Resposta a Stanislavski

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  • 8/11/2019 Resposta a Stanislavski

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    T

    NISL VSKI

    Jeny 9r OJsh

    Trnduao de

    RicardoGomes

    1.

    Certas

    pergunms

    nao

    tm scnrido.

    Stanislavski imtx>rt:mte para

    0

    novo

    rcano

    No sei. Exisrem coisas novas,

    coma as revisras de moda. E cxisrem

    COlsas

    novas mas antigas,

    coma fiS

    origens da vida. Por que v o c ~ pergunta

    se Stanislavski

    importante para

    0

    Tcxtoorgan:ado

    p f

    Les:ek KoIankiewicz,

    ba$l ado

    no

    esrenograma

    do l'ncontro Je

    GnxO\Oo'Ski

    corn

    dirclOfCS

    e atores

    na Brool. }11

    A c a d . . - m y ~ 1 T 1

    N O \ 3 . I ~ u e .

    cm 22 de fC\'crdm

    de 1969. Publicado

    em

    Dialog 1, 1980.

    T radukJ do polons para

    0

    iralianode C,rl;,

    PollastTdli. A prC5entC tT3Ju

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    1

    .

    .li

    9

    c

    E

    j

    ;f

    4

    novo

    t e ~ m o r D

    a sua RESPOST

    A A STANISLAVSKI -

    que no

    scja baseada na ignorncia, mas no conhccimcmo prtico.

    Ou

    voc

    criarivo, o u n ao . Se for, de :llgllma mancinl vai super-Io. se naD

    for, sera

    fiel mas

    esrriL

    proibidopensar segundo estas categorias: l importante haje?

    Se for importante para voc, pergunte: por qu No pergunte se

    importante para os ouaos, ou para 0 teatrQ em geral. 0 lrabalho

    do

    awr sobre si mesmo

    l

    ainda um livre atuan Esta perguma sem

    semido pela mesmo motivQ. 0 que 0

    rrabalho

    hoje? Significa

    justameme que existe 0

    trabalho

    hoje qu e necessariamente

    difereme do trabalho

    ontem. Mas

    0 trabalho

    hoje

    a

    mesmo

    para

    todos Existe 0 seu pr6prio trabalho. Entao voc pode se

    perguntar

    se

    este Iivro imp:>rtame para voc

    no

    seu trabalho.

    No

    pergunte

    para mim. Nilo se

    pode

    responder no lugar

    de ningum.

    2.

    Urn do s mal entendidos

    preliminares

    relativos a esta

    problematiea deriva do faro de que para muiras pcssoas, diffcil

    diferenciar

    a rcnica

    da

    esttica.

    Considero

    qu e 0

    mrodo de

    Stanislavski foi um dos maioresestfmulos para 0 teatro europeu em

    particular na

    formaao do ator;

    ao mesmo

    tempo,

    me simo

    distante

    da

    sua

    esttica. A

    esttica de

    Stanislavski era produto do

    seu tempo

    do seu pars e da sua pessoa. Somos rodos produro da associaao das

    nossas tradies e dOlS nossas necessidades. Sao coisas

    que

    no podern

    ser

    rransplamadas de

    um

    lugar para

    outre

    sem cair nos cliehs, nos

    1. Nota do tradutor. Groc:owski

    se

    rcfcrc a J

    Iivrode

    t n i s l ~ k i

    Raboca oJalra

    ood schoj

    que

    na

    edi:\o rossa psufa dois volumes

    Rnboto

    oIatra nad soboj

    u IWfCesIcom

    pernimnie

    trabalhooo

    ator sobre

    si

    no processocriativo) e Rabota uktlr a nad

    loorceskom protsesse I Oiplosl Cenia

    trabalh

    do a to r sobre si mesmo no processo d

    encarnalk efoipublicadoem

    i n g I s d e , : ~

    reduzida edeturpada

    (e

    desta ~ t radu .

    para

    0

    portugus)

    oomo

    dois

    livros difercntes4

    An ocrer prtpaTeJ

    A

    prep3rapo do atoc)

    Building hara IeT (A consuul0 d

    personagem).

    c:>lcrc6tipos. cm alguma coisa qu e j; est; mana no IllOlllcnro

    cm

    quc chamada a existir. Eo rnesmo acontccc nocaso de Slanislavski.

    no nos5O, ou

    em qualquer outro.

