Revista NOIZE 31 - Março de 2010

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1. Carlos Diaz_ Prefere se definir como uma pessoa que pinta o cotidiano, o que enxerga nos lugares por onde passa.2. Gaía Passarelli_ Jornalista, confunde-se com a própria historia do rraurl.com, maior portal sobre cultura eletrônica do Brasil.3. Jovem Palerosi_ Integrante do massacoletiva.blogspot.com ponto de referência regional do Fora do Eixo em São Paulo. 4. Victor Sá_ Formado em comunicação social, trabalha como jornalista, roteirista e fotógrafo em diferentes mídias sociais. flickr.com/victor_sa5. Marco Chaparro_ flickr.com/marcochaparro6. Marcelo Costa_ Marcelo Costa é editor do screamyell.com.br, trabalha na edição da capa do portal iG e escreve sobre cultura pop como conversa na mesa do bar.7. Pedro Cupertino_ Pedro cupertino é um gaúcho em SP. Fotógrafo nas horas vagas, na sua geladeira, não há comida. Só filmes.flickr.com/podrepobreepoeta 8. Carolina de Marchi_ Jornalista e produtora cultural, acredita que curiosidade é o melhor combustível. twitter.com/caroldemarchi9. Eduardo Macarios_ Fotógrafo e autor do livro “Andante”.www.eduardomacarios.com.br10. Gabriel Innocentini_ Tem um talento inato para o desperdício, razão pela qual cursa jornalismo na Unesp de Bauru.11. Samir Machado_ Designer, escritor e um dos editores da Não Editora. www.naoeditora.com.br12. Eduardo Guspe_ Membro fundador do Núcleo Urbanóide, ultimamente se dedica a produzir DONUTS. facebook.com/eduardo.guspe 13. Combo_ Influenciado pelas técnicas do mangá, é o responsável pela parte digital e artística do Espaço Rabisco. Mais em: www.espacorabisco.com.br14. Felipe Neves_ Fotógrafo e baterista. Ultimamento se viciou em fotografia analógica. Seus trabalhos: www.flickr.com/felipeneves15. Livio Vilela_ Mezzo jornalista, mezzo funcionário de gravadora, Livio Vilela comanda o www.BloodyPop.com, onde exerce aquilo que faz por inteiro: gostar de música desesperadamente.16. Manu D’Almeida_ Jornalista e lifestyle photographer. www.manuphoto.com.br17. Chico Marés_ Curitibano, estuda jornalismo na UFPR. Acha Beatles melhor que Stones, mas gosta bem mais de Stones. twitter.com/chicomares18. Camila Mazzini_ Jornalista e fotógrafa. flickr.com/camon19. Alex Correa_ Carioca, mas gosta mesmo é de São Paulo e acredita na genialidade do Kasabian até o fim.20. Marcus Vinícius Brasil_ Repórter de Época São Paulo; já passou por O Estado de S. Paulo e Rraurl.com. twitter.com/marcvs21. Lidy Araujo_ Jornalista, baixista frustrada e louca por Ramones e Red Hot Chili Peppers. Seu site é lidyaraujo.com.br22. Leonardo Bomfim_ Jornalista e diretor de cinema, edita o freakiumemeio.wordpress.comNeto Rodrigues_ Morador de Minas há incontáveis anos, quase foi um engenheiro. Hoje ronda a publicidade e torce pela volta do Oasis.Lucca Rossi_ Jornalista.Gabriel Resende_ Ainda será psicólogo e músico profissional.Ana Luiza Bazerque_ Jornalista.

• EDITORIAL | BRAnD nEw START.

