resposta de analista abordagem poética

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SUMÁRIO A-bordagem po-ética do tema Bernardo é quase uma árvore 00 Manoel de Barros Teseu 00 João Moura Jr. No descomeço era o verbo 00 Manoel de Barros O Império dos signos 00 Roland Barthes Abordagem 00 Lyzia Pimenta Escultura 00 Lyzia Pimenta O Outro 00 Carlos Drummond de Andrade Áporo 00 Carlos Drummond de Andrade Máxima 00 Heráclito de Éfeso Hegel 00 Goethe 00 Montaigne 00 Paul Valéry 00 A Língua 00 Priscilla Fernandes Lao-Tsé 00 Extrair 00 Arnaldo Antunes Cajuína 00 Caetano Veloso Zazie no metrô 00 Raymond Queneau

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SUMÁRIO

A-bordagem po-ética do tema

Bernardo é quase uma árvore 00 Manoel de Barros Teseu 00 João Moura Jr. No descomeço era o verbo 00 Manoel de Barros O Império dos signos 00 Roland Barthes Abordagem 00 Lyzia Pimenta Escultura 00 Lyzia Pimenta O Outro 00 Carlos Drummond de Andrade Áporo 00 Carlos Drummond de Andrade Máxima 00 Heráclito de Éfeso Hegel 00 Goethe 00 Montaigne 00 Paul Valéry 00 A Língua 00 Priscilla Fernandes Lao-Tsé 00 Extrair 00 Arnaldo Antunes Cajuína 00 Caetano Veloso Zazie no metrô 00 Raymond Queneau

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Bernardo é quase uma árvore Bernardo é quase árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe E vêm pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho; 1 abridor de amanhecer 1 prego que farfalha 1 encolhedor de rios – e 1 esticador de horizontes. (Bernardo consegue esticar o horizonte usando três Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.) Bernardo desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente. (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua Incompletude?) Manoel de Barros

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Teseu nos bibelôs da casa o mínimo touro pode ser o minotauro João Moura Jr. Páginas amarelas Enviado por Conrado Ramos

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“No descomeço era o verbo. Só depois é que veio o delírio do verbo. O delírio do verbo estava no começo, lá, Onde a criança diz: eu escuto a cor dos passarinhos. A criança não sabe que o verbo escutar não Funciona para cor, mas para som. Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira. E pois. Em poesia que é voz de poeta, que é a voz De fazer nascimentos O verbo tem que pegar delírio”. Manoel de Barros. Livro das Ignorãças Enviado por Lucília Maria Sousa Romão

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“O sonho: conhecer uma língua estrangeira (estranha) e, contudo, não a compreender: perceber nela a diferença, sem que essa diferença seja jamais recuperada pela sociabilidade superficial da linguagem, comunicação ou vulgaridade; conhecer, refratadas positivamente numa nova língua, as impossibilidades da nossa; aprender a sistemática do inconcebível; desfazer nosso "real" sob o efeito de outros recortes, de outras sintaxes; descobrir posições inéditas do sujeito na enunciação, deslocar sua topologia; numa palavra, descer ao intraduzível, sentir sua sacudida sem jamais a amortecer, até que, em nós, todo o Ocidente se abale e vacilem os direitos da língua paterna, aquela que nos vem de nossos pais e que nos torna, por sua vez, pais e proprietários de uma cultura que a história transforma em ‘natureza’”. Roland Barthes. O império dos signos, p.11. Enviado por Luciana Guareschi

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Abordagem Lyzia Pimenta Com quantas palavras se faz uma canoa? Uma feita de reverso sem amarras, só de encaixe firme de taboa, e bem boa de vagar-se, influindo no silêncio da paisagem, em sentido incerto e impreciso, solta, por pouco calado, desde as docas da verdade até o cerne da lagoa. E leve, a bordo, sem pesar, desequilibrada à borda do convés, deslizando frouxa a céu aberto e à deriva, a margem, para além dos limites do improvável, a razão, engolfada na esteira das imagens, Uma frase, uma ideia à toa, meio boba, sem precisão de porto, de viés, ventilada por impulso humano inventando a travessia: Em quantas viagens se transtornam as certezas presas à amurada? O sopro arrepia a pele d’água perturbando a clara nitidez do mundo refletido, e traz à tona algo em feixes de palavras sussurradas sob a face turva da lagoa: Em desviagens se transbordam na linguagem as pessoas.

