Resumo Eli Diniz - O Estado Novo_ Estrutura de Poder e Relações de Classe

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Eli Diniz faz uma análise do período iniciado em 1930 no Brasil

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  • Eli Diniz - O Estado Novo: estrutura de poder e relaes de classe

    http://www.webartigos.com/artigos/fichamento-o-estado-novo-estrutura-de-poder-diniz-e-camargo/24748/

    #ixzz3dHgLqGoR

    Dentre os vrios autores que se propem a estudar o Estado Novo, todos coincidem no que

    se refere ao carter "centralizado e monoltico do Estado brasileiro durante esse perodo."

    (p.95) Nessa linha de interpretao, as questes que se colocam em primeiro plano so

    aquelas relacionadas construo e aperfeioamento desse modelo de Estado,

    caracterizado por forte, centralizado, apartidrio e distante das foras sociais.

    "Em alguns casos, a anlise identifica o fortalecimento do Estado atravs da concentrao

    de poderes no Executivo (...)" (p.95, 96), que se manifesta por estabelecimento de maior

    autonomia do poder federal, restrio da autonomia estadual, mecanismos de interveno

    na economia, entre outros. Sem questionar essas concluses, Diniz e Camargo acreditam

    que essa abordagem no suficiente se os pontos de articulao entre Estado e Sociedade

    no forem explicitados.

    "A discusso do significado da centralizao e fortalecimento do Poder Nacional nos anos

    30 pode ser encarada sob dois ngulos distintos." (p. 96) O primeiro deles o aspecto

    explorado pela ideologia oficial, que parte do pressuposto "de que a centralizao, enquanto

    fator de organizao e integrao da nao, torna-se simultaneamente eficaz como

    instrumento de realizao dos interesses coletivos." (p.97) Isso se d pela eliminao do

    excesso de federalismo existente at os anos 30 e "a destruio dos canais de participao

    e representao poltica." (p. 98)

    O segundo ngulo diz respeito s relaes entre o aparelho estatal e as foras sociais que

    se afirmavam no quadro de transformaes que se apresentava. "O Estado Novo

    representaria historicamente uma etapa no processo de incorporao vida poltica das

    novas camadas sociais que acompanham o desenvolvimento e diferenciao da economia

    brasileira (...)" (p.98). "Dessa forma, a destruio dos instrumentos de poder comprometidos

    com a antiga ordem imps-se como condio da afirmao dos interesses" (p.100) destas.

    O perodo que antecede a implantao do Estado Novo marcado por uma crise poltica. H

    setores ligados a industrializao emergindo, acirram-se as cises regionais e a unidade da

    oligarquia agroexportadora se rompe. a incapacidade dos diferentes setores dominantes

    se sobreporem que cria condies de surgimento de um Estado forte "como condio de

    preservao da ordem e, portanto, de sobrevivncia das classes dominantes" (p.102), que

    se caracteriza "pela acomodao entre os diversos atores em confronto." (p.101) No se

    pode dizer que a centralizao causou a perda da influncia exercida pelos diversos grupos,

    mas os canais de acesso e influncia foram redefinidos com o novo modelo.

  • Partindo dessas observaes, os autores consideram que o Estado que se consolida entre

    1937 e 1945 heterogneo e complexo, o que os leva a conceb-lo como um conjunto

    diferenciado e no monoltico e que os vnculos com grupos externos como parte integrante

    da dinmica burocrtica so centrais na anlise da poltica no perodo considerado. Tambm

    consideram que o Estado Novo no uma ruptura em relao experincia liberal, na

    medida em que a centralizao j havia se consolidado com a Revoluo de 30 e no pode

    ser analisado isoladamente porque decorrente de um processo.

    Sobre a Revoluo de 30, questiona-se o carter de conservao ou mudana no quadro

    poltico nacional. Alguns analistas acreditam que foi um processo "sem qualquer

    reformulao substancial da estrutura econmico-social existente." (p.105) Para outros, a

    dcada de 30 foi crucial na evoluo do pas, pois significou a passagem para a sociedade

    de base urbano-industrial.

