Revista jane austen portugal maio 2011

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1 Abadia de Northanger Maio 2011 | Nº 5 janeaustenpt.blogs.sapo.pt Conteúdo original © Jane Austen Portugal Revista Jane Austen Portugal

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Revista Jane Austen Porgual edição maio de 2011.

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Abadia de Northanger

Maio 2011 | Nº 5

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Revista Jane Austen Portugal

Conteúdo original © Jane Austen Portugal

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Sumário

1. Sugestões Austenianas 03 2. Quando Conheci Jane Austen 04 3. Jane Austen e Eu 06 4. Porquê “Northanger Abbey” como Título? 08 5. Lendo a Abadia de Northanger 09 6. As Minhas Impressões sobre Northanger Abbey 11 7. Em Defesa de Northanger Abbey 13 8. A Sátira de Northanger Abbey 15 9. Blaize Castle em Northanger Abbey 16 10. Northanger Abbey 1986 18 11. Northanger Abbey 2007 19 12. Adaptação de 2007 21 13. Expiação, Jane Austen e Northanger Abbey 23 14. Catherine Morland o Patinho Feio de Jane Austen 25 15. Henry Tilney 27 16. Eleanor Tilney: A Amiga Sincera 29 17. As Torpezas de Thorpe 31 18. James Morland e Isabella Thorpe 33 19. O General Sem Coração 36 20. A Grande Família Morland 38 21. Frederick Tilney 40 22. Mr. e Mrs. Allen 41 23. Pais e Filhos 43 24. Sabias Que… 44

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Livro Adoro livros… Vou sugerir o livro que estou a ler actualmente: Tieta do Agreste de Jorge Amado… Apaixonante… está a ser o meu primeiro contacto com Jorge Amado e estou apaixonada pela sua escrita. Entramos naquele mundo que ele descreve… Reconhecemos a linguagem própria que ele não “dissimula” em cada situação. Estou a adorar e já estou a chegar ao final. E não posso de sugerir a maior parte das obras de Julio Dinis: A Morgadinha dos Canaviais, As Pupilas do Sr. Reitor, Uma família Inglesa, Os fidalgos da Casa Mourisca, entre outros… Gosto da escrita que nos faz sentir cheiros, que nos faz bater o coração! E “As Horas”… Um livro apaixonante que nos faz sorrir no final: afinal estava tudo ligado…

Música Qualquer álbum do Rodrigo Leão… A musica de Rodrigo Leão é intensa, forte, tem emoção… A minha musica favorita “La Fête” do álbum Cinema, álbum através do qual descobri esta musica maravilhosa, é simplesmente divina…

Filme

“O Véu Pintado”… Um filme maravilhoso que descobri por acaso mas que se tornou um dos meus favoritos

de sempre… Têm de ver! Blogue FutLol… porque gosto de futebol, porque é engraçado e porque o meu primo participa…

[SUGESTÕES AUSTENIANAS] MARINA NUNES

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Desde bastante nova que tenho um enorme gosto pela leitura, com uma preferência especial por clássicos e romances históricos. Tenho igualmente por hábito basear as minhas escolhas em pesquisas de opiniões de outros leitores e listas de recomendações. Quando, por acaso me deparei com uma lista do género “Cem livros que deve ler antes de morrer” onde, entre muitos, se encontrava “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen. Reconheci o nome da autora e fiz uma pesquisa acerca da obra e fiquei fascinada! Quando descobri que existiam séries e filmes baseados no livro, não consegui descansar sem os ver todinhos. Mais tarde quando li o livro, cheguei a

arrepender-me de ter visto as adaptações, pois acho que perdi muito da experiência da leitura, embora “Orgulho e Preconceito” seja um dos meus livros preferidos. Mas antes de ler “Orgulho e Preconceito” e pouco depois de ter descoberto Jane Austen, numa visita à Biblioteca da minha escola secundária, deparei-me com um volume de bolso, bastante fino e com uma capa de cores desmaiadas onde se lia “Sensibilidade e Bom Senso” de Jane Austen. Escusado será dizer que o requisitei e nessa noite, comecei logo a lê-lo, no entanto, não me senti muito entusiasmada durante a leitura e não me identifiquei muito com as personagens. Talvez

Por Luísa (Luh do Blogue Currently-Reading)

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fosse ainda demasiado jovem para perceber e apreciar a sensibilidade da obra pois, recentemente, decidi dar-lhe outra oportunidade e achei-o um livro maravilhoso. Depois desta primeira leitura de uma obra de Jane Austen, a minha vontade de ler mais livros da autora esmoreceu. No Verão, há cerca de dois anos, comprei “Orgulho e Preconceito”, mais até pela memória que guardava da adaptação da BBC de 1995, do que pelo que já tinha lido da autora. Comecei a ler e não consegui parar e foi a partir daí que começou a minha obsessão saudável com Jane Austen e a sua obra. Quase de seguida comprei uma edição em inglês com todos os romances acabados da autora e li “Emma” e reli “Sensibilidade e Bom Senso”. Mais recentemente li “Persuasão” e “Northanger Abbey”. “Persuasão”, a par de “Orgulho e Preconceito” são os meus livros preferidos de Austen, li-os quase de uma assentada e fiquei sempre fascinada pelas heroínas maravilhosas, estórias envolventes e pelos heróis galantes.

A obra de Jane Austen prima pela exímia crítica social que transparece em personagens ridículos e frequentemente patéticos, estereotípicos das classes sociais contemporâneas da autora e essa é uma das coisas que mais me apraz na sua escrita. Um romance de Jane é como uma

pequena máquina do tempo que me transporta sempre para um mundo à parte, para uma época de costumes e convivência social tão diferentes do que temos hoje em dia e que, na minha opinião, tinha uma magia e sentimento próprios que se perderam com o tempo. Jane Austen depressa se tornou uma das minhas autoras predilectas e tenho sempre um prazer especial em ler e reler tudo o que escreveu. Nos dias mais preguiçosos, gosto sempre de ver uma ou outra adaptação dos seus romances. Agradeço aqui o convite que me foi feito pela Clara, do Jane Austen Portugal, para escrever este pequeno texto, que me deixou muito contente! Muito obrigada!

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Minha cara Jane, novamente me deparei com uma dificuldade nesta carta. O tema da nossa adorável revista é a Abadia de Northanger e, mais uma vez, em semelhança à edição anterior, não li (ainda!) a obra. Mais uma vez, colocava-se a questão: "o que escrever à minha cara Jane?". Bom, certamente poderia contar-lhe o quão horrível é estudar para exames tão perto uns dos outros que mais parecem moscas; ou poderia ainda falar-lhe da imensidão de projectos que planeava fazer durante as férias e agora não me apetece realizar; ou poderia, até, contar-lhe a minha questão existencial "ir ou não ir ao exame de recurso de Economia?", mas parece-me... despropositado. Em vez disso, comecei a pensar no que poderia contar-lhe; observei as ruas e as pessoas por quem passo praticamente todos os dias; observei a (pouca) natureza

que me rodeia e o efeito que tem em mim; observei os lugares que costumo frequentar e... De repente... Tinha uma ideia para esta carta. Porque, tal como a Jane sabe, nada é mais importante para um autor do que observar. E a Jane fez isso muito bem. Os seus livros contêm uma grande observação das relações que se estabelecem entre as pessoas; de tal forma, que, por vezes, me surpreendo com a maneira como é capaz de descrever algumas personagens menos... recomendáveis, de forma tão fiel que me fazem lembrar alguém. A Jane tem uma extraordinária capacidade de nos "obrigar" a apaixonar ou a odiar certas personagens com poucas palavras. Efectivamente, não necessita de grandes discursos ou de uma lista de defeitos tão grande como o Kilimanjaro para percebermos o carácter daquela pessoa em particular e,