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Escultura Lyzia Pimenta Poema é escultura em pedra De lavra pura A diferença é que pedra acaba A palavra dura

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O Outro Carlos Drummond de Andrade

– COMO DIZ O OUTRO...

Que outro? E desde quando ele se chama Outro? Estranho nome, este, que não identifica, não responsabiliza, não consta de nenhum registro civil: Outro, nascido em tal data, em tal lugar, do sexo masculino. Porque nunca se diz: Como diz a outra? A outra não diz nada, limita-se a ouvir o Outro, se é que o ouve?

Depois, não é só um Outro. São muitos, são vagos, são indefinidos: os Outros. Que é que os outros vão dizer? Mas o outros nunca dizem nada, apenas se receia que eles digam alguma coisa desabonadora ou cruel. Quem costuma dizer, e é antes abonador, é o Outro. Mas abona escondido, sopra ou insinua a sentença oportuna, para que ela corra mundo sem que o Outro, pessoalmente, se comprometa. O Outro tem medo?

Tudo indica que o Outro é cúmplice de quem diz: Como diz o outro. Fornece-lhe juízos, anexins, glosas para circunstâncias que requeiram este ou aquele enunciado. Mas pode ser também que o Outro seja senhor daquele que diz que ele disse. Senhor poderoso e incógnito, que manda seus súditos semearem pelo mundo aquilo que convém ser semeado, visando a determinadas colheitas – de quê? Só o Outro sabe.

Mas o Outro existe realmente? Não será inventado na hora e no calor do interesse, da imaginação, do acaso? Quem é o Outro? Um sábio? Sabido? Pseudônimo, heterônimo? Quem sabe se o Outro não serei eu mesmo, como pretendia um outro, este conhecido, que disse: Je est un autre?

A idéia de eu ser o Outro de mim mesmo, ou de outro Outro, ou mesmo de outríssimos Outros, não chega a constituir matéria de meditação transcendental, na fórmula do Maharishi Mahesh Yogi. A todo instante sinto que há vários, senão muitos outros em mim, se bem que nenhum deles seja o tal Outro que costuma dizer coisas repetidas por outros. Também não ignoro que os outros me acham o outro, que em qualquer lugar, situação ou momento sou sempre o outro dos outros, e o serei sempre, inapelavelmente. Mas em nenhum momento, situação ou lugar terei sido nem serei jamais o misterioso e sábio Outro, de quem se repetem as palavras sábias ou simplesmente sabidas, do "como diz o outro".

Minha alteridade é incontroversa, com relação aos demais habitantes da Terra, assim como a alteridade dos demais habitantes com relação ao meu eu. Mas isso, multiplicando ao infinito os outros, e fazendo com que todos os sejamos cada vez mais, não chega a anular o sentimento do eu, que luta ferozmente, não digo por se afirmar: simplesmente por se saber existir, dentro do outrismo geral.

E por que o Outro diz certas coisas e omite outras, por que varia tanto no que diz conforme a boca a repeti-lo? O Outro é incoerente, na China emite conceitos totalmente diversos dos que são divulgados em Mato Grosso. Nesta mesma cidade do Rio, o Outro varia com os bairros, as profissões, o nível de cultura. O Outro são outros, quantos, quais?

