repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewCarnaval “ ...é uma ... (2005) exploram o conceito de...

145

Transcript of repositorio-aberto.up.pt€¦  · Web viewCarnaval “ ...é uma ... (2005) exploram o conceito de...

Ana Cláudia Pinto da Silva

O Impacto dos Eventos Musicais no Turismo da Cidade do

Porto

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Turismo, orientada pelo Professor

Doutor João Paulo Faustino

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

setembro de 2016

O impacto dos eventos musicais no turismo da cidade do Porto

Ana Cláudia Pinto da Silva

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Turismo, orientada pelo Professor Doutor

João Paulo Faustino

Membros do Júri

Professor Doutor João Paulo Faustino

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professor Doutor Luís Paulo Martins

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Professor Doutor Manuel Pinto Teixeira

Instituto Superior de Línguas e Administração

Classificação obtida: 14 valores

Sumário

Agradecimentos...................................................................................................7

Resumo…………………………………………………………………………………………………………….8

Abstract…………………………………………………………………………………………………………….9

Índice de tabelas……….........................................................................................10

Introdução…………………………………………………………………………………………...............11

Capítulo I – Enquadramento Teórico.......................................................................13

1.1. Turismo.......................................................... ......................................................13

1.2.Ciclo de Vida de um Destino Turístico..............................................................17

1.3 Diferentes impactos do turismo...........................................................................19

1.4. Turismo em Portugal............................................................................................24

2. - Eventos...................................................................................................................26

2.1. Eventos Culturais e sua contribuição para a imagem de um destino………32

2.2. Festivais de Música..............................................................................................34

2.2.1. Festivais de Música em Portugal.....................................................................36

2.3. Noção de “experiência autêntica” .....................................................................38

3. - Turismo Cultural..................................................................................................40

3.1. Política Cultural e Eventos..................................................................................44

3.2. Turismo Criativo..................................................................................................46

3.2.1. Tipologias de experiências do turismo criativo.............................................47

3.2.2. Perfil do turista criativo...................................................................................48

3.2.3. Relação entre Turismo Cultural e Turismo Criativo…………………….49

3.2.4. Mudanças Políticas: da Cultura à Criatividade.............................................50

4. - Turismo Musical...................................................................................................51

5. - Impacto da internacionalização das cidades no turismo..................................54

5.1. Internacionalização do Turismo Português.......................................................56

6. - Cidade do Porto.....................................................................................................57

6.1. Eventos Culturais no Porto..................................................................................60

6.2. Turismo e Arquitetura..........................................................................................64

Capítulo II. - Metodologia……………………………………………………...69

5

1. Estudo de Caso ...............................................................................................69

1.1. Festivais de Música na Cidade...................................................................69

1.1.1. O caso do Nos Primavera Sound............................................................69

1.1.2. O caso do Nos D Bandada.......................................................................73

1.1.3. O caso do Caixa Ribeira..........................................................................74

1.2. Entrevista à Porto Lazer..............................................................................74

2. Resultados.......................................................... .............................................77

Considerações finais...........................................................................................79

Referências bibliográficas..................................................................................82

6

Agradecimentos

Desde já, os meus agradecimentos começarão por mencionar que este foi,

sem dúvida, o maior desafio da minha vida académica. Não só pelo crescimento e

aprendizagem que me trouxe na área em questão, mas acima de tudo pelos

bastantes entraves que superei neste percurso. Inúmeras foram as vezes que me

ocorreram desistir, contudo houve sempre uma força interior a impulsionar-me para

dar-lhe continuidade. E, neste momento, estou grata a essa força, pois todo o

sacrifício investido surtiu numa sensação maravilhosa de dever cumprido.

Quero direcionar um agradecimento especial à minha amiga Catarina

Organista, pelo companheirismo, lealdade, e palavra de motivação sempre pronta

nos momentos mais complicados. A continuidade nesta luta deveu-se muito ao

facto de te ter como suporte e apoio para tudo.

À minha amiga Inês Brito, pela ajuda preciosa na reta final.

Ao meu orientador, prof. João Paulo Faustino, por me direcionar e orientar

pelos melhores rumos que a dissertação deveria tomar.

Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional, seja neste ou noutro

qualquer desafio. E, em geral, aos meus amigos, que sempre me ajudaram a ver

mais além neste percurso.

7

Resumo

O turismo na atualidade mostra-se cada vez mais abrangente, apoiando-se nas

mais diversas áreas de conhecimento. Para além disso, o perfil do turista tem vindo a

sofrer alterações com o decorrer do tempo, sendo que este se tem tornado bastante

exigente, na busca por experiências que se diferenciem do habitual e padronizado

turismo de massas.

Por isso mesmo os eventos culturais, nomeadamente os festivais de música,

revelam uma crescente importância como atividade que acrescenta valor à experiência

que o turista procura, já que são capazes de criar ligações significativas entre o visitante

e o território em questão. Estas ligações são veículos de comunicação e divulgação dos

territórios, com impacto na imagem dos mesmos.

Esta investigação centrar-se-á no impacto que os eventos musicais poderão ou

não ter num destino turístico, designadamente o Porto. Procurar-se-á avaliar o papel que

estes desempenham no turismo, e o que este papel lhe acrescenta.

Avaliado esse impacto, tentar-se-á perceber se existe espaço para o crescimento

dos eventos e festivais de música no futuro da cidade.

Palavras-chave: Turismo; Eventos Culturais; Festivais de Música; Porto.

8

Abstract

The tourism at the present time is more and more inclusive, leaning on in the

most several knowledge areas. Besides, the tourist's profile has been suffering

alterations with elapsing of the time, and it has revealed itself quite demanding, in the

search for experiences that differ of the habitual and standardized tourism of masses.

For that reason, the cultural events, namely the music festivals, have been growing in

importance as an activity that increases value to the experience that the tourist seeks,

since they are capable of create significant connections between the visitor and the

territory in subject. These connections are communication vehicles and promotion of the

territories, with impact in the image of the same ones.

This investigation will be centered in the impact that the musical events eventually have

or not in a tourist destination, more specifically in Porto. There will be a try concerning

the evaluation of the paper that these carry out in the tourism, and what does this paper

adds to it.

Appraised that impact, there will be a verification if space exists for the growth of the

events and music festivals in the future of the city.

Keywords: Tourism; Cultural Events; Music Festivals; Porto.

9

Índice de tabelas

Figura 1 – Total de chegadas de turistas internacionais entre 2010-2014

Figura 2 – Repartição das viagens, segundo os principais motivos, 2014

Figura 3 – Ranking dos principais indicadores de turismo internacional,

2014

Figura 4 – Ciclo de Evolução do Turismo, por Butler (1980)

Figura 5 – Impactos de diferentes dimensões no turismo

Figura 6 – Tipologias de eventos

Figura 7 – Parâmetros da experiência no turismo

Figura 8 – Tipos e subtipos de atrações culturais

Figura 9 – Políticas Culturais

Figura 10 – Surgimento do turismo criativo

Figura 11 – Bases de atividade e tipos de experiência

Figura 12 – Turista criativo

Figura 13 – Políticas Culturais tradicionais e Novas Políticas Culturais

Figura 14 – Entrada de turistas no Porto entre 2010-2015

Figura 15 – Análise do mercado

Figura 16 – Visão do destino, apelo e impactos esperados

10

Introdução

A dissertação que agora se apresenta, intitulada “O impacto dos eventos

musicais no turismo da cidade do Porto”, foi elaborada no âmbito do Mestrado em

Turismo, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Para a sua elaboração, tomou-se como objeto de estudo os eventos musicais

realizados na cidade em questão, e a sua contribuição para o desenvolvimento e

aceleração turística da mesma. Assim sendo, as principais questões levantadas na

abordagem desta temática foram: quais os impactos gerados pelos eventos musicais no

turismo da cidade do Porto? Qual o nível de atração que estes eventos causam no espaço

em questão? Haverá lugar para o aumento do número destes eventos?

De forma a dar corpo a esta investigação, iniciou-se uma revisão de literatura,

recorrendo a artigos científicos, bem como a dissertações já realizadas, no âmbito do

turismo e da sua relação com a cultura e os eventos. Recorreu-se ainda a dados

estatísticos fornecidos pelo INE, de forma a comprovar a evolução do turismo em

Portugal, e o contributo de áreas como a cultura e a música para a diversificação da sua

oferta, sendo este um importante suporte para de seguida explorar a hipótese dos

eventos musicais contribuírem favoravelmente para o turismo da cidade do Porto. Sobre

a evolução do turismo, analisou-se o Ciclo de Vida do Destino Turístico, elaborado por

Butler, de forma a entender a necessidade de sustentabilidade de um local em relação ao

turismo. Foi também abordado Hall, e os impactos que diferentes áreas causam na

atividade turística, para percecionar as diferentes relações que o turismo tem

necessidade de desenvolver ao longo do tempo.

No fundo, esta dissertação aborda no seu enquadramento teórico a contribuição

de Donald Getz para a relação entre turismo e eventos, passando ainda pelo turismo

cultural e criativo, pois estes dois setores do turismo mostram-se cada vez mais

dinamizadores da atividade em si e atraem o público crescentemente exigente e

informado. Sobre estes dois temas, os nomes de Richards e Florida mostraram-se

importantes bases. Quanto ao turismo musical e festivais de música, o estudo do

trabalho de Gibson e Connell.

A abordagem à arquitetura mostra-se pertinente na medida em que esta é uma

importante parte da cultura e um grande atrativo para todos aqueles que procuram arte e

música, inseridos num contexto turístico paisagístico. Assim, é referido o trabalho de

Lobo, que relaciona o turismo e a arquitetura.

11

Termina assim o enquadramento teórico com uma reflexão sobre a

internacionalização do turismo português, como forma de promovê-lo aos públicos de

países exteriores, o que se mostra crucial no caso da divulgação de eventos musicais no

estrangeiro.

De seguida, procedeu-se a uma investigação de base qualitativa que passou pela

análise e recolha de notícias online focadas no turismo da cidade do Porto e nos seus

eventos musicais, bem como pela realização de uma entrevista à Porto Lazer, entidade

municipal que trata da realização de todos os eventos da cidade. O intuito era averiguar

se os eventos musicais ou festivais de música são capazes de atrair um público mais

alargado, que procure conhecer a oferta turística da cidade do Porto.

A partir da investigação realizada, é proposta a hipótese de aumentar o número

de eventos deste género na cidade, pois conclui-se que estes, apesar de não serem

totalmente influenciadores na atividade turística, geram uma dinâmica interessante.

Diferenciam a oferta turística da cidade e atraem um público específico que procura

música e um bom ambiente, para além de uma cidade histórica e rica culturalmente,

com um custo de vida bastante acessível. É proposto ainda que as instituições

responsáveis, como as municipais, promovam e apoiem um pouco mais estes eventos,

que são realizados maioritariamente por órgãos privados ou através de patrocínios. Por

fim, entende-se a necessidade de criar uma maior divulgação, através de campanhas de

marketing e publicidade com forte incidência nos países europeus que mais contribuem

para o turismo do Porto.

12

Capítulo I – Enquadramento Teórico

1.1. Turismo

O turismo é uma área multidisciplinar de importância crescente a nível mundial.

Tal como Licínio Cunha (2010) refere na sua investigação intitulada “A definição e o

âmbito do Turismo: um aprofundamento necessário.” o turismo é uma área de difícil

definição, pois abarca em si a colaboração e ligação com diferentes áreas: “os autores e

investigadores procuraram definir turismo, não já com preocupação de elaborar

estatísticas, mas na tentativa de caracterizar uma atividade complexa que, emergindo no

princípio do século, se viria a transformar numa das maiores atividades económicas

mundiais. Contudo, também destas definições não resulta a clara compreensão do

fenómeno turístico nem abarcam toda a sua realidade”.

Esta complexidade com a qual nos deparamos deve-se então à abrangência de

tantas e tão diferentes áreas, que vão desde a economia à tecnologia, passando pela

cultura e tantas outras mais que possam no seu âmbito envolver o turismo na sua

atividade.

Para se referir à multidisciplinaridade do turismo, Getz (2004,2006, p.5) apoia-

se em John Tribe, para defender que o turismo “não é uma disciplina, mas sim um

campo de estudo delineado por várias disciplinas”.

Cunha (2010) alerta para esta multiplicidade de áreas implícitas no turismo, que

“não devem ser desprezadas porque podem contribuir para encontrar um conceito ‘para

fornecer arcaboiço teórico para identificar as caraterísticas essenciais do turismo”

(Theobald, apud Cunha, 2010 p.3).

O autor propõe a sua própria definição de turismo, na tentativa de completar

algumas lacunas no seu campo teórico tão vasto e diversificado: “Turismo é o conjunto

das atividades lícitas desenvolvidas por visitantes em razão das suas deslocações, as

atrações e os meios que as originam, as facilidades criadas para satisfazer as suas

necessidades e os fenómenos e relações resultantes de umas e de outras”.

Esta visão de Cunha (2010) é claramente voltada para a Sociologia, tal como a

sua formação académica, apontando o foco para as relações interpessoais geradas

através da conjugação das várias atividades no turismo.

A Organização Mundial de Turismo (OMT,2014) apresenta uma proposta de

definição de turismo que reúne talvez uma maior concordância dentro da área:

“conjunto de atividades desenvolvidas por pessoas durante as viagens em locais

situados fora do seu ambiente habitual por um período consecutivo que não ultrapasse

13

um ano, por motivos de lazer, negócios e outros”. Esta é a definição que parece ser mais

frequentemente utilizada e geralmente aceite pela comunidade de investigadores quando

se referem à atividade turística, provavelmente por se referir de uma forma mais geral e

abstrata aos deslocamentos gerados pelo turismo, abarcando em si qualquer ramo

associado ao turismo.

Tal como vimos acontecer com Cunha (2010), cada investigador que propõe

uma definição teórica de turismo tenta enquadrá-la com a sua base académica.

Barreto (1995, p. 9), por exemplo, avança com uma definição voltada para o

caráter económico do campo em análise: “turismo é o conceito que compreende todos

os processos, especialmente os económicos, que se manifestam na chegada,

permanência e na saída dos turistas de uma determinada cidade, país ou estado”.

Por sua vez, Beni (1998, p.153) mostra-se mais interessado em salientar a

vertente sociocultural do turismo, alegando que este corresponde a “um conjunto de

recursos naturais e culturais que, em sua essência, constituem a matéria-prima da

atividade turística porque, na realidade, são esses recursos que provocam a afluência de

turistas. A esse conjunto agrega-se os serviços produzidos para dar consistência ao seu

consumo, os quais compõem os elementos que integram a oferta no seu sentido amplo,

num estrutura de mercado”. (Pires, 2004).

Reportando-nos um pouco à origem histórica do turismo, e apesar de este já

conhecer algum, porém escasso, desenvolvimento desde a Antiguidade Clássica, será de

maior interesse analisar a sua evolução a partir da Revolução Industrial, com o

surgimento do excursionismo mais fortemente encarrilado por Thomas Cook. Tal como

refere Barreto (1999), assim surgiu o “turismo coletivo” em 1841, com a organização do

primeiro tour devidamente organizado e com todo o pacote de facilidades incluído. Foi

assim que no século XIX, Cook fez nascer a primeira agência de viagens, incluindo nos

seus tours excursões de barco e comboio.

Magalhães (2008) realiza uma análise histórica da atividade turística simples e

abrangente, refletindo que, para chegar ao turismo tal como o conhecemos hoje,

contribuíram as conquistas dos trabalhadores desde o início do século XX (redução dos

horários laborais e aumento dos salários), capazes de criar as condições necessárias para

a consolidação e massificação da área. Este fenómeno conheceu maior expressão na

Europa do pós-guerra. O autor refere ainda que a flexibilização do tempo de trabalho e a

valorização do tempo de ócio, características do capitalismo, abriram importantes portas

para agilizar a atividade até à atualidade.

14

Segundo o INE (2014), baseando-se em dados da OMT, a chegada de turistas

internacionais a Portugal ascendeu aos 1 134,7 milhões, o que representa um aumento

de 4,4% ao verificado em anteriores estudos.

Figura 1 – Total de chegadas de turistas internacionais entre 2010-2014

No mesmo ano de 2014, a Europa recebeu “mais de metade dos turistas

internacionais (51,4%)” a nível mundial.

Também com base em dados da OMT, o INE (2014) analisou os principais

motivos de viagem a nível mundial.

Figura 2 – Repartição das viagens, segundo os principais motivos, 2014

15

Através do gráfico, denota-se uma clara vantagem para a “Visita a familiares ou

amigos” (46,0%), seguindo-se o “Lazer, recreio ou férias” (40,6%) e os motivos

“Profissionais ou de negócios (8,7%).

Quanto aos principais mercados emissores de turismo para Portugal, destaca-se

em primeiro lugar o Reino Unido (24,2%), seguindo-se a Alemanha (13,5%) e a

Espanha 11,1%).

Figura 3 – Ranking dos principais indicadores de turismo internacional, 2014

A nível internacional, localizamos no quadro (INE, 2014) acima Portugal quanto

a entradas de turistas internacionais, receitas de turismo internacional e despesas em

turismo internacional. Tendo em conta a dimensão do nosso país face à dimensão dos

primeiros países do ranking, podemos considerar que se encontra favoravelmente

posicionado, possuindo ainda margem para evoluir nos próximos anos.

Em relação a Portugal, esta evolução que se tem vindo a fazer sentir foi

importante para o Plano Nacional Estratégico (PENT, 2015) definir o destino como

sendo:

“1. Um destino sustentável e de qualidade, onde crescimento turístico é

compatível com a produção de benefícios para o território e as comunidades e onde o

Estado, na preservação do território, deve saber cumprir o seu papel;

2. Um destino de empresas competitivas, onde um ambiente saudável para a

iniciativa privada promove a concorrência e inovação na atividade turística;

3. Um destino empreendedor, munido de todas as competências e conhecimento

que lhe permita ser o país campeão do empreendedorismo turístico;

16

4. Um destino ligado ao Mundo, onde a conectividade e a mobilidade dos

turistas são ferramentas importantes na ativação da procura;

5. Um destino gerido de forma eficaz, onde a definição clara das competências

de cada agente não deve ser um entrave à iniciativa privada, à exploração de sinergias e

intensificação da transversalidade do turismo;

6. Um destino que marca, cujas estratégias de promoção e comercialização

devem resultar de visões técnicas e não políticas no sentido de almejar a eficiência.”

O objetivo será, então, abrir portas para mostrar o País ao mundo, tornando-se

mais consolidado, competitivo e inovador em relação aos seus principais concorrentes

Através destes dados apresentados, é possível concluir que as tendências futuras

apontam para que o turismo se imponha cada vez mais no mercado mundial: “O

relatório da OMT, que prevê os números do turismo internacional em 2020, aponta que

o turismo alcançará o lugar de primeira atividade económica no mundo com um total de

1600 milhões de turistas e gerador de receitas na ordem dos 2 biliões de dólares

(Carvão, 2009). Desses 1600 milhões, 1200 corresponderão a chegadas intrarregionais e

378 milhões a viajantes de longo curso.” (Gomes, 2012, p. 20).

1.2. Ciclo de Vida de um Destino Turístico

Sendo que um destino turístico é dinâmico, e está sujeito a inúmeras mudanças

causadas pelo tempo, pelo seu espaço, pelos setores envolventes, e até pelos visitantes e

as suas preferências, Butler (1980) desenvolveu um modelo que explica por que estados

passa determinado destino ao longo do tempo, desde o seu surgimento até à sua

maturação. Este modelo é pertinente na medida em que expõe a importância de um

planeamento adequado para a manutenção de um local como sendo turisticamente

atrativo ao longo do tempo.

17

Figura 4 – Ciclo da Evolução do Turismo, por Butler (1980)

Tal como demonstra o gráfico, este ciclo descreve as diferentes fases vividas por

um destino: a fase inicial, de exploração, designa o momento em que surge um pequeno

número de turistas, por iniciativa própria geralmente, e sem padrões de viagem

formalmente definidos; o contacto com residentes e alojamentos locais é frequente, pois

ainda não existem infra estruturas voltadas para a atividade turística. Com este pequeno

movimento, surge a fase de envolvimento, na qual o número de visitantes cresce, e por

isso faz sentido a criação de algumas infraestruturas exclusivas para estes mesmos. São

gerados alguns mecanismos de organização e promoção do local, assim como algumas

áreas de comércio para turistas. O forte contacto com a população local prevalece ainda.

Já na fase de desenvolvimento, é esperado que se defina um mercado turístico

mais concreto, tendo por base uma forte promoção estratégica. Assiste-se a um

decréscimo do envolvimento da população local na atividade turística. As

infraestruturas locais são rapidamente substituídas por outras de grandes investidores e

de maior dimensão. É valorizado o papel das atrações culturais, e podem ocorrer

transformações na imagem física do local. O número de turistas cresce de tal forma que

chega a igualar ou ultrapassar a quantidade de população do local.

É aqui que entra a fase de consolidação do destino, que se depara com uma

quebra no aumento de turistas a chegar. A economia do local está muito centrada na

atividade turística, e há uma tentativa de diminuir a sazonalidade do turismo. Algumas

infraestruturas perdem o seu valor e reconhecimento inicial, e as atrações culturais

podem ser substituídas por outras mais “artificializadas” e massificadas. É esperado um

desenvolvimento das áreas envolventes do destino.

18

Na fase de declínio, o destino perde o seu nível de competitividade, as suas

infraestruturas turísticas começam a ser substituídas por outras de outros setores, à

medida que os potenciais visitantes demonstram desinteresse em relação ao mesmo. Os

preços baixam, pois o mercado é cada vez menos procurado.

Após esta fase, podemos assistir a diferentes situações: como evidencia o

gráfico, no ponto A, o destino consegue um rejuvenescimento e expansão; no ponto B, é

possível uma manutenção e um pequeno crescimento contínuo; no ponto C, torna-se

difícil manter os níveis de estabilidade do destino; no ponto D, a saturação causada pelo

uso continuado dos recursos leva a um declínio visível do mercado; e, finalmente, no

ponto E, em caso de algum evento catastrófico ocorrer no destino, tornar-se-á bastante

improvável que um dia este retorne como turisticamente viável.