    3

    Como

    profissional, me formei

    dentrodo

    sistema

    de

    Stanislavski.

    Acreditava de alguma maneira. no proftssionalismo. Agora

    nao

    acredto

    mais. Existem dois ripes

    de

    disfarces, dois

    gneros de

    fuga.

    Podemos fugir no diletamismo.chamando o de liberdade . Podemos

    rugir

    tambm

    no proftssionalismo,

    na

    tcnica. Ambos

    podem

    servir \

    como pretexto para a abso\viao. Antigamente

    eu acredi tava

    na

    profissao. Neste campo, Stanislavski era para mim0 exemplo. Quando

    comecei meu

    trabalho,

    meu

    ponto

    de partida era

    a

    sua

    tcniea. Mas

    uma base suigeneris para mim em rambm a sua atitude. que 0 levava

    ri

    descobrir

    de

    novo cada fase

    da

    vida.

    Stanislavski estava sempre a

    caminho. Colocou

    as perguntas

    fundarnentais no campo

    da

    profissao. Quando se trata

    de

    respostas,

    entre n6s vejo

    principalmeme

    as diferenas. Mas nut ro um

    grande

    rcspeito

    por

    ele. e penso nele

    freqenremenre quando

    vejo que

    confusao se pode criar . Os

    alunos

    ...

    Acho que

    acomeceu comigo

    mmbm.

    Os verdadeiros a' unos nao

    sao

    nunca alunos.

    Um verdadeiro

    aluno de Stanislavski era Meyerhold. Ele mio aplkava 0 sistema

    cscolastkameme

    dava uma respost a sua. Era um rival,

    n ao u ma

    boa alma

    que

    protesta

    um

    pouco

    quando nao

    est;

    de

    acordo.

    Tinha

    ,

    convkes era ele mesmo, e teve que pagar

    por Sso.

    Um verdadeiro

    aluno de

    Stanislavski

    era Vakhtngov.

    No se

    ops

    a Stanislavski

    mas,

    quando

    ap\kou 0 sistema na pratica, foi to pessoal, to

    marcado

    pela relao corn seus

    atores

    (mas

    tambm

    pela influncia

    da poca, pelas

    mudanas

    que haviam ocorrido,

    pela modo

    de ver

    da novagerao

    ...

    ) que os resultados fomm complerarnenre diferenres

    dos espetaculos de Stanislavski.

    Stanislavski era um velho sbio. Entre seus alunas prcfcria

    Vakhtngov.

    Na

    estria

    de

    TurandOl.

    muitas pensaram

    que

    n;o

    JX>.

    1:

    ll

    :

    5

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    -

    ~

    9

    c

    .2-

    0 -

    c

    6

    dia concordar corn um espet:iculo tilu difcrcnre e esrranho ao seu

    tmhalho, mas Stanislavski aSSllllliu llma posi50 de

    pkna

    e total

    aprovao.

    Sabia

    que Vakht5ngov r inh

    fcito

    como

    cie

    anteriormente, tinha dado

    sua pr6pria n:s\x)sta s pergllntas

    que

    rinha

    a coragem de se colocar, evitando ao mesmo tempoos cstcrc6tipos,

    inclusive os csre6tipos do trabalho de Sranisbvski

    Por este motiva, sempre que

    p ss

    rcpito que nao quero ter

    alunas. Quera companheiros de armas. Quera uma frarernidade de

    armas. Quera peSSO

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    -

    ~

    1;

    2

    0 -

    c

    8

    Penso cnro que 0 mais sensato seja falar do t ea tro coma de uma

    casa cm ruinas, quase abandonada.

    Emao:

    no

    in{cio da nossa cra, os que buscavam a verdade

    procuravamos lugares aoondonados para cumprit ali 0 dever da vida.

    Ou ento

    iam para 0

    deseno

    (nao cre io que se tratasse de uma

    solulio natural, ainda que s vezes necessria cm certos periodos da

    vida: preciso se afastat para depois voimr), ou procuravam casas

    cm fUrnas - calvez condenados a nao encontr-las. ralvez loucos do

    ponta

    de vista das categorias do quotidiano.

    a conceito de

    proflSSionalismo

    est se distanciando de

    Olim

    ha

    muira tempo.

    No

    primeiro perfodo

    de minha

    arividade

    coma

    diretor

    autnomo.compreendique 0 disfarce atrs

    do

    quai 0 arorse

    esconde

    para evitar a sinceridade cancreta e tangivel 0 diletantismo. Nao

    se faz nada mas se

    tem

    a convicao

    de

    fazer alguma coisa.

