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Castelo Branco Científica - Ano II - Nº 03 - janeiro/junho de 2013 - www.castelobrancocientifica.com.br 1 Faculdade Castelo Branco ISSN 2316-4255 RESUMO O mercado de trabalho, nos dias atuais, exige que a pessoa tenha uma formação básica para que seja “útil” na sociedade. Encontramos jovens e adultos que por algum motivo deixaram o ambiente escolar sem comple- tar todo o percurso. Sendo assim, a educação de jovens e adultos é uma modalidade educacional específica destinada ao atendimento de pessoas que não tiveram acesso à escolarização na idade própria. Tal modalidade visa proporcionar a essas pessoas um apoio educacional que garanta a me- lhoria da sua qualidade de vida, pois esses educandos estão em busca de crescimentos profissional e/ou pessoal. Nesse processo, tanto aluno quanto professor vivem em constante aprendizagem. Para isso é necessário que o educador promova motivação, despertando nos educandos interesse e entusiasmo, facilitando dessa forma o alcance do conhecimento. O rela- cionamento construído entre professor e aluno é a chave desse processo de ensino-aprendizagem, fazendo-se necessário estar atento à escola e ao tipo de ensino que se deseja para os jovens e adultos. Palavras-Chave: Metodologias, Recursos, Jovens e Adultos. 1 - INTRODUÇÃO A educação se faz em diversos espaços da sociedade. Dessa forma, o jo- vem ou adulto que procura a escola traz consigo informações e conceitos que foram formados ao longo de sua vida. Segundo Prado (1999, p.76), “[...] é necessário que o ponto de partida na sala de aula sejam as vivências do educando, que são a sua referência inicial e o primeiro passo do proces- so de aquisição de novos conhecimentos”.

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RESUMO

O mercado de trabalho, nos dias atuais, exige que a pessoa tenha uma formação básica para que seja “útil” na sociedade. Encontramos jovens e adultos que por algum motivo deixaram o ambiente escolar sem comple-tar todo o percurso. Sendo assim, a educação de jovens e adultos é uma modalidade educacional específica destinada ao atendimento de pessoas que não tiveram acesso à escolarização na idade própria. Tal modalidade visa proporcionar a essas pessoas um apoio educacional que garanta a me-lhoria da sua qualidade de vida, pois esses educandos estão em busca de crescimentos profissional e/ou pessoal. Nesse processo, tanto aluno quanto professor vivem em constante aprendizagem. Para isso é necessário que o educador promova motivação, despertando nos educandos interesse e entusiasmo, facilitando dessa forma o alcance do conhecimento. O rela-cionamento construído entre professor e aluno é a chave desse processo de ensino-aprendizagem, fazendo-se necessário estar atento à escola e ao tipo de ensino que se deseja para os jovens e adultos.

Palavras-Chave: Metodologias, Recursos, Jovens e Adultos.

1 - INTRODUÇÃO

A educação se faz em diversos espaços da sociedade. Dessa forma, o jo-vem ou adulto que procura a escola traz consigo informações e conceitos que foram formados ao longo de sua vida. Segundo Prado (1999, p.76), “[...] é necessário que o ponto de partida na sala de aula sejam as vivências do educando, que são a sua referência inicial e o primeiro passo do proces-so de aquisição de novos conhecimentos”.

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Com base nessas informações, o presente estudo tem como objetivo prin-cipal conhecer e analisar a problemática que perpassa o contexto da Edu-cação de Jovens e Adultos no que diz respeito ao relacionamento entre professor e aluno da EJA, à metodologia e aos recursos utilizados pelo professor, inclusive a instrumentos de avaliação e a como esses sujeitos (professores e alunos) avaliam o processo de ensino-aprendizagem.Assim traremos à análisepropostas, dificuldades e desafios que tal moda-lidade de ensino possui, justificando-se pela possibilidade de contribuição para uma maior reflexão sobre essa realidade, que em geral, recebe pouca atenção em termos de pesquisa e investimentos, mas que gradualmente ganha mais espaço para debates e discussões no âmbito da educação na-cional. Cunha ressalta que,[...] embora a Lei n. 9.394/96 tenha dedicado uma seção para educação de jovens e adultos, com apenas dois artigos desprovidos de aprofundamen-to em relação ao tema, considerando que se trata de uma modalidade de ensino e, consequentemente perpassa a educação básica, entendemos que principalmente os artigos 2º, 4º e 5º tratam essa educação sob o ponto de vista do ensino fundamental, o que é, sem sombra de dúvida, uma ganho em relação à LDB anterior (CUNHA, 1999, p. 17).Dessa forma, o presente trabalho apresenta uma visão geral do que é a EJA, permitindo que se faça uma reflexão mais ampla sobre o assunto, através das falas dos diversos autores e dos comentários tecidos a partir deles.

