Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de...

79
Revista da Educação Superior do Senac-RS V.10 - N.2 - Dezembro 2017 - ISSN 1984-2880

Transcript of Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de...

Page 1: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 - N2 - Dezembro 2017 - ISSN 1984-2880

E x p e d i e n t e

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

Senac ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul

Presidente do Sistema Fecomeacutercio e Presidente do Conselho Regional do SenacLuiz Carlos Bohn

Diretor RegionalJoseacute Paulo da Rosa

Gerente do Nuacutecleo de Educaccedilatildeo ProfissionalRoberto Sarquis Berte

Diretores das Faculdades Senac-RS- Elivelto Nagel da Rosa Finkler- Mariangela Iturriet da Silva

Conselho Editorial- Anna Beatriz Waehneldt ndash Senac - Departamento Nacional - Avelino Francisco Zorzo ndash PUCRS- Claisy Maria Marinho-Arauacutejo ndash UNB- Daniel Gomes Mesquita ndash UFU- Dieter Rugard Siedenberg ndash UNIJUIacute- Edegar Tomazzoni ndash UCS- Faacutebio Gandour ndash IBM- Fernando Vargas ndash Cinterfor (Colocircmbia)- Francisco Aparecido Cordatildeo ndash CNE Conselho Nacional

de Educaccedilatildeo- Jacques Alkalai Wainberg ndash PUCRS- Jorge Antonio Menna Duarte ndash UniCEUB- Jose Clovis de Azevedo ndash Centro Universitaacuterio Metodis-

ta do IPA- Leda Liacutesia Franciosi Portal ndash PUCRS- Margarida Maria Krohling Kunsch ndash USP - Marilia Costa Morosini - PUCRS- Milton Lafourcade Asmus ndash FURG- Patriacutecia Alejandra Behar ndash UFRGS - Regina Leitatildeo Ungaretti ndash Fundaccedilatildeo Escola Teacutecnica Li-

berato Salzano Vieira da Cunha- Susana Gastal - UCS

Comissatildeo Editorial- Roberto Sarquis Berte - Presidente- Miriam Mariani Henz- Ariel Fernando Berti- Claacuteudia Mallmann- Claacuteudia Maria Beretta- Claacuteudia Zank- Cleacutecio Falcatildeo Araujo - Paulo Roberto Gomes Luzzardi- Pietro Dolci

Editora Cientiacutefica- Maria Araujo Reginatto

Revisatildeo em inglecircs- Julio Carlos Morandi

Revisatildeo e normalizaccedilatildeo- Ivelize Cardoso Gonccedilalves- Giuliano Karpinski Moreira

Projeto Graacutefico e Diagramaccedilatildeo- Paula Jardim- Jaire Passos

PeriodicidadeSemestral (julho e dezembro)

Avaliadores do anondash Adilene Gonccedilalves Quaresma ndash Centro Universitaacuterio

UNA ndash MGndash Aline de Campos ndash Senac-RSndash Arcangelo dos Santos Safanelli ndash Universidade Federal

de Santa Catarina ndash UFSCndash Baacuterbara Regina L Costa ndash Universidade Positivondash Breno Terra ndash Instituto Federal Fluminense ndash RJndash Carine Winck Lopes ndash Senac-RSndash Carmem Angela Straliotto ndash Secretaria de Educaccedilatildeo Rio

Grande do Sulndash Clara Prates Machado ndash Senac-RSndash Claacuteudia Ceciacutelia Serafini Mallmann ndash Senac-RSndash Claacuteudia Griboski ndash Universidade de Brasiacutelia ndash UNBndash Claudio Lima Ferreira ndash Universidade Estadual de

Campinas ndash SPndash Cristina Alba W Torrezzan ndash Universidade Federal do

Rio Grande do Sul ndash UFRGSndash Daiane Padula Paz ndash Senac-RSndash Deacutebora Ferreira Coelho ndash Senac-RSndash Debora Valletta ndash Universidade Federal do Rio Grande

do Sul ndash UFRGSndash Denise Macedo Ziliotto ndash Centro Universitaacuterio La Salle

ndash UNILASALLE ndash Canoasndash Diogo Reatto ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mes-

quita Filho ndash Faculdade de Odontologia de Araccedilatuba ndash SPndash Eduardo Coletto Piantaacute ndash Senac-RSndash Fernanda Cristina Foss De Zorzi ndash Senac-RSndash Flavio Perazzo B Mota ndash Universidade Federal da

Paraiacuteba ndash UFPBndash Francisco Ximenes ndash Crisaacutelida Consultoria Empresarialndash Giovana Fernanda Justino Bruschi ndash Federaccedilatildeo das

Induacutestrias do Estado do Rio Grande do Sul ndash FIERGSndash Giovani Forgiarini Aiub ndash Instituto Federal de Educa-

ccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul ndash IFRS ndash Campus Feliz

ndash Guilherme Bertoni Machado ndash Senac-RSndash Gulherme Mendes Tomaz dos Santos ndash Centro Uni-

versitaacuterio La Salle ndash Canoasndash Henrique Luiz Caproni Neto ndash Universidade Federal de

Juiz de Fora ndash UFJFndash Honor Almeida Neto ndash Universidade Luterana do

Brasil ndash ULBRA ndash Canoasndash Irapuatilde Pacheco Martins ndash Universidade Federal do Rio

Grande ndash FURG ndash RSndash Ivelize Cardoso Gonccedilalves ndash Senac-RSndash Jacqueline Zapp ndash Senac-RSndash Jader Eduardo Corso ndash Senac-RSndash Jordan Nassif Leonel ndash Senac-MGndash Josemery Alves ndash Universidade Federal do Rio Grande

do Norte ndash RNndash Luis Gustavo Patrucco ndash Senac-RSndash Manfredo Carlos Wachs ndash Instituto Superior de Educa-

ccedilatildeo Ivoti ndash ISEIndash Maacutercia H Vieira ndash PUCRSndash Margareth Fadanelli Simionato ndash IPA-RSndash Maria Christina Menezes do Prado ndash Senac-RSndash Maria Maira Picawy ndash Faculdade Cenecista Nossa Se-

nhora dos Anjos ndash FACENSAndash Mariana Recena Aydos ndash Senac-RSndash Marlis Morosini Polidori ndash IPA-RSndash Mocircnica Bragaglia ndash Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira ndash INEPMECndash Renata Fernandes Guzzo ndash University of Houston Sys-

tem ndash UHSA ndash Estados Unidosndash Sandra Andrea A Maria ndash Universidade Federal do Rio

Grande do Sul ndash UFRGSndash Silvana Corbellini ndash Universidade Federal do Rio Grande

do Sul ndash UFRGSndash Taiacutes Fim Alberti ndash Universidade Federal de Santa Maria ndash

UFSM - RSndash Tatiana Vargas Maia ndash Centro Universitaacuterio La Salle ndash Canoasndash Vanessa Chimirra ndash Universidade Anhembi Morumbi ndash SP

Para submissatildeo de artigos os autores devem cadastrar-se na plataforma SEER no link httpseersenacrscombrindexphpRCuserregister

Competecircncia ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS Fone 5132842308 E-mail competenciasenacrscombr

Os conteuacutedos dos artigos satildeo de responsabilidade exclu-siva dos autoresIndexada em ICAP (Indexaccedilatildeo Compartilhada de Artigos de Perioacutedicos) e Latindex (Sistema Regional de Informacioacuten en Liacutenea para Revistas Cientiacuteficas de Ameacuterica Latina el Caribe Espantildea y Portugal)

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Competecircncia Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS [recurso eletrocircnico] Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul - Vol 1 n 1 (dez 2008) - Porto Alegre SENAC-RS 2008-

v il 28 cm

Semestral (jul e dez)Nota A ediccedilatildeo de julho de 2009 eacute v2 n1 ISSN online 2177-4986

1Tecnologia da Informaccedilatildeo 2 Gestatildeo 3 Negoacutecio 4 Moda 5 Turismo 6 Meio Ambiente 7 Ensino Superior 8 Educaccedilatildeo I Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul II Tiacutetulo

CDU 001

E d i t o r i a l

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Em 2017 a Competecircncia adotou o DOI ndash Digital Objetct Identifier em seus artigos Essa identificaccedilatildeo eacute uma grande conquista para a revista possiacutevel pela parceria entre a ABEC ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Editores Cientiacuteficos e Crossref agecircncia certificadora A formaccedilatildeo do DOI ocorre a partir de

uma sequecircncia articulada que apresenta um prefixo para identificar o responsaacutevel pela publicaccedilatildeo e um sufixo para o volume da revista e nuacutemero do artigo Com essa identificaccedilatildeo eacute possiacutevel a pre-servaccedilatildeo digital dos textos publicados Aleacutem de aumentar a visibilidade dos documentos o DOI certifica os registros de publicaccedilotildees no curriacuteculo Lattes dos autores

Neste nuacutemero da Competecircncia destacamos algumas contribuiccedilotildees que tratam sobre o uso de tecnologias na educaccedilatildeo como o texto que aborda a importacircncia desses recursos para a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior Ainda neste contexto o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios e uma experiecircncia de intervenccedilatildeo pedagoacutegica educacional que articula a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica com a educaccedilatildeo ambiental compotildeem essa seccedilatildeo temaacutetica O protagonismo do estudante como responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos e a importacircncia da formaccedilatildeo empreendedora tambeacutem satildeo temas que contemplam a ediccedilatildeo A experiecircncia de uma rede institucional para construccedilatildeo de um mapa cultural de uma capital brasileira e um modelo de auxiacutelio para escolha de municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo a distacircncia satildeo resultados de estudos apresentados Encontramos tambeacutem uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Seguindo nesta aacuterea uma anaacutelise sobre o estado da arte da reciclagem das embalagens PET e sua aplicabilidade e relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel

Finalizo convidando a todos para conferir o novo projeto graacutefico da Competecircncia que a partir desta ediccedilatildeo seraacute disponibilizada somente em formato eletrocircnico O projeto contempla altera-ccedilotildees na diagramaccedilatildeo na fonte aleacutem de acreacutescimos de informaccedilotildees sobre o artigo Tais mudanccedilas estatildeo adaptadas agraves tendecircncias desse tipo de publicaccedilatildeo e visam proporcionar uma leitura mais agradaacutevel e uma busca mais facilitada aos pesquisadores Fechamos o ano de 2017 com a reali-zaccedilatildeo de atualizaccedilotildees importantes para a Competecircncia Em 2018 comemoraremos os 10 anos da publicaccedilatildeo e esperamos que seja igualmente construtivo Desejamos a todos uma boa leitura

Me Maria Araujo ReginattoEditora da Revista Competecircncia

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

R e s u m o

No seacuteculo XXI a globalizaccedilatildeo passa a exercer uma forte influecircncia na Educaccedilatildeo Superior e o atual cenaacuterio mundial globalizado e interconectado demanda egressos qualificados para

atuar nesse contexto Passam a ser exigecircncias do mundo do trabalho competecircncias globais interculturais e o uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior Estudos sobre internacionalizaccedilatildeo do ensino superior indicam que para que uma universidade seja considerada internacionalizada esta deve prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos A mobilidade acadecircmica ainda estaacute restrita a um percentual limitado da populaccedilatildeo global de estudantes seja pela dificuldade de ausecircncia de suas origens seja por indisponibilidade de recursos financeiros Assim sendo as TICs podem ser utilizadas para apoiar alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural Este artigo objetiva discutir como as TICs podem apoiar os avanccedilos de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior bem como provocar reflexotildees acerca do assunto e dos desafios interpostos agraves instituiccedilotildees de ensino superior que se propotildeem a cumprir o seu papel de formar cidadatildeos globais

A b s t r a c t

In the 21st century globalization strongly influences Higher Education and the current globalized and interconnected world scenario demands qualified graduates to work in this context Global skills intercultural competencies and the use of information and communication technologies (ICTs) become demands of the working market Therefore both ICTs and internationalization must be present and active in higher education teaching and learning process Studies on internationalization of higher education indicate that for a university to be considered internationalized it must provide an international educational experience for all its students Academic mobility is still limited to a small percentage of the global student population either because of the difficulty of absence of their origins or due to unavailability of financial resources Thus ICTs can be used to support students in developing international perspectives interacting with people from other cultures and actively engaging in intercultural learning This article aims to discuss how ICTs can support higher education internationalization progress as well as to incite reflections on the subject and the challenges presented to higher education institutions that aim to fulfill their role of educating global citizens

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 22072017Aprovado em 04102017

Palavras-chaveEnsino SuperiorTICs InternacionalizaccedilatildeoInternacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

KeywordsHigher EducationICTsInternationalizationHigher Education Internationalization

Autoras Doutoranda pelo programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo pela PUC- RS Mestre em Gestatildeo e Negoacute-cios com ecircnfase em internacionaliza-ccedilatildeo da educaccedilatildeo pela Unisinos - RS Diretora acadecircmico-administrativa de Internacionalizaccedilatildeo no Senac-RS email cccassolsenacrscombr

Poacutes-Doutora na UtexasAustin Pesqui-sadora 1 A CNPq Coord a CEESPUCRS - Centro de Estudos em EDUCACcedilAtildeO Superior

Como citar este artigoSILVA C CC MOROSINI MC As tec-nologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internaciona-lizaccedilatildeo do ensino superior Competecircncia Porto Alegrev 10 n 2 dez 2017

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Information and communication techhologies as support for development of higher education internationalization

Carla Camargo Cassol da Silva e Mariacutelia Costa Morosini

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoNos uacuteltimos anos instituiccedilotildees de ensino superior (IES) tecircm se tornado cada vez mais internacionais em suas atividades como resultado da globalizaccedilatildeo da economia da informaccedilatildeo e da sociedade A globaliza-ccedilatildeo passa a impelir o surgimento de novos formatos de IES influencian-do a docecircncia e discecircncia a reelaboraccedilatildeo de curriacuteculos e as exigecircncias sociais que levam em conta natildeo apenas mecanismos internacionais mas tambeacutem as necessidades de cada paiacutes A internacionalizaccedilatildeo das universidades portanto passa a ser um dos componentes emergentes Nas palavras de Morosini (2012 p202) ldquoa qualidade em contextos glo-balizados eacute marcada na maioria dos casos pela internacionalizaccedilatildeo via intercacircmbio estudantil e docente eou curriacuteculos internacionalizados e num estaacutegio mais aprimorado via redes colaborativasrdquo

Para WIT (2011) o futuro da educaccedilatildeo superior seraacute de parcerias internacionais estrateacutegicas em pesquisa ensino e transferecircncia de conhecimento entre universidades para que possam gerenciar os desafios que a globalizaccedilatildeo demandaraacute Na verdade eacute possiacutevel afirmar que a globalizaccedilatildeo jaacute os demanda Hudzik (2011 p10) afirma que ldquo[] para tornar-se uma instituiccedilatildeo de educaccedilatildeo superior de distinccedilatildeo no seacuteculo XXI eacute requerida sistemaacutetica atenccedilatildeo institucional para a internacionalizaccedilatildeo ndash e para engajamento institucional no exteriorrdquo O cumprimento do papel social das IES se daacute a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profis-satildeo de forma a contribuir para o desenvolvimento econocircmico-so-cial local e global Desse modo torna-se uma exigecircncia do proacuteprio mundo do trabalho o conhecimento e a preparaccedilatildeo para relaccedilotildees com estrangeiros e culturas diversas por parte dos estudantes

ldquoHaacute expectativas das Universidades tornarem-se atores cha-ves na economia do conhecimento global e a internacionaliza-ccedilatildeo eacute identificada como resposta chave para a globalizaccedilatildeordquo (WIT e HUNTER 2014 p5) A importacircncia da internacionalizaccedilatildeo em IES portanto torna-se incontroversa

Muitos autores trazem conceitos e definiccedilotildees para interna-cionalizaccedilatildeo do ensino superior mas o mais amplamente aceito eacute o de Knight (2008 p21) ldquoo processo de integrar uma dimensatildeo internacional intercultural ou global na proposta funccedilotildees ou en-trega da educaccedilatildeo superiorrdquo O termo ldquoprocessordquo eacute utilizado para enfatizar a relaccedilatildeo contiacutenua e prolongada da atividade inferindo a necessidade de se ter um meacutetodo eou procedimento Assim eacute possiacutevel ldquodistingui-la de accedilotildees isoladas e institucionalmente natildeo integradas consideradas como sinocircnimo de internacionalizaccedilatildeordquo (MIURA 2009 p2) O verbo ldquointegrarrdquo atribui um sentido de que eacute necessaacuterio um engajamento de todas as partes interessadas sejam internas ou externas a partir das parcerias firmadas

Hudzik (2011 p6) traz o conceito de Internacionalizaccedilatildeo Abrangente (Comprehensive Internationalization) como ldquoum com-promisso confirmado atraveacutes da accedilatildeo de infundir perspectivas

internacionais e comparativas atraveacutes das missotildees de ensino pesquisa e serviccedilos do ensino superiorrdquo Segundo o autor a inter-nacionalizaccedilatildeo abrangente moldaraacute o ethos e os valores da IES estando ldquono DNArdquo do ensino superior Para tanto eacute fundamental que essa perspectiva seja adotada por lideranccedilas institucionais governanccedila equipes docente e discente e por todas as unidades de suporte e serviccedilos acadecircmicos ldquoEacute um imperativo institucional natildeo apenas uma possibilidade desejadardquo (HUDZIK 2011 p6)

Ao corroborar com Hudzik (2011) Robson (2011 p619) conside-ra o conceito de internacionalizaccedilatildeo transformadora exigindo uma abordagem holiacutestica em que as universidades se tornam comuni-dades de espiacuterito internacional e natildeo simplesmente instituiccedilotildees com aumento do nuacutemero de estudantes internacionais e atividades internacionais Para o autor ldquoa estrateacutegia de internacionalizaccedilatildeo responsaacutevel far-se-aacute pela incorporaccedilatildeo de abordagens inovadoras para o desenvolvimento curricular de apoio ao estudante e de me-canismos e iniciativas de desenvolvimento acadecircmicordquo (p614)

Ainda na perspectiva de cumprimento do papel social das IES a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profissatildeo tambeacutem ldquoo contexto dinacircmico do ensino superior demanda uma integraccedilatildeo inovadora de alfabetizaccedilatildeo digitalrdquo (ANNABI MULLER 2016 p17) Natildeo eacute possiacutevel afirmar que um egresso estaacute qualificado sem desenvolver competecircncias para o uso de TICs Eacute uma realidade atual no mercado de trabalho na maioria das profissotildees Assim sendo segundo Annabi e Muller (2016) uma vez que as habilidades digi-tais dos aprendizes jaacute estiverem avanccediladas o curriacuteculo deveraacute sofrer modificaccedilotildees para integrar a tecnologia a fim de permitir que os alu-nos se engajem em formas muacuteltiplas de aprendizado Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior

Muitos autores argumentam que tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo cruciais para a globalizaccedilatildeo do ensino superior e em processos de internacionalizaccedilatildeo Isso porque implicam oportu-nidades para a integraccedilatildeo aleacutem do tempo e espaccedilo possibilitando que entidades distribuiacutedas trabalhem como unidades em tempo real (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Observa-se que a ampla definiccedilatildeo de internacionalizaccedilatildeo e as atividades envolvidas nesse processo continuam alterando--se e expandindo-se enquanto o desenvolvimento tecnoloacutegico oferece formas novas criativas de engajamento entre fronteiras (ACE 2013 p1)

2 A Internacionalizaccedilatildeo AcessiacutevelDepois de decorrido algum tempo de atividades internacionais muito possivelmente em funccedilatildeo do fenocircmeno globalizaccedilatildeo e da abertura do Brasil para o mercado mundial datado na deacutecada

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

de 80 a mobilidade de estudantes aumentou de forma signifi-cativa impelindo as IES a encontrarem formas de articular suas atividades de forma mais sistemaacutetica e tambeacutem de beneficiar a si agrave comunidade acadecircmica e agrave sociedade atraveacutes da internacio-nalizaccedilatildeo No entanto dados os conceitos de internacionalizaccedilatildeo jaacute discutidos pode-se perceber que a mobilidade acadecircmica eacute uma ndash e apenas uma ndash parte do processo de internacionalizaccedilatildeo

Mesmo em paiacuteses onde a internacionalizaccedilatildeo jaacute eacute um processo desenvolvido e amplamente praticado o foco na mobilidade acadecirc-mica eacute percebido Maringe (2009) realizou um estudo exploratoacuterio em seis universidades localizadas no Reino Unido cujos principais objetivos eram 1) identificar como a internacionalizaccedilatildeo eacute concei-tuada nas instituiccedilotildees estudadas 2) identificar evidecircncias da inte-graccedilatildeo estrutural do processo de internacionalizaccedilatildeo nos serviccedilos das universidades e 3) compreender os desafios que as instituiccedilotildees enfrentam na busca pela integraccedilatildeo do conceito de internacionali-zaccedilatildeo como um amplo elemento estrateacutegico daquelas instituiccedilotildees O estudo indica que haacute uma falha na execuccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior uma vez que embora a internacionalizaccedilatildeo seja identificada como objetivo estrateacutegico pelas universidades estudadas haacute uma variedade de barreiras que trabalham contra a integraccedilatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo agrave cultura institucional Segundo o autor uma das principais barreiras eacute a ecircnfase exacerbada em iniciativas de mobilidade humana em detrimento de esforccedilos de integraccedilatildeo cultural

Natildeo haacute duacutevidas de que a mobilidade acadecircmica fomenta a com-petecircncia internacional No entanto estudos e dados mostram que essa mobilidade estaacute restrita a um percentual bastante limitado da populaccedilatildeo global de estudantes (ACE 2013 p2) seja pela dificulda-de de alguns estudantes de se ausentarem de suas origens seja por disponibilidade de recursos financeiros uma vez que para paiacuteses do hemisfeacuterio sul distacircncia e desvalorizaccedilatildeo cambial satildeo fatores que oneram consideravelmente

Ramanau (2016) argumenta que uma universidade internacio-nalizada deveria prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos em um ambiente inclusivo e acolhe-dor E que portanto as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) poderiam ser utilizadas de forma efetiva para assistir a alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural

Em estudo de 2010 realizado pela Associaccedilatildeo Interna-cional de Universidades (IAU ndash International Association of Universities) ldquorecursos financeiros insuficientesrdquo foi citado como o obstaacuteculo interno mais significativo para a internacio-nalizaccedilatildeo (ACE 2013 p1) No entanto o uso de comunicaccedilatildeo

virtual para conectar estudantes e professores aleacutem das fron-teiras tem provado ser uma opccedilatildeo acessiacutevel flexiacutevel e econo-micamente viaacutevel para um crescente nuacutemero de instituiccedilotildees nos Estados Unidos e no mundo todo Como muitos programas de mobilidade aulas virtualmente conectadas podem prover um aprendizado global significativo e experiecircncia intercultural (ACE 2016 p1) Ou seja o uso de TICs pode ser uma opccedilatildeo vaacutelida para minimizar barreiras que dificultam a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Assim ldquodistacircncia e tempo natildeo precisam mais ser barreiras para a exposiccedilatildeo e consciecircncia internacional para qualquer aluno com acesso a um modem e um computador Desse modo todos os es-tudantes agora podem ser considerados internacionais em termos de mobilidade virtualrdquo (LEASK 2004 p337)

Alguns autores preconizam que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo vistas como um dos fatores mais importantes para a expansatildeo continuada da internacionalizaccedilatildeo e podem ateacute mesmo tornar-se substitutas da mobilidade internacional (PHILSON 1998 FAVA-DE-MORAES SIMON 2000 LEASK 2004)

A atual sociedade global interligada baseada em novas tecnologias digitais afetou o processo de educaccedilatildeo e adicionou dinacircmicas agrave trans-ferecircncia de informaccedilotildees e geraccedilatildeo de conhecimento Natildeo estamos mais restritos a tempo e lugar Ademais a tecnologia da informaccedilatildeo reduz diretamente os custos e aumenta as possibilidades de cooperaccedilatildeo de interaccedilatildeo acadecircmicas Aprendizagem virtual possibilita que instituiccedilotildees de ensino superior se aproximem de estudantes professores e pesqui-sadores em paiacuteses estrangeiros sem movecirc-los fisicamenterdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p4)

TICs e internacionalizaccedilatildeo portanto estatildeo inquestiona-velmente conectadas

3 Possibilidades Praacuteticas de internacionalizaccedilatildeo no ensino superior incluem reforma curricular aumento de programas de mobilidade ampliaccedilatildeo de cam-pi inglecircs como liacutengua de instruccedilatildeo em paiacuteses onde natildeo eacute a liacutengua oficial e tecnologia da informaccedilatildeo (ZUPANC ZUPANC 2009 YANYAN 2010) Ou seja a tecnologia da informaccedilatildeo eacute uma parte do todo que certamente pode apoiar o processo mas por si soacute natildeo garante uma perspectiva internacional no ensino

De acordo com Leask (2004 p340) ldquoo uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em programas educacionais natildeo assistiratildeo [sic] necessariamente agrave internacionalizaccedilatildeo mas cer-tamente oferece diversas oportunidades para todos os alunos e colaboradores da IESrdquo

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo a autora algumas dessas oportunidades incluem o envolvimento da comunidade acadecircmica em

bull Uso da tecnologia para estabelecer contatos internacionais e redes de relacionamento em suas aacutereas

bull Visitas virtuais de palestrantes convidados com perfil inter-nacional que virtualmente abordam toacutepicos especiacuteficos em determinados momentos do programa

bull Projetos individuais ou em grupo com foco em assuntos e estudos de caso internacionais

bull Tarefas que requerem o desenvolvimento de habilidades em dinacircmicas de grupo e o estabelecimento de relaccedilotildees de trabalho com pessoas de diferentes contextos culturais por exemplo tarefas que requerem a anaacutelise de reportagens de jornais internacionais de perspectivas culturais diferentes en-trevistas virtuais com alunos de outras culturas e profissionais que jaacute atuaram no mercado internacional

bull Localizar discutir analisar e avaliar informaccedilotildees de variadas fontes internacionais on-line e off-line

bull Oportunidades virtuais para analisar assuntos metodologias e soluccedilotildees possiacuteveis associadas com atuais aacutereas de debate dentro da disciplina por meio de perspectivas culturais di-versas

bull Acesso a fontes internacionais virtuais como revistas con-ferecircncias e associaccedilotildees profissionais

bull Simulaccedilotildees virtuais nas quais os estudantes tecircm a oportu-nidade de aprender atraveacutes de participaccedilatildeo ativa em um ambiente virtual controlado

bull Discussotildees siacutencronas ou assiacutencronas em grupo que co-nectam alunos de culturas diferentes fazendo com que completem atividades solucionem problemas obtenham perspectivas internacionais sobre determinados assuntos

bull Estabelecimento de redes de relacionamento internacionalbull Foacuterum virtual em que os alunos podem discutir diferenccedilas cultu-

rais e regionais em valores e concepccedilotildees que afetam a disciplina ao mesmo tempo em que podem afetar a accedilatildeo dos indiviacuteduos

bull Variados projetos de grupo para avaliaccedilatildeo que exijam dos alunos atividades virtuais ou via correio eletrocircnico com pes-soas de outros grupos culturais com o objetivo de comparar e contrastar perspectivas em questotildees profissionais

bull Atividades virtuais em grupo que examinem de que maneira interpretaccedilotildees culturais especiacuteficas de aplicabilidade social cientiacutefica ou tecnoloacutegica podem incluir ou excluir ou ainda favo-recer ou desfavorecer as pessoas de grupos culturais diferentes

Ou seja ao aproveitar as oportunidades que as TICs propor-cionam incorporando possibilidades para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo virtual natildeo apenas as necessidades dos alunos de desenvolver suas competecircncias e habilidades de gerenciamento do seu aprendizado seratildeo supridas como tambeacutem poderatildeo ser criadas oportunidades para incorporar atividades que fomentem a consciecircncia e sensibilidade para com diferen-

ccedilas interculturais (RAMANAU 2016) As TICs podem portanto ser usadas como parte de atividades internacionais existentes como complementariedade e como instrumento que promova a integraccedilatildeo de perspectivas internacionais no campus (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Satildeo diversas possibilidades que surgem a partir do uso de TICs como apoio ao processo de internacionalizaccedilatildeo A Zagreb School of Economics and Management (ZSEM) uma faculdade privada que atua na aacuterea de negoacutecios na Croaacutecia graccedilas agraves videoconferecircn-cias oportuniza aos seus alunos assistir palestras de educadores e melhores especialistas de negoacutecios do mundo todo A primeira videoconferecircncia realizada em 2004 exibiu um discurso de boas--vindas do presidente do conselho da faculdade Joseph Bombelles professor emeacuterito na Universidade John Carroll University em Cle-veland (Ohio Estados Unidos) A partir de entatildeo deu-se continui-dade agraves videoconferecircncias como parte dos cursos de Marketing e Gestatildeo em que professores internacionais convidados passaram a apresentar aos alunos da SZEM experiecircncias e praacuteticas de mer-cado vividas e praticadas em outras partes do mundo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009) Atualmente a ZSEM tem como premissa que as TICs geralmente servem como uma ferramenta eficaz para apoiar e coordenar as atividades internacionais da faculdade Aleacutem de ser uma forma raacutepida econocircmica com transcendecircncia de tempo e distacircncia e oportunidade de aprendizagem intercultural para a ZSEM ldquoa implementaccedilatildeo eficiente de TICs possibilita a extensatildeo de relaccedilotildees internacionais apoia na adoccedilatildeo de padrotildees de qualidade internacional e estreita relacionamentos com instituiccedilotildees estran-geirasrdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p8)

Outro exemplo do uso de TICs para o apoio da internacionaliza-ccedilatildeo eacute o projeto denominado International Leadership in Educational Technology (ILET) Em 2001 o projeto foi selecionado por agecircncias de fomento na Europa e nos Estados Unidos para criar um modelo de ambiente virtual intercultural para programas de doutorado des-tinados a preparar futuros liacutederes de tecnologias educacionais O ILET objetiva criar uma comunidade de aprendizado transatlacircntica para estudantes de graduaccedilatildeo em seis universidades diferentes ndash trecircs eu-ropeias e trecircs norte-americanas As seis universidades satildeo Iowa State University University of Florida University of Virginia Institution of Education in the University of London Aalborg University in Dina-marca e University of Barcelona na Espanha O projeto concentra a colaboraccedilatildeo democraacutetica de professores e alunos de todas as univer-sidades participantes Essa abordagem inovadora fornece um modelo personalizado para estudos no exterior com estaacutegios e experiecircncias interculturais mediadas pela tecnologia Colaboraccedilatildeo eacute a chave para o sucesso do modelo uma vez que seis diferentes universidades estatildeo envolvidas No projeto estudantes de doutorado satildeo motivados e recebem apoio para negociar com uma ou mais universidades para aprimorar seus programas de estudos Eles usam websites correio eletrocircnico e outras tecnologias para negociar estaacutegios e experiecircncias

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

de estudos com as universidades parceiras Nesse processo docentes e alunos tornam-se sensiacuteveis agrave ampla variedade de ambientes acadecirc-micos e culturais O projeto ILET tambeacutem possui tecnologias hiacutebridas no programa de doutorado e criou um ambiente virtual e intercultural de aprendizagem em que as seis universidades participam atraveacutes de grupos anuais de leitura virtual de cursos de veratildeo com carga-horaacuteria reduzida para experiecircncias acadecircmicas interculturais e programas de estaacutegios no exterior (DAVIS CHO 2005)

Isso posto eacute possiacutevel afirmar que de fato a internacionalizaccedilatildeo abrangente ldquona qual as universidades tentam prover desenvolvimento pessoal e profissional para todas as pessoas enquanto cidadatildeos globais pode alcanccedilar seus objetivos com o apoio da educaccedilatildeo a distacircncia e de TICsrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) Portanto as TICs podem promover o ldquoaprendizado colaborativo internacional virtualrdquo agrupando as quatro dimensotildees essenciais da mobilidade virtual real 1) o exerciacutecio colaborativo de professores e alunos 2) o uso de interaccedilatildeo e tecnologia virtual 3) existecircncia de potenciais dimensotildees internacio-nais e 4) integraccedilatildeo com o processo de aprendizado (WIT 2013)

4 DesafiosComo jaacute abordado sabe-se que atualmente a tecnologia estaacute de-sempenhando uma funccedilatildeo fundamental na preparaccedilatildeo de futuros educadores e no ensino superior com avanccedilos significativos para a globalizaccedilatildeo Tambeacutem pode-se afirmar que o aprendizado via web tornar-se-aacute cada vez mais proeminente no ensino superior com o uso de tecnologias educacionais Consequentemente ldquoas equipes docentes precisam estar preparadas para trabalhar em um ambiente internacionalrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) E virtual

Integrar tecnologias no curriacuteculo a fim de aprimorar o apren-dizado global e experiecircncia intercultural dos alunos pode ser de-safiador Requer tempo adicional e criatividade do corpo docente aleacutem de depender de conectividade e equipamentos adequados para uso da internet dentre outras questotildees Embora TICs ofere-ccedilam oportunidades ricas e uacutenicas para a internacionalizaccedilatildeo ldquoas equipes frequentemente natildeo conhecem todo o potencial de uso ou natildeo se sentem confortaacuteveis em usaacute-las como instrumento de ensino e aprendizagem e alguns satildeo reticentes em investigaacute-las e experimentaacute-lasrdquo (LEASK 2004 p345)

De acordo com Ramanau (2016) equipes que estatildeo ensinan-do em programas internacionais devem ter aleacutem das habilidades e conhecimentos baacutesicos necessaacuterios para ser um professor de sucesso em qualquer ambiente (tais como conhecimento da aacuterea gestatildeo de sala de aula habilidade de definir claramente os objetivos de aprendizagem elaboraccedilatildeo de um programa adequado) habilidades adicionais como de ter uma ampla consciecircncia cultural habilidade de fazer uso de informaccedilotildees

e exemplos internacionais e a habilidade de conduzir um grupo em que uma ampla variedade de estilos de aprendiza-gem e de comunicaccedilatildeo se fazem presentes Em um ambiente internacional virtual ainda outra dimensatildeo eacute acrescentada a habilidade de fazer tudo o que jaacute foi mencionado utilizando todas as ferramentas virtuais disponiacuteveis

Nesse sentido eacute importante destacar a importacircncia do docen-te no processo e sua preparaccedilatildeo para atuar nesse novo contexto Faz-se necessaacuterio capacitaacute-los e desenvolvecirc-los para que possa atuar de forma a promover um ambiente de ensino e aprendiza-gem que possibilite aos alunos desenvolverem as competecircncias e habilidades exigidas no atual cenaacuterio Investimentos satildeo necessaacute-rios recursos financeiros e humanos bem como tempo para essa preparaccedilatildeo Entretanto esse investimento natildeo seraacute suficiente se natildeo houver motivaccedilatildeo docente Sim ele precisa acreditar e en-gajar-se na proposta E isso depende de outros fatores que natildeo estatildeo sob domiacutenio das instituiccedilotildees gestores e estudantes Eis um desafio que precisa ser considerado

Contudo natildeo apenas os docentes precisam estar engajados ldquoEntregar uma competecircncia global para todos os alunos reque-reraacute programas de iniciativas criativas e intencionais que envol-vem diversos atores do campus e perpassa todos os aspectos da experiecircncia do alunordquo (ACE 2013 p3) Ou seja eacute necessaacuterio o engajamento de toda a comunidade acadecircmica com apoio da sociedade A diversidade e a amplitude de atores envolvidos demonstra a complexidade do processo

Ao considerar tendecircncias nascentes em tecnologia e o con-tiacutenuo impacto que a globalizaccedilatildeo tem trazido para o ensino superior parece claro que um processo de integraccedilatildeo de tec-nologia que enfatiza a conexatildeo e o aprendizado colaborativo e social eacute uma praacutetica de internacionalizaccedilatildeo eficaz Entretanto tal apelo deve ser apoiado por uma avaliaccedilatildeo integral das ne-cessidades da instituiccedilatildeo e recursos disponiacuteveis (BILLINGHAM GRAGG BENTLEY 2013 p25)

Eacute portanto necessaacuterio que a IES tenha claro quais satildeo os seus objetivos de internacionalizaccedilatildeo para que os esforccedilos sejam direcionados nesse sentido evitando accedilotildees isoladas e desarticuladas na instituiccedilatildeo Tambeacutem eacute importante destacar que nem todas as IES tecircm a mesma disponibilidade de recursos humanos financeiros e tecnoloacutegicos para a implementaccedilatildeo de TICs e do processo de internacionalizaccedilatildeo Em muitos paiacuteses em desenvolvimento haacute IES que sequer possuem conexatildeo web Essa eacute uma realidade que precisa ser considerada e portanto avaliada uma vez que a internacionalizaccedilatildeo abrangente natildeo se aplica na abrangecircncia em que a teoria propotildee

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sabe-se que por mais de uma deacutecada o ensino superior tem passado por um raacutepido processo de integraccedilatildeo tecnoloacutegica Tambeacutem a internacionalizaccedilatildeo se mostra como indispensaacutevel para que o ensino superior cumpra a sua missatildeo de preparar egressos para o mundo global interconectado em que vivemos No entanto dos estudos disponiacuteveis sobre ambos temas poucos correlacionam a integraccedilatildeo de tecnologia e a internacionaliza-ccedilatildeo especificamente Assim sendo satildeo necessaacuterios estudos que apontem para essa direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees FinaisA internacionalizaccedilatildeo eacute um tema muito relevante mas ainda incipiente no Brasil No entanto torna-se indispensaacutevel pensar no assunto quando se trata de educaccedilatildeo superior uma vez que seraacute exigido que nossos egressos tenham desenvolvi-do competecircncias teacutecnicas comportamentais tecnoloacutegicas e interculturais

Muitos satildeo os desafios interpostos agraves IES brasileiras que buscam desenvolver a internacionalizaccedilatildeo como um processo contiacutenuo que abrange todos os niacuteveis e serviccedilos da instituiccedilatildeo Barreiras como idioma localizaccedilatildeo geograacutefica extensatildeo territorial reconhecimento da comunidade acadecircmica acerca da importacircn-cia e da relevacircncia da internacionalizaccedilatildeo para a qualificaccedilatildeo da sociedade entre outros mostram que o caminho a ser percorrido eacute laborioso

Todavia observa-se que as tecnologias de informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo possibilitam a distribuiccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo em qualquer fuso em qualquer lugar no mundo Materiais de professores relatoacuterios de pesquisa planos de aula conteuacutedos diversos podem ser distribuiacutedos para locais distantes A informa-ccedilatildeo estaacute apenas um clique distante Tambeacutem o acesso agrave internet possibilita interaccedilotildees virtuais com o mundo de forma faacutecil e com custo baixo O uso de TICs torna-se fundamental para a evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior em nosso paiacutes

Contudo haacute desafios ndash como engajamento estrutura inves-timentos capacitaccedilatildeo de recursos humanos ndash que tambeacutem pre-cisam ser considerados O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo da educaccedilatildeo em nosso paiacutes assim como a internacio-nalizaccedilatildeo do ensino superior tambeacutem poderaacute fazer essa evoluccedilatildeo acontecer Poreacutem nem juntas nem isoladas as TICs e a internacio-nalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior resolveratildeo por completo o pro-blema da educaccedilatildeo no nosso paiacutes Esse soacute poderaacute ser minimizado com a priorizaccedilatildeo antecedida pela conscientizaccedilatildeo

R e f e r ecirc n c i a s

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Internationalization in action special edition connecting classrooms using online technology to de-liver global learning Washington DC One Dupont Circle NW 2016

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Leading the Globally Engaged In-stitution new directions choices and dilemmas a report from the 2012 transatlantic dialogue Washington DC One Dupont Circle NW 2013

ANNABI Carrie Amani MULLER Marlene Muller Learning From the adop-tion of MOOCs in two international branch campuses in the UAE Journal of Studies in International Education European Association for International Education v 20(3) p 260-281 2016 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315315622023-journalCode=jsiagt Acesso em jun 2017

BILLINGHAM Craig GRAGG Monica BENTLEY Guy Internationalization From Concept to Implementation Higher Learning Research Commu-nications Blue Mountains Australia v 3(4) p 24-31 2013 Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1018870hlrcv3i4166gt Acesso em jun 2017

DAVIS Niki CHO Mi Ok Intercultural competence for future leaders of educational technology and its evaluation Interactive Educational Multimedia n10 p1-22 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwubedumultimediaiemgt Acesso em jun 2017

FAVA-DE-MORAES F SIMON I Computer networks and the international-ization of higher education Higher Education Policy 13 2000

HUDZIK J K Comprehensive internationalization Washington DC NAFSA 2011

KNIGHT Jane Higher education in turmoil the changing world of interna-tionalization Rotterdam Sense Publishers 2008

LEASK Betty Internationalisation outcomes for all students using informa-tion and communication technologies (ICTs) Journal of Studies in Inter-national Education Association for Studies in International Education v 8 n 4 p 336-351 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5

PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

O objetivo do presente estudo foi analisar o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de

negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa de Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL) bastante conhecida e referenciada na literatura cientiacutefica Participaram da pesquisa 51 estudantes de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo Os dados para a anaacutelise do uso das tecnologias foram obtidos por meio de entrevistas considerando tanto os recursos de hardware como de software empregados no apoio agrave realizaccedilatildeo das atividades da disciplina De modo geral os resultados apontaram que os estudantes entrevistados buscaram escolher os recursos mais adequados para realizaccedilatildeo das atividades acadecircmicas dentro do conjunto de tecnologias que lhes eram acessiacuteveis e familiares deixando no entanto de explorar novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

A b s t r a c t

The objective of this study was to analyze the use of Information and Communication Technol-ogies (ICTs) by university students of Business Management enrolled in a course of business in virtual environments using the Problem Based Learning (PBL) active methodology well known and referenced in the scientific literature A total of 51 Business students from a private university in the interior of the state of Satildeo Paulo participated in the study The data for the analysis of the use of technologies were obtained through interviews considering both the hardware and software resources used as support to carry out the activities in the course In general the results pointed out that the students interviewed chose the most adequate resources to carry out the academic activities within the set of technologies that they had access to and were familiar with but failed to explore new technologies potentially relevant in supporting the learning process

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 23072017Aprovado em 01102017

Palavras-chaveTecnologia da informaccedilatildeo e ComunicaccedilatildeoMetodologia ativaAprendizado baseado em problemas Gestatildeo

KeywordsInformation and communication technologyActive methodologyProblem based learningManagement

Autores Doutor em Psicologia e Mestre em Ciecircncia da Informaccedilatildeo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Professor do Centro de Economia e Administraccedilatildeo da Pontifiacutecia Univer-sidade Catoacutelica de Campinas email rodrigorozagmailcom

Doutora e Mestre em Psicologia pela University of Georgia Poacutes-dou-torado pela University of Georgia e pela University of Buffalo Professora da Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Psicologia da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinasemail wechslerlexxacombr

Como citar este artigoROZA RH WECHSLER SM O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo por estudantes universi-taacuterios de Administraccedilatildeo Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por estudantes universitaacuterios de AdministraccedilatildeoThe use of information and communication technologies by university students of business management

Rodrigo Hipoacutelito Roza e Solange Muglia Wechsler

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoAs Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) satildeo consi-deradas um vasto conjunto de recursos tecnoloacutegicos destinados ao tratamento agrave organizaccedilatildeo e agrave disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees (TAKAHASHI 2000) Esse conjunto de recursos tecnoloacutegicos abran-ge computadores tablets smartphones sistemas operacionais aplicativos diversos navegadores (browsers) redes computacio-nais sistemas de telecomunicaccedilotildees e a internet dentre outros Aleacutem disso eacute importante salientar que as TICs fazem parte de uma realidade mais ampla marcada por profundas transformaccedilotildees natildeo apenas no acircmbito tecnoloacutegico mas tambeacutem social econocircmico e cultural (CASTELLS 2010) citada por alguns autores como socie-dade da informaccedilatildeo (SILVA CAFEacute CATAPAN 2010 PINHO 2011) ou sociedade da aprendizagem (POZO 2004 COUTINHO LISBOcircA 2011) dentre outras nomenclaturas

Antes da difusatildeo da expressatildeo ldquotecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo outros termos jaacute haviam sido empregados com significados similares como tecnologia da informaccedilatildeo sistema de informaccedilatildeo e processamento de informaccedilatildeo (BUCKLAND 1991) Sistema de informaccedilatildeo no entanto geralmente assume um sen-tido mais amplo abrangendo pessoas e processos ao passo que processamento de informaccedilatildeo tem um sentido mais restrito vol-tado ao modo como a informaccedilatildeo eacute processada por meio dos recursos tecnoloacutegicos No caso especiacutefico do termo ldquotecnologia da informaccedilatildeordquo embora ainda bastante utilizado o acreacutescimo da palavra ldquocomunicaccedilatildeordquo foi realizado com o propoacutesito de ressaltar a importacircncia de ambas as tecnologias da informaccedilatildeo e da co-municaccedilatildeo na atual sociedade (STEVENSON COMMITTEE 1997)

As aplicaccedilotildees das TICs embora bastante exploradas no acircmbito de negoacutecios (LAUDON LAUDON 2011 CHAFFEY 2014) estendem--se agraves mais diversas aacutereas da sociedade como sauacutede entretenimen-to gestatildeo puacuteblica desenvolvimento sustentaacutevel e educaccedilatildeo Na educaccedilatildeo em particular as tecnologias possuem o potencial de apoiar o processo de ensino e aprendizagem viabilizando novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento (ROZA 2017) Em metodologias ativas como a Aprendizagem Baseada em Proble-mas (Problem Based Learning ndash PBL) por exemplo as TICs tecircm sido destacadas como importantes ferramentas de apoio agrave aprendiza-gem (BERTONCELLO CORDEIRO BORTOLOZZI RODRIGUES 2008 OSMAN KAUR 2014) No entanto conforme apontado por Mansell e Tremblay (2013) eacute importante destacar que para promover o acesso ao conhecimento eacute preciso muito mais do que fornecer acesso aos recursos tecnoloacutegicos ou agrave informaccedilatildeo digital O acesso ao conhecimento envolve necessariamente a aprendizagem sendo que sua aquisiccedilatildeo ocorre parcialmente por meio de experiecircncias

Considerando a evoluccedilatildeo das TICs e as modalidades educa-cionais a elas associadas Coll e Monereo (2010) destacaram trecircs etapas de desenvolvimento das tecnologias da comunicaccedilatildeo

marcadas pelas linguagens natural artificial e virtual Na primei-ra etapa o sistema de comunicaccedilatildeo eacute a transmissatildeo oral o que implica a coincidecircncia dos interlocutores no espaccedilo e no tempo Algumas modalidades de educaccedilatildeo e meacutetodos de ensino e apren-dizagem dessa etapa satildeo a imitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a transmissatildeo e a reproduccedilatildeo de informaccedilatildeo

O surgimento da escrita marca a segunda etapa como res-posta agrave necessidade de registrar transmitir e compartilhar infor-maccedilotildees o que apesar de natildeo exigir a presenccedila dos envolvidos na comunicaccedilatildeo no mesmo local e ao mesmo tempo por si soacute tambeacutem natildeo garante a superaccedilatildeo de grandes distacircncias geograacute-ficas Eacute importante destacar que a escrita assim como a leitura transformaram as capacidades cognitivas dos indiviacuteduos no que se refere ao tratamento da informaccedilatildeo (LALUEZA CRESPO CAMPS 2010) Nessa etapa tecircm-se o ensino centrado em textos o emprego de livros didaacuteticos e iniacutecio de um ensino a distacircncia ainda que por correspondecircncia

Na terceira etapa encontram-se os sistemas de comunicaccedilatildeo analoacutegica abrangendo a invenccedilatildeo do teleacutegrafo seguida do telefo-ne do raacutedio e da televisatildeo que permitiram a superaccedilatildeo dos limites espaciais culminando com troca de informaccedilotildees em niacutevel global Poreacutem eacute apenas em um segundo momento dessa terceira etapa que surgem os sistemas de comunicaccedilatildeo digital com a criaccedilatildeo dos computadores sua interconexatildeo em redes e o advento da internet A parir desse momento os sistemas de comunicaccedilatildeo digital incluindo as jaacute mencionadas redes de computadores e a proacutepria internet passam a ser utilizados no ensino apoiado por computador e no e-learning (COLL MONEREO 2010)

Neste sentido verifica-se natildeo somente o crescimento do e-le-arning caracterizado pelo uso das tecnologias na aprendizagem e no ensino agrave distacircncia baseado em Web mas tambeacutem o advento de novas derivaccedilotildees e praacuteticas adjacente como o b-learning que combina aprendizagem online e presencial de forma mista (OKADA BARROS 2010) e o open-learning que busca promover o acesso amplo a materiais e tecnologias e o uso de diferentes conteuacutedos e metodologias para um puacuteblico diversificado em locais culturas e contextos distintos (OKADA 2007) Nota-se ainda o surgimento do m-learning em que a aprendizagem eacute mediada por dispositivos moacuteveis (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012)

Dada as diversificadas possibilidades de uso dos recursos tecnoloacutegicos na educaccedilatildeo e na aprendizagem este estudo op-tou por se concentrar nas tecnologias que satildeo utilizadas por iniciativas dos proacuteprios estudantes universitaacuterios para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecircmicas Para tanto foram selecionados estudantes de uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtu-ais utilizando a metodologia PBL Trata-se de uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem centrada no aluno (CACHINHO

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

2012) fundamentada no pressuposto de que a aprendizagem eacute um processo de construccedilatildeo de significados e natildeo simplesmente de recepccedilatildeo de informaccedilotildees (ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Nela o aluno desempenha um papel ativo e preponderante em sua proacutepria educaccedilatildeo (TOLEDO JUacuteNIOR et al 2008) A escolha de uma disciplina que adota tal metodologia ocorreu com o intuito de se investigar estudantes que estivessem em uma condiccedilatildeo de protagonismo no que se refere agrave aprendizagem natildeo apenas nas situaccedilotildees e assuntos abordados na disciplina mas tambeacutem no uso das TICs

2 Meacutetodo21 ParticipantesPara este estudo foram selecionados 51 estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo matriculados em uma disciplina de negoacute-cios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa PBL A disciplina em questatildeo denominada Administraccedilatildeo em Am-bientes Virtuais foi oferecida no uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Todos os alunos eram usuaacuterios comuns das TICs familiarizados com o uso dos recursos tecnoloacutegicos

22 MaterialFoi utilizado um roteiro semiestruturado para a realizaccedilatildeo de en-trevistas com os participantes do estudo O roteiro apresentava duas questotildees centrais que deveriam ser consideradas no contex-to das atividades da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais

1 quais dispositivos satildeo utilizados (desktop notebook tablet smartphone outros)

2 quais programas serviccedilos e redes satildeo utilizados

A questatildeo 2 em particular considerou os subtoacutepicos sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos de um modo geral serviccedilos da Web e rede de comunicaccedilatildeo de dados para os quais os participantes poderiam indicar os nomes dos recursos utilizados Por se tratar de um roteiro semiestruturado as questotildees serviram como norteadoras das entrevistas apresentando elementos es-senciais a serem abordados sem restringir no entanto a explo-raccedilatildeo de outros aspectos correlatos e relevantes que pudessem surgir durante os diaacutelogos com os participantes da pesquisa

23 ProcedimentoPrimeiramente os estudantes receberam uma explicaccedilatildeo sobre as entrevistas esclarecendo que as questotildees deveriam ser con-sideradas no contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais O contexto da disciplina abrangia atividades de pesqui-sas apresentaccedilotildees debates bem como elaboraccedilatildeo de relatoacuterios apoiados na metodologia PBL

Para uma maior elucidaccedilatildeo do contexto citado cabe ressal-tar que tipicamente os estudantes eram divididos em grupos

compostos pelos seguintes papeacuteis liacuteder redator porta-voz e demais membros Os grupos partiam de uma situaccedilatildeo-proble-ma estudo de caso e apoacutes uma anaacutelise inicial geravam um relatoacuterio parcial incluindo hipoacuteteses e toacutepicos a serem pesqui-sados Em seguida as pesquisas eram conduzidas pelos grupos sob orientaccedilatildeo do professor Ao final das pesquisas os grupos apresentavam um relatoacuterio final e realizavam apresentaccedilotildees e debates com os outros grupos Por fim o professor realizava um fechamento das atividades resgatando o que fora abordado pelos grupos abrangendo os aspectos teoacutericos pertinentes agrave situaccedilatildeo-problema estudo de caso

Assim no presente estudo as entrevistas foram realizadas em grupos com aproximadamente seis estudantes Esse nuacutemero respeitou a divisatildeo dos grupos jaacute adotada para realizaccedilatildeo das atividades coletivas da disciplina Apesar das entrevistas terem sido realizadas em grupos as respostas dos participantes foram coletadas uma a uma Os participantes foram mantidos em gru-pos devido ao fato de supostamente muitos dos aplicativos serem usados para comunicaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo de trabalhos co-laborativos de forma que uma das respostas poderia contribuir para as demais

O tratamento das respostas relativas agrave questatildeo 1 sobre os dis-positivos utilizados respeitou as categorias previamente estabe-lecidas mas tambeacutem considerou a possibilidade do participante apontar outros dispositivos As respostas relativas agrave questatildeo 2 foram categorizadas dentro de cada subtoacutepico sistemas ope-racionais navegadores e-mail aplicativos diversos serviccedilos da Web e rede Todos os dados coletados por meio das entrevistas foram tabulados e posteriormente analisados

3 Resultados e discussatildeo Para anaacutelise das respostas da questatildeo 1 foram considerados o uso de desktop notebook smartphone e tablet Os participantes puderam apontar mais de um dispositivo indicando a ordem em que satildeo empregados do mais utilizado para o menos utilizado (primeira opccedilatildeo segunda opccedilatildeo e terceira opccedilatildeo) Os resultados dessa questatildeo encontram-se na Tabela 1

Tabela 1 ndash Dispositivos utilizados pelos estudantes

Dispositivo 1ordf opccedilatildeo 2ordf opccedilatildeo 3ordf opccedilatildeo

n n n

Desktop 25 490 8 157 5 98

Notebook 11 216 14 275 8 157

Smartphone 15 294 18 353 7 137

Tablet 0 0 0 0 3 59

Fonte Os autores 2017

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo os dados mostrados na Tabela 1 o dispositivo mais utilizado como primeira opccedilatildeo pelos estudantes foi o desktop citado por praticamente metade dos entrevistados (490) seguido pelo smartphone (294) e pelo notebook (216) O fato de o desktop es-tar disponiacutevel na universidade tanto nos laboratoacuterios de informaacutetica como na biblioteca locais em que algumas aulas satildeo realizadas pode ter contribuiacutedo para esse resultado Outro fator que pode ter contri-buiacutedo parcialmente para um maior uso do desktop eacute a necessidade de preparaccedilatildeo de relatoacuterios que precisam ser digitados e portanto satildeo mais facilmente executados em dispositivos com teclados que garantam uma melhor ergonomia Contudo em oposiccedilatildeo a essa suposiccedilatildeo o segundo dispositivo mais utilizado como primeira op-ccedilatildeo foi o smartphone o que pode ser explicado pela conveniecircncia de estar com o dispositivo em matildeos uma vez que quase todos os estudantes possuem e levam o smartphone consigo agraves aulas bem como pela mobilidade jaacute que tal dispositivo pode ser usado mesmo estando em deslocamento pelos espaccedilos da universidade onde estatildeo ocorrendo as atividades da disciplina

Jaacute como segunda opccedilatildeo o dispositivo mais utilizado foi o smar-tphone (353) seguido pelo notebook (275) Mais uma vez o uso do smartphone precedeu o uso do notebook Essa relaccedilatildeo de prece-decircncia apenas se inverte quando considerados os dispositivos utilizados como terceira opccedilatildeo poreacutem com percentuais de uso muito proacuteximos 157 para notebook e 137 para smartphone Observa-se ainda que o tablet aparece em uacuteltimo lugar apenas como terceira opccedilatildeo tendo sido apontado por somente 59 dos estudantes entrevistados

Na anaacutelise das respostas da questatildeo 2 foram levados em conta os sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos diversos e serviccedilos da Web bem como as redes usados pelos estudantes A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos

Tabela 2 ndash Programas serviccedilos e redes utilizados pelos estudantes

Categoria Recurso n

Sistema operacional

Android 21 412

iOS 22 431

Mac OS 4 78

Windows 50 980

Navegador

Chrome 49 961

Firefox 10 196

Internet Explorer 6 118

Safari 18 353

E-mail

Gmail 26 510

HotmailOutlook 31 608

Terra 1 20

Uol 1 20

Yahoo 3 59

Continua gt

Categoria Recurso n

Aplicativos diversosoutros serviccedilos Web

Dropbox 1 20

Facebook 13 255

Google 49 961

Googgle Acadecircmico 49 961

Google Drive 2 39

Google Livro 27 529

MS Word 51 1000

MS Power Point 51 1000

OneDrive 3 59

SciELO 13 255

Skype 9 176

WhatsApp 51 1000

Rede

3G 20 392

4G 11 216

LAN Cabeada 43 843

WiFi 47 922

Fonte Os autores 2017

Conforme os dados apresentados na Tabela 2 o Windows da Microsoft foi o sistema operacional mais usado sendo citado por 98 dos estudantes Nesse caso existe uma relaccedilatildeo com o predomiacutenio do uso do desktop pois na biblioteca e nos labora-toacuterios frequentados pelos estudantes entrevistados o Windows eacute o sistema operacional padratildeo O sistema operacional da Apple para uso em seus computadores (Mac) que aqui foi identificado genericamente como Mac OS por possuir nomenclaturas diferen-tes dependendo de sua versatildeo foi o menos utilizado Os sistemas operacionais Android e iOS para dispositivos moacuteveis foram uti-lizados de maneira equilibrada entre os estudantes sendo men-cionados respectivamente por 412 e 431 dos universitaacuterios

O Chrome do Google foi o navegador mais usado pelos estudantes sendo apontado em 961 dos casos seguido do Safari da Apple com 353 Eacute interessante notar que embora o Internet Explorer (IE) seja o navegador padratildeo da Microsoft acompanhando o sistema operacional Windows somente 118 dos estudantes disseram utilizaacute-lo indicando nesse caso uma autonomia dos estudantes na escolha do navega-dor mais adequado a suas necessidades O serviccedilo de e-mail mais utilizado foi o Hotmail Outlook da Microsoft (608) acompanhado do Gmail do Google (510) Outros serviccedilos de e-mail tiveram pouca expressatildeo

Na categoria aplicativos e outros serviccedilos da Web o editor de textos Word e o aplicativo de apresentaccedilotildees Power Point ambos da Microsoft foram escolhas unacircnimes Apenas um estudante relatou utilizar uma versatildeo Web do editor de textos da Microsoft por meio do OneDrive para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecirc-micas Aliaacutes no que se refere a serviccedilo de armazenamento em nuvem o OneDrive Google Drive e o Dropbox foram citados por

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

59 39 e 20 dos estudantes respectivamente percentuais baixos considerando o potencial desse tipo de ferramenta para realizaccedilatildeo de trabalhos colaborativos

Outro destaque unacircnime na escolha dos estudantes foi o WhatsApp O aplicativo de troca de mensagens instantacircneas e chamadas de voz para smartphone foi apontado como de muita importacircncia para comunicaccedilatildeo dos grupos durante a realizaccedilatildeo das atividades da disciplina Outras ferramentas que auxiliam na comunicaccedilatildeo tambeacutem foram mencionadas como o Facebook (255) e o Skype (176) Cabe destacar ainda o serviccedilo de buscas do Google o Google Acadecircmico o Google Livro bem como do ser-viccedilo de buscas do Scientific Electronic Library Online (SciELO) que foram apontados por 961 961 529 e 255 dos estudantes respectivamente como ferramentas de apoio a suas pesquisas aca-decircmicas no acircmbito da disciplina abordada no presente estudo

Por fim para acesso aos serviccedilos da Web e comunicaccedilatildeo as redes mais utilizadas foram a rede WiFi (922) e a rede local (LAN) cabeada (843) disponibilizadas pela universidade Tambeacutem foram citadas as conexotildees 3G e 4G fornecidas pelas operadoras de telefonia moacutevel celular por 392 e 216 dos estudantes universitaacuterios entrevistados respectivamente

No que se refere ao contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais apoiado na metodologia ativa PBL (CACHI-NHO 2012 ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) verifica-se que na etapa inicial dos trabalhos as TICs foram menos utilizadas pois tal etapa abrangia a compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para abordagem da situaccedilatildeo-problema estudo de caso Na etapa de pesquisas as tecnologias foram utilizadas com maior intensida-de para suportar atividades como buscas seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bem como a comunicaccedilatildeo entre os integrantes dos grupos Na etapa de apresentaccedilatildeo e debates por sua vez os recursos tecnoloacutegicos foram empregadas de forma moderada em relaccedilatildeo agraves outras etapas destinando-se basica-mente agrave apresentaccedilatildeo dos resultados obtidos

Todos os recursos de hardware e software citados pelos es-tudantes fazem parte das TICs (TAKAHASHI 2000) que estatildeo na base das transformaccedilotildees observadas na atual sociedade (CAS-TELLS 2010) Levando em conta os avanccedilos das TICs e as moda-lidades educacionais relacionadas tais recursos situam-se em um momento marcado pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Nesse sentido mesmo a disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais natildeo tendo adotado explicitamente uma abordagem do tipo b-learning (OKADA BARROS 2010) os estudantes fizeram espontaneamente uma combinaccedilatildeo de aprendizagem online e

presencial De modo similar eacute possiacutevel afirmar que apesar de a disciplina natildeo adotar o m-learning (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012) de forma expliacutecita os estudantes fizeram um uso espontacircneo de dispositivos moacuteveis no apoio agrave aprendizagem

5 ConclusotildeesO presente estudo abordou o uso das TICs por estudantes uni-versitaacuterios de Administraccedilatildeo em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia PBL Consi-derou para tanto o contexto mais amplo de transformaccedilotildees tecnoloacutegicas sociais econocircmicas e culturais verificadas na atualidade (CASTELLS 2010) que caracterizam a sociedade da informaccedilatildeo ou da aprendizagem Nesse contexto os recursos tecnoloacutegicos podem apoiar o processo de ensino e aprendi-zagem por meio de novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de conhecimento (ROZA 2017)

Embora os participantes da pesquisa tenham sido estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais as tecnologias abordadas dentro do conteuacutedo programaacutetico da disciplina natildeo foram o foco deste estudo Tampouco o enfoque foi dado aos recursos tecnoloacutegicos de uso obrigatoacuterio pelos estudantes como o ambiente virtual de aprendizagem da universidade por exemplo Apesar de recursos como esse tambeacutem possuiacuterem potencial de apoiar agrave aprendizagem o presente estudo concentrou-se nas TICs (TAKAHASHI 2000) que satildeo utilizadas por iniciativa dos estudantes a partir de suas neces-sidades para realizaccedilatildeo dos desafios da disciplina situando-se em uma etapa marcada pela linguagem virtual e mais especificamente pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Outro aspecto que merece destaque eacute o fato de a disciplina adotar a aprendizagem baseada em problemas PBL Por se tratar de uma metodologia ativa (CACHINHO 2012) o estudante teve a possibilidade de assumir o papel de protagonista de sua proacutepria aprendizagem utilizando com maior liberdade as TICs para rea-lizaccedilatildeo de tarefas como pesquisa organizaccedilatildeo anaacutelise registro e compartilhamento de informaccedilotildees para aquisiccedilatildeo e produccedilatildeo de novos conhecimentos de forma alinhada agrave concepccedilatildeo de apren-dizagem como um processo de construccedilatildeo de significados (ES-CRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Aleacutem disso tambeacutem eacute importante destacar que esta pesquisa teve um caraacuteter exploratoacuterio e seus resultados se limitam agrave amostra analisada

Os resultados obtidos neste estudo por meio da anaacutelise das entrevistas indicam que o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos pelos estudantes para realizaccedilatildeo das atividades propostas na disciplina notadamente o desktop o smartphone e o notebook foi influenciado por fatores como disponibilidade ergonomia

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

e mobilidade associados a tais dispositivos A disponibilidade tambeacutem foi importante na escolha das redes para os dispositivos moacuteveis o que natildeo se aplicou ao desktop uma vez que nesse caso os computadores jaacute se encontravam conectados agrave rede lo-cal cabeada da universidade Tambeacutem no contexto de realizaccedilatildeo de atividades acadecircmicas da disciplina o uso de software foi guiado pela conveniecircncia em situaccedilotildees em que os programas jaacute se encontravam instalados ou eram de uso habitual entre os estudantes mas tambeacutem pela autonomia nos casos em que o estudante optou pelo uso de determinados programas e serviccedilos da Web abdicando-se de outros

Ainda no acircmbito da disciplina de negoacutecios em ambientes vir-tuais o uso das TICs pelos estudantes mostrou-se mais intenso na etapa de pesquisas da metodologia PBL Na etapa inicial e na etapa de apresentaccedilotildees e debate o uso das TICs foi baixo e moderado res-pectivamente Aleacutem disso destaca-se o fato de que os estudantes fizeram de forma espontacircnea uso combinado de aprendizagem online e presencial bem como uso de dispositivos moacuteveis para apoiar o processo de aprendizagem

De modo geral foi possiacutevel constatar que os estudantes buscaram usar as TICs que consideraram mais adequadas para o cumprimento das atividades da disciplina recorrendo para tanto agravequelas a que jaacute possuiacuteam acesso e com que tinham familiaridade No entanto alguns recursos tecnoloacutegicos embora pudessem auxiliar no cumprimento das atividades propostas como os serviccedilos de armazenamento em nuvem por exemplo foram menos explorados ficando restritos a poucos estudantes nos grupos entrevistados Nesse sentido uma maior troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os membros dos grupos ou ainda a indicaccedilatildeo de tecnologias por parte do professor no acircmbito das atividades apoiadas na metodologia PBL poderia resultar na adoccedilatildeo coletiva de outros recursos tecnoloacutegicos bem como estimular a exploraccedilatildeo de novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

R e f e r ecirc n c i a s

BERTONCELLO V CORDEIRO LB BORTOLOZZI F RODRIGUES AP Integraccedilatildeo das TIC e a Metodologia PBL com Aplicaccedilatildeo na aacuterea de Ginecologia e Obstetriacutecia In Brazilian Symposium on Computers in Education 2008 p 370-379

BUCKLAND M K Information and information systems New York Prae-guer 1991

CACHINHO H Criando experiecircncias de aprendizagem significativas do potencial da Aprendizagem Baseada em Problemas El Hombre y la Maacutequina v40 p58-67 2012

CASTELLS M The rise of the network society The information age Econ-omy society and culture Oxford Wiley-Blackwell 2010

CHAFFEY D Gestatildeo de e-business e e-commerce estrateacutegia implementaccedilatildeo e praacutetica Rio de Janeiro Elsevier 2014

COLL C MONEREO C Educaccedilatildeo e aprendizagem no seacuteculo XXI novas fer-ramentas novos cenaacuterios novas finalidades In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 p15-46

COUTINHO CP LISBOcircA ES Sociedade da informaccedilatildeo do conhecimento e da aprendizagem desafios para educaccedilatildeo no seacuteculo XXI Revista de Educaccedilatildeo v 18 n 1 p5-22 2011

ESCRIVAtildeO FILHO E RIBEIRO LRC Inovando no ensino de administra-ccedilatildeo uma experiecircncia com a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) Cadernos EBAPEBR p1-9 2008

KEARNEY MSCHUCK S AUBUSSON P Viewing mobile learning from a pedagogical perspective Research in learning technology v20 p1-17 2012

LALUEZA J L CRESPO I CAMPS S As tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo e os processos de desenvolvimento e socializaccedilatildeo In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 (p47-65)

LAUDON K LAUDON J Sistemas de informaccedilatildeo gerenciais Satildeo Paulo Pearson 2011

MANSELL R TREMBLAY G Renewing the knowledge societies vision for peace and sustainable development Paris UNESCO 2013

OKADA A Novos paradigmas na educaccedilatildeo online com a aprendizagem aberta In 5th International Conference in Information and Communi-cation Technologies in Education Challenges 2007 Portugal Centro de Competia da Universidade do Minho

OKADA A BARROS D M V Ambientes virtuais de aprendizagem aberta bases para uma nova tendecircncia Revista Digital de Tecnologias Cogni-tivas v3 p20-35 2010

OSMAN K KAUR SJ Evaluating Biology Achievement Scores in an ICT integrated PBL Environment Eurasia Journal of Mathematics Science amp Technology Education v 10 n 3 p185-194 2014

PINHO JAG Sociedade da informaccedilatildeo capitalismo e sociedade civil reflexotildees sobre poliacutetica internet e democracia na realidade brasileira Revista de Administraccedilatildeo de empresas v51 n1 p98-106 2011

POZO JI A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informa-ccedilatildeo em conhecimento Paacutetio Revista Pedagoacutegica n31 p8-11 2004

ROZA RH Estilos de aprendizagem e o uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 2017 157p Tese (Doutorado em Psicologia como Profissatildeo e Ciecircncia) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Centro de Ciecircncias da Vida Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psico-logia Campinas 2017

SILVA EL CAFEacute L CATAPAN AH Os objetos educacionais os metadados e os repositoacuterios na sociedade da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo v39 n3 p93-104 2010

STEVENSON COMMITTEE Information and communications technology in UK schools An independent enquiry (The Stevenson Report) 1997

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

TAKAHASHI T (Org) Sociedade da informaccedilatildeo no Brasil livro verde Brasiacutelia Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia 2000

TOLEDO JUacuteNIOR ACC IBIAPINA CDC LOPES SCF RODRIGUES ACP SOARES SMS Aprendizagem baseada em problemas uma nova referecircncia para a construccedilatildeo do curriacuteculo meacutedico Revista Meacutedica de Minas Gerais v18 n2 p123-131 2008 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre

indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-

tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

Apresentamos uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional que procura articular a Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica com a Educaccedilatildeo Ambiental considerando

os aspectos culturais nas relaccedilotildees entre os sujeitos e as aacuteguas em diferentes contextos especialmente no que diz respeito agrave escassez poluiccedilatildeo e maacute distribuiccedilatildeo Como objeto de anaacutelise seraacute apresentado o livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado em 2016 pela editora UDESC Entre os principais resultados alcanccedilados destaca-se o efetivo envolvimento de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento bem como sua validaccedilatildeo preacutevia junto ao puacuteblico escolar ao qual se destina Tal intervenccedilatildeo tambeacutem corrobora a utilizaccedilatildeo criteriosa das tecnologias educacionais na promoccedilatildeo e difusatildeo de conteuacutedos e significados valores e formas de atuaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida comunitaacuteria

R e s u m e n

Presentamos una intervencioacuten pedagoacutegica de aplicacioacuten de tecnologiacutea educativa que busca artic-ular la Educacioacuten Cientiacutefica y Tecnoloacutegica con la Educacioacuten Ambiental considerando los aspectos culturales en las relaciones entre los sujetos y las aguas en diferentes contextos especialmente en lo que se refiere a su situacioacuten escasez contaminacioacuten y mala distribucioacuten Como objeto de anaacutelisis seraacute presentado el libro digital Sobre a Face das Aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado en 2016 por la Editora UDESC Entre los principales resultados alcanzados se destaca la efectiva participacioacuten de investigadores y profesores de diferentes aacutereas de conocimiento asiacute como su validacioacuten previa ante el puacuteblico escolar al que se destina Tal intervencioacuten tambieacuten corrobora la utilizacioacuten cuidadosa de las tecnologiacuteas educativas en la promocioacuten y difusioacuten de con-tenidos y significados valores y formas de actuacioacuten en relacioacuten a la calidad de vida comunitaria

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 20170929 Aprovado em 20112017

Palavras-chaveEnsino a distacircncia Material paradidaacutetico InterdisciplinaridadeAacutegua

Palabras claveEnsentildeanza a distancia Material paradidaacutectico Interdisciplinariedad Agua

Autores Poacutes-doutorando no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina doutor em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grandee-mail thalassochingyahoocombr

Doutoranda no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina mestre em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande e-mail carolinacnpqgmailcom

Professora do Centro de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Universidade do Estado de Santa Catarina doutora em Neuro-ciecircncias pela Universidade Federal de Santa Catarina e-mail isabelcunhaudescbr

Como citar este artigoFERREIRA W NASCIMENTO C C CUNHA I C Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias edu-cacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguasIntervencioacuten pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionales sobre las interaciones culturales com las aguas

Washington Ferreira Carolina Cavalcanti do Nascimento e Isabel Cristina da Cunha

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoApresentamos o processo de criaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de material paradidaacutetico sob a forma de um livro digital denominado Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua1 Essa obra se constituiu em uma intervenccedilatildeo pe-dagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional articulan-do princiacutepios conteuacutedos e valores compartilhados entre os campos da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e da Educaccedilatildeo Ambiental A transversalidade pretendida se efetiva atraveacutes de um conjunto de propostas pedagoacutegicas que buscam conside-rar aspectos culturais de diferentes contextos socioambientais nas suas relaccedilotildees com as aacuteguas

A viabilidade do desenvolvimento de tal atividade foi oportu-nizada atraveacutes da parceria entre a Coordenadoria de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior e a Agecircncia Nacional das Aacuteguas com o lanccedilamento em setembro de 2015 do Edital ANA-CAPES DEB Nordm 182015 subsidiado pelo Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash Projeto Aacutegua O objeti-vo do referido edital foi fomentar a produccedilatildeo de material didaacutetico para a educaccedilatildeo baacutesica sobre o tema ldquoAacuteguardquo para ser utilizado no Ensino Fundamental II e no Ensino Meacutedio e ser disponibilizado em forma de miacutedias e adaptaacuteveis para uso em repositoacuterios online eou em raacutedio TV internet dispositivos moacuteveis (tablets e celu-lares) Entre as exigecircncias desse edital em relaccedilatildeo aos projetos aprovados estavam ser desenvolvidos preferencialmente por equipes multidisciplinares ter como referecircncia os conteuacutedos elencados nos Paracircmetros Curriculares Nacionais do Meio Am-biente em que se situa a discussatildeo sobre o tema ldquoAacuteguardquo ter um caraacuteter interdisciplinar e garantir a testagem preacutevia do material didaacutetico produzido (ANA-CAPES 2015)

O projeto Sobre a Face das Aacuteguas submetido pela Univer-sidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) teve vigecircncia entre os meses de janeiro e dezembro de 2016 Seu objetivo central foi produzir um material paradidaacutetico de hipertexto no formato de ePUB2 ndash contendo textos informativos forma-tivos e trabalhos artiacutesticos ndash que auxiliasse na reflexatildeo sobre as diferentes relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas voltadas tanto para a aprendizagem sobre a importacircncia das aacuteguas e dos seus usos sustentaacuteveis quanto para diferentes conteuacutedos disciplinares associados ao referido tema O projeto buscava elaborar um material didaacutetico interativo dinacircmico e acessiacutevel que possibilitasse aos profes-sores(as) do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio integrar a discussatildeo sobre a importacircncia e o uso sustentaacutevel da aacutegua aos seus conteuacutedos curriculares articular as diferentes mani-festaccedilotildees artiacutesticas e culturais com o tema ldquoaacuteguardquo agraves atividades pedagoacutegicas de mediaccedilatildeo de aprendizagem e sensibilizar e problematizar as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua consi-derando o contexto temporal e territorial de diferentes grupos

eacutetnico-culturais As manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais estatildeo muito mais acessiacuteveis hoje em dia e podem ser utilizadas com vieacutes pedagoacutegico se estiverem ao alcance dos professores como recurso didaacutetico (CUNHA 2015) Elas por si mesmas trazem informaccedilotildees e geram sentimentos que auxiliam na formaccedilatildeo do sujeito poreacutem esse potencial pode ser otimizado na medida em que se propotildeem objetivos de aprendizagem associados a essas informaccedilotildees e emoccedilotildees

No sentido de estimular a relaccedilatildeo sustentaacutevel com os recursos de bem comum como por exemplo a aacutegua cabe agrave Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e agrave Educaccedilatildeo Ambiental o compromisso com a formaccedilatildeo do sujeito tanto no acircmbito racional pragmaacuteti-co quanto no acircmbito eacutetico e moral ndash estimulando a superaccedilatildeo da relaccedilatildeo utilitarista que ainda mantemos com os elementos e os fenocircmenos da natureza Nessa perspectiva com diferentes dimensotildees e aspectos muitos autores e educadores tecircm sugeri-do e experimentado uma aproximaccedilatildeo da educaccedilatildeo com a arte trazendo na maioria das vezes elementos de linguagens artiacutesticas agraves praacuteticas educativas

A Transversalidade emerge como alternativa para a construccedilatildeo da Interdisciplinaridade e ao aprofundamento da Transdisciplinaridade que Edgar Morin indica como uma forma da educaccedilatildeo contemplar uma nova leitura do mundo Isso nos remete agrave compreensatildeo de que o mundo fiacutesico eacute uma rede de relaccedilotildees de conexotildees e natildeo uma en-tidade fragmentada em que as partes satildeo analisadas separadas do todo sem a preocupaccedilatildeo com a complexidade existente e com as inter-relaccedilotildees entre essas mesmas partes (SANTOS 2012 p 169)

A preocupaccedilatildeo educacional com as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas abrange desde a sua (in)disponibilidade e perda de qualidade ateacute a percepccedilatildeo dos aspectos eacuteticos-afeti-vos envolvidos nestas mesmas relaccedilotildees A construccedilatildeo de uma percepccedilatildeo proacutepria autocircnoma e emancipatoacuteria da relaccedilatildeo com a aacutegua natildeo pode ser algo indutivo maniqueiacutesta ndash no sentido de determinar o que eacute certo e errado ditando comportamentos ade-quados que noacutes enquanto adultos tambeacutem temos dificuldades de praticar Portanto torna-se fundamental associar a aacutegua com as diferentes manifestaccedilotildees culturais visando a sensibilizar sobre as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas problematizadoras

2 Resultados e AnaacuteliseO desenvolvimento da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas (NASCI-MENTO FERREIRA CUNHA 2016) foi estruturado atraveacutes de um conjunto de etapas processuais (Tabela 1)

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Tabela 1 ndash Etapas e atividades da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas

Etapas Atividades Observaccedilotildees

A

Pesquisa seleccedilatildeo eou produccedilatildeo de obras artiacutesticas e manifestaccedilotildees culturais relacionadas com o tema Aacutegua

Desenhos pinturas foto-grafias muacutesicas filmes escul-turas instalaccedilotildees contos poemas crocircnicas

BElaboraccedilatildeo das propostas pe-dagoacutegicas a partir dos materiais selecionados

C

Avaliaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo (teoacuterica e metodoloacutegica) de especialistas - professores(s) e pesquisado-res(s) ndash considerando aspectos conceituais disciplinares

Aacutereas envolvidas arte ge-ografia histoacuteria sociologia filosofia liacutengua portuguesa e literatura inglecircs matemaacute-tica biologia oceanografia espiritualidade e religiotildees

DInserccedilatildeo das contribuiccedilotildees dos(s) especialistas nas propos-tas pedagoacutegicas

E Esboccedilo preliminar das propostas em desenvolvimento

FVideoconferecircncia nacional de inte-graccedilatildeo dos projetos contemplados mediada pela CAPES

(abril de 2016)

G Complementaccedilatildeo de atividades e propostas pedagoacutegicas

H Supervisatildeo e ajustes da coordena-ccedilatildeo do projeto

I Revisatildeo textual

J Conversatildeo das propostas pedagoacute-gicas editadas (nos formatos e-Pub e PDF)

K Testagem de validaccedilatildeo junto ao puacuteblico usuaacuterio

(professores(s) e alu-nos(s))

L Revisatildeo final e poacutes-produccedilatildeo

MSeminaacuterio nacional presencial de integraccedilatildeo dos projetos contem-plados junto a CAPES

(Brasiacutelia DF novembro de 2016)

Fonte os autores 2017

As sugestotildees de atividades foram distribuiacutedas entre vinte pro-postas pedagoacutegicas de caraacuteter informativo e formativo a partir de manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais sobre as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas todas conectadas a determinados temas e conteuacutedos especiacuteficos (Tabela 2)

Tabela 2 ndash propostas pedagoacutegicas do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua

Atividades Artes Temas

Coacutedigo de Hamurabi

Trecho do Coacutedigo de Hamurabi (considerado o primeiro conjunto de leis da humanidade

CidadaniaDesastres ambientaisCTSMovimentos sociais

O Grito da Boneca

Fotografia de Wa Ching do Estuaacuterio da Lagoa dos Patos Rio Grande do Sul

Poluiccedilatildeo hiacutedricaDespejo de resiacuteduosPoliacuteticas puacuteblicasSaneamento baacutesico

A Arca Charge El Arca do argentino Mayer

Mudanccedilas climaacuteticasBiodiversidade

Escultura Submersa

Escultura em maacutermore do catarinense Pita Camargo no mar no Reserva Bioloacutegica do Arvoredo SC

UCsPoluiccedilatildeoBiodiversidade

As Aacuteguas de Tom e Gonzaga

Muacutesicas Asa Branca do cantor e compositor Luiz Gonzaga e Aacuteguas de Marccedilo do cantor e compositor Tom Jobim

Mudanccedilas climaacuteticasDesigualdades sociaisEscassez da aacutegua

Aacutegua Charge do brasileira Jack Kaminski

Escassez da aacuteguaSustentabilidade

Lenda das Sereias

Samba-enredo Lenda das Sereias_Rainha do Mar do GRES Impeacuterio Serrano

Mitologia africanaSincronismo religioso

Meditaccedilatildeo da Aacutegua

Proposta transdisciplinar para introduccedilatildeo ao tema Aacutegua atraveacutes da meditaccedilatildeo

Budismo tibetano

O Nascer do Mar

Poema natildeo titulado do autor Raul Machado

Impactos ambientais

O Velho e o Mar

Video-animaccedilatildeo a adaptaccedilatildeo da obra literaacuteria claacutessica de Ernest Hemingway publicado em 1952

Ser humano-naturezaSustentabilidadeComunidade tradicional

Continua gt

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Atividades Artes Temas

Retirantes

A obra Retirantes pintada em 1944 por Cacircndido Portinari

Desigualdades sociaisMovimentos sociais

PrioridadesCharge (natildeo titulada) do alematildeo Jan Tomaschoff

Mudanccedilas climaacuteticasSustentabilidadeJusticcedila amiental

Hino ao NiloHino em homenagem ao Rio Nilo no Egito

Cidadania

Rio das Mulheres

Documentaacuterio O Rio das Mulheres pelo olhar de Ivaneide de 2004

Desigualdade de gecircneroSustentabilidade

As Primeiras Civilizaccedilotildees

O Mapa das Pri-meiras Civilizaccedilotildees eacute um desenho (vetorizaccedilatildeo) em tela utilizando o software livre de geoprocessa-mento QGIS

Aacutegua e Sauacutede

A imagem representando a praacutetica do banho na Idade Meacutedia

HigieneSauacutedeSaneamento Baacutesico

Fonte Elaborado pelos autores baseado em Nascimento Ferreira

Cunha 2016

O conteuacutedo e a linguagem deste livro digital foram estrutura-dos visando como usuaacuterios diretos principalmente professores do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio Para cada uma das vinte atividades propostas foram tambeacutem apresentadas seacuteries especiacuteficas de fontes bibliograacuteficas atraveacutes de comentaacuterios ao longo do texto e hiperlinks de acesso ao domiacutenio virtual como estiacutemulo para o aprofundamento dos leitores nos temas e pro-cessos discutidos em relaccedilatildeo aos seus referenciais cientiacutefico--tecnoloacutegicos e artiacutestico-culturais aleacutem da contextualizaccedilatildeo das obras originais Outro ponto a ser destacado foi o envolvimento interdisciplinar de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento no processo de pesquisa elaboraccedilatildeo e produccedilatildeo desta obra (Quadro 1)

Quadro 1 ndash roteiro para avaliaccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas pelos pesquisadores-professores

Temas de avaliaccedilatildeo

Questotildees para avaliaccedilatildeo das propostas Detalhes

Qualidadeda arte

a) eacute interessanteb) trata da temaacutetica aacuteguac) eacute adequada para o Ensino

Fundamental II eou Ensino Meacutedio

d) estaacute classificada adequadamente

(poema muacutesica documentaacuterio histoacuteria em quadrinho charge fotografia viacutedeo)

Qualidadeda proposta

a) eacute interdisciplinarb) estaacute bem contextualizada

(apresentada)c) eacute transversal (considera o

cotidiano)d) articula questotildees locais e globaise) quais elementos relacionados com

o tema aacutegua ainda podem ser explorados na arte

f ) cita conteuacutedos adequados em relaccedilatildeo agraves disciplinas citadas

g) quais outras disciplinas e conteuacutedos ainda podem ser explorados

h) forneceu elementos paradidaacuteticos para o() professor() ou poderia apresentar mais coisas (aprofundar pedagogicamente)

i) estaacute bem articulada com a arte ou foge do assunto

Fonte os autores 2017

O retorno dessas avaliaccedilotildees preliminares foi decisivo na me-lhor estruturaccedilatildeo do conjunto de propostas e na sua adequa-ccedilatildeo agraves especificidades de diferentes aacutereas Seguem-se algumas recomendaccedilotildees recebidas sobre uma das atividades propostas que exemplificam a forma de participaccedilatildeo de pesquisadores--professores (Quadro 2)

Quadro 2 ndash recomendaccedilotildees dos pesquisadores-professores sobre as propostas pedagoacutegicas

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Liacutengua Portuguesa

A animaccedilatildeo eacute adequada para o trabalho especialmente com o Ensino Fundamental pela sua ludicidade e linguagem visual e graacutefica atrativas A sugestatildeo eacute trabalhar interpretaccedilatildeo visto que o que estaacute sendo dito eacute dito sem o uso de palavras possibilitando e instigando a discussatildeo sobre o que estaacute sendo representado

Matemaacutetica

O() professor() pode desenvolver uma atividade em que seussuas estudantes tenham uma vivecircncia com as operaccedilotildees numeacutericas pois a animaccedilatildeo serve como desencadeadora para problematizar os custos em dinheiro para ter acesso agrave aacutegua potaacutevel Aleacutem disso a diferenccedila de valor entre as marcas que a mercantiliza e de como esta relaccedilatildeo reflete de forma diferente entre as classes sociais

Continua gt

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Geografia

Na geografia humana sugerimos os estudos sobre a induacutestria da seca possibilitando assim uma analogia do viacutedeo com a realidade do nordeste brasileiro A ldquoinduacutestria da secardquo eacute um termo utilizado para retratar uma condiccedilatildeo de exploraccedilatildeo por parte de pessoas que se beneficiam da miseacuteria no conhecido poliacutegono da seca regiatildeo do territoacuterio brasileiro caracterizado por baixas precipitaccedilotildees

Sociologia

Eacute possiacutevel discutir (a) A apropriaccedilatildeo privada dos mananciais e a mercantilizaccedilatildeo da aacutegua relacionando estes fatos com o capitalismo a industrializaccedilatildeo a urbanizaccedilatildeo o individualismo etc (b) O fato do ser humano controlar e se impor agrave natureza

Fonte os autores 2017

Aleacutem disso o livro foi submetido agrave Fase de Teste atendendo agrave exigecircncia do edital ANA-CAPES com professores da Escola de Edu-caccedilatildeo Baacutesica Vereador Guilherme Zuege (no municiacutepio de Joinville SC) vinculada agrave rede puacuteblica estadual de Santa Catarina atraveacutes da sua avaliaccedilatildeo (Quadro 3) Cabe ressaltar que a Fase de Teste foi realizada antes da finalizaccedilatildeo do livro para que a avaliaccedilatildeo fosse efetivamente contemplada no resultado final

Quadro 3 ndash retorno da avaliaccedilatildeo dos professores (N=3)

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre o formato e-Pub e sua utilizaccedilatildeo

a) Seria mais atrativo se fosse mais colorido mais di-nacircmico Eacute praacutetico mas seria interessante se fosse tambeacutem para o uso do professor em sala de aula com os alunos e pra isso ele precisaria ser mais atrativo visualmente os viacutedeos por exemplo deveriam estar disponibilizados no proacuteprio EPUB

b) As atividades propostas nos deixam vaacuterias possibilidades de como podemos trabalhar em sala de aula

c) Atende agraves necessidades

Qual sua opiniatildeo sobre o conteuacutedo das propostas pedagoacutegicas

a) Os conteuacutedos disciplinares estatildeo contemplados nas propostas dessa forma trabalhar esses con-teuacutedos se torna mais atrativo para os estudantes e a interdisciplinaridade acontece de forma natural as relaccedilotildees se constroem e os estudantes podem perceber como as coisas estatildeo interliga-das

b) Nos faz refletir de maneira global sobre a impor-tacircncia da aacutegua para o nosso planeta

c) Conteuacutedo diversificado e envolvente

Qual sua opiniatildeo sobre o uso de obras artiacutesticas como desencadeadoras-problematizadoras em atividades pedagoacutegicas

a) Perfeito A arte desperta empatia para os temas que seratildeo abordados As questotildees ambientais muitas vezes satildeo abordadas de forma morali-zante e por meio de cartilhas sem proporcionar a reflexatildeo e sem fazer relaccedilotildees com o cotidiano das pessoas A escolha das obras alcanccedilou manifestaccedilotildees artiacutesticas diferentes ampliando as possibilidades de abordagem

b) As obras artiacutesticas causa uma sensibilizaccedilatildeo vc passa a ver a perceber todos aspectos de uma sociedade atraveacutes da arte

c) Considero de muito valia visto que a proble-matizaccedilatildeo de qualquer tema torna-se mais interessante quando haacute visualizaccedilatildeo das ideais que devem ser desenvolvidas

Continua gt

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre a proposta do e-Pub Sobre a Face das Aacuteguas

a) A proposta eacute original acredito pois jamais entrei em contato com algo assim Temas ambientais satildeo recorrentes e precisam ser trabalhados em sala de aula e por vezes eacute difiacutecil inovar e com essa proposta muitas outras ideias podem ser desencadeadas A tecnologia (o formato EPUB) tambeacutem estaacute palpitando e os professores precisam se arriscaraventurar por esses novos ambientes pois sua linguagem eacute muita mais proacutexima dos jovens estudantes

b) Ele nos mostra diversas maneiras de se trabalhar o tema aacutegua em vaacuterios contextos o que torna interessante para nossos alunos

c) Muito boa Novidade sempre eacute bem vinda para envolver o jovem de hoje Inovaccedilatildeo eacute tudo

Fonte os autores 2017

21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desigualdades

Os problemas socioambientais identificaacuteveis nos niacuteveis local regional e nacional constituem expressotildees localizadas de uma crise planetaacuteria ndash pobreza poluiccedilatildeo escassez de recursos natu-rais renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis extinccedilatildeo de espeacutecies alteraccedilotildees climaacuteticas etc Tal cenaacuterio estaacute intimamente atrelado ao vieacutes an-tropocecircntrico o qual atribuiu ao homem a tarefa de dominar e explorar a natureza ndash perspectiva evidenciada no processo de industrializaccedilatildeo (NASCIMENTO 2013) Nesse processo a ciecircncia e a tecnologia (CampT) foram vistas predominantemente ateacute haacute pouco tempo como sinocircnimos inequiacutevocos de progresso e salvadoras de todos os possiacuteveis problemas No entanto apesar da preten-sa neutralidade da CampT o tempo foi revelando outras facetas como a constataccedilatildeo cada vez mais evidente da imensidade da discrepacircncia na reparticcedilatildeo social dos ocircnus e bocircnus desse mode-lo de desenvolvimento amplificando o poder sociopoliacutetico e os rendimentos para o mercado industrial (ANGOTTI AUTH 2001)

Dessa forma assim como a ciecircncia e a tecnologia natildeo trouxe-ram o prometido benefiacutecio a todos houve ainda a intensificaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental trazendo enormes consequecircncias ne-gativas a grupos especiacuteficos Essa configuraccedilatildeo de desigualdades em relaccedilatildeo aos impactos socioambientais gerados pela explora-ccedilatildeo desenfreada da natureza associados aos ldquoavanccedilosrdquo enviesados da CampT constitui o que vem sendo reconhecido como injusticcedila ambiental entendida como o mecanismo pelo qual sociedades desiguais do ponto de vista econocircmico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento agraves populaccedilotildees de baixa renda aos grupos sociais discriminados aos povos eacutet-nicos tradicionais aos bairros operaacuterios agraves populaccedilotildees margina-lizadas e vulneraacuteveis3

Em contraposiccedilatildeo a ideia de justiccedila ambiental aparece como o conjunto de princiacutepios que visam a assegurar que nenhum grupo de pessoas sejam grupos eacutetnicos raciais ou de classe suporte

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

uma parcela desproporcional das consequecircncias ambientais negativas de operaccedilotildees econocircmicas de poliacuteticas e programas federais estaduais e locais bem como resultantes da ausecircncia ou omissatildeo de tais poliacuteticas Aleacutem disso eacute a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas inde-pendentemente de sua raccedila cor origem ou renda no que diz respeito agrave elaboraccedilatildeo desenvolvimento implementaccedilatildeo e reforccedilo de poliacuteticas leis e regulamentaccedilotildees ambientais (BULLARD 1990 ACSELRAD 2004 HERCULANO PACHECO 2006)

Segundo Herculano e Pacheco (2006) o movimento por justiccedila ambiental nos Estados Unidos tem dois momentos de criaccedilatildeo Em 1978 quando uma comunidade (Love Canal) de famiacutelias de operaacuterios (brancos) da induacutestria eleacutetrica no Niagara Falls des-cobriu-se vivendo em cima de um aterro de resiacuteduos toacutexicos e passou a lutar por indenizaccedilotildees por tratamento meacutedico e pelo direito agrave informaccedilatildeo sobre seu local de vida constituindo-se em coalizatildeo que deu forma ao Center for Health and Environmental Justice (Centro por Sauacutede e Justiccedila Ambiental)

Em 1982 em Warren County na Carolina do Norte registrou-se a revolta da populaccedilatildeo negra contra um depoacutesito de rejeitos quiacute-micos Desde entatildeo o movimento negro passou a utilizar a ex-pressatildeo racismo ambiental relativa a qualquer poliacutetica praacutetica ou diretiva que afete ou prejudique de formas diferentes voluntaacuteria ou involuntariamente a pessoas grupos ou comunidades por motivos de raccedila ou cor (BULLARD 2005 p1)

Essas definiccedilotildees tecircm seu valor na discussatildeo sobre as despropor-cionalidades das consequecircncias ambientais negativas entre diferen-tes populaccedilotildees No entanto de acordo com Herculano e Pacheco (2006) enquanto a perspectiva de justiccedila ambiental apresenta o vieacutes de classes ndash considerando seu sujeito como minoria e tendo foco no objeto e no processo da disputa no conflito em si (argumentaccedilatildeo proacutexima ao marxismo) ndash a perspectiva do racismo ambiental faz uma criacutetica agrave inferiorizaccedilatildeo racial ndash referindo-se agrave maioria (os pobres vistos preconceituosamente como raccedila inferior) e focando nos sujeitos coletivos nos valores e na eacutetica (MATHIAS 2007)

Natildeo caberia neste espaccedilo empreender esforccedilos para aferir o grau de importacircncia de um conceito em relaccedilatildeo a outro e muito menos julgar os niacuteveis de impactos sofridos entre as populaccedilotildees brancas pobres e as populaccedilotildees negras e indiacutegenas tambeacutem exclu-iacutedas socialmente Destacamos a importacircncia de desenvolverem es-forccedilos e inciativas para a produccedilatildeo e difusatildeo de materiais didaacuteticos e paradidaacuteticos que considerem tanto as diferentes relaccedilotildees com o meio ambiente quanto ao conjunto de consequecircncias da crise socioambiental considerando as desigualdades sociais e raciais que estatildeo sendo reproduzidas nesse contexto e para cuja soluccedilatildeo a educaccedilatildeo deve assumir efetivo compromisso eacutetico e em cujo pro-cesso as tecnologias educativas podem colaborar decisivamente

22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental A complexidade crescente das demandas conflitos e impactos am-bientais na sociedade contemporacircnea exige a adoccedilatildeo de um sistema de gestatildeo socioambiental robusto e efetivo integrado e assumido pela coletividade como instrumento e processo decisoacuterio administra-do de forma transparente e participativa para o qual as tecnologias educativas podem desempenhar relevante papel A responsabilidade compartilhada social e economicamente pelo conjunto dos cidadatildeos do paiacutes implica para aleacutem dos deveres associados ao pagamento dos tributos e impostos tambeacutem o efetivo envolvimento na promoccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas direcionadas a reduccedilatildeo das desigual-dades sociais (VIEIRA et al 2006 p48)

Diversas iniciativas e propostas vecircm sendo conduzidas no sentido de habilitar a estrutura e pessoal administrativo do Estado a incorporar o instrumental necessaacuterio para a captaccedilatildeo a anaacutelise e a decisatildeo mais aacutegil de informaccedilotildees e insumos aplicaacuteveis na resoluccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo Uma vez efetivada e aperfeiccediloada tal perspectiva pode vir a se constituir natildeo soacute em um instrumento mas numa caracteriacutestica central do processo de gestatildeo podendo chegar ao conceito de governo eletrocircnico (e-Gov) Aleacutem da aspirada eficaacutecia na gestatildeo puacuteblica tal instru-mental pode tambeacutem contribui para amplificar sua legitimidade agrave medida que proporcione real transparecircncia e acesso agrave populaccedilatildeo sobre as questotildees de planejamento e decisatildeo que incidam no conjunto do tecido social (PERSEGONA 2005 p131)

Contudo de modo a prevenir eventuais distorccedilotildees que a detenccedilatildeo privilegiada de informaccedilatildeo possa acarretar (pela consequente con-centraccedilatildeo de poder poliacutetico-econocircmica dela derivada) o progressivo desenvolvimento tecnoloacutegico e comunicacional deve ser regulamen-tado pelo Estado com a fiscalizaccedilatildeo pelo conjunto da sociedade e seus representantes garantindo-se o seu pleno acesso assim amplificando o seu potencial educativo Tais cuidados imprescindiacuteveis devem ser aprofundados quando da utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas no processo formativo como na Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EaD) na qual se destaca sua responsabilidade pela seleccedilatildeo das propostas composiccedilatildeo de equipe formadora estrateacutegias didaacuteticas e proposiccedilatildeo de ativida-des que podem influenciar decisivamente no ecircxito ou fracasso dessas mesmas poliacuteticas educativas (FUJITA 2010 p188-189) A hipertrofia e descontrole do aparato informacional enquanto instrumento e espaccedilo regulador dos fluxos e processos formativos comunicacionais e geren-ciais pode distanciar-se profundamente dos objetivos comunitaacuterios e identitaacuterios consolidando-se enquanto instacircncia emergente de poder poliacutetico-econocircmico impondo a sociedade os seus proacuteprios padrotildees e valores distoantes das necessidades e aspiraccedilotildees coletivas Tal eacute o risco intriacutenseco ao processo de utilizaccedilatildeo e dependecircncia crescente da sociedade em relaccedilatildeo agraves tecnologias educativas na ausecircncia de efetivo controle social dos seus meios de produccedilatildeo atraveacutes da proacutepria populaccedilatildeo e de seus representantes sociopoliacuteticos

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Para lidar de modo adequado pertinente e seguro com essa possibilidade assim como com quaisquer outros gran-des riscos conflitos e impactos socioambientais vivenciados coletivamente nunca eacute demais insistirmos no empoderamento social com a garantia da transparecircncia e do pleno acesso agraves informaccedilotildees para a participaccedilatildeo qualificada nas discussotildees de real significado para a sociedade

A educaccedilatildeo ambiental e a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica detecircm uma capacidade de mobilizaccedilatildeo social significativa ao contextualizar criticamente as potencialidades e problemas as perspectivas e conflitos socioambientais proporcionando as con-diccedilotildees para a discussatildeo coletiva e qualificada das comunidades para o planejamento socioambientalmente referenciado dos seus espaccedilos e territoacuterios Por meio de sua inserccedilatildeo e reverberaccedilatildeo nos espaccedilos programas e atividades de EaD podem ser compreendidos e vivenciados como comunidades de aprendizagem espaccedilos de pertencimento e cidadania elementos essenciais para desencadear a gestatildeo participativa municipal que promova a efetiva incorpora-ccedilatildeo da sustentabilidade e justiccedila socioambiental (FERREIRA 2010) Nesse cenaacuterio a EaD demanda um novo paradigma de ruptura com modelo claacutessico de ensino (atrelado ao modelo econocircmico em curso) desconexo e competitivo para um novo sistema integrado e colaborativo Ensinar a estudar e a trabalhar em cooperaccedilatildeo requer tambeacutem um novo perfil dos profissionais da educaccedilatildeo pelo qual sejam capazes de reconhecer as peculiaridades individuais e com a habilidade para administrar os conflitos dessa nova aprendizagem colaborativa (MARAVALHAS COSTA BARRETO 2010 p 11)

Como as atividades satildeo desenvolvidas em grupos nas diferen-ccedilas e divergecircncias ou seja na convivecircncia os estudantes aprendem a respeitar o outro como legiacutetimo A liberdade e a responsabilidade se estendem ao material pedagoacutegico disponiacutevel nos ambientes que oferecem subsiacutedios (tanto para os professores quanto para os estudantes) na proposiccedilatildeo de diferentes praacuteticas pedagoacutegicas (GAUTEacuteRIO RODRIGUES 2013 p 616) A responsabilidade e a liber-dade como emoccedilotildees que fundamentam o fazer humano passam a ser compreendidas em uma dimensatildeo ampliada Professores e estudantes entendem que satildeo responsaacuteveis pelo ensinar e pelo aprender e ao se darem conta das consequecircncias das proacuteprias accedilotildees podem optar por desejar ou natildeo esses resultados

Como todo processo educativo e cultural as tecnologias educativas satildeo constructos humanos logo natildeo satildeo neutras elas contecircm e condicionam determinados conteuacutedos e ideologias objetivos e sujeitos Os instrumentos os processos e os produtos gerados e compartilhados pela a EaD por exemplo congregam um potencial muito expressivo de transformaccedilatildeo nas interaccedilotildees socioculturais por tal caracteriacutestica seu emprego deve considerar com parcimocircnia as repercussotildees locais e contextos especiacuteficos onde podem vir a incidir de modo a prevenir e evitar a erosatildeo

cultural pela homogeneizaccedilatildeo da diversidade cultural diante de padrotildees de referecircncia externos assim como no tratamento super-ficial e alienante de temas e abordagens e ainda no processo de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida dos profissionais da educaccedilatildeo em progressiva substituiccedilatildeo pela mediaccedilatildeo eletrocircnica

Por outro lado satildeo muacuteltiplas as suas potenciais contribuiccedilotildees para o desenvolvimento das capacidades humanas o respeito e va-lorizaccedilatildeo da diversidade eacutetnico-cultural e o estiacutemulo agrave criatividade Tais dimensotildees devem ser trabalhadas pelo fortalecimento do senso criacutetico da cooperaccedilatildeo e da efetiva participaccedilatildeo cidadatilde nos processos decisoacuterios sobre os destinos compartilhados de todas as sociedades Entendemos pois que a produccedilatildeo e a difusatildeo do livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas com seu conjunto de propostas pedagoacutegicas concebidas aplicadas e avaliadas por pesquisadores e professores constitui-se em um estudo de caso representativo do potencial inspirador da (e para a) utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas com perspectivas de transformaccedilatildeo socioambiental qualificando-nos em conjunto para a melhoria dos processos produtivos e educativos

3 ConsideraccedilotildeesPercebemos como organizadores e colaboradores envolvidos na produccedilatildeo dessa obra que a proposta pedagoacutegica interdisciplinar sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas conseguiu atender aos objetivos estabelecidos respondendo de modo satisfatoacute-rio aos desafios empreendidos A sua avaliaccedilatildeo junto aos seus destinataacuterios atraveacutes da Fase de Testes preacutevios com professores resultou na adaptaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de algumas atividades propostas incrementando a qualidade e aderecircncia do produto final as necessidades e expectativas docentes

A ampla receptividade do produto final junto aos colegas pesqui-sadores-professores durante o Seminaacuterio Nacional de Integra-ccedilatildeo da CAPES constituiu-se em fator de grande estiacutemulo para o desenvolvimento de projetos similares (re)conectando as aacutereas teacutecnico-cientiacuteficas e artiacutestico-culturais solidamente embasadas no contexto nacional mas abertos agrave pluralidade de formas de expressatildeo e abordagens do patrimocircnio cultural da humanidade

Focalizamos algumas formas e processos de interaccedilatildeo entre as atividades e expressotildees artiacutestico-culturais com ecossistemas recursos e seres aquaacuteticos os quais merecem nosso respeito e esforccedilos para a manutenccedilatildeo da integridade e complexidade desses universos hiacutedricos Entendemos que a educaccedilatildeo cientiacutefi-ca e tecnoloacutegica e a educaccedilatildeo ambiental devem estar abertas e receptivas para o contiacutenuo intercacircmbio de saberes e fazeres com o multiverso dos conhecimentos natildeo acadecircmicos gestados no cotidiano da vida laboral de todas as culturas

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa intervenccedilatildeo pedagoacutegica tambeacutem adveacutem a compreensatildeo da pertinecircncia e da relevacircncia da adoccedilatildeo criteriosa criacutetica e participativa das tecnologias educacionais com efetivo potencial de mobilizaccedilatildeo e interaccedilatildeo social para a discussatildeo e problematizaccedilatildeo de temas aspectos e questotildees compartilhadas por diferentes comunidades e contextos

Entendemos tambeacutem o valor intriacutenseco a tais tecnologias educa-cionais no sentido de viabilizar a exponencial ampliaccedilatildeo do acesso compartilhamento apropriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo dos conteuacutedos e significados produzidos-difundidos constituindo-se em instru-mental acessoacuterio para subsidiar a atuaccedilatildeo dos educadores em todos os acircmbitos niacuteveis e escalas contextos e realidades socioculturais e poliacutetico-econocircmicas Concebidas e conduzidas de modo a respeitar valorizar e estimular a diversidade de saberes e fazeres concepccedilotildees de mundo e (re)leituras de conhecimentos patrimoniais teacutecnicos cientiacuteficos e artiacutesticos as tecnologias educacionais contribuiratildeo mais efetivamente para a contiacutenua formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e parti-cipativa e melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

N o t a s

1 ndash O referido livro foi organizado pela Editora da UDESC e se encontra disponiacutevel para consulta e download gratuitos no Portal EduCapes nos formatos ePUB e PDF no endereccedilo eletrocircnico lthttpeducapescapesgovbrhandlecapes111675gt

2 ndash Segundo Daquino (2010) existem diversas formas para a leitura de e-books smartphones ou softwares No entanto nem todo aparelho ou aplicativo suporta todas as extensotildees dos e-books Entre as vantagens da utilizaccedilatildeo do ePUB estatildeo o acesso a conteuacutedos em diversos dispositivos e a faacutecil adaptaccedilatildeo do texto a cada tela de qualquer dispositivo

3 ndash O referido conceito consta do Manifesto de lanccedilamento da Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrdestaquesitem8077gt

R e f e r ecirc n c i a s

ACSELRAD H (Org) Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro RJ Relume-Dumaraacute 2004

ANA-CAPES Edital ANA-CAPESDEB Nordm 182015 2015 11 f Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica - Projeto Aacutegua Brasiacutelia DF Agencia Nacional das Aacuteguas 2015 11 f

ANGOTTI J A P AUTH MA Ciecircncia e tecnologia implicaccedilotildees sociais e o papel da educaccedilatildeo Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v7 n1 p15-27 2001

BULLARD R D Dumping in Dixie race class and environmental quality Boulder Westview Press 1990

______ Eacutetica e racismo ambiental In Revista Eco-21 ano XV Nordm 98 janei-ro2005 Disponiacutevel em lthttpwwweco21combrtextostextosaspID=996gt Acesso em 27 fev 2017

CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas Florianoacutepolis UDESC ndash Universidade do Estado de Santa Catarina 2015 10 p

DAQUINO F O que eacute o formato ePUB Portal Tecmundo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtecmundocombramazon3644-o-que-e-o-for-mato-epub-htmgt Acesso em 24 out 2015

FERREIRA W O papel da educaccedilatildeo ambiental a distacircncia no reconhecimento das demandas comunitaacuterias frente agraves poliacuteticas puacuteblicas regionais In Seminaacuterio Poliacuteticas Puacuteblicas e Educaccedilatildeo Constituindo a Cidadania Rio Grande RS FURG ndash Universidade Federal do Rio Grande 2010

FUJITA O M Educaccedilatildeo agrave distacircncia curriacuteculo e competecircncia uma proposta de formaccedilatildeo on-line para gestatildeo empresarial 2010 285 f Tese (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo) - Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2010 (285 p) Disponiacutevel em lthttprepositoriomi-nedugobpebitstreamhandle12345678917352010_Fujita_Educa-C3A7C3A3o20a20distC3A2ncia20currC3ADculo20e20competC3AAncia-20uma20proposta20de20forma-C3A7C3A3o20on-line20para20a20gestC3A3o20em-presarialpdfsequence=1gt Acesso em 13 set 2014

GAUTEacuteRIO V L B RODRIGUES S C Os ambientes de aprendizagem pos-sibilitando transformaccedilotildees no ensinar e no aprender Rev Bras Estud Pedag Brasiacutelia v94 (237) p 603-618 maio-ago 2013 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbepedv94n237a13v94n237pdfgt Acesso em 08 nov 2015

HERCULANO S PACHECO T (Orgs) Racismo ambiental Rio de Janeiro RJ FASE 2006

MARAVALHAS M R G et al Novo professor novo aluno e a educaccedilatildeo am-biental na EAD In Congresso ABED ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino a Distacircncia Satildeo Luiacutes 2010 12 p Disponiacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2010cd152010213859pdfgt Acesso em 19 mai 2015

MATHIAS M Racismo ambiental Revista Poli sauacutede educaccedilatildeo e trabalho ndash FIO-CRUZ v 9 n 50 p 31-32 mar-abr 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwepsjvfiocruzbrsitesdefaultfilespoliweb50pdfgt Acesso em 27 fev 2017

NASCIMENTO C C A formaccedilatildeo em educaccedilatildeo para o ecodesenvolvimento um estudo de caso junto ao Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento periacuteodo 2010-2013 2013 Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental Universidade Federal do Rio Grande Rio Grande 2013

______ FERREIRA W CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua Florianoacutepolis SC UDESC 2016 231 p

PERSEGONA M F M A utilizaccedilatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo pelas poliacuteticas puacuteblicas de governo e-Gov como um instrumento de de-mocratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo 2005 143 f Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel Centro de Desen-volvimento Sustentaacutevel Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2005

SANTOS E C Educaccedilatildeo ambiental e a transversalidade na formaccedilatildeo de professores complexidade e desafios do mundo contemporacircneo Revista Geonorte ed especial v3 n4 p 161-170 2012

VIEIRA A R COSTA L BARRETO S R (Org) Aacutegua para a Vida aacutegua para todos Cadernos de Educaccedilatildeo Ambiental Brasiacutelia DF WWF Brasil 2006 72 p Disponiacutevel em lthttpwwwwwforgbrnatureza_brasi-leirareducao_de_impactos2aguaagua_acoes_resultadoseduca-cao_ambiental_aguagt Acesso em 17 abr 2015

Paacutegina 8 de 8

R e s u m o

Este estudo decorreu da anaacutelise de uma sala de aula universitaacuteria de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano localizada

na serra gauacutecha no Rio Grande do Sul no Brasil A metodologia ativa de ensino propotildee que o discente seja o protagonista de seu proacuteprio conhecimento e seja o responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos no ambiente educacional A partir desse pressuposto o objetivo deste trabalho foi observar a aplicabilidade do uso da metodologia ativa no ensino aleacutem de sua utilizaccedilatildeo para a construccedilatildeo do conhecimento junto aos discentes Para isso procurou-se pesquisar sobre a temaacutetica escolhida e a abordagem investigativa foi predominantemente qualitativa Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se a observaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento da disciplina em sala de aula Para compreender o objeto de estudo foi preciso tomar como pano de fundo a metodologia e as estrateacutegias de ensino utilizadas pelo docente Os resultados observados foram satisfatoacuterios para fundamentar a construccedilatildeo da aprendizagem baseada na problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees correntes do dia a dia A qualificaccedilatildeo e o aperfeiccediloamento do docente para fundamentar o conteuacutedo eacute indispensaacutevel para a efetividade da proposta de utilizaccedilatildeo da metodologia ativa

R e s u m e n

Este estudio ha procedido del resultado del anaacutelisis de una clase universitaria de una institucioacuten de educacioacuten superior privada ubicada en la Sierra Gaucha Estado del Riacuteo Grande do Sul Brasil con los estudiantes de la disciplina de Evaluacioacuten del Desempentildeo Humano La metodologiacutea activa de ensentildeanza propone que el estudiante sea el protagonista de su propio conocimiento y que sea responsable por la construccioacuten activa de sus objetivos en el aacutembito educativo A partir de este supuesto el objetivo de este estudio ha sido observar la aplicabilidad de la utilizacioacuten de una met-odologiacutea activa en la ensentildeanza ademaacutes de su uso para la construccioacuten de conocimientos con los estudiantes Para ello hemos tratado de investigar el tema elegido y el enfoque de investigacioacuten ha sido predominantemente cualitativo utilizando como instrumento de recoleccioacuten de datos la observacioacuten participante en el desarrollo de la disciplina en el aula Para comprender el objeto del estudio ha sido necesario partir del contexto de la metodologiacutea y estrategias de ensentildeanza utiliza-das por el profesor Los resultados han sido satisfactorios para fundamentar la construccioacuten de un aprendizaje fundamentado en el cuestionamiento de las situaciones actuales de la vida cotidiana La calificacioacuten y el perfeccionamento profesional del professor para fundamentar el contenido son esenciales para la efectividad de la propuesta de utilizacioacuten de la metodologiacutea activa

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 06032017Aprovado em 29082017

Palavras-chaveMetodologia de ensino ativa Docecircncia universitaacuteriaPraacuteticas pedagoacutegicas

Palabras claveMetodologiacutea de ensentildeanza activa Ensentildeanza universitariaPraacutecticas pedagoacutegicas

Autoras MBA em gestatildeo de recursos humanos pela Uninter Graduaccedilatildeo em gestatildeo de recursos humanos e Poacutes-graduaccedilatildeo em gestatildeo e docecircncia do ensino superior pelo Centro Superior de Tecnologia Te-cbrasil FTEC - Bento Gonccedilalves Professo-ra da escola Senac - Bento Gonccedilalves e Coach profissionale-mail daianelotesgmailcom

Mestrado Profissional em Gestatildeo Edu-cacional pela UNISINOS - Universidade do Vale dos Sinos Graduaccedilatildeo em Admi-nistraccedilatildeo pela Faculdade Cenecista de Bento Gonccedilalves Docente Universitaacuteria na FAMUR - Faculdade Catoacutelica Murialdo de Caxias do Sul e FSG - Faculdade da Serra Gauacutecha de Bento Gonccedilalves Consultora Empresarial Associada na aacuterea de Gestatildeo de Pessoas pela Poletto Soluccedilotildees em Ges-tatildeo e Pesquisadora CNPQ do Grupo de Pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Professores Gestores e Praacuteticas Pedagoacutegicas pela UNI-SINOS - Universidade do Vale dos Sinose-mail magda_detonihotmailcom

Como citar este artigoLOTES D TONI M Metodologia ativa de ensino Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Metodologia ativa de ensinoMetodologia activa de ensentildeanza

Daiane Lotes e Magda de Toni

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoA metodologia ativa eacute um processo amplo que apresenta como principal caracteriacutestica a inserccedilatildeo do discente como agente prin-cipal responsaacutevel pela sua aprendizagem comprometendo-se com seu aprendizado

O processo de educar deixou de ser baseado na mera trans-missatildeo do conhecimento por diversos fatores como a rapidez na produccedilatildeo do conhecimento e principalmente na facilidade de acesso agrave vasta gama de informaccedilatildeo Nesse contexto as meto-dologias ativas surgem como proposta para priorizar o processo de ensinar e aprender na busca da participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos centrados na realidade em que estatildeo inseridos

Como enfrentamento ao modelo tradicional imposto e aceito ao longo dos tempos tem-se lanccedilado matildeo das metodologias ati-vas de ensino-aprendizagem nas quais eacute dado forte estiacutemulo ao reconhecimento do mundo atual tornando os discentes capazes de intervir e promover as transformaccedilotildees necessaacuterias O discente se torna o uacutenico responsaacutevel pela sua proacutepria construccedilatildeo do conheci-mento e faz com que os seus principais objetivos sejam alcanccedilados de forma satisfatoacuteria com sucesso autogerenciamento e autonomia

A educaccedilatildeo comeccedila em casa e eacute aprimorada na escola e na socie-dade Os docentes tecircm o compromisso de explicar e acompanhar os resultados obtidos com o conhecimento que eacute repassado em sala de aula Nos dias de hoje cada vez mais nos deparamos com situaccedilotildees que vatildeo aleacutem da nossa realidade situaccedilotildees que poderiam ser resolvidas com um simples estudo ou com a base da educaccedilatildeo que a pessoa teve

Algumas pessoas natildeo se datildeo conta de que o maior valor que o ser humano pode ter eacute a educaccedilatildeo que eacute indispensaacutevel in-comparaacutevel e intransferiacutevel Ningueacutem pode tirar de uma pessoa o conhecimento que ela possui e soacute esta sabe como usaacute-lo

As instituiccedilotildees de ensino precisam acolher os discentes de forma que eles cheguem agrave sala de aula motivados a aprender ou seja que eles tenham o entendimento de que o conhecimento que vatildeo obter serviraacute para o futuro para que possam enfrentar as situaccedilotildees do dia a dia com mais facilidade e sabedoria

Nenhum professor estaacute totalmente livre a esperanccedila de trabalhar apenas com alunos motivados Cada professor espera alunos que se envolvam no trabalho manifestem o desejo de saber e a vontade de aprender A motivaccedilatildeo ainda eacute tida com demasiada frequecircncia como uma preliminar cuja forccedila natildeo depende do professor (PERRENOUD 2000 p 68)

Adaptamo-nos conforme o andamento do dia a dia e principal-mente conforme as novas tecnologias que cada vez vatildeo ocupando um espaccedilo maior entre os jovens de hoje A sociedade atual eacute tecno-

loacutegica de modo que natildeo eacute mais possiacutevel pensar em educaccedilatildeo sem a utilizaccedilatildeo das tecnologias O processo de ensinar-aprender tambeacutem jaacute vem gradativamente se modificando exercitando formas de ensinar e aprender diferentes nas quais o docente natildeo eacute mais um simples trans-missor do conhecimento e o discente natildeo eacute mais um mero ouvinte

Assim o docente precisa utilizar recursos que transformem suas aulas de modo a instigar mais e mais a busca pelo conheci-mento por parte dos alunos ministrando aulas dinacircmicas atrativas e entendendo que as tecnologias disponiacuteveis podem ser bem utilizadas auxiliar no processo de ensino-aprendizagem

Segundo Rivas (2009) o professor precisa ser algueacutem criativo competente e comprometido com o advento das novas tecnologias interagindo em meio agrave sociedade do conhecimento repensando a educaccedilatildeo e buscando os fundamentos para o uso dessas novas tecnologias que causam grande impacto na educaccedilatildeo e que podem determinar uma nova cultura e novos valores na sociedade

Em funccedilatildeo dessa transiccedilatildeo o ambiente acadecircmico tem se preo-cupado com o desenvolvimento de novas metodologias e atitudes para melhorar a efetividade no processo de aprendizagem Tais artifiacutecios satildeo denominados ldquoestrateacutegias de ensino-aprendizagemrdquo e satildeo definidos como os meios que vecircm sendo utilizados no pro-cesso de ensino com o intuito se atingir a qualidade desejada e os resultados esperados Penso todavia que esses recursos precisam ser bem trabalhados para natildeo se confundirem com ldquomodismosrdquo que nada modificam a concepccedilatildeo de conhecimento

Combinar atitudes e recursos didaacuteticos que favoreccedilam o processo de aprendizagem parece ser a tocircnica do que se convencionou denomi-nar estrateacutegias de ensino-aprendizagem ldquoeficientesrdquo Assim o processo de ensino-aprendizagem tem sido alvo de discussotildees e pesquisas que visam a contribuir para seu desenvolvimento e efetividade

Perrenoud (2000) afirma que todos os docentes podem ter atitudes inovadoras e com isso fazer com que os alunos desenvol-vam a sua proacutepria motivaccedilatildeo poreacutem muitos pensam que o ensino eacute restrito e que natildeo tecircm retorno financeiro para ter esse tipo de atitude Ainda nos diz que ateacute os discentes motivados cientes de seu potencial e com boas notas na escola podem diminuir seu desempenho se natildeo forem incentivados ao longo do tempo

Considerando o dinamismo do mundo moderno o profis-sional docente sente-se pressionado por um ambiente externo altamente exigente precisando proporcionar aos estudantes uma educaccedilatildeo de elevado niacutevel e com soacutelida formaccedilatildeo Logo se a atualizaccedilatildeo didaacutetica dos docentes natildeo acompanha o ritmo desse novo cenaacuterio poderaacute haver uma falta de sintonia entre os procedimentos meacutetodos e estrateacutegias de ensino e o perfil dos alunos prejudicando o processo de ensino-aprendizagem

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Cabe aqui salientar que Itoz e Mineiro (2005) defendem que o para-digma que considerava a competecircncia teacutecnica docente como elemento fundamental da didaacutetica vem sofrendo gradualmente alteraccedilotildees no sentido da indagaccedilatildeo sobre outros fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem e os agentes impactados neste processo

O docente deve ser um articulador de todo o processo de ensino-aprendizagem e ter a consciecircncia de que a maior rede social eacute a sala de aula onde temos que aprender a fazer a leitura do nosso cotidiano e compreender que a informaccedilatildeo eacute um ponto de partida natildeo um ponto de chegada

Entretanto podemos perceber que a aprendizagem acontece quando o indiviacuteduo vivencia as situaccedilotildees vistas em sala de aula e as metodologias ativas de ensino permitem que o discente se envolva e ele mesmo gere situaccedilotildees que faccedilam com que o conhe-cimento seja completo e adquirido com total autonomia tendo o docente o papel de mediador e articulador do conhecimento

2 MetodologiaA metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliograacutefica sobre a temaacutetica escolhida e a obser-vaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento de uma disciplina em uma sala de aula

A pesquisa bibliograacutefica eacute desenvolvida a partir de materiais publicados em livros artigos dissertaccedilotildees e teses Ela pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental Segundo Cervo Bervian e da Silva (2007) o processo de pesquisa bibliograacutefica eacute baacutesico em todos os trabalhos e estudos para identificar o tema

Jaacute a observaccedilatildeo participante eacute realizada em contato direto e prolongado do observador para com os envolvidos na anaacutelise O meacutetodo de observaccedilatildeo utilizado foi assistemaacutetico sem anaacutelise anterior e instrumental apropriado

O contexto analisado eacute a sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

3 Quadro TeoacutericoVive-se hoje um cenaacuterio da educaccedilatildeo no Brasil em que ainda haacute uma necessidade premente de evoluccedilatildeo no processo de en-sino-aprendizagem no sentido de tornaacute-lo significativo capaz de desenvolver competecircncias e ter como resultado um discente criacutetico e capaz de exercer uma ocupaccedilatildeo com excelecircncia Assim cabe ao docente refletir e inovar sua metodologia de transferecircncia do conhecimento buscar e motivar a aprendizagem

Ao destacar que para a aprendizagem do aluno se tornar mais du-radoura e significativa eacute necessaacuterio conhecer os aspectos formadores e constituintes da aprendizagem os docentes devem dar-se conta de que eacute necessaacuterio adaptar ou criar um meacutetodo didaacutetico e especiacutefico a cada puacuteblico de alunos ainda mais no ensino superior Nesse niacutevel haacute saberes da experiecircncia feitos uma vez que o indiviacuteduo nesta etapa acumula variadas experiecircncias de vida aprende com os proacuteprios erros percebe aquilo que natildeo sabe e o quanto tal desconhecimento lhe faz falta analisando criticamente as informaccedilotildees que recebe

Pensamos que a tarefa da educaccedilatildeo eacute formar seres humanos para o presente para qualquer presente seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar seres capazes de pensar tudo e de fazer tudo o que eacute preciso como ato responsaacutevel a partir de sua consciecircncia social Conseguir isto eacute o propoacutesito desta proposta

educacional (MATURANA REZEPKA 2000 p 10)

As pessoas que se iniciam como docentes muitas vezes saem de uma formaccedilatildeo muito teoacuterica do ponto de vista metodoloacutegico Aprenderam durante toda sua graduaccedilatildeo que o saber eacute o ponto mais importante e foram ensinados a fazerem pesquisa Quando se deparam com o ambiente educacional observam que o ser e o fazer se destacam principalmente com os modelos de discentes de hoje que satildeo inquietos por aprender assuntos novos da forma mais criativa e interativa possiacutevel A interatividade ajuda a prender a atenccedilatildeo e instigar a inovaccedilatildeo nos assuntos abordados

Piaget (2012) afirma que o meio onde o ser humano habita influencia em seus atos e faz com que este tenha estiacutemulo e con-sequentemente reorganize e construa seu proacuteprio conhecimento Nessa perspectiva a educaccedilatildeo formal promove o desenvolvimen-to na medida em que favorece uma postura ativa e construtiva do aluno por meio de situaccedilotildees de aprendizagem desafiadoras que estimulem a duacutevida e provoquem a reflexatildeo

A praacutetica pedagoacutegica reprodutora assemelha-se a uma praacuteti-ca conservadora da ciecircncia e consequentemente da educaccedilatildeo Jaacute a praacutetica inovadora fomenta a aprendizagem e transforma o processo Conforme afirma Moraes (2000 p 100)

Num sistema aberto de educaccedilatildeo o conhecimento requer que processos estejam em construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo pela accedilatildeo do sujeito sobre o meio ambiente que ocorram trocas energeacuteticas mediante processos de assimila-ccedilatildeo acomodaccedilatildeo auto-organizaccedilatildeo ou seja mediante relaccedilotildees interativas

e dialoacutegicas entre o aluno professor e ambiente de aprendizagem

Esse paradigma estaacute relacionado agraves mudanccedilas da sociedade como a globalizaccedilatildeo agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e agraves alteraccedilotildees cientiacuteficas proacuteprias da sociedade poacutes-moderna

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma entende-se que o discente deixa de ser um repro-dutor passivo de conhecimento para se tornar um ator protago-nista apto para tomar decisotildees Jaacute o docente eacute necessaacuterio que ele mesmo reflita sobre sua praacutetica sua qualidade de transferecircncia de conhecimento e sua autorreflexatildeo atraveacutes de fatores essenciais ndash o saber a sua experiecircncia bagagem profissional e educacional aliada a novos conhecimentos resultantes de pesquisas como por exemplo as novas tecnologias

A metodologia inovadora ativa de ensino permite que faccedilamos comparaccedilotildees entre o aprendizado conservador e o aprendizado inovador No processo de aprendizagem conservador por exem-plo vemos algumas situaccedilotildees em que o discente eacute subordinado agraves orientaccedilotildees do professor recebe passivamente o conhecimento e informaccedilotildees eacute condicionado a dar respostas prontas e corre-tas e eacute preparado para atuar com eficiecircncia na sociedade Jaacute no processo de aprendizagem inovadora podemos citar o discente como aprendiz autocircnomo e visto como um ser humano holiacutestico que se torna responsaacutevel pelas suas escolhas aprende a formular e a buscar respostas eacute destacado pela sua criatividade e se torna sujeito da sua proacutepria educaccedilatildeo

Adotar um paradigma inovador e assumir os diversos papeacuteis descritos por Perrenoud implica refletir sobre a praacutetica docente o planejamento das aulas a forma de avaliaccedilatildeo e sobretudo o que se espera ter como resultado final de um processo de ensi-no-aprendizagem Dessa forma o processo de ensino deve ser ajustado e ter uma evoluccedilatildeo constante buscando a integraccedilatildeo com o ambiente onde o discente estaacute inserido

No processo de aprendizagem natildeo entra em jogo apenas um conjunto de operaccedilotildees cognitivas pois a construccedilatildeo do conheci-mento estaacute sempre atravessada pela afetividade de quem o pro-duz Nessa perspectiva o docente deve possibilitar a construccedilatildeo de um clima de bem-estar em sala de aula que favoreccedila a qua-lidade das relaccedilotildees interpessoais e os processos de constituiccedilatildeo de sentido no processo educativo

Segundo Maturana e Rezepka (2000 p 14) ldquoas emoccedilotildees satildeo dinacircmicas corporais que especificam as classes de accedilotildees que um animal pode realizar em cada instante em seu acircmbito relacionalrdquo Assim acontece com os docentes e discentes no ambiente de sala de aula onde os sentimentos estatildeo em sin-tonia com o processo de aprender

As situaccedilotildees de aprendizagem satildeo determinantes para alcan-ccedilar os objetivos propostos e conforme reflexatildeo de Weisz (2004 p 70) ldquoem qualquer aacuterea do conhecimento eacute possiacutevel organizar atividades que representem problemas para os alunos e que de-mandem o uso do que sabem para encontrar soluccedilotildees possiacuteveisrdquo

Acredita-se que o uso da metodologia ativa de ensino na universidade possibilita contribuir significativamente e promo-ver situaccedilotildees que propiciem uma construccedilatildeo significativamente coletiva na forma de interagir e trabalhar com o conhecimento

A construccedilatildeo do conhecimento se daacute atraveacutes de incentivos por parte da proacutepria instituiccedilatildeo de ensino dos docentes envolvidos e principalmente do proacuteprio discente

Na escola atual percebe-se que o curriacuteculo aplicado estaacute mais flexiacutevel e adaptado ao meio e agraves novas tecnologias Conforme afirma Moraes (2000 p 100) ldquosob esse novo enfoque o curriacuteculo eacute algo que estaacute sempre em processo de negociaccedilatildeo e renegociaccedilatildeo entre alunos professores realidades e instacircncias administrativasrdquo

A aprendizagem do indiviacuteduo ocorre natildeo somente com o co-nhecimento adquirido em sala de aula como tambeacutem pelos seus desejos intuiccedilotildees sensaccedilotildees e emoccedilotildees que se manifestam atraveacutes das variadas atividades praticadas principalmente nas atividades luacutedicas que fazem com que o discente vivencie situaccedilotildees que acontecem no dia a dia Segundo Perrenoud (2001 p 182) ldquoos fu-turos professores poderiam ser encorajados a colocar sua formaccedilatildeo inicial a serviccedilo e criar voluntariamente situaccedilotildees ldquointeressantesrdquo

Tais sentimentos citados aparecem tambeacutem em momentos nos quais o docente faz a correccedilatildeo das atividades realizadas em sala de aula no ambiente educacional nos quais tem o poder de formar ou atrapalhar o processo de aprendizagem pela forma com que as palavras satildeo ditas em sala de aula no momento da correccedilatildeo Conforme afirma Maturana e Rezepka (2000 p 33)

Na educaccedilatildeo corrigir o ldquoserrdquo da crianccedila acaba alienando-a porque ame-accedila o que ela vecirc ou vive em nossa cultura como sua existecircncia com uma certa identidade transcendente a correccedilatildeo do fazer natildeo faz isso

A correccedilatildeo do fazer natildeo constitui uma ameaccedila porque ao fazecirc-la satildeo especificados os limites dentro dos quais ocorre segun-do as coerecircncias proacuteprias do fazer que se deseja sem referecircncia agrave sua identidade

Aleacutem disso muitos autores comentam sobre os vaacuterios mo-delos de mundo e inteligecircncias muacuteltiplas que as pessoas podem desenvolver ao longo de suas vidas Essas inteligecircncias e modelos de aprendizagem se apresentam na medida em que se comeccedila a trabalhar o ceacuterebro para pensar e resolver situaccedilotildees conflitan-tes Em sala de aula esses modelos satildeo observados e podem ser moldados atraveacutes da metodologia didaacutetica do docente para com o discente individualmente observando capacidades sinesteacutesicas visuais e auditivas Mas como usar os conhecimentos de modelos de mundo para ajudar os discentes no processo de aprendizagem

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O conteuacutedo pode ser adaptado conforme os modelos de aprendizagem juntamente com grupos afins Esse processo gera um ambiente de discussatildeo troca de ideias conhecimento muacutetuo e principalmente o senso de trabalho em equipe e o relaciona-mento interpessoal

As aptidotildees dos discentes tambeacutem satildeo observadas para que haja a construccedilatildeo do conhecimento Uma didaacutetica na qual o ser natildeo se encaixa por natildeo ter a aptidatildeo para desenvolver tal situaccedilatildeo pode fazer com que o sentimento de fracasso seja tatildeo importante que pode gerar consequecircncias para a vida do sujeito e conco-mitantemente desmotivar o profissional o docente que estaacute a ensinar Dito isso o docente eacute peccedila fundamental nesse processo como mediador das accedilotildees e atividades exercidas

Outro ponto importante eacute a questatildeo cultural que estaacute inserida na vida dos discentes Conforme Moraes (2000 p 95) ldquoa cultura influencia cada indiviacuteduo na maneira como os potenciais inte-lectuais evoluem daacute o tom o colorido e direciona o modo de evoluccedilatildeo das competecircncias humanasrdquo

Os valores individuais de cada um influenciam na maneira de agir em grupo nas organizaccedilotildees e na escola Quando esses natildeo satildeo respeitados o sujeito tende a se afastar e a mudar suas atitudes perante as situaccedilotildees que se apresentam porque essa questatildeo vai contra tudo o que lhe foi ensinado e praticado ao longo da vida

Contudo Weisz (2004 p 58) afirma que

De uma perspectiva construtivista o conhecimento natildeo eacute concebi-do como uma coacutepia do real incorporado diretamente pelo sujeito pressupotildee uma atividade por parte de quem aprende que organiza e integra os novos conhecimentos aos jaacute existentes Isso vale tanto

para o aluno quanto para o professor em processo de transformaccedilatildeo

O homem eacute um ser social e portanto relacional precisa de meios e atitudes que desenvolvam o conhecimento Quanto maior a didaacutetica e a dinacircmica em sala de aula maior compre-ensatildeo do assunto comprometimento e consequentemente pessoas melhores no futuro

Grande parte das dificuldades dos docentes se daacute pelo fato de natildeo reconhecer o que foi dito em sala de aula e de natildeo observar seu proacuteprio comportamento com relaccedilatildeo aos discentes sem se dar conta de que o mundo em que eles vivem eacute sempre uma criaccedilatildeo pessoal

Em meio agraves incertezas dos dias de hoje espera-se que a edu-caccedilatildeo seja revolucionaacuteria a ponto de transformar as pessoas em indiviacuteduos criacuteticos e de conhecimento Seres capazes de transformar

o ambiente e sugerir soluccedilotildees Esse meio produz uma mudanccedila significativa na visatildeo social e intelectual do docente Na medida em que essa mudanccedila se faz presente as necessidades de fundamentar a teoria e a praacutetica se tornam prioridade na atuaccedilatildeo do docente

Natildeo existe uma padronizaccedilatildeo do meacutetodo de ensino cada docente o adapta conforme sua realidade seus discentes si-tuaccedilotildees e assunto Todas as instituiccedilotildees de ensino devem estar abertas e flexiacuteveis para que a mudanccedila de pensamento e de metodologia de ensino aconteccedila e ocorra em consequecircncia uma melhor e mais moderna forma de educar o discente para o futuro Segundo Moraacuten (2015 p 16)

A escola padronizada que ensina e avalia a todos de forma igual e exige resultados previsiacuteveis ignora que a sociedade do conhecimento eacute baseada em competecircncias cognitivas pessoais e sociais que natildeo se adquirem da forma convencional e que exigem proatividade co-

laboraccedilatildeo personalizaccedilatildeo e visatildeo empreendedora

Os meacutetodos de avaliaccedilatildeo tambeacutem se modificaram ao longo dos anos Hoje os discentes satildeo avaliados a partir das competecircn-cias que desenvolveram durante o processo de aprendizagem Avaliar conhecimentos habilidades e atitudes requer do docente uma observaccedilatildeo e uma intervenccedilatildeo maiores na abordagem do conteuacutedo No momento em que o docente planeja sua aula o assunto deve estar embasado primeiramente na apropriaccedilatildeo teoacuterica do conteuacutedo nas caracteriacutesticas da didaacutetica proposta para que todos possam desenvolver e em quais accedilotildees o discente deve se utilizar para que essa teoria seja absorvida por ele A metodologia de ensino ativa permite que os discentes aprendam de forma dinacircmica e entendam que o conhecimento que estatildeo adquirindo nas atividades desenvolvidas em sala de aula satildeo levados para a vida fora dela

As escolas de maneira geral estatildeo modificando seus ambien-tes fiacutesicos para proporcionar ao discente um ensino mais suave aconchegante no qual ele se sente livre para criar e modificar seu aprendizado As estruturas satildeo pensadas de forma interdisciplinar para que seja possiacutevel desenvolver projetos integradores mais eficientesO ensino hiacutebrido natildeo eacute um vilatildeo em sala de aula e sim uma forma de acompanhar a tecnologia do mundo de hoje que eacute cada vez mais necessaacuteria e indispensaacutevel

O ensino hiacutebrido eacute um programa de educaccedilatildeo formal no qual um aluno aprende pelo menos em parte por meio do ensino online com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo lugar modo eou ritmo do estudo e pelo menos em parte em uma localidade fiacutesica supervisionada fora de sua residecircncia (CHRISTENSEN HORN

amp STAKER 2013 p7)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Contudo a evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior deve ser constante caminhar principalmente para a construccedilatildeo pessoal e profissional do indiviacuteduo e observar na tecnologia e no cenaacuterio onde se vive oportunidades de aprendizagem significativa

4 Observaccedilatildeo aplicadaPara visualizar melhor como ocorre a aplicabilidade da metodo-logia ativa no ensino foi realizada uma observaccedilatildeo participante a uma sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior priva-da com alunos de graduaccedilatildeo do curso superior de Tecnologia em Gestatildeo de Recursos Humanos frequentando a disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

A dinacircmica de trabalho ocorreu a partir da leitura do livro A inovaccedilatildeo da sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de aprender de Christensen Horn e Johnson (2012)

As atividades iniciaram com o resgate do plano de ensino apre-sentado no primeiro dia de aula o que possibilitou ao docente fazer uma preacutevia anaacutelise diagnoacutestica sobre os conhecimentos que os discentes poderiam ter sobre o assunto que seria abordado Apoacutes a anaacutelise o docente iniciou o trabalho Os alunos foram provocados a pensar sobre seu desenvolvimento sua identidade pessoal e suas potencialidades Percebe-se que o assunto lideranccedila e gestatildeo satildeo bem latentes nas aulas uma vez que o gestor eacute a maior referecircncia dentro do processo de avaliaccedilatildeo de desempenho humano

A partir das reflexotildees realizadas o primeiro exerciacutecio rea-lizado foi a construccedilatildeo de um imaginaacuterio social que buscou a construccedilatildeo de um profissional de recursos humanos conforme a interpretaccedilatildeo e percepccedilatildeo de cada aluno quanto agrave profissatildeo e papel desse profissional no mercado de trabalho Ainda foram realizados questionamentos quanto agrave construccedilatildeo da persona e o sentido de estar na instituiccedilatildeo de ensino estudando tal assunto Nesse momento percebeu-se que os questionamen-tos realizados foram de grande valia pois fizeram com que os discentes relembrassem quais questotildees o fizeram escolher o curso que estatildeo frequentando

No decorrer das aulas outra atividade foi proposta denominada ldquometaacutefora do personagem infantil e a identificaccedilatildeo com elerdquo Essa atividade proporcionou ao discente identificar seus pontos fortes e suas possibilidades de melhoria sempre realizando ligaccedilotildees com a temaacutetica desenvolvida e comparando os resultados com as ativida-des que um profissional de RH deveria realizar principalmente na avaliaccedilatildeo de desempenho

Na sequecircncia das atividades foi desenvolvido o exerciacutecio da Janela Johari e realizadas as devidas anaacutelises sobre os quadrantes que compotildeem o exerciacutecio Eu como autoconhecimento e Eu e

o mundo como forma de compreensatildeo das consequecircncias de nossas atitudes para com os outros Nesse momento a observa-ccedilatildeo da questatildeo do feedback eacute um ponto crucial na discussatildeo em sala de aula e esteve presente em todas as aulas Para reforccedilo os alunos elaboraram portfoacutelios individuais sobre cada atividade nos quais o docente pocircde verificar o aprendizado no acircmbito teoacuterico e comportamental de cada aluno aleacutem de possibilitar aos alunos a autorreflexatildeo ndash sobre si e sobre suas proacuteprias atitudes

Ainda o docente propocircs como praacutetica para desenvolvi-mento do conteuacutedo filmes textos de livros e situaccedilotildees reais trazidas pelos proacuteprios discentes e docente Percebeu-se que com essas atividades complementares os discentes realizas-sem comparaccedilotildees com o dia a dia de um profissional inserido no mercado de trabalho e na sociedade Em todas as situaccedilotildees visualizadas em sala de aula pude observar que os discentes fo-ram envolvidos de forma que o desenvolvimento do conteuacutedo comeccedila a ser compreendido por eles evidenciando a proposta da metodologia ativa de ensino do discente protagonista de seu proacuteprio conhecimento

Conforme o andamento das atividades o docente pocircde explorar vaacuterias habilidades e atitudes que contribuem para o desenvolvimento do conhecimento de seus discentes sem sua intervenccedilatildeo deixando-os livres para demonstrarem suas emo-ccedilotildees e sentimentos de desconforto bem-estar ansiedade im-paciecircncia expectativas e temores conforme acontece no meio organizacional Essas emoccedilotildees e sentimentos estatildeo ligados agrave forma como os discentes compreenderam o assunto e como satildeo seus modelos de mundo Cabe ressaltar que o docente tambeacutem reforccedilou o desenvolvimento do conteuacutedo com dinacircmicas de grupo que instigavam os discentes a desenvolver habilidades ndash como empatia negociaccedilatildeo resiliecircncia ndash e a refletir sobre a relaccedilatildeo entre vida pessoal e profissional

Atraveacutes das escutas das discussotildees realizadas em sala de aula e da metodologia de ensino utilizada pelo docente sem se dar conta os discentes estatildeo intuindo seu proacuteprio meacutetodo de apren-dizagem com base na teoria aprendida confirmando novamente a proposta da metodologia ativa de ensino aleacutem do fato de que a educaccedilatildeo deve buscar desestabilizar os discentes para que haja uma mudanccedila comportamental de cada indiviacuteduo Ainda estando em grupo ou natildeo os discentes comeccedilam a trocar ideias e a des-cobrir novos meacutetodos mais raacutepidos e faacuteceis para que as situaccedilotildees empreendidas sejam compreendidas Esses meacutetodos descobertos satildeo sugeridos ao docente e cabe a ele adaptaacute-los para melhorar sua didaacutetica e replanejamento de seus planos de aula

Eacute preciso reconhecer que a metodologia ativa de ensino nes-se caso promove o domiacutenio pessoal social autoconsciecircncia e a autogestatildeo Conforme afirma Perrenoud (2000 p 69)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A maioria das pessoas interessa-se em alguns momentos pelo jogo da aprendizagem se lhes oferecerem situaccedilotildees abertas estimulantes interessantes Haacute maneiras mais luacutedicas do que outras de propor a mesma tarefa cognitiva Natildeo eacute necessaacuterio que o trabalho pareccedila uma

via crucis1 pode-se aprender rindo brincando tendo prazer

Outra questatildeo a ser pontuada refere-se agrave motivaccedilatildeo dos discentes em sala de aula Em nenhum momento notou-se des-motivaccedilatildeo dos alunos com os assuntos abordados Christensen (2012 p 137) lembra o que o falecido educador Jack Frymier costumava dizer ldquoquando os meninos querem aprender natildeo haacute como impedi-los se natildeo quiserem natildeo podemos obrigaacute-losrdquo Essa citaccedilatildeo confirma o pressuposto de que todo o interesse do dis-cente eacute baseado na motivaccedilatildeo em aprender e na praacutetica didaacutetica do docente em sala de aula

Diante disso pude perceber que a vontade dos discentes de aprender foi maior que o cansaccedilo e que o desafio de despertar o interesse pelo assunto foi atingido com sucesso compreendendo que a educaccedilatildeo eacute uma necessidade e garante o sucesso profissio-nal e o crescimento pessoal

Dessa forma pocircde-se evidenciar que os resultados obtidos com a observaccedilatildeo participante foram satisfatoacuterios tanto para fun-damentar a teoria do uso da metodologia ativa no ensino como para constatar que o docente tem o dever de ensinar e mediar o conhecimento de seus discentes e ajudar o indiviacuteduo a construir o seu proacuteprio pensamento sobre as questotildees profissionais e da vida

5 Inovaccedilatildeo na Sala de AulaO ensino exige pesquisa curiosidade respeito e criticidade Estaacute cometendo um equiacutevoco o professor que pensa no ensino rigo-roso e metoacutedico Conforme Freire (2006 p 38) ldquoa praacutetica docente criacutetica implicante do pensar certo envolve o movimento dinacirc-mico dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre o que fazerrdquo Essa citaccedilatildeo deixa claro que o professor deve estar sempre atualizado revendo sua didaacutetica e a forma como ensina

A construccedilatildeo do conhecimento eacute constante e a formaccedilatildeo de pensamento criacutetico se faz a todo o momento Contudo o uso da me-todologia ativa se faz marcante na problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees correntes que exigem do aluno uma opiniatildeo significativa para si e para a sociedade em que estaacute inserido ou seja a curiosidade sobre o novo proporciona maiores possibilidades de transgressatildeo do saber

Outra reflexatildeo que se pode fazer com relaccedilatildeo ao ensino e a docecircncia eacute a anaacutelise e a apreensatildeo da realidade Cada discente estaacute

inserido em realidades muito particulares o assunto abordado em sala de aula deve sim ser baseado na teoria contudo principal-mente ser adaptado agrave realidade de cada um assim o processo de aprendizagem torna-se significativo A convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel deve ser corrente e praticada todos os dias O discente natildeo deve se tornar acomodado mas sim revolucionaacuterio e inquieto

Mudar eacute difiacutecil mas eacute possiacutevel e eacute o que a metodologia ativa propotildee transformar o simples ato de ensinar em uma experiecircncia uacutenica e inesqueciacutevel aos olhos do discente O indiviacuteduo eacute social e essa experiecircncia possibilita uma nova percepccedilatildeo da realidade

Antigamente ateacute os anos 1800 as escolas escolhiam o ensi-no personalizado ou seja o ensino por necessidade As salas de aula eram preenchidas de crianccedilas de diferentes capacidades o que fazia com que o docente passasse de discente em discente dando instruccedilotildees e tarefas individualizadas Nota-se que com o passar dos anos o ritmo de ensino sofreu mudanccedilas significativas acarretando o aumento das matriacuteculas escolares e uma padroni-zaccedilatildeo das atividades e accedilotildees em sala de aula fazendo com que as instituiccedilotildees de ensino padronizassem as accedilotildees em sala de aula

Segundo Christensen (2012 p 16)

Os alunos que satildeo dotados de forte inteligecircncia linguiacutestica sentem-se por-tanto previsivelmente frustrados em uma aula de inglecircs Os professores ficam igualmente limitados por suas proacuteprias forccedilas Em qualquer sala de aula existem estudantes que natildeo tem forte inteligecircncia linguiacutestica e satildeo por isso mesmo efetivamente excluiacutedos da possibilidade de se destacar

nessa mateacuteria E o padratildeo vai se repetindo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

A padronizaccedilatildeo do ensino prejudica o potencial do discente para realizar com sucesso as tarefas dadas em sala de aula Assim a metodologia ativa propotildee um sistema ldquocentrado no alunordquo que busca nos docentes a melhor forma de ensinar e customizar o aprendizado conforme cada individualidade

6 Consideraccedilotildees FinaisNo tocante aos avanccedilos observados podemos dizer que os resul-tados obtidos foram positivos pois se apresentou um novo olhar na forma de ensinar Ser docente natildeo eacute uma simples reproduccedilatildeo de conhecimento e sim uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Significa ajudar a construir cidadatildeos criacuteticos que saibam defender suas opiniotildees sem deixar-se influenciar A base da educaccedilatildeo vem de casa e a escola deve ser mediadora nesse processo aleacutem de apresentar um apoio agraves reflexotildees sobre a vida bem como ser ideoloacutegica e natildeo deixar se abater por discursos alheios que ferem a eacutetica a praacutetica docente e a preocupaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do ser

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O uso das metodologias ativas de ensino afirma que soacute se con-segue o sucesso no processo de ensino e aprendizagem quando o docente possibilita que o discente seja inserido no contexto das teorias observadas em sala de aula de forma dinacircmica levando em consideraccedilatildeo suas limitaccedilotildees e particularidades

De nada adianta a teoria sem a praacutetica Palavras bem escritas natildeo servem para nada quando a coragem de revolucionar a edu-caccedilatildeo se abala defronte a problemas da sociedade Ser docente construtor do conhecimento eacute mais do que uma profissatildeo eacute um dom que poucos tecircm Esse dom significa de fato amar e se impor-tar com o ser humano Quem sabe esse pensamento se propague e cada vez mais faccedila com que os docentes se preocupem e reflitam sobre seu modo de ensinar

Resgatar a docecircncia humana tem sido um desafio constante que tem exigido sensibilidade e discernimento eacutetica e emoccedilatildeo caracte-riacutesticas que passam a ser fundamentais para trabalhar com o docente e no trabalho docente como nos diz Broilo citando Forster (2015)

Freire (2006) explica que haacute um niacutevel de consciecircncia capaz de perceber as problemaacuteticas advindas da realidade poreacutem que natildeo estabelece uma relaccedilatildeo de criticidade Dessa forma a reflexatildeo deve acontecer mas natildeo isoladamente separando os sentimentos e emoccedilotildees do professor visto que para ele refletir sobre o acontecido eacute preciso ter conhecimento de suas habilidades e limitaccedilotildees

N o t a s

1 ndash Caminho difiacutecil penoso a ser percorrido

R e f e r ecirc n c i a s

BROILO C L Assessoria pedagoacutegica na universidade (con)formando o

trabalho docente Araraquara Junqueira amp Marin 2015

CERVO A L SILVA R da BERVIAN P A Metodologia cientiacutefica 6 ed Satildeo

Paulo Pearson 2007

CHRISTENSEN Clayton M HORN Michael B JOHNSON Curtis W Ino-

vaccedilatildeo na sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de

aprender Porto Alegre Bookman 2012

CHRISTENSEN C HORN M STAKER H Ensino hiacutebrido uma inovaccedilatildeo

disruptiva uma introduccedilatildeo agrave teoria dos hiacutebridos 2013 Disponiacutevel

em lthttpporvirorgwpcontentuploads201408PT_Is-K-12-blen-

ded-learning-disruptive-Finalpdfgt Acesso em 17 jun 2017

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave pratica

educativa 33 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 2006

ITOZ C MINEIRO M Ensino-aprendizagem da contabilidade de custos

componentes desafios e inovaccedilatildeo praacutetica Enfoque Reflexatildeo Contaacutebil

Maringaacute v 24 n2 juldez 2005

MATURANA Humberto REZEPKA Sima Nisis de Formaccedilatildeo humana e

capacitaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jaime A Clasen Petroacutepolis Vozes 2000

MORAES Maria Cacircndida O paradigma educacional emergente 6 ed Cam-

pinas SP Papirus 2000

MORAacuteN Joseacute Mudando a educaccedilatildeo com metodologias ativas 2015

Disponiacutevel em lthttpwww2ecauspbrmoranwp-contentuplo-

ads201312mudando_moranpdfgt Acesso em 17 jun 2017

PERRENOUD Philipp et at Formando professores profissionais quais es-

trateacutegias Quais competecircncias 2 ed Porto Alegre Artmed 2001

PERRENOUD Philippe 10 novas competecircncias para ensinar Porto Alegre

Artmed 2000

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 25 ed Rio de Janeiro Forense 2012

RIVAS S C A mediaccedilatildeo na praacutetica cotidiana da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica

Revista FACED Salvador n15 jan-jul 2009

WEISZ Telma SANCHEZ Ana O diaacutelogo entre o ensino e a aprendizagem

2 ed Satildeo Paulo Aacutetica 2004

Paacutegina 8 de 8

Formaccedilatildeo empreendedora e atuaccedilatildeo profissional contribuiccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas GeraisEntreprenurial training and professional activity contribuitions from SEBRAE Minas Gerais schools

Frederico Cesar Mafra Pereira Eloiacutesa Helena Rodrigues Guimaratildees e Fabiana Marques Silva Borges

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 9

R e s u m o

As organizaccedilotildees passaram a exigir profissionais cada vez mais qualificados para atenderem a um mercado flutuante e em raacutepida transformaccedilatildeo O Serviccedilo de Apoio agraves Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE) priorizou accedilotildees educacionais voltadas agrave formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial para suprir tal demanda Este estudo investigou as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Foi realizado estudo descritivo quantitativo junto a 221 egressos selecionados via amostra natildeo probabiliacutestica por acessibilidade Concluiu-se que a formaccedilatildeo gerencial proposta contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos a partir dos seguintes resultados 92 avaliaram o Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE ldquoOacutetimo ou Bomrdquo 95 natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

R e s u m e n

Organizations now demand increasingly skilled professionals to serve a rapidly changing and floating market The Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) prioritized educational actions aimed at training young entrepreneurs with managerial skills to meet such demand This study investigated the contributions of the entrepreneurial training in the professional activity of the graduates from SEBRAE Management Training Schools in Minas Gerais Brazil A quantitative descriptive study was carried out with 221 graduates selected through a non-probability sampling by accessibility The results showed that the proposed management training contributes positively to the professional activity of the graduates 92 evaluated SEBRAE Management Training Course as ldquoExcellent or Goodrdquo 95 did not regret having taken the course 80 considered their development during the course as ldquoExcellent or Goodrdquo and 78 rated the coursersquos contribution to their current professional background as ldquoExcellent or Goodrdquo

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 29092017

Palavras-chaveEmpreendedorismo Formaccedilatildeo empreendedora Formaccedilatildeo gerencial SEBRAE

KeywordsEntrepreneurship Entrepreneurial Training Management Training SEBRAE

Autores Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fredericomafrafpledubrr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail eloisaguimaraesfpledubr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Escola de Formaccedilatildeo Geren-cial (EFG FPL) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fabianaborgesfpledubr

Como citar este artigoPEREIRA F C M GUIMARAtildeES E H R BORGES F M S Formaccedilatildeo empreende-dora e atuaccedilatildeo profissional contribui-ccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas Gerais Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoNovas formas de organizaccedilatildeo e de gestatildeo modificaram estruturalmente o mundo do trabalho a partir da deacutecada de 1980 O aumento do proces-so de globalizaccedilatildeo desde 1990 impocircs mudanccedilas em vaacuterias dimensotildees nas organizaccedilotildees poliacutetica econocircmica tecnoloacutegica ambiental e social Um novo cenaacuterio econocircmico e produtivo se estabeleceu com o desen-volvimento e com o emprego de tecnologias complexas agregadas agrave produccedilatildeo e agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Em consequecircncia passou-se a exi-gir profissionais qualificados tecnicamente e com capacidade criativa e sensibilidade social suficiente para atender agrave demanda de mercado flutuante e desigual com raacutepidas transformaccedilotildees

Esse contexto exige cada vez mais capacitaccedilatildeo e conhecimento De acordo com o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2015a) o diploma por si soacute natildeo garante vaga no mercado de trabalho por isso eacute preciso mudar tambeacutem os para-digmas da educaccedilatildeo Essa conjuntura de mudanccedilas no mercado de trabalho aliada agrave escassez de empregos traz uma maior importacircncia ao estudo do empreendedorismo como um elemento indispensaacutevel para o desenvolvimento humano social e principalmente econocircmico

O Brasil apresentava em 2010 a maior taxa de empreendedores em estaacutegio inicial no mundo segundo o relatoacuterio de anaacutelise interna-cional Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010) considerado o mais abrangente estudo sobre empreendedorismo no mundo coordenado pela London Business School (instituiccedilatildeo especializada em educaccedilatildeo empresarial fundada em 1964 e situada na Inglaterra) e pelo Babson College (instituiccedilatildeo especializada no ensino de em-preendedorismo fundada em 1919 nos Estados Unidos e referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre empreendedorismo)

No Brasil a pesquisa eacute publicada pelo SEBRAE e pelo Instituto Bra-sileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) O relatoacuterio do GEM Brasil (2016) revelou que o empreendedorismo no Brasil cresceu desde 2011 e que a Taxa Total de Empreendedores (TTE) foi de 360 repre-sentando cerca de 48 milhotildees de indiviacuteduos empreendedores (com idade entre 18 e 64 anos) Ainda segundo esse relatoacuterio o SEBRAE foi destacado como oacutergatildeo de maior apoio ao empreendedorismo sendo citado por 104 dos entrevistados Os fatores limitantes mais apontados foram poliacuteticas governamentais educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo e apoio financeiro e uma das principais recomendaccedilotildees relacionadas aos fatores mencionados foi a importacircncia de se inserir conteuacutedo empreendedor nos trecircs niacuteveis de educaccedilatildeo i) na educaccedilatildeo infantil com o primeiro contato das crianccedilas com o empreendedorismo ii) no ensino meacutedio com competiccedilotildees de planos de negoacutecios e o es-tiacutemulo agrave criaccedilatildeo de empresas e iii) no ensino superior atraveacutes de um modelo conectado ao mercado e que apresente aos alunos o empreendedorismo como opccedilatildeo real de carreira

Diante do potencial para o empreendedorismo no Brasil o SEBRAE desde 1990 priorizou as accedilotildees educacionais voltadas

para a formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial imbuiacutedos de valores eacuteticos e de cidadania com habili-dade de serem empregadores empregados voluntaacuterios e cida-datildeos em qualquer setor econocircmico e sobre qualquer relaccedilatildeo de trabalho aleacutem de capazes de oferecer para a sociedade de forma distribuiacuteda utilidade melhoria das condiccedilotildees de vida soluccedilotildees de problemas renda ciecircncia tecnologia desenvolvimento emoccedilatildeo beleza equiliacutebrio cooperaccedilatildeo liberdade e democracia

Em 1992 a Escola Teacutecnica de Formaccedilatildeo Gerencial de Belo Ho-rizonte ndash ETFG-BH (atual Escola de Formaccedilatildeo Gerencial EFG-BH) foi idealizada com o objetivo de suprir a formaccedilatildeo de gestores para as pequenas empresas Na Aacuteustria foi encontrado o referencial que serviu como paracircmetro para a elaboraccedilatildeo do seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico desenvolvido por meio de um acordo de cooperaccedilatildeo com o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Artes possibilitando o desenvolvimento de um modelo de formaccedilatildeo gerencial adaptado agrave realidade brasileira A partir de 1995 a escola alcanccedilou notoriedade devido agrave sua metodologia inovadora e por oferecer o Ensino Meacutedio em concomitacircncia e articulaccedilatildeo com o Curso Teacutecnico em Administraccedilatildeo Em virtude disso foram instaladas mais trecircs escolas parceiras nas cidades mineiras de Contagem Itabira e Patos de Minas dando iniacutecio ao Sistema de Formaccedilatildeo Gerencial do SEBRAE-MG o qual segundo o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico de 2015 atuava com quatorze escolas parceiras sendo treze em Minas Gerais e uma no estado do Maranhatildeo (SEBRAE 2015b)

Diante desse cenaacuterio pesquisar as contribuiccedilotildees do ensino do empreendedorismo proporcionado pelo Sistema SEBRAE torna-se fundamental para o reconhecimento e difusatildeo da edu-caccedilatildeo empreendedora no Brasil Assim esta pesquisa propocircs-se a investigar quais as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Com isso pretendeu-se con-tribuir para a academia com novos resultados sobre o estudo do empreendedorismo na formaccedilatildeo teacutecnica

A fim de atender aos objetivos propostos este artigo estaacute es-truturado em cinco seccedilotildees sendo esta introduccedilatildeo a primeira Na segunda seccedilatildeo apresenta-se a fundamentaccedilatildeo teoacuterica com a revisatildeo da literatura referente ao tema na terceira satildeo descritos os procedimentos metodoloacutegicos utilizados no trabalho na quarta seccedilatildeo apresentam-se e discutem-se os resultados alcanccedilados e por uacuteltimo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais

2 Referencial Teoacuterico O referencial teoacuterico deste estudo descreve os conceitos e de-finiccedilotildees de empreendedorismo e de empreendedor utilizados por diversos autores a formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no Brasil bem como a proposta de ensino do empreendedorismo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 9

21 Empreendedorismo conceitos e evoluccedilatildeoPesquisadores do empreendedorismo concordam que a origem do conceito estaacute nas obras de Richard Cantillon e Jean Baptiste Say considerados os primeiros a inserir o tema no cenaacuterio eco-nocircmico (PEREIRA 2010) Segundo Pereira (2010) os economistas associaram o empreendedorismo agrave organizaccedilatildeo de negoacutecios agrave inovaccedilatildeo e a aspectos criativos e intuitivos pelos comportamen-talistas Em 1911 com a publicaccedilatildeo da obra de Joseph A Schum-peter denominada Teoria de desenvolvimento econocircmico o sig-nificado de ldquoempreendedorrdquo foi conectado agrave inovaccedilatildeo Para esse autor o empreendedor eacute aquele que destroacutei a ordem econocircmica existente introduzindo novos produtos e serviccedilos criando novas formas de organizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo de novos recursos materiais o empreendedor seria assim a essecircncia da inovaccedilatildeo no mundo

Em 1998 Peter Ferdinand Drucker filoacutesofo e economista aus-triacuteaco considerado o pai da Administraccedilatildeo moderna ampliou o conceito de empreendedor articulando-o ao conceito do profis-sional inovador e proativo aquele indiviacuteduo capaz de aproveitar oportunidades para promoccedilatildeo de mudanccedilas Essa visatildeo corrobora-va a definiccedilatildeo de Fillion (1993) para quem o empreendedor eacute uma pessoa criativa marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que manteacutem um alto niacutevel de consciecircncia do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negoacutecios

O SEBRAE (2016) define empreendedor como aquele que tem como caracteriacutestica baacutesica o espiacuterito criativo e pesquisador constantemente em busca de novos caminhos e novas soluccedilotildees sempre relacionados agraves necessidades das pessoas Jaacute o relatoacuterio GEM (2016) conceitua empreendedorismo como qualquer tenta-tiva de criaccedilatildeo de um novo negoacutecio ou novo empreendimento podendo ser uma atividade autocircnoma uma nova empresa ou a expansatildeo de um empreendimento existente por um indiviacuteduo grupos de indiviacuteduos ou por empresas jaacute estabelecidas

Para a Endeavor (2015) organizaccedilatildeo liacuteder no apoio a empre-endedores de alto impacto presente em mais de vinte paiacuteses o empreendedorismo pode mudar o mundo e o Brasil gerando emprego riqueza formando profissionais capacitados criando inovaccedilatildeo revolucionando o jeito de pensar Alinhada a essa abor-dagem a Junior Achievement (2015) associaccedilatildeo educativa sem fins lucrativos criada nos Estados Unidos em 1919 e hoje a maior organizaccedilatildeo mundial dedicada agrave educaccedilatildeo empreendedora para jovens em idade escolar presente em mais de 120 paiacuteses e em Minas Gerais desde 2003 acredita na capacidade e potenciali-dade do empreendedorismo como fator propulsor de mudanccedila e incentivo para que os jovens assumam responsabilidade pelos proacuteprios destinos determinem seus objetivos atuem na busca de metas e tenham coragem para correr riscos aleacutem de perseveranccedila e confianccedila em si proacuteprios

22 A formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no BrasilEstudos publicados em 2005 por Howard Aldrich a respeito da histoacuteria do empreendedorismo como disciplina acadecircmica nos Estados Unidos da Ameacuterica (EUA) demostram que desde a deacutecada de 1970 havia debates em torno da legitimaccedilatildeo desse campo de pesquisa O estudo sobre o asunto cresceu a partir de pesquisas sobre pequenas empresas realizado nas Business School (Escolas de Negoacutecios) Os primeiros cursos com foco na administraccedilatildeo de pequenas empresas surgiram em 1947 na Harvard Business School escola de especializaccedilatildeo da Universidade de Harvard voltada agrave administraccedilatildeo de empresas e em 1953 na University New York importante universidade privada sediada na cidade de Nova Iorque e fundada em 1831

A primeira conferecircncia anual sobre empreendedorismo foi realizada em 1981 pela Babson College instituiccedilatildeo norte ame-ricana criada em 1919 e considerada segundo Melo (2008) a referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre o tema Ainda para esse autor os obstaacuteculos para a institucionalizaccedilatildeo do empre-endedorismo como disciplina acadecircmica estavam ligados agrave ausecircncia de publicaccedilotildees especializadas e ao desinteresse pelas universidades de prestiacutegio situadas nos Estados Unidos Um dos fatos importantes para a consolidaccedilatildeo do empreendedorismo foi a criaccedilatildeo de algumas revistas ainda na deacutecada de 1970 como a American Journal of Small Business (que mudou para Entre-preneurship Theory and Practice) e a partir de 1988 a Family Business Review e a Small Business Economics

O surgimento do mercado dotcom (denominaccedilatildeo dada agraves empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo base-adas na internet) em 1990 possibilitou que livros e revistas sobre empreendedorismo se tornassem um produto do mer-cado publicitaacuterio Tal surgimento e a publicaccedilatildeo em 1998 pela Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) do documento ldquoFostering the Entrepreneurship a The-matic Reviewrdquo foram considerados importantes fatores para disseminaccedilatildeo do empreendedorismo pelo mundo Nesse mes-mo ano a Comissatildeo Europeia e o Foacuterum Econocircmico Mundial incluiacuteram a criaccedilatildeo de empresas como temaacutetica em suas pautas (DORNELAS 2008) Destaca-se tambeacutem como fator importante a presenccedila de organizaccedilotildees como a Junior Achievement (2015) e o Instituto Endeavor (2015)

Aleacutem disso desde 1988 eacute publicada anualmente a pesquisa Gene-ral Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada pela Babson College (EUA) e pela London Business School (Inglaterra) cujo objetivo eacute medir a atividade empreendedora a criaccedilatildeo de empresas nos paiacuteses e sua relaccedilatildeo com o crescimento econocircmico O estudo GEM estabeleceu um ranking mundial via iacutendice que mede o potencial empreendedor de cada paiacutes (GEM 2010)

Paacutegina 3 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O empreendedorismo foi difundido no mundo acadecircmico na literatura popular na miacutedia e tambeacutem nas atividades de ONGs e Organismos Internacionais A ONU apoacutes a II Guerra Mundial bus-cou fomentar a criaccedilatildeo de empresas e para isso usou aleacutem das linhas de creacutedito e treinamentos gerenciais uma pesquisa realizada pelo psicoacutelogo David McClelland para desenvolver programas de capacitaccedilatildeo com foco na motivaccedilatildeo A partir dessas accedilotildees criou-se um programa de treinamento em empreendedorismo conhecido como Empretec executado em parceria com diversos paiacuteses desde 1988 No Brasil eacute realizado pelo SEBRAE (SEBRAE 2006)

No Brasil a Formaccedilatildeo Empreendedora foi marcada inicialmente pela criaccedilatildeo do primeiro curso de especializaccedilatildeo de Novos Negoacutecios pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas em 1981 e em 1984 pela extensatildeo da disciplina para a graduaccedilatildeo com o tiacutetulo de Criaccedilatildeo de Novos Negoacutecios ndash Formaccedilatildeo de Empreendedores Similarmente em 1989 foi criado o Centro Integrado de Gestatildeo Empreendedora (CIAGE) e em seguida cursos de empreendedorismo foram inseridos em niacutevel de mestrado doutorado e MBA (SEBRAE 2016) Seguindo essa linha de institucionalizaccedilatildeo do empreendedorismo em 1984 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a oferecer a disciplina de Ensino de Criaccedilatildeo de Empresa no curso de Ciecircncias da Computaccedilatildeo em seguida a Universidade de Satildeo Paulo (USP) implantou a disciplina Criaccedilatildeo de Empresas na graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo e em 1985 iniciou outra disciplina na poacutes-gradua-ccedilatildeo voltada para empreendimentos de base tecnoloacutegica

No iniacutecio da deacutecada de 1990 o SEBRAE MG apoiou a criaccedilatildeo do Grupo de Estudos de Pequenas Empresas (GEPE) no Depar-tamento de Engenharia de Produccedilatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nos anos de 1992 e 1994 esse grupo ofereceu workshops com professores canadenses destacando-se a presenccedila de Filion responsaacutevel pelo desenvolvimento da Teoria Visionaacuteria que facilita o entendimento de como a partir do sur-gimento de uma ideia de um produto ou serviccedilo forma-se um novo negoacutecio Tambeacutem atraveacutes dessa teoria foi possiacutevel conhecer e compreender a importacircncia e o estabelecimento das relaccedilotildees entre os empreendedores os negoacutecios e o ambiente em que estatildeo inseridos (FILION 1993 2004 CIMADON et al 2007)

Ainda em 1992 a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou o Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (CESAR) o qual trecircs anos depois lanccedilou uma incubadora de empresas (ambiente especialmente planejado com o propoacutesito de apoiar iniciativas empreendedoras e projetos inovadores por meio do oferecimento de infraestrutura serviccedilos especializados e assesso-ria gerencial de projetos de exportaccedilatildeo de software) No mesmo ano em parceria com o SEBRAE a Faculdade de Economia da USP iniciou programas de formaccedilatildeo de empreendedores para profissionais interessados em abrir seu proacuteprio negoacutecio Nesse mesmo periacuteodo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

criou a Escola de Novos Empreendedores (ENE) e os programas SOFTEX (Associaccedilatildeo para Promoccedilatildeo da Excelecircncia do Software Brasileiro) e GENESIS (Geraccedilatildeo de Novas Empresas de Software Informaccedilatildeo e Serviccedilo) foram criados pelo CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (MELO 2008)

Tambeacutem com a parceira do SEBRAE-DF a Universidade de Brasiacutelia (UNB) em 1995 desenvolveu a Escola de Empreendedores Em 1997 com o apoio do SEBRAE e do Instituto Euvaldo Lodi (IELMG) e da Federaccedilatildeo das induacutestrias de Minas Gerais (FIEMG) surgiu a Rede de Ensino Universitaacuterio em Empreendedorismo (REUNE) Ainda o SEBRAE a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) o Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico Social (BNDES) e o CNPq foram responsaacuteveis por desenvolverem os programas SOFTEX e GENESIS (citados anteriormente que apoiam ativida-des de empreendedorismo em software estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geraccedilatildeo de novas empresas de software conhecidas como start-ups (empresas geralmente de base tecnoloacutegica que criam modelos de negoacutecio altamente escalaacuteveis a baixos custos e a partir de ideias inovadoras) aliados ao empreendedorismo digital com a utilizaccedilatildeo de ferramentas como e-commerce (comeacutercio eletrocircnico) aplicativos moacuteveis sites de compras dentre outros (MELO 2008)

O SEBRAE tem sido considerado o oacutergatildeo responsaacutevel por im-plantar a cultura do empreendedorismo no Brasil nas universi-dades e no mercado como um todo sendo tambeacutem parceiro de vaacuterias entidades que promovem o empreendedorismo Segundo Dornelas (2008) um curso de empreendedorismo deve considerar o desenvolvimento de trecircs aacutereas de habilidades i) teacutecnicas ndash envol-vem saber escrever ouvir as pessoas ser organizado saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how teacutecnico de sua aacuterea ii) gerenciais ndash envolvem as aacutereas de criaccedilatildeo desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa (marketing administraccedilatildeo financcedilas operacional produccedilatildeo tomada de decisatildeo controle das accedilotildees da empresa e ser um bom negociador) iii) caracteriacutesticas pes-soais ndash envolvem aspectos como assumir riscos e ser disciplinado inovador orientado a mudanccedilas persistente e um liacuteder visionaacuterio

Para o SEBRAE (2013) a educaccedilatildeo empreendedora propotildee a ruptura de um modelo de praacutetica educacional que privilegia a transmissatildeo estaacutetica e a criacutetica de dados e informaccedilotildees sem estimular reflexotildees ou a aplicaccedilatildeo dos saberes na forma de accedilotildees transformadoras Para isso eacute necessaacuterio capacitar o aluno a cons-truir caminhos por meio de accedilotildees concretas e tecnicamente emba-sadas que tenham efetiva capacidade transformadora e o levem a aliar a teoria agrave praacutetica

Nessa mesma abordagem eacute importante ressaltar a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDBN1996) referente agrave promoccedilatildeo da Educaccedilatildeo Integral valorizando as inicia-

Paacutegina 4 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

tivas educacionais extraescolares e a vinculaccedilatildeo entre o trabalho escolar e a vida em sociedade e tambeacutem a importante parceria do SEBRAE na capacitaccedilatildeo de docentes em empreendedorismo para que eles despertem nos alunos o interesse pelo mundo dos negoacutecios e o tema possa ser desenvolvido como disciplina eletiva

Portanto a educaccedilatildeo empreendedora pode ser considerada como principal vetor do desenvolvimento dos paiacuteses e regiotildees que aspiram a ver seus jovens como grandes empreendedores No Brasil o tema eacute muito diversificado devido agraves diferenccedilas regionais e agraves muacuteltiplas nuances culturais O empreendedorismo se mani-festa de forma uacutenica em cada regiatildeo influenciado pela heranccedila cultural pelas vivecircncias pelas historicidades pelas realidades econocircmicas e sociais uacutenicas de cada parte do paiacutes

Portanto eacute a partir da deacutecada de 1980 que o empreende-dorismo pode ser considerado um movimento social mundial propulsor do pequeno negoacutecio e um sinocircnimo de inovaccedilatildeo e mudanccedila

Concluindo esta seccedilatildeo e considerando as abordagens defen-didas por McClelland (1961) Schumpeter (1982) Drucker (1998) Filion (1993 2004) Souza (2001) Hisrich e Peters (2004) Dolabela (2006) e Dornelas (2008) e pelas instituiccedilotildees SEBRAE (2006) GEM (2010 2016) Endeavor (2015) e Junior Achievement (2015) eacute pos-siacutevel verificar que algumas caracteriacutesticas satildeo comuns nos muitos conceitos discutidos

Independentemente dessas referecircncias McClelland (1961) foi um dos primeiros a usar as teorias da ciecircncia comportamental para realizar estudos empiacutericos sobre a motivaccedilatildeo para empreen-der (SANTOS 2008 CARNEIRO 2015) Portanto optou-se por utili-zar as competecircncias do empreendedor adotadas por McClelland (1961) e presentes no Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico do Sistema SEBRAE (2015b) para a elaboraccedilatildeo do instrumento de coleta de dados utilizado neste trabalho tendo como base trecircs dimensotildees de anaacutelise i) conhecimentos ii) habilidades e iii) competecircncias

3 Procedimentos MetodoloacutegicosA metodologia corresponde a um conjunto de procedimentos a ser utilizado na obtenccedilatildeo do conhecimento Eacute a aplicaccedilatildeo do meacutetodo por meio de processos e teacutecnicas (BARROS 2007) Para atingir o objetivo principal desta pesquisa optou-se por um es-tudo descritivo de caraacuteter quantitativo A escolha pela pesquisa descritiva se mostra adequada uma vez que seu objetivo primor-dial eacute a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno utilizando teacutecnicas padronizadas de coletas de dados (GIL 2010) com a finalidade de identificar e obter informaccedilotildees (COLLIS HUSSEY 2005) Quanto agrave abordagem optou-se pelo

meacutetodo quantitativo Collis e Hussey (2005) apontam que esse meacutetodo eacute caracterizado por ser objetivo por natureza e focado na mensuraccedilatildeo de fenocircmenos envolvendo a coleta de informaccedilotildees e a anaacutelise de dados por meio de teacutecnicas estatiacutesticas

Foi aplicado um questionaacuterio estruturado aos egressos de oito Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial (EFG) situadas em Minas Gerais Esse meacutetodo possibilitou uma avaliaccedilatildeo geral do Curso de Formaccedilatildeo Ge-rencial e de suas contribuiccedilotildees na percepccedilatildeo dos egressos do curso em tal estado Nesse estudo o questionaacuterio foi enviado aos respon-dentes por meio eletrocircnico A fim de cumprir o objetivo geral de investigar as contribuiccedilotildees da Formaccedilatildeo Empreendedora proposta pelo Sistema SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Es-colas de Formaccedilatildeo Gerencial em Minas Gerais optou-se por utilizar o modelo adaptado a partir de estudos de McClelland (1961)

De acordo com as informaccedilotildees fornecidas pelo SEBRAE Belo Horizonte o volume de egressos no estado de Minas Gerais perfa-ziam um universo de 5666 ex-alunos que concluiacuteram o curso nas oito unidades que tinham informaccedilotildees a respeito desse puacuteblico ao final do ano de 2015 Eacute importante ressaltar que a apuraccedilatildeo desse total foi realizada pelo somatoacuterio de egressos de cada escola participante da pesquisa EFG Arcos MG (576) EFG Belo Horizonte MG (2088) EFG Cataguases MG (478) EFG Contagem MG (807) EFG Itabira MG (429) EFG Nova Lima MG (818) EFG Pedro Leopoldo MG (419) EFG Sete Lagoas MG (51)

O questionaacuterio foi elaborado e disponibilizado aos egressos por meio da ferramenta Google Docs no primeiro semestre do ano de 2016 havendo um total de 221 respondentes o que equi-vale a 4 dos egressos dessas instituiccedilotildees

De posse dos dados foi utilizada como teacutecnica para tratamento dos dados quantitativos a ferramenta de coleta do Google Docs As informaccedilotildees foram organizadas em tabelas e em graacuteficos no intuito de promover uma melhor visualizaccedilatildeo dos dados quantita-tivos alcanccedilados pela pesquisa Posteriormente foram realizadas as anaacutelises tendo como base a estatiacutestica descritiva pois esta permite a apresentaccedilatildeo a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de dados numeacutericos atraveacutes da criaccedilatildeo de quadros graacuteficos e indicadores numeacutericos possibilitando identificar a existecircncia de regularidades tendecircncias ciclos concentraccedilotildees ou padrotildees (COLLIS HUSSEY 2005)

4 Apresentaccedilatildeo e Anaacutelise dos ResultadosNesta seccedilatildeo satildeo apresentados e analisados os dados da pesquisa quantitativa aplicada aos egressos do Curso de Formaccedilatildeo Geren-cial SEBRAE das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial situadas nas cida-des de Arcos Belo Horizonte Cataguases Contagem Itabira Nova Lima Pedro Leopoldo e Sete Lagoas a fim de identificar as contri-

Paacutegina 5 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

buiccedilotildees dessa formaccedilatildeo gerencial para a atuaccedilatildeo profissional de seus egressos Primeiramente eacute apresentada a caracterizaccedilatildeo de cada uma das unidades em que se deu a pesquisa e em seguida satildeo apresentados os resultados obtidos por meio do questionaacuterio

41 Caracterizaccedilatildeo das EFG mineiras participantes da pesquisaA Tabela 1 apresenta uma siacutentese da caracterizaccedilatildeo das oito es-colas pesquisadas

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais

Unidade SEBRAE

Ano de fundaccedilatildeo

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de colaboradores Curso

Arcos 1996 60 25 Ensino Meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

BeloHorizonte 1994 250 37 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Cataguases 1996 216 34Ensino Fundamental II Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Contagem 1995 100 Natildeoinformado Formaccedilatildeo Gerencial

Itabira 1995 100 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Nova Lima 1998 120 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Pedro Leopoldo 1996 100 23 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Sete Lagoas 2011 68 30 Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Fonte Dados da pesquisa (2016)

Com exceccedilatildeo da EFG SEBRAE Sete Lagoas todas as escolas estatildeo em funcionamento haacute mais de vinte anos em Minas Gerais e oferecem o ensino meacutedio concomitantemente ao curso teacutecnico em Administra-ccedilatildeo As unidades que tecircm o maior nuacutemero de alunos matriculados satildeo as de Belo Horizonte e de Cataguases as demais oscilam de 60 a 120 alunos (considerando os trecircs periacuteodos do ensino meacutedio) As Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial com maior representatividade na pesquisa foram Belo Horizonte (317) e Pedro Leopoldo (344)

42 Perfil dos egressosA partir das respostas dos 221 egressos na seccedilatildeo I do questionaacuterio pocircde-se conhecer o perfil dos respondentes A amostra foi com-posta de 633 dos respondentes do sexo feminino e 367 do masculino As faixas etaacuterias com maior incidecircncia foram de 18 a 24 anos representando 837 da amostra e de 25 a 29 anos re-presentando 68 Quanto ao estado civil 91 dos respondentes satildeo solteiros e 9 satildeo casados

Constatou-se que o principal motivo que levou o egresso a se matricular no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE foi a busca por qualificaccedilatildeo profissional representando 656 das citaccedilotildees

seguido da referecircncia da marca SEBRAE no mercado de trabalho com 136 Tais resultados refletem a consolidaccedilatildeo da excelecircncia do curso teacutecnico e seu diferencial no mercado de trabalho bem como a valorizaccedilatildeo da marca SEBRAE Identificou-se que 543 dos respondentes cursaram o ensino fundamental em escolas particulares e que 674 natildeo utilizaram bolsa de estudo para rea-lizar o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Tais informaccedilotildees satildeo importantes na identificaccedilatildeo do puacuteblico-alvo e nas ferramentas de marketing dos processos seletivos Quanto agrave formaccedilatildeo acadecircmica 62 possuem ensino superior incompleto e 48 graduaram-se na aacuterea de Exatas Um dado interessante a ser observado eacute o fato de apenas 9 dos respondentes natildeo terem continuado os estudos em niacutevel superior sendo que a maioria optou pela graduaccedilatildeo em Ciecircncias Sociais Aplicadas (48) promovendo assim a continui-dade dos estudos na aacuterea de sua formaccedilatildeo teacutecnica

43 Avaliaccedilatildeo dos conhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE e da ca-pacidade de aprendizadoCada pergunta correspondente agrave seccedilatildeo II do questionaacuterio apresen-tado aos respondentes pertence a um tema de avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os valores percentuais alcanccedilados nas respostas foram sistematizados em uma tabela considerando a seguinte escala de classificaccedilatildeo 1- Peacutessimo 2- Ruim 3- Regular 4- Bom e 5- Oacutetimo As questotildees 1 a 5 15 16 e 24 referem-se agrave avaliaccedilatildeo dos conhecimentos teacutecnicos teoacutericos e praacuteticos das habilidades e competecircncias desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Conhecimentos habilidades e competecircncias englobam os conhecimentos teoacutericos e praacuteticos as competecircncias os recursos tecnoloacutegicos a inter-relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica bem como as accedilotildees promotoras para o desenvolvimento do com-portamento humano da eacutetica e da responsabilidade que foram desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

No que tange agrave avaliaccedilatildeo geral dos egressos quantos aos co-nhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE todos os itens tiveram avaliaccedilotildees positivas e a meacutedia geral dos valores para os itens respondidos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo totalizaram 846 Jaacute para os respondentes que consideraram a avaliaccedilatildeo como ldquoRuim e Peacutes-simardquo 9 estatildeo insatisfeitos com os recursos tecnoloacutegicos dispo-nibilizados pelas EFG Essa informaccedilatildeo deve ser analisada pelos gestores das unidades visto que a inovaccedilatildeo aliada agrave tecnologia eacute um dos principais pilares do empreendedorismo

Com relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo mais detalhada sobre os grupos de co-nhecimentos abordados no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Gestatildeo de Pessoas (6610) e Administraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Ciecircncias Sociais

Paacutegina 6 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

(385) e Sistemas de Informaccedilatildeo (312) foram apontados como os conhecimentos que menos contribuiacuteram Vale ressaltar que eacute possiacutevel que esse resultado tenha relaccedilatildeo com os diferentes ramos de atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Em se tratando das habilidades desenvolvidas no Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE observa-se que Relacionamento In-terpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profis-sional dos egressos enquanto Criatividade e Inovaccedilatildeo (186) e Multiculturalismo (371) satildeo as habilidades que menos contri-buiacuteram na visatildeo dos egressos entrevistados

No tocante agraves competecircncias identifica-se que Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as competecircncias que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Processo Produtivo (24) eacute a que menos contribuiu Um dado que merece ser enfatizado eacute que todas as competecircncias relacionadas possuem um grau positivo de avaliaccedilatildeo demonstrando novamente que a relevacircncia estaacute direta-mente ligada ao segmento profissional de cada egresso

Ainda nesse contexto analisando-se as dimensotildees mais rele-vantes no Conhecimento Gestatildeo de Pessoas (66) na Habilidade Relacionamento Interpessoal (77) e na Competecircncia Raciociacutenio Loacutegico (62) percebe-se que as capacidades mais valorizadas pelo mercado de trabalho satildeo o pensamento loacutegico aliado agrave ca-pacidade de lidar com as pessoas o que corrobora a visatildeo de Gardner (1994) sobre inteligecircncias muacuteltiplas

Em se tratando da avaliaccedilatildeo do egresso quanto agrave sua capa-cidade de aprendizado 88 dos respondentes considerou esse aspecto como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 65 o considerou como ldquoRuim e Peacutessimordquo demonstrando assim que o egresso considera muito bom o seu aproveitamento acerca da formaccedilatildeo gerencial ofer-tada considerando tambeacutem que a aprendizagem resulta de um processo de interaccedilatildeo formado pelo trinocircmio professor-aluno--conhecimento sendo esse um indicador de suma importacircncia pois reflete a autoavaliaccedilatildeo do egresso em relaccedilatildeo ao curso

44 Avaliaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado e dos projetos estrutu-rantes do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEO estaacutegio supervisionado eacute o procedimento didaacutetico-pedagoacutegico que pretende proporcionar ao estudante concluinte da terceira seacuterie aprendizagem social profissional e cultural mediante a vi-vecircncia de situaccedilotildees reais de vida e do trabalho na comunidade em geral sob a orientaccedilatildeo e supervisatildeo da EFG Eacute indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo profissional e preacute-requisito para que o estudante receba o certificado de conclusatildeo do curso Os dados da pesquisa apontam que 77 dos respondentes responderam como ldquoOacutetimo e Bomrdquo os

conhecimentos obtidos nas disciplinas do curso para realizaccedilatildeo das tarefas do estaacutegio 14 apontaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo a facilidade para conseguir estaacutegios e outras atividades acadecircmicas em funccedilatildeo de ter concluiacutedo o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os resultados positivos sinalizam o reconhecimento do egresso quanto agrave importacircncia da realizaccedilatildeo do estaacutegio para a formaccedilatildeo e melhor desempenho profissional no mercado de trabalho mas eacute importante destacar a dificuldade para obtenccedilatildeo do estaacutegio apre-sentada na avaliaccedilatildeo de 14 dos egressos mesmo com a referecircncia do curso SEBRAE no mercado de trabalho

Durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE satildeo desen-volvidos trecircs projetos estruturantes Tutoria Vitrine e Empresa Simulada Ao verificar junto aos respondentes a avaliaccedilatildeo des-ses projetos observa-se um destaque para o projeto Vitrine que apresentou percentual de 9210 de avaliaccedilatildeo ldquoOacutetimo e Bomrdquo O resultado geral dos trecircs projetos comprova a sua importacircncia na formaccedilatildeo gerencial visto que eles satildeo considerados um dos principais diferenciais do Sistema SEBRAE

45 Avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissionalNesse quesito analisou-se a contribuiccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissional dos egressos Foram obtidos os seguintes resultados 86 dos respondentes avaliaram como ldquoOacutetimo e Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do cursopara a melhora do entendimento sobre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e o mercado de trabalho 9 avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo as oportunidades geradas pela conclusatildeo do curso Esses resultados comprovam a contribuiccedilatildeo efetiva do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional que o egresso exerce ou jaacute exerceu Vale destacar ainda a avaliaccedilatildeo positiva dos egressos (73) quanto agraves oportunidades geradas por tal formaccedilatildeo na sua vida profissional apesar do resultado anterior no qual o egresso expressa uma difi-culdade em conseguir estaacutegio apoacutes a conclusatildeo do curso

46 Avaliaccedilatildeo geral do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEOs dados da pesquisa indicam que 9210 dos respondentes ava-liaram o curso como ldquorsquoOacutetimo ou Bomrdquo e apenas 090 o avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo O alto iacutendice positivo indica tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva na aprendizagem do egresso representando uma avaliaccedilatildeo geral do curso nos seus aspectos didaacuteticos ins-trucionais teoacutericos e outros

47 Avaliaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas GeraisAnalisando as escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE pes-quisadas os resultados foram os seguintes 88 dos egressos

Paacutegina 7 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a qualificaccedilatildeo dos professores enquanto 19 consideraram esse aspecto como ldquoRuim e Peacutessi-mordquo evidenciando-se assim a satisfaccedilatildeo e reconhecimento dos egressos quanto agrave qualificaccedilatildeo profissional dos docentes que atuam nas EFG Eacute preciso destacar que a avaliaccedilatildeo de um curso implica necessariamente a anaacutelise da organizaccedilatildeo e principal-mente de seus docentes Quanto agrave infraestrutura equipamen-tos e laboratoacuterios 777 dos egressos consideraram-nos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 51 os consideraram como ldquoRuim e Peacutessimordquo o que comprova uma avaliaccedilatildeo geral positiva das EFG tambeacutem em termos de infraestrutura

48 Relacionamento dos egressos com as EFG SEBRAE em Minas GeraisOs dados demonstram que 423 dos respondentes natildeo mantecircm nenhum tipo de contato com a instituiccedilatildeo na qual concluiacuteram o curso e que apenas 10 jaacute participaram de algum evento promo-vido pela EFG apoacutes terem se formado Essa situaccedilatildeo indica uma deficiecircncia na comunicaccedilatildeo das escolas com seus ex-alunos jaacute ob-servada no iniacutecio da pesquisa quando se constatou que as escolas natildeo possuem um banco de dados atualizado de seus egressos para que seja possiacutevel efetuar contato com eles e natildeo permitindo portanto poliacuteticas de relacionamento com os ex-alunos apoacutes a sua passagem pelas escolas No entanto percebe-se que 869 dos respondentes possuem contato com seus ex-colegas por ini-ciativas proacuteprias de organizaccedilatildeo de redes e grupos informais em plataformas de miacutedias sociais como Facebook e WhatsApp Essas accedilotildees poderiam ser potencializadas pelas EFG para a construccedilatildeo de um relacionamento com os egressos

Os dados da pesquisa apontam que 959 dos respondentes natildeo se arrependeram de ter realizado o curso na EFG de origem Tal iacutendice expressa novamente a satisfaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos egressos no que se refere agrave qualidade da formaccedilatildeo gerencial e do quanto ela foi significativa para a vida profissional de cada um Essa informaccedilatildeo eacute de grande relevacircncia para as escolas e para os gestores visto que a indicaccedilatildeo do egresso eacute uma importante ferramenta de marketing que pode ser utilizada na captaccedilatildeo de novos alunos estrateacutegia que jaacute eacute realizada pelas escolas

5 Consideraccedilotildees FinaisEste estudo teve como objetivo geral investigar quais as contri-buiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa de caraacuteter descritivo e quantitativo Adotou-se o modelo proposto por McClelland (1961) como marco teoacuterico da pesquisa visto tal modelo ser base do projeto poliacutetico pedagoacutegico do Sistema SE-BRAE (2015b) contemplando os conhecimentos (Administraccedilatildeo Estrateacutegica Financcedilas Produccedilatildeo e Logiacutestica Marketing Sistema de

Informaccedilatildeo Gestatildeo de Pessoas Ciecircncias Sociais) as habilidades (Relacionamento Interpessoal Comunicaccedilatildeo Eficaz Lideranccedila Soluccedilatildeo de Conflitos Articulaccedilatildeo Criatividade e Inovaccedilatildeo Multi-culturalismo) e as competecircncias (Interpretaccedilatildeo de Cenaacuterios For-mulaccedilatildeo de Projetos Avaliaccedilatildeo de processos e resultados Iden-tificaccedilatildeo de Problemas Raciociacutenio Loacutegico Processo Decisoacuterio) desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial

Os conhecimentos sobre Gestatildeo de Pessoas (6610) e Admi-nistraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos en-trevistados Em se tratando das habilidades desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Relacionamento Interpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais con-tribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos No to-cante agraves competecircncias Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Pode-se concluir que a formaccedilatildeo gerencial proposta pelas EFG SEBRAE em Minas Gerais contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos Essa informaccedilatildeo eacute comprovada pelos re-sultados que indicam que 92 dos egressos avaliaram o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo sendo que 95 dos egressos natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 con-sideraram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso de formaccedilatildeo gerencial e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

Por outro lado identificou-se um novo desafio no que se refere ao curso foi possiacutevel observar os baixos iacutendices de relacionamento das escolas com seus egressos aleacutem da falta de um banco de dados com o cadastro atualizado dos seus ex-alunos Estes dados servem de alerta agraves escolas e ao Sistema SEBRAE tendo em vista que isso poderaacute prejudicar a imagem da instituiccedilatildeo e o ingresso de novos alunos no futuro visto que a referecircncia do ex-aluno eacute con-siderada a principal ferramenta de marketing que uma instituiccedilatildeo pode se utilizar para captaccedilatildeo de novos alunos Algumas accedilotildees de melhoria passam pela criaccedilatildeo de canais de comunicaccedilatildeo eficazes e de uma associaccedilatildeo de ex-alunos Uma vez adotadas essas accedilotildees proporcionariam aos egressos a possibilidade de maior e melhor acesso agrave escola e aos ex-colegas

A presente pesquisa apresentou limitaccedilotildees Uma delas foi o acesso aos egressos O SEBRAE Belo Horizonte se dispocircs ainda no momento de planejamento deste trabalho a informar o banco de dados dos egressos das treze escolas existentes em Minas Gerais Entretanto isso natildeo ocorreu na praacutetica o que limitou a amostra a 221 egressos e a oito escolas participantes O contato com os egressos dessas escolas foi feito e possibilitado em quase sua totalidade pelas miacutedias sociais e grupos informais de ex-alunos

Paacutegina 8 de 9

Constatou-se nesse momento do trabalho que nenhuma EFG de Minas Gerais possui dados de seus egressos Sendo assim sugere-se agraves EFG do estado a criaccedilatildeo de um banco de dados de egressos com informaccedilotildees atualizadas Seria interessante tambeacutem que as escolas promovessem encontros com os ex-alunos e criassem canais de comunicaccedilatildeo mais constantes e diretos com este puacuteblico

Outra limitaccedilatildeo apresentada pela pesquisa diz respeito agrave sua aplicaccedilatildeo focada somente no quadro de egressos sem considerar outros envolvidos no processo tais como a famiacutelia do egresso os empregadores clientes colaboradores dentre outros Sugere-se tambeacutem que pesquisas futuras incluam os outros envolvidos no processo como forma de se obter uma visatildeo ampliada dos im-pactos da formaccedilatildeo gerencial oferecida pelas EFG SEBRAE

R e f e r ecirc n c i a s

BARROS AJDS LEHFELD NADS Fundamentos de metodologia cientiacutefica

Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2007

CARNEIRO CA Comportamento empreendedor de gestores estudo de caso

em uma instituiccedilatildeo puacuteblica de ensino superior Dissertaccedilatildeo (Mestrado

Profissional em Administraccedilatildeo) ndash Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas

Gerais Brasil 2015

CIMADON JE RUPPENTHAL JE MANFROI AS A aplicaccedilatildeo da ldquoTeoria

Visionaacuteriardquo de Filion no desenvolvimento de MPEs criadas por neces-

sidade In XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produccedilatildeo 2007

Anais Foz do Iguaccedilu ENEGEP 2007

COLLIS J HUSSEY R Pesquisa em administraccedilatildeo um guia praacutetico para alu-

nos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo 2ed Porto Alegre Bookman 2005

DOLABELA F O segredo de Luiacutesa 30ed Satildeo Paulo De Cultura 2006

DORNELAS JCA Empreendedorismo transformando ideias em negoacutecios

Rio de Janeiro Campus 2008

DRUCKER PF Inovaccedilatildeo e espiacuterito empreendedor 5ed Satildeo Paulo Pioneira 1998

ENDEAVOR Portal Endeavor Brasil Disponiacutevel em lthttpsendeavororg

brgt Acesso em 10 set 2016

FILION LJ Visatildeo e relaccedilotildees elementos para um metamodelo empreen-

dedor Revista de Administraccedilatildeo de Empresas (RAE) Satildeo Paulo v33

n6 p50-61 1993

FILION LJ Entendendo os intraempreendedores como visionistas Revista

de Negoacutecios Blumenau v9 n2 p65-80 2004

GEM Global Entrepreneurship Monitor Empreendedorismo no Brasil re-

latoacuterio executivo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibqpprorgbrgt

Acesso em 10 set 2016

______ Empreendedorismo no Brasil relatoacuterio executivo 2016 Disponiacutevel

em lthttpwwwibqpprorgbrgt Acesso em 10 set 2016

GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 5ed Satildeo Paulo Atlas 2010

HISRICH RD PETERS MP Empreendedorismo 5ed Porto Alegre Bookman 2004

JUNIOR ACHIEVEMENT Portal JA Brasil Disponiacutevel em ltwwwjuniorachie-

vementorgbrgt Acesso em 10 set 2016

McCLELLAND DC The achievement society Princenton (NJ) D Van

Nostrand 1961

MELO NM Sebrae Empreendedorismo origem e desenvolvimento Dis-

sertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Sociais) ndash Universidade Federal de

Satildeo Carlos Satildeo Paulo Brasil 2008

PEREIRA RA As competecircncias do educador na difusatildeo da cultura empre-

endedora Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo) ndash

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasil 2010

REVISTA PASSO A PASSO Brasiacutelia SEBRAE 2015a

SANTOS PCF Uma escala para identificar o potencial empreendedor Tese

(Doutorado em Engenharia de Produccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil 2008

SCHUMPETER JA A teoria do desenvolvimento econocircmico uma investi-

gaccedilatildeo sobre lucros capital creacutedito juros e o ciclo econocircmico Satildeo

Paulo Abril Cultural 1982

SEBRAE Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas Refe-

renciais educacionais do SEBRAE Brasiacutelia SEBRAE 2006

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Pedro

Leopoldo Pedro Leopoldo SEBRAE 2013

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Belo

Horizonte Belo Horizonte SEBRAE 2015b

______ Portal SEBRAE Disponiacutevel em lthttpwwwsebraecombrsites

PortalSebraegt Acesso em 3 fev 2016

SOUZA CG Empreendedorismo e capacitaccedilatildeo docente uma sintonia pos-

siacutevel Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Santa Catarina Brasil 2001

Paacutegina 9 de 9

Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo HorizonteCooperation Networks And Public Governance The Case Of The Cultural Mapping Of Belo Horizonte

Leonardo Tadeu dos Santos Juliana de Faacutetima Pinto e Maria Gabriela de Caacutessia Miranda

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

Os Estados vecircm sofrendo mudanccedilas que tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior transparecircncia e de maior envolvimento com mercado e sociedade

civil e para isso estatildeo procurando trabalhar na perspectiva de redes Este artigo buscou analisar as possibilidades da rede estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC) a empresa TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) Trata-se de uma rede interinstitucional formada com objetivo de construir o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte O mapa cultural eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacuteblicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos Foi aplicado um questionaacuterio aberto para trecircs servidoras da FMC Para o tratamento dos dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) O estudo descreve como se deu a criaccedilatildeo da rede os avanccedilos alcanccedilados e as dificuldades encontradas Conclui-se que a rede de cooperaccedilatildeo trouxe benefiacutecios e possibilitou a construccedilatildeo do mapa cultural da cidade

A b s t r a c t

The States have undergone changes towards a user-oriented administration one of greater trans-parency and greater involvement with the market and civil society and for that they have sought to work from a network perspective This article sought to examine the possibilities of the inter-institu-tional network established between the Municipal Foundation of Culture of Belo Horizonte (FMC) the company TIM and the Municipal Council of Cultural Policy (COMUC) This is an inter-institutional network created in order to build the cultural map of the city of Belo Horizonte The cultural map is an innovative software of shared management that allows different private andor public agencies to feed the database for the subsequent consultation of citizens An open questionnaire was applied to three FMC servers and the data treatment used the analysis of content of Bardin (2009) This study describes the process of creation of the network the progress achieved and the difficulties encountered It was concluded that the cooperation network has brought benefits and made the construction of the cultural map of the city possible

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 020917Aprovado em 041217

Palavras-chaveRedes interorganizacionais Cooperaccedilatildeo Setor puacuteblico Inovaccedilatildeo

KeywordsInter-organizational networks Cooperation Public sector Innovation

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMGe-mail leonardotadeu17gmailcom

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Como citar este artigoSANTOS L T PINTO J F CAacuteSSIA M G Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo Horizonte Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 Introduccedilatildeo As uacuteltimas deacutecadas tecircm sido marcadas por fenocircmenos como globa-lizaccedilatildeo e ajustes fiscais provocando o surgimento de novos desafios organizacionais A reforma administrativa do Estado exemplifica o esforccedilo da administraccedilatildeo puacuteblica em se adequar agraves novas ne-cessidades tais como agilidade eficiecircncia transparecircncia etc As mudanccedilas tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior clareza e de mais envolvimento entre Es-tado mercado e sociedade civil (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

A demanda crescente por serviccedilos puacuteblicos melhores e mais eficientes impulsiona de acordo com Torres (2006) accedilotildees de mo-dernizaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que tecircm por objetivo atender aos an-seios da sociedade civil Dessa forma a inovaccedilatildeo ganha destaque Segundo Lemos (1999) a compressatildeo da inovaccedilatildeo depende de questotildees contingenciais e soacutecio-histoacutericas

Assim neste estudo entende-se inovaccedilatildeo como o desenvol-vimento de ideias e accedilotildees que visem ao aperfeiccediloamento de uma tarefa eou accedilatildeo alterando a capacidade de agir da sociedade (MURRAY CAULIER-GRICE MULGAN 2010) Um exemplo eacute a cria-ccedilatildeo de redes de cooperaccedilatildeo para dar maior agilidade e qualidade aos serviccedilos estatais ao atender agraves necessidades sociais e criar novas relaccedilotildees sociais (JULIANI 2014)

Nesse iacutenterim uma parte da literatura (CASTELLS 1999 KISS-LER HEIDMAN 2006 MINTZBERG 2003 SILVA MARTINS CKAGNA-ZAROFF 2013) tem frisado a importacircncia de o Estado agir de forma cooperativa na perspectiva de redes As redes de cooperaccedilatildeo satildeo uma forma de organizaccedilatildeo na qual haacute uma parceria com o intuito de beneficiar os atores que fazem parte da rede (SEDAI 2004) A colaboraccedilatildeo possibilita aos atores a resoluccedilatildeo de problemas que representariam uma carga excessiva para um ator isolado uacutenico

Segundo Kissler e Heidemann (2006) existem uma seacuterie de vantagens que a coadjuvaccedilatildeo proporciona tais como reduccedilatildeo de risco diminuiccedilatildeo de custos compartilhamento de teacutecnicas e informaccedilotildees e ampliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos prestados Eacute possiacutevel destacar tambeacutem as possiacuteveis dificuldades encontradas nas redes de cooperaccedilatildeo satildeo elas a baixa confianccedila entre os ato-res os interesses contraacuterios a dificuldade de interaccedilatildeo entre os envolvidos e a assimetria de informaccedilatildeo

As redes segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) satildeo um meca-nismo que permite ampliar e aperfeiccediloar as relaccedilotildees e a governanccedila puacuteblica A governanccedila na administraccedilatildeo puacuteblica pode ser entendida como um modelo horizontal de relaccedilotildees entre atores das esferas puacuteblicas e privadas no processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003) Realizar o mapeamento dessas redes proporciona maior compreensatildeo da sua dinacircmica bem como dos recursos e estrateacutegias para cooperaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

Assim apresenta-se neste estudo uma rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Ho-rizonte (FMC) o Instituto TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) A rede objetiva implantar o mapeamento cul-tural da cidade e consiste na construccedilatildeo de um mapa georreferen-ciado que conteacutem informaccedilotildees sobre artistas eventos e espaccedilos culturais tais informaccedilotildees satildeo encontradas no site da FMC

O mapa cultural de Belo Horizonte encontrado no site Mapa Cultural BH (PMBH 2017) eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacute-blicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos O software livre permite tambeacutem alimentar informaccedilotildees sobre agendas espaccedilos eventos e projetos culturais

Diante da importacircncia das redes institucionais e da gover-nanccedila puacuteblica para o bem-estar da sociedade este estudo busca responder agrave seguinte questatildeo quais benefiacutecios e obstaacuteculos satildeo observados na rede de cooperaccedilatildeo entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte o Instituto Tim e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural ao implementar o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees em teias eacute um tema pouco estuda-do e segundo Kissler e Heideman (2006) as avaliaccedilotildees cientiacuteficas soacutelidas sobre resultados da governanccedila puacuteblica satildeo raras Nesse liame o estudo pretende contribuir para os estudos do campo das redes organizacionais puacuteblica discutindo trecircs objetivos especiacutefi-cos 1) os benefiacutecios 2) as dificuldades e 3) os resultados da rede organizacional pesquisada Para alcanccedilar os objetivos propostos adotou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) para o tratamento do questionaacuterio aberto respondido pelos servidores da FMC

O artigo estaacute dividido aleacutem desta introduccedilatildeo em cinco se-ccedilotildees A primeira parte discute governanccedila puacuteblica A segunda apresenta a discussatildeo sobre redes interorganizacionais A terceira parte conteacutem a descriccedilatildeo metodoloacutegica seguida da apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados da rede pesquisada Por fim satildeo apre-sentadas as conclusotildees finais

2 Governanccedila puacuteblicaA Administraccedilatildeo Puacuteblica Gerencial (APG) ocasionou novos paradig-mas para a gestatildeo puacuteblica e consequentemente uma nova pers-pectiva na implementaccedilatildeo de ferramentas gerenciais ateacute entatildeo utilizadas apenas na esfera privada (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Um conceito-chave para APG eacute a governanccedila O conceito de governanccedila eacute usado em diversos campos de saberes e de diferen-tes formas Segundo Sechi (2009 p 357) ldquoa definiccedilatildeo de governan-ccedila gera ambiguidades e [] as principais aacutereas do conhecimento

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

que se apropriou [sic] do termo foram as relaccedilotildees internacionais teorias do desenvolvimento a administraccedilatildeo privada a adminis-traccedilatildeo puacuteblica e a ciecircncia poliacuteticardquo

Apesar de Kissler e Heidemann (2006) considerarem o conceito de governanccedila como sociologicamente amorfo e de existirem diferentes formas para se entender e discutir a temaacutetica neste estudo governanccedila seraacute entendida como

Uma nova geraccedilatildeo de reformas administrativas e de Estado que tecircm

como objeto a accedilatildeo conjunta levada a efeito de forma eficaz transpa-

rente e compartilhada pelo Estado pelas empresas e pela sociedade

civil visando uma soluccedilatildeo inovadora dos problemas sociais e criando

possibilidade e chances de um desenvolvimento futuro e sustentaacutevel

para todos os participantes (LOumlFFLER 2001 p 202)

Segundo Peter e Waterman (1982) A governanccedila puacuteblica po-deria ser entendida a partir de trecircs perspectivas os mecanismos de hierarquia do governo os mecanismos de autorregulaccedilatildeo do mercado e os mecanismos de cooperaccedilatildeo entre as comunidades

Partindo do eixo dos mecanismos horizontais de cooperaccedilatildeo Filho Cruz (2006) chama atenccedilatildeo para migraccedilatildeo de algumas funccedilotildees do Estado para o setor privado o setor social a cooperativa e a socie-dade civil como uma mudanccedila significativa e recente Nesse sentido Kissler e Heideman (2006) sugerem a ideia de uma transiccedilatildeo de um Estado hieraacuterquico e pouco permeaacutevel para um Estado cooperativo que atua em conjunto com a sociedade e com as organizaccedilotildees pri-vadas Em decorrecircncia disso o maior entrelaccedilamento entre Estado mercado e sociedade civil tem caracterizado as uacuteltimas deacutecadas

Nessa perspectiva de governanccedila as redes de cooperaccedilatildeo sur-gem como um elemento inovador e central para os atores Sendo as redes um emaranhado de relaccedilotildees colaborativas a governanccedila e as redes estatildeo entrelaccediladas em sua funccedilatildeo de ser

Apesar de inicialmente pensada para o setor privado a go-vernanccedila e os modelos horizontais de relaccedilatildeo entre atores tecircm ganhado espaccedilo no Estado e em organizaccedilotildees puacuteblicas Nesse sentido segundo Kissler e Heidemann (2006) o Estado pode trans-ferir accedilotildees para o setor privado ou agir em parcerias com agentes sociais Essa accedilatildeo conjunta pode ser entendida como a expansatildeo de um Estado coprodutor do bem puacuteblico que busca apoio nas parcerias para desempenhar sua funccedilatildeo Entre os diversos me-canismos de que o Estado dispotildee para expandir e aperfeiccediloar a governanccedila puacuteblica as redes ocupam uma posiccedilatildeo central

Essa expansatildeo do Estado pode se dar pelas redes de poliacuteticas puacuteblicas (policy networks) como eacute o caso neste estudo e ser uma forma inovadora de interaccedilatildeo entre atores estatais da sociedade civil e do mercado (BOumlRZEL 1998)

3 Redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblicaAs redes tecircm sido um dos mecanismos mais utilizados e trabalha-dos pelo Estado para o aprofundamento da governanccedila puacuteblica por proporcionar uma visatildeo ampla dos atores e sua atuaccedilatildeo no ambiente Na administraccedilatildeo puacuteblica apresentam vaacuterias possi-bilidades de serem pensadas puacuteblico-puacuteblico puacuteblico-privado puacuteblico-sociedade civil e puacuteblico-privado-sociedade civil todas elas apresentando relaccedilotildees menos hierarquizadas e melhorias para a governanccedila puacuteblica (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Para Nohria e Eccles (1992) as redes entre as organizaccedilotildees tecircm como objetivos a interaccedilatildeo o relacionamento a ajuda muacute-tua o compartilhamento a integraccedilatildeo e complementaridade entre atores sociais Segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) a rede interorganizacional eacute uma teia social com caraacuteter teacutecnico e operacional com pouca hierarquia e grande interatividade entre os atores que a compotildee Tal estrutura proporciona ligaccedilotildees entre atores externos agrave organizaccedilatildeo

Nota-se que de maneira ampla os diversos conceitos de redes compartilham alguns elementos em comuns Bourguignon (2001) vem postular que satildeo eles a ideia de articulaccedilatildeo conexatildeo accedilotildees complementares relaccedilotildees horizontais entre parceiros e interdependecircncia de serviccedilos

Uma das principais caracteriacutesticas das redes satildeo suas relaccedilotildees intermodais sendo os noacutes com diferentes dimensotildees segundo Castells (2001) noacutes que apresentam um nuacutemero diferenciado de ligaccedilotildees com os demais noacutes da rede Esses noacutes fazem parte de uma rede na qual os atores estatildeo no mesmo patamar hieraacuterquico e colaboram entre si As redes sociais satildeo estruturas abertas ca-pazes de expandir ilimitadamente integrando novos noacutes desde que consigam comunicar-se dentro da rede (CASTELLS 1999) As redes de cooperaccedilatildeo tecircm como um de seus objetivos reunir atributos que permitam uma adequaccedilatildeo ao ambiente competitivo em uma estrutura dinacircmica sustentada por accedilotildees uniformes po-reacutem descentralizadas e que evite que os atores envolvidos percam a flexibilidade (THOMPSON 2003)

A confianccedila segundo Kissler e Heidemann (2006) eacute um ponto essencial para o estabelecimento de uma rede e tam-beacutem eacute um fator-chave para a cooperaccedilatildeo e a troca entre as organizaccedilotildees (RING VAN DE VEN 1994 BECERRA LUNNAN HUEMER 2008) A presenccedila ou a ausecircncia da confianccedila de-terminaraacute os fluxos de informaccedilotildees que satildeo essenciais para a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave cooperaccedilatildeo e ateacute mes-mo na disposiccedilatildeo dos atores em trabalhar em conjunto Dito isso percebe-se tambeacutem que a cooperaccedilatildeo e a governanccedila de uma rede natildeo pode ser imposta A governanccedila e a cooperaccedilatildeo entre os agentes satildeo um processo de troca que oscila entre o topo e a base (KISLLER HEIDEMANN 2006)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As redes com mais tradiccedilatildeo na iniciativa privada tecircm ganhado espaccedilo no governo e podem ser entendidas como um sistema in-terligado formado por uma teia complexa de relaccedilotildees institucionais para soluccedilatildeo de problemas cotidianos e atiacutepicos para Mintzberg (1998) O autor complementa afirmando que as redes de coope-raccedilatildeo no setor puacuteblico satildeo ligadas por canais informacionais de comunicaccedilatildeo cujo lema seria conectar comunicar e colaborar

Nesse contexto Castells (2001) afirma ter surgido uma nova economia de escala global e com novas estrateacutegias e aborda-gens Esse novo contexto implicaria o ldquoEstado-rederdquo Esse concei-to ressignifica o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e traz a ideia de um Estado que compartilha autoridade que trabalha em conjunto e em rede com outros atores Esse novo termo implica novas parcerias e estruturas organizacionais cooperaccedilatildeo em rede

4 MetodologiaPor meio do levantamento de bibliografias pertinentes foi construiacutedo um arcabouccedilo teoacuterico com o intuito de situar as produccedilotildees relativas agrave temaacutetica trabalhada A partir do referencial teoacuterico os dados foram produzidos a partir da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios abertos

Os questionaacuterios abertos foram aplicados no Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DPAI) da FMC sendo essa repar-ticcedilatildeo responsaacutevel pela alimentaccedilatildeo e cadastro de informaccedilotildees do site do mapa cultural de Belo Horizonte Trata-se portanto de uma pesquisa qualitativa o que segundo Creswell (2007) foca-se nas percepccedilotildees e experiecircncias dos participantes e sen-do os dados interpretados em relaccedilatildeo a um uacutenico caso e natildeo agraves suas generalizaccedilotildees

No total participaram do estudo trecircs servidoras da FMC sendo a amostra natildeo probabiliacutestica As servidoras foram escolhidas conforme a conveniecircncia e interesse deste estudo considerando a sua partici-paccedilatildeo na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a FMC o Instituto TIM e o COMUC Visando agrave natildeo identificaccedilatildeo das participantes essas foram chamados neste trabalho de FMC1 FMC2 FMC3 Todos os questionaacuterios foram respondidos no mecircs de abril de 2017

Conforme sugerido por Bardin (2009) a primeira leitura das respostas fez com que os pesquisadores levantassem algumas hipoacuteteses Em seguida as respostas foram organizadas de acor-do com a aproximaccedilatildeo dos elementos para posteriormente ser atribuiacutedo a esses o nome de categoria A categorizaccedilatildeo possibilita o ordenamento de significados que representam um entendimento mais profundo em termos da interpretaccedilatildeo dos sujeitos estudados

As categorias natildeo foram fixadas no iniacutecio da pesquisa e sim definidas a partir da interpretaccedilatildeo do questionaacuterio aberto Satildeo

elas a falta de investimentos adequado na rede a limitaccedilatildeo do software as dificuldades com a mudanccedila do governo a pouca participaccedilatildeo do COMUC e a parceria bem-sucedida

5 A rede e o mapa culturalA Fundaccedilatildeo de Cultura de Belo Horizonte (FMC) entidade inte-grante da administraccedilatildeo indireta do Municiacutepio de Belo Horizonte tem por funccedilatildeo administrar poliacuteticas e questotildees voltadas agrave aacuterea de cultura do municiacutepio Fundada em 2005 a FMC realiza inter-venccedilotildees por meio de festivais encontros rodas de conversa e muitos outros atrativos espalhados na cidade

A Telecom Itaacutelia Mobile (TIM) eacute uma empresa italiana de telefonia e presta serviccedilos no Brasil desde 1988 Atualmente possui uma fatia consideraacutevel do mercado de comunicaccedilatildeo no paiacutes A empresa jaacute rea-lizou em parceria com o setor puacuteblico a instalaccedilatildeo de outros mapas culturais como por exemplo o de Blumenau e o de Joatildeo Pessoa

O Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) composto por quinze representantes do poder puacuteblico municipal e quinze representantes da sociedade civil (sendo seis do setor cultural e nove representantes das regionais administrativas da cidade) eacute a arena de representaccedilatildeo da sociedade civil do municiacutepio de Belo Horizonte em relaccedilatildeo agraves decisotildees das poliacuteticas culturais

O mapa cultural da cidade Belo Horizonte segundo o site da FMC eacute uma plataforma de software livre gratuita e colaborativa da FMC com diversas informaccedilotildees sobre o cenaacuterio cultural da cidade O mapa estaacute composto de informaccedilotildees tais como espaccedilos culturais programaccedilotildees oficiais projetos e editais e por agentes culturais cadastrados

A construccedilatildeo da rede interorganizacional permitiu a criaccedilatildeo im-plementaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do projeto do mapa cultural O site foi inaugurado em junho de 2016 e vem sendo alvo de criacuteticas e elogios

6 Anaacutelises e resultados da pesquisaConsiderando-se a discussatildeo apresentada acima a pesquisa sobre redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblica identificou ao longo do seu desenvolvimento que as servidoras pesquisadas enxergam a rede de forma positiva A avaliaccedilatildeo positiva pode ser entendida como o atendimento agraves necessidades da FMC que a rede pode proporcio-nar Assim nesta seccedilatildeo mostra-se a fala de trecircs servidoras da FMC

A falta de investimento adequado na redePara as servidoras da FMC um dos problemas enfrentados pela rede foi a escassa equipe para trabalhar no projeto Isso limitou o crescimento e aperfeiccediloamento do projeto e de sua capaci-dade de impulsionar a governanccedila da rede conforme podemos observar na fala abaixo

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A falta de equipe na FMC para garantir ecircxito na gestatildeo do projeto o

prejudica significativamente (FMC 2)

Em relaccedilatildeo agrave falta de servidores uma entrevistada apontou qual seria a especialidade mais carente para o melhor desenvol-vimento da rede conforme apresentado em seguida

Natildeo existe capacidade tecnoloacutegica e de servidores de TI na FMC para

dar manutenccedilatildeo no site em tempo haacutebil (FMC 1)

Aleacutem dessa especialidade a FMC lida com um quadro que natildeo atende agraves necessidades do serviccedilo puacuteblico e tampouco do proacuteprio oacutergatildeo conforme as entrevistadas explicam

A Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura apresenta atualmente um quadro

defasado de servidores puacuteblicos As atividades do projeto Mapa Cultural

BH hoje estatildeo concentradas em um nuacutecleo com servidores da Divisatildeo

de Tecnologia e do Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Nesse

nuacutecleo de trabalho estatildeo diretamente envolvidos um funcionaacuterio de

cada setor e um estagiaacuterio Conforme a demanda de trabalho e neces-

sidade o nuacutecleo eacute acrescido de um funcionaacuterio para apoio (FMC 2)

Apesar disso tudo ocorreu um esforccedilo da FMC para capacitar as pessoas envolvidas no projeto

A FMC estaacute trabalhando na fase de implantaccedilatildeo das accedilotildees e etapas

de uso da plataforma Os gestores e servidores que utilizaratildeo a plata-

forma para registro das accedilotildees projetos e poliacuteticas culturais jaacute foram

capacitados (FMC 3)

Por outro lado os recursos escassos satildeo tambeacutem entendidos como barreiras para o desenvolvimento do projeto

O projeto natildeo eacute entendido como estrateacutegico pela instituiccedilatildeo e com

isso natildeo possui recursos ndash humanos TI e financeiros ndash suficientes

para que tenha ecircxito e alcance seus objetivos (FMC 2)

A limitaccedilatildeo do softwareAcerca dos objetivos da rede segundo as entrevistadas eacute unacircnime a visatildeo de que a criaccedilatildeo do mapa se propotildee a gerar um banco de da-dos culturais que permitiraacute a melhor gestatildeo das poliacuteticas culturais

A implantaccedilatildeo da plataforma dos mapas culturais visando agrave sua uti-

lizaccedilatildeo para mapear identificar e registrar informaccedilotildees sobre a aacuterea

cultural de Belo Horizonte possibilitando a formaccedilatildeo de um banco

de dados sobre a cadeia produtiva da cultura na cidade ndash agentes es-

paccedilos instituiccedilotildees projetos eventos editais [] A partir desse banco

de dados a FMC poderaacute desenvolver estudos que visam a um melhor

planejamento para a gestatildeo da cultura em BH (FMC 2)

Em relaccedilatildeo ao mapa cultural as entrevistadas disseram que esse apresentou enormes avanccedilos

Podemos considerar que a disponibilizaccedilatildeo da plataforma jaacute seja um gran-

de avanccedilo pois a FMC natildeo teria condiccedilotildees e nem conseguiria desenvolver

um software com tantos recursos num prazo tatildeo curto (FMC 2)

Entretanto a limitaccedilatildeo do software foi uma das grandes dificuldades encontrada pelas servidoras da FMC Havia nesse sentido um interesse conflitante entre a necessidade da FMC e a perspectiva de trabalho da TIM Eacute importante ressaltar que as presenccedilas de interesses conflitantes podem ser prejudiciais para a governanccedila visto que a interaccedilatildeo entre os atores pode se dar de maneira natildeo harmoniosa

Como a ferramenta natildeo eacute da prefeitura nem foi desenvolvida por ela natildeo

temos total controle sobre ela [] A FMC gostaria de ter uma ferramenta

mais personalizada e isto era algo que a TIM natildeo podia oferecer (FMC 1)

E ateacute mesmo quanto ao sistema desenvolvido pela TIM que ainda

natildeo nos permite fazer alteraccedilotildees e adaptaacute-lo agrave nossa realidade bem

como gerar relatoacuterios especiacuteficos (FMC 3)

A criacutetica dos entrevistados tambeacutem se relaciona ao papel que o software vem desenvolvendo Para que o mapa cultu-ral possa ser utilizado de forma efetiva e natildeo servir apenas como um banco de dados algumas mudanccedilas precisam ser implementadas

O Mapa Cultural eacute uma boa ferramenta de gestatildeo embora limitada

Eacute preciso fazer a gestatildeo do Mapa Cultural BH e da informaccedilatildeo que

seraacute registrada senatildeo teremos apenas um banco de dados (FMC 3)

As dificuldades com a mudanccedila do governoUma das dificuldades apresentadas pelas entrevistadas foi em relaccedilatildeo agrave mudanccedila do governo municipal A troca de governo trouxe insegu-ranccedila e incertezas em relaccedilatildeo ao futuro do projeto do mapa cultural

A instabilidade poliacutetica seja em niacutevel federal estadual ou municipal

reflete diretamente no desenvolvimento do projeto (FMC 2)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As mudanccedilas de gestatildeo que normalmente acontecem no serviccedilo

puacuteblico atrasaram as etapas [] (FMC 3)

Nessa indagaccedilatildeo uma das entrevistadas revelou algumas ques-totildees contingenciais e dificultadoras para alcanccedilar os objetivos

O projeto de Mapeamento Cultural foi lanccedilado em junho de 2016

Por ser um ano eleitoral o projeto ficou prejudicado tendo em vista

as dificuldades enfrentadas devido agrave lei eleitoral que restringe sobre-

maneira as campanhas publicitaacuterias e de divulgaccedilatildeo Em 2017 ano

em que o novo prefeito assume a prefeitura e haacute uma instabilidade

no niacutevel de definiccedilatildeo de gestores e ainda a possibilidade de reforma

administrativa que pode atingir diretamente a Fundaccedilatildeo ainda natildeo

conseguimos fazer com que as accedilotildees de divulgaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

fossem implementadas ateacute o presente momento (FMC 2)

Como dito pelas entrevistadas eacute importante ressaltar que ins-tabilidades poliacuteticas vivenciadas na prefeitura de Belo Horizonte e cortes no orccedilamento da FMC satildeo elementos que dificultaram a divulgaccedilatildeo do projeto Devido a isso o mapa natildeo alcanccedilou boa parcela da populaccedilatildeo da cidade e ainda eacute pouco conhecido Tal fato pode causar baixa adesatildeo dos serviccedilos do mapa por parte dos profissionais da cultura e da sociedade

A pouca participaccedilatildeo do COMUCEm relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do COMUC no processo de pensar e implementar o mapa cultural as respostas obtidas revelam que a participaccedilatildeo do COMUC foi extremamente incipiente

Assim natildeo houve participaccedilatildeo dos membros do COMUC na constru-

ccedilatildeo do mapa cultural Apoacutes a assinatura do termo a plataforma foi

apresentada em reuniatildeo ordinaacuteria do COMUC (FMC 3)

A baixa participaccedilatildeo do COMUC se apresenta como um ponto problemaacutetico da rede visto que um dos objetivos dos conselhos deliberativos eacute possibilitar agrave sociedade civil negociar com o poder puacuteblico A baixa participaccedilatildeo ou envolvimento de um ator numa rede de cooperaccedilatildeo impacta diretamente na qualidade da gover-nanccedila e na sauacutede das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo ali estabelecidas Eacute possiacutevel encontrar uma certa contradiccedilatildeo na fala das entrevis-tadas que afirmam que o mapa cultural atende agraves demandas da sociedade civil tal como nesta fala

Haacute possibilidade de reunir informaccedilotildees que poderatildeo subsidiar um

melhor planejamento e uma gestatildeo mais democraacutetica a partir de

informaccedilotildees extraiacutedas da base de dados (FMC 2)

Todavia uma gestatildeo mais democraacutetica exigiria maior par-ticipaccedilatildeo do COMUC nas accedilotildees da poliacutetica cultural visto que o COMUC eacute o espaccedilo de deliberaccedilatildeo que as sociedades civis tecircm para dar voz agraves suas demandas Dessa forma eacute possiacutevel perceber que essa rede de cooperaccedilatildeo apresenta disparidade de poder e de espaccedilo entre os atores envolvidos

A parceria bem-sucedidaApesar das criacuteticas apontadas pelas participantes da pesquisa elas defendem a rede criada e tambeacutem acreditam que projetos como o estabelecido com a TIM devem ser ampliados O que mostra que as redes interorganizacionais no poder puacuteblico apesar de desafiadoras satildeo beneacuteficas e vistas positivamente pelo corpo burocraacutetico da maacutequina puacuteblica

Ao serem questionadas sobre os pontos positivos da rede as en-trevistadas demonstram que a principal contribuiccedilatildeo eacute o compartilha-mento de recursos que possibilitaram a criaccedilatildeo do mapa cultural

A parceria com a TIM nos permitiu avanccedilar quanto ao projeto mape-

amento cultural de BH demanda antiga da gestatildeo da cultura e da

sociedade civil (FMC 3)

No intuito de captar informaccedilotildees sobre as possiacuteveis dificulda-des encontradas na rede foram feitas perguntas nesse sentido As informaccedilotildees colhidas revelam que natildeo houve dificuldades

A TIM se mostrou (e se mostra) ateacute o presente momento uma grande par-

ceira Natildeo haacute dificuldades na conduccedilatildeo das atividades acordadas (FMC 2)

Como teacutecnica da FMC natildeo tenho informaccedilotildees sobre interesses

divergentes (FMC 3)

Outras perguntas feitas buscavam que as entrevistadas fa-lassem sobre o alcance ou natildeo dos objetivos (jaacute discutidos no comeccedilo da entrevista) e que fizessem uma avaliaccedilatildeo geral da rede na implementaccedilatildeo do mapa cultural As respostas indicam satis-faccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resultados jaacute apresentados

A cooperaccedilatildeo entre a FMC e a Tim eacute muito positiva uma vez que haacute

comprometimento de ambas as partes em fazer com que a platafor-

ma fique cada vez melhor e estaacutevel por meio do trabalho dos seus

desenvolvedores ndash colaboradores ndash gestores (FMC 2)

Penso que para a FMC a parceria foi positiva pois nos possibilitou avanccedilos

na implementaccedilatildeo de um projeto que era demanda antiga (FMC 3)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Por fim O uacuteltimo ponto questionou se as entrevistadas julgam interessante a FMC estabelecer outras redes de cooperaccedilatildeo As respostas satildeo unanimemente positivas

A participaccedilatildeo da FMC em redes de cooperaccedilatildeo eacute essencial para que

a equipe se capacite e possa aprimorar os processos da instituiccedilatildeo

e trazer novas formas de desenvolvimento do trabalho otimizando

recursos e modernizando os processos por meio da colaboraccedilatildeo da

troca de informaccedilotildees e de experiecircncias (FMC 2)

Penso que as parcerias realizadas que vatildeo ao encontro dos objetivos

de ambos os envolvidos satildeo sempre bem-vindas No caso do setor

puacuteblico principalmente avalio que se deve ter um cuidado extra

quando da celebraccedilatildeo da parceria visando a garantir que a instituiccedilatildeo

possa dar continuidade ao projeto apoacutes fim da parceria (FMC 3)

Cabe apenas agrave FMC tomar os cuidados necessaacuterios para que os novos projetos desenvolvidos consigam ser bem-sucedidos conforme explicitado na fala seguinte

[] entatildeo para que certos projetos mais ambiciosos sejam implemen-

tados a realizaccedilatildeo de parcerias eacute indispensaacutevel No entanto isso im-

plica uma perda de controle da FMC sobre alguns fatores envolvidos

no projeto portanto esses fatores devem ser bem avaliados (FMC 1)

Diante das falas expostas assevera-se que o estabelecimento de redes interorganizacionais no setor puacuteblico pode trazer resultados satisfatoacuterios e aperfeiccediloar trabalhados No caso da FMC e da Tim o corpo burocraacutetico da FMC percebeu a experiecircncia como positiva

7 Consideraccedilotildees Este estudo se propocircs a pesquisar a rede criada pela FMC TIM e COMUC com o objetivo da construccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte Foram aplicados questionaacuterios abertos para levantar as percepccedilotildees sobre os avanccedilos e barreiras encontradas na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida

Constatou-se que o trabalho em conjunto possibilitou a implementaccedilatildeo do mapa cultural A atuaccedilatildeo conjunta trouxe benefiacutecios tais como maior celeridade compartilhamento de conhecimentos teacutecnicos e tecnoloacutegicos mais competecircncia e efetividade para os processos utilizados na criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte

Uma breve anaacutelise desses dados mostra que a rede apresen-ta pontos interessantes e que permitem uma melhor forma de trabalhar Entretanto natildeo estaacute livre de problemas comuns agrave ad-ministraccedilatildeo puacuteblica como por exemplo ameaccedilas poliacuteticas matildeo

de obra pouco qualificada disparidade entre as realidades do setor puacuteblico e do setor privado quadro defasado de servidores puacuteblicos dificuldades de organizaccedilatildeo e separaccedilatildeo de tarefas e responsabilidade problemas na comunicaccedilatildeo e ateacute mesmo de interesses em relaccedilatildeo ao potencial do mapa cultural

A despeito de algumas dificuldades encontradas pelos servi-dores bem de como problemas contingenciais a rede de coope-raccedilatildeo tem alcanccedilado seu grande objetivo a criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo de um mapa cultural com dados sobre eventos apresentaccedilotildees artiacutesticas e espaccedilos culturais

Entretanto eacute interessante problematizar as respostas visto que as entrevistas ocorreram num momento de transiccedilatildeo da gestatildeo na FMC e num cenaacuterio em que o atual prefeito apresenta propostas de extinccedilatildeo eou diminuiccedilatildeo da FMC Nesse sentido pode-se le-vantar a hipoacutetese de que as respostas possam ter ocultado possiacute-veis problemas na execuccedilatildeo do trabalho na perspectiva em rede

Uma limitaccedilatildeo que o estudo apresenta eacute que foram realizadas entrevistas somente com servidores da FMC impossibilitando o conhecimento e a versatildeo de outros atores Assim fica como sugestatildeo para estudos futuros a anaacutelise da percepccedilatildeo dos outros atores envolvidos na rede em questatildeo Entretanto esta pesquisa buscou contribuir para o campo da Administraccedilatildeo a partir de um estudo de caso apresentando as percepccedilotildees de servidores puacuteblicos em relaccedilatildeo agrave rede estabelecida

Com base no levantamento empiacuterico eacute possiacutevel elencar sugestotildees para uma possiacutevel melhoria da rede estabelecida 1) efetivar uma maior participaccedilatildeo do COMUC nos processos decisoacuterios 2) criar mecanismos de maior interaccedilatildeo entre o corpo de funcionaacuterios da FMC e da Tim 3) tornar os meios de comunicaccedilatildeo entre as equipes mais acessiacuteveis e claros com a utilizaccedilatildeo de uma linguagem simples para todos

Por fim conclui-se que as redes de cooperaccedilatildeo no setor puacuteblico contribuem para a melhoria dos serviccedilos prestados e da governanccedila puacuteblica A perspectiva do trabalho em conjunto permite aos atores o compartilhamento de conhecimentos teacutecnicas e equipamentos que conferem ao serviccedilo maior qualidade e celeridade

R e f e r ecirc n c i a s

BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Lisboa Portugal Ediccedilotildees 70 2009

