Revista centenario

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V entura C entenário de Antônio Custódio Filho Um Guerreiro – Nosso herói um lutador, um homem de bem. OS PRIMEIROS ANOS DE CASADO P ouco sabemos dos primeiros anos de vida de Antônio Custódio Filho, filho de An- tônio Francisco Custódio e Idalina Maria de Jesus. Nasceu no dia 23 de junho de 1911, na localidade rural Pombal, distrito de Missioná- rio, município de Alto Rio Doce. Na proprieda- de de seus pais viveu a sua infância e juventu- de e os primeiros anos de casado, até o ano de 1939, quando se mudou para a localidade rural Aquenta-Sol, no município de Calambau, hoje 1

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VenturaCentenário de

Antônio Custódio FilhoUm Guerreiro – Nosso herói

um lutador, um homem de bem.

OS PRIMEIROS ANOS DE CASADO

Pouco sabemos dos primeiros anos de vida

de Antônio Custódio Filho, filho de An-

tônio Francisco Custódio e Idalina Maria

de Jesus. Nasceu no dia 23 de junho de 1911,

na localidade rural Pombal, distrito de Missioná-

rio, município de Alto Rio Doce. Na proprieda-

de de seus pais viveu a sua infância e juventu-

de e os primeiros anos de casado, até o ano de

1939, quando se mudou para a localidade rural

Aquenta-Sol, no município de Calambau, hoje

1

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cidade de Presidente Bernardes. Faleceu perto

de completar seus 89 anos, no dia 19 de janei-

ro de 2000. Se em 2011 estivesse vivo, estaria

completando um centenário. Teve, entretanto,

uma grande alegria: querer ver a passagem do

milênio, e conseguiu. Viu o alvorecer do novo

século, o século XXI. Casou-se muito novo, aos

22 anos, no dia 4 de outubro de 1933, com uma

linda menina de 16 anos, Guilhermina Evange-

lista de Souza, nascida no dia 25 de junho de

1917, filha de Benjamim Pereira de Souza e Ma-

ria Margarida dos Santos, residente na localida-

de rural muito próximo do Pombal, Fazenda Boa

Vista, mesmo distrito de Missionário, onde foi

realizada a cerimônia do casamento.

Foi um lutador incansável. Morando nas ter-

ras de propriedade de seu pai, construiu uma

pequena casa e ali começou a sua luta rural. Tra-

balhava de sol a sol, cuidando da plantação de

milho, arroz e feijão e cuidando de uma pequena

quantidade de vacas e garrotes, além de algumas

mulas e cavalos, utilizados na faina da pequena

propriedade. Uma atividade que lhe deu um ren-

dimento maior foi a criação de suínos. Cuidava

deles com esmero e, quando estava no ponto de

abate, ele mesmo cuidava deste mister. Abatia-os

a partir do meio-dia e à noite, com as mulas car-

regadas com as “bandas” dos suínos abatidos, ia

ele, às vezes acompanhado e outras não, com o

comboio de mulas até a cidade de Ressaquinha,

viajando a noite inteira, para de manhã entregar

nos açougues a sua mercadoria. Descansava um

pouco, dormindo sem nenhum conforto, deitado

sobre os couros, que cobriam as “bandas” dos

suínos abatidos. Voltava para a sua propriedade

em Pombal, chegando às altas horas da noite,

trazendo mercadorias encomendadas de Ressa-

quinha: sal, farinha de trigo, querosene, tecidos,

ferraduras, cravos para as ferraduras, machados,

foices e outros materiais de uso rural. Quando

a mercadoria não era encomendada, vendia-as

para quem precisasse e o procurasse. Esta rotina

era, praticamente, quinzenal. O único descanso

era aos domingos, quando ficava em casa, com

uma atenção muito especial para os filhos pe-

quenos ou visitava alguns amigos ou fazia al-

gum negócio. Tinha um carinho muito especial

com seus pais, que moravam muito próximo e

quase diariamente lá passava para tomar um

café, falar sobre os negócios e saber como anda-

va a família e seus irmãos. Ao seu lado, sempre

apoiando, cozinhando para os trabalhadores da

roça e para os peões, estava a sua jovem espo-

sa Guilhermina. Era um casal feliz, trabalhando

para uma melhoria futura.

MUDANÇA PARA AQUENTA- SOL

Vendo que as possibilidades de um progres-

so maior eram quase impossíveis onde estava,

sem vislumbrar oportunidades para aquisição de

terras cultiváveis, saiu procurando algum sítio

para adquirir nos municípios vizinhos. E assim,

em 1939, por indicação de um amigo, Sr. Geral-

do Cigano, adquiriu uma pequena gleba de ter-

ra na localidade rural, Aquenta-Sol, no distrito

de Calambau, hoje Presidente Bernardes, Minas

Gerais, situado a 9 quilômetros da sede do distri-

to, a 70 da propriedade

de Pombal. Esta pe-

quena propriedade

foi adquirida do Sr.

Manoel Costa, que

possuía outras pe-

quenas propriedades,

fazendeiro residente

em Venda Nova, loca-

lidade rural distante 8

quilômetros da Fazen-

da Aquenta-Sol.

Corria o mês de ju-

lho de 1939. Adquirida

a pequena propriedade,

paga a vista, graças a

um pequeno emprés-

timo de seu pai, partiu

a família para o desco-

nhecido. À época não

existia a mínima possi-

bilidade de um veículo

motor, um caminhão,

fazer a mudança. Esta fora

feita em um comboio de três carros de boi, quatro

mulas de carga, quatro cavalos, umas seis vacas

de leite e cerca de dez garrotes. Esta viagem levou

três dias, pernoitando-se em fazendas ao longo

do caminho. Seus quatro filhos, José Boaventu-

ra, hoje José Ventura, por erro de escrivão, com

cinco anos, João Balbino, com menos de quatro

Geraldo Tomaz com menos de dois e Mª Mada-

lena de Souza com 2 meses de idade viajavam

em um dos carros de boi, juntamente com sua

dileta esposa Guilhermina, que cuidava da ali-

mentação, do bem-estar dos meninos e das aco-

modações noturnas para o pernoite. Chegou-se

à propriedade de Aquenta-Sol ao entardecer do

terceiro dia. Além de Antônio Custódio, o com-

boio era tocado por Geraldo Pimenta, Geraldino

Lopes e seu concunhado Francisco Rodrigues e

três rapazes, que candiavam as juntas de boi.

A propriedade possuía

apenas uma pequena

casa de pau a pique,

coberta de sapé, sem

reboco, sem instalações

sanitárias e sem ener-

gia elétrica. Era a casa

comum das pequenas

propriedades rurais,

sem o mínimo confor-

to. Todos, entretanto,

se sentiam muito feli-

zes, por ter chegado ao

destino, sem nenhum

transtorno. Toda a co-

mitiva se acomodou

na pequena casa. Fa-

zia frio. Acendeu-se,

no meio da cozinha,

uma pequena foguei-

ra, para espantar o

frio. No dia seguin-

te, de manhã cedo,

acocorado à beira da fogueira, o Sr. Geraldo Pi-

menta apresentou aos presentes um habitante,

existente na região, muito perigoso e que se es-

condia nas frestas do pau a pique: um besouro,

denominado “barbeiro”, transmissor da Doença

de Chagas, quando dá uma picada em um ser

humano. Disse para os presentes: “Quase que fui

picado por este inseto e se isto tivesse aconteci-

do, em breve, minha vida estaria correndo um

sério perigo”. As crianças presentes não deram

nenhuma importância a este fato. Os adultos, en-

tretanto, principalmente o dono da casa e a mãe

das crianças, ficaram simplesmente apavorados.

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Dona Guilhermina solicitou a Antônio Custódio

que providenciasse, imediatamente, a reforma

da casa, rebocando-a e não deixando nenhuma

fresta para alojar os besouros. Este fora o primei-

ro trabalho feito na pequena propriedade, dando

novo visual a pequena casa. Bem em frente à re-

sidência, morava a família de Antônio Roberto.

Família numerosa e muito gentil, que veio visitar,

imediatamente, os novos moradores.

A VIDA EM AQUENTA-SOL

Em Aquenta-Sol Antônio Custódio iniciou

uma nova fase na sua vida. Como sempre, um

batalhador incansável, trabalhando de sol a sol,

economizando o que podia, visando a um futu-

ro melhor para sua família. Fez, imediatamente,

amizade com todos seus vizinhos e com as fa-

mílias simples e importantes do distrito de Ca-

lambau. Todos viam naquele jovem casal, Gui-

lhermina e Antônio, pessoas de bem, amigas,

participativas, alegres e receptivas. Na pequena

propriedade plantava-se milho, arroz, feijão,

mandioca, cana e café. Cultivava-se, também,

um pequeno pomar, com diversas frutas e uma

excelente horta, com tudo de que uma cozinha

precisava. Criava-se galinhas, porcos e havia um

pequeno número de vacas leiteiras, das quais se

ordenhava o leite, fazendo excelentes queijos.

O sustento da família vinha todo da proprieda-

de. Compravam-se, apenas, tecidos para fazer as

vestimentas da família, confeccionadas pela pró-

pria Dona Guilhermina, sal, querosene e outras

iguarias não produzidas na propriedade. Toda a

produção era vendida na sede do distrito e em

Piranga e para vizinhos. É incrível que aquela

pequena propriedade pôde gerar recursos para

reformar primeiramente a antiga casa, fazer ou-

tra anos depois e comprar outras pequenas pro-

priedades vizinhas e mesmo algumas mais dis-

tantes, nas localidades denominadas “Ribeiro”,

“Mata Onça” e “Bahia”. Antônio Custódio desde

cedo se preocupou com o bem-estar da famí-

lia e, visando um maior conforto para assistir à

missa e outras festividades em Calambau, sem

necessidade de ir e vir no mesmo dia, adquiriu

uma casa na já cidade de Calambau, no final da

rua nova, próxima ao cemitério. Esta casa foi,

anos depois, vendida e adquirida outra, do outro

lado do Rio Piranga, com uma gleba de terra.

Posteriormente esta também foi vendida e com-

prada uma excelente na Praça Cônego Lopes, a

principal da cidade.