Estou exagerando. A verdade é que o Outro não é muito citado ultimamente. Citam-se mais Barthes, Mendilov, Jakobson, Lévi-Strauss, Baccherozzo, Kastchen. Menos, Sartre, Toynbee, Lukács. O Outro, menos ainda, e há até alguns encabulados, que, arriscando-se a citá-lo, recorrem ao pretérito:

– Como dizia o outro... Dizia. Já não diz. Ou diz pouco, prudentemente parco, na maioria das vezes

não diz nada. Está secando essa outrora fértil reserva de opiniões que fazia

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autoridade, sob a capa do anonimato. Que diz agora o Outro? Quem é capaz de sabê-lo e transmiti-lo, se o Outro

se fechou em copas e desmentirá tudo quanto se disser que ele disse? O Outro diz que vai chover? O Outro é capaz de desmentir e ameaçar-nos com processo, pois claro que a afirmação pluvial envolve delicadas responsabilidades, podendo espalhar a insegurança nacional. Por que vai chover? Chover é bom ou perigoso? O Outro garante que a chuva não tem segunda ou quinta intenção? O Outro pensou bem antes de dizer algo sobre a chuva?

Não. A frase correta seria: – Como não diz o outro.

Enviado por Andreia Terra

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Áporo

Carlos Drummond de Andrade

Um inseto cava cava sem alarme perfurando a terra sem achar escape. Que fazer, exausto, em país bloqueado, enlace de noite raiz e minério? Eis que o labirinto (oh razão, mistério) presto se desata: em verde, sozinha, antieuclidiana, uma orquídea forma-se.

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“Nós não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois como as águas, nós mesmos já somos outros”. Heráclito de Efeso

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“Apreender o verdadeiro não como substância, mas também precisamente como sujeito. (...) O verdadeiro é o delírio báquico no qual nenhum membro deixa de estar embriagado”. Hegel Enviado por Christian Dunker (para as aulas de Agosto)

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“A verdade causa repugnância à nossa natureza, mas o erro não, e isso por um motivo bem simples; a verdade exige que nos reconheçamos como seres limitados; o erro nos acalenta na ideia de que, de um modo ou de outro, somos infinitos”. Goethe Enviado por Christian Dunker (para as aulas de Agosto)

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“Qual verdade essas montanhas limitam e o que é a mentira no mundo que está além delas?” Montaigne Enviado por Christian Dunker (para as aulas de Agosto)

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Verdade é não somente conformidade, mas valor. Os que acreditam possuí-la a possuem; só eles. Paul Valéry

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A LÍNGUA Gravidade cor de chumbo a pesar-me no céu da boca. Enraízo-me ao dente um nome que incha e desengonça. Grávido de língua, o palato inflama, umedece o dito num edema afônico. Cuspo seco e a palavra murcha, ‘desidrata o significado até deixar umas letras’. Priscila Fernandes Enviado por Silvana Pessoa (para a aula de abril)

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Trinta raios convergentes unidos ao centro formam a roda, mas é o vazio central que move o carro. O vazo é feito de argila. mas é o vazio que o torna útil. Abrem-se portas e janelas nas paredes de uma casa, mas é o vazio que a torna habitável Lao Tsé Enviado por Silvana Pessoa (para a aula de abril)

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EXTRAIR ex trair do tempo improvável, do improvável, de suas maquinações, ações, do ato regular que se dissipa em método, todo hábito que habito, repito, da meta inalcançável que me fita, cripta do incontável número dos dias vividos, idos, da inumerável cota dos dias por vir, ir, da engrenagem que não pára, dispara, sacode o chão que piso, piso de um ônibus em movimento, momento em que me agarro ao cilindro de metal do alto - a vida - não a que resta ainda, indo, mas a que transborda de cada ar expirado, inspirado, até que arrebente, vente. Arnaldo Antunes Enviado por Luciana Guareschi

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- Zazie - declara Gabriel, tomando um ar majestoso que ele encontrou sem dificuldade em seu repertório -, se você quiser ver os Invalides e o verdadeiro túmulo do verdadeiro Napoleão, eu te levo. - Napoleão o caralho - replica Zazie." Raymond Queneau. Zazie no metro Enviado por Luciana Guareschi