Resenha Crítica Solidariedade

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Resenha Crítica sobre Educação para a solidariedade.

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Universidade da Beira Interior

Mestrado em Educação Social e Comunitária

Seminário de Educação Comunitária

Educação para os Valores

“Solidariedade e Voluntariado”

Módulo de Educação e Cidadania

Autor - Steven Casteleiro

14 de Junho de 2008 Orientação: Professora Doutora Maria Luísa Branco

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Resenha Crítica

Torrado, S. (1998). La Educacion para la Solidariedad. In: Ciudadania sin fronteras.

Como pensar y aplicar uma educación en valores. pp. 95 – 110. Bilbao: Desclée de

Brouwer.

Torrado, S. (1998). Teoria y Práctica del Voluntariado. In: Ciudadania sin fronteras.

Como pensar y aplicar uma educación en valores. pp. 111 - 115. Bilbao: Desclée de

Brouwer.

Conceitos - chave

Atitudes e valores; Educação Cívica e Democrática; Educação para a Cooperação e

Desenvolvimento; Educação para a Solidariedade; Voluntariado; Conselho Nacional

para a Promoção do Voluntariado (CNPV).

Esta resenha crítica tem como objectivo compreender as ideias do autor acerca

da educação para a solidariedade, a sua percepção acerca do voluntariado e entender

de que forma estes dois conceitos se podem relacionar tendo em conta uma

perspectiva educativa.

O autor do texto defende que a solidariedade representa uma expressão do

sentimento e um espaço para a participação democrática. Consiste em compreender

de forma global e ajudar o outro partilhando, com dignidade e correcção.

Torrado, S. (1998) considera que a educação para a solidariedade tem um

significado semelhante à educação para a cooperação e o desenvolvimento,

conjugando a formação científica com a educação para as atitudes e os valores. O

processo de ensino – aprendizagem, na perspectiva deste autor é visto como um

processo dinâmico e participativo que deve englobar conceitos e vertentes mais

vastas, como a saúde, o acesso à cultura, a educação, etc.

A tarefa educativa em geral e a educação para a solidariedade em particular

devem ter expressão nos conteúdos programáticos de âmbito educativo. Os

educadores sociais devem reconhecer as diferentes abordagens possíveis sobre a

educação para a cooperação e desenvolvimento, orientando-se preferencialmente

para a acção em vez da simples descrição dos fenómenos; devem aprofundar

constantemente a dimensão da globalidade e interdependência dos problemas

atribuindo uma explicação mais interactiva e dialéctica para os problemas sociais

existentes.

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A educação para a solidariedade é transversal para os currículos educativos

podendo aplicar-se em diferentes níveis ou esferas de acção, desde o local, ao

nacional até ao mundial.

O conceito de educação para a solidariedade tem origem, segundo o mesmo

autor, no processo de descolonização dos países do terceiro mundo e da consequente

cooperação europeia para com estes povos. A cada vez mais evidente separação

entre os países do Norte relativamente aos países do Sul deve levar a uma resposta

que permita um desenvolvimento sustentável da sociedade, através da construção de

uma sociedade mais tolerante, mais justa e multicultural.

Os objectivos gerais da educação para a solidariedade centram-se no

favorecimento da auto - estima e da responsabilidade e no fomento da participação no

desenvolvimento sustentável a todos os níveis.

No que respeita às atitudes e valores, a educação para a solidariedade orienta-

se para a compreensão, a justiça e a equidade, a empatia e a tolerância assim como

no estabelecimento da comunicação.

Torrado, S (1998) aponta como fontes didácticas a obra sobre pedagogia de

Paulo Freire mas também o construtivismo de Piaget e de Vigotsky e a investigação –

acção de Carr e de Kemmis.

Dominique Jonlet, citado pelo autor defende que a compreensão das relações

entre os países do Norte e do Sul requer um estudo sobre as mútuas dependências e

sobre os factores e mecanismos que levam ao desenvolvimento dos países do Sul,

mas também a uma análise das múltiplas disfunções da nossa sociedade.

