Resenha Annual Review

download Resenha Annual Review

of 10

Transcript of Resenha Annual Review

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    1/10

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROCENTRO DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    INSTITUTO DE PSICOLOGIAPS-GRADUAO EM PSICOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADES E

    ECOLOGIA SOCIAL

    ANLISE CRTICA: SELEO DE ARTIGOS DA BASE ANNUAL REVIEW

    JOS GARAJAU DA SILVA NETO

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    2/10

    RIO DE JANEIRO2015

    Introduo

    As ltimas dcadas tm mostrado de forma determinante, a forma como as

    relaes de produo e distribuio vm imprimindo consequncias nefastas tanto

    para os indivduos como para o ambiente. Em nvel individual, a sociedade do

    capital fortalece a reificao do ser humano como autmato conformando-o

    cadeia produtiva de modo a faz-lo compreender a si mesmo e a natureza como

    utilitrios: ele, ativo na diviso do trabalho e a natureza, sem valor aferido,

    provendo os recursos produtivos.

    O presente trabalho visa trazer tona uma reviso diante dos argumentos

    direcionados ao reconhecimento do carter nocivo do atual modelo de sociedade.

    Nos ltimos anos, mais precisamente partir dos anos 70, tornou-se inevitvel

    pensar a forma como natureza apropriada pela humanidade de modo a

    engendrar uma relao de destruio irreparvel. A atualidade exibe, tanto de

    forma indireta, no engessamento das relaes sociais, como de forma direta, em

    um cataclismo ambiental latente, testemunhos dessa incapacidade das instituies

    sociais de alcanarem um equilbrio de foras na ao humana quilo que a

    natureza dispe. Goldman e Schurman dizem que

    The neglect of nature in contemporary Western social theory perhapsshows the extent to which the massive appropriation of naturalresources upon which the modern world depends has come to be

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    3/10

    assumed as a fact of life.1

    Em um sistema econmico pautado pelo crescimento ininterrupto e pela

    superproduo de bens, a falta do questionamento dos pressupostos econmicos

    que sustentam as atuais relaes de produo se tornou impossvel. E para c

    que seguimos nessa reviso. Na busca do entendimento do que foi produzido nos

    ltimos anos a fim de trazer tona esse debate.

    O que foi produzido partir de meados da dcada de 70, aps o estouro de

    teorias ambientalistas dizia respeito apenas a mensurar desgastes, ou dar

    prioridade ao agregado econmico geral em detrimento da proteo ambiental.

    O desenvolvimento sustentvel

    No fim da dcada de 80 foi estabelecido pela ONU atravs do documento Nosso

    Futuro Comum, a noo de desenvolvimento sustentvel. primeira vez faz-se

    parecer que uma nova forma de organizao produtiva e distributiva estaria em

    voga. Ao contrrio, no entanto, o que interessou os detentores dos meios de

    produo e seus beneficirios foi justamente qualificar de fato a natureza como umrecurso, legitimando cinicamente discursos sobre a sustentabilidade que no

    invertem essa relao enviesada.

    Champions of sustainable development such as WCED subordinatedsustainability to development. They were unaware of, or unsympatheticto, individuals who viewed the globe as subject to natural laws that limitgrowth and advocated social ideas that question the desirability of short-term, self-sustained growth.2

    Os claros sinais da insustentabilidade estrutural na atual conjuntura parecem no

    ser levados em considerao, mesmo com a confirmao vinda da externalidade,

    1GOLDMAN, M; SCHURMAN, M.A,Closing the "Great Divide": New Social Theory on Society andNature.Annual Review of Sociology, v.26, 2000, p.563.

    2CLARK, J.G.,Economic Development vs. sustainable societies: Reflections on the Players in aCrucial Contest.Annual Review of Ecology Evolution and Systematics, v.26, 1995, p.229.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    4/10

    do meio ambiente, atravs das secas, catstrofes ambientais dos mais diversos

    tipos, da poluio do ar, dos rios e a degradao da terra.

    Com o discurso da suposta sustentabilidade contraditoriamente atrelado

    produo, legitima-se o discurso dos economistas neoclssicos, do evangelho do

    livre-mercado, que emergiu na crise de 1929 e foi fortalecido aps a 2 Guerra

    Mundial, como soluo para as dificuldades do mundo.

    A natureza como lugar do indivduo, paradoxalmente, vista como mera fonte de

    reproduo de necessidades (mesmo que tanto em nveis quantitativos como

    qualitativos, questionveis) da humanidade. Nelson faz uma observao intrigante,

    j que, nas palavras do autor, Keynes regarded the economic value system as a

    crass and lower species of morality that should be abandoned as soon as sufficient

    material advance made this possible.3

    No entanto, mesmo com o pai do liberalismo econmico tendo reconhecido a

    faceta nefasta da sociedade do capitalno que vamos chamar aqui de

    moralidade produtiva, reconhecemos a falta, na literatura mdia, de um

    enfrentamento crtico em relao forma como as diretrizes gerais do mercado

    atacam diretamente o dito estado de bem-estar social.

