REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE TEÓFILO...
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REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE TEÓFILO OTONI-MG
Pedro Paulo Saleme de Souza1*, Alice Pereira de Faria¹, Jorge Luiz de Góes
Pereira2.
RESUMO Este paper busca identificar e analisar as representações sociais de Meio Ambiente dos docentes e discentes do ensino fundamental das escolas públicas da área urbana e rural em Teófilo Otoni-MG, e sua relação com os projetos de Educação Ambiental desenvolvidos nessas escolas. Trata-se de uma pesquisa qualiquantitativa, sendo aplicados questionários semi-estruturados aos alunos do ensino fundamental e seus respectivos professores. Observa-se que as práticas e representações sociais de professores e alunos quanto ao meio ambiente estão relacionadas aos universos onde estão inseridos. São os espaços socioculturais que os orientam na elaboração ou reelaboração de suas práticas ambientais, e que muitas das vezes são negligenciados na elaboração das propostas pedagógicas de Educação Ambiental. Palavras-Chave: Representações Sociais, Meio Ambiente, Rural e Urbano. ABSTRACT This paper seeks to identify and analyze the social representations of the environment of teachers and students of elementary public schools in the urban and rural Teofilo Otoni-MG, and its relationship with the Environmental Education projects developed in these schools. This is a qualitative-quantitative research are applied to semi-structured questionnaires to elementary school students and their teachers. We note that the practices and social representations of teachers and students about the environment are related to the universes where they are inserted. Are the cultural spaces that guide the development or redevelopment of their environmental practices, and that often are overlooked in the preparation of proposals for teaching environmental education. Keywords: Social Representations, Environment, Rural and Urban.
INTRODUÇÃO
É notório que as questões relacionadas ao meio ambiente vêm se
destacando no cenário mundial. O mundo passa por diversos problemas
1 Professor Adjunto da UNIPAC-TO 2 Professor Adjunto da UFRJ
ambientais e a relação homem/natureza propõe cada vez mais, ações preventivas
com intuito de mitigar estes impactos. Torna-se urgente e necessário a discussão
destas questões em âmbito escolar, desde a mais tenra idade, possibilitando ao
aluno e professor uma reavaliação crítica perante estas situações.
Focalizada por este prisma, é importante que a ação prática pedagógica
adotada pelos professores em suas disciplinas, seja criativa e democrática,
fundamentada no diálogo que, na teoria freiriana, segundo Damke (1995),
aparece como condição para o conhecimento, já que o ato de conhecer acontece
no processo social, do qual o diálogo é a mediação. Partindo dessa perspectiva
pedagógica, concebemos o ser humano como um ser aberto e essencialmente
comunicativo entendendo que seu progresso como ser só é possível no diálogo.
Segundo Moscovici (2003), é também pelo diálogo constante entre os
indivíduos que as representações são moldadas, geradas e partilhadas, ou seja: a
conversação molda e anima as representações, dando-lhes vida própria no
contexto social.
Assim, o conteúdo das representações são essencialmente sociais,
produto e produtor da ordem simbólica. São conhecimentos práticos, orientados
para o mundo social, fazendo e dando sentido às práticas sociais, situando o
indivíduo no mundo e definindo sua identidade social (SPINK, 1995).
O conteúdo das representações sociais pode ser estruturado a partir de
três dimensões: a informação, a imagem ou o campo de representação e as
atitudes ou valoração. A informação seria o conhecimento obtido por fontes
diversas (meios de comunicação, literatura, diálogo, entre outros) que
determinado grupo ou indivíduo detém frente a determinado objeto social; é o
dado não conhecido. Estas informações podem ser completas ou não, coerentes
ou não com a realidade, bem como variam tanto em quantidade como qualidade.
A imagem ou o campo de representação seria o conteúdo concreto do objeto
representado, colocado em uma hierarquia de elementos; é a imagem formada do
objeto representado. Desta forma, os valores e os fatores ideológicos podem
exercer influência nesta estruturação. Através das imagens formadas torna-se
possível ao indivíduo emitir uma opinião sobre determinado objeto. Por fim a
atitude seria a orientação global em relação ao objeto representado; seria o
sentimento, o julgamento de valor do indivíduo frente ao objeto representado.