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consequentemente, vamos lentamente entranhando aquilo que sentimos em relação a esta última, de uma forma tão subtil que nem damos conta de o fazer. Mas a sua observação é ainda mais interessante noutro aspecto: os locais onde as obras decorrem. A Jane não foi daqueles autores que falam do Parque X ou da Terra Y, que fica algures entre A e B e que, quando vamos a ver, não existem. Ou estão incorrectas. Ou nem sequer sabemos o que se quer dizer. A minha cara teve uma grande atenção nesses pormenores e é sabido de muitos que tentava obter informações de vários locais através dos seus conhecidos. Por essa mesma razão, quando nos fala de um local em particular, sabemos que podemos confiar no seu julgamento do mesmo para o retratar mentalmente e isso é uma grande vantagem. Além disso, tal fidelidade permite aos leitores conhecerem mais sobre si e sobre o ambiente em que vivia. Essa é a mais-valia de todas as suas obras. E devo, aqui, aproveitar, para fazer uma pequena anotação. Deparei-me, por vezes, com opiniões de outros autores e críticos da literatura em como a Jane se agarrava apenas àquilo que conhecia e que a sua escrita era muito... seca, por falta de melhor expressão.

Ora, a esses senhores e senhoras tenho a dizer (com todo o respeito pela subjectividade de cada opinião cuja inexistência é impossível) que, pura e simplesmente, a Jane fez aquilo que se espera de um escritor: conseguir contar-nos uma história com palavras suficientemente sucintas para que descrições exacerbadas sejam desnecessárias e, simultaneamente, mostrar-nos o seu mundo como você o vê, ou seja, explicando o que sabe, não o que pensa saber. Se isto é ser alguém incapaz de escrever, ou cuja escrita é rudimentar ou, ainda, com uma completa falta de tacto para todos os acontecimentos que a rodeiam, então penso que, hoje em dia, alcançámos o hecatombe da literatura, desde vampiros que brilham a sereias que andam em terra e a deuses que, originalmente, são pai e filho, se tornarem irmãos. Mas eu não cedo (completamente) ao desespero, Jane, pois sei que, em tempos de grande desespero posso pegar num livro seu, deliciar-me com uma bonita e interessante história de amor e sonhar com o mundo que você viu. Quem sabe, quando criarem uma máquina que permita viajar no tempo eu lhe faça uma visita? Até à próxima carta,

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Northanger Abbey refere-se ao nome do castelo pertencente a uma das famílias envolvidas nesta obra de Jane Austen, os Tilneys. Contudo, com este título parece que toda a acção do livro teria lugar na abadia quando, na verdade, a acção só aí começa a desenrolar-se a partir do vigésimo capítulo. Então, porquê este título?

Primeiro, é importante ressaltar que não foi Jane Austen que o escolheu. O livro só foi publicado após a sua morte e foi o seu irmão quem escolheu este título. A autora havia-o intitulado de ‘Catherine’, nome da protagonista. Isto levanta a questão de saber porque é que o irmão de Jane Austen achou que ‘Northanger Abbey’ seria um título mais adequado.

Uma possível explicação reside no conteúdo da obra. A Abadia de Northanger satiriza os populares romances góticos do século XIX e neles, os antigos

castelos e abadias são retratados como lugares assustadores e arrepiantes e os seus títulos apontavam quase sempre para os lugares onde decorria a acção. Da mesma forma, Northanger Abbey ajuda os leitores a adivinhar a intenção satirizante da obra.

Outra explicação possível para o título reflecte uma das principais preocupações temáticas do romance. Catherine Morland, a protagonista do livro é obcecada com romances góticos e, consequentemente com Northanger Abbey a partir do momento em que ouve falar dela. Todavia, ao longo da história aprende que a vida não é um romance gótico e que a Abadia de Northanger é apenas a residência da família Tilney e não um lugar que possa satisfazer os seus desejos de aventuras góticas.

[PORQUÊ NORTHANGER ABBEY COMO TÍTULO?] SANDRA FREITAS

NÃO FOI JANE AUSTEN QUE O ESCOLHEU

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Julga-se que foi a primeira obra completada para publicação 1803), embora se saiba que já tinha começado a escrever "Sensibilidade e Bom Senso" (Sense and Sensibility) e "Orgulho e Preconceito" (Pride and Prejudice).

De acordo com a irmã, o seu título inicial era "Susan" e terá sido escrito entre 1798-1799. Contudo, só foi publicado em 1817, postumamente, juntamente com "Persuasão" (Persuasion).

Catherine Morland, a heroína desta obra de Jane Austen, com apenas 17 anos, parte para Bath com um casal amigo da família, Mr. e Mrs. Allen.

Em Bath, toma o primeiro contacto com a sociedade, em tudo diferente de Fullerton, a sua terra natal (no campo). Aí conhece uma grande amiga Isabella Thorpe de quem terá uma enorme decepção.

Mais tarde é convidada para ir para Northanger Abbey com Mr. Tilney e a sua irmã,

Elinor, de quem se torna muito amiga durante a sua estadia em Bath. Durante a sua estada em Northanger Abbey uma série de mistérios e enganos acontecem, resultando numa partida inesperada.

[LENDO A ABADIA DE NORTHANGER] CLARA FERREIRA

"NORTHANGER ABBEY IS JANE AUSTEN’S AMUSING AND BITINGLY SATIRICAL PASTICHE OF THE GOTHIC ROMANCES POPULAR IN HER

DAY”

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Catherine, é descrita, como uma fervorosa leitora de romances góticos, de imaginação muito fértil, um charme muito próprio, uma ingenuidade característica da idade e uma bondade gigantesca. Penso que a empatia com a personagem não é imediata, eu pelo menos, cansei-me, por vezes, da sua insensatez e imaturidade.

O amor nesta obra não é tão forte como noutras obras de Jane Austen. A relação entre ela e

Henry Tilney não é tão sentida pelo leitor como em Persuasão, por exemplo.

Henry Tilney, é um personagem muito especial, bastante sensato e razoável, quase perfeito, diria eu!

É também uma crítica à sociedade fútil, e a alguns "personagens-tipo", tal como Isabella e John Thorpe.

No fim da história vemos uma clara evolução no pensamento de Catherine, ela cresce, decididamente, durante toda a obra.

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Quando comecei a leitura deste livro vinha-me sempre à cabeça a frase do personagem masculino do filme "O clube de leitura de Jane Austen". Segundo aquele, esta obra era um mero ensaio de Jane Austen. Através dele a autora fez uma viagem de descoberta sobre o seu estilo. Aqui ainda não está definido. Existiam dúvidas. Ou pelo menos parece havê-las. Creio que não se trata de uma verdadeira obra acabada. Foi com essa impressão que terminei a leitura deste livro.