    Tambm h uma divergncia entre os autores a respeito das diretrizes econmicas do

    primeiro governo Vargas. Alguns acreditam que era antimodernizante, outros destacam seu

    impacto inovador pelas medidas favorveis implantao de um plo urbano-industrial. O

    que cabe ressaltar aqui a importncia dada s variveis externas e minimizao dos

    atores internos nas transformaes que marcaram o perodo considerado: de um lado a

    industrializao entendida como simples reflexo da crise internacional, de outro, para os

    que enfatizam a orientao conservadora, a interferncia da elite "teria determinado a

    incapacidade de o sistema reagir favoravelmente aos estmulos externos (...)" (p.108).

    Contrariando essas vises, os autores destacam a importncia estatal no apenas num

    sentido reativo, mas mais autnomo e especfico. As transformaes no podem ser

    minimizadas, embora a estrutura de dominao pouco tenha se alterado. Dito isto, os

    autores aceitam a terminologia de Moore, "modernizao conservadora", para classificar as

    transformaes decorrentes da Revoluo.

    Para os autores Villela e Baer, foi nos anos 30 que a industrializao ocorreu de fato, porque

    quando se observa mudanas profundas na estrutura da economia (alm do aumento da

    participao da indstria, a produo deixou de ser focada na exportao). O Estado Novo

    um momento nesse processo e sua ao est associada redefinio das classes a partir

    da incorporao da classe emergente sem desalojamento da elite agrria que at ento

    detinha o poder. Embora houvesse presso, o novo pacto poltico foi favorecido e os setores

    produtivos emergentes puderam se expandir e se consolidar.

    Quanto estrutura da produo industrial, pode-se dizer que as indstrias bsicas

    dobraram sua participao no mercado, enquanto que as tradicionais tiveram sua

    participao diminuda. Com a Segunda Guerra, a indstria teve sua produo limitada por

  • dificuldade de importao de mquinas e matrias-primas. A intensa utilizao do

    equipamento existente teve como consequncia o comprometimento de uma grande parte

    da capacidade produtiva.

    Quanto caracterizao das foras sociais que impulsionaram a industrializao, a

    literatura poltica salienta a importncia da atuao de grupos tcnicos ligados ao governo na

    formulao e implementao de medidas industrializantes, ao lado da elite poltica como

    agente da modernizao. Os autores deste texto, entretanto, pretendem chamar ateno

    para a importncia da burguesia industrial, que comumente so considerados irrelevantes

    por sua incapacidade de assumir a hegemonia do processo de implantao da indstria.

    Discordando deste ponto de vista, Diniz e Camargo demonstram a intensa atuao

    desenvolvida pela burguesia, que ganhou visibilidade nas instncias decisrias e atravs da

    identificao com o pensamento autoritrio (com exceo do intervencionismo estatal no

    acesso aos centros de deciso).

    Na literatura poltica brasileira, h um predomnio na nfase a relativa indiferenciao de

    interesses das elites rural e industrial, tanto no perodo anterior a 30, quanto durante o

    processo revolucionrio. Em contraposio, alguns estudos fazem essa diferenciao

    quando se inicia o processo de industrializao. O que ocorre que h momentos de ciso

    e de recomposio- nem sempre o atendimento de interesses da indstria desagradava o

    setor agroexportador-, o que se explica pela inexistncia de resistncia a alterao da ordem

    social (lembrando que a elite cafeeira foi a matriz social da burguesia industrial). A poltica

    cafeeira permaneceu como aspecto prioritrio da poltica governamental e a industrializao

    apareceu como alternativa ao crescimento econmico e proteo do setor que estava em

    crise.