BECERRA Manuel LUNNAN Randi HUEMER Lars Trustworthiness risk

and the transfer of tacit and explicit knowledge between alliance

partners Journal of Management Studies v 45 n 4 p 691-713 2008

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

BOumlRZEL Tanja Le reti di attori pubblici e privati nella regolazione europea

Stato e Mercato v 54 n 3 p 389-432 1998

BOURGUIGNON Jussara Ayres Concepccedilatildeo de rede intersetorial 2001 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwuepgbrnupesintersetorhtmgt Acesso

em 25 jul 2016

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Paulo Paz e Terra 1999

______ Para o Estado-rede globalizaccedilatildeo econocircmica e instituiccedilotildees poliacuteti-

cas na era da informaccedilatildeo In BRESSER-PEREIRA Luiacutes Carlos WILHEIM

Jorge SOLA Lourdes (orgs) Sociedade e Estado em transformaccedilatildeo

Satildeo Paulo Editora UNESP 2001 p 147- 171

CKAGNAZAROFF Ivan Beck SOUZA Maria Thereza Costa Guimaratildees Re-

laccedilatildeo entre ONG e Estado um estudo de parceria Revista Gestatildeo amp

Tecnologia Pedro Leopoldo v1 n2 p59-73 2003

CRESWELL Jhon Andrew Jackson Projeto de pesquisa meacutetodo qualitativo

quantitativo e misto Porto Alegre Artmed 2007

FILHO CRUZ Paulo Roberto Arauacutejo Governanccedila e gestatildeo de redes na

esfera puacuteblica municipal o caso da rede de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao

adolescente em situaccedilatildeo de risco para a violecircncia em Curitiba 2006

162f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Administraccedilatildeo) Pontifiacutecia Universi-

dade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2006

JULIANI Douglas Inovaccedilatildeo social uma revisatildeo sistemaacutetica de literatura

In X Congresso Nacional de Excelecircncia em Gestatildeo 2014

KISSLER Leo HEIDEMANN Francisco Gabriel Governanccedila puacuteblica novo

modelo regulatoacuterio para as relaccedilotildees entre Estado mercado e socie-

dade Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica Rio de Janeiro v 40 n 3 p

479-499 2006

LEMOS Cristina Inovaccedilatildeo na era do conhecimento In LASTRES Helena

M M ALBAGLI Sarita (Org) Informaccedilatildeo e globalizaccedilatildeo na era do co-

nhecimento Rio de Janeiro Campus 1999 cap 5 p 122-144

LOumlFFLER Elke Governancendashdie neue Generation von Staats-und Verwal-

tungsmodernisierung Verwaltung und Management p 212-215 2001

MINTZBERG Henry Administrando governos governando administra-

ccedilotildees Revista do Serviccedilo Puacuteblico Brasiacutelia v 49 n 4 p 148-164 1998

________ Criando organizaccedilotildees eficazes estruturas em cinco configura-

ccedilotildees 2 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MURRAY Robin CAULIER-GRICE Julie MULGAN Geoff The open book of

social innovation London National endowment for science technol-

ogy and the art 2010

NOHRIA N ECCLES R Networks and organizations Boston Harvard Busi-

ness School Press 1992

PETER Tom J WATERMAN Robert H In search of excellence lessons from

Americarsquos best-run companies New York Harper amp Row 1982

PMBH - PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Mapa cultural de

Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpmapaculturalbhpbhgovbrgt

Acesso em 18 abr 2017

RING Peter Smith VAN DE VEN Andrew H Developmental processes of

cooperative interorganizational relationships Academy of manage-

ment review v 19 n 1 p 90-118 1994

SECCHI L Modelos organizacionais e reformas da administraccedilatildeo puacuteblica

Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 43 n 2 p 347-369 2009

SEDAI - SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO E DOS ASSUNTOS INTER-

NACIONAIS Governo do Estado do Rio Grande do Sul Manual do

consultor do programa redes de cooperaccedilatildeo 2004

SILVA Flavia de Arauacutejo MARTINS Tulio Cesar Pereira Machado CKAGNA-

ZAROFF Ivan Beck Redes organizacionais no contexto da governanccedila

puacuteblica a experiecircncia dos Tribunais de Conta do Brasil com o grupo

de planejamento organizacional Revista do Serviccedilo Puacuteblico v 64 p

249-271 2013

THOMPSON G F Between hierarchies and markets the logics and limits of

network forms of organization Oxford Oxford University Press 2003

TORRES Norberto Antocircnio Avaliaccedilatildeo de websites e indicadores de e-gov em

municiacutepios brasileiros relatoacuterio final 2006 Disponiacutevel em lthttpwww

sumaqorgegovimgpublicaciones5pdf gt Acesso em 21 jul 2016

Paacutegina 8 de 8

Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network ProcessEvaluacioacuten de criteacuterios para la instalacioacuten de polos de apoyo presencial para cursos de nesentildeanza a distancia utilizando el Analytic Network Process

Fabriacutecio Martins Carvalho da Silva Cecilia Toledo Hernaacutendez e Julio Ceacutesar Andrade de Abreu

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 11

R e s u m o

A escolha do local para a instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial tem um papel fundamental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia pois eacute a referecircncia

fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias tais como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio para a tomada de decisatildeo para escolha de possiacuteveis municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ O modelo proposto eacute embasado em teacutecnicas de apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo em que foi utilizado o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) e agrupa um conjunto de criteacuterios que possibilitam ao tomador de decisatildeo conhecer informaccedilotildees necessaacuterias sobre a viabilidade de determinado municiacutepio sediar um polo de apoio presencial do CEDERJ O modelo desenvolvido foi aplicado em um cenaacuterio composto por sete municiacutepios da regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba onde natildeo existem polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ Os resultados obtidos demonstraram a eficaacutecia do modelo na escolha do municiacutepio que apresenta a condiccedilatildeo mais favoraacutevel para implantaccedilatildeo do polo Entre as principais contribuiccedilotildees do estudo estaacute a possibilidade de aplicaccedilatildeo do modelo em outras regiotildees do paiacutes

R e s u m e n

La eleccioacuten del lugar para la instalacioacuten de un polo de apoyo presencial tiene un papel fundamental para el funcionamiento de los cursos de la modalidad de educacioacuten a distancia pues este es la referencia fiacutesica para que los alumnos puedan realizar actividades presenciales obligatorias tales como clases en el laboratorio evaluaciones y tutoriacutea presencial Este estudio ha tenido como objetivo desarrollar un modelo de apoyo a la toma de decisioacuten para elegir posibles municipios para instalacioacuten de polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ El modelo propuesto se basa en teacutecnicas de apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios donde se ha utilizado el meacutetodo Analytic Network Process (ANP) que agrupa un conjunto de criterios que posibilitan al tomador de decisioacuten conocer las informaciones necesarias sobre la viabilidad de un determinado municipio para albergar un polo de apoyo presencial del CEDERJ El modelo desarrollado ha sido aplicado en un escenario compuesto por siete municipios de la regioacuten del Valle Medio Paraiacuteba donde no existen polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ Los resultados obtenidos han demostrado la eficacia del modelo en la eleccioacuten del municipio que presenta la condicioacuten maacutes favorable para la implantacioacuten del polo Entre las principales contribuciones del estudio estaacute la posibilidad de aplicar el modelo en otras regiones del paiacutes

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chavePolos de apoio presencial Educaccedilatildeo a distacircncia Apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo Analytic Network Process

Palabras clavePolos de apoyo presencial Educacioacuten a distancia Apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios Analytic Network Process

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo Univer-sidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ (UFF PPGA)e-mail fabriciocarvalhoiduffbr

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutora em Engenharia Mecacircnica (UNESP)

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutor em Administraccedilatildeo (UFBA)

Como citar este artigoSILVA F M C HERNAacuteNDES C T ABREU J C A Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a insta-laccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network Process Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoA Educaccedilatildeo a Distacircncia (EaD) surge neste milecircnio como uma inovaccedilatildeo no processo de ensino e aprendizagem (WAQUIL et al 2009) Aliada ao progresso do desenvolvimento da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo a EaD estaacute emergindo como o para-digma da educaccedilatildeo moderna (SUN et al 2008) fortalecendo-se cada vez mais no cenaacuterio educacional nacional e internacional Conforme Gouvecirca e Oliveira (2006 apud ALVES 2011) a EaD estaacute presente em mais de oitenta paiacuteses nos cinco continentes em todos os niacuteveis de ensino em programas formais e natildeo formais atendendo a milhotildees de estudantes consolidando dessa forma a democratizaccedilatildeo de acesso agrave educaccedilatildeo

Esse crescimento pode ser confirmado atraveacutes do Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2016 resumo teacutecnico editado pelo Institu-to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) que mostra que o nuacutemero de matriacuteculas na EaD para os cursos de ensino superior no Brasil apresenta um aumento da ordem de 4037 no ano de 2015 com 1393752 matriacuteculas em relaccedilatildeo ao ano de 2011 com 992927 matriacuteculas Os cursos pre-senciais no mesmo periacuteodo tiveram um crescimento da ordem de 1543 com 6633545 de matriacuteculas no ano de 2015 e 5746762 matriacuteculas no ano de 2011

Segundo Weidle Kich e Pereira (2011) para permitir essa ex-pansatildeo dos cursos de EaD no paiacutes eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de polos de apoio presencial cujo local de instalaccedilatildeo tem um papel fun-damental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia levando a educaccedilatildeo a lugares carentes de ensino e proporcionando o desenvolvimento dessas regiotildees

O polo eacute a referecircncia fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial (CEDERJ 2017) Para o seu funcio-namento eacute necessaacuterio dispor de investimentos em infraestrutura contrataccedilatildeo de professores e teacutecnicos da compra de computado-res e da construccedilatildeo de laboratoacuterios (BRASIL 2013)

Uma pesquisa recente na literatura em algumas das mais importantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD Um deles realizado por Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) apli-cou o meacutetodo elementar multicriteacuterio Copeland em um cenaacuterio composto por dezesseis polos do Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro ndash CEDERJ para demonstrar a influecircncia dos polos nos municiacutepios onde estatildeo instalados Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma nova ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) para auxiliar no processo

de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD

Um novo modelo foi desenvolvido por Peixoto Filho (2016) fundamentado em teacutecnicas de Auxiacutelio Multicriteacuterio agrave Decisatildeo (AMD) e ofereceu suporte eficaz para a escolha de locais dire-cionados agrave abertura de um polo de apoio presencial para cursos a distacircncia Em outro estudo Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) propuseram um novo modelo baseado em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo aplicada a um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais utilizando o meacutetodo AHP para selecionar o local mais apropriado para abertura de polos de apoio presencial

Todavia natildeo foram encontrados estudos para escolha de municiacutepios no estado do Rio de Janeiro para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial do consoacutercio CEDERJ que utilizassem como ferramenta de apoio a tomada de decisatildeo o meacutetodo Analytic Ne-twork Process (ANP) nem que tratassem dos criteacuterios que foram abordados nesta pesquisa

Conveacutem ressaltar que o processo de tomada de decisatildeo en-volve quase sempre a escolha da melhor decisatildeo levando em conta muacuteltiplos criteacuterios fatores e objetivos (SHIMIZU 2010) dessa maneira a escolha do meacutetodo a ser aplicado daraacute maior credibili-dade ao tomador de decisatildeo O interesse em aplicar o meacutetodo ANP deve-se ao fato de ele ao contraacuterio do AHP avaliar se a estrutura de decisatildeo possui dependecircncia ou seja se existem fatores que interagem obtendo maior precisatildeo nos resultados (SAATY 2005)

Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio agrave tomada de decisatildeo para escolha de municiacutepios no Vale Meacutedio Paraiacuteba para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo supe-rior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ considerando-se que o modelo atual de implantaccedilatildeo de polos do CEDERJ natildeo foi suficientemente eficaz para evitar o fechamento do polo de Quatis O modelo pro-posto eacute apoiado em criteacuterios que garantem maior seguranccedila na escolha da localizaccedilatildeo dos polos tais como populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet nuacutemeros de escolas que oferecem o ensino meacutedio e proximidade a outro mu-niciacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ

A partir dessa introduccedilatildeo este estudo estaacute estruturado da seguinte forma a segunda seccedilatildeo apresenta a revisatildeo da literatu-ra acerca da educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil a criaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ a importacircncia do polo de apoio presencial nos cursos de EaD e alguns criteacuterios utilizados para instalaccedilatildeo de polos a terceira seccedilatildeo descreve os procedimentos metodoloacutegicos utilizados na elaboraccedilatildeo deste estudo a quarta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise descritiva dos resultados e discussatildeo a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais

Paacutegina 2 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

2 Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil breves consideraccedilotildeesA Educaccedilatildeo a distacircncia emerge no contexto das poliacuteticas puacuteblicas em educaccedilatildeo como possibilidade de ampliaccedilatildeo do quadro de matriacuteculas pela raacutepida expansatildeo de vagas no ensino superior natildeo exigindo grandes estruturas fiacutesicas para o processo de ensino e aprendizagem (ARRUDA ARRUDA 2015) posto que parte de tal processo eacute realizada pelo aluno em tempo e espaccedilo definidos por ele

A educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil torna-se efetivamente le-gitimada como uma modalidade educacional a partir da pu-blicaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e Bases Nacional Lei nordm 939496 nela a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo atividades educacionais em lugares e tempos diversos (BRASIL 1996)

O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) por meio do Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 considera educaccedilatildeo a distacircncia como

A modalidade educacional na qual a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos

processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilizaccedilatildeo de meios e

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com pessoal qualificado com

poliacuteticas de acesso com acompanhamento e avaliaccedilatildeo compatiacuteveis entre

outros e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais

da educaccedilatildeo que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL 2017)

O Decreto nordm 905717 regulamentou o artigo 80 da Lei nordm 939496 possibilitando por meio da EaD a autoaprendizagem com a mediaccedilatildeo de recursos didaacuteticos sistematicamente organizados Isso caracteriza a EaD de maneira teacutecnica privilegiando a mediaccedilatildeo pelos suportes de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo sem considerar o papel do professor nesse processo (ARRUDA ARRUDA 2015)

Dessa forma a EaD ocorre a partir da interaccedilatildeo entre o aluno e o professor em ambientes fiacutesicos diferentes mediada pela utili-zaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que permite ao aluno ser o autor do seu processo de aprendizagem no seu tempo e no local em que seja possiacutevel essa acessibilidade

Para Alves (2011) de todas as modalidades de educaccedilatildeo a EaD surge como a mais democraacutetica por apresentar ferramentas tecnoloacutegicas que permitem ultrapassar todos os obstaacuteculos na busca pelo conhecimento distacircncia tempo e espaccedilo

Os dados do uacuteltimo censo da educaccedilatildeo divulgado em no-vembro de 2016 demonstram que o nuacutemero de matriacuteculas na educaccedilatildeo superior presencial que em 2001 era de 3030754 passou para 6633545 em 2015 isto eacute um aumento de aproxi-madamente 11887 Enquanto isso na educaccedilatildeo superior a dis-

tacircncia o nuacutemero de matriacuteculas que no ano de 2001 era de 5359 passou para 1393752 em 2015 o que representa um aumento de 2590769 (INEP 2010 2016) Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que a EaD jaacute deixou de ser uma modalidade educacional alternativa para atender agraves necessidades de formaccedilatildeo profissional no paiacutes A EaD no ensino superior jaacute eacute uma realidade no Brasil e o seu crescimento demonstra o quanto essa modalidade tem contribuiacutedo para a expansatildeo do ensino superior no paiacutes

De acordo com os dados apresentados na Tabela 1 o nuacutemero total de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no paiacutes no ano de 2015 foram de 8027297 e o nuacutemero de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia chegaram a 1736 desse total Isso demonstra que aproximadamente um quinto do nuacutemero de es-tudantes do ensino superior do paiacutes cursa uma universidade a distacircncia e que o preconceito quanto a essa modalidade de ensino tem diminuiacutedo Mais estudantes tecircm procurado a EaD quer seja pela falta de tempo para estar diariamente em uma universidade ou pela qualidade de ensino apresentada por essa modalidade

Tabela 1 ndash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas em cursos de graduaccedilatildeo (presencial e a distacircncia) Brasil ndash 2001- 2015

Ano Presencial EaD Total EaD2001 3030754 5359 3036113 0182002 3479913 40714 3520627 1162003 3887022 49911 3936933 1272004 4163733 59611 4223344 1412005 4453156 114642 4567798 2512006 4676646 207206 4883852 4242007 4880381 369766 5250147 7042008 5080056 727961 5808017 12532009 5115896 838125 5954021 14082010 5449120 930179 6379299 14582011 5746762 992927 6739689 14732012 5923838 1113850 7037688 15832013 6152405 1153572 7305977 15792014 6486171 1341842 7828013 17142015 6633545 1393752 8027297 1736

Fonte INEP 2010 e 2016

A proacutexima seccedilatildeo iraacute tratar do consoacutercio CEDERJ referecircncia no ensino a distacircncia no estado do Rio de Janeiro

21 O consoacutercio CEDERJO Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro consoacutercio CEDERJ foi iniciado em janeiro de 2000 com a assinatura de um convecircnio entre o Governo do estado do Rio de Janeiro e seis universidades puacuteblicas Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade Estadual do Norte Flumi-nense (UENF) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade

Paacutegina 3 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Desde o ano de 2011 conta tambeacutem com o Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca (CEFET) (FIRMINO VIEIRA 2013 CASSIANO et al 2016)

O CEDERJ por ser um consoacutercio entre as universidades puacute-blicas no Estado do Rio de Janeiro tem um modelo de EaD di-ferenciado dos outros existentes no paiacutes O CEDERJ tem uma metodologia transdisciplinar em que algumas disciplinas de um determinado curso satildeo ofertadas por outras universidades do consoacutercio Por exemplo no curso de Administraccedilatildeo que pertence agrave UFRRJ a disciplina Informaacutetica Baacutesica eacute oferecida pela UFF e a disciplina Formaccedilatildeo Econocircmica Brasileira eacute oferecida pela UERJ

Os objetivos do CEDERJ satildeo a) democratizar o acesso ao ensino superior puacuteblico gratuito e de qualidade na modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia principalmente em locais natildeo atendidos pelo ensino pre-sencial (CASSIANO et al 2016) b) permitir o acesso ao ensino superior daqueles que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional e c) atuar na formaccedilatildeo continuada a distacircncia dos professores do estado do Rio de Janeiro com atenccedilatildeo especial aos professores da rede estadual de ensino meacutedio (SILVA SANTOS 2006) O CEDERJ inicialmente ofe-receu vagas nos cursos de graduaccedilatildeo de Matemaacutetica Fiacutesica Biologia Quiacutemica Pedagogia e Tecnologia de Sistemas de Computaccedilatildeo aleacutem de cursos de extensatildeo e capacitaccedilatildeo para professores em diversas aacutereas de conhecimento (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012) Atualmente tambeacutem oferece vagas nos cursos de graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Administraccedilatildeo Puacuteblica Engenharia de Produccedilatildeo Geografia Histoacuteria Letras Seguranccedila Puacuteblica e Social e Turismo (CEDERJ 2017)

Quanto agrave sua estrutura o CEDERJ tem o conceito de ensino a distacircncia semipresencial pois integra momentos a distacircncia e momentos presenciais desenvolvendo a autonomia do aluno para o processo ensinoaprendizagem (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012)

Os momentos presenciais satildeo realizados nos polos de apoio presencial cuja importacircncia para os cursos de EaD seraacute esclarecida na seccedilatildeo seguinte

22 A importacircncia dos polos de apoio presencial para os cursos de EaDUm dos elementos importantes na oferta dos cursos de graduaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ satildeo os polos de apoio presencial para os quais foi adotado um modelo de financiamento e gestatildeo com a parceria entre entes federativos modelo inspirado na Universidade Nacional de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Espanha a UNED Inicialmente essa parceria envolveu o Governo do estado do Rio de Janeiro atraveacutes da Fundaccedilatildeo Centro de Ciecircncias e Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo Cecierj) os municiacutepios que sediam os polos do CEDERJ e universidades puacuteblicas Em 2006 agregou-se a essa iniciativa o governo federal atraveacutes da Universidade Aberta do Brasil

(UAB) atualmente sediada na Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) (CASSIANO et al 2016)

O estado do Rio de Janeiro eacute constituiacutedo por 92 municiacutepios e o CEDERJ possui 32 polos de apoio presencial em 31 deles (CEDERJ 2017) O Decreto nordm 905717 definiu o polo de EaD como uma unida-de acadecircmica e operacional descentralizada para o desenvolvimento de atividades presenciais dos cursos a distacircncia O polo eacute uma estru-tura acadecircmica de apoio pedagoacutegico tecnoloacutegico e administrativo agraves atividades de ensino e aprendizagem dos cursos que deve dispor de uma infraestrutura adequada que disponibilize aos estudantes o acesso agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) indis-pensaacuteveis agrave mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica dos cursos a distacircncia aleacutem de um corpo docente qualificado (BRASIL 2013) Nos polos satildeo realizadas as orientaccedilotildees para os estudos as praacuteticas laboratoriais palestras seminaacuterios e as avaliaccedilotildees presenciais (SOUZA 2015)

O funcionamento dos polos de apoio presencial depende dos espaccedilos cedidos pelas prefeituras dos municiacutepios geralmente alocados em escolas municipais assim como disponibilizam servidores municipais para atuarem no polo (FIRMINO VIEIRA 2013) Fica a cargo do estado a seleccedilatildeo dos tutores presenciais e do Governo federal o pagamento das bolsas de tutorias

Em algumas regiotildees o acesso agrave internet ainda eacute muito precaacuterio Para os alunos dos cursos de EaD que convivem com essa realidade o polo de apoio presencial eacute fundamental para o bom funcionamento do curso pois para eacute no polo de apoio presencial que esses alunos teratildeo acesso ao ambiente virtual com maior facilidade (SOUZA 2015)

Para o funcionamento dessa estrutura de suporte eacute necessaacuterio investimento eacute preciso que os polos de EaD aleacutem de toda infra-estrutura necessaacuteria para seu funcionamento sejam espaccedilos para pesquisa ensino e extensatildeo pilares de uma universidade Eacute impor-tante que haja troca de informaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees de ensino superior contribuindo para a geraccedilatildeo de novos conhecimentos que possibilitem melhorias na sociedade (SCHLUumlNZEN 2009)

Dessa forma a localizaccedilatildeo dos polos eacute fundamental para o funcionamento dos cursos de EaD Vaacuterios estudos foram realizados com o objetivo de proporcionar meacutetodos para a melhor escolha para instalaccedilatildeo dos polos de apoio presencial

O CEDERJ por meio de um estudo teacutecnico em 1999 adotou como criteacuterios para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial a populaccedilatildeo dos 92 municiacutepios do Estado do Rio de Janeiro o nuacutemero de alunos que terminou no ano anterior o Ensino Meacutedio em cada municiacutepio a distacircncia entre os municiacutepios (prevendo um deslocamento meacutedio do estudante da sua residecircncia ao polo inferior a cinquenta quilocircme-tros) a existecircncia de estradas conectando-as entre si e a inexistecircncia de ensino superior presencial puacuteblico no local (CASSIANO et al 2016)

Paacutegina 4 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute a Universidade Aberta do Brasil (UAB) criou dois tipos de polos o polo associado e o polo efetivo com diferentes criteacuterios para sua instalaccedilatildeo O polo associado estaacute instalado num campus de uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (IES) e o polo efetivo loca-lizado em municiacutepios considerados de porte meacutedio isto eacute entre 20 mil e 50 mil habitantes responsaacuteveis pela infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e de recursos humanos (BRASIL 2013)

Peixoto Filho (2016) desenvolveu uma ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) com o objetivo de auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios no estado de Minas Gerais para a abertura de novos polos de EaD As alternativas satildeo compostas por trecircs grupos de municiacutepios distintos que fazem parte de uma mesma regiatildeo geograacutefica do estado de Minas Gerais com atuaccedilatildeo do Instituto Federal do Sudeste desse estado ndash Campus Muriaeacute ndash para a instalaccedilatildeo dos polos Consequen-temente para a oferta de cursos na modalidade a distacircncia foram utilizados os seguintes criteacuterios populaccedilatildeo residecircncia com acesso agrave internet vocaccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia

Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) desenvolveram um novo modelo de apoio ao processo decisoacuterio voltado agrave abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia baseado no meacutetodo AHP cujos criteacuterios envolveram populaccedilatildeo residecircncias com acesso agrave internet voca-ccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia Esse modelo foi aplicado em um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais pertencentes a uma mesma regiatildeo geograacutefica

Em outro estudo Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma ferramenta utilizando o meacutetodo AHP composta por dados e in-formaccedilotildees mais soacutelidos para auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD Os criteacuterios avaliados por eles foram nuacuteme-ro de habitantes puacuteblico-alvo faixa etaacuteria escolaridade renda per capita residecircncia com acesso agrave internet arranjos produtivos locais existecircncia de escolas de niacutevel meacutedio proximidade do muni-ciacutepio com universidades concorrecircncia local existecircncia de IES de outros cursos EaD e de outros cursos ofertados pelo ldquoSistema Srdquo

Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) aplica-ram o meacutetodo de Copeland para mostrar a influecircncia do tamanho dos polos do CEDERJ nos diferentes municiacutepios em que estatildeo instalados conhecendo a importacircncia dos polos nas localidades onde atuam Eles utilizaram como criteacuterios para sua pesquisa o nuacutemero de cursos oferecidos o nuacutemero de alunos inscritos e o tempo de funcionamento de cada polo

Entretanto natildeo foram encontrados estudos que versam so-bre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP para seleccedilatildeo de polos de apoio

presencial o que contribuiria para auxiliar na melhor decisatildeo dos gestores pois o meacutetodo ANP apresenta caracteriacutesticas que pro-porcionam soluccedilotildees realiacutesticas na tomada de decisatildeo

Para Shimizu (2010) um dos grandes desafios com que os gestores convivem diariamente eacute a tomada de decisatildeo para a qual eacute necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de conhecimentos e habilidades que permitam a melhor escolha Em se tratando de escolha de um local para instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia a utilizaccedilatildeo de um modelo de toma-da de decisatildeo permite aos gestores avaliar criteacuterios que melhor atendam agrave populaccedilatildeo evitando dessa forma prejuiacutezos ao eraacuterio pois uma escolha errada de local ocasionaria o fechamento do polo onde houve investimento puacuteblico aleacutem da transferecircncia de alunos para polos distantes de suas residecircncias o que poderia levar futuramente a desistecircncia da tatildeo sonhada graduaccedilatildeo

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo abordados os procedimentos meto-doloacutegicos utilizados na confecccedilatildeo do modelo de apoio a decisatildeo para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial

3 Procedimentos metodoloacutegicosA presente pesquisa classifica-se como qualitativa de caraacuteter exploratoacuterio por meio de pesquisa bibliograacutefica entrevistas e estudo de caso Isso possibilitou a aplicaccedilatildeo de um modelo de anaacutelise multicriteacuterio que traduziu em pesos os dados e informa-ccedilotildees coletadas ponderando assim a definiccedilatildeo do local ideal para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

Este estudo foi realizado na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba com sete municiacutepios que natildeo apresentam polos de apoio presencial do CEDERJ satildeo eles Barra Mansa Itatiaia Pinheiral Porto Real Quatis Rio Claro e Valenccedila A escolha do local para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi devido ao fechamento de um polo de apoio presen-cial no municiacutepio de Quatis o que aguccedilou a curiosidade quanto aos atuais criteacuterios utilizados para alocaccedilatildeo de polos de EaD no estado do Rio de Janeiro

Primeiramente foi feita uma pesquisa em algumas das mais impor-tantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) agrave procura de artigos que tratam do tema ensino a distacircncia com as palavras-chave ldquopolos de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacute-riordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo Essa pesquisa inicial demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD

Em seguida foram realizadas pesquisas em documentos insti-tucionais do CEDERJ e da UAB para descobrir quais satildeo os criteacuterios utilizados na alocaccedilatildeo de polos de apoio presencial

Paacutegina 5 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Na etapa seguinte foi realizada uma entrevista com coorde-nadores de cursos a distacircncia do CEDERJ e especialistas em EaD para definirem-se os principais criteacuterios na implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial

Ao final os criteacuterios adotados foram populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet escolas com ensino meacutedio e proximidade a um polo do CEDERJ

Analisando os criteacuterios quanto maior a populaccedilatildeo resi-dente no municiacutepio maior seraacute o nuacutemero de alunos alcan-ccedilados com os cursos de graduaccedilatildeo Por se tratar de ensino a distacircncia o uso do computador e o acesso agrave internet satildeo necessaacuterios pois as atividades seratildeo feitas via plataforma do CEDERJ O maior nuacutemero de escolas com ensino meacutedio demonstra concentrar um nuacutemero maior de estudantes que desejam cursar uma universidade A proximidade de um mu-niciacutepio a outro que jaacute possui um polo de apoio presencial do CEDERJ natildeo gera qualquer impedimento para os alunos cursarem uma graduaccedilatildeo o que descaracteriza a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial nesse municiacutepio

Para os criteacuterios de populaccedilatildeo residente domiciacutelios com com-putador domiciacutelios com internet e escolas com ensino meacutedio foram coletados dados do Censo de 2010 no site IBGE cidades (IBGE 2010) Para o criteacuterio proximidade a um polo do CEDERJ foi estimada atraveacutes do GoogleMaps a distacircncia em quilocircmetros da sede da prefeitura do municiacutepio candidato agrave implantaccedilatildeo do polo ao polo de apoio presencial do CEDERJ do municiacutepio mais proacuteximo

Apoacutes a definiccedilatildeo dos criteacuterios escolheu-se o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) para permitir a tomada de decisatildeo isto eacute para encontrar a melhor soluccedilatildeo para o problema A principal di-ferenccedila desse meacutetodo em relaccedilatildeo aos outros eacute o fato de ele avaliar a dependecircncia entre as estruturas da decisatildeo que representam os criteacuterios e alternativas o que permite um resultado mais confiaacutevel

O meacutetodo Analytic Network Process (ANP) eacute uma generalizaccedilatildeo do meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) ou seja na praacutetica para se fazer o ANP deve-se primeiramente executar o AHP (SAATY 2005) Segundo Shimizu (2010) o meacutetodo AHP tem sido empregado para situaccedilotildees de definiccedilatildeo de prioridade avaliaccedilatildeo de custos e benefiacutecios alocaccedilatildeo de recursos medida de desem-penho pesquisa de mercado entre outras

Apoacutes definido o meacutetodo foram atribuiacutedos pesos aos cri-teacuterios de acordo com a escala fundamental desenvolvida por Thomas L Saaty (SAATY 2005) Tal escala traduz as avaliaccedilotildees qualitativas que foram realizadas aos criteacuterios e as alternativas em valores numeacutericos

Nessa etapa foi aplicado um questionaacuterio fechado aos coordena-dores de cursos a distacircncia do CEDERJ e a especialistas em EaD para julgarem de acordo com a escala de valor de Saaty (1977) isto eacute de 1 a 9 as suas preferecircncias entre os criteacuterios definidos para esta pesquisa

A coerecircncia dos julgamentos foi verificada por meio da Razatildeo de Consistecircncia que aferiu um valor menor que 10 permitindo obter o vetor de prioridade dos criteacuterios e efetuar a normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Apoacutes os dados foram tratados atraveacutes do software SuperDe-cisions v28 usado para tomada de decisatildeo com dependecircncia e feedback que implementa o meacutetodo AHP e o meacutetodo ANP e utiliza o mesmo processo de priorizaccedilatildeo baseado na comparaccedilatildeo par a par de elementos Esse software permite que os usuaacuterios criem clusters e nodes fazendo as devidas ligaccedilotildees para garantir comparaccedilotildees adequadas entre os niacuteveis Apoacutes os julgamentos o programa calcula as matrizes e as suas consistecircncias possibi-litando a anaacutelise da decisatildeo (SUPERDECISIONS 2017)

4 Anaacutelise dos resultadosPara a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP eacute necessaacuterio o estabelecimento da rede isto eacute a estrutura de decisatildeo com a definiccedilatildeo dos objetivos criteacuterios e alternativas em que posteriormente podem ser aplicados os mesmos passos que quando utilizado o AHP Tais passos incluem formaccedilatildeo de matrizes de julgamentos determinaccedilatildeo de vetores de prioridades ateacute a soluccedilatildeo final com as prioridades globais do modelo (SAATY 1980)

A Figura 1 mostra a rede na qual os criteacuterios estatildeo relacionados entre si Neste estudo apenas os criteacuterios domiciacutelios com compu-tador e domiciacutelios com internet apresentam dependecircncia

A seguir satildeo formadas matizes de julgamentos para o posterior caacutelculo das prioridades Os julgamentos dos criteacuterios nesta pesquisa foram feitos por especialistas em EaD e coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo do CEDERJ com base na escala de valor de Saaty (1977) que varia de 1 a 9 Os valores representam 1 ndashigual importacircncia 3 ndash fraca importacircncia 5 ndash forte importacircncia 7 ndash muito forte 9 ndash importacircncia absoluta e 2 4 6 8 ndash valores intermediaacuterios Na comparaccedilatildeo par a par utilizando a Escala de Saaty (1977) conforme a Tabela 2 os itens em julgamento foram arranjados em matrizes quadradas e os dados foram representados pela importacircncia na relaccedilatildeo entre linha e coluna

Tabela 2 ndash Julgamento dos criteacuteriosPopulaccedilatildeo residente 1 5 3 6 2Domiciacutelios com computador 15 1 13 3 13Domiciacutelius com acesso agrave internet 13 3 1 4 2Nordm de escolas de ensino meacutedio 16 13 14 1 14Proximidade do polo do CEDERJ (km) 12 3 12 4 1

Fonte Dados da pesquisa

Paacutegina 6 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

De igual forma outra matriz foi formada para avaliar as rela-ccedilotildees entre os criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com internet conforme a Tabela 3

Tabela 3 ndash Matriz de comparaccedilatildeo entre os criteacuterios

Criteacuterio Domiciacutelios com computador

Domiciacutelios com acesso agrave internet Prioridades

Domiciacutelios com computador 1 13 025

Domiciacutelios com acesso agrave internet 3 1 075

Fonte Dados da pesquisa

Posteriormente foi verificado se havia consistecircncia ou natildeo na matriz de julgamentos da seguinte forma se o valor de Razatildeo de Consistecircncia (RC) fosse menor que 10 os julgamentos eram coerentes caso contraacuterio os julgamentos deveriam ser revistos (COSTA 2002) Nesse caso o valor de RC foi de 480 menor que 10 portanto conclui-se que os julgamentos foram coerentes A Tabela 4 mostra o resultado final das prioridades dos criteacuterios

Tabela 4 ndash Criteacuterios e vetor de prioridadesCriteacuterio Vetor de prioridades

Populaccedilatildeo residente 032819Domiciacutelios com computador 012896Domiciacutelios com acesso agrave internet 036180Nuacutemero de escolas com Ensino Meacutedio 003739Proximidade do polo do CEDERJ 014366

Fonte Dados da pesquisa

O criteacuterio mais importante de acordo com a Tabela 4 eacute o de domiciacutelios com acesso a internet comprovando a

importacircncia dessa ferramenta para os cursos de EaD uma vez que sem o acesso agrave internet eacute impossiacutevel acessar a plataforma do CEDERJ e acompanhar as aulas os foacuteruns enviar e-mails realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos disponiacuteveis por essa rede para pesquisa e informaccedilatildeo

Conforme a Tabela 4 a populaccedilatildeo residente eacute o segundo criteacuterio mais importante a ser verificado na instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial pois o nuacutemero de habitantes de uma cidade deve ser suficiente para permitir que os recursos investidos na instalaccedilatildeo do polo de apoio presencial sejam duradouros e que a demanda pelos cursos de graduaccedilatildeo se mantenha constante

No problema estudado as alternativas podem ser ava-liadas de forma direta quando comparadas aos criteacuterios por existirem dados quantitativos em cada caso De qual-quer forma como natildeo se pode misturar em uma decisatildeo grandezas diferentes eacute necessaacuterio transformar os valores de cada um desses objetivos em uma mesma unidade de medida (SHIMIZU 2010)

A Figura 2 mostra os valores normalizados de importacircncia de cada alternativa referentes a cada criteacuterio segundo dados do censo de 2010 (IBGE 2010) com exceccedilatildeo do criteacuterio pro-ximidade ao polo do CEDERJ cujos dados foram extraiacutedos do GoogleMaps

Paacutegina 7 de 11

Figura 1 Estrutura de decisatildeo em rede pelo meacutetodo ANP

Objetivo SELECcedilAtildeO DE MUNICIacutePIOS PARA INSTALACcedilAtildeO DE POacuteLOS EAD

Proximidade depolos do CEDERJ

Escolas comensino meacutedio

Domiciacutelioscom internet

Domiciacutelios comcomputador

Populaccedilatildeoresidente

BarraMansa Itatiaia Pinheiral

PortoReal Quatis

RioClaro Valenccedila

Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Figura 2 ndash Normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Municiacutepio Populaccedilatildeo residenteValor

normalizado MuniciacutepioDomiciacutelios com

computadorValor

normalizadoBarra Mansa 177813 05110 Barra Mansa 26386 05624

Itatiaia 28783 00827 Itatiaia 4032 00859

Pinheiral 22719 00653 Pinheiral 2673 00570

Porto Real 16592 00477 Porto Real 1953 00416

Quatis 12793 00368 Quatis 1384 00295

Rio Claro 17425 00501 Rio Claro 1452 00310

Valenccedila 71843 02065 Valenccedila 9034 01926

Total 347968 10000 Total 46914 10000

MuniciacutepioDomiciacutelios com

acesso agrave internetValor

normalizado MuniciacutepioProximidade ao polo

do CEDERJ (km)Valor

normalizadoBarra Mansa 19840 05757 Barra Mansa 109 00756

Itatiaia 3023 00877 Itatiaia 167 01158

Pinheiral 2021 00586 Pinheiral 128 00888

Porto Real 1300 00377 Porto Real 202 01401

Quatis 951 00276 Quatis 241 01671

Rio Claro 841 00244 Rio Claro 343 02379

Valenccedila 6486 01882 Valenccedila 252 01748

Total 34462 10000

Total 46 10000

Total 1442 10000

MuniciacutepioNordm de escolas de

ensino meacutedioValor

normalizadoBarra Mansa 18 03913

Itatiaia 2 00435

Pinheiral 5 01087

Porto Real 2 00435

Quatis 1 00217

Rio Claro 3 00652

Valenccedila 15 03261

Fonte Segundo IBGE Cidades 2010 GoogleMaps 2017

Paacutegina 8 de 11

O resultado final da aplicaccedilatildeo do meacutetodo com a utilizaccedilatildeo dos criteacuterios e alternativas propostas pode ser observado na Tabela 5 com as prioridades de cada alternativa segundo os criteacuterios estabelecidos assim como a prioridade final para cada alternativa quando utilizado o meacutetodo ANP

Como mostrado na Tabela 5 o municiacutepio de Barra Mansa tem a maior prioridade para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ seguido de Valenccedila Esse resultado deve-se fundamen-talmente a que ambos os municiacutepios lideram em peso na quase totalidade dos criteacuterios analisados

Tabela 5 ndash Prioridades das alternativas

MuniciacutepioPopulaccedilatildeo residente

Domiciacutelios com

computador

Domiciacutelioscom

internet

Nordm deescolas

comensino meacutedio

Proximidade do polo do

CEDERJ Vetor de decisatildeo

Barra Mansa 05110 05624 05757 03913 00756 044207

Itatiaia 00827 00859 00877 00435 01158 008853Pinheiral 00653 00570 00586 01087 00888 006961Porto Real 00477 00416 00377 00435 01401 006216

Quatis 00368 00295 00276 00217 01671 005802Rio Claro 00501 00310 00244 00652 02379 007880Valenccedila 02065 01926 01882 03261 01748 020081Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O modelo proposto atendeu ao objetivo mostrando-se eficaz para definir o municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ O municiacutepio mais adequado para isso foi Barra Mansa que se destacou nos criteacuterios populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com inter-net e nuacutemero de escolas com ensino meacutedio perdendo apenas no criteacuterio proximidade a um municiacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ devido a sua proximidade em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Volta Redonda cujo polo mais proacuteximo eacute o de Barra Mansa

5 Consideraccedilotildees finaisApesar do grande crescimento a modalidade de ensino a dis-tacircncia ainda sofre preconceito logo a escolha do local correto para implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial permite uma eficiente alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos evita prejuiacutezos ao eraacuterio amplia a oferta de educaccedilatildeo superior proporciona a um contin-gente maior da populaccedilatildeo o acesso ao ensino superior puacuteblico e de qualidade tornando tal modalidade o principal veiacuteculo para aprendizagem no paiacutes

A pesquisa demonstrou que os cursos de graduaccedilatildeo EaD apre-sentaram um aumento no nuacutemero de matriacuteculas nos uacuteltimos quinze anos superior ao dos cursos presenciais sendo responsaacute-vel em 2015 por 1736 das matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no Brasil O CEDERJ eacute responsaacutevel por uma parte desse crescimen-to pois desde a sua criaccedilatildeo no ano de 2000 vem contribuindo para a expansatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo a locais natildeo atendidos pelo ensino presencial e permitindo o acesso ao ensino superior a todos que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional

Com o intuito de propor um modelo de apoio agrave decisatildeo para implantaccedilatildeo de polos de apoio presencial realizou-se primeira-mente uma busca na literatura sobre o tema ensino a distacircncia combinado com os termos ldquopolo de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacuteriordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo que demonstrou a existecircncia de alguns estudos que tratam do tema assim como a utilizaccedilatildeo de diferentes criteacuterios e modelos de apoio ao processo decisoacuterio Tais estudos foram essenciais para embasar a escolha dos criteacuterios que formam o modelo proposto e consequentemente a escolha do melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de EaD

A utilizaccedilatildeo do meacutetodo ANP permitiu a elaboraccedilatildeo de uma estrutura em rede capaz de facilitar o processo decisoacuterio por meio da interaccedilatildeo dos criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com acesso agrave internet permitindo maior precisatildeo no resultado Atraveacutes da anaacutelise multicriteacuterio com a utilizaccedilatildeo do software Super-Decision v28 para o tratamento dos dados foi possiacutevel encontrar o melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

O municiacutepio de Barra Mansa foi o que apresentou o conjunto das melhores caracteriacutesticas para a implantaccedilatildeo do polo de EaD na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba seguido do municiacutepio de Va-lenccedila Seguindo os criteacuterios atuais do CEDERJ segundo os quais a prioridade maacutexima de localizaccedilatildeo entre polos eacute uma distacircncia aproximada de cinquenta quilocircmetros o municiacutepio de Barra Man-sa natildeo seria analisado como possiacutevel sede dada a proximidade com o polo de Volta Redonda por esse criteacuterio o melhor colocado entatildeo seria o municiacutepio de Rio Claro

O criteacuterio mais importante analisado foi o de domiciacutelios com internet pois essa ferramenta eacute fundamental para que se tenha um bom rendimento no ensino a distacircncia Afinal sem internet eacute impossiacutevel acessar o ambiente virtual de aprendizagem e acom-panhar as aulas os foacuteruns realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos dis-poniacuteveis na internet para pesquisa e informaccedilatildeo

Para os alunos que natildeo tecircm acesso agrave internet em suas residecircn-cias o polo de apoio presencial eacute de grande importacircncia para que eles possam acessar o ambiente virtual de aprendizagem e prosseguir em seus estudos

A partir do modelo apresentado e dentre os criteacuterios utilizados constatou-se que o municiacutepio de Quatis natildeo seria contemplado com a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial haja vista que esse municiacutepio jaacute sediou um polo do CEDERJ oferecendo o curso superior de Administraccedilatildeo tendo poreacutem as suas atividades encerradas Isso demonstra que proximidade a outro polo do CEDERJ natildeo pode ser o criteacuterio mais importante para implantaccedilatildeo de um polo de EaD e que os criteacuterios devem ser analisados em conjunto e natildeo individualmente o que evidencia a factibilidade do modelo utilizado

Constataram-se como limitaccedilotildees da pesquisa a concentraccedilatildeo do estudo em uma uacutenica regiatildeo do estado do Rio de Janeiro e natildeo levar em conta o fato de que as variaacuteveis de cunho poliacutetico podem tambeacutem interferir na sustentabilidade de um polo Sugere-se como agenda de pesquisa que o modelo seja implementado em outras regiotildees do estado do Rio de Janeiro confirmando a sua eficaacutecia na escolha de municiacutepios para sediar polos de apoio presencial do CEDERJ

R e f e r ecirc n c i a s

ALVES L Educaccedilatildeo a distacircncia conceitos e histoacuteria no Brasil e no mundo

Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distacircncia Satildeo Paulo

v10 n21 2011

Paacutegina 9 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

ARRUDA D E P ARRUDA E P Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil poliacuteticas

puacuteblicas e democratizaccedilatildeo do acesso ao ensino superior Educaccedilatildeo

em Revista Belo Horizonte v31 n3 p321-338 julset 2015

BRASIL Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 Regulamenta o art 80 da

Lei de diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

Brasiacutelia DF 26 maio 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogov

brccivil_03_Ato2015-20182017DecretoD9057htmart24gt Aces-

so em 31 maio 2017

______ Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes

e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 23

dez 1996 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis

L9394htmgt Acesso em 20 abr 2017

______ Orientaccedilotildees baacutesicas sobre polos do sistema Universidade Aberta

do Brasil 2013 Disponiacutevel em lthttpswwweadunbbrarquivos

legislacaoinstrucoesorientacoes_basicas _sobre_polos_uabpdfgt

Acesso em 19 abr 2017

CASSIANO K M et al Distribuiccedilatildeo espacial dos polos regionais do Cederj

uma anaacutelise estatiacutestica Ensaio aval pol puacutebl Educ Rio de Janeiro

v24 n90 p 82-108 janmar 2016

CEDERJ Portal consoacutercio Cederj Fundaccedilatildeo Cecierj Polos Disponiacutevel emlt

httpCEDERJedubrCEDERJpolosgt Acesso em 20 abr 2017

COSTA H G Introduccedilatildeo ao meacutetodo de anaacutelise hieraacuterquica anaacutelise multicri-

teacuterio no auxiacutelio agrave decisatildeo Rio de Janeiro [sn] 2002 Disponiacutevel em

lt httpwwwdinuembrsbposbpo2004pdfarq0279pdfgt Acesso em 19 abr 2017

FIRMINO D L F VIEIRA J J Consoacutercio Cederj uma anaacutelise criacutetica Se-

minaacuterio Internacional Inclusatildeo em Educaccedilatildeo Universidade e Parti-

cipaccedilatildeo Anais Rio de Janeiro maio 2013 Disponiacutevel em lthttp

wwwlapeadeeducacaoufrjbranaisfilesWSM31A54pdfgt Acesso

em 21 maio 2017

GOMES JUacuteNIOR S F SOARES DE MELLO J C C B SOARES DE MELLO

MHC Utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Copeland para avaliaccedilatildeo dos polos

regionais do CEDERJ Riorsquos International Journal on Sciences of Industrial

and Systems Engineering and Management v 2 n1 p 87-98 2008

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Censo 2010 Disponiacutevel

emlt httpscidadesibgegovbrgt Acesso em 10 abr 2017

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Tei-

xeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2010 Disponiacutevel emlt http

downloadinepgovbreducacao_superiorcenso_superiordocumen-

tos2010divulgacao_censo_2010pdfgt Acesso em 15 maio 2017

______ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio

Teixeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2016 Disponiacutevel emlt http

sistemascensosuperiorinepgovbrcensosuperior_2016gt Acesso

em 15 maio 2017

PEIXOTO FILHO J et al Anaacutelise multicriterial para seleccedilatildeo de local para

abertura de um polo de educaccedilatildeo a distacircncia In Anais XXI Congres-

so Internacional ABED de Educaccedilatildeo a Distacircncia Bento Gonccedilalves RS

2015 Disponiacutevel em httpwwwabedorgbrcongresso2015anaispdfBD_191pdf Acesso em 15 abr 2107

PEIXOTO FILHO J Modelagem multicriterial aplicada a seleccedilatildeo de mu-

niciacutepios para abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia 2016 120

f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Engenharia de Produccedilatildeo Universidade

Cacircndido Mendes Rio de Janeiro 2016

PEIXOTO FILHO J ERTHAL JUacuteNIOR M Seleccedilatildeo de municiacutepios para a

abertura de polos EaD uma tomada de decisatildeo baseada em uma

modelagem multicriteacuterio In Anais XXII Congresso Internacional ABED

de Educaccedilatildeo a Distacircncia Aacuteguas de Lindoacuteia SP 2016 v22 p1-1 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2016tra-balhos129pdfgt Acesso em 18 abr 2017

SAATY T L A scaling method for priorities in hierarchical structures Jour-

nal of Mathematical Psychology v15 p234-281 1977

______ The analytic hierarchy process planning priority setting resource

allocation New York McGraw-Hill 1980

______ Theory and applications of the analytic network process decision mak-

ing with benefits opportunities costs and risks Pittsburgh RWS 2005

SCHLUumlNZEN K J Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil caminhos poliacuteticas e

perspectivas ETD ndash Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital Campinas v10 n2

p16-36 jun2009

SHIMIZU T Decisatildeo nas organizaccedilotildees 2ed Satildeo Paulo Editora Atlas SA

2010 419 p

SILVA M SANTOS E Avaliaccedilatildeo da aprendizagem em educaccedilatildeo online

fundamentos interfaces e dispositivos relatos de experiecircncias Satildeo

Paulo SP Ediccedilotildees Loyola 2006

SOUZA J B A A contribuiccedilatildeo dos polos presenciais na EaD um estudo

exploratoacuterio Congresso Nacional de Ambientes Hipermiacutedia para a

Aprendizagem Satildeo Luiacutes Maranhatildeo jun 2015 Disponiacutevel em lthttp

conahpasitesufscbrwp-contentuploads201506ID32_Souza

pdfgt Acesso em 17 maio 2017

SPIacuteNDOLA M MOUSINHO S H Cederj um caminho na direccedilatildeo da educaccedilatildeo

inclusiva Ead em foco Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Cecierj n 2 nov 2012

Paacutegina 10 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

SUN P et al What drives a successful e-Learning An empirical investiga-

tion of the critical factors influencing learner satisfaction Computers

amp Education v50 p1183-1202 2008

SUPERDECISIONS Creative Decisions Foundations Software de apoio agrave

decisatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwsuperdecisionscomtutorials

indexphpsection=2_8gt Acesso em 12 abr 2017

WAQUIL M P et al Educaccedilatildeo a distacircncia e comunidades virtuais de apren-

dizagem novos espaccedilos novas possibilidades Revista Competecircncia

Porto Alegre RS v2 n1 p43-57 2009

WEIDLE D KICH J I D F PEREIRA M F Projeto UAB Uma Anaacutelise estru-

tural dos polos de apoio presencial do curso de Administraccedilatildeo da

UFSC Revista GUAL Florianoacutepolis Ediccedilatildeo especial p94-114 2011

Paacutegina 11 de 11

O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevelThe Use of Recycled PET Fibers in the Textile Industry through Innovation and Sustainable Design

Helena Mrozinski Cesar Steffen e Heli Meurer

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

O desenvolvimento sustentaacutevel eacute um grande desafio em todas as aacutereas e na induacutestria tecircxtil natildeo eacute diferente pois os impactos ambientais satildeo gerados em todas as etapas dos processos produtivos

ndash da origem da mateacuteria prima ateacute o descarte do produto pelo consumidor A crescente degradaccedilatildeo do meio ambiente faz com que a reciclagem seja um dos pressupostos do desenvolvimento sustentaacutevel que por sua vez estaacute embasado nas dimensotildees econocircmicas sociais ecoloacutegicas e culturais da evoluccedilatildeo humana Dessa forma este estudo tem por objetivo analisar o estado da arte da reciclagem das embalagens PET considerando o processo a expansatildeo e a aplicabilidade da fibra resultante desta reciclagem na induacutestria tecircxtil brasileira e sua relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel Com este trabalho percebeu-se que houve nos uacuteltimos anos uma adesatildeo significativa por parte das empresas nas praacuteticas consideradas relevantes para o entendimento das questotildees socioambientais aplicadas ao sistema de moda e ao setor tecircxtil

A b s t r a c t

Sustainable development is a major challenge in all areas and in the textile industry it is not different because environmental impacts are generated at all stages of the productive processes ndash from the origin of the raw material to the disposal of the product by the consumer The increasing environment degradation makes the recycling one of the assumptions of the concept of sustainable development which in turn is rooted in the economic social ecological and cultural dimensions of human evolution Thus this study aims to analyze the state of the art of the recycling of PET packaging considering the process the expansion and the applicability of the fiber resulting from this recycling in the Brazilian textile industry and its relationship with sustainable design Through this work it was perceived that in recent years companies had a significant adherence to practices considered relevant for the un-derstanding of the socio-environmental issues applied to the fashion system and to the textile sector

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chaveDesign sustentaacutevel Fibra PET Industria tecircxtil e reciclagem

KeywordsSustainable design PET fiber Textile Industry and Recycling

Autores Docente - Senac (RS)e-mail mrozinskihelenagmailcom

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail cesar_steffenuniritteredubr

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail heli_meureruniritteredubr

Como citar este artigoMZROZINSKI H STEFFEN C MEURER H O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevel Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoNa mobilizaccedilatildeo em busca do desenvolvimento de novos produ-tos aliados a tecnologias de menor impacto ao meio ambiente empresas buscam implantar abordagens baseadas em gestatildeo de sustentabilidade Dessa forma se reposicionam no mercado de maneira inovadora utilizando o ecodesign como uma ferramenta potencializadora da evoluccedilatildeo da cadeia produtiva Utilizam-se tambeacutem de gestotildees estrateacutegicas que abordam questotildees ambien-tais para transformar os investimentos em fontes de vantagens competitivas (GONCcedilALVES-DIAS GUIMARAtildeES SANTOS 2007)

Com a visatildeo de futuro e com a estrateacutegia de consolidaccedilatildeo e reconhecimento no mercado empresas objetivam investir na dimensatildeo simboacutelica de marca e da alta tecnologia empregada em seus produtos aspectos que tecircm sido chave para o estabelecimen-to das relaccedilotildees com o novo mercado Percebe-se contudo que a ideia de marca engloba atualmente consciecircncia e engajamento com as questotildees ambientais e que na busca de alternativas rea-lizadoras dessas questotildees encontra-se a tecnologia de produccedilatildeo sua inerente inovaccedilatildeo e consequente conforto e alta qualidade de acabamento dos produtos (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Este trabalho portanto procura identificar as condiccedilotildees que justi-ficam a incorporaccedilatildeo de estrateacutegias ambientais no desenvolvimento de produtos e geraccedilatildeo de inovaccedilotildees especificamente a partir de materiais reciclados O referencial teoacuterico nesse campo de atividade no Brasil eacute raro e disperso talvez por ser assunto incipiente embora jaacute seja uma atividade com significativa representaccedilatildeo na economia e de crescente interesse por parte das empresas governos e sociedade

Com esse propoacutesito apresenta-se primeiramente uma breve revisatildeo da literatura relacionada agrave construccedilatildeo de estrateacutegias de de-sign para o desenvolvimento de produtos com materiais reciclados e as competecircncias necessaacuterias para a realizaccedilatildeo de tal empreendi-mento Na segunda parte disserta-se sobre a histoacuteria da resina PET (polietileno tereftalato) o processo da reciclagem de embalagens e a aplicabilidade em novos materiais novas funcionalidades e no uso para os produtos tecircxteis originando um novo ciclo de vida do produto assim ultrapassando os campos da preservaccedilatildeo ambiental pois movimenta a economia do paiacutes em diversas aacutereas

2 Conceitos de design e sustentabilidadeA sustentabilidade baseia-se na preservaccedilatildeo dos recursos naturais O Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA1) apresentou em 1975 o conceito de ecodesenvolvimento o qual destacava o desenvolvimento apoiado na dimensatildeo regional e local e o uso adequado dos recursos naturais Na formulaccedilatildeo de Sachs (2004) o ecodesenvolvimento deve integrar a satisfaccedilatildeo das necessidades humanas baacutesicas a solidariedade com as geraccedilotildees futuras a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo envolvida a preservaccedilatildeo

dos recursos naturais e meio ambiente em geral a elaboraccedilatildeo de sistema social que garanta emprego seguranccedila social e respeito a outras culturas e o desenvolvimento de programas de educaccedilatildeo ldquoO atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraccedilotildees futuras de satisfazerem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (WCED2 apud MROZINSKI 2016)

De acordo com Vezzolli (2010) o design intitulado como sustentaacute-vel tem a funccedilatildeo essencial de projetar produtos serviccedilos e sistemas com baixo impacto ambiental e alta qualidade social O termo design utilizado em sentido restrito define-se como uma ldquoatividade criativa orientada para a determinaccedilatildeo das qualidades formais de objetos ou signos produzidos industrialmenterdquo (ANICET BESSA BROEGA 2009) O design consiste basicamente em uma tentativa de tornar o objeto mais atrativo desejaacutevel o que deve inerentemente vir ao encontro da melhoria da funcionalidade do produto

O que se verifica na atualidade de forma crescente eacute que os de-signers estatildeo se conscientizando da sua responsabilidade quanto agrave preservaccedilatildeo dos recursos ambientais por meio do desenvolvimento sustentaacutevel Portanto o design engrandece-se ao abranger mais objetivos Ele exerce funccedilotildees derivadas de suas principais como a responsabilidade socioambiental (MAU 2004) Dessa forma o design toma uma dimensatildeo muito maior do que o seu objetivo primeiro ndash o produto em sua funccedilatildeo operativa e tecnoloacutegica ndash toma a dimensatildeo eacutetica que abrange a proteccedilatildeo do meio ambien-te a preservaccedilatildeo e resgate da identidade cultural e dos circuitos econocircmicos locais bem como o desenvolvimento de produtos ambientalmente sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Papanek (1984) em sua claacutessica publicaccedilatildeo Design for Real World afirmava que o design poderia ser uma das mais baacutesicas atividades humanas e nesse sentido todas as pessoas seriam designers Atual-mente o design eacute uma atividade projetual e profissional com elevada especializaccedilatildeo Aleacutem disso eacute uma disciplina com autoridade acadecirc-mica desenvolvida em universidades tendo seu valor reconhecido atraveacutes de suas proacuteprias publicaccedilotildees promovendo conferecircncias e eventos de grande repercussatildeo ndash sendo inclusive um veiacuteculo de identidade e de coesatildeo social (MANZINI VEZZOLI 2005)

Na definiccedilatildeo dos autores Mohr (2006) e Manzini e Vezzoli (2005) a tendecircncia do design eacute buscar paracircmetros para encontrar a soluccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos seus produtos quando engloba as tecnologias de produccedilatildeo assim como questotildees ambientais Mudanccedilas de paradigmas ocorrem a partir das criaccedilotildees do design desafiando os profissionais e dessa forma oferecendo o equiliacutebrio entre os requisitos da induacutestria e ao mesmo tempo respeitando os fatores ambientais em seus projetos

Por outro vieacutes estaacute cada vez mais acirrada a competitividade no mercado de design de produtos como reflexo da velocidade de produccedilatildeo e da constante busca da lucratividade das empresas e

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consequentemente haacute maior oferta de produtos Nesse cenaacuterio de forma positiva e proveitosa os designers empenham-se no de-senvolvimento de produtos sempre buscando maior qualidade e novos padrotildees de inovaccedilatildeo conforto acabamentos e preccedilos tudo isso com o objetivo atender a necessidades perfis e exigecircncias dos consumidores Esse processo condiciona o avanccedilo de novas teacutecnicas e tecnologias e especialmente na produccedilatildeo sustentaacutevel na utilizaccedilatildeo de materiais que se componham de fibras resultados de reciclagem Eacute um grande desafio para as mudanccedilas necessaacuterias pois os consumidores estatildeo cada vez mais conscientes ambiental-mente Eles estatildeo em busca de soluccedilotildees e produtos sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

De acordo com as consideraccedilotildees gerais do Conselho Interna-cional de Sociedades de Design ndash International Council of Societies of Design (ICSID) atual WDO3 World Design Organization relacio-nado agrave UNESCO ndash o design

(hellip) busca descobrir e avaliar estruturas organizaccedilotildees relaccedilotildees

funcionais expressivas e econocircmicas com a tarefa de melhorar

a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambiental (eacutetica global)

conceder benefiacutecios e liberdade para toda a comunidade humana

individual e coletiva para usuaacuterios finais produtores e protagonistas

de mercado (eacutetica social) apoiar a diversidade cultural apesar da

globalizaccedilatildeo do mundo (eacutetica cultural) gerando produtos serviccedilos

e sistemas cujas formas sejam expressivas (semiologia) e coerentes

(esteticamente) com sua proacutepria complexidade (IBID 2012 apud

KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

O WDO enfatiza o caraacuteter humano social e cultural aleacutem do econocircmico Essa definiccedilatildeo apresenta inclusive o conceito de ldquociclos de vidas inteirosrdquo aleacutem do objetivo de ldquomelhorar a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambientalrdquo o que leva agrave adesatildeo na missatildeo do design em propor o uso de mecanismos adequadamente norteados na concepccedilatildeo e desenvolvimento de projetos produtos serviccedilos e sistemas (KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

3 Design sustentaacutevel e reciclagemConsciecircncia ecoloacutegica presume e anda de matildeos dadas com a consciecircncia social pela proteccedilatildeo da natureza e pela realizaccedilatildeo da condiccedilatildeo humana Com o objetivo de obter um ambiente ade-quado para a vida no que tange agraves condiccedilotildees ambientais e sociais deve-se seguir e cumprir regras Desse modo criaram-se normas e princiacutepios para serem seguidos e consequentemente minimi-zam-se os impactos ambientais Foram estabelecidos princiacutepios denominados ldquoRsrdquo iniciou-se com trecircs princiacutepios chamados de ldquo3Rsrdquo que em seguida foram desmembrados em mais dois tor-nando-se ldquo5Rsrdquo reduzir reutilizar reaproveitar reciclar e repensar (REBELLO 2008) Poreacutem conforme o autor tais princiacutepios foram

acrescidos por mais trecircs chegando a atingir oito atualmente sen-do os uacuteltimos reparar responsabilizar-se e repassar

Para entendimento e compreensatildeo do assunto abordado eacute interessante mesmo que brevemente citar todos os termos criados para a posteriori serem aprofundados os princiacutepios da Reciclagem e da Reutilizaccedilatildeo que satildeo o foco deste texto ndash design sustentaacutevel atraveacutes de materiais reciclados

Reduzir caracteriza-se pela reduccedilatildeo do consumo tendo como objetivo a preservaccedilatildeo dos recursos naturais do planeta Jaacute reutilizar quer dizer buscar soluccedilotildees criativas para prolongar a vida uacutetil de um produto oferecendo a ele uma nova vida transformando-o em um novo produto Seguindo a mesma linha reaproveitar eacute outra forma de reutilizar pois a diferenccedila essencial eacute que o produto original teraacute que sofrer uma transfor-maccedilatildeo para poder ser utilizado novamente Um bom exemplo eacute a customizaccedilatildeo de uma peccedila por meio do redesign reduzindo o descarte e agregando valores e funcionalidades e utilidades para o mesmo produto

Quanto a reciclar o produto deve retornar a um novo processo industrial gerando um novo ciclo Eacute o que se difere do princiacutepio de reaproveitar pois eacute necessaacuterio o reprocessamento Enquanto isso repensar consiste em realizar uma previsatildeo ou estudo do ciclo de vida total de um produto analisar seus custos e benefiacute-cios para posterior decisatildeo da produccedilatildeo ou natildeo Em todo esse levantamento deve constar desde a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima o desenvolvimento do produto a produccedilatildeo o descarte todo o ciclo de vida do produto e seu destino final seja o lixo ou uma nova etapa atraveacutes da reciclagem (VIEIRA RABELLO 2011)

31 Tipos de reciclagemQuanto aos tipos de reciclagem existem dois e satildeo relativos ao momento da reciclagem e ao ciclo de vida do produto a saber o preacute e o poacutes-consumo O preacute-consumo ocorre quando o produto saiu da induacutestria e antes mesmo do consumo jaacute eacute reciclado Um exemplo disso eacute o resiacuteduo industrial proveniente da fabricaccedilatildeo de roupas Esse tipo de reciclagem pode ser considerado como accedilatildeo socioambiental pois nela encontram-se os projetos de cole-ta de sobras de confecccedilotildees (tecidos descartados apoacutes o corte das peccedilas ou ldquoretalhosrdquo) Em uma pesquisa realizada por Mrozinski (2016) constatou-se que em alguns casos esses retalhos satildeo enviados para as famiacutelias cadastradas no programa da empresa fabricante sendo pesados separados e catalogados por cor Posteriormente seguem para a fiaccedilatildeo quando satildeo armazenados conforme a programaccedilatildeo de produccedilatildeo Posteriormente os reta-lhos satildeo colocados em uma maacutequina chamada ldquodesfibradeirardquo e atraveacutes de um processo chamado ldquorasgamentordquo voltam agrave sua forma original de fibras (MROZINSKI 2016)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute o poacutes-consumo ocorre quando o produto eacute reciclado depois de ter sido consumido Um bom exemplo satildeo as garras PET que em alguns casos conforme Mrozinski (2016) satildeo transformadas em fibra tecircxtil No caso do preacute-consumo gasta-se menos energia atraveacutes do aproveitamento de algo jaacute processado ao inveacutes de produzir um produto a partir da mateacuteria-prima original Esse tipo de reciclagem eacute muito mais faacutecil e de menor custo do que a reci-clagem poacutes-consumo pois no segundo caso os produtos teratildeo de ser lavados e esterilizados e em seguida encaminhados para o processo de reciclagem Em se tratando das garrafas plaacutesticas utilizam-se em sua limpeza aacutegua e detergentes Satildeo produtos quiacutemicos que interferem no meio ambiente e seus custos de re-ciclagem satildeo mais elevados (VIEIRA RABELLO 2011)

Segundo a Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria de PET (ABIPET 2013) no processo de reciclagem do PET existem muitos conta-minantes entre eles os adesivos plaacutesticos presentes nas garrafas de refrigerantes A maioria dos processos de lavagem aos quais os PETs satildeo submetidos hoje em dia ainda natildeo conseguem remover por completo esses produtos indesejaacuteveis o que impede a ob-tenccedilatildeo de flocos totalmente puros ou seja sem contaminaccedilatildeo

Todo esse processo de reciclagem do PET produz efluentes o que resulta em custos econocircmicos e ambientais Para Cassalli (2011) em seu processo a induacutestria da reciclagem faz uso de muito detergente na limpeza e higienizaccedilatildeo das garrafas e na fabricaccedilatildeo de flakes de PET causando importantes alteraccedilotildees quiacute-micas e fiacutesicas nos seus efluentes principalmente a alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) aleacutem do acreacutescimo dos resiacuteduos or-gacircnicos existentes no interior nos frascos vazios Por outro lado Silva (2017) afirma que apoacutes o processo de reciclagem e produccedilatildeo de flakes a empresa recicladora eacute responsaacutevel pelo tratamento de todos os seus efluentes gerados respeitando os paracircmetros estabelecidos pela legislaccedilatildeo municipal

No tratamento desses efluentes satildeo utilizados tratamentos primaacuterios secundaacuterios e terciaacuterios tendo como objetivo a remo-ccedilatildeo das partiacuteculas ou poluentes por meio de intervenccedilotildees fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas ou das combinaccedilotildees dessas intervenccedilotildees cuja accedilatildeo eacute reduzir os soacutelidos totais turbidez e cor Realizam-se tambeacutem processos especiacuteficos com intuito de oxidar quiacutemica e bioquimica-mente tais substacircncias promovendo a remoccedilatildeo das causadoras da alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) e da Demanda Bioquiacute-mica de Oxigecircnio (DBO) encontradas (MORENO 2007)

Apoacutes todo esse processo da reciclagem do PET resultam fibras de polieacutester de alta qualidade Estas satildeo aproveitadas em diversos produtos sendo que uma grande parte eacute destinada agrave produccedilatildeo de fibras tecircxteis para a induacutestria de tecido Podem ser utilizadas puras ou misturadas com outras fibras como por exemplo as fibras do algodatildeo do linho entre outras

4 Histoacuterico e aplicaccedilotildees do PETO poliacutemero produzido do PET eacute um polieacutester O polieacutester eacute uma fibra desenvolvida em 1941 por Whinfield e Dickson quiacutemicos ingleses cujo intuito inicial era substituir a fibra tecircxtil do algodatildeo Posteriormente sua aplicaccedilatildeo foi ampliada com a produccedilatildeo de filmes para embalagens por volta dos anos de 1980 O seu uso teve um crescimento raacutepido O PET eacute a denominaccedilatildeo do polieacutester destinado agrave fabricaccedilatildeo de embalagens entre elas a destinada aos refrigerantes Esse tipo de polieacutester tambeacutem eacute identificado como ldquograu garrafardquo (bottle grade) diferentemente do polieacutester que eacute utilizado na aacuterea tecircxtil conhecido por ldquograu fibrardquo (fiber grade) Eacute relevante saber que o polieacutester ldquograu fibrardquo ndash usado na produccedilatildeo de fibras e filamentos ndash e o polieacutester ldquograu garrafardquo satildeo produtos provenientes da mesma mateacuteria-prima poreacutem em seus respec-tivos processos de fabricaccedilatildeo recebem aditivaccedilotildees diferentes de acordo com o seu destinado final (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

No Brasil a embalagem PET entrou no mercado soacute em 1988 mas o crescimento foi raacutepido pois em 2004 o paiacutes jaacute era o terceiro maior consumidor mundial na produccedilatildeo de garrafas PET (ABIPET 20054) Esse raacutepido crescimento teve a sua contrapartida na reciclagem jaacute em 2005 a induacutestria brasileira atingiu a marca de 174 mil toneladas isso representou 47 do total da produccedilatildeo do PET naquele ano no mundo Foi um percentual expressivo especialmente porque em 2000 30 dos mais de 5 mil municiacutepios brasileiros natildeo possuiacuteam nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE 20005)

Por outro lado ainda natildeo eacute possiacutevel reaproveitar todas as em-balagens produzidas e descartadas Pois um dos maiores proble-mas enfrentados eacute a falta da coleta seletiva porque ainda satildeo poucas as cidades brasileiras que adotaram esse tipo de coleta de lixo Ainda assim a Associaccedilatildeo Brasileira de Embalagens afirma que o mercado para produtos reciclados de PET vem crescendo de forma significativa aleacutem de ser um setor muito importante dentro da induacutestria nacional (MOURA et al 2015)

No Brasil o PET assim como os demais materiais reciclaacuteveis quando usado poacutes-consumo eacute obtido principalmente atraveacutes da coleta informal feita por catadores e sucateiros que por cir-cunstacircncias socioeconocircmicas e carecircncia de poliacuteticas adequadas sustentam-se coletando a mateacuteria-prima da reciclagem no lixo das ruas ou nos ldquolixotildeesrdquo

Ateacute haacute pouco tempo esse trabalho natildeo era reconhecido pela sociedade A reciclagem era vinculada ao aumento do desempre-go e do crescimento do trabalho informal segundo Vezza e Cotait (2006) Poreacutem de acordo com os autores com a organizaccedilatildeo dessa atividade a situaccedilatildeo comeccedilou a se reverter aos poucos Os traba-lhadores que outrora eram anocircnimos passaram a ser parceiros estrateacutegicos dos programas de coleta seletiva e organizaram-se em associaccedilotildees Aleacutem disso foi nesse panorama que surgiram as

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

cooperativas que por sua vez promovem a profissionalizaccedilatildeo do trabalho contribuem para a melhoria da qualidade do trabalho dos catadores ofertando os equipamentos de seguranccedila dando treinamentos sobre a coleta e facilitando a intermediaccedilatildeo entre os catadores e as induacutestrias de reciclagem

Nos anos 1990 no Brasil vaacuterias instituiccedilotildees foram criadas pelas induacutestrias com o objetivo do desenvolvimento da reciclagem Des-tacam-se dentre elas (1) ABIPET oacutergatildeo ligado agrave cadeia produtiva do PET que se responsabiliza por questotildees teacutecnicas e operacionais para o mercado divulga informaccedilotildees e capacita parceiros (2) CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) que eacute responsaacutevel pelo incremento da atividade de reciclagem de todos os materiais e (3) PLASTIVIDA (Instituto Socioambiental dos Plaacutesticos) criado pela Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria Quiacutemica (ABIQUIM)

O material resultante da reciclagem do PET eacute um polieacutester termoplaacutestico Eacute resistente leve e transparente A evoluccedilatildeo do mercado e os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram novas aplica-ccedilotildees desse material desde cordas e fios de costura aos carpetes de bandejas de ovos e frutas a ateacute mesmo novas garrafas Com a reciclagem evita-se o lixo plaacutestico dos aterros Aleacutem disso uti-liza-se apenas 03 da energia total que eacute utilizada para produzir a resina virgem Ainda pode ser reciclada muitas vezes sem per-der a qualidade (CEMPRE 20176) A reciclagem de garrafa PET ultrapassa os campos da preservaccedilatildeo ambiental e movimenta tambeacutem a economia do paiacutes (PENSAMENTO VERDE 20137)

41 Processo de reciclagem do PETO processo de reciclagem do PET ocorre em trecircs etapas baacutesicas a recuperaccedilatildeo a revalorizaccedilatildeo e a transformaccedilatildeo Primeiramente se recupera do descarte posterior depois se faz o acondicionamento em fardos seguindo para a comercializaccedilatildeo quando ocorre a revalorizaccedilatildeo Para completar o processo inicial acontece a trans-formaccedilatildeo da mateacuteria prima oriunda das garrafas PET poacutes-consumo em um novo produto

Na etapa da revalorizaccedilatildeo acontece a moagem e lava-gem do PET produzindo a mateacuteria-prima reciclada Inicia-se colocando os fardos das garrafas na plataforma para serem desfeitos Em seguida as garrafas satildeo colocadas na esteira de alimentaccedilatildeo da peneira rotativa e eacute realizada a sua primeira etapa de lavagem Eacute o momento em que ocorre a retirada os maiores contaminantes como pedras tampas soltas etc Se-guindo o processo as garrafas passam para a esteira de seleccedilatildeo Nela satildeo monitorados a presenccedila de outros materiais como por exemplo PVC PP PE eou metais que podem ser acusados pelo detector (ABIPET 2012)

Na etapa seguinte as garrafas caem na esteira de alimenta-ccedilatildeo do primeiro moinho onde sofrem a primeira moagem feita com adiccedilatildeo de aacutegua O material moiacutedo eacute retirado atraveacutes de uma rosca duplo envelope e a aacutegua suja eacute separada do processo Em seguida passa pelos tanques de descontaminaccedilatildeo onde ocorre a separaccedilatildeo dos roacutetulos e tampas Nessa fase poderaacute ser feita a adiccedilatildeo de produtos quiacutemicos para beneficiamento do processo e entatildeo o material eacute levado para outro moinho ateacute obter a gra-nulometria adequada (ABIPET 2012)

Na sequecircncia do processo o material eacute transportado pneumati-camente ateacute o lavador onde com nova adiccedilatildeo de aacutegua eacute realizado o enxaacutegue e levado para o secador O material eacute retirado do secador atraveacutes do transportador pneumaacutetico e encaminhando para o silo Novamente eacute realizada a verificaccedilatildeo atraveacutes do detector de metais natildeo ferrosos de onde o material eacute retirado e embalado em big-bags (sacolas de aproximadamente 1m3) e enviado para a induacutestria de transformaccedilatildeo (ABIPET 2012) Esse material eacute formado de pequenos flocos do PET tambeacutem conhecidos com flakes (VEZZA COTAIT 2006)

Figura 1 ndash Esquema de funcionamento baacutesico de uma unidade de moagem lavagem e descontaminaccedilatildeo de PET

Fonte httpwmareciclepetblogspotcombr 8

Para que possa ser viabilizada a obtenccedilatildeo do material com maior facilidade eacute necessaacuterio realizar consulta sobre os oacutergatildeos governa-mentais da regiatildeo ligados agrave atividade de reciclagem Obtecircm-se informaccedilotildees sobre o sistema de coleta a possibilidade da compra do material verificar a origem da coleta seletiva dos catadores o desenvolvimento de parcerias com cooperativas ONGs empresas privadas associaccedilotildees comunitaacuterias aleacutem de realizar buscas de for-necedores do material em outras regiotildees (VEZZA COTAIT 2006)

5 PET na induacutestria tecircxtil Na induacutestria tecircxtil a fibra de PET reciclada estaacute sendo usada desde a deacutecada 1970 e sua pioneira foi a empresa americana Wellman localizada na Carolina do Sul (EUA) que reciclava e produzia fibras de polieacutester Como se tratava de fibras grossas inicialmente foram

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

utilizadas para o enchimento de brinquedos e estofados simples ou na confecccedilatildeo de natildeo tecidos (TNT) pois esses produtos natildeo exi-giam muita resistecircncia fiacutesica e de volume (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Com o avanccedilo tecnoloacutegico a transformaccedilatildeo das garrafas PET em fibras foi aprimorada resultando em produtos de maior qualidade Poreacutem demorou um tempo razoaacutevel para que o polieacutester reciclado chegasse ao patamar de qualidade do polieacutester produzido da mateacute-ria-prima virgem Uma das dificuldades era a variedade de tipos do material reciclado aleacutem da diferenccedila na composiccedilatildeo entre o polieacutester utilizado para uso tecircxtil e o das embalagens (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Por outro lado as fibras de polieacutester resultante da reciclagem do PET podem trazer outros problemas para a estabilidade do pro-duto final porque (1) satildeo produzidas por diferentes fabricantes e apresentando pequenas alteraccedilotildees de especificaccedilotildees na mateacuteria--prima ou aditivaccedilotildees diferentes (2) o PET fabricado em datas muito diferentes pode apresentar alteraccedilatildeo de desempenho dos aditivos pela diferenccedila de tempo (3) haacute viscosidades distintas decorrentes da exigecircncia da maacutequina ou embalagem (4) o PET eacute fabricado por equipamentos diferentes na produccedilatildeo das embalagens com grau de estiramento diverso e (5) haacute possibilidade da mistura do PET com outros tipos de materiais como os que compotildeem o roacutetulo eou a tampa geralmente produzidos em outros tipos de plaacutesticos Portanto a fibra de polieacutester reciclado 100 PET de boa qualidade eacute uma grande inovaccedilatildeo (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Em 2005 a ABIPET teve a iniciativa de recomendar aos designers atraveacutes de um documento intitulado ldquoDiretrizes para projeto de garra-fas de PETrdquo Com intuito de conscientizar o setor de embalagens sobre o tema esses profissionais tiveram acesso agraves caracteriacutesticas teacutecnicas das embalagens e de seus acessoacuterios Basicamente o objetivo da associa-ccedilatildeo era evitar o comprometimento da qualidade do polieacutester reciclado devido ao uso de materiais inadequados e de difiacutecil separaccedilatildeo O do-cumento foi amplamente divulgado pelas miacutedias especializadas em seminaacuterios e em visitas agraves empresas de embalagens (ABIPET 2006)

51 Destinaccedilatildeo da fibra Pet na induacutestria brasileiraSegundo ABIPET (2014) ainda continuam as dificuldades relativas agrave coleta seletiva poreacutem por outro lado haacute demanda por parte da induacutestria da utilizaccedilatildeo do PET reciclado e isso faz com que o desenvolvimento da atividade seja crescente O mercado tecircxtil continua sendo o principal destino de todo PET reciclado no Brasil esse setor consome aproximadamente 40 de todo o material produzido Em segundo lugar vecircm os setores de embalagens e o de aplicaccedilotildees quiacutemicas empatados com 18 do uso ldquoA induacutestria tecircxtil continua sendo a grande aposta Mas chama atenccedilatildeo o fan-taacutestico crescimento da utilizaccedilatildeo do PET reciclado na fabricaccedilatildeo de outras embalagens Chamada de bottle-to-bottle esta aplicaccedilatildeo teve vaacuterios projetos lanccedilados nos uacuteltimos anosrdquo (ABIPET 2014)

No setor tecircxtil o uso da fibra do PET reciclado teve iniacutecio no segmento corporativo especialmente na produccedilatildeo de uniformes para as empresas Com o avanccedilo tecnoloacutegico e a melhoria na qualidade e no toque da fibra as grandes marcas aderiram ao uso de tecidos que possuem na sua composiccedilatildeo a fibra reciclada PET Marcas conhecidas no mercado como Osklen Brooksfield Mizuno e Hering adotaram esse tipo de fibra pois perceberam o valor das propriedades do fio de polieacutester reciclado do PET Aleacutem disso estatildeo atentos ao nicho de mercado dos consumidores dispostos a adquirir produtos ecologicamente corretos (ABIPET 2014)

O fio de polieacutester reciclado quando associado ao algodatildeo atribui estabilidade dimensional ao tecido e dessa forma evita o encolhimento ou entorte aleacutem de melhorar a solidez na cor a resistecircncia e a durabilidade Esse tipo de fibra tambeacutem pode di-minuir a gramatura do tecido uma vez que fica mais fino e menos encorpado O resultado eacute um tecido com um toque mais suave indicado na produccedilatildeo da moda iacutentima Com base nisso a marca DrsquoUomo uma das maiores fabricantes de cuecas do Brasil lanccedilou uma coleccedilatildeo com uso tecidos com a fibra de PET (ABIPET 2014)

Outro mercado crescente eacute a induacutestria de calccedilados com a produccedilatildeo de diversos tipos de calccedilados com os tecidos reciclados do PET atraveacutes do lanccedilamento de coleccedilotildees sustentaacuteveis do setor A Figura 2 apresenta os percentuais de aplicaccedilatildeo das fibras PET na induacutestria brasileira

Figura 02 ndash Representaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo da fibra PET

Fonte Aacutegua e Vida ndash Revista oficial do setor de aacuteguas minerais9

Apesar da evoluccedilatildeo e crescimento da induacutestria no que tange ao aproveitamento do PET ainda continuam existindo grandes quantidades de garrafas descartadas na natureza poluindo centros urbanos aacutereas rurais florestas e boiando nos rios oceanos e praias Todo esse material poderia ser aproveitado pois existe carecircncia do PET para a reciclagem Em 2014 a taxa de ociosidade chegou a atingir 30 nas induacutestrias de reciclagem devido agrave carecircncia da coleta seletiva

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A necessidade de expandir a educaccedilatildeo ambiental eacute um dos temas mais importantes para promover a mudanccedila de haacutebitos da popula-ccedilatildeo e a mudanccedila de postura do poder puacuteblico (ABIPET 2014)

6 Consideraccedilotildees finaisO aproveitamento de produtos reciclaacuteveis em processos de produccedilatildeo identifica uma postura corporativa de responsabilidade ambiental o que faz parte das estrateacutegias aplicadas por empresas competitivas Conscientizando-se dos limites que o meio ambiente pode tolerar e com a sociedade cada vez mais atenta sabe-se que para continuar com o crescimento natildeo eacute mais admitida a degradaccedilatildeo Contudo eacute necessaacuterio continuar a fazer projetos para o futuro assim desenha-se o desenvolvimento sustentaacutevel Com tal percepccedilatildeo a induacutestria tecircxtil vem investindo fortemente na reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos que somam grande volume dentro das empresas Aleacutem disso o uso da fibra PET reciclada das embalagens do poacutes-consumo estaacute tendo um crescimento consideraacutevel por meio da composiccedilatildeo mista dos tecidos bem como na fabricaccedilatildeo de tecidos com a fibra de polieacutester totalmente reciclada

Para completar essa visatildeo estrateacutegica as grandes marcas de produ-tos tecircxteis estatildeo aderindo ao design inovador ligando a sua imagem de marca agrave responsabilidade ambiental e agrave sustentabilidade Para conhecer melhor esse processo de mudanccedilas que estatildeo ocorrendo na induacutestria tecircxtil e verificar os resultados na sociedade consumidora eacute necessaacuterio o aprofundamento dos estudos nessa linha

N o t a s

1 ndash PNUMA - Programa para o Meio Ambiente estabelecido em 1972 Eacute a agecircncia da ONU responsaacutevel pela accedilatildeo internacional e nacional para a proteccedilatildeo do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentaacutevel Disponiacutevel em httpsgooglY7iyuv Acesso em 16 ago 2017

2 ndash Sustainble Development Knowledge Platform Disponiacutevel em httpsgooglVdPRbi Acesso em 16 ago 2017

3 ndash Disponiacutevel em httpwdoorg Acesso em 15 jul 2017

4 ndash Disponiacutevel em httpsgoogloKbRt6 Acesso em 30 jul 2017

5 ndash Disponiacutevel em httpsgooglZQq3cH Acesso em 28 jun2014

6 ndash Disponiacutevel em httpsgooglLPiZrq Acesso em 23 jul 2017

7 ndash Disponiacutevel em httpsgoogl6cf8r5 Acesso em 23 jul 2017

8 ndash Disponiacutevel em httpsgooglnmoiP6 Acesso em 28 jun 2014

9 ndash Disponiacutevel em httpwwwrevistaaguaevidacombrp=610 Acesso em 15 jun 2016

R e f e r ecirc n c i a s

ABIPET (Associaccedilatildeo Brasileira da Industria do PET) Reciclagem benefiacutecios

da reciclagem de pet Disponiacutevel em lthttpwwwabipetorgbrindex

htmlgt Acesso em 22 jun 2014

ANICET R Anne BESSA Pedro BROEGA Ana Cristina Reciclagem de re-

siacuteduos da induacutestria da moda atraveacutes de colagem XXXIII Encontro da

ANPAD ndash Satildeo PauloSP ndash 19 a 23 de setembro de 2009 Disponiacutevel em

lthttpsgooglnwFtRkgt Acesso em 08 jun2014

CASSALLI J D Tratamento do efluente de uma recicladora de plaacutesticos uti-

lizando coagulante natildeo metaacutelico e compostagem Santa Maria UFRGS

2011 146 p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpsgooglKeiQTMgt

Acesso em 10 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS SLF TEOLOacuteSIO ASS Reciclagem do PET desafios e

possibilidades XXVI ENEGEP - Fortaleza CE Brasil 9 a 11 de Out 2006

Disponiacutevel em lthttpsgooglpoyjKtgt Acesso em 23 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF Haacute vida apoacutes a morte um (re)pensar estra-

teacutegico para o fim da vida das embalagens - GESTAtildeO amp PRODUCcedilAtildeOv13

ndeg3p463-474 set-dez2006 Disponiacutevel em ltwwwscielobrpdfgp

v13n308pdfgt Acesso em 22 jun 2014

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF GUIMARAtildeES Leandro F SANTOS Maria

CLdos As muitas vidas do pet integrando competecircncias ldquoverdesrdquo na

cadeia produtiva- SIMPOI POMS2007 ndash Proceedigns Disponiacutevel em

lthttpsgoogl7cfrXYgt Acesso em 08 jun 2014

KANAMARU Antocircnio T FARIAS ANA C IAMAMURA Patricia Materioteca

ecoloacutegica brasileira no ensino de moda arte e design tecircxtil Disponiacutevel

em lthttpsgooglS13mN1gt Acesso em 08 jun 2014

MANZINI Ezio VEZZOLI Carlo O desenvolvimento de produtos sustentaacuteveis

Os requisitos ambientais de produtos industriaisSatildeo Paulo EDUSP 2005

MAU Bruce Massive change London Phaidon 2004

MOHR Martina et al A relevacircncia do conceito de design orientado ao am-

biente em induacutestrias gauacutechas In 7ordm Congresso Brasileiro de Pesquisa

e Desenvolvimento em Design Paranaacute 2006

MORENO F N Tratamento de efluentes de uma induacutestria de reciclagem

de embalagens plaacutesticas de oacuteleos lubrificantes processo bioloacutegico e

fiacutesico-quiacutemico Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Estadual de

Campinas Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo

Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo de Engenharia Civil Campinas ndash SP

2007 142p 22 Disponiacutevel em repositoacuterio lthttpsgooglS3Bbxwgt

Acesso em 20 jul 2017

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 8 de 8

MOURA Renan Gomes LOPES Paloma de Lavor SILVA Leandro Vidal

da BALDEZ Priscila Pereira Logiacutestica reversa das garrafas pet sua re-

ciclagem e a reduccedilatildeo do impacto ambiental- XI Congresso Nacional

De Excelecircncia Em Gestatildeo 13 e 14 de agosto de 2015 Disponiacutevel em

lthttpsgooglzAKdpygt

MROZINSKI Helena Algodatildeo reciclado e variaccedilotildees implicaccedilotildees para o

design de moda sustentaacutevel Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Design do Centro Universitaacuterio Ritter dos Reis-

Mestre em Design Porto Alegre 2016

PAPANEK Victor Design for the real world human ecology and social change

Londres Thames amp Hudson 1984

REBELLO Luiza H B Design sustentaacutevel e moda material didaacutetico impresso

para a disciplina Design Sustentaacutevel e Moda curso de Poacutes-gradua-

ccedilatildeo em Design de Moda (Especializaccedilatildeo) Rio de Janeiro Faculdade

SENAICETIQT 2008

SACHS Ignacy Desenvolvimento sustentaacutevel desafio do seacuteculo XXI In

Ambient soc JulDez 2004 vol7 no2 ISSN 1414-753X

SILVA Jde A Estudo de caso caracterizaccedilatildeo do efluente de uma empresa

de reciclagem de garrafas pet e ajuste nas etapas de tratamento para

adequaccedilatildeo aos paracircmetros legais de lanccedilamento Uberaba-MG I F E C T

Do Triacircngulo Mineiro 2015 82p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttps

googlitPfYgt Acesso em 15 jun 2017

VEZZOLI Carlo Design de sistemas para a sustentabilidade teoria meacuteto-

dos e ferramentas para o design sustentaacutevel de ldquosistemas de satisfaccedilatildeordquo

Salvador EDUFBA 2010 343p

VEZZAacute Carlo Sartori Bonfim COTAIT Pedro Lde A Produccedilatildeo de fibras para

confecccedilatildeo de tecidos a partir da reciclagem de pet 2006 Disponiacutevel em

lthttpsgooglP7WkgBgt Acesso em10 jun 2017

VIEIRA ALEXANDRA S RABELLO Luiza HB A contribuiccedilatildeo do design

ldquoverderdquo um estudo de caso da empresa Woumlllner ndash Revista de Design

Inovaccedilatildeo e Gestatildeo Estrateacutegica REDIGE v 2 n 1 2011 Disponiacutevel em

ltwwwcetiqtsenaibrredigegt Acesso em 08 jun 2014

O ldquoentrelugarrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminaresThe ldquoin-betweenrdquo of genderfluid in fashion preliminary thoughts

Camila Carmona Dias e Cayan Santos Pietrobelli

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017ISSN 2177-4986

Paacutegina 1 de 10

R e s u m o

O presente artigo se fundamenta nos estudos que afirmam o gecircnero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para necessidade da

quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes impostos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Dessa forma partiu-se da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar passou-se pela teoria da reapropriaccedilatildeo e resistecircncia de Certeau (1994) para finalmente levantar uma hipoacutetese de que a resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998)

A b s t r a c t

This paper is based on studies that claim gender not as a determined biological factor but as a social construction Thus it indicates the need for breaking the gender binary pattern considering individuals who do not identify with the current genders imposed by the theory of biological sex that is they are genderfluid Therefore this research aims to analyze theoretically the relationship between genderfluid and fashion Hence it starts from the Foucauldian concept of disciplinary power going through Certeaursquos theory of reappropriation and resistance (1994) and finally raising the hypothesis that resistance based on cultural reappropriation may be connected to Bhabharsquos concept of in-between (1998)

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 26092017

Palavras-chaveModa Gecircnero fluido Entrelugar Resistecircncia

KeywordsFashion Genderefluid In-Between Resistance

Autores Bacharel em Moda Mestra em Educa-ccedilatildeo Doutoranda em Histoacuteria Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail camiladiaserechimifrsedubr

Graduaccedilatildeo em Design de Moda Poacutes-graduaccedilatildeo em Semioacutetica Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail cayanpietrobellilivecom

Como citar este artigoDIAS C C PIETRBELLI C S O ldquoentrelu-garrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminares Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoOs estudos trilhados nas relaccedilotildees entre moda e gecircnero natildeo satildeo novos Vaacuterios autores jaacute experimentaram dialogar sobre o assunto Atualmente essa temaacutetica estaacute sendo muito discutida seja na miacutedia ou na academia Assim o texto visa a trazer algumas con-tribuiccedilotildees sobre o tema aleacutem de instigar um debate inicial sobre a fluidez de gecircnero na moda

No decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com esse conceito existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos Na cultura patriarcal vigente haacute uma subdivisatildeo limitada entre masculinofeminino e homemmulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possi-bilidade de natildeo binariedade ou fluidez A moda eacute um dos fatores principais para a identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo do indiviacuteduo com seu gecircnero tendo em vista que por meio dela eacute dada a devida signifi-cacircncia ao corpo vestido alegando seu papel dentro de um grupo

Este trabalho se fundamenta nos estudos que afirmam o gecirc-nero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para a necessidade da quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes im-postos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo estudar o gecircnero fluido na moda ou melhor o entrelugar em que ele se encontra Para isso faz uso principalmente das teorias de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998)

Parafraseando o professor Meneses (2003 p11) a intenccedilatildeo da reflexatildeo do trabalho eacute tentar construir um ldquobalanccedilo provisoacuteriordquo e sugerir ldquopropostas cautelaresrdquo sobre tal tema Ou seja a reflexatildeo desenvolvida visa a possibilitar uma discussatildeo preliminar sobre as inuacutemeras interfaces que permeiam a temaacutetica aqui estudada

Assim para alcanccedilar seu objetivo teoacuterico o artigo eacute dividido em duas partes A primeira traz a moda como expressatildeo pessoal elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo aleacutem de um sistema de praacutetica cultural e de representaccedilatildeo Jaacute na segunda parte esboccedila-se a relaccedilatildeo entre moda e gecircnero e desenvolvem-se as concepccedilotildees de (i) gecircnero como construccedilatildeo cultural (ii) moda e gecircnero a relaccedilatildeo com o poder discipli-nador e com a insubmissatildeo do sujeito e finalmente (iii) o entrelugar como local de conflito negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees

2 Moda como ExpressatildeoNas uacuteltimas deacutecadas a importacircncia cultural do ldquofenocircmeno modardquo vem crescendo fruto de pesquisas em diversas aacutereas como Histoacuteria Socio-logia Antropologia Semioacutetica Psicologia entre outras Por meio desses estudos vaacuterios conceitos sobre essa temaacutetica foram elaborados

Souza (1996) relata que a maior dificuldade ao tratar de um assunto complexo como a moda eacute a escolha do ponto de vista Apesar de essa ser uma imposiccedilatildeo necessaacuteria de meacutetodo a visatildeo deste trabalho eacute de que se empobrece um fenocircmeno de tatildeo difiacutecil explicaccedilatildeo reduzindo tamanha complexidade a apenas uma visatildeo Dessa forma infere-se que um aspecto ex-tremamente relevante para a construccedilatildeo teoacuterica dos conceitos sobre moda eacute o seu caraacuteter ambiacuteguo

A moda eacute um todo harmonioso e mais ou menos indissoluacutevel Serve agrave

estrutura social acentuando a divisatildeo em classe reconcilia o conflito

entre o impulso individualizador de cada um de noacutes (necessidade de

afirmaccedilatildeo como pessoa) e o socializador (necessidade de afirmaccedilatildeo

como membro do grupo) exprime ideias e sentimentos pois eacute uma

linguagem que se traduz em termos artiacutesticos (SOUZA 1996 p29)

Destarte a moda envolve simultaneamente alteraccedilotildees de natureza artiacutestica econocircmica poliacutetica socioloacutegica aleacutem de atingir questotildees de expressatildeo de identidades sociais (GODART 2010) Logo pode-se dizer que a moda natildeo eacute apenas um reflexo da socie-dade mas sim um agente ativo na sua construccedilatildeo o que permite afirmar que a moda eacute um fato social total

Sobre as transformaccedilotildees abrangidas pela moda Freitas (2005) relata as incessantes modificaccedilotildees das preferecircncias dos mem-bros de uma sociedade natildeo se limitando apenas agrave indumentaacuteria Nas palavras do autor ldquona histoacuteria da humanidade o corpo foi recoberto de maneiras simultaneamente singulares e tribais de acordo com o tempo e o espaccedilo significando quase sempre os sentimentos da eacutepocardquo (FREITAS 2005 p126)

Segundo Svendsen (2010) a moda aplicada ao vestuaacuterio teve sua origem no fim do periacuteodo medieval O autor cita o iniacutecio do Renascimento e a expansatildeo mercantil como principais fatores para o surgimento de tal fenocircmeno de maneira que a origem da moda como sistema teve sua consolidaccedilatildeo com a ascensatildeo da burguesia

Nos seacuteculos XVII e XVIII a nobreza definia ndash de acordo com o coacutedigo social vigente ndash o que seria usado no vestuaacuterio criando assim tendecircncias de moda que seriam seguidamente copiadas pela alta burguesia (RECH 2002) Para Lipovetsky (2009) essa ex-pansatildeo da moda na sociedade natildeo atingiu de imediato todas as camadas segregando a princiacutepio as classes subalternas

A partir dessa nova organizaccedilatildeo social a moda foi legitima-da no seu real caraacuteter de mudanccedila Nessa perspectiva Freacutedeacuteric Godart (2010 p29) trabalha com a etimologia da palavra ldquomodardquo oriunda do latim modus ou seja o que designa maneiras de fazer Logo a moda estaacute diretamente relacionada com a possibilidade ou a necessidade de mudanccedilas

Paacutegina 2 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Em relaccedilatildeo agrave moda com a premissa de mudanccedilas Svendsen (2010 p22) justifica que ldquonatildeo podemos falar de moda na antiguida-de no sentido em que o fazemos hoje porque natildeo havia autonomia esteacutetica individual na escolha das roupasrdquo embora houvesse distin-ccedilotildees estabelecidas de acordo com as relaccedilotildees de poder Lipovetsky (2009) por sua vez afirma que para haver sistemas de moda a novidade e o gosto pelo novo satildeo princiacutepios constantes

Na concepccedilatildeo de Malcolm Barnard (2003 p149) ldquosoacute uma so-ciedade muito simples eacute que natildeo possui modardquo O autor infere que praticamente todas as sociedades tiveram possibilidades de possuir moda ou seja trata-se de ldquosociedades que usaram mu-danccedilas na indumentaacuteria para construir e comunicar identidades de classerdquo (BARNARD 2003 p150)

Durante longo periacuteodo a histoacuteria da moda foi regida pela hierarquia de classes baseada na distinccedilatildeo das vestimentas por meio de leis que proibiam membros da plebe de usarem roupas similares agraves dos nobres Entretanto Lipovetsky (2009) alega que no decorrer do tempo a moda adquiriu um caraacuteter individuali-zador mesmo com o prevalecimento de uma norma coletiva

Embora julgada como de caraacuteter tirano ldquoa moda estaacute fundada historicamente no valor e na reivindicaccedilatildeo da individualidaderdquo ou seja ela se legitima na singularidade Em seu niacutevel a moda marca uma brecha na supremacia imemorial e em paralelo marca tambeacutem o limite do processo de dominaccedilatildeo social e poliacutetica nas sociedades modernas (LIPOVETSKY 2009 p53)

Na mesma linha Pitombo (2010) afirma que a moda e a in-dumentaacuteria satildeo alguns dos possiacuteveis meios pelos quais a ordem social eacute posta em praacutetica Atraveacutes da indumentaacuteria e da moda podemos nos constituir e consequentemente nos afirmar como seres sociais Dessa maneira a moda foi tomando cada vez mais um caraacuteter individual e identitaacuterio

Svendsen (2010) teoriza que a moda trabalha num sistema de valores simboacutelicos Logo o olhar de um sujeito sobre uma determinada roupa resultaraacute numa conclusatildeo sobre quem a veste portanto infere-se que nesse contexto o siacutembolo (roupa) adquire representaccedilatildeo (a conclusatildeo do sujeito) Para o filoacutesofo as roupas da moda aleacutem de possuiacuterem grande valor simboacutelico agem como distintivos de papeacuteis sociais

Diante de tais pressupostos relatados na obra de Svendsen (2010) mesmo que diferentes tipos de roupas comuniquem um significado supostamente oacutebvio para um determinado grupo capaz de interpretar os coacutedigos representados natildeo se pode afir-mar que esses coacutedigos comunicaratildeo o mesmo significado para diferentes grupos sociais visto que cada grupo tem uma maneira de significar seus objetos

Essas preferecircncias simboacutelicas de um determinado grupo satildeo definidas por Pierre Bourdieu (1983 p83-84) como estilo de vida cuja anaacutelise eacute essencial no campo da moda Segundo o autor o gosto eacute cultivado pelo adestramento social

O estilo de vida eacute um conjunto unitaacuterio de preferecircncias distintivas que

exprimem na loacutegica especiacutefica de cada um dos subespaccedilos simboacutelicos

mobiacutelia vestimentas linguagem ou hexis corporal a mesma intenccedilatildeo

expressiva princiacutepio de unidade de estilo que se entrega diretamente

agrave intuiccedilatildeo e que a anaacutelise destroacutei ao recortaacute-lo em universos separados

Tal acepccedilatildeo permite compreender a moda como expressatildeo cultural como um conjunto de princiacutepios que geram e organizam praacuteticas e representaccedilotildees Como relata Pitombo (2010) a moda eacute um sistema de significaccedilatildeo da cultura Para reiterar sua explanaccedilatildeo a autora com o objetivo de pensar a moda como expressatildeo cultural apropria-se do conceito de habitus de Pierre Bourdieu Para o au-tor habitus eacute um ldquosistema de disposiccedilotildees socialmente constituiacutedas que enquanto estruturas estruturadas e estruturantes constituem o princiacutepio gerador e unificador do conjunto das praacuteticas e das ideologias caracteriacutesticas de um grupo de agentesrdquo (BOURDIEU 2007 p191) O habitus pode ser visto como uma siacutentese dos estilos de vida e dos gostos pelos quais apreciamos o mundo e nos com-portamos nele (BOURDIEU 2007) Pode-se dizer que tal conceito fundamenta-se na ldquomaterializaccedilatildeo da memoacuteria coletiva que repro-duz para os sucessores as aquisiccedilotildees dos precursores Ele permite ao grupo perseverar em seu serrdquo (PITOMBO 2010 p240) Eacute tambeacutem incorporaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em seu sentido proacuteprio

Diante do entendimento da moda contemporacircnea como expressatildeo pessoal e elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo assim como da real significaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria como sistema de praacutetica cultural e representaccedilatildeo pode-se estabelecer relaccedilotildees paralelas entre a moda e o gecircnero consideradas o foco principal do presente estudo Visto que a moda vigente frente ao contexto sociocultural eacute produzida para os sexos ndash masculino e feminino faz-se necessaacuteria portanto a compreensatildeo da possiacutevel relaccedilatildeo entre moda e gecircnero

3 Moda e Gecircnero algumas conexotildees possiacuteveisA moda eacute um fenocircmeno que conteacutem possibilidades de diferencia-ccedilatildeo ou unidade assumindo caraacuteter distintivo quando relacionada a papeacuteis sociais e de representaccedilatildeo quando apresentada como siacutembolo Assim pode-se afirmar que ela eacute um elemento crucial na representaccedilatildeo social e afirmaccedilatildeo do gecircnero

Jaacute o gecircnero eacute uma instituiccedilatildeo simboacutelica erroneamente associado a normas bioloacutegicas Levando em conta a premissa do gecircnero como construccedilatildeo social e natildeo como um atributo

Paacutegina 3 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

fisioloacutegico alguns objetos satildeo necessaacuterios para sua significaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo no meio social incluindo o vestuaacuterio

Diante desse contexto este estudo buscaraacute estabelecer rela-ccedilotildees e dialogar com as teorias existentes da influecircncia da moda sobre o gecircnero sendo a moda ndash tanto no sentido de mudanccedilas quanto no de sistemas ndash o elemento de representaccedilatildeo dos gecircne-ros em questatildeo Assim inicialmente o texto abordaraacute o conceito de gecircnero e logo em seguida estabeleceraacute a devida relaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria com o gecircnero

4 Gecircnero uma construccedilatildeo culturalNo decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com as teorias sobre o sexo bioloacutegico de cada indiviacuteduo existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos por cada um Na cultura patriarcal vigente existe uma subdivisatildeo limitada entre o homem e a mulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possibilidade de natildeo binariedade ou fluidez

As teorias do patriarcado levantam breve questionamento sobre as diferenccedilas entre homens e mulheres de vaacuterios modos no entan-to essas mesmas teorias desconsideram as diferenccedilas de gecircnero e sua relaccedilatildeo com as demais desigualdades As definiccedilotildees de gecircnero de acordo com a teoria patriarcal satildeo estabelecidas com base nas diferenccedilas fiacutesicas gerando problemaacuteticas a historiadores(as) ten-do em vista que desconsideram toda a construccedilatildeo sociocultural tirando toda a historicidade do gecircnero em si (SCOTT 1989)

Para desmistificar o conceito de gecircnero como algo bioloacutegico eacute ne-cessaacuterio antes de tudo elucidar alguns termos usados erroneamente ou de maneira confusa tendo em vista que o estudo dos gecircneros eacute algo a que nem todos tecircm acesso Dessa forma a seguir encontra-se uma breve explicaccedilatildeo sobre as diferenccedilas entre identidade de gecircnero expressotildees de gecircnero sexo bioloacutegico e orientaccedilatildeo sexual

Eacute na identidade de gecircnero que se encontra a ldquoessecircnciardquo do ser humano o que eacute ou com o que se identifica de fato (homem mulher ou gecircnero natildeo binaacuterio) Joan Scott (1989) sugere que o gecircnero parece integrar-se na terminologia cientiacutefica das ci-ecircncias sociais deixando assim de ser um campo das ciecircncias bioloacutegicas Segundo as nomenclaturas usadas nos estudos de gecircnero quem natildeo se identifica com o sexo bioloacutegico com o qual nasceu eacute considerado transgecircnero os demais cisgecircneros Dessa forma a identidade de gecircnero estaacute relacionada agrave auto-percepccedilatildeo e agrave expressatildeo social

Scott (1989) afirma que as ideias construiacutedas de masculini-dade e feminilidade natildeo satildeo fixas tendo em vista suas variaccedilotildees

de acordo com o contexto em que estatildeo inseridas Logo haveraacute um conflito entre a necessidade do sujeito de uma aparecircncia de completude e a imprecisatildeo da nomenclatura a relatividade da sua significaccedilatildeo e sua dependecircncia em relaccedilatildeo agrave repressatildeo ldquoEssas interpretaccedilotildees tornam problemaacuteticas as categorias lsquoho-memrsquo e lsquomulherrsquo sugerindo que a construccedilatildeo do masculino e do feminino eacute algo subjetivo e natildeo uma caracteriacutestica inseparaacutevelrdquo (SCOTT 1989 p16)

Conforme Judith Butler (2003 p25) ldquoo gecircnero natildeo deve ser meramente concebido como a inscriccedilatildeo cultural de significado num sexo previamente dado (uma concepccedilatildeo juriacutedica) tem de designar tambeacutem o aparato mesmo de produccedilatildeo mediante o qual os proacuteprios sexos satildeo estabelecidosrdquo

Souza e Carrieri (2010 p49) em seu artigo ldquoA analiacutetica Queer e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnerordquo enfatizam ldquonatildeo apenas que masculino e feminino satildeo construiacutedos por rela-ccedilotildees de poder historicamente fundamentadas mas tambeacutem que essas categorias natildeo satildeo naturais e nem existem a priorirdquo Ainda reiteram que a naturalizaccedilatildeo do modelo binaacuterio e identitaacuterio eacute uma estrateacutegia que permite a manutenccedilatildeo de velhas praacuteticas de controle e poder

Outro conceito eacute o de atraccedilatildeo ou orientaccedilatildeo sexual e embo-ra haja uma vasta gama de definiccedilotildees literaacuterias sobre o tema o termo se refere mais comumente agraves relaccedilotildees sexuais e afetivas dos indiviacuteduos ldquoHeterossexuais bissexuais ou homossexuais satildeo titulaccedilotildees usadas para definiccedilatildeo das diversas sexualidades es-tando possivelmente determinados por aspectos interpessoais intrapsiacutequicos e sociaisrdquo (CARDOSO 2008 p73)

Segundo Foucault (1988 p100) o conceito de sexualidade conhecido historicamente surgiu como meacutetodo de avaliaccedilatildeoseparaccedilatildeo da ldquonormalidaderdquo e da ldquoanormalidaderdquo tendo em vista que na visatildeo do filoacutesofo a sexualidade representa um ldquodispositivo histoacutericordquo ou seja natildeo uma realidade natural mas sim produtos de estimulaccedilotildees dos corpos e dos prazeres a fomentaccedilatildeo aos discursos e a construccedilatildeo do conhecimento encadeados como estrateacutegias de saber e poder

Jaacute o conceito de expressatildeo de gecircnero refere-se a como cada um age diante dos papeacuteis sociais e regras de comportamento impos-tas sendo entatildeo socialmente chamadas de femininas masculinas ou androacuteginas (no caso dos termos natildeo pejorativos) De acordo com Peres (2011) os corpos ainda atuam afirmando posiccedilotildees de identidades estabelecidas pelos sexos (machofecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculinofeminino) responsaacuteveis pela normatizaccedilatildeo de expressotildees de gecircneros

Paacutegina 4 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sobre os corpos ainda se incidem outras dimensotildees de padrotildees esteacuteti-

cos de maneirismos e de posiccedilotildees de corpos (posiccedilotildees de identidades)

que satildeo estabelecidas pelas diferenccedilas entre os sexos (homemmacho

ndash mulherfecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculino ndash femini-

no) responsaacuteveis pela cristalizaccedilatildeo de algumas identidades sexuais e

expressatildeo de gecircneros que satildeo produzidas pelos modos de subjetivaccedilatildeo

normatizador que se colocam como modelos de perfeiccedilatildeo sauacutede e

verdade absoluta se achando no direito de se sentirem superiores

diante das expressotildees diferentes da heteronorma (PERES 2011 p71)

Por fim temos o sexo bioloacutegico que eacute algo totalmente ge-neacutetico hormonal e se refere aos oacutergatildeos genitais como se o ser humano fosse qualquer outro animal sendo entatildeo fecircmea macho ou intersex ndash chamado anteriormente de hermafrodita e considerado por muito tempo como uma anomalia geneacutetica Conforme Swain (2011) o sexo eacute uma parte do corpo na qual a importacircncia e a representaccedilatildeo se definem pelo seu papel histoacuteri-co-cultural Complementa a autora reafirmando o sexo bioloacutegico como fator natildeo definitivo em relaccedilatildeo ao gecircnero e ligando-o a questotildees de verdade e poder que investidos de sentidos fa-zem do sexo nada mais do que uma parte do corpo humano que adquire significado atraveacutes de sua historicidade Logo sua representaccedilatildeo substitui a realidade bioloacutegica

De acordo com Simili (2012 p123) ldquodiferenccedilas bioloacutegicas entre indiviacuteduos sempre foram contextualizadas como insiacutegnias socioculturais para a significaccedilatildeo de papeacuteis sociais construiacutedos para serem desempenhados por uns ou outrosrdquo Destarte po-de-se definir gecircnero como uma imposiccedilatildeo social e cultural uma construccedilatildeo simboacutelica

Para Guacira Lopes Louro (2013 p11) ldquonatildeo haacute naturalidade nesse terreno de estudo de gecircnerordquo tratado inicialmente pelos processos de percepccedilatildeo do corpo ou da natureza Atraveacutes da vivecircncia dos processos socioculturais define-se o que eacute ou o que natildeo eacute natural ressignificando o contexto bioloacutegico inserindo sen-tido social nos corpos e compondo identidades A significaccedilatildeo dos gecircneros nos corpos (feminino e masculino) eacute afirmada com base no contexto de uma determinada cultura carregando portanto suas marcas (LOURO 2013 p11)

Por meio das questotildees teoacutericas trabalhadas anteriormente e ancorando-se em uma construccedilatildeo sociocultural do gecircnero este trabalho visa agrave desconstruccedilatildeo dos conceitos de gecircnero como fator bioloacutegico ou obrigaccedilatildeo agrave binariedade arraigados na sociedade ocidental Assim esta pesquisa fomenta as dis-cussotildees de gecircnero de suas diversas formas buscando a re-presentaccedilatildeo do corpo como objeto que adquire significacircncia de acordo com questotildees socioculturais transparecidos mais facilmente pelo ldquofenocircmeno modardquo

5 Moda e gecircnero poder disciplinador e insubmissatildeo do sujeitoO corpo humano eacute considerado objeto da moda logo o sistema de moda se torna elemento de representaccedilatildeo tornando possiacutevel a afirmaccedilatildeo e a significacircncia do gecircnero no contexto social Apro-priando-se dos conceitos de representaccedilatildeo de Chartier (1991) que afirma a negatividade da existecircncia de praacutetica ou estrutura que natildeo seja produzida pelas representaccedilotildees pode-se afirmar que as praacuteticas de se vestir satildeo atos de apropriaccedilatildeo e de circulaccedilatildeo das representaccedilotildees de moda e eacute atraveacutes da representaccedilatildeo que o indiviacuteduo legitima a sua existecircncia afirmando sua identidade

Crane (2006 p47) considera que ldquoas roupas da moda satildeo usa-das para fazer uma declaraccedilatildeo de suas identidades sociais mas suas mensagens principais referem-se as [sic] maneiras pelas quais mulheres e homens consideram seus papeacuteis de gecircnero ou a como se esperam [sic] que percebamrdquo

Narrando influecircncias da moda e do vestuaacuterio e sua relaccedilatildeo com o gecircnero Gilles Lipovetsky traccedila uma linha do tempo em seus es-tudos e afirma que o modo de vestir comeccedilou a ter grande desse-melhanccedila para homens e mulheres somente a partir do seacuteculo XIV quando o traje feminino passou a ser longo e justo e o masculino curto e ajustado O autor destaca esse acontecimento como uma ldquorevoluccedilatildeo do vestuaacuterio que lanccedilou as bases do trajar modernordquo (LIPOVETSKY 2009 p29) Essa diferenciaccedilatildeo significativa no traje acentuou o formato dos corpos para que afirmassem seus atributos de masculinidade ou feminilidade O autor define essas mudanccedilas como uma consequecircncia do que chama de ldquoesteacutetica da seduccedilatildeordquo pois o vestuaacuterio passa a ter poder de ldquoexibir os encantos do corpo acentuando a diferenccedila dos sexosrdquo (LIPOVETSKY 2009 p75)

O vestuaacuterio masculino passou a aderir ao uso do gibatildeo uma espeacute-cie de jaqueta curta e estreita e calccedilotildees colantes torneando as pernas Sobre a genitaacutelia era usado o codpiece chamado em portuguecircs de ldquoporta-pecircnisrdquo que cobria e adornava o oacutergatildeo genital masculino afir-mando a significaccedilatildeo de masculinidade e evidenciando a virilidade Esse adereccedilo era ostentado como um instrumento de poder reiterando a teoria de Lipovetsky (2009) da moda como elemento de seduccedilatildeo escondendo ou evidenciando os atrativos sexuais e o erotismo

A evidenciaccedilatildeo do genital masculino como siacutembolo de poder pode vir a fazer sentido atraveacutes de escritos do socioacutelogo Pierre Bourdieu (1999 p24) quando afirma que as diferenccedilas visiacuteveis entre os oacutergatildeos genitais masculino e feminino satildeo uma construccedilatildeo social e que encontram sua regra nos ldquoprinciacutepios de divisatildeo da razatildeo androcecircntricardquo O autor ainda afirma que esses constructos baseados nas diferenccedilas genitais condensam duas operaccedilotildees ldquolegitima[m] uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo inscrevendo-a em uma natureza bioloacutegica que eacute por sua vez ela proacutepria uma construccedilatildeo social naturalizadardquo (BOURDIEU 1999 p33)

Paacutegina 5 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Nessa explosatildeo de mudanccedilas e diferenciaccedilotildees de gecircnero a moda feminina surge com uma nova silhueta modelada em menccedilatildeo ao ventre ndash afirmando o signo de fertilidade da mulher Lipovetsky (2009) afirma que o busto passou a ser evidenciado pelo decote destacando os atributos femininos e o corpo foi alongado atraveacutes de uma cauda Um pouco mais tarde essa composiccedilatildeo re-ceberia o espartilho que imperou sobre a moda feminina durante quatro seacuteculos com a funccedilatildeo de afinar a cintura e erguer o colo

A respeito da indumentaacuteria feminina a socioacuteloga Diana Crane (2006) complementa mencionando o fato de as roupas das mu-lheres funcionarem como ferramentas de controle social na me-dida em que exemplificavam a concepccedilatildeo dominante e restritiva dos papeacuteis femininos evidenciando a submissatildeo das mulheres aos maridos Embora esse seja um aspecto prevalecente a autora frisa em seu estudo o seacuteculo XIX como periacuteodo em especial

Lipovetsky (2009) descreve o moralismo cristatildeo ocidental na era feudal e o modo como tratavam as frivolidades sendo um signo do pecado e do orgulho Entretanto no decorrer do seacuteculo XVIII a moda se tornou mais hedonista abandonando ordens religiosas e morais mais rigorosas de comportamento A moda se tornou assim uma exigecircncia de massa em uma sociedade que passava a priorizar os prazeres as mudanccedilas e o novo

ldquoFoi ao longo da segunda metade do seacuteculo XIX que a moda no sentido do termo instalou-serdquo (LIPOVETSKY 2009 p79) com a busca constante pelas mudanccedilas e o abandono das frivolida-des como signo de pecado ndash determinado pelo cristianismo Os reflexos do antropocentrismo consolidaram a moda trazendo um caraacuteter hedonista e individual Nesse periacuteodo inicia-se a segunda1 fase do fenocircmeno moda a Moda dos Cem Anos

A Moda dos Cem Anos estaacute ligada ao nascimento da alta-cos-tura em 1850 e tem na Europa a sua consagraccedilatildeo com criaccedilotildees de luxo e sob medida Essa fase tem seu fim em 1950 pois na deacute-cada seguinte surge a Moda Aberta que Lipovetsky (2009 p123) chama de ldquorevoluccedilatildeo democraacutetica do precirct-agrave-porterrdquo uma moda que segundo o autor permite a expressatildeo da personalidade do indiviacuteduo sendo o iniacutecio de uma democratizaccedilatildeo da moda A di-versidade da Moda Aberta gera novas vertentes e tendecircncias para o mercado da moda saindo da premissa de uma moda vigente para o acontecimento de vaacuterias modas paralelamente

No entanto para Mendes e Haye (2003) o precirct-agrave-porter eacute um sistema totalmente padronizado pela induacutestria deslegitimando o caraacuteter democraacutetico ao qual se refere Lipovetsky Nessa mes-ma corrente de pensamento encontra-se a filoacutesofa Martha Nus-sbaum que se opotildee agrave ideia democraacutetica da moda e afirma que esse sistema cria ao inveacutes de pessoas autocircnomas escravos da moda (NUSSBAUM 1995 apud SVENDSEN 2010)

O caraacuteter democraacutetico da moda cunhado por Lipovetsky (2009) parece natildeo ser de todo democraacutetico quando se entra na questatildeo de gecircnero Mesmo com o advento do sportwear que de acordo com o autor uniu as diferenccedilas entre os gecircneros em um uacutenico traje a questatildeo da dicotomia de gecircnero estaacute presente por meio da moda segmentada A teoria apresentada afirma que embora mulheres passassem a fazer uso de signos de moda mas-culina as peccedilas natildeo surtiriam o mesmo efeito posto que o sistema adequaria a peccedila para desenhar a silhueta feminina juntando isso a cores leves e alegres aderindo assim signo de feminilidade Diante da pauta do uso das cores para legitimaccedilatildeo do gecircnero cabe o cunho de Xavier Filha (2012 p635)

A afirmaccedilatildeo de que a menina tem de usar rosa e o menino azul ex-

trapola a questatildeo ligada ao gosto pessoal por cores Essa questatildeo eacute

eminentemente social pois se aprende desde muito cedo e no de-

correr da vida que essas cores identificam os meninos e as meninas

Essas cores produzem marcas identitaacuterias natildeo permitindo pensar em

outras formas de se fazer homem e de se fazer mulher Ao contraacuterio

demarcam a uacutenica forma legiacutetima de ser masculino e de ser feminino

Quando se trata de moda masculina eacute frisada a construccedilatildeo da imagem do homem associada agrave virilidade ldquoAdotar um siacutembolo de vestuaacuterio feminino seria transgredir no parecer o que faz a identida-de viril modernardquo (LIPOVETSKY 2009 p155) Dessa forma pode-se inferir que a moda da modernidade rompeu algumas diferenccedilas de classes mas a distinccedilatildeo entre o vestuaacuterio masculino e feminino ainda se encontra arraigada no fator cultural baseado na binariedade

Percebe-se que essa diferenccedila (binariedade) de trajes em re-laccedilatildeo ao gecircnero pode ser considerada como um instrumento de contenccedilatildeo do sujeito Michel Foucault por meio de uma seacuterie de estudos produziu uma espeacutecie de ldquogenealogia do sujeito mo-dernordquo O filoacutesofo e historiador francecircs destaca um novo tipo de poder o poder disciplinar Esse poder estaacute preocupado com a vigilacircncia e a regulaccedilatildeo em primeiro lugar de populaccedilotildees inteiras e em segundo com o indiviacuteduo e o corpo Desse modo Foucault trabalha com os sistemas de poder e de contenccedilotildees sociais oci-dentais referindo-se a penitenciaacuterias quarteacuteis hospitais escolas a famiacutelia e assim por diante como os elementos contensores na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Ou seja satildeo mecanismos de subjetivaccedilatildeo do indiviacuteduo Soacute por esses processos ele se torna sujeito O objetivo baacutesico do poder reside em construir um ser humano doacutecil ldquoEacute doacutecil um corpo que pode ser submetido que pode ser utilizado que pode ser transformado e aperfeiccediloadordquo (FOUCAULT 2004 p126)

Esse poder coercitivo se aplica agrave sociedade de diferentes modos de formas muacuteltiplas atraveacutes ldquode origens diferentes de localizaccedilotildees esparsas que se recordam se repelem ou se imitam

Paacutegina 6 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

apoiam-se uns sobre os outros distinguem-se segundo seu cam-po de aplicaccedilatildeo entram em convergecircncia e esboccedilam aos poucos a fachada de um meacutetodo geralrdquo (FOUCAULT 2004 p127)

Dessa forma a disciplina age de diferentes maneiras como por exemplo nos pequenos detalhes do dia a dia como o simples caminhar com determinada roupa Frente a isso a vestimenta tambeacutem pode ser vista como objeto de contensatildeo do indiviacuteduo natildeo para o proacuteprio mas sim diante do receptor2 diante do olhar doutrinado e reprodutor de doutrinaccedilatildeo da sociedade ou seja atraveacutes do ldquoolhar esmiuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo (FOUCAULT 2004 p121) Essa afirmativa ganha forccedila principalmente quando se leva em consideraccedilatildeo a afirmativa de Foucault ao narrar que atraveacutes do olhar se estabelecem efeitos de poder

No que tange agrave modelagem dos corpos a teacutecnica da disci-plina visa agrave criaccedilatildeo de ldquonatildeo apenas corpos padronizados mas tambeacutem [de] subjetividades controladasrdquo (MISKOLCI 2006 p682) Ou seja eacute possiacutevel afirmar que por meio do ldquoolhar es-miuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo sobre a vestimenta haacute uma reiteraccedilatildeo da binariedade femininomasculino e a exclusatildeo de possibili-dades de fluidez de gecircnero

O traje vem reafirmando historicamente os siacutembolos de mas-culinidade ou feminilidade perante os olhares receptores logo a roupa atua como um contensor ou mesmo um elemento opressor visto que a vestimenta da moda eacute voltada para a representaccedilatildeo de signos binaacuterios

Entretanto se eacute verdade que por toda parte se estende esse ldquopoder disciplinarrdquo abordado por Foucault ldquomais urgente ainda eacute descobrir como eacute que uma sociedade inteira natildeo se reduz a elardquo (CERTEAU 1994 p41) Trazendo essa ideia para o nosso objeto de estudo natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Acredita-se que existem procedimentos po-pulares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Michel de Certeau (1994) assevera que o sujeito natildeo eacute pas-sivo diante dos acontecimentos mas sim um produtor ativo de conhecimento que sintetiza e trabalha com as informaccedilotildees que recebe produzindo algo novo Dessa forma o sujeito produtor ativo sintetiza as informaccedilotildees recebidas no seu proacuteprio meio Certeau ao dialogar com teorias foucaultianas3 referentes a formas de contensatildeo fala sobre a insubmissatildeo do sujeito ndash natildeo passivo ndash diante da ordem vigente e conclui que um ato de renovaccedilatildeo ou inovaccedilatildeo pode ser considerado rebeldia ou seja um ato de resistecircncia

Assim Certeau (1994) traz o conceito do sujeito insubmisso o sujeito que sintetiza que foge da ordem que aproveita a ausecircncia do olhar pan-oacuteptico para lhe impingir golpes isto eacute que se utiliza de taacuteticas e estrateacutegias para resistir e reapropriar alguns conceitos da ordem disciplinadora

Retomando essa teoria em aplicaccedilatildeo agrave moda e ao gecircnero pode-se supor que a resistecircncia e a reapropriaccedilatildeo do sujeito insub-misso poderiam se encontrar na designaccedilatildeo do gecircnero fluido Os sujeitos que o incorporam utilizam taacuteticas4 para a modificaccedilatildeo das sentenccedilas da cultura binaacuteria patriarcal dos gecircneros subvertendo as imposiccedilotildees sociais vigentes do feminino e masculino

Antes de dar continuidade agraves reflexotildees faz-se necessaacuterio um breve esclarecimento acerca da escolha da expressatildeo ldquogecircnero flui-dordquo o que seraacute feito a seguir precedendo algumas consideraccedilotildees sobre o conceito de ldquoentrelugarrdquo de Bhabha (1998)

6 A escolha do gecircnero fluido um pequeno parecircntese na reflexatildeoAntes de continuar as reflexotildees eacute importante abrir um parecircntese para delimitar que esta pesquisa escolheu a utilizaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquogecircnero fluidordquo porque tal conceito expressa uma espontaneidade uma natildeo binariedade (masculinofeminino) uma facilidade de expressatildeo do sujeito em relaccedilatildeo ao gecircnero ou seja a facilidade de fluir entre dois ou mais gecircneros Ainda eacute de fundamental importacircncia deixar claro que o presente artigo natildeo considera ldquogecircnero fluidordquo sinocircnimo de ldquogecircnero neutrordquo5 pois este uacuteltimo ldquonatildeo eacute apenas inanimado de dis-curso mas atua no limite de aceitaccedilatildeo ndash sujeitando toda e qualquer outra forma de manifestaccedilatildeo menos normativardquo (KELLER 2016 p131)

Para Chartier (2002) natildeo existe neutralidade nos discursos de representaccedilatildeo inclusive nas representaccedilotildees sobre construccedilotildees de identidades de gecircnero Barthes (2002) classifica ldquoneutrordquo como uma categoria geral e interdisciplinar originalmente induzida do gecircnero gramatical neutro ndash nem feminino nem masculino Ele demonstra a relaccedilatildeo significativa entre a postura neutra em contradiccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo dos sexos Dessa forma acredita-se que a neutralidade leva o discurso a cair em uma vala de silecircncio recusando ser parte de um conflito

Posto isso considera-se que a escolha do gecircnero fluido foi apro-priada para o desenvolvimento do trabalho pois conforme se veraacute a seguir tal gecircnero se encontra no entrelugar entre a moda feminina e a moda masculina um espaccedilo extremamente conflituoso

7 O entrelugar local de conflito negociaccedilotildees e reapropriaccedilotildeesPara construir a reflexatildeo sobre o entrelugar do gecircnero fluido na moda seratildeo utilizadas as concepccedilotildees de Homi K Bhabha (1998) expressas em seu livro O local da cultura

Paacutegina 7 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Bhabha eacute um homem marcado por uma dupla inscriccedilatildeo cultural indiana e britacircnica podendo ser caracterizado ao mesmo tempo como plural e hiacutebrido Em suas reflexotildees sobre o discurso colonial ele propotildee uma loacutegica para aleacutem do binarismo (ou india-no ou britacircnico) e para aleacutem da oposiccedilatildeo sujeitoobjeto Dessa forma o autor amalgamando sua vida e obra constroacutei suas refle-xotildees a partir da constituiccedilatildeo de sujeitos culturais hiacutebridos Aleacutem disso para Bhabha (1998) falar sobre cultura significa construir uma reflexatildeo que supere a oposiccedilatildeo sujeitocultura

Marcado por muacuteltiplas interpretaccedilotildees o conceito de entrelu-gar construiacutedo pelo autor torna-se particularmente fecundo para reconfigurar os limites difusos de uma multiplicidade de vertentes culturais que circulam na contemporaneidade e ultrapassam fron-teiras como eacute o caso da binariedade entre masculino e feminino representados pela imagem de moda A moda sempre esteve impregnada de representaccedilotildees de gecircnero impondo qual o corpo ideal e a melhor forma de se vestir para cada sexo Entretanto uma vez que esse corpo aparece cada vez mais fluido observa-se uma nova representaccedilatildeo que natildeo se encaixa na definiccedilatildeo binaacuteria de identidade de gecircnero

Destarte na contemporaneidade o gecircnero fluido vem ga-nhando destaque nas inspiraccedilotildees de coleccedilotildees de moda bem como nos tipos de beleza que vecircm se destacando no cenaacuterio da moda mundial e torna-se cada vez mais comum pois rompe com padrotildees preestabelecidos e homogecircneos Desse modo supotildee-se que o gecircnero fluido esse sujeito insubmisso conforme apropria-ccedilatildeo da teoria de Certeau (1994) estaacute no entrelugar na fronteira entre o binarismo da moda feminina e da moda masculina um lugar extremamente conflituoso

Para forccedilar a loacutegica binaacuteria a se inscrever em um outro espaccedilo de significaccedilatildeo que natildeo o entrelugar em que estaacute inserido o gecircne-ro fluido Bhabha (1998) apresenta a categoria de negociaccedilatildeo Tal conceito vem ocupar o lugar da negaccedilatildeo da dialeacutetica hegeliana ou seja os elementos antagocircnicos ou contraditoacuterios se articulam natildeo existindo mais uma superaccedilatildeo como propotildee tal dialeacutetica ldquoAssim cada negociaccedilatildeo eacute um processo de traduccedilatildeo e transferecircncia de sentido ndash cada objetivo eacute construiacutedo sobre o traccedilo daquela pers-pectiva que ele rasurardquo (BHABHA 1998 p53) Essa negociaccedilatildeo de instacircncias contraditoacuterias cria espaccedilos de luta hiacutebridos nos quais polaridades positivas ou negativas ainda que relativas natildeo se jus-tificam A categoria do hibridismo vem agrave tona pois

[] o momento hiacutebrido tem um valor transformacional de mudanccedila

que reside na rearticulaccedilatildeo ou traduccedilatildeo de elementos que natildeo satildeo

nem o Um (a classe trabalhadora como unidade) nem o Outro (as po-

liacuteticas de gecircnero) mas algo mais que contesta os termos e territoacuterios

de ambos (BHABHA 1998 p55)

Dessa forma natildeo eacute possiacutevel pensar em sentidos fixos primor-diais que reflitam objetos poliacuteticos unitaacuterios e homogecircneos E eacute justamente o que o gecircnero fluido na moda representa Ele estaacute no entrelugar dos conflitos do hibridismo do heterogecircneo da negociaccedilatildeo com o binarismo de gecircnero (femininomasculino) Esse entrelugar ocupado pelo gecircnero fluido na moda eacute um local intersticial ldquoO interstiacutecio vem como uma passagem um movimen-to presente de transformaccedilatildeo ou transposiccedilatildeo onde uma coisa natildeo eacute mais ela mesma mas natildeo totalmente outrardquo (LOSSO 2010)

Assim o entrelugar do gecircnero fluido na moda eacute sim um lugar de conflitos de negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees um espa-ccedilo de identidades de gecircnero fluidas que derivam de construccedilotildees sociais e se apresentam como muacuteltiplas Logo seria possiacutevel supor que no entrelugar existem a negociaccedilatildeo ndash conceito moldado por Bhabha (1998) ndash e a resistecircncia no sentido de reapropriaccedilatildeo ndash relatada por Certeau (1994) ndash em que o sujeito produtor ativo de conhecimento se reapropria dos fragmentos da binariedade de gecircnero e os sintetiza ou seja o sujeito eacute um bricoleur (CERTEAU 1994) Ou ainda a subversatildeo conceito construiacutedo por Butler (2003) segundo o qual o sujeito pode subverter a binariedade de gecircnero por suas praacuteticas corporais

8 Consideraccedilotildees FinaisAo longo da histoacuteria a moda sempre ditou padrotildees esteacuteticos e de beleza baseados no padratildeo binaacuterio de gecircnero (feminino e mascu-lino) Entretanto na contemporaneidade essa concepccedilatildeo fechada de gecircnero vem sendo discutida Partindo do princiacutepio de que o gecircnero natildeo eacute bioloacutegico mas sim cultural vaacuterias pesquisas tentam derrubar a concepccedilatildeo desse binarismo Seguindo essa linha vaacuterias marcas de moda comeccedilaram a trabalhar com a ideia de fluidez de gecircnero como por exemplo Cemfreio Trendt Pangea RAW Clothing entre outras

O objetivo do artigo natildeo foi analisar a maior ou menor fluidez que essas marcas conseguiram atingir ateacute porque tais marcas nem foram citadas Nosso objetivo foi analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Para isso o artigo se apro-priou de conceitos de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998) Dessa forma partiu da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar ou seja do princiacutepio de que a roupa eacute um elemento contensor na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Entretanto e de acordo com as concepccedilotildees teoacutericas de Certeau (1994) natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Como jaacute foi citado acredita-se que existam procedi-mentos populares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Paacutegina 8 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma existe a reapropriaccedilatildeo do sujeito sobre o poder disciplinador nesse caso da binariedade de gecircnero na moda e essa resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998) Um espaccedilo entre as fronteiras da moda masculina e feminina um in-terstiacutecio extremamente conflituoso mas ao mesmo tempo hiacutebrido e heterogecircneo um lugar de possibilidades e subversotildees

Portanto o sujeito do ldquoentrelugarrdquo eacute um novo elemento cultu-ral que surge do embate da tradiccedilatildeo com a contemporaneidade capaz de resistir negociar e se reapropriar de significados com a finalidade de viver dignamente com suas diferenccedilas

N o t a s

1 ndash Lipovetsky (2009) divide a moda em trecircs fases a primeira tem seu iniacutecio no final da Idade Meacutedia considerado um periacuteodo mais linear a segunda em meados do seacuteculo XIX sendo chamada pelo autor de Moda dos Cem Anos jaacute a terceira fase principia em 1960 e eacute denominada Moda Aberta

2 ndash A denominaccedilatildeo ldquoreceptorrdquo eacute datada de 1620 e foi utilizada para indicar no processo de comunicaccedilatildeo aquele que recebia e decodificava a mensagem (MOURA 2008 p39)

3 ndash Foucault (1988 p91) em Histoacuteria da sexualidade I relata que ldquo[] onde haacute poder haacute resistecircncia e no entanto (ou melhor por isso mesmo) esta nunca se encontra em posiccedilatildeo de exterioridade em relaccedilatildeo ao poderrdquo

4 ndash Evidencia-se que Certeau (1994) constroacutei sua teoria baseado no modelo polemoloacutegico assim refere-se a taacuteticas como ferramentas de ataque accedilotildees no sentido militar ou um golpe propriamente dito Diz respeito agrave astuacutecia agrave arte de dar golpes dos sujeitos no campo minado do inimigo

5 ndash O discurso neutro funciona como uma escolha de natildeo estar adequado a uma ou outra categoria Aplicada ao gecircnero a neutralidade eacute a quebra da binariedade homem e mulher em favor de uma outra opccedilatildeo ndash nem uma nem outra (KELLER 2016 p127)

R e f e r ecirc n c i a s

BARNARD Malcolm Moda e comunicaccedilatildeo Rio de Janeiro Rocco 2003

BARTHES Roland Le Neutre cours au Collegravege de France (1977-1978) Paris

Seuil 2002

BHABHA Homi K O local da cultura Belo Horizonte Ed UFMG 1998

BOURDIEU Pierre Gostos de classe e estilos de vida In ORTIZ Renato

(Org) Pierre Bourdieu sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1983 p82-121

______ A dominaccedilatildeo masculina Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999

______ O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BUTLER Judith Problemas de gecircnero feminismo e subversatildeo da identi-

dade Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003

CARDOSO Fernando Luiz O conceito de orientaccedilatildeo sexual na encruzi-

lhada entre sexo gecircnero e motricidade Interamerican Jornal of Psy-

chology Porto Alegre v42 n1 p69-79 abr 2008

CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano artes de fazer Petroacutepolis

RJ Vozes 1994

CHARTIER Roger A histoacuteria cultural Algeacutes (Portugal) Difel 2002

_____ O mundo como representaccedilatildeo Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v5

n11 p173-191 janabr 1991

CRANE Diana A moda e seu papel social classe gecircnero e identidade das

roupas Traduccedilatildeo de Cristiane Coimbra Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo

Paulo 2006

FREITAS Ricardo Ferreira Comunicaccedilatildeo consumo e moda entre os ro-

teiros das aparecircncias Comunicaccedilatildeo Miacutedia e Consumo Satildeo Paulo

v3 n4 p125-136 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistas

univercienciaorgindexphpcomunicacaomidiaeconsumosearch

titlesse archPage=2gt Acesso em 10 jan 2017

FOUCAULT Michel Histoacuteria da sexualidade I a vontade de saber Traduccedilatildeo

de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J A Guilhon Albuquerque

Rio de Janeiro Ediccedilatildeo Graal 1988

_____ Vigiar e punir nascimento da prisatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2004

GODART Freacutedeacuteric Sociologia da moda Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo Paulo

2010

KELLER Daniel Gevehr Masculinidade hiato cultura gecircnero e moda

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Processos e Manifestaccedilotildees Culturais) ndash

FEEVALE Novo Hamburgo RS 2006

KILLERMAN Samuel The social justice advocatersquos handbook a guide to

gender Austin TX Impetus Books 2013

LIPOVETSKY Gilles O impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas socie-

dades modernas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2009

LOSSO Rhiago O sujeito do entre-lugar na literatura portuguesa um

diaacutelogo entre Bhabha e Lobo Antunes In Coloacutequio em Poacutes-Gra-

duaccedilatildeo em Letras ndash UNESP 2 2010 Satildeo Paulo Caderno de resumos

Paacutegina 9 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Satildeo Paulo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwassisunespbrHome

SitesInternosColoquiodeLetrascadernoderesumospdfgt Acesso em

05 jan 2017

LOURO Guacira Lopes O corpo educado pedagogias da sexualidade Belo

Horizonte Autecircntica 2013

MENDES Valerie HAYE Amy de La A moda do seacuteculo XX Satildeo Paulo Martins

Fontes 2003

MENESES Ulpiano T Bezerra de Fontes visuais cultura visual histoacuteria

visual Balanccedilo provisoacuterio propostas cautelares Revista Brasileira de

Histoacuteria Satildeo Paulo v23 n45 p11-36 2003

MISKOLCI Richard Corpos eleacutetricos do assujeitamento agrave esteacutetica da exis-

tecircncia Revista de Estudos Feministas v3 n3 p681-693 2006

MOURA Mocircnica A moda entre a arte e o design In PIRES Doroteia Baduy

Design de moda olhares diversos Barueri Estaccedilatildeo da Letras e Cores

2008 p37-73

PERES Wilian Siqueira Travestis corpos nocircmades sexualidades muacuteltiplas

e direitos poliacuteticos In SOUZA Luiz Antocircnio Francisco de SABATINE

Thiago Teixeira MAGALHAtildeES Boris Ribeiro de (Org) Michel Foucault

sexualidade corpo e direito Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo

Cultura Acadecircmica 2011 p69-104

PITOMBO Renata Cidreira A moda como expressatildeo cultural e pessoal

Iara ndash Revista de Moda Cultura e Arte Satildeo Paulo v3 n3 p226-244

dez 2010 Disponiacutevel em lthttpwww1spsenacbrhotsitesblogs

revistaiarawp-contentuploads201501IARA_vol3_n3_Comple-

ta_2010pdfpage=230gt Acesso em 20 jan 2016

RECH Sandra Moda por um fio de qualidade Florianoacutepolis Ed da Udesc 2002

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo

de Christine Rufino Dabat e Maria Betacircnia Aacutevila Disponiacutevel em ltht-

tpsdisciplinasstoauspbrpluginfilephp185058mod_resource

content2GC3AAnero-Joan20Scottpdfgt Acesso 15 jan 2016

SIMILI Ivana Guilherme Poliacuteticas de gecircnero na segunda guerra mundial

as roupas e a moda feminina Acervo Rio de Janeiro v25 n2 p121-

142 juldez 2012

SOUZA Eloisio Moulin de CARRIERI alexandre de Paacutedua A analiacutetica Queer

e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnero Revista de

Administraccedilatildeo Mackenzie Satildeo Paulo v11 n3 p46-70 maiojun 2010

SOUZA Gilda de Mello e O espiacuterito das roupas a moda no seacuteculo dezenove

Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996

SVENDSEN Lars Moda uma filosofia Rio de Janeiro Zahar 2010

SWAIN Tania Navarro Para aleacutem do sexo por uma esteacutetica da liberaccedilatildeo

In ALBUQUERQUE JUacuteNIOR Durval Munis de VEIGANETO Alfredo

SOUZA FILHO Aliacutepio de Cartografias de Foucault 2ed Belo Horizonte

Autecircntica 2011 p394

XAVIER FILHA Constantina A menina e o menino que brincavam de ser

representaccedilotildees de gecircnero e sexualidade em pesquisa com crianccedilas

Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v17 n51 p627-747 setdez 2012

Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbeduv17n5108pdfgt

Acesso dia jul 2016

Paacutegina 10 de 10

  • Artigo 2pdf
    • OLE_LINK1
    • OLE_LINK2
    • OLE_LINK4
    • OLE_LINK3
      • Artigo 3pdf
        • Resumo
        • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Resultados e Anaacutelise
          • 21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desig
          • 22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental
            • 3 Consideraccedilotildees
            • Notas
            • Referecircncias
              • Artigo 7pdf
                • _GoBack
                  • Artigo 8pdf
                    • _GoBack
Page 2: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem

E x p e d i e n t e

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

Senac ndash Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul

Presidente do Sistema Fecomeacutercio e Presidente do Conselho Regional do SenacLuiz Carlos Bohn

Diretor RegionalJoseacute Paulo da Rosa

Gerente do Nuacutecleo de Educaccedilatildeo ProfissionalRoberto Sarquis Berte

Diretores das Faculdades Senac-RS- Elivelto Nagel da Rosa Finkler- Mariangela Iturriet da Silva

Conselho Editorial- Anna Beatriz Waehneldt ndash Senac - Departamento Nacional - Avelino Francisco Zorzo ndash PUCRS- Claisy Maria Marinho-Arauacutejo ndash UNB- Daniel Gomes Mesquita ndash UFU- Dieter Rugard Siedenberg ndash UNIJUIacute- Edegar Tomazzoni ndash UCS- Faacutebio Gandour ndash IBM- Fernando Vargas ndash Cinterfor (Colocircmbia)- Francisco Aparecido Cordatildeo ndash CNE Conselho Nacional

de Educaccedilatildeo- Jacques Alkalai Wainberg ndash PUCRS- Jorge Antonio Menna Duarte ndash UniCEUB- Jose Clovis de Azevedo ndash Centro Universitaacuterio Metodis-

ta do IPA- Leda Liacutesia Franciosi Portal ndash PUCRS- Margarida Maria Krohling Kunsch ndash USP - Marilia Costa Morosini - PUCRS- Milton Lafourcade Asmus ndash FURG- Patriacutecia Alejandra Behar ndash UFRGS - Regina Leitatildeo Ungaretti ndash Fundaccedilatildeo Escola Teacutecnica Li-

berato Salzano Vieira da Cunha- Susana Gastal - UCS

Comissatildeo Editorial- Roberto Sarquis Berte - Presidente- Miriam Mariani Henz- Ariel Fernando Berti- Claacuteudia Mallmann- Claacuteudia Maria Beretta- Claacuteudia Zank- Cleacutecio Falcatildeo Araujo - Paulo Roberto Gomes Luzzardi- Pietro Dolci

Editora Cientiacutefica- Maria Araujo Reginatto

Revisatildeo em inglecircs- Julio Carlos Morandi

Revisatildeo e normalizaccedilatildeo- Ivelize Cardoso Gonccedilalves- Giuliano Karpinski Moreira

Projeto Graacutefico e Diagramaccedilatildeo- Paula Jardim- Jaire Passos

PeriodicidadeSemestral (julho e dezembro)

Avaliadores do anondash Adilene Gonccedilalves Quaresma ndash Centro Universitaacuterio

UNA ndash MGndash Aline de Campos ndash Senac-RSndash Arcangelo dos Santos Safanelli ndash Universidade Federal

de Santa Catarina ndash UFSCndash Baacuterbara Regina L Costa ndash Universidade Positivondash Breno Terra ndash Instituto Federal Fluminense ndash RJndash Carine Winck Lopes ndash Senac-RSndash Carmem Angela Straliotto ndash Secretaria de Educaccedilatildeo Rio

Grande do Sulndash Clara Prates Machado ndash Senac-RSndash Claacuteudia Ceciacutelia Serafini Mallmann ndash Senac-RSndash Claacuteudia Griboski ndash Universidade de Brasiacutelia ndash UNBndash Claudio Lima Ferreira ndash Universidade Estadual de

Campinas ndash SPndash Cristina Alba W Torrezzan ndash Universidade Federal do

Rio Grande do Sul ndash UFRGSndash Daiane Padula Paz ndash Senac-RSndash Deacutebora Ferreira Coelho ndash Senac-RSndash Debora Valletta ndash Universidade Federal do Rio Grande

do Sul ndash UFRGSndash Denise Macedo Ziliotto ndash Centro Universitaacuterio La Salle

ndash UNILASALLE ndash Canoasndash Diogo Reatto ndash Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mes-

quita Filho ndash Faculdade de Odontologia de Araccedilatuba ndash SPndash Eduardo Coletto Piantaacute ndash Senac-RSndash Fernanda Cristina Foss De Zorzi ndash Senac-RSndash Flavio Perazzo B Mota ndash Universidade Federal da

Paraiacuteba ndash UFPBndash Francisco Ximenes ndash Crisaacutelida Consultoria Empresarialndash Giovana Fernanda Justino Bruschi ndash Federaccedilatildeo das

Induacutestrias do Estado do Rio Grande do Sul ndash FIERGSndash Giovani Forgiarini Aiub ndash Instituto Federal de Educa-

ccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Rio Grande do Sul ndash IFRS ndash Campus Feliz

ndash Guilherme Bertoni Machado ndash Senac-RSndash Gulherme Mendes Tomaz dos Santos ndash Centro Uni-

versitaacuterio La Salle ndash Canoasndash Henrique Luiz Caproni Neto ndash Universidade Federal de

Juiz de Fora ndash UFJFndash Honor Almeida Neto ndash Universidade Luterana do

Brasil ndash ULBRA ndash Canoasndash Irapuatilde Pacheco Martins ndash Universidade Federal do Rio

Grande ndash FURG ndash RSndash Ivelize Cardoso Gonccedilalves ndash Senac-RSndash Jacqueline Zapp ndash Senac-RSndash Jader Eduardo Corso ndash Senac-RSndash Jordan Nassif Leonel ndash Senac-MGndash Josemery Alves ndash Universidade Federal do Rio Grande

do Norte ndash RNndash Luis Gustavo Patrucco ndash Senac-RSndash Manfredo Carlos Wachs ndash Instituto Superior de Educa-

ccedilatildeo Ivoti ndash ISEIndash Maacutercia H Vieira ndash PUCRSndash Margareth Fadanelli Simionato ndash IPA-RSndash Maria Christina Menezes do Prado ndash Senac-RSndash Maria Maira Picawy ndash Faculdade Cenecista Nossa Se-

nhora dos Anjos ndash FACENSAndash Mariana Recena Aydos ndash Senac-RSndash Marlis Morosini Polidori ndash IPA-RSndash Mocircnica Bragaglia ndash Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira ndash INEPMECndash Renata Fernandes Guzzo ndash University of Houston Sys-

tem ndash UHSA ndash Estados Unidosndash Sandra Andrea A Maria ndash Universidade Federal do Rio

Grande do Sul ndash UFRGSndash Silvana Corbellini ndash Universidade Federal do Rio Grande

do Sul ndash UFRGSndash Taiacutes Fim Alberti ndash Universidade Federal de Santa Maria ndash

UFSM - RSndash Tatiana Vargas Maia ndash Centro Universitaacuterio La Salle ndash Canoasndash Vanessa Chimirra ndash Universidade Anhembi Morumbi ndash SP

Para submissatildeo de artigos os autores devem cadastrar-se na plataforma SEER no link httpseersenacrscombrindexphpRCuserregister

Competecircncia ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS Fone 5132842308 E-mail competenciasenacrscombr

Os conteuacutedos dos artigos satildeo de responsabilidade exclu-siva dos autoresIndexada em ICAP (Indexaccedilatildeo Compartilhada de Artigos de Perioacutedicos) e Latindex (Sistema Regional de Informacioacuten en Liacutenea para Revistas Cientiacuteficas de Ameacuterica Latina el Caribe Espantildea y Portugal)

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Competecircncia Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS [recurso eletrocircnico] Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul - Vol 1 n 1 (dez 2008) - Porto Alegre SENAC-RS 2008-

v il 28 cm

Semestral (jul e dez)Nota A ediccedilatildeo de julho de 2009 eacute v2 n1 ISSN online 2177-4986

1Tecnologia da Informaccedilatildeo 2 Gestatildeo 3 Negoacutecio 4 Moda 5 Turismo 6 Meio Ambiente 7 Ensino Superior 8 Educaccedilatildeo I Serviccedilo Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul II Tiacutetulo

CDU 001

E d i t o r i a l

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Em 2017 a Competecircncia adotou o DOI ndash Digital Objetct Identifier em seus artigos Essa identificaccedilatildeo eacute uma grande conquista para a revista possiacutevel pela parceria entre a ABEC ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Editores Cientiacuteficos e Crossref agecircncia certificadora A formaccedilatildeo do DOI ocorre a partir de

uma sequecircncia articulada que apresenta um prefixo para identificar o responsaacutevel pela publicaccedilatildeo e um sufixo para o volume da revista e nuacutemero do artigo Com essa identificaccedilatildeo eacute possiacutevel a pre-servaccedilatildeo digital dos textos publicados Aleacutem de aumentar a visibilidade dos documentos o DOI certifica os registros de publicaccedilotildees no curriacuteculo Lattes dos autores

Neste nuacutemero da Competecircncia destacamos algumas contribuiccedilotildees que tratam sobre o uso de tecnologias na educaccedilatildeo como o texto que aborda a importacircncia desses recursos para a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior Ainda neste contexto o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios e uma experiecircncia de intervenccedilatildeo pedagoacutegica educacional que articula a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica com a educaccedilatildeo ambiental compotildeem essa seccedilatildeo temaacutetica O protagonismo do estudante como responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos e a importacircncia da formaccedilatildeo empreendedora tambeacutem satildeo temas que contemplam a ediccedilatildeo A experiecircncia de uma rede institucional para construccedilatildeo de um mapa cultural de uma capital brasileira e um modelo de auxiacutelio para escolha de municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo a distacircncia satildeo resultados de estudos apresentados Encontramos tambeacutem uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Seguindo nesta aacuterea uma anaacutelise sobre o estado da arte da reciclagem das embalagens PET e sua aplicabilidade e relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel

Finalizo convidando a todos para conferir o novo projeto graacutefico da Competecircncia que a partir desta ediccedilatildeo seraacute disponibilizada somente em formato eletrocircnico O projeto contempla altera-ccedilotildees na diagramaccedilatildeo na fonte aleacutem de acreacutescimos de informaccedilotildees sobre o artigo Tais mudanccedilas estatildeo adaptadas agraves tendecircncias desse tipo de publicaccedilatildeo e visam proporcionar uma leitura mais agradaacutevel e uma busca mais facilitada aos pesquisadores Fechamos o ano de 2017 com a reali-zaccedilatildeo de atualizaccedilotildees importantes para a Competecircncia Em 2018 comemoraremos os 10 anos da publicaccedilatildeo e esperamos que seja igualmente construtivo Desejamos a todos uma boa leitura

Me Maria Araujo ReginattoEditora da Revista Competecircncia

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

R e s u m o

No seacuteculo XXI a globalizaccedilatildeo passa a exercer uma forte influecircncia na Educaccedilatildeo Superior e o atual cenaacuterio mundial globalizado e interconectado demanda egressos qualificados para

atuar nesse contexto Passam a ser exigecircncias do mundo do trabalho competecircncias globais interculturais e o uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior Estudos sobre internacionalizaccedilatildeo do ensino superior indicam que para que uma universidade seja considerada internacionalizada esta deve prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos A mobilidade acadecircmica ainda estaacute restrita a um percentual limitado da populaccedilatildeo global de estudantes seja pela dificuldade de ausecircncia de suas origens seja por indisponibilidade de recursos financeiros Assim sendo as TICs podem ser utilizadas para apoiar alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural Este artigo objetiva discutir como as TICs podem apoiar os avanccedilos de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior bem como provocar reflexotildees acerca do assunto e dos desafios interpostos agraves instituiccedilotildees de ensino superior que se propotildeem a cumprir o seu papel de formar cidadatildeos globais

A b s t r a c t

In the 21st century globalization strongly influences Higher Education and the current globalized and interconnected world scenario demands qualified graduates to work in this context Global skills intercultural competencies and the use of information and communication technologies (ICTs) become demands of the working market Therefore both ICTs and internationalization must be present and active in higher education teaching and learning process Studies on internationalization of higher education indicate that for a university to be considered internationalized it must provide an international educational experience for all its students Academic mobility is still limited to a small percentage of the global student population either because of the difficulty of absence of their origins or due to unavailability of financial resources Thus ICTs can be used to support students in developing international perspectives interacting with people from other cultures and actively engaging in intercultural learning This article aims to discuss how ICTs can support higher education internationalization progress as well as to incite reflections on the subject and the challenges presented to higher education institutions that aim to fulfill their role of educating global citizens

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 22072017Aprovado em 04102017

Palavras-chaveEnsino SuperiorTICs InternacionalizaccedilatildeoInternacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

KeywordsHigher EducationICTsInternationalizationHigher Education Internationalization

Autoras Doutoranda pelo programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo pela PUC- RS Mestre em Gestatildeo e Negoacute-cios com ecircnfase em internacionaliza-ccedilatildeo da educaccedilatildeo pela Unisinos - RS Diretora acadecircmico-administrativa de Internacionalizaccedilatildeo no Senac-RS email cccassolsenacrscombr

Poacutes-Doutora na UtexasAustin Pesqui-sadora 1 A CNPq Coord a CEESPUCRS - Centro de Estudos em EDUCACcedilAtildeO Superior

Como citar este artigoSILVA C CC MOROSINI MC As tec-nologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internaciona-lizaccedilatildeo do ensino superior Competecircncia Porto Alegrev 10 n 2 dez 2017

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Information and communication techhologies as support for development of higher education internationalization

Carla Camargo Cassol da Silva e Mariacutelia Costa Morosini

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoNos uacuteltimos anos instituiccedilotildees de ensino superior (IES) tecircm se tornado cada vez mais internacionais em suas atividades como resultado da globalizaccedilatildeo da economia da informaccedilatildeo e da sociedade A globaliza-ccedilatildeo passa a impelir o surgimento de novos formatos de IES influencian-do a docecircncia e discecircncia a reelaboraccedilatildeo de curriacuteculos e as exigecircncias sociais que levam em conta natildeo apenas mecanismos internacionais mas tambeacutem as necessidades de cada paiacutes A internacionalizaccedilatildeo das universidades portanto passa a ser um dos componentes emergentes Nas palavras de Morosini (2012 p202) ldquoa qualidade em contextos glo-balizados eacute marcada na maioria dos casos pela internacionalizaccedilatildeo via intercacircmbio estudantil e docente eou curriacuteculos internacionalizados e num estaacutegio mais aprimorado via redes colaborativasrdquo

Para WIT (2011) o futuro da educaccedilatildeo superior seraacute de parcerias internacionais estrateacutegicas em pesquisa ensino e transferecircncia de conhecimento entre universidades para que possam gerenciar os desafios que a globalizaccedilatildeo demandaraacute Na verdade eacute possiacutevel afirmar que a globalizaccedilatildeo jaacute os demanda Hudzik (2011 p10) afirma que ldquo[] para tornar-se uma instituiccedilatildeo de educaccedilatildeo superior de distinccedilatildeo no seacuteculo XXI eacute requerida sistemaacutetica atenccedilatildeo institucional para a internacionalizaccedilatildeo ndash e para engajamento institucional no exteriorrdquo O cumprimento do papel social das IES se daacute a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profis-satildeo de forma a contribuir para o desenvolvimento econocircmico-so-cial local e global Desse modo torna-se uma exigecircncia do proacuteprio mundo do trabalho o conhecimento e a preparaccedilatildeo para relaccedilotildees com estrangeiros e culturas diversas por parte dos estudantes

ldquoHaacute expectativas das Universidades tornarem-se atores cha-ves na economia do conhecimento global e a internacionaliza-ccedilatildeo eacute identificada como resposta chave para a globalizaccedilatildeordquo (WIT e HUNTER 2014 p5) A importacircncia da internacionalizaccedilatildeo em IES portanto torna-se incontroversa

Muitos autores trazem conceitos e definiccedilotildees para interna-cionalizaccedilatildeo do ensino superior mas o mais amplamente aceito eacute o de Knight (2008 p21) ldquoo processo de integrar uma dimensatildeo internacional intercultural ou global na proposta funccedilotildees ou en-trega da educaccedilatildeo superiorrdquo O termo ldquoprocessordquo eacute utilizado para enfatizar a relaccedilatildeo contiacutenua e prolongada da atividade inferindo a necessidade de se ter um meacutetodo eou procedimento Assim eacute possiacutevel ldquodistingui-la de accedilotildees isoladas e institucionalmente natildeo integradas consideradas como sinocircnimo de internacionalizaccedilatildeordquo (MIURA 2009 p2) O verbo ldquointegrarrdquo atribui um sentido de que eacute necessaacuterio um engajamento de todas as partes interessadas sejam internas ou externas a partir das parcerias firmadas

Hudzik (2011 p6) traz o conceito de Internacionalizaccedilatildeo Abrangente (Comprehensive Internationalization) como ldquoum com-promisso confirmado atraveacutes da accedilatildeo de infundir perspectivas

internacionais e comparativas atraveacutes das missotildees de ensino pesquisa e serviccedilos do ensino superiorrdquo Segundo o autor a inter-nacionalizaccedilatildeo abrangente moldaraacute o ethos e os valores da IES estando ldquono DNArdquo do ensino superior Para tanto eacute fundamental que essa perspectiva seja adotada por lideranccedilas institucionais governanccedila equipes docente e discente e por todas as unidades de suporte e serviccedilos acadecircmicos ldquoEacute um imperativo institucional natildeo apenas uma possibilidade desejadardquo (HUDZIK 2011 p6)

Ao corroborar com Hudzik (2011) Robson (2011 p619) conside-ra o conceito de internacionalizaccedilatildeo transformadora exigindo uma abordagem holiacutestica em que as universidades se tornam comuni-dades de espiacuterito internacional e natildeo simplesmente instituiccedilotildees com aumento do nuacutemero de estudantes internacionais e atividades internacionais Para o autor ldquoa estrateacutegia de internacionalizaccedilatildeo responsaacutevel far-se-aacute pela incorporaccedilatildeo de abordagens inovadoras para o desenvolvimento curricular de apoio ao estudante e de me-canismos e iniciativas de desenvolvimento acadecircmicordquo (p614)

Ainda na perspectiva de cumprimento do papel social das IES a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profissatildeo tambeacutem ldquoo contexto dinacircmico do ensino superior demanda uma integraccedilatildeo inovadora de alfabetizaccedilatildeo digitalrdquo (ANNABI MULLER 2016 p17) Natildeo eacute possiacutevel afirmar que um egresso estaacute qualificado sem desenvolver competecircncias para o uso de TICs Eacute uma realidade atual no mercado de trabalho na maioria das profissotildees Assim sendo segundo Annabi e Muller (2016) uma vez que as habilidades digi-tais dos aprendizes jaacute estiverem avanccediladas o curriacuteculo deveraacute sofrer modificaccedilotildees para integrar a tecnologia a fim de permitir que os alu-nos se engajem em formas muacuteltiplas de aprendizado Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior

Muitos autores argumentam que tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo cruciais para a globalizaccedilatildeo do ensino superior e em processos de internacionalizaccedilatildeo Isso porque implicam oportu-nidades para a integraccedilatildeo aleacutem do tempo e espaccedilo possibilitando que entidades distribuiacutedas trabalhem como unidades em tempo real (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Observa-se que a ampla definiccedilatildeo de internacionalizaccedilatildeo e as atividades envolvidas nesse processo continuam alterando--se e expandindo-se enquanto o desenvolvimento tecnoloacutegico oferece formas novas criativas de engajamento entre fronteiras (ACE 2013 p1)

2 A Internacionalizaccedilatildeo AcessiacutevelDepois de decorrido algum tempo de atividades internacionais muito possivelmente em funccedilatildeo do fenocircmeno globalizaccedilatildeo e da abertura do Brasil para o mercado mundial datado na deacutecada

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

de 80 a mobilidade de estudantes aumentou de forma signifi-cativa impelindo as IES a encontrarem formas de articular suas atividades de forma mais sistemaacutetica e tambeacutem de beneficiar a si agrave comunidade acadecircmica e agrave sociedade atraveacutes da internacio-nalizaccedilatildeo No entanto dados os conceitos de internacionalizaccedilatildeo jaacute discutidos pode-se perceber que a mobilidade acadecircmica eacute uma ndash e apenas uma ndash parte do processo de internacionalizaccedilatildeo

Mesmo em paiacuteses onde a internacionalizaccedilatildeo jaacute eacute um processo desenvolvido e amplamente praticado o foco na mobilidade acadecirc-mica eacute percebido Maringe (2009) realizou um estudo exploratoacuterio em seis universidades localizadas no Reino Unido cujos principais objetivos eram 1) identificar como a internacionalizaccedilatildeo eacute concei-tuada nas instituiccedilotildees estudadas 2) identificar evidecircncias da inte-graccedilatildeo estrutural do processo de internacionalizaccedilatildeo nos serviccedilos das universidades e 3) compreender os desafios que as instituiccedilotildees enfrentam na busca pela integraccedilatildeo do conceito de internacionali-zaccedilatildeo como um amplo elemento estrateacutegico daquelas instituiccedilotildees O estudo indica que haacute uma falha na execuccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior uma vez que embora a internacionalizaccedilatildeo seja identificada como objetivo estrateacutegico pelas universidades estudadas haacute uma variedade de barreiras que trabalham contra a integraccedilatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo agrave cultura institucional Segundo o autor uma das principais barreiras eacute a ecircnfase exacerbada em iniciativas de mobilidade humana em detrimento de esforccedilos de integraccedilatildeo cultural

Natildeo haacute duacutevidas de que a mobilidade acadecircmica fomenta a com-petecircncia internacional No entanto estudos e dados mostram que essa mobilidade estaacute restrita a um percentual bastante limitado da populaccedilatildeo global de estudantes (ACE 2013 p2) seja pela dificulda-de de alguns estudantes de se ausentarem de suas origens seja por disponibilidade de recursos financeiros uma vez que para paiacuteses do hemisfeacuterio sul distacircncia e desvalorizaccedilatildeo cambial satildeo fatores que oneram consideravelmente

Ramanau (2016) argumenta que uma universidade internacio-nalizada deveria prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos em um ambiente inclusivo e acolhe-dor E que portanto as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) poderiam ser utilizadas de forma efetiva para assistir a alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural

Em estudo de 2010 realizado pela Associaccedilatildeo Interna-cional de Universidades (IAU ndash International Association of Universities) ldquorecursos financeiros insuficientesrdquo foi citado como o obstaacuteculo interno mais significativo para a internacio-nalizaccedilatildeo (ACE 2013 p1) No entanto o uso de comunicaccedilatildeo

virtual para conectar estudantes e professores aleacutem das fron-teiras tem provado ser uma opccedilatildeo acessiacutevel flexiacutevel e econo-micamente viaacutevel para um crescente nuacutemero de instituiccedilotildees nos Estados Unidos e no mundo todo Como muitos programas de mobilidade aulas virtualmente conectadas podem prover um aprendizado global significativo e experiecircncia intercultural (ACE 2016 p1) Ou seja o uso de TICs pode ser uma opccedilatildeo vaacutelida para minimizar barreiras que dificultam a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Assim ldquodistacircncia e tempo natildeo precisam mais ser barreiras para a exposiccedilatildeo e consciecircncia internacional para qualquer aluno com acesso a um modem e um computador Desse modo todos os es-tudantes agora podem ser considerados internacionais em termos de mobilidade virtualrdquo (LEASK 2004 p337)

Alguns autores preconizam que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo vistas como um dos fatores mais importantes para a expansatildeo continuada da internacionalizaccedilatildeo e podem ateacute mesmo tornar-se substitutas da mobilidade internacional (PHILSON 1998 FAVA-DE-MORAES SIMON 2000 LEASK 2004)

A atual sociedade global interligada baseada em novas tecnologias digitais afetou o processo de educaccedilatildeo e adicionou dinacircmicas agrave trans-ferecircncia de informaccedilotildees e geraccedilatildeo de conhecimento Natildeo estamos mais restritos a tempo e lugar Ademais a tecnologia da informaccedilatildeo reduz diretamente os custos e aumenta as possibilidades de cooperaccedilatildeo de interaccedilatildeo acadecircmicas Aprendizagem virtual possibilita que instituiccedilotildees de ensino superior se aproximem de estudantes professores e pesqui-sadores em paiacuteses estrangeiros sem movecirc-los fisicamenterdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p4)

TICs e internacionalizaccedilatildeo portanto estatildeo inquestiona-velmente conectadas

3 Possibilidades Praacuteticas de internacionalizaccedilatildeo no ensino superior incluem reforma curricular aumento de programas de mobilidade ampliaccedilatildeo de cam-pi inglecircs como liacutengua de instruccedilatildeo em paiacuteses onde natildeo eacute a liacutengua oficial e tecnologia da informaccedilatildeo (ZUPANC ZUPANC 2009 YANYAN 2010) Ou seja a tecnologia da informaccedilatildeo eacute uma parte do todo que certamente pode apoiar o processo mas por si soacute natildeo garante uma perspectiva internacional no ensino

De acordo com Leask (2004 p340) ldquoo uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em programas educacionais natildeo assistiratildeo [sic] necessariamente agrave internacionalizaccedilatildeo mas cer-tamente oferece diversas oportunidades para todos os alunos e colaboradores da IESrdquo

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo a autora algumas dessas oportunidades incluem o envolvimento da comunidade acadecircmica em

bull Uso da tecnologia para estabelecer contatos internacionais e redes de relacionamento em suas aacutereas

bull Visitas virtuais de palestrantes convidados com perfil inter-nacional que virtualmente abordam toacutepicos especiacuteficos em determinados momentos do programa

bull Projetos individuais ou em grupo com foco em assuntos e estudos de caso internacionais

bull Tarefas que requerem o desenvolvimento de habilidades em dinacircmicas de grupo e o estabelecimento de relaccedilotildees de trabalho com pessoas de diferentes contextos culturais por exemplo tarefas que requerem a anaacutelise de reportagens de jornais internacionais de perspectivas culturais diferentes en-trevistas virtuais com alunos de outras culturas e profissionais que jaacute atuaram no mercado internacional

bull Localizar discutir analisar e avaliar informaccedilotildees de variadas fontes internacionais on-line e off-line

bull Oportunidades virtuais para analisar assuntos metodologias e soluccedilotildees possiacuteveis associadas com atuais aacutereas de debate dentro da disciplina por meio de perspectivas culturais di-versas

bull Acesso a fontes internacionais virtuais como revistas con-ferecircncias e associaccedilotildees profissionais

bull Simulaccedilotildees virtuais nas quais os estudantes tecircm a oportu-nidade de aprender atraveacutes de participaccedilatildeo ativa em um ambiente virtual controlado

bull Discussotildees siacutencronas ou assiacutencronas em grupo que co-nectam alunos de culturas diferentes fazendo com que completem atividades solucionem problemas obtenham perspectivas internacionais sobre determinados assuntos

bull Estabelecimento de redes de relacionamento internacionalbull Foacuterum virtual em que os alunos podem discutir diferenccedilas cultu-

rais e regionais em valores e concepccedilotildees que afetam a disciplina ao mesmo tempo em que podem afetar a accedilatildeo dos indiviacuteduos

bull Variados projetos de grupo para avaliaccedilatildeo que exijam dos alunos atividades virtuais ou via correio eletrocircnico com pes-soas de outros grupos culturais com o objetivo de comparar e contrastar perspectivas em questotildees profissionais

bull Atividades virtuais em grupo que examinem de que maneira interpretaccedilotildees culturais especiacuteficas de aplicabilidade social cientiacutefica ou tecnoloacutegica podem incluir ou excluir ou ainda favo-recer ou desfavorecer as pessoas de grupos culturais diferentes

Ou seja ao aproveitar as oportunidades que as TICs propor-cionam incorporando possibilidades para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo virtual natildeo apenas as necessidades dos alunos de desenvolver suas competecircncias e habilidades de gerenciamento do seu aprendizado seratildeo supridas como tambeacutem poderatildeo ser criadas oportunidades para incorporar atividades que fomentem a consciecircncia e sensibilidade para com diferen-

ccedilas interculturais (RAMANAU 2016) As TICs podem portanto ser usadas como parte de atividades internacionais existentes como complementariedade e como instrumento que promova a integraccedilatildeo de perspectivas internacionais no campus (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Satildeo diversas possibilidades que surgem a partir do uso de TICs como apoio ao processo de internacionalizaccedilatildeo A Zagreb School of Economics and Management (ZSEM) uma faculdade privada que atua na aacuterea de negoacutecios na Croaacutecia graccedilas agraves videoconferecircn-cias oportuniza aos seus alunos assistir palestras de educadores e melhores especialistas de negoacutecios do mundo todo A primeira videoconferecircncia realizada em 2004 exibiu um discurso de boas--vindas do presidente do conselho da faculdade Joseph Bombelles professor emeacuterito na Universidade John Carroll University em Cle-veland (Ohio Estados Unidos) A partir de entatildeo deu-se continui-dade agraves videoconferecircncias como parte dos cursos de Marketing e Gestatildeo em que professores internacionais convidados passaram a apresentar aos alunos da SZEM experiecircncias e praacuteticas de mer-cado vividas e praticadas em outras partes do mundo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009) Atualmente a ZSEM tem como premissa que as TICs geralmente servem como uma ferramenta eficaz para apoiar e coordenar as atividades internacionais da faculdade Aleacutem de ser uma forma raacutepida econocircmica com transcendecircncia de tempo e distacircncia e oportunidade de aprendizagem intercultural para a ZSEM ldquoa implementaccedilatildeo eficiente de TICs possibilita a extensatildeo de relaccedilotildees internacionais apoia na adoccedilatildeo de padrotildees de qualidade internacional e estreita relacionamentos com instituiccedilotildees estran-geirasrdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p8)

Outro exemplo do uso de TICs para o apoio da internacionaliza-ccedilatildeo eacute o projeto denominado International Leadership in Educational Technology (ILET) Em 2001 o projeto foi selecionado por agecircncias de fomento na Europa e nos Estados Unidos para criar um modelo de ambiente virtual intercultural para programas de doutorado des-tinados a preparar futuros liacutederes de tecnologias educacionais O ILET objetiva criar uma comunidade de aprendizado transatlacircntica para estudantes de graduaccedilatildeo em seis universidades diferentes ndash trecircs eu-ropeias e trecircs norte-americanas As seis universidades satildeo Iowa State University University of Florida University of Virginia Institution of Education in the University of London Aalborg University in Dina-marca e University of Barcelona na Espanha O projeto concentra a colaboraccedilatildeo democraacutetica de professores e alunos de todas as univer-sidades participantes Essa abordagem inovadora fornece um modelo personalizado para estudos no exterior com estaacutegios e experiecircncias interculturais mediadas pela tecnologia Colaboraccedilatildeo eacute a chave para o sucesso do modelo uma vez que seis diferentes universidades estatildeo envolvidas No projeto estudantes de doutorado satildeo motivados e recebem apoio para negociar com uma ou mais universidades para aprimorar seus programas de estudos Eles usam websites correio eletrocircnico e outras tecnologias para negociar estaacutegios e experiecircncias

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

de estudos com as universidades parceiras Nesse processo docentes e alunos tornam-se sensiacuteveis agrave ampla variedade de ambientes acadecirc-micos e culturais O projeto ILET tambeacutem possui tecnologias hiacutebridas no programa de doutorado e criou um ambiente virtual e intercultural de aprendizagem em que as seis universidades participam atraveacutes de grupos anuais de leitura virtual de cursos de veratildeo com carga-horaacuteria reduzida para experiecircncias acadecircmicas interculturais e programas de estaacutegios no exterior (DAVIS CHO 2005)

Isso posto eacute possiacutevel afirmar que de fato a internacionalizaccedilatildeo abrangente ldquona qual as universidades tentam prover desenvolvimento pessoal e profissional para todas as pessoas enquanto cidadatildeos globais pode alcanccedilar seus objetivos com o apoio da educaccedilatildeo a distacircncia e de TICsrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) Portanto as TICs podem promover o ldquoaprendizado colaborativo internacional virtualrdquo agrupando as quatro dimensotildees essenciais da mobilidade virtual real 1) o exerciacutecio colaborativo de professores e alunos 2) o uso de interaccedilatildeo e tecnologia virtual 3) existecircncia de potenciais dimensotildees internacio-nais e 4) integraccedilatildeo com o processo de aprendizado (WIT 2013)

4 DesafiosComo jaacute abordado sabe-se que atualmente a tecnologia estaacute de-sempenhando uma funccedilatildeo fundamental na preparaccedilatildeo de futuros educadores e no ensino superior com avanccedilos significativos para a globalizaccedilatildeo Tambeacutem pode-se afirmar que o aprendizado via web tornar-se-aacute cada vez mais proeminente no ensino superior com o uso de tecnologias educacionais Consequentemente ldquoas equipes docentes precisam estar preparadas para trabalhar em um ambiente internacionalrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) E virtual

Integrar tecnologias no curriacuteculo a fim de aprimorar o apren-dizado global e experiecircncia intercultural dos alunos pode ser de-safiador Requer tempo adicional e criatividade do corpo docente aleacutem de depender de conectividade e equipamentos adequados para uso da internet dentre outras questotildees Embora TICs ofere-ccedilam oportunidades ricas e uacutenicas para a internacionalizaccedilatildeo ldquoas equipes frequentemente natildeo conhecem todo o potencial de uso ou natildeo se sentem confortaacuteveis em usaacute-las como instrumento de ensino e aprendizagem e alguns satildeo reticentes em investigaacute-las e experimentaacute-lasrdquo (LEASK 2004 p345)

De acordo com Ramanau (2016) equipes que estatildeo ensinan-do em programas internacionais devem ter aleacutem das habilidades e conhecimentos baacutesicos necessaacuterios para ser um professor de sucesso em qualquer ambiente (tais como conhecimento da aacuterea gestatildeo de sala de aula habilidade de definir claramente os objetivos de aprendizagem elaboraccedilatildeo de um programa adequado) habilidades adicionais como de ter uma ampla consciecircncia cultural habilidade de fazer uso de informaccedilotildees

e exemplos internacionais e a habilidade de conduzir um grupo em que uma ampla variedade de estilos de aprendiza-gem e de comunicaccedilatildeo se fazem presentes Em um ambiente internacional virtual ainda outra dimensatildeo eacute acrescentada a habilidade de fazer tudo o que jaacute foi mencionado utilizando todas as ferramentas virtuais disponiacuteveis

Nesse sentido eacute importante destacar a importacircncia do docen-te no processo e sua preparaccedilatildeo para atuar nesse novo contexto Faz-se necessaacuterio capacitaacute-los e desenvolvecirc-los para que possa atuar de forma a promover um ambiente de ensino e aprendiza-gem que possibilite aos alunos desenvolverem as competecircncias e habilidades exigidas no atual cenaacuterio Investimentos satildeo necessaacute-rios recursos financeiros e humanos bem como tempo para essa preparaccedilatildeo Entretanto esse investimento natildeo seraacute suficiente se natildeo houver motivaccedilatildeo docente Sim ele precisa acreditar e en-gajar-se na proposta E isso depende de outros fatores que natildeo estatildeo sob domiacutenio das instituiccedilotildees gestores e estudantes Eis um desafio que precisa ser considerado

Contudo natildeo apenas os docentes precisam estar engajados ldquoEntregar uma competecircncia global para todos os alunos reque-reraacute programas de iniciativas criativas e intencionais que envol-vem diversos atores do campus e perpassa todos os aspectos da experiecircncia do alunordquo (ACE 2013 p3) Ou seja eacute necessaacuterio o engajamento de toda a comunidade acadecircmica com apoio da sociedade A diversidade e a amplitude de atores envolvidos demonstra a complexidade do processo

Ao considerar tendecircncias nascentes em tecnologia e o con-tiacutenuo impacto que a globalizaccedilatildeo tem trazido para o ensino superior parece claro que um processo de integraccedilatildeo de tec-nologia que enfatiza a conexatildeo e o aprendizado colaborativo e social eacute uma praacutetica de internacionalizaccedilatildeo eficaz Entretanto tal apelo deve ser apoiado por uma avaliaccedilatildeo integral das ne-cessidades da instituiccedilatildeo e recursos disponiacuteveis (BILLINGHAM GRAGG BENTLEY 2013 p25)

Eacute portanto necessaacuterio que a IES tenha claro quais satildeo os seus objetivos de internacionalizaccedilatildeo para que os esforccedilos sejam direcionados nesse sentido evitando accedilotildees isoladas e desarticuladas na instituiccedilatildeo Tambeacutem eacute importante destacar que nem todas as IES tecircm a mesma disponibilidade de recursos humanos financeiros e tecnoloacutegicos para a implementaccedilatildeo de TICs e do processo de internacionalizaccedilatildeo Em muitos paiacuteses em desenvolvimento haacute IES que sequer possuem conexatildeo web Essa eacute uma realidade que precisa ser considerada e portanto avaliada uma vez que a internacionalizaccedilatildeo abrangente natildeo se aplica na abrangecircncia em que a teoria propotildee

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sabe-se que por mais de uma deacutecada o ensino superior tem passado por um raacutepido processo de integraccedilatildeo tecnoloacutegica Tambeacutem a internacionalizaccedilatildeo se mostra como indispensaacutevel para que o ensino superior cumpra a sua missatildeo de preparar egressos para o mundo global interconectado em que vivemos No entanto dos estudos disponiacuteveis sobre ambos temas poucos correlacionam a integraccedilatildeo de tecnologia e a internacionaliza-ccedilatildeo especificamente Assim sendo satildeo necessaacuterios estudos que apontem para essa direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees FinaisA internacionalizaccedilatildeo eacute um tema muito relevante mas ainda incipiente no Brasil No entanto torna-se indispensaacutevel pensar no assunto quando se trata de educaccedilatildeo superior uma vez que seraacute exigido que nossos egressos tenham desenvolvi-do competecircncias teacutecnicas comportamentais tecnoloacutegicas e interculturais

Muitos satildeo os desafios interpostos agraves IES brasileiras que buscam desenvolver a internacionalizaccedilatildeo como um processo contiacutenuo que abrange todos os niacuteveis e serviccedilos da instituiccedilatildeo Barreiras como idioma localizaccedilatildeo geograacutefica extensatildeo territorial reconhecimento da comunidade acadecircmica acerca da importacircn-cia e da relevacircncia da internacionalizaccedilatildeo para a qualificaccedilatildeo da sociedade entre outros mostram que o caminho a ser percorrido eacute laborioso

Todavia observa-se que as tecnologias de informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo possibilitam a distribuiccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo em qualquer fuso em qualquer lugar no mundo Materiais de professores relatoacuterios de pesquisa planos de aula conteuacutedos diversos podem ser distribuiacutedos para locais distantes A informa-ccedilatildeo estaacute apenas um clique distante Tambeacutem o acesso agrave internet possibilita interaccedilotildees virtuais com o mundo de forma faacutecil e com custo baixo O uso de TICs torna-se fundamental para a evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior em nosso paiacutes

Contudo haacute desafios ndash como engajamento estrutura inves-timentos capacitaccedilatildeo de recursos humanos ndash que tambeacutem pre-cisam ser considerados O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo da educaccedilatildeo em nosso paiacutes assim como a internacio-nalizaccedilatildeo do ensino superior tambeacutem poderaacute fazer essa evoluccedilatildeo acontecer Poreacutem nem juntas nem isoladas as TICs e a internacio-nalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior resolveratildeo por completo o pro-blema da educaccedilatildeo no nosso paiacutes Esse soacute poderaacute ser minimizado com a priorizaccedilatildeo antecedida pela conscientizaccedilatildeo

R e f e r ecirc n c i a s

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Internationalization in action special edition connecting classrooms using online technology to de-liver global learning Washington DC One Dupont Circle NW 2016

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Leading the Globally Engaged In-stitution new directions choices and dilemmas a report from the 2012 transatlantic dialogue Washington DC One Dupont Circle NW 2013

ANNABI Carrie Amani MULLER Marlene Muller Learning From the adop-tion of MOOCs in two international branch campuses in the UAE Journal of Studies in International Education European Association for International Education v 20(3) p 260-281 2016 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315315622023-journalCode=jsiagt Acesso em jun 2017

BILLINGHAM Craig GRAGG Monica BENTLEY Guy Internationalization From Concept to Implementation Higher Learning Research Commu-nications Blue Mountains Australia v 3(4) p 24-31 2013 Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1018870hlrcv3i4166gt Acesso em jun 2017

DAVIS Niki CHO Mi Ok Intercultural competence for future leaders of educational technology and its evaluation Interactive Educational Multimedia n10 p1-22 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwubedumultimediaiemgt Acesso em jun 2017

FAVA-DE-MORAES F SIMON I Computer networks and the international-ization of higher education Higher Education Policy 13 2000

HUDZIK J K Comprehensive internationalization Washington DC NAFSA 2011

KNIGHT Jane Higher education in turmoil the changing world of interna-tionalization Rotterdam Sense Publishers 2008

LEASK Betty Internationalisation outcomes for all students using informa-tion and communication technologies (ICTs) Journal of Studies in Inter-national Education Association for Studies in International Education v 8 n 4 p 336-351 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5

PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

O objetivo do presente estudo foi analisar o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de

negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa de Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL) bastante conhecida e referenciada na literatura cientiacutefica Participaram da pesquisa 51 estudantes de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo Os dados para a anaacutelise do uso das tecnologias foram obtidos por meio de entrevistas considerando tanto os recursos de hardware como de software empregados no apoio agrave realizaccedilatildeo das atividades da disciplina De modo geral os resultados apontaram que os estudantes entrevistados buscaram escolher os recursos mais adequados para realizaccedilatildeo das atividades acadecircmicas dentro do conjunto de tecnologias que lhes eram acessiacuteveis e familiares deixando no entanto de explorar novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

A b s t r a c t

The objective of this study was to analyze the use of Information and Communication Technol-ogies (ICTs) by university students of Business Management enrolled in a course of business in virtual environments using the Problem Based Learning (PBL) active methodology well known and referenced in the scientific literature A total of 51 Business students from a private university in the interior of the state of Satildeo Paulo participated in the study The data for the analysis of the use of technologies were obtained through interviews considering both the hardware and software resources used as support to carry out the activities in the course In general the results pointed out that the students interviewed chose the most adequate resources to carry out the academic activities within the set of technologies that they had access to and were familiar with but failed to explore new technologies potentially relevant in supporting the learning process

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 23072017Aprovado em 01102017

Palavras-chaveTecnologia da informaccedilatildeo e ComunicaccedilatildeoMetodologia ativaAprendizado baseado em problemas Gestatildeo

KeywordsInformation and communication technologyActive methodologyProblem based learningManagement

Autores Doutor em Psicologia e Mestre em Ciecircncia da Informaccedilatildeo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Professor do Centro de Economia e Administraccedilatildeo da Pontifiacutecia Univer-sidade Catoacutelica de Campinas email rodrigorozagmailcom

Doutora e Mestre em Psicologia pela University of Georgia Poacutes-dou-torado pela University of Georgia e pela University of Buffalo Professora da Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Psicologia da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinasemail wechslerlexxacombr

Como citar este artigoROZA RH WECHSLER SM O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo por estudantes universi-taacuterios de Administraccedilatildeo Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por estudantes universitaacuterios de AdministraccedilatildeoThe use of information and communication technologies by university students of business management

Rodrigo Hipoacutelito Roza e Solange Muglia Wechsler

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoAs Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) satildeo consi-deradas um vasto conjunto de recursos tecnoloacutegicos destinados ao tratamento agrave organizaccedilatildeo e agrave disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees (TAKAHASHI 2000) Esse conjunto de recursos tecnoloacutegicos abran-ge computadores tablets smartphones sistemas operacionais aplicativos diversos navegadores (browsers) redes computacio-nais sistemas de telecomunicaccedilotildees e a internet dentre outros Aleacutem disso eacute importante salientar que as TICs fazem parte de uma realidade mais ampla marcada por profundas transformaccedilotildees natildeo apenas no acircmbito tecnoloacutegico mas tambeacutem social econocircmico e cultural (CASTELLS 2010) citada por alguns autores como socie-dade da informaccedilatildeo (SILVA CAFEacute CATAPAN 2010 PINHO 2011) ou sociedade da aprendizagem (POZO 2004 COUTINHO LISBOcircA 2011) dentre outras nomenclaturas

Antes da difusatildeo da expressatildeo ldquotecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo outros termos jaacute haviam sido empregados com significados similares como tecnologia da informaccedilatildeo sistema de informaccedilatildeo e processamento de informaccedilatildeo (BUCKLAND 1991) Sistema de informaccedilatildeo no entanto geralmente assume um sen-tido mais amplo abrangendo pessoas e processos ao passo que processamento de informaccedilatildeo tem um sentido mais restrito vol-tado ao modo como a informaccedilatildeo eacute processada por meio dos recursos tecnoloacutegicos No caso especiacutefico do termo ldquotecnologia da informaccedilatildeordquo embora ainda bastante utilizado o acreacutescimo da palavra ldquocomunicaccedilatildeordquo foi realizado com o propoacutesito de ressaltar a importacircncia de ambas as tecnologias da informaccedilatildeo e da co-municaccedilatildeo na atual sociedade (STEVENSON COMMITTEE 1997)

As aplicaccedilotildees das TICs embora bastante exploradas no acircmbito de negoacutecios (LAUDON LAUDON 2011 CHAFFEY 2014) estendem--se agraves mais diversas aacutereas da sociedade como sauacutede entretenimen-to gestatildeo puacuteblica desenvolvimento sustentaacutevel e educaccedilatildeo Na educaccedilatildeo em particular as tecnologias possuem o potencial de apoiar o processo de ensino e aprendizagem viabilizando novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento (ROZA 2017) Em metodologias ativas como a Aprendizagem Baseada em Proble-mas (Problem Based Learning ndash PBL) por exemplo as TICs tecircm sido destacadas como importantes ferramentas de apoio agrave aprendiza-gem (BERTONCELLO CORDEIRO BORTOLOZZI RODRIGUES 2008 OSMAN KAUR 2014) No entanto conforme apontado por Mansell e Tremblay (2013) eacute importante destacar que para promover o acesso ao conhecimento eacute preciso muito mais do que fornecer acesso aos recursos tecnoloacutegicos ou agrave informaccedilatildeo digital O acesso ao conhecimento envolve necessariamente a aprendizagem sendo que sua aquisiccedilatildeo ocorre parcialmente por meio de experiecircncias

Considerando a evoluccedilatildeo das TICs e as modalidades educa-cionais a elas associadas Coll e Monereo (2010) destacaram trecircs etapas de desenvolvimento das tecnologias da comunicaccedilatildeo

marcadas pelas linguagens natural artificial e virtual Na primei-ra etapa o sistema de comunicaccedilatildeo eacute a transmissatildeo oral o que implica a coincidecircncia dos interlocutores no espaccedilo e no tempo Algumas modalidades de educaccedilatildeo e meacutetodos de ensino e apren-dizagem dessa etapa satildeo a imitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a transmissatildeo e a reproduccedilatildeo de informaccedilatildeo

O surgimento da escrita marca a segunda etapa como res-posta agrave necessidade de registrar transmitir e compartilhar infor-maccedilotildees o que apesar de natildeo exigir a presenccedila dos envolvidos na comunicaccedilatildeo no mesmo local e ao mesmo tempo por si soacute tambeacutem natildeo garante a superaccedilatildeo de grandes distacircncias geograacute-ficas Eacute importante destacar que a escrita assim como a leitura transformaram as capacidades cognitivas dos indiviacuteduos no que se refere ao tratamento da informaccedilatildeo (LALUEZA CRESPO CAMPS 2010) Nessa etapa tecircm-se o ensino centrado em textos o emprego de livros didaacuteticos e iniacutecio de um ensino a distacircncia ainda que por correspondecircncia

Na terceira etapa encontram-se os sistemas de comunicaccedilatildeo analoacutegica abrangendo a invenccedilatildeo do teleacutegrafo seguida do telefo-ne do raacutedio e da televisatildeo que permitiram a superaccedilatildeo dos limites espaciais culminando com troca de informaccedilotildees em niacutevel global Poreacutem eacute apenas em um segundo momento dessa terceira etapa que surgem os sistemas de comunicaccedilatildeo digital com a criaccedilatildeo dos computadores sua interconexatildeo em redes e o advento da internet A parir desse momento os sistemas de comunicaccedilatildeo digital incluindo as jaacute mencionadas redes de computadores e a proacutepria internet passam a ser utilizados no ensino apoiado por computador e no e-learning (COLL MONEREO 2010)

Neste sentido verifica-se natildeo somente o crescimento do e-le-arning caracterizado pelo uso das tecnologias na aprendizagem e no ensino agrave distacircncia baseado em Web mas tambeacutem o advento de novas derivaccedilotildees e praacuteticas adjacente como o b-learning que combina aprendizagem online e presencial de forma mista (OKADA BARROS 2010) e o open-learning que busca promover o acesso amplo a materiais e tecnologias e o uso de diferentes conteuacutedos e metodologias para um puacuteblico diversificado em locais culturas e contextos distintos (OKADA 2007) Nota-se ainda o surgimento do m-learning em que a aprendizagem eacute mediada por dispositivos moacuteveis (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012)

Dada as diversificadas possibilidades de uso dos recursos tecnoloacutegicos na educaccedilatildeo e na aprendizagem este estudo op-tou por se concentrar nas tecnologias que satildeo utilizadas por iniciativas dos proacuteprios estudantes universitaacuterios para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecircmicas Para tanto foram selecionados estudantes de uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtu-ais utilizando a metodologia PBL Trata-se de uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem centrada no aluno (CACHINHO

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

2012) fundamentada no pressuposto de que a aprendizagem eacute um processo de construccedilatildeo de significados e natildeo simplesmente de recepccedilatildeo de informaccedilotildees (ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Nela o aluno desempenha um papel ativo e preponderante em sua proacutepria educaccedilatildeo (TOLEDO JUacuteNIOR et al 2008) A escolha de uma disciplina que adota tal metodologia ocorreu com o intuito de se investigar estudantes que estivessem em uma condiccedilatildeo de protagonismo no que se refere agrave aprendizagem natildeo apenas nas situaccedilotildees e assuntos abordados na disciplina mas tambeacutem no uso das TICs

2 Meacutetodo21 ParticipantesPara este estudo foram selecionados 51 estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo matriculados em uma disciplina de negoacute-cios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa PBL A disciplina em questatildeo denominada Administraccedilatildeo em Am-bientes Virtuais foi oferecida no uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Todos os alunos eram usuaacuterios comuns das TICs familiarizados com o uso dos recursos tecnoloacutegicos

22 MaterialFoi utilizado um roteiro semiestruturado para a realizaccedilatildeo de en-trevistas com os participantes do estudo O roteiro apresentava duas questotildees centrais que deveriam ser consideradas no contex-to das atividades da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais

1 quais dispositivos satildeo utilizados (desktop notebook tablet smartphone outros)

2 quais programas serviccedilos e redes satildeo utilizados

A questatildeo 2 em particular considerou os subtoacutepicos sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos de um modo geral serviccedilos da Web e rede de comunicaccedilatildeo de dados para os quais os participantes poderiam indicar os nomes dos recursos utilizados Por se tratar de um roteiro semiestruturado as questotildees serviram como norteadoras das entrevistas apresentando elementos es-senciais a serem abordados sem restringir no entanto a explo-raccedilatildeo de outros aspectos correlatos e relevantes que pudessem surgir durante os diaacutelogos com os participantes da pesquisa

23 ProcedimentoPrimeiramente os estudantes receberam uma explicaccedilatildeo sobre as entrevistas esclarecendo que as questotildees deveriam ser con-sideradas no contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais O contexto da disciplina abrangia atividades de pesqui-sas apresentaccedilotildees debates bem como elaboraccedilatildeo de relatoacuterios apoiados na metodologia PBL

Para uma maior elucidaccedilatildeo do contexto citado cabe ressal-tar que tipicamente os estudantes eram divididos em grupos

compostos pelos seguintes papeacuteis liacuteder redator porta-voz e demais membros Os grupos partiam de uma situaccedilatildeo-proble-ma estudo de caso e apoacutes uma anaacutelise inicial geravam um relatoacuterio parcial incluindo hipoacuteteses e toacutepicos a serem pesqui-sados Em seguida as pesquisas eram conduzidas pelos grupos sob orientaccedilatildeo do professor Ao final das pesquisas os grupos apresentavam um relatoacuterio final e realizavam apresentaccedilotildees e debates com os outros grupos Por fim o professor realizava um fechamento das atividades resgatando o que fora abordado pelos grupos abrangendo os aspectos teoacutericos pertinentes agrave situaccedilatildeo-problema estudo de caso

Assim no presente estudo as entrevistas foram realizadas em grupos com aproximadamente seis estudantes Esse nuacutemero respeitou a divisatildeo dos grupos jaacute adotada para realizaccedilatildeo das atividades coletivas da disciplina Apesar das entrevistas terem sido realizadas em grupos as respostas dos participantes foram coletadas uma a uma Os participantes foram mantidos em gru-pos devido ao fato de supostamente muitos dos aplicativos serem usados para comunicaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo de trabalhos co-laborativos de forma que uma das respostas poderia contribuir para as demais

O tratamento das respostas relativas agrave questatildeo 1 sobre os dis-positivos utilizados respeitou as categorias previamente estabe-lecidas mas tambeacutem considerou a possibilidade do participante apontar outros dispositivos As respostas relativas agrave questatildeo 2 foram categorizadas dentro de cada subtoacutepico sistemas ope-racionais navegadores e-mail aplicativos diversos serviccedilos da Web e rede Todos os dados coletados por meio das entrevistas foram tabulados e posteriormente analisados

3 Resultados e discussatildeo Para anaacutelise das respostas da questatildeo 1 foram considerados o uso de desktop notebook smartphone e tablet Os participantes puderam apontar mais de um dispositivo indicando a ordem em que satildeo empregados do mais utilizado para o menos utilizado (primeira opccedilatildeo segunda opccedilatildeo e terceira opccedilatildeo) Os resultados dessa questatildeo encontram-se na Tabela 1

Tabela 1 ndash Dispositivos utilizados pelos estudantes

Dispositivo 1ordf opccedilatildeo 2ordf opccedilatildeo 3ordf opccedilatildeo

n n n

Desktop 25 490 8 157 5 98

Notebook 11 216 14 275 8 157

Smartphone 15 294 18 353 7 137

Tablet 0 0 0 0 3 59

Fonte Os autores 2017

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo os dados mostrados na Tabela 1 o dispositivo mais utilizado como primeira opccedilatildeo pelos estudantes foi o desktop citado por praticamente metade dos entrevistados (490) seguido pelo smartphone (294) e pelo notebook (216) O fato de o desktop es-tar disponiacutevel na universidade tanto nos laboratoacuterios de informaacutetica como na biblioteca locais em que algumas aulas satildeo realizadas pode ter contribuiacutedo para esse resultado Outro fator que pode ter contri-buiacutedo parcialmente para um maior uso do desktop eacute a necessidade de preparaccedilatildeo de relatoacuterios que precisam ser digitados e portanto satildeo mais facilmente executados em dispositivos com teclados que garantam uma melhor ergonomia Contudo em oposiccedilatildeo a essa suposiccedilatildeo o segundo dispositivo mais utilizado como primeira op-ccedilatildeo foi o smartphone o que pode ser explicado pela conveniecircncia de estar com o dispositivo em matildeos uma vez que quase todos os estudantes possuem e levam o smartphone consigo agraves aulas bem como pela mobilidade jaacute que tal dispositivo pode ser usado mesmo estando em deslocamento pelos espaccedilos da universidade onde estatildeo ocorrendo as atividades da disciplina

Jaacute como segunda opccedilatildeo o dispositivo mais utilizado foi o smar-tphone (353) seguido pelo notebook (275) Mais uma vez o uso do smartphone precedeu o uso do notebook Essa relaccedilatildeo de prece-decircncia apenas se inverte quando considerados os dispositivos utilizados como terceira opccedilatildeo poreacutem com percentuais de uso muito proacuteximos 157 para notebook e 137 para smartphone Observa-se ainda que o tablet aparece em uacuteltimo lugar apenas como terceira opccedilatildeo tendo sido apontado por somente 59 dos estudantes entrevistados

Na anaacutelise das respostas da questatildeo 2 foram levados em conta os sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos diversos e serviccedilos da Web bem como as redes usados pelos estudantes A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos

Tabela 2 ndash Programas serviccedilos e redes utilizados pelos estudantes

Categoria Recurso n

Sistema operacional

Android 21 412

iOS 22 431

Mac OS 4 78

Windows 50 980

Navegador

Chrome 49 961

Firefox 10 196

Internet Explorer 6 118

Safari 18 353

E-mail

Gmail 26 510

HotmailOutlook 31 608

Terra 1 20

Uol 1 20

Yahoo 3 59

Continua gt

Categoria Recurso n

Aplicativos diversosoutros serviccedilos Web

Dropbox 1 20

Facebook 13 255

Google 49 961

Googgle Acadecircmico 49 961

Google Drive 2 39

Google Livro 27 529

MS Word 51 1000

MS Power Point 51 1000

OneDrive 3 59

SciELO 13 255

Skype 9 176

WhatsApp 51 1000

Rede

3G 20 392

4G 11 216

LAN Cabeada 43 843

WiFi 47 922

Fonte Os autores 2017

Conforme os dados apresentados na Tabela 2 o Windows da Microsoft foi o sistema operacional mais usado sendo citado por 98 dos estudantes Nesse caso existe uma relaccedilatildeo com o predomiacutenio do uso do desktop pois na biblioteca e nos labora-toacuterios frequentados pelos estudantes entrevistados o Windows eacute o sistema operacional padratildeo O sistema operacional da Apple para uso em seus computadores (Mac) que aqui foi identificado genericamente como Mac OS por possuir nomenclaturas diferen-tes dependendo de sua versatildeo foi o menos utilizado Os sistemas operacionais Android e iOS para dispositivos moacuteveis foram uti-lizados de maneira equilibrada entre os estudantes sendo men-cionados respectivamente por 412 e 431 dos universitaacuterios

O Chrome do Google foi o navegador mais usado pelos estudantes sendo apontado em 961 dos casos seguido do Safari da Apple com 353 Eacute interessante notar que embora o Internet Explorer (IE) seja o navegador padratildeo da Microsoft acompanhando o sistema operacional Windows somente 118 dos estudantes disseram utilizaacute-lo indicando nesse caso uma autonomia dos estudantes na escolha do navega-dor mais adequado a suas necessidades O serviccedilo de e-mail mais utilizado foi o Hotmail Outlook da Microsoft (608) acompanhado do Gmail do Google (510) Outros serviccedilos de e-mail tiveram pouca expressatildeo

Na categoria aplicativos e outros serviccedilos da Web o editor de textos Word e o aplicativo de apresentaccedilotildees Power Point ambos da Microsoft foram escolhas unacircnimes Apenas um estudante relatou utilizar uma versatildeo Web do editor de textos da Microsoft por meio do OneDrive para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecirc-micas Aliaacutes no que se refere a serviccedilo de armazenamento em nuvem o OneDrive Google Drive e o Dropbox foram citados por

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

59 39 e 20 dos estudantes respectivamente percentuais baixos considerando o potencial desse tipo de ferramenta para realizaccedilatildeo de trabalhos colaborativos

Outro destaque unacircnime na escolha dos estudantes foi o WhatsApp O aplicativo de troca de mensagens instantacircneas e chamadas de voz para smartphone foi apontado como de muita importacircncia para comunicaccedilatildeo dos grupos durante a realizaccedilatildeo das atividades da disciplina Outras ferramentas que auxiliam na comunicaccedilatildeo tambeacutem foram mencionadas como o Facebook (255) e o Skype (176) Cabe destacar ainda o serviccedilo de buscas do Google o Google Acadecircmico o Google Livro bem como do ser-viccedilo de buscas do Scientific Electronic Library Online (SciELO) que foram apontados por 961 961 529 e 255 dos estudantes respectivamente como ferramentas de apoio a suas pesquisas aca-decircmicas no acircmbito da disciplina abordada no presente estudo

Por fim para acesso aos serviccedilos da Web e comunicaccedilatildeo as redes mais utilizadas foram a rede WiFi (922) e a rede local (LAN) cabeada (843) disponibilizadas pela universidade Tambeacutem foram citadas as conexotildees 3G e 4G fornecidas pelas operadoras de telefonia moacutevel celular por 392 e 216 dos estudantes universitaacuterios entrevistados respectivamente

No que se refere ao contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais apoiado na metodologia ativa PBL (CACHI-NHO 2012 ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) verifica-se que na etapa inicial dos trabalhos as TICs foram menos utilizadas pois tal etapa abrangia a compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para abordagem da situaccedilatildeo-problema estudo de caso Na etapa de pesquisas as tecnologias foram utilizadas com maior intensida-de para suportar atividades como buscas seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bem como a comunicaccedilatildeo entre os integrantes dos grupos Na etapa de apresentaccedilatildeo e debates por sua vez os recursos tecnoloacutegicos foram empregadas de forma moderada em relaccedilatildeo agraves outras etapas destinando-se basica-mente agrave apresentaccedilatildeo dos resultados obtidos

Todos os recursos de hardware e software citados pelos es-tudantes fazem parte das TICs (TAKAHASHI 2000) que estatildeo na base das transformaccedilotildees observadas na atual sociedade (CAS-TELLS 2010) Levando em conta os avanccedilos das TICs e as moda-lidades educacionais relacionadas tais recursos situam-se em um momento marcado pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Nesse sentido mesmo a disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais natildeo tendo adotado explicitamente uma abordagem do tipo b-learning (OKADA BARROS 2010) os estudantes fizeram espontaneamente uma combinaccedilatildeo de aprendizagem online e

presencial De modo similar eacute possiacutevel afirmar que apesar de a disciplina natildeo adotar o m-learning (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012) de forma expliacutecita os estudantes fizeram um uso espontacircneo de dispositivos moacuteveis no apoio agrave aprendizagem

5 ConclusotildeesO presente estudo abordou o uso das TICs por estudantes uni-versitaacuterios de Administraccedilatildeo em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia PBL Consi-derou para tanto o contexto mais amplo de transformaccedilotildees tecnoloacutegicas sociais econocircmicas e culturais verificadas na atualidade (CASTELLS 2010) que caracterizam a sociedade da informaccedilatildeo ou da aprendizagem Nesse contexto os recursos tecnoloacutegicos podem apoiar o processo de ensino e aprendi-zagem por meio de novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de conhecimento (ROZA 2017)

Embora os participantes da pesquisa tenham sido estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais as tecnologias abordadas dentro do conteuacutedo programaacutetico da disciplina natildeo foram o foco deste estudo Tampouco o enfoque foi dado aos recursos tecnoloacutegicos de uso obrigatoacuterio pelos estudantes como o ambiente virtual de aprendizagem da universidade por exemplo Apesar de recursos como esse tambeacutem possuiacuterem potencial de apoiar agrave aprendizagem o presente estudo concentrou-se nas TICs (TAKAHASHI 2000) que satildeo utilizadas por iniciativa dos estudantes a partir de suas neces-sidades para realizaccedilatildeo dos desafios da disciplina situando-se em uma etapa marcada pela linguagem virtual e mais especificamente pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Outro aspecto que merece destaque eacute o fato de a disciplina adotar a aprendizagem baseada em problemas PBL Por se tratar de uma metodologia ativa (CACHINHO 2012) o estudante teve a possibilidade de assumir o papel de protagonista de sua proacutepria aprendizagem utilizando com maior liberdade as TICs para rea-lizaccedilatildeo de tarefas como pesquisa organizaccedilatildeo anaacutelise registro e compartilhamento de informaccedilotildees para aquisiccedilatildeo e produccedilatildeo de novos conhecimentos de forma alinhada agrave concepccedilatildeo de apren-dizagem como um processo de construccedilatildeo de significados (ES-CRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Aleacutem disso tambeacutem eacute importante destacar que esta pesquisa teve um caraacuteter exploratoacuterio e seus resultados se limitam agrave amostra analisada

Os resultados obtidos neste estudo por meio da anaacutelise das entrevistas indicam que o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos pelos estudantes para realizaccedilatildeo das atividades propostas na disciplina notadamente o desktop o smartphone e o notebook foi influenciado por fatores como disponibilidade ergonomia

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

e mobilidade associados a tais dispositivos A disponibilidade tambeacutem foi importante na escolha das redes para os dispositivos moacuteveis o que natildeo se aplicou ao desktop uma vez que nesse caso os computadores jaacute se encontravam conectados agrave rede lo-cal cabeada da universidade Tambeacutem no contexto de realizaccedilatildeo de atividades acadecircmicas da disciplina o uso de software foi guiado pela conveniecircncia em situaccedilotildees em que os programas jaacute se encontravam instalados ou eram de uso habitual entre os estudantes mas tambeacutem pela autonomia nos casos em que o estudante optou pelo uso de determinados programas e serviccedilos da Web abdicando-se de outros

Ainda no acircmbito da disciplina de negoacutecios em ambientes vir-tuais o uso das TICs pelos estudantes mostrou-se mais intenso na etapa de pesquisas da metodologia PBL Na etapa inicial e na etapa de apresentaccedilotildees e debate o uso das TICs foi baixo e moderado res-pectivamente Aleacutem disso destaca-se o fato de que os estudantes fizeram de forma espontacircnea uso combinado de aprendizagem online e presencial bem como uso de dispositivos moacuteveis para apoiar o processo de aprendizagem

De modo geral foi possiacutevel constatar que os estudantes buscaram usar as TICs que consideraram mais adequadas para o cumprimento das atividades da disciplina recorrendo para tanto agravequelas a que jaacute possuiacuteam acesso e com que tinham familiaridade No entanto alguns recursos tecnoloacutegicos embora pudessem auxiliar no cumprimento das atividades propostas como os serviccedilos de armazenamento em nuvem por exemplo foram menos explorados ficando restritos a poucos estudantes nos grupos entrevistados Nesse sentido uma maior troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os membros dos grupos ou ainda a indicaccedilatildeo de tecnologias por parte do professor no acircmbito das atividades apoiadas na metodologia PBL poderia resultar na adoccedilatildeo coletiva de outros recursos tecnoloacutegicos bem como estimular a exploraccedilatildeo de novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

R e f e r ecirc n c i a s

BERTONCELLO V CORDEIRO LB BORTOLOZZI F RODRIGUES AP Integraccedilatildeo das TIC e a Metodologia PBL com Aplicaccedilatildeo na aacuterea de Ginecologia e Obstetriacutecia In Brazilian Symposium on Computers in Education 2008 p 370-379

BUCKLAND M K Information and information systems New York Prae-guer 1991

CACHINHO H Criando experiecircncias de aprendizagem significativas do potencial da Aprendizagem Baseada em Problemas El Hombre y la Maacutequina v40 p58-67 2012

CASTELLS M The rise of the network society The information age Econ-omy society and culture Oxford Wiley-Blackwell 2010

CHAFFEY D Gestatildeo de e-business e e-commerce estrateacutegia implementaccedilatildeo e praacutetica Rio de Janeiro Elsevier 2014

COLL C MONEREO C Educaccedilatildeo e aprendizagem no seacuteculo XXI novas fer-ramentas novos cenaacuterios novas finalidades In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 p15-46

COUTINHO CP LISBOcircA ES Sociedade da informaccedilatildeo do conhecimento e da aprendizagem desafios para educaccedilatildeo no seacuteculo XXI Revista de Educaccedilatildeo v 18 n 1 p5-22 2011

ESCRIVAtildeO FILHO E RIBEIRO LRC Inovando no ensino de administra-ccedilatildeo uma experiecircncia com a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) Cadernos EBAPEBR p1-9 2008

KEARNEY MSCHUCK S AUBUSSON P Viewing mobile learning from a pedagogical perspective Research in learning technology v20 p1-17 2012

LALUEZA J L CRESPO I CAMPS S As tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo e os processos de desenvolvimento e socializaccedilatildeo In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 (p47-65)

LAUDON K LAUDON J Sistemas de informaccedilatildeo gerenciais Satildeo Paulo Pearson 2011

MANSELL R TREMBLAY G Renewing the knowledge societies vision for peace and sustainable development Paris UNESCO 2013

OKADA A Novos paradigmas na educaccedilatildeo online com a aprendizagem aberta In 5th International Conference in Information and Communi-cation Technologies in Education Challenges 2007 Portugal Centro de Competia da Universidade do Minho

OKADA A BARROS D M V Ambientes virtuais de aprendizagem aberta bases para uma nova tendecircncia Revista Digital de Tecnologias Cogni-tivas v3 p20-35 2010

OSMAN K KAUR SJ Evaluating Biology Achievement Scores in an ICT integrated PBL Environment Eurasia Journal of Mathematics Science amp Technology Education v 10 n 3 p185-194 2014

PINHO JAG Sociedade da informaccedilatildeo capitalismo e sociedade civil reflexotildees sobre poliacutetica internet e democracia na realidade brasileira Revista de Administraccedilatildeo de empresas v51 n1 p98-106 2011

POZO JI A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informa-ccedilatildeo em conhecimento Paacutetio Revista Pedagoacutegica n31 p8-11 2004

ROZA RH Estilos de aprendizagem e o uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 2017 157p Tese (Doutorado em Psicologia como Profissatildeo e Ciecircncia) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Centro de Ciecircncias da Vida Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psico-logia Campinas 2017

SILVA EL CAFEacute L CATAPAN AH Os objetos educacionais os metadados e os repositoacuterios na sociedade da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo v39 n3 p93-104 2010

STEVENSON COMMITTEE Information and communications technology in UK schools An independent enquiry (The Stevenson Report) 1997

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

TAKAHASHI T (Org) Sociedade da informaccedilatildeo no Brasil livro verde Brasiacutelia Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia 2000

TOLEDO JUacuteNIOR ACC IBIAPINA CDC LOPES SCF RODRIGUES ACP SOARES SMS Aprendizagem baseada em problemas uma nova referecircncia para a construccedilatildeo do curriacuteculo meacutedico Revista Meacutedica de Minas Gerais v18 n2 p123-131 2008 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre

indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-

tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

Apresentamos uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional que procura articular a Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica com a Educaccedilatildeo Ambiental considerando

os aspectos culturais nas relaccedilotildees entre os sujeitos e as aacuteguas em diferentes contextos especialmente no que diz respeito agrave escassez poluiccedilatildeo e maacute distribuiccedilatildeo Como objeto de anaacutelise seraacute apresentado o livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado em 2016 pela editora UDESC Entre os principais resultados alcanccedilados destaca-se o efetivo envolvimento de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento bem como sua validaccedilatildeo preacutevia junto ao puacuteblico escolar ao qual se destina Tal intervenccedilatildeo tambeacutem corrobora a utilizaccedilatildeo criteriosa das tecnologias educacionais na promoccedilatildeo e difusatildeo de conteuacutedos e significados valores e formas de atuaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida comunitaacuteria

R e s u m e n

Presentamos una intervencioacuten pedagoacutegica de aplicacioacuten de tecnologiacutea educativa que busca artic-ular la Educacioacuten Cientiacutefica y Tecnoloacutegica con la Educacioacuten Ambiental considerando los aspectos culturales en las relaciones entre los sujetos y las aguas en diferentes contextos especialmente en lo que se refiere a su situacioacuten escasez contaminacioacuten y mala distribucioacuten Como objeto de anaacutelisis seraacute presentado el libro digital Sobre a Face das Aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado en 2016 por la Editora UDESC Entre los principales resultados alcanzados se destaca la efectiva participacioacuten de investigadores y profesores de diferentes aacutereas de conocimiento asiacute como su validacioacuten previa ante el puacuteblico escolar al que se destina Tal intervencioacuten tambieacuten corrobora la utilizacioacuten cuidadosa de las tecnologiacuteas educativas en la promocioacuten y difusioacuten de con-tenidos y significados valores y formas de actuacioacuten en relacioacuten a la calidad de vida comunitaria

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 20170929 Aprovado em 20112017

Palavras-chaveEnsino a distacircncia Material paradidaacutetico InterdisciplinaridadeAacutegua

Palabras claveEnsentildeanza a distancia Material paradidaacutectico Interdisciplinariedad Agua

Autores Poacutes-doutorando no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina doutor em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grandee-mail thalassochingyahoocombr

Doutoranda no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina mestre em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande e-mail carolinacnpqgmailcom

Professora do Centro de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Universidade do Estado de Santa Catarina doutora em Neuro-ciecircncias pela Universidade Federal de Santa Catarina e-mail isabelcunhaudescbr

Como citar este artigoFERREIRA W NASCIMENTO C C CUNHA I C Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias edu-cacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguasIntervencioacuten pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionales sobre las interaciones culturales com las aguas

Washington Ferreira Carolina Cavalcanti do Nascimento e Isabel Cristina da Cunha

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoApresentamos o processo de criaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de material paradidaacutetico sob a forma de um livro digital denominado Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua1 Essa obra se constituiu em uma intervenccedilatildeo pe-dagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional articulan-do princiacutepios conteuacutedos e valores compartilhados entre os campos da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e da Educaccedilatildeo Ambiental A transversalidade pretendida se efetiva atraveacutes de um conjunto de propostas pedagoacutegicas que buscam conside-rar aspectos culturais de diferentes contextos socioambientais nas suas relaccedilotildees com as aacuteguas

A viabilidade do desenvolvimento de tal atividade foi oportu-nizada atraveacutes da parceria entre a Coordenadoria de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior e a Agecircncia Nacional das Aacuteguas com o lanccedilamento em setembro de 2015 do Edital ANA-CAPES DEB Nordm 182015 subsidiado pelo Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash Projeto Aacutegua O objeti-vo do referido edital foi fomentar a produccedilatildeo de material didaacutetico para a educaccedilatildeo baacutesica sobre o tema ldquoAacuteguardquo para ser utilizado no Ensino Fundamental II e no Ensino Meacutedio e ser disponibilizado em forma de miacutedias e adaptaacuteveis para uso em repositoacuterios online eou em raacutedio TV internet dispositivos moacuteveis (tablets e celu-lares) Entre as exigecircncias desse edital em relaccedilatildeo aos projetos aprovados estavam ser desenvolvidos preferencialmente por equipes multidisciplinares ter como referecircncia os conteuacutedos elencados nos Paracircmetros Curriculares Nacionais do Meio Am-biente em que se situa a discussatildeo sobre o tema ldquoAacuteguardquo ter um caraacuteter interdisciplinar e garantir a testagem preacutevia do material didaacutetico produzido (ANA-CAPES 2015)

O projeto Sobre a Face das Aacuteguas submetido pela Univer-sidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) teve vigecircncia entre os meses de janeiro e dezembro de 2016 Seu objetivo central foi produzir um material paradidaacutetico de hipertexto no formato de ePUB2 ndash contendo textos informativos forma-tivos e trabalhos artiacutesticos ndash que auxiliasse na reflexatildeo sobre as diferentes relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas voltadas tanto para a aprendizagem sobre a importacircncia das aacuteguas e dos seus usos sustentaacuteveis quanto para diferentes conteuacutedos disciplinares associados ao referido tema O projeto buscava elaborar um material didaacutetico interativo dinacircmico e acessiacutevel que possibilitasse aos profes-sores(as) do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio integrar a discussatildeo sobre a importacircncia e o uso sustentaacutevel da aacutegua aos seus conteuacutedos curriculares articular as diferentes mani-festaccedilotildees artiacutesticas e culturais com o tema ldquoaacuteguardquo agraves atividades pedagoacutegicas de mediaccedilatildeo de aprendizagem e sensibilizar e problematizar as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua consi-derando o contexto temporal e territorial de diferentes grupos

eacutetnico-culturais As manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais estatildeo muito mais acessiacuteveis hoje em dia e podem ser utilizadas com vieacutes pedagoacutegico se estiverem ao alcance dos professores como recurso didaacutetico (CUNHA 2015) Elas por si mesmas trazem informaccedilotildees e geram sentimentos que auxiliam na formaccedilatildeo do sujeito poreacutem esse potencial pode ser otimizado na medida em que se propotildeem objetivos de aprendizagem associados a essas informaccedilotildees e emoccedilotildees

No sentido de estimular a relaccedilatildeo sustentaacutevel com os recursos de bem comum como por exemplo a aacutegua cabe agrave Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e agrave Educaccedilatildeo Ambiental o compromisso com a formaccedilatildeo do sujeito tanto no acircmbito racional pragmaacuteti-co quanto no acircmbito eacutetico e moral ndash estimulando a superaccedilatildeo da relaccedilatildeo utilitarista que ainda mantemos com os elementos e os fenocircmenos da natureza Nessa perspectiva com diferentes dimensotildees e aspectos muitos autores e educadores tecircm sugeri-do e experimentado uma aproximaccedilatildeo da educaccedilatildeo com a arte trazendo na maioria das vezes elementos de linguagens artiacutesticas agraves praacuteticas educativas

A Transversalidade emerge como alternativa para a construccedilatildeo da Interdisciplinaridade e ao aprofundamento da Transdisciplinaridade que Edgar Morin indica como uma forma da educaccedilatildeo contemplar uma nova leitura do mundo Isso nos remete agrave compreensatildeo de que o mundo fiacutesico eacute uma rede de relaccedilotildees de conexotildees e natildeo uma en-tidade fragmentada em que as partes satildeo analisadas separadas do todo sem a preocupaccedilatildeo com a complexidade existente e com as inter-relaccedilotildees entre essas mesmas partes (SANTOS 2012 p 169)

A preocupaccedilatildeo educacional com as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas abrange desde a sua (in)disponibilidade e perda de qualidade ateacute a percepccedilatildeo dos aspectos eacuteticos-afeti-vos envolvidos nestas mesmas relaccedilotildees A construccedilatildeo de uma percepccedilatildeo proacutepria autocircnoma e emancipatoacuteria da relaccedilatildeo com a aacutegua natildeo pode ser algo indutivo maniqueiacutesta ndash no sentido de determinar o que eacute certo e errado ditando comportamentos ade-quados que noacutes enquanto adultos tambeacutem temos dificuldades de praticar Portanto torna-se fundamental associar a aacutegua com as diferentes manifestaccedilotildees culturais visando a sensibilizar sobre as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas problematizadoras

2 Resultados e AnaacuteliseO desenvolvimento da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas (NASCI-MENTO FERREIRA CUNHA 2016) foi estruturado atraveacutes de um conjunto de etapas processuais (Tabela 1)

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Tabela 1 ndash Etapas e atividades da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas

Etapas Atividades Observaccedilotildees

A

Pesquisa seleccedilatildeo eou produccedilatildeo de obras artiacutesticas e manifestaccedilotildees culturais relacionadas com o tema Aacutegua

Desenhos pinturas foto-grafias muacutesicas filmes escul-turas instalaccedilotildees contos poemas crocircnicas

BElaboraccedilatildeo das propostas pe-dagoacutegicas a partir dos materiais selecionados

C

Avaliaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo (teoacuterica e metodoloacutegica) de especialistas - professores(s) e pesquisado-res(s) ndash considerando aspectos conceituais disciplinares

Aacutereas envolvidas arte ge-ografia histoacuteria sociologia filosofia liacutengua portuguesa e literatura inglecircs matemaacute-tica biologia oceanografia espiritualidade e religiotildees

DInserccedilatildeo das contribuiccedilotildees dos(s) especialistas nas propos-tas pedagoacutegicas

E Esboccedilo preliminar das propostas em desenvolvimento

FVideoconferecircncia nacional de inte-graccedilatildeo dos projetos contemplados mediada pela CAPES

(abril de 2016)

G Complementaccedilatildeo de atividades e propostas pedagoacutegicas

H Supervisatildeo e ajustes da coordena-ccedilatildeo do projeto

I Revisatildeo textual

J Conversatildeo das propostas pedagoacute-gicas editadas (nos formatos e-Pub e PDF)

K Testagem de validaccedilatildeo junto ao puacuteblico usuaacuterio

(professores(s) e alu-nos(s))

L Revisatildeo final e poacutes-produccedilatildeo

MSeminaacuterio nacional presencial de integraccedilatildeo dos projetos contem-plados junto a CAPES

(Brasiacutelia DF novembro de 2016)

Fonte os autores 2017

As sugestotildees de atividades foram distribuiacutedas entre vinte pro-postas pedagoacutegicas de caraacuteter informativo e formativo a partir de manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais sobre as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas todas conectadas a determinados temas e conteuacutedos especiacuteficos (Tabela 2)

Tabela 2 ndash propostas pedagoacutegicas do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua

Atividades Artes Temas

Coacutedigo de Hamurabi

Trecho do Coacutedigo de Hamurabi (considerado o primeiro conjunto de leis da humanidade

CidadaniaDesastres ambientaisCTSMovimentos sociais

O Grito da Boneca

Fotografia de Wa Ching do Estuaacuterio da Lagoa dos Patos Rio Grande do Sul

Poluiccedilatildeo hiacutedricaDespejo de resiacuteduosPoliacuteticas puacuteblicasSaneamento baacutesico

A Arca Charge El Arca do argentino Mayer

Mudanccedilas climaacuteticasBiodiversidade

Escultura Submersa

Escultura em maacutermore do catarinense Pita Camargo no mar no Reserva Bioloacutegica do Arvoredo SC

UCsPoluiccedilatildeoBiodiversidade

As Aacuteguas de Tom e Gonzaga

Muacutesicas Asa Branca do cantor e compositor Luiz Gonzaga e Aacuteguas de Marccedilo do cantor e compositor Tom Jobim

Mudanccedilas climaacuteticasDesigualdades sociaisEscassez da aacutegua

Aacutegua Charge do brasileira Jack Kaminski

Escassez da aacuteguaSustentabilidade

Lenda das Sereias

Samba-enredo Lenda das Sereias_Rainha do Mar do GRES Impeacuterio Serrano

Mitologia africanaSincronismo religioso

Meditaccedilatildeo da Aacutegua

Proposta transdisciplinar para introduccedilatildeo ao tema Aacutegua atraveacutes da meditaccedilatildeo

Budismo tibetano

O Nascer do Mar

Poema natildeo titulado do autor Raul Machado

Impactos ambientais

O Velho e o Mar

Video-animaccedilatildeo a adaptaccedilatildeo da obra literaacuteria claacutessica de Ernest Hemingway publicado em 1952

Ser humano-naturezaSustentabilidadeComunidade tradicional

Continua gt

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Atividades Artes Temas

Retirantes

A obra Retirantes pintada em 1944 por Cacircndido Portinari

Desigualdades sociaisMovimentos sociais

PrioridadesCharge (natildeo titulada) do alematildeo Jan Tomaschoff

Mudanccedilas climaacuteticasSustentabilidadeJusticcedila amiental

Hino ao NiloHino em homenagem ao Rio Nilo no Egito

Cidadania

Rio das Mulheres

Documentaacuterio O Rio das Mulheres pelo olhar de Ivaneide de 2004

Desigualdade de gecircneroSustentabilidade

As Primeiras Civilizaccedilotildees

O Mapa das Pri-meiras Civilizaccedilotildees eacute um desenho (vetorizaccedilatildeo) em tela utilizando o software livre de geoprocessa-mento QGIS

Aacutegua e Sauacutede

A imagem representando a praacutetica do banho na Idade Meacutedia

HigieneSauacutedeSaneamento Baacutesico

Fonte Elaborado pelos autores baseado em Nascimento Ferreira

Cunha 2016

O conteuacutedo e a linguagem deste livro digital foram estrutura-dos visando como usuaacuterios diretos principalmente professores do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio Para cada uma das vinte atividades propostas foram tambeacutem apresentadas seacuteries especiacuteficas de fontes bibliograacuteficas atraveacutes de comentaacuterios ao longo do texto e hiperlinks de acesso ao domiacutenio virtual como estiacutemulo para o aprofundamento dos leitores nos temas e pro-cessos discutidos em relaccedilatildeo aos seus referenciais cientiacutefico--tecnoloacutegicos e artiacutestico-culturais aleacutem da contextualizaccedilatildeo das obras originais Outro ponto a ser destacado foi o envolvimento interdisciplinar de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento no processo de pesquisa elaboraccedilatildeo e produccedilatildeo desta obra (Quadro 1)

Quadro 1 ndash roteiro para avaliaccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas pelos pesquisadores-professores

Temas de avaliaccedilatildeo

Questotildees para avaliaccedilatildeo das propostas Detalhes

Qualidadeda arte

a) eacute interessanteb) trata da temaacutetica aacuteguac) eacute adequada para o Ensino

Fundamental II eou Ensino Meacutedio

d) estaacute classificada adequadamente

(poema muacutesica documentaacuterio histoacuteria em quadrinho charge fotografia viacutedeo)

Qualidadeda proposta

a) eacute interdisciplinarb) estaacute bem contextualizada

(apresentada)c) eacute transversal (considera o

cotidiano)d) articula questotildees locais e globaise) quais elementos relacionados com

o tema aacutegua ainda podem ser explorados na arte

f ) cita conteuacutedos adequados em relaccedilatildeo agraves disciplinas citadas

g) quais outras disciplinas e conteuacutedos ainda podem ser explorados

h) forneceu elementos paradidaacuteticos para o() professor() ou poderia apresentar mais coisas (aprofundar pedagogicamente)

i) estaacute bem articulada com a arte ou foge do assunto

Fonte os autores 2017

O retorno dessas avaliaccedilotildees preliminares foi decisivo na me-lhor estruturaccedilatildeo do conjunto de propostas e na sua adequa-ccedilatildeo agraves especificidades de diferentes aacutereas Seguem-se algumas recomendaccedilotildees recebidas sobre uma das atividades propostas que exemplificam a forma de participaccedilatildeo de pesquisadores--professores (Quadro 2)

Quadro 2 ndash recomendaccedilotildees dos pesquisadores-professores sobre as propostas pedagoacutegicas

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Liacutengua Portuguesa

A animaccedilatildeo eacute adequada para o trabalho especialmente com o Ensino Fundamental pela sua ludicidade e linguagem visual e graacutefica atrativas A sugestatildeo eacute trabalhar interpretaccedilatildeo visto que o que estaacute sendo dito eacute dito sem o uso de palavras possibilitando e instigando a discussatildeo sobre o que estaacute sendo representado

Matemaacutetica

O() professor() pode desenvolver uma atividade em que seussuas estudantes tenham uma vivecircncia com as operaccedilotildees numeacutericas pois a animaccedilatildeo serve como desencadeadora para problematizar os custos em dinheiro para ter acesso agrave aacutegua potaacutevel Aleacutem disso a diferenccedila de valor entre as marcas que a mercantiliza e de como esta relaccedilatildeo reflete de forma diferente entre as classes sociais

Continua gt

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Geografia

Na geografia humana sugerimos os estudos sobre a induacutestria da seca possibilitando assim uma analogia do viacutedeo com a realidade do nordeste brasileiro A ldquoinduacutestria da secardquo eacute um termo utilizado para retratar uma condiccedilatildeo de exploraccedilatildeo por parte de pessoas que se beneficiam da miseacuteria no conhecido poliacutegono da seca regiatildeo do territoacuterio brasileiro caracterizado por baixas precipitaccedilotildees

Sociologia

Eacute possiacutevel discutir (a) A apropriaccedilatildeo privada dos mananciais e a mercantilizaccedilatildeo da aacutegua relacionando estes fatos com o capitalismo a industrializaccedilatildeo a urbanizaccedilatildeo o individualismo etc (b) O fato do ser humano controlar e se impor agrave natureza

Fonte os autores 2017

Aleacutem disso o livro foi submetido agrave Fase de Teste atendendo agrave exigecircncia do edital ANA-CAPES com professores da Escola de Edu-caccedilatildeo Baacutesica Vereador Guilherme Zuege (no municiacutepio de Joinville SC) vinculada agrave rede puacuteblica estadual de Santa Catarina atraveacutes da sua avaliaccedilatildeo (Quadro 3) Cabe ressaltar que a Fase de Teste foi realizada antes da finalizaccedilatildeo do livro para que a avaliaccedilatildeo fosse efetivamente contemplada no resultado final

Quadro 3 ndash retorno da avaliaccedilatildeo dos professores (N=3)

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre o formato e-Pub e sua utilizaccedilatildeo

a) Seria mais atrativo se fosse mais colorido mais di-nacircmico Eacute praacutetico mas seria interessante se fosse tambeacutem para o uso do professor em sala de aula com os alunos e pra isso ele precisaria ser mais atrativo visualmente os viacutedeos por exemplo deveriam estar disponibilizados no proacuteprio EPUB

b) As atividades propostas nos deixam vaacuterias possibilidades de como podemos trabalhar em sala de aula

c) Atende agraves necessidades

Qual sua opiniatildeo sobre o conteuacutedo das propostas pedagoacutegicas

a) Os conteuacutedos disciplinares estatildeo contemplados nas propostas dessa forma trabalhar esses con-teuacutedos se torna mais atrativo para os estudantes e a interdisciplinaridade acontece de forma natural as relaccedilotildees se constroem e os estudantes podem perceber como as coisas estatildeo interliga-das

b) Nos faz refletir de maneira global sobre a impor-tacircncia da aacutegua para o nosso planeta

c) Conteuacutedo diversificado e envolvente

Qual sua opiniatildeo sobre o uso de obras artiacutesticas como desencadeadoras-problematizadoras em atividades pedagoacutegicas

a) Perfeito A arte desperta empatia para os temas que seratildeo abordados As questotildees ambientais muitas vezes satildeo abordadas de forma morali-zante e por meio de cartilhas sem proporcionar a reflexatildeo e sem fazer relaccedilotildees com o cotidiano das pessoas A escolha das obras alcanccedilou manifestaccedilotildees artiacutesticas diferentes ampliando as possibilidades de abordagem

b) As obras artiacutesticas causa uma sensibilizaccedilatildeo vc passa a ver a perceber todos aspectos de uma sociedade atraveacutes da arte

c) Considero de muito valia visto que a proble-matizaccedilatildeo de qualquer tema torna-se mais interessante quando haacute visualizaccedilatildeo das ideais que devem ser desenvolvidas

Continua gt

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre a proposta do e-Pub Sobre a Face das Aacuteguas

a) A proposta eacute original acredito pois jamais entrei em contato com algo assim Temas ambientais satildeo recorrentes e precisam ser trabalhados em sala de aula e por vezes eacute difiacutecil inovar e com essa proposta muitas outras ideias podem ser desencadeadas A tecnologia (o formato EPUB) tambeacutem estaacute palpitando e os professores precisam se arriscaraventurar por esses novos ambientes pois sua linguagem eacute muita mais proacutexima dos jovens estudantes

b) Ele nos mostra diversas maneiras de se trabalhar o tema aacutegua em vaacuterios contextos o que torna interessante para nossos alunos

c) Muito boa Novidade sempre eacute bem vinda para envolver o jovem de hoje Inovaccedilatildeo eacute tudo

Fonte os autores 2017

21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desigualdades

Os problemas socioambientais identificaacuteveis nos niacuteveis local regional e nacional constituem expressotildees localizadas de uma crise planetaacuteria ndash pobreza poluiccedilatildeo escassez de recursos natu-rais renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis extinccedilatildeo de espeacutecies alteraccedilotildees climaacuteticas etc Tal cenaacuterio estaacute intimamente atrelado ao vieacutes an-tropocecircntrico o qual atribuiu ao homem a tarefa de dominar e explorar a natureza ndash perspectiva evidenciada no processo de industrializaccedilatildeo (NASCIMENTO 2013) Nesse processo a ciecircncia e a tecnologia (CampT) foram vistas predominantemente ateacute haacute pouco tempo como sinocircnimos inequiacutevocos de progresso e salvadoras de todos os possiacuteveis problemas No entanto apesar da preten-sa neutralidade da CampT o tempo foi revelando outras facetas como a constataccedilatildeo cada vez mais evidente da imensidade da discrepacircncia na reparticcedilatildeo social dos ocircnus e bocircnus desse mode-lo de desenvolvimento amplificando o poder sociopoliacutetico e os rendimentos para o mercado industrial (ANGOTTI AUTH 2001)