2- REFERENCIAL TEÓRICO

Segundo Pinto (1993, p. 29) “A educação é processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e em função de seus interesses”. Sendo

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a educação um direito de todos, inclui-se aqui, não apenas a educação des-tinada aos alunos de 07 a 14 anos, mas também, àqueles que não tiveram oportunidade de estudar ou completar seus estudos nessa faixa etária. De acordo com Gadotti e Romão,A educação básica de jovens e adultos é aquela que possibilita ao educando ler, escrever e compreender a língua nacional, o domínio dos símbolos e operações matemáticas básicas, dos conhecimentos essenciais das ciências sociais e natu-rais, e o acesso aos meios de produção cultural, entre os quais o lazer, a arte, a comunicação e o esporte (GADOTTI; ROMÂO, 1995, p. 113).A problemática da alfabetização de jovens e adultos envolve ainda outros aspectos. O indivíduo tem seu tempo para se alfabetizar, ou seja, não po-demos podar o direito do cidadão uma vez que muitos jovens não tiveram oportunidade de acesso à escola, configurando um cenário composto por várias gerações de pessoas analfabetas ou semi-alfabetizadas. Devemos levar em consideração também, que muitos educandos evadem do ensino regular ou não têm acesso a ele, logo, uma universalização do ensino ele-mentar poderia não abranger a todos em idade escolar adequada. Dessa forma, a Educação de Jovens e Adultos permite a entrada no sistema educacional dos que tiveram uma interrupção forçada dos estudos, pela repetência ou evasão, ou pela necessidade de trabalho.Quanto à educação permanente, de uma forma geral, podemos afirmar que,Não se trata apenas de reforçar e melhorar a qualidade da educação inicial ou promover medidas compensatórias ao ensino fundamental, mas de ree-ducação constante, de retreinamento, de readequação aos novos processos de trabalho, aos procedimentos a eles vinculados e aos conteúdos do em-prego (PAIVA, 1994, p. 31).Torna-se, desse modo, evidente a necessidade da EJA, pelas funções que possui e também por sua finalidade dentro da estrutura educacional, na

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qual apresenta princípios pedagógicos e metodologia especificamente vol-tada para a clientela-alvo.Aos jovens e adultos que, por diversas razões não tiveram acesso ao siste-ma de ensino na idade própria, é ofertada, de modo geral, uma educação precária; consequência dos baixos investimentos financeiros realizados pelos órgãos Federais, Estaduais e Municipais, da falta de profissionais qualificados e de material didático adequado.Os educadores devem analisar e definir claramente a ação educativa, perce-bendo-a como uma ação social, estabelecendo uma proposta curricular que considere as relações escola-comunidade e o retrato cultural, produzindo uma prática educativa articuladora da teoria com a prática, tendo o educando como sujeito do processo de aprendizagem (LEMOS, 1999, p. 19).Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (2000),

Uma educação permanente, realmente dirigida às necessidades das sociedades modernas não pode continuar a definir-se em relação a um período particular da vida (...). Doravante, temos de aprender durante toda a vida e uns saberes penetram e enriquecem os outros.

Nessa perspectiva, trabalhar os conteúdos de uma forma abrangente e que vá ao encontro das necessidades dos alunos é fundamental. A metodologia utilizada na Educação de Jovens e Adultos deve levar em consideração o ritmo de cada aluno, suas características pessoais e profissionais, sua experiência de vida, o contexto socioeconômico e cultural em que está inserido e os seus interesses e expectativas, buscando o desenvolvimento de estratégias que possibilitem a aceleração do processo de aprendizagem. A metodologia utilizada pelo professor, desde o primeiro dia de aula torna-

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-se muito importante no sentido de atrair a atenção dessa população semi--escolarizada e ampliar sua visão do espaço educacional, “[...] é importante mostrar que recursos variados também fazem parte da aprendizagem” (CA-VALCANTE, 2005, p. 53).Segundo Pinto,

O problema do método é capital na educação de jovens e adultos. Nesta fase é um problema mais difícil que na instrução infantil, por que se trata de instruir pessoas já dotadas de uma consciência for-mada – ainda que quase sempre ingênua – com hábitos de vida e situação de trabalho que não podem ser arbitrariamente modificados (PINTO, 1993, p. 86).