Rafael Díaz – Salazar, citado por Torrado, S (1998: 97) propõe uma espécie de

movimento geral de insubmissão a favor dos países do sul. Segundo o mesmo autor a

sociedade actual vive dividida entre uma cultura de satisfação do consumo enquanto o

problema da pobreza devasta cerca de três quartos da população mundial. Esta crise

que atravessa o mundo global e que separa os países do Norte e do Sul proporciona o

contexto para a educação para o desenvolvimento. Assim, esta deve preocupar-se no

bem estar da humanidade. Segundo Torrado, S (1998: 105) “En un contexto tan

determinante, la educacion para el desarrollo há de preocuparse por el bienestar de la

humanidade en un mundo interdependiente y en una perspectiva universalista,

partiendo de dos convicciones básicas: la dignidad humana y el valor de la vida”.

Os países mais ricos ambicionam desenvolver as suas economias através do

crescimento económico, mas este fenómeno não consegue suprimir a pobreza que

existe no seio das sociedades desenvolvidas. Assiste-se por um lado ao

desenvolvimento de certos sectores sociais enquanto outros permanecem afastados

da actividade económica. Este modelo leva à bipolarização social. É neste contexto

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que a educação para o desenvolvimento poderá ter um papel fundamental

desempenhado um papel chave na educação cívica e democrática. Instalou-se uma

ideia universalizada acerca da pobreza que não é a mais correcta. Há quem advogue

as ideias de Marx que defendia que a pobreza é um mal necessário devido ao

desenvolvimento capitalista da sociedade. Mas o fenómeno da pobreza não é um

conceito único e imutável; a noção de pobreza modificou-se com o tempo, constituindo

um problema complexo e dinâmico existindo vários tipos de pobreza. Torrado, S.

(1998: 107) apresenta uma definição de pobreza baseada na incapacidade das

pessoas conseguirem cumprir com as necessidades sociais, muito mais do que a falta

de recursos para suprimir necessidades em termos materiais e económicas: “La

pobreza se da cuando las personas no pueden cubrir com sus recursos las demandas

y costumbres socialmente elaboradas, no las necesidades estrictamente materiales y

económicas. Y hay que tener en cuenta, además, las condiciones de cada momento

histórico y de cada situación social”.

A cooperação para o desenvolvimento deve portanto actuar tentando corrigir as

desigualdades sociais, através de um dever humanitário, devendo a educação servir

este propósito. Victor Vinuales, citado pelo autor aponta uma série de propostas para a

criação de um código deontológico para a cooperação e desenvolvimento:

o Incentivar o protagonismo das comunidades locais;

o Estimular a confiança e a auto - estima dos destinatários da

cooperação;

o Não fornecer ajudar a grupos que não têm a capacidade de se

mobilizarem para efectuarem algo para modificar a sua condição;

o Praticar uma verdadeira “cooperação” e não “doação”;

o Preservar o anonimato da cooperação;

o Prestar mais atenção ao processo global e não apenas aos resultados

parciais;

o Compreender a cultura local;

o Facilitar o diálogo intercultural;

o Redistribuir o poder desigualmente repartido;

o Aproveitar todas as situações proporcionadas pela experiência de

cooperação para aprender e crescer no âmbito da dinâmica do

verdadeiro desenvolvimento social.

No contexto anteriormente caracterizado surge a prática do voluntariado. O

voluntariado implica um movimento espontâneo, em direcção a algo que se possa

realizar ou deixar de realizar. Mas o voluntarismo é diferente do voluntariado pois

envolve a drenagem de todas as energias para um esforço activo. O voluntariado

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social implica de facto, um esforço para a acção, requerendo uma reincidência, uma

regularidade implícita a uma responsabilidade.