Após esta análise, torna-se clara a necessidade de um destino ser devidamente

planeado e organizado previamente, para que consiga manter o seu mercado estável ao

longo do tempo e a sua competitividade alta em relação a outros locais que lhe sejam

concorrentes.

1.3. Diferentes impactos do turismo

Sendo o turismo uma área multidisciplinar, como já foi constatado, será

pertinente perceber que tipo de efeitos as diferentes disciplinas causam no seu

mecanismo de funcionamento. Mason refere em “Tourism impacts, planning and

management”, “O ambiente humano compreende fatores e processos económicos,

sociais e culturais” (2011, p.36), e serão estes os fatores analisados de seguida. Estes

impactos podem sofrer alterações ao longo do tempo, conforme as mudanças que

ocorram na área de destino.

Hall (1999) elabora um quadro sobre os impactos que diferentes dimensões têm

no turismo, mencionando os seus pontos positivos e negativos. Este quadro será

apresentado, acompanhado de uma análise, de seguida, devido ao seu conteúdo

completo ilustrar devidamente a temática agora abordada.

Tipo de impacto Positivo Negativo

Dimensão

económica

Aumento do

consumo

Criação de

emprego

Inflação e subida de

preços

Substituição do

trabalho local pelo trabalho

19

Aumento na

procura laboral

Aumento do valor

imobiliário

Aumento do nível

de vida

Maior investimento

em infraestruturas e

serviços

Aumento do

comércio livre

Aumento de

investimento exterior

Diversificação da

economia

do exterior

Emprego sazonal

Especulação

imobiliária

Maiores lacunas

entre ricos e pobres

Menor apoio e

investimento em outros

serviços

Consideração

inadequada de

investimentos alternativos

Estimativa

inadequada dos custos do

desenvolvimento da

atividade

Aumento do

comércio livre

Perda de poder

local

Dependência

excessiva em relação ao

turismo para emprego e

desenvolvimento

económico

Indústria e

Empresas

Aumento da

consciência do destino

Aumento do

conhecimento do

investidor em relação ao

potencial investimento e

Aquisição de fraca

reputação resultante de

equipamentos

inadequados, práticas

impróprias ou preços

inflacionados

Reações negativas

das empresas devido à

possibilidade de maior

20

atividade comercial do

destino

Desenvolvimento

de novas infraestruturas e

serviços, incluindo

alojamento e atrações

Aumento das

acessibilidades

Melhoria da

imagem do destino

competitividade por

recursos humanos e apoios

estatais

Uso de imagens

inadequadas de marcas e

destinos

Dimensões dos

recursos naturais e

ambientais

Mudanças nos

processos naturais que

valorizam o ambiente

Manutenção da

biodiversidade

Conservação

arquitetónica

Preservação do

património natural e

edificado

Manutenção e

recriação de habitats e

ecossistemas

Mudanças nos

processos ambientais

naturais

Perda de

biodiversidade

Poluição

arquitetónica

Destruição do

património

Destruição de

habitats e ecossistemas

Excesso na

capacidade de transporte

físico

Dimensão

sociocultural

Aumento da

participação local em

atividades e eventos

Reunião da

comunidade

Fortalecimentos

Comercialização e

modificação de atividades,

eventos e objetos de

natureza pessoal

Mudanças na

estrutura da comunidade

Enfraquecimento

ou perda de valores e

21

dos valores e tradições da

comunidade

Exposição a novas

ideias graças à

globalização

Criação de um

novo espaço para a

comunidade

Maior presença de

segurança

Turismo como

promotor de paz

Renascimento de

tradições

Aumento do

orgulho local e espírito de

comunidade

Maior

entendimento intercultural

Maior consciência

dos valores e perceções

exteriores

tradições da comunidade

Aumento da

atividade criminal

Perda de espaço da

comunidade

Isolamento social

Excesso da

capacidade de alojamento

Perda de

autenticidade

Tendência para

atitudes defensivas em

relação às regiões anfitriãs

Aumento da

possibilidade de

desentendimentos entre

população local e turistas

Maior alienação

resultante das mudanças

em relação ao que era

familiar

Integrado

Politica/

administração

Aquisição de

reconhecimento

internacional da região de

destino

Maior abertura

Exploração

económica da população

local para satisfazer

ambições da elite política

Uso do turismo

22

política

Desenvolvimento

de novas instituições

administrativas

para fundamentar e

legitimar decisões

impopulares ou regimes

Perda de poder

local e de capacidade de

tomada de decisões

Figura 5: Impactos de diferentes dimensões no Turismo Fontes: Hall (1999,

pp.29,30).

Através deste quadro é possível perceber as implicações positivas e negativas do

turismo. Na economia, pelo lado positivo, parece importante destacar os novos

investimentos económicos e a diversificação da economia, capazes de dinamizar e

incentivar a troca numa dada comunidade, assim como a construção de novas

infraestruturas aptas para criar novos postos de trabalho e atrair público que estimule a

atividade comercial. Pelo lado negativo, a intensificação da atividade turística pode

trazer à economia um aumento de preços, o que afetará principalmente os residentes da

comunidade, pois o turista terá maior predisposição para despender valores mais

elevados em tempo de férias. A sazonalidade de alguns postos de trabalho é também

preocupante para os residentes, que terão de procurar diferentes ocupações nas épocas

em que a atividade turística se revele menos intensa. Ao verificar-se esta situação, a

dependência excessiva em relação ao turismo é um fator negativo.

No que concerne ao ambiente e recursos naturais, há que destacar pelo lado

positivo a conservação da arquitetura e património, capaz de atrair visitantes que

buscam belos edifícios e monumentos, tanto pela sua história e simbolismo como pela

sua autenticidade. Não obstante, quando estes não são devidamente mantidos, a falta de

sustentabilidade leva à degradação e ao abandono como espaço turístico.

Ao nível sociocultural, os impactos positivos são diversos, principalmente

porque o turismo é capaz de incentivar a participação de toda a comunidade em

atividades e eventos que visem a atração e dinamização turística. Esta maior interação

da comunidade leva ao reconhecimento da importância das suas próprias tradições, não

só de revivê-las, mas também de reproduzi-las para que os visitantes aprendam sobre

elas. Como contrapartida, pode surgir a perda de autenticidade, através da banalização

destas mesmas tradições. Assim, parece que o ideal é mantê-las dentro da comunidade e

protegê-las como sendo o “tesouro” de cada comunidade.

23

Por último, a nível político/administrativo, reconhece-se positivamente o

impacto internacional para qualquer destino, o que pelo lado negativo pode levar a um

favorecimento das forças de poder.

1.4. Turismo em Portugal

Com base no estudo realizado por Mateus e Associados, em 2013, é percetível

que o turismo como atividade económica se destaca das demais, devido ao seu

movimento e consumo no tempo e no espaço, e à sua transversalidade entre os mais

variados setores. Assim sendo, não se lhe conhece um diâmetro formalmente

desenhado, pois este agrupamento de diversas áreas, aliado ao património material e

imaterial, e às próprias preferências dos consumidores, não o permite. Atualmente, é

claro o peso do turismo na balança económica portuguesa, e a dinâmica que os serviços

movimentados em torno do turismo geram nesta balança, não só em termos de receitas,

mas também em termos de empregabilidade. Neste mesmo estudo, estimou-se que as

atividades que rodeiam as viagens e o turismo em Portugal são o principal núcleo de

exportação da economia e com maior solidez face a concorrência das economias que

emergem. Já em 2013, aquando a realização deste estudo, as atividades ligadas às

viagens e turismo indicavam “um quinto do esforço global de exportação da economia

portuguesa com cerca de 255 mil empregos, com 6,4 mil milhões de euros de valor

acrescentado e com 15,2 mil milhões de euros de valor bruto de produção.”

Segundo uma notícia do Jornal Expresso (Mateus, 2016), baseada em dados do

INE, neste mesmo ano Portugal atingiu novos números máximos no que toca ao

turismo. A título de exemplo, “em fevereiro de 2016, a hotelaria registou cerca de 990

mil hóspedes, mais 122 mil do que em fevereiro de 2015 e mais 307 mil do que em

fevereiro de 2006”, um aumento bastante significativo e indiciante de uma época

próspera para o setor. Nesta mesma notícia, são indicadas algumas razões avançadas

pelo INE para a ocorrência deste fenómeno: “a situação de instabilidade verificada em

destinos concorrentes, a par da implementação de estratégias comerciais específicas em

fevereiro, nomeadamente pacotes especiais do Dia dos Namorados e do Carnaval (em

2016 com tolerância na Administração Pública)”. Graças a estes fatores, Portugal tem

vindo a obter condições para alcançar vantagens comparativas em relação aos seus

principais destinos competitivos, sendo exemplo disso a Espanha. Espera-se que nos

próximos anos, estes números e fatores venham a consolidar-se cada vez mais no

território português.

24

Também o Económico publicou uma notícia sobre a mesma temática (Lopes,

2016), onde destaca a evolução dos números do turismo e hotelaria em Portugal até

níveis nunca antes atingidos. Porém, é de realçar a declaração do presidente da

Confederação do Turismo Português (CTP), Francisco Calheiros: “entrar neste despique

de comparação de números faz desviar a atenção daquilo que é essencial e dos

problemas estruturais que ainda se tem de resolver no turismo”, o que revela a

necessidade de não cair num otimismo excessivo, mas sim continuar a batalhar para

reparar as fragilidades do setor. Nesta mesma notícia, Bernardo Trindade, administrador

do grupo PortoBay, destaca algumas novas tendências que têm contribuído para o este

recente crescimento do setor: “Os números dos Açores [cresceu 19,6% em dormidas]

refletem a entrada em rota da Ryanair e Easyjet”, identifica, a par do crescimento de

Lisboa que resulta da “continuada afirmação desta importante capital europeia”.

Bernardo Trindade argumenta ainda “a atenuação da sazonalidade algarvia,

nomeadamente nos meses de Abril e Novembro” e “a interessante a evolução da

atividade no Porto e Norte, Centro, Alentejo e Madeira”. Desta forma, é demonstrada a

importância que as novas rotas low cost têm para o setor, abrindo portas a um maior

número de visitantes, bem como a redução da sazonalidade,

e o alargamento da atividade a regiões até então menos exploradas.

Tal como já foi avançado acima, quando foram discutidos alguns dados sobre o

turismo Mundial e em Portugal, esta atividade tem sofrido uma evolução positiva no

nosso país, que se faz sentir principalmente na economia.

De facto, o turismo é uma excelente alternativa para o desenvolvimento do país,

não só a nível interno com a criação de emprego, como também a nível internacional, o

que o impulsiona de forma a ser reconhecido externamente, a expandir a economia e a

dinamizá-la.

2. Eventos

Já no domínio dos eventos, o nome de Donald Getz é incontornável. Este

professor universitário centra os seus estudos e investigações nos domínios do turismo e

dos eventos, sendo que são utilizados em grande parte dos trabalhos realizados nestas

áreas, e por isso se torna tão interessante referi-lo neste trabalho.

25

A sua definição de “evento” é aquela que trará maior concordância dentro deste

campo de estudos, e aquela na qual um maior número de autores se apoiam. Getz afirma

que um evento é “ uma ocorrência num dado local e período de tempo; um especial

conjunto de circunstâncias; uma ocorrência pertinente” (2008, p.18). Este

acontecimento deve ser devidamente planeado para um local em particular, e para

atingir um objetivo em específico (2008, p.21), seja ele ligado à “economia, cultura,

sociedade e ambiente”.

Marujo (2014 a.) desenvolveu um trabalho designado “Os eventos turísticos

como campo de estudo académico”, no qual cita Marujo para descrever o mercado de

eventos: “Para a OMT (2003), o mercado de eventos tem-se tornado um segmento

altamente especializado e relevante para o setor turístico. Os eventos, seja qual for a sua

tipologia, criam oportunidades para a viagem, aumentam o consumo e promovem o

desenvolvimento, justificando a luta constante por parte das entidades governamentais

na captação de eventos nacionais e internacionais. Em muitas sociedades, o turismo de

eventos destaca-se, cada vez mais, como uma tendência promissora que gera

movimento económico e social para o lugar onde se insere. ‘Eles surgem como uma

arma para identificar um destino, melhorar a imagem do lugar ou combater a

sazonalidade” (Marujo apud Marujo 2014 a., p.73). Através desta citação, discute-se a

crescente preponderância dos eventos, nomeadamente para o setor em estudo, o turismo,

mostrando-se como uma espécie de motor dinamizador e inovador capaz de atrair um

público mais alargado.

“É um fato que muitos tipos de eventos realizados em países, regiões ou

localidades (com âmbito regional, nacional e internacional) podem promover a

atividade turística e gerar desenvolvimento. Daí, que muitas organizações de marketing

e comunidade estejam cada vez mais envolvidas no planeamento, organização e

promoção de eventos como atrações turísticas. Trata-se do chamado ‘evento turístico

em marcha’ que pode ser visto como mais sustentável do que outras formas de

desenvolvimento de turismo” (Getz apud Marujo 2014 a.). Esta citação vem dar força à

realização de eventos associados ao turismo, como forma de desenvolver atividades

furtuitas e experiências realmente significativas aos visitantes de cada destino. Para

certas empresas ligadas ao ramo do turismo, os eventos são uma importante chave para

diversificar a oferta e captar novos públicos.

Marujo (2014 a., p. 6, 7) defende ainda que “Há muitos estilos de eventos

planeados e organizados com diferentes propósitos, mas em todos eles existe uma

26

intenção de criar, partilhar experiências individuais e coletivas, de promover através da

interação entre turistas e anfitriões diversas experiências”.

Tendo em conta esta última citação de Marujo (2014 a.), onde refere a existência

de “muitos estilos de eventos planeados”, e sendo que os eventos possuem objetivos ou

propósitos diferentes, apresenta-se de seguida as diferentes tipologias agrupadas por

Getz (2002, p.30). Essas tipologias serão abaixo mencionadas através de um quadro de

elaboração própria.

Tipologia Definição

Celebrações culturais “Eventos solenes que têm

significado cultural (...) Consistem em

festivais, carnvais, comemorações

patrimoniais, paradas ou ritos religiosos e

rituais...”

Festivais “Um evento cultural que consiste

numa série de performances de trabalhos

de belas artes, frequentemente dedicados a

um só artista ou género” (Falassi 1987: 2)

Carnaval “...é uma celebração que precede a

Quaresma e é associada a festejos,

tradições e paradas”

Comemorações patrimoniais “São serviços de homenagem,

cerimónias específicas ou eventos amplos

(incluindo festivais) elaborados para

honrar a memória de algo ou alguém”

Paradas ou Procissões “...geralmente são organizadas,

procissão celebratória de pessoas, e as

mais populares são espetáculos móveis,

entretenimento, ou outro objeto de

captação do espetador, passando pela

audiência numa progressão dinâmica”

Eventos Religiosos “...ritos e rituais solenes

encorporados, e são considerados

sagrados no contextos de religiões

27

específicas”

Eventos Políticos e Estatais “Qualquer evento produzido por e

para governos e partidos políticos recai

nesta categoria”

Artes e Entretenimento “Quase toda a atividade, desporto,

mostra artística ou evento pode ser visto

como “entretenimento”. (...) Para ser

preciso, tem de ser enfatizado que o

entretenimento é passivo, algo que alguém

experiencia por prazer sem ter que pensar

sobre o seu significado cultural/histórico e

sobre os valores que se expressam”

Artes Performativas “...tradicionalmente envolvem

pessoas a atuarem, como músicos,

cantores, bailarinos ou atores, e

audiências.”

Feiras “Um agrupamento num tempo

específico e local para a compra ou venda

de bens (...) uma exibição com a intenção

de informar as pessoas sobre um produto

ou oportunidade de negócio (...) um

evento, normalmente para o benefício da

caridade ou instituição público, que inclui

entretenimento e a venda de bens”

Feiras Mundiais “...tem um significado muito

específico, que deriva de um acordo

internacional de 1928 e é regulado pelo

Bureau International des Expositions

(BIE) em Paris. BIE estabelece as

políticas para comandar as feiras

mundiais, que são habitualmente

conhecidas como Expos.”

Literatura “Festivais ou outros eventos

planeados onde poesia e trabalhos escritos

28

são comuns, e estes podem incluir

“leituras” que são de fato performances”

Artes Visuais “Pintura, escultura e artesanato são

as artes visuais mais comuns e espetáculos

ou exibições de artes visuais são eventos

planeados”

Eventos de Negócios “O objetivo fundamental deste tipo

de evento é promover, vender ou

comercializar, ou então conhecer

objetivos corporativos. Mercados de

agricultura, feiras e exibições (espetáculos

de troca e consumo) são claramente

baseados em vendas e marketing”

Encontros e Convenções “...são assembleias para

conferenciar e discutir (...) são geralmente

grandes assembleias de associações,

partidos políticos, clubes ou grupos

religiosos (...) Corporações e associações

implicam gerentes de encontro e

convenção para tratar dos seus negócios”

Exibições “...são abertas ao público,

frequentemente com uma taxa de

admissão, e os seus temas mais populares

estão ligados a automóveis, viagens,

recreação, animais de estimação,

eletrónica, jardinagem, artes e outros

passatempos”

Eventos Privados “Desde casamentos até

aniversários, bar mitzvahs, funerais, festas

temáticas, festas de igrejas, podem

requerer profissionais ou ser organizadas

pelos participantes. A experiência é tanto

pessoal como social, com múltiplos

significados possíveis”

29

Flash Mobs, Encontro de Guerrilha

e Lutas de Almofada

“Estes eventos são de certa forma

anti estabelecidos, até anarquistas na sua

origem ou intenção. Eles dependem de

redes sociais para uma entensão alargada

(...) São um fenómeno social recente e

emergente com um propósito, local e curta

duração, mas sem um programa real –

apenas atividade”

Eventos Educativos e Científicos “Frequentemente considerados um

sub setor dos Eventos de Negócios, são

contudo diferentes pelo seu ênfase na

criação e troca de conhecimentos”

Eventos Desportivos “O jogo, corrida ou competição

regular e calendarizado (...) compeonatos

e torneios calendarizados (...) Eventos

multi desportivos (ex: Olímpiadas)”

Eventos de Recreação “...são geralmente produzidos por

parques e agências de recreação,

organizaões sem fins lucrativos e grupos

de afinidade (como igrejas, escolas e

clubes) por razões não competitivas, e têm

natureza lúdica”

Protesto ou Manifestação “Protestos são vistos como a forma

mais eficaz de mostrar apoio e arrastar as

pessoas para uma causa, ou pelo menos

atrair atenção dos que se encontram no

poder”

Figura 6 – Tipologias de eventos Fonte: Elaboração própria (adaptada de Getz,

2002)

Posto esta lista de tipologias de eventos, compreende-se que são inúmeras as

atividades suportadas por estes, e que estes estão cada vez mais presentes na atividade

turística, de forma a suportá-la e a diversificá-la. Ao reportarmo-nos para a temática em

estudo, o turismo, é evidente a sua forte ligação com a atividade dos eventos, que lhes

30

concedem uma importante dinamização ao setor. Por isso a contínua referência a Getz

permanece essencial, sendo ele um importante estudioso das duas áreas.

No artigo “Country as a free sample: the ability of tourism events to generate

repeat visits. Case study with mobile positioning data in Estonia”, da autoria de Kuusik,

et al. (2014), os autores referem como ponto de partida: “Quando uma pessoa atende a

um evento, também experiencia a área no qual este atua. Se esta experiência for

positiva, a probabilidade de repetirem mais tarde para explorar a área mais

especificamente aumenta”. Através desta afirmação é possível perceber a importância

que os autores atribuem aos eventos, e é esta importância que se pretende comprovar

com este trabalho. Este ponto de vista põe em evidência os eventos como sendo em

parte catalisadores do turismo, capazes de providenciar a quem os visita uma pequena

parte do destino de visita escolhido. Os mesmos autores defendem que os eventos

podem gerar a repetição de visitas ao destino e de movimentar outras atividades do

local, como a económica (p.263). Assim, os mesmos apontam que os benefícios da

realização de eventos numa comunidade estendem-se para além dos visitantes, sendo

que geram importantes lucros para os seus investidores e entretenimento para os seus

residentes (p.264).

Hall (1989) aborda um tipo de evento bastante relacionado com turismo, os

eventos Hallmark. Esta designação refere-se a todos os eventos de caráter turístico, que

podem ser desde feiras a exposições, de tipo cultural ou até desportivo, que adquirem

uma dimensão internacional e podem realizar-se regularmente ou apenas uma única vez.

Estes eventos surgem como uma oportunidade para o mercado turístico da região na

qual ocorrem. Por vezes são mencionados como sendo mega eventos ou eventos

especiais. São considerados uma poderosa estratégia de marketing no destino que os

acolhe, atuando tanto a nível local como internacional no combate à sazonalidade que

caracteriza muitas regiões. São criadores de diversos impactos, tanto a nível económico

e social como cultural. Quanto maior a sua dimensão, é claro que a economia

conseguirá extrair-lhe mais benefícios e receitas. Os eventos Hallmark implicam que

haja um trabalho e envolvimento conjunto entre os órgãos governamentais e a

população local, para que esta última consiga tirar um melhor partido das vantagens

económicas e sociais da sua realização, diminuindo o prejuízo de eventuais impactos

que causem algum tipo de distúrbios. Estes impactos ainda não são muito conhecidos, e

é necessário um estudo mais aprofundado, de forma a minimizá-los.

31

2.1. Eventos Culturais e sua contribuição para a imagem de um

destino

Ao analisar especificamente o “nicho” do turismo de eventos, Getz (2007)

enfatiza a ação dos eventos como atração, animação, objeto de marketing, e criadores de

imagem.