Dessa forma assim como a ciecircncia e a tecnologia natildeo trouxe-ram o prometido benefiacutecio a todos houve ainda a intensificaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental trazendo enormes consequecircncias ne-gativas a grupos especiacuteficos Essa configuraccedilatildeo de desigualdades em relaccedilatildeo aos impactos socioambientais gerados pela explora-ccedilatildeo desenfreada da natureza associados aos ldquoavanccedilosrdquo enviesados da CampT constitui o que vem sendo reconhecido como injusticcedila ambiental entendida como o mecanismo pelo qual sociedades desiguais do ponto de vista econocircmico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento agraves populaccedilotildees de baixa renda aos grupos sociais discriminados aos povos eacutet-nicos tradicionais aos bairros operaacuterios agraves populaccedilotildees margina-lizadas e vulneraacuteveis3

Em contraposiccedilatildeo a ideia de justiccedila ambiental aparece como o conjunto de princiacutepios que visam a assegurar que nenhum grupo de pessoas sejam grupos eacutetnicos raciais ou de classe suporte

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

uma parcela desproporcional das consequecircncias ambientais negativas de operaccedilotildees econocircmicas de poliacuteticas e programas federais estaduais e locais bem como resultantes da ausecircncia ou omissatildeo de tais poliacuteticas Aleacutem disso eacute a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas inde-pendentemente de sua raccedila cor origem ou renda no que diz respeito agrave elaboraccedilatildeo desenvolvimento implementaccedilatildeo e reforccedilo de poliacuteticas leis e regulamentaccedilotildees ambientais (BULLARD 1990 ACSELRAD 2004 HERCULANO PACHECO 2006)

Segundo Herculano e Pacheco (2006) o movimento por justiccedila ambiental nos Estados Unidos tem dois momentos de criaccedilatildeo Em 1978 quando uma comunidade (Love Canal) de famiacutelias de operaacuterios (brancos) da induacutestria eleacutetrica no Niagara Falls des-cobriu-se vivendo em cima de um aterro de resiacuteduos toacutexicos e passou a lutar por indenizaccedilotildees por tratamento meacutedico e pelo direito agrave informaccedilatildeo sobre seu local de vida constituindo-se em coalizatildeo que deu forma ao Center for Health and Environmental Justice (Centro por Sauacutede e Justiccedila Ambiental)

Em 1982 em Warren County na Carolina do Norte registrou-se a revolta da populaccedilatildeo negra contra um depoacutesito de rejeitos quiacute-micos Desde entatildeo o movimento negro passou a utilizar a ex-pressatildeo racismo ambiental relativa a qualquer poliacutetica praacutetica ou diretiva que afete ou prejudique de formas diferentes voluntaacuteria ou involuntariamente a pessoas grupos ou comunidades por motivos de raccedila ou cor (BULLARD 2005 p1)

Essas definiccedilotildees tecircm seu valor na discussatildeo sobre as despropor-cionalidades das consequecircncias ambientais negativas entre diferen-tes populaccedilotildees No entanto de acordo com Herculano e Pacheco (2006) enquanto a perspectiva de justiccedila ambiental apresenta o vieacutes de classes ndash considerando seu sujeito como minoria e tendo foco no objeto e no processo da disputa no conflito em si (argumentaccedilatildeo proacutexima ao marxismo) ndash a perspectiva do racismo ambiental faz uma criacutetica agrave inferiorizaccedilatildeo racial ndash referindo-se agrave maioria (os pobres vistos preconceituosamente como raccedila inferior) e focando nos sujeitos coletivos nos valores e na eacutetica (MATHIAS 2007)

Natildeo caberia neste espaccedilo empreender esforccedilos para aferir o grau de importacircncia de um conceito em relaccedilatildeo a outro e muito menos julgar os niacuteveis de impactos sofridos entre as populaccedilotildees brancas pobres e as populaccedilotildees negras e indiacutegenas tambeacutem exclu-iacutedas socialmente Destacamos a importacircncia de desenvolverem es-forccedilos e inciativas para a produccedilatildeo e difusatildeo de materiais didaacuteticos e paradidaacuteticos que considerem tanto as diferentes relaccedilotildees com o meio ambiente quanto ao conjunto de consequecircncias da crise socioambiental considerando as desigualdades sociais e raciais que estatildeo sendo reproduzidas nesse contexto e para cuja soluccedilatildeo a educaccedilatildeo deve assumir efetivo compromisso eacutetico e em cujo pro-cesso as tecnologias educativas podem colaborar decisivamente

22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental A complexidade crescente das demandas conflitos e impactos am-bientais na sociedade contemporacircnea exige a adoccedilatildeo de um sistema de gestatildeo socioambiental robusto e efetivo integrado e assumido pela coletividade como instrumento e processo decisoacuterio administra-do de forma transparente e participativa para o qual as tecnologias educativas podem desempenhar relevante papel A responsabilidade compartilhada social e economicamente pelo conjunto dos cidadatildeos do paiacutes implica para aleacutem dos deveres associados ao pagamento dos tributos e impostos tambeacutem o efetivo envolvimento na promoccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas direcionadas a reduccedilatildeo das desigual-dades sociais (VIEIRA et al 2006 p48)

Diversas iniciativas e propostas vecircm sendo conduzidas no sentido de habilitar a estrutura e pessoal administrativo do Estado a incorporar o instrumental necessaacuterio para a captaccedilatildeo a anaacutelise e a decisatildeo mais aacutegil de informaccedilotildees e insumos aplicaacuteveis na resoluccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo Uma vez efetivada e aperfeiccediloada tal perspectiva pode vir a se constituir natildeo soacute em um instrumento mas numa caracteriacutestica central do processo de gestatildeo podendo chegar ao conceito de governo eletrocircnico (e-Gov) Aleacutem da aspirada eficaacutecia na gestatildeo puacuteblica tal instru-mental pode tambeacutem contribui para amplificar sua legitimidade agrave medida que proporcione real transparecircncia e acesso agrave populaccedilatildeo sobre as questotildees de planejamento e decisatildeo que incidam no conjunto do tecido social (PERSEGONA 2005 p131)

Contudo de modo a prevenir eventuais distorccedilotildees que a detenccedilatildeo privilegiada de informaccedilatildeo possa acarretar (pela consequente con-centraccedilatildeo de poder poliacutetico-econocircmica dela derivada) o progressivo desenvolvimento tecnoloacutegico e comunicacional deve ser regulamen-tado pelo Estado com a fiscalizaccedilatildeo pelo conjunto da sociedade e seus representantes garantindo-se o seu pleno acesso assim amplificando o seu potencial educativo Tais cuidados imprescindiacuteveis devem ser aprofundados quando da utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas no processo formativo como na Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EaD) na qual se destaca sua responsabilidade pela seleccedilatildeo das propostas composiccedilatildeo de equipe formadora estrateacutegias didaacuteticas e proposiccedilatildeo de ativida-des que podem influenciar decisivamente no ecircxito ou fracasso dessas mesmas poliacuteticas educativas (FUJITA 2010 p188-189) A hipertrofia e descontrole do aparato informacional enquanto instrumento e espaccedilo regulador dos fluxos e processos formativos comunicacionais e geren-ciais pode distanciar-se profundamente dos objetivos comunitaacuterios e identitaacuterios consolidando-se enquanto instacircncia emergente de poder poliacutetico-econocircmico impondo a sociedade os seus proacuteprios padrotildees e valores distoantes das necessidades e aspiraccedilotildees coletivas Tal eacute o risco intriacutenseco ao processo de utilizaccedilatildeo e dependecircncia crescente da sociedade em relaccedilatildeo agraves tecnologias educativas na ausecircncia de efetivo controle social dos seus meios de produccedilatildeo atraveacutes da proacutepria populaccedilatildeo e de seus representantes sociopoliacuteticos

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Para lidar de modo adequado pertinente e seguro com essa possibilidade assim como com quaisquer outros gran-des riscos conflitos e impactos socioambientais vivenciados coletivamente nunca eacute demais insistirmos no empoderamento social com a garantia da transparecircncia e do pleno acesso agraves informaccedilotildees para a participaccedilatildeo qualificada nas discussotildees de real significado para a sociedade

A educaccedilatildeo ambiental e a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica detecircm uma capacidade de mobilizaccedilatildeo social significativa ao contextualizar criticamente as potencialidades e problemas as perspectivas e conflitos socioambientais proporcionando as con-diccedilotildees para a discussatildeo coletiva e qualificada das comunidades para o planejamento socioambientalmente referenciado dos seus espaccedilos e territoacuterios Por meio de sua inserccedilatildeo e reverberaccedilatildeo nos espaccedilos programas e atividades de EaD podem ser compreendidos e vivenciados como comunidades de aprendizagem espaccedilos de pertencimento e cidadania elementos essenciais para desencadear a gestatildeo participativa municipal que promova a efetiva incorpora-ccedilatildeo da sustentabilidade e justiccedila socioambiental (FERREIRA 2010) Nesse cenaacuterio a EaD demanda um novo paradigma de ruptura com modelo claacutessico de ensino (atrelado ao modelo econocircmico em curso) desconexo e competitivo para um novo sistema integrado e colaborativo Ensinar a estudar e a trabalhar em cooperaccedilatildeo requer tambeacutem um novo perfil dos profissionais da educaccedilatildeo pelo qual sejam capazes de reconhecer as peculiaridades individuais e com a habilidade para administrar os conflitos dessa nova aprendizagem colaborativa (MARAVALHAS COSTA BARRETO 2010 p 11)

Como as atividades satildeo desenvolvidas em grupos nas diferen-ccedilas e divergecircncias ou seja na convivecircncia os estudantes aprendem a respeitar o outro como legiacutetimo A liberdade e a responsabilidade se estendem ao material pedagoacutegico disponiacutevel nos ambientes que oferecem subsiacutedios (tanto para os professores quanto para os estudantes) na proposiccedilatildeo de diferentes praacuteticas pedagoacutegicas (GAUTEacuteRIO RODRIGUES 2013 p 616) A responsabilidade e a liber-dade como emoccedilotildees que fundamentam o fazer humano passam a ser compreendidas em uma dimensatildeo ampliada Professores e estudantes entendem que satildeo responsaacuteveis pelo ensinar e pelo aprender e ao se darem conta das consequecircncias das proacuteprias accedilotildees podem optar por desejar ou natildeo esses resultados

Como todo processo educativo e cultural as tecnologias educativas satildeo constructos humanos logo natildeo satildeo neutras elas contecircm e condicionam determinados conteuacutedos e ideologias objetivos e sujeitos Os instrumentos os processos e os produtos gerados e compartilhados pela a EaD por exemplo congregam um potencial muito expressivo de transformaccedilatildeo nas interaccedilotildees socioculturais por tal caracteriacutestica seu emprego deve considerar com parcimocircnia as repercussotildees locais e contextos especiacuteficos onde podem vir a incidir de modo a prevenir e evitar a erosatildeo

cultural pela homogeneizaccedilatildeo da diversidade cultural diante de padrotildees de referecircncia externos assim como no tratamento super-ficial e alienante de temas e abordagens e ainda no processo de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida dos profissionais da educaccedilatildeo em progressiva substituiccedilatildeo pela mediaccedilatildeo eletrocircnica

Por outro lado satildeo muacuteltiplas as suas potenciais contribuiccedilotildees para o desenvolvimento das capacidades humanas o respeito e va-lorizaccedilatildeo da diversidade eacutetnico-cultural e o estiacutemulo agrave criatividade Tais dimensotildees devem ser trabalhadas pelo fortalecimento do senso criacutetico da cooperaccedilatildeo e da efetiva participaccedilatildeo cidadatilde nos processos decisoacuterios sobre os destinos compartilhados de todas as sociedades Entendemos pois que a produccedilatildeo e a difusatildeo do livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas com seu conjunto de propostas pedagoacutegicas concebidas aplicadas e avaliadas por pesquisadores e professores constitui-se em um estudo de caso representativo do potencial inspirador da (e para a) utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas com perspectivas de transformaccedilatildeo socioambiental qualificando-nos em conjunto para a melhoria dos processos produtivos e educativos

3 ConsideraccedilotildeesPercebemos como organizadores e colaboradores envolvidos na produccedilatildeo dessa obra que a proposta pedagoacutegica interdisciplinar sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas conseguiu atender aos objetivos estabelecidos respondendo de modo satisfatoacute-rio aos desafios empreendidos A sua avaliaccedilatildeo junto aos seus destinataacuterios atraveacutes da Fase de Testes preacutevios com professores resultou na adaptaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de algumas atividades propostas incrementando a qualidade e aderecircncia do produto final as necessidades e expectativas docentes

A ampla receptividade do produto final junto aos colegas pesqui-sadores-professores durante o Seminaacuterio Nacional de Integra-ccedilatildeo da CAPES constituiu-se em fator de grande estiacutemulo para o desenvolvimento de projetos similares (re)conectando as aacutereas teacutecnico-cientiacuteficas e artiacutestico-culturais solidamente embasadas no contexto nacional mas abertos agrave pluralidade de formas de expressatildeo e abordagens do patrimocircnio cultural da humanidade

Focalizamos algumas formas e processos de interaccedilatildeo entre as atividades e expressotildees artiacutestico-culturais com ecossistemas recursos e seres aquaacuteticos os quais merecem nosso respeito e esforccedilos para a manutenccedilatildeo da integridade e complexidade desses universos hiacutedricos Entendemos que a educaccedilatildeo cientiacutefi-ca e tecnoloacutegica e a educaccedilatildeo ambiental devem estar abertas e receptivas para o contiacutenuo intercacircmbio de saberes e fazeres com o multiverso dos conhecimentos natildeo acadecircmicos gestados no cotidiano da vida laboral de todas as culturas

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa intervenccedilatildeo pedagoacutegica tambeacutem adveacutem a compreensatildeo da pertinecircncia e da relevacircncia da adoccedilatildeo criteriosa criacutetica e participativa das tecnologias educacionais com efetivo potencial de mobilizaccedilatildeo e interaccedilatildeo social para a discussatildeo e problematizaccedilatildeo de temas aspectos e questotildees compartilhadas por diferentes comunidades e contextos

Entendemos tambeacutem o valor intriacutenseco a tais tecnologias educa-cionais no sentido de viabilizar a exponencial ampliaccedilatildeo do acesso compartilhamento apropriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo dos conteuacutedos e significados produzidos-difundidos constituindo-se em instru-mental acessoacuterio para subsidiar a atuaccedilatildeo dos educadores em todos os acircmbitos niacuteveis e escalas contextos e realidades socioculturais e poliacutetico-econocircmicas Concebidas e conduzidas de modo a respeitar valorizar e estimular a diversidade de saberes e fazeres concepccedilotildees de mundo e (re)leituras de conhecimentos patrimoniais teacutecnicos cientiacuteficos e artiacutesticos as tecnologias educacionais contribuiratildeo mais efetivamente para a contiacutenua formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e parti-cipativa e melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

N o t a s

1 ndash O referido livro foi organizado pela Editora da UDESC e se encontra disponiacutevel para consulta e download gratuitos no Portal EduCapes nos formatos ePUB e PDF no endereccedilo eletrocircnico lthttpeducapescapesgovbrhandlecapes111675gt

2 ndash Segundo Daquino (2010) existem diversas formas para a leitura de e-books smartphones ou softwares No entanto nem todo aparelho ou aplicativo suporta todas as extensotildees dos e-books Entre as vantagens da utilizaccedilatildeo do ePUB estatildeo o acesso a conteuacutedos em diversos dispositivos e a faacutecil adaptaccedilatildeo do texto a cada tela de qualquer dispositivo

3 ndash O referido conceito consta do Manifesto de lanccedilamento da Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrdestaquesitem8077gt

R e f e r ecirc n c i a s

ACSELRAD H (Org) Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro RJ Relume-Dumaraacute 2004

ANA-CAPES Edital ANA-CAPESDEB Nordm 182015 2015 11 f Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica - Projeto Aacutegua Brasiacutelia DF Agencia Nacional das Aacuteguas 2015 11 f

ANGOTTI J A P AUTH MA Ciecircncia e tecnologia implicaccedilotildees sociais e o papel da educaccedilatildeo Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v7 n1 p15-27 2001

BULLARD R D Dumping in Dixie race class and environmental quality Boulder Westview Press 1990

______ Eacutetica e racismo ambiental In Revista Eco-21 ano XV Nordm 98 janei-ro2005 Disponiacutevel em lthttpwwweco21combrtextostextosaspID=996gt Acesso em 27 fev 2017

CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas Florianoacutepolis UDESC ndash Universidade do Estado de Santa Catarina 2015 10 p

DAQUINO F O que eacute o formato ePUB Portal Tecmundo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtecmundocombramazon3644-o-que-e-o-for-mato-epub-htmgt Acesso em 24 out 2015

FERREIRA W O papel da educaccedilatildeo ambiental a distacircncia no reconhecimento das demandas comunitaacuterias frente agraves poliacuteticas puacuteblicas regionais In Seminaacuterio Poliacuteticas Puacuteblicas e Educaccedilatildeo Constituindo a Cidadania Rio Grande RS FURG ndash Universidade Federal do Rio Grande 2010

FUJITA O M Educaccedilatildeo agrave distacircncia curriacuteculo e competecircncia uma proposta de formaccedilatildeo on-line para gestatildeo empresarial 2010 285 f Tese (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo) - Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2010 (285 p) Disponiacutevel em lthttprepositoriomi-nedugobpebitstreamhandle12345678917352010_Fujita_Educa-C3A7C3A3o20a20distC3A2ncia20currC3ADculo20e20competC3AAncia-20uma20proposta20de20forma-C3A7C3A3o20on-line20para20a20gestC3A3o20em-presarialpdfsequence=1gt Acesso em 13 set 2014

GAUTEacuteRIO V L B RODRIGUES S C Os ambientes de aprendizagem pos-sibilitando transformaccedilotildees no ensinar e no aprender Rev Bras Estud Pedag Brasiacutelia v94 (237) p 603-618 maio-ago 2013 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbepedv94n237a13v94n237pdfgt Acesso em 08 nov 2015

HERCULANO S PACHECO T (Orgs) Racismo ambiental Rio de Janeiro RJ FASE 2006

MARAVALHAS M R G et al Novo professor novo aluno e a educaccedilatildeo am-biental na EAD In Congresso ABED ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino a Distacircncia Satildeo Luiacutes 2010 12 p Disponiacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2010cd152010213859pdfgt Acesso em 19 mai 2015

MATHIAS M Racismo ambiental Revista Poli sauacutede educaccedilatildeo e trabalho ndash FIO-CRUZ v 9 n 50 p 31-32 mar-abr 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwepsjvfiocruzbrsitesdefaultfilespoliweb50pdfgt Acesso em 27 fev 2017

NASCIMENTO C C A formaccedilatildeo em educaccedilatildeo para o ecodesenvolvimento um estudo de caso junto ao Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento periacuteodo 2010-2013 2013 Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental Universidade Federal do Rio Grande Rio Grande 2013

______ FERREIRA W CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua Florianoacutepolis SC UDESC 2016 231 p

PERSEGONA M F M A utilizaccedilatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo pelas poliacuteticas puacuteblicas de governo e-Gov como um instrumento de de-mocratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo 2005 143 f Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel Centro de Desen-volvimento Sustentaacutevel Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2005

SANTOS E C Educaccedilatildeo ambiental e a transversalidade na formaccedilatildeo de professores complexidade e desafios do mundo contemporacircneo Revista Geonorte ed especial v3 n4 p 161-170 2012

VIEIRA A R COSTA L BARRETO S R (Org) Aacutegua para a Vida aacutegua para todos Cadernos de Educaccedilatildeo Ambiental Brasiacutelia DF WWF Brasil 2006 72 p Disponiacutevel em lthttpwwwwwforgbrnatureza_brasi-leirareducao_de_impactos2aguaagua_acoes_resultadoseduca-cao_ambiental_aguagt Acesso em 17 abr 2015

Paacutegina 8 de 8

R e s u m o

Este estudo decorreu da anaacutelise de uma sala de aula universitaacuteria de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano localizada

na serra gauacutecha no Rio Grande do Sul no Brasil A metodologia ativa de ensino propotildee que o discente seja o protagonista de seu proacuteprio conhecimento e seja o responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos no ambiente educacional A partir desse pressuposto o objetivo deste trabalho foi observar a aplicabilidade do uso da metodologia ativa no ensino aleacutem de sua utilizaccedilatildeo para a construccedilatildeo do conhecimento junto aos discentes Para isso procurou-se pesquisar sobre a temaacutetica escolhida e a abordagem investigativa foi predominantemente qualitativa Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se a observaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento da disciplina em sala de aula Para compreender o objeto de estudo foi preciso tomar como pano de fundo a metodologia e as estrateacutegias de ensino utilizadas pelo docente Os resultados observados foram satisfatoacuterios para fundamentar a construccedilatildeo da aprendizagem baseada na problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees correntes do dia a dia A qualificaccedilatildeo e o aperfeiccediloamento do docente para fundamentar o conteuacutedo eacute indispensaacutevel para a efetividade da proposta de utilizaccedilatildeo da metodologia ativa

R e s u m e n

Este estudio ha procedido del resultado del anaacutelisis de una clase universitaria de una institucioacuten de educacioacuten superior privada ubicada en la Sierra Gaucha Estado del Riacuteo Grande do Sul Brasil con los estudiantes de la disciplina de Evaluacioacuten del Desempentildeo Humano La metodologiacutea activa de ensentildeanza propone que el estudiante sea el protagonista de su propio conocimiento y que sea responsable por la construccioacuten activa de sus objetivos en el aacutembito educativo A partir de este supuesto el objetivo de este estudio ha sido observar la aplicabilidad de la utilizacioacuten de una met-odologiacutea activa en la ensentildeanza ademaacutes de su uso para la construccioacuten de conocimientos con los estudiantes Para ello hemos tratado de investigar el tema elegido y el enfoque de investigacioacuten ha sido predominantemente cualitativo utilizando como instrumento de recoleccioacuten de datos la observacioacuten participante en el desarrollo de la disciplina en el aula Para comprender el objeto del estudio ha sido necesario partir del contexto de la metodologiacutea y estrategias de ensentildeanza utiliza-das por el profesor Los resultados han sido satisfactorios para fundamentar la construccioacuten de un aprendizaje fundamentado en el cuestionamiento de las situaciones actuales de la vida cotidiana La calificacioacuten y el perfeccionamento profesional del professor para fundamentar el contenido son esenciales para la efectividad de la propuesta de utilizacioacuten de la metodologiacutea activa

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 06032017Aprovado em 29082017

Palavras-chaveMetodologia de ensino ativa Docecircncia universitaacuteriaPraacuteticas pedagoacutegicas

Palabras claveMetodologiacutea de ensentildeanza activa Ensentildeanza universitariaPraacutecticas pedagoacutegicas

Autoras MBA em gestatildeo de recursos humanos pela Uninter Graduaccedilatildeo em gestatildeo de recursos humanos e Poacutes-graduaccedilatildeo em gestatildeo e docecircncia do ensino superior pelo Centro Superior de Tecnologia Te-cbrasil FTEC - Bento Gonccedilalves Professo-ra da escola Senac - Bento Gonccedilalves e Coach profissionale-mail daianelotesgmailcom

Mestrado Profissional em Gestatildeo Edu-cacional pela UNISINOS - Universidade do Vale dos Sinos Graduaccedilatildeo em Admi-nistraccedilatildeo pela Faculdade Cenecista de Bento Gonccedilalves Docente Universitaacuteria na FAMUR - Faculdade Catoacutelica Murialdo de Caxias do Sul e FSG - Faculdade da Serra Gauacutecha de Bento Gonccedilalves Consultora Empresarial Associada na aacuterea de Gestatildeo de Pessoas pela Poletto Soluccedilotildees em Ges-tatildeo e Pesquisadora CNPQ do Grupo de Pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Professores Gestores e Praacuteticas Pedagoacutegicas pela UNI-SINOS - Universidade do Vale dos Sinose-mail magda_detonihotmailcom

Como citar este artigoLOTES D TONI M Metodologia ativa de ensino Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Metodologia ativa de ensinoMetodologia activa de ensentildeanza

Daiane Lotes e Magda de Toni

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoA metodologia ativa eacute um processo amplo que apresenta como principal caracteriacutestica a inserccedilatildeo do discente como agente prin-cipal responsaacutevel pela sua aprendizagem comprometendo-se com seu aprendizado

O processo de educar deixou de ser baseado na mera trans-missatildeo do conhecimento por diversos fatores como a rapidez na produccedilatildeo do conhecimento e principalmente na facilidade de acesso agrave vasta gama de informaccedilatildeo Nesse contexto as meto-dologias ativas surgem como proposta para priorizar o processo de ensinar e aprender na busca da participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos centrados na realidade em que estatildeo inseridos

Como enfrentamento ao modelo tradicional imposto e aceito ao longo dos tempos tem-se lanccedilado matildeo das metodologias ati-vas de ensino-aprendizagem nas quais eacute dado forte estiacutemulo ao reconhecimento do mundo atual tornando os discentes capazes de intervir e promover as transformaccedilotildees necessaacuterias O discente se torna o uacutenico responsaacutevel pela sua proacutepria construccedilatildeo do conheci-mento e faz com que os seus principais objetivos sejam alcanccedilados de forma satisfatoacuteria com sucesso autogerenciamento e autonomia

A educaccedilatildeo comeccedila em casa e eacute aprimorada na escola e na socie-dade Os docentes tecircm o compromisso de explicar e acompanhar os resultados obtidos com o conhecimento que eacute repassado em sala de aula Nos dias de hoje cada vez mais nos deparamos com situaccedilotildees que vatildeo aleacutem da nossa realidade situaccedilotildees que poderiam ser resolvidas com um simples estudo ou com a base da educaccedilatildeo que a pessoa teve

Algumas pessoas natildeo se datildeo conta de que o maior valor que o ser humano pode ter eacute a educaccedilatildeo que eacute indispensaacutevel in-comparaacutevel e intransferiacutevel Ningueacutem pode tirar de uma pessoa o conhecimento que ela possui e soacute esta sabe como usaacute-lo

As instituiccedilotildees de ensino precisam acolher os discentes de forma que eles cheguem agrave sala de aula motivados a aprender ou seja que eles tenham o entendimento de que o conhecimento que vatildeo obter serviraacute para o futuro para que possam enfrentar as situaccedilotildees do dia a dia com mais facilidade e sabedoria

Nenhum professor estaacute totalmente livre a esperanccedila de trabalhar apenas com alunos motivados Cada professor espera alunos que se envolvam no trabalho manifestem o desejo de saber e a vontade de aprender A motivaccedilatildeo ainda eacute tida com demasiada frequecircncia como uma preliminar cuja forccedila natildeo depende do professor (PERRENOUD 2000 p 68)

Adaptamo-nos conforme o andamento do dia a dia e principal-mente conforme as novas tecnologias que cada vez vatildeo ocupando um espaccedilo maior entre os jovens de hoje A sociedade atual eacute tecno-

loacutegica de modo que natildeo eacute mais possiacutevel pensar em educaccedilatildeo sem a utilizaccedilatildeo das tecnologias O processo de ensinar-aprender tambeacutem jaacute vem gradativamente se modificando exercitando formas de ensinar e aprender diferentes nas quais o docente natildeo eacute mais um simples trans-missor do conhecimento e o discente natildeo eacute mais um mero ouvinte

Assim o docente precisa utilizar recursos que transformem suas aulas de modo a instigar mais e mais a busca pelo conheci-mento por parte dos alunos ministrando aulas dinacircmicas atrativas e entendendo que as tecnologias disponiacuteveis podem ser bem utilizadas auxiliar no processo de ensino-aprendizagem

Segundo Rivas (2009) o professor precisa ser algueacutem criativo competente e comprometido com o advento das novas tecnologias interagindo em meio agrave sociedade do conhecimento repensando a educaccedilatildeo e buscando os fundamentos para o uso dessas novas tecnologias que causam grande impacto na educaccedilatildeo e que podem determinar uma nova cultura e novos valores na sociedade

Em funccedilatildeo dessa transiccedilatildeo o ambiente acadecircmico tem se preo-cupado com o desenvolvimento de novas metodologias e atitudes para melhorar a efetividade no processo de aprendizagem Tais artifiacutecios satildeo denominados ldquoestrateacutegias de ensino-aprendizagemrdquo e satildeo definidos como os meios que vecircm sendo utilizados no pro-cesso de ensino com o intuito se atingir a qualidade desejada e os resultados esperados Penso todavia que esses recursos precisam ser bem trabalhados para natildeo se confundirem com ldquomodismosrdquo que nada modificam a concepccedilatildeo de conhecimento

Combinar atitudes e recursos didaacuteticos que favoreccedilam o processo de aprendizagem parece ser a tocircnica do que se convencionou denomi-nar estrateacutegias de ensino-aprendizagem ldquoeficientesrdquo Assim o processo de ensino-aprendizagem tem sido alvo de discussotildees e pesquisas que visam a contribuir para seu desenvolvimento e efetividade

Perrenoud (2000) afirma que todos os docentes podem ter atitudes inovadoras e com isso fazer com que os alunos desenvol-vam a sua proacutepria motivaccedilatildeo poreacutem muitos pensam que o ensino eacute restrito e que natildeo tecircm retorno financeiro para ter esse tipo de atitude Ainda nos diz que ateacute os discentes motivados cientes de seu potencial e com boas notas na escola podem diminuir seu desempenho se natildeo forem incentivados ao longo do tempo

Considerando o dinamismo do mundo moderno o profis-sional docente sente-se pressionado por um ambiente externo altamente exigente precisando proporcionar aos estudantes uma educaccedilatildeo de elevado niacutevel e com soacutelida formaccedilatildeo Logo se a atualizaccedilatildeo didaacutetica dos docentes natildeo acompanha o ritmo desse novo cenaacuterio poderaacute haver uma falta de sintonia entre os procedimentos meacutetodos e estrateacutegias de ensino e o perfil dos alunos prejudicando o processo de ensino-aprendizagem

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Cabe aqui salientar que Itoz e Mineiro (2005) defendem que o para-digma que considerava a competecircncia teacutecnica docente como elemento fundamental da didaacutetica vem sofrendo gradualmente alteraccedilotildees no sentido da indagaccedilatildeo sobre outros fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem e os agentes impactados neste processo

O docente deve ser um articulador de todo o processo de ensino-aprendizagem e ter a consciecircncia de que a maior rede social eacute a sala de aula onde temos que aprender a fazer a leitura do nosso cotidiano e compreender que a informaccedilatildeo eacute um ponto de partida natildeo um ponto de chegada

Entretanto podemos perceber que a aprendizagem acontece quando o indiviacuteduo vivencia as situaccedilotildees vistas em sala de aula e as metodologias ativas de ensino permitem que o discente se envolva e ele mesmo gere situaccedilotildees que faccedilam com que o conhe-cimento seja completo e adquirido com total autonomia tendo o docente o papel de mediador e articulador do conhecimento

2 MetodologiaA metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliograacutefica sobre a temaacutetica escolhida e a obser-vaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento de uma disciplina em uma sala de aula

A pesquisa bibliograacutefica eacute desenvolvida a partir de materiais publicados em livros artigos dissertaccedilotildees e teses Ela pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental Segundo Cervo Bervian e da Silva (2007) o processo de pesquisa bibliograacutefica eacute baacutesico em todos os trabalhos e estudos para identificar o tema

Jaacute a observaccedilatildeo participante eacute realizada em contato direto e prolongado do observador para com os envolvidos na anaacutelise O meacutetodo de observaccedilatildeo utilizado foi assistemaacutetico sem anaacutelise anterior e instrumental apropriado

O contexto analisado eacute a sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

3 Quadro TeoacutericoVive-se hoje um cenaacuterio da educaccedilatildeo no Brasil em que ainda haacute uma necessidade premente de evoluccedilatildeo no processo de en-sino-aprendizagem no sentido de tornaacute-lo significativo capaz de desenvolver competecircncias e ter como resultado um discente criacutetico e capaz de exercer uma ocupaccedilatildeo com excelecircncia Assim cabe ao docente refletir e inovar sua metodologia de transferecircncia do conhecimento buscar e motivar a aprendizagem

Ao destacar que para a aprendizagem do aluno se tornar mais du-radoura e significativa eacute necessaacuterio conhecer os aspectos formadores e constituintes da aprendizagem os docentes devem dar-se conta de que eacute necessaacuterio adaptar ou criar um meacutetodo didaacutetico e especiacutefico a cada puacuteblico de alunos ainda mais no ensino superior Nesse niacutevel haacute saberes da experiecircncia feitos uma vez que o indiviacuteduo nesta etapa acumula variadas experiecircncias de vida aprende com os proacuteprios erros percebe aquilo que natildeo sabe e o quanto tal desconhecimento lhe faz falta analisando criticamente as informaccedilotildees que recebe

Pensamos que a tarefa da educaccedilatildeo eacute formar seres humanos para o presente para qualquer presente seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar seres capazes de pensar tudo e de fazer tudo o que eacute preciso como ato responsaacutevel a partir de sua consciecircncia social Conseguir isto eacute o propoacutesito desta proposta

educacional (MATURANA REZEPKA 2000 p 10)

As pessoas que se iniciam como docentes muitas vezes saem de uma formaccedilatildeo muito teoacuterica do ponto de vista metodoloacutegico Aprenderam durante toda sua graduaccedilatildeo que o saber eacute o ponto mais importante e foram ensinados a fazerem pesquisa Quando se deparam com o ambiente educacional observam que o ser e o fazer se destacam principalmente com os modelos de discentes de hoje que satildeo inquietos por aprender assuntos novos da forma mais criativa e interativa possiacutevel A interatividade ajuda a prender a atenccedilatildeo e instigar a inovaccedilatildeo nos assuntos abordados

Piaget (2012) afirma que o meio onde o ser humano habita influencia em seus atos e faz com que este tenha estiacutemulo e con-sequentemente reorganize e construa seu proacuteprio conhecimento Nessa perspectiva a educaccedilatildeo formal promove o desenvolvimen-to na medida em que favorece uma postura ativa e construtiva do aluno por meio de situaccedilotildees de aprendizagem desafiadoras que estimulem a duacutevida e provoquem a reflexatildeo

A praacutetica pedagoacutegica reprodutora assemelha-se a uma praacuteti-ca conservadora da ciecircncia e consequentemente da educaccedilatildeo Jaacute a praacutetica inovadora fomenta a aprendizagem e transforma o processo Conforme afirma Moraes (2000 p 100)

Num sistema aberto de educaccedilatildeo o conhecimento requer que processos estejam em construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo pela accedilatildeo do sujeito sobre o meio ambiente que ocorram trocas energeacuteticas mediante processos de assimila-ccedilatildeo acomodaccedilatildeo auto-organizaccedilatildeo ou seja mediante relaccedilotildees interativas

e dialoacutegicas entre o aluno professor e ambiente de aprendizagem

Esse paradigma estaacute relacionado agraves mudanccedilas da sociedade como a globalizaccedilatildeo agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e agraves alteraccedilotildees cientiacuteficas proacuteprias da sociedade poacutes-moderna

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma entende-se que o discente deixa de ser um repro-dutor passivo de conhecimento para se tornar um ator protago-nista apto para tomar decisotildees Jaacute o docente eacute necessaacuterio que ele mesmo reflita sobre sua praacutetica sua qualidade de transferecircncia de conhecimento e sua autorreflexatildeo atraveacutes de fatores essenciais ndash o saber a sua experiecircncia bagagem profissional e educacional aliada a novos conhecimentos resultantes de pesquisas como por exemplo as novas tecnologias

A metodologia inovadora ativa de ensino permite que faccedilamos comparaccedilotildees entre o aprendizado conservador e o aprendizado inovador No processo de aprendizagem conservador por exem-plo vemos algumas situaccedilotildees em que o discente eacute subordinado agraves orientaccedilotildees do professor recebe passivamente o conhecimento e informaccedilotildees eacute condicionado a dar respostas prontas e corre-tas e eacute preparado para atuar com eficiecircncia na sociedade Jaacute no processo de aprendizagem inovadora podemos citar o discente como aprendiz autocircnomo e visto como um ser humano holiacutestico que se torna responsaacutevel pelas suas escolhas aprende a formular e a buscar respostas eacute destacado pela sua criatividade e se torna sujeito da sua proacutepria educaccedilatildeo

Adotar um paradigma inovador e assumir os diversos papeacuteis descritos por Perrenoud implica refletir sobre a praacutetica docente o planejamento das aulas a forma de avaliaccedilatildeo e sobretudo o que se espera ter como resultado final de um processo de ensi-no-aprendizagem Dessa forma o processo de ensino deve ser ajustado e ter uma evoluccedilatildeo constante buscando a integraccedilatildeo com o ambiente onde o discente estaacute inserido

No processo de aprendizagem natildeo entra em jogo apenas um conjunto de operaccedilotildees cognitivas pois a construccedilatildeo do conheci-mento estaacute sempre atravessada pela afetividade de quem o pro-duz Nessa perspectiva o docente deve possibilitar a construccedilatildeo de um clima de bem-estar em sala de aula que favoreccedila a qua-lidade das relaccedilotildees interpessoais e os processos de constituiccedilatildeo de sentido no processo educativo

Segundo Maturana e Rezepka (2000 p 14) ldquoas emoccedilotildees satildeo dinacircmicas corporais que especificam as classes de accedilotildees que um animal pode realizar em cada instante em seu acircmbito relacionalrdquo Assim acontece com os docentes e discentes no ambiente de sala de aula onde os sentimentos estatildeo em sin-tonia com o processo de aprender

As situaccedilotildees de aprendizagem satildeo determinantes para alcan-ccedilar os objetivos propostos e conforme reflexatildeo de Weisz (2004 p 70) ldquoem qualquer aacuterea do conhecimento eacute possiacutevel organizar atividades que representem problemas para os alunos e que de-mandem o uso do que sabem para encontrar soluccedilotildees possiacuteveisrdquo

Acredita-se que o uso da metodologia ativa de ensino na universidade possibilita contribuir significativamente e promo-ver situaccedilotildees que propiciem uma construccedilatildeo significativamente coletiva na forma de interagir e trabalhar com o conhecimento

A construccedilatildeo do conhecimento se daacute atraveacutes de incentivos por parte da proacutepria instituiccedilatildeo de ensino dos docentes envolvidos e principalmente do proacuteprio discente

Na escola atual percebe-se que o curriacuteculo aplicado estaacute mais flexiacutevel e adaptado ao meio e agraves novas tecnologias Conforme afirma Moraes (2000 p 100) ldquosob esse novo enfoque o curriacuteculo eacute algo que estaacute sempre em processo de negociaccedilatildeo e renegociaccedilatildeo entre alunos professores realidades e instacircncias administrativasrdquo

A aprendizagem do indiviacuteduo ocorre natildeo somente com o co-nhecimento adquirido em sala de aula como tambeacutem pelos seus desejos intuiccedilotildees sensaccedilotildees e emoccedilotildees que se manifestam atraveacutes das variadas atividades praticadas principalmente nas atividades luacutedicas que fazem com que o discente vivencie situaccedilotildees que acontecem no dia a dia Segundo Perrenoud (2001 p 182) ldquoos fu-turos professores poderiam ser encorajados a colocar sua formaccedilatildeo inicial a serviccedilo e criar voluntariamente situaccedilotildees ldquointeressantesrdquo

Tais sentimentos citados aparecem tambeacutem em momentos nos quais o docente faz a correccedilatildeo das atividades realizadas em sala de aula no ambiente educacional nos quais tem o poder de formar ou atrapalhar o processo de aprendizagem pela forma com que as palavras satildeo ditas em sala de aula no momento da correccedilatildeo Conforme afirma Maturana e Rezepka (2000 p 33)

Na educaccedilatildeo corrigir o ldquoserrdquo da crianccedila acaba alienando-a porque ame-accedila o que ela vecirc ou vive em nossa cultura como sua existecircncia com uma certa identidade transcendente a correccedilatildeo do fazer natildeo faz isso

A correccedilatildeo do fazer natildeo constitui uma ameaccedila porque ao fazecirc-la satildeo especificados os limites dentro dos quais ocorre segun-do as coerecircncias proacuteprias do fazer que se deseja sem referecircncia agrave sua identidade

Aleacutem disso muitos autores comentam sobre os vaacuterios mo-delos de mundo e inteligecircncias muacuteltiplas que as pessoas podem desenvolver ao longo de suas vidas Essas inteligecircncias e modelos de aprendizagem se apresentam na medida em que se comeccedila a trabalhar o ceacuterebro para pensar e resolver situaccedilotildees conflitan-tes Em sala de aula esses modelos satildeo observados e podem ser moldados atraveacutes da metodologia didaacutetica do docente para com o discente individualmente observando capacidades sinesteacutesicas visuais e auditivas Mas como usar os conhecimentos de modelos de mundo para ajudar os discentes no processo de aprendizagem

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O conteuacutedo pode ser adaptado conforme os modelos de aprendizagem juntamente com grupos afins Esse processo gera um ambiente de discussatildeo troca de ideias conhecimento muacutetuo e principalmente o senso de trabalho em equipe e o relaciona-mento interpessoal

As aptidotildees dos discentes tambeacutem satildeo observadas para que haja a construccedilatildeo do conhecimento Uma didaacutetica na qual o ser natildeo se encaixa por natildeo ter a aptidatildeo para desenvolver tal situaccedilatildeo pode fazer com que o sentimento de fracasso seja tatildeo importante que pode gerar consequecircncias para a vida do sujeito e conco-mitantemente desmotivar o profissional o docente que estaacute a ensinar Dito isso o docente eacute peccedila fundamental nesse processo como mediador das accedilotildees e atividades exercidas

Outro ponto importante eacute a questatildeo cultural que estaacute inserida na vida dos discentes Conforme Moraes (2000 p 95) ldquoa cultura influencia cada indiviacuteduo na maneira como os potenciais inte-lectuais evoluem daacute o tom o colorido e direciona o modo de evoluccedilatildeo das competecircncias humanasrdquo

Os valores individuais de cada um influenciam na maneira de agir em grupo nas organizaccedilotildees e na escola Quando esses natildeo satildeo respeitados o sujeito tende a se afastar e a mudar suas atitudes perante as situaccedilotildees que se apresentam porque essa questatildeo vai contra tudo o que lhe foi ensinado e praticado ao longo da vida

Contudo Weisz (2004 p 58) afirma que

De uma perspectiva construtivista o conhecimento natildeo eacute concebi-do como uma coacutepia do real incorporado diretamente pelo sujeito pressupotildee uma atividade por parte de quem aprende que organiza e integra os novos conhecimentos aos jaacute existentes Isso vale tanto

para o aluno quanto para o professor em processo de transformaccedilatildeo

O homem eacute um ser social e portanto relacional precisa de meios e atitudes que desenvolvam o conhecimento Quanto maior a didaacutetica e a dinacircmica em sala de aula maior compre-ensatildeo do assunto comprometimento e consequentemente pessoas melhores no futuro

Grande parte das dificuldades dos docentes se daacute pelo fato de natildeo reconhecer o que foi dito em sala de aula e de natildeo observar seu proacuteprio comportamento com relaccedilatildeo aos discentes sem se dar conta de que o mundo em que eles vivem eacute sempre uma criaccedilatildeo pessoal

Em meio agraves incertezas dos dias de hoje espera-se que a edu-caccedilatildeo seja revolucionaacuteria a ponto de transformar as pessoas em indiviacuteduos criacuteticos e de conhecimento Seres capazes de transformar

o ambiente e sugerir soluccedilotildees Esse meio produz uma mudanccedila significativa na visatildeo social e intelectual do docente Na medida em que essa mudanccedila se faz presente as necessidades de fundamentar a teoria e a praacutetica se tornam prioridade na atuaccedilatildeo do docente

Natildeo existe uma padronizaccedilatildeo do meacutetodo de ensino cada docente o adapta conforme sua realidade seus discentes si-tuaccedilotildees e assunto Todas as instituiccedilotildees de ensino devem estar abertas e flexiacuteveis para que a mudanccedila de pensamento e de metodologia de ensino aconteccedila e ocorra em consequecircncia uma melhor e mais moderna forma de educar o discente para o futuro Segundo Moraacuten (2015 p 16)

A escola padronizada que ensina e avalia a todos de forma igual e exige resultados previsiacuteveis ignora que a sociedade do conhecimento eacute baseada em competecircncias cognitivas pessoais e sociais que natildeo se adquirem da forma convencional e que exigem proatividade co-

laboraccedilatildeo personalizaccedilatildeo e visatildeo empreendedora

Os meacutetodos de avaliaccedilatildeo tambeacutem se modificaram ao longo dos anos Hoje os discentes satildeo avaliados a partir das competecircn-cias que desenvolveram durante o processo de aprendizagem Avaliar conhecimentos habilidades e atitudes requer do docente uma observaccedilatildeo e uma intervenccedilatildeo maiores na abordagem do conteuacutedo No momento em que o docente planeja sua aula o assunto deve estar embasado primeiramente na apropriaccedilatildeo teoacuterica do conteuacutedo nas caracteriacutesticas da didaacutetica proposta para que todos possam desenvolver e em quais accedilotildees o discente deve se utilizar para que essa teoria seja absorvida por ele A metodologia de ensino ativa permite que os discentes aprendam de forma dinacircmica e entendam que o conhecimento que estatildeo adquirindo nas atividades desenvolvidas em sala de aula satildeo levados para a vida fora dela

As escolas de maneira geral estatildeo modificando seus ambien-tes fiacutesicos para proporcionar ao discente um ensino mais suave aconchegante no qual ele se sente livre para criar e modificar seu aprendizado As estruturas satildeo pensadas de forma interdisciplinar para que seja possiacutevel desenvolver projetos integradores mais eficientesO ensino hiacutebrido natildeo eacute um vilatildeo em sala de aula e sim uma forma de acompanhar a tecnologia do mundo de hoje que eacute cada vez mais necessaacuteria e indispensaacutevel

O ensino hiacutebrido eacute um programa de educaccedilatildeo formal no qual um aluno aprende pelo menos em parte por meio do ensino online com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo lugar modo eou ritmo do estudo e pelo menos em parte em uma localidade fiacutesica supervisionada fora de sua residecircncia (CHRISTENSEN HORN

amp STAKER 2013 p7)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Contudo a evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior deve ser constante caminhar principalmente para a construccedilatildeo pessoal e profissional do indiviacuteduo e observar na tecnologia e no cenaacuterio onde se vive oportunidades de aprendizagem significativa

4 Observaccedilatildeo aplicadaPara visualizar melhor como ocorre a aplicabilidade da metodo-logia ativa no ensino foi realizada uma observaccedilatildeo participante a uma sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior priva-da com alunos de graduaccedilatildeo do curso superior de Tecnologia em Gestatildeo de Recursos Humanos frequentando a disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

A dinacircmica de trabalho ocorreu a partir da leitura do livro A inovaccedilatildeo da sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de aprender de Christensen Horn e Johnson (2012)

As atividades iniciaram com o resgate do plano de ensino apre-sentado no primeiro dia de aula o que possibilitou ao docente fazer uma preacutevia anaacutelise diagnoacutestica sobre os conhecimentos que os discentes poderiam ter sobre o assunto que seria abordado Apoacutes a anaacutelise o docente iniciou o trabalho Os alunos foram provocados a pensar sobre seu desenvolvimento sua identidade pessoal e suas potencialidades Percebe-se que o assunto lideranccedila e gestatildeo satildeo bem latentes nas aulas uma vez que o gestor eacute a maior referecircncia dentro do processo de avaliaccedilatildeo de desempenho humano

A partir das reflexotildees realizadas o primeiro exerciacutecio rea-lizado foi a construccedilatildeo de um imaginaacuterio social que buscou a construccedilatildeo de um profissional de recursos humanos conforme a interpretaccedilatildeo e percepccedilatildeo de cada aluno quanto agrave profissatildeo e papel desse profissional no mercado de trabalho Ainda foram realizados questionamentos quanto agrave construccedilatildeo da persona e o sentido de estar na instituiccedilatildeo de ensino estudando tal assunto Nesse momento percebeu-se que os questionamen-tos realizados foram de grande valia pois fizeram com que os discentes relembrassem quais questotildees o fizeram escolher o curso que estatildeo frequentando

No decorrer das aulas outra atividade foi proposta denominada ldquometaacutefora do personagem infantil e a identificaccedilatildeo com elerdquo Essa atividade proporcionou ao discente identificar seus pontos fortes e suas possibilidades de melhoria sempre realizando ligaccedilotildees com a temaacutetica desenvolvida e comparando os resultados com as ativida-des que um profissional de RH deveria realizar principalmente na avaliaccedilatildeo de desempenho

Na sequecircncia das atividades foi desenvolvido o exerciacutecio da Janela Johari e realizadas as devidas anaacutelises sobre os quadrantes que compotildeem o exerciacutecio Eu como autoconhecimento e Eu e

o mundo como forma de compreensatildeo das consequecircncias de nossas atitudes para com os outros Nesse momento a observa-ccedilatildeo da questatildeo do feedback eacute um ponto crucial na discussatildeo em sala de aula e esteve presente em todas as aulas Para reforccedilo os alunos elaboraram portfoacutelios individuais sobre cada atividade nos quais o docente pocircde verificar o aprendizado no acircmbito teoacuterico e comportamental de cada aluno aleacutem de possibilitar aos alunos a autorreflexatildeo ndash sobre si e sobre suas proacuteprias atitudes

Ainda o docente propocircs como praacutetica para desenvolvi-mento do conteuacutedo filmes textos de livros e situaccedilotildees reais trazidas pelos proacuteprios discentes e docente Percebeu-se que com essas atividades complementares os discentes realizas-sem comparaccedilotildees com o dia a dia de um profissional inserido no mercado de trabalho e na sociedade Em todas as situaccedilotildees visualizadas em sala de aula pude observar que os discentes fo-ram envolvidos de forma que o desenvolvimento do conteuacutedo comeccedila a ser compreendido por eles evidenciando a proposta da metodologia ativa de ensino do discente protagonista de seu proacuteprio conhecimento

Conforme o andamento das atividades o docente pocircde explorar vaacuterias habilidades e atitudes que contribuem para o desenvolvimento do conhecimento de seus discentes sem sua intervenccedilatildeo deixando-os livres para demonstrarem suas emo-ccedilotildees e sentimentos de desconforto bem-estar ansiedade im-paciecircncia expectativas e temores conforme acontece no meio organizacional Essas emoccedilotildees e sentimentos estatildeo ligados agrave forma como os discentes compreenderam o assunto e como satildeo seus modelos de mundo Cabe ressaltar que o docente tambeacutem reforccedilou o desenvolvimento do conteuacutedo com dinacircmicas de grupo que instigavam os discentes a desenvolver habilidades ndash como empatia negociaccedilatildeo resiliecircncia ndash e a refletir sobre a relaccedilatildeo entre vida pessoal e profissional

Atraveacutes das escutas das discussotildees realizadas em sala de aula e da metodologia de ensino utilizada pelo docente sem se dar conta os discentes estatildeo intuindo seu proacuteprio meacutetodo de apren-dizagem com base na teoria aprendida confirmando novamente a proposta da metodologia ativa de ensino aleacutem do fato de que a educaccedilatildeo deve buscar desestabilizar os discentes para que haja uma mudanccedila comportamental de cada indiviacuteduo Ainda estando em grupo ou natildeo os discentes comeccedilam a trocar ideias e a des-cobrir novos meacutetodos mais raacutepidos e faacuteceis para que as situaccedilotildees empreendidas sejam compreendidas Esses meacutetodos descobertos satildeo sugeridos ao docente e cabe a ele adaptaacute-los para melhorar sua didaacutetica e replanejamento de seus planos de aula

Eacute preciso reconhecer que a metodologia ativa de ensino nes-se caso promove o domiacutenio pessoal social autoconsciecircncia e a autogestatildeo Conforme afirma Perrenoud (2000 p 69)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A maioria das pessoas interessa-se em alguns momentos pelo jogo da aprendizagem se lhes oferecerem situaccedilotildees abertas estimulantes interessantes Haacute maneiras mais luacutedicas do que outras de propor a mesma tarefa cognitiva Natildeo eacute necessaacuterio que o trabalho pareccedila uma

via crucis1 pode-se aprender rindo brincando tendo prazer

Outra questatildeo a ser pontuada refere-se agrave motivaccedilatildeo dos discentes em sala de aula Em nenhum momento notou-se des-motivaccedilatildeo dos alunos com os assuntos abordados Christensen (2012 p 137) lembra o que o falecido educador Jack Frymier costumava dizer ldquoquando os meninos querem aprender natildeo haacute como impedi-los se natildeo quiserem natildeo podemos obrigaacute-losrdquo Essa citaccedilatildeo confirma o pressuposto de que todo o interesse do dis-cente eacute baseado na motivaccedilatildeo em aprender e na praacutetica didaacutetica do docente em sala de aula

Diante disso pude perceber que a vontade dos discentes de aprender foi maior que o cansaccedilo e que o desafio de despertar o interesse pelo assunto foi atingido com sucesso compreendendo que a educaccedilatildeo eacute uma necessidade e garante o sucesso profissio-nal e o crescimento pessoal

Dessa forma pocircde-se evidenciar que os resultados obtidos com a observaccedilatildeo participante foram satisfatoacuterios tanto para fun-damentar a teoria do uso da metodologia ativa no ensino como para constatar que o docente tem o dever de ensinar e mediar o conhecimento de seus discentes e ajudar o indiviacuteduo a construir o seu proacuteprio pensamento sobre as questotildees profissionais e da vida

5 Inovaccedilatildeo na Sala de AulaO ensino exige pesquisa curiosidade respeito e criticidade Estaacute cometendo um equiacutevoco o professor que pensa no ensino rigo-roso e metoacutedico Conforme Freire (2006 p 38) ldquoa praacutetica docente criacutetica implicante do pensar certo envolve o movimento dinacirc-mico dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre o que fazerrdquo Essa citaccedilatildeo deixa claro que o professor deve estar sempre atualizado revendo sua didaacutetica e a forma como ensina

A construccedilatildeo do conhecimento eacute constante e a formaccedilatildeo de pensamento criacutetico se faz a todo o momento Contudo o uso da me-todologia ativa se faz marcante na problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees correntes que exigem do aluno uma opiniatildeo significativa para si e para a sociedade em que estaacute inserido ou seja a curiosidade sobre o novo proporciona maiores possibilidades de transgressatildeo do saber

Outra reflexatildeo que se pode fazer com relaccedilatildeo ao ensino e a docecircncia eacute a anaacutelise e a apreensatildeo da realidade Cada discente estaacute

inserido em realidades muito particulares o assunto abordado em sala de aula deve sim ser baseado na teoria contudo principal-mente ser adaptado agrave realidade de cada um assim o processo de aprendizagem torna-se significativo A convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel deve ser corrente e praticada todos os dias O discente natildeo deve se tornar acomodado mas sim revolucionaacuterio e inquieto

Mudar eacute difiacutecil mas eacute possiacutevel e eacute o que a metodologia ativa propotildee transformar o simples ato de ensinar em uma experiecircncia uacutenica e inesqueciacutevel aos olhos do discente O indiviacuteduo eacute social e essa experiecircncia possibilita uma nova percepccedilatildeo da realidade

Antigamente ateacute os anos 1800 as escolas escolhiam o ensi-no personalizado ou seja o ensino por necessidade As salas de aula eram preenchidas de crianccedilas de diferentes capacidades o que fazia com que o docente passasse de discente em discente dando instruccedilotildees e tarefas individualizadas Nota-se que com o passar dos anos o ritmo de ensino sofreu mudanccedilas significativas acarretando o aumento das matriacuteculas escolares e uma padroni-zaccedilatildeo das atividades e accedilotildees em sala de aula fazendo com que as instituiccedilotildees de ensino padronizassem as accedilotildees em sala de aula

Segundo Christensen (2012 p 16)

Os alunos que satildeo dotados de forte inteligecircncia linguiacutestica sentem-se por-tanto previsivelmente frustrados em uma aula de inglecircs Os professores ficam igualmente limitados por suas proacuteprias forccedilas Em qualquer sala de aula existem estudantes que natildeo tem forte inteligecircncia linguiacutestica e satildeo por isso mesmo efetivamente excluiacutedos da possibilidade de se destacar

nessa mateacuteria E o padratildeo vai se repetindo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

A padronizaccedilatildeo do ensino prejudica o potencial do discente para realizar com sucesso as tarefas dadas em sala de aula Assim a metodologia ativa propotildee um sistema ldquocentrado no alunordquo que busca nos docentes a melhor forma de ensinar e customizar o aprendizado conforme cada individualidade

6 Consideraccedilotildees FinaisNo tocante aos avanccedilos observados podemos dizer que os resul-tados obtidos foram positivos pois se apresentou um novo olhar na forma de ensinar Ser docente natildeo eacute uma simples reproduccedilatildeo de conhecimento e sim uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Significa ajudar a construir cidadatildeos criacuteticos que saibam defender suas opiniotildees sem deixar-se influenciar A base da educaccedilatildeo vem de casa e a escola deve ser mediadora nesse processo aleacutem de apresentar um apoio agraves reflexotildees sobre a vida bem como ser ideoloacutegica e natildeo deixar se abater por discursos alheios que ferem a eacutetica a praacutetica docente e a preocupaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do ser

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O uso das metodologias ativas de ensino afirma que soacute se con-segue o sucesso no processo de ensino e aprendizagem quando o docente possibilita que o discente seja inserido no contexto das teorias observadas em sala de aula de forma dinacircmica levando em consideraccedilatildeo suas limitaccedilotildees e particularidades

De nada adianta a teoria sem a praacutetica Palavras bem escritas natildeo servem para nada quando a coragem de revolucionar a edu-caccedilatildeo se abala defronte a problemas da sociedade Ser docente construtor do conhecimento eacute mais do que uma profissatildeo eacute um dom que poucos tecircm Esse dom significa de fato amar e se impor-tar com o ser humano Quem sabe esse pensamento se propague e cada vez mais faccedila com que os docentes se preocupem e reflitam sobre seu modo de ensinar

Resgatar a docecircncia humana tem sido um desafio constante que tem exigido sensibilidade e discernimento eacutetica e emoccedilatildeo caracte-riacutesticas que passam a ser fundamentais para trabalhar com o docente e no trabalho docente como nos diz Broilo citando Forster (2015)

Freire (2006) explica que haacute um niacutevel de consciecircncia capaz de perceber as problemaacuteticas advindas da realidade poreacutem que natildeo estabelece uma relaccedilatildeo de criticidade Dessa forma a reflexatildeo deve acontecer mas natildeo isoladamente separando os sentimentos e emoccedilotildees do professor visto que para ele refletir sobre o acontecido eacute preciso ter conhecimento de suas habilidades e limitaccedilotildees

N o t a s

1 ndash Caminho difiacutecil penoso a ser percorrido

R e f e r ecirc n c i a s

BROILO C L Assessoria pedagoacutegica na universidade (con)formando o

trabalho docente Araraquara Junqueira amp Marin 2015

CERVO A L SILVA R da BERVIAN P A Metodologia cientiacutefica 6 ed Satildeo

Paulo Pearson 2007

CHRISTENSEN Clayton M HORN Michael B JOHNSON Curtis W Ino-

vaccedilatildeo na sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de

aprender Porto Alegre Bookman 2012

CHRISTENSEN C HORN M STAKER H Ensino hiacutebrido uma inovaccedilatildeo

disruptiva uma introduccedilatildeo agrave teoria dos hiacutebridos 2013 Disponiacutevel

em lthttpporvirorgwpcontentuploads201408PT_Is-K-12-blen-

ded-learning-disruptive-Finalpdfgt Acesso em 17 jun 2017

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave pratica

educativa 33 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 2006

ITOZ C MINEIRO M Ensino-aprendizagem da contabilidade de custos

componentes desafios e inovaccedilatildeo praacutetica Enfoque Reflexatildeo Contaacutebil

Maringaacute v 24 n2 juldez 2005

MATURANA Humberto REZEPKA Sima Nisis de Formaccedilatildeo humana e

capacitaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jaime A Clasen Petroacutepolis Vozes 2000

MORAES Maria Cacircndida O paradigma educacional emergente 6 ed Cam-

pinas SP Papirus 2000

MORAacuteN Joseacute Mudando a educaccedilatildeo com metodologias ativas 2015

Disponiacutevel em lthttpwww2ecauspbrmoranwp-contentuplo-

ads201312mudando_moranpdfgt Acesso em 17 jun 2017

PERRENOUD Philipp et at Formando professores profissionais quais es-

trateacutegias Quais competecircncias 2 ed Porto Alegre Artmed 2001

PERRENOUD Philippe 10 novas competecircncias para ensinar Porto Alegre

Artmed 2000

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 25 ed Rio de Janeiro Forense 2012

RIVAS S C A mediaccedilatildeo na praacutetica cotidiana da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica

Revista FACED Salvador n15 jan-jul 2009

WEISZ Telma SANCHEZ Ana O diaacutelogo entre o ensino e a aprendizagem

2 ed Satildeo Paulo Aacutetica 2004

Paacutegina 8 de 8

Formaccedilatildeo empreendedora e atuaccedilatildeo profissional contribuiccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas GeraisEntreprenurial training and professional activity contribuitions from SEBRAE Minas Gerais schools

Frederico Cesar Mafra Pereira Eloiacutesa Helena Rodrigues Guimaratildees e Fabiana Marques Silva Borges

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 9

R e s u m o

As organizaccedilotildees passaram a exigir profissionais cada vez mais qualificados para atenderem a um mercado flutuante e em raacutepida transformaccedilatildeo O Serviccedilo de Apoio agraves Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE) priorizou accedilotildees educacionais voltadas agrave formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial para suprir tal demanda Este estudo investigou as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Foi realizado estudo descritivo quantitativo junto a 221 egressos selecionados via amostra natildeo probabiliacutestica por acessibilidade Concluiu-se que a formaccedilatildeo gerencial proposta contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos a partir dos seguintes resultados 92 avaliaram o Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE ldquoOacutetimo ou Bomrdquo 95 natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

R e s u m e n

Organizations now demand increasingly skilled professionals to serve a rapidly changing and floating market The Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) prioritized educational actions aimed at training young entrepreneurs with managerial skills to meet such demand This study investigated the contributions of the entrepreneurial training in the professional activity of the graduates from SEBRAE Management Training Schools in Minas Gerais Brazil A quantitative descriptive study was carried out with 221 graduates selected through a non-probability sampling by accessibility The results showed that the proposed management training contributes positively to the professional activity of the graduates 92 evaluated SEBRAE Management Training Course as ldquoExcellent or Goodrdquo 95 did not regret having taken the course 80 considered their development during the course as ldquoExcellent or Goodrdquo and 78 rated the coursersquos contribution to their current professional background as ldquoExcellent or Goodrdquo

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 29092017

Palavras-chaveEmpreendedorismo Formaccedilatildeo empreendedora Formaccedilatildeo gerencial SEBRAE

KeywordsEntrepreneurship Entrepreneurial Training Management Training SEBRAE

Autores Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fredericomafrafpledubrr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail eloisaguimaraesfpledubr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Escola de Formaccedilatildeo Geren-cial (EFG FPL) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fabianaborgesfpledubr

Como citar este artigoPEREIRA F C M GUIMARAtildeES E H R BORGES F M S Formaccedilatildeo empreende-dora e atuaccedilatildeo profissional contribui-ccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas Gerais Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoNovas formas de organizaccedilatildeo e de gestatildeo modificaram estruturalmente o mundo do trabalho a partir da deacutecada de 1980 O aumento do proces-so de globalizaccedilatildeo desde 1990 impocircs mudanccedilas em vaacuterias dimensotildees nas organizaccedilotildees poliacutetica econocircmica tecnoloacutegica ambiental e social Um novo cenaacuterio econocircmico e produtivo se estabeleceu com o desen-volvimento e com o emprego de tecnologias complexas agregadas agrave produccedilatildeo e agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Em consequecircncia passou-se a exi-gir profissionais qualificados tecnicamente e com capacidade criativa e sensibilidade social suficiente para atender agrave demanda de mercado flutuante e desigual com raacutepidas transformaccedilotildees

Esse contexto exige cada vez mais capacitaccedilatildeo e conhecimento De acordo com o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2015a) o diploma por si soacute natildeo garante vaga no mercado de trabalho por isso eacute preciso mudar tambeacutem os para-digmas da educaccedilatildeo Essa conjuntura de mudanccedilas no mercado de trabalho aliada agrave escassez de empregos traz uma maior importacircncia ao estudo do empreendedorismo como um elemento indispensaacutevel para o desenvolvimento humano social e principalmente econocircmico

O Brasil apresentava em 2010 a maior taxa de empreendedores em estaacutegio inicial no mundo segundo o relatoacuterio de anaacutelise interna-cional Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010) considerado o mais abrangente estudo sobre empreendedorismo no mundo coordenado pela London Business School (instituiccedilatildeo especializada em educaccedilatildeo empresarial fundada em 1964 e situada na Inglaterra) e pelo Babson College (instituiccedilatildeo especializada no ensino de em-preendedorismo fundada em 1919 nos Estados Unidos e referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre empreendedorismo)

No Brasil a pesquisa eacute publicada pelo SEBRAE e pelo Instituto Bra-sileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) O relatoacuterio do GEM Brasil (2016) revelou que o empreendedorismo no Brasil cresceu desde 2011 e que a Taxa Total de Empreendedores (TTE) foi de 360 repre-sentando cerca de 48 milhotildees de indiviacuteduos empreendedores (com idade entre 18 e 64 anos) Ainda segundo esse relatoacuterio o SEBRAE foi destacado como oacutergatildeo de maior apoio ao empreendedorismo sendo citado por 104 dos entrevistados Os fatores limitantes mais apontados foram poliacuteticas governamentais educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo e apoio financeiro e uma das principais recomendaccedilotildees relacionadas aos fatores mencionados foi a importacircncia de se inserir conteuacutedo empreendedor nos trecircs niacuteveis de educaccedilatildeo i) na educaccedilatildeo infantil com o primeiro contato das crianccedilas com o empreendedorismo ii) no ensino meacutedio com competiccedilotildees de planos de negoacutecios e o es-tiacutemulo agrave criaccedilatildeo de empresas e iii) no ensino superior atraveacutes de um modelo conectado ao mercado e que apresente aos alunos o empreendedorismo como opccedilatildeo real de carreira

Diante do potencial para o empreendedorismo no Brasil o SEBRAE desde 1990 priorizou as accedilotildees educacionais voltadas

para a formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial imbuiacutedos de valores eacuteticos e de cidadania com habili-dade de serem empregadores empregados voluntaacuterios e cida-datildeos em qualquer setor econocircmico e sobre qualquer relaccedilatildeo de trabalho aleacutem de capazes de oferecer para a sociedade de forma distribuiacuteda utilidade melhoria das condiccedilotildees de vida soluccedilotildees de problemas renda ciecircncia tecnologia desenvolvimento emoccedilatildeo beleza equiliacutebrio cooperaccedilatildeo liberdade e democracia

Em 1992 a Escola Teacutecnica de Formaccedilatildeo Gerencial de Belo Ho-rizonte ndash ETFG-BH (atual Escola de Formaccedilatildeo Gerencial EFG-BH) foi idealizada com o objetivo de suprir a formaccedilatildeo de gestores para as pequenas empresas Na Aacuteustria foi encontrado o referencial que serviu como paracircmetro para a elaboraccedilatildeo do seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico desenvolvido por meio de um acordo de cooperaccedilatildeo com o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Artes possibilitando o desenvolvimento de um modelo de formaccedilatildeo gerencial adaptado agrave realidade brasileira A partir de 1995 a escola alcanccedilou notoriedade devido agrave sua metodologia inovadora e por oferecer o Ensino Meacutedio em concomitacircncia e articulaccedilatildeo com o Curso Teacutecnico em Administraccedilatildeo Em virtude disso foram instaladas mais trecircs escolas parceiras nas cidades mineiras de Contagem Itabira e Patos de Minas dando iniacutecio ao Sistema de Formaccedilatildeo Gerencial do SEBRAE-MG o qual segundo o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico de 2015 atuava com quatorze escolas parceiras sendo treze em Minas Gerais e uma no estado do Maranhatildeo (SEBRAE 2015b)

Diante desse cenaacuterio pesquisar as contribuiccedilotildees do ensino do empreendedorismo proporcionado pelo Sistema SEBRAE torna-se fundamental para o reconhecimento e difusatildeo da edu-caccedilatildeo empreendedora no Brasil Assim esta pesquisa propocircs-se a investigar quais as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Com isso pretendeu-se con-tribuir para a academia com novos resultados sobre o estudo do empreendedorismo na formaccedilatildeo teacutecnica

A fim de atender aos objetivos propostos este artigo estaacute es-truturado em cinco seccedilotildees sendo esta introduccedilatildeo a primeira Na segunda seccedilatildeo apresenta-se a fundamentaccedilatildeo teoacuterica com a revisatildeo da literatura referente ao tema na terceira satildeo descritos os procedimentos metodoloacutegicos utilizados no trabalho na quarta seccedilatildeo apresentam-se e discutem-se os resultados alcanccedilados e por uacuteltimo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais

2 Referencial Teoacuterico O referencial teoacuterico deste estudo descreve os conceitos e de-finiccedilotildees de empreendedorismo e de empreendedor utilizados por diversos autores a formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no Brasil bem como a proposta de ensino do empreendedorismo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 9

21 Empreendedorismo conceitos e evoluccedilatildeoPesquisadores do empreendedorismo concordam que a origem do conceito estaacute nas obras de Richard Cantillon e Jean Baptiste Say considerados os primeiros a inserir o tema no cenaacuterio eco-nocircmico (PEREIRA 2010) Segundo Pereira (2010) os economistas associaram o empreendedorismo agrave organizaccedilatildeo de negoacutecios agrave inovaccedilatildeo e a aspectos criativos e intuitivos pelos comportamen-talistas Em 1911 com a publicaccedilatildeo da obra de Joseph A Schum-peter denominada Teoria de desenvolvimento econocircmico o sig-nificado de ldquoempreendedorrdquo foi conectado agrave inovaccedilatildeo Para esse autor o empreendedor eacute aquele que destroacutei a ordem econocircmica existente introduzindo novos produtos e serviccedilos criando novas formas de organizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo de novos recursos materiais o empreendedor seria assim a essecircncia da inovaccedilatildeo no mundo

Em 1998 Peter Ferdinand Drucker filoacutesofo e economista aus-triacuteaco considerado o pai da Administraccedilatildeo moderna ampliou o conceito de empreendedor articulando-o ao conceito do profis-sional inovador e proativo aquele indiviacuteduo capaz de aproveitar oportunidades para promoccedilatildeo de mudanccedilas Essa visatildeo corrobora-va a definiccedilatildeo de Fillion (1993) para quem o empreendedor eacute uma pessoa criativa marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que manteacutem um alto niacutevel de consciecircncia do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negoacutecios

O SEBRAE (2016) define empreendedor como aquele que tem como caracteriacutestica baacutesica o espiacuterito criativo e pesquisador constantemente em busca de novos caminhos e novas soluccedilotildees sempre relacionados agraves necessidades das pessoas Jaacute o relatoacuterio GEM (2016) conceitua empreendedorismo como qualquer tenta-tiva de criaccedilatildeo de um novo negoacutecio ou novo empreendimento podendo ser uma atividade autocircnoma uma nova empresa ou a expansatildeo de um empreendimento existente por um indiviacuteduo grupos de indiviacuteduos ou por empresas jaacute estabelecidas

Para a Endeavor (2015) organizaccedilatildeo liacuteder no apoio a empre-endedores de alto impacto presente em mais de vinte paiacuteses o empreendedorismo pode mudar o mundo e o Brasil gerando emprego riqueza formando profissionais capacitados criando inovaccedilatildeo revolucionando o jeito de pensar Alinhada a essa abor-dagem a Junior Achievement (2015) associaccedilatildeo educativa sem fins lucrativos criada nos Estados Unidos em 1919 e hoje a maior organizaccedilatildeo mundial dedicada agrave educaccedilatildeo empreendedora para jovens em idade escolar presente em mais de 120 paiacuteses e em Minas Gerais desde 2003 acredita na capacidade e potenciali-dade do empreendedorismo como fator propulsor de mudanccedila e incentivo para que os jovens assumam responsabilidade pelos proacuteprios destinos determinem seus objetivos atuem na busca de metas e tenham coragem para correr riscos aleacutem de perseveranccedila e confianccedila em si proacuteprios

22 A formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no BrasilEstudos publicados em 2005 por Howard Aldrich a respeito da histoacuteria do empreendedorismo como disciplina acadecircmica nos Estados Unidos da Ameacuterica (EUA) demostram que desde a deacutecada de 1970 havia debates em torno da legitimaccedilatildeo desse campo de pesquisa O estudo sobre o asunto cresceu a partir de pesquisas sobre pequenas empresas realizado nas Business School (Escolas de Negoacutecios) Os primeiros cursos com foco na administraccedilatildeo de pequenas empresas surgiram em 1947 na Harvard Business School escola de especializaccedilatildeo da Universidade de Harvard voltada agrave administraccedilatildeo de empresas e em 1953 na University New York importante universidade privada sediada na cidade de Nova Iorque e fundada em 1831

A primeira conferecircncia anual sobre empreendedorismo foi realizada em 1981 pela Babson College instituiccedilatildeo norte ame-ricana criada em 1919 e considerada segundo Melo (2008) a referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre o tema Ainda para esse autor os obstaacuteculos para a institucionalizaccedilatildeo do empre-endedorismo como disciplina acadecircmica estavam ligados agrave ausecircncia de publicaccedilotildees especializadas e ao desinteresse pelas universidades de prestiacutegio situadas nos Estados Unidos Um dos fatos importantes para a consolidaccedilatildeo do empreendedorismo foi a criaccedilatildeo de algumas revistas ainda na deacutecada de 1970 como a American Journal of Small Business (que mudou para Entre-preneurship Theory and Practice) e a partir de 1988 a Family Business Review e a Small Business Economics

O surgimento do mercado dotcom (denominaccedilatildeo dada agraves empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo base-adas na internet) em 1990 possibilitou que livros e revistas sobre empreendedorismo se tornassem um produto do mer-cado publicitaacuterio Tal surgimento e a publicaccedilatildeo em 1998 pela Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) do documento ldquoFostering the Entrepreneurship a The-matic Reviewrdquo foram considerados importantes fatores para disseminaccedilatildeo do empreendedorismo pelo mundo Nesse mes-mo ano a Comissatildeo Europeia e o Foacuterum Econocircmico Mundial incluiacuteram a criaccedilatildeo de empresas como temaacutetica em suas pautas (DORNELAS 2008) Destaca-se tambeacutem como fator importante a presenccedila de organizaccedilotildees como a Junior Achievement (2015) e o Instituto Endeavor (2015)

Aleacutem disso desde 1988 eacute publicada anualmente a pesquisa Gene-ral Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada pela Babson College (EUA) e pela London Business School (Inglaterra) cujo objetivo eacute medir a atividade empreendedora a criaccedilatildeo de empresas nos paiacuteses e sua relaccedilatildeo com o crescimento econocircmico O estudo GEM estabeleceu um ranking mundial via iacutendice que mede o potencial empreendedor de cada paiacutes (GEM 2010)

Paacutegina 3 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O empreendedorismo foi difundido no mundo acadecircmico na literatura popular na miacutedia e tambeacutem nas atividades de ONGs e Organismos Internacionais A ONU apoacutes a II Guerra Mundial bus-cou fomentar a criaccedilatildeo de empresas e para isso usou aleacutem das linhas de creacutedito e treinamentos gerenciais uma pesquisa realizada pelo psicoacutelogo David McClelland para desenvolver programas de capacitaccedilatildeo com foco na motivaccedilatildeo A partir dessas accedilotildees criou-se um programa de treinamento em empreendedorismo conhecido como Empretec executado em parceria com diversos paiacuteses desde 1988 No Brasil eacute realizado pelo SEBRAE (SEBRAE 2006)

No Brasil a Formaccedilatildeo Empreendedora foi marcada inicialmente pela criaccedilatildeo do primeiro curso de especializaccedilatildeo de Novos Negoacutecios pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas em 1981 e em 1984 pela extensatildeo da disciplina para a graduaccedilatildeo com o tiacutetulo de Criaccedilatildeo de Novos Negoacutecios ndash Formaccedilatildeo de Empreendedores Similarmente em 1989 foi criado o Centro Integrado de Gestatildeo Empreendedora (CIAGE) e em seguida cursos de empreendedorismo foram inseridos em niacutevel de mestrado doutorado e MBA (SEBRAE 2016) Seguindo essa linha de institucionalizaccedilatildeo do empreendedorismo em 1984 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a oferecer a disciplina de Ensino de Criaccedilatildeo de Empresa no curso de Ciecircncias da Computaccedilatildeo em seguida a Universidade de Satildeo Paulo (USP) implantou a disciplina Criaccedilatildeo de Empresas na graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo e em 1985 iniciou outra disciplina na poacutes-gradua-ccedilatildeo voltada para empreendimentos de base tecnoloacutegica

No iniacutecio da deacutecada de 1990 o SEBRAE MG apoiou a criaccedilatildeo do Grupo de Estudos de Pequenas Empresas (GEPE) no Depar-tamento de Engenharia de Produccedilatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nos anos de 1992 e 1994 esse grupo ofereceu workshops com professores canadenses destacando-se a presenccedila de Filion responsaacutevel pelo desenvolvimento da Teoria Visionaacuteria que facilita o entendimento de como a partir do sur-gimento de uma ideia de um produto ou serviccedilo forma-se um novo negoacutecio Tambeacutem atraveacutes dessa teoria foi possiacutevel conhecer e compreender a importacircncia e o estabelecimento das relaccedilotildees entre os empreendedores os negoacutecios e o ambiente em que estatildeo inseridos (FILION 1993 2004 CIMADON et al 2007)

Ainda em 1992 a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou o Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (CESAR) o qual trecircs anos depois lanccedilou uma incubadora de empresas (ambiente especialmente planejado com o propoacutesito de apoiar iniciativas empreendedoras e projetos inovadores por meio do oferecimento de infraestrutura serviccedilos especializados e assesso-ria gerencial de projetos de exportaccedilatildeo de software) No mesmo ano em parceria com o SEBRAE a Faculdade de Economia da USP iniciou programas de formaccedilatildeo de empreendedores para profissionais interessados em abrir seu proacuteprio negoacutecio Nesse mesmo periacuteodo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

criou a Escola de Novos Empreendedores (ENE) e os programas SOFTEX (Associaccedilatildeo para Promoccedilatildeo da Excelecircncia do Software Brasileiro) e GENESIS (Geraccedilatildeo de Novas Empresas de Software Informaccedilatildeo e Serviccedilo) foram criados pelo CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (MELO 2008)

Tambeacutem com a parceira do SEBRAE-DF a Universidade de Brasiacutelia (UNB) em 1995 desenvolveu a Escola de Empreendedores Em 1997 com o apoio do SEBRAE e do Instituto Euvaldo Lodi (IELMG) e da Federaccedilatildeo das induacutestrias de Minas Gerais (FIEMG) surgiu a Rede de Ensino Universitaacuterio em Empreendedorismo (REUNE) Ainda o SEBRAE a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) o Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico Social (BNDES) e o CNPq foram responsaacuteveis por desenvolverem os programas SOFTEX e GENESIS (citados anteriormente que apoiam ativida-des de empreendedorismo em software estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geraccedilatildeo de novas empresas de software conhecidas como start-ups (empresas geralmente de base tecnoloacutegica que criam modelos de negoacutecio altamente escalaacuteveis a baixos custos e a partir de ideias inovadoras) aliados ao empreendedorismo digital com a utilizaccedilatildeo de ferramentas como e-commerce (comeacutercio eletrocircnico) aplicativos moacuteveis sites de compras dentre outros (MELO 2008)

O SEBRAE tem sido considerado o oacutergatildeo responsaacutevel por im-plantar a cultura do empreendedorismo no Brasil nas universi-dades e no mercado como um todo sendo tambeacutem parceiro de vaacuterias entidades que promovem o empreendedorismo Segundo Dornelas (2008) um curso de empreendedorismo deve considerar o desenvolvimento de trecircs aacutereas de habilidades i) teacutecnicas ndash envol-vem saber escrever ouvir as pessoas ser organizado saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how teacutecnico de sua aacuterea ii) gerenciais ndash envolvem as aacutereas de criaccedilatildeo desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa (marketing administraccedilatildeo financcedilas operacional produccedilatildeo tomada de decisatildeo controle das accedilotildees da empresa e ser um bom negociador) iii) caracteriacutesticas pes-soais ndash envolvem aspectos como assumir riscos e ser disciplinado inovador orientado a mudanccedilas persistente e um liacuteder visionaacuterio

Para o SEBRAE (2013) a educaccedilatildeo empreendedora propotildee a ruptura de um modelo de praacutetica educacional que privilegia a transmissatildeo estaacutetica e a criacutetica de dados e informaccedilotildees sem estimular reflexotildees ou a aplicaccedilatildeo dos saberes na forma de accedilotildees transformadoras Para isso eacute necessaacuterio capacitar o aluno a cons-truir caminhos por meio de accedilotildees concretas e tecnicamente emba-sadas que tenham efetiva capacidade transformadora e o levem a aliar a teoria agrave praacutetica

Nessa mesma abordagem eacute importante ressaltar a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDBN1996) referente agrave promoccedilatildeo da Educaccedilatildeo Integral valorizando as inicia-

Paacutegina 4 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

tivas educacionais extraescolares e a vinculaccedilatildeo entre o trabalho escolar e a vida em sociedade e tambeacutem a importante parceria do SEBRAE na capacitaccedilatildeo de docentes em empreendedorismo para que eles despertem nos alunos o interesse pelo mundo dos negoacutecios e o tema possa ser desenvolvido como disciplina eletiva

Portanto a educaccedilatildeo empreendedora pode ser considerada como principal vetor do desenvolvimento dos paiacuteses e regiotildees que aspiram a ver seus jovens como grandes empreendedores No Brasil o tema eacute muito diversificado devido agraves diferenccedilas regionais e agraves muacuteltiplas nuances culturais O empreendedorismo se mani-festa de forma uacutenica em cada regiatildeo influenciado pela heranccedila cultural pelas vivecircncias pelas historicidades pelas realidades econocircmicas e sociais uacutenicas de cada parte do paiacutes

Portanto eacute a partir da deacutecada de 1980 que o empreende-dorismo pode ser considerado um movimento social mundial propulsor do pequeno negoacutecio e um sinocircnimo de inovaccedilatildeo e mudanccedila

Concluindo esta seccedilatildeo e considerando as abordagens defen-didas por McClelland (1961) Schumpeter (1982) Drucker (1998) Filion (1993 2004) Souza (2001) Hisrich e Peters (2004) Dolabela (2006) e Dornelas (2008) e pelas instituiccedilotildees SEBRAE (2006) GEM (2010 2016) Endeavor (2015) e Junior Achievement (2015) eacute pos-siacutevel verificar que algumas caracteriacutesticas satildeo comuns nos muitos conceitos discutidos

Independentemente dessas referecircncias McClelland (1961) foi um dos primeiros a usar as teorias da ciecircncia comportamental para realizar estudos empiacutericos sobre a motivaccedilatildeo para empreen-der (SANTOS 2008 CARNEIRO 2015) Portanto optou-se por utili-zar as competecircncias do empreendedor adotadas por McClelland (1961) e presentes no Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico do Sistema SEBRAE (2015b) para a elaboraccedilatildeo do instrumento de coleta de dados utilizado neste trabalho tendo como base trecircs dimensotildees de anaacutelise i) conhecimentos ii) habilidades e iii) competecircncias

3 Procedimentos MetodoloacutegicosA metodologia corresponde a um conjunto de procedimentos a ser utilizado na obtenccedilatildeo do conhecimento Eacute a aplicaccedilatildeo do meacutetodo por meio de processos e teacutecnicas (BARROS 2007) Para atingir o objetivo principal desta pesquisa optou-se por um es-tudo descritivo de caraacuteter quantitativo A escolha pela pesquisa descritiva se mostra adequada uma vez que seu objetivo primor-dial eacute a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno utilizando teacutecnicas padronizadas de coletas de dados (GIL 2010) com a finalidade de identificar e obter informaccedilotildees (COLLIS HUSSEY 2005) Quanto agrave abordagem optou-se pelo

meacutetodo quantitativo Collis e Hussey (2005) apontam que esse meacutetodo eacute caracterizado por ser objetivo por natureza e focado na mensuraccedilatildeo de fenocircmenos envolvendo a coleta de informaccedilotildees e a anaacutelise de dados por meio de teacutecnicas estatiacutesticas

Foi aplicado um questionaacuterio estruturado aos egressos de oito Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial (EFG) situadas em Minas Gerais Esse meacutetodo possibilitou uma avaliaccedilatildeo geral do Curso de Formaccedilatildeo Ge-rencial e de suas contribuiccedilotildees na percepccedilatildeo dos egressos do curso em tal estado Nesse estudo o questionaacuterio foi enviado aos respon-dentes por meio eletrocircnico A fim de cumprir o objetivo geral de investigar as contribuiccedilotildees da Formaccedilatildeo Empreendedora proposta pelo Sistema SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Es-colas de Formaccedilatildeo Gerencial em Minas Gerais optou-se por utilizar o modelo adaptado a partir de estudos de McClelland (1961)

De acordo com as informaccedilotildees fornecidas pelo SEBRAE Belo Horizonte o volume de egressos no estado de Minas Gerais perfa-ziam um universo de 5666 ex-alunos que concluiacuteram o curso nas oito unidades que tinham informaccedilotildees a respeito desse puacuteblico ao final do ano de 2015 Eacute importante ressaltar que a apuraccedilatildeo desse total foi realizada pelo somatoacuterio de egressos de cada escola participante da pesquisa EFG Arcos MG (576) EFG Belo Horizonte MG (2088) EFG Cataguases MG (478) EFG Contagem MG (807) EFG Itabira MG (429) EFG Nova Lima MG (818) EFG Pedro Leopoldo MG (419) EFG Sete Lagoas MG (51)

O questionaacuterio foi elaborado e disponibilizado aos egressos por meio da ferramenta Google Docs no primeiro semestre do ano de 2016 havendo um total de 221 respondentes o que equi-vale a 4 dos egressos dessas instituiccedilotildees

De posse dos dados foi utilizada como teacutecnica para tratamento dos dados quantitativos a ferramenta de coleta do Google Docs As informaccedilotildees foram organizadas em tabelas e em graacuteficos no intuito de promover uma melhor visualizaccedilatildeo dos dados quantita-tivos alcanccedilados pela pesquisa Posteriormente foram realizadas as anaacutelises tendo como base a estatiacutestica descritiva pois esta permite a apresentaccedilatildeo a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de dados numeacutericos atraveacutes da criaccedilatildeo de quadros graacuteficos e indicadores numeacutericos possibilitando identificar a existecircncia de regularidades tendecircncias ciclos concentraccedilotildees ou padrotildees (COLLIS HUSSEY 2005)

4 Apresentaccedilatildeo e Anaacutelise dos ResultadosNesta seccedilatildeo satildeo apresentados e analisados os dados da pesquisa quantitativa aplicada aos egressos do Curso de Formaccedilatildeo Geren-cial SEBRAE das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial situadas nas cida-des de Arcos Belo Horizonte Cataguases Contagem Itabira Nova Lima Pedro Leopoldo e Sete Lagoas a fim de identificar as contri-

Paacutegina 5 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

buiccedilotildees dessa formaccedilatildeo gerencial para a atuaccedilatildeo profissional de seus egressos Primeiramente eacute apresentada a caracterizaccedilatildeo de cada uma das unidades em que se deu a pesquisa e em seguida satildeo apresentados os resultados obtidos por meio do questionaacuterio

41 Caracterizaccedilatildeo das EFG mineiras participantes da pesquisaA Tabela 1 apresenta uma siacutentese da caracterizaccedilatildeo das oito es-colas pesquisadas

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais

Unidade SEBRAE

Ano de fundaccedilatildeo

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de colaboradores Curso

Arcos 1996 60 25 Ensino Meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

BeloHorizonte 1994 250 37 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Cataguases 1996 216 34Ensino Fundamental II Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Contagem 1995 100 Natildeoinformado Formaccedilatildeo Gerencial

Itabira 1995 100 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Nova Lima 1998 120 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Pedro Leopoldo 1996 100 23 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Sete Lagoas 2011 68 30 Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Fonte Dados da pesquisa (2016)

Com exceccedilatildeo da EFG SEBRAE Sete Lagoas todas as escolas estatildeo em funcionamento haacute mais de vinte anos em Minas Gerais e oferecem o ensino meacutedio concomitantemente ao curso teacutecnico em Administra-ccedilatildeo As unidades que tecircm o maior nuacutemero de alunos matriculados satildeo as de Belo Horizonte e de Cataguases as demais oscilam de 60 a 120 alunos (considerando os trecircs periacuteodos do ensino meacutedio) As Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial com maior representatividade na pesquisa foram Belo Horizonte (317) e Pedro Leopoldo (344)

42 Perfil dos egressosA partir das respostas dos 221 egressos na seccedilatildeo I do questionaacuterio pocircde-se conhecer o perfil dos respondentes A amostra foi com-posta de 633 dos respondentes do sexo feminino e 367 do masculino As faixas etaacuterias com maior incidecircncia foram de 18 a 24 anos representando 837 da amostra e de 25 a 29 anos re-presentando 68 Quanto ao estado civil 91 dos respondentes satildeo solteiros e 9 satildeo casados

Constatou-se que o principal motivo que levou o egresso a se matricular no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE foi a busca por qualificaccedilatildeo profissional representando 656 das citaccedilotildees

seguido da referecircncia da marca SEBRAE no mercado de trabalho com 136 Tais resultados refletem a consolidaccedilatildeo da excelecircncia do curso teacutecnico e seu diferencial no mercado de trabalho bem como a valorizaccedilatildeo da marca SEBRAE Identificou-se que 543 dos respondentes cursaram o ensino fundamental em escolas particulares e que 674 natildeo utilizaram bolsa de estudo para rea-lizar o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Tais informaccedilotildees satildeo importantes na identificaccedilatildeo do puacuteblico-alvo e nas ferramentas de marketing dos processos seletivos Quanto agrave formaccedilatildeo acadecircmica 62 possuem ensino superior incompleto e 48 graduaram-se na aacuterea de Exatas Um dado interessante a ser observado eacute o fato de apenas 9 dos respondentes natildeo terem continuado os estudos em niacutevel superior sendo que a maioria optou pela graduaccedilatildeo em Ciecircncias Sociais Aplicadas (48) promovendo assim a continui-dade dos estudos na aacuterea de sua formaccedilatildeo teacutecnica

43 Avaliaccedilatildeo dos conhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE e da ca-pacidade de aprendizadoCada pergunta correspondente agrave seccedilatildeo II do questionaacuterio apresen-tado aos respondentes pertence a um tema de avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os valores percentuais alcanccedilados nas respostas foram sistematizados em uma tabela considerando a seguinte escala de classificaccedilatildeo 1- Peacutessimo 2- Ruim 3- Regular 4- Bom e 5- Oacutetimo As questotildees 1 a 5 15 16 e 24 referem-se agrave avaliaccedilatildeo dos conhecimentos teacutecnicos teoacutericos e praacuteticos das habilidades e competecircncias desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Conhecimentos habilidades e competecircncias englobam os conhecimentos teoacutericos e praacuteticos as competecircncias os recursos tecnoloacutegicos a inter-relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica bem como as accedilotildees promotoras para o desenvolvimento do com-portamento humano da eacutetica e da responsabilidade que foram desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

No que tange agrave avaliaccedilatildeo geral dos egressos quantos aos co-nhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE todos os itens tiveram avaliaccedilotildees positivas e a meacutedia geral dos valores para os itens respondidos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo totalizaram 846 Jaacute para os respondentes que consideraram a avaliaccedilatildeo como ldquoRuim e Peacutes-simardquo 9 estatildeo insatisfeitos com os recursos tecnoloacutegicos dispo-nibilizados pelas EFG Essa informaccedilatildeo deve ser analisada pelos gestores das unidades visto que a inovaccedilatildeo aliada agrave tecnologia eacute um dos principais pilares do empreendedorismo

Com relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo mais detalhada sobre os grupos de co-nhecimentos abordados no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Gestatildeo de Pessoas (6610) e Administraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Ciecircncias Sociais

Paacutegina 6 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

(385) e Sistemas de Informaccedilatildeo (312) foram apontados como os conhecimentos que menos contribuiacuteram Vale ressaltar que eacute possiacutevel que esse resultado tenha relaccedilatildeo com os diferentes ramos de atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Em se tratando das habilidades desenvolvidas no Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE observa-se que Relacionamento In-terpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profis-sional dos egressos enquanto Criatividade e Inovaccedilatildeo (186) e Multiculturalismo (371) satildeo as habilidades que menos contri-buiacuteram na visatildeo dos egressos entrevistados

No tocante agraves competecircncias identifica-se que Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as competecircncias que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Processo Produtivo (24) eacute a que menos contribuiu Um dado que merece ser enfatizado eacute que todas as competecircncias relacionadas possuem um grau positivo de avaliaccedilatildeo demonstrando novamente que a relevacircncia estaacute direta-mente ligada ao segmento profissional de cada egresso

Ainda nesse contexto analisando-se as dimensotildees mais rele-vantes no Conhecimento Gestatildeo de Pessoas (66) na Habilidade Relacionamento Interpessoal (77) e na Competecircncia Raciociacutenio Loacutegico (62) percebe-se que as capacidades mais valorizadas pelo mercado de trabalho satildeo o pensamento loacutegico aliado agrave ca-pacidade de lidar com as pessoas o que corrobora a visatildeo de Gardner (1994) sobre inteligecircncias muacuteltiplas

Em se tratando da avaliaccedilatildeo do egresso quanto agrave sua capa-cidade de aprendizado 88 dos respondentes considerou esse aspecto como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 65 o considerou como ldquoRuim e Peacutessimordquo demonstrando assim que o egresso considera muito bom o seu aproveitamento acerca da formaccedilatildeo gerencial ofer-tada considerando tambeacutem que a aprendizagem resulta de um processo de interaccedilatildeo formado pelo trinocircmio professor-aluno--conhecimento sendo esse um indicador de suma importacircncia pois reflete a autoavaliaccedilatildeo do egresso em relaccedilatildeo ao curso

44 Avaliaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado e dos projetos estrutu-rantes do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEO estaacutegio supervisionado eacute o procedimento didaacutetico-pedagoacutegico que pretende proporcionar ao estudante concluinte da terceira seacuterie aprendizagem social profissional e cultural mediante a vi-vecircncia de situaccedilotildees reais de vida e do trabalho na comunidade em geral sob a orientaccedilatildeo e supervisatildeo da EFG Eacute indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo profissional e preacute-requisito para que o estudante receba o certificado de conclusatildeo do curso Os dados da pesquisa apontam que 77 dos respondentes responderam como ldquoOacutetimo e Bomrdquo os

conhecimentos obtidos nas disciplinas do curso para realizaccedilatildeo das tarefas do estaacutegio 14 apontaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo a facilidade para conseguir estaacutegios e outras atividades acadecircmicas em funccedilatildeo de ter concluiacutedo o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os resultados positivos sinalizam o reconhecimento do egresso quanto agrave importacircncia da realizaccedilatildeo do estaacutegio para a formaccedilatildeo e melhor desempenho profissional no mercado de trabalho mas eacute importante destacar a dificuldade para obtenccedilatildeo do estaacutegio apre-sentada na avaliaccedilatildeo de 14 dos egressos mesmo com a referecircncia do curso SEBRAE no mercado de trabalho

Durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE satildeo desen-volvidos trecircs projetos estruturantes Tutoria Vitrine e Empresa Simulada Ao verificar junto aos respondentes a avaliaccedilatildeo des-ses projetos observa-se um destaque para o projeto Vitrine que apresentou percentual de 9210 de avaliaccedilatildeo ldquoOacutetimo e Bomrdquo O resultado geral dos trecircs projetos comprova a sua importacircncia na formaccedilatildeo gerencial visto que eles satildeo considerados um dos principais diferenciais do Sistema SEBRAE

45 Avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissionalNesse quesito analisou-se a contribuiccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissional dos egressos Foram obtidos os seguintes resultados 86 dos respondentes avaliaram como ldquoOacutetimo e Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do cursopara a melhora do entendimento sobre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e o mercado de trabalho 9 avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo as oportunidades geradas pela conclusatildeo do curso Esses resultados comprovam a contribuiccedilatildeo efetiva do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional que o egresso exerce ou jaacute exerceu Vale destacar ainda a avaliaccedilatildeo positiva dos egressos (73) quanto agraves oportunidades geradas por tal formaccedilatildeo na sua vida profissional apesar do resultado anterior no qual o egresso expressa uma difi-culdade em conseguir estaacutegio apoacutes a conclusatildeo do curso

46 Avaliaccedilatildeo geral do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEOs dados da pesquisa indicam que 9210 dos respondentes ava-liaram o curso como ldquorsquoOacutetimo ou Bomrdquo e apenas 090 o avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo O alto iacutendice positivo indica tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva na aprendizagem do egresso representando uma avaliaccedilatildeo geral do curso nos seus aspectos didaacuteticos ins-trucionais teoacutericos e outros

47 Avaliaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas GeraisAnalisando as escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE pes-quisadas os resultados foram os seguintes 88 dos egressos

Paacutegina 7 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a qualificaccedilatildeo dos professores enquanto 19 consideraram esse aspecto como ldquoRuim e Peacutessi-mordquo evidenciando-se assim a satisfaccedilatildeo e reconhecimento dos egressos quanto agrave qualificaccedilatildeo profissional dos docentes que atuam nas EFG Eacute preciso destacar que a avaliaccedilatildeo de um curso implica necessariamente a anaacutelise da organizaccedilatildeo e principal-mente de seus docentes Quanto agrave infraestrutura equipamen-tos e laboratoacuterios 777 dos egressos consideraram-nos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 51 os consideraram como ldquoRuim e Peacutessimordquo o que comprova uma avaliaccedilatildeo geral positiva das EFG tambeacutem em termos de infraestrutura

48 Relacionamento dos egressos com as EFG SEBRAE em Minas GeraisOs dados demonstram que 423 dos respondentes natildeo mantecircm nenhum tipo de contato com a instituiccedilatildeo na qual concluiacuteram o curso e que apenas 10 jaacute participaram de algum evento promo-vido pela EFG apoacutes terem se formado Essa situaccedilatildeo indica uma deficiecircncia na comunicaccedilatildeo das escolas com seus ex-alunos jaacute ob-servada no iniacutecio da pesquisa quando se constatou que as escolas natildeo possuem um banco de dados atualizado de seus egressos para que seja possiacutevel efetuar contato com eles e natildeo permitindo portanto poliacuteticas de relacionamento com os ex-alunos apoacutes a sua passagem pelas escolas No entanto percebe-se que 869 dos respondentes possuem contato com seus ex-colegas por ini-ciativas proacuteprias de organizaccedilatildeo de redes e grupos informais em plataformas de miacutedias sociais como Facebook e WhatsApp Essas accedilotildees poderiam ser potencializadas pelas EFG para a construccedilatildeo de um relacionamento com os egressos

Os dados da pesquisa apontam que 959 dos respondentes natildeo se arrependeram de ter realizado o curso na EFG de origem Tal iacutendice expressa novamente a satisfaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos egressos no que se refere agrave qualidade da formaccedilatildeo gerencial e do quanto ela foi significativa para a vida profissional de cada um Essa informaccedilatildeo eacute de grande relevacircncia para as escolas e para os gestores visto que a indicaccedilatildeo do egresso eacute uma importante ferramenta de marketing que pode ser utilizada na captaccedilatildeo de novos alunos estrateacutegia que jaacute eacute realizada pelas escolas

5 Consideraccedilotildees FinaisEste estudo teve como objetivo geral investigar quais as contri-buiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa de caraacuteter descritivo e quantitativo Adotou-se o modelo proposto por McClelland (1961) como marco teoacuterico da pesquisa visto tal modelo ser base do projeto poliacutetico pedagoacutegico do Sistema SE-BRAE (2015b) contemplando os conhecimentos (Administraccedilatildeo Estrateacutegica Financcedilas Produccedilatildeo e Logiacutestica Marketing Sistema de

Informaccedilatildeo Gestatildeo de Pessoas Ciecircncias Sociais) as habilidades (Relacionamento Interpessoal Comunicaccedilatildeo Eficaz Lideranccedila Soluccedilatildeo de Conflitos Articulaccedilatildeo Criatividade e Inovaccedilatildeo Multi-culturalismo) e as competecircncias (Interpretaccedilatildeo de Cenaacuterios For-mulaccedilatildeo de Projetos Avaliaccedilatildeo de processos e resultados Iden-tificaccedilatildeo de Problemas Raciociacutenio Loacutegico Processo Decisoacuterio) desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial

Os conhecimentos sobre Gestatildeo de Pessoas (6610) e Admi-nistraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos en-trevistados Em se tratando das habilidades desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Relacionamento Interpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais con-tribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos No to-cante agraves competecircncias Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Pode-se concluir que a formaccedilatildeo gerencial proposta pelas EFG SEBRAE em Minas Gerais contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos Essa informaccedilatildeo eacute comprovada pelos re-sultados que indicam que 92 dos egressos avaliaram o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo sendo que 95 dos egressos natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 con-sideraram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso de formaccedilatildeo gerencial e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

Por outro lado identificou-se um novo desafio no que se refere ao curso foi possiacutevel observar os baixos iacutendices de relacionamento das escolas com seus egressos aleacutem da falta de um banco de dados com o cadastro atualizado dos seus ex-alunos Estes dados servem de alerta agraves escolas e ao Sistema SEBRAE tendo em vista que isso poderaacute prejudicar a imagem da instituiccedilatildeo e o ingresso de novos alunos no futuro visto que a referecircncia do ex-aluno eacute con-siderada a principal ferramenta de marketing que uma instituiccedilatildeo pode se utilizar para captaccedilatildeo de novos alunos Algumas accedilotildees de melhoria passam pela criaccedilatildeo de canais de comunicaccedilatildeo eficazes e de uma associaccedilatildeo de ex-alunos Uma vez adotadas essas accedilotildees proporcionariam aos egressos a possibilidade de maior e melhor acesso agrave escola e aos ex-colegas

A presente pesquisa apresentou limitaccedilotildees Uma delas foi o acesso aos egressos O SEBRAE Belo Horizonte se dispocircs ainda no momento de planejamento deste trabalho a informar o banco de dados dos egressos das treze escolas existentes em Minas Gerais Entretanto isso natildeo ocorreu na praacutetica o que limitou a amostra a 221 egressos e a oito escolas participantes O contato com os egressos dessas escolas foi feito e possibilitado em quase sua totalidade pelas miacutedias sociais e grupos informais de ex-alunos

Paacutegina 8 de 9

Constatou-se nesse momento do trabalho que nenhuma EFG de Minas Gerais possui dados de seus egressos Sendo assim sugere-se agraves EFG do estado a criaccedilatildeo de um banco de dados de egressos com informaccedilotildees atualizadas Seria interessante tambeacutem que as escolas promovessem encontros com os ex-alunos e criassem canais de comunicaccedilatildeo mais constantes e diretos com este puacuteblico

Outra limitaccedilatildeo apresentada pela pesquisa diz respeito agrave sua aplicaccedilatildeo focada somente no quadro de egressos sem considerar outros envolvidos no processo tais como a famiacutelia do egresso os empregadores clientes colaboradores dentre outros Sugere-se tambeacutem que pesquisas futuras incluam os outros envolvidos no processo como forma de se obter uma visatildeo ampliada dos im-pactos da formaccedilatildeo gerencial oferecida pelas EFG SEBRAE

R e f e r ecirc n c i a s

BARROS AJDS LEHFELD NADS Fundamentos de metodologia cientiacutefica

Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2007

CARNEIRO CA Comportamento empreendedor de gestores estudo de caso

em uma instituiccedilatildeo puacuteblica de ensino superior Dissertaccedilatildeo (Mestrado

Profissional em Administraccedilatildeo) ndash Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas

Gerais Brasil 2015

CIMADON JE RUPPENTHAL JE MANFROI AS A aplicaccedilatildeo da ldquoTeoria

Visionaacuteriardquo de Filion no desenvolvimento de MPEs criadas por neces-

sidade In XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produccedilatildeo 2007

Anais Foz do Iguaccedilu ENEGEP 2007

COLLIS J HUSSEY R Pesquisa em administraccedilatildeo um guia praacutetico para alu-

nos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo 2ed Porto Alegre Bookman 2005

DOLABELA F O segredo de Luiacutesa 30ed Satildeo Paulo De Cultura 2006

DORNELAS JCA Empreendedorismo transformando ideias em negoacutecios

Rio de Janeiro Campus 2008

DRUCKER PF Inovaccedilatildeo e espiacuterito empreendedor 5ed Satildeo Paulo Pioneira 1998

ENDEAVOR Portal Endeavor Brasil Disponiacutevel em lthttpsendeavororg

brgt Acesso em 10 set 2016

FILION LJ Visatildeo e relaccedilotildees elementos para um metamodelo empreen-

dedor Revista de Administraccedilatildeo de Empresas (RAE) Satildeo Paulo v33

n6 p50-61 1993

FILION LJ Entendendo os intraempreendedores como visionistas Revista

de Negoacutecios Blumenau v9 n2 p65-80 2004

GEM Global Entrepreneurship Monitor Empreendedorismo no Brasil re-

latoacuterio executivo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibqpprorgbrgt

Acesso em 10 set 2016

______ Empreendedorismo no Brasil relatoacuterio executivo 2016 Disponiacutevel

em lthttpwwwibqpprorgbrgt Acesso em 10 set 2016

GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 5ed Satildeo Paulo Atlas 2010

HISRICH RD PETERS MP Empreendedorismo 5ed Porto Alegre Bookman 2004

JUNIOR ACHIEVEMENT Portal JA Brasil Disponiacutevel em ltwwwjuniorachie-

vementorgbrgt Acesso em 10 set 2016

McCLELLAND DC The achievement society Princenton (NJ) D Van

Nostrand 1961

MELO NM Sebrae Empreendedorismo origem e desenvolvimento Dis-

sertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Sociais) ndash Universidade Federal de

Satildeo Carlos Satildeo Paulo Brasil 2008

PEREIRA RA As competecircncias do educador na difusatildeo da cultura empre-

endedora Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo) ndash

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasil 2010

REVISTA PASSO A PASSO Brasiacutelia SEBRAE 2015a

SANTOS PCF Uma escala para identificar o potencial empreendedor Tese

(Doutorado em Engenharia de Produccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil 2008

SCHUMPETER JA A teoria do desenvolvimento econocircmico uma investi-

gaccedilatildeo sobre lucros capital creacutedito juros e o ciclo econocircmico Satildeo

Paulo Abril Cultural 1982

SEBRAE Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas Refe-

renciais educacionais do SEBRAE Brasiacutelia SEBRAE 2006

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Pedro

Leopoldo Pedro Leopoldo SEBRAE 2013

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Belo

Horizonte Belo Horizonte SEBRAE 2015b

______ Portal SEBRAE Disponiacutevel em lthttpwwwsebraecombrsites

PortalSebraegt Acesso em 3 fev 2016

SOUZA CG Empreendedorismo e capacitaccedilatildeo docente uma sintonia pos-

siacutevel Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Santa Catarina Brasil 2001

Paacutegina 9 de 9

Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo HorizonteCooperation Networks And Public Governance The Case Of The Cultural Mapping Of Belo Horizonte

Leonardo Tadeu dos Santos Juliana de Faacutetima Pinto e Maria Gabriela de Caacutessia Miranda

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

Os Estados vecircm sofrendo mudanccedilas que tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior transparecircncia e de maior envolvimento com mercado e sociedade

civil e para isso estatildeo procurando trabalhar na perspectiva de redes Este artigo buscou analisar as possibilidades da rede estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC) a empresa TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) Trata-se de uma rede interinstitucional formada com objetivo de construir o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte O mapa cultural eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacuteblicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos Foi aplicado um questionaacuterio aberto para trecircs servidoras da FMC Para o tratamento dos dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) O estudo descreve como se deu a criaccedilatildeo da rede os avanccedilos alcanccedilados e as dificuldades encontradas Conclui-se que a rede de cooperaccedilatildeo trouxe benefiacutecios e possibilitou a construccedilatildeo do mapa cultural da cidade

A b s t r a c t

The States have undergone changes towards a user-oriented administration one of greater trans-parency and greater involvement with the market and civil society and for that they have sought to work from a network perspective This article sought to examine the possibilities of the inter-institu-tional network established between the Municipal Foundation of Culture of Belo Horizonte (FMC) the company TIM and the Municipal Council of Cultural Policy (COMUC) This is an inter-institutional network created in order to build the cultural map of the city of Belo Horizonte The cultural map is an innovative software of shared management that allows different private andor public agencies to feed the database for the subsequent consultation of citizens An open questionnaire was applied to three FMC servers and the data treatment used the analysis of content of Bardin (2009) This study describes the process of creation of the network the progress achieved and the difficulties encountered It was concluded that the cooperation network has brought benefits and made the construction of the cultural map of the city possible

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 020917Aprovado em 041217

Palavras-chaveRedes interorganizacionais Cooperaccedilatildeo Setor puacuteblico Inovaccedilatildeo

KeywordsInter-organizational networks Cooperation Public sector Innovation

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMGe-mail leonardotadeu17gmailcom

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Como citar este artigoSANTOS L T PINTO J F CAacuteSSIA M G Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo Horizonte Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 Introduccedilatildeo As uacuteltimas deacutecadas tecircm sido marcadas por fenocircmenos como globa-lizaccedilatildeo e ajustes fiscais provocando o surgimento de novos desafios organizacionais A reforma administrativa do Estado exemplifica o esforccedilo da administraccedilatildeo puacuteblica em se adequar agraves novas ne-cessidades tais como agilidade eficiecircncia transparecircncia etc As mudanccedilas tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior clareza e de mais envolvimento entre Es-tado mercado e sociedade civil (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

A demanda crescente por serviccedilos puacuteblicos melhores e mais eficientes impulsiona de acordo com Torres (2006) accedilotildees de mo-dernizaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que tecircm por objetivo atender aos an-seios da sociedade civil Dessa forma a inovaccedilatildeo ganha destaque Segundo Lemos (1999) a compressatildeo da inovaccedilatildeo depende de questotildees contingenciais e soacutecio-histoacutericas

Assim neste estudo entende-se inovaccedilatildeo como o desenvol-vimento de ideias e accedilotildees que visem ao aperfeiccediloamento de uma tarefa eou accedilatildeo alterando a capacidade de agir da sociedade (MURRAY CAULIER-GRICE MULGAN 2010) Um exemplo eacute a cria-ccedilatildeo de redes de cooperaccedilatildeo para dar maior agilidade e qualidade aos serviccedilos estatais ao atender agraves necessidades sociais e criar novas relaccedilotildees sociais (JULIANI 2014)

Nesse iacutenterim uma parte da literatura (CASTELLS 1999 KISS-LER HEIDMAN 2006 MINTZBERG 2003 SILVA MARTINS CKAGNA-ZAROFF 2013) tem frisado a importacircncia de o Estado agir de forma cooperativa na perspectiva de redes As redes de cooperaccedilatildeo satildeo uma forma de organizaccedilatildeo na qual haacute uma parceria com o intuito de beneficiar os atores que fazem parte da rede (SEDAI 2004) A colaboraccedilatildeo possibilita aos atores a resoluccedilatildeo de problemas que representariam uma carga excessiva para um ator isolado uacutenico

Segundo Kissler e Heidemann (2006) existem uma seacuterie de vantagens que a coadjuvaccedilatildeo proporciona tais como reduccedilatildeo de risco diminuiccedilatildeo de custos compartilhamento de teacutecnicas e informaccedilotildees e ampliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos prestados Eacute possiacutevel destacar tambeacutem as possiacuteveis dificuldades encontradas nas redes de cooperaccedilatildeo satildeo elas a baixa confianccedila entre os ato-res os interesses contraacuterios a dificuldade de interaccedilatildeo entre os envolvidos e a assimetria de informaccedilatildeo

As redes segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) satildeo um meca-nismo que permite ampliar e aperfeiccediloar as relaccedilotildees e a governanccedila puacuteblica A governanccedila na administraccedilatildeo puacuteblica pode ser entendida como um modelo horizontal de relaccedilotildees entre atores das esferas puacuteblicas e privadas no processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003) Realizar o mapeamento dessas redes proporciona maior compreensatildeo da sua dinacircmica bem como dos recursos e estrateacutegias para cooperaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

Assim apresenta-se neste estudo uma rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Ho-rizonte (FMC) o Instituto TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) A rede objetiva implantar o mapeamento cul-tural da cidade e consiste na construccedilatildeo de um mapa georreferen-ciado que conteacutem informaccedilotildees sobre artistas eventos e espaccedilos culturais tais informaccedilotildees satildeo encontradas no site da FMC

O mapa cultural de Belo Horizonte encontrado no site Mapa Cultural BH (PMBH 2017) eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacute-blicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos O software livre permite tambeacutem alimentar informaccedilotildees sobre agendas espaccedilos eventos e projetos culturais

Diante da importacircncia das redes institucionais e da gover-nanccedila puacuteblica para o bem-estar da sociedade este estudo busca responder agrave seguinte questatildeo quais benefiacutecios e obstaacuteculos satildeo observados na rede de cooperaccedilatildeo entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte o Instituto Tim e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural ao implementar o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees em teias eacute um tema pouco estuda-do e segundo Kissler e Heideman (2006) as avaliaccedilotildees cientiacuteficas soacutelidas sobre resultados da governanccedila puacuteblica satildeo raras Nesse liame o estudo pretende contribuir para os estudos do campo das redes organizacionais puacuteblica discutindo trecircs objetivos especiacutefi-cos 1) os benefiacutecios 2) as dificuldades e 3) os resultados da rede organizacional pesquisada Para alcanccedilar os objetivos propostos adotou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) para o tratamento do questionaacuterio aberto respondido pelos servidores da FMC

O artigo estaacute dividido aleacutem desta introduccedilatildeo em cinco se-ccedilotildees A primeira parte discute governanccedila puacuteblica A segunda apresenta a discussatildeo sobre redes interorganizacionais A terceira parte conteacutem a descriccedilatildeo metodoloacutegica seguida da apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados da rede pesquisada Por fim satildeo apre-sentadas as conclusotildees finais

2 Governanccedila puacuteblicaA Administraccedilatildeo Puacuteblica Gerencial (APG) ocasionou novos paradig-mas para a gestatildeo puacuteblica e consequentemente uma nova pers-pectiva na implementaccedilatildeo de ferramentas gerenciais ateacute entatildeo utilizadas apenas na esfera privada (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Um conceito-chave para APG eacute a governanccedila O conceito de governanccedila eacute usado em diversos campos de saberes e de diferen-tes formas Segundo Sechi (2009 p 357) ldquoa definiccedilatildeo de governan-ccedila gera ambiguidades e [] as principais aacutereas do conhecimento

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

que se apropriou [sic] do termo foram as relaccedilotildees internacionais teorias do desenvolvimento a administraccedilatildeo privada a adminis-traccedilatildeo puacuteblica e a ciecircncia poliacuteticardquo

Apesar de Kissler e Heidemann (2006) considerarem o conceito de governanccedila como sociologicamente amorfo e de existirem diferentes formas para se entender e discutir a temaacutetica neste estudo governanccedila seraacute entendida como

Uma nova geraccedilatildeo de reformas administrativas e de Estado que tecircm

como objeto a accedilatildeo conjunta levada a efeito de forma eficaz transpa-

rente e compartilhada pelo Estado pelas empresas e pela sociedade

civil visando uma soluccedilatildeo inovadora dos problemas sociais e criando

possibilidade e chances de um desenvolvimento futuro e sustentaacutevel

para todos os participantes (LOumlFFLER 2001 p 202)

Segundo Peter e Waterman (1982) A governanccedila puacuteblica po-deria ser entendida a partir de trecircs perspectivas os mecanismos de hierarquia do governo os mecanismos de autorregulaccedilatildeo do mercado e os mecanismos de cooperaccedilatildeo entre as comunidades

Partindo do eixo dos mecanismos horizontais de cooperaccedilatildeo Filho Cruz (2006) chama atenccedilatildeo para migraccedilatildeo de algumas funccedilotildees do Estado para o setor privado o setor social a cooperativa e a socie-dade civil como uma mudanccedila significativa e recente Nesse sentido Kissler e Heideman (2006) sugerem a ideia de uma transiccedilatildeo de um Estado hieraacuterquico e pouco permeaacutevel para um Estado cooperativo que atua em conjunto com a sociedade e com as organizaccedilotildees pri-vadas Em decorrecircncia disso o maior entrelaccedilamento entre Estado mercado e sociedade civil tem caracterizado as uacuteltimas deacutecadas

Nessa perspectiva de governanccedila as redes de cooperaccedilatildeo sur-gem como um elemento inovador e central para os atores Sendo as redes um emaranhado de relaccedilotildees colaborativas a governanccedila e as redes estatildeo entrelaccediladas em sua funccedilatildeo de ser

Apesar de inicialmente pensada para o setor privado a go-vernanccedila e os modelos horizontais de relaccedilatildeo entre atores tecircm ganhado espaccedilo no Estado e em organizaccedilotildees puacuteblicas Nesse sentido segundo Kissler e Heidemann (2006) o Estado pode trans-ferir accedilotildees para o setor privado ou agir em parcerias com agentes sociais Essa accedilatildeo conjunta pode ser entendida como a expansatildeo de um Estado coprodutor do bem puacuteblico que busca apoio nas parcerias para desempenhar sua funccedilatildeo Entre os diversos me-canismos de que o Estado dispotildee para expandir e aperfeiccediloar a governanccedila puacuteblica as redes ocupam uma posiccedilatildeo central

Essa expansatildeo do Estado pode se dar pelas redes de poliacuteticas puacuteblicas (policy networks) como eacute o caso neste estudo e ser uma forma inovadora de interaccedilatildeo entre atores estatais da sociedade civil e do mercado (BOumlRZEL 1998)

3 Redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblicaAs redes tecircm sido um dos mecanismos mais utilizados e trabalha-dos pelo Estado para o aprofundamento da governanccedila puacuteblica por proporcionar uma visatildeo ampla dos atores e sua atuaccedilatildeo no ambiente Na administraccedilatildeo puacuteblica apresentam vaacuterias possi-bilidades de serem pensadas puacuteblico-puacuteblico puacuteblico-privado puacuteblico-sociedade civil e puacuteblico-privado-sociedade civil todas elas apresentando relaccedilotildees menos hierarquizadas e melhorias para a governanccedila puacuteblica (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Para Nohria e Eccles (1992) as redes entre as organizaccedilotildees tecircm como objetivos a interaccedilatildeo o relacionamento a ajuda muacute-tua o compartilhamento a integraccedilatildeo e complementaridade entre atores sociais Segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) a rede interorganizacional eacute uma teia social com caraacuteter teacutecnico e operacional com pouca hierarquia e grande interatividade entre os atores que a compotildee Tal estrutura proporciona ligaccedilotildees entre atores externos agrave organizaccedilatildeo

Nota-se que de maneira ampla os diversos conceitos de redes compartilham alguns elementos em comuns Bourguignon (2001) vem postular que satildeo eles a ideia de articulaccedilatildeo conexatildeo accedilotildees complementares relaccedilotildees horizontais entre parceiros e interdependecircncia de serviccedilos

Uma das principais caracteriacutesticas das redes satildeo suas relaccedilotildees intermodais sendo os noacutes com diferentes dimensotildees segundo Castells (2001) noacutes que apresentam um nuacutemero diferenciado de ligaccedilotildees com os demais noacutes da rede Esses noacutes fazem parte de uma rede na qual os atores estatildeo no mesmo patamar hieraacuterquico e colaboram entre si As redes sociais satildeo estruturas abertas ca-pazes de expandir ilimitadamente integrando novos noacutes desde que consigam comunicar-se dentro da rede (CASTELLS 1999) As redes de cooperaccedilatildeo tecircm como um de seus objetivos reunir atributos que permitam uma adequaccedilatildeo ao ambiente competitivo em uma estrutura dinacircmica sustentada por accedilotildees uniformes po-reacutem descentralizadas e que evite que os atores envolvidos percam a flexibilidade (THOMPSON 2003)

A confianccedila segundo Kissler e Heidemann (2006) eacute um ponto essencial para o estabelecimento de uma rede e tam-beacutem eacute um fator-chave para a cooperaccedilatildeo e a troca entre as organizaccedilotildees (RING VAN DE VEN 1994 BECERRA LUNNAN HUEMER 2008) A presenccedila ou a ausecircncia da confianccedila de-terminaraacute os fluxos de informaccedilotildees que satildeo essenciais para a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave cooperaccedilatildeo e ateacute mes-mo na disposiccedilatildeo dos atores em trabalhar em conjunto Dito isso percebe-se tambeacutem que a cooperaccedilatildeo e a governanccedila de uma rede natildeo pode ser imposta A governanccedila e a cooperaccedilatildeo entre os agentes satildeo um processo de troca que oscila entre o topo e a base (KISLLER HEIDEMANN 2006)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As redes com mais tradiccedilatildeo na iniciativa privada tecircm ganhado espaccedilo no governo e podem ser entendidas como um sistema in-terligado formado por uma teia complexa de relaccedilotildees institucionais para soluccedilatildeo de problemas cotidianos e atiacutepicos para Mintzberg (1998) O autor complementa afirmando que as redes de coope-raccedilatildeo no setor puacuteblico satildeo ligadas por canais informacionais de comunicaccedilatildeo cujo lema seria conectar comunicar e colaborar

Nesse contexto Castells (2001) afirma ter surgido uma nova economia de escala global e com novas estrateacutegias e aborda-gens Esse novo contexto implicaria o ldquoEstado-rederdquo Esse concei-to ressignifica o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e traz a ideia de um Estado que compartilha autoridade que trabalha em conjunto e em rede com outros atores Esse novo termo implica novas parcerias e estruturas organizacionais cooperaccedilatildeo em rede

4 MetodologiaPor meio do levantamento de bibliografias pertinentes foi construiacutedo um arcabouccedilo teoacuterico com o intuito de situar as produccedilotildees relativas agrave temaacutetica trabalhada A partir do referencial teoacuterico os dados foram produzidos a partir da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios abertos

Os questionaacuterios abertos foram aplicados no Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DPAI) da FMC sendo essa repar-ticcedilatildeo responsaacutevel pela alimentaccedilatildeo e cadastro de informaccedilotildees do site do mapa cultural de Belo Horizonte Trata-se portanto de uma pesquisa qualitativa o que segundo Creswell (2007) foca-se nas percepccedilotildees e experiecircncias dos participantes e sen-do os dados interpretados em relaccedilatildeo a um uacutenico caso e natildeo agraves suas generalizaccedilotildees

No total participaram do estudo trecircs servidoras da FMC sendo a amostra natildeo probabiliacutestica As servidoras foram escolhidas conforme a conveniecircncia e interesse deste estudo considerando a sua partici-paccedilatildeo na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a FMC o Instituto TIM e o COMUC Visando agrave natildeo identificaccedilatildeo das participantes essas foram chamados neste trabalho de FMC1 FMC2 FMC3 Todos os questionaacuterios foram respondidos no mecircs de abril de 2017

Conforme sugerido por Bardin (2009) a primeira leitura das respostas fez com que os pesquisadores levantassem algumas hipoacuteteses Em seguida as respostas foram organizadas de acor-do com a aproximaccedilatildeo dos elementos para posteriormente ser atribuiacutedo a esses o nome de categoria A categorizaccedilatildeo possibilita o ordenamento de significados que representam um entendimento mais profundo em termos da interpretaccedilatildeo dos sujeitos estudados

As categorias natildeo foram fixadas no iniacutecio da pesquisa e sim definidas a partir da interpretaccedilatildeo do questionaacuterio aberto Satildeo

elas a falta de investimentos adequado na rede a limitaccedilatildeo do software as dificuldades com a mudanccedila do governo a pouca participaccedilatildeo do COMUC e a parceria bem-sucedida

5 A rede e o mapa culturalA Fundaccedilatildeo de Cultura de Belo Horizonte (FMC) entidade inte-grante da administraccedilatildeo indireta do Municiacutepio de Belo Horizonte tem por funccedilatildeo administrar poliacuteticas e questotildees voltadas agrave aacuterea de cultura do municiacutepio Fundada em 2005 a FMC realiza inter-venccedilotildees por meio de festivais encontros rodas de conversa e muitos outros atrativos espalhados na cidade

A Telecom Itaacutelia Mobile (TIM) eacute uma empresa italiana de telefonia e presta serviccedilos no Brasil desde 1988 Atualmente possui uma fatia consideraacutevel do mercado de comunicaccedilatildeo no paiacutes A empresa jaacute rea-lizou em parceria com o setor puacuteblico a instalaccedilatildeo de outros mapas culturais como por exemplo o de Blumenau e o de Joatildeo Pessoa

O Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) composto por quinze representantes do poder puacuteblico municipal e quinze representantes da sociedade civil (sendo seis do setor cultural e nove representantes das regionais administrativas da cidade) eacute a arena de representaccedilatildeo da sociedade civil do municiacutepio de Belo Horizonte em relaccedilatildeo agraves decisotildees das poliacuteticas culturais

O mapa cultural da cidade Belo Horizonte segundo o site da FMC eacute uma plataforma de software livre gratuita e colaborativa da FMC com diversas informaccedilotildees sobre o cenaacuterio cultural da cidade O mapa estaacute composto de informaccedilotildees tais como espaccedilos culturais programaccedilotildees oficiais projetos e editais e por agentes culturais cadastrados

A construccedilatildeo da rede interorganizacional permitiu a criaccedilatildeo im-plementaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do projeto do mapa cultural O site foi inaugurado em junho de 2016 e vem sendo alvo de criacuteticas e elogios

6 Anaacutelises e resultados da pesquisaConsiderando-se a discussatildeo apresentada acima a pesquisa sobre redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblica identificou ao longo do seu desenvolvimento que as servidoras pesquisadas enxergam a rede de forma positiva A avaliaccedilatildeo positiva pode ser entendida como o atendimento agraves necessidades da FMC que a rede pode proporcio-nar Assim nesta seccedilatildeo mostra-se a fala de trecircs servidoras da FMC

A falta de investimento adequado na redePara as servidoras da FMC um dos problemas enfrentados pela rede foi a escassa equipe para trabalhar no projeto Isso limitou o crescimento e aperfeiccediloamento do projeto e de sua capaci-dade de impulsionar a governanccedila da rede conforme podemos observar na fala abaixo

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A falta de equipe na FMC para garantir ecircxito na gestatildeo do projeto o

prejudica significativamente (FMC 2)

Em relaccedilatildeo agrave falta de servidores uma entrevistada apontou qual seria a especialidade mais carente para o melhor desenvol-vimento da rede conforme apresentado em seguida

Natildeo existe capacidade tecnoloacutegica e de servidores de TI na FMC para

dar manutenccedilatildeo no site em tempo haacutebil (FMC 1)

Aleacutem dessa especialidade a FMC lida com um quadro que natildeo atende agraves necessidades do serviccedilo puacuteblico e tampouco do proacuteprio oacutergatildeo conforme as entrevistadas explicam

A Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura apresenta atualmente um quadro

defasado de servidores puacuteblicos As atividades do projeto Mapa Cultural

BH hoje estatildeo concentradas em um nuacutecleo com servidores da Divisatildeo

de Tecnologia e do Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Nesse

nuacutecleo de trabalho estatildeo diretamente envolvidos um funcionaacuterio de

cada setor e um estagiaacuterio Conforme a demanda de trabalho e neces-

sidade o nuacutecleo eacute acrescido de um funcionaacuterio para apoio (FMC 2)

Apesar disso tudo ocorreu um esforccedilo da FMC para capacitar as pessoas envolvidas no projeto

A FMC estaacute trabalhando na fase de implantaccedilatildeo das accedilotildees e etapas

de uso da plataforma Os gestores e servidores que utilizaratildeo a plata-

forma para registro das accedilotildees projetos e poliacuteticas culturais jaacute foram

capacitados (FMC 3)

Por outro lado os recursos escassos satildeo tambeacutem entendidos como barreiras para o desenvolvimento do projeto

O projeto natildeo eacute entendido como estrateacutegico pela instituiccedilatildeo e com

isso natildeo possui recursos ndash humanos TI e financeiros ndash suficientes

para que tenha ecircxito e alcance seus objetivos (FMC 2)

A limitaccedilatildeo do softwareAcerca dos objetivos da rede segundo as entrevistadas eacute unacircnime a visatildeo de que a criaccedilatildeo do mapa se propotildee a gerar um banco de da-dos culturais que permitiraacute a melhor gestatildeo das poliacuteticas culturais

A implantaccedilatildeo da plataforma dos mapas culturais visando agrave sua uti-

lizaccedilatildeo para mapear identificar e registrar informaccedilotildees sobre a aacuterea

cultural de Belo Horizonte possibilitando a formaccedilatildeo de um banco

de dados sobre a cadeia produtiva da cultura na cidade ndash agentes es-

paccedilos instituiccedilotildees projetos eventos editais [] A partir desse banco

de dados a FMC poderaacute desenvolver estudos que visam a um melhor

planejamento para a gestatildeo da cultura em BH (FMC 2)

Em relaccedilatildeo ao mapa cultural as entrevistadas disseram que esse apresentou enormes avanccedilos

Podemos considerar que a disponibilizaccedilatildeo da plataforma jaacute seja um gran-

de avanccedilo pois a FMC natildeo teria condiccedilotildees e nem conseguiria desenvolver

um software com tantos recursos num prazo tatildeo curto (FMC 2)

Entretanto a limitaccedilatildeo do software foi uma das grandes dificuldades encontrada pelas servidoras da FMC Havia nesse sentido um interesse conflitante entre a necessidade da FMC e a perspectiva de trabalho da TIM Eacute importante ressaltar que as presenccedilas de interesses conflitantes podem ser prejudiciais para a governanccedila visto que a interaccedilatildeo entre os atores pode se dar de maneira natildeo harmoniosa

Como a ferramenta natildeo eacute da prefeitura nem foi desenvolvida por ela natildeo

temos total controle sobre ela [] A FMC gostaria de ter uma ferramenta

mais personalizada e isto era algo que a TIM natildeo podia oferecer (FMC 1)

E ateacute mesmo quanto ao sistema desenvolvido pela TIM que ainda

natildeo nos permite fazer alteraccedilotildees e adaptaacute-lo agrave nossa realidade bem

como gerar relatoacuterios especiacuteficos (FMC 3)

A criacutetica dos entrevistados tambeacutem se relaciona ao papel que o software vem desenvolvendo Para que o mapa cultu-ral possa ser utilizado de forma efetiva e natildeo servir apenas como um banco de dados algumas mudanccedilas precisam ser implementadas

O Mapa Cultural eacute uma boa ferramenta de gestatildeo embora limitada

Eacute preciso fazer a gestatildeo do Mapa Cultural BH e da informaccedilatildeo que

seraacute registrada senatildeo teremos apenas um banco de dados (FMC 3)

As dificuldades com a mudanccedila do governoUma das dificuldades apresentadas pelas entrevistadas foi em relaccedilatildeo agrave mudanccedila do governo municipal A troca de governo trouxe insegu-ranccedila e incertezas em relaccedilatildeo ao futuro do projeto do mapa cultural

A instabilidade poliacutetica seja em niacutevel federal estadual ou municipal

reflete diretamente no desenvolvimento do projeto (FMC 2)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As mudanccedilas de gestatildeo que normalmente acontecem no serviccedilo

puacuteblico atrasaram as etapas [] (FMC 3)

Nessa indagaccedilatildeo uma das entrevistadas revelou algumas ques-totildees contingenciais e dificultadoras para alcanccedilar os objetivos

O projeto de Mapeamento Cultural foi lanccedilado em junho de 2016

Por ser um ano eleitoral o projeto ficou prejudicado tendo em vista

as dificuldades enfrentadas devido agrave lei eleitoral que restringe sobre-

maneira as campanhas publicitaacuterias e de divulgaccedilatildeo Em 2017 ano

em que o novo prefeito assume a prefeitura e haacute uma instabilidade

no niacutevel de definiccedilatildeo de gestores e ainda a possibilidade de reforma

administrativa que pode atingir diretamente a Fundaccedilatildeo ainda natildeo

conseguimos fazer com que as accedilotildees de divulgaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

fossem implementadas ateacute o presente momento (FMC 2)

Como dito pelas entrevistadas eacute importante ressaltar que ins-tabilidades poliacuteticas vivenciadas na prefeitura de Belo Horizonte e cortes no orccedilamento da FMC satildeo elementos que dificultaram a divulgaccedilatildeo do projeto Devido a isso o mapa natildeo alcanccedilou boa parcela da populaccedilatildeo da cidade e ainda eacute pouco conhecido Tal fato pode causar baixa adesatildeo dos serviccedilos do mapa por parte dos profissionais da cultura e da sociedade

A pouca participaccedilatildeo do COMUCEm relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do COMUC no processo de pensar e implementar o mapa cultural as respostas obtidas revelam que a participaccedilatildeo do COMUC foi extremamente incipiente

Assim natildeo houve participaccedilatildeo dos membros do COMUC na constru-

ccedilatildeo do mapa cultural Apoacutes a assinatura do termo a plataforma foi

apresentada em reuniatildeo ordinaacuteria do COMUC (FMC 3)

A baixa participaccedilatildeo do COMUC se apresenta como um ponto problemaacutetico da rede visto que um dos objetivos dos conselhos deliberativos eacute possibilitar agrave sociedade civil negociar com o poder puacuteblico A baixa participaccedilatildeo ou envolvimento de um ator numa rede de cooperaccedilatildeo impacta diretamente na qualidade da gover-nanccedila e na sauacutede das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo ali estabelecidas Eacute possiacutevel encontrar uma certa contradiccedilatildeo na fala das entrevis-tadas que afirmam que o mapa cultural atende agraves demandas da sociedade civil tal como nesta fala

Haacute possibilidade de reunir informaccedilotildees que poderatildeo subsidiar um

melhor planejamento e uma gestatildeo mais democraacutetica a partir de

informaccedilotildees extraiacutedas da base de dados (FMC 2)

Todavia uma gestatildeo mais democraacutetica exigiria maior par-ticipaccedilatildeo do COMUC nas accedilotildees da poliacutetica cultural visto que o COMUC eacute o espaccedilo de deliberaccedilatildeo que as sociedades civis tecircm para dar voz agraves suas demandas Dessa forma eacute possiacutevel perceber que essa rede de cooperaccedilatildeo apresenta disparidade de poder e de espaccedilo entre os atores envolvidos

A parceria bem-sucedidaApesar das criacuteticas apontadas pelas participantes da pesquisa elas defendem a rede criada e tambeacutem acreditam que projetos como o estabelecido com a TIM devem ser ampliados O que mostra que as redes interorganizacionais no poder puacuteblico apesar de desafiadoras satildeo beneacuteficas e vistas positivamente pelo corpo burocraacutetico da maacutequina puacuteblica

Ao serem questionadas sobre os pontos positivos da rede as en-trevistadas demonstram que a principal contribuiccedilatildeo eacute o compartilha-mento de recursos que possibilitaram a criaccedilatildeo do mapa cultural

A parceria com a TIM nos permitiu avanccedilar quanto ao projeto mape-

amento cultural de BH demanda antiga da gestatildeo da cultura e da

sociedade civil (FMC 3)

No intuito de captar informaccedilotildees sobre as possiacuteveis dificulda-des encontradas na rede foram feitas perguntas nesse sentido As informaccedilotildees colhidas revelam que natildeo houve dificuldades

A TIM se mostrou (e se mostra) ateacute o presente momento uma grande par-

ceira Natildeo haacute dificuldades na conduccedilatildeo das atividades acordadas (FMC 2)

Como teacutecnica da FMC natildeo tenho informaccedilotildees sobre interesses

divergentes (FMC 3)

Outras perguntas feitas buscavam que as entrevistadas fa-lassem sobre o alcance ou natildeo dos objetivos (jaacute discutidos no comeccedilo da entrevista) e que fizessem uma avaliaccedilatildeo geral da rede na implementaccedilatildeo do mapa cultural As respostas indicam satis-faccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resultados jaacute apresentados

A cooperaccedilatildeo entre a FMC e a Tim eacute muito positiva uma vez que haacute

comprometimento de ambas as partes em fazer com que a platafor-

ma fique cada vez melhor e estaacutevel por meio do trabalho dos seus

desenvolvedores ndash colaboradores ndash gestores (FMC 2)

Penso que para a FMC a parceria foi positiva pois nos possibilitou avanccedilos

na implementaccedilatildeo de um projeto que era demanda antiga (FMC 3)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Por fim O uacuteltimo ponto questionou se as entrevistadas julgam interessante a FMC estabelecer outras redes de cooperaccedilatildeo As respostas satildeo unanimemente positivas

A participaccedilatildeo da FMC em redes de cooperaccedilatildeo eacute essencial para que

a equipe se capacite e possa aprimorar os processos da instituiccedilatildeo

e trazer novas formas de desenvolvimento do trabalho otimizando

recursos e modernizando os processos por meio da colaboraccedilatildeo da

troca de informaccedilotildees e de experiecircncias (FMC 2)

Penso que as parcerias realizadas que vatildeo ao encontro dos objetivos

de ambos os envolvidos satildeo sempre bem-vindas No caso do setor

puacuteblico principalmente avalio que se deve ter um cuidado extra

quando da celebraccedilatildeo da parceria visando a garantir que a instituiccedilatildeo

possa dar continuidade ao projeto apoacutes fim da parceria (FMC 3)

Cabe apenas agrave FMC tomar os cuidados necessaacuterios para que os novos projetos desenvolvidos consigam ser bem-sucedidos conforme explicitado na fala seguinte

[] entatildeo para que certos projetos mais ambiciosos sejam implemen-

tados a realizaccedilatildeo de parcerias eacute indispensaacutevel No entanto isso im-

plica uma perda de controle da FMC sobre alguns fatores envolvidos

no projeto portanto esses fatores devem ser bem avaliados (FMC 1)

Diante das falas expostas assevera-se que o estabelecimento de redes interorganizacionais no setor puacuteblico pode trazer resultados satisfatoacuterios e aperfeiccediloar trabalhados No caso da FMC e da Tim o corpo burocraacutetico da FMC percebeu a experiecircncia como positiva

7 Consideraccedilotildees Este estudo se propocircs a pesquisar a rede criada pela FMC TIM e COMUC com o objetivo da construccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte Foram aplicados questionaacuterios abertos para levantar as percepccedilotildees sobre os avanccedilos e barreiras encontradas na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida

Constatou-se que o trabalho em conjunto possibilitou a implementaccedilatildeo do mapa cultural A atuaccedilatildeo conjunta trouxe benefiacutecios tais como maior celeridade compartilhamento de conhecimentos teacutecnicos e tecnoloacutegicos mais competecircncia e efetividade para os processos utilizados na criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte

Uma breve anaacutelise desses dados mostra que a rede apresen-ta pontos interessantes e que permitem uma melhor forma de trabalhar Entretanto natildeo estaacute livre de problemas comuns agrave ad-ministraccedilatildeo puacuteblica como por exemplo ameaccedilas poliacuteticas matildeo

de obra pouco qualificada disparidade entre as realidades do setor puacuteblico e do setor privado quadro defasado de servidores puacuteblicos dificuldades de organizaccedilatildeo e separaccedilatildeo de tarefas e responsabilidade problemas na comunicaccedilatildeo e ateacute mesmo de interesses em relaccedilatildeo ao potencial do mapa cultural

A despeito de algumas dificuldades encontradas pelos servi-dores bem de como problemas contingenciais a rede de coope-raccedilatildeo tem alcanccedilado seu grande objetivo a criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo de um mapa cultural com dados sobre eventos apresentaccedilotildees artiacutesticas e espaccedilos culturais

Entretanto eacute interessante problematizar as respostas visto que as entrevistas ocorreram num momento de transiccedilatildeo da gestatildeo na FMC e num cenaacuterio em que o atual prefeito apresenta propostas de extinccedilatildeo eou diminuiccedilatildeo da FMC Nesse sentido pode-se le-vantar a hipoacutetese de que as respostas possam ter ocultado possiacute-veis problemas na execuccedilatildeo do trabalho na perspectiva em rede

Uma limitaccedilatildeo que o estudo apresenta eacute que foram realizadas entrevistas somente com servidores da FMC impossibilitando o conhecimento e a versatildeo de outros atores Assim fica como sugestatildeo para estudos futuros a anaacutelise da percepccedilatildeo dos outros atores envolvidos na rede em questatildeo Entretanto esta pesquisa buscou contribuir para o campo da Administraccedilatildeo a partir de um estudo de caso apresentando as percepccedilotildees de servidores puacuteblicos em relaccedilatildeo agrave rede estabelecida

Com base no levantamento empiacuterico eacute possiacutevel elencar sugestotildees para uma possiacutevel melhoria da rede estabelecida 1) efetivar uma maior participaccedilatildeo do COMUC nos processos decisoacuterios 2) criar mecanismos de maior interaccedilatildeo entre o corpo de funcionaacuterios da FMC e da Tim 3) tornar os meios de comunicaccedilatildeo entre as equipes mais acessiacuteveis e claros com a utilizaccedilatildeo de uma linguagem simples para todos

Por fim conclui-se que as redes de cooperaccedilatildeo no setor puacuteblico contribuem para a melhoria dos serviccedilos prestados e da governanccedila puacuteblica A perspectiva do trabalho em conjunto permite aos atores o compartilhamento de conhecimentos teacutecnicas e equipamentos que conferem ao serviccedilo maior qualidade e celeridade

R e f e r ecirc n c i a s

BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Lisboa Portugal Ediccedilotildees 70 2009

BECERRA Manuel LUNNAN Randi HUEMER Lars Trustworthiness risk

and the transfer of tacit and explicit knowledge between alliance

partners Journal of Management Studies v 45 n 4 p 691-713 2008

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

BOumlRZEL Tanja Le reti di attori pubblici e privati nella regolazione europea

Stato e Mercato v 54 n 3 p 389-432 1998

BOURGUIGNON Jussara Ayres Concepccedilatildeo de rede intersetorial 2001 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwuepgbrnupesintersetorhtmgt Acesso

em 25 jul 2016

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Paulo Paz e Terra 1999

______ Para o Estado-rede globalizaccedilatildeo econocircmica e instituiccedilotildees poliacuteti-

cas na era da informaccedilatildeo In BRESSER-PEREIRA Luiacutes Carlos WILHEIM

Jorge SOLA Lourdes (orgs) Sociedade e Estado em transformaccedilatildeo

Satildeo Paulo Editora UNESP 2001 p 147- 171

CKAGNAZAROFF Ivan Beck SOUZA Maria Thereza Costa Guimaratildees Re-

laccedilatildeo entre ONG e Estado um estudo de parceria Revista Gestatildeo amp

Tecnologia Pedro Leopoldo v1 n2 p59-73 2003

CRESWELL Jhon Andrew Jackson Projeto de pesquisa meacutetodo qualitativo

quantitativo e misto Porto Alegre Artmed 2007

FILHO CRUZ Paulo Roberto Arauacutejo Governanccedila e gestatildeo de redes na

esfera puacuteblica municipal o caso da rede de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao

adolescente em situaccedilatildeo de risco para a violecircncia em Curitiba 2006

162f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Administraccedilatildeo) Pontifiacutecia Universi-

dade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2006

JULIANI Douglas Inovaccedilatildeo social uma revisatildeo sistemaacutetica de literatura

In X Congresso Nacional de Excelecircncia em Gestatildeo 2014

KISSLER Leo HEIDEMANN Francisco Gabriel Governanccedila puacuteblica novo

modelo regulatoacuterio para as relaccedilotildees entre Estado mercado e socie-

dade Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica Rio de Janeiro v 40 n 3 p

479-499 2006

LEMOS Cristina Inovaccedilatildeo na era do conhecimento In LASTRES Helena

M M ALBAGLI Sarita (Org) Informaccedilatildeo e globalizaccedilatildeo na era do co-

nhecimento Rio de Janeiro Campus 1999 cap 5 p 122-144

LOumlFFLER Elke Governancendashdie neue Generation von Staats-und Verwal-

tungsmodernisierung Verwaltung und Management p 212-215 2001

MINTZBERG Henry Administrando governos governando administra-

ccedilotildees Revista do Serviccedilo Puacuteblico Brasiacutelia v 49 n 4 p 148-164 1998

________ Criando organizaccedilotildees eficazes estruturas em cinco configura-

ccedilotildees 2 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MURRAY Robin CAULIER-GRICE Julie MULGAN Geoff The open book of

social innovation London National endowment for science technol-

ogy and the art 2010

NOHRIA N ECCLES R Networks and organizations Boston Harvard Busi-

ness School Press 1992

PETER Tom J WATERMAN Robert H In search of excellence lessons from

Americarsquos best-run companies New York Harper amp Row 1982

PMBH - PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Mapa cultural de

Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpmapaculturalbhpbhgovbrgt

Acesso em 18 abr 2017

RING Peter Smith VAN DE VEN Andrew H Developmental processes of

cooperative interorganizational relationships Academy of manage-

ment review v 19 n 1 p 90-118 1994

SECCHI L Modelos organizacionais e reformas da administraccedilatildeo puacuteblica

Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 43 n 2 p 347-369 2009

SEDAI - SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO E DOS ASSUNTOS INTER-

NACIONAIS Governo do Estado do Rio Grande do Sul Manual do

consultor do programa redes de cooperaccedilatildeo 2004

SILVA Flavia de Arauacutejo MARTINS Tulio Cesar Pereira Machado CKAGNA-

ZAROFF Ivan Beck Redes organizacionais no contexto da governanccedila

puacuteblica a experiecircncia dos Tribunais de Conta do Brasil com o grupo

de planejamento organizacional Revista do Serviccedilo Puacuteblico v 64 p

249-271 2013

THOMPSON G F Between hierarchies and markets the logics and limits of

network forms of organization Oxford Oxford University Press 2003

TORRES Norberto Antocircnio Avaliaccedilatildeo de websites e indicadores de e-gov em

municiacutepios brasileiros relatoacuterio final 2006 Disponiacutevel em lthttpwww

sumaqorgegovimgpublicaciones5pdf gt Acesso em 21 jul 2016

Paacutegina 8 de 8

Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network ProcessEvaluacioacuten de criteacuterios para la instalacioacuten de polos de apoyo presencial para cursos de nesentildeanza a distancia utilizando el Analytic Network Process

Fabriacutecio Martins Carvalho da Silva Cecilia Toledo Hernaacutendez e Julio Ceacutesar Andrade de Abreu

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 11

R e s u m o

A escolha do local para a instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial tem um papel fundamental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia pois eacute a referecircncia

fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias tais como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio para a tomada de decisatildeo para escolha de possiacuteveis municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ O modelo proposto eacute embasado em teacutecnicas de apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo em que foi utilizado o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) e agrupa um conjunto de criteacuterios que possibilitam ao tomador de decisatildeo conhecer informaccedilotildees necessaacuterias sobre a viabilidade de determinado municiacutepio sediar um polo de apoio presencial do CEDERJ O modelo desenvolvido foi aplicado em um cenaacuterio composto por sete municiacutepios da regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba onde natildeo existem polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ Os resultados obtidos demonstraram a eficaacutecia do modelo na escolha do municiacutepio que apresenta a condiccedilatildeo mais favoraacutevel para implantaccedilatildeo do polo Entre as principais contribuiccedilotildees do estudo estaacute a possibilidade de aplicaccedilatildeo do modelo em outras regiotildees do paiacutes

R e s u m e n

La eleccioacuten del lugar para la instalacioacuten de un polo de apoyo presencial tiene un papel fundamental para el funcionamiento de los cursos de la modalidad de educacioacuten a distancia pues este es la referencia fiacutesica para que los alumnos puedan realizar actividades presenciales obligatorias tales como clases en el laboratorio evaluaciones y tutoriacutea presencial Este estudio ha tenido como objetivo desarrollar un modelo de apoyo a la toma de decisioacuten para elegir posibles municipios para instalacioacuten de polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ El modelo propuesto se basa en teacutecnicas de apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios donde se ha utilizado el meacutetodo Analytic Network Process (ANP) que agrupa un conjunto de criterios que posibilitan al tomador de decisioacuten conocer las informaciones necesarias sobre la viabilidad de un determinado municipio para albergar un polo de apoyo presencial del CEDERJ El modelo desarrollado ha sido aplicado en un escenario compuesto por siete municipios de la regioacuten del Valle Medio Paraiacuteba donde no existen polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ Los resultados obtenidos han demostrado la eficacia del modelo en la eleccioacuten del municipio que presenta la condicioacuten maacutes favorable para la implantacioacuten del polo Entre las principales contribuciones del estudio estaacute la posibilidad de aplicar el modelo en otras regiones del paiacutes

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chavePolos de apoio presencial Educaccedilatildeo a distacircncia Apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo Analytic Network Process

Palabras clavePolos de apoyo presencial Educacioacuten a distancia Apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios Analytic Network Process

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo Univer-sidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ (UFF PPGA)e-mail fabriciocarvalhoiduffbr

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutora em Engenharia Mecacircnica (UNESP)

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutor em Administraccedilatildeo (UFBA)

Como citar este artigoSILVA F M C HERNAacuteNDES C T ABREU J C A Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a insta-laccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network Process Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoA Educaccedilatildeo a Distacircncia (EaD) surge neste milecircnio como uma inovaccedilatildeo no processo de ensino e aprendizagem (WAQUIL et al 2009) Aliada ao progresso do desenvolvimento da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo a EaD estaacute emergindo como o para-digma da educaccedilatildeo moderna (SUN et al 2008) fortalecendo-se cada vez mais no cenaacuterio educacional nacional e internacional Conforme Gouvecirca e Oliveira (2006 apud ALVES 2011) a EaD estaacute presente em mais de oitenta paiacuteses nos cinco continentes em todos os niacuteveis de ensino em programas formais e natildeo formais atendendo a milhotildees de estudantes consolidando dessa forma a democratizaccedilatildeo de acesso agrave educaccedilatildeo

Esse crescimento pode ser confirmado atraveacutes do Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2016 resumo teacutecnico editado pelo Institu-to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) que mostra que o nuacutemero de matriacuteculas na EaD para os cursos de ensino superior no Brasil apresenta um aumento da ordem de 4037 no ano de 2015 com 1393752 matriacuteculas em relaccedilatildeo ao ano de 2011 com 992927 matriacuteculas Os cursos pre-senciais no mesmo periacuteodo tiveram um crescimento da ordem de 1543 com 6633545 de matriacuteculas no ano de 2015 e 5746762 matriacuteculas no ano de 2011

Segundo Weidle Kich e Pereira (2011) para permitir essa ex-pansatildeo dos cursos de EaD no paiacutes eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de polos de apoio presencial cujo local de instalaccedilatildeo tem um papel fun-damental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia levando a educaccedilatildeo a lugares carentes de ensino e proporcionando o desenvolvimento dessas regiotildees

O polo eacute a referecircncia fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial (CEDERJ 2017) Para o seu funcio-namento eacute necessaacuterio dispor de investimentos em infraestrutura contrataccedilatildeo de professores e teacutecnicos da compra de computado-res e da construccedilatildeo de laboratoacuterios (BRASIL 2013)

Uma pesquisa recente na literatura em algumas das mais importantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD Um deles realizado por Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) apli-cou o meacutetodo elementar multicriteacuterio Copeland em um cenaacuterio composto por dezesseis polos do Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro ndash CEDERJ para demonstrar a influecircncia dos polos nos municiacutepios onde estatildeo instalados Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma nova ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) para auxiliar no processo

de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD

Um novo modelo foi desenvolvido por Peixoto Filho (2016) fundamentado em teacutecnicas de Auxiacutelio Multicriteacuterio agrave Decisatildeo (AMD) e ofereceu suporte eficaz para a escolha de locais dire-cionados agrave abertura de um polo de apoio presencial para cursos a distacircncia Em outro estudo Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) propuseram um novo modelo baseado em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo aplicada a um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais utilizando o meacutetodo AHP para selecionar o local mais apropriado para abertura de polos de apoio presencial

Todavia natildeo foram encontrados estudos para escolha de municiacutepios no estado do Rio de Janeiro para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial do consoacutercio CEDERJ que utilizassem como ferramenta de apoio a tomada de decisatildeo o meacutetodo Analytic Ne-twork Process (ANP) nem que tratassem dos criteacuterios que foram abordados nesta pesquisa

Conveacutem ressaltar que o processo de tomada de decisatildeo en-volve quase sempre a escolha da melhor decisatildeo levando em conta muacuteltiplos criteacuterios fatores e objetivos (SHIMIZU 2010) dessa maneira a escolha do meacutetodo a ser aplicado daraacute maior credibili-dade ao tomador de decisatildeo O interesse em aplicar o meacutetodo ANP deve-se ao fato de ele ao contraacuterio do AHP avaliar se a estrutura de decisatildeo possui dependecircncia ou seja se existem fatores que interagem obtendo maior precisatildeo nos resultados (SAATY 2005)

Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio agrave tomada de decisatildeo para escolha de municiacutepios no Vale Meacutedio Paraiacuteba para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo supe-rior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ considerando-se que o modelo atual de implantaccedilatildeo de polos do CEDERJ natildeo foi suficientemente eficaz para evitar o fechamento do polo de Quatis O modelo pro-posto eacute apoiado em criteacuterios que garantem maior seguranccedila na escolha da localizaccedilatildeo dos polos tais como populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet nuacutemeros de escolas que oferecem o ensino meacutedio e proximidade a outro mu-niciacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ

A partir dessa introduccedilatildeo este estudo estaacute estruturado da seguinte forma a segunda seccedilatildeo apresenta a revisatildeo da literatu-ra acerca da educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil a criaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ a importacircncia do polo de apoio presencial nos cursos de EaD e alguns criteacuterios utilizados para instalaccedilatildeo de polos a terceira seccedilatildeo descreve os procedimentos metodoloacutegicos utilizados na elaboraccedilatildeo deste estudo a quarta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise descritiva dos resultados e discussatildeo a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais

Paacutegina 2 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

2 Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil breves consideraccedilotildeesA Educaccedilatildeo a distacircncia emerge no contexto das poliacuteticas puacuteblicas em educaccedilatildeo como possibilidade de ampliaccedilatildeo do quadro de matriacuteculas pela raacutepida expansatildeo de vagas no ensino superior natildeo exigindo grandes estruturas fiacutesicas para o processo de ensino e aprendizagem (ARRUDA ARRUDA 2015) posto que parte de tal processo eacute realizada pelo aluno em tempo e espaccedilo definidos por ele

A educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil torna-se efetivamente le-gitimada como uma modalidade educacional a partir da pu-blicaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e Bases Nacional Lei nordm 939496 nela a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo atividades educacionais em lugares e tempos diversos (BRASIL 1996)

O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) por meio do Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 considera educaccedilatildeo a distacircncia como

A modalidade educacional na qual a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos

processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilizaccedilatildeo de meios e

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com pessoal qualificado com

poliacuteticas de acesso com acompanhamento e avaliaccedilatildeo compatiacuteveis entre

outros e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais

da educaccedilatildeo que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL 2017)

O Decreto nordm 905717 regulamentou o artigo 80 da Lei nordm 939496 possibilitando por meio da EaD a autoaprendizagem com a mediaccedilatildeo de recursos didaacuteticos sistematicamente organizados Isso caracteriza a EaD de maneira teacutecnica privilegiando a mediaccedilatildeo pelos suportes de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo sem considerar o papel do professor nesse processo (ARRUDA ARRUDA 2015)

Dessa forma a EaD ocorre a partir da interaccedilatildeo entre o aluno e o professor em ambientes fiacutesicos diferentes mediada pela utili-zaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que permite ao aluno ser o autor do seu processo de aprendizagem no seu tempo e no local em que seja possiacutevel essa acessibilidade

Para Alves (2011) de todas as modalidades de educaccedilatildeo a EaD surge como a mais democraacutetica por apresentar ferramentas tecnoloacutegicas que permitem ultrapassar todos os obstaacuteculos na busca pelo conhecimento distacircncia tempo e espaccedilo

Os dados do uacuteltimo censo da educaccedilatildeo divulgado em no-vembro de 2016 demonstram que o nuacutemero de matriacuteculas na educaccedilatildeo superior presencial que em 2001 era de 3030754 passou para 6633545 em 2015 isto eacute um aumento de aproxi-madamente 11887 Enquanto isso na educaccedilatildeo superior a dis-

tacircncia o nuacutemero de matriacuteculas que no ano de 2001 era de 5359 passou para 1393752 em 2015 o que representa um aumento de 2590769 (INEP 2010 2016) Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que a EaD jaacute deixou de ser uma modalidade educacional alternativa para atender agraves necessidades de formaccedilatildeo profissional no paiacutes A EaD no ensino superior jaacute eacute uma realidade no Brasil e o seu crescimento demonstra o quanto essa modalidade tem contribuiacutedo para a expansatildeo do ensino superior no paiacutes

De acordo com os dados apresentados na Tabela 1 o nuacutemero total de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no paiacutes no ano de 2015 foram de 8027297 e o nuacutemero de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia chegaram a 1736 desse total Isso demonstra que aproximadamente um quinto do nuacutemero de es-tudantes do ensino superior do paiacutes cursa uma universidade a distacircncia e que o preconceito quanto a essa modalidade de ensino tem diminuiacutedo Mais estudantes tecircm procurado a EaD quer seja pela falta de tempo para estar diariamente em uma universidade ou pela qualidade de ensino apresentada por essa modalidade

Tabela 1 ndash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas em cursos de graduaccedilatildeo (presencial e a distacircncia) Brasil ndash 2001- 2015

Ano Presencial EaD Total EaD2001 3030754 5359 3036113 0182002 3479913 40714 3520627 1162003 3887022 49911 3936933 1272004 4163733 59611 4223344 1412005 4453156 114642 4567798 2512006 4676646 207206 4883852 4242007 4880381 369766 5250147 7042008 5080056 727961 5808017 12532009 5115896 838125 5954021 14082010 5449120 930179 6379299 14582011 5746762 992927 6739689 14732012 5923838 1113850 7037688 15832013 6152405 1153572 7305977 15792014 6486171 1341842 7828013 17142015 6633545 1393752 8027297 1736

Fonte INEP 2010 e 2016

A proacutexima seccedilatildeo iraacute tratar do consoacutercio CEDERJ referecircncia no ensino a distacircncia no estado do Rio de Janeiro

21 O consoacutercio CEDERJO Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro consoacutercio CEDERJ foi iniciado em janeiro de 2000 com a assinatura de um convecircnio entre o Governo do estado do Rio de Janeiro e seis universidades puacuteblicas Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade Estadual do Norte Flumi-nense (UENF) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade

Paacutegina 3 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Desde o ano de 2011 conta tambeacutem com o Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca (CEFET) (FIRMINO VIEIRA 2013 CASSIANO et al 2016)

O CEDERJ por ser um consoacutercio entre as universidades puacute-blicas no Estado do Rio de Janeiro tem um modelo de EaD di-ferenciado dos outros existentes no paiacutes O CEDERJ tem uma metodologia transdisciplinar em que algumas disciplinas de um determinado curso satildeo ofertadas por outras universidades do consoacutercio Por exemplo no curso de Administraccedilatildeo que pertence agrave UFRRJ a disciplina Informaacutetica Baacutesica eacute oferecida pela UFF e a disciplina Formaccedilatildeo Econocircmica Brasileira eacute oferecida pela UERJ

Os objetivos do CEDERJ satildeo a) democratizar o acesso ao ensino superior puacuteblico gratuito e de qualidade na modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia principalmente em locais natildeo atendidos pelo ensino pre-sencial (CASSIANO et al 2016) b) permitir o acesso ao ensino superior daqueles que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional e c) atuar na formaccedilatildeo continuada a distacircncia dos professores do estado do Rio de Janeiro com atenccedilatildeo especial aos professores da rede estadual de ensino meacutedio (SILVA SANTOS 2006) O CEDERJ inicialmente ofe-receu vagas nos cursos de graduaccedilatildeo de Matemaacutetica Fiacutesica Biologia Quiacutemica Pedagogia e Tecnologia de Sistemas de Computaccedilatildeo aleacutem de cursos de extensatildeo e capacitaccedilatildeo para professores em diversas aacutereas de conhecimento (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012) Atualmente tambeacutem oferece vagas nos cursos de graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Administraccedilatildeo Puacuteblica Engenharia de Produccedilatildeo Geografia Histoacuteria Letras Seguranccedila Puacuteblica e Social e Turismo (CEDERJ 2017)

Quanto agrave sua estrutura o CEDERJ tem o conceito de ensino a distacircncia semipresencial pois integra momentos a distacircncia e momentos presenciais desenvolvendo a autonomia do aluno para o processo ensinoaprendizagem (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012)

Os momentos presenciais satildeo realizados nos polos de apoio presencial cuja importacircncia para os cursos de EaD seraacute esclarecida na seccedilatildeo seguinte

22 A importacircncia dos polos de apoio presencial para os cursos de EaDUm dos elementos importantes na oferta dos cursos de graduaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ satildeo os polos de apoio presencial para os quais foi adotado um modelo de financiamento e gestatildeo com a parceria entre entes federativos modelo inspirado na Universidade Nacional de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Espanha a UNED Inicialmente essa parceria envolveu o Governo do estado do Rio de Janeiro atraveacutes da Fundaccedilatildeo Centro de Ciecircncias e Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo Cecierj) os municiacutepios que sediam os polos do CEDERJ e universidades puacuteblicas Em 2006 agregou-se a essa iniciativa o governo federal atraveacutes da Universidade Aberta do Brasil

(UAB) atualmente sediada na Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) (CASSIANO et al 2016)

O estado do Rio de Janeiro eacute constituiacutedo por 92 municiacutepios e o CEDERJ possui 32 polos de apoio presencial em 31 deles (CEDERJ 2017) O Decreto nordm 905717 definiu o polo de EaD como uma unida-de acadecircmica e operacional descentralizada para o desenvolvimento de atividades presenciais dos cursos a distacircncia O polo eacute uma estru-tura acadecircmica de apoio pedagoacutegico tecnoloacutegico e administrativo agraves atividades de ensino e aprendizagem dos cursos que deve dispor de uma infraestrutura adequada que disponibilize aos estudantes o acesso agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) indis-pensaacuteveis agrave mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica dos cursos a distacircncia aleacutem de um corpo docente qualificado (BRASIL 2013) Nos polos satildeo realizadas as orientaccedilotildees para os estudos as praacuteticas laboratoriais palestras seminaacuterios e as avaliaccedilotildees presenciais (SOUZA 2015)

O funcionamento dos polos de apoio presencial depende dos espaccedilos cedidos pelas prefeituras dos municiacutepios geralmente alocados em escolas municipais assim como disponibilizam servidores municipais para atuarem no polo (FIRMINO VIEIRA 2013) Fica a cargo do estado a seleccedilatildeo dos tutores presenciais e do Governo federal o pagamento das bolsas de tutorias

Em algumas regiotildees o acesso agrave internet ainda eacute muito precaacuterio Para os alunos dos cursos de EaD que convivem com essa realidade o polo de apoio presencial eacute fundamental para o bom funcionamento do curso pois para eacute no polo de apoio presencial que esses alunos teratildeo acesso ao ambiente virtual com maior facilidade (SOUZA 2015)

Para o funcionamento dessa estrutura de suporte eacute necessaacuterio investimento eacute preciso que os polos de EaD aleacutem de toda infra-estrutura necessaacuteria para seu funcionamento sejam espaccedilos para pesquisa ensino e extensatildeo pilares de uma universidade Eacute impor-tante que haja troca de informaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees de ensino superior contribuindo para a geraccedilatildeo de novos conhecimentos que possibilitem melhorias na sociedade (SCHLUumlNZEN 2009)

Dessa forma a localizaccedilatildeo dos polos eacute fundamental para o funcionamento dos cursos de EaD Vaacuterios estudos foram realizados com o objetivo de proporcionar meacutetodos para a melhor escolha para instalaccedilatildeo dos polos de apoio presencial

O CEDERJ por meio de um estudo teacutecnico em 1999 adotou como criteacuterios para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial a populaccedilatildeo dos 92 municiacutepios do Estado do Rio de Janeiro o nuacutemero de alunos que terminou no ano anterior o Ensino Meacutedio em cada municiacutepio a distacircncia entre os municiacutepios (prevendo um deslocamento meacutedio do estudante da sua residecircncia ao polo inferior a cinquenta quilocircme-tros) a existecircncia de estradas conectando-as entre si e a inexistecircncia de ensino superior presencial puacuteblico no local (CASSIANO et al 2016)

Paacutegina 4 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute a Universidade Aberta do Brasil (UAB) criou dois tipos de polos o polo associado e o polo efetivo com diferentes criteacuterios para sua instalaccedilatildeo O polo associado estaacute instalado num campus de uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (IES) e o polo efetivo loca-lizado em municiacutepios considerados de porte meacutedio isto eacute entre 20 mil e 50 mil habitantes responsaacuteveis pela infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e de recursos humanos (BRASIL 2013)

Peixoto Filho (2016) desenvolveu uma ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) com o objetivo de auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios no estado de Minas Gerais para a abertura de novos polos de EaD As alternativas satildeo compostas por trecircs grupos de municiacutepios distintos que fazem parte de uma mesma regiatildeo geograacutefica do estado de Minas Gerais com atuaccedilatildeo do Instituto Federal do Sudeste desse estado ndash Campus Muriaeacute ndash para a instalaccedilatildeo dos polos Consequen-temente para a oferta de cursos na modalidade a distacircncia foram utilizados os seguintes criteacuterios populaccedilatildeo residecircncia com acesso agrave internet vocaccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia

Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) desenvolveram um novo modelo de apoio ao processo decisoacuterio voltado agrave abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia baseado no meacutetodo AHP cujos criteacuterios envolveram populaccedilatildeo residecircncias com acesso agrave internet voca-ccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia Esse modelo foi aplicado em um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais pertencentes a uma mesma regiatildeo geograacutefica

Em outro estudo Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma ferramenta utilizando o meacutetodo AHP composta por dados e in-formaccedilotildees mais soacutelidos para auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD Os criteacuterios avaliados por eles foram nuacuteme-ro de habitantes puacuteblico-alvo faixa etaacuteria escolaridade renda per capita residecircncia com acesso agrave internet arranjos produtivos locais existecircncia de escolas de niacutevel meacutedio proximidade do muni-ciacutepio com universidades concorrecircncia local existecircncia de IES de outros cursos EaD e de outros cursos ofertados pelo ldquoSistema Srdquo

Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) aplica-ram o meacutetodo de Copeland para mostrar a influecircncia do tamanho dos polos do CEDERJ nos diferentes municiacutepios em que estatildeo instalados conhecendo a importacircncia dos polos nas localidades onde atuam Eles utilizaram como criteacuterios para sua pesquisa o nuacutemero de cursos oferecidos o nuacutemero de alunos inscritos e o tempo de funcionamento de cada polo

Entretanto natildeo foram encontrados estudos que versam so-bre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP para seleccedilatildeo de polos de apoio

presencial o que contribuiria para auxiliar na melhor decisatildeo dos gestores pois o meacutetodo ANP apresenta caracteriacutesticas que pro-porcionam soluccedilotildees realiacutesticas na tomada de decisatildeo

Para Shimizu (2010) um dos grandes desafios com que os gestores convivem diariamente eacute a tomada de decisatildeo para a qual eacute necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de conhecimentos e habilidades que permitam a melhor escolha Em se tratando de escolha de um local para instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia a utilizaccedilatildeo de um modelo de toma-da de decisatildeo permite aos gestores avaliar criteacuterios que melhor atendam agrave populaccedilatildeo evitando dessa forma prejuiacutezos ao eraacuterio pois uma escolha errada de local ocasionaria o fechamento do polo onde houve investimento puacuteblico aleacutem da transferecircncia de alunos para polos distantes de suas residecircncias o que poderia levar futuramente a desistecircncia da tatildeo sonhada graduaccedilatildeo

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo abordados os procedimentos meto-doloacutegicos utilizados na confecccedilatildeo do modelo de apoio a decisatildeo para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial

3 Procedimentos metodoloacutegicosA presente pesquisa classifica-se como qualitativa de caraacuteter exploratoacuterio por meio de pesquisa bibliograacutefica entrevistas e estudo de caso Isso possibilitou a aplicaccedilatildeo de um modelo de anaacutelise multicriteacuterio que traduziu em pesos os dados e informa-ccedilotildees coletadas ponderando assim a definiccedilatildeo do local ideal para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

Este estudo foi realizado na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba com sete municiacutepios que natildeo apresentam polos de apoio presencial do CEDERJ satildeo eles Barra Mansa Itatiaia Pinheiral Porto Real Quatis Rio Claro e Valenccedila A escolha do local para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi devido ao fechamento de um polo de apoio presen-cial no municiacutepio de Quatis o que aguccedilou a curiosidade quanto aos atuais criteacuterios utilizados para alocaccedilatildeo de polos de EaD no estado do Rio de Janeiro

Primeiramente foi feita uma pesquisa em algumas das mais impor-tantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) agrave procura de artigos que tratam do tema ensino a distacircncia com as palavras-chave ldquopolos de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacute-riordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo Essa pesquisa inicial demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD

Em seguida foram realizadas pesquisas em documentos insti-tucionais do CEDERJ e da UAB para descobrir quais satildeo os criteacuterios utilizados na alocaccedilatildeo de polos de apoio presencial

Paacutegina 5 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Na etapa seguinte foi realizada uma entrevista com coorde-nadores de cursos a distacircncia do CEDERJ e especialistas em EaD para definirem-se os principais criteacuterios na implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial

Ao final os criteacuterios adotados foram populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet escolas com ensino meacutedio e proximidade a um polo do CEDERJ

Analisando os criteacuterios quanto maior a populaccedilatildeo resi-dente no municiacutepio maior seraacute o nuacutemero de alunos alcan-ccedilados com os cursos de graduaccedilatildeo Por se tratar de ensino a distacircncia o uso do computador e o acesso agrave internet satildeo necessaacuterios pois as atividades seratildeo feitas via plataforma do CEDERJ O maior nuacutemero de escolas com ensino meacutedio demonstra concentrar um nuacutemero maior de estudantes que desejam cursar uma universidade A proximidade de um mu-niciacutepio a outro que jaacute possui um polo de apoio presencial do CEDERJ natildeo gera qualquer impedimento para os alunos cursarem uma graduaccedilatildeo o que descaracteriza a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial nesse municiacutepio

Para os criteacuterios de populaccedilatildeo residente domiciacutelios com com-putador domiciacutelios com internet e escolas com ensino meacutedio foram coletados dados do Censo de 2010 no site IBGE cidades (IBGE 2010) Para o criteacuterio proximidade a um polo do CEDERJ foi estimada atraveacutes do GoogleMaps a distacircncia em quilocircmetros da sede da prefeitura do municiacutepio candidato agrave implantaccedilatildeo do polo ao polo de apoio presencial do CEDERJ do municiacutepio mais proacuteximo

Apoacutes a definiccedilatildeo dos criteacuterios escolheu-se o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) para permitir a tomada de decisatildeo isto eacute para encontrar a melhor soluccedilatildeo para o problema A principal di-ferenccedila desse meacutetodo em relaccedilatildeo aos outros eacute o fato de ele avaliar a dependecircncia entre as estruturas da decisatildeo que representam os criteacuterios e alternativas o que permite um resultado mais confiaacutevel

O meacutetodo Analytic Network Process (ANP) eacute uma generalizaccedilatildeo do meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) ou seja na praacutetica para se fazer o ANP deve-se primeiramente executar o AHP (SAATY 2005) Segundo Shimizu (2010) o meacutetodo AHP tem sido empregado para situaccedilotildees de definiccedilatildeo de prioridade avaliaccedilatildeo de custos e benefiacutecios alocaccedilatildeo de recursos medida de desem-penho pesquisa de mercado entre outras

Apoacutes definido o meacutetodo foram atribuiacutedos pesos aos cri-teacuterios de acordo com a escala fundamental desenvolvida por Thomas L Saaty (SAATY 2005) Tal escala traduz as avaliaccedilotildees qualitativas que foram realizadas aos criteacuterios e as alternativas em valores numeacutericos

Nessa etapa foi aplicado um questionaacuterio fechado aos coordena-dores de cursos a distacircncia do CEDERJ e a especialistas em EaD para julgarem de acordo com a escala de valor de Saaty (1977) isto eacute de 1 a 9 as suas preferecircncias entre os criteacuterios definidos para esta pesquisa

A coerecircncia dos julgamentos foi verificada por meio da Razatildeo de Consistecircncia que aferiu um valor menor que 10 permitindo obter o vetor de prioridade dos criteacuterios e efetuar a normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Apoacutes os dados foram tratados atraveacutes do software SuperDe-cisions v28 usado para tomada de decisatildeo com dependecircncia e feedback que implementa o meacutetodo AHP e o meacutetodo ANP e utiliza o mesmo processo de priorizaccedilatildeo baseado na comparaccedilatildeo par a par de elementos Esse software permite que os usuaacuterios criem clusters e nodes fazendo as devidas ligaccedilotildees para garantir comparaccedilotildees adequadas entre os niacuteveis Apoacutes os julgamentos o programa calcula as matrizes e as suas consistecircncias possibi-litando a anaacutelise da decisatildeo (SUPERDECISIONS 2017)

4 Anaacutelise dos resultadosPara a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP eacute necessaacuterio o estabelecimento da rede isto eacute a estrutura de decisatildeo com a definiccedilatildeo dos objetivos criteacuterios e alternativas em que posteriormente podem ser aplicados os mesmos passos que quando utilizado o AHP Tais passos incluem formaccedilatildeo de matrizes de julgamentos determinaccedilatildeo de vetores de prioridades ateacute a soluccedilatildeo final com as prioridades globais do modelo (SAATY 1980)

A Figura 1 mostra a rede na qual os criteacuterios estatildeo relacionados entre si Neste estudo apenas os criteacuterios domiciacutelios com compu-tador e domiciacutelios com internet apresentam dependecircncia

A seguir satildeo formadas matizes de julgamentos para o posterior caacutelculo das prioridades Os julgamentos dos criteacuterios nesta pesquisa foram feitos por especialistas em EaD e coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo do CEDERJ com base na escala de valor de Saaty (1977) que varia de 1 a 9 Os valores representam 1 ndashigual importacircncia 3 ndash fraca importacircncia 5 ndash forte importacircncia 7 ndash muito forte 9 ndash importacircncia absoluta e 2 4 6 8 ndash valores intermediaacuterios Na comparaccedilatildeo par a par utilizando a Escala de Saaty (1977) conforme a Tabela 2 os itens em julgamento foram arranjados em matrizes quadradas e os dados foram representados pela importacircncia na relaccedilatildeo entre linha e coluna

Tabela 2 ndash Julgamento dos criteacuteriosPopulaccedilatildeo residente 1 5 3 6 2Domiciacutelios com computador 15 1 13 3 13Domiciacutelius com acesso agrave internet 13 3 1 4 2Nordm de escolas de ensino meacutedio 16 13 14 1 14Proximidade do polo do CEDERJ (km) 12 3 12 4 1

Fonte Dados da pesquisa

Paacutegina 6 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

De igual forma outra matriz foi formada para avaliar as rela-ccedilotildees entre os criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com internet conforme a Tabela 3

Tabela 3 ndash Matriz de comparaccedilatildeo entre os criteacuterios

Criteacuterio Domiciacutelios com computador

Domiciacutelios com acesso agrave internet Prioridades

Domiciacutelios com computador 1 13 025

Domiciacutelios com acesso agrave internet 3 1 075

Fonte Dados da pesquisa

Posteriormente foi verificado se havia consistecircncia ou natildeo na matriz de julgamentos da seguinte forma se o valor de Razatildeo de Consistecircncia (RC) fosse menor que 10 os julgamentos eram coerentes caso contraacuterio os julgamentos deveriam ser revistos (COSTA 2002) Nesse caso o valor de RC foi de 480 menor que 10 portanto conclui-se que os julgamentos foram coerentes A Tabela 4 mostra o resultado final das prioridades dos criteacuterios

Tabela 4 ndash Criteacuterios e vetor de prioridadesCriteacuterio Vetor de prioridades

Populaccedilatildeo residente 032819Domiciacutelios com computador 012896Domiciacutelios com acesso agrave internet 036180Nuacutemero de escolas com Ensino Meacutedio 003739Proximidade do polo do CEDERJ 014366

Fonte Dados da pesquisa

O criteacuterio mais importante de acordo com a Tabela 4 eacute o de domiciacutelios com acesso a internet comprovando a

importacircncia dessa ferramenta para os cursos de EaD uma vez que sem o acesso agrave internet eacute impossiacutevel acessar a plataforma do CEDERJ e acompanhar as aulas os foacuteruns enviar e-mails realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos disponiacuteveis por essa rede para pesquisa e informaccedilatildeo

Conforme a Tabela 4 a populaccedilatildeo residente eacute o segundo criteacuterio mais importante a ser verificado na instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial pois o nuacutemero de habitantes de uma cidade deve ser suficiente para permitir que os recursos investidos na instalaccedilatildeo do polo de apoio presencial sejam duradouros e que a demanda pelos cursos de graduaccedilatildeo se mantenha constante

No problema estudado as alternativas podem ser ava-liadas de forma direta quando comparadas aos criteacuterios por existirem dados quantitativos em cada caso De qual-quer forma como natildeo se pode misturar em uma decisatildeo grandezas diferentes eacute necessaacuterio transformar os valores de cada um desses objetivos em uma mesma unidade de medida (SHIMIZU 2010)

A Figura 2 mostra os valores normalizados de importacircncia de cada alternativa referentes a cada criteacuterio segundo dados do censo de 2010 (IBGE 2010) com exceccedilatildeo do criteacuterio pro-ximidade ao polo do CEDERJ cujos dados foram extraiacutedos do GoogleMaps

Paacutegina 7 de 11

Figura 1 Estrutura de decisatildeo em rede pelo meacutetodo ANP

Objetivo SELECcedilAtildeO DE MUNICIacutePIOS PARA INSTALACcedilAtildeO DE POacuteLOS EAD

Proximidade depolos do CEDERJ

Escolas comensino meacutedio

Domiciacutelioscom internet

Domiciacutelios comcomputador

Populaccedilatildeoresidente

BarraMansa Itatiaia Pinheiral

PortoReal Quatis

RioClaro Valenccedila

Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Figura 2 ndash Normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Municiacutepio Populaccedilatildeo residenteValor

normalizado MuniciacutepioDomiciacutelios com

computadorValor

normalizadoBarra Mansa 177813 05110 Barra Mansa 26386 05624

Itatiaia 28783 00827 Itatiaia 4032 00859

Pinheiral 22719 00653 Pinheiral 2673 00570

Porto Real 16592 00477 Porto Real 1953 00416

Quatis 12793 00368 Quatis 1384 00295

Rio Claro 17425 00501 Rio Claro 1452 00310

Valenccedila 71843 02065 Valenccedila 9034 01926

Total 347968 10000 Total 46914 10000

MuniciacutepioDomiciacutelios com

acesso agrave internetValor

normalizado MuniciacutepioProximidade ao polo

do CEDERJ (km)Valor

normalizadoBarra Mansa 19840 05757 Barra Mansa 109 00756

Itatiaia 3023 00877 Itatiaia 167 01158

Pinheiral 2021 00586 Pinheiral 128 00888

Porto Real 1300 00377 Porto Real 202 01401

Quatis 951 00276 Quatis 241 01671

Rio Claro 841 00244 Rio Claro 343 02379

Valenccedila 6486 01882 Valenccedila 252 01748

Total 34462 10000

Total 46 10000

Total 1442 10000

MuniciacutepioNordm de escolas de

ensino meacutedioValor

normalizadoBarra Mansa 18 03913

Itatiaia 2 00435

Pinheiral 5 01087

Porto Real 2 00435

Quatis 1 00217

Rio Claro 3 00652

Valenccedila 15 03261

Fonte Segundo IBGE Cidades 2010 GoogleMaps 2017

Paacutegina 8 de 11

O resultado final da aplicaccedilatildeo do meacutetodo com a utilizaccedilatildeo dos criteacuterios e alternativas propostas pode ser observado na Tabela 5 com as prioridades de cada alternativa segundo os criteacuterios estabelecidos assim como a prioridade final para cada alternativa quando utilizado o meacutetodo ANP

Como mostrado na Tabela 5 o municiacutepio de Barra Mansa tem a maior prioridade para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ seguido de Valenccedila Esse resultado deve-se fundamen-talmente a que ambos os municiacutepios lideram em peso na quase totalidade dos criteacuterios analisados

Tabela 5 ndash Prioridades das alternativas

MuniciacutepioPopulaccedilatildeo residente

Domiciacutelios com

computador

Domiciacutelioscom

internet

Nordm deescolas

comensino meacutedio

Proximidade do polo do

CEDERJ Vetor de decisatildeo

Barra Mansa 05110 05624 05757 03913 00756 044207

Itatiaia 00827 00859 00877 00435 01158 008853Pinheiral 00653 00570 00586 01087 00888 006961Porto Real 00477 00416 00377 00435 01401 006216

Quatis 00368 00295 00276 00217 01671 005802Rio Claro 00501 00310 00244 00652 02379 007880Valenccedila 02065 01926 01882 03261 01748 020081Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O modelo proposto atendeu ao objetivo mostrando-se eficaz para definir o municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ O municiacutepio mais adequado para isso foi Barra Mansa que se destacou nos criteacuterios populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com inter-net e nuacutemero de escolas com ensino meacutedio perdendo apenas no criteacuterio proximidade a um municiacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ devido a sua proximidade em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Volta Redonda cujo polo mais proacuteximo eacute o de Barra Mansa

5 Consideraccedilotildees finaisApesar do grande crescimento a modalidade de ensino a dis-tacircncia ainda sofre preconceito logo a escolha do local correto para implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial permite uma eficiente alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos evita prejuiacutezos ao eraacuterio amplia a oferta de educaccedilatildeo superior proporciona a um contin-gente maior da populaccedilatildeo o acesso ao ensino superior puacuteblico e de qualidade tornando tal modalidade o principal veiacuteculo para aprendizagem no paiacutes

A pesquisa demonstrou que os cursos de graduaccedilatildeo EaD apre-sentaram um aumento no nuacutemero de matriacuteculas nos uacuteltimos quinze anos superior ao dos cursos presenciais sendo responsaacute-vel em 2015 por 1736 das matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no Brasil O CEDERJ eacute responsaacutevel por uma parte desse crescimen-to pois desde a sua criaccedilatildeo no ano de 2000 vem contribuindo para a expansatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo a locais natildeo atendidos pelo ensino presencial e permitindo o acesso ao ensino superior a todos que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional

Com o intuito de propor um modelo de apoio agrave decisatildeo para implantaccedilatildeo de polos de apoio presencial realizou-se primeira-mente uma busca na literatura sobre o tema ensino a distacircncia combinado com os termos ldquopolo de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacuteriordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo que demonstrou a existecircncia de alguns estudos que tratam do tema assim como a utilizaccedilatildeo de diferentes criteacuterios e modelos de apoio ao processo decisoacuterio Tais estudos foram essenciais para embasar a escolha dos criteacuterios que formam o modelo proposto e consequentemente a escolha do melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de EaD

A utilizaccedilatildeo do meacutetodo ANP permitiu a elaboraccedilatildeo de uma estrutura em rede capaz de facilitar o processo decisoacuterio por meio da interaccedilatildeo dos criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com acesso agrave internet permitindo maior precisatildeo no resultado Atraveacutes da anaacutelise multicriteacuterio com a utilizaccedilatildeo do software Super-Decision v28 para o tratamento dos dados foi possiacutevel encontrar o melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

O municiacutepio de Barra Mansa foi o que apresentou o conjunto das melhores caracteriacutesticas para a implantaccedilatildeo do polo de EaD na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba seguido do municiacutepio de Va-lenccedila Seguindo os criteacuterios atuais do CEDERJ segundo os quais a prioridade maacutexima de localizaccedilatildeo entre polos eacute uma distacircncia aproximada de cinquenta quilocircmetros o municiacutepio de Barra Man-sa natildeo seria analisado como possiacutevel sede dada a proximidade com o polo de Volta Redonda por esse criteacuterio o melhor colocado entatildeo seria o municiacutepio de Rio Claro

O criteacuterio mais importante analisado foi o de domiciacutelios com internet pois essa ferramenta eacute fundamental para que se tenha um bom rendimento no ensino a distacircncia Afinal sem internet eacute impossiacutevel acessar o ambiente virtual de aprendizagem e acom-panhar as aulas os foacuteruns realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos dis-poniacuteveis na internet para pesquisa e informaccedilatildeo

Para os alunos que natildeo tecircm acesso agrave internet em suas residecircn-cias o polo de apoio presencial eacute de grande importacircncia para que eles possam acessar o ambiente virtual de aprendizagem e prosseguir em seus estudos

A partir do modelo apresentado e dentre os criteacuterios utilizados constatou-se que o municiacutepio de Quatis natildeo seria contemplado com a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial haja vista que esse municiacutepio jaacute sediou um polo do CEDERJ oferecendo o curso superior de Administraccedilatildeo tendo poreacutem as suas atividades encerradas Isso demonstra que proximidade a outro polo do CEDERJ natildeo pode ser o criteacuterio mais importante para implantaccedilatildeo de um polo de EaD e que os criteacuterios devem ser analisados em conjunto e natildeo individualmente o que evidencia a factibilidade do modelo utilizado

Constataram-se como limitaccedilotildees da pesquisa a concentraccedilatildeo do estudo em uma uacutenica regiatildeo do estado do Rio de Janeiro e natildeo levar em conta o fato de que as variaacuteveis de cunho poliacutetico podem tambeacutem interferir na sustentabilidade de um polo Sugere-se como agenda de pesquisa que o modelo seja implementado em outras regiotildees do estado do Rio de Janeiro confirmando a sua eficaacutecia na escolha de municiacutepios para sediar polos de apoio presencial do CEDERJ

R e f e r ecirc n c i a s

ALVES L Educaccedilatildeo a distacircncia conceitos e histoacuteria no Brasil e no mundo

Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distacircncia Satildeo Paulo

v10 n21 2011

Paacutegina 9 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

ARRUDA D E P ARRUDA E P Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil poliacuteticas

puacuteblicas e democratizaccedilatildeo do acesso ao ensino superior Educaccedilatildeo

em Revista Belo Horizonte v31 n3 p321-338 julset 2015

BRASIL Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 Regulamenta o art 80 da

Lei de diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

Brasiacutelia DF 26 maio 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogov

brccivil_03_Ato2015-20182017DecretoD9057htmart24gt Aces-

so em 31 maio 2017

______ Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes

e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 23

dez 1996 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis

L9394htmgt Acesso em 20 abr 2017

______ Orientaccedilotildees baacutesicas sobre polos do sistema Universidade Aberta

do Brasil 2013 Disponiacutevel em lthttpswwweadunbbrarquivos

legislacaoinstrucoesorientacoes_basicas _sobre_polos_uabpdfgt

Acesso em 19 abr 2017

CASSIANO K M et al Distribuiccedilatildeo espacial dos polos regionais do Cederj

uma anaacutelise estatiacutestica Ensaio aval pol puacutebl Educ Rio de Janeiro

v24 n90 p 82-108 janmar 2016

CEDERJ Portal consoacutercio Cederj Fundaccedilatildeo Cecierj Polos Disponiacutevel emlt

httpCEDERJedubrCEDERJpolosgt Acesso em 20 abr 2017

COSTA H G Introduccedilatildeo ao meacutetodo de anaacutelise hieraacuterquica anaacutelise multicri-

teacuterio no auxiacutelio agrave decisatildeo Rio de Janeiro [sn] 2002 Disponiacutevel em

lt httpwwwdinuembrsbposbpo2004pdfarq0279pdfgt Acesso em 19 abr 2017

FIRMINO D L F VIEIRA J J Consoacutercio Cederj uma anaacutelise criacutetica Se-

minaacuterio Internacional Inclusatildeo em Educaccedilatildeo Universidade e Parti-

cipaccedilatildeo Anais Rio de Janeiro maio 2013 Disponiacutevel em lthttp

wwwlapeadeeducacaoufrjbranaisfilesWSM31A54pdfgt Acesso

em 21 maio 2017

GOMES JUacuteNIOR S F SOARES DE MELLO J C C B SOARES DE MELLO

MHC Utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Copeland para avaliaccedilatildeo dos polos

regionais do CEDERJ Riorsquos International Journal on Sciences of Industrial

and Systems Engineering and Management v 2 n1 p 87-98 2008

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Censo 2010 Disponiacutevel

emlt httpscidadesibgegovbrgt Acesso em 10 abr 2017

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Tei-

xeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2010 Disponiacutevel emlt http

downloadinepgovbreducacao_superiorcenso_superiordocumen-

tos2010divulgacao_censo_2010pdfgt Acesso em 15 maio 2017

______ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio

Teixeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2016 Disponiacutevel emlt http

sistemascensosuperiorinepgovbrcensosuperior_2016gt Acesso

em 15 maio 2017

PEIXOTO FILHO J et al Anaacutelise multicriterial para seleccedilatildeo de local para

abertura de um polo de educaccedilatildeo a distacircncia In Anais XXI Congres-

so Internacional ABED de Educaccedilatildeo a Distacircncia Bento Gonccedilalves RS

2015 Disponiacutevel em httpwwwabedorgbrcongresso2015anaispdfBD_191pdf Acesso em 15 abr 2107

PEIXOTO FILHO J Modelagem multicriterial aplicada a seleccedilatildeo de mu-

niciacutepios para abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia 2016 120

f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Engenharia de Produccedilatildeo Universidade

Cacircndido Mendes Rio de Janeiro 2016

PEIXOTO FILHO J ERTHAL JUacuteNIOR M Seleccedilatildeo de municiacutepios para a

abertura de polos EaD uma tomada de decisatildeo baseada em uma

modelagem multicriteacuterio In Anais XXII Congresso Internacional ABED

de Educaccedilatildeo a Distacircncia Aacuteguas de Lindoacuteia SP 2016 v22 p1-1 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2016tra-balhos129pdfgt Acesso em 18 abr 2017

SAATY T L A scaling method for priorities in hierarchical structures Jour-

nal of Mathematical Psychology v15 p234-281 1977

______ The analytic hierarchy process planning priority setting resource

allocation New York McGraw-Hill 1980

______ Theory and applications of the analytic network process decision mak-

ing with benefits opportunities costs and risks Pittsburgh RWS 2005

SCHLUumlNZEN K J Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil caminhos poliacuteticas e

perspectivas ETD ndash Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital Campinas v10 n2

p16-36 jun2009

SHIMIZU T Decisatildeo nas organizaccedilotildees 2ed Satildeo Paulo Editora Atlas SA

2010 419 p

SILVA M SANTOS E Avaliaccedilatildeo da aprendizagem em educaccedilatildeo online

fundamentos interfaces e dispositivos relatos de experiecircncias Satildeo

Paulo SP Ediccedilotildees Loyola 2006

SOUZA J B A A contribuiccedilatildeo dos polos presenciais na EaD um estudo

exploratoacuterio Congresso Nacional de Ambientes Hipermiacutedia para a

Aprendizagem Satildeo Luiacutes Maranhatildeo jun 2015 Disponiacutevel em lthttp

conahpasitesufscbrwp-contentuploads201506ID32_Souza

pdfgt Acesso em 17 maio 2017

SPIacuteNDOLA M MOUSINHO S H Cederj um caminho na direccedilatildeo da educaccedilatildeo

inclusiva Ead em foco Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Cecierj n 2 nov 2012

Paacutegina 10 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

SUN P et al What drives a successful e-Learning An empirical investiga-

tion of the critical factors influencing learner satisfaction Computers

amp Education v50 p1183-1202 2008

SUPERDECISIONS Creative Decisions Foundations Software de apoio agrave

decisatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwsuperdecisionscomtutorials

indexphpsection=2_8gt Acesso em 12 abr 2017

WAQUIL M P et al Educaccedilatildeo a distacircncia e comunidades virtuais de apren-

dizagem novos espaccedilos novas possibilidades Revista Competecircncia

Porto Alegre RS v2 n1 p43-57 2009

WEIDLE D KICH J I D F PEREIRA M F Projeto UAB Uma Anaacutelise estru-

tural dos polos de apoio presencial do curso de Administraccedilatildeo da

UFSC Revista GUAL Florianoacutepolis Ediccedilatildeo especial p94-114 2011

Paacutegina 11 de 11

O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevelThe Use of Recycled PET Fibers in the Textile Industry through Innovation and Sustainable Design

Helena Mrozinski Cesar Steffen e Heli Meurer

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

O desenvolvimento sustentaacutevel eacute um grande desafio em todas as aacutereas e na induacutestria tecircxtil natildeo eacute diferente pois os impactos ambientais satildeo gerados em todas as etapas dos processos produtivos

ndash da origem da mateacuteria prima ateacute o descarte do produto pelo consumidor A crescente degradaccedilatildeo do meio ambiente faz com que a reciclagem seja um dos pressupostos do desenvolvimento sustentaacutevel que por sua vez estaacute embasado nas dimensotildees econocircmicas sociais ecoloacutegicas e culturais da evoluccedilatildeo humana Dessa forma este estudo tem por objetivo analisar o estado da arte da reciclagem das embalagens PET considerando o processo a expansatildeo e a aplicabilidade da fibra resultante desta reciclagem na induacutestria tecircxtil brasileira e sua relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel Com este trabalho percebeu-se que houve nos uacuteltimos anos uma adesatildeo significativa por parte das empresas nas praacuteticas consideradas relevantes para o entendimento das questotildees socioambientais aplicadas ao sistema de moda e ao setor tecircxtil

A b s t r a c t

Sustainable development is a major challenge in all areas and in the textile industry it is not different because environmental impacts are generated at all stages of the productive processes ndash from the origin of the raw material to the disposal of the product by the consumer The increasing environment degradation makes the recycling one of the assumptions of the concept of sustainable development which in turn is rooted in the economic social ecological and cultural dimensions of human evolution Thus this study aims to analyze the state of the art of the recycling of PET packaging considering the process the expansion and the applicability of the fiber resulting from this recycling in the Brazilian textile industry and its relationship with sustainable design Through this work it was perceived that in recent years companies had a significant adherence to practices considered relevant for the un-derstanding of the socio-environmental issues applied to the fashion system and to the textile sector

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chaveDesign sustentaacutevel Fibra PET Industria tecircxtil e reciclagem

KeywordsSustainable design PET fiber Textile Industry and Recycling

Autores Docente - Senac (RS)e-mail mrozinskihelenagmailcom

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail cesar_steffenuniritteredubr

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail heli_meureruniritteredubr

Como citar este artigoMZROZINSKI H STEFFEN C MEURER H O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevel Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoNa mobilizaccedilatildeo em busca do desenvolvimento de novos produ-tos aliados a tecnologias de menor impacto ao meio ambiente empresas buscam implantar abordagens baseadas em gestatildeo de sustentabilidade Dessa forma se reposicionam no mercado de maneira inovadora utilizando o ecodesign como uma ferramenta potencializadora da evoluccedilatildeo da cadeia produtiva Utilizam-se tambeacutem de gestotildees estrateacutegicas que abordam questotildees ambien-tais para transformar os investimentos em fontes de vantagens competitivas (GONCcedilALVES-DIAS GUIMARAtildeES SANTOS 2007)

Com a visatildeo de futuro e com a estrateacutegia de consolidaccedilatildeo e reconhecimento no mercado empresas objetivam investir na dimensatildeo simboacutelica de marca e da alta tecnologia empregada em seus produtos aspectos que tecircm sido chave para o estabelecimen-to das relaccedilotildees com o novo mercado Percebe-se contudo que a ideia de marca engloba atualmente consciecircncia e engajamento com as questotildees ambientais e que na busca de alternativas rea-lizadoras dessas questotildees encontra-se a tecnologia de produccedilatildeo sua inerente inovaccedilatildeo e consequente conforto e alta qualidade de acabamento dos produtos (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Este trabalho portanto procura identificar as condiccedilotildees que justi-ficam a incorporaccedilatildeo de estrateacutegias ambientais no desenvolvimento de produtos e geraccedilatildeo de inovaccedilotildees especificamente a partir de materiais reciclados O referencial teoacuterico nesse campo de atividade no Brasil eacute raro e disperso talvez por ser assunto incipiente embora jaacute seja uma atividade com significativa representaccedilatildeo na economia e de crescente interesse por parte das empresas governos e sociedade

Com esse propoacutesito apresenta-se primeiramente uma breve revisatildeo da literatura relacionada agrave construccedilatildeo de estrateacutegias de de-sign para o desenvolvimento de produtos com materiais reciclados e as competecircncias necessaacuterias para a realizaccedilatildeo de tal empreendi-mento Na segunda parte disserta-se sobre a histoacuteria da resina PET (polietileno tereftalato) o processo da reciclagem de embalagens e a aplicabilidade em novos materiais novas funcionalidades e no uso para os produtos tecircxteis originando um novo ciclo de vida do produto assim ultrapassando os campos da preservaccedilatildeo ambiental pois movimenta a economia do paiacutes em diversas aacutereas

2 Conceitos de design e sustentabilidadeA sustentabilidade baseia-se na preservaccedilatildeo dos recursos naturais O Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA1) apresentou em 1975 o conceito de ecodesenvolvimento o qual destacava o desenvolvimento apoiado na dimensatildeo regional e local e o uso adequado dos recursos naturais Na formulaccedilatildeo de Sachs (2004) o ecodesenvolvimento deve integrar a satisfaccedilatildeo das necessidades humanas baacutesicas a solidariedade com as geraccedilotildees futuras a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo envolvida a preservaccedilatildeo

dos recursos naturais e meio ambiente em geral a elaboraccedilatildeo de sistema social que garanta emprego seguranccedila social e respeito a outras culturas e o desenvolvimento de programas de educaccedilatildeo ldquoO atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraccedilotildees futuras de satisfazerem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (WCED2 apud MROZINSKI 2016)

De acordo com Vezzolli (2010) o design intitulado como sustentaacute-vel tem a funccedilatildeo essencial de projetar produtos serviccedilos e sistemas com baixo impacto ambiental e alta qualidade social O termo design utilizado em sentido restrito define-se como uma ldquoatividade criativa orientada para a determinaccedilatildeo das qualidades formais de objetos ou signos produzidos industrialmenterdquo (ANICET BESSA BROEGA 2009) O design consiste basicamente em uma tentativa de tornar o objeto mais atrativo desejaacutevel o que deve inerentemente vir ao encontro da melhoria da funcionalidade do produto

O que se verifica na atualidade de forma crescente eacute que os de-signers estatildeo se conscientizando da sua responsabilidade quanto agrave preservaccedilatildeo dos recursos ambientais por meio do desenvolvimento sustentaacutevel Portanto o design engrandece-se ao abranger mais objetivos Ele exerce funccedilotildees derivadas de suas principais como a responsabilidade socioambiental (MAU 2004) Dessa forma o design toma uma dimensatildeo muito maior do que o seu objetivo primeiro ndash o produto em sua funccedilatildeo operativa e tecnoloacutegica ndash toma a dimensatildeo eacutetica que abrange a proteccedilatildeo do meio ambien-te a preservaccedilatildeo e resgate da identidade cultural e dos circuitos econocircmicos locais bem como o desenvolvimento de produtos ambientalmente sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Papanek (1984) em sua claacutessica publicaccedilatildeo Design for Real World afirmava que o design poderia ser uma das mais baacutesicas atividades humanas e nesse sentido todas as pessoas seriam designers Atual-mente o design eacute uma atividade projetual e profissional com elevada especializaccedilatildeo Aleacutem disso eacute uma disciplina com autoridade acadecirc-mica desenvolvida em universidades tendo seu valor reconhecido atraveacutes de suas proacuteprias publicaccedilotildees promovendo conferecircncias e eventos de grande repercussatildeo ndash sendo inclusive um veiacuteculo de identidade e de coesatildeo social (MANZINI VEZZOLI 2005)

Na definiccedilatildeo dos autores Mohr (2006) e Manzini e Vezzoli (2005) a tendecircncia do design eacute buscar paracircmetros para encontrar a soluccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos seus produtos quando engloba as tecnologias de produccedilatildeo assim como questotildees ambientais Mudanccedilas de paradigmas ocorrem a partir das criaccedilotildees do design desafiando os profissionais e dessa forma oferecendo o equiliacutebrio entre os requisitos da induacutestria e ao mesmo tempo respeitando os fatores ambientais em seus projetos

Por outro vieacutes estaacute cada vez mais acirrada a competitividade no mercado de design de produtos como reflexo da velocidade de produccedilatildeo e da constante busca da lucratividade das empresas e

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consequentemente haacute maior oferta de produtos Nesse cenaacuterio de forma positiva e proveitosa os designers empenham-se no de-senvolvimento de produtos sempre buscando maior qualidade e novos padrotildees de inovaccedilatildeo conforto acabamentos e preccedilos tudo isso com o objetivo atender a necessidades perfis e exigecircncias dos consumidores Esse processo condiciona o avanccedilo de novas teacutecnicas e tecnologias e especialmente na produccedilatildeo sustentaacutevel na utilizaccedilatildeo de materiais que se componham de fibras resultados de reciclagem Eacute um grande desafio para as mudanccedilas necessaacuterias pois os consumidores estatildeo cada vez mais conscientes ambiental-mente Eles estatildeo em busca de soluccedilotildees e produtos sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

De acordo com as consideraccedilotildees gerais do Conselho Interna-cional de Sociedades de Design ndash International Council of Societies of Design (ICSID) atual WDO3 World Design Organization relacio-nado agrave UNESCO ndash o design

(hellip) busca descobrir e avaliar estruturas organizaccedilotildees relaccedilotildees

funcionais expressivas e econocircmicas com a tarefa de melhorar

a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambiental (eacutetica global)

conceder benefiacutecios e liberdade para toda a comunidade humana

individual e coletiva para usuaacuterios finais produtores e protagonistas

de mercado (eacutetica social) apoiar a diversidade cultural apesar da

globalizaccedilatildeo do mundo (eacutetica cultural) gerando produtos serviccedilos

e sistemas cujas formas sejam expressivas (semiologia) e coerentes

(esteticamente) com sua proacutepria complexidade (IBID 2012 apud

KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

O WDO enfatiza o caraacuteter humano social e cultural aleacutem do econocircmico Essa definiccedilatildeo apresenta inclusive o conceito de ldquociclos de vidas inteirosrdquo aleacutem do objetivo de ldquomelhorar a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambientalrdquo o que leva agrave adesatildeo na missatildeo do design em propor o uso de mecanismos adequadamente norteados na concepccedilatildeo e desenvolvimento de projetos produtos serviccedilos e sistemas (KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

3 Design sustentaacutevel e reciclagemConsciecircncia ecoloacutegica presume e anda de matildeos dadas com a consciecircncia social pela proteccedilatildeo da natureza e pela realizaccedilatildeo da condiccedilatildeo humana Com o objetivo de obter um ambiente ade-quado para a vida no que tange agraves condiccedilotildees ambientais e sociais deve-se seguir e cumprir regras Desse modo criaram-se normas e princiacutepios para serem seguidos e consequentemente minimi-zam-se os impactos ambientais Foram estabelecidos princiacutepios denominados ldquoRsrdquo iniciou-se com trecircs princiacutepios chamados de ldquo3Rsrdquo que em seguida foram desmembrados em mais dois tor-nando-se ldquo5Rsrdquo reduzir reutilizar reaproveitar reciclar e repensar (REBELLO 2008) Poreacutem conforme o autor tais princiacutepios foram

acrescidos por mais trecircs chegando a atingir oito atualmente sen-do os uacuteltimos reparar responsabilizar-se e repassar

Para entendimento e compreensatildeo do assunto abordado eacute interessante mesmo que brevemente citar todos os termos criados para a posteriori serem aprofundados os princiacutepios da Reciclagem e da Reutilizaccedilatildeo que satildeo o foco deste texto ndash design sustentaacutevel atraveacutes de materiais reciclados

Reduzir caracteriza-se pela reduccedilatildeo do consumo tendo como objetivo a preservaccedilatildeo dos recursos naturais do planeta Jaacute reutilizar quer dizer buscar soluccedilotildees criativas para prolongar a vida uacutetil de um produto oferecendo a ele uma nova vida transformando-o em um novo produto Seguindo a mesma linha reaproveitar eacute outra forma de reutilizar pois a diferenccedila essencial eacute que o produto original teraacute que sofrer uma transfor-maccedilatildeo para poder ser utilizado novamente Um bom exemplo eacute a customizaccedilatildeo de uma peccedila por meio do redesign reduzindo o descarte e agregando valores e funcionalidades e utilidades para o mesmo produto

Quanto a reciclar o produto deve retornar a um novo processo industrial gerando um novo ciclo Eacute o que se difere do princiacutepio de reaproveitar pois eacute necessaacuterio o reprocessamento Enquanto isso repensar consiste em realizar uma previsatildeo ou estudo do ciclo de vida total de um produto analisar seus custos e benefiacute-cios para posterior decisatildeo da produccedilatildeo ou natildeo Em todo esse levantamento deve constar desde a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima o desenvolvimento do produto a produccedilatildeo o descarte todo o ciclo de vida do produto e seu destino final seja o lixo ou uma nova etapa atraveacutes da reciclagem (VIEIRA RABELLO 2011)

31 Tipos de reciclagemQuanto aos tipos de reciclagem existem dois e satildeo relativos ao momento da reciclagem e ao ciclo de vida do produto a saber o preacute e o poacutes-consumo O preacute-consumo ocorre quando o produto saiu da induacutestria e antes mesmo do consumo jaacute eacute reciclado Um exemplo disso eacute o resiacuteduo industrial proveniente da fabricaccedilatildeo de roupas Esse tipo de reciclagem pode ser considerado como accedilatildeo socioambiental pois nela encontram-se os projetos de cole-ta de sobras de confecccedilotildees (tecidos descartados apoacutes o corte das peccedilas ou ldquoretalhosrdquo) Em uma pesquisa realizada por Mrozinski (2016) constatou-se que em alguns casos esses retalhos satildeo enviados para as famiacutelias cadastradas no programa da empresa fabricante sendo pesados separados e catalogados por cor Posteriormente seguem para a fiaccedilatildeo quando satildeo armazenados conforme a programaccedilatildeo de produccedilatildeo Posteriormente os reta-lhos satildeo colocados em uma maacutequina chamada ldquodesfibradeirardquo e atraveacutes de um processo chamado ldquorasgamentordquo voltam agrave sua forma original de fibras (MROZINSKI 2016)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute o poacutes-consumo ocorre quando o produto eacute reciclado depois de ter sido consumido Um bom exemplo satildeo as garras PET que em alguns casos conforme Mrozinski (2016) satildeo transformadas em fibra tecircxtil No caso do preacute-consumo gasta-se menos energia atraveacutes do aproveitamento de algo jaacute processado ao inveacutes de produzir um produto a partir da mateacuteria-prima original Esse tipo de reciclagem eacute muito mais faacutecil e de menor custo do que a reci-clagem poacutes-consumo pois no segundo caso os produtos teratildeo de ser lavados e esterilizados e em seguida encaminhados para o processo de reciclagem Em se tratando das garrafas plaacutesticas utilizam-se em sua limpeza aacutegua e detergentes Satildeo produtos quiacutemicos que interferem no meio ambiente e seus custos de re-ciclagem satildeo mais elevados (VIEIRA RABELLO 2011)

Segundo a Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria de PET (ABIPET 2013) no processo de reciclagem do PET existem muitos conta-minantes entre eles os adesivos plaacutesticos presentes nas garrafas de refrigerantes A maioria dos processos de lavagem aos quais os PETs satildeo submetidos hoje em dia ainda natildeo conseguem remover por completo esses produtos indesejaacuteveis o que impede a ob-tenccedilatildeo de flocos totalmente puros ou seja sem contaminaccedilatildeo

Todo esse processo de reciclagem do PET produz efluentes o que resulta em custos econocircmicos e ambientais Para Cassalli (2011) em seu processo a induacutestria da reciclagem faz uso de muito detergente na limpeza e higienizaccedilatildeo das garrafas e na fabricaccedilatildeo de flakes de PET causando importantes alteraccedilotildees quiacute-micas e fiacutesicas nos seus efluentes principalmente a alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) aleacutem do acreacutescimo dos resiacuteduos or-gacircnicos existentes no interior nos frascos vazios Por outro lado Silva (2017) afirma que apoacutes o processo de reciclagem e produccedilatildeo de flakes a empresa recicladora eacute responsaacutevel pelo tratamento de todos os seus efluentes gerados respeitando os paracircmetros estabelecidos pela legislaccedilatildeo municipal

No tratamento desses efluentes satildeo utilizados tratamentos primaacuterios secundaacuterios e terciaacuterios tendo como objetivo a remo-ccedilatildeo das partiacuteculas ou poluentes por meio de intervenccedilotildees fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas ou das combinaccedilotildees dessas intervenccedilotildees cuja accedilatildeo eacute reduzir os soacutelidos totais turbidez e cor Realizam-se tambeacutem processos especiacuteficos com intuito de oxidar quiacutemica e bioquimica-mente tais substacircncias promovendo a remoccedilatildeo das causadoras da alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) e da Demanda Bioquiacute-mica de Oxigecircnio (DBO) encontradas (MORENO 2007)

Apoacutes todo esse processo da reciclagem do PET resultam fibras de polieacutester de alta qualidade Estas satildeo aproveitadas em diversos produtos sendo que uma grande parte eacute destinada agrave produccedilatildeo de fibras tecircxteis para a induacutestria de tecido Podem ser utilizadas puras ou misturadas com outras fibras como por exemplo as fibras do algodatildeo do linho entre outras

4 Histoacuterico e aplicaccedilotildees do PETO poliacutemero produzido do PET eacute um polieacutester O polieacutester eacute uma fibra desenvolvida em 1941 por Whinfield e Dickson quiacutemicos ingleses cujo intuito inicial era substituir a fibra tecircxtil do algodatildeo Posteriormente sua aplicaccedilatildeo foi ampliada com a produccedilatildeo de filmes para embalagens por volta dos anos de 1980 O seu uso teve um crescimento raacutepido O PET eacute a denominaccedilatildeo do polieacutester destinado agrave fabricaccedilatildeo de embalagens entre elas a destinada aos refrigerantes Esse tipo de polieacutester tambeacutem eacute identificado como ldquograu garrafardquo (bottle grade) diferentemente do polieacutester que eacute utilizado na aacuterea tecircxtil conhecido por ldquograu fibrardquo (fiber grade) Eacute relevante saber que o polieacutester ldquograu fibrardquo ndash usado na produccedilatildeo de fibras e filamentos ndash e o polieacutester ldquograu garrafardquo satildeo produtos provenientes da mesma mateacuteria-prima poreacutem em seus respec-tivos processos de fabricaccedilatildeo recebem aditivaccedilotildees diferentes de acordo com o seu destinado final (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

No Brasil a embalagem PET entrou no mercado soacute em 1988 mas o crescimento foi raacutepido pois em 2004 o paiacutes jaacute era o terceiro maior consumidor mundial na produccedilatildeo de garrafas PET (ABIPET 20054) Esse raacutepido crescimento teve a sua contrapartida na reciclagem jaacute em 2005 a induacutestria brasileira atingiu a marca de 174 mil toneladas isso representou 47 do total da produccedilatildeo do PET naquele ano no mundo Foi um percentual expressivo especialmente porque em 2000 30 dos mais de 5 mil municiacutepios brasileiros natildeo possuiacuteam nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE 20005)

Por outro lado ainda natildeo eacute possiacutevel reaproveitar todas as em-balagens produzidas e descartadas Pois um dos maiores proble-mas enfrentados eacute a falta da coleta seletiva porque ainda satildeo poucas as cidades brasileiras que adotaram esse tipo de coleta de lixo Ainda assim a Associaccedilatildeo Brasileira de Embalagens afirma que o mercado para produtos reciclados de PET vem crescendo de forma significativa aleacutem de ser um setor muito importante dentro da induacutestria nacional (MOURA et al 2015)

No Brasil o PET assim como os demais materiais reciclaacuteveis quando usado poacutes-consumo eacute obtido principalmente atraveacutes da coleta informal feita por catadores e sucateiros que por cir-cunstacircncias socioeconocircmicas e carecircncia de poliacuteticas adequadas sustentam-se coletando a mateacuteria-prima da reciclagem no lixo das ruas ou nos ldquolixotildeesrdquo

Ateacute haacute pouco tempo esse trabalho natildeo era reconhecido pela sociedade A reciclagem era vinculada ao aumento do desempre-go e do crescimento do trabalho informal segundo Vezza e Cotait (2006) Poreacutem de acordo com os autores com a organizaccedilatildeo dessa atividade a situaccedilatildeo comeccedilou a se reverter aos poucos Os traba-lhadores que outrora eram anocircnimos passaram a ser parceiros estrateacutegicos dos programas de coleta seletiva e organizaram-se em associaccedilotildees Aleacutem disso foi nesse panorama que surgiram as

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

cooperativas que por sua vez promovem a profissionalizaccedilatildeo do trabalho contribuem para a melhoria da qualidade do trabalho dos catadores ofertando os equipamentos de seguranccedila dando treinamentos sobre a coleta e facilitando a intermediaccedilatildeo entre os catadores e as induacutestrias de reciclagem

Nos anos 1990 no Brasil vaacuterias instituiccedilotildees foram criadas pelas induacutestrias com o objetivo do desenvolvimento da reciclagem Des-tacam-se dentre elas (1) ABIPET oacutergatildeo ligado agrave cadeia produtiva do PET que se responsabiliza por questotildees teacutecnicas e operacionais para o mercado divulga informaccedilotildees e capacita parceiros (2) CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) que eacute responsaacutevel pelo incremento da atividade de reciclagem de todos os materiais e (3) PLASTIVIDA (Instituto Socioambiental dos Plaacutesticos) criado pela Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria Quiacutemica (ABIQUIM)

O material resultante da reciclagem do PET eacute um polieacutester termoplaacutestico Eacute resistente leve e transparente A evoluccedilatildeo do mercado e os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram novas aplica-ccedilotildees desse material desde cordas e fios de costura aos carpetes de bandejas de ovos e frutas a ateacute mesmo novas garrafas Com a reciclagem evita-se o lixo plaacutestico dos aterros Aleacutem disso uti-liza-se apenas 03 da energia total que eacute utilizada para produzir a resina virgem Ainda pode ser reciclada muitas vezes sem per-der a qualidade (CEMPRE 20176) A reciclagem de garrafa PET ultrapassa os campos da preservaccedilatildeo ambiental e movimenta tambeacutem a economia do paiacutes (PENSAMENTO VERDE 20137)

41 Processo de reciclagem do PETO processo de reciclagem do PET ocorre em trecircs etapas baacutesicas a recuperaccedilatildeo a revalorizaccedilatildeo e a transformaccedilatildeo Primeiramente se recupera do descarte posterior depois se faz o acondicionamento em fardos seguindo para a comercializaccedilatildeo quando ocorre a revalorizaccedilatildeo Para completar o processo inicial acontece a trans-formaccedilatildeo da mateacuteria prima oriunda das garrafas PET poacutes-consumo em um novo produto

Na etapa da revalorizaccedilatildeo acontece a moagem e lava-gem do PET produzindo a mateacuteria-prima reciclada Inicia-se colocando os fardos das garrafas na plataforma para serem desfeitos Em seguida as garrafas satildeo colocadas na esteira de alimentaccedilatildeo da peneira rotativa e eacute realizada a sua primeira etapa de lavagem Eacute o momento em que ocorre a retirada os maiores contaminantes como pedras tampas soltas etc Se-guindo o processo as garrafas passam para a esteira de seleccedilatildeo Nela satildeo monitorados a presenccedila de outros materiais como por exemplo PVC PP PE eou metais que podem ser acusados pelo detector (ABIPET 2012)

Na etapa seguinte as garrafas caem na esteira de alimenta-ccedilatildeo do primeiro moinho onde sofrem a primeira moagem feita com adiccedilatildeo de aacutegua O material moiacutedo eacute retirado atraveacutes de uma rosca duplo envelope e a aacutegua suja eacute separada do processo Em seguida passa pelos tanques de descontaminaccedilatildeo onde ocorre a separaccedilatildeo dos roacutetulos e tampas Nessa fase poderaacute ser feita a adiccedilatildeo de produtos quiacutemicos para beneficiamento do processo e entatildeo o material eacute levado para outro moinho ateacute obter a gra-nulometria adequada (ABIPET 2012)

Na sequecircncia do processo o material eacute transportado pneumati-camente ateacute o lavador onde com nova adiccedilatildeo de aacutegua eacute realizado o enxaacutegue e levado para o secador O material eacute retirado do secador atraveacutes do transportador pneumaacutetico e encaminhando para o silo Novamente eacute realizada a verificaccedilatildeo atraveacutes do detector de metais natildeo ferrosos de onde o material eacute retirado e embalado em big-bags (sacolas de aproximadamente 1m3) e enviado para a induacutestria de transformaccedilatildeo (ABIPET 2012) Esse material eacute formado de pequenos flocos do PET tambeacutem conhecidos com flakes (VEZZA COTAIT 2006)

Figura 1 ndash Esquema de funcionamento baacutesico de uma unidade de moagem lavagem e descontaminaccedilatildeo de PET

Fonte httpwmareciclepetblogspotcombr 8

Para que possa ser viabilizada a obtenccedilatildeo do material com maior facilidade eacute necessaacuterio realizar consulta sobre os oacutergatildeos governa-mentais da regiatildeo ligados agrave atividade de reciclagem Obtecircm-se informaccedilotildees sobre o sistema de coleta a possibilidade da compra do material verificar a origem da coleta seletiva dos catadores o desenvolvimento de parcerias com cooperativas ONGs empresas privadas associaccedilotildees comunitaacuterias aleacutem de realizar buscas de for-necedores do material em outras regiotildees (VEZZA COTAIT 2006)

5 PET na induacutestria tecircxtil Na induacutestria tecircxtil a fibra de PET reciclada estaacute sendo usada desde a deacutecada 1970 e sua pioneira foi a empresa americana Wellman localizada na Carolina do Sul (EUA) que reciclava e produzia fibras de polieacutester Como se tratava de fibras grossas inicialmente foram

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

utilizadas para o enchimento de brinquedos e estofados simples ou na confecccedilatildeo de natildeo tecidos (TNT) pois esses produtos natildeo exi-giam muita resistecircncia fiacutesica e de volume (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Com o avanccedilo tecnoloacutegico a transformaccedilatildeo das garrafas PET em fibras foi aprimorada resultando em produtos de maior qualidade Poreacutem demorou um tempo razoaacutevel para que o polieacutester reciclado chegasse ao patamar de qualidade do polieacutester produzido da mateacute-ria-prima virgem Uma das dificuldades era a variedade de tipos do material reciclado aleacutem da diferenccedila na composiccedilatildeo entre o polieacutester utilizado para uso tecircxtil e o das embalagens (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Por outro lado as fibras de polieacutester resultante da reciclagem do PET podem trazer outros problemas para a estabilidade do pro-duto final porque (1) satildeo produzidas por diferentes fabricantes e apresentando pequenas alteraccedilotildees de especificaccedilotildees na mateacuteria--prima ou aditivaccedilotildees diferentes (2) o PET fabricado em datas muito diferentes pode apresentar alteraccedilatildeo de desempenho dos aditivos pela diferenccedila de tempo (3) haacute viscosidades distintas decorrentes da exigecircncia da maacutequina ou embalagem (4) o PET eacute fabricado por equipamentos diferentes na produccedilatildeo das embalagens com grau de estiramento diverso e (5) haacute possibilidade da mistura do PET com outros tipos de materiais como os que compotildeem o roacutetulo eou a tampa geralmente produzidos em outros tipos de plaacutesticos Portanto a fibra de polieacutester reciclado 100 PET de boa qualidade eacute uma grande inovaccedilatildeo (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Em 2005 a ABIPET teve a iniciativa de recomendar aos designers atraveacutes de um documento intitulado ldquoDiretrizes para projeto de garra-fas de PETrdquo Com intuito de conscientizar o setor de embalagens sobre o tema esses profissionais tiveram acesso agraves caracteriacutesticas teacutecnicas das embalagens e de seus acessoacuterios Basicamente o objetivo da associa-ccedilatildeo era evitar o comprometimento da qualidade do polieacutester reciclado devido ao uso de materiais inadequados e de difiacutecil separaccedilatildeo O do-cumento foi amplamente divulgado pelas miacutedias especializadas em seminaacuterios e em visitas agraves empresas de embalagens (ABIPET 2006)

51 Destinaccedilatildeo da fibra Pet na induacutestria brasileiraSegundo ABIPET (2014) ainda continuam as dificuldades relativas agrave coleta seletiva poreacutem por outro lado haacute demanda por parte da induacutestria da utilizaccedilatildeo do PET reciclado e isso faz com que o desenvolvimento da atividade seja crescente O mercado tecircxtil continua sendo o principal destino de todo PET reciclado no Brasil esse setor consome aproximadamente 40 de todo o material produzido Em segundo lugar vecircm os setores de embalagens e o de aplicaccedilotildees quiacutemicas empatados com 18 do uso ldquoA induacutestria tecircxtil continua sendo a grande aposta Mas chama atenccedilatildeo o fan-taacutestico crescimento da utilizaccedilatildeo do PET reciclado na fabricaccedilatildeo de outras embalagens Chamada de bottle-to-bottle esta aplicaccedilatildeo teve vaacuterios projetos lanccedilados nos uacuteltimos anosrdquo (ABIPET 2014)

No setor tecircxtil o uso da fibra do PET reciclado teve iniacutecio no segmento corporativo especialmente na produccedilatildeo de uniformes para as empresas Com o avanccedilo tecnoloacutegico e a melhoria na qualidade e no toque da fibra as grandes marcas aderiram ao uso de tecidos que possuem na sua composiccedilatildeo a fibra reciclada PET Marcas conhecidas no mercado como Osklen Brooksfield Mizuno e Hering adotaram esse tipo de fibra pois perceberam o valor das propriedades do fio de polieacutester reciclado do PET Aleacutem disso estatildeo atentos ao nicho de mercado dos consumidores dispostos a adquirir produtos ecologicamente corretos (ABIPET 2014)

O fio de polieacutester reciclado quando associado ao algodatildeo atribui estabilidade dimensional ao tecido e dessa forma evita o encolhimento ou entorte aleacutem de melhorar a solidez na cor a resistecircncia e a durabilidade Esse tipo de fibra tambeacutem pode di-minuir a gramatura do tecido uma vez que fica mais fino e menos encorpado O resultado eacute um tecido com um toque mais suave indicado na produccedilatildeo da moda iacutentima Com base nisso a marca DrsquoUomo uma das maiores fabricantes de cuecas do Brasil lanccedilou uma coleccedilatildeo com uso tecidos com a fibra de PET (ABIPET 2014)

Outro mercado crescente eacute a induacutestria de calccedilados com a produccedilatildeo de diversos tipos de calccedilados com os tecidos reciclados do PET atraveacutes do lanccedilamento de coleccedilotildees sustentaacuteveis do setor A Figura 2 apresenta os percentuais de aplicaccedilatildeo das fibras PET na induacutestria brasileira

Figura 02 ndash Representaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo da fibra PET

Fonte Aacutegua e Vida ndash Revista oficial do setor de aacuteguas minerais9

Apesar da evoluccedilatildeo e crescimento da induacutestria no que tange ao aproveitamento do PET ainda continuam existindo grandes quantidades de garrafas descartadas na natureza poluindo centros urbanos aacutereas rurais florestas e boiando nos rios oceanos e praias Todo esse material poderia ser aproveitado pois existe carecircncia do PET para a reciclagem Em 2014 a taxa de ociosidade chegou a atingir 30 nas induacutestrias de reciclagem devido agrave carecircncia da coleta seletiva

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A necessidade de expandir a educaccedilatildeo ambiental eacute um dos temas mais importantes para promover a mudanccedila de haacutebitos da popula-ccedilatildeo e a mudanccedila de postura do poder puacuteblico (ABIPET 2014)

6 Consideraccedilotildees finaisO aproveitamento de produtos reciclaacuteveis em processos de produccedilatildeo identifica uma postura corporativa de responsabilidade ambiental o que faz parte das estrateacutegias aplicadas por empresas competitivas Conscientizando-se dos limites que o meio ambiente pode tolerar e com a sociedade cada vez mais atenta sabe-se que para continuar com o crescimento natildeo eacute mais admitida a degradaccedilatildeo Contudo eacute necessaacuterio continuar a fazer projetos para o futuro assim desenha-se o desenvolvimento sustentaacutevel Com tal percepccedilatildeo a induacutestria tecircxtil vem investindo fortemente na reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos que somam grande volume dentro das empresas Aleacutem disso o uso da fibra PET reciclada das embalagens do poacutes-consumo estaacute tendo um crescimento consideraacutevel por meio da composiccedilatildeo mista dos tecidos bem como na fabricaccedilatildeo de tecidos com a fibra de polieacutester totalmente reciclada

Para completar essa visatildeo estrateacutegica as grandes marcas de produ-tos tecircxteis estatildeo aderindo ao design inovador ligando a sua imagem de marca agrave responsabilidade ambiental e agrave sustentabilidade Para conhecer melhor esse processo de mudanccedilas que estatildeo ocorrendo na induacutestria tecircxtil e verificar os resultados na sociedade consumidora eacute necessaacuterio o aprofundamento dos estudos nessa linha

N o t a s

1 ndash PNUMA - Programa para o Meio Ambiente estabelecido em 1972 Eacute a agecircncia da ONU responsaacutevel pela accedilatildeo internacional e nacional para a proteccedilatildeo do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentaacutevel Disponiacutevel em httpsgooglY7iyuv Acesso em 16 ago 2017

2 ndash Sustainble Development Knowledge Platform Disponiacutevel em httpsgooglVdPRbi Acesso em 16 ago 2017

3 ndash Disponiacutevel em httpwdoorg Acesso em 15 jul 2017

4 ndash Disponiacutevel em httpsgoogloKbRt6 Acesso em 30 jul 2017

5 ndash Disponiacutevel em httpsgooglZQq3cH Acesso em 28 jun2014

6 ndash Disponiacutevel em httpsgooglLPiZrq Acesso em 23 jul 2017

7 ndash Disponiacutevel em httpsgoogl6cf8r5 Acesso em 23 jul 2017

8 ndash Disponiacutevel em httpsgooglnmoiP6 Acesso em 28 jun 2014

9 ndash Disponiacutevel em httpwwwrevistaaguaevidacombrp=610 Acesso em 15 jun 2016

R e f e r ecirc n c i a s

ABIPET (Associaccedilatildeo Brasileira da Industria do PET) Reciclagem benefiacutecios

da reciclagem de pet Disponiacutevel em lthttpwwwabipetorgbrindex

htmlgt Acesso em 22 jun 2014

ANICET R Anne BESSA Pedro BROEGA Ana Cristina Reciclagem de re-

siacuteduos da induacutestria da moda atraveacutes de colagem XXXIII Encontro da

ANPAD ndash Satildeo PauloSP ndash 19 a 23 de setembro de 2009 Disponiacutevel em

lthttpsgooglnwFtRkgt Acesso em 08 jun2014

CASSALLI J D Tratamento do efluente de uma recicladora de plaacutesticos uti-

lizando coagulante natildeo metaacutelico e compostagem Santa Maria UFRGS

2011 146 p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpsgooglKeiQTMgt

Acesso em 10 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS SLF TEOLOacuteSIO ASS Reciclagem do PET desafios e

possibilidades XXVI ENEGEP - Fortaleza CE Brasil 9 a 11 de Out 2006

Disponiacutevel em lthttpsgooglpoyjKtgt Acesso em 23 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF Haacute vida apoacutes a morte um (re)pensar estra-

teacutegico para o fim da vida das embalagens - GESTAtildeO amp PRODUCcedilAtildeOv13

ndeg3p463-474 set-dez2006 Disponiacutevel em ltwwwscielobrpdfgp

v13n308pdfgt Acesso em 22 jun 2014

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF GUIMARAtildeES Leandro F SANTOS Maria

CLdos As muitas vidas do pet integrando competecircncias ldquoverdesrdquo na

cadeia produtiva- SIMPOI POMS2007 ndash Proceedigns Disponiacutevel em

lthttpsgoogl7cfrXYgt Acesso em 08 jun 2014

KANAMARU Antocircnio T FARIAS ANA C IAMAMURA Patricia Materioteca

ecoloacutegica brasileira no ensino de moda arte e design tecircxtil Disponiacutevel

em lthttpsgooglS13mN1gt Acesso em 08 jun 2014

MANZINI Ezio VEZZOLI Carlo O desenvolvimento de produtos sustentaacuteveis

Os requisitos ambientais de produtos industriaisSatildeo Paulo EDUSP 2005

MAU Bruce Massive change London Phaidon 2004

MOHR Martina et al A relevacircncia do conceito de design orientado ao am-

biente em induacutestrias gauacutechas In 7ordm Congresso Brasileiro de Pesquisa

e Desenvolvimento em Design Paranaacute 2006

MORENO F N Tratamento de efluentes de uma induacutestria de reciclagem

de embalagens plaacutesticas de oacuteleos lubrificantes processo bioloacutegico e

fiacutesico-quiacutemico Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Estadual de

Campinas Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo

Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo de Engenharia Civil Campinas ndash SP

2007 142p 22 Disponiacutevel em repositoacuterio lthttpsgooglS3Bbxwgt

Acesso em 20 jul 2017

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 8 de 8

MOURA Renan Gomes LOPES Paloma de Lavor SILVA Leandro Vidal

da BALDEZ Priscila Pereira Logiacutestica reversa das garrafas pet sua re-

ciclagem e a reduccedilatildeo do impacto ambiental- XI Congresso Nacional

De Excelecircncia Em Gestatildeo 13 e 14 de agosto de 2015 Disponiacutevel em

lthttpsgooglzAKdpygt

MROZINSKI Helena Algodatildeo reciclado e variaccedilotildees implicaccedilotildees para o

design de moda sustentaacutevel Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Design do Centro Universitaacuterio Ritter dos Reis-

Mestre em Design Porto Alegre 2016

PAPANEK Victor Design for the real world human ecology and social change

Londres Thames amp Hudson 1984

REBELLO Luiza H B Design sustentaacutevel e moda material didaacutetico impresso

para a disciplina Design Sustentaacutevel e Moda curso de Poacutes-gradua-

ccedilatildeo em Design de Moda (Especializaccedilatildeo) Rio de Janeiro Faculdade

SENAICETIQT 2008

SACHS Ignacy Desenvolvimento sustentaacutevel desafio do seacuteculo XXI In

Ambient soc JulDez 2004 vol7 no2 ISSN 1414-753X

SILVA Jde A Estudo de caso caracterizaccedilatildeo do efluente de uma empresa

de reciclagem de garrafas pet e ajuste nas etapas de tratamento para

adequaccedilatildeo aos paracircmetros legais de lanccedilamento Uberaba-MG I F E C T

Do Triacircngulo Mineiro 2015 82p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttps

googlitPfYgt Acesso em 15 jun 2017

VEZZOLI Carlo Design de sistemas para a sustentabilidade teoria meacuteto-

dos e ferramentas para o design sustentaacutevel de ldquosistemas de satisfaccedilatildeordquo

Salvador EDUFBA 2010 343p

VEZZAacute Carlo Sartori Bonfim COTAIT Pedro Lde A Produccedilatildeo de fibras para

confecccedilatildeo de tecidos a partir da reciclagem de pet 2006 Disponiacutevel em

lthttpsgooglP7WkgBgt Acesso em10 jun 2017

VIEIRA ALEXANDRA S RABELLO Luiza HB A contribuiccedilatildeo do design

ldquoverderdquo um estudo de caso da empresa Woumlllner ndash Revista de Design

Inovaccedilatildeo e Gestatildeo Estrateacutegica REDIGE v 2 n 1 2011 Disponiacutevel em

ltwwwcetiqtsenaibrredigegt Acesso em 08 jun 2014

O ldquoentrelugarrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminaresThe ldquoin-betweenrdquo of genderfluid in fashion preliminary thoughts

Camila Carmona Dias e Cayan Santos Pietrobelli

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017ISSN 2177-4986

Paacutegina 1 de 10

R e s u m o

O presente artigo se fundamenta nos estudos que afirmam o gecircnero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para necessidade da

quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes impostos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Dessa forma partiu-se da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar passou-se pela teoria da reapropriaccedilatildeo e resistecircncia de Certeau (1994) para finalmente levantar uma hipoacutetese de que a resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998)

A b s t r a c t

This paper is based on studies that claim gender not as a determined biological factor but as a social construction Thus it indicates the need for breaking the gender binary pattern considering individuals who do not identify with the current genders imposed by the theory of biological sex that is they are genderfluid Therefore this research aims to analyze theoretically the relationship between genderfluid and fashion Hence it starts from the Foucauldian concept of disciplinary power going through Certeaursquos theory of reappropriation and resistance (1994) and finally raising the hypothesis that resistance based on cultural reappropriation may be connected to Bhabharsquos concept of in-between (1998)

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 26092017

Palavras-chaveModa Gecircnero fluido Entrelugar Resistecircncia

KeywordsFashion Genderefluid In-Between Resistance

Autores Bacharel em Moda Mestra em Educa-ccedilatildeo Doutoranda em Histoacuteria Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail camiladiaserechimifrsedubr

Graduaccedilatildeo em Design de Moda Poacutes-graduaccedilatildeo em Semioacutetica Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail cayanpietrobellilivecom

