RESUMO O Paradigma Educacional Emergente
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CICLOS DE SEMINÁRIOS DE ACESSO AO MESTRADO EM CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO
ÁREA DE INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
Paradigmas Educativos
Por Ana Carolina Novaes Núbia Oliveira da Silva
Sandra Dias Miranda Soares
Trabalho apresentado ao Ciclo de Seminários Preparatórios para Acesso ao Mestrado em Ciências da Educação – área de Inovação Pedagógica como avaliação da disciplina Paradigmas Educativos ministrada pelo
Professor Doutor Dr. César Castro.
Capim Grosso, 2012
O PARADIGMA EDUCACIONAL EMERGENTE: implicações na formação do professor e nas práticas pedagógicas.
Maria C. Moraes inicia seu texto esboçando sua experiência didática na área da
tecnologia educacional e ratificando que grande parte dos problemas educacionais é
atemporal e persiste estruturalmente independente da inserção de tecnologias e/ou
projetos e programas inseridos no âmbito da educação. Esses projetos, segundo a autora,
não proporcionam uma mudança significativa no processo de aprendizagem, não
rompem com o modelo instrucionista e ortodoxo da escola tradicional. Negam a
metacognitividade do aluno enquanto construtor do próprio conhecimento. Trata-se de
mudanças metodológicas superficiais, que perpetuam as mazelas encontradas no cenário
da educação.
Essa problemática é fruto da desconsideração apriorística da contextualização
desses programas com a realidade do usuário/aprendiz, contexto sociointeracional do
indivíduo e somado a isso, retira o foco da aprendizagem do aluno para o foco no
ensino, na didática do professor como referência da prática educativa.
A fundamentação teórica desses projetos, a rigor, nutre-se da teoria
comportamentalista, que via o sujeito como fruto de “contingências do meio” e o
conhecimento respaldado no método da indução. O indivíduo visto, então, como uma
tabula rasa e, portanto, depósito de informação em detrimento de sua construção social
do conhecimento e das estruturas cognitivas.
Somado a esses argumentos, ela denuncia que grande parte dessa problemática
seja também originada na própria ciência enquanto teoria do conhecimento relacionada
com as teorias da aprendizagem que influenciam e direcionam a prática pedagógica em
direção àquilo que está pré-determinado de forma paradigmática. Sendo taxativa em
afirmar que “uma ciência do passado produz uma escola morta, dissociada da realidade,
do mundo e da vida”. (p. 58)
Percebe-se que com a metamorfose social na era da Revolução tecnológica em
que vivemos atualmente, uma grande dualidade existe entre a escola e a sociedade.
Grandes mudanças ocorreram e continuam a ocorrer nos diversos cenários sociais, e a
escola permanece com a mesma visão de outrora, atrelada a uma prática reducionista e
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excludente, bem como a uma metodologia autoritária baseada na hierarquia e na
transmissão mecanizada do conhecimento. A escola não acompanhou a inovação das
diversas esferas e segue seu ritmo lento, priorizando a métodos ultrapassados de ensino
pautado ainda no chamado paradigma fabril em detrimento da aquisição e construção do
conhecimento e da aprendizagem. Moraes acredita que é preciso romper com o velho
paradigma, tecnicista e mecanicista vivenciado pela escola de hoje oriundo da revolução
industrial, a qual deu início há mais de 300 anos. Quando a escola silencia-se diante das
necessidades de produção de conhecimento e nega sua função social de formação
integral do ser humano, perde seus créditos, pois a inadequação com o atual contexto
social culmina na incapacidade de os aprendizes criarem, reconstruírem e reproduzirem
seus conhecimentos.
Somado a isso, Moraes enfatiza que os princípios da Física Quântica e da Teoria
da Relatividade, ao romperem com o ideário mecânico e cartesiano de Newton,
concebem o mundo à luz dos princípios de movimento, fluxo de energia e processo de
mudança e promovem, na Educação, a ressignificação do olhar sobre o ser humano,
agora visto sob a ótica da visão holística e da contextualização.
Esses propósitos são ressaltados nos estudos de Bohn (1992), reconhecendo a
existência dum micromundo de partículas atômicas, em sintonia de ação e
transformação, fato que permite a descrição de tudo o que é visto, inclusive do próprio
ser humano. Por consequência, esses propósitos também chegam às concepções de
aprendizagem, sendo o sujeito agora percebido como autor do processo de construção
do conhecimento (construtivismo), e à ideia de interdependência associada à relação
ambiente/espaço.