Gadotti e Romão (1995, p. 115) explicam que “Esta população chega à escola com um saber próprio, elaborado a partir de suas relações sociais e dos seus mecanismos de sobrevivência”. Aproveitar os conhecimentos que o aluno traz através de suas relações sociais e familiares, facilitará a assimilação dos conteúdos e o seu aproveitamento na vida prática, já que é esse tipo de ensino que o aluno busca.Jovens e adultos com pouca ou nenhuma escolaridade anterior detêm uma grande quantidade de conhecimentos sobre fenômenos naturais e sobre a di-nâmica social, econômica, política e cultural do mundo contemporâneo. Ela-boram esses conhecimentos ao longo de suas experiências de vida e trabalho [...]. Suas vivências são também enriquecidas continuamente pelos meios de comunicação de massa [...] com acesso a novas informações e vivenciando novas experiências, os jovens e adultos podem ir constantemente modifican-do a compreensão que têm do mundo à sua volta (RIBEIRO, 1997, p. 167).Baseando-se neste pensamento, a seleção dos conteúdos utilizados em sala de aula deve trazer significado à vida do aluno, sendo um meio para

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aprimorar os processos cognitivos, privilegiando a capacidade de pensar e processar, levando em consideração o fato de que jovens e adultos têm o desejo de aprender, pois não querem ficar “parados no tempo”, sentirem-se desprezados pelas pessoas com quem convivem e do que está acontecendo ao seu redor, ficando alheios ao caminhar da sociedade. Jovens e adultos aprendem praticando, fazendo. Isso torna o conhecimento mais significa-tivo, trazendo para o educando a realidade dos fatos de forma transparen-te. O aprendizado precisa estar centralizado em problemas reais, pois os alunos possuem experiência de vida que afetam esse aprendizado, o que permite a cada um definir o que é prioridade aprender e refletir sobre cada conteúdo abordado pelo professor em sala de aula de forma diferenciada.Assim, os educandos demonstram melhor aproveitamento quando são uti-lizados vários métodos, recursos e procedimentos de ensino. Dessa forma o professor precisa utilizar formas diferenciadas na explanação de con-teúdos, na organização das atividades e na forma de avaliação. Querem oportunidade para descobrir e construir por si mesmos. Através do que é explicitado pelo professor, o aluno sente a necessidade de buscar mais e construir o seu próprio conhecimento, aliando o que é dito em sala de aula às suas vivências anteriores e redescobrindo novas formas de aprender.É importante, neste caso, o professor de jovens e adultos ter em mente que está lidando com alguém portador de muitos saberes, que a vida e a escola (muitos já passaram pela escola em outras oportunidades) lhe trouxeram e que de acordo com Oliveira (2004, p. 104) “[...] dizer algo a alguém não provoca aprendizagem e nem conhecimento, a menos que aquilo que foi dito possa entrar em conexão com os interesses, crenças, valores ou sabe-res daquele que escuta”. O educando jovem ou adulto é um ser dotado de experiências e conhecimentos e o professor tem o papel de lapidar e trazer criticidade à vida desse ser, pois como afirma Torres,Nenhum analfabeto se sente interpelado enquanto tal. O analfabetismo

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não é uma chaga a ser erradicada, mas um fenômeno social complexo a ser compreendido e enfrentado. A pessoa analfabeta, já se disse inúme-ras vezes, não é ignorante. O alfabetizador não é um civilizador, nem um colonizador, nem o mensageiro das luzes. Para entender e assumir isso, é preciso compreender melhor não só a problemática do analfabetismo, como os aspectos sociais, culturais, linguísticos e propriamente educativos envolvidos na apropriação da linguagem escrita (TORRES, 1990, p. 19).Cabe destacar que, no que se refere especificamente a conhecimentos e conteúdos, os jovens e adultos exigem do professor práticas educativas que possam favorecer o aproveitamento de sua bagagem cultural e a expe-riência acumulada, para que possam estabelecer uma relação entre os con-teúdos trabalhados em sala de aula e o uso que farão deles posteriormente. Dentro da problemática da EJA, cabe ressaltar a importância do planeja-mento para o trabalho do professor em sala de aula, que deve estar atento às características dos educandos, de forma a facilitar o diálogo e compreender suas características. “[...] o planejamento precisa levar em conta as exigên-cias do contexto social no qual estão inseridos, as características de cada grupo, suas aspirações, projetos e necessidades” (CALHÁU, 1999, p. 53). O aluno necessita sentir-se bem recebido no ambiente escolar e à vontade para fazer questionamentos e compreender as respostas que lhe serão da-das. O professor precisa “[...] planejar aulas que tenham relação com a vida deles e que não sejam uma versão empobrecida do que é dado a crianças e adolescentes” (CAVALCANTE, 2005, p. 52). Dessa maneira, o maior recurso didático do professor de jovens e adultos está no mundo à sua volta.Todos os aspectos da realidade vivenciada, dos hábitos familiares aos pro-gramas de televisão assistidos, passando por experiências sociais mais am-plas, bem como pela vida afetiva e familiar, contribuem para a tessitura das

