Resista à tentação de pertencer a um grupo

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1 AUGUSTO DE FRANCO R R E E S S I I S S T T A A À À T T E E N N T T A A Ç Ç Ã Ã O O D D E E P P E E R R T T E E N N C C E E R R A A U U M M G G R R U U P P O O Sobre as dificuldades de se atirar na correnteza quando é tão mais fácil construir diques e ficar boiando na tranqüilidade da represa Publiquei este texto na Escola-de-Redes no dia 11/04/2011. Até hoje (26/09/2011) ele recebeu 62 comentários que vão publicados no final. Vale a pena ler o comentários para ter uma idéia dos fluxos de conversações na E=R. É a parte mais rica. As reflexões expostas a seguir são sobre redes sociais voluntariamente articuladas. Mais precisamente sobre a interação entre pessoas em prol de objetivos comuns fora de organizações hierárquicas ou do que chamo de grupos proprietários. Venho

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Texto de Augusto de Franco (2011) | Sobre as dificuldades de se atirar na correnteza quanto é tão mais fácil construir diques e ficar boiando na tranquilidade da represa | Edição com 62 comentários feitos na Escola-de-Redes

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PPEERRTTEENNCCEERR AA UUMM GGRRUUPPOO

Sobre as dificuldades de se atirar na correnteza quando é tão mais

fácil construir diques e ficar boiando na tranqüilidade da represa

Publiquei este texto na Escola-de-Redes no dia 11/04/2011. Até

hoje (26/09/2011) ele recebeu 62 comentários que vão

publicados no final. Vale a pena ler o comentários para ter uma

idéia dos fluxos de conversações na E=R. É a parte mais rica.

As reflexões expostas a seguir são sobre redes sociais

voluntariamente articuladas. Mais precisamente sobre a interação

entre pessoas em prol de objetivos comuns fora de organizações

hierárquicas ou do que chamo de grupos proprietários. Venho

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ruminando-as há algum tempo. A primeira versão dessas idéias

publiquei-a, ainda no início de 2009, no texto Cada um no seu

quadrado http://goo.gl/Sqcfp

Na mesma época expressei mais ou menos assim uma convicção que

estava se formando:

"- Não faça patotas, não construa igrejinhas".

O mundo girou, a luzitana rodou, e tal convicção somente

amadureceu. Então vou publicá-la antes que apodreça (sim,

conhecimento guardado costuma estragar).

Em geral as pessoas estão acostumadas a interagir em espaços

proprietários (fechados), não em redes (abertas). Não estão abertas

à interação com o que chamei de outro-imprevisível. Por isso fazem

escolas, erigem igrejas, urdem corporações e partidos e servem à

instituições hierárquicas (sejam sociais, estatais ou empresariais). E,

às vezes, seu quadradinho é um espaço proprietário virtual, um blog

ou uma página no Facebook.

Mesmo quando se aventuram a fazer redes, as pessoas, em geral,

organizam grupos proprietários, estabelecem contextos que separam

quem está dentro de quem está fora, criam sulcos que acabam

disciplinando a interação por meio de regras (muitas vezes tácitas,

mas não por isso menos efetivas), de um glossário próprio (pelo qual

ressignificam os termos que usam recorrentemente gerando algum

tipo de jargão) não importando para nada se esta "wikipedia" (ou

"contextopedia") privada está ou não publicada em um site aberto ou

fechado; enfim, fazem tudo para promover o seu grupo – às vezes

chamado de comunidade – à condição de instância mais estratégica

do que as demais (os outros ambientes em que interagem, inclusive

as midias sociais onde se registram). Este é um dos motivos pelos

quais sua interação nesses outros ambientes é, em geral, tão pouco

intensa ou tão pouco freqüente. Pudera! Seu tempo está tomado pelo

seu próprio grupo (seja uma organização da sociedade formal ou

informal, seja um órgão estatal, seja uma empresa).

E o mais interessante é que, muitas vezes, essas pessoas estão

convencidas intelectualmente de que devem se organizar em rede.

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Não raro denominam de redes suas organizações hierárquicas ou

seus grupos proprietários. Não estão – em sua maioria – mentindo ou

fazendo propaganda enganosa. Elas acreditam mesmo que suas

organizações sejam redes, desde que seus membros estejam

convencidos (ou “tenham consciência”) de que agora entramos na era

das redes (por algum motivo elas acham que consciência é algo

capaz de determinar comportamentos coletivos).

Chega a ser fascinante observar como essas pessoas não conseguem

viver fora do seu quadrado. E como racionalizam tal aprisionamento

lançando mão das mais variadas teorias sociológicas sobre grupos (a

sociologia vem aqui, não raro, como um socorro contra a política,

como uma proteção contra a experiência direta de uma política não-

autocrática). Ah! é difícil, como é difícil se atirar na correnteza

http://goo.gl/CJxs1 quando é tão mais fácil construir diques e ficar

boiando na tranqüilidade da represa!

Pois bem. Tudo isso - que já foi dito e repisado, por mim e por

outros, nos últimos dois anos - me leva agora a refletir sobre o

seguinte: se quiserem realmente tecer redes as pessoas não devem

se agregar a outras pessoas em grupos proprietários, comunidades

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exclusivas, inner circles, bunkers para se proteger do mundo exterior

ou outras formas de organização constituídas na base do “cada um

no seu quadrado”. Sim, pode parecer surpreendentemente

contraditório, à primeira vista, dizer o que vou dizer agora:

- Se você quer fazer redes, resista a tentação de pertencer a um

grupo.

Se você se deixa capturar por um grupo ou se põe a capturar outras

pessoas para um grupo (que seja considerado - ou funcione como, dá

no mesmo - o seu grupo), então você terá imensas dificuldades de

interagir em rede de modo mais distribuído do que centralizado. Se

você quer, porque acha que precisa, porque sente, às vezes

desesperadamente, a vontade de se juntar a outras pessoas para

executar algum projeto coletivo, compartilhar com elas suas idéias,

seus sonhos (e também suas ansiedades), somar esforços, apoiar e

receber apoio praticando a ajuda-mútua dentro de um campo de

cumplicidade, enfim, constituir um grupo e coesioná-lo a partir de

uma visão comum, de um “falar a mesma língua”, de uma sintonia

fina de sentimentos e emoções, então se prepare para fazer o mais

difícil: matar essa vontade!

Simplesmente mate essa vontade. Se preciso, vá para o deserto e

passe um tempo lá. Se você já está conectado a outras pessoas, por

que diabos quer também forçar uma clusterização que selecionará a

priori algumas conexões como mais fortes do que outras, alguns

caminhos como mais válidos do que outros, alguns planos feitos intra

muros (quer dizer, dentro daquele clusterzinho que foi urdido antes

da interação) como mais estratégicos do que outros?

Não há qualquer problema em se reunir com muitos grupos para

propósitos diversos, públicos ou privados, interagir em vários

aglomerados, atuar coletivamente em várias instâncias. O problema

só surge quando você faz tudo isso não a partir de você mesmo, mas

sempre a partir de um grupo que encara os demais ambientes

coletivos como campo de atuação (e uma atuação inevitavelmente

tática, mesmo quando você proteste o contrário) desse grupo.

Trabalhar em rede distribuída é diferente de trabalhar num grupo

proprietário, numa organização nuclear que compartilha uma visão

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comum e exige essa visão comum para continuar interagindo. Na

verdade, o problema está na construção de mundos baseados na

participação.

Portanto, se você quer experimentar redes (mais distribuídas do que

centralizadas), nada de grupo participativo, nada de chegar a algum

formato com base em participação. Redes não são ambientes de

participação http://goo.gl/ZQm8w e sim de interação. Não temos que

decidir o que todos farão em bloco. Vamos interagir e ver o que

acontece. O formato final de qualquer ação coletiva será sempre uma

combinação fractal, emergente, de certo modo inédita e imprevisível,

das contribuições de cada um.

Em outras palavras, se você quer fazer redes não pode esquecer

jamais uma coisa: você é uma pessoa. Paulo Brabo (2007), em um

texto que não me canso de citar http://goo.gl/ytbZg, escreveu assim:

“A primeira coisa a fazer, se você ainda não fez, é desiludir-se por

completo de todas as iniciativas comunitárias ou governamentais, por

mais bem intencionadas que sejam, e raramente são. Esqueça, meu

caro discípulo, o coletivo. A salvação não virá de ongs ou ogs, Gogues

ou Magogues, poderes ou potestades. A salvação não virá de igrejas,

assembléias, organizações de bairro, sindicatos, asilos, orfanatos ou

campanhas de assistência. As ongs têm a tremenda virtude de não

serem governamentais, mas contam com a imperdoável falha de

serem organizações. Repita comigo: as instituições não existem. Só

existem pessoas”.

