Revista Incluir 15 Negócios & Economia

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39 38 revista incluir negócios e economia negócios e economia Por: Hevlyn Celso Imagens: Divulgação O s filhos se casam, a aposentadoria chega, e de repente a casa fica grande demais. O que fazer? Há pessoas que desenvolvem a chama- da síndrome do ninho vazio, angústia emocional que atinge principalmente as mulheres que se dedicaram muito à família, mas também pode atingir os homens. Segundo a médica Vanessa Morais, diretora da VR MedCare, empresa especializada em cuidados domi- ciliares de pessoas idosas, este sentimento engloba desde o período da saída dos filhos de casa, divórcio até a morte de um dos cônjuges. A lista de sintomas é ampla, como tristeza excessiva, sentimentos de inuti- lidade, baixa autoestima e dores físicas em casos mais graves, quando a síndrome torna-se um gatilho para a depressão, ocasionando também perda de peso, alte- ração do sono e irritabilidade, entre outros. A síndrome também pode afastar os casais. Nes- ses casos, a médica recomenda a busca por atividades conjuntas. “Esse período deve ser encarado como o momento de retomada de tudo aquilo que foi deixado para trás. Estimulamos os casais a praticarem dança, exercícios físicos, viagens, voluntariado, ações fora da rotina e que dão prazer para os dois.” Procurar um local que ofereça segurança e seja mais fácil para cuidar é uma boa opção, principalmen- te quando a pessoa não tem mais tanto vigor físico. A mudança de ambiente também pode favorecer a cura e o crescimento emocional. “Vender a casa em que se vi- veu a vida inteira é uma demonstração de boa adapta- ção às mudanças. Hoje, a expectativa de vida no Brasil é de aproximadamente 75 anos. Uma pessoa com 60 anos tem, em média, mais 15 anos de vida, há muito para viver, dá para trocar de casa, começar de novo, sem medo de que isso seja algo ruim”, diz Vanessa. DE CASA NOVA COM O AUMENTO DAS VENDAS DE IMÓVEIS PARA IDOSOS, CONSTRUTORAS VOLTAM SEU OLHAR ÀS NECESSIDADES DESTE PÚBLICO QUE CRESCE A CADA DIA Fachada do edifício Bossa Nova Planta geral do condomínio Bossa Nova Cuidados Antes de comprar, o idoso deve verificar se o em- preendimento possui itens de segurança que facilita- rão sua vida, como rampas, piso antiderrapante e sem brilho, barras de apoio nos banheiros, portas mais lar- gas e tomadas mais altas. De acordo com a arquiteta Renata Mello, da Bio Arq Soluções em Arquitetura, pisos brilhantes podem dar a sensação de molhado, tornando o deslocamento inseguro. O local precisa ter boa iluminação, com ambientes de transição entre o escuro e o claro extremo, para evitar ofuscamentos. Acabamentos foscos evitam confusão mental e o uso correto das cores pode tanto dar a sensação de calor, quanto ajudar uma pessoa com Alzheimer a encontrar o andar de seu prédio. Janelas com peitoril mais baixo

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Por: Hevlyn CelsoImagens: Divulgação

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Os filhos se casam, a aposentadoria chega, e de repente a casa fica grande demais. O que fazer? Há pessoas que desenvolvem a chama-

da síndrome do ninho vazio, angústia emocional que atinge principalmente as mulheres que se dedicaram muito à família, mas também pode atingir os homens. Segundo a médica Vanessa Morais, diretora da VR MedCare, empresa especializada em cuidados domi-ciliares de pessoas idosas, este sentimento engloba desde o período da saída dos filhos de casa, divórcio até a morte de um dos cônjuges. A lista de sintomas é ampla, como tristeza excessiva, sentimentos de inuti-lidade, baixa autoestima e dores físicas em casos mais graves, quando a síndrome torna-se um gatilho para a depressão, ocasionando também perda de peso, alte-ração do sono e irritabilidade, entre outros.

A síndrome também pode afastar os casais. Nes-ses casos, a médica recomenda a busca por atividades conjuntas. “Esse período deve ser encarado como o

momento de retomada de tudo aquilo que foi deixado para trás. Estimulamos os casais a praticarem dança, exercícios físicos, viagens, voluntariado, ações fora da rotina e que dão prazer para os dois.”

Procurar um local que ofereça segurança e seja mais fácil para cuidar é uma boa opção, principalmen-te quando a pessoa não tem mais tanto vigor físico. A mudança de ambiente também pode favorecer a cura e o crescimento emocional. “Vender a casa em que se vi-veu a vida inteira é uma demonstração de boa adapta-ção às mudanças. Hoje, a expectativa de vida no Brasil é de aproximadamente 75 anos. Uma pessoa com 60 anos tem, em média, mais 15 anos de vida, há muito para viver, dá para trocar de casa, começar de novo, sem medo de que isso seja algo ruim”, diz Vanessa.