Trata-se dum fluir ecológico, no qual homem e natureza, fenômenos físicos,
biológicos, psicológicos, sociais e culturais mantêm a unidade a partir da consciência do
estado de interrelação e interdependência (interacionismo), estendendo-se também aos
fenômenos educacionais, os quais são configurados agora para além dos limites antes
impostos por disciplinas e conceitos. Trata-se duma aposta no pensamento sistêmico,
entendendo-se como necessária a substituição de ideias e elementos antes excludentes
por outros agregadores, numa relação dialética entre mundo e vida, capaz de atender aos
propósitos de uma política educacional afinada com as necessidades concretas, o que é
resultado de práticas capazes de apreender a realidade em toda sua complexidade.
Impõe-se, portanto, a urgência do diálogo do indivíduo consigo mesmo, com a
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sociedade e com a natureza, bem como se questiona a eficiência da educação e dos
ambientes de aprendizagem na promoção da citada dialogicidade.
A antiga visão newtoniana que respingava sobre a educação os seus conceitos,
dentre eles o de aprendizagem como um processo de causa e efeito, vê-se agora rompida
também pela concepção de auto-organização, segundo a qual, pelo discurso de
Prigogine, nenhum sistema vivo está condenado ao caos, mas sim à renovação graças às
inerências do diálogo e da criatividade. Dessa forma, o propósito da auto-organização
individual e coletiva será a garantia da motivação e esta, associada à já discutida relação
de integração entre sujeito e objeto de conhecimento, bem como à ideia de movimento,
esta justificada pelo princípio de abertura, revela influências importantes do novo
paradigma científico sobre o currículo e todo processo organizacional.
Essa compreensão implica em que sejam elencadas novas pautas em educação,
dentre elas a mudança na missão da escola, da concepção do indivíduo, agora visto pela
sua individualidade, mas também inserido numa ecologia cognitiva, vendo no “sujeito
coletivo” o grande propulsor da educação, fato que incide também na organização de
ambientes de aprendizagens, espaços abertos à interdisciplinaridade, à intuição e à
criatividade.
Aponta-se também para a revisão do foco dispensado ao processo de
aprendizagem, não se ocupando mais em atender às preocupações sobre o que deve ser
ensinado, mas sobre o como se aprende, permitindo ao indivíduo aprender a aprender, e
isso em pares (sociocultural), substituindo velhas verdades por outras transitórias,
interagindo efetivamente com o contexto das tecnologias de informação.
A compreensão ecológica já citada consegue justificar, inclusive, o emergir do
elemento espiritual, visto que da harmonia entre homem e mundo emana uma energia
capaz de pôr em comunhão todos os elementos cósmicos (transcendência), num todo
indivisível, onde um Elemento Supremo está no centro de tudo e, ao mesmo tempo, no
interior de cada um.
Também se ressignifica espaço da escola, que agora se expande para além dos
muros, invade a comunidade e supera barreiras postas entre elementos. Espaços do
entorno da escola são reconhecidos enquanto lugar onde se aprende, em especial por ser
fora da escola que tem se efetivado o uso das tecnologias de informação. Mas estas
também precisam ir para o interior das escolas de maneira suficiente a dar aos
indivíduos condições de lidar satisfatoriamente com os aparatos tecnológicos que têm
mudado os métodos de produção do conhecimento.
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Por tudo até aqui posto, percebemos que o grande propósito do paradigma
emergente na educação, sendo construtivista, interacionista, sociocultural e
transcendente, é o de contribuir para que seja garantida a qualidade, mas aliada à
equidade, à igualdade, à harmonia e à paz.
A autora enfatiza ainda que a formação de professores, diante desse novo
paradigma que surge, precisa ser redimensionada, tendo um caráter contínuo,
processual, que possibilita “reflexão na ação e sobre a ação.”
É dado um destaque sobre o que seria essa reflexão na ação e sobre a ação e para
isso Moraes faz referência ao que Prado (1996) diz. A reflexão na ação exige do docente
uma maior flexibilidade no agir e no pensar, requer ainda a construção de novas
estratégias para enfrentar problemas que se apresentam de forma cada vez mais
dinâmica. A reflexão sobre a ação acontece quando o docente consegue se afastar de
sua prática para refletir criticamente sobre ela, afastando-se para descrever, analisar e
depurar os fatos e a partir de então, após uma tomada de consciência , ser capaz de
compreender e modificar a prática.
