significativas, ao nível da espiritualidade,

entre homens e mulheres.

Contrariamente aos resultados encontrados neste estudo, a pesquisa de Connor e

Davidson (2003) evidenciou não haver diferenças estatisticamente significativas entre o coping

resiliente e a variável idade. Apesar das diferenças obtidas, e ao contrário do que diz a

literatura, não foi o grupo com idade mais avançada que revelou maior resiliência. Estudos

como o de Laranjeira (2007) referem que são os idosos os mais resilientes, comparativamente

com outras faixas etárias.

No que concerne às dimensões da espiritualidade, Baker e Nussbaum (1997), no seu

estudo com idosos, referem que os indivíduos mais velhos possuem mais espiritualidade àquela

data do que quando tinham 45 anos, o que corrobora os resultados aferidos nesta pesquisa.

Vittorino e Viana (2012), concluíram que o grupo mais velho da amostra apresentava atitudes

e comportamentos religiosos mais significativos do que os mais novos. Do mesmo modo, Pinto

e Pais-Ribeiro (2009) salientam na sua investigação que as pessoas mais velhas da sua amostra

apresentaram médias superiores em relac a o a s crenc as, pelo que se pode inferir que utilizam

mais frequentemente esses recursos.

Ao contrário das premissas presentes na literatura, que nos dizem que a resiliência é

influenciada pela espiritualidade/religiosidade (Masten, 2001), relativamente à relação causal

entre o coping resiliente e à dimensão vertical da espiritualidade, constatou-se que esta relação

não se verifica de maneira tão acentuada. Neste sentido, quanto maior o coping resiliente dos

indivíduos, menor serão as suas crenças. Por outro lado, quando se trata da variável relativa à

dimensão horizontal da espiritualidade (Esperança/Otimismo), verifica-se uma relação forte.

Tal vai ao encontro das pesquisas de Sommerhalder (2010), que considera existir uma clara

ascendência do nível de espiritualidade na meia-idade, uma vez que o seu desenvolvimento

requer autonomia pessoal e consciência do relativismo contextual que, consequentemente,

influenciará o seu sentido de vida.

Em dissonância com o presente estudo, está a pesquisa de Scoralick-Lempke e Barbosa

(2012), onde a participação em ambientes estimulantes (e.g., locais de culto) se mostrou

fundamental para um melhor desenvolvimento de estratégias resilientes.

Os resultados deste estudo demonstraram, ainda, que a espiritualidade tem um efeito

positivo e significativo sobre o coping resiliente. Autores como Simão e Saldanha (2012)

consideram que, através da espiritualidade, como fator promotor de resiliência psicológica, os

91

indivíduos adotam uma perspetiva positiva do futuro, procuram novas formas de adaptação e

recursos internos de superação, sobretudo. Todavia, a partir da análise dos resultados,

deparámo-nos que a capacidade de predição da espiritualidade, ao nível das Crenças, no coping

resiliente, apresenta valores negativos. Tal pode estar relacionado, por um lado, com uma

limitação do estudo, que se prende ao número de itens que cada fator deve conter e, por outro

lado, significar que as crenças religiosas podem não ter um peso tão determinante ao nível da

resiliência dos indivíduos, ao contrário do referido na literatura e dos resultados esperados.

Por conseguinte, a partir dos dados obtidos da análise do modelo estrutural pode concluir-se

que a espiritualidade, na sua dimensão Esperança/Otimismo, constitui, nesta amostra, um

preditor moderado do coping resiliente.

92

Considerações Finais

O último ponto do culminar do desdobramento explicativo desta dissertação, destinado

às considerações e reflexões finais, é composto por uma síntese do conjunto de dados, teóricos

e práticos, que a sustentam, onde se procura refletir sobre os contributos da pesquisa teórica

e empírica levada a cabo, respetivos limites e diretrizes para futuros estudos complementares.

A partir de uma revisão da literatura, presente no artigo teórico, do primeiro capítulo,

e desenvolvida de forma detalhada na primeira parte dos Anexos, delimitámos as temáticas

centrais em estudo, conferindo-lhes um enquadramento teórico-conceptual.