Esta tomada de posição pode assumir uma valoração positiva, negativa ou neutra
(MOSCOVICI, 1978).
Para Queiroz (2003), “representação social” expressa uma forma de
conhecimento que, por ser socialmente construída, permite ao indivíduo elaborar
uma visão de mundo que o oriente em projetos de ação e nas estratégias que
desenvolve em seu meio social. E ainda, que, por serem culturalmente
carregados, adquirem sentido e significado pleno apenas quando levado em
consideração o contexto em que se manifestam.
Assim, o estudo tem como objetivo identificar e comparar as
representações sociais de meio ambiente e as práticas pedagógicas ambientais
dos alunos e professores do ensino fundamental situados nas áreas urbanas e
rurais do município de Teófilo Otoni/MG, bem como propor reflexões críticas e
ações ambientais educativas sobre a maneira de pensar e agir destes alunos e
professores nestas localidades, para que posteriormente sirva como suporte de
um novo relacionamento entre homem/natureza e que de certa forma contribua
para mudanças locais oferecendo uma melhor qualidade de vida ao planeta.
É preciso ressaltar que em nosso país possuímos duas classificações
quanto aos espaços determinados para inserção dos aspectos educacionais,
sendo a área urbana e rural. Nesse contexto, tem-se a definição estabelecida pelo
IBGE (1996) como na situação urbana consideram-se as pessoas e os domicílios
recenseados nas áreas urbanizadas ou não, correspondendo às cidades (sedes
municipais), às vilas (sedes distritais) ou às áreas rurais isoladas. A situação rural
abrange a população e os domicílios recenseados em toda a área situada fora
desses limites, inclusive os aglomerados rurais de extensão urbana, os povoados
e os núcleos.
Entretanto, não se pode mais entender o rural e o urbano a partir de uma
perspectiva de divisão social e espacial do trabalho em que as cidades são
reconhecidas pela indústria e o campo pela agricultura, o que não é verdadeiro,
pois está havendo uma mudança das relações de produção e trabalho em ambos
os territórios. Tem-se um rural não mais atrelado essencialmente à produção
agropecuária, mas sim, a outras atividades industriais e de serviços (VEIGA,
2004).
Diante destas classificações sobre os olhares diferenciados quanto às
espaços, Leite (2002) faz uma menção sobre a escola rural como valor social,
afirmando que há uma “práxis” própria no campo, em que as relações
socioculturais e políticas são definidas a partir delas próprias, porém, com certa
dependência das relações acontecidas e/ou vivenciadas nos centros urbanos.
METODOLOGIA
Para identificar as representações sociais de meio ambiente e práticas de
educação ambiental nas escolas públicas do meio rural e urbano de Teófilo
Otoni/MG, optou-se pela linha de pesquisa qualiquantitativa. A escolha deste
método foi motivada pela compreensão de que a pesquisa qualiquantitativa, não
só permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social
(GIL, 1999), como também diz respeito à possibilidade concreta de tratar-se de
uma realidade da qual, somos agentes de transformações diante de nossas
interações sociais (MINAYO, 2002).
Foi utilizada um questionário dividido em quatro blocos com questões
abertas e fechadas, visando compreender basicamente como os professores do
ensino fundamental têm procurado incorporar suas práticas pedagógicas
ambientais e como os alunos têm se representado diante destas ações
pedagógicas ambientais tão importantes para o desenvolvimento do cidadão
crítico/reflexivo. O questionário semi-estruturado articula perguntas fechadas, que
pressupõe perguntas previamente formuladas e abertas, onde os pesquisados
têm a possibilidade de decorrer o tema proposto, sem respostas ou condições
prefixadas pelo pesquisador.