    No

    mudei de opinio a esse respeito. 56

    que

    a tcnica tambm JX de

    servir

    como

    disfarce. Pooemos

    dominar

    corn

    0

    treinamento

    varios

    sistemas de capacidades, varios expedientes, JX)demos ser grandes

    mestres e habeis malabaristas neste campo para mos tr ar a tcnica

    mas

    no

    revelar a n6s mesmos. Paradoxalmente, preciso ultrapassar

    o diletantismo e a tcnica.

    Diletantismo quer

    dizer falta de riger. 0

    rigor

    0

    esforo para fugir

    da

    iluso.

    Quando

    no somos sinceros,

    imaginando que

    estamos realizando

    0

    ato fazemos

    apenas

    algo

    inarticulado e disforme.

    5.

    Nutro

    por Stanislavski um

    grande profundo

    e multiforme

    respeito. Este respeito se baseia em dois princpios. 0 primeiro a

    sua auto-reforma permanente,

    0

    colocar em discusso

    continuamente

    no

    trabalho as etapas precedentes. Isto nao era

    um

    esforo para

    permanecer

    moderno, mas se

    tratava do prolongamento

    coerente

    daquela mesma busca da verdade.

    Na

    realidade,

    de contestava

    as novidades. Sua pesquisa

    no

    terminou

    no mtodo

    das aoes fsicas por nele te r

    encontrado

    a

    vcrdadc maxima da profisso, mas porque

    foi

    interrompida pelamorte.

    o segundo motivo pelo quai respeito muito Stanislavski

    0

    seu esforo

    para pensar baseado

    no

    que pratico e concreto. Como tocar 0

    u

    lulo

    umgiv l

    Ele desejou

    encontrar

    os caminhos

    concretos

    para

    0

    que secreto, misterioso.

    No

    osmeios - contra

    de s

    lurava, chamava

    os de cl ichs - mas os camnhos.

    6.

    o

    mtooo

    das a6es fisieas: a

    nova

    e ao mesmo tempo ltima

    ctapa

    em que

    Stanislavski colocou

    em duvida muitas

    das suas

    dcscoberras precedentes. Corn certeza, sem 0 trabalho precedente

    no JX)deria te r descoberro 0

    mtodo

    das a6es fsieas. Mas apenas

    naquele perodo realizou descobertas que considero uma espcie de

    revelao: que os sentimenros no dependem da nossa vontade. Na

    fase precedente isto ainda

    no

    estava c1aro

    para

    cie. Procurava a

    famosa mem6ria emot iva . Achava

    ainda

    que

    reconer s

    recordacs

    de

    diferentes sentimenros

    no

    fundo

    significasse a

    possibilidade de retomar aos pr6prios sentimentos. Nisto havia um

    erro - a f

    no

    faro de

    que

    os sentimentos

    dependem

    da vonrade. 0

    entanto na

    vida

    podemos notar qu e

    os

    sentimentos sao

    ndependenres da nossa vonrade. Nao quercmos amar algum, mas

    affiamos; ou cnto 0 conrrnrio: queremos realmente amar algum,

    mas

    n a o c o n s e g u i m o s ~ s s e n t i f f i c n t o s

    so

    independentesda vontade

    e, justamente por este motivo, Stanislavski,

    no

    ltimo perfodo

    de

    atividade, preferia,

    no

    tTabalho, colocar a nfase naquilo

    que

    esta

    sujeito

    nossa vonrade. Por exemplo, na primeira fase, cie perguntava

    quais as emooes s quais 0

    ator

    tcndia nns diversas cenas. E

    enfatizava os assim chamados eu quero . Mas, pormais que possamos

    querer querer , isto nao a mesma coisa que 0 fato de querer .

    Na segundafase, deslocou a nfase para 0 que passive] fazer. Porque

    o que se faz

    depende

    da vonrade.

    Mas 0 que aqu i\o que sc faz, 0 que a afio Aqucles que

    ficaram na superffcie da terminologia das aoes ((sicas pensam que

    seja, por exemplo, passear, fumar um cigarro e assim por dianre. Isso

    significa que, para eles, aoes ffscas sac as atividades elementares

    da vida quotidiana.

    muira

    ingnuo.