    Todavia, a industrializao ganhou fora e isso implicou mudanas significativas no que

    tange a realocao de recursos e benefcios, bem como o controle do comrcio exterior,

    criao de medidas protecionistas, demandas que exigiam uma ruptura com o marco

    institucional vigente, o que representaria por si s um fator de tenso nas relaes entre as

    foras sociais do confronto, j que os comissrios do caf aos poucos foram perdendo sua

    funo e poder de deciso, mas eventuais alianas eram necessrias para garantir

    recursos para que os industriais alcanassem seus objetivos. Pode-se dizer que o

    fortalecimento estatal e a rearticulao das alianas entre as elites desdobrar-se-iam de

    forma estreitamente interdependente e assim o Estado podia impor limites s alianas.

    "As foras que lideraram a Revoluo de 30, embora conscientes da necessidade de

    destruir a hegemonia da burguesia agroexportadora paulista, (...) no iam muito alm da

    contestao do antigo regime." (p.117) A criao de uma ideologia prpria do empresariado

  • industrial foi fundamental, na medida em que foram os primeiros a questionar os princpios

    at ento dominantes. Sua importncia tambm se encontra na participao no s no

    sentido de estimular opes ideolgicas, mas de uma atuao ativa pela presena de

    industriais em rgos de formulao de poltica econmica.

    O Estado forte e centralizado foi ganhando fora, desestruturando as bases regionais numa

    tentativa de nacionalizao das decises e adquirindo habilidade de administrar os diversos

    interesses em jogo. Esta linha de evoluo se afirmaria sem grandes oscilaes e

    culminaria com o golpe de 1937, que consolidou o regime autoritrio. A participao das

    classes como base do poder era uma forma de legitimar o sistema, assim como utilizao

    de mecanismos de proteo da mquina governamental de influncias exteriores.

    Observa-se, ento, o estreitamento do crculo dos detentores do poder, articulaes e

    alianas com o setor privado e tambm uma preocupao com massas que se expressa

    pela legislao trabalhista como elemento prioritrio da pauta poltica. Qualquer mobilizao

    fora do controle do Estado era fortemente reprimida.

    A centralizao poltica foi possvel devido a alguns mecanismos como a faculdade de

    governar por decretos-leis, as interventorias (que constituam o elemento-chave na relao

    entre Governo central e Estados, enfraquecendo efetivamente as oligarquias regionais), o

    fortalecimento do poder burocrtico-estatal, (que com institutos, autarquias e conselhos

    econmicos principais formas de acesso dos grupos privados ao poder central- adquiria

    maior poder de interveno na economia, surgindo, a partir da, formas embrionrias

    institucionalizadas de planejamento econmico), entre outros. Apesar dos esforos, a

    ausncia de uma ordem dos rgos consultivos resultou num "quadro no muito coerente,

    marcado pela coexistncia de setores, livres e regulados, sem coordenao entre si"

    (p.138), dificuldade existente devido complexidade da estrutura de poder que se configura

    neste perodo.

    Entre os aspectos que fundamentariam a centralizao poltica, preciso destacar o papel

    do Exrcito, que teve participao ativa no processo decisrio, sobretudo a respeito do

    desenvolvimento da infra- estrutura industrial, apesar de se manter a margem da discusso

    sobre industrializao at ver-se necessria a criao de uma indstria interna para suprir

    suas necessidades. O papel exercido pelas Foras Armadas no pode ser reduzido a um

    simples instrumento getulista, j que se afirmava enquanto organizao que perseguia

    objetivos prprios, "questionando a validade da utilizao da corporao militar pelas

    faces polticas em suas disputas internas." (p.144)

    "A fora do Estado, nesse perodo, est relacionado com a ausncia de interesses

    hegemnicos numa estrutura de poder marcada por diferenciao crescente." (p.130) A

  • queda do Estado novo, alm de influenciada pelo trmino da guerra e vitria das potncias

    democrticas, demonstrava uma situao extrema, "em que a ameaa da transgresso do

    grau de arbtrio exercido pelo Estado" (p.130) restauraria a unidade da aliana preponderante

    em torno de uma proposta de mudana de regime poltico.

    DINIZ, Eli e CAMARGO, Aspsia. O Estado novo: estrutura de poder. Relaes de classes.