Foram definidas 04 (quatro) escolas para o levantamento de dados: duas
escolas públicas da área urbana, sendo a Escola Estadual Colégio Tiradentes
(caracterizada por 1a) e a Escola Municipal Irmã Maria Amália (caracterizada por
1b) e duas escolas públicas na área rural, sendo a Escola Estadual José Expedito
de Souza Campos (caracterizada por 2a) localizada no distrito de Rio Pretinho e a
Escola Municipal Geraldo Leão Lopes (caracterizada por 2b) localizada em
“Maravilha” distrito de Topázio.
O fato de definir as escolas públicas da área urbana e rural é devido à
crença e à cultura da população local, em relacionar-se com o meio ambiente em
que se vive, de modo geral, e em particular, considerar que o sistema de ensino
na área urbana sobrepõe ao da área rural em aspectos de ações práticas,
cognitivos, de recursos financeiros e materiais e principalmente da relação
globalização da informação sobre o meio ambiente.
O estudo limitou-se em analisar os professores que ministram aulas para o
9º ano do ensino fundamental destas escolas como também os alunos deste
respectivo ano escolar.
A população deste estudo se constituiu de 100 professores que ministram
aulas para o 9º ano do ensino fundamental destas respectivas unidades
pesquisas. A amostra deste grupo foi de 20 professores, sendo (10) professores
das escolas urbanas (7) mulheres e (3) homens com média etária de 35 anos e
10 professores nas escolas rurais (8) mulheres e (2) homens com média etária de
32,5 anos, correspondendo assim a (20%) da população estudada nestas
escolas.
Em relação aos alunos a população foi de 428 alunos somente do 9º ano
do ensino fundamental das escolas pesquisadas na área urbana e rural. A
amostra se constituiu de 90 alunos, sendo pesquisados nas escolas urbanas 57
alunos (24) homens e (19) mulheres com média etária de 14,5 anos e 33 alunos
nas escolas rurais (14) homens e (19) mulheres com média etária de 16,5 anos,
correspondendo a (21%) da população de alunos estudada nestas escolas.
O fato de se ter um número maior de alunos pesquisados nas escolas da
área urbana foi devido há um maior contingente de turmas de 9º ano do ensino
fundamental nestas escolas, tendo na Escola Estadual Colégio Tiradentes 04
turmas (901, 902, 903 e 904) e na Escola Municipal Irmã Maria Amália eram 08
turmas (A, B, C, D, E, F, G e H). Para definição de qual turma a ser pesquisada foi
realizada um sorteio e assim definindo a turma e os professores que fariam parte
da pesquisa.
O critério utilizado para a escolha dos alunos neste respectivo ano
considerou o fato destes estarem por finalizar a etapa do ensino fundamental de
escolarização e também por saber que neste período caracterizado pela
“adolescência” onde acontecem diversas mudanças. A adolescência é um período
de mudanças, não só físicas, sexuais, psicológicas e cognitivas, mas também nas
demandas sociais feitas pelos pais, professores, colegas e sociedade em si. É
importante ressaltar que aumentando as capacidades cognitivas dos
adolescentes, estimularão uma maior consciência de questões morais e valores e
maior sofisticação ao lidar com eles. Ao mesmo tempo, as demandas impostas
aos adolescentes pela sociedade estão mudando a uma taxa acelerada, e isso
requer, em si, uma reavaliação contínua de valores morais e crenças –
principalmente numa sociedade tão cheia de pressões e valores conflitantes como
a nossa (MUSSEN et. al., 2001).
Para a escolha dos professores, o critério utilizado foi essencialmente
analisar os professores que ministram aulas de suas referidas disciplinas
(Português, Matemática, Geografia, História, Inglês, Educação Física, Educação
Artística, Ensino religioso e Ciências).
DISCUSSÃO
Procurou-se primeiramente analisar as respostas quanto às
representações sociais de meio ambiente dos alunos e professores da área
urbana e rural em duas categorias: Naturalista e Antropocêntrica. A primeira,
naturalista, caracteriza-se por apresentar noções relativas aos aspectos naturais
do ambiente (bióticos e abióticos) e também noções espaciais (correspondendo
ao habitat do ser vivo). Já a segunda, antropocêntrica, evidencia a utilidade dos
recursos naturais para a sobrevivência do ser humano: tudo gira em torno das
necessidades humanas (AZEVEDO, 1999; REIGOTA, 2001).