    Os

    OlltroS

    que

    preferiam

    0

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    -

    N

    '0

    1;

    c

    . .

    0 -

    c

    E

    ]

    of

    10

    Sranislavski

    do

    periodo anterior,

    repetem

    sempre as suas afirma6cs

    sobre

    as

    aes

    micas

    usando Cl

    renninologia

    das

    emoes.

    POT

    exemplo:

    agora ele nfio

    0 ama, entao

    queT ir

    contra,

    se esfora: 0

    que

    precise

    fazer e

    coisas

    deste

    ripa.

    Estas nao sac

    aes fsicas.

    Outres ainda

    misturam a represenrao corn as aes ffsicas.

    Na conccpo

    de Stanislavski, as aes nsicas

    cram elemcntos

    do

    comportamento,

    cram aes e1ementares

    vcrdadeiramente

    ffsiens.

    mas ligadas

    faco de

    (Carol aos Qutros.

    Olho, olho-o nos 01h05,

    (emo

    dominar.

    Observa

    quem

    a favor e

    quem contra. No olho

    porque nao consigo encontrar em mim os argumentos . Todas as

    foras c1emenrares

    do

    corpo

    orienradas

    cm

    direo

    a algum ou cm

    direo

    a si rncsmo: escutar,

    olhar,

    agir corn

    0

    objero, enconrrnr os

    pomos de

    apoio -

    rudo isso

    aao mica. Olha

    e v, mas nao:

    nao

    olha

    e

    nao

    v,

    como

    um

    ator

    ruim

    em um

    esperaculo feio. Ele

    ccgo

    e

    surdo

    em

    rclaao

    aesoutres,

    em

    relao aos parceiros, dispe

    apenas

    de

    truques

    para

    esconder isto.

    possivel faz-Io passar - por

    meio

    da

    eficaCa

    do

    mxio

    -

    da

    sinceridade simulada

    sinceridade meio

    verdadeira.

    Do JX)ntO de vista

    da

    concepo do esper3culo,

    muito.

    Sc 0

    diretor

    um mestre da eficacia, pode ajudar 0 aror nissa. Mas

    quera dizer

    que. me afastando do culto do

    profissionalismo, mudei

    tambm

    meu

    conceiro

    de efidCa.

    7.

    o l toda a sua vida

    na

    arte, Stanislavski dcixou

    0 exemplo

    de

    que

    precisa

    estar

    prepnmdo par;.

    0

    rraoolho, e foi cie mesmo qllem

    formlllou a

    importncia

    do

    rralxtlho de laborat6rio e dos ensaios

    enquanro

    processos criarivossem cspl'ctadores. E rambm a necessidadc

    do

    treinamento para

    0

    ator. Prestoll, assim, lltn grande servio.

    No rreinamento do a to r, nos

    exercfcios,

    podc-se,

    todavi

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    -

    ~

    9

    l

    12

    8.

    necessario procurara maneira para

    libenar

    a pr6pria existncia

    que

    se

    volta cm direao a outra pessoa. Entao agimos no campo da

    tcnica - da voz, por exemple. No possfvel comar rapidamenre

    como

    fundena.

    Desre modo, se poderia apenas criar malemendidos.

    um

    trabalho longo e duro. Ouro nao tanto no sentido do esforo

    necessario.

    mas da

    coragem ou

    da detenninao.

    T

    odos

    os excrdcios que nos propunhamos eram direcionados,

    sem

    exceo, ao

    aniquilamemo das

    resistncias.

    dos

    bloqueios. dos

    estere6tipos individuais e profissionais. Tratavase de

    exerdcios

    obst3culo. Para superar os exerdcios,

    que

    sao como urna

    armadilha,

    preciso descobrir 0 pr6prio bloqueio.No

    fundo

    todos estes

    exerdcios

    tinham um carnter negativo, ou seja, serviam para descobrir 0 que

    nao se devia fazer, mas nunca

    0

    que e corno farer. E sempre cm

    relaao com

    0

    nosso proprio caminho. Quando os exercfCos j eram

    executados

    com maest ria excessiva e ram

    modificados ou

    abandonados.