Mais profundamente, o autor chega ao turismo cultural, já que muitos dos

“turistas de eventos são turistas culturais”. Desta forma, recorre a McKercher e du Cros

e às suas quatro perspetivas que ajudam a entender de que forma se desenvolve o

mecanismo que desencadeia o turismo cultural: “’tourism derived’ (uma forma de

viagem de especial interesse; um produto); ‘motivational’ (o que os turistas procuram,

incluindo visitas a exposições, monumentos e festivais); ‘experimental’ (um ênfase na

aprendizagem cultural; a procura por entendimento e satisfação individual) and

‘operational’ (relacionado com o propósito de estudo, como examinar festivais como

formas de turismo cultural). Os autores consideram ainda que existe uma categoria de

turistas culturais que buscam eventos de forma intencional, tentando obter através deles

uma “experiência cultural profunda” e dados os estudos sobre o assunto a previsão é que

este setor venha a conhecer um crescimento contínuo. (Getz, 2007)

É importante ainda perceber os impactos que os eventos de turismo podem ter, e

este é outro tema abordado por Getz (2007) O autor reconhece que os eventos são uma

fonte de motivação para a prática de turismo, contudo é comedido no que toca a

considerar que os eventos possam ter impacto a nível económico, já que não existe

referências a este item em relatórios realizados. É salientado o facto de os eventos terem

impacto positivo no turismo em geral, pois são uma forma de entretenimento e

socialização, mas são sobretudo importantes quando realizados para mercados de nicho,

já que atraem público com motivações e intenções específicas.

Os eventos, quando aliados ao turismo, podem acrescentar um caráter

diferenciador aos destinos turísticos, que os demarquem dos demais concorrentes

diretos. Esta situação é claramente benéfica para a atividade económica do setor, pois a

diferenciação será procurada por um público que esteja a par das últimas inovações e

com maior poder de compra. Estes conceitos serão devidamente abordados aquando a

abordagem da noção de “experiência autêntica”. Mateus e Associados salientam a

diferenciação, tomando como referência Porter: “a diferenciação traz uma posição de

concorrência monopolística a um destino, oferecendo uma experiência turística que não

é suscetível de ser oferecida noutro lugar. A oferta de uma experiência diferenciada

32

permite atingir segmentos de mercado com maior poder aquisitivo, oferecer bens e

serviços de maior valor acrescentado e reduzir os impactos da massificação a que uma

estratégia de liderança de custos tende a conduzir”.

Este estudo vê ainda a cultura (e todos os projetos que lhe estão associados,

como os eventos culturais) como veículo para a internacionalização de si própria e do

destino em que se insere.

Segundo os números avançados neste estudo de Mateus, que provêm de um

inquérito promovido pela Comissão Europeia, “a cultura é relevante na decisão do

destino de férias”. Este inquérito, ao analisar os principais motivos de férias de 2012 dos

27000 europeus inquiridos, encontrou 40% atribuídos ao sol e praia, a visita a familiares

e amigos com 36%, a natureza com 26% e a cultura com 22%, sendo que este último

setor é mais procurado por “inquiridos do sexo feminino (23%), acima dos 55 anos

(25%) e com maiores qualificações (25%)”. Este perfil, apesar das diferenças, mantém-

se no panorama feminino relativamente àqueles que alegam a repetição de visita a um

destino por motivos culturais: “inquiridos do sexo feminino (27%), mais novos (29%) e

com maiores qualificações (32%) ou a estudar (33%)”. Os principais países emissores

de visitantes por motivos culturais são Dinamarca, Espanha, Áustria, Finlândia ou

Suécia. (Mateus e Associados, 2013)

Mateus (2013) refere ainda, no estudo realizado, a capacidade que os eventos

culturais detêm de gerar atração no turismo (referindo especialmente os festivais de

música de verão em Portugal). Estes eventos, aliados ao clima e à paisagem, são polos

de atração de um público jovem, porém com rendimentos reduzidos, que procuram a

experiência pelo que ela é em si, com grandes probabilidades de repetição da mesma no

futuro. Acrescenta ainda que “quando uma determinada forma musical é

internacionalmente reconhecida, estes espetáculos contribuem para motivar a visita e

são procurados pelos turistas”. Mesmo no caso de pequenos eventos focados em estilos

de músicas mais tradicionais, estes podem criar um interessante e estreito laço entre

residentes locais e turistas (como é exemplo disso o fado).

Em Portugal, o número de eventos culturais realizados tem vindo a aumentar nos

últimos anos, principalmente os de maior impacto: “Do lado da cultura, há a destacar a

Capital Europeia da Cultura (CEC) Porto 2001 e a Expo 98 em Lisboa. Foram dois

eventos particularmente relevantes devido aos objetivos de regeneração socioeconómica

e de requalificação urbana que se sobrepuseram ao setor da cultura stricto senso. E

serviram-se largamente na prossecução de uma estratégia concertada de promoção de

33

uma imagem cosmopolita para o exterior” (Ramalho, 2013, p.61). Sobre o Porto como

Capital Europeia da Cultura há ainda a referir: “um grande evento cultural que incluiu

um extenso projeto de requalificação urbana e ambiental da cidade e a construção e

renovação de múltiplas infraestruturas culturais, na tentativa e corresponder ao slogan e

lançar ‘pontes para o futuro’”.

Já mais atualmente: “Na cultura salientemos em 2012 a Capital Europeia da

Juventude (CEJ) em Braga e a CEC em Guimarães” (Ramalho, 2013, p.61), eventos que

se mostraram capazes de projetar a imagem destas cidades no exterior, principalmente

pela riqueza da sua história e cultura.

Ramalho (2013, p.61) expõe ainda uma importante nota sobre a realização de

eventos culturais em Portugal: “a necessidade, premente em tempos de crise, de

repensar os investimentos realizados na área do turismo e dos grandes eventos. Mas essa

reflexão manter-se-á dificultada enquanto for frágil a avaliação dos impactos dos

mesmos, seja na projeção de uma imagem do país para o exterior, na atração de capital

financeiro ou humano ou na sua vocação mais social e estritamente cultural”, alertando

assim para a necessidade de analisar a forma de como estes eventos se têm vindo a

desenrolar, e qual o peso que têm tido no turismo, cultura, economia e sociedade.

2.2. Festivais de Música

Sobre a definição de festivais de música em concreto, Sarmento (2007) apoia-se

em Abreu: “Concentram-se num espaço de tempo curto, num local geralmente

delimitado e têm uma intensa programação musical”.

Gibson e Connell (2005) forneceram um importante contributo para a

investigação e análise dos festivais de música, tendo como objeto de estudo eventos

ocorridos na Austrália. Estes investigadores distinguem os festivais realizados

direcionados quase exclusivamente para a comunidade local, e de menor dimensão,

daqueles com características mais comerciais, que envolvem atuações ao ar livre, com

maior investimento de promotores e abertos a um público mais alargado, inclusivamente

turistas. Apesar de serem bastante diferentes, em ambos os casos têm influência direta

no desenvolvimento local.

Pegg e Patterson (2010) fazem uma análise sobre a necessidade dos eventos

musicais buscarem constantemente elementos diferenciadores, pois no ponto de vista

dos autores será essa a chave para lhes agregar valor e atrair um maior público. Sobre as

motivações deste público, referem que ainda é complicado identificá-las, existindo

34

poucos estudos sobre o efeito, a maior parte deles pautados pelas variáveis socio

demográficas e pelos níveis de satisfação.

O estudo levado a cabo por Pegg e Patterson (2010) sobre o evento Country

Music Award revelou que as motivações dos seus visitantes se focavam principalmente

no gosto pelo género musical em si, mas sobretudo no variável leque de atividades

desenvolvidas no mesmo, assim como no ambiente vivido no local (“casual, relaxada,

familiar atmosfera”). A hospitalidade por parte dos residentes locais foi outro dos

fatores mencionados.

Também Gelder e Robinson (2011) estudaram a relação dos eventos,

nomeadamente dos festivais, com o turismo, e também estes autores consideram esta

aliança importante para canalizar uma considerável dimensão de público, tanto local

como estrangeiro. E os eventos, incluindo os festivais, têm assim conhecido uma grande

expansão nas últimas décadas, tanto na área de turismo de negócios como nas áreas de

turismo de lazer, abrindo portas para serem o “centro da cultura” e uma importante

fonte de receitas para as economias locais. Pegg e Patterson (2010) reforçam o papel

dos eventos e festivais como catalisadores de momentos de recreação, que motivam o

público a participar pela sua multiplicidade de atividades, tal como pelo ambiente e

paisagem em que se encontram inseridos.

Abreu (2004) apresenta a sua definição de festivais de música voltada para a sua

vertente cultural e de lazer, bem como para a capacidade que estes têm de projetar um

determinado local e potenciar o turismo: “...são eventos com uma temporalidade inversa

à que observámos para as agendas regulares, iniciando uma atividade mais intensa com

a Primavera e estendendo-se até aos meses de Outono. (…) O pico da ocorrência dos

festivais acontece no Verão, nos meses de Julho e Agosto, revelando a forma como

estes eventos musicais, embora orientados por objetivos artísticos, têm vindo a ser

associados a estratégias políticas locais, que procuram promover atividades lúdico-

culturais capazes de atrair e fixar turistas e de projetar no exterior (no âmbito regional,

nacional ou mesmo internacional) a imagem das cidades ou dos concelhos”.

Os festivais de música são espetáculos ao ar livre, com características e

condições específicas, que podem variar entre si, devido à dimensão, temática e até

mesmo tipo de público envolvido. Em alguns casos, podem inclusive abarcar na sua

programação exibições de artes performativas.

Dias (2012) indica que muitos autores dividem os festivais em: “Festivais

“boutique”, que permitem uma maior proximidade entre público e festival, com

35

capacidade máxima de até 10 mil pessoas, segundo Anderton (apud Dias, 2012), ou até

35 mil pessoas, segundo Haslam (apud Dias, 2012); Festivais de dimensão média, com

audiências entre 10 mil e 50 mil pessoas; Festivais de larga escala, com mais de 50 mil

pessoas de audiência.”

De destacar ainda a criação de espaços com bares e restaurantes para satisfazer a

generalidade do público, assim como de feiras de artesanato e de espaços de diversão

para crianças e adultos. Todos estes parâmetros variam em caso de ser um festival mais

genérico ou então mais específico, devido ao seu cartaz voltada para um nicho de

público especializado.

Dada a sua ocorrência em espaço aberto, normalmente é escolhida a altura do

Verão para a realização, até porque será o momento em que o clima se encontra mais

propício a tal e a maioria do público se encontra com mais tempo livre para atividades

de férias e lazer.

Segundo o Jornal de Negócios (Ledo, 2014), a cobertura mediática dos festivais

de música é cada vez maior, o que pode gerar um retorno que ronda os 18 milhões de

euros. O festival com maior cobertura é, sem dúvida, o Rock in Rio Lisboa, seguindo-se

o NOS Alive e o NOS Primavera Sound. O número de notícias que antecedem cada

festival ronda uma média de 400 a 800, e “Quando se analisa a cobertura mediática no

mês de realização do evento, esse número pode escalar para um intervalo entre 2.000 e

3.000 notícias por festival.”

2.2.1. Festivais de Música em Portugal

No que concerne aos festivais de música realizados em Portugal, e que cada vez

se apresentam em maior número e com massiva participação do público, é importante

referir o nome de Álvaro Covões. Dono e fundador da Everything is New, empresa do

ramo musical, é um dos grandes impulsionadores dos festivais em Portugal e da

importância que estes têm na promoção externa do país, principalmente do NOS Alive,

criado em 2007 e considerado um dos maiores eventos musicais urbanos do país.

Destaca-se este nome pois foi capaz de reconhecer a importância de captar público

internacional para que um festival se expanda, tal como referiu numa entrevista à revista

Visão em 2013: “…Investimos bastante em marketing, publicidade, redes sociais, trazer

jornalistas estrangeiros. (…) Somos uma empresa de eventos, criamos conceitos,

procuramos oportunidades... Não vamos ter um franchising da marca, isso nem pensar.

Mas estamos atentos às oportunidades. Hoje, em Portugal, temos um excelente know

36

how da organização de grandes eventos. E há mercados que não sabem fazer como

nós... Por isso, é natural que surjam oportunidades. Faz todo o sentido, até pela nossa

capacidade de adaptação.” (Visão, 2013)

Álvaro Covões mostra-se imperativamente um apoiante dos eventos culturais

como impulsionadores de diversos setores do país, como o económico e o turístico, e

para que estes se solidifiquem como dinamizadores do território, apela às autoridades

governativas por maior apoio na divulgação e promoção: "As regiões [de turismo] têm a

obrigação de mostrar o melhor que temos, de uma forma organizada", afirmou aos

jornalistas à margem de um encontro com empresários do sector hoteleiro, em Lisboa.

Para o gestor da empresa que organiza o festival NOS Alive, falta ainda coordenação

entre as diferentes identidades para que se consiga "vender" o destino Portugal de uma

forma integrada. "Devíamos organizar-nos fora da política partidária", reforçou.” (Ledo,

2014)

Para que os números em termos de participantes do NOS Alive subissem,

confessa que “...percebemos desde a primeira hora que para ter 50 mil pessoas por dia

tínhamos que conquistar público estrangeiro porque em Portugal não há nesta altura

grande poder de compra. A realidade é que muitos milhares de jovens em Portugal não

têm a mínima hipótese de comprar um bilhete que custa 55 euros.” (Belanciano, 2015)

Este facto comprova na prática a importância da captação de público estrangeiro

para a economia e turismo, pois a estratégia utilizada tem resultado em edições do

festival completamente esgotadas nos últimos anos.

O fundador da Everything is New considera que a relação entre eventos culturais

e turismo é mútua: “as pessoas começaram a valorizar a ocupação dos tempos livres,

esse tipo de mercado é inevitável. Isso aliado às viagens de avião mais baratas fez com

que se criasse um turismo de curta-duração que tradicionalmente funcionava em Paris,

Roma ou Londres e que se tem deslocado. Vejo aí uma oportunidade. Porque é que as

pessoas vêm a Lisboa? Para conhecer a cidade e pelos conteúdos associados. Porque

vamos a Madrid? Por causa do Prado, do Rainha D. Sofia, da Arco ou do Real Madrid.

Há sempre um conteúdo associado. E aqui também temos essa hipótese de criar

conteúdos.” (Belanciano, 2015)

Mais recentemente, já em 2016, num dos debates do Talkfest, discutiu-se a

relação entre o turismo e os festivais de música, onde ficou assente a necessidade de

criar fortes alianças entre os dois. Duarte Cordeiro destacou os 43 milhões de euros de

receita de bilheteira conseguidos em 2014, e a importância de “…demonstrar que

37

fazemos bem e que trabalhamos em conjunto. É preciso ser competitivo”. (Carmo,

2016)

Foi destacada ainda a organização do Boom Festival em Idanha-a-Nova, que

detém em si 90% de público estrangeiro no total de espetadores, o que permite dar

visibilidade ao interior do país.

Neste debate ficou a saber-se que os números quanto a bilhetes do NOS Alive

vendidos no estrangeiro têm conhecido uma significativa evolução, e passaram dos

15.000 bilhetes 2015 para os 18.000 bilhetes de 2016 (números relativos a Março de

2016, sendo que o festival apenas se realizaria no mês de Julho deste ano), com

incidência no público do “…Reino Unido, em Espanha e em França.”

O diretor-geral das Artes conclui o debate alertando: “… falta a criação de uma

estratégia”, que evidencie o “potencial turístico” dos festivais de música. (Lusa, 2016)

2.3. Noção de “experiência autêntica”

Falar do conceito de experiência é algo inerente à área dos eventos, e este é

também tomado em consideração por Getz (2005). Para ele, aqui contribuem as

dimensões cognitiva (perceção, memória, compreensão) e afetiva (sentimentos,

emoções, preferências e valores. Referindo-se à experiência de lazer, a mais pertinente

para este trabalho, cita Mannell e Kleiber, que refletem sobre o sentido de liberdade de

escolha, a intensidade e duração da experiência, assim como as emoções, sentimentos e

envolvimento.

Sobre a experiência turística propriamente dita, cita Ooi que sugere que esta é

“enriquecida ou moldada por mediadores”, sendo eles os próprios guias ou a informação

que é disponibilizada ao turista. Há ainda uma referência a Pine e Gilmore, que em The

Experience Economy eferem que a concretização de uma experiência depende do tipo

de interação que o turista desenvolve com o “produto” ou objeto de consumo em causa

(p.175).

No que concerne à experiência desenvolvida nos eventos, Getz recorre à obra

Experience Marketing: Strategies for the New Millenium, de O’Sullivan e Spangler

Para os autores, a experiência envolve cinco parâmetros:

1. Etapas: Eventos ou sentimento que ocorre antes, durante e

depois.

2. A experiência real: Fatores ou variáveis que influenciam a

participação e forma exteriores.

38

3. Necessidades a ter em conta.

4. Papéis do participante e de outras pessoas envolvidas

(personalidade, expetativas, comportamento).

5. Relação com quem providencia a experiência (capacidade e

vontade para organizar a experiência, controlá-la).

Figura 7 – Parâmetros da experiência no turismo (Elaboração própria)

Ao analisar estes princípios, denota-se que a experiência em eventos não

depende apenas daquele que a vivencia, já que este é influenciado pelo meio envolvente

e por quem a proporciona ou realiza.

Cunha (2011) faz referência a MacCannell, e esta referência é essencial na

medida em que este último é responsável por introduzir o conceito de autenticidade no

turismo, pois a seu ver a “consciência turística é motivada pelo desejo de viver

experiências autênticas embora frequentemente seja muito difícil saber com segurança

se a experiência é, de facto, autêntica”.

A autenticidade, ainda mais quando aplicada ao turismo, é um conceito tão

subjetivo e abstrato, que se torna difícil obter uma concordância sobre a mesma.

Existem inúmeras variáveis das quais depende: decisões dos visitantes, opiniões sobre

os destinos e a sua oferta turística, níveis de inovação, etc.

Cunha faz também referência a Wang para obter uma classificação sobre a

autenticidade, através da qual é ainda mais evidenciado o caráter subjetivo do conceito,

fortemente ligado a parâmetros culturais e sociais. Este segundo autor dividiu-a em

objetiva, construtiva e existencial: “A autenticidade objetivista refere-se à autenticidade

dos originais (objetos expostos nos museus, monumentos) e, neste caso, as experiências

autênticas são causadas pelo reconhecimento dos objetos visitados como autênticos

mas, mesmo que o não sejam, os turistas podem ter experiências autênticas quando lhes

são apresentados como tais. A autenticidade construtivista significa o resultado de uma

construção social (…) As coisas surgem como autênticas não porque inerentemente o

sejam mas porque são construídas como tais em termos de pontos de vista, crenças,

perspetivas ou poderes. (…) Neste sentido o que o turista procura é uma autenticidade

simbólica. A autenticidade existencial envolve os sentimentos pessoais ativados pelas

atividades turísticas. Nas experiências turísticas as pessoas sentem que elas próprias são

muito mais autênticas e livres do que no dia-a-dia das suas vidas, não porque descobrem

objetos autênticos mas por que estão ocupadas em atividades livres dos

constrangimentos diários.”

39

Por fim, Gomes (2012, p.45) alerta para o seguinte facto: “O turismo é uma

atividade que, segundo alguns estudiosos, constitui uma ameaça ao estado natural das

coisas, à sua autenticidade. A maioria dos autores apresenta o turismo de massas e a

mercantilização das atrações como ameaças para a singularidade e autenticidade do

património e da cultura.” Isto representa a necessidade de constantemente preservar os

objetos ou atividades designados como autênticos.

3. Turismo Cultural

O turismo cultural é uma das vertentes que mais se tem desenvolvido na área

turística, tanto pelo vasto número de pontos de interesse em todo o Mundo, como pelo

aumento da sua procura nos últimos anos. Richards (1996) indica que “Não só as

atrações culturais como museus e monumentos constituem o maior setor do mercado de

atrações da Europa, mas também têm vindo de forma ascendente a ser colocadas no

centro do desenvolvimento urbano e rural através de estratégias e programas de

valorização da imagem dos locais”, sendo assim possível reconhecer a importância que

o turismo cultural tem na Europa, sendo a atividade turística que provavelmente se

mostra com maior expansão em todas as áreas do território europeu.

Segundo o relatório City Tourism & Culture (ETC/UNTWTO/ECT, 2005,

2007), citado por Moreira e Henriques (Moreira e Henriques, 2007, p.134), o turismo

cultural informação e experiências para satisfazer as suas necessidades

culturais”.define-se como o “movimento de pessoas para atrações culturais fora do seu

local normal de residência, com a intenção de obter mais

Estas “atrações culturais” referidas pelas autoras fazem parte da identidade de

cada cidade ou região, são o seu património. E assim prosseguem afirmando e

importância do património para a cultura: “O património como história, ou ‘história

materializada’ (Hernandez e Tresseras, 2001:14), perceciona-se enquanto ‘coisa de

valor’ (valor patrimonial, económico, simbólico, semiológico), a qual contribui ‘para

Moreia e Henriques, 2007, p.135).

Carvalho (2011, p. 6), em “Os eventos culturais e criativos poderão ou não

contribuir para uma imagem diferenciadora do destino turístico maduro?” destaca que

“A discussão à volta do turismo cultural engloba áreas distintas de estudo como os

efeitos do turismo na comunidade local, a apropriação do património pelo turismo, a

relação dos gestores do património e os profissionais de turismo, a autenticidade de

certos eventos culturais, a cultura material e imaterial entre outras”, baseando-se nos

40

trabalhos de McKercher e du Cros e de Smith e Forest. Este argumento vem frisar

novamente a multidisciplinariedade do turismo, em qualquer que seja a sua vertente -

neste caso, o turismo cultural - , e a necessidade colaborar em conjunto com todos os

intervenientes para obter uma coerência capaz de tornar este conceito um pouco mais

sólido.

Silderberg (1994) define turismo cultural “como visitas de pessoas do exterior da

comunidade local motivadas por inteiro ou em parte pelo interesse histórico, artístico,

científico ou patrimonial de uma comunidade, região, grupo ou instituição”, e refere

ainda que o produto cultural se refere a “instituições, oportunidades patrimoniais e a

eventos” (p.2). Assim sendo, percebe-se que o turismo cultural está ligado a todas as

deslocações realizadas com o intuito de conhecer/visitar monumentos, tradições e todo o

património cultural de uma dada região.

Por sua parte, Richards (2001, p. 5) refere que o turismo cultural “não se baseia

apenas em visitar locais e monumentos, o que está associado à tradicional visão sobre o

turismo cultural, mas também envolve o consumo do estilo de vida da área visitada.