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redes de subjetividades que cada um é e das redes de saberes que as cons-titui. Em todos esses espaços estamos inseridos e tecemos nossas redes de subjetividades (OLIVEIRA, 2004, p. 104-105).Na rua, no consultório médico, em uma revista, em uma reportagem na TV, em um encarte de ofertas do supermercado pode estar o ponto de partida para uma série de discussões em sala de aula. De acordo com Cavalcante (2005, p. 54), “[...] Cabe ao educador mostrar que o conhecimento não está apenas no livro ou em sua fala, mas em tudo que nos cerca, no nosso cotidiano”. Assim, todo método de ensinar, afirma Pinto (1993, p. 86) “[...] Deve partir dos elementos que compõem a realidade autêntica do educando, seu mundo de tra-balho, suas relações sociais, suas crenças, valores, gostos artísticos, gírias, etc”. Parafraseando Freire (2000, p. 88), aprender a ler e a escrever é apenas o começo para deixar de ser dependente dos outros, oprimido; é preciso fazer uma “leitura do mundo”. Torres enfatiza que,A afirmação de que a alfabetização não consiste simplesmente em aprender a ler e a escrever tornou-se lugar comum, destacando-se com isso a neces-sidade de uma alfabetização não reduzida aos aspectos instrumentais da leitura-escrita, mas inscrita numa dimensão social e num objetivo político--ideológico (TORRES, 1990, p. 17).Um ponto importante a ser destacado dentro do contexto da educação de jovens e adultos refere-se aos motivos que levam os jovens a retornarem para a escola, a tomarem a decisão de começar novamente, após terem abandonado o ambiente escolar motivados por razões diversas. Segundo Andrade (2006, P. 50), o retorno do jovem à escola “[...] depende de um movimento profundamente individual e solitário, que deve ser interpretado como parte de um conjunto mais amplo de valores”.Essa decisão pessoal surge da necessidade de atualização, necessária dian-te da constante mudança no cenário socioeconômico,

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[...] a crise do desemprego que perpassa a sociedade e atinge mais for-temente a força de trabalho jovem reforça essa necessidade de qualifi-cação (educação), principalmente para os grupos mais jovens em bus-ca de uma colocação no mercado de trabalho (IBGE, 2002, p. 322).

O mundo contemporâneo exige um conhecimento amplo de situações e o profissional precisa estar atento a qualquer mudança adaptando-se a ela.Para os jovens e adultos, “[...] pode-se inferir que o maior motivo da procu-ra da escola é a necessidade de fixação de sua identidade como ser humano e ser social” (LEMOS, 1999, p.25).Com relação a esse retorno, podemos destacar ainda a questão da auto--estima enquanto propulsora para o adulto reingressar na instância escolar. Uma mãe que deseja ajudar seus filhos nas tarefas escolares vê a necessidade de saber mais para poder auxiliar na aprendizagem dos mesmos; um traba-lhador, que está em constante relacionamento social, deseja demonstrar um determinado nível de conhecimento que lhe vai ser exigido. E uma série de outras situações leva esses indivíduos a procurar o ensino formal para com-pletar seus estudos, tendo em vista serem seres reconhecidos socialmente.Nesse contexto, a relação que o professor estabelece com o aluno é pri-mordial para o sucesso de ambos, pois na maioria das escolas, apesar das discussões e novas perspectivas, a relação professor-aluno continua tradi-cional: o professor é visto como aquele que sabe, o detentor dos conheci-mentos e que está pronto a ensiná-los; e o aluno, é aquele ser “vazio” que está apto a receber os conteúdos. Na EJA, o relacionamento entre professor e aluno constitui a chave do processo ensino-aprendizagem. O professor, neste caso, deve ser aceito por seus alunos como pessoa e não como simples autoridade. Daí a neces-sidade de estabelecer um relacionamento amistoso e agradável. O profes-sor deve conhecer o alunado com o qual está trabalhando. Deve procurar

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entender as experiências já vividas por jovens e adultos que compõem sua sala de aula e os efeitos dessas experiências no seu desenvolvimento/cres-cimento. Nesse contexto a relação professor-aluno precisa ser democrática e não baseada na hierarquia, mas sim, no respeito mútuo.O professor tanto quanto seus alunos está em constante aprendizagem. A rigidez tem que ser abolida, pois a tarefa dos “mestres” não é repassar o conteúdo disciplinar, fazendo com que os alunos aprendam passivamente, mas conduzir o ensino de forma a ajudar no processo de crescimento inte-lectual de cada um.Saber o que o aluno quer aprender e não apenas seguir programas de en-sino que estejam fora do contexto social em que vive é um desafio para professores e demais profissionais da área de educação. Dessa forma,

