Resenha Sobre Educação MARX

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A educação e MARX no atual conjectura da sociedade brasileira.

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Resenha Marx e EngelsPessoal,Estou disponibilizando uma resenha do Marx e Engels sobre educao. Vale a pena dar uma olhadinha.

RESENHAMARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Textos Sobre Educao e Ensino, So Paulo. Editora Moraes Ltda, 1983.

No livro h algumas passagens tericas sobre o pensamento marxista: salrio, mais-valia, diviso do trabalho, etc. Cit-los-ei quando oportuno e/ou necessrio, mas procurarei me ater basicamente no que diz respeito temtica da educao.Segundo Marx e Engels, o fim da opresso e a tomada de conscincia dos indivduos s possvel com a emancipao em todos os nveis, inclusive o da conscincia. A educao atravs da razo e da cincia seria um instrumento fundamental nesse processo. Trata-se de conceber a educao e, por extenso, a escola como instrumento e locus de empoderamento das classes trabalhadoras no sentido da luta de classes e do estabelecimento de uma sociedade comunista, sem propriedade privada.Suas crticas recaem sobre a atual instituio escolare a necessidade de mold-la as necessidades emancipatrias do proletariado visando superao de classes. Pensam, portanto, a partir e sobre a situao dos trabalhadores, alm de buscar possibilidades de instaurao de um novo modelo social comunista sem diviso do trabalho e sem classes em conflito.Marx e Engels no pensam a educao de maneira normativa, pensam-na como uma dimenso autnoma do Estado e da Burguesia; um instrumento-chave do amplo processo de conduo da sociedade dual burguesa-proletria para a sociedade sem classes.No tpico sistema de ensino e diviso do trabalho (DT), os autores chamam a ateno para a questo da diviso do trabalho tanto espacial (rural e urbana) quanto intelectual e material. Tambm tecem comentrios sobre conceitos tais como salrio, trabalho livre e assalariado, propriedade, etc. A DT causa a alienao do trabalhador ao mesmo tempo em que o desprepara para outras atividades que no sejam as que ele especializou-se. Ou seja, torna-o um apndice da mquina expropriando o seu conhecimento e obrigando-o a aes que no exijam raciocnio. A DT permite o surgimento de um sentimento de revolta dos trabalhadores, indignao contra a burguesia que o nico tipo de pensamento que as relaes trabalhistas no capitalismo industrial permitem ao trabalhador. Portanto, o trabalhador vende a sua fora de trabalho e o lucro fica para o capitalista detentor dos meios de produo que o reaplica em busca de mais e mais lucratividade. Por tratar-se de atividades simples, qualquer um pode tornar-se um especialista o que far com que os salrios baixem e aumente o exrcito de reserva pronto a exercer tais atividades por baixos salrios. Para os autores, o germe da extino da diviso do trabalho est em sua prpria dinmica, pois a diviso do trabalho pressupe especializao tcnica e ampliao da educao da classe trabalhadora o que tender a criar a conscincia de si e para si desta classe tornando-a cada vez mais resistente ao avano das relaes capitalistas destrutivas para os trabalhadores. Na sociedade comunista no haver DT, pois cada indivduo exercer a atividade que lhe aprouver, sem exclusividade e sem especializao.Em Educao, Formao do Trabalho, os autores retomam o tema da DT onde afirmam que a unilateralidade da especializao inibe o desenvolvimento das faculdades plenas dos trabalhadores que as desenvolvem apenas parcialmente. Para eles, ?o limite da emancipao poltica se manifesta imediatamente no fato de que o Estado possa liberar-se de um limite sem que o homem libere-se realmente dele, que o Estado possa ser um Estado livre sem que o homem seja um homem livre? (p.30). Ou seja, os autores criticam a influncia da Igreja, muito forte ainda no seu tempo, nos assuntos do Estado. Segundo eles, fundamental que o Estado dote as instituies escolares de todos os meios possveis para uma boa educao, mas