Em 2009, a NOIZE inovou ao inserir em seu projeto editorial uma página reservada ao blog Move That Juke-box. A aposta não era ousada pelo fato de se estar andando no contrafluxo da revolução digital, mas porque o blog era comandado por meninos, parte deles ainda no colégio. Um ano depois, a satisfação com a página do Move e a vontade de ampliar o caráter colaborativo e plural da revista nos motivou a dar mais alguns passos. O 4° ano de NOIZE traz para a revista, além de um novo projeto gráfico, mais três blogs importantíssimos: o Scream & Yell, o RRaurl e o Fora do Eixo. E isso é só uma parte da novidade.A seção de notícias foi atualizada, e tem agora um formato mais “bloguístico”. Passamos a dedicar uma página a entrevistas rápidas, a começar por um papo com o vocalista do Dream Theater, James LaBrie. As matérias mantém a preocupação com imagem e texto em iguais proporções, e começam o ano olhando um pouco para trás – e apontando para frente. Síntese deste movimento é Lucas Santtana, que fala de Sem Nostalgia, disco no qual ele se debruça sobre voz, violão e computador de um jeito novo. Mas também estão na edição os zines, pais da NOIZE, pais dos blogs e, ao mesmo tempo, insubstituíveis veículos de informação e arte. Por fim, uma matéria com duas figuras importantes no lançamento do disco da década que inaugurou o século 21: Is This Ii, do Strokes, é revisitado pelo produtor Gordon Raphael e por Geoff Travis, que contratou os garotos para a Rough Trade. Comece a dissecar a nova NOIZE agora.

• EXPEDIEnTE #31 // AnO 4 // MARÇO ‘10_

DIREÇÃO: Kento Kojima Pablo Rocha Rafael Rocha

COMERCIAL: Pablo Rocha [email protected] Pinheiro [email protected]

DIREÇÃO DE ARTE:Rafael Rocha [email protected]

DESIGN:Douglas Gomes [email protected]

ASSIST. DE CRIAÇÃO:Cristiano Teixeira [email protected]

EDIÇÃO: Fernando Corrêa [email protected]

REDAÇÃO: Bruno [email protected] Laura Malmaceda [email protected] Foster [email protected] Joana Avellar [email protected]

REVISÃO: João Fedele de Azeredo [email protected] Fernanda [email protected]

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Julie [email protected]

MOVE THAT JUKEBOX:Alex CorreaNeto Rodrigueswww.movethatjukebox.com

RRAURL:Gaía Passarelliwww.rraurl.com

SCREAM & YELL:Marcelo Costawww.screamyell.com.br

FORA DO EIXO:Ney HugoMarco NalessoMichele Parronwww.foradoeixo.org

ANUNCIE NA NOIZE: [email protected]

ASSINE A NOIZE: [email protected]

AGENDA: shows, festas e eventos [email protected]

ASSESSORIA JURÍDICA: Zago & Martins Advogados

PONTOS:FaculdadesColégiosCursinhosEstúdios Lojas de InstrumentosLojas de CDsLojas de RoupasLojas AlternativasAgências de Viagens Escolas de MúsicaEscolas de Idiomas Bares e Casas de Show Shows, Festas e Feiras Festivais Independentes

TIRAGEM: 30.000 exemplares

CIRCULAÇÃO NACIONAL

• ARTE DE CAPA_

CARLOS DIAZConfira no site http://www.noize.com.brum dossiê e uma entrevista sobre o artista convidado deste mês, e acesse:flickr.com/aoseualcance

• BÉÉÉÉ_

Esta revista está livre de erros há 81 dias.

Dicas, sugestões e reclamações:[email protected]

• COLABORADORES |nOIZE #31

DO UNDERGROUND AO MAINSTREAM

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Se Você Não

GoStou da NoIZe

PaSSe adIaNte

• THIS IS nOIZE SUPERSTYLLIn’!

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Então participe do

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Inscreva sua banda e corra o risco de aparecer nos vídeos da ...Lost, sair com as namoradas dos atletas, ganhar umas latinhas de cerveja, umas camisetas e um par de meias novinho!

Não tá bom? Que tal 100 horas de gravação,

um amplificador de guitarra, um amplificador de contrabaixo,

uma guitarra, um contrabaixo e uma bateria completa?