Algumas das qualidades essenciais do educador de jovens e adultos são a capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição e encarar dificuldades como desafios estimulantes, a confiança na capacidade de todos de aprender e ensinar. Coerentemente com essa postura, é fundamental que esse educador procure conhecer seu educandos, suas expectativas, sua cultura, as características e pro-blemas de seu entorno próximo, suas necessidades de aprendizagem (RIBEIRO, 1999, p. 46)

Quanto à avaliação, esta possui a necessidade de ser constante, propiciando atividades diferenciadas como reforço ao desenvolvimento das habilidades dos alunos em defasagem, sendo fundamental a participação dos mesmos na avaliação das suas aprendizagens. Ao professor não cabe limitar-se aos erros ou deficiências do aluno, mas sim considerar o seu progresso, tornan-do evidente tudo o que já conseguiu aprender. Portanto, a avaliação deve basear-se nas aprendizagens significativas que os alunos desenvolveram

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em sua trajetória escolar.A avaliação é uma tarefa necessária e permanente no trabalho docente que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino-aprendizagem. Se um professor inicia um conteúdo previamente planejado, com objetivos a alcançar através do seu trabalho, necessariamente precisará também de organizar uma forma para avaliar se seus alunos atingiram ou não os objetivos pré-estabelecidos.Os professores em geral, discutem muito sobre como fazer a avaliação de seus alunos, porém, tais professores não discutem a importância da avalia-ção no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos mesmos. “Trata--se, portanto, de avaliar não só o desempenho dos alunos, mas, também, a proposta pedagógica em questão e sua adequação” (CALHÁU, 1999, p. 58).Observamos, com frequência, que no discurso escolar é comum dizer que a avaliação deve ser contínua, de forma a verificar momentos de aprendizado e desenvolvimento do aluno, levando-o a comparar o seu desenvolvimento com estágios anteriores.Dentro da Educação de Jovens e Adultos,

Envolver os alunos na avaliação do seu processo educativo é ques-tão primordial (...), pois implica tomada de consciência sobre o que sabem e o que precisam e/ou desejam aprender. Significa trabalhar a favor de sua autonomia, no desenvolvimento de seu pensamento crítico e na possibilidade de (re)construção de uma prática peda-gógica que esteja a serviço de uma melhor qualidade de vida em sociedade. (CALHÁU, 1999, p.59).

Para um curso de jovens e adultos, onde se está trabalhando com princípios claros, a avaliação deve estar a serviço da construção do conhecimento, através do confronto dos saberes diferentes, e o “erro” deve ser analisado a partir de um contexto.

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O aluno da EJA busca através da avaliação proposta pelo educador verificar o seu nível de conhecimento, buscando encontrar possíveis falhas, os por-quês e as formas de contornar as dificuldades dentro do processo educativo.Um bom resultado obtido através de uma prova não significa necessaria-mente aprendizagem. “Decorar” o que já está escrito nos livros e o que foi dito pelo professor não traz conhecimento significativo. Dessa forma, a avaliação conduzida pelo professor de jovens e adultos, assim como os conteúdos e a metodologia a ser utilizada, devem levar em consideração a realidade do aluno, de forma a envolvê-lo no processo. Orienta-se, nesse sentido, que o professor,Permita sempre que seus alunos façam uma avaliação do seu desempenho. Eles são as únicas pessoas, nesse processo, que podem dar a você a real medi-da do alcance e da adequabilidade de sua proposta educativa. Faça os ajustes necessários ao seu plano com a colaboração deles. Quando os alunos estão envolvidos nas decisões pedagógicas, o grau de compromisso que estabelecem com a escola é muito mais forte e verdadeiro (CALHÁU, 1999, p. 60).Assim, faz-se necessário estar sempre atento para a escola e o tipo de ensino que se quer para os jovens e adultos, refletindo incessantemente sobre as práticas autoritárias, excludentes e dominadoras, reforçando a lógica presen-te em nossa sociedade. Não é preciso apenas questionar e discutir sobre o acesso à escola, mas principalmente sobre a permanência na mesma. Mais do que ler e escrever é preciso interpretar, transformar o mundo; co-nhecer o que acontece ao nosso redor, na sociedade onde vivemos. Implica lidar com valores e com formas de respeitar e reconhecer as diferenças existentes em nosso meio.

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Portanto,

É essencialmente importante, no trabalho com jovens e adultos, fa-vorecer a autonomia dos educandos, estimulá-los a avaliar correta-mente seus progressos e suas carências, ajudá-los a tomar consciên-cia de como a aprendizagem se realiza. Compreendendo seu próprio processo de aprendizagem, os jovens e adultos estão mais aptos a ajudar outras pessoas e aprender, e isso é essencial para pessoas que, como muitos deles, já desempenham o papel de educadores na família e na comunidade. (ANDRADE, 1997, p. 46-47).