Ambas as atividades envolvem a coleção de novos conhecimentos e experiências. O

turismo cultural agrega não só o consumo cultural de produtos do passado, mas também

uma cultura contemporânea ou o estilo de vida da população ou de uma região”. Esta

visão de turismo cultural mostra-se mais dinâmica que a de Silderberg, já que pressupõe

a participação ativa do visitante no conhecimento e assimilação da cultura da região em

causa

Silderberg categoriza o mercado do turismo cultural segundo a motivação do

turista, e este pode sentir-se “greatly motivated” quando viaja com o interesse específico

pela cultural. Existem aqueles que se sentem “in part” motivados pela procura por

cultura, já que evidenciam outros propósitos para além deste, aqueles para os quais o

turismo cultural “is an ‘adjunct’”, ou seja é um complemento a outras principais

motivações de viagem, e outros ainda que o autor refere como “accidental cultural

tourist”, aqueles que por casualidade participam em qualquer experiência cultural.

(1994, p. 4, 5)

É importante, para além do mercado do turismo cultural, ter em conta qual o

perfil do turista em si, para conseguir corresponder às suas expectativas quanto ao

destino escolhido. Sobre isso, Silderberg aponta algumas características gerais, que o

próprio constatou nos mercados do Canadá e dos EUA (1994, p. 6, 7):

“Ganha mais dinheiro e gasta mais dinheiro durante as férias;

41

Passa mais tempo num local durante as férias;

Tem maior probabilidade de se alojar em hóteis e móteis;

Tem grande probabilidade de fazer compras;

Possui mais habilitações académicas que o público geral;

Inclui mais mulheres que homens;

Tem tendência a abranger faixas etárias mais velhas”.

Estas características evidenciam que o turista cultural é no geral mais exigente,

devido ao seu mais alto nível de conhecimento e de poder de compra, e é capaz de

investir mais capital em produtos culturais.

Devido a esta exigência, deve considerar-se que o turista busca muito mais para

além do património edificado. Carvalho (2011, p. 10) cita Palma: “O turismo cultural

deve ser não apenas a exploração e valorização da cultura da “pedra” como edifícios,

sítios e monumentos históricos mas também produtos e serviços que incluam a

gastronomia, folclore, atrações populares, artesanato, etc.”

Carvalho (2011, p. 11) adotou o modelo apresentado por Ignarra de forma a

agrupar os tipos e subtipos de atrações culturais existentes, a evidenciar que realmente

estas não se baseiam apenas em monumentos e museus, podendo abarcar tipos tão

diferentes desde edifícios até congressos, feiras ou eventos. Estes serão apresentados no

quadro seguinte.

Tipos Subtipos

Monumentos Arquitetura civil, Religiosa/Funerária,

Industrial, Militar, Ruínas, Esculturas, Pinturas

Sítios Sítios históricos, arqueológicos e

científicos

Instituições e

Estabelecimentos de pesquisa e lazer

Museus, bibliotecas, Institutos

históricos e geográficos, Centros de Ciência

Viva, Planetários e Oceanários

Tradições e Manifestações

Culturais

Festas, Comemorações, Atividades

Religiosas, Culturais, Populares e Folclóricas,

Comemorações Cívicas, Gastronomia típica,

Feiras e Mercados

Realizações técnicas e

Científicas Contemporâneas

Barragens, Jardins Zoológicos,

Edifícios para Arqueologia Industrial

Acontecimentos Congressos e Convenções, Feiras,

42

Programados (Eventos) Certames, Eventos Desportivos, Artísticos,

Culturais, Sociais, Religiosos, Gastronómicos,

Musicais

Figura 8 – Tipos e subtipos de atrações culturais Fonte: Carvalho (2011)

Quanto à procura por atrações culturais, que tem vindo a crescer ao longo dos

tempos, Richards (2001, p. 6) afirma que não há ligação direta entre esta crescente

procura e o facto das pessoas em geral se mostrarem mais interessadas em cultura. Para

o autor, o que acontece é que, com o aumento do número de viagens em termos globais,

isto tem como consequência um maior número de visitantes nos locais de atração

cultural. Fundamentalmente, o aumento do turismo global tem um peso significativo no

aumento do turismo cultural.

Outro fator interessante levantado por Richards (2001), é que o aumento do

número de visitas às atrações culturais deve-se ao maior número de atrações culturais

existentes atualmente. O autor cita a Comissão Europeia para apoiar este facto (1998,

p.8): “A procura por cultura é distribuída dentro dos Estados membros e de um estado

membro para o outro. É concentrada maioritariamente em áreas urbanas e cidades

capital.” Existe de facto uma crescente competitividade entre as cidades europeias, que

encaram as atrações culturais como fontes de investimento e obtenção de receitas e

desenvolvimento urbano e turístico.

E não é apenas o número de atrações culturais que tem aumentado, mas também

a sua variedade, fazendo com que os seus visitantes possam disfrutar de experiências

artísticas dos mais diversos géneros (Hall, 2001. p.16).

O apoio da World Tourism Organisation e da UNESCO tem sido preponderante

para o turismo cultural, já que estas organizações o têm considerado como “good

tourism”, por estimular o orgulho nas tradições das comunidades e ser um fator de

modernização das mesmas (Hall, 2001, p.18).

Para além disso, ao citar Picard, Hall frisa a ação do turismo cultural como fator

de união entre o espaço interior e o exterior, e de preservação e desenvolvimento das

comunidades: “A doutrina de turismo cultural funciona resolvendo a fundamental

oposição entre “exterior” e “interior”, e entre valores culturais e valores económicos. Ao

qualificar turismo como cultural, este é revestido com atributos culturais, negando a

ameaça de destruição e legitimando o seu desenvolvimento.” (apud Hall, 2001)

Apesar de todos os fatores favoráveis que o turismo cultural proporciona, e que

foram apresentados, existem alguns aspetos que se podem tornar desagradáveis e que

43

merecem atenção. Gonçalves (2016), no seu trabalho “Como podem os equipamentos

culturais tornar-se importantes atrações turísticas regionais?”, aponta: “As comunidades

desejam desenvolver o turismo, mas também proteger a sua privacidade, e preocupam-

se com os efeitos que o turismo pode trazer, pelo que apontam como fundamental que

se: estabeleçam as necessidades, os interesses e as aspirações da comunidade local na

fase de pré planeamento; tenham em consideração as sensibilidades culturais ou

religiosas associadas ao uso e apresentação do local patrimonial; identifiquem e

consultem os líderes da comunidade local; apresente a perspetivada comunidade local;

analisem formas da população local ter um papel ativo na gestão e operação da atração

turística (“os amigos do património; ações de voluntariado; “story telling”; visitas

guiadas; entre outros); procurem maximizar os benefícios para a comunidade local e

reduzir ou evitar os impactes negativos (AHC, 2004)”. Acima de tudo, é importante

assegurar que o bem estar da comunidade em questão se encontra protegido e

devidamente estabelecido, de forma a conseguir tirar um melhor proveito da partilha

efetuada com o turista que a procura.

3.1. Política Cultural e Eventos

Azevedo (2003) aponta para a forma de planeamento da cultura, de integrar a

política no seu campo de desenvolvimento, para assim perceber a sua estratégia de

atuação, principalmente no que concerne a modelos de projeto e financiamento: “A

política cultural autárquica, de cariz público, define-se por um conjunto de princípios e

de objetivos estruturantes, de prioridades e de critérios de atuação, quer quanto à

natureza e às modalidades dos projetos, quer quanto aos modos de financiamento, quer

ainda quanto à natureza da relação a estabelecer com os diversos atores do campo

cultural. Exige sistematicidade e coerência; planificação, concertação e parcerias entre

os atores diretamente envolvidos, sejam os políticos e os culturais, seja a própria

sociedade civil. Exige diagnósticos de situações sociais e culturais e de públicos. Exige

avaliação de atividades e de resultados.”

Em relação à Área Metropolitana do Porto, a atenção prestada à cultura por parte

das autarquias tem conhecido um caminho ascendente : “O aumento progressivo dos

investimentos financeiros e logísticos na área da cultura tem sido uma outra componente

mais ou menos comum à atuação política autárquica. As parcelas do orçamento global

das autarquias previstas para a área da cultura cresceram nos últimos anos.” (Azevedo,

2003, p. 206).

44

Para isso, é necessário um trabalho conjunto e coerente entre autarquias, para

que se crie uma rede de infraestruturas culturais harmoniosa: “ (…) parece-nos fazer

todo o sentido que ao pensar-se culturalmente o concelho se tenha em atenção, entre

muitos outros aspetos, a coerência do espaço metropolitano ao nível dos equipamentos

culturais em rede; a concertação das políticas culturais e a organização sistémica dos

equipamentos, de modo a produzir efeitos de escala que potenciem novos públicos e

novas dinâmicas culturais; e, por fim, a construção de um projeto cultural

metropolitano. (…) A diversidade das dinâmicas culturais decorre também de um

esforço metropolitano de coordenação e de cooperação políticas.”. (Azevedo, 2003, p.

209).

Também Getz (2007) aborda as políticas culturais. O autor apresenta um quadro

que reflete alguma importância para este trabalho, pois faz bastantes referências aos

eventos culturais como catalisadores deste tipo de turismo, e que será apresentado de

seguida.

Possíveis objetivos Iniciativas Políticas

relacionadas

Medidas de atuação

Animação e

desenvolvimento cultural

através de investimento em

eventos

Eventos

potenciadores para o

desenvolvimento geral e

tradicional da cultura

Utilização dos

eventos para maximizar a

eficiência local

Eventos turísticos

de animação sustentáveis

Integração dos

eventos nas políticas

culturais e estratégias de

desenvolvimento das artes

Desenvolvimento

de um evento específico

programado

Desenvolvimento

de temáticas culturais e

programação para todos os

eventos

Avaliação da

eficiência geral do

desenvolvimento das artes

e cultura na comunidade

Desenvolvimento e

aplicação de medidas

específicas relativas ao

sucesso dos eventos

culturais e aos seus

benefícios

Figura 9 – Políticas Culturais Fonte: Getz (2007, p. 337)

Com este quadro, o autor apresenta a sua posição de apoio à realização de

políticas culturais, que fomentem a realização de eventos e a criação de uma

programação cultural para as comunidades, com vista à preservação das tradições

próprias de cada uma.

45

3.2. Turismo Criativo

Gomes (2012, p. 37) exibe um quadro ilustrativo de como ocorreu o surgimento

do turismo criativo, e que será apresentado de seguida:

Figura 10 – Surgimento do turismo criativo Fonte: Gomes (2012).

Gomes (2012, p. 38) explica esta nova tendência de turismo, com fortes ligações

ao turismo cultural, contudo já contendo uma visão mais dinâmica da participação do

turista, aproximando-o da experiência e fazendo com que este seja parte dela: “Com

uma índole mais ativa que passiva, este tipo de turismo privilegia a aprendizagem ao

invés da mera observação. (…) o mesmo consiste em oferecer aos turistas uma

oportunidade de desenvolvimento do seu potencial criativo perante a participação ativa

nas experiências de aprendizagem que caracterizam o destino para onde se deslocam. O

turismo criativo tem a capacidade de realçar o conhecimento específico e as tradições

locais das áreas visitadas em diversas áreas como as artes e objetos artesanais, o

desenho, a gastronomia (comida e vinhos), a saúde, os idiomas, a espiritualidade, a

natureza e paisagem e os desportos e passatempos.”

Em suma, a criatividade surge no seguimento do desenvolvimento do turismo

cultural, de forma a dar-lhe um novo impulso e como resposta às demandas de um

público cada vez mais informado e exigente.

3.2.1. Tipologia das experiências do turismo criativo

Moreira e Henriques (2007, p.138) abordam o conceito de autenticidade no

contexto da experiência turística, nomeadamente da experiência cultural e criativa. Para

isso, fazem referência a alguns autores: “Breman (1970) sugere que as experiências

46

turísticas autênticas estão associadas à identidade, autonomia, individualidade,

desenvolvimento pessoal, auto-realização e auto-desenvolvimento (…). Ryan (2000)

diz-nos que as experiências turísticas são individualizadas enquanto Arsenault (2003)

refere que são inerentemente pessoais. McIntosh e Prentice (1999) acreditam que os

turistas podem experienciar a criação e reafirmação da identidade através de incursões

em culturas diferentes para entender o seu próprio lugar no tempo e espaço. Essas

descrições capturam a dimensão da identidade pessoal da autenticidade que carateriza o

trabalho de Heidegger (Steiner e Reisinger, 2005: 330). Cada indivíduo tem uma

perspetiva única da sua visão individual do mundo e as possibilidades únicas que fluem

dessa perspetiva estão na base da autenticidade”.

Através destas diferentes perspetivas é possível perceber que alguns autores

defendem que a autenticidade da experiência turística é algo completamente individual,

enquanto outros apoiam a teoria de que a cultura e comunidade na qual se vivencia a

dita experiência influencia-a de certa forma. Esta parece ser uma visão mais realista da

experiência, já que por muito que esta seja individual e cada um retire dela uma visão

pessoal, o ambiente envolvente (local, comunidade e cultura) é o seu contexto e não

deve ser posto de parte nesta construção.

O turismo criativo, por si só, apela ao lado mais sensorial de quem nele

participa, e a melhor forma de responder a este apelo é a realização de

eventos/atividades capazes de criar estímulo no participante, e corresponder às suas

expetativas de uma experiência realmente significante.

Bases da atividade Tipos de experiência

Aprender Workshops, ateliês, mini cursos,

oficinas

Provar Experiências, ateliês abertos

Observar Itinerários, rotas, circuitos

Comprar Galerias e Lojas

Figura 11 – Bases de atividade e tipos de experiência Fonte: Carvalho 2011, p.29

3.2.2. Perfil do turista criativo

Este quadro apresentado por Carvalho (2011), adaptado de vários autores,

merece atenção, sobretudo na comparação do quadro já apresentado neste trabalho com

as características mais evidentes do perfil do turista cultural.

47

Turista Criativo

São instruídos

Rendimento acima da média, Classe Média

São impacientes (precisa de respostas rápidas aos seus requerimentos

de informação ou de prestação de serviços), exigem qualidade

Querem experienciar (além de querer aprender e aumentar o seu

conhecimentos pessoal, o turista fá-lo de forma ativa participando em

workshops, ateliês, etc.)

São fortemente motivados pela vontade em participar ativamente na

cultura, caraterística do destino de escolha

Poderão estar afetos ao setor da Cultura, Artes, Ciência, Engenharia,

Educação, Programação, Informática, Investigação, Artes, Design e os

Media.

Procuram contextos diferentes de forma a experiencia-los ativamente

a fim de aumentar a sua autorrealização

Possuem valores culturais (tangíveis e intangíveis, busca

experiências únicas, muitas vezes baseadas em elementos intangíveis)

Figura 12 – Turista criativo Adaptado de: Carvalho, 2011, p. 31.

É possível, através deste quadro, perceber que há uma passagem do perfil de

turista cultural, que quer conhecer e estar informado, para o perfil do turista criativo,

que quer ir mais além do conhecimento, que quer experienciar e participar em todas as

etapas do conhecimento cultural. Apesar disso, o perfil de turista criativo mantém um

estatuto económico social elevado, com conhecimentos vastos em diversas áreas, e com

uma gosto especial por tudo o que tenha a ver com o processo cultural.

3.2.3. Relação entre Turismo Cultural e Turismo Criativo

A criatividade tem sido um setor que tem suscitado bastante atenção por parte

dos investigadores, pois cada vez mais se recorre à inovação e imaginação para se

corresponder às novas exigências do mercado turístico (Carvalho, 2011, p. 18).

Sobre a criatividade, é obrigatória a referência a Richard Florida, que refere que

esta “nos coloca perante uma nova classe socioeconómica, identificada como o fator-

chave do desenvolvimento económico das cidades pós-industriais no Estados Unidos

(apud Carvalho, 2011). Florida destacou ainda três fatores essenciais associados a esta

48

classe criativa – os três T’s – Talento, Tolerância e Tecnologia (Carvalho, 2011, p. 19):

“A valorização da diversidade social e cultural, sustentada numa atitude de tolerância,

determina essa capacidade de atração de talento e empreendedorismo de uma cidade

criativa”.

O estímulo ao uso da criatividade torna-se bastante importante na medida em

que é capaz de transformar qualquer experiência, neste caso a experiência turística, em

algo único para cada indivíduo, já que exige da capacidade de criação e de originalidade

dele mesmo, e também do espaço que visita e que o envolve: “A literatura sobre a

criatividade revela uma ligação entre criatividade e espaço urbano porque: a ideia de

diversidade como recurso importante para a criatividade reforçou os elos entre a

criatividade e as grandes cidades; muitos estudos incidem sobre aspetos da criatividade

em ambientes urbanos; a tendência para a necessidade de grandes audiências tendem a

favorecer a localização urbana da criatividade; as cidades são sítios estratégicos para a

pesquisa porque concentram fluxos globais de capital, informação, imagens e pessoas”

(Carvalho, 2011, p.63). Aqui é evidente o papel das cidades criativas, que tanto estão

em voga, como impulsionadoras da envolvência da cultura e criatividade com o público.

Carvalho (2011, p. 20) refere-se às cidades criativas como “o local dinâmico de

experimentação e inovação, onde as ideias florescem. Pessoas de todas as origens

juntam-se para transformar as suas comunidades em locais para viver, trabalhar,

aprender e interagir melhor”. Este é portanto um conceito bastante pertinente para o

turismo, pois a criatividade, aliada às cidades, é capaz de reinventar a visão que se

detém de um destino ou de um espaço, tornando-o mais aliciante à participação do

turista no mesmo.

Tal como é referido por Carvalho (2011, p. 24), o turismo criativo foi

concetualizado primeiramente por Richards e Raymond, “como sendo o ‘(…) turismo

que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolverem o seu potencial criativo

através da participação ativa em cursos e experiências de aprendizagem sendo estas

caraterísticas do destino de férias onde são realizadas”.

Carvalho (2011, p.26) dá ênfase à “economia de experiência, à “mudança da

produção de bens e serviços para a produção de experiências onde o turista tem papel

ativo na produção de experiência”. Há portanto aqui uma transição entre o “assistir” à

experiência e o “ser parte” da experiência, que faz com que o significado para o turista

seja muito mais valoroso e faça parte da sua memória futura.

49

3.2.4. Mudanças Políticas: da Cultura à Criatividade

Associadas ao uso da criatividade e da inovação, são necessárias algumas

mudanças nas políticas culturais. Estas potenciais mudanças foram também analisadas

por Carvalho (2011, p. 20) no seguinte quadro.

Políticas Culturais Tradicionais Novas Políticas Culturais

Apoio à criação de infra-estruturas

físicas

Apoio às empresas culturais e

criativas, articulando subsídios e

incentivos de co-financiamento (setores

público e privado)

Subsidiação da produção artística

Promoção da igualdade de

oportunidades

Estímulo à utilização da cultura

como elemento de identidade regional e

fator de diferenciação de base regional

(produto-região)

Figura 13 – Políticas Culturais tradicionais e Novas Políticas Culturais Fonte:

Carvalho, 2011

Neste quadro torna-se evidente que esta passagem da políticas tradicionais para

as novas políticas, ao ser adaptada à realidade, tem em conta o incentivo ao

desenvolvimento empresarial, e passa de uma valorização unicamente do espaço físico e

produção para a valorização do que é autêntico e distintivo de uma região culturalmente.

Moreira e Henriques (2007) referem-se ao documento da European Travel

Comission (ETC) para abordar a crescente importância da criatividade no turismo,

principalmente no turismo cultural “à medida que as pessoas viajam mais, também se

vão tornando cada vez mais conscientes da cultura e meio-ambiente associados aos

lugares para onde viajam, e aí também refletem cada vez mais a sua própria experiência

e estilos de vida”.

Além disso, as investigadoras refletem sobre a necessidade de implementar

políticas que regulem o funcionamento das atividades turísticas, e que sejam capazes de

gerar movimentos culturais que dinamizem um certo destino: “O desenvolvimento deste

tipo de turismo tem requerido o fortalecimento da relação entre a política de turismo e a

política cultural, a qual assenta de forma crescente na formação, conservação do

património, criação de novos projetos, disseminação das artes e cultura, assim como na

dinamização do papel dos artistas (locais) e do setor criativo, aos quais se atribui a

capacidade de estimular uma nova vida cultural, produzindo novos símbolos e novas

50

perspetivas da realidade indutoras de transformações. Ao setor público e/ou indústria

cultural caberá, pela força e poder daquilo que aparece, “integrar” estas novas

tendências culturais e estruturar produtos turísticos heterogéneos e diversificados”.

4. Turismo Musical

Numa perspetiva global da música, Gibson e Connell (2005) exploram o

conceito de “World music”: “...como uma categoria discursiva através de construções

de geografia e diferença cultural, mas também através de uma série de tendências

sociais e económicas: migração, esporádicas deslocações de pessoas, e produção

internacional e comercialização de música por empresas de entretenimento, que estão

cada vez mais dependentes de tecnologias de comunicações transnacionais e flexível e

reflexiva modos de acumulação”. Os autores vêm assim a música como um fenómeno

global afetado pelas trocas de um mundo em que a comunicação é cada vez mais célere

e mais variada. Nesse processo de muito têm valido as redes sociais, capazes de

propagar a música um pouco por todo o mundo.

Acrescentam ainda: “A música tem sido sempre uma expressão cultural móvel e

neste sentido as redes de world music têm provavelmente sido sempre "globais", de uma

forma ou de outra, quer através da propagação transnacional de instrumentos, escalas e

estilos através de rotas comerciais ou impostas através de colonização” (Gibson e

Connell, 2005). Assim sendo, consideram que esta partilha global da música não será

recente, referindo o período de “colonização”. O que tem sucedido será uma

intensificação desta comunicação e transação.

Encarando o turismo como um veículo de troca de valores culturais, incluindo

neles os musicais, haverá relações entre estas duas atividades. Revilla Pacheco e

Ramírez Fernández (2015) citam Gibson e Connell para referir esta ligação: “… o

turismo relacionado com a música está dirigido a um nicho de mercado, composto por

turistas mais exigentes e experientes, que procuram produtos culturais que satisfaçam os

seus interesses e necessidades individuais, já que o turismo de massas não é capaz de os

satisfazer. Este turismo de nicho procura qualidade, novidade, autenticidade e

experiências mais significativas que as do turismo de massas”. Os autores defendem

então que esta relação entre o turismo e a música, resultando num nicho de turismo

musical, é procurado por um público que se demarca pela exigência e busca por

experiências diferenciadoras, possivelmente pioneiras, que assim completem as suas

necessidades culturais mais apuradas.

