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Resenha do filme “Casanova e a Revolução”
(Casanova e a Revolução, 1982, Ettore Scola)
Autor: Glauco Domingues Gonçalves da Silva – RA 350567
Ettore Scola, em seu drama franco-italiano apresenta diferentes pontos de
vista sobre a Revolução Francesa. O filme é baseado na história do escritor libertino e
revolucionário Restif de la Bretonne. O escritor, interessado em ser testemunha da
revolução segue a condessa Sophie de la Borde, em uma carruagem que seguia de
Paris para Verdun, afim de encontrar o rei Luís XVI, que havia fugido de Paris. Na
carruagem estavam presentes Casanova, Thomas Paine (patriota americano) e a
condessa. Um fato interessante é que estes três personagens históricos nunca
poderiam ter estado juntos!
O filme se passa no período da Revolução, onde o Rei Luís XVI tentou, sem
sucesso, fugir de Paris com família real. A família foi presa, desencadeando o ato
derradeiro da Revolução que culminou na morte do rei e da rainha Maria Antonieta.
No filme não é feita uma abordagem direta dos fatos da Revolução, como a
fuga e captura do rei, e sim apresenta as personagens pelas diferentes visões que as
pessoas possuíam na época da revolução. A narrativa fica mais focada nos dramas
individuais das personagens, deixando de lado os eventos políticos da época. Pelas
mãos de Restif, Paine, a dama de honra da rainha e seus companheiros, fica retratada
a noção dos direitos humanos para cada um deles, já que cada personagem
representava uma classe social, tendo seu ideal de país pós-revolução.
Durante o enredo as relações entre as personagens são usada para ilustrar os
interesses e as relações do antigo regime, confrontado aos ideais pós-revolução. Como
exemplo podemos tomar o caso do Casanova, que representa um setor das cortes
europeias, sendo mostrado como uma figura velha, enrugada e cheia de dores,
representando o antigo regime. Depois da revolução um mundo novo surge, tomado
por novos hábitos, formando novos personagens, criando o drama do filme: a tensão
entre o antigo e o novo. É no meio desta revolução que é possível identificar
discussões entre os direitos humanos.
O filme trata das relações incertas do período, sendo os personagens
estereótipos das ideologias revolucionárias, aparecendo um mundo jovem, o mundo
velho e um mundo incerto e misterioso.
Em um diálogo entre a condessa Sophie e Casanova é possível perceber um
dos debates propostos pelo diretor. Questionado sobre a situação da França após
1789, Casanova se mostra descontente, afirma que após a Revolução e a aprovação da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, o direito concedido à liberdade e à
igualdade para todos perante a lei permitiu que servos e parcelas pobres da
população se sentissem atrevidas e desrespeitosas. Mesmo Casanova se manifestando
dessa forma e ofendendo as pessoas ao seu redor, ele tem o direito garantido por lei
para se expressar. Paine alega que as únicas ações que não são permitidas são aquelas
nocivas à sociedade. Casanova representa a parte nobre da população francesa que se
sentiu ameaçada com os novos direitos para os pobres em detrimento da luta por
direitos iguais a todos.
Outras discussões sobre a França pós-revolução surgem ao longo do filme,
como o fato de o país estar vivendo um caos por conta do novo governo, que favorecia
as famílias nobres que não tem contribuição significativa para a sociedade e a
influência da Igreja e de outras entidades que são citadas pelo diretor.
O fim da obra se dá com a chegada das personagens a Varennes, com a
população clamando pelo retorno do Rei à capital para seu julgamento, que a história
já contou. A reflexão que fica é sobre as diferentes visões que a sociedade francesa da
época tinha sobre os direitos humanos.