    Os limites da economia heterodoxa para o meio ambiente

    Os ndices econmicos, via de regra esto vinculados necessariamente a valores

    mensurveis monetariamente. No obstante, h, nos dias de hoje, um movimento

    entre os economistas, deecologizaoda economia. Tal movimento se pauta na

    necessidade de se elevar a natureza a um bem comvalor intrnseco, de modo a

    3NELSON, R.H.,Sustainability, efficiency and God: Economic Values and the SustainabilityDebate.Annual Review of Ecology, Evolution and Systematics, v.26, 1995, p.144.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    5/10

    tal valor ser apreciado no processo de produo. Porm, essa quebra de

    paradigma, da estrita viso econmica considerao de fatores ecolgicos como

    determinantes para a definio de diretrizes produtivas e distributivas

    inevitavelmente traria consigo uma necessria ressignificao da razo de ser do

    indivduo como ser social. Nas palavras de Leiserowitz, isso, que o autor chamou

    dea Grande Transio, nos parece um momento propcio para o surgimento de

    novas relaes de trabalho, de uma diviso de riquezas justa e,

    fundamentalmente, de uma reelaborao da forma como o sujeito interage com

    seu meio. Estaramos, dessa maneira, potencialmente direcionados a um modus

    operandidistinto, oriundo da real vontade de se recriar a relao entre a sociedade

    e a natureza. O autor diz que

    The Great Transition scenario posits a world beyond 2050 in which thequality of human knowledge, creativity and self-realization are themeasure of development, not the quantity of goods and services. Whileproviding material sufficiency for all, it embraces equality, empowerment,and deep respect for the intrinsic values of nature.4

    Dessa maneira, coloca-se em questo o discurso partir do qual a natureza

    tratadaapenascom fins de satisfazer necessidades humanas, como recurso que,

    mesmo finito, vazio de valor. Tal pressuposto se encontra em vias de tornar-se

    anacrnico. Questionamentos acerca da lgica do crescimento, conceitos como os

    dedesenvolvimento sustentvel, sustentabilidadeeconservaovm atestando a

    atual preocupao com o cenrio econmico e social. Nesse sentido, a unio

    desses conceitos se torna igualmente limitada pelas prprias condies

    apresentadas pelo atual cenrio. Como dito por Rudel, Impact, treadmill, growth

    machine, and ex- traction theories emphasize the ways in which economic

    4LEISEROWITZ, A.A et al.,Sustainabilty Values, Attitudes, and Behaviors: A Review ofMultinational and Global Trends.Annual Review of Environment and Resources, v. 31, 2006, p.435-6.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    6/10

    production leads to environmental degradation without much expectation of

    conditions improving under market capitalism.5

    A estrutura do capitalismo e a conservao

    De todo modo, alguma forma de degradao inevitvel, haja visto a grande

    escala da produo na atualidade. Torna-se complexo balizar o que representa de

    fato a conservao e a sustentabilidade como conceitos efetivos. Smith e

    Wishnie so contundentes no que diz respeito conservao como conceito em

    nvel fundamental, dizendo que

    [] labeling something conservation implies that it exists because itprevents the overexploitation or degradation that would otherwise occur.Such cases have been labeled epiphenomenal conservation [Hunn

    1982], but might also be termed coexistence (for resident species) andsustainable use (for habitats).6

    No h como se evitar a ao nociva da humanidade. Por outro lado, que o atual

    cenrio de superproduo nocivo aos indivduos por sua lgica constitutiva, qual

    seja, a de naturalizar a sociedade de consumo como a nica possvel, atrelando o

    meio ambiente como varivel indissocivel nessa frmula. Nesse sentido,

    entendemos, como Palmer et al, que [a] thing is right when it tends to preserve the

    integrity, stability, and beauty of the biotic community. It is wrong when it tends

    otherwise7.

    Desse modo, h a necessidade de uma reforma social que acima de tudo,

    considere essa ao antrpica em sua forma mais integral. A malignidade

    5RUDEL, T.K; ROBERTS, J.T; CARMIN,J.Political Economy of the Environment.Annual Review ofSociology, v. 37, 2011, p. 226.

    6SMITH,E.A; WISHNIE M.,Conservation and Subsistence in Small Scale Societies. AnnualReview of Anthropology, v.29, 2000, p.501.

    7PALMER, C. et al.,Environmental Ethics. Annual Review of Environment and Resources, v. 39,2014, p.427.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    7/10

    essencialatribuda e reafirmada humanidade tanto na histria da filosofia como

    no decorrer das definies de teoria poltica no condensa toda a hecatombe

    ambiental, porm, naturalizar a inevitabilidade de tal essncia destrutiva na

    relao sujeito-natureza motivo de receio.