Em Aquenta-Sol teve suas maiores alegrias

e também muitas tristezas. Ali cresceu sua fa-

mília, com o nascimento dos seus mais quinze

filhos, sendo que dois faleceram com poucos

meses de vida. Nasceram em Aquenta-Sol, por

ordem de nascimento: Maurílio Antônio Francis-

co, Maria Aparecida de Souza, Maria da Con-

ceição de Souza, Benjamin Vitorino de Souza,

Orlando Antônio Custódio, Oswaldo de Souza

Custódio (falecido com poucos meses de vida),

Idalina Teodoro Custódio, Moacir Iria Custódio,

Terezinha do Perpétuo Socorro Custódio, Jú-

lia Paulina Custódio, Izabel de Souza Custódio

(também falecida em tenra idade), Francisco de

Assis Custódio, Mauro Roberto Custódio e Maria

de Fátima Custódio. O nascimento de mais um

filho era um grande júbilo para toda a comuni-

dade familiar. Outro motivo de grande regozijo

era quando se terminava a capina das roças de

milho, com muitos trabalhadores, chegando, às

vezes, a mais de quinze. Neste dia, realizava-se

uma grande festa de confraternização. No final

da tarde, um dos capinadores escolhido colhia

o maior pé de milho existente e trazia para a

sede, cantando diversas canções. O escolhido,

na maioria das vezes, foi o Sr. José Lourenço,

excelente trabalhador rural, vizinho, compadre

e amigo de todos. Chegando à sede, todos can-

tavam:

Senhora dona de casa,Sai pra fora, por favor.Venha ver a bandeira

Que a sua roça mandou. Dona Guilhermina, com seu melhor vestido,

rodeada dos filhos, descia a escada da frente da

casa e recebia, de José Lourenço e de Antônio

Custódio, o valioso troféu, sob muitas palmas

e gritos de alegria. Neste dia era servido o me-

lhor jantar, regado com uma boa cachaça, e o

Feliciano Correia, sanfoneiro de renome na co-

munidade, com sua sanfona de oito baixos, ale-

grava o ambiente até altas horas da noite e to-

dos dançavam, com júbilo, entusiasmo e paz.

Quanto mais alegre era a festa, mais prenúncio

de uma excelente colheita. Outro motivo de festa

era quando se adquiria mais alguns alqueires de

terra, uma nova junta de bois ou uma boa mula

ou cavalo. Todos compartilhavam do progresso

financeiro da família.

Nem tudo na vida, entretanto, são flores e

alegria. Antônio Custódio e toda sua família ti-

veram momentos muito tristes no Aquenta-Sol.

Podemos destacar alguns: o primeiro, logo após

a chegada a Aquenta-Sol, foi a doença do Ge-

raldo Thomaz, com menos de dois anos. An-

tônio Custódio não dispunha de dinheiro para

comprar os medicamentos necessários e não

conhecia ninguém que pudesse emprestar-lhe o

numerário suficiente, em torno de $100.000,00

(cem mil reis). Isto hoje equivaleria a pouco

mais de R$100,00 (cem reais). Procurou, então,

o Sr. Manoel Costa, de quem havia comprado

a propriedade. Este, não se sabe se verdadeiro

ou não, disse que não tinha nenhuma importân-

cia que pudesse emprestar. Desesperado voltou

para casa e arrumou o dinheiro com Tio João

que neste dia veio nos visitar, imediatamente fo-

ram para o médico em Piranga e com a ajuda de

Deus, salvaram a vida do menino. O falecimento

de seus dois filhos recém-nascidos trouxera-lhe

muita angústia. A doença de sua esposa Dona

Guilhermina, acometida de profunda depressão

após o nascimento do Benjamin em maio de

1944, foi outro período de muito sofrimento e

angústia. Foi necessário ficar internada na casa

de repouso do Dr. Geraldo Couto, em Barbacena,

por um período de cinco meses. Foi um perío-

do de muito sacrifício para Antônio Custódio e

toda a família. Ele, entretanto, não esmoreceu.

Esforçou-se, ao máximo, durante todo o perío-

do da enfermidade. Cuidava, com esmero, dos

filhos e, quinzenalmente, visitava sua esposa

em Barbacena, viajando a cavalo até Alto Rio

Doce, quando pegava o ônibus. Muitas vezes,

retornando de Barbacena para Alto Rio Doce,

viajava a noite inteira para Aquenta-Sol, chegan-

do ao amanhecer, para mais um dia de trabalho

“ “

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Page 4: Revista centenario

intenso. Quando Dona Guilhermina voltou para

casa, totalmente curada, foi um novo ciclo de

júbilo, entusiasmo, progresso e muito trabalho.

Era um homem que fazia de tudo na proprie-

dade: tirava leite e fazia queijos; cuidava dos

pastos, roçando-os e fazendo as cercas necessá-

rias; castrava os bois e os suínos, ele mesmo,

sem ajuda de ninguém, com as técnicas primiti-

vas, com muito sacrifício para os animais; sacri-

ficava os porcos para a venda, sangrando-os com

uma precisão milimétrica, acertando o coração

e diminuindo o sofrimento dos animais; mane-

java, como poucos, o lanço e lançava um boi,

um garrote ou uma vaca, com precisão incrível.

Gostava de andar em uma mula bem arriada e

cuidava muito bem de sua tropa. No engenho

fazia açúcar mascavo e rapadura. Na capina da

roça, ia sempre à frente.

Era um homem extremamente justo e cortês.

Talvez pelo sofrimento que teve quando precisou

de um empréstimo para a doença do Geraldo,

nunca negou qualquer empréstimo. Tinha, por

assim dizer, uma “carteira” de clientes, anotan-

do os empréstimos e os juros, muitas vezes em

pequena folha de papel, sem nenhum avalista.

Mesmo sem nenhuma garantia, pouquíssimos

foram os que não honraram o

compromisso.

Ocorreu, entretanto, um

terrível fato, em 6 de outubro

de 1959. Guilhermina Evan-

gelista de Souza, a querida e

dedicada esposa de Antônio

Custódio, dava a luz, aos 42

anos de idade, a Maria de Fá-

tima de Souza Custódio, déci-

mo oitavo parto, e falecia em

seguida com uma hemorragia,

causada por uma placenta re-

tida. Um verdadeiro desastre.

Não era possível que uma

mãe extremamente dedicada

aos filhos e ao esposo pudesse partir tão cedo,

deixando dezesseis filhos órfãos, sendo oito me-

nores de dez anos. Seu filho mais velho, José

Ventura, que se encontrava em Juiz de Fora, tra-

balhando e se preparando para os exames ves-

tibulares, quando foi informado do fato através

de um amigo, exclamou: “Não é verdade! Isto é

mentira! Deus, que é amor e compreensão, não

tira do mundo uma mãe de dezesseis filhos!”.

Lamentavelmente, era verdade. Dona Guilher-

mina partira para a eternidade, sem completar a

plenitude da vida, na plena idade produtiva, 42

anos de vida. O féretro saíra de Aquenta-Sol

às 15 horas e por determinação de José Ventu-

ra, fora levado carregado pelas alças e não na

padiola, nos ombros, como costume na região.

Os moradores vizinhos, na sua quase totalidade,

acompanharam o féretro, chegando a Calambau

às 17 horas. O comércio fechou e imenso cortejo

se formou da Igreja matriz até o antigo cemité-

rio. Às 18 horas o corpo inerte de Dona Guilher-

mina baixou à sepultura. Sua boníssima alma

já estava na plenitude eterna, de onde velou e

vela por todos os seus filhos. Não viu, na sua

vida terrena, o sucesso dos mesmos, mas de lá,

no céu, contribuiu imensamente para que todos

seus filhos formassem uma família unida, traba-

lhadora, ética e, acima de tudo, amigos, como

poucos, entre si. Antônio Custódio viu-se só.

Era o fim de uma vida de 26 anos de dedicação,

amor e trabalho. Com fé nos desígnios de Deus,

não se desesperou. Assumiu, com resignação,

as funções de pai e mãe e procurou manter da

melhor maneira possível a união da família. Seu

filho mais velho, na missa de sétimo dia de sua

mãe, disse-lhe, com imensa dor no coração:

“Pai, o lugar de mamãe em nosso íntimo ja-

mais será ocupado, mas a vida continua, o Se-

nhor ainda é muito novo (estava com 48 anos)

e não tem condições de cuidar sozinho de todos

os seus filhos, julgo, portanto, que deve se casar

novamente, apenas peço-lhe que seja com uma

pessoa de bom coração e que possa receber to-

dos os seus filhos, abdicando-se de ter os seus

próprios. O Senhor não deve contribuir para

que tenhamos duas famílias: os filhos de Gui-

lhermina e os de outra esposa”.

Naquele momento Antônio Custódio refutou,

veementemente, a ideia, reafirmando o seu pro-

pósito de dar tudo de si, sacrificando o seu bem

estar, para a tranquilidade e bem-estar da famí-

lia. Cumpriu o seu compromisso feito à beira do

túmulo de zelar por todos os filhos e exercitou

o seu amor paternal com tenacidade e desvelo.

A VIDA COM JÚLIA MARIA BARBOSA

“Deus escreve certo por linhas tortas”, diz

um ditado popular. Muitas vezes nós, os huma-

nos, não entendemos esta afirmação, como no

caso do falecimento de Guilhermina Evangelista

de Souza. Acontece que meses antes deste trá-

gico acontecimento, faleceu o Sr. Vicente Faria,

vizinho de Antônio Custódio, deixando viúva a

Sra. Júlia Maria Barbosa, sem filhos e totalmente

sozinha, uma vez que suas irmãs moravam em

Volta Redonda e Maricá, Estado do Rio de Janei-

ro. Viuvara-se aos 55 anos. Não faltaram pessoas,

inclusive seu filho mais velho, sugerindo o enla-

ce dos dois, como uma boa solução para ambos.

