Resenha Bortoni Ricardo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA CAMPUS JAGUARÃO SOCIOLINGUÍSTICA DISCENTE: Santiago Bretanha Freitas DOCENTE: Leandro Zanetti Lara A obra “educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula”, de autoria de Stella Maris Bortoni- Ricardo, compõe-se de sete capítulos, escritos propositalmente em linguagem coloquial, assim distribuídos: 1) A sociedade brasileira: características sociolinguísticas, 2) Diversidade linguística e pluralidade cultural no Brasil, 3) A variação linguística em sala de aula, 4) A comunidade de fala brasileira, 5) O português brasileiro, 6) Competência comunicativa, 7) A variação lingüística no português brasileiro. Os capítulos são embasados principalmente nas linhas teóricas da sociolinguística variacionista, da sociolinguística interacional e da etnografia da comunicação, e, por fim, as problemáticas neles levantadas podem ser complementadas pelas “Sugestões de leituras” (p. 107-108), propostas pela autora. Para o próximo fim, nos atrelaremos em resenhar o capítulo 5 da presente obra, “O português brasileiro”.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPACAMPUS JAGUAROSOCIOLINGUSTICADISCENTE: Santiago Bretanha FreitasDOCENTE: Leandro Zanetti Lara

A obra educao em lngua materna: a sociolingustica em sala de aula, de autoria de Stella Maris Bortoni-Ricardo, compe-se de sete captulos, escritos propositalmente em linguagem coloquial, assim distribudos: 1) A sociedade brasileira: caractersticas sociolingusticas, 2) Diversidade lingustica e pluralidade cultural no Brasil, 3) A variao lingustica em sala de aula, 4) A comunidade de fala brasileira, 5) O portugus brasileiro, 6) Competncia comunicativa, 7) A variao lingstica no portugus brasileiro. Os captulos so embasados principalmente nas linhas tericas da sociolingustica variacionista, da sociolingustica interacional e da etnografia da comunicao, e, por fim, as problemticas neles levantadas podem ser complementadas pelas Sugestes de leituras (p. 107-108), propostas pela autora.Para o prximo fim, nos atrelaremos em resenhar o captulo 5 da presente obra, O portugus brasileiro. Para lanar mos aos vetores que se implicam na construo do reflexo indentitrio do Portugus Brasileiro (PB), antes, necessrio quebrar o chavo de que o portugus falado no Brasil uniforme, homogneo, sendo este mote defendido, afirmado, e, at mesmo elogiado por pessoas de diferentes posicionamentos sociais, incluso de autoridade nos estudos lingusticos; Para Rodolfo Ilari e Renato Basso (2006) a uniformidade do PB em grande parte um mito, e, para os linguistas, contriburam para a crena do monolingusmo, de certa forma, o nacionalismo, a viso limitada do fenmeno lingustico, oferecida pela gramtica normativa, que s leva em conta a norma culta, e a insensibilidade da sociedade como um todo em relao variao.Seguindo os raciocnios de Bortoni-Ricardo (2004), necessrio quebrar com as nomenclaturas apresentadas pelas gramaticas antigas que tinham por objetivo descrever o PB, principalmente por trazerem nestas terminologias uma forte carga de preconceitos e por tratarem de elementos que se constituem em fronteiras fludas. A autora (ibidem) prope que para se analise a variao do PB se trace trs linhas imaginrias que orientem a sua compreenso; seriam estas constitudas em trs contnuos: o contnuo de urbanizao, o contnuo de oralidade-letramento e o contnuo de monitorao estilstica.O contnuo de urbanizao se constituiria em dois polos extremos: os falares rurais mais isolados e os falares urbanos, que ao longo do tempo sofreram influncia da codificao lingustica e se definem diacronicamente pelos padres ortogrficos e ortopicos, pela composio de dicionrios e de gramticas.Em confluncia e reflexo do contnuo de urbanizao se apresenta o contnuo de oralidade-letramento; neste se distinguem em dois polos opostos os falares rurais assinalados pelo isolamento, e os falares urbanos, que possuem como caractersticas principais a influncia de agentes padronizadores; nessa linha imaginria que denominamos contnuo de urbanizao, os domnios onde predominam as culturas de letramento esto na ponta da urbanizao, enquanto na outra extremidade encontraremos predominantemente a cultura da oralidade. Por ltimo, no contnuo de monitorao estilstica a autora situa em campos distintos as interaes totalmente espontneas at as que so em sua totalidade planejadas e que exigem por parte do falante alto grau de monitorao; Bortoni-Ricardo esboa de modo geral trs fatores que nos levam a monitorar o estilo durante a enunciao, que seriam o ambiente, o interlocutor e o tpico da conversa.Apresentados os contnuos a autora se dispe a analisar falas transcritas de falantes de diferentes regies brasileiras e principalmente levando em conta as variaes dentro do contnuo de urbanizao que norteia toda a sua obra. Concluindo a sua anlise, a sociolinguista chega concluso de que o Portugus Brasileiro no uma lngua uniforme e, atravs da constatao da naturalidade da variao traa nas variantes a riqueza que se mostra na heterogeneidade. Em concordncia com os preceitos levantados por Ilari e Basso (2006), Bortoni-Ricardo problematiza a crena no monolingusmo e diz que:

a ideia de que somos um pas privilegiado, pois do ponto de vista lingustico tudo nos une e nada nos separa, parece-me, contudo, ser apenas mais um dos grandes mitos arraigados em nossa cultura. Um mito, por sinal, de consequncias danosas, pois na medida em que no se reconhecem os problemas de comunicao entre falantes de diferentes variedades da lngua, nada se faz tambm para resolv-los. (BORTONI-RICARDO, 1984, p.17)

O livro aborda questes ricas, principalmente a cerca das variaes e das variantes no Brasil, bem como lana mos s principais discusses sobre a sociolingustica no Brasil, oferecendo aos leigos no assunto um aporte bsico para que se compreenda a teoria, as suas extenses, implicaturas, campo de estudo e objeto de anlise.A obra em si se volta a professores e graduandos em Letras e Pedagogia, e a principal contribuio dessa obra traar paralelos entre a sociolingustica e as metodologias de ensino de lngua materna; campo vasto e pouco explorado no meio editorial e acadmico.Por fim, cremos ser grande a contribuio de Stella Maris na construo de uma didtica no preconceituosa do ensino de lngua. Por fim, concordando com Marcos Bagno, que faz a apresentao do livro, que ressalta uma frase de Bortoni-Ricardo que se queda como mxima: os chamados erros que nossos alunos cometem tem explicao no prprio sistema e processo evolutivo da lngua. Portanto, podem ser previstos e trabalhados com uma abordagem sistmica. Referncias: BORTONI-RICARDO, S. M.Educaoem Lngua Materna: a Sociolingstica em sala de aula.So Paulo: Parbola, 2004.BORTONI-RICARDO, S. M. (1984): Problemas de comunicao interdialetal. in Sociolingustica e ensino do vernculo (Revista Tempo Brasileiro, n 78/79).ILARI, R; BASSO, R. O portugus da gente: a lngua que estudamos, a lngua que falamos. So Paulo: Contexto, 2006.