no deve ser ele o agente educador, pois a educao deve ser autnoma e independente em relao ao Estado e a Igreja, haja vista que tanto um quanto outro tem estrita ligao com as classes dominantes. Se a primeira o bureau (agncia) da burguesia, a segunda o pio do povo. A vinculao da educao ao Estado seria uma contradio, pois o objetivo da educao justamente a instaurao de uma nova ordem social onde no cabem tanto o Estado quanto a Igreja nas suas atuais concepes ideolgicas.Outro aspecto interessante a concepo filosfica dos autores sobre a propriedade privada. Para eles, ?a propriedade privada nos tornou to estpidos e unilaterais que um objeto somente nosso quando o temos, quando existe para ns enquanto capital ou quando imediatamente possudo, comido, bebido, vestido, habitado; em suma, utilizado por ns? (p.33). Essa concepo privatista da posse de bens se entrechoca diretamente com a concepo comunista de uma sociedade destituda da propriedade privada e de luta de classes. ?A objetivao da essncia humana, tanto no sentido terico como no prtico, , pois, necessria tanto para tornar humano o sentido do homem como para criar o sentido humano correspondente riqueza plena da essncia humana e natural? (p. 36). Trata-se, da parte dos autores, de uma crtica direta irracionalidade da ideologia capitalista e um chamamento re-essencializao do esprito humano desestruturado pela ao nociva do capital.A destruio do capitalismo estaria sendo gestado no seu prprio seio: isso levaria a uma contradio, pois o desenvolvimento das foras produtivas necessrias ao desenvolvimento do capital e a produo de riquezas, condio essencial de sua reproduo, levaria assim a sua prpria destruio. Nesse caso, tanto as relaes capitalistas, competitivas e antagnicas por natureza, quanto o desenvolvimento das foras produtivas e a teleolgica tomada de conscincia por parte do proletariado, seriam poderosos limites ao avano do capital.Na terceira seo, Ensino, Cincia e Ideologia, os autores retomam a idia de que a viso burguesa desfavorvel ao acesso educao pelas classes proletrias seria, na realidade um efeito perverso para aquela classe dominante, pois o acesso restrito educao seria um dos propulsores da revoluo proletria que poria fim propriedade privada, numa clara viso otimista desse processo de reestruturao social em direo ao futuro e ao progresso (p.45). O melhor exemplo do descaso para com a educao do proletariado teria ocorrido na Inglaterra, segundo Engels.Tambm elaboram um panorama crtico das condies das cincias. Dividem as cincias em trs ramos principais: exatas, biolgicas e humanas, sendo que as mais desenvolvidas naquela poca seriam as exatas devido ao rompimento daquela corrente cientfica com a teologia, mesmo que ao custo das fogueiras da Santa Inquisio. As biolgicas ainda tratavam o corpo humano como um templo sagrado e as humanas ainda estavam mergulhadas na teologia, principalmente os legados filosficos de So Toms de Aquino e de Santo Agostinho. Contudo, os autores no deixam de criticar fortemente as ?verdades eternas? (paradigmas) vigentes nos diferentes campos do saber, principalmente nas cincias humanas.Tratam ainda de diagnosticar que a genialidade dos pensadores do passado como Newton, Kepler, Galilei, Giordano Bruno, Da Vinci, entre tantos outros foi fruto da no submisso destes cientistas diviso do trabalho. Dessa maneira, ?os heris daquele tempo ainda no eram escravos da DT, cuja influncia d atividade dos homens, como podemos observ-lo em muitos de seus sucessores, um carter limitado e unilateral? (p.52).Os autores ainda discutem o papel das cincias durante os diferentes perodos da sua evoluo. Segundo eles, o primeiro perodo das naturais foi marcado por uma nova concepo de mundo (imutabilidade absoluta da natureza, viso esttica) que se ops viso da filosofia grega clssica (viso dinmica). Os naturalistas do sculo XVIII ento assumiram uma postura conservadora onde tudo seria explicado como atos do criador. Neste momento, havia ainda uma forte influncia da