Inicialmente, Antônio Custódio não manifestou

nenhum entusiasmo com estas “brincadeiras”,

como ele classificava esta insinuação. Sentindo

a solidão bater as suas portas e a necessidade

de uma pessoa para cuidar da casa, apesar do

amor filial e o desvelo no cuidado dos irmãos

menores de sua filha Maria Aparecida de Souza,

que assumira a imensa responsabilidade de gerir

a casa, na flor da sua juventude, aos 16 anos,

resolveu “acatar” a indicação e, assim, em 29 de

setembro de 1960, na Fazenda Aquenta-Sol, o

pároco do Município, Pe. José Nicomedes Gros-

si, futuro Bispo de Bom Jesus da Lapa, Bahia,

grande amigo da família, celebrara o casamento

de Júlia Maria Barbosa e Antônio Custódio Fi-

lho. Neste momento casava-se também sua filha

Maria Madalena de Souza. Todos sabiam que

não era um casamento por amor, mas por con-

veniência, para a melhoria e bem-estar de seus

filhos, principalmente os menores.

Dona Júlia recebera, inesperadamente, de-

zesseis filhos, tratando-os com carinho e frater-

nidade. O grande mérito desta mulher foi, sem

dúvida alguma, permitir a união da família de

Antônio Custódio e Guilhermina Evangelista.

Antônio Custódio dedicou-lhe toda atenção ma-

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trimonial, estando sempre ao seu lado, principal-

mente na sua enfermidade final. E assim, após

28 anos de convivência, no dia 26 de agosto de

1988, deixava este mundo a segunda esposa de

Antônio Custódio, aos 84 anos de idade. Seus

filhos adotivos sempre lhe devotaram respeito,

carinho e muita amizade.

Um fato curioso aconteceu logo após o casa-

mento. Antônio Custódio verificou que o Sr. Vi-

cente Faria fizera doação de toda a sua proprie-

dade, Fazenda Barra Alegre, à Paróquia de Santo

Antônio de Calambau, uma vez que não deixa-

va descendentes, com uso fruto de sua esposa,

Dona Júlia, sem o conhecimento e assentimento

dela. Isto não era possível legalmente, uma vez

que ela era meeira dele, com direito a 50% da

propriedade. Tratou, então, Antônio Custódio

de fazer, em juízo, a anulação parcial da doa-

ção, ficando a paróquia com apenas a metade

da fazenda. Como o pároco, Pe. José Nicomedes

Grossi, necessitava de numerário para a refor-

ma da Igreja, Antônio Custódio propôs adquirir

a parte da fazenda pertencente à paróquia, por

um preço justo, devido a tratar-se de uso fruto.

E assim se fez. Geraldo Tomaz, o terceiro filho,

tendo se casado, passou a residir na fazenda, na

condição de arrendatário dos dois proprietários:

Júlia Barbosa e Antônio Custódio.

O TERCEIRO CASAMENTO

Quando Dona Júlia faleceu, certa vez, An-

tônio Custódio conversando com José Ventura,

disse-lhe: “A vida é muito boa, mas às vezes in-

grata. De que adiantou eu ter dezesseis filhos e

estar agora sozinho”. José Ventura afirmou-lhe

que não haveria nenhum problema se ele en-

contrasse uma nova companheira. Na mesma

época do falecimento de Dona Júlia, falecera,

também, em 9 de março de 1988, o Sr. Pedro Mi-

lagres, fazendeiro residente próximo de Piranga,

esposo de Rita Ângela Xavier Milagres. Por parte

de alguns amigos houve a aproximação dos dois.

Aconteceu o esperado. Em 21 de janeiro de 1989,

sete meses após sua viuvez, o Pe. Gabriel Cor-

ral Galache, jesuíta, Diretor da Editora Loyola,

São Paulo, dedicado amigo da família, celebrou,

em Piranga, o terceiro casamento de Antônio

Custódio. Sua terceira esposa contava com 49

anos de idade. Foi uma convivência muito cur-

ta, de pouco mais de três anos, tendo-se sepa-

rado, amigavelmente, em 1992. Esta separação

foi motivada principalmente porque os filhos,

em número de seis, de Dona Rita começaram a

exigir mais a sua presença diariamente na sua

fazenda e não apenas um dia da semana. Apesar

de amigável a separação, Antônio Custódio ficou

bastante triste com o fato. Para não deixá-lo vi-

ver sozinho, sua filha Maria de Fátima de Souza

Custódio foi morar com ele, juntamente com seu

esposo e filhos.

SUA DEDICAÇÃO AOS FILHOS

Tinha verdadeira veneração e orgulho dos fi-

lhos. Quando menores, sempre que podia carre-

gava seus filhos na garupa de suas mulas para vi-

sitar os parentes: pais, tios e irmãos. Quando seu

pai, Antônio Francisco Custódio, mudou para a

Fazenda Boa Sorte, no município de Diogo de

Vasconcelos, MG, distante 36 km de Aquenta-

-Sol, ia, com muita frequência visitar seus pais

e seus irmãos, quase todos já casados. Sempre

levava um filho na garupa e durante o caminho

sempre contava uma história, um fato e canta-

rolava marchinhas de carnaval, sendo a prefe-

rida, a “Jardineira”. Era, no mínimo, sete horas

de viagem. Levou seu filho mais velho para o

Seminário de Miguel Burnier, numa viagem de

três dias: o primeiro até a Fazenda de seu Pai,

Boa Sorte; o segundo até Passagem, próxima de

Ouro Preto, sede de uma mina de ouro, onde

se pernoitou na casa de um amigo. Permaneceu

um dia na casa deste amigo, para visitar a mina

e, finalmente, no quarto dia chegou de trem a

Miguel Burnier. Durante todo o tempo que José

Ventura esteve em Miguel Burnier, recebeu, no

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Page 6: Revista centenario

mínimo, três visitas anuais, feitas todas com o

sacrifício da viagem a cavalo até Mariana ou

Furquim. Quando João Balbino era Irmão jesuí-

ta no Seminário de Nova Friburgo, lá ele esteve

várias vezes visitando o filho e uma em compa-

nhia de José Ventura, que já estava no Seminá-

rio de Paraíba do Sul. Seus filhos que mudaram

para São Paulo receberam suas constantes visi-

tas, sempre trazendo sua alegria e suas notícias.

Os que moravam em Piranga, Calambau e Porto

Firme eram mais privilegiados, estando em sua

constante companhia. Tinha orgulho imenso de

todos e não poupava elogios aos seus filhos. Em

Juiz de Fora, onde passou a residir José Ventura,

desde 1955, quando deixara a vida religiosa, ele

esteve dezenas de vezes e aproveitava a viagem

para comprar tecidos para toda a família, direta-

mente da Fábrica Ferreira Guimarães.

SUA VIDA RELIGIOSA

Era devoto fervoroso de Santo Antônio, de

São Sebastião e de Bom Jesus de Matosinho de

Congonhas-MG e de Bacalhau, distrito de Piran-

ga. Na festa de Santo Antônio de Calambau, 13

de junho, sempre ofertava um bezerro ou carro

de boi para o leilão. Na procissão do Santo era

um dos “Antônios” designado pelo pároco para

carregar o andor. Vestia o seu melhor terno, co-

locava gravata e desfilava carregando o andor,

orgulhoso e garboso. Se vivo estivesse quando o

Deputado Pedro Vidigal escreveu um livro sobre

a história de Calambau e lá colocou sua foto-

grafia, carregando o andor, sentiria um imenso

júbilo. Outra devoção era a de São Sebastião,

festa celebrada em 20 de janeiro. Também nesta

ocasião não deixava de doar um bezerro, uma

leitoa ou um carro de milho para o leilão. Dizia

sempre que fazia isto em retribuição aos benefí-

cios que São Sebastião trazia para ele, protegen-

do suas lavouras, seus animais e seus negócios.

A devoção a Bom Jesus de Matosinhos é outro

capítulo na sua vida. No jubileu, em Congonhas,

viajava três dias, em comitiva, com família, para

participar das festividades, na primeira quin-

zena de setembro de cada ano, hospedando-

-se nas casas dos romeiros, existentes naquela

época. Entre a saída de Aquenta-Sol e

seu retorno decorria no mínimo oito

dias. Não deixava, também, de estar

presente, pelo menos de dois em dois

anos, no Jubileu do Senhor Bom Jesus

de Bacalhau. Esta caminhada era mui-

to menor, apenas um dia de viagem,

percorrendo os quarenta quilômetros.

Também naquela localidade a hospe-

dagem era nas casinhas dos romeiros,

até que seu pai, Antônio Francisco

Custódio, adquiriu uma própria, fa-

cilitando a hospedagem. Nestas ro-

marias a família estava toda reunida

e portava, nos lombos dos burros,

tudo para a hospedagem: vasilhame

para a cozinha, mantimentos, roupas

de vestir e de cama. Hoje, decorridos

apenas 70 anos destes fatos, graças ao progresso

vertiginoso do mundo contemporâneo, parecem

histórias de muitos séculos passados.

FRATURA DE SUA PERNA DIREITA

No dia 8 de setembro de 1995, dia do casa-

mento de seu neto Wanderley de Souza Almei-

da, filho de Cícero Venâncio de Almeida e Maria

Aparecida de Souza Almeida, quando se prepa-

rava para o almoço, caiu e fraturou o fêmur de

sua perna direita. Foi levado para Conselheiro

Lafaiete, onde a perna foi engessada. Devido a

sua idade e a uma prática médica indevida, o

engessamento não deu resultado. Um mês de-

pois estava ele no Hospital de Viçosa sendo sub-

metido a uma cirurgia para colocação de uma

“gaiola” de metal inoxidável. Permaneceu com

esta “gaiola”, por dez meses. Nunca reclamou.

Andava com imensa dificuldade, com muletas e

só lamentava não poder mais andar a cavalo.

No dia que retirou a “gaiola” deu mais uma de-

monstração de coragem. Ao ser preparado para

a anestesia, disse ao médico que não queria ser

anestesiado e que poderia tirar “os ferros” de

sua perna sem os recursos da anestesia. Sentiria

imensamente feliz ao ver-se livre daquela próte-

se e poder andar livremente. Assim se fez. Para

espanto de todos, foram retirados os “tuchos”, e

ele, muito feliz, voltou a andar sem as muletas,

e não acatando as recomendações médicas, um

mês depois, estava cavalgando. Nesta sua en-

fermidade, seu amparo e sua companhia muito

frequente foi aquela que sempre esteve presente

em todas as ocasiões, sua filha Maria Aparecida.

