Reverso 89 revista manchat

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MANCHAT CACHOEIRA | MAIO 2015 | N° 89 UM PRODUTO REVERSO Jovens empreendedores Conheça os aplicativos criados pelos estudantes da UFRB É possível viver sem tecnologia? Saiba o que diz o psicólogo Jorge Filipe Alves Henriques, um especialista na área Entenda as diferenças entre eles Jovens: ontem e hoje Tecnologia na Educação O Colégio Simonton aposta nisso Exposição na internet Veja quais são os limites

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MANCHATCACHOEIRA | MAIO 2015 | N° 89 UM PRODUTO REVERSO

Jovens empreendedores

Conheça os aplicativos criados pelos estudantes da UFRB

É possível viver sem

tecnologia?Saiba o que diz o psicólogo Jorge Filipe Alves Henriques,

um especialista na área

Entenda as diferenças entre eles

Jovens: ontem e hoje

Tecnologia na EducaçãoO Colégio Simonton aposta nisso

Exposição na internetVeja quais são os limites

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ANNA CAROLINE

Diagramadora &

colunista

FRANCISCOGUEDES

Editor&

repórter

ISRAELSANTOS

Repórter

UILSONCAMPOS

Repórter

Quem somos

LAERTESANTANA

Repórter

Terceira Revolução Industrial; Aparelhos como Smartpho-nes, Tabletes, Laptop estão cada vez mais presentes entre os jovens. E o que os pais e professores estão fazendo para lidar com eles? Você sabia que muitos profissionais estão utilizando esses aparelhos para se aperfeiçoarem? É a chamada mobile-learning. Venha conhecer as carac-terísticas dessa nova modalidade de educação à distância. Você dialoga com seus filhos? O que influencia os adoles-centes de hoje é o mesmo que influenciou os adolescentes na década de 80 e 90? Afinal, quais as diferenças entre os jovens de ontem e os de hoje? Você sabe? Aqui você vai encontrar várias dicas relacionadas à educação deles, e vai conhecer quais são os investimentos que o Colégio Si-monton está fazendo para os estudantes prosseguirem na descoberta de novos conhecimentos e se tornarem, no fu-turo, mentes criativas e inovadoras, como os estudantes do curso de Bacharelado em Ciências Exatas e Tecnológica da UFRB que, através de uma brincadeira, criaram aplicativos para ajudar os estudantes na contagem da soma das no-tas das avaliações de todo o semestre. Esses jovens, hoje, recebem o título de Empreendedores. Selfie. Vamos tirar uma? Você tem Facebook, Instagram, What’s app? Quais são os riscos e limites que se deve ter quando for usar a internet para postar suas fotos? Você conhece alguém que já sofreu com fotos roubadas e depois espalhadas na inter-net? Veja depoimentos de quem já passou por isso e en-tenda como funciona a lei que levou o nome da atriz Ana Carolina Dieckman, por também ter sido vítima desse mal.

Aqui, tudo é MANCHAT!

Francisco Guedes

REITOR DA UFRBProf. Dr. Paulo Gabriel S. Nacif

DIRETORA DO CAHLProfa. Drs. Georgina Gnçalves

CORDENAÇÃO EDITORIAL Prof. Dr. Robério Marcelo RibeiroProf. Dr. josé Péricles Diniz

EDITOR CHEFEProf. Dr. josé Péricles Diniz

EDITOR E REVISORFrancisco Guedes

EDITORAÇÃO GRÁFICAAnna Caroline

UM PRODUTO:

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

JOVENS DOMINAM MERCADO DE APLICATIVOS NO PAÍS 04

O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO 06

SELFIE: A EXPRESSÃO DO NARCISISMO MODERNO 07

OS JOVENS DE ONTEM E HOJE 08

M-LEARNING: APRENDER EM QUAQUER LUGAR 09

MANCHAT entrevista:Jorge Filipe Alves 10

O RISCO DA ALTA EXPOSIÇÃO NA INTERNET 12

Terceira Revolução Industrial; aparelhos como smartphones,tabletes e laptops estão cada vez mais presentes entreos jovens. E o que os pais e professores estão fazendopara lidar com eles? Você sabia que muitos profissionaisestão utilizando esses aparelhos para se aperfeiçoarem?É o chamado mobile-learning. Venha conhecer as característicasdessa nova modalidade de educação à distância.Você dialoga com seus filhos? O que influencia os adolescentesde hoje é o mesmo que influenciou os adolescentesna década de 80 e 90? Afinal, quais as diferenças entreos jovens de ontem e os de hoje? Você sabe? Aqui vocêvai encontrar várias dicas relacionadas à educação deles, evai conhecer quais são os investimentos que o Colégio Simontonestá fazendo para os estudantes prosseguirem nadescoberta de novos conhecimentos e se tornarem, no futuro,mentes criativas e inovadoras, como os estudantes docurso de Bacharelado em Ciências Exatas e Tecnológicas daUFRB que, através de uma brincadeira, criaram aplicativospara ajudar os estudantes na contagem da soma das notasdas avaliações de todo o semestre. Esses jovens, hoje,recebem o título de Empreendedores. Selfie. Vamos tiraruma? Você tem Facebook, Instagram, Whatsapp? Quaissão os riscos e limites que se deve ter quando for usar ainternet para postar suas fotos? Você conhece alguém quejá sofreu com fotos roubadas e depois espalhadas na internet?Veja depoimentos de quem já passou por isso e entendacomo funciona a lei que levou o nome da atriz AnaCarolina Dieckman, por também ter sido vítima desse mal.

Aqui, tudo é MANCHAT!Francisco Guedes

REITOR DA UFRB EDITOR E REVISORProf. Dr. Silvio Luiz de Oliveira Soglia Francisco Guedes

DIRETOR DO CAHL EDITORAÇÃO GRÁFICAProf. Dr. Wilson Penteado Anna Caroline

CORDENAÇÃO EDITORIAL ILUSTRAÇÕESProf. Dr. Robério Marcelo Ribeiro John HolcroftProf. Dr. José Péricles Diniz Jean Jullien Pawel KuczynskiEDITOR CHEFEProf. Dr. José Péricles Diniz

FOTOS: ANNA CAROLINE

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ANNA CAROLINE

Diagramadora &

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FRANCISCOGUEDES

Editor&

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ISRAELSANTOS

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UILSONCAMPOS

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Quem somos

LAERTESANTANA

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Terceira Revolução Industrial; Aparelhos como Smartpho-nes, Tabletes, Laptop estão cada vez mais presentes entre os jovens. E o que os pais e professores estão fazendo para lidar com eles? Você sabia que muitos profissionais estão utilizando esses aparelhos para se aperfeiçoarem? É a chamada mobile-learning. Venha conhecer as carac-terísticas dessa nova modalidade de educação à distância. Você dialoga com seus filhos? O que influencia os adoles-centes de hoje é o mesmo que influenciou os adolescentes na década de 80 e 90? Afinal, quais as diferenças entre os jovens de ontem e os de hoje? Você sabe? Aqui você vai encontrar várias dicas relacionadas à educação deles, e vai conhecer quais são os investimentos que o Colégio Si-monton está fazendo para os estudantes prosseguirem na descoberta de novos conhecimentos e se tornarem, no fu-turo, mentes criativas e inovadoras, como os estudantes do curso de Bacharelado em Ciências Exatas e Tecnológica da UFRB que, através de uma brincadeira, criaram aplicativos para ajudar os estudantes na contagem da soma das no-tas das avaliações de todo o semestre. Esses jovens, hoje, recebem o título de Empreendedores. Selfie. Vamos tirar uma? Você tem Facebook, Instagram, What’s app? Quais são os riscos e limites que se deve ter quando for usar a internet para postar suas fotos? Você conhece alguém que já sofreu com fotos roubadas e depois espalhadas na inter-net? Veja depoimentos de quem já passou por isso e en-tenda como funciona a lei que levou o nome da atriz Ana Carolina Dieckman, por também ter sido vítima desse mal.

Aqui, tudo é MANCHAT!

Francisco Guedes

REITOR DA UFRBProf. Dr. Paulo Gabriel S. Nacif

DIRETORA DO CAHLProfa. Drs. Georgina Gnçalves

CORDENAÇÃO EDITORIAL Prof. Dr. Robério Marcelo RibeiroProf. Dr. josé Péricles Diniz

EDITOR CHEFEProf. Dr. josé Péricles Diniz

EDITOR E REVISORFrancisco Guedes

EDITORAÇÃO GRÁFICAAnna Caroline

UM PRODUTO:

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

JOVENS DOMINAM MERCADO DE APLICATIVOS NO PAÍS 04

O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO 06

SELFIE: A EXPRESSÃO DO NARCISISMO MODERNO 07

OS JOVENS DE ONTEM E HOJE 08

M-LEARNING: APRENDER EM QUAQUER LUGAR 09

MANCHAT entrevista:Jorge Filipe Alves 10

O RISCO DA ALTA EXPOSIÇÃO NA INTERNET 12

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com o levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups (AB Startups), 55% desses empre-endimentos são comandados por jovens entre 20 e 23 anos. “Nesse modelo de negócio, um grupo de pessoas tem uma ideia, elabo-ra, desenvolve e vende essa ideia. Em se tratando de jovens progra-madores, normalmente essa ideia é a criação de um aplicativo que será vendido para alguma loja ou empresa”, explicou Tairone. O se-tor de aplicações para dispositi-vos móveis ocupa a 3ª colocação entre as startups no Brasil, atrás apenas do segmento de redes sociais e de comércio eletrônico. O campo de atuação para os jovens desenvolvedores de apli-cações móveis é amplo. “O nú-mero de incubadoras é bastante expressivo e os incentivos para a inovação são muito grandes”, afirmou Neto. Há ainda a pos-sibilidade de trabalharem como autônomos, desenvolvendo seus aplicativos e vendendo-os. Para isso, basta possuírem um smar-tphone e um computador ou notebook.

“Se jogue nos estudos!”

Conhecimento no assunto é imprescindível para quem deseja desenvolver aplicativos. Embora não seja obrigatória a graduação, cursos na área de Tecnologia da

A ideia surgiu a partir de uma conversa entre amigos. Prestes a concluir a graduação e sem saber quantos pontos de ativida-des extracurriculares possuíam e de quanto precisavam para poderem se formar, o estudante Tairone Dias propôs uma solução para os colegas: “Vou criar um aplicativo pra resolver isso!”. A sugestão que começou como uma brincadeira entre amigos tornou-se realidade e Tairone desenvolveu o Barema, aplicati-vo que contabiliza os pontos em atividades complementares dos estudantes do Bacharelado em Ciências Exatas e Tecnológicas da UFRB. “A recepção foi ótima. Outras pessoas pediram também e acabei disponibilizando na loja da Google”, contou o estudante que pretende estender as funcio-nalidades do aplicativo para os demais cursos.