Ainda não é suficiente? Então beleza, também vamos descolar

shows pra sua banda durante um ano e vamos colocar vocês

pra abrir o show de uma banda internacional que virá

para o encerramento do " ...Lost Band Search"!!!

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uma guitarra, um contrabaixo e uma bateria completa?

Ainda não é suficiente? Então beleza, também vamos descolar

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“Escuto música o tempo todo; quando estou viajando muito, estou sempre com meus headphones. É bom ter uma música cravada na cabeça quando se está surfando – ouvir música e surfar são muito parecidos em muitos aspectos. Hoje em dia escuto música mais tranquila; antigamente, na Califórnia, eu estava com a cabeça no punk, Bad Religion e tal. O disco que mudou minha vida foi Are you Experienced. Minha namorada me deu quando eu tinha 16 anos, uma fita k7, meio que transformou meu mundo.”

NOME_Rob Machado

PROFISSÃO_ Surfista Profissional

UM DISCO_Jimi Hendrix | Are You Experienced

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LEIA ISTO

“Agora, estamos correndo como crianças numa loja de doces. Voltar a escre-ver músicas é como voltar a andar de bicicleta.”Fab Moretti | do Strokes, sobre as gravações do disco novo.

“Num momento estou esperando a Kate chegar pra entrar na jacuzzi para uma noite romântica. A única coisa que consigo lembrar depois disso é estar fazendo rehab numa cela cheia de vô-mito.” Pete Doherty

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Keith R

ichars | Sobre sua auto-biografi

a.

“Eu escrevi ‘Cornerstone’ de manhã. Há algo a ser dito sobre compor de manhã – em out-ras horas do dia você está um pouco mais na defensiva.”Alex Turner | Arctic Monkeys

“Emo, pop-punk, o que você quiser chamar, é perigoso. Existe uma criatura dentro de mim

que quer destruir todas essas bandas.”brandon Flowers | do Killers, no auge do boom emo, em 2006.

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justificados!”Gareth | Los C

ampesinos!

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_BONO VOX,, STROKES, LOS CAMPESINOS!,KEITH RICHARDS. BRIAN ENO, PETE DOHERTY

“Este álbum será nos-so último… Quando estou trabalhando em um disco, faz senti-do pensar nele como o último que você fará porque daí você faz di-reito.” James Murphy | LCd Soundsystem

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Eno

“Eu me fiz parar de usar faixas na cabeça há um ano.”

Andrew Vanwyngarden | MGMT

“Estou entediado com o Bono e eu sou ele. Estou farto de mim mesmo.” bono Vox

noize.com.br 13

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Mestre do mashup, o carioca João Brasil manda recado de Londres: “Aqui é bom demais para trabalhar, só chove, faz frio, não tem praia”. Por isso o mashupeiro começou 2010 com a mão comprometida a permanecer na massa pelo ano todo. Desde 1º de janeiro, todos os dias um (ou mais) novo mashup do cara vai ao ar no blog 365mashups.wordpress.com. Fazendo uso da vocação que tem lhe galgado mais e mais fãs, colocou para dividir a mesma música Beatles e funk carioca, Los Hermanos e De Leve. A blogosfera enalteceu o 365 mashups como o grande projeto 2010. “Se é o mais ambicioso projeto da música brasileira esse ano eu não sei, sei que é o mais trabalhoso que fiz até hoje. Gasto uma hora e meia por dia fazendo e postando os mashups”, contou João por email.

A morada europeia é, em grande parte, a responsável pelo ânimo renovado. “Estou querendo me conectar cada vez mais com o Brasil nesse projeto. Sou bicho exótico por aqui”, explica entre um mashup e outro. As misturas, como de costume, unem mundos opostos como Beatles e MCs do funk carioca, conversam Bob Dylan e Olodum, transam Phoenix com percussão sambista. João ainda fez seu próprio Carnaval com o EP Mash Mash, em que reuniu as misturas sambadas e batucada da recente safra. Mas a jogada mais inusitada foi Let it Baile, uma releitura mashupada para o clássico dos Beatles, de onde sai a filha favorita de João no projeto até agora: “Let it Be”, dos FabFour, com “Injeção”, de Deize Tigrona: “Fiquei com lágrimas nos olhos quando acabei”.

noize

joão brasil e a odisseia do mashup

Montagem

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_ouca agora´George Harrison - All Things Must Pass

The Misfits - American PsychoErasmo Carlos - Carlos, Erasmo...