Como citar este artigoDIAS C C PIETRBELLI C S O ldquoentrelu-garrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminares Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoOs estudos trilhados nas relaccedilotildees entre moda e gecircnero natildeo satildeo novos Vaacuterios autores jaacute experimentaram dialogar sobre o assunto Atualmente essa temaacutetica estaacute sendo muito discutida seja na miacutedia ou na academia Assim o texto visa a trazer algumas con-tribuiccedilotildees sobre o tema aleacutem de instigar um debate inicial sobre a fluidez de gecircnero na moda

No decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com esse conceito existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos Na cultura patriarcal vigente haacute uma subdivisatildeo limitada entre masculinofeminino e homemmulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possi-bilidade de natildeo binariedade ou fluidez A moda eacute um dos fatores principais para a identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo do indiviacuteduo com seu gecircnero tendo em vista que por meio dela eacute dada a devida signifi-cacircncia ao corpo vestido alegando seu papel dentro de um grupo

Este trabalho se fundamenta nos estudos que afirmam o gecirc-nero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para a necessidade da quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes im-postos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo estudar o gecircnero fluido na moda ou melhor o entrelugar em que ele se encontra Para isso faz uso principalmente das teorias de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998)

Parafraseando o professor Meneses (2003 p11) a intenccedilatildeo da reflexatildeo do trabalho eacute tentar construir um ldquobalanccedilo provisoacuteriordquo e sugerir ldquopropostas cautelaresrdquo sobre tal tema Ou seja a reflexatildeo desenvolvida visa a possibilitar uma discussatildeo preliminar sobre as inuacutemeras interfaces que permeiam a temaacutetica aqui estudada

Assim para alcanccedilar seu objetivo teoacuterico o artigo eacute dividido em duas partes A primeira traz a moda como expressatildeo pessoal elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo aleacutem de um sistema de praacutetica cultural e de representaccedilatildeo Jaacute na segunda parte esboccedila-se a relaccedilatildeo entre moda e gecircnero e desenvolvem-se as concepccedilotildees de (i) gecircnero como construccedilatildeo cultural (ii) moda e gecircnero a relaccedilatildeo com o poder discipli-nador e com a insubmissatildeo do sujeito e finalmente (iii) o entrelugar como local de conflito negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees

2 Moda como ExpressatildeoNas uacuteltimas deacutecadas a importacircncia cultural do ldquofenocircmeno modardquo vem crescendo fruto de pesquisas em diversas aacutereas como Histoacuteria Socio-logia Antropologia Semioacutetica Psicologia entre outras Por meio desses estudos vaacuterios conceitos sobre essa temaacutetica foram elaborados

Souza (1996) relata que a maior dificuldade ao tratar de um assunto complexo como a moda eacute a escolha do ponto de vista Apesar de essa ser uma imposiccedilatildeo necessaacuteria de meacutetodo a visatildeo deste trabalho eacute de que se empobrece um fenocircmeno de tatildeo difiacutecil explicaccedilatildeo reduzindo tamanha complexidade a apenas uma visatildeo Dessa forma infere-se que um aspecto ex-tremamente relevante para a construccedilatildeo teoacuterica dos conceitos sobre moda eacute o seu caraacuteter ambiacuteguo

A moda eacute um todo harmonioso e mais ou menos indissoluacutevel Serve agrave

estrutura social acentuando a divisatildeo em classe reconcilia o conflito

entre o impulso individualizador de cada um de noacutes (necessidade de

afirmaccedilatildeo como pessoa) e o socializador (necessidade de afirmaccedilatildeo

como membro do grupo) exprime ideias e sentimentos pois eacute uma

linguagem que se traduz em termos artiacutesticos (SOUZA 1996 p29)

Destarte a moda envolve simultaneamente alteraccedilotildees de natureza artiacutestica econocircmica poliacutetica socioloacutegica aleacutem de atingir questotildees de expressatildeo de identidades sociais (GODART 2010) Logo pode-se dizer que a moda natildeo eacute apenas um reflexo da socie-dade mas sim um agente ativo na sua construccedilatildeo o que permite afirmar que a moda eacute um fato social total

Sobre as transformaccedilotildees abrangidas pela moda Freitas (2005) relata as incessantes modificaccedilotildees das preferecircncias dos mem-bros de uma sociedade natildeo se limitando apenas agrave indumentaacuteria Nas palavras do autor ldquona histoacuteria da humanidade o corpo foi recoberto de maneiras simultaneamente singulares e tribais de acordo com o tempo e o espaccedilo significando quase sempre os sentimentos da eacutepocardquo (FREITAS 2005 p126)

Segundo Svendsen (2010) a moda aplicada ao vestuaacuterio teve sua origem no fim do periacuteodo medieval O autor cita o iniacutecio do Renascimento e a expansatildeo mercantil como principais fatores para o surgimento de tal fenocircmeno de maneira que a origem da moda como sistema teve sua consolidaccedilatildeo com a ascensatildeo da burguesia

Nos seacuteculos XVII e XVIII a nobreza definia ndash de acordo com o coacutedigo social vigente ndash o que seria usado no vestuaacuterio criando assim tendecircncias de moda que seriam seguidamente copiadas pela alta burguesia (RECH 2002) Para Lipovetsky (2009) essa ex-pansatildeo da moda na sociedade natildeo atingiu de imediato todas as camadas segregando a princiacutepio as classes subalternas

A partir dessa nova organizaccedilatildeo social a moda foi legitima-da no seu real caraacuteter de mudanccedila Nessa perspectiva Freacutedeacuteric Godart (2010 p29) trabalha com a etimologia da palavra ldquomodardquo oriunda do latim modus ou seja o que designa maneiras de fazer Logo a moda estaacute diretamente relacionada com a possibilidade ou a necessidade de mudanccedilas

Paacutegina 2 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Em relaccedilatildeo agrave moda com a premissa de mudanccedilas Svendsen (2010 p22) justifica que ldquonatildeo podemos falar de moda na antiguida-de no sentido em que o fazemos hoje porque natildeo havia autonomia esteacutetica individual na escolha das roupasrdquo embora houvesse distin-ccedilotildees estabelecidas de acordo com as relaccedilotildees de poder Lipovetsky (2009) por sua vez afirma que para haver sistemas de moda a novidade e o gosto pelo novo satildeo princiacutepios constantes

Na concepccedilatildeo de Malcolm Barnard (2003 p149) ldquosoacute uma so-ciedade muito simples eacute que natildeo possui modardquo O autor infere que praticamente todas as sociedades tiveram possibilidades de possuir moda ou seja trata-se de ldquosociedades que usaram mu-danccedilas na indumentaacuteria para construir e comunicar identidades de classerdquo (BARNARD 2003 p150)

Durante longo periacuteodo a histoacuteria da moda foi regida pela hierarquia de classes baseada na distinccedilatildeo das vestimentas por meio de leis que proibiam membros da plebe de usarem roupas similares agraves dos nobres Entretanto Lipovetsky (2009) alega que no decorrer do tempo a moda adquiriu um caraacuteter individuali-zador mesmo com o prevalecimento de uma norma coletiva

Embora julgada como de caraacuteter tirano ldquoa moda estaacute fundada historicamente no valor e na reivindicaccedilatildeo da individualidaderdquo ou seja ela se legitima na singularidade Em seu niacutevel a moda marca uma brecha na supremacia imemorial e em paralelo marca tambeacutem o limite do processo de dominaccedilatildeo social e poliacutetica nas sociedades modernas (LIPOVETSKY 2009 p53)

Na mesma linha Pitombo (2010) afirma que a moda e a in-dumentaacuteria satildeo alguns dos possiacuteveis meios pelos quais a ordem social eacute posta em praacutetica Atraveacutes da indumentaacuteria e da moda podemos nos constituir e consequentemente nos afirmar como seres sociais Dessa maneira a moda foi tomando cada vez mais um caraacuteter individual e identitaacuterio

Svendsen (2010) teoriza que a moda trabalha num sistema de valores simboacutelicos Logo o olhar de um sujeito sobre uma determinada roupa resultaraacute numa conclusatildeo sobre quem a veste portanto infere-se que nesse contexto o siacutembolo (roupa) adquire representaccedilatildeo (a conclusatildeo do sujeito) Para o filoacutesofo as roupas da moda aleacutem de possuiacuterem grande valor simboacutelico agem como distintivos de papeacuteis sociais

Diante de tais pressupostos relatados na obra de Svendsen (2010) mesmo que diferentes tipos de roupas comuniquem um significado supostamente oacutebvio para um determinado grupo capaz de interpretar os coacutedigos representados natildeo se pode afir-mar que esses coacutedigos comunicaratildeo o mesmo significado para diferentes grupos sociais visto que cada grupo tem uma maneira de significar seus objetos

Essas preferecircncias simboacutelicas de um determinado grupo satildeo definidas por Pierre Bourdieu (1983 p83-84) como estilo de vida cuja anaacutelise eacute essencial no campo da moda Segundo o autor o gosto eacute cultivado pelo adestramento social

O estilo de vida eacute um conjunto unitaacuterio de preferecircncias distintivas que

exprimem na loacutegica especiacutefica de cada um dos subespaccedilos simboacutelicos

mobiacutelia vestimentas linguagem ou hexis corporal a mesma intenccedilatildeo

expressiva princiacutepio de unidade de estilo que se entrega diretamente

agrave intuiccedilatildeo e que a anaacutelise destroacutei ao recortaacute-lo em universos separados

Tal acepccedilatildeo permite compreender a moda como expressatildeo cultural como um conjunto de princiacutepios que geram e organizam praacuteticas e representaccedilotildees Como relata Pitombo (2010) a moda eacute um sistema de significaccedilatildeo da cultura Para reiterar sua explanaccedilatildeo a autora com o objetivo de pensar a moda como expressatildeo cultural apropria-se do conceito de habitus de Pierre Bourdieu Para o au-tor habitus eacute um ldquosistema de disposiccedilotildees socialmente constituiacutedas que enquanto estruturas estruturadas e estruturantes constituem o princiacutepio gerador e unificador do conjunto das praacuteticas e das ideologias caracteriacutesticas de um grupo de agentesrdquo (BOURDIEU 2007 p191) O habitus pode ser visto como uma siacutentese dos estilos de vida e dos gostos pelos quais apreciamos o mundo e nos com-portamos nele (BOURDIEU 2007) Pode-se dizer que tal conceito fundamenta-se na ldquomaterializaccedilatildeo da memoacuteria coletiva que repro-duz para os sucessores as aquisiccedilotildees dos precursores Ele permite ao grupo perseverar em seu serrdquo (PITOMBO 2010 p240) Eacute tambeacutem incorporaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em seu sentido proacuteprio

Diante do entendimento da moda contemporacircnea como expressatildeo pessoal e elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo assim como da real significaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria como sistema de praacutetica cultural e representaccedilatildeo pode-se estabelecer relaccedilotildees paralelas entre a moda e o gecircnero consideradas o foco principal do presente estudo Visto que a moda vigente frente ao contexto sociocultural eacute produzida para os sexos ndash masculino e feminino faz-se necessaacuteria portanto a compreensatildeo da possiacutevel relaccedilatildeo entre moda e gecircnero

3 Moda e Gecircnero algumas conexotildees possiacuteveisA moda eacute um fenocircmeno que conteacutem possibilidades de diferencia-ccedilatildeo ou unidade assumindo caraacuteter distintivo quando relacionada a papeacuteis sociais e de representaccedilatildeo quando apresentada como siacutembolo Assim pode-se afirmar que ela eacute um elemento crucial na representaccedilatildeo social e afirmaccedilatildeo do gecircnero

Jaacute o gecircnero eacute uma instituiccedilatildeo simboacutelica erroneamente associado a normas bioloacutegicas Levando em conta a premissa do gecircnero como construccedilatildeo social e natildeo como um atributo

Paacutegina 3 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

fisioloacutegico alguns objetos satildeo necessaacuterios para sua significaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo no meio social incluindo o vestuaacuterio

Diante desse contexto este estudo buscaraacute estabelecer rela-ccedilotildees e dialogar com as teorias existentes da influecircncia da moda sobre o gecircnero sendo a moda ndash tanto no sentido de mudanccedilas quanto no de sistemas ndash o elemento de representaccedilatildeo dos gecircne-ros em questatildeo Assim inicialmente o texto abordaraacute o conceito de gecircnero e logo em seguida estabeleceraacute a devida relaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria com o gecircnero

4 Gecircnero uma construccedilatildeo culturalNo decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com as teorias sobre o sexo bioloacutegico de cada indiviacuteduo existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos por cada um Na cultura patriarcal vigente existe uma subdivisatildeo limitada entre o homem e a mulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possibilidade de natildeo binariedade ou fluidez

As teorias do patriarcado levantam breve questionamento sobre as diferenccedilas entre homens e mulheres de vaacuterios modos no entan-to essas mesmas teorias desconsideram as diferenccedilas de gecircnero e sua relaccedilatildeo com as demais desigualdades As definiccedilotildees de gecircnero de acordo com a teoria patriarcal satildeo estabelecidas com base nas diferenccedilas fiacutesicas gerando problemaacuteticas a historiadores(as) ten-do em vista que desconsideram toda a construccedilatildeo sociocultural tirando toda a historicidade do gecircnero em si (SCOTT 1989)

Para desmistificar o conceito de gecircnero como algo bioloacutegico eacute ne-cessaacuterio antes de tudo elucidar alguns termos usados erroneamente ou de maneira confusa tendo em vista que o estudo dos gecircneros eacute algo a que nem todos tecircm acesso Dessa forma a seguir encontra-se uma breve explicaccedilatildeo sobre as diferenccedilas entre identidade de gecircnero expressotildees de gecircnero sexo bioloacutegico e orientaccedilatildeo sexual

Eacute na identidade de gecircnero que se encontra a ldquoessecircnciardquo do ser humano o que eacute ou com o que se identifica de fato (homem mulher ou gecircnero natildeo binaacuterio) Joan Scott (1989) sugere que o gecircnero parece integrar-se na terminologia cientiacutefica das ci-ecircncias sociais deixando assim de ser um campo das ciecircncias bioloacutegicas Segundo as nomenclaturas usadas nos estudos de gecircnero quem natildeo se identifica com o sexo bioloacutegico com o qual nasceu eacute considerado transgecircnero os demais cisgecircneros Dessa forma a identidade de gecircnero estaacute relacionada agrave auto-percepccedilatildeo e agrave expressatildeo social

Scott (1989) afirma que as ideias construiacutedas de masculini-dade e feminilidade natildeo satildeo fixas tendo em vista suas variaccedilotildees

de acordo com o contexto em que estatildeo inseridas Logo haveraacute um conflito entre a necessidade do sujeito de uma aparecircncia de completude e a imprecisatildeo da nomenclatura a relatividade da sua significaccedilatildeo e sua dependecircncia em relaccedilatildeo agrave repressatildeo ldquoEssas interpretaccedilotildees tornam problemaacuteticas as categorias lsquoho-memrsquo e lsquomulherrsquo sugerindo que a construccedilatildeo do masculino e do feminino eacute algo subjetivo e natildeo uma caracteriacutestica inseparaacutevelrdquo (SCOTT 1989 p16)

Conforme Judith Butler (2003 p25) ldquoo gecircnero natildeo deve ser meramente concebido como a inscriccedilatildeo cultural de significado num sexo previamente dado (uma concepccedilatildeo juriacutedica) tem de designar tambeacutem o aparato mesmo de produccedilatildeo mediante o qual os proacuteprios sexos satildeo estabelecidosrdquo

Souza e Carrieri (2010 p49) em seu artigo ldquoA analiacutetica Queer e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnerordquo enfatizam ldquonatildeo apenas que masculino e feminino satildeo construiacutedos por rela-ccedilotildees de poder historicamente fundamentadas mas tambeacutem que essas categorias natildeo satildeo naturais e nem existem a priorirdquo Ainda reiteram que a naturalizaccedilatildeo do modelo binaacuterio e identitaacuterio eacute uma estrateacutegia que permite a manutenccedilatildeo de velhas praacuteticas de controle e poder

Outro conceito eacute o de atraccedilatildeo ou orientaccedilatildeo sexual e embo-ra haja uma vasta gama de definiccedilotildees literaacuterias sobre o tema o termo se refere mais comumente agraves relaccedilotildees sexuais e afetivas dos indiviacuteduos ldquoHeterossexuais bissexuais ou homossexuais satildeo titulaccedilotildees usadas para definiccedilatildeo das diversas sexualidades es-tando possivelmente determinados por aspectos interpessoais intrapsiacutequicos e sociaisrdquo (CARDOSO 2008 p73)

Segundo Foucault (1988 p100) o conceito de sexualidade conhecido historicamente surgiu como meacutetodo de avaliaccedilatildeoseparaccedilatildeo da ldquonormalidaderdquo e da ldquoanormalidaderdquo tendo em vista que na visatildeo do filoacutesofo a sexualidade representa um ldquodispositivo histoacutericordquo ou seja natildeo uma realidade natural mas sim produtos de estimulaccedilotildees dos corpos e dos prazeres a fomentaccedilatildeo aos discursos e a construccedilatildeo do conhecimento encadeados como estrateacutegias de saber e poder

Jaacute o conceito de expressatildeo de gecircnero refere-se a como cada um age diante dos papeacuteis sociais e regras de comportamento impos-tas sendo entatildeo socialmente chamadas de femininas masculinas ou androacuteginas (no caso dos termos natildeo pejorativos) De acordo com Peres (2011) os corpos ainda atuam afirmando posiccedilotildees de identidades estabelecidas pelos sexos (machofecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculinofeminino) responsaacuteveis pela normatizaccedilatildeo de expressotildees de gecircneros

Paacutegina 4 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sobre os corpos ainda se incidem outras dimensotildees de padrotildees esteacuteti-

cos de maneirismos e de posiccedilotildees de corpos (posiccedilotildees de identidades)

que satildeo estabelecidas pelas diferenccedilas entre os sexos (homemmacho

ndash mulherfecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculino ndash femini-

no) responsaacuteveis pela cristalizaccedilatildeo de algumas identidades sexuais e

expressatildeo de gecircneros que satildeo produzidas pelos modos de subjetivaccedilatildeo

normatizador que se colocam como modelos de perfeiccedilatildeo sauacutede e

verdade absoluta se achando no direito de se sentirem superiores

diante das expressotildees diferentes da heteronorma (PERES 2011 p71)

Por fim temos o sexo bioloacutegico que eacute algo totalmente ge-neacutetico hormonal e se refere aos oacutergatildeos genitais como se o ser humano fosse qualquer outro animal sendo entatildeo fecircmea macho ou intersex ndash chamado anteriormente de hermafrodita e considerado por muito tempo como uma anomalia geneacutetica Conforme Swain (2011) o sexo eacute uma parte do corpo na qual a importacircncia e a representaccedilatildeo se definem pelo seu papel histoacuteri-co-cultural Complementa a autora reafirmando o sexo bioloacutegico como fator natildeo definitivo em relaccedilatildeo ao gecircnero e ligando-o a questotildees de verdade e poder que investidos de sentidos fa-zem do sexo nada mais do que uma parte do corpo humano que adquire significado atraveacutes de sua historicidade Logo sua representaccedilatildeo substitui a realidade bioloacutegica

De acordo com Simili (2012 p123) ldquodiferenccedilas bioloacutegicas entre indiviacuteduos sempre foram contextualizadas como insiacutegnias socioculturais para a significaccedilatildeo de papeacuteis sociais construiacutedos para serem desempenhados por uns ou outrosrdquo Destarte po-de-se definir gecircnero como uma imposiccedilatildeo social e cultural uma construccedilatildeo simboacutelica

Para Guacira Lopes Louro (2013 p11) ldquonatildeo haacute naturalidade nesse terreno de estudo de gecircnerordquo tratado inicialmente pelos processos de percepccedilatildeo do corpo ou da natureza Atraveacutes da vivecircncia dos processos socioculturais define-se o que eacute ou o que natildeo eacute natural ressignificando o contexto bioloacutegico inserindo sen-tido social nos corpos e compondo identidades A significaccedilatildeo dos gecircneros nos corpos (feminino e masculino) eacute afirmada com base no contexto de uma determinada cultura carregando portanto suas marcas (LOURO 2013 p11)

Por meio das questotildees teoacutericas trabalhadas anteriormente e ancorando-se em uma construccedilatildeo sociocultural do gecircnero este trabalho visa agrave desconstruccedilatildeo dos conceitos de gecircnero como fator bioloacutegico ou obrigaccedilatildeo agrave binariedade arraigados na sociedade ocidental Assim esta pesquisa fomenta as dis-cussotildees de gecircnero de suas diversas formas buscando a re-presentaccedilatildeo do corpo como objeto que adquire significacircncia de acordo com questotildees socioculturais transparecidos mais facilmente pelo ldquofenocircmeno modardquo

5 Moda e gecircnero poder disciplinador e insubmissatildeo do sujeitoO corpo humano eacute considerado objeto da moda logo o sistema de moda se torna elemento de representaccedilatildeo tornando possiacutevel a afirmaccedilatildeo e a significacircncia do gecircnero no contexto social Apro-priando-se dos conceitos de representaccedilatildeo de Chartier (1991) que afirma a negatividade da existecircncia de praacutetica ou estrutura que natildeo seja produzida pelas representaccedilotildees pode-se afirmar que as praacuteticas de se vestir satildeo atos de apropriaccedilatildeo e de circulaccedilatildeo das representaccedilotildees de moda e eacute atraveacutes da representaccedilatildeo que o indiviacuteduo legitima a sua existecircncia afirmando sua identidade

Crane (2006 p47) considera que ldquoas roupas da moda satildeo usa-das para fazer uma declaraccedilatildeo de suas identidades sociais mas suas mensagens principais referem-se as [sic] maneiras pelas quais mulheres e homens consideram seus papeacuteis de gecircnero ou a como se esperam [sic] que percebamrdquo

Narrando influecircncias da moda e do vestuaacuterio e sua relaccedilatildeo com o gecircnero Gilles Lipovetsky traccedila uma linha do tempo em seus es-tudos e afirma que o modo de vestir comeccedilou a ter grande desse-melhanccedila para homens e mulheres somente a partir do seacuteculo XIV quando o traje feminino passou a ser longo e justo e o masculino curto e ajustado O autor destaca esse acontecimento como uma ldquorevoluccedilatildeo do vestuaacuterio que lanccedilou as bases do trajar modernordquo (LIPOVETSKY 2009 p29) Essa diferenciaccedilatildeo significativa no traje acentuou o formato dos corpos para que afirmassem seus atributos de masculinidade ou feminilidade O autor define essas mudanccedilas como uma consequecircncia do que chama de ldquoesteacutetica da seduccedilatildeordquo pois o vestuaacuterio passa a ter poder de ldquoexibir os encantos do corpo acentuando a diferenccedila dos sexosrdquo (LIPOVETSKY 2009 p75)

O vestuaacuterio masculino passou a aderir ao uso do gibatildeo uma espeacute-cie de jaqueta curta e estreita e calccedilotildees colantes torneando as pernas Sobre a genitaacutelia era usado o codpiece chamado em portuguecircs de ldquoporta-pecircnisrdquo que cobria e adornava o oacutergatildeo genital masculino afir-mando a significaccedilatildeo de masculinidade e evidenciando a virilidade Esse adereccedilo era ostentado como um instrumento de poder reiterando a teoria de Lipovetsky (2009) da moda como elemento de seduccedilatildeo escondendo ou evidenciando os atrativos sexuais e o erotismo

A evidenciaccedilatildeo do genital masculino como siacutembolo de poder pode vir a fazer sentido atraveacutes de escritos do socioacutelogo Pierre Bourdieu (1999 p24) quando afirma que as diferenccedilas visiacuteveis entre os oacutergatildeos genitais masculino e feminino satildeo uma construccedilatildeo social e que encontram sua regra nos ldquoprinciacutepios de divisatildeo da razatildeo androcecircntricardquo O autor ainda afirma que esses constructos baseados nas diferenccedilas genitais condensam duas operaccedilotildees ldquolegitima[m] uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo inscrevendo-a em uma natureza bioloacutegica que eacute por sua vez ela proacutepria uma construccedilatildeo social naturalizadardquo (BOURDIEU 1999 p33)

Paacutegina 5 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Nessa explosatildeo de mudanccedilas e diferenciaccedilotildees de gecircnero a moda feminina surge com uma nova silhueta modelada em menccedilatildeo ao ventre ndash afirmando o signo de fertilidade da mulher Lipovetsky (2009) afirma que o busto passou a ser evidenciado pelo decote destacando os atributos femininos e o corpo foi alongado atraveacutes de uma cauda Um pouco mais tarde essa composiccedilatildeo re-ceberia o espartilho que imperou sobre a moda feminina durante quatro seacuteculos com a funccedilatildeo de afinar a cintura e erguer o colo

A respeito da indumentaacuteria feminina a socioacuteloga Diana Crane (2006) complementa mencionando o fato de as roupas das mu-lheres funcionarem como ferramentas de controle social na me-dida em que exemplificavam a concepccedilatildeo dominante e restritiva dos papeacuteis femininos evidenciando a submissatildeo das mulheres aos maridos Embora esse seja um aspecto prevalecente a autora frisa em seu estudo o seacuteculo XIX como periacuteodo em especial

Lipovetsky (2009) descreve o moralismo cristatildeo ocidental na era feudal e o modo como tratavam as frivolidades sendo um signo do pecado e do orgulho Entretanto no decorrer do seacuteculo XVIII a moda se tornou mais hedonista abandonando ordens religiosas e morais mais rigorosas de comportamento A moda se tornou assim uma exigecircncia de massa em uma sociedade que passava a priorizar os prazeres as mudanccedilas e o novo

ldquoFoi ao longo da segunda metade do seacuteculo XIX que a moda no sentido do termo instalou-serdquo (LIPOVETSKY 2009 p79) com a busca constante pelas mudanccedilas e o abandono das frivolida-des como signo de pecado ndash determinado pelo cristianismo Os reflexos do antropocentrismo consolidaram a moda trazendo um caraacuteter hedonista e individual Nesse periacuteodo inicia-se a segunda1 fase do fenocircmeno moda a Moda dos Cem Anos

A Moda dos Cem Anos estaacute ligada ao nascimento da alta-cos-tura em 1850 e tem na Europa a sua consagraccedilatildeo com criaccedilotildees de luxo e sob medida Essa fase tem seu fim em 1950 pois na deacute-cada seguinte surge a Moda Aberta que Lipovetsky (2009 p123) chama de ldquorevoluccedilatildeo democraacutetica do precirct-agrave-porterrdquo uma moda que segundo o autor permite a expressatildeo da personalidade do indiviacuteduo sendo o iniacutecio de uma democratizaccedilatildeo da moda A di-versidade da Moda Aberta gera novas vertentes e tendecircncias para o mercado da moda saindo da premissa de uma moda vigente para o acontecimento de vaacuterias modas paralelamente

No entanto para Mendes e Haye (2003) o precirct-agrave-porter eacute um sistema totalmente padronizado pela induacutestria deslegitimando o caraacuteter democraacutetico ao qual se refere Lipovetsky Nessa mes-ma corrente de pensamento encontra-se a filoacutesofa Martha Nus-sbaum que se opotildee agrave ideia democraacutetica da moda e afirma que esse sistema cria ao inveacutes de pessoas autocircnomas escravos da moda (NUSSBAUM 1995 apud SVENDSEN 2010)

O caraacuteter democraacutetico da moda cunhado por Lipovetsky (2009) parece natildeo ser de todo democraacutetico quando se entra na questatildeo de gecircnero Mesmo com o advento do sportwear que de acordo com o autor uniu as diferenccedilas entre os gecircneros em um uacutenico traje a questatildeo da dicotomia de gecircnero estaacute presente por meio da moda segmentada A teoria apresentada afirma que embora mulheres passassem a fazer uso de signos de moda mas-culina as peccedilas natildeo surtiriam o mesmo efeito posto que o sistema adequaria a peccedila para desenhar a silhueta feminina juntando isso a cores leves e alegres aderindo assim signo de feminilidade Diante da pauta do uso das cores para legitimaccedilatildeo do gecircnero cabe o cunho de Xavier Filha (2012 p635)

A afirmaccedilatildeo de que a menina tem de usar rosa e o menino azul ex-

trapola a questatildeo ligada ao gosto pessoal por cores Essa questatildeo eacute

eminentemente social pois se aprende desde muito cedo e no de-

correr da vida que essas cores identificam os meninos e as meninas

Essas cores produzem marcas identitaacuterias natildeo permitindo pensar em

outras formas de se fazer homem e de se fazer mulher Ao contraacuterio

demarcam a uacutenica forma legiacutetima de ser masculino e de ser feminino

Quando se trata de moda masculina eacute frisada a construccedilatildeo da imagem do homem associada agrave virilidade ldquoAdotar um siacutembolo de vestuaacuterio feminino seria transgredir no parecer o que faz a identida-de viril modernardquo (LIPOVETSKY 2009 p155) Dessa forma pode-se inferir que a moda da modernidade rompeu algumas diferenccedilas de classes mas a distinccedilatildeo entre o vestuaacuterio masculino e feminino ainda se encontra arraigada no fator cultural baseado na binariedade

Percebe-se que essa diferenccedila (binariedade) de trajes em re-laccedilatildeo ao gecircnero pode ser considerada como um instrumento de contenccedilatildeo do sujeito Michel Foucault por meio de uma seacuterie de estudos produziu uma espeacutecie de ldquogenealogia do sujeito mo-dernordquo O filoacutesofo e historiador francecircs destaca um novo tipo de poder o poder disciplinar Esse poder estaacute preocupado com a vigilacircncia e a regulaccedilatildeo em primeiro lugar de populaccedilotildees inteiras e em segundo com o indiviacuteduo e o corpo Desse modo Foucault trabalha com os sistemas de poder e de contenccedilotildees sociais oci-dentais referindo-se a penitenciaacuterias quarteacuteis hospitais escolas a famiacutelia e assim por diante como os elementos contensores na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Ou seja satildeo mecanismos de subjetivaccedilatildeo do indiviacuteduo Soacute por esses processos ele se torna sujeito O objetivo baacutesico do poder reside em construir um ser humano doacutecil ldquoEacute doacutecil um corpo que pode ser submetido que pode ser utilizado que pode ser transformado e aperfeiccediloadordquo (FOUCAULT 2004 p126)

Esse poder coercitivo se aplica agrave sociedade de diferentes modos de formas muacuteltiplas atraveacutes ldquode origens diferentes de localizaccedilotildees esparsas que se recordam se repelem ou se imitam

Paacutegina 6 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

apoiam-se uns sobre os outros distinguem-se segundo seu cam-po de aplicaccedilatildeo entram em convergecircncia e esboccedilam aos poucos a fachada de um meacutetodo geralrdquo (FOUCAULT 2004 p127)

Dessa forma a disciplina age de diferentes maneiras como por exemplo nos pequenos detalhes do dia a dia como o simples caminhar com determinada roupa Frente a isso a vestimenta tambeacutem pode ser vista como objeto de contensatildeo do indiviacuteduo natildeo para o proacuteprio mas sim diante do receptor2 diante do olhar doutrinado e reprodutor de doutrinaccedilatildeo da sociedade ou seja atraveacutes do ldquoolhar esmiuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo (FOUCAULT 2004 p121) Essa afirmativa ganha forccedila principalmente quando se leva em consideraccedilatildeo a afirmativa de Foucault ao narrar que atraveacutes do olhar se estabelecem efeitos de poder

No que tange agrave modelagem dos corpos a teacutecnica da disci-plina visa agrave criaccedilatildeo de ldquonatildeo apenas corpos padronizados mas tambeacutem [de] subjetividades controladasrdquo (MISKOLCI 2006 p682) Ou seja eacute possiacutevel afirmar que por meio do ldquoolhar es-miuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo sobre a vestimenta haacute uma reiteraccedilatildeo da binariedade femininomasculino e a exclusatildeo de possibili-dades de fluidez de gecircnero

O traje vem reafirmando historicamente os siacutembolos de mas-culinidade ou feminilidade perante os olhares receptores logo a roupa atua como um contensor ou mesmo um elemento opressor visto que a vestimenta da moda eacute voltada para a representaccedilatildeo de signos binaacuterios

Entretanto se eacute verdade que por toda parte se estende esse ldquopoder disciplinarrdquo abordado por Foucault ldquomais urgente ainda eacute descobrir como eacute que uma sociedade inteira natildeo se reduz a elardquo (CERTEAU 1994 p41) Trazendo essa ideia para o nosso objeto de estudo natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Acredita-se que existem procedimentos po-pulares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Michel de Certeau (1994) assevera que o sujeito natildeo eacute pas-sivo diante dos acontecimentos mas sim um produtor ativo de conhecimento que sintetiza e trabalha com as informaccedilotildees que recebe produzindo algo novo Dessa forma o sujeito produtor ativo sintetiza as informaccedilotildees recebidas no seu proacuteprio meio Certeau ao dialogar com teorias foucaultianas3 referentes a formas de contensatildeo fala sobre a insubmissatildeo do sujeito ndash natildeo passivo ndash diante da ordem vigente e conclui que um ato de renovaccedilatildeo ou inovaccedilatildeo pode ser considerado rebeldia ou seja um ato de resistecircncia

Assim Certeau (1994) traz o conceito do sujeito insubmisso o sujeito que sintetiza que foge da ordem que aproveita a ausecircncia do olhar pan-oacuteptico para lhe impingir golpes isto eacute que se utiliza de taacuteticas e estrateacutegias para resistir e reapropriar alguns conceitos da ordem disciplinadora

Retomando essa teoria em aplicaccedilatildeo agrave moda e ao gecircnero pode-se supor que a resistecircncia e a reapropriaccedilatildeo do sujeito insub-misso poderiam se encontrar na designaccedilatildeo do gecircnero fluido Os sujeitos que o incorporam utilizam taacuteticas4 para a modificaccedilatildeo das sentenccedilas da cultura binaacuteria patriarcal dos gecircneros subvertendo as imposiccedilotildees sociais vigentes do feminino e masculino

Antes de dar continuidade agraves reflexotildees faz-se necessaacuterio um breve esclarecimento acerca da escolha da expressatildeo ldquogecircnero flui-dordquo o que seraacute feito a seguir precedendo algumas consideraccedilotildees sobre o conceito de ldquoentrelugarrdquo de Bhabha (1998)

6 A escolha do gecircnero fluido um pequeno parecircntese na reflexatildeoAntes de continuar as reflexotildees eacute importante abrir um parecircntese para delimitar que esta pesquisa escolheu a utilizaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquogecircnero fluidordquo porque tal conceito expressa uma espontaneidade uma natildeo binariedade (masculinofeminino) uma facilidade de expressatildeo do sujeito em relaccedilatildeo ao gecircnero ou seja a facilidade de fluir entre dois ou mais gecircneros Ainda eacute de fundamental importacircncia deixar claro que o presente artigo natildeo considera ldquogecircnero fluidordquo sinocircnimo de ldquogecircnero neutrordquo5 pois este uacuteltimo ldquonatildeo eacute apenas inanimado de dis-curso mas atua no limite de aceitaccedilatildeo ndash sujeitando toda e qualquer outra forma de manifestaccedilatildeo menos normativardquo (KELLER 2016 p131)

Para Chartier (2002) natildeo existe neutralidade nos discursos de representaccedilatildeo inclusive nas representaccedilotildees sobre construccedilotildees de identidades de gecircnero Barthes (2002) classifica ldquoneutrordquo como uma categoria geral e interdisciplinar originalmente induzida do gecircnero gramatical neutro ndash nem feminino nem masculino Ele demonstra a relaccedilatildeo significativa entre a postura neutra em contradiccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo dos sexos Dessa forma acredita-se que a neutralidade leva o discurso a cair em uma vala de silecircncio recusando ser parte de um conflito

Posto isso considera-se que a escolha do gecircnero fluido foi apro-priada para o desenvolvimento do trabalho pois conforme se veraacute a seguir tal gecircnero se encontra no entrelugar entre a moda feminina e a moda masculina um espaccedilo extremamente conflituoso

7 O entrelugar local de conflito negociaccedilotildees e reapropriaccedilotildeesPara construir a reflexatildeo sobre o entrelugar do gecircnero fluido na moda seratildeo utilizadas as concepccedilotildees de Homi K Bhabha (1998) expressas em seu livro O local da cultura

Paacutegina 7 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Bhabha eacute um homem marcado por uma dupla inscriccedilatildeo cultural indiana e britacircnica podendo ser caracterizado ao mesmo tempo como plural e hiacutebrido Em suas reflexotildees sobre o discurso colonial ele propotildee uma loacutegica para aleacutem do binarismo (ou india-no ou britacircnico) e para aleacutem da oposiccedilatildeo sujeitoobjeto Dessa forma o autor amalgamando sua vida e obra constroacutei suas refle-xotildees a partir da constituiccedilatildeo de sujeitos culturais hiacutebridos Aleacutem disso para Bhabha (1998) falar sobre cultura significa construir uma reflexatildeo que supere a oposiccedilatildeo sujeitocultura

Marcado por muacuteltiplas interpretaccedilotildees o conceito de entrelu-gar construiacutedo pelo autor torna-se particularmente fecundo para reconfigurar os limites difusos de uma multiplicidade de vertentes culturais que circulam na contemporaneidade e ultrapassam fron-teiras como eacute o caso da binariedade entre masculino e feminino representados pela imagem de moda A moda sempre esteve impregnada de representaccedilotildees de gecircnero impondo qual o corpo ideal e a melhor forma de se vestir para cada sexo Entretanto uma vez que esse corpo aparece cada vez mais fluido observa-se uma nova representaccedilatildeo que natildeo se encaixa na definiccedilatildeo binaacuteria de identidade de gecircnero

Destarte na contemporaneidade o gecircnero fluido vem ga-nhando destaque nas inspiraccedilotildees de coleccedilotildees de moda bem como nos tipos de beleza que vecircm se destacando no cenaacuterio da moda mundial e torna-se cada vez mais comum pois rompe com padrotildees preestabelecidos e homogecircneos Desse modo supotildee-se que o gecircnero fluido esse sujeito insubmisso conforme apropria-ccedilatildeo da teoria de Certeau (1994) estaacute no entrelugar na fronteira entre o binarismo da moda feminina e da moda masculina um lugar extremamente conflituoso

Para forccedilar a loacutegica binaacuteria a se inscrever em um outro espaccedilo de significaccedilatildeo que natildeo o entrelugar em que estaacute inserido o gecircne-ro fluido Bhabha (1998) apresenta a categoria de negociaccedilatildeo Tal conceito vem ocupar o lugar da negaccedilatildeo da dialeacutetica hegeliana ou seja os elementos antagocircnicos ou contraditoacuterios se articulam natildeo existindo mais uma superaccedilatildeo como propotildee tal dialeacutetica ldquoAssim cada negociaccedilatildeo eacute um processo de traduccedilatildeo e transferecircncia de sentido ndash cada objetivo eacute construiacutedo sobre o traccedilo daquela pers-pectiva que ele rasurardquo (BHABHA 1998 p53) Essa negociaccedilatildeo de instacircncias contraditoacuterias cria espaccedilos de luta hiacutebridos nos quais polaridades positivas ou negativas ainda que relativas natildeo se jus-tificam A categoria do hibridismo vem agrave tona pois

[] o momento hiacutebrido tem um valor transformacional de mudanccedila

que reside na rearticulaccedilatildeo ou traduccedilatildeo de elementos que natildeo satildeo

nem o Um (a classe trabalhadora como unidade) nem o Outro (as po-

liacuteticas de gecircnero) mas algo mais que contesta os termos e territoacuterios

de ambos (BHABHA 1998 p55)

Dessa forma natildeo eacute possiacutevel pensar em sentidos fixos primor-diais que reflitam objetos poliacuteticos unitaacuterios e homogecircneos E eacute justamente o que o gecircnero fluido na moda representa Ele estaacute no entrelugar dos conflitos do hibridismo do heterogecircneo da negociaccedilatildeo com o binarismo de gecircnero (femininomasculino) Esse entrelugar ocupado pelo gecircnero fluido na moda eacute um local intersticial ldquoO interstiacutecio vem como uma passagem um movimen-to presente de transformaccedilatildeo ou transposiccedilatildeo onde uma coisa natildeo eacute mais ela mesma mas natildeo totalmente outrardquo (LOSSO 2010)

Assim o entrelugar do gecircnero fluido na moda eacute sim um lugar de conflitos de negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees um espa-ccedilo de identidades de gecircnero fluidas que derivam de construccedilotildees sociais e se apresentam como muacuteltiplas Logo seria possiacutevel supor que no entrelugar existem a negociaccedilatildeo ndash conceito moldado por Bhabha (1998) ndash e a resistecircncia no sentido de reapropriaccedilatildeo ndash relatada por Certeau (1994) ndash em que o sujeito produtor ativo de conhecimento se reapropria dos fragmentos da binariedade de gecircnero e os sintetiza ou seja o sujeito eacute um bricoleur (CERTEAU 1994) Ou ainda a subversatildeo conceito construiacutedo por Butler (2003) segundo o qual o sujeito pode subverter a binariedade de gecircnero por suas praacuteticas corporais

8 Consideraccedilotildees FinaisAo longo da histoacuteria a moda sempre ditou padrotildees esteacuteticos e de beleza baseados no padratildeo binaacuterio de gecircnero (feminino e mascu-lino) Entretanto na contemporaneidade essa concepccedilatildeo fechada de gecircnero vem sendo discutida Partindo do princiacutepio de que o gecircnero natildeo eacute bioloacutegico mas sim cultural vaacuterias pesquisas tentam derrubar a concepccedilatildeo desse binarismo Seguindo essa linha vaacuterias marcas de moda comeccedilaram a trabalhar com a ideia de fluidez de gecircnero como por exemplo Cemfreio Trendt Pangea RAW Clothing entre outras

O objetivo do artigo natildeo foi analisar a maior ou menor fluidez que essas marcas conseguiram atingir ateacute porque tais marcas nem foram citadas Nosso objetivo foi analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Para isso o artigo se apro-priou de conceitos de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998) Dessa forma partiu da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar ou seja do princiacutepio de que a roupa eacute um elemento contensor na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Entretanto e de acordo com as concepccedilotildees teoacutericas de Certeau (1994) natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Como jaacute foi citado acredita-se que existam procedi-mentos populares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Paacutegina 8 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma existe a reapropriaccedilatildeo do sujeito sobre o poder disciplinador nesse caso da binariedade de gecircnero na moda e essa resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998) Um espaccedilo entre as fronteiras da moda masculina e feminina um in-terstiacutecio extremamente conflituoso mas ao mesmo tempo hiacutebrido e heterogecircneo um lugar de possibilidades e subversotildees

Portanto o sujeito do ldquoentrelugarrdquo eacute um novo elemento cultu-ral que surge do embate da tradiccedilatildeo com a contemporaneidade capaz de resistir negociar e se reapropriar de significados com a finalidade de viver dignamente com suas diferenccedilas

N o t a s

1 ndash Lipovetsky (2009) divide a moda em trecircs fases a primeira tem seu iniacutecio no final da Idade Meacutedia considerado um periacuteodo mais linear a segunda em meados do seacuteculo XIX sendo chamada pelo autor de Moda dos Cem Anos jaacute a terceira fase principia em 1960 e eacute denominada Moda Aberta

2 ndash A denominaccedilatildeo ldquoreceptorrdquo eacute datada de 1620 e foi utilizada para indicar no processo de comunicaccedilatildeo aquele que recebia e decodificava a mensagem (MOURA 2008 p39)

3 ndash Foucault (1988 p91) em Histoacuteria da sexualidade I relata que ldquo[] onde haacute poder haacute resistecircncia e no entanto (ou melhor por isso mesmo) esta nunca se encontra em posiccedilatildeo de exterioridade em relaccedilatildeo ao poderrdquo

4 ndash Evidencia-se que Certeau (1994) constroacutei sua teoria baseado no modelo polemoloacutegico assim refere-se a taacuteticas como ferramentas de ataque accedilotildees no sentido militar ou um golpe propriamente dito Diz respeito agrave astuacutecia agrave arte de dar golpes dos sujeitos no campo minado do inimigo

5 ndash O discurso neutro funciona como uma escolha de natildeo estar adequado a uma ou outra categoria Aplicada ao gecircnero a neutralidade eacute a quebra da binariedade homem e mulher em favor de uma outra opccedilatildeo ndash nem uma nem outra (KELLER 2016 p127)

R e f e r ecirc n c i a s

BARNARD Malcolm Moda e comunicaccedilatildeo Rio de Janeiro Rocco 2003

BARTHES Roland Le Neutre cours au Collegravege de France (1977-1978) Paris

Seuil 2002

BHABHA Homi K O local da cultura Belo Horizonte Ed UFMG 1998

BOURDIEU Pierre Gostos de classe e estilos de vida In ORTIZ Renato

(Org) Pierre Bourdieu sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1983 p82-121

______ A dominaccedilatildeo masculina Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999

______ O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BUTLER Judith Problemas de gecircnero feminismo e subversatildeo da identi-

dade Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003

CARDOSO Fernando Luiz O conceito de orientaccedilatildeo sexual na encruzi-

lhada entre sexo gecircnero e motricidade Interamerican Jornal of Psy-

chology Porto Alegre v42 n1 p69-79 abr 2008

CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano artes de fazer Petroacutepolis

RJ Vozes 1994

CHARTIER Roger A histoacuteria cultural Algeacutes (Portugal) Difel 2002

_____ O mundo como representaccedilatildeo Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v5

n11 p173-191 janabr 1991

CRANE Diana A moda e seu papel social classe gecircnero e identidade das

roupas Traduccedilatildeo de Cristiane Coimbra Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo

Paulo 2006

FREITAS Ricardo Ferreira Comunicaccedilatildeo consumo e moda entre os ro-

teiros das aparecircncias Comunicaccedilatildeo Miacutedia e Consumo Satildeo Paulo

v3 n4 p125-136 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistas

univercienciaorgindexphpcomunicacaomidiaeconsumosearch

titlesse archPage=2gt Acesso em 10 jan 2017

FOUCAULT Michel Histoacuteria da sexualidade I a vontade de saber Traduccedilatildeo

de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J A Guilhon Albuquerque

Rio de Janeiro Ediccedilatildeo Graal 1988

_____ Vigiar e punir nascimento da prisatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2004

GODART Freacutedeacuteric Sociologia da moda Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo Paulo

2010

KELLER Daniel Gevehr Masculinidade hiato cultura gecircnero e moda

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Processos e Manifestaccedilotildees Culturais) ndash

FEEVALE Novo Hamburgo RS 2006

KILLERMAN Samuel The social justice advocatersquos handbook a guide to

gender Austin TX Impetus Books 2013

LIPOVETSKY Gilles O impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas socie-

dades modernas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2009

LOSSO Rhiago O sujeito do entre-lugar na literatura portuguesa um

diaacutelogo entre Bhabha e Lobo Antunes In Coloacutequio em Poacutes-Gra-

duaccedilatildeo em Letras ndash UNESP 2 2010 Satildeo Paulo Caderno de resumos

Paacutegina 9 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Satildeo Paulo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwassisunespbrHome

SitesInternosColoquiodeLetrascadernoderesumospdfgt Acesso em

05 jan 2017

LOURO Guacira Lopes O corpo educado pedagogias da sexualidade Belo

Horizonte Autecircntica 2013

MENDES Valerie HAYE Amy de La A moda do seacuteculo XX Satildeo Paulo Martins

Fontes 2003

MENESES Ulpiano T Bezerra de Fontes visuais cultura visual histoacuteria

visual Balanccedilo provisoacuterio propostas cautelares Revista Brasileira de

Histoacuteria Satildeo Paulo v23 n45 p11-36 2003

MISKOLCI Richard Corpos eleacutetricos do assujeitamento agrave esteacutetica da exis-

tecircncia Revista de Estudos Feministas v3 n3 p681-693 2006

MOURA Mocircnica A moda entre a arte e o design In PIRES Doroteia Baduy

Design de moda olhares diversos Barueri Estaccedilatildeo da Letras e Cores

2008 p37-73

PERES Wilian Siqueira Travestis corpos nocircmades sexualidades muacuteltiplas

e direitos poliacuteticos In SOUZA Luiz Antocircnio Francisco de SABATINE

Thiago Teixeira MAGALHAtildeES Boris Ribeiro de (Org) Michel Foucault

sexualidade corpo e direito Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo

Cultura Acadecircmica 2011 p69-104

PITOMBO Renata Cidreira A moda como expressatildeo cultural e pessoal

Iara ndash Revista de Moda Cultura e Arte Satildeo Paulo v3 n3 p226-244

dez 2010 Disponiacutevel em lthttpwww1spsenacbrhotsitesblogs

revistaiarawp-contentuploads201501IARA_vol3_n3_Comple-

ta_2010pdfpage=230gt Acesso em 20 jan 2016

RECH Sandra Moda por um fio de qualidade Florianoacutepolis Ed da Udesc 2002

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo

de Christine Rufino Dabat e Maria Betacircnia Aacutevila Disponiacutevel em ltht-

tpsdisciplinasstoauspbrpluginfilephp185058mod_resource

content2GC3AAnero-Joan20Scottpdfgt Acesso 15 jan 2016

SIMILI Ivana Guilherme Poliacuteticas de gecircnero na segunda guerra mundial

as roupas e a moda feminina Acervo Rio de Janeiro v25 n2 p121-

142 juldez 2012

SOUZA Eloisio Moulin de CARRIERI alexandre de Paacutedua A analiacutetica Queer

e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnero Revista de

Administraccedilatildeo Mackenzie Satildeo Paulo v11 n3 p46-70 maiojun 2010

SOUZA Gilda de Mello e O espiacuterito das roupas a moda no seacuteculo dezenove

Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996

SVENDSEN Lars Moda uma filosofia Rio de Janeiro Zahar 2010

SWAIN Tania Navarro Para aleacutem do sexo por uma esteacutetica da liberaccedilatildeo

In ALBUQUERQUE JUacuteNIOR Durval Munis de VEIGANETO Alfredo

SOUZA FILHO Aliacutepio de Cartografias de Foucault 2ed Belo Horizonte

Autecircntica 2011 p394

XAVIER FILHA Constantina A menina e o menino que brincavam de ser

representaccedilotildees de gecircnero e sexualidade em pesquisa com crianccedilas

Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v17 n51 p627-747 setdez 2012

Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbeduv17n5108pdfgt

Acesso dia jul 2016

Paacutegina 10 de 10

  • Artigo 2pdf
    • OLE_LINK1
    • OLE_LINK2
    • OLE_LINK4
    • OLE_LINK3
      • Artigo 3pdf
        • Resumo
        • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Resultados e Anaacutelise
          • 21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desig
          • 22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental
            • 3 Consideraccedilotildees
            • Notas
            • Referecircncias
              • Artigo 7pdf
                • _GoBack
                  • Artigo 8pdf
                    • _GoBack
Page 3: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem

E d i t o r i a l

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Em 2017 a Competecircncia adotou o DOI ndash Digital Objetct Identifier em seus artigos Essa identificaccedilatildeo eacute uma grande conquista para a revista possiacutevel pela parceria entre a ABEC ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Editores Cientiacuteficos e Crossref agecircncia certificadora A formaccedilatildeo do DOI ocorre a partir de

uma sequecircncia articulada que apresenta um prefixo para identificar o responsaacutevel pela publicaccedilatildeo e um sufixo para o volume da revista e nuacutemero do artigo Com essa identificaccedilatildeo eacute possiacutevel a pre-servaccedilatildeo digital dos textos publicados Aleacutem de aumentar a visibilidade dos documentos o DOI certifica os registros de publicaccedilotildees no curriacuteculo Lattes dos autores

Neste nuacutemero da Competecircncia destacamos algumas contribuiccedilotildees que tratam sobre o uso de tecnologias na educaccedilatildeo como o texto que aborda a importacircncia desses recursos para a internacionalizaccedilatildeo do ensino superior Ainda neste contexto o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios e uma experiecircncia de intervenccedilatildeo pedagoacutegica educacional que articula a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica com a educaccedilatildeo ambiental compotildeem essa seccedilatildeo temaacutetica O protagonismo do estudante como responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos e a importacircncia da formaccedilatildeo empreendedora tambeacutem satildeo temas que contemplam a ediccedilatildeo A experiecircncia de uma rede institucional para construccedilatildeo de um mapa cultural de uma capital brasileira e um modelo de auxiacutelio para escolha de municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo a distacircncia satildeo resultados de estudos apresentados Encontramos tambeacutem uma reflexatildeo sobre a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Seguindo nesta aacuterea uma anaacutelise sobre o estado da arte da reciclagem das embalagens PET e sua aplicabilidade e relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel

Finalizo convidando a todos para conferir o novo projeto graacutefico da Competecircncia que a partir desta ediccedilatildeo seraacute disponibilizada somente em formato eletrocircnico O projeto contempla altera-ccedilotildees na diagramaccedilatildeo na fonte aleacutem de acreacutescimos de informaccedilotildees sobre o artigo Tais mudanccedilas estatildeo adaptadas agraves tendecircncias desse tipo de publicaccedilatildeo e visam proporcionar uma leitura mais agradaacutevel e uma busca mais facilitada aos pesquisadores Fechamos o ano de 2017 com a reali-zaccedilatildeo de atualizaccedilotildees importantes para a Competecircncia Em 2018 comemoraremos os 10 anos da publicaccedilatildeo e esperamos que seja igualmente construtivo Desejamos a todos uma boa leitura

Me Maria Araujo ReginattoEditora da Revista Competecircncia

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

R e s u m o

No seacuteculo XXI a globalizaccedilatildeo passa a exercer uma forte influecircncia na Educaccedilatildeo Superior e o atual cenaacuterio mundial globalizado e interconectado demanda egressos qualificados para

atuar nesse contexto Passam a ser exigecircncias do mundo do trabalho competecircncias globais interculturais e o uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior Estudos sobre internacionalizaccedilatildeo do ensino superior indicam que para que uma universidade seja considerada internacionalizada esta deve prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos A mobilidade acadecircmica ainda estaacute restrita a um percentual limitado da populaccedilatildeo global de estudantes seja pela dificuldade de ausecircncia de suas origens seja por indisponibilidade de recursos financeiros Assim sendo as TICs podem ser utilizadas para apoiar alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural Este artigo objetiva discutir como as TICs podem apoiar os avanccedilos de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior bem como provocar reflexotildees acerca do assunto e dos desafios interpostos agraves instituiccedilotildees de ensino superior que se propotildeem a cumprir o seu papel de formar cidadatildeos globais

A b s t r a c t

In the 21st century globalization strongly influences Higher Education and the current globalized and interconnected world scenario demands qualified graduates to work in this context Global skills intercultural competencies and the use of information and communication technologies (ICTs) become demands of the working market Therefore both ICTs and internationalization must be present and active in higher education teaching and learning process Studies on internationalization of higher education indicate that for a university to be considered internationalized it must provide an international educational experience for all its students Academic mobility is still limited to a small percentage of the global student population either because of the difficulty of absence of their origins or due to unavailability of financial resources Thus ICTs can be used to support students in developing international perspectives interacting with people from other cultures and actively engaging in intercultural learning This article aims to discuss how ICTs can support higher education internationalization progress as well as to incite reflections on the subject and the challenges presented to higher education institutions that aim to fulfill their role of educating global citizens

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 22072017Aprovado em 04102017

Palavras-chaveEnsino SuperiorTICs InternacionalizaccedilatildeoInternacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

KeywordsHigher EducationICTsInternationalizationHigher Education Internationalization

Autoras Doutoranda pelo programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo pela PUC- RS Mestre em Gestatildeo e Negoacute-cios com ecircnfase em internacionaliza-ccedilatildeo da educaccedilatildeo pela Unisinos - RS Diretora acadecircmico-administrativa de Internacionalizaccedilatildeo no Senac-RS email cccassolsenacrscombr

Poacutes-Doutora na UtexasAustin Pesqui-sadora 1 A CNPq Coord a CEESPUCRS - Centro de Estudos em EDUCACcedilAtildeO Superior

Como citar este artigoSILVA C CC MOROSINI MC As tec-nologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internaciona-lizaccedilatildeo do ensino superior Competecircncia Porto Alegrev 10 n 2 dez 2017

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Information and communication techhologies as support for development of higher education internationalization

Carla Camargo Cassol da Silva e Mariacutelia Costa Morosini

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoNos uacuteltimos anos instituiccedilotildees de ensino superior (IES) tecircm se tornado cada vez mais internacionais em suas atividades como resultado da globalizaccedilatildeo da economia da informaccedilatildeo e da sociedade A globaliza-ccedilatildeo passa a impelir o surgimento de novos formatos de IES influencian-do a docecircncia e discecircncia a reelaboraccedilatildeo de curriacuteculos e as exigecircncias sociais que levam em conta natildeo apenas mecanismos internacionais mas tambeacutem as necessidades de cada paiacutes A internacionalizaccedilatildeo das universidades portanto passa a ser um dos componentes emergentes Nas palavras de Morosini (2012 p202) ldquoa qualidade em contextos glo-balizados eacute marcada na maioria dos casos pela internacionalizaccedilatildeo via intercacircmbio estudantil e docente eou curriacuteculos internacionalizados e num estaacutegio mais aprimorado via redes colaborativasrdquo

Para WIT (2011) o futuro da educaccedilatildeo superior seraacute de parcerias internacionais estrateacutegicas em pesquisa ensino e transferecircncia de conhecimento entre universidades para que possam gerenciar os desafios que a globalizaccedilatildeo demandaraacute Na verdade eacute possiacutevel afirmar que a globalizaccedilatildeo jaacute os demanda Hudzik (2011 p10) afirma que ldquo[] para tornar-se uma instituiccedilatildeo de educaccedilatildeo superior de distinccedilatildeo no seacuteculo XXI eacute requerida sistemaacutetica atenccedilatildeo institucional para a internacionalizaccedilatildeo ndash e para engajamento institucional no exteriorrdquo O cumprimento do papel social das IES se daacute a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profis-satildeo de forma a contribuir para o desenvolvimento econocircmico-so-cial local e global Desse modo torna-se uma exigecircncia do proacuteprio mundo do trabalho o conhecimento e a preparaccedilatildeo para relaccedilotildees com estrangeiros e culturas diversas por parte dos estudantes

ldquoHaacute expectativas das Universidades tornarem-se atores cha-ves na economia do conhecimento global e a internacionaliza-ccedilatildeo eacute identificada como resposta chave para a globalizaccedilatildeordquo (WIT e HUNTER 2014 p5) A importacircncia da internacionalizaccedilatildeo em IES portanto torna-se incontroversa

Muitos autores trazem conceitos e definiccedilotildees para interna-cionalizaccedilatildeo do ensino superior mas o mais amplamente aceito eacute o de Knight (2008 p21) ldquoo processo de integrar uma dimensatildeo internacional intercultural ou global na proposta funccedilotildees ou en-trega da educaccedilatildeo superiorrdquo O termo ldquoprocessordquo eacute utilizado para enfatizar a relaccedilatildeo contiacutenua e prolongada da atividade inferindo a necessidade de se ter um meacutetodo eou procedimento Assim eacute possiacutevel ldquodistingui-la de accedilotildees isoladas e institucionalmente natildeo integradas consideradas como sinocircnimo de internacionalizaccedilatildeordquo (MIURA 2009 p2) O verbo ldquointegrarrdquo atribui um sentido de que eacute necessaacuterio um engajamento de todas as partes interessadas sejam internas ou externas a partir das parcerias firmadas

Hudzik (2011 p6) traz o conceito de Internacionalizaccedilatildeo Abrangente (Comprehensive Internationalization) como ldquoum com-promisso confirmado atraveacutes da accedilatildeo de infundir perspectivas

internacionais e comparativas atraveacutes das missotildees de ensino pesquisa e serviccedilos do ensino superiorrdquo Segundo o autor a inter-nacionalizaccedilatildeo abrangente moldaraacute o ethos e os valores da IES estando ldquono DNArdquo do ensino superior Para tanto eacute fundamental que essa perspectiva seja adotada por lideranccedilas institucionais governanccedila equipes docente e discente e por todas as unidades de suporte e serviccedilos acadecircmicos ldquoEacute um imperativo institucional natildeo apenas uma possibilidade desejadardquo (HUDZIK 2011 p6)

Ao corroborar com Hudzik (2011) Robson (2011 p619) conside-ra o conceito de internacionalizaccedilatildeo transformadora exigindo uma abordagem holiacutestica em que as universidades se tornam comuni-dades de espiacuterito internacional e natildeo simplesmente instituiccedilotildees com aumento do nuacutemero de estudantes internacionais e atividades internacionais Para o autor ldquoa estrateacutegia de internacionalizaccedilatildeo responsaacutevel far-se-aacute pela incorporaccedilatildeo de abordagens inovadoras para o desenvolvimento curricular de apoio ao estudante e de me-canismos e iniciativas de desenvolvimento acadecircmicordquo (p614)

Ainda na perspectiva de cumprimento do papel social das IES a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profissatildeo tambeacutem ldquoo contexto dinacircmico do ensino superior demanda uma integraccedilatildeo inovadora de alfabetizaccedilatildeo digitalrdquo (ANNABI MULLER 2016 p17) Natildeo eacute possiacutevel afirmar que um egresso estaacute qualificado sem desenvolver competecircncias para o uso de TICs Eacute uma realidade atual no mercado de trabalho na maioria das profissotildees Assim sendo segundo Annabi e Muller (2016) uma vez que as habilidades digi-tais dos aprendizes jaacute estiverem avanccediladas o curriacuteculo deveraacute sofrer modificaccedilotildees para integrar a tecnologia a fim de permitir que os alu-nos se engajem em formas muacuteltiplas de aprendizado Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior

Muitos autores argumentam que tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo cruciais para a globalizaccedilatildeo do ensino superior e em processos de internacionalizaccedilatildeo Isso porque implicam oportu-nidades para a integraccedilatildeo aleacutem do tempo e espaccedilo possibilitando que entidades distribuiacutedas trabalhem como unidades em tempo real (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Observa-se que a ampla definiccedilatildeo de internacionalizaccedilatildeo e as atividades envolvidas nesse processo continuam alterando--se e expandindo-se enquanto o desenvolvimento tecnoloacutegico oferece formas novas criativas de engajamento entre fronteiras (ACE 2013 p1)

2 A Internacionalizaccedilatildeo AcessiacutevelDepois de decorrido algum tempo de atividades internacionais muito possivelmente em funccedilatildeo do fenocircmeno globalizaccedilatildeo e da abertura do Brasil para o mercado mundial datado na deacutecada

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

de 80 a mobilidade de estudantes aumentou de forma signifi-cativa impelindo as IES a encontrarem formas de articular suas atividades de forma mais sistemaacutetica e tambeacutem de beneficiar a si agrave comunidade acadecircmica e agrave sociedade atraveacutes da internacio-nalizaccedilatildeo No entanto dados os conceitos de internacionalizaccedilatildeo jaacute discutidos pode-se perceber que a mobilidade acadecircmica eacute uma ndash e apenas uma ndash parte do processo de internacionalizaccedilatildeo

Mesmo em paiacuteses onde a internacionalizaccedilatildeo jaacute eacute um processo desenvolvido e amplamente praticado o foco na mobilidade acadecirc-mica eacute percebido Maringe (2009) realizou um estudo exploratoacuterio em seis universidades localizadas no Reino Unido cujos principais objetivos eram 1) identificar como a internacionalizaccedilatildeo eacute concei-tuada nas instituiccedilotildees estudadas 2) identificar evidecircncias da inte-graccedilatildeo estrutural do processo de internacionalizaccedilatildeo nos serviccedilos das universidades e 3) compreender os desafios que as instituiccedilotildees enfrentam na busca pela integraccedilatildeo do conceito de internacionali-zaccedilatildeo como um amplo elemento estrateacutegico daquelas instituiccedilotildees O estudo indica que haacute uma falha na execuccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior uma vez que embora a internacionalizaccedilatildeo seja identificada como objetivo estrateacutegico pelas universidades estudadas haacute uma variedade de barreiras que trabalham contra a integraccedilatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo agrave cultura institucional Segundo o autor uma das principais barreiras eacute a ecircnfase exacerbada em iniciativas de mobilidade humana em detrimento de esforccedilos de integraccedilatildeo cultural

Natildeo haacute duacutevidas de que a mobilidade acadecircmica fomenta a com-petecircncia internacional No entanto estudos e dados mostram que essa mobilidade estaacute restrita a um percentual bastante limitado da populaccedilatildeo global de estudantes (ACE 2013 p2) seja pela dificulda-de de alguns estudantes de se ausentarem de suas origens seja por disponibilidade de recursos financeiros uma vez que para paiacuteses do hemisfeacuterio sul distacircncia e desvalorizaccedilatildeo cambial satildeo fatores que oneram consideravelmente

Ramanau (2016) argumenta que uma universidade internacio-nalizada deveria prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos em um ambiente inclusivo e acolhe-dor E que portanto as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) poderiam ser utilizadas de forma efetiva para assistir a alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural

Em estudo de 2010 realizado pela Associaccedilatildeo Interna-cional de Universidades (IAU ndash International Association of Universities) ldquorecursos financeiros insuficientesrdquo foi citado como o obstaacuteculo interno mais significativo para a internacio-nalizaccedilatildeo (ACE 2013 p1) No entanto o uso de comunicaccedilatildeo

virtual para conectar estudantes e professores aleacutem das fron-teiras tem provado ser uma opccedilatildeo acessiacutevel flexiacutevel e econo-micamente viaacutevel para um crescente nuacutemero de instituiccedilotildees nos Estados Unidos e no mundo todo Como muitos programas de mobilidade aulas virtualmente conectadas podem prover um aprendizado global significativo e experiecircncia intercultural (ACE 2016 p1) Ou seja o uso de TICs pode ser uma opccedilatildeo vaacutelida para minimizar barreiras que dificultam a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Assim ldquodistacircncia e tempo natildeo precisam mais ser barreiras para a exposiccedilatildeo e consciecircncia internacional para qualquer aluno com acesso a um modem e um computador Desse modo todos os es-tudantes agora podem ser considerados internacionais em termos de mobilidade virtualrdquo (LEASK 2004 p337)

Alguns autores preconizam que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo vistas como um dos fatores mais importantes para a expansatildeo continuada da internacionalizaccedilatildeo e podem ateacute mesmo tornar-se substitutas da mobilidade internacional (PHILSON 1998 FAVA-DE-MORAES SIMON 2000 LEASK 2004)

A atual sociedade global interligada baseada em novas tecnologias digitais afetou o processo de educaccedilatildeo e adicionou dinacircmicas agrave trans-ferecircncia de informaccedilotildees e geraccedilatildeo de conhecimento Natildeo estamos mais restritos a tempo e lugar Ademais a tecnologia da informaccedilatildeo reduz diretamente os custos e aumenta as possibilidades de cooperaccedilatildeo de interaccedilatildeo acadecircmicas Aprendizagem virtual possibilita que instituiccedilotildees de ensino superior se aproximem de estudantes professores e pesqui-sadores em paiacuteses estrangeiros sem movecirc-los fisicamenterdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p4)

TICs e internacionalizaccedilatildeo portanto estatildeo inquestiona-velmente conectadas

3 Possibilidades Praacuteticas de internacionalizaccedilatildeo no ensino superior incluem reforma curricular aumento de programas de mobilidade ampliaccedilatildeo de cam-pi inglecircs como liacutengua de instruccedilatildeo em paiacuteses onde natildeo eacute a liacutengua oficial e tecnologia da informaccedilatildeo (ZUPANC ZUPANC 2009 YANYAN 2010) Ou seja a tecnologia da informaccedilatildeo eacute uma parte do todo que certamente pode apoiar o processo mas por si soacute natildeo garante uma perspectiva internacional no ensino

De acordo com Leask (2004 p340) ldquoo uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em programas educacionais natildeo assistiratildeo [sic] necessariamente agrave internacionalizaccedilatildeo mas cer-tamente oferece diversas oportunidades para todos os alunos e colaboradores da IESrdquo

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo a autora algumas dessas oportunidades incluem o envolvimento da comunidade acadecircmica em

bull Uso da tecnologia para estabelecer contatos internacionais e redes de relacionamento em suas aacutereas

bull Visitas virtuais de palestrantes convidados com perfil inter-nacional que virtualmente abordam toacutepicos especiacuteficos em determinados momentos do programa

bull Projetos individuais ou em grupo com foco em assuntos e estudos de caso internacionais

bull Tarefas que requerem o desenvolvimento de habilidades em dinacircmicas de grupo e o estabelecimento de relaccedilotildees de trabalho com pessoas de diferentes contextos culturais por exemplo tarefas que requerem a anaacutelise de reportagens de jornais internacionais de perspectivas culturais diferentes en-trevistas virtuais com alunos de outras culturas e profissionais que jaacute atuaram no mercado internacional

bull Localizar discutir analisar e avaliar informaccedilotildees de variadas fontes internacionais on-line e off-line

bull Oportunidades virtuais para analisar assuntos metodologias e soluccedilotildees possiacuteveis associadas com atuais aacutereas de debate dentro da disciplina por meio de perspectivas culturais di-versas

bull Acesso a fontes internacionais virtuais como revistas con-ferecircncias e associaccedilotildees profissionais

bull Simulaccedilotildees virtuais nas quais os estudantes tecircm a oportu-nidade de aprender atraveacutes de participaccedilatildeo ativa em um ambiente virtual controlado

bull Discussotildees siacutencronas ou assiacutencronas em grupo que co-nectam alunos de culturas diferentes fazendo com que completem atividades solucionem problemas obtenham perspectivas internacionais sobre determinados assuntos

bull Estabelecimento de redes de relacionamento internacionalbull Foacuterum virtual em que os alunos podem discutir diferenccedilas cultu-

rais e regionais em valores e concepccedilotildees que afetam a disciplina ao mesmo tempo em que podem afetar a accedilatildeo dos indiviacuteduos

bull Variados projetos de grupo para avaliaccedilatildeo que exijam dos alunos atividades virtuais ou via correio eletrocircnico com pes-soas de outros grupos culturais com o objetivo de comparar e contrastar perspectivas em questotildees profissionais

bull Atividades virtuais em grupo que examinem de que maneira interpretaccedilotildees culturais especiacuteficas de aplicabilidade social cientiacutefica ou tecnoloacutegica podem incluir ou excluir ou ainda favo-recer ou desfavorecer as pessoas de grupos culturais diferentes

Ou seja ao aproveitar as oportunidades que as TICs propor-cionam incorporando possibilidades para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo virtual natildeo apenas as necessidades dos alunos de desenvolver suas competecircncias e habilidades de gerenciamento do seu aprendizado seratildeo supridas como tambeacutem poderatildeo ser criadas oportunidades para incorporar atividades que fomentem a consciecircncia e sensibilidade para com diferen-

ccedilas interculturais (RAMANAU 2016) As TICs podem portanto ser usadas como parte de atividades internacionais existentes como complementariedade e como instrumento que promova a integraccedilatildeo de perspectivas internacionais no campus (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Satildeo diversas possibilidades que surgem a partir do uso de TICs como apoio ao processo de internacionalizaccedilatildeo A Zagreb School of Economics and Management (ZSEM) uma faculdade privada que atua na aacuterea de negoacutecios na Croaacutecia graccedilas agraves videoconferecircn-cias oportuniza aos seus alunos assistir palestras de educadores e melhores especialistas de negoacutecios do mundo todo A primeira videoconferecircncia realizada em 2004 exibiu um discurso de boas--vindas do presidente do conselho da faculdade Joseph Bombelles professor emeacuterito na Universidade John Carroll University em Cle-veland (Ohio Estados Unidos) A partir de entatildeo deu-se continui-dade agraves videoconferecircncias como parte dos cursos de Marketing e Gestatildeo em que professores internacionais convidados passaram a apresentar aos alunos da SZEM experiecircncias e praacuteticas de mer-cado vividas e praticadas em outras partes do mundo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009) Atualmente a ZSEM tem como premissa que as TICs geralmente servem como uma ferramenta eficaz para apoiar e coordenar as atividades internacionais da faculdade Aleacutem de ser uma forma raacutepida econocircmica com transcendecircncia de tempo e distacircncia e oportunidade de aprendizagem intercultural para a ZSEM ldquoa implementaccedilatildeo eficiente de TICs possibilita a extensatildeo de relaccedilotildees internacionais apoia na adoccedilatildeo de padrotildees de qualidade internacional e estreita relacionamentos com instituiccedilotildees estran-geirasrdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p8)

Outro exemplo do uso de TICs para o apoio da internacionaliza-ccedilatildeo eacute o projeto denominado International Leadership in Educational Technology (ILET) Em 2001 o projeto foi selecionado por agecircncias de fomento na Europa e nos Estados Unidos para criar um modelo de ambiente virtual intercultural para programas de doutorado des-tinados a preparar futuros liacutederes de tecnologias educacionais O ILET objetiva criar uma comunidade de aprendizado transatlacircntica para estudantes de graduaccedilatildeo em seis universidades diferentes ndash trecircs eu-ropeias e trecircs norte-americanas As seis universidades satildeo Iowa State University University of Florida University of Virginia Institution of Education in the University of London Aalborg University in Dina-marca e University of Barcelona na Espanha O projeto concentra a colaboraccedilatildeo democraacutetica de professores e alunos de todas as univer-sidades participantes Essa abordagem inovadora fornece um modelo personalizado para estudos no exterior com estaacutegios e experiecircncias interculturais mediadas pela tecnologia Colaboraccedilatildeo eacute a chave para o sucesso do modelo uma vez que seis diferentes universidades estatildeo envolvidas No projeto estudantes de doutorado satildeo motivados e recebem apoio para negociar com uma ou mais universidades para aprimorar seus programas de estudos Eles usam websites correio eletrocircnico e outras tecnologias para negociar estaacutegios e experiecircncias

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

de estudos com as universidades parceiras Nesse processo docentes e alunos tornam-se sensiacuteveis agrave ampla variedade de ambientes acadecirc-micos e culturais O projeto ILET tambeacutem possui tecnologias hiacutebridas no programa de doutorado e criou um ambiente virtual e intercultural de aprendizagem em que as seis universidades participam atraveacutes de grupos anuais de leitura virtual de cursos de veratildeo com carga-horaacuteria reduzida para experiecircncias acadecircmicas interculturais e programas de estaacutegios no exterior (DAVIS CHO 2005)

Isso posto eacute possiacutevel afirmar que de fato a internacionalizaccedilatildeo abrangente ldquona qual as universidades tentam prover desenvolvimento pessoal e profissional para todas as pessoas enquanto cidadatildeos globais pode alcanccedilar seus objetivos com o apoio da educaccedilatildeo a distacircncia e de TICsrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) Portanto as TICs podem promover o ldquoaprendizado colaborativo internacional virtualrdquo agrupando as quatro dimensotildees essenciais da mobilidade virtual real 1) o exerciacutecio colaborativo de professores e alunos 2) o uso de interaccedilatildeo e tecnologia virtual 3) existecircncia de potenciais dimensotildees internacio-nais e 4) integraccedilatildeo com o processo de aprendizado (WIT 2013)

4 DesafiosComo jaacute abordado sabe-se que atualmente a tecnologia estaacute de-sempenhando uma funccedilatildeo fundamental na preparaccedilatildeo de futuros educadores e no ensino superior com avanccedilos significativos para a globalizaccedilatildeo Tambeacutem pode-se afirmar que o aprendizado via web tornar-se-aacute cada vez mais proeminente no ensino superior com o uso de tecnologias educacionais Consequentemente ldquoas equipes docentes precisam estar preparadas para trabalhar em um ambiente internacionalrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) E virtual

Integrar tecnologias no curriacuteculo a fim de aprimorar o apren-dizado global e experiecircncia intercultural dos alunos pode ser de-safiador Requer tempo adicional e criatividade do corpo docente aleacutem de depender de conectividade e equipamentos adequados para uso da internet dentre outras questotildees Embora TICs ofere-ccedilam oportunidades ricas e uacutenicas para a internacionalizaccedilatildeo ldquoas equipes frequentemente natildeo conhecem todo o potencial de uso ou natildeo se sentem confortaacuteveis em usaacute-las como instrumento de ensino e aprendizagem e alguns satildeo reticentes em investigaacute-las e experimentaacute-lasrdquo (LEASK 2004 p345)

De acordo com Ramanau (2016) equipes que estatildeo ensinan-do em programas internacionais devem ter aleacutem das habilidades e conhecimentos baacutesicos necessaacuterios para ser um professor de sucesso em qualquer ambiente (tais como conhecimento da aacuterea gestatildeo de sala de aula habilidade de definir claramente os objetivos de aprendizagem elaboraccedilatildeo de um programa adequado) habilidades adicionais como de ter uma ampla consciecircncia cultural habilidade de fazer uso de informaccedilotildees

e exemplos internacionais e a habilidade de conduzir um grupo em que uma ampla variedade de estilos de aprendiza-gem e de comunicaccedilatildeo se fazem presentes Em um ambiente internacional virtual ainda outra dimensatildeo eacute acrescentada a habilidade de fazer tudo o que jaacute foi mencionado utilizando todas as ferramentas virtuais disponiacuteveis

Nesse sentido eacute importante destacar a importacircncia do docen-te no processo e sua preparaccedilatildeo para atuar nesse novo contexto Faz-se necessaacuterio capacitaacute-los e desenvolvecirc-los para que possa atuar de forma a promover um ambiente de ensino e aprendiza-gem que possibilite aos alunos desenvolverem as competecircncias e habilidades exigidas no atual cenaacuterio Investimentos satildeo necessaacute-rios recursos financeiros e humanos bem como tempo para essa preparaccedilatildeo Entretanto esse investimento natildeo seraacute suficiente se natildeo houver motivaccedilatildeo docente Sim ele precisa acreditar e en-gajar-se na proposta E isso depende de outros fatores que natildeo estatildeo sob domiacutenio das instituiccedilotildees gestores e estudantes Eis um desafio que precisa ser considerado

Contudo natildeo apenas os docentes precisam estar engajados ldquoEntregar uma competecircncia global para todos os alunos reque-reraacute programas de iniciativas criativas e intencionais que envol-vem diversos atores do campus e perpassa todos os aspectos da experiecircncia do alunordquo (ACE 2013 p3) Ou seja eacute necessaacuterio o engajamento de toda a comunidade acadecircmica com apoio da sociedade A diversidade e a amplitude de atores envolvidos demonstra a complexidade do processo

Ao considerar tendecircncias nascentes em tecnologia e o con-tiacutenuo impacto que a globalizaccedilatildeo tem trazido para o ensino superior parece claro que um processo de integraccedilatildeo de tec-nologia que enfatiza a conexatildeo e o aprendizado colaborativo e social eacute uma praacutetica de internacionalizaccedilatildeo eficaz Entretanto tal apelo deve ser apoiado por uma avaliaccedilatildeo integral das ne-cessidades da instituiccedilatildeo e recursos disponiacuteveis (BILLINGHAM GRAGG BENTLEY 2013 p25)

Eacute portanto necessaacuterio que a IES tenha claro quais satildeo os seus objetivos de internacionalizaccedilatildeo para que os esforccedilos sejam direcionados nesse sentido evitando accedilotildees isoladas e desarticuladas na instituiccedilatildeo Tambeacutem eacute importante destacar que nem todas as IES tecircm a mesma disponibilidade de recursos humanos financeiros e tecnoloacutegicos para a implementaccedilatildeo de TICs e do processo de internacionalizaccedilatildeo Em muitos paiacuteses em desenvolvimento haacute IES que sequer possuem conexatildeo web Essa eacute uma realidade que precisa ser considerada e portanto avaliada uma vez que a internacionalizaccedilatildeo abrangente natildeo se aplica na abrangecircncia em que a teoria propotildee

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sabe-se que por mais de uma deacutecada o ensino superior tem passado por um raacutepido processo de integraccedilatildeo tecnoloacutegica Tambeacutem a internacionalizaccedilatildeo se mostra como indispensaacutevel para que o ensino superior cumpra a sua missatildeo de preparar egressos para o mundo global interconectado em que vivemos No entanto dos estudos disponiacuteveis sobre ambos temas poucos correlacionam a integraccedilatildeo de tecnologia e a internacionaliza-ccedilatildeo especificamente Assim sendo satildeo necessaacuterios estudos que apontem para essa direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees FinaisA internacionalizaccedilatildeo eacute um tema muito relevante mas ainda incipiente no Brasil No entanto torna-se indispensaacutevel pensar no assunto quando se trata de educaccedilatildeo superior uma vez que seraacute exigido que nossos egressos tenham desenvolvi-do competecircncias teacutecnicas comportamentais tecnoloacutegicas e interculturais

Muitos satildeo os desafios interpostos agraves IES brasileiras que buscam desenvolver a internacionalizaccedilatildeo como um processo contiacutenuo que abrange todos os niacuteveis e serviccedilos da instituiccedilatildeo Barreiras como idioma localizaccedilatildeo geograacutefica extensatildeo territorial reconhecimento da comunidade acadecircmica acerca da importacircn-cia e da relevacircncia da internacionalizaccedilatildeo para a qualificaccedilatildeo da sociedade entre outros mostram que o caminho a ser percorrido eacute laborioso

Todavia observa-se que as tecnologias de informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo possibilitam a distribuiccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo em qualquer fuso em qualquer lugar no mundo Materiais de professores relatoacuterios de pesquisa planos de aula conteuacutedos diversos podem ser distribuiacutedos para locais distantes A informa-ccedilatildeo estaacute apenas um clique distante Tambeacutem o acesso agrave internet possibilita interaccedilotildees virtuais com o mundo de forma faacutecil e com custo baixo O uso de TICs torna-se fundamental para a evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior em nosso paiacutes

Contudo haacute desafios ndash como engajamento estrutura inves-timentos capacitaccedilatildeo de recursos humanos ndash que tambeacutem pre-cisam ser considerados O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo da educaccedilatildeo em nosso paiacutes assim como a internacio-nalizaccedilatildeo do ensino superior tambeacutem poderaacute fazer essa evoluccedilatildeo acontecer Poreacutem nem juntas nem isoladas as TICs e a internacio-nalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior resolveratildeo por completo o pro-blema da educaccedilatildeo no nosso paiacutes Esse soacute poderaacute ser minimizado com a priorizaccedilatildeo antecedida pela conscientizaccedilatildeo

R e f e r ecirc n c i a s

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Internationalization in action special edition connecting classrooms using online technology to de-liver global learning Washington DC One Dupont Circle NW 2016

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Leading the Globally Engaged In-stitution new directions choices and dilemmas a report from the 2012 transatlantic dialogue Washington DC One Dupont Circle NW 2013

ANNABI Carrie Amani MULLER Marlene Muller Learning From the adop-tion of MOOCs in two international branch campuses in the UAE Journal of Studies in International Education European Association for International Education v 20(3) p 260-281 2016 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315315622023-journalCode=jsiagt Acesso em jun 2017

BILLINGHAM Craig GRAGG Monica BENTLEY Guy Internationalization From Concept to Implementation Higher Learning Research Commu-nications Blue Mountains Australia v 3(4) p 24-31 2013 Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1018870hlrcv3i4166gt Acesso em jun 2017

DAVIS Niki CHO Mi Ok Intercultural competence for future leaders of educational technology and its evaluation Interactive Educational Multimedia n10 p1-22 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwubedumultimediaiemgt Acesso em jun 2017

FAVA-DE-MORAES F SIMON I Computer networks and the international-ization of higher education Higher Education Policy 13 2000

HUDZIK J K Comprehensive internationalization Washington DC NAFSA 2011

KNIGHT Jane Higher education in turmoil the changing world of interna-tionalization Rotterdam Sense Publishers 2008

LEASK Betty Internationalisation outcomes for all students using informa-tion and communication technologies (ICTs) Journal of Studies in Inter-national Education Association for Studies in International Education v 8 n 4 p 336-351 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5

PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

O objetivo do presente estudo foi analisar o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de

negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa de Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL) bastante conhecida e referenciada na literatura cientiacutefica Participaram da pesquisa 51 estudantes de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo Os dados para a anaacutelise do uso das tecnologias foram obtidos por meio de entrevistas considerando tanto os recursos de hardware como de software empregados no apoio agrave realizaccedilatildeo das atividades da disciplina De modo geral os resultados apontaram que os estudantes entrevistados buscaram escolher os recursos mais adequados para realizaccedilatildeo das atividades acadecircmicas dentro do conjunto de tecnologias que lhes eram acessiacuteveis e familiares deixando no entanto de explorar novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

A b s t r a c t

The objective of this study was to analyze the use of Information and Communication Technol-ogies (ICTs) by university students of Business Management enrolled in a course of business in virtual environments using the Problem Based Learning (PBL) active methodology well known and referenced in the scientific literature A total of 51 Business students from a private university in the interior of the state of Satildeo Paulo participated in the study The data for the analysis of the use of technologies were obtained through interviews considering both the hardware and software resources used as support to carry out the activities in the course In general the results pointed out that the students interviewed chose the most adequate resources to carry out the academic activities within the set of technologies that they had access to and were familiar with but failed to explore new technologies potentially relevant in supporting the learning process

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 23072017Aprovado em 01102017

Palavras-chaveTecnologia da informaccedilatildeo e ComunicaccedilatildeoMetodologia ativaAprendizado baseado em problemas Gestatildeo

KeywordsInformation and communication technologyActive methodologyProblem based learningManagement

Autores Doutor em Psicologia e Mestre em Ciecircncia da Informaccedilatildeo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Professor do Centro de Economia e Administraccedilatildeo da Pontifiacutecia Univer-sidade Catoacutelica de Campinas email rodrigorozagmailcom

Doutora e Mestre em Psicologia pela University of Georgia Poacutes-dou-torado pela University of Georgia e pela University of Buffalo Professora da Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Psicologia da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinasemail wechslerlexxacombr

Como citar este artigoROZA RH WECHSLER SM O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo por estudantes universi-taacuterios de Administraccedilatildeo Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por estudantes universitaacuterios de AdministraccedilatildeoThe use of information and communication technologies by university students of business management

Rodrigo Hipoacutelito Roza e Solange Muglia Wechsler

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoAs Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) satildeo consi-deradas um vasto conjunto de recursos tecnoloacutegicos destinados ao tratamento agrave organizaccedilatildeo e agrave disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees (TAKAHASHI 2000) Esse conjunto de recursos tecnoloacutegicos abran-ge computadores tablets smartphones sistemas operacionais aplicativos diversos navegadores (browsers) redes computacio-nais sistemas de telecomunicaccedilotildees e a internet dentre outros Aleacutem disso eacute importante salientar que as TICs fazem parte de uma realidade mais ampla marcada por profundas transformaccedilotildees natildeo apenas no acircmbito tecnoloacutegico mas tambeacutem social econocircmico e cultural (CASTELLS 2010) citada por alguns autores como socie-dade da informaccedilatildeo (SILVA CAFEacute CATAPAN 2010 PINHO 2011) ou sociedade da aprendizagem (POZO 2004 COUTINHO LISBOcircA 2011) dentre outras nomenclaturas

Antes da difusatildeo da expressatildeo ldquotecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo outros termos jaacute haviam sido empregados com significados similares como tecnologia da informaccedilatildeo sistema de informaccedilatildeo e processamento de informaccedilatildeo (BUCKLAND 1991) Sistema de informaccedilatildeo no entanto geralmente assume um sen-tido mais amplo abrangendo pessoas e processos ao passo que processamento de informaccedilatildeo tem um sentido mais restrito vol-tado ao modo como a informaccedilatildeo eacute processada por meio dos recursos tecnoloacutegicos No caso especiacutefico do termo ldquotecnologia da informaccedilatildeordquo embora ainda bastante utilizado o acreacutescimo da palavra ldquocomunicaccedilatildeordquo foi realizado com o propoacutesito de ressaltar a importacircncia de ambas as tecnologias da informaccedilatildeo e da co-municaccedilatildeo na atual sociedade (STEVENSON COMMITTEE 1997)

As aplicaccedilotildees das TICs embora bastante exploradas no acircmbito de negoacutecios (LAUDON LAUDON 2011 CHAFFEY 2014) estendem--se agraves mais diversas aacutereas da sociedade como sauacutede entretenimen-to gestatildeo puacuteblica desenvolvimento sustentaacutevel e educaccedilatildeo Na educaccedilatildeo em particular as tecnologias possuem o potencial de apoiar o processo de ensino e aprendizagem viabilizando novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento (ROZA 2017) Em metodologias ativas como a Aprendizagem Baseada em Proble-mas (Problem Based Learning ndash PBL) por exemplo as TICs tecircm sido destacadas como importantes ferramentas de apoio agrave aprendiza-gem (BERTONCELLO CORDEIRO BORTOLOZZI RODRIGUES 2008 OSMAN KAUR 2014) No entanto conforme apontado por Mansell e Tremblay (2013) eacute importante destacar que para promover o acesso ao conhecimento eacute preciso muito mais do que fornecer acesso aos recursos tecnoloacutegicos ou agrave informaccedilatildeo digital O acesso ao conhecimento envolve necessariamente a aprendizagem sendo que sua aquisiccedilatildeo ocorre parcialmente por meio de experiecircncias

Considerando a evoluccedilatildeo das TICs e as modalidades educa-cionais a elas associadas Coll e Monereo (2010) destacaram trecircs etapas de desenvolvimento das tecnologias da comunicaccedilatildeo

marcadas pelas linguagens natural artificial e virtual Na primei-ra etapa o sistema de comunicaccedilatildeo eacute a transmissatildeo oral o que implica a coincidecircncia dos interlocutores no espaccedilo e no tempo Algumas modalidades de educaccedilatildeo e meacutetodos de ensino e apren-dizagem dessa etapa satildeo a imitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a transmissatildeo e a reproduccedilatildeo de informaccedilatildeo

O surgimento da escrita marca a segunda etapa como res-posta agrave necessidade de registrar transmitir e compartilhar infor-maccedilotildees o que apesar de natildeo exigir a presenccedila dos envolvidos na comunicaccedilatildeo no mesmo local e ao mesmo tempo por si soacute tambeacutem natildeo garante a superaccedilatildeo de grandes distacircncias geograacute-ficas Eacute importante destacar que a escrita assim como a leitura transformaram as capacidades cognitivas dos indiviacuteduos no que se refere ao tratamento da informaccedilatildeo (LALUEZA CRESPO CAMPS 2010) Nessa etapa tecircm-se o ensino centrado em textos o emprego de livros didaacuteticos e iniacutecio de um ensino a distacircncia ainda que por correspondecircncia

Na terceira etapa encontram-se os sistemas de comunicaccedilatildeo analoacutegica abrangendo a invenccedilatildeo do teleacutegrafo seguida do telefo-ne do raacutedio e da televisatildeo que permitiram a superaccedilatildeo dos limites espaciais culminando com troca de informaccedilotildees em niacutevel global Poreacutem eacute apenas em um segundo momento dessa terceira etapa que surgem os sistemas de comunicaccedilatildeo digital com a criaccedilatildeo dos computadores sua interconexatildeo em redes e o advento da internet A parir desse momento os sistemas de comunicaccedilatildeo digital incluindo as jaacute mencionadas redes de computadores e a proacutepria internet passam a ser utilizados no ensino apoiado por computador e no e-learning (COLL MONEREO 2010)

Neste sentido verifica-se natildeo somente o crescimento do e-le-arning caracterizado pelo uso das tecnologias na aprendizagem e no ensino agrave distacircncia baseado em Web mas tambeacutem o advento de novas derivaccedilotildees e praacuteticas adjacente como o b-learning que combina aprendizagem online e presencial de forma mista (OKADA BARROS 2010) e o open-learning que busca promover o acesso amplo a materiais e tecnologias e o uso de diferentes conteuacutedos e metodologias para um puacuteblico diversificado em locais culturas e contextos distintos (OKADA 2007) Nota-se ainda o surgimento do m-learning em que a aprendizagem eacute mediada por dispositivos moacuteveis (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012)

Dada as diversificadas possibilidades de uso dos recursos tecnoloacutegicos na educaccedilatildeo e na aprendizagem este estudo op-tou por se concentrar nas tecnologias que satildeo utilizadas por iniciativas dos proacuteprios estudantes universitaacuterios para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecircmicas Para tanto foram selecionados estudantes de uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtu-ais utilizando a metodologia PBL Trata-se de uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem centrada no aluno (CACHINHO

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

2012) fundamentada no pressuposto de que a aprendizagem eacute um processo de construccedilatildeo de significados e natildeo simplesmente de recepccedilatildeo de informaccedilotildees (ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Nela o aluno desempenha um papel ativo e preponderante em sua proacutepria educaccedilatildeo (TOLEDO JUacuteNIOR et al 2008) A escolha de uma disciplina que adota tal metodologia ocorreu com o intuito de se investigar estudantes que estivessem em uma condiccedilatildeo de protagonismo no que se refere agrave aprendizagem natildeo apenas nas situaccedilotildees e assuntos abordados na disciplina mas tambeacutem no uso das TICs

2 Meacutetodo21 ParticipantesPara este estudo foram selecionados 51 estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo matriculados em uma disciplina de negoacute-cios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa PBL A disciplina em questatildeo denominada Administraccedilatildeo em Am-bientes Virtuais foi oferecida no uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Todos os alunos eram usuaacuterios comuns das TICs familiarizados com o uso dos recursos tecnoloacutegicos

22 MaterialFoi utilizado um roteiro semiestruturado para a realizaccedilatildeo de en-trevistas com os participantes do estudo O roteiro apresentava duas questotildees centrais que deveriam ser consideradas no contex-to das atividades da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais

1 quais dispositivos satildeo utilizados (desktop notebook tablet smartphone outros)

2 quais programas serviccedilos e redes satildeo utilizados

A questatildeo 2 em particular considerou os subtoacutepicos sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos de um modo geral serviccedilos da Web e rede de comunicaccedilatildeo de dados para os quais os participantes poderiam indicar os nomes dos recursos utilizados Por se tratar de um roteiro semiestruturado as questotildees serviram como norteadoras das entrevistas apresentando elementos es-senciais a serem abordados sem restringir no entanto a explo-raccedilatildeo de outros aspectos correlatos e relevantes que pudessem surgir durante os diaacutelogos com os participantes da pesquisa

23 ProcedimentoPrimeiramente os estudantes receberam uma explicaccedilatildeo sobre as entrevistas esclarecendo que as questotildees deveriam ser con-sideradas no contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais O contexto da disciplina abrangia atividades de pesqui-sas apresentaccedilotildees debates bem como elaboraccedilatildeo de relatoacuterios apoiados na metodologia PBL

Para uma maior elucidaccedilatildeo do contexto citado cabe ressal-tar que tipicamente os estudantes eram divididos em grupos

compostos pelos seguintes papeacuteis liacuteder redator porta-voz e demais membros Os grupos partiam de uma situaccedilatildeo-proble-ma estudo de caso e apoacutes uma anaacutelise inicial geravam um relatoacuterio parcial incluindo hipoacuteteses e toacutepicos a serem pesqui-sados Em seguida as pesquisas eram conduzidas pelos grupos sob orientaccedilatildeo do professor Ao final das pesquisas os grupos apresentavam um relatoacuterio final e realizavam apresentaccedilotildees e debates com os outros grupos Por fim o professor realizava um fechamento das atividades resgatando o que fora abordado pelos grupos abrangendo os aspectos teoacutericos pertinentes agrave situaccedilatildeo-problema estudo de caso

Assim no presente estudo as entrevistas foram realizadas em grupos com aproximadamente seis estudantes Esse nuacutemero respeitou a divisatildeo dos grupos jaacute adotada para realizaccedilatildeo das atividades coletivas da disciplina Apesar das entrevistas terem sido realizadas em grupos as respostas dos participantes foram coletadas uma a uma Os participantes foram mantidos em gru-pos devido ao fato de supostamente muitos dos aplicativos serem usados para comunicaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo de trabalhos co-laborativos de forma que uma das respostas poderia contribuir para as demais

O tratamento das respostas relativas agrave questatildeo 1 sobre os dis-positivos utilizados respeitou as categorias previamente estabe-lecidas mas tambeacutem considerou a possibilidade do participante apontar outros dispositivos As respostas relativas agrave questatildeo 2 foram categorizadas dentro de cada subtoacutepico sistemas ope-racionais navegadores e-mail aplicativos diversos serviccedilos da Web e rede Todos os dados coletados por meio das entrevistas foram tabulados e posteriormente analisados

3 Resultados e discussatildeo Para anaacutelise das respostas da questatildeo 1 foram considerados o uso de desktop notebook smartphone e tablet Os participantes puderam apontar mais de um dispositivo indicando a ordem em que satildeo empregados do mais utilizado para o menos utilizado (primeira opccedilatildeo segunda opccedilatildeo e terceira opccedilatildeo) Os resultados dessa questatildeo encontram-se na Tabela 1

Tabela 1 ndash Dispositivos utilizados pelos estudantes

Dispositivo 1ordf opccedilatildeo 2ordf opccedilatildeo 3ordf opccedilatildeo

n n n

Desktop 25 490 8 157 5 98

Notebook 11 216 14 275 8 157

Smartphone 15 294 18 353 7 137

Tablet 0 0 0 0 3 59

Fonte Os autores 2017

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo os dados mostrados na Tabela 1 o dispositivo mais utilizado como primeira opccedilatildeo pelos estudantes foi o desktop citado por praticamente metade dos entrevistados (490) seguido pelo smartphone (294) e pelo notebook (216) O fato de o desktop es-tar disponiacutevel na universidade tanto nos laboratoacuterios de informaacutetica como na biblioteca locais em que algumas aulas satildeo realizadas pode ter contribuiacutedo para esse resultado Outro fator que pode ter contri-buiacutedo parcialmente para um maior uso do desktop eacute a necessidade de preparaccedilatildeo de relatoacuterios que precisam ser digitados e portanto satildeo mais facilmente executados em dispositivos com teclados que garantam uma melhor ergonomia Contudo em oposiccedilatildeo a essa suposiccedilatildeo o segundo dispositivo mais utilizado como primeira op-ccedilatildeo foi o smartphone o que pode ser explicado pela conveniecircncia de estar com o dispositivo em matildeos uma vez que quase todos os estudantes possuem e levam o smartphone consigo agraves aulas bem como pela mobilidade jaacute que tal dispositivo pode ser usado mesmo estando em deslocamento pelos espaccedilos da universidade onde estatildeo ocorrendo as atividades da disciplina

Jaacute como segunda opccedilatildeo o dispositivo mais utilizado foi o smar-tphone (353) seguido pelo notebook (275) Mais uma vez o uso do smartphone precedeu o uso do notebook Essa relaccedilatildeo de prece-decircncia apenas se inverte quando considerados os dispositivos utilizados como terceira opccedilatildeo poreacutem com percentuais de uso muito proacuteximos 157 para notebook e 137 para smartphone Observa-se ainda que o tablet aparece em uacuteltimo lugar apenas como terceira opccedilatildeo tendo sido apontado por somente 59 dos estudantes entrevistados

Na anaacutelise das respostas da questatildeo 2 foram levados em conta os sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos diversos e serviccedilos da Web bem como as redes usados pelos estudantes A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos

Tabela 2 ndash Programas serviccedilos e redes utilizados pelos estudantes

Categoria Recurso n

Sistema operacional

Android 21 412

iOS 22 431

Mac OS 4 78

Windows 50 980

Navegador

Chrome 49 961

Firefox 10 196

Internet Explorer 6 118

Safari 18 353

E-mail

Gmail 26 510

HotmailOutlook 31 608

Terra 1 20

Uol 1 20

Yahoo 3 59

Continua gt

Categoria Recurso n

Aplicativos diversosoutros serviccedilos Web

Dropbox 1 20

Facebook 13 255

Google 49 961

Googgle Acadecircmico 49 961

Google Drive 2 39

Google Livro 27 529

MS Word 51 1000

MS Power Point 51 1000

OneDrive 3 59

SciELO 13 255

Skype 9 176

WhatsApp 51 1000

Rede

3G 20 392

4G 11 216

LAN Cabeada 43 843

WiFi 47 922

Fonte Os autores 2017

Conforme os dados apresentados na Tabela 2 o Windows da Microsoft foi o sistema operacional mais usado sendo citado por 98 dos estudantes Nesse caso existe uma relaccedilatildeo com o predomiacutenio do uso do desktop pois na biblioteca e nos labora-toacuterios frequentados pelos estudantes entrevistados o Windows eacute o sistema operacional padratildeo O sistema operacional da Apple para uso em seus computadores (Mac) que aqui foi identificado genericamente como Mac OS por possuir nomenclaturas diferen-tes dependendo de sua versatildeo foi o menos utilizado Os sistemas operacionais Android e iOS para dispositivos moacuteveis foram uti-lizados de maneira equilibrada entre os estudantes sendo men-cionados respectivamente por 412 e 431 dos universitaacuterios

O Chrome do Google foi o navegador mais usado pelos estudantes sendo apontado em 961 dos casos seguido do Safari da Apple com 353 Eacute interessante notar que embora o Internet Explorer (IE) seja o navegador padratildeo da Microsoft acompanhando o sistema operacional Windows somente 118 dos estudantes disseram utilizaacute-lo indicando nesse caso uma autonomia dos estudantes na escolha do navega-dor mais adequado a suas necessidades O serviccedilo de e-mail mais utilizado foi o Hotmail Outlook da Microsoft (608) acompanhado do Gmail do Google (510) Outros serviccedilos de e-mail tiveram pouca expressatildeo

Na categoria aplicativos e outros serviccedilos da Web o editor de textos Word e o aplicativo de apresentaccedilotildees Power Point ambos da Microsoft foram escolhas unacircnimes Apenas um estudante relatou utilizar uma versatildeo Web do editor de textos da Microsoft por meio do OneDrive para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecirc-micas Aliaacutes no que se refere a serviccedilo de armazenamento em nuvem o OneDrive Google Drive e o Dropbox foram citados por

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

59 39 e 20 dos estudantes respectivamente percentuais baixos considerando o potencial desse tipo de ferramenta para realizaccedilatildeo de trabalhos colaborativos

Outro destaque unacircnime na escolha dos estudantes foi o WhatsApp O aplicativo de troca de mensagens instantacircneas e chamadas de voz para smartphone foi apontado como de muita importacircncia para comunicaccedilatildeo dos grupos durante a realizaccedilatildeo das atividades da disciplina Outras ferramentas que auxiliam na comunicaccedilatildeo tambeacutem foram mencionadas como o Facebook (255) e o Skype (176) Cabe destacar ainda o serviccedilo de buscas do Google o Google Acadecircmico o Google Livro bem como do ser-viccedilo de buscas do Scientific Electronic Library Online (SciELO) que foram apontados por 961 961 529 e 255 dos estudantes respectivamente como ferramentas de apoio a suas pesquisas aca-decircmicas no acircmbito da disciplina abordada no presente estudo

Por fim para acesso aos serviccedilos da Web e comunicaccedilatildeo as redes mais utilizadas foram a rede WiFi (922) e a rede local (LAN) cabeada (843) disponibilizadas pela universidade Tambeacutem foram citadas as conexotildees 3G e 4G fornecidas pelas operadoras de telefonia moacutevel celular por 392 e 216 dos estudantes universitaacuterios entrevistados respectivamente

No que se refere ao contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais apoiado na metodologia ativa PBL (CACHI-NHO 2012 ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) verifica-se que na etapa inicial dos trabalhos as TICs foram menos utilizadas pois tal etapa abrangia a compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para abordagem da situaccedilatildeo-problema estudo de caso Na etapa de pesquisas as tecnologias foram utilizadas com maior intensida-de para suportar atividades como buscas seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bem como a comunicaccedilatildeo entre os integrantes dos grupos Na etapa de apresentaccedilatildeo e debates por sua vez os recursos tecnoloacutegicos foram empregadas de forma moderada em relaccedilatildeo agraves outras etapas destinando-se basica-mente agrave apresentaccedilatildeo dos resultados obtidos

Todos os recursos de hardware e software citados pelos es-tudantes fazem parte das TICs (TAKAHASHI 2000) que estatildeo na base das transformaccedilotildees observadas na atual sociedade (CAS-TELLS 2010) Levando em conta os avanccedilos das TICs e as moda-lidades educacionais relacionadas tais recursos situam-se em um momento marcado pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Nesse sentido mesmo a disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais natildeo tendo adotado explicitamente uma abordagem do tipo b-learning (OKADA BARROS 2010) os estudantes fizeram espontaneamente uma combinaccedilatildeo de aprendizagem online e

presencial De modo similar eacute possiacutevel afirmar que apesar de a disciplina natildeo adotar o m-learning (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012) de forma expliacutecita os estudantes fizeram um uso espontacircneo de dispositivos moacuteveis no apoio agrave aprendizagem

5 ConclusotildeesO presente estudo abordou o uso das TICs por estudantes uni-versitaacuterios de Administraccedilatildeo em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia PBL Consi-derou para tanto o contexto mais amplo de transformaccedilotildees tecnoloacutegicas sociais econocircmicas e culturais verificadas na atualidade (CASTELLS 2010) que caracterizam a sociedade da informaccedilatildeo ou da aprendizagem Nesse contexto os recursos tecnoloacutegicos podem apoiar o processo de ensino e aprendi-zagem por meio de novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de conhecimento (ROZA 2017)

Embora os participantes da pesquisa tenham sido estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais as tecnologias abordadas dentro do conteuacutedo programaacutetico da disciplina natildeo foram o foco deste estudo Tampouco o enfoque foi dado aos recursos tecnoloacutegicos de uso obrigatoacuterio pelos estudantes como o ambiente virtual de aprendizagem da universidade por exemplo Apesar de recursos como esse tambeacutem possuiacuterem potencial de apoiar agrave aprendizagem o presente estudo concentrou-se nas TICs (TAKAHASHI 2000) que satildeo utilizadas por iniciativa dos estudantes a partir de suas neces-sidades para realizaccedilatildeo dos desafios da disciplina situando-se em uma etapa marcada pela linguagem virtual e mais especificamente pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Outro aspecto que merece destaque eacute o fato de a disciplina adotar a aprendizagem baseada em problemas PBL Por se tratar de uma metodologia ativa (CACHINHO 2012) o estudante teve a possibilidade de assumir o papel de protagonista de sua proacutepria aprendizagem utilizando com maior liberdade as TICs para rea-lizaccedilatildeo de tarefas como pesquisa organizaccedilatildeo anaacutelise registro e compartilhamento de informaccedilotildees para aquisiccedilatildeo e produccedilatildeo de novos conhecimentos de forma alinhada agrave concepccedilatildeo de apren-dizagem como um processo de construccedilatildeo de significados (ES-CRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Aleacutem disso tambeacutem eacute importante destacar que esta pesquisa teve um caraacuteter exploratoacuterio e seus resultados se limitam agrave amostra analisada

Os resultados obtidos neste estudo por meio da anaacutelise das entrevistas indicam que o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos pelos estudantes para realizaccedilatildeo das atividades propostas na disciplina notadamente o desktop o smartphone e o notebook foi influenciado por fatores como disponibilidade ergonomia

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

e mobilidade associados a tais dispositivos A disponibilidade tambeacutem foi importante na escolha das redes para os dispositivos moacuteveis o que natildeo se aplicou ao desktop uma vez que nesse caso os computadores jaacute se encontravam conectados agrave rede lo-cal cabeada da universidade Tambeacutem no contexto de realizaccedilatildeo de atividades acadecircmicas da disciplina o uso de software foi guiado pela conveniecircncia em situaccedilotildees em que os programas jaacute se encontravam instalados ou eram de uso habitual entre os estudantes mas tambeacutem pela autonomia nos casos em que o estudante optou pelo uso de determinados programas e serviccedilos da Web abdicando-se de outros

Ainda no acircmbito da disciplina de negoacutecios em ambientes vir-tuais o uso das TICs pelos estudantes mostrou-se mais intenso na etapa de pesquisas da metodologia PBL Na etapa inicial e na etapa de apresentaccedilotildees e debate o uso das TICs foi baixo e moderado res-pectivamente Aleacutem disso destaca-se o fato de que os estudantes fizeram de forma espontacircnea uso combinado de aprendizagem online e presencial bem como uso de dispositivos moacuteveis para apoiar o processo de aprendizagem

De modo geral foi possiacutevel constatar que os estudantes buscaram usar as TICs que consideraram mais adequadas para o cumprimento das atividades da disciplina recorrendo para tanto agravequelas a que jaacute possuiacuteam acesso e com que tinham familiaridade No entanto alguns recursos tecnoloacutegicos embora pudessem auxiliar no cumprimento das atividades propostas como os serviccedilos de armazenamento em nuvem por exemplo foram menos explorados ficando restritos a poucos estudantes nos grupos entrevistados Nesse sentido uma maior troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os membros dos grupos ou ainda a indicaccedilatildeo de tecnologias por parte do professor no acircmbito das atividades apoiadas na metodologia PBL poderia resultar na adoccedilatildeo coletiva de outros recursos tecnoloacutegicos bem como estimular a exploraccedilatildeo de novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

R e f e r ecirc n c i a s

BERTONCELLO V CORDEIRO LB BORTOLOZZI F RODRIGUES AP Integraccedilatildeo das TIC e a Metodologia PBL com Aplicaccedilatildeo na aacuterea de Ginecologia e Obstetriacutecia In Brazilian Symposium on Computers in Education 2008 p 370-379

BUCKLAND M K Information and information systems New York Prae-guer 1991

CACHINHO H Criando experiecircncias de aprendizagem significativas do potencial da Aprendizagem Baseada em Problemas El Hombre y la Maacutequina v40 p58-67 2012

CASTELLS M The rise of the network society The information age Econ-omy society and culture Oxford Wiley-Blackwell 2010

CHAFFEY D Gestatildeo de e-business e e-commerce estrateacutegia implementaccedilatildeo e praacutetica Rio de Janeiro Elsevier 2014

COLL C MONEREO C Educaccedilatildeo e aprendizagem no seacuteculo XXI novas fer-ramentas novos cenaacuterios novas finalidades In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 p15-46

COUTINHO CP LISBOcircA ES Sociedade da informaccedilatildeo do conhecimento e da aprendizagem desafios para educaccedilatildeo no seacuteculo XXI Revista de Educaccedilatildeo v 18 n 1 p5-22 2011

ESCRIVAtildeO FILHO E RIBEIRO LRC Inovando no ensino de administra-ccedilatildeo uma experiecircncia com a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) Cadernos EBAPEBR p1-9 2008

KEARNEY MSCHUCK S AUBUSSON P Viewing mobile learning from a pedagogical perspective Research in learning technology v20 p1-17 2012

LALUEZA J L CRESPO I CAMPS S As tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo e os processos de desenvolvimento e socializaccedilatildeo In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 (p47-65)

LAUDON K LAUDON J Sistemas de informaccedilatildeo gerenciais Satildeo Paulo Pearson 2011

MANSELL R TREMBLAY G Renewing the knowledge societies vision for peace and sustainable development Paris UNESCO 2013

OKADA A Novos paradigmas na educaccedilatildeo online com a aprendizagem aberta In 5th International Conference in Information and Communi-cation Technologies in Education Challenges 2007 Portugal Centro de Competia da Universidade do Minho

OKADA A BARROS D M V Ambientes virtuais de aprendizagem aberta bases para uma nova tendecircncia Revista Digital de Tecnologias Cogni-tivas v3 p20-35 2010

OSMAN K KAUR SJ Evaluating Biology Achievement Scores in an ICT integrated PBL Environment Eurasia Journal of Mathematics Science amp Technology Education v 10 n 3 p185-194 2014

PINHO JAG Sociedade da informaccedilatildeo capitalismo e sociedade civil reflexotildees sobre poliacutetica internet e democracia na realidade brasileira Revista de Administraccedilatildeo de empresas v51 n1 p98-106 2011

POZO JI A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informa-ccedilatildeo em conhecimento Paacutetio Revista Pedagoacutegica n31 p8-11 2004

ROZA RH Estilos de aprendizagem e o uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 2017 157p Tese (Doutorado em Psicologia como Profissatildeo e Ciecircncia) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Centro de Ciecircncias da Vida Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psico-logia Campinas 2017

SILVA EL CAFEacute L CATAPAN AH Os objetos educacionais os metadados e os repositoacuterios na sociedade da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo v39 n3 p93-104 2010

STEVENSON COMMITTEE Information and communications technology in UK schools An independent enquiry (The Stevenson Report) 1997

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

TAKAHASHI T (Org) Sociedade da informaccedilatildeo no Brasil livro verde Brasiacutelia Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia 2000

TOLEDO JUacuteNIOR ACC IBIAPINA CDC LOPES SCF RODRIGUES ACP SOARES SMS Aprendizagem baseada em problemas uma nova referecircncia para a construccedilatildeo do curriacuteculo meacutedico Revista Meacutedica de Minas Gerais v18 n2 p123-131 2008 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre

indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-

tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

Apresentamos uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional que procura articular a Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica com a Educaccedilatildeo Ambiental considerando

os aspectos culturais nas relaccedilotildees entre os sujeitos e as aacuteguas em diferentes contextos especialmente no que diz respeito agrave escassez poluiccedilatildeo e maacute distribuiccedilatildeo Como objeto de anaacutelise seraacute apresentado o livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado em 2016 pela editora UDESC Entre os principais resultados alcanccedilados destaca-se o efetivo envolvimento de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento bem como sua validaccedilatildeo preacutevia junto ao puacuteblico escolar ao qual se destina Tal intervenccedilatildeo tambeacutem corrobora a utilizaccedilatildeo criteriosa das tecnologias educacionais na promoccedilatildeo e difusatildeo de conteuacutedos e significados valores e formas de atuaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida comunitaacuteria

R e s u m e n

Presentamos una intervencioacuten pedagoacutegica de aplicacioacuten de tecnologiacutea educativa que busca artic-ular la Educacioacuten Cientiacutefica y Tecnoloacutegica con la Educacioacuten Ambiental considerando los aspectos culturales en las relaciones entre los sujetos y las aguas en diferentes contextos especialmente en lo que se refiere a su situacioacuten escasez contaminacioacuten y mala distribucioacuten Como objeto de anaacutelisis seraacute presentado el libro digital Sobre a Face das Aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado en 2016 por la Editora UDESC Entre los principales resultados alcanzados se destaca la efectiva participacioacuten de investigadores y profesores de diferentes aacutereas de conocimiento asiacute como su validacioacuten previa ante el puacuteblico escolar al que se destina Tal intervencioacuten tambieacuten corrobora la utilizacioacuten cuidadosa de las tecnologiacuteas educativas en la promocioacuten y difusioacuten de con-tenidos y significados valores y formas de actuacioacuten en relacioacuten a la calidad de vida comunitaria

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 20170929 Aprovado em 20112017

Palavras-chaveEnsino a distacircncia Material paradidaacutetico InterdisciplinaridadeAacutegua

Palabras claveEnsentildeanza a distancia Material paradidaacutectico Interdisciplinariedad Agua

Autores Poacutes-doutorando no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina doutor em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grandee-mail thalassochingyahoocombr

Doutoranda no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina mestre em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande e-mail carolinacnpqgmailcom

Professora do Centro de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Universidade do Estado de Santa Catarina doutora em Neuro-ciecircncias pela Universidade Federal de Santa Catarina e-mail isabelcunhaudescbr

Como citar este artigoFERREIRA W NASCIMENTO C C CUNHA I C Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias edu-cacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguasIntervencioacuten pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionales sobre las interaciones culturales com las aguas

Washington Ferreira Carolina Cavalcanti do Nascimento e Isabel Cristina da Cunha

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoApresentamos o processo de criaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de material paradidaacutetico sob a forma de um livro digital denominado Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua1 Essa obra se constituiu em uma intervenccedilatildeo pe-dagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional articulan-do princiacutepios conteuacutedos e valores compartilhados entre os campos da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e da Educaccedilatildeo Ambiental A transversalidade pretendida se efetiva atraveacutes de um conjunto de propostas pedagoacutegicas que buscam conside-rar aspectos culturais de diferentes contextos socioambientais nas suas relaccedilotildees com as aacuteguas

A viabilidade do desenvolvimento de tal atividade foi oportu-nizada atraveacutes da parceria entre a Coordenadoria de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior e a Agecircncia Nacional das Aacuteguas com o lanccedilamento em setembro de 2015 do Edital ANA-CAPES DEB Nordm 182015 subsidiado pelo Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash Projeto Aacutegua O objeti-vo do referido edital foi fomentar a produccedilatildeo de material didaacutetico para a educaccedilatildeo baacutesica sobre o tema ldquoAacuteguardquo para ser utilizado no Ensino Fundamental II e no Ensino Meacutedio e ser disponibilizado em forma de miacutedias e adaptaacuteveis para uso em repositoacuterios online eou em raacutedio TV internet dispositivos moacuteveis (tablets e celu-lares) Entre as exigecircncias desse edital em relaccedilatildeo aos projetos aprovados estavam ser desenvolvidos preferencialmente por equipes multidisciplinares ter como referecircncia os conteuacutedos elencados nos Paracircmetros Curriculares Nacionais do Meio Am-biente em que se situa a discussatildeo sobre o tema ldquoAacuteguardquo ter um caraacuteter interdisciplinar e garantir a testagem preacutevia do material didaacutetico produzido (ANA-CAPES 2015)

O projeto Sobre a Face das Aacuteguas submetido pela Univer-sidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) teve vigecircncia entre os meses de janeiro e dezembro de 2016 Seu objetivo central foi produzir um material paradidaacutetico de hipertexto no formato de ePUB2 ndash contendo textos informativos forma-tivos e trabalhos artiacutesticos ndash que auxiliasse na reflexatildeo sobre as diferentes relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas voltadas tanto para a aprendizagem sobre a importacircncia das aacuteguas e dos seus usos sustentaacuteveis quanto para diferentes conteuacutedos disciplinares associados ao referido tema O projeto buscava elaborar um material didaacutetico interativo dinacircmico e acessiacutevel que possibilitasse aos profes-sores(as) do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio integrar a discussatildeo sobre a importacircncia e o uso sustentaacutevel da aacutegua aos seus conteuacutedos curriculares articular as diferentes mani-festaccedilotildees artiacutesticas e culturais com o tema ldquoaacuteguardquo agraves atividades pedagoacutegicas de mediaccedilatildeo de aprendizagem e sensibilizar e problematizar as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua consi-derando o contexto temporal e territorial de diferentes grupos

eacutetnico-culturais As manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais estatildeo muito mais acessiacuteveis hoje em dia e podem ser utilizadas com vieacutes pedagoacutegico se estiverem ao alcance dos professores como recurso didaacutetico (CUNHA 2015) Elas por si mesmas trazem informaccedilotildees e geram sentimentos que auxiliam na formaccedilatildeo do sujeito poreacutem esse potencial pode ser otimizado na medida em que se propotildeem objetivos de aprendizagem associados a essas informaccedilotildees e emoccedilotildees

No sentido de estimular a relaccedilatildeo sustentaacutevel com os recursos de bem comum como por exemplo a aacutegua cabe agrave Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e agrave Educaccedilatildeo Ambiental o compromisso com a formaccedilatildeo do sujeito tanto no acircmbito racional pragmaacuteti-co quanto no acircmbito eacutetico e moral ndash estimulando a superaccedilatildeo da relaccedilatildeo utilitarista que ainda mantemos com os elementos e os fenocircmenos da natureza Nessa perspectiva com diferentes dimensotildees e aspectos muitos autores e educadores tecircm sugeri-do e experimentado uma aproximaccedilatildeo da educaccedilatildeo com a arte trazendo na maioria das vezes elementos de linguagens artiacutesticas agraves praacuteticas educativas

A Transversalidade emerge como alternativa para a construccedilatildeo da Interdisciplinaridade e ao aprofundamento da Transdisciplinaridade que Edgar Morin indica como uma forma da educaccedilatildeo contemplar uma nova leitura do mundo Isso nos remete agrave compreensatildeo de que o mundo fiacutesico eacute uma rede de relaccedilotildees de conexotildees e natildeo uma en-tidade fragmentada em que as partes satildeo analisadas separadas do todo sem a preocupaccedilatildeo com a complexidade existente e com as inter-relaccedilotildees entre essas mesmas partes (SANTOS 2012 p 169)

A preocupaccedilatildeo educacional com as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas abrange desde a sua (in)disponibilidade e perda de qualidade ateacute a percepccedilatildeo dos aspectos eacuteticos-afeti-vos envolvidos nestas mesmas relaccedilotildees A construccedilatildeo de uma percepccedilatildeo proacutepria autocircnoma e emancipatoacuteria da relaccedilatildeo com a aacutegua natildeo pode ser algo indutivo maniqueiacutesta ndash no sentido de determinar o que eacute certo e errado ditando comportamentos ade-quados que noacutes enquanto adultos tambeacutem temos dificuldades de praticar Portanto torna-se fundamental associar a aacutegua com as diferentes manifestaccedilotildees culturais visando a sensibilizar sobre as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas problematizadoras

2 Resultados e AnaacuteliseO desenvolvimento da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas (NASCI-MENTO FERREIRA CUNHA 2016) foi estruturado atraveacutes de um conjunto de etapas processuais (Tabela 1)

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Tabela 1 ndash Etapas e atividades da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas

Etapas Atividades Observaccedilotildees

A

Pesquisa seleccedilatildeo eou produccedilatildeo de obras artiacutesticas e manifestaccedilotildees culturais relacionadas com o tema Aacutegua

Desenhos pinturas foto-grafias muacutesicas filmes escul-turas instalaccedilotildees contos poemas crocircnicas

BElaboraccedilatildeo das propostas pe-dagoacutegicas a partir dos materiais selecionados

C

Avaliaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo (teoacuterica e metodoloacutegica) de especialistas - professores(s) e pesquisado-res(s) ndash considerando aspectos conceituais disciplinares

Aacutereas envolvidas arte ge-ografia histoacuteria sociologia filosofia liacutengua portuguesa e literatura inglecircs matemaacute-tica biologia oceanografia espiritualidade e religiotildees

DInserccedilatildeo das contribuiccedilotildees dos(s) especialistas nas propos-tas pedagoacutegicas

E Esboccedilo preliminar das propostas em desenvolvimento

FVideoconferecircncia nacional de inte-graccedilatildeo dos projetos contemplados mediada pela CAPES

(abril de 2016)

G Complementaccedilatildeo de atividades e propostas pedagoacutegicas

H Supervisatildeo e ajustes da coordena-ccedilatildeo do projeto

I Revisatildeo textual

J Conversatildeo das propostas pedagoacute-gicas editadas (nos formatos e-Pub e PDF)

K Testagem de validaccedilatildeo junto ao puacuteblico usuaacuterio

(professores(s) e alu-nos(s))

L Revisatildeo final e poacutes-produccedilatildeo

MSeminaacuterio nacional presencial de integraccedilatildeo dos projetos contem-plados junto a CAPES

(Brasiacutelia DF novembro de 2016)

Fonte os autores 2017

As sugestotildees de atividades foram distribuiacutedas entre vinte pro-postas pedagoacutegicas de caraacuteter informativo e formativo a partir de manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais sobre as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas todas conectadas a determinados temas e conteuacutedos especiacuteficos (Tabela 2)

Tabela 2 ndash propostas pedagoacutegicas do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua

Atividades Artes Temas

Coacutedigo de Hamurabi

Trecho do Coacutedigo de Hamurabi (considerado o primeiro conjunto de leis da humanidade

CidadaniaDesastres ambientaisCTSMovimentos sociais

O Grito da Boneca

Fotografia de Wa Ching do Estuaacuterio da Lagoa dos Patos Rio Grande do Sul

Poluiccedilatildeo hiacutedricaDespejo de resiacuteduosPoliacuteticas puacuteblicasSaneamento baacutesico

A Arca Charge El Arca do argentino Mayer

Mudanccedilas climaacuteticasBiodiversidade

Escultura Submersa

Escultura em maacutermore do catarinense Pita Camargo no mar no Reserva Bioloacutegica do Arvoredo SC

UCsPoluiccedilatildeoBiodiversidade

As Aacuteguas de Tom e Gonzaga

Muacutesicas Asa Branca do cantor e compositor Luiz Gonzaga e Aacuteguas de Marccedilo do cantor e compositor Tom Jobim

Mudanccedilas climaacuteticasDesigualdades sociaisEscassez da aacutegua

Aacutegua Charge do brasileira Jack Kaminski

Escassez da aacuteguaSustentabilidade

Lenda das Sereias

Samba-enredo Lenda das Sereias_Rainha do Mar do GRES Impeacuterio Serrano

Mitologia africanaSincronismo religioso

Meditaccedilatildeo da Aacutegua

Proposta transdisciplinar para introduccedilatildeo ao tema Aacutegua atraveacutes da meditaccedilatildeo

Budismo tibetano

O Nascer do Mar

Poema natildeo titulado do autor Raul Machado

Impactos ambientais

O Velho e o Mar

Video-animaccedilatildeo a adaptaccedilatildeo da obra literaacuteria claacutessica de Ernest Hemingway publicado em 1952

Ser humano-naturezaSustentabilidadeComunidade tradicional

Continua gt

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Atividades Artes Temas

Retirantes

A obra Retirantes pintada em 1944 por Cacircndido Portinari

Desigualdades sociaisMovimentos sociais

PrioridadesCharge (natildeo titulada) do alematildeo Jan Tomaschoff

Mudanccedilas climaacuteticasSustentabilidadeJusticcedila amiental

Hino ao NiloHino em homenagem ao Rio Nilo no Egito

Cidadania

Rio das Mulheres

Documentaacuterio O Rio das Mulheres pelo olhar de Ivaneide de 2004

Desigualdade de gecircneroSustentabilidade

As Primeiras Civilizaccedilotildees

O Mapa das Pri-meiras Civilizaccedilotildees eacute um desenho (vetorizaccedilatildeo) em tela utilizando o software livre de geoprocessa-mento QGIS

Aacutegua e Sauacutede

A imagem representando a praacutetica do banho na Idade Meacutedia

HigieneSauacutedeSaneamento Baacutesico

Fonte Elaborado pelos autores baseado em Nascimento Ferreira

Cunha 2016

O conteuacutedo e a linguagem deste livro digital foram estrutura-dos visando como usuaacuterios diretos principalmente professores do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio Para cada uma das vinte atividades propostas foram tambeacutem apresentadas seacuteries especiacuteficas de fontes bibliograacuteficas atraveacutes de comentaacuterios ao longo do texto e hiperlinks de acesso ao domiacutenio virtual como estiacutemulo para o aprofundamento dos leitores nos temas e pro-cessos discutidos em relaccedilatildeo aos seus referenciais cientiacutefico--tecnoloacutegicos e artiacutestico-culturais aleacutem da contextualizaccedilatildeo das obras originais Outro ponto a ser destacado foi o envolvimento interdisciplinar de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento no processo de pesquisa elaboraccedilatildeo e produccedilatildeo desta obra (Quadro 1)

Quadro 1 ndash roteiro para avaliaccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas pelos pesquisadores-professores

Temas de avaliaccedilatildeo

Questotildees para avaliaccedilatildeo das propostas Detalhes

Qualidadeda arte

a) eacute interessanteb) trata da temaacutetica aacuteguac) eacute adequada para o Ensino

Fundamental II eou Ensino Meacutedio

d) estaacute classificada adequadamente

(poema muacutesica documentaacuterio histoacuteria em quadrinho charge fotografia viacutedeo)

Qualidadeda proposta

a) eacute interdisciplinarb) estaacute bem contextualizada

(apresentada)c) eacute transversal (considera o

cotidiano)d) articula questotildees locais e globaise) quais elementos relacionados com

o tema aacutegua ainda podem ser explorados na arte

f ) cita conteuacutedos adequados em relaccedilatildeo agraves disciplinas citadas

g) quais outras disciplinas e conteuacutedos ainda podem ser explorados

h) forneceu elementos paradidaacuteticos para o() professor() ou poderia apresentar mais coisas (aprofundar pedagogicamente)

i) estaacute bem articulada com a arte ou foge do assunto

Fonte os autores 2017

O retorno dessas avaliaccedilotildees preliminares foi decisivo na me-lhor estruturaccedilatildeo do conjunto de propostas e na sua adequa-ccedilatildeo agraves especificidades de diferentes aacutereas Seguem-se algumas recomendaccedilotildees recebidas sobre uma das atividades propostas que exemplificam a forma de participaccedilatildeo de pesquisadores--professores (Quadro 2)

Quadro 2 ndash recomendaccedilotildees dos pesquisadores-professores sobre as propostas pedagoacutegicas

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Liacutengua Portuguesa

A animaccedilatildeo eacute adequada para o trabalho especialmente com o Ensino Fundamental pela sua ludicidade e linguagem visual e graacutefica atrativas A sugestatildeo eacute trabalhar interpretaccedilatildeo visto que o que estaacute sendo dito eacute dito sem o uso de palavras possibilitando e instigando a discussatildeo sobre o que estaacute sendo representado

Matemaacutetica

O() professor() pode desenvolver uma atividade em que seussuas estudantes tenham uma vivecircncia com as operaccedilotildees numeacutericas pois a animaccedilatildeo serve como desencadeadora para problematizar os custos em dinheiro para ter acesso agrave aacutegua potaacutevel Aleacutem disso a diferenccedila de valor entre as marcas que a mercantiliza e de como esta relaccedilatildeo reflete de forma diferente entre as classes sociais

Continua gt

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Geografia

Na geografia humana sugerimos os estudos sobre a induacutestria da seca possibilitando assim uma analogia do viacutedeo com a realidade do nordeste brasileiro A ldquoinduacutestria da secardquo eacute um termo utilizado para retratar uma condiccedilatildeo de exploraccedilatildeo por parte de pessoas que se beneficiam da miseacuteria no conhecido poliacutegono da seca regiatildeo do territoacuterio brasileiro caracterizado por baixas precipitaccedilotildees

Sociologia

Eacute possiacutevel discutir (a) A apropriaccedilatildeo privada dos mananciais e a mercantilizaccedilatildeo da aacutegua relacionando estes fatos com o capitalismo a industrializaccedilatildeo a urbanizaccedilatildeo o individualismo etc (b) O fato do ser humano controlar e se impor agrave natureza

Fonte os autores 2017

Aleacutem disso o livro foi submetido agrave Fase de Teste atendendo agrave exigecircncia do edital ANA-CAPES com professores da Escola de Edu-caccedilatildeo Baacutesica Vereador Guilherme Zuege (no municiacutepio de Joinville SC) vinculada agrave rede puacuteblica estadual de Santa Catarina atraveacutes da sua avaliaccedilatildeo (Quadro 3) Cabe ressaltar que a Fase de Teste foi realizada antes da finalizaccedilatildeo do livro para que a avaliaccedilatildeo fosse efetivamente contemplada no resultado final

Quadro 3 ndash retorno da avaliaccedilatildeo dos professores (N=3)

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre o formato e-Pub e sua utilizaccedilatildeo

a) Seria mais atrativo se fosse mais colorido mais di-nacircmico Eacute praacutetico mas seria interessante se fosse tambeacutem para o uso do professor em sala de aula com os alunos e pra isso ele precisaria ser mais atrativo visualmente os viacutedeos por exemplo deveriam estar disponibilizados no proacuteprio EPUB

b) As atividades propostas nos deixam vaacuterias possibilidades de como podemos trabalhar em sala de aula

c) Atende agraves necessidades

Qual sua opiniatildeo sobre o conteuacutedo das propostas pedagoacutegicas

a) Os conteuacutedos disciplinares estatildeo contemplados nas propostas dessa forma trabalhar esses con-teuacutedos se torna mais atrativo para os estudantes e a interdisciplinaridade acontece de forma natural as relaccedilotildees se constroem e os estudantes podem perceber como as coisas estatildeo interliga-das

b) Nos faz refletir de maneira global sobre a impor-tacircncia da aacutegua para o nosso planeta

c) Conteuacutedo diversificado e envolvente

Qual sua opiniatildeo sobre o uso de obras artiacutesticas como desencadeadoras-problematizadoras em atividades pedagoacutegicas

a) Perfeito A arte desperta empatia para os temas que seratildeo abordados As questotildees ambientais muitas vezes satildeo abordadas de forma morali-zante e por meio de cartilhas sem proporcionar a reflexatildeo e sem fazer relaccedilotildees com o cotidiano das pessoas A escolha das obras alcanccedilou manifestaccedilotildees artiacutesticas diferentes ampliando as possibilidades de abordagem

b) As obras artiacutesticas causa uma sensibilizaccedilatildeo vc passa a ver a perceber todos aspectos de uma sociedade atraveacutes da arte

c) Considero de muito valia visto que a proble-matizaccedilatildeo de qualquer tema torna-se mais interessante quando haacute visualizaccedilatildeo das ideais que devem ser desenvolvidas

Continua gt

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre a proposta do e-Pub Sobre a Face das Aacuteguas

a) A proposta eacute original acredito pois jamais entrei em contato com algo assim Temas ambientais satildeo recorrentes e precisam ser trabalhados em sala de aula e por vezes eacute difiacutecil inovar e com essa proposta muitas outras ideias podem ser desencadeadas A tecnologia (o formato EPUB) tambeacutem estaacute palpitando e os professores precisam se arriscaraventurar por esses novos ambientes pois sua linguagem eacute muita mais proacutexima dos jovens estudantes

b) Ele nos mostra diversas maneiras de se trabalhar o tema aacutegua em vaacuterios contextos o que torna interessante para nossos alunos

c) Muito boa Novidade sempre eacute bem vinda para envolver o jovem de hoje Inovaccedilatildeo eacute tudo

Fonte os autores 2017

21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desigualdades

Os problemas socioambientais identificaacuteveis nos niacuteveis local regional e nacional constituem expressotildees localizadas de uma crise planetaacuteria ndash pobreza poluiccedilatildeo escassez de recursos natu-rais renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis extinccedilatildeo de espeacutecies alteraccedilotildees climaacuteticas etc Tal cenaacuterio estaacute intimamente atrelado ao vieacutes an-tropocecircntrico o qual atribuiu ao homem a tarefa de dominar e explorar a natureza ndash perspectiva evidenciada no processo de industrializaccedilatildeo (NASCIMENTO 2013) Nesse processo a ciecircncia e a tecnologia (CampT) foram vistas predominantemente ateacute haacute pouco tempo como sinocircnimos inequiacutevocos de progresso e salvadoras de todos os possiacuteveis problemas No entanto apesar da preten-sa neutralidade da CampT o tempo foi revelando outras facetas como a constataccedilatildeo cada vez mais evidente da imensidade da discrepacircncia na reparticcedilatildeo social dos ocircnus e bocircnus desse mode-lo de desenvolvimento amplificando o poder sociopoliacutetico e os rendimentos para o mercado industrial (ANGOTTI AUTH 2001)

Dessa forma assim como a ciecircncia e a tecnologia natildeo trouxe-ram o prometido benefiacutecio a todos houve ainda a intensificaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental trazendo enormes consequecircncias ne-gativas a grupos especiacuteficos Essa configuraccedilatildeo de desigualdades em relaccedilatildeo aos impactos socioambientais gerados pela explora-ccedilatildeo desenfreada da natureza associados aos ldquoavanccedilosrdquo enviesados da CampT constitui o que vem sendo reconhecido como injusticcedila ambiental entendida como o mecanismo pelo qual sociedades desiguais do ponto de vista econocircmico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento agraves populaccedilotildees de baixa renda aos grupos sociais discriminados aos povos eacutet-nicos tradicionais aos bairros operaacuterios agraves populaccedilotildees margina-lizadas e vulneraacuteveis3

Em contraposiccedilatildeo a ideia de justiccedila ambiental aparece como o conjunto de princiacutepios que visam a assegurar que nenhum grupo de pessoas sejam grupos eacutetnicos raciais ou de classe suporte

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

uma parcela desproporcional das consequecircncias ambientais negativas de operaccedilotildees econocircmicas de poliacuteticas e programas federais estaduais e locais bem como resultantes da ausecircncia ou omissatildeo de tais poliacuteticas Aleacutem disso eacute a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas inde-pendentemente de sua raccedila cor origem ou renda no que diz respeito agrave elaboraccedilatildeo desenvolvimento implementaccedilatildeo e reforccedilo de poliacuteticas leis e regulamentaccedilotildees ambientais (BULLARD 1990 ACSELRAD 2004 HERCULANO PACHECO 2006)

Segundo Herculano e Pacheco (2006) o movimento por justiccedila ambiental nos Estados Unidos tem dois momentos de criaccedilatildeo Em 1978 quando uma comunidade (Love Canal) de famiacutelias de operaacuterios (brancos) da induacutestria eleacutetrica no Niagara Falls des-cobriu-se vivendo em cima de um aterro de resiacuteduos toacutexicos e passou a lutar por indenizaccedilotildees por tratamento meacutedico e pelo direito agrave informaccedilatildeo sobre seu local de vida constituindo-se em coalizatildeo que deu forma ao Center for Health and Environmental Justice (Centro por Sauacutede e Justiccedila Ambiental)

Em 1982 em Warren County na Carolina do Norte registrou-se a revolta da populaccedilatildeo negra contra um depoacutesito de rejeitos quiacute-micos Desde entatildeo o movimento negro passou a utilizar a ex-pressatildeo racismo ambiental relativa a qualquer poliacutetica praacutetica ou diretiva que afete ou prejudique de formas diferentes voluntaacuteria ou involuntariamente a pessoas grupos ou comunidades por motivos de raccedila ou cor (BULLARD 2005 p1)

Essas definiccedilotildees tecircm seu valor na discussatildeo sobre as despropor-cionalidades das consequecircncias ambientais negativas entre diferen-tes populaccedilotildees No entanto de acordo com Herculano e Pacheco (2006) enquanto a perspectiva de justiccedila ambiental apresenta o vieacutes de classes ndash considerando seu sujeito como minoria e tendo foco no objeto e no processo da disputa no conflito em si (argumentaccedilatildeo proacutexima ao marxismo) ndash a perspectiva do racismo ambiental faz uma criacutetica agrave inferiorizaccedilatildeo racial ndash referindo-se agrave maioria (os pobres vistos preconceituosamente como raccedila inferior) e focando nos sujeitos coletivos nos valores e na eacutetica (MATHIAS 2007)

Natildeo caberia neste espaccedilo empreender esforccedilos para aferir o grau de importacircncia de um conceito em relaccedilatildeo a outro e muito menos julgar os niacuteveis de impactos sofridos entre as populaccedilotildees brancas pobres e as populaccedilotildees negras e indiacutegenas tambeacutem exclu-iacutedas socialmente Destacamos a importacircncia de desenvolverem es-forccedilos e inciativas para a produccedilatildeo e difusatildeo de materiais didaacuteticos e paradidaacuteticos que considerem tanto as diferentes relaccedilotildees com o meio ambiente quanto ao conjunto de consequecircncias da crise socioambiental considerando as desigualdades sociais e raciais que estatildeo sendo reproduzidas nesse contexto e para cuja soluccedilatildeo a educaccedilatildeo deve assumir efetivo compromisso eacutetico e em cujo pro-cesso as tecnologias educativas podem colaborar decisivamente

22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental A complexidade crescente das demandas conflitos e impactos am-bientais na sociedade contemporacircnea exige a adoccedilatildeo de um sistema de gestatildeo socioambiental robusto e efetivo integrado e assumido pela coletividade como instrumento e processo decisoacuterio administra-do de forma transparente e participativa para o qual as tecnologias educativas podem desempenhar relevante papel A responsabilidade compartilhada social e economicamente pelo conjunto dos cidadatildeos do paiacutes implica para aleacutem dos deveres associados ao pagamento dos tributos e impostos tambeacutem o efetivo envolvimento na promoccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas direcionadas a reduccedilatildeo das desigual-dades sociais (VIEIRA et al 2006 p48)

Diversas iniciativas e propostas vecircm sendo conduzidas no sentido de habilitar a estrutura e pessoal administrativo do Estado a incorporar o instrumental necessaacuterio para a captaccedilatildeo a anaacutelise e a decisatildeo mais aacutegil de informaccedilotildees e insumos aplicaacuteveis na resoluccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo Uma vez efetivada e aperfeiccediloada tal perspectiva pode vir a se constituir natildeo soacute em um instrumento mas numa caracteriacutestica central do processo de gestatildeo podendo chegar ao conceito de governo eletrocircnico (e-Gov) Aleacutem da aspirada eficaacutecia na gestatildeo puacuteblica tal instru-mental pode tambeacutem contribui para amplificar sua legitimidade agrave medida que proporcione real transparecircncia e acesso agrave populaccedilatildeo sobre as questotildees de planejamento e decisatildeo que incidam no conjunto do tecido social (PERSEGONA 2005 p131)

Contudo de modo a prevenir eventuais distorccedilotildees que a detenccedilatildeo privilegiada de informaccedilatildeo possa acarretar (pela consequente con-centraccedilatildeo de poder poliacutetico-econocircmica dela derivada) o progressivo desenvolvimento tecnoloacutegico e comunicacional deve ser regulamen-tado pelo Estado com a fiscalizaccedilatildeo pelo conjunto da sociedade e seus representantes garantindo-se o seu pleno acesso assim amplificando o seu potencial educativo Tais cuidados imprescindiacuteveis devem ser aprofundados quando da utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas no processo formativo como na Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EaD) na qual se destaca sua responsabilidade pela seleccedilatildeo das propostas composiccedilatildeo de equipe formadora estrateacutegias didaacuteticas e proposiccedilatildeo de ativida-des que podem influenciar decisivamente no ecircxito ou fracasso dessas mesmas poliacuteticas educativas (FUJITA 2010 p188-189) A hipertrofia e descontrole do aparato informacional enquanto instrumento e espaccedilo regulador dos fluxos e processos formativos comunicacionais e geren-ciais pode distanciar-se profundamente dos objetivos comunitaacuterios e identitaacuterios consolidando-se enquanto instacircncia emergente de poder poliacutetico-econocircmico impondo a sociedade os seus proacuteprios padrotildees e valores distoantes das necessidades e aspiraccedilotildees coletivas Tal eacute o risco intriacutenseco ao processo de utilizaccedilatildeo e dependecircncia crescente da sociedade em relaccedilatildeo agraves tecnologias educativas na ausecircncia de efetivo controle social dos seus meios de produccedilatildeo atraveacutes da proacutepria populaccedilatildeo e de seus representantes sociopoliacuteticos

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Para lidar de modo adequado pertinente e seguro com essa possibilidade assim como com quaisquer outros gran-des riscos conflitos e impactos socioambientais vivenciados coletivamente nunca eacute demais insistirmos no empoderamento social com a garantia da transparecircncia e do pleno acesso agraves informaccedilotildees para a participaccedilatildeo qualificada nas discussotildees de real significado para a sociedade

A educaccedilatildeo ambiental e a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica detecircm uma capacidade de mobilizaccedilatildeo social significativa ao contextualizar criticamente as potencialidades e problemas as perspectivas e conflitos socioambientais proporcionando as con-diccedilotildees para a discussatildeo coletiva e qualificada das comunidades para o planejamento socioambientalmente referenciado dos seus espaccedilos e territoacuterios Por meio de sua inserccedilatildeo e reverberaccedilatildeo nos espaccedilos programas e atividades de EaD podem ser compreendidos e vivenciados como comunidades de aprendizagem espaccedilos de pertencimento e cidadania elementos essenciais para desencadear a gestatildeo participativa municipal que promova a efetiva incorpora-ccedilatildeo da sustentabilidade e justiccedila socioambiental (FERREIRA 2010) Nesse cenaacuterio a EaD demanda um novo paradigma de ruptura com modelo claacutessico de ensino (atrelado ao modelo econocircmico em curso) desconexo e competitivo para um novo sistema integrado e colaborativo Ensinar a estudar e a trabalhar em cooperaccedilatildeo requer tambeacutem um novo perfil dos profissionais da educaccedilatildeo pelo qual sejam capazes de reconhecer as peculiaridades individuais e com a habilidade para administrar os conflitos dessa nova aprendizagem colaborativa (MARAVALHAS COSTA BARRETO 2010 p 11)

Como as atividades satildeo desenvolvidas em grupos nas diferen-ccedilas e divergecircncias ou seja na convivecircncia os estudantes aprendem a respeitar o outro como legiacutetimo A liberdade e a responsabilidade se estendem ao material pedagoacutegico disponiacutevel nos ambientes que oferecem subsiacutedios (tanto para os professores quanto para os estudantes) na proposiccedilatildeo de diferentes praacuteticas pedagoacutegicas (GAUTEacuteRIO RODRIGUES 2013 p 616) A responsabilidade e a liber-dade como emoccedilotildees que fundamentam o fazer humano passam a ser compreendidas em uma dimensatildeo ampliada Professores e estudantes entendem que satildeo responsaacuteveis pelo ensinar e pelo aprender e ao se darem conta das consequecircncias das proacuteprias accedilotildees podem optar por desejar ou natildeo esses resultados

Como todo processo educativo e cultural as tecnologias educativas satildeo constructos humanos logo natildeo satildeo neutras elas contecircm e condicionam determinados conteuacutedos e ideologias objetivos e sujeitos Os instrumentos os processos e os produtos gerados e compartilhados pela a EaD por exemplo congregam um potencial muito expressivo de transformaccedilatildeo nas interaccedilotildees socioculturais por tal caracteriacutestica seu emprego deve considerar com parcimocircnia as repercussotildees locais e contextos especiacuteficos onde podem vir a incidir de modo a prevenir e evitar a erosatildeo

cultural pela homogeneizaccedilatildeo da diversidade cultural diante de padrotildees de referecircncia externos assim como no tratamento super-ficial e alienante de temas e abordagens e ainda no processo de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida dos profissionais da educaccedilatildeo em progressiva substituiccedilatildeo pela mediaccedilatildeo eletrocircnica

Por outro lado satildeo muacuteltiplas as suas potenciais contribuiccedilotildees para o desenvolvimento das capacidades humanas o respeito e va-lorizaccedilatildeo da diversidade eacutetnico-cultural e o estiacutemulo agrave criatividade Tais dimensotildees devem ser trabalhadas pelo fortalecimento do senso criacutetico da cooperaccedilatildeo e da efetiva participaccedilatildeo cidadatilde nos processos decisoacuterios sobre os destinos compartilhados de todas as sociedades Entendemos pois que a produccedilatildeo e a difusatildeo do livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas com seu conjunto de propostas pedagoacutegicas concebidas aplicadas e avaliadas por pesquisadores e professores constitui-se em um estudo de caso representativo do potencial inspirador da (e para a) utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas com perspectivas de transformaccedilatildeo socioambiental qualificando-nos em conjunto para a melhoria dos processos produtivos e educativos

3 ConsideraccedilotildeesPercebemos como organizadores e colaboradores envolvidos na produccedilatildeo dessa obra que a proposta pedagoacutegica interdisciplinar sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas conseguiu atender aos objetivos estabelecidos respondendo de modo satisfatoacute-rio aos desafios empreendidos A sua avaliaccedilatildeo junto aos seus destinataacuterios atraveacutes da Fase de Testes preacutevios com professores resultou na adaptaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de algumas atividades propostas incrementando a qualidade e aderecircncia do produto final as necessidades e expectativas docentes

A ampla receptividade do produto final junto aos colegas pesqui-sadores-professores durante o Seminaacuterio Nacional de Integra-ccedilatildeo da CAPES constituiu-se em fator de grande estiacutemulo para o desenvolvimento de projetos similares (re)conectando as aacutereas teacutecnico-cientiacuteficas e artiacutestico-culturais solidamente embasadas no contexto nacional mas abertos agrave pluralidade de formas de expressatildeo e abordagens do patrimocircnio cultural da humanidade

Focalizamos algumas formas e processos de interaccedilatildeo entre as atividades e expressotildees artiacutestico-culturais com ecossistemas recursos e seres aquaacuteticos os quais merecem nosso respeito e esforccedilos para a manutenccedilatildeo da integridade e complexidade desses universos hiacutedricos Entendemos que a educaccedilatildeo cientiacutefi-ca e tecnoloacutegica e a educaccedilatildeo ambiental devem estar abertas e receptivas para o contiacutenuo intercacircmbio de saberes e fazeres com o multiverso dos conhecimentos natildeo acadecircmicos gestados no cotidiano da vida laboral de todas as culturas

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa intervenccedilatildeo pedagoacutegica tambeacutem adveacutem a compreensatildeo da pertinecircncia e da relevacircncia da adoccedilatildeo criteriosa criacutetica e participativa das tecnologias educacionais com efetivo potencial de mobilizaccedilatildeo e interaccedilatildeo social para a discussatildeo e problematizaccedilatildeo de temas aspectos e questotildees compartilhadas por diferentes comunidades e contextos

Entendemos tambeacutem o valor intriacutenseco a tais tecnologias educa-cionais no sentido de viabilizar a exponencial ampliaccedilatildeo do acesso compartilhamento apropriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo dos conteuacutedos e significados produzidos-difundidos constituindo-se em instru-mental acessoacuterio para subsidiar a atuaccedilatildeo dos educadores em todos os acircmbitos niacuteveis e escalas contextos e realidades socioculturais e poliacutetico-econocircmicas Concebidas e conduzidas de modo a respeitar valorizar e estimular a diversidade de saberes e fazeres concepccedilotildees de mundo e (re)leituras de conhecimentos patrimoniais teacutecnicos cientiacuteficos e artiacutesticos as tecnologias educacionais contribuiratildeo mais efetivamente para a contiacutenua formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e parti-cipativa e melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

N o t a s

1 ndash O referido livro foi organizado pela Editora da UDESC e se encontra disponiacutevel para consulta e download gratuitos no Portal EduCapes nos formatos ePUB e PDF no endereccedilo eletrocircnico lthttpeducapescapesgovbrhandlecapes111675gt

2 ndash Segundo Daquino (2010) existem diversas formas para a leitura de e-books smartphones ou softwares No entanto nem todo aparelho ou aplicativo suporta todas as extensotildees dos e-books Entre as vantagens da utilizaccedilatildeo do ePUB estatildeo o acesso a conteuacutedos em diversos dispositivos e a faacutecil adaptaccedilatildeo do texto a cada tela de qualquer dispositivo

3 ndash O referido conceito consta do Manifesto de lanccedilamento da Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrdestaquesitem8077gt

R e f e r ecirc n c i a s

ACSELRAD H (Org) Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro RJ Relume-Dumaraacute 2004

ANA-CAPES Edital ANA-CAPESDEB Nordm 182015 2015 11 f Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica - Projeto Aacutegua Brasiacutelia DF Agencia Nacional das Aacuteguas 2015 11 f

ANGOTTI J A P AUTH MA Ciecircncia e tecnologia implicaccedilotildees sociais e o papel da educaccedilatildeo Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v7 n1 p15-27 2001

BULLARD R D Dumping in Dixie race class and environmental quality Boulder Westview Press 1990

______ Eacutetica e racismo ambiental In Revista Eco-21 ano XV Nordm 98 janei-ro2005 Disponiacutevel em lthttpwwweco21combrtextostextosaspID=996gt Acesso em 27 fev 2017

CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas Florianoacutepolis UDESC ndash Universidade do Estado de Santa Catarina 2015 10 p

DAQUINO F O que eacute o formato ePUB Portal Tecmundo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtecmundocombramazon3644-o-que-e-o-for-mato-epub-htmgt Acesso em 24 out 2015

FERREIRA W O papel da educaccedilatildeo ambiental a distacircncia no reconhecimento das demandas comunitaacuterias frente agraves poliacuteticas puacuteblicas regionais In Seminaacuterio Poliacuteticas Puacuteblicas e Educaccedilatildeo Constituindo a Cidadania Rio Grande RS FURG ndash Universidade Federal do Rio Grande 2010

FUJITA O M Educaccedilatildeo agrave distacircncia curriacuteculo e competecircncia uma proposta de formaccedilatildeo on-line para gestatildeo empresarial 2010 285 f Tese (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo) - Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2010 (285 p) Disponiacutevel em lthttprepositoriomi-nedugobpebitstreamhandle12345678917352010_Fujita_Educa-C3A7C3A3o20a20distC3A2ncia20currC3ADculo20e20competC3AAncia-20uma20proposta20de20forma-C3A7C3A3o20on-line20para20a20gestC3A3o20em-presarialpdfsequence=1gt Acesso em 13 set 2014

GAUTEacuteRIO V L B RODRIGUES S C Os ambientes de aprendizagem pos-sibilitando transformaccedilotildees no ensinar e no aprender Rev Bras Estud Pedag Brasiacutelia v94 (237) p 603-618 maio-ago 2013 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbepedv94n237a13v94n237pdfgt Acesso em 08 nov 2015

HERCULANO S PACHECO T (Orgs) Racismo ambiental Rio de Janeiro RJ FASE 2006

MARAVALHAS M R G et al Novo professor novo aluno e a educaccedilatildeo am-biental na EAD In Congresso ABED ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino a Distacircncia Satildeo Luiacutes 2010 12 p Disponiacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2010cd152010213859pdfgt Acesso em 19 mai 2015

MATHIAS M Racismo ambiental Revista Poli sauacutede educaccedilatildeo e trabalho ndash FIO-CRUZ v 9 n 50 p 31-32 mar-abr 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwepsjvfiocruzbrsitesdefaultfilespoliweb50pdfgt Acesso em 27 fev 2017

NASCIMENTO C C A formaccedilatildeo em educaccedilatildeo para o ecodesenvolvimento um estudo de caso junto ao Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento periacuteodo 2010-2013 2013 Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental Universidade Federal do Rio Grande Rio Grande 2013

______ FERREIRA W CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua Florianoacutepolis SC UDESC 2016 231 p

PERSEGONA M F M A utilizaccedilatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo pelas poliacuteticas puacuteblicas de governo e-Gov como um instrumento de de-mocratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo 2005 143 f Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel Centro de Desen-volvimento Sustentaacutevel Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2005

SANTOS E C Educaccedilatildeo ambiental e a transversalidade na formaccedilatildeo de professores complexidade e desafios do mundo contemporacircneo Revista Geonorte ed especial v3 n4 p 161-170 2012

VIEIRA A R COSTA L BARRETO S R (Org) Aacutegua para a Vida aacutegua para todos Cadernos de Educaccedilatildeo Ambiental Brasiacutelia DF WWF Brasil 2006 72 p Disponiacutevel em lthttpwwwwwforgbrnatureza_brasi-leirareducao_de_impactos2aguaagua_acoes_resultadoseduca-cao_ambiental_aguagt Acesso em 17 abr 2015

Paacutegina 8 de 8

R e s u m o

Este estudo decorreu da anaacutelise de uma sala de aula universitaacuteria de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano localizada

na serra gauacutecha no Rio Grande do Sul no Brasil A metodologia ativa de ensino propotildee que o discente seja o protagonista de seu proacuteprio conhecimento e seja o responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos no ambiente educacional A partir desse pressuposto o objetivo deste trabalho foi observar a aplicabilidade do uso da metodologia ativa no ensino aleacutem de sua utilizaccedilatildeo para a construccedilatildeo do conhecimento junto aos discentes Para isso procurou-se pesquisar sobre a temaacutetica escolhida e a abordagem investigativa foi predominantemente qualitativa Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se a observaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento da disciplina em sala de aula Para compreender o objeto de estudo foi preciso tomar como pano de fundo a metodologia e as estrateacutegias de ensino utilizadas pelo docente Os resultados observados foram satisfatoacuterios para fundamentar a construccedilatildeo da aprendizagem baseada na problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees correntes do dia a dia A qualificaccedilatildeo e o aperfeiccediloamento do docente para fundamentar o conteuacutedo eacute indispensaacutevel para a efetividade da proposta de utilizaccedilatildeo da metodologia ativa

R e s u m e n

Este estudio ha procedido del resultado del anaacutelisis de una clase universitaria de una institucioacuten de educacioacuten superior privada ubicada en la Sierra Gaucha Estado del Riacuteo Grande do Sul Brasil con los estudiantes de la disciplina de Evaluacioacuten del Desempentildeo Humano La metodologiacutea activa de ensentildeanza propone que el estudiante sea el protagonista de su propio conocimiento y que sea responsable por la construccioacuten activa de sus objetivos en el aacutembito educativo A partir de este supuesto el objetivo de este estudio ha sido observar la aplicabilidad de la utilizacioacuten de una met-odologiacutea activa en la ensentildeanza ademaacutes de su uso para la construccioacuten de conocimientos con los estudiantes Para ello hemos tratado de investigar el tema elegido y el enfoque de investigacioacuten ha sido predominantemente cualitativo utilizando como instrumento de recoleccioacuten de datos la observacioacuten participante en el desarrollo de la disciplina en el aula Para comprender el objeto del estudio ha sido necesario partir del contexto de la metodologiacutea y estrategias de ensentildeanza utiliza-das por el profesor Los resultados han sido satisfactorios para fundamentar la construccioacuten de un aprendizaje fundamentado en el cuestionamiento de las situaciones actuales de la vida cotidiana La calificacioacuten y el perfeccionamento profesional del professor para fundamentar el contenido son esenciales para la efectividad de la propuesta de utilizacioacuten de la metodologiacutea activa

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 06032017Aprovado em 29082017

Palavras-chaveMetodologia de ensino ativa Docecircncia universitaacuteriaPraacuteticas pedagoacutegicas

Palabras claveMetodologiacutea de ensentildeanza activa Ensentildeanza universitariaPraacutecticas pedagoacutegicas

Autoras MBA em gestatildeo de recursos humanos pela Uninter Graduaccedilatildeo em gestatildeo de recursos humanos e Poacutes-graduaccedilatildeo em gestatildeo e docecircncia do ensino superior pelo Centro Superior de Tecnologia Te-cbrasil FTEC - Bento Gonccedilalves Professo-ra da escola Senac - Bento Gonccedilalves e Coach profissionale-mail daianelotesgmailcom

Mestrado Profissional em Gestatildeo Edu-cacional pela UNISINOS - Universidade do Vale dos Sinos Graduaccedilatildeo em Admi-nistraccedilatildeo pela Faculdade Cenecista de Bento Gonccedilalves Docente Universitaacuteria na FAMUR - Faculdade Catoacutelica Murialdo de Caxias do Sul e FSG - Faculdade da Serra Gauacutecha de Bento Gonccedilalves Consultora Empresarial Associada na aacuterea de Gestatildeo de Pessoas pela Poletto Soluccedilotildees em Ges-tatildeo e Pesquisadora CNPQ do Grupo de Pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Professores Gestores e Praacuteticas Pedagoacutegicas pela UNI-SINOS - Universidade do Vale dos Sinose-mail magda_detonihotmailcom

Como citar este artigoLOTES D TONI M Metodologia ativa de ensino Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Metodologia ativa de ensinoMetodologia activa de ensentildeanza

Daiane Lotes e Magda de Toni

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoA metodologia ativa eacute um processo amplo que apresenta como principal caracteriacutestica a inserccedilatildeo do discente como agente prin-cipal responsaacutevel pela sua aprendizagem comprometendo-se com seu aprendizado

O processo de educar deixou de ser baseado na mera trans-missatildeo do conhecimento por diversos fatores como a rapidez na produccedilatildeo do conhecimento e principalmente na facilidade de acesso agrave vasta gama de informaccedilatildeo Nesse contexto as meto-dologias ativas surgem como proposta para priorizar o processo de ensinar e aprender na busca da participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos centrados na realidade em que estatildeo inseridos

Como enfrentamento ao modelo tradicional imposto e aceito ao longo dos tempos tem-se lanccedilado matildeo das metodologias ati-vas de ensino-aprendizagem nas quais eacute dado forte estiacutemulo ao reconhecimento do mundo atual tornando os discentes capazes de intervir e promover as transformaccedilotildees necessaacuterias O discente se torna o uacutenico responsaacutevel pela sua proacutepria construccedilatildeo do conheci-mento e faz com que os seus principais objetivos sejam alcanccedilados de forma satisfatoacuteria com sucesso autogerenciamento e autonomia

A educaccedilatildeo comeccedila em casa e eacute aprimorada na escola e na socie-dade Os docentes tecircm o compromisso de explicar e acompanhar os resultados obtidos com o conhecimento que eacute repassado em sala de aula Nos dias de hoje cada vez mais nos deparamos com situaccedilotildees que vatildeo aleacutem da nossa realidade situaccedilotildees que poderiam ser resolvidas com um simples estudo ou com a base da educaccedilatildeo que a pessoa teve

Algumas pessoas natildeo se datildeo conta de que o maior valor que o ser humano pode ter eacute a educaccedilatildeo que eacute indispensaacutevel in-comparaacutevel e intransferiacutevel Ningueacutem pode tirar de uma pessoa o conhecimento que ela possui e soacute esta sabe como usaacute-lo

As instituiccedilotildees de ensino precisam acolher os discentes de forma que eles cheguem agrave sala de aula motivados a aprender ou seja que eles tenham o entendimento de que o conhecimento que vatildeo obter serviraacute para o futuro para que possam enfrentar as situaccedilotildees do dia a dia com mais facilidade e sabedoria

Nenhum professor estaacute totalmente livre a esperanccedila de trabalhar apenas com alunos motivados Cada professor espera alunos que se envolvam no trabalho manifestem o desejo de saber e a vontade de aprender A motivaccedilatildeo ainda eacute tida com demasiada frequecircncia como uma preliminar cuja forccedila natildeo depende do professor (PERRENOUD 2000 p 68)

Adaptamo-nos conforme o andamento do dia a dia e principal-mente conforme as novas tecnologias que cada vez vatildeo ocupando um espaccedilo maior entre os jovens de hoje A sociedade atual eacute tecno-

loacutegica de modo que natildeo eacute mais possiacutevel pensar em educaccedilatildeo sem a utilizaccedilatildeo das tecnologias O processo de ensinar-aprender tambeacutem jaacute vem gradativamente se modificando exercitando formas de ensinar e aprender diferentes nas quais o docente natildeo eacute mais um simples trans-missor do conhecimento e o discente natildeo eacute mais um mero ouvinte

Assim o docente precisa utilizar recursos que transformem suas aulas de modo a instigar mais e mais a busca pelo conheci-mento por parte dos alunos ministrando aulas dinacircmicas atrativas e entendendo que as tecnologias disponiacuteveis podem ser bem utilizadas auxiliar no processo de ensino-aprendizagem

Segundo Rivas (2009) o professor precisa ser algueacutem criativo competente e comprometido com o advento das novas tecnologias interagindo em meio agrave sociedade do conhecimento repensando a educaccedilatildeo e buscando os fundamentos para o uso dessas novas tecnologias que causam grande impacto na educaccedilatildeo e que podem determinar uma nova cultura e novos valores na sociedade

Em funccedilatildeo dessa transiccedilatildeo o ambiente acadecircmico tem se preo-cupado com o desenvolvimento de novas metodologias e atitudes para melhorar a efetividade no processo de aprendizagem Tais artifiacutecios satildeo denominados ldquoestrateacutegias de ensino-aprendizagemrdquo e satildeo definidos como os meios que vecircm sendo utilizados no pro-cesso de ensino com o intuito se atingir a qualidade desejada e os resultados esperados Penso todavia que esses recursos precisam ser bem trabalhados para natildeo se confundirem com ldquomodismosrdquo que nada modificam a concepccedilatildeo de conhecimento

Combinar atitudes e recursos didaacuteticos que favoreccedilam o processo de aprendizagem parece ser a tocircnica do que se convencionou denomi-nar estrateacutegias de ensino-aprendizagem ldquoeficientesrdquo Assim o processo de ensino-aprendizagem tem sido alvo de discussotildees e pesquisas que visam a contribuir para seu desenvolvimento e efetividade

Perrenoud (2000) afirma que todos os docentes podem ter atitudes inovadoras e com isso fazer com que os alunos desenvol-vam a sua proacutepria motivaccedilatildeo poreacutem muitos pensam que o ensino eacute restrito e que natildeo tecircm retorno financeiro para ter esse tipo de atitude Ainda nos diz que ateacute os discentes motivados cientes de seu potencial e com boas notas na escola podem diminuir seu desempenho se natildeo forem incentivados ao longo do tempo

Considerando o dinamismo do mundo moderno o profis-sional docente sente-se pressionado por um ambiente externo altamente exigente precisando proporcionar aos estudantes uma educaccedilatildeo de elevado niacutevel e com soacutelida formaccedilatildeo Logo se a atualizaccedilatildeo didaacutetica dos docentes natildeo acompanha o ritmo desse novo cenaacuterio poderaacute haver uma falta de sintonia entre os procedimentos meacutetodos e estrateacutegias de ensino e o perfil dos alunos prejudicando o processo de ensino-aprendizagem

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Cabe aqui salientar que Itoz e Mineiro (2005) defendem que o para-digma que considerava a competecircncia teacutecnica docente como elemento fundamental da didaacutetica vem sofrendo gradualmente alteraccedilotildees no sentido da indagaccedilatildeo sobre outros fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem e os agentes impactados neste processo

O docente deve ser um articulador de todo o processo de ensino-aprendizagem e ter a consciecircncia de que a maior rede social eacute a sala de aula onde temos que aprender a fazer a leitura do nosso cotidiano e compreender que a informaccedilatildeo eacute um ponto de partida natildeo um ponto de chegada

Entretanto podemos perceber que a aprendizagem acontece quando o indiviacuteduo vivencia as situaccedilotildees vistas em sala de aula e as metodologias ativas de ensino permitem que o discente se envolva e ele mesmo gere situaccedilotildees que faccedilam com que o conhe-cimento seja completo e adquirido com total autonomia tendo o docente o papel de mediador e articulador do conhecimento

2 MetodologiaA metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliograacutefica sobre a temaacutetica escolhida e a obser-vaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento de uma disciplina em uma sala de aula

A pesquisa bibliograacutefica eacute desenvolvida a partir de materiais publicados em livros artigos dissertaccedilotildees e teses Ela pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental Segundo Cervo Bervian e da Silva (2007) o processo de pesquisa bibliograacutefica eacute baacutesico em todos os trabalhos e estudos para identificar o tema

Jaacute a observaccedilatildeo participante eacute realizada em contato direto e prolongado do observador para com os envolvidos na anaacutelise O meacutetodo de observaccedilatildeo utilizado foi assistemaacutetico sem anaacutelise anterior e instrumental apropriado

O contexto analisado eacute a sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

3 Quadro TeoacutericoVive-se hoje um cenaacuterio da educaccedilatildeo no Brasil em que ainda haacute uma necessidade premente de evoluccedilatildeo no processo de en-sino-aprendizagem no sentido de tornaacute-lo significativo capaz de desenvolver competecircncias e ter como resultado um discente criacutetico e capaz de exercer uma ocupaccedilatildeo com excelecircncia Assim cabe ao docente refletir e inovar sua metodologia de transferecircncia do conhecimento buscar e motivar a aprendizagem

Ao destacar que para a aprendizagem do aluno se tornar mais du-radoura e significativa eacute necessaacuterio conhecer os aspectos formadores e constituintes da aprendizagem os docentes devem dar-se conta de que eacute necessaacuterio adaptar ou criar um meacutetodo didaacutetico e especiacutefico a cada puacuteblico de alunos ainda mais no ensino superior Nesse niacutevel haacute saberes da experiecircncia feitos uma vez que o indiviacuteduo nesta etapa acumula variadas experiecircncias de vida aprende com os proacuteprios erros percebe aquilo que natildeo sabe e o quanto tal desconhecimento lhe faz falta analisando criticamente as informaccedilotildees que recebe

Pensamos que a tarefa da educaccedilatildeo eacute formar seres humanos para o presente para qualquer presente seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar seres capazes de pensar tudo e de fazer tudo o que eacute preciso como ato responsaacutevel a partir de sua consciecircncia social Conseguir isto eacute o propoacutesito desta proposta

educacional (MATURANA REZEPKA 2000 p 10)

As pessoas que se iniciam como docentes muitas vezes saem de uma formaccedilatildeo muito teoacuterica do ponto de vista metodoloacutegico Aprenderam durante toda sua graduaccedilatildeo que o saber eacute o ponto mais importante e foram ensinados a fazerem pesquisa Quando se deparam com o ambiente educacional observam que o ser e o fazer se destacam principalmente com os modelos de discentes de hoje que satildeo inquietos por aprender assuntos novos da forma mais criativa e interativa possiacutevel A interatividade ajuda a prender a atenccedilatildeo e instigar a inovaccedilatildeo nos assuntos abordados

Piaget (2012) afirma que o meio onde o ser humano habita influencia em seus atos e faz com que este tenha estiacutemulo e con-sequentemente reorganize e construa seu proacuteprio conhecimento Nessa perspectiva a educaccedilatildeo formal promove o desenvolvimen-to na medida em que favorece uma postura ativa e construtiva do aluno por meio de situaccedilotildees de aprendizagem desafiadoras que estimulem a duacutevida e provoquem a reflexatildeo

A praacutetica pedagoacutegica reprodutora assemelha-se a uma praacuteti-ca conservadora da ciecircncia e consequentemente da educaccedilatildeo Jaacute a praacutetica inovadora fomenta a aprendizagem e transforma o processo Conforme afirma Moraes (2000 p 100)

Num sistema aberto de educaccedilatildeo o conhecimento requer que processos estejam em construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo pela accedilatildeo do sujeito sobre o meio ambiente que ocorram trocas energeacuteticas mediante processos de assimila-ccedilatildeo acomodaccedilatildeo auto-organizaccedilatildeo ou seja mediante relaccedilotildees interativas

e dialoacutegicas entre o aluno professor e ambiente de aprendizagem

Esse paradigma estaacute relacionado agraves mudanccedilas da sociedade como a globalizaccedilatildeo agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e agraves alteraccedilotildees cientiacuteficas proacuteprias da sociedade poacutes-moderna

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma entende-se que o discente deixa de ser um repro-dutor passivo de conhecimento para se tornar um ator protago-nista apto para tomar decisotildees Jaacute o docente eacute necessaacuterio que ele mesmo reflita sobre sua praacutetica sua qualidade de transferecircncia de conhecimento e sua autorreflexatildeo atraveacutes de fatores essenciais ndash o saber a sua experiecircncia bagagem profissional e educacional aliada a novos conhecimentos resultantes de pesquisas como por exemplo as novas tecnologias

A metodologia inovadora ativa de ensino permite que faccedilamos comparaccedilotildees entre o aprendizado conservador e o aprendizado inovador No processo de aprendizagem conservador por exem-plo vemos algumas situaccedilotildees em que o discente eacute subordinado agraves orientaccedilotildees do professor recebe passivamente o conhecimento e informaccedilotildees eacute condicionado a dar respostas prontas e corre-tas e eacute preparado para atuar com eficiecircncia na sociedade Jaacute no processo de aprendizagem inovadora podemos citar o discente como aprendiz autocircnomo e visto como um ser humano holiacutestico que se torna responsaacutevel pelas suas escolhas aprende a formular e a buscar respostas eacute destacado pela sua criatividade e se torna sujeito da sua proacutepria educaccedilatildeo

Adotar um paradigma inovador e assumir os diversos papeacuteis descritos por Perrenoud implica refletir sobre a praacutetica docente o planejamento das aulas a forma de avaliaccedilatildeo e sobretudo o que se espera ter como resultado final de um processo de ensi-no-aprendizagem Dessa forma o processo de ensino deve ser ajustado e ter uma evoluccedilatildeo constante buscando a integraccedilatildeo com o ambiente onde o discente estaacute inserido

No processo de aprendizagem natildeo entra em jogo apenas um conjunto de operaccedilotildees cognitivas pois a construccedilatildeo do conheci-mento estaacute sempre atravessada pela afetividade de quem o pro-duz Nessa perspectiva o docente deve possibilitar a construccedilatildeo de um clima de bem-estar em sala de aula que favoreccedila a qua-lidade das relaccedilotildees interpessoais e os processos de constituiccedilatildeo de sentido no processo educativo

Segundo Maturana e Rezepka (2000 p 14) ldquoas emoccedilotildees satildeo dinacircmicas corporais que especificam as classes de accedilotildees que um animal pode realizar em cada instante em seu acircmbito relacionalrdquo Assim acontece com os docentes e discentes no ambiente de sala de aula onde os sentimentos estatildeo em sin-tonia com o processo de aprender

As situaccedilotildees de aprendizagem satildeo determinantes para alcan-ccedilar os objetivos propostos e conforme reflexatildeo de Weisz (2004 p 70) ldquoem qualquer aacuterea do conhecimento eacute possiacutevel organizar atividades que representem problemas para os alunos e que de-mandem o uso do que sabem para encontrar soluccedilotildees possiacuteveisrdquo

Acredita-se que o uso da metodologia ativa de ensino na universidade possibilita contribuir significativamente e promo-ver situaccedilotildees que propiciem uma construccedilatildeo significativamente coletiva na forma de interagir e trabalhar com o conhecimento

A construccedilatildeo do conhecimento se daacute atraveacutes de incentivos por parte da proacutepria instituiccedilatildeo de ensino dos docentes envolvidos e principalmente do proacuteprio discente

Na escola atual percebe-se que o curriacuteculo aplicado estaacute mais flexiacutevel e adaptado ao meio e agraves novas tecnologias Conforme afirma Moraes (2000 p 100) ldquosob esse novo enfoque o curriacuteculo eacute algo que estaacute sempre em processo de negociaccedilatildeo e renegociaccedilatildeo entre alunos professores realidades e instacircncias administrativasrdquo

A aprendizagem do indiviacuteduo ocorre natildeo somente com o co-nhecimento adquirido em sala de aula como tambeacutem pelos seus desejos intuiccedilotildees sensaccedilotildees e emoccedilotildees que se manifestam atraveacutes das variadas atividades praticadas principalmente nas atividades luacutedicas que fazem com que o discente vivencie situaccedilotildees que acontecem no dia a dia Segundo Perrenoud (2001 p 182) ldquoos fu-turos professores poderiam ser encorajados a colocar sua formaccedilatildeo inicial a serviccedilo e criar voluntariamente situaccedilotildees ldquointeressantesrdquo

Tais sentimentos citados aparecem tambeacutem em momentos nos quais o docente faz a correccedilatildeo das atividades realizadas em sala de aula no ambiente educacional nos quais tem o poder de formar ou atrapalhar o processo de aprendizagem pela forma com que as palavras satildeo ditas em sala de aula no momento da correccedilatildeo Conforme afirma Maturana e Rezepka (2000 p 33)

Na educaccedilatildeo corrigir o ldquoserrdquo da crianccedila acaba alienando-a porque ame-accedila o que ela vecirc ou vive em nossa cultura como sua existecircncia com uma certa identidade transcendente a correccedilatildeo do fazer natildeo faz isso

A correccedilatildeo do fazer natildeo constitui uma ameaccedila porque ao fazecirc-la satildeo especificados os limites dentro dos quais ocorre segun-do as coerecircncias proacuteprias do fazer que se deseja sem referecircncia agrave sua identidade

Aleacutem disso muitos autores comentam sobre os vaacuterios mo-delos de mundo e inteligecircncias muacuteltiplas que as pessoas podem desenvolver ao longo de suas vidas Essas inteligecircncias e modelos de aprendizagem se apresentam na medida em que se comeccedila a trabalhar o ceacuterebro para pensar e resolver situaccedilotildees conflitan-tes Em sala de aula esses modelos satildeo observados e podem ser moldados atraveacutes da metodologia didaacutetica do docente para com o discente individualmente observando capacidades sinesteacutesicas visuais e auditivas Mas como usar os conhecimentos de modelos de mundo para ajudar os discentes no processo de aprendizagem

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O conteuacutedo pode ser adaptado conforme os modelos de aprendizagem juntamente com grupos afins Esse processo gera um ambiente de discussatildeo troca de ideias conhecimento muacutetuo e principalmente o senso de trabalho em equipe e o relaciona-mento interpessoal

As aptidotildees dos discentes tambeacutem satildeo observadas para que haja a construccedilatildeo do conhecimento Uma didaacutetica na qual o ser natildeo se encaixa por natildeo ter a aptidatildeo para desenvolver tal situaccedilatildeo pode fazer com que o sentimento de fracasso seja tatildeo importante que pode gerar consequecircncias para a vida do sujeito e conco-mitantemente desmotivar o profissional o docente que estaacute a ensinar Dito isso o docente eacute peccedila fundamental nesse processo como mediador das accedilotildees e atividades exercidas

Outro ponto importante eacute a questatildeo cultural que estaacute inserida na vida dos discentes Conforme Moraes (2000 p 95) ldquoa cultura influencia cada indiviacuteduo na maneira como os potenciais inte-lectuais evoluem daacute o tom o colorido e direciona o modo de evoluccedilatildeo das competecircncias humanasrdquo

Os valores individuais de cada um influenciam na maneira de agir em grupo nas organizaccedilotildees e na escola Quando esses natildeo satildeo respeitados o sujeito tende a se afastar e a mudar suas atitudes perante as situaccedilotildees que se apresentam porque essa questatildeo vai contra tudo o que lhe foi ensinado e praticado ao longo da vida

Contudo Weisz (2004 p 58) afirma que

De uma perspectiva construtivista o conhecimento natildeo eacute concebi-do como uma coacutepia do real incorporado diretamente pelo sujeito pressupotildee uma atividade por parte de quem aprende que organiza e integra os novos conhecimentos aos jaacute existentes Isso vale tanto

para o aluno quanto para o professor em processo de transformaccedilatildeo

O homem eacute um ser social e portanto relacional precisa de meios e atitudes que desenvolvam o conhecimento Quanto maior a didaacutetica e a dinacircmica em sala de aula maior compre-ensatildeo do assunto comprometimento e consequentemente pessoas melhores no futuro

Grande parte das dificuldades dos docentes se daacute pelo fato de natildeo reconhecer o que foi dito em sala de aula e de natildeo observar seu proacuteprio comportamento com relaccedilatildeo aos discentes sem se dar conta de que o mundo em que eles vivem eacute sempre uma criaccedilatildeo pessoal

Em meio agraves incertezas dos dias de hoje espera-se que a edu-caccedilatildeo seja revolucionaacuteria a ponto de transformar as pessoas em indiviacuteduos criacuteticos e de conhecimento Seres capazes de transformar

o ambiente e sugerir soluccedilotildees Esse meio produz uma mudanccedila significativa na visatildeo social e intelectual do docente Na medida em que essa mudanccedila se faz presente as necessidades de fundamentar a teoria e a praacutetica se tornam prioridade na atuaccedilatildeo do docente

Natildeo existe uma padronizaccedilatildeo do meacutetodo de ensino cada docente o adapta conforme sua realidade seus discentes si-tuaccedilotildees e assunto Todas as instituiccedilotildees de ensino devem estar abertas e flexiacuteveis para que a mudanccedila de pensamento e de metodologia de ensino aconteccedila e ocorra em consequecircncia uma melhor e mais moderna forma de educar o discente para o futuro Segundo Moraacuten (2015 p 16)

A escola padronizada que ensina e avalia a todos de forma igual e exige resultados previsiacuteveis ignora que a sociedade do conhecimento eacute baseada em competecircncias cognitivas pessoais e sociais que natildeo se adquirem da forma convencional e que exigem proatividade co-

laboraccedilatildeo personalizaccedilatildeo e visatildeo empreendedora

Os meacutetodos de avaliaccedilatildeo tambeacutem se modificaram ao longo dos anos Hoje os discentes satildeo avaliados a partir das competecircn-cias que desenvolveram durante o processo de aprendizagem Avaliar conhecimentos habilidades e atitudes requer do docente uma observaccedilatildeo e uma intervenccedilatildeo maiores na abordagem do conteuacutedo No momento em que o docente planeja sua aula o assunto deve estar embasado primeiramente na apropriaccedilatildeo teoacuterica do conteuacutedo nas caracteriacutesticas da didaacutetica proposta para que todos possam desenvolver e em quais accedilotildees o discente deve se utilizar para que essa teoria seja absorvida por ele A metodologia de ensino ativa permite que os discentes aprendam de forma dinacircmica e entendam que o conhecimento que estatildeo adquirindo nas atividades desenvolvidas em sala de aula satildeo levados para a vida fora dela

As escolas de maneira geral estatildeo modificando seus ambien-tes fiacutesicos para proporcionar ao discente um ensino mais suave aconchegante no qual ele se sente livre para criar e modificar seu aprendizado As estruturas satildeo pensadas de forma interdisciplinar para que seja possiacutevel desenvolver projetos integradores mais eficientesO ensino hiacutebrido natildeo eacute um vilatildeo em sala de aula e sim uma forma de acompanhar a tecnologia do mundo de hoje que eacute cada vez mais necessaacuteria e indispensaacutevel

O ensino hiacutebrido eacute um programa de educaccedilatildeo formal no qual um aluno aprende pelo menos em parte por meio do ensino online com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo lugar modo eou ritmo do estudo e pelo menos em parte em uma localidade fiacutesica supervisionada fora de sua residecircncia (CHRISTENSEN HORN

amp STAKER 2013 p7)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Contudo a evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior deve ser constante caminhar principalmente para a construccedilatildeo pessoal e profissional do indiviacuteduo e observar na tecnologia e no cenaacuterio onde se vive oportunidades de aprendizagem significativa

4 Observaccedilatildeo aplicadaPara visualizar melhor como ocorre a aplicabilidade da metodo-logia ativa no ensino foi realizada uma observaccedilatildeo participante a uma sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior priva-da com alunos de graduaccedilatildeo do curso superior de Tecnologia em Gestatildeo de Recursos Humanos frequentando a disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

A dinacircmica de trabalho ocorreu a partir da leitura do livro A inovaccedilatildeo da sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de aprender de Christensen Horn e Johnson (2012)

As atividades iniciaram com o resgate do plano de ensino apre-sentado no primeiro dia de aula o que possibilitou ao docente fazer uma preacutevia anaacutelise diagnoacutestica sobre os conhecimentos que os discentes poderiam ter sobre o assunto que seria abordado Apoacutes a anaacutelise o docente iniciou o trabalho Os alunos foram provocados a pensar sobre seu desenvolvimento sua identidade pessoal e suas potencialidades Percebe-se que o assunto lideranccedila e gestatildeo satildeo bem latentes nas aulas uma vez que o gestor eacute a maior referecircncia dentro do processo de avaliaccedilatildeo de desempenho humano

A partir das reflexotildees realizadas o primeiro exerciacutecio rea-lizado foi a construccedilatildeo de um imaginaacuterio social que buscou a construccedilatildeo de um profissional de recursos humanos conforme a interpretaccedilatildeo e percepccedilatildeo de cada aluno quanto agrave profissatildeo e papel desse profissional no mercado de trabalho Ainda foram realizados questionamentos quanto agrave construccedilatildeo da persona e o sentido de estar na instituiccedilatildeo de ensino estudando tal assunto Nesse momento percebeu-se que os questionamen-tos realizados foram de grande valia pois fizeram com que os discentes relembrassem quais questotildees o fizeram escolher o curso que estatildeo frequentando

No decorrer das aulas outra atividade foi proposta denominada ldquometaacutefora do personagem infantil e a identificaccedilatildeo com elerdquo Essa atividade proporcionou ao discente identificar seus pontos fortes e suas possibilidades de melhoria sempre realizando ligaccedilotildees com a temaacutetica desenvolvida e comparando os resultados com as ativida-des que um profissional de RH deveria realizar principalmente na avaliaccedilatildeo de desempenho

Na sequecircncia das atividades foi desenvolvido o exerciacutecio da Janela Johari e realizadas as devidas anaacutelises sobre os quadrantes que compotildeem o exerciacutecio Eu como autoconhecimento e Eu e

o mundo como forma de compreensatildeo das consequecircncias de nossas atitudes para com os outros Nesse momento a observa-ccedilatildeo da questatildeo do feedback eacute um ponto crucial na discussatildeo em sala de aula e esteve presente em todas as aulas Para reforccedilo os alunos elaboraram portfoacutelios individuais sobre cada atividade nos quais o docente pocircde verificar o aprendizado no acircmbito teoacuterico e comportamental de cada aluno aleacutem de possibilitar aos alunos a autorreflexatildeo ndash sobre si e sobre suas proacuteprias atitudes

Ainda o docente propocircs como praacutetica para desenvolvi-mento do conteuacutedo filmes textos de livros e situaccedilotildees reais trazidas pelos proacuteprios discentes e docente Percebeu-se que com essas atividades complementares os discentes realizas-sem comparaccedilotildees com o dia a dia de um profissional inserido no mercado de trabalho e na sociedade Em todas as situaccedilotildees visualizadas em sala de aula pude observar que os discentes fo-ram envolvidos de forma que o desenvolvimento do conteuacutedo comeccedila a ser compreendido por eles evidenciando a proposta da metodologia ativa de ensino do discente protagonista de seu proacuteprio conhecimento

Conforme o andamento das atividades o docente pocircde explorar vaacuterias habilidades e atitudes que contribuem para o desenvolvimento do conhecimento de seus discentes sem sua intervenccedilatildeo deixando-os livres para demonstrarem suas emo-ccedilotildees e sentimentos de desconforto bem-estar ansiedade im-paciecircncia expectativas e temores conforme acontece no meio organizacional Essas emoccedilotildees e sentimentos estatildeo ligados agrave forma como os discentes compreenderam o assunto e como satildeo seus modelos de mundo Cabe ressaltar que o docente tambeacutem reforccedilou o desenvolvimento do conteuacutedo com dinacircmicas de grupo que instigavam os discentes a desenvolver habilidades ndash como empatia negociaccedilatildeo resiliecircncia ndash e a refletir sobre a relaccedilatildeo entre vida pessoal e profissional

Atraveacutes das escutas das discussotildees realizadas em sala de aula e da metodologia de ensino utilizada pelo docente sem se dar conta os discentes estatildeo intuindo seu proacuteprio meacutetodo de apren-dizagem com base na teoria aprendida confirmando novamente a proposta da metodologia ativa de ensino aleacutem do fato de que a educaccedilatildeo deve buscar desestabilizar os discentes para que haja uma mudanccedila comportamental de cada indiviacuteduo Ainda estando em grupo ou natildeo os discentes comeccedilam a trocar ideias e a des-cobrir novos meacutetodos mais raacutepidos e faacuteceis para que as situaccedilotildees empreendidas sejam compreendidas Esses meacutetodos descobertos satildeo sugeridos ao docente e cabe a ele adaptaacute-los para melhorar sua didaacutetica e replanejamento de seus planos de aula

Eacute preciso reconhecer que a metodologia ativa de ensino nes-se caso promove o domiacutenio pessoal social autoconsciecircncia e a autogestatildeo Conforme afirma Perrenoud (2000 p 69)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A maioria das pessoas interessa-se em alguns momentos pelo jogo da aprendizagem se lhes oferecerem situaccedilotildees abertas estimulantes interessantes Haacute maneiras mais luacutedicas do que outras de propor a mesma tarefa cognitiva Natildeo eacute necessaacuterio que o trabalho pareccedila uma

via crucis1 pode-se aprender rindo brincando tendo prazer

Outra questatildeo a ser pontuada refere-se agrave motivaccedilatildeo dos discentes em sala de aula Em nenhum momento notou-se des-motivaccedilatildeo dos alunos com os assuntos abordados Christensen (2012 p 137) lembra o que o falecido educador Jack Frymier costumava dizer ldquoquando os meninos querem aprender natildeo haacute como impedi-los se natildeo quiserem natildeo podemos obrigaacute-losrdquo Essa citaccedilatildeo confirma o pressuposto de que todo o interesse do dis-cente eacute baseado na motivaccedilatildeo em aprender e na praacutetica didaacutetica do docente em sala de aula

Diante disso pude perceber que a vontade dos discentes de aprender foi maior que o cansaccedilo e que o desafio de despertar o interesse pelo assunto foi atingido com sucesso compreendendo que a educaccedilatildeo eacute uma necessidade e garante o sucesso profissio-nal e o crescimento pessoal

Dessa forma pocircde-se evidenciar que os resultados obtidos com a observaccedilatildeo participante foram satisfatoacuterios tanto para fun-damentar a teoria do uso da metodologia ativa no ensino como para constatar que o docente tem o dever de ensinar e mediar o conhecimento de seus discentes e ajudar o indiviacuteduo a construir o seu proacuteprio pensamento sobre as questotildees profissionais e da vida

5 Inovaccedilatildeo na Sala de AulaO ensino exige pesquisa curiosidade respeito e criticidade Estaacute cometendo um equiacutevoco o professor que pensa no ensino rigo-roso e metoacutedico Conforme Freire (2006 p 38) ldquoa praacutetica docente criacutetica implicante do pensar certo envolve o movimento dinacirc-mico dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre o que fazerrdquo Essa citaccedilatildeo deixa claro que o professor deve estar sempre atualizado revendo sua didaacutetica e a forma como ensina

A construccedilatildeo do conhecimento eacute constante e a formaccedilatildeo de pensamento criacutetico se faz a todo o momento Contudo o uso da me-todologia ativa se faz marcante na problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees correntes que exigem do aluno uma opiniatildeo significativa para si e para a sociedade em que estaacute inserido ou seja a curiosidade sobre o novo proporciona maiores possibilidades de transgressatildeo do saber

Outra reflexatildeo que se pode fazer com relaccedilatildeo ao ensino e a docecircncia eacute a anaacutelise e a apreensatildeo da realidade Cada discente estaacute

inserido em realidades muito particulares o assunto abordado em sala de aula deve sim ser baseado na teoria contudo principal-mente ser adaptado agrave realidade de cada um assim o processo de aprendizagem torna-se significativo A convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel deve ser corrente e praticada todos os dias O discente natildeo deve se tornar acomodado mas sim revolucionaacuterio e inquieto

Mudar eacute difiacutecil mas eacute possiacutevel e eacute o que a metodologia ativa propotildee transformar o simples ato de ensinar em uma experiecircncia uacutenica e inesqueciacutevel aos olhos do discente O indiviacuteduo eacute social e essa experiecircncia possibilita uma nova percepccedilatildeo da realidade

Antigamente ateacute os anos 1800 as escolas escolhiam o ensi-no personalizado ou seja o ensino por necessidade As salas de aula eram preenchidas de crianccedilas de diferentes capacidades o que fazia com que o docente passasse de discente em discente dando instruccedilotildees e tarefas individualizadas Nota-se que com o passar dos anos o ritmo de ensino sofreu mudanccedilas significativas acarretando o aumento das matriacuteculas escolares e uma padroni-zaccedilatildeo das atividades e accedilotildees em sala de aula fazendo com que as instituiccedilotildees de ensino padronizassem as accedilotildees em sala de aula

Segundo Christensen (2012 p 16)

Os alunos que satildeo dotados de forte inteligecircncia linguiacutestica sentem-se por-tanto previsivelmente frustrados em uma aula de inglecircs Os professores ficam igualmente limitados por suas proacuteprias forccedilas Em qualquer sala de aula existem estudantes que natildeo tem forte inteligecircncia linguiacutestica e satildeo por isso mesmo efetivamente excluiacutedos da possibilidade de se destacar

nessa mateacuteria E o padratildeo vai se repetindo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

A padronizaccedilatildeo do ensino prejudica o potencial do discente para realizar com sucesso as tarefas dadas em sala de aula Assim a metodologia ativa propotildee um sistema ldquocentrado no alunordquo que busca nos docentes a melhor forma de ensinar e customizar o aprendizado conforme cada individualidade

6 Consideraccedilotildees FinaisNo tocante aos avanccedilos observados podemos dizer que os resul-tados obtidos foram positivos pois se apresentou um novo olhar na forma de ensinar Ser docente natildeo eacute uma simples reproduccedilatildeo de conhecimento e sim uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Significa ajudar a construir cidadatildeos criacuteticos que saibam defender suas opiniotildees sem deixar-se influenciar A base da educaccedilatildeo vem de casa e a escola deve ser mediadora nesse processo aleacutem de apresentar um apoio agraves reflexotildees sobre a vida bem como ser ideoloacutegica e natildeo deixar se abater por discursos alheios que ferem a eacutetica a praacutetica docente e a preocupaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do ser

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O uso das metodologias ativas de ensino afirma que soacute se con-segue o sucesso no processo de ensino e aprendizagem quando o docente possibilita que o discente seja inserido no contexto das teorias observadas em sala de aula de forma dinacircmica levando em consideraccedilatildeo suas limitaccedilotildees e particularidades

De nada adianta a teoria sem a praacutetica Palavras bem escritas natildeo servem para nada quando a coragem de revolucionar a edu-caccedilatildeo se abala defronte a problemas da sociedade Ser docente construtor do conhecimento eacute mais do que uma profissatildeo eacute um dom que poucos tecircm Esse dom significa de fato amar e se impor-tar com o ser humano Quem sabe esse pensamento se propague e cada vez mais faccedila com que os docentes se preocupem e reflitam sobre seu modo de ensinar

Resgatar a docecircncia humana tem sido um desafio constante que tem exigido sensibilidade e discernimento eacutetica e emoccedilatildeo caracte-riacutesticas que passam a ser fundamentais para trabalhar com o docente e no trabalho docente como nos diz Broilo citando Forster (2015)

Freire (2006) explica que haacute um niacutevel de consciecircncia capaz de perceber as problemaacuteticas advindas da realidade poreacutem que natildeo estabelece uma relaccedilatildeo de criticidade Dessa forma a reflexatildeo deve acontecer mas natildeo isoladamente separando os sentimentos e emoccedilotildees do professor visto que para ele refletir sobre o acontecido eacute preciso ter conhecimento de suas habilidades e limitaccedilotildees

N o t a s

1 ndash Caminho difiacutecil penoso a ser percorrido

R e f e r ecirc n c i a s

BROILO C L Assessoria pedagoacutegica na universidade (con)formando o

trabalho docente Araraquara Junqueira amp Marin 2015

CERVO A L SILVA R da BERVIAN P A Metodologia cientiacutefica 6 ed Satildeo

Paulo Pearson 2007

CHRISTENSEN Clayton M HORN Michael B JOHNSON Curtis W Ino-

vaccedilatildeo na sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de

aprender Porto Alegre Bookman 2012

CHRISTENSEN C HORN M STAKER H Ensino hiacutebrido uma inovaccedilatildeo

disruptiva uma introduccedilatildeo agrave teoria dos hiacutebridos 2013 Disponiacutevel

em lthttpporvirorgwpcontentuploads201408PT_Is-K-12-blen-

ded-learning-disruptive-Finalpdfgt Acesso em 17 jun 2017

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave pratica

educativa 33 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 2006

ITOZ C MINEIRO M Ensino-aprendizagem da contabilidade de custos

componentes desafios e inovaccedilatildeo praacutetica Enfoque Reflexatildeo Contaacutebil

Maringaacute v 24 n2 juldez 2005

MATURANA Humberto REZEPKA Sima Nisis de Formaccedilatildeo humana e

capacitaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jaime A Clasen Petroacutepolis Vozes 2000

MORAES Maria Cacircndida O paradigma educacional emergente 6 ed Cam-

pinas SP Papirus 2000

MORAacuteN Joseacute Mudando a educaccedilatildeo com metodologias ativas 2015

Disponiacutevel em lthttpwww2ecauspbrmoranwp-contentuplo-

ads201312mudando_moranpdfgt Acesso em 17 jun 2017

PERRENOUD Philipp et at Formando professores profissionais quais es-

trateacutegias Quais competecircncias 2 ed Porto Alegre Artmed 2001

PERRENOUD Philippe 10 novas competecircncias para ensinar Porto Alegre

Artmed 2000

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 25 ed Rio de Janeiro Forense 2012

RIVAS S C A mediaccedilatildeo na praacutetica cotidiana da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica

Revista FACED Salvador n15 jan-jul 2009

WEISZ Telma SANCHEZ Ana O diaacutelogo entre o ensino e a aprendizagem

2 ed Satildeo Paulo Aacutetica 2004

Paacutegina 8 de 8

Formaccedilatildeo empreendedora e atuaccedilatildeo profissional contribuiccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas GeraisEntreprenurial training and professional activity contribuitions from SEBRAE Minas Gerais schools

Frederico Cesar Mafra Pereira Eloiacutesa Helena Rodrigues Guimaratildees e Fabiana Marques Silva Borges

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 9

R e s u m o

As organizaccedilotildees passaram a exigir profissionais cada vez mais qualificados para atenderem a um mercado flutuante e em raacutepida transformaccedilatildeo O Serviccedilo de Apoio agraves Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE) priorizou accedilotildees educacionais voltadas agrave formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial para suprir tal demanda Este estudo investigou as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Foi realizado estudo descritivo quantitativo junto a 221 egressos selecionados via amostra natildeo probabiliacutestica por acessibilidade Concluiu-se que a formaccedilatildeo gerencial proposta contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos a partir dos seguintes resultados 92 avaliaram o Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE ldquoOacutetimo ou Bomrdquo 95 natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

R e s u m e n

Organizations now demand increasingly skilled professionals to serve a rapidly changing and floating market The Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) prioritized educational actions aimed at training young entrepreneurs with managerial skills to meet such demand This study investigated the contributions of the entrepreneurial training in the professional activity of the graduates from SEBRAE Management Training Schools in Minas Gerais Brazil A quantitative descriptive study was carried out with 221 graduates selected through a non-probability sampling by accessibility The results showed that the proposed management training contributes positively to the professional activity of the graduates 92 evaluated SEBRAE Management Training Course as ldquoExcellent or Goodrdquo 95 did not regret having taken the course 80 considered their development during the course as ldquoExcellent or Goodrdquo and 78 rated the coursersquos contribution to their current professional background as ldquoExcellent or Goodrdquo

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 29092017

Palavras-chaveEmpreendedorismo Formaccedilatildeo empreendedora Formaccedilatildeo gerencial SEBRAE

KeywordsEntrepreneurship Entrepreneurial Training Management Training SEBRAE

Autores Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fredericomafrafpledubrr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail eloisaguimaraesfpledubr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Escola de Formaccedilatildeo Geren-cial (EFG FPL) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fabianaborgesfpledubr

Como citar este artigoPEREIRA F C M GUIMARAtildeES E H R BORGES F M S Formaccedilatildeo empreende-dora e atuaccedilatildeo profissional contribui-ccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas Gerais Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoNovas formas de organizaccedilatildeo e de gestatildeo modificaram estruturalmente o mundo do trabalho a partir da deacutecada de 1980 O aumento do proces-so de globalizaccedilatildeo desde 1990 impocircs mudanccedilas em vaacuterias dimensotildees nas organizaccedilotildees poliacutetica econocircmica tecnoloacutegica ambiental e social Um novo cenaacuterio econocircmico e produtivo se estabeleceu com o desen-volvimento e com o emprego de tecnologias complexas agregadas agrave produccedilatildeo e agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Em consequecircncia passou-se a exi-gir profissionais qualificados tecnicamente e com capacidade criativa e sensibilidade social suficiente para atender agrave demanda de mercado flutuante e desigual com raacutepidas transformaccedilotildees

Esse contexto exige cada vez mais capacitaccedilatildeo e conhecimento De acordo com o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2015a) o diploma por si soacute natildeo garante vaga no mercado de trabalho por isso eacute preciso mudar tambeacutem os para-digmas da educaccedilatildeo Essa conjuntura de mudanccedilas no mercado de trabalho aliada agrave escassez de empregos traz uma maior importacircncia ao estudo do empreendedorismo como um elemento indispensaacutevel para o desenvolvimento humano social e principalmente econocircmico

O Brasil apresentava em 2010 a maior taxa de empreendedores em estaacutegio inicial no mundo segundo o relatoacuterio de anaacutelise interna-cional Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010) considerado o mais abrangente estudo sobre empreendedorismo no mundo coordenado pela London Business School (instituiccedilatildeo especializada em educaccedilatildeo empresarial fundada em 1964 e situada na Inglaterra) e pelo Babson College (instituiccedilatildeo especializada no ensino de em-preendedorismo fundada em 1919 nos Estados Unidos e referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre empreendedorismo)

No Brasil a pesquisa eacute publicada pelo SEBRAE e pelo Instituto Bra-sileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) O relatoacuterio do GEM Brasil (2016) revelou que o empreendedorismo no Brasil cresceu desde 2011 e que a Taxa Total de Empreendedores (TTE) foi de 360 repre-sentando cerca de 48 milhotildees de indiviacuteduos empreendedores (com idade entre 18 e 64 anos) Ainda segundo esse relatoacuterio o SEBRAE foi destacado como oacutergatildeo de maior apoio ao empreendedorismo sendo citado por 104 dos entrevistados Os fatores limitantes mais apontados foram poliacuteticas governamentais educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo e apoio financeiro e uma das principais recomendaccedilotildees relacionadas aos fatores mencionados foi a importacircncia de se inserir conteuacutedo empreendedor nos trecircs niacuteveis de educaccedilatildeo i) na educaccedilatildeo infantil com o primeiro contato das crianccedilas com o empreendedorismo ii) no ensino meacutedio com competiccedilotildees de planos de negoacutecios e o es-tiacutemulo agrave criaccedilatildeo de empresas e iii) no ensino superior atraveacutes de um modelo conectado ao mercado e que apresente aos alunos o empreendedorismo como opccedilatildeo real de carreira

Diante do potencial para o empreendedorismo no Brasil o SEBRAE desde 1990 priorizou as accedilotildees educacionais voltadas

para a formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial imbuiacutedos de valores eacuteticos e de cidadania com habili-dade de serem empregadores empregados voluntaacuterios e cida-datildeos em qualquer setor econocircmico e sobre qualquer relaccedilatildeo de trabalho aleacutem de capazes de oferecer para a sociedade de forma distribuiacuteda utilidade melhoria das condiccedilotildees de vida soluccedilotildees de problemas renda ciecircncia tecnologia desenvolvimento emoccedilatildeo beleza equiliacutebrio cooperaccedilatildeo liberdade e democracia

Em 1992 a Escola Teacutecnica de Formaccedilatildeo Gerencial de Belo Ho-rizonte ndash ETFG-BH (atual Escola de Formaccedilatildeo Gerencial EFG-BH) foi idealizada com o objetivo de suprir a formaccedilatildeo de gestores para as pequenas empresas Na Aacuteustria foi encontrado o referencial que serviu como paracircmetro para a elaboraccedilatildeo do seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico desenvolvido por meio de um acordo de cooperaccedilatildeo com o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Artes possibilitando o desenvolvimento de um modelo de formaccedilatildeo gerencial adaptado agrave realidade brasileira A partir de 1995 a escola alcanccedilou notoriedade devido agrave sua metodologia inovadora e por oferecer o Ensino Meacutedio em concomitacircncia e articulaccedilatildeo com o Curso Teacutecnico em Administraccedilatildeo Em virtude disso foram instaladas mais trecircs escolas parceiras nas cidades mineiras de Contagem Itabira e Patos de Minas dando iniacutecio ao Sistema de Formaccedilatildeo Gerencial do SEBRAE-MG o qual segundo o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico de 2015 atuava com quatorze escolas parceiras sendo treze em Minas Gerais e uma no estado do Maranhatildeo (SEBRAE 2015b)

Diante desse cenaacuterio pesquisar as contribuiccedilotildees do ensino do empreendedorismo proporcionado pelo Sistema SEBRAE torna-se fundamental para o reconhecimento e difusatildeo da edu-caccedilatildeo empreendedora no Brasil Assim esta pesquisa propocircs-se a investigar quais as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Com isso pretendeu-se con-tribuir para a academia com novos resultados sobre o estudo do empreendedorismo na formaccedilatildeo teacutecnica

A fim de atender aos objetivos propostos este artigo estaacute es-truturado em cinco seccedilotildees sendo esta introduccedilatildeo a primeira Na segunda seccedilatildeo apresenta-se a fundamentaccedilatildeo teoacuterica com a revisatildeo da literatura referente ao tema na terceira satildeo descritos os procedimentos metodoloacutegicos utilizados no trabalho na quarta seccedilatildeo apresentam-se e discutem-se os resultados alcanccedilados e por uacuteltimo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais

2 Referencial Teoacuterico O referencial teoacuterico deste estudo descreve os conceitos e de-finiccedilotildees de empreendedorismo e de empreendedor utilizados por diversos autores a formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no Brasil bem como a proposta de ensino do empreendedorismo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 9

21 Empreendedorismo conceitos e evoluccedilatildeoPesquisadores do empreendedorismo concordam que a origem do conceito estaacute nas obras de Richard Cantillon e Jean Baptiste Say considerados os primeiros a inserir o tema no cenaacuterio eco-nocircmico (PEREIRA 2010) Segundo Pereira (2010) os economistas associaram o empreendedorismo agrave organizaccedilatildeo de negoacutecios agrave inovaccedilatildeo e a aspectos criativos e intuitivos pelos comportamen-talistas Em 1911 com a publicaccedilatildeo da obra de Joseph A Schum-peter denominada Teoria de desenvolvimento econocircmico o sig-nificado de ldquoempreendedorrdquo foi conectado agrave inovaccedilatildeo Para esse autor o empreendedor eacute aquele que destroacutei a ordem econocircmica existente introduzindo novos produtos e serviccedilos criando novas formas de organizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo de novos recursos materiais o empreendedor seria assim a essecircncia da inovaccedilatildeo no mundo

Em 1998 Peter Ferdinand Drucker filoacutesofo e economista aus-triacuteaco considerado o pai da Administraccedilatildeo moderna ampliou o conceito de empreendedor articulando-o ao conceito do profis-sional inovador e proativo aquele indiviacuteduo capaz de aproveitar oportunidades para promoccedilatildeo de mudanccedilas Essa visatildeo corrobora-va a definiccedilatildeo de Fillion (1993) para quem o empreendedor eacute uma pessoa criativa marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que manteacutem um alto niacutevel de consciecircncia do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negoacutecios

O SEBRAE (2016) define empreendedor como aquele que tem como caracteriacutestica baacutesica o espiacuterito criativo e pesquisador constantemente em busca de novos caminhos e novas soluccedilotildees sempre relacionados agraves necessidades das pessoas Jaacute o relatoacuterio GEM (2016) conceitua empreendedorismo como qualquer tenta-tiva de criaccedilatildeo de um novo negoacutecio ou novo empreendimento podendo ser uma atividade autocircnoma uma nova empresa ou a expansatildeo de um empreendimento existente por um indiviacuteduo grupos de indiviacuteduos ou por empresas jaacute estabelecidas

Para a Endeavor (2015) organizaccedilatildeo liacuteder no apoio a empre-endedores de alto impacto presente em mais de vinte paiacuteses o empreendedorismo pode mudar o mundo e o Brasil gerando emprego riqueza formando profissionais capacitados criando inovaccedilatildeo revolucionando o jeito de pensar Alinhada a essa abor-dagem a Junior Achievement (2015) associaccedilatildeo educativa sem fins lucrativos criada nos Estados Unidos em 1919 e hoje a maior organizaccedilatildeo mundial dedicada agrave educaccedilatildeo empreendedora para jovens em idade escolar presente em mais de 120 paiacuteses e em Minas Gerais desde 2003 acredita na capacidade e potenciali-dade do empreendedorismo como fator propulsor de mudanccedila e incentivo para que os jovens assumam responsabilidade pelos proacuteprios destinos determinem seus objetivos atuem na busca de metas e tenham coragem para correr riscos aleacutem de perseveranccedila e confianccedila em si proacuteprios

22 A formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no BrasilEstudos publicados em 2005 por Howard Aldrich a respeito da histoacuteria do empreendedorismo como disciplina acadecircmica nos Estados Unidos da Ameacuterica (EUA) demostram que desde a deacutecada de 1970 havia debates em torno da legitimaccedilatildeo desse campo de pesquisa O estudo sobre o asunto cresceu a partir de pesquisas sobre pequenas empresas realizado nas Business School (Escolas de Negoacutecios) Os primeiros cursos com foco na administraccedilatildeo de pequenas empresas surgiram em 1947 na Harvard Business School escola de especializaccedilatildeo da Universidade de Harvard voltada agrave administraccedilatildeo de empresas e em 1953 na University New York importante universidade privada sediada na cidade de Nova Iorque e fundada em 1831

A primeira conferecircncia anual sobre empreendedorismo foi realizada em 1981 pela Babson College instituiccedilatildeo norte ame-ricana criada em 1919 e considerada segundo Melo (2008) a referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre o tema Ainda para esse autor os obstaacuteculos para a institucionalizaccedilatildeo do empre-endedorismo como disciplina acadecircmica estavam ligados agrave ausecircncia de publicaccedilotildees especializadas e ao desinteresse pelas universidades de prestiacutegio situadas nos Estados Unidos Um dos fatos importantes para a consolidaccedilatildeo do empreendedorismo foi a criaccedilatildeo de algumas revistas ainda na deacutecada de 1970 como a American Journal of Small Business (que mudou para Entre-preneurship Theory and Practice) e a partir de 1988 a Family Business Review e a Small Business Economics

O surgimento do mercado dotcom (denominaccedilatildeo dada agraves empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo base-adas na internet) em 1990 possibilitou que livros e revistas sobre empreendedorismo se tornassem um produto do mer-cado publicitaacuterio Tal surgimento e a publicaccedilatildeo em 1998 pela Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) do documento ldquoFostering the Entrepreneurship a The-matic Reviewrdquo foram considerados importantes fatores para disseminaccedilatildeo do empreendedorismo pelo mundo Nesse mes-mo ano a Comissatildeo Europeia e o Foacuterum Econocircmico Mundial incluiacuteram a criaccedilatildeo de empresas como temaacutetica em suas pautas (DORNELAS 2008) Destaca-se tambeacutem como fator importante a presenccedila de organizaccedilotildees como a Junior Achievement (2015) e o Instituto Endeavor (2015)

Aleacutem disso desde 1988 eacute publicada anualmente a pesquisa Gene-ral Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada pela Babson College (EUA) e pela London Business School (Inglaterra) cujo objetivo eacute medir a atividade empreendedora a criaccedilatildeo de empresas nos paiacuteses e sua relaccedilatildeo com o crescimento econocircmico O estudo GEM estabeleceu um ranking mundial via iacutendice que mede o potencial empreendedor de cada paiacutes (GEM 2010)

Paacutegina 3 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O empreendedorismo foi difundido no mundo acadecircmico na literatura popular na miacutedia e tambeacutem nas atividades de ONGs e Organismos Internacionais A ONU apoacutes a II Guerra Mundial bus-cou fomentar a criaccedilatildeo de empresas e para isso usou aleacutem das linhas de creacutedito e treinamentos gerenciais uma pesquisa realizada pelo psicoacutelogo David McClelland para desenvolver programas de capacitaccedilatildeo com foco na motivaccedilatildeo A partir dessas accedilotildees criou-se um programa de treinamento em empreendedorismo conhecido como Empretec executado em parceria com diversos paiacuteses desde 1988 No Brasil eacute realizado pelo SEBRAE (SEBRAE 2006)

No Brasil a Formaccedilatildeo Empreendedora foi marcada inicialmente pela criaccedilatildeo do primeiro curso de especializaccedilatildeo de Novos Negoacutecios pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas em 1981 e em 1984 pela extensatildeo da disciplina para a graduaccedilatildeo com o tiacutetulo de Criaccedilatildeo de Novos Negoacutecios ndash Formaccedilatildeo de Empreendedores Similarmente em 1989 foi criado o Centro Integrado de Gestatildeo Empreendedora (CIAGE) e em seguida cursos de empreendedorismo foram inseridos em niacutevel de mestrado doutorado e MBA (SEBRAE 2016) Seguindo essa linha de institucionalizaccedilatildeo do empreendedorismo em 1984 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a oferecer a disciplina de Ensino de Criaccedilatildeo de Empresa no curso de Ciecircncias da Computaccedilatildeo em seguida a Universidade de Satildeo Paulo (USP) implantou a disciplina Criaccedilatildeo de Empresas na graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo e em 1985 iniciou outra disciplina na poacutes-gradua-ccedilatildeo voltada para empreendimentos de base tecnoloacutegica

No iniacutecio da deacutecada de 1990 o SEBRAE MG apoiou a criaccedilatildeo do Grupo de Estudos de Pequenas Empresas (GEPE) no Depar-tamento de Engenharia de Produccedilatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nos anos de 1992 e 1994 esse grupo ofereceu workshops com professores canadenses destacando-se a presenccedila de Filion responsaacutevel pelo desenvolvimento da Teoria Visionaacuteria que facilita o entendimento de como a partir do sur-gimento de uma ideia de um produto ou serviccedilo forma-se um novo negoacutecio Tambeacutem atraveacutes dessa teoria foi possiacutevel conhecer e compreender a importacircncia e o estabelecimento das relaccedilotildees entre os empreendedores os negoacutecios e o ambiente em que estatildeo inseridos (FILION 1993 2004 CIMADON et al 2007)

Ainda em 1992 a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou o Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (CESAR) o qual trecircs anos depois lanccedilou uma incubadora de empresas (ambiente especialmente planejado com o propoacutesito de apoiar iniciativas empreendedoras e projetos inovadores por meio do oferecimento de infraestrutura serviccedilos especializados e assesso-ria gerencial de projetos de exportaccedilatildeo de software) No mesmo ano em parceria com o SEBRAE a Faculdade de Economia da USP iniciou programas de formaccedilatildeo de empreendedores para profissionais interessados em abrir seu proacuteprio negoacutecio Nesse mesmo periacuteodo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

criou a Escola de Novos Empreendedores (ENE) e os programas SOFTEX (Associaccedilatildeo para Promoccedilatildeo da Excelecircncia do Software Brasileiro) e GENESIS (Geraccedilatildeo de Novas Empresas de Software Informaccedilatildeo e Serviccedilo) foram criados pelo CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (MELO 2008)

Tambeacutem com a parceira do SEBRAE-DF a Universidade de Brasiacutelia (UNB) em 1995 desenvolveu a Escola de Empreendedores Em 1997 com o apoio do SEBRAE e do Instituto Euvaldo Lodi (IELMG) e da Federaccedilatildeo das induacutestrias de Minas Gerais (FIEMG) surgiu a Rede de Ensino Universitaacuterio em Empreendedorismo (REUNE) Ainda o SEBRAE a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) o Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico Social (BNDES) e o CNPq foram responsaacuteveis por desenvolverem os programas SOFTEX e GENESIS (citados anteriormente que apoiam ativida-des de empreendedorismo em software estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geraccedilatildeo de novas empresas de software conhecidas como start-ups (empresas geralmente de base tecnoloacutegica que criam modelos de negoacutecio altamente escalaacuteveis a baixos custos e a partir de ideias inovadoras) aliados ao empreendedorismo digital com a utilizaccedilatildeo de ferramentas como e-commerce (comeacutercio eletrocircnico) aplicativos moacuteveis sites de compras dentre outros (MELO 2008)

O SEBRAE tem sido considerado o oacutergatildeo responsaacutevel por im-plantar a cultura do empreendedorismo no Brasil nas universi-dades e no mercado como um todo sendo tambeacutem parceiro de vaacuterias entidades que promovem o empreendedorismo Segundo Dornelas (2008) um curso de empreendedorismo deve considerar o desenvolvimento de trecircs aacutereas de habilidades i) teacutecnicas ndash envol-vem saber escrever ouvir as pessoas ser organizado saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how teacutecnico de sua aacuterea ii) gerenciais ndash envolvem as aacutereas de criaccedilatildeo desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa (marketing administraccedilatildeo financcedilas operacional produccedilatildeo tomada de decisatildeo controle das accedilotildees da empresa e ser um bom negociador) iii) caracteriacutesticas pes-soais ndash envolvem aspectos como assumir riscos e ser disciplinado inovador orientado a mudanccedilas persistente e um liacuteder visionaacuterio

Para o SEBRAE (2013) a educaccedilatildeo empreendedora propotildee a ruptura de um modelo de praacutetica educacional que privilegia a transmissatildeo estaacutetica e a criacutetica de dados e informaccedilotildees sem estimular reflexotildees ou a aplicaccedilatildeo dos saberes na forma de accedilotildees transformadoras Para isso eacute necessaacuterio capacitar o aluno a cons-truir caminhos por meio de accedilotildees concretas e tecnicamente emba-sadas que tenham efetiva capacidade transformadora e o levem a aliar a teoria agrave praacutetica

Nessa mesma abordagem eacute importante ressaltar a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDBN1996) referente agrave promoccedilatildeo da Educaccedilatildeo Integral valorizando as inicia-

Paacutegina 4 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

tivas educacionais extraescolares e a vinculaccedilatildeo entre o trabalho escolar e a vida em sociedade e tambeacutem a importante parceria do SEBRAE na capacitaccedilatildeo de docentes em empreendedorismo para que eles despertem nos alunos o interesse pelo mundo dos negoacutecios e o tema possa ser desenvolvido como disciplina eletiva

Portanto a educaccedilatildeo empreendedora pode ser considerada como principal vetor do desenvolvimento dos paiacuteses e regiotildees que aspiram a ver seus jovens como grandes empreendedores No Brasil o tema eacute muito diversificado devido agraves diferenccedilas regionais e agraves muacuteltiplas nuances culturais O empreendedorismo se mani-festa de forma uacutenica em cada regiatildeo influenciado pela heranccedila cultural pelas vivecircncias pelas historicidades pelas realidades econocircmicas e sociais uacutenicas de cada parte do paiacutes

Portanto eacute a partir da deacutecada de 1980 que o empreende-dorismo pode ser considerado um movimento social mundial propulsor do pequeno negoacutecio e um sinocircnimo de inovaccedilatildeo e mudanccedila

Concluindo esta seccedilatildeo e considerando as abordagens defen-didas por McClelland (1961) Schumpeter (1982) Drucker (1998) Filion (1993 2004) Souza (2001) Hisrich e Peters (2004) Dolabela (2006) e Dornelas (2008) e pelas instituiccedilotildees SEBRAE (2006) GEM (2010 2016) Endeavor (2015) e Junior Achievement (2015) eacute pos-siacutevel verificar que algumas caracteriacutesticas satildeo comuns nos muitos conceitos discutidos

Independentemente dessas referecircncias McClelland (1961) foi um dos primeiros a usar as teorias da ciecircncia comportamental para realizar estudos empiacutericos sobre a motivaccedilatildeo para empreen-der (SANTOS 2008 CARNEIRO 2015) Portanto optou-se por utili-zar as competecircncias do empreendedor adotadas por McClelland (1961) e presentes no Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico do Sistema SEBRAE (2015b) para a elaboraccedilatildeo do instrumento de coleta de dados utilizado neste trabalho tendo como base trecircs dimensotildees de anaacutelise i) conhecimentos ii) habilidades e iii) competecircncias

3 Procedimentos MetodoloacutegicosA metodologia corresponde a um conjunto de procedimentos a ser utilizado na obtenccedilatildeo do conhecimento Eacute a aplicaccedilatildeo do meacutetodo por meio de processos e teacutecnicas (BARROS 2007) Para atingir o objetivo principal desta pesquisa optou-se por um es-tudo descritivo de caraacuteter quantitativo A escolha pela pesquisa descritiva se mostra adequada uma vez que seu objetivo primor-dial eacute a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno utilizando teacutecnicas padronizadas de coletas de dados (GIL 2010) com a finalidade de identificar e obter informaccedilotildees (COLLIS HUSSEY 2005) Quanto agrave abordagem optou-se pelo

meacutetodo quantitativo Collis e Hussey (2005) apontam que esse meacutetodo eacute caracterizado por ser objetivo por natureza e focado na mensuraccedilatildeo de fenocircmenos envolvendo a coleta de informaccedilotildees e a anaacutelise de dados por meio de teacutecnicas estatiacutesticas

Foi aplicado um questionaacuterio estruturado aos egressos de oito Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial (EFG) situadas em Minas Gerais Esse meacutetodo possibilitou uma avaliaccedilatildeo geral do Curso de Formaccedilatildeo Ge-rencial e de suas contribuiccedilotildees na percepccedilatildeo dos egressos do curso em tal estado Nesse estudo o questionaacuterio foi enviado aos respon-dentes por meio eletrocircnico A fim de cumprir o objetivo geral de investigar as contribuiccedilotildees da Formaccedilatildeo Empreendedora proposta pelo Sistema SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Es-colas de Formaccedilatildeo Gerencial em Minas Gerais optou-se por utilizar o modelo adaptado a partir de estudos de McClelland (1961)

De acordo com as informaccedilotildees fornecidas pelo SEBRAE Belo Horizonte o volume de egressos no estado de Minas Gerais perfa-ziam um universo de 5666 ex-alunos que concluiacuteram o curso nas oito unidades que tinham informaccedilotildees a respeito desse puacuteblico ao final do ano de 2015 Eacute importante ressaltar que a apuraccedilatildeo desse total foi realizada pelo somatoacuterio de egressos de cada escola participante da pesquisa EFG Arcos MG (576) EFG Belo Horizonte MG (2088) EFG Cataguases MG (478) EFG Contagem MG (807) EFG Itabira MG (429) EFG Nova Lima MG (818) EFG Pedro Leopoldo MG (419) EFG Sete Lagoas MG (51)

O questionaacuterio foi elaborado e disponibilizado aos egressos por meio da ferramenta Google Docs no primeiro semestre do ano de 2016 havendo um total de 221 respondentes o que equi-vale a 4 dos egressos dessas instituiccedilotildees

De posse dos dados foi utilizada como teacutecnica para tratamento dos dados quantitativos a ferramenta de coleta do Google Docs As informaccedilotildees foram organizadas em tabelas e em graacuteficos no intuito de promover uma melhor visualizaccedilatildeo dos dados quantita-tivos alcanccedilados pela pesquisa Posteriormente foram realizadas as anaacutelises tendo como base a estatiacutestica descritiva pois esta permite a apresentaccedilatildeo a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de dados numeacutericos atraveacutes da criaccedilatildeo de quadros graacuteficos e indicadores numeacutericos possibilitando identificar a existecircncia de regularidades tendecircncias ciclos concentraccedilotildees ou padrotildees (COLLIS HUSSEY 2005)

4 Apresentaccedilatildeo e Anaacutelise dos ResultadosNesta seccedilatildeo satildeo apresentados e analisados os dados da pesquisa quantitativa aplicada aos egressos do Curso de Formaccedilatildeo Geren-cial SEBRAE das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial situadas nas cida-des de Arcos Belo Horizonte Cataguases Contagem Itabira Nova Lima Pedro Leopoldo e Sete Lagoas a fim de identificar as contri-

Paacutegina 5 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

buiccedilotildees dessa formaccedilatildeo gerencial para a atuaccedilatildeo profissional de seus egressos Primeiramente eacute apresentada a caracterizaccedilatildeo de cada uma das unidades em que se deu a pesquisa e em seguida satildeo apresentados os resultados obtidos por meio do questionaacuterio

41 Caracterizaccedilatildeo das EFG mineiras participantes da pesquisaA Tabela 1 apresenta uma siacutentese da caracterizaccedilatildeo das oito es-colas pesquisadas

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais

Unidade SEBRAE

Ano de fundaccedilatildeo

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de colaboradores Curso

Arcos 1996 60 25 Ensino Meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

BeloHorizonte 1994 250 37 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Cataguases 1996 216 34Ensino Fundamental II Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Contagem 1995 100 Natildeoinformado Formaccedilatildeo Gerencial

Itabira 1995 100 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Nova Lima 1998 120 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Pedro Leopoldo 1996 100 23 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Sete Lagoas 2011 68 30 Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Fonte Dados da pesquisa (2016)

Com exceccedilatildeo da EFG SEBRAE Sete Lagoas todas as escolas estatildeo em funcionamento haacute mais de vinte anos em Minas Gerais e oferecem o ensino meacutedio concomitantemente ao curso teacutecnico em Administra-ccedilatildeo As unidades que tecircm o maior nuacutemero de alunos matriculados satildeo as de Belo Horizonte e de Cataguases as demais oscilam de 60 a 120 alunos (considerando os trecircs periacuteodos do ensino meacutedio) As Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial com maior representatividade na pesquisa foram Belo Horizonte (317) e Pedro Leopoldo (344)

42 Perfil dos egressosA partir das respostas dos 221 egressos na seccedilatildeo I do questionaacuterio pocircde-se conhecer o perfil dos respondentes A amostra foi com-posta de 633 dos respondentes do sexo feminino e 367 do masculino As faixas etaacuterias com maior incidecircncia foram de 18 a 24 anos representando 837 da amostra e de 25 a 29 anos re-presentando 68 Quanto ao estado civil 91 dos respondentes satildeo solteiros e 9 satildeo casados

Constatou-se que o principal motivo que levou o egresso a se matricular no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE foi a busca por qualificaccedilatildeo profissional representando 656 das citaccedilotildees

seguido da referecircncia da marca SEBRAE no mercado de trabalho com 136 Tais resultados refletem a consolidaccedilatildeo da excelecircncia do curso teacutecnico e seu diferencial no mercado de trabalho bem como a valorizaccedilatildeo da marca SEBRAE Identificou-se que 543 dos respondentes cursaram o ensino fundamental em escolas particulares e que 674 natildeo utilizaram bolsa de estudo para rea-lizar o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Tais informaccedilotildees satildeo importantes na identificaccedilatildeo do puacuteblico-alvo e nas ferramentas de marketing dos processos seletivos Quanto agrave formaccedilatildeo acadecircmica 62 possuem ensino superior incompleto e 48 graduaram-se na aacuterea de Exatas Um dado interessante a ser observado eacute o fato de apenas 9 dos respondentes natildeo terem continuado os estudos em niacutevel superior sendo que a maioria optou pela graduaccedilatildeo em Ciecircncias Sociais Aplicadas (48) promovendo assim a continui-dade dos estudos na aacuterea de sua formaccedilatildeo teacutecnica

43 Avaliaccedilatildeo dos conhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE e da ca-pacidade de aprendizadoCada pergunta correspondente agrave seccedilatildeo II do questionaacuterio apresen-tado aos respondentes pertence a um tema de avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os valores percentuais alcanccedilados nas respostas foram sistematizados em uma tabela considerando a seguinte escala de classificaccedilatildeo 1- Peacutessimo 2- Ruim 3- Regular 4- Bom e 5- Oacutetimo As questotildees 1 a 5 15 16 e 24 referem-se agrave avaliaccedilatildeo dos conhecimentos teacutecnicos teoacutericos e praacuteticos das habilidades e competecircncias desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Conhecimentos habilidades e competecircncias englobam os conhecimentos teoacutericos e praacuteticos as competecircncias os recursos tecnoloacutegicos a inter-relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica bem como as accedilotildees promotoras para o desenvolvimento do com-portamento humano da eacutetica e da responsabilidade que foram desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

No que tange agrave avaliaccedilatildeo geral dos egressos quantos aos co-nhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE todos os itens tiveram avaliaccedilotildees positivas e a meacutedia geral dos valores para os itens respondidos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo totalizaram 846 Jaacute para os respondentes que consideraram a avaliaccedilatildeo como ldquoRuim e Peacutes-simardquo 9 estatildeo insatisfeitos com os recursos tecnoloacutegicos dispo-nibilizados pelas EFG Essa informaccedilatildeo deve ser analisada pelos gestores das unidades visto que a inovaccedilatildeo aliada agrave tecnologia eacute um dos principais pilares do empreendedorismo

Com relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo mais detalhada sobre os grupos de co-nhecimentos abordados no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Gestatildeo de Pessoas (6610) e Administraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Ciecircncias Sociais

Paacutegina 6 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

(385) e Sistemas de Informaccedilatildeo (312) foram apontados como os conhecimentos que menos contribuiacuteram Vale ressaltar que eacute possiacutevel que esse resultado tenha relaccedilatildeo com os diferentes ramos de atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Em se tratando das habilidades desenvolvidas no Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE observa-se que Relacionamento In-terpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profis-sional dos egressos enquanto Criatividade e Inovaccedilatildeo (186) e Multiculturalismo (371) satildeo as habilidades que menos contri-buiacuteram na visatildeo dos egressos entrevistados

No tocante agraves competecircncias identifica-se que Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as competecircncias que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Processo Produtivo (24) eacute a que menos contribuiu Um dado que merece ser enfatizado eacute que todas as competecircncias relacionadas possuem um grau positivo de avaliaccedilatildeo demonstrando novamente que a relevacircncia estaacute direta-mente ligada ao segmento profissional de cada egresso

Ainda nesse contexto analisando-se as dimensotildees mais rele-vantes no Conhecimento Gestatildeo de Pessoas (66) na Habilidade Relacionamento Interpessoal (77) e na Competecircncia Raciociacutenio Loacutegico (62) percebe-se que as capacidades mais valorizadas pelo mercado de trabalho satildeo o pensamento loacutegico aliado agrave ca-pacidade de lidar com as pessoas o que corrobora a visatildeo de Gardner (1994) sobre inteligecircncias muacuteltiplas

Em se tratando da avaliaccedilatildeo do egresso quanto agrave sua capa-cidade de aprendizado 88 dos respondentes considerou esse aspecto como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 65 o considerou como ldquoRuim e Peacutessimordquo demonstrando assim que o egresso considera muito bom o seu aproveitamento acerca da formaccedilatildeo gerencial ofer-tada considerando tambeacutem que a aprendizagem resulta de um processo de interaccedilatildeo formado pelo trinocircmio professor-aluno--conhecimento sendo esse um indicador de suma importacircncia pois reflete a autoavaliaccedilatildeo do egresso em relaccedilatildeo ao curso

44 Avaliaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado e dos projetos estrutu-rantes do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEO estaacutegio supervisionado eacute o procedimento didaacutetico-pedagoacutegico que pretende proporcionar ao estudante concluinte da terceira seacuterie aprendizagem social profissional e cultural mediante a vi-vecircncia de situaccedilotildees reais de vida e do trabalho na comunidade em geral sob a orientaccedilatildeo e supervisatildeo da EFG Eacute indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo profissional e preacute-requisito para que o estudante receba o certificado de conclusatildeo do curso Os dados da pesquisa apontam que 77 dos respondentes responderam como ldquoOacutetimo e Bomrdquo os

conhecimentos obtidos nas disciplinas do curso para realizaccedilatildeo das tarefas do estaacutegio 14 apontaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo a facilidade para conseguir estaacutegios e outras atividades acadecircmicas em funccedilatildeo de ter concluiacutedo o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os resultados positivos sinalizam o reconhecimento do egresso quanto agrave importacircncia da realizaccedilatildeo do estaacutegio para a formaccedilatildeo e melhor desempenho profissional no mercado de trabalho mas eacute importante destacar a dificuldade para obtenccedilatildeo do estaacutegio apre-sentada na avaliaccedilatildeo de 14 dos egressos mesmo com a referecircncia do curso SEBRAE no mercado de trabalho

Durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE satildeo desen-volvidos trecircs projetos estruturantes Tutoria Vitrine e Empresa Simulada Ao verificar junto aos respondentes a avaliaccedilatildeo des-ses projetos observa-se um destaque para o projeto Vitrine que apresentou percentual de 9210 de avaliaccedilatildeo ldquoOacutetimo e Bomrdquo O resultado geral dos trecircs projetos comprova a sua importacircncia na formaccedilatildeo gerencial visto que eles satildeo considerados um dos principais diferenciais do Sistema SEBRAE

45 Avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissionalNesse quesito analisou-se a contribuiccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissional dos egressos Foram obtidos os seguintes resultados 86 dos respondentes avaliaram como ldquoOacutetimo e Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do cursopara a melhora do entendimento sobre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e o mercado de trabalho 9 avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo as oportunidades geradas pela conclusatildeo do curso Esses resultados comprovam a contribuiccedilatildeo efetiva do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional que o egresso exerce ou jaacute exerceu Vale destacar ainda a avaliaccedilatildeo positiva dos egressos (73) quanto agraves oportunidades geradas por tal formaccedilatildeo na sua vida profissional apesar do resultado anterior no qual o egresso expressa uma difi-culdade em conseguir estaacutegio apoacutes a conclusatildeo do curso

46 Avaliaccedilatildeo geral do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEOs dados da pesquisa indicam que 9210 dos respondentes ava-liaram o curso como ldquorsquoOacutetimo ou Bomrdquo e apenas 090 o avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo O alto iacutendice positivo indica tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva na aprendizagem do egresso representando uma avaliaccedilatildeo geral do curso nos seus aspectos didaacuteticos ins-trucionais teoacutericos e outros

47 Avaliaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas GeraisAnalisando as escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE pes-quisadas os resultados foram os seguintes 88 dos egressos

Paacutegina 7 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a qualificaccedilatildeo dos professores enquanto 19 consideraram esse aspecto como ldquoRuim e Peacutessi-mordquo evidenciando-se assim a satisfaccedilatildeo e reconhecimento dos egressos quanto agrave qualificaccedilatildeo profissional dos docentes que atuam nas EFG Eacute preciso destacar que a avaliaccedilatildeo de um curso implica necessariamente a anaacutelise da organizaccedilatildeo e principal-mente de seus docentes Quanto agrave infraestrutura equipamen-tos e laboratoacuterios 777 dos egressos consideraram-nos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 51 os consideraram como ldquoRuim e Peacutessimordquo o que comprova uma avaliaccedilatildeo geral positiva das EFG tambeacutem em termos de infraestrutura

48 Relacionamento dos egressos com as EFG SEBRAE em Minas GeraisOs dados demonstram que 423 dos respondentes natildeo mantecircm nenhum tipo de contato com a instituiccedilatildeo na qual concluiacuteram o curso e que apenas 10 jaacute participaram de algum evento promo-vido pela EFG apoacutes terem se formado Essa situaccedilatildeo indica uma deficiecircncia na comunicaccedilatildeo das escolas com seus ex-alunos jaacute ob-servada no iniacutecio da pesquisa quando se constatou que as escolas natildeo possuem um banco de dados atualizado de seus egressos para que seja possiacutevel efetuar contato com eles e natildeo permitindo portanto poliacuteticas de relacionamento com os ex-alunos apoacutes a sua passagem pelas escolas No entanto percebe-se que 869 dos respondentes possuem contato com seus ex-colegas por ini-ciativas proacuteprias de organizaccedilatildeo de redes e grupos informais em plataformas de miacutedias sociais como Facebook e WhatsApp Essas accedilotildees poderiam ser potencializadas pelas EFG para a construccedilatildeo de um relacionamento com os egressos

Os dados da pesquisa apontam que 959 dos respondentes natildeo se arrependeram de ter realizado o curso na EFG de origem Tal iacutendice expressa novamente a satisfaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos egressos no que se refere agrave qualidade da formaccedilatildeo gerencial e do quanto ela foi significativa para a vida profissional de cada um Essa informaccedilatildeo eacute de grande relevacircncia para as escolas e para os gestores visto que a indicaccedilatildeo do egresso eacute uma importante ferramenta de marketing que pode ser utilizada na captaccedilatildeo de novos alunos estrateacutegia que jaacute eacute realizada pelas escolas