    In FAUSTO, Boris (org.) Histria Geral da Civilizao Brasileira. Tomo III, vol. 10, cap. 2.

    Leia mais em:

    http://www.webartigos.com/artigos/fichamento-o-estado-novo-estrutura-de-poder-diniz-e-ca

    margo/24748/#ixzz3dHgLqGoRtores que se propem a estudar o Estado Novo, todos

    coincidem no que se refere ao carter "centralizado e monoltico do Estado brasileiro

    durante esse perodo." (p.95) Nessa linha de interpretao, as questes que se colocam em

    primeiro plano so aquelas relacionadas construo e aperfeioamento desse modelo de

    Estado, caracterizado por forte, centralizado, apartidrio e distante das foras sociais.

    "Em alguns casos, a anlise identifica o fortalecimento do Estado atravs da concentrao

    de poderes no Executivo (...)" (p.95, 96), que se manifesta por estabelecimento de maior

    autonomia do poder federal, restrio da autonomia estadual, mecanismos de interveno

    na economia, entre outros. Sem questionar essas concluses, Diniz e Camargo acreditam

    que essa abordagem no suficiente se os pontos de articulao entre Estado e Sociedade

    no forem explicitados.

    "A discusso do significado da centralizao e fortalecimento do Poder Nacional nos anos

    30 pode ser encarada sob dois ngulos distintos." (p. 96) O primeiro deles o aspecto

    explorado pela ideologia oficial, que parte do pressuposto "de que a centralizao, enquanto

    fator de organizao e integrao da nao, torna-se simultaneamente eficaz como

    instrumento de realizao dos interesses coletivos." (p.97) Isso se d pela eliminao do

    excesso de federalismo existente at os anos 30 e "a destruio dos canais de participao

    e representao poltica." (p. 98)

    O segundo ngulo diz respeito s relaes entre o aparelho estatal e as foras sociais que

    se afirmavam no quadro de transformaes que se apresentava. "O Estado Novo

    representaria historicamente uma etapa no processo de incorporao vida poltica das

    novas camadas sociais que acompanham o desenvolvimento e diferenciao da economia

    brasileira (...)" (p.98). "Dessa forma, a destruio dos instrumentos de poder comprometidos

    com a antiga ordem imps-se como condio da afirmao dos interesses" (p.100) destas.

  • O perodo que antecede a implantao do Estado Novo marcado por uma crise poltica. H

    setores ligados a industrializao emergindo, acirram-se as cises regionais e a unidade da

    oligarquia agroexportadora se rompe. a incapacidade dos diferentes setores dominantes

    se sobreporem que cria condies de surgimento de um Estado forte "como condio de

    preservao da ordem e, portanto, de sobrevivncia das classes dominantes" (p.102), que

    se caracteriza "pela acomodao entre os diversos atores em confronto." (p.101) No se

    pode dizer que a centralizao causou a perda da influncia exercida pelos diversos grupos,

    mas os canais de acesso e influncia foram redefinidos com o novo modelo.

    Partindo dessas observaes, os autores consideram que o Estado que se consolida entre

    1937 e 1945 heterogneo e complexo, o que os leva a conceb-lo como um conjunto

    diferenciado e no monoltico e que os vnculos com grupos externos como parte integrante

    da dinmica burocrtica so centrais na anlise da poltica no perodo considerado. Tambm

    consideram que o Estado Novo no uma ruptura em relao experincia liberal, na

    medida em que a centralizao j havia se consolidado com a Revoluo de 30 e no pode

    ser analisado isoladamente porque decorrente de um processo.

    Sobre a Revoluo de 30, questiona-se o carter de conservao ou mudana no quadro

    poltico nacional. Alguns analistas acreditam que foi um processo "sem qualquer

    reformulao substancial da estrutura econmico-social existente." (p.105) Para outros, a

    dcada de 30 foi crucial na evoluo do pas, pois significou a passagem para a sociedade

    de base urbano-industrial.