Megapuss - SurfingNOFX - Coaster

__PIXO | É pixo, não é graffite. É Arte? Protesto, Lazer. Por quê? Voz, grito. O que querem? O topo. Como? O prédio mais alto. O documentário Pixo retrata uma geração de jovens paulistanos cuja forma de expressão é criminalizada. “A pixação é como o grito dos invisíveis”, define Djan Ivson, personagem do filme e parceiro dos diretores João Wainer e Roberto T. Oliveira no projeto. Mais do que divagar sobre um indecifrável texto que definisse se aquela maneira de aplicar tinta nos muros é arte, o filme se preocupa em mostrar quem são essas pessoas. Eles mesmo explicam sua motivação para escalar prédios de mais de 10 andares pelo lado de fora, sem qualquer proteção, para fazer um tag. E as imagens são impressionantes. Busque por exibições em @pixodoc enquanto o longa não chega aos cinemas.

__LOVE BAZUKAS | O barulho garageiro do Black Drawing Chalks encontra os anos de distorção nas costas do forgotten boy Chuck Hipolitho. Surge daí o projeto Love Bazucas. A ideia inicial era que Chuck produzisse e colaborasse em composições do BDC, mas acabou resultando num EP em parceria. “São 2/4 ideias do Chuck e 2/4 do BDC. Trabalhamos todos em cima e, em uma tarde no Costella (estúdio do Chuck), aprontamos quatro músicas e gravamos metade das baterias”, contou o baix-ista Denis Pereira. “Surdo estourado, bumbo gordo, baixo destorcido no Orange, diferentes guitarras associados a cabeçotes Orange e um Marshall valvulado nervosíssimo! E um monte de brinquedinhos que deixavam o estúdio com aspecto de laboratório”—Denis definiu a fórmula; o resultado está no bacana www.NaGulha.com.br.

Polysom lança a primeira leva de vinis nacionais da década, com Nação Zumbi, Pitty, Ca-chorro Grande e Fernanda Takai. tiny.cc/polysom

O rei Roberto Carlos, em seus 50 anos, ganhou uma grande exposição na Oca, em São Paulo . Confira em tiny.cc/roberto438

Moby, Placebo e Madeleine Peyroux são algumas das atrações que vêm ao Brasil a partir de abril. Confira em tiny.cc/calendario

Rolling Stones lançam reedição de luxo do clássico Exile on Main Street com músicas inéditas. Confira em tiny.cc/stones414

direto ao ponto

Luiz Maxim

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ivulgação

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__ANAMAUÊ | Começou em fevereiro e vai até 4 de abril a exposição Ocupa-ção Chico Science, do Itaú Cultural (Av. Paulista, 149, em Sampa), que esmiuça o significado do mestre pernambucano e revela as múltiplas facetas do caran-guejo genial. A caminhada pelos diversos ambientes da exposição leva o espec-tador a fotos raras, escritos exclusivos, documentos e

__WHO THE HELL WAS JAY REATARD? | Não era só em Memphis que Jay Reatard era tido como um mito—ou ao menos um projeto de lenda. Infelizmente, no Brasil, a morte do punk rocker prodígio do Tennessee repercutiu pouco, não o bastante sequer para jogar luz sobre a obra gigantesca do cara. Jay estava longe de se encaixar em qualquer imagem pré-concebida, ainda que seu rock urgente e sua postura o associassem a uma figura niilista e destrutiva. Seu último disco, Watch me Fall (2009), cujo título macabro encabeça uma lista de músicas dificilmente enquadráveis em um só rótulo, é a prova de que a mistura de álcool com cocaína, que tirou a vida de Reatard no dia 13 de janeiro, deve ser um dos únicos clichês a por os pés na vida do artista—basta uma passada em myspace.com/jayreatard para confirmar a afirmação.