As acções no âmbito do voluntariado devem ser executadas com

comprometimento e responsabilidade e não constituírem apenas acções isoladas de

voluntarismo. Se por um lado a solidariedade é um sentimento de ternura contra os

desprotegidos, pelos que sofrem, o voluntariado surge da capacidade dos sujeitos

voluntários em dedicarem do seu tempo para actividades a favor dos outros. Torrado,

S (1998: 112) define desta forma o conceito de voluntariado: “el concepto nuclear del

voluntariado, parece bastante obvio que consiste en dedicar parte del tiempo proprio a

actividades en favor de los demás de un modo continuo, desinteresado y no individual

sino en el marco de una organización. Sus elementos constitutivos básicos son la

liberdad, la voluntad y el desinterés altruísta.”

O voluntariado pode permitir a recuperar o valor da diferença e da

particularidade. O objectivo principal do voluntário é perseguir uma verdadeira

democracia sem fronteiras pois a sua acção centra-se na democracia internacional,

ultrapassando as diferenças e os fenómenos de exclusão social.

Alguns autores que dedicaram o seu estudo ao assunto do voluntariado

consideram que representa uma forma de protesto e rebeldia contra os fracassos das

políticas sociais dos estados - nação. As instituições políticas esquecem muito

frequentemente a emancipação e a integração social dos grupos sobre os quais se

actua. Sobre este ponto, o autor apresenta a seguinte perspectiva: “Esse horizonte

emancipador y de integración posee unas insoslayables dimensiones operativas. En

este terreno, la democracia “débil” –de corte liberal – es aquella que requieree una

mínima participación de la ciudadanía, que se conforma pasivamente com las

instituciones. Según esa versión, son los “técnicos de la demnocracia” los encargados

de corregir las disfunciones del sistema.”

Saliente-se que na pespectiva do autor, as democracias débeis exigem uma

permanente negociação enquanto que as democracias fortes transformam o potencial

conflito numa cooperação através do consenso, da participação e da educação cívica.

Mas a acção voluntária pode ser pervertida relativamente aos seus objectivos

iniciais quando se tenta neutralizar as conquistas de alguns direitos individuais e

sociais, ganhos por determinados grupos sociais ou quando se tenta evitar a

profissionalização da acção social debilitando compromissos colectivos duma

sociedade.

O voluntariado existe porque existe capacidade das pessoas se tornarem

solidárias. A prática do voluntariado ganhou grande visibilidade em termos mundiais,

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no ano de 2001 quando a ONU declarou esse ano, como o ano Internacional do

Voluntariado1.

Neste âmbito foi consultado o sítio na Internet do Conselho Nacional para a

Promoção do Voluntariado (CNPV) 2 que define o conceito de voluntário como sendo

“o conjunto de acções de interesse social e comunitário, realizadas de forma

desinteressada por pessoas, no âmbito de projectos, programas e outras formas de

intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos

sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas.”

O voluntariado pode ser encarado como uma das formas de se ser solidário a

título individual ou colectivo. Para que a acção voluntária se torne eficaz requer no

entanto, uma planificação contemplando objectivos, métodos utilizados e um prazo de

actuação. No final exige uma certa reciprocidade.

O voluntariado constitui uma forma de aplicar os princípios defendidos pela

educação para a solidariedade como um processo interactivo que intervém junto das

populações de forma criativa, tentando corrigir ou diminuir as desigualdades sociais. É

um dever que pode ser compreendido à luz do humanismo cívico, que defende que os

responsáveis pelos problemas sociais que afligem a sociedade são todos e cada um

dos indivíduos.

Covilhã, 14 de Junho de 2008

______________________________ Steven M. B. Casteleiro __________________ 1 International Year of Volunteers – site disponível a partir daqui http://www.iyv2001.org/ (Consultado no dia 13 de Junho de 2008) 2 Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (CNPV) – site disponível a partir daqui http://www.voluntariado.pt/ (Consultado no dia 12 de Junho de 2008)