Todavia, gostei do enredo. Gostei das personagens, principalmente de Henry Tilney. Adorei a inocência de Catherine e a sua incrível imaginação que ao longo do livro nos oferecem momentos de boa disposição e leveza. Catherine era uma peça em bruto que apenas precisava das mãos certas para se tornar numa obra de arte inteligente e delicada. E a sua transformação pela mão de Henry? Adorável. A forma como ele brincava com a sua inocência e simultaneamente a protegia não passam despercebidas. Convenceram-me logo. Ele conseguia aliar estes dois traços com perfeita elegância. Encantou-me a sua inteligência, a sua

independência, o amor fraternal que nutria pela irmã e o respeito que, apesar das suas brincadeiras, tinha por Catherine. Era um homem vertical.

Ao longo da leitura, não fui capaz de me desligar de algumas frases proferidas por Henry que são dignas de registo e também algumas posições por ele tomadas. Atrevo-me a pensar que se tratavam de posições assumidas pela própria Jane Austen. Merece destaque uma nota interessante sobre romances versus história. Henry e Catherine falavam acerca de livros e do pouco reconhecimento dos romances que ela defendia em detrimento da leitura livros de história que causavam grande "tormento" às crianças. A discussão leva-os para o patamar da educação e Henry termina muito bem dizendo (...) Mas os historiadores não são os responsáveis pelas dificuldades na aprendizagem da leitura, e até mesmo a menina, que não me parece, no fundo, ser partidária de uma aplicação severa e intensa, pode vir a reconhecer que vale bem a pena ser atormentado por dois ou três anos da vida em prol de ser capaz de ler tudo o que falta. Imagine, se a leitura não fosse ensinada, a

[AS MINHAS IMPRESSÕES SOBRE NORTHANGER ABBEY] PAULA FREIRE

EU ADOREI ESTE ENSAIO!

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senhora Radcliffe teria escrito em vão ou até talvez nem o tivesse feito. Esta discussão é relevante no sentido de mostrar a preocupação que Jane Austen com a educação das mulheres. Ela conseguia alcançar as vantagens de esta existir no círculo feminino. É também Henry que afirma que ser-se sempre firme pode ser uma obstinação. E saber relaxar é o verdadeiro desafio. Ou, ainda, ser-se levado por conjecturas de segunda mão é uma pena. Mas a que mais me marcou foi sem dúvida esta: já ouvi falar em fiéis acções. Mas uma promessa fiel, a fidelidade de prometer! É uma palavrinha bem poderosa, pois pode muito bem decepcioná-la (ar) e magoá-la (ar).

Existe outra passagem que, no meu entender, consubstancia uma crítica feita tanto aos homens como às mulheres, o que não deixa de ser interessante. Diz a determinada altura a autora que as vantagens da tolice natural numa bela jovem já se encontram realçadas pela importante pena de uma companheira de escrita e, quanto à forma como trata do assunto, limito-me a acrescentar, fazendo justiça aos homens, que, embora para a maior e mais frívola parte deste sexo a imbecilidade nas mulheres seja considerada uma enorme vantagem para realçar os seus encantos naturais, existe um outro grupo bastante grande, suficiente e razoavelmente bem informado, que deseja algo mais numa mulher do que ignorância.

A crítica clara ao casamento por dinheiro está também presente nesta obra. Através de Catherine, Jane afirma que detesta a ideia de uma grande fortuna procurar outra grande

fortuna. E considera que casar por dinheiro é a coisa mais ignóbil da existência.

Neste livro encontramos também, ainda que de forma sucinta e rápida, uma abordagem à política do país, o que me surpreendeu pelo facto de este ter sido escrito cedo.

Mas a grande marca que este livro me deixa é a crítica aberta que Jane Austen deixa à literatura fantástica. A certa altura a autora mostra claramente a sua aversão por este tipo de escrita e aponta-lhe consequências pouco felizes. Diz que todo o sofrimento de Catherine resulta sobretudo da influência dos livros que até aí lera, afirmando que por muito encantadores que fossem os livros da senhora Radcliffe, e mesmo os livros dos que a imitavam, não era com certeza neles que a natureza humana devia ser procurada, pelo menos ali, nos condados centrais de Inglaterra. (...) Mas na parte central de Inglaterra havia, com certeza, alguma segurança, mesmo para a vida de uma mulher que não fosse amada, conferida pelas leis da terra e os hábitos da época. O assassínio não era tolerado, os criados não eram escravos, nem se arranjavam poções para dormir, como o ruibarbo, em todos os farmacêuticos. A referência à natureza humana e à essência do ser humano são, para mim, o alicerce de todas as estórias de Jane Austen. Por isso acredito que este tenha sido um ensaio, muito bom, que Jane terá feito para definir a sua escrita e para sedimentar a estrutura que a iria sustentar. O resultado está à vista. Jane é uma escritora que fala sobre pessoas reais; sobre a sociedade e sobre sentimentos. E fá-lo bem. Com inteligência.

Eu adorei este ensaio!

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Lê-se muito a respeito de Northanger Abbey, essa sombra na obra de Jane Austen.

Pergunto-me, será por a heroína não possuir um carácter sólido, forte e maduro? Será por ser ingénua, pura e infantil?

Devo confessar que não fiquei extasiada da primeira vez que li Northanger Abbey. Mas há

medida que o tempo passa, vou gostando cada vez mais da pureza de Catherine Morland.

"She was born to be an heroine"...

Deixo aqui um comentário que encontrei no site Jane Austen Society UK e que achei interessante pois dá uma perspectiva engraçada sobre o Romance. Na altura em que li Northanger Abbey nunca tinha pensado nele como um Romance que idolatrava outro Romance, o que é bastante curioso!

Defesa do Romance:

[EM DEFESA DE NORTHANGER ABBEY] CLARA FERREIRA

HÁ MEDIDA QUE O TEMPO PASSA VOU GOSTANDO CADA VEZ

MAIS DA PUREZA DE CATHERINE MORLAND

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Northanger Abbey (Abadia de Northanger) contém a mais famosa defesa da arte do Romance por Jane Austen.

A leitura preferida de Catherine Morland são Romances. "Sim, Romances", escreve Jane Austen, "qual o mal de uma heroína de um Romance ser idolatrada por a de outro Romance, de quem pode ela esperar protecção e consideração?". Ela dá um exemplo:

"E o que está a ler, Menina ? " "Oh, é apenas um Romance!" responde a senhorita, enquanto pousa o seu livro com indiferença forçada ou vergonha momentânea. "É somente Cecilia ou

Camila ou Belinda", ou, dentro de pouco tempo, apenas algum trabalho no qual os maiores poderes da mente estão dispostos, no qual o mais completo conhecimento da natureza humana, a mais feliz delineação das suas variedades, as mais vivas efusões de inteligência e humor, estão expressas para o mundo na melhor lingua possível.

É uma ironia engraçada embora perigosa quando confundida com a vida real, os Romances podem verdadeiramente dar-nos conhecimento dos nossos parceiros humanos podendo ultrapassar o conhecimento conseguido pela vida real de facto.

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Já li escrito que para perceber a "Abadia de Northanger" na totalidade, é necessário conhecer a obra de Ann Radcliffe "The Mysteries of Udolpho", uma vez que toda a obra de Jane Austen se baseia nela, satirizando e

parodiando com os romances góticos, tão em voga naquela altura.

"The Mysteries of Udolpho" é o romance que a nossa heroína Catherine Morland devora avidamente ao longo da história. No fundo, é um romance dentro do romance. Como nunca li nem conhceço minimamente o enredo (e talvez não seja a única), procurarei dar a informação possível para uma leiga em romances góticos.

"The Mysteries of Udolpho" foi publicado em 1794 (Northanger Abbey foi escrito entre 1798 e 1799 e publicado em 1803).