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objetos que dificilmente darão as caras novamente. Dizer que o nome Ocupação cai bem para a exposição de Science advém da natureza esfomeada do manguebit, da maneira como sua música se impôs como retrato de um povo culturalmente tão rico e, no entanto, financeiramen-te pobre. Cai bem também porque Chico Science ocupa o lugar que, em edição an-terior, foi de Paulo Leminski. Nada mais justo que artistas como eles, cada um à sua maneira reveladores da beleza de sua poesia incauta, crua e brasileira de dar or-gulho—sem ufanismo, por favor—, invadam espaços culturais nesta apropriação que não fere ninguém.

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tag yourself

_Meio Tim Burton, meio Salvador Dalí, o novo clipe do Raveonettes é um curta em animação cheio de metáforas, dirigido por Chris Do. O clima sombrio e as cenas dentro do corpo do personagem combinam com a música da dupla.

Tags: raveonettes heart stone

Raveonettes | Heart of Stone

lado a LADO B

_hobnox.com Plataforma online para criação de música

eletrônica de maneira intuitiva e visual. Para completar, os recursos de rede social

permitem o encontro de artistas e ouvintes das músicas originadas no site.

_audioporncentral.comO Audio Porn Central é um filtro. O site coleta

mp3 e vídeoclipes bacanas na internet e entrega tudo mastigadinho para o visitante.

_Os vídeos anônimos, com códigos e imagens bizarras e místicas do usuário /iamamiwhoami estão tomando espaço na internet. Os blogs citam Christina Aguilera e Little Boots como as mais prováveis autoras do viral.

Tags: iamamiwhoami

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_O cara se chama Joe Penna, é músico, brasileiro e mora nos Estados Unidos. Usando violão e “instru-mentos” menos comuns, como caixas de fósforo e escova de dente (e algumas horas de edição) ele une música, stop-motion e interatividade.

Tags: mystery guitar man

Mystery Guitar Man

tiny.cc/laerte O nome dá a dica: todas as tiras do Laerte

para a Folha no período de 2000 a 2009.

tiny.cc/alice649A rapaziada do Move That Jukebox separou

algumas músicas que estarão na trilha do Alice de Tim Burton para você sacar

tiny.cc/beatleslasersO With Lasers mostra uma estranhíssima

faixa rara dos Beatles.

posts

SITIOS

cordel do fogo encantado futureheads heartbeat lady gaga mirim

asobi seksu jesus kexp make the girl dance kill me hole samantha 2010 cumbia mixtypeface huang vimeo kate nash do wah doo holy ghost on board lady gaga mashup

pavement 2010 plastic beach atoms for peace

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follow upTUMBLIN’

_Bruce Willis, perseguições no deserto, carros, tiros e nova música do Gorillaz. Mais descri-ções são desnecessárias. Assista.

Tags: gorillaz stylo

Gorillaz | Stylo

_O Garotas Suecas acaba de lançar o diverti-díssimo clipe de “Bugalu”, do EP Dinossauros, disponível para download no site da Trama. O clipe é tão deliciosamente inspirado no tropi-calismo quanto a música. Nostálgico e atual.

Tags: garotas suecas bangalu

Garotas Suecas | Bugalu

_O que aconteceria se Marty McFly, do De Volta Para O Futuro, fosse ao passado e transasse com sua própria mãe? Nesse vídeo, as hipóteses do “para-doxo do avô” são propostas pelo College Humor na viagem no tempo mais famosa do cinema.

www.collegehumor.com/video:1928396

Marty McFly

audio

That Tree | Snoop Dogg, Kid Cudi e DiploÉ Snoop Dogg tentando ser mais “artista pop” do que “rapper”. A base de Diplo é boa, as par-tes que Snoop rima são ótimas, mas o refrão é fraco e Kid Cudi pouco acrescenta à música.