É fundamental trabalhar a partir da visão que cada grupo social tem do
significado do termo “meio ambiente” e, principalmente, de como cada grupo
percebe o seu ambiente e os ambientes mais abrangentes em que está inserido.
São fundamentais, na formação de opiniões e no estabelecimento de atitudes
individuais, as representações dos grupos sociais aos quais os indivíduos
pertencem. Para Firmo et al. (2004), parte do principio que maneiras específicas
de pensar e agir são uma construção social, e sua interpretação deve estar
atrelada ao contexto cultural que o sustenta.
Nesta análise foram questionados primeiramente os professores e
posteriormente os alunos sobre: “o que é o Meio Ambiente para você”?
Constatou-se que 100% dos professores de ambas as áreas possuem uma visão
antropocêntrica do ambiente, evidenciadas nas falas: “É o que cerca o ser vivo e
que tem relação direta ou indireta com ele”. O lugar onde os seres vivos têm
como dever viver em harmonia bem com protegê-lo”. (professora de letras, escola
municipal 1b, 43 anos); “Uma preocupação com o futuro dos meus filhos e futuros
netos. Essencial à nossa vida”. (professora de letras, escola estadual 1a, 44
anos;. “É o meio onde vivemos: a natureza, os animais o ar e tudo ao nosso
redor” (professora matemática, escola estadual 2a, 30 anos); “É para mim o lugar
onde vivo dependo e tenho a obrigação de cuidar e preservar, pois dependo dele
para sobreviver”. (professora do normal superior, escola municipal, 2b, 46 anos);
“É o meio em que vivemos nele com seus recursos”. (professora do normal
superior, escola municipal, 2b, 23 anos). Com base nas falas destes professores
pode-se perceber que estão centradas de acordo com a visão Marxista, numa
dialética entre o homem/natureza, onde o ser humano “faz-se sujeito”, pois torna
a natureza objeto de suas ações (OLIVEIRA, 2005). Diante dessa dialética,
sujeito e objeto (homem/natureza), o homem se apropria da natureza pelo
trabalho e pelo trabalho se distancia dela (DIAS, 1994). À medida que o ser
humano se distanciou da natureza passou a encará-la, não mais como um todo
em equilíbrio, mas como um objeto a ser preservado, protegido e cuidado com
intuito de ser explorado, pois deste objeto o homem retira os recursos necessário
para a sua própria sobrevivência. Fica evidenciado que apesar dos professores
das escolas rurais estarem mais próximos da natureza não há diferença quanto
às representações de meio ambiente dos professores da área urbana. Essa
visualização da natureza deveria nos alertar, pois os professores são
considerados pelos alunos referenciais em relação às atitudes, percepções,
maneiras de agir, gestos entre outros aspectos ligados ao contexto pessoal e
educacional.
Analisando as representações sociais dos alunos das escolas públicas
sobre o Meio Ambiente, observaram-se diferenças significativas em relação à
área urbana e rural. Quanto aos alunos das escolas urbanas, observou-se que
73% possuem uma visão antropocêntrica do meio ambiente: ”É o meio em que
nós vivemos, moramos, exploramos e destruímos”. (aluna da escola estadual 1b,
14 anos); “é uma coisa muito importante, temos que cuidar dele sempre porque
sem ele não somos praticamente nada” (aluna da escola municipal, 14 anos).
Constatou-se também que 23% possuem uma visão naturalista representada nas
seguintes falas: “É a natureza composta da fauna e flora” (aluno da escola
municipal 1a, 14 anos); “é o lugar onde tem árvores, etc... tem aquela paisagem
ótima”. (aluna, escola municipal 1b, 17 anos). Nesta visão, o meio ambiente se
restringe aos aspectos naturais, sendo externo ao ser humano, podendo ser
considerado como sinônimo de natureza (REIGOTA, 1995). Apenas 4% não
responderam a pergunta.