O aluno é a prioridade no processo educativo e o professor deve convidá-lo a fazer parte desse processo, estimulando-o a compartilhar os conhecimen-tos que possui. O educador tem a tarefa de abrir os horizontes do educando, ajudando-o a sistematizar os seus conhecimentos libertando-os da domi-nação ideológica existente e, sobretudo, ter em mente que “[...] mudar é difícil mas é possível” (FREIRE, 2000, p. 94).

3- METODOLOGIA

Na análise do contexto da Educação de Jovens e Adultos, consideramos como apropriada uma abordagem qualitativa, que de modo geral se preo-cupa mais com o processo de investigação do que com os resultados obti-dos, não se resumindo apenas a mensurá-los.Segundo Borgdam e Biklein (Apud LUDKE; ANDRE, 1986, p. 13), a pesqui-sa qualitativa “[...] envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.

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De acordo com Alves-Mazzotti e Gewandsznajder,

[...] ao contrário do que ocorre com as pesquisas quantitativas, as investigações qualitativas, por sua diversidade e flexibilidade, não admitem regras precisas, aplicáveis a uma ampla gama de casos. Além disso, as pesquisas qualitativas diferem bastante quanto ao grau de estruturação prévia, isto é, quanto aos aspectos que podem ser definidos já no projeto.

Usamos como instrumentos de coleta de dados o questionário, que consiste em um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisando.Os sujeitos da pesquisa são um professor e alunos da Educação de Jovens e Adultos.Podendo perceber que o número real de professores que atuam no espaço da Educação de Jovens e Adultos é significativamente pequeno, a amostragem constituiu-se de 01 (um) professor, do município de Colatina, que possui uma formação acadêmica não focalizada para o trabalho com a EJA. O tempo de trabalho desse profissional com a EJA é de aproximadamente dois anos. Fizeram, ainda, parte da amostra, 9 (nove) alunos, sendo que 02 (dois) são homens e 07 (sete) são mulheres, na faixa etária de 16 a 45 anos.

4- ANÁLISE DE DADOS

Após a devolução dos questionários, respondidos pelo professor e pelos alunos da EJA, foi realizada a análise dos dados obtidos, que incluem dis-cussões sobre: a importância e a forma de utilização dos conhecimentos e informações dos alunos em sala de aula, os recursos/ materiais que são utilizados pelo professor, os instrumentos utilizados para a realização da

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avaliação, tanto quanto seus objetivos e funções que o professor considera importantes paraavaliar o aluno da EJA, os critérios para a seleção dos conteúdos e a relação professor-aluno.Quando questionados sobre a questão da utilização dos conhecimentos e informações do aluno em sala de aula, podemos perceber respostas afirma-tivas, justificadas com palavras tais como: motivação, ensino democrático, significado à aprendizagem, etc., Paulo Freire (1996) aponta que: “Ensinar exige respeito aos saberes dos educando [...], discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses sabe-res em relação com o ensino dos conteúdos [...]. Ensinar exige disponibili-dade para o diálogo [...]”.A realidade colocada de forma explícita dentro da sala de aula torna o ensi-no mais atraente e fácil. Utilizar os conhecimentos e informações dos alu-nos contribui para elevar a auto-estima e a autoconfiança destes, que estão em busca não apenas de saberes eruditos, mas de saberes que construíram ao longo dos anos.Sobre esse assunto Torres e Oliveira comentam:Há resistência em se compreender que a cognição do adulto é diferente da cognição infantil, que o adulto tem desenvolvido outros tipos de inte-ligência e outras maneiras de se relacionar com o conhecimento, que tem acumulado experiências e saberes em muitos âmbitos, que partem de outro tipo e outro nível de motivação. Esse único elemento – a “motivação” – tão fundamental para a aprendizagem, confere ao adulto uma vantagem incomparável e uma condição excepcional (TORRES; OLIVEIRA, 1998).O professor, ao ser perguntado sobre as formas de utilização dos conheci-mentos de seus alunos, deixa perceber a troca de experiências, em exercí-cios, exemplos práticosaté mesmo como forma de entretenimento.Os conhecimentos trazidos pelos educandos, mesmo que primitivos, dão

