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  • Juliana Vinuto Lima e Felipe Lrios de Souza Monteiro

    BURAWOY, Michael (2009). O marxismo encontra Bourdieu.

    Editora UNICAMP, Campinas.

    Juliana Vinuto Lima e Felipe Lrios de Souza Monteiro*

    A obra O marxismo encontra Bourdieu fruto de seis conferncias que Michael Burawoy, um dos principais tericos marxistas contemporneos e professor de sociologia na Universidade de Berkeley (EUA), proferiu no Havens Center de Wisconsin. Neste instigante trabalho, Burawoy estabelecer conversaes imaginrias entre Pierre Bourdieu e os tericos marxistas preferidos do autor (alm dele mesmo e do prprio Marx): Antonio Gramsci, Frantz Fanon, Simone de Beauvoir e Wright Mills. Burawoy justifica suas escolhas alegando que Bourdieu sempre demonstrou uma postura muito hostil em relao queles autores (com exceo de Mills) e criou, por meio dessas conferncias, uma oportunidade para esses autores responderem s crticas de Bourdieu. O resultado um minucioso estudo comparativo entre os mais diversos enfoques do marxismo e a obra de um dos mais influentes nomes da sociologia contempornea: Pierre Bourdieu.Analisando a presente obra de Burawoy, no demoramos para perceber algumas constantes, seja no que se refere ao retorno reiterado a certas temticas, seja no estilo do autor. Em primeiro lugar, podemos afirmar que ntida sua preocupao em analisar comparativamente o modo como cada um dos autores, Bourdieu e seus interlocutores, concebem a conscincia dos grupos dominados. Teriam esses grupos (mulheres, o proletariado, minorias tnicas, entre outros) conscincia de sua prpria dominao? possvel existir bom senso dentro do senso comum? Qual o papel dos intelectuais ante a dominao? Outra constante a comparao entre o escopo terico de cada autor e seu engajamento poltico. Nesse sentido, o papel dos dados biogrficos de suma relevncia em cada um dos captulos-aulas que compe o livro, recebendo espao bastante significativo na obra.* Graduandos em Cincias Sociais USP.

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    Nesses dois primeiros pontos, Burawoy ter em mente, a todo momento, a oposio gramsciana entre intelectual tradicional e intelectual orgnico, refletindo outra oposio, aquela entre teoria e prtica, que tambm permeia a obra. Ao concluir a parte introdutria da obra que analisamos, Burawoy sintetiza quais so as perguntas que, cada um a sua maneira, todos os tericos marxistas que ele pe em dilogo imaginrio com Bourdieu faria ao socilogo francs: qual a relao entre a teoria e prtica? Qual a relao entre a sociologia e o mundo que ela revela? (BURAWOY, 2009, p. 20). Com base nesse questionamento, Burawoy expe os dois paradoxos que Bourdieu ofereceria: por um lado, o fato de Bourdieu, a despeito de defender a independncia do intelectual e o isolamento da sociologia do mundo social, ter sido o maior socilogo pblico de sua gerao: Como ento reconciliar a autonomia e o engajamento, a cincia e poltica? (idem, ibidem) questiona-se Burawoy. J no que diz respeito ao segundo paradoxo decorrente daquelas indagaes, Burawoy nos diz:H classes dominantes que no possuem qualquer interesse em saber nada sobre sua prpria dominao simblica (embora pudessem compreend-la); e h classes dominadas que no esto aptas a compreender sua submisso (embora isso pudesse interessar) (idem, ibidem).Esse o ponto de fundo sobre o qual Burawoy desenvolver os encontros imaginrios entre Bourdieu e os intelectuais marxistas citados anteriormente. importante ainda notar que em muitas oportunidades Burawoy far o exerccio de colocar vrios autores em dilogo com Bourdieu numa mesma conferncia, ou seja, ainda que cada captulo se refira a um encontro especfico com Bourdieu, esses autores sero continuamente resgatados por Burawoy em outros dilogos. Nessas conversas, poderemos observar tambm que so constantes as crticas, nem sempre amistosas, que Burawoy dirige a Bourdieu. No entanto, ainda que pontualmente, os elogios tambm aparecem, como a reiterada afirmao de que Bourdieu foi o maior socilogo pblico de sua gerao, alm da afirmao de que Bourdieu elaborou o que Marx deixara sem elaborar, a saber, as chamadas superestruturas sociais, com uma anlise mais estrutural e funcional do que somente histrica (idem, p. 16).