SEU FALECIMENTO

No dia 18 de janeiro de 2000 sofreu um infarto

em Piranga. Foi levado, imediatamente, para Viço-

sa. No dia 19, sua filha Maria Aparecida telefonou

para José Ventura em Juiz de Fora solicitando o

envio de uma ambulância UTI para levá-lo para

Juiz de Fora, uma vez que os médicos de Viçosa

julgaram que em Juiz de Fora haveria melhores

recursos, em face do seu estado crítico. Foi provi-

denciada uma ambulância UTI da Santa Casa de

Misericórdia, com um enfermeiro e um médico,

para buscá-lo. Ficou acertado que, quando esti-

vesse próximo de Juiz de Fora, José Ventura fosse

avisado para recebê-lo no hospital. Ao passar por

Grama, Aparecida solicitou que a ambulância pa-

rasse para o comunicado da chegada. O médico

não permitiu isso, uma vez que seu estado de saú-

de havia piorado. Naquela época o uso do celular

era muito restrito e Juiz de Fora não dispunha des-

te recurso. Chegando ao hospital, foi encaminhado

imediatamente para o centro cirúrgico, onde uma

equipe médica já o esperava. Suas últimas pala-

vras para a filha foram: “Vou sozinho, você não

vem comigo?”. No centro cirúrgico colocaram-lhe

imediatamente um marca-passo para tentar dar

sustentáculo ao seu coração, que teimava em pa-

rar de trabalhar. Tudo em vão, às 23h15min, partia

Antônio Custódio Filho para a outra vida. Faleceu,

como viveu, sem dar trabalho a ninguém. O guer-

reiro dava adeus a este mundo, deixando saudosos,

10 11

Page 7: Revista centenario

mas ao mesmo tempo, orgulhosos seus dezesseis

filhos. Só deixou amizade e exemplo. Nenhum ini-

migo. No seu velório, em Piranga, uma multidão

de pessoas louvava o seu trabalho, sua trajetória

de sucesso financeiro, seu amor à família, sua ho-

nestidade e ética. Todos lamentavam a sua partida,

mas agradeciam a oportunidade de tê-lo conheci-

do e participado de sua amizade e convivência.

Apresentou-se à vida eterna na antevéspera da fes-

ta de São Sebastião, 20 de janeiro, e certamente

o Santo da sua devoção muito especial o recebeu

com muito carinho, dando-lhe as boas-vindas.

José Ventura, O Primogênito

José Ventura – 14/7/34

Zeil Sperandio Ventura – 11/2/42

Guilherme Sperandio Ventura – 17/9/65

Carla Ferreira Corrêa Ventura – 16/10/65

Felipe Corrêa Ventura – 30/7/94

Pedro Corrêa Ventura – 02/12/95

Adriana Sperandio Ventura Pereira De Castro – 25/9/66

Eduardo Breviglieri Pereira De Castro – 15/1/64

Jéssica Ventura Pereira De Castro – 16/3/94

Yuri Ventura Pereira De Castro – 07/7/97

Ricardo Ventura Pereira De Castro – 06/4/05

Andrea Sperandio Ventura Braga – 26/4/70

Marcus Vinicius Braga De Oliveira – 16/11/71

Vinicius Sperandio Ventura Braga – 12/4/96

Henrique Sperandio Ventura Braga – 30/5/03

Juliana Sperandio Ventura Pyun – 30/9/78

Jonas Pyo Pyun – 11/12/77

12 13

Page 8: Revista centenario

JoãoAntônio Custódio foi um homem extra-

ordinário. Seus pais eram agricultores.

Com eles aprendeu desde cedo a traba-

lhar duro na lavoura.

Nacimento: 23/06/1911, Remédios – MG

Casamento: 4/10/1933, com Guilhermina

Evangelista de Souza

Nascimento do 1º filho, José Ventura,

14/7/1934

Nascimento do 18º filho, Maria de Fátima,

5/10/1959

Falecimento: 19/1/2000, em Juiz de Fora

Casou-se aos 22 anos com a jovem Guilher-

mina Evangelista de Souza, de apenas 16 anos

de idade.

Após o casamento foi morar na zona rural do

distrito de Missionário, município de Alto Rio

Doce – MG.

Em 1939 mudou para a zona rural do distrito

de Calambau, município de Piranga, na localida-

de Aquenta-Sol.

Da sua união matrimonial nasceram 18 filhos:

José Ventura - 1934, João Balbino - 1936, Ge-

raldo Tomaz -1937,

Maria Madalena -1939, Maurílio Antônio -

1940, Maria Aparecida - 1942, Maria da Concei-

ção - 1944, Benjamim Vitorino - 1945, Orlando

Antônio - 1946, Osvaldo -1949 (falecido), Idalina

Teodoro - 1949, Moacir Iria -1950, Terezinha do

Perpétuo Socorro -1952, Júlia Paulino -1954, Iza-

bel -1955 (falecida), Francisco de Assis -1956,

Mauro Roberto -1958, Maria de Fátima -1959.

Como chefe da família, trabalhava intensa-

mente para a criação dos inúmeros filhos. De-

pois que mudou para Aquenta-Sol, comprava

ovos, galinha e frangos nas casas da roça e ia

revendê-los na cidade de Ressaquinha, distante

muitas léguas, em tropa de burros. A viagem de

ida e volta durava quatro dias.

Na propriedade rural cultivava milho, arroz,

feijão, cana-de-açúcar, criava porcos e gado, tira-

va leite, fazia queijo, creme de leite e rapadura.

Fazia-se muita economia, passando por pri-

vações, para ir melhorando de vida e ir adquirin-

do pequenas propriedades ao longo de sua vida.

Antônio Custódio aprendeu apenas as pri-

meiras letras e números, mas era inteligente e

de boa memória. Fazia, com facilidade, cálculos

matemáticos de cabeça.

Foi um pai extremamente rigoroso para com

os filhos. Entretanto, todos o respeitavam e ama-

vam. Tinha orgulho do sucesso dos filhos e aju-

dava os que necessitavam.

Com a morte prematura de nossa querida mãe,

ocorrida em 6/10/1959, papai contraiu segundas

núpcias com Júlia, mulher santa, que foi para to-

dos nós, não madrasta, mas verdadeira mãe.

Papai recebia com cordialidade as pessoas em

sua casa, oferecendo sempre um café para as vi-

sitas. Não negava um pedaço de pão ao indigen-

te que batia em sua porta.

Trabalhou até os seus últimos dias de vida.

Não podendo mais ir ao campo, moía milho no

porão de sua casa, recebendo em troca uma dé-

cima parte do fubá, utilizada no consumo do-

méstico.

Faleceu repentinamente em 19/1/2000, aos

88 anos e 6 meses de idade, na cidade de Juiz de

Fora, assistido pelos filhos Ventura e Aparecida,

que o transferira de Viçosa, buscando socorro

médico, na tentativa desesperada de prolongar

sua preciosa vida.

Em seu sepultamento em Piranga, estavam

presentes seus 16 filhos vivos que lhe deram o

último adeus.

Com saudades lembro-me dele sentado na

sala de sua casa,

dando sábios conse-

lhos, relembrando,

com precisão, fatos

de sua vida e fazen-

do o seu cigarro de

palha de milho.

João Balbino

João Balbino de Souza Custódio (31/3)

Irene de Castro Custódio (29/8)

Alexandre de Castro Custódio (31/8)

Suely Ito Custódio (8/11)

Pedro Kendi Ito Custódio (9/5)

Thiago Kenzo Ito Custódio (9/5)

Fernando de Castro Custódio (15/9)

Laura Silva Dias (23/11)

Márcia de Castro Custódio (29/5)

David de Freitas Neto (20/4)

14 15

Page 9: Revista centenario

geraldoAo relatar fatos da minha infância, as

lembranças do papai e da mamãe me

fizeram chorar. Que saudades daqueles

tempos! Papai, um homem de gênio forte, nos

ensinou muito, a honestidade, a responsabilida-

de, um exemplo de pai. A mamãe, de uma bon-

dade sem tamanho, trabalhadeira, companhei-

ra, uma grande guerreira.

O tempo passa, mas não esquecemos os acon-

tecimentos e principalmente os mais marcantes.

Na minha infância por volta dos 3 anos de

idade, assim que fomos morar no Aquenta-Sol,

passados uns 15 dias tive uma dor de barriga (di-

senteria) que quase morri. A mamãe já tinha me

dado vários tipos de chá, mas nada adiantava.

Então ela muito preocupada pediu ao papai para

me levar ao médico (Dr. Sólon) em Piranga. Só

que papai não tinha dinheiro, então foi na casa

do Manoel Costa pedir dinheiro emprestado. In-

felizmente o Manoel Costa não emprestou. Papai

muito triste voltou para casa. Mamãe só chorava.

Ao anoitecer, por graça de Deus, tio João veio

nos visitar. Assustado ao me ver tão doente, já foi

logo falando que tinham que me levar ao médico

o mais rápido possível. Assim que o dia amanhe-

ceu, papai arreou o cavalo, o tio João emprestou

5 mil reis e fomos para Piranga. Chegando lá, Dr.

Sólon disse que eu estava “aguado” e com “vento

caído”, que era para me levar numa benzedeira.

Receitou-me apenas um xarope e que eu tomasse

leite desnatado. Na época papai não tinha vaca,

o leite vinha do Manoel Costa e o Ventura é que

buscava o leite todos os dias. Tomei o xarope, fui

à benzedeira (Maria José), tomei o leite desna-

tado por um bom tempo e assim fiquei curado.

Passados uns quatro dias tio João chegou de Boa

Sorte e ficou feliz, pois eu já estava bem. Papai

disse a ele que gastou apenas 1 mil reis e foi de-

volver os 4 mil reis que sobraram, mas tio João

não aceitou. Disse: “na próxima vez que voltar

você me paga”. Com os 4 mil reis papai comprou

galinhas e revendeu, teve um ótimo lucro: o que

era 4 virou 8 mil reis. Após 60 dias, tio João vol-

tou. Mamãe mais uma vez o agradeceu por ter

salvado a minha vida. Papai queria dar 1 mil reis

a mais para ele, mas ele não aceitou.