Hold On (Holy Ghost cover) | Friendly FiresFriendly Fires faz cover do debut do Holy Ghost para o split que as duas bandas lançaram em fevereiro.

Our Love Was Saved by Spacemen | The PipettesAs Pipettes seguem no clima especial, mas perdem muito do peso e poderio pop que tinham no primeiro disco. Não chega a ser ruim, mas não empolga.

Spanish Sahara | FoalsPrimeiro single de Total Live Forever, próximo do Foals.

Maurel & Sonny Dog Blues (Ferrugem/SC)Quando soa a gaita de Maurel, Sonny solta a voz do fundo da sua alma canina.QUER OUVIR? NOIZE.COM.BR/nuncaouviu

@_StevieWonder - Para acompanhar o clima de humor negro que dominou a web no mês que passou.

http://theimpossiblecool.tumblr.com/Retratos bonitos e expressivos em p&b captam gente respeitável (ou não) em momentos que não se repetem mais.

http://kurtwiththecat.tumblr.com/Gente famosa do universo pop em grandes momentos, péssimos momentos e, principalmente, em momentos com o gato.

Voce nunca ouviu ̀

o que voce viu e nao viu neste mes_`

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Uma banda de blues-rock, uma dezena de pesos-pesados do rap, um Chevy Camaro preto. Essa é a receita de Blakroc, projeto dos americanos do Black Keys. Os caras, que trabalharam com o onipresente Danger Mouse no último disco, resolveram levar a sério o hip-hop, uniram forças com produtor Damon Dash e chamaram gente do calibre de Mos Def, Ludacris, RZA e Jim Jones para fazer o que foi um dos grandes discos do ano passado. O disco é, na verdade, apenas parte do grande projeto: desde o início de 2009, vídeos dos bastidores foram lançados na internet. Logo após o lançamento do CD, na “black Friday” (a sexta-feira seguinte ao Dia de Ação de Graças) foi anunciado o Chevy

Camaro Blakroc, carro especialmente produzido para o projeto.Nas onze faixas do CD, a cozinha guitarra-e-bateria do duo de Ohio serve de cama perfeita para os convidados rimarem, em faixas musicalmente ricas, que mostram que Blakroc é mais que uma brincadeira. “On The Vista”, com o já calejado Mos Def, entraria perfeitamente no último disco do rapper, The Ecstatic.Outros pontos altos são “Coochie”, que apresenta gravações antigas de Ol’ Dirty Bastard, “Hope You’re Happy”, a faixa mais roqueira do álbum, com um instrumental perfeito de Dan Auerbach e Patrick Carney, e Ain’t “Nothing Like You (Hoochie Coo)”, em que Auerbach divide vocais com Mos Def.

bandas que vocenao conhece mas deveria conhecer_

blakroc

Divulgação

Origem:Manchester

Som:O nome é tão

irreverente quanto a banda. Não é hip

hop nem vem do Egito: com sintetizadores oitentistas e

letras cheias de deboche, a Egyptian Hip Hop possui um estilo quase inclassificável.

Escute:myspace.com/egyptianhiphop

EGYPTIAN HIP HOP

Origem:Suécia

Som:Vocais pop

reverberados, in-fluência sessentista

acentuada, baixo marcado. Uma indie rock bacana que leva o brit pop de encontro ao power pop – e

a diversos comerciais de TV.

Escute:myspace.com/caesars

THE CAESARS

Origem:Belo Horizonte, MG

Som:MPB difícil de defi-nir do renascer da canção, flerta com a psicodelia, com o eletrônico e com o erudito. Com melodias pop e instrumental criativo, de um Júpiter

Maçã passeando pelo nordeste.