Em relação aos alunos da área rural constatou-se que 88% destes alunos
possuem uma visão antropocêntrica do meio ambiente representada a seguir: “É
a nossa sobrevivência. Dependemos dele, pois nossos filhos, netos e bisnetos
que serão futuramente seus consumidores o querem de maneira boa e com
qualidade”. (aluna da escola municipal 2a, 15 anos); “é preservar o lugar onde
você mora não jogar lixo nos rios e não destruir as florestas” (aluna da escola
estadual 2b, 16 anos).
Mediante as falas mencionadas pelos alunos acima, o meio ambiente se
restringe aos recursos a serem utilizados pelos seres vivos, inclusive aos seres
humanos, em busca de garantia de sobrevivência. O meio ambiente é visto como
um meio para os seres humanos lucrem, tendo em vista ser o homem o centro da
natureza. Essa visão é herança de uma visão mecanicista da natureza, herdada
do período moderno, em consonância com o sistema capitalista industrial
crescente.
O Antropocentrismo é caracterizado pela teoria utilitarista em que a
natureza só tem valor se for considerada útil para o ser humano, que julga ter
direito e posse sobre ela, sobretudo por meio da ciência moderna e da tecnologia
(FERNANDES, 2002).
Quanto à visão naturalista cerca de 12% foram classificados nesta visão,
assim representada nas falas: “O meio ambiente para mim são gigantescas
árvores verdes sem nenhuma participação humana. O meio ambiente são as
coisas bonitas da vida: animais, plantas, árvores verdinhas, o meio ambiente é
tudo” (aluno escola estadual 2b, 15 anos); “Os rios, as matas, ás árvores como
ex: A nossa amazônia” (aluna, escola estadual 2b, 15 anos).
De acordo com Reigota (1995), quando denominamos “naturalistas” as
representações sociais desses alunos, consideramos que os elementos “daquilo
que alguns autores denominam como primeira natureza (ou natureza intocada)
têm importância muito maior, ou seja, esses alunos não incluem o ser humano
como elemento constitutivo do Meio Ambiente.
Quanto à visão naturalista, percebeu-se pouca representatividade destes
alunos, o que realmente chamou-nos atenção. Acredita-se que esse fato se
justifique por existirem espaços rurais diferenciados onde o rural nem sempre é
caracterizado como um indivíduo que estabelece relações amorosas com a
natureza, pois são estes em determinados momentos que mais exploram seus
recursos, são deixados de lado pelas ações políticas governamentais e precisam
da natureza para sobreviverem, e consequentemente os problemas ambientais
vão se tornando realidades locais.
Prosseguindo na análise, procurou-se compreender as representações
sociais sobre a prática pedagógica diante da Educação Ambiental adotada pelos
professores de ambas as áreas investigadas, questionando-os: “Você já
desenvolveu com os alunos algum projeto ou atividade de Educação Ambiental na
escola ou comunidade? Se a resposta for afirmativa quais projetos ou atividades
foram desenvolvidos”?
Neste item a ser analisado seguimos a mesma ordem anterior, iniciando
pelos professores. Cerca de 70% dos professores da escola urbana mencionaram
já terem desenvolvido algum projeto ou atividade de Educação Ambiental na
escola ou comunidade, e relataram as seguintes atividades: “Projeto de Educação
Patrimonial e o sobre o lixo urbano” (professora da escola municipal 1b, 42 anos).
“Escola Limpa” (professora da escola estadual 1a, 28 anos). Constatou-se que
20% destes professores mencionaram não ter desenvolvido essas atividades e
10% não responderam a questão proposta.
A escola é sem dúvida capaz de promover o ensinamento e a
aprendizagem, principalmente nas ações práticas agradáveis e adequadas com o
meio. O educador tem a função de mediador na construção de referenciais
ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de
uma prática social centrada no conceito da natureza. Para que os educadores
possam estar atuando nos conteúdos teórico-práticos é de fundamental
importância que estes possam estar preparados para assumirem o papel de
mediadores e transformadores de cidadãos comprometidos como o presente e
futuro ambiental (JACOBI, 2003).