Igreja mesmo nas cincias exatas. Coprnico e Newton foram os precursores de uma viso que tenderia a romper definitivamente com a viso imutvel e teolgica da cincia. Essa viso conservadora ainda era muito marcante na educao poca em que os autores viviam e, talvez, ainda o seja em nosso tempo presente.Havia ainda os materialistas franceses que buscavam explicar o mundo pelo prprio mundo. Seriam eles, portanto, os precursores de uma corrente de pensamento muito influente, principalmente na Frana em meados do sculo XX, o existencialismo cujo maior expoente foi Sartre.Um dos motivos do enfraquecimento da teologia talvez tenha sido a inveno da Imprensa por Gutemberg e a complexificao das relaes mercantis que impulsionaram a escrita e a leitura para as demais classes sociais.Em Educao, Trabalho Infantil e Feminino, os autores abordam a relao entre trabalho infantil e educao; as medidas do Estado pra prover educao bsica s crianas que trabalhavam nas fbricas; a resistncia da classe burguesa, e a insero da mulher nesta nova dimenso da produo.Basicamente, os autores convergem para a idia de que crianas e adolescentes tambm podem trabalhar, mas ressaltam que a carga de trabalho deve variar conforme a idade e no prejudicar a sua educao escolar. Tambm no concordavam com o trabalho infantil noturno devido aos efeitos nocivos para a sade. Por educao os autores entendem trs aspectos: a educao corporal (educao fsica); a educao intelectual e a tecnolgica. Essa educao seria paga com o trabalho produtivo das crianas e adolescentes. Para Marx e Engels, a educao das crianas deve ser entendida como um projeto de classe que colaboraria de maneira efetiva com o pressuposto do socialismo cientfico de tomada de conscincia da classe proletria visando revoluo do proletariado, colocando-a acima das classes burguesa e aristocrtica (p.60). Ou seja, a educao infantil seria um instrumento da inevitvel transformao radical da estrutura de classes ento vigente. Nesse caso, a crtica dos autores aos abusos de poder paterno so claros e objetivos conforme visto neste captulo.Um outro ponto interessante a anlise das aes governamentais no sentido da obrigatoriedade da educao para crianas e adolescentes em horrio de trabalho. Segundo os autores, havia uma grande resistncia da parte da classe empregadora, alm de inmeros subterfgios para burlar as leis. Falam tambm da degradao dos espaos escolares e do despreparo dos professores e diretores de escola que, muitas vezes, sequer eram alfabetizados e nada proporcionavam em matria de ensino s crianas. Tratam ainda da maneira como eram compensadas para os empregadores as horas que as crianas passavam nas escolas, mas reconhecem que a lei fabril de 1844 ?fizeram da instruo primria condio indispensvel para o emprego de crianas? (p.64).H ainda a crtica ao efeito devastador que a parcializao das atividades industriais impem aos jovens principalmente queles acima de 17 anos que quando despedidos, no tem qualquer tipo de preparao para exercer outra atividade qualquer. Neste caso passam a engrossar o j avolumado exrcito de reserva proletrio. Dessa forma, ?algumas tentativas para arranjar-lhes ocupao noutras atividades fracassam diante da sua ignorncia, brutalizao e degradao fsica e espiritual? (p.67).Essa concepo degradante da DT tambm transposta para o interior da sociedade. A unilateralizao da especializao no modo produtivo capitalista representa uma fase da evoluo histrica rumo revoluo.a tecnologia aliada especializao cada vez mais necessria gera uma contradio pois ?