5 Consideraccedilotildees FinaisEste estudo teve como objetivo geral investigar quais as contri-buiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa de caraacuteter descritivo e quantitativo Adotou-se o modelo proposto por McClelland (1961) como marco teoacuterico da pesquisa visto tal modelo ser base do projeto poliacutetico pedagoacutegico do Sistema SE-BRAE (2015b) contemplando os conhecimentos (Administraccedilatildeo Estrateacutegica Financcedilas Produccedilatildeo e Logiacutestica Marketing Sistema de

Informaccedilatildeo Gestatildeo de Pessoas Ciecircncias Sociais) as habilidades (Relacionamento Interpessoal Comunicaccedilatildeo Eficaz Lideranccedila Soluccedilatildeo de Conflitos Articulaccedilatildeo Criatividade e Inovaccedilatildeo Multi-culturalismo) e as competecircncias (Interpretaccedilatildeo de Cenaacuterios For-mulaccedilatildeo de Projetos Avaliaccedilatildeo de processos e resultados Iden-tificaccedilatildeo de Problemas Raciociacutenio Loacutegico Processo Decisoacuterio) desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial

Os conhecimentos sobre Gestatildeo de Pessoas (6610) e Admi-nistraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos en-trevistados Em se tratando das habilidades desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Relacionamento Interpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais con-tribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos No to-cante agraves competecircncias Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Pode-se concluir que a formaccedilatildeo gerencial proposta pelas EFG SEBRAE em Minas Gerais contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos Essa informaccedilatildeo eacute comprovada pelos re-sultados que indicam que 92 dos egressos avaliaram o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo sendo que 95 dos egressos natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 con-sideraram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso de formaccedilatildeo gerencial e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

Por outro lado identificou-se um novo desafio no que se refere ao curso foi possiacutevel observar os baixos iacutendices de relacionamento das escolas com seus egressos aleacutem da falta de um banco de dados com o cadastro atualizado dos seus ex-alunos Estes dados servem de alerta agraves escolas e ao Sistema SEBRAE tendo em vista que isso poderaacute prejudicar a imagem da instituiccedilatildeo e o ingresso de novos alunos no futuro visto que a referecircncia do ex-aluno eacute con-siderada a principal ferramenta de marketing que uma instituiccedilatildeo pode se utilizar para captaccedilatildeo de novos alunos Algumas accedilotildees de melhoria passam pela criaccedilatildeo de canais de comunicaccedilatildeo eficazes e de uma associaccedilatildeo de ex-alunos Uma vez adotadas essas accedilotildees proporcionariam aos egressos a possibilidade de maior e melhor acesso agrave escola e aos ex-colegas

A presente pesquisa apresentou limitaccedilotildees Uma delas foi o acesso aos egressos O SEBRAE Belo Horizonte se dispocircs ainda no momento de planejamento deste trabalho a informar o banco de dados dos egressos das treze escolas existentes em Minas Gerais Entretanto isso natildeo ocorreu na praacutetica o que limitou a amostra a 221 egressos e a oito escolas participantes O contato com os egressos dessas escolas foi feito e possibilitado em quase sua totalidade pelas miacutedias sociais e grupos informais de ex-alunos

Paacutegina 8 de 9

Constatou-se nesse momento do trabalho que nenhuma EFG de Minas Gerais possui dados de seus egressos Sendo assim sugere-se agraves EFG do estado a criaccedilatildeo de um banco de dados de egressos com informaccedilotildees atualizadas Seria interessante tambeacutem que as escolas promovessem encontros com os ex-alunos e criassem canais de comunicaccedilatildeo mais constantes e diretos com este puacuteblico

Outra limitaccedilatildeo apresentada pela pesquisa diz respeito agrave sua aplicaccedilatildeo focada somente no quadro de egressos sem considerar outros envolvidos no processo tais como a famiacutelia do egresso os empregadores clientes colaboradores dentre outros Sugere-se tambeacutem que pesquisas futuras incluam os outros envolvidos no processo como forma de se obter uma visatildeo ampliada dos im-pactos da formaccedilatildeo gerencial oferecida pelas EFG SEBRAE

R e f e r ecirc n c i a s

BARROS AJDS LEHFELD NADS Fundamentos de metodologia cientiacutefica

Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2007

CARNEIRO CA Comportamento empreendedor de gestores estudo de caso

em uma instituiccedilatildeo puacuteblica de ensino superior Dissertaccedilatildeo (Mestrado

Profissional em Administraccedilatildeo) ndash Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas

Gerais Brasil 2015

CIMADON JE RUPPENTHAL JE MANFROI AS A aplicaccedilatildeo da ldquoTeoria

Visionaacuteriardquo de Filion no desenvolvimento de MPEs criadas por neces-

sidade In XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produccedilatildeo 2007

Anais Foz do Iguaccedilu ENEGEP 2007

COLLIS J HUSSEY R Pesquisa em administraccedilatildeo um guia praacutetico para alu-

nos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo 2ed Porto Alegre Bookman 2005

DOLABELA F O segredo de Luiacutesa 30ed Satildeo Paulo De Cultura 2006

DORNELAS JCA Empreendedorismo transformando ideias em negoacutecios

Rio de Janeiro Campus 2008

DRUCKER PF Inovaccedilatildeo e espiacuterito empreendedor 5ed Satildeo Paulo Pioneira 1998

ENDEAVOR Portal Endeavor Brasil Disponiacutevel em lthttpsendeavororg

brgt Acesso em 10 set 2016

FILION LJ Visatildeo e relaccedilotildees elementos para um metamodelo empreen-

dedor Revista de Administraccedilatildeo de Empresas (RAE) Satildeo Paulo v33

n6 p50-61 1993

FILION LJ Entendendo os intraempreendedores como visionistas Revista

de Negoacutecios Blumenau v9 n2 p65-80 2004

GEM Global Entrepreneurship Monitor Empreendedorismo no Brasil re-

latoacuterio executivo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibqpprorgbrgt

Acesso em 10 set 2016

______ Empreendedorismo no Brasil relatoacuterio executivo 2016 Disponiacutevel

em lthttpwwwibqpprorgbrgt Acesso em 10 set 2016

GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 5ed Satildeo Paulo Atlas 2010

HISRICH RD PETERS MP Empreendedorismo 5ed Porto Alegre Bookman 2004

JUNIOR ACHIEVEMENT Portal JA Brasil Disponiacutevel em ltwwwjuniorachie-

vementorgbrgt Acesso em 10 set 2016

McCLELLAND DC The achievement society Princenton (NJ) D Van

Nostrand 1961

MELO NM Sebrae Empreendedorismo origem e desenvolvimento Dis-

sertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Sociais) ndash Universidade Federal de

Satildeo Carlos Satildeo Paulo Brasil 2008

PEREIRA RA As competecircncias do educador na difusatildeo da cultura empre-

endedora Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo) ndash

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasil 2010

REVISTA PASSO A PASSO Brasiacutelia SEBRAE 2015a

SANTOS PCF Uma escala para identificar o potencial empreendedor Tese

(Doutorado em Engenharia de Produccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil 2008

SCHUMPETER JA A teoria do desenvolvimento econocircmico uma investi-

gaccedilatildeo sobre lucros capital creacutedito juros e o ciclo econocircmico Satildeo

Paulo Abril Cultural 1982

SEBRAE Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas Refe-

renciais educacionais do SEBRAE Brasiacutelia SEBRAE 2006

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Pedro

Leopoldo Pedro Leopoldo SEBRAE 2013

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Belo

Horizonte Belo Horizonte SEBRAE 2015b

______ Portal SEBRAE Disponiacutevel em lthttpwwwsebraecombrsites

PortalSebraegt Acesso em 3 fev 2016

SOUZA CG Empreendedorismo e capacitaccedilatildeo docente uma sintonia pos-

siacutevel Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Santa Catarina Brasil 2001

Paacutegina 9 de 9

Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo HorizonteCooperation Networks And Public Governance The Case Of The Cultural Mapping Of Belo Horizonte

Leonardo Tadeu dos Santos Juliana de Faacutetima Pinto e Maria Gabriela de Caacutessia Miranda

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

Os Estados vecircm sofrendo mudanccedilas que tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior transparecircncia e de maior envolvimento com mercado e sociedade

civil e para isso estatildeo procurando trabalhar na perspectiva de redes Este artigo buscou analisar as possibilidades da rede estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC) a empresa TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) Trata-se de uma rede interinstitucional formada com objetivo de construir o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte O mapa cultural eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacuteblicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos Foi aplicado um questionaacuterio aberto para trecircs servidoras da FMC Para o tratamento dos dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) O estudo descreve como se deu a criaccedilatildeo da rede os avanccedilos alcanccedilados e as dificuldades encontradas Conclui-se que a rede de cooperaccedilatildeo trouxe benefiacutecios e possibilitou a construccedilatildeo do mapa cultural da cidade

A b s t r a c t

The States have undergone changes towards a user-oriented administration one of greater trans-parency and greater involvement with the market and civil society and for that they have sought to work from a network perspective This article sought to examine the possibilities of the inter-institu-tional network established between the Municipal Foundation of Culture of Belo Horizonte (FMC) the company TIM and the Municipal Council of Cultural Policy (COMUC) This is an inter-institutional network created in order to build the cultural map of the city of Belo Horizonte The cultural map is an innovative software of shared management that allows different private andor public agencies to feed the database for the subsequent consultation of citizens An open questionnaire was applied to three FMC servers and the data treatment used the analysis of content of Bardin (2009) This study describes the process of creation of the network the progress achieved and the difficulties encountered It was concluded that the cooperation network has brought benefits and made the construction of the cultural map of the city possible

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 020917Aprovado em 041217

Palavras-chaveRedes interorganizacionais Cooperaccedilatildeo Setor puacuteblico Inovaccedilatildeo

KeywordsInter-organizational networks Cooperation Public sector Innovation

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMGe-mail leonardotadeu17gmailcom

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Como citar este artigoSANTOS L T PINTO J F CAacuteSSIA M G Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo Horizonte Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 Introduccedilatildeo As uacuteltimas deacutecadas tecircm sido marcadas por fenocircmenos como globa-lizaccedilatildeo e ajustes fiscais provocando o surgimento de novos desafios organizacionais A reforma administrativa do Estado exemplifica o esforccedilo da administraccedilatildeo puacuteblica em se adequar agraves novas ne-cessidades tais como agilidade eficiecircncia transparecircncia etc As mudanccedilas tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior clareza e de mais envolvimento entre Es-tado mercado e sociedade civil (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

A demanda crescente por serviccedilos puacuteblicos melhores e mais eficientes impulsiona de acordo com Torres (2006) accedilotildees de mo-dernizaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que tecircm por objetivo atender aos an-seios da sociedade civil Dessa forma a inovaccedilatildeo ganha destaque Segundo Lemos (1999) a compressatildeo da inovaccedilatildeo depende de questotildees contingenciais e soacutecio-histoacutericas

Assim neste estudo entende-se inovaccedilatildeo como o desenvol-vimento de ideias e accedilotildees que visem ao aperfeiccediloamento de uma tarefa eou accedilatildeo alterando a capacidade de agir da sociedade (MURRAY CAULIER-GRICE MULGAN 2010) Um exemplo eacute a cria-ccedilatildeo de redes de cooperaccedilatildeo para dar maior agilidade e qualidade aos serviccedilos estatais ao atender agraves necessidades sociais e criar novas relaccedilotildees sociais (JULIANI 2014)

Nesse iacutenterim uma parte da literatura (CASTELLS 1999 KISS-LER HEIDMAN 2006 MINTZBERG 2003 SILVA MARTINS CKAGNA-ZAROFF 2013) tem frisado a importacircncia de o Estado agir de forma cooperativa na perspectiva de redes As redes de cooperaccedilatildeo satildeo uma forma de organizaccedilatildeo na qual haacute uma parceria com o intuito de beneficiar os atores que fazem parte da rede (SEDAI 2004) A colaboraccedilatildeo possibilita aos atores a resoluccedilatildeo de problemas que representariam uma carga excessiva para um ator isolado uacutenico

Segundo Kissler e Heidemann (2006) existem uma seacuterie de vantagens que a coadjuvaccedilatildeo proporciona tais como reduccedilatildeo de risco diminuiccedilatildeo de custos compartilhamento de teacutecnicas e informaccedilotildees e ampliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos prestados Eacute possiacutevel destacar tambeacutem as possiacuteveis dificuldades encontradas nas redes de cooperaccedilatildeo satildeo elas a baixa confianccedila entre os ato-res os interesses contraacuterios a dificuldade de interaccedilatildeo entre os envolvidos e a assimetria de informaccedilatildeo

As redes segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) satildeo um meca-nismo que permite ampliar e aperfeiccediloar as relaccedilotildees e a governanccedila puacuteblica A governanccedila na administraccedilatildeo puacuteblica pode ser entendida como um modelo horizontal de relaccedilotildees entre atores das esferas puacuteblicas e privadas no processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003) Realizar o mapeamento dessas redes proporciona maior compreensatildeo da sua dinacircmica bem como dos recursos e estrateacutegias para cooperaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

Assim apresenta-se neste estudo uma rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Ho-rizonte (FMC) o Instituto TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) A rede objetiva implantar o mapeamento cul-tural da cidade e consiste na construccedilatildeo de um mapa georreferen-ciado que conteacutem informaccedilotildees sobre artistas eventos e espaccedilos culturais tais informaccedilotildees satildeo encontradas no site da FMC

O mapa cultural de Belo Horizonte encontrado no site Mapa Cultural BH (PMBH 2017) eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacute-blicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos O software livre permite tambeacutem alimentar informaccedilotildees sobre agendas espaccedilos eventos e projetos culturais

Diante da importacircncia das redes institucionais e da gover-nanccedila puacuteblica para o bem-estar da sociedade este estudo busca responder agrave seguinte questatildeo quais benefiacutecios e obstaacuteculos satildeo observados na rede de cooperaccedilatildeo entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte o Instituto Tim e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural ao implementar o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees em teias eacute um tema pouco estuda-do e segundo Kissler e Heideman (2006) as avaliaccedilotildees cientiacuteficas soacutelidas sobre resultados da governanccedila puacuteblica satildeo raras Nesse liame o estudo pretende contribuir para os estudos do campo das redes organizacionais puacuteblica discutindo trecircs objetivos especiacutefi-cos 1) os benefiacutecios 2) as dificuldades e 3) os resultados da rede organizacional pesquisada Para alcanccedilar os objetivos propostos adotou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) para o tratamento do questionaacuterio aberto respondido pelos servidores da FMC

O artigo estaacute dividido aleacutem desta introduccedilatildeo em cinco se-ccedilotildees A primeira parte discute governanccedila puacuteblica A segunda apresenta a discussatildeo sobre redes interorganizacionais A terceira parte conteacutem a descriccedilatildeo metodoloacutegica seguida da apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados da rede pesquisada Por fim satildeo apre-sentadas as conclusotildees finais

2 Governanccedila puacuteblicaA Administraccedilatildeo Puacuteblica Gerencial (APG) ocasionou novos paradig-mas para a gestatildeo puacuteblica e consequentemente uma nova pers-pectiva na implementaccedilatildeo de ferramentas gerenciais ateacute entatildeo utilizadas apenas na esfera privada (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Um conceito-chave para APG eacute a governanccedila O conceito de governanccedila eacute usado em diversos campos de saberes e de diferen-tes formas Segundo Sechi (2009 p 357) ldquoa definiccedilatildeo de governan-ccedila gera ambiguidades e [] as principais aacutereas do conhecimento

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

que se apropriou [sic] do termo foram as relaccedilotildees internacionais teorias do desenvolvimento a administraccedilatildeo privada a adminis-traccedilatildeo puacuteblica e a ciecircncia poliacuteticardquo

Apesar de Kissler e Heidemann (2006) considerarem o conceito de governanccedila como sociologicamente amorfo e de existirem diferentes formas para se entender e discutir a temaacutetica neste estudo governanccedila seraacute entendida como

Uma nova geraccedilatildeo de reformas administrativas e de Estado que tecircm

como objeto a accedilatildeo conjunta levada a efeito de forma eficaz transpa-

rente e compartilhada pelo Estado pelas empresas e pela sociedade

civil visando uma soluccedilatildeo inovadora dos problemas sociais e criando

possibilidade e chances de um desenvolvimento futuro e sustentaacutevel

para todos os participantes (LOumlFFLER 2001 p 202)

Segundo Peter e Waterman (1982) A governanccedila puacuteblica po-deria ser entendida a partir de trecircs perspectivas os mecanismos de hierarquia do governo os mecanismos de autorregulaccedilatildeo do mercado e os mecanismos de cooperaccedilatildeo entre as comunidades

Partindo do eixo dos mecanismos horizontais de cooperaccedilatildeo Filho Cruz (2006) chama atenccedilatildeo para migraccedilatildeo de algumas funccedilotildees do Estado para o setor privado o setor social a cooperativa e a socie-dade civil como uma mudanccedila significativa e recente Nesse sentido Kissler e Heideman (2006) sugerem a ideia de uma transiccedilatildeo de um Estado hieraacuterquico e pouco permeaacutevel para um Estado cooperativo que atua em conjunto com a sociedade e com as organizaccedilotildees pri-vadas Em decorrecircncia disso o maior entrelaccedilamento entre Estado mercado e sociedade civil tem caracterizado as uacuteltimas deacutecadas

Nessa perspectiva de governanccedila as redes de cooperaccedilatildeo sur-gem como um elemento inovador e central para os atores Sendo as redes um emaranhado de relaccedilotildees colaborativas a governanccedila e as redes estatildeo entrelaccediladas em sua funccedilatildeo de ser

Apesar de inicialmente pensada para o setor privado a go-vernanccedila e os modelos horizontais de relaccedilatildeo entre atores tecircm ganhado espaccedilo no Estado e em organizaccedilotildees puacuteblicas Nesse sentido segundo Kissler e Heidemann (2006) o Estado pode trans-ferir accedilotildees para o setor privado ou agir em parcerias com agentes sociais Essa accedilatildeo conjunta pode ser entendida como a expansatildeo de um Estado coprodutor do bem puacuteblico que busca apoio nas parcerias para desempenhar sua funccedilatildeo Entre os diversos me-canismos de que o Estado dispotildee para expandir e aperfeiccediloar a governanccedila puacuteblica as redes ocupam uma posiccedilatildeo central

Essa expansatildeo do Estado pode se dar pelas redes de poliacuteticas puacuteblicas (policy networks) como eacute o caso neste estudo e ser uma forma inovadora de interaccedilatildeo entre atores estatais da sociedade civil e do mercado (BOumlRZEL 1998)

3 Redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblicaAs redes tecircm sido um dos mecanismos mais utilizados e trabalha-dos pelo Estado para o aprofundamento da governanccedila puacuteblica por proporcionar uma visatildeo ampla dos atores e sua atuaccedilatildeo no ambiente Na administraccedilatildeo puacuteblica apresentam vaacuterias possi-bilidades de serem pensadas puacuteblico-puacuteblico puacuteblico-privado puacuteblico-sociedade civil e puacuteblico-privado-sociedade civil todas elas apresentando relaccedilotildees menos hierarquizadas e melhorias para a governanccedila puacuteblica (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Para Nohria e Eccles (1992) as redes entre as organizaccedilotildees tecircm como objetivos a interaccedilatildeo o relacionamento a ajuda muacute-tua o compartilhamento a integraccedilatildeo e complementaridade entre atores sociais Segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) a rede interorganizacional eacute uma teia social com caraacuteter teacutecnico e operacional com pouca hierarquia e grande interatividade entre os atores que a compotildee Tal estrutura proporciona ligaccedilotildees entre atores externos agrave organizaccedilatildeo

Nota-se que de maneira ampla os diversos conceitos de redes compartilham alguns elementos em comuns Bourguignon (2001) vem postular que satildeo eles a ideia de articulaccedilatildeo conexatildeo accedilotildees complementares relaccedilotildees horizontais entre parceiros e interdependecircncia de serviccedilos

Uma das principais caracteriacutesticas das redes satildeo suas relaccedilotildees intermodais sendo os noacutes com diferentes dimensotildees segundo Castells (2001) noacutes que apresentam um nuacutemero diferenciado de ligaccedilotildees com os demais noacutes da rede Esses noacutes fazem parte de uma rede na qual os atores estatildeo no mesmo patamar hieraacuterquico e colaboram entre si As redes sociais satildeo estruturas abertas ca-pazes de expandir ilimitadamente integrando novos noacutes desde que consigam comunicar-se dentro da rede (CASTELLS 1999) As redes de cooperaccedilatildeo tecircm como um de seus objetivos reunir atributos que permitam uma adequaccedilatildeo ao ambiente competitivo em uma estrutura dinacircmica sustentada por accedilotildees uniformes po-reacutem descentralizadas e que evite que os atores envolvidos percam a flexibilidade (THOMPSON 2003)

A confianccedila segundo Kissler e Heidemann (2006) eacute um ponto essencial para o estabelecimento de uma rede e tam-beacutem eacute um fator-chave para a cooperaccedilatildeo e a troca entre as organizaccedilotildees (RING VAN DE VEN 1994 BECERRA LUNNAN HUEMER 2008) A presenccedila ou a ausecircncia da confianccedila de-terminaraacute os fluxos de informaccedilotildees que satildeo essenciais para a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave cooperaccedilatildeo e ateacute mes-mo na disposiccedilatildeo dos atores em trabalhar em conjunto Dito isso percebe-se tambeacutem que a cooperaccedilatildeo e a governanccedila de uma rede natildeo pode ser imposta A governanccedila e a cooperaccedilatildeo entre os agentes satildeo um processo de troca que oscila entre o topo e a base (KISLLER HEIDEMANN 2006)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As redes com mais tradiccedilatildeo na iniciativa privada tecircm ganhado espaccedilo no governo e podem ser entendidas como um sistema in-terligado formado por uma teia complexa de relaccedilotildees institucionais para soluccedilatildeo de problemas cotidianos e atiacutepicos para Mintzberg (1998) O autor complementa afirmando que as redes de coope-raccedilatildeo no setor puacuteblico satildeo ligadas por canais informacionais de comunicaccedilatildeo cujo lema seria conectar comunicar e colaborar

Nesse contexto Castells (2001) afirma ter surgido uma nova economia de escala global e com novas estrateacutegias e aborda-gens Esse novo contexto implicaria o ldquoEstado-rederdquo Esse concei-to ressignifica o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e traz a ideia de um Estado que compartilha autoridade que trabalha em conjunto e em rede com outros atores Esse novo termo implica novas parcerias e estruturas organizacionais cooperaccedilatildeo em rede

4 MetodologiaPor meio do levantamento de bibliografias pertinentes foi construiacutedo um arcabouccedilo teoacuterico com o intuito de situar as produccedilotildees relativas agrave temaacutetica trabalhada A partir do referencial teoacuterico os dados foram produzidos a partir da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios abertos

Os questionaacuterios abertos foram aplicados no Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DPAI) da FMC sendo essa repar-ticcedilatildeo responsaacutevel pela alimentaccedilatildeo e cadastro de informaccedilotildees do site do mapa cultural de Belo Horizonte Trata-se portanto de uma pesquisa qualitativa o que segundo Creswell (2007) foca-se nas percepccedilotildees e experiecircncias dos participantes e sen-do os dados interpretados em relaccedilatildeo a um uacutenico caso e natildeo agraves suas generalizaccedilotildees

No total participaram do estudo trecircs servidoras da FMC sendo a amostra natildeo probabiliacutestica As servidoras foram escolhidas conforme a conveniecircncia e interesse deste estudo considerando a sua partici-paccedilatildeo na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a FMC o Instituto TIM e o COMUC Visando agrave natildeo identificaccedilatildeo das participantes essas foram chamados neste trabalho de FMC1 FMC2 FMC3 Todos os questionaacuterios foram respondidos no mecircs de abril de 2017

Conforme sugerido por Bardin (2009) a primeira leitura das respostas fez com que os pesquisadores levantassem algumas hipoacuteteses Em seguida as respostas foram organizadas de acor-do com a aproximaccedilatildeo dos elementos para posteriormente ser atribuiacutedo a esses o nome de categoria A categorizaccedilatildeo possibilita o ordenamento de significados que representam um entendimento mais profundo em termos da interpretaccedilatildeo dos sujeitos estudados

As categorias natildeo foram fixadas no iniacutecio da pesquisa e sim definidas a partir da interpretaccedilatildeo do questionaacuterio aberto Satildeo

elas a falta de investimentos adequado na rede a limitaccedilatildeo do software as dificuldades com a mudanccedila do governo a pouca participaccedilatildeo do COMUC e a parceria bem-sucedida

5 A rede e o mapa culturalA Fundaccedilatildeo de Cultura de Belo Horizonte (FMC) entidade inte-grante da administraccedilatildeo indireta do Municiacutepio de Belo Horizonte tem por funccedilatildeo administrar poliacuteticas e questotildees voltadas agrave aacuterea de cultura do municiacutepio Fundada em 2005 a FMC realiza inter-venccedilotildees por meio de festivais encontros rodas de conversa e muitos outros atrativos espalhados na cidade

A Telecom Itaacutelia Mobile (TIM) eacute uma empresa italiana de telefonia e presta serviccedilos no Brasil desde 1988 Atualmente possui uma fatia consideraacutevel do mercado de comunicaccedilatildeo no paiacutes A empresa jaacute rea-lizou em parceria com o setor puacuteblico a instalaccedilatildeo de outros mapas culturais como por exemplo o de Blumenau e o de Joatildeo Pessoa

O Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) composto por quinze representantes do poder puacuteblico municipal e quinze representantes da sociedade civil (sendo seis do setor cultural e nove representantes das regionais administrativas da cidade) eacute a arena de representaccedilatildeo da sociedade civil do municiacutepio de Belo Horizonte em relaccedilatildeo agraves decisotildees das poliacuteticas culturais

O mapa cultural da cidade Belo Horizonte segundo o site da FMC eacute uma plataforma de software livre gratuita e colaborativa da FMC com diversas informaccedilotildees sobre o cenaacuterio cultural da cidade O mapa estaacute composto de informaccedilotildees tais como espaccedilos culturais programaccedilotildees oficiais projetos e editais e por agentes culturais cadastrados

A construccedilatildeo da rede interorganizacional permitiu a criaccedilatildeo im-plementaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do projeto do mapa cultural O site foi inaugurado em junho de 2016 e vem sendo alvo de criacuteticas e elogios

6 Anaacutelises e resultados da pesquisaConsiderando-se a discussatildeo apresentada acima a pesquisa sobre redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblica identificou ao longo do seu desenvolvimento que as servidoras pesquisadas enxergam a rede de forma positiva A avaliaccedilatildeo positiva pode ser entendida como o atendimento agraves necessidades da FMC que a rede pode proporcio-nar Assim nesta seccedilatildeo mostra-se a fala de trecircs servidoras da FMC

A falta de investimento adequado na redePara as servidoras da FMC um dos problemas enfrentados pela rede foi a escassa equipe para trabalhar no projeto Isso limitou o crescimento e aperfeiccediloamento do projeto e de sua capaci-dade de impulsionar a governanccedila da rede conforme podemos observar na fala abaixo

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A falta de equipe na FMC para garantir ecircxito na gestatildeo do projeto o

prejudica significativamente (FMC 2)

Em relaccedilatildeo agrave falta de servidores uma entrevistada apontou qual seria a especialidade mais carente para o melhor desenvol-vimento da rede conforme apresentado em seguida

Natildeo existe capacidade tecnoloacutegica e de servidores de TI na FMC para

dar manutenccedilatildeo no site em tempo haacutebil (FMC 1)

Aleacutem dessa especialidade a FMC lida com um quadro que natildeo atende agraves necessidades do serviccedilo puacuteblico e tampouco do proacuteprio oacutergatildeo conforme as entrevistadas explicam

A Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura apresenta atualmente um quadro

defasado de servidores puacuteblicos As atividades do projeto Mapa Cultural

BH hoje estatildeo concentradas em um nuacutecleo com servidores da Divisatildeo

de Tecnologia e do Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Nesse

nuacutecleo de trabalho estatildeo diretamente envolvidos um funcionaacuterio de

cada setor e um estagiaacuterio Conforme a demanda de trabalho e neces-

sidade o nuacutecleo eacute acrescido de um funcionaacuterio para apoio (FMC 2)

Apesar disso tudo ocorreu um esforccedilo da FMC para capacitar as pessoas envolvidas no projeto

A FMC estaacute trabalhando na fase de implantaccedilatildeo das accedilotildees e etapas

de uso da plataforma Os gestores e servidores que utilizaratildeo a plata-

forma para registro das accedilotildees projetos e poliacuteticas culturais jaacute foram

capacitados (FMC 3)

Por outro lado os recursos escassos satildeo tambeacutem entendidos como barreiras para o desenvolvimento do projeto

O projeto natildeo eacute entendido como estrateacutegico pela instituiccedilatildeo e com

isso natildeo possui recursos ndash humanos TI e financeiros ndash suficientes

para que tenha ecircxito e alcance seus objetivos (FMC 2)

A limitaccedilatildeo do softwareAcerca dos objetivos da rede segundo as entrevistadas eacute unacircnime a visatildeo de que a criaccedilatildeo do mapa se propotildee a gerar um banco de da-dos culturais que permitiraacute a melhor gestatildeo das poliacuteticas culturais

A implantaccedilatildeo da plataforma dos mapas culturais visando agrave sua uti-

lizaccedilatildeo para mapear identificar e registrar informaccedilotildees sobre a aacuterea

cultural de Belo Horizonte possibilitando a formaccedilatildeo de um banco

de dados sobre a cadeia produtiva da cultura na cidade ndash agentes es-

paccedilos instituiccedilotildees projetos eventos editais [] A partir desse banco

de dados a FMC poderaacute desenvolver estudos que visam a um melhor

planejamento para a gestatildeo da cultura em BH (FMC 2)

Em relaccedilatildeo ao mapa cultural as entrevistadas disseram que esse apresentou enormes avanccedilos

Podemos considerar que a disponibilizaccedilatildeo da plataforma jaacute seja um gran-

de avanccedilo pois a FMC natildeo teria condiccedilotildees e nem conseguiria desenvolver

um software com tantos recursos num prazo tatildeo curto (FMC 2)

Entretanto a limitaccedilatildeo do software foi uma das grandes dificuldades encontrada pelas servidoras da FMC Havia nesse sentido um interesse conflitante entre a necessidade da FMC e a perspectiva de trabalho da TIM Eacute importante ressaltar que as presenccedilas de interesses conflitantes podem ser prejudiciais para a governanccedila visto que a interaccedilatildeo entre os atores pode se dar de maneira natildeo harmoniosa

Como a ferramenta natildeo eacute da prefeitura nem foi desenvolvida por ela natildeo

temos total controle sobre ela [] A FMC gostaria de ter uma ferramenta

mais personalizada e isto era algo que a TIM natildeo podia oferecer (FMC 1)

E ateacute mesmo quanto ao sistema desenvolvido pela TIM que ainda

natildeo nos permite fazer alteraccedilotildees e adaptaacute-lo agrave nossa realidade bem

como gerar relatoacuterios especiacuteficos (FMC 3)

A criacutetica dos entrevistados tambeacutem se relaciona ao papel que o software vem desenvolvendo Para que o mapa cultu-ral possa ser utilizado de forma efetiva e natildeo servir apenas como um banco de dados algumas mudanccedilas precisam ser implementadas

O Mapa Cultural eacute uma boa ferramenta de gestatildeo embora limitada

Eacute preciso fazer a gestatildeo do Mapa Cultural BH e da informaccedilatildeo que

seraacute registrada senatildeo teremos apenas um banco de dados (FMC 3)

As dificuldades com a mudanccedila do governoUma das dificuldades apresentadas pelas entrevistadas foi em relaccedilatildeo agrave mudanccedila do governo municipal A troca de governo trouxe insegu-ranccedila e incertezas em relaccedilatildeo ao futuro do projeto do mapa cultural

A instabilidade poliacutetica seja em niacutevel federal estadual ou municipal

reflete diretamente no desenvolvimento do projeto (FMC 2)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As mudanccedilas de gestatildeo que normalmente acontecem no serviccedilo

puacuteblico atrasaram as etapas [] (FMC 3)

Nessa indagaccedilatildeo uma das entrevistadas revelou algumas ques-totildees contingenciais e dificultadoras para alcanccedilar os objetivos

O projeto de Mapeamento Cultural foi lanccedilado em junho de 2016

Por ser um ano eleitoral o projeto ficou prejudicado tendo em vista

as dificuldades enfrentadas devido agrave lei eleitoral que restringe sobre-

maneira as campanhas publicitaacuterias e de divulgaccedilatildeo Em 2017 ano

em que o novo prefeito assume a prefeitura e haacute uma instabilidade

no niacutevel de definiccedilatildeo de gestores e ainda a possibilidade de reforma

administrativa que pode atingir diretamente a Fundaccedilatildeo ainda natildeo

conseguimos fazer com que as accedilotildees de divulgaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

fossem implementadas ateacute o presente momento (FMC 2)

Como dito pelas entrevistadas eacute importante ressaltar que ins-tabilidades poliacuteticas vivenciadas na prefeitura de Belo Horizonte e cortes no orccedilamento da FMC satildeo elementos que dificultaram a divulgaccedilatildeo do projeto Devido a isso o mapa natildeo alcanccedilou boa parcela da populaccedilatildeo da cidade e ainda eacute pouco conhecido Tal fato pode causar baixa adesatildeo dos serviccedilos do mapa por parte dos profissionais da cultura e da sociedade

A pouca participaccedilatildeo do COMUCEm relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do COMUC no processo de pensar e implementar o mapa cultural as respostas obtidas revelam que a participaccedilatildeo do COMUC foi extremamente incipiente

Assim natildeo houve participaccedilatildeo dos membros do COMUC na constru-

ccedilatildeo do mapa cultural Apoacutes a assinatura do termo a plataforma foi

apresentada em reuniatildeo ordinaacuteria do COMUC (FMC 3)

A baixa participaccedilatildeo do COMUC se apresenta como um ponto problemaacutetico da rede visto que um dos objetivos dos conselhos deliberativos eacute possibilitar agrave sociedade civil negociar com o poder puacuteblico A baixa participaccedilatildeo ou envolvimento de um ator numa rede de cooperaccedilatildeo impacta diretamente na qualidade da gover-nanccedila e na sauacutede das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo ali estabelecidas Eacute possiacutevel encontrar uma certa contradiccedilatildeo na fala das entrevis-tadas que afirmam que o mapa cultural atende agraves demandas da sociedade civil tal como nesta fala

Haacute possibilidade de reunir informaccedilotildees que poderatildeo subsidiar um

melhor planejamento e uma gestatildeo mais democraacutetica a partir de

informaccedilotildees extraiacutedas da base de dados (FMC 2)

Todavia uma gestatildeo mais democraacutetica exigiria maior par-ticipaccedilatildeo do COMUC nas accedilotildees da poliacutetica cultural visto que o COMUC eacute o espaccedilo de deliberaccedilatildeo que as sociedades civis tecircm para dar voz agraves suas demandas Dessa forma eacute possiacutevel perceber que essa rede de cooperaccedilatildeo apresenta disparidade de poder e de espaccedilo entre os atores envolvidos

A parceria bem-sucedidaApesar das criacuteticas apontadas pelas participantes da pesquisa elas defendem a rede criada e tambeacutem acreditam que projetos como o estabelecido com a TIM devem ser ampliados O que mostra que as redes interorganizacionais no poder puacuteblico apesar de desafiadoras satildeo beneacuteficas e vistas positivamente pelo corpo burocraacutetico da maacutequina puacuteblica

Ao serem questionadas sobre os pontos positivos da rede as en-trevistadas demonstram que a principal contribuiccedilatildeo eacute o compartilha-mento de recursos que possibilitaram a criaccedilatildeo do mapa cultural

A parceria com a TIM nos permitiu avanccedilar quanto ao projeto mape-

amento cultural de BH demanda antiga da gestatildeo da cultura e da

sociedade civil (FMC 3)

No intuito de captar informaccedilotildees sobre as possiacuteveis dificulda-des encontradas na rede foram feitas perguntas nesse sentido As informaccedilotildees colhidas revelam que natildeo houve dificuldades

A TIM se mostrou (e se mostra) ateacute o presente momento uma grande par-

ceira Natildeo haacute dificuldades na conduccedilatildeo das atividades acordadas (FMC 2)

Como teacutecnica da FMC natildeo tenho informaccedilotildees sobre interesses

divergentes (FMC 3)

Outras perguntas feitas buscavam que as entrevistadas fa-lassem sobre o alcance ou natildeo dos objetivos (jaacute discutidos no comeccedilo da entrevista) e que fizessem uma avaliaccedilatildeo geral da rede na implementaccedilatildeo do mapa cultural As respostas indicam satis-faccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resultados jaacute apresentados

A cooperaccedilatildeo entre a FMC e a Tim eacute muito positiva uma vez que haacute

comprometimento de ambas as partes em fazer com que a platafor-

ma fique cada vez melhor e estaacutevel por meio do trabalho dos seus

desenvolvedores ndash colaboradores ndash gestores (FMC 2)

Penso que para a FMC a parceria foi positiva pois nos possibilitou avanccedilos

na implementaccedilatildeo de um projeto que era demanda antiga (FMC 3)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Por fim O uacuteltimo ponto questionou se as entrevistadas julgam interessante a FMC estabelecer outras redes de cooperaccedilatildeo As respostas satildeo unanimemente positivas

A participaccedilatildeo da FMC em redes de cooperaccedilatildeo eacute essencial para que

a equipe se capacite e possa aprimorar os processos da instituiccedilatildeo

e trazer novas formas de desenvolvimento do trabalho otimizando

recursos e modernizando os processos por meio da colaboraccedilatildeo da

troca de informaccedilotildees e de experiecircncias (FMC 2)

Penso que as parcerias realizadas que vatildeo ao encontro dos objetivos

de ambos os envolvidos satildeo sempre bem-vindas No caso do setor

puacuteblico principalmente avalio que se deve ter um cuidado extra

quando da celebraccedilatildeo da parceria visando a garantir que a instituiccedilatildeo

possa dar continuidade ao projeto apoacutes fim da parceria (FMC 3)

Cabe apenas agrave FMC tomar os cuidados necessaacuterios para que os novos projetos desenvolvidos consigam ser bem-sucedidos conforme explicitado na fala seguinte

[] entatildeo para que certos projetos mais ambiciosos sejam implemen-

tados a realizaccedilatildeo de parcerias eacute indispensaacutevel No entanto isso im-

plica uma perda de controle da FMC sobre alguns fatores envolvidos

no projeto portanto esses fatores devem ser bem avaliados (FMC 1)

Diante das falas expostas assevera-se que o estabelecimento de redes interorganizacionais no setor puacuteblico pode trazer resultados satisfatoacuterios e aperfeiccediloar trabalhados No caso da FMC e da Tim o corpo burocraacutetico da FMC percebeu a experiecircncia como positiva

7 Consideraccedilotildees Este estudo se propocircs a pesquisar a rede criada pela FMC TIM e COMUC com o objetivo da construccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte Foram aplicados questionaacuterios abertos para levantar as percepccedilotildees sobre os avanccedilos e barreiras encontradas na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida

Constatou-se que o trabalho em conjunto possibilitou a implementaccedilatildeo do mapa cultural A atuaccedilatildeo conjunta trouxe benefiacutecios tais como maior celeridade compartilhamento de conhecimentos teacutecnicos e tecnoloacutegicos mais competecircncia e efetividade para os processos utilizados na criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte

Uma breve anaacutelise desses dados mostra que a rede apresen-ta pontos interessantes e que permitem uma melhor forma de trabalhar Entretanto natildeo estaacute livre de problemas comuns agrave ad-ministraccedilatildeo puacuteblica como por exemplo ameaccedilas poliacuteticas matildeo

de obra pouco qualificada disparidade entre as realidades do setor puacuteblico e do setor privado quadro defasado de servidores puacuteblicos dificuldades de organizaccedilatildeo e separaccedilatildeo de tarefas e responsabilidade problemas na comunicaccedilatildeo e ateacute mesmo de interesses em relaccedilatildeo ao potencial do mapa cultural

A despeito de algumas dificuldades encontradas pelos servi-dores bem de como problemas contingenciais a rede de coope-raccedilatildeo tem alcanccedilado seu grande objetivo a criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo de um mapa cultural com dados sobre eventos apresentaccedilotildees artiacutesticas e espaccedilos culturais

Entretanto eacute interessante problematizar as respostas visto que as entrevistas ocorreram num momento de transiccedilatildeo da gestatildeo na FMC e num cenaacuterio em que o atual prefeito apresenta propostas de extinccedilatildeo eou diminuiccedilatildeo da FMC Nesse sentido pode-se le-vantar a hipoacutetese de que as respostas possam ter ocultado possiacute-veis problemas na execuccedilatildeo do trabalho na perspectiva em rede

Uma limitaccedilatildeo que o estudo apresenta eacute que foram realizadas entrevistas somente com servidores da FMC impossibilitando o conhecimento e a versatildeo de outros atores Assim fica como sugestatildeo para estudos futuros a anaacutelise da percepccedilatildeo dos outros atores envolvidos na rede em questatildeo Entretanto esta pesquisa buscou contribuir para o campo da Administraccedilatildeo a partir de um estudo de caso apresentando as percepccedilotildees de servidores puacuteblicos em relaccedilatildeo agrave rede estabelecida

Com base no levantamento empiacuterico eacute possiacutevel elencar sugestotildees para uma possiacutevel melhoria da rede estabelecida 1) efetivar uma maior participaccedilatildeo do COMUC nos processos decisoacuterios 2) criar mecanismos de maior interaccedilatildeo entre o corpo de funcionaacuterios da FMC e da Tim 3) tornar os meios de comunicaccedilatildeo entre as equipes mais acessiacuteveis e claros com a utilizaccedilatildeo de uma linguagem simples para todos

Por fim conclui-se que as redes de cooperaccedilatildeo no setor puacuteblico contribuem para a melhoria dos serviccedilos prestados e da governanccedila puacuteblica A perspectiva do trabalho em conjunto permite aos atores o compartilhamento de conhecimentos teacutecnicas e equipamentos que conferem ao serviccedilo maior qualidade e celeridade

R e f e r ecirc n c i a s

BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Lisboa Portugal Ediccedilotildees 70 2009

BECERRA Manuel LUNNAN Randi HUEMER Lars Trustworthiness risk

and the transfer of tacit and explicit knowledge between alliance

partners Journal of Management Studies v 45 n 4 p 691-713 2008

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

BOumlRZEL Tanja Le reti di attori pubblici e privati nella regolazione europea

Stato e Mercato v 54 n 3 p 389-432 1998

BOURGUIGNON Jussara Ayres Concepccedilatildeo de rede intersetorial 2001 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwuepgbrnupesintersetorhtmgt Acesso

em 25 jul 2016

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Paulo Paz e Terra 1999

______ Para o Estado-rede globalizaccedilatildeo econocircmica e instituiccedilotildees poliacuteti-

cas na era da informaccedilatildeo In BRESSER-PEREIRA Luiacutes Carlos WILHEIM

Jorge SOLA Lourdes (orgs) Sociedade e Estado em transformaccedilatildeo

Satildeo Paulo Editora UNESP 2001 p 147- 171

CKAGNAZAROFF Ivan Beck SOUZA Maria Thereza Costa Guimaratildees Re-

laccedilatildeo entre ONG e Estado um estudo de parceria Revista Gestatildeo amp

Tecnologia Pedro Leopoldo v1 n2 p59-73 2003

CRESWELL Jhon Andrew Jackson Projeto de pesquisa meacutetodo qualitativo

quantitativo e misto Porto Alegre Artmed 2007

FILHO CRUZ Paulo Roberto Arauacutejo Governanccedila e gestatildeo de redes na

esfera puacuteblica municipal o caso da rede de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao

adolescente em situaccedilatildeo de risco para a violecircncia em Curitiba 2006

162f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Administraccedilatildeo) Pontifiacutecia Universi-

dade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2006

JULIANI Douglas Inovaccedilatildeo social uma revisatildeo sistemaacutetica de literatura

In X Congresso Nacional de Excelecircncia em Gestatildeo 2014

KISSLER Leo HEIDEMANN Francisco Gabriel Governanccedila puacuteblica novo

modelo regulatoacuterio para as relaccedilotildees entre Estado mercado e socie-

dade Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica Rio de Janeiro v 40 n 3 p

479-499 2006

LEMOS Cristina Inovaccedilatildeo na era do conhecimento In LASTRES Helena

M M ALBAGLI Sarita (Org) Informaccedilatildeo e globalizaccedilatildeo na era do co-

nhecimento Rio de Janeiro Campus 1999 cap 5 p 122-144

LOumlFFLER Elke Governancendashdie neue Generation von Staats-und Verwal-

tungsmodernisierung Verwaltung und Management p 212-215 2001

MINTZBERG Henry Administrando governos governando administra-

ccedilotildees Revista do Serviccedilo Puacuteblico Brasiacutelia v 49 n 4 p 148-164 1998

________ Criando organizaccedilotildees eficazes estruturas em cinco configura-

ccedilotildees 2 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MURRAY Robin CAULIER-GRICE Julie MULGAN Geoff The open book of

social innovation London National endowment for science technol-

ogy and the art 2010

NOHRIA N ECCLES R Networks and organizations Boston Harvard Busi-

ness School Press 1992

PETER Tom J WATERMAN Robert H In search of excellence lessons from

Americarsquos best-run companies New York Harper amp Row 1982

PMBH - PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Mapa cultural de

Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpmapaculturalbhpbhgovbrgt

Acesso em 18 abr 2017

RING Peter Smith VAN DE VEN Andrew H Developmental processes of

cooperative interorganizational relationships Academy of manage-

ment review v 19 n 1 p 90-118 1994

SECCHI L Modelos organizacionais e reformas da administraccedilatildeo puacuteblica

Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 43 n 2 p 347-369 2009

SEDAI - SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO E DOS ASSUNTOS INTER-

NACIONAIS Governo do Estado do Rio Grande do Sul Manual do

consultor do programa redes de cooperaccedilatildeo 2004

SILVA Flavia de Arauacutejo MARTINS Tulio Cesar Pereira Machado CKAGNA-

ZAROFF Ivan Beck Redes organizacionais no contexto da governanccedila

puacuteblica a experiecircncia dos Tribunais de Conta do Brasil com o grupo

de planejamento organizacional Revista do Serviccedilo Puacuteblico v 64 p

249-271 2013

THOMPSON G F Between hierarchies and markets the logics and limits of

network forms of organization Oxford Oxford University Press 2003

TORRES Norberto Antocircnio Avaliaccedilatildeo de websites e indicadores de e-gov em

municiacutepios brasileiros relatoacuterio final 2006 Disponiacutevel em lthttpwww

sumaqorgegovimgpublicaciones5pdf gt Acesso em 21 jul 2016

Paacutegina 8 de 8

Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network ProcessEvaluacioacuten de criteacuterios para la instalacioacuten de polos de apoyo presencial para cursos de nesentildeanza a distancia utilizando el Analytic Network Process

Fabriacutecio Martins Carvalho da Silva Cecilia Toledo Hernaacutendez e Julio Ceacutesar Andrade de Abreu

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 11

R e s u m o

A escolha do local para a instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial tem um papel fundamental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia pois eacute a referecircncia

fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias tais como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio para a tomada de decisatildeo para escolha de possiacuteveis municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ O modelo proposto eacute embasado em teacutecnicas de apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo em que foi utilizado o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) e agrupa um conjunto de criteacuterios que possibilitam ao tomador de decisatildeo conhecer informaccedilotildees necessaacuterias sobre a viabilidade de determinado municiacutepio sediar um polo de apoio presencial do CEDERJ O modelo desenvolvido foi aplicado em um cenaacuterio composto por sete municiacutepios da regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba onde natildeo existem polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ Os resultados obtidos demonstraram a eficaacutecia do modelo na escolha do municiacutepio que apresenta a condiccedilatildeo mais favoraacutevel para implantaccedilatildeo do polo Entre as principais contribuiccedilotildees do estudo estaacute a possibilidade de aplicaccedilatildeo do modelo em outras regiotildees do paiacutes

R e s u m e n

La eleccioacuten del lugar para la instalacioacuten de un polo de apoyo presencial tiene un papel fundamental para el funcionamiento de los cursos de la modalidad de educacioacuten a distancia pues este es la referencia fiacutesica para que los alumnos puedan realizar actividades presenciales obligatorias tales como clases en el laboratorio evaluaciones y tutoriacutea presencial Este estudio ha tenido como objetivo desarrollar un modelo de apoyo a la toma de decisioacuten para elegir posibles municipios para instalacioacuten de polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ El modelo propuesto se basa en teacutecnicas de apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios donde se ha utilizado el meacutetodo Analytic Network Process (ANP) que agrupa un conjunto de criterios que posibilitan al tomador de decisioacuten conocer las informaciones necesarias sobre la viabilidad de un determinado municipio para albergar un polo de apoyo presencial del CEDERJ El modelo desarrollado ha sido aplicado en un escenario compuesto por siete municipios de la regioacuten del Valle Medio Paraiacuteba donde no existen polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ Los resultados obtenidos han demostrado la eficacia del modelo en la eleccioacuten del municipio que presenta la condicioacuten maacutes favorable para la implantacioacuten del polo Entre las principales contribuciones del estudio estaacute la posibilidad de aplicar el modelo en otras regiones del paiacutes

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chavePolos de apoio presencial Educaccedilatildeo a distacircncia Apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo Analytic Network Process

Palabras clavePolos de apoyo presencial Educacioacuten a distancia Apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios Analytic Network Process

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo Univer-sidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ (UFF PPGA)e-mail fabriciocarvalhoiduffbr

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutora em Engenharia Mecacircnica (UNESP)

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutor em Administraccedilatildeo (UFBA)

Como citar este artigoSILVA F M C HERNAacuteNDES C T ABREU J C A Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a insta-laccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network Process Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoA Educaccedilatildeo a Distacircncia (EaD) surge neste milecircnio como uma inovaccedilatildeo no processo de ensino e aprendizagem (WAQUIL et al 2009) Aliada ao progresso do desenvolvimento da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo a EaD estaacute emergindo como o para-digma da educaccedilatildeo moderna (SUN et al 2008) fortalecendo-se cada vez mais no cenaacuterio educacional nacional e internacional Conforme Gouvecirca e Oliveira (2006 apud ALVES 2011) a EaD estaacute presente em mais de oitenta paiacuteses nos cinco continentes em todos os niacuteveis de ensino em programas formais e natildeo formais atendendo a milhotildees de estudantes consolidando dessa forma a democratizaccedilatildeo de acesso agrave educaccedilatildeo

Esse crescimento pode ser confirmado atraveacutes do Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2016 resumo teacutecnico editado pelo Institu-to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) que mostra que o nuacutemero de matriacuteculas na EaD para os cursos de ensino superior no Brasil apresenta um aumento da ordem de 4037 no ano de 2015 com 1393752 matriacuteculas em relaccedilatildeo ao ano de 2011 com 992927 matriacuteculas Os cursos pre-senciais no mesmo periacuteodo tiveram um crescimento da ordem de 1543 com 6633545 de matriacuteculas no ano de 2015 e 5746762 matriacuteculas no ano de 2011

Segundo Weidle Kich e Pereira (2011) para permitir essa ex-pansatildeo dos cursos de EaD no paiacutes eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de polos de apoio presencial cujo local de instalaccedilatildeo tem um papel fun-damental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia levando a educaccedilatildeo a lugares carentes de ensino e proporcionando o desenvolvimento dessas regiotildees

O polo eacute a referecircncia fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial (CEDERJ 2017) Para o seu funcio-namento eacute necessaacuterio dispor de investimentos em infraestrutura contrataccedilatildeo de professores e teacutecnicos da compra de computado-res e da construccedilatildeo de laboratoacuterios (BRASIL 2013)

Uma pesquisa recente na literatura em algumas das mais importantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD Um deles realizado por Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) apli-cou o meacutetodo elementar multicriteacuterio Copeland em um cenaacuterio composto por dezesseis polos do Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro ndash CEDERJ para demonstrar a influecircncia dos polos nos municiacutepios onde estatildeo instalados Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma nova ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) para auxiliar no processo

de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD

Um novo modelo foi desenvolvido por Peixoto Filho (2016) fundamentado em teacutecnicas de Auxiacutelio Multicriteacuterio agrave Decisatildeo (AMD) e ofereceu suporte eficaz para a escolha de locais dire-cionados agrave abertura de um polo de apoio presencial para cursos a distacircncia Em outro estudo Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) propuseram um novo modelo baseado em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo aplicada a um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais utilizando o meacutetodo AHP para selecionar o local mais apropriado para abertura de polos de apoio presencial

Todavia natildeo foram encontrados estudos para escolha de municiacutepios no estado do Rio de Janeiro para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial do consoacutercio CEDERJ que utilizassem como ferramenta de apoio a tomada de decisatildeo o meacutetodo Analytic Ne-twork Process (ANP) nem que tratassem dos criteacuterios que foram abordados nesta pesquisa

Conveacutem ressaltar que o processo de tomada de decisatildeo en-volve quase sempre a escolha da melhor decisatildeo levando em conta muacuteltiplos criteacuterios fatores e objetivos (SHIMIZU 2010) dessa maneira a escolha do meacutetodo a ser aplicado daraacute maior credibili-dade ao tomador de decisatildeo O interesse em aplicar o meacutetodo ANP deve-se ao fato de ele ao contraacuterio do AHP avaliar se a estrutura de decisatildeo possui dependecircncia ou seja se existem fatores que interagem obtendo maior precisatildeo nos resultados (SAATY 2005)

Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio agrave tomada de decisatildeo para escolha de municiacutepios no Vale Meacutedio Paraiacuteba para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo supe-rior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ considerando-se que o modelo atual de implantaccedilatildeo de polos do CEDERJ natildeo foi suficientemente eficaz para evitar o fechamento do polo de Quatis O modelo pro-posto eacute apoiado em criteacuterios que garantem maior seguranccedila na escolha da localizaccedilatildeo dos polos tais como populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet nuacutemeros de escolas que oferecem o ensino meacutedio e proximidade a outro mu-niciacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ

A partir dessa introduccedilatildeo este estudo estaacute estruturado da seguinte forma a segunda seccedilatildeo apresenta a revisatildeo da literatu-ra acerca da educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil a criaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ a importacircncia do polo de apoio presencial nos cursos de EaD e alguns criteacuterios utilizados para instalaccedilatildeo de polos a terceira seccedilatildeo descreve os procedimentos metodoloacutegicos utilizados na elaboraccedilatildeo deste estudo a quarta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise descritiva dos resultados e discussatildeo a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais

Paacutegina 2 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

2 Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil breves consideraccedilotildeesA Educaccedilatildeo a distacircncia emerge no contexto das poliacuteticas puacuteblicas em educaccedilatildeo como possibilidade de ampliaccedilatildeo do quadro de matriacuteculas pela raacutepida expansatildeo de vagas no ensino superior natildeo exigindo grandes estruturas fiacutesicas para o processo de ensino e aprendizagem (ARRUDA ARRUDA 2015) posto que parte de tal processo eacute realizada pelo aluno em tempo e espaccedilo definidos por ele

A educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil torna-se efetivamente le-gitimada como uma modalidade educacional a partir da pu-blicaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e Bases Nacional Lei nordm 939496 nela a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo atividades educacionais em lugares e tempos diversos (BRASIL 1996)

O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) por meio do Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 considera educaccedilatildeo a distacircncia como

A modalidade educacional na qual a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos

processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilizaccedilatildeo de meios e

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com pessoal qualificado com

poliacuteticas de acesso com acompanhamento e avaliaccedilatildeo compatiacuteveis entre

outros e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais

da educaccedilatildeo que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL 2017)

O Decreto nordm 905717 regulamentou o artigo 80 da Lei nordm 939496 possibilitando por meio da EaD a autoaprendizagem com a mediaccedilatildeo de recursos didaacuteticos sistematicamente organizados Isso caracteriza a EaD de maneira teacutecnica privilegiando a mediaccedilatildeo pelos suportes de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo sem considerar o papel do professor nesse processo (ARRUDA ARRUDA 2015)

Dessa forma a EaD ocorre a partir da interaccedilatildeo entre o aluno e o professor em ambientes fiacutesicos diferentes mediada pela utili-zaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que permite ao aluno ser o autor do seu processo de aprendizagem no seu tempo e no local em que seja possiacutevel essa acessibilidade

Para Alves (2011) de todas as modalidades de educaccedilatildeo a EaD surge como a mais democraacutetica por apresentar ferramentas tecnoloacutegicas que permitem ultrapassar todos os obstaacuteculos na busca pelo conhecimento distacircncia tempo e espaccedilo

Os dados do uacuteltimo censo da educaccedilatildeo divulgado em no-vembro de 2016 demonstram que o nuacutemero de matriacuteculas na educaccedilatildeo superior presencial que em 2001 era de 3030754 passou para 6633545 em 2015 isto eacute um aumento de aproxi-madamente 11887 Enquanto isso na educaccedilatildeo superior a dis-

tacircncia o nuacutemero de matriacuteculas que no ano de 2001 era de 5359 passou para 1393752 em 2015 o que representa um aumento de 2590769 (INEP 2010 2016) Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que a EaD jaacute deixou de ser uma modalidade educacional alternativa para atender agraves necessidades de formaccedilatildeo profissional no paiacutes A EaD no ensino superior jaacute eacute uma realidade no Brasil e o seu crescimento demonstra o quanto essa modalidade tem contribuiacutedo para a expansatildeo do ensino superior no paiacutes

De acordo com os dados apresentados na Tabela 1 o nuacutemero total de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no paiacutes no ano de 2015 foram de 8027297 e o nuacutemero de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia chegaram a 1736 desse total Isso demonstra que aproximadamente um quinto do nuacutemero de es-tudantes do ensino superior do paiacutes cursa uma universidade a distacircncia e que o preconceito quanto a essa modalidade de ensino tem diminuiacutedo Mais estudantes tecircm procurado a EaD quer seja pela falta de tempo para estar diariamente em uma universidade ou pela qualidade de ensino apresentada por essa modalidade

Tabela 1 ndash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas em cursos de graduaccedilatildeo (presencial e a distacircncia) Brasil ndash 2001- 2015

Ano Presencial EaD Total EaD2001 3030754 5359 3036113 0182002 3479913 40714 3520627 1162003 3887022 49911 3936933 1272004 4163733 59611 4223344 1412005 4453156 114642 4567798 2512006 4676646 207206 4883852 4242007 4880381 369766 5250147 7042008 5080056 727961 5808017 12532009 5115896 838125 5954021 14082010 5449120 930179 6379299 14582011 5746762 992927 6739689 14732012 5923838 1113850 7037688 15832013 6152405 1153572 7305977 15792014 6486171 1341842 7828013 17142015 6633545 1393752 8027297 1736

Fonte INEP 2010 e 2016

A proacutexima seccedilatildeo iraacute tratar do consoacutercio CEDERJ referecircncia no ensino a distacircncia no estado do Rio de Janeiro

21 O consoacutercio CEDERJO Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro consoacutercio CEDERJ foi iniciado em janeiro de 2000 com a assinatura de um convecircnio entre o Governo do estado do Rio de Janeiro e seis universidades puacuteblicas Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade Estadual do Norte Flumi-nense (UENF) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade

Paacutegina 3 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Desde o ano de 2011 conta tambeacutem com o Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca (CEFET) (FIRMINO VIEIRA 2013 CASSIANO et al 2016)

O CEDERJ por ser um consoacutercio entre as universidades puacute-blicas no Estado do Rio de Janeiro tem um modelo de EaD di-ferenciado dos outros existentes no paiacutes O CEDERJ tem uma metodologia transdisciplinar em que algumas disciplinas de um determinado curso satildeo ofertadas por outras universidades do consoacutercio Por exemplo no curso de Administraccedilatildeo que pertence agrave UFRRJ a disciplina Informaacutetica Baacutesica eacute oferecida pela UFF e a disciplina Formaccedilatildeo Econocircmica Brasileira eacute oferecida pela UERJ

Os objetivos do CEDERJ satildeo a) democratizar o acesso ao ensino superior puacuteblico gratuito e de qualidade na modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia principalmente em locais natildeo atendidos pelo ensino pre-sencial (CASSIANO et al 2016) b) permitir o acesso ao ensino superior daqueles que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional e c) atuar na formaccedilatildeo continuada a distacircncia dos professores do estado do Rio de Janeiro com atenccedilatildeo especial aos professores da rede estadual de ensino meacutedio (SILVA SANTOS 2006) O CEDERJ inicialmente ofe-receu vagas nos cursos de graduaccedilatildeo de Matemaacutetica Fiacutesica Biologia Quiacutemica Pedagogia e Tecnologia de Sistemas de Computaccedilatildeo aleacutem de cursos de extensatildeo e capacitaccedilatildeo para professores em diversas aacutereas de conhecimento (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012) Atualmente tambeacutem oferece vagas nos cursos de graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Administraccedilatildeo Puacuteblica Engenharia de Produccedilatildeo Geografia Histoacuteria Letras Seguranccedila Puacuteblica e Social e Turismo (CEDERJ 2017)

Quanto agrave sua estrutura o CEDERJ tem o conceito de ensino a distacircncia semipresencial pois integra momentos a distacircncia e momentos presenciais desenvolvendo a autonomia do aluno para o processo ensinoaprendizagem (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012)

Os momentos presenciais satildeo realizados nos polos de apoio presencial cuja importacircncia para os cursos de EaD seraacute esclarecida na seccedilatildeo seguinte

22 A importacircncia dos polos de apoio presencial para os cursos de EaDUm dos elementos importantes na oferta dos cursos de graduaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ satildeo os polos de apoio presencial para os quais foi adotado um modelo de financiamento e gestatildeo com a parceria entre entes federativos modelo inspirado na Universidade Nacional de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Espanha a UNED Inicialmente essa parceria envolveu o Governo do estado do Rio de Janeiro atraveacutes da Fundaccedilatildeo Centro de Ciecircncias e Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo Cecierj) os municiacutepios que sediam os polos do CEDERJ e universidades puacuteblicas Em 2006 agregou-se a essa iniciativa o governo federal atraveacutes da Universidade Aberta do Brasil

(UAB) atualmente sediada na Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) (CASSIANO et al 2016)

O estado do Rio de Janeiro eacute constituiacutedo por 92 municiacutepios e o CEDERJ possui 32 polos de apoio presencial em 31 deles (CEDERJ 2017) O Decreto nordm 905717 definiu o polo de EaD como uma unida-de acadecircmica e operacional descentralizada para o desenvolvimento de atividades presenciais dos cursos a distacircncia O polo eacute uma estru-tura acadecircmica de apoio pedagoacutegico tecnoloacutegico e administrativo agraves atividades de ensino e aprendizagem dos cursos que deve dispor de uma infraestrutura adequada que disponibilize aos estudantes o acesso agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) indis-pensaacuteveis agrave mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica dos cursos a distacircncia aleacutem de um corpo docente qualificado (BRASIL 2013) Nos polos satildeo realizadas as orientaccedilotildees para os estudos as praacuteticas laboratoriais palestras seminaacuterios e as avaliaccedilotildees presenciais (SOUZA 2015)

O funcionamento dos polos de apoio presencial depende dos espaccedilos cedidos pelas prefeituras dos municiacutepios geralmente alocados em escolas municipais assim como disponibilizam servidores municipais para atuarem no polo (FIRMINO VIEIRA 2013) Fica a cargo do estado a seleccedilatildeo dos tutores presenciais e do Governo federal o pagamento das bolsas de tutorias

Em algumas regiotildees o acesso agrave internet ainda eacute muito precaacuterio Para os alunos dos cursos de EaD que convivem com essa realidade o polo de apoio presencial eacute fundamental para o bom funcionamento do curso pois para eacute no polo de apoio presencial que esses alunos teratildeo acesso ao ambiente virtual com maior facilidade (SOUZA 2015)

Para o funcionamento dessa estrutura de suporte eacute necessaacuterio investimento eacute preciso que os polos de EaD aleacutem de toda infra-estrutura necessaacuteria para seu funcionamento sejam espaccedilos para pesquisa ensino e extensatildeo pilares de uma universidade Eacute impor-tante que haja troca de informaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees de ensino superior contribuindo para a geraccedilatildeo de novos conhecimentos que possibilitem melhorias na sociedade (SCHLUumlNZEN 2009)

Dessa forma a localizaccedilatildeo dos polos eacute fundamental para o funcionamento dos cursos de EaD Vaacuterios estudos foram realizados com o objetivo de proporcionar meacutetodos para a melhor escolha para instalaccedilatildeo dos polos de apoio presencial

O CEDERJ por meio de um estudo teacutecnico em 1999 adotou como criteacuterios para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial a populaccedilatildeo dos 92 municiacutepios do Estado do Rio de Janeiro o nuacutemero de alunos que terminou no ano anterior o Ensino Meacutedio em cada municiacutepio a distacircncia entre os municiacutepios (prevendo um deslocamento meacutedio do estudante da sua residecircncia ao polo inferior a cinquenta quilocircme-tros) a existecircncia de estradas conectando-as entre si e a inexistecircncia de ensino superior presencial puacuteblico no local (CASSIANO et al 2016)

Paacutegina 4 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute a Universidade Aberta do Brasil (UAB) criou dois tipos de polos o polo associado e o polo efetivo com diferentes criteacuterios para sua instalaccedilatildeo O polo associado estaacute instalado num campus de uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (IES) e o polo efetivo loca-lizado em municiacutepios considerados de porte meacutedio isto eacute entre 20 mil e 50 mil habitantes responsaacuteveis pela infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e de recursos humanos (BRASIL 2013)

Peixoto Filho (2016) desenvolveu uma ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) com o objetivo de auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios no estado de Minas Gerais para a abertura de novos polos de EaD As alternativas satildeo compostas por trecircs grupos de municiacutepios distintos que fazem parte de uma mesma regiatildeo geograacutefica do estado de Minas Gerais com atuaccedilatildeo do Instituto Federal do Sudeste desse estado ndash Campus Muriaeacute ndash para a instalaccedilatildeo dos polos Consequen-temente para a oferta de cursos na modalidade a distacircncia foram utilizados os seguintes criteacuterios populaccedilatildeo residecircncia com acesso agrave internet vocaccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia

Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) desenvolveram um novo modelo de apoio ao processo decisoacuterio voltado agrave abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia baseado no meacutetodo AHP cujos criteacuterios envolveram populaccedilatildeo residecircncias com acesso agrave internet voca-ccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia Esse modelo foi aplicado em um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais pertencentes a uma mesma regiatildeo geograacutefica

Em outro estudo Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma ferramenta utilizando o meacutetodo AHP composta por dados e in-formaccedilotildees mais soacutelidos para auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD Os criteacuterios avaliados por eles foram nuacuteme-ro de habitantes puacuteblico-alvo faixa etaacuteria escolaridade renda per capita residecircncia com acesso agrave internet arranjos produtivos locais existecircncia de escolas de niacutevel meacutedio proximidade do muni-ciacutepio com universidades concorrecircncia local existecircncia de IES de outros cursos EaD e de outros cursos ofertados pelo ldquoSistema Srdquo

Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) aplica-ram o meacutetodo de Copeland para mostrar a influecircncia do tamanho dos polos do CEDERJ nos diferentes municiacutepios em que estatildeo instalados conhecendo a importacircncia dos polos nas localidades onde atuam Eles utilizaram como criteacuterios para sua pesquisa o nuacutemero de cursos oferecidos o nuacutemero de alunos inscritos e o tempo de funcionamento de cada polo

Entretanto natildeo foram encontrados estudos que versam so-bre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP para seleccedilatildeo de polos de apoio

presencial o que contribuiria para auxiliar na melhor decisatildeo dos gestores pois o meacutetodo ANP apresenta caracteriacutesticas que pro-porcionam soluccedilotildees realiacutesticas na tomada de decisatildeo

Para Shimizu (2010) um dos grandes desafios com que os gestores convivem diariamente eacute a tomada de decisatildeo para a qual eacute necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de conhecimentos e habilidades que permitam a melhor escolha Em se tratando de escolha de um local para instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia a utilizaccedilatildeo de um modelo de toma-da de decisatildeo permite aos gestores avaliar criteacuterios que melhor atendam agrave populaccedilatildeo evitando dessa forma prejuiacutezos ao eraacuterio pois uma escolha errada de local ocasionaria o fechamento do polo onde houve investimento puacuteblico aleacutem da transferecircncia de alunos para polos distantes de suas residecircncias o que poderia levar futuramente a desistecircncia da tatildeo sonhada graduaccedilatildeo

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo abordados os procedimentos meto-doloacutegicos utilizados na confecccedilatildeo do modelo de apoio a decisatildeo para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial

3 Procedimentos metodoloacutegicosA presente pesquisa classifica-se como qualitativa de caraacuteter exploratoacuterio por meio de pesquisa bibliograacutefica entrevistas e estudo de caso Isso possibilitou a aplicaccedilatildeo de um modelo de anaacutelise multicriteacuterio que traduziu em pesos os dados e informa-ccedilotildees coletadas ponderando assim a definiccedilatildeo do local ideal para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

Este estudo foi realizado na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba com sete municiacutepios que natildeo apresentam polos de apoio presencial do CEDERJ satildeo eles Barra Mansa Itatiaia Pinheiral Porto Real Quatis Rio Claro e Valenccedila A escolha do local para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi devido ao fechamento de um polo de apoio presen-cial no municiacutepio de Quatis o que aguccedilou a curiosidade quanto aos atuais criteacuterios utilizados para alocaccedilatildeo de polos de EaD no estado do Rio de Janeiro

Primeiramente foi feita uma pesquisa em algumas das mais impor-tantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) agrave procura de artigos que tratam do tema ensino a distacircncia com as palavras-chave ldquopolos de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacute-riordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo Essa pesquisa inicial demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD

Em seguida foram realizadas pesquisas em documentos insti-tucionais do CEDERJ e da UAB para descobrir quais satildeo os criteacuterios utilizados na alocaccedilatildeo de polos de apoio presencial

Paacutegina 5 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Na etapa seguinte foi realizada uma entrevista com coorde-nadores de cursos a distacircncia do CEDERJ e especialistas em EaD para definirem-se os principais criteacuterios na implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial

Ao final os criteacuterios adotados foram populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet escolas com ensino meacutedio e proximidade a um polo do CEDERJ

Analisando os criteacuterios quanto maior a populaccedilatildeo resi-dente no municiacutepio maior seraacute o nuacutemero de alunos alcan-ccedilados com os cursos de graduaccedilatildeo Por se tratar de ensino a distacircncia o uso do computador e o acesso agrave internet satildeo necessaacuterios pois as atividades seratildeo feitas via plataforma do CEDERJ O maior nuacutemero de escolas com ensino meacutedio demonstra concentrar um nuacutemero maior de estudantes que desejam cursar uma universidade A proximidade de um mu-niciacutepio a outro que jaacute possui um polo de apoio presencial do CEDERJ natildeo gera qualquer impedimento para os alunos cursarem uma graduaccedilatildeo o que descaracteriza a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial nesse municiacutepio

Para os criteacuterios de populaccedilatildeo residente domiciacutelios com com-putador domiciacutelios com internet e escolas com ensino meacutedio foram coletados dados do Censo de 2010 no site IBGE cidades (IBGE 2010) Para o criteacuterio proximidade a um polo do CEDERJ foi estimada atraveacutes do GoogleMaps a distacircncia em quilocircmetros da sede da prefeitura do municiacutepio candidato agrave implantaccedilatildeo do polo ao polo de apoio presencial do CEDERJ do municiacutepio mais proacuteximo

Apoacutes a definiccedilatildeo dos criteacuterios escolheu-se o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) para permitir a tomada de decisatildeo isto eacute para encontrar a melhor soluccedilatildeo para o problema A principal di-ferenccedila desse meacutetodo em relaccedilatildeo aos outros eacute o fato de ele avaliar a dependecircncia entre as estruturas da decisatildeo que representam os criteacuterios e alternativas o que permite um resultado mais confiaacutevel

O meacutetodo Analytic Network Process (ANP) eacute uma generalizaccedilatildeo do meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) ou seja na praacutetica para se fazer o ANP deve-se primeiramente executar o AHP (SAATY 2005) Segundo Shimizu (2010) o meacutetodo AHP tem sido empregado para situaccedilotildees de definiccedilatildeo de prioridade avaliaccedilatildeo de custos e benefiacutecios alocaccedilatildeo de recursos medida de desem-penho pesquisa de mercado entre outras

Apoacutes definido o meacutetodo foram atribuiacutedos pesos aos cri-teacuterios de acordo com a escala fundamental desenvolvida por Thomas L Saaty (SAATY 2005) Tal escala traduz as avaliaccedilotildees qualitativas que foram realizadas aos criteacuterios e as alternativas em valores numeacutericos

Nessa etapa foi aplicado um questionaacuterio fechado aos coordena-dores de cursos a distacircncia do CEDERJ e a especialistas em EaD para julgarem de acordo com a escala de valor de Saaty (1977) isto eacute de 1 a 9 as suas preferecircncias entre os criteacuterios definidos para esta pesquisa

A coerecircncia dos julgamentos foi verificada por meio da Razatildeo de Consistecircncia que aferiu um valor menor que 10 permitindo obter o vetor de prioridade dos criteacuterios e efetuar a normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Apoacutes os dados foram tratados atraveacutes do software SuperDe-cisions v28 usado para tomada de decisatildeo com dependecircncia e feedback que implementa o meacutetodo AHP e o meacutetodo ANP e utiliza o mesmo processo de priorizaccedilatildeo baseado na comparaccedilatildeo par a par de elementos Esse software permite que os usuaacuterios criem clusters e nodes fazendo as devidas ligaccedilotildees para garantir comparaccedilotildees adequadas entre os niacuteveis Apoacutes os julgamentos o programa calcula as matrizes e as suas consistecircncias possibi-litando a anaacutelise da decisatildeo (SUPERDECISIONS 2017)

4 Anaacutelise dos resultadosPara a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP eacute necessaacuterio o estabelecimento da rede isto eacute a estrutura de decisatildeo com a definiccedilatildeo dos objetivos criteacuterios e alternativas em que posteriormente podem ser aplicados os mesmos passos que quando utilizado o AHP Tais passos incluem formaccedilatildeo de matrizes de julgamentos determinaccedilatildeo de vetores de prioridades ateacute a soluccedilatildeo final com as prioridades globais do modelo (SAATY 1980)

A Figura 1 mostra a rede na qual os criteacuterios estatildeo relacionados entre si Neste estudo apenas os criteacuterios domiciacutelios com compu-tador e domiciacutelios com internet apresentam dependecircncia

A seguir satildeo formadas matizes de julgamentos para o posterior caacutelculo das prioridades Os julgamentos dos criteacuterios nesta pesquisa foram feitos por especialistas em EaD e coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo do CEDERJ com base na escala de valor de Saaty (1977) que varia de 1 a 9 Os valores representam 1 ndashigual importacircncia 3 ndash fraca importacircncia 5 ndash forte importacircncia 7 ndash muito forte 9 ndash importacircncia absoluta e 2 4 6 8 ndash valores intermediaacuterios Na comparaccedilatildeo par a par utilizando a Escala de Saaty (1977) conforme a Tabela 2 os itens em julgamento foram arranjados em matrizes quadradas e os dados foram representados pela importacircncia na relaccedilatildeo entre linha e coluna

Tabela 2 ndash Julgamento dos criteacuteriosPopulaccedilatildeo residente 1 5 3 6 2Domiciacutelios com computador 15 1 13 3 13Domiciacutelius com acesso agrave internet 13 3 1 4 2Nordm de escolas de ensino meacutedio 16 13 14 1 14Proximidade do polo do CEDERJ (km) 12 3 12 4 1

Fonte Dados da pesquisa

Paacutegina 6 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

De igual forma outra matriz foi formada para avaliar as rela-ccedilotildees entre os criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com internet conforme a Tabela 3

Tabela 3 ndash Matriz de comparaccedilatildeo entre os criteacuterios

Criteacuterio Domiciacutelios com computador

Domiciacutelios com acesso agrave internet Prioridades

Domiciacutelios com computador 1 13 025

Domiciacutelios com acesso agrave internet 3 1 075

Fonte Dados da pesquisa

Posteriormente foi verificado se havia consistecircncia ou natildeo na matriz de julgamentos da seguinte forma se o valor de Razatildeo de Consistecircncia (RC) fosse menor que 10 os julgamentos eram coerentes caso contraacuterio os julgamentos deveriam ser revistos (COSTA 2002) Nesse caso o valor de RC foi de 480 menor que 10 portanto conclui-se que os julgamentos foram coerentes A Tabela 4 mostra o resultado final das prioridades dos criteacuterios

Tabela 4 ndash Criteacuterios e vetor de prioridadesCriteacuterio Vetor de prioridades

Populaccedilatildeo residente 032819Domiciacutelios com computador 012896Domiciacutelios com acesso agrave internet 036180Nuacutemero de escolas com Ensino Meacutedio 003739Proximidade do polo do CEDERJ 014366

Fonte Dados da pesquisa

O criteacuterio mais importante de acordo com a Tabela 4 eacute o de domiciacutelios com acesso a internet comprovando a

importacircncia dessa ferramenta para os cursos de EaD uma vez que sem o acesso agrave internet eacute impossiacutevel acessar a plataforma do CEDERJ e acompanhar as aulas os foacuteruns enviar e-mails realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos disponiacuteveis por essa rede para pesquisa e informaccedilatildeo

Conforme a Tabela 4 a populaccedilatildeo residente eacute o segundo criteacuterio mais importante a ser verificado na instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial pois o nuacutemero de habitantes de uma cidade deve ser suficiente para permitir que os recursos investidos na instalaccedilatildeo do polo de apoio presencial sejam duradouros e que a demanda pelos cursos de graduaccedilatildeo se mantenha constante

No problema estudado as alternativas podem ser ava-liadas de forma direta quando comparadas aos criteacuterios por existirem dados quantitativos em cada caso De qual-quer forma como natildeo se pode misturar em uma decisatildeo grandezas diferentes eacute necessaacuterio transformar os valores de cada um desses objetivos em uma mesma unidade de medida (SHIMIZU 2010)

A Figura 2 mostra os valores normalizados de importacircncia de cada alternativa referentes a cada criteacuterio segundo dados do censo de 2010 (IBGE 2010) com exceccedilatildeo do criteacuterio pro-ximidade ao polo do CEDERJ cujos dados foram extraiacutedos do GoogleMaps

Paacutegina 7 de 11

Figura 1 Estrutura de decisatildeo em rede pelo meacutetodo ANP

Objetivo SELECcedilAtildeO DE MUNICIacutePIOS PARA INSTALACcedilAtildeO DE POacuteLOS EAD

Proximidade depolos do CEDERJ

Escolas comensino meacutedio

Domiciacutelioscom internet

Domiciacutelios comcomputador

Populaccedilatildeoresidente

BarraMansa Itatiaia Pinheiral

PortoReal Quatis

RioClaro Valenccedila

Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Figura 2 ndash Normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Municiacutepio Populaccedilatildeo residenteValor

normalizado MuniciacutepioDomiciacutelios com

computadorValor

normalizadoBarra Mansa 177813 05110 Barra Mansa 26386 05624

Itatiaia 28783 00827 Itatiaia 4032 00859

Pinheiral 22719 00653 Pinheiral 2673 00570

Porto Real 16592 00477 Porto Real 1953 00416

Quatis 12793 00368 Quatis 1384 00295

Rio Claro 17425 00501 Rio Claro 1452 00310

Valenccedila 71843 02065 Valenccedila 9034 01926

Total 347968 10000 Total 46914 10000

MuniciacutepioDomiciacutelios com

acesso agrave internetValor

normalizado MuniciacutepioProximidade ao polo

do CEDERJ (km)Valor

normalizadoBarra Mansa 19840 05757 Barra Mansa 109 00756

Itatiaia 3023 00877 Itatiaia 167 01158

Pinheiral 2021 00586 Pinheiral 128 00888

Porto Real 1300 00377 Porto Real 202 01401

Quatis 951 00276 Quatis 241 01671

Rio Claro 841 00244 Rio Claro 343 02379

Valenccedila 6486 01882 Valenccedila 252 01748

Total 34462 10000

Total 46 10000

Total 1442 10000

MuniciacutepioNordm de escolas de

ensino meacutedioValor

normalizadoBarra Mansa 18 03913

Itatiaia 2 00435

Pinheiral 5 01087

Porto Real 2 00435

Quatis 1 00217

Rio Claro 3 00652

Valenccedila 15 03261

Fonte Segundo IBGE Cidades 2010 GoogleMaps 2017

Paacutegina 8 de 11

O resultado final da aplicaccedilatildeo do meacutetodo com a utilizaccedilatildeo dos criteacuterios e alternativas propostas pode ser observado na Tabela 5 com as prioridades de cada alternativa segundo os criteacuterios estabelecidos assim como a prioridade final para cada alternativa quando utilizado o meacutetodo ANP

Como mostrado na Tabela 5 o municiacutepio de Barra Mansa tem a maior prioridade para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ seguido de Valenccedila Esse resultado deve-se fundamen-talmente a que ambos os municiacutepios lideram em peso na quase totalidade dos criteacuterios analisados

Tabela 5 ndash Prioridades das alternativas

MuniciacutepioPopulaccedilatildeo residente

Domiciacutelios com

computador

Domiciacutelioscom

internet

Nordm deescolas

comensino meacutedio

Proximidade do polo do

CEDERJ Vetor de decisatildeo

Barra Mansa 05110 05624 05757 03913 00756 044207

Itatiaia 00827 00859 00877 00435 01158 008853Pinheiral 00653 00570 00586 01087 00888 006961Porto Real 00477 00416 00377 00435 01401 006216

Quatis 00368 00295 00276 00217 01671 005802Rio Claro 00501 00310 00244 00652 02379 007880Valenccedila 02065 01926 01882 03261 01748 020081Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O modelo proposto atendeu ao objetivo mostrando-se eficaz para definir o municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ O municiacutepio mais adequado para isso foi Barra Mansa que se destacou nos criteacuterios populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com inter-net e nuacutemero de escolas com ensino meacutedio perdendo apenas no criteacuterio proximidade a um municiacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ devido a sua proximidade em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Volta Redonda cujo polo mais proacuteximo eacute o de Barra Mansa

5 Consideraccedilotildees finaisApesar do grande crescimento a modalidade de ensino a dis-tacircncia ainda sofre preconceito logo a escolha do local correto para implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial permite uma eficiente alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos evita prejuiacutezos ao eraacuterio amplia a oferta de educaccedilatildeo superior proporciona a um contin-gente maior da populaccedilatildeo o acesso ao ensino superior puacuteblico e de qualidade tornando tal modalidade o principal veiacuteculo para aprendizagem no paiacutes

A pesquisa demonstrou que os cursos de graduaccedilatildeo EaD apre-sentaram um aumento no nuacutemero de matriacuteculas nos uacuteltimos quinze anos superior ao dos cursos presenciais sendo responsaacute-vel em 2015 por 1736 das matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no Brasil O CEDERJ eacute responsaacutevel por uma parte desse crescimen-to pois desde a sua criaccedilatildeo no ano de 2000 vem contribuindo para a expansatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo a locais natildeo atendidos pelo ensino presencial e permitindo o acesso ao ensino superior a todos que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional

Com o intuito de propor um modelo de apoio agrave decisatildeo para implantaccedilatildeo de polos de apoio presencial realizou-se primeira-mente uma busca na literatura sobre o tema ensino a distacircncia combinado com os termos ldquopolo de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacuteriordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo que demonstrou a existecircncia de alguns estudos que tratam do tema assim como a utilizaccedilatildeo de diferentes criteacuterios e modelos de apoio ao processo decisoacuterio Tais estudos foram essenciais para embasar a escolha dos criteacuterios que formam o modelo proposto e consequentemente a escolha do melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de EaD

A utilizaccedilatildeo do meacutetodo ANP permitiu a elaboraccedilatildeo de uma estrutura em rede capaz de facilitar o processo decisoacuterio por meio da interaccedilatildeo dos criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com acesso agrave internet permitindo maior precisatildeo no resultado Atraveacutes da anaacutelise multicriteacuterio com a utilizaccedilatildeo do software Super-Decision v28 para o tratamento dos dados foi possiacutevel encontrar o melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

O municiacutepio de Barra Mansa foi o que apresentou o conjunto das melhores caracteriacutesticas para a implantaccedilatildeo do polo de EaD na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba seguido do municiacutepio de Va-lenccedila Seguindo os criteacuterios atuais do CEDERJ segundo os quais a prioridade maacutexima de localizaccedilatildeo entre polos eacute uma distacircncia aproximada de cinquenta quilocircmetros o municiacutepio de Barra Man-sa natildeo seria analisado como possiacutevel sede dada a proximidade com o polo de Volta Redonda por esse criteacuterio o melhor colocado entatildeo seria o municiacutepio de Rio Claro

O criteacuterio mais importante analisado foi o de domiciacutelios com internet pois essa ferramenta eacute fundamental para que se tenha um bom rendimento no ensino a distacircncia Afinal sem internet eacute impossiacutevel acessar o ambiente virtual de aprendizagem e acom-panhar as aulas os foacuteruns realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos dis-poniacuteveis na internet para pesquisa e informaccedilatildeo

Para os alunos que natildeo tecircm acesso agrave internet em suas residecircn-cias o polo de apoio presencial eacute de grande importacircncia para que eles possam acessar o ambiente virtual de aprendizagem e prosseguir em seus estudos

A partir do modelo apresentado e dentre os criteacuterios utilizados constatou-se que o municiacutepio de Quatis natildeo seria contemplado com a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial haja vista que esse municiacutepio jaacute sediou um polo do CEDERJ oferecendo o curso superior de Administraccedilatildeo tendo poreacutem as suas atividades encerradas Isso demonstra que proximidade a outro polo do CEDERJ natildeo pode ser o criteacuterio mais importante para implantaccedilatildeo de um polo de EaD e que os criteacuterios devem ser analisados em conjunto e natildeo individualmente o que evidencia a factibilidade do modelo utilizado

Constataram-se como limitaccedilotildees da pesquisa a concentraccedilatildeo do estudo em uma uacutenica regiatildeo do estado do Rio de Janeiro e natildeo levar em conta o fato de que as variaacuteveis de cunho poliacutetico podem tambeacutem interferir na sustentabilidade de um polo Sugere-se como agenda de pesquisa que o modelo seja implementado em outras regiotildees do estado do Rio de Janeiro confirmando a sua eficaacutecia na escolha de municiacutepios para sediar polos de apoio presencial do CEDERJ

R e f e r ecirc n c i a s

ALVES L Educaccedilatildeo a distacircncia conceitos e histoacuteria no Brasil e no mundo

Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distacircncia Satildeo Paulo

v10 n21 2011

Paacutegina 9 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

ARRUDA D E P ARRUDA E P Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil poliacuteticas

puacuteblicas e democratizaccedilatildeo do acesso ao ensino superior Educaccedilatildeo

em Revista Belo Horizonte v31 n3 p321-338 julset 2015

BRASIL Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 Regulamenta o art 80 da

Lei de diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

Brasiacutelia DF 26 maio 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogov

brccivil_03_Ato2015-20182017DecretoD9057htmart24gt Aces-

so em 31 maio 2017

______ Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes

e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 23

dez 1996 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis

L9394htmgt Acesso em 20 abr 2017

______ Orientaccedilotildees baacutesicas sobre polos do sistema Universidade Aberta

do Brasil 2013 Disponiacutevel em lthttpswwweadunbbrarquivos

legislacaoinstrucoesorientacoes_basicas _sobre_polos_uabpdfgt

Acesso em 19 abr 2017

CASSIANO K M et al Distribuiccedilatildeo espacial dos polos regionais do Cederj

uma anaacutelise estatiacutestica Ensaio aval pol puacutebl Educ Rio de Janeiro

v24 n90 p 82-108 janmar 2016

CEDERJ Portal consoacutercio Cederj Fundaccedilatildeo Cecierj Polos Disponiacutevel emlt

httpCEDERJedubrCEDERJpolosgt Acesso em 20 abr 2017

COSTA H G Introduccedilatildeo ao meacutetodo de anaacutelise hieraacuterquica anaacutelise multicri-

teacuterio no auxiacutelio agrave decisatildeo Rio de Janeiro [sn] 2002 Disponiacutevel em

lt httpwwwdinuembrsbposbpo2004pdfarq0279pdfgt Acesso em 19 abr 2017

FIRMINO D L F VIEIRA J J Consoacutercio Cederj uma anaacutelise criacutetica Se-

minaacuterio Internacional Inclusatildeo em Educaccedilatildeo Universidade e Parti-

cipaccedilatildeo Anais Rio de Janeiro maio 2013 Disponiacutevel em lthttp

wwwlapeadeeducacaoufrjbranaisfilesWSM31A54pdfgt Acesso

em 21 maio 2017

GOMES JUacuteNIOR S F SOARES DE MELLO J C C B SOARES DE MELLO

MHC Utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Copeland para avaliaccedilatildeo dos polos

regionais do CEDERJ Riorsquos International Journal on Sciences of Industrial

and Systems Engineering and Management v 2 n1 p 87-98 2008

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Censo 2010 Disponiacutevel

emlt httpscidadesibgegovbrgt Acesso em 10 abr 2017

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Tei-

xeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2010 Disponiacutevel emlt http

downloadinepgovbreducacao_superiorcenso_superiordocumen-

tos2010divulgacao_censo_2010pdfgt Acesso em 15 maio 2017

______ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio

Teixeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2016 Disponiacutevel emlt http

sistemascensosuperiorinepgovbrcensosuperior_2016gt Acesso

em 15 maio 2017

PEIXOTO FILHO J et al Anaacutelise multicriterial para seleccedilatildeo de local para

abertura de um polo de educaccedilatildeo a distacircncia In Anais XXI Congres-

so Internacional ABED de Educaccedilatildeo a Distacircncia Bento Gonccedilalves RS

2015 Disponiacutevel em httpwwwabedorgbrcongresso2015anaispdfBD_191pdf Acesso em 15 abr 2107

PEIXOTO FILHO J Modelagem multicriterial aplicada a seleccedilatildeo de mu-

niciacutepios para abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia 2016 120

f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Engenharia de Produccedilatildeo Universidade

Cacircndido Mendes Rio de Janeiro 2016

PEIXOTO FILHO J ERTHAL JUacuteNIOR M Seleccedilatildeo de municiacutepios para a

abertura de polos EaD uma tomada de decisatildeo baseada em uma

modelagem multicriteacuterio In Anais XXII Congresso Internacional ABED

de Educaccedilatildeo a Distacircncia Aacuteguas de Lindoacuteia SP 2016 v22 p1-1 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2016tra-balhos129pdfgt Acesso em 18 abr 2017

SAATY T L A scaling method for priorities in hierarchical structures Jour-

nal of Mathematical Psychology v15 p234-281 1977

______ The analytic hierarchy process planning priority setting resource

allocation New York McGraw-Hill 1980

______ Theory and applications of the analytic network process decision mak-

ing with benefits opportunities costs and risks Pittsburgh RWS 2005

SCHLUumlNZEN K J Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil caminhos poliacuteticas e

perspectivas ETD ndash Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital Campinas v10 n2

p16-36 jun2009

SHIMIZU T Decisatildeo nas organizaccedilotildees 2ed Satildeo Paulo Editora Atlas SA

2010 419 p

SILVA M SANTOS E Avaliaccedilatildeo da aprendizagem em educaccedilatildeo online

fundamentos interfaces e dispositivos relatos de experiecircncias Satildeo

Paulo SP Ediccedilotildees Loyola 2006

SOUZA J B A A contribuiccedilatildeo dos polos presenciais na EaD um estudo

exploratoacuterio Congresso Nacional de Ambientes Hipermiacutedia para a

Aprendizagem Satildeo Luiacutes Maranhatildeo jun 2015 Disponiacutevel em lthttp

conahpasitesufscbrwp-contentuploads201506ID32_Souza

pdfgt Acesso em 17 maio 2017

SPIacuteNDOLA M MOUSINHO S H Cederj um caminho na direccedilatildeo da educaccedilatildeo

inclusiva Ead em foco Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Cecierj n 2 nov 2012

Paacutegina 10 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

SUN P et al What drives a successful e-Learning An empirical investiga-

tion of the critical factors influencing learner satisfaction Computers

amp Education v50 p1183-1202 2008

SUPERDECISIONS Creative Decisions Foundations Software de apoio agrave

decisatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwsuperdecisionscomtutorials

indexphpsection=2_8gt Acesso em 12 abr 2017

WAQUIL M P et al Educaccedilatildeo a distacircncia e comunidades virtuais de apren-

dizagem novos espaccedilos novas possibilidades Revista Competecircncia

Porto Alegre RS v2 n1 p43-57 2009

WEIDLE D KICH J I D F PEREIRA M F Projeto UAB Uma Anaacutelise estru-

tural dos polos de apoio presencial do curso de Administraccedilatildeo da

UFSC Revista GUAL Florianoacutepolis Ediccedilatildeo especial p94-114 2011

Paacutegina 11 de 11

O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevelThe Use of Recycled PET Fibers in the Textile Industry through Innovation and Sustainable Design

Helena Mrozinski Cesar Steffen e Heli Meurer

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

O desenvolvimento sustentaacutevel eacute um grande desafio em todas as aacutereas e na induacutestria tecircxtil natildeo eacute diferente pois os impactos ambientais satildeo gerados em todas as etapas dos processos produtivos

ndash da origem da mateacuteria prima ateacute o descarte do produto pelo consumidor A crescente degradaccedilatildeo do meio ambiente faz com que a reciclagem seja um dos pressupostos do desenvolvimento sustentaacutevel que por sua vez estaacute embasado nas dimensotildees econocircmicas sociais ecoloacutegicas e culturais da evoluccedilatildeo humana Dessa forma este estudo tem por objetivo analisar o estado da arte da reciclagem das embalagens PET considerando o processo a expansatildeo e a aplicabilidade da fibra resultante desta reciclagem na induacutestria tecircxtil brasileira e sua relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel Com este trabalho percebeu-se que houve nos uacuteltimos anos uma adesatildeo significativa por parte das empresas nas praacuteticas consideradas relevantes para o entendimento das questotildees socioambientais aplicadas ao sistema de moda e ao setor tecircxtil

A b s t r a c t

Sustainable development is a major challenge in all areas and in the textile industry it is not different because environmental impacts are generated at all stages of the productive processes ndash from the origin of the raw material to the disposal of the product by the consumer The increasing environment degradation makes the recycling one of the assumptions of the concept of sustainable development which in turn is rooted in the economic social ecological and cultural dimensions of human evolution Thus this study aims to analyze the state of the art of the recycling of PET packaging considering the process the expansion and the applicability of the fiber resulting from this recycling in the Brazilian textile industry and its relationship with sustainable design Through this work it was perceived that in recent years companies had a significant adherence to practices considered relevant for the un-derstanding of the socio-environmental issues applied to the fashion system and to the textile sector

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chaveDesign sustentaacutevel Fibra PET Industria tecircxtil e reciclagem

KeywordsSustainable design PET fiber Textile Industry and Recycling

Autores Docente - Senac (RS)e-mail mrozinskihelenagmailcom

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail cesar_steffenuniritteredubr

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail heli_meureruniritteredubr

Como citar este artigoMZROZINSKI H STEFFEN C MEURER H O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevel Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoNa mobilizaccedilatildeo em busca do desenvolvimento de novos produ-tos aliados a tecnologias de menor impacto ao meio ambiente empresas buscam implantar abordagens baseadas em gestatildeo de sustentabilidade Dessa forma se reposicionam no mercado de maneira inovadora utilizando o ecodesign como uma ferramenta potencializadora da evoluccedilatildeo da cadeia produtiva Utilizam-se tambeacutem de gestotildees estrateacutegicas que abordam questotildees ambien-tais para transformar os investimentos em fontes de vantagens competitivas (GONCcedilALVES-DIAS GUIMARAtildeES SANTOS 2007)

Com a visatildeo de futuro e com a estrateacutegia de consolidaccedilatildeo e reconhecimento no mercado empresas objetivam investir na dimensatildeo simboacutelica de marca e da alta tecnologia empregada em seus produtos aspectos que tecircm sido chave para o estabelecimen-to das relaccedilotildees com o novo mercado Percebe-se contudo que a ideia de marca engloba atualmente consciecircncia e engajamento com as questotildees ambientais e que na busca de alternativas rea-lizadoras dessas questotildees encontra-se a tecnologia de produccedilatildeo sua inerente inovaccedilatildeo e consequente conforto e alta qualidade de acabamento dos produtos (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Este trabalho portanto procura identificar as condiccedilotildees que justi-ficam a incorporaccedilatildeo de estrateacutegias ambientais no desenvolvimento de produtos e geraccedilatildeo de inovaccedilotildees especificamente a partir de materiais reciclados O referencial teoacuterico nesse campo de atividade no Brasil eacute raro e disperso talvez por ser assunto incipiente embora jaacute seja uma atividade com significativa representaccedilatildeo na economia e de crescente interesse por parte das empresas governos e sociedade

Com esse propoacutesito apresenta-se primeiramente uma breve revisatildeo da literatura relacionada agrave construccedilatildeo de estrateacutegias de de-sign para o desenvolvimento de produtos com materiais reciclados e as competecircncias necessaacuterias para a realizaccedilatildeo de tal empreendi-mento Na segunda parte disserta-se sobre a histoacuteria da resina PET (polietileno tereftalato) o processo da reciclagem de embalagens e a aplicabilidade em novos materiais novas funcionalidades e no uso para os produtos tecircxteis originando um novo ciclo de vida do produto assim ultrapassando os campos da preservaccedilatildeo ambiental pois movimenta a economia do paiacutes em diversas aacutereas

2 Conceitos de design e sustentabilidadeA sustentabilidade baseia-se na preservaccedilatildeo dos recursos naturais O Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA1) apresentou em 1975 o conceito de ecodesenvolvimento o qual destacava o desenvolvimento apoiado na dimensatildeo regional e local e o uso adequado dos recursos naturais Na formulaccedilatildeo de Sachs (2004) o ecodesenvolvimento deve integrar a satisfaccedilatildeo das necessidades humanas baacutesicas a solidariedade com as geraccedilotildees futuras a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo envolvida a preservaccedilatildeo

dos recursos naturais e meio ambiente em geral a elaboraccedilatildeo de sistema social que garanta emprego seguranccedila social e respeito a outras culturas e o desenvolvimento de programas de educaccedilatildeo ldquoO atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraccedilotildees futuras de satisfazerem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (WCED2 apud MROZINSKI 2016)

De acordo com Vezzolli (2010) o design intitulado como sustentaacute-vel tem a funccedilatildeo essencial de projetar produtos serviccedilos e sistemas com baixo impacto ambiental e alta qualidade social O termo design utilizado em sentido restrito define-se como uma ldquoatividade criativa orientada para a determinaccedilatildeo das qualidades formais de objetos ou signos produzidos industrialmenterdquo (ANICET BESSA BROEGA 2009) O design consiste basicamente em uma tentativa de tornar o objeto mais atrativo desejaacutevel o que deve inerentemente vir ao encontro da melhoria da funcionalidade do produto

O que se verifica na atualidade de forma crescente eacute que os de-signers estatildeo se conscientizando da sua responsabilidade quanto agrave preservaccedilatildeo dos recursos ambientais por meio do desenvolvimento sustentaacutevel Portanto o design engrandece-se ao abranger mais objetivos Ele exerce funccedilotildees derivadas de suas principais como a responsabilidade socioambiental (MAU 2004) Dessa forma o design toma uma dimensatildeo muito maior do que o seu objetivo primeiro ndash o produto em sua funccedilatildeo operativa e tecnoloacutegica ndash toma a dimensatildeo eacutetica que abrange a proteccedilatildeo do meio ambien-te a preservaccedilatildeo e resgate da identidade cultural e dos circuitos econocircmicos locais bem como o desenvolvimento de produtos ambientalmente sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Papanek (1984) em sua claacutessica publicaccedilatildeo Design for Real World afirmava que o design poderia ser uma das mais baacutesicas atividades humanas e nesse sentido todas as pessoas seriam designers Atual-mente o design eacute uma atividade projetual e profissional com elevada especializaccedilatildeo Aleacutem disso eacute uma disciplina com autoridade acadecirc-mica desenvolvida em universidades tendo seu valor reconhecido atraveacutes de suas proacuteprias publicaccedilotildees promovendo conferecircncias e eventos de grande repercussatildeo ndash sendo inclusive um veiacuteculo de identidade e de coesatildeo social (MANZINI VEZZOLI 2005)

Na definiccedilatildeo dos autores Mohr (2006) e Manzini e Vezzoli (2005) a tendecircncia do design eacute buscar paracircmetros para encontrar a soluccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos seus produtos quando engloba as tecnologias de produccedilatildeo assim como questotildees ambientais Mudanccedilas de paradigmas ocorrem a partir das criaccedilotildees do design desafiando os profissionais e dessa forma oferecendo o equiliacutebrio entre os requisitos da induacutestria e ao mesmo tempo respeitando os fatores ambientais em seus projetos

Por outro vieacutes estaacute cada vez mais acirrada a competitividade no mercado de design de produtos como reflexo da velocidade de produccedilatildeo e da constante busca da lucratividade das empresas e

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consequentemente haacute maior oferta de produtos Nesse cenaacuterio de forma positiva e proveitosa os designers empenham-se no de-senvolvimento de produtos sempre buscando maior qualidade e novos padrotildees de inovaccedilatildeo conforto acabamentos e preccedilos tudo isso com o objetivo atender a necessidades perfis e exigecircncias dos consumidores Esse processo condiciona o avanccedilo de novas teacutecnicas e tecnologias e especialmente na produccedilatildeo sustentaacutevel na utilizaccedilatildeo de materiais que se componham de fibras resultados de reciclagem Eacute um grande desafio para as mudanccedilas necessaacuterias pois os consumidores estatildeo cada vez mais conscientes ambiental-mente Eles estatildeo em busca de soluccedilotildees e produtos sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

De acordo com as consideraccedilotildees gerais do Conselho Interna-cional de Sociedades de Design ndash International Council of Societies of Design (ICSID) atual WDO3 World Design Organization relacio-nado agrave UNESCO ndash o design

(hellip) busca descobrir e avaliar estruturas organizaccedilotildees relaccedilotildees

funcionais expressivas e econocircmicas com a tarefa de melhorar

a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambiental (eacutetica global)

conceder benefiacutecios e liberdade para toda a comunidade humana

individual e coletiva para usuaacuterios finais produtores e protagonistas

de mercado (eacutetica social) apoiar a diversidade cultural apesar da

globalizaccedilatildeo do mundo (eacutetica cultural) gerando produtos serviccedilos

e sistemas cujas formas sejam expressivas (semiologia) e coerentes

(esteticamente) com sua proacutepria complexidade (IBID 2012 apud

KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

O WDO enfatiza o caraacuteter humano social e cultural aleacutem do econocircmico Essa definiccedilatildeo apresenta inclusive o conceito de ldquociclos de vidas inteirosrdquo aleacutem do objetivo de ldquomelhorar a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambientalrdquo o que leva agrave adesatildeo na missatildeo do design em propor o uso de mecanismos adequadamente norteados na concepccedilatildeo e desenvolvimento de projetos produtos serviccedilos e sistemas (KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

3 Design sustentaacutevel e reciclagemConsciecircncia ecoloacutegica presume e anda de matildeos dadas com a consciecircncia social pela proteccedilatildeo da natureza e pela realizaccedilatildeo da condiccedilatildeo humana Com o objetivo de obter um ambiente ade-quado para a vida no que tange agraves condiccedilotildees ambientais e sociais deve-se seguir e cumprir regras Desse modo criaram-se normas e princiacutepios para serem seguidos e consequentemente minimi-zam-se os impactos ambientais Foram estabelecidos princiacutepios denominados ldquoRsrdquo iniciou-se com trecircs princiacutepios chamados de ldquo3Rsrdquo que em seguida foram desmembrados em mais dois tor-nando-se ldquo5Rsrdquo reduzir reutilizar reaproveitar reciclar e repensar (REBELLO 2008) Poreacutem conforme o autor tais princiacutepios foram

acrescidos por mais trecircs chegando a atingir oito atualmente sen-do os uacuteltimos reparar responsabilizar-se e repassar

Para entendimento e compreensatildeo do assunto abordado eacute interessante mesmo que brevemente citar todos os termos criados para a posteriori serem aprofundados os princiacutepios da Reciclagem e da Reutilizaccedilatildeo que satildeo o foco deste texto ndash design sustentaacutevel atraveacutes de materiais reciclados

Reduzir caracteriza-se pela reduccedilatildeo do consumo tendo como objetivo a preservaccedilatildeo dos recursos naturais do planeta Jaacute reutilizar quer dizer buscar soluccedilotildees criativas para prolongar a vida uacutetil de um produto oferecendo a ele uma nova vida transformando-o em um novo produto Seguindo a mesma linha reaproveitar eacute outra forma de reutilizar pois a diferenccedila essencial eacute que o produto original teraacute que sofrer uma transfor-maccedilatildeo para poder ser utilizado novamente Um bom exemplo eacute a customizaccedilatildeo de uma peccedila por meio do redesign reduzindo o descarte e agregando valores e funcionalidades e utilidades para o mesmo produto

Quanto a reciclar o produto deve retornar a um novo processo industrial gerando um novo ciclo Eacute o que se difere do princiacutepio de reaproveitar pois eacute necessaacuterio o reprocessamento Enquanto isso repensar consiste em realizar uma previsatildeo ou estudo do ciclo de vida total de um produto analisar seus custos e benefiacute-cios para posterior decisatildeo da produccedilatildeo ou natildeo Em todo esse levantamento deve constar desde a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima o desenvolvimento do produto a produccedilatildeo o descarte todo o ciclo de vida do produto e seu destino final seja o lixo ou uma nova etapa atraveacutes da reciclagem (VIEIRA RABELLO 2011)

31 Tipos de reciclagemQuanto aos tipos de reciclagem existem dois e satildeo relativos ao momento da reciclagem e ao ciclo de vida do produto a saber o preacute e o poacutes-consumo O preacute-consumo ocorre quando o produto saiu da induacutestria e antes mesmo do consumo jaacute eacute reciclado Um exemplo disso eacute o resiacuteduo industrial proveniente da fabricaccedilatildeo de roupas Esse tipo de reciclagem pode ser considerado como accedilatildeo socioambiental pois nela encontram-se os projetos de cole-ta de sobras de confecccedilotildees (tecidos descartados apoacutes o corte das peccedilas ou ldquoretalhosrdquo) Em uma pesquisa realizada por Mrozinski (2016) constatou-se que em alguns casos esses retalhos satildeo enviados para as famiacutelias cadastradas no programa da empresa fabricante sendo pesados separados e catalogados por cor Posteriormente seguem para a fiaccedilatildeo quando satildeo armazenados conforme a programaccedilatildeo de produccedilatildeo Posteriormente os reta-lhos satildeo colocados em uma maacutequina chamada ldquodesfibradeirardquo e atraveacutes de um processo chamado ldquorasgamentordquo voltam agrave sua forma original de fibras (MROZINSKI 2016)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute o poacutes-consumo ocorre quando o produto eacute reciclado depois de ter sido consumido Um bom exemplo satildeo as garras PET que em alguns casos conforme Mrozinski (2016) satildeo transformadas em fibra tecircxtil No caso do preacute-consumo gasta-se menos energia atraveacutes do aproveitamento de algo jaacute processado ao inveacutes de produzir um produto a partir da mateacuteria-prima original Esse tipo de reciclagem eacute muito mais faacutecil e de menor custo do que a reci-clagem poacutes-consumo pois no segundo caso os produtos teratildeo de ser lavados e esterilizados e em seguida encaminhados para o processo de reciclagem Em se tratando das garrafas plaacutesticas utilizam-se em sua limpeza aacutegua e detergentes Satildeo produtos quiacutemicos que interferem no meio ambiente e seus custos de re-ciclagem satildeo mais elevados (VIEIRA RABELLO 2011)

Segundo a Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria de PET (ABIPET 2013) no processo de reciclagem do PET existem muitos conta-minantes entre eles os adesivos plaacutesticos presentes nas garrafas de refrigerantes A maioria dos processos de lavagem aos quais os PETs satildeo submetidos hoje em dia ainda natildeo conseguem remover por completo esses produtos indesejaacuteveis o que impede a ob-tenccedilatildeo de flocos totalmente puros ou seja sem contaminaccedilatildeo

Todo esse processo de reciclagem do PET produz efluentes o que resulta em custos econocircmicos e ambientais Para Cassalli (2011) em seu processo a induacutestria da reciclagem faz uso de muito detergente na limpeza e higienizaccedilatildeo das garrafas e na fabricaccedilatildeo de flakes de PET causando importantes alteraccedilotildees quiacute-micas e fiacutesicas nos seus efluentes principalmente a alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) aleacutem do acreacutescimo dos resiacuteduos or-gacircnicos existentes no interior nos frascos vazios Por outro lado Silva (2017) afirma que apoacutes o processo de reciclagem e produccedilatildeo de flakes a empresa recicladora eacute responsaacutevel pelo tratamento de todos os seus efluentes gerados respeitando os paracircmetros estabelecidos pela legislaccedilatildeo municipal

No tratamento desses efluentes satildeo utilizados tratamentos primaacuterios secundaacuterios e terciaacuterios tendo como objetivo a remo-ccedilatildeo das partiacuteculas ou poluentes por meio de intervenccedilotildees fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas ou das combinaccedilotildees dessas intervenccedilotildees cuja accedilatildeo eacute reduzir os soacutelidos totais turbidez e cor Realizam-se tambeacutem processos especiacuteficos com intuito de oxidar quiacutemica e bioquimica-mente tais substacircncias promovendo a remoccedilatildeo das causadoras da alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) e da Demanda Bioquiacute-mica de Oxigecircnio (DBO) encontradas (MORENO 2007)

Apoacutes todo esse processo da reciclagem do PET resultam fibras de polieacutester de alta qualidade Estas satildeo aproveitadas em diversos produtos sendo que uma grande parte eacute destinada agrave produccedilatildeo de fibras tecircxteis para a induacutestria de tecido Podem ser utilizadas puras ou misturadas com outras fibras como por exemplo as fibras do algodatildeo do linho entre outras

4 Histoacuterico e aplicaccedilotildees do PETO poliacutemero produzido do PET eacute um polieacutester O polieacutester eacute uma fibra desenvolvida em 1941 por Whinfield e Dickson quiacutemicos ingleses cujo intuito inicial era substituir a fibra tecircxtil do algodatildeo Posteriormente sua aplicaccedilatildeo foi ampliada com a produccedilatildeo de filmes para embalagens por volta dos anos de 1980 O seu uso teve um crescimento raacutepido O PET eacute a denominaccedilatildeo do polieacutester destinado agrave fabricaccedilatildeo de embalagens entre elas a destinada aos refrigerantes Esse tipo de polieacutester tambeacutem eacute identificado como ldquograu garrafardquo (bottle grade) diferentemente do polieacutester que eacute utilizado na aacuterea tecircxtil conhecido por ldquograu fibrardquo (fiber grade) Eacute relevante saber que o polieacutester ldquograu fibrardquo ndash usado na produccedilatildeo de fibras e filamentos ndash e o polieacutester ldquograu garrafardquo satildeo produtos provenientes da mesma mateacuteria-prima poreacutem em seus respec-tivos processos de fabricaccedilatildeo recebem aditivaccedilotildees diferentes de acordo com o seu destinado final (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

No Brasil a embalagem PET entrou no mercado soacute em 1988 mas o crescimento foi raacutepido pois em 2004 o paiacutes jaacute era o terceiro maior consumidor mundial na produccedilatildeo de garrafas PET (ABIPET 20054) Esse raacutepido crescimento teve a sua contrapartida na reciclagem jaacute em 2005 a induacutestria brasileira atingiu a marca de 174 mil toneladas isso representou 47 do total da produccedilatildeo do PET naquele ano no mundo Foi um percentual expressivo especialmente porque em 2000 30 dos mais de 5 mil municiacutepios brasileiros natildeo possuiacuteam nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE 20005)

Por outro lado ainda natildeo eacute possiacutevel reaproveitar todas as em-balagens produzidas e descartadas Pois um dos maiores proble-mas enfrentados eacute a falta da coleta seletiva porque ainda satildeo poucas as cidades brasileiras que adotaram esse tipo de coleta de lixo Ainda assim a Associaccedilatildeo Brasileira de Embalagens afirma que o mercado para produtos reciclados de PET vem crescendo de forma significativa aleacutem de ser um setor muito importante dentro da induacutestria nacional (MOURA et al 2015)

No Brasil o PET assim como os demais materiais reciclaacuteveis quando usado poacutes-consumo eacute obtido principalmente atraveacutes da coleta informal feita por catadores e sucateiros que por cir-cunstacircncias socioeconocircmicas e carecircncia de poliacuteticas adequadas sustentam-se coletando a mateacuteria-prima da reciclagem no lixo das ruas ou nos ldquolixotildeesrdquo

Ateacute haacute pouco tempo esse trabalho natildeo era reconhecido pela sociedade A reciclagem era vinculada ao aumento do desempre-go e do crescimento do trabalho informal segundo Vezza e Cotait (2006) Poreacutem de acordo com os autores com a organizaccedilatildeo dessa atividade a situaccedilatildeo comeccedilou a se reverter aos poucos Os traba-lhadores que outrora eram anocircnimos passaram a ser parceiros estrateacutegicos dos programas de coleta seletiva e organizaram-se em associaccedilotildees Aleacutem disso foi nesse panorama que surgiram as

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

cooperativas que por sua vez promovem a profissionalizaccedilatildeo do trabalho contribuem para a melhoria da qualidade do trabalho dos catadores ofertando os equipamentos de seguranccedila dando treinamentos sobre a coleta e facilitando a intermediaccedilatildeo entre os catadores e as induacutestrias de reciclagem

Nos anos 1990 no Brasil vaacuterias instituiccedilotildees foram criadas pelas induacutestrias com o objetivo do desenvolvimento da reciclagem Des-tacam-se dentre elas (1) ABIPET oacutergatildeo ligado agrave cadeia produtiva do PET que se responsabiliza por questotildees teacutecnicas e operacionais para o mercado divulga informaccedilotildees e capacita parceiros (2) CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) que eacute responsaacutevel pelo incremento da atividade de reciclagem de todos os materiais e (3) PLASTIVIDA (Instituto Socioambiental dos Plaacutesticos) criado pela Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria Quiacutemica (ABIQUIM)

O material resultante da reciclagem do PET eacute um polieacutester termoplaacutestico Eacute resistente leve e transparente A evoluccedilatildeo do mercado e os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram novas aplica-ccedilotildees desse material desde cordas e fios de costura aos carpetes de bandejas de ovos e frutas a ateacute mesmo novas garrafas Com a reciclagem evita-se o lixo plaacutestico dos aterros Aleacutem disso uti-liza-se apenas 03 da energia total que eacute utilizada para produzir a resina virgem Ainda pode ser reciclada muitas vezes sem per-der a qualidade (CEMPRE 20176) A reciclagem de garrafa PET ultrapassa os campos da preservaccedilatildeo ambiental e movimenta tambeacutem a economia do paiacutes (PENSAMENTO VERDE 20137)

41 Processo de reciclagem do PETO processo de reciclagem do PET ocorre em trecircs etapas baacutesicas a recuperaccedilatildeo a revalorizaccedilatildeo e a transformaccedilatildeo Primeiramente se recupera do descarte posterior depois se faz o acondicionamento em fardos seguindo para a comercializaccedilatildeo quando ocorre a revalorizaccedilatildeo Para completar o processo inicial acontece a trans-formaccedilatildeo da mateacuteria prima oriunda das garrafas PET poacutes-consumo em um novo produto

Na etapa da revalorizaccedilatildeo acontece a moagem e lava-gem do PET produzindo a mateacuteria-prima reciclada Inicia-se colocando os fardos das garrafas na plataforma para serem desfeitos Em seguida as garrafas satildeo colocadas na esteira de alimentaccedilatildeo da peneira rotativa e eacute realizada a sua primeira etapa de lavagem Eacute o momento em que ocorre a retirada os maiores contaminantes como pedras tampas soltas etc Se-guindo o processo as garrafas passam para a esteira de seleccedilatildeo Nela satildeo monitorados a presenccedila de outros materiais como por exemplo PVC PP PE eou metais que podem ser acusados pelo detector (ABIPET 2012)

Na etapa seguinte as garrafas caem na esteira de alimenta-ccedilatildeo do primeiro moinho onde sofrem a primeira moagem feita com adiccedilatildeo de aacutegua O material moiacutedo eacute retirado atraveacutes de uma rosca duplo envelope e a aacutegua suja eacute separada do processo Em seguida passa pelos tanques de descontaminaccedilatildeo onde ocorre a separaccedilatildeo dos roacutetulos e tampas Nessa fase poderaacute ser feita a adiccedilatildeo de produtos quiacutemicos para beneficiamento do processo e entatildeo o material eacute levado para outro moinho ateacute obter a gra-nulometria adequada (ABIPET 2012)

Na sequecircncia do processo o material eacute transportado pneumati-camente ateacute o lavador onde com nova adiccedilatildeo de aacutegua eacute realizado o enxaacutegue e levado para o secador O material eacute retirado do secador atraveacutes do transportador pneumaacutetico e encaminhando para o silo Novamente eacute realizada a verificaccedilatildeo atraveacutes do detector de metais natildeo ferrosos de onde o material eacute retirado e embalado em big-bags (sacolas de aproximadamente 1m3) e enviado para a induacutestria de transformaccedilatildeo (ABIPET 2012) Esse material eacute formado de pequenos flocos do PET tambeacutem conhecidos com flakes (VEZZA COTAIT 2006)

Figura 1 ndash Esquema de funcionamento baacutesico de uma unidade de moagem lavagem e descontaminaccedilatildeo de PET

Fonte httpwmareciclepetblogspotcombr 8

Para que possa ser viabilizada a obtenccedilatildeo do material com maior facilidade eacute necessaacuterio realizar consulta sobre os oacutergatildeos governa-mentais da regiatildeo ligados agrave atividade de reciclagem Obtecircm-se informaccedilotildees sobre o sistema de coleta a possibilidade da compra do material verificar a origem da coleta seletiva dos catadores o desenvolvimento de parcerias com cooperativas ONGs empresas privadas associaccedilotildees comunitaacuterias aleacutem de realizar buscas de for-necedores do material em outras regiotildees (VEZZA COTAIT 2006)

5 PET na induacutestria tecircxtil Na induacutestria tecircxtil a fibra de PET reciclada estaacute sendo usada desde a deacutecada 1970 e sua pioneira foi a empresa americana Wellman localizada na Carolina do Sul (EUA) que reciclava e produzia fibras de polieacutester Como se tratava de fibras grossas inicialmente foram

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

utilizadas para o enchimento de brinquedos e estofados simples ou na confecccedilatildeo de natildeo tecidos (TNT) pois esses produtos natildeo exi-giam muita resistecircncia fiacutesica e de volume (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Com o avanccedilo tecnoloacutegico a transformaccedilatildeo das garrafas PET em fibras foi aprimorada resultando em produtos de maior qualidade Poreacutem demorou um tempo razoaacutevel para que o polieacutester reciclado chegasse ao patamar de qualidade do polieacutester produzido da mateacute-ria-prima virgem Uma das dificuldades era a variedade de tipos do material reciclado aleacutem da diferenccedila na composiccedilatildeo entre o polieacutester utilizado para uso tecircxtil e o das embalagens (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Por outro lado as fibras de polieacutester resultante da reciclagem do PET podem trazer outros problemas para a estabilidade do pro-duto final porque (1) satildeo produzidas por diferentes fabricantes e apresentando pequenas alteraccedilotildees de especificaccedilotildees na mateacuteria--prima ou aditivaccedilotildees diferentes (2) o PET fabricado em datas muito diferentes pode apresentar alteraccedilatildeo de desempenho dos aditivos pela diferenccedila de tempo (3) haacute viscosidades distintas decorrentes da exigecircncia da maacutequina ou embalagem (4) o PET eacute fabricado por equipamentos diferentes na produccedilatildeo das embalagens com grau de estiramento diverso e (5) haacute possibilidade da mistura do PET com outros tipos de materiais como os que compotildeem o roacutetulo eou a tampa geralmente produzidos em outros tipos de plaacutesticos Portanto a fibra de polieacutester reciclado 100 PET de boa qualidade eacute uma grande inovaccedilatildeo (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Em 2005 a ABIPET teve a iniciativa de recomendar aos designers atraveacutes de um documento intitulado ldquoDiretrizes para projeto de garra-fas de PETrdquo Com intuito de conscientizar o setor de embalagens sobre o tema esses profissionais tiveram acesso agraves caracteriacutesticas teacutecnicas das embalagens e de seus acessoacuterios Basicamente o objetivo da associa-ccedilatildeo era evitar o comprometimento da qualidade do polieacutester reciclado devido ao uso de materiais inadequados e de difiacutecil separaccedilatildeo O do-cumento foi amplamente divulgado pelas miacutedias especializadas em seminaacuterios e em visitas agraves empresas de embalagens (ABIPET 2006)

51 Destinaccedilatildeo da fibra Pet na induacutestria brasileiraSegundo ABIPET (2014) ainda continuam as dificuldades relativas agrave coleta seletiva poreacutem por outro lado haacute demanda por parte da induacutestria da utilizaccedilatildeo do PET reciclado e isso faz com que o desenvolvimento da atividade seja crescente O mercado tecircxtil continua sendo o principal destino de todo PET reciclado no Brasil esse setor consome aproximadamente 40 de todo o material produzido Em segundo lugar vecircm os setores de embalagens e o de aplicaccedilotildees quiacutemicas empatados com 18 do uso ldquoA induacutestria tecircxtil continua sendo a grande aposta Mas chama atenccedilatildeo o fan-taacutestico crescimento da utilizaccedilatildeo do PET reciclado na fabricaccedilatildeo de outras embalagens Chamada de bottle-to-bottle esta aplicaccedilatildeo teve vaacuterios projetos lanccedilados nos uacuteltimos anosrdquo (ABIPET 2014)

No setor tecircxtil o uso da fibra do PET reciclado teve iniacutecio no segmento corporativo especialmente na produccedilatildeo de uniformes para as empresas Com o avanccedilo tecnoloacutegico e a melhoria na qualidade e no toque da fibra as grandes marcas aderiram ao uso de tecidos que possuem na sua composiccedilatildeo a fibra reciclada PET Marcas conhecidas no mercado como Osklen Brooksfield Mizuno e Hering adotaram esse tipo de fibra pois perceberam o valor das propriedades do fio de polieacutester reciclado do PET Aleacutem disso estatildeo atentos ao nicho de mercado dos consumidores dispostos a adquirir produtos ecologicamente corretos (ABIPET 2014)

O fio de polieacutester reciclado quando associado ao algodatildeo atribui estabilidade dimensional ao tecido e dessa forma evita o encolhimento ou entorte aleacutem de melhorar a solidez na cor a resistecircncia e a durabilidade Esse tipo de fibra tambeacutem pode di-minuir a gramatura do tecido uma vez que fica mais fino e menos encorpado O resultado eacute um tecido com um toque mais suave indicado na produccedilatildeo da moda iacutentima Com base nisso a marca DrsquoUomo uma das maiores fabricantes de cuecas do Brasil lanccedilou uma coleccedilatildeo com uso tecidos com a fibra de PET (ABIPET 2014)

Outro mercado crescente eacute a induacutestria de calccedilados com a produccedilatildeo de diversos tipos de calccedilados com os tecidos reciclados do PET atraveacutes do lanccedilamento de coleccedilotildees sustentaacuteveis do setor A Figura 2 apresenta os percentuais de aplicaccedilatildeo das fibras PET na induacutestria brasileira

Figura 02 ndash Representaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo da fibra PET

Fonte Aacutegua e Vida ndash Revista oficial do setor de aacuteguas minerais9

Apesar da evoluccedilatildeo e crescimento da induacutestria no que tange ao aproveitamento do PET ainda continuam existindo grandes quantidades de garrafas descartadas na natureza poluindo centros urbanos aacutereas rurais florestas e boiando nos rios oceanos e praias Todo esse material poderia ser aproveitado pois existe carecircncia do PET para a reciclagem Em 2014 a taxa de ociosidade chegou a atingir 30 nas induacutestrias de reciclagem devido agrave carecircncia da coleta seletiva

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A necessidade de expandir a educaccedilatildeo ambiental eacute um dos temas mais importantes para promover a mudanccedila de haacutebitos da popula-ccedilatildeo e a mudanccedila de postura do poder puacuteblico (ABIPET 2014)

6 Consideraccedilotildees finaisO aproveitamento de produtos reciclaacuteveis em processos de produccedilatildeo identifica uma postura corporativa de responsabilidade ambiental o que faz parte das estrateacutegias aplicadas por empresas competitivas Conscientizando-se dos limites que o meio ambiente pode tolerar e com a sociedade cada vez mais atenta sabe-se que para continuar com o crescimento natildeo eacute mais admitida a degradaccedilatildeo Contudo eacute necessaacuterio continuar a fazer projetos para o futuro assim desenha-se o desenvolvimento sustentaacutevel Com tal percepccedilatildeo a induacutestria tecircxtil vem investindo fortemente na reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos que somam grande volume dentro das empresas Aleacutem disso o uso da fibra PET reciclada das embalagens do poacutes-consumo estaacute tendo um crescimento consideraacutevel por meio da composiccedilatildeo mista dos tecidos bem como na fabricaccedilatildeo de tecidos com a fibra de polieacutester totalmente reciclada

Para completar essa visatildeo estrateacutegica as grandes marcas de produ-tos tecircxteis estatildeo aderindo ao design inovador ligando a sua imagem de marca agrave responsabilidade ambiental e agrave sustentabilidade Para conhecer melhor esse processo de mudanccedilas que estatildeo ocorrendo na induacutestria tecircxtil e verificar os resultados na sociedade consumidora eacute necessaacuterio o aprofundamento dos estudos nessa linha

N o t a s

1 ndash PNUMA - Programa para o Meio Ambiente estabelecido em 1972 Eacute a agecircncia da ONU responsaacutevel pela accedilatildeo internacional e nacional para a proteccedilatildeo do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentaacutevel Disponiacutevel em httpsgooglY7iyuv Acesso em 16 ago 2017

2 ndash Sustainble Development Knowledge Platform Disponiacutevel em httpsgooglVdPRbi Acesso em 16 ago 2017

3 ndash Disponiacutevel em httpwdoorg Acesso em 15 jul 2017

4 ndash Disponiacutevel em httpsgoogloKbRt6 Acesso em 30 jul 2017

5 ndash Disponiacutevel em httpsgooglZQq3cH Acesso em 28 jun2014

6 ndash Disponiacutevel em httpsgooglLPiZrq Acesso em 23 jul 2017

7 ndash Disponiacutevel em httpsgoogl6cf8r5 Acesso em 23 jul 2017

8 ndash Disponiacutevel em httpsgooglnmoiP6 Acesso em 28 jun 2014

9 ndash Disponiacutevel em httpwwwrevistaaguaevidacombrp=610 Acesso em 15 jun 2016

R e f e r ecirc n c i a s

ABIPET (Associaccedilatildeo Brasileira da Industria do PET) Reciclagem benefiacutecios

da reciclagem de pet Disponiacutevel em lthttpwwwabipetorgbrindex

htmlgt Acesso em 22 jun 2014

ANICET R Anne BESSA Pedro BROEGA Ana Cristina Reciclagem de re-

siacuteduos da induacutestria da moda atraveacutes de colagem XXXIII Encontro da

ANPAD ndash Satildeo PauloSP ndash 19 a 23 de setembro de 2009 Disponiacutevel em

lthttpsgooglnwFtRkgt Acesso em 08 jun2014

CASSALLI J D Tratamento do efluente de uma recicladora de plaacutesticos uti-

lizando coagulante natildeo metaacutelico e compostagem Santa Maria UFRGS

2011 146 p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpsgooglKeiQTMgt

Acesso em 10 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS SLF TEOLOacuteSIO ASS Reciclagem do PET desafios e

possibilidades XXVI ENEGEP - Fortaleza CE Brasil 9 a 11 de Out 2006

Disponiacutevel em lthttpsgooglpoyjKtgt Acesso em 23 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF Haacute vida apoacutes a morte um (re)pensar estra-

teacutegico para o fim da vida das embalagens - GESTAtildeO amp PRODUCcedilAtildeOv13

ndeg3p463-474 set-dez2006 Disponiacutevel em ltwwwscielobrpdfgp

v13n308pdfgt Acesso em 22 jun 2014

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF GUIMARAtildeES Leandro F SANTOS Maria

CLdos As muitas vidas do pet integrando competecircncias ldquoverdesrdquo na

cadeia produtiva- SIMPOI POMS2007 ndash Proceedigns Disponiacutevel em

lthttpsgoogl7cfrXYgt Acesso em 08 jun 2014

KANAMARU Antocircnio T FARIAS ANA C IAMAMURA Patricia Materioteca

ecoloacutegica brasileira no ensino de moda arte e design tecircxtil Disponiacutevel

em lthttpsgooglS13mN1gt Acesso em 08 jun 2014

MANZINI Ezio VEZZOLI Carlo O desenvolvimento de produtos sustentaacuteveis

Os requisitos ambientais de produtos industriaisSatildeo Paulo EDUSP 2005

MAU Bruce Massive change London Phaidon 2004

MOHR Martina et al A relevacircncia do conceito de design orientado ao am-

biente em induacutestrias gauacutechas In 7ordm Congresso Brasileiro de Pesquisa

e Desenvolvimento em Design Paranaacute 2006

MORENO F N Tratamento de efluentes de uma induacutestria de reciclagem

de embalagens plaacutesticas de oacuteleos lubrificantes processo bioloacutegico e

fiacutesico-quiacutemico Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Estadual de

Campinas Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo

Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo de Engenharia Civil Campinas ndash SP

2007 142p 22 Disponiacutevel em repositoacuterio lthttpsgooglS3Bbxwgt

Acesso em 20 jul 2017

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 8 de 8

MOURA Renan Gomes LOPES Paloma de Lavor SILVA Leandro Vidal

da BALDEZ Priscila Pereira Logiacutestica reversa das garrafas pet sua re-

ciclagem e a reduccedilatildeo do impacto ambiental- XI Congresso Nacional

De Excelecircncia Em Gestatildeo 13 e 14 de agosto de 2015 Disponiacutevel em

lthttpsgooglzAKdpygt

MROZINSKI Helena Algodatildeo reciclado e variaccedilotildees implicaccedilotildees para o

design de moda sustentaacutevel Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Design do Centro Universitaacuterio Ritter dos Reis-

Mestre em Design Porto Alegre 2016

PAPANEK Victor Design for the real world human ecology and social change

Londres Thames amp Hudson 1984

REBELLO Luiza H B Design sustentaacutevel e moda material didaacutetico impresso

para a disciplina Design Sustentaacutevel e Moda curso de Poacutes-gradua-

ccedilatildeo em Design de Moda (Especializaccedilatildeo) Rio de Janeiro Faculdade

SENAICETIQT 2008

SACHS Ignacy Desenvolvimento sustentaacutevel desafio do seacuteculo XXI In

Ambient soc JulDez 2004 vol7 no2 ISSN 1414-753X

SILVA Jde A Estudo de caso caracterizaccedilatildeo do efluente de uma empresa

de reciclagem de garrafas pet e ajuste nas etapas de tratamento para

adequaccedilatildeo aos paracircmetros legais de lanccedilamento Uberaba-MG I F E C T

Do Triacircngulo Mineiro 2015 82p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttps

googlitPfYgt Acesso em 15 jun 2017

VEZZOLI Carlo Design de sistemas para a sustentabilidade teoria meacuteto-

dos e ferramentas para o design sustentaacutevel de ldquosistemas de satisfaccedilatildeordquo

Salvador EDUFBA 2010 343p

VEZZAacute Carlo Sartori Bonfim COTAIT Pedro Lde A Produccedilatildeo de fibras para

confecccedilatildeo de tecidos a partir da reciclagem de pet 2006 Disponiacutevel em

lthttpsgooglP7WkgBgt Acesso em10 jun 2017

VIEIRA ALEXANDRA S RABELLO Luiza HB A contribuiccedilatildeo do design

ldquoverderdquo um estudo de caso da empresa Woumlllner ndash Revista de Design

Inovaccedilatildeo e Gestatildeo Estrateacutegica REDIGE v 2 n 1 2011 Disponiacutevel em

ltwwwcetiqtsenaibrredigegt Acesso em 08 jun 2014

O ldquoentrelugarrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminaresThe ldquoin-betweenrdquo of genderfluid in fashion preliminary thoughts

Camila Carmona Dias e Cayan Santos Pietrobelli

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017ISSN 2177-4986

Paacutegina 1 de 10

R e s u m o

O presente artigo se fundamenta nos estudos que afirmam o gecircnero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para necessidade da

quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes impostos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Dessa forma partiu-se da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar passou-se pela teoria da reapropriaccedilatildeo e resistecircncia de Certeau (1994) para finalmente levantar uma hipoacutetese de que a resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998)

A b s t r a c t

This paper is based on studies that claim gender not as a determined biological factor but as a social construction Thus it indicates the need for breaking the gender binary pattern considering individuals who do not identify with the current genders imposed by the theory of biological sex that is they are genderfluid Therefore this research aims to analyze theoretically the relationship between genderfluid and fashion Hence it starts from the Foucauldian concept of disciplinary power going through Certeaursquos theory of reappropriation and resistance (1994) and finally raising the hypothesis that resistance based on cultural reappropriation may be connected to Bhabharsquos concept of in-between (1998)

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 26092017

Palavras-chaveModa Gecircnero fluido Entrelugar Resistecircncia

KeywordsFashion Genderefluid In-Between Resistance

Autores Bacharel em Moda Mestra em Educa-ccedilatildeo Doutoranda em Histoacuteria Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail camiladiaserechimifrsedubr

Graduaccedilatildeo em Design de Moda Poacutes-graduaccedilatildeo em Semioacutetica Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail cayanpietrobellilivecom

Como citar este artigoDIAS C C PIETRBELLI C S O ldquoentrelu-garrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminares Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoOs estudos trilhados nas relaccedilotildees entre moda e gecircnero natildeo satildeo novos Vaacuterios autores jaacute experimentaram dialogar sobre o assunto Atualmente essa temaacutetica estaacute sendo muito discutida seja na miacutedia ou na academia Assim o texto visa a trazer algumas con-tribuiccedilotildees sobre o tema aleacutem de instigar um debate inicial sobre a fluidez de gecircnero na moda

No decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com esse conceito existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos Na cultura patriarcal vigente haacute uma subdivisatildeo limitada entre masculinofeminino e homemmulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possi-bilidade de natildeo binariedade ou fluidez A moda eacute um dos fatores principais para a identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo do indiviacuteduo com seu gecircnero tendo em vista que por meio dela eacute dada a devida signifi-cacircncia ao corpo vestido alegando seu papel dentro de um grupo

Este trabalho se fundamenta nos estudos que afirmam o gecirc-nero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para a necessidade da quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes im-postos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo estudar o gecircnero fluido na moda ou melhor o entrelugar em que ele se encontra Para isso faz uso principalmente das teorias de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998)

Parafraseando o professor Meneses (2003 p11) a intenccedilatildeo da reflexatildeo do trabalho eacute tentar construir um ldquobalanccedilo provisoacuteriordquo e sugerir ldquopropostas cautelaresrdquo sobre tal tema Ou seja a reflexatildeo desenvolvida visa a possibilitar uma discussatildeo preliminar sobre as inuacutemeras interfaces que permeiam a temaacutetica aqui estudada

Assim para alcanccedilar seu objetivo teoacuterico o artigo eacute dividido em duas partes A primeira traz a moda como expressatildeo pessoal elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo aleacutem de um sistema de praacutetica cultural e de representaccedilatildeo Jaacute na segunda parte esboccedila-se a relaccedilatildeo entre moda e gecircnero e desenvolvem-se as concepccedilotildees de (i) gecircnero como construccedilatildeo cultural (ii) moda e gecircnero a relaccedilatildeo com o poder discipli-nador e com a insubmissatildeo do sujeito e finalmente (iii) o entrelugar como local de conflito negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees

2 Moda como ExpressatildeoNas uacuteltimas deacutecadas a importacircncia cultural do ldquofenocircmeno modardquo vem crescendo fruto de pesquisas em diversas aacutereas como Histoacuteria Socio-logia Antropologia Semioacutetica Psicologia entre outras Por meio desses estudos vaacuterios conceitos sobre essa temaacutetica foram elaborados

Souza (1996) relata que a maior dificuldade ao tratar de um assunto complexo como a moda eacute a escolha do ponto de vista Apesar de essa ser uma imposiccedilatildeo necessaacuteria de meacutetodo a visatildeo deste trabalho eacute de que se empobrece um fenocircmeno de tatildeo difiacutecil explicaccedilatildeo reduzindo tamanha complexidade a apenas uma visatildeo Dessa forma infere-se que um aspecto ex-tremamente relevante para a construccedilatildeo teoacuterica dos conceitos sobre moda eacute o seu caraacuteter ambiacuteguo

A moda eacute um todo harmonioso e mais ou menos indissoluacutevel Serve agrave

estrutura social acentuando a divisatildeo em classe reconcilia o conflito

entre o impulso individualizador de cada um de noacutes (necessidade de

afirmaccedilatildeo como pessoa) e o socializador (necessidade de afirmaccedilatildeo

como membro do grupo) exprime ideias e sentimentos pois eacute uma

linguagem que se traduz em termos artiacutesticos (SOUZA 1996 p29)

Destarte a moda envolve simultaneamente alteraccedilotildees de natureza artiacutestica econocircmica poliacutetica socioloacutegica aleacutem de atingir questotildees de expressatildeo de identidades sociais (GODART 2010) Logo pode-se dizer que a moda natildeo eacute apenas um reflexo da socie-dade mas sim um agente ativo na sua construccedilatildeo o que permite afirmar que a moda eacute um fato social total

Sobre as transformaccedilotildees abrangidas pela moda Freitas (2005) relata as incessantes modificaccedilotildees das preferecircncias dos mem-bros de uma sociedade natildeo se limitando apenas agrave indumentaacuteria Nas palavras do autor ldquona histoacuteria da humanidade o corpo foi recoberto de maneiras simultaneamente singulares e tribais de acordo com o tempo e o espaccedilo significando quase sempre os sentimentos da eacutepocardquo (FREITAS 2005 p126)

Segundo Svendsen (2010) a moda aplicada ao vestuaacuterio teve sua origem no fim do periacuteodo medieval O autor cita o iniacutecio do Renascimento e a expansatildeo mercantil como principais fatores para o surgimento de tal fenocircmeno de maneira que a origem da moda como sistema teve sua consolidaccedilatildeo com a ascensatildeo da burguesia

Nos seacuteculos XVII e XVIII a nobreza definia ndash de acordo com o coacutedigo social vigente ndash o que seria usado no vestuaacuterio criando assim tendecircncias de moda que seriam seguidamente copiadas pela alta burguesia (RECH 2002) Para Lipovetsky (2009) essa ex-pansatildeo da moda na sociedade natildeo atingiu de imediato todas as camadas segregando a princiacutepio as classes subalternas

A partir dessa nova organizaccedilatildeo social a moda foi legitima-da no seu real caraacuteter de mudanccedila Nessa perspectiva Freacutedeacuteric Godart (2010 p29) trabalha com a etimologia da palavra ldquomodardquo oriunda do latim modus ou seja o que designa maneiras de fazer Logo a moda estaacute diretamente relacionada com a possibilidade ou a necessidade de mudanccedilas

Paacutegina 2 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Em relaccedilatildeo agrave moda com a premissa de mudanccedilas Svendsen (2010 p22) justifica que ldquonatildeo podemos falar de moda na antiguida-de no sentido em que o fazemos hoje porque natildeo havia autonomia esteacutetica individual na escolha das roupasrdquo embora houvesse distin-ccedilotildees estabelecidas de acordo com as relaccedilotildees de poder Lipovetsky (2009) por sua vez afirma que para haver sistemas de moda a novidade e o gosto pelo novo satildeo princiacutepios constantes

Na concepccedilatildeo de Malcolm Barnard (2003 p149) ldquosoacute uma so-ciedade muito simples eacute que natildeo possui modardquo O autor infere que praticamente todas as sociedades tiveram possibilidades de possuir moda ou seja trata-se de ldquosociedades que usaram mu-danccedilas na indumentaacuteria para construir e comunicar identidades de classerdquo (BARNARD 2003 p150)

Durante longo periacuteodo a histoacuteria da moda foi regida pela hierarquia de classes baseada na distinccedilatildeo das vestimentas por meio de leis que proibiam membros da plebe de usarem roupas similares agraves dos nobres Entretanto Lipovetsky (2009) alega que no decorrer do tempo a moda adquiriu um caraacuteter individuali-zador mesmo com o prevalecimento de uma norma coletiva

Embora julgada como de caraacuteter tirano ldquoa moda estaacute fundada historicamente no valor e na reivindicaccedilatildeo da individualidaderdquo ou seja ela se legitima na singularidade Em seu niacutevel a moda marca uma brecha na supremacia imemorial e em paralelo marca tambeacutem o limite do processo de dominaccedilatildeo social e poliacutetica nas sociedades modernas (LIPOVETSKY 2009 p53)

Na mesma linha Pitombo (2010) afirma que a moda e a in-dumentaacuteria satildeo alguns dos possiacuteveis meios pelos quais a ordem social eacute posta em praacutetica Atraveacutes da indumentaacuteria e da moda podemos nos constituir e consequentemente nos afirmar como seres sociais Dessa maneira a moda foi tomando cada vez mais um caraacuteter individual e identitaacuterio

Svendsen (2010) teoriza que a moda trabalha num sistema de valores simboacutelicos Logo o olhar de um sujeito sobre uma determinada roupa resultaraacute numa conclusatildeo sobre quem a veste portanto infere-se que nesse contexto o siacutembolo (roupa) adquire representaccedilatildeo (a conclusatildeo do sujeito) Para o filoacutesofo as roupas da moda aleacutem de possuiacuterem grande valor simboacutelico agem como distintivos de papeacuteis sociais

Diante de tais pressupostos relatados na obra de Svendsen (2010) mesmo que diferentes tipos de roupas comuniquem um significado supostamente oacutebvio para um determinado grupo capaz de interpretar os coacutedigos representados natildeo se pode afir-mar que esses coacutedigos comunicaratildeo o mesmo significado para diferentes grupos sociais visto que cada grupo tem uma maneira de significar seus objetos

Essas preferecircncias simboacutelicas de um determinado grupo satildeo definidas por Pierre Bourdieu (1983 p83-84) como estilo de vida cuja anaacutelise eacute essencial no campo da moda Segundo o autor o gosto eacute cultivado pelo adestramento social

O estilo de vida eacute um conjunto unitaacuterio de preferecircncias distintivas que

exprimem na loacutegica especiacutefica de cada um dos subespaccedilos simboacutelicos

mobiacutelia vestimentas linguagem ou hexis corporal a mesma intenccedilatildeo

expressiva princiacutepio de unidade de estilo que se entrega diretamente

agrave intuiccedilatildeo e que a anaacutelise destroacutei ao recortaacute-lo em universos separados

Tal acepccedilatildeo permite compreender a moda como expressatildeo cultural como um conjunto de princiacutepios que geram e organizam praacuteticas e representaccedilotildees Como relata Pitombo (2010) a moda eacute um sistema de significaccedilatildeo da cultura Para reiterar sua explanaccedilatildeo a autora com o objetivo de pensar a moda como expressatildeo cultural apropria-se do conceito de habitus de Pierre Bourdieu Para o au-tor habitus eacute um ldquosistema de disposiccedilotildees socialmente constituiacutedas que enquanto estruturas estruturadas e estruturantes constituem o princiacutepio gerador e unificador do conjunto das praacuteticas e das ideologias caracteriacutesticas de um grupo de agentesrdquo (BOURDIEU 2007 p191) O habitus pode ser visto como uma siacutentese dos estilos de vida e dos gostos pelos quais apreciamos o mundo e nos com-portamos nele (BOURDIEU 2007) Pode-se dizer que tal conceito fundamenta-se na ldquomaterializaccedilatildeo da memoacuteria coletiva que repro-duz para os sucessores as aquisiccedilotildees dos precursores Ele permite ao grupo perseverar em seu serrdquo (PITOMBO 2010 p240) Eacute tambeacutem incorporaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em seu sentido proacuteprio

Diante do entendimento da moda contemporacircnea como expressatildeo pessoal e elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo assim como da real significaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria como sistema de praacutetica cultural e representaccedilatildeo pode-se estabelecer relaccedilotildees paralelas entre a moda e o gecircnero consideradas o foco principal do presente estudo Visto que a moda vigente frente ao contexto sociocultural eacute produzida para os sexos ndash masculino e feminino faz-se necessaacuteria portanto a compreensatildeo da possiacutevel relaccedilatildeo entre moda e gecircnero

3 Moda e Gecircnero algumas conexotildees possiacuteveisA moda eacute um fenocircmeno que conteacutem possibilidades de diferencia-ccedilatildeo ou unidade assumindo caraacuteter distintivo quando relacionada a papeacuteis sociais e de representaccedilatildeo quando apresentada como siacutembolo Assim pode-se afirmar que ela eacute um elemento crucial na representaccedilatildeo social e afirmaccedilatildeo do gecircnero

Jaacute o gecircnero eacute uma instituiccedilatildeo simboacutelica erroneamente associado a normas bioloacutegicas Levando em conta a premissa do gecircnero como construccedilatildeo social e natildeo como um atributo

Paacutegina 3 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

fisioloacutegico alguns objetos satildeo necessaacuterios para sua significaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo no meio social incluindo o vestuaacuterio

Diante desse contexto este estudo buscaraacute estabelecer rela-ccedilotildees e dialogar com as teorias existentes da influecircncia da moda sobre o gecircnero sendo a moda ndash tanto no sentido de mudanccedilas quanto no de sistemas ndash o elemento de representaccedilatildeo dos gecircne-ros em questatildeo Assim inicialmente o texto abordaraacute o conceito de gecircnero e logo em seguida estabeleceraacute a devida relaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria com o gecircnero

4 Gecircnero uma construccedilatildeo culturalNo decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com as teorias sobre o sexo bioloacutegico de cada indiviacuteduo existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos por cada um Na cultura patriarcal vigente existe uma subdivisatildeo limitada entre o homem e a mulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possibilidade de natildeo binariedade ou fluidez

As teorias do patriarcado levantam breve questionamento sobre as diferenccedilas entre homens e mulheres de vaacuterios modos no entan-to essas mesmas teorias desconsideram as diferenccedilas de gecircnero e sua relaccedilatildeo com as demais desigualdades As definiccedilotildees de gecircnero de acordo com a teoria patriarcal satildeo estabelecidas com base nas diferenccedilas fiacutesicas gerando problemaacuteticas a historiadores(as) ten-do em vista que desconsideram toda a construccedilatildeo sociocultural tirando toda a historicidade do gecircnero em si (SCOTT 1989)

Para desmistificar o conceito de gecircnero como algo bioloacutegico eacute ne-cessaacuterio antes de tudo elucidar alguns termos usados erroneamente ou de maneira confusa tendo em vista que o estudo dos gecircneros eacute algo a que nem todos tecircm acesso Dessa forma a seguir encontra-se uma breve explicaccedilatildeo sobre as diferenccedilas entre identidade de gecircnero expressotildees de gecircnero sexo bioloacutegico e orientaccedilatildeo sexual

Eacute na identidade de gecircnero que se encontra a ldquoessecircnciardquo do ser humano o que eacute ou com o que se identifica de fato (homem mulher ou gecircnero natildeo binaacuterio) Joan Scott (1989) sugere que o gecircnero parece integrar-se na terminologia cientiacutefica das ci-ecircncias sociais deixando assim de ser um campo das ciecircncias bioloacutegicas Segundo as nomenclaturas usadas nos estudos de gecircnero quem natildeo se identifica com o sexo bioloacutegico com o qual nasceu eacute considerado transgecircnero os demais cisgecircneros Dessa forma a identidade de gecircnero estaacute relacionada agrave auto-percepccedilatildeo e agrave expressatildeo social

Scott (1989) afirma que as ideias construiacutedas de masculini-dade e feminilidade natildeo satildeo fixas tendo em vista suas variaccedilotildees

de acordo com o contexto em que estatildeo inseridas Logo haveraacute um conflito entre a necessidade do sujeito de uma aparecircncia de completude e a imprecisatildeo da nomenclatura a relatividade da sua significaccedilatildeo e sua dependecircncia em relaccedilatildeo agrave repressatildeo ldquoEssas interpretaccedilotildees tornam problemaacuteticas as categorias lsquoho-memrsquo e lsquomulherrsquo sugerindo que a construccedilatildeo do masculino e do feminino eacute algo subjetivo e natildeo uma caracteriacutestica inseparaacutevelrdquo (SCOTT 1989 p16)

Conforme Judith Butler (2003 p25) ldquoo gecircnero natildeo deve ser meramente concebido como a inscriccedilatildeo cultural de significado num sexo previamente dado (uma concepccedilatildeo juriacutedica) tem de designar tambeacutem o aparato mesmo de produccedilatildeo mediante o qual os proacuteprios sexos satildeo estabelecidosrdquo

Souza e Carrieri (2010 p49) em seu artigo ldquoA analiacutetica Queer e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnerordquo enfatizam ldquonatildeo apenas que masculino e feminino satildeo construiacutedos por rela-ccedilotildees de poder historicamente fundamentadas mas tambeacutem que essas categorias natildeo satildeo naturais e nem existem a priorirdquo Ainda reiteram que a naturalizaccedilatildeo do modelo binaacuterio e identitaacuterio eacute uma estrateacutegia que permite a manutenccedilatildeo de velhas praacuteticas de controle e poder

Outro conceito eacute o de atraccedilatildeo ou orientaccedilatildeo sexual e embo-ra haja uma vasta gama de definiccedilotildees literaacuterias sobre o tema o termo se refere mais comumente agraves relaccedilotildees sexuais e afetivas dos indiviacuteduos ldquoHeterossexuais bissexuais ou homossexuais satildeo titulaccedilotildees usadas para definiccedilatildeo das diversas sexualidades es-tando possivelmente determinados por aspectos interpessoais intrapsiacutequicos e sociaisrdquo (CARDOSO 2008 p73)

Segundo Foucault (1988 p100) o conceito de sexualidade conhecido historicamente surgiu como meacutetodo de avaliaccedilatildeoseparaccedilatildeo da ldquonormalidaderdquo e da ldquoanormalidaderdquo tendo em vista que na visatildeo do filoacutesofo a sexualidade representa um ldquodispositivo histoacutericordquo ou seja natildeo uma realidade natural mas sim produtos de estimulaccedilotildees dos corpos e dos prazeres a fomentaccedilatildeo aos discursos e a construccedilatildeo do conhecimento encadeados como estrateacutegias de saber e poder

Jaacute o conceito de expressatildeo de gecircnero refere-se a como cada um age diante dos papeacuteis sociais e regras de comportamento impos-tas sendo entatildeo socialmente chamadas de femininas masculinas ou androacuteginas (no caso dos termos natildeo pejorativos) De acordo com Peres (2011) os corpos ainda atuam afirmando posiccedilotildees de identidades estabelecidas pelos sexos (machofecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculinofeminino) responsaacuteveis pela normatizaccedilatildeo de expressotildees de gecircneros

Paacutegina 4 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sobre os corpos ainda se incidem outras dimensotildees de padrotildees esteacuteti-

cos de maneirismos e de posiccedilotildees de corpos (posiccedilotildees de identidades)

que satildeo estabelecidas pelas diferenccedilas entre os sexos (homemmacho

ndash mulherfecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculino ndash femini-

no) responsaacuteveis pela cristalizaccedilatildeo de algumas identidades sexuais e

expressatildeo de gecircneros que satildeo produzidas pelos modos de subjetivaccedilatildeo

normatizador que se colocam como modelos de perfeiccedilatildeo sauacutede e

verdade absoluta se achando no direito de se sentirem superiores

diante das expressotildees diferentes da heteronorma (PERES 2011 p71)

Por fim temos o sexo bioloacutegico que eacute algo totalmente ge-neacutetico hormonal e se refere aos oacutergatildeos genitais como se o ser humano fosse qualquer outro animal sendo entatildeo fecircmea macho ou intersex ndash chamado anteriormente de hermafrodita e considerado por muito tempo como uma anomalia geneacutetica Conforme Swain (2011) o sexo eacute uma parte do corpo na qual a importacircncia e a representaccedilatildeo se definem pelo seu papel histoacuteri-co-cultural Complementa a autora reafirmando o sexo bioloacutegico como fator natildeo definitivo em relaccedilatildeo ao gecircnero e ligando-o a questotildees de verdade e poder que investidos de sentidos fa-zem do sexo nada mais do que uma parte do corpo humano que adquire significado atraveacutes de sua historicidade Logo sua representaccedilatildeo substitui a realidade bioloacutegica

De acordo com Simili (2012 p123) ldquodiferenccedilas bioloacutegicas entre indiviacuteduos sempre foram contextualizadas como insiacutegnias socioculturais para a significaccedilatildeo de papeacuteis sociais construiacutedos para serem desempenhados por uns ou outrosrdquo Destarte po-de-se definir gecircnero como uma imposiccedilatildeo social e cultural uma construccedilatildeo simboacutelica

Para Guacira Lopes Louro (2013 p11) ldquonatildeo haacute naturalidade nesse terreno de estudo de gecircnerordquo tratado inicialmente pelos processos de percepccedilatildeo do corpo ou da natureza Atraveacutes da vivecircncia dos processos socioculturais define-se o que eacute ou o que natildeo eacute natural ressignificando o contexto bioloacutegico inserindo sen-tido social nos corpos e compondo identidades A significaccedilatildeo dos gecircneros nos corpos (feminino e masculino) eacute afirmada com base no contexto de uma determinada cultura carregando portanto suas marcas (LOURO 2013 p11)

Por meio das questotildees teoacutericas trabalhadas anteriormente e ancorando-se em uma construccedilatildeo sociocultural do gecircnero este trabalho visa agrave desconstruccedilatildeo dos conceitos de gecircnero como fator bioloacutegico ou obrigaccedilatildeo agrave binariedade arraigados na sociedade ocidental Assim esta pesquisa fomenta as dis-cussotildees de gecircnero de suas diversas formas buscando a re-presentaccedilatildeo do corpo como objeto que adquire significacircncia de acordo com questotildees socioculturais transparecidos mais facilmente pelo ldquofenocircmeno modardquo

5 Moda e gecircnero poder disciplinador e insubmissatildeo do sujeitoO corpo humano eacute considerado objeto da moda logo o sistema de moda se torna elemento de representaccedilatildeo tornando possiacutevel a afirmaccedilatildeo e a significacircncia do gecircnero no contexto social Apro-priando-se dos conceitos de representaccedilatildeo de Chartier (1991) que afirma a negatividade da existecircncia de praacutetica ou estrutura que natildeo seja produzida pelas representaccedilotildees pode-se afirmar que as praacuteticas de se vestir satildeo atos de apropriaccedilatildeo e de circulaccedilatildeo das representaccedilotildees de moda e eacute atraveacutes da representaccedilatildeo que o indiviacuteduo legitima a sua existecircncia afirmando sua identidade

Crane (2006 p47) considera que ldquoas roupas da moda satildeo usa-das para fazer uma declaraccedilatildeo de suas identidades sociais mas suas mensagens principais referem-se as [sic] maneiras pelas quais mulheres e homens consideram seus papeacuteis de gecircnero ou a como se esperam [sic] que percebamrdquo

Narrando influecircncias da moda e do vestuaacuterio e sua relaccedilatildeo com o gecircnero Gilles Lipovetsky traccedila uma linha do tempo em seus es-tudos e afirma que o modo de vestir comeccedilou a ter grande desse-melhanccedila para homens e mulheres somente a partir do seacuteculo XIV quando o traje feminino passou a ser longo e justo e o masculino curto e ajustado O autor destaca esse acontecimento como uma ldquorevoluccedilatildeo do vestuaacuterio que lanccedilou as bases do trajar modernordquo (LIPOVETSKY 2009 p29) Essa diferenciaccedilatildeo significativa no traje acentuou o formato dos corpos para que afirmassem seus atributos de masculinidade ou feminilidade O autor define essas mudanccedilas como uma consequecircncia do que chama de ldquoesteacutetica da seduccedilatildeordquo pois o vestuaacuterio passa a ter poder de ldquoexibir os encantos do corpo acentuando a diferenccedila dos sexosrdquo (LIPOVETSKY 2009 p75)

O vestuaacuterio masculino passou a aderir ao uso do gibatildeo uma espeacute-cie de jaqueta curta e estreita e calccedilotildees colantes torneando as pernas Sobre a genitaacutelia era usado o codpiece chamado em portuguecircs de ldquoporta-pecircnisrdquo que cobria e adornava o oacutergatildeo genital masculino afir-mando a significaccedilatildeo de masculinidade e evidenciando a virilidade Esse adereccedilo era ostentado como um instrumento de poder reiterando a teoria de Lipovetsky (2009) da moda como elemento de seduccedilatildeo escondendo ou evidenciando os atrativos sexuais e o erotismo

A evidenciaccedilatildeo do genital masculino como siacutembolo de poder pode vir a fazer sentido atraveacutes de escritos do socioacutelogo Pierre Bourdieu (1999 p24) quando afirma que as diferenccedilas visiacuteveis entre os oacutergatildeos genitais masculino e feminino satildeo uma construccedilatildeo social e que encontram sua regra nos ldquoprinciacutepios de divisatildeo da razatildeo androcecircntricardquo O autor ainda afirma que esses constructos baseados nas diferenccedilas genitais condensam duas operaccedilotildees ldquolegitima[m] uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo inscrevendo-a em uma natureza bioloacutegica que eacute por sua vez ela proacutepria uma construccedilatildeo social naturalizadardquo (BOURDIEU 1999 p33)

Paacutegina 5 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Nessa explosatildeo de mudanccedilas e diferenciaccedilotildees de gecircnero a moda feminina surge com uma nova silhueta modelada em menccedilatildeo ao ventre ndash afirmando o signo de fertilidade da mulher Lipovetsky (2009) afirma que o busto passou a ser evidenciado pelo decote destacando os atributos femininos e o corpo foi alongado atraveacutes de uma cauda Um pouco mais tarde essa composiccedilatildeo re-ceberia o espartilho que imperou sobre a moda feminina durante quatro seacuteculos com a funccedilatildeo de afinar a cintura e erguer o colo

A respeito da indumentaacuteria feminina a socioacuteloga Diana Crane (2006) complementa mencionando o fato de as roupas das mu-lheres funcionarem como ferramentas de controle social na me-dida em que exemplificavam a concepccedilatildeo dominante e restritiva dos papeacuteis femininos evidenciando a submissatildeo das mulheres aos maridos Embora esse seja um aspecto prevalecente a autora frisa em seu estudo o seacuteculo XIX como periacuteodo em especial

Lipovetsky (2009) descreve o moralismo cristatildeo ocidental na era feudal e o modo como tratavam as frivolidades sendo um signo do pecado e do orgulho Entretanto no decorrer do seacuteculo XVIII a moda se tornou mais hedonista abandonando ordens religiosas e morais mais rigorosas de comportamento A moda se tornou assim uma exigecircncia de massa em uma sociedade que passava a priorizar os prazeres as mudanccedilas e o novo

ldquoFoi ao longo da segunda metade do seacuteculo XIX que a moda no sentido do termo instalou-serdquo (LIPOVETSKY 2009 p79) com a busca constante pelas mudanccedilas e o abandono das frivolida-des como signo de pecado ndash determinado pelo cristianismo Os reflexos do antropocentrismo consolidaram a moda trazendo um caraacuteter hedonista e individual Nesse periacuteodo inicia-se a segunda1 fase do fenocircmeno moda a Moda dos Cem Anos

A Moda dos Cem Anos estaacute ligada ao nascimento da alta-cos-tura em 1850 e tem na Europa a sua consagraccedilatildeo com criaccedilotildees de luxo e sob medida Essa fase tem seu fim em 1950 pois na deacute-cada seguinte surge a Moda Aberta que Lipovetsky (2009 p123) chama de ldquorevoluccedilatildeo democraacutetica do precirct-agrave-porterrdquo uma moda que segundo o autor permite a expressatildeo da personalidade do indiviacuteduo sendo o iniacutecio de uma democratizaccedilatildeo da moda A di-versidade da Moda Aberta gera novas vertentes e tendecircncias para o mercado da moda saindo da premissa de uma moda vigente para o acontecimento de vaacuterias modas paralelamente

No entanto para Mendes e Haye (2003) o precirct-agrave-porter eacute um sistema totalmente padronizado pela induacutestria deslegitimando o caraacuteter democraacutetico ao qual se refere Lipovetsky Nessa mes-ma corrente de pensamento encontra-se a filoacutesofa Martha Nus-sbaum que se opotildee agrave ideia democraacutetica da moda e afirma que esse sistema cria ao inveacutes de pessoas autocircnomas escravos da moda (NUSSBAUM 1995 apud SVENDSEN 2010)

O caraacuteter democraacutetico da moda cunhado por Lipovetsky (2009) parece natildeo ser de todo democraacutetico quando se entra na questatildeo de gecircnero Mesmo com o advento do sportwear que de acordo com o autor uniu as diferenccedilas entre os gecircneros em um uacutenico traje a questatildeo da dicotomia de gecircnero estaacute presente por meio da moda segmentada A teoria apresentada afirma que embora mulheres passassem a fazer uso de signos de moda mas-culina as peccedilas natildeo surtiriam o mesmo efeito posto que o sistema adequaria a peccedila para desenhar a silhueta feminina juntando isso a cores leves e alegres aderindo assim signo de feminilidade Diante da pauta do uso das cores para legitimaccedilatildeo do gecircnero cabe o cunho de Xavier Filha (2012 p635)

A afirmaccedilatildeo de que a menina tem de usar rosa e o menino azul ex-

trapola a questatildeo ligada ao gosto pessoal por cores Essa questatildeo eacute

eminentemente social pois se aprende desde muito cedo e no de-

correr da vida que essas cores identificam os meninos e as meninas

Essas cores produzem marcas identitaacuterias natildeo permitindo pensar em

outras formas de se fazer homem e de se fazer mulher Ao contraacuterio

demarcam a uacutenica forma legiacutetima de ser masculino e de ser feminino

Quando se trata de moda masculina eacute frisada a construccedilatildeo da imagem do homem associada agrave virilidade ldquoAdotar um siacutembolo de vestuaacuterio feminino seria transgredir no parecer o que faz a identida-de viril modernardquo (LIPOVETSKY 2009 p155) Dessa forma pode-se inferir que a moda da modernidade rompeu algumas diferenccedilas de classes mas a distinccedilatildeo entre o vestuaacuterio masculino e feminino ainda se encontra arraigada no fator cultural baseado na binariedade

Percebe-se que essa diferenccedila (binariedade) de trajes em re-laccedilatildeo ao gecircnero pode ser considerada como um instrumento de contenccedilatildeo do sujeito Michel Foucault por meio de uma seacuterie de estudos produziu uma espeacutecie de ldquogenealogia do sujeito mo-dernordquo O filoacutesofo e historiador francecircs destaca um novo tipo de poder o poder disciplinar Esse poder estaacute preocupado com a vigilacircncia e a regulaccedilatildeo em primeiro lugar de populaccedilotildees inteiras e em segundo com o indiviacuteduo e o corpo Desse modo Foucault trabalha com os sistemas de poder e de contenccedilotildees sociais oci-dentais referindo-se a penitenciaacuterias quarteacuteis hospitais escolas a famiacutelia e assim por diante como os elementos contensores na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Ou seja satildeo mecanismos de subjetivaccedilatildeo do indiviacuteduo Soacute por esses processos ele se torna sujeito O objetivo baacutesico do poder reside em construir um ser humano doacutecil ldquoEacute doacutecil um corpo que pode ser submetido que pode ser utilizado que pode ser transformado e aperfeiccediloadordquo (FOUCAULT 2004 p126)

Esse poder coercitivo se aplica agrave sociedade de diferentes modos de formas muacuteltiplas atraveacutes ldquode origens diferentes de localizaccedilotildees esparsas que se recordam se repelem ou se imitam

Paacutegina 6 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

apoiam-se uns sobre os outros distinguem-se segundo seu cam-po de aplicaccedilatildeo entram em convergecircncia e esboccedilam aos poucos a fachada de um meacutetodo geralrdquo (FOUCAULT 2004 p127)

Dessa forma a disciplina age de diferentes maneiras como por exemplo nos pequenos detalhes do dia a dia como o simples caminhar com determinada roupa Frente a isso a vestimenta tambeacutem pode ser vista como objeto de contensatildeo do indiviacuteduo natildeo para o proacuteprio mas sim diante do receptor2 diante do olhar doutrinado e reprodutor de doutrinaccedilatildeo da sociedade ou seja atraveacutes do ldquoolhar esmiuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo (FOUCAULT 2004 p121) Essa afirmativa ganha forccedila principalmente quando se leva em consideraccedilatildeo a afirmativa de Foucault ao narrar que atraveacutes do olhar se estabelecem efeitos de poder

No que tange agrave modelagem dos corpos a teacutecnica da disci-plina visa agrave criaccedilatildeo de ldquonatildeo apenas corpos padronizados mas tambeacutem [de] subjetividades controladasrdquo (MISKOLCI 2006 p682) Ou seja eacute possiacutevel afirmar que por meio do ldquoolhar es-miuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo sobre a vestimenta haacute uma reiteraccedilatildeo da binariedade femininomasculino e a exclusatildeo de possibili-dades de fluidez de gecircnero

O traje vem reafirmando historicamente os siacutembolos de mas-culinidade ou feminilidade perante os olhares receptores logo a roupa atua como um contensor ou mesmo um elemento opressor visto que a vestimenta da moda eacute voltada para a representaccedilatildeo de signos binaacuterios

Entretanto se eacute verdade que por toda parte se estende esse ldquopoder disciplinarrdquo abordado por Foucault ldquomais urgente ainda eacute descobrir como eacute que uma sociedade inteira natildeo se reduz a elardquo (CERTEAU 1994 p41) Trazendo essa ideia para o nosso objeto de estudo natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Acredita-se que existem procedimentos po-pulares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Michel de Certeau (1994) assevera que o sujeito natildeo eacute pas-sivo diante dos acontecimentos mas sim um produtor ativo de conhecimento que sintetiza e trabalha com as informaccedilotildees que recebe produzindo algo novo Dessa forma o sujeito produtor ativo sintetiza as informaccedilotildees recebidas no seu proacuteprio meio Certeau ao dialogar com teorias foucaultianas3 referentes a formas de contensatildeo fala sobre a insubmissatildeo do sujeito ndash natildeo passivo ndash diante da ordem vigente e conclui que um ato de renovaccedilatildeo ou inovaccedilatildeo pode ser considerado rebeldia ou seja um ato de resistecircncia

Assim Certeau (1994) traz o conceito do sujeito insubmisso o sujeito que sintetiza que foge da ordem que aproveita a ausecircncia do olhar pan-oacuteptico para lhe impingir golpes isto eacute que se utiliza de taacuteticas e estrateacutegias para resistir e reapropriar alguns conceitos da ordem disciplinadora

Retomando essa teoria em aplicaccedilatildeo agrave moda e ao gecircnero pode-se supor que a resistecircncia e a reapropriaccedilatildeo do sujeito insub-misso poderiam se encontrar na designaccedilatildeo do gecircnero fluido Os sujeitos que o incorporam utilizam taacuteticas4 para a modificaccedilatildeo das sentenccedilas da cultura binaacuteria patriarcal dos gecircneros subvertendo as imposiccedilotildees sociais vigentes do feminino e masculino

Antes de dar continuidade agraves reflexotildees faz-se necessaacuterio um breve esclarecimento acerca da escolha da expressatildeo ldquogecircnero flui-dordquo o que seraacute feito a seguir precedendo algumas consideraccedilotildees sobre o conceito de ldquoentrelugarrdquo de Bhabha (1998)

6 A escolha do gecircnero fluido um pequeno parecircntese na reflexatildeoAntes de continuar as reflexotildees eacute importante abrir um parecircntese para delimitar que esta pesquisa escolheu a utilizaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquogecircnero fluidordquo porque tal conceito expressa uma espontaneidade uma natildeo binariedade (masculinofeminino) uma facilidade de expressatildeo do sujeito em relaccedilatildeo ao gecircnero ou seja a facilidade de fluir entre dois ou mais gecircneros Ainda eacute de fundamental importacircncia deixar claro que o presente artigo natildeo considera ldquogecircnero fluidordquo sinocircnimo de ldquogecircnero neutrordquo5 pois este uacuteltimo ldquonatildeo eacute apenas inanimado de dis-curso mas atua no limite de aceitaccedilatildeo ndash sujeitando toda e qualquer outra forma de manifestaccedilatildeo menos normativardquo (KELLER 2016 p131)

Para Chartier (2002) natildeo existe neutralidade nos discursos de representaccedilatildeo inclusive nas representaccedilotildees sobre construccedilotildees de identidades de gecircnero Barthes (2002) classifica ldquoneutrordquo como uma categoria geral e interdisciplinar originalmente induzida do gecircnero gramatical neutro ndash nem feminino nem masculino Ele demonstra a relaccedilatildeo significativa entre a postura neutra em contradiccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo dos sexos Dessa forma acredita-se que a neutralidade leva o discurso a cair em uma vala de silecircncio recusando ser parte de um conflito

Posto isso considera-se que a escolha do gecircnero fluido foi apro-priada para o desenvolvimento do trabalho pois conforme se veraacute a seguir tal gecircnero se encontra no entrelugar entre a moda feminina e a moda masculina um espaccedilo extremamente conflituoso

7 O entrelugar local de conflito negociaccedilotildees e reapropriaccedilotildeesPara construir a reflexatildeo sobre o entrelugar do gecircnero fluido na moda seratildeo utilizadas as concepccedilotildees de Homi K Bhabha (1998) expressas em seu livro O local da cultura

Paacutegina 7 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Bhabha eacute um homem marcado por uma dupla inscriccedilatildeo cultural indiana e britacircnica podendo ser caracterizado ao mesmo tempo como plural e hiacutebrido Em suas reflexotildees sobre o discurso colonial ele propotildee uma loacutegica para aleacutem do binarismo (ou india-no ou britacircnico) e para aleacutem da oposiccedilatildeo sujeitoobjeto Dessa forma o autor amalgamando sua vida e obra constroacutei suas refle-xotildees a partir da constituiccedilatildeo de sujeitos culturais hiacutebridos Aleacutem disso para Bhabha (1998) falar sobre cultura significa construir uma reflexatildeo que supere a oposiccedilatildeo sujeitocultura

Marcado por muacuteltiplas interpretaccedilotildees o conceito de entrelu-gar construiacutedo pelo autor torna-se particularmente fecundo para reconfigurar os limites difusos de uma multiplicidade de vertentes culturais que circulam na contemporaneidade e ultrapassam fron-teiras como eacute o caso da binariedade entre masculino e feminino representados pela imagem de moda A moda sempre esteve impregnada de representaccedilotildees de gecircnero impondo qual o corpo ideal e a melhor forma de se vestir para cada sexo Entretanto uma vez que esse corpo aparece cada vez mais fluido observa-se uma nova representaccedilatildeo que natildeo se encaixa na definiccedilatildeo binaacuteria de identidade de gecircnero

Destarte na contemporaneidade o gecircnero fluido vem ga-nhando destaque nas inspiraccedilotildees de coleccedilotildees de moda bem como nos tipos de beleza que vecircm se destacando no cenaacuterio da moda mundial e torna-se cada vez mais comum pois rompe com padrotildees preestabelecidos e homogecircneos Desse modo supotildee-se que o gecircnero fluido esse sujeito insubmisso conforme apropria-ccedilatildeo da teoria de Certeau (1994) estaacute no entrelugar na fronteira entre o binarismo da moda feminina e da moda masculina um lugar extremamente conflituoso

Para forccedilar a loacutegica binaacuteria a se inscrever em um outro espaccedilo de significaccedilatildeo que natildeo o entrelugar em que estaacute inserido o gecircne-ro fluido Bhabha (1998) apresenta a categoria de negociaccedilatildeo Tal conceito vem ocupar o lugar da negaccedilatildeo da dialeacutetica hegeliana ou seja os elementos antagocircnicos ou contraditoacuterios se articulam natildeo existindo mais uma superaccedilatildeo como propotildee tal dialeacutetica ldquoAssim cada negociaccedilatildeo eacute um processo de traduccedilatildeo e transferecircncia de sentido ndash cada objetivo eacute construiacutedo sobre o traccedilo daquela pers-pectiva que ele rasurardquo (BHABHA 1998 p53) Essa negociaccedilatildeo de instacircncias contraditoacuterias cria espaccedilos de luta hiacutebridos nos quais polaridades positivas ou negativas ainda que relativas natildeo se jus-tificam A categoria do hibridismo vem agrave tona pois

[] o momento hiacutebrido tem um valor transformacional de mudanccedila

que reside na rearticulaccedilatildeo ou traduccedilatildeo de elementos que natildeo satildeo

nem o Um (a classe trabalhadora como unidade) nem o Outro (as po-

liacuteticas de gecircnero) mas algo mais que contesta os termos e territoacuterios

de ambos (BHABHA 1998 p55)

Dessa forma natildeo eacute possiacutevel pensar em sentidos fixos primor-diais que reflitam objetos poliacuteticos unitaacuterios e homogecircneos E eacute justamente o que o gecircnero fluido na moda representa Ele estaacute no entrelugar dos conflitos do hibridismo do heterogecircneo da negociaccedilatildeo com o binarismo de gecircnero (femininomasculino) Esse entrelugar ocupado pelo gecircnero fluido na moda eacute um local intersticial ldquoO interstiacutecio vem como uma passagem um movimen-to presente de transformaccedilatildeo ou transposiccedilatildeo onde uma coisa natildeo eacute mais ela mesma mas natildeo totalmente outrardquo (LOSSO 2010)

Assim o entrelugar do gecircnero fluido na moda eacute sim um lugar de conflitos de negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees um espa-ccedilo de identidades de gecircnero fluidas que derivam de construccedilotildees sociais e se apresentam como muacuteltiplas Logo seria possiacutevel supor que no entrelugar existem a negociaccedilatildeo ndash conceito moldado por Bhabha (1998) ndash e a resistecircncia no sentido de reapropriaccedilatildeo ndash relatada por Certeau (1994) ndash em que o sujeito produtor ativo de conhecimento se reapropria dos fragmentos da binariedade de gecircnero e os sintetiza ou seja o sujeito eacute um bricoleur (CERTEAU 1994) Ou ainda a subversatildeo conceito construiacutedo por Butler (2003) segundo o qual o sujeito pode subverter a binariedade de gecircnero por suas praacuteticas corporais

8 Consideraccedilotildees FinaisAo longo da histoacuteria a moda sempre ditou padrotildees esteacuteticos e de beleza baseados no padratildeo binaacuterio de gecircnero (feminino e mascu-lino) Entretanto na contemporaneidade essa concepccedilatildeo fechada de gecircnero vem sendo discutida Partindo do princiacutepio de que o gecircnero natildeo eacute bioloacutegico mas sim cultural vaacuterias pesquisas tentam derrubar a concepccedilatildeo desse binarismo Seguindo essa linha vaacuterias marcas de moda comeccedilaram a trabalhar com a ideia de fluidez de gecircnero como por exemplo Cemfreio Trendt Pangea RAW Clothing entre outras

O objetivo do artigo natildeo foi analisar a maior ou menor fluidez que essas marcas conseguiram atingir ateacute porque tais marcas nem foram citadas Nosso objetivo foi analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Para isso o artigo se apro-priou de conceitos de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998) Dessa forma partiu da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar ou seja do princiacutepio de que a roupa eacute um elemento contensor na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Entretanto e de acordo com as concepccedilotildees teoacutericas de Certeau (1994) natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Como jaacute foi citado acredita-se que existam procedi-mentos populares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Paacutegina 8 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma existe a reapropriaccedilatildeo do sujeito sobre o poder disciplinador nesse caso da binariedade de gecircnero na moda e essa resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998) Um espaccedilo entre as fronteiras da moda masculina e feminina um in-terstiacutecio extremamente conflituoso mas ao mesmo tempo hiacutebrido e heterogecircneo um lugar de possibilidades e subversotildees

Portanto o sujeito do ldquoentrelugarrdquo eacute um novo elemento cultu-ral que surge do embate da tradiccedilatildeo com a contemporaneidade capaz de resistir negociar e se reapropriar de significados com a finalidade de viver dignamente com suas diferenccedilas

N o t a s

1 ndash Lipovetsky (2009) divide a moda em trecircs fases a primeira tem seu iniacutecio no final da Idade Meacutedia considerado um periacuteodo mais linear a segunda em meados do seacuteculo XIX sendo chamada pelo autor de Moda dos Cem Anos jaacute a terceira fase principia em 1960 e eacute denominada Moda Aberta

2 ndash A denominaccedilatildeo ldquoreceptorrdquo eacute datada de 1620 e foi utilizada para indicar no processo de comunicaccedilatildeo aquele que recebia e decodificava a mensagem (MOURA 2008 p39)

3 ndash Foucault (1988 p91) em Histoacuteria da sexualidade I relata que ldquo[] onde haacute poder haacute resistecircncia e no entanto (ou melhor por isso mesmo) esta nunca se encontra em posiccedilatildeo de exterioridade em relaccedilatildeo ao poderrdquo

4 ndash Evidencia-se que Certeau (1994) constroacutei sua teoria baseado no modelo polemoloacutegico assim refere-se a taacuteticas como ferramentas de ataque accedilotildees no sentido militar ou um golpe propriamente dito Diz respeito agrave astuacutecia agrave arte de dar golpes dos sujeitos no campo minado do inimigo

5 ndash O discurso neutro funciona como uma escolha de natildeo estar adequado a uma ou outra categoria Aplicada ao gecircnero a neutralidade eacute a quebra da binariedade homem e mulher em favor de uma outra opccedilatildeo ndash nem uma nem outra (KELLER 2016 p127)

R e f e r ecirc n c i a s

BARNARD Malcolm Moda e comunicaccedilatildeo Rio de Janeiro Rocco 2003

BARTHES Roland Le Neutre cours au Collegravege de France (1977-1978) Paris

Seuil 2002

BHABHA Homi K O local da cultura Belo Horizonte Ed UFMG 1998

BOURDIEU Pierre Gostos de classe e estilos de vida In ORTIZ Renato

(Org) Pierre Bourdieu sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1983 p82-121

______ A dominaccedilatildeo masculina Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999

______ O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BUTLER Judith Problemas de gecircnero feminismo e subversatildeo da identi-

dade Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003

CARDOSO Fernando Luiz O conceito de orientaccedilatildeo sexual na encruzi-

lhada entre sexo gecircnero e motricidade Interamerican Jornal of Psy-

chology Porto Alegre v42 n1 p69-79 abr 2008

CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano artes de fazer Petroacutepolis

RJ Vozes 1994

CHARTIER Roger A histoacuteria cultural Algeacutes (Portugal) Difel 2002

_____ O mundo como representaccedilatildeo Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v5

n11 p173-191 janabr 1991

CRANE Diana A moda e seu papel social classe gecircnero e identidade das

roupas Traduccedilatildeo de Cristiane Coimbra Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo

Paulo 2006

FREITAS Ricardo Ferreira Comunicaccedilatildeo consumo e moda entre os ro-

teiros das aparecircncias Comunicaccedilatildeo Miacutedia e Consumo Satildeo Paulo

v3 n4 p125-136 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistas

univercienciaorgindexphpcomunicacaomidiaeconsumosearch

titlesse archPage=2gt Acesso em 10 jan 2017

FOUCAULT Michel Histoacuteria da sexualidade I a vontade de saber Traduccedilatildeo

de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J A Guilhon Albuquerque

Rio de Janeiro Ediccedilatildeo Graal 1988

_____ Vigiar e punir nascimento da prisatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2004

GODART Freacutedeacuteric Sociologia da moda Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo Paulo

2010

KELLER Daniel Gevehr Masculinidade hiato cultura gecircnero e moda

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Processos e Manifestaccedilotildees Culturais) ndash

FEEVALE Novo Hamburgo RS 2006

KILLERMAN Samuel The social justice advocatersquos handbook a guide to

gender Austin TX Impetus Books 2013

LIPOVETSKY Gilles O impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas socie-

dades modernas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2009

LOSSO Rhiago O sujeito do entre-lugar na literatura portuguesa um

diaacutelogo entre Bhabha e Lobo Antunes In Coloacutequio em Poacutes-Gra-

duaccedilatildeo em Letras ndash UNESP 2 2010 Satildeo Paulo Caderno de resumos

Paacutegina 9 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Satildeo Paulo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwassisunespbrHome

SitesInternosColoquiodeLetrascadernoderesumospdfgt Acesso em

05 jan 2017

LOURO Guacira Lopes O corpo educado pedagogias da sexualidade Belo

Horizonte Autecircntica 2013

MENDES Valerie HAYE Amy de La A moda do seacuteculo XX Satildeo Paulo Martins

Fontes 2003

MENESES Ulpiano T Bezerra de Fontes visuais cultura visual histoacuteria

visual Balanccedilo provisoacuterio propostas cautelares Revista Brasileira de

Histoacuteria Satildeo Paulo v23 n45 p11-36 2003

MISKOLCI Richard Corpos eleacutetricos do assujeitamento agrave esteacutetica da exis-

tecircncia Revista de Estudos Feministas v3 n3 p681-693 2006

MOURA Mocircnica A moda entre a arte e o design In PIRES Doroteia Baduy

Design de moda olhares diversos Barueri Estaccedilatildeo da Letras e Cores

2008 p37-73

PERES Wilian Siqueira Travestis corpos nocircmades sexualidades muacuteltiplas

e direitos poliacuteticos In SOUZA Luiz Antocircnio Francisco de SABATINE

Thiago Teixeira MAGALHAtildeES Boris Ribeiro de (Org) Michel Foucault

sexualidade corpo e direito Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo

Cultura Acadecircmica 2011 p69-104

PITOMBO Renata Cidreira A moda como expressatildeo cultural e pessoal

Iara ndash Revista de Moda Cultura e Arte Satildeo Paulo v3 n3 p226-244

dez 2010 Disponiacutevel em lthttpwww1spsenacbrhotsitesblogs

revistaiarawp-contentuploads201501IARA_vol3_n3_Comple-

ta_2010pdfpage=230gt Acesso em 20 jan 2016

RECH Sandra Moda por um fio de qualidade Florianoacutepolis Ed da Udesc 2002

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo

de Christine Rufino Dabat e Maria Betacircnia Aacutevila Disponiacutevel em ltht-

tpsdisciplinasstoauspbrpluginfilephp185058mod_resource

content2GC3AAnero-Joan20Scottpdfgt Acesso 15 jan 2016

SIMILI Ivana Guilherme Poliacuteticas de gecircnero na segunda guerra mundial

as roupas e a moda feminina Acervo Rio de Janeiro v25 n2 p121-

142 juldez 2012

SOUZA Eloisio Moulin de CARRIERI alexandre de Paacutedua A analiacutetica Queer

e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnero Revista de

Administraccedilatildeo Mackenzie Satildeo Paulo v11 n3 p46-70 maiojun 2010

SOUZA Gilda de Mello e O espiacuterito das roupas a moda no seacuteculo dezenove

Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996

SVENDSEN Lars Moda uma filosofia Rio de Janeiro Zahar 2010

SWAIN Tania Navarro Para aleacutem do sexo por uma esteacutetica da liberaccedilatildeo

In ALBUQUERQUE JUacuteNIOR Durval Munis de VEIGANETO Alfredo

SOUZA FILHO Aliacutepio de Cartografias de Foucault 2ed Belo Horizonte

Autecircntica 2011 p394

XAVIER FILHA Constantina A menina e o menino que brincavam de ser

representaccedilotildees de gecircnero e sexualidade em pesquisa com crianccedilas

Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v17 n51 p627-747 setdez 2012

Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbeduv17n5108pdfgt

Acesso dia jul 2016

Paacutegina 10 de 10

  • Artigo 2pdf
    • OLE_LINK1
    • OLE_LINK2
    • OLE_LINK4
    • OLE_LINK3
      • Artigo 3pdf
        • Resumo
        • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Resultados e Anaacutelise
          • 21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desig
          • 22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental
            • 3 Consideraccedilotildees
            • Notas
            • Referecircncias
              • Artigo 7pdf
                • _GoBack
                  • Artigo 8pdf
                    • _GoBack
Page 4: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem

R e s u m o

No seacuteculo XXI a globalizaccedilatildeo passa a exercer uma forte influecircncia na Educaccedilatildeo Superior e o atual cenaacuterio mundial globalizado e interconectado demanda egressos qualificados para

atuar nesse contexto Passam a ser exigecircncias do mundo do trabalho competecircncias globais interculturais e o uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior Estudos sobre internacionalizaccedilatildeo do ensino superior indicam que para que uma universidade seja considerada internacionalizada esta deve prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos A mobilidade acadecircmica ainda estaacute restrita a um percentual limitado da populaccedilatildeo global de estudantes seja pela dificuldade de ausecircncia de suas origens seja por indisponibilidade de recursos financeiros Assim sendo as TICs podem ser utilizadas para apoiar alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural Este artigo objetiva discutir como as TICs podem apoiar os avanccedilos de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior bem como provocar reflexotildees acerca do assunto e dos desafios interpostos agraves instituiccedilotildees de ensino superior que se propotildeem a cumprir o seu papel de formar cidadatildeos globais

A b s t r a c t

In the 21st century globalization strongly influences Higher Education and the current globalized and interconnected world scenario demands qualified graduates to work in this context Global skills intercultural competencies and the use of information and communication technologies (ICTs) become demands of the working market Therefore both ICTs and internationalization must be present and active in higher education teaching and learning process Studies on internationalization of higher education indicate that for a university to be considered internationalized it must provide an international educational experience for all its students Academic mobility is still limited to a small percentage of the global student population either because of the difficulty of absence of their origins or due to unavailability of financial resources Thus ICTs can be used to support students in developing international perspectives interacting with people from other cultures and actively engaging in intercultural learning This article aims to discuss how ICTs can support higher education internationalization progress as well as to incite reflections on the subject and the challenges presented to higher education institutions that aim to fulfill their role of educating global citizens

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 22072017Aprovado em 04102017

Palavras-chaveEnsino SuperiorTICs InternacionalizaccedilatildeoInternacionalizaccedilatildeo do Ensino Superior

KeywordsHigher EducationICTsInternationalizationHigher Education Internationalization

Autoras Doutoranda pelo programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo pela PUC- RS Mestre em Gestatildeo e Negoacute-cios com ecircnfase em internacionaliza-ccedilatildeo da educaccedilatildeo pela Unisinos - RS Diretora acadecircmico-administrativa de Internacionalizaccedilatildeo no Senac-RS email cccassolsenacrscombr

Poacutes-Doutora na UtexasAustin Pesqui-sadora 1 A CNPq Coord a CEESPUCRS - Centro de Estudos em EDUCACcedilAtildeO Superior

Como citar este artigoSILVA C CC MOROSINI MC As tec-nologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internaciona-lizaccedilatildeo do ensino superior Competecircncia Porto Alegrev 10 n 2 dez 2017

As tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como apoio agrave evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Information and communication techhologies as support for development of higher education internationalization

Carla Camargo Cassol da Silva e Mariacutelia Costa Morosini

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoNos uacuteltimos anos instituiccedilotildees de ensino superior (IES) tecircm se tornado cada vez mais internacionais em suas atividades como resultado da globalizaccedilatildeo da economia da informaccedilatildeo e da sociedade A globaliza-ccedilatildeo passa a impelir o surgimento de novos formatos de IES influencian-do a docecircncia e discecircncia a reelaboraccedilatildeo de curriacuteculos e as exigecircncias sociais que levam em conta natildeo apenas mecanismos internacionais mas tambeacutem as necessidades de cada paiacutes A internacionalizaccedilatildeo das universidades portanto passa a ser um dos componentes emergentes Nas palavras de Morosini (2012 p202) ldquoa qualidade em contextos glo-balizados eacute marcada na maioria dos casos pela internacionalizaccedilatildeo via intercacircmbio estudantil e docente eou curriacuteculos internacionalizados e num estaacutegio mais aprimorado via redes colaborativasrdquo

Para WIT (2011) o futuro da educaccedilatildeo superior seraacute de parcerias internacionais estrateacutegicas em pesquisa ensino e transferecircncia de conhecimento entre universidades para que possam gerenciar os desafios que a globalizaccedilatildeo demandaraacute Na verdade eacute possiacutevel afirmar que a globalizaccedilatildeo jaacute os demanda Hudzik (2011 p10) afirma que ldquo[] para tornar-se uma instituiccedilatildeo de educaccedilatildeo superior de distinccedilatildeo no seacuteculo XXI eacute requerida sistemaacutetica atenccedilatildeo institucional para a internacionalizaccedilatildeo ndash e para engajamento institucional no exteriorrdquo O cumprimento do papel social das IES se daacute a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profis-satildeo de forma a contribuir para o desenvolvimento econocircmico-so-cial local e global Desse modo torna-se uma exigecircncia do proacuteprio mundo do trabalho o conhecimento e a preparaccedilatildeo para relaccedilotildees com estrangeiros e culturas diversas por parte dos estudantes

ldquoHaacute expectativas das Universidades tornarem-se atores cha-ves na economia do conhecimento global e a internacionaliza-ccedilatildeo eacute identificada como resposta chave para a globalizaccedilatildeordquo (WIT e HUNTER 2014 p5) A importacircncia da internacionalizaccedilatildeo em IES portanto torna-se incontroversa

Muitos autores trazem conceitos e definiccedilotildees para interna-cionalizaccedilatildeo do ensino superior mas o mais amplamente aceito eacute o de Knight (2008 p21) ldquoo processo de integrar uma dimensatildeo internacional intercultural ou global na proposta funccedilotildees ou en-trega da educaccedilatildeo superiorrdquo O termo ldquoprocessordquo eacute utilizado para enfatizar a relaccedilatildeo contiacutenua e prolongada da atividade inferindo a necessidade de se ter um meacutetodo eou procedimento Assim eacute possiacutevel ldquodistingui-la de accedilotildees isoladas e institucionalmente natildeo integradas consideradas como sinocircnimo de internacionalizaccedilatildeordquo (MIURA 2009 p2) O verbo ldquointegrarrdquo atribui um sentido de que eacute necessaacuterio um engajamento de todas as partes interessadas sejam internas ou externas a partir das parcerias firmadas

Hudzik (2011 p6) traz o conceito de Internacionalizaccedilatildeo Abrangente (Comprehensive Internationalization) como ldquoum com-promisso confirmado atraveacutes da accedilatildeo de infundir perspectivas

internacionais e comparativas atraveacutes das missotildees de ensino pesquisa e serviccedilos do ensino superiorrdquo Segundo o autor a inter-nacionalizaccedilatildeo abrangente moldaraacute o ethos e os valores da IES estando ldquono DNArdquo do ensino superior Para tanto eacute fundamental que essa perspectiva seja adotada por lideranccedilas institucionais governanccedila equipes docente e discente e por todas as unidades de suporte e serviccedilos acadecircmicos ldquoEacute um imperativo institucional natildeo apenas uma possibilidade desejadardquo (HUDZIK 2011 p6)

Ao corroborar com Hudzik (2011) Robson (2011 p619) conside-ra o conceito de internacionalizaccedilatildeo transformadora exigindo uma abordagem holiacutestica em que as universidades se tornam comuni-dades de espiacuterito internacional e natildeo simplesmente instituiccedilotildees com aumento do nuacutemero de estudantes internacionais e atividades internacionais Para o autor ldquoa estrateacutegia de internacionalizaccedilatildeo responsaacutevel far-se-aacute pela incorporaccedilatildeo de abordagens inovadoras para o desenvolvimento curricular de apoio ao estudante e de me-canismos e iniciativas de desenvolvimento acadecircmicordquo (p614)

Ainda na perspectiva de cumprimento do papel social das IES a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profissatildeo tambeacutem ldquoo contexto dinacircmico do ensino superior demanda uma integraccedilatildeo inovadora de alfabetizaccedilatildeo digitalrdquo (ANNABI MULLER 2016 p17) Natildeo eacute possiacutevel afirmar que um egresso estaacute qualificado sem desenvolver competecircncias para o uso de TICs Eacute uma realidade atual no mercado de trabalho na maioria das profissotildees Assim sendo segundo Annabi e Muller (2016) uma vez que as habilidades digi-tais dos aprendizes jaacute estiverem avanccediladas o curriacuteculo deveraacute sofrer modificaccedilotildees para integrar a tecnologia a fim de permitir que os alu-nos se engajem em formas muacuteltiplas de aprendizado Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior

Muitos autores argumentam que tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo cruciais para a globalizaccedilatildeo do ensino superior e em processos de internacionalizaccedilatildeo Isso porque implicam oportu-nidades para a integraccedilatildeo aleacutem do tempo e espaccedilo possibilitando que entidades distribuiacutedas trabalhem como unidades em tempo real (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Observa-se que a ampla definiccedilatildeo de internacionalizaccedilatildeo e as atividades envolvidas nesse processo continuam alterando--se e expandindo-se enquanto o desenvolvimento tecnoloacutegico oferece formas novas criativas de engajamento entre fronteiras (ACE 2013 p1)

2 A Internacionalizaccedilatildeo AcessiacutevelDepois de decorrido algum tempo de atividades internacionais muito possivelmente em funccedilatildeo do fenocircmeno globalizaccedilatildeo e da abertura do Brasil para o mercado mundial datado na deacutecada

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

de 80 a mobilidade de estudantes aumentou de forma signifi-cativa impelindo as IES a encontrarem formas de articular suas atividades de forma mais sistemaacutetica e tambeacutem de beneficiar a si agrave comunidade acadecircmica e agrave sociedade atraveacutes da internacio-nalizaccedilatildeo No entanto dados os conceitos de internacionalizaccedilatildeo jaacute discutidos pode-se perceber que a mobilidade acadecircmica eacute uma ndash e apenas uma ndash parte do processo de internacionalizaccedilatildeo

Mesmo em paiacuteses onde a internacionalizaccedilatildeo jaacute eacute um processo desenvolvido e amplamente praticado o foco na mobilidade acadecirc-mica eacute percebido Maringe (2009) realizou um estudo exploratoacuterio em seis universidades localizadas no Reino Unido cujos principais objetivos eram 1) identificar como a internacionalizaccedilatildeo eacute concei-tuada nas instituiccedilotildees estudadas 2) identificar evidecircncias da inte-graccedilatildeo estrutural do processo de internacionalizaccedilatildeo nos serviccedilos das universidades e 3) compreender os desafios que as instituiccedilotildees enfrentam na busca pela integraccedilatildeo do conceito de internacionali-zaccedilatildeo como um amplo elemento estrateacutegico daquelas instituiccedilotildees O estudo indica que haacute uma falha na execuccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior uma vez que embora a internacionalizaccedilatildeo seja identificada como objetivo estrateacutegico pelas universidades estudadas haacute uma variedade de barreiras que trabalham contra a integraccedilatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo agrave cultura institucional Segundo o autor uma das principais barreiras eacute a ecircnfase exacerbada em iniciativas de mobilidade humana em detrimento de esforccedilos de integraccedilatildeo cultural

Natildeo haacute duacutevidas de que a mobilidade acadecircmica fomenta a com-petecircncia internacional No entanto estudos e dados mostram que essa mobilidade estaacute restrita a um percentual bastante limitado da populaccedilatildeo global de estudantes (ACE 2013 p2) seja pela dificulda-de de alguns estudantes de se ausentarem de suas origens seja por disponibilidade de recursos financeiros uma vez que para paiacuteses do hemisfeacuterio sul distacircncia e desvalorizaccedilatildeo cambial satildeo fatores que oneram consideravelmente

Ramanau (2016) argumenta que uma universidade internacio-nalizada deveria prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos em um ambiente inclusivo e acolhe-dor E que portanto as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) poderiam ser utilizadas de forma efetiva para assistir a alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural

Em estudo de 2010 realizado pela Associaccedilatildeo Interna-cional de Universidades (IAU ndash International Association of Universities) ldquorecursos financeiros insuficientesrdquo foi citado como o obstaacuteculo interno mais significativo para a internacio-nalizaccedilatildeo (ACE 2013 p1) No entanto o uso de comunicaccedilatildeo

virtual para conectar estudantes e professores aleacutem das fron-teiras tem provado ser uma opccedilatildeo acessiacutevel flexiacutevel e econo-micamente viaacutevel para um crescente nuacutemero de instituiccedilotildees nos Estados Unidos e no mundo todo Como muitos programas de mobilidade aulas virtualmente conectadas podem prover um aprendizado global significativo e experiecircncia intercultural (ACE 2016 p1) Ou seja o uso de TICs pode ser uma opccedilatildeo vaacutelida para minimizar barreiras que dificultam a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Assim ldquodistacircncia e tempo natildeo precisam mais ser barreiras para a exposiccedilatildeo e consciecircncia internacional para qualquer aluno com acesso a um modem e um computador Desse modo todos os es-tudantes agora podem ser considerados internacionais em termos de mobilidade virtualrdquo (LEASK 2004 p337)

Alguns autores preconizam que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo vistas como um dos fatores mais importantes para a expansatildeo continuada da internacionalizaccedilatildeo e podem ateacute mesmo tornar-se substitutas da mobilidade internacional (PHILSON 1998 FAVA-DE-MORAES SIMON 2000 LEASK 2004)

A atual sociedade global interligada baseada em novas tecnologias digitais afetou o processo de educaccedilatildeo e adicionou dinacircmicas agrave trans-ferecircncia de informaccedilotildees e geraccedilatildeo de conhecimento Natildeo estamos mais restritos a tempo e lugar Ademais a tecnologia da informaccedilatildeo reduz diretamente os custos e aumenta as possibilidades de cooperaccedilatildeo de interaccedilatildeo acadecircmicas Aprendizagem virtual possibilita que instituiccedilotildees de ensino superior se aproximem de estudantes professores e pesqui-sadores em paiacuteses estrangeiros sem movecirc-los fisicamenterdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p4)

TICs e internacionalizaccedilatildeo portanto estatildeo inquestiona-velmente conectadas

3 Possibilidades Praacuteticas de internacionalizaccedilatildeo no ensino superior incluem reforma curricular aumento de programas de mobilidade ampliaccedilatildeo de cam-pi inglecircs como liacutengua de instruccedilatildeo em paiacuteses onde natildeo eacute a liacutengua oficial e tecnologia da informaccedilatildeo (ZUPANC ZUPANC 2009 YANYAN 2010) Ou seja a tecnologia da informaccedilatildeo eacute uma parte do todo que certamente pode apoiar o processo mas por si soacute natildeo garante uma perspectiva internacional no ensino

De acordo com Leask (2004 p340) ldquoo uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em programas educacionais natildeo assistiratildeo [sic] necessariamente agrave internacionalizaccedilatildeo mas cer-tamente oferece diversas oportunidades para todos os alunos e colaboradores da IESrdquo

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo a autora algumas dessas oportunidades incluem o envolvimento da comunidade acadecircmica em

bull Uso da tecnologia para estabelecer contatos internacionais e redes de relacionamento em suas aacutereas

bull Visitas virtuais de palestrantes convidados com perfil inter-nacional que virtualmente abordam toacutepicos especiacuteficos em determinados momentos do programa

bull Projetos individuais ou em grupo com foco em assuntos e estudos de caso internacionais

bull Tarefas que requerem o desenvolvimento de habilidades em dinacircmicas de grupo e o estabelecimento de relaccedilotildees de trabalho com pessoas de diferentes contextos culturais por exemplo tarefas que requerem a anaacutelise de reportagens de jornais internacionais de perspectivas culturais diferentes en-trevistas virtuais com alunos de outras culturas e profissionais que jaacute atuaram no mercado internacional

bull Localizar discutir analisar e avaliar informaccedilotildees de variadas fontes internacionais on-line e off-line

bull Oportunidades virtuais para analisar assuntos metodologias e soluccedilotildees possiacuteveis associadas com atuais aacutereas de debate dentro da disciplina por meio de perspectivas culturais di-versas

bull Acesso a fontes internacionais virtuais como revistas con-ferecircncias e associaccedilotildees profissionais

bull Simulaccedilotildees virtuais nas quais os estudantes tecircm a oportu-nidade de aprender atraveacutes de participaccedilatildeo ativa em um ambiente virtual controlado

bull Discussotildees siacutencronas ou assiacutencronas em grupo que co-nectam alunos de culturas diferentes fazendo com que completem atividades solucionem problemas obtenham perspectivas internacionais sobre determinados assuntos

bull Estabelecimento de redes de relacionamento internacionalbull Foacuterum virtual em que os alunos podem discutir diferenccedilas cultu-

rais e regionais em valores e concepccedilotildees que afetam a disciplina ao mesmo tempo em que podem afetar a accedilatildeo dos indiviacuteduos

bull Variados projetos de grupo para avaliaccedilatildeo que exijam dos alunos atividades virtuais ou via correio eletrocircnico com pes-soas de outros grupos culturais com o objetivo de comparar e contrastar perspectivas em questotildees profissionais

bull Atividades virtuais em grupo que examinem de que maneira interpretaccedilotildees culturais especiacuteficas de aplicabilidade social cientiacutefica ou tecnoloacutegica podem incluir ou excluir ou ainda favo-recer ou desfavorecer as pessoas de grupos culturais diferentes

Ou seja ao aproveitar as oportunidades que as TICs propor-cionam incorporando possibilidades para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo virtual natildeo apenas as necessidades dos alunos de desenvolver suas competecircncias e habilidades de gerenciamento do seu aprendizado seratildeo supridas como tambeacutem poderatildeo ser criadas oportunidades para incorporar atividades que fomentem a consciecircncia e sensibilidade para com diferen-

ccedilas interculturais (RAMANAU 2016) As TICs podem portanto ser usadas como parte de atividades internacionais existentes como complementariedade e como instrumento que promova a integraccedilatildeo de perspectivas internacionais no campus (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Satildeo diversas possibilidades que surgem a partir do uso de TICs como apoio ao processo de internacionalizaccedilatildeo A Zagreb School of Economics and Management (ZSEM) uma faculdade privada que atua na aacuterea de negoacutecios na Croaacutecia graccedilas agraves videoconferecircn-cias oportuniza aos seus alunos assistir palestras de educadores e melhores especialistas de negoacutecios do mundo todo A primeira videoconferecircncia realizada em 2004 exibiu um discurso de boas--vindas do presidente do conselho da faculdade Joseph Bombelles professor emeacuterito na Universidade John Carroll University em Cle-veland (Ohio Estados Unidos) A partir de entatildeo deu-se continui-dade agraves videoconferecircncias como parte dos cursos de Marketing e Gestatildeo em que professores internacionais convidados passaram a apresentar aos alunos da SZEM experiecircncias e praacuteticas de mer-cado vividas e praticadas em outras partes do mundo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009) Atualmente a ZSEM tem como premissa que as TICs geralmente servem como uma ferramenta eficaz para apoiar e coordenar as atividades internacionais da faculdade Aleacutem de ser uma forma raacutepida econocircmica com transcendecircncia de tempo e distacircncia e oportunidade de aprendizagem intercultural para a ZSEM ldquoa implementaccedilatildeo eficiente de TICs possibilita a extensatildeo de relaccedilotildees internacionais apoia na adoccedilatildeo de padrotildees de qualidade internacional e estreita relacionamentos com instituiccedilotildees estran-geirasrdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p8)

Outro exemplo do uso de TICs para o apoio da internacionaliza-ccedilatildeo eacute o projeto denominado International Leadership in Educational Technology (ILET) Em 2001 o projeto foi selecionado por agecircncias de fomento na Europa e nos Estados Unidos para criar um modelo de ambiente virtual intercultural para programas de doutorado des-tinados a preparar futuros liacutederes de tecnologias educacionais O ILET objetiva criar uma comunidade de aprendizado transatlacircntica para estudantes de graduaccedilatildeo em seis universidades diferentes ndash trecircs eu-ropeias e trecircs norte-americanas As seis universidades satildeo Iowa State University University of Florida University of Virginia Institution of Education in the University of London Aalborg University in Dina-marca e University of Barcelona na Espanha O projeto concentra a colaboraccedilatildeo democraacutetica de professores e alunos de todas as univer-sidades participantes Essa abordagem inovadora fornece um modelo personalizado para estudos no exterior com estaacutegios e experiecircncias interculturais mediadas pela tecnologia Colaboraccedilatildeo eacute a chave para o sucesso do modelo uma vez que seis diferentes universidades estatildeo envolvidas No projeto estudantes de doutorado satildeo motivados e recebem apoio para negociar com uma ou mais universidades para aprimorar seus programas de estudos Eles usam websites correio eletrocircnico e outras tecnologias para negociar estaacutegios e experiecircncias

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

de estudos com as universidades parceiras Nesse processo docentes e alunos tornam-se sensiacuteveis agrave ampla variedade de ambientes acadecirc-micos e culturais O projeto ILET tambeacutem possui tecnologias hiacutebridas no programa de doutorado e criou um ambiente virtual e intercultural de aprendizagem em que as seis universidades participam atraveacutes de grupos anuais de leitura virtual de cursos de veratildeo com carga-horaacuteria reduzida para experiecircncias acadecircmicas interculturais e programas de estaacutegios no exterior (DAVIS CHO 2005)

Isso posto eacute possiacutevel afirmar que de fato a internacionalizaccedilatildeo abrangente ldquona qual as universidades tentam prover desenvolvimento pessoal e profissional para todas as pessoas enquanto cidadatildeos globais pode alcanccedilar seus objetivos com o apoio da educaccedilatildeo a distacircncia e de TICsrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) Portanto as TICs podem promover o ldquoaprendizado colaborativo internacional virtualrdquo agrupando as quatro dimensotildees essenciais da mobilidade virtual real 1) o exerciacutecio colaborativo de professores e alunos 2) o uso de interaccedilatildeo e tecnologia virtual 3) existecircncia de potenciais dimensotildees internacio-nais e 4) integraccedilatildeo com o processo de aprendizado (WIT 2013)

4 DesafiosComo jaacute abordado sabe-se que atualmente a tecnologia estaacute de-sempenhando uma funccedilatildeo fundamental na preparaccedilatildeo de futuros educadores e no ensino superior com avanccedilos significativos para a globalizaccedilatildeo Tambeacutem pode-se afirmar que o aprendizado via web tornar-se-aacute cada vez mais proeminente no ensino superior com o uso de tecnologias educacionais Consequentemente ldquoas equipes docentes precisam estar preparadas para trabalhar em um ambiente internacionalrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) E virtual

Integrar tecnologias no curriacuteculo a fim de aprimorar o apren-dizado global e experiecircncia intercultural dos alunos pode ser de-safiador Requer tempo adicional e criatividade do corpo docente aleacutem de depender de conectividade e equipamentos adequados para uso da internet dentre outras questotildees Embora TICs ofere-ccedilam oportunidades ricas e uacutenicas para a internacionalizaccedilatildeo ldquoas equipes frequentemente natildeo conhecem todo o potencial de uso ou natildeo se sentem confortaacuteveis em usaacute-las como instrumento de ensino e aprendizagem e alguns satildeo reticentes em investigaacute-las e experimentaacute-lasrdquo (LEASK 2004 p345)

De acordo com Ramanau (2016) equipes que estatildeo ensinan-do em programas internacionais devem ter aleacutem das habilidades e conhecimentos baacutesicos necessaacuterios para ser um professor de sucesso em qualquer ambiente (tais como conhecimento da aacuterea gestatildeo de sala de aula habilidade de definir claramente os objetivos de aprendizagem elaboraccedilatildeo de um programa adequado) habilidades adicionais como de ter uma ampla consciecircncia cultural habilidade de fazer uso de informaccedilotildees

e exemplos internacionais e a habilidade de conduzir um grupo em que uma ampla variedade de estilos de aprendiza-gem e de comunicaccedilatildeo se fazem presentes Em um ambiente internacional virtual ainda outra dimensatildeo eacute acrescentada a habilidade de fazer tudo o que jaacute foi mencionado utilizando todas as ferramentas virtuais disponiacuteveis

Nesse sentido eacute importante destacar a importacircncia do docen-te no processo e sua preparaccedilatildeo para atuar nesse novo contexto Faz-se necessaacuterio capacitaacute-los e desenvolvecirc-los para que possa atuar de forma a promover um ambiente de ensino e aprendiza-gem que possibilite aos alunos desenvolverem as competecircncias e habilidades exigidas no atual cenaacuterio Investimentos satildeo necessaacute-rios recursos financeiros e humanos bem como tempo para essa preparaccedilatildeo Entretanto esse investimento natildeo seraacute suficiente se natildeo houver motivaccedilatildeo docente Sim ele precisa acreditar e en-gajar-se na proposta E isso depende de outros fatores que natildeo estatildeo sob domiacutenio das instituiccedilotildees gestores e estudantes Eis um desafio que precisa ser considerado

Contudo natildeo apenas os docentes precisam estar engajados ldquoEntregar uma competecircncia global para todos os alunos reque-reraacute programas de iniciativas criativas e intencionais que envol-vem diversos atores do campus e perpassa todos os aspectos da experiecircncia do alunordquo (ACE 2013 p3) Ou seja eacute necessaacuterio o engajamento de toda a comunidade acadecircmica com apoio da sociedade A diversidade e a amplitude de atores envolvidos demonstra a complexidade do processo

Ao considerar tendecircncias nascentes em tecnologia e o con-tiacutenuo impacto que a globalizaccedilatildeo tem trazido para o ensino superior parece claro que um processo de integraccedilatildeo de tec-nologia que enfatiza a conexatildeo e o aprendizado colaborativo e social eacute uma praacutetica de internacionalizaccedilatildeo eficaz Entretanto tal apelo deve ser apoiado por uma avaliaccedilatildeo integral das ne-cessidades da instituiccedilatildeo e recursos disponiacuteveis (BILLINGHAM GRAGG BENTLEY 2013 p25)

Eacute portanto necessaacuterio que a IES tenha claro quais satildeo os seus objetivos de internacionalizaccedilatildeo para que os esforccedilos sejam direcionados nesse sentido evitando accedilotildees isoladas e desarticuladas na instituiccedilatildeo Tambeacutem eacute importante destacar que nem todas as IES tecircm a mesma disponibilidade de recursos humanos financeiros e tecnoloacutegicos para a implementaccedilatildeo de TICs e do processo de internacionalizaccedilatildeo Em muitos paiacuteses em desenvolvimento haacute IES que sequer possuem conexatildeo web Essa eacute uma realidade que precisa ser considerada e portanto avaliada uma vez que a internacionalizaccedilatildeo abrangente natildeo se aplica na abrangecircncia em que a teoria propotildee

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sabe-se que por mais de uma deacutecada o ensino superior tem passado por um raacutepido processo de integraccedilatildeo tecnoloacutegica Tambeacutem a internacionalizaccedilatildeo se mostra como indispensaacutevel para que o ensino superior cumpra a sua missatildeo de preparar egressos para o mundo global interconectado em que vivemos No entanto dos estudos disponiacuteveis sobre ambos temas poucos correlacionam a integraccedilatildeo de tecnologia e a internacionaliza-ccedilatildeo especificamente Assim sendo satildeo necessaacuterios estudos que apontem para essa direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees FinaisA internacionalizaccedilatildeo eacute um tema muito relevante mas ainda incipiente no Brasil No entanto torna-se indispensaacutevel pensar no assunto quando se trata de educaccedilatildeo superior uma vez que seraacute exigido que nossos egressos tenham desenvolvi-do competecircncias teacutecnicas comportamentais tecnoloacutegicas e interculturais

Muitos satildeo os desafios interpostos agraves IES brasileiras que buscam desenvolver a internacionalizaccedilatildeo como um processo contiacutenuo que abrange todos os niacuteveis e serviccedilos da instituiccedilatildeo Barreiras como idioma localizaccedilatildeo geograacutefica extensatildeo territorial reconhecimento da comunidade acadecircmica acerca da importacircn-cia e da relevacircncia da internacionalizaccedilatildeo para a qualificaccedilatildeo da sociedade entre outros mostram que o caminho a ser percorrido eacute laborioso

Todavia observa-se que as tecnologias de informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo possibilitam a distribuiccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo em qualquer fuso em qualquer lugar no mundo Materiais de professores relatoacuterios de pesquisa planos de aula conteuacutedos diversos podem ser distribuiacutedos para locais distantes A informa-ccedilatildeo estaacute apenas um clique distante Tambeacutem o acesso agrave internet possibilita interaccedilotildees virtuais com o mundo de forma faacutecil e com custo baixo O uso de TICs torna-se fundamental para a evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior em nosso paiacutes

Contudo haacute desafios ndash como engajamento estrutura inves-timentos capacitaccedilatildeo de recursos humanos ndash que tambeacutem pre-cisam ser considerados O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo da educaccedilatildeo em nosso paiacutes assim como a internacio-nalizaccedilatildeo do ensino superior tambeacutem poderaacute fazer essa evoluccedilatildeo acontecer Poreacutem nem juntas nem isoladas as TICs e a internacio-nalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior resolveratildeo por completo o pro-blema da educaccedilatildeo no nosso paiacutes Esse soacute poderaacute ser minimizado com a priorizaccedilatildeo antecedida pela conscientizaccedilatildeo

R e f e r ecirc n c i a s

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Internationalization in action special edition connecting classrooms using online technology to de-liver global learning Washington DC One Dupont Circle NW 2016

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Leading the Globally Engaged In-stitution new directions choices and dilemmas a report from the 2012 transatlantic dialogue Washington DC One Dupont Circle NW 2013

ANNABI Carrie Amani MULLER Marlene Muller Learning From the adop-tion of MOOCs in two international branch campuses in the UAE Journal of Studies in International Education European Association for International Education v 20(3) p 260-281 2016 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315315622023-journalCode=jsiagt Acesso em jun 2017

BILLINGHAM Craig GRAGG Monica BENTLEY Guy Internationalization From Concept to Implementation Higher Learning Research Commu-nications Blue Mountains Australia v 3(4) p 24-31 2013 Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1018870hlrcv3i4166gt Acesso em jun 2017

DAVIS Niki CHO Mi Ok Intercultural competence for future leaders of educational technology and its evaluation Interactive Educational Multimedia n10 p1-22 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwubedumultimediaiemgt Acesso em jun 2017

FAVA-DE-MORAES F SIMON I Computer networks and the international-ization of higher education Higher Education Policy 13 2000

HUDZIK J K Comprehensive internationalization Washington DC NAFSA 2011

KNIGHT Jane Higher education in turmoil the changing world of interna-tionalization Rotterdam Sense Publishers 2008

LEASK Betty Internationalisation outcomes for all students using informa-tion and communication technologies (ICTs) Journal of Studies in Inter-national Education Association for Studies in International Education v 8 n 4 p 336-351 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5

PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

O objetivo do presente estudo foi analisar o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de

negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa de Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL) bastante conhecida e referenciada na literatura cientiacutefica Participaram da pesquisa 51 estudantes de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo Os dados para a anaacutelise do uso das tecnologias foram obtidos por meio de entrevistas considerando tanto os recursos de hardware como de software empregados no apoio agrave realizaccedilatildeo das atividades da disciplina De modo geral os resultados apontaram que os estudantes entrevistados buscaram escolher os recursos mais adequados para realizaccedilatildeo das atividades acadecircmicas dentro do conjunto de tecnologias que lhes eram acessiacuteveis e familiares deixando no entanto de explorar novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

A b s t r a c t

The objective of this study was to analyze the use of Information and Communication Technol-ogies (ICTs) by university students of Business Management enrolled in a course of business in virtual environments using the Problem Based Learning (PBL) active methodology well known and referenced in the scientific literature A total of 51 Business students from a private university in the interior of the state of Satildeo Paulo participated in the study The data for the analysis of the use of technologies were obtained through interviews considering both the hardware and software resources used as support to carry out the activities in the course In general the results pointed out that the students interviewed chose the most adequate resources to carry out the academic activities within the set of technologies that they had access to and were familiar with but failed to explore new technologies potentially relevant in supporting the learning process

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 23072017Aprovado em 01102017

Palavras-chaveTecnologia da informaccedilatildeo e ComunicaccedilatildeoMetodologia ativaAprendizado baseado em problemas Gestatildeo

KeywordsInformation and communication technologyActive methodologyProblem based learningManagement

Autores Doutor em Psicologia e Mestre em Ciecircncia da Informaccedilatildeo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Professor do Centro de Economia e Administraccedilatildeo da Pontifiacutecia Univer-sidade Catoacutelica de Campinas email rodrigorozagmailcom

Doutora e Mestre em Psicologia pela University of Georgia Poacutes-dou-torado pela University of Georgia e pela University of Buffalo Professora da Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Psicologia da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinasemail wechslerlexxacombr

Como citar este artigoROZA RH WECHSLER SM O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo por estudantes universi-taacuterios de Administraccedilatildeo Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por estudantes universitaacuterios de AdministraccedilatildeoThe use of information and communication technologies by university students of business management

Rodrigo Hipoacutelito Roza e Solange Muglia Wechsler

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoAs Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) satildeo consi-deradas um vasto conjunto de recursos tecnoloacutegicos destinados ao tratamento agrave organizaccedilatildeo e agrave disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees (TAKAHASHI 2000) Esse conjunto de recursos tecnoloacutegicos abran-ge computadores tablets smartphones sistemas operacionais aplicativos diversos navegadores (browsers) redes computacio-nais sistemas de telecomunicaccedilotildees e a internet dentre outros Aleacutem disso eacute importante salientar que as TICs fazem parte de uma realidade mais ampla marcada por profundas transformaccedilotildees natildeo apenas no acircmbito tecnoloacutegico mas tambeacutem social econocircmico e cultural (CASTELLS 2010) citada por alguns autores como socie-dade da informaccedilatildeo (SILVA CAFEacute CATAPAN 2010 PINHO 2011) ou sociedade da aprendizagem (POZO 2004 COUTINHO LISBOcircA 2011) dentre outras nomenclaturas

Antes da difusatildeo da expressatildeo ldquotecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo outros termos jaacute haviam sido empregados com significados similares como tecnologia da informaccedilatildeo sistema de informaccedilatildeo e processamento de informaccedilatildeo (BUCKLAND 1991) Sistema de informaccedilatildeo no entanto geralmente assume um sen-tido mais amplo abrangendo pessoas e processos ao passo que processamento de informaccedilatildeo tem um sentido mais restrito vol-tado ao modo como a informaccedilatildeo eacute processada por meio dos recursos tecnoloacutegicos No caso especiacutefico do termo ldquotecnologia da informaccedilatildeordquo embora ainda bastante utilizado o acreacutescimo da palavra ldquocomunicaccedilatildeordquo foi realizado com o propoacutesito de ressaltar a importacircncia de ambas as tecnologias da informaccedilatildeo e da co-municaccedilatildeo na atual sociedade (STEVENSON COMMITTEE 1997)

As aplicaccedilotildees das TICs embora bastante exploradas no acircmbito de negoacutecios (LAUDON LAUDON 2011 CHAFFEY 2014) estendem--se agraves mais diversas aacutereas da sociedade como sauacutede entretenimen-to gestatildeo puacuteblica desenvolvimento sustentaacutevel e educaccedilatildeo Na educaccedilatildeo em particular as tecnologias possuem o potencial de apoiar o processo de ensino e aprendizagem viabilizando novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento (ROZA 2017) Em metodologias ativas como a Aprendizagem Baseada em Proble-mas (Problem Based Learning ndash PBL) por exemplo as TICs tecircm sido destacadas como importantes ferramentas de apoio agrave aprendiza-gem (BERTONCELLO CORDEIRO BORTOLOZZI RODRIGUES 2008 OSMAN KAUR 2014) No entanto conforme apontado por Mansell e Tremblay (2013) eacute importante destacar que para promover o acesso ao conhecimento eacute preciso muito mais do que fornecer acesso aos recursos tecnoloacutegicos ou agrave informaccedilatildeo digital O acesso ao conhecimento envolve necessariamente a aprendizagem sendo que sua aquisiccedilatildeo ocorre parcialmente por meio de experiecircncias

Considerando a evoluccedilatildeo das TICs e as modalidades educa-cionais a elas associadas Coll e Monereo (2010) destacaram trecircs etapas de desenvolvimento das tecnologias da comunicaccedilatildeo

marcadas pelas linguagens natural artificial e virtual Na primei-ra etapa o sistema de comunicaccedilatildeo eacute a transmissatildeo oral o que implica a coincidecircncia dos interlocutores no espaccedilo e no tempo Algumas modalidades de educaccedilatildeo e meacutetodos de ensino e apren-dizagem dessa etapa satildeo a imitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a transmissatildeo e a reproduccedilatildeo de informaccedilatildeo

O surgimento da escrita marca a segunda etapa como res-posta agrave necessidade de registrar transmitir e compartilhar infor-maccedilotildees o que apesar de natildeo exigir a presenccedila dos envolvidos na comunicaccedilatildeo no mesmo local e ao mesmo tempo por si soacute tambeacutem natildeo garante a superaccedilatildeo de grandes distacircncias geograacute-ficas Eacute importante destacar que a escrita assim como a leitura transformaram as capacidades cognitivas dos indiviacuteduos no que se refere ao tratamento da informaccedilatildeo (LALUEZA CRESPO CAMPS 2010) Nessa etapa tecircm-se o ensino centrado em textos o emprego de livros didaacuteticos e iniacutecio de um ensino a distacircncia ainda que por correspondecircncia

Na terceira etapa encontram-se os sistemas de comunicaccedilatildeo analoacutegica abrangendo a invenccedilatildeo do teleacutegrafo seguida do telefo-ne do raacutedio e da televisatildeo que permitiram a superaccedilatildeo dos limites espaciais culminando com troca de informaccedilotildees em niacutevel global Poreacutem eacute apenas em um segundo momento dessa terceira etapa que surgem os sistemas de comunicaccedilatildeo digital com a criaccedilatildeo dos computadores sua interconexatildeo em redes e o advento da internet A parir desse momento os sistemas de comunicaccedilatildeo digital incluindo as jaacute mencionadas redes de computadores e a proacutepria internet passam a ser utilizados no ensino apoiado por computador e no e-learning (COLL MONEREO 2010)

Neste sentido verifica-se natildeo somente o crescimento do e-le-arning caracterizado pelo uso das tecnologias na aprendizagem e no ensino agrave distacircncia baseado em Web mas tambeacutem o advento de novas derivaccedilotildees e praacuteticas adjacente como o b-learning que combina aprendizagem online e presencial de forma mista (OKADA BARROS 2010) e o open-learning que busca promover o acesso amplo a materiais e tecnologias e o uso de diferentes conteuacutedos e metodologias para um puacuteblico diversificado em locais culturas e contextos distintos (OKADA 2007) Nota-se ainda o surgimento do m-learning em que a aprendizagem eacute mediada por dispositivos moacuteveis (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012)

Dada as diversificadas possibilidades de uso dos recursos tecnoloacutegicos na educaccedilatildeo e na aprendizagem este estudo op-tou por se concentrar nas tecnologias que satildeo utilizadas por iniciativas dos proacuteprios estudantes universitaacuterios para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecircmicas Para tanto foram selecionados estudantes de uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtu-ais utilizando a metodologia PBL Trata-se de uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem centrada no aluno (CACHINHO

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

2012) fundamentada no pressuposto de que a aprendizagem eacute um processo de construccedilatildeo de significados e natildeo simplesmente de recepccedilatildeo de informaccedilotildees (ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Nela o aluno desempenha um papel ativo e preponderante em sua proacutepria educaccedilatildeo (TOLEDO JUacuteNIOR et al 2008) A escolha de uma disciplina que adota tal metodologia ocorreu com o intuito de se investigar estudantes que estivessem em uma condiccedilatildeo de protagonismo no que se refere agrave aprendizagem natildeo apenas nas situaccedilotildees e assuntos abordados na disciplina mas tambeacutem no uso das TICs

2 Meacutetodo21 ParticipantesPara este estudo foram selecionados 51 estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo matriculados em uma disciplina de negoacute-cios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa PBL A disciplina em questatildeo denominada Administraccedilatildeo em Am-bientes Virtuais foi oferecida no uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Todos os alunos eram usuaacuterios comuns das TICs familiarizados com o uso dos recursos tecnoloacutegicos

22 MaterialFoi utilizado um roteiro semiestruturado para a realizaccedilatildeo de en-trevistas com os participantes do estudo O roteiro apresentava duas questotildees centrais que deveriam ser consideradas no contex-to das atividades da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais

1 quais dispositivos satildeo utilizados (desktop notebook tablet smartphone outros)

2 quais programas serviccedilos e redes satildeo utilizados

A questatildeo 2 em particular considerou os subtoacutepicos sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos de um modo geral serviccedilos da Web e rede de comunicaccedilatildeo de dados para os quais os participantes poderiam indicar os nomes dos recursos utilizados Por se tratar de um roteiro semiestruturado as questotildees serviram como norteadoras das entrevistas apresentando elementos es-senciais a serem abordados sem restringir no entanto a explo-raccedilatildeo de outros aspectos correlatos e relevantes que pudessem surgir durante os diaacutelogos com os participantes da pesquisa

23 ProcedimentoPrimeiramente os estudantes receberam uma explicaccedilatildeo sobre as entrevistas esclarecendo que as questotildees deveriam ser con-sideradas no contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais O contexto da disciplina abrangia atividades de pesqui-sas apresentaccedilotildees debates bem como elaboraccedilatildeo de relatoacuterios apoiados na metodologia PBL

Para uma maior elucidaccedilatildeo do contexto citado cabe ressal-tar que tipicamente os estudantes eram divididos em grupos

compostos pelos seguintes papeacuteis liacuteder redator porta-voz e demais membros Os grupos partiam de uma situaccedilatildeo-proble-ma estudo de caso e apoacutes uma anaacutelise inicial geravam um relatoacuterio parcial incluindo hipoacuteteses e toacutepicos a serem pesqui-sados Em seguida as pesquisas eram conduzidas pelos grupos sob orientaccedilatildeo do professor Ao final das pesquisas os grupos apresentavam um relatoacuterio final e realizavam apresentaccedilotildees e debates com os outros grupos Por fim o professor realizava um fechamento das atividades resgatando o que fora abordado pelos grupos abrangendo os aspectos teoacutericos pertinentes agrave situaccedilatildeo-problema estudo de caso

Assim no presente estudo as entrevistas foram realizadas em grupos com aproximadamente seis estudantes Esse nuacutemero respeitou a divisatildeo dos grupos jaacute adotada para realizaccedilatildeo das atividades coletivas da disciplina Apesar das entrevistas terem sido realizadas em grupos as respostas dos participantes foram coletadas uma a uma Os participantes foram mantidos em gru-pos devido ao fato de supostamente muitos dos aplicativos serem usados para comunicaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo de trabalhos co-laborativos de forma que uma das respostas poderia contribuir para as demais

O tratamento das respostas relativas agrave questatildeo 1 sobre os dis-positivos utilizados respeitou as categorias previamente estabe-lecidas mas tambeacutem considerou a possibilidade do participante apontar outros dispositivos As respostas relativas agrave questatildeo 2 foram categorizadas dentro de cada subtoacutepico sistemas ope-racionais navegadores e-mail aplicativos diversos serviccedilos da Web e rede Todos os dados coletados por meio das entrevistas foram tabulados e posteriormente analisados

3 Resultados e discussatildeo Para anaacutelise das respostas da questatildeo 1 foram considerados o uso de desktop notebook smartphone e tablet Os participantes puderam apontar mais de um dispositivo indicando a ordem em que satildeo empregados do mais utilizado para o menos utilizado (primeira opccedilatildeo segunda opccedilatildeo e terceira opccedilatildeo) Os resultados dessa questatildeo encontram-se na Tabela 1

Tabela 1 ndash Dispositivos utilizados pelos estudantes

Dispositivo 1ordf opccedilatildeo 2ordf opccedilatildeo 3ordf opccedilatildeo

n n n

Desktop 25 490 8 157 5 98

Notebook 11 216 14 275 8 157

Smartphone 15 294 18 353 7 137

Tablet 0 0 0 0 3 59

Fonte Os autores 2017

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo os dados mostrados na Tabela 1 o dispositivo mais utilizado como primeira opccedilatildeo pelos estudantes foi o desktop citado por praticamente metade dos entrevistados (490) seguido pelo smartphone (294) e pelo notebook (216) O fato de o desktop es-tar disponiacutevel na universidade tanto nos laboratoacuterios de informaacutetica como na biblioteca locais em que algumas aulas satildeo realizadas pode ter contribuiacutedo para esse resultado Outro fator que pode ter contri-buiacutedo parcialmente para um maior uso do desktop eacute a necessidade de preparaccedilatildeo de relatoacuterios que precisam ser digitados e portanto satildeo mais facilmente executados em dispositivos com teclados que garantam uma melhor ergonomia Contudo em oposiccedilatildeo a essa suposiccedilatildeo o segundo dispositivo mais utilizado como primeira op-ccedilatildeo foi o smartphone o que pode ser explicado pela conveniecircncia de estar com o dispositivo em matildeos uma vez que quase todos os estudantes possuem e levam o smartphone consigo agraves aulas bem como pela mobilidade jaacute que tal dispositivo pode ser usado mesmo estando em deslocamento pelos espaccedilos da universidade onde estatildeo ocorrendo as atividades da disciplina

Jaacute como segunda opccedilatildeo o dispositivo mais utilizado foi o smar-tphone (353) seguido pelo notebook (275) Mais uma vez o uso do smartphone precedeu o uso do notebook Essa relaccedilatildeo de prece-decircncia apenas se inverte quando considerados os dispositivos utilizados como terceira opccedilatildeo poreacutem com percentuais de uso muito proacuteximos 157 para notebook e 137 para smartphone Observa-se ainda que o tablet aparece em uacuteltimo lugar apenas como terceira opccedilatildeo tendo sido apontado por somente 59 dos estudantes entrevistados

Na anaacutelise das respostas da questatildeo 2 foram levados em conta os sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos diversos e serviccedilos da Web bem como as redes usados pelos estudantes A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos

Tabela 2 ndash Programas serviccedilos e redes utilizados pelos estudantes

Categoria Recurso n

Sistema operacional

Android 21 412

iOS 22 431

Mac OS 4 78

Windows 50 980

Navegador

Chrome 49 961

Firefox 10 196

Internet Explorer 6 118

Safari 18 353

E-mail

Gmail 26 510

HotmailOutlook 31 608

Terra 1 20

Uol 1 20

Yahoo 3 59

Continua gt

Categoria Recurso n

Aplicativos diversosoutros serviccedilos Web

Dropbox 1 20

Facebook 13 255

Google 49 961

Googgle Acadecircmico 49 961

Google Drive 2 39

Google Livro 27 529

MS Word 51 1000

MS Power Point 51 1000

OneDrive 3 59

SciELO 13 255

Skype 9 176

WhatsApp 51 1000

Rede

3G 20 392

4G 11 216

LAN Cabeada 43 843

WiFi 47 922

Fonte Os autores 2017

Conforme os dados apresentados na Tabela 2 o Windows da Microsoft foi o sistema operacional mais usado sendo citado por 98 dos estudantes Nesse caso existe uma relaccedilatildeo com o predomiacutenio do uso do desktop pois na biblioteca e nos labora-toacuterios frequentados pelos estudantes entrevistados o Windows eacute o sistema operacional padratildeo O sistema operacional da Apple para uso em seus computadores (Mac) que aqui foi identificado genericamente como Mac OS por possuir nomenclaturas diferen-tes dependendo de sua versatildeo foi o menos utilizado Os sistemas operacionais Android e iOS para dispositivos moacuteveis foram uti-lizados de maneira equilibrada entre os estudantes sendo men-cionados respectivamente por 412 e 431 dos universitaacuterios

O Chrome do Google foi o navegador mais usado pelos estudantes sendo apontado em 961 dos casos seguido do Safari da Apple com 353 Eacute interessante notar que embora o Internet Explorer (IE) seja o navegador padratildeo da Microsoft acompanhando o sistema operacional Windows somente 118 dos estudantes disseram utilizaacute-lo indicando nesse caso uma autonomia dos estudantes na escolha do navega-dor mais adequado a suas necessidades O serviccedilo de e-mail mais utilizado foi o Hotmail Outlook da Microsoft (608) acompanhado do Gmail do Google (510) Outros serviccedilos de e-mail tiveram pouca expressatildeo

Na categoria aplicativos e outros serviccedilos da Web o editor de textos Word e o aplicativo de apresentaccedilotildees Power Point ambos da Microsoft foram escolhas unacircnimes Apenas um estudante relatou utilizar uma versatildeo Web do editor de textos da Microsoft por meio do OneDrive para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecirc-micas Aliaacutes no que se refere a serviccedilo de armazenamento em nuvem o OneDrive Google Drive e o Dropbox foram citados por

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

59 39 e 20 dos estudantes respectivamente percentuais baixos considerando o potencial desse tipo de ferramenta para realizaccedilatildeo de trabalhos colaborativos