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significados ao que o professor quer lhes transmitir. A troca de experiên-cias dentro da sala de aula enriquece o conteúdo teórico, fazendo também com que os alunos fortaleçam o relacionamento entre si e com o professor, pois como surgiu na fala dos entrevistados, a participação ativa dos alunos, além de traduzir em exemplos práticos o que está no papel, torna o ambien-te mais agradável, divertido e real.Por sua vez, a maioria dos alunos respondeu vagamente a questão. Dentre os que responderam com maior clareza, a maioria fez referências positivas sobre o aproveitamento de seus conhecimentos, sendo que apenas um aluno justifi-cou apresentando que são utilizados em sala de aula aspectos do trabalho que exerce. Outros responderam que nem sempre suas experiências são aproveita-das e um respondeu de forma negativa, alegando não ter o direito de falar na sala de aula. Essas falas indicam uma contradição em relação às respostas dos professores. Não ser ouvido ou não ter o direito de argumentar e expor suas opiniões traz prejuízos ao processo de ensino-aprendizagem. Se sentir oprimi-do e sem importância dentro do contexto escolar, desencadeia a falta de inte-resse pelo saber e pela escola e consequentemente leva muitas vezes à evasão.Destacamos ainda, que alguns dos alunos entrevistados não quiseram res-ponder a questão.Acerca dos recursos/ materiais que são utilizados pelo professor para tra-balhar os conteúdos em sala de aula, tanto o professor quanto a maioria dos alunos responderam que são utilizados recursos variados como: carta-zes, quadro de giz, textos mimeografados e xerocados, livros didáticos e paradidáticos, revistas, jornais, encartes com propagandas, folders, vídeo, caderno do aluno e jogos.Esses recursos básicos, juntamente com a criatividade do professor e a interação dos alunos são importantes ferramentas para a descoberta e a construção do conhecimento.

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Destacamos também que esses recursos/ materiais utilizados na Educação de Jovens e Adultos precisam estar de acordo com a clientela dessa moda-lidade. Segundo Torres e Oliveira,Tem-se pretendido ensinar a ler e a escrever ao adulto analfabeto com o mes-mo ritmo, métodos e instrumentos com que se trabalham crianças de primeiro grau, ou seja, àqueles que nunca foram à escola têm-se pretendido ensinar o mesmo conteúdo da mesma maneira que deviam aprender se tivessem ido à es-cola quando crianças e assim sucessivamente (TORRES; OLIVEIRA, 1998).Todo material precisa ser elaborado visando respeitar a faixa etária do edu-cando, sabendo que este terá mais interesse em desenvolver seu conheci-mento em um ambiente que o leve a sentir-se integrado com a sociedade em que vive e atua e não infantilizando-o, tornando-o marginalizado.Sobre os instrumentos utilizados para a realização da avaliação, o professor respondeu que estes são provas, trabalhos, participação e pesquisas.Sabendo que “a avaliação é um instrumento para auxiliar cada educando no seu processo de competências e crescimento para autonomia” (ANDRADE,2004), cabe ao professor escolher e adaptar variadas formas avaliativas para identificar e investigar o rendimento do educando dentro do processo de ensino-aprendizagem.Segundo Andrade (2004),

O rendimento escolar deve ser avaliado pelo aproveitamento do alu-no, envolvendo os aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor, através de instrumentos de avaliação, como observação diária dos profes-sores; trabalhos de pesquisa individual ou coletiva; testes escritos, com ou sem consulta; entrevistas e arguições; resolução de exercí-cios; execução de experimentos ou projetos; relatórios referentes aos trabalhos, experimentos, visitas e micro-estágios; trabalhos prá-ticos (ANDRADE, 2004).

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Podemos observar que apenas uma pequena porcentagem dos alunos está satisfeita com a formacomo são avaliados, considerando com “bom” o pro-cesso avaliativo utilizado pelo professor.Avaliar para classificar não traz sentido ao processo. Deve haver, a partir da iden-tificação de algum problema ou erro, a elaboração de sugestões e de mudanças de planejamento que possam alterar positivamente o quadro identificado.Perguntou-se ainda ao professor o que em sua opinião é importante avaliar nos alunos da EJA. Este considera importante analisar se o aluno é capaz de compre-ender seus progressos e limites, entender e saber superá-los e não se subestimar.No discurso do professor, a avaliação é um processo importante que per-mite ao educando conhecer-se como um todo, o que é capaz de realizar e o que ainda precisa aperfeiçoar, acreditando que é possível fazê-lo.Os professores, em sua maioria, oferecem aos alunos conteúdos que jul-gam serem capazes de aprender e que possam fazer significado em suas vidas. Levam em consideração o que os alunos trazem como bagagem de conhecimento, certamente popular, e tentam trabalhar a partir, daí novos conteúdos e conceitos.Segundo Lemos,

A proposta EJA, embora não esteja orientada nessa direção, ofere-ce oportunidades para que as múltiplas áreas do currículo discutam temas como necessidades básicas, cultura, meio ambiente, relações sociais, cidadania e participação e proponham práticas nas quais perpassa a ideia de formação profissional (LEMOS, 1999, p. 23).

