RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA...

12
RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES) Teresa CONDESSO de MELO (1, 4) ; Judite FERNANDES (2) ; Carla MIDÕES (2) ; Carlos COSTA ALMEIDA (2) ; Helena AMARAL (2) ; Ana Rita GOMES (3) ; Maria José MADRUGA (3) ; Manuel MARQUES da SILVA (4) ; João LOPO MENDONÇA (5) ; (1) CVRM Centro de GeoSistemas, Instituto Superior Técnico, Lisboa (2) LNEG Laboratório Nacional de Energia e Geologia – Unidade de Águas Subterrâneas, Alfragide (3) ITN Instituto tecnológico e Nuclear, Sacavém (4) GeoBioTec, Universidade de Aveiro, Aveiro (5) Centro de Geociências, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa

Transcript of RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA...

Page 1: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

Teresa CONDESSO de MELO  (1, 4);  Judite FERNANDES  (2); Carla MIDÕES (2); Carlos COSTA ALMEIDA  (2); Helena AMARAL  (2); Ana Rita GOMES  (3); Maria  José MADRUGA  (3); Manuel MARQUES da SILVA  (4);  João  LOPO MENDONÇA (5);

(1) CVRM ‐ Centro de Geo‐Sistemas, Instituto Superior Técnico, Lisboa(2)  LNEG ‐Laboratório  Nacional  de  Energia  e  Geologia  – Unidade  de Águas Subterrâneas, Alfragide(3) ITN ‐ Instituto tecnológico e Nuclear, Sacavém (4) GeoBioTec, Universidade de Aveiro, Aveiro(5)  Centro  de Geociências,  Faculdade  de  Ciências  da Universidade  de Lisboa, Lisboa

Page 2: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

Foram objecto de um estudo hidrogeológico, hidrogeoquímico e isotópico, oito sistemas da região centro: Viso –Queridas, Condeixa ‐Alfarelos, Figueira da Foz ‐Gesteira, Leirosa ‐Monte Real, Louriçal, Vieira de Leiria ‐Marinha Grande, Pousos ‐ Caranguejeira e Alpedriz. Os contextos geológicos e estruturais são muito semelhantes ao aquífero Cretácico de Aveiro do qual já se conhece a existência de águas pristinas.

Page 3: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

Metodologia adoptada, primeira fase:i) levantamento exaustivo dos relatórios de furos de captação de água, com mais de 180 m de profundidade, da região litoral‐centro, ii) enquadramento hidro‐lito‐estratigráfico dos níveis aquíferos potencialmente interessantes e iii) determinação da geometria 3D das massas de água profundas. 

Page 4: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

Segunda fase:i)fez‐se a caracterização hidrogeoquímica das águas de 35 furos seleccionados;ii)determinou‐se a idade aparente, através do teor de trítio, que permitiu distinguir águas modernas, com trítio, de águas mais antigas (anteriores a 1952), sem trítio;

Page 5: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

Terceira Fase :‐ foram eliminados os pontos com teores de trítio e nitrato, uma vez que a existência de trítio indica águas modernas e valores consideráveis de nitrato indiciam alguma contaminação, resultante de eventual mistura no próprio furo por captar níveis de diferente qualidade e/ou pouco confinamento dos níveis superiores; ‐ foram eliminadas águas com mineralização excessiva;‐ foram considerados pontos onde a profundidade da zona captada, as formações litoestratigráficas captadas e o confinamento dados pelos níveis sobrejacentes fossem mais favoráveis;‐ foram considerados pontos que permitissem datar águas antigas e seguir a evolução da idade da água ao longo de uma linha de fluxo.

Os 13 pontos de água potencialmente mais antiga foram objecto de uma caracterização geoquímica mais detalhada, determinando elementos maiores, menores e vestigiais, assim como 14C, δ 13C, δ 18O e δ 2H.