A acção decorre em 1584 e conta-nos a história de Emily St. Aubert, uma jovem francesa que fica orfã depois da morte do pai. É um romance gótico, repleto de incidentes de terror, castelos sombrios, eventos sobrenaturais, vilões e uma heroína perseguida.

Emily é feita prisioneira num castelo após a morte do pai pelo Sr. Montoni, um criminoso italiano que casou com sua tia, Madame Cheron. Emily apaixona-se por Valancourt, um jovem conheceu numa viagem que fez com o pai à Suiça, todavia, o seu encarceramento afasta-a dele. No sombrio castelo de Udolpho onde está prisioneira, estão escondidos variados mistérios e um deles envolve o seu pai e uma Marquesa de Villeroi.

[A SÁTIRA DE “ABADIA DE NORTHANGER”] CLARA FERREIRA

PARA PERCEBER ABADIA DE NORTHANGER NA TOTALIDADE É

NECESSÁRIO LER “THE MYSTERIES OF UDOLPHO”

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Vamos ser capazes de fazer pelo menos mais umas dez coisas. Kingsweston! Claro! E o Castelo de Blaize também, e tudo aquilo que nos lembramos. Mas aqui a sua irmã diz que não vem!

- Castelo de Blaize! - exclamou Catherine - Mas o que é isso?

- É o lugar mais bonito de Inglaterra, que em qualquer ocasião merece que se façam cinquenta milhas para ser visitado.

- Mas é mesmo um castelo? Um castelo antigo?

- O mais antigo de todo o reino.

- Mas é como aqueles que lemos nos livros?

[BLAIZE CASTLE EM NORTHANGER ABBEY] CLARA FERREIRA

BLAIZE CASTLE, O CENÁRIO QUE SERVE PARA AFASTAR

CATHERINE DO COMBINADO COM MISS TILNEY

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17 - Exactamente.

- Fale a sério... e tem mesmo torres e longas galerias?

- Às dúzias."

Capítulo 11, tradução de Luiza Mascarenhas

É assim que Jane Austen nos apresenta Blaize Castle, o cenário que serve para afastar

Catherine do combinado com Miss Tilney, fortemente influenciada pela artimanha de Thorpe que a convence de que estes não irão cumprir o prometido de ir passear com ela.

Na realidade este castelo existiu e existe nos dias de hoje. É uma construção moderna em formato triangular, que foi mandada construir por Thomas Farr em 1766; situada em Henbury, muito para lá de Bristol, nos terrenos de uma mansão neoclássica, foi acabada de construir em 1790 por William Pet

Como vêem, Blaise Caslte não passa de um castelo "a fingir", Thorpe estava, mais uma vez, a ludibriar a nossa ingénua heroína e a fazer-lhe passar uma imagem totalmente falsa daquilo que Blaise Castle era na realidade.

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Confesso que achei esta versão a coisa mais horrenda que se podia fazer com a obra de Jane Austen. Isto no início.

Fazem-se adulterações imensas à história e a meu ver, sem qualquer nexo. Os irmãos Thorpe são odiosos e numa interpretação terrível pois vê-se a milhas de distância que são uns tremendos interesseiros e nem Catherine Morland se deixaria enganar. Os banhos romanos... meu deus... Pergunto-me qual a lógica de colocarem aquilo no filme?!

A banda sonora é outra coisa terrível, péssima e irritante! Mr. Tilney às vezes parece-se mais com o irmão, nalgumas atitudes. Gostei da actriz

embora Felicity Jones lhe fique cem vezes à frente.

No desenrolar da história comecei a gostar mais do filme, principalmente a partir da chegada a Northanger Abbey, onde, apesar de tudo se consegue vislumbrar

partes da história original.

A cena em que Tilney encontra Catherine no quarto da mãe está tal e qual o texto original, o único ponto a favor que consigo encontrar no meio de tanta criatividade pouco inteligente.

No início achei deplorável a adulteração, no entanto, o fim mostrou-se bem mais agradável..

[NORTHANGER ABBEY 1986] CLARA FERREIRA

COMECEI A GOSTAR MAIS DO FILME, PRINCIPALMENTE A PARTIR DA

CHEGADA A NORTHANGER ABBEY

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Ainda não li este livro, tal como ainda não li o Parque de Mansfiled e se ver a adaptação de 2007, foi um verdadeiro turn off para ler em seguida o livro, o mesmo não posso dizer desta adaptação. Não sei até que ponto é fiel ao livro, mas é decididamente fiel ao espÍrito de Jane Austen e aquilo a que ela nos habituou. O leque de actores reunidos, todos desconhecidos para mim, com excepção de Carey Mulligan e Felicity

Jones, eram muito bons além disso a química entre Catherine e o seu Mr. Tilney era boa.

Catherine pareceu-me bem diferente das outras heroínas de Jane, na medida em que era bem mais ingénua e parecia ter a cabeça menos no lugar, mas não era necessariamente uma tola ou leviana. Mas de certa forma pensei que ela talvez pudesse ser o género de pessoa que se deixa levar e cair em desgraça como acontece

[NORTHANGER ABBEY 2007] VERA SANTOS

A QUÍMICA ENTRE CATHERINE E O SEU MR. TILNEY ERA BOA

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como Isabella, mas mais pela sua ingenuidade de que pela sua vontade de ser como ela.

Já em Mr. Tilney encontramos um homem com uma postura menos séria e muito mais descontraída do que outros homens criados por Jane, e talvez por isso, penso que ambos se tornam o par perfeito, ela com a sua ingenuidade e ele com aquele troçar dela

constante, no qual ela nunca percebe se há veracidade ou apenas uma brincadeira.

De resto e como sempre, os cenários, guarda-roupa e música não desiludem. Penso que é impossível não gostar de Catherine Morland, eu pelo menos gostei muito dela até porque tal como ela facilmente entro nos livros que estou a ler!

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Confesso que a primeira vez que vi esta série não gostei particularmente, achei que não fazia jus à obra. Mas a verdade é que, quanto mais vezes a vejo mais gosto dela e ultimamente tenho criado uma grande paixão tanto por esta adaptação como pelo romance.

Escusado será dizer que, entre esta adaptação e a de 1986, esta está cem vezes melhor e mais rigorosa em relação à obra, para alem de gostar muito mais deste Henry Tilney do que do outro e o mesmo se passar com Catherine.

Esta adaptação consegue transportar para o ecrã os verdadeiros irmãos Thorpe no seu melhor. Isabella foi terrivelmente bem interpretada. Eleanor Tilney mostrou-se no ecrã com a postura e doçura com que é descrita na obra. Henry Tilney está no seu melhor com J.J. Field, todo o "gozo" que faz com Catherine é genuíno e consegue ter aquele toque irónico e humorístico com o qual o romance nos apresenta.

Gostei muito de rever Sylvestra aqui no papel de Mrs. Allen, muito bem feito, a cena da corrida

[A ADAPTAÇÃO DE 2007] CLARA FERREIRA

QUANTO MAIS VEJO (ESTA ADAPTAÇÃO) MAIS GOSTO DELA

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para os

lugares no salão de Bath está hilariante. Também gostei muito da cena na ópera e das desculpas de Catherine por não ter cumprido com o acordado e ter faltado ao passeio. Os passeios com Eleanor e Henry também são muito enternecedores.

Ao contrário da versão de 86 que segue à risca o texto original da cena em que Henry apanha

Catherine no quarto da mãe, nesta versão o texto é alterado e Henry não é tão duro com Catherine.