Daí a importância, conforme Travassos (2004), de que os educadores
tomem consciência da necessidade de enfrentar esse desafio, a partir das
percepções e significados que atribuem ao Meio Ambiente, levando em conta o
papel que exercem as representações sociais na construção de um conhecimento
atualizado de Educação Ambiental. Freire (2003) nos ensina que a formação
permanente dos professores se faz pela reflexão crítica sobre a prática.
Partindo para a análise dos professores da área rural quanto à mesma
pergunta, verificou-se que 50% dos professores relataram já terem atuado com
alguma atividade ou projeto ambiental na escola, evidenciado nas falas a seguir:
“Quintais limpos, menos perigoso” (professora da escola municipal 2b, 46 anos);
“Projeto plantio de árvores e visita a nascente” (professor da escola municipal 2b,
39 anos).
O espaço rural no contexto escolar permite uma proximidade com a
natureza e ações pedagógicas ambientais tornam-se meios facilitadores para
compreensão da importância de se conviver em harmonia como o meio ambiente.
Não se pode elaborar estas atividades ou projetos ambientais baseados apenas
pela Constituição Federal ou mesmo em legislações específicas. É necessário
reorientar a práxis local (consciência e prática dos direitos e deveres) para a
construção da verdadeira atitude cidadã (TAVARES, 2003).
De maneira surpreendente 50% destes professores relataram não terem
realizado atividades ou projetos ambientais na escola ou comunidade. Entretanto,
acredita-se que por estarem mais próximos da natureza e ao meio ambiente,
esses professores poderiam ter mais condições para desenvolverem diversas
ações direcionadas as práticas ambientais locais, já que, o espaço é propício para
interações diretas com as questões ambientais. Para Elali (2003) independente do
espaço ocupado, mais do que em palavras, a educação tem na ação concreta
uma de suas principais bases, envolvendo atitudes e comportamentos que
repetindo-se e transformando-se no dia a dia, poderão vir a consolidar-se como
prática socialmente aceita. Aliás, a diferença entre o discurso e a prática é
considerada um dos motivos que justificam a dificuldade de
assimilação/reprodução pelos estudantes de alguns dos “conteúdos” ministrados
em classe pelos mestres.
Acredita-se que esta ação possa ser a mais adequada para as
necessidades educativas relacionadas às questões ambientais em escolas
públicas independente da área ocupada. O trabalho educativo com as questões
ambientais deve adaptar-se às realidades culturais, às características biofísicas e
socioeconômicas, evitando alienação ou estreitamento de visão que levem os
resultados pouco significativos (GUIMARÃES, 2003). Para Leff (2004, p. 257) “a
Educação Ambiental traz consigo uma nova pedagogia que surge da necessidade
de orientar a educação dentro do contexto social e na realidade ecológica e
cultural onde se situam os sujeitos e atores do processo educativo”. Analisando
as representações sociais dos alunos das escolas públicas sobre o a participação
de práticas ambientais na escola, fizemos a seguinte pergunta: “Você já participou
de alguma atividade e ou trabalho de Educação Ambiental organizado pela sua
escola? Em caso afirmativo cite as atividades”.
Primeiramente identificaram-se os alunos da área urbana onde constatou-
se que 67% mencionaram ter participado de alguma atividade de Educação
Ambiental na escola. Dentre as atividades mencionadas destacamos as
seguintes: gincana ambiental, plantio de árvores, distribuição de latas de lixo e
lixeiras nas salas de aula, o projeto de feira de ciências e o plantio de árvores.
Para Jacobi (2003), a educação ambiental deve ser vista como um
processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de
conhecimento e formar cidadãos com consciência local e planetária. Cerca de
30% dos alunos relataram não ter participado destas ações ambientais. A estes,
falta oportunidades para inserirem-se em programas de Educação Ambiental
tornando-se cidadãos comprometidos com a o meio ambiente. Cidadania tem a
ver com pertencer a uma coletividade e criar identidade com ela (FEAM, 2002).
Apenas 2% não responderam a questão.