Page 6: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

16

18

20

22

24

26

28

30

0 2 4 6 8 10

pH

Tem

pera

tura

36

12 3230

22

15

5

823

13

731

17

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

-0,20 -0,10 0,00 0,10 0,20

Eh (volts)

NO

3 (m

g/l)

32 36 17

8

7

23

1331

1230

22

15516

18

20

22

24

26

28

30

0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20

Nitrato (mg/L)

Tem

pera

tura

(ºC

)

36

12

3230

22

15

175

8

23

13731

As amostras 12 (Vieira de Leiria‐Marinha Grande), 30 (Condeixa‐Alfarelos ), 32 e 36 (Leirosa‐Monte Real ) têm facies Na‐HCO3, e apresentam alta temperatura (>22ºC), pH elevado e baixo conteúdo em oxigénio dissolvido, quando comparadas com as restantes amostras. Não têm nitrato e o diagrama redox‐pH  indica que circulam em ambientes praticamente isolados da atmosfera. A diminuição da dureza (ID 12, 15, 32 e 36) acompanhado do enriquecimento relativo em sódio é indicador de processos de troca iónica, provavelmente relacionados com a presença de camadas com lignitos.

0.00

1.00

2.00

3.00

4.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00

Cl (mmol/L)

Na

(mm

ol/L

)

32 36

12 1522

23

7

5 30

1731

13

8

0,000,501,001,502,002,503,003,50

0 2 4 6 8 10

pH

HC

O3

(mm

ol/L

) 30

15

17

23

31

12

32

36

22 587

13

0.00

0.50

1.00

1.50

2.00

0.00 1.00 2.00 3.00 4.00

Na (mmol/L)

Ca

(mm

ol/L

)

3612

23

13

31

30

15 2217 5 328

7

Page 7: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

Evolução da água subterrânea em termos dos processos redox:

As águas com menor tempo de residência ou que não foram sujeitas a processos redutores (ID 7, 8, 13, 22, 23 e 31) têm maiores concentrações de oxigénio dissolvido, normalmente acompanhadas da ausência de Ferro e Manganês, ou sua presença em concentrações baixas e presença de nitratos.

Maiores tempos de residência, ou passagem através de barreiras redox, conduzem àeliminação sucessiva do oxigénio dissolvido, nitrato e a solubilização do ferro e manganês ( ID 5, 17, 32 e 36). 

A tendência evolutiva pode levar à redução dos sulfatos, acompanhada da presença de sulfureto de hidrogénio, o que se observou nos pontos 32 e 36. Normalmente, a presença de sulfuretos é acompanhada da diminuição da concentração de metais pesados, incluindo o ferro, devido à formação de sulfuretos metálicos, de solubilidade muito baixa.

Page 8: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

δ18O (‰)

-5.4 -5.2 -5.0 -4.8 -4.6 -4.4 -4.2 -4.0 -3.8 -3.6

δ2 H (‰

)

-32.0

-30.0

-28.0

-26.0

-24.0

-22.0

-20.0

Dados obtidos águas subterrâneasRecta meteórica global GMWL (δ2H=8.13δ18O+10.8)Recta meteórica Baixo Vouga (δ2H=7.12δ18O+5.30)Composição isotópica ponderada água da chuva actual

idades aparentes c

rescentes

A representação das amostras define um declive semelhante ao da recta meteórica global (declive, m ≈ 8), mas acima desta e da recta meteórica local (região do Baixo Vouga), o que confirma que as condições de temperatura e precipitação em que se deu a sua infiltração são diferentes das actuais.

Diagrama δ 18O ‐ δ 2H 

Page 9: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

δ18O

(‰)

-5.6-5.4-5.2-5.0-4.8-4.6-4.4-4.2-4.0

14C (pMC)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

δ2 H (‰

)

-30.0-29.0-28.0-27.0-26.0-25.0-24.0

Apesar de estarem isotopicamente empobrecidas relativamente à média ponderada da precipitação actual (cujos valores podem estar ligeiramente enriquecidos devido à evaporação), verifica‐se um enriquecimento isotópico das águas subterrâneas com tempos de residência mais elevados relativamente às águas subterrâneas mais recentes. 