O fim desta versão é adorável, o pedido de casamento é "romantiquíssimo" e a atrapalhação do beijo final amorosa, digna da nossa heroína Catherine Morland!

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Quais as semelhanças de Expiação (Atonement) com a obra de Jane Austen, isto claro, para além de Keira Knightley ter sido a protagonista em ambas adaptações, do Director de Realização ser o mesmo de Orgulho e Preconceito (2005) e do actor principal (James McAvoy) também ter participado no filme Becoming Jane?

Pois bem, confrontei-me com esta questão enquanto explorava pela net. Expiação está no número um dos meus melhores filmes de sempre e desde que li o livro ainda me tornei numa fã mais fervorosa.

Embora quase que venere o filme, e já o tenha visto repetidas vezes, nunca me tinha passado pela cabeça qualquer relação com Jane Austen. Mas a verdade é que há.

Neste artigo, "Shades of Austen in McEwan's Atonement", esse tema é muito desenvolvido. A epígrafe do livro Atonement, traz o seguinte

excerto de Abadia de Northanger de Jane Austen:

[EXPIAÇÃO, AUSTEN E NORTHANGER ABBEY] CLARA FERREIRA

ATONEMENT TEM MAIS LIGAÇÃO A JANE AUSTEN DO QUE EU

JULGAVA

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"Dear Miss Morland, consider the dreadful nature of the suspicions you have entertained. What have you been judging from? Remember the country and the age in which we live. Remember that we are English: that we are Christians. Consult your own understanding, your own sense of the probable, your own observation of what is passing around you. Does our education prepare us for such atrocities? Do our laws connive at them? Could they be perpetrated without being known in a country like this, where social and literary intercourse is on such a footing, where every man is surrounded by a neighbourhood of voluntary spies, and where roads and newspapers lay everything open? Dearest Miss Morland, what ideas have you been admitting?"

Esta passagem de A Abadia de Northanger tem vários efeitos na obra de Ian McEwan:

Primeiro, encoraja os leitores a tentar

encontrar paralelos entre a obra de Jane Austen e a sua obra.

Segundo, existe também uma suspeita mal interpretada e errada feita por Briony Tallis, que resulta numa consequência muito mais grave que a de Catherine Morland.

Terceiro, o próprio Ian McEwan descreveu a sua obra como "o seu romance Jane Austen".

O artigo é extenso, mas penso que já transmiti a ideia que desejava. Na verdade, Atonement, tem mais ligação a Jane Austen do que eu julgava. De facto, a suspeita criada por Briony é idêntica à de Catherine, ambas acusam, sem provas, alguém de um crime horrendo. Mas em Catherine não há consequências de maior, pois a história não desenvolve por aí, mas em Briony, as consequências são terríveis e a personagem é perseguida toda a sua vida por essa suspeita que levantou. Confesso que o fim de Atonement me colocou a chorar feita criança, e agora que sei que tem ligações em Jane Austen, vou idolatrar este filme e livro ainda mais!

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A“Abadia de Northanger” é um romance de Jane Austen que não me cativa. Embora pareça que os leitores (em geral) simpatizem menos com o “Parque de Mansfield”, sobretudo pelas características aparentemente amorfas da sua heroína – Fanny Price – no meu caso isso não acontece.

De

qualquer modo aprecio Catherine Morland como protagonista, um autêntico patinho feio que vai desabrochando ao longo da história. A autora prepara-nos logo no início, afirmando que “ninguém que alguma vez tivesse conhecido Catherine Morland na infância poderia supor que ela nascera para se tornar uma heroína”. E nem sei se no final lhe podemos chamar heroína de facto, porém destaca-se nesta personagem o seu crescimento e formação de carácter.

UM AUTÊNTICO PATINHO FEIO QUE VAI DESABROCHANDO AO

LONGO DA HISTÓRIA

[CATHERINE MORLAND, O “PATINHO FEIO” EM JANE AUSTEN] FÁTIMA VELEZ DE CASTRO

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A menina travessa, a jovem que sonha com os romances de mistério, move-se inicialmente num meio muito limitado que não lhe abre os horizontes sociais e intelectuais, mas que ao mesmo tempo a protege. A ida para Bath foi uma excelente oportunidade para contactar com outros grupos da sociedade e aprender com as “armadilhas” dos supostos amigos. Também a estadia em Northanger e a forma como evoluiu a relação com o general Tilney a fez amadurecer, aprendendo como as questões de fortuna podem perigar a felicidade conjugal e

familiar. Esta é uma ideia permanente na obra de Austen, a de que a razão deve dar atenção ao coração e não às questões materiais.

Mas não foram apenas as experiências desagradáveis que fizeram Catherine crescer enquanto pessoa. A paixão por Tilney, o “choque” de personalidades

(o sarcasmo, a intrepidez e a intensidade), e toda a aprendizagem que faz com ele, é vital para que entre na idade adulta “com os pés na terra”, percebendo até onde pode ir a fantasia e a realidade.

Catherine Morland parece ser a menina mais rebelde, a mais “maria-rapaz”, a mais criativa sonhadora de todas as personagens de Jane Austen… será que alguma de nós foi um dia assim também?

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Gosto muito desta personagem e é das personagens masculinas que mais gosto nas obras de Jane Austen. É uma personagem simpática e acessível. Eu penso que Tinley é até muitas vezes uma versão em upgrade de Darcy, pois Darcy tinha o charme e o bom coração, mas não tinha a aptidão comunicativa que Henry Tilney tem. Podemos afirmar que é o homem perfeito. Se é que isso existe e se é que as mulheres estão verdadeiramente interessadas no homem "perfeito". Uma das coisas que mais adoro em Henry é o seu sentido de humor. Se há coisas que nós mulheres apreciamos num homem é o seu sentido de humor, e nisso Henry ganha muitos pontos. Catherine que o diga, pois não lhe resistiu.

[HENRY TILNEY] LILIANA ISABEL

UMA DAS COISAS QUE MAIS ADORO EM TILNEY É O SEU SENTIDO

DE HUMOR

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Trata-se de um homem decidido e que sabe aquilo que diz e aquilo que sente. Uma das personagens que mais expõe as suas opiniões em relação aos seus pontos de vista (na sua grande maioria inteligentemente expostos) torna-o uma personagem forte não só de Northanger Abbey como de toda a obra de Jane Austen.

Uma das grandes diferenças entre Henry e os restantes heróis de Austen é que ele não é descrito como um

homem particularmente

belo, mas não é por isso menos

interessante, muito pelo contrário. Em relação aos seus sentimentos por Catherine sabemos que foi Catherine quem primeiro se apaixonou e que Henry só mais tarde se aproximou dela romanticamente. No entanto, foi das primeiras pessoas a entender e aprender a gostar de Catherine apesar da sua personalidade que tanto ou quando "especial" e até ingénua. Foi fantástico poder falar de Henry Tilney de quem eu tanto gosto e que tanto tem " a ver comigo".

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Contudo, se aceitarmos a possibilidade de Jane Austen ter conhecido e ter sido inspirada por Sydney Smith, uma comparação entre os dois pode explicar muito sobre Henry. Por exemplo, Sydney Smith "gostava de falar a brincar sobre matéria sérias, produzindo linhas de imagens ridículas para provar o seu ponto de vista; a comparação de Henry Tilney entre a dança e

o casamento entra, claramente, nesta linha". W. H. Auden concorda, dizendo que Smith gostava de criar imagens que poderiam ser chamadas de estilo barroco ridículo".

