resenha-banalizacao

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Nesse, ele tenta dar uma resposta a questão que muitos fazemos "Por que a maioria das pessoas tolera um sistema que gera tanto sofrimento e injustiça? Por que, sendo vítimas, não apenas toleram, como ainda contribuem ativamente para o sistema opressivo que dizem repudiar? Por que não se solidarizam e até mesmo infligem sofrimentos aos outros? Por que está ocorrendo esse processo de banalização do mal, no qual as pessoas não mais se importam, não se mobilizam?". Isso sempre me intrigou muito, principalmente no que se refere ao meu próprio comportamento. E tem também a conivência da crise ambiental e a emblemática do nazismo (longe de ser caso único ou coisa antiga), na qual atrocidades contaram com uma colaboração ativa da população. A hipótese do Dejours é de que o trabalho tem um papel essencial nesse processo. Segundo ele, a forma como o trabalho é organizado e a imensa carga de sofrimento psíquico que gera, demanda mecanismos de defesa individuais e coletivos, que agravam a alienação e vão minando a capacidade de mobilização das pessoas. Aqui, ele utiliza e desenvolve os argumentos do seu livro incrível "A Loucura do Trabalho", relacionando-os com o processo de banalização do mal. Demonstra também como esse processo vai sendo mantido pela difusão do medo e da vergonha, pela negação do sofrimento, pela valorização da virilidade, pela racionalização do mal e por mentiras institucionalizadas.

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Nesse, ele tenta dar uma resposta a questo que muitos fazemos "Por que a maioria das pessoas tolera um sistema que gera tanto sofrimento e injustia

Nesse, ele tenta dar uma resposta a questo que muitos fazemos "Por que a maioria das pessoas tolera um sistema que gera tanto sofrimento e injustia? Por que, sendo vtimas, no apenas toleram, como ainda contribuem ativamente para o sistema opressivo que dizem repudiar? Por que no se solidarizam e at mesmo infligem sofrimentos aos outros? Por que est ocorrendo esse processo de banalizao do mal, no qual as pessoas no mais se importam, no se mobilizam?".

Isso sempre me intrigou muito, principalmente no que se refere ao meu prprio comportamento. E tem tambm a conivncia da crise ambiental e a emblemtica do nazismo (longe de ser caso nico ou coisa antiga), na qual atrocidades contaram com uma colaborao ativa da populao.

A hiptese do Dejours de que o trabalho tem um papel essencial nesse processo. Segundo ele, a forma como o trabalho organizado e a imensa carga de sofrimento psquico que gera, demanda mecanismos de defesa individuais e coletivos, que agravam a alienao e vo minando a capacidade de mobilizao das pessoas. Aqui, ele utiliza e desenvolve os argumentos do seu livro incrvel "A Loucura do Trabalho", relacionando-os com o processo de banalizao do mal.

Demonstra tambm como esse processo vai sendo mantido pela difuso do medo e da vergonha, pela negao do sofrimento, pela valorizao da virilidade, pela racionalizao do mal e por mentiras institucionalizadas.

Durante todo o livro, faz paralelos com o Nazismo, que teve a colaborao ativa de toda uma populao de pessoas comuns, "boas", resultando em atrocidades que causam perplexidade at hoje.

Discute as polmicas reflexes da Hannah Arendt sobre a banalidade do mal (foi ela que cunhou a expresso), no famoso caso Eichmann, julgamento de um chefe nas operaes de execuo de judeus. Pelos depoimentos, ele mostrava ser uma pessoa banal e diligente, com o pensamento suspenso sem ser movido por uma inteno antissemita, como a maioria ali, seguindo ordens dentro de uma mquina maior, ao invs de ter uma responsabilidade individual.

Ao final, enfatiza que para desbanalizarmos o mal fundamental atacarmos as causas de sofrimento psquico e fsico no trabalho, a alienao, a bobeira da virilidade e as mentiras institucionalizadas, para que voltemos a nos sensibilizar, parar de contribuir e nos mobilizar, e quem sabe, transformar essa sociedade doente em que vivemos.

Enfim, o livro mais legal do que essa resenha. Emoticon tongue ah, lembrei de algumas coisas tb:

"Mais crimes so cometidos em nome da obedincia do que da desobedincia. O perigo real so as pessoas que obedecem cegamente qualquer autoridade. [...] O maiores crimes do mundo no foram feitos por pessoas que quebram regras. Mas sim por pessoas que, seguindo ordens, despejam bombas e massacram vilarejos"

- Banksy

"Quero para j, se possvel, esclarecer to-somente o fato de tantos homens, tantas vilas, cidades e naes suportarem s vezes um tirano que no tem outro poder de prejudic-los enquanto eles quiserem suport-lo; que s lhes pode fazer mal enquanto eles preferem agent-lo a contrari-lo.

Digno de espanto, se bem que vulgarssimo, e to doloroso quanto impressionante, ver milhes de homens a servir, miseravelmente curvados ao peso do jugo, esmagados no por uma fora muito grande, mas aparentemente dominados e encantados"

- Etienne de La Botie, Discurso sobre a Servido Voluntria