Aos 14 anos comecei a namorar a Aparecida

(prima), aos 24 anos nos casamos e temos oito

filhos.

Agradeço a Deus por tantas bênçãos: os pais

que tive, a esposa e os filhos que tanto amo.

Geraldo Tomaz

Geraldo Tomaz (29/12/37)

Aparecida (13/08/40)

José Geraldo Tomaz (8/3/63)

Arlete

Andreza (20/5/00)

Andriely (5/10/04)

Maria Aparecida Tomaz (16/11/64)

Júlio

Betina (16/11/06)

Carlos Roberto Tomaz (7/6/66)

Milton Cornélio Tomaz (16/9/67)

Vânia

Talita (16/6/92)

Caíque(16/9/93)

Irene Tomaz (18/4/69)

Sidney

César (7/7/88) Mateus (21/8/91)

Lucas (3/4/93)

Margarete Tomaz (5/7/70)

Ronaldo

Tamires (24/7/91) Vinícius (19/5/93)

Marcus (14/12/98)

Mauro Lúcio Tomaz (27/7/75)

Gabriela

Eduarda (1/5/08) Elisa (15/6/09)

Marcelo Tomaz (15/6/81)

16 17

Page 10: Revista centenario

Maria MadalenaBom, falar do meu pai chega a ser difícil

de tantas qualidades que ele tinha. Claro

que às vezes ele era bem durão, mas um

excelente pai. Ficou viúvo muito cedo e criou

os 16 filhos e muito bem criados. Apesar das

dificuldade que existiam ele fez o que pôde até

cada um tomar rumo de sua vida e formar pes-

soas de bens como são todos os meus irmãos. Eu

continuei aqui no lugar que fui criada seguindo

o exemplo do meu pai e também criei os meus

onze filhos com muito amor e carinho. A nossa

mãe nos deixou muito cedo, mas a lembrança

dela continua viva em nosso coração.

Maria Madalena

Maria Madalena – 29/5/39

Arlindo – 20/8/31

José Geraldo (9/10/61)

Marlene:

Suelaine, Danilo, Denis e Simony

José Geraldo

Léia

Letícia, Larissa e Laís

Antônio Carlos (18/5/63)

Maria Geralda:

Gabrielly, Danielly e Igor

João (22/8/65)

Matilde:

Deivid e Derick

Maria do Perpetuo Socorro - Corrinha (12/9/66)

Tadeu

William, Tiago, Daniel e Fernando

Francisco (9/8/68)

Maria da Consolação

Luís Felipe, Luana e Luísa

Maurilio Arlindo (13/9/70)

Elaine

Wenydion, Wellen e Wesley

Moacir (25/7/72)

Elessandra

Mateus

Cormaria (17/12/74)

Valdo

Carine e Cátia

Ana Lúcia (15/12/76)

Carlos

Vitório, Lidiane e Camila

Maurício (15/5/78)

Ilda

Aquilis e Andriely

Maria Aparecida (11/6/80)

Naim

Talis e Yalis

18 19

Page 11: Revista centenario

MaurílioS

ou o quinto filho, o primeiro a nascer no

Aquenta-Sol.

Não tenho muito o que falar de meu gran-

de pai. Foi uma época difícil, muito trabalho e

pouco diálogo e sai muito jovem da roça para a

cidade. O que sei que foi um grande exemplo,

grande educador, ensinou seus 16 filhos irem

a luta como ele. Conseguiu todos seguiram seu

exemplo.

Sinto-me feliz e orgulhoso de pertencer esta

família maravilhosa, família Custódio. Peço a

Deus todos os dias a Eterna Luz Divina para

meu pai e onde você estiver olhe por seus fi-

lhos.

Maurílio Antônio Francisco

Maurílio Antônio Francisco – 9/8/40

Isabel Cristina de Melo Francisco – 30/3/52

Murilo 30/6/1970

Carolina Cassin 11/5/80

Mauricio 5/3/72

Edilene Santos 27/2/68

Miriam 14/5/74

Marcio Reato 15/5/72

Vitor 22/10/04

Beatriz 22/11/07

20 21

Page 12: Revista centenario

AparecidaAntônio Custódio Filho, este grande ho-

mem, é meu pai, meu ídolo, meu herói.

“Ser pai é ser herói, protegendo o es-

paço sagrado de seu templo-família, cultivando

no coração dos filhos o germe da harmonia.”

Um fato marcante em minha vida, mamãe fi-

cou doente e precisou ser internada em um hos-

pital psiquiátrico, em Barbacena, 1945. Eu tinha 3

anos e estava na varanda olhando o tio Joãozinho

e o Tio Zezé que a levaram e vi o papai chorando.

No dia seguinte ele arreou dois cavalos, colo-

cou uma toalha no pescoço e colocou o Bejo que

tinha seis meses e a Lena na garupa; o Zé Lou-

renço no outro cavalo colocou um travesseiro na

cabeça do arreio e sentou-me ali. Fomos para

Rio Espera ficar com as tias, foram dois dias de

viagem. Dormimos na casa do Zé do Bem, onde

tomamos banho. Durante a viagem quando ti-

nha árvore com uma boa sombra ele parava, ti-

rava o coxenil, estendia e nos deitava. Dava a

mamadeira para o Bejo e lanche e água para nós.

Papai nos deixou na casa das tias e foi visitar a

mamãe no hospital. Levou o João e a Ceção para

casa da madrinha Idalina, nossa avó, mãe dele.

Toda semana ele ia ver a mamãe e os filhos,

isso foi durante dois meses, quando foi nos bus-

car. Mamãe ficou internada por uns 6 meses, e

ele cuidava de todos nós. Quando a tarde che-

gava, sentava na varanda e nós o rodeávamos.

Ele me colocava no colo, ficava dançando e can-

tarolando: “Eu sou pequetita, da perna grossa,

vestido curto, papai não gosta”.

Por essas lembranças digo ele foi meu ídolo,

meu herói.

Passou por muitos momentos difíceis, tristes,

mas não reclamava. Tinha muita Fé em Deus.

Depois que mamãe morreu, em 1959, ele foi pai

e mãe e soube educar e ensinar trabalho para os

seus 16 filhos, que ele tinha orgulho de falar.

Aprendi muito com ele. Quando Deus o le-

vou, foi como se me tirassem o chão, como se

eu estivesse na sombra de uma árvore e alguém

viesse e cortasse e o sol se pusesse a queimar-

-me. Meu consolo é a fé que tenho que ele está

junto de Deus, pois é o que merece.

Hoje estamos reunidos comemorando o seu

centenário, ele gostava muito de festas, de reu-

nir a família e por isso aqui estamos.

Pai, quanta saudade e quanta falta o senhor

nos faz!

Maria Aparecida de Souza Almeida

Maria Aparecida de Souza Almeida – 6/5/42

Cícero Venâncio de Almeida – 18/5/37

Maria do Carmo de Almeida (Eida) – 19/12/62

Julio Sanseverino – 14/8/69

Julia - 29/1/99 / Lívia - 14/12/03

Walter de Souza Almeida – 15/8/64

Maria Madalena Sanseverino – 22/10/66

Thiago – 5/2/2000

Wagner de Souza Almeida – 27/9/65

Edleuza Fernandes 02/01/71

Nathalia - 21/08/95, Thayane – 07/11/98,

Beathriz – 06/03/06

Wanderley de Souza Almeida – 25/2/67

Ilma de Jesus Teixeira Almeida 24/11/70

Lucas – 31/08/96, Caio – 16/10/99,

Aline – 18/06/2003

Wanderson de Souza Almeida – 12/9/68

Solange Fernandes 26/06/70

Rafael – 13/11/95,

Carolina – 28/3/99

Guilhermina – 14/5/71

22 23

Page 13: Revista centenario

ConceiçãoEu, Maria da Conceição de Souza, nascida

em 6/3/44, tenho imenso prazer de falar

um pouco do papai, que foi a referência

para todos os filhos, principalmente para mim,

um homem sem estudo, mas de muita coragem,

um pai exemplar, na verdade um grande herói,

um nome honrado, trabalhador, ser filha dele é

um grande orgulho.

Era um homem de pouca conversa, todos os

filhos lhe tinham muito respeito, era rígido, cada

um tinha as suas tarefas para fazer, e ai de quem

não as fizesse: ele dava uma bronca! Mas embo-

ra aparentasse ser um homem muito rigoroso,

no fundo era uma pessoa de coração mole, que

só queria ensinar os filhos a trabalhar e aprender

a enfrentar as dificuldades da vida.

Ensinou-nos, a trabalhar, a rezar, a sermos

honestos, e apesar das dificuldades enfrenta-

das, sempre se preocupou com a nossa educa-

ção, colocou todos na escola, querendo sempre

o melhor para nós. Os 16 filhos eram tratados da

mesma forma, alguns prosperaram mais do que

outros, uns quiseram estudar, outros seguiram

outros caminhos, mas para ele não havia dife-

rença, sabia compartilhar o mesmo amor com

todos.

Eu fui à única das moças que teve o privilé-

gio de ficar em sua companhia até casar, não saí

para trabalhar fora e nem para continuar a estu-

dar, nos dávamos muito bem, eu o ajudava mui-

to no engenho, ele falava que eu era seu braço

direito, aprendi muito com ele, e se às vezes nas

dificuldades que a vida coloca em meu caminho

eu dou a volta por cima é me espelhando nele,

que nunca se deixou abalar, nunca reclamava da

vida, só agradecia.

O que mais me emocionava no papai era

quando eu passava muito tempo sem ir lá, de-

pois que me casei, e ele me recebia com lágri-

mas de tanta saudade, era quando eu percebia

o quanto ele gostava de mim. Eu ficava radian-

te de alegria, porque ele sempre foi um homem

muito reservado, não demonstrava com facilida-

de suas emoções. Ele conversava muito comigo,

perguntava por toda a família, me mostrava as

promissórias dos negócios que fazia, era só ale-

gria. Eu voltava para casa muito feliz, porque

sabia que tinha um pai que me amava da mesma

forma que amava os outros, mesmo eu estando

um pouco mais distante do seu dia a dia.