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    Bourdieu e MarxComo no poderia ser diferente, o livro em questo tem como primeiro captulo um possvel dilogo entre Bourdieu e o prprio Marx. E tais autores, mostra Burawoy, tem uma trajetria por vezes semelhantes: Marx e Bourdieu tiveram uma fase de acerto de contas com suas respectivas heranas filosficas, criticando a forma como seus pares intelectuais estavam distanciados das prticas do mundo real. Porm, enquanto Marx (e, no caso, tambm Engels) utilizou tal situao para um estudo sobre a sucesso de sistemas de produo econmica, acarretando assim no estudo sobre dinmica interna em um campo especfico, Bourdieu trabalhou sobre a coexistncia e interconexo de campos de produo cientfica e cultural.Entretanto, o ponto que Burawoy mais destaca nessa suposta conversa entre Marx e Bourdieu o fato de ambos trabalharem pelo desmascaramento da dominao, sendo que o primeiro destaca o carter econmico, enquanto o segundo o faz com o carter simblico. Ambos, cada um em sua poca, trabalham com a dominao que no entendida como tal. Segundo Burawoy, Bourdieu vai mais alm: supera a ideia de objetividade cientfica, defendendo que a sociologia que aplicamos a nossos objetos deve ser aplicada, igualmente e justamente, a ns mesmos (idem, p. 26).Apesar de tanto Marx quanto Bourdieu acreditarem que as ideias dominantes so as ideias da classe dominante, suas anlises sobre dominao definem-se, dentre outras coisas, com base no tratamento inicial que dado ao conceito. Enquanto Bourdieu trata da dominao considerando a superestrutura, Marx atenta estrutura, e essa diferena influencia e muito o carter do termo. Assim, quando pensamos dominao em Bourdieu, vemos uma tentativa de avanar no conceito de luta de classes marxista, a fim de refletir acerca de suas causas e consequncias simblicas. Logo, a luta de classes, expandindo-se do mundo econmico ao mundo da cultura, intenciona legitimar-se por meio da intermediao de estruturas simblicas, com o finalidade de reproduzir as desigualdades entre as classes e naturalizar a dominao social. Assim Bourdieu v uma estrutura de classes mais diversa que a marxista, mas concorda com Marx que estas so perpassadas por relaes de dominao e explorao social.Primeiros Estudos, So Paulo, n. 1, p. 164-172, 2011 166

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    Por fim, vale lembrar que Bourdieu utiliza algumas ideias localizadas na teoria marxista, porm no travou nenhum dilogo mais consistente com ela, tratando de forma perifrica alguns conceitos centrais para Marx, como o de explorao. Para Bourdieu, os diferentes tipos de capital so acumulados em lutas no campo e determinam a posio do agente nesse espao, contudo, no trabalha o processo de explorao que pode nascer nesse processo.Bourdieu e GramsciAqui Burawoy passa a travar um possvel dilogo entre Bourdieu e Gramsci. As anlises sobre esses dois pensadores, mostrar Burawoy, tm evidentes semelhanas inclusive pessoais , e um dos motivos que ambos trataram da superestrutura social. primeira vista, ambos tratam o conceito de dominao e sua reproduo com termos semelhantes, porm, ao passo que o conceito bourdiesiano de violncia simblica pressupe o desconhecimento da dominao enquanto tal, o conceito gramsciano de hegemonia implica o consentimento a esta. Em outras palavras, Bourdieu defende que os dominados nunca entenderiam as origens e condies de sua dominao, e por isso o senso comum seria sempre um senso ruim. E, ao contrrio, Gramsci acredita que existe um fio de bom senso no senso comum da classe trabalhadora. De qualquer modo, em ambos aparece o papel do Estado nessa situao: enquanto para Gramsci o Estado organiza a hegemonia por meio das ligaes existentes com a sociedade civil, para Bourdieu esse Estado que detm o monoplio da violncia simblica legtima, que legitima as classificaes existentes.Para criticar o conceito gramsciano de intelectual orgnico, Bourdieu utiliza-se de sua ideia de classes populares como classes dominadas. De acordo com Gramsci, a verdade se encontrava em um dilogo constante entre o saber dos intelectuais e o bom senso dos operrios, demonstrando assim o intelectual orgnico como um companheiro da classe trabalhadora. Este deveria elaborar o bom senso geral com base no senso comum trabalhador, a fim de formar um conhecimento terico do mundo. Segundo Gramsci, esse intelectual deveria estar imerso em uma classe e ser vinculado a um partido poltico. Bourdieu, ironicamente, fala em a mitologia do intelectual orgnico, pois defende que