(...) revoluciona constantemente a diviso do trabalho dentro da sociedade e lana, ininterruptamente, massas de capital e massas de trabalhadores de um ramo de produo para outro? (p.68). Esta condio de insegurana traz malefcios para o trabalhador que dispensam reflexes. Essa condio ameaadora, contudo, uma condio histrica necessria transformao final da estrutura de classes segundo os autores.Assim como a manufatura e o artesanato, tambm o trabalho a domiclio tiveram as suas estruturas tradicionais sacudidas pelo capital. A interveno do Estado legislando leis para tentar compensar as brutalidades do capital sobre as classes trabalhadoras e a instaurao de comits para avaliar as condies do trabalho infantil e feminino nas oficinas e fbricas tambm assunto dos autores. Nesta oportunidade, Marx e Engels discutem as medidas contra a explorao dos trabalhadores por parte do governo ingls e a resistncia imposta pelos empregadores, alm da m f com que estas prticas foram implementadas pelos capitalistas. Outro aspecto importante da legislao contra os abusos do capital e pela educao das classes trabalhadoras que elas eram direcionadas no apenas classe burguesa, mas tambm aos pais que abusavam do direito de transformar os filhos em instrumentos disponveis para os meios produtivos fabris.Em O ensino e a Educao da Classe Trabalhadora, ltimo captulo do livro, os autores tratam dos custos e do tempo de formao dos trabalhadores. Analisando as aes da burguesia para a formao dos trabalhadores, os autores vo afirmar que ?(...) as escolas no contribuem em nada, ou quase nada, para a moralidade da classe trabalhadora? (p.80), e que educao moral para aquela classe seria a memorizao dos seus princpios de classe (p.81). Alm disso, a educao das classes trabalhadoras quela poca estava ainda muito influenciada pela Igreja, o que dificultava ainda mais uma emancipao dos trabalhadores na dimenso da educao. Para os autores ?a escola primria oferecer tudo o que em si mesmo e por princpio seja susceptvel de ter algum atrativo para o Homem, sobretudo os fundamentos e os resultados principais de todas as cincias que digam respeito s concepes do Mundo e da vida? (p.87)[2].Segundo Engels, ?a democracia no teria nenhuma utilidade para o proletariado se no servisse de maneira imediata para realizar algumas medidas que atacam diretamente a propriedade privada e asseguram a existncia do proletariado? (p.94). Tais medidas s poderiam ser implementadas com a concentrao do poder e dos meios de produo nas mos do Estado. Trata-se, portanto, de um segundo momento, ps-revoluo, que aboliria a propriedade privada e prepararia a emergncia da sociedade sem classes e sem Estado coercitivo. Dentro dessa perspectiva, o papel da educao seria libertar a classe trabalhadora ?do carter unilateral que imprime a cada indivduo a atual diviso do trabalho. Desta forma, a sociedade organizada, segundo o modo comunista, dar a seus membros a oportunidade para desenvolverem tanto os seus sentidos quanto as suas aptides? (p.95), fazendo desaparecer, inclusive, a oposio entre o campo e a cidade.Isso tambm traria efeitos sobre a instituio familiar. Segundo os autores, ?a relao entre dois sexos ser uma questo puramente pessoal, concernente somente s partes interessadas, e na qual a sociedade no ter de intervir. Isso ser possvel porque se abolir a propriedade privada e as crianas sero educadas pela sociedade, de tal forma que sero destrudos os dois pilares que constituem as bases fundamentais do matrimnio: a dependncia da mulher em relao ao homem e das crianas em relao aos pais no regime da propriedade privada? (p.96). Contudo, esse novo sistema de ensino demanda mudanas na estrutura social. Portanto, o Estado deve prover os meios necessrios alm de fiscalizar a implementao da nova escola socialista, mas o ensino mesmo sendo estatal no deve estar sob controle do Estado que dever proporcionar uma educao politcnica e no ideolgica. Lembrar que os autores escrevem sobre o seu tempo: segunda metade do sculo XIX. No tpico [38], p. 86-91, Engels define de maneira objetiva a natureza formal e as caractersticas das diversas disciplinas a serem ministradas na Escola primria da classe operria. A idia principal dos autores para a consecuo deste propsito a desvinculao total da escola da influncia do Estado e da Igreja. Segundo os autores, o Estado no deve educar o povo, mas deve prover todos os meios legais, materiais e humanos possveis para a implementao de modelo proposto pelos autores.