Ressalta-se que não é uma tarefa fácil mudar a prática, não é fácil agir alicerçada
em um novo referencial, um novo paradigma, principalmente porque os cursos de
formação de professores, mesmo aqueles que dizem fundamentarem-se numa
abordagem construtivista ainda não conseguiram romper com o modelo até então
praticado, pois essa mudança, muito além da mudança da prática exige uma
transformação de concepção. A autora utiliza-se da teoria piagetiana para explicar essa
dificuldade dizendo que é necessária a assimilação para depois haver a acomodação nas
estruturas mentais, o que quer dizer que é necessário, de fato essa mudança de
concepção, de conceitos sobre como dever ser as práticas pedagógicas, para que de fato
haja a mudança, na prática.
Nessa perspectiva, é apresentada ainda no texto, a educação que espera ter diante
desse paradigma que se apresenta, não uma educação onde o professor é o centro, onde
a prática da mera reprodução, transmissão dos conteúdos e informações é priorizada,
uma educação “domesticadora”, mas sim um novo modelo de educação, que é vista
como um processo em construção contínua, ativa, criativa, dinâmica, que possibilita o
aluno transcender, que liberta.
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Além de expor e propor um novo modelo de educação, a autora ainda discorre sobre o
perfil para o professor nesse novo contexto, não um professor que se considere o centro
do processo educativo, detentor do saber, que impõe, que condiciona, disciplina, mas
alguém que seja capaz de ouvir, observar, problematizar, fazer pensar, refletir, que seja
capaz de além de ensinar também aprender, citando o pensamento de Freire.
É interessante a colocação que a autora faz ainda sobre esse professor, afirmando
que no paradigma emergente, o maior compromisso deste profissional deve ser com o
futuro dos educandos e para isso é necessário uma relação entre educador e educando
menos autoritária, menos vertical, uma relação construída partindo do princípio da
troca, da dialética, onde ambos ensinam, ambos aprendem mutuamente.
Para isso é mister que após a mudança da concepção de educação e da relação
professor – aluno, haja mudança na metodologia desenvolvida na escola. Essa
metodologia deve ser voltada para a qualidade no processo de aprendizagem, com uma
verdadeira metamorfose na prática, onde os ritmos individuais devem ser respeitados,
onde haja flexibilidade e adaptações necessárias no currículo e na organização do tempo
e do espaço escolar para que se alcance os objetivos pretendidos diante desse paradigma
que emerge.
Essa nova metodologia adotada deve, portanto, permitir a construção da
autonomia dos educandos, deve basear-se na investigação, na pesquisa, na solução de
problemas e os alunos devem ser conduzidos a aprender a aprender, aprender a pensar,
aprender a investigar. Com essas aprendizagens garantidas o aluno se torna capaz de
apropriar-se do conhecimento para manejá-lo de forma criativa e crítica.
Com a mudança de todos esses aspectos relacionados pela autora será possível
abandonar a escola do paradigma tradicional, marcada pela burocracia, pela rigidez,
pelo controle de comportamento, pela transmissão de conteúdos, pela especialização,
para então termos uma nova escola, que ela denomina “escola aberta”, que é marcada
pela democracia nas decisões em relação aos diversos aspectos que envolvem esta
escola, pela descentralização e pela flexibilidade. É uma escola que adota um novo
modelo, segundo a autora, uma escola sem paredes, uma “escola expandida”, o que
possibilita uma nova forma de aprender e de conviver.
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Todas essas mudanças nos conduzem a uma transformação na sociedade como
um todo, onde o mais importante não é o capital financeiro, mas sim o que a autora
denomina de “verdadeiros capitais” - informação, conhecimento, criatividade,
inteligências. Estes possibilitam que o poder seja descentralizado e fique nas mãos do
indivíduo, das sociedades, o que revela a necessidade de se ter a pedagógica foco o
desenvolvimento humano para se ter um bom alicerce nesse processo de transformação.
Moraes conclui o texto reforçando a ideia de que a prática pedagógica deve ser
reflexiva, a fim de que possamos resgatar e colocar em prática os pensamentos de
educadores como Dewey, Freire, Schon, Papert, que acreditam que a educação deve
ser um “ diálogo aberto do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com os
instrumentos oferecidos pela cultura e pelo ambiente”.( p.68)
Referência
MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente: implicações na formação do professor e nas práticas pedagógicas. Disponível in: http://twingo.ucb.br/jspui/bitstream/10869/530/1/O%20Paradigma%20Educacional%20Emerg%C3%AAnte.pdf
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