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    algum fora da classe operria s conseguiria desenvolver uma identificao ilusria com esta, pois teria um habitus diferente, prprio da classe de sua origem individual. E essa diferena de habitus poderia acarretar num despotismo esclarecido, correndo-se o risco desses intelectuais manipularem os trabalhadores. Alm disso, manter-se extremamente ligado a qualquer classe poderia contaminar o saber cientfico com valores desse campo. Em suma, Bourdieu acredita que a verdade estaria fundada apenas no bom senso dos intelectuais, transparecendo assim um Bourdieu conservador.Ambos os autores repudiam o determinismo histrico de Marx e aprofundam o conceito de luta de classes, priorizando os efeitos da economia em vez de tratar apenas desse campo. No entanto, existem diferenas entre eles: enquanto um fundamenta a verdade na academia, outro o faz na experincia dos trabalhadores, e isso influencia suas vises sobre o papel e a importncia da sociologia.Bourdieu e BurawoySer na esteira da comparao entre Gramsci e Bourdieu que Burawoy dar inicio ao dilogo de sua prpria obra com a do socilogo francs. O grande tema deste terceiro dilogo ser a conscincia dos trabalhadores. Por um lado, mostra Burawoy, temos a teoria gramsciana da hegemonia, que d margem figura do intelectual orgnico que elaboraria o bom senso dos trabalhadores. Por outro lado, temos a teoria bourdiesiana da violncia simblica, segundo a qual no haveria bom senso a ser elaborado. Para Burawoy, Bourdieu oferece poucas evidncias empricas sobre a profundidade da violncia simblica, ao passo que o conceito gramsciano de hegemonia no explica a durabilidade da dominao capitalista.Na tentativa de transcender a ambas perspectivas, Burawoy usar sua ideia de fabricao do consentimento. Segundo ele, existem certas estruturas e instituies no mundo do trabalho que fariam com que os trabalhadores cooperassem com a reproduo do capitalismo. Assim sendo, no havia apenas um consentimento desmistificado dominao e nem esta seria fruto apenas de um habitus enraizado adquirido pela classe trabalhadora atravs de um processo de