Outro destaque unacircnime na escolha dos estudantes foi o WhatsApp O aplicativo de troca de mensagens instantacircneas e chamadas de voz para smartphone foi apontado como de muita importacircncia para comunicaccedilatildeo dos grupos durante a realizaccedilatildeo das atividades da disciplina Outras ferramentas que auxiliam na comunicaccedilatildeo tambeacutem foram mencionadas como o Facebook (255) e o Skype (176) Cabe destacar ainda o serviccedilo de buscas do Google o Google Acadecircmico o Google Livro bem como do ser-viccedilo de buscas do Scientific Electronic Library Online (SciELO) que foram apontados por 961 961 529 e 255 dos estudantes respectivamente como ferramentas de apoio a suas pesquisas aca-decircmicas no acircmbito da disciplina abordada no presente estudo

Por fim para acesso aos serviccedilos da Web e comunicaccedilatildeo as redes mais utilizadas foram a rede WiFi (922) e a rede local (LAN) cabeada (843) disponibilizadas pela universidade Tambeacutem foram citadas as conexotildees 3G e 4G fornecidas pelas operadoras de telefonia moacutevel celular por 392 e 216 dos estudantes universitaacuterios entrevistados respectivamente

No que se refere ao contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais apoiado na metodologia ativa PBL (CACHI-NHO 2012 ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) verifica-se que na etapa inicial dos trabalhos as TICs foram menos utilizadas pois tal etapa abrangia a compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para abordagem da situaccedilatildeo-problema estudo de caso Na etapa de pesquisas as tecnologias foram utilizadas com maior intensida-de para suportar atividades como buscas seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bem como a comunicaccedilatildeo entre os integrantes dos grupos Na etapa de apresentaccedilatildeo e debates por sua vez os recursos tecnoloacutegicos foram empregadas de forma moderada em relaccedilatildeo agraves outras etapas destinando-se basica-mente agrave apresentaccedilatildeo dos resultados obtidos

Todos os recursos de hardware e software citados pelos es-tudantes fazem parte das TICs (TAKAHASHI 2000) que estatildeo na base das transformaccedilotildees observadas na atual sociedade (CAS-TELLS 2010) Levando em conta os avanccedilos das TICs e as moda-lidades educacionais relacionadas tais recursos situam-se em um momento marcado pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Nesse sentido mesmo a disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais natildeo tendo adotado explicitamente uma abordagem do tipo b-learning (OKADA BARROS 2010) os estudantes fizeram espontaneamente uma combinaccedilatildeo de aprendizagem online e

presencial De modo similar eacute possiacutevel afirmar que apesar de a disciplina natildeo adotar o m-learning (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012) de forma expliacutecita os estudantes fizeram um uso espontacircneo de dispositivos moacuteveis no apoio agrave aprendizagem

5 ConclusotildeesO presente estudo abordou o uso das TICs por estudantes uni-versitaacuterios de Administraccedilatildeo em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia PBL Consi-derou para tanto o contexto mais amplo de transformaccedilotildees tecnoloacutegicas sociais econocircmicas e culturais verificadas na atualidade (CASTELLS 2010) que caracterizam a sociedade da informaccedilatildeo ou da aprendizagem Nesse contexto os recursos tecnoloacutegicos podem apoiar o processo de ensino e aprendi-zagem por meio de novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de conhecimento (ROZA 2017)

Embora os participantes da pesquisa tenham sido estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais as tecnologias abordadas dentro do conteuacutedo programaacutetico da disciplina natildeo foram o foco deste estudo Tampouco o enfoque foi dado aos recursos tecnoloacutegicos de uso obrigatoacuterio pelos estudantes como o ambiente virtual de aprendizagem da universidade por exemplo Apesar de recursos como esse tambeacutem possuiacuterem potencial de apoiar agrave aprendizagem o presente estudo concentrou-se nas TICs (TAKAHASHI 2000) que satildeo utilizadas por iniciativa dos estudantes a partir de suas neces-sidades para realizaccedilatildeo dos desafios da disciplina situando-se em uma etapa marcada pela linguagem virtual e mais especificamente pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Outro aspecto que merece destaque eacute o fato de a disciplina adotar a aprendizagem baseada em problemas PBL Por se tratar de uma metodologia ativa (CACHINHO 2012) o estudante teve a possibilidade de assumir o papel de protagonista de sua proacutepria aprendizagem utilizando com maior liberdade as TICs para rea-lizaccedilatildeo de tarefas como pesquisa organizaccedilatildeo anaacutelise registro e compartilhamento de informaccedilotildees para aquisiccedilatildeo e produccedilatildeo de novos conhecimentos de forma alinhada agrave concepccedilatildeo de apren-dizagem como um processo de construccedilatildeo de significados (ES-CRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Aleacutem disso tambeacutem eacute importante destacar que esta pesquisa teve um caraacuteter exploratoacuterio e seus resultados se limitam agrave amostra analisada

Os resultados obtidos neste estudo por meio da anaacutelise das entrevistas indicam que o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos pelos estudantes para realizaccedilatildeo das atividades propostas na disciplina notadamente o desktop o smartphone e o notebook foi influenciado por fatores como disponibilidade ergonomia

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

e mobilidade associados a tais dispositivos A disponibilidade tambeacutem foi importante na escolha das redes para os dispositivos moacuteveis o que natildeo se aplicou ao desktop uma vez que nesse caso os computadores jaacute se encontravam conectados agrave rede lo-cal cabeada da universidade Tambeacutem no contexto de realizaccedilatildeo de atividades acadecircmicas da disciplina o uso de software foi guiado pela conveniecircncia em situaccedilotildees em que os programas jaacute se encontravam instalados ou eram de uso habitual entre os estudantes mas tambeacutem pela autonomia nos casos em que o estudante optou pelo uso de determinados programas e serviccedilos da Web abdicando-se de outros

Ainda no acircmbito da disciplina de negoacutecios em ambientes vir-tuais o uso das TICs pelos estudantes mostrou-se mais intenso na etapa de pesquisas da metodologia PBL Na etapa inicial e na etapa de apresentaccedilotildees e debate o uso das TICs foi baixo e moderado res-pectivamente Aleacutem disso destaca-se o fato de que os estudantes fizeram de forma espontacircnea uso combinado de aprendizagem online e presencial bem como uso de dispositivos moacuteveis para apoiar o processo de aprendizagem

De modo geral foi possiacutevel constatar que os estudantes buscaram usar as TICs que consideraram mais adequadas para o cumprimento das atividades da disciplina recorrendo para tanto agravequelas a que jaacute possuiacuteam acesso e com que tinham familiaridade No entanto alguns recursos tecnoloacutegicos embora pudessem auxiliar no cumprimento das atividades propostas como os serviccedilos de armazenamento em nuvem por exemplo foram menos explorados ficando restritos a poucos estudantes nos grupos entrevistados Nesse sentido uma maior troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os membros dos grupos ou ainda a indicaccedilatildeo de tecnologias por parte do professor no acircmbito das atividades apoiadas na metodologia PBL poderia resultar na adoccedilatildeo coletiva de outros recursos tecnoloacutegicos bem como estimular a exploraccedilatildeo de novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

R e f e r ecirc n c i a s

BERTONCELLO V CORDEIRO LB BORTOLOZZI F RODRIGUES AP Integraccedilatildeo das TIC e a Metodologia PBL com Aplicaccedilatildeo na aacuterea de Ginecologia e Obstetriacutecia In Brazilian Symposium on Computers in Education 2008 p 370-379

BUCKLAND M K Information and information systems New York Prae-guer 1991

CACHINHO H Criando experiecircncias de aprendizagem significativas do potencial da Aprendizagem Baseada em Problemas El Hombre y la Maacutequina v40 p58-67 2012

CASTELLS M The rise of the network society The information age Econ-omy society and culture Oxford Wiley-Blackwell 2010

CHAFFEY D Gestatildeo de e-business e e-commerce estrateacutegia implementaccedilatildeo e praacutetica Rio de Janeiro Elsevier 2014

COLL C MONEREO C Educaccedilatildeo e aprendizagem no seacuteculo XXI novas fer-ramentas novos cenaacuterios novas finalidades In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 p15-46

COUTINHO CP LISBOcircA ES Sociedade da informaccedilatildeo do conhecimento e da aprendizagem desafios para educaccedilatildeo no seacuteculo XXI Revista de Educaccedilatildeo v 18 n 1 p5-22 2011

ESCRIVAtildeO FILHO E RIBEIRO LRC Inovando no ensino de administra-ccedilatildeo uma experiecircncia com a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) Cadernos EBAPEBR p1-9 2008

KEARNEY MSCHUCK S AUBUSSON P Viewing mobile learning from a pedagogical perspective Research in learning technology v20 p1-17 2012

LALUEZA J L CRESPO I CAMPS S As tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo e os processos de desenvolvimento e socializaccedilatildeo In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 (p47-65)

LAUDON K LAUDON J Sistemas de informaccedilatildeo gerenciais Satildeo Paulo Pearson 2011

MANSELL R TREMBLAY G Renewing the knowledge societies vision for peace and sustainable development Paris UNESCO 2013

OKADA A Novos paradigmas na educaccedilatildeo online com a aprendizagem aberta In 5th International Conference in Information and Communi-cation Technologies in Education Challenges 2007 Portugal Centro de Competia da Universidade do Minho

OKADA A BARROS D M V Ambientes virtuais de aprendizagem aberta bases para uma nova tendecircncia Revista Digital de Tecnologias Cogni-tivas v3 p20-35 2010

OSMAN K KAUR SJ Evaluating Biology Achievement Scores in an ICT integrated PBL Environment Eurasia Journal of Mathematics Science amp Technology Education v 10 n 3 p185-194 2014

PINHO JAG Sociedade da informaccedilatildeo capitalismo e sociedade civil reflexotildees sobre poliacutetica internet e democracia na realidade brasileira Revista de Administraccedilatildeo de empresas v51 n1 p98-106 2011

POZO JI A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informa-ccedilatildeo em conhecimento Paacutetio Revista Pedagoacutegica n31 p8-11 2004

ROZA RH Estilos de aprendizagem e o uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 2017 157p Tese (Doutorado em Psicologia como Profissatildeo e Ciecircncia) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Centro de Ciecircncias da Vida Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psico-logia Campinas 2017

SILVA EL CAFEacute L CATAPAN AH Os objetos educacionais os metadados e os repositoacuterios na sociedade da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo v39 n3 p93-104 2010

STEVENSON COMMITTEE Information and communications technology in UK schools An independent enquiry (The Stevenson Report) 1997

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

TAKAHASHI T (Org) Sociedade da informaccedilatildeo no Brasil livro verde Brasiacutelia Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia 2000

TOLEDO JUacuteNIOR ACC IBIAPINA CDC LOPES SCF RODRIGUES ACP SOARES SMS Aprendizagem baseada em problemas uma nova referecircncia para a construccedilatildeo do curriacuteculo meacutedico Revista Meacutedica de Minas Gerais v18 n2 p123-131 2008 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre

indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-

tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

Apresentamos uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional que procura articular a Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica com a Educaccedilatildeo Ambiental considerando

os aspectos culturais nas relaccedilotildees entre os sujeitos e as aacuteguas em diferentes contextos especialmente no que diz respeito agrave escassez poluiccedilatildeo e maacute distribuiccedilatildeo Como objeto de anaacutelise seraacute apresentado o livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado em 2016 pela editora UDESC Entre os principais resultados alcanccedilados destaca-se o efetivo envolvimento de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento bem como sua validaccedilatildeo preacutevia junto ao puacuteblico escolar ao qual se destina Tal intervenccedilatildeo tambeacutem corrobora a utilizaccedilatildeo criteriosa das tecnologias educacionais na promoccedilatildeo e difusatildeo de conteuacutedos e significados valores e formas de atuaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida comunitaacuteria

R e s u m e n

Presentamos una intervencioacuten pedagoacutegica de aplicacioacuten de tecnologiacutea educativa que busca artic-ular la Educacioacuten Cientiacutefica y Tecnoloacutegica con la Educacioacuten Ambiental considerando los aspectos culturales en las relaciones entre los sujetos y las aguas en diferentes contextos especialmente en lo que se refiere a su situacioacuten escasez contaminacioacuten y mala distribucioacuten Como objeto de anaacutelisis seraacute presentado el libro digital Sobre a Face das Aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado en 2016 por la Editora UDESC Entre los principales resultados alcanzados se destaca la efectiva participacioacuten de investigadores y profesores de diferentes aacutereas de conocimiento asiacute como su validacioacuten previa ante el puacuteblico escolar al que se destina Tal intervencioacuten tambieacuten corrobora la utilizacioacuten cuidadosa de las tecnologiacuteas educativas en la promocioacuten y difusioacuten de con-tenidos y significados valores y formas de actuacioacuten en relacioacuten a la calidad de vida comunitaria

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 20170929 Aprovado em 20112017

Palavras-chaveEnsino a distacircncia Material paradidaacutetico InterdisciplinaridadeAacutegua

Palabras claveEnsentildeanza a distancia Material paradidaacutectico Interdisciplinariedad Agua

Autores Poacutes-doutorando no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina doutor em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grandee-mail thalassochingyahoocombr

Doutoranda no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina mestre em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande e-mail carolinacnpqgmailcom

Professora do Centro de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Universidade do Estado de Santa Catarina doutora em Neuro-ciecircncias pela Universidade Federal de Santa Catarina e-mail isabelcunhaudescbr

Como citar este artigoFERREIRA W NASCIMENTO C C CUNHA I C Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias edu-cacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguasIntervencioacuten pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionales sobre las interaciones culturales com las aguas

Washington Ferreira Carolina Cavalcanti do Nascimento e Isabel Cristina da Cunha

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoApresentamos o processo de criaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de material paradidaacutetico sob a forma de um livro digital denominado Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua1 Essa obra se constituiu em uma intervenccedilatildeo pe-dagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional articulan-do princiacutepios conteuacutedos e valores compartilhados entre os campos da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e da Educaccedilatildeo Ambiental A transversalidade pretendida se efetiva atraveacutes de um conjunto de propostas pedagoacutegicas que buscam conside-rar aspectos culturais de diferentes contextos socioambientais nas suas relaccedilotildees com as aacuteguas

A viabilidade do desenvolvimento de tal atividade foi oportu-nizada atraveacutes da parceria entre a Coordenadoria de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior e a Agecircncia Nacional das Aacuteguas com o lanccedilamento em setembro de 2015 do Edital ANA-CAPES DEB Nordm 182015 subsidiado pelo Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash Projeto Aacutegua O objeti-vo do referido edital foi fomentar a produccedilatildeo de material didaacutetico para a educaccedilatildeo baacutesica sobre o tema ldquoAacuteguardquo para ser utilizado no Ensino Fundamental II e no Ensino Meacutedio e ser disponibilizado em forma de miacutedias e adaptaacuteveis para uso em repositoacuterios online eou em raacutedio TV internet dispositivos moacuteveis (tablets e celu-lares) Entre as exigecircncias desse edital em relaccedilatildeo aos projetos aprovados estavam ser desenvolvidos preferencialmente por equipes multidisciplinares ter como referecircncia os conteuacutedos elencados nos Paracircmetros Curriculares Nacionais do Meio Am-biente em que se situa a discussatildeo sobre o tema ldquoAacuteguardquo ter um caraacuteter interdisciplinar e garantir a testagem preacutevia do material didaacutetico produzido (ANA-CAPES 2015)

O projeto Sobre a Face das Aacuteguas submetido pela Univer-sidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) teve vigecircncia entre os meses de janeiro e dezembro de 2016 Seu objetivo central foi produzir um material paradidaacutetico de hipertexto no formato de ePUB2 ndash contendo textos informativos forma-tivos e trabalhos artiacutesticos ndash que auxiliasse na reflexatildeo sobre as diferentes relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas voltadas tanto para a aprendizagem sobre a importacircncia das aacuteguas e dos seus usos sustentaacuteveis quanto para diferentes conteuacutedos disciplinares associados ao referido tema O projeto buscava elaborar um material didaacutetico interativo dinacircmico e acessiacutevel que possibilitasse aos profes-sores(as) do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio integrar a discussatildeo sobre a importacircncia e o uso sustentaacutevel da aacutegua aos seus conteuacutedos curriculares articular as diferentes mani-festaccedilotildees artiacutesticas e culturais com o tema ldquoaacuteguardquo agraves atividades pedagoacutegicas de mediaccedilatildeo de aprendizagem e sensibilizar e problematizar as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua consi-derando o contexto temporal e territorial de diferentes grupos

eacutetnico-culturais As manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais estatildeo muito mais acessiacuteveis hoje em dia e podem ser utilizadas com vieacutes pedagoacutegico se estiverem ao alcance dos professores como recurso didaacutetico (CUNHA 2015) Elas por si mesmas trazem informaccedilotildees e geram sentimentos que auxiliam na formaccedilatildeo do sujeito poreacutem esse potencial pode ser otimizado na medida em que se propotildeem objetivos de aprendizagem associados a essas informaccedilotildees e emoccedilotildees

No sentido de estimular a relaccedilatildeo sustentaacutevel com os recursos de bem comum como por exemplo a aacutegua cabe agrave Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e agrave Educaccedilatildeo Ambiental o compromisso com a formaccedilatildeo do sujeito tanto no acircmbito racional pragmaacuteti-co quanto no acircmbito eacutetico e moral ndash estimulando a superaccedilatildeo da relaccedilatildeo utilitarista que ainda mantemos com os elementos e os fenocircmenos da natureza Nessa perspectiva com diferentes dimensotildees e aspectos muitos autores e educadores tecircm sugeri-do e experimentado uma aproximaccedilatildeo da educaccedilatildeo com a arte trazendo na maioria das vezes elementos de linguagens artiacutesticas agraves praacuteticas educativas

A Transversalidade emerge como alternativa para a construccedilatildeo da Interdisciplinaridade e ao aprofundamento da Transdisciplinaridade que Edgar Morin indica como uma forma da educaccedilatildeo contemplar uma nova leitura do mundo Isso nos remete agrave compreensatildeo de que o mundo fiacutesico eacute uma rede de relaccedilotildees de conexotildees e natildeo uma en-tidade fragmentada em que as partes satildeo analisadas separadas do todo sem a preocupaccedilatildeo com a complexidade existente e com as inter-relaccedilotildees entre essas mesmas partes (SANTOS 2012 p 169)

A preocupaccedilatildeo educacional com as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas abrange desde a sua (in)disponibilidade e perda de qualidade ateacute a percepccedilatildeo dos aspectos eacuteticos-afeti-vos envolvidos nestas mesmas relaccedilotildees A construccedilatildeo de uma percepccedilatildeo proacutepria autocircnoma e emancipatoacuteria da relaccedilatildeo com a aacutegua natildeo pode ser algo indutivo maniqueiacutesta ndash no sentido de determinar o que eacute certo e errado ditando comportamentos ade-quados que noacutes enquanto adultos tambeacutem temos dificuldades de praticar Portanto torna-se fundamental associar a aacutegua com as diferentes manifestaccedilotildees culturais visando a sensibilizar sobre as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas problematizadoras

2 Resultados e AnaacuteliseO desenvolvimento da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas (NASCI-MENTO FERREIRA CUNHA 2016) foi estruturado atraveacutes de um conjunto de etapas processuais (Tabela 1)

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Tabela 1 ndash Etapas e atividades da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas

Etapas Atividades Observaccedilotildees

A

Pesquisa seleccedilatildeo eou produccedilatildeo de obras artiacutesticas e manifestaccedilotildees culturais relacionadas com o tema Aacutegua

Desenhos pinturas foto-grafias muacutesicas filmes escul-turas instalaccedilotildees contos poemas crocircnicas

BElaboraccedilatildeo das propostas pe-dagoacutegicas a partir dos materiais selecionados

C

Avaliaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo (teoacuterica e metodoloacutegica) de especialistas - professores(s) e pesquisado-res(s) ndash considerando aspectos conceituais disciplinares

Aacutereas envolvidas arte ge-ografia histoacuteria sociologia filosofia liacutengua portuguesa e literatura inglecircs matemaacute-tica biologia oceanografia espiritualidade e religiotildees

DInserccedilatildeo das contribuiccedilotildees dos(s) especialistas nas propos-tas pedagoacutegicas

E Esboccedilo preliminar das propostas em desenvolvimento

FVideoconferecircncia nacional de inte-graccedilatildeo dos projetos contemplados mediada pela CAPES

(abril de 2016)

G Complementaccedilatildeo de atividades e propostas pedagoacutegicas

H Supervisatildeo e ajustes da coordena-ccedilatildeo do projeto

I Revisatildeo textual

J Conversatildeo das propostas pedagoacute-gicas editadas (nos formatos e-Pub e PDF)

K Testagem de validaccedilatildeo junto ao puacuteblico usuaacuterio

(professores(s) e alu-nos(s))

L Revisatildeo final e poacutes-produccedilatildeo

MSeminaacuterio nacional presencial de integraccedilatildeo dos projetos contem-plados junto a CAPES

(Brasiacutelia DF novembro de 2016)

Fonte os autores 2017

As sugestotildees de atividades foram distribuiacutedas entre vinte pro-postas pedagoacutegicas de caraacuteter informativo e formativo a partir de manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais sobre as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas todas conectadas a determinados temas e conteuacutedos especiacuteficos (Tabela 2)

Tabela 2 ndash propostas pedagoacutegicas do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua

Atividades Artes Temas

Coacutedigo de Hamurabi

Trecho do Coacutedigo de Hamurabi (considerado o primeiro conjunto de leis da humanidade

CidadaniaDesastres ambientaisCTSMovimentos sociais

O Grito da Boneca

Fotografia de Wa Ching do Estuaacuterio da Lagoa dos Patos Rio Grande do Sul

Poluiccedilatildeo hiacutedricaDespejo de resiacuteduosPoliacuteticas puacuteblicasSaneamento baacutesico

A Arca Charge El Arca do argentino Mayer

Mudanccedilas climaacuteticasBiodiversidade

Escultura Submersa

Escultura em maacutermore do catarinense Pita Camargo no mar no Reserva Bioloacutegica do Arvoredo SC

UCsPoluiccedilatildeoBiodiversidade

As Aacuteguas de Tom e Gonzaga

Muacutesicas Asa Branca do cantor e compositor Luiz Gonzaga e Aacuteguas de Marccedilo do cantor e compositor Tom Jobim

Mudanccedilas climaacuteticasDesigualdades sociaisEscassez da aacutegua

Aacutegua Charge do brasileira Jack Kaminski

Escassez da aacuteguaSustentabilidade

Lenda das Sereias

Samba-enredo Lenda das Sereias_Rainha do Mar do GRES Impeacuterio Serrano

Mitologia africanaSincronismo religioso

Meditaccedilatildeo da Aacutegua

Proposta transdisciplinar para introduccedilatildeo ao tema Aacutegua atraveacutes da meditaccedilatildeo

Budismo tibetano

O Nascer do Mar

Poema natildeo titulado do autor Raul Machado

Impactos ambientais

O Velho e o Mar

Video-animaccedilatildeo a adaptaccedilatildeo da obra literaacuteria claacutessica de Ernest Hemingway publicado em 1952

Ser humano-naturezaSustentabilidadeComunidade tradicional

Continua gt

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Atividades Artes Temas

Retirantes

A obra Retirantes pintada em 1944 por Cacircndido Portinari

Desigualdades sociaisMovimentos sociais

PrioridadesCharge (natildeo titulada) do alematildeo Jan Tomaschoff

Mudanccedilas climaacuteticasSustentabilidadeJusticcedila amiental

Hino ao NiloHino em homenagem ao Rio Nilo no Egito

Cidadania

Rio das Mulheres

Documentaacuterio O Rio das Mulheres pelo olhar de Ivaneide de 2004

Desigualdade de gecircneroSustentabilidade

As Primeiras Civilizaccedilotildees

O Mapa das Pri-meiras Civilizaccedilotildees eacute um desenho (vetorizaccedilatildeo) em tela utilizando o software livre de geoprocessa-mento QGIS

Aacutegua e Sauacutede

A imagem representando a praacutetica do banho na Idade Meacutedia

HigieneSauacutedeSaneamento Baacutesico

Fonte Elaborado pelos autores baseado em Nascimento Ferreira

Cunha 2016

O conteuacutedo e a linguagem deste livro digital foram estrutura-dos visando como usuaacuterios diretos principalmente professores do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio Para cada uma das vinte atividades propostas foram tambeacutem apresentadas seacuteries especiacuteficas de fontes bibliograacuteficas atraveacutes de comentaacuterios ao longo do texto e hiperlinks de acesso ao domiacutenio virtual como estiacutemulo para o aprofundamento dos leitores nos temas e pro-cessos discutidos em relaccedilatildeo aos seus referenciais cientiacutefico--tecnoloacutegicos e artiacutestico-culturais aleacutem da contextualizaccedilatildeo das obras originais Outro ponto a ser destacado foi o envolvimento interdisciplinar de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento no processo de pesquisa elaboraccedilatildeo e produccedilatildeo desta obra (Quadro 1)

Quadro 1 ndash roteiro para avaliaccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas pelos pesquisadores-professores

Temas de avaliaccedilatildeo

Questotildees para avaliaccedilatildeo das propostas Detalhes

Qualidadeda arte

a) eacute interessanteb) trata da temaacutetica aacuteguac) eacute adequada para o Ensino

Fundamental II eou Ensino Meacutedio

d) estaacute classificada adequadamente

(poema muacutesica documentaacuterio histoacuteria em quadrinho charge fotografia viacutedeo)

Qualidadeda proposta

a) eacute interdisciplinarb) estaacute bem contextualizada

(apresentada)c) eacute transversal (considera o

cotidiano)d) articula questotildees locais e globaise) quais elementos relacionados com

o tema aacutegua ainda podem ser explorados na arte

f ) cita conteuacutedos adequados em relaccedilatildeo agraves disciplinas citadas

g) quais outras disciplinas e conteuacutedos ainda podem ser explorados

h) forneceu elementos paradidaacuteticos para o() professor() ou poderia apresentar mais coisas (aprofundar pedagogicamente)

i) estaacute bem articulada com a arte ou foge do assunto

Fonte os autores 2017

O retorno dessas avaliaccedilotildees preliminares foi decisivo na me-lhor estruturaccedilatildeo do conjunto de propostas e na sua adequa-ccedilatildeo agraves especificidades de diferentes aacutereas Seguem-se algumas recomendaccedilotildees recebidas sobre uma das atividades propostas que exemplificam a forma de participaccedilatildeo de pesquisadores--professores (Quadro 2)

Quadro 2 ndash recomendaccedilotildees dos pesquisadores-professores sobre as propostas pedagoacutegicas

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Liacutengua Portuguesa

A animaccedilatildeo eacute adequada para o trabalho especialmente com o Ensino Fundamental pela sua ludicidade e linguagem visual e graacutefica atrativas A sugestatildeo eacute trabalhar interpretaccedilatildeo visto que o que estaacute sendo dito eacute dito sem o uso de palavras possibilitando e instigando a discussatildeo sobre o que estaacute sendo representado

Matemaacutetica

O() professor() pode desenvolver uma atividade em que seussuas estudantes tenham uma vivecircncia com as operaccedilotildees numeacutericas pois a animaccedilatildeo serve como desencadeadora para problematizar os custos em dinheiro para ter acesso agrave aacutegua potaacutevel Aleacutem disso a diferenccedila de valor entre as marcas que a mercantiliza e de como esta relaccedilatildeo reflete de forma diferente entre as classes sociais

Continua gt

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Geografia

Na geografia humana sugerimos os estudos sobre a induacutestria da seca possibilitando assim uma analogia do viacutedeo com a realidade do nordeste brasileiro A ldquoinduacutestria da secardquo eacute um termo utilizado para retratar uma condiccedilatildeo de exploraccedilatildeo por parte de pessoas que se beneficiam da miseacuteria no conhecido poliacutegono da seca regiatildeo do territoacuterio brasileiro caracterizado por baixas precipitaccedilotildees

Sociologia

Eacute possiacutevel discutir (a) A apropriaccedilatildeo privada dos mananciais e a mercantilizaccedilatildeo da aacutegua relacionando estes fatos com o capitalismo a industrializaccedilatildeo a urbanizaccedilatildeo o individualismo etc (b) O fato do ser humano controlar e se impor agrave natureza

Fonte os autores 2017

Aleacutem disso o livro foi submetido agrave Fase de Teste atendendo agrave exigecircncia do edital ANA-CAPES com professores da Escola de Edu-caccedilatildeo Baacutesica Vereador Guilherme Zuege (no municiacutepio de Joinville SC) vinculada agrave rede puacuteblica estadual de Santa Catarina atraveacutes da sua avaliaccedilatildeo (Quadro 3) Cabe ressaltar que a Fase de Teste foi realizada antes da finalizaccedilatildeo do livro para que a avaliaccedilatildeo fosse efetivamente contemplada no resultado final

Quadro 3 ndash retorno da avaliaccedilatildeo dos professores (N=3)

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre o formato e-Pub e sua utilizaccedilatildeo

a) Seria mais atrativo se fosse mais colorido mais di-nacircmico Eacute praacutetico mas seria interessante se fosse tambeacutem para o uso do professor em sala de aula com os alunos e pra isso ele precisaria ser mais atrativo visualmente os viacutedeos por exemplo deveriam estar disponibilizados no proacuteprio EPUB

b) As atividades propostas nos deixam vaacuterias possibilidades de como podemos trabalhar em sala de aula

c) Atende agraves necessidades

Qual sua opiniatildeo sobre o conteuacutedo das propostas pedagoacutegicas

a) Os conteuacutedos disciplinares estatildeo contemplados nas propostas dessa forma trabalhar esses con-teuacutedos se torna mais atrativo para os estudantes e a interdisciplinaridade acontece de forma natural as relaccedilotildees se constroem e os estudantes podem perceber como as coisas estatildeo interliga-das

b) Nos faz refletir de maneira global sobre a impor-tacircncia da aacutegua para o nosso planeta

c) Conteuacutedo diversificado e envolvente

Qual sua opiniatildeo sobre o uso de obras artiacutesticas como desencadeadoras-problematizadoras em atividades pedagoacutegicas

a) Perfeito A arte desperta empatia para os temas que seratildeo abordados As questotildees ambientais muitas vezes satildeo abordadas de forma morali-zante e por meio de cartilhas sem proporcionar a reflexatildeo e sem fazer relaccedilotildees com o cotidiano das pessoas A escolha das obras alcanccedilou manifestaccedilotildees artiacutesticas diferentes ampliando as possibilidades de abordagem

b) As obras artiacutesticas causa uma sensibilizaccedilatildeo vc passa a ver a perceber todos aspectos de uma sociedade atraveacutes da arte

c) Considero de muito valia visto que a proble-matizaccedilatildeo de qualquer tema torna-se mais interessante quando haacute visualizaccedilatildeo das ideais que devem ser desenvolvidas

Continua gt

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre a proposta do e-Pub Sobre a Face das Aacuteguas

a) A proposta eacute original acredito pois jamais entrei em contato com algo assim Temas ambientais satildeo recorrentes e precisam ser trabalhados em sala de aula e por vezes eacute difiacutecil inovar e com essa proposta muitas outras ideias podem ser desencadeadas A tecnologia (o formato EPUB) tambeacutem estaacute palpitando e os professores precisam se arriscaraventurar por esses novos ambientes pois sua linguagem eacute muita mais proacutexima dos jovens estudantes

b) Ele nos mostra diversas maneiras de se trabalhar o tema aacutegua em vaacuterios contextos o que torna interessante para nossos alunos

c) Muito boa Novidade sempre eacute bem vinda para envolver o jovem de hoje Inovaccedilatildeo eacute tudo

Fonte os autores 2017

21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desigualdades

Os problemas socioambientais identificaacuteveis nos niacuteveis local regional e nacional constituem expressotildees localizadas de uma crise planetaacuteria ndash pobreza poluiccedilatildeo escassez de recursos natu-rais renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis extinccedilatildeo de espeacutecies alteraccedilotildees climaacuteticas etc Tal cenaacuterio estaacute intimamente atrelado ao vieacutes an-tropocecircntrico o qual atribuiu ao homem a tarefa de dominar e explorar a natureza ndash perspectiva evidenciada no processo de industrializaccedilatildeo (NASCIMENTO 2013) Nesse processo a ciecircncia e a tecnologia (CampT) foram vistas predominantemente ateacute haacute pouco tempo como sinocircnimos inequiacutevocos de progresso e salvadoras de todos os possiacuteveis problemas No entanto apesar da preten-sa neutralidade da CampT o tempo foi revelando outras facetas como a constataccedilatildeo cada vez mais evidente da imensidade da discrepacircncia na reparticcedilatildeo social dos ocircnus e bocircnus desse mode-lo de desenvolvimento amplificando o poder sociopoliacutetico e os rendimentos para o mercado industrial (ANGOTTI AUTH 2001)

Dessa forma assim como a ciecircncia e a tecnologia natildeo trouxe-ram o prometido benefiacutecio a todos houve ainda a intensificaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental trazendo enormes consequecircncias ne-gativas a grupos especiacuteficos Essa configuraccedilatildeo de desigualdades em relaccedilatildeo aos impactos socioambientais gerados pela explora-ccedilatildeo desenfreada da natureza associados aos ldquoavanccedilosrdquo enviesados da CampT constitui o que vem sendo reconhecido como injusticcedila ambiental entendida como o mecanismo pelo qual sociedades desiguais do ponto de vista econocircmico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento agraves populaccedilotildees de baixa renda aos grupos sociais discriminados aos povos eacutet-nicos tradicionais aos bairros operaacuterios agraves populaccedilotildees margina-lizadas e vulneraacuteveis3

Em contraposiccedilatildeo a ideia de justiccedila ambiental aparece como o conjunto de princiacutepios que visam a assegurar que nenhum grupo de pessoas sejam grupos eacutetnicos raciais ou de classe suporte

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

uma parcela desproporcional das consequecircncias ambientais negativas de operaccedilotildees econocircmicas de poliacuteticas e programas federais estaduais e locais bem como resultantes da ausecircncia ou omissatildeo de tais poliacuteticas Aleacutem disso eacute a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas inde-pendentemente de sua raccedila cor origem ou renda no que diz respeito agrave elaboraccedilatildeo desenvolvimento implementaccedilatildeo e reforccedilo de poliacuteticas leis e regulamentaccedilotildees ambientais (BULLARD 1990 ACSELRAD 2004 HERCULANO PACHECO 2006)

Segundo Herculano e Pacheco (2006) o movimento por justiccedila ambiental nos Estados Unidos tem dois momentos de criaccedilatildeo Em 1978 quando uma comunidade (Love Canal) de famiacutelias de operaacuterios (brancos) da induacutestria eleacutetrica no Niagara Falls des-cobriu-se vivendo em cima de um aterro de resiacuteduos toacutexicos e passou a lutar por indenizaccedilotildees por tratamento meacutedico e pelo direito agrave informaccedilatildeo sobre seu local de vida constituindo-se em coalizatildeo que deu forma ao Center for Health and Environmental Justice (Centro por Sauacutede e Justiccedila Ambiental)

Em 1982 em Warren County na Carolina do Norte registrou-se a revolta da populaccedilatildeo negra contra um depoacutesito de rejeitos quiacute-micos Desde entatildeo o movimento negro passou a utilizar a ex-pressatildeo racismo ambiental relativa a qualquer poliacutetica praacutetica ou diretiva que afete ou prejudique de formas diferentes voluntaacuteria ou involuntariamente a pessoas grupos ou comunidades por motivos de raccedila ou cor (BULLARD 2005 p1)

Essas definiccedilotildees tecircm seu valor na discussatildeo sobre as despropor-cionalidades das consequecircncias ambientais negativas entre diferen-tes populaccedilotildees No entanto de acordo com Herculano e Pacheco (2006) enquanto a perspectiva de justiccedila ambiental apresenta o vieacutes de classes ndash considerando seu sujeito como minoria e tendo foco no objeto e no processo da disputa no conflito em si (argumentaccedilatildeo proacutexima ao marxismo) ndash a perspectiva do racismo ambiental faz uma criacutetica agrave inferiorizaccedilatildeo racial ndash referindo-se agrave maioria (os pobres vistos preconceituosamente como raccedila inferior) e focando nos sujeitos coletivos nos valores e na eacutetica (MATHIAS 2007)

Natildeo caberia neste espaccedilo empreender esforccedilos para aferir o grau de importacircncia de um conceito em relaccedilatildeo a outro e muito menos julgar os niacuteveis de impactos sofridos entre as populaccedilotildees brancas pobres e as populaccedilotildees negras e indiacutegenas tambeacutem exclu-iacutedas socialmente Destacamos a importacircncia de desenvolverem es-forccedilos e inciativas para a produccedilatildeo e difusatildeo de materiais didaacuteticos e paradidaacuteticos que considerem tanto as diferentes relaccedilotildees com o meio ambiente quanto ao conjunto de consequecircncias da crise socioambiental considerando as desigualdades sociais e raciais que estatildeo sendo reproduzidas nesse contexto e para cuja soluccedilatildeo a educaccedilatildeo deve assumir efetivo compromisso eacutetico e em cujo pro-cesso as tecnologias educativas podem colaborar decisivamente

22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental A complexidade crescente das demandas conflitos e impactos am-bientais na sociedade contemporacircnea exige a adoccedilatildeo de um sistema de gestatildeo socioambiental robusto e efetivo integrado e assumido pela coletividade como instrumento e processo decisoacuterio administra-do de forma transparente e participativa para o qual as tecnologias educativas podem desempenhar relevante papel A responsabilidade compartilhada social e economicamente pelo conjunto dos cidadatildeos do paiacutes implica para aleacutem dos deveres associados ao pagamento dos tributos e impostos tambeacutem o efetivo envolvimento na promoccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas direcionadas a reduccedilatildeo das desigual-dades sociais (VIEIRA et al 2006 p48)

Diversas iniciativas e propostas vecircm sendo conduzidas no sentido de habilitar a estrutura e pessoal administrativo do Estado a incorporar o instrumental necessaacuterio para a captaccedilatildeo a anaacutelise e a decisatildeo mais aacutegil de informaccedilotildees e insumos aplicaacuteveis na resoluccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo Uma vez efetivada e aperfeiccediloada tal perspectiva pode vir a se constituir natildeo soacute em um instrumento mas numa caracteriacutestica central do processo de gestatildeo podendo chegar ao conceito de governo eletrocircnico (e-Gov) Aleacutem da aspirada eficaacutecia na gestatildeo puacuteblica tal instru-mental pode tambeacutem contribui para amplificar sua legitimidade agrave medida que proporcione real transparecircncia e acesso agrave populaccedilatildeo sobre as questotildees de planejamento e decisatildeo que incidam no conjunto do tecido social (PERSEGONA 2005 p131)

Contudo de modo a prevenir eventuais distorccedilotildees que a detenccedilatildeo privilegiada de informaccedilatildeo possa acarretar (pela consequente con-centraccedilatildeo de poder poliacutetico-econocircmica dela derivada) o progressivo desenvolvimento tecnoloacutegico e comunicacional deve ser regulamen-tado pelo Estado com a fiscalizaccedilatildeo pelo conjunto da sociedade e seus representantes garantindo-se o seu pleno acesso assim amplificando o seu potencial educativo Tais cuidados imprescindiacuteveis devem ser aprofundados quando da utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas no processo formativo como na Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EaD) na qual se destaca sua responsabilidade pela seleccedilatildeo das propostas composiccedilatildeo de equipe formadora estrateacutegias didaacuteticas e proposiccedilatildeo de ativida-des que podem influenciar decisivamente no ecircxito ou fracasso dessas mesmas poliacuteticas educativas (FUJITA 2010 p188-189) A hipertrofia e descontrole do aparato informacional enquanto instrumento e espaccedilo regulador dos fluxos e processos formativos comunicacionais e geren-ciais pode distanciar-se profundamente dos objetivos comunitaacuterios e identitaacuterios consolidando-se enquanto instacircncia emergente de poder poliacutetico-econocircmico impondo a sociedade os seus proacuteprios padrotildees e valores distoantes das necessidades e aspiraccedilotildees coletivas Tal eacute o risco intriacutenseco ao processo de utilizaccedilatildeo e dependecircncia crescente da sociedade em relaccedilatildeo agraves tecnologias educativas na ausecircncia de efetivo controle social dos seus meios de produccedilatildeo atraveacutes da proacutepria populaccedilatildeo e de seus representantes sociopoliacuteticos

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Para lidar de modo adequado pertinente e seguro com essa possibilidade assim como com quaisquer outros gran-des riscos conflitos e impactos socioambientais vivenciados coletivamente nunca eacute demais insistirmos no empoderamento social com a garantia da transparecircncia e do pleno acesso agraves informaccedilotildees para a participaccedilatildeo qualificada nas discussotildees de real significado para a sociedade

A educaccedilatildeo ambiental e a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica detecircm uma capacidade de mobilizaccedilatildeo social significativa ao contextualizar criticamente as potencialidades e problemas as perspectivas e conflitos socioambientais proporcionando as con-diccedilotildees para a discussatildeo coletiva e qualificada das comunidades para o planejamento socioambientalmente referenciado dos seus espaccedilos e territoacuterios Por meio de sua inserccedilatildeo e reverberaccedilatildeo nos espaccedilos programas e atividades de EaD podem ser compreendidos e vivenciados como comunidades de aprendizagem espaccedilos de pertencimento e cidadania elementos essenciais para desencadear a gestatildeo participativa municipal que promova a efetiva incorpora-ccedilatildeo da sustentabilidade e justiccedila socioambiental (FERREIRA 2010) Nesse cenaacuterio a EaD demanda um novo paradigma de ruptura com modelo claacutessico de ensino (atrelado ao modelo econocircmico em curso) desconexo e competitivo para um novo sistema integrado e colaborativo Ensinar a estudar e a trabalhar em cooperaccedilatildeo requer tambeacutem um novo perfil dos profissionais da educaccedilatildeo pelo qual sejam capazes de reconhecer as peculiaridades individuais e com a habilidade para administrar os conflitos dessa nova aprendizagem colaborativa (MARAVALHAS COSTA BARRETO 2010 p 11)

Como as atividades satildeo desenvolvidas em grupos nas diferen-ccedilas e divergecircncias ou seja na convivecircncia os estudantes aprendem a respeitar o outro como legiacutetimo A liberdade e a responsabilidade se estendem ao material pedagoacutegico disponiacutevel nos ambientes que oferecem subsiacutedios (tanto para os professores quanto para os estudantes) na proposiccedilatildeo de diferentes praacuteticas pedagoacutegicas (GAUTEacuteRIO RODRIGUES 2013 p 616) A responsabilidade e a liber-dade como emoccedilotildees que fundamentam o fazer humano passam a ser compreendidas em uma dimensatildeo ampliada Professores e estudantes entendem que satildeo responsaacuteveis pelo ensinar e pelo aprender e ao se darem conta das consequecircncias das proacuteprias accedilotildees podem optar por desejar ou natildeo esses resultados

Como todo processo educativo e cultural as tecnologias educativas satildeo constructos humanos logo natildeo satildeo neutras elas contecircm e condicionam determinados conteuacutedos e ideologias objetivos e sujeitos Os instrumentos os processos e os produtos gerados e compartilhados pela a EaD por exemplo congregam um potencial muito expressivo de transformaccedilatildeo nas interaccedilotildees socioculturais por tal caracteriacutestica seu emprego deve considerar com parcimocircnia as repercussotildees locais e contextos especiacuteficos onde podem vir a incidir de modo a prevenir e evitar a erosatildeo

cultural pela homogeneizaccedilatildeo da diversidade cultural diante de padrotildees de referecircncia externos assim como no tratamento super-ficial e alienante de temas e abordagens e ainda no processo de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida dos profissionais da educaccedilatildeo em progressiva substituiccedilatildeo pela mediaccedilatildeo eletrocircnica

Por outro lado satildeo muacuteltiplas as suas potenciais contribuiccedilotildees para o desenvolvimento das capacidades humanas o respeito e va-lorizaccedilatildeo da diversidade eacutetnico-cultural e o estiacutemulo agrave criatividade Tais dimensotildees devem ser trabalhadas pelo fortalecimento do senso criacutetico da cooperaccedilatildeo e da efetiva participaccedilatildeo cidadatilde nos processos decisoacuterios sobre os destinos compartilhados de todas as sociedades Entendemos pois que a produccedilatildeo e a difusatildeo do livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas com seu conjunto de propostas pedagoacutegicas concebidas aplicadas e avaliadas por pesquisadores e professores constitui-se em um estudo de caso representativo do potencial inspirador da (e para a) utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas com perspectivas de transformaccedilatildeo socioambiental qualificando-nos em conjunto para a melhoria dos processos produtivos e educativos

3 ConsideraccedilotildeesPercebemos como organizadores e colaboradores envolvidos na produccedilatildeo dessa obra que a proposta pedagoacutegica interdisciplinar sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas conseguiu atender aos objetivos estabelecidos respondendo de modo satisfatoacute-rio aos desafios empreendidos A sua avaliaccedilatildeo junto aos seus destinataacuterios atraveacutes da Fase de Testes preacutevios com professores resultou na adaptaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de algumas atividades propostas incrementando a qualidade e aderecircncia do produto final as necessidades e expectativas docentes

A ampla receptividade do produto final junto aos colegas pesqui-sadores-professores durante o Seminaacuterio Nacional de Integra-ccedilatildeo da CAPES constituiu-se em fator de grande estiacutemulo para o desenvolvimento de projetos similares (re)conectando as aacutereas teacutecnico-cientiacuteficas e artiacutestico-culturais solidamente embasadas no contexto nacional mas abertos agrave pluralidade de formas de expressatildeo e abordagens do patrimocircnio cultural da humanidade

Focalizamos algumas formas e processos de interaccedilatildeo entre as atividades e expressotildees artiacutestico-culturais com ecossistemas recursos e seres aquaacuteticos os quais merecem nosso respeito e esforccedilos para a manutenccedilatildeo da integridade e complexidade desses universos hiacutedricos Entendemos que a educaccedilatildeo cientiacutefi-ca e tecnoloacutegica e a educaccedilatildeo ambiental devem estar abertas e receptivas para o contiacutenuo intercacircmbio de saberes e fazeres com o multiverso dos conhecimentos natildeo acadecircmicos gestados no cotidiano da vida laboral de todas as culturas

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa intervenccedilatildeo pedagoacutegica tambeacutem adveacutem a compreensatildeo da pertinecircncia e da relevacircncia da adoccedilatildeo criteriosa criacutetica e participativa das tecnologias educacionais com efetivo potencial de mobilizaccedilatildeo e interaccedilatildeo social para a discussatildeo e problematizaccedilatildeo de temas aspectos e questotildees compartilhadas por diferentes comunidades e contextos

Entendemos tambeacutem o valor intriacutenseco a tais tecnologias educa-cionais no sentido de viabilizar a exponencial ampliaccedilatildeo do acesso compartilhamento apropriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo dos conteuacutedos e significados produzidos-difundidos constituindo-se em instru-mental acessoacuterio para subsidiar a atuaccedilatildeo dos educadores em todos os acircmbitos niacuteveis e escalas contextos e realidades socioculturais e poliacutetico-econocircmicas Concebidas e conduzidas de modo a respeitar valorizar e estimular a diversidade de saberes e fazeres concepccedilotildees de mundo e (re)leituras de conhecimentos patrimoniais teacutecnicos cientiacuteficos e artiacutesticos as tecnologias educacionais contribuiratildeo mais efetivamente para a contiacutenua formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e parti-cipativa e melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

N o t a s

1 ndash O referido livro foi organizado pela Editora da UDESC e se encontra disponiacutevel para consulta e download gratuitos no Portal EduCapes nos formatos ePUB e PDF no endereccedilo eletrocircnico lthttpeducapescapesgovbrhandlecapes111675gt

2 ndash Segundo Daquino (2010) existem diversas formas para a leitura de e-books smartphones ou softwares No entanto nem todo aparelho ou aplicativo suporta todas as extensotildees dos e-books Entre as vantagens da utilizaccedilatildeo do ePUB estatildeo o acesso a conteuacutedos em diversos dispositivos e a faacutecil adaptaccedilatildeo do texto a cada tela de qualquer dispositivo

3 ndash O referido conceito consta do Manifesto de lanccedilamento da Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrdestaquesitem8077gt

R e f e r ecirc n c i a s

ACSELRAD H (Org) Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro RJ Relume-Dumaraacute 2004

ANA-CAPES Edital ANA-CAPESDEB Nordm 182015 2015 11 f Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica - Projeto Aacutegua Brasiacutelia DF Agencia Nacional das Aacuteguas 2015 11 f

ANGOTTI J A P AUTH MA Ciecircncia e tecnologia implicaccedilotildees sociais e o papel da educaccedilatildeo Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v7 n1 p15-27 2001

BULLARD R D Dumping in Dixie race class and environmental quality Boulder Westview Press 1990

______ Eacutetica e racismo ambiental In Revista Eco-21 ano XV Nordm 98 janei-ro2005 Disponiacutevel em lthttpwwweco21combrtextostextosaspID=996gt Acesso em 27 fev 2017

CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas Florianoacutepolis UDESC ndash Universidade do Estado de Santa Catarina 2015 10 p

DAQUINO F O que eacute o formato ePUB Portal Tecmundo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtecmundocombramazon3644-o-que-e-o-for-mato-epub-htmgt Acesso em 24 out 2015

FERREIRA W O papel da educaccedilatildeo ambiental a distacircncia no reconhecimento das demandas comunitaacuterias frente agraves poliacuteticas puacuteblicas regionais In Seminaacuterio Poliacuteticas Puacuteblicas e Educaccedilatildeo Constituindo a Cidadania Rio Grande RS FURG ndash Universidade Federal do Rio Grande 2010

FUJITA O M Educaccedilatildeo agrave distacircncia curriacuteculo e competecircncia uma proposta de formaccedilatildeo on-line para gestatildeo empresarial 2010 285 f Tese (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo) - Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2010 (285 p) Disponiacutevel em lthttprepositoriomi-nedugobpebitstreamhandle12345678917352010_Fujita_Educa-C3A7C3A3o20a20distC3A2ncia20currC3ADculo20e20competC3AAncia-20uma20proposta20de20forma-C3A7C3A3o20on-line20para20a20gestC3A3o20em-presarialpdfsequence=1gt Acesso em 13 set 2014

GAUTEacuteRIO V L B RODRIGUES S C Os ambientes de aprendizagem pos-sibilitando transformaccedilotildees no ensinar e no aprender Rev Bras Estud Pedag Brasiacutelia v94 (237) p 603-618 maio-ago 2013 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbepedv94n237a13v94n237pdfgt Acesso em 08 nov 2015

HERCULANO S PACHECO T (Orgs) Racismo ambiental Rio de Janeiro RJ FASE 2006

MARAVALHAS M R G et al Novo professor novo aluno e a educaccedilatildeo am-biental na EAD In Congresso ABED ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino a Distacircncia Satildeo Luiacutes 2010 12 p Disponiacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2010cd152010213859pdfgt Acesso em 19 mai 2015

MATHIAS M Racismo ambiental Revista Poli sauacutede educaccedilatildeo e trabalho ndash FIO-CRUZ v 9 n 50 p 31-32 mar-abr 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwepsjvfiocruzbrsitesdefaultfilespoliweb50pdfgt Acesso em 27 fev 2017

NASCIMENTO C C A formaccedilatildeo em educaccedilatildeo para o ecodesenvolvimento um estudo de caso junto ao Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento periacuteodo 2010-2013 2013 Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental Universidade Federal do Rio Grande Rio Grande 2013

______ FERREIRA W CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua Florianoacutepolis SC UDESC 2016 231 p

PERSEGONA M F M A utilizaccedilatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo pelas poliacuteticas puacuteblicas de governo e-Gov como um instrumento de de-mocratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo 2005 143 f Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel Centro de Desen-volvimento Sustentaacutevel Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2005

SANTOS E C Educaccedilatildeo ambiental e a transversalidade na formaccedilatildeo de professores complexidade e desafios do mundo contemporacircneo Revista Geonorte ed especial v3 n4 p 161-170 2012

VIEIRA A R COSTA L BARRETO S R (Org) Aacutegua para a Vida aacutegua para todos Cadernos de Educaccedilatildeo Ambiental Brasiacutelia DF WWF Brasil 2006 72 p Disponiacutevel em lthttpwwwwwforgbrnatureza_brasi-leirareducao_de_impactos2aguaagua_acoes_resultadoseduca-cao_ambiental_aguagt Acesso em 17 abr 2015

Paacutegina 8 de 8

R e s u m o

Este estudo decorreu da anaacutelise de uma sala de aula universitaacuteria de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano localizada

na serra gauacutecha no Rio Grande do Sul no Brasil A metodologia ativa de ensino propotildee que o discente seja o protagonista de seu proacuteprio conhecimento e seja o responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos no ambiente educacional A partir desse pressuposto o objetivo deste trabalho foi observar a aplicabilidade do uso da metodologia ativa no ensino aleacutem de sua utilizaccedilatildeo para a construccedilatildeo do conhecimento junto aos discentes Para isso procurou-se pesquisar sobre a temaacutetica escolhida e a abordagem investigativa foi predominantemente qualitativa Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se a observaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento da disciplina em sala de aula Para compreender o objeto de estudo foi preciso tomar como pano de fundo a metodologia e as estrateacutegias de ensino utilizadas pelo docente Os resultados observados foram satisfatoacuterios para fundamentar a construccedilatildeo da aprendizagem baseada na problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees correntes do dia a dia A qualificaccedilatildeo e o aperfeiccediloamento do docente para fundamentar o conteuacutedo eacute indispensaacutevel para a efetividade da proposta de utilizaccedilatildeo da metodologia ativa

R e s u m e n

Este estudio ha procedido del resultado del anaacutelisis de una clase universitaria de una institucioacuten de educacioacuten superior privada ubicada en la Sierra Gaucha Estado del Riacuteo Grande do Sul Brasil con los estudiantes de la disciplina de Evaluacioacuten del Desempentildeo Humano La metodologiacutea activa de ensentildeanza propone que el estudiante sea el protagonista de su propio conocimiento y que sea responsable por la construccioacuten activa de sus objetivos en el aacutembito educativo A partir de este supuesto el objetivo de este estudio ha sido observar la aplicabilidad de la utilizacioacuten de una met-odologiacutea activa en la ensentildeanza ademaacutes de su uso para la construccioacuten de conocimientos con los estudiantes Para ello hemos tratado de investigar el tema elegido y el enfoque de investigacioacuten ha sido predominantemente cualitativo utilizando como instrumento de recoleccioacuten de datos la observacioacuten participante en el desarrollo de la disciplina en el aula Para comprender el objeto del estudio ha sido necesario partir del contexto de la metodologiacutea y estrategias de ensentildeanza utiliza-das por el profesor Los resultados han sido satisfactorios para fundamentar la construccioacuten de un aprendizaje fundamentado en el cuestionamiento de las situaciones actuales de la vida cotidiana La calificacioacuten y el perfeccionamento profesional del professor para fundamentar el contenido son esenciales para la efectividad de la propuesta de utilizacioacuten de la metodologiacutea activa

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 06032017Aprovado em 29082017

Palavras-chaveMetodologia de ensino ativa Docecircncia universitaacuteriaPraacuteticas pedagoacutegicas

Palabras claveMetodologiacutea de ensentildeanza activa Ensentildeanza universitariaPraacutecticas pedagoacutegicas

Autoras MBA em gestatildeo de recursos humanos pela Uninter Graduaccedilatildeo em gestatildeo de recursos humanos e Poacutes-graduaccedilatildeo em gestatildeo e docecircncia do ensino superior pelo Centro Superior de Tecnologia Te-cbrasil FTEC - Bento Gonccedilalves Professo-ra da escola Senac - Bento Gonccedilalves e Coach profissionale-mail daianelotesgmailcom

Mestrado Profissional em Gestatildeo Edu-cacional pela UNISINOS - Universidade do Vale dos Sinos Graduaccedilatildeo em Admi-nistraccedilatildeo pela Faculdade Cenecista de Bento Gonccedilalves Docente Universitaacuteria na FAMUR - Faculdade Catoacutelica Murialdo de Caxias do Sul e FSG - Faculdade da Serra Gauacutecha de Bento Gonccedilalves Consultora Empresarial Associada na aacuterea de Gestatildeo de Pessoas pela Poletto Soluccedilotildees em Ges-tatildeo e Pesquisadora CNPQ do Grupo de Pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Professores Gestores e Praacuteticas Pedagoacutegicas pela UNI-SINOS - Universidade do Vale dos Sinose-mail magda_detonihotmailcom

Como citar este artigoLOTES D TONI M Metodologia ativa de ensino Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Metodologia ativa de ensinoMetodologia activa de ensentildeanza

Daiane Lotes e Magda de Toni

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoA metodologia ativa eacute um processo amplo que apresenta como principal caracteriacutestica a inserccedilatildeo do discente como agente prin-cipal responsaacutevel pela sua aprendizagem comprometendo-se com seu aprendizado

O processo de educar deixou de ser baseado na mera trans-missatildeo do conhecimento por diversos fatores como a rapidez na produccedilatildeo do conhecimento e principalmente na facilidade de acesso agrave vasta gama de informaccedilatildeo Nesse contexto as meto-dologias ativas surgem como proposta para priorizar o processo de ensinar e aprender na busca da participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos centrados na realidade em que estatildeo inseridos

Como enfrentamento ao modelo tradicional imposto e aceito ao longo dos tempos tem-se lanccedilado matildeo das metodologias ati-vas de ensino-aprendizagem nas quais eacute dado forte estiacutemulo ao reconhecimento do mundo atual tornando os discentes capazes de intervir e promover as transformaccedilotildees necessaacuterias O discente se torna o uacutenico responsaacutevel pela sua proacutepria construccedilatildeo do conheci-mento e faz com que os seus principais objetivos sejam alcanccedilados de forma satisfatoacuteria com sucesso autogerenciamento e autonomia

A educaccedilatildeo comeccedila em casa e eacute aprimorada na escola e na socie-dade Os docentes tecircm o compromisso de explicar e acompanhar os resultados obtidos com o conhecimento que eacute repassado em sala de aula Nos dias de hoje cada vez mais nos deparamos com situaccedilotildees que vatildeo aleacutem da nossa realidade situaccedilotildees que poderiam ser resolvidas com um simples estudo ou com a base da educaccedilatildeo que a pessoa teve

Algumas pessoas natildeo se datildeo conta de que o maior valor que o ser humano pode ter eacute a educaccedilatildeo que eacute indispensaacutevel in-comparaacutevel e intransferiacutevel Ningueacutem pode tirar de uma pessoa o conhecimento que ela possui e soacute esta sabe como usaacute-lo

As instituiccedilotildees de ensino precisam acolher os discentes de forma que eles cheguem agrave sala de aula motivados a aprender ou seja que eles tenham o entendimento de que o conhecimento que vatildeo obter serviraacute para o futuro para que possam enfrentar as situaccedilotildees do dia a dia com mais facilidade e sabedoria

Nenhum professor estaacute totalmente livre a esperanccedila de trabalhar apenas com alunos motivados Cada professor espera alunos que se envolvam no trabalho manifestem o desejo de saber e a vontade de aprender A motivaccedilatildeo ainda eacute tida com demasiada frequecircncia como uma preliminar cuja forccedila natildeo depende do professor (PERRENOUD 2000 p 68)

Adaptamo-nos conforme o andamento do dia a dia e principal-mente conforme as novas tecnologias que cada vez vatildeo ocupando um espaccedilo maior entre os jovens de hoje A sociedade atual eacute tecno-

loacutegica de modo que natildeo eacute mais possiacutevel pensar em educaccedilatildeo sem a utilizaccedilatildeo das tecnologias O processo de ensinar-aprender tambeacutem jaacute vem gradativamente se modificando exercitando formas de ensinar e aprender diferentes nas quais o docente natildeo eacute mais um simples trans-missor do conhecimento e o discente natildeo eacute mais um mero ouvinte

Assim o docente precisa utilizar recursos que transformem suas aulas de modo a instigar mais e mais a busca pelo conheci-mento por parte dos alunos ministrando aulas dinacircmicas atrativas e entendendo que as tecnologias disponiacuteveis podem ser bem utilizadas auxiliar no processo de ensino-aprendizagem

Segundo Rivas (2009) o professor precisa ser algueacutem criativo competente e comprometido com o advento das novas tecnologias interagindo em meio agrave sociedade do conhecimento repensando a educaccedilatildeo e buscando os fundamentos para o uso dessas novas tecnologias que causam grande impacto na educaccedilatildeo e que podem determinar uma nova cultura e novos valores na sociedade

Em funccedilatildeo dessa transiccedilatildeo o ambiente acadecircmico tem se preo-cupado com o desenvolvimento de novas metodologias e atitudes para melhorar a efetividade no processo de aprendizagem Tais artifiacutecios satildeo denominados ldquoestrateacutegias de ensino-aprendizagemrdquo e satildeo definidos como os meios que vecircm sendo utilizados no pro-cesso de ensino com o intuito se atingir a qualidade desejada e os resultados esperados Penso todavia que esses recursos precisam ser bem trabalhados para natildeo se confundirem com ldquomodismosrdquo que nada modificam a concepccedilatildeo de conhecimento

Combinar atitudes e recursos didaacuteticos que favoreccedilam o processo de aprendizagem parece ser a tocircnica do que se convencionou denomi-nar estrateacutegias de ensino-aprendizagem ldquoeficientesrdquo Assim o processo de ensino-aprendizagem tem sido alvo de discussotildees e pesquisas que visam a contribuir para seu desenvolvimento e efetividade

Perrenoud (2000) afirma que todos os docentes podem ter atitudes inovadoras e com isso fazer com que os alunos desenvol-vam a sua proacutepria motivaccedilatildeo poreacutem muitos pensam que o ensino eacute restrito e que natildeo tecircm retorno financeiro para ter esse tipo de atitude Ainda nos diz que ateacute os discentes motivados cientes de seu potencial e com boas notas na escola podem diminuir seu desempenho se natildeo forem incentivados ao longo do tempo

Considerando o dinamismo do mundo moderno o profis-sional docente sente-se pressionado por um ambiente externo altamente exigente precisando proporcionar aos estudantes uma educaccedilatildeo de elevado niacutevel e com soacutelida formaccedilatildeo Logo se a atualizaccedilatildeo didaacutetica dos docentes natildeo acompanha o ritmo desse novo cenaacuterio poderaacute haver uma falta de sintonia entre os procedimentos meacutetodos e estrateacutegias de ensino e o perfil dos alunos prejudicando o processo de ensino-aprendizagem

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Cabe aqui salientar que Itoz e Mineiro (2005) defendem que o para-digma que considerava a competecircncia teacutecnica docente como elemento fundamental da didaacutetica vem sofrendo gradualmente alteraccedilotildees no sentido da indagaccedilatildeo sobre outros fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem e os agentes impactados neste processo

O docente deve ser um articulador de todo o processo de ensino-aprendizagem e ter a consciecircncia de que a maior rede social eacute a sala de aula onde temos que aprender a fazer a leitura do nosso cotidiano e compreender que a informaccedilatildeo eacute um ponto de partida natildeo um ponto de chegada

Entretanto podemos perceber que a aprendizagem acontece quando o indiviacuteduo vivencia as situaccedilotildees vistas em sala de aula e as metodologias ativas de ensino permitem que o discente se envolva e ele mesmo gere situaccedilotildees que faccedilam com que o conhe-cimento seja completo e adquirido com total autonomia tendo o docente o papel de mediador e articulador do conhecimento

2 MetodologiaA metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliograacutefica sobre a temaacutetica escolhida e a obser-vaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento de uma disciplina em uma sala de aula

A pesquisa bibliograacutefica eacute desenvolvida a partir de materiais publicados em livros artigos dissertaccedilotildees e teses Ela pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental Segundo Cervo Bervian e da Silva (2007) o processo de pesquisa bibliograacutefica eacute baacutesico em todos os trabalhos e estudos para identificar o tema

Jaacute a observaccedilatildeo participante eacute realizada em contato direto e prolongado do observador para com os envolvidos na anaacutelise O meacutetodo de observaccedilatildeo utilizado foi assistemaacutetico sem anaacutelise anterior e instrumental apropriado

O contexto analisado eacute a sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

3 Quadro TeoacutericoVive-se hoje um cenaacuterio da educaccedilatildeo no Brasil em que ainda haacute uma necessidade premente de evoluccedilatildeo no processo de en-sino-aprendizagem no sentido de tornaacute-lo significativo capaz de desenvolver competecircncias e ter como resultado um discente criacutetico e capaz de exercer uma ocupaccedilatildeo com excelecircncia Assim cabe ao docente refletir e inovar sua metodologia de transferecircncia do conhecimento buscar e motivar a aprendizagem

Ao destacar que para a aprendizagem do aluno se tornar mais du-radoura e significativa eacute necessaacuterio conhecer os aspectos formadores e constituintes da aprendizagem os docentes devem dar-se conta de que eacute necessaacuterio adaptar ou criar um meacutetodo didaacutetico e especiacutefico a cada puacuteblico de alunos ainda mais no ensino superior Nesse niacutevel haacute saberes da experiecircncia feitos uma vez que o indiviacuteduo nesta etapa acumula variadas experiecircncias de vida aprende com os proacuteprios erros percebe aquilo que natildeo sabe e o quanto tal desconhecimento lhe faz falta analisando criticamente as informaccedilotildees que recebe

Pensamos que a tarefa da educaccedilatildeo eacute formar seres humanos para o presente para qualquer presente seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar seres capazes de pensar tudo e de fazer tudo o que eacute preciso como ato responsaacutevel a partir de sua consciecircncia social Conseguir isto eacute o propoacutesito desta proposta

educacional (MATURANA REZEPKA 2000 p 10)

As pessoas que se iniciam como docentes muitas vezes saem de uma formaccedilatildeo muito teoacuterica do ponto de vista metodoloacutegico Aprenderam durante toda sua graduaccedilatildeo que o saber eacute o ponto mais importante e foram ensinados a fazerem pesquisa Quando se deparam com o ambiente educacional observam que o ser e o fazer se destacam principalmente com os modelos de discentes de hoje que satildeo inquietos por aprender assuntos novos da forma mais criativa e interativa possiacutevel A interatividade ajuda a prender a atenccedilatildeo e instigar a inovaccedilatildeo nos assuntos abordados

Piaget (2012) afirma que o meio onde o ser humano habita influencia em seus atos e faz com que este tenha estiacutemulo e con-sequentemente reorganize e construa seu proacuteprio conhecimento Nessa perspectiva a educaccedilatildeo formal promove o desenvolvimen-to na medida em que favorece uma postura ativa e construtiva do aluno por meio de situaccedilotildees de aprendizagem desafiadoras que estimulem a duacutevida e provoquem a reflexatildeo

A praacutetica pedagoacutegica reprodutora assemelha-se a uma praacuteti-ca conservadora da ciecircncia e consequentemente da educaccedilatildeo Jaacute a praacutetica inovadora fomenta a aprendizagem e transforma o processo Conforme afirma Moraes (2000 p 100)

Num sistema aberto de educaccedilatildeo o conhecimento requer que processos estejam em construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo pela accedilatildeo do sujeito sobre o meio ambiente que ocorram trocas energeacuteticas mediante processos de assimila-ccedilatildeo acomodaccedilatildeo auto-organizaccedilatildeo ou seja mediante relaccedilotildees interativas

e dialoacutegicas entre o aluno professor e ambiente de aprendizagem

Esse paradigma estaacute relacionado agraves mudanccedilas da sociedade como a globalizaccedilatildeo agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e agraves alteraccedilotildees cientiacuteficas proacuteprias da sociedade poacutes-moderna

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma entende-se que o discente deixa de ser um repro-dutor passivo de conhecimento para se tornar um ator protago-nista apto para tomar decisotildees Jaacute o docente eacute necessaacuterio que ele mesmo reflita sobre sua praacutetica sua qualidade de transferecircncia de conhecimento e sua autorreflexatildeo atraveacutes de fatores essenciais ndash o saber a sua experiecircncia bagagem profissional e educacional aliada a novos conhecimentos resultantes de pesquisas como por exemplo as novas tecnologias

A metodologia inovadora ativa de ensino permite que faccedilamos comparaccedilotildees entre o aprendizado conservador e o aprendizado inovador No processo de aprendizagem conservador por exem-plo vemos algumas situaccedilotildees em que o discente eacute subordinado agraves orientaccedilotildees do professor recebe passivamente o conhecimento e informaccedilotildees eacute condicionado a dar respostas prontas e corre-tas e eacute preparado para atuar com eficiecircncia na sociedade Jaacute no processo de aprendizagem inovadora podemos citar o discente como aprendiz autocircnomo e visto como um ser humano holiacutestico que se torna responsaacutevel pelas suas escolhas aprende a formular e a buscar respostas eacute destacado pela sua criatividade e se torna sujeito da sua proacutepria educaccedilatildeo

Adotar um paradigma inovador e assumir os diversos papeacuteis descritos por Perrenoud implica refletir sobre a praacutetica docente o planejamento das aulas a forma de avaliaccedilatildeo e sobretudo o que se espera ter como resultado final de um processo de ensi-no-aprendizagem Dessa forma o processo de ensino deve ser ajustado e ter uma evoluccedilatildeo constante buscando a integraccedilatildeo com o ambiente onde o discente estaacute inserido

No processo de aprendizagem natildeo entra em jogo apenas um conjunto de operaccedilotildees cognitivas pois a construccedilatildeo do conheci-mento estaacute sempre atravessada pela afetividade de quem o pro-duz Nessa perspectiva o docente deve possibilitar a construccedilatildeo de um clima de bem-estar em sala de aula que favoreccedila a qua-lidade das relaccedilotildees interpessoais e os processos de constituiccedilatildeo de sentido no processo educativo

Segundo Maturana e Rezepka (2000 p 14) ldquoas emoccedilotildees satildeo dinacircmicas corporais que especificam as classes de accedilotildees que um animal pode realizar em cada instante em seu acircmbito relacionalrdquo Assim acontece com os docentes e discentes no ambiente de sala de aula onde os sentimentos estatildeo em sin-tonia com o processo de aprender

As situaccedilotildees de aprendizagem satildeo determinantes para alcan-ccedilar os objetivos propostos e conforme reflexatildeo de Weisz (2004 p 70) ldquoem qualquer aacuterea do conhecimento eacute possiacutevel organizar atividades que representem problemas para os alunos e que de-mandem o uso do que sabem para encontrar soluccedilotildees possiacuteveisrdquo

Acredita-se que o uso da metodologia ativa de ensino na universidade possibilita contribuir significativamente e promo-ver situaccedilotildees que propiciem uma construccedilatildeo significativamente coletiva na forma de interagir e trabalhar com o conhecimento

A construccedilatildeo do conhecimento se daacute atraveacutes de incentivos por parte da proacutepria instituiccedilatildeo de ensino dos docentes envolvidos e principalmente do proacuteprio discente

Na escola atual percebe-se que o curriacuteculo aplicado estaacute mais flexiacutevel e adaptado ao meio e agraves novas tecnologias Conforme afirma Moraes (2000 p 100) ldquosob esse novo enfoque o curriacuteculo eacute algo que estaacute sempre em processo de negociaccedilatildeo e renegociaccedilatildeo entre alunos professores realidades e instacircncias administrativasrdquo

A aprendizagem do indiviacuteduo ocorre natildeo somente com o co-nhecimento adquirido em sala de aula como tambeacutem pelos seus desejos intuiccedilotildees sensaccedilotildees e emoccedilotildees que se manifestam atraveacutes das variadas atividades praticadas principalmente nas atividades luacutedicas que fazem com que o discente vivencie situaccedilotildees que acontecem no dia a dia Segundo Perrenoud (2001 p 182) ldquoos fu-turos professores poderiam ser encorajados a colocar sua formaccedilatildeo inicial a serviccedilo e criar voluntariamente situaccedilotildees ldquointeressantesrdquo

Tais sentimentos citados aparecem tambeacutem em momentos nos quais o docente faz a correccedilatildeo das atividades realizadas em sala de aula no ambiente educacional nos quais tem o poder de formar ou atrapalhar o processo de aprendizagem pela forma com que as palavras satildeo ditas em sala de aula no momento da correccedilatildeo Conforme afirma Maturana e Rezepka (2000 p 33)

Na educaccedilatildeo corrigir o ldquoserrdquo da crianccedila acaba alienando-a porque ame-accedila o que ela vecirc ou vive em nossa cultura como sua existecircncia com uma certa identidade transcendente a correccedilatildeo do fazer natildeo faz isso

A correccedilatildeo do fazer natildeo constitui uma ameaccedila porque ao fazecirc-la satildeo especificados os limites dentro dos quais ocorre segun-do as coerecircncias proacuteprias do fazer que se deseja sem referecircncia agrave sua identidade

Aleacutem disso muitos autores comentam sobre os vaacuterios mo-delos de mundo e inteligecircncias muacuteltiplas que as pessoas podem desenvolver ao longo de suas vidas Essas inteligecircncias e modelos de aprendizagem se apresentam na medida em que se comeccedila a trabalhar o ceacuterebro para pensar e resolver situaccedilotildees conflitan-tes Em sala de aula esses modelos satildeo observados e podem ser moldados atraveacutes da metodologia didaacutetica do docente para com o discente individualmente observando capacidades sinesteacutesicas visuais e auditivas Mas como usar os conhecimentos de modelos de mundo para ajudar os discentes no processo de aprendizagem

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O conteuacutedo pode ser adaptado conforme os modelos de aprendizagem juntamente com grupos afins Esse processo gera um ambiente de discussatildeo troca de ideias conhecimento muacutetuo e principalmente o senso de trabalho em equipe e o relaciona-mento interpessoal

As aptidotildees dos discentes tambeacutem satildeo observadas para que haja a construccedilatildeo do conhecimento Uma didaacutetica na qual o ser natildeo se encaixa por natildeo ter a aptidatildeo para desenvolver tal situaccedilatildeo pode fazer com que o sentimento de fracasso seja tatildeo importante que pode gerar consequecircncias para a vida do sujeito e conco-mitantemente desmotivar o profissional o docente que estaacute a ensinar Dito isso o docente eacute peccedila fundamental nesse processo como mediador das accedilotildees e atividades exercidas

Outro ponto importante eacute a questatildeo cultural que estaacute inserida na vida dos discentes Conforme Moraes (2000 p 95) ldquoa cultura influencia cada indiviacuteduo na maneira como os potenciais inte-lectuais evoluem daacute o tom o colorido e direciona o modo de evoluccedilatildeo das competecircncias humanasrdquo

Os valores individuais de cada um influenciam na maneira de agir em grupo nas organizaccedilotildees e na escola Quando esses natildeo satildeo respeitados o sujeito tende a se afastar e a mudar suas atitudes perante as situaccedilotildees que se apresentam porque essa questatildeo vai contra tudo o que lhe foi ensinado e praticado ao longo da vida

Contudo Weisz (2004 p 58) afirma que

De uma perspectiva construtivista o conhecimento natildeo eacute concebi-do como uma coacutepia do real incorporado diretamente pelo sujeito pressupotildee uma atividade por parte de quem aprende que organiza e integra os novos conhecimentos aos jaacute existentes Isso vale tanto

para o aluno quanto para o professor em processo de transformaccedilatildeo

O homem eacute um ser social e portanto relacional precisa de meios e atitudes que desenvolvam o conhecimento Quanto maior a didaacutetica e a dinacircmica em sala de aula maior compre-ensatildeo do assunto comprometimento e consequentemente pessoas melhores no futuro

Grande parte das dificuldades dos docentes se daacute pelo fato de natildeo reconhecer o que foi dito em sala de aula e de natildeo observar seu proacuteprio comportamento com relaccedilatildeo aos discentes sem se dar conta de que o mundo em que eles vivem eacute sempre uma criaccedilatildeo pessoal

Em meio agraves incertezas dos dias de hoje espera-se que a edu-caccedilatildeo seja revolucionaacuteria a ponto de transformar as pessoas em indiviacuteduos criacuteticos e de conhecimento Seres capazes de transformar

o ambiente e sugerir soluccedilotildees Esse meio produz uma mudanccedila significativa na visatildeo social e intelectual do docente Na medida em que essa mudanccedila se faz presente as necessidades de fundamentar a teoria e a praacutetica se tornam prioridade na atuaccedilatildeo do docente

Natildeo existe uma padronizaccedilatildeo do meacutetodo de ensino cada docente o adapta conforme sua realidade seus discentes si-tuaccedilotildees e assunto Todas as instituiccedilotildees de ensino devem estar abertas e flexiacuteveis para que a mudanccedila de pensamento e de metodologia de ensino aconteccedila e ocorra em consequecircncia uma melhor e mais moderna forma de educar o discente para o futuro Segundo Moraacuten (2015 p 16)

A escola padronizada que ensina e avalia a todos de forma igual e exige resultados previsiacuteveis ignora que a sociedade do conhecimento eacute baseada em competecircncias cognitivas pessoais e sociais que natildeo se adquirem da forma convencional e que exigem proatividade co-

laboraccedilatildeo personalizaccedilatildeo e visatildeo empreendedora

Os meacutetodos de avaliaccedilatildeo tambeacutem se modificaram ao longo dos anos Hoje os discentes satildeo avaliados a partir das competecircn-cias que desenvolveram durante o processo de aprendizagem Avaliar conhecimentos habilidades e atitudes requer do docente uma observaccedilatildeo e uma intervenccedilatildeo maiores na abordagem do conteuacutedo No momento em que o docente planeja sua aula o assunto deve estar embasado primeiramente na apropriaccedilatildeo teoacuterica do conteuacutedo nas caracteriacutesticas da didaacutetica proposta para que todos possam desenvolver e em quais accedilotildees o discente deve se utilizar para que essa teoria seja absorvida por ele A metodologia de ensino ativa permite que os discentes aprendam de forma dinacircmica e entendam que o conhecimento que estatildeo adquirindo nas atividades desenvolvidas em sala de aula satildeo levados para a vida fora dela

As escolas de maneira geral estatildeo modificando seus ambien-tes fiacutesicos para proporcionar ao discente um ensino mais suave aconchegante no qual ele se sente livre para criar e modificar seu aprendizado As estruturas satildeo pensadas de forma interdisciplinar para que seja possiacutevel desenvolver projetos integradores mais eficientesO ensino hiacutebrido natildeo eacute um vilatildeo em sala de aula e sim uma forma de acompanhar a tecnologia do mundo de hoje que eacute cada vez mais necessaacuteria e indispensaacutevel

O ensino hiacutebrido eacute um programa de educaccedilatildeo formal no qual um aluno aprende pelo menos em parte por meio do ensino online com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo lugar modo eou ritmo do estudo e pelo menos em parte em uma localidade fiacutesica supervisionada fora de sua residecircncia (CHRISTENSEN HORN

amp STAKER 2013 p7)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Contudo a evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior deve ser constante caminhar principalmente para a construccedilatildeo pessoal e profissional do indiviacuteduo e observar na tecnologia e no cenaacuterio onde se vive oportunidades de aprendizagem significativa

4 Observaccedilatildeo aplicadaPara visualizar melhor como ocorre a aplicabilidade da metodo-logia ativa no ensino foi realizada uma observaccedilatildeo participante a uma sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior priva-da com alunos de graduaccedilatildeo do curso superior de Tecnologia em Gestatildeo de Recursos Humanos frequentando a disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

A dinacircmica de trabalho ocorreu a partir da leitura do livro A inovaccedilatildeo da sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de aprender de Christensen Horn e Johnson (2012)

As atividades iniciaram com o resgate do plano de ensino apre-sentado no primeiro dia de aula o que possibilitou ao docente fazer uma preacutevia anaacutelise diagnoacutestica sobre os conhecimentos que os discentes poderiam ter sobre o assunto que seria abordado Apoacutes a anaacutelise o docente iniciou o trabalho Os alunos foram provocados a pensar sobre seu desenvolvimento sua identidade pessoal e suas potencialidades Percebe-se que o assunto lideranccedila e gestatildeo satildeo bem latentes nas aulas uma vez que o gestor eacute a maior referecircncia dentro do processo de avaliaccedilatildeo de desempenho humano

A partir das reflexotildees realizadas o primeiro exerciacutecio rea-lizado foi a construccedilatildeo de um imaginaacuterio social que buscou a construccedilatildeo de um profissional de recursos humanos conforme a interpretaccedilatildeo e percepccedilatildeo de cada aluno quanto agrave profissatildeo e papel desse profissional no mercado de trabalho Ainda foram realizados questionamentos quanto agrave construccedilatildeo da persona e o sentido de estar na instituiccedilatildeo de ensino estudando tal assunto Nesse momento percebeu-se que os questionamen-tos realizados foram de grande valia pois fizeram com que os discentes relembrassem quais questotildees o fizeram escolher o curso que estatildeo frequentando

No decorrer das aulas outra atividade foi proposta denominada ldquometaacutefora do personagem infantil e a identificaccedilatildeo com elerdquo Essa atividade proporcionou ao discente identificar seus pontos fortes e suas possibilidades de melhoria sempre realizando ligaccedilotildees com a temaacutetica desenvolvida e comparando os resultados com as ativida-des que um profissional de RH deveria realizar principalmente na avaliaccedilatildeo de desempenho

Na sequecircncia das atividades foi desenvolvido o exerciacutecio da Janela Johari e realizadas as devidas anaacutelises sobre os quadrantes que compotildeem o exerciacutecio Eu como autoconhecimento e Eu e

o mundo como forma de compreensatildeo das consequecircncias de nossas atitudes para com os outros Nesse momento a observa-ccedilatildeo da questatildeo do feedback eacute um ponto crucial na discussatildeo em sala de aula e esteve presente em todas as aulas Para reforccedilo os alunos elaboraram portfoacutelios individuais sobre cada atividade nos quais o docente pocircde verificar o aprendizado no acircmbito teoacuterico e comportamental de cada aluno aleacutem de possibilitar aos alunos a autorreflexatildeo ndash sobre si e sobre suas proacuteprias atitudes

Ainda o docente propocircs como praacutetica para desenvolvi-mento do conteuacutedo filmes textos de livros e situaccedilotildees reais trazidas pelos proacuteprios discentes e docente Percebeu-se que com essas atividades complementares os discentes realizas-sem comparaccedilotildees com o dia a dia de um profissional inserido no mercado de trabalho e na sociedade Em todas as situaccedilotildees visualizadas em sala de aula pude observar que os discentes fo-ram envolvidos de forma que o desenvolvimento do conteuacutedo comeccedila a ser compreendido por eles evidenciando a proposta da metodologia ativa de ensino do discente protagonista de seu proacuteprio conhecimento

Conforme o andamento das atividades o docente pocircde explorar vaacuterias habilidades e atitudes que contribuem para o desenvolvimento do conhecimento de seus discentes sem sua intervenccedilatildeo deixando-os livres para demonstrarem suas emo-ccedilotildees e sentimentos de desconforto bem-estar ansiedade im-paciecircncia expectativas e temores conforme acontece no meio organizacional Essas emoccedilotildees e sentimentos estatildeo ligados agrave forma como os discentes compreenderam o assunto e como satildeo seus modelos de mundo Cabe ressaltar que o docente tambeacutem reforccedilou o desenvolvimento do conteuacutedo com dinacircmicas de grupo que instigavam os discentes a desenvolver habilidades ndash como empatia negociaccedilatildeo resiliecircncia ndash e a refletir sobre a relaccedilatildeo entre vida pessoal e profissional

Atraveacutes das escutas das discussotildees realizadas em sala de aula e da metodologia de ensino utilizada pelo docente sem se dar conta os discentes estatildeo intuindo seu proacuteprio meacutetodo de apren-dizagem com base na teoria aprendida confirmando novamente a proposta da metodologia ativa de ensino aleacutem do fato de que a educaccedilatildeo deve buscar desestabilizar os discentes para que haja uma mudanccedila comportamental de cada indiviacuteduo Ainda estando em grupo ou natildeo os discentes comeccedilam a trocar ideias e a des-cobrir novos meacutetodos mais raacutepidos e faacuteceis para que as situaccedilotildees empreendidas sejam compreendidas Esses meacutetodos descobertos satildeo sugeridos ao docente e cabe a ele adaptaacute-los para melhorar sua didaacutetica e replanejamento de seus planos de aula

Eacute preciso reconhecer que a metodologia ativa de ensino nes-se caso promove o domiacutenio pessoal social autoconsciecircncia e a autogestatildeo Conforme afirma Perrenoud (2000 p 69)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A maioria das pessoas interessa-se em alguns momentos pelo jogo da aprendizagem se lhes oferecerem situaccedilotildees abertas estimulantes interessantes Haacute maneiras mais luacutedicas do que outras de propor a mesma tarefa cognitiva Natildeo eacute necessaacuterio que o trabalho pareccedila uma

via crucis1 pode-se aprender rindo brincando tendo prazer

Outra questatildeo a ser pontuada refere-se agrave motivaccedilatildeo dos discentes em sala de aula Em nenhum momento notou-se des-motivaccedilatildeo dos alunos com os assuntos abordados Christensen (2012 p 137) lembra o que o falecido educador Jack Frymier costumava dizer ldquoquando os meninos querem aprender natildeo haacute como impedi-los se natildeo quiserem natildeo podemos obrigaacute-losrdquo Essa citaccedilatildeo confirma o pressuposto de que todo o interesse do dis-cente eacute baseado na motivaccedilatildeo em aprender e na praacutetica didaacutetica do docente em sala de aula

Diante disso pude perceber que a vontade dos discentes de aprender foi maior que o cansaccedilo e que o desafio de despertar o interesse pelo assunto foi atingido com sucesso compreendendo que a educaccedilatildeo eacute uma necessidade e garante o sucesso profissio-nal e o crescimento pessoal

Dessa forma pocircde-se evidenciar que os resultados obtidos com a observaccedilatildeo participante foram satisfatoacuterios tanto para fun-damentar a teoria do uso da metodologia ativa no ensino como para constatar que o docente tem o dever de ensinar e mediar o conhecimento de seus discentes e ajudar o indiviacuteduo a construir o seu proacuteprio pensamento sobre as questotildees profissionais e da vida

5 Inovaccedilatildeo na Sala de AulaO ensino exige pesquisa curiosidade respeito e criticidade Estaacute cometendo um equiacutevoco o professor que pensa no ensino rigo-roso e metoacutedico Conforme Freire (2006 p 38) ldquoa praacutetica docente criacutetica implicante do pensar certo envolve o movimento dinacirc-mico dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre o que fazerrdquo Essa citaccedilatildeo deixa claro que o professor deve estar sempre atualizado revendo sua didaacutetica e a forma como ensina

A construccedilatildeo do conhecimento eacute constante e a formaccedilatildeo de pensamento criacutetico se faz a todo o momento Contudo o uso da me-todologia ativa se faz marcante na problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees correntes que exigem do aluno uma opiniatildeo significativa para si e para a sociedade em que estaacute inserido ou seja a curiosidade sobre o novo proporciona maiores possibilidades de transgressatildeo do saber

Outra reflexatildeo que se pode fazer com relaccedilatildeo ao ensino e a docecircncia eacute a anaacutelise e a apreensatildeo da realidade Cada discente estaacute

inserido em realidades muito particulares o assunto abordado em sala de aula deve sim ser baseado na teoria contudo principal-mente ser adaptado agrave realidade de cada um assim o processo de aprendizagem torna-se significativo A convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel deve ser corrente e praticada todos os dias O discente natildeo deve se tornar acomodado mas sim revolucionaacuterio e inquieto

Mudar eacute difiacutecil mas eacute possiacutevel e eacute o que a metodologia ativa propotildee transformar o simples ato de ensinar em uma experiecircncia uacutenica e inesqueciacutevel aos olhos do discente O indiviacuteduo eacute social e essa experiecircncia possibilita uma nova percepccedilatildeo da realidade

Antigamente ateacute os anos 1800 as escolas escolhiam o ensi-no personalizado ou seja o ensino por necessidade As salas de aula eram preenchidas de crianccedilas de diferentes capacidades o que fazia com que o docente passasse de discente em discente dando instruccedilotildees e tarefas individualizadas Nota-se que com o passar dos anos o ritmo de ensino sofreu mudanccedilas significativas acarretando o aumento das matriacuteculas escolares e uma padroni-zaccedilatildeo das atividades e accedilotildees em sala de aula fazendo com que as instituiccedilotildees de ensino padronizassem as accedilotildees em sala de aula

Segundo Christensen (2012 p 16)

Os alunos que satildeo dotados de forte inteligecircncia linguiacutestica sentem-se por-tanto previsivelmente frustrados em uma aula de inglecircs Os professores ficam igualmente limitados por suas proacuteprias forccedilas Em qualquer sala de aula existem estudantes que natildeo tem forte inteligecircncia linguiacutestica e satildeo por isso mesmo efetivamente excluiacutedos da possibilidade de se destacar

nessa mateacuteria E o padratildeo vai se repetindo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

A padronizaccedilatildeo do ensino prejudica o potencial do discente para realizar com sucesso as tarefas dadas em sala de aula Assim a metodologia ativa propotildee um sistema ldquocentrado no alunordquo que busca nos docentes a melhor forma de ensinar e customizar o aprendizado conforme cada individualidade

6 Consideraccedilotildees FinaisNo tocante aos avanccedilos observados podemos dizer que os resul-tados obtidos foram positivos pois se apresentou um novo olhar na forma de ensinar Ser docente natildeo eacute uma simples reproduccedilatildeo de conhecimento e sim uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Significa ajudar a construir cidadatildeos criacuteticos que saibam defender suas opiniotildees sem deixar-se influenciar A base da educaccedilatildeo vem de casa e a escola deve ser mediadora nesse processo aleacutem de apresentar um apoio agraves reflexotildees sobre a vida bem como ser ideoloacutegica e natildeo deixar se abater por discursos alheios que ferem a eacutetica a praacutetica docente e a preocupaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do ser

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O uso das metodologias ativas de ensino afirma que soacute se con-segue o sucesso no processo de ensino e aprendizagem quando o docente possibilita que o discente seja inserido no contexto das teorias observadas em sala de aula de forma dinacircmica levando em consideraccedilatildeo suas limitaccedilotildees e particularidades

De nada adianta a teoria sem a praacutetica Palavras bem escritas natildeo servem para nada quando a coragem de revolucionar a edu-caccedilatildeo se abala defronte a problemas da sociedade Ser docente construtor do conhecimento eacute mais do que uma profissatildeo eacute um dom que poucos tecircm Esse dom significa de fato amar e se impor-tar com o ser humano Quem sabe esse pensamento se propague e cada vez mais faccedila com que os docentes se preocupem e reflitam sobre seu modo de ensinar

Resgatar a docecircncia humana tem sido um desafio constante que tem exigido sensibilidade e discernimento eacutetica e emoccedilatildeo caracte-riacutesticas que passam a ser fundamentais para trabalhar com o docente e no trabalho docente como nos diz Broilo citando Forster (2015)

Freire (2006) explica que haacute um niacutevel de consciecircncia capaz de perceber as problemaacuteticas advindas da realidade poreacutem que natildeo estabelece uma relaccedilatildeo de criticidade Dessa forma a reflexatildeo deve acontecer mas natildeo isoladamente separando os sentimentos e emoccedilotildees do professor visto que para ele refletir sobre o acontecido eacute preciso ter conhecimento de suas habilidades e limitaccedilotildees

N o t a s

1 ndash Caminho difiacutecil penoso a ser percorrido

R e f e r ecirc n c i a s

BROILO C L Assessoria pedagoacutegica na universidade (con)formando o

trabalho docente Araraquara Junqueira amp Marin 2015

CERVO A L SILVA R da BERVIAN P A Metodologia cientiacutefica 6 ed Satildeo

Paulo Pearson 2007

CHRISTENSEN Clayton M HORN Michael B JOHNSON Curtis W Ino-

vaccedilatildeo na sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de

aprender Porto Alegre Bookman 2012

CHRISTENSEN C HORN M STAKER H Ensino hiacutebrido uma inovaccedilatildeo

disruptiva uma introduccedilatildeo agrave teoria dos hiacutebridos 2013 Disponiacutevel

em lthttpporvirorgwpcontentuploads201408PT_Is-K-12-blen-

ded-learning-disruptive-Finalpdfgt Acesso em 17 jun 2017

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave pratica

educativa 33 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 2006

ITOZ C MINEIRO M Ensino-aprendizagem da contabilidade de custos

componentes desafios e inovaccedilatildeo praacutetica Enfoque Reflexatildeo Contaacutebil

Maringaacute v 24 n2 juldez 2005

MATURANA Humberto REZEPKA Sima Nisis de Formaccedilatildeo humana e

capacitaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jaime A Clasen Petroacutepolis Vozes 2000

MORAES Maria Cacircndida O paradigma educacional emergente 6 ed Cam-

pinas SP Papirus 2000

MORAacuteN Joseacute Mudando a educaccedilatildeo com metodologias ativas 2015

Disponiacutevel em lthttpwww2ecauspbrmoranwp-contentuplo-

ads201312mudando_moranpdfgt Acesso em 17 jun 2017

PERRENOUD Philipp et at Formando professores profissionais quais es-

trateacutegias Quais competecircncias 2 ed Porto Alegre Artmed 2001

PERRENOUD Philippe 10 novas competecircncias para ensinar Porto Alegre

Artmed 2000

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 25 ed Rio de Janeiro Forense 2012

RIVAS S C A mediaccedilatildeo na praacutetica cotidiana da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica

Revista FACED Salvador n15 jan-jul 2009

WEISZ Telma SANCHEZ Ana O diaacutelogo entre o ensino e a aprendizagem

2 ed Satildeo Paulo Aacutetica 2004

Paacutegina 8 de 8

Formaccedilatildeo empreendedora e atuaccedilatildeo profissional contribuiccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas GeraisEntreprenurial training and professional activity contribuitions from SEBRAE Minas Gerais schools

Frederico Cesar Mafra Pereira Eloiacutesa Helena Rodrigues Guimaratildees e Fabiana Marques Silva Borges

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 9

R e s u m o

As organizaccedilotildees passaram a exigir profissionais cada vez mais qualificados para atenderem a um mercado flutuante e em raacutepida transformaccedilatildeo O Serviccedilo de Apoio agraves Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE) priorizou accedilotildees educacionais voltadas agrave formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial para suprir tal demanda Este estudo investigou as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Foi realizado estudo descritivo quantitativo junto a 221 egressos selecionados via amostra natildeo probabiliacutestica por acessibilidade Concluiu-se que a formaccedilatildeo gerencial proposta contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos a partir dos seguintes resultados 92 avaliaram o Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE ldquoOacutetimo ou Bomrdquo 95 natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

R e s u m e n

Organizations now demand increasingly skilled professionals to serve a rapidly changing and floating market The Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) prioritized educational actions aimed at training young entrepreneurs with managerial skills to meet such demand This study investigated the contributions of the entrepreneurial training in the professional activity of the graduates from SEBRAE Management Training Schools in Minas Gerais Brazil A quantitative descriptive study was carried out with 221 graduates selected through a non-probability sampling by accessibility The results showed that the proposed management training contributes positively to the professional activity of the graduates 92 evaluated SEBRAE Management Training Course as ldquoExcellent or Goodrdquo 95 did not regret having taken the course 80 considered their development during the course as ldquoExcellent or Goodrdquo and 78 rated the coursersquos contribution to their current professional background as ldquoExcellent or Goodrdquo

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 29092017

Palavras-chaveEmpreendedorismo Formaccedilatildeo empreendedora Formaccedilatildeo gerencial SEBRAE

KeywordsEntrepreneurship Entrepreneurial Training Management Training SEBRAE

Autores Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fredericomafrafpledubrr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail eloisaguimaraesfpledubr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Escola de Formaccedilatildeo Geren-cial (EFG FPL) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fabianaborgesfpledubr

Como citar este artigoPEREIRA F C M GUIMARAtildeES E H R BORGES F M S Formaccedilatildeo empreende-dora e atuaccedilatildeo profissional contribui-ccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas Gerais Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoNovas formas de organizaccedilatildeo e de gestatildeo modificaram estruturalmente o mundo do trabalho a partir da deacutecada de 1980 O aumento do proces-so de globalizaccedilatildeo desde 1990 impocircs mudanccedilas em vaacuterias dimensotildees nas organizaccedilotildees poliacutetica econocircmica tecnoloacutegica ambiental e social Um novo cenaacuterio econocircmico e produtivo se estabeleceu com o desen-volvimento e com o emprego de tecnologias complexas agregadas agrave produccedilatildeo e agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Em consequecircncia passou-se a exi-gir profissionais qualificados tecnicamente e com capacidade criativa e sensibilidade social suficiente para atender agrave demanda de mercado flutuante e desigual com raacutepidas transformaccedilotildees

Esse contexto exige cada vez mais capacitaccedilatildeo e conhecimento De acordo com o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2015a) o diploma por si soacute natildeo garante vaga no mercado de trabalho por isso eacute preciso mudar tambeacutem os para-digmas da educaccedilatildeo Essa conjuntura de mudanccedilas no mercado de trabalho aliada agrave escassez de empregos traz uma maior importacircncia ao estudo do empreendedorismo como um elemento indispensaacutevel para o desenvolvimento humano social e principalmente econocircmico

O Brasil apresentava em 2010 a maior taxa de empreendedores em estaacutegio inicial no mundo segundo o relatoacuterio de anaacutelise interna-cional Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010) considerado o mais abrangente estudo sobre empreendedorismo no mundo coordenado pela London Business School (instituiccedilatildeo especializada em educaccedilatildeo empresarial fundada em 1964 e situada na Inglaterra) e pelo Babson College (instituiccedilatildeo especializada no ensino de em-preendedorismo fundada em 1919 nos Estados Unidos e referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre empreendedorismo)

No Brasil a pesquisa eacute publicada pelo SEBRAE e pelo Instituto Bra-sileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) O relatoacuterio do GEM Brasil (2016) revelou que o empreendedorismo no Brasil cresceu desde 2011 e que a Taxa Total de Empreendedores (TTE) foi de 360 repre-sentando cerca de 48 milhotildees de indiviacuteduos empreendedores (com idade entre 18 e 64 anos) Ainda segundo esse relatoacuterio o SEBRAE foi destacado como oacutergatildeo de maior apoio ao empreendedorismo sendo citado por 104 dos entrevistados Os fatores limitantes mais apontados foram poliacuteticas governamentais educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo e apoio financeiro e uma das principais recomendaccedilotildees relacionadas aos fatores mencionados foi a importacircncia de se inserir conteuacutedo empreendedor nos trecircs niacuteveis de educaccedilatildeo i) na educaccedilatildeo infantil com o primeiro contato das crianccedilas com o empreendedorismo ii) no ensino meacutedio com competiccedilotildees de planos de negoacutecios e o es-tiacutemulo agrave criaccedilatildeo de empresas e iii) no ensino superior atraveacutes de um modelo conectado ao mercado e que apresente aos alunos o empreendedorismo como opccedilatildeo real de carreira

Diante do potencial para o empreendedorismo no Brasil o SEBRAE desde 1990 priorizou as accedilotildees educacionais voltadas

para a formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial imbuiacutedos de valores eacuteticos e de cidadania com habili-dade de serem empregadores empregados voluntaacuterios e cida-datildeos em qualquer setor econocircmico e sobre qualquer relaccedilatildeo de trabalho aleacutem de capazes de oferecer para a sociedade de forma distribuiacuteda utilidade melhoria das condiccedilotildees de vida soluccedilotildees de problemas renda ciecircncia tecnologia desenvolvimento emoccedilatildeo beleza equiliacutebrio cooperaccedilatildeo liberdade e democracia

Em 1992 a Escola Teacutecnica de Formaccedilatildeo Gerencial de Belo Ho-rizonte ndash ETFG-BH (atual Escola de Formaccedilatildeo Gerencial EFG-BH) foi idealizada com o objetivo de suprir a formaccedilatildeo de gestores para as pequenas empresas Na Aacuteustria foi encontrado o referencial que serviu como paracircmetro para a elaboraccedilatildeo do seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico desenvolvido por meio de um acordo de cooperaccedilatildeo com o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Artes possibilitando o desenvolvimento de um modelo de formaccedilatildeo gerencial adaptado agrave realidade brasileira A partir de 1995 a escola alcanccedilou notoriedade devido agrave sua metodologia inovadora e por oferecer o Ensino Meacutedio em concomitacircncia e articulaccedilatildeo com o Curso Teacutecnico em Administraccedilatildeo Em virtude disso foram instaladas mais trecircs escolas parceiras nas cidades mineiras de Contagem Itabira e Patos de Minas dando iniacutecio ao Sistema de Formaccedilatildeo Gerencial do SEBRAE-MG o qual segundo o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico de 2015 atuava com quatorze escolas parceiras sendo treze em Minas Gerais e uma no estado do Maranhatildeo (SEBRAE 2015b)

Diante desse cenaacuterio pesquisar as contribuiccedilotildees do ensino do empreendedorismo proporcionado pelo Sistema SEBRAE torna-se fundamental para o reconhecimento e difusatildeo da edu-caccedilatildeo empreendedora no Brasil Assim esta pesquisa propocircs-se a investigar quais as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Com isso pretendeu-se con-tribuir para a academia com novos resultados sobre o estudo do empreendedorismo na formaccedilatildeo teacutecnica

A fim de atender aos objetivos propostos este artigo estaacute es-truturado em cinco seccedilotildees sendo esta introduccedilatildeo a primeira Na segunda seccedilatildeo apresenta-se a fundamentaccedilatildeo teoacuterica com a revisatildeo da literatura referente ao tema na terceira satildeo descritos os procedimentos metodoloacutegicos utilizados no trabalho na quarta seccedilatildeo apresentam-se e discutem-se os resultados alcanccedilados e por uacuteltimo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais

2 Referencial Teoacuterico O referencial teoacuterico deste estudo descreve os conceitos e de-finiccedilotildees de empreendedorismo e de empreendedor utilizados por diversos autores a formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no Brasil bem como a proposta de ensino do empreendedorismo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 9

21 Empreendedorismo conceitos e evoluccedilatildeoPesquisadores do empreendedorismo concordam que a origem do conceito estaacute nas obras de Richard Cantillon e Jean Baptiste Say considerados os primeiros a inserir o tema no cenaacuterio eco-nocircmico (PEREIRA 2010) Segundo Pereira (2010) os economistas associaram o empreendedorismo agrave organizaccedilatildeo de negoacutecios agrave inovaccedilatildeo e a aspectos criativos e intuitivos pelos comportamen-talistas Em 1911 com a publicaccedilatildeo da obra de Joseph A Schum-peter denominada Teoria de desenvolvimento econocircmico o sig-nificado de ldquoempreendedorrdquo foi conectado agrave inovaccedilatildeo Para esse autor o empreendedor eacute aquele que destroacutei a ordem econocircmica existente introduzindo novos produtos e serviccedilos criando novas formas de organizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo de novos recursos materiais o empreendedor seria assim a essecircncia da inovaccedilatildeo no mundo

Em 1998 Peter Ferdinand Drucker filoacutesofo e economista aus-triacuteaco considerado o pai da Administraccedilatildeo moderna ampliou o conceito de empreendedor articulando-o ao conceito do profis-sional inovador e proativo aquele indiviacuteduo capaz de aproveitar oportunidades para promoccedilatildeo de mudanccedilas Essa visatildeo corrobora-va a definiccedilatildeo de Fillion (1993) para quem o empreendedor eacute uma pessoa criativa marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que manteacutem um alto niacutevel de consciecircncia do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negoacutecios

O SEBRAE (2016) define empreendedor como aquele que tem como caracteriacutestica baacutesica o espiacuterito criativo e pesquisador constantemente em busca de novos caminhos e novas soluccedilotildees sempre relacionados agraves necessidades das pessoas Jaacute o relatoacuterio GEM (2016) conceitua empreendedorismo como qualquer tenta-tiva de criaccedilatildeo de um novo negoacutecio ou novo empreendimento podendo ser uma atividade autocircnoma uma nova empresa ou a expansatildeo de um empreendimento existente por um indiviacuteduo grupos de indiviacuteduos ou por empresas jaacute estabelecidas

Para a Endeavor (2015) organizaccedilatildeo liacuteder no apoio a empre-endedores de alto impacto presente em mais de vinte paiacuteses o empreendedorismo pode mudar o mundo e o Brasil gerando emprego riqueza formando profissionais capacitados criando inovaccedilatildeo revolucionando o jeito de pensar Alinhada a essa abor-dagem a Junior Achievement (2015) associaccedilatildeo educativa sem fins lucrativos criada nos Estados Unidos em 1919 e hoje a maior organizaccedilatildeo mundial dedicada agrave educaccedilatildeo empreendedora para jovens em idade escolar presente em mais de 120 paiacuteses e em Minas Gerais desde 2003 acredita na capacidade e potenciali-dade do empreendedorismo como fator propulsor de mudanccedila e incentivo para que os jovens assumam responsabilidade pelos proacuteprios destinos determinem seus objetivos atuem na busca de metas e tenham coragem para correr riscos aleacutem de perseveranccedila e confianccedila em si proacuteprios

22 A formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no BrasilEstudos publicados em 2005 por Howard Aldrich a respeito da histoacuteria do empreendedorismo como disciplina acadecircmica nos Estados Unidos da Ameacuterica (EUA) demostram que desde a deacutecada de 1970 havia debates em torno da legitimaccedilatildeo desse campo de pesquisa O estudo sobre o asunto cresceu a partir de pesquisas sobre pequenas empresas realizado nas Business School (Escolas de Negoacutecios) Os primeiros cursos com foco na administraccedilatildeo de pequenas empresas surgiram em 1947 na Harvard Business School escola de especializaccedilatildeo da Universidade de Harvard voltada agrave administraccedilatildeo de empresas e em 1953 na University New York importante universidade privada sediada na cidade de Nova Iorque e fundada em 1831

A primeira conferecircncia anual sobre empreendedorismo foi realizada em 1981 pela Babson College instituiccedilatildeo norte ame-ricana criada em 1919 e considerada segundo Melo (2008) a referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre o tema Ainda para esse autor os obstaacuteculos para a institucionalizaccedilatildeo do empre-endedorismo como disciplina acadecircmica estavam ligados agrave ausecircncia de publicaccedilotildees especializadas e ao desinteresse pelas universidades de prestiacutegio situadas nos Estados Unidos Um dos fatos importantes para a consolidaccedilatildeo do empreendedorismo foi a criaccedilatildeo de algumas revistas ainda na deacutecada de 1970 como a American Journal of Small Business (que mudou para Entre-preneurship Theory and Practice) e a partir de 1988 a Family Business Review e a Small Business Economics

O surgimento do mercado dotcom (denominaccedilatildeo dada agraves empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo base-adas na internet) em 1990 possibilitou que livros e revistas sobre empreendedorismo se tornassem um produto do mer-cado publicitaacuterio Tal surgimento e a publicaccedilatildeo em 1998 pela Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) do documento ldquoFostering the Entrepreneurship a The-matic Reviewrdquo foram considerados importantes fatores para disseminaccedilatildeo do empreendedorismo pelo mundo Nesse mes-mo ano a Comissatildeo Europeia e o Foacuterum Econocircmico Mundial incluiacuteram a criaccedilatildeo de empresas como temaacutetica em suas pautas (DORNELAS 2008) Destaca-se tambeacutem como fator importante a presenccedila de organizaccedilotildees como a Junior Achievement (2015) e o Instituto Endeavor (2015)

Aleacutem disso desde 1988 eacute publicada anualmente a pesquisa Gene-ral Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada pela Babson College (EUA) e pela London Business School (Inglaterra) cujo objetivo eacute medir a atividade empreendedora a criaccedilatildeo de empresas nos paiacuteses e sua relaccedilatildeo com o crescimento econocircmico O estudo GEM estabeleceu um ranking mundial via iacutendice que mede o potencial empreendedor de cada paiacutes (GEM 2010)

Paacutegina 3 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O empreendedorismo foi difundido no mundo acadecircmico na literatura popular na miacutedia e tambeacutem nas atividades de ONGs e Organismos Internacionais A ONU apoacutes a II Guerra Mundial bus-cou fomentar a criaccedilatildeo de empresas e para isso usou aleacutem das linhas de creacutedito e treinamentos gerenciais uma pesquisa realizada pelo psicoacutelogo David McClelland para desenvolver programas de capacitaccedilatildeo com foco na motivaccedilatildeo A partir dessas accedilotildees criou-se um programa de treinamento em empreendedorismo conhecido como Empretec executado em parceria com diversos paiacuteses desde 1988 No Brasil eacute realizado pelo SEBRAE (SEBRAE 2006)

No Brasil a Formaccedilatildeo Empreendedora foi marcada inicialmente pela criaccedilatildeo do primeiro curso de especializaccedilatildeo de Novos Negoacutecios pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas em 1981 e em 1984 pela extensatildeo da disciplina para a graduaccedilatildeo com o tiacutetulo de Criaccedilatildeo de Novos Negoacutecios ndash Formaccedilatildeo de Empreendedores Similarmente em 1989 foi criado o Centro Integrado de Gestatildeo Empreendedora (CIAGE) e em seguida cursos de empreendedorismo foram inseridos em niacutevel de mestrado doutorado e MBA (SEBRAE 2016) Seguindo essa linha de institucionalizaccedilatildeo do empreendedorismo em 1984 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a oferecer a disciplina de Ensino de Criaccedilatildeo de Empresa no curso de Ciecircncias da Computaccedilatildeo em seguida a Universidade de Satildeo Paulo (USP) implantou a disciplina Criaccedilatildeo de Empresas na graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo e em 1985 iniciou outra disciplina na poacutes-gradua-ccedilatildeo voltada para empreendimentos de base tecnoloacutegica

No iniacutecio da deacutecada de 1990 o SEBRAE MG apoiou a criaccedilatildeo do Grupo de Estudos de Pequenas Empresas (GEPE) no Depar-tamento de Engenharia de Produccedilatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nos anos de 1992 e 1994 esse grupo ofereceu workshops com professores canadenses destacando-se a presenccedila de Filion responsaacutevel pelo desenvolvimento da Teoria Visionaacuteria que facilita o entendimento de como a partir do sur-gimento de uma ideia de um produto ou serviccedilo forma-se um novo negoacutecio Tambeacutem atraveacutes dessa teoria foi possiacutevel conhecer e compreender a importacircncia e o estabelecimento das relaccedilotildees entre os empreendedores os negoacutecios e o ambiente em que estatildeo inseridos (FILION 1993 2004 CIMADON et al 2007)

Ainda em 1992 a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou o Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (CESAR) o qual trecircs anos depois lanccedilou uma incubadora de empresas (ambiente especialmente planejado com o propoacutesito de apoiar iniciativas empreendedoras e projetos inovadores por meio do oferecimento de infraestrutura serviccedilos especializados e assesso-ria gerencial de projetos de exportaccedilatildeo de software) No mesmo ano em parceria com o SEBRAE a Faculdade de Economia da USP iniciou programas de formaccedilatildeo de empreendedores para profissionais interessados em abrir seu proacuteprio negoacutecio Nesse mesmo periacuteodo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

criou a Escola de Novos Empreendedores (ENE) e os programas SOFTEX (Associaccedilatildeo para Promoccedilatildeo da Excelecircncia do Software Brasileiro) e GENESIS (Geraccedilatildeo de Novas Empresas de Software Informaccedilatildeo e Serviccedilo) foram criados pelo CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (MELO 2008)

Tambeacutem com a parceira do SEBRAE-DF a Universidade de Brasiacutelia (UNB) em 1995 desenvolveu a Escola de Empreendedores Em 1997 com o apoio do SEBRAE e do Instituto Euvaldo Lodi (IELMG) e da Federaccedilatildeo das induacutestrias de Minas Gerais (FIEMG) surgiu a Rede de Ensino Universitaacuterio em Empreendedorismo (REUNE) Ainda o SEBRAE a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) o Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico Social (BNDES) e o CNPq foram responsaacuteveis por desenvolverem os programas SOFTEX e GENESIS (citados anteriormente que apoiam ativida-des de empreendedorismo em software estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geraccedilatildeo de novas empresas de software conhecidas como start-ups (empresas geralmente de base tecnoloacutegica que criam modelos de negoacutecio altamente escalaacuteveis a baixos custos e a partir de ideias inovadoras) aliados ao empreendedorismo digital com a utilizaccedilatildeo de ferramentas como e-commerce (comeacutercio eletrocircnico) aplicativos moacuteveis sites de compras dentre outros (MELO 2008)

O SEBRAE tem sido considerado o oacutergatildeo responsaacutevel por im-plantar a cultura do empreendedorismo no Brasil nas universi-dades e no mercado como um todo sendo tambeacutem parceiro de vaacuterias entidades que promovem o empreendedorismo Segundo Dornelas (2008) um curso de empreendedorismo deve considerar o desenvolvimento de trecircs aacutereas de habilidades i) teacutecnicas ndash envol-vem saber escrever ouvir as pessoas ser organizado saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how teacutecnico de sua aacuterea ii) gerenciais ndash envolvem as aacutereas de criaccedilatildeo desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa (marketing administraccedilatildeo financcedilas operacional produccedilatildeo tomada de decisatildeo controle das accedilotildees da empresa e ser um bom negociador) iii) caracteriacutesticas pes-soais ndash envolvem aspectos como assumir riscos e ser disciplinado inovador orientado a mudanccedilas persistente e um liacuteder visionaacuterio

Para o SEBRAE (2013) a educaccedilatildeo empreendedora propotildee a ruptura de um modelo de praacutetica educacional que privilegia a transmissatildeo estaacutetica e a criacutetica de dados e informaccedilotildees sem estimular reflexotildees ou a aplicaccedilatildeo dos saberes na forma de accedilotildees transformadoras Para isso eacute necessaacuterio capacitar o aluno a cons-truir caminhos por meio de accedilotildees concretas e tecnicamente emba-sadas que tenham efetiva capacidade transformadora e o levem a aliar a teoria agrave praacutetica

Nessa mesma abordagem eacute importante ressaltar a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDBN1996) referente agrave promoccedilatildeo da Educaccedilatildeo Integral valorizando as inicia-

Paacutegina 4 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

tivas educacionais extraescolares e a vinculaccedilatildeo entre o trabalho escolar e a vida em sociedade e tambeacutem a importante parceria do SEBRAE na capacitaccedilatildeo de docentes em empreendedorismo para que eles despertem nos alunos o interesse pelo mundo dos negoacutecios e o tema possa ser desenvolvido como disciplina eletiva

Portanto a educaccedilatildeo empreendedora pode ser considerada como principal vetor do desenvolvimento dos paiacuteses e regiotildees que aspiram a ver seus jovens como grandes empreendedores No Brasil o tema eacute muito diversificado devido agraves diferenccedilas regionais e agraves muacuteltiplas nuances culturais O empreendedorismo se mani-festa de forma uacutenica em cada regiatildeo influenciado pela heranccedila cultural pelas vivecircncias pelas historicidades pelas realidades econocircmicas e sociais uacutenicas de cada parte do paiacutes

Portanto eacute a partir da deacutecada de 1980 que o empreende-dorismo pode ser considerado um movimento social mundial propulsor do pequeno negoacutecio e um sinocircnimo de inovaccedilatildeo e mudanccedila

Concluindo esta seccedilatildeo e considerando as abordagens defen-didas por McClelland (1961) Schumpeter (1982) Drucker (1998) Filion (1993 2004) Souza (2001) Hisrich e Peters (2004) Dolabela (2006) e Dornelas (2008) e pelas instituiccedilotildees SEBRAE (2006) GEM (2010 2016) Endeavor (2015) e Junior Achievement (2015) eacute pos-siacutevel verificar que algumas caracteriacutesticas satildeo comuns nos muitos conceitos discutidos

Independentemente dessas referecircncias McClelland (1961) foi um dos primeiros a usar as teorias da ciecircncia comportamental para realizar estudos empiacutericos sobre a motivaccedilatildeo para empreen-der (SANTOS 2008 CARNEIRO 2015) Portanto optou-se por utili-zar as competecircncias do empreendedor adotadas por McClelland (1961) e presentes no Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico do Sistema SEBRAE (2015b) para a elaboraccedilatildeo do instrumento de coleta de dados utilizado neste trabalho tendo como base trecircs dimensotildees de anaacutelise i) conhecimentos ii) habilidades e iii) competecircncias

3 Procedimentos MetodoloacutegicosA metodologia corresponde a um conjunto de procedimentos a ser utilizado na obtenccedilatildeo do conhecimento Eacute a aplicaccedilatildeo do meacutetodo por meio de processos e teacutecnicas (BARROS 2007) Para atingir o objetivo principal desta pesquisa optou-se por um es-tudo descritivo de caraacuteter quantitativo A escolha pela pesquisa descritiva se mostra adequada uma vez que seu objetivo primor-dial eacute a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno utilizando teacutecnicas padronizadas de coletas de dados (GIL 2010) com a finalidade de identificar e obter informaccedilotildees (COLLIS HUSSEY 2005) Quanto agrave abordagem optou-se pelo

meacutetodo quantitativo Collis e Hussey (2005) apontam que esse meacutetodo eacute caracterizado por ser objetivo por natureza e focado na mensuraccedilatildeo de fenocircmenos envolvendo a coleta de informaccedilotildees e a anaacutelise de dados por meio de teacutecnicas estatiacutesticas

Foi aplicado um questionaacuterio estruturado aos egressos de oito Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial (EFG) situadas em Minas Gerais Esse meacutetodo possibilitou uma avaliaccedilatildeo geral do Curso de Formaccedilatildeo Ge-rencial e de suas contribuiccedilotildees na percepccedilatildeo dos egressos do curso em tal estado Nesse estudo o questionaacuterio foi enviado aos respon-dentes por meio eletrocircnico A fim de cumprir o objetivo geral de investigar as contribuiccedilotildees da Formaccedilatildeo Empreendedora proposta pelo Sistema SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Es-colas de Formaccedilatildeo Gerencial em Minas Gerais optou-se por utilizar o modelo adaptado a partir de estudos de McClelland (1961)

De acordo com as informaccedilotildees fornecidas pelo SEBRAE Belo Horizonte o volume de egressos no estado de Minas Gerais perfa-ziam um universo de 5666 ex-alunos que concluiacuteram o curso nas oito unidades que tinham informaccedilotildees a respeito desse puacuteblico ao final do ano de 2015 Eacute importante ressaltar que a apuraccedilatildeo desse total foi realizada pelo somatoacuterio de egressos de cada escola participante da pesquisa EFG Arcos MG (576) EFG Belo Horizonte MG (2088) EFG Cataguases MG (478) EFG Contagem MG (807) EFG Itabira MG (429) EFG Nova Lima MG (818) EFG Pedro Leopoldo MG (419) EFG Sete Lagoas MG (51)

O questionaacuterio foi elaborado e disponibilizado aos egressos por meio da ferramenta Google Docs no primeiro semestre do ano de 2016 havendo um total de 221 respondentes o que equi-vale a 4 dos egressos dessas instituiccedilotildees

De posse dos dados foi utilizada como teacutecnica para tratamento dos dados quantitativos a ferramenta de coleta do Google Docs As informaccedilotildees foram organizadas em tabelas e em graacuteficos no intuito de promover uma melhor visualizaccedilatildeo dos dados quantita-tivos alcanccedilados pela pesquisa Posteriormente foram realizadas as anaacutelises tendo como base a estatiacutestica descritiva pois esta permite a apresentaccedilatildeo a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de dados numeacutericos atraveacutes da criaccedilatildeo de quadros graacuteficos e indicadores numeacutericos possibilitando identificar a existecircncia de regularidades tendecircncias ciclos concentraccedilotildees ou padrotildees (COLLIS HUSSEY 2005)

4 Apresentaccedilatildeo e Anaacutelise dos ResultadosNesta seccedilatildeo satildeo apresentados e analisados os dados da pesquisa quantitativa aplicada aos egressos do Curso de Formaccedilatildeo Geren-cial SEBRAE das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial situadas nas cida-des de Arcos Belo Horizonte Cataguases Contagem Itabira Nova Lima Pedro Leopoldo e Sete Lagoas a fim de identificar as contri-

Paacutegina 5 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

buiccedilotildees dessa formaccedilatildeo gerencial para a atuaccedilatildeo profissional de seus egressos Primeiramente eacute apresentada a caracterizaccedilatildeo de cada uma das unidades em que se deu a pesquisa e em seguida satildeo apresentados os resultados obtidos por meio do questionaacuterio

41 Caracterizaccedilatildeo das EFG mineiras participantes da pesquisaA Tabela 1 apresenta uma siacutentese da caracterizaccedilatildeo das oito es-colas pesquisadas

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais

Unidade SEBRAE

Ano de fundaccedilatildeo

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de colaboradores Curso

Arcos 1996 60 25 Ensino Meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

BeloHorizonte 1994 250 37 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Cataguases 1996 216 34Ensino Fundamental II Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Contagem 1995 100 Natildeoinformado Formaccedilatildeo Gerencial

Itabira 1995 100 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Nova Lima 1998 120 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Pedro Leopoldo 1996 100 23 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Sete Lagoas 2011 68 30 Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Fonte Dados da pesquisa (2016)

Com exceccedilatildeo da EFG SEBRAE Sete Lagoas todas as escolas estatildeo em funcionamento haacute mais de vinte anos em Minas Gerais e oferecem o ensino meacutedio concomitantemente ao curso teacutecnico em Administra-ccedilatildeo As unidades que tecircm o maior nuacutemero de alunos matriculados satildeo as de Belo Horizonte e de Cataguases as demais oscilam de 60 a 120 alunos (considerando os trecircs periacuteodos do ensino meacutedio) As Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial com maior representatividade na pesquisa foram Belo Horizonte (317) e Pedro Leopoldo (344)

42 Perfil dos egressosA partir das respostas dos 221 egressos na seccedilatildeo I do questionaacuterio pocircde-se conhecer o perfil dos respondentes A amostra foi com-posta de 633 dos respondentes do sexo feminino e 367 do masculino As faixas etaacuterias com maior incidecircncia foram de 18 a 24 anos representando 837 da amostra e de 25 a 29 anos re-presentando 68 Quanto ao estado civil 91 dos respondentes satildeo solteiros e 9 satildeo casados

Constatou-se que o principal motivo que levou o egresso a se matricular no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE foi a busca por qualificaccedilatildeo profissional representando 656 das citaccedilotildees

seguido da referecircncia da marca SEBRAE no mercado de trabalho com 136 Tais resultados refletem a consolidaccedilatildeo da excelecircncia do curso teacutecnico e seu diferencial no mercado de trabalho bem como a valorizaccedilatildeo da marca SEBRAE Identificou-se que 543 dos respondentes cursaram o ensino fundamental em escolas particulares e que 674 natildeo utilizaram bolsa de estudo para rea-lizar o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Tais informaccedilotildees satildeo importantes na identificaccedilatildeo do puacuteblico-alvo e nas ferramentas de marketing dos processos seletivos Quanto agrave formaccedilatildeo acadecircmica 62 possuem ensino superior incompleto e 48 graduaram-se na aacuterea de Exatas Um dado interessante a ser observado eacute o fato de apenas 9 dos respondentes natildeo terem continuado os estudos em niacutevel superior sendo que a maioria optou pela graduaccedilatildeo em Ciecircncias Sociais Aplicadas (48) promovendo assim a continui-dade dos estudos na aacuterea de sua formaccedilatildeo teacutecnica

43 Avaliaccedilatildeo dos conhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE e da ca-pacidade de aprendizadoCada pergunta correspondente agrave seccedilatildeo II do questionaacuterio apresen-tado aos respondentes pertence a um tema de avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os valores percentuais alcanccedilados nas respostas foram sistematizados em uma tabela considerando a seguinte escala de classificaccedilatildeo 1- Peacutessimo 2- Ruim 3- Regular 4- Bom e 5- Oacutetimo As questotildees 1 a 5 15 16 e 24 referem-se agrave avaliaccedilatildeo dos conhecimentos teacutecnicos teoacutericos e praacuteticos das habilidades e competecircncias desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Conhecimentos habilidades e competecircncias englobam os conhecimentos teoacutericos e praacuteticos as competecircncias os recursos tecnoloacutegicos a inter-relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica bem como as accedilotildees promotoras para o desenvolvimento do com-portamento humano da eacutetica e da responsabilidade que foram desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

No que tange agrave avaliaccedilatildeo geral dos egressos quantos aos co-nhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE todos os itens tiveram avaliaccedilotildees positivas e a meacutedia geral dos valores para os itens respondidos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo totalizaram 846 Jaacute para os respondentes que consideraram a avaliaccedilatildeo como ldquoRuim e Peacutes-simardquo 9 estatildeo insatisfeitos com os recursos tecnoloacutegicos dispo-nibilizados pelas EFG Essa informaccedilatildeo deve ser analisada pelos gestores das unidades visto que a inovaccedilatildeo aliada agrave tecnologia eacute um dos principais pilares do empreendedorismo

Com relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo mais detalhada sobre os grupos de co-nhecimentos abordados no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Gestatildeo de Pessoas (6610) e Administraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Ciecircncias Sociais

Paacutegina 6 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

(385) e Sistemas de Informaccedilatildeo (312) foram apontados como os conhecimentos que menos contribuiacuteram Vale ressaltar que eacute possiacutevel que esse resultado tenha relaccedilatildeo com os diferentes ramos de atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Em se tratando das habilidades desenvolvidas no Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE observa-se que Relacionamento In-terpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profis-sional dos egressos enquanto Criatividade e Inovaccedilatildeo (186) e Multiculturalismo (371) satildeo as habilidades que menos contri-buiacuteram na visatildeo dos egressos entrevistados

No tocante agraves competecircncias identifica-se que Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as competecircncias que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Processo Produtivo (24) eacute a que menos contribuiu Um dado que merece ser enfatizado eacute que todas as competecircncias relacionadas possuem um grau positivo de avaliaccedilatildeo demonstrando novamente que a relevacircncia estaacute direta-mente ligada ao segmento profissional de cada egresso

Ainda nesse contexto analisando-se as dimensotildees mais rele-vantes no Conhecimento Gestatildeo de Pessoas (66) na Habilidade Relacionamento Interpessoal (77) e na Competecircncia Raciociacutenio Loacutegico (62) percebe-se que as capacidades mais valorizadas pelo mercado de trabalho satildeo o pensamento loacutegico aliado agrave ca-pacidade de lidar com as pessoas o que corrobora a visatildeo de Gardner (1994) sobre inteligecircncias muacuteltiplas

Em se tratando da avaliaccedilatildeo do egresso quanto agrave sua capa-cidade de aprendizado 88 dos respondentes considerou esse aspecto como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 65 o considerou como ldquoRuim e Peacutessimordquo demonstrando assim que o egresso considera muito bom o seu aproveitamento acerca da formaccedilatildeo gerencial ofer-tada considerando tambeacutem que a aprendizagem resulta de um processo de interaccedilatildeo formado pelo trinocircmio professor-aluno--conhecimento sendo esse um indicador de suma importacircncia pois reflete a autoavaliaccedilatildeo do egresso em relaccedilatildeo ao curso

44 Avaliaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado e dos projetos estrutu-rantes do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEO estaacutegio supervisionado eacute o procedimento didaacutetico-pedagoacutegico que pretende proporcionar ao estudante concluinte da terceira seacuterie aprendizagem social profissional e cultural mediante a vi-vecircncia de situaccedilotildees reais de vida e do trabalho na comunidade em geral sob a orientaccedilatildeo e supervisatildeo da EFG Eacute indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo profissional e preacute-requisito para que o estudante receba o certificado de conclusatildeo do curso Os dados da pesquisa apontam que 77 dos respondentes responderam como ldquoOacutetimo e Bomrdquo os

conhecimentos obtidos nas disciplinas do curso para realizaccedilatildeo das tarefas do estaacutegio 14 apontaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo a facilidade para conseguir estaacutegios e outras atividades acadecircmicas em funccedilatildeo de ter concluiacutedo o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os resultados positivos sinalizam o reconhecimento do egresso quanto agrave importacircncia da realizaccedilatildeo do estaacutegio para a formaccedilatildeo e melhor desempenho profissional no mercado de trabalho mas eacute importante destacar a dificuldade para obtenccedilatildeo do estaacutegio apre-sentada na avaliaccedilatildeo de 14 dos egressos mesmo com a referecircncia do curso SEBRAE no mercado de trabalho

Durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE satildeo desen-volvidos trecircs projetos estruturantes Tutoria Vitrine e Empresa Simulada Ao verificar junto aos respondentes a avaliaccedilatildeo des-ses projetos observa-se um destaque para o projeto Vitrine que apresentou percentual de 9210 de avaliaccedilatildeo ldquoOacutetimo e Bomrdquo O resultado geral dos trecircs projetos comprova a sua importacircncia na formaccedilatildeo gerencial visto que eles satildeo considerados um dos principais diferenciais do Sistema SEBRAE

45 Avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissionalNesse quesito analisou-se a contribuiccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissional dos egressos Foram obtidos os seguintes resultados 86 dos respondentes avaliaram como ldquoOacutetimo e Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do cursopara a melhora do entendimento sobre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e o mercado de trabalho 9 avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo as oportunidades geradas pela conclusatildeo do curso Esses resultados comprovam a contribuiccedilatildeo efetiva do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional que o egresso exerce ou jaacute exerceu Vale destacar ainda a avaliaccedilatildeo positiva dos egressos (73) quanto agraves oportunidades geradas por tal formaccedilatildeo na sua vida profissional apesar do resultado anterior no qual o egresso expressa uma difi-culdade em conseguir estaacutegio apoacutes a conclusatildeo do curso

46 Avaliaccedilatildeo geral do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEOs dados da pesquisa indicam que 9210 dos respondentes ava-liaram o curso como ldquorsquoOacutetimo ou Bomrdquo e apenas 090 o avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo O alto iacutendice positivo indica tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva na aprendizagem do egresso representando uma avaliaccedilatildeo geral do curso nos seus aspectos didaacuteticos ins-trucionais teoacutericos e outros

47 Avaliaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas GeraisAnalisando as escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE pes-quisadas os resultados foram os seguintes 88 dos egressos

Paacutegina 7 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a qualificaccedilatildeo dos professores enquanto 19 consideraram esse aspecto como ldquoRuim e Peacutessi-mordquo evidenciando-se assim a satisfaccedilatildeo e reconhecimento dos egressos quanto agrave qualificaccedilatildeo profissional dos docentes que atuam nas EFG Eacute preciso destacar que a avaliaccedilatildeo de um curso implica necessariamente a anaacutelise da organizaccedilatildeo e principal-mente de seus docentes Quanto agrave infraestrutura equipamen-tos e laboratoacuterios 777 dos egressos consideraram-nos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 51 os consideraram como ldquoRuim e Peacutessimordquo o que comprova uma avaliaccedilatildeo geral positiva das EFG tambeacutem em termos de infraestrutura

48 Relacionamento dos egressos com as EFG SEBRAE em Minas GeraisOs dados demonstram que 423 dos respondentes natildeo mantecircm nenhum tipo de contato com a instituiccedilatildeo na qual concluiacuteram o curso e que apenas 10 jaacute participaram de algum evento promo-vido pela EFG apoacutes terem se formado Essa situaccedilatildeo indica uma deficiecircncia na comunicaccedilatildeo das escolas com seus ex-alunos jaacute ob-servada no iniacutecio da pesquisa quando se constatou que as escolas natildeo possuem um banco de dados atualizado de seus egressos para que seja possiacutevel efetuar contato com eles e natildeo permitindo portanto poliacuteticas de relacionamento com os ex-alunos apoacutes a sua passagem pelas escolas No entanto percebe-se que 869 dos respondentes possuem contato com seus ex-colegas por ini-ciativas proacuteprias de organizaccedilatildeo de redes e grupos informais em plataformas de miacutedias sociais como Facebook e WhatsApp Essas accedilotildees poderiam ser potencializadas pelas EFG para a construccedilatildeo de um relacionamento com os egressos

Os dados da pesquisa apontam que 959 dos respondentes natildeo se arrependeram de ter realizado o curso na EFG de origem Tal iacutendice expressa novamente a satisfaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos egressos no que se refere agrave qualidade da formaccedilatildeo gerencial e do quanto ela foi significativa para a vida profissional de cada um Essa informaccedilatildeo eacute de grande relevacircncia para as escolas e para os gestores visto que a indicaccedilatildeo do egresso eacute uma importante ferramenta de marketing que pode ser utilizada na captaccedilatildeo de novos alunos estrateacutegia que jaacute eacute realizada pelas escolas

5 Consideraccedilotildees FinaisEste estudo teve como objetivo geral investigar quais as contri-buiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa de caraacuteter descritivo e quantitativo Adotou-se o modelo proposto por McClelland (1961) como marco teoacuterico da pesquisa visto tal modelo ser base do projeto poliacutetico pedagoacutegico do Sistema SE-BRAE (2015b) contemplando os conhecimentos (Administraccedilatildeo Estrateacutegica Financcedilas Produccedilatildeo e Logiacutestica Marketing Sistema de

Informaccedilatildeo Gestatildeo de Pessoas Ciecircncias Sociais) as habilidades (Relacionamento Interpessoal Comunicaccedilatildeo Eficaz Lideranccedila Soluccedilatildeo de Conflitos Articulaccedilatildeo Criatividade e Inovaccedilatildeo Multi-culturalismo) e as competecircncias (Interpretaccedilatildeo de Cenaacuterios For-mulaccedilatildeo de Projetos Avaliaccedilatildeo de processos e resultados Iden-tificaccedilatildeo de Problemas Raciociacutenio Loacutegico Processo Decisoacuterio) desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial

Os conhecimentos sobre Gestatildeo de Pessoas (6610) e Admi-nistraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos en-trevistados Em se tratando das habilidades desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Relacionamento Interpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais con-tribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos No to-cante agraves competecircncias Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Pode-se concluir que a formaccedilatildeo gerencial proposta pelas EFG SEBRAE em Minas Gerais contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos Essa informaccedilatildeo eacute comprovada pelos re-sultados que indicam que 92 dos egressos avaliaram o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo sendo que 95 dos egressos natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 con-sideraram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso de formaccedilatildeo gerencial e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

Por outro lado identificou-se um novo desafio no que se refere ao curso foi possiacutevel observar os baixos iacutendices de relacionamento das escolas com seus egressos aleacutem da falta de um banco de dados com o cadastro atualizado dos seus ex-alunos Estes dados servem de alerta agraves escolas e ao Sistema SEBRAE tendo em vista que isso poderaacute prejudicar a imagem da instituiccedilatildeo e o ingresso de novos alunos no futuro visto que a referecircncia do ex-aluno eacute con-siderada a principal ferramenta de marketing que uma instituiccedilatildeo pode se utilizar para captaccedilatildeo de novos alunos Algumas accedilotildees de melhoria passam pela criaccedilatildeo de canais de comunicaccedilatildeo eficazes e de uma associaccedilatildeo de ex-alunos Uma vez adotadas essas accedilotildees proporcionariam aos egressos a possibilidade de maior e melhor acesso agrave escola e aos ex-colegas

A presente pesquisa apresentou limitaccedilotildees Uma delas foi o acesso aos egressos O SEBRAE Belo Horizonte se dispocircs ainda no momento de planejamento deste trabalho a informar o banco de dados dos egressos das treze escolas existentes em Minas Gerais Entretanto isso natildeo ocorreu na praacutetica o que limitou a amostra a 221 egressos e a oito escolas participantes O contato com os egressos dessas escolas foi feito e possibilitado em quase sua totalidade pelas miacutedias sociais e grupos informais de ex-alunos

Paacutegina 8 de 9

Constatou-se nesse momento do trabalho que nenhuma EFG de Minas Gerais possui dados de seus egressos Sendo assim sugere-se agraves EFG do estado a criaccedilatildeo de um banco de dados de egressos com informaccedilotildees atualizadas Seria interessante tambeacutem que as escolas promovessem encontros com os ex-alunos e criassem canais de comunicaccedilatildeo mais constantes e diretos com este puacuteblico

Outra limitaccedilatildeo apresentada pela pesquisa diz respeito agrave sua aplicaccedilatildeo focada somente no quadro de egressos sem considerar outros envolvidos no processo tais como a famiacutelia do egresso os empregadores clientes colaboradores dentre outros Sugere-se tambeacutem que pesquisas futuras incluam os outros envolvidos no processo como forma de se obter uma visatildeo ampliada dos im-pactos da formaccedilatildeo gerencial oferecida pelas EFG SEBRAE

R e f e r ecirc n c i a s

BARROS AJDS LEHFELD NADS Fundamentos de metodologia cientiacutefica

Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2007

CARNEIRO CA Comportamento empreendedor de gestores estudo de caso

em uma instituiccedilatildeo puacuteblica de ensino superior Dissertaccedilatildeo (Mestrado

Profissional em Administraccedilatildeo) ndash Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas

Gerais Brasil 2015

CIMADON JE RUPPENTHAL JE MANFROI AS A aplicaccedilatildeo da ldquoTeoria

Visionaacuteriardquo de Filion no desenvolvimento de MPEs criadas por neces-

sidade In XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produccedilatildeo 2007

Anais Foz do Iguaccedilu ENEGEP 2007

COLLIS J HUSSEY R Pesquisa em administraccedilatildeo um guia praacutetico para alu-

nos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo 2ed Porto Alegre Bookman 2005

DOLABELA F O segredo de Luiacutesa 30ed Satildeo Paulo De Cultura 2006

DORNELAS JCA Empreendedorismo transformando ideias em negoacutecios

Rio de Janeiro Campus 2008

DRUCKER PF Inovaccedilatildeo e espiacuterito empreendedor 5ed Satildeo Paulo Pioneira 1998

ENDEAVOR Portal Endeavor Brasil Disponiacutevel em lthttpsendeavororg

brgt Acesso em 10 set 2016

FILION LJ Visatildeo e relaccedilotildees elementos para um metamodelo empreen-

dedor Revista de Administraccedilatildeo de Empresas (RAE) Satildeo Paulo v33

n6 p50-61 1993

FILION LJ Entendendo os intraempreendedores como visionistas Revista

de Negoacutecios Blumenau v9 n2 p65-80 2004

GEM Global Entrepreneurship Monitor Empreendedorismo no Brasil re-

latoacuterio executivo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibqpprorgbrgt

Acesso em 10 set 2016

______ Empreendedorismo no Brasil relatoacuterio executivo 2016 Disponiacutevel

em lthttpwwwibqpprorgbrgt Acesso em 10 set 2016

GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 5ed Satildeo Paulo Atlas 2010

HISRICH RD PETERS MP Empreendedorismo 5ed Porto Alegre Bookman 2004

JUNIOR ACHIEVEMENT Portal JA Brasil Disponiacutevel em ltwwwjuniorachie-

vementorgbrgt Acesso em 10 set 2016

McCLELLAND DC The achievement society Princenton (NJ) D Van

Nostrand 1961

MELO NM Sebrae Empreendedorismo origem e desenvolvimento Dis-

sertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Sociais) ndash Universidade Federal de

Satildeo Carlos Satildeo Paulo Brasil 2008

PEREIRA RA As competecircncias do educador na difusatildeo da cultura empre-

endedora Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo) ndash

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasil 2010

REVISTA PASSO A PASSO Brasiacutelia SEBRAE 2015a

SANTOS PCF Uma escala para identificar o potencial empreendedor Tese

(Doutorado em Engenharia de Produccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil 2008

SCHUMPETER JA A teoria do desenvolvimento econocircmico uma investi-

gaccedilatildeo sobre lucros capital creacutedito juros e o ciclo econocircmico Satildeo

Paulo Abril Cultural 1982

SEBRAE Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas Refe-

renciais educacionais do SEBRAE Brasiacutelia SEBRAE 2006

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Pedro

Leopoldo Pedro Leopoldo SEBRAE 2013

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Belo

Horizonte Belo Horizonte SEBRAE 2015b

______ Portal SEBRAE Disponiacutevel em lthttpwwwsebraecombrsites

PortalSebraegt Acesso em 3 fev 2016

SOUZA CG Empreendedorismo e capacitaccedilatildeo docente uma sintonia pos-

siacutevel Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Santa Catarina Brasil 2001

Paacutegina 9 de 9

Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo HorizonteCooperation Networks And Public Governance The Case Of The Cultural Mapping Of Belo Horizonte

Leonardo Tadeu dos Santos Juliana de Faacutetima Pinto e Maria Gabriela de Caacutessia Miranda

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

Os Estados vecircm sofrendo mudanccedilas que tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior transparecircncia e de maior envolvimento com mercado e sociedade

civil e para isso estatildeo procurando trabalhar na perspectiva de redes Este artigo buscou analisar as possibilidades da rede estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC) a empresa TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) Trata-se de uma rede interinstitucional formada com objetivo de construir o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte O mapa cultural eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacuteblicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos Foi aplicado um questionaacuterio aberto para trecircs servidoras da FMC Para o tratamento dos dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) O estudo descreve como se deu a criaccedilatildeo da rede os avanccedilos alcanccedilados e as dificuldades encontradas Conclui-se que a rede de cooperaccedilatildeo trouxe benefiacutecios e possibilitou a construccedilatildeo do mapa cultural da cidade

A b s t r a c t

The States have undergone changes towards a user-oriented administration one of greater trans-parency and greater involvement with the market and civil society and for that they have sought to work from a network perspective This article sought to examine the possibilities of the inter-institu-tional network established between the Municipal Foundation of Culture of Belo Horizonte (FMC) the company TIM and the Municipal Council of Cultural Policy (COMUC) This is an inter-institutional network created in order to build the cultural map of the city of Belo Horizonte The cultural map is an innovative software of shared management that allows different private andor public agencies to feed the database for the subsequent consultation of citizens An open questionnaire was applied to three FMC servers and the data treatment used the analysis of content of Bardin (2009) This study describes the process of creation of the network the progress achieved and the difficulties encountered It was concluded that the cooperation network has brought benefits and made the construction of the cultural map of the city possible

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 020917Aprovado em 041217

Palavras-chaveRedes interorganizacionais Cooperaccedilatildeo Setor puacuteblico Inovaccedilatildeo

KeywordsInter-organizational networks Cooperation Public sector Innovation

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMGe-mail leonardotadeu17gmailcom

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Como citar este artigoSANTOS L T PINTO J F CAacuteSSIA M G Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo Horizonte Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 Introduccedilatildeo As uacuteltimas deacutecadas tecircm sido marcadas por fenocircmenos como globa-lizaccedilatildeo e ajustes fiscais provocando o surgimento de novos desafios organizacionais A reforma administrativa do Estado exemplifica o esforccedilo da administraccedilatildeo puacuteblica em se adequar agraves novas ne-cessidades tais como agilidade eficiecircncia transparecircncia etc As mudanccedilas tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior clareza e de mais envolvimento entre Es-tado mercado e sociedade civil (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

A demanda crescente por serviccedilos puacuteblicos melhores e mais eficientes impulsiona de acordo com Torres (2006) accedilotildees de mo-dernizaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que tecircm por objetivo atender aos an-seios da sociedade civil Dessa forma a inovaccedilatildeo ganha destaque Segundo Lemos (1999) a compressatildeo da inovaccedilatildeo depende de questotildees contingenciais e soacutecio-histoacutericas

Assim neste estudo entende-se inovaccedilatildeo como o desenvol-vimento de ideias e accedilotildees que visem ao aperfeiccediloamento de uma tarefa eou accedilatildeo alterando a capacidade de agir da sociedade (MURRAY CAULIER-GRICE MULGAN 2010) Um exemplo eacute a cria-ccedilatildeo de redes de cooperaccedilatildeo para dar maior agilidade e qualidade aos serviccedilos estatais ao atender agraves necessidades sociais e criar novas relaccedilotildees sociais (JULIANI 2014)

Nesse iacutenterim uma parte da literatura (CASTELLS 1999 KISS-LER HEIDMAN 2006 MINTZBERG 2003 SILVA MARTINS CKAGNA-ZAROFF 2013) tem frisado a importacircncia de o Estado agir de forma cooperativa na perspectiva de redes As redes de cooperaccedilatildeo satildeo uma forma de organizaccedilatildeo na qual haacute uma parceria com o intuito de beneficiar os atores que fazem parte da rede (SEDAI 2004) A colaboraccedilatildeo possibilita aos atores a resoluccedilatildeo de problemas que representariam uma carga excessiva para um ator isolado uacutenico

Segundo Kissler e Heidemann (2006) existem uma seacuterie de vantagens que a coadjuvaccedilatildeo proporciona tais como reduccedilatildeo de risco diminuiccedilatildeo de custos compartilhamento de teacutecnicas e informaccedilotildees e ampliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos prestados Eacute possiacutevel destacar tambeacutem as possiacuteveis dificuldades encontradas nas redes de cooperaccedilatildeo satildeo elas a baixa confianccedila entre os ato-res os interesses contraacuterios a dificuldade de interaccedilatildeo entre os envolvidos e a assimetria de informaccedilatildeo

As redes segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) satildeo um meca-nismo que permite ampliar e aperfeiccediloar as relaccedilotildees e a governanccedila puacuteblica A governanccedila na administraccedilatildeo puacuteblica pode ser entendida como um modelo horizontal de relaccedilotildees entre atores das esferas puacuteblicas e privadas no processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003) Realizar o mapeamento dessas redes proporciona maior compreensatildeo da sua dinacircmica bem como dos recursos e estrateacutegias para cooperaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

Assim apresenta-se neste estudo uma rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Ho-rizonte (FMC) o Instituto TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) A rede objetiva implantar o mapeamento cul-tural da cidade e consiste na construccedilatildeo de um mapa georreferen-ciado que conteacutem informaccedilotildees sobre artistas eventos e espaccedilos culturais tais informaccedilotildees satildeo encontradas no site da FMC

O mapa cultural de Belo Horizonte encontrado no site Mapa Cultural BH (PMBH 2017) eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacute-blicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos O software livre permite tambeacutem alimentar informaccedilotildees sobre agendas espaccedilos eventos e projetos culturais

Diante da importacircncia das redes institucionais e da gover-nanccedila puacuteblica para o bem-estar da sociedade este estudo busca responder agrave seguinte questatildeo quais benefiacutecios e obstaacuteculos satildeo observados na rede de cooperaccedilatildeo entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte o Instituto Tim e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural ao implementar o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees em teias eacute um tema pouco estuda-do e segundo Kissler e Heideman (2006) as avaliaccedilotildees cientiacuteficas soacutelidas sobre resultados da governanccedila puacuteblica satildeo raras Nesse liame o estudo pretende contribuir para os estudos do campo das redes organizacionais puacuteblica discutindo trecircs objetivos especiacutefi-cos 1) os benefiacutecios 2) as dificuldades e 3) os resultados da rede organizacional pesquisada Para alcanccedilar os objetivos propostos adotou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) para o tratamento do questionaacuterio aberto respondido pelos servidores da FMC

O artigo estaacute dividido aleacutem desta introduccedilatildeo em cinco se-ccedilotildees A primeira parte discute governanccedila puacuteblica A segunda apresenta a discussatildeo sobre redes interorganizacionais A terceira parte conteacutem a descriccedilatildeo metodoloacutegica seguida da apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados da rede pesquisada Por fim satildeo apre-sentadas as conclusotildees finais

2 Governanccedila puacuteblicaA Administraccedilatildeo Puacuteblica Gerencial (APG) ocasionou novos paradig-mas para a gestatildeo puacuteblica e consequentemente uma nova pers-pectiva na implementaccedilatildeo de ferramentas gerenciais ateacute entatildeo utilizadas apenas na esfera privada (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Um conceito-chave para APG eacute a governanccedila O conceito de governanccedila eacute usado em diversos campos de saberes e de diferen-tes formas Segundo Sechi (2009 p 357) ldquoa definiccedilatildeo de governan-ccedila gera ambiguidades e [] as principais aacutereas do conhecimento

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

que se apropriou [sic] do termo foram as relaccedilotildees internacionais teorias do desenvolvimento a administraccedilatildeo privada a adminis-traccedilatildeo puacuteblica e a ciecircncia poliacuteticardquo

Apesar de Kissler e Heidemann (2006) considerarem o conceito de governanccedila como sociologicamente amorfo e de existirem diferentes formas para se entender e discutir a temaacutetica neste estudo governanccedila seraacute entendida como

Uma nova geraccedilatildeo de reformas administrativas e de Estado que tecircm

como objeto a accedilatildeo conjunta levada a efeito de forma eficaz transpa-

rente e compartilhada pelo Estado pelas empresas e pela sociedade

civil visando uma soluccedilatildeo inovadora dos problemas sociais e criando

possibilidade e chances de um desenvolvimento futuro e sustentaacutevel

para todos os participantes (LOumlFFLER 2001 p 202)

Segundo Peter e Waterman (1982) A governanccedila puacuteblica po-deria ser entendida a partir de trecircs perspectivas os mecanismos de hierarquia do governo os mecanismos de autorregulaccedilatildeo do mercado e os mecanismos de cooperaccedilatildeo entre as comunidades

Partindo do eixo dos mecanismos horizontais de cooperaccedilatildeo Filho Cruz (2006) chama atenccedilatildeo para migraccedilatildeo de algumas funccedilotildees do Estado para o setor privado o setor social a cooperativa e a socie-dade civil como uma mudanccedila significativa e recente Nesse sentido Kissler e Heideman (2006) sugerem a ideia de uma transiccedilatildeo de um Estado hieraacuterquico e pouco permeaacutevel para um Estado cooperativo que atua em conjunto com a sociedade e com as organizaccedilotildees pri-vadas Em decorrecircncia disso o maior entrelaccedilamento entre Estado mercado e sociedade civil tem caracterizado as uacuteltimas deacutecadas

Nessa perspectiva de governanccedila as redes de cooperaccedilatildeo sur-gem como um elemento inovador e central para os atores Sendo as redes um emaranhado de relaccedilotildees colaborativas a governanccedila e as redes estatildeo entrelaccediladas em sua funccedilatildeo de ser

Apesar de inicialmente pensada para o setor privado a go-vernanccedila e os modelos horizontais de relaccedilatildeo entre atores tecircm ganhado espaccedilo no Estado e em organizaccedilotildees puacuteblicas Nesse sentido segundo Kissler e Heidemann (2006) o Estado pode trans-ferir accedilotildees para o setor privado ou agir em parcerias com agentes sociais Essa accedilatildeo conjunta pode ser entendida como a expansatildeo de um Estado coprodutor do bem puacuteblico que busca apoio nas parcerias para desempenhar sua funccedilatildeo Entre os diversos me-canismos de que o Estado dispotildee para expandir e aperfeiccediloar a governanccedila puacuteblica as redes ocupam uma posiccedilatildeo central

Essa expansatildeo do Estado pode se dar pelas redes de poliacuteticas puacuteblicas (policy networks) como eacute o caso neste estudo e ser uma forma inovadora de interaccedilatildeo entre atores estatais da sociedade civil e do mercado (BOumlRZEL 1998)

3 Redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblicaAs redes tecircm sido um dos mecanismos mais utilizados e trabalha-dos pelo Estado para o aprofundamento da governanccedila puacuteblica por proporcionar uma visatildeo ampla dos atores e sua atuaccedilatildeo no ambiente Na administraccedilatildeo puacuteblica apresentam vaacuterias possi-bilidades de serem pensadas puacuteblico-puacuteblico puacuteblico-privado puacuteblico-sociedade civil e puacuteblico-privado-sociedade civil todas elas apresentando relaccedilotildees menos hierarquizadas e melhorias para a governanccedila puacuteblica (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Para Nohria e Eccles (1992) as redes entre as organizaccedilotildees tecircm como objetivos a interaccedilatildeo o relacionamento a ajuda muacute-tua o compartilhamento a integraccedilatildeo e complementaridade entre atores sociais Segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) a rede interorganizacional eacute uma teia social com caraacuteter teacutecnico e operacional com pouca hierarquia e grande interatividade entre os atores que a compotildee Tal estrutura proporciona ligaccedilotildees entre atores externos agrave organizaccedilatildeo

Nota-se que de maneira ampla os diversos conceitos de redes compartilham alguns elementos em comuns Bourguignon (2001) vem postular que satildeo eles a ideia de articulaccedilatildeo conexatildeo accedilotildees complementares relaccedilotildees horizontais entre parceiros e interdependecircncia de serviccedilos

Uma das principais caracteriacutesticas das redes satildeo suas relaccedilotildees intermodais sendo os noacutes com diferentes dimensotildees segundo Castells (2001) noacutes que apresentam um nuacutemero diferenciado de ligaccedilotildees com os demais noacutes da rede Esses noacutes fazem parte de uma rede na qual os atores estatildeo no mesmo patamar hieraacuterquico e colaboram entre si As redes sociais satildeo estruturas abertas ca-pazes de expandir ilimitadamente integrando novos noacutes desde que consigam comunicar-se dentro da rede (CASTELLS 1999) As redes de cooperaccedilatildeo tecircm como um de seus objetivos reunir atributos que permitam uma adequaccedilatildeo ao ambiente competitivo em uma estrutura dinacircmica sustentada por accedilotildees uniformes po-reacutem descentralizadas e que evite que os atores envolvidos percam a flexibilidade (THOMPSON 2003)

A confianccedila segundo Kissler e Heidemann (2006) eacute um ponto essencial para o estabelecimento de uma rede e tam-beacutem eacute um fator-chave para a cooperaccedilatildeo e a troca entre as organizaccedilotildees (RING VAN DE VEN 1994 BECERRA LUNNAN HUEMER 2008) A presenccedila ou a ausecircncia da confianccedila de-terminaraacute os fluxos de informaccedilotildees que satildeo essenciais para a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave cooperaccedilatildeo e ateacute mes-mo na disposiccedilatildeo dos atores em trabalhar em conjunto Dito isso percebe-se tambeacutem que a cooperaccedilatildeo e a governanccedila de uma rede natildeo pode ser imposta A governanccedila e a cooperaccedilatildeo entre os agentes satildeo um processo de troca que oscila entre o topo e a base (KISLLER HEIDEMANN 2006)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As redes com mais tradiccedilatildeo na iniciativa privada tecircm ganhado espaccedilo no governo e podem ser entendidas como um sistema in-terligado formado por uma teia complexa de relaccedilotildees institucionais para soluccedilatildeo de problemas cotidianos e atiacutepicos para Mintzberg (1998) O autor complementa afirmando que as redes de coope-raccedilatildeo no setor puacuteblico satildeo ligadas por canais informacionais de comunicaccedilatildeo cujo lema seria conectar comunicar e colaborar

Nesse contexto Castells (2001) afirma ter surgido uma nova economia de escala global e com novas estrateacutegias e aborda-gens Esse novo contexto implicaria o ldquoEstado-rederdquo Esse concei-to ressignifica o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e traz a ideia de um Estado que compartilha autoridade que trabalha em conjunto e em rede com outros atores Esse novo termo implica novas parcerias e estruturas organizacionais cooperaccedilatildeo em rede

4 MetodologiaPor meio do levantamento de bibliografias pertinentes foi construiacutedo um arcabouccedilo teoacuterico com o intuito de situar as produccedilotildees relativas agrave temaacutetica trabalhada A partir do referencial teoacuterico os dados foram produzidos a partir da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios abertos

Os questionaacuterios abertos foram aplicados no Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DPAI) da FMC sendo essa repar-ticcedilatildeo responsaacutevel pela alimentaccedilatildeo e cadastro de informaccedilotildees do site do mapa cultural de Belo Horizonte Trata-se portanto de uma pesquisa qualitativa o que segundo Creswell (2007) foca-se nas percepccedilotildees e experiecircncias dos participantes e sen-do os dados interpretados em relaccedilatildeo a um uacutenico caso e natildeo agraves suas generalizaccedilotildees

No total participaram do estudo trecircs servidoras da FMC sendo a amostra natildeo probabiliacutestica As servidoras foram escolhidas conforme a conveniecircncia e interesse deste estudo considerando a sua partici-paccedilatildeo na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a FMC o Instituto TIM e o COMUC Visando agrave natildeo identificaccedilatildeo das participantes essas foram chamados neste trabalho de FMC1 FMC2 FMC3 Todos os questionaacuterios foram respondidos no mecircs de abril de 2017

Conforme sugerido por Bardin (2009) a primeira leitura das respostas fez com que os pesquisadores levantassem algumas hipoacuteteses Em seguida as respostas foram organizadas de acor-do com a aproximaccedilatildeo dos elementos para posteriormente ser atribuiacutedo a esses o nome de categoria A categorizaccedilatildeo possibilita o ordenamento de significados que representam um entendimento mais profundo em termos da interpretaccedilatildeo dos sujeitos estudados

As categorias natildeo foram fixadas no iniacutecio da pesquisa e sim definidas a partir da interpretaccedilatildeo do questionaacuterio aberto Satildeo

elas a falta de investimentos adequado na rede a limitaccedilatildeo do software as dificuldades com a mudanccedila do governo a pouca participaccedilatildeo do COMUC e a parceria bem-sucedida

5 A rede e o mapa culturalA Fundaccedilatildeo de Cultura de Belo Horizonte (FMC) entidade inte-grante da administraccedilatildeo indireta do Municiacutepio de Belo Horizonte tem por funccedilatildeo administrar poliacuteticas e questotildees voltadas agrave aacuterea de cultura do municiacutepio Fundada em 2005 a FMC realiza inter-venccedilotildees por meio de festivais encontros rodas de conversa e muitos outros atrativos espalhados na cidade

A Telecom Itaacutelia Mobile (TIM) eacute uma empresa italiana de telefonia e presta serviccedilos no Brasil desde 1988 Atualmente possui uma fatia consideraacutevel do mercado de comunicaccedilatildeo no paiacutes A empresa jaacute rea-lizou em parceria com o setor puacuteblico a instalaccedilatildeo de outros mapas culturais como por exemplo o de Blumenau e o de Joatildeo Pessoa

O Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) composto por quinze representantes do poder puacuteblico municipal e quinze representantes da sociedade civil (sendo seis do setor cultural e nove representantes das regionais administrativas da cidade) eacute a arena de representaccedilatildeo da sociedade civil do municiacutepio de Belo Horizonte em relaccedilatildeo agraves decisotildees das poliacuteticas culturais

O mapa cultural da cidade Belo Horizonte segundo o site da FMC eacute uma plataforma de software livre gratuita e colaborativa da FMC com diversas informaccedilotildees sobre o cenaacuterio cultural da cidade O mapa estaacute composto de informaccedilotildees tais como espaccedilos culturais programaccedilotildees oficiais projetos e editais e por agentes culturais cadastrados

A construccedilatildeo da rede interorganizacional permitiu a criaccedilatildeo im-plementaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do projeto do mapa cultural O site foi inaugurado em junho de 2016 e vem sendo alvo de criacuteticas e elogios

6 Anaacutelises e resultados da pesquisaConsiderando-se a discussatildeo apresentada acima a pesquisa sobre redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblica identificou ao longo do seu desenvolvimento que as servidoras pesquisadas enxergam a rede de forma positiva A avaliaccedilatildeo positiva pode ser entendida como o atendimento agraves necessidades da FMC que a rede pode proporcio-nar Assim nesta seccedilatildeo mostra-se a fala de trecircs servidoras da FMC

A falta de investimento adequado na redePara as servidoras da FMC um dos problemas enfrentados pela rede foi a escassa equipe para trabalhar no projeto Isso limitou o crescimento e aperfeiccediloamento do projeto e de sua capaci-dade de impulsionar a governanccedila da rede conforme podemos observar na fala abaixo

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A falta de equipe na FMC para garantir ecircxito na gestatildeo do projeto o

prejudica significativamente (FMC 2)

Em relaccedilatildeo agrave falta de servidores uma entrevistada apontou qual seria a especialidade mais carente para o melhor desenvol-vimento da rede conforme apresentado em seguida

Natildeo existe capacidade tecnoloacutegica e de servidores de TI na FMC para

dar manutenccedilatildeo no site em tempo haacutebil (FMC 1)

Aleacutem dessa especialidade a FMC lida com um quadro que natildeo atende agraves necessidades do serviccedilo puacuteblico e tampouco do proacuteprio oacutergatildeo conforme as entrevistadas explicam

A Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura apresenta atualmente um quadro

defasado de servidores puacuteblicos As atividades do projeto Mapa Cultural

BH hoje estatildeo concentradas em um nuacutecleo com servidores da Divisatildeo

de Tecnologia e do Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Nesse

nuacutecleo de trabalho estatildeo diretamente envolvidos um funcionaacuterio de

cada setor e um estagiaacuterio Conforme a demanda de trabalho e neces-

sidade o nuacutecleo eacute acrescido de um funcionaacuterio para apoio (FMC 2)

Apesar disso tudo ocorreu um esforccedilo da FMC para capacitar as pessoas envolvidas no projeto

A FMC estaacute trabalhando na fase de implantaccedilatildeo das accedilotildees e etapas

de uso da plataforma Os gestores e servidores que utilizaratildeo a plata-

forma para registro das accedilotildees projetos e poliacuteticas culturais jaacute foram

capacitados (FMC 3)

Por outro lado os recursos escassos satildeo tambeacutem entendidos como barreiras para o desenvolvimento do projeto

O projeto natildeo eacute entendido como estrateacutegico pela instituiccedilatildeo e com

isso natildeo possui recursos ndash humanos TI e financeiros ndash suficientes

para que tenha ecircxito e alcance seus objetivos (FMC 2)

A limitaccedilatildeo do softwareAcerca dos objetivos da rede segundo as entrevistadas eacute unacircnime a visatildeo de que a criaccedilatildeo do mapa se propotildee a gerar um banco de da-dos culturais que permitiraacute a melhor gestatildeo das poliacuteticas culturais

A implantaccedilatildeo da plataforma dos mapas culturais visando agrave sua uti-

lizaccedilatildeo para mapear identificar e registrar informaccedilotildees sobre a aacuterea

cultural de Belo Horizonte possibilitando a formaccedilatildeo de um banco

de dados sobre a cadeia produtiva da cultura na cidade ndash agentes es-

paccedilos instituiccedilotildees projetos eventos editais [] A partir desse banco

de dados a FMC poderaacute desenvolver estudos que visam a um melhor

planejamento para a gestatildeo da cultura em BH (FMC 2)

Em relaccedilatildeo ao mapa cultural as entrevistadas disseram que esse apresentou enormes avanccedilos

Podemos considerar que a disponibilizaccedilatildeo da plataforma jaacute seja um gran-

de avanccedilo pois a FMC natildeo teria condiccedilotildees e nem conseguiria desenvolver

um software com tantos recursos num prazo tatildeo curto (FMC 2)

Entretanto a limitaccedilatildeo do software foi uma das grandes dificuldades encontrada pelas servidoras da FMC Havia nesse sentido um interesse conflitante entre a necessidade da FMC e a perspectiva de trabalho da TIM Eacute importante ressaltar que as presenccedilas de interesses conflitantes podem ser prejudiciais para a governanccedila visto que a interaccedilatildeo entre os atores pode se dar de maneira natildeo harmoniosa

Como a ferramenta natildeo eacute da prefeitura nem foi desenvolvida por ela natildeo

temos total controle sobre ela [] A FMC gostaria de ter uma ferramenta

mais personalizada e isto era algo que a TIM natildeo podia oferecer (FMC 1)

E ateacute mesmo quanto ao sistema desenvolvido pela TIM que ainda

natildeo nos permite fazer alteraccedilotildees e adaptaacute-lo agrave nossa realidade bem

como gerar relatoacuterios especiacuteficos (FMC 3)

A criacutetica dos entrevistados tambeacutem se relaciona ao papel que o software vem desenvolvendo Para que o mapa cultu-ral possa ser utilizado de forma efetiva e natildeo servir apenas como um banco de dados algumas mudanccedilas precisam ser implementadas

O Mapa Cultural eacute uma boa ferramenta de gestatildeo embora limitada

Eacute preciso fazer a gestatildeo do Mapa Cultural BH e da informaccedilatildeo que

seraacute registrada senatildeo teremos apenas um banco de dados (FMC 3)

As dificuldades com a mudanccedila do governoUma das dificuldades apresentadas pelas entrevistadas foi em relaccedilatildeo agrave mudanccedila do governo municipal A troca de governo trouxe insegu-ranccedila e incertezas em relaccedilatildeo ao futuro do projeto do mapa cultural

A instabilidade poliacutetica seja em niacutevel federal estadual ou municipal

reflete diretamente no desenvolvimento do projeto (FMC 2)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As mudanccedilas de gestatildeo que normalmente acontecem no serviccedilo

puacuteblico atrasaram as etapas [] (FMC 3)

Nessa indagaccedilatildeo uma das entrevistadas revelou algumas ques-totildees contingenciais e dificultadoras para alcanccedilar os objetivos

O projeto de Mapeamento Cultural foi lanccedilado em junho de 2016

Por ser um ano eleitoral o projeto ficou prejudicado tendo em vista

as dificuldades enfrentadas devido agrave lei eleitoral que restringe sobre-

maneira as campanhas publicitaacuterias e de divulgaccedilatildeo Em 2017 ano

em que o novo prefeito assume a prefeitura e haacute uma instabilidade

no niacutevel de definiccedilatildeo de gestores e ainda a possibilidade de reforma

administrativa que pode atingir diretamente a Fundaccedilatildeo ainda natildeo

conseguimos fazer com que as accedilotildees de divulgaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

fossem implementadas ateacute o presente momento (FMC 2)

Como dito pelas entrevistadas eacute importante ressaltar que ins-tabilidades poliacuteticas vivenciadas na prefeitura de Belo Horizonte e cortes no orccedilamento da FMC satildeo elementos que dificultaram a divulgaccedilatildeo do projeto Devido a isso o mapa natildeo alcanccedilou boa parcela da populaccedilatildeo da cidade e ainda eacute pouco conhecido Tal fato pode causar baixa adesatildeo dos serviccedilos do mapa por parte dos profissionais da cultura e da sociedade

A pouca participaccedilatildeo do COMUCEm relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do COMUC no processo de pensar e implementar o mapa cultural as respostas obtidas revelam que a participaccedilatildeo do COMUC foi extremamente incipiente

Assim natildeo houve participaccedilatildeo dos membros do COMUC na constru-

ccedilatildeo do mapa cultural Apoacutes a assinatura do termo a plataforma foi

apresentada em reuniatildeo ordinaacuteria do COMUC (FMC 3)

A baixa participaccedilatildeo do COMUC se apresenta como um ponto problemaacutetico da rede visto que um dos objetivos dos conselhos deliberativos eacute possibilitar agrave sociedade civil negociar com o poder puacuteblico A baixa participaccedilatildeo ou envolvimento de um ator numa rede de cooperaccedilatildeo impacta diretamente na qualidade da gover-nanccedila e na sauacutede das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo ali estabelecidas Eacute possiacutevel encontrar uma certa contradiccedilatildeo na fala das entrevis-tadas que afirmam que o mapa cultural atende agraves demandas da sociedade civil tal como nesta fala

Haacute possibilidade de reunir informaccedilotildees que poderatildeo subsidiar um

melhor planejamento e uma gestatildeo mais democraacutetica a partir de

informaccedilotildees extraiacutedas da base de dados (FMC 2)

Todavia uma gestatildeo mais democraacutetica exigiria maior par-ticipaccedilatildeo do COMUC nas accedilotildees da poliacutetica cultural visto que o COMUC eacute o espaccedilo de deliberaccedilatildeo que as sociedades civis tecircm para dar voz agraves suas demandas Dessa forma eacute possiacutevel perceber que essa rede de cooperaccedilatildeo apresenta disparidade de poder e de espaccedilo entre os atores envolvidos

A parceria bem-sucedidaApesar das criacuteticas apontadas pelas participantes da pesquisa elas defendem a rede criada e tambeacutem acreditam que projetos como o estabelecido com a TIM devem ser ampliados O que mostra que as redes interorganizacionais no poder puacuteblico apesar de desafiadoras satildeo beneacuteficas e vistas positivamente pelo corpo burocraacutetico da maacutequina puacuteblica

Ao serem questionadas sobre os pontos positivos da rede as en-trevistadas demonstram que a principal contribuiccedilatildeo eacute o compartilha-mento de recursos que possibilitaram a criaccedilatildeo do mapa cultural

A parceria com a TIM nos permitiu avanccedilar quanto ao projeto mape-

amento cultural de BH demanda antiga da gestatildeo da cultura e da

sociedade civil (FMC 3)

No intuito de captar informaccedilotildees sobre as possiacuteveis dificulda-des encontradas na rede foram feitas perguntas nesse sentido As informaccedilotildees colhidas revelam que natildeo houve dificuldades

A TIM se mostrou (e se mostra) ateacute o presente momento uma grande par-

ceira Natildeo haacute dificuldades na conduccedilatildeo das atividades acordadas (FMC 2)

Como teacutecnica da FMC natildeo tenho informaccedilotildees sobre interesses

divergentes (FMC 3)

Outras perguntas feitas buscavam que as entrevistadas fa-lassem sobre o alcance ou natildeo dos objetivos (jaacute discutidos no comeccedilo da entrevista) e que fizessem uma avaliaccedilatildeo geral da rede na implementaccedilatildeo do mapa cultural As respostas indicam satis-faccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resultados jaacute apresentados

A cooperaccedilatildeo entre a FMC e a Tim eacute muito positiva uma vez que haacute

comprometimento de ambas as partes em fazer com que a platafor-

ma fique cada vez melhor e estaacutevel por meio do trabalho dos seus

desenvolvedores ndash colaboradores ndash gestores (FMC 2)

Penso que para a FMC a parceria foi positiva pois nos possibilitou avanccedilos

na implementaccedilatildeo de um projeto que era demanda antiga (FMC 3)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Por fim O uacuteltimo ponto questionou se as entrevistadas julgam interessante a FMC estabelecer outras redes de cooperaccedilatildeo As respostas satildeo unanimemente positivas

A participaccedilatildeo da FMC em redes de cooperaccedilatildeo eacute essencial para que

a equipe se capacite e possa aprimorar os processos da instituiccedilatildeo

e trazer novas formas de desenvolvimento do trabalho otimizando

recursos e modernizando os processos por meio da colaboraccedilatildeo da

troca de informaccedilotildees e de experiecircncias (FMC 2)

Penso que as parcerias realizadas que vatildeo ao encontro dos objetivos

de ambos os envolvidos satildeo sempre bem-vindas No caso do setor

puacuteblico principalmente avalio que se deve ter um cuidado extra

quando da celebraccedilatildeo da parceria visando a garantir que a instituiccedilatildeo

possa dar continuidade ao projeto apoacutes fim da parceria (FMC 3)

Cabe apenas agrave FMC tomar os cuidados necessaacuterios para que os novos projetos desenvolvidos consigam ser bem-sucedidos conforme explicitado na fala seguinte

[] entatildeo para que certos projetos mais ambiciosos sejam implemen-

tados a realizaccedilatildeo de parcerias eacute indispensaacutevel No entanto isso im-

plica uma perda de controle da FMC sobre alguns fatores envolvidos

no projeto portanto esses fatores devem ser bem avaliados (FMC 1)

Diante das falas expostas assevera-se que o estabelecimento de redes interorganizacionais no setor puacuteblico pode trazer resultados satisfatoacuterios e aperfeiccediloar trabalhados No caso da FMC e da Tim o corpo burocraacutetico da FMC percebeu a experiecircncia como positiva

7 Consideraccedilotildees Este estudo se propocircs a pesquisar a rede criada pela FMC TIM e COMUC com o objetivo da construccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte Foram aplicados questionaacuterios abertos para levantar as percepccedilotildees sobre os avanccedilos e barreiras encontradas na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida

Constatou-se que o trabalho em conjunto possibilitou a implementaccedilatildeo do mapa cultural A atuaccedilatildeo conjunta trouxe benefiacutecios tais como maior celeridade compartilhamento de conhecimentos teacutecnicos e tecnoloacutegicos mais competecircncia e efetividade para os processos utilizados na criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte

Uma breve anaacutelise desses dados mostra que a rede apresen-ta pontos interessantes e que permitem uma melhor forma de trabalhar Entretanto natildeo estaacute livre de problemas comuns agrave ad-ministraccedilatildeo puacuteblica como por exemplo ameaccedilas poliacuteticas matildeo

de obra pouco qualificada disparidade entre as realidades do setor puacuteblico e do setor privado quadro defasado de servidores puacuteblicos dificuldades de organizaccedilatildeo e separaccedilatildeo de tarefas e responsabilidade problemas na comunicaccedilatildeo e ateacute mesmo de interesses em relaccedilatildeo ao potencial do mapa cultural

A despeito de algumas dificuldades encontradas pelos servi-dores bem de como problemas contingenciais a rede de coope-raccedilatildeo tem alcanccedilado seu grande objetivo a criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo de um mapa cultural com dados sobre eventos apresentaccedilotildees artiacutesticas e espaccedilos culturais

Entretanto eacute interessante problematizar as respostas visto que as entrevistas ocorreram num momento de transiccedilatildeo da gestatildeo na FMC e num cenaacuterio em que o atual prefeito apresenta propostas de extinccedilatildeo eou diminuiccedilatildeo da FMC Nesse sentido pode-se le-vantar a hipoacutetese de que as respostas possam ter ocultado possiacute-veis problemas na execuccedilatildeo do trabalho na perspectiva em rede

Uma limitaccedilatildeo que o estudo apresenta eacute que foram realizadas entrevistas somente com servidores da FMC impossibilitando o conhecimento e a versatildeo de outros atores Assim fica como sugestatildeo para estudos futuros a anaacutelise da percepccedilatildeo dos outros atores envolvidos na rede em questatildeo Entretanto esta pesquisa buscou contribuir para o campo da Administraccedilatildeo a partir de um estudo de caso apresentando as percepccedilotildees de servidores puacuteblicos em relaccedilatildeo agrave rede estabelecida

Com base no levantamento empiacuterico eacute possiacutevel elencar sugestotildees para uma possiacutevel melhoria da rede estabelecida 1) efetivar uma maior participaccedilatildeo do COMUC nos processos decisoacuterios 2) criar mecanismos de maior interaccedilatildeo entre o corpo de funcionaacuterios da FMC e da Tim 3) tornar os meios de comunicaccedilatildeo entre as equipes mais acessiacuteveis e claros com a utilizaccedilatildeo de uma linguagem simples para todos

Por fim conclui-se que as redes de cooperaccedilatildeo no setor puacuteblico contribuem para a melhoria dos serviccedilos prestados e da governanccedila puacuteblica A perspectiva do trabalho em conjunto permite aos atores o compartilhamento de conhecimentos teacutecnicas e equipamentos que conferem ao serviccedilo maior qualidade e celeridade

R e f e r ecirc n c i a s

BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Lisboa Portugal Ediccedilotildees 70 2009

BECERRA Manuel LUNNAN Randi HUEMER Lars Trustworthiness risk

and the transfer of tacit and explicit knowledge between alliance

partners Journal of Management Studies v 45 n 4 p 691-713 2008

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

BOumlRZEL Tanja Le reti di attori pubblici e privati nella regolazione europea

Stato e Mercato v 54 n 3 p 389-432 1998

BOURGUIGNON Jussara Ayres Concepccedilatildeo de rede intersetorial 2001 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwuepgbrnupesintersetorhtmgt Acesso

em 25 jul 2016

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Paulo Paz e Terra 1999

______ Para o Estado-rede globalizaccedilatildeo econocircmica e instituiccedilotildees poliacuteti-

cas na era da informaccedilatildeo In BRESSER-PEREIRA Luiacutes Carlos WILHEIM

Jorge SOLA Lourdes (orgs) Sociedade e Estado em transformaccedilatildeo

Satildeo Paulo Editora UNESP 2001 p 147- 171

CKAGNAZAROFF Ivan Beck SOUZA Maria Thereza Costa Guimaratildees Re-

laccedilatildeo entre ONG e Estado um estudo de parceria Revista Gestatildeo amp

Tecnologia Pedro Leopoldo v1 n2 p59-73 2003

CRESWELL Jhon Andrew Jackson Projeto de pesquisa meacutetodo qualitativo

quantitativo e misto Porto Alegre Artmed 2007

FILHO CRUZ Paulo Roberto Arauacutejo Governanccedila e gestatildeo de redes na

esfera puacuteblica municipal o caso da rede de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao

adolescente em situaccedilatildeo de risco para a violecircncia em Curitiba 2006

162f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Administraccedilatildeo) Pontifiacutecia Universi-

dade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2006

JULIANI Douglas Inovaccedilatildeo social uma revisatildeo sistemaacutetica de literatura

In X Congresso Nacional de Excelecircncia em Gestatildeo 2014

KISSLER Leo HEIDEMANN Francisco Gabriel Governanccedila puacuteblica novo

modelo regulatoacuterio para as relaccedilotildees entre Estado mercado e socie-

dade Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica Rio de Janeiro v 40 n 3 p

479-499 2006

LEMOS Cristina Inovaccedilatildeo na era do conhecimento In LASTRES Helena

M M ALBAGLI Sarita (Org) Informaccedilatildeo e globalizaccedilatildeo na era do co-

nhecimento Rio de Janeiro Campus 1999 cap 5 p 122-144

LOumlFFLER Elke Governancendashdie neue Generation von Staats-und Verwal-

tungsmodernisierung Verwaltung und Management p 212-215 2001

MINTZBERG Henry Administrando governos governando administra-

ccedilotildees Revista do Serviccedilo Puacuteblico Brasiacutelia v 49 n 4 p 148-164 1998

________ Criando organizaccedilotildees eficazes estruturas em cinco configura-

ccedilotildees 2 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MURRAY Robin CAULIER-GRICE Julie MULGAN Geoff The open book of

social innovation London National endowment for science technol-

ogy and the art 2010

NOHRIA N ECCLES R Networks and organizations Boston Harvard Busi-

ness School Press 1992

PETER Tom J WATERMAN Robert H In search of excellence lessons from

Americarsquos best-run companies New York Harper amp Row 1982

PMBH - PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Mapa cultural de

Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpmapaculturalbhpbhgovbrgt

Acesso em 18 abr 2017

RING Peter Smith VAN DE VEN Andrew H Developmental processes of

cooperative interorganizational relationships Academy of manage-

ment review v 19 n 1 p 90-118 1994

SECCHI L Modelos organizacionais e reformas da administraccedilatildeo puacuteblica

Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 43 n 2 p 347-369 2009

SEDAI - SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO E DOS ASSUNTOS INTER-

NACIONAIS Governo do Estado do Rio Grande do Sul Manual do

consultor do programa redes de cooperaccedilatildeo 2004

SILVA Flavia de Arauacutejo MARTINS Tulio Cesar Pereira Machado CKAGNA-

ZAROFF Ivan Beck Redes organizacionais no contexto da governanccedila

puacuteblica a experiecircncia dos Tribunais de Conta do Brasil com o grupo

de planejamento organizacional Revista do Serviccedilo Puacuteblico v 64 p

249-271 2013

THOMPSON G F Between hierarchies and markets the logics and limits of

network forms of organization Oxford Oxford University Press 2003

TORRES Norberto Antocircnio Avaliaccedilatildeo de websites e indicadores de e-gov em

municiacutepios brasileiros relatoacuterio final 2006 Disponiacutevel em lthttpwww

sumaqorgegovimgpublicaciones5pdf gt Acesso em 21 jul 2016

Paacutegina 8 de 8

Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network ProcessEvaluacioacuten de criteacuterios para la instalacioacuten de polos de apoyo presencial para cursos de nesentildeanza a distancia utilizando el Analytic Network Process

Fabriacutecio Martins Carvalho da Silva Cecilia Toledo Hernaacutendez e Julio Ceacutesar Andrade de Abreu

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 11

R e s u m o

A escolha do local para a instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial tem um papel fundamental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia pois eacute a referecircncia

fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias tais como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio para a tomada de decisatildeo para escolha de possiacuteveis municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ O modelo proposto eacute embasado em teacutecnicas de apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo em que foi utilizado o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) e agrupa um conjunto de criteacuterios que possibilitam ao tomador de decisatildeo conhecer informaccedilotildees necessaacuterias sobre a viabilidade de determinado municiacutepio sediar um polo de apoio presencial do CEDERJ O modelo desenvolvido foi aplicado em um cenaacuterio composto por sete municiacutepios da regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba onde natildeo existem polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ Os resultados obtidos demonstraram a eficaacutecia do modelo na escolha do municiacutepio que apresenta a condiccedilatildeo mais favoraacutevel para implantaccedilatildeo do polo Entre as principais contribuiccedilotildees do estudo estaacute a possibilidade de aplicaccedilatildeo do modelo em outras regiotildees do paiacutes

R e s u m e n

La eleccioacuten del lugar para la instalacioacuten de un polo de apoyo presencial tiene un papel fundamental para el funcionamiento de los cursos de la modalidad de educacioacuten a distancia pues este es la referencia fiacutesica para que los alumnos puedan realizar actividades presenciales obligatorias tales como clases en el laboratorio evaluaciones y tutoriacutea presencial Este estudio ha tenido como objetivo desarrollar un modelo de apoyo a la toma de decisioacuten para elegir posibles municipios para instalacioacuten de polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ El modelo propuesto se basa en teacutecnicas de apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios donde se ha utilizado el meacutetodo Analytic Network Process (ANP) que agrupa un conjunto de criterios que posibilitan al tomador de decisioacuten conocer las informaciones necesarias sobre la viabilidad de un determinado municipio para albergar un polo de apoyo presencial del CEDERJ El modelo desarrollado ha sido aplicado en un escenario compuesto por siete municipios de la regioacuten del Valle Medio Paraiacuteba donde no existen polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ Los resultados obtenidos han demostrado la eficacia del modelo en la eleccioacuten del municipio que presenta la condicioacuten maacutes favorable para la implantacioacuten del polo Entre las principales contribuciones del estudio estaacute la posibilidad de aplicar el modelo en otras regiones del paiacutes

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chavePolos de apoio presencial Educaccedilatildeo a distacircncia Apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo Analytic Network Process

Palabras clavePolos de apoyo presencial Educacioacuten a distancia Apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios Analytic Network Process

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo Univer-sidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ (UFF PPGA)e-mail fabriciocarvalhoiduffbr

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutora em Engenharia Mecacircnica (UNESP)

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutor em Administraccedilatildeo (UFBA)

Como citar este artigoSILVA F M C HERNAacuteNDES C T ABREU J C A Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a insta-laccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network Process Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoA Educaccedilatildeo a Distacircncia (EaD) surge neste milecircnio como uma inovaccedilatildeo no processo de ensino e aprendizagem (WAQUIL et al 2009) Aliada ao progresso do desenvolvimento da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo a EaD estaacute emergindo como o para-digma da educaccedilatildeo moderna (SUN et al 2008) fortalecendo-se cada vez mais no cenaacuterio educacional nacional e internacional Conforme Gouvecirca e Oliveira (2006 apud ALVES 2011) a EaD estaacute presente em mais de oitenta paiacuteses nos cinco continentes em todos os niacuteveis de ensino em programas formais e natildeo formais atendendo a milhotildees de estudantes consolidando dessa forma a democratizaccedilatildeo de acesso agrave educaccedilatildeo

Esse crescimento pode ser confirmado atraveacutes do Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2016 resumo teacutecnico editado pelo Institu-to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) que mostra que o nuacutemero de matriacuteculas na EaD para os cursos de ensino superior no Brasil apresenta um aumento da ordem de 4037 no ano de 2015 com 1393752 matriacuteculas em relaccedilatildeo ao ano de 2011 com 992927 matriacuteculas Os cursos pre-senciais no mesmo periacuteodo tiveram um crescimento da ordem de 1543 com 6633545 de matriacuteculas no ano de 2015 e 5746762 matriacuteculas no ano de 2011

Segundo Weidle Kich e Pereira (2011) para permitir essa ex-pansatildeo dos cursos de EaD no paiacutes eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de polos de apoio presencial cujo local de instalaccedilatildeo tem um papel fun-damental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia levando a educaccedilatildeo a lugares carentes de ensino e proporcionando o desenvolvimento dessas regiotildees

O polo eacute a referecircncia fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial (CEDERJ 2017) Para o seu funcio-namento eacute necessaacuterio dispor de investimentos em infraestrutura contrataccedilatildeo de professores e teacutecnicos da compra de computado-res e da construccedilatildeo de laboratoacuterios (BRASIL 2013)

Uma pesquisa recente na literatura em algumas das mais importantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD Um deles realizado por Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) apli-cou o meacutetodo elementar multicriteacuterio Copeland em um cenaacuterio composto por dezesseis polos do Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro ndash CEDERJ para demonstrar a influecircncia dos polos nos municiacutepios onde estatildeo instalados Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma nova ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) para auxiliar no processo

de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD

Um novo modelo foi desenvolvido por Peixoto Filho (2016) fundamentado em teacutecnicas de Auxiacutelio Multicriteacuterio agrave Decisatildeo (AMD) e ofereceu suporte eficaz para a escolha de locais dire-cionados agrave abertura de um polo de apoio presencial para cursos a distacircncia Em outro estudo Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) propuseram um novo modelo baseado em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo aplicada a um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais utilizando o meacutetodo AHP para selecionar o local mais apropriado para abertura de polos de apoio presencial

Todavia natildeo foram encontrados estudos para escolha de municiacutepios no estado do Rio de Janeiro para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial do consoacutercio CEDERJ que utilizassem como ferramenta de apoio a tomada de decisatildeo o meacutetodo Analytic Ne-twork Process (ANP) nem que tratassem dos criteacuterios que foram abordados nesta pesquisa

Conveacutem ressaltar que o processo de tomada de decisatildeo en-volve quase sempre a escolha da melhor decisatildeo levando em conta muacuteltiplos criteacuterios fatores e objetivos (SHIMIZU 2010) dessa maneira a escolha do meacutetodo a ser aplicado daraacute maior credibili-dade ao tomador de decisatildeo O interesse em aplicar o meacutetodo ANP deve-se ao fato de ele ao contraacuterio do AHP avaliar se a estrutura de decisatildeo possui dependecircncia ou seja se existem fatores que interagem obtendo maior precisatildeo nos resultados (SAATY 2005)

Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio agrave tomada de decisatildeo para escolha de municiacutepios no Vale Meacutedio Paraiacuteba para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo supe-rior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ considerando-se que o modelo atual de implantaccedilatildeo de polos do CEDERJ natildeo foi suficientemente eficaz para evitar o fechamento do polo de Quatis O modelo pro-posto eacute apoiado em criteacuterios que garantem maior seguranccedila na escolha da localizaccedilatildeo dos polos tais como populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet nuacutemeros de escolas que oferecem o ensino meacutedio e proximidade a outro mu-niciacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ

A partir dessa introduccedilatildeo este estudo estaacute estruturado da seguinte forma a segunda seccedilatildeo apresenta a revisatildeo da literatu-ra acerca da educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil a criaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ a importacircncia do polo de apoio presencial nos cursos de EaD e alguns criteacuterios utilizados para instalaccedilatildeo de polos a terceira seccedilatildeo descreve os procedimentos metodoloacutegicos utilizados na elaboraccedilatildeo deste estudo a quarta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise descritiva dos resultados e discussatildeo a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais

Paacutegina 2 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

2 Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil breves consideraccedilotildeesA Educaccedilatildeo a distacircncia emerge no contexto das poliacuteticas puacuteblicas em educaccedilatildeo como possibilidade de ampliaccedilatildeo do quadro de matriacuteculas pela raacutepida expansatildeo de vagas no ensino superior natildeo exigindo grandes estruturas fiacutesicas para o processo de ensino e aprendizagem (ARRUDA ARRUDA 2015) posto que parte de tal processo eacute realizada pelo aluno em tempo e espaccedilo definidos por ele

A educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil torna-se efetivamente le-gitimada como uma modalidade educacional a partir da pu-blicaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e Bases Nacional Lei nordm 939496 nela a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo atividades educacionais em lugares e tempos diversos (BRASIL 1996)

O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) por meio do Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 considera educaccedilatildeo a distacircncia como

A modalidade educacional na qual a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos

processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilizaccedilatildeo de meios e

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com pessoal qualificado com

poliacuteticas de acesso com acompanhamento e avaliaccedilatildeo compatiacuteveis entre

outros e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais

da educaccedilatildeo que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL 2017)

O Decreto nordm 905717 regulamentou o artigo 80 da Lei nordm 939496 possibilitando por meio da EaD a autoaprendizagem com a mediaccedilatildeo de recursos didaacuteticos sistematicamente organizados Isso caracteriza a EaD de maneira teacutecnica privilegiando a mediaccedilatildeo pelos suportes de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo sem considerar o papel do professor nesse processo (ARRUDA ARRUDA 2015)

Dessa forma a EaD ocorre a partir da interaccedilatildeo entre o aluno e o professor em ambientes fiacutesicos diferentes mediada pela utili-zaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que permite ao aluno ser o autor do seu processo de aprendizagem no seu tempo e no local em que seja possiacutevel essa acessibilidade

Para Alves (2011) de todas as modalidades de educaccedilatildeo a EaD surge como a mais democraacutetica por apresentar ferramentas tecnoloacutegicas que permitem ultrapassar todos os obstaacuteculos na busca pelo conhecimento distacircncia tempo e espaccedilo

Os dados do uacuteltimo censo da educaccedilatildeo divulgado em no-vembro de 2016 demonstram que o nuacutemero de matriacuteculas na educaccedilatildeo superior presencial que em 2001 era de 3030754 passou para 6633545 em 2015 isto eacute um aumento de aproxi-madamente 11887 Enquanto isso na educaccedilatildeo superior a dis-

tacircncia o nuacutemero de matriacuteculas que no ano de 2001 era de 5359 passou para 1393752 em 2015 o que representa um aumento de 2590769 (INEP 2010 2016) Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que a EaD jaacute deixou de ser uma modalidade educacional alternativa para atender agraves necessidades de formaccedilatildeo profissional no paiacutes A EaD no ensino superior jaacute eacute uma realidade no Brasil e o seu crescimento demonstra o quanto essa modalidade tem contribuiacutedo para a expansatildeo do ensino superior no paiacutes

De acordo com os dados apresentados na Tabela 1 o nuacutemero total de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no paiacutes no ano de 2015 foram de 8027297 e o nuacutemero de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia chegaram a 1736 desse total Isso demonstra que aproximadamente um quinto do nuacutemero de es-tudantes do ensino superior do paiacutes cursa uma universidade a distacircncia e que o preconceito quanto a essa modalidade de ensino tem diminuiacutedo Mais estudantes tecircm procurado a EaD quer seja pela falta de tempo para estar diariamente em uma universidade ou pela qualidade de ensino apresentada por essa modalidade

Tabela 1 ndash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas em cursos de graduaccedilatildeo (presencial e a distacircncia) Brasil ndash 2001- 2015

Ano Presencial EaD Total EaD2001 3030754 5359 3036113 0182002 3479913 40714 3520627 1162003 3887022 49911 3936933 1272004 4163733 59611 4223344 1412005 4453156 114642 4567798 2512006 4676646 207206 4883852 4242007 4880381 369766 5250147 7042008 5080056 727961 5808017 12532009 5115896 838125 5954021 14082010 5449120 930179 6379299 14582011 5746762 992927 6739689 14732012 5923838 1113850 7037688 15832013 6152405 1153572 7305977 15792014 6486171 1341842 7828013 17142015 6633545 1393752 8027297 1736

Fonte INEP 2010 e 2016

A proacutexima seccedilatildeo iraacute tratar do consoacutercio CEDERJ referecircncia no ensino a distacircncia no estado do Rio de Janeiro

21 O consoacutercio CEDERJO Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro consoacutercio CEDERJ foi iniciado em janeiro de 2000 com a assinatura de um convecircnio entre o Governo do estado do Rio de Janeiro e seis universidades puacuteblicas Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade Estadual do Norte Flumi-nense (UENF) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade

Paacutegina 3 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Desde o ano de 2011 conta tambeacutem com o Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca (CEFET) (FIRMINO VIEIRA 2013 CASSIANO et al 2016)

O CEDERJ por ser um consoacutercio entre as universidades puacute-blicas no Estado do Rio de Janeiro tem um modelo de EaD di-ferenciado dos outros existentes no paiacutes O CEDERJ tem uma metodologia transdisciplinar em que algumas disciplinas de um determinado curso satildeo ofertadas por outras universidades do consoacutercio Por exemplo no curso de Administraccedilatildeo que pertence agrave UFRRJ a disciplina Informaacutetica Baacutesica eacute oferecida pela UFF e a disciplina Formaccedilatildeo Econocircmica Brasileira eacute oferecida pela UERJ

Os objetivos do CEDERJ satildeo a) democratizar o acesso ao ensino superior puacuteblico gratuito e de qualidade na modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia principalmente em locais natildeo atendidos pelo ensino pre-sencial (CASSIANO et al 2016) b) permitir o acesso ao ensino superior daqueles que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional e c) atuar na formaccedilatildeo continuada a distacircncia dos professores do estado do Rio de Janeiro com atenccedilatildeo especial aos professores da rede estadual de ensino meacutedio (SILVA SANTOS 2006) O CEDERJ inicialmente ofe-receu vagas nos cursos de graduaccedilatildeo de Matemaacutetica Fiacutesica Biologia Quiacutemica Pedagogia e Tecnologia de Sistemas de Computaccedilatildeo aleacutem de cursos de extensatildeo e capacitaccedilatildeo para professores em diversas aacutereas de conhecimento (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012) Atualmente tambeacutem oferece vagas nos cursos de graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Administraccedilatildeo Puacuteblica Engenharia de Produccedilatildeo Geografia Histoacuteria Letras Seguranccedila Puacuteblica e Social e Turismo (CEDERJ 2017)

Quanto agrave sua estrutura o CEDERJ tem o conceito de ensino a distacircncia semipresencial pois integra momentos a distacircncia e momentos presenciais desenvolvendo a autonomia do aluno para o processo ensinoaprendizagem (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012)

Os momentos presenciais satildeo realizados nos polos de apoio presencial cuja importacircncia para os cursos de EaD seraacute esclarecida na seccedilatildeo seguinte

22 A importacircncia dos polos de apoio presencial para os cursos de EaDUm dos elementos importantes na oferta dos cursos de graduaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ satildeo os polos de apoio presencial para os quais foi adotado um modelo de financiamento e gestatildeo com a parceria entre entes federativos modelo inspirado na Universidade Nacional de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Espanha a UNED Inicialmente essa parceria envolveu o Governo do estado do Rio de Janeiro atraveacutes da Fundaccedilatildeo Centro de Ciecircncias e Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo Cecierj) os municiacutepios que sediam os polos do CEDERJ e universidades puacuteblicas Em 2006 agregou-se a essa iniciativa o governo federal atraveacutes da Universidade Aberta do Brasil

(UAB) atualmente sediada na Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) (CASSIANO et al 2016)

O estado do Rio de Janeiro eacute constituiacutedo por 92 municiacutepios e o CEDERJ possui 32 polos de apoio presencial em 31 deles (CEDERJ 2017) O Decreto nordm 905717 definiu o polo de EaD como uma unida-de acadecircmica e operacional descentralizada para o desenvolvimento de atividades presenciais dos cursos a distacircncia O polo eacute uma estru-tura acadecircmica de apoio pedagoacutegico tecnoloacutegico e administrativo agraves atividades de ensino e aprendizagem dos cursos que deve dispor de uma infraestrutura adequada que disponibilize aos estudantes o acesso agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) indis-pensaacuteveis agrave mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica dos cursos a distacircncia aleacutem de um corpo docente qualificado (BRASIL 2013) Nos polos satildeo realizadas as orientaccedilotildees para os estudos as praacuteticas laboratoriais palestras seminaacuterios e as avaliaccedilotildees presenciais (SOUZA 2015)

O funcionamento dos polos de apoio presencial depende dos espaccedilos cedidos pelas prefeituras dos municiacutepios geralmente alocados em escolas municipais assim como disponibilizam servidores municipais para atuarem no polo (FIRMINO VIEIRA 2013) Fica a cargo do estado a seleccedilatildeo dos tutores presenciais e do Governo federal o pagamento das bolsas de tutorias

Em algumas regiotildees o acesso agrave internet ainda eacute muito precaacuterio Para os alunos dos cursos de EaD que convivem com essa realidade o polo de apoio presencial eacute fundamental para o bom funcionamento do curso pois para eacute no polo de apoio presencial que esses alunos teratildeo acesso ao ambiente virtual com maior facilidade (SOUZA 2015)

Para o funcionamento dessa estrutura de suporte eacute necessaacuterio investimento eacute preciso que os polos de EaD aleacutem de toda infra-estrutura necessaacuteria para seu funcionamento sejam espaccedilos para pesquisa ensino e extensatildeo pilares de uma universidade Eacute impor-tante que haja troca de informaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees de ensino superior contribuindo para a geraccedilatildeo de novos conhecimentos que possibilitem melhorias na sociedade (SCHLUumlNZEN 2009)

Dessa forma a localizaccedilatildeo dos polos eacute fundamental para o funcionamento dos cursos de EaD Vaacuterios estudos foram realizados com o objetivo de proporcionar meacutetodos para a melhor escolha para instalaccedilatildeo dos polos de apoio presencial

O CEDERJ por meio de um estudo teacutecnico em 1999 adotou como criteacuterios para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial a populaccedilatildeo dos 92 municiacutepios do Estado do Rio de Janeiro o nuacutemero de alunos que terminou no ano anterior o Ensino Meacutedio em cada municiacutepio a distacircncia entre os municiacutepios (prevendo um deslocamento meacutedio do estudante da sua residecircncia ao polo inferior a cinquenta quilocircme-tros) a existecircncia de estradas conectando-as entre si e a inexistecircncia de ensino superior presencial puacuteblico no local (CASSIANO et al 2016)

Paacutegina 4 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute a Universidade Aberta do Brasil (UAB) criou dois tipos de polos o polo associado e o polo efetivo com diferentes criteacuterios para sua instalaccedilatildeo O polo associado estaacute instalado num campus de uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (IES) e o polo efetivo loca-lizado em municiacutepios considerados de porte meacutedio isto eacute entre 20 mil e 50 mil habitantes responsaacuteveis pela infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e de recursos humanos (BRASIL 2013)

Peixoto Filho (2016) desenvolveu uma ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) com o objetivo de auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios no estado de Minas Gerais para a abertura de novos polos de EaD As alternativas satildeo compostas por trecircs grupos de municiacutepios distintos que fazem parte de uma mesma regiatildeo geograacutefica do estado de Minas Gerais com atuaccedilatildeo do Instituto Federal do Sudeste desse estado ndash Campus Muriaeacute ndash para a instalaccedilatildeo dos polos Consequen-temente para a oferta de cursos na modalidade a distacircncia foram utilizados os seguintes criteacuterios populaccedilatildeo residecircncia com acesso agrave internet vocaccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia

Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) desenvolveram um novo modelo de apoio ao processo decisoacuterio voltado agrave abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia baseado no meacutetodo AHP cujos criteacuterios envolveram populaccedilatildeo residecircncias com acesso agrave internet voca-ccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia Esse modelo foi aplicado em um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais pertencentes a uma mesma regiatildeo geograacutefica

Em outro estudo Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma ferramenta utilizando o meacutetodo AHP composta por dados e in-formaccedilotildees mais soacutelidos para auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD Os criteacuterios avaliados por eles foram nuacuteme-ro de habitantes puacuteblico-alvo faixa etaacuteria escolaridade renda per capita residecircncia com acesso agrave internet arranjos produtivos locais existecircncia de escolas de niacutevel meacutedio proximidade do muni-ciacutepio com universidades concorrecircncia local existecircncia de IES de outros cursos EaD e de outros cursos ofertados pelo ldquoSistema Srdquo

Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) aplica-ram o meacutetodo de Copeland para mostrar a influecircncia do tamanho dos polos do CEDERJ nos diferentes municiacutepios em que estatildeo instalados conhecendo a importacircncia dos polos nas localidades onde atuam Eles utilizaram como criteacuterios para sua pesquisa o nuacutemero de cursos oferecidos o nuacutemero de alunos inscritos e o tempo de funcionamento de cada polo

Entretanto natildeo foram encontrados estudos que versam so-bre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP para seleccedilatildeo de polos de apoio

presencial o que contribuiria para auxiliar na melhor decisatildeo dos gestores pois o meacutetodo ANP apresenta caracteriacutesticas que pro-porcionam soluccedilotildees realiacutesticas na tomada de decisatildeo

Para Shimizu (2010) um dos grandes desafios com que os gestores convivem diariamente eacute a tomada de decisatildeo para a qual eacute necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de conhecimentos e habilidades que permitam a melhor escolha Em se tratando de escolha de um local para instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia a utilizaccedilatildeo de um modelo de toma-da de decisatildeo permite aos gestores avaliar criteacuterios que melhor atendam agrave populaccedilatildeo evitando dessa forma prejuiacutezos ao eraacuterio pois uma escolha errada de local ocasionaria o fechamento do polo onde houve investimento puacuteblico aleacutem da transferecircncia de alunos para polos distantes de suas residecircncias o que poderia levar futuramente a desistecircncia da tatildeo sonhada graduaccedilatildeo

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo abordados os procedimentos meto-doloacutegicos utilizados na confecccedilatildeo do modelo de apoio a decisatildeo para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial

3 Procedimentos metodoloacutegicosA presente pesquisa classifica-se como qualitativa de caraacuteter exploratoacuterio por meio de pesquisa bibliograacutefica entrevistas e estudo de caso Isso possibilitou a aplicaccedilatildeo de um modelo de anaacutelise multicriteacuterio que traduziu em pesos os dados e informa-ccedilotildees coletadas ponderando assim a definiccedilatildeo do local ideal para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

Este estudo foi realizado na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba com sete municiacutepios que natildeo apresentam polos de apoio presencial do CEDERJ satildeo eles Barra Mansa Itatiaia Pinheiral Porto Real Quatis Rio Claro e Valenccedila A escolha do local para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi devido ao fechamento de um polo de apoio presen-cial no municiacutepio de Quatis o que aguccedilou a curiosidade quanto aos atuais criteacuterios utilizados para alocaccedilatildeo de polos de EaD no estado do Rio de Janeiro

Primeiramente foi feita uma pesquisa em algumas das mais impor-tantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) agrave procura de artigos que tratam do tema ensino a distacircncia com as palavras-chave ldquopolos de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacute-riordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo Essa pesquisa inicial demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD

Em seguida foram realizadas pesquisas em documentos insti-tucionais do CEDERJ e da UAB para descobrir quais satildeo os criteacuterios utilizados na alocaccedilatildeo de polos de apoio presencial

Paacutegina 5 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Na etapa seguinte foi realizada uma entrevista com coorde-nadores de cursos a distacircncia do CEDERJ e especialistas em EaD para definirem-se os principais criteacuterios na implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial

Ao final os criteacuterios adotados foram populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet escolas com ensino meacutedio e proximidade a um polo do CEDERJ

Analisando os criteacuterios quanto maior a populaccedilatildeo resi-dente no municiacutepio maior seraacute o nuacutemero de alunos alcan-ccedilados com os cursos de graduaccedilatildeo Por se tratar de ensino a distacircncia o uso do computador e o acesso agrave internet satildeo necessaacuterios pois as atividades seratildeo feitas via plataforma do CEDERJ O maior nuacutemero de escolas com ensino meacutedio demonstra concentrar um nuacutemero maior de estudantes que desejam cursar uma universidade A proximidade de um mu-niciacutepio a outro que jaacute possui um polo de apoio presencial do CEDERJ natildeo gera qualquer impedimento para os alunos cursarem uma graduaccedilatildeo o que descaracteriza a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial nesse municiacutepio

Para os criteacuterios de populaccedilatildeo residente domiciacutelios com com-putador domiciacutelios com internet e escolas com ensino meacutedio foram coletados dados do Censo de 2010 no site IBGE cidades (IBGE 2010) Para o criteacuterio proximidade a um polo do CEDERJ foi estimada atraveacutes do GoogleMaps a distacircncia em quilocircmetros da sede da prefeitura do municiacutepio candidato agrave implantaccedilatildeo do polo ao polo de apoio presencial do CEDERJ do municiacutepio mais proacuteximo

Apoacutes a definiccedilatildeo dos criteacuterios escolheu-se o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) para permitir a tomada de decisatildeo isto eacute para encontrar a melhor soluccedilatildeo para o problema A principal di-ferenccedila desse meacutetodo em relaccedilatildeo aos outros eacute o fato de ele avaliar a dependecircncia entre as estruturas da decisatildeo que representam os criteacuterios e alternativas o que permite um resultado mais confiaacutevel

O meacutetodo Analytic Network Process (ANP) eacute uma generalizaccedilatildeo do meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) ou seja na praacutetica para se fazer o ANP deve-se primeiramente executar o AHP (SAATY 2005) Segundo Shimizu (2010) o meacutetodo AHP tem sido empregado para situaccedilotildees de definiccedilatildeo de prioridade avaliaccedilatildeo de custos e benefiacutecios alocaccedilatildeo de recursos medida de desem-penho pesquisa de mercado entre outras

Apoacutes definido o meacutetodo foram atribuiacutedos pesos aos cri-teacuterios de acordo com a escala fundamental desenvolvida por Thomas L Saaty (SAATY 2005) Tal escala traduz as avaliaccedilotildees qualitativas que foram realizadas aos criteacuterios e as alternativas em valores numeacutericos

Nessa etapa foi aplicado um questionaacuterio fechado aos coordena-dores de cursos a distacircncia do CEDERJ e a especialistas em EaD para julgarem de acordo com a escala de valor de Saaty (1977) isto eacute de 1 a 9 as suas preferecircncias entre os criteacuterios definidos para esta pesquisa

A coerecircncia dos julgamentos foi verificada por meio da Razatildeo de Consistecircncia que aferiu um valor menor que 10 permitindo obter o vetor de prioridade dos criteacuterios e efetuar a normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Apoacutes os dados foram tratados atraveacutes do software SuperDe-cisions v28 usado para tomada de decisatildeo com dependecircncia e feedback que implementa o meacutetodo AHP e o meacutetodo ANP e utiliza o mesmo processo de priorizaccedilatildeo baseado na comparaccedilatildeo par a par de elementos Esse software permite que os usuaacuterios criem clusters e nodes fazendo as devidas ligaccedilotildees para garantir comparaccedilotildees adequadas entre os niacuteveis Apoacutes os julgamentos o programa calcula as matrizes e as suas consistecircncias possibi-litando a anaacutelise da decisatildeo (SUPERDECISIONS 2017)

4 Anaacutelise dos resultadosPara a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP eacute necessaacuterio o estabelecimento da rede isto eacute a estrutura de decisatildeo com a definiccedilatildeo dos objetivos criteacuterios e alternativas em que posteriormente podem ser aplicados os mesmos passos que quando utilizado o AHP Tais passos incluem formaccedilatildeo de matrizes de julgamentos determinaccedilatildeo de vetores de prioridades ateacute a soluccedilatildeo final com as prioridades globais do modelo (SAATY 1980)

A Figura 1 mostra a rede na qual os criteacuterios estatildeo relacionados entre si Neste estudo apenas os criteacuterios domiciacutelios com compu-tador e domiciacutelios com internet apresentam dependecircncia

A seguir satildeo formadas matizes de julgamentos para o posterior caacutelculo das prioridades Os julgamentos dos criteacuterios nesta pesquisa foram feitos por especialistas em EaD e coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo do CEDERJ com base na escala de valor de Saaty (1977) que varia de 1 a 9 Os valores representam 1 ndashigual importacircncia 3 ndash fraca importacircncia 5 ndash forte importacircncia 7 ndash muito forte 9 ndash importacircncia absoluta e 2 4 6 8 ndash valores intermediaacuterios Na comparaccedilatildeo par a par utilizando a Escala de Saaty (1977) conforme a Tabela 2 os itens em julgamento foram arranjados em matrizes quadradas e os dados foram representados pela importacircncia na relaccedilatildeo entre linha e coluna

Tabela 2 ndash Julgamento dos criteacuteriosPopulaccedilatildeo residente 1 5 3 6 2Domiciacutelios com computador 15 1 13 3 13Domiciacutelius com acesso agrave internet 13 3 1 4 2Nordm de escolas de ensino meacutedio 16 13 14 1 14Proximidade do polo do CEDERJ (km) 12 3 12 4 1

Fonte Dados da pesquisa

Paacutegina 6 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

De igual forma outra matriz foi formada para avaliar as rela-ccedilotildees entre os criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com internet conforme a Tabela 3

Tabela 3 ndash Matriz de comparaccedilatildeo entre os criteacuterios

Criteacuterio Domiciacutelios com computador

Domiciacutelios com acesso agrave internet Prioridades

Domiciacutelios com computador 1 13 025

Domiciacutelios com acesso agrave internet 3 1 075

Fonte Dados da pesquisa

Posteriormente foi verificado se havia consistecircncia ou natildeo na matriz de julgamentos da seguinte forma se o valor de Razatildeo de Consistecircncia (RC) fosse menor que 10 os julgamentos eram coerentes caso contraacuterio os julgamentos deveriam ser revistos (COSTA 2002) Nesse caso o valor de RC foi de 480 menor que 10 portanto conclui-se que os julgamentos foram coerentes A Tabela 4 mostra o resultado final das prioridades dos criteacuterios

Tabela 4 ndash Criteacuterios e vetor de prioridadesCriteacuterio Vetor de prioridades

Populaccedilatildeo residente 032819Domiciacutelios com computador 012896Domiciacutelios com acesso agrave internet 036180Nuacutemero de escolas com Ensino Meacutedio 003739Proximidade do polo do CEDERJ 014366

Fonte Dados da pesquisa

O criteacuterio mais importante de acordo com a Tabela 4 eacute o de domiciacutelios com acesso a internet comprovando a

importacircncia dessa ferramenta para os cursos de EaD uma vez que sem o acesso agrave internet eacute impossiacutevel acessar a plataforma do CEDERJ e acompanhar as aulas os foacuteruns enviar e-mails realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos disponiacuteveis por essa rede para pesquisa e informaccedilatildeo

Conforme a Tabela 4 a populaccedilatildeo residente eacute o segundo criteacuterio mais importante a ser verificado na instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial pois o nuacutemero de habitantes de uma cidade deve ser suficiente para permitir que os recursos investidos na instalaccedilatildeo do polo de apoio presencial sejam duradouros e que a demanda pelos cursos de graduaccedilatildeo se mantenha constante

No problema estudado as alternativas podem ser ava-liadas de forma direta quando comparadas aos criteacuterios por existirem dados quantitativos em cada caso De qual-quer forma como natildeo se pode misturar em uma decisatildeo grandezas diferentes eacute necessaacuterio transformar os valores de cada um desses objetivos em uma mesma unidade de medida (SHIMIZU 2010)

A Figura 2 mostra os valores normalizados de importacircncia de cada alternativa referentes a cada criteacuterio segundo dados do censo de 2010 (IBGE 2010) com exceccedilatildeo do criteacuterio pro-ximidade ao polo do CEDERJ cujos dados foram extraiacutedos do GoogleMaps

Paacutegina 7 de 11

Figura 1 Estrutura de decisatildeo em rede pelo meacutetodo ANP

Objetivo SELECcedilAtildeO DE MUNICIacutePIOS PARA INSTALACcedilAtildeO DE POacuteLOS EAD

Proximidade depolos do CEDERJ

Escolas comensino meacutedio

Domiciacutelioscom internet

Domiciacutelios comcomputador

Populaccedilatildeoresidente

BarraMansa Itatiaia Pinheiral

PortoReal Quatis

RioClaro Valenccedila

Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Figura 2 ndash Normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Municiacutepio Populaccedilatildeo residenteValor

normalizado MuniciacutepioDomiciacutelios com

computadorValor

normalizadoBarra Mansa 177813 05110 Barra Mansa 26386 05624

Itatiaia 28783 00827 Itatiaia 4032 00859

Pinheiral 22719 00653 Pinheiral 2673 00570

Porto Real 16592 00477 Porto Real 1953 00416

Quatis 12793 00368 Quatis 1384 00295

Rio Claro 17425 00501 Rio Claro 1452 00310

Valenccedila 71843 02065 Valenccedila 9034 01926

Total 347968 10000 Total 46914 10000

MuniciacutepioDomiciacutelios com

acesso agrave internetValor

normalizado MuniciacutepioProximidade ao polo

do CEDERJ (km)Valor

normalizadoBarra Mansa 19840 05757 Barra Mansa 109 00756

Itatiaia 3023 00877 Itatiaia 167 01158

Pinheiral 2021 00586 Pinheiral 128 00888

Porto Real 1300 00377 Porto Real 202 01401

Quatis 951 00276 Quatis 241 01671

Rio Claro 841 00244 Rio Claro 343 02379

Valenccedila 6486 01882 Valenccedila 252 01748

Total 34462 10000

Total 46 10000

Total 1442 10000

MuniciacutepioNordm de escolas de

ensino meacutedioValor

normalizadoBarra Mansa 18 03913

Itatiaia 2 00435

Pinheiral 5 01087

Porto Real 2 00435

Quatis 1 00217

Rio Claro 3 00652

Valenccedila 15 03261

Fonte Segundo IBGE Cidades 2010 GoogleMaps 2017

Paacutegina 8 de 11

O resultado final da aplicaccedilatildeo do meacutetodo com a utilizaccedilatildeo dos criteacuterios e alternativas propostas pode ser observado na Tabela 5 com as prioridades de cada alternativa segundo os criteacuterios estabelecidos assim como a prioridade final para cada alternativa quando utilizado o meacutetodo ANP

Como mostrado na Tabela 5 o municiacutepio de Barra Mansa tem a maior prioridade para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ seguido de Valenccedila Esse resultado deve-se fundamen-talmente a que ambos os municiacutepios lideram em peso na quase totalidade dos criteacuterios analisados

Tabela 5 ndash Prioridades das alternativas

MuniciacutepioPopulaccedilatildeo residente

Domiciacutelios com

computador

Domiciacutelioscom

internet

Nordm deescolas

comensino meacutedio

Proximidade do polo do

CEDERJ Vetor de decisatildeo

Barra Mansa 05110 05624 05757 03913 00756 044207

Itatiaia 00827 00859 00877 00435 01158 008853Pinheiral 00653 00570 00586 01087 00888 006961Porto Real 00477 00416 00377 00435 01401 006216

Quatis 00368 00295 00276 00217 01671 005802Rio Claro 00501 00310 00244 00652 02379 007880Valenccedila 02065 01926 01882 03261 01748 020081Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O modelo proposto atendeu ao objetivo mostrando-se eficaz para definir o municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ O municiacutepio mais adequado para isso foi Barra Mansa que se destacou nos criteacuterios populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com inter-net e nuacutemero de escolas com ensino meacutedio perdendo apenas no criteacuterio proximidade a um municiacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ devido a sua proximidade em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Volta Redonda cujo polo mais proacuteximo eacute o de Barra Mansa

5 Consideraccedilotildees finaisApesar do grande crescimento a modalidade de ensino a dis-tacircncia ainda sofre preconceito logo a escolha do local correto para implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial permite uma eficiente alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos evita prejuiacutezos ao eraacuterio amplia a oferta de educaccedilatildeo superior proporciona a um contin-gente maior da populaccedilatildeo o acesso ao ensino superior puacuteblico e de qualidade tornando tal modalidade o principal veiacuteculo para aprendizagem no paiacutes

A pesquisa demonstrou que os cursos de graduaccedilatildeo EaD apre-sentaram um aumento no nuacutemero de matriacuteculas nos uacuteltimos quinze anos superior ao dos cursos presenciais sendo responsaacute-vel em 2015 por 1736 das matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no Brasil O CEDERJ eacute responsaacutevel por uma parte desse crescimen-to pois desde a sua criaccedilatildeo no ano de 2000 vem contribuindo para a expansatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo a locais natildeo atendidos pelo ensino presencial e permitindo o acesso ao ensino superior a todos que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional

Com o intuito de propor um modelo de apoio agrave decisatildeo para implantaccedilatildeo de polos de apoio presencial realizou-se primeira-mente uma busca na literatura sobre o tema ensino a distacircncia combinado com os termos ldquopolo de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacuteriordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo que demonstrou a existecircncia de alguns estudos que tratam do tema assim como a utilizaccedilatildeo de diferentes criteacuterios e modelos de apoio ao processo decisoacuterio Tais estudos foram essenciais para embasar a escolha dos criteacuterios que formam o modelo proposto e consequentemente a escolha do melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de EaD

A utilizaccedilatildeo do meacutetodo ANP permitiu a elaboraccedilatildeo de uma estrutura em rede capaz de facilitar o processo decisoacuterio por meio da interaccedilatildeo dos criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com acesso agrave internet permitindo maior precisatildeo no resultado Atraveacutes da anaacutelise multicriteacuterio com a utilizaccedilatildeo do software Super-Decision v28 para o tratamento dos dados foi possiacutevel encontrar o melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

O municiacutepio de Barra Mansa foi o que apresentou o conjunto das melhores caracteriacutesticas para a implantaccedilatildeo do polo de EaD na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba seguido do municiacutepio de Va-lenccedila Seguindo os criteacuterios atuais do CEDERJ segundo os quais a prioridade maacutexima de localizaccedilatildeo entre polos eacute uma distacircncia aproximada de cinquenta quilocircmetros o municiacutepio de Barra Man-sa natildeo seria analisado como possiacutevel sede dada a proximidade com o polo de Volta Redonda por esse criteacuterio o melhor colocado entatildeo seria o municiacutepio de Rio Claro

O criteacuterio mais importante analisado foi o de domiciacutelios com internet pois essa ferramenta eacute fundamental para que se tenha um bom rendimento no ensino a distacircncia Afinal sem internet eacute impossiacutevel acessar o ambiente virtual de aprendizagem e acom-panhar as aulas os foacuteruns realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos dis-poniacuteveis na internet para pesquisa e informaccedilatildeo

Para os alunos que natildeo tecircm acesso agrave internet em suas residecircn-cias o polo de apoio presencial eacute de grande importacircncia para que eles possam acessar o ambiente virtual de aprendizagem e prosseguir em seus estudos

A partir do modelo apresentado e dentre os criteacuterios utilizados constatou-se que o municiacutepio de Quatis natildeo seria contemplado com a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial haja vista que esse municiacutepio jaacute sediou um polo do CEDERJ oferecendo o curso superior de Administraccedilatildeo tendo poreacutem as suas atividades encerradas Isso demonstra que proximidade a outro polo do CEDERJ natildeo pode ser o criteacuterio mais importante para implantaccedilatildeo de um polo de EaD e que os criteacuterios devem ser analisados em conjunto e natildeo individualmente o que evidencia a factibilidade do modelo utilizado

Constataram-se como limitaccedilotildees da pesquisa a concentraccedilatildeo do estudo em uma uacutenica regiatildeo do estado do Rio de Janeiro e natildeo levar em conta o fato de que as variaacuteveis de cunho poliacutetico podem tambeacutem interferir na sustentabilidade de um polo Sugere-se como agenda de pesquisa que o modelo seja implementado em outras regiotildees do estado do Rio de Janeiro confirmando a sua eficaacutecia na escolha de municiacutepios para sediar polos de apoio presencial do CEDERJ

R e f e r ecirc n c i a s

ALVES L Educaccedilatildeo a distacircncia conceitos e histoacuteria no Brasil e no mundo

Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distacircncia Satildeo Paulo

v10 n21 2011

Paacutegina 9 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

ARRUDA D E P ARRUDA E P Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil poliacuteticas

puacuteblicas e democratizaccedilatildeo do acesso ao ensino superior Educaccedilatildeo

em Revista Belo Horizonte v31 n3 p321-338 julset 2015

BRASIL Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 Regulamenta o art 80 da

Lei de diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

Brasiacutelia DF 26 maio 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogov

brccivil_03_Ato2015-20182017DecretoD9057htmart24gt Aces-

so em 31 maio 2017

______ Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes

e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 23

dez 1996 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis

L9394htmgt Acesso em 20 abr 2017

______ Orientaccedilotildees baacutesicas sobre polos do sistema Universidade Aberta

do Brasil 2013 Disponiacutevel em lthttpswwweadunbbrarquivos

legislacaoinstrucoesorientacoes_basicas _sobre_polos_uabpdfgt

Acesso em 19 abr 2017

CASSIANO K M et al Distribuiccedilatildeo espacial dos polos regionais do Cederj

uma anaacutelise estatiacutestica Ensaio aval pol puacutebl Educ Rio de Janeiro

v24 n90 p 82-108 janmar 2016

CEDERJ Portal consoacutercio Cederj Fundaccedilatildeo Cecierj Polos Disponiacutevel emlt

httpCEDERJedubrCEDERJpolosgt Acesso em 20 abr 2017

COSTA H G Introduccedilatildeo ao meacutetodo de anaacutelise hieraacuterquica anaacutelise multicri-

teacuterio no auxiacutelio agrave decisatildeo Rio de Janeiro [sn] 2002 Disponiacutevel em

lt httpwwwdinuembrsbposbpo2004pdfarq0279pdfgt Acesso em 19 abr 2017

FIRMINO D L F VIEIRA J J Consoacutercio Cederj uma anaacutelise criacutetica Se-

minaacuterio Internacional Inclusatildeo em Educaccedilatildeo Universidade e Parti-

cipaccedilatildeo Anais Rio de Janeiro maio 2013 Disponiacutevel em lthttp

wwwlapeadeeducacaoufrjbranaisfilesWSM31A54pdfgt Acesso

em 21 maio 2017

GOMES JUacuteNIOR S F SOARES DE MELLO J C C B SOARES DE MELLO

MHC Utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Copeland para avaliaccedilatildeo dos polos

regionais do CEDERJ Riorsquos International Journal on Sciences of Industrial

and Systems Engineering and Management v 2 n1 p 87-98 2008

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Censo 2010 Disponiacutevel

emlt httpscidadesibgegovbrgt Acesso em 10 abr 2017

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Tei-

xeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2010 Disponiacutevel emlt http

downloadinepgovbreducacao_superiorcenso_superiordocumen-

tos2010divulgacao_censo_2010pdfgt Acesso em 15 maio 2017

______ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio

Teixeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2016 Disponiacutevel emlt http

sistemascensosuperiorinepgovbrcensosuperior_2016gt Acesso

em 15 maio 2017

PEIXOTO FILHO J et al Anaacutelise multicriterial para seleccedilatildeo de local para

abertura de um polo de educaccedilatildeo a distacircncia In Anais XXI Congres-

so Internacional ABED de Educaccedilatildeo a Distacircncia Bento Gonccedilalves RS

2015 Disponiacutevel em httpwwwabedorgbrcongresso2015anaispdfBD_191pdf Acesso em 15 abr 2107

PEIXOTO FILHO J Modelagem multicriterial aplicada a seleccedilatildeo de mu-

niciacutepios para abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia 2016 120

f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Engenharia de Produccedilatildeo Universidade

Cacircndido Mendes Rio de Janeiro 2016

PEIXOTO FILHO J ERTHAL JUacuteNIOR M Seleccedilatildeo de municiacutepios para a

abertura de polos EaD uma tomada de decisatildeo baseada em uma

modelagem multicriteacuterio In Anais XXII Congresso Internacional ABED

de Educaccedilatildeo a Distacircncia Aacuteguas de Lindoacuteia SP 2016 v22 p1-1 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2016tra-balhos129pdfgt Acesso em 18 abr 2017

SAATY T L A scaling method for priorities in hierarchical structures Jour-

nal of Mathematical Psychology v15 p234-281 1977

______ The analytic hierarchy process planning priority setting resource

allocation New York McGraw-Hill 1980

______ Theory and applications of the analytic network process decision mak-

ing with benefits opportunities costs and risks Pittsburgh RWS 2005

SCHLUumlNZEN K J Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil caminhos poliacuteticas e

perspectivas ETD ndash Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital Campinas v10 n2

p16-36 jun2009

SHIMIZU T Decisatildeo nas organizaccedilotildees 2ed Satildeo Paulo Editora Atlas SA

2010 419 p

SILVA M SANTOS E Avaliaccedilatildeo da aprendizagem em educaccedilatildeo online

fundamentos interfaces e dispositivos relatos de experiecircncias Satildeo

Paulo SP Ediccedilotildees Loyola 2006

SOUZA J B A A contribuiccedilatildeo dos polos presenciais na EaD um estudo

exploratoacuterio Congresso Nacional de Ambientes Hipermiacutedia para a

Aprendizagem Satildeo Luiacutes Maranhatildeo jun 2015 Disponiacutevel em lthttp

conahpasitesufscbrwp-contentuploads201506ID32_Souza

pdfgt Acesso em 17 maio 2017

SPIacuteNDOLA M MOUSINHO S H Cederj um caminho na direccedilatildeo da educaccedilatildeo

inclusiva Ead em foco Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Cecierj n 2 nov 2012

Paacutegina 10 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

SUN P et al What drives a successful e-Learning An empirical investiga-

tion of the critical factors influencing learner satisfaction Computers

amp Education v50 p1183-1202 2008

SUPERDECISIONS Creative Decisions Foundations Software de apoio agrave

decisatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwsuperdecisionscomtutorials

indexphpsection=2_8gt Acesso em 12 abr 2017

WAQUIL M P et al Educaccedilatildeo a distacircncia e comunidades virtuais de apren-

dizagem novos espaccedilos novas possibilidades Revista Competecircncia

Porto Alegre RS v2 n1 p43-57 2009

WEIDLE D KICH J I D F PEREIRA M F Projeto UAB Uma Anaacutelise estru-

tural dos polos de apoio presencial do curso de Administraccedilatildeo da

UFSC Revista GUAL Florianoacutepolis Ediccedilatildeo especial p94-114 2011

Paacutegina 11 de 11

O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevelThe Use of Recycled PET Fibers in the Textile Industry through Innovation and Sustainable Design

Helena Mrozinski Cesar Steffen e Heli Meurer

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

O desenvolvimento sustentaacutevel eacute um grande desafio em todas as aacutereas e na induacutestria tecircxtil natildeo eacute diferente pois os impactos ambientais satildeo gerados em todas as etapas dos processos produtivos

ndash da origem da mateacuteria prima ateacute o descarte do produto pelo consumidor A crescente degradaccedilatildeo do meio ambiente faz com que a reciclagem seja um dos pressupostos do desenvolvimento sustentaacutevel que por sua vez estaacute embasado nas dimensotildees econocircmicas sociais ecoloacutegicas e culturais da evoluccedilatildeo humana Dessa forma este estudo tem por objetivo analisar o estado da arte da reciclagem das embalagens PET considerando o processo a expansatildeo e a aplicabilidade da fibra resultante desta reciclagem na induacutestria tecircxtil brasileira e sua relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel Com este trabalho percebeu-se que houve nos uacuteltimos anos uma adesatildeo significativa por parte das empresas nas praacuteticas consideradas relevantes para o entendimento das questotildees socioambientais aplicadas ao sistema de moda e ao setor tecircxtil

A b s t r a c t

Sustainable development is a major challenge in all areas and in the textile industry it is not different because environmental impacts are generated at all stages of the productive processes ndash from the origin of the raw material to the disposal of the product by the consumer The increasing environment degradation makes the recycling one of the assumptions of the concept of sustainable development which in turn is rooted in the economic social ecological and cultural dimensions of human evolution Thus this study aims to analyze the state of the art of the recycling of PET packaging considering the process the expansion and the applicability of the fiber resulting from this recycling in the Brazilian textile industry and its relationship with sustainable design Through this work it was perceived that in recent years companies had a significant adherence to practices considered relevant for the un-derstanding of the socio-environmental issues applied to the fashion system and to the textile sector

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chaveDesign sustentaacutevel Fibra PET Industria tecircxtil e reciclagem

KeywordsSustainable design PET fiber Textile Industry and Recycling

Autores Docente - Senac (RS)e-mail mrozinskihelenagmailcom

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail cesar_steffenuniritteredubr

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail heli_meureruniritteredubr

Como citar este artigoMZROZINSKI H STEFFEN C MEURER H O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevel Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoNa mobilizaccedilatildeo em busca do desenvolvimento de novos produ-tos aliados a tecnologias de menor impacto ao meio ambiente empresas buscam implantar abordagens baseadas em gestatildeo de sustentabilidade Dessa forma se reposicionam no mercado de maneira inovadora utilizando o ecodesign como uma ferramenta potencializadora da evoluccedilatildeo da cadeia produtiva Utilizam-se tambeacutem de gestotildees estrateacutegicas que abordam questotildees ambien-tais para transformar os investimentos em fontes de vantagens competitivas (GONCcedilALVES-DIAS GUIMARAtildeES SANTOS 2007)

Com a visatildeo de futuro e com a estrateacutegia de consolidaccedilatildeo e reconhecimento no mercado empresas objetivam investir na dimensatildeo simboacutelica de marca e da alta tecnologia empregada em seus produtos aspectos que tecircm sido chave para o estabelecimen-to das relaccedilotildees com o novo mercado Percebe-se contudo que a ideia de marca engloba atualmente consciecircncia e engajamento com as questotildees ambientais e que na busca de alternativas rea-lizadoras dessas questotildees encontra-se a tecnologia de produccedilatildeo sua inerente inovaccedilatildeo e consequente conforto e alta qualidade de acabamento dos produtos (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Este trabalho portanto procura identificar as condiccedilotildees que justi-ficam a incorporaccedilatildeo de estrateacutegias ambientais no desenvolvimento de produtos e geraccedilatildeo de inovaccedilotildees especificamente a partir de materiais reciclados O referencial teoacuterico nesse campo de atividade no Brasil eacute raro e disperso talvez por ser assunto incipiente embora jaacute seja uma atividade com significativa representaccedilatildeo na economia e de crescente interesse por parte das empresas governos e sociedade

Com esse propoacutesito apresenta-se primeiramente uma breve revisatildeo da literatura relacionada agrave construccedilatildeo de estrateacutegias de de-sign para o desenvolvimento de produtos com materiais reciclados e as competecircncias necessaacuterias para a realizaccedilatildeo de tal empreendi-mento Na segunda parte disserta-se sobre a histoacuteria da resina PET (polietileno tereftalato) o processo da reciclagem de embalagens e a aplicabilidade em novos materiais novas funcionalidades e no uso para os produtos tecircxteis originando um novo ciclo de vida do produto assim ultrapassando os campos da preservaccedilatildeo ambiental pois movimenta a economia do paiacutes em diversas aacutereas

2 Conceitos de design e sustentabilidadeA sustentabilidade baseia-se na preservaccedilatildeo dos recursos naturais O Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA1) apresentou em 1975 o conceito de ecodesenvolvimento o qual destacava o desenvolvimento apoiado na dimensatildeo regional e local e o uso adequado dos recursos naturais Na formulaccedilatildeo de Sachs (2004) o ecodesenvolvimento deve integrar a satisfaccedilatildeo das necessidades humanas baacutesicas a solidariedade com as geraccedilotildees futuras a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo envolvida a preservaccedilatildeo

dos recursos naturais e meio ambiente em geral a elaboraccedilatildeo de sistema social que garanta emprego seguranccedila social e respeito a outras culturas e o desenvolvimento de programas de educaccedilatildeo ldquoO atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraccedilotildees futuras de satisfazerem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (WCED2 apud MROZINSKI 2016)

De acordo com Vezzolli (2010) o design intitulado como sustentaacute-vel tem a funccedilatildeo essencial de projetar produtos serviccedilos e sistemas com baixo impacto ambiental e alta qualidade social O termo design utilizado em sentido restrito define-se como uma ldquoatividade criativa orientada para a determinaccedilatildeo das qualidades formais de objetos ou signos produzidos industrialmenterdquo (ANICET BESSA BROEGA 2009) O design consiste basicamente em uma tentativa de tornar o objeto mais atrativo desejaacutevel o que deve inerentemente vir ao encontro da melhoria da funcionalidade do produto

O que se verifica na atualidade de forma crescente eacute que os de-signers estatildeo se conscientizando da sua responsabilidade quanto agrave preservaccedilatildeo dos recursos ambientais por meio do desenvolvimento sustentaacutevel Portanto o design engrandece-se ao abranger mais objetivos Ele exerce funccedilotildees derivadas de suas principais como a responsabilidade socioambiental (MAU 2004) Dessa forma o design toma uma dimensatildeo muito maior do que o seu objetivo primeiro ndash o produto em sua funccedilatildeo operativa e tecnoloacutegica ndash toma a dimensatildeo eacutetica que abrange a proteccedilatildeo do meio ambien-te a preservaccedilatildeo e resgate da identidade cultural e dos circuitos econocircmicos locais bem como o desenvolvimento de produtos ambientalmente sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Papanek (1984) em sua claacutessica publicaccedilatildeo Design for Real World afirmava que o design poderia ser uma das mais baacutesicas atividades humanas e nesse sentido todas as pessoas seriam designers Atual-mente o design eacute uma atividade projetual e profissional com elevada especializaccedilatildeo Aleacutem disso eacute uma disciplina com autoridade acadecirc-mica desenvolvida em universidades tendo seu valor reconhecido atraveacutes de suas proacuteprias publicaccedilotildees promovendo conferecircncias e eventos de grande repercussatildeo ndash sendo inclusive um veiacuteculo de identidade e de coesatildeo social (MANZINI VEZZOLI 2005)

Na definiccedilatildeo dos autores Mohr (2006) e Manzini e Vezzoli (2005) a tendecircncia do design eacute buscar paracircmetros para encontrar a soluccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos seus produtos quando engloba as tecnologias de produccedilatildeo assim como questotildees ambientais Mudanccedilas de paradigmas ocorrem a partir das criaccedilotildees do design desafiando os profissionais e dessa forma oferecendo o equiliacutebrio entre os requisitos da induacutestria e ao mesmo tempo respeitando os fatores ambientais em seus projetos

Por outro vieacutes estaacute cada vez mais acirrada a competitividade no mercado de design de produtos como reflexo da velocidade de produccedilatildeo e da constante busca da lucratividade das empresas e