51

As autoras mencionadas referem o Gran Tour como impulsionador dos

primeiros movimentos de turismo musical, realizados pela elite da sociedade para

assistir a espetáculos de música clássica. Os mesmos afirmam que esta atividade

conheceu verdadeiro crescimento a partir de 1970, com melhorias a nível económico,

social e laboral das populações. Quanto à atualidade, os autores vêm os festivais

musicais como potencializadores de turismo musical em destinos turísticos,

principalmente naqueles que já têm um grau de bastante maturidade na atividade

turística. (cf Revilla Pacheco e Ramírez Fernández, 2015)

Chierichetti (2012) define a música como sendo a parte do património cultural

que mais motivações turísticas causa. Estas movimentações são geradas por um tipo de

“turista de elevado nível social e cultural, sensível ao património que contempla e

altamente predisposto a deixar uma elevada quantia de dinheiro nos locais que visita. A

autora refere ainda que esta é uma das formas de consumo cultural mais vulgares das

sociedades avançadas, sendo bastante curta na sua duração (“short break”).

“As razões mais significativas para assistir e voltar a um festival podem

sintetizar-se nas emoções vividas, o hedonismo – um benefício que coincide com o

prazer e a alegria, que são elementos fundamentais num evento intangível, experiencial

e carregado emocionalmente – e a identificação social, entendida como o nível em que o

consumidor identifica um sentimento de conexão com outros consumidores, e o

significado emocional desta perceção no contexto de um festival” (Chierichetti, 2012).

Através desta afirmação é possível estabelecer uma ligação com o conceito de

“experiência autêntica” referido anteriormente. O turista que busca uma experiência

musical parece buscar igualmente algo que se demarque do que viveu até ao momento,

algo único que o faça sentir emoções e ligações a um determinado contexto.

Também Dias (2012) atribui à música um papel essencial na sociedade, e ainda

na economia: “A música é algo importante na nossa vida, sendo transversal a toda a

população, pelo que não é de espantar que seja um importante sector de atividade,

gerador de milhões de euros anuais e um forte empregador”. Por seu lugar, dá ênfase às

“novas tecnologias” e à “democratização” que estas geraram no setor, através da

simples acessibilidade. Recorre a Horner & Swarbrooke para salientar que o

consumidor não se fica pela audição de música, procurando cada vez mais concertos e

festivais. Por isso o setor tem de música ao vivo tem vindo a crescer exponencialmente,

aumentando a frequência de espetáculos em Portugal, e consequentemente as receitas

geradas por estes.

52

Dias (2012) destaca, tal como Chierichetti (2012), a procura de autenticidade por

parte do público que atende a estes eventos: “Daí o sucesso que estes têm tido: a atuação

explosiva de certa banda dá nome ao festival, atraindo mais pessoas à procura de

momentos únicos”.

Apesar do desenvolvimento que a relação entre a música e o turismo tem

conhecido, principalmente nos últimos anos, Dias (2012) apresenta o lamento da UK

Music, representante do setor musical no Reino Unido, quanto ao facto do turismo

musical não ser reconhecido como um setor definido: “Ao contrário de outros nichos

turísticos, é difícil obter uma definição universal de music tourist, na medida em que o

music tourism é já de si um nicho. Não existe um music tourist típico.” Como possível

solução para esta indefinição, cita Gibson e Connell, que alegam que o music tourism

agrega um “cluster de possíveis turistas, actividades, locais, atracções, trabalhadores e

eventos que utilizam recursos musicais para fins turísticos”.

Ainda assim, Dias (2012) apresenta uma proposta bastante interessante, que

identifica este music tourism com o tipo de turismo city-break, ou seja, “uma viagem

turística cujo principal motivo é conhecer uma cidade e as suas principais atrações

(monumentos, património cultural, gastronomia e outros)”, atrações essas que podem

muito bem ser eventos musicais. De forma a dar corpo ao conceito de music tourism, o

autor acrescenta que dentro dele se pode “sub categorizar o que alguns apelidam de

festival tourism, isto é, a deslocação turística cuja principal motivação é participar num

festival de música, no país de origem ou no estrangeiro”.

Este music tourism, está, obviamente, intrinsecamente ligado à realização de

festivais ou eventos musicais. Maciel (2011) reflete sobre estes recorrendo a um estudo

realizado nos EUA sobre festivais ao ar livre, que caracteriza os locais onde estes se

realizam como sendo “ambientes naturais e arquitetónicos únicos”, constituído por uma

envolvente “informal” e um programa de atividades bastante heterogéneo e interativo.

Implicam a participação da comunidade local, de órgãos governamentais e de

investidores privados, que reconhecem aqui uma oportunidade de apoio à cultura e de

expansão económica.

5. Impacto da internacionalização das cidades no turismo

Num mundo em que existe cada vez mais competitividade entre destinos

turísticos, causado pelo aumento do fluxo turístico, mostra-se necessária uma aposta

forte na internacionalização destes destinos.

53

Bessa et al. refletem sobre a ação para o desenvolvimento internacional,

recorrendo a Carreras: “A possibilidade de atrair o turismo de negócios, de eventos e

cultural, como forma de desenvolvimento económico, tem levado determinadas

localidades a adotar uma variada gama de políticas, ações e estratégias. (…) ‘As cidades

investem crescentemente na fixação de uma imagem competitiva no mercado

internacional com o fim de atrair todo tipo de investimentos produtivos, imobiliários,

turísticos ou de qualquer tipo’” (apud Bessa et al. 2007, p.1).

Inicia-se assim um processo de competitividade que principalmente a nível das

atividades económicas, e que se mostra bastante pertinente para este trabalho, na medida

em que o turismo tem uma forte participação neste processo: “…ao conhecer as

estratégias e as ações adotadas pelas destinações com potencial no setor de serviços e/ou

paisagístico, outras localidades tendam a iniciar um processo de competição em relação

à atividade turística mundial” (Bessa et al., 2007, p. 2).

Os autores dão o exemplo de cidades como “Barcelona, Paris, Londres, Berlim,

Bilbao e Xangai” que utilizaram a realização de um grande evento internacional (neste

caso, os Jogos Olímpicos) “para realizar um amplo projeto de transformação urbana

(…) como estratégia de desenvolvimento turístico” (Bessa et al., 2007, p.3).

Este processo de competitividade e internacionalização das cidades tem levado a

mudanças significativas no desenho e dinâmica das mesmas: “O processo de

competição entre as cidades, com vistas à internacionalização, tem levado ao emprego

de estratégias de intervenções sobre a paisagem para aumentar o potencial competitivo

das localidades no sentido de responder às demandas globais e atrair recursos humanos

e financeiros internacionais. As modificações processadas na paisagem urbana

contribuem para alterar a imagem das cidades, principalmente naquelas possuidoras de

atrativos culturais expressivos, seja por intervenções no património, seja pela

revitalização de áreas degradadas ou abandonadas ou até mesmo pela inserção de novos

artefactos culturais e grandes equipamentos”. (Bessa et al., 2007, p.4).

De forma a auxiliar os destinos neste processo de competitividade, surge o

marketing urbano: “No marketing turístico urbano, antes de divulgar uma imagem, tem

que se criar condições para que o destino turístico consiga atender às expetativas dos

seus moradores e visitantes”. (Bessa et al., 2007, p.4).

O investimento é um passo necessário para criar desenvolvimento e

competitividade internacional: “Para financiar ou realizar o seu projeto de design

urbano, a localidade estabelece parcerias, que podem ser entre entidades públicas,

54

empresas e organizações não-governamentais. Os grandes projetos de intervenção

urbana, via de regra, foram financiados através das parcerias estratégicas. Desta forma,

as parcerias determinam a qualidade do modelo de desenho urbano implantado pela

localidade”; No caso do turismo, que é capaz de potencializar bastante o setor

económico das cidades, este investimento é de grande importância: “Neste sentido, as

autoridades públicas devem envolver vários setores da economia e da sociedade para

atrair financiamentos e recursos para o desenvolvimento turístico” (Bessa et al., 2007,

p.5). Obviamente é essencial um trabalho conjunto de cooperação, entre economia,

comunidade e turismo.

Um dos fatores mais importantes na competitividade internacional das cidades é

o património que possuem, que atua de forma simbólica na atividade turística: “…a

utilização do património como estratégia de recuperação económica, principalmente de

lugares que tinham na industrialização a sua principal base de geração de renda e

empregos. Portadoras que são de extenso e rico património cultural, principalmente o

arquitetónico, estas cidades passaram a utilizá-lo como alternativa de recuperação

económica.” (Bessa et al., 2007, p.9)

5.1. Internacionalização do turismo português

No caso de Portugal, Ramalho (2013) refere que “O Turismo de Portugal tem

vindo a centrar a sua atuação precisamente no objetivo de projetar uma imagem de

notoriedade para o exterior. Tem concentrado esforços na realização de grandes eventos

– desportivos, culturais, socioprofissionais -, na participação em feiras internacionais, e

na divulgação de materiais promocionais. Para isso, tem-se feito valer do marketing

turístico como ferramenta principal: “A tendência do marketing turístico é cada vez

mais promover (e vender) experiências e não destinos. (…) Trata-se de um processo de

construção de narrativas visualmente baseadas no potencial dos lugares de criarem

metáforas promotoras da mudança/consolidação de sensibilidades públicas (Ramalho,

2013, p. 60).

A esta estratégia acrescentam-se os objetivos do PENT até 2015: “Os grandes

eventos internacionais são uma das prioridades do Plano Estratégico Nacional do

Turismo até 2015. Para além do TP, várias entidades públicas, nomeadamente órgãos

dos governos locais e central, têm vindo a investir nestes eventos.” (Ramalho, 2013,

55

p.60). Perante isto, os eventos de cariz turístico parecem ser uma importante estratégia

de internacionalização do país, já que geram importantes receitas económicas e são

capazes de atrair a atenção de milhares de visitantes.

A título de exemplo, um dos eventos que foi capaz de dar destaque ao nosso país

lá fora, ocorreu em 2012: “Em 2012 o governo promoveu uma experiência inédita de

intercâmbio entre Portugal e Brasil. Com forte participação de empresas privadas e com

a promoção de iniciativas como exposições e espetáculos, o Ano do Brasil em Portugal

e o Ano de Portugal no Brasil – que se prolongam em 2013 – têm objetivos de partilha e

projeção cultural, mas sobretudo de desenvolvimento económico, empresarial e

tecnológico” (Ramalho, 2013, p. 13).

Não só a cultura no geral tem sido capaz de promover o país, mas também

particularmente a arquitetura: “Em 2012 a arquitetura portuguesa esteve representada na

13ª Bienal através de uma exposição que reuniu vários nomes, entre os quais Álvaro de

Siza, cuja carreira foi premiada com o Leão de Ouro” (Ramalho, 2013, p.61). Estes

eventos vêm dar indícios de que são uma importante via de comunicação e divulgação

da nossa cultura e arte, mas também do nosso património e do que temos de melhor a

oferecer aos nossos visitantes.

6. Cidade do Porto

A cidade do Porto, devido à sua antiguidade e diversidade histórica e cultural, é

difícil de caracterizar: “Traçar o perfil cultural da cidade do Porto é uma tarefa que se

apresenta minuciosa e extensa dada a sua riqueza histórica, patrimonial e urbanística e

pela multiplicidade de acontecimentos no âmbito político-económico e de índole social

que marcaram e marcam a cidade.” (Ramos, 2010, p.33)

Moreira e Henriques (2007) enumeram os principais monumentos turísticos da

cidade do Porto, presentes no site Portugal Virtual: “Sé, Torre dos Clérigos, Igreja do

Carmo, Igreja de Cedofeita, Igreja da Lapa, Igreja de Santo Ildefonso, Igreja de São

Francisco, Estação de S. Bento, Palácio da Bolsa, Ponte D. Luís I, Ribeira e Museu do

Vinho do Porto”.

Para além da sua história e monumentos, a cidade do Porto conta com o

mundialmente apreciado vinho do Porto como ex-libris, símbolo de destaque não só na

cidade, mas também por todas as comunidades que se estendem sobre a encosta do Rio

Douro: “A marca Vinho do Porto impulsionou a cidade e o país para o conhecimento

56

global fazendo com que a Região Demarcada do Alto Douro Vinhateiro conservasse

uma paisagem cultural digna da sua classificação e as suas gentes fiéis à tradição. O

Alto Douro Vinhateiro foi acrescentado em Dezembro de 2001 à LPM da UNESCO,

tendo sido classificado como paisagem cultural evolutiva viva.” (Ramos, 2010, p. 58,

59).

O turismo na cidade tem vindo a conhecer um aumento progressivo ao longo dos

últimos anos, como se pode comprovar através dos dados fornecidos pela Câmara

Municipal do Porto expostos no quadro abaixo, relativos à entrada de turistas na cidade

entre os anos de 2010-2015.

Figura 14 – Evolução de turistas no Porto entre 2010-2015

É possível então comprovar com este quadro que desde 2010 até 2015 o número

de turistas a chegar à cidade aumentou consideravelmente.

Para a evolução do número de visitantes na cidade do Porto, contribuiu

significativamente a chegada de companhias aéreas low cost ao Aeroporto Sá Carneiro,

principalmente a consolidação da companhia Ryanair neste destino. Esta hipótese,

assim como o surgimento de alojamentos monetariamente mais acessíveis como os

hostels, abriu as portas a um público estrangeiro jovem e com baixo poder económico.

Para além disso, possibilitou que o Porto se tornasse um destino de curta duração (short

break) de elevado interesse. (Abrantes, 2013).

57

Figura 15 - Análise do mercado (Fonte: INE, Perfil do Turista no Aeroporto Sá

Carneiro, 2014)

No Plano Estratégico do Turismo do Porto e Norte de Portugal, que consta do

Horizonte 2015-2020 planeado pela Entidade Regional (Porto e Norte, 2015), constam

os gráficos acima indicados, que mostram a evolução bastante positiva que o destino em

questão sofreu desde 2011 até 2014, com uma subida de quase 1 milhão em termos de

dormidas. São revelados também os principais mercados emissores de turistas (Brasil,

Espanha, Inglaterra, Itália, e de destacar também a posição da França, que detém um

total de 7,8% das dormidas). Quanto a motivos de visita, prevalecem no pódio a visita a

familiares e amigos (39%), lazer/férias (35,4%) e visitas de negócios (19,8%).

Neste Plano Estratégico, destaca-se um quadro que organiza a mensagem que se

quer passar sobre o Porto, de um destino urbano, contudo histórico, paisagístico e

patrimonial, com valências gastronómicas e culturais variadas e capazes de o diferenciar

dos potenciais concorrentes. Para isso é promovida toda uma riqueza eclética, para

atingir metas como a consolidação da imagem do destino e da sua oferta, o trabalho

integrado entre os diversos agentes públicos e privados envolvidos, assim como o “bem-

estar social, económico e ambiental” que envolve toda a cidade.

Figura 16 – Visão do destino, apelo e impactos esperados

Prova do crescente sucesso da cidade do Porto no turismo são as distinções

internacionais que esta tem recebido. Para além da distinção de melhor destino europeu

58

em 2012 concedido pela European Consumers Choice, sendo que em 2014 repetiu a

façanha.

Já em 2015, “ A cidade do Porto lidera o ranking de Melhor Destino Emergente

da Europa e está em terceiro lugar a nível mundial. Os prémios Travellers' Choice

Destinos Emergentes 2015, promovidos pelo TripAdvisor, destacaram 52 destinos em

todo o mundo, que obtiveram o feedback mais positivo dos utilizadores do portal de

viagens.”, segundo o site da CMP. (Porto., 2015 b.)

Segundo uma notícia online do site Hiper Super (Gonçalves, 2016) foi realizado

um estudo para avaliar “O Perfil do Turista que visita o Porto e o Norte de Portugal”, no

qual se conclui que o montante gasto pelos turistas na sua estadia na cidade aumentou, e

as recomendações e expressão de desejo de voltar também se multiplicaram: “…os

visitantes da cidade do Porto ficaram bastante satisfeitos com a visita à cidade, já que

numa escala de 1 a 7 pontos, foi obtida uma média global de 6,29 pontos, o que não

deixa de ser um valor admirável.”

Para além destes dados favoráveis, é considerado que os atributos que a cidade

tem de melhor são: “o alojamento, a hospitalidade, o “value for money”, a limpeza, a

gastronomia, os parques naturais e o comércio”.

Como reflexão de futuro para a cidade, e com todo este fluxo e dinamismo

turístico e económico, juntamente com as valências culturais, paisagísticas e humanas

que detém, espera-se que o seu prestígio continue a alargar horizontes e consolide

fortemente a sua imagem como destino obrigatório na Europa e no Mundo.

6.1. Eventos Culturais no Porto

Em termos de eventos culturais realizados na cidade, é incontornável mencionar

as festas de S. João no mês de junho, que levam para a rua toda a comunidade portuense

- e não só - e que atrai cada vez mais a atenção dos turistas: “As festividades são-

joaneiras são a causa pela qual os mais incríveis esforços são mobilizados. Numerosos

dias de entrega antecedem a festa que culmina com o cada vez mais sofisticado

espetáculo de fogo-de-artifício que une as duas margens do Rio Douro numa pacífica e

partilhada motivação: festejar. O desconhecido passa rapidamente a amigo num

ambiente de partilha e de aceitação, onde cada casa e cada janela surgem enfeitadas a

rigor. Na semana do S. João tudo é pensado ao pormenor, sendo nesta altura que

assistimos às verdadeiras instituições sanjoaneiras – as cascatas.” (Ramos, 2010, p. 61).

59

Mas não só de eventos culturais a cidade vive, visto que também grandes

eventos internacionais têm sido organizados, em prol do turismo de negócios. Segundo

uma notícia do IVDP, “No ranking de referência da Meeting Industry que a

International Congress and Convention Association (ICCA) acaba de divulgar, o Porto

ocupa a 46ª posição, uma subida de sete lugares relativamente a 2012, ficando acima de

cidades europeias como Atenas, Florença, Zurique, Milão, e mesmo de grandes

metrópoles mundiais como Nova Iorque ou Moscovo.” É bom de referir ainda que no

ano de 2013 aconteceram 51 eventos internacionais na cidade, alguns destes conferindo

um novo impulso dos vinhos do Douro e do Porto. (IVDP, 2014)

Contudo, nos últimos anos, despoletado pela consagração da cidade como

Capital Europeia da Cultura em 2001, tem-se assistido a um movimento intenso em

volta da cultura e dos eventos culturais na cidade: “(…)despontou para um mundo mais

agitado: o das indústrias criativas, da programação cultural, dos eventos e da liberdade

experimental que vão construindo um Porto cosmopolita, que marca a imagem da

cidade, esta “cada vez mais ilegível, num momento em que alguns interpretam

positivamente como a explosão de uma estética da diversidade” (Lopes, 2001, p.181)

Muito tem contribuído a dinamização da oferta cultural da cidade: “Diversidade

é o que encontramos quando analisamos a produção cultural da cidade e os agentes que

nela participam, influenciando a pluralidade da sua imagem cultural e o seu potencial

enquanto espaço aberto ao experimentalismo e à vanguarda”. (Ramos, 2010, p. 64, 65).

Desde então, têm-se reproduzido um pouco por toda a cidade eventos realizados

em bares e galerias de arte, de maior ou menor dimensão, caracterizados por diversas

tendências culturais dinamizadoras e capazes de atrair os mais diversos públicos: “Estas

mudanças e progressos encontram-se não só em eventos de maior envergadura mas

também em produções alternativas que encontram espaço de afirmação, em pequenos

nichos, junto de uma nova geração da cidade que alimenta o “rasgo” da inovação e da

diferença. (…) Num papel de importância extrema para a dinâmica cultural da cidade,

encontram-se as Indústrias Criativas que se traduzem nas “atividades que têm a sua

origem na criatividade individual, habilidade e talento e com potencial de criação de

emprego e riqueza, através da geração e exploração da propriedade intelectual” (Ramos,

2010, p. 65, 66).

Também as várias instituições culturais têm vindo a contribuir para uma maior

“agitação” cultural da cidade, como é exemplo a Casa da Música e a Fundação

Serralves: “O Porto oferece através das suas instituições culturais uma programação

60

diversificada, de qualidade, umas mais elitistas que outras, mas todas procuram dar

respostas aos seus públicos-alvo. Vejamos o exemplo da Casa da Música, marcante pela

arquitetura e pelo seu carácter inovador, símbolo da CEC 2001, que se instala como um

ícone cultural da cidade, acolhendo espetáculos onde a diversidade de géneros e estilos

aliada à qualidade são as principais características da sua programação cultural. Pólo

incontornável da divulgação cultural no País assume-se como espaço de afirmação de

produções nacionais e estrangeiras que encontram na gestão artística da instituição a

ambição da internacionalização. (…) Fazendo uma breve referência a outro agente

dinamizador cultural na cidade, a Fundação Serralves é fulcral para a imagem de um

Porto Cosmopolita que extravasa os contornos do CH. Esta instituição que vem

alargando o seu campo de atuação e captando uma maior diversidade de públicos, por

exemplo através da iniciativa “Serralves em Festa”, apresenta uma programação cultural

irrepreensivelmente dinâmica, multidisciplinar e de grande qualidade, sensibilizando o

público não só para a sua área de excelência – Arte Contemporânea – mas também para

as questões ambientais através das actividades que se promovem no Parque, de carácter

regular, funcionando como uma oferta complementar maioritariamente direccionada

para os Serviços Educativos. O Turismo Cultural é outra oferta da Fundação que

programa viagens cujos destinos são altamente apelativos para quem se interessa pelas

questões do património e da cultura.” (Ramos, 2010, p. 68, 69).