Em relação aos alunos da área rural 79% relataram ter participado de
atividades ambientais na escola. Entre as atividades de Educação Ambiental
mencionadas por estes alunos destaca-se a visita a nascente do rio, passeios
pelas ruas da cidade e pela borda do rio recolhendo o lixo nestes locais e
principalmente o plantio de árvores. A Educação Ambiental formal assume cada
vez mais uma função transformadora, na qual a co-responsabilização dos
indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de
desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003). Ainda assim,
constatou-se que 21% destes alunos disseram não ter participado destas
atividades de Educação Ambiental na escola, o que surpreende, pois
pressupomos que a falta destes alunos estejam associadas a problemas de
saúde, o trabalho na lavoura, a migração para outra área, o desinteresse pelas
atividades nesta área, a própria deficiência no conhecimento e principalmente a
ineficiência na ação dos professores perante temáticas ambientais.
O objetivo da Educação Ambiental formal é sem dúvida alguma, promover
a formação de um conhecimento da realidade ambiental, visando à formação de
cidadãos críticos e reflexivos, que possam perceber a complexidade do meio
ambiente em que vivem e participem da (re) construção de uma sociedade mais
justa e sustentável (OBARA, 2002). De acordo com Leff (2004) a educação
ambiental fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais, a fim de, educar para
formar um pensamento crítico, criativo, e prospectivo, capaz de analisar as
complexas relações entre processos naturais e sociais, para atuar no ambiente
com uma perspectiva global, mas diferenciada pelas diversas condições naturais
e culturais que o definem.
CONCLUSÃO
O meio ambiente para os professores e alunos de ambas as áreas (urbana
e rural) do município de Teófilo Otoni é fortemente representado na visão
antropocêntrica, em que se destacam os alunos das escolas rurais sendo
superiores aos alunos das escolas urbanas. Estando mais próximos da natureza
pressupõe-se uma maior visão naturalista. Apesar de estarem mais próximos da
natureza estes alunos não convivem em harmonia como o meio ambiente, pois
compreendem o este espaço natural como um objeto de uso, dominação e
exploração de seus recursos para sua própria sobrevivência. A natureza só tem
valor se lhe oferecer algo em troca para sua exploração.
Diante da prática pedagógica ambiental, ficou evidenciado que os
professores das escolas urbanas realizam mais atividades ou projetos em
educação ambiental na escola ou comunidade, porém quando foram confrontadas
estas informações com a participação dos alunos nestas atividades realizadas
pelos educadores, constatou-se que os alunos das escolas rurais participaram
mais efetivamente das atividades ambientais em sua escola. Isto nos mostra que
os alunos das escolas rurais possuem uma vantagem em relação aos alunos das
escolas urbanas devido a proximidade com a natureza, tendo os rios, as plantas,
a terra, os animais, enfim, diversas opções para inserção de projetos educativos
na área ambiental. De um modo geral observa-se que as práticas de Educação
Ambiental e representações sociais de professores e alunos do município de
Teófilo Otoni quanto ao meio ambiente estão relacionadas aos universos onde
estão inseridos. São os espaços socioculturais que os orientam na (re)
elaboração destas práticas ambientais, e que muitas das vezes são
negligenciados na elaboração das propostas pedagógicas de Educação
Ambiental. Portanto, as atividades de Educação Ambiental precisam ser
desenvolvidas levando em consideração a realidade socioambiental da
localidade.
Compreendeu-se que a escola tem um papel imprescindível no contexto
ambiental, pois através de ações práticas em conjunto com a comunidade poderia
minimizar os problemas socioambientais locais. É inaceitável agir com ações
ambientais educativas somente quando aparecem as datas comemorativas. O
processo que envolve e permeia a Educação Ambiental tem que ser contínuo e
baseado na (re)construção da educação nos valores humanos, envolvendo a
escola, família e comunidade local. Somente assim acredita-se que possa
acontecer uma ação de transformação na consciência destas pessoas,
sensibilizando-os quanto às práxis ambientais corretas, onde a racionalidade
ambiental possa imperar e transformá-los em exímios cidadãos comprometidos
com o futuro da humanidade.
REFERÊNCIAS
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