A escola deve proporcionar aos educandos da EJA, alunos de faixas etárias e interesses variados, conteúdos que tragam a debate assuntos de seu meio social, que afetam diretamente sua visão e relação com o mundo e que ge-

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rem uma reflexão e conscientização de seu papel como cidadão.Em contrapartida, as opiniões dos alunos sobre os conteúdos trabalhados pelo professor em sala de aula são divididas. Uma pequena parcela dos entrevistados respondeu que os conteúdos são muito importantes, desta-cando-os na disciplina de Matemática e na leitura e escrita.Destacamos aqui a importância que o aluno dá a essas áreas de conheci-mento. Para muitos, saber ler, escrever e fazer contas é o principal motivo de estarem inseridos na escola.De acordo com Piconez “cabe ao professor de jovens e adultos reconhecer nas expectativas de seus alunos o fato de estarem presentes na escola”:Escolher conteúdos que satisfaçam a essas expectativas é o desafio que se coloca para o professor. (...) o professor deverá ir desvendando os segredos que determinados interesses encerram, e os conteúdos que se articulam a eles (PICONEZ, 2002).Quanto à questão do relacionamento entre professor e aluno, ambos apre-sentam aspectos positivos e negativos a serem destacados.O professor respondeu possuir um bom relacionamento ou ainda muito bom com o seu alunado. É importante notar também a manifestação de aspectos negativos, que indicam a presença de dificuldades para este. Por sua vez, a maioria dos alunos entrevistados também respondeu que possuem um bom relacionamento com o professor, destacando a preocupa-ção deste, sua paciência e incentivo. As autoras Torres e Oliveira colocam que, ‘O adulto não é uma criança grande, do mesmo modo que a criança não é um adulto pequeno’. A infância e a idade adulta implicam capacida-des e possibilidades diferentes de aprendizagem, eles aprendem diferente e pensam diferente. É necessário aprender de maneira diferente, necessitam aprender diferente e requerem que se lhes ensinem de maneira diferente (TORRES; OLIVEIRA, 1998).

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5 - CONCLUSÃO

Jovens e adultos, que por diversas razões não quiseram ou não puderam estudar quando estavam na idade apropriada para a série, retornam à escola para completarem seus estudos com diversos objetivos: inserção no merca-do de trabalho ou permanência no emprego, em busca de maiores conheci-mentos e auto-estima, melhor qualidade de vida, realização de sonhos, etc., pois, percebem que o mundo contemporâneo exige que as pessoas estejam em constante atualização e as informações são transmitidas cada vez mais rápidas e por veículos mais complexos.Para acompanhar as constantes transformações, esses indivíduos procuram a escola, que por sua vez precisa recebê-los usando métodos atraentes e diferenciados, utilizando as vivências dessa clientela para auxiliar no de-senvolvimento de sua aprendizagem.Trabalhar com essa modalidade educacional requer do professor um cons-tante diálogo, bem comomuita observação e pesquisa. Percebemos em nos-so estudo, que de uma forma geral, o bom relacionamento entre o professor e o aluno da EJA é fundamental para um aprendizado eficiente e constante. Os alunos buscam alguém que entenda suas necessidades e o motivo pelo qual retornaram à escola.O professor deve ter como metodologia de trabalho a utilização dos co-nhecimentos trazidos pelos alunos e perceber a importância de relacioná--los com os conteúdos e atividades de sala de aula, avaliando em todos os momentos e utilizando materiais adequados à faixa etária dos educandos.O processo de ensino-aprendizagem ocorre de forma diferente. Os alunos muitas vezes sentem-se infantilizados e alheios aos conteúdos transmitidos pelo profes-sor em sala de aula. Percebem que a avaliação feita pelo professor é injusta e os instrumentos para tal precisam ser mais adequados e mais bem elaborados.

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Por sua vez, os professores também sentem necessidade de melhor prepa-ro profissional, especializando-se para o atendimento nessa modalidade. Muitas vezes, por falta de opção iniciam um trabalho com a EJA, sem passarem por treinamentos ou sem ter afinidade com tal atividade.Concluímos através de nossa pesquisa que precisa haver muitas mudanças nesse cenário educacional, através de investimentos e incentivos por parte do Governo, e também, uma mudança no pensamento do profissional da edu-cação que é o responsável pela transformação do aluno que retorna à escola, dando a ele um olhar e uma posição mais crítica diante dos acontecimentos mundiais, e, ao mesmo tempo possa se comprometer a trabalhar com a rea-lidade vivenciada pelos alunos que esperam conhecê-la para transformá-la.

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