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    socializao. Aqui verifica-se uma explicao consensual ao debate Bourdieu versus Gramsci.Bourdieu e FanonNo quarto captulo, os trabalhos de Bourdieu realizados na Arglia sero postos em dilogo com os que Fantz Fanon desenvolveu naquele pas. Burawoy inicia o encontro entre esses dois autores mais uma vez valendo-se da comparao de dados biogrficos, nas diferentes imerses de cada um dos autores no contexto colonial argelino.Ambos os autores tiveram amargas experincias de marginalizao na Frana: no caso de Bourdieu com base na classe, que aludido em seu Esboo de autoanlise; j Fanon com base na raa, que exposto em seu clebre trabalho Pele negra, mscaras brancas. Portanto, eles estavam bem equipados para reconhecer as abominveis excluses e opresses que jaziam na essncia do colonialismo muito embora suas origens tnicas e nacionais fossem coloc-los em posies bastante diferentes na ordem colonial argelina.Ao passar da biografia teoria, Burawoy encontra convergncias referentes ao que Bourdieu e Fanon escreveram acerca do colonialismo e sua capitulao. Em primeiro lugar, ambos veem o colonialismo como um sistema violento, que no refere-se apenas dominao, mas segregao. As divergncias, entretanto, no tardam a aparecer. Burawoy mostra que Bourdieu aproxima-se mais de um marxismo ortodoxo, ao defender que a classe trabalhadora era a classe eminentemente revolucionria. Por sua vez, Fanon argumenta que esse papel cabe ao campesinato.Burawoy ainda desenvolver neste captulo uma crtica ao modo hostil com que Bourdieu se refere ao pensamento de Fanon sobre a situao ps-colonial africana e ideia de intelectual orgnico.Bourdieu e BeauvoirPara o dilogo entre Bourdieu e Beauvoir, Burawoy se valer da comparao entre O segundo sexo, de Beauvoir, com A dominao masculina, de Bourdieu. Logo de incio, Burawoy j nos apresenta um paradoxo: nas poucas oportunidades que

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    Bourdieu faz meno Beauvoir, ele o faz para caracteriz-la como vtima da violncia simblica, por se submeter s influncia de Sartre, seu cnjuge. Burawoy argumentar ainda que alm do silenciamento, Bourdieu ainda teria se valido de muitas das ideias j tratadas muitos anos antes por Beauvoir, tratando residualmente o que ela j tinha tratado minuciosamente. O grande mrito de Burawoy nesse dilogo tentar explicitar esses pontos de convergncia e demonstrar a plida reprise que Bourdieu fez dos escritos de Beauvoir.Uma dessas convergncias, por exemplo, no que diz respeito ao processo de emancipao das mulheres. Burawoy dir que ambos trabalham com a ideia de reconhecimento para tratar da emancipao, entretanto, existe uma diferena de nfase. Enquanto em Beauvoir a ideia de emancipao sempre est presente, Bourdieu trata disso como uma espcie de apndice de sua obra. Nesse ponto, interessante notar que Burawoy no faz apenas uma comparao dos argumentos de Bourdieu e Beauvoir, mas tambm de como, quando e em que medida esses argumentos aparecem no texto.A j citada preocupao de Burawoy com a oposio entre teoria e prtica no deixa de estar presente tambm neste captulo. Aqui, Burawoy coloca tanto Bourdieu quanto Beauvoir em posio oposta a Fanon, no que diz respeito defesa ao engajamento dos intelectuais na ao revolucionria. Diferentemente do que Fanon fez com relao s lutas anticoloniais, aponta Burawoy, Beauvoir demorou para ingressar no movimento feminista por acreditar que a questo das mulheres estava subordinada ao projeto socialista, mostrando assim que tanto Bourdieu quanto Beauvoir foram intelectuais tradicionais, se recusando a sair do papel do pesquisador.Bourdieu e Wright Mills o nico captulo em que o verbo utilizado no ttulo herdar, e no encontrar, como nos restantes. Isso ocorre porque o livro se prope a realizar supostos encontros, imaginados por Burawoy, entre Bourdieu e autores que este criticou. No caso de Mills, essa retratao seria desnecessria, dado que Bourdieu nunca foi hostil a Mills. Alis, segundo Burawoy, Mills foi o Bourdieu