É certo que Jane Austen sempre disse que não baseava os seus personagens em pessoas reais. (...)

Eu vejo em Eleanor Tilney a encarnação das qualidades que uma boa amiga deve ter. Ela é uma personagem que passou por dificuldades na vida, apesar de provir duma família abastada é órfã de Mãe (da qual nem

[ELEANOR TILNEY: A AMIGA SINCERA] EVA SOUSA

PENSO QUE ELEANOR É TRISTE

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teve oportunidade de se despedir) vive com uma Pai cujo respeito lhe inspira medo e mesmo nestas ásperas circunstâncias, às quais se alia a escassez de amigas da sua idade tem esta capacidade inata para a amizade, de certo

criada de forma autodidacta, por inspiração de um coração e puro!

Eleanor é um exemplo de graça feminino, candura fragilidade e força em simultâneo e

encarna as qualidades que uma amiga fiel deve ter.

É a verdadeira amiga de Catherine, não faz grande alarido, limita-se a estar lá e a ser, sem

grande brilho aparente, um apoio para a heroína desta história.

Eleanor faz-me lembrar as pessoas realmente boas que encontramos na vida e das quais não nos apercebemos muito, pois, por o serem naturalmente e sem vaidade não sentem necessidade de o

publicitar.

Apesar de todas estas qualidades penso que Eleanor é triste! Não revoltada, mas uma pessoa triste com a vida…

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Dentre os "canalhas" que Jane Austen desenhou na sua escrita, John Thorpe é o mais medíocre de todos. Os outros, apesar de canalhas, possuem algum encanto - mesmo que ilusório e superficial. Com Thorpe isto não acontece. Desde a primeira linha escrita sobre ele constatamos que ele é medíocre e execrável. Estarei a ser cruel? Talvez. Mas, em nenhum momento, ao longo de Northanger Abbey, consegui sentir outro sentimento que não fosse aversão por John Thorpe.

"John Thorpe,(…)

enquanto deu um toque ligeiro e indiferente na mão de Isabella, na direcção de Catherine atirou o pé atrás e fez uma meia vénia. Era um jovem robusto, de estatura média, com um rosto normal e sem qualquer graciosidade, que parecia recear parecer demasiado interessante a não ser que vestisse o fato de lacaio e

demasiado cavalheiro se não fosse

descontraído quando devia ser educado, e

descarado quando lhe era permitido

ser descontraído"

Encontro uma grande ironia na voz de Jane Austen nesta descrição de

[AS TORPEZAS DE THORPE] CÁTIA PEREIRA

“ESTE AINDA VAI DAR MAIS TRABALHO DO QUE MERECE”

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John Thorpe. Neste parágrafo, ela deixa bem

claro quem ele é. Deixa-nos de sobreaviso, como quem diz "cuidado, este ainda vai dar mais trabalho do que merece!".

Busquei a palavra ideal para defini-lo. Não encontrei. Lembrei de fazer esta brincadeira com a sonoridade do nome dele: torpe. Contudo, ele é bem mais do que isso. Esgoto toda a adjectivação que encontro e a lista seria infindável, porque John Thorpe possui todas as características que são abomináveis aos meus olhos: mal-educado, pretensioso, arrogante, interesseiro, grosseiro, indiscreto, inconveniente, mentiroso, intriguista, vaidoso, enfadonho e pouco inteligente. Tudo isto não resulta de um

espírito que não tenha tido oportunidade de se cultivar. Apesar de não ter muitas posses não seria propriamente destituído. Poderia ser uma pessoa melhor se o quisesse.

Eu não acredito que John Thorpe tivesse algum tipo de sentimento de enamoramento ou paixão por Catherine Morland que justificasse um assédio tão acentuado. Este assédio é tão intenso e despropositado que chega a ser irritante.

Então, o que terá despertado esta atitude? Apesar da inocência, da beleza e da candura que tornam Catherine encantadora, penso que a resposta reside em argumentos frívolos. A conveniência dela ser irmã do pretendente da irmã de Thorpe e uma suposta herança que os Allen lhe

atribuiriam serão as duas respostas para esta questão. O assédio seria resultado desta busca pela conveniência e pelo dinheiro.

Não posso dizer que ele reconhecesse o risco que representava Mr. Tilney. Não o via como "concorrência" ao coração de Catherine. Acho que ele apenas o via como uma distracção a ser extinta, mas não com força suficiente para ofuscar o seu próprio brilho. Isto porque John Thorpe sempre agiu como se Catherine Morland fosse uma presa fácil e uma conquista garantida.

Se eu pudesse oferecer um presente a John Thorpe este presente seria um espelho. Um espelho bem grande. E um par de óculos. Talvez, assim, ele se enxergasse.

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Não me consigo decidir pelo "grau" em que gosto desta obra de Jane Austen... Que gosto é certo, porque gosto de todas as suas obras que já li, e gosto num grau muití ssimo elevado, mas este livro tem qualquer coisa que me faz colocá-lo logo abaixo de Orgulho e Preconceito e Persuasão mas acima do Parque do Mansfield... Mas em relação a Emma, por exemplo, não sei "como o colocar". As personagens que me "coube" apresentar neste blogue são James Morland e Isabella Thorpe. Opto por uma apresentação em conjunto porque no fundo a personagem de J.Morland tem interesse não tanto como irmão de Catherine, mas sim como "apaixonado e cego" por Isabella.

J. Morland é apresentado como

"... sendo de disposição muito amigável e sinceramente dedicado à irmã,...", mas o seu papel "principal" nesta obra é como apaixonado por Isabella, que o leva até a ser menos

[JAMES MORLAND E ISABELLA THORPE] MARINA NUNES

ISABELLA THORPE (…) NÃO É UMA PESSOA BOA

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"dedicado" a sua irmã. James estudou com o irmão de Isabella e tornou-se "próximo" da família. Esta proximidade permitiu-lhe encontrar a irmã em Bath, mas acima de tudo fez com que ele abrisse o seu coração à linda Isabella. Este sentimento que ele nutre por Isabella tornou-o "cego" aos defeitos desta. Não é que outros menos apaixonados ou sem paixão, não o tivessem sido também (como é o caso de Catherine) mas J.Morland entrega completamente o seu coração e a sua vida a esta. Isabella tendo perfeita noção deste facto utiliza mesmo esta ascendência sobre ele para os seus "caprichos". "... era a primeira vez que o seu próprio irmão se colocava contra ela..." e esta sua atitude era completamente condicionada por Isabella que "... entretanto, levara um lenço aos olhos e Morland, infeliz perante tal visão, não se controla...".