As águas mais antigas estarão a circular em sistema fechado ao CO2 sem contacto directo com a atmosfera, pelo que o enriquecimento observado em δ 13C se deverá à mistura entre o δ 13C do CO2dissolvido durante os processos de infiltração (recarga subterrânea) e a calcite dissolvida na interacção água ‐ aquífero.

14C (pMC)

0 20 40 60 80 100

δ13C

(‰)

-30.0

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

-5.0

0.0

5.0

rochas carbonatadas de origem marinha

CO2 solo

CO2 atmosférico

Page 10: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

As amostras mais antigas (com valores mais elevados de δ 13C), apresentam concentrações mais elevadas de ião bicarbonato em solução e valores crescentes de pH. Deve‐se ao facto de as águas subterrâneas, ao circularem no aquífero e reagirem com os minerais silicatados e carbonatados, consumirem CO2 e H+. Quando em sistema aberto (na zona de recarga, águas mais recentes) haverápossibilidade de repor o CO2 consumido, em sistema fechado (parte confinada dos sistemas aquíferos, águas mais antigas) o CO2 será gradualmente consumido atépraticamente desaparecer.

A dissolução de calcite produz o aumento de bicarbonato em solução e é um dos processos geoquímicos mais relevante no controlo do pH da água subterrânea.

pH

5 6 7 8 9 10

δ13C

(‰)

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

HCO3 (mg/l)

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

δ13C

(‰)

-25.0

-20.0

-15.0

-10.0

Page 11: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

pH água subterrânea

5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 7.5 8.0 8.5 9.0 9.5

Idad

es a

pare

ntes

(ka

BP)

0

5

10

15

20

25

14C

(pm

C)

0

20

40

60

80

100

Paleoáguas

Águas muitoantigas

Águas antigas

Águas modernas

HCO3 (mg l-1)

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

Idad

es a

pare

ntes

(ka

BP)

0

5

10

15

20

2514

C (p

mC

)0

20

40

60

80

100

Paleoáguas

Águas muitoantigas

Águas antigas

Águas modernas

mistura ?

mistura ?

•A14C (CITD) < 15 pCM e δ 13C =  ‐12 a ‐14 ‰•A14C (CITD) = 15 ‐ 20 pCM e δ 13C = ‐14 a ‐16 ‰•A14C (CITD) > 20 ‐ 90 pCM e δ 13C < ‐16 ‰ (com excepção da amostra 10, δ 13C =14,09 ‰)•A14C (CITD) > 90 pCM e δ 13C < ‐21 ‰que correspondem a águas subterrâneas com idades aparentes representativas de paleoáguas (Plistocénico tardio – Holocénico), águas muito antigas (Holocénico), águas antigas e águas modernas, respectivamente. 

As análises de isótopos estáveis (δ 18O, δ 2H e δ 13 C) e radioisótopos (3H e 14C) obtidos para os diferentes sistemas aquíferos estudados, permitem definir 4 grupos de águas subterrâneas:

Page 12: RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA ...repositorio.lneg.pt/bitstream/10400.9/2749/1/34486.pdfRESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃO CENTRO (PROJECTO IMAGES)

RESERVAS ESTRATÉGICAS DE ÁGUA SUBTERRÂNEA NA REGIÃOCENTRO (PROJECTO IMAGES)

Conclusões:

Os resultados hidrogeológicos, hidrogeoquímicos e isotópicos de 13 furos profundos dos sistemas aquíferos Condeixa ‐ Alfarelos, Leirosa ‐Monte Real, Vieira de Leiria ‐Marinha Grande e Pousos ‐ Caranguejeira, confirmaram a existência de águas com elevados tempos de residência (algumas no limiar das paleoáguas com 22000 anos) e condições de recarga diferentes das actuais, pelo que podem constituir reservas estratégicas de água doce com um nível de vulnerabilidade relativamente baixo e uma capacidade de atenuação de contaminantes relativamente elevada.

Obrigada pela atençã[email protected]