    Tambm h uma divergncia entre os autores a respeito das diretrizes econmicas do

    primeiro governo Vargas. Alguns acreditam que era antimodernizante, outros destacam seu

    impacto inovador pelas medidas favorveis implantao de um plo urbano-industrial. O

    que cabe ressaltar aqui a importncia dada s variveis externas e minimizao dos

    atores internos nas transformaes que marcaram o perodo considerado: de um lado a

    industrializao entendida como simples reflexo da crise internacional, de outro, para os

    que enfatizam a orientao conservadora, a interferncia da elite "teria determinado a

    incapacidade de o sistema reagir favoravelmente aos estmulos externos (...)" (p.108).

    Contrariando essas vises, os autores destacam a importncia estatal no apenas num

    sentido reativo, mas mais autnomo e especfico. As transformaes no podem ser

    minimizadas, embora a estrutura de dominao pouco tenha se alterado. Dito isto, os

    autores aceitam a terminologia de Moore, "modernizao conservadora", para classificar as

    transformaes decorrentes da Revoluo.

  • Para os autores Villela e Baer, foi nos anos 30 que a industrializao ocorreu de fato, porque

    quando se observa mudanas profundas na estrutura da economia (alm do aumento da

    participao da indstria, a produo deixou de ser focada na exportao). O Estado Novo

    um momento nesse processo e sua ao est associada redefinio das classes a partir

    da incorporao da classe emergente sem desalojamento da elite agrria que at ento

    detinha o poder. Embora houvesse presso, o novo pacto poltico foi favorecido e os setores

    produtivos emergentes puderam se expandir e se consolidar.

    Quanto estrutura da produo industrial, pode-se dizer que as indstrias bsicas

    dobraram sua participao no mercado, enquanto que as tradicionais tiveram sua

    participao diminuda. Com a Segunda Guerra, a indstria teve sua produo limitada por

    dificuldade de importao de mquinas e matrias-primas. A intensa utilizao do

    equipamento existente teve como consequncia o comprometimento de uma grande parte

    da capacidade produtiva.

    Quanto caracterizao das foras sociais que impulsionaram a industrializao, a

    literatura poltica salienta a importncia da atuao de grupos tcnicos ligados ao governo na

    formulao e implementao de medidas industrializantes, ao lado da elite poltica como

    agente da modernizao. Os autores deste texto, entretanto, pretendem chamar ateno

    para a importncia da burguesia industrial, que comumente so considerados irrelevantes

    por sua incapacidade de assumir a hegemonia do processo de implantao da indstria.

    Discordando deste ponto de vista, Diniz e Camargo demonstram a intensa atuao

    desenvolvida pela burguesia, que ganhou visibilidade nas instncias decisrias e atravs da

    identificao com o pensamento autoritrio (com exceo do intervencionismo estatal no

    acesso aos centros de deciso).

    Na literatura poltica brasileira, h um predomnio na nfase a relativa indiferenciao de

    interesses das elites rural e industrial, tanto no perodo anterior a 30, quanto durante o

    processo revolucionrio. Em contraposio, alguns estudos fazem essa diferenciao

    quando se inicia o processo de industrializao. O que ocorre que h momentos de ciso

    e de recomposio- nem sempre o atendimento de interesses da indstria desagradava o

    setor agroexportador-, o que se explica pela inexistncia de resistncia a alterao da ordem

    social (lembrando que a elite cafeeira foi a matriz social da burguesia industrial). A poltica

    cafeeira permaneceu como aspecto prioritrio da poltica governamental e a industrializao

    apareceu como alternativa ao crescimento econmico e proteo do setor que estava em

    crise.

  • Todavia, a industrializao ganhou fora e isso implicou mudanas significativas no que

    tange a realocao de recursos e benefcios, bem como o controle do comrcio exterior,

    criao de medidas protecionistas, demandas que exigiam uma ruptura com o marco

    institucional vigente, o que representaria por si s um fator de tenso nas relaes entre as

    foras sociais do confronto, j que os comissrios do caf aos poucos foram perdendo sua

    funo e poder de deciso, mas eventuais alianas eram necessrias para garantir

    recursos para que os industriais alcanassem seus objetivos. Pode-se dizer que o

    fortalecimento estatal e a rearticulao das alianas entre as elites desdobrar-se-iam de

    forma estreitamente interdependente e assim o Estado podia impor limites s alianas.