Considero que Morland era um rapaz sério e por isso levou a sério a sua relação com Isabella, chegando a falar com o seu pai. O seu sentimento por Isabella era tão forte que não lhe permitiu agir na altura certa quando viu o que Isabella "andava a fazer"... Aliás quando finalmente "se rende às evidências" e desfaz o seu compromisso com Isabella escreve uma

carta amargurada à sua irmã em que lhe diz "... espero que perdoes tudo ao teu irmão menos a loucura de pensar que os seus afectos eram retribuidos." Isabella Thorpe, como se pode verificar pelo que refiro anteriormente não é uma "pessoa boa". É vaidosa, "sequiosa" de atenção e, considero até, "falsa"... Estarei a ser demasiado dura com ela? A própria mãe de Isabella ao apresentá-la diz: " A mais alta chama-se Isabella, é a minha mais velha, e é ou não uma bela rapariga?". Isabella sabe que é bonita e manipula todos a seu belo prazer: sabe ser dócil e simpática para cativar todos... Quando conhece Catherine

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desde logo a cativa com os seus modos. "A evolução da amizade entre Catherine e Isabella fora tão rápida como caloroso o seu inicio, e passaram tão depressa pelas várias fases de desenvolvimento da ternura que em breve nem ela nem os amigos do inicio se lembravam. Chamavam-se pelo nome, quando passeavam iam sempre de braço dado, apanhavam a cauda do vestido uma à outra para dançar, e não se afastavam um segundo sequer." A sua amizade com Catherine parece forte mas parece-me que é apenas conveniente e serve os propósitos de Isabella. Assim que Catherine

partilha a sua amizade e atenção com um

terceiro interveniente e começa a

comprometer alguns planos de Isabella, ela mostra o seu verdadeiro "eu". E Catherine começa a

perceber esta "falsidade" de Isabella em algumas situações, nomeadamente na "busca" de atenção como com F.Thorpe. Aliás, após alguns "deslizes" de Isabella e depois do que ela faz ao seu irmão Catherine diz: "Tanto pior para Isabella e para a nossa intimidade (...) Ela não passa de uma vaidosa (...) Não acredito que tenha qualquer consideração por James ou por mim, e como desejava nunca a ter conhecido." Não concordo com Catherine... ainda bem que Isabella existe nesta obra... torna-a muito mais viva!

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General Tilney é o patriarca da família Tilney. É um senhor de posses e de posição social. É uma pessoa obscura, antipática e perfeccionista. Exigente na pontualidade. Exigente também na aplicação de regras e leis por ele impostas no seio do seu lar. É evidente, aos olhos dos leitores, que os seus filhos dedicam-lhe mais receio do que respeito. E ele, cultiva a solidão e os dias sombrios em cada passo que dá.

A impressão geral que eu tive sobre o General Tilney, ao longo do livro, era de que ele seria um libertino reprimido. Mais concretamente, eu passei quase toda a leitura do livro a pensar que o General Tilney estaria interessado em conquistar Catherine. Eu não conseguia perceber o porquê da sua imprevista simpatia para com ela, já que ele era absolutamente amargo no pouco que dizia às outras pessoas.

Não pude

deixar de rir de mim própria quando

[O GENERAL SEM CORAÇÃO] CÁTIA PEREIRA

ELE SERIA UM LIBERTINO REPRIMIDO

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descobri que afinal o seu interesse centrava-se numa pretensa herança de que Catherine viria a herdar dos Allen. Nunca passou pela minha mente que pudesse ser esta a razão do interesse dele simplesmente porque Catherine nunca deu esta impressão a ninguém. Este enredo de enganos criado por John Thorpe, que terá dito isto ao General Tilney, criou uma dinâmica à história muito interessante. E, gerou também a cena fulcral na Abadia de Northanger, que acontece quando Eleanor diz à Catherine que o

pai dela exigia que ela partisse de imediato a meio da noite. Que tipo de pessoa é que põe um convidado para fora de casa a meio da

madrugada? Ainda por cima, uma pessoa tão adorável e tão

frágil quanto Catherine? Atitude vil e cobarde, a meu ver. E, é de destacar, ela não tinha qualquer culpa do engano criado.

Se eu ainda tinha alguma solidariedade pelo facto dele ter perdido a mulher perdia-a totalmente com esta atitude cruel. Preferia que ele fosse realmente um libertino reprimido, sempre seria mais interessante do que um homem desprovido de sentimentos.

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Jane Austen apresenta-nos uma enorme família em Northanger Abbey. Mr. e Mrs. Morland parecem respirar de uma imensa felicidade, que também passam aos filhos. Fullerton parece ser um autêntico paraíso na terra, e enquanto leitores somos imbuídos dessa alegria, harmonia e paz - em Fullerton não há problemas, não há manhas nem artimanhas, tudo é genuíno e puro.

Mr. e Mrs. Morland são apresentados ao leitor da seguinte maneira:

O pai era padre; mas como nunca se mostrara desmazelado ou pobre, todos o respeitavam, embora se chamasse Richard e nunca tivesse sido bonito. Possuía considerável independência que lhe vinha de duas boas freguesias. Nunca tivera por costume cercear a liberdade das filhas. A mãe era uma mulher de senso prático, de bom génio, e, o mais importante, de boa constituição física. Quando Catherine nasceu já ela tinha três filhos; em vez de morrer ao dar à luz o último, como qualquer pessoa esperaria, continuou a viver. Viveu para ter mais seis filhos, para os ver crescer à sua volta e gozar de excelente saúde.

A senhora Morland era uma excelente senhora e queria que os seus filhos obtivessem os maiores êxitos, mas tinha o tempo tão ocupado com os partos e com o ensino dos mais pequenos, que as filhas mais velhas ficaram inevitavelmente

[A GRANDE FAMÍLIA MORLAND] CLARA FERREIRA

FULLERTON PARCE SER UM AUTÊNTICO PARAÍSO NA TERRA

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abandonadas a si próprias. (1º Capítulo)

Não é um início muito auspicioso, mas também não é um início inteiramente censurável - Mrs. Morland sofria daquilo que muitos pais sofrem hoje em dia - falta de tempo. O que seria de esperar com dez crianças a cargo.

Também não estavam totalmente informados, viviam circunscritos a Fullerton e por isso, afastados do "mal" do mundo. A partida de Catherine com os Allen era, por um lado, triste, por implicar a ausência da filha; mas por outro, um alívio, por ficarem com menos um filho para se preocuparem, Catherine estava, aos seus olhos, inteiramente segura na companhia dos vizinhos e amigos Allen.

Era de supor que, à medida que se aproximava a hora da partida, aumentassem as preocupações da senhora Morland, e que mil pressentimentos alarmantes, motivados pela separação da sua querida Catherine, lhe enchessem o coração de tristeza, e a fizessem chorar nos últimos dois dias que estiveram juntas; e que na hora da separação, quando estivessem no seu quarto, ela prudentemente lhe desse os melhores conselhos, para a precaver dos fidalgos e barões que se divertem a forçar as raparigas a ir para alguma quinta afastada. Era assim que, nesse momento, deveria aliviar o coração. Quem é que não pensaria deste modo? Mas a senhora Morland sabia tão pouco de lordes e barões que não tinha a mínima ideia da sua maldade, nem suspeitava

do perigo que daí pudesse advir para a sua filha.

As suas advertências limitaram-se a isto: - Catarina, vê lá se agasalhas bem a garganta quando fores à noite aos salões. Gostava que apontasses todas as tuas despesas. Para isso toma lá este livrito.

Mas os Morland não eram tão obtusos como posso estar a fazer passar. Podiam não estar conscientes dos perigos da sociedade citadina, mas souberam refrear a chegada solitária da filha depois de ser expulsa de Northanger:

Não eram pessoas que se irritassem de ânimo leve ou que julgassem com azedume as afrontas com que os melindravam. Mas, neste caso, quando tudo foi conhecido, consideraram-no como um insulto que se não devia pôr de parte, nem ser facilmente perdoado. Sem sofrerem nenhum susto romântico por pensarem na longa e solitária viagem da filha, os pais sabiam que devia ter sido muito desagradável para ela, e isso é que eles nunca quereriam que lhe tivesse acontecido.