Subsequentemente, no Anexo 2, foi enquadrada e apresentada a extensão do estudo empírico,

contido no segundo capítulo desta dissertação, o qual visou testar e comprovar, de forma

detalhada, os objetivos e hipóteses propostos à investigação.

Com base na revisão da literatura levada a cabo na presente dissertação, é sugerido

que a espiritualidade e a religiosidade podem funcionar como mediadores para o indivíduo em

momentos stressantes, onde ser religioso/espiritual passa a ser uma estratégia de adaptação

com ganhos ao nível da estruturação da resiliência. De igual modo, vários autores referem que

é na velhice onde se constata o aumento da perceção da importância da religião. Porém, no

nosso estudo foi o grupo da meia idade que revelou dar mais importância a este fator. Tal

resultado pode remeter a duas questões: a primeira diz respeito a uma limitação do estudo,

que se prende com o facto de o número de indivíduos em cada grupo ser diferente, sendo por

isso importante, futuramente, para fins comparativos, estudar uma amostra equitativa; e, por

outro lado, importa dar atenção à dimensão horizontal da espiritualidade, que diz respeito à

forma como as pessoas dão sentido à sua vida. Assim, tendo em conta que os adultos na

chamada “meia idade” são confrontados com experiências que exigem reestruturações

relacionais, são vários os fatores que influenciam a perceção de sentido de vida e esperança no

futuro, onde se destaca a espiritualidade. De forma a sustentar esta ideia, como vimos, Erikson

e Jung consideram que a espiritualidade está ligada ao processo maturacional e às experiências

associadas à idade adulta (Barros, 2000), assim como Polk (1997) que identifica um padrão

fisiológico que incorpora atributos à resiliência, como as crenças pessoais, as quais promovem

um sentimento de pertença e uma melhor perspetiva de vida.

Uma outra ideia que daqui pode ser retirada menciona que a resiliência incorpora as

idiossincrasias de cada individuo, as quais lhes permitem ultrapassar, positivamente, as

adversidades (Connor & Davidson, 2003). Estes autores referem que as investigações sobre a

temática, nos últimos 20 anos, têm demonstrado que a resiliência é uma característica

multidimensional, que varia de acordo com contexto, tempo, idade, género e origem cultural.

O nosso estudo revelou ir ao encontro destes dados, uma vez que foram encontradas diferenças

consideradas estatisticamente significativas, relativamente ao género e à idade.

Se por um lado estudos apontam que, à medida que a idade avança, há indicadores de

que as crenças e a fé ocupam um lugar mais central na vida das pessoas, por outro, o aumento

93

da perceção da religiosidade não está, nesta faixa etária, diretamente relacionado com

elevados níveis de resiliência. Assim, podemos inferir que a espiritualidade e a religiosidade

parecem não ter o mesmo peso como fator explicativo da resiliência na adultez e velhice. Tal

pode estar relacionado com os fatores que influenciam a perceção de sentido da vida, na idade

adulta, por um lado: os fatores internos relacionados com a personalidade e sentimento de

pertença; e, por outro, os fatores externos, que se relacionam com as oportunidades sociais,

trabalho, lazer e segurança. Já para os indivíduos idosos os padrões de resiliência, que levam

a um envelhecimento com êxito, são mantidos através da interação de vários fatores, como

relações pessoais próximas com familiares e amigos e a participação em atividades sociais e de

caráter cultural e religioso, sendo que veem na religião um suporte fundamental no último

período da sua vida e na forma de enfrentar as adversidades nesta fase terminal.

Outro aspeto importante a realçar reside no fato de, apesar de as pessoas mais velhas

poderem frequentar menos os locais de culto e participar menos em rituais religiosos, devido

ao declínio da sua funcionalidade, a espiritualidade e a religiosidade continuam a ser uma

dimensão relevante, pois, o referido não significa que ocorra uma diminuição do interesse na

religião. Constata-se, inclusivamente, que a atividade não organizacional religiosa – igreja

eletrónica ou mediatizada – tende a aumentar neste grupo de sujeitos, assim como a atividade

de oração/meditação.