É claro que é necessário entender o contexto confessional (ou

teologal) em que Brabo escreveu sua bela homilia herética e fixar-se

nas suas mensagens centrais: desiluda-se por completo das

iniciativas comunitárias, esqueça o coletivo, reconheça a imperdoável

falha das organizações (aquela que deriva do fato de serem

organizações) e convença-se de que as instituições não existem: só

existem pessoas.

Fale como uma pessoa. Seja uma pessoa. Não aja como se fosse um

grupo, um projeto, uma organização (nem mesmo tuite como se

fosse uma coletividade abstrata). Uma pessoa jurídica é uma pessoa

imaginária (ou seja, uma não-pessoa). A vida gastou 3,9 bilhões de

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anos e as coletividades humanas formadas pela convivência gastaram

uns 300 mil anos para constituírem essa tão surpreendente quanto

improvável realidade que somos (o humano, a pessoa: o encontro

fortuito do simbionte natural em evolução com o simbionte social em

prefiguração) e na hora em que vamos nos apresentar a alguém,

sobretudo a alguma coletividade, temos vergonha de dizer que somos

“apenas” uma pessoa e preferimos declarar que estamos

representando alguma dessas organizações vagabundas que, em

média, não conseguem sobreviver mais do que poucos anos e que,

além de tudo, são não-humanas, quando não desumanas.

Mas... atenção! Pessoa não é o mesmo que a abstração chamada

indivíduo. Redes sociais não são redes de indivíduos e sim de

pessoas. O conjunto dos pensionistas do previdência social não

constitui uma rede social, assim como não constitui uma rede social a

população de um país. O social, como sempre dizemos, não é a

coleção dos indivíduos e sim as configurações móveis geradas a partir

do que ocorre entre eles (que, então, deixam de ser indivíduos para

passar a ser pessoas). Quando interagimos, tornamo-nos pessoas.

Assim, pessoa já é rede http://goo.gl/pE0oM.

Se você não tem liberdade para interagir nos seus próprios termos,

como uma pessoa, se você diz: “vou consultar primeiro meu chefe ou

meus companheiros” antes de decidir sobre isso ou aquilo, então sua

porção-borg http://goo.gl/B7erl cresce e sua porção-social diminui.

Em outras palavras, sua porção-rebanho cresce e sua porção-pessoa

diminui. Em outras palavras, ainda: você perde um pouco daquela

qualidade da alma que chamamos de humanidade.

Se você se define como participante de qualquer grupo, quer dizer,

restringe suas possibilidades de interagir para se enquadrar nos

termos já estabelecidos por outrem (ou, até, por você mesmo, porém

antes da interação), então você terá muitas dificuldades de entender,

experimentar e atuar em rede (distribuída).

Toda realização em rede distribuída é um projeto que vai se

construindo à medida que avança, que vai se formando ao sabor de

fluzz http://goo.gl/NA5xt, que vai gerando ordem a partir – e no

ritmo – da interação. Em tal contexto é desnecessário, a rigor,

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combinar antes o script. É inútil – e freqüentemente

contraproducente – mobilizar energia para direcionar um grupo.

Se você quer fazer redes, nada de formar uma comunidade que vá

além do seu propósito específico e declarado (como se fosse um

comunidade de destino). Não existe „a‟ comunidade: existem

múltiplas, diversas, comunidades. Se você acha que existe aquela

comunidade que é „a‟ comunidade (porque é “a sua”, a escolhida, a

predestinável), é sinal de que você se deixou aprisionar por um grupo

(às vezes uma prisão que você mesmo engendrou). E aí não vão

tardar a surgir aquelas manifestações horríveis de pertencimento

exclusivo, de fidelidade... Mesmo que você aceite o direto de uma

pessoa de abandonar uma comunidade, isso não basta. É necessário

aceitar o direito de uma pessoa de pertencer a várias comunidades ao

mesmo tempo! Ou seja, é necessário desconstituir a cultura (ou

quebrar a linha de transmissão de comportamento) do “cada um no

seu quadrado”.

Você já notou que este direito não é reconhecido nas organizações

hierárquicas, mesmo nas privadas, como os partidos e as empresas?

Nas empresas esse direito só existe para os donos ou acionistas.

Quando lhe pagam um salário, é como se dissessem: “comprei você e

agora você é meu; nada de transar fora do meu quadrado”.

Se você quer fazer redes, nada de alinhar visões. Na maioria das

organizações burocráticas, sejam sociais, empresariais ou

governamentais, o tempo das pessoas é gasto em reuniões para

alinhamento (ou seja, agrupamentos forçados para discutir como

realizar melhor as diretivas estabelecidas por cima ou por fora da sua

interação). Mal saem de uma reunião os “colaboradores” (um

eufemismo empresarial para empregados, quer dizer, subordinados)

já entram em outra reunião. E assim passam o dia: entre o

computador, o banheiro, o café e as indefectíveis reuniões. Revela-se

óbvio o motivo de tais reuniões: são ambientes de direcionamento

voltados à reprodução de comportamentos, são campos de

adestramento, são artifícios para proteger as pessoas da experiência

de empreender http://goo.gl/6LWLa, de criar, de inovar.

Se você quer fazer redes, nada de virar escola http://goo.gl/RTKir,

nem mesmo escola de pensamento. As comunidades ditas de livre

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adesão, em sua maioria, são algum tipo de escola de pensamento, ou

de igreja, ou de corporação, ou de partido, ou de alguma coisa que

exija que você adote e professe uma visão coletivamente construída

para pertencer ao grupo e poder falar em seu nome. Mas se você

quer fazer redes, nada de criar coesões que separem os de dentro

dos de fora.

Estar em rede é sempre uma aposta: a aposta de que da nossa

interação desorganizada vai surgir algo interessante, não antes, no

ensaio (“a vida é beta”, como diz o Silvio Meira), mas sobretudo ali,

na hora exata em que ocorre, bottom up.

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Comentários

1 - Comentário de Ceila Santos em 11 abril 2011 às 9:57

Hummmmmmmmmmmm identifiquei que estou presa... mas ao

mesmo tempo achei que escrevia mais para as práticas empresariais,

para indivíduos que estabelecem quem entra e quem tá fora, certo?

Eu me identifico e ajo nas redes sociais como a mãe. Sinto que faço

parte da blogosfera materna e seu texto me mostrou que estou presa

a este pertencimento. Antes disso me sentia mais perdida pq

perambulava por outras redes como de jornalistas, blogueiros e

produtores culturais, mas não conhecia a rede de mães que era a

razão de eu estar na rede. Agora que conheço sinto que pertenço... e

pertencer dá um alivio danado. Talvez o alivio seja retrogrado...talvez!

Mas fiquei com uma pulguinha atrás da orelha: a escola das redes é

um grupo? Estamos aprisionados pela obsessão ao conhecimento das

redes sociais, ou não?

2 - Comentário de Tarás Antônio Dilay em 11 abril 2011 às

10:04

OK, concordo com sua linha de pensamento. Fiquei com uma dúvida:

a partir do ingresso em uma rede pré-estabelecida como é a Escola de

Redes, o Fecebook, o twitter, etc, não estou já aceitando uma

conceituação e um código de postura já previamente estabelecido? A

própria web já não é um processo hierarquizado de interação? Achei

que o texto confundiu mais a minha cabeça do que esclareceu...

Abraço

3 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às

10:06

A E=R não é um grupo, no sentido de grupo proprietário, Celia. São

milhares de grupos. Como uma rede voluntariamente articulada, a

Escola-de-Redes tem um propósito. Mas não é necessário professar

algum ponto de vista particular sobre como realizar tal propósito para

se conectar à ela.

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4 - Comentário de Ceila Santos em 11 abril 2011 às 10:16

Então, a questão não está no pertencimento, mas no funcionamento

do grupo. Ou seja, mesmo que eu pense diferente de vc, posso

continuar pertencendo a Escola de redes. Deveria então resistir à

tentação de estabelecer pontos de vistas comuns, "consensos" ou

regras que determinam quem entra e quem está fora?

fiquei confusa com seu feedback.

P.S.: Meu nome é Ceila. E não célia. Tks

5 - Comentário de MARIA OTÁVIA LIMA EÇA D'ALMEIDA em

11 abril 2011 às 10:20

Que presentaço de aniver, grata!

6 - Comentário de Gabriel Artur Marra e Rosa em 11 abril

2011 às 10:23

Excelente!

Sempre achei que a constituição de um grupo deveria seguir certo

apriorismo de objetivos, interesses, etc. Agora percebo que esses

interesses comuns existem, mas também estão presentes os

interesses e desejos das pessoas que constituem esse grupo, essa

rede. Talvez, seja a interação destes últimos o fator de inovação e de

reconfiguração dos primeiros estabelecidos e partilhados. Nesse

sentido, creio eu, o pertencimento varia de acordo com a necessidade

e as possibilidades de cada pessoa, que se mesclam às demais

conformando uma interação reativa e inovadora.

7 - Comentário de Daisy Grisolia em 11 abril 2011 às 10:33

A Escola de Redes é uma rede de pessoas que se interessam por um

determinado tema, o que não diz nada sobre o modo que elas

entendem este tema. As pessoas se conectam, mais ou menos,

interagem em graus variáveis ao longo do tempo, se agrupam e

desagrupam, articulam-se para outros projetos ou não. Facebook,

twitter e o próprio NING são ferramentas que permitem e em algumas

situações facilitam que estas interações aconteçam. Lendo o texto é

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inevitável sentir um certo arrepio, típico de quem está prestes a se

lançar num esporte radical, quando, por melhor que sejam os

equipamentos, você percebe que está por sua conta e risco. Há um

longo caminho a percorrer...

8 - Comentário de Carlos Boyle em 11 abril 2011 às 10:48

Para posicionarme con respecto al "sujeto", "persona" e "individuo"

voy a citar este texto de Michel Onfray:

"Del sujeto podemos decir, desgraciadamente, que ha sido exacerbado

en esta época y en estos lugares. Define al ser por la relación y la

exterioridad, negándole una identidad propia que se le atribuye

solamente por y en la sumisión, la subsunción a un principio

trascendente, superándolo: la ley, el derecho, la necesidad o cualquier

otra cosa que incita a hacer la economía de sí en provecho de uma

entidad estructurado por su participación, su docilidad. El sujeto es

siempre de algo o de alguien. De modo tal que siempre encontramos

um sujeto menos sujeto que otro, en la medida en que, apoyado sobre

el principio en cuestión, uno se siente incesantemente autorizado para

someter a otro: el juez, el político, el docente, el prelado, el moralista,

el ideólogo, todos aman tanto a los sujetos sometidos que temen o

detestan al individuo, insumiso. El sujeto se define en relación con la

institución que lo permite, de ahí la distinción entre los buenos y los

malos sujetos, los brillantes y los mediocres, es decir: aquellos que

consienten el principio de la sumisión y los otros. Con su preocupación

por la conciencia que se rebela y no acepta, Antelme recuerda que un

sujeto no se define por su conciencia libre sino por su entendimiento

sometido, fabricado para consentir la obediencia.La persona tampoco

me agrada. Aquí también la etimología, etrusca en este caso, recuerda

que la palabra proviene de la máscara utilizada en la escena. Que el

ser sea con relación a lo que se somete o por su modo de presentarse,

no me convence, ni en uno ni en otro caso. La metáfora barroca del

teatro, la vida como sueño o novela, la necesidad de la astucia o de la

hipocresía, del juego social que presupone la persona del teatro,

implican también el recurso al artificio: el ser para el otro no es el ser

en su resplandor, ni en su miseria. El campo de concentración olvidó

al hombre, celebró al sujeto, tornó improbable a l persona y puso de

manifiesto al individuo. Las tres figuras de la sumisión funcionaron en

la juridicidad, el humanismo y el personalismo. Quedan por formular

las condiciones de posibilidad de un individualismo que no sea

egoísmo Lejos de la red, de la estructura, de las formas exteriores que

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dibujan los contornos provenientes de lo social, la figura del individuo

remite a la indivisibilidad, a la irreductibilidad Es lo que queda cuando

se despoja al ser de todos sus oropeles sociales. Bajo las sucesivas

capas que designan al sujeto, al hombre y la persona, encontramos el

núcleo duro, entero, la mónada cuya identidad nada, salvo la muerte -

y quizá ni eso-, puede quebrar. Unidad distinta en una serie jerárquica

formada por géneros y especies, elemento indivisible, cuerpo

organizado que vive su propia existencia, que no podría dividirse sin

desaparecer, ser humano en cuanto identida biológica, entidad

diferente de todas las otras, si no unidad de la qu se componen las

sociedades: el individuo sigue siendo irreductiblement la piedra

angular con la que se organiza el mundo."

9 - Comentário de Raulino Oliveira em 11 abril 2011 às 10:52

Antes de irmos para o deserto seria interessante:

- ver o que fazer com esta patota aqui.

- seria o caso de nos espalharmos todos no FaceBook e no Twitter?

- Vamos declarar morte ao Ning!?

Abração Augusto

10 - Comentário de Carlos Boyle em 11 abril 2011 às 11:00

Dicho esto creo que no existe un individuo como tal , como una bola

irreductible un cuerpo con ideas coma tal, sino un cuerpo que se va

individualizando y desindividualizando de acuerdo a los principios que

resume Vega Redondo para la conformación de una red.

1. Búsqueda: los individuos están en una búsqueda permanente de

otros individuos a fin de poder procesar los Fluzz de la manera

mas conveniente. Para eso tienen que interactuar y a partir de la

interacción saldrá, se conformará una forma de organización que

estará determinada por los Fluzz.

2. Volatilidad. Esa búsqueda se desarrolla dentro de un medio que a

veces permanece estable, proveyendo Fluzz constantes y

parejos, en donde la organización de la red ( búsqueda) se

estabiliza. Si el entorno es volatil tanto que varía en una gran

magnitud, como en muchos pequeños cambios, la organización

se adptará a esa volatilidad.

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3. Ante un gran cambio la red podrá quedar mas cerrada "en su

cuadrado", o totalmente desintegrada.

Esto significa que no hay UNA red distribuida, si es distribuida es

justamente una gran red dispersamente vinculada que PULSA al ritmo

de la volatilidad del medio y de la posibilidad de lo Fluzz, a veces la

encontrarás totalmente cerrada sobre si misma, otras totalmente

desvinculada.

En realidad esto pasa porque es un fractal como vos decís. Es decir un

patron de interlinkeo aprendido (tal vez por la historia, tal vez por la

resiliencia) que reconfigura la red en función de sus disponibilidades y

de sus necesidades.

Pero el arbol fractal, siempre está.

Me gusta como van madurando estas ideas.

11 - Comentário de Carlos Boyle em 11 abril 2011 às 11:06

Esto de Onfray tal vez sea la clave:

Quedan por formular las condiciones de posibilidad de un

individualismo que no sea egoísmo.

12 - Comentário de jandira feijo em 11 abril 2011 às 11:11

Augusto, teus textos sempre causam tsunamis e provocam em mim

sentimentos contraditórios! E isto é maravilhoso. Ainda bem que não

deixas o conhecimento mofar e estimulas novos horizontes.

Concordo com o conselho para que resistamos à tentação de pertencer

a um grupo, na verdade é assim que tento me construir diariamente

e, bem ou mal, que tenho conseguido sobreviver com relativa

coerência entre este jeito de olhar o mundo e me relacionar com as

pessoas.

Entretanto, o que me angustia é como localizar onde estão os outros

que assim também pensam e agem dentro de uma instituição tão

arcaica quanto a área estatal (tão visceralmente embricada com as

organizações partidárias). Atuo num ambiente adversarial,

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hierárquico, centralizado, burocrático, anacrônico, onde não há espaço

para relações verdadeiras, nem interesse institucional de mudar o

status quo.

Para cada aparente avanço, um alto preço. Não existe interação,

portanto, não existe rede dentro destes espaços estatais.

Aqui é mais do que cada um no seu quadrado; é cada um no seu

curral, ou na sua jaula, e esta não é uma crítica à gestão de A ou de

B, mas sim à estrutura secular. Mas, como onde existe vida existe

relação e interação, posso presumir que nos dutos destas instituições

governamentais deva existir algum oxigênio. Ou estou equivocada?

Afirmas que "é necessário desconstituir a cultura (ou quebrar a linha

de transmissão de comportamento) do “cada um no seu quadrado”.

Ok, tenho certeza disso, mas como? Espero que o fluxo da vida gere o

maremoto?

13 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às

11:12

Tarás e Ceila, talvez para entender o que pretendia dizer (ou

aumentar ainda mais a confusão, o que não é ruim em princípio) seja

preciso ler o textos linkados. Penso que se não entendermos a

diferença entre interação e participação, o restante fica meio sem

sentido. Então vou tornar a linkar aqui um texto que trata

especificamente desta distinção:

REDES SÃO AMBIENTES DE INTERAÇÃO, NÃO DE PARTICIPAÇÃO

http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de-interao-no-de-

participao

Raulino, o bom da história é que não precisamos para nada ver o que

fazer com esta patota aqui. Não é uma patota, como você já deve ter

percebido. Abração também.

Daisy, gostei imensamente de sua imagem: "Lendo o texto é

inevitável sentir um certo arrepio, típico de quem está prestes a se

lançar num esporte radical, quando, por melhor que sejam os

equipamentos, você percebe que está por sua conta e risco".

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Boyle, concordo. As diferenças entre o que você disse e o texto são

mais terminológicas do que conceituais. Um ser humano concreto é

sempre uma unidade biológico-cultural, não um exemplar da espécie

(biológica), nem somente uma particular configuração (cultural).

Chamo de pessoa a esta unidade, que não é algo dado e sim em

construção. Tornamo-nos pessoas à medida que interagimos com

outros seres humanos. Daí que pessoa já é rede e o indivíduo, como

tal, é uma abstração (não é um ser humano concreto, se for um

exemplar da espécie é uma condição do humanizável, não uma

consumação do humano).

14 - Comentário de jose de assis silva em 11 abril 2011 às

11:41

Achei super bacana o texto de Augusto Franco. Acredito que é um

bom material para se trabalhar numa sala de aula onde adolescentes

se gabam por terem e fazerem parte de uma comunidade de 2000

amigos. Disputam entre si quem tem mais amigos e se esquecem que

na verdade, estão solitários e meio sem rumo, atirando para qualquer

lado.

15 - Comentário de jaime fractal em 11 abril 2011 às 11:53

'Se você quer fazer redes, resista a tentação de pertencer a um

grupo'. Se vc entrar numa rede seja o mais aberto possível, não seja

preconceituoso e não se ache o mais preparado de todos, entre para

aprender e criar com os membros as condições e o conteúdo da rede.

Nas redes não estamos numa competição, estamos numa

pessoalização e em uma customização que satisfaz a maioria.

16 - Comentário de Cida em 11 abril 2011 às 12:30

É de grande alívio o que escreveu. E entusiasmante!

17 - Comentário de Clara Pelaez Alvarez em 11 abril 2011 às

13:38

Interessante o texto! Só fico me perguntando o seguinte:

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1. Somos seres sociais. Clusterização é fenômeno de rede. Parece-me

que regras para clusterização, sobram! Esse "deve/não deve" ser

assim me incomoda demais.

2. A ER é uma "comunidade" (ou esse termo não se aplica aqui?) de

estudo de redes, cujas regras foram delineadas por você, Augusto.

Qual a diferença desta comunidade para outras? Pra mim não ficou

claro!

18 - Comentário de jaime fractal em 11 abril 2011 às 14:50

Concordo plenamente com:

"Toda realização em rede distribuída é um projeto que vai se

construindo à medida que avança, que vai se formando ao sabor de

fluzz, que vai gerando ordem a partir – e no ritmo – da interação. Em

tal contexto é desnecessário, a rigor, combinar antes o script. É inútil

– e frequentemente contraproducente – mobilizar energia para

direcionar um grupo".

Estruturar e direcionar não adianta mesmo, mas treinar como interagir

e conhecer as ferramentas das redes é fundamental, como um

arqueiro zen precisa estar aberto e preparado para o que acontecer.

19 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às

14:52

Acho que dentro da E=R, Clara, se formam comunidades. Aliás, era

este o propósito desde o início: a escola-não-escola que é esta rede

deveria almejar a formação de múltiplas comunidades a partir de

agendas compartilhadas, lembra? Isso de fato tem ocorrido, aqui e ali.

O diabo é que as pessoas usam a palavra comunidade com vários

sentidos. Há aquela grande comunidade (de que falava Althusius, que

acabou se confundindo até com o conceito de nação), há a pequena

comunidade vicinal de convivência de Dewey e, mais recentemente,

qualquer grupo de aprendizagem, de prática ou de projeto é chamado

também de comunidade (mesmo quando, claramente, é um grupo

proprietário).

Page 17: Resista à tentação de pertencer a um grupo

17

Não delineei regras propriamente para a Escola-de-Redes e sim para

iniciar esta plataforma que utilizamos, que exige isso porque, como

sabemos, é uma plataforma p-based e não i-based (mais baseada em

participação do que em interação). Então "o criador" (hehe, é assim

que chama ou chamava o Ning) obriga você a optar: aceita a adesão

de qualquer um ou tem que pedir para entrar? (Conquanto depois, o

próprio Ning Team nos aconselhou a modificar o que era totalmente

aberto, para evitar os programas invasores); aceita comentários (em

que lugar? - e aí vem uma lista imensa)?; qualquer membro de um

grupo pode enviar comentários para os outros membros do grupo?

etc. etc. A lista de opções de administração é realmente extensa.

É claro que numa plataforma p-based, que logo atingiu milhares de

membros, não se pode - e não se deve - submeter tais decisões e

outras (como as regras básicas de convivência sem as quais não

sobreviveríamos, como, por exemplo, a proibição de fazer propaganda

política ou de produtos e serviços comerciais) a nenhum tipo de

consulta capaz de gerar artificialmente escassez. Se isso ocorresse

teríamos que discutir antes, quais as condições, quem seria o colégio

apto a se manifestar e cairíamos em um sem-número de armadilhas

semelhantes. Parece que não haverá solução para isso enquanto não

tivermos plataformas baseadas em interação. A participação, qualquer

participação, obriga as pessoas a se conformarem em ambientes com

regras já estabelecidas ex ante à interação (e disso não escapa este

Ning da E=R).

Mas o que o texto queria explicitar é que se não falamos em nosso

próprio nome, seja onde for, nos nossos próprios termos e sim em

nome de um coletivo mais estratégico, quer dizer, como

"representantes" do nosso quadrado (constituído ex ante à interação),

então temos dificuldades imensas de interagir com o outro-

imprevisível.

20 - Comentário de Guaraciara de Lavor Lopes em 11 abril

2011 às 19:09

Primeiramente, adoro os textos do Augusto porque eles sacodem, mas

confesso que precisei imprimir o texto para entender melhor. Pois é,

sem o papel não consigo ser minimamente inteligente. Se eu entendi,

a questão é o rabo balançar o cachorro. A instituição é o rabo e o

cachorro perde a identidade se ficar cotó. É a velha historia, quando a

gente se apresenta logo perguntam de onde, de qual família (sim, isto

Page 18: Resista à tentação de pertencer a um grupo

18

ainda é comum) e a titulação. Minha resposta é geográfica: - de Volta

Redonda e não tenho titulação porque não pertenço à nobreza.

Acredito que a necessidade do pertencimento vem da construção de

nossa identidade. Como somos identificados pelo outro e assim nos

estruturamos, precisamos de um grupo. Realmente o grupo é

necessário, mas a interação não precisa do grupo. Pra mim a

interação surge quando algo ou alguém desperta meu interesse, se vai

acontecer alguma coisa ou não, não importa. Valeu porque de algum

modo cresci. E seu entendi corretamente o Augusto, vou enlaçando e

esparramando minha rede na maior parte do meu tempo. Se não

entendi nem um cadiqui, por favor, providenciem tradução simultânea

21 - Comentário de Augusto de Franco em 11 abril 2011 às

20:45

Pois é, que bom que o post gerou bons comentários. O que pretendi

dizer é simples e poderia talvez ser resumido naquela sentença inicial

(de 2009): não faça patotas, não construa igrejinhas, articule redes.

Não chame suas organizações hierárquicas ou seus grupos

proprietários de redes (no sentido em que a palavra vem sendo

entendida aqui, como redes mais distribuídas do que centralizadas).

Sei que é difícil. Queremos nos proteger do outro, do concorrente,

daquele que julgamos como adversário ou inimigo porque divide ou

disputa (ou pode vir a dividir ou disputar) conosco alguma posição.

Passei anos e anos amargando e chafurdando mesmo em ambientes

deletérios, alguns dos quais compostos por pessoas que hoje ocupam

as mais destacadas posições no topo das hierarquias mais altas da

República... Lembro bem que dizia, fazendo piada de humor um tanto

sinistro, que o mais difícil era aguentar a vontade de ir ao banheiro

por horas a fio (sim, as reuniões demoravam uma eternidade), pois

que do contrário corria-se o risco de alguém (não um inimigo, mas um

companheiro) sentar no seu lugar... Era isso: todos eram

potencialmente inimigos, todos disputavam. É claro que num ambiente

assim (e a maioria dos ambientes hierárquicos são assim, mesmo

quando queiramos vestir o manto da humildade, da compaixão, do

amor ao próximo, como fazem os cardeais no seu colégio) alguém só

sobrevive entrando em uma patota. Mais ou menos como ocorre nas

prisões.

Revoltei-me contra isso muito antes de entender a possibilidade de

organização em rede distribuída. Quando descobri as redes, vi que era

Page 19: Resista à tentação de pertencer a um grupo

19

possível, sim, interagir sem pertencer, se conectar sem professar, se

associar sem obedecer e sem mandar, atuar junto sem se deixar

arrebanhar. Desde, é claro, que se aceite a lógica da abundância.

Mas o fato é que, mesmo se não tivemos oportunidade de vivenciar

essas manifestações de desumanidade em seu paroxismo,

continuamos procurando proteção de um grupo para chamar de nosso

(o que, no fundo, é uma proteção contra o mundo exterior). Não é

nossa natureza gregária ou social, como se diz, que nos leva a isso e

sim exatamente o contrário: são tendências anti-sociais (geradas por

programas verticalizadores que rodam na rede social) que nos

compelem a nos proteger do outro-imprevisível.

Parodiando nosso amigo José Pacheco (no que diz em relação à escola

tradicional), hoje posso declarar que estou nisso (articulação e

animação de redes) por vingança.

22 - Comentário de Guilherme de Barros em 11 abril 2011 às

21:00

Hmmmm... fica sempre minha dúvida se é possível construir algum

sistema (rede) sem os padrões presentes em todos, TODOS os

sistemas (redes) do universo conhecidos por nós:

Centralidade - todo sistema tem um centro visível ou não, tangível ou

intangível;

Familiaridade - todos os sistemas se agrupam por afinidade formando

sistemas menores (ao infinito) e maiores (ao infinito tb);

Individuação - toda parte de qualquer sistema quer ser única e um

universo ou sistema por si só.

Pretender que um conjunto de pessoas possa exisitir sem constituir

'tecido' (igrejinha, patotinha, etc) é o mesmo que querer que haja um

fígado sem células ou células (úteis) que não façam parte de um

tecido qualquer. Tudo se encadeia no universo para servir e ser útil

em um sistema sempre mais complexo que a parte.

Agora, se as células de um fígado formam um câncer, esse problema

não é do fígado como idéia original, e sim das células que não sabem

trabalhar de maneira harmoniosa.

Page 20: Resista à tentação de pertencer a um grupo

20

23 - Comentário de Augusto de Franco em 12 abril 2011 às

6:00

Não é fácil mesmo aceitar o fluxo, Guilherme. São seis mil anos de

inseminação de uma metafísica como esta que você expõe abaixo.

Tenho para mim - seguindo as especulações do matemático Ralph

Abraham - que isso começou em uma calma tarde sábado, em algum

momento da pré-história sumeriana.

E tão influente foi essa metafísica que até hoje, seis mil anos depois,

ainda continuamos ignorando as descobertas científicas ou mentindo

em nome da ciência.

Vamos ver.

Centralidade. Não há qualquer evidência de que todo sistema tenha

um centro. Em termos topológicos, nenhum sistema distribuído tem

centro. Qual é o centro da vida (a capa biosférica que envolve o

planeta Terra)? Qual é o chefe do cérebro? Quem é o comandante de

um bando de pássaros que voam em formação delta (seguindo sua

metafísica diríamos que é aquele que está no vértice, conquanto a

ciência já tenha desmascarado isso: não existe aquele, eles se

revezam e a formação visa apenas diminuir a resistência do ar ao

deslocando do bando)? Existe mesmo uma rainha nas colmeias e nos

formigueiros (ou isso foi apenas uma projeção dos nossos padrões

societários: veja as descobertas de Deborah Gordon)?

Familiaridade. Tudo que interage tende a clusterizar, mas isso nada

tem a ver com afinidade (tal como usamos este conceito em nossa

sociedade). Não ocorre por efeito de alguma imanência, como supõem

os esquemas míticos de interpretação do mundo. A própria origem da

palavra 'familiaridade' é reveladora da tentativa de transposição não-

hermenêutica de padrões da sociedade hierárquica para outras esferas

da realidade.

Individuação. Não é bem que toda parte de qualquer sistema queira

ser única. Na maioria dos casos elas não podem "querer" nada (posto

que não têm vontade, suas características intrínsecas não podem

explicar o comportamento dos emaranhados onde existem como tais).

Nossas observações - da cibernética à matemática do caos e dos

sistemas complexos - revelam outros padrões que remetem a

conceitos como holon e fractal.

Page 21: Resista à tentação de pertencer a um grupo

21

Um conjunto de pessoas em interação constitui, sim, sempre, um

tecido. Mas isso não é a mesma coisa que patota, igreja, grupo

proprietário. Os exemplos que você cita refutam suas premissas. O

fígado, como parte de um organismo, tem um padrão de rede. Toda a

vida - organismos, partes de organismos e ecossistemas - se organiza

em rede (como disse nossa querida bióloga Lynn Margulis, "a vida não

se apossa do globo pelo combate e sim pela formação de redes" e vale

a pena ler aqui na E-R o post A vida como rede fractal de seres

interdependentes). Tudo que é sustentável tem o padrão de rede.

Por último, a hipótese do câncer como resultado de uma ignorância

das células hepáticas que, como você aventa, "não sabem trabalhar

de maneira harmoniosa". Que coisa, heim Guilherme? Este é

exatamente o mesmo schema mítico da queda dos anjos. Tudo estava

planejado pelo grande arquiteto para ser justo e perfeito... mas aí

houve a queda. Alguns seres da hierarquia se corromperam e o mal foi

introduzido no mundo. Veja que é o mesmo padrão de pensamento

que urdiu a idéia do pecado original. Sobre isso tuitei outro dia que o

problema não é a queda dos anjos e sim os anjos.

Ao entender fluzz - que foi a maneira que encontrei para falar do

fluxo, quer dizer, da ordem que surge continuamente a partir da

interação - entendemos que não existe uma ordem preexistente, que

o universo se cria a medida que se desenvolve.

Para quem teve sua consciência colonizada por idéias feita para

escravos (sim, é disso que se trata), é realmente muito duro descobrir

Page 22: Resista à tentação de pertencer a um grupo

22

que estar interligado a tudo é estar realmente só, como um viajante

dos multiversos...

24 - Comentário de CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA PRAES

em 12 abril 2011 às 6:59

Fascinante! Grupos funcionam como padrão e padrão tende a nos

aprisionar no passado, redes abertas possibilitam achar o desvio

padrão, o diferente, ai tudo começa a ficar bonito e projeta futuro.

Seres humanos possuem um dos mecanismos cerebrais como

reptiliano e por muitas vezes somos acometidos pelo efeito neurônio

espelho ou efeito manada, isto é, se 10% de um grupo caminha para

uma direção ou tem uma opinião os outros 90% seguem o mesmo

sem questionar, como vimos no artigo, isto aprisiona, redes ao

contrário os vetores são tantos que exercemos nosso livre arbítrio e

não caímos na cilada do efeito manada.

25 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 12 abril

2011 às 9:49

Isso! Vamos sair...

Page 23: Resista à tentação de pertencer a um grupo

23

26 - Comentário de jaime fractal em 12 abril 2011 às 10:00

Já saí do quadrado e agora estou vendo redondo! É isso?

27 - Comentário de Cida em 12 abril 2011 às 10:06

Angela Regina Pilon Vivarelli

Vc é uma é uma excelente intérprete. Traduziu objetivamente. Grata.

28 - Comentário de Augusto de Franco em 12 abril 2011 às

11:02

É isso, Angela, mas não basta ver redondo: tem que sair rolando feito

uma bola!

29 - Comentário de jaime fractal em 12 abril 2011 às 11:07

É sair redondo e não descer redondo que nem a cerveja! Ou descer

rolando que nem uma bola!

30 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 13 abril

2011 às 8:31

“O Teorema de Von Foerster sobre a Conexão e a Organização:

Aplicações Semânticas", de Benny Shanon e Henri Atlan:

"Quanto mais (rigidamente) conectados forem os elementos de um

sistema, menos influência terão sobre o sistema como um todo.

(...)

Quanto mais (rigidas) forem as conexões, maior grau de "alienação"

do todo apresentará cada elemento do sistema."

31 - Comentário de jaime fractal em 13 abril 2011 às 8:53

Angela, se rigidez significar formalidade e seguimento de padrões já

definidos acho que é perfeito esse teorema sobre ligação/conexão.

Page 24: Resista à tentação de pertencer a um grupo

24

Rigidez leva a alienação e a menos influência e movimentação no

grupo.

32 - Comentário de Guaraciara de Lavor Lopes em 13 abril

2011 às 11:09

Angela, além de interprete você me ajudou a dar palavras a percepção

de minhas vivências ao me apresentar o teorema. Tenha uma

excelente tarde

33 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 13 abril

2011 às 16:19

Pensando...

"Em 1976, no que foi chamada a "conjectura de von Foerster", este

ciberneticista sugeria um tipo de relações aparentemente paradoxal

entre o comportamento global de um sistema de elementos

interconectados e o comportamento individual de cada um destes

elementos. Quanto mais "trivial" – ou seja, predeterminado e

previsível, por "unívoco" (ou seja, atuante sempre da mesma

maneira) no estado do sistema – fosse o comportamento individual,

mais fraca seria sua influência no comportamento global. De forma

metafórica, os indivíduos "trivializados" se sentem, então, "excluídos"

pelo comportamento global do grupo, uma vez que não há

reconhecimento de sua especificidade pelo sistema; ao contrário,

quanto menos "trivial", ou seja, predeterminado, for o comportamento

do indivíduo, tanto maior a influência que ele exerce sobre o grupo e

menos se sente "excluído"

Ler mais em: http://goo.gl/a5Z5N

34 - Comentário de Sérgio Luis Langer em 13 abril 2011 às

18:55

As conexões formuladas e produzidas devem acima de tudo, inferir-se

como complementares e m sua integridade. Integridade, esta, nutrida

e fomentada pela responsabilização ética e conectiva de uma

Page 25: Resista à tentação de pertencer a um grupo

25

preocupação maior... a coletividade parceira de uma consciência do

amadurecimento social.

Todos temos capacidade para dissociarmos pensamentos, atos,

questionamentos e observações sobre a vivência compartilhada dos

anseios da humanidade; porém, os grupismos e amiguismos nunca

serão diferenciais para com a conquista benemérita do conhecimento.

A aplicação das idéias capacitadas a promoverem uma análise

comportamental torna reflexiva a expressividade das nossas

preocupações solidárias.

Sempre estivemos embasados no desenvolvimento evolutivo de

relações. Um universo interrelacionado com as dinâmicas de

transformação, tradução e transcrição de condutas segundo princípios

particulares de formação ... intencionais e regidos pela nossa vontade,

interesse e comprometimento para com a valorização da vida (coletiva

e prioritária de nossos semelhantes), em todas as suas instâncias,

tendo nela uma unidade de significado e propósito pelo qual existimos.

35 - Comentário de Carlos Nepomuceno em 14 abril 2011 às

4:54

Augusto, gosto de quem me desequilibra e você faz isso.

Rompe e provoca. Bom.

Entendo a idéia das igrejas e gosto de chamar esse movimento de

"conhecimento líquido", ou fluxo, como você escreveu mais adiante

nos comentários. Porém, não acho que a questão está no grupo se

formar em sim, mas nas paredes que criamos em torno deles.

Lembro de participar de grupos de poesia que quando chegavam a um

ponto de não mais querer criticar os poetas "isso é bom dentro do seu

projeto poético" era hora de sair, pois perdia-se o que foi-se buscar: a

opinião sincera.

Assim, a tendência por grupos e por estarmos com pessoas que nos

dão significado não acredito que vamos perder, porém, concordo

contigo que se fechar nisso é algo que deve ser evitado, pois acaba

nos levando a um ponto de saturação.

Grupos sim, mutantes e sem fronteiras, líquidos...

Page 26: Resista à tentação de pertencer a um grupo

26

Que dizes?

abraços,

Nepô.

36 - Comentário de jaime fractal em 14 abril 2011 às 9:59

O que me motiva entrar em um grupo não é somente o assunto ou

tema que foi estabelecido mas tb a possibilidade de conhecer os

membros e fazer contatos. Cada membro é uma possibilidade e

embora muitos possam ser bem parecidos a diferenciação se faz no

contato e nas relações sociais que são feitas.

37 - Comentário de Ceila Santos em 14 abril 2011 às 10:58

Nossa, Augusto, acabei de ler o link indicado (obrigada!!!!) e agora

realmente pirei...Vou ter insônia com a minha consciência por um bom

período ou por vidas...Exagero?

Não sei. Mas o fato é que não consegui me agarrar em nada e deu

pânico de cair na roda porque ela começou a fazer sentido. Entendi

que o pertencimento ao grupo no sentido de defender a posse do que

ele representa nos coloca numa posição de luta. ou seja, eu quando

assumo o lugar de mãe histórico (ou seja, acredito na luta e vivo na

prática para atingir seu ápice comigo mesma), cujas características

são estabelecidas por um ideal assumo uma atitude de defesa com o

restante da humanidade. Não há interação verdadeira, mas defesa do

lugar que represento. Quando tomo consciência disso posso até

acreditar no idealismo de mãe, mas posso interagir de forma aberta

sem a obrigação de seguir aquele modelo. UAU! É fantástico,

extremamente inseguro, mas de uma fraternidade tamanha...

Acho que tô despertando pra esse netweaving, mas como tenho

cabeça de papel (sou jornalista) e uso muita ferramenta da turma do

software não consigo desligar toda essa questão cultural da prática de

produzir conteúdo. Ainda produzo e penso no conteúdo muito como a

academia (universidade) em busca dos "donos de conhecimento"

(biografia/referências) e isso é se fechar em gueto?

Page 27: Resista à tentação de pertencer a um grupo

27

Qual sua visão sobre o interagir na hora de produzir conteúdo em

ferramentas como blog que funciona ainda no regime da escassez?

38 - Comentário de Augusto de Franco em 14 abril 2011 às

14:24

Carlos Nepomuceno, a fronteira é apenas o resultado da interação

entre o que está "dentro" e o que está "fora". Se você muda a

estrutura que separa, muda o que foi separado. Assim, o que é

contido por uma membrana é diferente do que é contido por uma

parede (opaca). A chave não é o tipo de parede que criamos e sim o

modo como nos organizamos: a parede é conseqüência.

Ceila, ainda é assim mesmo. Mas cada vez mais o conhecimento é

relação social, sem dono, e fica distribuído na rede.

39 - Comentário de Guaraciara de Lavor Lopes em 14 abril

2011 às 14:53

Lembrei demais do Augusto, agora a pouco. Viagem Sabará/Carmo de

Minas, duração sete horas. Passando por Olimpio Noronha e sem ver

sinalização pergunto a um senhorzinho sentado na calçada: - Como

faço para chegar a Carmo de Minas. Resposta imediata: - Quando

acabar a rua, tem um trevo. Corta o trevo e segue o “fruxo”. Tem erro

não dona.

Seguindo o fluxo, cheguei sem erro.

40 - Comentário de jaime fractal em 15 abril 2011 às 15:23

Guaraciara, dessa vez vc teve sorte com o famoso 'sinhozinho

mineiro', num é sempre assim naum!

41 - Comentário de Nei Grando em 17 abril 2011 às 15:24

Quando estamos nos grupos, nas redes, o melhor que temos a

compartilhar é nós mesmos, inteiros com nossos reais pensamentos,

reflexões, sentimentos, paixões, buscas, mas sempre com o propósito

Page 28: Resista à tentação de pertencer a um grupo

28

de contribuir, de edificar e sempre considerando e respeitando o

outro.

42 - Comentário de Nei Grando em 17 abril 2011 às 15:27

Augusto, parabéns pelo artigo! Seus pensamentos me chamaram a

refletir, muito obrigado! @neigrando

43 - Comentário de Maria Rita Marques de Oliveira em 18

abril 2011 às 0:18

Não falo aqui com conhecimento de causa, falo de certa forma

encorajada pelo dito aqui que a escola de um pensamento não seria

desejada. Li o texto e vários comentários em meio a "turbulências" e

"calmarias" não me sinto confortável concordando ou discordando

dessa linha de pensamento. Em que medida o autor dessas idéias não

é ele próprio um centro? Pode não estar interessado em ser o centro

e, muito menos sinta-se conectado a um outro. Me parece que ao

"tornar-se pessoa" paradoxalmente, se corre o risco de virar centro.

Talvez não seja nada disso, eu precise apenas rever o meu conceito de

centro/hierarquia.

44 - Comentário de jaime fractal em 18 abril 2011 às 12:54

Maria Rita, na vida real às vezes falo muito, proponho idéias e acabo

virando o centro, o que eu não gosto nem um pouco porque isso traz

muita responsabilidade. O Augusto, mesmo que não deseje acaba

virando o centro porque é o gestor aqui da escola de rede e tb teórico

e divulgador de conhecimento das teorias e práticas das redes sociais.

Se um determinado membro acaba virando o centro porque os

membros do grupo voluntariamente desejam não vejo mal algum e de

forma alguma impede que os membros se tornem pessoas e

desenvolvam os seus egos. Uma estrutura hierárquica em que os

membros são obrigados a obedecer involuntariamente isso sim

sempre foi um grande problema. Abraço!

Page 29: Resista à tentação de pertencer a um grupo

29

45 - Comentário de Augusto de Franco em 18 abril 2011 às

15:14

Penso que é mais ou menos como disse o Jaime, Maria Rita. Ninguém

centraliza a rede porque expõe suas idéias. A centralização é um

condicionamento de fluxos, quando se obriga esses fluxos a passar por

determinados caminhos (porque outros caminhos foram suprimidos ou

obstruídos). Leia o texto O poder nas redes sociais para entender esse

ponto de vista. No texto indicado os conceitos de 'poder' e 'hierarquia'

são apresentados do ponto de vista da topologia das redes.

46 - Comentário de Angela Regina Pilon Vivarelli em 19 abril

2011 às 8:05

Penso que a centralização nas redes é como um caleidoscópio... Não é

mesmo bonito isso? Veja no Youtube: http://goo.gl/15a3C

47 - Comentário de Douglas Rocha Liberato em 24 abril 2011

às 13:06

Nós temos um ego, temos um comportamento egóico e somos

cobrados por uma sociedade coletiva e inconscientemente egóica.

Assim, "vale" o que a comunidade ou a sociedade diz e quer e não

aquilo que cada um gostaria. Assim é, não que devesse ser. Quando

cada pessoa estrutura seu ego, lá pelo seu terceiro ou quarto ano de

vida, de modo simples, podemos dizer que ela vai descobrindo

comportamentos, crenças e maneiras de se relacionar que a fazem se

sentir aceita diante dos outros. Aceita e aprovada. Ou quase. Tudo vai

caminhando, até que um dia surgem as "redes" sociais. Então, como

bem escreveu o Augusto, formaliza-se as relações, quem tem mais

amigos no Orkut ou Facebook, é tido como mais querido, é legal,

gente boa, e desperta a inveja de outros, enquanto sustenta um

orgulho, que contrapõe a sua baixa auto-estima. Então, as pessoas

passam a acreditar que precisam pertencer a algo, uma comunidade,

um grupo, um clube, e quando vemos, elas fizeram esses mesmos

lugares pertencerem a elas. Ou pensam que pertencem, isso as faz

sentir-se distintas do "resto" da humanidade, dá sentido à vida e valor

a ela como membro da sociedade. Grandes e perigosas ilusões do ego,

as quais por termos crescidos e sido condicionadas a elas, não as

percebemos, tomamo-las como verdadeiras, necessárias e

Page 30: Resista à tentação de pertencer a um grupo

30

fundamentais. Então surgem os Paulo Brabo da vida para nos ajudar a

acordar, sair do sonambulismo social e viver como pessoas e não

somente indivíduos. Eis um grande exercício, parar de tentar

pertencer a qualquer coisa que seja, para descondicionar e poder

perceber que você pertence à única coisa real em relação a você, que

pertencemos todos à uma raça, uma espécie, a qual por vários

motivos mais sublimes chamamos de humanidade. Já pertencemos.

Agora é só compartilhar, sem medo de ficar sem, de perder, sem

medo de não ser ou de não valer o que pensa que precisa valer para

ser. Já somos o que pensamos que precisamos ser. Desiludamo-nos

de nós. Fique bem.

48 - Comentário de Daisy Grisolia em 22 junho 2011 às

16:22

Existe um ego e existe um self que é muito mais que um ponto de luz

chamado ego.

49 - Comentário de CLARICE COPSTEIN em 22 junho 2011 às

16:32

Gentem!!!!

Após a leitura de todo texto sugerindo e justificando inteligentemente

a mudança de paradigmas o que mais me chocou foi o seguinte:

tentem entrar como se não fossem pertencentes à escola de redes;

mudem de navegador, não façam login; e o que surge como se fizesse

ainda parte do texto...

Comentar | “Você precisa ser um membro de Escola de Redes

para adicionar comentários!” | Entrar em Escola de Redes

Contracensos da vida!!

Adorei o texto e já vinha me questionando sobre esse mundinho

fechado de pertencimento que estamos envolvidos...

att, Clarice

Page 31: Resista à tentação de pertencer a um grupo

31

50 - Comentário de Augusto de Franco em 22 junho 2011 às

17:53

Não precisa se registrar nesta plataforma para ler qualquer texto aqui.

Também não é necessário qualquer registro para baixar mais de 800

textos.

Mas usamos uma plataforma Ning que exige o registro para fazer

comentários. Ning ainda é uma plataforma p-based (baseada em

participação) (e não i-based, baseada em interação) e não podemos

desativar suas funcionalidades, vamos dizer assim, orientadas para a

participação, que exigem algum grau de pertencimento.

A despeito disso, qualquer pessoa pode se registrar (não gasta nem 5

minutos) e, depois, cancelar o seu registro. E pode escrever o que

quiser. E pode entrar de novo. E pode sair novamente. E pode

escrever de novo. Essa foi a maneira que encontramos de contornar

as fronteiras. Ademais, os comentários aqui são abertos, não-

mediados.

O contrasenso que você aponta, Clarice, não é da vida, nem do

pessoal da Escola-de-Redes e sim do caráter da plataforma (que não

fomos nós que desenhamos e não temos outra melhor para colocar no

lugar). Estamos tentando estimular a criação de plataformas i-based,

que não farão tais exigências. Veja uma discussão sobre isso no Grupo

PENSANDO UMA PLATAFORMA DE NETWEAVING http://goo.gl/PCpOI

Abraços.

51 - Comentário de UBIRAJARA THEODORO SCHIER em 22

junho 2011 às 21:17

Muito bom artigo... de fato é mesmo difícil nos livrarmos dos dogmas

que nos prendem à estruturas hierárquicas... acredito que a solução

para isso é poder se sentir livre em um ambiente em que todos se

sintam naturalmente motivados a fazer alguma coisa, não para

alguém, mas fazer pelo simples prazer de fazer... "- Se você quer

fazer redes, resista a tentação de pertencer a um grupo." - me lembra

o verso 36 do Tao Te King (Lao Tzu): "para comprimir algo, é preciso

deixar que se expanda bem; para enfraquecer, deves deixar que se

fortaleça bem".

Page 32: Resista à tentação de pertencer a um grupo

32

Mas é o desafio... vamos lá!

52 - Comentário de Paulo Marins Gomes em 23 junho 2011

às 0:29

Augusto, só não lhe chamo de "caro Augusto" porque seria

redundância e puxassaquismo hehehehe.

Tenho algumas dúvidas expressáveis (outras ainda estou remoendo):

Sobre o que você disse: "É inútil – e frequentemente

contraproducente – mobilizar energia para direcionar um grupo."

concordo perfeitamente, mas isso não se aplica também às RDLs?

Quanto à questão: "por algum motivo elas acham que consciência é

algo capaz de determinar comportamentos coletivos" entendo que

esse é um conceito fundamental na sua teoria das redes. Mas ainda

não consegui entender como pode a consciência não ter relação com o

comportamento. Afinal, o objetivo desse texto "Resista à tentação de

pertencer a um grupo" não é uma tentativa de conscientização?"

E só mais uma coisa: "se você diz: 'vou consultar primeiro meu chefe

ou meus companheiros' antes de decidir sobre isso ou aquilo, então

sua porção-borg cresce e sua porção-social diminui". Acho que você se

referiu ao consultar no sentido de "pedir permissão", não no sentido

de se aconselhar, neh?

Abraço!

53 - Comentário de Flavio Gut em 23 junho 2011 às 3:38

Eu gostei, está me fazendo pensar. Destaco especialmente esse final:

Estar em rede é sempre uma aposta: a aposta de que da nossa

interação desorganizada vai surgir algo interessante, não antes, no

ensaio (“a vida é beta”, como diz o Silvio Meira), mas sobretudo ali,

na hora exata em que ocorre, bottom up.

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33

54 - Comentário de Augusto de Franco em 23 junho 2011 às

6:46

Caro Paulo, hehe.

1) Sim, penso que isso também acontece com as chamadas Redes de

Desenvolvimento local. Esta é uma das razões pelas quais estamos

propondo uma modificação radical nas metodologias de indução do

desenvolvimento local. Leia este texto e você entenderá as razões:

DESENVOLVIMENTO LOCAL http://goo.gl/Xwlsv

2) O conceito de "conscientização" foi um daqueles equívocos do

pensamento do século 20, se é possível falar assim. Estava baseado

na idéia de que a transferência de um certo conteúdo de um emissor

para um receptor pudesse transfundir consciência. E que tal

consciência tomada a partir da apreensão de um conteúdo poderia

levar a mudança de comportamento. Foi assim que, como escrevi em

Fluzz, "líderes, condutores, reformadores, sempre apelaram para

nossa consciência, acreditando que a mudança se daria quando

alcançássemos determinada visão..."

No entanto, a descoberta da fenomenologia da interação revelou que o

comportamento coletivo não depende de "termos consciência

(individual) do que está se passando. Ao viver a vida da rede, apenas

vivemos a convivência: não precisamos mais tentar capturá-la e

introjetá-la, circunscrevê-la ou mandalizá-la para conferir-lhe a

condição de totalidade, erigindo um grande poder interior de

confirmação para nos completar da falta dos outros e nos orientar nos

relacionamentos com eles. Tal necessidade havia enquanto podia

haver a ilusão da existência do indivíduo separado de outros

indivíduos; ou quando um (ainda) não era muitos. Toda consciência é

consciência da separação, inclusive a consciência da unidade, da

totalidade, ou da unidade na totalidade, é uma resposta à separação.

No abismo em que estamos despencando ao entrar em fluzz, não há

propriamente isso que chamávamos de consciência".

3) Sim, a a frase que você cita se refere a submissão da pessoa a

algum coletivo proprietário que passa a sobredeterminar suas

escolhas. A pessoa deixa de ser uma pessoa e passa a ser um

representante da organização.

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55 - Comentário de ROBERTA GARCIA RIBEIRO em 23 junho

2011 às 13:22

Demais o texto, augusto!

Para ser um indivíduo precisamos de pertencimento, mas para ser

pessoa nada é preciso, só a realização daquilo que é.

Abraços,

56 - Comentário de Maria Otávia d'Almeida em 23 junho

2011 às 15:04

Uma rosa é uma rosa, ela simplesmente é! Um fenômeno que

independe do observador, segundo Kierkegaard e Perls. Quizá um dia

consigamos isso com pessoas...

57 - Comentário de Sérgio Luis Langer em 24 junho 2011 às

1:18

Vivemos, segundo uma concepção de desenvolvimento volúvel e um

tanto, mecanicamente, pragmática, reconhecida como a Sociedade do

Acesso. O economista Jeremy Rifkin (o qual tenho em suas idéias e

pensamentos, uma identificação e referência), é muito preciso quando

define a velocidade da transformação ecossocioeconômica à qual

deparamo-nos.

A interação de comportamentos e a integridade ética de uma conduta

devem ser o instrumento que rege a partilha do significado e

importância de nossa presença nas tomadas de decisões sobre o meio

no qual estamos inseridos, onde o nosso próximo é uma extensão da

própria existência e alma... "as necessidades de um, devem ser

compartilhadas por todos".

Essa sensação de preocupação, causando o enfrentamento dinâmico

para com a realidade é motivadora da responsabilização e

compreensão pela qual observa-se que o conjunto de oportunidades,

possibilidades, respeito e consideração para com a inclusão ...

dimensiona a solidez do grupo; a definição de seus propósitos, e, a

Page 35: Resista à tentação de pertencer a um grupo

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clareza para assegurar-se uma comunicação sensível, complementar e

pertencente à coletividade.

A individualidade é restritiva dos direitos existenciais e harmônicos da

qualificação por um desenvolvimento almejado. Assim sendo, uma

consciência compromissada, tange o limiar de uma estratégia

sincrônica de potencialidades que afloram segundo a valorização desta

postura, como unidade a ser formada na essência de uma conquista

chamada conhecimento (o qual somente, poucos têm capacidade para

adquiri-lo, por méritos estendidos quanto à dedicação pessoal,

considerada para com os valores da vida)... cuja coragem, é

determinada à obrigação para transformarmos angústias e medos

(entre a exclusão e a indiferença) em um novo momento a ser,

suavemente, trilhado como sendo: a reavaliação de paradigmas

educacionais provenientes da visão humana voltada à um crescimento

agressivo de imposição manifestada pela arrogância do individualismo.

Para isso faz-se necessário considerar que a plenitude do crescimento,

pautado em um processo de desenvolvimento justo, há de ser

permeável para com a identidade interpretativa das adversidades da

vida; uma vez que, o compartilhamento de experiências agrega

valores fadados à responsabilidade de nossos atos para com nossos

semelhantes e o futuro das gerações que ansiamos preparar.

Um abraço.

58 - Comentário de Stefano Carnevalli em 26 junho 2011 às

23:03

Tudo isso faz muito sentido. Compartilho. Só não sei ainda como lidar

no dia a dia, no trabalho, onde tudo está voltado para ser grupos pré

definidos, formatados, com pessoas que "passam o dia: entre o

computador, o banheiro, o café e as indefectíveis reuniões".

59 - Comentário de Vanildo Silva Oliveira em 27 junho 2011

às 17:12

Concordo plenamente com o comentário do Stefano. Os objetivos

profissionais nem sempre proporcionam esta abertura de pensamento.

O fato é que existe a necessidade de se criar grupos nas chamadas

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mídias sociais para que determinada marca faça suas ações,

convertendo em resultado. Simples como fogo...

60 - Comentário de Ana Valéria Haddad em 3 julho 2011 às

8:52

A nossa necessidade de pertencer advém da dificuldade brutal que

temos de vivenciar o espaço vazio que existe entre "mim" e o outro, e

que insistimos em preencher, buscando a participação em grupos, que

nos dá a sensação ilusória de estar construindo pontes para preencher

este vazio. Pois é justamente a manutenção deste vazio que nos

mantém na integralidade, e nos possibilita contribuir, integrar-nos.

61 - Comentário de Maria Otávia d'Almeida em 3 julho 2011

às 10:44

E é um vazio pouco visitado, pois "as igrejas", "os grupos" estão aí

para impedir...

62 - Comentário de Caleb Salomão Pereira em 22 agosto

2011

A superação do conceito de "indivíduo" para uma introjeção dos

valores contidos na idéia de "pessoa" (como rede!) parecem ecoar

certos conceitos de Emanuel Lèvinas... É muito bom ler um texto tão

provocativo!

O texto continua aberto a comentários no link abaixo:

http://goo.gl/d7SpG

FIM?