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consequentemente haacute maior oferta de produtos Nesse cenaacuterio de forma positiva e proveitosa os designers empenham-se no de-senvolvimento de produtos sempre buscando maior qualidade e novos padrotildees de inovaccedilatildeo conforto acabamentos e preccedilos tudo isso com o objetivo atender a necessidades perfis e exigecircncias dos consumidores Esse processo condiciona o avanccedilo de novas teacutecnicas e tecnologias e especialmente na produccedilatildeo sustentaacutevel na utilizaccedilatildeo de materiais que se componham de fibras resultados de reciclagem Eacute um grande desafio para as mudanccedilas necessaacuterias pois os consumidores estatildeo cada vez mais conscientes ambiental-mente Eles estatildeo em busca de soluccedilotildees e produtos sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

De acordo com as consideraccedilotildees gerais do Conselho Interna-cional de Sociedades de Design ndash International Council of Societies of Design (ICSID) atual WDO3 World Design Organization relacio-nado agrave UNESCO ndash o design

(hellip) busca descobrir e avaliar estruturas organizaccedilotildees relaccedilotildees

funcionais expressivas e econocircmicas com a tarefa de melhorar

a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambiental (eacutetica global)

conceder benefiacutecios e liberdade para toda a comunidade humana

individual e coletiva para usuaacuterios finais produtores e protagonistas

de mercado (eacutetica social) apoiar a diversidade cultural apesar da

globalizaccedilatildeo do mundo (eacutetica cultural) gerando produtos serviccedilos

e sistemas cujas formas sejam expressivas (semiologia) e coerentes

(esteticamente) com sua proacutepria complexidade (IBID 2012 apud

KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

O WDO enfatiza o caraacuteter humano social e cultural aleacutem do econocircmico Essa definiccedilatildeo apresenta inclusive o conceito de ldquociclos de vidas inteirosrdquo aleacutem do objetivo de ldquomelhorar a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambientalrdquo o que leva agrave adesatildeo na missatildeo do design em propor o uso de mecanismos adequadamente norteados na concepccedilatildeo e desenvolvimento de projetos produtos serviccedilos e sistemas (KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

3 Design sustentaacutevel e reciclagemConsciecircncia ecoloacutegica presume e anda de matildeos dadas com a consciecircncia social pela proteccedilatildeo da natureza e pela realizaccedilatildeo da condiccedilatildeo humana Com o objetivo de obter um ambiente ade-quado para a vida no que tange agraves condiccedilotildees ambientais e sociais deve-se seguir e cumprir regras Desse modo criaram-se normas e princiacutepios para serem seguidos e consequentemente minimi-zam-se os impactos ambientais Foram estabelecidos princiacutepios denominados ldquoRsrdquo iniciou-se com trecircs princiacutepios chamados de ldquo3Rsrdquo que em seguida foram desmembrados em mais dois tor-nando-se ldquo5Rsrdquo reduzir reutilizar reaproveitar reciclar e repensar (REBELLO 2008) Poreacutem conforme o autor tais princiacutepios foram

acrescidos por mais trecircs chegando a atingir oito atualmente sen-do os uacuteltimos reparar responsabilizar-se e repassar

Para entendimento e compreensatildeo do assunto abordado eacute interessante mesmo que brevemente citar todos os termos criados para a posteriori serem aprofundados os princiacutepios da Reciclagem e da Reutilizaccedilatildeo que satildeo o foco deste texto ndash design sustentaacutevel atraveacutes de materiais reciclados

Reduzir caracteriza-se pela reduccedilatildeo do consumo tendo como objetivo a preservaccedilatildeo dos recursos naturais do planeta Jaacute reutilizar quer dizer buscar soluccedilotildees criativas para prolongar a vida uacutetil de um produto oferecendo a ele uma nova vida transformando-o em um novo produto Seguindo a mesma linha reaproveitar eacute outra forma de reutilizar pois a diferenccedila essencial eacute que o produto original teraacute que sofrer uma transfor-maccedilatildeo para poder ser utilizado novamente Um bom exemplo eacute a customizaccedilatildeo de uma peccedila por meio do redesign reduzindo o descarte e agregando valores e funcionalidades e utilidades para o mesmo produto

Quanto a reciclar o produto deve retornar a um novo processo industrial gerando um novo ciclo Eacute o que se difere do princiacutepio de reaproveitar pois eacute necessaacuterio o reprocessamento Enquanto isso repensar consiste em realizar uma previsatildeo ou estudo do ciclo de vida total de um produto analisar seus custos e benefiacute-cios para posterior decisatildeo da produccedilatildeo ou natildeo Em todo esse levantamento deve constar desde a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima o desenvolvimento do produto a produccedilatildeo o descarte todo o ciclo de vida do produto e seu destino final seja o lixo ou uma nova etapa atraveacutes da reciclagem (VIEIRA RABELLO 2011)

31 Tipos de reciclagemQuanto aos tipos de reciclagem existem dois e satildeo relativos ao momento da reciclagem e ao ciclo de vida do produto a saber o preacute e o poacutes-consumo O preacute-consumo ocorre quando o produto saiu da induacutestria e antes mesmo do consumo jaacute eacute reciclado Um exemplo disso eacute o resiacuteduo industrial proveniente da fabricaccedilatildeo de roupas Esse tipo de reciclagem pode ser considerado como accedilatildeo socioambiental pois nela encontram-se os projetos de cole-ta de sobras de confecccedilotildees (tecidos descartados apoacutes o corte das peccedilas ou ldquoretalhosrdquo) Em uma pesquisa realizada por Mrozinski (2016) constatou-se que em alguns casos esses retalhos satildeo enviados para as famiacutelias cadastradas no programa da empresa fabricante sendo pesados separados e catalogados por cor Posteriormente seguem para a fiaccedilatildeo quando satildeo armazenados conforme a programaccedilatildeo de produccedilatildeo Posteriormente os reta-lhos satildeo colocados em uma maacutequina chamada ldquodesfibradeirardquo e atraveacutes de um processo chamado ldquorasgamentordquo voltam agrave sua forma original de fibras (MROZINSKI 2016)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute o poacutes-consumo ocorre quando o produto eacute reciclado depois de ter sido consumido Um bom exemplo satildeo as garras PET que em alguns casos conforme Mrozinski (2016) satildeo transformadas em fibra tecircxtil No caso do preacute-consumo gasta-se menos energia atraveacutes do aproveitamento de algo jaacute processado ao inveacutes de produzir um produto a partir da mateacuteria-prima original Esse tipo de reciclagem eacute muito mais faacutecil e de menor custo do que a reci-clagem poacutes-consumo pois no segundo caso os produtos teratildeo de ser lavados e esterilizados e em seguida encaminhados para o processo de reciclagem Em se tratando das garrafas plaacutesticas utilizam-se em sua limpeza aacutegua e detergentes Satildeo produtos quiacutemicos que interferem no meio ambiente e seus custos de re-ciclagem satildeo mais elevados (VIEIRA RABELLO 2011)

Segundo a Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria de PET (ABIPET 2013) no processo de reciclagem do PET existem muitos conta-minantes entre eles os adesivos plaacutesticos presentes nas garrafas de refrigerantes A maioria dos processos de lavagem aos quais os PETs satildeo submetidos hoje em dia ainda natildeo conseguem remover por completo esses produtos indesejaacuteveis o que impede a ob-tenccedilatildeo de flocos totalmente puros ou seja sem contaminaccedilatildeo

Todo esse processo de reciclagem do PET produz efluentes o que resulta em custos econocircmicos e ambientais Para Cassalli (2011) em seu processo a induacutestria da reciclagem faz uso de muito detergente na limpeza e higienizaccedilatildeo das garrafas e na fabricaccedilatildeo de flakes de PET causando importantes alteraccedilotildees quiacute-micas e fiacutesicas nos seus efluentes principalmente a alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) aleacutem do acreacutescimo dos resiacuteduos or-gacircnicos existentes no interior nos frascos vazios Por outro lado Silva (2017) afirma que apoacutes o processo de reciclagem e produccedilatildeo de flakes a empresa recicladora eacute responsaacutevel pelo tratamento de todos os seus efluentes gerados respeitando os paracircmetros estabelecidos pela legislaccedilatildeo municipal

No tratamento desses efluentes satildeo utilizados tratamentos primaacuterios secundaacuterios e terciaacuterios tendo como objetivo a remo-ccedilatildeo das partiacuteculas ou poluentes por meio de intervenccedilotildees fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas ou das combinaccedilotildees dessas intervenccedilotildees cuja accedilatildeo eacute reduzir os soacutelidos totais turbidez e cor Realizam-se tambeacutem processos especiacuteficos com intuito de oxidar quiacutemica e bioquimica-mente tais substacircncias promovendo a remoccedilatildeo das causadoras da alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) e da Demanda Bioquiacute-mica de Oxigecircnio (DBO) encontradas (MORENO 2007)

Apoacutes todo esse processo da reciclagem do PET resultam fibras de polieacutester de alta qualidade Estas satildeo aproveitadas em diversos produtos sendo que uma grande parte eacute destinada agrave produccedilatildeo de fibras tecircxteis para a induacutestria de tecido Podem ser utilizadas puras ou misturadas com outras fibras como por exemplo as fibras do algodatildeo do linho entre outras

4 Histoacuterico e aplicaccedilotildees do PETO poliacutemero produzido do PET eacute um polieacutester O polieacutester eacute uma fibra desenvolvida em 1941 por Whinfield e Dickson quiacutemicos ingleses cujo intuito inicial era substituir a fibra tecircxtil do algodatildeo Posteriormente sua aplicaccedilatildeo foi ampliada com a produccedilatildeo de filmes para embalagens por volta dos anos de 1980 O seu uso teve um crescimento raacutepido O PET eacute a denominaccedilatildeo do polieacutester destinado agrave fabricaccedilatildeo de embalagens entre elas a destinada aos refrigerantes Esse tipo de polieacutester tambeacutem eacute identificado como ldquograu garrafardquo (bottle grade) diferentemente do polieacutester que eacute utilizado na aacuterea tecircxtil conhecido por ldquograu fibrardquo (fiber grade) Eacute relevante saber que o polieacutester ldquograu fibrardquo ndash usado na produccedilatildeo de fibras e filamentos ndash e o polieacutester ldquograu garrafardquo satildeo produtos provenientes da mesma mateacuteria-prima poreacutem em seus respec-tivos processos de fabricaccedilatildeo recebem aditivaccedilotildees diferentes de acordo com o seu destinado final (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

No Brasil a embalagem PET entrou no mercado soacute em 1988 mas o crescimento foi raacutepido pois em 2004 o paiacutes jaacute era o terceiro maior consumidor mundial na produccedilatildeo de garrafas PET (ABIPET 20054) Esse raacutepido crescimento teve a sua contrapartida na reciclagem jaacute em 2005 a induacutestria brasileira atingiu a marca de 174 mil toneladas isso representou 47 do total da produccedilatildeo do PET naquele ano no mundo Foi um percentual expressivo especialmente porque em 2000 30 dos mais de 5 mil municiacutepios brasileiros natildeo possuiacuteam nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE 20005)

Por outro lado ainda natildeo eacute possiacutevel reaproveitar todas as em-balagens produzidas e descartadas Pois um dos maiores proble-mas enfrentados eacute a falta da coleta seletiva porque ainda satildeo poucas as cidades brasileiras que adotaram esse tipo de coleta de lixo Ainda assim a Associaccedilatildeo Brasileira de Embalagens afirma que o mercado para produtos reciclados de PET vem crescendo de forma significativa aleacutem de ser um setor muito importante dentro da induacutestria nacional (MOURA et al 2015)

No Brasil o PET assim como os demais materiais reciclaacuteveis quando usado poacutes-consumo eacute obtido principalmente atraveacutes da coleta informal feita por catadores e sucateiros que por cir-cunstacircncias socioeconocircmicas e carecircncia de poliacuteticas adequadas sustentam-se coletando a mateacuteria-prima da reciclagem no lixo das ruas ou nos ldquolixotildeesrdquo

Ateacute haacute pouco tempo esse trabalho natildeo era reconhecido pela sociedade A reciclagem era vinculada ao aumento do desempre-go e do crescimento do trabalho informal segundo Vezza e Cotait (2006) Poreacutem de acordo com os autores com a organizaccedilatildeo dessa atividade a situaccedilatildeo comeccedilou a se reverter aos poucos Os traba-lhadores que outrora eram anocircnimos passaram a ser parceiros estrateacutegicos dos programas de coleta seletiva e organizaram-se em associaccedilotildees Aleacutem disso foi nesse panorama que surgiram as

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

cooperativas que por sua vez promovem a profissionalizaccedilatildeo do trabalho contribuem para a melhoria da qualidade do trabalho dos catadores ofertando os equipamentos de seguranccedila dando treinamentos sobre a coleta e facilitando a intermediaccedilatildeo entre os catadores e as induacutestrias de reciclagem

Nos anos 1990 no Brasil vaacuterias instituiccedilotildees foram criadas pelas induacutestrias com o objetivo do desenvolvimento da reciclagem Des-tacam-se dentre elas (1) ABIPET oacutergatildeo ligado agrave cadeia produtiva do PET que se responsabiliza por questotildees teacutecnicas e operacionais para o mercado divulga informaccedilotildees e capacita parceiros (2) CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) que eacute responsaacutevel pelo incremento da atividade de reciclagem de todos os materiais e (3) PLASTIVIDA (Instituto Socioambiental dos Plaacutesticos) criado pela Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria Quiacutemica (ABIQUIM)

O material resultante da reciclagem do PET eacute um polieacutester termoplaacutestico Eacute resistente leve e transparente A evoluccedilatildeo do mercado e os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram novas aplica-ccedilotildees desse material desde cordas e fios de costura aos carpetes de bandejas de ovos e frutas a ateacute mesmo novas garrafas Com a reciclagem evita-se o lixo plaacutestico dos aterros Aleacutem disso uti-liza-se apenas 03 da energia total que eacute utilizada para produzir a resina virgem Ainda pode ser reciclada muitas vezes sem per-der a qualidade (CEMPRE 20176) A reciclagem de garrafa PET ultrapassa os campos da preservaccedilatildeo ambiental e movimenta tambeacutem a economia do paiacutes (PENSAMENTO VERDE 20137)

41 Processo de reciclagem do PETO processo de reciclagem do PET ocorre em trecircs etapas baacutesicas a recuperaccedilatildeo a revalorizaccedilatildeo e a transformaccedilatildeo Primeiramente se recupera do descarte posterior depois se faz o acondicionamento em fardos seguindo para a comercializaccedilatildeo quando ocorre a revalorizaccedilatildeo Para completar o processo inicial acontece a trans-formaccedilatildeo da mateacuteria prima oriunda das garrafas PET poacutes-consumo em um novo produto

Na etapa da revalorizaccedilatildeo acontece a moagem e lava-gem do PET produzindo a mateacuteria-prima reciclada Inicia-se colocando os fardos das garrafas na plataforma para serem desfeitos Em seguida as garrafas satildeo colocadas na esteira de alimentaccedilatildeo da peneira rotativa e eacute realizada a sua primeira etapa de lavagem Eacute o momento em que ocorre a retirada os maiores contaminantes como pedras tampas soltas etc Se-guindo o processo as garrafas passam para a esteira de seleccedilatildeo Nela satildeo monitorados a presenccedila de outros materiais como por exemplo PVC PP PE eou metais que podem ser acusados pelo detector (ABIPET 2012)

Na etapa seguinte as garrafas caem na esteira de alimenta-ccedilatildeo do primeiro moinho onde sofrem a primeira moagem feita com adiccedilatildeo de aacutegua O material moiacutedo eacute retirado atraveacutes de uma rosca duplo envelope e a aacutegua suja eacute separada do processo Em seguida passa pelos tanques de descontaminaccedilatildeo onde ocorre a separaccedilatildeo dos roacutetulos e tampas Nessa fase poderaacute ser feita a adiccedilatildeo de produtos quiacutemicos para beneficiamento do processo e entatildeo o material eacute levado para outro moinho ateacute obter a gra-nulometria adequada (ABIPET 2012)

Na sequecircncia do processo o material eacute transportado pneumati-camente ateacute o lavador onde com nova adiccedilatildeo de aacutegua eacute realizado o enxaacutegue e levado para o secador O material eacute retirado do secador atraveacutes do transportador pneumaacutetico e encaminhando para o silo Novamente eacute realizada a verificaccedilatildeo atraveacutes do detector de metais natildeo ferrosos de onde o material eacute retirado e embalado em big-bags (sacolas de aproximadamente 1m3) e enviado para a induacutestria de transformaccedilatildeo (ABIPET 2012) Esse material eacute formado de pequenos flocos do PET tambeacutem conhecidos com flakes (VEZZA COTAIT 2006)

Figura 1 ndash Esquema de funcionamento baacutesico de uma unidade de moagem lavagem e descontaminaccedilatildeo de PET

Fonte httpwmareciclepetblogspotcombr 8

Para que possa ser viabilizada a obtenccedilatildeo do material com maior facilidade eacute necessaacuterio realizar consulta sobre os oacutergatildeos governa-mentais da regiatildeo ligados agrave atividade de reciclagem Obtecircm-se informaccedilotildees sobre o sistema de coleta a possibilidade da compra do material verificar a origem da coleta seletiva dos catadores o desenvolvimento de parcerias com cooperativas ONGs empresas privadas associaccedilotildees comunitaacuterias aleacutem de realizar buscas de for-necedores do material em outras regiotildees (VEZZA COTAIT 2006)

5 PET na induacutestria tecircxtil Na induacutestria tecircxtil a fibra de PET reciclada estaacute sendo usada desde a deacutecada 1970 e sua pioneira foi a empresa americana Wellman localizada na Carolina do Sul (EUA) que reciclava e produzia fibras de polieacutester Como se tratava de fibras grossas inicialmente foram

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

utilizadas para o enchimento de brinquedos e estofados simples ou na confecccedilatildeo de natildeo tecidos (TNT) pois esses produtos natildeo exi-giam muita resistecircncia fiacutesica e de volume (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Com o avanccedilo tecnoloacutegico a transformaccedilatildeo das garrafas PET em fibras foi aprimorada resultando em produtos de maior qualidade Poreacutem demorou um tempo razoaacutevel para que o polieacutester reciclado chegasse ao patamar de qualidade do polieacutester produzido da mateacute-ria-prima virgem Uma das dificuldades era a variedade de tipos do material reciclado aleacutem da diferenccedila na composiccedilatildeo entre o polieacutester utilizado para uso tecircxtil e o das embalagens (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Por outro lado as fibras de polieacutester resultante da reciclagem do PET podem trazer outros problemas para a estabilidade do pro-duto final porque (1) satildeo produzidas por diferentes fabricantes e apresentando pequenas alteraccedilotildees de especificaccedilotildees na mateacuteria--prima ou aditivaccedilotildees diferentes (2) o PET fabricado em datas muito diferentes pode apresentar alteraccedilatildeo de desempenho dos aditivos pela diferenccedila de tempo (3) haacute viscosidades distintas decorrentes da exigecircncia da maacutequina ou embalagem (4) o PET eacute fabricado por equipamentos diferentes na produccedilatildeo das embalagens com grau de estiramento diverso e (5) haacute possibilidade da mistura do PET com outros tipos de materiais como os que compotildeem o roacutetulo eou a tampa geralmente produzidos em outros tipos de plaacutesticos Portanto a fibra de polieacutester reciclado 100 PET de boa qualidade eacute uma grande inovaccedilatildeo (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Em 2005 a ABIPET teve a iniciativa de recomendar aos designers atraveacutes de um documento intitulado ldquoDiretrizes para projeto de garra-fas de PETrdquo Com intuito de conscientizar o setor de embalagens sobre o tema esses profissionais tiveram acesso agraves caracteriacutesticas teacutecnicas das embalagens e de seus acessoacuterios Basicamente o objetivo da associa-ccedilatildeo era evitar o comprometimento da qualidade do polieacutester reciclado devido ao uso de materiais inadequados e de difiacutecil separaccedilatildeo O do-cumento foi amplamente divulgado pelas miacutedias especializadas em seminaacuterios e em visitas agraves empresas de embalagens (ABIPET 2006)

51 Destinaccedilatildeo da fibra Pet na induacutestria brasileiraSegundo ABIPET (2014) ainda continuam as dificuldades relativas agrave coleta seletiva poreacutem por outro lado haacute demanda por parte da induacutestria da utilizaccedilatildeo do PET reciclado e isso faz com que o desenvolvimento da atividade seja crescente O mercado tecircxtil continua sendo o principal destino de todo PET reciclado no Brasil esse setor consome aproximadamente 40 de todo o material produzido Em segundo lugar vecircm os setores de embalagens e o de aplicaccedilotildees quiacutemicas empatados com 18 do uso ldquoA induacutestria tecircxtil continua sendo a grande aposta Mas chama atenccedilatildeo o fan-taacutestico crescimento da utilizaccedilatildeo do PET reciclado na fabricaccedilatildeo de outras embalagens Chamada de bottle-to-bottle esta aplicaccedilatildeo teve vaacuterios projetos lanccedilados nos uacuteltimos anosrdquo (ABIPET 2014)

No setor tecircxtil o uso da fibra do PET reciclado teve iniacutecio no segmento corporativo especialmente na produccedilatildeo de uniformes para as empresas Com o avanccedilo tecnoloacutegico e a melhoria na qualidade e no toque da fibra as grandes marcas aderiram ao uso de tecidos que possuem na sua composiccedilatildeo a fibra reciclada PET Marcas conhecidas no mercado como Osklen Brooksfield Mizuno e Hering adotaram esse tipo de fibra pois perceberam o valor das propriedades do fio de polieacutester reciclado do PET Aleacutem disso estatildeo atentos ao nicho de mercado dos consumidores dispostos a adquirir produtos ecologicamente corretos (ABIPET 2014)

O fio de polieacutester reciclado quando associado ao algodatildeo atribui estabilidade dimensional ao tecido e dessa forma evita o encolhimento ou entorte aleacutem de melhorar a solidez na cor a resistecircncia e a durabilidade Esse tipo de fibra tambeacutem pode di-minuir a gramatura do tecido uma vez que fica mais fino e menos encorpado O resultado eacute um tecido com um toque mais suave indicado na produccedilatildeo da moda iacutentima Com base nisso a marca DrsquoUomo uma das maiores fabricantes de cuecas do Brasil lanccedilou uma coleccedilatildeo com uso tecidos com a fibra de PET (ABIPET 2014)

Outro mercado crescente eacute a induacutestria de calccedilados com a produccedilatildeo de diversos tipos de calccedilados com os tecidos reciclados do PET atraveacutes do lanccedilamento de coleccedilotildees sustentaacuteveis do setor A Figura 2 apresenta os percentuais de aplicaccedilatildeo das fibras PET na induacutestria brasileira

Figura 02 ndash Representaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo da fibra PET

Fonte Aacutegua e Vida ndash Revista oficial do setor de aacuteguas minerais9

Apesar da evoluccedilatildeo e crescimento da induacutestria no que tange ao aproveitamento do PET ainda continuam existindo grandes quantidades de garrafas descartadas na natureza poluindo centros urbanos aacutereas rurais florestas e boiando nos rios oceanos e praias Todo esse material poderia ser aproveitado pois existe carecircncia do PET para a reciclagem Em 2014 a taxa de ociosidade chegou a atingir 30 nas induacutestrias de reciclagem devido agrave carecircncia da coleta seletiva

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A necessidade de expandir a educaccedilatildeo ambiental eacute um dos temas mais importantes para promover a mudanccedila de haacutebitos da popula-ccedilatildeo e a mudanccedila de postura do poder puacuteblico (ABIPET 2014)

6 Consideraccedilotildees finaisO aproveitamento de produtos reciclaacuteveis em processos de produccedilatildeo identifica uma postura corporativa de responsabilidade ambiental o que faz parte das estrateacutegias aplicadas por empresas competitivas Conscientizando-se dos limites que o meio ambiente pode tolerar e com a sociedade cada vez mais atenta sabe-se que para continuar com o crescimento natildeo eacute mais admitida a degradaccedilatildeo Contudo eacute necessaacuterio continuar a fazer projetos para o futuro assim desenha-se o desenvolvimento sustentaacutevel Com tal percepccedilatildeo a induacutestria tecircxtil vem investindo fortemente na reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos que somam grande volume dentro das empresas Aleacutem disso o uso da fibra PET reciclada das embalagens do poacutes-consumo estaacute tendo um crescimento consideraacutevel por meio da composiccedilatildeo mista dos tecidos bem como na fabricaccedilatildeo de tecidos com a fibra de polieacutester totalmente reciclada

Para completar essa visatildeo estrateacutegica as grandes marcas de produ-tos tecircxteis estatildeo aderindo ao design inovador ligando a sua imagem de marca agrave responsabilidade ambiental e agrave sustentabilidade Para conhecer melhor esse processo de mudanccedilas que estatildeo ocorrendo na induacutestria tecircxtil e verificar os resultados na sociedade consumidora eacute necessaacuterio o aprofundamento dos estudos nessa linha

N o t a s

1 ndash PNUMA - Programa para o Meio Ambiente estabelecido em 1972 Eacute a agecircncia da ONU responsaacutevel pela accedilatildeo internacional e nacional para a proteccedilatildeo do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentaacutevel Disponiacutevel em httpsgooglY7iyuv Acesso em 16 ago 2017

2 ndash Sustainble Development Knowledge Platform Disponiacutevel em httpsgooglVdPRbi Acesso em 16 ago 2017

3 ndash Disponiacutevel em httpwdoorg Acesso em 15 jul 2017

4 ndash Disponiacutevel em httpsgoogloKbRt6 Acesso em 30 jul 2017

5 ndash Disponiacutevel em httpsgooglZQq3cH Acesso em 28 jun2014

6 ndash Disponiacutevel em httpsgooglLPiZrq Acesso em 23 jul 2017

7 ndash Disponiacutevel em httpsgoogl6cf8r5 Acesso em 23 jul 2017

8 ndash Disponiacutevel em httpsgooglnmoiP6 Acesso em 28 jun 2014

9 ndash Disponiacutevel em httpwwwrevistaaguaevidacombrp=610 Acesso em 15 jun 2016

R e f e r ecirc n c i a s

ABIPET (Associaccedilatildeo Brasileira da Industria do PET) Reciclagem benefiacutecios

da reciclagem de pet Disponiacutevel em lthttpwwwabipetorgbrindex

htmlgt Acesso em 22 jun 2014

ANICET R Anne BESSA Pedro BROEGA Ana Cristina Reciclagem de re-

siacuteduos da induacutestria da moda atraveacutes de colagem XXXIII Encontro da

ANPAD ndash Satildeo PauloSP ndash 19 a 23 de setembro de 2009 Disponiacutevel em

lthttpsgooglnwFtRkgt Acesso em 08 jun2014

CASSALLI J D Tratamento do efluente de uma recicladora de plaacutesticos uti-

lizando coagulante natildeo metaacutelico e compostagem Santa Maria UFRGS

2011 146 p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpsgooglKeiQTMgt

Acesso em 10 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS SLF TEOLOacuteSIO ASS Reciclagem do PET desafios e

possibilidades XXVI ENEGEP - Fortaleza CE Brasil 9 a 11 de Out 2006

Disponiacutevel em lthttpsgooglpoyjKtgt Acesso em 23 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF Haacute vida apoacutes a morte um (re)pensar estra-

teacutegico para o fim da vida das embalagens - GESTAtildeO amp PRODUCcedilAtildeOv13

ndeg3p463-474 set-dez2006 Disponiacutevel em ltwwwscielobrpdfgp

v13n308pdfgt Acesso em 22 jun 2014

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF GUIMARAtildeES Leandro F SANTOS Maria

CLdos As muitas vidas do pet integrando competecircncias ldquoverdesrdquo na

cadeia produtiva- SIMPOI POMS2007 ndash Proceedigns Disponiacutevel em

lthttpsgoogl7cfrXYgt Acesso em 08 jun 2014

KANAMARU Antocircnio T FARIAS ANA C IAMAMURA Patricia Materioteca

ecoloacutegica brasileira no ensino de moda arte e design tecircxtil Disponiacutevel

em lthttpsgooglS13mN1gt Acesso em 08 jun 2014

MANZINI Ezio VEZZOLI Carlo O desenvolvimento de produtos sustentaacuteveis

Os requisitos ambientais de produtos industriaisSatildeo Paulo EDUSP 2005

MAU Bruce Massive change London Phaidon 2004

MOHR Martina et al A relevacircncia do conceito de design orientado ao am-

biente em induacutestrias gauacutechas In 7ordm Congresso Brasileiro de Pesquisa

e Desenvolvimento em Design Paranaacute 2006

MORENO F N Tratamento de efluentes de uma induacutestria de reciclagem

de embalagens plaacutesticas de oacuteleos lubrificantes processo bioloacutegico e

fiacutesico-quiacutemico Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Estadual de

Campinas Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo

Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo de Engenharia Civil Campinas ndash SP

2007 142p 22 Disponiacutevel em repositoacuterio lthttpsgooglS3Bbxwgt

Acesso em 20 jul 2017

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 8 de 8

MOURA Renan Gomes LOPES Paloma de Lavor SILVA Leandro Vidal

da BALDEZ Priscila Pereira Logiacutestica reversa das garrafas pet sua re-

ciclagem e a reduccedilatildeo do impacto ambiental- XI Congresso Nacional

De Excelecircncia Em Gestatildeo 13 e 14 de agosto de 2015 Disponiacutevel em

lthttpsgooglzAKdpygt

MROZINSKI Helena Algodatildeo reciclado e variaccedilotildees implicaccedilotildees para o

design de moda sustentaacutevel Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Design do Centro Universitaacuterio Ritter dos Reis-

Mestre em Design Porto Alegre 2016

PAPANEK Victor Design for the real world human ecology and social change

Londres Thames amp Hudson 1984

REBELLO Luiza H B Design sustentaacutevel e moda material didaacutetico impresso

para a disciplina Design Sustentaacutevel e Moda curso de Poacutes-gradua-

ccedilatildeo em Design de Moda (Especializaccedilatildeo) Rio de Janeiro Faculdade

SENAICETIQT 2008

SACHS Ignacy Desenvolvimento sustentaacutevel desafio do seacuteculo XXI In

Ambient soc JulDez 2004 vol7 no2 ISSN 1414-753X

SILVA Jde A Estudo de caso caracterizaccedilatildeo do efluente de uma empresa

de reciclagem de garrafas pet e ajuste nas etapas de tratamento para

adequaccedilatildeo aos paracircmetros legais de lanccedilamento Uberaba-MG I F E C T

Do Triacircngulo Mineiro 2015 82p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttps

googlitPfYgt Acesso em 15 jun 2017

VEZZOLI Carlo Design de sistemas para a sustentabilidade teoria meacuteto-

dos e ferramentas para o design sustentaacutevel de ldquosistemas de satisfaccedilatildeordquo

Salvador EDUFBA 2010 343p

VEZZAacute Carlo Sartori Bonfim COTAIT Pedro Lde A Produccedilatildeo de fibras para

confecccedilatildeo de tecidos a partir da reciclagem de pet 2006 Disponiacutevel em

lthttpsgooglP7WkgBgt Acesso em10 jun 2017

VIEIRA ALEXANDRA S RABELLO Luiza HB A contribuiccedilatildeo do design

ldquoverderdquo um estudo de caso da empresa Woumlllner ndash Revista de Design

Inovaccedilatildeo e Gestatildeo Estrateacutegica REDIGE v 2 n 1 2011 Disponiacutevel em

ltwwwcetiqtsenaibrredigegt Acesso em 08 jun 2014

O ldquoentrelugarrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminaresThe ldquoin-betweenrdquo of genderfluid in fashion preliminary thoughts

Camila Carmona Dias e Cayan Santos Pietrobelli

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017ISSN 2177-4986

Paacutegina 1 de 10

R e s u m o

O presente artigo se fundamenta nos estudos que afirmam o gecircnero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para necessidade da

quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes impostos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Dessa forma partiu-se da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar passou-se pela teoria da reapropriaccedilatildeo e resistecircncia de Certeau (1994) para finalmente levantar uma hipoacutetese de que a resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998)

A b s t r a c t

This paper is based on studies that claim gender not as a determined biological factor but as a social construction Thus it indicates the need for breaking the gender binary pattern considering individuals who do not identify with the current genders imposed by the theory of biological sex that is they are genderfluid Therefore this research aims to analyze theoretically the relationship between genderfluid and fashion Hence it starts from the Foucauldian concept of disciplinary power going through Certeaursquos theory of reappropriation and resistance (1994) and finally raising the hypothesis that resistance based on cultural reappropriation may be connected to Bhabharsquos concept of in-between (1998)

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 26092017

Palavras-chaveModa Gecircnero fluido Entrelugar Resistecircncia

KeywordsFashion Genderefluid In-Between Resistance

Autores Bacharel em Moda Mestra em Educa-ccedilatildeo Doutoranda em Histoacuteria Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail camiladiaserechimifrsedubr

Graduaccedilatildeo em Design de Moda Poacutes-graduaccedilatildeo em Semioacutetica Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail cayanpietrobellilivecom

Como citar este artigoDIAS C C PIETRBELLI C S O ldquoentrelu-garrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminares Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoOs estudos trilhados nas relaccedilotildees entre moda e gecircnero natildeo satildeo novos Vaacuterios autores jaacute experimentaram dialogar sobre o assunto Atualmente essa temaacutetica estaacute sendo muito discutida seja na miacutedia ou na academia Assim o texto visa a trazer algumas con-tribuiccedilotildees sobre o tema aleacutem de instigar um debate inicial sobre a fluidez de gecircnero na moda

No decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com esse conceito existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos Na cultura patriarcal vigente haacute uma subdivisatildeo limitada entre masculinofeminino e homemmulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possi-bilidade de natildeo binariedade ou fluidez A moda eacute um dos fatores principais para a identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo do indiviacuteduo com seu gecircnero tendo em vista que por meio dela eacute dada a devida signifi-cacircncia ao corpo vestido alegando seu papel dentro de um grupo

Este trabalho se fundamenta nos estudos que afirmam o gecirc-nero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para a necessidade da quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes im-postos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo estudar o gecircnero fluido na moda ou melhor o entrelugar em que ele se encontra Para isso faz uso principalmente das teorias de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998)

Parafraseando o professor Meneses (2003 p11) a intenccedilatildeo da reflexatildeo do trabalho eacute tentar construir um ldquobalanccedilo provisoacuteriordquo e sugerir ldquopropostas cautelaresrdquo sobre tal tema Ou seja a reflexatildeo desenvolvida visa a possibilitar uma discussatildeo preliminar sobre as inuacutemeras interfaces que permeiam a temaacutetica aqui estudada

Assim para alcanccedilar seu objetivo teoacuterico o artigo eacute dividido em duas partes A primeira traz a moda como expressatildeo pessoal elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo aleacutem de um sistema de praacutetica cultural e de representaccedilatildeo Jaacute na segunda parte esboccedila-se a relaccedilatildeo entre moda e gecircnero e desenvolvem-se as concepccedilotildees de (i) gecircnero como construccedilatildeo cultural (ii) moda e gecircnero a relaccedilatildeo com o poder discipli-nador e com a insubmissatildeo do sujeito e finalmente (iii) o entrelugar como local de conflito negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees

2 Moda como ExpressatildeoNas uacuteltimas deacutecadas a importacircncia cultural do ldquofenocircmeno modardquo vem crescendo fruto de pesquisas em diversas aacutereas como Histoacuteria Socio-logia Antropologia Semioacutetica Psicologia entre outras Por meio desses estudos vaacuterios conceitos sobre essa temaacutetica foram elaborados

Souza (1996) relata que a maior dificuldade ao tratar de um assunto complexo como a moda eacute a escolha do ponto de vista Apesar de essa ser uma imposiccedilatildeo necessaacuteria de meacutetodo a visatildeo deste trabalho eacute de que se empobrece um fenocircmeno de tatildeo difiacutecil explicaccedilatildeo reduzindo tamanha complexidade a apenas uma visatildeo Dessa forma infere-se que um aspecto ex-tremamente relevante para a construccedilatildeo teoacuterica dos conceitos sobre moda eacute o seu caraacuteter ambiacuteguo

A moda eacute um todo harmonioso e mais ou menos indissoluacutevel Serve agrave

estrutura social acentuando a divisatildeo em classe reconcilia o conflito

entre o impulso individualizador de cada um de noacutes (necessidade de

afirmaccedilatildeo como pessoa) e o socializador (necessidade de afirmaccedilatildeo

como membro do grupo) exprime ideias e sentimentos pois eacute uma

linguagem que se traduz em termos artiacutesticos (SOUZA 1996 p29)

Destarte a moda envolve simultaneamente alteraccedilotildees de natureza artiacutestica econocircmica poliacutetica socioloacutegica aleacutem de atingir questotildees de expressatildeo de identidades sociais (GODART 2010) Logo pode-se dizer que a moda natildeo eacute apenas um reflexo da socie-dade mas sim um agente ativo na sua construccedilatildeo o que permite afirmar que a moda eacute um fato social total

Sobre as transformaccedilotildees abrangidas pela moda Freitas (2005) relata as incessantes modificaccedilotildees das preferecircncias dos mem-bros de uma sociedade natildeo se limitando apenas agrave indumentaacuteria Nas palavras do autor ldquona histoacuteria da humanidade o corpo foi recoberto de maneiras simultaneamente singulares e tribais de acordo com o tempo e o espaccedilo significando quase sempre os sentimentos da eacutepocardquo (FREITAS 2005 p126)

Segundo Svendsen (2010) a moda aplicada ao vestuaacuterio teve sua origem no fim do periacuteodo medieval O autor cita o iniacutecio do Renascimento e a expansatildeo mercantil como principais fatores para o surgimento de tal fenocircmeno de maneira que a origem da moda como sistema teve sua consolidaccedilatildeo com a ascensatildeo da burguesia

Nos seacuteculos XVII e XVIII a nobreza definia ndash de acordo com o coacutedigo social vigente ndash o que seria usado no vestuaacuterio criando assim tendecircncias de moda que seriam seguidamente copiadas pela alta burguesia (RECH 2002) Para Lipovetsky (2009) essa ex-pansatildeo da moda na sociedade natildeo atingiu de imediato todas as camadas segregando a princiacutepio as classes subalternas

A partir dessa nova organizaccedilatildeo social a moda foi legitima-da no seu real caraacuteter de mudanccedila Nessa perspectiva Freacutedeacuteric Godart (2010 p29) trabalha com a etimologia da palavra ldquomodardquo oriunda do latim modus ou seja o que designa maneiras de fazer Logo a moda estaacute diretamente relacionada com a possibilidade ou a necessidade de mudanccedilas

Paacutegina 2 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Em relaccedilatildeo agrave moda com a premissa de mudanccedilas Svendsen (2010 p22) justifica que ldquonatildeo podemos falar de moda na antiguida-de no sentido em que o fazemos hoje porque natildeo havia autonomia esteacutetica individual na escolha das roupasrdquo embora houvesse distin-ccedilotildees estabelecidas de acordo com as relaccedilotildees de poder Lipovetsky (2009) por sua vez afirma que para haver sistemas de moda a novidade e o gosto pelo novo satildeo princiacutepios constantes

Na concepccedilatildeo de Malcolm Barnard (2003 p149) ldquosoacute uma so-ciedade muito simples eacute que natildeo possui modardquo O autor infere que praticamente todas as sociedades tiveram possibilidades de possuir moda ou seja trata-se de ldquosociedades que usaram mu-danccedilas na indumentaacuteria para construir e comunicar identidades de classerdquo (BARNARD 2003 p150)

Durante longo periacuteodo a histoacuteria da moda foi regida pela hierarquia de classes baseada na distinccedilatildeo das vestimentas por meio de leis que proibiam membros da plebe de usarem roupas similares agraves dos nobres Entretanto Lipovetsky (2009) alega que no decorrer do tempo a moda adquiriu um caraacuteter individuali-zador mesmo com o prevalecimento de uma norma coletiva

Embora julgada como de caraacuteter tirano ldquoa moda estaacute fundada historicamente no valor e na reivindicaccedilatildeo da individualidaderdquo ou seja ela se legitima na singularidade Em seu niacutevel a moda marca uma brecha na supremacia imemorial e em paralelo marca tambeacutem o limite do processo de dominaccedilatildeo social e poliacutetica nas sociedades modernas (LIPOVETSKY 2009 p53)

Na mesma linha Pitombo (2010) afirma que a moda e a in-dumentaacuteria satildeo alguns dos possiacuteveis meios pelos quais a ordem social eacute posta em praacutetica Atraveacutes da indumentaacuteria e da moda podemos nos constituir e consequentemente nos afirmar como seres sociais Dessa maneira a moda foi tomando cada vez mais um caraacuteter individual e identitaacuterio

Svendsen (2010) teoriza que a moda trabalha num sistema de valores simboacutelicos Logo o olhar de um sujeito sobre uma determinada roupa resultaraacute numa conclusatildeo sobre quem a veste portanto infere-se que nesse contexto o siacutembolo (roupa) adquire representaccedilatildeo (a conclusatildeo do sujeito) Para o filoacutesofo as roupas da moda aleacutem de possuiacuterem grande valor simboacutelico agem como distintivos de papeacuteis sociais

Diante de tais pressupostos relatados na obra de Svendsen (2010) mesmo que diferentes tipos de roupas comuniquem um significado supostamente oacutebvio para um determinado grupo capaz de interpretar os coacutedigos representados natildeo se pode afir-mar que esses coacutedigos comunicaratildeo o mesmo significado para diferentes grupos sociais visto que cada grupo tem uma maneira de significar seus objetos

Essas preferecircncias simboacutelicas de um determinado grupo satildeo definidas por Pierre Bourdieu (1983 p83-84) como estilo de vida cuja anaacutelise eacute essencial no campo da moda Segundo o autor o gosto eacute cultivado pelo adestramento social

O estilo de vida eacute um conjunto unitaacuterio de preferecircncias distintivas que

exprimem na loacutegica especiacutefica de cada um dos subespaccedilos simboacutelicos

mobiacutelia vestimentas linguagem ou hexis corporal a mesma intenccedilatildeo

expressiva princiacutepio de unidade de estilo que se entrega diretamente

agrave intuiccedilatildeo e que a anaacutelise destroacutei ao recortaacute-lo em universos separados

Tal acepccedilatildeo permite compreender a moda como expressatildeo cultural como um conjunto de princiacutepios que geram e organizam praacuteticas e representaccedilotildees Como relata Pitombo (2010) a moda eacute um sistema de significaccedilatildeo da cultura Para reiterar sua explanaccedilatildeo a autora com o objetivo de pensar a moda como expressatildeo cultural apropria-se do conceito de habitus de Pierre Bourdieu Para o au-tor habitus eacute um ldquosistema de disposiccedilotildees socialmente constituiacutedas que enquanto estruturas estruturadas e estruturantes constituem o princiacutepio gerador e unificador do conjunto das praacuteticas e das ideologias caracteriacutesticas de um grupo de agentesrdquo (BOURDIEU 2007 p191) O habitus pode ser visto como uma siacutentese dos estilos de vida e dos gostos pelos quais apreciamos o mundo e nos com-portamos nele (BOURDIEU 2007) Pode-se dizer que tal conceito fundamenta-se na ldquomaterializaccedilatildeo da memoacuteria coletiva que repro-duz para os sucessores as aquisiccedilotildees dos precursores Ele permite ao grupo perseverar em seu serrdquo (PITOMBO 2010 p240) Eacute tambeacutem incorporaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em seu sentido proacuteprio

Diante do entendimento da moda contemporacircnea como expressatildeo pessoal e elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo assim como da real significaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria como sistema de praacutetica cultural e representaccedilatildeo pode-se estabelecer relaccedilotildees paralelas entre a moda e o gecircnero consideradas o foco principal do presente estudo Visto que a moda vigente frente ao contexto sociocultural eacute produzida para os sexos ndash masculino e feminino faz-se necessaacuteria portanto a compreensatildeo da possiacutevel relaccedilatildeo entre moda e gecircnero

3 Moda e Gecircnero algumas conexotildees possiacuteveisA moda eacute um fenocircmeno que conteacutem possibilidades de diferencia-ccedilatildeo ou unidade assumindo caraacuteter distintivo quando relacionada a papeacuteis sociais e de representaccedilatildeo quando apresentada como siacutembolo Assim pode-se afirmar que ela eacute um elemento crucial na representaccedilatildeo social e afirmaccedilatildeo do gecircnero

Jaacute o gecircnero eacute uma instituiccedilatildeo simboacutelica erroneamente associado a normas bioloacutegicas Levando em conta a premissa do gecircnero como construccedilatildeo social e natildeo como um atributo

Paacutegina 3 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

fisioloacutegico alguns objetos satildeo necessaacuterios para sua significaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo no meio social incluindo o vestuaacuterio

Diante desse contexto este estudo buscaraacute estabelecer rela-ccedilotildees e dialogar com as teorias existentes da influecircncia da moda sobre o gecircnero sendo a moda ndash tanto no sentido de mudanccedilas quanto no de sistemas ndash o elemento de representaccedilatildeo dos gecircne-ros em questatildeo Assim inicialmente o texto abordaraacute o conceito de gecircnero e logo em seguida estabeleceraacute a devida relaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria com o gecircnero

4 Gecircnero uma construccedilatildeo culturalNo decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com as teorias sobre o sexo bioloacutegico de cada indiviacuteduo existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos por cada um Na cultura patriarcal vigente existe uma subdivisatildeo limitada entre o homem e a mulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possibilidade de natildeo binariedade ou fluidez

As teorias do patriarcado levantam breve questionamento sobre as diferenccedilas entre homens e mulheres de vaacuterios modos no entan-to essas mesmas teorias desconsideram as diferenccedilas de gecircnero e sua relaccedilatildeo com as demais desigualdades As definiccedilotildees de gecircnero de acordo com a teoria patriarcal satildeo estabelecidas com base nas diferenccedilas fiacutesicas gerando problemaacuteticas a historiadores(as) ten-do em vista que desconsideram toda a construccedilatildeo sociocultural tirando toda a historicidade do gecircnero em si (SCOTT 1989)

Para desmistificar o conceito de gecircnero como algo bioloacutegico eacute ne-cessaacuterio antes de tudo elucidar alguns termos usados erroneamente ou de maneira confusa tendo em vista que o estudo dos gecircneros eacute algo a que nem todos tecircm acesso Dessa forma a seguir encontra-se uma breve explicaccedilatildeo sobre as diferenccedilas entre identidade de gecircnero expressotildees de gecircnero sexo bioloacutegico e orientaccedilatildeo sexual

Eacute na identidade de gecircnero que se encontra a ldquoessecircnciardquo do ser humano o que eacute ou com o que se identifica de fato (homem mulher ou gecircnero natildeo binaacuterio) Joan Scott (1989) sugere que o gecircnero parece integrar-se na terminologia cientiacutefica das ci-ecircncias sociais deixando assim de ser um campo das ciecircncias bioloacutegicas Segundo as nomenclaturas usadas nos estudos de gecircnero quem natildeo se identifica com o sexo bioloacutegico com o qual nasceu eacute considerado transgecircnero os demais cisgecircneros Dessa forma a identidade de gecircnero estaacute relacionada agrave auto-percepccedilatildeo e agrave expressatildeo social

Scott (1989) afirma que as ideias construiacutedas de masculini-dade e feminilidade natildeo satildeo fixas tendo em vista suas variaccedilotildees

de acordo com o contexto em que estatildeo inseridas Logo haveraacute um conflito entre a necessidade do sujeito de uma aparecircncia de completude e a imprecisatildeo da nomenclatura a relatividade da sua significaccedilatildeo e sua dependecircncia em relaccedilatildeo agrave repressatildeo ldquoEssas interpretaccedilotildees tornam problemaacuteticas as categorias lsquoho-memrsquo e lsquomulherrsquo sugerindo que a construccedilatildeo do masculino e do feminino eacute algo subjetivo e natildeo uma caracteriacutestica inseparaacutevelrdquo (SCOTT 1989 p16)

Conforme Judith Butler (2003 p25) ldquoo gecircnero natildeo deve ser meramente concebido como a inscriccedilatildeo cultural de significado num sexo previamente dado (uma concepccedilatildeo juriacutedica) tem de designar tambeacutem o aparato mesmo de produccedilatildeo mediante o qual os proacuteprios sexos satildeo estabelecidosrdquo

Souza e Carrieri (2010 p49) em seu artigo ldquoA analiacutetica Queer e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnerordquo enfatizam ldquonatildeo apenas que masculino e feminino satildeo construiacutedos por rela-ccedilotildees de poder historicamente fundamentadas mas tambeacutem que essas categorias natildeo satildeo naturais e nem existem a priorirdquo Ainda reiteram que a naturalizaccedilatildeo do modelo binaacuterio e identitaacuterio eacute uma estrateacutegia que permite a manutenccedilatildeo de velhas praacuteticas de controle e poder

Outro conceito eacute o de atraccedilatildeo ou orientaccedilatildeo sexual e embo-ra haja uma vasta gama de definiccedilotildees literaacuterias sobre o tema o termo se refere mais comumente agraves relaccedilotildees sexuais e afetivas dos indiviacuteduos ldquoHeterossexuais bissexuais ou homossexuais satildeo titulaccedilotildees usadas para definiccedilatildeo das diversas sexualidades es-tando possivelmente determinados por aspectos interpessoais intrapsiacutequicos e sociaisrdquo (CARDOSO 2008 p73)

Segundo Foucault (1988 p100) o conceito de sexualidade conhecido historicamente surgiu como meacutetodo de avaliaccedilatildeoseparaccedilatildeo da ldquonormalidaderdquo e da ldquoanormalidaderdquo tendo em vista que na visatildeo do filoacutesofo a sexualidade representa um ldquodispositivo histoacutericordquo ou seja natildeo uma realidade natural mas sim produtos de estimulaccedilotildees dos corpos e dos prazeres a fomentaccedilatildeo aos discursos e a construccedilatildeo do conhecimento encadeados como estrateacutegias de saber e poder

Jaacute o conceito de expressatildeo de gecircnero refere-se a como cada um age diante dos papeacuteis sociais e regras de comportamento impos-tas sendo entatildeo socialmente chamadas de femininas masculinas ou androacuteginas (no caso dos termos natildeo pejorativos) De acordo com Peres (2011) os corpos ainda atuam afirmando posiccedilotildees de identidades estabelecidas pelos sexos (machofecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculinofeminino) responsaacuteveis pela normatizaccedilatildeo de expressotildees de gecircneros

Paacutegina 4 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sobre os corpos ainda se incidem outras dimensotildees de padrotildees esteacuteti-

cos de maneirismos e de posiccedilotildees de corpos (posiccedilotildees de identidades)

que satildeo estabelecidas pelas diferenccedilas entre os sexos (homemmacho

ndash mulherfecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculino ndash femini-

no) responsaacuteveis pela cristalizaccedilatildeo de algumas identidades sexuais e

expressatildeo de gecircneros que satildeo produzidas pelos modos de subjetivaccedilatildeo

normatizador que se colocam como modelos de perfeiccedilatildeo sauacutede e

verdade absoluta se achando no direito de se sentirem superiores

diante das expressotildees diferentes da heteronorma (PERES 2011 p71)

Por fim temos o sexo bioloacutegico que eacute algo totalmente ge-neacutetico hormonal e se refere aos oacutergatildeos genitais como se o ser humano fosse qualquer outro animal sendo entatildeo fecircmea macho ou intersex ndash chamado anteriormente de hermafrodita e considerado por muito tempo como uma anomalia geneacutetica Conforme Swain (2011) o sexo eacute uma parte do corpo na qual a importacircncia e a representaccedilatildeo se definem pelo seu papel histoacuteri-co-cultural Complementa a autora reafirmando o sexo bioloacutegico como fator natildeo definitivo em relaccedilatildeo ao gecircnero e ligando-o a questotildees de verdade e poder que investidos de sentidos fa-zem do sexo nada mais do que uma parte do corpo humano que adquire significado atraveacutes de sua historicidade Logo sua representaccedilatildeo substitui a realidade bioloacutegica

De acordo com Simili (2012 p123) ldquodiferenccedilas bioloacutegicas entre indiviacuteduos sempre foram contextualizadas como insiacutegnias socioculturais para a significaccedilatildeo de papeacuteis sociais construiacutedos para serem desempenhados por uns ou outrosrdquo Destarte po-de-se definir gecircnero como uma imposiccedilatildeo social e cultural uma construccedilatildeo simboacutelica

Para Guacira Lopes Louro (2013 p11) ldquonatildeo haacute naturalidade nesse terreno de estudo de gecircnerordquo tratado inicialmente pelos processos de percepccedilatildeo do corpo ou da natureza Atraveacutes da vivecircncia dos processos socioculturais define-se o que eacute ou o que natildeo eacute natural ressignificando o contexto bioloacutegico inserindo sen-tido social nos corpos e compondo identidades A significaccedilatildeo dos gecircneros nos corpos (feminino e masculino) eacute afirmada com base no contexto de uma determinada cultura carregando portanto suas marcas (LOURO 2013 p11)

Por meio das questotildees teoacutericas trabalhadas anteriormente e ancorando-se em uma construccedilatildeo sociocultural do gecircnero este trabalho visa agrave desconstruccedilatildeo dos conceitos de gecircnero como fator bioloacutegico ou obrigaccedilatildeo agrave binariedade arraigados na sociedade ocidental Assim esta pesquisa fomenta as dis-cussotildees de gecircnero de suas diversas formas buscando a re-presentaccedilatildeo do corpo como objeto que adquire significacircncia de acordo com questotildees socioculturais transparecidos mais facilmente pelo ldquofenocircmeno modardquo

5 Moda e gecircnero poder disciplinador e insubmissatildeo do sujeitoO corpo humano eacute considerado objeto da moda logo o sistema de moda se torna elemento de representaccedilatildeo tornando possiacutevel a afirmaccedilatildeo e a significacircncia do gecircnero no contexto social Apro-priando-se dos conceitos de representaccedilatildeo de Chartier (1991) que afirma a negatividade da existecircncia de praacutetica ou estrutura que natildeo seja produzida pelas representaccedilotildees pode-se afirmar que as praacuteticas de se vestir satildeo atos de apropriaccedilatildeo e de circulaccedilatildeo das representaccedilotildees de moda e eacute atraveacutes da representaccedilatildeo que o indiviacuteduo legitima a sua existecircncia afirmando sua identidade

Crane (2006 p47) considera que ldquoas roupas da moda satildeo usa-das para fazer uma declaraccedilatildeo de suas identidades sociais mas suas mensagens principais referem-se as [sic] maneiras pelas quais mulheres e homens consideram seus papeacuteis de gecircnero ou a como se esperam [sic] que percebamrdquo

Narrando influecircncias da moda e do vestuaacuterio e sua relaccedilatildeo com o gecircnero Gilles Lipovetsky traccedila uma linha do tempo em seus es-tudos e afirma que o modo de vestir comeccedilou a ter grande desse-melhanccedila para homens e mulheres somente a partir do seacuteculo XIV quando o traje feminino passou a ser longo e justo e o masculino curto e ajustado O autor destaca esse acontecimento como uma ldquorevoluccedilatildeo do vestuaacuterio que lanccedilou as bases do trajar modernordquo (LIPOVETSKY 2009 p29) Essa diferenciaccedilatildeo significativa no traje acentuou o formato dos corpos para que afirmassem seus atributos de masculinidade ou feminilidade O autor define essas mudanccedilas como uma consequecircncia do que chama de ldquoesteacutetica da seduccedilatildeordquo pois o vestuaacuterio passa a ter poder de ldquoexibir os encantos do corpo acentuando a diferenccedila dos sexosrdquo (LIPOVETSKY 2009 p75)

O vestuaacuterio masculino passou a aderir ao uso do gibatildeo uma espeacute-cie de jaqueta curta e estreita e calccedilotildees colantes torneando as pernas Sobre a genitaacutelia era usado o codpiece chamado em portuguecircs de ldquoporta-pecircnisrdquo que cobria e adornava o oacutergatildeo genital masculino afir-mando a significaccedilatildeo de masculinidade e evidenciando a virilidade Esse adereccedilo era ostentado como um instrumento de poder reiterando a teoria de Lipovetsky (2009) da moda como elemento de seduccedilatildeo escondendo ou evidenciando os atrativos sexuais e o erotismo

A evidenciaccedilatildeo do genital masculino como siacutembolo de poder pode vir a fazer sentido atraveacutes de escritos do socioacutelogo Pierre Bourdieu (1999 p24) quando afirma que as diferenccedilas visiacuteveis entre os oacutergatildeos genitais masculino e feminino satildeo uma construccedilatildeo social e que encontram sua regra nos ldquoprinciacutepios de divisatildeo da razatildeo androcecircntricardquo O autor ainda afirma que esses constructos baseados nas diferenccedilas genitais condensam duas operaccedilotildees ldquolegitima[m] uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo inscrevendo-a em uma natureza bioloacutegica que eacute por sua vez ela proacutepria uma construccedilatildeo social naturalizadardquo (BOURDIEU 1999 p33)

Paacutegina 5 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Nessa explosatildeo de mudanccedilas e diferenciaccedilotildees de gecircnero a moda feminina surge com uma nova silhueta modelada em menccedilatildeo ao ventre ndash afirmando o signo de fertilidade da mulher Lipovetsky (2009) afirma que o busto passou a ser evidenciado pelo decote destacando os atributos femininos e o corpo foi alongado atraveacutes de uma cauda Um pouco mais tarde essa composiccedilatildeo re-ceberia o espartilho que imperou sobre a moda feminina durante quatro seacuteculos com a funccedilatildeo de afinar a cintura e erguer o colo

A respeito da indumentaacuteria feminina a socioacuteloga Diana Crane (2006) complementa mencionando o fato de as roupas das mu-lheres funcionarem como ferramentas de controle social na me-dida em que exemplificavam a concepccedilatildeo dominante e restritiva dos papeacuteis femininos evidenciando a submissatildeo das mulheres aos maridos Embora esse seja um aspecto prevalecente a autora frisa em seu estudo o seacuteculo XIX como periacuteodo em especial

Lipovetsky (2009) descreve o moralismo cristatildeo ocidental na era feudal e o modo como tratavam as frivolidades sendo um signo do pecado e do orgulho Entretanto no decorrer do seacuteculo XVIII a moda se tornou mais hedonista abandonando ordens religiosas e morais mais rigorosas de comportamento A moda se tornou assim uma exigecircncia de massa em uma sociedade que passava a priorizar os prazeres as mudanccedilas e o novo

ldquoFoi ao longo da segunda metade do seacuteculo XIX que a moda no sentido do termo instalou-serdquo (LIPOVETSKY 2009 p79) com a busca constante pelas mudanccedilas e o abandono das frivolida-des como signo de pecado ndash determinado pelo cristianismo Os reflexos do antropocentrismo consolidaram a moda trazendo um caraacuteter hedonista e individual Nesse periacuteodo inicia-se a segunda1 fase do fenocircmeno moda a Moda dos Cem Anos

A Moda dos Cem Anos estaacute ligada ao nascimento da alta-cos-tura em 1850 e tem na Europa a sua consagraccedilatildeo com criaccedilotildees de luxo e sob medida Essa fase tem seu fim em 1950 pois na deacute-cada seguinte surge a Moda Aberta que Lipovetsky (2009 p123) chama de ldquorevoluccedilatildeo democraacutetica do precirct-agrave-porterrdquo uma moda que segundo o autor permite a expressatildeo da personalidade do indiviacuteduo sendo o iniacutecio de uma democratizaccedilatildeo da moda A di-versidade da Moda Aberta gera novas vertentes e tendecircncias para o mercado da moda saindo da premissa de uma moda vigente para o acontecimento de vaacuterias modas paralelamente

No entanto para Mendes e Haye (2003) o precirct-agrave-porter eacute um sistema totalmente padronizado pela induacutestria deslegitimando o caraacuteter democraacutetico ao qual se refere Lipovetsky Nessa mes-ma corrente de pensamento encontra-se a filoacutesofa Martha Nus-sbaum que se opotildee agrave ideia democraacutetica da moda e afirma que esse sistema cria ao inveacutes de pessoas autocircnomas escravos da moda (NUSSBAUM 1995 apud SVENDSEN 2010)

O caraacuteter democraacutetico da moda cunhado por Lipovetsky (2009) parece natildeo ser de todo democraacutetico quando se entra na questatildeo de gecircnero Mesmo com o advento do sportwear que de acordo com o autor uniu as diferenccedilas entre os gecircneros em um uacutenico traje a questatildeo da dicotomia de gecircnero estaacute presente por meio da moda segmentada A teoria apresentada afirma que embora mulheres passassem a fazer uso de signos de moda mas-culina as peccedilas natildeo surtiriam o mesmo efeito posto que o sistema adequaria a peccedila para desenhar a silhueta feminina juntando isso a cores leves e alegres aderindo assim signo de feminilidade Diante da pauta do uso das cores para legitimaccedilatildeo do gecircnero cabe o cunho de Xavier Filha (2012 p635)

A afirmaccedilatildeo de que a menina tem de usar rosa e o menino azul ex-

trapola a questatildeo ligada ao gosto pessoal por cores Essa questatildeo eacute

eminentemente social pois se aprende desde muito cedo e no de-

correr da vida que essas cores identificam os meninos e as meninas

Essas cores produzem marcas identitaacuterias natildeo permitindo pensar em

outras formas de se fazer homem e de se fazer mulher Ao contraacuterio

demarcam a uacutenica forma legiacutetima de ser masculino e de ser feminino

Quando se trata de moda masculina eacute frisada a construccedilatildeo da imagem do homem associada agrave virilidade ldquoAdotar um siacutembolo de vestuaacuterio feminino seria transgredir no parecer o que faz a identida-de viril modernardquo (LIPOVETSKY 2009 p155) Dessa forma pode-se inferir que a moda da modernidade rompeu algumas diferenccedilas de classes mas a distinccedilatildeo entre o vestuaacuterio masculino e feminino ainda se encontra arraigada no fator cultural baseado na binariedade

Percebe-se que essa diferenccedila (binariedade) de trajes em re-laccedilatildeo ao gecircnero pode ser considerada como um instrumento de contenccedilatildeo do sujeito Michel Foucault por meio de uma seacuterie de estudos produziu uma espeacutecie de ldquogenealogia do sujeito mo-dernordquo O filoacutesofo e historiador francecircs destaca um novo tipo de poder o poder disciplinar Esse poder estaacute preocupado com a vigilacircncia e a regulaccedilatildeo em primeiro lugar de populaccedilotildees inteiras e em segundo com o indiviacuteduo e o corpo Desse modo Foucault trabalha com os sistemas de poder e de contenccedilotildees sociais oci-dentais referindo-se a penitenciaacuterias quarteacuteis hospitais escolas a famiacutelia e assim por diante como os elementos contensores na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Ou seja satildeo mecanismos de subjetivaccedilatildeo do indiviacuteduo Soacute por esses processos ele se torna sujeito O objetivo baacutesico do poder reside em construir um ser humano doacutecil ldquoEacute doacutecil um corpo que pode ser submetido que pode ser utilizado que pode ser transformado e aperfeiccediloadordquo (FOUCAULT 2004 p126)

Esse poder coercitivo se aplica agrave sociedade de diferentes modos de formas muacuteltiplas atraveacutes ldquode origens diferentes de localizaccedilotildees esparsas que se recordam se repelem ou se imitam

Paacutegina 6 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

apoiam-se uns sobre os outros distinguem-se segundo seu cam-po de aplicaccedilatildeo entram em convergecircncia e esboccedilam aos poucos a fachada de um meacutetodo geralrdquo (FOUCAULT 2004 p127)

Dessa forma a disciplina age de diferentes maneiras como por exemplo nos pequenos detalhes do dia a dia como o simples caminhar com determinada roupa Frente a isso a vestimenta tambeacutem pode ser vista como objeto de contensatildeo do indiviacuteduo natildeo para o proacuteprio mas sim diante do receptor2 diante do olhar doutrinado e reprodutor de doutrinaccedilatildeo da sociedade ou seja atraveacutes do ldquoolhar esmiuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo (FOUCAULT 2004 p121) Essa afirmativa ganha forccedila principalmente quando se leva em consideraccedilatildeo a afirmativa de Foucault ao narrar que atraveacutes do olhar se estabelecem efeitos de poder

No que tange agrave modelagem dos corpos a teacutecnica da disci-plina visa agrave criaccedilatildeo de ldquonatildeo apenas corpos padronizados mas tambeacutem [de] subjetividades controladasrdquo (MISKOLCI 2006 p682) Ou seja eacute possiacutevel afirmar que por meio do ldquoolhar es-miuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo sobre a vestimenta haacute uma reiteraccedilatildeo da binariedade femininomasculino e a exclusatildeo de possibili-dades de fluidez de gecircnero

O traje vem reafirmando historicamente os siacutembolos de mas-culinidade ou feminilidade perante os olhares receptores logo a roupa atua como um contensor ou mesmo um elemento opressor visto que a vestimenta da moda eacute voltada para a representaccedilatildeo de signos binaacuterios

Entretanto se eacute verdade que por toda parte se estende esse ldquopoder disciplinarrdquo abordado por Foucault ldquomais urgente ainda eacute descobrir como eacute que uma sociedade inteira natildeo se reduz a elardquo (CERTEAU 1994 p41) Trazendo essa ideia para o nosso objeto de estudo natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Acredita-se que existem procedimentos po-pulares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Michel de Certeau (1994) assevera que o sujeito natildeo eacute pas-sivo diante dos acontecimentos mas sim um produtor ativo de conhecimento que sintetiza e trabalha com as informaccedilotildees que recebe produzindo algo novo Dessa forma o sujeito produtor ativo sintetiza as informaccedilotildees recebidas no seu proacuteprio meio Certeau ao dialogar com teorias foucaultianas3 referentes a formas de contensatildeo fala sobre a insubmissatildeo do sujeito ndash natildeo passivo ndash diante da ordem vigente e conclui que um ato de renovaccedilatildeo ou inovaccedilatildeo pode ser considerado rebeldia ou seja um ato de resistecircncia

Assim Certeau (1994) traz o conceito do sujeito insubmisso o sujeito que sintetiza que foge da ordem que aproveita a ausecircncia do olhar pan-oacuteptico para lhe impingir golpes isto eacute que se utiliza de taacuteticas e estrateacutegias para resistir e reapropriar alguns conceitos da ordem disciplinadora

Retomando essa teoria em aplicaccedilatildeo agrave moda e ao gecircnero pode-se supor que a resistecircncia e a reapropriaccedilatildeo do sujeito insub-misso poderiam se encontrar na designaccedilatildeo do gecircnero fluido Os sujeitos que o incorporam utilizam taacuteticas4 para a modificaccedilatildeo das sentenccedilas da cultura binaacuteria patriarcal dos gecircneros subvertendo as imposiccedilotildees sociais vigentes do feminino e masculino

Antes de dar continuidade agraves reflexotildees faz-se necessaacuterio um breve esclarecimento acerca da escolha da expressatildeo ldquogecircnero flui-dordquo o que seraacute feito a seguir precedendo algumas consideraccedilotildees sobre o conceito de ldquoentrelugarrdquo de Bhabha (1998)

6 A escolha do gecircnero fluido um pequeno parecircntese na reflexatildeoAntes de continuar as reflexotildees eacute importante abrir um parecircntese para delimitar que esta pesquisa escolheu a utilizaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquogecircnero fluidordquo porque tal conceito expressa uma espontaneidade uma natildeo binariedade (masculinofeminino) uma facilidade de expressatildeo do sujeito em relaccedilatildeo ao gecircnero ou seja a facilidade de fluir entre dois ou mais gecircneros Ainda eacute de fundamental importacircncia deixar claro que o presente artigo natildeo considera ldquogecircnero fluidordquo sinocircnimo de ldquogecircnero neutrordquo5 pois este uacuteltimo ldquonatildeo eacute apenas inanimado de dis-curso mas atua no limite de aceitaccedilatildeo ndash sujeitando toda e qualquer outra forma de manifestaccedilatildeo menos normativardquo (KELLER 2016 p131)

Para Chartier (2002) natildeo existe neutralidade nos discursos de representaccedilatildeo inclusive nas representaccedilotildees sobre construccedilotildees de identidades de gecircnero Barthes (2002) classifica ldquoneutrordquo como uma categoria geral e interdisciplinar originalmente induzida do gecircnero gramatical neutro ndash nem feminino nem masculino Ele demonstra a relaccedilatildeo significativa entre a postura neutra em contradiccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo dos sexos Dessa forma acredita-se que a neutralidade leva o discurso a cair em uma vala de silecircncio recusando ser parte de um conflito

Posto isso considera-se que a escolha do gecircnero fluido foi apro-priada para o desenvolvimento do trabalho pois conforme se veraacute a seguir tal gecircnero se encontra no entrelugar entre a moda feminina e a moda masculina um espaccedilo extremamente conflituoso

7 O entrelugar local de conflito negociaccedilotildees e reapropriaccedilotildeesPara construir a reflexatildeo sobre o entrelugar do gecircnero fluido na moda seratildeo utilizadas as concepccedilotildees de Homi K Bhabha (1998) expressas em seu livro O local da cultura

Paacutegina 7 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Bhabha eacute um homem marcado por uma dupla inscriccedilatildeo cultural indiana e britacircnica podendo ser caracterizado ao mesmo tempo como plural e hiacutebrido Em suas reflexotildees sobre o discurso colonial ele propotildee uma loacutegica para aleacutem do binarismo (ou india-no ou britacircnico) e para aleacutem da oposiccedilatildeo sujeitoobjeto Dessa forma o autor amalgamando sua vida e obra constroacutei suas refle-xotildees a partir da constituiccedilatildeo de sujeitos culturais hiacutebridos Aleacutem disso para Bhabha (1998) falar sobre cultura significa construir uma reflexatildeo que supere a oposiccedilatildeo sujeitocultura

Marcado por muacuteltiplas interpretaccedilotildees o conceito de entrelu-gar construiacutedo pelo autor torna-se particularmente fecundo para reconfigurar os limites difusos de uma multiplicidade de vertentes culturais que circulam na contemporaneidade e ultrapassam fron-teiras como eacute o caso da binariedade entre masculino e feminino representados pela imagem de moda A moda sempre esteve impregnada de representaccedilotildees de gecircnero impondo qual o corpo ideal e a melhor forma de se vestir para cada sexo Entretanto uma vez que esse corpo aparece cada vez mais fluido observa-se uma nova representaccedilatildeo que natildeo se encaixa na definiccedilatildeo binaacuteria de identidade de gecircnero

Destarte na contemporaneidade o gecircnero fluido vem ga-nhando destaque nas inspiraccedilotildees de coleccedilotildees de moda bem como nos tipos de beleza que vecircm se destacando no cenaacuterio da moda mundial e torna-se cada vez mais comum pois rompe com padrotildees preestabelecidos e homogecircneos Desse modo supotildee-se que o gecircnero fluido esse sujeito insubmisso conforme apropria-ccedilatildeo da teoria de Certeau (1994) estaacute no entrelugar na fronteira entre o binarismo da moda feminina e da moda masculina um lugar extremamente conflituoso

Para forccedilar a loacutegica binaacuteria a se inscrever em um outro espaccedilo de significaccedilatildeo que natildeo o entrelugar em que estaacute inserido o gecircne-ro fluido Bhabha (1998) apresenta a categoria de negociaccedilatildeo Tal conceito vem ocupar o lugar da negaccedilatildeo da dialeacutetica hegeliana ou seja os elementos antagocircnicos ou contraditoacuterios se articulam natildeo existindo mais uma superaccedilatildeo como propotildee tal dialeacutetica ldquoAssim cada negociaccedilatildeo eacute um processo de traduccedilatildeo e transferecircncia de sentido ndash cada objetivo eacute construiacutedo sobre o traccedilo daquela pers-pectiva que ele rasurardquo (BHABHA 1998 p53) Essa negociaccedilatildeo de instacircncias contraditoacuterias cria espaccedilos de luta hiacutebridos nos quais polaridades positivas ou negativas ainda que relativas natildeo se jus-tificam A categoria do hibridismo vem agrave tona pois

[] o momento hiacutebrido tem um valor transformacional de mudanccedila

que reside na rearticulaccedilatildeo ou traduccedilatildeo de elementos que natildeo satildeo

nem o Um (a classe trabalhadora como unidade) nem o Outro (as po-

liacuteticas de gecircnero) mas algo mais que contesta os termos e territoacuterios

de ambos (BHABHA 1998 p55)

Dessa forma natildeo eacute possiacutevel pensar em sentidos fixos primor-diais que reflitam objetos poliacuteticos unitaacuterios e homogecircneos E eacute justamente o que o gecircnero fluido na moda representa Ele estaacute no entrelugar dos conflitos do hibridismo do heterogecircneo da negociaccedilatildeo com o binarismo de gecircnero (femininomasculino) Esse entrelugar ocupado pelo gecircnero fluido na moda eacute um local intersticial ldquoO interstiacutecio vem como uma passagem um movimen-to presente de transformaccedilatildeo ou transposiccedilatildeo onde uma coisa natildeo eacute mais ela mesma mas natildeo totalmente outrardquo (LOSSO 2010)

Assim o entrelugar do gecircnero fluido na moda eacute sim um lugar de conflitos de negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees um espa-ccedilo de identidades de gecircnero fluidas que derivam de construccedilotildees sociais e se apresentam como muacuteltiplas Logo seria possiacutevel supor que no entrelugar existem a negociaccedilatildeo ndash conceito moldado por Bhabha (1998) ndash e a resistecircncia no sentido de reapropriaccedilatildeo ndash relatada por Certeau (1994) ndash em que o sujeito produtor ativo de conhecimento se reapropria dos fragmentos da binariedade de gecircnero e os sintetiza ou seja o sujeito eacute um bricoleur (CERTEAU 1994) Ou ainda a subversatildeo conceito construiacutedo por Butler (2003) segundo o qual o sujeito pode subverter a binariedade de gecircnero por suas praacuteticas corporais

8 Consideraccedilotildees FinaisAo longo da histoacuteria a moda sempre ditou padrotildees esteacuteticos e de beleza baseados no padratildeo binaacuterio de gecircnero (feminino e mascu-lino) Entretanto na contemporaneidade essa concepccedilatildeo fechada de gecircnero vem sendo discutida Partindo do princiacutepio de que o gecircnero natildeo eacute bioloacutegico mas sim cultural vaacuterias pesquisas tentam derrubar a concepccedilatildeo desse binarismo Seguindo essa linha vaacuterias marcas de moda comeccedilaram a trabalhar com a ideia de fluidez de gecircnero como por exemplo Cemfreio Trendt Pangea RAW Clothing entre outras

O objetivo do artigo natildeo foi analisar a maior ou menor fluidez que essas marcas conseguiram atingir ateacute porque tais marcas nem foram citadas Nosso objetivo foi analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Para isso o artigo se apro-priou de conceitos de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998) Dessa forma partiu da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar ou seja do princiacutepio de que a roupa eacute um elemento contensor na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Entretanto e de acordo com as concepccedilotildees teoacutericas de Certeau (1994) natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Como jaacute foi citado acredita-se que existam procedi-mentos populares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Paacutegina 8 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma existe a reapropriaccedilatildeo do sujeito sobre o poder disciplinador nesse caso da binariedade de gecircnero na moda e essa resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998) Um espaccedilo entre as fronteiras da moda masculina e feminina um in-terstiacutecio extremamente conflituoso mas ao mesmo tempo hiacutebrido e heterogecircneo um lugar de possibilidades e subversotildees

Portanto o sujeito do ldquoentrelugarrdquo eacute um novo elemento cultu-ral que surge do embate da tradiccedilatildeo com a contemporaneidade capaz de resistir negociar e se reapropriar de significados com a finalidade de viver dignamente com suas diferenccedilas

N o t a s

1 ndash Lipovetsky (2009) divide a moda em trecircs fases a primeira tem seu iniacutecio no final da Idade Meacutedia considerado um periacuteodo mais linear a segunda em meados do seacuteculo XIX sendo chamada pelo autor de Moda dos Cem Anos jaacute a terceira fase principia em 1960 e eacute denominada Moda Aberta

2 ndash A denominaccedilatildeo ldquoreceptorrdquo eacute datada de 1620 e foi utilizada para indicar no processo de comunicaccedilatildeo aquele que recebia e decodificava a mensagem (MOURA 2008 p39)

3 ndash Foucault (1988 p91) em Histoacuteria da sexualidade I relata que ldquo[] onde haacute poder haacute resistecircncia e no entanto (ou melhor por isso mesmo) esta nunca se encontra em posiccedilatildeo de exterioridade em relaccedilatildeo ao poderrdquo

4 ndash Evidencia-se que Certeau (1994) constroacutei sua teoria baseado no modelo polemoloacutegico assim refere-se a taacuteticas como ferramentas de ataque accedilotildees no sentido militar ou um golpe propriamente dito Diz respeito agrave astuacutecia agrave arte de dar golpes dos sujeitos no campo minado do inimigo

5 ndash O discurso neutro funciona como uma escolha de natildeo estar adequado a uma ou outra categoria Aplicada ao gecircnero a neutralidade eacute a quebra da binariedade homem e mulher em favor de uma outra opccedilatildeo ndash nem uma nem outra (KELLER 2016 p127)

R e f e r ecirc n c i a s

BARNARD Malcolm Moda e comunicaccedilatildeo Rio de Janeiro Rocco 2003

BARTHES Roland Le Neutre cours au Collegravege de France (1977-1978) Paris

Seuil 2002

BHABHA Homi K O local da cultura Belo Horizonte Ed UFMG 1998

BOURDIEU Pierre Gostos de classe e estilos de vida In ORTIZ Renato

(Org) Pierre Bourdieu sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1983 p82-121

______ A dominaccedilatildeo masculina Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999

______ O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BUTLER Judith Problemas de gecircnero feminismo e subversatildeo da identi-

dade Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003

CARDOSO Fernando Luiz O conceito de orientaccedilatildeo sexual na encruzi-

lhada entre sexo gecircnero e motricidade Interamerican Jornal of Psy-

chology Porto Alegre v42 n1 p69-79 abr 2008

CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano artes de fazer Petroacutepolis

RJ Vozes 1994

CHARTIER Roger A histoacuteria cultural Algeacutes (Portugal) Difel 2002

_____ O mundo como representaccedilatildeo Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v5

n11 p173-191 janabr 1991

CRANE Diana A moda e seu papel social classe gecircnero e identidade das

roupas Traduccedilatildeo de Cristiane Coimbra Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo

Paulo 2006

FREITAS Ricardo Ferreira Comunicaccedilatildeo consumo e moda entre os ro-

teiros das aparecircncias Comunicaccedilatildeo Miacutedia e Consumo Satildeo Paulo

v3 n4 p125-136 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistas

univercienciaorgindexphpcomunicacaomidiaeconsumosearch

titlesse archPage=2gt Acesso em 10 jan 2017

FOUCAULT Michel Histoacuteria da sexualidade I a vontade de saber Traduccedilatildeo

de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J A Guilhon Albuquerque

Rio de Janeiro Ediccedilatildeo Graal 1988

_____ Vigiar e punir nascimento da prisatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2004

GODART Freacutedeacuteric Sociologia da moda Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo Paulo

2010

KELLER Daniel Gevehr Masculinidade hiato cultura gecircnero e moda

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Processos e Manifestaccedilotildees Culturais) ndash

FEEVALE Novo Hamburgo RS 2006

KILLERMAN Samuel The social justice advocatersquos handbook a guide to

gender Austin TX Impetus Books 2013

LIPOVETSKY Gilles O impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas socie-

dades modernas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2009

LOSSO Rhiago O sujeito do entre-lugar na literatura portuguesa um

diaacutelogo entre Bhabha e Lobo Antunes In Coloacutequio em Poacutes-Gra-

duaccedilatildeo em Letras ndash UNESP 2 2010 Satildeo Paulo Caderno de resumos

Paacutegina 9 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Satildeo Paulo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwassisunespbrHome

SitesInternosColoquiodeLetrascadernoderesumospdfgt Acesso em

05 jan 2017

LOURO Guacira Lopes O corpo educado pedagogias da sexualidade Belo

Horizonte Autecircntica 2013

MENDES Valerie HAYE Amy de La A moda do seacuteculo XX Satildeo Paulo Martins

Fontes 2003

MENESES Ulpiano T Bezerra de Fontes visuais cultura visual histoacuteria

visual Balanccedilo provisoacuterio propostas cautelares Revista Brasileira de

Histoacuteria Satildeo Paulo v23 n45 p11-36 2003

MISKOLCI Richard Corpos eleacutetricos do assujeitamento agrave esteacutetica da exis-

tecircncia Revista de Estudos Feministas v3 n3 p681-693 2006

MOURA Mocircnica A moda entre a arte e o design In PIRES Doroteia Baduy

Design de moda olhares diversos Barueri Estaccedilatildeo da Letras e Cores

2008 p37-73

PERES Wilian Siqueira Travestis corpos nocircmades sexualidades muacuteltiplas

e direitos poliacuteticos In SOUZA Luiz Antocircnio Francisco de SABATINE

Thiago Teixeira MAGALHAtildeES Boris Ribeiro de (Org) Michel Foucault

sexualidade corpo e direito Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo

Cultura Acadecircmica 2011 p69-104

PITOMBO Renata Cidreira A moda como expressatildeo cultural e pessoal

Iara ndash Revista de Moda Cultura e Arte Satildeo Paulo v3 n3 p226-244

dez 2010 Disponiacutevel em lthttpwww1spsenacbrhotsitesblogs

revistaiarawp-contentuploads201501IARA_vol3_n3_Comple-

ta_2010pdfpage=230gt Acesso em 20 jan 2016

RECH Sandra Moda por um fio de qualidade Florianoacutepolis Ed da Udesc 2002

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo

de Christine Rufino Dabat e Maria Betacircnia Aacutevila Disponiacutevel em ltht-

tpsdisciplinasstoauspbrpluginfilephp185058mod_resource

content2GC3AAnero-Joan20Scottpdfgt Acesso 15 jan 2016

SIMILI Ivana Guilherme Poliacuteticas de gecircnero na segunda guerra mundial

as roupas e a moda feminina Acervo Rio de Janeiro v25 n2 p121-

142 juldez 2012

SOUZA Eloisio Moulin de CARRIERI alexandre de Paacutedua A analiacutetica Queer

e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnero Revista de

Administraccedilatildeo Mackenzie Satildeo Paulo v11 n3 p46-70 maiojun 2010

SOUZA Gilda de Mello e O espiacuterito das roupas a moda no seacuteculo dezenove

Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996

SVENDSEN Lars Moda uma filosofia Rio de Janeiro Zahar 2010

SWAIN Tania Navarro Para aleacutem do sexo por uma esteacutetica da liberaccedilatildeo

In ALBUQUERQUE JUacuteNIOR Durval Munis de VEIGANETO Alfredo

SOUZA FILHO Aliacutepio de Cartografias de Foucault 2ed Belo Horizonte

Autecircntica 2011 p394

XAVIER FILHA Constantina A menina e o menino que brincavam de ser

representaccedilotildees de gecircnero e sexualidade em pesquisa com crianccedilas

Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v17 n51 p627-747 setdez 2012

Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbeduv17n5108pdfgt

Acesso dia jul 2016

Paacutegina 10 de 10

  • Artigo 2pdf
    • OLE_LINK1
    • OLE_LINK2
    • OLE_LINK4
    • OLE_LINK3
      • Artigo 3pdf
        • Resumo
        • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Resultados e Anaacutelise
          • 21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desig
          • 22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental
            • 3 Consideraccedilotildees
            • Notas
            • Referecircncias
              • Artigo 7pdf
                • _GoBack
                  • Artigo 8pdf
                    • _GoBack
Page 5: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem

1 ContextualizaccedilatildeoNos uacuteltimos anos instituiccedilotildees de ensino superior (IES) tecircm se tornado cada vez mais internacionais em suas atividades como resultado da globalizaccedilatildeo da economia da informaccedilatildeo e da sociedade A globaliza-ccedilatildeo passa a impelir o surgimento de novos formatos de IES influencian-do a docecircncia e discecircncia a reelaboraccedilatildeo de curriacuteculos e as exigecircncias sociais que levam em conta natildeo apenas mecanismos internacionais mas tambeacutem as necessidades de cada paiacutes A internacionalizaccedilatildeo das universidades portanto passa a ser um dos componentes emergentes Nas palavras de Morosini (2012 p202) ldquoa qualidade em contextos glo-balizados eacute marcada na maioria dos casos pela internacionalizaccedilatildeo via intercacircmbio estudantil e docente eou curriacuteculos internacionalizados e num estaacutegio mais aprimorado via redes colaborativasrdquo

Para WIT (2011) o futuro da educaccedilatildeo superior seraacute de parcerias internacionais estrateacutegicas em pesquisa ensino e transferecircncia de conhecimento entre universidades para que possam gerenciar os desafios que a globalizaccedilatildeo demandaraacute Na verdade eacute possiacutevel afirmar que a globalizaccedilatildeo jaacute os demanda Hudzik (2011 p10) afirma que ldquo[] para tornar-se uma instituiccedilatildeo de educaccedilatildeo superior de distinccedilatildeo no seacuteculo XXI eacute requerida sistemaacutetica atenccedilatildeo institucional para a internacionalizaccedilatildeo ndash e para engajamento institucional no exteriorrdquo O cumprimento do papel social das IES se daacute a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profis-satildeo de forma a contribuir para o desenvolvimento econocircmico-so-cial local e global Desse modo torna-se uma exigecircncia do proacuteprio mundo do trabalho o conhecimento e a preparaccedilatildeo para relaccedilotildees com estrangeiros e culturas diversas por parte dos estudantes

ldquoHaacute expectativas das Universidades tornarem-se atores cha-ves na economia do conhecimento global e a internacionaliza-ccedilatildeo eacute identificada como resposta chave para a globalizaccedilatildeordquo (WIT e HUNTER 2014 p5) A importacircncia da internacionalizaccedilatildeo em IES portanto torna-se incontroversa

Muitos autores trazem conceitos e definiccedilotildees para interna-cionalizaccedilatildeo do ensino superior mas o mais amplamente aceito eacute o de Knight (2008 p21) ldquoo processo de integrar uma dimensatildeo internacional intercultural ou global na proposta funccedilotildees ou en-trega da educaccedilatildeo superiorrdquo O termo ldquoprocessordquo eacute utilizado para enfatizar a relaccedilatildeo contiacutenua e prolongada da atividade inferindo a necessidade de se ter um meacutetodo eou procedimento Assim eacute possiacutevel ldquodistingui-la de accedilotildees isoladas e institucionalmente natildeo integradas consideradas como sinocircnimo de internacionalizaccedilatildeordquo (MIURA 2009 p2) O verbo ldquointegrarrdquo atribui um sentido de que eacute necessaacuterio um engajamento de todas as partes interessadas sejam internas ou externas a partir das parcerias firmadas

Hudzik (2011 p6) traz o conceito de Internacionalizaccedilatildeo Abrangente (Comprehensive Internationalization) como ldquoum com-promisso confirmado atraveacutes da accedilatildeo de infundir perspectivas

internacionais e comparativas atraveacutes das missotildees de ensino pesquisa e serviccedilos do ensino superiorrdquo Segundo o autor a inter-nacionalizaccedilatildeo abrangente moldaraacute o ethos e os valores da IES estando ldquono DNArdquo do ensino superior Para tanto eacute fundamental que essa perspectiva seja adotada por lideranccedilas institucionais governanccedila equipes docente e discente e por todas as unidades de suporte e serviccedilos acadecircmicos ldquoEacute um imperativo institucional natildeo apenas uma possibilidade desejadardquo (HUDZIK 2011 p6)

Ao corroborar com Hudzik (2011) Robson (2011 p619) conside-ra o conceito de internacionalizaccedilatildeo transformadora exigindo uma abordagem holiacutestica em que as universidades se tornam comuni-dades de espiacuterito internacional e natildeo simplesmente instituiccedilotildees com aumento do nuacutemero de estudantes internacionais e atividades internacionais Para o autor ldquoa estrateacutegia de internacionalizaccedilatildeo responsaacutevel far-se-aacute pela incorporaccedilatildeo de abordagens inovadoras para o desenvolvimento curricular de apoio ao estudante e de me-canismos e iniciativas de desenvolvimento acadecircmicordquo (p614)

Ainda na perspectiva de cumprimento do papel social das IES a partir da entrega de profissionais qualificados para o exerciacutecio de sua profissatildeo tambeacutem ldquoo contexto dinacircmico do ensino superior demanda uma integraccedilatildeo inovadora de alfabetizaccedilatildeo digitalrdquo (ANNABI MULLER 2016 p17) Natildeo eacute possiacutevel afirmar que um egresso estaacute qualificado sem desenvolver competecircncias para o uso de TICs Eacute uma realidade atual no mercado de trabalho na maioria das profissotildees Assim sendo segundo Annabi e Muller (2016) uma vez que as habilidades digi-tais dos aprendizes jaacute estiverem avanccediladas o curriacuteculo deveraacute sofrer modificaccedilotildees para integrar a tecnologia a fim de permitir que os alu-nos se engajem em formas muacuteltiplas de aprendizado Portanto tanto as TICs como a internacionalizaccedilatildeo devem estar presentes e atuantes no processo de ensino e aprendizagem da educaccedilatildeo superior

Muitos autores argumentam que tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo cruciais para a globalizaccedilatildeo do ensino superior e em processos de internacionalizaccedilatildeo Isso porque implicam oportu-nidades para a integraccedilatildeo aleacutem do tempo e espaccedilo possibilitando que entidades distribuiacutedas trabalhem como unidades em tempo real (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Observa-se que a ampla definiccedilatildeo de internacionalizaccedilatildeo e as atividades envolvidas nesse processo continuam alterando--se e expandindo-se enquanto o desenvolvimento tecnoloacutegico oferece formas novas criativas de engajamento entre fronteiras (ACE 2013 p1)

2 A Internacionalizaccedilatildeo AcessiacutevelDepois de decorrido algum tempo de atividades internacionais muito possivelmente em funccedilatildeo do fenocircmeno globalizaccedilatildeo e da abertura do Brasil para o mercado mundial datado na deacutecada

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

de 80 a mobilidade de estudantes aumentou de forma signifi-cativa impelindo as IES a encontrarem formas de articular suas atividades de forma mais sistemaacutetica e tambeacutem de beneficiar a si agrave comunidade acadecircmica e agrave sociedade atraveacutes da internacio-nalizaccedilatildeo No entanto dados os conceitos de internacionalizaccedilatildeo jaacute discutidos pode-se perceber que a mobilidade acadecircmica eacute uma ndash e apenas uma ndash parte do processo de internacionalizaccedilatildeo

Mesmo em paiacuteses onde a internacionalizaccedilatildeo jaacute eacute um processo desenvolvido e amplamente praticado o foco na mobilidade acadecirc-mica eacute percebido Maringe (2009) realizou um estudo exploratoacuterio em seis universidades localizadas no Reino Unido cujos principais objetivos eram 1) identificar como a internacionalizaccedilatildeo eacute concei-tuada nas instituiccedilotildees estudadas 2) identificar evidecircncias da inte-graccedilatildeo estrutural do processo de internacionalizaccedilatildeo nos serviccedilos das universidades e 3) compreender os desafios que as instituiccedilotildees enfrentam na busca pela integraccedilatildeo do conceito de internacionali-zaccedilatildeo como um amplo elemento estrateacutegico daquelas instituiccedilotildees O estudo indica que haacute uma falha na execuccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior uma vez que embora a internacionalizaccedilatildeo seja identificada como objetivo estrateacutegico pelas universidades estudadas haacute uma variedade de barreiras que trabalham contra a integraccedilatildeo do conceito de internacionalizaccedilatildeo agrave cultura institucional Segundo o autor uma das principais barreiras eacute a ecircnfase exacerbada em iniciativas de mobilidade humana em detrimento de esforccedilos de integraccedilatildeo cultural

Natildeo haacute duacutevidas de que a mobilidade acadecircmica fomenta a com-petecircncia internacional No entanto estudos e dados mostram que essa mobilidade estaacute restrita a um percentual bastante limitado da populaccedilatildeo global de estudantes (ACE 2013 p2) seja pela dificulda-de de alguns estudantes de se ausentarem de suas origens seja por disponibilidade de recursos financeiros uma vez que para paiacuteses do hemisfeacuterio sul distacircncia e desvalorizaccedilatildeo cambial satildeo fatores que oneram consideravelmente

Ramanau (2016) argumenta que uma universidade internacio-nalizada deveria prover uma experiecircncia educacional internacional para todos os seus alunos em um ambiente inclusivo e acolhe-dor E que portanto as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) poderiam ser utilizadas de forma efetiva para assistir a alunos no desenvolvimento de perspectivas internacionais interagindo com pessoas de outras culturas e engajando-se ativamente em um aprendizado intercultural

Em estudo de 2010 realizado pela Associaccedilatildeo Interna-cional de Universidades (IAU ndash International Association of Universities) ldquorecursos financeiros insuficientesrdquo foi citado como o obstaacuteculo interno mais significativo para a internacio-nalizaccedilatildeo (ACE 2013 p1) No entanto o uso de comunicaccedilatildeo

virtual para conectar estudantes e professores aleacutem das fron-teiras tem provado ser uma opccedilatildeo acessiacutevel flexiacutevel e econo-micamente viaacutevel para um crescente nuacutemero de instituiccedilotildees nos Estados Unidos e no mundo todo Como muitos programas de mobilidade aulas virtualmente conectadas podem prover um aprendizado global significativo e experiecircncia intercultural (ACE 2016 p1) Ou seja o uso de TICs pode ser uma opccedilatildeo vaacutelida para minimizar barreiras que dificultam a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo do ensino superior

Assim ldquodistacircncia e tempo natildeo precisam mais ser barreiras para a exposiccedilatildeo e consciecircncia internacional para qualquer aluno com acesso a um modem e um computador Desse modo todos os es-tudantes agora podem ser considerados internacionais em termos de mobilidade virtualrdquo (LEASK 2004 p337)

Alguns autores preconizam que as tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo vistas como um dos fatores mais importantes para a expansatildeo continuada da internacionalizaccedilatildeo e podem ateacute mesmo tornar-se substitutas da mobilidade internacional (PHILSON 1998 FAVA-DE-MORAES SIMON 2000 LEASK 2004)

A atual sociedade global interligada baseada em novas tecnologias digitais afetou o processo de educaccedilatildeo e adicionou dinacircmicas agrave trans-ferecircncia de informaccedilotildees e geraccedilatildeo de conhecimento Natildeo estamos mais restritos a tempo e lugar Ademais a tecnologia da informaccedilatildeo reduz diretamente os custos e aumenta as possibilidades de cooperaccedilatildeo de interaccedilatildeo acadecircmicas Aprendizagem virtual possibilita que instituiccedilotildees de ensino superior se aproximem de estudantes professores e pesqui-sadores em paiacuteses estrangeiros sem movecirc-los fisicamenterdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p4)

TICs e internacionalizaccedilatildeo portanto estatildeo inquestiona-velmente conectadas

3 Possibilidades Praacuteticas de internacionalizaccedilatildeo no ensino superior incluem reforma curricular aumento de programas de mobilidade ampliaccedilatildeo de cam-pi inglecircs como liacutengua de instruccedilatildeo em paiacuteses onde natildeo eacute a liacutengua oficial e tecnologia da informaccedilatildeo (ZUPANC ZUPANC 2009 YANYAN 2010) Ou seja a tecnologia da informaccedilatildeo eacute uma parte do todo que certamente pode apoiar o processo mas por si soacute natildeo garante uma perspectiva internacional no ensino

De acordo com Leask (2004 p340) ldquoo uso de tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo em programas educacionais natildeo assistiratildeo [sic] necessariamente agrave internacionalizaccedilatildeo mas cer-tamente oferece diversas oportunidades para todos os alunos e colaboradores da IESrdquo

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo a autora algumas dessas oportunidades incluem o envolvimento da comunidade acadecircmica em

bull Uso da tecnologia para estabelecer contatos internacionais e redes de relacionamento em suas aacutereas

bull Visitas virtuais de palestrantes convidados com perfil inter-nacional que virtualmente abordam toacutepicos especiacuteficos em determinados momentos do programa

bull Projetos individuais ou em grupo com foco em assuntos e estudos de caso internacionais

bull Tarefas que requerem o desenvolvimento de habilidades em dinacircmicas de grupo e o estabelecimento de relaccedilotildees de trabalho com pessoas de diferentes contextos culturais por exemplo tarefas que requerem a anaacutelise de reportagens de jornais internacionais de perspectivas culturais diferentes en-trevistas virtuais com alunos de outras culturas e profissionais que jaacute atuaram no mercado internacional

bull Localizar discutir analisar e avaliar informaccedilotildees de variadas fontes internacionais on-line e off-line

bull Oportunidades virtuais para analisar assuntos metodologias e soluccedilotildees possiacuteveis associadas com atuais aacutereas de debate dentro da disciplina por meio de perspectivas culturais di-versas

bull Acesso a fontes internacionais virtuais como revistas con-ferecircncias e associaccedilotildees profissionais

bull Simulaccedilotildees virtuais nas quais os estudantes tecircm a oportu-nidade de aprender atraveacutes de participaccedilatildeo ativa em um ambiente virtual controlado

bull Discussotildees siacutencronas ou assiacutencronas em grupo que co-nectam alunos de culturas diferentes fazendo com que completem atividades solucionem problemas obtenham perspectivas internacionais sobre determinados assuntos

bull Estabelecimento de redes de relacionamento internacionalbull Foacuterum virtual em que os alunos podem discutir diferenccedilas cultu-

rais e regionais em valores e concepccedilotildees que afetam a disciplina ao mesmo tempo em que podem afetar a accedilatildeo dos indiviacuteduos

bull Variados projetos de grupo para avaliaccedilatildeo que exijam dos alunos atividades virtuais ou via correio eletrocircnico com pes-soas de outros grupos culturais com o objetivo de comparar e contrastar perspectivas em questotildees profissionais

bull Atividades virtuais em grupo que examinem de que maneira interpretaccedilotildees culturais especiacuteficas de aplicabilidade social cientiacutefica ou tecnoloacutegica podem incluir ou excluir ou ainda favo-recer ou desfavorecer as pessoas de grupos culturais diferentes

Ou seja ao aproveitar as oportunidades que as TICs propor-cionam incorporando possibilidades para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo virtual natildeo apenas as necessidades dos alunos de desenvolver suas competecircncias e habilidades de gerenciamento do seu aprendizado seratildeo supridas como tambeacutem poderatildeo ser criadas oportunidades para incorporar atividades que fomentem a consciecircncia e sensibilidade para com diferen-

ccedilas interculturais (RAMANAU 2016) As TICs podem portanto ser usadas como parte de atividades internacionais existentes como complementariedade e como instrumento que promova a integraccedilatildeo de perspectivas internacionais no campus (THUNE WELLE-STRAND 2005)

Satildeo diversas possibilidades que surgem a partir do uso de TICs como apoio ao processo de internacionalizaccedilatildeo A Zagreb School of Economics and Management (ZSEM) uma faculdade privada que atua na aacuterea de negoacutecios na Croaacutecia graccedilas agraves videoconferecircn-cias oportuniza aos seus alunos assistir palestras de educadores e melhores especialistas de negoacutecios do mundo todo A primeira videoconferecircncia realizada em 2004 exibiu um discurso de boas--vindas do presidente do conselho da faculdade Joseph Bombelles professor emeacuterito na Universidade John Carroll University em Cle-veland (Ohio Estados Unidos) A partir de entatildeo deu-se continui-dade agraves videoconferecircncias como parte dos cursos de Marketing e Gestatildeo em que professores internacionais convidados passaram a apresentar aos alunos da SZEM experiecircncias e praacuteticas de mer-cado vividas e praticadas em outras partes do mundo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009) Atualmente a ZSEM tem como premissa que as TICs geralmente servem como uma ferramenta eficaz para apoiar e coordenar as atividades internacionais da faculdade Aleacutem de ser uma forma raacutepida econocircmica com transcendecircncia de tempo e distacircncia e oportunidade de aprendizagem intercultural para a ZSEM ldquoa implementaccedilatildeo eficiente de TICs possibilita a extensatildeo de relaccedilotildees internacionais apoia na adoccedilatildeo de padrotildees de qualidade internacional e estreita relacionamentos com instituiccedilotildees estran-geirasrdquo (MAGZAN ALEKSIC-MASLAC 2009 p8)

Outro exemplo do uso de TICs para o apoio da internacionaliza-ccedilatildeo eacute o projeto denominado International Leadership in Educational Technology (ILET) Em 2001 o projeto foi selecionado por agecircncias de fomento na Europa e nos Estados Unidos para criar um modelo de ambiente virtual intercultural para programas de doutorado des-tinados a preparar futuros liacutederes de tecnologias educacionais O ILET objetiva criar uma comunidade de aprendizado transatlacircntica para estudantes de graduaccedilatildeo em seis universidades diferentes ndash trecircs eu-ropeias e trecircs norte-americanas As seis universidades satildeo Iowa State University University of Florida University of Virginia Institution of Education in the University of London Aalborg University in Dina-marca e University of Barcelona na Espanha O projeto concentra a colaboraccedilatildeo democraacutetica de professores e alunos de todas as univer-sidades participantes Essa abordagem inovadora fornece um modelo personalizado para estudos no exterior com estaacutegios e experiecircncias interculturais mediadas pela tecnologia Colaboraccedilatildeo eacute a chave para o sucesso do modelo uma vez que seis diferentes universidades estatildeo envolvidas No projeto estudantes de doutorado satildeo motivados e recebem apoio para negociar com uma ou mais universidades para aprimorar seus programas de estudos Eles usam websites correio eletrocircnico e outras tecnologias para negociar estaacutegios e experiecircncias

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

de estudos com as universidades parceiras Nesse processo docentes e alunos tornam-se sensiacuteveis agrave ampla variedade de ambientes acadecirc-micos e culturais O projeto ILET tambeacutem possui tecnologias hiacutebridas no programa de doutorado e criou um ambiente virtual e intercultural de aprendizagem em que as seis universidades participam atraveacutes de grupos anuais de leitura virtual de cursos de veratildeo com carga-horaacuteria reduzida para experiecircncias acadecircmicas interculturais e programas de estaacutegios no exterior (DAVIS CHO 2005)

Isso posto eacute possiacutevel afirmar que de fato a internacionalizaccedilatildeo abrangente ldquona qual as universidades tentam prover desenvolvimento pessoal e profissional para todas as pessoas enquanto cidadatildeos globais pode alcanccedilar seus objetivos com o apoio da educaccedilatildeo a distacircncia e de TICsrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) Portanto as TICs podem promover o ldquoaprendizado colaborativo internacional virtualrdquo agrupando as quatro dimensotildees essenciais da mobilidade virtual real 1) o exerciacutecio colaborativo de professores e alunos 2) o uso de interaccedilatildeo e tecnologia virtual 3) existecircncia de potenciais dimensotildees internacio-nais e 4) integraccedilatildeo com o processo de aprendizado (WIT 2013)

4 DesafiosComo jaacute abordado sabe-se que atualmente a tecnologia estaacute de-sempenhando uma funccedilatildeo fundamental na preparaccedilatildeo de futuros educadores e no ensino superior com avanccedilos significativos para a globalizaccedilatildeo Tambeacutem pode-se afirmar que o aprendizado via web tornar-se-aacute cada vez mais proeminente no ensino superior com o uso de tecnologias educacionais Consequentemente ldquoas equipes docentes precisam estar preparadas para trabalhar em um ambiente internacionalrdquo (VAJARGAH KHOSHNOODIFAR 2013 p148) E virtual

Integrar tecnologias no curriacuteculo a fim de aprimorar o apren-dizado global e experiecircncia intercultural dos alunos pode ser de-safiador Requer tempo adicional e criatividade do corpo docente aleacutem de depender de conectividade e equipamentos adequados para uso da internet dentre outras questotildees Embora TICs ofere-ccedilam oportunidades ricas e uacutenicas para a internacionalizaccedilatildeo ldquoas equipes frequentemente natildeo conhecem todo o potencial de uso ou natildeo se sentem confortaacuteveis em usaacute-las como instrumento de ensino e aprendizagem e alguns satildeo reticentes em investigaacute-las e experimentaacute-lasrdquo (LEASK 2004 p345)

De acordo com Ramanau (2016) equipes que estatildeo ensinan-do em programas internacionais devem ter aleacutem das habilidades e conhecimentos baacutesicos necessaacuterios para ser um professor de sucesso em qualquer ambiente (tais como conhecimento da aacuterea gestatildeo de sala de aula habilidade de definir claramente os objetivos de aprendizagem elaboraccedilatildeo de um programa adequado) habilidades adicionais como de ter uma ampla consciecircncia cultural habilidade de fazer uso de informaccedilotildees

e exemplos internacionais e a habilidade de conduzir um grupo em que uma ampla variedade de estilos de aprendiza-gem e de comunicaccedilatildeo se fazem presentes Em um ambiente internacional virtual ainda outra dimensatildeo eacute acrescentada a habilidade de fazer tudo o que jaacute foi mencionado utilizando todas as ferramentas virtuais disponiacuteveis

Nesse sentido eacute importante destacar a importacircncia do docen-te no processo e sua preparaccedilatildeo para atuar nesse novo contexto Faz-se necessaacuterio capacitaacute-los e desenvolvecirc-los para que possa atuar de forma a promover um ambiente de ensino e aprendiza-gem que possibilite aos alunos desenvolverem as competecircncias e habilidades exigidas no atual cenaacuterio Investimentos satildeo necessaacute-rios recursos financeiros e humanos bem como tempo para essa preparaccedilatildeo Entretanto esse investimento natildeo seraacute suficiente se natildeo houver motivaccedilatildeo docente Sim ele precisa acreditar e en-gajar-se na proposta E isso depende de outros fatores que natildeo estatildeo sob domiacutenio das instituiccedilotildees gestores e estudantes Eis um desafio que precisa ser considerado

Contudo natildeo apenas os docentes precisam estar engajados ldquoEntregar uma competecircncia global para todos os alunos reque-reraacute programas de iniciativas criativas e intencionais que envol-vem diversos atores do campus e perpassa todos os aspectos da experiecircncia do alunordquo (ACE 2013 p3) Ou seja eacute necessaacuterio o engajamento de toda a comunidade acadecircmica com apoio da sociedade A diversidade e a amplitude de atores envolvidos demonstra a complexidade do processo

Ao considerar tendecircncias nascentes em tecnologia e o con-tiacutenuo impacto que a globalizaccedilatildeo tem trazido para o ensino superior parece claro que um processo de integraccedilatildeo de tec-nologia que enfatiza a conexatildeo e o aprendizado colaborativo e social eacute uma praacutetica de internacionalizaccedilatildeo eficaz Entretanto tal apelo deve ser apoiado por uma avaliaccedilatildeo integral das ne-cessidades da instituiccedilatildeo e recursos disponiacuteveis (BILLINGHAM GRAGG BENTLEY 2013 p25)

Eacute portanto necessaacuterio que a IES tenha claro quais satildeo os seus objetivos de internacionalizaccedilatildeo para que os esforccedilos sejam direcionados nesse sentido evitando accedilotildees isoladas e desarticuladas na instituiccedilatildeo Tambeacutem eacute importante destacar que nem todas as IES tecircm a mesma disponibilidade de recursos humanos financeiros e tecnoloacutegicos para a implementaccedilatildeo de TICs e do processo de internacionalizaccedilatildeo Em muitos paiacuteses em desenvolvimento haacute IES que sequer possuem conexatildeo web Essa eacute uma realidade que precisa ser considerada e portanto avaliada uma vez que a internacionalizaccedilatildeo abrangente natildeo se aplica na abrangecircncia em que a teoria propotildee

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sabe-se que por mais de uma deacutecada o ensino superior tem passado por um raacutepido processo de integraccedilatildeo tecnoloacutegica Tambeacutem a internacionalizaccedilatildeo se mostra como indispensaacutevel para que o ensino superior cumpra a sua missatildeo de preparar egressos para o mundo global interconectado em que vivemos No entanto dos estudos disponiacuteveis sobre ambos temas poucos correlacionam a integraccedilatildeo de tecnologia e a internacionaliza-ccedilatildeo especificamente Assim sendo satildeo necessaacuterios estudos que apontem para essa direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees FinaisA internacionalizaccedilatildeo eacute um tema muito relevante mas ainda incipiente no Brasil No entanto torna-se indispensaacutevel pensar no assunto quando se trata de educaccedilatildeo superior uma vez que seraacute exigido que nossos egressos tenham desenvolvi-do competecircncias teacutecnicas comportamentais tecnoloacutegicas e interculturais

Muitos satildeo os desafios interpostos agraves IES brasileiras que buscam desenvolver a internacionalizaccedilatildeo como um processo contiacutenuo que abrange todos os niacuteveis e serviccedilos da instituiccedilatildeo Barreiras como idioma localizaccedilatildeo geograacutefica extensatildeo territorial reconhecimento da comunidade acadecircmica acerca da importacircn-cia e da relevacircncia da internacionalizaccedilatildeo para a qualificaccedilatildeo da sociedade entre outros mostram que o caminho a ser percorrido eacute laborioso

Todavia observa-se que as tecnologias de informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo possibilitam a distribuiccedilatildeo e o acesso agrave informaccedilatildeo em qualquer fuso em qualquer lugar no mundo Materiais de professores relatoacuterios de pesquisa planos de aula conteuacutedos diversos podem ser distribuiacutedos para locais distantes A informa-ccedilatildeo estaacute apenas um clique distante Tambeacutem o acesso agrave internet possibilita interaccedilotildees virtuais com o mundo de forma faacutecil e com custo baixo O uso de TICs torna-se fundamental para a evoluccedilatildeo da internacionalizaccedilatildeo do ensino superior em nosso paiacutes

Contudo haacute desafios ndash como engajamento estrutura inves-timentos capacitaccedilatildeo de recursos humanos ndash que tambeacutem pre-cisam ser considerados O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo do processo de internacionalizaccedilatildeo O uso de TICs pode apoiar a evoluccedilatildeo da educaccedilatildeo em nosso paiacutes assim como a internacio-nalizaccedilatildeo do ensino superior tambeacutem poderaacute fazer essa evoluccedilatildeo acontecer Poreacutem nem juntas nem isoladas as TICs e a internacio-nalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior resolveratildeo por completo o pro-blema da educaccedilatildeo no nosso paiacutes Esse soacute poderaacute ser minimizado com a priorizaccedilatildeo antecedida pela conscientizaccedilatildeo

R e f e r ecirc n c i a s

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Internationalization in action special edition connecting classrooms using online technology to de-liver global learning Washington DC One Dupont Circle NW 2016

AMERICAN COUNCIL ON EDUCATION (ACE) Leading the Globally Engaged In-stitution new directions choices and dilemmas a report from the 2012 transatlantic dialogue Washington DC One Dupont Circle NW 2013

ANNABI Carrie Amani MULLER Marlene Muller Learning From the adop-tion of MOOCs in two international branch campuses in the UAE Journal of Studies in International Education European Association for International Education v 20(3) p 260-281 2016 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315315622023-journalCode=jsiagt Acesso em jun 2017

BILLINGHAM Craig GRAGG Monica BENTLEY Guy Internationalization From Concept to Implementation Higher Learning Research Commu-nications Blue Mountains Australia v 3(4) p 24-31 2013 Disponiacutevel em lthttpdxdoiorg1018870hlrcv3i4166gt Acesso em jun 2017

DAVIS Niki CHO Mi Ok Intercultural competence for future leaders of educational technology and its evaluation Interactive Educational Multimedia n10 p1-22 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwubedumultimediaiemgt Acesso em jun 2017

FAVA-DE-MORAES F SIMON I Computer networks and the international-ization of higher education Higher Education Policy 13 2000

HUDZIK J K Comprehensive internationalization Washington DC NAFSA 2011

KNIGHT Jane Higher education in turmoil the changing world of interna-tionalization Rotterdam Sense Publishers 2008

LEASK Betty Internationalisation outcomes for all students using informa-tion and communication technologies (ICTs) Journal of Studies in Inter-national Education Association for Studies in International Education v 8 n 4 p 336-351 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5

PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

O objetivo do presente estudo foi analisar o uso das Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) por estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de

negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa de Aprendizagem Baseada em Problemas ou Problem Based Learning (PBL) bastante conhecida e referenciada na literatura cientiacutefica Participaram da pesquisa 51 estudantes de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo Os dados para a anaacutelise do uso das tecnologias foram obtidos por meio de entrevistas considerando tanto os recursos de hardware como de software empregados no apoio agrave realizaccedilatildeo das atividades da disciplina De modo geral os resultados apontaram que os estudantes entrevistados buscaram escolher os recursos mais adequados para realizaccedilatildeo das atividades acadecircmicas dentro do conjunto de tecnologias que lhes eram acessiacuteveis e familiares deixando no entanto de explorar novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

A b s t r a c t

The objective of this study was to analyze the use of Information and Communication Technol-ogies (ICTs) by university students of Business Management enrolled in a course of business in virtual environments using the Problem Based Learning (PBL) active methodology well known and referenced in the scientific literature A total of 51 Business students from a private university in the interior of the state of Satildeo Paulo participated in the study The data for the analysis of the use of technologies were obtained through interviews considering both the hardware and software resources used as support to carry out the activities in the course In general the results pointed out that the students interviewed chose the most adequate resources to carry out the academic activities within the set of technologies that they had access to and were familiar with but failed to explore new technologies potentially relevant in supporting the learning process

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 23072017Aprovado em 01102017

Palavras-chaveTecnologia da informaccedilatildeo e ComunicaccedilatildeoMetodologia ativaAprendizado baseado em problemas Gestatildeo

KeywordsInformation and communication technologyActive methodologyProblem based learningManagement

Autores Doutor em Psicologia e Mestre em Ciecircncia da Informaccedilatildeo pela Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Professor do Centro de Economia e Administraccedilatildeo da Pontifiacutecia Univer-sidade Catoacutelica de Campinas email rodrigorozagmailcom

Doutora e Mestre em Psicologia pela University of Georgia Poacutes-dou-torado pela University of Georgia e pela University of Buffalo Professora da Poacutes-Graduaccedilatildeo Stricto Sensu em Psicologia da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinasemail wechslerlexxacombr

Como citar este artigoROZA RH WECHSLER SM O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e co-municaccedilatildeo por estudantes universi-taacuterios de Administraccedilatildeo Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

O uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por estudantes universitaacuterios de AdministraccedilatildeoThe use of information and communication technologies by university students of business management

Rodrigo Hipoacutelito Roza e Solange Muglia Wechsler

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 7

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 ContextualizaccedilatildeoAs Tecnologias da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TICs) satildeo consi-deradas um vasto conjunto de recursos tecnoloacutegicos destinados ao tratamento agrave organizaccedilatildeo e agrave disseminaccedilatildeo de informaccedilotildees (TAKAHASHI 2000) Esse conjunto de recursos tecnoloacutegicos abran-ge computadores tablets smartphones sistemas operacionais aplicativos diversos navegadores (browsers) redes computacio-nais sistemas de telecomunicaccedilotildees e a internet dentre outros Aleacutem disso eacute importante salientar que as TICs fazem parte de uma realidade mais ampla marcada por profundas transformaccedilotildees natildeo apenas no acircmbito tecnoloacutegico mas tambeacutem social econocircmico e cultural (CASTELLS 2010) citada por alguns autores como socie-dade da informaccedilatildeo (SILVA CAFEacute CATAPAN 2010 PINHO 2011) ou sociedade da aprendizagem (POZO 2004 COUTINHO LISBOcircA 2011) dentre outras nomenclaturas

Antes da difusatildeo da expressatildeo ldquotecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo outros termos jaacute haviam sido empregados com significados similares como tecnologia da informaccedilatildeo sistema de informaccedilatildeo e processamento de informaccedilatildeo (BUCKLAND 1991) Sistema de informaccedilatildeo no entanto geralmente assume um sen-tido mais amplo abrangendo pessoas e processos ao passo que processamento de informaccedilatildeo tem um sentido mais restrito vol-tado ao modo como a informaccedilatildeo eacute processada por meio dos recursos tecnoloacutegicos No caso especiacutefico do termo ldquotecnologia da informaccedilatildeordquo embora ainda bastante utilizado o acreacutescimo da palavra ldquocomunicaccedilatildeordquo foi realizado com o propoacutesito de ressaltar a importacircncia de ambas as tecnologias da informaccedilatildeo e da co-municaccedilatildeo na atual sociedade (STEVENSON COMMITTEE 1997)

As aplicaccedilotildees das TICs embora bastante exploradas no acircmbito de negoacutecios (LAUDON LAUDON 2011 CHAFFEY 2014) estendem--se agraves mais diversas aacutereas da sociedade como sauacutede entretenimen-to gestatildeo puacuteblica desenvolvimento sustentaacutevel e educaccedilatildeo Na educaccedilatildeo em particular as tecnologias possuem o potencial de apoiar o processo de ensino e aprendizagem viabilizando novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e ao conhecimento (ROZA 2017) Em metodologias ativas como a Aprendizagem Baseada em Proble-mas (Problem Based Learning ndash PBL) por exemplo as TICs tecircm sido destacadas como importantes ferramentas de apoio agrave aprendiza-gem (BERTONCELLO CORDEIRO BORTOLOZZI RODRIGUES 2008 OSMAN KAUR 2014) No entanto conforme apontado por Mansell e Tremblay (2013) eacute importante destacar que para promover o acesso ao conhecimento eacute preciso muito mais do que fornecer acesso aos recursos tecnoloacutegicos ou agrave informaccedilatildeo digital O acesso ao conhecimento envolve necessariamente a aprendizagem sendo que sua aquisiccedilatildeo ocorre parcialmente por meio de experiecircncias

Considerando a evoluccedilatildeo das TICs e as modalidades educa-cionais a elas associadas Coll e Monereo (2010) destacaram trecircs etapas de desenvolvimento das tecnologias da comunicaccedilatildeo

marcadas pelas linguagens natural artificial e virtual Na primei-ra etapa o sistema de comunicaccedilatildeo eacute a transmissatildeo oral o que implica a coincidecircncia dos interlocutores no espaccedilo e no tempo Algumas modalidades de educaccedilatildeo e meacutetodos de ensino e apren-dizagem dessa etapa satildeo a imitaccedilatildeo a declamaccedilatildeo a transmissatildeo e a reproduccedilatildeo de informaccedilatildeo

O surgimento da escrita marca a segunda etapa como res-posta agrave necessidade de registrar transmitir e compartilhar infor-maccedilotildees o que apesar de natildeo exigir a presenccedila dos envolvidos na comunicaccedilatildeo no mesmo local e ao mesmo tempo por si soacute tambeacutem natildeo garante a superaccedilatildeo de grandes distacircncias geograacute-ficas Eacute importante destacar que a escrita assim como a leitura transformaram as capacidades cognitivas dos indiviacuteduos no que se refere ao tratamento da informaccedilatildeo (LALUEZA CRESPO CAMPS 2010) Nessa etapa tecircm-se o ensino centrado em textos o emprego de livros didaacuteticos e iniacutecio de um ensino a distacircncia ainda que por correspondecircncia

Na terceira etapa encontram-se os sistemas de comunicaccedilatildeo analoacutegica abrangendo a invenccedilatildeo do teleacutegrafo seguida do telefo-ne do raacutedio e da televisatildeo que permitiram a superaccedilatildeo dos limites espaciais culminando com troca de informaccedilotildees em niacutevel global Poreacutem eacute apenas em um segundo momento dessa terceira etapa que surgem os sistemas de comunicaccedilatildeo digital com a criaccedilatildeo dos computadores sua interconexatildeo em redes e o advento da internet A parir desse momento os sistemas de comunicaccedilatildeo digital incluindo as jaacute mencionadas redes de computadores e a proacutepria internet passam a ser utilizados no ensino apoiado por computador e no e-learning (COLL MONEREO 2010)

Neste sentido verifica-se natildeo somente o crescimento do e-le-arning caracterizado pelo uso das tecnologias na aprendizagem e no ensino agrave distacircncia baseado em Web mas tambeacutem o advento de novas derivaccedilotildees e praacuteticas adjacente como o b-learning que combina aprendizagem online e presencial de forma mista (OKADA BARROS 2010) e o open-learning que busca promover o acesso amplo a materiais e tecnologias e o uso de diferentes conteuacutedos e metodologias para um puacuteblico diversificado em locais culturas e contextos distintos (OKADA 2007) Nota-se ainda o surgimento do m-learning em que a aprendizagem eacute mediada por dispositivos moacuteveis (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012)

Dada as diversificadas possibilidades de uso dos recursos tecnoloacutegicos na educaccedilatildeo e na aprendizagem este estudo op-tou por se concentrar nas tecnologias que satildeo utilizadas por iniciativas dos proacuteprios estudantes universitaacuterios para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecircmicas Para tanto foram selecionados estudantes de uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtu-ais utilizando a metodologia PBL Trata-se de uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem centrada no aluno (CACHINHO

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 7

2012) fundamentada no pressuposto de que a aprendizagem eacute um processo de construccedilatildeo de significados e natildeo simplesmente de recepccedilatildeo de informaccedilotildees (ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Nela o aluno desempenha um papel ativo e preponderante em sua proacutepria educaccedilatildeo (TOLEDO JUacuteNIOR et al 2008) A escolha de uma disciplina que adota tal metodologia ocorreu com o intuito de se investigar estudantes que estivessem em uma condiccedilatildeo de protagonismo no que se refere agrave aprendizagem natildeo apenas nas situaccedilotildees e assuntos abordados na disciplina mas tambeacutem no uso das TICs

2 Meacutetodo21 ParticipantesPara este estudo foram selecionados 51 estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo de uma universidade privada do interior do estado de Satildeo Paulo matriculados em uma disciplina de negoacute-cios em ambientes virtuais utilizando a metodologia ativa PBL A disciplina em questatildeo denominada Administraccedilatildeo em Am-bientes Virtuais foi oferecida no uacuteltimo ano da graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Todos os alunos eram usuaacuterios comuns das TICs familiarizados com o uso dos recursos tecnoloacutegicos

22 MaterialFoi utilizado um roteiro semiestruturado para a realizaccedilatildeo de en-trevistas com os participantes do estudo O roteiro apresentava duas questotildees centrais que deveriam ser consideradas no contex-to das atividades da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais

1 quais dispositivos satildeo utilizados (desktop notebook tablet smartphone outros)

2 quais programas serviccedilos e redes satildeo utilizados

A questatildeo 2 em particular considerou os subtoacutepicos sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos de um modo geral serviccedilos da Web e rede de comunicaccedilatildeo de dados para os quais os participantes poderiam indicar os nomes dos recursos utilizados Por se tratar de um roteiro semiestruturado as questotildees serviram como norteadoras das entrevistas apresentando elementos es-senciais a serem abordados sem restringir no entanto a explo-raccedilatildeo de outros aspectos correlatos e relevantes que pudessem surgir durante os diaacutelogos com os participantes da pesquisa

23 ProcedimentoPrimeiramente os estudantes receberam uma explicaccedilatildeo sobre as entrevistas esclarecendo que as questotildees deveriam ser con-sideradas no contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais O contexto da disciplina abrangia atividades de pesqui-sas apresentaccedilotildees debates bem como elaboraccedilatildeo de relatoacuterios apoiados na metodologia PBL

Para uma maior elucidaccedilatildeo do contexto citado cabe ressal-tar que tipicamente os estudantes eram divididos em grupos

compostos pelos seguintes papeacuteis liacuteder redator porta-voz e demais membros Os grupos partiam de uma situaccedilatildeo-proble-ma estudo de caso e apoacutes uma anaacutelise inicial geravam um relatoacuterio parcial incluindo hipoacuteteses e toacutepicos a serem pesqui-sados Em seguida as pesquisas eram conduzidas pelos grupos sob orientaccedilatildeo do professor Ao final das pesquisas os grupos apresentavam um relatoacuterio final e realizavam apresentaccedilotildees e debates com os outros grupos Por fim o professor realizava um fechamento das atividades resgatando o que fora abordado pelos grupos abrangendo os aspectos teoacutericos pertinentes agrave situaccedilatildeo-problema estudo de caso

Assim no presente estudo as entrevistas foram realizadas em grupos com aproximadamente seis estudantes Esse nuacutemero respeitou a divisatildeo dos grupos jaacute adotada para realizaccedilatildeo das atividades coletivas da disciplina Apesar das entrevistas terem sido realizadas em grupos as respostas dos participantes foram coletadas uma a uma Os participantes foram mantidos em gru-pos devido ao fato de supostamente muitos dos aplicativos serem usados para comunicaccedilatildeo ou realizaccedilatildeo de trabalhos co-laborativos de forma que uma das respostas poderia contribuir para as demais

O tratamento das respostas relativas agrave questatildeo 1 sobre os dis-positivos utilizados respeitou as categorias previamente estabe-lecidas mas tambeacutem considerou a possibilidade do participante apontar outros dispositivos As respostas relativas agrave questatildeo 2 foram categorizadas dentro de cada subtoacutepico sistemas ope-racionais navegadores e-mail aplicativos diversos serviccedilos da Web e rede Todos os dados coletados por meio das entrevistas foram tabulados e posteriormente analisados

3 Resultados e discussatildeo Para anaacutelise das respostas da questatildeo 1 foram considerados o uso de desktop notebook smartphone e tablet Os participantes puderam apontar mais de um dispositivo indicando a ordem em que satildeo empregados do mais utilizado para o menos utilizado (primeira opccedilatildeo segunda opccedilatildeo e terceira opccedilatildeo) Os resultados dessa questatildeo encontram-se na Tabela 1

Tabela 1 ndash Dispositivos utilizados pelos estudantes

Dispositivo 1ordf opccedilatildeo 2ordf opccedilatildeo 3ordf opccedilatildeo

n n n

Desktop 25 490 8 157 5 98

Notebook 11 216 14 275 8 157

Smartphone 15 294 18 353 7 137

Tablet 0 0 0 0 3 59

Fonte Os autores 2017

Paacutegina 3 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Segundo os dados mostrados na Tabela 1 o dispositivo mais utilizado como primeira opccedilatildeo pelos estudantes foi o desktop citado por praticamente metade dos entrevistados (490) seguido pelo smartphone (294) e pelo notebook (216) O fato de o desktop es-tar disponiacutevel na universidade tanto nos laboratoacuterios de informaacutetica como na biblioteca locais em que algumas aulas satildeo realizadas pode ter contribuiacutedo para esse resultado Outro fator que pode ter contri-buiacutedo parcialmente para um maior uso do desktop eacute a necessidade de preparaccedilatildeo de relatoacuterios que precisam ser digitados e portanto satildeo mais facilmente executados em dispositivos com teclados que garantam uma melhor ergonomia Contudo em oposiccedilatildeo a essa suposiccedilatildeo o segundo dispositivo mais utilizado como primeira op-ccedilatildeo foi o smartphone o que pode ser explicado pela conveniecircncia de estar com o dispositivo em matildeos uma vez que quase todos os estudantes possuem e levam o smartphone consigo agraves aulas bem como pela mobilidade jaacute que tal dispositivo pode ser usado mesmo estando em deslocamento pelos espaccedilos da universidade onde estatildeo ocorrendo as atividades da disciplina

Jaacute como segunda opccedilatildeo o dispositivo mais utilizado foi o smar-tphone (353) seguido pelo notebook (275) Mais uma vez o uso do smartphone precedeu o uso do notebook Essa relaccedilatildeo de prece-decircncia apenas se inverte quando considerados os dispositivos utilizados como terceira opccedilatildeo poreacutem com percentuais de uso muito proacuteximos 157 para notebook e 137 para smartphone Observa-se ainda que o tablet aparece em uacuteltimo lugar apenas como terceira opccedilatildeo tendo sido apontado por somente 59 dos estudantes entrevistados

Na anaacutelise das respostas da questatildeo 2 foram levados em conta os sistemas operacionais navegadores e-mail aplicativos diversos e serviccedilos da Web bem como as redes usados pelos estudantes A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos

Tabela 2 ndash Programas serviccedilos e redes utilizados pelos estudantes

Categoria Recurso n

Sistema operacional

Android 21 412

iOS 22 431

Mac OS 4 78

Windows 50 980

Navegador

Chrome 49 961

Firefox 10 196

Internet Explorer 6 118

Safari 18 353

E-mail

Gmail 26 510

HotmailOutlook 31 608

Terra 1 20

Uol 1 20

Yahoo 3 59

Continua gt

Categoria Recurso n

Aplicativos diversosoutros serviccedilos Web

Dropbox 1 20

Facebook 13 255

Google 49 961

Googgle Acadecircmico 49 961

Google Drive 2 39

Google Livro 27 529

MS Word 51 1000

MS Power Point 51 1000

OneDrive 3 59

SciELO 13 255

Skype 9 176

WhatsApp 51 1000

Rede

3G 20 392

4G 11 216

LAN Cabeada 43 843

WiFi 47 922

Fonte Os autores 2017

Conforme os dados apresentados na Tabela 2 o Windows da Microsoft foi o sistema operacional mais usado sendo citado por 98 dos estudantes Nesse caso existe uma relaccedilatildeo com o predomiacutenio do uso do desktop pois na biblioteca e nos labora-toacuterios frequentados pelos estudantes entrevistados o Windows eacute o sistema operacional padratildeo O sistema operacional da Apple para uso em seus computadores (Mac) que aqui foi identificado genericamente como Mac OS por possuir nomenclaturas diferen-tes dependendo de sua versatildeo foi o menos utilizado Os sistemas operacionais Android e iOS para dispositivos moacuteveis foram uti-lizados de maneira equilibrada entre os estudantes sendo men-cionados respectivamente por 412 e 431 dos universitaacuterios

O Chrome do Google foi o navegador mais usado pelos estudantes sendo apontado em 961 dos casos seguido do Safari da Apple com 353 Eacute interessante notar que embora o Internet Explorer (IE) seja o navegador padratildeo da Microsoft acompanhando o sistema operacional Windows somente 118 dos estudantes disseram utilizaacute-lo indicando nesse caso uma autonomia dos estudantes na escolha do navega-dor mais adequado a suas necessidades O serviccedilo de e-mail mais utilizado foi o Hotmail Outlook da Microsoft (608) acompanhado do Gmail do Google (510) Outros serviccedilos de e-mail tiveram pouca expressatildeo

Na categoria aplicativos e outros serviccedilos da Web o editor de textos Word e o aplicativo de apresentaccedilotildees Power Point ambos da Microsoft foram escolhas unacircnimes Apenas um estudante relatou utilizar uma versatildeo Web do editor de textos da Microsoft por meio do OneDrive para realizaccedilatildeo de suas atividades acadecirc-micas Aliaacutes no que se refere a serviccedilo de armazenamento em nuvem o OneDrive Google Drive e o Dropbox foram citados por

Paacutegina 4 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

59 39 e 20 dos estudantes respectivamente percentuais baixos considerando o potencial desse tipo de ferramenta para realizaccedilatildeo de trabalhos colaborativos

Outro destaque unacircnime na escolha dos estudantes foi o WhatsApp O aplicativo de troca de mensagens instantacircneas e chamadas de voz para smartphone foi apontado como de muita importacircncia para comunicaccedilatildeo dos grupos durante a realizaccedilatildeo das atividades da disciplina Outras ferramentas que auxiliam na comunicaccedilatildeo tambeacutem foram mencionadas como o Facebook (255) e o Skype (176) Cabe destacar ainda o serviccedilo de buscas do Google o Google Acadecircmico o Google Livro bem como do ser-viccedilo de buscas do Scientific Electronic Library Online (SciELO) que foram apontados por 961 961 529 e 255 dos estudantes respectivamente como ferramentas de apoio a suas pesquisas aca-decircmicas no acircmbito da disciplina abordada no presente estudo

Por fim para acesso aos serviccedilos da Web e comunicaccedilatildeo as redes mais utilizadas foram a rede WiFi (922) e a rede local (LAN) cabeada (843) disponibilizadas pela universidade Tambeacutem foram citadas as conexotildees 3G e 4G fornecidas pelas operadoras de telefonia moacutevel celular por 392 e 216 dos estudantes universitaacuterios entrevistados respectivamente

No que se refere ao contexto da disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais apoiado na metodologia ativa PBL (CACHI-NHO 2012 ESCRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) verifica-se que na etapa inicial dos trabalhos as TICs foram menos utilizadas pois tal etapa abrangia a compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para abordagem da situaccedilatildeo-problema estudo de caso Na etapa de pesquisas as tecnologias foram utilizadas com maior intensida-de para suportar atividades como buscas seleccedilatildeo organizaccedilatildeo e anaacutelise de informaccedilotildees bem como a comunicaccedilatildeo entre os integrantes dos grupos Na etapa de apresentaccedilatildeo e debates por sua vez os recursos tecnoloacutegicos foram empregadas de forma moderada em relaccedilatildeo agraves outras etapas destinando-se basica-mente agrave apresentaccedilatildeo dos resultados obtidos

Todos os recursos de hardware e software citados pelos es-tudantes fazem parte das TICs (TAKAHASHI 2000) que estatildeo na base das transformaccedilotildees observadas na atual sociedade (CAS-TELLS 2010) Levando em conta os avanccedilos das TICs e as moda-lidades educacionais relacionadas tais recursos situam-se em um momento marcado pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Nesse sentido mesmo a disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais natildeo tendo adotado explicitamente uma abordagem do tipo b-learning (OKADA BARROS 2010) os estudantes fizeram espontaneamente uma combinaccedilatildeo de aprendizagem online e

presencial De modo similar eacute possiacutevel afirmar que apesar de a disciplina natildeo adotar o m-learning (KEARNEY SCHUCK BURDEN AUBUSSON 2012) de forma expliacutecita os estudantes fizeram um uso espontacircneo de dispositivos moacuteveis no apoio agrave aprendizagem

5 ConclusotildeesO presente estudo abordou o uso das TICs por estudantes uni-versitaacuterios de Administraccedilatildeo em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais utilizando a metodologia PBL Consi-derou para tanto o contexto mais amplo de transformaccedilotildees tecnoloacutegicas sociais econocircmicas e culturais verificadas na atualidade (CASTELLS 2010) que caracterizam a sociedade da informaccedilatildeo ou da aprendizagem Nesse contexto os recursos tecnoloacutegicos podem apoiar o processo de ensino e aprendi-zagem por meio de novas formas de acesso agrave informaccedilatildeo e aquisiccedilatildeo de conhecimento (ROZA 2017)

Embora os participantes da pesquisa tenham sido estudantes universitaacuterios de Administraccedilatildeo matriculados em uma disciplina de negoacutecios em ambientes virtuais as tecnologias abordadas dentro do conteuacutedo programaacutetico da disciplina natildeo foram o foco deste estudo Tampouco o enfoque foi dado aos recursos tecnoloacutegicos de uso obrigatoacuterio pelos estudantes como o ambiente virtual de aprendizagem da universidade por exemplo Apesar de recursos como esse tambeacutem possuiacuterem potencial de apoiar agrave aprendizagem o presente estudo concentrou-se nas TICs (TAKAHASHI 2000) que satildeo utilizadas por iniciativa dos estudantes a partir de suas neces-sidades para realizaccedilatildeo dos desafios da disciplina situando-se em uma etapa marcada pela linguagem virtual e mais especificamente pelos sistemas de comunicaccedilatildeo digital (COLL MONEREO 2010)

Outro aspecto que merece destaque eacute o fato de a disciplina adotar a aprendizagem baseada em problemas PBL Por se tratar de uma metodologia ativa (CACHINHO 2012) o estudante teve a possibilidade de assumir o papel de protagonista de sua proacutepria aprendizagem utilizando com maior liberdade as TICs para rea-lizaccedilatildeo de tarefas como pesquisa organizaccedilatildeo anaacutelise registro e compartilhamento de informaccedilotildees para aquisiccedilatildeo e produccedilatildeo de novos conhecimentos de forma alinhada agrave concepccedilatildeo de apren-dizagem como um processo de construccedilatildeo de significados (ES-CRIVAtildeO FILHO RIBEIRO 2008) Aleacutem disso tambeacutem eacute importante destacar que esta pesquisa teve um caraacuteter exploratoacuterio e seus resultados se limitam agrave amostra analisada

Os resultados obtidos neste estudo por meio da anaacutelise das entrevistas indicam que o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos pelos estudantes para realizaccedilatildeo das atividades propostas na disciplina notadamente o desktop o smartphone e o notebook foi influenciado por fatores como disponibilidade ergonomia

Paacutegina 5 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

e mobilidade associados a tais dispositivos A disponibilidade tambeacutem foi importante na escolha das redes para os dispositivos moacuteveis o que natildeo se aplicou ao desktop uma vez que nesse caso os computadores jaacute se encontravam conectados agrave rede lo-cal cabeada da universidade Tambeacutem no contexto de realizaccedilatildeo de atividades acadecircmicas da disciplina o uso de software foi guiado pela conveniecircncia em situaccedilotildees em que os programas jaacute se encontravam instalados ou eram de uso habitual entre os estudantes mas tambeacutem pela autonomia nos casos em que o estudante optou pelo uso de determinados programas e serviccedilos da Web abdicando-se de outros

Ainda no acircmbito da disciplina de negoacutecios em ambientes vir-tuais o uso das TICs pelos estudantes mostrou-se mais intenso na etapa de pesquisas da metodologia PBL Na etapa inicial e na etapa de apresentaccedilotildees e debate o uso das TICs foi baixo e moderado res-pectivamente Aleacutem disso destaca-se o fato de que os estudantes fizeram de forma espontacircnea uso combinado de aprendizagem online e presencial bem como uso de dispositivos moacuteveis para apoiar o processo de aprendizagem

De modo geral foi possiacutevel constatar que os estudantes buscaram usar as TICs que consideraram mais adequadas para o cumprimento das atividades da disciplina recorrendo para tanto agravequelas a que jaacute possuiacuteam acesso e com que tinham familiaridade No entanto alguns recursos tecnoloacutegicos embora pudessem auxiliar no cumprimento das atividades propostas como os serviccedilos de armazenamento em nuvem por exemplo foram menos explorados ficando restritos a poucos estudantes nos grupos entrevistados Nesse sentido uma maior troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os membros dos grupos ou ainda a indicaccedilatildeo de tecnologias por parte do professor no acircmbito das atividades apoiadas na metodologia PBL poderia resultar na adoccedilatildeo coletiva de outros recursos tecnoloacutegicos bem como estimular a exploraccedilatildeo de novas tecnologias potencialmente relevantes no apoio ao processo de aprendizagem

R e f e r ecirc n c i a s

BERTONCELLO V CORDEIRO LB BORTOLOZZI F RODRIGUES AP Integraccedilatildeo das TIC e a Metodologia PBL com Aplicaccedilatildeo na aacuterea de Ginecologia e Obstetriacutecia In Brazilian Symposium on Computers in Education 2008 p 370-379

BUCKLAND M K Information and information systems New York Prae-guer 1991

CACHINHO H Criando experiecircncias de aprendizagem significativas do potencial da Aprendizagem Baseada em Problemas El Hombre y la Maacutequina v40 p58-67 2012

CASTELLS M The rise of the network society The information age Econ-omy society and culture Oxford Wiley-Blackwell 2010

CHAFFEY D Gestatildeo de e-business e e-commerce estrateacutegia implementaccedilatildeo e praacutetica Rio de Janeiro Elsevier 2014

COLL C MONEREO C Educaccedilatildeo e aprendizagem no seacuteculo XXI novas fer-ramentas novos cenaacuterios novas finalidades In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da Informaccedilatildeo e da Comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 p15-46

COUTINHO CP LISBOcircA ES Sociedade da informaccedilatildeo do conhecimento e da aprendizagem desafios para educaccedilatildeo no seacuteculo XXI Revista de Educaccedilatildeo v 18 n 1 p5-22 2011

ESCRIVAtildeO FILHO E RIBEIRO LRC Inovando no ensino de administra-ccedilatildeo uma experiecircncia com a Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL) Cadernos EBAPEBR p1-9 2008

KEARNEY MSCHUCK S AUBUSSON P Viewing mobile learning from a pedagogical perspective Research in learning technology v20 p1-17 2012

LALUEZA J L CRESPO I CAMPS S As tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo e os processos de desenvolvimento e socializaccedilatildeo In COLL C MONEREO C (Orgs) Psicologia da educaccedilatildeo virtual aprender e ensinar com as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo Porto Alegre Artmed 2010 (p47-65)

LAUDON K LAUDON J Sistemas de informaccedilatildeo gerenciais Satildeo Paulo Pearson 2011

MANSELL R TREMBLAY G Renewing the knowledge societies vision for peace and sustainable development Paris UNESCO 2013

OKADA A Novos paradigmas na educaccedilatildeo online com a aprendizagem aberta In 5th International Conference in Information and Communi-cation Technologies in Education Challenges 2007 Portugal Centro de Competia da Universidade do Minho

OKADA A BARROS D M V Ambientes virtuais de aprendizagem aberta bases para uma nova tendecircncia Revista Digital de Tecnologias Cogni-tivas v3 p20-35 2010

OSMAN K KAUR SJ Evaluating Biology Achievement Scores in an ICT integrated PBL Environment Eurasia Journal of Mathematics Science amp Technology Education v 10 n 3 p185-194 2014

PINHO JAG Sociedade da informaccedilatildeo capitalismo e sociedade civil reflexotildees sobre poliacutetica internet e democracia na realidade brasileira Revista de Administraccedilatildeo de empresas v51 n1 p98-106 2011

POZO JI A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informa-ccedilatildeo em conhecimento Paacutetio Revista Pedagoacutegica n31 p8-11 2004

ROZA RH Estilos de aprendizagem e o uso das tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 2017 157p Tese (Doutorado em Psicologia como Profissatildeo e Ciecircncia) ndash Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Centro de Ciecircncias da Vida Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psico-logia Campinas 2017

SILVA EL CAFEacute L CATAPAN AH Os objetos educacionais os metadados e os repositoacuterios na sociedade da informaccedilatildeo Ciecircncia da Informaccedilatildeo v39 n3 p93-104 2010

STEVENSON COMMITTEE Information and communications technology in UK schools An independent enquiry (The Stevenson Report) 1997

Paacutegina 6 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

TAKAHASHI T (Org) Sociedade da informaccedilatildeo no Brasil livro verde Brasiacutelia Ministeacuterio da Ciecircncia e Tecnologia 2000

TOLEDO JUacuteNIOR ACC IBIAPINA CDC LOPES SCF RODRIGUES ACP SOARES SMS Aprendizagem baseada em problemas uma nova referecircncia para a construccedilatildeo do curriacuteculo meacutedico Revista Meacutedica de Minas Gerais v18 n2 p123-131 2008 2004 Disponiacutevel em lthttpjournalssagepubcomdoiabs1011771028315303261778gt Acesso em jun2017

LEASK Betty Using formal and informal curricula to improve interac-tions between home and international students Journal of Studies in International Education v 13 n 2 2009 Disponiacutevel em lthttpjsiesagepubcomgt Acesso em jun 2017

MARINGE F Strategies and challenges of internationalisation in HE an exploratory study of UK universities International Journal of Educational Management v 23 n 7 p 553-556 2009 Disponiacutevel em ltwwwemer-aldinsightcom0951-354Xhtmgt Acesso em 20 fev 2015

MAGZAN Masha ALEKSIC-MASLAC Karmela ICT as an effective tool for internationalization of higher education In 13 th world multiconfer-ence on systemics cybernetics and informatics Orlando Florida 2009

MIURA I K O processo de internacionalizaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo um estudo em trecircs aacutereas de conhecimento In (EnANPAD) 33 2009 Anais Satildeo Paulo ANPAD 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwanpadorgbrdiversostrabalhosEnANPADenanpad_2009ESO2009_ESO650pdfgt Acesso em 20 fev2015

MOROSINI M C Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Grupos Investigativos internacionais em dialogo In CUNHA M BROILO C Qualidade e Inter-nacionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior estado de conhecimento sobre

indicadores Araraquara Junqueira amp Marin Eds 2012 v5PHILSON M Curriculum by bytesmdashusing technology to enhance interna-

tional education In MESTENHAUSER J ELLINGBOE B Reforming the higher education curriculum internationalizing the campus Phoenix Arizona The Oryx Press1998 p 150-173

RAMANAU Ruslan Internationalization at a distance a study of the online management curriculum Journal of Management Education v 40(5) p 545-575 2016 Disponiacutevel em ltsagepubcomjournalsPermissionsnav DOI 1011771052562916647984 jmesagepubcomgt Acesso em jun 2017

THUNE Taran WELLE-STRAND Anne ICT for and in internationalization processes A business school case study Noruega Department of Lead-ership and Organizational Management 2005

VAJARGAH Kourosh Fathi KHOSHNOODIFAR Mehrnoosh Toward a distance education based strategy for internationalization of the curriculum in higher education of Iran The Turkish Online Journal of Educational Technology Tehran Iran v 12 2013

WIT Hans de COIL virtual mobility without commercialisation [Sl] Uni-versity World News 2013

WIT Hans de Trends issues and challenges in internationalisation of higher education Amsterdan Hogeschol van Amsterdan 2011

YAN YAN L Impact of globalization on higher education an empirical study of education policy amp planning of design education in Hong Kong International Education Studies v3(4) p73-85 2010

ZUPANC G K H ZUPANC M M Global revolutions in higher education the international schoolsrsquoperspective International Schools Journal v29(1) p 50-59 2009

Paacutegina 7 de 7

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

R e s u m o

Apresentamos uma intervenccedilatildeo pedagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional que procura articular a Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica com a Educaccedilatildeo Ambiental considerando

os aspectos culturais nas relaccedilotildees entre os sujeitos e as aacuteguas em diferentes contextos especialmente no que diz respeito agrave escassez poluiccedilatildeo e maacute distribuiccedilatildeo Como objeto de anaacutelise seraacute apresentado o livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado em 2016 pela editora UDESC Entre os principais resultados alcanccedilados destaca-se o efetivo envolvimento de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento bem como sua validaccedilatildeo preacutevia junto ao puacuteblico escolar ao qual se destina Tal intervenccedilatildeo tambeacutem corrobora a utilizaccedilatildeo criteriosa das tecnologias educacionais na promoccedilatildeo e difusatildeo de conteuacutedos e significados valores e formas de atuaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave qualidade de vida comunitaacuteria

R e s u m e n

Presentamos una intervencioacuten pedagoacutegica de aplicacioacuten de tecnologiacutea educativa que busca artic-ular la Educacioacuten Cientiacutefica y Tecnoloacutegica con la Educacioacuten Ambiental considerando los aspectos culturales en las relaciones entre los sujetos y las aguas en diferentes contextos especialmente en lo que se refiere a su situacioacuten escasez contaminacioacuten y mala distribucioacuten Como objeto de anaacutelisis seraacute presentado el libro digital Sobre a Face das Aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua publicado en 2016 por la Editora UDESC Entre los principales resultados alcanzados se destaca la efectiva participacioacuten de investigadores y profesores de diferentes aacutereas de conocimiento asiacute como su validacioacuten previa ante el puacuteblico escolar al que se destina Tal intervencioacuten tambieacuten corrobora la utilizacioacuten cuidadosa de las tecnologiacuteas educativas en la promocioacuten y difusioacuten de con-tenidos y significados valores y formas de actuacioacuten en relacioacuten a la calidad de vida comunitaria

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 20170929 Aprovado em 20112017

Palavras-chaveEnsino a distacircncia Material paradidaacutetico InterdisciplinaridadeAacutegua

Palabras claveEnsentildeanza a distancia Material paradidaacutectico Interdisciplinariedad Agua

Autores Poacutes-doutorando no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina doutor em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grandee-mail thalassochingyahoocombr

Doutoranda no Programa de Poacutes--Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica da Universidade Federal de Santa Catarina mestre em Educaccedilatildeo Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande e-mail carolinacnpqgmailcom

Professora do Centro de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Universidade do Estado de Santa Catarina doutora em Neuro-ciecircncias pela Universidade Federal de Santa Catarina e-mail isabelcunhaudescbr

Como citar este artigoFERREIRA W NASCIMENTO C C CUNHA I C Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias edu-cacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Intervenccedilatildeo pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionais sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguasIntervencioacuten pedagoacutegica interdisciplinar com tecnologias educacionales sobre las interaciones culturales com las aguas

Washington Ferreira Carolina Cavalcanti do Nascimento e Isabel Cristina da Cunha

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoApresentamos o processo de criaccedilatildeo e utilizaccedilatildeo de material paradidaacutetico sob a forma de um livro digital denominado Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua1 Essa obra se constituiu em uma intervenccedilatildeo pe-dagoacutegica de aplicaccedilatildeo de tecnologia educacional articulan-do princiacutepios conteuacutedos e valores compartilhados entre os campos da Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e da Educaccedilatildeo Ambiental A transversalidade pretendida se efetiva atraveacutes de um conjunto de propostas pedagoacutegicas que buscam conside-rar aspectos culturais de diferentes contextos socioambientais nas suas relaccedilotildees com as aacuteguas

A viabilidade do desenvolvimento de tal atividade foi oportu-nizada atraveacutes da parceria entre a Coordenadoria de Aperfeiccediloa-mento de Pessoal de Niacutevel Superior e a Agecircncia Nacional das Aacuteguas com o lanccedilamento em setembro de 2015 do Edital ANA-CAPES DEB Nordm 182015 subsidiado pelo Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash Projeto Aacutegua O objeti-vo do referido edital foi fomentar a produccedilatildeo de material didaacutetico para a educaccedilatildeo baacutesica sobre o tema ldquoAacuteguardquo para ser utilizado no Ensino Fundamental II e no Ensino Meacutedio e ser disponibilizado em forma de miacutedias e adaptaacuteveis para uso em repositoacuterios online eou em raacutedio TV internet dispositivos moacuteveis (tablets e celu-lares) Entre as exigecircncias desse edital em relaccedilatildeo aos projetos aprovados estavam ser desenvolvidos preferencialmente por equipes multidisciplinares ter como referecircncia os conteuacutedos elencados nos Paracircmetros Curriculares Nacionais do Meio Am-biente em que se situa a discussatildeo sobre o tema ldquoAacuteguardquo ter um caraacuteter interdisciplinar e garantir a testagem preacutevia do material didaacutetico produzido (ANA-CAPES 2015)

O projeto Sobre a Face das Aacuteguas submetido pela Univer-sidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) teve vigecircncia entre os meses de janeiro e dezembro de 2016 Seu objetivo central foi produzir um material paradidaacutetico de hipertexto no formato de ePUB2 ndash contendo textos informativos forma-tivos e trabalhos artiacutesticos ndash que auxiliasse na reflexatildeo sobre as diferentes relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas voltadas tanto para a aprendizagem sobre a importacircncia das aacuteguas e dos seus usos sustentaacuteveis quanto para diferentes conteuacutedos disciplinares associados ao referido tema O projeto buscava elaborar um material didaacutetico interativo dinacircmico e acessiacutevel que possibilitasse aos profes-sores(as) do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio integrar a discussatildeo sobre a importacircncia e o uso sustentaacutevel da aacutegua aos seus conteuacutedos curriculares articular as diferentes mani-festaccedilotildees artiacutesticas e culturais com o tema ldquoaacuteguardquo agraves atividades pedagoacutegicas de mediaccedilatildeo de aprendizagem e sensibilizar e problematizar as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua consi-derando o contexto temporal e territorial de diferentes grupos

eacutetnico-culturais As manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais estatildeo muito mais acessiacuteveis hoje em dia e podem ser utilizadas com vieacutes pedagoacutegico se estiverem ao alcance dos professores como recurso didaacutetico (CUNHA 2015) Elas por si mesmas trazem informaccedilotildees e geram sentimentos que auxiliam na formaccedilatildeo do sujeito poreacutem esse potencial pode ser otimizado na medida em que se propotildeem objetivos de aprendizagem associados a essas informaccedilotildees e emoccedilotildees

No sentido de estimular a relaccedilatildeo sustentaacutevel com os recursos de bem comum como por exemplo a aacutegua cabe agrave Educaccedilatildeo Cientiacutefica e Tecnoloacutegica e agrave Educaccedilatildeo Ambiental o compromisso com a formaccedilatildeo do sujeito tanto no acircmbito racional pragmaacuteti-co quanto no acircmbito eacutetico e moral ndash estimulando a superaccedilatildeo da relaccedilatildeo utilitarista que ainda mantemos com os elementos e os fenocircmenos da natureza Nessa perspectiva com diferentes dimensotildees e aspectos muitos autores e educadores tecircm sugeri-do e experimentado uma aproximaccedilatildeo da educaccedilatildeo com a arte trazendo na maioria das vezes elementos de linguagens artiacutesticas agraves praacuteticas educativas

A Transversalidade emerge como alternativa para a construccedilatildeo da Interdisciplinaridade e ao aprofundamento da Transdisciplinaridade que Edgar Morin indica como uma forma da educaccedilatildeo contemplar uma nova leitura do mundo Isso nos remete agrave compreensatildeo de que o mundo fiacutesico eacute uma rede de relaccedilotildees de conexotildees e natildeo uma en-tidade fragmentada em que as partes satildeo analisadas separadas do todo sem a preocupaccedilatildeo com a complexidade existente e com as inter-relaccedilotildees entre essas mesmas partes (SANTOS 2012 p 169)

A preocupaccedilatildeo educacional com as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas abrange desde a sua (in)disponibilidade e perda de qualidade ateacute a percepccedilatildeo dos aspectos eacuteticos-afeti-vos envolvidos nestas mesmas relaccedilotildees A construccedilatildeo de uma percepccedilatildeo proacutepria autocircnoma e emancipatoacuteria da relaccedilatildeo com a aacutegua natildeo pode ser algo indutivo maniqueiacutesta ndash no sentido de determinar o que eacute certo e errado ditando comportamentos ade-quados que noacutes enquanto adultos tambeacutem temos dificuldades de praticar Portanto torna-se fundamental associar a aacutegua com as diferentes manifestaccedilotildees culturais visando a sensibilizar sobre as relaccedilotildees do ser humano com a aacutegua por meio de atividades pedagoacutegicas problematizadoras

2 Resultados e AnaacuteliseO desenvolvimento da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas (NASCI-MENTO FERREIRA CUNHA 2016) foi estruturado atraveacutes de um conjunto de etapas processuais (Tabela 1)

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Tabela 1 ndash Etapas e atividades da produccedilatildeo do livro Sobre a face das aacuteguas

Etapas Atividades Observaccedilotildees

A

Pesquisa seleccedilatildeo eou produccedilatildeo de obras artiacutesticas e manifestaccedilotildees culturais relacionadas com o tema Aacutegua

Desenhos pinturas foto-grafias muacutesicas filmes escul-turas instalaccedilotildees contos poemas crocircnicas

BElaboraccedilatildeo das propostas pe-dagoacutegicas a partir dos materiais selecionados

C

Avaliaccedilatildeo e contribuiccedilatildeo (teoacuterica e metodoloacutegica) de especialistas - professores(s) e pesquisado-res(s) ndash considerando aspectos conceituais disciplinares

Aacutereas envolvidas arte ge-ografia histoacuteria sociologia filosofia liacutengua portuguesa e literatura inglecircs matemaacute-tica biologia oceanografia espiritualidade e religiotildees

DInserccedilatildeo das contribuiccedilotildees dos(s) especialistas nas propos-tas pedagoacutegicas

E Esboccedilo preliminar das propostas em desenvolvimento

FVideoconferecircncia nacional de inte-graccedilatildeo dos projetos contemplados mediada pela CAPES

(abril de 2016)

G Complementaccedilatildeo de atividades e propostas pedagoacutegicas

H Supervisatildeo e ajustes da coordena-ccedilatildeo do projeto

I Revisatildeo textual

J Conversatildeo das propostas pedagoacute-gicas editadas (nos formatos e-Pub e PDF)

K Testagem de validaccedilatildeo junto ao puacuteblico usuaacuterio

(professores(s) e alu-nos(s))

L Revisatildeo final e poacutes-produccedilatildeo

MSeminaacuterio nacional presencial de integraccedilatildeo dos projetos contem-plados junto a CAPES

(Brasiacutelia DF novembro de 2016)

Fonte os autores 2017

As sugestotildees de atividades foram distribuiacutedas entre vinte pro-postas pedagoacutegicas de caraacuteter informativo e formativo a partir de manifestaccedilotildees artiacutesticas e culturais sobre as relaccedilotildees entre os seres humanos e as aacuteguas todas conectadas a determinados temas e conteuacutedos especiacuteficos (Tabela 2)

Tabela 2 ndash propostas pedagoacutegicas do livro Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua

Atividades Artes Temas

Coacutedigo de Hamurabi

Trecho do Coacutedigo de Hamurabi (considerado o primeiro conjunto de leis da humanidade

CidadaniaDesastres ambientaisCTSMovimentos sociais

O Grito da Boneca

Fotografia de Wa Ching do Estuaacuterio da Lagoa dos Patos Rio Grande do Sul

Poluiccedilatildeo hiacutedricaDespejo de resiacuteduosPoliacuteticas puacuteblicasSaneamento baacutesico

A Arca Charge El Arca do argentino Mayer

Mudanccedilas climaacuteticasBiodiversidade

Escultura Submersa

Escultura em maacutermore do catarinense Pita Camargo no mar no Reserva Bioloacutegica do Arvoredo SC

UCsPoluiccedilatildeoBiodiversidade

As Aacuteguas de Tom e Gonzaga

Muacutesicas Asa Branca do cantor e compositor Luiz Gonzaga e Aacuteguas de Marccedilo do cantor e compositor Tom Jobim

Mudanccedilas climaacuteticasDesigualdades sociaisEscassez da aacutegua

Aacutegua Charge do brasileira Jack Kaminski

Escassez da aacuteguaSustentabilidade

Lenda das Sereias

Samba-enredo Lenda das Sereias_Rainha do Mar do GRES Impeacuterio Serrano

Mitologia africanaSincronismo religioso

Meditaccedilatildeo da Aacutegua

Proposta transdisciplinar para introduccedilatildeo ao tema Aacutegua atraveacutes da meditaccedilatildeo

Budismo tibetano

O Nascer do Mar

Poema natildeo titulado do autor Raul Machado

Impactos ambientais

O Velho e o Mar

Video-animaccedilatildeo a adaptaccedilatildeo da obra literaacuteria claacutessica de Ernest Hemingway publicado em 1952

Ser humano-naturezaSustentabilidadeComunidade tradicional

Continua gt

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Atividades Artes Temas

Retirantes

A obra Retirantes pintada em 1944 por Cacircndido Portinari

Desigualdades sociaisMovimentos sociais

PrioridadesCharge (natildeo titulada) do alematildeo Jan Tomaschoff

Mudanccedilas climaacuteticasSustentabilidadeJusticcedila amiental

Hino ao NiloHino em homenagem ao Rio Nilo no Egito

Cidadania

Rio das Mulheres

Documentaacuterio O Rio das Mulheres pelo olhar de Ivaneide de 2004

Desigualdade de gecircneroSustentabilidade

As Primeiras Civilizaccedilotildees

O Mapa das Pri-meiras Civilizaccedilotildees eacute um desenho (vetorizaccedilatildeo) em tela utilizando o software livre de geoprocessa-mento QGIS

Aacutegua e Sauacutede

A imagem representando a praacutetica do banho na Idade Meacutedia

HigieneSauacutedeSaneamento Baacutesico

Fonte Elaborado pelos autores baseado em Nascimento Ferreira

Cunha 2016

O conteuacutedo e a linguagem deste livro digital foram estrutura-dos visando como usuaacuterios diretos principalmente professores do Ensino Fundamental II e do Ensino Meacutedio Para cada uma das vinte atividades propostas foram tambeacutem apresentadas seacuteries especiacuteficas de fontes bibliograacuteficas atraveacutes de comentaacuterios ao longo do texto e hiperlinks de acesso ao domiacutenio virtual como estiacutemulo para o aprofundamento dos leitores nos temas e pro-cessos discutidos em relaccedilatildeo aos seus referenciais cientiacutefico--tecnoloacutegicos e artiacutestico-culturais aleacutem da contextualizaccedilatildeo das obras originais Outro ponto a ser destacado foi o envolvimento interdisciplinar de pesquisadores e professores de diferentes aacutereas de conhecimento no processo de pesquisa elaboraccedilatildeo e produccedilatildeo desta obra (Quadro 1)

Quadro 1 ndash roteiro para avaliaccedilatildeo das propostas pedagoacutegicas pelos pesquisadores-professores

Temas de avaliaccedilatildeo

Questotildees para avaliaccedilatildeo das propostas Detalhes

Qualidadeda arte

a) eacute interessanteb) trata da temaacutetica aacuteguac) eacute adequada para o Ensino

Fundamental II eou Ensino Meacutedio

d) estaacute classificada adequadamente

(poema muacutesica documentaacuterio histoacuteria em quadrinho charge fotografia viacutedeo)

Qualidadeda proposta

a) eacute interdisciplinarb) estaacute bem contextualizada

(apresentada)c) eacute transversal (considera o

cotidiano)d) articula questotildees locais e globaise) quais elementos relacionados com

o tema aacutegua ainda podem ser explorados na arte

f ) cita conteuacutedos adequados em relaccedilatildeo agraves disciplinas citadas

g) quais outras disciplinas e conteuacutedos ainda podem ser explorados

h) forneceu elementos paradidaacuteticos para o() professor() ou poderia apresentar mais coisas (aprofundar pedagogicamente)

i) estaacute bem articulada com a arte ou foge do assunto

Fonte os autores 2017

O retorno dessas avaliaccedilotildees preliminares foi decisivo na me-lhor estruturaccedilatildeo do conjunto de propostas e na sua adequa-ccedilatildeo agraves especificidades de diferentes aacutereas Seguem-se algumas recomendaccedilotildees recebidas sobre uma das atividades propostas que exemplificam a forma de participaccedilatildeo de pesquisadores--professores (Quadro 2)

Quadro 2 ndash recomendaccedilotildees dos pesquisadores-professores sobre as propostas pedagoacutegicas

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Liacutengua Portuguesa

A animaccedilatildeo eacute adequada para o trabalho especialmente com o Ensino Fundamental pela sua ludicidade e linguagem visual e graacutefica atrativas A sugestatildeo eacute trabalhar interpretaccedilatildeo visto que o que estaacute sendo dito eacute dito sem o uso de palavras possibilitando e instigando a discussatildeo sobre o que estaacute sendo representado

Matemaacutetica

O() professor() pode desenvolver uma atividade em que seussuas estudantes tenham uma vivecircncia com as operaccedilotildees numeacutericas pois a animaccedilatildeo serve como desencadeadora para problematizar os custos em dinheiro para ter acesso agrave aacutegua potaacutevel Aleacutem disso a diferenccedila de valor entre as marcas que a mercantiliza e de como esta relaccedilatildeo reflete de forma diferente entre as classes sociais

Continua gt

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

AtividadeAacuterea de ensino Recomendaccedilotildees

Abuela Grillo

Geografia

Na geografia humana sugerimos os estudos sobre a induacutestria da seca possibilitando assim uma analogia do viacutedeo com a realidade do nordeste brasileiro A ldquoinduacutestria da secardquo eacute um termo utilizado para retratar uma condiccedilatildeo de exploraccedilatildeo por parte de pessoas que se beneficiam da miseacuteria no conhecido poliacutegono da seca regiatildeo do territoacuterio brasileiro caracterizado por baixas precipitaccedilotildees

Sociologia

Eacute possiacutevel discutir (a) A apropriaccedilatildeo privada dos mananciais e a mercantilizaccedilatildeo da aacutegua relacionando estes fatos com o capitalismo a industrializaccedilatildeo a urbanizaccedilatildeo o individualismo etc (b) O fato do ser humano controlar e se impor agrave natureza

Fonte os autores 2017

Aleacutem disso o livro foi submetido agrave Fase de Teste atendendo agrave exigecircncia do edital ANA-CAPES com professores da Escola de Edu-caccedilatildeo Baacutesica Vereador Guilherme Zuege (no municiacutepio de Joinville SC) vinculada agrave rede puacuteblica estadual de Santa Catarina atraveacutes da sua avaliaccedilatildeo (Quadro 3) Cabe ressaltar que a Fase de Teste foi realizada antes da finalizaccedilatildeo do livro para que a avaliaccedilatildeo fosse efetivamente contemplada no resultado final

Quadro 3 ndash retorno da avaliaccedilatildeo dos professores (N=3)

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre o formato e-Pub e sua utilizaccedilatildeo

a) Seria mais atrativo se fosse mais colorido mais di-nacircmico Eacute praacutetico mas seria interessante se fosse tambeacutem para o uso do professor em sala de aula com os alunos e pra isso ele precisaria ser mais atrativo visualmente os viacutedeos por exemplo deveriam estar disponibilizados no proacuteprio EPUB

b) As atividades propostas nos deixam vaacuterias possibilidades de como podemos trabalhar em sala de aula

c) Atende agraves necessidades

Qual sua opiniatildeo sobre o conteuacutedo das propostas pedagoacutegicas

a) Os conteuacutedos disciplinares estatildeo contemplados nas propostas dessa forma trabalhar esses con-teuacutedos se torna mais atrativo para os estudantes e a interdisciplinaridade acontece de forma natural as relaccedilotildees se constroem e os estudantes podem perceber como as coisas estatildeo interliga-das

b) Nos faz refletir de maneira global sobre a impor-tacircncia da aacutegua para o nosso planeta

c) Conteuacutedo diversificado e envolvente

Qual sua opiniatildeo sobre o uso de obras artiacutesticas como desencadeadoras-problematizadoras em atividades pedagoacutegicas

a) Perfeito A arte desperta empatia para os temas que seratildeo abordados As questotildees ambientais muitas vezes satildeo abordadas de forma morali-zante e por meio de cartilhas sem proporcionar a reflexatildeo e sem fazer relaccedilotildees com o cotidiano das pessoas A escolha das obras alcanccedilou manifestaccedilotildees artiacutesticas diferentes ampliando as possibilidades de abordagem

b) As obras artiacutesticas causa uma sensibilizaccedilatildeo vc passa a ver a perceber todos aspectos de uma sociedade atraveacutes da arte

c) Considero de muito valia visto que a proble-matizaccedilatildeo de qualquer tema torna-se mais interessante quando haacute visualizaccedilatildeo das ideais que devem ser desenvolvidas

Continua gt

Questotildees Respostas

Qual sua opiniatildeo sobre a proposta do e-Pub Sobre a Face das Aacuteguas

a) A proposta eacute original acredito pois jamais entrei em contato com algo assim Temas ambientais satildeo recorrentes e precisam ser trabalhados em sala de aula e por vezes eacute difiacutecil inovar e com essa proposta muitas outras ideias podem ser desencadeadas A tecnologia (o formato EPUB) tambeacutem estaacute palpitando e os professores precisam se arriscaraventurar por esses novos ambientes pois sua linguagem eacute muita mais proacutexima dos jovens estudantes

b) Ele nos mostra diversas maneiras de se trabalhar o tema aacutegua em vaacuterios contextos o que torna interessante para nossos alunos

c) Muito boa Novidade sempre eacute bem vinda para envolver o jovem de hoje Inovaccedilatildeo eacute tudo

Fonte os autores 2017

21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desigualdades

Os problemas socioambientais identificaacuteveis nos niacuteveis local regional e nacional constituem expressotildees localizadas de uma crise planetaacuteria ndash pobreza poluiccedilatildeo escassez de recursos natu-rais renovaacuteveis e natildeo renovaacuteveis extinccedilatildeo de espeacutecies alteraccedilotildees climaacuteticas etc Tal cenaacuterio estaacute intimamente atrelado ao vieacutes an-tropocecircntrico o qual atribuiu ao homem a tarefa de dominar e explorar a natureza ndash perspectiva evidenciada no processo de industrializaccedilatildeo (NASCIMENTO 2013) Nesse processo a ciecircncia e a tecnologia (CampT) foram vistas predominantemente ateacute haacute pouco tempo como sinocircnimos inequiacutevocos de progresso e salvadoras de todos os possiacuteveis problemas No entanto apesar da preten-sa neutralidade da CampT o tempo foi revelando outras facetas como a constataccedilatildeo cada vez mais evidente da imensidade da discrepacircncia na reparticcedilatildeo social dos ocircnus e bocircnus desse mode-lo de desenvolvimento amplificando o poder sociopoliacutetico e os rendimentos para o mercado industrial (ANGOTTI AUTH 2001)

Dessa forma assim como a ciecircncia e a tecnologia natildeo trouxe-ram o prometido benefiacutecio a todos houve ainda a intensificaccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental trazendo enormes consequecircncias ne-gativas a grupos especiacuteficos Essa configuraccedilatildeo de desigualdades em relaccedilatildeo aos impactos socioambientais gerados pela explora-ccedilatildeo desenfreada da natureza associados aos ldquoavanccedilosrdquo enviesados da CampT constitui o que vem sendo reconhecido como injusticcedila ambiental entendida como o mecanismo pelo qual sociedades desiguais do ponto de vista econocircmico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento agraves populaccedilotildees de baixa renda aos grupos sociais discriminados aos povos eacutet-nicos tradicionais aos bairros operaacuterios agraves populaccedilotildees margina-lizadas e vulneraacuteveis3

Em contraposiccedilatildeo a ideia de justiccedila ambiental aparece como o conjunto de princiacutepios que visam a assegurar que nenhum grupo de pessoas sejam grupos eacutetnicos raciais ou de classe suporte

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

uma parcela desproporcional das consequecircncias ambientais negativas de operaccedilotildees econocircmicas de poliacuteticas e programas federais estaduais e locais bem como resultantes da ausecircncia ou omissatildeo de tais poliacuteticas Aleacutem disso eacute a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas inde-pendentemente de sua raccedila cor origem ou renda no que diz respeito agrave elaboraccedilatildeo desenvolvimento implementaccedilatildeo e reforccedilo de poliacuteticas leis e regulamentaccedilotildees ambientais (BULLARD 1990 ACSELRAD 2004 HERCULANO PACHECO 2006)

Segundo Herculano e Pacheco (2006) o movimento por justiccedila ambiental nos Estados Unidos tem dois momentos de criaccedilatildeo Em 1978 quando uma comunidade (Love Canal) de famiacutelias de operaacuterios (brancos) da induacutestria eleacutetrica no Niagara Falls des-cobriu-se vivendo em cima de um aterro de resiacuteduos toacutexicos e passou a lutar por indenizaccedilotildees por tratamento meacutedico e pelo direito agrave informaccedilatildeo sobre seu local de vida constituindo-se em coalizatildeo que deu forma ao Center for Health and Environmental Justice (Centro por Sauacutede e Justiccedila Ambiental)

Em 1982 em Warren County na Carolina do Norte registrou-se a revolta da populaccedilatildeo negra contra um depoacutesito de rejeitos quiacute-micos Desde entatildeo o movimento negro passou a utilizar a ex-pressatildeo racismo ambiental relativa a qualquer poliacutetica praacutetica ou diretiva que afete ou prejudique de formas diferentes voluntaacuteria ou involuntariamente a pessoas grupos ou comunidades por motivos de raccedila ou cor (BULLARD 2005 p1)

Essas definiccedilotildees tecircm seu valor na discussatildeo sobre as despropor-cionalidades das consequecircncias ambientais negativas entre diferen-tes populaccedilotildees No entanto de acordo com Herculano e Pacheco (2006) enquanto a perspectiva de justiccedila ambiental apresenta o vieacutes de classes ndash considerando seu sujeito como minoria e tendo foco no objeto e no processo da disputa no conflito em si (argumentaccedilatildeo proacutexima ao marxismo) ndash a perspectiva do racismo ambiental faz uma criacutetica agrave inferiorizaccedilatildeo racial ndash referindo-se agrave maioria (os pobres vistos preconceituosamente como raccedila inferior) e focando nos sujeitos coletivos nos valores e na eacutetica (MATHIAS 2007)

Natildeo caberia neste espaccedilo empreender esforccedilos para aferir o grau de importacircncia de um conceito em relaccedilatildeo a outro e muito menos julgar os niacuteveis de impactos sofridos entre as populaccedilotildees brancas pobres e as populaccedilotildees negras e indiacutegenas tambeacutem exclu-iacutedas socialmente Destacamos a importacircncia de desenvolverem es-forccedilos e inciativas para a produccedilatildeo e difusatildeo de materiais didaacuteticos e paradidaacuteticos que considerem tanto as diferentes relaccedilotildees com o meio ambiente quanto ao conjunto de consequecircncias da crise socioambiental considerando as desigualdades sociais e raciais que estatildeo sendo reproduzidas nesse contexto e para cuja soluccedilatildeo a educaccedilatildeo deve assumir efetivo compromisso eacutetico e em cujo pro-cesso as tecnologias educativas podem colaborar decisivamente

22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental A complexidade crescente das demandas conflitos e impactos am-bientais na sociedade contemporacircnea exige a adoccedilatildeo de um sistema de gestatildeo socioambiental robusto e efetivo integrado e assumido pela coletividade como instrumento e processo decisoacuterio administra-do de forma transparente e participativa para o qual as tecnologias educativas podem desempenhar relevante papel A responsabilidade compartilhada social e economicamente pelo conjunto dos cidadatildeos do paiacutes implica para aleacutem dos deveres associados ao pagamento dos tributos e impostos tambeacutem o efetivo envolvimento na promoccedilatildeo e execuccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas direcionadas a reduccedilatildeo das desigual-dades sociais (VIEIRA et al 2006 p48)

Diversas iniciativas e propostas vecircm sendo conduzidas no sentido de habilitar a estrutura e pessoal administrativo do Estado a incorporar o instrumental necessaacuterio para a captaccedilatildeo a anaacutelise e a decisatildeo mais aacutegil de informaccedilotildees e insumos aplicaacuteveis na resoluccedilatildeo das necessidades da populaccedilatildeo Uma vez efetivada e aperfeiccediloada tal perspectiva pode vir a se constituir natildeo soacute em um instrumento mas numa caracteriacutestica central do processo de gestatildeo podendo chegar ao conceito de governo eletrocircnico (e-Gov) Aleacutem da aspirada eficaacutecia na gestatildeo puacuteblica tal instru-mental pode tambeacutem contribui para amplificar sua legitimidade agrave medida que proporcione real transparecircncia e acesso agrave populaccedilatildeo sobre as questotildees de planejamento e decisatildeo que incidam no conjunto do tecido social (PERSEGONA 2005 p131)

Contudo de modo a prevenir eventuais distorccedilotildees que a detenccedilatildeo privilegiada de informaccedilatildeo possa acarretar (pela consequente con-centraccedilatildeo de poder poliacutetico-econocircmica dela derivada) o progressivo desenvolvimento tecnoloacutegico e comunicacional deve ser regulamen-tado pelo Estado com a fiscalizaccedilatildeo pelo conjunto da sociedade e seus representantes garantindo-se o seu pleno acesso assim amplificando o seu potencial educativo Tais cuidados imprescindiacuteveis devem ser aprofundados quando da utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas no processo formativo como na Educaccedilatildeo agrave Distacircncia (EaD) na qual se destaca sua responsabilidade pela seleccedilatildeo das propostas composiccedilatildeo de equipe formadora estrateacutegias didaacuteticas e proposiccedilatildeo de ativida-des que podem influenciar decisivamente no ecircxito ou fracasso dessas mesmas poliacuteticas educativas (FUJITA 2010 p188-189) A hipertrofia e descontrole do aparato informacional enquanto instrumento e espaccedilo regulador dos fluxos e processos formativos comunicacionais e geren-ciais pode distanciar-se profundamente dos objetivos comunitaacuterios e identitaacuterios consolidando-se enquanto instacircncia emergente de poder poliacutetico-econocircmico impondo a sociedade os seus proacuteprios padrotildees e valores distoantes das necessidades e aspiraccedilotildees coletivas Tal eacute o risco intriacutenseco ao processo de utilizaccedilatildeo e dependecircncia crescente da sociedade em relaccedilatildeo agraves tecnologias educativas na ausecircncia de efetivo controle social dos seus meios de produccedilatildeo atraveacutes da proacutepria populaccedilatildeo e de seus representantes sociopoliacuteticos

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Para lidar de modo adequado pertinente e seguro com essa possibilidade assim como com quaisquer outros gran-des riscos conflitos e impactos socioambientais vivenciados coletivamente nunca eacute demais insistirmos no empoderamento social com a garantia da transparecircncia e do pleno acesso agraves informaccedilotildees para a participaccedilatildeo qualificada nas discussotildees de real significado para a sociedade

A educaccedilatildeo ambiental e a educaccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica detecircm uma capacidade de mobilizaccedilatildeo social significativa ao contextualizar criticamente as potencialidades e problemas as perspectivas e conflitos socioambientais proporcionando as con-diccedilotildees para a discussatildeo coletiva e qualificada das comunidades para o planejamento socioambientalmente referenciado dos seus espaccedilos e territoacuterios Por meio de sua inserccedilatildeo e reverberaccedilatildeo nos espaccedilos programas e atividades de EaD podem ser compreendidos e vivenciados como comunidades de aprendizagem espaccedilos de pertencimento e cidadania elementos essenciais para desencadear a gestatildeo participativa municipal que promova a efetiva incorpora-ccedilatildeo da sustentabilidade e justiccedila socioambiental (FERREIRA 2010) Nesse cenaacuterio a EaD demanda um novo paradigma de ruptura com modelo claacutessico de ensino (atrelado ao modelo econocircmico em curso) desconexo e competitivo para um novo sistema integrado e colaborativo Ensinar a estudar e a trabalhar em cooperaccedilatildeo requer tambeacutem um novo perfil dos profissionais da educaccedilatildeo pelo qual sejam capazes de reconhecer as peculiaridades individuais e com a habilidade para administrar os conflitos dessa nova aprendizagem colaborativa (MARAVALHAS COSTA BARRETO 2010 p 11)

Como as atividades satildeo desenvolvidas em grupos nas diferen-ccedilas e divergecircncias ou seja na convivecircncia os estudantes aprendem a respeitar o outro como legiacutetimo A liberdade e a responsabilidade se estendem ao material pedagoacutegico disponiacutevel nos ambientes que oferecem subsiacutedios (tanto para os professores quanto para os estudantes) na proposiccedilatildeo de diferentes praacuteticas pedagoacutegicas (GAUTEacuteRIO RODRIGUES 2013 p 616) A responsabilidade e a liber-dade como emoccedilotildees que fundamentam o fazer humano passam a ser compreendidas em uma dimensatildeo ampliada Professores e estudantes entendem que satildeo responsaacuteveis pelo ensinar e pelo aprender e ao se darem conta das consequecircncias das proacuteprias accedilotildees podem optar por desejar ou natildeo esses resultados

Como todo processo educativo e cultural as tecnologias educativas satildeo constructos humanos logo natildeo satildeo neutras elas contecircm e condicionam determinados conteuacutedos e ideologias objetivos e sujeitos Os instrumentos os processos e os produtos gerados e compartilhados pela a EaD por exemplo congregam um potencial muito expressivo de transformaccedilatildeo nas interaccedilotildees socioculturais por tal caracteriacutestica seu emprego deve considerar com parcimocircnia as repercussotildees locais e contextos especiacuteficos onde podem vir a incidir de modo a prevenir e evitar a erosatildeo

cultural pela homogeneizaccedilatildeo da diversidade cultural diante de padrotildees de referecircncia externos assim como no tratamento super-ficial e alienante de temas e abordagens e ainda no processo de precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de vida dos profissionais da educaccedilatildeo em progressiva substituiccedilatildeo pela mediaccedilatildeo eletrocircnica

Por outro lado satildeo muacuteltiplas as suas potenciais contribuiccedilotildees para o desenvolvimento das capacidades humanas o respeito e va-lorizaccedilatildeo da diversidade eacutetnico-cultural e o estiacutemulo agrave criatividade Tais dimensotildees devem ser trabalhadas pelo fortalecimento do senso criacutetico da cooperaccedilatildeo e da efetiva participaccedilatildeo cidadatilde nos processos decisoacuterios sobre os destinos compartilhados de todas as sociedades Entendemos pois que a produccedilatildeo e a difusatildeo do livro digital Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacuteguas com seu conjunto de propostas pedagoacutegicas concebidas aplicadas e avaliadas por pesquisadores e professores constitui-se em um estudo de caso representativo do potencial inspirador da (e para a) utilizaccedilatildeo das tecnologias educativas com perspectivas de transformaccedilatildeo socioambiental qualificando-nos em conjunto para a melhoria dos processos produtivos e educativos

3 ConsideraccedilotildeesPercebemos como organizadores e colaboradores envolvidos na produccedilatildeo dessa obra que a proposta pedagoacutegica interdisciplinar sobre as interaccedilotildees culturais com as aacuteguas conseguiu atender aos objetivos estabelecidos respondendo de modo satisfatoacute-rio aos desafios empreendidos A sua avaliaccedilatildeo junto aos seus destinataacuterios atraveacutes da Fase de Testes preacutevios com professores resultou na adaptaccedilatildeo e aperfeiccediloamento de algumas atividades propostas incrementando a qualidade e aderecircncia do produto final as necessidades e expectativas docentes

A ampla receptividade do produto final junto aos colegas pesqui-sadores-professores durante o Seminaacuterio Nacional de Integra-ccedilatildeo da CAPES constituiu-se em fator de grande estiacutemulo para o desenvolvimento de projetos similares (re)conectando as aacutereas teacutecnico-cientiacuteficas e artiacutestico-culturais solidamente embasadas no contexto nacional mas abertos agrave pluralidade de formas de expressatildeo e abordagens do patrimocircnio cultural da humanidade

Focalizamos algumas formas e processos de interaccedilatildeo entre as atividades e expressotildees artiacutestico-culturais com ecossistemas recursos e seres aquaacuteticos os quais merecem nosso respeito e esforccedilos para a manutenccedilatildeo da integridade e complexidade desses universos hiacutedricos Entendemos que a educaccedilatildeo cientiacutefi-ca e tecnoloacutegica e a educaccedilatildeo ambiental devem estar abertas e receptivas para o contiacutenuo intercacircmbio de saberes e fazeres com o multiverso dos conhecimentos natildeo acadecircmicos gestados no cotidiano da vida laboral de todas as culturas

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa intervenccedilatildeo pedagoacutegica tambeacutem adveacutem a compreensatildeo da pertinecircncia e da relevacircncia da adoccedilatildeo criteriosa criacutetica e participativa das tecnologias educacionais com efetivo potencial de mobilizaccedilatildeo e interaccedilatildeo social para a discussatildeo e problematizaccedilatildeo de temas aspectos e questotildees compartilhadas por diferentes comunidades e contextos

Entendemos tambeacutem o valor intriacutenseco a tais tecnologias educa-cionais no sentido de viabilizar a exponencial ampliaccedilatildeo do acesso compartilhamento apropriaccedilatildeo e transformaccedilatildeo dos conteuacutedos e significados produzidos-difundidos constituindo-se em instru-mental acessoacuterio para subsidiar a atuaccedilatildeo dos educadores em todos os acircmbitos niacuteveis e escalas contextos e realidades socioculturais e poliacutetico-econocircmicas Concebidas e conduzidas de modo a respeitar valorizar e estimular a diversidade de saberes e fazeres concepccedilotildees de mundo e (re)leituras de conhecimentos patrimoniais teacutecnicos cientiacuteficos e artiacutesticos as tecnologias educacionais contribuiratildeo mais efetivamente para a contiacutenua formaccedilatildeo da cidadania criacutetica e parti-cipativa e melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

N o t a s

1 ndash O referido livro foi organizado pela Editora da UDESC e se encontra disponiacutevel para consulta e download gratuitos no Portal EduCapes nos formatos ePUB e PDF no endereccedilo eletrocircnico lthttpeducapescapesgovbrhandlecapes111675gt

2 ndash Segundo Daquino (2010) existem diversas formas para a leitura de e-books smartphones ou softwares No entanto nem todo aparelho ou aplicativo suporta todas as extensotildees dos e-books Entre as vantagens da utilizaccedilatildeo do ePUB estatildeo o acesso a conteuacutedos em diversos dispositivos e a faacutecil adaptaccedilatildeo do texto a cada tela de qualquer dispositivo

3 ndash O referido conceito consta do Manifesto de lanccedilamento da Rede Brasileira de Justiccedila Ambiental Disponiacutevel em lthttpwwwmmagovbrdestaquesitem8077gt

R e f e r ecirc n c i a s

ACSELRAD H (Org) Conflitos ambientais no Brasil Rio de Janeiro RJ Relume-Dumaraacute 2004

ANA-CAPES Edital ANA-CAPESDEB Nordm 182015 2015 11 f Programa de Apoio agrave Produccedilatildeo de Material Didaacutetico para a Educaccedilatildeo Baacutesica - Projeto Aacutegua Brasiacutelia DF Agencia Nacional das Aacuteguas 2015 11 f

ANGOTTI J A P AUTH MA Ciecircncia e tecnologia implicaccedilotildees sociais e o papel da educaccedilatildeo Ciecircncia amp Educaccedilatildeo v7 n1 p15-27 2001

BULLARD R D Dumping in Dixie race class and environmental quality Boulder Westview Press 1990

______ Eacutetica e racismo ambiental In Revista Eco-21 ano XV Nordm 98 janei-ro2005 Disponiacutevel em lthttpwwweco21combrtextostextosaspID=996gt Acesso em 27 fev 2017

CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas Florianoacutepolis UDESC ndash Universidade do Estado de Santa Catarina 2015 10 p

DAQUINO F O que eacute o formato ePUB Portal Tecmundo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwtecmundocombramazon3644-o-que-e-o-for-mato-epub-htmgt Acesso em 24 out 2015

FERREIRA W O papel da educaccedilatildeo ambiental a distacircncia no reconhecimento das demandas comunitaacuterias frente agraves poliacuteticas puacuteblicas regionais In Seminaacuterio Poliacuteticas Puacuteblicas e Educaccedilatildeo Constituindo a Cidadania Rio Grande RS FURG ndash Universidade Federal do Rio Grande 2010

FUJITA O M Educaccedilatildeo agrave distacircncia curriacuteculo e competecircncia uma proposta de formaccedilatildeo on-line para gestatildeo empresarial 2010 285 f Tese (Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo) - Faculdade de Educaccedilatildeo Universidade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2010 (285 p) Disponiacutevel em lthttprepositoriomi-nedugobpebitstreamhandle12345678917352010_Fujita_Educa-C3A7C3A3o20a20distC3A2ncia20currC3ADculo20e20competC3AAncia-20uma20proposta20de20forma-C3A7C3A3o20on-line20para20a20gestC3A3o20em-presarialpdfsequence=1gt Acesso em 13 set 2014

GAUTEacuteRIO V L B RODRIGUES S C Os ambientes de aprendizagem pos-sibilitando transformaccedilotildees no ensinar e no aprender Rev Bras Estud Pedag Brasiacutelia v94 (237) p 603-618 maio-ago 2013 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbepedv94n237a13v94n237pdfgt Acesso em 08 nov 2015

HERCULANO S PACHECO T (Orgs) Racismo ambiental Rio de Janeiro RJ FASE 2006

MARAVALHAS M R G et al Novo professor novo aluno e a educaccedilatildeo am-biental na EAD In Congresso ABED ndash Associaccedilatildeo Brasileira de Ensino a Distacircncia Satildeo Luiacutes 2010 12 p Disponiacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2010cd152010213859pdfgt Acesso em 19 mai 2015

MATHIAS M Racismo ambiental Revista Poli sauacutede educaccedilatildeo e trabalho ndash FIO-CRUZ v 9 n 50 p 31-32 mar-abr 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwepsjvfiocruzbrsitesdefaultfilespoliweb50pdfgt Acesso em 27 fev 2017

NASCIMENTO C C A formaccedilatildeo em educaccedilatildeo para o ecodesenvolvimento um estudo de caso junto ao Nuacutecleo Transdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento periacuteodo 2010-2013 2013 Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Ambiental Universidade Federal do Rio Grande Rio Grande 2013

______ FERREIRA W CUNHA I C Sobre a face das aacuteguas uma fonte de inspiraccedilatildeo pedagoacutegica sobre o tema aacutegua Florianoacutepolis SC UDESC 2016 231 p

PERSEGONA M F M A utilizaccedilatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo pelas poliacuteticas puacuteblicas de governo e-Gov como um instrumento de de-mocratizaccedilatildeo da informaccedilatildeo 2005 143 f Dissertaccedilatildeo - Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Desenvolvimento Sustentaacutevel Centro de Desen-volvimento Sustentaacutevel Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia 2005

SANTOS E C Educaccedilatildeo ambiental e a transversalidade na formaccedilatildeo de professores complexidade e desafios do mundo contemporacircneo Revista Geonorte ed especial v3 n4 p 161-170 2012

VIEIRA A R COSTA L BARRETO S R (Org) Aacutegua para a Vida aacutegua para todos Cadernos de Educaccedilatildeo Ambiental Brasiacutelia DF WWF Brasil 2006 72 p Disponiacutevel em lthttpwwwwwforgbrnatureza_brasi-leirareducao_de_impactos2aguaagua_acoes_resultadoseduca-cao_ambiental_aguagt Acesso em 17 abr 2015

Paacutegina 8 de 8

R e s u m o

Este estudo decorreu da anaacutelise de uma sala de aula universitaacuteria de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano localizada

na serra gauacutecha no Rio Grande do Sul no Brasil A metodologia ativa de ensino propotildee que o discente seja o protagonista de seu proacuteprio conhecimento e seja o responsaacutevel pela construccedilatildeo ativa de seus objetivos no ambiente educacional A partir desse pressuposto o objetivo deste trabalho foi observar a aplicabilidade do uso da metodologia ativa no ensino aleacutem de sua utilizaccedilatildeo para a construccedilatildeo do conhecimento junto aos discentes Para isso procurou-se pesquisar sobre a temaacutetica escolhida e a abordagem investigativa foi predominantemente qualitativa Como instrumentos de coleta de dados utilizou-se a observaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento da disciplina em sala de aula Para compreender o objeto de estudo foi preciso tomar como pano de fundo a metodologia e as estrateacutegias de ensino utilizadas pelo docente Os resultados observados foram satisfatoacuterios para fundamentar a construccedilatildeo da aprendizagem baseada na problematizaccedilatildeo de situaccedilotildees correntes do dia a dia A qualificaccedilatildeo e o aperfeiccediloamento do docente para fundamentar o conteuacutedo eacute indispensaacutevel para a efetividade da proposta de utilizaccedilatildeo da metodologia ativa

R e s u m e n

Este estudio ha procedido del resultado del anaacutelisis de una clase universitaria de una institucioacuten de educacioacuten superior privada ubicada en la Sierra Gaucha Estado del Riacuteo Grande do Sul Brasil con los estudiantes de la disciplina de Evaluacioacuten del Desempentildeo Humano La metodologiacutea activa de ensentildeanza propone que el estudiante sea el protagonista de su propio conocimiento y que sea responsable por la construccioacuten activa de sus objetivos en el aacutembito educativo A partir de este supuesto el objetivo de este estudio ha sido observar la aplicabilidad de la utilizacioacuten de una met-odologiacutea activa en la ensentildeanza ademaacutes de su uso para la construccioacuten de conocimientos con los estudiantes Para ello hemos tratado de investigar el tema elegido y el enfoque de investigacioacuten ha sido predominantemente cualitativo utilizando como instrumento de recoleccioacuten de datos la observacioacuten participante en el desarrollo de la disciplina en el aula Para comprender el objeto del estudio ha sido necesario partir del contexto de la metodologiacutea y estrategias de ensentildeanza utiliza-das por el profesor Los resultados han sido satisfactorios para fundamentar la construccioacuten de un aprendizaje fundamentado en el cuestionamiento de las situaciones actuales de la vida cotidiana La calificacioacuten y el perfeccionamento profesional del professor para fundamentar el contenido son esenciales para la efectividad de la propuesta de utilizacioacuten de la metodologiacutea activa

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 06032017Aprovado em 29082017

Palavras-chaveMetodologia de ensino ativa Docecircncia universitaacuteriaPraacuteticas pedagoacutegicas

Palabras claveMetodologiacutea de ensentildeanza activa Ensentildeanza universitariaPraacutecticas pedagoacutegicas

Autoras MBA em gestatildeo de recursos humanos pela Uninter Graduaccedilatildeo em gestatildeo de recursos humanos e Poacutes-graduaccedilatildeo em gestatildeo e docecircncia do ensino superior pelo Centro Superior de Tecnologia Te-cbrasil FTEC - Bento Gonccedilalves Professo-ra da escola Senac - Bento Gonccedilalves e Coach profissionale-mail daianelotesgmailcom

Mestrado Profissional em Gestatildeo Edu-cacional pela UNISINOS - Universidade do Vale dos Sinos Graduaccedilatildeo em Admi-nistraccedilatildeo pela Faculdade Cenecista de Bento Gonccedilalves Docente Universitaacuteria na FAMUR - Faculdade Catoacutelica Murialdo de Caxias do Sul e FSG - Faculdade da Serra Gauacutecha de Bento Gonccedilalves Consultora Empresarial Associada na aacuterea de Gestatildeo de Pessoas pela Poletto Soluccedilotildees em Ges-tatildeo e Pesquisadora CNPQ do Grupo de Pesquisa sobre Formaccedilatildeo de Professores Gestores e Praacuteticas Pedagoacutegicas pela UNI-SINOS - Universidade do Vale dos Sinose-mail magda_detonihotmailcom

Como citar este artigoLOTES D TONI M Metodologia ativa de ensino Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

Metodologia ativa de ensinoMetodologia activa de ensentildeanza

Daiane Lotes e Magda de Toni

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoA metodologia ativa eacute um processo amplo que apresenta como principal caracteriacutestica a inserccedilatildeo do discente como agente prin-cipal responsaacutevel pela sua aprendizagem comprometendo-se com seu aprendizado

O processo de educar deixou de ser baseado na mera trans-missatildeo do conhecimento por diversos fatores como a rapidez na produccedilatildeo do conhecimento e principalmente na facilidade de acesso agrave vasta gama de informaccedilatildeo Nesse contexto as meto-dologias ativas surgem como proposta para priorizar o processo de ensinar e aprender na busca da participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos centrados na realidade em que estatildeo inseridos

Como enfrentamento ao modelo tradicional imposto e aceito ao longo dos tempos tem-se lanccedilado matildeo das metodologias ati-vas de ensino-aprendizagem nas quais eacute dado forte estiacutemulo ao reconhecimento do mundo atual tornando os discentes capazes de intervir e promover as transformaccedilotildees necessaacuterias O discente se torna o uacutenico responsaacutevel pela sua proacutepria construccedilatildeo do conheci-mento e faz com que os seus principais objetivos sejam alcanccedilados de forma satisfatoacuteria com sucesso autogerenciamento e autonomia

A educaccedilatildeo comeccedila em casa e eacute aprimorada na escola e na socie-dade Os docentes tecircm o compromisso de explicar e acompanhar os resultados obtidos com o conhecimento que eacute repassado em sala de aula Nos dias de hoje cada vez mais nos deparamos com situaccedilotildees que vatildeo aleacutem da nossa realidade situaccedilotildees que poderiam ser resolvidas com um simples estudo ou com a base da educaccedilatildeo que a pessoa teve

Algumas pessoas natildeo se datildeo conta de que o maior valor que o ser humano pode ter eacute a educaccedilatildeo que eacute indispensaacutevel in-comparaacutevel e intransferiacutevel Ningueacutem pode tirar de uma pessoa o conhecimento que ela possui e soacute esta sabe como usaacute-lo

As instituiccedilotildees de ensino precisam acolher os discentes de forma que eles cheguem agrave sala de aula motivados a aprender ou seja que eles tenham o entendimento de que o conhecimento que vatildeo obter serviraacute para o futuro para que possam enfrentar as situaccedilotildees do dia a dia com mais facilidade e sabedoria

Nenhum professor estaacute totalmente livre a esperanccedila de trabalhar apenas com alunos motivados Cada professor espera alunos que se envolvam no trabalho manifestem o desejo de saber e a vontade de aprender A motivaccedilatildeo ainda eacute tida com demasiada frequecircncia como uma preliminar cuja forccedila natildeo depende do professor (PERRENOUD 2000 p 68)

Adaptamo-nos conforme o andamento do dia a dia e principal-mente conforme as novas tecnologias que cada vez vatildeo ocupando um espaccedilo maior entre os jovens de hoje A sociedade atual eacute tecno-

loacutegica de modo que natildeo eacute mais possiacutevel pensar em educaccedilatildeo sem a utilizaccedilatildeo das tecnologias O processo de ensinar-aprender tambeacutem jaacute vem gradativamente se modificando exercitando formas de ensinar e aprender diferentes nas quais o docente natildeo eacute mais um simples trans-missor do conhecimento e o discente natildeo eacute mais um mero ouvinte

Assim o docente precisa utilizar recursos que transformem suas aulas de modo a instigar mais e mais a busca pelo conheci-mento por parte dos alunos ministrando aulas dinacircmicas atrativas e entendendo que as tecnologias disponiacuteveis podem ser bem utilizadas auxiliar no processo de ensino-aprendizagem

Segundo Rivas (2009) o professor precisa ser algueacutem criativo competente e comprometido com o advento das novas tecnologias interagindo em meio agrave sociedade do conhecimento repensando a educaccedilatildeo e buscando os fundamentos para o uso dessas novas tecnologias que causam grande impacto na educaccedilatildeo e que podem determinar uma nova cultura e novos valores na sociedade

Em funccedilatildeo dessa transiccedilatildeo o ambiente acadecircmico tem se preo-cupado com o desenvolvimento de novas metodologias e atitudes para melhorar a efetividade no processo de aprendizagem Tais artifiacutecios satildeo denominados ldquoestrateacutegias de ensino-aprendizagemrdquo e satildeo definidos como os meios que vecircm sendo utilizados no pro-cesso de ensino com o intuito se atingir a qualidade desejada e os resultados esperados Penso todavia que esses recursos precisam ser bem trabalhados para natildeo se confundirem com ldquomodismosrdquo que nada modificam a concepccedilatildeo de conhecimento

Combinar atitudes e recursos didaacuteticos que favoreccedilam o processo de aprendizagem parece ser a tocircnica do que se convencionou denomi-nar estrateacutegias de ensino-aprendizagem ldquoeficientesrdquo Assim o processo de ensino-aprendizagem tem sido alvo de discussotildees e pesquisas que visam a contribuir para seu desenvolvimento e efetividade

Perrenoud (2000) afirma que todos os docentes podem ter atitudes inovadoras e com isso fazer com que os alunos desenvol-vam a sua proacutepria motivaccedilatildeo poreacutem muitos pensam que o ensino eacute restrito e que natildeo tecircm retorno financeiro para ter esse tipo de atitude Ainda nos diz que ateacute os discentes motivados cientes de seu potencial e com boas notas na escola podem diminuir seu desempenho se natildeo forem incentivados ao longo do tempo

Considerando o dinamismo do mundo moderno o profis-sional docente sente-se pressionado por um ambiente externo altamente exigente precisando proporcionar aos estudantes uma educaccedilatildeo de elevado niacutevel e com soacutelida formaccedilatildeo Logo se a atualizaccedilatildeo didaacutetica dos docentes natildeo acompanha o ritmo desse novo cenaacuterio poderaacute haver uma falta de sintonia entre os procedimentos meacutetodos e estrateacutegias de ensino e o perfil dos alunos prejudicando o processo de ensino-aprendizagem

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 8

Cabe aqui salientar que Itoz e Mineiro (2005) defendem que o para-digma que considerava a competecircncia teacutecnica docente como elemento fundamental da didaacutetica vem sofrendo gradualmente alteraccedilotildees no sentido da indagaccedilatildeo sobre outros fatores que influenciam o processo de ensino-aprendizagem e os agentes impactados neste processo

O docente deve ser um articulador de todo o processo de ensino-aprendizagem e ter a consciecircncia de que a maior rede social eacute a sala de aula onde temos que aprender a fazer a leitura do nosso cotidiano e compreender que a informaccedilatildeo eacute um ponto de partida natildeo um ponto de chegada

Entretanto podemos perceber que a aprendizagem acontece quando o indiviacuteduo vivencia as situaccedilotildees vistas em sala de aula e as metodologias ativas de ensino permitem que o discente se envolva e ele mesmo gere situaccedilotildees que faccedilam com que o conhe-cimento seja completo e adquirido com total autonomia tendo o docente o papel de mediador e articulador do conhecimento

2 MetodologiaA metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho foi a pesquisa bibliograacutefica sobre a temaacutetica escolhida e a obser-vaccedilatildeo participante sobre o desenvolvimento de uma disciplina em uma sala de aula

A pesquisa bibliograacutefica eacute desenvolvida a partir de materiais publicados em livros artigos dissertaccedilotildees e teses Ela pode ser realizada independentemente ou pode constituir parte de uma pesquisa descritiva ou experimental Segundo Cervo Bervian e da Silva (2007) o processo de pesquisa bibliograacutefica eacute baacutesico em todos os trabalhos e estudos para identificar o tema

Jaacute a observaccedilatildeo participante eacute realizada em contato direto e prolongado do observador para com os envolvidos na anaacutelise O meacutetodo de observaccedilatildeo utilizado foi assistemaacutetico sem anaacutelise anterior e instrumental apropriado

O contexto analisado eacute a sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior privada com discentes da disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

3 Quadro TeoacutericoVive-se hoje um cenaacuterio da educaccedilatildeo no Brasil em que ainda haacute uma necessidade premente de evoluccedilatildeo no processo de en-sino-aprendizagem no sentido de tornaacute-lo significativo capaz de desenvolver competecircncias e ter como resultado um discente criacutetico e capaz de exercer uma ocupaccedilatildeo com excelecircncia Assim cabe ao docente refletir e inovar sua metodologia de transferecircncia do conhecimento buscar e motivar a aprendizagem

Ao destacar que para a aprendizagem do aluno se tornar mais du-radoura e significativa eacute necessaacuterio conhecer os aspectos formadores e constituintes da aprendizagem os docentes devem dar-se conta de que eacute necessaacuterio adaptar ou criar um meacutetodo didaacutetico e especiacutefico a cada puacuteblico de alunos ainda mais no ensino superior Nesse niacutevel haacute saberes da experiecircncia feitos uma vez que o indiviacuteduo nesta etapa acumula variadas experiecircncias de vida aprende com os proacuteprios erros percebe aquilo que natildeo sabe e o quanto tal desconhecimento lhe faz falta analisando criticamente as informaccedilotildees que recebe

Pensamos que a tarefa da educaccedilatildeo eacute formar seres humanos para o presente para qualquer presente seres nos quais qualquer outro ser humano possa confiar e respeitar seres capazes de pensar tudo e de fazer tudo o que eacute preciso como ato responsaacutevel a partir de sua consciecircncia social Conseguir isto eacute o propoacutesito desta proposta

educacional (MATURANA REZEPKA 2000 p 10)

As pessoas que se iniciam como docentes muitas vezes saem de uma formaccedilatildeo muito teoacuterica do ponto de vista metodoloacutegico Aprenderam durante toda sua graduaccedilatildeo que o saber eacute o ponto mais importante e foram ensinados a fazerem pesquisa Quando se deparam com o ambiente educacional observam que o ser e o fazer se destacam principalmente com os modelos de discentes de hoje que satildeo inquietos por aprender assuntos novos da forma mais criativa e interativa possiacutevel A interatividade ajuda a prender a atenccedilatildeo e instigar a inovaccedilatildeo nos assuntos abordados

Piaget (2012) afirma que o meio onde o ser humano habita influencia em seus atos e faz com que este tenha estiacutemulo e con-sequentemente reorganize e construa seu proacuteprio conhecimento Nessa perspectiva a educaccedilatildeo formal promove o desenvolvimen-to na medida em que favorece uma postura ativa e construtiva do aluno por meio de situaccedilotildees de aprendizagem desafiadoras que estimulem a duacutevida e provoquem a reflexatildeo

A praacutetica pedagoacutegica reprodutora assemelha-se a uma praacuteti-ca conservadora da ciecircncia e consequentemente da educaccedilatildeo Jaacute a praacutetica inovadora fomenta a aprendizagem e transforma o processo Conforme afirma Moraes (2000 p 100)

Num sistema aberto de educaccedilatildeo o conhecimento requer que processos estejam em construccedilatildeo e reconstruccedilatildeo pela accedilatildeo do sujeito sobre o meio ambiente que ocorram trocas energeacuteticas mediante processos de assimila-ccedilatildeo acomodaccedilatildeo auto-organizaccedilatildeo ou seja mediante relaccedilotildees interativas

e dialoacutegicas entre o aluno professor e ambiente de aprendizagem

Esse paradigma estaacute relacionado agraves mudanccedilas da sociedade como a globalizaccedilatildeo agraves inovaccedilotildees tecnoloacutegicas e agraves alteraccedilotildees cientiacuteficas proacuteprias da sociedade poacutes-moderna

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma entende-se que o discente deixa de ser um repro-dutor passivo de conhecimento para se tornar um ator protago-nista apto para tomar decisotildees Jaacute o docente eacute necessaacuterio que ele mesmo reflita sobre sua praacutetica sua qualidade de transferecircncia de conhecimento e sua autorreflexatildeo atraveacutes de fatores essenciais ndash o saber a sua experiecircncia bagagem profissional e educacional aliada a novos conhecimentos resultantes de pesquisas como por exemplo as novas tecnologias

A metodologia inovadora ativa de ensino permite que faccedilamos comparaccedilotildees entre o aprendizado conservador e o aprendizado inovador No processo de aprendizagem conservador por exem-plo vemos algumas situaccedilotildees em que o discente eacute subordinado agraves orientaccedilotildees do professor recebe passivamente o conhecimento e informaccedilotildees eacute condicionado a dar respostas prontas e corre-tas e eacute preparado para atuar com eficiecircncia na sociedade Jaacute no processo de aprendizagem inovadora podemos citar o discente como aprendiz autocircnomo e visto como um ser humano holiacutestico que se torna responsaacutevel pelas suas escolhas aprende a formular e a buscar respostas eacute destacado pela sua criatividade e se torna sujeito da sua proacutepria educaccedilatildeo

Adotar um paradigma inovador e assumir os diversos papeacuteis descritos por Perrenoud implica refletir sobre a praacutetica docente o planejamento das aulas a forma de avaliaccedilatildeo e sobretudo o que se espera ter como resultado final de um processo de ensi-no-aprendizagem Dessa forma o processo de ensino deve ser ajustado e ter uma evoluccedilatildeo constante buscando a integraccedilatildeo com o ambiente onde o discente estaacute inserido

No processo de aprendizagem natildeo entra em jogo apenas um conjunto de operaccedilotildees cognitivas pois a construccedilatildeo do conheci-mento estaacute sempre atravessada pela afetividade de quem o pro-duz Nessa perspectiva o docente deve possibilitar a construccedilatildeo de um clima de bem-estar em sala de aula que favoreccedila a qua-lidade das relaccedilotildees interpessoais e os processos de constituiccedilatildeo de sentido no processo educativo

Segundo Maturana e Rezepka (2000 p 14) ldquoas emoccedilotildees satildeo dinacircmicas corporais que especificam as classes de accedilotildees que um animal pode realizar em cada instante em seu acircmbito relacionalrdquo Assim acontece com os docentes e discentes no ambiente de sala de aula onde os sentimentos estatildeo em sin-tonia com o processo de aprender

As situaccedilotildees de aprendizagem satildeo determinantes para alcan-ccedilar os objetivos propostos e conforme reflexatildeo de Weisz (2004 p 70) ldquoem qualquer aacuterea do conhecimento eacute possiacutevel organizar atividades que representem problemas para os alunos e que de-mandem o uso do que sabem para encontrar soluccedilotildees possiacuteveisrdquo

Acredita-se que o uso da metodologia ativa de ensino na universidade possibilita contribuir significativamente e promo-ver situaccedilotildees que propiciem uma construccedilatildeo significativamente coletiva na forma de interagir e trabalhar com o conhecimento

A construccedilatildeo do conhecimento se daacute atraveacutes de incentivos por parte da proacutepria instituiccedilatildeo de ensino dos docentes envolvidos e principalmente do proacuteprio discente

Na escola atual percebe-se que o curriacuteculo aplicado estaacute mais flexiacutevel e adaptado ao meio e agraves novas tecnologias Conforme afirma Moraes (2000 p 100) ldquosob esse novo enfoque o curriacuteculo eacute algo que estaacute sempre em processo de negociaccedilatildeo e renegociaccedilatildeo entre alunos professores realidades e instacircncias administrativasrdquo

A aprendizagem do indiviacuteduo ocorre natildeo somente com o co-nhecimento adquirido em sala de aula como tambeacutem pelos seus desejos intuiccedilotildees sensaccedilotildees e emoccedilotildees que se manifestam atraveacutes das variadas atividades praticadas principalmente nas atividades luacutedicas que fazem com que o discente vivencie situaccedilotildees que acontecem no dia a dia Segundo Perrenoud (2001 p 182) ldquoos fu-turos professores poderiam ser encorajados a colocar sua formaccedilatildeo inicial a serviccedilo e criar voluntariamente situaccedilotildees ldquointeressantesrdquo

Tais sentimentos citados aparecem tambeacutem em momentos nos quais o docente faz a correccedilatildeo das atividades realizadas em sala de aula no ambiente educacional nos quais tem o poder de formar ou atrapalhar o processo de aprendizagem pela forma com que as palavras satildeo ditas em sala de aula no momento da correccedilatildeo Conforme afirma Maturana e Rezepka (2000 p 33)

Na educaccedilatildeo corrigir o ldquoserrdquo da crianccedila acaba alienando-a porque ame-accedila o que ela vecirc ou vive em nossa cultura como sua existecircncia com uma certa identidade transcendente a correccedilatildeo do fazer natildeo faz isso

A correccedilatildeo do fazer natildeo constitui uma ameaccedila porque ao fazecirc-la satildeo especificados os limites dentro dos quais ocorre segun-do as coerecircncias proacuteprias do fazer que se deseja sem referecircncia agrave sua identidade

Aleacutem disso muitos autores comentam sobre os vaacuterios mo-delos de mundo e inteligecircncias muacuteltiplas que as pessoas podem desenvolver ao longo de suas vidas Essas inteligecircncias e modelos de aprendizagem se apresentam na medida em que se comeccedila a trabalhar o ceacuterebro para pensar e resolver situaccedilotildees conflitan-tes Em sala de aula esses modelos satildeo observados e podem ser moldados atraveacutes da metodologia didaacutetica do docente para com o discente individualmente observando capacidades sinesteacutesicas visuais e auditivas Mas como usar os conhecimentos de modelos de mundo para ajudar os discentes no processo de aprendizagem

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O conteuacutedo pode ser adaptado conforme os modelos de aprendizagem juntamente com grupos afins Esse processo gera um ambiente de discussatildeo troca de ideias conhecimento muacutetuo e principalmente o senso de trabalho em equipe e o relaciona-mento interpessoal

As aptidotildees dos discentes tambeacutem satildeo observadas para que haja a construccedilatildeo do conhecimento Uma didaacutetica na qual o ser natildeo se encaixa por natildeo ter a aptidatildeo para desenvolver tal situaccedilatildeo pode fazer com que o sentimento de fracasso seja tatildeo importante que pode gerar consequecircncias para a vida do sujeito e conco-mitantemente desmotivar o profissional o docente que estaacute a ensinar Dito isso o docente eacute peccedila fundamental nesse processo como mediador das accedilotildees e atividades exercidas

Outro ponto importante eacute a questatildeo cultural que estaacute inserida na vida dos discentes Conforme Moraes (2000 p 95) ldquoa cultura influencia cada indiviacuteduo na maneira como os potenciais inte-lectuais evoluem daacute o tom o colorido e direciona o modo de evoluccedilatildeo das competecircncias humanasrdquo

Os valores individuais de cada um influenciam na maneira de agir em grupo nas organizaccedilotildees e na escola Quando esses natildeo satildeo respeitados o sujeito tende a se afastar e a mudar suas atitudes perante as situaccedilotildees que se apresentam porque essa questatildeo vai contra tudo o que lhe foi ensinado e praticado ao longo da vida

Contudo Weisz (2004 p 58) afirma que

De uma perspectiva construtivista o conhecimento natildeo eacute concebi-do como uma coacutepia do real incorporado diretamente pelo sujeito pressupotildee uma atividade por parte de quem aprende que organiza e integra os novos conhecimentos aos jaacute existentes Isso vale tanto

para o aluno quanto para o professor em processo de transformaccedilatildeo

O homem eacute um ser social e portanto relacional precisa de meios e atitudes que desenvolvam o conhecimento Quanto maior a didaacutetica e a dinacircmica em sala de aula maior compre-ensatildeo do assunto comprometimento e consequentemente pessoas melhores no futuro

Grande parte das dificuldades dos docentes se daacute pelo fato de natildeo reconhecer o que foi dito em sala de aula e de natildeo observar seu proacuteprio comportamento com relaccedilatildeo aos discentes sem se dar conta de que o mundo em que eles vivem eacute sempre uma criaccedilatildeo pessoal

Em meio agraves incertezas dos dias de hoje espera-se que a edu-caccedilatildeo seja revolucionaacuteria a ponto de transformar as pessoas em indiviacuteduos criacuteticos e de conhecimento Seres capazes de transformar

o ambiente e sugerir soluccedilotildees Esse meio produz uma mudanccedila significativa na visatildeo social e intelectual do docente Na medida em que essa mudanccedila se faz presente as necessidades de fundamentar a teoria e a praacutetica se tornam prioridade na atuaccedilatildeo do docente

Natildeo existe uma padronizaccedilatildeo do meacutetodo de ensino cada docente o adapta conforme sua realidade seus discentes si-tuaccedilotildees e assunto Todas as instituiccedilotildees de ensino devem estar abertas e flexiacuteveis para que a mudanccedila de pensamento e de metodologia de ensino aconteccedila e ocorra em consequecircncia uma melhor e mais moderna forma de educar o discente para o futuro Segundo Moraacuten (2015 p 16)

A escola padronizada que ensina e avalia a todos de forma igual e exige resultados previsiacuteveis ignora que a sociedade do conhecimento eacute baseada em competecircncias cognitivas pessoais e sociais que natildeo se adquirem da forma convencional e que exigem proatividade co-

laboraccedilatildeo personalizaccedilatildeo e visatildeo empreendedora

Os meacutetodos de avaliaccedilatildeo tambeacutem se modificaram ao longo dos anos Hoje os discentes satildeo avaliados a partir das competecircn-cias que desenvolveram durante o processo de aprendizagem Avaliar conhecimentos habilidades e atitudes requer do docente uma observaccedilatildeo e uma intervenccedilatildeo maiores na abordagem do conteuacutedo No momento em que o docente planeja sua aula o assunto deve estar embasado primeiramente na apropriaccedilatildeo teoacuterica do conteuacutedo nas caracteriacutesticas da didaacutetica proposta para que todos possam desenvolver e em quais accedilotildees o discente deve se utilizar para que essa teoria seja absorvida por ele A metodologia de ensino ativa permite que os discentes aprendam de forma dinacircmica e entendam que o conhecimento que estatildeo adquirindo nas atividades desenvolvidas em sala de aula satildeo levados para a vida fora dela

As escolas de maneira geral estatildeo modificando seus ambien-tes fiacutesicos para proporcionar ao discente um ensino mais suave aconchegante no qual ele se sente livre para criar e modificar seu aprendizado As estruturas satildeo pensadas de forma interdisciplinar para que seja possiacutevel desenvolver projetos integradores mais eficientesO ensino hiacutebrido natildeo eacute um vilatildeo em sala de aula e sim uma forma de acompanhar a tecnologia do mundo de hoje que eacute cada vez mais necessaacuteria e indispensaacutevel

O ensino hiacutebrido eacute um programa de educaccedilatildeo formal no qual um aluno aprende pelo menos em parte por meio do ensino online com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo lugar modo eou ritmo do estudo e pelo menos em parte em uma localidade fiacutesica supervisionada fora de sua residecircncia (CHRISTENSEN HORN

amp STAKER 2013 p7)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Contudo a evoluccedilatildeo das instituiccedilotildees de ensino superior deve ser constante caminhar principalmente para a construccedilatildeo pessoal e profissional do indiviacuteduo e observar na tecnologia e no cenaacuterio onde se vive oportunidades de aprendizagem significativa

4 Observaccedilatildeo aplicadaPara visualizar melhor como ocorre a aplicabilidade da metodo-logia ativa no ensino foi realizada uma observaccedilatildeo participante a uma sala de aula de uma instituiccedilatildeo de ensino superior priva-da com alunos de graduaccedilatildeo do curso superior de Tecnologia em Gestatildeo de Recursos Humanos frequentando a disciplina de Avaliaccedilatildeo de Desempenho Humano

A dinacircmica de trabalho ocorreu a partir da leitura do livro A inovaccedilatildeo da sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de aprender de Christensen Horn e Johnson (2012)

As atividades iniciaram com o resgate do plano de ensino apre-sentado no primeiro dia de aula o que possibilitou ao docente fazer uma preacutevia anaacutelise diagnoacutestica sobre os conhecimentos que os discentes poderiam ter sobre o assunto que seria abordado Apoacutes a anaacutelise o docente iniciou o trabalho Os alunos foram provocados a pensar sobre seu desenvolvimento sua identidade pessoal e suas potencialidades Percebe-se que o assunto lideranccedila e gestatildeo satildeo bem latentes nas aulas uma vez que o gestor eacute a maior referecircncia dentro do processo de avaliaccedilatildeo de desempenho humano

A partir das reflexotildees realizadas o primeiro exerciacutecio rea-lizado foi a construccedilatildeo de um imaginaacuterio social que buscou a construccedilatildeo de um profissional de recursos humanos conforme a interpretaccedilatildeo e percepccedilatildeo de cada aluno quanto agrave profissatildeo e papel desse profissional no mercado de trabalho Ainda foram realizados questionamentos quanto agrave construccedilatildeo da persona e o sentido de estar na instituiccedilatildeo de ensino estudando tal assunto Nesse momento percebeu-se que os questionamen-tos realizados foram de grande valia pois fizeram com que os discentes relembrassem quais questotildees o fizeram escolher o curso que estatildeo frequentando

No decorrer das aulas outra atividade foi proposta denominada ldquometaacutefora do personagem infantil e a identificaccedilatildeo com elerdquo Essa atividade proporcionou ao discente identificar seus pontos fortes e suas possibilidades de melhoria sempre realizando ligaccedilotildees com a temaacutetica desenvolvida e comparando os resultados com as ativida-des que um profissional de RH deveria realizar principalmente na avaliaccedilatildeo de desempenho

Na sequecircncia das atividades foi desenvolvido o exerciacutecio da Janela Johari e realizadas as devidas anaacutelises sobre os quadrantes que compotildeem o exerciacutecio Eu como autoconhecimento e Eu e

o mundo como forma de compreensatildeo das consequecircncias de nossas atitudes para com os outros Nesse momento a observa-ccedilatildeo da questatildeo do feedback eacute um ponto crucial na discussatildeo em sala de aula e esteve presente em todas as aulas Para reforccedilo os alunos elaboraram portfoacutelios individuais sobre cada atividade nos quais o docente pocircde verificar o aprendizado no acircmbito teoacuterico e comportamental de cada aluno aleacutem de possibilitar aos alunos a autorreflexatildeo ndash sobre si e sobre suas proacuteprias atitudes

Ainda o docente propocircs como praacutetica para desenvolvi-mento do conteuacutedo filmes textos de livros e situaccedilotildees reais trazidas pelos proacuteprios discentes e docente Percebeu-se que com essas atividades complementares os discentes realizas-sem comparaccedilotildees com o dia a dia de um profissional inserido no mercado de trabalho e na sociedade Em todas as situaccedilotildees visualizadas em sala de aula pude observar que os discentes fo-ram envolvidos de forma que o desenvolvimento do conteuacutedo comeccedila a ser compreendido por eles evidenciando a proposta da metodologia ativa de ensino do discente protagonista de seu proacuteprio conhecimento

Conforme o andamento das atividades o docente pocircde explorar vaacuterias habilidades e atitudes que contribuem para o desenvolvimento do conhecimento de seus discentes sem sua intervenccedilatildeo deixando-os livres para demonstrarem suas emo-ccedilotildees e sentimentos de desconforto bem-estar ansiedade im-paciecircncia expectativas e temores conforme acontece no meio organizacional Essas emoccedilotildees e sentimentos estatildeo ligados agrave forma como os discentes compreenderam o assunto e como satildeo seus modelos de mundo Cabe ressaltar que o docente tambeacutem reforccedilou o desenvolvimento do conteuacutedo com dinacircmicas de grupo que instigavam os discentes a desenvolver habilidades ndash como empatia negociaccedilatildeo resiliecircncia ndash e a refletir sobre a relaccedilatildeo entre vida pessoal e profissional

Atraveacutes das escutas das discussotildees realizadas em sala de aula e da metodologia de ensino utilizada pelo docente sem se dar conta os discentes estatildeo intuindo seu proacuteprio meacutetodo de apren-dizagem com base na teoria aprendida confirmando novamente a proposta da metodologia ativa de ensino aleacutem do fato de que a educaccedilatildeo deve buscar desestabilizar os discentes para que haja uma mudanccedila comportamental de cada indiviacuteduo Ainda estando em grupo ou natildeo os discentes comeccedilam a trocar ideias e a des-cobrir novos meacutetodos mais raacutepidos e faacuteceis para que as situaccedilotildees empreendidas sejam compreendidas Esses meacutetodos descobertos satildeo sugeridos ao docente e cabe a ele adaptaacute-los para melhorar sua didaacutetica e replanejamento de seus planos de aula

Eacute preciso reconhecer que a metodologia ativa de ensino nes-se caso promove o domiacutenio pessoal social autoconsciecircncia e a autogestatildeo Conforme afirma Perrenoud (2000 p 69)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A maioria das pessoas interessa-se em alguns momentos pelo jogo da aprendizagem se lhes oferecerem situaccedilotildees abertas estimulantes interessantes Haacute maneiras mais luacutedicas do que outras de propor a mesma tarefa cognitiva Natildeo eacute necessaacuterio que o trabalho pareccedila uma

via crucis1 pode-se aprender rindo brincando tendo prazer

Outra questatildeo a ser pontuada refere-se agrave motivaccedilatildeo dos discentes em sala de aula Em nenhum momento notou-se des-motivaccedilatildeo dos alunos com os assuntos abordados Christensen (2012 p 137) lembra o que o falecido educador Jack Frymier costumava dizer ldquoquando os meninos querem aprender natildeo haacute como impedi-los se natildeo quiserem natildeo podemos obrigaacute-losrdquo Essa citaccedilatildeo confirma o pressuposto de que todo o interesse do dis-cente eacute baseado na motivaccedilatildeo em aprender e na praacutetica didaacutetica do docente em sala de aula

Diante disso pude perceber que a vontade dos discentes de aprender foi maior que o cansaccedilo e que o desafio de despertar o interesse pelo assunto foi atingido com sucesso compreendendo que a educaccedilatildeo eacute uma necessidade e garante o sucesso profissio-nal e o crescimento pessoal

Dessa forma pocircde-se evidenciar que os resultados obtidos com a observaccedilatildeo participante foram satisfatoacuterios tanto para fun-damentar a teoria do uso da metodologia ativa no ensino como para constatar que o docente tem o dever de ensinar e mediar o conhecimento de seus discentes e ajudar o indiviacuteduo a construir o seu proacuteprio pensamento sobre as questotildees profissionais e da vida

5 Inovaccedilatildeo na Sala de AulaO ensino exige pesquisa curiosidade respeito e criticidade Estaacute cometendo um equiacutevoco o professor que pensa no ensino rigo-roso e metoacutedico Conforme Freire (2006 p 38) ldquoa praacutetica docente criacutetica implicante do pensar certo envolve o movimento dinacirc-mico dialeacutetico entre o fazer e o pensar sobre o que fazerrdquo Essa citaccedilatildeo deixa claro que o professor deve estar sempre atualizado revendo sua didaacutetica e a forma como ensina

A construccedilatildeo do conhecimento eacute constante e a formaccedilatildeo de pensamento criacutetico se faz a todo o momento Contudo o uso da me-todologia ativa se faz marcante na problematizaccedilatildeo das situaccedilotildees correntes que exigem do aluno uma opiniatildeo significativa para si e para a sociedade em que estaacute inserido ou seja a curiosidade sobre o novo proporciona maiores possibilidades de transgressatildeo do saber

Outra reflexatildeo que se pode fazer com relaccedilatildeo ao ensino e a docecircncia eacute a anaacutelise e a apreensatildeo da realidade Cada discente estaacute

inserido em realidades muito particulares o assunto abordado em sala de aula deve sim ser baseado na teoria contudo principal-mente ser adaptado agrave realidade de cada um assim o processo de aprendizagem torna-se significativo A convicccedilatildeo de que a mudanccedila eacute possiacutevel deve ser corrente e praticada todos os dias O discente natildeo deve se tornar acomodado mas sim revolucionaacuterio e inquieto

Mudar eacute difiacutecil mas eacute possiacutevel e eacute o que a metodologia ativa propotildee transformar o simples ato de ensinar em uma experiecircncia uacutenica e inesqueciacutevel aos olhos do discente O indiviacuteduo eacute social e essa experiecircncia possibilita uma nova percepccedilatildeo da realidade

Antigamente ateacute os anos 1800 as escolas escolhiam o ensi-no personalizado ou seja o ensino por necessidade As salas de aula eram preenchidas de crianccedilas de diferentes capacidades o que fazia com que o docente passasse de discente em discente dando instruccedilotildees e tarefas individualizadas Nota-se que com o passar dos anos o ritmo de ensino sofreu mudanccedilas significativas acarretando o aumento das matriacuteculas escolares e uma padroni-zaccedilatildeo das atividades e accedilotildees em sala de aula fazendo com que as instituiccedilotildees de ensino padronizassem as accedilotildees em sala de aula

Segundo Christensen (2012 p 16)

Os alunos que satildeo dotados de forte inteligecircncia linguiacutestica sentem-se por-tanto previsivelmente frustrados em uma aula de inglecircs Os professores ficam igualmente limitados por suas proacuteprias forccedilas Em qualquer sala de aula existem estudantes que natildeo tem forte inteligecircncia linguiacutestica e satildeo por isso mesmo efetivamente excluiacutedos da possibilidade de se destacar

nessa mateacuteria E o padratildeo vai se repetindo de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

A padronizaccedilatildeo do ensino prejudica o potencial do discente para realizar com sucesso as tarefas dadas em sala de aula Assim a metodologia ativa propotildee um sistema ldquocentrado no alunordquo que busca nos docentes a melhor forma de ensinar e customizar o aprendizado conforme cada individualidade

6 Consideraccedilotildees FinaisNo tocante aos avanccedilos observados podemos dizer que os resul-tados obtidos foram positivos pois se apresentou um novo olhar na forma de ensinar Ser docente natildeo eacute uma simples reproduccedilatildeo de conhecimento e sim uma forma de intervenccedilatildeo no mundo Significa ajudar a construir cidadatildeos criacuteticos que saibam defender suas opiniotildees sem deixar-se influenciar A base da educaccedilatildeo vem de casa e a escola deve ser mediadora nesse processo aleacutem de apresentar um apoio agraves reflexotildees sobre a vida bem como ser ideoloacutegica e natildeo deixar se abater por discursos alheios que ferem a eacutetica a praacutetica docente e a preocupaccedilatildeo com a formaccedilatildeo do ser

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O uso das metodologias ativas de ensino afirma que soacute se con-segue o sucesso no processo de ensino e aprendizagem quando o docente possibilita que o discente seja inserido no contexto das teorias observadas em sala de aula de forma dinacircmica levando em consideraccedilatildeo suas limitaccedilotildees e particularidades

De nada adianta a teoria sem a praacutetica Palavras bem escritas natildeo servem para nada quando a coragem de revolucionar a edu-caccedilatildeo se abala defronte a problemas da sociedade Ser docente construtor do conhecimento eacute mais do que uma profissatildeo eacute um dom que poucos tecircm Esse dom significa de fato amar e se impor-tar com o ser humano Quem sabe esse pensamento se propague e cada vez mais faccedila com que os docentes se preocupem e reflitam sobre seu modo de ensinar

Resgatar a docecircncia humana tem sido um desafio constante que tem exigido sensibilidade e discernimento eacutetica e emoccedilatildeo caracte-riacutesticas que passam a ser fundamentais para trabalhar com o docente e no trabalho docente como nos diz Broilo citando Forster (2015)

Freire (2006) explica que haacute um niacutevel de consciecircncia capaz de perceber as problemaacuteticas advindas da realidade poreacutem que natildeo estabelece uma relaccedilatildeo de criticidade Dessa forma a reflexatildeo deve acontecer mas natildeo isoladamente separando os sentimentos e emoccedilotildees do professor visto que para ele refletir sobre o acontecido eacute preciso ter conhecimento de suas habilidades e limitaccedilotildees

N o t a s

1 ndash Caminho difiacutecil penoso a ser percorrido

R e f e r ecirc n c i a s

BROILO C L Assessoria pedagoacutegica na universidade (con)formando o

trabalho docente Araraquara Junqueira amp Marin 2015

CERVO A L SILVA R da BERVIAN P A Metodologia cientiacutefica 6 ed Satildeo

Paulo Pearson 2007

CHRISTENSEN Clayton M HORN Michael B JOHNSON Curtis W Ino-

vaccedilatildeo na sala de aula como a inovaccedilatildeo disruptiva muda a forma de

aprender Porto Alegre Bookman 2012

CHRISTENSEN C HORN M STAKER H Ensino hiacutebrido uma inovaccedilatildeo

disruptiva uma introduccedilatildeo agrave teoria dos hiacutebridos 2013 Disponiacutevel

em lthttpporvirorgwpcontentuploads201408PT_Is-K-12-blen-

ded-learning-disruptive-Finalpdfgt Acesso em 17 jun 2017

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave pratica

educativa 33 ed Satildeo Paulo Paz e Terra 2006

ITOZ C MINEIRO M Ensino-aprendizagem da contabilidade de custos

componentes desafios e inovaccedilatildeo praacutetica Enfoque Reflexatildeo Contaacutebil

Maringaacute v 24 n2 juldez 2005

MATURANA Humberto REZEPKA Sima Nisis de Formaccedilatildeo humana e

capacitaccedilatildeo Traduccedilatildeo de Jaime A Clasen Petroacutepolis Vozes 2000

MORAES Maria Cacircndida O paradigma educacional emergente 6 ed Cam-

pinas SP Papirus 2000

MORAacuteN Joseacute Mudando a educaccedilatildeo com metodologias ativas 2015

Disponiacutevel em lthttpwww2ecauspbrmoranwp-contentuplo-

ads201312mudando_moranpdfgt Acesso em 17 jun 2017

PERRENOUD Philipp et at Formando professores profissionais quais es-

trateacutegias Quais competecircncias 2 ed Porto Alegre Artmed 2001

PERRENOUD Philippe 10 novas competecircncias para ensinar Porto Alegre

Artmed 2000

PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 25 ed Rio de Janeiro Forense 2012

RIVAS S C A mediaccedilatildeo na praacutetica cotidiana da coordenaccedilatildeo pedagoacutegica

Revista FACED Salvador n15 jan-jul 2009

WEISZ Telma SANCHEZ Ana O diaacutelogo entre o ensino e a aprendizagem

2 ed Satildeo Paulo Aacutetica 2004

Paacutegina 8 de 8

Formaccedilatildeo empreendedora e atuaccedilatildeo profissional contribuiccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas GeraisEntreprenurial training and professional activity contribuitions from SEBRAE Minas Gerais schools

Frederico Cesar Mafra Pereira Eloiacutesa Helena Rodrigues Guimaratildees e Fabiana Marques Silva Borges

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 9

R e s u m o

As organizaccedilotildees passaram a exigir profissionais cada vez mais qualificados para atenderem a um mercado flutuante e em raacutepida transformaccedilatildeo O Serviccedilo de Apoio agraves Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE) priorizou accedilotildees educacionais voltadas agrave formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial para suprir tal demanda Este estudo investigou as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Foi realizado estudo descritivo quantitativo junto a 221 egressos selecionados via amostra natildeo probabiliacutestica por acessibilidade Concluiu-se que a formaccedilatildeo gerencial proposta contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos a partir dos seguintes resultados 92 avaliaram o Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE ldquoOacutetimo ou Bomrdquo 95 natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

R e s u m e n

Organizations now demand increasingly skilled professionals to serve a rapidly changing and floating market The Micro and Small Business Support Service (SEBRAE) prioritized educational actions aimed at training young entrepreneurs with managerial skills to meet such demand This study investigated the contributions of the entrepreneurial training in the professional activity of the graduates from SEBRAE Management Training Schools in Minas Gerais Brazil A quantitative descriptive study was carried out with 221 graduates selected through a non-probability sampling by accessibility The results showed that the proposed management training contributes positively to the professional activity of the graduates 92 evaluated SEBRAE Management Training Course as ldquoExcellent or Goodrdquo 95 did not regret having taken the course 80 considered their development during the course as ldquoExcellent or Goodrdquo and 78 rated the coursersquos contribution to their current professional background as ldquoExcellent or Goodrdquo

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 29092017

Palavras-chaveEmpreendedorismo Formaccedilatildeo empreendedora Formaccedilatildeo gerencial SEBRAE

KeywordsEntrepreneurship Entrepreneurial Training Management Training SEBRAE

Autores Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fredericomafrafpledubrr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo (MPA) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail eloisaguimaraesfpledubr

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo (FPL Edu-cacional) Escola de Formaccedilatildeo Geren-cial (EFG FPL) Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasile-mail fabianaborgesfpledubr

Como citar este artigoPEREIRA F C M GUIMARAtildeES E H R BORGES F M S Formaccedilatildeo empreende-dora e atuaccedilatildeo profissional contribui-ccedilotildees de escolas SEBRAE ndash Minas Gerais Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

1 IntroduccedilatildeoNovas formas de organizaccedilatildeo e de gestatildeo modificaram estruturalmente o mundo do trabalho a partir da deacutecada de 1980 O aumento do proces-so de globalizaccedilatildeo desde 1990 impocircs mudanccedilas em vaacuterias dimensotildees nas organizaccedilotildees poliacutetica econocircmica tecnoloacutegica ambiental e social Um novo cenaacuterio econocircmico e produtivo se estabeleceu com o desen-volvimento e com o emprego de tecnologias complexas agregadas agrave produccedilatildeo e agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Em consequecircncia passou-se a exi-gir profissionais qualificados tecnicamente e com capacidade criativa e sensibilidade social suficiente para atender agrave demanda de mercado flutuante e desigual com raacutepidas transformaccedilotildees