No que diz respeito à investigação efetuada surgiram algumas limitações, que podem e

devem ser colmatadas em estudos futuros. Assim sendo, começamos por destacar a escassez

de estudos, em Portugal, acerca da temática em questão, sobretudo, no que diz respeito à

associação entre a espiritualidade e a religiosidade com o coping resiliente. Tal como foi

referido acima, futuramente seria importante reunir uma amostra equitativa nos grupos de

comparação, de forma a ter resultados generalizáveis. Ainda nesta linha de pensamento, outra

limitação a ser apontada pode ser a utilização de uma abordagem transversal. Para a obtenção

de melhores resultados, poderia ser de interesse adotar uma abordagem longitudinal,

permitindo a análise das variações das características de uma mesma amostra. Uma outra

limitação que pode ser apontada reside no fato de as escalas em uso possuírem poucos itens.

Autores como Coelho e Esteves (2007) argumentam que escalas com poucos itens podem não

fornecer uma boa discriminação das respostas (limitando a habilidade de encontrar diferenças

significantes entre segmentos), o que limita o método de análise dos dados. Porém, a escolha

deste tipo de escalas fundamenta-se no facto de serem escalas simples e pequenas, sem

redundâncias e de fácil utilização, o que vem facilitar a sua aplicação, sobretudo, a pessoas

idosas. Sendo estas escalas constituídas por poucos itens, inevitavelmente, terão fatores com

poucos itens. Idealmente, cada fator deve ser constituído por três itens. A literatura refere que

uma escala composta, apenas, por um fator deve possuir, no minímo, quatro itens; e, aquelas

que são constituidas por mais do que um fator devem conter, pelo menos, dois itens por fator

– devendo ser encaradas como uma exceção (Raubenheimer, 2004).

Como potencialidades desta investigação podemos destacar o número de participantes.

Uma amostra com estas dimensões permite uma representação honesta da população,

94

conduzindo-nos à estimação das caraterísticas da população com grande precisão. Este estudo

permitiu, ainda, compreender o papel que a espiritualidade e a religiosidade podem

desempenhar ao nível da resiliência psicológica dos indivíduos, em dois momentos diferentes

do ciclo vital.

Em suma, este estudo ao avaliar o impacto da espiritualidade e da religiosidade no

coping resiliente, na idade adulta e na velhice, pode representar um contributo fundamental

para o conhecimento dos fatores relacionados com a resiliência psicológica e,

consequentemente, permitir a compreensão dos possíveis processos inerentes a um

envelhecimento ativo e com êxito. Assim, investigações futuras deverão suplantar as limitações

desta investigação e considerar as singularidades da amostra em estudo, pelo fato de ser

integrada uma população mais idosa, pelas suas idiossincrasias e características da fase do ciclo

de vida em que se encontra.

95

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102

Anexo 3

Escala breve de Coping Resiliente

(Pais Ribeiro & Morais, 2010)

Nas perguntas seguintes, indique a frequência com que percebe a sua capacidade para lidar

com a adversidade de uma forma adaptativa.

Quase

nunca

Ocasional

mente

Muitas

vezes

Com muita

frequência

Quase

sempre

Procuro formas criativas de

superar situações dificeis.

Independentemente do que me

possa acontecer, acredito que

posso controlar as minhas

reações.

Acredito que posso crescer

positivamente lidando com

situações difíceis.

Procuro ativamente formas de

substituir as perdas que

encontro na vida.

103

Anexo 4

Escala de Espiritualidade em contextos de saúde

(Pinto & Pais-Ribeiro, 2007)

As questões a seguir centram-se na dimensãoo espiritual, particularmente na atribuiçãoo de

sentido/significado da vida.

Discordo

totalmente

Discordo Concordo Concordo

totalmente

As minhas crenças espirituais/religiosas

dão sentido à minha vida.

A minha fé e crenças dão-me forças nos

momentos difíceis.

Vejo o futuro com esperança.

Sinto que a minha vida mudou para

melhor.

Aprendi a dar valor às pequenas coisas

da vida.