Escute:myspace.com/graveolaeolixopolifonico

GRAVOELA E O LIXO POLIFÔNICO

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Uma mistura de Bob Dylan pré-acidente de moto com um Daniel Johnston sem desordens mentais. Somem-se a isso referências como Velvet Underground, Bruce Springsteen e Libertines: o resultado é Ezra Furman, um nova-iorquino que, com mais três colegas, forma a Ezra Furman and the Harpoons. Depois do primeiro disco, independente, os caras assinaram contrato com a Minty Fresh Records e lançaram mais dois álbuns: Banging Down The Doors e Inside The Human Body. Neles, o estilo se confirma: às vezes garageiros como os Black Lips, em outras acústicos como Dr. Dog, os caras parecem querer passar uma mensagem vital a cada música. Furman, empunhando uma gaita de boca e um violão, berra

letras sobre desilusões amorosas, falta de perspectiva e a importância do uso de óculos escuros em dias de sol. Em “Take Off Your Sunglasses”, responde, agoniado, a uma declaração de amor: “In the middle of the night, everybody loves everybody else these days”.O último disco, lançado após o fim do contrato com a gravadora, é Moon Face, composto por bootlegs. Além disso, a banda promete compor uma música para cada comprador: é só comprar o disco, mandar uma carta para eles contando algo sobre sua vida e esperar.Escute: “Mother’s Day”, sobre uma prostituta de Chicago, “Take Off Your Sunglasses”, com refrão para cantar junto, e “The Dishwasher”, sobre empregos cretinos.

bandas que vocenao conhece mas deveria conhecer_

ezra furman & the harpoons

Jason AnfinsenOrigem:

Flórida, EUA

Som:The Drums cria letras e ritmos

simplistas, livres e pessoais. A despre-tensão e descuido com o mundo de fora

são, ironicamente, os maiores atrativos da banda.

Escute:myspace.com/thedrumsforever

THE DRUMS

Origem:Porto Alegre, RS

Som:Hardcore de vocal gritado e convicto.

Os suspiros dos anos 90 brilham

nas poesias e na levada mais cadenciada. Com riffs despreocupados, porém preci-

sos, é puro rock cru.

Escute:myspace.com/velhodecancer

VELHO DE CÂNCER

Origem:Texas, EUA

Som:Começaram como

um duo punk, pega-ram emprestados

alguns membros do Mika Miko e viraram um Rolling Stones

garage-country.

Escute:myspace.com/thestrangeboys

STRANGE BOYS

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soundcheck

Black Clouds & Silver Linings foi lançado em uma versão especial, incluindo um CD de covers e um de versões instrumentais do disco original. A experiência deu certo?Funcionou muito bem, tanto para a banda quanto para os fãs. Eles ficaram muito felizes com o resultado, a recepção foi muito boa, inclusive para a versão mais simples do disco. Gostei muito do disco de covers, mostrou nossa interpretação mais particular daquelas músicas.Por que motivo você não escreveu nenhuma das letras nesse álbum?Foi como o álbum rolou. John tinha muitas ideias. Mike queria terminar sua “suite do álcool” nesse disco (desde 2002, o baterista vinha compondo músicas relacionadas à sua batalha contra o alcoolismo) , e passou por uma experiência dura, que foi a morte do seu pai, para quem ele queria prestar tributo. Acabei não tendo nenhum envolvimento com as composições.Os problemas que você teve com sua voz mudaram a maneira como você se prepara para cantar hoje em dia (James machucou a voz de tanto vomitar após uma intoxicação alimentar em 1994)?Sempre cuidei da minha voz, mas hoje em dia faço muitas coisas para manter ela em forma. Corro 5km por dia, me alimento de maneira saudável, não fumo. Tenho a técnica vocal

James LaBrie dispensa introduções. Vocalista do Dream Theater, uma das maiores bandas de metal progressivo da história, ele e seus companheiros passam pelo Brasil neste mês de março, com shows em Porto Alegre (16/03), Curitiba (18/03), São Paulo (19/03) e Rio de Janeiro (20/03). Falamos com LaBrie sobre o disco novo, os cuidados do cara com a voz e os shows imprevisíveis. do Dream Theater.