Nós somos o espelho da educação que recebemos e a nossa base constrói-se a partir do berço, Catherine é o claro exemplo disso.

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O capitão Frederick Tilney (Frederick) é o filho mais velho do General Tilney e o possível herdeiro da Abadia de Northanger. Trata-se de um personagem secundário que surge apenas na segunda parte do livro e que prima pela total ausência de discurso. Tudo o que sabemos de Frederick é-nos dado a conhecer pelas demais personagens , nomeadamente Henry, Catherine, Eleanor e Isabella.

Frederick é um homem elegante e moderno que gosta de namoriscar raparigas bonitas. Os seus modos e atitudes não causaram impressão à nossa jovem Catherine que os encontrou inferiores aos do seu irmão Henry. É um misto de Mr. Darcy com Whickam. Confuso? Não. Frederick tem a arrogância inicial de Mr. Darcy. Quando é apresentado em Bath, num baile, protesta com o irmão por este o querer ver dançar e fá-lo de modo bastante audível. Mas também é, como referido, um homem que adora "coleccionar" damas e adora quebrar as regras da boa educação, características que tanto marcaram a personagem de Whicham e Willoughby.

O alvo da sua conquista será Isabella. Tola e convencida, troca a o amor sincero de James por um

flirt casual mais que notório. É a marca de Frederick. Terminada a sua estadia, termina também a brincadeira e as consequências não são preocupação sua. Segundo Eleanor, este jurou que mulher nenhuma merecia o seu amor. Guardava apenas orgulho no seu coração. E, segundo Henry, era vaidoso e teimoso. O respeito que este nutria pelo General não era nenhum. Parecia gostar de o contrariar em tudo e jamais lhe prestava qualquer satisfação.

Mas, seria Frederick assim por natureza ou teria acontecido algo que tivesse determinado o seu carácter? Eu penso que terá sofrido bastante com a morte precoce da mãe por quem teria nutrido verdadeiro afecto. O facto de o pai ser um homem frio e distante terão contribuído para o seu sofrimento. Estes dois factores que poderão ter influenciado a tomada de posição em não se querer apaixonar por nenhuma mulher já que o sofrimento da perda estaria assim latente na sua vida.

Para mim, Frederick é o molde de outros personagens de Jane Austen.

[FREDERICK TILNEY] PAULA FREIRE

FREDERICK É UM HOMEM ELEGANTE E BONITO QUE GOSTA

DE NAMORSICAR RAPARIGAS BONITAS

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Mr. e Mrs. Allen partilham a mesma alegria do casal Croft em Persuasão, embora não se completem tão harmoniosamente. Os Allen são um casal sem filhos e com uma considerável fortuna. São vizinhos dos Morland e amigos da família, daí que levem Miss Morland consigo na viagem para Bath.

Mr.Allen, que possuía a maior parte das

propriedades de Fullerton, a aldeia de Wiltshire onde viviam os Morlands, foi aconselhado a ir para Bath para tratar a gota. A esposa, uma senhora alegre e amiga de Catherine Morland, sabendo que quando não acontecem aventuras a uma rapariga na sua terra, ela tem de as procurar fora, convidou-a a ir com eles. O casal Morland concordou de boa vontade. (1º Capítulo)

[MR. E MRS. ALLEN] CLARA FERREIRA

MRS. ALLEN DÁ UMA ENORME E PERIGOSA LIBERDADE A

CATHERINE

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42 Mr. Allen faz-me lembrar um pouco Mr. Bennet, contudo, ao contrário do último, Mr. Allen nutre uma verdadeira afeição pela mulher; e à semelhança de Mr. Bennet, também a trata com a devida condescendência.

Mrs. Allen é um pouco fútil, a "moda" parece ser a única coisa que lhe interessa e que a preenche. Mrs. Allen deveria assumir na história o lugar de "conselheira" de Catherine, guiando-a na sua "introdução" à sociedade. Isso não acontece, aliás, Mrs. Allen dá uma enorme e perigosa liberdade a Catherine e deixa-a fazer tudo o que ela quer. Como li algures, ela tem o papel de "não fazer nada de nada".

Mrs. Allen era daquelas muitas mulheres cuja convivência consegue surpreender, se pensarmos que houve um homem que pudesse gostar dela, a ponto de a desposar. Não era uma beleza nem uma inteligência; não tinha talento nem maneiras finas. Foi o seu porte senhoril, uma bondade pacífica e inactiva e certa propensão para a frivolidade que fizeram dela a escolhida de um homem inteligente e sensato, como o senhor Allen. De certa maneira, estava realmente talhada para introduzir uma rapariga na sociedade, porque gostava de ir a toda a parte e de ver tudo como se ainda fosse jovem. Os vestidos eram a sua paixão. Tinha grande prazer em andar sempre bem posta; por isso a apresentação da nossa heroína na sociedade não se pôde fazer antes de ter comprado um vestido da última moda para a sua protegida, depois de ambas passarem três ou quatro dias a saber o que mais se usava. (2º Capítulo)

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“(…)deixo que seja decidido por quem o pretender fazer se a tendência deste livro é a de fazer a apologia da tirania parental ou premiar a desobediência filial”

Jane Austen termina a Abadia de Northanger com esta frase. Dá a entender que o motor desta história prende-se à esta dinâmica entre “tirania parental” e “desobediência filial”. Ao longo de todas as obras de Jane Austen podemos ver que esta dinâmica relacional é uma marca presente e constante. Mas, em nenhuma de suas obras, encontramos um pai tão sem coração. Terá a vida tornado o General Tilney frio e insensível? Terá sido a perda da sua mulher? A única desobediência filial que podemos apontar é a de

Mr. Tilney, de ter ido ao encontro de Catherine após ela ter sido banida da Abadia. Nem a tirania do pai nem a desobediência do filho parecem-me ser o motor deste livro.

A alma deste livro se divide em duas partes. Por um lado, é o coração puro e a imaginação infindável de Catherine. Por outro lado, somos todos nós, leitores do romance que vivemos e criamos as nossas próprias expectativas e conclusões. Vejo a Abadia de Northanger como uma grande interrogação sobre o papel do leitor e a sua interacção com a obra.

[PAIS E FILHOS] CÁTIA PEREIRA

EM NENHUMA DAS SUAS OBRAS ENCONTRAMOS UM PAI TÃO SEM

CORAÇÃO

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Sabias Que…

A primeira adaptação da obra Abadia de Northanger data de 1968. Uma adaptação espanhola, sendo que a inglesa apenas viria a surgir em 1986. Esta versão espanhola teve dez episódios e não segue à risca a obra. Parece que nesta versão Catalina (Catherine) e Isabel (Isabella) apaixonam-se ambas por Henry, cuja mãe foi assassinada na Abadia. Catalina e Isabel vão ambas para Northnager investigar cada membro da família Tilney, tal e qual como uma história de detectives.

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Quem desejar ver o seu texto publicado na Revista Jane Austen Portugal, basta enviar um email para [email protected] com o artigo até dia 30 de

Julho de 2011 – mais informações em www.wix.com/janeaustenpt/janeaustenportugal

O tema da próxima edição é:

Emma

Colaboradores nesta Edição:

Cátia Pereira

Clara Ferreira

Eva Sousa

Fátima Velez de Castro

Laura Silva

Liliana Isabel

Luísa

Marina Nunes

Paula Freire

Sandra Freitas

Vera Santos

Conteúdo original © Jane Austen Portugal