    Sc continussemos comearia

    a tcnica pela tcnica,

    o sar omo Quando sentamos

    qu e

    as fontes

    no

    agiam em

    nOO

    (ou

    sobre nOO

    quc

    as rcsistncias nos bloqueavam, nos fechavam,

    que

    processo criarivo avanava , mas

    era

    estril,

    enrno

    voltvamos

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    16

    mas 0 espao

    sempre

    imprevisfve ,

    0

    rio

    em que voc entra

    sempre

    novo. evidente

    que

    este

    exemplo

    se

    refere a um nico nrvel.

    Entretanto,

    diz

    respeitoa todos os dementos do comportamento do

    homem no papel. E preciso definir

    daqui

    ali , as margens

    que criam

    aquele entre .

    E

    esta

    a

    partitura. Entao 0

    a ~ o r

    nao

    esta

    condenado

    a pensar continuameme que

    devo

    fazer . E mais livre, porque nao

    recusou a organizaao.

    Quando

    Stanislavski

    trabalhava

    sobre as aes fsicas,

    superou,

    mas

    tambm

    prolongou, a

    sua

    velha idia de

    mem6ria

    emotiva .

    Perguntava ao

    acor:

    que voc

    faria,

    se

    estivesse nas

    circunstncias

    dadas? Estas

    circunstncias

    sao as

    circunstncias

    do papel: a idade,

    o

    tipo,

    a

    corporeidade,

    um

    cerCO ripo de experincia.

    Na sua

    perspectiva,

    era

    muito 16gico e muito eficaz

    Quando

    eu

    rrabalhava corn um

    amr,

    nao refletia

    nem

    sobre 0

    se

    nem

    sobre as

    circunstncias dadas . Existem pretextas ou

    trampolins

    que

    criam

    a

    evenro

    espetacular.

    a

    ator

    apela

    para

    a

    pr6pria vida, nao

    procura

    no campo

    da mem6ria emotiva ,

    nem do

    sc . Dirige-se

    ao corpo-mem6ria, nao

    mem6ria do corpo , mas

    justamentc

    ao

    cOfJX)mem6ria. E

    ao corpovida. Entao

    se dirige

    para

    as

    experincias que

    (ornm

    para

    cie

    verdadeiramenre i m p o r r ~ n t ( s .1

    para aquclas que

    ainda

    esperamos, que nao vieram ainda. vezes

    a

    recordaao de um ins tante, um nico ins tante, ou um CIelO de

    recorda6es cm que aigu pcrmanece imutvel.

    Por

    exemplo, a

    recordaao de uma

    situa;'io-chave a respeito

    de mulher.

    rosto

    da mulher

    mllda (nos cpis6diosisoladosdllranre a vida e naqUllo

    que

    ainda

    nao

    foi

    vivido),

    wda

    pessoa

    pode mudar, mas em

    todas as

    existncias ou encama6cs existe

    algo

    de imutavel, como

    filmes

    diferemes

    que se

    sobrepem

    uns nos

    outros.

    Estas recordaoes (do

    passado

    e

    do

    futuro)

    sao reconhccidas ou descobertas

    XIr

    aquo

    que tangvel

    na natureza

    do

    corpe

    e

    de

    todo 0 resto, .ou seja,. 0

    corpe-vida.

    Ali est

  • 8/11/2019 Resposta a Stanislavski

    9/10

    -

    N

    1;

    9

    c

    . 1.

    -

    c

    E

    l i

    oC

    f

    18

    13.

    Stanislavski acredirava , 0 rcarro fosse a reali::an d. \ Jma

    Stanislavski

    foi

    [alvez 0 m

    ;O

    - mais puro e

    indbcllthel

    profissional de roda a hisr6ria do atro. 0 {carro cm d.c a

    finalidade.

    Nao sima

    que

    0

    tcatro scja a finalidade para l n EXIste

    apenas

    0

    Aro. Poclia acontecer que este

    Arc

    estivc c hem prximo

    do

    texto

    dodrama, eoquanto

    base. Mas

    nao

    poss me

    pergllntar:

    cra

    ou

    nao

    era a rcalizaao

    do rcxtQr

    Nao sei. No sei sc cra fiel

    l

    cie ou

    oao. Nilo me interessa

    0

    {carro

    da

    palavT3, porque

    baseaJo sobre

    uma

    falsa visao da cxistncia humana. l 3.0 me nteressa tambm 0

    tearro ffsico. Porque 0 que quet

    dizcrt

    Acrobacias cm cena? Grtos?

    Rolar

    no chao

    Preporncia?

    Nem

    0 (carro

    da

    paluvra, nem 0 tearro

    fsico - nem

    0

    t ea rro, mas a exisrncia viva

    110

    seu fevclar-se.

