Resenha Quanto Vale Ou é Por Quilo

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Universidade Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Curso de História - Período Noturno Resenha do filme: " Quanto vale ou é por quilo?" Ágata Iasmin Vital

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Resenha do Filme "Quanto Vale ou é por quilo"

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Universidade Paulista "Júlio de Mesquita Filho"Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

Curso de História - Período Noturno

Resenha do filme: " Quanto vale ou é por quilo?"

Ágata Iasmin Vital

Franca2014

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Ágata Iasmin Vital

Resenha do filme: "Quanto vale ou é por quilo?"

Trabalho apresentado à disciplina de

Sociologia como requisito parcial da

avaliação continuada, orientado pelo

professor Alexandre Marques Mendes.

Franca2014

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Quanto vale ou é por quilo? é um longa metragem brasileiro, do gênero drama,

lançado no ano de 2005, dirigido por Sérgio Bianchi. Conta com a participação no elenco de:

Herson Capri, Lazaro Ramos, Bárbara Paz, Umberto Magnani, Cláudia Mello entre outros.

Muito bem produzido, as filmagens ocorrem em dois espaço- tempos diferentes: Brasil

colônia em contraposição aos dias atuais.

No enredo do filme encontramos histórias particulares de personagens que, como

característica dos maravilhosos filmes de Bianchi, se relacionam de alguma forma durante

toda a trama. O núcleo da obra gira em torno de projetos sociais e seus fundadores e

realizadores. Herson Capri interpreta o riquíssimo Marco Aurélio, um empresário diretamente

vinculado a obras sociais. É a empresa dele que patrocina e promove os eventos beneficentes,

o arrecadamento de dinheiro, alimentos, roupas e utensílios para crianças abandonadas e

moradores de rua. É a sua empresa também que redistribui essas arrecadações, paga os

funcionários que se comprometem com o trabalho social, mas que também desvia parte da

verba arrecadada, não finaliza os projetos destinados a comunidade, cria contas bancarias

fantasmas e usa as doações para o próprio acumulo de riqueza.

Em contraposição aos grandes e poderosos empresários, estão os que participam das

obras sociais com o patrocínio da empresa. Pessoas que classe média baixa, muitos moradores

da própria comunidade, que aparentemente buscam destaque na sociedade, e o encontram

realizando entrega de alimentos, cobertores ou cuidando de crianças abandonadas. Duas das

personagens que trabalham na empresa se sentem revoltadas perante as atitudes corruptas e

desonestas dos chefes, e os enfrentam: primeiramente em conversas e pedidos, depois com

protestos. Uma delas é demitida, a outra aparenta sair por conta própria, já que seu vínculo é

direto com o cuidado das crianças da comunidade e a busca pela realização do projeto de

informática para os jovens.

Há também um jovem casal da comunidade, no qual a esposa está grávida, mora com a

tia e o marido não consegue um emprego fixo e vantajoso por falta de qualificação. A tia

participa dos projetos sociais dirigidos por sua patroa que está indiretamente vinculada a

empresa de Marco Aurélio - mais uma vez percebemos a inter-relação de todas as

personagens. A relação de amizade entre a tia da jovem e a patroa é muito destacado, tanto ao

ponto da tia dar a amiga uma garota negra, a qual ela diz que "pegou para criar" mas que na

verdade serve como empregada na casa, fazendo os deveres domésticos em troca de teto e

comida. Essa troca ocorre porque a patroa custeou o casamento da sobrinha da amiga. O

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pagamento seria o trabalho da amiga pelo período de um ano, mas esta dá em troca uma

jovem garotinha negra que pode realizar o mesmo trabalho.Detalhe: sem ganhar por isso.

O maior contraste do filme são episódios recorrentes do período colonial do Brasil,

onde a escravidão era voraz e os negros eram objetos para negociações, eram espancados,

caçados, desumanizados. Os mesmos atores da vida atual são colocadas como personagens do

período colonial, comparando-se assim os negócios, os tramites e a violência atual com os que

ocorriam durante a escravidão no Brasil.

Percebemos que o ciclo se fecha no enredo, quando um jovem negro sequestra o

empresário Marco Aurélio e pede uma gorda quantia em dinheiro para o resgate. Para acelerar

o processo, o sequestrador envia diariamente a esposa de Marco Aurélio partes de seu corpo:

uma orelha, um dedo. A troca acontece. É como uma venda. A compra do empresário tem o

custo de 250.000 reais. O ciclo se fecha então, quando numa grande festa em comemoração a

mais uma vitória perante ao marketing de projetos sociais, a ex-funcionária da empresa (que

agora está grávida) juntamente com outros indignados vai até as portas do evento em protesto.

Gritos, pedidos, xingamentos. Ela consegue provas sobre o desvio de dinheiro da empresa,

consegue incriminar perante a mídia os desonestos donos. Aparentemente, a justiça poderá

então ser feita.

É nesse momento que o telespectador se vê estarrecido com a violência, desumanidade

e hipocrisia do homem, do ser que se diz humano. Os empresários contratam um matador de

aluguel para matar a ex-funcionária que os ameaça. O matador é o marido da sobrinha da

mesma mulher que ajuda em projetos sociais. Ele precisa de dinheiro para cuidar do filho que

vai nascer. Ele ganha muito dinheiro por assassinar a moça grávida. Quem o paga é o homem

responsável pelas arrecadações em prol da sociedade. A importante relação nesse desfecho, é

o que ocorre no período colonial, onde o capataz captura escravos fugidos em troca de altos

pagamentos. Esse capataz também não faz isso por orgulho, faz porque precisa alimentar sua

família.

Bianchi explora tão profundamente a hipocrisia humana, a verdadeira "cara de pau",

mostrando que a mesma pessoa que leva comida a moradores de rua, aceita como pagamento

de dívidas uma criança, que servirá como escrava em pleno século XXI. O descaramento, a

falta de vergonha de usar o dinheiro de doações para a próprio benefício. Usar crianças

abandonadas para a gravação de jingles, de propagandas para mais arrecadações é algo que

estamos acostumados a ver desde sempre na TV. Quantas vezes paramos para pensar nisso?

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Estamos vivendo numa escravidão escancarada, permitida por lei. Somos açoitados pelas

trocas de mercadorias, pelos baixos salários. Somo inseridos num sistema obscuro, hipócrita,

sujo.

O ponto mais interessante de todo o filme são as comparações do período colonial com

a atualidade: percebemos que a escravidão não acabou, ela foi apenas modificada para que

não pudesse ser questionada. Foi alterada, adaptada ao sistema moderno para que pudesse

continuar existindo. Fazemos parte dessa escravidão. Nem ao menos percebemos isso, pois as

propagandas e as promessas de marketing tapam nossos olhos, enganam nossos ouvidos para

que pensemos que doar 5,00 reais via telefone , é fazer o suficiente para a sociedade, é fazer o

bem para nós mesmos.