Resenha - o Bom Professor e Sua Prática
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RENATO JOSÉ SANTANA
RESENHA:
O BOM PROFESSOR E SUA PRÁTICA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
GOIÂNIA – 2014
RENATO JOSÉ SANTANA
RESENHA:
O BOM PROFESSOR E SUA PRÁTICA
Resenha elaborada para fins de avaliação parcial da disciplina Docência e Comunicação do Curso de Especialização em Docência Universitária da Pontifícia Universidade Católica de Goiás sob a orientação da professora Ms.Estelamaris Brant Scarel.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
GOIÂNIA – 2014
O bom professor e sua prática
CUNHA, Maria Isabel da. O Bom Professor e Sua Prática. 10ª ed., Campinas, SP, 2000. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
Maria Isabel Cunha é natural de Porto Alegre (RS). Fez curso Normal no
Instituto de Educação Assis Brasil, graduou-se em Ciências Sociais na Universidade
Católica de Pelotas e, posteriormente em Pedagogia pela mesma universidade.
Iniciou suas atividades profissionais como professora do ensino primário e médio e,
em 1971, assumiu atividades de Supervisão Pedagógica na Escola Polivalente
(Programa PREMEM). Fundou o Serviço de Supervisão na Escola Técnica Federal
de Pelotas, onde esteve entre 1973 e 1988. Concomitantemente a este trabalho,
passou, em 1975, a docente da Universidade Federal de Pelotas, na área de
Didática e Metodologia do Ensino Superior, onde atua até hoje. Fez curso de
mestrado na PUC/RS e concluiu, em 1988, seu doutoramento pela UNICAMP. É co-
autora das obras Repensando a didática: (Papirus, 13ª ed., 1998) e Didática:
Ruptura, compromisso e pesquisa (Papirus, 2ª ed., 1995).
O livro está dividido em cinco partes e baseia-se nos dados da
pesquisadora Maria Isabel da Cunha e seu objeto de pesquisa são as práticas do
bom professor, em que tenta compreendê-la e desvendá-la. A autora estuda e coleta
seus dados através do método da pesquisa etnográfica, referência em diversas
pesquisas norte-americanas, trata-se de uma técnica proveniente das disciplinas de
Antropologia Social, que consiste no estudo de um objeto por vivência direta da
realidade onde esta se insere.
Na primeira parte, a autora mostra nos seus estudos que aspectos na
formação do professor mais precisam de aprofundamentos. Ela diz que a sala de
aula é um lugar muito privilegiado, onde se realiza o ato pedagógico escolar. Para
Maria Isabel na sala há muitas contradições do contexto social em que cada sujeito
vive os conflitos pedagógicos, as questões da ciência e as concepções daqueles
que fazem parte do ato pedagógico: o professor e o aluno. As relações da escola
com a sociedade devem ser cada vez mais claras para que se possa compreender e
interferir na prática pedagógica. O principal fator para a realização desta pesquisa foi
o desejo de questionar as certezas pedagógicas, as ideias pré-definidas, entre
outros desejos. Para Cunha seu principal objetivo é estudar o professor na escola,
situado e condicionado por suas situações e condições histórico-sociais. É
imprescindível reconhecer que sem o professor não se faz escola, e é fundamental
aprofundar os estudos sobre este profissional. O professor hoje é visto como um
trabalhador assalariado, que vende seu trabalho ao estado, o produto do seu
trabalho. É o reconhecimento do papel do professor que poderão favorecer a
intervenção no seu desempenho. A escola atual é fruto das influências positivistas
sobre as práticas lá desenvolvidas, e o professor é o principal veiculador dessas
práticas. A necessidade de descobrir o cotidiano do professor vem da certeza de
que esta é uma forma de construção de conhecimentos. A vida cotidiana é a
objetivação dos valores e conhecimentos do sujeito dentro de uma circunstância.
Conceituações nos fazem entender a pesquisa como parte das atividades do
educador, localizando o ato pedagógico no contexto social onde ele atua. O senso
comum é de que o professor tenha um saber próprio, e este saber tem duas grandes
direções, o domínio do conteúdo de ensino, isto é, de seu objeto de estudo, e o
domínio das ciências de educação que lhe permitirão realizar o processo
pedagógico. Nessa parte do livro o autor diz que infelizmente não possuímos uma
tradição no processo de avaliação de professores, mas quando existe algum tipo de
critério como referencial, estes são mais usados para o fator de promoção em
carreira do que como feedback da prática em sala de aula.
Na parte seguinte, quando os alunos são questionados sobre o que
seria o Bom Professor, não escolhem como bom, ou melhor, aquele professor que
não tenha conhecimento da matéria e habilidades em organizar as aulas. Eles levam
em conta sua prática social e seus saberes histórico-sociais. Contam também a
relação professor-aluno, ou seja, a parte afetiva tem grande proporção nessa
escolha. Mas também levam em conta as práticas oferecidas durante as aulas
como: “torna as aulas atraentes”, “estimula a participação do aluno”, “induz à crítica”
e etc. Os alunos também não indicam como Bom Professor aqueles chamados de
“bonzinhos”, mas sim aquele que é exigente e cobra participação nas tarefas. Para
os alunos atuais o Bom Professor é aquele que domina a matéria, apresenta de
forma adequada e tem bom relacionamento com o grupo.
A terceira parte do livro trata de dados coletados com os 21
professores, onde é descrito aspectos de um Bom Professor a partir de valores
institucionais que influenciam a imagem do professor; respostas às necessidades
dos alunos; gosto pelo que fazem; apreciam o contato com os alunos; teve algum
professor como fonte de inspiração para se tornar no professor que é hoje;
consideram a experiência como grande fonte de aprendizagem; sua formação
pedagógica possibilitou diversas opções em sua carreira, o modo como tratar os
alunos, trabalhar em grupo, saber refletir sobre algum acontecimento em sala de
aula entre outros; a prática social sempre faz parte do comportamento docente; a
conscientização do indivíduo para que percebe as condições sociais que assim
possam modificar sua visão social; estar com os alunos em sala de aula e saber
entendê-los, influenciando-os e sendo por eles influenciado; valorizar seu campo de
conhecimento, utilizar da práxis, enfatizando que tudo que é prático e real é mais
significativo; planeja sua prática pedagógica; socializa sua experiência, seu processo
didático passa do concreto para o abstrato e enfrenta dificuldades como
desvalorização do magistério, da estrutura de ensino e das condições de trabalho.
Em seguida, dentro da quarta parte do livro, a autora inicia falando dos
procedimentos utilizados, sendo o que mais ocorreu foi a aula expositiva. Os
professores a utilizavam para começar assuntos novos, terminar assuntos já
estudados, explicar uma aula de laboratório, etc. Houve apenas dois casos em que o
professor mudou a disposição da sala para roda, onde foram feitos estudos de caso.
Segundo a autora, os professores tendem a repetir atitudes que eles consideraram
importantes de seus professores quando eles eram alunos, e que provavelmente
eles nunca tiveram uma aula em que o professor debatesse com os alunos e que
construíssem os conhecimentos juntos. Eles apenas repetem o ciclo, e acreditam
que eles precisam estar nos “tomando”, senão não estão cumprindo seu papel.
Algumas habilidades relacionadas ao Bom Professor são citadas pela autora, como
organização do contexto da aula (deixa claro para os alunos as atividades e
objetivos da aula); localização histórica dos conteúdos (saber onde o conhecimento
foi produzido); relações com o conteúdo em pauta com as outras áreas do saber
(contexto, conhecimento como um todo); apresentar ou escrever o roteiro das aulas;
formulação de perguntas; coletivização dos conteúdos; reforço positivo as respostas
dos alunos; partir do conhecimento dos alunos; apreender a linguagem dos alunos e
tornar a linguagem acadêmica acessível a eles; profundo conhecimento do que se
propõe a ensinar (usar exemplos); uso adequado de recursos de ensino; caminhar
pelo espaço observando os alunos; clareza nas explicações; uso da linguagem com
senso de humor. Todas essas características foram organizadas após as
observações. Não se pode negar que em todos Bons Professores houve um
compromisso e seriedade com a prática docente.
Outras observações da autora é que alguns professores dão muito
valor a leitura e a linguagem, outros têm muito afeto pela disciplina que lecionam e
outros se posicionam em relação aos conteúdos, dando opiniões, ora técnicas, ora
políticas. A prática dos professores é coerente com o sistema de hoje, a separação
do trabalho com o conhecimento, cabe aos alunos e professores um exercício
reflexivo, somente essa reflexão pode trazer a mudança. Finalmente, a autora trata
de alguns conceitos, além de procurar exemplificar no cotidiano do professor o que
seria “o bom professor e sua prática” e conclui dizendo que o que foi estudado não
se conflita com as propostas e reflexões que se têm feito ultimamente sobre o
professor. Elas se somam e desvendam, através da investigação da realidade,
maiores dados sobre o que está acontecendo na prática escolar, enfatizando que os
desafios são muitos, e que é necessário um esforço coletivo no reconhecimento e na
reflexão sobre as contradições da sociedade em que vivemos, e nela, muito
especialmente, estão às questões relacionadas com a nossa área de atuação. Só
assim poderemos fazer avançar a educação brasileira.
De um modo geral, o conceito de Bom Professor é ideológico, depende
da visão de certa sociedade sobre o professor, está relacionado a tempo e lugar e é
valorativo. São vinculados à imagem do professor vários atributos, muitas vezes,
sem reflexão sobre o porquê. Com isso, cria-se a ideia do “dever ser”. O professor
deve ser responsável, honrado, tratar todos os alunos de forma igual, etc. Esses
atributos são firmados todos os dias pelos alunos, por alguns professores e pela
sociedade, que acaba por neutralizá-los, torná-los naturais. Como os atributos estão
relacionados diretamente com a sociedade, com o tempo passam por mudanças. O
que ficou comprovado nos estudos da autora: os professores estão lutando contra o
“dever ser” e a sociedade criou novas ideias sobre o professor. O professor, não é
neutro, nasce e está constantemente inserido na sociedade. Como todo indivíduo, é
um ser de particularidades e de generalidade. As duas partes, ora formam o trabalho
do professor, ora provocam as mudanças.
Os alunos e a sociedade, de certa forma, esperam de um professor
que ele seja intelectualmente capaz e afetivamente maduro, servindo de exemplo
para a vida futura, perpassando em sua conduta valores, normas, padrões de
comportamento e outros aspectos, seja de forma consciente ou inconsciente. Não é
mais esperado que o bom professor seja aquele bonzinho ou depositório da
verdade.
Outro fator importante sobre o conceito de um bom professor está
relacionado com sua própria experiência, com a prática. Nela se espera aprender
com outros professores, com os alunos e também transformar suas atitudes, se
modificar se for preciso. O professor dá valor ao prazer que sente ao ensinar, à
relação com os alunos, a ensinar o que gosta. E quando reclama, é por suas
dificuldades, seja da desvalorização da profissão, do fracasso do atual sistema
escolar ou do baixo salário. Entendemos assim que o professor é a principal fonte de
saber sistematizado e possui várias habilidades de ensino, como organização da
aula, incentivo a participação dos alunos, trato da matéria de ensino, variação de
ensino e uso da linguagem.
Esta obra no faz refletir sobre o que é ser um bom professor, pois
Cunha (2000) considera o conceito de bom professor valorativo, que se relaciona a
um tempo e a um lugar, possuindo caráter ideológico na medida em que representa
a ideia que socialmente é construída sobre o professor e dos atributos que
caracterizariam um professor ideal. Ainda que a definição de bom professor seja
essencialmente subjetiva, algumas características são essenciais a uma atuação
docente de qualidade. Nesta perspectiva, Furtado et al. (2009, p. 633) mencionam a
questão dos saberes docentes, esclarecendo que "o saber representa o fundamento
da competência técnico-científica para o desenvolvimento de sua ação e se
relaciona às dimensões éticas, política, social e cultural". Para Cunha (2000) alguns
aspectos são essenciais na definição do perfil de um "bom professor": o gostar de
ensinar, gostar de gente, domínio do conteúdo, gosto pelo estudo. Para ser um bom
professor é preciso gostar do que faz além de empenhar-se em cumprir seu papel
da melhor maneira possível.