Com todas estas movimentações culturais, o enfoque sobre o turismo tem sido

mais forte, de forma a cativar cada vez mais visitantes internacionais e expandir a

divulgação das tradições e cultura da cidade pelo mundo: “Quanto às ações/programas

estruturantes previstas para a promoção turística, é reconhecido que para a afirmação do

Porto como centro económico, atrativo e dinâmico a estratégia passa por um esforço de

investimento em ações de apoio, promoção, divulgação e organização turística, não

necessariamente confinadas à cidade. (…) Para a autarquia os eventos mediáticos

representam a verdadeira aposta ficando outras iniciativas sob a responsabilidade da

Porto Lazer E.M., nomeadamente as de cariz desportivo e de animação.” (Ramos, 2010,

p. 102, 103).

Ramos (2010, p. 106, 107) apoia a intenção de investir em atividades e eventos

turísticos que gerem nos visitantes a vontade de experienciar novas vivências na cidade,

e que sejam capazes de unir o que é tradicional àquilo que é inovador: “Pensamos que,

se a criação contemporânea for estrategicamente aliada à componente tradicional seria

possível captar novos fluxos turísticos, aguçar interesses mais específicos, cativar

61

nichos minoritários mas igualmente importantes e, por consequência, conferir as tão

desejadas experiências únicas, profundas e diversificadas de confrontos estéticos e de

estímulos sensoriais de um Porto de Identidades e não apenas da marca “Porto”. O

sucesso das cidades a nível turístico já não depende apenas do crescente interesse pelo

património e do significativo consumo cultural mais recente. A chave do sucesso está do

lado da oferta, na cidade, na sua capacidade de compreender os fluxos turísticos e na

sua resiliência.”

Para isso, e de forma a dar também resposta à crescente competitividade entre

cidades, os horizontes do Porto alargam-se cada vez mais em direção à realização de

eventos culturais, e à utilização de tecnologias para captar um público mais jovem e

alargado: “A sofisticação da oferta pode passar pelo aderir a eventos de projeção

mediática, a novas propostas de animação e com serviços bem estruturados. Estando

constituídos os produtos e uma calendarização da animação cultural é importante para a

captação de visitantes e nas lógicas de concorrência entre cidades que haja uma

estratégia de comunicação e divulgação com uma mensagem clara, objetiva e de fácil

perceção. Por outro lado, há que recorrer às novas tecnologias e fazer da internet um

aliado, permitindo ao potencial visitante que se informe e tome consciência das

vantagens em escolher determinada cidade para a sua viagem.” (Ramos, 2010, p. 115).

A cidade tem-se mostrado bastante dinâmica igualmente devido a iniciativas

privadas, ao desenvolvimento de indústrias criativas e inovadoras, principalmente no

meio das artes. O empreendedorismo tornou-se palavra de ordem de muitos jovens

portuenses, que se lançam sucessivamente na abertura de galerias de arte,

principalmente na Rua Miguel Bombarda, que serve de palco a muita arte urbana que

agora floresce. Este movimento é capaz de atrair um público jovem de turistas que

procura uma oferta cultural diferenciadora.

Voltada igualmente para um público jovem e cada vez mais internacional,

encontra-se a vida noturna da cidade. Multiplicam-se os bares e discotecas para todos os

gostos, que ocupam edifícios até então devolutos. A cidade nunca conheceu uma época

tão áurea em animação, e até os restaurantes se aglomeram, consolidando a qualidade

que sempre marcou a gastronomia portuense, e agradando a todas as esferas económicas

e sociais. (Porto y norte, s.d., b).

Numa entrevista dada à Revista Marketeer (Lima, 2015), Rui Moreira, atual

Presidente da Câmara Municipal do Porto, revela a sua opinião positiva em relação ao

impacto que se sente no turismo causado pelos eventos culturais realizados na cidade,

62

principalmente sobre os eventos musicais: «Estes eventos, ao contrário daquilo que vem

sendo afirmado pelos responsáveis governamentais, têm um enorme impacto no

aumento da permanência dos turistas na nossa cidade.»

Além disso, Rui Moreira afirma que este tipo de eventos servem como estratégia

ótima ao nível do posicionamento do Porto como marca, tanto na própria cidade como

no exterior: “A afirmação da marca Porto passa por isto, uma afirmação cosmopolita da

cidade, mostrarmos aquilo que temos de melhor. Neste caso é a associação do melhor

que há na música (…)Acho que isso marca muito esta imagem que a cidade quer ter:

uma cidade aberta às novas tendências, aberta ao mundo.”

A nível turístico, em 2014 o retorno rondou os 15 milhões de euros, para além de

ter causado “um enorme impacto no aumento da permanência dos turistas na nossa

cidade”. Contudo, não só o turismo ganhou vantagem com a situação, já que a

população da cidade aderiu em força aos eventos culturais: “A cultura, e isto faz parte

da nossa política de cultura e de lazer, tem a ver com isso, com o sentimento das

pessoas se sentirem confortáveis e ao mesmo tempo terem alguma vaidade e algum

orgulho daquilo que se faz na cidade e poderem mostrar”.

6.2. Turismo e Arquitetura

Em relação à importância da arquitetura para o turismo, Lobo (2013) refere que

“o turismo se baseia na exploração do valor dos lugares como produtos e, por isso,

depende da atratividade e da singularidade dos mesmos, os urbanistas e os arquitetos

são, como princípio, intervenientes fundamentais, se não, mesmo, centrais na produção

do território do turismo” (p.33). Este argumento demonstra a capacidade da arquitetura

de criar locais valiosos para a atividade turística. Lobo (2013, p. 34) estuda a evolução

que a arquitetura tem sofrido ao longo do tempo, de forma a melhor servir os propósitos

turísticos: “Intervenções à grande escala, e a longo prazo, que vão implicar uma crítica

às formas tradicionais de organização da cidade, pensando-a, agora, a partir da

perspetiva mono funcionalista do lazer e o reequacionar do papel do arquiteto no

processo de produção de arquitetura. (…) Uma evolução tipológica e metodológica a

que, como dissemos, iria corresponder também uma evolução no carácter dos

investimentos envolvidos na promoção de uma “arquitetura do turismo”.

Ainda sobre esta relação entre o turismo e a arquitetura, Lobo (2013, p.36)

introduz o conceito de “Cidades do Turismo”: “estruturas urbanas inteiras idealizadas

de raiz, dedicadas exclusivamente ao lazer, cuja organização é determinada pela

63

articulação espacial de núcleos funcionalmente autónomos, mas interdependentes, cada

um deles normalmente associados a um equipamento central, ou conjunto de

equipamentos, que lhes conferem caraterísticas tipológicas e morfológicas próprias e

garantem a variedade dos ambientes dentro do todo urbanizado – marina, golf, pinhal,

parque de campismo, centro comercial, etc.” Este conceito remete-se então para as

infraestruturas necessárias para suportar o funcionamento das atividades turísticas,

infraestruturas essas que normalmente trabalham em conjunto.

Por sua vez, Moreira (2008, p.1) dá ênfase no seu trabalho à necessidade de

“criação ou a ampliação da atratividade/notoriedade dos lugares turísticos a partir de

uma arquitetura singular, única, com qualidade”. A autenticidade dos seus lugares

parece ser um fator capaz de impulsionar a atratividade dos territórios. A autora começa

por apontar algumas críticas à reprodução em massa, passando de seguida a referir

Butler quanto ao ciclo de vida turístico que este teorizou. Passemos então a apresentar a

visão de Moreira da noção de ciclo de vida “do funcionamento do espaço turístico” de

Butler, pois este é um dos esquemas mais utilizados nas referências ao local turístico:

“primeiro, o lugar é descoberto, porque ele faz parte de uma

margem espacial. É o período “pré-turístico” em que chegam os primeiros

turistas. Butler denominou-o de fase de exploração. Do ponto de vista do lugar

descoberto, esta fase é caraterizada pelo pouco câmbio;

Depois vem um período durante o qual o lugar se integra ao

sistema. O desenvolvimento corresponde ao aumento sensível do volume de

turistas, que está ligado ao aumento da acessibilidade. Para responder às

expetativas dessa população, o volume da oferta de alojamentos aumenta e se

diversifica. A economia turística fica mais complexa;

Quando o espaço regional está totalmente absorvido pela

atividade turística, assiste-se a uma multiplicação dos lugares destinados a esta

atividade, depois à sua especialização e hierarquização. O desenvolvimento

corresponde a um período de importantes transformações físicas do lugar (nem

todas aprovadas pela população local);

Finalmente, a chegada do turismo intenso seria concomitante a

certa crise do lugar turístico, até mesmo seu declínio, pois este tipo de turismo

modifica consideravelmente o lugar, degradando-o. Surgem então, os problemas

ligados ao meio ambiente, a degradação da qualidade dos serviços ou fatores

mais sociológicos e, em particular, os conflitos com a população local. A

64

atratividade do lugar declina, o número de turistas também. O lugar não

interessa mais aos turistas, que preferem destinações turísticas reconhecidas e

facilmente acessíveis”. (Moreira, 2013, p.2)

É possível portanto constatar que este ciclo é composto por quatro fases,

sendo uma primeira fase de introdução/surgimento do local, uma segunda fase de

crescimento/expansão e aumento da afluência ao local, uma terceira fase de

maturação do local, na qual este já é um local turístico de pilares sólidos, e uma

quarta e última fase na qual pode ocorrer um declínio dado pela saturação que a

atividade turística pode causar, e que pode levar mesmo ao fim de toda e qualquer

atividade. É de salientar que pode acontecer uma situação contrária, e esta “crise”

pode ser aproveitada pelas entidades responsáveis como fator de renovação do local.

Moreira (2013) apresenta, ainda no âmbito da importância da arquitetura para o

turismo, o conceito de património territorial. Para isso, recorre a Choay: “Trata-se de

mostrar como a desterritorialização tende a eliminar o conjunto das riquezas

patrimoniais que estão em jogo durante a longa duração do processo de antropização

(paisagens rurais e urbanas, como atividades e práticas sociais). (…) Não se trata nem

de ecologia defensiva nem de conservação patrimonial, nem de procurar um equilíbrio

entre global e local (conceito de glocal), pois este equilíbrio supõe uma subordinação do

local aos imperativos do global. O desenvolvimento local e a reterritorialização devem

ser considerados como uma alternativa estratégica ao desenvolvimento global” (p.2).

Perante isto, o conceito de Choay parece tratar da valorização do património local, não

só como parte do global, mas sobretudo como algo que marca pela sua autenticidade e

unicidade, seja ele “o património natural e o património cultural”. Moreira (2013)

defende ainda que segundo este conceito “não existe preservação (nem requalificação

ou revitalização) do património natural e do construído local sem as práticas sociais que

são a eles agregadas e que correspondem às diferentes escalas e aos diferentes tipos de

herança que ali existem, sem a economia local que associe a micro agricultura e/ou a

micro indústria, o artesanato, o trabalho autónomo e os serviços diversos acompanhados

de atividades não mercantis” (p.2,3). Ou seja, toda a valorização do património

territorial tem que surgir em conjunto com o pleno funcionamento de todas as atividades

envolventes, que lhe servem como suporte.

De seguida, Moreira apresenta o conceito de requalificação, de acordo com

Cabrita, Aguiar e Appleton: “Toda a série de ações empreendidas com vista à

recuperação e à beneficiação de um edifício, tornando-o apto para o seu uso atual. Seu

65

objetivo consiste em resolver as deficiências físicas e as anomalias construtivas,

ambientais e funcionais acumuladas ao longo dos anos, procurando ao mesmo tempo

uma modernização e uma beneficiação geral do imóvel sobre o qual incide –

atualizando as suas instalações, equipamentos e a organização dos espaços existentes,

melhorando o seu desempenho funcional e tornando esses edifícios aptos para a sua

mais completa e atualizada reutilização” (p.4). Portanto, a requalificação consiste na

renovação de um edifício ou local, tornando-o de novo útil à comunidade no qual se

encontra.

Outro conceito pertinente abordado por Moreira (2013) é o de “valor (para fins

turísticos)”, principalmente quando se refere ao “valor cultural” e ao “valor económico”

(p.5): “O valor cultural. Trata-se de saber qual é o lugar que ocupa(m) o(s) elemento(s)

da paisagem na tradição cultural através da observação de fotos (antigas e recentes), de

cartões postais, de obras picturais, de contos e lendas, e mesmo da história oral das

pessoas que ali vivem, ou seja, da elaboração de um conhecimento profundo e constante

acerca do lugar”; “O valor económico. Não se pode confundir valor económico com

recurso económico. Um elemento geomorfológico tem um valor económico, se ele é

utilizável ou explorável. Como exemplo disso, uma parede rochosa é usada como via de

escaladas, mas não é um recurso económico direto porque ela não tem incidências sobre

a produção e o emprego. Uma forma pode apresentar um valor económico sem ser um

recurso económico. É uma noção de valor, que está ligada ao meio ambiente (natural

e/ou construído), que vai permitir proteger os elementos que o compõem, incentivando

assim um desenvolvimento a longo prazo para o território e sua região.” (p.5).

Sobre a arquitetura da cidade do Porto, Fernandes (2010) escreve no Jornal de

Notícias: “Significa, isto, que o Porto foi, e ainda é, uma cidade que muitos causticam

como provinciana nos comportamentos mas que, na realidade, se afirma tranquilamente

cosmopolita nos seus atos, aberta ao Mundo e capaz de lidar com outras formas de

pensar e de se pensar a si própria. Em muitos casos, as obras que realizou atingiram

mesmo o sublime e foram já elevadas à rara categoria de "ícones" da cidade como

acontece com a torre de Nasoni e a ponte de Eiffel”. Assim, a arquitetura do Porto

torna-se uma mais valia para o turismo da cidade, e tem vindo a impor-se através do

tempo. Começando como uma cidade de menor dimensão reconhecida, tem conseguido

adquirir prestígio pelas suas construções arquitetónicas, tanto históricas como

contemporâneas.

66

Em 2012, a secção regional do Norte da Ordem dos arquitetos elegeu hotéis,

cafés, restaurantes, ateliers e lojas que a seu ver possuem valor arquitetónico, para a

elaboração de um roteiro original da cidade. “Esta primeira seleção, segundo a Ordem

dos Arquitetos, apostou em promover e divulgar um conjunto de projetos que de algum

modo estão relacionados com a oferta turística da cidade, nomeadamente no domínio da

hospitalidade, da restauração e do comércio. A maior parte são equipamentos hoteleiros

do género hostel ou guest-house, como o bed & breakfast The Four Rooms, que o

Prizker Eduardo Souto de Moura desenhou na acanhada Rua do Padre Luís Cabral, na

Foz velha, ou a Casa do Conto, da Rua da Boavista.”. (Marmelo, 2012)

E, na realidade, a escolha destes locais teve em conta o valor turístico e

patrimonial da cidade: “Trata-se, considerou o júri, de "projetos exemplares" na criação

de um ambiente urbano de qualidade e de uma oferta turística diferenciada, preservando

os valores culturais intrínsecos do lugar. (…) ‘Também tivemos em conta o impacte que

estes projetos tiveram na cidade, bem como a regeneração urbana que a iniciativa

privada está a induzir’, acrescenta a comissária, segundo a qual o enorme potencial

turístico do Porto tem que passar pela preservação de ‘um certo sabor que a cidade

tem’”.

É destacar a realização de eventos que aliam a arquitetura à música, como é o

caso do Festival In Spiritum, decorrendo a sua segunda edição em 2015: “Festival In

Spiritum propõe a concretização deste objectivo através da realização de concertos em

espaços emblemáticos da cidade, proporcionando ao público um encontro simultâneo

com a música erudita e com os espaços arquitectónicos.” Espera-se que esta iniciativa

seja a alavanca para que mais do género aconteçam, de forma a diversificar a oferta

cultural da cidade. (Santos, 2015)

67

Capítulo II - Metodologia1. Estudo de caso

Para a realização da investigação do presente projeto, recorri ao método da

entrevista, designadamente um método qualitativo. A Porto Lazer foi a entidade

entrevistada e o objetivo principal era compreender a influência do Festival NOS

Primavera Sound no turismo da cidade do Porto. Houve um esforço para tentar realizar

uma entrevista junto da Pic Nic, empresa organizadora do festival em causa, contudo

não foi possibilitada essa oportunidade por parte dos contactados.

Para complementar esta investigação, recolhi notícias online de diversos canais

de comunicação social, de forma a sustentar a hipótese de o festival NOS Primavera

Sound, e outros de menor dimensão, como o NOS D’Bandada e o Caixa Ribeira, serem

influentes no aumento do turismo da cidade. De seguida, será feita uma análise a estes

festivais, com base nessas mesmas notícias.

1.1. Festivais de Música na Cidade

1.1.1. O Caso do NOS Primavera Sound

O Festival NOS Primavera Sound tem vindo, desde a sua primeira edição, a

crescer em público, receitas e prestígio. Cada edição tem ultrapassado os números da

anterior, o que augura um futuro cada vez mais auspicioso.

Já em 2012, aquando a primeira edição do festival, Rui Rio (presidente da

Câmara Municipal do Porto à época) afirmava “…que a autarquia “procura não fazer

as coisas por acaso, mas com uma certa lógica”, apostando nos “eventos grandes e de

qualidade” à semelhança do Circuito da Boavista e das corridas de aviões.” Realçava

a importância do Parque da Cidade como cenário natural adequado a grandes eventos.

68

  Estima-se que economicamente as suas receitas ultrapassem os 18

milhões de euros (números relativos a 2014), o que num curto espaço de tempo vem

criar um interessante impulso para a cidade. Estes números são avançados por um

estudo realizado pelo ISAG (Instituto Superior de Administração e Gestão), pelo qual

é responsável Ana Borges, que visa com o mesmo “caracterizar o perfil

sociodemográfico do visitante do festival, avaliar o impacto económico direto para a

cidade do Porto, a satisfação do visitante no evento e a possibilidade de retorno para a

próxima edição”. (Núcleo de Investigação do ISAG, 2015). E assim se chegou à

conclusão que em 2014 “83,6% revelaram estar globalmente satisfeitos ou muito

satisfeitos com o evento, um aumento de 7,3 pontos percentuais comparando com

2013”.

O festival tem realmente um impacto interessante no turismo, nomeadamente a

nível cultural, de alojamento e restauração, tal como revela o estudo, pois “aumentou o

número de visitantes que pernoitaram quatro ou mais noites em hotéis, e a localização

revelou-se o principal fator para determinar a escolha do alojamento, seguida do preço.”

(Neves, 2015)

Um dado igualmente interessante é o facto de a segunda língua mais falada no

festival ser o espanhol, o provavelmente advém da proximidade do nosso país vizinho,

ou até mesmo do facto do NOS Primavera Sound ser parceiro do Barcelona Primavera

Sound, e assim atrair público espanhol pela curiosidade. E na verdade, dos 23% de

estrangeiros que se estima que visitaram a cidade do Porto para assistir ao festival, a

maioria será realmente espanhola. Em média, cada visitante estrangeiro gastará 70,97

euros na cidade por dia. (“Os dados são de um estudo feito em parceria entre a NOS

Primavera Sound e o ISAG – European Business School, sobre o evento de 2015.”).

77% do público encontra-se na faixa etária dos 18 aos 35 anos, o que indica um público

bastante jovem, talvez aliciado pelo espírito alternativo e diferenciador do evento. Outro

dado que vem beneficiar o turismo no Porto é o facto de “...a maioria dos visitantes

aproveite para conhecer melhor a cidade.”, o que serve de importante alavanca para

acelerar o motor da atividade turística. (Barbosa, 2016)

No atual ano de 2016, na quinta edição do festival, e segundo uma entrevista

dada por José Barreiro (diretor do NOS Primavera Sound) ao site Noite Música

Magazine (Caria, 2016), os passes gerais que davam acesso a todos os dias do festival

esgotaram, o que denota um crescimento de ano para ano. Afirma ainda que este é

realmente um festival diferenciador, acompanhado de perto por João Paulo Feliciano,

69

artista plástico reconhecido que segue “todas as fases de montagem”: “apesar de

sabermos perfeitamente que há festivais que têm bandas maiores, sabermos

perfeitamente que há festivais com outros orçamentos maiores do que nós temos, nós

conseguimos levar a nossa avante e conseguimos que, ao fim de cinco edições, o

festival esteja esgotado e, isso é sinal que o trabalho está a ser bem feito e está a ser

correspondido pelo público.”

Com quatro palcos, três deles funcionando simultaneamente com escolhas

internacionais, não existe uma hierarquia vincada entre bandas principais e secundárias

(“Qualquer banda que toca num dos palcos chamados de secundários, podia

perfeitamente estar no principal.”).

Quanto a comparações com o festival de Barcelona, do qual o NPS é parceiro,

apesar deste primeiro contar já com 15 edições e uma dimensão consideravelmente

maior, José Barreiro considera que “…aquilo que nós tentamos fazer aqui no NOS

Primavera Sound é uma edição gourmet da edição de Barcelona e, portanto,

selecionamos sempre bandas que também tocam em Barcelona, obviamente, mas que

mostrem ao público português, apesar de mais de 50% dos passes gerais terem sido

vendido no estrangeiro, que há uma diferenciação de programação.”

Em termos turísticos, o diretor do NPS salienta os 90% de ocupação hoteleira

aquando a realização deste evento, bem como a subida de preços por quarto nesta época,

o que reflete o valor que o festival confere à cidade: “O festival mexe mesmo com a

cidade. Não só com a cidade do Porto mas também aqui com a vizinha Matosinhos,

onde há imensa gente a almoçar e a jantar nos restaurantes. Este é um público com um

alto poder de compra, que fica em hotéis, janta e almoça em restaurantes da cidade e,

portanto, não é um público que está a contar dinheiro, é um público que vem usufruir

não só da boa música mas também da cidade.”

Um dos aspetos capazes de diferenciar o NPS é a realização de “eventos de

ativação da marca”, pequenos concertos (Mini NOS Primavera Sound e Primavera nas

Virtudes) de entrada gratuita, capazes de criar um convívio entre aqueles que vão ao

festival e aqueles que não têm possibilidade de o fazer, antes que este aconteça.

Ao finalizar a entrevista, José Barreiro destaca que “…o NOS Primavera Sound

proporciona uma experiência diferente que tem que ser experienciada, que tem que ser

vivida”.

Outro atributo importante do NPS é a consciência ambiental que este detém. Por

isso mesmo, na edição de 2016, foram distribuídos gratuitamente pelo público copos de

70

plástico reutilizáveis. O resultado foi um recinto limpo no final. Esta foi a primeira vez

que um festival de maior dimensão optou por esta iniciativa em Portugal, e foi

agradavelmente bem recebida pelo público em geral.