De casa

novaCom o aumento Das venDas De ImóveIs

Para IDosos, Construtoras voltam seu

olHar às neCessIDaDes Deste PúblICo

que CresCe a CaDa DIa

Fachada do edifício Bossa Nova

Planta geral do condomínio Bossa Nova

Cuidados Antes de comprar, o idoso deve verificar se o em-

preendimento possui itens de segurança que facilita-rão sua vida, como rampas, piso antiderrapante e sem brilho, barras de apoio nos banheiros, portas mais lar-gas e tomadas mais altas. De acordo com a arquiteta Renata Mello, da Bio Arq Soluções em Arquitetura, pisos brilhantes podem dar a sensação de molhado, tornando o deslocamento inseguro. O local precisa ter boa iluminação, com ambientes de transição entre o escuro e o claro extremo, para evitar ofuscamentos. Acabamentos foscos evitam confusão mental e o uso correto das cores pode tanto dar a sensação de calor, quanto ajudar uma pessoa com Alzheimer a encontrar o andar de seu prédio. Janelas com peitoril mais baixo

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podem ser a comunicação com o mundo externo para pessoas com grave comprometimento, contribuindo para mantê-la psicologicamente saudável. “Se a resi-dência possuir escadas e não der suporte para que a pessoa acesse os ambientes, ela começa a sentir-se li-mitada e retraída; soube de idosos que só ficam na sala ou no quarto de empregada, porque não têm acesso ao próprio quarto no segundo pavimento”, conta Renata.

A arquiteta afirma que o ideal são construções fei-tas “para a vida toda”, ou seja, com flexibilidade para se adaptar a todas as fases da vida. Nesse sentido, o Desenho Universal foi uma grande contribuição. “A acessibilidade é uma evolução. Antes era destinada para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, mas vimos que era para todos, não somente para um segmento da população.” Atualmente, a acessibilidade é garantida por lei nos espaços coletivos e públicos dos condomínios privados, mas ainda não é obrigatória nos apartamentos, portanto nem todas as construtoras têm esta preocupação. “São poucos os recursos neces-sários para tornar um espaço acessível; quem fizer ha-bitações sustentáveis terá um diferencial de mercado”, diz a profissional.

Condomínios acessíveisEstudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-

tística (IBGE) demonstram que a quantidade de pesso-as com 65 anos ou mais já supera 14 milhões no país; em 2050, o número de idosos ultrapassará o de jovens. De olho nesse mercado, construtoras como a Tecnisa e a J.Bianchi têm se adaptado e adotado medidas como a consciência gerontológica e a introdução do Desenho Universal em seus projetos. Renata Mello conta que as unidades do edifício Olímpia Lifetime Home, da J.Bianchi, em Suzano (SP), foram vendidas rapida-mente, e a venda dos apartamentos do segundo edifí-cio, Odeon Lifetime Home, foi feita em 15 dias, antes do pré-lançamento, somente por mídia espontânea. O sucesso levou a construtora a lançar outros empreen-dimentos, como o Lamara Lifetime Home, também em Suzano e o Lumière Lifetime Home, em Mogi das Cru-zes (SP), com entrega prevista para 2014.

Após verificar as vendas de um prédio voltado a jo-vens casais, no bairro da Pompeia, a equipe da Tecnisa percebeu que 15% das unidades haviam sido compradas por pessoas acima de 55 anos, com perfis variados, desde famílias que moravam com filhos e netos, divorciados ou viúvos, e por pessoas na faixa dos 40 anos, preocupadas com o envelhecimento. A descoberta fez a construtora contratar uma equipe multiprofissional que analisou as melhorias a serem feitas nos projetos futuros.

O laudo da equipe resultou em ideias para dois em-preendimentos de alto padrão, que estão sendo cons-truídos em Santos (SP). Um deles é o Acqua Play, com oito torres e 1.435 apartamentos em um terreno de aproximadamente 25.200 m². Os apartamentos, de 2 e 3 dormitórios, terão entre 62 m² a 84 m². O condomí-nio terá mais de 60 itens de lazer, incluindo um parque aquático. Já o condomínio Bossa Nova terá duas torres com 24 andares em estilo neoclássico, em um terreno de 5.448 m². Os apartamentos terão três dormitórios e 150 m² de área privativa.

Uma das preocupações do projeto Consciência Ge-rontológica foi a construção de áreas de lazer e con-vivência que permitissem a interação entre gerações. “Trouxemos o xadrez para a área externa, próximo ao playground; colocamos um salão de carteado anexo ao salão de jogos tradicional, fizemos um ambiente multi-disciplinar que tem fogão e mesas modulares, para que as pessoas troquem experiências”, explica a arquiteta e diretora de projetos da construtora, Patrícia Valadares.

Os prédios possuem diversos itens de acessibilida-de nas áreas externas, e o cliente tem ainda a opção de personalizar seu apartamento por meio da contrata-ção de uma equipe de arquitetos especializados. Nesse caso, é possível solicitar a colocação de tomadas mais altas, barras de segurança e banco basculante nos ba-nheiros, entre outros. Se o item estiver relacionado à gerontologia ou à acessibilidade, cobra-se o custo do material, mas não a administração. “É diferente de uma personalização que não tem o viés social”, diz Pa-trícia. Segundo ela, as modificações nas áreas sociais não implicaram em um grande custo por terem sido pensadas durante o projeto.

Segundo José Augusto Viana Neto, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRE-CISP), ainda não há estatísticas relacionadas às ven-das para idosos, mas o dado interessante é que até 2004, os bancos faziam o financiamento somando o prazo de quitação à idade do mutuário, que não po-deria ultrapassar 55 anos; hoje este número foi am-pliado para até 80 anos e 6 meses. Segundo a Caixa Econômica, o financiamento na faixa dos 56 aos 65 anos está em torno de 5,2%.

vr medCare:www.vrmedcare.com.br

renata mello: www.bioarq.com.br

tecnisa:www.tecnisa.com.br/gerontologia

J.bianchi: www.jbianchi.com.br

Entrada do condomínio Bossa Nova

No hall, maçaneta de alavanca com fechadura invertida e interruptores em plano mais alto

No banheiro, destaque para o espelho inclinado, para as barras de apoio e banco basculante