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    estadunidense, at porque Mills foi um dos poucos socilogos estadunidenses que escaparam das crticas bourdiesianas sociologia produzida nos Estados Unidos.Nesse suposto dilogo, Burawoy demonstra que Mills e Bourdieu so claramente influenciados por Weber, pois ambos os autores demonstram preocupao com a dominao e suas consequncias e caractersticas, no demonstrando grandes esperanas com utopias futuras. Quanto s suas respectivas teorizaes sobre dominao, ambos so cticos sobre o conceito gramsciano de intelectual orgnico, acreditando apenas no intelectual independente. Tambm como semelhana pode-se citar a crtica de ambos aos tecnocratas e especialistas, pois estes seriam apenas servos do poder. Assim como Bourdieu, Mills tambm tinha relaes ambguas com o marxismo. Ambos tomaram emprstimos da teoria marxista, mas nenhum deles utilizava as ideias de Marx como objeto constante de interlocuo. Apesar disso, ambos trabalham com um conceito marxista central, que o de classe. Nota-se que h semelhanas quanto s divises de classe que estes autores utilizaram para trabalhar a forma como os dominantes impem suas vontades ao restante da sociedade. Mills definiu trs classes: uma coesa elite econmico-poltico-militar, uma nova classe mdia aburguesada e instvel, e uma classe trabalhadora. E so exatamente essas classes que Bourdieu trabalha em seu livro A distino. Alm dessas conceituaes de classes, ambos veem com descrena o papel das lideranas dos trabalhadores, defendendo que, na realidade, estes apenas manipulam seus liderados para angariar suas vontades, que no seriam necessariamente a vontade dos trabalhadores.Ambos tinham um engajamento poltico tradicional, distantes dos agentes. Apesar desse engajamento mais distanciado, no fim da vida, ambos publicaram trabalhos polmicos e acessveis, sendo que Bourdieu criticou o neoliberalismo e, Wright Mills, o imperialismo e a Guerra Fria.Consideraes finaisValendo-nos dos escritos que Rui Braga, docente do departamento de sociologia da USP, fez para a apresentao edio brasileira de O marxismo encontra Bourdieu, podemos afirmar que o marxismo necessita sempre de

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    aperfeioamentos e testes para ser, de fato, uma teoria social cientfica. Nesse sentido, a presente obra de Burawoy representa um grande benefcio ao marxismo, por comparar minuciosa e criticamente, aspectos polmicos da teoria marxista contempornea com a obra de um dos autores mais crticos a essa teoria: Pierre Bourdieu, autor cuja obra foi por diversas vezes criticada por Burawoy. instigante ler um livro com uma proposta to ousada e original.Burawoy endossa uma crtica que permeia todos os seus dilogos imaginrios, a saber, o pouco crdito que Bourdieu dedicava em seus escritos aos seus antagonistas, valendo-se, segundo Burawoy, de tticas de distino pelas quais algum silencia seu inimigo, torna-o invisvel e, quando isso no possvel, transforma o antagonista em seu outro sem valor e indigno de ateno (idem, p. 132). Verifica-se aqui como conceitos bourdiesianos de campo, trajetria, tcnicas de distino etc. esto intermitentemente implcitas em todos os supostos dilogos e, principalmente, nas relaes engendradas por Bourdieu na vida real.Assim, caminhando por terreno pedregoso, mas no por isso menos sedutor, Burawoy fez o marxismo encontrar Bourdieu. O que nos resta agora encontrarmo-nos com mais esta obra de Michael Burawoy.RefernciasBOURDIEU, P. (1996). Razes prticas: sobre a teoria da ao. Editora Papirus, Campi-nas.BURAWOY, M. (2009). O marxismo encontra Bourdieu. Editora UNICAMP, Campinas.MICELI, S. (2003). Bourdieu e a renovao da sociologia contempornea da cultura. Tempo social, So Paulo, vol. 15 n. 1, abr.PASSIANI, E. (2006). Imposturas intelectuais: a sociologia (auto)crtica de Pierre Bourdieu. Novos estudos CEBRAP, So Paulo, n. 74, mar.QUINIOU, Y. (2000). Das classes ideologia: determinismo, materialismo e emanci-pao na obra de Pierre Bourdieu. Revista Crtica marxista, n. 11.Recebido em maro/2011Aprovado em maio/2011

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    Bourdieu, P. (1996). Razes prticas: sobre a teoria da ao. Editora Papirus, Campinas.