Todas estas características diferenciadoras têm vindo a conotar o NPS como um

festival diferenciador, equilibrado e criador de grande empatia com o público: “Essas

medidas têm vindo a afirmar a preocupação do festival com a sustentabilidade e isto

vem reforçar o nosso posicionamento, de um festival que se preocupa com a música

(que tem um cartaz suficientemente cuidado para que possamos ter este objetivo

permanente), com as pessoas (que cheguem rapidamente ao recinto, que tenham uma

alimentação cuidada, pelo que procuramos ter um parque de alimentação muito

diversificado, muito cuidado, com limpeza permanente, e que traga também para o

festival aquilo que de melhor a gastronomia do Porto tem) e com o ambiente. E acho

que temos conseguido fazer isso.” (Leite, 2016)

A revista Time Out de Londres destaca as dez principais razões que deverão

levar as pessoas a ir ao NPS e a visitar a cidade do Porto. Este artigo define o festival

como sendo “íntimo”, com um alinhamento musical a ter em conta, e localizado numa

cidade “histórica deslumbrante”. O Porto é caracterizado como um cruzamento entre o

urbano e o tradicional, detendo a sua identidade no belo rio Douro.

A revista refere que o facto do festival se realizar ao fim da tarde proporciona a

oportunidade para os seus visitantes de descobrir os encantos da cidade durante o dia. E

acrescenta: “ O NOS Primavera Sound é a desculpa perfeita para uma escapadela única

num dos mais brilhantes cantos da Europa.”

Para fundamentar esta citação, o artigo destaca a beleza dos monumentos

históricos, as paisagens dos Jardins do Palácio de Cristal e das pontes sobre o Douro, as

casas pequenas e empilhadas, assim como a Casa da Música, criando todo um ambiente

“eclético”. A localização do festival no Parque da Cidade é também um dos seus pontos

fortes, tendo o mar como cenário.

Ao longo do tempo, e como já foi referido, tem-se assistido a um aumento do

público estrangeiro no NPS, sendo que já 58 nacionalidades estiveram representadas

nele na edição mais recente, 2016.

Outros pontos fortes da cidade que também é mencionado são a sua deliciosa

gastronomia, tanto a tradicional como a contemporânea, bem como os preços baixos

tanto na restauração, como no alojamento e nos transportes.

71

Por estas razões, o Porto tem vindo a atrair turistas cada vez mais jovens e

informados. E se estes turistas procuram um local com animação noturna, aqui irão

encontrar inúmeros bares, onde podem tanto degustar o intemporal vinho do Porto,

como experimentar vinhos mais recentes, também da área do Douro.

No NPS o estilo musical que reina é o Indie, e os nomes que se apresentam no

cartaz são bastante conceituados, como por exemplo, PJ Harvey ou Sigur Rós, e até

mesmo a lenda dos Beach Boys, Bryan Wilson. Contando ainda com diversos Dj’s, há

garantia de animação até às 6h da manhã. E na cidade, a animação vivida nos bares e

ruas só começará a partir da meia-noite.

O artigo não deixa de fora uma possível visita às paisagens do rio Douro de

barco, para assim apreciar as magníficas paisagens, vales e montanhas, únicos no

Mundo.

A Time Out alerta por fim para o sentimento de saudade, palavra portuguesa

sem possível tradução para outra língua, e que será a sensação sentida após esta

particição no NPS e animada viagem ao Porto. Refere ainda aos seus leitores que a

próxima edição decorrerá ente 8 e 10 de junho de 2017. (Manning, 2016)

1.1.2. Caso do NOS D’Bandada

O NOS D’Bandada é um evento patrocinado igualmente pela NOS, que se

realiza em setembro em diversos pontos da cidade do Porto na mesma noite. Em 2015

realizou-se a quinta e maior edição de sempre, com animação um pouco por todo o

centro histórico, com palcos ao ar livre, em bares e em cafés emblemáticos, e com uma

oferta musical que abarca desde o fado até ao hip hop. (Paulo, 2015)

De forma a conferir a este evento uma maior visibilidade internacional, em 2015

foi convidada imprensa de diversas nacionalidades, incluindo da Itália e do Reino

Unido: “A Associação de Turismo do Porto (ATP) pretende com esta ação divulgar

experiências diferenciadoras que o destino oferece aos seus visitantes e aumentar a sua

notoriedade. A Associação de Turismo do Porto (ATP), agência responsável pela

promoção e comercialização turísticas do Porto e Norte junto dos mercados externos,

continua a apostar na vinda de jornalistas internacionais do sector a este destino em

datas coincidentes com a realização de grandes eventos na região.”

Esta participação é importante na medida em que este acontecimento tem vindo

a atrair cada vez mais público estrangeiro, que visita a cidade por motivos de lazer, para

além do crescente número de residentes a participar.

72

Para a ATP, o objetivo é “…contribuir para posicionar o Porto e Norte como um

destino diferenciador e potenciador de experiências únicas junto dos seus visitantes.”

(Porto., 2015 a.).

Dado o sucesso do NOS D’Bandada, em 2015 este foi galardoado com o prémio

na categoria de “Melhor Contribuição para a Divulgação da Música Portuguesa”, pelo

Portugal Festival Awards1.

1.1.3. O caso Caixa Ribeira

Este é um festival de fado recentemente realizado no coração do centro histórico

da cidade, a Ribeira, que celebra este estilo musical tipicamente português e Património

da Humanidade. Por se realizar no início de junho, está muito associado à celebração do

dia de S. João, a 24 de junho, fazendo parte do calendário de festividades da cidade

nesse mês.

O Caixa Ribeira é mais um contribuidor para a diversificação e riqueza da oferta

cultural e turística da cidade, e Rui Moreira, atual presidente da Câmara Municipal do

Porto afirma: "Nessa altura [do S. João] somos muito atraentes para o turismo, mas

precisamos que as pessoas fiquem mais tempo na cidade. Gostaríamos que ficassem o

mais tempo possível porque isso aumenta o consumo, é muito importante para a

hotelaria e a restauração".

A organização distribuiu, na edição de 2015, 40 artistas pelos 11 palcos

disponíveis. (Diário de Notícias, 2015)

1.2. Entrevista à Porto Lazer

A entrevista realizada no âmbito desta investigação foi feita junto da Porto

Lazer, instituição pertencente à Câmara Municipal do Porto, e que organiza e apoia os

mais diversos eventos na cidade. O entrevistado foi Tiago Andrade, responsável pela

área de Animação e Eventos.

De seguida, será transcrito todo o conteúdo da entrevista.

A Porto Lazer tem noção do impacto que os eventos musicais

causam na cidade do Porto?

“Essa é uma pergunta de difícil resposta, pois não existe nenhum estudo

objetivo. O conhecimento que temos é meramente de senso comum. Posso começar por

distinguir dois tipos de eventos neste contexto: eventos musicais que podem

1 cf http://portugalfestivalawards.pt/vencedores-da-3a-edicao-dos-portugal-festival-awards/

73

eventualmente potenciar gente na cidade (exemplo do NOS Primavera Sound),

alavancando o turismo numa relação direta; e numa relação indireta (passagem de ano;

S. João) existem eventos que têm como complemento a componente musical, e que

acabam por transformar essa relação numa relação direta, juntando o útil ao agradável:

as pessoas geram as suas férias por causa do evento em si e não da música. O caso do

NOS Primavera Sound é totalmente diferente, é um caso mais paradigmático.”

Tem sentido uma evolução em termos de eventos musicais, ou

seja, intensificou-se a realização de eventos musicais na cidade?

“Estou na Porto Lazer há cerca de um ano e meio, e penso que não tenha havido

alterações significativas em termos de quantidade de eventos musicais; este ano até

temos menos concertos que nos anos anteriores. Contudo, é algo meramente

conjuntural, não tem nenhuma relação direta, nem financeiramente, nem

estrategicamente. Por exemplo, o ano passado fizemos cinco dias de concertos da

Avenida porque o S. João calhou a uma terça-feira; este ano vamos fazer três concertos

da Avenida. O ano passado, por exemplo, com o Fórmula 1 Motonáutica surgiu no seu

âmbito um concerto. Este ano, o grande evento da cidade foi o Rali de Portugal, no qual

não se realizou nenhum evento musical, simplesmente por acaso. Portanto, depende de

ano para ano, é uma questão de programação. Acho que não tem havido

estrategicamente uma tentativa de fazer crescer o número de concertos; não existe a

lógica de investir mais na música; o que tem acontecido é manter a regularidade, a

diversidade. Obviamente, a música é universal e por isso continuamos a apostar nela,

mas não há aqui uma intensificação.”

Em termos de programação destes eventos musicais, esta é

realizada exclusivamente a nível internacional ou a promoção que é feita é igual

a nível nacional e a nível internacional?

“Temos que dividir novamente os eventos. Se estivermos a falar dos eventos da

Porto Lazer (S. João, Passagem de ano, Dia Nacional dos Centros Históricos, Dia

Mundial da Criança), que também têm concertos musicais, esse trabalho é feito

sobretudo em prol da cidade, para as gentes da cidade e para quem nos rodeia. Há

efetivamente um trabalho a ser feito pelo Turismo do Porto e Norte em prol da cidade,

mas não com o fim de trazer gente. O NOS Primavera Sound sim, que é uma estrutura

que não tem nada que ver com a Porto Lazer, pois é o seu promotor que faz esse

trabalho, faz investimento em mercados internacionais, sobretudo nos mercados

emissores de turismo para Portugal e para o Porto e Norte, e tem feito um trabalho junto

74

desses mercados. Nós, particularmente, diretamente e internacionalmente, não fazemos

nada que não seja o que conste nas redes sociais (principal meio de comunicação hoje

em dia), pois trabalhamos sobretudo para o Porto e para as regiões limítrofes.”

E relativamente ao NOS Primavera Sound, qual é a participação

da Porto Lazer na sua organização?

“Nós fazemos parte da organização do Nos Primavera Sound, embora tenhamos

apenas uma responsabilidade de acolhimento, ou seja, a cidade acolhe o festival. Toda a

organização, promoção e implementação do projeto é da responsabilidade da Pic Nic,

que é a empresa que gere o festival. A Porto Lazer e outros departamentos do município

apoiam financeiramente em algumas circunstâncias e cedência do espaço onde se

realiza. Ajudamos ainda em tudo o que podemos (licenciamento, apoio logístico na

utilização do Parque da Cidade), para minimizar o investimento do produtor, o que faz

com que haja aqui uma situação de win-win: é bom para eles ter o festival cá, é bom

para nós manter o festival cá também. Criamos aqui uma situação interessante porque

minimizamos o investimento que a Pic Nic faz no festival.”

Existe alguma meta a atingir nos próximos tempos a nível de

eventos musicais?

“Não temos dados objetivos pensados em concreto, na lógica de aumentar o

número em percentagem de concertos por ano. Nós queremos manter aquilo que temos

feito, que nos parece que é mais ou menos a forma correta, temos alguns desafios

pensados na área da música que gostaríamos de abraçar, mas precisamos de apoio

financeiro, e esse apoio poderá vir de muitas partes. Está a ser estudado, não está

fechado e obviamente que nunca estamos satisfeitos, mas não temos uma meta

estipulada. Temos vontades que para acontecer precisam de certos contextos, e se

houver vontade se concretizarão, passando do papel para a realidade. Neste momento,

numa cidade com a dimensão do Porto, com as características do Porto, chega

perfeitamente. Estamos contentes com aquilo que temos, temos uma programação

regular muito diversificada, que vai desde concertos muito pequenos e intimistas, e

estou a falar só da Porto Lazer, porque depois temos o Pelouro da Cultura. Mas

limitando-me só à animação da cidade, consideramos já ter uma panóplia de concertos

que vai de encontro a todas as necessidades. Tanto tocamos no bairro, como na casa,

como na praça. Temos aquilo que todas as cidades gostariam de ter, um grande festival

com projeção internacional, que dá uma contextualização como cidade da música, o que

é importante. Há aqui muitas outras coisas que têm a ver com a conjuntura que o Porto e

75

o Norte apresentam, que também é muito interessante: uma série de editoras sediadas no

Porto, independentes, que têm feito muito pela música da cidade, e que possibilitam o

equilíbrio entre o que é investido financeiramente e aquilo que o Porto possibilita. As

empresas têm que gerar receitas, sustentabilidade, que não se consegue só apoiando. A

Câmara Municipal do Porto, pelo trabalho que tem feito, e também por sorte, tem

conseguido encontrar aqui uma série de agentes (editoras, músicos, bandas, labels) que

estão interessados em mostrar o seu produto, e portanto tocam em bares, desafiam-se

para projetos na rua, para ocupar edifícios antigos, criando uma dinâmica à volta da

música, que ajuda o município a desinvestir para poder apostar noutras áreas. O objetivo

é criar uma simbiose que cote o Porto também pela sua música. O Porto é demasiado

grande para ter só um chavão. Reconhecer o Porto pela música, ser melhor, para que as

pessoas o associem a isso. Isto não precisa de ser redutor. Não há nenhuma tentativa em

concreto: existe apenas vontade de encontrar eventos que sirvam de alavanca a ele

próprio sustentavelmente. Não interessa a existência de um evento único, mas sim

diversos eventos que vieram para ficar.”

2. Resultados

Após a análise conjunta de todas as notícias e entrevistas recolhidas, e ainda da

entrevista realizada à Porto Lazer, foi possível denotar a influência considerável que os

eventos musicais, em especial o NPS, têm vindo a conquistar no turismo da cidade do

Porto.

O facto de acrescentarem algo de novo e diferente à dinâmica da cidade faz com

que num determinado espaço de tempo a cidade se mostre mais atraente ao olhar do

turista. Isso é claramente demonstrado quando é abordado o estudo realizado pelo

ISAG: “O festival tem realmente um impacto interessante no turismo, nomeadamente a

nível cultural, de alojamento e restauração, tal como revela o estudo, pois “aumentou o

número de visitantes que pernoitaram quatro ou mais noites em hotéis, e a localização

revelou-se o principal fator para determinar a escolha do alojamento, seguida do preço.”

(Núcleo de Investigação do ISAG, 2015)

A proximidade com Espanha também se mostrou um fator fulcral, sendo que a

língua deste país é a segunda mais falada por altura do festival. Para além disso, tendo o

Barcelona Primavera Sound como pioneiro, é lógico que o NPS se torne mais atrativo e

gerador de curiosidade a este povo.

76

A sua importância para o turismo do Porto é verificável através da capacidade

hoteleira, como foi referida, com uma ocupação a rondar em todas as edições os 90%. E

nem o facto de existirem cada vez mais estabelecimentos hoteleiros na cidade desceu

esta média, o que pode denotar que realmente a procura tem vindo a ser crescente.

Um dos pontos fortes do festival reside na sua diversidade musical, e na

realização do Mini NOS Primavera Sound, bem como o warm up que ocorre no Passeio

das Virtudes, potenciadores da imagem do festival a um público mais alargado, e

capazes de aguçar a curiosidade em vésperas deste se iniciar.

O artigo da Time Out de Londres é a prova de que a imprensa internacional está

cada vez mais atenta a este evento, e o considera relevante para os amantes de música e

de viagens.

Quanto aos festivais NOS D’Bandada e Caixa Ribeira, apesar da sua dimensão e

reconhecimento ainda não ser tão substantiva, mostram-se boas alternativas na

diversificação da oferta musical da cidade. O facto de apresentarem nomes musicais

nacionais faz com que a música portuguesa seja mais reconhecida e procurada pelo

público estrangeiro que neles participa.

Quanto à entrevista realizada na Porto Lazer, apesar da instituição reconhecer a

importância do festival NOS Primavera Sound e de outros eventos musicais para a

cidade, não se denotou um especial interesse em fazer com que estes evoluam um pouco

mais na cidade.

Esta instituição realmente apoia todos os eventos musicais no Porto, e faz um

esforço para que estes sejam bem-sucedidos. Claramente o objetivo é consolidá-los, sem

que para isso seja necessário o aumento da oferta neste setor. A sua importância para o

turismo e outras atividades como o comércio e hotelaria é reconhecida, contudo o

interesse reside em tornar o Porto uma cidade de oferta cultural e histórica diversificada,

sem voltar interesses específicos apenas para uma área. O intuito será criar uma imagem

de uma cidade polivalente, onde eventos de diversas índoles ocorrem, para assim atrair

públicos de todos os géneros. E não só agradar aos turistas que vêm, mas principalmente

aos seus residentes. Exemplo disso é o facto de não haver uma promoção específica dos

eventos musicais para o público estrangeiro e, no caso desta, existir poderia apelar a

uma maior afluência vinda do exterior.

Em suma, com esta investigação conclui-se que os eventos musicais, e o NOS

Primavera Sound mais em específico, são realmente importantes e influentes no turismo

da cidade num dado espaço de tempo, contudo não serão completamente decisivos e

77

fulcrais para o turismo da cidade no seu todo. São apenas elementos que vêm enriquecê-

la num dado momento, e acabam por se mostrar diferenciadores ao atrair um público

específico, que acaba por visitar e conhecer a cidade. Haverá espaço para o crescimento

destes, contudo não será essa a grande prioridade para o Porto neste momento. A

prioridade será, como foi referido com a entrevista analisada de Rui Moreira, fazer com

que as estadias na cidade por parte dos turistas, se prolongue por um maior período de

tempo.

Considerações Finais

Ao longo da realização desta dissertação, foi possível constatar o

crescimento exponencial do turismo, não só nacional, como também mundial. A

curto prazo, esta evolução manter-se-á, apesar de não se mostrar tão expressiva

como até agora.

O turismo cultural e criativo vem adquirindo uma posição bastante

confortável, pois são capazes de diferenciar a oferta e combater o turismo de

massas, que se encontra saturado. O turista já não procura apenas a visita a museus e

outros lugares emblemáticos, mas sim viver experiências completamente diferentes

que o façam “escapar” do dia-a-dia frenético das sociedades atuais.

Assim, a música, através de eventos e festivais musicais, mostra-se uma

aposta completamente válida e segura, que atribui aos destinos turísticos uma

conotação atrativa e de valor cultural. Com a ajuda da música, o turista é capaz de

viver boas experiências e satisfazer os seus desejos e necessidades culturais e

sociais.

Apesar dos entraves em relação ao contacto para posterior entrevista com a

Pic Nic, produtora do festival NOS Primavera Sound, e da mesma não se ter

realizado, a pesquisa de notícias online mostrou-se bastante furtuita e capaz de

colmatar as dificuldades encontradas, pois a informação disponível sobre o impacto

deste e dos outros festivais musicais realizados na cidade é bastante abundante.

Contudo, se esta mesma entrevista e outras realizadas a alojamentos locais ou

restauração acontecessem, iria criar-se espaço para que no futuro a investigação se

tornasse mais completa, tanto a nível qualitativo sobre as impressões recolhidas,

como a nível quantitativo, com dados específicos sobre entradas de turistas, valor

despendido durante a estadia, entre outros.

78

Assim, esta investigação vem contribuir para uma análise sobre a principal

oferta a nível de eventos musicais na cidade do Porto, assim como sobre como estes

têm evoluído e obtido espaço na sua relação com a crescente atividade turística.

Percebeu-se que, ao conjugar-se estes eventos com a oferta cultural já existente, a

cidade mostra-se mais rica em conteúdo e atrativa ao olhar do turista. Além de que a

música é um importante veículo para a maior diversificação de um local já de si

bastante polivalente, como é o caso do Porto. Desta forma, a sua atração em relação

a um público mais exigente e informado, como aquele que encontramos atualmente,

se torna um fenómeno crescente.

Como perspetivas e desafios de futuro seria interessante uma maior aposta na

divulgação através da Internet, pois este mostra-se o meio mais eficaz de

propagação dos eventos a acontecer num dado local. A informação chega mais

rapidamente a um maior número de pessoas desta forma. Talvez havendo um maior

interesse e empenho nesta divulgação por parte das entidades organizadoras os

eventos comecem a ser mais largamente reconhecidos. Outro ponto importante seria

a constante inovação em termos de atividades associadas aos festivais e eventos

musicais. A conjugação de atividades artísticas, literárias e até infantis aquando a

sua realização será interessante, ainda mais se estas envolverem a participação dos

turistas e da comunidade. A articulação de comunicação entre os responsáveis pela

organização dos eventos e os setores hoteleiros, de restauração e de transportes

poderá também ser uma chave para um maior sucesso dos mesmos. A criação de

packs promocionais que conjuguem diferentes serviços serão vantajosos tanto para

turistas como para quem os comercializa, na medida em que facilitarão o acesso aos

mesmos a preços mais em conta. Além disso, a realização de eventos musicais ao

longo do ano, de menor dimensão e que estivessem associados ao espírito do festival

original pode ser uma opção válida para que a imagem destes cresça e atraia o

mesmo público em diferentes ocasiões, além de que poderá evidenciar um pouco

mais a cultura musical da cidade.

No que concerne às principais questões levantadas inicialmente nesta

dissertação, pode concluir-se que: quanto aos impactos gerados pelos eventos

musicais no turismo da cidade do Porto, denota-se que aquando a realização dos

mesmos, num curto espaço de tempo, existe realmente uma maior movimentação de

pessoas, no comércio, na restauração e na hotelaria. O nível de atração ao local é

maior, bem como aos pontos de interesse turístico da cidade. Contudo, não existe o

79

plano de voltar o foco de interesse da cidade para essa época em particular, mas sim

para todo o ano em conjunto. Por isso mesmo, não existe o intuito de aumentar o

número de eventos musicais na cidade, mas sim de manter em conjunto com

atividades de diferente carácter.

Em suma, no futuro será interessante um estudo mais profundo sobre estes

eventos musicais, que mostre a sustentabilidade dos mesmos na sua relação com o

turismo, e que rumo tomará a continuidade desta aliança. A sua ligação com a

cidade é bastante positiva, por isso a perspetiva de continuidade só beneficiará um

local tão singular e versátil como o Porto.

80

Referências Bibliográficas

Abreu, P. (2004). “Músicas em movimento. Dos contextos, tempos e geografias de performance musical em Portugal”. In Revista Crítica de Ciências Sociais, nº70.