Não poderia deixar de falar também da ma-

mãe, uma mulher pura, dedicada, humilde, de

coração puro, mãe amiga sem nenhum defeito,

que só tinha bondade no coração, um presente

de Deus, mas que tão cedo a levou, deixando a

mais triste saudade. O pouco tempo que ficou

nos deu muito exemplo de como é a vida. Todos

que tiveram a oportunidade de conhecê-la sa-

bem a pessoa maravilhosa que partiu para junto

de Deus, deixando 16 filhos, o mais velho com

24 anos, todos solteiros, na companhia de papai,

que cuidou de todos com muita competência e

dedicação, sem desanimar, sempre passando

força para nós.

Papai e mamãe, que saudades, que falta vo-

cês me fazem... Aqui fica minha mensagem para

meus pais que tanto amo!

Maria da Conceição de Souza

24 25

Page 14: Revista centenario

BenjamimMaria da Conceição de Souza

Waldomiro Rodrigues de Souza

Geraldo Antônio de Souza

Geovonete Aguiar

Jeferson de Souza Aguiar

Maria Célia de Souza

Gessemi Miranda de Souza

Leonardo da Silva Souza

Josimar da Silva Souza

Adriana Rodrigues da Silva

Adrià Januário de Souza (bisneto)

Alice Januário de Souza (bisneta)

João Clemente de Souza

Rosária Correia de Souza

Gilson dos Reis Souza

Julio correia de Souza

Ana Luiza de Souza (bisneta)

Conceição Amarante de Souza

Francisco Roberto Lopes

Telma Crispina de Souza

Gabriel Saraiva

Lineker Rodrigues de Souza

Marilda Lídia de Souza

José Adelmo Moreira

Raul Ramon Rodrigues Moreira

Rafael Rodrigues Moreira

Vinicíus Rodrigues Moreira

Arlindo Edson de Souza

Regina de Souza

Renata de Souza

Edna de Souza

Valdomiro Rodrigues de Souza Filho

Rosana Barbosa de Souza

Aline Rodrigues de Souza

Leandro Rodrigues de Souza

Neide Rodrigues de Souza

Eduardo Luís Fontes

Maria Eduarda Rodrigues Fontes

Meu pai Antônio Custódio Filho, sin-

to orgulho em falar dele e ao mesmo

tempo é difícil, pois fico emocionado.

Papai foi uma pessoa batalhadora, um grande

homem, vitorioso, muito especial que dedicou sua

vida a seus filhos, estará sempre em meu coração.

Com honestidade, amor e carinho criou 16 fi-

lhos. Tive a oportunidade de estar sempre ao seu

lado, sempre o apoiando e aprendi muitas coisas

boas da vida com ele.

Pai, sei que você está junto de Deus. Sinto

a sua falta, mas sei que este é o destino de to-

dos. Agradeço sempre o que sou que é graças

a você.

Benjamim

BenjamimNoemia (in memoriam)

Carlos

Sandra

Renata / Marina

Cormaria

Humberto

Mateus / Izabela

Celso

Cláudio

Patrícia

Cristina

Marcílio (in memoriam)

Ana Clara / Carolina

Carmem Silva

Cleuza

2 Matrimônio

BenjamimÂngela

Edimilson / Beatriz / Adriano

26 27

Page 15: Revista centenario

OrlandoEu nasci em 14 de dezembro de 1946 e fui

o 9º filho de Antonio Custódio. Meu pai

sempre foi um homem de pouca conver-

sa, muito rígido e muito trabalhador, todos nós

o respeitávamos muito. Cedo perdi minha mãe

e meu pai ficou com a incumbência de criar 16

filhos sozinho. Esta foi uma ocasião que me

marcou muito eu ainda era muito novo, mas me

lembro quando ela estava para partir, ela nos

chamou a todos e disse que iria virar um pas-

sarinho e iria voa para o céu, não entedemos

muito o que aquilo que queria dizer, mas no fun-

do sabíamos que não era coisa

boa, até hoje quando me lembro

deste dia ainda sinto muita emo-

ção. Acredito que isto marcou a

minha vida e a de meus irmãos

para sempre, somos todos muito

carentes, o que mais me lembro

da minha mãe é que ela passava

os seus dias cantando. Quanta

saudade... Não tem como falar

da vida de meu pai sem falar

da minha querida mãe. Além é

claro da grande perda que sofre-

mos com a morte da mamãe, a

falta dela fez com que meu pai

ao se ver diante de 16 crianças

tivesse de fazer alguma coisa.

Embora um homem de pouca

cultura, meu pai sabia da im-

portância dos estudos para a

formação, então logo que minha mãe faleceu

preocupado com o nosso destino agora sem a

nossa mãe, meu pai mandou eu e o Moacir para

um orfanato Belo Horizonte para estudar na

Pampulha, ficamos lá por trinta dias, eu perdi

12 kilos de tanta tristeza e saudade da minha

família, fugi duas vezes, liguei para o Ventura

para me buscar, Ventura então pegou um avião

(ainda devo o dinheiro da passagem do avião até

hoje para o ventura [rs...]), deu uma volta por

cima Aquenta-sol e pousamos em Piranga. Ele

havia comunicado Papai que queríamos voltar,

meu pai então mandou o Beijo pegar um cavalo

para buscar eu e o Moacir em Piranga, quando

chegamos em casa meu pai nos abraçou e disse:

– Vocês não quiseram ficar para estudar? En-

tão não vão mais para a escola.

Eu respondi: - meu pai eu não quero estudar,

eu não vou sair da roça, não preciso de estudo.

Na roça então fiquei trabalhando, me espe-

lhando no papai que se levantava às 6 horas

da manhã, fazia café, nos levava no engenho.

Quando terminávamos a pri-

meira moída de cana, íamos ti-

rar leite, quando terminávamos

estas obrigações determinadas

pelo papai, ele nos passava ou-

tras tarefas.

Cresci trabalhando duro na

roça, a medida que ia crescendo

eu não entendia muitas vezes

meu pai, por que eu trabalhava

tanto e ele não me dava um tos-

tão, mais ou menos com uns 17

anos eu chegava em Calambau

para ir à missa, obrigado (agra-

deço ao meu pai por ter me obri-

gado a ir a igreja, porque se hoje

tenho uma crença, uma religião

e sou uma pessoa com moral eu

devo isto a ele), eu chegava na

venda do padrinho Leonídio eu

Uma passagem engraçada que eu lembro do meu pai comigo: Eu nunca tinha visto um tou-ro de cabresto então um dia fui no Zé Carneiro e vi seis bois de giro amarrados no toco com cabresto, daí sai contando para todo mundo que no Zé Carneiro haviam seis “touros” amarrados no cabresto. Todos me tiravam o sarro e eu jurava: - Lá no Zé Carneiro tem seis “touros” amarrados no cabresto. Meu pai ria da mi-nha história de menino e é claro não acreditava e me tirava o sarro como todo mundo.

28 29

Page 16: Revista centenario

tomava meia garrafa de pinga para ver se meu

pai me expulsava de casa, mas ele nunca falou

nada. O fato de eu trabalhar e ele não me dar

nenhum dinheiro me revoltava, nesta época eu já

namorava a Maria e não tinha dinheiro nem para

comprar uma bala para dar para ela. Então quan-

do completei 18 anos, decidi que viria para São

Paulo, o Maurílio já estava aqui, decidi, mas não

tinha coragem de pedir ao meu pai, porque quan-

do comentei com cumpade Arlindo que eu viria

para São Paulo, ele falou para o papai que disse

para cumpade que se eu pedisse para vir para são

Paulo que ele me daria uma pisa que eu nunca

mais esqueceria. Nesta mesma época o Murilo foi

nos visitar e então aproveitei e pedi para Sá Julia

(nossa segunda mãe, que sempre nos tratou com

carinho e amor), que falasse ao meu pai que eu

viria passear com o Murilo. Então ele autorizou

que eu viesse, mas daí nunca mais voltei.

Quando vim para São Paulo, dei valor ao meu

pai, ele não me dava dinheiro, mas na casa dele

eu tinha tudo. E aqui em São Paulo eu conti-

nuava não tendo dinheiro e muitas vezes não

tinham nem o que comer, muitas vezes a noite,

eu chorava sozinho com muita vontade de voltar

para casa e para mostrar que um pai nunca se

ressente com o filho, ele foi em São Paulo para

me buscar duas vezes, ele me dizia:

- Volta estou precisando de tu.

Mas eu orgulhoso dizia não. Queria que meu

pai tivesse orgulho de mim, porque no fundo

sentia um grande orgulho do homem que ele

era, um vencedor, um trabalhador, ele me ensi-

nou a ser assim e eu tinha que vencer, para no

mínimo ser digno de um homem como ele, por

isto não voltei.

O tempo passou, eu consegui me estabelecer

em São Paulo e todos os anos eu o visitava e

ele me recebia de braços abertos, ele me dizia

com orgulho meu filho que não teve estudo e

foi para São Paulo e conseguiu vencer. Hoje o

que eu tenho a dizer é que se venci é porque me

espelhei no meu pai que foi um herói para mim:

sem cultura, criou 16 filhos, viveu uma vida sem

conforto, com muitas privações, preocupado em

deixar para os filhos um patrimônio que pudesse

dar segurança a eles, mas o que ele não sabe é

que ele não precisa nos deixar dinheiro, por que

ele nos deu mais... ele nos ensinou a pescar a

andar com nossos pés, a não ter medo do traba-

lho a ser honestos e isto é o maior legado que

um homem pode deixar para os seus filhos é o

que tento passar para os meus filhos também e

é esta homenagem que eu quero prestar ao meu

pai através deste relato.

Pai você foi meu herói, minha fortaleza, nos

ensinou a trabalhar e a ser honestos, foi o alicerce

das minhas estruturas, fez de mim o homem que

hoje sou. E eu tenho muito orgulho do homem

que me tornei e se eu me orgulho de mim mesmo

eu devo isso a você papai. Muito obrigado!

Orlando

Orlando Antônio Custódio 14/12/46

Maria das Graças dos Santos Custódio (6/6/48)

Rogério dos Santos Custódio 14/10/70

Simone Sousa Oliveira 10/6/73

Matheus Oliveira Custódio 30/4/2002 e Maria Fernanda Oliveira Custódio 7/7/2005

Andréia Aparecida Custódio 5/12/72

Rogerio Pereira da Silva 2/4/74

Telma dos Santos Custódio 21/4/73

Sérgio Sousa Oliveira 28/12/71

Gabriel Custódio Oliveira 4/1/2000 e Laura Custódio Oliveira 22/12/2006

Reginaldo Dos Santos Custódio 10/9/75

Sarita Sueza Cruz 11/11/84

30 31

Page 17: Revista centenario

IdalinaMeu pai, o homem de quem me orgu-

lho a vida toda. Quando era peque-

na, observava meu pai. Sempre o vi

na lida, um homem sério, mas firme nas suas

decisões. Um homem a quem todos respeita-

vam e admiravam. Dizer este é filho de Antô-

nio Custódio já era uma referência. Em casa o

via sempre com seu cigarro de palha e olhando

a natureza da varanda. Um dia lhe perguntei:

“Pai o que o Senhor está olhando”. Ele me disse:

“estou dando pasto as vistas”. Não entendi, mas

não perguntei mais, e só hoje eu entendo aon-

de ia os seus pensamentos, com certeza para o

destino de seus filhos. Na minha vida vi meu pai

chorar duas vezes, uma quando caiu do carro

de boi e fraturou a mão e a outra quando minha

mãe faleceu. Eu o ouvi gritando de dor. Hoje en-

tendo que doía muito. Ele ia da casa até a bica

uns duzentos metros de distância e eu andava

atrás dele, e ele chorava muito. Meu pai, que

orgulho eu tenho do Senhor! Um homem dig-

no, correto, tinha uma postura de um homem

culto. Meu pai ensinou a cada um de seus filhos

a pescar, nunca deu o peixe, mas ensinou a ir

buscá-lo. Criou José Ventura, o primeiro filho,

com a Maria de Fátima, a última filha, da mes-

ma forma, nunca fez diferença entre seus filhos.

Todos eram iguais. Pelos netos tinha muito cari-

nho, sabia o nome de todos. O seu maior prazer

era ver os filhos reunidos. Pois a esta altura da

vida já não tinha mais a preocupação de criá-

-los, encaminhá-los na vida, já havia feito, en-

tão sentava conosco, brincava, imagine, aquele

homem sério de quem todos nós morríamos de

medo, quando ouvíamos os seus passos firmes,

hoje jogando baralho, contando piadas, ríamos

juntos. Gostava de ouvir meu pai contando as

aventuras de sua vida, quantas dificuldades que

ele passou para criar todos os filhos. Gostava de

abraçar o meu pai, segurar o seu braço. Parecia

uma rocha de tão firme que era. Ele era o meu

porto seguro, me ensinou tantas coisas na vida,

sempre que falava para ele de algum problema

ele tinha uma resposta positiva. Dizia já já isso

resolve. Ele vai conseguir, tem paciência. Ele nos

ensinou o caminho certo, a sermos mais justos,

honestos e seus ensinamentos ficaram em cada

um de nós, tenho certeza de que onde ele está

ainda vela por nós. Pai, onde quer que o Senhor

esteja, peço a sua bênção e o Senhor sabe quan-

to o amo.

Idalina

Idalina Teodoro Custódio Kruger - 3/5/1949

Carlos Daniel Kruger – 14/02/54

Karina Custódio Kruger - 16/9/82

Marcos Antônio Gualberto Dias – 11/7/74

Leandro Custodio Kruger - 16/11/83

32 33

Page 18: Revista centenario

MoacirDa união de Antônio Custódio e Guilher-

mina nasceram 18 filhos, sendo que

dois faleceram ainda crianças. Eu, Moa-

cir Iria Custódio fui o 9º a vir ao mundo. Tenho

uma satisfação enorme de ser fruto desse enlace,

pois tive o privilégio de ter como pai um herói

como Antônio Custódio. Perdi minha mãe ainda

criança e papai nos criou com toda dedicação.

Mesmo com as dificuldades do dia a dia e com

seu gênio rigoroso e enérgico, ele me fez o ho-

mem que hoje sou.

Papai sempre foi um homem que prezava

o trabalho e a formação do caráter dos filhos.

Nunca nos deu mordomia, ensinou seus filhos a

andarem com as próprias pernas, dando exem-

plo de força e perseverança.

Não foi um homem de muito carinho e diálo-

go com os filhos, a não ser na sua velhice. Um

homem um pouco rude, que mesmo com seu

gênio difícil foi um PAI de verdade me ensinou

o que há de mais importante: “que um homem

tem que zelar pelo seu caráter”.

Não dava moleza pra gente. Acordávamos

cedo para trabalhar duro na roça, sempre com

um respeito enorme por ele, respeito esse que

até refletia em medo.

Quando perdi minha mãe, o Ventura, meu ir-

mão mais velho, tentou me ajudar e me levar

para estudar. Mas dos 16 irmãos, ele escolheu

logo a mim e o Orlando para ir para o seminá-

rio, só que nosso campo não era estudar. Duran-

te esse tempo, papai casou-se novamente com

Sá Julia, que foi minha segunda mãe e que me

criou com todo carinho e amor.

Se hoje sou o homem que sou,que construí

uma família como Antônio Custódio,agradeço a

Deus em primeiro lugar e ao meu pai, exemplo de

vida que sempre seguirei. Exemplo de homem.

Descanse em paz, PAI.

Moacir

Moacir Iria Custódio – 20/10/50

Neuza Teixeira Custódio – 31/3/56

Débora – 01/10/80

Moacir (Junior) – 14/3/83

Denise – 16/1/87

TerezinhaEu, Terezinha do Perpétuo Socorro Custó-

dio, nascida em 22/6/1952, tenho o maior

orgulho de ser filha de Antônio Custódio

Filho, homem simples, rude, enérgico e inteli-

gente. Criou seus 16 filhos e a todos ensinou o

valor do trabalho e o respeito pelo ser humano.

Se tivesse de nascer de novo, gostaria de ser fi-

lha dele novamente. Antes eu tinha muito medo

dele, depois foi se transformando em respeito e

admiração. Muitas vezes pensava: “Meu pai não

gosta de mim, nem dos meus irmãos”. Fui cres-

cendo e vendo como ele sofria quando acontecia

qualquer coisa desagradável com qualquer um

dos filhos. Eu amo Antônio Custodio Filho, até

hoje ele é ponto de referência em qualquer ad-

versidade.

Meu pai tinha o maior amor pelos filhos, só

que as vezes não demonstrava, mas acontece-

ram muitos fatos, que eu presencie, que dei-

xaram claro este amor. Vou citar um que me

marcou muito. Quando Fatinha, com 5 para 6

anos, ficou doente. Ele saiu a galope para bus-

car Gecelmino. Ele não queria vir e mandou os

remédios. O meu pai não dormiu a noite inteiri-

nha, ficou sempre ao lado dela. A Aparecida do

Geraldo queria que ele descansasse um pouco. E

ele disse: “Enquanto minha filha não melhorar,

não arredo pé daqui”. Quando o dia amanheceu,

mandou o Bejo a Calambau buscar o farmacêu-

tico. Neste interim, a Fatinha falou alguma coisa

e ele suspirou aliviado.

Depois que vim para São Paulo e tinha a mi-

nha casa, tive a graça de recebê-lo algumas ve-

zes, pois com todas as dificuldades ele sempre

nos visitava. Viajava sempre com uma garrafi-

nha de café e linguiça defumada no pão para o

lanche. Trazia para os filhos queijo e linguiça.

Ele gostava de conversar com as vizinhas Fran-

cisca e Dona Noêmia.

Terezinha

Terezinha do Perpétuo Socorro Custódio 22/6/52

José Manoel da Silva -10/11/62

Alessandra Custódio Silva - 6/3/96

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Page 19: Revista centenario

ChiquinhoJúliaTenho o maior orgulho de ser filha de An-

tônio Custódio Filho e de Guilhermina

Evangelista de Souza. Tudo que tenho

na vida e o que sou devo isto a ele. Amo mi-

nha família e tenho o maior orgulho dela, sou

feliz com meus filhos, gosto dos meus irmãos,

cunhados (as), sobrinhos (as), enfim todos que

pertencem à família Custódio. Fatos marcantes

não têm como citar, pois foram tantos que fica

difícil falar de um em especial, só tenho lem-

branças e exemplos bons a seguir do meu PAI.

Quero pedir a DEUS que dê a ele o descanso

eterno e que ele continue zelando por nós. Bei-

jos PAI TE AMO!

Sua filha,

Júlia Paulina Custódio Moreira.

Júlia Paulina Custódio Moreira – 22/06/54

Wanderlei Bernardes Moreira (in memoriam) – Esposo – 10/05/50

Alessandra Custódio Moreira – Filha – 23/10/77

Alex Custódio Moreira – Filho – 07/09/89

João Batista Custódio Moreira – Filho – 14/06/95

Papai nasceu no dia 23/6/1911 em uma pe-

quena cidade chamada Remédio, em Mi-

nas Gerais. Ele foi um batalhador. Sempre

o enxerguei como um exemplo de vida para mim

e que hoje procuro passar para os meus filhos.

Sabemos que uma pessoa é forte quando é ca-

paz de superar desafios. Eu vi isso em meu pai.

Ele passou por algo que todos têm medo de

passar: perder sua companheira, sua esposa,

minha mãe Guilhermina Evangelista de Sousa.

Eu nasci em 10/12/1956, minha tristeza é não

ter tido a oportunidade de conviver com minha

mãe, pois a sua morte foi no dia 5/10/1959. São

poucas as lembranças de minha querida mãe,

porém eu sei que ela, assim como meu pai, era

uma pessoa amorosa e com certeza foi quem

ajudou meu pai nas conquistas de sua vida.