    No atual modelo poltico, tais aes de contrapeso de encontram no mbito das

    polticas pblicas. Toda a esfera da reorganizao social, econmica e

    consequentemente ambiental perpassa um mecanismo do Estado, este por sua

    vez erigido na tradio poltica iniciada em Maquiavel. De acordo com Nelson in

    our secular age, people are not likely to speak in mainstream policy circles of the

    wickedness of mankind. Yet, among radical members of the environmental

    movement, who express the strongest doubts about the sustainability of our current

    civilization, there is a strong sense of current human depravity.8 Assim, ao mesmo

    passo em que se considera uma inevitabilidade da ao antrpica como

    estruturalmente destrutiva, oculta-se, na esfera dos centros de ao possveis, tal

    centralidade do indivduo nesse procedimento.

    No quadro de anlise de uma possvel mudana social, seria os padro de

    sociabilidade que tornaria possvel a emergncia de uma lgica coletivista para

    alm individualismo preponderante no atual modelo. Inevitavelmente, no s as

    questes ambientais estariam fora da viso do lucro individual, mas tambm o

    prprio sujeito delas se despojaria. Nas palavras de Smith e Wishnie,

    Environmental conservation raises collective action problems because itusually requires individually costly actions that produce collectivebenefits, thereby providing the opportunity (and incentive) for free-riding.Hardins (1968) famous essay on the tragedy of the commons involvesjust such a scenario, where individual herders are unwilling to pay thecosts of conservation (limiting herd size) because the benefits of doing

    8NELSON, R.H., op. cit., p.150.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    8/10

    so are shared collectively.9

    No obstante, a natureza errante do homem retroalimenta esse padro.. O

    processo de automatizao implicado pela diviso do trabalho no leva a nenhum

    outro caminho que no o dessa insustentabilidade estrutural em todos os nveis,

    pois no h sadas aparentes para a autonomia e emancipao desse ser social.

    Concluso

    Se estruturalmente nenhum ideal de sociedade sustentvel possvel, nota-se

    como o cerne dessa crise se encontra, no obstante, no modo de produo.

    Partindo do pressuposto de uma sociedade na qual a propriedade dos meios de

    produo (ou a propriedade privada) possa se tornar comum (e aqui surgem

    figuras conhecidas tambm no mbito ideal, do Estado que tambm idealmente

    legitima a vontade de seus cidados), lcito se pensar em uma forma comunitria

    que contraponha a automatizao, em uma configurao na qual a

    responsabilidade social parta igualmente do sujeito em direo ao verdadeiro bem

    estar social. E nesse sentido concordamos com Clark, que diz

    At a generalized level, people involved in common property systemsparticipate closely in its operation, cooperate to ward off external threatsto their resources, and normally recognize the desirability of a steady-state society. If success attends these efforts, the system at somemoment may be described as sustainable.10

    Mesmo em nvel geral, tal anlise para ns ganha flego na atualidade. Trazer

    tona os questionamentos que colocam a natureza humana em um lugar de

    vulnerabilidade. Reconhecemos tal vulnerabilidade, inversamente, na necessidade

    de auto-enfrentamento dos sujeitos.

    9SMITH,E.A; WISHNIE M., op. cit., p.504.10CLARK, J.G, op. cit., p.234.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    9/10

    Por mais que os fatos apresentem-se de forma alarmante no que diz respeito

    ao antrpica e ao esgotamento do meio ambiente e, por mais que a situao

    vulnervel do homem em relao sua posio como ator-produtivo seja de um

    aprisionamento passivo inato, tais aes de cunho coletivista possuem potencial

    de emergncia, fundamentalmente dado o nvel agudo como tais contradies se

    impem na atualidade.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CLARK, J.G.,Economic Development vs. sustainable societies: Reflections

    on the Players in a Crucial Contest.Annual Review of Ecology Evolution and

    Systematics, v.26, 1995.

    GOLDMAN, M; SCHURMAN, M.A,Closing the "Great Divide": New Social

    Theory on Society and Nature.Annual Review of Sociology, v.26, 2000.

    LEISEROWITZ, A.A et al.,Sustainabilty Values, Attitudes, and Behaviors: AReview of Multinational and Global Trends.Annual Review of Environment and

    Resources, v. 31, 2006.

    NELSON, R.H.,Sustainability, efficiency and God: Economic Values and the

    Sustainability Debate.Annual Review of Ecology, Evolution and Systematics,

    v.26, 1995.

    PALMER, C. et al.,Environmental Ethics.Annual Review of Environment and

    Resources, v. 39, 2014.

    RUDEL, T.K; ROBERTS, J.T; CARMIN,J.Political Economy of the Environment.

    Annual Review of Sociology, v. 37, 2011.

    SMITH,E.A; WISHNIE M.,Conservation and Subsistence in Small Scale

    Societies.Annual Review of Anthropology, v.29, 2000.

  • 7/25/2019 Resenha Annual Review

    10/10