Abreu-Novais, M. & Arcodia (2013). “Music festival motivators for attendance: developing an agenda for research”. In International Journal of Event Management Research, vol. 8, nº 1. Acedido em 16 de janeiro de 2016 em: http://www.ijemr.org/wp-content/uploads/2014/10/AbreuNovaisArcodia.pdf.

Alves, A. A. (2015). “O sucesso do turismo no Porto, a iniciativa privada e os artistas”. In Observador. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://observador.pt/opiniao/o-sucesso-turismo-no-porto-iniciativa-privada-e-os-artistas/

Azevedo, N. (2003). Políticas culturais à escala metropolitana: notas de uma pesquisa sobre a Área Metropolitana do Porto. In Revista da Faculdade de Letras: Sociologia, nº 13, pp. 201-210. Porto: Universidade do Porto.

Azevedo, N. (2014). “Pontos para uma discussão operacional sobre políticas culturais (locais)”. In Revista Lusófona de Estudos Culturais, vol. 2, nº2, pp.131-143. ISSN 2183-0886. Acedido em 20 de junho de 2015 em: https://sigarra.up.pt/flup/pt/pub_geral.pub_view?pi_pub_base_id=96495.

Barbosa, M. A. (2016). “Primavera no Porto. O festival mudou a cidade?”. In Dinheiro Vivo. Acedido em 27 de julho de 2016 em: https://www.dinheirovivo.pt/buzz/primavera-no-porto-o-impacto-do-festival-na-cidade/.

Barreto, A. (1999). “Portugal: Democracy through Europe”. In Jeffrey Anderson (Eds.), Democracy and Regional Integration. Pp. 95-122. New York: Rowman and Littlefield.

Belanciano, V. (2015). “Álvaro Covões e os festivais como estímulo turístico”. Acedido em 27 de julho de 2016 em: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/alvaro-covoes-1701442.

Beni, M. C. (1998). “O conceito de sustentabilidade na política de turismo e meio ambiente”. In Revista de Administração, vol. 33, nº 4, p. 53-55. São Paulo.

Bessa, A. S. M. et al. (2007). “Planejamento e gestão para a internacionalização de cidades: um modelo de análise aplicado ao caso de Belo Horizonte”. In XII Encontro da associação nacional de pós-graduação e pesquisa em planejamento urbano e regional. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/anais/article/view/2356.

Butler, R. W. (1980). “The concept of a tourist area cycle of evolution: Implications for management of resources”. In Canadian Geographer, XXIV, 1.

Caria, H. (2016). “José Barreiro em entrevista: "Aquilo que tentamos fazer no NOS Primavera Sound é uma edição gourmet da edição de Barcelona"”. In Noite e Música Magazine. Acedido em 27 de julho de

81

2016 em: http://www.noitemusicamagazine.pt/entrevistas/jose-barreiro-em-entrevista-aquilo-que-tentamos-fazer-no-nos-primavera-sound-e-uma-edicao-gourmet-da-edicao-de-barcelona/15235.

Carmo, Rita (2016). “Impacto dos festivais de música no turismo discutido no Talkfest'16. É preciso uma estratégia”. In Blitz. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://blitz.sapo.pt/principal/update/2016-03-04-Impacto-dos-festivais-de-musica-no-turismo-discutido-no-Talkfest16.-E-preciso-uma-estrategia.

Carrilho, A. (2015). “Álvaro Covões. “Se não forem criados conteúdos, vamos perder turistas””. In Renascensa. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?did=177135.

Carrilho, R. (2016). “Álvaro Covões. “Sinto uma vontade genuína de querer mudaar o mundo””. In Sol. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://sol.sapo.pt/artigo/504312/alvaro-covoes-sinto-uma-vontade-genuina-de-querer-mudar-o-mundo-.

Carvalhal, F. M. (2014). Os festivais de música como promotores de turismo cultural. Universidade Católica Portuguesa.

Carvalho, R. (2011) “Os eventos culturais e criativos poderão ou não contribuir para uma imagem diferenciadora do destino turístico maduro?”. Acedido em20 de junho de 2015 em: http://www.academia.edu/7820348/O_CONTRIBUTO_DOS_EVENTOS_CULTURAIS_E_CRIATIVOS_PARA_A_CRIA%C3%87%C3%83O_DE_UMA_IMAGEM_DIFERENCIADORA_DO_DESTINO_TUR%C3%8DSTICO_MADURO._O_CASO_DO_FESTIVAL_MED_DE_LOUL%C3%89_ALGARVE.

Carvão, S. (2009). exedra • nº temático - Turismo • 2009 Tendências do turismo internacional

Contacto (s.d.) “Primavera Sound: Não há nada apoiado pelo Turismo de Portugal com semelhante impacto internacional – Rui Rio”. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.euacontacto.com/primavera-sound-nao-ha-nada-apoiado-pelo-turismo-de-portugal-com-semelhante-impacto-internacional-rui-rio/.

Chierichetti, L. (2012). “La promoción del turismo musical: los festivales de música en Facebook”. In Pasos: Revista de turismo y patrimonio cultural, vol. 10, nº 4, pp. 49-58. ISSN 1695-7121.

Costa, C. & Matias, A. (2005). “Turismo e internacionalização económica”. Universidade Autónoma de Lisboa. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://hdl.handle.net/11144/1675.

Cunha, L. (2010) “A definição e o Âmbito do Turismo: um aprofundamento necessário”. In ReCil. Grupo Lusófona. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://hdl.handle.net/10437/665.

Cunha, L. & Abrantes, A. (2013). Introdução ao turismo. (5ª Edição). Lisboa: LIDEL.

Diário de Notícias (2015). “Rui Moreira quer mostrar que o fado também se canta no Porto”. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://dnoticias.pt/actualidade/5-sentidos/496393-rui-moreira-quer-mostrar-que-o-fado-tambem-se-canta-no-porto?quicktabs_2=1.

Dias, J. A. R. (2012). Musictrip - Agência de viagens online especializada em festivais de música. Dissertação de Mestrado em Turismo - Especialização em Gestão Estratégica de Eventos. Lisboa: ESHTE.

Felsenstein, D. & Fleischer, A. (2003). “Local Festivals and Tourism Promotion: The Role of Public Assistance and Visitor Expenditure”. In Journal of Travel Research.

Ferreira, M. (2015). “NOS em D’Bandada: 5ª edição promete ser ‘a maior de sempre’”. In Blasting News. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://pt.blastingnews.com/porto/2015/09/nos-em-d-bandada-5-edicao-promete-ser-a-maior-de-sempre-00541663.html.

82

Gelder, G. & Robinson, P. (2011). “Events, Festivals and the Arts”. In Research Themes for Tourism.

Getz, D. (2002). “Event studies and event management: on becoming an academic discipline”. In Journal of Hospitality and Tourism Management, vol.9, nº 1, pp. 12–23.

Getz, D. (2005). Event Management and Event Tourism. New York: Cognizant Communication.

Getz, D. (2007). Event Studies: Theory, Research and Policy for Planned Events. Oxford: Elsevier Butterworth-Heinemann.

Getz, D. (2008). “Event tourism: Definition, evolution, and research”. In Tourism Management, ed. 29.

Geus, S. De; Richards, G. & Toepoel, V. (2016). “Conceptualisation and Operationalisation of Event and Festival Experiences: Creation of an Event Experience Scale”. In Scandinavian Journal of Hospitality and Tourism, pp. 274-296.

Gibson, C. & Connell, J. (2005). Music and Tourism - On the Road Again. Channel View Publications.

Gomes, L. M. F. (2012). O turismo criativo: experiências na cidade do Porto. Dissertação de Mestrado em Turismo. Porto: FLUP.

Gonçalves, R. (2016). “O património cultural como fator de atração de turistas a uma cidade. O caso da cidade do Porto”. In Hipersuper. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.hipersuper.pt/2016/04/06/o-patrimonio-cultural-como-fator-de-atracao-de-turistas-a-uma-cidade-o-caso-da-cidade-do-porto/.

Hall, C. M. (1989). “Hallmark Tourist Events: Analysis, Definition, Methodology and Review”. In: Syme, G. J.; Shaw, B. J.; Fenton, D. M.; Mueller, W. S. (ed.). The Planning and Evaluation of Hallmark Events. New Jersey: Pearson.

Hall, C. M. (2001). Planejamento turístico: políticas, processos e relacionamentos. Colin Michael Hall. 2001 São Paulo: Contexto.

INE - Instituto Nacional de Estatística (2014). Estatísticas do Turismo. Edição de 2015. Acedido em 20 de junho de 2015 em: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=233015003&PUBLICACOESmodo=2&xlang=pt.

IVDP - Instituto dos Vinho do Douro e Porto (2014). “Eventos internacionais fazem crescer turismo de negócio no Porto”. Acedido em 25 de julho de 2016 em: https://www.ivdp.pt/pagina.asp?content=noticia&cod=667.

Köhler, A. F. & Durand, J. C. G. (2007). “Turismo cultural: conceituação, fontes de crescimento e tendências”. In Turismo - Visão e Ação, vol. 9, nº2, pp. 185-198.

Kuusik, A. et al. (2014) “Country as a free sample: the ability of tourism events to generate repeat visits. Case study with mobile positioning data in Estonia.” In Procedia - Social and Behavioral Sciences, 148. Petros: Elsevier, pp. 262−270. Acedido em 16 de janeiro de 2016 em: http://%20http//dx.doi.org/10.1016/j.sbspro.2014.07.042.

Ledo, W. (2014). “Festivais de Verão podem atingir retorno mediático de 18 milhões de euros”. In Jornal de Negócios. Acedido em 10 de janeiro de 2016 em: http://www.jornaldenegocios.pt/EMPRESAS/MEDIA/DETALHE/FESTIVAIS_DE_VERAO_PODEM_ATINGIR_RETORNO_MEDIATICO_DE_18_MILHOES_DE_EUROS.HTML.

83

Ledo, W. (2015). “Álvaro Covões: “O problema do turismo é misturar política”. In Jornal de Negócios. Acedido em 25 de julho de 2016 em: http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo___lazer/detalhe/alvaro_covoes_o_problema_do_turismo_e_misturar_politica.html.

Leite, M. J. (2016). “Nos Primavera Sound: Um festival cada vez mais amigo do Ambiente”. In Event Point. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://www.eventpoint.com.pt/articles/nos-primavera-sound-um-festival-cada-vez-mais-amigo-do-ambiente.

Lima, M. J. (2014). “Caixa volta a (dar música em) Alfama”. In Marketeer. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://marketeer.pt/2014/09/19/caixa-volta-a-dar-musica-em-alfama/.

Lima, M. J. (2015). “Porto: «Uma cidade aberta às novas tendências»”. In Marketeer. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://marketeer.pt/2015/02/16/porto-uma-cidade-aberta-as-novas-tendencias/.

Lopes, M. F. (2011). Marketing no Turismo - Estruturação de um Plano de Marketing. Dissertação de mestra. Coimbra: Faculdade da Economia de Coimbra.

Lopes, D. (2016). “Turismo confirma 2015 como o melhor ano de sempre”. In Económico. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://economico.sapo.pt/noticias/turismo-confirma-2015-como-o-melhor-ano-de-sempre_242769.html.

Lobo, S. (2013). Arquitetura e turismo: as cenografias do lazer na costa portuguesa. Uma evolução tipo-morfológica. Tese de Doutoramento. Coimbra: Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Acedido em 20 de outubro de 2015 em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/23799.

Lusa (2013). “De mão dada com a música portuguesa a D’Bandada vai crescendo nas ruas do Porto”. In RTP. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.rtp.pt/noticias/cultura/de-mao-dada-com-a-musica-portuguesa-a-dbandada-vai-crescendo-nas-ruas-do-porto_n680559.

Lusa (2016). “Festivais de música têm impacto no turismo, mas é preciso uma estratégia”. In Económico. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://economico.sapo.pt/noticias/festivais-de-musica-tem-impacto-no-turismo-mas-e-preciso-uma-estrategia_244266.html.

Maciel, B. P. (2011). Festivais de Música e Turismo Dois estudos de caso: Les Aralunaires e Milhões de Festa. Dissertação de mestrado. Porto: Universidade do Porto. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://meloteca.com/teses/barbara-maciel_festivais.pdf.

Magalhães, L. H. (2008). “Discussão crítica acerca do turismo numa perspectiva materialista histórica” In Caderno Virtual de Turismo, vol. 8, n° 2. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://www.spell.org.br/documentos/ver/1928/discussao-critica-acerca-do-turismo-numa-perspectiva-materialista-historica/i/pt-br.

Manning, J. (2016). “Ten reasons to go to a festival in Porto”. In Time Out London. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.timeout.com/london/music/ten-reasons-to-go-to-a-festival-in-porto.

Marmelo, J. (2012). “Vinte sítios da cidade do Porto que são exemplos de boa arquitectura”. In Público. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.publico.pt/local-porto/jornal/vinte-sitios-da-cidade-do-porto-que-sao-exemplos-de-boa-arquitectura-24936296.

Marujo, N. (2014 a.). “Os eventos turísticos como campo de estudo académico”. In TURyDES - Revista de investigación en turismo y desarrollo local, vol. 7, nº 17. Acedido em 12 de março de 2015 em: http://hdl.handle.net/10174/12517

84

Marujo, N. (2014 b.). “A cultura, o turismo e o turista: que relação?”. In TURyDES - Revista de investigación en turismo y desarrollo local, vol.7, nº16. Acedido em 04 de fevereiro de 2014 em: http://www.eumed.net/rev/turydes/16/turista-cultural.pdf.

Martekeer (2015). “Impacto económico do Nos Primavera Sound deve ultrapassar 2014”. Acedido em 25 de julho de 2016 em: http://marketeer.pt/2015/06/03/impacto-economico-do-nos-primavera-sound-deve-ultrapassar-2014/.

Mason, P. (2011). “Tourism Impacts, Planning and Management”. In Taylor & Francis.

Mateus, J. N. (2016). “Portugal nunca teve tantos turistas”. In Expresso. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://expresso.sapo.pt/economia/2016-04-15-Portugal-nunca-teve-tantos-turistas.

Mateus & Associados - Sociedade de Consultores (2013). A cultura e a criatividade na internacionalização da economia portuguesa - Relatório Final. Acedido em 15 de abril de 2016 em: http://norteemrede.ccdr-n.pt/planeamento/publicacoes/estudo-cultura-e-criatividade-da-internacionalizacao-da-economia

Mendes, J. M. (2011). A cultura e a criatividade sobem de valor. Universidade Autónoma de Lisboa. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://hdl.handle.net/11144/836.

Monteiro, B. D. G. (2016). Eventos culturais como ferramenta de gestão para o turismo em Portugal : estudo de caso NOS Primavera Sound 2013 e 2014. Dissertação de mestrado. Porto: Universidade Lusíada. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://repositorio.ulusiada.pt/handle/11067/1977.

Moreira, A. (2008). “Turismo e arquitetura: A produção do atrativo via singularidade/notoriedade do lugar.” In Arquitextos, ano 08, nº 093.05, Vitruvius. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/169.

Moreira, C. C. O. (2013). Turismo, território e desenvolvimento : competitividade e gestão estratégica de destinos. Tese de Doutoramento. Universidade de Coimbra. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://hdl.handle.net/10316/24446.

Moreira, M. C. & Henriques, C. (2007). “Percursos turístico-culturais e criatividade - Que futuro para a relação entre turismo-cultura.estatuária?”. In Encontros Científicos, nº 3. Faro: Universidade do Algarve.

Neves, A. (2015). “Economia: O Porto é que ganha com o Primavera Sound”. In Jornalismo Porto Net. Acedido em 25 de julho de 2016 em: https://jpn.up.pt/2015/06/04/destaque-quinta-porto-ganha-nos-primavera-sound/

Norinha, V. (2015). “Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo: “Estamos a crescer 5 vezes mais do que Espanha em receitas de turismo””. In Portugal Global. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.portugalglobal.pt/pt/portugalnewsarquivo2015/revistaimprensanacional/paginas/adolfomesquitanunes,secret%C3%A1riodeestadodoturismo%E2%80%9Cestamosacrescer5vezesmaisdoqueespanhaemreceitasdeturismo%E2%80%9D.aspx.

Núcleo de Investigação do ISAG (2015). “Apresentação Estudo de Públicos: NOS Primavera Sound: análise durante e após evento”. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://nidisag.blogspot.pt/2015/11/apresentacao-estudo-de-publicos-nos.html?view=flipcard.

Paulo, I. (2015). “D’Bandada por todo o lado”. In Expresso. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-09-11-DBandada-por-todo-o-lado-.

Pegg. S. & Patterson, I. (2010). “Rethinking Music Festivals as a Staged Event: Gaining Insights from Understanding Visitor Motivations and the Experiences They Seek”. In Journal of Convention & Event Tourism, pp. 85-99.

85

PENT, 2015. Ministério da Economia, Governo de Portugal

Pires, E. C. R. (2004). As Inter-relações Turismo, Meio Ambiente e Cultura. Bragança: Instituto Politécnico de Bragança. ISBN 972-745-077-6. Acedido em 15 de junho de 2015 em: https://bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/222/1/70%20-%20As%20inter-rela%C3%A7%C3%B5es%20turismo%20meio-ambiente%20e%20cultura.pdf.

Porto e Norte (2015). “Estratégia de Marketing Turístico do Porto e Norte de Portugal - Horizonte 2015-2020”. Acedido em 25 de julho de 2016 em: http://www.portoenorte.pt/client/files/0000000001/3037.pdf

Porto y norte (s.d., a.). “Arquitectura contemporánea en Porto”. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://es.visitportoandnorth.travel/Porto-y-Norte/Visitar/Artigos/Arquitectura-contemporanea-en-Porto.

Porto y norte (s.d., b). “Porto, una ciudad creativa y bohemia”. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://es.visitportoandnorth.travel/Porto-y-Norte/Visitar/Artigos/Porto-una-ciudad-creativa-y-bohemia.

Porto y norte (s.d., c.). “La manzana de las artes: Miguel Bombarda y alrededores”. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://es.visitportoandnorth.travel/Porto-y-Norte/Visitar/Artigos/La-manzana-de-las-artes-Miguel-Bombarda-y-alrededores.

Porto y norte (s.d., d.). “Get ready to pack your bags for the 2016 Porto an North Portugal Music Festivals”. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://es.visitportoandnorth.travel/Blog/Get-ready-to-pack-your-bags-for-the-2016-Porto-and-North-Portugal-Music-Festivals.

Porto y norte (s.d., e.). “The role of music in Porto”. Acedido em 26 de julho de 2016 em: http://es.visitportoandnorth.travel/Blog/The-role-of-music-in-Porto.

Porto. (2015 a.). “Imprensa estrangeira convidada para assistir ao NOS em D’Bandada”. Acedido em 25 de julho de 2016 em: http://www.porto.pt/noticias/imprensa-estrangeira-convidada-para-o-dbandada.

Porto. (2015 b.). “Porto eleito o melhor destino emergente europeu e o terceiro a nível mundial”. Acedido em 20 de fevereiro de 2016 em: http://www.porto.pt/noticias/porto-eleito-o-melhor-destino-europeu-emergente-e-o-terceiro-a-nivel-mundial_2.

Publituris (2016). “23% dos participantes do NOS Primavera Sound são estrangeiros”. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://www.publituris.pt/2016/06/09/23-dos-participantes-do-nos-primavera-sound-sao-estrangeiros/.

Ramalho, J. (2013). “Os grandes eventos e a promoção da imagem externa de Portugal”. In Janus Online. Acedido em 15 de março de 2016 em: http://janusonline.pt/popups2013/2013_1_26.pdf

Ramos, C. I. M d. S. (2010). Turismo urbano : a paisagem cultural do Porto. Coimbra: FLUC

Revilla Pacheco, G. & Ramírez Fernández, G. (2015). “La música como parte integral de la oferta turística cultural para un nicho de mercado.”. In Revista Iberoamericana de Turismo (RITUR), vol.5, nº2 pp.61-69. ISSN 2236-6040.

Richards, G. (1996) Cultural Tourism in Europe. Wallingford: CABI.

Richards, G. (2001). “The Development of Cultural Tourism in Europe”. In Richards, G. (ed.). Cultural Attractions and European Tourism. Wallingford: CABI.

Santos, P. M. (2015). “Música e arquitectura no Porto: uma relação saudável!”. In Público. Acedido em 25 de junho de 2016 em: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/musica-e-arquitectura-no-porto-uma-relacao-saudavel-1694455.

86

Santos, N. S. & Fernandes, P. O. (2010). 2Turismo na Região Norte de Portugal: aplicação do modelo linear geral”. In XX Luso Spanish Conference on Scientific Management. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://hdl.handle.net/10198/2958.

Sarmento, J. (2007). “Festivais de Música de Verão: artes performativas, turismo e território”. In Geografia e Planeamento. ISSN 1645-9369.

Silderberg, T. (1994). “Cultural tourism and business opportunities for museum and heritage sites”. In Conference of School of Business. Acedido em 20 d ejunho de 2015 em: http://www.lord.ca/Media/Artcl_Ted_CultTourismBusOpps.pdf.

Silva. M. B. R. (2003). O evento como estratégia na comunicação das organizações: modelo de planejamento e organização. Universidade Estadual de Londrina. Acedido em 15 de outubro de 2015 em: http://ead2.iff.edu.br/pluginfile.php/26430/mod_resource/content/2/Modelo%20de%20planejamento%20de%20eventos.pdf.

UNTWO (2014). Glossary of tourism terms . Acedido em 22 de janeiro de 2016 em: http://media.unwto.org/

Viegas, N. M. (2013). Planeamento e gestão do turismo cultural enquanto fator de sustentabilidade: o caso da zona Belém/Ajuda, em Lisboa. Acedido em 20 de junho de 2015 em: http://hdl.handle.net/10400.1/3580.

Visão (2013). “Álvaro Covões: “O mercado da música ainda tem margem para crescer””. In Visão. Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/alvaro-covoes-o-mercado-da-musica-ainda-tem-margem-para-crescer=f740215.

Watch & Listen (2015). “Entrevista a Luís Montez (Música no Coração). Acedido em 27 de julho de 2016 em: http://watchandlistenpt.blogspot.pt/2015/11/entrevista-luis-montez-musica-no-coracao.html.

87