Mentes criativas

É com esse espírito inventivo e inovador que jovens como Tairo-ne estão se interessando por um mercado que cresce no mundo todo e já alcança lugar de desta-que no ramo da economia criati-va. De acordo com estimativas da Gartiner, empresa de pesquisas em tecnologia, o segmento de aplicativos para celulares movi

mentou em torno de 60 bilhões de dólares em 2014. Ocupando a 11ª colocação entre os países mais lucrativos do setor, os in-vestidores acreditam que o Brasil tem um amplo espaço para cres-cer no segmento.João Neto, professor de Enge-nharia da Computação da UFRB, pesquisador na área e orientador de diversos projetos de aplicati-vos, explicou os motivos que têm provocado o crescimento desse setor. “Um dos fatores do suces-so dessas ferramentas é a mobili-dade. O usuário agora consegue (teoricamente), a partir de todo lugar, acessar informações e usar serviços eletrônicos. Outro fator é uma questão psicológica: esta-mos cada vez mais dependentes e consumidores de informações (se for em tempo real, melhor ainda) e os dispositivos móveis podem suprir essa necessidade de manter-nos ocupados e co-nectados”.

Aptidão empreendedora

Mas não é apenas a criatividade dos programadores iniciantes que irá garantir o sucesso no mercado de tecnologia móvel. Diante desse cenário promissor, a carreira de desenvolvedor de aplicativos exige dos jovens tam-bém uma aptidão empreendedo

ra. É o que afirma Caique Jho-nes, estudante de Engenharia da Computação e criador do Minhas Notas, aplicativo que calcula a média dos estudantes universitá-rios e indica o número de pon-tos que ele precisará caso tenha que fazer a temida prova final. “O número de jovens com ideias brilhantes é algo fantástico. Há vagas em inúmeras empresas que estão se adaptando a essa

nova realidade, mas não só isso. O número de startups no mercado brasileiro cresce expo-nencialmente e os CEO’s dessas microempresas são os jovens, até mesmo estudantes”. Caique entende do que fala. Startups são micro e pequenas empresas em fase inicial de im-plantação e que atuam em um segmento específico. De acordo

Existem diversos vídeos de ‘como criar minha primeira aplicação’, então basta ter paciência e per-severança”. Além das ferramentas de criação, é necessário que o desenvolvedor tenha noções de usabilidade de dispositivos mó-veis e de maneiras de interação do usuário com o aplicativo.

Tendências “A miniaturização fará com que dispositivos como relógios, rou-pas e óculos inteligentes assu-mam papeis de protagonistas no cenário futuro de comunicação e informação”, é o que presume o pesquisador João Neto. Será um mundo onde as tecnologias mó-veis estarão ainda mais presentes na vida das pessoas e as ativi-dades poderão ser comandadas por aparelhos cada vez menores, mais leves e mais rápidos.Na opinião de Tairone, a tendên-cia será a sincronização. “Seu ce-lular vai estar conectado com sua TV, geladeira, relógio, etc., seja para realizar uma compra no su-permercado ou até para acender uma lâmpada da sua casa, mes-mo que você esteja a quilôme-tros de distância, tudo através do aparelho celular.” E, se depender desses jovens,é bem possível que esse futuro já esteja sendo criado na mesa de uma lanchonete e surja espontaneamente como em uma brincadeira entre amigos!

CRIATIVOS, ESPERTOS E EMPREENDEDORES: JOVENS DOMINAM MERCADO DE APLICATIVOS NO PAÍS Segmento de tecnologias móveis já é o terceiro

entre as startups; iniciantes comandam 55% delas

Informação qualificam o pro-fissional para trabalhar com a modelagem de sistemas e lhe possibilitam maior desenvoltura para lidar com as linguagens de programação. “Primeiramente é necessário estudar lógica de programação, que é a base de tudo. Posteriormente estudar alguma ferramenta de criação de um app. Hoje o mercado dis-ponibiliza vários. Os destaques vão para o PhoneGap (vários sistemas operacionais), Android Studio (Android) e Eclipse com SDK (Android)”, orientou Caique. A universidade tem buscado acompanhar as exigências do mercado, embora isso não seja uma tarefa fácil. “Infelizmente, os currículos dos cursos superiores são engessados e não tem como acompanhar a velocidade que a formação nos avanços tecnológi-cos exige. O mercado é muito rá-pido. No curso de Engenharia de Computação da UFRB contorna-mos esse problema ao oferecer aos nossos alunos uma série de disciplinas optativas que cobrem temas muito atuais, por exemplo, Criação de Jogos Digitais”, infor-mou João Neto. Há também mui-tas alternativas para que o jovem se aperfeiçoe de maneira autodi-data. De acordo com Tairone, “é preciso ir em busca de tutoriais e cursos de como fazer um apli-cativo e se jogar nos estudos.

Tairone Dias (à direita) participando de Maratona de Progra-mação com colegas do curso de Engenharia da Compu-tação.

Aplicativo Minhas

Notas indica o número de

pontos que o estudan-

te precisará caso tenha que fazer a

temida prova final.

Interface do aplicati-vo Barema, criado para contabilizar os pontos em ativida-des com-plementares dos univer-sitários.

Uilson Campos

4 5

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com o levantamento feito pela Associação Brasileira de Startups (AB Startups), 55% desses empre-endimentos são comandados por jovens entre 20 e 23 anos. “Nesse modelo de negócio, um grupo de pessoas tem uma ideia, elabo-ra, desenvolve e vende essa ideia. Em se tratando de jovens progra-madores, normalmente essa ideia é a criação de um aplicativo que será vendido para alguma loja ou empresa”, explicou Tairone. O se-tor de aplicações para dispositi-vos móveis ocupa a 3ª colocação entre as startups no Brasil, atrás apenas do segmento de redes sociais e de comércio eletrônico. O campo de atuação para os jovens desenvolvedores de apli-cações móveis é amplo. “O nú-mero de incubadoras é bastante expressivo e os incentivos para a inovação são muito grandes”, afirmou Neto. Há ainda a pos-sibilidade de trabalharem como autônomos, desenvolvendo seus aplicativos e vendendo-os. Para isso, basta possuírem um smar-tphone e um computador ou notebook.

“Se jogue nos estudos!”

Conhecimento no assunto é imprescindível para quem deseja desenvolver aplicativos. Embora não seja obrigatória a graduação, cursos na área de Tecnologia da

A ideia surgiu a partir de uma conversa entre amigos. Prestes a concluir a graduação e sem saber quantos pontos de ativida-des extracurriculares possuíam e de quanto precisavam para poderem se formar, o estudante Tairone Dias propôs uma solução para os colegas: “Vou criar um aplicativo pra resolver isso!”. A sugestão que começou como uma brincadeira entre amigos tornou-se realidade e Tairone desenvolveu o Barema, aplicati-vo que contabiliza os pontos em atividades complementares dos estudantes do Bacharelado em Ciências Exatas e Tecnológicas da UFRB. “A recepção foi ótima. Outras pessoas pediram também e acabei disponibilizando na loja da Google”, contou o estudante que pretende estender as funcio-nalidades do aplicativo para os demais cursos.

Mentes criativas

É com esse espírito inventivo e inovador que jovens como Tairo-ne estão se interessando por um mercado que cresce no mundo todo e já alcança lugar de desta-que no ramo da economia criati-va. De acordo com estimativas da Gartiner, empresa de pesquisas em tecnologia, o segmento de aplicativos para celulares movi

mentou em torno de 60 bilhões de dólares em 2014. Ocupando a 11ª colocação entre os países mais lucrativos do setor, os in-vestidores acreditam que o Brasil tem um amplo espaço para cres-cer no segmento.João Neto, professor de Enge-nharia da Computação da UFRB, pesquisador na área e orientador de diversos projetos de aplicati-vos, explicou os motivos que têm provocado o crescimento desse setor. “Um dos fatores do suces-so dessas ferramentas é a mobili-dade. O usuário agora consegue (teoricamente), a partir de todo lugar, acessar informações e usar serviços eletrônicos. Outro fator é uma questão psicológica: esta-mos cada vez mais dependentes e consumidores de informações (se for em tempo real, melhor ainda) e os dispositivos móveis podem suprir essa necessidade de manter-nos ocupados e co-nectados”.

Aptidão empreendedora

Mas não é apenas a criatividade dos programadores iniciantes que irá garantir o sucesso no mercado de tecnologia móvel. Diante desse cenário promissor, a carreira de desenvolvedor de aplicativos exige dos jovens tam-bém uma aptidão empreendedo

ra. É o que afirma Caique Jho-nes, estudante de Engenharia da Computação e criador do Minhas Notas, aplicativo que calcula a média dos estudantes universitá-rios e indica o número de pon-tos que ele precisará caso tenha que fazer a temida prova final. “O número de jovens com ideias brilhantes é algo fantástico. Há vagas em inúmeras empresas que estão se adaptando a essa

nova realidade, mas não só isso. O número de startups no mercado brasileiro cresce expo-nencialmente e os CEO’s dessas microempresas são os jovens, até mesmo estudantes”. Caique entende do que fala. Startups são micro e pequenas empresas em fase inicial de im-plantação e que atuam em um segmento específico. De acordo

Existem diversos vídeos de ‘como criar minha primeira aplicação’, então basta ter paciência e per-severança”. Além das ferramentas de criação, é necessário que o desenvolvedor tenha noções de usabilidade de dispositivos mó-veis e de maneiras de interação do usuário com o aplicativo.

Tendências “A miniaturização fará com que dispositivos como relógios, rou-pas e óculos inteligentes assu-mam papeis de protagonistas no cenário futuro de comunicação e informação”, é o que presume o pesquisador João Neto. Será um mundo onde as tecnologias mó-veis estarão ainda mais presentes na vida das pessoas e as ativi-dades poderão ser comandadas por aparelhos cada vez menores, mais leves e mais rápidos.Na opinião de Tairone, a tendên-cia será a sincronização. “Seu ce-lular vai estar conectado com sua TV, geladeira, relógio, etc., seja para realizar uma compra no su-permercado ou até para acender uma lâmpada da sua casa, mes-mo que você esteja a quilôme-tros de distância, tudo através do aparelho celular.” E, se depender desses jovens,é bem possível que esse futuro já esteja sendo criado na mesa de uma lanchonete e surja espontaneamente como em uma brincadeira entre amigos!