Esse contexto exige cada vez mais capacitaccedilatildeo e conhecimento De acordo com o Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2015a) o diploma por si soacute natildeo garante vaga no mercado de trabalho por isso eacute preciso mudar tambeacutem os para-digmas da educaccedilatildeo Essa conjuntura de mudanccedilas no mercado de trabalho aliada agrave escassez de empregos traz uma maior importacircncia ao estudo do empreendedorismo como um elemento indispensaacutevel para o desenvolvimento humano social e principalmente econocircmico

O Brasil apresentava em 2010 a maior taxa de empreendedores em estaacutegio inicial no mundo segundo o relatoacuterio de anaacutelise interna-cional Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2010) considerado o mais abrangente estudo sobre empreendedorismo no mundo coordenado pela London Business School (instituiccedilatildeo especializada em educaccedilatildeo empresarial fundada em 1964 e situada na Inglaterra) e pelo Babson College (instituiccedilatildeo especializada no ensino de em-preendedorismo fundada em 1919 nos Estados Unidos e referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre empreendedorismo)

No Brasil a pesquisa eacute publicada pelo SEBRAE e pelo Instituto Bra-sileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) O relatoacuterio do GEM Brasil (2016) revelou que o empreendedorismo no Brasil cresceu desde 2011 e que a Taxa Total de Empreendedores (TTE) foi de 360 repre-sentando cerca de 48 milhotildees de indiviacuteduos empreendedores (com idade entre 18 e 64 anos) Ainda segundo esse relatoacuterio o SEBRAE foi destacado como oacutergatildeo de maior apoio ao empreendedorismo sendo citado por 104 dos entrevistados Os fatores limitantes mais apontados foram poliacuteticas governamentais educaccedilatildeo capacitaccedilatildeo e apoio financeiro e uma das principais recomendaccedilotildees relacionadas aos fatores mencionados foi a importacircncia de se inserir conteuacutedo empreendedor nos trecircs niacuteveis de educaccedilatildeo i) na educaccedilatildeo infantil com o primeiro contato das crianccedilas com o empreendedorismo ii) no ensino meacutedio com competiccedilotildees de planos de negoacutecios e o es-tiacutemulo agrave criaccedilatildeo de empresas e iii) no ensino superior atraveacutes de um modelo conectado ao mercado e que apresente aos alunos o empreendedorismo como opccedilatildeo real de carreira

Diante do potencial para o empreendedorismo no Brasil o SEBRAE desde 1990 priorizou as accedilotildees educacionais voltadas

para a formaccedilatildeo de jovens empreendedores com capacitaccedilatildeo gerencial imbuiacutedos de valores eacuteticos e de cidadania com habili-dade de serem empregadores empregados voluntaacuterios e cida-datildeos em qualquer setor econocircmico e sobre qualquer relaccedilatildeo de trabalho aleacutem de capazes de oferecer para a sociedade de forma distribuiacuteda utilidade melhoria das condiccedilotildees de vida soluccedilotildees de problemas renda ciecircncia tecnologia desenvolvimento emoccedilatildeo beleza equiliacutebrio cooperaccedilatildeo liberdade e democracia

Em 1992 a Escola Teacutecnica de Formaccedilatildeo Gerencial de Belo Ho-rizonte ndash ETFG-BH (atual Escola de Formaccedilatildeo Gerencial EFG-BH) foi idealizada com o objetivo de suprir a formaccedilatildeo de gestores para as pequenas empresas Na Aacuteustria foi encontrado o referencial que serviu como paracircmetro para a elaboraccedilatildeo do seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico desenvolvido por meio de um acordo de cooperaccedilatildeo com o Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Artes possibilitando o desenvolvimento de um modelo de formaccedilatildeo gerencial adaptado agrave realidade brasileira A partir de 1995 a escola alcanccedilou notoriedade devido agrave sua metodologia inovadora e por oferecer o Ensino Meacutedio em concomitacircncia e articulaccedilatildeo com o Curso Teacutecnico em Administraccedilatildeo Em virtude disso foram instaladas mais trecircs escolas parceiras nas cidades mineiras de Contagem Itabira e Patos de Minas dando iniacutecio ao Sistema de Formaccedilatildeo Gerencial do SEBRAE-MG o qual segundo o Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico de 2015 atuava com quatorze escolas parceiras sendo treze em Minas Gerais e uma no estado do Maranhatildeo (SEBRAE 2015b)

Diante desse cenaacuterio pesquisar as contribuiccedilotildees do ensino do empreendedorismo proporcionado pelo Sistema SEBRAE torna-se fundamental para o reconhecimento e difusatildeo da edu-caccedilatildeo empreendedora no Brasil Assim esta pesquisa propocircs-se a investigar quais as contribuiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Com isso pretendeu-se con-tribuir para a academia com novos resultados sobre o estudo do empreendedorismo na formaccedilatildeo teacutecnica

A fim de atender aos objetivos propostos este artigo estaacute es-truturado em cinco seccedilotildees sendo esta introduccedilatildeo a primeira Na segunda seccedilatildeo apresenta-se a fundamentaccedilatildeo teoacuterica com a revisatildeo da literatura referente ao tema na terceira satildeo descritos os procedimentos metodoloacutegicos utilizados no trabalho na quarta seccedilatildeo apresentam-se e discutem-se os resultados alcanccedilados e por uacuteltimo satildeo feitas as consideraccedilotildees finais

2 Referencial Teoacuterico O referencial teoacuterico deste estudo descreve os conceitos e de-finiccedilotildees de empreendedorismo e de empreendedor utilizados por diversos autores a formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no Brasil bem como a proposta de ensino do empreendedorismo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 2 de 9

21 Empreendedorismo conceitos e evoluccedilatildeoPesquisadores do empreendedorismo concordam que a origem do conceito estaacute nas obras de Richard Cantillon e Jean Baptiste Say considerados os primeiros a inserir o tema no cenaacuterio eco-nocircmico (PEREIRA 2010) Segundo Pereira (2010) os economistas associaram o empreendedorismo agrave organizaccedilatildeo de negoacutecios agrave inovaccedilatildeo e a aspectos criativos e intuitivos pelos comportamen-talistas Em 1911 com a publicaccedilatildeo da obra de Joseph A Schum-peter denominada Teoria de desenvolvimento econocircmico o sig-nificado de ldquoempreendedorrdquo foi conectado agrave inovaccedilatildeo Para esse autor o empreendedor eacute aquele que destroacutei a ordem econocircmica existente introduzindo novos produtos e serviccedilos criando novas formas de organizaccedilatildeo ou exploraccedilatildeo de novos recursos materiais o empreendedor seria assim a essecircncia da inovaccedilatildeo no mundo

Em 1998 Peter Ferdinand Drucker filoacutesofo e economista aus-triacuteaco considerado o pai da Administraccedilatildeo moderna ampliou o conceito de empreendedor articulando-o ao conceito do profis-sional inovador e proativo aquele indiviacuteduo capaz de aproveitar oportunidades para promoccedilatildeo de mudanccedilas Essa visatildeo corrobora-va a definiccedilatildeo de Fillion (1993) para quem o empreendedor eacute uma pessoa criativa marcada pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos e que manteacutem um alto niacutevel de consciecircncia do ambiente em que vive usando-a para detectar oportunidades de negoacutecios

O SEBRAE (2016) define empreendedor como aquele que tem como caracteriacutestica baacutesica o espiacuterito criativo e pesquisador constantemente em busca de novos caminhos e novas soluccedilotildees sempre relacionados agraves necessidades das pessoas Jaacute o relatoacuterio GEM (2016) conceitua empreendedorismo como qualquer tenta-tiva de criaccedilatildeo de um novo negoacutecio ou novo empreendimento podendo ser uma atividade autocircnoma uma nova empresa ou a expansatildeo de um empreendimento existente por um indiviacuteduo grupos de indiviacuteduos ou por empresas jaacute estabelecidas

Para a Endeavor (2015) organizaccedilatildeo liacuteder no apoio a empre-endedores de alto impacto presente em mais de vinte paiacuteses o empreendedorismo pode mudar o mundo e o Brasil gerando emprego riqueza formando profissionais capacitados criando inovaccedilatildeo revolucionando o jeito de pensar Alinhada a essa abor-dagem a Junior Achievement (2015) associaccedilatildeo educativa sem fins lucrativos criada nos Estados Unidos em 1919 e hoje a maior organizaccedilatildeo mundial dedicada agrave educaccedilatildeo empreendedora para jovens em idade escolar presente em mais de 120 paiacuteses e em Minas Gerais desde 2003 acredita na capacidade e potenciali-dade do empreendedorismo como fator propulsor de mudanccedila e incentivo para que os jovens assumam responsabilidade pelos proacuteprios destinos determinem seus objetivos atuem na busca de metas e tenham coragem para correr riscos aleacutem de perseveranccedila e confianccedila em si proacuteprios

22 A formaccedilatildeo empreendedora no mundo e no BrasilEstudos publicados em 2005 por Howard Aldrich a respeito da histoacuteria do empreendedorismo como disciplina acadecircmica nos Estados Unidos da Ameacuterica (EUA) demostram que desde a deacutecada de 1970 havia debates em torno da legitimaccedilatildeo desse campo de pesquisa O estudo sobre o asunto cresceu a partir de pesquisas sobre pequenas empresas realizado nas Business School (Escolas de Negoacutecios) Os primeiros cursos com foco na administraccedilatildeo de pequenas empresas surgiram em 1947 na Harvard Business School escola de especializaccedilatildeo da Universidade de Harvard voltada agrave administraccedilatildeo de empresas e em 1953 na University New York importante universidade privada sediada na cidade de Nova Iorque e fundada em 1831

A primeira conferecircncia anual sobre empreendedorismo foi realizada em 1981 pela Babson College instituiccedilatildeo norte ame-ricana criada em 1919 e considerada segundo Melo (2008) a referecircncia em pesquisas acadecircmicas sobre o tema Ainda para esse autor os obstaacuteculos para a institucionalizaccedilatildeo do empre-endedorismo como disciplina acadecircmica estavam ligados agrave ausecircncia de publicaccedilotildees especializadas e ao desinteresse pelas universidades de prestiacutegio situadas nos Estados Unidos Um dos fatos importantes para a consolidaccedilatildeo do empreendedorismo foi a criaccedilatildeo de algumas revistas ainda na deacutecada de 1970 como a American Journal of Small Business (que mudou para Entre-preneurship Theory and Practice) e a partir de 1988 a Family Business Review e a Small Business Economics

O surgimento do mercado dotcom (denominaccedilatildeo dada agraves empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo base-adas na internet) em 1990 possibilitou que livros e revistas sobre empreendedorismo se tornassem um produto do mer-cado publicitaacuterio Tal surgimento e a publicaccedilatildeo em 1998 pela Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) do documento ldquoFostering the Entrepreneurship a The-matic Reviewrdquo foram considerados importantes fatores para disseminaccedilatildeo do empreendedorismo pelo mundo Nesse mes-mo ano a Comissatildeo Europeia e o Foacuterum Econocircmico Mundial incluiacuteram a criaccedilatildeo de empresas como temaacutetica em suas pautas (DORNELAS 2008) Destaca-se tambeacutem como fator importante a presenccedila de organizaccedilotildees como a Junior Achievement (2015) e o Instituto Endeavor (2015)

Aleacutem disso desde 1988 eacute publicada anualmente a pesquisa Gene-ral Entrepreneurship Monitor (GEM) realizada pela Babson College (EUA) e pela London Business School (Inglaterra) cujo objetivo eacute medir a atividade empreendedora a criaccedilatildeo de empresas nos paiacuteses e sua relaccedilatildeo com o crescimento econocircmico O estudo GEM estabeleceu um ranking mundial via iacutendice que mede o potencial empreendedor de cada paiacutes (GEM 2010)

Paacutegina 3 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O empreendedorismo foi difundido no mundo acadecircmico na literatura popular na miacutedia e tambeacutem nas atividades de ONGs e Organismos Internacionais A ONU apoacutes a II Guerra Mundial bus-cou fomentar a criaccedilatildeo de empresas e para isso usou aleacutem das linhas de creacutedito e treinamentos gerenciais uma pesquisa realizada pelo psicoacutelogo David McClelland para desenvolver programas de capacitaccedilatildeo com foco na motivaccedilatildeo A partir dessas accedilotildees criou-se um programa de treinamento em empreendedorismo conhecido como Empretec executado em parceria com diversos paiacuteses desde 1988 No Brasil eacute realizado pelo SEBRAE (SEBRAE 2006)

No Brasil a Formaccedilatildeo Empreendedora foi marcada inicialmente pela criaccedilatildeo do primeiro curso de especializaccedilatildeo de Novos Negoacutecios pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas em 1981 e em 1984 pela extensatildeo da disciplina para a graduaccedilatildeo com o tiacutetulo de Criaccedilatildeo de Novos Negoacutecios ndash Formaccedilatildeo de Empreendedores Similarmente em 1989 foi criado o Centro Integrado de Gestatildeo Empreendedora (CIAGE) e em seguida cursos de empreendedorismo foram inseridos em niacutevel de mestrado doutorado e MBA (SEBRAE 2016) Seguindo essa linha de institucionalizaccedilatildeo do empreendedorismo em 1984 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a oferecer a disciplina de Ensino de Criaccedilatildeo de Empresa no curso de Ciecircncias da Computaccedilatildeo em seguida a Universidade de Satildeo Paulo (USP) implantou a disciplina Criaccedilatildeo de Empresas na graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo e em 1985 iniciou outra disciplina na poacutes-gradua-ccedilatildeo voltada para empreendimentos de base tecnoloacutegica

No iniacutecio da deacutecada de 1990 o SEBRAE MG apoiou a criaccedilatildeo do Grupo de Estudos de Pequenas Empresas (GEPE) no Depar-tamento de Engenharia de Produccedilatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Nos anos de 1992 e 1994 esse grupo ofereceu workshops com professores canadenses destacando-se a presenccedila de Filion responsaacutevel pelo desenvolvimento da Teoria Visionaacuteria que facilita o entendimento de como a partir do sur-gimento de uma ideia de um produto ou serviccedilo forma-se um novo negoacutecio Tambeacutem atraveacutes dessa teoria foi possiacutevel conhecer e compreender a importacircncia e o estabelecimento das relaccedilotildees entre os empreendedores os negoacutecios e o ambiente em que estatildeo inseridos (FILION 1993 2004 CIMADON et al 2007)

Ainda em 1992 a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou o Centro de Estudos e Sistemas Avanccedilados do Recife (CESAR) o qual trecircs anos depois lanccedilou uma incubadora de empresas (ambiente especialmente planejado com o propoacutesito de apoiar iniciativas empreendedoras e projetos inovadores por meio do oferecimento de infraestrutura serviccedilos especializados e assesso-ria gerencial de projetos de exportaccedilatildeo de software) No mesmo ano em parceria com o SEBRAE a Faculdade de Economia da USP iniciou programas de formaccedilatildeo de empreendedores para profissionais interessados em abrir seu proacuteprio negoacutecio Nesse mesmo periacuteodo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

criou a Escola de Novos Empreendedores (ENE) e os programas SOFTEX (Associaccedilatildeo para Promoccedilatildeo da Excelecircncia do Software Brasileiro) e GENESIS (Geraccedilatildeo de Novas Empresas de Software Informaccedilatildeo e Serviccedilo) foram criados pelo CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (MELO 2008)

Tambeacutem com a parceira do SEBRAE-DF a Universidade de Brasiacutelia (UNB) em 1995 desenvolveu a Escola de Empreendedores Em 1997 com o apoio do SEBRAE e do Instituto Euvaldo Lodi (IELMG) e da Federaccedilatildeo das induacutestrias de Minas Gerais (FIEMG) surgiu a Rede de Ensino Universitaacuterio em Empreendedorismo (REUNE) Ainda o SEBRAE a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) o Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico Social (BNDES) e o CNPq foram responsaacuteveis por desenvolverem os programas SOFTEX e GENESIS (citados anteriormente que apoiam ativida-des de empreendedorismo em software estimulando o ensino da disciplina em universidades e a geraccedilatildeo de novas empresas de software conhecidas como start-ups (empresas geralmente de base tecnoloacutegica que criam modelos de negoacutecio altamente escalaacuteveis a baixos custos e a partir de ideias inovadoras) aliados ao empreendedorismo digital com a utilizaccedilatildeo de ferramentas como e-commerce (comeacutercio eletrocircnico) aplicativos moacuteveis sites de compras dentre outros (MELO 2008)

O SEBRAE tem sido considerado o oacutergatildeo responsaacutevel por im-plantar a cultura do empreendedorismo no Brasil nas universi-dades e no mercado como um todo sendo tambeacutem parceiro de vaacuterias entidades que promovem o empreendedorismo Segundo Dornelas (2008) um curso de empreendedorismo deve considerar o desenvolvimento de trecircs aacutereas de habilidades i) teacutecnicas ndash envol-vem saber escrever ouvir as pessoas ser organizado saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know-how teacutecnico de sua aacuterea ii) gerenciais ndash envolvem as aacutereas de criaccedilatildeo desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa (marketing administraccedilatildeo financcedilas operacional produccedilatildeo tomada de decisatildeo controle das accedilotildees da empresa e ser um bom negociador) iii) caracteriacutesticas pes-soais ndash envolvem aspectos como assumir riscos e ser disciplinado inovador orientado a mudanccedilas persistente e um liacuteder visionaacuterio

Para o SEBRAE (2013) a educaccedilatildeo empreendedora propotildee a ruptura de um modelo de praacutetica educacional que privilegia a transmissatildeo estaacutetica e a criacutetica de dados e informaccedilotildees sem estimular reflexotildees ou a aplicaccedilatildeo dos saberes na forma de accedilotildees transformadoras Para isso eacute necessaacuterio capacitar o aluno a cons-truir caminhos por meio de accedilotildees concretas e tecnicamente emba-sadas que tenham efetiva capacidade transformadora e o levem a aliar a teoria agrave praacutetica

Nessa mesma abordagem eacute importante ressaltar a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (LDBN1996) referente agrave promoccedilatildeo da Educaccedilatildeo Integral valorizando as inicia-

Paacutegina 4 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

tivas educacionais extraescolares e a vinculaccedilatildeo entre o trabalho escolar e a vida em sociedade e tambeacutem a importante parceria do SEBRAE na capacitaccedilatildeo de docentes em empreendedorismo para que eles despertem nos alunos o interesse pelo mundo dos negoacutecios e o tema possa ser desenvolvido como disciplina eletiva

Portanto a educaccedilatildeo empreendedora pode ser considerada como principal vetor do desenvolvimento dos paiacuteses e regiotildees que aspiram a ver seus jovens como grandes empreendedores No Brasil o tema eacute muito diversificado devido agraves diferenccedilas regionais e agraves muacuteltiplas nuances culturais O empreendedorismo se mani-festa de forma uacutenica em cada regiatildeo influenciado pela heranccedila cultural pelas vivecircncias pelas historicidades pelas realidades econocircmicas e sociais uacutenicas de cada parte do paiacutes

Portanto eacute a partir da deacutecada de 1980 que o empreende-dorismo pode ser considerado um movimento social mundial propulsor do pequeno negoacutecio e um sinocircnimo de inovaccedilatildeo e mudanccedila

Concluindo esta seccedilatildeo e considerando as abordagens defen-didas por McClelland (1961) Schumpeter (1982) Drucker (1998) Filion (1993 2004) Souza (2001) Hisrich e Peters (2004) Dolabela (2006) e Dornelas (2008) e pelas instituiccedilotildees SEBRAE (2006) GEM (2010 2016) Endeavor (2015) e Junior Achievement (2015) eacute pos-siacutevel verificar que algumas caracteriacutesticas satildeo comuns nos muitos conceitos discutidos

Independentemente dessas referecircncias McClelland (1961) foi um dos primeiros a usar as teorias da ciecircncia comportamental para realizar estudos empiacutericos sobre a motivaccedilatildeo para empreen-der (SANTOS 2008 CARNEIRO 2015) Portanto optou-se por utili-zar as competecircncias do empreendedor adotadas por McClelland (1961) e presentes no Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico do Sistema SEBRAE (2015b) para a elaboraccedilatildeo do instrumento de coleta de dados utilizado neste trabalho tendo como base trecircs dimensotildees de anaacutelise i) conhecimentos ii) habilidades e iii) competecircncias

3 Procedimentos MetodoloacutegicosA metodologia corresponde a um conjunto de procedimentos a ser utilizado na obtenccedilatildeo do conhecimento Eacute a aplicaccedilatildeo do meacutetodo por meio de processos e teacutecnicas (BARROS 2007) Para atingir o objetivo principal desta pesquisa optou-se por um es-tudo descritivo de caraacuteter quantitativo A escolha pela pesquisa descritiva se mostra adequada uma vez que seu objetivo primor-dial eacute a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno utilizando teacutecnicas padronizadas de coletas de dados (GIL 2010) com a finalidade de identificar e obter informaccedilotildees (COLLIS HUSSEY 2005) Quanto agrave abordagem optou-se pelo

meacutetodo quantitativo Collis e Hussey (2005) apontam que esse meacutetodo eacute caracterizado por ser objetivo por natureza e focado na mensuraccedilatildeo de fenocircmenos envolvendo a coleta de informaccedilotildees e a anaacutelise de dados por meio de teacutecnicas estatiacutesticas

Foi aplicado um questionaacuterio estruturado aos egressos de oito Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial (EFG) situadas em Minas Gerais Esse meacutetodo possibilitou uma avaliaccedilatildeo geral do Curso de Formaccedilatildeo Ge-rencial e de suas contribuiccedilotildees na percepccedilatildeo dos egressos do curso em tal estado Nesse estudo o questionaacuterio foi enviado aos respon-dentes por meio eletrocircnico A fim de cumprir o objetivo geral de investigar as contribuiccedilotildees da Formaccedilatildeo Empreendedora proposta pelo Sistema SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Es-colas de Formaccedilatildeo Gerencial em Minas Gerais optou-se por utilizar o modelo adaptado a partir de estudos de McClelland (1961)

De acordo com as informaccedilotildees fornecidas pelo SEBRAE Belo Horizonte o volume de egressos no estado de Minas Gerais perfa-ziam um universo de 5666 ex-alunos que concluiacuteram o curso nas oito unidades que tinham informaccedilotildees a respeito desse puacuteblico ao final do ano de 2015 Eacute importante ressaltar que a apuraccedilatildeo desse total foi realizada pelo somatoacuterio de egressos de cada escola participante da pesquisa EFG Arcos MG (576) EFG Belo Horizonte MG (2088) EFG Cataguases MG (478) EFG Contagem MG (807) EFG Itabira MG (429) EFG Nova Lima MG (818) EFG Pedro Leopoldo MG (419) EFG Sete Lagoas MG (51)

O questionaacuterio foi elaborado e disponibilizado aos egressos por meio da ferramenta Google Docs no primeiro semestre do ano de 2016 havendo um total de 221 respondentes o que equi-vale a 4 dos egressos dessas instituiccedilotildees

De posse dos dados foi utilizada como teacutecnica para tratamento dos dados quantitativos a ferramenta de coleta do Google Docs As informaccedilotildees foram organizadas em tabelas e em graacuteficos no intuito de promover uma melhor visualizaccedilatildeo dos dados quantita-tivos alcanccedilados pela pesquisa Posteriormente foram realizadas as anaacutelises tendo como base a estatiacutestica descritiva pois esta permite a apresentaccedilatildeo a anaacutelise e a interpretaccedilatildeo de dados numeacutericos atraveacutes da criaccedilatildeo de quadros graacuteficos e indicadores numeacutericos possibilitando identificar a existecircncia de regularidades tendecircncias ciclos concentraccedilotildees ou padrotildees (COLLIS HUSSEY 2005)

4 Apresentaccedilatildeo e Anaacutelise dos ResultadosNesta seccedilatildeo satildeo apresentados e analisados os dados da pesquisa quantitativa aplicada aos egressos do Curso de Formaccedilatildeo Geren-cial SEBRAE das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial situadas nas cida-des de Arcos Belo Horizonte Cataguases Contagem Itabira Nova Lima Pedro Leopoldo e Sete Lagoas a fim de identificar as contri-

Paacutegina 5 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

buiccedilotildees dessa formaccedilatildeo gerencial para a atuaccedilatildeo profissional de seus egressos Primeiramente eacute apresentada a caracterizaccedilatildeo de cada uma das unidades em que se deu a pesquisa e em seguida satildeo apresentados os resultados obtidos por meio do questionaacuterio

41 Caracterizaccedilatildeo das EFG mineiras participantes da pesquisaA Tabela 1 apresenta uma siacutentese da caracterizaccedilatildeo das oito es-colas pesquisadas

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais

Unidade SEBRAE

Ano de fundaccedilatildeo

Nuacutemero de alunos

Nuacutemero de colaboradores Curso

Arcos 1996 60 25 Ensino Meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

BeloHorizonte 1994 250 37 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Cataguases 1996 216 34Ensino Fundamental II Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Contagem 1995 100 Natildeoinformado Formaccedilatildeo Gerencial

Itabira 1995 100 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Nova Lima 1998 120 Natildeoinformado

Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Pedro Leopoldo 1996 100 23 Ensino meacutedio Teacutecnico

em Administraccedilatildeo

Sete Lagoas 2011 68 30 Ensino meacutedio Teacutecnico em Administraccedilatildeo

Fonte Dados da pesquisa (2016)

Com exceccedilatildeo da EFG SEBRAE Sete Lagoas todas as escolas estatildeo em funcionamento haacute mais de vinte anos em Minas Gerais e oferecem o ensino meacutedio concomitantemente ao curso teacutecnico em Administra-ccedilatildeo As unidades que tecircm o maior nuacutemero de alunos matriculados satildeo as de Belo Horizonte e de Cataguases as demais oscilam de 60 a 120 alunos (considerando os trecircs periacuteodos do ensino meacutedio) As Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial com maior representatividade na pesquisa foram Belo Horizonte (317) e Pedro Leopoldo (344)

42 Perfil dos egressosA partir das respostas dos 221 egressos na seccedilatildeo I do questionaacuterio pocircde-se conhecer o perfil dos respondentes A amostra foi com-posta de 633 dos respondentes do sexo feminino e 367 do masculino As faixas etaacuterias com maior incidecircncia foram de 18 a 24 anos representando 837 da amostra e de 25 a 29 anos re-presentando 68 Quanto ao estado civil 91 dos respondentes satildeo solteiros e 9 satildeo casados

Constatou-se que o principal motivo que levou o egresso a se matricular no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE foi a busca por qualificaccedilatildeo profissional representando 656 das citaccedilotildees

seguido da referecircncia da marca SEBRAE no mercado de trabalho com 136 Tais resultados refletem a consolidaccedilatildeo da excelecircncia do curso teacutecnico e seu diferencial no mercado de trabalho bem como a valorizaccedilatildeo da marca SEBRAE Identificou-se que 543 dos respondentes cursaram o ensino fundamental em escolas particulares e que 674 natildeo utilizaram bolsa de estudo para rea-lizar o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Tais informaccedilotildees satildeo importantes na identificaccedilatildeo do puacuteblico-alvo e nas ferramentas de marketing dos processos seletivos Quanto agrave formaccedilatildeo acadecircmica 62 possuem ensino superior incompleto e 48 graduaram-se na aacuterea de Exatas Um dado interessante a ser observado eacute o fato de apenas 9 dos respondentes natildeo terem continuado os estudos em niacutevel superior sendo que a maioria optou pela graduaccedilatildeo em Ciecircncias Sociais Aplicadas (48) promovendo assim a continui-dade dos estudos na aacuterea de sua formaccedilatildeo teacutecnica

43 Avaliaccedilatildeo dos conhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE e da ca-pacidade de aprendizadoCada pergunta correspondente agrave seccedilatildeo II do questionaacuterio apresen-tado aos respondentes pertence a um tema de avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os valores percentuais alcanccedilados nas respostas foram sistematizados em uma tabela considerando a seguinte escala de classificaccedilatildeo 1- Peacutessimo 2- Ruim 3- Regular 4- Bom e 5- Oacutetimo As questotildees 1 a 5 15 16 e 24 referem-se agrave avaliaccedilatildeo dos conhecimentos teacutecnicos teoacutericos e praacuteticos das habilidades e competecircncias desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Conhecimentos habilidades e competecircncias englobam os conhecimentos teoacutericos e praacuteticos as competecircncias os recursos tecnoloacutegicos a inter-relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica bem como as accedilotildees promotoras para o desenvolvimento do com-portamento humano da eacutetica e da responsabilidade que foram desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE

No que tange agrave avaliaccedilatildeo geral dos egressos quantos aos co-nhecimentos habilidades e competecircncias desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE todos os itens tiveram avaliaccedilotildees positivas e a meacutedia geral dos valores para os itens respondidos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo totalizaram 846 Jaacute para os respondentes que consideraram a avaliaccedilatildeo como ldquoRuim e Peacutes-simardquo 9 estatildeo insatisfeitos com os recursos tecnoloacutegicos dispo-nibilizados pelas EFG Essa informaccedilatildeo deve ser analisada pelos gestores das unidades visto que a inovaccedilatildeo aliada agrave tecnologia eacute um dos principais pilares do empreendedorismo

Com relaccedilatildeo agrave avaliaccedilatildeo mais detalhada sobre os grupos de co-nhecimentos abordados no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Gestatildeo de Pessoas (6610) e Administraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Ciecircncias Sociais

Paacutegina 6 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

(385) e Sistemas de Informaccedilatildeo (312) foram apontados como os conhecimentos que menos contribuiacuteram Vale ressaltar que eacute possiacutevel que esse resultado tenha relaccedilatildeo com os diferentes ramos de atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Em se tratando das habilidades desenvolvidas no Curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE observa-se que Relacionamento In-terpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profis-sional dos egressos enquanto Criatividade e Inovaccedilatildeo (186) e Multiculturalismo (371) satildeo as habilidades que menos contri-buiacuteram na visatildeo dos egressos entrevistados

No tocante agraves competecircncias identifica-se que Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as competecircncias que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos enquanto Processo Produtivo (24) eacute a que menos contribuiu Um dado que merece ser enfatizado eacute que todas as competecircncias relacionadas possuem um grau positivo de avaliaccedilatildeo demonstrando novamente que a relevacircncia estaacute direta-mente ligada ao segmento profissional de cada egresso

Ainda nesse contexto analisando-se as dimensotildees mais rele-vantes no Conhecimento Gestatildeo de Pessoas (66) na Habilidade Relacionamento Interpessoal (77) e na Competecircncia Raciociacutenio Loacutegico (62) percebe-se que as capacidades mais valorizadas pelo mercado de trabalho satildeo o pensamento loacutegico aliado agrave ca-pacidade de lidar com as pessoas o que corrobora a visatildeo de Gardner (1994) sobre inteligecircncias muacuteltiplas

Em se tratando da avaliaccedilatildeo do egresso quanto agrave sua capa-cidade de aprendizado 88 dos respondentes considerou esse aspecto como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 65 o considerou como ldquoRuim e Peacutessimordquo demonstrando assim que o egresso considera muito bom o seu aproveitamento acerca da formaccedilatildeo gerencial ofer-tada considerando tambeacutem que a aprendizagem resulta de um processo de interaccedilatildeo formado pelo trinocircmio professor-aluno--conhecimento sendo esse um indicador de suma importacircncia pois reflete a autoavaliaccedilatildeo do egresso em relaccedilatildeo ao curso

44 Avaliaccedilatildeo do estaacutegio supervisionado e dos projetos estrutu-rantes do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEO estaacutegio supervisionado eacute o procedimento didaacutetico-pedagoacutegico que pretende proporcionar ao estudante concluinte da terceira seacuterie aprendizagem social profissional e cultural mediante a vi-vecircncia de situaccedilotildees reais de vida e do trabalho na comunidade em geral sob a orientaccedilatildeo e supervisatildeo da EFG Eacute indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo profissional e preacute-requisito para que o estudante receba o certificado de conclusatildeo do curso Os dados da pesquisa apontam que 77 dos respondentes responderam como ldquoOacutetimo e Bomrdquo os

conhecimentos obtidos nas disciplinas do curso para realizaccedilatildeo das tarefas do estaacutegio 14 apontaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo a facilidade para conseguir estaacutegios e outras atividades acadecircmicas em funccedilatildeo de ter concluiacutedo o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Os resultados positivos sinalizam o reconhecimento do egresso quanto agrave importacircncia da realizaccedilatildeo do estaacutegio para a formaccedilatildeo e melhor desempenho profissional no mercado de trabalho mas eacute importante destacar a dificuldade para obtenccedilatildeo do estaacutegio apre-sentada na avaliaccedilatildeo de 14 dos egressos mesmo com a referecircncia do curso SEBRAE no mercado de trabalho

Durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE satildeo desen-volvidos trecircs projetos estruturantes Tutoria Vitrine e Empresa Simulada Ao verificar junto aos respondentes a avaliaccedilatildeo des-ses projetos observa-se um destaque para o projeto Vitrine que apresentou percentual de 9210 de avaliaccedilatildeo ldquoOacutetimo e Bomrdquo O resultado geral dos trecircs projetos comprova a sua importacircncia na formaccedilatildeo gerencial visto que eles satildeo considerados um dos principais diferenciais do Sistema SEBRAE

45 Avaliaccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissionalNesse quesito analisou-se a contribuiccedilatildeo do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE na atuaccedilatildeo profissional dos egressos Foram obtidos os seguintes resultados 86 dos respondentes avaliaram como ldquoOacutetimo e Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do cursopara a melhora do entendimento sobre as relaccedilotildees de produccedilatildeo e o mercado de trabalho 9 avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo as oportunidades geradas pela conclusatildeo do curso Esses resultados comprovam a contribuiccedilatildeo efetiva do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE para atuaccedilatildeo profissional que o egresso exerce ou jaacute exerceu Vale destacar ainda a avaliaccedilatildeo positiva dos egressos (73) quanto agraves oportunidades geradas por tal formaccedilatildeo na sua vida profissional apesar do resultado anterior no qual o egresso expressa uma difi-culdade em conseguir estaacutegio apoacutes a conclusatildeo do curso

46 Avaliaccedilatildeo geral do curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAEOs dados da pesquisa indicam que 9210 dos respondentes ava-liaram o curso como ldquorsquoOacutetimo ou Bomrdquo e apenas 090 o avaliaram como ldquoRuim e Peacutessimordquo O alto iacutendice positivo indica tambeacutem uma correlaccedilatildeo positiva na aprendizagem do egresso representando uma avaliaccedilatildeo geral do curso nos seus aspectos didaacuteticos ins-trucionais teoacutericos e outros

47 Avaliaccedilatildeo das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas GeraisAnalisando as escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE pes-quisadas os resultados foram os seguintes 88 dos egressos

Paacutegina 7 de 9

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consideraram ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a qualificaccedilatildeo dos professores enquanto 19 consideraram esse aspecto como ldquoRuim e Peacutessi-mordquo evidenciando-se assim a satisfaccedilatildeo e reconhecimento dos egressos quanto agrave qualificaccedilatildeo profissional dos docentes que atuam nas EFG Eacute preciso destacar que a avaliaccedilatildeo de um curso implica necessariamente a anaacutelise da organizaccedilatildeo e principal-mente de seus docentes Quanto agrave infraestrutura equipamen-tos e laboratoacuterios 777 dos egressos consideraram-nos como ldquoOacutetimo e Bomrdquo e 51 os consideraram como ldquoRuim e Peacutessimordquo o que comprova uma avaliaccedilatildeo geral positiva das EFG tambeacutem em termos de infraestrutura

48 Relacionamento dos egressos com as EFG SEBRAE em Minas GeraisOs dados demonstram que 423 dos respondentes natildeo mantecircm nenhum tipo de contato com a instituiccedilatildeo na qual concluiacuteram o curso e que apenas 10 jaacute participaram de algum evento promo-vido pela EFG apoacutes terem se formado Essa situaccedilatildeo indica uma deficiecircncia na comunicaccedilatildeo das escolas com seus ex-alunos jaacute ob-servada no iniacutecio da pesquisa quando se constatou que as escolas natildeo possuem um banco de dados atualizado de seus egressos para que seja possiacutevel efetuar contato com eles e natildeo permitindo portanto poliacuteticas de relacionamento com os ex-alunos apoacutes a sua passagem pelas escolas No entanto percebe-se que 869 dos respondentes possuem contato com seus ex-colegas por ini-ciativas proacuteprias de organizaccedilatildeo de redes e grupos informais em plataformas de miacutedias sociais como Facebook e WhatsApp Essas accedilotildees poderiam ser potencializadas pelas EFG para a construccedilatildeo de um relacionamento com os egressos

Os dados da pesquisa apontam que 959 dos respondentes natildeo se arrependeram de ter realizado o curso na EFG de origem Tal iacutendice expressa novamente a satisfaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo dos egressos no que se refere agrave qualidade da formaccedilatildeo gerencial e do quanto ela foi significativa para a vida profissional de cada um Essa informaccedilatildeo eacute de grande relevacircncia para as escolas e para os gestores visto que a indicaccedilatildeo do egresso eacute uma importante ferramenta de marketing que pode ser utilizada na captaccedilatildeo de novos alunos estrateacutegia que jaacute eacute realizada pelas escolas

5 Consideraccedilotildees FinaisEste estudo teve como objetivo geral investigar quais as contri-buiccedilotildees da formaccedilatildeo empreendedora na atuaccedilatildeo profissional dos egressos das Escolas de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE em Minas Gerais Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa de caraacuteter descritivo e quantitativo Adotou-se o modelo proposto por McClelland (1961) como marco teoacuterico da pesquisa visto tal modelo ser base do projeto poliacutetico pedagoacutegico do Sistema SE-BRAE (2015b) contemplando os conhecimentos (Administraccedilatildeo Estrateacutegica Financcedilas Produccedilatildeo e Logiacutestica Marketing Sistema de

Informaccedilatildeo Gestatildeo de Pessoas Ciecircncias Sociais) as habilidades (Relacionamento Interpessoal Comunicaccedilatildeo Eficaz Lideranccedila Soluccedilatildeo de Conflitos Articulaccedilatildeo Criatividade e Inovaccedilatildeo Multi-culturalismo) e as competecircncias (Interpretaccedilatildeo de Cenaacuterios For-mulaccedilatildeo de Projetos Avaliaccedilatildeo de processos e resultados Iden-tificaccedilatildeo de Problemas Raciociacutenio Loacutegico Processo Decisoacuterio) desenvolvidos durante o curso de Formaccedilatildeo Gerencial

Os conhecimentos sobre Gestatildeo de Pessoas (6610) e Admi-nistraccedilatildeo Estrateacutegica (606) satildeo considerados aqueles que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos en-trevistados Em se tratando das habilidades desenvolvidas no curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE Relacionamento Interpessoal (778) e Comunicaccedilatildeo Eficaz (674) satildeo apontadas como as que mais con-tribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos No to-cante agraves competecircncias Raciociacutenio Loacutegico Criacutetico e Analiacutetico (629) e Identificaccedilatildeo de Problemas (606) satildeo as que mais contribuiacuteram para formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional dos egressos

Pode-se concluir que a formaccedilatildeo gerencial proposta pelas EFG SEBRAE em Minas Gerais contribui positivamente para a atuaccedilatildeo profissional dos egressos Essa informaccedilatildeo eacute comprovada pelos re-sultados que indicam que 92 dos egressos avaliaram o curso de Formaccedilatildeo Gerencial SEBRAE como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo sendo que 95 dos egressos natildeo se arrependeram de terem feito o curso 80 con-sideraram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo o seu desenvolvimento durante o curso de formaccedilatildeo gerencial e 78 avaliaram como ldquoOacutetimo ou Bomrdquo a contribuiccedilatildeo do curso para sua formaccedilatildeo profissional atual

Por outro lado identificou-se um novo desafio no que se refere ao curso foi possiacutevel observar os baixos iacutendices de relacionamento das escolas com seus egressos aleacutem da falta de um banco de dados com o cadastro atualizado dos seus ex-alunos Estes dados servem de alerta agraves escolas e ao Sistema SEBRAE tendo em vista que isso poderaacute prejudicar a imagem da instituiccedilatildeo e o ingresso de novos alunos no futuro visto que a referecircncia do ex-aluno eacute con-siderada a principal ferramenta de marketing que uma instituiccedilatildeo pode se utilizar para captaccedilatildeo de novos alunos Algumas accedilotildees de melhoria passam pela criaccedilatildeo de canais de comunicaccedilatildeo eficazes e de uma associaccedilatildeo de ex-alunos Uma vez adotadas essas accedilotildees proporcionariam aos egressos a possibilidade de maior e melhor acesso agrave escola e aos ex-colegas

A presente pesquisa apresentou limitaccedilotildees Uma delas foi o acesso aos egressos O SEBRAE Belo Horizonte se dispocircs ainda no momento de planejamento deste trabalho a informar o banco de dados dos egressos das treze escolas existentes em Minas Gerais Entretanto isso natildeo ocorreu na praacutetica o que limitou a amostra a 221 egressos e a oito escolas participantes O contato com os egressos dessas escolas foi feito e possibilitado em quase sua totalidade pelas miacutedias sociais e grupos informais de ex-alunos

Paacutegina 8 de 9

Constatou-se nesse momento do trabalho que nenhuma EFG de Minas Gerais possui dados de seus egressos Sendo assim sugere-se agraves EFG do estado a criaccedilatildeo de um banco de dados de egressos com informaccedilotildees atualizadas Seria interessante tambeacutem que as escolas promovessem encontros com os ex-alunos e criassem canais de comunicaccedilatildeo mais constantes e diretos com este puacuteblico

Outra limitaccedilatildeo apresentada pela pesquisa diz respeito agrave sua aplicaccedilatildeo focada somente no quadro de egressos sem considerar outros envolvidos no processo tais como a famiacutelia do egresso os empregadores clientes colaboradores dentre outros Sugere-se tambeacutem que pesquisas futuras incluam os outros envolvidos no processo como forma de se obter uma visatildeo ampliada dos im-pactos da formaccedilatildeo gerencial oferecida pelas EFG SEBRAE

R e f e r ecirc n c i a s

BARROS AJDS LEHFELD NADS Fundamentos de metodologia cientiacutefica

Satildeo Paulo Pearson Prentice Hall 2007

CARNEIRO CA Comportamento empreendedor de gestores estudo de caso

em uma instituiccedilatildeo puacuteblica de ensino superior Dissertaccedilatildeo (Mestrado

Profissional em Administraccedilatildeo) ndash Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas

Gerais Brasil 2015

CIMADON JE RUPPENTHAL JE MANFROI AS A aplicaccedilatildeo da ldquoTeoria

Visionaacuteriardquo de Filion no desenvolvimento de MPEs criadas por neces-

sidade In XXVII Encontro Nacional de Engenharia de Produccedilatildeo 2007

Anais Foz do Iguaccedilu ENEGEP 2007

COLLIS J HUSSEY R Pesquisa em administraccedilatildeo um guia praacutetico para alu-

nos de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo 2ed Porto Alegre Bookman 2005

DOLABELA F O segredo de Luiacutesa 30ed Satildeo Paulo De Cultura 2006

DORNELAS JCA Empreendedorismo transformando ideias em negoacutecios

Rio de Janeiro Campus 2008

DRUCKER PF Inovaccedilatildeo e espiacuterito empreendedor 5ed Satildeo Paulo Pioneira 1998

ENDEAVOR Portal Endeavor Brasil Disponiacutevel em lthttpsendeavororg

brgt Acesso em 10 set 2016

FILION LJ Visatildeo e relaccedilotildees elementos para um metamodelo empreen-

dedor Revista de Administraccedilatildeo de Empresas (RAE) Satildeo Paulo v33

n6 p50-61 1993

FILION LJ Entendendo os intraempreendedores como visionistas Revista

de Negoacutecios Blumenau v9 n2 p65-80 2004

GEM Global Entrepreneurship Monitor Empreendedorismo no Brasil re-

latoacuterio executivo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwibqpprorgbrgt

Acesso em 10 set 2016

______ Empreendedorismo no Brasil relatoacuterio executivo 2016 Disponiacutevel

em lthttpwwwibqpprorgbrgt Acesso em 10 set 2016

GIL AC Como elaborar projetos de pesquisa 5ed Satildeo Paulo Atlas 2010

HISRICH RD PETERS MP Empreendedorismo 5ed Porto Alegre Bookman 2004

JUNIOR ACHIEVEMENT Portal JA Brasil Disponiacutevel em ltwwwjuniorachie-

vementorgbrgt Acesso em 10 set 2016

McCLELLAND DC The achievement society Princenton (NJ) D Van

Nostrand 1961

MELO NM Sebrae Empreendedorismo origem e desenvolvimento Dis-

sertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Sociais) ndash Universidade Federal de

Satildeo Carlos Satildeo Paulo Brasil 2008

PEREIRA RA As competecircncias do educador na difusatildeo da cultura empre-

endedora Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional em Administraccedilatildeo) ndash

Fundaccedilatildeo Pedro Leopoldo Minas Gerais Brasil 2010

REVISTA PASSO A PASSO Brasiacutelia SEBRAE 2015a

SANTOS PCF Uma escala para identificar o potencial empreendedor Tese

(Doutorado em Engenharia de Produccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Florianoacutepolis Santa Catarina Brasil 2008

SCHUMPETER JA A teoria do desenvolvimento econocircmico uma investi-

gaccedilatildeo sobre lucros capital creacutedito juros e o ciclo econocircmico Satildeo

Paulo Abril Cultural 1982

SEBRAE Serviccedilo Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas Refe-

renciais educacionais do SEBRAE Brasiacutelia SEBRAE 2006

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Pedro

Leopoldo Pedro Leopoldo SEBRAE 2013

______ Projeto poliacutetico pedagoacutegico Escola de Formaccedilatildeo Gerencial Belo

Horizonte Belo Horizonte SEBRAE 2015b

______ Portal SEBRAE Disponiacutevel em lthttpwwwsebraecombrsites

PortalSebraegt Acesso em 3 fev 2016

SOUZA CG Empreendedorismo e capacitaccedilatildeo docente uma sintonia pos-

siacutevel Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de

Santa Catarina Santa Catarina Brasil 2001

Paacutegina 9 de 9

Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo HorizonteCooperation Networks And Public Governance The Case Of The Cultural Mapping Of Belo Horizonte

Leonardo Tadeu dos Santos Juliana de Faacutetima Pinto e Maria Gabriela de Caacutessia Miranda

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

Os Estados vecircm sofrendo mudanccedilas que tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior transparecircncia e de maior envolvimento com mercado e sociedade

civil e para isso estatildeo procurando trabalhar na perspectiva de redes Este artigo buscou analisar as possibilidades da rede estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC) a empresa TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) Trata-se de uma rede interinstitucional formada com objetivo de construir o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte O mapa cultural eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacuteblicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos Foi aplicado um questionaacuterio aberto para trecircs servidoras da FMC Para o tratamento dos dados utilizou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) O estudo descreve como se deu a criaccedilatildeo da rede os avanccedilos alcanccedilados e as dificuldades encontradas Conclui-se que a rede de cooperaccedilatildeo trouxe benefiacutecios e possibilitou a construccedilatildeo do mapa cultural da cidade

A b s t r a c t

The States have undergone changes towards a user-oriented administration one of greater trans-parency and greater involvement with the market and civil society and for that they have sought to work from a network perspective This article sought to examine the possibilities of the inter-institu-tional network established between the Municipal Foundation of Culture of Belo Horizonte (FMC) the company TIM and the Municipal Council of Cultural Policy (COMUC) This is an inter-institutional network created in order to build the cultural map of the city of Belo Horizonte The cultural map is an innovative software of shared management that allows different private andor public agencies to feed the database for the subsequent consultation of citizens An open questionnaire was applied to three FMC servers and the data treatment used the analysis of content of Bardin (2009) This study describes the process of creation of the network the progress achieved and the difficulties encountered It was concluded that the cooperation network has brought benefits and made the construction of the cultural map of the city possible

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 020917Aprovado em 041217

Palavras-chaveRedes interorganizacionais Cooperaccedilatildeo Setor puacuteblico Inovaccedilatildeo

KeywordsInter-organizational networks Cooperation Public sector Innovation

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMGe-mail leonardotadeu17gmailcom

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Doutoranda em Administraccedilatildeo pelo CEPEADUFMG

Como citar este artigoSANTOS L T PINTO J F CAacuteSSIA M G Redes de cooperaccedilatildeo e governanccedila puacuteblica o caso do mapeamento cultural de Belo Horizonte Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 Introduccedilatildeo As uacuteltimas deacutecadas tecircm sido marcadas por fenocircmenos como globa-lizaccedilatildeo e ajustes fiscais provocando o surgimento de novos desafios organizacionais A reforma administrativa do Estado exemplifica o esforccedilo da administraccedilatildeo puacuteblica em se adequar agraves novas ne-cessidades tais como agilidade eficiecircncia transparecircncia etc As mudanccedilas tecircm seguido a direccedilatildeo de uma administraccedilatildeo orientada para o usuaacuterio de maior clareza e de mais envolvimento entre Es-tado mercado e sociedade civil (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

A demanda crescente por serviccedilos puacuteblicos melhores e mais eficientes impulsiona de acordo com Torres (2006) accedilotildees de mo-dernizaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo que tecircm por objetivo atender aos an-seios da sociedade civil Dessa forma a inovaccedilatildeo ganha destaque Segundo Lemos (1999) a compressatildeo da inovaccedilatildeo depende de questotildees contingenciais e soacutecio-histoacutericas

Assim neste estudo entende-se inovaccedilatildeo como o desenvol-vimento de ideias e accedilotildees que visem ao aperfeiccediloamento de uma tarefa eou accedilatildeo alterando a capacidade de agir da sociedade (MURRAY CAULIER-GRICE MULGAN 2010) Um exemplo eacute a cria-ccedilatildeo de redes de cooperaccedilatildeo para dar maior agilidade e qualidade aos serviccedilos estatais ao atender agraves necessidades sociais e criar novas relaccedilotildees sociais (JULIANI 2014)

Nesse iacutenterim uma parte da literatura (CASTELLS 1999 KISS-LER HEIDMAN 2006 MINTZBERG 2003 SILVA MARTINS CKAGNA-ZAROFF 2013) tem frisado a importacircncia de o Estado agir de forma cooperativa na perspectiva de redes As redes de cooperaccedilatildeo satildeo uma forma de organizaccedilatildeo na qual haacute uma parceria com o intuito de beneficiar os atores que fazem parte da rede (SEDAI 2004) A colaboraccedilatildeo possibilita aos atores a resoluccedilatildeo de problemas que representariam uma carga excessiva para um ator isolado uacutenico

Segundo Kissler e Heidemann (2006) existem uma seacuterie de vantagens que a coadjuvaccedilatildeo proporciona tais como reduccedilatildeo de risco diminuiccedilatildeo de custos compartilhamento de teacutecnicas e informaccedilotildees e ampliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos prestados Eacute possiacutevel destacar tambeacutem as possiacuteveis dificuldades encontradas nas redes de cooperaccedilatildeo satildeo elas a baixa confianccedila entre os ato-res os interesses contraacuterios a dificuldade de interaccedilatildeo entre os envolvidos e a assimetria de informaccedilatildeo

As redes segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) satildeo um meca-nismo que permite ampliar e aperfeiccediloar as relaccedilotildees e a governanccedila puacuteblica A governanccedila na administraccedilatildeo puacuteblica pode ser entendida como um modelo horizontal de relaccedilotildees entre atores das esferas puacuteblicas e privadas no processo de elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003) Realizar o mapeamento dessas redes proporciona maior compreensatildeo da sua dinacircmica bem como dos recursos e estrateacutegias para cooperaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees

Assim apresenta-se neste estudo uma rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Ho-rizonte (FMC) o Instituto TIM e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) A rede objetiva implantar o mapeamento cul-tural da cidade e consiste na construccedilatildeo de um mapa georreferen-ciado que conteacutem informaccedilotildees sobre artistas eventos e espaccedilos culturais tais informaccedilotildees satildeo encontradas no site da FMC

O mapa cultural de Belo Horizonte encontrado no site Mapa Cultural BH (PMBH 2017) eacute um software de gestatildeo compartilhada inovador que permite que diferentes oacutergatildeos privados eou puacute-blicos alimentem o banco de dados para a posterior consulta dos cidadatildeos O software livre permite tambeacutem alimentar informaccedilotildees sobre agendas espaccedilos eventos e projetos culturais

Diante da importacircncia das redes institucionais e da gover-nanccedila puacuteblica para o bem-estar da sociedade este estudo busca responder agrave seguinte questatildeo quais benefiacutecios e obstaacuteculos satildeo observados na rede de cooperaccedilatildeo entre a Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura de Belo Horizonte o Instituto Tim e o Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural ao implementar o mapa cultural da cidade de Belo Horizonte

A atuaccedilatildeo das organizaccedilotildees em teias eacute um tema pouco estuda-do e segundo Kissler e Heideman (2006) as avaliaccedilotildees cientiacuteficas soacutelidas sobre resultados da governanccedila puacuteblica satildeo raras Nesse liame o estudo pretende contribuir para os estudos do campo das redes organizacionais puacuteblica discutindo trecircs objetivos especiacutefi-cos 1) os benefiacutecios 2) as dificuldades e 3) os resultados da rede organizacional pesquisada Para alcanccedilar os objetivos propostos adotou-se a anaacutelise de conteuacutedo de Bardin (2009) para o tratamento do questionaacuterio aberto respondido pelos servidores da FMC

O artigo estaacute dividido aleacutem desta introduccedilatildeo em cinco se-ccedilotildees A primeira parte discute governanccedila puacuteblica A segunda apresenta a discussatildeo sobre redes interorganizacionais A terceira parte conteacutem a descriccedilatildeo metodoloacutegica seguida da apresentaccedilatildeo e discussatildeo de resultados da rede pesquisada Por fim satildeo apre-sentadas as conclusotildees finais

2 Governanccedila puacuteblicaA Administraccedilatildeo Puacuteblica Gerencial (APG) ocasionou novos paradig-mas para a gestatildeo puacuteblica e consequentemente uma nova pers-pectiva na implementaccedilatildeo de ferramentas gerenciais ateacute entatildeo utilizadas apenas na esfera privada (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Um conceito-chave para APG eacute a governanccedila O conceito de governanccedila eacute usado em diversos campos de saberes e de diferen-tes formas Segundo Sechi (2009 p 357) ldquoa definiccedilatildeo de governan-ccedila gera ambiguidades e [] as principais aacutereas do conhecimento

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

que se apropriou [sic] do termo foram as relaccedilotildees internacionais teorias do desenvolvimento a administraccedilatildeo privada a adminis-traccedilatildeo puacuteblica e a ciecircncia poliacuteticardquo

Apesar de Kissler e Heidemann (2006) considerarem o conceito de governanccedila como sociologicamente amorfo e de existirem diferentes formas para se entender e discutir a temaacutetica neste estudo governanccedila seraacute entendida como

Uma nova geraccedilatildeo de reformas administrativas e de Estado que tecircm

como objeto a accedilatildeo conjunta levada a efeito de forma eficaz transpa-

rente e compartilhada pelo Estado pelas empresas e pela sociedade

civil visando uma soluccedilatildeo inovadora dos problemas sociais e criando

possibilidade e chances de um desenvolvimento futuro e sustentaacutevel

para todos os participantes (LOumlFFLER 2001 p 202)

Segundo Peter e Waterman (1982) A governanccedila puacuteblica po-deria ser entendida a partir de trecircs perspectivas os mecanismos de hierarquia do governo os mecanismos de autorregulaccedilatildeo do mercado e os mecanismos de cooperaccedilatildeo entre as comunidades

Partindo do eixo dos mecanismos horizontais de cooperaccedilatildeo Filho Cruz (2006) chama atenccedilatildeo para migraccedilatildeo de algumas funccedilotildees do Estado para o setor privado o setor social a cooperativa e a socie-dade civil como uma mudanccedila significativa e recente Nesse sentido Kissler e Heideman (2006) sugerem a ideia de uma transiccedilatildeo de um Estado hieraacuterquico e pouco permeaacutevel para um Estado cooperativo que atua em conjunto com a sociedade e com as organizaccedilotildees pri-vadas Em decorrecircncia disso o maior entrelaccedilamento entre Estado mercado e sociedade civil tem caracterizado as uacuteltimas deacutecadas

Nessa perspectiva de governanccedila as redes de cooperaccedilatildeo sur-gem como um elemento inovador e central para os atores Sendo as redes um emaranhado de relaccedilotildees colaborativas a governanccedila e as redes estatildeo entrelaccediladas em sua funccedilatildeo de ser

Apesar de inicialmente pensada para o setor privado a go-vernanccedila e os modelos horizontais de relaccedilatildeo entre atores tecircm ganhado espaccedilo no Estado e em organizaccedilotildees puacuteblicas Nesse sentido segundo Kissler e Heidemann (2006) o Estado pode trans-ferir accedilotildees para o setor privado ou agir em parcerias com agentes sociais Essa accedilatildeo conjunta pode ser entendida como a expansatildeo de um Estado coprodutor do bem puacuteblico que busca apoio nas parcerias para desempenhar sua funccedilatildeo Entre os diversos me-canismos de que o Estado dispotildee para expandir e aperfeiccediloar a governanccedila puacuteblica as redes ocupam uma posiccedilatildeo central

Essa expansatildeo do Estado pode se dar pelas redes de poliacuteticas puacuteblicas (policy networks) como eacute o caso neste estudo e ser uma forma inovadora de interaccedilatildeo entre atores estatais da sociedade civil e do mercado (BOumlRZEL 1998)

3 Redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblicaAs redes tecircm sido um dos mecanismos mais utilizados e trabalha-dos pelo Estado para o aprofundamento da governanccedila puacuteblica por proporcionar uma visatildeo ampla dos atores e sua atuaccedilatildeo no ambiente Na administraccedilatildeo puacuteblica apresentam vaacuterias possi-bilidades de serem pensadas puacuteblico-puacuteblico puacuteblico-privado puacuteblico-sociedade civil e puacuteblico-privado-sociedade civil todas elas apresentando relaccedilotildees menos hierarquizadas e melhorias para a governanccedila puacuteblica (CKAGNAZAROFF SOUZA 2003)

Para Nohria e Eccles (1992) as redes entre as organizaccedilotildees tecircm como objetivos a interaccedilatildeo o relacionamento a ajuda muacute-tua o compartilhamento a integraccedilatildeo e complementaridade entre atores sociais Segundo Ckagnazaroff e Souza (2003) a rede interorganizacional eacute uma teia social com caraacuteter teacutecnico e operacional com pouca hierarquia e grande interatividade entre os atores que a compotildee Tal estrutura proporciona ligaccedilotildees entre atores externos agrave organizaccedilatildeo

Nota-se que de maneira ampla os diversos conceitos de redes compartilham alguns elementos em comuns Bourguignon (2001) vem postular que satildeo eles a ideia de articulaccedilatildeo conexatildeo accedilotildees complementares relaccedilotildees horizontais entre parceiros e interdependecircncia de serviccedilos

Uma das principais caracteriacutesticas das redes satildeo suas relaccedilotildees intermodais sendo os noacutes com diferentes dimensotildees segundo Castells (2001) noacutes que apresentam um nuacutemero diferenciado de ligaccedilotildees com os demais noacutes da rede Esses noacutes fazem parte de uma rede na qual os atores estatildeo no mesmo patamar hieraacuterquico e colaboram entre si As redes sociais satildeo estruturas abertas ca-pazes de expandir ilimitadamente integrando novos noacutes desde que consigam comunicar-se dentro da rede (CASTELLS 1999) As redes de cooperaccedilatildeo tecircm como um de seus objetivos reunir atributos que permitam uma adequaccedilatildeo ao ambiente competitivo em uma estrutura dinacircmica sustentada por accedilotildees uniformes po-reacutem descentralizadas e que evite que os atores envolvidos percam a flexibilidade (THOMPSON 2003)

A confianccedila segundo Kissler e Heidemann (2006) eacute um ponto essencial para o estabelecimento de uma rede e tam-beacutem eacute um fator-chave para a cooperaccedilatildeo e a troca entre as organizaccedilotildees (RING VAN DE VEN 1994 BECERRA LUNNAN HUEMER 2008) A presenccedila ou a ausecircncia da confianccedila de-terminaraacute os fluxos de informaccedilotildees que satildeo essenciais para a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel agrave cooperaccedilatildeo e ateacute mes-mo na disposiccedilatildeo dos atores em trabalhar em conjunto Dito isso percebe-se tambeacutem que a cooperaccedilatildeo e a governanccedila de uma rede natildeo pode ser imposta A governanccedila e a cooperaccedilatildeo entre os agentes satildeo um processo de troca que oscila entre o topo e a base (KISLLER HEIDEMANN 2006)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As redes com mais tradiccedilatildeo na iniciativa privada tecircm ganhado espaccedilo no governo e podem ser entendidas como um sistema in-terligado formado por uma teia complexa de relaccedilotildees institucionais para soluccedilatildeo de problemas cotidianos e atiacutepicos para Mintzberg (1998) O autor complementa afirmando que as redes de coope-raccedilatildeo no setor puacuteblico satildeo ligadas por canais informacionais de comunicaccedilatildeo cujo lema seria conectar comunicar e colaborar

Nesse contexto Castells (2001) afirma ter surgido uma nova economia de escala global e com novas estrateacutegias e aborda-gens Esse novo contexto implicaria o ldquoEstado-rederdquo Esse concei-to ressignifica o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e traz a ideia de um Estado que compartilha autoridade que trabalha em conjunto e em rede com outros atores Esse novo termo implica novas parcerias e estruturas organizacionais cooperaccedilatildeo em rede

4 MetodologiaPor meio do levantamento de bibliografias pertinentes foi construiacutedo um arcabouccedilo teoacuterico com o intuito de situar as produccedilotildees relativas agrave temaacutetica trabalhada A partir do referencial teoacuterico os dados foram produzidos a partir da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios abertos

Os questionaacuterios abertos foram aplicados no Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo (DPAI) da FMC sendo essa repar-ticcedilatildeo responsaacutevel pela alimentaccedilatildeo e cadastro de informaccedilotildees do site do mapa cultural de Belo Horizonte Trata-se portanto de uma pesquisa qualitativa o que segundo Creswell (2007) foca-se nas percepccedilotildees e experiecircncias dos participantes e sen-do os dados interpretados em relaccedilatildeo a um uacutenico caso e natildeo agraves suas generalizaccedilotildees

No total participaram do estudo trecircs servidoras da FMC sendo a amostra natildeo probabiliacutestica As servidoras foram escolhidas conforme a conveniecircncia e interesse deste estudo considerando a sua partici-paccedilatildeo na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida entre a FMC o Instituto TIM e o COMUC Visando agrave natildeo identificaccedilatildeo das participantes essas foram chamados neste trabalho de FMC1 FMC2 FMC3 Todos os questionaacuterios foram respondidos no mecircs de abril de 2017

Conforme sugerido por Bardin (2009) a primeira leitura das respostas fez com que os pesquisadores levantassem algumas hipoacuteteses Em seguida as respostas foram organizadas de acor-do com a aproximaccedilatildeo dos elementos para posteriormente ser atribuiacutedo a esses o nome de categoria A categorizaccedilatildeo possibilita o ordenamento de significados que representam um entendimento mais profundo em termos da interpretaccedilatildeo dos sujeitos estudados

As categorias natildeo foram fixadas no iniacutecio da pesquisa e sim definidas a partir da interpretaccedilatildeo do questionaacuterio aberto Satildeo

elas a falta de investimentos adequado na rede a limitaccedilatildeo do software as dificuldades com a mudanccedila do governo a pouca participaccedilatildeo do COMUC e a parceria bem-sucedida

5 A rede e o mapa culturalA Fundaccedilatildeo de Cultura de Belo Horizonte (FMC) entidade inte-grante da administraccedilatildeo indireta do Municiacutepio de Belo Horizonte tem por funccedilatildeo administrar poliacuteticas e questotildees voltadas agrave aacuterea de cultura do municiacutepio Fundada em 2005 a FMC realiza inter-venccedilotildees por meio de festivais encontros rodas de conversa e muitos outros atrativos espalhados na cidade

A Telecom Itaacutelia Mobile (TIM) eacute uma empresa italiana de telefonia e presta serviccedilos no Brasil desde 1988 Atualmente possui uma fatia consideraacutevel do mercado de comunicaccedilatildeo no paiacutes A empresa jaacute rea-lizou em parceria com o setor puacuteblico a instalaccedilatildeo de outros mapas culturais como por exemplo o de Blumenau e o de Joatildeo Pessoa

O Conselho Municipal de Poliacutetica Cultural (COMUC) composto por quinze representantes do poder puacuteblico municipal e quinze representantes da sociedade civil (sendo seis do setor cultural e nove representantes das regionais administrativas da cidade) eacute a arena de representaccedilatildeo da sociedade civil do municiacutepio de Belo Horizonte em relaccedilatildeo agraves decisotildees das poliacuteticas culturais

O mapa cultural da cidade Belo Horizonte segundo o site da FMC eacute uma plataforma de software livre gratuita e colaborativa da FMC com diversas informaccedilotildees sobre o cenaacuterio cultural da cidade O mapa estaacute composto de informaccedilotildees tais como espaccedilos culturais programaccedilotildees oficiais projetos e editais e por agentes culturais cadastrados

A construccedilatildeo da rede interorganizacional permitiu a criaccedilatildeo im-plementaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do projeto do mapa cultural O site foi inaugurado em junho de 2016 e vem sendo alvo de criacuteticas e elogios

6 Anaacutelises e resultados da pesquisaConsiderando-se a discussatildeo apresentada acima a pesquisa sobre redes interorganizacionais e governanccedila puacuteblica identificou ao longo do seu desenvolvimento que as servidoras pesquisadas enxergam a rede de forma positiva A avaliaccedilatildeo positiva pode ser entendida como o atendimento agraves necessidades da FMC que a rede pode proporcio-nar Assim nesta seccedilatildeo mostra-se a fala de trecircs servidoras da FMC

A falta de investimento adequado na redePara as servidoras da FMC um dos problemas enfrentados pela rede foi a escassa equipe para trabalhar no projeto Isso limitou o crescimento e aperfeiccediloamento do projeto e de sua capaci-dade de impulsionar a governanccedila da rede conforme podemos observar na fala abaixo

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A falta de equipe na FMC para garantir ecircxito na gestatildeo do projeto o

prejudica significativamente (FMC 2)

Em relaccedilatildeo agrave falta de servidores uma entrevistada apontou qual seria a especialidade mais carente para o melhor desenvol-vimento da rede conforme apresentado em seguida

Natildeo existe capacidade tecnoloacutegica e de servidores de TI na FMC para

dar manutenccedilatildeo no site em tempo haacutebil (FMC 1)

Aleacutem dessa especialidade a FMC lida com um quadro que natildeo atende agraves necessidades do serviccedilo puacuteblico e tampouco do proacuteprio oacutergatildeo conforme as entrevistadas explicam

A Fundaccedilatildeo Municipal de Cultura apresenta atualmente um quadro

defasado de servidores puacuteblicos As atividades do projeto Mapa Cultural

BH hoje estatildeo concentradas em um nuacutecleo com servidores da Divisatildeo

de Tecnologia e do Departamento de Articulaccedilatildeo e Informaccedilatildeo Nesse

nuacutecleo de trabalho estatildeo diretamente envolvidos um funcionaacuterio de

cada setor e um estagiaacuterio Conforme a demanda de trabalho e neces-

sidade o nuacutecleo eacute acrescido de um funcionaacuterio para apoio (FMC 2)

Apesar disso tudo ocorreu um esforccedilo da FMC para capacitar as pessoas envolvidas no projeto

A FMC estaacute trabalhando na fase de implantaccedilatildeo das accedilotildees e etapas

de uso da plataforma Os gestores e servidores que utilizaratildeo a plata-

forma para registro das accedilotildees projetos e poliacuteticas culturais jaacute foram

capacitados (FMC 3)

Por outro lado os recursos escassos satildeo tambeacutem entendidos como barreiras para o desenvolvimento do projeto

O projeto natildeo eacute entendido como estrateacutegico pela instituiccedilatildeo e com

isso natildeo possui recursos ndash humanos TI e financeiros ndash suficientes

para que tenha ecircxito e alcance seus objetivos (FMC 2)

A limitaccedilatildeo do softwareAcerca dos objetivos da rede segundo as entrevistadas eacute unacircnime a visatildeo de que a criaccedilatildeo do mapa se propotildee a gerar um banco de da-dos culturais que permitiraacute a melhor gestatildeo das poliacuteticas culturais

A implantaccedilatildeo da plataforma dos mapas culturais visando agrave sua uti-

lizaccedilatildeo para mapear identificar e registrar informaccedilotildees sobre a aacuterea

cultural de Belo Horizonte possibilitando a formaccedilatildeo de um banco

de dados sobre a cadeia produtiva da cultura na cidade ndash agentes es-

paccedilos instituiccedilotildees projetos eventos editais [] A partir desse banco

de dados a FMC poderaacute desenvolver estudos que visam a um melhor

planejamento para a gestatildeo da cultura em BH (FMC 2)

Em relaccedilatildeo ao mapa cultural as entrevistadas disseram que esse apresentou enormes avanccedilos

Podemos considerar que a disponibilizaccedilatildeo da plataforma jaacute seja um gran-

de avanccedilo pois a FMC natildeo teria condiccedilotildees e nem conseguiria desenvolver

um software com tantos recursos num prazo tatildeo curto (FMC 2)

Entretanto a limitaccedilatildeo do software foi uma das grandes dificuldades encontrada pelas servidoras da FMC Havia nesse sentido um interesse conflitante entre a necessidade da FMC e a perspectiva de trabalho da TIM Eacute importante ressaltar que as presenccedilas de interesses conflitantes podem ser prejudiciais para a governanccedila visto que a interaccedilatildeo entre os atores pode se dar de maneira natildeo harmoniosa

Como a ferramenta natildeo eacute da prefeitura nem foi desenvolvida por ela natildeo

temos total controle sobre ela [] A FMC gostaria de ter uma ferramenta

mais personalizada e isto era algo que a TIM natildeo podia oferecer (FMC 1)

E ateacute mesmo quanto ao sistema desenvolvido pela TIM que ainda

natildeo nos permite fazer alteraccedilotildees e adaptaacute-lo agrave nossa realidade bem

como gerar relatoacuterios especiacuteficos (FMC 3)

A criacutetica dos entrevistados tambeacutem se relaciona ao papel que o software vem desenvolvendo Para que o mapa cultu-ral possa ser utilizado de forma efetiva e natildeo servir apenas como um banco de dados algumas mudanccedilas precisam ser implementadas

O Mapa Cultural eacute uma boa ferramenta de gestatildeo embora limitada

Eacute preciso fazer a gestatildeo do Mapa Cultural BH e da informaccedilatildeo que

seraacute registrada senatildeo teremos apenas um banco de dados (FMC 3)

As dificuldades com a mudanccedila do governoUma das dificuldades apresentadas pelas entrevistadas foi em relaccedilatildeo agrave mudanccedila do governo municipal A troca de governo trouxe insegu-ranccedila e incertezas em relaccedilatildeo ao futuro do projeto do mapa cultural

A instabilidade poliacutetica seja em niacutevel federal estadual ou municipal

reflete diretamente no desenvolvimento do projeto (FMC 2)

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

As mudanccedilas de gestatildeo que normalmente acontecem no serviccedilo

puacuteblico atrasaram as etapas [] (FMC 3)

Nessa indagaccedilatildeo uma das entrevistadas revelou algumas ques-totildees contingenciais e dificultadoras para alcanccedilar os objetivos

O projeto de Mapeamento Cultural foi lanccedilado em junho de 2016

Por ser um ano eleitoral o projeto ficou prejudicado tendo em vista

as dificuldades enfrentadas devido agrave lei eleitoral que restringe sobre-

maneira as campanhas publicitaacuterias e de divulgaccedilatildeo Em 2017 ano

em que o novo prefeito assume a prefeitura e haacute uma instabilidade

no niacutevel de definiccedilatildeo de gestores e ainda a possibilidade de reforma

administrativa que pode atingir diretamente a Fundaccedilatildeo ainda natildeo

conseguimos fazer com que as accedilotildees de divulgaccedilatildeo e mobilizaccedilatildeo

fossem implementadas ateacute o presente momento (FMC 2)

Como dito pelas entrevistadas eacute importante ressaltar que ins-tabilidades poliacuteticas vivenciadas na prefeitura de Belo Horizonte e cortes no orccedilamento da FMC satildeo elementos que dificultaram a divulgaccedilatildeo do projeto Devido a isso o mapa natildeo alcanccedilou boa parcela da populaccedilatildeo da cidade e ainda eacute pouco conhecido Tal fato pode causar baixa adesatildeo dos serviccedilos do mapa por parte dos profissionais da cultura e da sociedade

A pouca participaccedilatildeo do COMUCEm relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do COMUC no processo de pensar e implementar o mapa cultural as respostas obtidas revelam que a participaccedilatildeo do COMUC foi extremamente incipiente

Assim natildeo houve participaccedilatildeo dos membros do COMUC na constru-

ccedilatildeo do mapa cultural Apoacutes a assinatura do termo a plataforma foi

apresentada em reuniatildeo ordinaacuteria do COMUC (FMC 3)

A baixa participaccedilatildeo do COMUC se apresenta como um ponto problemaacutetico da rede visto que um dos objetivos dos conselhos deliberativos eacute possibilitar agrave sociedade civil negociar com o poder puacuteblico A baixa participaccedilatildeo ou envolvimento de um ator numa rede de cooperaccedilatildeo impacta diretamente na qualidade da gover-nanccedila e na sauacutede das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo ali estabelecidas Eacute possiacutevel encontrar uma certa contradiccedilatildeo na fala das entrevis-tadas que afirmam que o mapa cultural atende agraves demandas da sociedade civil tal como nesta fala

Haacute possibilidade de reunir informaccedilotildees que poderatildeo subsidiar um

melhor planejamento e uma gestatildeo mais democraacutetica a partir de

informaccedilotildees extraiacutedas da base de dados (FMC 2)

Todavia uma gestatildeo mais democraacutetica exigiria maior par-ticipaccedilatildeo do COMUC nas accedilotildees da poliacutetica cultural visto que o COMUC eacute o espaccedilo de deliberaccedilatildeo que as sociedades civis tecircm para dar voz agraves suas demandas Dessa forma eacute possiacutevel perceber que essa rede de cooperaccedilatildeo apresenta disparidade de poder e de espaccedilo entre os atores envolvidos

A parceria bem-sucedidaApesar das criacuteticas apontadas pelas participantes da pesquisa elas defendem a rede criada e tambeacutem acreditam que projetos como o estabelecido com a TIM devem ser ampliados O que mostra que as redes interorganizacionais no poder puacuteblico apesar de desafiadoras satildeo beneacuteficas e vistas positivamente pelo corpo burocraacutetico da maacutequina puacuteblica

Ao serem questionadas sobre os pontos positivos da rede as en-trevistadas demonstram que a principal contribuiccedilatildeo eacute o compartilha-mento de recursos que possibilitaram a criaccedilatildeo do mapa cultural

A parceria com a TIM nos permitiu avanccedilar quanto ao projeto mape-

amento cultural de BH demanda antiga da gestatildeo da cultura e da

sociedade civil (FMC 3)

No intuito de captar informaccedilotildees sobre as possiacuteveis dificulda-des encontradas na rede foram feitas perguntas nesse sentido As informaccedilotildees colhidas revelam que natildeo houve dificuldades

A TIM se mostrou (e se mostra) ateacute o presente momento uma grande par-

ceira Natildeo haacute dificuldades na conduccedilatildeo das atividades acordadas (FMC 2)

Como teacutecnica da FMC natildeo tenho informaccedilotildees sobre interesses

divergentes (FMC 3)

Outras perguntas feitas buscavam que as entrevistadas fa-lassem sobre o alcance ou natildeo dos objetivos (jaacute discutidos no comeccedilo da entrevista) e que fizessem uma avaliaccedilatildeo geral da rede na implementaccedilatildeo do mapa cultural As respostas indicam satis-faccedilatildeo em relaccedilatildeo aos resultados jaacute apresentados

A cooperaccedilatildeo entre a FMC e a Tim eacute muito positiva uma vez que haacute

comprometimento de ambas as partes em fazer com que a platafor-

ma fique cada vez melhor e estaacutevel por meio do trabalho dos seus

desenvolvedores ndash colaboradores ndash gestores (FMC 2)

Penso que para a FMC a parceria foi positiva pois nos possibilitou avanccedilos

na implementaccedilatildeo de um projeto que era demanda antiga (FMC 3)

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Por fim O uacuteltimo ponto questionou se as entrevistadas julgam interessante a FMC estabelecer outras redes de cooperaccedilatildeo As respostas satildeo unanimemente positivas

A participaccedilatildeo da FMC em redes de cooperaccedilatildeo eacute essencial para que

a equipe se capacite e possa aprimorar os processos da instituiccedilatildeo

e trazer novas formas de desenvolvimento do trabalho otimizando

recursos e modernizando os processos por meio da colaboraccedilatildeo da

troca de informaccedilotildees e de experiecircncias (FMC 2)

Penso que as parcerias realizadas que vatildeo ao encontro dos objetivos

de ambos os envolvidos satildeo sempre bem-vindas No caso do setor

puacuteblico principalmente avalio que se deve ter um cuidado extra

quando da celebraccedilatildeo da parceria visando a garantir que a instituiccedilatildeo

possa dar continuidade ao projeto apoacutes fim da parceria (FMC 3)

Cabe apenas agrave FMC tomar os cuidados necessaacuterios para que os novos projetos desenvolvidos consigam ser bem-sucedidos conforme explicitado na fala seguinte

[] entatildeo para que certos projetos mais ambiciosos sejam implemen-

tados a realizaccedilatildeo de parcerias eacute indispensaacutevel No entanto isso im-

plica uma perda de controle da FMC sobre alguns fatores envolvidos

no projeto portanto esses fatores devem ser bem avaliados (FMC 1)

Diante das falas expostas assevera-se que o estabelecimento de redes interorganizacionais no setor puacuteblico pode trazer resultados satisfatoacuterios e aperfeiccediloar trabalhados No caso da FMC e da Tim o corpo burocraacutetico da FMC percebeu a experiecircncia como positiva

7 Consideraccedilotildees Este estudo se propocircs a pesquisar a rede criada pela FMC TIM e COMUC com o objetivo da construccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte Foram aplicados questionaacuterios abertos para levantar as percepccedilotildees sobre os avanccedilos e barreiras encontradas na rede de cooperaccedilatildeo estabelecida

Constatou-se que o trabalho em conjunto possibilitou a implementaccedilatildeo do mapa cultural A atuaccedilatildeo conjunta trouxe benefiacutecios tais como maior celeridade compartilhamento de conhecimentos teacutecnicos e tecnoloacutegicos mais competecircncia e efetividade para os processos utilizados na criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo do mapa cultural de Belo Horizonte

Uma breve anaacutelise desses dados mostra que a rede apresen-ta pontos interessantes e que permitem uma melhor forma de trabalhar Entretanto natildeo estaacute livre de problemas comuns agrave ad-ministraccedilatildeo puacuteblica como por exemplo ameaccedilas poliacuteticas matildeo

de obra pouco qualificada disparidade entre as realidades do setor puacuteblico e do setor privado quadro defasado de servidores puacuteblicos dificuldades de organizaccedilatildeo e separaccedilatildeo de tarefas e responsabilidade problemas na comunicaccedilatildeo e ateacute mesmo de interesses em relaccedilatildeo ao potencial do mapa cultural

A despeito de algumas dificuldades encontradas pelos servi-dores bem de como problemas contingenciais a rede de coope-raccedilatildeo tem alcanccedilado seu grande objetivo a criaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo de um mapa cultural com dados sobre eventos apresentaccedilotildees artiacutesticas e espaccedilos culturais

Entretanto eacute interessante problematizar as respostas visto que as entrevistas ocorreram num momento de transiccedilatildeo da gestatildeo na FMC e num cenaacuterio em que o atual prefeito apresenta propostas de extinccedilatildeo eou diminuiccedilatildeo da FMC Nesse sentido pode-se le-vantar a hipoacutetese de que as respostas possam ter ocultado possiacute-veis problemas na execuccedilatildeo do trabalho na perspectiva em rede

Uma limitaccedilatildeo que o estudo apresenta eacute que foram realizadas entrevistas somente com servidores da FMC impossibilitando o conhecimento e a versatildeo de outros atores Assim fica como sugestatildeo para estudos futuros a anaacutelise da percepccedilatildeo dos outros atores envolvidos na rede em questatildeo Entretanto esta pesquisa buscou contribuir para o campo da Administraccedilatildeo a partir de um estudo de caso apresentando as percepccedilotildees de servidores puacuteblicos em relaccedilatildeo agrave rede estabelecida

Com base no levantamento empiacuterico eacute possiacutevel elencar sugestotildees para uma possiacutevel melhoria da rede estabelecida 1) efetivar uma maior participaccedilatildeo do COMUC nos processos decisoacuterios 2) criar mecanismos de maior interaccedilatildeo entre o corpo de funcionaacuterios da FMC e da Tim 3) tornar os meios de comunicaccedilatildeo entre as equipes mais acessiacuteveis e claros com a utilizaccedilatildeo de uma linguagem simples para todos

Por fim conclui-se que as redes de cooperaccedilatildeo no setor puacuteblico contribuem para a melhoria dos serviccedilos prestados e da governanccedila puacuteblica A perspectiva do trabalho em conjunto permite aos atores o compartilhamento de conhecimentos teacutecnicas e equipamentos que conferem ao serviccedilo maior qualidade e celeridade

R e f e r ecirc n c i a s

BARDIN Laurence Anaacutelise de conteuacutedo Lisboa Portugal Ediccedilotildees 70 2009

BECERRA Manuel LUNNAN Randi HUEMER Lars Trustworthiness risk

and the transfer of tacit and explicit knowledge between alliance

partners Journal of Management Studies v 45 n 4 p 691-713 2008

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

BOumlRZEL Tanja Le reti di attori pubblici e privati nella regolazione europea

Stato e Mercato v 54 n 3 p 389-432 1998

BOURGUIGNON Jussara Ayres Concepccedilatildeo de rede intersetorial 2001 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwuepgbrnupesintersetorhtmgt Acesso

em 25 jul 2016

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Paulo Paz e Terra 1999

______ Para o Estado-rede globalizaccedilatildeo econocircmica e instituiccedilotildees poliacuteti-

cas na era da informaccedilatildeo In BRESSER-PEREIRA Luiacutes Carlos WILHEIM

Jorge SOLA Lourdes (orgs) Sociedade e Estado em transformaccedilatildeo

Satildeo Paulo Editora UNESP 2001 p 147- 171

CKAGNAZAROFF Ivan Beck SOUZA Maria Thereza Costa Guimaratildees Re-

laccedilatildeo entre ONG e Estado um estudo de parceria Revista Gestatildeo amp

Tecnologia Pedro Leopoldo v1 n2 p59-73 2003

CRESWELL Jhon Andrew Jackson Projeto de pesquisa meacutetodo qualitativo

quantitativo e misto Porto Alegre Artmed 2007

FILHO CRUZ Paulo Roberto Arauacutejo Governanccedila e gestatildeo de redes na

esfera puacuteblica municipal o caso da rede de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao

adolescente em situaccedilatildeo de risco para a violecircncia em Curitiba 2006

162f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Administraccedilatildeo) Pontifiacutecia Universi-

dade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2006

JULIANI Douglas Inovaccedilatildeo social uma revisatildeo sistemaacutetica de literatura

In X Congresso Nacional de Excelecircncia em Gestatildeo 2014

KISSLER Leo HEIDEMANN Francisco Gabriel Governanccedila puacuteblica novo

modelo regulatoacuterio para as relaccedilotildees entre Estado mercado e socie-

dade Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica Rio de Janeiro v 40 n 3 p

479-499 2006

LEMOS Cristina Inovaccedilatildeo na era do conhecimento In LASTRES Helena

M M ALBAGLI Sarita (Org) Informaccedilatildeo e globalizaccedilatildeo na era do co-

nhecimento Rio de Janeiro Campus 1999 cap 5 p 122-144

LOumlFFLER Elke Governancendashdie neue Generation von Staats-und Verwal-

tungsmodernisierung Verwaltung und Management p 212-215 2001

MINTZBERG Henry Administrando governos governando administra-

ccedilotildees Revista do Serviccedilo Puacuteblico Brasiacutelia v 49 n 4 p 148-164 1998

________ Criando organizaccedilotildees eficazes estruturas em cinco configura-

ccedilotildees 2 ed Satildeo Paulo Atlas 2003

MURRAY Robin CAULIER-GRICE Julie MULGAN Geoff The open book of

social innovation London National endowment for science technol-

ogy and the art 2010

NOHRIA N ECCLES R Networks and organizations Boston Harvard Busi-

ness School Press 1992

PETER Tom J WATERMAN Robert H In search of excellence lessons from

Americarsquos best-run companies New York Harper amp Row 1982

PMBH - PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Mapa cultural de

Belo Horizonte Disponiacutevel em lthttpmapaculturalbhpbhgovbrgt

Acesso em 18 abr 2017

RING Peter Smith VAN DE VEN Andrew H Developmental processes of

cooperative interorganizational relationships Academy of manage-

ment review v 19 n 1 p 90-118 1994

SECCHI L Modelos organizacionais e reformas da administraccedilatildeo puacuteblica

Revista de Administraccedilatildeo Puacuteblica v 43 n 2 p 347-369 2009

SEDAI - SECRETARIA DO DESENVOLVIMENTO E DOS ASSUNTOS INTER-

NACIONAIS Governo do Estado do Rio Grande do Sul Manual do

consultor do programa redes de cooperaccedilatildeo 2004

SILVA Flavia de Arauacutejo MARTINS Tulio Cesar Pereira Machado CKAGNA-

ZAROFF Ivan Beck Redes organizacionais no contexto da governanccedila

puacuteblica a experiecircncia dos Tribunais de Conta do Brasil com o grupo

de planejamento organizacional Revista do Serviccedilo Puacuteblico v 64 p

249-271 2013

THOMPSON G F Between hierarchies and markets the logics and limits of

network forms of organization Oxford Oxford University Press 2003

TORRES Norberto Antocircnio Avaliaccedilatildeo de websites e indicadores de e-gov em

municiacutepios brasileiros relatoacuterio final 2006 Disponiacutevel em lthttpwww

sumaqorgegovimgpublicaciones5pdf gt Acesso em 21 jul 2016

Paacutegina 8 de 8

Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network ProcessEvaluacioacuten de criteacuterios para la instalacioacuten de polos de apoyo presencial para cursos de nesentildeanza a distancia utilizando el Analytic Network Process

Fabriacutecio Martins Carvalho da Silva Cecilia Toledo Hernaacutendez e Julio Ceacutesar Andrade de Abreu

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 11

R e s u m o

A escolha do local para a instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial tem um papel fundamental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia pois eacute a referecircncia

fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias tais como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio para a tomada de decisatildeo para escolha de possiacuteveis municiacutepios para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ O modelo proposto eacute embasado em teacutecnicas de apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo em que foi utilizado o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) e agrupa um conjunto de criteacuterios que possibilitam ao tomador de decisatildeo conhecer informaccedilotildees necessaacuterias sobre a viabilidade de determinado municiacutepio sediar um polo de apoio presencial do CEDERJ O modelo desenvolvido foi aplicado em um cenaacuterio composto por sete municiacutepios da regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba onde natildeo existem polos de educaccedilatildeo superior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ Os resultados obtidos demonstraram a eficaacutecia do modelo na escolha do municiacutepio que apresenta a condiccedilatildeo mais favoraacutevel para implantaccedilatildeo do polo Entre as principais contribuiccedilotildees do estudo estaacute a possibilidade de aplicaccedilatildeo do modelo em outras regiotildees do paiacutes

R e s u m e n

La eleccioacuten del lugar para la instalacioacuten de un polo de apoyo presencial tiene un papel fundamental para el funcionamiento de los cursos de la modalidad de educacioacuten a distancia pues este es la referencia fiacutesica para que los alumnos puedan realizar actividades presenciales obligatorias tales como clases en el laboratorio evaluaciones y tutoriacutea presencial Este estudio ha tenido como objetivo desarrollar un modelo de apoyo a la toma de decisioacuten para elegir posibles municipios para instalacioacuten de polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ El modelo propuesto se basa en teacutecnicas de apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios donde se ha utilizado el meacutetodo Analytic Network Process (ANP) que agrupa un conjunto de criterios que posibilitan al tomador de decisioacuten conocer las informaciones necesarias sobre la viabilidad de un determinado municipio para albergar un polo de apoyo presencial del CEDERJ El modelo desarrollado ha sido aplicado en un escenario compuesto por siete municipios de la regioacuten del Valle Medio Paraiacuteba donde no existen polos de educacioacuten superior a distancia del Consorcio CEDERJ Los resultados obtenidos han demostrado la eficacia del modelo en la eleccioacuten del municipio que presenta la condicioacuten maacutes favorable para la implantacioacuten del polo Entre las principales contribuciones del estudio estaacute la posibilidad de aplicar el modelo en otras regiones del paiacutes

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chavePolos de apoio presencial Educaccedilatildeo a distacircncia Apoio multicriteacuterio agrave decisatildeo Analytic Network Process

Palabras clavePolos de apoyo presencial Educacioacuten a distancia Apoyo a la decisioacuten con muacuteltiples criterios Analytic Network Process

Autores Mestrando em Administraccedilatildeo Univer-sidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ (UFF PPGA)e-mail fabriciocarvalhoiduffbr

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutora em Engenharia Mecacircnica (UNESP)

Universidade Federal Fluminense (UFF) Volta RedondaRJ Doutor em Administraccedilatildeo (UFBA)

Como citar este artigoSILVA F M C HERNAacuteNDES C T ABREU J C A Avaliaccedilatildeo de criteacuterios para a insta-laccedilatildeo de polos de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia utilizando o Analytic Network Process Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoA Educaccedilatildeo a Distacircncia (EaD) surge neste milecircnio como uma inovaccedilatildeo no processo de ensino e aprendizagem (WAQUIL et al 2009) Aliada ao progresso do desenvolvimento da tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo a EaD estaacute emergindo como o para-digma da educaccedilatildeo moderna (SUN et al 2008) fortalecendo-se cada vez mais no cenaacuterio educacional nacional e internacional Conforme Gouvecirca e Oliveira (2006 apud ALVES 2011) a EaD estaacute presente em mais de oitenta paiacuteses nos cinco continentes em todos os niacuteveis de ensino em programas formais e natildeo formais atendendo a milhotildees de estudantes consolidando dessa forma a democratizaccedilatildeo de acesso agrave educaccedilatildeo

Esse crescimento pode ser confirmado atraveacutes do Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2016 resumo teacutecnico editado pelo Institu-to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) que mostra que o nuacutemero de matriacuteculas na EaD para os cursos de ensino superior no Brasil apresenta um aumento da ordem de 4037 no ano de 2015 com 1393752 matriacuteculas em relaccedilatildeo ao ano de 2011 com 992927 matriacuteculas Os cursos pre-senciais no mesmo periacuteodo tiveram um crescimento da ordem de 1543 com 6633545 de matriacuteculas no ano de 2015 e 5746762 matriacuteculas no ano de 2011

Segundo Weidle Kich e Pereira (2011) para permitir essa ex-pansatildeo dos cursos de EaD no paiacutes eacute necessaacuteria a criaccedilatildeo de polos de apoio presencial cujo local de instalaccedilatildeo tem um papel fun-damental para o funcionamento dos cursos da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia levando a educaccedilatildeo a lugares carentes de ensino e proporcionando o desenvolvimento dessas regiotildees

O polo eacute a referecircncia fiacutesica para que os alunos possam realizar atividades presenciais obrigatoacuterias como aulas no laboratoacuterio avaliaccedilotildees e tutoria presencial (CEDERJ 2017) Para o seu funcio-namento eacute necessaacuterio dispor de investimentos em infraestrutura contrataccedilatildeo de professores e teacutecnicos da compra de computado-res e da construccedilatildeo de laboratoacuterios (BRASIL 2013)

Uma pesquisa recente na literatura em algumas das mais importantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD Um deles realizado por Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) apli-cou o meacutetodo elementar multicriteacuterio Copeland em um cenaacuterio composto por dezesseis polos do Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro ndash CEDERJ para demonstrar a influecircncia dos polos nos municiacutepios onde estatildeo instalados Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma nova ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) para auxiliar no processo

de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD

Um novo modelo foi desenvolvido por Peixoto Filho (2016) fundamentado em teacutecnicas de Auxiacutelio Multicriteacuterio agrave Decisatildeo (AMD) e ofereceu suporte eficaz para a escolha de locais dire-cionados agrave abertura de um polo de apoio presencial para cursos a distacircncia Em outro estudo Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) propuseram um novo modelo baseado em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo aplicada a um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais utilizando o meacutetodo AHP para selecionar o local mais apropriado para abertura de polos de apoio presencial

Todavia natildeo foram encontrados estudos para escolha de municiacutepios no estado do Rio de Janeiro para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial do consoacutercio CEDERJ que utilizassem como ferramenta de apoio a tomada de decisatildeo o meacutetodo Analytic Ne-twork Process (ANP) nem que tratassem dos criteacuterios que foram abordados nesta pesquisa

Conveacutem ressaltar que o processo de tomada de decisatildeo en-volve quase sempre a escolha da melhor decisatildeo levando em conta muacuteltiplos criteacuterios fatores e objetivos (SHIMIZU 2010) dessa maneira a escolha do meacutetodo a ser aplicado daraacute maior credibili-dade ao tomador de decisatildeo O interesse em aplicar o meacutetodo ANP deve-se ao fato de ele ao contraacuterio do AHP avaliar se a estrutura de decisatildeo possui dependecircncia ou seja se existem fatores que interagem obtendo maior precisatildeo nos resultados (SAATY 2005)

Diante disso este estudo teve como objetivo desenvolver um modelo de auxiacutelio agrave tomada de decisatildeo para escolha de municiacutepios no Vale Meacutedio Paraiacuteba para instalaccedilatildeo de polos de educaccedilatildeo supe-rior a distacircncia do consoacutercio CEDERJ considerando-se que o modelo atual de implantaccedilatildeo de polos do CEDERJ natildeo foi suficientemente eficaz para evitar o fechamento do polo de Quatis O modelo pro-posto eacute apoiado em criteacuterios que garantem maior seguranccedila na escolha da localizaccedilatildeo dos polos tais como populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet nuacutemeros de escolas que oferecem o ensino meacutedio e proximidade a outro mu-niciacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ

A partir dessa introduccedilatildeo este estudo estaacute estruturado da seguinte forma a segunda seccedilatildeo apresenta a revisatildeo da literatu-ra acerca da educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil a criaccedilatildeo e atuaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ a importacircncia do polo de apoio presencial nos cursos de EaD e alguns criteacuterios utilizados para instalaccedilatildeo de polos a terceira seccedilatildeo descreve os procedimentos metodoloacutegicos utilizados na elaboraccedilatildeo deste estudo a quarta seccedilatildeo apresenta a anaacutelise descritiva dos resultados e discussatildeo a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais

Paacutegina 2 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

2 Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil breves consideraccedilotildeesA Educaccedilatildeo a distacircncia emerge no contexto das poliacuteticas puacuteblicas em educaccedilatildeo como possibilidade de ampliaccedilatildeo do quadro de matriacuteculas pela raacutepida expansatildeo de vagas no ensino superior natildeo exigindo grandes estruturas fiacutesicas para o processo de ensino e aprendizagem (ARRUDA ARRUDA 2015) posto que parte de tal processo eacute realizada pelo aluno em tempo e espaccedilo definidos por ele

A educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil torna-se efetivamente le-gitimada como uma modalidade educacional a partir da pu-blicaccedilatildeo da Lei de Diretrizes e Bases Nacional Lei nordm 939496 nela a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo atividades educacionais em lugares e tempos diversos (BRASIL 1996)

O Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) por meio do Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 considera educaccedilatildeo a distacircncia como

A modalidade educacional na qual a mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos

processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilizaccedilatildeo de meios e

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com pessoal qualificado com

poliacuteticas de acesso com acompanhamento e avaliaccedilatildeo compatiacuteveis entre

outros e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais

da educaccedilatildeo que estejam em lugares e tempos diversos (BRASIL 2017)

O Decreto nordm 905717 regulamentou o artigo 80 da Lei nordm 939496 possibilitando por meio da EaD a autoaprendizagem com a mediaccedilatildeo de recursos didaacuteticos sistematicamente organizados Isso caracteriza a EaD de maneira teacutecnica privilegiando a mediaccedilatildeo pelos suportes de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo sem considerar o papel do professor nesse processo (ARRUDA ARRUDA 2015)

Dessa forma a EaD ocorre a partir da interaccedilatildeo entre o aluno e o professor em ambientes fiacutesicos diferentes mediada pela utili-zaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que permite ao aluno ser o autor do seu processo de aprendizagem no seu tempo e no local em que seja possiacutevel essa acessibilidade

Para Alves (2011) de todas as modalidades de educaccedilatildeo a EaD surge como a mais democraacutetica por apresentar ferramentas tecnoloacutegicas que permitem ultrapassar todos os obstaacuteculos na busca pelo conhecimento distacircncia tempo e espaccedilo

Os dados do uacuteltimo censo da educaccedilatildeo divulgado em no-vembro de 2016 demonstram que o nuacutemero de matriacuteculas na educaccedilatildeo superior presencial que em 2001 era de 3030754 passou para 6633545 em 2015 isto eacute um aumento de aproxi-madamente 11887 Enquanto isso na educaccedilatildeo superior a dis-

tacircncia o nuacutemero de matriacuteculas que no ano de 2001 era de 5359 passou para 1393752 em 2015 o que representa um aumento de 2590769 (INEP 2010 2016) Os dados apresentados na Tabela 1 mostram que a EaD jaacute deixou de ser uma modalidade educacional alternativa para atender agraves necessidades de formaccedilatildeo profissional no paiacutes A EaD no ensino superior jaacute eacute uma realidade no Brasil e o seu crescimento demonstra o quanto essa modalidade tem contribuiacutedo para a expansatildeo do ensino superior no paiacutes

De acordo com os dados apresentados na Tabela 1 o nuacutemero total de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no paiacutes no ano de 2015 foram de 8027297 e o nuacutemero de matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia chegaram a 1736 desse total Isso demonstra que aproximadamente um quinto do nuacutemero de es-tudantes do ensino superior do paiacutes cursa uma universidade a distacircncia e que o preconceito quanto a essa modalidade de ensino tem diminuiacutedo Mais estudantes tecircm procurado a EaD quer seja pela falta de tempo para estar diariamente em uma universidade ou pela qualidade de ensino apresentada por essa modalidade

Tabela 1 ndash Evoluccedilatildeo do nuacutemero de matriacuteculas em cursos de graduaccedilatildeo (presencial e a distacircncia) Brasil ndash 2001- 2015

Ano Presencial EaD Total EaD2001 3030754 5359 3036113 0182002 3479913 40714 3520627 1162003 3887022 49911 3936933 1272004 4163733 59611 4223344 1412005 4453156 114642 4567798 2512006 4676646 207206 4883852 4242007 4880381 369766 5250147 7042008 5080056 727961 5808017 12532009 5115896 838125 5954021 14082010 5449120 930179 6379299 14582011 5746762 992927 6739689 14732012 5923838 1113850 7037688 15832013 6152405 1153572 7305977 15792014 6486171 1341842 7828013 17142015 6633545 1393752 8027297 1736

Fonte INEP 2010 e 2016

A proacutexima seccedilatildeo iraacute tratar do consoacutercio CEDERJ referecircncia no ensino a distacircncia no estado do Rio de Janeiro

21 O consoacutercio CEDERJO Centro de Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro consoacutercio CEDERJ foi iniciado em janeiro de 2000 com a assinatura de um convecircnio entre o Governo do estado do Rio de Janeiro e seis universidades puacuteblicas Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Universidade Estadual do Norte Flumi-nense (UENF) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade

Paacutegina 3 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Desde o ano de 2011 conta tambeacutem com o Centro Federal de Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica Celso Suckow da Fonseca (CEFET) (FIRMINO VIEIRA 2013 CASSIANO et al 2016)

O CEDERJ por ser um consoacutercio entre as universidades puacute-blicas no Estado do Rio de Janeiro tem um modelo de EaD di-ferenciado dos outros existentes no paiacutes O CEDERJ tem uma metodologia transdisciplinar em que algumas disciplinas de um determinado curso satildeo ofertadas por outras universidades do consoacutercio Por exemplo no curso de Administraccedilatildeo que pertence agrave UFRRJ a disciplina Informaacutetica Baacutesica eacute oferecida pela UFF e a disciplina Formaccedilatildeo Econocircmica Brasileira eacute oferecida pela UERJ

Os objetivos do CEDERJ satildeo a) democratizar o acesso ao ensino superior puacuteblico gratuito e de qualidade na modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia principalmente em locais natildeo atendidos pelo ensino pre-sencial (CASSIANO et al 2016) b) permitir o acesso ao ensino superior daqueles que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional e c) atuar na formaccedilatildeo continuada a distacircncia dos professores do estado do Rio de Janeiro com atenccedilatildeo especial aos professores da rede estadual de ensino meacutedio (SILVA SANTOS 2006) O CEDERJ inicialmente ofe-receu vagas nos cursos de graduaccedilatildeo de Matemaacutetica Fiacutesica Biologia Quiacutemica Pedagogia e Tecnologia de Sistemas de Computaccedilatildeo aleacutem de cursos de extensatildeo e capacitaccedilatildeo para professores em diversas aacutereas de conhecimento (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012) Atualmente tambeacutem oferece vagas nos cursos de graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Administraccedilatildeo Puacuteblica Engenharia de Produccedilatildeo Geografia Histoacuteria Letras Seguranccedila Puacuteblica e Social e Turismo (CEDERJ 2017)

Quanto agrave sua estrutura o CEDERJ tem o conceito de ensino a distacircncia semipresencial pois integra momentos a distacircncia e momentos presenciais desenvolvendo a autonomia do aluno para o processo ensinoaprendizagem (SPIacuteNDOLA MOUSINHO 2012)

Os momentos presenciais satildeo realizados nos polos de apoio presencial cuja importacircncia para os cursos de EaD seraacute esclarecida na seccedilatildeo seguinte

22 A importacircncia dos polos de apoio presencial para os cursos de EaDUm dos elementos importantes na oferta dos cursos de graduaccedilatildeo do consoacutercio CEDERJ satildeo os polos de apoio presencial para os quais foi adotado um modelo de financiamento e gestatildeo com a parceria entre entes federativos modelo inspirado na Universidade Nacional de Educaccedilatildeo a Distacircncia da Espanha a UNED Inicialmente essa parceria envolveu o Governo do estado do Rio de Janeiro atraveacutes da Fundaccedilatildeo Centro de Ciecircncias e Educaccedilatildeo Superior a Distacircncia do Estado do Rio de Janeiro (Fundaccedilatildeo Cecierj) os municiacutepios que sediam os polos do CEDERJ e universidades puacuteblicas Em 2006 agregou-se a essa iniciativa o governo federal atraveacutes da Universidade Aberta do Brasil

(UAB) atualmente sediada na Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) (CASSIANO et al 2016)

O estado do Rio de Janeiro eacute constituiacutedo por 92 municiacutepios e o CEDERJ possui 32 polos de apoio presencial em 31 deles (CEDERJ 2017) O Decreto nordm 905717 definiu o polo de EaD como uma unida-de acadecircmica e operacional descentralizada para o desenvolvimento de atividades presenciais dos cursos a distacircncia O polo eacute uma estru-tura acadecircmica de apoio pedagoacutegico tecnoloacutegico e administrativo agraves atividades de ensino e aprendizagem dos cursos que deve dispor de uma infraestrutura adequada que disponibilize aos estudantes o acesso agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TICs) indis-pensaacuteveis agrave mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica dos cursos a distacircncia aleacutem de um corpo docente qualificado (BRASIL 2013) Nos polos satildeo realizadas as orientaccedilotildees para os estudos as praacuteticas laboratoriais palestras seminaacuterios e as avaliaccedilotildees presenciais (SOUZA 2015)

O funcionamento dos polos de apoio presencial depende dos espaccedilos cedidos pelas prefeituras dos municiacutepios geralmente alocados em escolas municipais assim como disponibilizam servidores municipais para atuarem no polo (FIRMINO VIEIRA 2013) Fica a cargo do estado a seleccedilatildeo dos tutores presenciais e do Governo federal o pagamento das bolsas de tutorias

Em algumas regiotildees o acesso agrave internet ainda eacute muito precaacuterio Para os alunos dos cursos de EaD que convivem com essa realidade o polo de apoio presencial eacute fundamental para o bom funcionamento do curso pois para eacute no polo de apoio presencial que esses alunos teratildeo acesso ao ambiente virtual com maior facilidade (SOUZA 2015)

Para o funcionamento dessa estrutura de suporte eacute necessaacuterio investimento eacute preciso que os polos de EaD aleacutem de toda infra-estrutura necessaacuteria para seu funcionamento sejam espaccedilos para pesquisa ensino e extensatildeo pilares de uma universidade Eacute impor-tante que haja troca de informaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees de ensino superior contribuindo para a geraccedilatildeo de novos conhecimentos que possibilitem melhorias na sociedade (SCHLUumlNZEN 2009)

Dessa forma a localizaccedilatildeo dos polos eacute fundamental para o funcionamento dos cursos de EaD Vaacuterios estudos foram realizados com o objetivo de proporcionar meacutetodos para a melhor escolha para instalaccedilatildeo dos polos de apoio presencial

O CEDERJ por meio de um estudo teacutecnico em 1999 adotou como criteacuterios para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial a populaccedilatildeo dos 92 municiacutepios do Estado do Rio de Janeiro o nuacutemero de alunos que terminou no ano anterior o Ensino Meacutedio em cada municiacutepio a distacircncia entre os municiacutepios (prevendo um deslocamento meacutedio do estudante da sua residecircncia ao polo inferior a cinquenta quilocircme-tros) a existecircncia de estradas conectando-as entre si e a inexistecircncia de ensino superior presencial puacuteblico no local (CASSIANO et al 2016)

Paacutegina 4 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute a Universidade Aberta do Brasil (UAB) criou dois tipos de polos o polo associado e o polo efetivo com diferentes criteacuterios para sua instalaccedilatildeo O polo associado estaacute instalado num campus de uma Instituiccedilatildeo de Ensino Superior (IES) e o polo efetivo loca-lizado em municiacutepios considerados de porte meacutedio isto eacute entre 20 mil e 50 mil habitantes responsaacuteveis pela infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e de recursos humanos (BRASIL 2013)

Peixoto Filho (2016) desenvolveu uma ferramenta apoiada em teacutecnicas de auxiacutelio multicriteacuterio agrave decisatildeo mais especificamente o meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) com o objetivo de auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios no estado de Minas Gerais para a abertura de novos polos de EaD As alternativas satildeo compostas por trecircs grupos de municiacutepios distintos que fazem parte de uma mesma regiatildeo geograacutefica do estado de Minas Gerais com atuaccedilatildeo do Instituto Federal do Sudeste desse estado ndash Campus Muriaeacute ndash para a instalaccedilatildeo dos polos Consequen-temente para a oferta de cursos na modalidade a distacircncia foram utilizados os seguintes criteacuterios populaccedilatildeo residecircncia com acesso agrave internet vocaccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia

Peixoto Filho e Erthal Juacutenior (2016) desenvolveram um novo modelo de apoio ao processo decisoacuterio voltado agrave abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia baseado no meacutetodo AHP cujos criteacuterios envolveram populaccedilatildeo residecircncias com acesso agrave internet voca-ccedilatildeo econocircmica demanda futura e concorrecircncia Esse modelo foi aplicado em um cenaacuterio composto por trecircs municiacutepios do estado de Minas Gerais pertencentes a uma mesma regiatildeo geograacutefica

Em outro estudo Peixoto Filho et al (2015) propuseram uma ferramenta utilizando o meacutetodo AHP composta por dados e in-formaccedilotildees mais soacutelidos para auxiliar no processo de tomada de decisatildeo sobre os municiacutepios mais propiacutecios para a abertura de novos polos de EaD Os criteacuterios avaliados por eles foram nuacuteme-ro de habitantes puacuteblico-alvo faixa etaacuteria escolaridade renda per capita residecircncia com acesso agrave internet arranjos produtivos locais existecircncia de escolas de niacutevel meacutedio proximidade do muni-ciacutepio com universidades concorrecircncia local existecircncia de IES de outros cursos EaD e de outros cursos ofertados pelo ldquoSistema Srdquo

Gomes Juacutenior Soares de Mello e Soares de Mello (2008) aplica-ram o meacutetodo de Copeland para mostrar a influecircncia do tamanho dos polos do CEDERJ nos diferentes municiacutepios em que estatildeo instalados conhecendo a importacircncia dos polos nas localidades onde atuam Eles utilizaram como criteacuterios para sua pesquisa o nuacutemero de cursos oferecidos o nuacutemero de alunos inscritos e o tempo de funcionamento de cada polo

Entretanto natildeo foram encontrados estudos que versam so-bre a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP para seleccedilatildeo de polos de apoio

presencial o que contribuiria para auxiliar na melhor decisatildeo dos gestores pois o meacutetodo ANP apresenta caracteriacutesticas que pro-porcionam soluccedilotildees realiacutesticas na tomada de decisatildeo

Para Shimizu (2010) um dos grandes desafios com que os gestores convivem diariamente eacute a tomada de decisatildeo para a qual eacute necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de conhecimentos e habilidades que permitam a melhor escolha Em se tratando de escolha de um local para instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial para cursos de ensino a distacircncia a utilizaccedilatildeo de um modelo de toma-da de decisatildeo permite aos gestores avaliar criteacuterios que melhor atendam agrave populaccedilatildeo evitando dessa forma prejuiacutezos ao eraacuterio pois uma escolha errada de local ocasionaria o fechamento do polo onde houve investimento puacuteblico aleacutem da transferecircncia de alunos para polos distantes de suas residecircncias o que poderia levar futuramente a desistecircncia da tatildeo sonhada graduaccedilatildeo

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo abordados os procedimentos meto-doloacutegicos utilizados na confecccedilatildeo do modelo de apoio a decisatildeo para instalaccedilatildeo de polos de apoio presencial

3 Procedimentos metodoloacutegicosA presente pesquisa classifica-se como qualitativa de caraacuteter exploratoacuterio por meio de pesquisa bibliograacutefica entrevistas e estudo de caso Isso possibilitou a aplicaccedilatildeo de um modelo de anaacutelise multicriteacuterio que traduziu em pesos os dados e informa-ccedilotildees coletadas ponderando assim a definiccedilatildeo do local ideal para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

Este estudo foi realizado na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba com sete municiacutepios que natildeo apresentam polos de apoio presencial do CEDERJ satildeo eles Barra Mansa Itatiaia Pinheiral Porto Real Quatis Rio Claro e Valenccedila A escolha do local para a realizaccedilatildeo da pesquisa foi devido ao fechamento de um polo de apoio presen-cial no municiacutepio de Quatis o que aguccedilou a curiosidade quanto aos atuais criteacuterios utilizados para alocaccedilatildeo de polos de EaD no estado do Rio de Janeiro

Primeiramente foi feita uma pesquisa em algumas das mais impor-tantes bases de dados (Web osf Science SciELO SCOPUS e GOOGLE SCHOLAR) agrave procura de artigos que tratam do tema ensino a distacircncia com as palavras-chave ldquopolos de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacute-riordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo Essa pesquisa inicial demonstrou a existecircncia de estudos que tratam da utilizaccedilatildeo de modelos para auxiacutelio na tomada de decisatildeo em polos de apoio presencial de curso EaD

Em seguida foram realizadas pesquisas em documentos insti-tucionais do CEDERJ e da UAB para descobrir quais satildeo os criteacuterios utilizados na alocaccedilatildeo de polos de apoio presencial

Paacutegina 5 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Na etapa seguinte foi realizada uma entrevista com coorde-nadores de cursos a distacircncia do CEDERJ e especialistas em EaD para definirem-se os principais criteacuterios na implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial

Ao final os criteacuterios adotados foram populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com internet escolas com ensino meacutedio e proximidade a um polo do CEDERJ

Analisando os criteacuterios quanto maior a populaccedilatildeo resi-dente no municiacutepio maior seraacute o nuacutemero de alunos alcan-ccedilados com os cursos de graduaccedilatildeo Por se tratar de ensino a distacircncia o uso do computador e o acesso agrave internet satildeo necessaacuterios pois as atividades seratildeo feitas via plataforma do CEDERJ O maior nuacutemero de escolas com ensino meacutedio demonstra concentrar um nuacutemero maior de estudantes que desejam cursar uma universidade A proximidade de um mu-niciacutepio a outro que jaacute possui um polo de apoio presencial do CEDERJ natildeo gera qualquer impedimento para os alunos cursarem uma graduaccedilatildeo o que descaracteriza a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial nesse municiacutepio

Para os criteacuterios de populaccedilatildeo residente domiciacutelios com com-putador domiciacutelios com internet e escolas com ensino meacutedio foram coletados dados do Censo de 2010 no site IBGE cidades (IBGE 2010) Para o criteacuterio proximidade a um polo do CEDERJ foi estimada atraveacutes do GoogleMaps a distacircncia em quilocircmetros da sede da prefeitura do municiacutepio candidato agrave implantaccedilatildeo do polo ao polo de apoio presencial do CEDERJ do municiacutepio mais proacuteximo

Apoacutes a definiccedilatildeo dos criteacuterios escolheu-se o meacutetodo Analytic Network Process (ANP) para permitir a tomada de decisatildeo isto eacute para encontrar a melhor soluccedilatildeo para o problema A principal di-ferenccedila desse meacutetodo em relaccedilatildeo aos outros eacute o fato de ele avaliar a dependecircncia entre as estruturas da decisatildeo que representam os criteacuterios e alternativas o que permite um resultado mais confiaacutevel

O meacutetodo Analytic Network Process (ANP) eacute uma generalizaccedilatildeo do meacutetodo Analytic Hierarchy Process (AHP) ou seja na praacutetica para se fazer o ANP deve-se primeiramente executar o AHP (SAATY 2005) Segundo Shimizu (2010) o meacutetodo AHP tem sido empregado para situaccedilotildees de definiccedilatildeo de prioridade avaliaccedilatildeo de custos e benefiacutecios alocaccedilatildeo de recursos medida de desem-penho pesquisa de mercado entre outras

Apoacutes definido o meacutetodo foram atribuiacutedos pesos aos cri-teacuterios de acordo com a escala fundamental desenvolvida por Thomas L Saaty (SAATY 2005) Tal escala traduz as avaliaccedilotildees qualitativas que foram realizadas aos criteacuterios e as alternativas em valores numeacutericos

Nessa etapa foi aplicado um questionaacuterio fechado aos coordena-dores de cursos a distacircncia do CEDERJ e a especialistas em EaD para julgarem de acordo com a escala de valor de Saaty (1977) isto eacute de 1 a 9 as suas preferecircncias entre os criteacuterios definidos para esta pesquisa

A coerecircncia dos julgamentos foi verificada por meio da Razatildeo de Consistecircncia que aferiu um valor menor que 10 permitindo obter o vetor de prioridade dos criteacuterios e efetuar a normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Apoacutes os dados foram tratados atraveacutes do software SuperDe-cisions v28 usado para tomada de decisatildeo com dependecircncia e feedback que implementa o meacutetodo AHP e o meacutetodo ANP e utiliza o mesmo processo de priorizaccedilatildeo baseado na comparaccedilatildeo par a par de elementos Esse software permite que os usuaacuterios criem clusters e nodes fazendo as devidas ligaccedilotildees para garantir comparaccedilotildees adequadas entre os niacuteveis Apoacutes os julgamentos o programa calcula as matrizes e as suas consistecircncias possibi-litando a anaacutelise da decisatildeo (SUPERDECISIONS 2017)

4 Anaacutelise dos resultadosPara a aplicaccedilatildeo do meacutetodo ANP eacute necessaacuterio o estabelecimento da rede isto eacute a estrutura de decisatildeo com a definiccedilatildeo dos objetivos criteacuterios e alternativas em que posteriormente podem ser aplicados os mesmos passos que quando utilizado o AHP Tais passos incluem formaccedilatildeo de matrizes de julgamentos determinaccedilatildeo de vetores de prioridades ateacute a soluccedilatildeo final com as prioridades globais do modelo (SAATY 1980)

A Figura 1 mostra a rede na qual os criteacuterios estatildeo relacionados entre si Neste estudo apenas os criteacuterios domiciacutelios com compu-tador e domiciacutelios com internet apresentam dependecircncia

A seguir satildeo formadas matizes de julgamentos para o posterior caacutelculo das prioridades Os julgamentos dos criteacuterios nesta pesquisa foram feitos por especialistas em EaD e coordenadores de cursos de graduaccedilatildeo do CEDERJ com base na escala de valor de Saaty (1977) que varia de 1 a 9 Os valores representam 1 ndashigual importacircncia 3 ndash fraca importacircncia 5 ndash forte importacircncia 7 ndash muito forte 9 ndash importacircncia absoluta e 2 4 6 8 ndash valores intermediaacuterios Na comparaccedilatildeo par a par utilizando a Escala de Saaty (1977) conforme a Tabela 2 os itens em julgamento foram arranjados em matrizes quadradas e os dados foram representados pela importacircncia na relaccedilatildeo entre linha e coluna

Tabela 2 ndash Julgamento dos criteacuteriosPopulaccedilatildeo residente 1 5 3 6 2Domiciacutelios com computador 15 1 13 3 13Domiciacutelius com acesso agrave internet 13 3 1 4 2Nordm de escolas de ensino meacutedio 16 13 14 1 14Proximidade do polo do CEDERJ (km) 12 3 12 4 1

Fonte Dados da pesquisa

Paacutegina 6 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

De igual forma outra matriz foi formada para avaliar as rela-ccedilotildees entre os criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com internet conforme a Tabela 3

Tabela 3 ndash Matriz de comparaccedilatildeo entre os criteacuterios

Criteacuterio Domiciacutelios com computador

Domiciacutelios com acesso agrave internet Prioridades

Domiciacutelios com computador 1 13 025

Domiciacutelios com acesso agrave internet 3 1 075

Fonte Dados da pesquisa

Posteriormente foi verificado se havia consistecircncia ou natildeo na matriz de julgamentos da seguinte forma se o valor de Razatildeo de Consistecircncia (RC) fosse menor que 10 os julgamentos eram coerentes caso contraacuterio os julgamentos deveriam ser revistos (COSTA 2002) Nesse caso o valor de RC foi de 480 menor que 10 portanto conclui-se que os julgamentos foram coerentes A Tabela 4 mostra o resultado final das prioridades dos criteacuterios

Tabela 4 ndash Criteacuterios e vetor de prioridadesCriteacuterio Vetor de prioridades

Populaccedilatildeo residente 032819Domiciacutelios com computador 012896Domiciacutelios com acesso agrave internet 036180Nuacutemero de escolas com Ensino Meacutedio 003739Proximidade do polo do CEDERJ 014366

Fonte Dados da pesquisa

O criteacuterio mais importante de acordo com a Tabela 4 eacute o de domiciacutelios com acesso a internet comprovando a

importacircncia dessa ferramenta para os cursos de EaD uma vez que sem o acesso agrave internet eacute impossiacutevel acessar a plataforma do CEDERJ e acompanhar as aulas os foacuteruns enviar e-mails realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos disponiacuteveis por essa rede para pesquisa e informaccedilatildeo

Conforme a Tabela 4 a populaccedilatildeo residente eacute o segundo criteacuterio mais importante a ser verificado na instalaccedilatildeo de um polo de apoio presencial pois o nuacutemero de habitantes de uma cidade deve ser suficiente para permitir que os recursos investidos na instalaccedilatildeo do polo de apoio presencial sejam duradouros e que a demanda pelos cursos de graduaccedilatildeo se mantenha constante

No problema estudado as alternativas podem ser ava-liadas de forma direta quando comparadas aos criteacuterios por existirem dados quantitativos em cada caso De qual-quer forma como natildeo se pode misturar em uma decisatildeo grandezas diferentes eacute necessaacuterio transformar os valores de cada um desses objetivos em uma mesma unidade de medida (SHIMIZU 2010)

A Figura 2 mostra os valores normalizados de importacircncia de cada alternativa referentes a cada criteacuterio segundo dados do censo de 2010 (IBGE 2010) com exceccedilatildeo do criteacuterio pro-ximidade ao polo do CEDERJ cujos dados foram extraiacutedos do GoogleMaps

Paacutegina 7 de 11

Figura 1 Estrutura de decisatildeo em rede pelo meacutetodo ANP

Objetivo SELECcedilAtildeO DE MUNICIacutePIOS PARA INSTALACcedilAtildeO DE POacuteLOS EAD

Proximidade depolos do CEDERJ

Escolas comensino meacutedio

Domiciacutelioscom internet

Domiciacutelios comcomputador

Populaccedilatildeoresidente

BarraMansa Itatiaia Pinheiral

PortoReal Quatis

RioClaro Valenccedila

Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Figura 2 ndash Normalizaccedilatildeo dos dados por criteacuterios

Municiacutepio Populaccedilatildeo residenteValor

normalizado MuniciacutepioDomiciacutelios com

computadorValor

normalizadoBarra Mansa 177813 05110 Barra Mansa 26386 05624

Itatiaia 28783 00827 Itatiaia 4032 00859

Pinheiral 22719 00653 Pinheiral 2673 00570

Porto Real 16592 00477 Porto Real 1953 00416

Quatis 12793 00368 Quatis 1384 00295

Rio Claro 17425 00501 Rio Claro 1452 00310

Valenccedila 71843 02065 Valenccedila 9034 01926

Total 347968 10000 Total 46914 10000

MuniciacutepioDomiciacutelios com

acesso agrave internetValor

normalizado MuniciacutepioProximidade ao polo

do CEDERJ (km)Valor

normalizadoBarra Mansa 19840 05757 Barra Mansa 109 00756

Itatiaia 3023 00877 Itatiaia 167 01158

Pinheiral 2021 00586 Pinheiral 128 00888

Porto Real 1300 00377 Porto Real 202 01401

Quatis 951 00276 Quatis 241 01671

Rio Claro 841 00244 Rio Claro 343 02379

Valenccedila 6486 01882 Valenccedila 252 01748

Total 34462 10000

Total 46 10000

Total 1442 10000

MuniciacutepioNordm de escolas de

ensino meacutedioValor

normalizadoBarra Mansa 18 03913

Itatiaia 2 00435

Pinheiral 5 01087

Porto Real 2 00435

Quatis 1 00217

Rio Claro 3 00652

Valenccedila 15 03261

Fonte Segundo IBGE Cidades 2010 GoogleMaps 2017

Paacutegina 8 de 11

O resultado final da aplicaccedilatildeo do meacutetodo com a utilizaccedilatildeo dos criteacuterios e alternativas propostas pode ser observado na Tabela 5 com as prioridades de cada alternativa segundo os criteacuterios estabelecidos assim como a prioridade final para cada alternativa quando utilizado o meacutetodo ANP

Como mostrado na Tabela 5 o municiacutepio de Barra Mansa tem a maior prioridade para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ seguido de Valenccedila Esse resultado deve-se fundamen-talmente a que ambos os municiacutepios lideram em peso na quase totalidade dos criteacuterios analisados

Tabela 5 ndash Prioridades das alternativas

MuniciacutepioPopulaccedilatildeo residente

Domiciacutelios com

computador

Domiciacutelioscom

internet

Nordm deescolas

comensino meacutedio

Proximidade do polo do

CEDERJ Vetor de decisatildeo

Barra Mansa 05110 05624 05757 03913 00756 044207

Itatiaia 00827 00859 00877 00435 01158 008853Pinheiral 00653 00570 00586 01087 00888 006961Porto Real 00477 00416 00377 00435 01401 006216

Quatis 00368 00295 00276 00217 01671 005802Rio Claro 00501 00310 00244 00652 02379 007880Valenccedila 02065 01926 01882 03261 01748 020081Fonte Dados da pesquisa

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

O modelo proposto atendeu ao objetivo mostrando-se eficaz para definir o municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial do CEDERJ O municiacutepio mais adequado para isso foi Barra Mansa que se destacou nos criteacuterios populaccedilatildeo residente domiciacutelios com computador domiciacutelios com inter-net e nuacutemero de escolas com ensino meacutedio perdendo apenas no criteacuterio proximidade a um municiacutepio que possua um polo de apoio presencial do CEDERJ devido a sua proximidade em relaccedilatildeo ao municiacutepio de Volta Redonda cujo polo mais proacuteximo eacute o de Barra Mansa

5 Consideraccedilotildees finaisApesar do grande crescimento a modalidade de ensino a dis-tacircncia ainda sofre preconceito logo a escolha do local correto para implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial permite uma eficiente alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos evita prejuiacutezos ao eraacuterio amplia a oferta de educaccedilatildeo superior proporciona a um contin-gente maior da populaccedilatildeo o acesso ao ensino superior puacuteblico e de qualidade tornando tal modalidade o principal veiacuteculo para aprendizagem no paiacutes

A pesquisa demonstrou que os cursos de graduaccedilatildeo EaD apre-sentaram um aumento no nuacutemero de matriacuteculas nos uacuteltimos quinze anos superior ao dos cursos presenciais sendo responsaacute-vel em 2015 por 1736 das matriacuteculas nos cursos de graduaccedilatildeo no Brasil O CEDERJ eacute responsaacutevel por uma parte desse crescimen-to pois desde a sua criaccedilatildeo no ano de 2000 vem contribuindo para a expansatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo a locais natildeo atendidos pelo ensino presencial e permitindo o acesso ao ensino superior a todos que natildeo podem estudar no horaacuterio tradicional

Com o intuito de propor um modelo de apoio agrave decisatildeo para implantaccedilatildeo de polos de apoio presencial realizou-se primeira-mente uma busca na literatura sobre o tema ensino a distacircncia combinado com os termos ldquopolo de apoio presencialrdquo ldquoauxiacutelio multicriteacuteriordquo e ldquomeacutetodo ANPrdquo que demonstrou a existecircncia de alguns estudos que tratam do tema assim como a utilizaccedilatildeo de diferentes criteacuterios e modelos de apoio ao processo decisoacuterio Tais estudos foram essenciais para embasar a escolha dos criteacuterios que formam o modelo proposto e consequentemente a escolha do melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de EaD

A utilizaccedilatildeo do meacutetodo ANP permitiu a elaboraccedilatildeo de uma estrutura em rede capaz de facilitar o processo decisoacuterio por meio da interaccedilatildeo dos criteacuterios domiciacutelios com computador e domiciacutelios com acesso agrave internet permitindo maior precisatildeo no resultado Atraveacutes da anaacutelise multicriteacuterio com a utilizaccedilatildeo do software Super-Decision v28 para o tratamento dos dados foi possiacutevel encontrar o melhor municiacutepio para implantaccedilatildeo do polo de apoio presencial

O municiacutepio de Barra Mansa foi o que apresentou o conjunto das melhores caracteriacutesticas para a implantaccedilatildeo do polo de EaD na regiatildeo do Vale Meacutedio Paraiacuteba seguido do municiacutepio de Va-lenccedila Seguindo os criteacuterios atuais do CEDERJ segundo os quais a prioridade maacutexima de localizaccedilatildeo entre polos eacute uma distacircncia aproximada de cinquenta quilocircmetros o municiacutepio de Barra Man-sa natildeo seria analisado como possiacutevel sede dada a proximidade com o polo de Volta Redonda por esse criteacuterio o melhor colocado entatildeo seria o municiacutepio de Rio Claro

O criteacuterio mais importante analisado foi o de domiciacutelios com internet pois essa ferramenta eacute fundamental para que se tenha um bom rendimento no ensino a distacircncia Afinal sem internet eacute impossiacutevel acessar o ambiente virtual de aprendizagem e acom-panhar as aulas os foacuteruns realizar as avaliaccedilotildees a distacircncia se inscrever nas disciplinas aleacutem de utilizar todos os serviccedilos dis-poniacuteveis na internet para pesquisa e informaccedilatildeo

Para os alunos que natildeo tecircm acesso agrave internet em suas residecircn-cias o polo de apoio presencial eacute de grande importacircncia para que eles possam acessar o ambiente virtual de aprendizagem e prosseguir em seus estudos

A partir do modelo apresentado e dentre os criteacuterios utilizados constatou-se que o municiacutepio de Quatis natildeo seria contemplado com a implantaccedilatildeo de um polo de apoio presencial haja vista que esse municiacutepio jaacute sediou um polo do CEDERJ oferecendo o curso superior de Administraccedilatildeo tendo poreacutem as suas atividades encerradas Isso demonstra que proximidade a outro polo do CEDERJ natildeo pode ser o criteacuterio mais importante para implantaccedilatildeo de um polo de EaD e que os criteacuterios devem ser analisados em conjunto e natildeo individualmente o que evidencia a factibilidade do modelo utilizado

Constataram-se como limitaccedilotildees da pesquisa a concentraccedilatildeo do estudo em uma uacutenica regiatildeo do estado do Rio de Janeiro e natildeo levar em conta o fato de que as variaacuteveis de cunho poliacutetico podem tambeacutem interferir na sustentabilidade de um polo Sugere-se como agenda de pesquisa que o modelo seja implementado em outras regiotildees do estado do Rio de Janeiro confirmando a sua eficaacutecia na escolha de municiacutepios para sediar polos de apoio presencial do CEDERJ

R e f e r ecirc n c i a s

ALVES L Educaccedilatildeo a distacircncia conceitos e histoacuteria no Brasil e no mundo

Revista Brasileira de Aprendizagem Aberta e a Distacircncia Satildeo Paulo

v10 n21 2011

Paacutegina 9 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

ARRUDA D E P ARRUDA E P Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil poliacuteticas

puacuteblicas e democratizaccedilatildeo do acesso ao ensino superior Educaccedilatildeo

em Revista Belo Horizonte v31 n3 p321-338 julset 2015

BRASIL Decreto nordm 9057 de 25 de maio de 2017 Regulamenta o art 80 da

Lei de diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo

Brasiacutelia DF 26 maio 2017 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogov

brccivil_03_Ato2015-20182017DecretoD9057htmart24gt Aces-

so em 31 maio 2017

______ Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes

e bases da educaccedilatildeo nacional Diaacuterio Oficial da Uniatildeo Brasiacutelia DF 23

dez 1996 Disponiacutevel emlt httpwwwplanaltogovbrccivil_03leis

L9394htmgt Acesso em 20 abr 2017

______ Orientaccedilotildees baacutesicas sobre polos do sistema Universidade Aberta

do Brasil 2013 Disponiacutevel em lthttpswwweadunbbrarquivos

legislacaoinstrucoesorientacoes_basicas _sobre_polos_uabpdfgt

Acesso em 19 abr 2017

CASSIANO K M et al Distribuiccedilatildeo espacial dos polos regionais do Cederj

uma anaacutelise estatiacutestica Ensaio aval pol puacutebl Educ Rio de Janeiro

v24 n90 p 82-108 janmar 2016

CEDERJ Portal consoacutercio Cederj Fundaccedilatildeo Cecierj Polos Disponiacutevel emlt

httpCEDERJedubrCEDERJpolosgt Acesso em 20 abr 2017

COSTA H G Introduccedilatildeo ao meacutetodo de anaacutelise hieraacuterquica anaacutelise multicri-

teacuterio no auxiacutelio agrave decisatildeo Rio de Janeiro [sn] 2002 Disponiacutevel em

lt httpwwwdinuembrsbposbpo2004pdfarq0279pdfgt Acesso em 19 abr 2017

FIRMINO D L F VIEIRA J J Consoacutercio Cederj uma anaacutelise criacutetica Se-

minaacuterio Internacional Inclusatildeo em Educaccedilatildeo Universidade e Parti-

cipaccedilatildeo Anais Rio de Janeiro maio 2013 Disponiacutevel em lthttp

wwwlapeadeeducacaoufrjbranaisfilesWSM31A54pdfgt Acesso

em 21 maio 2017

GOMES JUacuteNIOR S F SOARES DE MELLO J C C B SOARES DE MELLO

MHC Utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Copeland para avaliaccedilatildeo dos polos

regionais do CEDERJ Riorsquos International Journal on Sciences of Industrial

and Systems Engineering and Management v 2 n1 p 87-98 2008

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Censo 2010 Disponiacutevel

emlt httpscidadesibgegovbrgt Acesso em 10 abr 2017

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Tei-

xeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2010 Disponiacutevel emlt http

downloadinepgovbreducacao_superiorcenso_superiordocumen-

tos2010divulgacao_censo_2010pdfgt Acesso em 15 maio 2017

______ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio

Teixeira Censo da Educaccedilatildeo Superior 2016 Disponiacutevel emlt http

sistemascensosuperiorinepgovbrcensosuperior_2016gt Acesso

em 15 maio 2017

PEIXOTO FILHO J et al Anaacutelise multicriterial para seleccedilatildeo de local para

abertura de um polo de educaccedilatildeo a distacircncia In Anais XXI Congres-

so Internacional ABED de Educaccedilatildeo a Distacircncia Bento Gonccedilalves RS

2015 Disponiacutevel em httpwwwabedorgbrcongresso2015anaispdfBD_191pdf Acesso em 15 abr 2107

PEIXOTO FILHO J Modelagem multicriterial aplicada a seleccedilatildeo de mu-

niciacutepios para abertura de polos de educaccedilatildeo a distacircncia 2016 120

f Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Engenharia de Produccedilatildeo Universidade

Cacircndido Mendes Rio de Janeiro 2016

PEIXOTO FILHO J ERTHAL JUacuteNIOR M Seleccedilatildeo de municiacutepios para a

abertura de polos EaD uma tomada de decisatildeo baseada em uma

modelagem multicriteacuterio In Anais XXII Congresso Internacional ABED

de Educaccedilatildeo a Distacircncia Aacuteguas de Lindoacuteia SP 2016 v22 p1-1 Dis-

poniacutevel em lthttpwwwabedorgbrcongresso2016tra-balhos129pdfgt Acesso em 18 abr 2017

SAATY T L A scaling method for priorities in hierarchical structures Jour-

nal of Mathematical Psychology v15 p234-281 1977

______ The analytic hierarchy process planning priority setting resource

allocation New York McGraw-Hill 1980

______ Theory and applications of the analytic network process decision mak-

ing with benefits opportunities costs and risks Pittsburgh RWS 2005

SCHLUumlNZEN K J Educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil caminhos poliacuteticas e

perspectivas ETD ndash Educaccedilatildeo Temaacutetica Digital Campinas v10 n2

p16-36 jun2009

SHIMIZU T Decisatildeo nas organizaccedilotildees 2ed Satildeo Paulo Editora Atlas SA

2010 419 p

SILVA M SANTOS E Avaliaccedilatildeo da aprendizagem em educaccedilatildeo online

fundamentos interfaces e dispositivos relatos de experiecircncias Satildeo

Paulo SP Ediccedilotildees Loyola 2006

SOUZA J B A A contribuiccedilatildeo dos polos presenciais na EaD um estudo

exploratoacuterio Congresso Nacional de Ambientes Hipermiacutedia para a

Aprendizagem Satildeo Luiacutes Maranhatildeo jun 2015 Disponiacutevel em lthttp

conahpasitesufscbrwp-contentuploads201506ID32_Souza

pdfgt Acesso em 17 maio 2017

SPIacuteNDOLA M MOUSINHO S H Cederj um caminho na direccedilatildeo da educaccedilatildeo

inclusiva Ead em foco Rio de Janeiro Fundaccedilatildeo Cecierj n 2 nov 2012

Paacutegina 10 de 11

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

SUN P et al What drives a successful e-Learning An empirical investiga-

tion of the critical factors influencing learner satisfaction Computers

amp Education v50 p1183-1202 2008

SUPERDECISIONS Creative Decisions Foundations Software de apoio agrave

decisatildeo Disponiacutevel em lthttpswwwsuperdecisionscomtutorials

indexphpsection=2_8gt Acesso em 12 abr 2017

WAQUIL M P et al Educaccedilatildeo a distacircncia e comunidades virtuais de apren-

dizagem novos espaccedilos novas possibilidades Revista Competecircncia

Porto Alegre RS v2 n1 p43-57 2009

WEIDLE D KICH J I D F PEREIRA M F Projeto UAB Uma Anaacutelise estru-

tural dos polos de apoio presencial do curso de Administraccedilatildeo da

UFSC Revista GUAL Florianoacutepolis Ediccedilatildeo especial p94-114 2011

Paacutegina 11 de 11

O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevelThe Use of Recycled PET Fibers in the Textile Industry through Innovation and Sustainable Design

Helena Mrozinski Cesar Steffen e Heli Meurer

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

Paacutegina 1 de 8

R e s u m o

O desenvolvimento sustentaacutevel eacute um grande desafio em todas as aacutereas e na induacutestria tecircxtil natildeo eacute diferente pois os impactos ambientais satildeo gerados em todas as etapas dos processos produtivos

ndash da origem da mateacuteria prima ateacute o descarte do produto pelo consumidor A crescente degradaccedilatildeo do meio ambiente faz com que a reciclagem seja um dos pressupostos do desenvolvimento sustentaacutevel que por sua vez estaacute embasado nas dimensotildees econocircmicas sociais ecoloacutegicas e culturais da evoluccedilatildeo humana Dessa forma este estudo tem por objetivo analisar o estado da arte da reciclagem das embalagens PET considerando o processo a expansatildeo e a aplicabilidade da fibra resultante desta reciclagem na induacutestria tecircxtil brasileira e sua relaccedilatildeo com o design sustentaacutevel Com este trabalho percebeu-se que houve nos uacuteltimos anos uma adesatildeo significativa por parte das empresas nas praacuteticas consideradas relevantes para o entendimento das questotildees socioambientais aplicadas ao sistema de moda e ao setor tecircxtil

A b s t r a c t

Sustainable development is a major challenge in all areas and in the textile industry it is not different because environmental impacts are generated at all stages of the productive processes ndash from the origin of the raw material to the disposal of the product by the consumer The increasing environment degradation makes the recycling one of the assumptions of the concept of sustainable development which in turn is rooted in the economic social ecological and cultural dimensions of human evolution Thus this study aims to analyze the state of the art of the recycling of PET packaging considering the process the expansion and the applicability of the fiber resulting from this recycling in the Brazilian textile industry and its relationship with sustainable design Through this work it was perceived that in recent years companies had a significant adherence to practices considered relevant for the un-derstanding of the socio-environmental issues applied to the fashion system and to the textile sector

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 27092017Aprovado em 07112017

Palavras-chaveDesign sustentaacutevel Fibra PET Industria tecircxtil e reciclagem

KeywordsSustainable design PET fiber Textile Industry and Recycling

Autores Docente - Senac (RS)e-mail mrozinskihelenagmailcom

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail cesar_steffenuniritteredubr

Doutor UniRitter Laureate Interna-tional Universitiese-mail heli_meureruniritteredubr

Como citar este artigoMZROZINSKI H STEFFEN C MEURER H O uso das fibras PET recicladas na induacutestria tecircxtil atraveacutes da inovaccedilatildeo e design sustentaacutevel Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017 ndash ISSN 2177-4986 versatildeo eletrocircnica

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoNa mobilizaccedilatildeo em busca do desenvolvimento de novos produ-tos aliados a tecnologias de menor impacto ao meio ambiente empresas buscam implantar abordagens baseadas em gestatildeo de sustentabilidade Dessa forma se reposicionam no mercado de maneira inovadora utilizando o ecodesign como uma ferramenta potencializadora da evoluccedilatildeo da cadeia produtiva Utilizam-se tambeacutem de gestotildees estrateacutegicas que abordam questotildees ambien-tais para transformar os investimentos em fontes de vantagens competitivas (GONCcedilALVES-DIAS GUIMARAtildeES SANTOS 2007)

Com a visatildeo de futuro e com a estrateacutegia de consolidaccedilatildeo e reconhecimento no mercado empresas objetivam investir na dimensatildeo simboacutelica de marca e da alta tecnologia empregada em seus produtos aspectos que tecircm sido chave para o estabelecimen-to das relaccedilotildees com o novo mercado Percebe-se contudo que a ideia de marca engloba atualmente consciecircncia e engajamento com as questotildees ambientais e que na busca de alternativas rea-lizadoras dessas questotildees encontra-se a tecnologia de produccedilatildeo sua inerente inovaccedilatildeo e consequente conforto e alta qualidade de acabamento dos produtos (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Este trabalho portanto procura identificar as condiccedilotildees que justi-ficam a incorporaccedilatildeo de estrateacutegias ambientais no desenvolvimento de produtos e geraccedilatildeo de inovaccedilotildees especificamente a partir de materiais reciclados O referencial teoacuterico nesse campo de atividade no Brasil eacute raro e disperso talvez por ser assunto incipiente embora jaacute seja uma atividade com significativa representaccedilatildeo na economia e de crescente interesse por parte das empresas governos e sociedade

Com esse propoacutesito apresenta-se primeiramente uma breve revisatildeo da literatura relacionada agrave construccedilatildeo de estrateacutegias de de-sign para o desenvolvimento de produtos com materiais reciclados e as competecircncias necessaacuterias para a realizaccedilatildeo de tal empreendi-mento Na segunda parte disserta-se sobre a histoacuteria da resina PET (polietileno tereftalato) o processo da reciclagem de embalagens e a aplicabilidade em novos materiais novas funcionalidades e no uso para os produtos tecircxteis originando um novo ciclo de vida do produto assim ultrapassando os campos da preservaccedilatildeo ambiental pois movimenta a economia do paiacutes em diversas aacutereas

2 Conceitos de design e sustentabilidadeA sustentabilidade baseia-se na preservaccedilatildeo dos recursos naturais O Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA1) apresentou em 1975 o conceito de ecodesenvolvimento o qual destacava o desenvolvimento apoiado na dimensatildeo regional e local e o uso adequado dos recursos naturais Na formulaccedilatildeo de Sachs (2004) o ecodesenvolvimento deve integrar a satisfaccedilatildeo das necessidades humanas baacutesicas a solidariedade com as geraccedilotildees futuras a participaccedilatildeo da populaccedilatildeo envolvida a preservaccedilatildeo

dos recursos naturais e meio ambiente em geral a elaboraccedilatildeo de sistema social que garanta emprego seguranccedila social e respeito a outras culturas e o desenvolvimento de programas de educaccedilatildeo ldquoO atendimento das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das geraccedilotildees futuras de satisfazerem as suas proacuteprias necessidadesrdquo (WCED2 apud MROZINSKI 2016)

De acordo com Vezzolli (2010) o design intitulado como sustentaacute-vel tem a funccedilatildeo essencial de projetar produtos serviccedilos e sistemas com baixo impacto ambiental e alta qualidade social O termo design utilizado em sentido restrito define-se como uma ldquoatividade criativa orientada para a determinaccedilatildeo das qualidades formais de objetos ou signos produzidos industrialmenterdquo (ANICET BESSA BROEGA 2009) O design consiste basicamente em uma tentativa de tornar o objeto mais atrativo desejaacutevel o que deve inerentemente vir ao encontro da melhoria da funcionalidade do produto

O que se verifica na atualidade de forma crescente eacute que os de-signers estatildeo se conscientizando da sua responsabilidade quanto agrave preservaccedilatildeo dos recursos ambientais por meio do desenvolvimento sustentaacutevel Portanto o design engrandece-se ao abranger mais objetivos Ele exerce funccedilotildees derivadas de suas principais como a responsabilidade socioambiental (MAU 2004) Dessa forma o design toma uma dimensatildeo muito maior do que o seu objetivo primeiro ndash o produto em sua funccedilatildeo operativa e tecnoloacutegica ndash toma a dimensatildeo eacutetica que abrange a proteccedilatildeo do meio ambien-te a preservaccedilatildeo e resgate da identidade cultural e dos circuitos econocircmicos locais bem como o desenvolvimento de produtos ambientalmente sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

Papanek (1984) em sua claacutessica publicaccedilatildeo Design for Real World afirmava que o design poderia ser uma das mais baacutesicas atividades humanas e nesse sentido todas as pessoas seriam designers Atual-mente o design eacute uma atividade projetual e profissional com elevada especializaccedilatildeo Aleacutem disso eacute uma disciplina com autoridade acadecirc-mica desenvolvida em universidades tendo seu valor reconhecido atraveacutes de suas proacuteprias publicaccedilotildees promovendo conferecircncias e eventos de grande repercussatildeo ndash sendo inclusive um veiacuteculo de identidade e de coesatildeo social (MANZINI VEZZOLI 2005)

Na definiccedilatildeo dos autores Mohr (2006) e Manzini e Vezzoli (2005) a tendecircncia do design eacute buscar paracircmetros para encontrar a soluccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos seus produtos quando engloba as tecnologias de produccedilatildeo assim como questotildees ambientais Mudanccedilas de paradigmas ocorrem a partir das criaccedilotildees do design desafiando os profissionais e dessa forma oferecendo o equiliacutebrio entre os requisitos da induacutestria e ao mesmo tempo respeitando os fatores ambientais em seus projetos

Por outro vieacutes estaacute cada vez mais acirrada a competitividade no mercado de design de produtos como reflexo da velocidade de produccedilatildeo e da constante busca da lucratividade das empresas e

Paacutegina 2 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

consequentemente haacute maior oferta de produtos Nesse cenaacuterio de forma positiva e proveitosa os designers empenham-se no de-senvolvimento de produtos sempre buscando maior qualidade e novos padrotildees de inovaccedilatildeo conforto acabamentos e preccedilos tudo isso com o objetivo atender a necessidades perfis e exigecircncias dos consumidores Esse processo condiciona o avanccedilo de novas teacutecnicas e tecnologias e especialmente na produccedilatildeo sustentaacutevel na utilizaccedilatildeo de materiais que se componham de fibras resultados de reciclagem Eacute um grande desafio para as mudanccedilas necessaacuterias pois os consumidores estatildeo cada vez mais conscientes ambiental-mente Eles estatildeo em busca de soluccedilotildees e produtos sustentaacuteveis (ANICET BESSA BROEGA 2009)

De acordo com as consideraccedilotildees gerais do Conselho Interna-cional de Sociedades de Design ndash International Council of Societies of Design (ICSID) atual WDO3 World Design Organization relacio-nado agrave UNESCO ndash o design

(hellip) busca descobrir e avaliar estruturas organizaccedilotildees relaccedilotildees

funcionais expressivas e econocircmicas com a tarefa de melhorar

a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambiental (eacutetica global)

conceder benefiacutecios e liberdade para toda a comunidade humana

individual e coletiva para usuaacuterios finais produtores e protagonistas

de mercado (eacutetica social) apoiar a diversidade cultural apesar da

globalizaccedilatildeo do mundo (eacutetica cultural) gerando produtos serviccedilos

e sistemas cujas formas sejam expressivas (semiologia) e coerentes

(esteticamente) com sua proacutepria complexidade (IBID 2012 apud

KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

O WDO enfatiza o caraacuteter humano social e cultural aleacutem do econocircmico Essa definiccedilatildeo apresenta inclusive o conceito de ldquociclos de vidas inteirosrdquo aleacutem do objetivo de ldquomelhorar a sustentabilidade global e a proteccedilatildeo ambientalrdquo o que leva agrave adesatildeo na missatildeo do design em propor o uso de mecanismos adequadamente norteados na concepccedilatildeo e desenvolvimento de projetos produtos serviccedilos e sistemas (KANAMARU FARIAS IAMAMURA 2014)

3 Design sustentaacutevel e reciclagemConsciecircncia ecoloacutegica presume e anda de matildeos dadas com a consciecircncia social pela proteccedilatildeo da natureza e pela realizaccedilatildeo da condiccedilatildeo humana Com o objetivo de obter um ambiente ade-quado para a vida no que tange agraves condiccedilotildees ambientais e sociais deve-se seguir e cumprir regras Desse modo criaram-se normas e princiacutepios para serem seguidos e consequentemente minimi-zam-se os impactos ambientais Foram estabelecidos princiacutepios denominados ldquoRsrdquo iniciou-se com trecircs princiacutepios chamados de ldquo3Rsrdquo que em seguida foram desmembrados em mais dois tor-nando-se ldquo5Rsrdquo reduzir reutilizar reaproveitar reciclar e repensar (REBELLO 2008) Poreacutem conforme o autor tais princiacutepios foram

acrescidos por mais trecircs chegando a atingir oito atualmente sen-do os uacuteltimos reparar responsabilizar-se e repassar

Para entendimento e compreensatildeo do assunto abordado eacute interessante mesmo que brevemente citar todos os termos criados para a posteriori serem aprofundados os princiacutepios da Reciclagem e da Reutilizaccedilatildeo que satildeo o foco deste texto ndash design sustentaacutevel atraveacutes de materiais reciclados

Reduzir caracteriza-se pela reduccedilatildeo do consumo tendo como objetivo a preservaccedilatildeo dos recursos naturais do planeta Jaacute reutilizar quer dizer buscar soluccedilotildees criativas para prolongar a vida uacutetil de um produto oferecendo a ele uma nova vida transformando-o em um novo produto Seguindo a mesma linha reaproveitar eacute outra forma de reutilizar pois a diferenccedila essencial eacute que o produto original teraacute que sofrer uma transfor-maccedilatildeo para poder ser utilizado novamente Um bom exemplo eacute a customizaccedilatildeo de uma peccedila por meio do redesign reduzindo o descarte e agregando valores e funcionalidades e utilidades para o mesmo produto

Quanto a reciclar o produto deve retornar a um novo processo industrial gerando um novo ciclo Eacute o que se difere do princiacutepio de reaproveitar pois eacute necessaacuterio o reprocessamento Enquanto isso repensar consiste em realizar uma previsatildeo ou estudo do ciclo de vida total de um produto analisar seus custos e benefiacute-cios para posterior decisatildeo da produccedilatildeo ou natildeo Em todo esse levantamento deve constar desde a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima o desenvolvimento do produto a produccedilatildeo o descarte todo o ciclo de vida do produto e seu destino final seja o lixo ou uma nova etapa atraveacutes da reciclagem (VIEIRA RABELLO 2011)

31 Tipos de reciclagemQuanto aos tipos de reciclagem existem dois e satildeo relativos ao momento da reciclagem e ao ciclo de vida do produto a saber o preacute e o poacutes-consumo O preacute-consumo ocorre quando o produto saiu da induacutestria e antes mesmo do consumo jaacute eacute reciclado Um exemplo disso eacute o resiacuteduo industrial proveniente da fabricaccedilatildeo de roupas Esse tipo de reciclagem pode ser considerado como accedilatildeo socioambiental pois nela encontram-se os projetos de cole-ta de sobras de confecccedilotildees (tecidos descartados apoacutes o corte das peccedilas ou ldquoretalhosrdquo) Em uma pesquisa realizada por Mrozinski (2016) constatou-se que em alguns casos esses retalhos satildeo enviados para as famiacutelias cadastradas no programa da empresa fabricante sendo pesados separados e catalogados por cor Posteriormente seguem para a fiaccedilatildeo quando satildeo armazenados conforme a programaccedilatildeo de produccedilatildeo Posteriormente os reta-lhos satildeo colocados em uma maacutequina chamada ldquodesfibradeirardquo e atraveacutes de um processo chamado ldquorasgamentordquo voltam agrave sua forma original de fibras (MROZINSKI 2016)

Paacutegina 3 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Jaacute o poacutes-consumo ocorre quando o produto eacute reciclado depois de ter sido consumido Um bom exemplo satildeo as garras PET que em alguns casos conforme Mrozinski (2016) satildeo transformadas em fibra tecircxtil No caso do preacute-consumo gasta-se menos energia atraveacutes do aproveitamento de algo jaacute processado ao inveacutes de produzir um produto a partir da mateacuteria-prima original Esse tipo de reciclagem eacute muito mais faacutecil e de menor custo do que a reci-clagem poacutes-consumo pois no segundo caso os produtos teratildeo de ser lavados e esterilizados e em seguida encaminhados para o processo de reciclagem Em se tratando das garrafas plaacutesticas utilizam-se em sua limpeza aacutegua e detergentes Satildeo produtos quiacutemicos que interferem no meio ambiente e seus custos de re-ciclagem satildeo mais elevados (VIEIRA RABELLO 2011)

Segundo a Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria de PET (ABIPET 2013) no processo de reciclagem do PET existem muitos conta-minantes entre eles os adesivos plaacutesticos presentes nas garrafas de refrigerantes A maioria dos processos de lavagem aos quais os PETs satildeo submetidos hoje em dia ainda natildeo conseguem remover por completo esses produtos indesejaacuteveis o que impede a ob-tenccedilatildeo de flocos totalmente puros ou seja sem contaminaccedilatildeo

Todo esse processo de reciclagem do PET produz efluentes o que resulta em custos econocircmicos e ambientais Para Cassalli (2011) em seu processo a induacutestria da reciclagem faz uso de muito detergente na limpeza e higienizaccedilatildeo das garrafas e na fabricaccedilatildeo de flakes de PET causando importantes alteraccedilotildees quiacute-micas e fiacutesicas nos seus efluentes principalmente a alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) aleacutem do acreacutescimo dos resiacuteduos or-gacircnicos existentes no interior nos frascos vazios Por outro lado Silva (2017) afirma que apoacutes o processo de reciclagem e produccedilatildeo de flakes a empresa recicladora eacute responsaacutevel pelo tratamento de todos os seus efluentes gerados respeitando os paracircmetros estabelecidos pela legislaccedilatildeo municipal

No tratamento desses efluentes satildeo utilizados tratamentos primaacuterios secundaacuterios e terciaacuterios tendo como objetivo a remo-ccedilatildeo das partiacuteculas ou poluentes por meio de intervenccedilotildees fiacutesicas quiacutemicas e bioloacutegicas ou das combinaccedilotildees dessas intervenccedilotildees cuja accedilatildeo eacute reduzir os soacutelidos totais turbidez e cor Realizam-se tambeacutem processos especiacuteficos com intuito de oxidar quiacutemica e bioquimica-mente tais substacircncias promovendo a remoccedilatildeo das causadoras da alta Demanda Quiacutemica de Oxigecircnio (DQO) e da Demanda Bioquiacute-mica de Oxigecircnio (DBO) encontradas (MORENO 2007)

Apoacutes todo esse processo da reciclagem do PET resultam fibras de polieacutester de alta qualidade Estas satildeo aproveitadas em diversos produtos sendo que uma grande parte eacute destinada agrave produccedilatildeo de fibras tecircxteis para a induacutestria de tecido Podem ser utilizadas puras ou misturadas com outras fibras como por exemplo as fibras do algodatildeo do linho entre outras

4 Histoacuterico e aplicaccedilotildees do PETO poliacutemero produzido do PET eacute um polieacutester O polieacutester eacute uma fibra desenvolvida em 1941 por Whinfield e Dickson quiacutemicos ingleses cujo intuito inicial era substituir a fibra tecircxtil do algodatildeo Posteriormente sua aplicaccedilatildeo foi ampliada com a produccedilatildeo de filmes para embalagens por volta dos anos de 1980 O seu uso teve um crescimento raacutepido O PET eacute a denominaccedilatildeo do polieacutester destinado agrave fabricaccedilatildeo de embalagens entre elas a destinada aos refrigerantes Esse tipo de polieacutester tambeacutem eacute identificado como ldquograu garrafardquo (bottle grade) diferentemente do polieacutester que eacute utilizado na aacuterea tecircxtil conhecido por ldquograu fibrardquo (fiber grade) Eacute relevante saber que o polieacutester ldquograu fibrardquo ndash usado na produccedilatildeo de fibras e filamentos ndash e o polieacutester ldquograu garrafardquo satildeo produtos provenientes da mesma mateacuteria-prima poreacutem em seus respec-tivos processos de fabricaccedilatildeo recebem aditivaccedilotildees diferentes de acordo com o seu destinado final (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

No Brasil a embalagem PET entrou no mercado soacute em 1988 mas o crescimento foi raacutepido pois em 2004 o paiacutes jaacute era o terceiro maior consumidor mundial na produccedilatildeo de garrafas PET (ABIPET 20054) Esse raacutepido crescimento teve a sua contrapartida na reciclagem jaacute em 2005 a induacutestria brasileira atingiu a marca de 174 mil toneladas isso representou 47 do total da produccedilatildeo do PET naquele ano no mundo Foi um percentual expressivo especialmente porque em 2000 30 dos mais de 5 mil municiacutepios brasileiros natildeo possuiacuteam nenhum tipo de coleta de lixo (IBGE 20005)

Por outro lado ainda natildeo eacute possiacutevel reaproveitar todas as em-balagens produzidas e descartadas Pois um dos maiores proble-mas enfrentados eacute a falta da coleta seletiva porque ainda satildeo poucas as cidades brasileiras que adotaram esse tipo de coleta de lixo Ainda assim a Associaccedilatildeo Brasileira de Embalagens afirma que o mercado para produtos reciclados de PET vem crescendo de forma significativa aleacutem de ser um setor muito importante dentro da induacutestria nacional (MOURA et al 2015)

No Brasil o PET assim como os demais materiais reciclaacuteveis quando usado poacutes-consumo eacute obtido principalmente atraveacutes da coleta informal feita por catadores e sucateiros que por cir-cunstacircncias socioeconocircmicas e carecircncia de poliacuteticas adequadas sustentam-se coletando a mateacuteria-prima da reciclagem no lixo das ruas ou nos ldquolixotildeesrdquo

Ateacute haacute pouco tempo esse trabalho natildeo era reconhecido pela sociedade A reciclagem era vinculada ao aumento do desempre-go e do crescimento do trabalho informal segundo Vezza e Cotait (2006) Poreacutem de acordo com os autores com a organizaccedilatildeo dessa atividade a situaccedilatildeo comeccedilou a se reverter aos poucos Os traba-lhadores que outrora eram anocircnimos passaram a ser parceiros estrateacutegicos dos programas de coleta seletiva e organizaram-se em associaccedilotildees Aleacutem disso foi nesse panorama que surgiram as

Paacutegina 4 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

cooperativas que por sua vez promovem a profissionalizaccedilatildeo do trabalho contribuem para a melhoria da qualidade do trabalho dos catadores ofertando os equipamentos de seguranccedila dando treinamentos sobre a coleta e facilitando a intermediaccedilatildeo entre os catadores e as induacutestrias de reciclagem

Nos anos 1990 no Brasil vaacuterias instituiccedilotildees foram criadas pelas induacutestrias com o objetivo do desenvolvimento da reciclagem Des-tacam-se dentre elas (1) ABIPET oacutergatildeo ligado agrave cadeia produtiva do PET que se responsabiliza por questotildees teacutecnicas e operacionais para o mercado divulga informaccedilotildees e capacita parceiros (2) CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) que eacute responsaacutevel pelo incremento da atividade de reciclagem de todos os materiais e (3) PLASTIVIDA (Instituto Socioambiental dos Plaacutesticos) criado pela Associaccedilatildeo Brasileira da Induacutestria Quiacutemica (ABIQUIM)

O material resultante da reciclagem do PET eacute um polieacutester termoplaacutestico Eacute resistente leve e transparente A evoluccedilatildeo do mercado e os avanccedilos tecnoloacutegicos possibilitaram novas aplica-ccedilotildees desse material desde cordas e fios de costura aos carpetes de bandejas de ovos e frutas a ateacute mesmo novas garrafas Com a reciclagem evita-se o lixo plaacutestico dos aterros Aleacutem disso uti-liza-se apenas 03 da energia total que eacute utilizada para produzir a resina virgem Ainda pode ser reciclada muitas vezes sem per-der a qualidade (CEMPRE 20176) A reciclagem de garrafa PET ultrapassa os campos da preservaccedilatildeo ambiental e movimenta tambeacutem a economia do paiacutes (PENSAMENTO VERDE 20137)

41 Processo de reciclagem do PETO processo de reciclagem do PET ocorre em trecircs etapas baacutesicas a recuperaccedilatildeo a revalorizaccedilatildeo e a transformaccedilatildeo Primeiramente se recupera do descarte posterior depois se faz o acondicionamento em fardos seguindo para a comercializaccedilatildeo quando ocorre a revalorizaccedilatildeo Para completar o processo inicial acontece a trans-formaccedilatildeo da mateacuteria prima oriunda das garrafas PET poacutes-consumo em um novo produto

Na etapa da revalorizaccedilatildeo acontece a moagem e lava-gem do PET produzindo a mateacuteria-prima reciclada Inicia-se colocando os fardos das garrafas na plataforma para serem desfeitos Em seguida as garrafas satildeo colocadas na esteira de alimentaccedilatildeo da peneira rotativa e eacute realizada a sua primeira etapa de lavagem Eacute o momento em que ocorre a retirada os maiores contaminantes como pedras tampas soltas etc Se-guindo o processo as garrafas passam para a esteira de seleccedilatildeo Nela satildeo monitorados a presenccedila de outros materiais como por exemplo PVC PP PE eou metais que podem ser acusados pelo detector (ABIPET 2012)

Na etapa seguinte as garrafas caem na esteira de alimenta-ccedilatildeo do primeiro moinho onde sofrem a primeira moagem feita com adiccedilatildeo de aacutegua O material moiacutedo eacute retirado atraveacutes de uma rosca duplo envelope e a aacutegua suja eacute separada do processo Em seguida passa pelos tanques de descontaminaccedilatildeo onde ocorre a separaccedilatildeo dos roacutetulos e tampas Nessa fase poderaacute ser feita a adiccedilatildeo de produtos quiacutemicos para beneficiamento do processo e entatildeo o material eacute levado para outro moinho ateacute obter a gra-nulometria adequada (ABIPET 2012)

Na sequecircncia do processo o material eacute transportado pneumati-camente ateacute o lavador onde com nova adiccedilatildeo de aacutegua eacute realizado o enxaacutegue e levado para o secador O material eacute retirado do secador atraveacutes do transportador pneumaacutetico e encaminhando para o silo Novamente eacute realizada a verificaccedilatildeo atraveacutes do detector de metais natildeo ferrosos de onde o material eacute retirado e embalado em big-bags (sacolas de aproximadamente 1m3) e enviado para a induacutestria de transformaccedilatildeo (ABIPET 2012) Esse material eacute formado de pequenos flocos do PET tambeacutem conhecidos com flakes (VEZZA COTAIT 2006)

Figura 1 ndash Esquema de funcionamento baacutesico de uma unidade de moagem lavagem e descontaminaccedilatildeo de PET

Fonte httpwmareciclepetblogspotcombr 8

Para que possa ser viabilizada a obtenccedilatildeo do material com maior facilidade eacute necessaacuterio realizar consulta sobre os oacutergatildeos governa-mentais da regiatildeo ligados agrave atividade de reciclagem Obtecircm-se informaccedilotildees sobre o sistema de coleta a possibilidade da compra do material verificar a origem da coleta seletiva dos catadores o desenvolvimento de parcerias com cooperativas ONGs empresas privadas associaccedilotildees comunitaacuterias aleacutem de realizar buscas de for-necedores do material em outras regiotildees (VEZZA COTAIT 2006)

5 PET na induacutestria tecircxtil Na induacutestria tecircxtil a fibra de PET reciclada estaacute sendo usada desde a deacutecada 1970 e sua pioneira foi a empresa americana Wellman localizada na Carolina do Sul (EUA) que reciclava e produzia fibras de polieacutester Como se tratava de fibras grossas inicialmente foram

Paacutegina 5 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

utilizadas para o enchimento de brinquedos e estofados simples ou na confecccedilatildeo de natildeo tecidos (TNT) pois esses produtos natildeo exi-giam muita resistecircncia fiacutesica e de volume (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Com o avanccedilo tecnoloacutegico a transformaccedilatildeo das garrafas PET em fibras foi aprimorada resultando em produtos de maior qualidade Poreacutem demorou um tempo razoaacutevel para que o polieacutester reciclado chegasse ao patamar de qualidade do polieacutester produzido da mateacute-ria-prima virgem Uma das dificuldades era a variedade de tipos do material reciclado aleacutem da diferenccedila na composiccedilatildeo entre o polieacutester utilizado para uso tecircxtil e o das embalagens (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Por outro lado as fibras de polieacutester resultante da reciclagem do PET podem trazer outros problemas para a estabilidade do pro-duto final porque (1) satildeo produzidas por diferentes fabricantes e apresentando pequenas alteraccedilotildees de especificaccedilotildees na mateacuteria--prima ou aditivaccedilotildees diferentes (2) o PET fabricado em datas muito diferentes pode apresentar alteraccedilatildeo de desempenho dos aditivos pela diferenccedila de tempo (3) haacute viscosidades distintas decorrentes da exigecircncia da maacutequina ou embalagem (4) o PET eacute fabricado por equipamentos diferentes na produccedilatildeo das embalagens com grau de estiramento diverso e (5) haacute possibilidade da mistura do PET com outros tipos de materiais como os que compotildeem o roacutetulo eou a tampa geralmente produzidos em outros tipos de plaacutesticos Portanto a fibra de polieacutester reciclado 100 PET de boa qualidade eacute uma grande inovaccedilatildeo (GONCcedilALVES-DIAS 2006)

Em 2005 a ABIPET teve a iniciativa de recomendar aos designers atraveacutes de um documento intitulado ldquoDiretrizes para projeto de garra-fas de PETrdquo Com intuito de conscientizar o setor de embalagens sobre o tema esses profissionais tiveram acesso agraves caracteriacutesticas teacutecnicas das embalagens e de seus acessoacuterios Basicamente o objetivo da associa-ccedilatildeo era evitar o comprometimento da qualidade do polieacutester reciclado devido ao uso de materiais inadequados e de difiacutecil separaccedilatildeo O do-cumento foi amplamente divulgado pelas miacutedias especializadas em seminaacuterios e em visitas agraves empresas de embalagens (ABIPET 2006)

51 Destinaccedilatildeo da fibra Pet na induacutestria brasileiraSegundo ABIPET (2014) ainda continuam as dificuldades relativas agrave coleta seletiva poreacutem por outro lado haacute demanda por parte da induacutestria da utilizaccedilatildeo do PET reciclado e isso faz com que o desenvolvimento da atividade seja crescente O mercado tecircxtil continua sendo o principal destino de todo PET reciclado no Brasil esse setor consome aproximadamente 40 de todo o material produzido Em segundo lugar vecircm os setores de embalagens e o de aplicaccedilotildees quiacutemicas empatados com 18 do uso ldquoA induacutestria tecircxtil continua sendo a grande aposta Mas chama atenccedilatildeo o fan-taacutestico crescimento da utilizaccedilatildeo do PET reciclado na fabricaccedilatildeo de outras embalagens Chamada de bottle-to-bottle esta aplicaccedilatildeo teve vaacuterios projetos lanccedilados nos uacuteltimos anosrdquo (ABIPET 2014)

No setor tecircxtil o uso da fibra do PET reciclado teve iniacutecio no segmento corporativo especialmente na produccedilatildeo de uniformes para as empresas Com o avanccedilo tecnoloacutegico e a melhoria na qualidade e no toque da fibra as grandes marcas aderiram ao uso de tecidos que possuem na sua composiccedilatildeo a fibra reciclada PET Marcas conhecidas no mercado como Osklen Brooksfield Mizuno e Hering adotaram esse tipo de fibra pois perceberam o valor das propriedades do fio de polieacutester reciclado do PET Aleacutem disso estatildeo atentos ao nicho de mercado dos consumidores dispostos a adquirir produtos ecologicamente corretos (ABIPET 2014)

O fio de polieacutester reciclado quando associado ao algodatildeo atribui estabilidade dimensional ao tecido e dessa forma evita o encolhimento ou entorte aleacutem de melhorar a solidez na cor a resistecircncia e a durabilidade Esse tipo de fibra tambeacutem pode di-minuir a gramatura do tecido uma vez que fica mais fino e menos encorpado O resultado eacute um tecido com um toque mais suave indicado na produccedilatildeo da moda iacutentima Com base nisso a marca DrsquoUomo uma das maiores fabricantes de cuecas do Brasil lanccedilou uma coleccedilatildeo com uso tecidos com a fibra de PET (ABIPET 2014)

Outro mercado crescente eacute a induacutestria de calccedilados com a produccedilatildeo de diversos tipos de calccedilados com os tecidos reciclados do PET atraveacutes do lanccedilamento de coleccedilotildees sustentaacuteveis do setor A Figura 2 apresenta os percentuais de aplicaccedilatildeo das fibras PET na induacutestria brasileira

Figura 02 ndash Representaccedilatildeo da utilizaccedilatildeo da fibra PET

Fonte Aacutegua e Vida ndash Revista oficial do setor de aacuteguas minerais9

Apesar da evoluccedilatildeo e crescimento da induacutestria no que tange ao aproveitamento do PET ainda continuam existindo grandes quantidades de garrafas descartadas na natureza poluindo centros urbanos aacutereas rurais florestas e boiando nos rios oceanos e praias Todo esse material poderia ser aproveitado pois existe carecircncia do PET para a reciclagem Em 2014 a taxa de ociosidade chegou a atingir 30 nas induacutestrias de reciclagem devido agrave carecircncia da coleta seletiva

Paacutegina 6 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

A necessidade de expandir a educaccedilatildeo ambiental eacute um dos temas mais importantes para promover a mudanccedila de haacutebitos da popula-ccedilatildeo e a mudanccedila de postura do poder puacuteblico (ABIPET 2014)

6 Consideraccedilotildees finaisO aproveitamento de produtos reciclaacuteveis em processos de produccedilatildeo identifica uma postura corporativa de responsabilidade ambiental o que faz parte das estrateacutegias aplicadas por empresas competitivas Conscientizando-se dos limites que o meio ambiente pode tolerar e com a sociedade cada vez mais atenta sabe-se que para continuar com o crescimento natildeo eacute mais admitida a degradaccedilatildeo Contudo eacute necessaacuterio continuar a fazer projetos para o futuro assim desenha-se o desenvolvimento sustentaacutevel Com tal percepccedilatildeo a induacutestria tecircxtil vem investindo fortemente na reciclagem dos resiacuteduos soacutelidos que somam grande volume dentro das empresas Aleacutem disso o uso da fibra PET reciclada das embalagens do poacutes-consumo estaacute tendo um crescimento consideraacutevel por meio da composiccedilatildeo mista dos tecidos bem como na fabricaccedilatildeo de tecidos com a fibra de polieacutester totalmente reciclada

Para completar essa visatildeo estrateacutegica as grandes marcas de produ-tos tecircxteis estatildeo aderindo ao design inovador ligando a sua imagem de marca agrave responsabilidade ambiental e agrave sustentabilidade Para conhecer melhor esse processo de mudanccedilas que estatildeo ocorrendo na induacutestria tecircxtil e verificar os resultados na sociedade consumidora eacute necessaacuterio o aprofundamento dos estudos nessa linha

N o t a s

1 ndash PNUMA - Programa para o Meio Ambiente estabelecido em 1972 Eacute a agecircncia da ONU responsaacutevel pela accedilatildeo internacional e nacional para a proteccedilatildeo do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentaacutevel Disponiacutevel em httpsgooglY7iyuv Acesso em 16 ago 2017

2 ndash Sustainble Development Knowledge Platform Disponiacutevel em httpsgooglVdPRbi Acesso em 16 ago 2017

3 ndash Disponiacutevel em httpwdoorg Acesso em 15 jul 2017

4 ndash Disponiacutevel em httpsgoogloKbRt6 Acesso em 30 jul 2017

5 ndash Disponiacutevel em httpsgooglZQq3cH Acesso em 28 jun2014

6 ndash Disponiacutevel em httpsgooglLPiZrq Acesso em 23 jul 2017

7 ndash Disponiacutevel em httpsgoogl6cf8r5 Acesso em 23 jul 2017

8 ndash Disponiacutevel em httpsgooglnmoiP6 Acesso em 28 jun 2014

9 ndash Disponiacutevel em httpwwwrevistaaguaevidacombrp=610 Acesso em 15 jun 2016

R e f e r ecirc n c i a s

ABIPET (Associaccedilatildeo Brasileira da Industria do PET) Reciclagem benefiacutecios

da reciclagem de pet Disponiacutevel em lthttpwwwabipetorgbrindex

htmlgt Acesso em 22 jun 2014

ANICET R Anne BESSA Pedro BROEGA Ana Cristina Reciclagem de re-

siacuteduos da induacutestria da moda atraveacutes de colagem XXXIII Encontro da

ANPAD ndash Satildeo PauloSP ndash 19 a 23 de setembro de 2009 Disponiacutevel em

lthttpsgooglnwFtRkgt Acesso em 08 jun2014

CASSALLI J D Tratamento do efluente de uma recicladora de plaacutesticos uti-

lizando coagulante natildeo metaacutelico e compostagem Santa Maria UFRGS

2011 146 p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpsgooglKeiQTMgt

Acesso em 10 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS SLF TEOLOacuteSIO ASS Reciclagem do PET desafios e

possibilidades XXVI ENEGEP - Fortaleza CE Brasil 9 a 11 de Out 2006

Disponiacutevel em lthttpsgooglpoyjKtgt Acesso em 23 jul 2017

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF Haacute vida apoacutes a morte um (re)pensar estra-

teacutegico para o fim da vida das embalagens - GESTAtildeO amp PRODUCcedilAtildeOv13

ndeg3p463-474 set-dez2006 Disponiacutevel em ltwwwscielobrpdfgp

v13n308pdfgt Acesso em 22 jun 2014

GONCcedilALVES-DIAS Sylmara LF GUIMARAtildeES Leandro F SANTOS Maria

CLdos As muitas vidas do pet integrando competecircncias ldquoverdesrdquo na

cadeia produtiva- SIMPOI POMS2007 ndash Proceedigns Disponiacutevel em

lthttpsgoogl7cfrXYgt Acesso em 08 jun 2014

KANAMARU Antocircnio T FARIAS ANA C IAMAMURA Patricia Materioteca

ecoloacutegica brasileira no ensino de moda arte e design tecircxtil Disponiacutevel

em lthttpsgooglS13mN1gt Acesso em 08 jun 2014

MANZINI Ezio VEZZOLI Carlo O desenvolvimento de produtos sustentaacuteveis

Os requisitos ambientais de produtos industriaisSatildeo Paulo EDUSP 2005

MAU Bruce Massive change London Phaidon 2004

MOHR Martina et al A relevacircncia do conceito de design orientado ao am-

biente em induacutestrias gauacutechas In 7ordm Congresso Brasileiro de Pesquisa

e Desenvolvimento em Design Paranaacute 2006

MORENO F N Tratamento de efluentes de uma induacutestria de reciclagem

de embalagens plaacutesticas de oacuteleos lubrificantes processo bioloacutegico e

fiacutesico-quiacutemico Dissertaccedilatildeo (Mestrado) - Universidade Estadual de

Campinas Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e Urbanismo

Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo de Engenharia Civil Campinas ndash SP

2007 142p 22 Disponiacutevel em repositoacuterio lthttpsgooglS3Bbxwgt

Acesso em 20 jul 2017

Paacutegina 7 de 8

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Paacutegina 8 de 8

MOURA Renan Gomes LOPES Paloma de Lavor SILVA Leandro Vidal

da BALDEZ Priscila Pereira Logiacutestica reversa das garrafas pet sua re-

ciclagem e a reduccedilatildeo do impacto ambiental- XI Congresso Nacional

De Excelecircncia Em Gestatildeo 13 e 14 de agosto de 2015 Disponiacutevel em

lthttpsgooglzAKdpygt

MROZINSKI Helena Algodatildeo reciclado e variaccedilotildees implicaccedilotildees para o

design de moda sustentaacutevel Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa

de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Design do Centro Universitaacuterio Ritter dos Reis-

Mestre em Design Porto Alegre 2016

PAPANEK Victor Design for the real world human ecology and social change

Londres Thames amp Hudson 1984

REBELLO Luiza H B Design sustentaacutevel e moda material didaacutetico impresso

para a disciplina Design Sustentaacutevel e Moda curso de Poacutes-gradua-

ccedilatildeo em Design de Moda (Especializaccedilatildeo) Rio de Janeiro Faculdade

SENAICETIQT 2008

SACHS Ignacy Desenvolvimento sustentaacutevel desafio do seacuteculo XXI In

Ambient soc JulDez 2004 vol7 no2 ISSN 1414-753X

SILVA Jde A Estudo de caso caracterizaccedilatildeo do efluente de uma empresa

de reciclagem de garrafas pet e ajuste nas etapas de tratamento para

adequaccedilatildeo aos paracircmetros legais de lanccedilamento Uberaba-MG I F E C T

Do Triacircngulo Mineiro 2015 82p Dissertaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttps

googlitPfYgt Acesso em 15 jun 2017

VEZZOLI Carlo Design de sistemas para a sustentabilidade teoria meacuteto-

dos e ferramentas para o design sustentaacutevel de ldquosistemas de satisfaccedilatildeordquo

Salvador EDUFBA 2010 343p

VEZZAacute Carlo Sartori Bonfim COTAIT Pedro Lde A Produccedilatildeo de fibras para

confecccedilatildeo de tecidos a partir da reciclagem de pet 2006 Disponiacutevel em

lthttpsgooglP7WkgBgt Acesso em10 jun 2017

VIEIRA ALEXANDRA S RABELLO Luiza HB A contribuiccedilatildeo do design

ldquoverderdquo um estudo de caso da empresa Woumlllner ndash Revista de Design

Inovaccedilatildeo e Gestatildeo Estrateacutegica REDIGE v 2 n 1 2011 Disponiacutevel em

ltwwwcetiqtsenaibrredigegt Acesso em 08 jun 2014

O ldquoentrelugarrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminaresThe ldquoin-betweenrdquo of genderfluid in fashion preliminary thoughts

Camila Carmona Dias e Cayan Santos Pietrobelli

Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS

V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017ISSN 2177-4986

Paacutegina 1 de 10

R e s u m o

O presente artigo se fundamenta nos estudos que afirmam o gecircnero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para necessidade da

quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes impostos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Dessa forma partiu-se da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar passou-se pela teoria da reapropriaccedilatildeo e resistecircncia de Certeau (1994) para finalmente levantar uma hipoacutetese de que a resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998)

A b s t r a c t

This paper is based on studies that claim gender not as a determined biological factor but as a social construction Thus it indicates the need for breaking the gender binary pattern considering individuals who do not identify with the current genders imposed by the theory of biological sex that is they are genderfluid Therefore this research aims to analyze theoretically the relationship between genderfluid and fashion Hence it starts from the Foucauldian concept of disciplinary power going through Certeaursquos theory of reappropriation and resistance (1994) and finally raising the hypothesis that resistance based on cultural reappropriation may be connected to Bhabharsquos concept of in-between (1998)

Informaccedilatildeoes do artigoRecebido em 03082017Aprovado em 26092017

Palavras-chaveModa Gecircnero fluido Entrelugar Resistecircncia

KeywordsFashion Genderefluid In-Between Resistance

Autores Bacharel em Moda Mestra em Educa-ccedilatildeo Doutoranda em Histoacuteria Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail camiladiaserechimifrsedubr

Graduaccedilatildeo em Design de Moda Poacutes-graduaccedilatildeo em Semioacutetica Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecno-logia do Rio Grande do Sule-mail cayanpietrobellilivecom

Como citar este artigoDIAS C C PIETRBELLI C S O ldquoentrelu-garrdquo do gecircnero fluido na moda reflexotildees preliminares Competecircncia Porto Alegre v 10 n 2 dez 2017

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

1 IntroduccedilatildeoOs estudos trilhados nas relaccedilotildees entre moda e gecircnero natildeo satildeo novos Vaacuterios autores jaacute experimentaram dialogar sobre o assunto Atualmente essa temaacutetica estaacute sendo muito discutida seja na miacutedia ou na academia Assim o texto visa a trazer algumas con-tribuiccedilotildees sobre o tema aleacutem de instigar um debate inicial sobre a fluidez de gecircnero na moda

No decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com esse conceito existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos Na cultura patriarcal vigente haacute uma subdivisatildeo limitada entre masculinofeminino e homemmulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possi-bilidade de natildeo binariedade ou fluidez A moda eacute um dos fatores principais para a identificaccedilatildeo e afirmaccedilatildeo do indiviacuteduo com seu gecircnero tendo em vista que por meio dela eacute dada a devida signifi-cacircncia ao corpo vestido alegando seu papel dentro de um grupo

Este trabalho se fundamenta nos estudos que afirmam o gecirc-nero natildeo como fator bioloacutegico determinado e sim como uma construccedilatildeo social Dessa forma aponta para a necessidade da quebra do padratildeo binaacuterio de gecircnero levando em consideraccedilatildeo indiviacuteduos que natildeo se identificam com os gecircneros vigentes im-postos pela teoria do sexo bioloacutegico ou seja que possuem um gecircnero fluido Diante disso a presente pesquisa tem por objetivo estudar o gecircnero fluido na moda ou melhor o entrelugar em que ele se encontra Para isso faz uso principalmente das teorias de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998)

Parafraseando o professor Meneses (2003 p11) a intenccedilatildeo da reflexatildeo do trabalho eacute tentar construir um ldquobalanccedilo provisoacuteriordquo e sugerir ldquopropostas cautelaresrdquo sobre tal tema Ou seja a reflexatildeo desenvolvida visa a possibilitar uma discussatildeo preliminar sobre as inuacutemeras interfaces que permeiam a temaacutetica aqui estudada

Assim para alcanccedilar seu objetivo teoacuterico o artigo eacute dividido em duas partes A primeira traz a moda como expressatildeo pessoal elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo aleacutem de um sistema de praacutetica cultural e de representaccedilatildeo Jaacute na segunda parte esboccedila-se a relaccedilatildeo entre moda e gecircnero e desenvolvem-se as concepccedilotildees de (i) gecircnero como construccedilatildeo cultural (ii) moda e gecircnero a relaccedilatildeo com o poder discipli-nador e com a insubmissatildeo do sujeito e finalmente (iii) o entrelugar como local de conflito negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees

2 Moda como ExpressatildeoNas uacuteltimas deacutecadas a importacircncia cultural do ldquofenocircmeno modardquo vem crescendo fruto de pesquisas em diversas aacutereas como Histoacuteria Socio-logia Antropologia Semioacutetica Psicologia entre outras Por meio desses estudos vaacuterios conceitos sobre essa temaacutetica foram elaborados

Souza (1996) relata que a maior dificuldade ao tratar de um assunto complexo como a moda eacute a escolha do ponto de vista Apesar de essa ser uma imposiccedilatildeo necessaacuteria de meacutetodo a visatildeo deste trabalho eacute de que se empobrece um fenocircmeno de tatildeo difiacutecil explicaccedilatildeo reduzindo tamanha complexidade a apenas uma visatildeo Dessa forma infere-se que um aspecto ex-tremamente relevante para a construccedilatildeo teoacuterica dos conceitos sobre moda eacute o seu caraacuteter ambiacuteguo

A moda eacute um todo harmonioso e mais ou menos indissoluacutevel Serve agrave

estrutura social acentuando a divisatildeo em classe reconcilia o conflito

entre o impulso individualizador de cada um de noacutes (necessidade de

afirmaccedilatildeo como pessoa) e o socializador (necessidade de afirmaccedilatildeo

como membro do grupo) exprime ideias e sentimentos pois eacute uma

linguagem que se traduz em termos artiacutesticos (SOUZA 1996 p29)

Destarte a moda envolve simultaneamente alteraccedilotildees de natureza artiacutestica econocircmica poliacutetica socioloacutegica aleacutem de atingir questotildees de expressatildeo de identidades sociais (GODART 2010) Logo pode-se dizer que a moda natildeo eacute apenas um reflexo da socie-dade mas sim um agente ativo na sua construccedilatildeo o que permite afirmar que a moda eacute um fato social total

Sobre as transformaccedilotildees abrangidas pela moda Freitas (2005) relata as incessantes modificaccedilotildees das preferecircncias dos mem-bros de uma sociedade natildeo se limitando apenas agrave indumentaacuteria Nas palavras do autor ldquona histoacuteria da humanidade o corpo foi recoberto de maneiras simultaneamente singulares e tribais de acordo com o tempo e o espaccedilo significando quase sempre os sentimentos da eacutepocardquo (FREITAS 2005 p126)

Segundo Svendsen (2010) a moda aplicada ao vestuaacuterio teve sua origem no fim do periacuteodo medieval O autor cita o iniacutecio do Renascimento e a expansatildeo mercantil como principais fatores para o surgimento de tal fenocircmeno de maneira que a origem da moda como sistema teve sua consolidaccedilatildeo com a ascensatildeo da burguesia

Nos seacuteculos XVII e XVIII a nobreza definia ndash de acordo com o coacutedigo social vigente ndash o que seria usado no vestuaacuterio criando assim tendecircncias de moda que seriam seguidamente copiadas pela alta burguesia (RECH 2002) Para Lipovetsky (2009) essa ex-pansatildeo da moda na sociedade natildeo atingiu de imediato todas as camadas segregando a princiacutepio as classes subalternas

A partir dessa nova organizaccedilatildeo social a moda foi legitima-da no seu real caraacuteter de mudanccedila Nessa perspectiva Freacutedeacuteric Godart (2010 p29) trabalha com a etimologia da palavra ldquomodardquo oriunda do latim modus ou seja o que designa maneiras de fazer Logo a moda estaacute diretamente relacionada com a possibilidade ou a necessidade de mudanccedilas

Paacutegina 2 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Em relaccedilatildeo agrave moda com a premissa de mudanccedilas Svendsen (2010 p22) justifica que ldquonatildeo podemos falar de moda na antiguida-de no sentido em que o fazemos hoje porque natildeo havia autonomia esteacutetica individual na escolha das roupasrdquo embora houvesse distin-ccedilotildees estabelecidas de acordo com as relaccedilotildees de poder Lipovetsky (2009) por sua vez afirma que para haver sistemas de moda a novidade e o gosto pelo novo satildeo princiacutepios constantes

Na concepccedilatildeo de Malcolm Barnard (2003 p149) ldquosoacute uma so-ciedade muito simples eacute que natildeo possui modardquo O autor infere que praticamente todas as sociedades tiveram possibilidades de possuir moda ou seja trata-se de ldquosociedades que usaram mu-danccedilas na indumentaacuteria para construir e comunicar identidades de classerdquo (BARNARD 2003 p150)

Durante longo periacuteodo a histoacuteria da moda foi regida pela hierarquia de classes baseada na distinccedilatildeo das vestimentas por meio de leis que proibiam membros da plebe de usarem roupas similares agraves dos nobres Entretanto Lipovetsky (2009) alega que no decorrer do tempo a moda adquiriu um caraacuteter individuali-zador mesmo com o prevalecimento de uma norma coletiva

Embora julgada como de caraacuteter tirano ldquoa moda estaacute fundada historicamente no valor e na reivindicaccedilatildeo da individualidaderdquo ou seja ela se legitima na singularidade Em seu niacutevel a moda marca uma brecha na supremacia imemorial e em paralelo marca tambeacutem o limite do processo de dominaccedilatildeo social e poliacutetica nas sociedades modernas (LIPOVETSKY 2009 p53)

Na mesma linha Pitombo (2010) afirma que a moda e a in-dumentaacuteria satildeo alguns dos possiacuteveis meios pelos quais a ordem social eacute posta em praacutetica Atraveacutes da indumentaacuteria e da moda podemos nos constituir e consequentemente nos afirmar como seres sociais Dessa maneira a moda foi tomando cada vez mais um caraacuteter individual e identitaacuterio

Svendsen (2010) teoriza que a moda trabalha num sistema de valores simboacutelicos Logo o olhar de um sujeito sobre uma determinada roupa resultaraacute numa conclusatildeo sobre quem a veste portanto infere-se que nesse contexto o siacutembolo (roupa) adquire representaccedilatildeo (a conclusatildeo do sujeito) Para o filoacutesofo as roupas da moda aleacutem de possuiacuterem grande valor simboacutelico agem como distintivos de papeacuteis sociais

Diante de tais pressupostos relatados na obra de Svendsen (2010) mesmo que diferentes tipos de roupas comuniquem um significado supostamente oacutebvio para um determinado grupo capaz de interpretar os coacutedigos representados natildeo se pode afir-mar que esses coacutedigos comunicaratildeo o mesmo significado para diferentes grupos sociais visto que cada grupo tem uma maneira de significar seus objetos

Essas preferecircncias simboacutelicas de um determinado grupo satildeo definidas por Pierre Bourdieu (1983 p83-84) como estilo de vida cuja anaacutelise eacute essencial no campo da moda Segundo o autor o gosto eacute cultivado pelo adestramento social

O estilo de vida eacute um conjunto unitaacuterio de preferecircncias distintivas que

exprimem na loacutegica especiacutefica de cada um dos subespaccedilos simboacutelicos

mobiacutelia vestimentas linguagem ou hexis corporal a mesma intenccedilatildeo

expressiva princiacutepio de unidade de estilo que se entrega diretamente

agrave intuiccedilatildeo e que a anaacutelise destroacutei ao recortaacute-lo em universos separados

Tal acepccedilatildeo permite compreender a moda como expressatildeo cultural como um conjunto de princiacutepios que geram e organizam praacuteticas e representaccedilotildees Como relata Pitombo (2010) a moda eacute um sistema de significaccedilatildeo da cultura Para reiterar sua explanaccedilatildeo a autora com o objetivo de pensar a moda como expressatildeo cultural apropria-se do conceito de habitus de Pierre Bourdieu Para o au-tor habitus eacute um ldquosistema de disposiccedilotildees socialmente constituiacutedas que enquanto estruturas estruturadas e estruturantes constituem o princiacutepio gerador e unificador do conjunto das praacuteticas e das ideologias caracteriacutesticas de um grupo de agentesrdquo (BOURDIEU 2007 p191) O habitus pode ser visto como uma siacutentese dos estilos de vida e dos gostos pelos quais apreciamos o mundo e nos com-portamos nele (BOURDIEU 2007) Pode-se dizer que tal conceito fundamenta-se na ldquomaterializaccedilatildeo da memoacuteria coletiva que repro-duz para os sucessores as aquisiccedilotildees dos precursores Ele permite ao grupo perseverar em seu serrdquo (PITOMBO 2010 p240) Eacute tambeacutem incorporaccedilatildeo da memoacuteria coletiva em seu sentido proacuteprio

Diante do entendimento da moda contemporacircnea como expressatildeo pessoal e elemento simboacutelico de autoafirmaccedilatildeo assim como da real significaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria como sistema de praacutetica cultural e representaccedilatildeo pode-se estabelecer relaccedilotildees paralelas entre a moda e o gecircnero consideradas o foco principal do presente estudo Visto que a moda vigente frente ao contexto sociocultural eacute produzida para os sexos ndash masculino e feminino faz-se necessaacuteria portanto a compreensatildeo da possiacutevel relaccedilatildeo entre moda e gecircnero

3 Moda e Gecircnero algumas conexotildees possiacuteveisA moda eacute um fenocircmeno que conteacutem possibilidades de diferencia-ccedilatildeo ou unidade assumindo caraacuteter distintivo quando relacionada a papeacuteis sociais e de representaccedilatildeo quando apresentada como siacutembolo Assim pode-se afirmar que ela eacute um elemento crucial na representaccedilatildeo social e afirmaccedilatildeo do gecircnero

Jaacute o gecircnero eacute uma instituiccedilatildeo simboacutelica erroneamente associado a normas bioloacutegicas Levando em conta a premissa do gecircnero como construccedilatildeo social e natildeo como um atributo

Paacutegina 3 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

fisioloacutegico alguns objetos satildeo necessaacuterios para sua significaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo no meio social incluindo o vestuaacuterio

Diante desse contexto este estudo buscaraacute estabelecer rela-ccedilotildees e dialogar com as teorias existentes da influecircncia da moda sobre o gecircnero sendo a moda ndash tanto no sentido de mudanccedilas quanto no de sistemas ndash o elemento de representaccedilatildeo dos gecircne-ros em questatildeo Assim inicialmente o texto abordaraacute o conceito de gecircnero e logo em seguida estabeleceraacute a devida relaccedilatildeo da moda e indumentaacuteria com o gecircnero

4 Gecircnero uma construccedilatildeo culturalNo decorrer da histoacuteria o gecircnero vem sendo associado ao sexo bioloacutegico Assim de acordo com as teorias sobre o sexo bioloacutegico de cada indiviacuteduo existem normas e padrotildees comportamentais a serem seguidos por cada um Na cultura patriarcal vigente existe uma subdivisatildeo limitada entre o homem e a mulher visto que cada um possui regras para seu modo de comportamento social caracteriacutestico excluindo entatildeo a possibilidade de natildeo binariedade ou fluidez

As teorias do patriarcado levantam breve questionamento sobre as diferenccedilas entre homens e mulheres de vaacuterios modos no entan-to essas mesmas teorias desconsideram as diferenccedilas de gecircnero e sua relaccedilatildeo com as demais desigualdades As definiccedilotildees de gecircnero de acordo com a teoria patriarcal satildeo estabelecidas com base nas diferenccedilas fiacutesicas gerando problemaacuteticas a historiadores(as) ten-do em vista que desconsideram toda a construccedilatildeo sociocultural tirando toda a historicidade do gecircnero em si (SCOTT 1989)

Para desmistificar o conceito de gecircnero como algo bioloacutegico eacute ne-cessaacuterio antes de tudo elucidar alguns termos usados erroneamente ou de maneira confusa tendo em vista que o estudo dos gecircneros eacute algo a que nem todos tecircm acesso Dessa forma a seguir encontra-se uma breve explicaccedilatildeo sobre as diferenccedilas entre identidade de gecircnero expressotildees de gecircnero sexo bioloacutegico e orientaccedilatildeo sexual

Eacute na identidade de gecircnero que se encontra a ldquoessecircnciardquo do ser humano o que eacute ou com o que se identifica de fato (homem mulher ou gecircnero natildeo binaacuterio) Joan Scott (1989) sugere que o gecircnero parece integrar-se na terminologia cientiacutefica das ci-ecircncias sociais deixando assim de ser um campo das ciecircncias bioloacutegicas Segundo as nomenclaturas usadas nos estudos de gecircnero quem natildeo se identifica com o sexo bioloacutegico com o qual nasceu eacute considerado transgecircnero os demais cisgecircneros Dessa forma a identidade de gecircnero estaacute relacionada agrave auto-percepccedilatildeo e agrave expressatildeo social

Scott (1989) afirma que as ideias construiacutedas de masculini-dade e feminilidade natildeo satildeo fixas tendo em vista suas variaccedilotildees

de acordo com o contexto em que estatildeo inseridas Logo haveraacute um conflito entre a necessidade do sujeito de uma aparecircncia de completude e a imprecisatildeo da nomenclatura a relatividade da sua significaccedilatildeo e sua dependecircncia em relaccedilatildeo agrave repressatildeo ldquoEssas interpretaccedilotildees tornam problemaacuteticas as categorias lsquoho-memrsquo e lsquomulherrsquo sugerindo que a construccedilatildeo do masculino e do feminino eacute algo subjetivo e natildeo uma caracteriacutestica inseparaacutevelrdquo (SCOTT 1989 p16)

Conforme Judith Butler (2003 p25) ldquoo gecircnero natildeo deve ser meramente concebido como a inscriccedilatildeo cultural de significado num sexo previamente dado (uma concepccedilatildeo juriacutedica) tem de designar tambeacutem o aparato mesmo de produccedilatildeo mediante o qual os proacuteprios sexos satildeo estabelecidosrdquo

Souza e Carrieri (2010 p49) em seu artigo ldquoA analiacutetica Queer e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnerordquo enfatizam ldquonatildeo apenas que masculino e feminino satildeo construiacutedos por rela-ccedilotildees de poder historicamente fundamentadas mas tambeacutem que essas categorias natildeo satildeo naturais e nem existem a priorirdquo Ainda reiteram que a naturalizaccedilatildeo do modelo binaacuterio e identitaacuterio eacute uma estrateacutegia que permite a manutenccedilatildeo de velhas praacuteticas de controle e poder

Outro conceito eacute o de atraccedilatildeo ou orientaccedilatildeo sexual e embo-ra haja uma vasta gama de definiccedilotildees literaacuterias sobre o tema o termo se refere mais comumente agraves relaccedilotildees sexuais e afetivas dos indiviacuteduos ldquoHeterossexuais bissexuais ou homossexuais satildeo titulaccedilotildees usadas para definiccedilatildeo das diversas sexualidades es-tando possivelmente determinados por aspectos interpessoais intrapsiacutequicos e sociaisrdquo (CARDOSO 2008 p73)

Segundo Foucault (1988 p100) o conceito de sexualidade conhecido historicamente surgiu como meacutetodo de avaliaccedilatildeoseparaccedilatildeo da ldquonormalidaderdquo e da ldquoanormalidaderdquo tendo em vista que na visatildeo do filoacutesofo a sexualidade representa um ldquodispositivo histoacutericordquo ou seja natildeo uma realidade natural mas sim produtos de estimulaccedilotildees dos corpos e dos prazeres a fomentaccedilatildeo aos discursos e a construccedilatildeo do conhecimento encadeados como estrateacutegias de saber e poder

Jaacute o conceito de expressatildeo de gecircnero refere-se a como cada um age diante dos papeacuteis sociais e regras de comportamento impos-tas sendo entatildeo socialmente chamadas de femininas masculinas ou androacuteginas (no caso dos termos natildeo pejorativos) De acordo com Peres (2011) os corpos ainda atuam afirmando posiccedilotildees de identidades estabelecidas pelos sexos (machofecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculinofeminino) responsaacuteveis pela normatizaccedilatildeo de expressotildees de gecircneros

Paacutegina 4 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Sobre os corpos ainda se incidem outras dimensotildees de padrotildees esteacuteti-

cos de maneirismos e de posiccedilotildees de corpos (posiccedilotildees de identidades)

que satildeo estabelecidas pelas diferenccedilas entre os sexos (homemmacho

ndash mulherfecircmea) e pelas expressotildees dos gecircneros (masculino ndash femini-

no) responsaacuteveis pela cristalizaccedilatildeo de algumas identidades sexuais e

expressatildeo de gecircneros que satildeo produzidas pelos modos de subjetivaccedilatildeo

normatizador que se colocam como modelos de perfeiccedilatildeo sauacutede e

verdade absoluta se achando no direito de se sentirem superiores

diante das expressotildees diferentes da heteronorma (PERES 2011 p71)

Por fim temos o sexo bioloacutegico que eacute algo totalmente ge-neacutetico hormonal e se refere aos oacutergatildeos genitais como se o ser humano fosse qualquer outro animal sendo entatildeo fecircmea macho ou intersex ndash chamado anteriormente de hermafrodita e considerado por muito tempo como uma anomalia geneacutetica Conforme Swain (2011) o sexo eacute uma parte do corpo na qual a importacircncia e a representaccedilatildeo se definem pelo seu papel histoacuteri-co-cultural Complementa a autora reafirmando o sexo bioloacutegico como fator natildeo definitivo em relaccedilatildeo ao gecircnero e ligando-o a questotildees de verdade e poder que investidos de sentidos fa-zem do sexo nada mais do que uma parte do corpo humano que adquire significado atraveacutes de sua historicidade Logo sua representaccedilatildeo substitui a realidade bioloacutegica

De acordo com Simili (2012 p123) ldquodiferenccedilas bioloacutegicas entre indiviacuteduos sempre foram contextualizadas como insiacutegnias socioculturais para a significaccedilatildeo de papeacuteis sociais construiacutedos para serem desempenhados por uns ou outrosrdquo Destarte po-de-se definir gecircnero como uma imposiccedilatildeo social e cultural uma construccedilatildeo simboacutelica

Para Guacira Lopes Louro (2013 p11) ldquonatildeo haacute naturalidade nesse terreno de estudo de gecircnerordquo tratado inicialmente pelos processos de percepccedilatildeo do corpo ou da natureza Atraveacutes da vivecircncia dos processos socioculturais define-se o que eacute ou o que natildeo eacute natural ressignificando o contexto bioloacutegico inserindo sen-tido social nos corpos e compondo identidades A significaccedilatildeo dos gecircneros nos corpos (feminino e masculino) eacute afirmada com base no contexto de uma determinada cultura carregando portanto suas marcas (LOURO 2013 p11)

Por meio das questotildees teoacutericas trabalhadas anteriormente e ancorando-se em uma construccedilatildeo sociocultural do gecircnero este trabalho visa agrave desconstruccedilatildeo dos conceitos de gecircnero como fator bioloacutegico ou obrigaccedilatildeo agrave binariedade arraigados na sociedade ocidental Assim esta pesquisa fomenta as dis-cussotildees de gecircnero de suas diversas formas buscando a re-presentaccedilatildeo do corpo como objeto que adquire significacircncia de acordo com questotildees socioculturais transparecidos mais facilmente pelo ldquofenocircmeno modardquo

5 Moda e gecircnero poder disciplinador e insubmissatildeo do sujeitoO corpo humano eacute considerado objeto da moda logo o sistema de moda se torna elemento de representaccedilatildeo tornando possiacutevel a afirmaccedilatildeo e a significacircncia do gecircnero no contexto social Apro-priando-se dos conceitos de representaccedilatildeo de Chartier (1991) que afirma a negatividade da existecircncia de praacutetica ou estrutura que natildeo seja produzida pelas representaccedilotildees pode-se afirmar que as praacuteticas de se vestir satildeo atos de apropriaccedilatildeo e de circulaccedilatildeo das representaccedilotildees de moda e eacute atraveacutes da representaccedilatildeo que o indiviacuteduo legitima a sua existecircncia afirmando sua identidade

Crane (2006 p47) considera que ldquoas roupas da moda satildeo usa-das para fazer uma declaraccedilatildeo de suas identidades sociais mas suas mensagens principais referem-se as [sic] maneiras pelas quais mulheres e homens consideram seus papeacuteis de gecircnero ou a como se esperam [sic] que percebamrdquo

Narrando influecircncias da moda e do vestuaacuterio e sua relaccedilatildeo com o gecircnero Gilles Lipovetsky traccedila uma linha do tempo em seus es-tudos e afirma que o modo de vestir comeccedilou a ter grande desse-melhanccedila para homens e mulheres somente a partir do seacuteculo XIV quando o traje feminino passou a ser longo e justo e o masculino curto e ajustado O autor destaca esse acontecimento como uma ldquorevoluccedilatildeo do vestuaacuterio que lanccedilou as bases do trajar modernordquo (LIPOVETSKY 2009 p29) Essa diferenciaccedilatildeo significativa no traje acentuou o formato dos corpos para que afirmassem seus atributos de masculinidade ou feminilidade O autor define essas mudanccedilas como uma consequecircncia do que chama de ldquoesteacutetica da seduccedilatildeordquo pois o vestuaacuterio passa a ter poder de ldquoexibir os encantos do corpo acentuando a diferenccedila dos sexosrdquo (LIPOVETSKY 2009 p75)

O vestuaacuterio masculino passou a aderir ao uso do gibatildeo uma espeacute-cie de jaqueta curta e estreita e calccedilotildees colantes torneando as pernas Sobre a genitaacutelia era usado o codpiece chamado em portuguecircs de ldquoporta-pecircnisrdquo que cobria e adornava o oacutergatildeo genital masculino afir-mando a significaccedilatildeo de masculinidade e evidenciando a virilidade Esse adereccedilo era ostentado como um instrumento de poder reiterando a teoria de Lipovetsky (2009) da moda como elemento de seduccedilatildeo escondendo ou evidenciando os atrativos sexuais e o erotismo

A evidenciaccedilatildeo do genital masculino como siacutembolo de poder pode vir a fazer sentido atraveacutes de escritos do socioacutelogo Pierre Bourdieu (1999 p24) quando afirma que as diferenccedilas visiacuteveis entre os oacutergatildeos genitais masculino e feminino satildeo uma construccedilatildeo social e que encontram sua regra nos ldquoprinciacutepios de divisatildeo da razatildeo androcecircntricardquo O autor ainda afirma que esses constructos baseados nas diferenccedilas genitais condensam duas operaccedilotildees ldquolegitima[m] uma relaccedilatildeo de dominaccedilatildeo inscrevendo-a em uma natureza bioloacutegica que eacute por sua vez ela proacutepria uma construccedilatildeo social naturalizadardquo (BOURDIEU 1999 p33)

Paacutegina 5 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Nessa explosatildeo de mudanccedilas e diferenciaccedilotildees de gecircnero a moda feminina surge com uma nova silhueta modelada em menccedilatildeo ao ventre ndash afirmando o signo de fertilidade da mulher Lipovetsky (2009) afirma que o busto passou a ser evidenciado pelo decote destacando os atributos femininos e o corpo foi alongado atraveacutes de uma cauda Um pouco mais tarde essa composiccedilatildeo re-ceberia o espartilho que imperou sobre a moda feminina durante quatro seacuteculos com a funccedilatildeo de afinar a cintura e erguer o colo

A respeito da indumentaacuteria feminina a socioacuteloga Diana Crane (2006) complementa mencionando o fato de as roupas das mu-lheres funcionarem como ferramentas de controle social na me-dida em que exemplificavam a concepccedilatildeo dominante e restritiva dos papeacuteis femininos evidenciando a submissatildeo das mulheres aos maridos Embora esse seja um aspecto prevalecente a autora frisa em seu estudo o seacuteculo XIX como periacuteodo em especial

Lipovetsky (2009) descreve o moralismo cristatildeo ocidental na era feudal e o modo como tratavam as frivolidades sendo um signo do pecado e do orgulho Entretanto no decorrer do seacuteculo XVIII a moda se tornou mais hedonista abandonando ordens religiosas e morais mais rigorosas de comportamento A moda se tornou assim uma exigecircncia de massa em uma sociedade que passava a priorizar os prazeres as mudanccedilas e o novo

ldquoFoi ao longo da segunda metade do seacuteculo XIX que a moda no sentido do termo instalou-serdquo (LIPOVETSKY 2009 p79) com a busca constante pelas mudanccedilas e o abandono das frivolida-des como signo de pecado ndash determinado pelo cristianismo Os reflexos do antropocentrismo consolidaram a moda trazendo um caraacuteter hedonista e individual Nesse periacuteodo inicia-se a segunda1 fase do fenocircmeno moda a Moda dos Cem Anos

A Moda dos Cem Anos estaacute ligada ao nascimento da alta-cos-tura em 1850 e tem na Europa a sua consagraccedilatildeo com criaccedilotildees de luxo e sob medida Essa fase tem seu fim em 1950 pois na deacute-cada seguinte surge a Moda Aberta que Lipovetsky (2009 p123) chama de ldquorevoluccedilatildeo democraacutetica do precirct-agrave-porterrdquo uma moda que segundo o autor permite a expressatildeo da personalidade do indiviacuteduo sendo o iniacutecio de uma democratizaccedilatildeo da moda A di-versidade da Moda Aberta gera novas vertentes e tendecircncias para o mercado da moda saindo da premissa de uma moda vigente para o acontecimento de vaacuterias modas paralelamente

No entanto para Mendes e Haye (2003) o precirct-agrave-porter eacute um sistema totalmente padronizado pela induacutestria deslegitimando o caraacuteter democraacutetico ao qual se refere Lipovetsky Nessa mes-ma corrente de pensamento encontra-se a filoacutesofa Martha Nus-sbaum que se opotildee agrave ideia democraacutetica da moda e afirma que esse sistema cria ao inveacutes de pessoas autocircnomas escravos da moda (NUSSBAUM 1995 apud SVENDSEN 2010)

O caraacuteter democraacutetico da moda cunhado por Lipovetsky (2009) parece natildeo ser de todo democraacutetico quando se entra na questatildeo de gecircnero Mesmo com o advento do sportwear que de acordo com o autor uniu as diferenccedilas entre os gecircneros em um uacutenico traje a questatildeo da dicotomia de gecircnero estaacute presente por meio da moda segmentada A teoria apresentada afirma que embora mulheres passassem a fazer uso de signos de moda mas-culina as peccedilas natildeo surtiriam o mesmo efeito posto que o sistema adequaria a peccedila para desenhar a silhueta feminina juntando isso a cores leves e alegres aderindo assim signo de feminilidade Diante da pauta do uso das cores para legitimaccedilatildeo do gecircnero cabe o cunho de Xavier Filha (2012 p635)

A afirmaccedilatildeo de que a menina tem de usar rosa e o menino azul ex-

trapola a questatildeo ligada ao gosto pessoal por cores Essa questatildeo eacute

eminentemente social pois se aprende desde muito cedo e no de-

correr da vida que essas cores identificam os meninos e as meninas

Essas cores produzem marcas identitaacuterias natildeo permitindo pensar em

outras formas de se fazer homem e de se fazer mulher Ao contraacuterio

demarcam a uacutenica forma legiacutetima de ser masculino e de ser feminino

Quando se trata de moda masculina eacute frisada a construccedilatildeo da imagem do homem associada agrave virilidade ldquoAdotar um siacutembolo de vestuaacuterio feminino seria transgredir no parecer o que faz a identida-de viril modernardquo (LIPOVETSKY 2009 p155) Dessa forma pode-se inferir que a moda da modernidade rompeu algumas diferenccedilas de classes mas a distinccedilatildeo entre o vestuaacuterio masculino e feminino ainda se encontra arraigada no fator cultural baseado na binariedade

Percebe-se que essa diferenccedila (binariedade) de trajes em re-laccedilatildeo ao gecircnero pode ser considerada como um instrumento de contenccedilatildeo do sujeito Michel Foucault por meio de uma seacuterie de estudos produziu uma espeacutecie de ldquogenealogia do sujeito mo-dernordquo O filoacutesofo e historiador francecircs destaca um novo tipo de poder o poder disciplinar Esse poder estaacute preocupado com a vigilacircncia e a regulaccedilatildeo em primeiro lugar de populaccedilotildees inteiras e em segundo com o indiviacuteduo e o corpo Desse modo Foucault trabalha com os sistemas de poder e de contenccedilotildees sociais oci-dentais referindo-se a penitenciaacuterias quarteacuteis hospitais escolas a famiacutelia e assim por diante como os elementos contensores na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Ou seja satildeo mecanismos de subjetivaccedilatildeo do indiviacuteduo Soacute por esses processos ele se torna sujeito O objetivo baacutesico do poder reside em construir um ser humano doacutecil ldquoEacute doacutecil um corpo que pode ser submetido que pode ser utilizado que pode ser transformado e aperfeiccediloadordquo (FOUCAULT 2004 p126)

Esse poder coercitivo se aplica agrave sociedade de diferentes modos de formas muacuteltiplas atraveacutes ldquode origens diferentes de localizaccedilotildees esparsas que se recordam se repelem ou se imitam

Paacutegina 6 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

apoiam-se uns sobre os outros distinguem-se segundo seu cam-po de aplicaccedilatildeo entram em convergecircncia e esboccedilam aos poucos a fachada de um meacutetodo geralrdquo (FOUCAULT 2004 p127)

Dessa forma a disciplina age de diferentes maneiras como por exemplo nos pequenos detalhes do dia a dia como o simples caminhar com determinada roupa Frente a isso a vestimenta tambeacutem pode ser vista como objeto de contensatildeo do indiviacuteduo natildeo para o proacuteprio mas sim diante do receptor2 diante do olhar doutrinado e reprodutor de doutrinaccedilatildeo da sociedade ou seja atraveacutes do ldquoolhar esmiuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo (FOUCAULT 2004 p121) Essa afirmativa ganha forccedila principalmente quando se leva em consideraccedilatildeo a afirmativa de Foucault ao narrar que atraveacutes do olhar se estabelecem efeitos de poder

No que tange agrave modelagem dos corpos a teacutecnica da disci-plina visa agrave criaccedilatildeo de ldquonatildeo apenas corpos padronizados mas tambeacutem [de] subjetividades controladasrdquo (MISKOLCI 2006 p682) Ou seja eacute possiacutevel afirmar que por meio do ldquoolhar es-miuccedilante das inspeccedilotildeesrdquo sobre a vestimenta haacute uma reiteraccedilatildeo da binariedade femininomasculino e a exclusatildeo de possibili-dades de fluidez de gecircnero

O traje vem reafirmando historicamente os siacutembolos de mas-culinidade ou feminilidade perante os olhares receptores logo a roupa atua como um contensor ou mesmo um elemento opressor visto que a vestimenta da moda eacute voltada para a representaccedilatildeo de signos binaacuterios

Entretanto se eacute verdade que por toda parte se estende esse ldquopoder disciplinarrdquo abordado por Foucault ldquomais urgente ainda eacute descobrir como eacute que uma sociedade inteira natildeo se reduz a elardquo (CERTEAU 1994 p41) Trazendo essa ideia para o nosso objeto de estudo natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Acredita-se que existem procedimentos po-pulares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Michel de Certeau (1994) assevera que o sujeito natildeo eacute pas-sivo diante dos acontecimentos mas sim um produtor ativo de conhecimento que sintetiza e trabalha com as informaccedilotildees que recebe produzindo algo novo Dessa forma o sujeito produtor ativo sintetiza as informaccedilotildees recebidas no seu proacuteprio meio Certeau ao dialogar com teorias foucaultianas3 referentes a formas de contensatildeo fala sobre a insubmissatildeo do sujeito ndash natildeo passivo ndash diante da ordem vigente e conclui que um ato de renovaccedilatildeo ou inovaccedilatildeo pode ser considerado rebeldia ou seja um ato de resistecircncia

Assim Certeau (1994) traz o conceito do sujeito insubmisso o sujeito que sintetiza que foge da ordem que aproveita a ausecircncia do olhar pan-oacuteptico para lhe impingir golpes isto eacute que se utiliza de taacuteticas e estrateacutegias para resistir e reapropriar alguns conceitos da ordem disciplinadora

Retomando essa teoria em aplicaccedilatildeo agrave moda e ao gecircnero pode-se supor que a resistecircncia e a reapropriaccedilatildeo do sujeito insub-misso poderiam se encontrar na designaccedilatildeo do gecircnero fluido Os sujeitos que o incorporam utilizam taacuteticas4 para a modificaccedilatildeo das sentenccedilas da cultura binaacuteria patriarcal dos gecircneros subvertendo as imposiccedilotildees sociais vigentes do feminino e masculino

Antes de dar continuidade agraves reflexotildees faz-se necessaacuterio um breve esclarecimento acerca da escolha da expressatildeo ldquogecircnero flui-dordquo o que seraacute feito a seguir precedendo algumas consideraccedilotildees sobre o conceito de ldquoentrelugarrdquo de Bhabha (1998)

6 A escolha do gecircnero fluido um pequeno parecircntese na reflexatildeoAntes de continuar as reflexotildees eacute importante abrir um parecircntese para delimitar que esta pesquisa escolheu a utilizaccedilatildeo da locuccedilatildeo ldquogecircnero fluidordquo porque tal conceito expressa uma espontaneidade uma natildeo binariedade (masculinofeminino) uma facilidade de expressatildeo do sujeito em relaccedilatildeo ao gecircnero ou seja a facilidade de fluir entre dois ou mais gecircneros Ainda eacute de fundamental importacircncia deixar claro que o presente artigo natildeo considera ldquogecircnero fluidordquo sinocircnimo de ldquogecircnero neutrordquo5 pois este uacuteltimo ldquonatildeo eacute apenas inanimado de dis-curso mas atua no limite de aceitaccedilatildeo ndash sujeitando toda e qualquer outra forma de manifestaccedilatildeo menos normativardquo (KELLER 2016 p131)

Para Chartier (2002) natildeo existe neutralidade nos discursos de representaccedilatildeo inclusive nas representaccedilotildees sobre construccedilotildees de identidades de gecircnero Barthes (2002) classifica ldquoneutrordquo como uma categoria geral e interdisciplinar originalmente induzida do gecircnero gramatical neutro ndash nem feminino nem masculino Ele demonstra a relaccedilatildeo significativa entre a postura neutra em contradiccedilatildeo agrave nomeaccedilatildeo dos sexos Dessa forma acredita-se que a neutralidade leva o discurso a cair em uma vala de silecircncio recusando ser parte de um conflito

Posto isso considera-se que a escolha do gecircnero fluido foi apro-priada para o desenvolvimento do trabalho pois conforme se veraacute a seguir tal gecircnero se encontra no entrelugar entre a moda feminina e a moda masculina um espaccedilo extremamente conflituoso

7 O entrelugar local de conflito negociaccedilotildees e reapropriaccedilotildeesPara construir a reflexatildeo sobre o entrelugar do gecircnero fluido na moda seratildeo utilizadas as concepccedilotildees de Homi K Bhabha (1998) expressas em seu livro O local da cultura

Paacutegina 7 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Bhabha eacute um homem marcado por uma dupla inscriccedilatildeo cultural indiana e britacircnica podendo ser caracterizado ao mesmo tempo como plural e hiacutebrido Em suas reflexotildees sobre o discurso colonial ele propotildee uma loacutegica para aleacutem do binarismo (ou india-no ou britacircnico) e para aleacutem da oposiccedilatildeo sujeitoobjeto Dessa forma o autor amalgamando sua vida e obra constroacutei suas refle-xotildees a partir da constituiccedilatildeo de sujeitos culturais hiacutebridos Aleacutem disso para Bhabha (1998) falar sobre cultura significa construir uma reflexatildeo que supere a oposiccedilatildeo sujeitocultura

Marcado por muacuteltiplas interpretaccedilotildees o conceito de entrelu-gar construiacutedo pelo autor torna-se particularmente fecundo para reconfigurar os limites difusos de uma multiplicidade de vertentes culturais que circulam na contemporaneidade e ultrapassam fron-teiras como eacute o caso da binariedade entre masculino e feminino representados pela imagem de moda A moda sempre esteve impregnada de representaccedilotildees de gecircnero impondo qual o corpo ideal e a melhor forma de se vestir para cada sexo Entretanto uma vez que esse corpo aparece cada vez mais fluido observa-se uma nova representaccedilatildeo que natildeo se encaixa na definiccedilatildeo binaacuteria de identidade de gecircnero

Destarte na contemporaneidade o gecircnero fluido vem ga-nhando destaque nas inspiraccedilotildees de coleccedilotildees de moda bem como nos tipos de beleza que vecircm se destacando no cenaacuterio da moda mundial e torna-se cada vez mais comum pois rompe com padrotildees preestabelecidos e homogecircneos Desse modo supotildee-se que o gecircnero fluido esse sujeito insubmisso conforme apropria-ccedilatildeo da teoria de Certeau (1994) estaacute no entrelugar na fronteira entre o binarismo da moda feminina e da moda masculina um lugar extremamente conflituoso

Para forccedilar a loacutegica binaacuteria a se inscrever em um outro espaccedilo de significaccedilatildeo que natildeo o entrelugar em que estaacute inserido o gecircne-ro fluido Bhabha (1998) apresenta a categoria de negociaccedilatildeo Tal conceito vem ocupar o lugar da negaccedilatildeo da dialeacutetica hegeliana ou seja os elementos antagocircnicos ou contraditoacuterios se articulam natildeo existindo mais uma superaccedilatildeo como propotildee tal dialeacutetica ldquoAssim cada negociaccedilatildeo eacute um processo de traduccedilatildeo e transferecircncia de sentido ndash cada objetivo eacute construiacutedo sobre o traccedilo daquela pers-pectiva que ele rasurardquo (BHABHA 1998 p53) Essa negociaccedilatildeo de instacircncias contraditoacuterias cria espaccedilos de luta hiacutebridos nos quais polaridades positivas ou negativas ainda que relativas natildeo se jus-tificam A categoria do hibridismo vem agrave tona pois

[] o momento hiacutebrido tem um valor transformacional de mudanccedila

que reside na rearticulaccedilatildeo ou traduccedilatildeo de elementos que natildeo satildeo

nem o Um (a classe trabalhadora como unidade) nem o Outro (as po-

liacuteticas de gecircnero) mas algo mais que contesta os termos e territoacuterios

de ambos (BHABHA 1998 p55)

Dessa forma natildeo eacute possiacutevel pensar em sentidos fixos primor-diais que reflitam objetos poliacuteticos unitaacuterios e homogecircneos E eacute justamente o que o gecircnero fluido na moda representa Ele estaacute no entrelugar dos conflitos do hibridismo do heterogecircneo da negociaccedilatildeo com o binarismo de gecircnero (femininomasculino) Esse entrelugar ocupado pelo gecircnero fluido na moda eacute um local intersticial ldquoO interstiacutecio vem como uma passagem um movimen-to presente de transformaccedilatildeo ou transposiccedilatildeo onde uma coisa natildeo eacute mais ela mesma mas natildeo totalmente outrardquo (LOSSO 2010)

Assim o entrelugar do gecircnero fluido na moda eacute sim um lugar de conflitos de negociaccedilotildees reapropriaccedilotildees e subversotildees um espa-ccedilo de identidades de gecircnero fluidas que derivam de construccedilotildees sociais e se apresentam como muacuteltiplas Logo seria possiacutevel supor que no entrelugar existem a negociaccedilatildeo ndash conceito moldado por Bhabha (1998) ndash e a resistecircncia no sentido de reapropriaccedilatildeo ndash relatada por Certeau (1994) ndash em que o sujeito produtor ativo de conhecimento se reapropria dos fragmentos da binariedade de gecircnero e os sintetiza ou seja o sujeito eacute um bricoleur (CERTEAU 1994) Ou ainda a subversatildeo conceito construiacutedo por Butler (2003) segundo o qual o sujeito pode subverter a binariedade de gecircnero por suas praacuteticas corporais

8 Consideraccedilotildees FinaisAo longo da histoacuteria a moda sempre ditou padrotildees esteacuteticos e de beleza baseados no padratildeo binaacuterio de gecircnero (feminino e mascu-lino) Entretanto na contemporaneidade essa concepccedilatildeo fechada de gecircnero vem sendo discutida Partindo do princiacutepio de que o gecircnero natildeo eacute bioloacutegico mas sim cultural vaacuterias pesquisas tentam derrubar a concepccedilatildeo desse binarismo Seguindo essa linha vaacuterias marcas de moda comeccedilaram a trabalhar com a ideia de fluidez de gecircnero como por exemplo Cemfreio Trendt Pangea RAW Clothing entre outras

O objetivo do artigo natildeo foi analisar a maior ou menor fluidez que essas marcas conseguiram atingir ateacute porque tais marcas nem foram citadas Nosso objetivo foi analisar teoricamente a relaccedilatildeo do gecircnero fluido com a moda Para isso o artigo se apro-priou de conceitos de Foucault (2004) Certeau (1994) e Bhabha (1998) Dessa forma partiu da concepccedilatildeo foucaultiana do poder disciplinar ou seja do princiacutepio de que a roupa eacute um elemento contensor na formaccedilatildeo ou regularizaccedilatildeo do indiviacuteduo Entretanto e de acordo com as concepccedilotildees teoacutericas de Certeau (1994) natildeo se pode generalizar que todos os sujeitos satildeo contidos pelo seu vestuaacuterio Como jaacute foi citado acredita-se que existam procedi-mentos populares que interagem com os mecanismos do poder disciplinar e natildeo se conformam com ele a natildeo ser para alteraacute-lo Ou seja os sujeitos ldquose reapropriam do espaccedilo organizado pelas teacutecnicas da produccedilatildeo soacutecio-culturalrdquo (CERTEAU 1994 p41)

Paacutegina 8 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Dessa forma existe a reapropriaccedilatildeo do sujeito sobre o poder disciplinador nesse caso da binariedade de gecircnero na moda e essa resistecircncia baseada na reapropriaccedilatildeo cultural pode estar conectada com o conceito de entrelugar de Bhabha (1998) Um espaccedilo entre as fronteiras da moda masculina e feminina um in-terstiacutecio extremamente conflituoso mas ao mesmo tempo hiacutebrido e heterogecircneo um lugar de possibilidades e subversotildees

Portanto o sujeito do ldquoentrelugarrdquo eacute um novo elemento cultu-ral que surge do embate da tradiccedilatildeo com a contemporaneidade capaz de resistir negociar e se reapropriar de significados com a finalidade de viver dignamente com suas diferenccedilas

N o t a s

1 ndash Lipovetsky (2009) divide a moda em trecircs fases a primeira tem seu iniacutecio no final da Idade Meacutedia considerado um periacuteodo mais linear a segunda em meados do seacuteculo XIX sendo chamada pelo autor de Moda dos Cem Anos jaacute a terceira fase principia em 1960 e eacute denominada Moda Aberta

2 ndash A denominaccedilatildeo ldquoreceptorrdquo eacute datada de 1620 e foi utilizada para indicar no processo de comunicaccedilatildeo aquele que recebia e decodificava a mensagem (MOURA 2008 p39)

3 ndash Foucault (1988 p91) em Histoacuteria da sexualidade I relata que ldquo[] onde haacute poder haacute resistecircncia e no entanto (ou melhor por isso mesmo) esta nunca se encontra em posiccedilatildeo de exterioridade em relaccedilatildeo ao poderrdquo

4 ndash Evidencia-se que Certeau (1994) constroacutei sua teoria baseado no modelo polemoloacutegico assim refere-se a taacuteticas como ferramentas de ataque accedilotildees no sentido militar ou um golpe propriamente dito Diz respeito agrave astuacutecia agrave arte de dar golpes dos sujeitos no campo minado do inimigo

5 ndash O discurso neutro funciona como uma escolha de natildeo estar adequado a uma ou outra categoria Aplicada ao gecircnero a neutralidade eacute a quebra da binariedade homem e mulher em favor de uma outra opccedilatildeo ndash nem uma nem outra (KELLER 2016 p127)

R e f e r ecirc n c i a s

BARNARD Malcolm Moda e comunicaccedilatildeo Rio de Janeiro Rocco 2003

BARTHES Roland Le Neutre cours au Collegravege de France (1977-1978) Paris

Seuil 2002

BHABHA Homi K O local da cultura Belo Horizonte Ed UFMG 1998

BOURDIEU Pierre Gostos de classe e estilos de vida In ORTIZ Renato

(Org) Pierre Bourdieu sociologia Satildeo Paulo Aacutetica 1983 p82-121

______ A dominaccedilatildeo masculina Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1999

______ O poder simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2007

BUTLER Judith Problemas de gecircnero feminismo e subversatildeo da identi-

dade Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 2003

CARDOSO Fernando Luiz O conceito de orientaccedilatildeo sexual na encruzi-

lhada entre sexo gecircnero e motricidade Interamerican Jornal of Psy-

chology Porto Alegre v42 n1 p69-79 abr 2008

CERTEAU Michel de A invenccedilatildeo do cotidiano artes de fazer Petroacutepolis

RJ Vozes 1994

CHARTIER Roger A histoacuteria cultural Algeacutes (Portugal) Difel 2002

_____ O mundo como representaccedilatildeo Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v5

n11 p173-191 janabr 1991

CRANE Diana A moda e seu papel social classe gecircnero e identidade das

roupas Traduccedilatildeo de Cristiane Coimbra Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo

Paulo 2006

FREITAS Ricardo Ferreira Comunicaccedilatildeo consumo e moda entre os ro-

teiros das aparecircncias Comunicaccedilatildeo Miacutedia e Consumo Satildeo Paulo

v3 n4 p125-136 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwrevistas

univercienciaorgindexphpcomunicacaomidiaeconsumosearch

titlesse archPage=2gt Acesso em 10 jan 2017

FOUCAULT Michel Histoacuteria da sexualidade I a vontade de saber Traduccedilatildeo

de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J A Guilhon Albuquerque

Rio de Janeiro Ediccedilatildeo Graal 1988

_____ Vigiar e punir nascimento da prisatildeo Petroacutepolis RJ Vozes 2004

GODART Freacutedeacuteric Sociologia da moda Satildeo Paulo Ed SENAC Satildeo Paulo

2010

KELLER Daniel Gevehr Masculinidade hiato cultura gecircnero e moda

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Processos e Manifestaccedilotildees Culturais) ndash

FEEVALE Novo Hamburgo RS 2006

KILLERMAN Samuel The social justice advocatersquos handbook a guide to

gender Austin TX Impetus Books 2013

LIPOVETSKY Gilles O impeacuterio do efecircmero a moda e seu destino nas socie-

dades modernas Satildeo Paulo Companhia das Letras 2009

LOSSO Rhiago O sujeito do entre-lugar na literatura portuguesa um

diaacutelogo entre Bhabha e Lobo Antunes In Coloacutequio em Poacutes-Gra-

duaccedilatildeo em Letras ndash UNESP 2 2010 Satildeo Paulo Caderno de resumos

Paacutegina 9 de 10

ndash Revista da Educaccedilatildeo Superior do Senac-RS ndash ISSN 2177-4986 ndash V10 ndash N 2 ndash Dezembro de 2017

Satildeo Paulo 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwassisunespbrHome

SitesInternosColoquiodeLetrascadernoderesumospdfgt Acesso em

05 jan 2017

LOURO Guacira Lopes O corpo educado pedagogias da sexualidade Belo

Horizonte Autecircntica 2013

MENDES Valerie HAYE Amy de La A moda do seacuteculo XX Satildeo Paulo Martins

Fontes 2003

MENESES Ulpiano T Bezerra de Fontes visuais cultura visual histoacuteria

visual Balanccedilo provisoacuterio propostas cautelares Revista Brasileira de

Histoacuteria Satildeo Paulo v23 n45 p11-36 2003

MISKOLCI Richard Corpos eleacutetricos do assujeitamento agrave esteacutetica da exis-

tecircncia Revista de Estudos Feministas v3 n3 p681-693 2006

MOURA Mocircnica A moda entre a arte e o design In PIRES Doroteia Baduy

Design de moda olhares diversos Barueri Estaccedilatildeo da Letras e Cores

2008 p37-73

PERES Wilian Siqueira Travestis corpos nocircmades sexualidades muacuteltiplas

e direitos poliacuteticos In SOUZA Luiz Antocircnio Francisco de SABATINE

Thiago Teixeira MAGALHAtildeES Boris Ribeiro de (Org) Michel Foucault

sexualidade corpo e direito Mariacutelia Oficina Universitaacuteria Satildeo Paulo

Cultura Acadecircmica 2011 p69-104

PITOMBO Renata Cidreira A moda como expressatildeo cultural e pessoal

Iara ndash Revista de Moda Cultura e Arte Satildeo Paulo v3 n3 p226-244

dez 2010 Disponiacutevel em lthttpwww1spsenacbrhotsitesblogs

revistaiarawp-contentuploads201501IARA_vol3_n3_Comple-

ta_2010pdfpage=230gt Acesso em 20 jan 2016

RECH Sandra Moda por um fio de qualidade Florianoacutepolis Ed da Udesc 2002

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo

de Christine Rufino Dabat e Maria Betacircnia Aacutevila Disponiacutevel em ltht-

tpsdisciplinasstoauspbrpluginfilephp185058mod_resource

content2GC3AAnero-Joan20Scottpdfgt Acesso 15 jan 2016

SIMILI Ivana Guilherme Poliacuteticas de gecircnero na segunda guerra mundial

as roupas e a moda feminina Acervo Rio de Janeiro v25 n2 p121-

142 juldez 2012

SOUZA Eloisio Moulin de CARRIERI alexandre de Paacutedua A analiacutetica Queer

e seu rompimento com a concepccedilatildeo binaacuteria de gecircnero Revista de

Administraccedilatildeo Mackenzie Satildeo Paulo v11 n3 p46-70 maiojun 2010

SOUZA Gilda de Mello e O espiacuterito das roupas a moda no seacuteculo dezenove

Satildeo Paulo Companhia das Letras 1996

SVENDSEN Lars Moda uma filosofia Rio de Janeiro Zahar 2010

SWAIN Tania Navarro Para aleacutem do sexo por uma esteacutetica da liberaccedilatildeo

In ALBUQUERQUE JUacuteNIOR Durval Munis de VEIGANETO Alfredo

SOUZA FILHO Aliacutepio de Cartografias de Foucault 2ed Belo Horizonte

Autecircntica 2011 p394

XAVIER FILHA Constantina A menina e o menino que brincavam de ser

representaccedilotildees de gecircnero e sexualidade em pesquisa com crianccedilas

Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v17 n51 p627-747 setdez 2012

Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrpdfrbeduv17n5108pdfgt

Acesso dia jul 2016

Paacutegina 10 de 10

  • Artigo 2pdf
    • OLE_LINK1
    • OLE_LINK2
    • OLE_LINK4
    • OLE_LINK3
      • Artigo 3pdf
        • Resumo
        • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Resultados e Anaacutelise
          • 21 A problemaacutetica socioambiental as implicaccedilotildees da ciecircncia e da tecnologia na reproduccedilatildeo das desig
          • 22 Sobre as tecnologias educativas e a participaccedilatildeo da sociedade na gestatildeo ambiental
            • 3 Consideraccedilotildees
            • Notas
            • Referecircncias
              • Artigo 7pdf
                • _GoBack
                  • Artigo 8pdf
                    • _GoBack
Page 6: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 7: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 8: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 9: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 10: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 11: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 12: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 13: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 14: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 15: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 16: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 17: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 18: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 19: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 20: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 21: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 22: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 23: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 24: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 25: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 26: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 27: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 28: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 29: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 30: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 31: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 32: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 33: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 34: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 35: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 36: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 37: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 38: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 39: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 40: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 41: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 42: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 43: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 44: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 45: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 46: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 47: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 48: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 49: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 50: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 51: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 52: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 53: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 54: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 55: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 56: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 57: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 58: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 59: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 60: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 61: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 62: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 63: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 64: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 65: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 66: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 67: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 68: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 69: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 70: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 71: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 72: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 73: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 74: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 75: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 76: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 77: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 78: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem
Page 79: Revista da Educação Superior do Senac-RS · Superior do Senac-RS V.10 – N. 2 – Dezembro de 2017 – ISSN 2177-4986 versão eletrônica Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem