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R E S P O N S A B I L I D A D E S O C I A L 56 por Susana Dias Em torno da mesma mesa: Petrobras, universidade e comunidades Desde seu lançamento em 2003, o Programa Petrobras Fome Zero implan- tou no país importantes ações de forta- lecimento das políticas públicas de com- bate à miséria e à fome, com a participa- ção direta das comunidades, contribuin- do para a melhoria da qualidade de vida. No Rio Grande do Norte, mais de 30 pro- jetos já foram realizados levando bene- fícios para cerca de 47 mil pessoas. Os projetos atendem a um público bem diver- sificado como agricultores, crianças e adolescentes, portadores de necessida- des especiais e pescadores. De 2003 a 2006, a Petrobras aplicou, através do programa, mais de R$ 18 milhões no estado e, neste ano, a perspectiva é repas- sar mais de R$ 7 milhões para os proje- tos sociais, como informa a assessoria de imprensa da Unidade de Negócio de Exploração & Produção do Rio Grande do Norte/Ceará (UN-RNCE). O projeto "Em torno da mesa: alimen- tando sensibilidades e competências" é uma parceria de sucesso entre a Petrobras, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e as comunida- des de pescadores artesanais de três dis- tritos de Macau: Diogo Lopes; Barreiras e Sertãozinho. Este foi um "arranjo mui- to feliz" avalia Ana Emília Guedes, coor- denadora do projeto e pesquisadora do Departamento de Nutrição da UFRN. Inicialmente a equipe da universida- de, formada por tecnólogos, especialis- tas em pescado, cooperativismo, saúde coletiva e pedagogos, foi até as comuni- dades saber quais eram os problemas dos moradores e que interesse teriam em estabelecer uma parceria com a empresa e a universidade. Um dos pro- blemas identificados no primeiro levan- tamento foi o baixo valor comercial da produção do pescado da região, tais como sardinha, arraia e peixe voador. A sardi- nha não beneficiada, por exemplo, tem um valor comercial entre 30 a 40 centa- vos por quilo, quando vendida para os atravessadores. "A sardinha, que é a maior produção local, era jogada fora ou ven- dida por um preço muito baixo. Os pes- cadores queriam se livrar da sardinha", lembra Emília. Além disso, os pesquisa- dores identificaram que entre a popula- ção das comunidades havia pouco con- sumo desses peixes, que preferiam os peixes que podem ser filetados, como o dourado. Diante desse cenário, o projeto foca- lizou suas ações em três eixos que inte- ressaram às comunidades costeiras tra- dicionais: beneficiamento do pescado; organização da cooperativa; e mudan- ças na cultura alimentar local. Introduzir técnicas inovadoras de beneficiamento dos peixes de pequeno valor comercial, e criar um cardápio original foram algu- mas das rotas que o projeto encontrou para gerar renda e contribuir com a segu- rança alimentar dos moradores e visi- tantes do local. A insegurança alimen- tar nessas comunidades estava relacio- nada com a qualidade dos alimentos e da água, a falta de esgotamento sanitário e o destino do lixo. Antes do projeto, os resíduos dos peixes, por exemplo, eram jogados nas dunas, e agora vão para a silagem e servem de alimento para os porcos. A idéia é que, futuramente, esses resíduos sejam utilizados na produção de composto orgânico, que poderá ser usado pelas próprias comunidades e até comercializado como adubo. PROFISSIONALIZAÇÃO Preocupado com a profissionaliza- ção dos participantes, o projeto criou uma turma com cerca de 53 alunos, a maioria mulheres, que aprendeu técni- cas as mais diversas de beneficiamento e preparação do pescado. Além de aulas locais, em torno do fogão nas casas dos pescadores, os alunos puderam visitar as instalações da universidade e apren- der a filetar e preparar as sardinhas em grande escala. Participaram também de feiras de exposição de produtos alimen- tares e de eventos científicos, como a XII TÉCNICAS DE BENEFICIAMENTO DO PESCADO, MUDANÇAS NO CARDÁPIO LOCAL, FORMAÇÃO DE MULTIPLICADORES, SÃO ALGUNS DOS RESULTADOS DO PROJETO

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R E S P O N S A B I L I D A D E S O C I A L

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por Susana Dias

Em torno da mesma mesa: Petrobras, universidade e comunidades

Desde seu lançamento em 2003, oPrograma Petrobras Fome Zero implan-tou no país importantes ações de forta-lecimento das políticas públicas de com-bate à miséria e à fome, com a participa-ção direta das comunidades, contribuin-do para a melhoria da qualidade de vida.No Rio Grande do Norte, mais de 30 pro-jetos já foram realizados levando bene-fícios para cerca de 47 mil pessoas. Osprojetos atendem a um público bem diver-sificado como agricultores, crianças eadolescentes, portadores de necessida-des especiais e pescadores. De 2003 a2006, a Petrobras aplicou, através doprograma, mais de R$ 18 milhões noestado e, neste ano, a perspectiva é repas-sar mais de R$ 7 milhões para os proje-tos sociais, como informa a assessoriade imprensa da Unidade de Negócio deExploração & Produção do Rio Grandedo Norte/Ceará (UN-RNCE).

O projeto "Em torno da mesa: alimen-tando sensibilidades e competências" éuma parceria de sucesso entre aPetrobras, a Universidade Federal do RioGrande do Norte (UFRN) e as comunida-des de pescadores artesanais de três dis-tritos de Macau: Diogo Lopes; Barreirase Sertãozinho. Este foi um "arranjo mui-to feliz" avalia Ana Emília Guedes, coor-denadora do projeto e pesquisadora doDepartamento de Nutrição da UFRN.

Inicialmente a equipe da universida-de, formada por tecnólogos, especialis-tas em pescado, cooperativismo, saúde

coletiva e pedagogos, foi até as comuni-dades saber quais eram os problemasdos moradores e que interesse teriamem estabelecer uma parceria com aempresa e a universidade. Um dos pro-blemas identificados no primeiro levan-tamento foi o baixo valor comercial daprodução do pescado da região, tais comosardinha, arraia e peixe voador. A sardi-nha não beneficiada, por exemplo, temum valor comercial entre 30 a 40 centa-vos por quilo, quando vendida para osatravessadores. "A sardinha, que é a maiorprodução local, era jogada fora ou ven-dida por um preço muito baixo. Os pes-cadores queriam se livrar da sardinha",lembra Emília. Além disso, os pesquisa-dores identificaram que entre a popula-ção das comunidades havia pouco con-sumo desses peixes, que preferiam ospeixes que podem ser filetados, como odourado.

Diante desse cenário, o projeto foca-lizou suas ações em três eixos que inte-ressaram às comunidades costeiras tra-dicionais: beneficiamento do pescado;

organização da cooperativa; e mudan-ças na cultura alimentar local. Introduzirtécnicas inovadoras de beneficiamentodos peixes de pequeno valor comercial,e criar um cardápio original foram algu-mas das rotas que o projeto encontroupara gerar renda e contribuir com a segu-rança alimentar dos moradores e visi-tantes do local. A insegurança alimen-tar nessas comunidades estava relacio-nada com a qualidade dos alimentos e daágua, a falta de esgotamento sanitárioe o destino do lixo. Antes do projeto, osresíduos dos peixes, por exemplo, eramjogados nas dunas, e agora vão para asilagem e servem de alimento para osporcos. A idéia é que, futuramente, essesresíduos sejam utilizados na produçãode composto orgânico, que poderá serusado pelas próprias comunidades e atécomercializado como adubo.

PROFISSIONALIZAÇÃOPreocupado com a profissionaliza-

ção dos participantes, o projeto criouuma turma com cerca de 53 alunos, amaioria mulheres, que aprendeu técni-cas as mais diversas de beneficiamentoe preparação do pescado. Além de aulaslocais, em torno do fogão nas casas dospescadores, os alunos puderam visitaras instalações da universidade e apren-der a filetar e preparar as sardinhas emgrande escala. Participaram também defeiras de exposição de produtos alimen-tares e de eventos científicos, como a XII

TÉCNICAS DE BENEFICIAMENTODO PESCADO, MUDANÇAS NOCARDÁPIO LOCAL, FORMAÇÃO

DE MULTIPLICADORES, SÃO ALGUNS DOS

RESULTADOS DO PROJETO

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Um dos resultados do projeto, o"Calendário em torno da mesa 2007" estápara ser lançado. A escolha das receitaspara compor o calendário levou em con-sideração as preparações da culinárialocal, o período de consumo e as festivi-dades que acontecem durante o ano nacomunidade pesqueira. Além de valori-zar os peixes desprezados pela comuni-dade, e agregar valor comercial à maiorprodução pesqueira, os preparados abri-ram novas possibilidade para o poten-cial turístico da região. Os turistas são

atraídos para os municípios não apenaspelas belas praias, mas também pelosquitutes preparados com técnicas segu-ras e cuja originalidade não se encontraem outras localidades do litoral.

Para garantir a comercialização dosprodutos em grande escala, o projetotambém investe na distribuição poroutros programas sociais do governo.Uma parceria com o Instituto deAssistência Técnica e Extensão Rural(Emater) e com a Companhia Nacionalde Abastecimento (Conab) já permiteque os alimentos beneficiados cheguemàs creches e escolas da região. Outraintenção do projeto é conseguir o Selo deQualidade para os produtos, que permi-tirá aos pescadores uma expansão domercado.

Para as comunidades costeiras deMacau apenas dominar as técnicas nãoseria suficiente. Havia a necessidade deinvestir também em maquinário e, como apoio da Petrobras, foram obtidosalguns equipamentos. A empresa, segun-do sua assessoria de imprensa, conti-nuará a apoiar o projeto e o próximo pas-so será instalar uma unidade semi-indus-trial para beneficiamento do pescado nomunicípio Diogo Lopes, que irá atender,além dessa localidade, mais onze comu-nidades que integram a Reserva Pontado Tubarão, dentre elas Barreiras eSertãozinho.

Guedes ressalta que a parceria coma Petrobras não propiciou apenas umaação social propositiva junto às comuni-dades, mas fortaleceu a pesquisa e aextensão na universidade, ao agregarprofissionais de diferentes áreas em tor-no de um projeto coletivo, e permitiu asocialização da produção científica. Alémdisso, gerou a possibilidade de realiza-ção de pesquisas junto às comunidades,o melhoramento das técnicas de bene-ficiamento do pescado, e a formação deequipes de assessoria tecno-científicaàs comunidades qualificadas.

Semana de Ciência, Tecnologia e Culturada UFRN-Cientec em outubro de 2006,onde expuseram e comercializaram osprodutos. Ensopado de arraia no coco,sardinha na pressão, pastel, quibe, lin-güiça e hambúrguer de peixe e a famo-sa peixada praieira com pirão, foramalguns dos quitutes expostos. No mes-mo período, foi certificada a primeiraturma de beneficiadores do pescado do"Em torno da mesa", que agora tem a mis-são de promover a continuidade, estru-turação e crescimento do projeto.

No alto, equipe que participa do projeto; acima, o pescador Vlademir trazendo uma cesta de sardinhas

Fotos: Divulgação

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