Com a morte de minha mãe, meu pai se viu

diante de um desafio, criar 16 filhos sozinhos.

Para saber se meu pai foi bem-sucedido ou não,

basta olhar para a nossa linda família hoje.

Porém após um ano de seu falecimento pôde

contar com outra grande graça: contraiu matri-

mônio com minha madrasta, porém considerada

por todos os irmãos uma mãe, Júlia Maria, cari-

nhosamente chamada de Sá Júlia.

Sá Júlia criou não só a mim, mas a todos os

meus irmãos, como filhos dela. Minha querida

madrasta não teve filhos no seu primeiro ma-

trimônio, assumiu de uma só vez os 16 filhos e

ajudou a criá-los como seus.

Meu pai, como chefe de família, trabalhava

de forma árdua, para fazer provisões para nos-

sa família. Ele provia tanto o alimento material,

como a educação e o exemplo para os seus fi-

lhos.

Na fazenda Aquenta-Sol meu pai cultivava

milho, arroz, feijão, cana-de-açúcar, criava por-

cos, gado, tirava leite, fazia queijo, creme de lei-

te e rapadura.

Antônio Custódio, embora soubesse apenas

as primeiras letras do alfabeto e os primeiros nú-

meros, era inteligente e tinha boa memória, por-

tanto fazia cálculos matemáticos com facilidade.

Papai era respeitado por todos os filhos, era

rigoroso com relação a educação, algo elogiável

para um pai de família, exemplo para todos os

filhos, inclusive para mim que me tornei pai de

dois filhos.

Antônio Custódio sempre foi hospitaleiro

com os parentes e amigos, como também com

os indigentes que batiam a sua porta.

Meu querido pai veio a falecer no dia

19/1/2000. Sinto saudades de sua companhia e

de seus sábios conselhos. Sempre guardarei boas

recordações dele.

Nos 100 anos de nascimento de papai só pos-

so falar, obrigado, sempre terei você em meu co-

ração e dizer: sempre estará presente em minha

vida, assim como sempre esteve.

Com saudades,

Chiquinho

Francisco de Assis Custódio 10/12/1956

Marisa Alves Custódio – 27/4/1961

Danilo Alves Custódio – 7/10/1988

Vinícius Alves Custódio – 24/5/1991

36 37

Page 20: Revista centenario

FatinhaMauroEu, Mauro Roberto Custódio tive o privile-

gio de nascer em 13/05/1958 tendo nas

minhas veias o sangue de Antônio Cus-

todio Filho e Guilhermina Evangelista de Souza.

O Legado que um homem deixa é a marca

da sua história e o papai pode sentir como um

homem realizado, pois dos 16 filhos vivos, como

pode ser observado nos depoimentos, todos só

tiveram palavras de carinho e respeito a este

grande homem.

No Oriente, em uma tradicional tourada, a

bravura de cada touro é então avaliada segundo

o número de vezes que demonstra boa vontade

para investir apesar da ferroada da lâmina. An-

tônio Custódio nos ensinou que a vida é simi-

lar, se persistirmos, se continuarmos a tentar, se

continuarmos a investir teremos êxito.

Aprendi com o papai que cada dia é uma

nova vida e que devemos saudar o novo dia com

amor no coração. Todos os seus filhos não carre-

gam nenhum ódio nas suas veias, pois têm tem-

po somente para amar.

Tivemos o privilégio de ter um pai singular,

de poucos estudos convencionais porém de uma

sabedoria imensa, centuplicou suas técnicas,

sua mente e seu coração podendo ser doutorado

pela vida como vencedor.

Como foi dito pelos meus irmãos todos foram

tratados da mesma forma, eu também tive que

trabalhar duro com Antônio Custódio, sendo ape-

nas uma criança, pois fui o último a permanecer

trabalhando, morando e ajudando em todas as

atividades duras do campo. O incrível que todas

as minhas memórias da infância só tenho que

cair de joelho e agradecer aos céus por tantas ex-

periências boas deixadas pelo meu querido pai.

Não tive o privilégio de conviver com minha

mãe, pois ela me deixou muito pequeno, porém

aprendi amar e senti-la sempre perto de mim,

em função da sua imagem de grande mulher que

foi transmitida, pela minha mãe Júlia, pelas mi-

nhas queridas irmãs, que passaram suas quali-

dades e seu grande coração.

Poderia escrever um livro com todas as passa-

gens onde meu pai demonstrou o quanto ele me

amava e amava seus filhos, porém quero apenas

agradecer por tudo que aprendi e vou lutar para

centuplicar seu valor.

Saudades,

Mauro

Mauro Roberto Custódio - 13/05/1958

Falar de papai é difícil, porque me emocio-

no, pois a saudade que sinto dele é mui-

to grande. Papai foi tudo para mim, meu

amigo, minha companhia, meu porto seguro,

minha fortaleza, meu alicerce. Ajudou-me muito

e continua ajudando, tudo que tenho eu agrade-

ço a ele e agradeço a Deus por ter me dado um

pai tão leal, bom, honesto, de caráter, responsá-

vel e trabalhador.

Ele contava com orgulho sua luta de trabalho

para criar seus 16 filhos. O papai nos deixou um

exemplo de caráter, responsabilidade, honesti-

dade, união, confiança e respeito. Tinha um co-

ração de criança, bom, não guardava rancor: se

hoje ficava com raiva de alguém que o magoou,

amanhã já esquecia tudo e já estava sentindo fal-

ta daquela pessoa.

Ele ria e brincava quando o assunto era mu-

lher, mas nunca faltou com respeito a quem se

dava o devido respeito.

Papai era alegre, contador de histórias de

sua vida de sacrifícios no início. Agradecia a

Deus pelo tanto que o ajudou a chegar aonde

chegou.

Adorava quando lhe davam atenção e cari-

nho. Falava com orgulho e satisfação de seus fi-

lhos, gostava muito de mim, do Zeca e de meus

filhos. Não teve o prazer de conhecer os meus

netos, mas ficou feliz ao saber que o meu primei-

ro neto se chamaria Augusto, e eu tive a grande

alegria de papai estar presente no casamento da

minha filha Cláudia.

Um fato marcante foi quando quebrou a perna

no casamento de Wanderlei e Ilma (9/9/1995).

Que saudades, papai! Te amo muito, muito,

muito...

Peço que me abençoe e me proteja juntamen-

te com minha família. Obrigada por tudo. Fazer

parte desta família é o maior e melhor presente

que Deus me deu. É uma honra para mim ser

filha de Antônio Custódio Filho e Guilhermina

Evangelista de Souza e ter os irmãos que tenho.

Fatinha

Maria de Fátima Custódio Fernandes – 5/10/59

José Nicolau Fernandes – 6/12/54

Claudia Custódio Fernandes – 30/9/81

Eli Marcos Conde (genro) – 29/4/82

Augusto Fernandes Condé – 11/2/2000

Eduardo Fernandes Conde – 21/2/2001

Fernanda Vitória Fernandes Conde – 1303/2010

Kátia Custódio Fernandes – 24/5/88

Carlos Gabriel Custódio Fernandes – 29/4/92

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Page 21: Revista centenario

FamíliaCustódioAntonio Custódio Filho

Guilhermina Evangelista de Souza

18 filhos (16 vivos)72 Netos(as)

97 Bisnetos(as)3 Tataranetos(as)

Este texto é para homenagear a memória de nos-so avô, Antonio Custódio Filho, o “Vovô Cus-tódio”, que nos deixou uma saudade imensa e

a certeza de que, por mais longa que seja a vida, um dia tem o seu término.

Foram anos de uma vida resumida em duas pala-vras: “missão” “cumprida”. Gostaria de falar muito de sua vida e de seus feitos, mas não sei tanto as-sim a respeito do passado do meu avô. As histórias a respeito foram contadas e recontadas várias vezes, e detalhes se perdem nessa hora importante.

Meu avô nunca foi materialista, nunca vi nele ambição desenfreada. Já era adulto e casado, e se obrigou à tarefa de criar os filhos. Conformou-se logo com a estabilidade trazida pela força de seus braços e suas habilidades como homem do campo. Por isso jamais rondou pela casa de meu avô a fome, a carên-cia. Jamais ouvi que meu avô esbanjasse dinheiro ou comida. Ele mesmo era frugal, comia e conversava com parcimônia e na sua casa sempre havia paz. Meu avô trabalhou até a velhice, como se fosse um rapaz de vinte e cinco anos. Quando o tempo lhe obrigou a aposentar-se de vez, era um homem ativo, que conti-nuou a cultivar as suas amizades.

Vivi anos visitando o meu avô em Piranga, minha carinha de 25 anos é apenas aparência, pois já es-tou caminhando para meus 41 anos, e graças a Deus tive a oportunidade de conviver com meu avô muitos anos, Adorava!!!

Meu avô deve ter cometido muitos erros. Ele era humano. Mas nenhum de nós consegue se lembrar de um deles sequer agora. Todos os defeitos dele são banais, comuns e nenhum supera as suas melhores qualidades. E por tudo isso, recebe de nós, seus mais amorosos e chegados parentes, a homenagem devida. “Esta linda Festa do Centenário de Vovô – Antonio Custódio Filho” Ele se foi de nós ao som do berrante que nos faz imaginar que ele está lá em cima, não só ele como nossa Vovó Guilhermina, Vovó Julia que olha por todos nós, e brincando de cuidar da fazenda de Deus, que deve estar feliz ao ver que dele saiu um bom homem, que há anos a Deus retornou em paz, com a missão cumprida e exemplo dado.

Obrigado, vovô! Viu só que família linda que eu tenho? Pois é! São frutos de sua existência.

Há muito que queríamos ter dito, há muito que queríamos que soubesse de nós, falando face a face. Nesse mundo, aprendemos a ser cruéis conosco e com aqueles que amamos. Nem sempre, quando te-mos oportunidade, olhamos no rosto daqueles que amamos muito e dizemos o quanto são importantes. Mas não poderemos dizer isso ao senhor, porque já foi embora. Agora, espero que descanse nos braços de Jesus e Maria, que ambos possam ser o seu conforto.

Beijos do seu neto.Rogério Custódio e Família

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