    Stanislavski um dia disse: As palavras sac 0 cume das aes (sicas.

    Aconrece que a lingua falada s6 um pretexto.

    14.

    Pcnso quc, dcnrro de cenos limites, esramos conuentluos

    inqllict:lao. Existem,

    no entanto,

    limites dcfinidos de inquieraao

    que JXXIemos slllx)r(ar. Sc procuramos 0 modo de nos esconder.atn1s

    de f6rmulas inrdecrl nis,

    nuas

    dc idias,

    de

    slogans, ou seJa, sc

    mentimos

    :)

    cada

    instanl'e C(Jm 0 maior refinamcnto, estamos

    condenados

    i l

    infelicidacle. Sc rudo aquilo que queremos fazer

    empre apenas mrno, scmpre

    .H

    um cerro ponta, sempre comoos

    outros , sempre cam 0 fim ue sermas 3ccitos, estamos condenados

    infelicidade. Mas

    se

    - pa .ldoxalmntc - tendemos a llIua direao

    diferente, a um ceno nvcl se manifesta a calma.

    H momentos em que no existimos pela merade, quando

    estamos em hannonia conosco mesmos. E nao no campodo intclecto,

    mas globalmente. Se isto acomcce no trabalho, depois, sem dllvida,

    vestiremos de nova a mascaraquotidiana, porque

    nao

    absolutamenre

    possive evita-la. Cairemos talvez nas concesscs,

    mas

    elas nan tocamo

    o nosso trabalho. E, corn efeito, estas

    concessOeS

    nao

    iri'io

    muiro longe.

    De

    fonna semelhante, diminuir

    0

    nosso medo, porque

    uma funao

    ,1:1 (raqueza e das mentiras. Deriva do fato de que temos medo de

    , n lrcmar a vida cara a cara.

    Existem perigos mottais, mas

    passiVe enfrema-Ios. Existe uma

    rvlaaodireta

    entre

    a inquictaao, a incompletudee

    0

    medo. Porque

    1

    ]1llSSVel responder aos perigos apenas apclando para as fontes, mas

    .IS

    fomes da vida comeam a funcionar verdadeiramente s6 depois

    de diminarmos os remcndos, a mentira e a fraqueza.

    15.

    Freqenremenre

    se

    diz que 0 ator dcvc agir na primeira pessoa: 0

    ' \ :u e nao 0 papel . Esta era a tese de Smnislavski. Dizia: eu - nas

    llrcunstncias do papel .

    POl'

    Olltro

    bdo,

    muitas vczes, qllase scmpre,

    sc 0 ator pensa: eu , pensa no pr6prio auto-l'errata, na imngem que

    ~ l l s t a r i a

    de imlXJr aos outrose a

    si

    mesmo. Mas

    se

    desafiado: descobrc

    1 1

    reu homem - isto ultrnpassa

    as

    suas foras comuns - rompe com

    .lque a imagem social - exige tudo. E,

    se

    a esta chamada responde

    lm a aao, cie nao (XXie nem mesmo dizer eu estou agindo , porque

    'lstOSe age (nodevemosconfundir isto , Se , como id de Freud).

    16.

    Afirmci, no incio, que Meyerhold e Vakhtngov foram os

    II1c1hores alunos de Stanislavski. Pcxlemos nos pergumar

    se

    a grandeza

    dt.:

    Stanislavski no era Meyerhold. A sua resposta ao mestre era a

    prova

    da

    fora de Stanislavski, grande e fecundadora. No

    fim

    da

    \ ilia, Meyerhold disse: Bem, a diferena entTe nasso tcatro Teatro

    :\lcyerhold) Tcatro dc

    Atte

    de Moscou

    T

    AM) esta

    no

    faro de

    '11le 0 TAM tinha 0 seu 1 esnidio, enquanro n6s somos 0 999 esnidio

    .11) TAM .

    A coisa mais digna de sel' invc;ada em Stanislavski

    0

    -vu leque inauditode alunos, dos quais Illuitos conseguiram encontrar

    sel

    pr6prio cam

    in

    ho - s vezcs

    coma UIl1

    corte ntido, atravs de

    um

    ~ : l J t O que os leva

    va

    longe, s vezes cm estreita Iigao corn ele.