CRIATIVOS, ESPERTOS E EMPREENDEDORES: JOVENS DOMINAM MERCADO DE APLICATIVOS NO PAÍS Segmento de tecnologias móveis já é o terceiro

entre as startups; iniciantes comandam 55% delas

Informação qualificam o pro-fissional para trabalhar com a modelagem de sistemas e lhe possibilitam maior desenvoltura para lidar com as linguagens de programação. “Primeiramente é necessário estudar lógica de programação, que é a base de tudo. Posteriormente estudar alguma ferramenta de criação de um app. Hoje o mercado dis-ponibiliza vários. Os destaques vão para o PhoneGap (vários sistemas operacionais), Android Studio (Android) e Eclipse com SDK (Android)”, orientou Caique. A universidade tem buscado acompanhar as exigências do mercado, embora isso não seja uma tarefa fácil. “Infelizmente, os currículos dos cursos superiores são engessados e não tem como acompanhar a velocidade que a formação nos avanços tecnológi-cos exige. O mercado é muito rá-pido. No curso de Engenharia de Computação da UFRB contorna-mos esse problema ao oferecer aos nossos alunos uma série de disciplinas optativas que cobrem temas muito atuais, por exemplo, Criação de Jogos Digitais”, infor-mou João Neto. Há também mui-tas alternativas para que o jovem se aperfeiçoe de maneira autodi-data. De acordo com Tairone, “é preciso ir em busca de tutoriais e cursos de como fazer um apli-cativo e se jogar nos estudos.

Tairone Dias (à direita) participando de Maratona de Progra-mação com colegas do curso de Engenharia da Compu-tação.

Aplicativo Minhas

Notas indica o número de

pontos que o estudan-

te precisará caso tenha que fazer a

temida prova final.

Interface do aplicati-vo Barema, criado para contabilizar os pontos em ativida-des com-plementares dos univer-sitários.

Uilson Campos

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Tairone Dias(à direita)participandode Maratonade Programaçãocom colegas do curso de Engenhariada Computação

FOTO: LAERTE SANTANAFOTO: DIVULGAÇÃO RECONBITS

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SELFIE A EXPRESSÃO DO

NARCISISMO MODERNOO uso de recursos tecno-lógicos como ferramenta de aprimoramento para a educação tem promovido o desenvolvimento socio-educativo. A construção do conhecimento aliado à tecnologia educacional proporciona o enriqueci-mento do espaço de ensi-no e aprendizagem.A influência de informa-ções através de meios tec-nológicos nesse processo, garante aos estudantes e professores uma atuação ativa, crítica e criativa. É o que avaliou o diretor do Colégio Simonton, Ge-valdo Simões Santos, em Cachoeira. “A influência está em trazer o estudante para um ambiente mais instigante e interessante para o aprendizado. A tec-nologia da informação já faz parte do dia a dia das pessoas. As nossas crian-ças e adolescentes estão acostumados com smar-tphones, tablets, internet, redes sociais, dispositivos móveis que facilitam a troca de informações.”Considerada como a se-gunda casa, a escola, junto a seu corpo docente tem o dever de formar no estudante a consciência da cidadania. Quão inten-samente, as ferramentas tecnológicas podem ser um meio excelente de exercício da condição de cidadão, como veículos de

transformação do desen-volvimento de sujeitos digitais. “A escola, sem dúvida, é o melhor espaço para ensinarmos nossos jovens a fazer uso respon-sável das tecnologias da informação, utilizando-as para o bem comum”. Con-cluiu Gevaldo Santos.

Educação interacionista

O Colégio Simonton tem uma proposta pedagógica sócio-interacionista, tendo como objetivo fortalecer no indivíduo/cidadão a construção dos conhe-cimentos adquiridos no decorrer da história e a transformar as realidades sociais, buscando conquis-tar condições de aprendi-zagem que proporcionam meios de prosseguir na descoberta de novos co-nhecimentos.Os recursos tecnológicos usados na escola procura extrair o máximo de apoio das ferramentas digitais na prática educacional. Salas com projetores multimídia,

lousa digital, sala de ro-bótica educacional, portal AVA, e redes sociais como meio de interação com os estudantes são exemplos da interatividade tecno-lógica organizada pelo colégio.

Robótica educacional

Um grande aparato que pode trazer inúmeros benefícios sociais e educa-cionais é a computação ci-bernética. Incorporá-la aos processos pedagógicos é o que podemos chamar de robótica educacional. Essa dinâmica inovadora, integrada ao ambiente escolar provoca e desper-ta no aluno a imaginação, a intuição e a emoção. Além de aprendizagens mais significativas, senso de organização, lideran-ça e uma grande possi-bilidade de desenvolver estratégias de trabalho em grupo, como: cooperação, planejamento, pesquisa, estratégia, ações, metas e decisões.Através do diálogo e

da construção do senso comum, os alunos são despertados a transformar kits de motores e sensores em tudo o que a imagina-ção permitir. O professor responsável pelo labora-tório de robótica do colé-gio, Luiz Junior, explicou o funcionamento de sua aula. “O laboratório é um espaço com toda estrutura para realizar projetos. Com a computação para orien-tar a teoria dos projetos e as maletas com todas as peças, os alunos desenvol-vem as habilidades indivi-duais e coletivas”. O uso de computadores, celulares e notebooks, além dos equipamentos exclusivos da robótica, como as maletas EV3, peças mecânicas e equi-pamentos eletrônicos, auxiliam no desenvolvi-mento dos alunos quando eles percebem a função de cada elemento. Possi-bilitando a evolução dos sentidos de forma ativa, ao modo com que apren-dem com a robótica.

Quem de nós nunca tirou uma Selfie? A palavra de ordem nas redes sociais, que já chegou a ser incluída no renomado Dicionário Oxford, pode ser traduzida como uma “fotografia que alguém tira de si mesmo, geralmente com um smar-tphone ou câmera digital, quase sempre no intuito de divulgá-la em uma rede social”. O termo é um es-trangeirismo recente para denominar o nosso velho conhecido autorretrato. A popularização do uso dessa expressão e a pro-pagação da prática de fazer selfies têm provoca-do discussões e levantado questionamentos sobre os limites da exposição da vida privada na internet e, principalmente, acerca de um alarmante culto ao ego cada vez mais semeado na web. Os avanços tecnológi-cos sempre trouxeram con-sigo novas ferramentas que contribuem para que as pessoas se auto admirem; atualmente, o exercício do autorretrato se resume cada vez mais a alcançar-mos a glória de sermos nossos próprios paparazzi.À fotografia deve-se indis-cutível relevância social e histórica. Os registros que eternizaram e continuarão

eternizando alguns dos momentos importantes da humanidade nos permitem entender nossa história e nos ajudam a contá-la para as gerações futuras. Por conta das mudanças que os rumos da fotografia têm tomado na sociedade moderna, há quem critique as novas formas de utiliza-ção desse recurso. Se antes se registravam os grandes feitos, os momentos, os lugares e as pessoas espe-ciais, agora são registrados os diversos ângulos de uma mesma face em ambientes aleatórios, em prol de uma autopromoção por vezes inconsciente; bem-vindos a era da selfie!As plataformas digitais nos permitem – diferentemente do que ocorre na vida real – disseminar nossa imagem de forma excepcionalmente rápida, além de viabilizarem uma significativa maleabi-lidade nas formas de apre-sentação da nossa figura. Eventualmente, as repre-sentações de quem somos em nossas redes sociais são capazes de nos causar a fal-sa impressão de que existe um controle maior sobre nossa imagem, quando na verdade acabam por tornar--se facilitadoras potenciais da perda do controle do al-

cance dessa nova forma de publicidade pessoal. Diante dessa realidade, alguns especialistas já chamam a atenção para possíveis consequências negativas dessa prática aparentemen-te inocente.Para alguns indivíduos, tanta exposição pode ter um preço, que em casos mais extremos pode incluir transtornos de personalida-de, traços de agressividade e reclusão. O vício pela busca constante de apro-vação tem transmutado o homem moderno num manequim de si mesmo, cada vez mais disposto a colocar-se voluntariamente em qualquer que seja a vi-trine eminentemente nar-cisista da vez; o importante é ser “curtido” (e muito)! Pesquisas recentes indicam que a grande maioria das pessoas que dedicam parte do seu tempo apenas para tirar autorretratos, dão bastante importância aos comentários do “público” e passam a se preocupar em demasiado com a opinião – transformada em likes – alheia; comportamentos que com o tempo podem gerar falta de confiança e pensamentos negativos sobre si mesmos. Salvo a necessidade moderna

da autopromoção, deve--se considerar que esse fenômeno global também pode estar diretamente relacionado à facilidade de se tirar esse tipo de foto-grafia, proporcionada pela era dos smartphones e pela agilidade de se divulgar as imagens nas redes sociais. Logo, as razões por trás da febre da selfie também podem estar diretamente relacionadas ao próprio mecanismo que nos induz ao exibicionismo. Ou con-siderar tal possibilidade não passa de uma tentativa de atenuar o fato de que sempre fomos essencial-mente exibicionistas? Efeti-vamente, acredito que não há nada de errado com a selfie. É inelutável, no curso de uma sociedade cada vez mais conectada, preservar--se completamente alheio aos novos aspectos da modernidade. As contrain-dicações em torno dessas formas de expressão estão, assim como nos medica-mentos mais “inofensivos”, nas doses indiscriminadas, insipientes e irrefletidas de uma prática que é quase tão velha quanto andar para frente: alimentar nosso ego através da autoadmi-ração (favor não confundir com o amor próprio).

O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO Alunos do colégio Simonton tem formação

integrada a tecnologia acessível e educacional

EDITORIAL

ANNA CAROLINE ANJOSEstudante de Comunicação Social - Jornalismo na Universidade

Federal do Recôncavo da Bahia

Laerte Santana

6 7FOTOS: LAERTE SANTANA

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SELFIE A EXPRESSÃO DO

NARCISISMO MODERNOO uso de recursos tecno-lógicos como ferramenta de aprimoramento para a educação tem promovido o desenvolvimento socio-educativo. A construção do conhecimento aliado à tecnologia educacional proporciona o enriqueci-mento do espaço de ensi-no e aprendizagem.A influência de informa-ções através de meios tec-nológicos nesse processo, garante aos estudantes e professores uma atuação ativa, crítica e criativa. É o que avaliou o diretor do Colégio Simonton, Ge-valdo Simões Santos, em Cachoeira. “A influência está em trazer o estudante para um ambiente mais instigante e interessante para o aprendizado. A tec-nologia da informação já faz parte do dia a dia das pessoas. As nossas crian-ças e adolescentes estão acostumados com smar-tphones, tablets, internet, redes sociais, dispositivos móveis que facilitam a troca de informações.”Considerada como a se-gunda casa, a escola, junto a seu corpo docente tem o dever de formar no estudante a consciência da cidadania. Quão inten-samente, as ferramentas tecnológicas podem ser um meio excelente de exercício da condição de cidadão, como veículos de

transformação do desen-volvimento de sujeitos digitais. “A escola, sem dúvida, é o melhor espaço para ensinarmos nossos jovens a fazer uso respon-sável das tecnologias da informação, utilizando-as para o bem comum”. Con-cluiu Gevaldo Santos.