    "As foras que lideraram a Revoluo de 30, embora conscientes da necessidade de

    destruir a hegemonia da burguesia agroexportadora paulista, (...) no iam muito alm da

    contestao do antigo regime." (p.117) A criao de uma ideologia prpria do empresariado

    industrial foi fundamental, na medida em que foram os primeiros a questionar os princpios

    at ento dominantes. Sua importncia tambm se encontra na participao no s no

    sentido de estimular opes ideolgicas, mas de uma atuao ativa pela presena de

    industriais em rgos de formulao de poltica econmica.

    O Estado forte e centralizado foi ganhando fora, desestruturando as bases regionais numa

    tentativa de nacionalizao das decises e adquirindo habilidade de administrar os diversos

    interesses em jogo. Esta linha de evoluo se afirmaria sem grandes oscilaes e

    culminaria com o golpe de 1937, que consolidou o regime autoritrio. A participao das

    classes como base do poder era uma forma de legitimar o sistema, assim como utilizao

    de mecanismos de proteo da mquina governamental de influncias exteriores.

    Observa-se, ento, o estreitamento do crculo dos detentores do poder, articulaes e

    alianas com o setor privado e tambm uma preocupao com massas que se expressa

    pela legislao trabalhista como elemento prioritrio da pauta poltica. Qualquer mobilizao

    fora do controle do Estado era fortemente reprimida.

    A centralizao poltica foi possvel devido a alguns mecanismos como a faculdade de

    governar por decretos-leis, as interventorias (que constituam o elemento-chave na relao

    entre Governo central e Estados, enfraquecendo efetivamente as oligarquias regionais), o

    fortalecimento do poder burocrtico-estatal, (que com institutos, autarquias e conselhos

    econmicos principais formas de acesso dos grupos privados ao poder central- adquiria

    maior poder de interveno na economia, surgindo, a partir da, formas embrionrias

    institucionalizadas de planejamento econmico), entre outros. Apesar dos esforos, a

    ausncia de uma ordem dos rgos consultivos resultou num "quadro no muito coerente,

    marcado pela coexistncia de setores, livres e regulados, sem coordenao entre si"

  • (p.138), dificuldade existente devido complexidade da estrutura de poder que se configura

    neste perodo.

    Entre os aspectos que fundamentariam a centralizao poltica, preciso destacar o papel

    do Exrcito, que teve participao ativa no processo decisrio, sobretudo a respeito do

    desenvolvimento da infra- estrutura industrial, apesar de se manter a margem da discusso

    sobre industrializao at ver-se necessria a criao de uma indstria interna para suprir

    suas necessidades. O papel exercido pelas Foras Armadas no pode ser reduzido a um

    simples instrumento getulista, j que se afirmava enquanto organizao que perseguia

    objetivos prprios, "questionando a validade da utilizao da corporao militar pelas

    faces polticas em suas disputas internas." (p.144)

    "A fora do Estado, nesse perodo, est relacionado com a ausncia de interesses

    hegemnicos numa estrutura de poder marcada por diferenciao crescente." (p.130) A

    queda do Estado novo, alm de influenciada pelo trmino da guerra e vitria das potncias

    democrticas, demonstrava uma situao extrema, "em que a ameaa da transgresso do

    grau de arbtrio exercido pelo Estado" (p.130) restauraria a unidade da aliana preponderante

    em torno de uma proposta de mudana de regime poltico.

    DINIZ, Eli e CAMARGO, Aspsia. O Estado novo: estrutura de poder. Relaes de classes.

    In FAUSTO, Boris (org.) Histria Geral da Civilizao Brasileira. Tomo III, vol. 10, cap. 2.