    Jllumervcis alunos de Stanislavski repetem os termos do SCll

    \ 'lCablllrio, falando dc tcma principal e de super-objetivo . Isto

    ,.

    l'videnrc aqui

    na

    Amrica onde se difundiuo abllso

    da

    tenninologia.

    19

  • 8/11/2019 Resposta a Stanislavski

    10/10

    -

    ~

    c

    c

    20

    Mas aqueles rernvcis alunos

    de

    Stanislavski exisam tambm en a

    QU[f >S lugares... Stanislavski foi morto por eles depois da morte . E

    uma grande Iiao.

    17.

    Por

    vezes afirmei -

    alias

    nao

    original-

    que

    0

    verdadeiro a1uno

    trai 0 mestre com gmndezn . Ent3o, se procurava alunasde vcrdade,

    f

    l

    rocurava pessans que me tra ssem corn grall eza .

    Baixa traiao queT dizcr cuspir naquele que C itava do nosso

    lado. Baixa rraiao

    tambm

    0 femmo

    quito que fa(so e desleal

    na nossa pr6pria natureza, mas

    que

    se adapta melhor quilo

    que

    os

    outres _ X r exemplo, 0 ambicme - esperam de 06s,

    do

    que a n6s

    mesmos.

    Emao

    recamos

    cm

    rudo aquilo

    que

    nos afasra

    da

    semente.

    Mas existe

    uma

    traio grande : na ao,

    nao

    corn palavras.Quando

    emcrg:c

    da

    fidelidade

    pr6pria vida. Este

    caminho

    nac

    se poele

    prescrcvcr a ningum,

    nao

    se pode calcular. Pode-se apenas descobri

    10 com tl csforo enom1C.

    Ml: dnu conta de que estas frases prommciadas desta maneira

    s50 sempre

    um

    pouco estereotipadas, quase achatadas, porm, pol

    detrs desms (6rmulas se esconde uma realidade, uma experincia.

    Sc, antigamenre, dizia

    que

    a rcnica que sigo a rcnica de

    criar rcnicas pessoais, pr6prias,

    no

    fundo desra afirmaao esrava

    aquele posrulado da rraio grande

    n

    Se

    aluno pre-senre a pr6pria tcnca,

    cnrao

    se afasta

    de

    mim,

    das minhas necessidadcs, que realizo a meu modo, dentro

    do

    meu

    processo. Sera diferente. E se afasrara.

    Pensa que

    s6

    a rcnica de criaI a pr6pria rcnica importante.

    Qualquer

    outra tcnica ou mrodo estr il .

    Entretanto, agora, rodos esres problemas esr50 distantes de mim,

    inclusive a questao do mestre e do aluno. Penso

    que

    ar

    pensamenro, a pr6pria neccssidade

    de

    ser mn mestre seja - corno

    acontece muiras vezes

    quando

    se racionaliza - uma fraqueza, porque

    a busca da exisrncia atravs da posse dos alunos.

    18.

    lo creio

    que

    meu rrabalho

    no

    tearro

    passa

    ser definido com

    nome de

    novo

    mrodo. Pooe-se charnar

    de

    mrooo, mas uma

    pahwra muiro limirada. lio penso

    nem

    mesmo que se trare de algo

    de nova.

    Acho

    que

    es e ripa de pesquisa exisriu mais frt qenrememe

    Jllra

    do

    realT

    ainda

    que

    algumas vezes

    tcnha

    existido

    cm

    certos

    Icarros. Tram-se do

    caminho

    da vida e do conhecimento. muiro

    :ltltigo. Manifesra-se, formulado, segundo a poca, 0 rempo, a

    M lCiedade\ Nao estou cerro de que aqueles

    que

    fizeram as pinturas

    na grura de Trois Frres quisesscm unicarnente enfrentar 0 temor.

    Talvcz... mas

    nao

    apenas. E

    pensa

    que ali a pintura

    no

    era

    0

    fim. A

    pinruracra a via. Nesre sentido, me sinto muto mais pr6ximodaquele

    que pintou aquele desenho rupestre que dos artisras que pensam

    qlle

    esro criando a vanguarda do l carro.

    \

    d

    Ciesbk e Renll Mireo:b cm 0 /,r/n/1e onslwlle

    de

    ~ I J e r \ I l

    It. . cm e n c c n ~ ~ o

    de

    Grotowski. Tenlro L ~ b r a I 6 r i o

    de

    Wrodnw,

    21