Educação interacionista

O Colégio Simonton tem uma proposta pedagógica sócio-interacionista, tendo como objetivo fortalecer no indivíduo/cidadão a construção dos conhe-cimentos adquiridos no decorrer da história e a transformar as realidades sociais, buscando conquis-tar condições de aprendi-zagem que proporcionam meios de prosseguir na descoberta de novos co-nhecimentos.Os recursos tecnológicos usados na escola procura extrair o máximo de apoio das ferramentas digitais na prática educacional. Salas com projetores multimídia,

lousa digital, sala de ro-bótica educacional, portal AVA, e redes sociais como meio de interação com os estudantes são exemplos da interatividade tecno-lógica organizada pelo colégio.

Robótica educacional

Um grande aparato que pode trazer inúmeros benefícios sociais e educa-cionais é a computação ci-bernética. Incorporá-la aos processos pedagógicos é o que podemos chamar de robótica educacional. Essa dinâmica inovadora, integrada ao ambiente escolar provoca e desper-ta no aluno a imaginação, a intuição e a emoção. Além de aprendizagens mais significativas, senso de organização, lideran-ça e uma grande possi-bilidade de desenvolver estratégias de trabalho em grupo, como: cooperação, planejamento, pesquisa, estratégia, ações, metas e decisões.Através do diálogo e

da construção do senso comum, os alunos são despertados a transformar kits de motores e sensores em tudo o que a imagina-ção permitir. O professor responsável pelo labora-tório de robótica do colé-gio, Luiz Junior, explicou o funcionamento de sua aula. “O laboratório é um espaço com toda estrutura para realizar projetos. Com a computação para orien-tar a teoria dos projetos e as maletas com todas as peças, os alunos desenvol-vem as habilidades indivi-duais e coletivas”. O uso de computadores, celulares e notebooks, além dos equipamentos exclusivos da robótica, como as maletas EV3, peças mecânicas e equi-pamentos eletrônicos, auxiliam no desenvolvi-mento dos alunos quando eles percebem a função de cada elemento. Possi-bilitando a evolução dos sentidos de forma ativa, ao modo com que apren-dem com a robótica.

Quem de nós nunca tirou uma Selfie? A palavra de ordem nas redes sociais, que já chegou a ser incluída no renomado Dicionário Oxford, pode ser traduzida como uma “fotografia que alguém tira de si mesmo, geralmente com um smar-tphone ou câmera digital, quase sempre no intuito de divulgá-la em uma rede social”. O termo é um es-trangeirismo recente para denominar o nosso velho conhecido autorretrato. A popularização do uso dessa expressão e a pro-pagação da prática de fazer selfies têm provoca-do discussões e levantado questionamentos sobre os limites da exposição da vida privada na internet e, principalmente, acerca de um alarmante culto ao ego cada vez mais semeado na web. Os avanços tecnológi-cos sempre trouxeram con-sigo novas ferramentas que contribuem para que as pessoas se auto admirem; atualmente, o exercício do autorretrato se resume cada vez mais a alcançar-mos a glória de sermos nossos próprios paparazzi.À fotografia deve-se indis-cutível relevância social e histórica. Os registros que eternizaram e continuarão

eternizando alguns dos momentos importantes da humanidade nos permitem entender nossa história e nos ajudam a contá-la para as gerações futuras. Por conta das mudanças que os rumos da fotografia têm tomado na sociedade moderna, há quem critique as novas formas de utiliza-ção desse recurso. Se antes se registravam os grandes feitos, os momentos, os lugares e as pessoas espe-ciais, agora são registrados os diversos ângulos de uma mesma face em ambientes aleatórios, em prol de uma autopromoção por vezes inconsciente; bem-vindos a era da selfie!As plataformas digitais nos permitem – diferentemente do que ocorre na vida real – disseminar nossa imagem de forma excepcionalmente rápida, além de viabilizarem uma significativa maleabi-lidade nas formas de apre-sentação da nossa figura. Eventualmente, as repre-sentações de quem somos em nossas redes sociais são capazes de nos causar a fal-sa impressão de que existe um controle maior sobre nossa imagem, quando na verdade acabam por tornar--se facilitadoras potenciais da perda do controle do al-

cance dessa nova forma de publicidade pessoal. Diante dessa realidade, alguns especialistas já chamam a atenção para possíveis consequências negativas dessa prática aparentemen-te inocente.Para alguns indivíduos, tanta exposição pode ter um preço, que em casos mais extremos pode incluir transtornos de personalida-de, traços de agressividade e reclusão. O vício pela busca constante de apro-vação tem transmutado o homem moderno num manequim de si mesmo, cada vez mais disposto a colocar-se voluntariamente em qualquer que seja a vi-trine eminentemente nar-cisista da vez; o importante é ser “curtido” (e muito)! Pesquisas recentes indicam que a grande maioria das pessoas que dedicam parte do seu tempo apenas para tirar autorretratos, dão bastante importância aos comentários do “público” e passam a se preocupar em demasiado com a opinião – transformada em likes – alheia; comportamentos que com o tempo podem gerar falta de confiança e pensamentos negativos sobre si mesmos. Salvo a necessidade moderna

da autopromoção, deve--se considerar que esse fenômeno global também pode estar diretamente relacionado à facilidade de se tirar esse tipo de foto-grafia, proporcionada pela era dos smartphones e pela agilidade de se divulgar as imagens nas redes sociais. Logo, as razões por trás da febre da selfie também podem estar diretamente relacionadas ao próprio mecanismo que nos induz ao exibicionismo. Ou con-siderar tal possibilidade não passa de uma tentativa de atenuar o fato de que sempre fomos essencial-mente exibicionistas? Efeti-vamente, acredito que não há nada de errado com a selfie. É inelutável, no curso de uma sociedade cada vez mais conectada, preservar--se completamente alheio aos novos aspectos da modernidade. As contrain-dicações em torno dessas formas de expressão estão, assim como nos medica-mentos mais “inofensivos”, nas doses indiscriminadas, insipientes e irrefletidas de uma prática que é quase tão velha quanto andar para frente: alimentar nosso ego através da autoadmi-ração (favor não confundir com o amor próprio).

O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO Alunos do colégio Simonton tem formação

integrada a tecnologia acessível e educacional

EDITORIAL

ANNA CAROLINE ANJOSEstudante de Comunicação Social - Jornalismo na Universidade

Federal do Recôncavo da Bahia

Laerte Santana

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FOTO

: MUR

ILO

SAN

TAN

A

Page 8: Reverso 89 revista manchat

Há não muito tempo atrás, os jo-vens conviviam em turma, ao vivo, estavam sempre alegres, ninguém tinha grana e nem carro e, no en-tanto, festejavam a amizade, o amor, a vida. Os guris atravessavam a cidade pra fazer serenatas. Não se ouvia falar em drogas, depressão, criminalidade. Hoje, o que mais se tem visto, são jovens marcando encontros pela internet, vão para baladas e, normalmente, voltam bêbados. Fazem sexo e vários deles, no dia seguinte, nem se lembram o que fizeram e nem com quem: é o tal do ficar!Afonso Figueiredo, professor univer-sitário, disse: “os jovens de ontem eram mais acomodados, éramos mais obedientes do que os jovens de hoje. Obedecíamos nossos pais, tínhamos regras para cumprir. As brincadeiras eram feitas na porta de casa, na rua: pic-esconde, pula--corda e quando não tinha ninguém pra brincar ficava em casa jogando super-nintendo. Quando o assunto era sexo, mesmo já na década de

90, o meio em que vivi ainda não tratava muito sobre esse assunto, os jovens só iam saber o que era o sexo depois do casamento, porque éramos obrigados a se relacionar com nossas parceiras”.

O que pensam os jovens de hoje

Antigamente, eram poucos os ado-lescentes que tinham um computa-dor em casa, raro eram aqueles que possuíam acesso à internet e com o avanço da tecnologia, tudo mudou, tanto que um adolescente que não possui um celular, ou mesmo conta no Twitter ou Facebook é conside-rado anormal, um anti-social e se a pessoa não adere a essas modas, automaticamente, é excluída.Bruno Figueiredo, 16, aluno do último ano do ensino médio, disse: “eu tenho Facebook, Instagram e What’s app instalados no meu celu-lar e tenho vários seguidores, alguns eu conheço, são meus amigos da escola, outros nem sei onde moram, mas tudo é só pra ter um número de seguidores para curtir ou comen-tar minhas postagens e isso aguça o meu ego e, de certa forma, me faz bem”.Um dos motivos da insatisfação dos jovens está na falta de segurança sobre o que querem para suas vidas, por não receberem, por vezes, as orientações necessárias em casa.Cada geração de jovens têm seus próprios interesses, gostos e tipos de atitudes que os caracterizam, e isso costuma variar de acordo com a geração em virtude do contexto social e cultural de determinada época.

Os jovens nas escolas

Há que se considerar que a esco-la representa uma extensão em se tratando da rotina cotidiana dos educandos. E assim como no am-biente familiar, eles tendem a ma-nifestar suas atitudes, sejam estas concebidas de forma negativa ou positiva. “O que hoje presenciamos na maioria dos ambientes escolares são jovens agressivos e autoritários por excelência”, disse Tainá Figuei-redo, 19, estudante do segundo ano de Direito.A Educação sempre serviu para tornar os jovens mais conhecedo-res de si mesmos, e se remontar-mos a tempos atrás, veremos, em sua maioria, uma juventude menos exigente, em todos os sentidos. “O percurso para a escola normalmente era feito a pé. Não havia a facilidade de acesso a livros, a não ser os didá-ticos, muito menos existia internet”. disse Fátima Figueiredo, 34, profes-sora universitária.O estudo se fazia sem ajuda de computador: lápis e caneta, ques-tões abertas nas tarefas e nas provas, estas incluindo as famo-sas provas orais. E não adiantava reclamar, “meus pais não admitiam reclamações e colocavam-se sempre ao lado dos mestres apoiando-os nas orientações pedagógicas. E isso forjava adultos mais responsáveis e, talvez, mais felizes”, finalizou Fátima.Sarah Cardoso, 34, assistente social e pesquisadora da área Educacional, destacou que “hoje a evasão escolar é enorme, tanto que se vê a gra-mática do absurdo utilizada pelos jovens, é de chorar! E o nosso país será administrado por essa geração, em sua maioria quase inculta e sem compromisso”.

JOVENS: ONTEM E HOJEFacebook ou Video-Game? Instagram ou Pic-esconde? What’s app ou Pula-corda? Qual a diferença dos jovens de ontem para os jovens de hoje?

Francisco Guedes

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Page 9: Reverso 89 revista manchat

Há não muito tempo atrás, os jo-vens conviviam em turma, ao vivo, estavam sempre alegres, ninguém tinha grana e nem carro e, no en-tanto, festejavam a amizade, o amor, a vida. Os guris atravessavam a cidade pra fazer serenatas. Não se ouvia falar em drogas, depressão, criminalidade. Hoje, o que mais se tem visto, são jovens marcando encontros pela internet, vão para baladas e, normalmente, voltam bêbados. Fazem sexo e vários deles, no dia seguinte, nem se lembram o que fizeram e nem com quem: é o tal do ficar!Afonso Figueiredo, professor univer-sitário, disse: “os jovens de ontem eram mais acomodados, éramos mais obedientes do que os jovens de hoje. Obedecíamos nossos pais, tínhamos regras para cumprir. As brincadeiras eram feitas na porta de casa, na rua: pic-esconde, pula--corda e quando não tinha ninguém pra brincar ficava em casa jogando super-nintendo. Quando o assunto era sexo, mesmo já na década de

90, o meio em que vivi ainda não tratava muito sobre esse assunto, os jovens só iam saber o que era o sexo depois do casamento, porque éramos obrigados a se relacionar com nossas parceiras”.

O que pensam os jovens de hoje

Antigamente, eram poucos os ado-lescentes que tinham um computa-dor em casa, raro eram aqueles que possuíam acesso à internet e com o avanço da tecnologia, tudo mudou, tanto que um adolescente que não possui um celular, ou mesmo conta no Twitter ou Facebook é conside-rado anormal, um anti-social e se a pessoa não adere a essas modas, automaticamente, é excluída.Bruno Figueiredo, 16, aluno do último ano do ensino médio, disse: “eu tenho Facebook, Instagram e What’s app instalados no meu celu-lar e tenho vários seguidores, alguns eu conheço, são meus amigos da escola, outros nem sei onde moram, mas tudo é só pra ter um número de seguidores para curtir ou comen-tar minhas postagens e isso aguça o meu ego e, de certa forma, me faz bem”.Um dos motivos da insatisfação dos jovens está na falta de segurança sobre o que querem para suas vidas, por não receberem, por vezes, as orientações necessárias em casa.Cada geração de jovens têm seus próprios interesses, gostos e tipos de atitudes que os caracterizam, e isso costuma variar de acordo com a geração em virtude do contexto social e cultural de determinada época.

Os jovens nas escolas

Há que se considerar que a esco-la representa uma extensão em se tratando da rotina cotidiana dos educandos. E assim como no am-biente familiar, eles tendem a ma-nifestar suas atitudes, sejam estas concebidas de forma negativa ou positiva. “O que hoje presenciamos na maioria dos ambientes escolares são jovens agressivos e autoritários por excelência”, disse Tainá Figuei-redo, 19, estudante do segundo ano de Direito.A Educação sempre serviu para tornar os jovens mais conhecedo-res de si mesmos, e se remontar-mos a tempos atrás, veremos, em sua maioria, uma juventude menos exigente, em todos os sentidos. “O percurso para a escola normalmente era feito a pé. Não havia a facilidade de acesso a livros, a não ser os didá-ticos, muito menos existia internet”. disse Fátima Figueiredo, 34, profes-sora universitária.O estudo se fazia sem ajuda de computador: lápis e caneta, ques-tões abertas nas tarefas e nas provas, estas incluindo as famo-sas provas orais. E não adiantava reclamar, “meus pais não admitiam reclamações e colocavam-se sempre ao lado dos mestres apoiando-os nas orientações pedagógicas. E isso forjava adultos mais responsáveis e, talvez, mais felizes”, finalizou Fátima.Sarah Cardoso, 34, assistente social e pesquisadora da área Educacional, destacou que “hoje a evasão escolar é enorme, tanto que se vê a gra-mática do absurdo utilizada pelos jovens, é de chorar! E o nosso país será administrado por essa geração, em sua maioria quase inculta e sem compromisso”.

JOVENS: ONTEM E HOJEFacebook ou Video-Game? Instagram ou Pic-esconde? What’s app ou Pula-corda? Qual a diferença dos jovens de ontem para os jovens de hoje?

Francisco Guedes

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MANCHAT: A tecnologia tem im-pactado todos os setores da socie-dade, como produtos, serviços e informatização. As novas formas de se comunicar tem mudado a estru-tura social e de como as pessoas se relacionam umas com as outras. De que maneira a tecnologia afeta o comportamento das pessoas?

J.F: O acesso mais facilitado à infor-mação pode contribuir para uma maior inserção social. Se há uma série de ganhos com o advento das novas tecnologias, por outro lado há alguns problemas que elas podem trazer. É comum ouvir dizer que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto Este parece ser um problema. Não só os jovens, mas como também as pessoas em geral, comunicam-se mais via in-ternet ou telefonia móvel e deixam de conviver de forma real. Há assim uma perda na interação pessoal que afeta de alguma forma as relações e o desenvolvimento de habilidades nas relações interpessoais.

MANCHAT: Por que a tecnologia vicia?

J.F: A dependência das novas tec-nologias, assim como as outras dependências, é multifatorial. Assim podem estar presentes a solidão, depressão, fobias, baixa autoestima, necessidade de pertencimento, etc... Nas últimas décadas, principalmente nos grandes centros, o estilo de vida contribui de forma significativa para o adoecimento mental. A busca de informação aliada à competitividade pode levar ao uso abusivo destes meios. Como me referi, é uma ques-tão multifatorial e particular para cada indivíduo.

MANCHAT: As novas tecnologias já começam a alterar o comportamen-to da sociedade. A maneira como os jovens se relacionam com os avan-ços modernos é prejudicial à saúde? Quais os riscos e benefícios que isso pode trazer?

J.F: A tecnologia, no caso, a internet e o telefone móvel, têm contribuído

muito para o desenvolvimento em todas as áreas. A facilidade de aces-so a informações e conhecimento, é, sem dúvida, um ganho enorme e em especial para a educação.Entretanto em alguns casos, quando há excesso no uso destas tecnolo-gias, podem ocorrer problemas de saúde e, principalmente, na área de saúde mental. Assim não é raro en-contrar pessoas que deixam de lado atividades importantes por conta do uso excessivo dela.Algumas pessoas têm, com a inter-net e telefonia celular, um compor-tamento compulsivo comparável ao de outras adições. O termo adicto designa alguém que tem alguma dependência, já adição designa a doença. A adição é caracterizada por comportamentos obsessivos e compulsivos em relação ao objeto de desejo. A obsessão está ligada ao pensa-mento (ideia fixa de), já a compulsão ao comportamento (começa e tem dificuldade em parar). Exemplos destas adições

estão relacionados aos jogos, co-mida, sexo, compras e trabalho. Recentemente as novas tecnologias começaram a fazer parte destas adições sociais. Não cabe aqui a extinção do comportamento, o que vale também, em analogia, para comida, sexo, compras e trabalho. Seria um erro buscar isso, mas é desejável buscar desenvolver fer-ramentas para que a pessoa con-siga lidar da forma mais saudável possível com estas atividades. Por conta de uma demanda cada vez maior foram criados alguns serviços de assistência a pessoas que têm problemas com estas novas tecno-logias. Basicamente esta assistência de saúde é prestada por psicólogos e psiquiatras. Em casos mais graves é necessário internação.

MANCHAT: A tecnologia (compu-tadores e dispositivos móveis) de-sestimula a leitura de livros?

J.F: Sim, de alguma forma o acesso à informação virtual afasta não só a leitura de livros como a de jornaisimpressos. Porém, com o advento-dos e-books, jornais online, blogs, entre outros, em termos de infor-mação, talvez estejam em curso uma nova relação com a leitura, não necessariamente impressa. Observo que alguns pacientes, estudantes, complementam o método de estu-do com vídeos, principalmente, do YouTube.

MANCHAT: Para os pais, como eles

alguns anos se brincava no meio da rua onde se morava. Com frequência a rua virava campinho de fute-bol, pista de carrinho de rolimã, etc... Hoje a rua é ambiente de risco. Com isso, as crianças per-dem espaços preciosos para o seu desenvolvimento e ficam cada vez mais confinados em apartamen-tos e playground, se fizerem parte de uma classe mais favorecida. No caso das classes menos favorecidas, moradas geralmente das periferias, onde a violência é maior, os espa-ços disponíveis são ainda menores. Sem ter onde gastar toda a energia que têm com o brincar, não por acaso, penso eu, nunca se falou tanto na hiperatividade das crianças. Por conta deste contexto as novas gerações são meio que forçadas a buscar diversão em espaços mais restritos, geralmente num ambiente protegido que é a própria casa. É aí que entram os jogos eletrônicos, a internet e as novas tecnologias. Ouvie não me lembro de onde, que: “somos pais analógicos de filhos digitais”.

MANCHAT: É possível viver sem tecnologia?

J.F:Penso que nos dias atuais seria impossível. Tudo, ou quase tudo, é controlado pelas novas tecnologias. Porém, sugiro experimentar algum tempo sem essas tecnologias, per-ceber-se, é riquíssimo.

podem utilizar a tecnologia como uma aliada na educação dos filhos?

J.F: O papel dos pais é importan-tíssimo para auxiliar no uso destas novas tecnologias. É necessário perceber que na internet escon-dem-se muitos perigos e é função dos pais orientar eproteger os filhos de possíveis riscos. O próprio uso abusivo deve ser observado, como cuidado à saúde. Estimular a busca de conhecimento é importante e faz parte hoje do ensino. A internet é uma fonte de pesquisa riquíssima e não deve ser desprezada. Assim, usá-la como complemento auxiliar da educação, pode ser útil.

MANCHAT: Como a escola poderia usar melhor a tecnologia?

J.F: Se falarmos do ensino público, básico e médio, penso que o uso de novas tecnologias ainda está longe da realidade da maioria. O incentivo do uso da internet, principalmente, como meio de busca de conheci-mento/pesquisa pode ser fundamental para formação dos jovens.

MANCHAT: É possível fazer uma relação do comportamento dos jovens de uma geração onde não tinha todos esses recursos tecno-lógicos e dessa nova geração que já nasceu em meio aos avanços da tecnologia?

J.F: Os contextos são diferentes. Há

JORGE FILIPE ALVES HENRIQUES É GRADUADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – SALVADOR (2009). EN-GAJADO EM PRÁTICAS SOCIAIS, O PSICÓLOGO É ESPECIALIZADO EM PSICOLOGIA E AÇÃO SOCIAL (2010). COLABORAÇÃO E PARTICIPA-

ÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE HIV/AIDS, USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, POPULAÇÕES EXCLUÍDAS E ATUA-ÇÃO CLÍNICA COM ÊNFASE NESTAS ÁREAS. NA ENTREVISTA,JORGE FILIPE EXPLICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE;

COMPORTAMENTOS E ADIÇÕES SOCIAISNO ÂMBITO COMPULSIVO E OBSESSIVO;CONTRIBUIÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM ETC.

DIGITAIS DE FILHOS

SOMOS PAIS ANALÓGICOS

JORGE FILIPE ALVESMANCHAT ENTREVISTA

11

Laerte Santana

MANCHAT: A tecnologia tem im-pactado todos os setores da socie-dade, como produtos, serviços e informatização. As novas formas de se comunicar tem mudado a estru-tura social e de como as pessoas se relacionam umas com as outras. De que maneira a tecnologia afeta o comportamento das pessoas?

J.F: O acesso mais facilitado à infor-mação pode contribuir para uma maior inserção social. Se há uma série de ganhos com o advento das novas tecnologias, por outro lado há alguns problemas que elas podem trazer. É comum ouvir dizer que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto Este parece ser um problema. Não só os jovens, mas como também as pessoas em geral, comunicam-se mais via in-ternet ou telefonia móvel e deixam de conviver de forma real. Há assim uma perda na interação pessoal que afeta de alguma forma as relações e o desenvolvimento de habilidades nas relações interpessoais.

MANCHAT: Por que a tecnologia vicia?

J.F: A dependência das novas tec-nologias, assim como as outras dependências, é multifatorial. Assim podem estar presentes a solidão, depressão, fobias, baixa autoestima, necessidade de pertencimento, etc... Nas últimas décadas, principalmente nos grandes centros, o estilo de vida contribui de forma significativa para o adoecimento mental. A busca de informação aliada à competitividade pode levar ao uso abusivo destes meios. Como me referi, é uma ques-tão multifatorial e particular para cada indivíduo.

MANCHAT: As novas tecnologias já começam a alterar o comportamen-to da sociedade. A maneira como os jovens se relacionam com os avan-ços modernos é prejudicial à saúde? Quais os riscos e benefícios que isso pode trazer?

J.F: A tecnologia, no caso, a internet e o telefone móvel, têm contribuído

muito para o desenvolvimento em todas as áreas. A facilidade de aces-so a informações e conhecimento, é, sem dúvida, um ganho enorme e em especial para a educação.Entretanto em alguns casos, quando há excesso no uso destas tecnolo-gias, podem ocorrer problemas de saúde e, principalmente, na área de saúde mental. Assim não é raro en-contrar pessoas que deixam de lado atividades importantes por conta do uso excessivo dela.Algumas pessoas têm, com a inter-net e telefonia celular, um compor-tamento compulsivo comparável ao de outras adições. O termo adicto designa alguém que tem alguma dependência, já adição designa a doença. A adição é caracterizada por comportamentos obsessivos e compulsivos em relação ao objeto de desejo. A obsessão está ligada ao pensa-mento (ideia fixa de), já a compulsão ao comportamento (começa e tem dificuldade em parar). Exemplos destas adições

estão relacionados aos jogos, co-mida, sexo, compras e trabalho. Recentemente as novas tecnologias começaram a fazer parte destas adições sociais. Não cabe aqui a extinção do comportamento, o que vale também, em analogia, para comida, sexo, compras e trabalho. Seria um erro buscar isso, mas é desejável buscar desenvolver fer-ramentas para que a pessoa con-siga lidar da forma mais saudável possível com estas atividades. Por conta de uma demanda cada vez maior foram criados alguns serviços de assistência a pessoas que têm problemas com estas novas tecno-logias. Basicamente esta assistência de saúde é prestada por psicólogos e psiquiatras. Em casos mais graves é necessário internação.

MANCHAT: A tecnologia (compu-tadores e dispositivos móveis) de-sestimula a leitura de livros?

J.F: Sim, de alguma forma o acesso à informação virtual afasta não só a leitura de livros como a de jornaisimpressos. Porém, com o advento-dos e-books, jornais online, blogs, entre outros, em termos de infor-mação, talvez estejam em curso uma nova relação com a leitura, não necessariamente impressa. Observo que alguns pacientes, estudantes, complementam o método de estu-do com vídeos, principalmente, do YouTube.

MANCHAT: Para os pais, como eles

alguns anos se brincava no meio da rua onde se morava. Com frequência a rua virava campinho de fute-bol, pista de carrinho de rolimã, etc... Hoje a rua é ambiente de risco. Com isso, as crianças per-dem espaços preciosos para o seu desenvolvimento e ficam cada vez mais confinados em apartamen-tos e playground, se fizerem parte de uma classe mais favorecida. No caso das classes menos favorecidas, moradas geralmente das periferias, onde a violência é maior, os espa-ços disponíveis são ainda menores. Sem ter onde gastar toda a energia que têm com o brincar, não por acaso, penso eu, nunca se falou tanto na hiperatividade das crianças. Por conta deste contexto as novas gerações são meio que forçadas a buscar diversão em espaços mais restritos, geralmente num ambiente protegido que é a própria casa. É aí que entram os jogos eletrônicos, a internet e as novas tecnologias. Ouvie não me lembro de onde, que: “somos pais analógicos de filhos digitais”.

MANCHAT: É possível viver sem tecnologia?

J.F:Penso que nos dias atuais seria impossível. Tudo, ou quase tudo, é controlado pelas novas tecnologias. Porém, sugiro experimentar algum tempo sem essas tecnologias, per-ceber-se, é riquíssimo.

podem utilizar a tecnologia como uma aliada na educação dos filhos?

J.F: O papel dos pais é importan-tíssimo para auxiliar no uso destas novas tecnologias. É necessário perceber que na internet escon-dem-se muitos perigos e é função dos pais orientar eproteger os filhos de possíveis riscos. O próprio uso abusivo deve ser observado, como cuidado à saúde. Estimular a busca de conhecimento é importante e faz parte hoje do ensino. A internet é uma fonte de pesquisa riquíssima e não deve ser desprezada. Assim, usá-la como complemento auxiliar da educação, pode ser útil.

MANCHAT: Como a escola poderia usar melhor a tecnologia?

J.F: Se falarmos do ensino público, básico e médio, penso que o uso de novas tecnologias ainda está longe da realidade da maioria. O incentivo do uso da internet, principalmente, como meio de busca de conheci-mento/pesquisa pode ser fundamental para formação dos jovens.

MANCHAT: É possível fazer uma relação do comportamento dos jovens de uma geração onde não tinha todos esses recursos tecno-lógicos e dessa nova geração que já nasceu em meio aos avanços da tecnologia?

J.F: Os contextos são diferentes. Há

JORGE FILIPE ALVES HENRIQUES É GRADUADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – SALVADOR (2009). EN-GAJADO EM PRÁTICAS SOCIAIS, O PSICÓLOGO É ESPECIALIZADO EM PSICOLOGIA E AÇÃO SOCIAL (2010). COLABORAÇÃO E PARTICIPA-

ÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE HIV/AIDS, USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, POPULAÇÕES EXCLUÍDAS E ATUA-ÇÃO CLÍNICA COM ÊNFASE NESTAS ÁREAS. NA ENTREVISTA,JORGE FILIPE EXPLICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE;

COMPORTAMENTOS E ADIÇÕES SOCIAISNO ÂMBITO COMPULSIVO E OBSESSIVO;CONTRIBUIÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM ETC.

DIGITAIS DE FILHOS

SOMOS PAIS ANALÓGICOS

JORGE FILIPE ALVESMANCHAT ENTREVISTA

11

Laerte Santana

MANCHAT: A tecnologia tem im-pactado todos os setores da socie-dade, como produtos, serviços e informatização. As novas formas de se comunicar tem mudado a estru-tura social e de como as pessoas se relacionam umas com as outras. De que maneira a tecnologia afeta o comportamento das pessoas?

J.F: O acesso mais facilitado à infor-mação pode contribuir para uma maior inserção social. Se há uma série de ganhos com o advento das novas tecnologias, por outro lado há alguns problemas que elas podem trazer. É comum ouvir dizer que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto Este parece ser um problema. Não só os jovens, mas como também as pessoas em geral, comunicam-se mais via in-ternet ou telefonia móvel e deixam de conviver de forma real. Há assim uma perda na interação pessoal que afeta de alguma forma as relações e o desenvolvimento de habilidades nas relações interpessoais.

MANCHAT: Por que a tecnologia vicia?

J.F: A dependência das novas tec-nologias, assim como as outras dependências, é multifatorial. Assim podem estar presentes a solidão, depressão, fobias, baixa autoestima, necessidade de pertencimento, etc... Nas últimas décadas, principalmente nos grandes centros, o estilo de vida contribui de forma significativa para o adoecimento mental. A busca de informação aliada à competitividade pode levar ao uso abusivo destes meios. Como me referi, é uma ques-tão multifatorial e particular para cada indivíduo.

MANCHAT: As novas tecnologias já começam a alterar o comportamen-to da sociedade. A maneira como os jovens se relacionam com os avan-ços modernos é prejudicial à saúde? Quais os riscos e benefícios que isso pode trazer?

J.F: A tecnologia, no caso, a internet e o telefone móvel, têm contribuído

muito para o desenvolvimento em todas as áreas. A facilidade de aces-so a informações e conhecimento, é, sem dúvida, um ganho enorme e em especial para a educação.Entretanto em alguns casos, quando há excesso no uso destas tecnolo-gias, podem ocorrer problemas de saúde e, principalmente, na área de saúde mental. Assim não é raro en-contrar pessoas que deixam de lado atividades importantes por conta do uso excessivo dela.Algumas pessoas têm, com a inter-net e telefonia celular, um compor-tamento compulsivo comparável ao de outras adições. O termo adicto designa alguém que tem alguma dependência, já adição designa a doença. A adição é caracterizada por comportamentos obsessivos e compulsivos em relação ao objeto de desejo. A obsessão está ligada ao pensa-mento (ideia fixa de), já a compulsão ao comportamento (começa e tem dificuldade em parar). Exemplos destas adições

estão relacionados aos jogos, co-mida, sexo, compras e trabalho. Recentemente as novas tecnologias começaram a fazer parte destas adições sociais. Não cabe aqui a extinção do comportamento, o que vale também, em analogia, para comida, sexo, compras e trabalho. Seria um erro buscar isso, mas é desejável buscar desenvolver fer-ramentas para que a pessoa con-siga lidar da forma mais saudável possível com estas atividades. Por conta de uma demanda cada vez maior foram criados alguns serviços de assistência a pessoas que têm problemas com estas novas tecno-logias. Basicamente esta assistência de saúde é prestada por psicólogos e psiquiatras. Em casos mais graves é necessário internação.

MANCHAT: A tecnologia (compu-tadores e dispositivos móveis) de-sestimula a leitura de livros?

J.F: Sim, de alguma forma o acesso à informação virtual afasta não só a leitura de livros como a de jornaisimpressos. Porém, com o advento-dos e-books, jornais online, blogs, entre outros, em termos de infor-mação, talvez estejam em curso uma nova relação com a leitura, não necessariamente impressa. Observo que alguns pacientes, estudantes, complementam o método de estu-do com vídeos, principalmente, do YouTube.

MANCHAT: Para os pais, como eles

alguns anos se brincava no meio da rua onde se morava. Com frequência a rua virava campinho de fute-bol, pista de carrinho de rolimã, etc... Hoje a rua é ambiente de risco. Com isso, as crianças per-dem espaços preciosos para o seu desenvolvimento e ficam cada vez mais confinados em apartamen-tos e playground, se fizerem parte de uma classe mais favorecida. No caso das classes menos favorecidas, moradas geralmente das periferias, onde a violência é maior, os espa-ços disponíveis são ainda menores. Sem ter onde gastar toda a energia que têm com o brincar, não por acaso, penso eu, nunca se falou tanto na hiperatividade das crianças. Por conta deste contexto as novas gerações são meio que forçadas a buscar diversão em espaços mais restritos, geralmente num ambiente protegido que é a própria casa. É aí que entram os jogos eletrônicos, a internet e as novas tecnologias. Ouvie não me lembro de onde, que: “somos pais analógicos de filhos digitais”.

MANCHAT: É possível viver sem tecnologia?

J.F:Penso que nos dias atuais seria impossível. Tudo, ou quase tudo, é controlado pelas novas tecnologias. Porém, sugiro experimentar algum tempo sem essas tecnologias, per-ceber-se, é riquíssimo.

podem utilizar a tecnologia como uma aliada na educação dos filhos?

J.F: O papel dos pais é importan-tíssimo para auxiliar no uso destas novas tecnologias. É necessário perceber que na internet escon-dem-se muitos perigos e é função dos pais orientar eproteger os filhos de possíveis riscos. O próprio uso abusivo deve ser observado, como cuidado à saúde. Estimular a busca de conhecimento é importante e faz parte hoje do ensino. A internet é uma fonte de pesquisa riquíssima e não deve ser desprezada. Assim, usá-la como complemento auxiliar da educação, pode ser útil.

MANCHAT: Como a escola poderia usar melhor a tecnologia?

J.F: Se falarmos do ensino público, básico e médio, penso que o uso de novas tecnologias ainda está longe da realidade da maioria. O incentivo do uso da internet, principalmente, como meio de busca de conheci-mento/pesquisa pode ser fundamental para formação dos jovens.

MANCHAT: É possível fazer uma relação do comportamento dos jovens de uma geração onde não tinha todos esses recursos tecno-lógicos e dessa nova geração que já nasceu em meio aos avanços da tecnologia?

J.F: Os contextos são diferentes. Há

JORGE FILIPE ALVES HENRIQUES É GRADUADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – SALVADOR (2009). EN-GAJADO EM PRÁTICAS SOCIAIS, O PSICÓLOGO É ESPECIALIZADO EM PSICOLOGIA E AÇÃO SOCIAL (2010). COLABORAÇÃO E PARTICIPA-

ÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE HIV/AIDS, USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, POPULAÇÕES EXCLUÍDAS E ATUA-ÇÃO CLÍNICA COM ÊNFASE NESTAS ÁREAS. NA ENTREVISTA,JORGE FILIPE EXPLICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE;

COMPORTAMENTOS E ADIÇÕES SOCIAISNO ÂMBITO COMPULSIVO E OBSESSIVO;CONTRIBUIÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM ETC.

DIGITAIS DE FILHOS

SOMOS PAIS ANALÓGICOS

JORGE FILIPE ALVESMANCHAT ENTREVISTA

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Laerte SantanaJORGE FILIPE ALVES HENRIQUES É GRADUADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – SALVADOR (2009). EN-GAJADO EM PRÁTICAS SOCIAIS, O PSICÓLOGO É ESPECIALIZADO EM PSICOLOGIA E AÇÃO SOCIAL (2010). COLABORAÇÃO E PARTICI-PAÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE HIV/AIDS, USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, POPULAÇÕES EXCLUÍDAS E ATU-AÇÃO CLÍNICA COM ÊNFASE NESTAS ÁREAS. NA ENTREVISTA,JORGE FILIPE EXPLICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE; COMPORTAMENTOS E ADIÇÕES SOCIAISNO ÂMBITO COMPULSIVO E OBSESSIVO; CONTRIBUIÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM ETC.

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Page 11: Reverso 89 revista manchat

MANCHAT: A tecnologia tem im-pactado todos os setores da socie-dade, como produtos, serviços e informatização. As novas formas de se comunicar tem mudado a estru-tura social e de como as pessoas se relacionam umas com as outras. De que maneira a tecnologia afeta o comportamento das pessoas?

J.F: O acesso mais facilitado à infor-mação pode contribuir para uma maior inserção social. Se há uma série de ganhos com o advento das novas tecnologias, por outro lado há alguns problemas que elas podem trazer. É comum ouvir dizer que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto Este parece ser um problema. Não só os jovens, mas como também as pessoas em geral, comunicam-se mais via in-ternet ou telefonia móvel e deixam de conviver de forma real. Há assim uma perda na interação pessoal que afeta de alguma forma as relações e o desenvolvimento de habilidades nas relações interpessoais.

MANCHAT: Por que a tecnologia vicia?

J.F: A dependência das novas tec-nologias, assim como as outras dependências, é multifatorial. Assim podem estar presentes a solidão, depressão, fobias, baixa autoestima, necessidade de pertencimento, etc... Nas últimas décadas, principalmente nos grandes centros, o estilo de vida contribui de forma significativa para o adoecimento mental. A busca de informação aliada à competitividade pode levar ao uso abusivo destes meios. Como me referi, é uma ques-tão multifatorial e particular para cada indivíduo.

MANCHAT: As novas tecnologias já começam a alterar o comportamen-to da sociedade. A maneira como os jovens se relacionam com os avan-ços modernos é prejudicial à saúde? Quais os riscos e benefícios que isso pode trazer?

J.F: A tecnologia, no caso, a internet e o telefone móvel, têm contribuído

muito para o desenvolvimento em todas as áreas. A facilidade de aces-so a informações e conhecimento, é, sem dúvida, um ganho enorme e em especial para a educação.Entretanto em alguns casos, quando há excesso no uso destas tecnolo-gias, podem ocorrer problemas de saúde e, principalmente, na área de saúde mental. Assim não é raro en-contrar pessoas que deixam de lado atividades importantes por conta do uso excessivo dela.Algumas pessoas têm, com a inter-net e telefonia celular, um compor-tamento compulsivo comparável ao de outras adições. O termo adicto designa alguém que tem alguma dependência, já adição designa a doença. A adição é caracterizada por comportamentos obsessivos e compulsivos em relação ao objeto de desejo. A obsessão está ligada ao pensa-mento (ideia fixa de), já a compulsão ao comportamento (começa e tem dificuldade em parar). Exemplos destas adições

estão relacionados aos jogos, co-mida, sexo, compras e trabalho. Recentemente as novas tecnologias começaram a fazer parte destas adições sociais. Não cabe aqui a extinção do comportamento, o que vale também, em analogia, para comida, sexo, compras e trabalho. Seria um erro buscar isso, mas é desejável buscar desenvolver fer-ramentas para que a pessoa con-siga lidar da forma mais saudável possível com estas atividades. Por conta de uma demanda cada vez maior foram criados alguns serviços de assistência a pessoas que têm problemas com estas novas tecno-logias. Basicamente esta assistência de saúde é prestada por psicólogos e psiquiatras. Em casos mais graves é necessário internação.

MANCHAT: A tecnologia (compu-tadores e dispositivos móveis) de-sestimula a leitura de livros?

J.F: Sim, de alguma forma o acesso à informação virtual afasta não só a leitura de livros como a de jornaisimpressos. Porém, com o advento-dos e-books, jornais online, blogs, entre outros, em termos de infor-mação, talvez estejam em curso uma nova relação com a leitura, não necessariamente impressa. Observo que alguns pacientes, estudantes, complementam o método de estu-do com vídeos, principalmente, do YouTube.

MANCHAT: Para os pais, como eles

alguns anos se brincava no meio da rua onde se morava. Com frequência a rua virava campinho de fute-bol, pista de carrinho de rolimã, etc... Hoje a rua é ambiente de risco. Com isso, as crianças per-dem espaços preciosos para o seu desenvolvimento e ficam cada vez mais confinados em apartamen-tos e playground, se fizerem parte de uma classe mais favorecida. No caso das classes menos favorecidas, moradas geralmente das periferias, onde a violência é maior, os espa-ços disponíveis são ainda menores. Sem ter onde gastar toda a energia que têm com o brincar, não por acaso, penso eu, nunca se falou tanto na hiperatividade das crianças. Por conta deste contexto as novas gerações são meio que forçadas a buscar diversão em espaços mais restritos, geralmente num ambiente protegido que é a própria casa. É aí que entram os jogos eletrônicos, a internet e as novas tecnologias. Ouvie não me lembro de onde, que: “somos pais analógicos de filhos digitais”.

MANCHAT: É possível viver sem tecnologia?

J.F:Penso que nos dias atuais seria impossível. Tudo, ou quase tudo, é controlado pelas novas tecnologias. Porém, sugiro experimentar algum tempo sem essas tecnologias, per-ceber-se, é riquíssimo.

podem utilizar a tecnologia como uma aliada na educação dos filhos?

J.F: O papel dos pais é importan-tíssimo para auxiliar no uso destas novas tecnologias. É necessário perceber que na internet escon-dem-se muitos perigos e é função dos pais orientar eproteger os filhos de possíveis riscos. O próprio uso abusivo deve ser observado, como cuidado à saúde. Estimular a busca de conhecimento é importante e faz parte hoje do ensino. A internet é uma fonte de pesquisa riquíssima e não deve ser desprezada. Assim, usá-la como complemento auxiliar da educação, pode ser útil.

MANCHAT: Como a escola poderia usar melhor a tecnologia?

J.F: Se falarmos do ensino público, básico e médio, penso que o uso de novas tecnologias ainda está longe da realidade da maioria. O incentivo do uso da internet, principalmente, como meio de busca de conheci-mento/pesquisa pode ser fundamental para formação dos jovens.

MANCHAT: É possível fazer uma relação do comportamento dos jovens de uma geração onde não tinha todos esses recursos tecno-lógicos e dessa nova geração que já nasceu em meio aos avanços da tecnologia?

J.F: Os contextos são diferentes. Há

JORGE FILIPE ALVES HENRIQUES É GRADUADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – SALVADOR (2009). EN-GAJADO EM PRÁTICAS SOCIAIS, O PSICÓLOGO É ESPECIALIZADO EM PSICOLOGIA E AÇÃO SOCIAL (2010). COLABORAÇÃO E PARTICIPA-

ÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE HIV/AIDS, USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, POPULAÇÕES EXCLUÍDAS E ATUA-ÇÃO CLÍNICA COM ÊNFASE NESTAS ÁREAS. NA ENTREVISTA,JORGE FILIPE EXPLICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE;

COMPORTAMENTOS E ADIÇÕES SOCIAISNO ÂMBITO COMPULSIVO E OBSESSIVO;CONTRIBUIÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM ETC.

DIGITAIS DE FILHOS

SOMOS PAIS ANALÓGICOS

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Laerte Santana

MANCHAT: A tecnologia tem im-pactado todos os setores da socie-dade, como produtos, serviços e informatização. As novas formas de se comunicar tem mudado a estru-tura social e de como as pessoas se relacionam umas com as outras. De que maneira a tecnologia afeta o comportamento das pessoas?