O professor, autor da ação pedagógica em sala de aula, possui um
papel de suma importância na formação do aluno, cabendo-lhe a responsabilidade
de fazer com que a educação seja prazerosa, facilitar o aprender, utilizar métodos
compatíveis, definir estratégias, etc. É preciso destacar ainda que não basta
conhecimento teórico para uma boa atuação docente. Observa-se que alguns
professores, apesar de terem conhecimento, habilitação e domínio do assunto, na
hora de transmiti-lo não o fazem de forma clara e coesa ou, não estabelecem uma
ligação prática do assunto ao contexto vivenciado pelo aluno, de modo a auxiliá-lo a
compreender o tema abordado.
Assim, na composição do perfil de um professor ideal ou o chamado
“bom professor”, vários são os elementos a serem considerados, sendo que
algumas características básicas precisam ser levadas em conta, tais como:
conhecimento científico e metodológico, capacidade de se relacionar e se comunicar
com os alunos, capacidade crítico-reflexiva, dentre outras.
A necessidade de construir essa nova ideia de professor pode ser mais
ou menos consciente. Pode ser fruto intencional da reflexão criteriosa. Mas pode ser
também, apenas a resposta às pressões da sociedade e ao aparecimento de
situações não previstas. Vale salientar, porém, que estas últimas podem levar à
primeira, isto é, a pressão da realidade pode provocar a reflexão. O professor já
nasce inserido em seu cotidiano. A vida diária não está fora da história, mas, ao
contrário, está no centro do acontecer histórico. Como todo indivíduo, o professor é
simultaneamente um ser particular e um ser genérico. Isto significa dizer que quase
toda a sua atividade tem caráter genérico, embora seus motivos sejam particulares.
No seu cotidiano ele trabalha com estas duas forças: as que vêm da generalização
da sua função e as que partem dele enquanto individualidade. Nem sempre ambas
caminham no mesmo sentido. Muitas vezes é do conflito entre elas que se origina a
mudança das atitudes do professor. Estudar o cotidiano do professor é um meio
para a compreensão dos fenômenos sociais que o cercam e, com esta
compreensão, entender o próprio professor neste contexto.
As conclusões a que chegamos não se conflitam com as propostas e
reflexões que se têm feito ultimamente sobre o professor. Elas se somam e
desvendam, através da investigação da realidade, maiores dados sobre o que está
acontecendo na prática escolar. As propostas, em geral, privilegiam a ideia de que é
necessário um professor consciente das questões sociais e competente
tecnicamente para engajar-se na luta em favor da melhoria das condições de vida do
povo brasileiro. Os caminhos para se chegar a este propósito é que se apresentam
diferentes. O desvendamento da prática é que, provavelmente, possa dar mais luzes
à trajetória rumo à transformação, uma vez que não há mudança que não ocorra a
partir do concreto, da realidade.
Os desafios são muitos. Creio ser necessário um esforço coletivo no
reconhecer e refletir sobre as contradições da sociedade em que vivemos, e nela,
muito especialmente, as questões relacionadas com a nossa área de atuação. Só
assim poderemos fazer avançar a educação brasileira.
A obra tem por objetivo desvendar o “Bom Professor” investigando o seu
dia-a-dia, como indivíduo e educador, sua prática e metodologia, e a partir de um
perfil desse professor propõe novos rumos aos cursos ligados à formação de
professores. Sem dúvida, esta obra constitui-se em mais uma passo no avanço da
educação, e deixa uma trilha para aqueles que desejam prosseguir esta caminhada
e também é de grande auxílio, principalmente, àqueles que desenvolvem
trabalhados acadêmicos no campo da educação e formação de professores.
Não se trata de um simples manual, com passos a serem seguidos, mas
um livro que apresenta informações relevantes no decorrer da trajetória da autora,
onde ela desenvolve um trabalho de pesquisa no campo educacional que vem de
encontro às necessidades de inovações por que atravessa o ensino brasileiro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. 10ª ed. Campinas: Papirus, 2000.
MASETTO, Marcos T. Docência universitária: repensando a aula. São Paulo: Editora Mackenzie;Cortez, 2003. FURTADO, Clara Maria; PEREIRA, Luiz H.; MOROSINI, Marília Costa. Formação docente na licenciatura e no exercício da docência. IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação, PUCRS. 2009. Disponível em: http://www.pucrs.br/edipucrs/IVmostra/IV_MOSTRA_PDF/Educacao/72175 CLARA_MARIA_FURTADO.pdf. Acesso em: 27 jul 2014.
PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Docência no
ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção docência em formação).