J.F: O acesso mais facilitado à infor-mação pode contribuir para uma maior inserção social. Se há uma série de ganhos com o advento das novas tecnologias, por outro lado há alguns problemas que elas podem trazer. É comum ouvir dizer que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto Este parece ser um problema. Não só os jovens, mas como também as pessoas em geral, comunicam-se mais via in-ternet ou telefonia móvel e deixam de conviver de forma real. Há assim uma perda na interação pessoal que afeta de alguma forma as relações e o desenvolvimento de habilidades nas relações interpessoais.

MANCHAT: Por que a tecnologia vicia?

J.F: A dependência das novas tec-nologias, assim como as outras dependências, é multifatorial. Assim podem estar presentes a solidão, depressão, fobias, baixa autoestima, necessidade de pertencimento, etc... Nas últimas décadas, principalmente nos grandes centros, o estilo de vida contribui de forma significativa para o adoecimento mental. A busca de informação aliada à competitividade pode levar ao uso abusivo destes meios. Como me referi, é uma ques-tão multifatorial e particular para cada indivíduo.

MANCHAT: As novas tecnologias já começam a alterar o comportamen-to da sociedade. A maneira como os jovens se relacionam com os avan-ços modernos é prejudicial à saúde? Quais os riscos e benefícios que isso pode trazer?

J.F: A tecnologia, no caso, a internet e o telefone móvel, têm contribuído

muito para o desenvolvimento em todas as áreas. A facilidade de aces-so a informações e conhecimento, é, sem dúvida, um ganho enorme e em especial para a educação.Entretanto em alguns casos, quando há excesso no uso destas tecnolo-gias, podem ocorrer problemas de saúde e, principalmente, na área de saúde mental. Assim não é raro en-contrar pessoas que deixam de lado atividades importantes por conta do uso excessivo dela.Algumas pessoas têm, com a inter-net e telefonia celular, um compor-tamento compulsivo comparável ao de outras adições. O termo adicto designa alguém que tem alguma dependência, já adição designa a doença. A adição é caracterizada por comportamentos obsessivos e compulsivos em relação ao objeto de desejo. A obsessão está ligada ao pensa-mento (ideia fixa de), já a compulsão ao comportamento (começa e tem dificuldade em parar). Exemplos destas adições

estão relacionados aos jogos, co-mida, sexo, compras e trabalho. Recentemente as novas tecnologias começaram a fazer parte destas adições sociais. Não cabe aqui a extinção do comportamento, o que vale também, em analogia, para comida, sexo, compras e trabalho. Seria um erro buscar isso, mas é desejável buscar desenvolver fer-ramentas para que a pessoa con-siga lidar da forma mais saudável possível com estas atividades. Por conta de uma demanda cada vez maior foram criados alguns serviços de assistência a pessoas que têm problemas com estas novas tecno-logias. Basicamente esta assistência de saúde é prestada por psicólogos e psiquiatras. Em casos mais graves é necessário internação.

MANCHAT: A tecnologia (compu-tadores e dispositivos móveis) de-sestimula a leitura de livros?

J.F: Sim, de alguma forma o acesso à informação virtual afasta não só a leitura de livros como a de jornaisimpressos. Porém, com o advento-dos e-books, jornais online, blogs, entre outros, em termos de infor-mação, talvez estejam em curso uma nova relação com a leitura, não necessariamente impressa. Observo que alguns pacientes, estudantes, complementam o método de estu-do com vídeos, principalmente, do YouTube.

MANCHAT: Para os pais, como eles

alguns anos se brincava no meio da rua onde se morava. Com frequência a rua virava campinho de fute-bol, pista de carrinho de rolimã, etc... Hoje a rua é ambiente de risco. Com isso, as crianças per-dem espaços preciosos para o seu desenvolvimento e ficam cada vez mais confinados em apartamen-tos e playground, se fizerem parte de uma classe mais favorecida. No caso das classes menos favorecidas, moradas geralmente das periferias, onde a violência é maior, os espa-ços disponíveis são ainda menores. Sem ter onde gastar toda a energia que têm com o brincar, não por acaso, penso eu, nunca se falou tanto na hiperatividade das crianças. Por conta deste contexto as novas gerações são meio que forçadas a buscar diversão em espaços mais restritos, geralmente num ambiente protegido que é a própria casa. É aí que entram os jogos eletrônicos, a internet e as novas tecnologias. Ouvie não me lembro de onde, que: “somos pais analógicos de filhos digitais”.

MANCHAT: É possível viver sem tecnologia?

J.F:Penso que nos dias atuais seria impossível. Tudo, ou quase tudo, é controlado pelas novas tecnologias. Porém, sugiro experimentar algum tempo sem essas tecnologias, per-ceber-se, é riquíssimo.

podem utilizar a tecnologia como uma aliada na educação dos filhos?

J.F: O papel dos pais é importan-tíssimo para auxiliar no uso destas novas tecnologias. É necessário perceber que na internet escon-dem-se muitos perigos e é função dos pais orientar eproteger os filhos de possíveis riscos. O próprio uso abusivo deve ser observado, como cuidado à saúde. Estimular a busca de conhecimento é importante e faz parte hoje do ensino. A internet é uma fonte de pesquisa riquíssima e não deve ser desprezada. Assim, usá-la como complemento auxiliar da educação, pode ser útil.

MANCHAT: Como a escola poderia usar melhor a tecnologia?

J.F: Se falarmos do ensino público, básico e médio, penso que o uso de novas tecnologias ainda está longe da realidade da maioria. O incentivo do uso da internet, principalmente, como meio de busca de conheci-mento/pesquisa pode ser fundamental para formação dos jovens.

MANCHAT: É possível fazer uma relação do comportamento dos jovens de uma geração onde não tinha todos esses recursos tecno-lógicos e dessa nova geração que já nasceu em meio aos avanços da tecnologia?

J.F: Os contextos são diferentes. Há

JORGE FILIPE ALVES HENRIQUES É GRADUADO EM PSICOLOGIA PELA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS – SALVADOR (2009). EN-GAJADO EM PRÁTICAS SOCIAIS, O PSICÓLOGO É ESPECIALIZADO EM PSICOLOGIA E AÇÃO SOCIAL (2010). COLABORAÇÃO E PARTICIPA-

ÇÃO EM MOVIMENTOS SOCIAIS NAS ÁREAS DE HIV/AIDS, USO/ABUSO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS, POPULAÇÕES EXCLUÍDAS E ATUA-ÇÃO CLÍNICA COM ÊNFASE NESTAS ÁREAS. NA ENTREVISTA,JORGE FILIPE EXPLICA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE;

COMPORTAMENTOS E ADIÇÕES SOCIAISNO ÂMBITO COMPULSIVO E OBSESSIVO;CONTRIBUIÇÃO NO ENSINO/APRENDIZAGEM ETC.

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A liberdade de expressão é um direito de todos e deve ser assegurado pela consti-tuição. Qualquer um pode se manifestar e compartilhar informações de qualquer tipo. Hoje temos muitas formas de nos expressar e, com a internet, as possibili-dades foram ampliadas.As redes sociais nos possibilitam com-partilhar momentos em família, com amigos e confraternizações. O excesso de exposição na internet tem acarretado várias ocorrências, da mesma maneira que esse espaço de interação social pode torna-se meio para a difamação, calúnia e exposição da vida íntima de muitas pessoas. Em 2012, a atriz Carolina Dieckman teve fotos íntimas divulgadas na internet. O caso teve repercussão nacional e fez com que fosse criada uma lei para crimes vir-tuais. A lei busca tipificar crimes envol-

vendo documentos e informações arma-zenadas em computadores e smatphones, a lei leva o nome da atriz. Para quem for condenado, as penas podem chegar a um ano de prisão. A invasão de privacidade também é um crime, que pode destruir a vida de uma pessoa. Karol Lessa, estudante, 21, so-freu ao ter suas fotos espalhadas através do whatsapp.“As fotos foram roubadas do meu celular. É muito constrangedor lembrar, mas serviu como aprendizado, comecei a olhar de outra forma as pesso-as, a desconfiar” disse Karol ao relembrar o acontecido. Karol ficou sabendo que suas fotos es-tavam circulando na cidade através de amigos que ligaram para contar. “Por ser uma cidade pequena, as imagens se espalharam muito rápido. Afetou bastan-te minha vida. Por sermos mulheres em uma sociedade tão marxista isso se torna um escândalo. Mas, meus amigos ficaram do meu lado, me apoiaram muito, assim como minha família. Me senti muito constrangida”, disse Karol.

#partiu #fuiali #partiufacul #napracinha #domingãocomafamília

O que antes era conhecido como jogo da velha ou xadrez, hoje recebe o nome de hashtag. São utilizadas como forma de comandos e também como mecanismo de busca. O uso das hashtags ainda é um mistério para usuários e não-usuários. Tornou--se comum as pessoas utilizarem esse comando para indicar o local onde estão ou para onde irão, mas diante desse comando que permite ser localizado por qualquer pessoa, independente de estar na sua lista de contatos ou não é preciso ter cuidado.São recorrentes os casos de pessoas que

são expostas de diversas maneiras na internet, seja através de fotos e vídeos íntimos, em momentos de descontração e em alguns flagras. Mas existe outra forma de exposição, que é quando a pessoa permite que através de fotos e vídeos que outras pessoas vejam sua casa, filhos, marido, carro e suas informações sobre endereços.Com internet fácil, celulares à vontade e muitos lugares para ir e redes sociais que te possibilitam exibir tudo isso, quem que não quer registrar esses momentos? Mostrar para amigos e família que tá tudo bem?Nélia Ferreira, estudante de psicologia, 26 gosta muito de exibir seus filhos e sua família na internet. Quando estava grávida disponibilizou as várias etapas da gestação, o parto e o primeiro banho do seu filho Diogo. “Por ser tudo tão novo pra gente, algo tão incrível e que decidimos compartilhar cada fase, para que nossos familiares e amigos pudessem dividir conosco essa alegria” disse Nélia. Com o tempo ela percebeu o quanto ela se expôs, o quanto a sua intimidade foi compartilhada e hoje tem um posiciona-mento mais consciente sobre os riscos da internet. “Me policiei em muitas questões de exposições do nosso dia a dia. O que temos, ou o que construímos, ou onde moramos, onde vamos, por conta dos abusos e da realidade em que o mundo oferece”.

As redes sociais são pensadas de maneira que faz com que a gente se sinta bem à vontade para dividir com outras pessoas momentos da nossa vida. A internet pode até parecer terra sem leis, onde você pode tudo. Precisamos de cautela para poder e utilizar de maneira positiva essas tecno-logias, e de repente como ferramenta a nosso favor.

O RISCO DA ALTA EXPOSIÇÃO PESSOAL NA INTERNETAs redes sociais são pensadas de maneira que façam com que a gente se sinta bem à vontadeIsrael Santos

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