“Corro 5km por dia, me alimento bem, não fumo, aqueço antes de Cada apresenta-ção, bebo água morna e mel... to-das essas Coisas.”

JAMES LABRIE Rosemary Burnes, que me auxilia regularmente. Aqueço antes de cada apresentação, bebo água morna e mel… todas essas coisas.Em Porto Alegre vocês vão tocar no mesmo dia que Guns N’ Roses e Sabastian Bach. Tem gente que vai no Guns porque acha que é uma banda mais suscetível a terminar de repente...Sim, está além do nosso poder, não há nada que possamos fazer. Acontece com frequência. Neste caso, são artistas que respeitamos – sou inclusive amigo de Sebastian. Com certeza nós não estamos nem perto de acabar com o Dream Theater, mas espero que muitos fãs vão ao show, porque sempre damos nosso máximo.Os set lists de vocês costumam ter em torno de 10 músicas. Com 10 discos de estúdio, o que esperar dos shows?Não gostamos de repetir set lists, então eles mudam a cada show. Fazemos isso para mantê-los interessantes, para os fãs e para a gente. É importante que cada show seja fresco, poderoso, imediato, surpreendente. Nós vamos definitivamente tocar algumas músicas de Black Clouds, e tentaremos tocar uma ou duas de cada um dos outros discos. É impossível tocar de todos, fica cada vez mais difícil à medida que lançamos novos discos, e há sempre fãs que querem ouvir músicas novas e outros que precisam ouvir suas preferidas.

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__SHE’S GOT THE LOVE | Florence Welch: Bonita, canta bem e teve a sensatez de não querer ser a única estrela de seu disco de estréia, Lungs, em que influências clássicas formam a beleza do trabalho. Essa vibe também dominou a última edição do BRITs Awards, onde a cantora, envolta por um palco cheio de harpas e um globo espelhado gigante, sur-preendeu até os que mais a estimavam – como eu. Represen-tando os icônicos live mashups dos BRITs, Florence apareceu com o rapper Dizzee Rascal numa união que criou “You’ve Got The Dirtee Love”, um mix dos versos de “You’ve Got The Love” e “Dirtee Cash”, sempre com harpas ao fundo. O produto final é lindo – e a explosão de papeis picados verme-lhos que finaliza o show quase emociona. Ele levou o título de melhor cantor e ela, o de melhor álbum. Justo.

__DIPLOMAT’S SUN | Rostam Batmaglij, tecladista do Vampire Weekend, é gay. A notícia foi dada com frenesi pela imprensa es-trangeira, só que não por preconceito: a revelação, feita pelo próprio músico, explica muita coisa por trás de seu trabalho. “Diplomat’s Sun”, por exemplo, foi descoberta como uma ode a um dos primeiros relacionamentos homossexuais do rapaz com um... filho de diplomata. Também vale fazer uma rápida analise nas músicas do Discovery, seu projeto com um dos integrantes do Ra Ra Riot, pra sair detectando umas dicas que ninguém conseguiu pegar.

__NOUVELLE NO BRASIL | Depois de alguma enrola-ção, o francês Nouvelle Va-gue confirmou sua passagem pelo Brasil por meio de sua página no Myspace. Entre shows na Bélgica e na Fran-ça, o grupo encaixou três apresentações tupiniquins. A primeira acontece em 29 de abril, no Clash Club, em São Paulo. Logo em seguida o grupo embarca para o Rio de Janeiro (Circo Voador, dia 30) e Recife (dia 1º de maio em lugar a ser definido). Por ora, o Brasil é o único país da América Latina a receber a turnê do álbum 3, que carrega covers à bossa nova de artistas como The Police, Depeche Mode e Sex Pistols.

Thom Yorke confirmou o nome de sua nova banda, que toca na edição de 2010 do Coachella. O grupo se chama Atoms For Peace, e há vídeos de músicas novas tocadas por Yorke em Cambridge. tiny.cc/yorkemove

O sexto disco de estúdio da dupla The Black Keys irá se cha-mar Brothers e já está a caminho. A capa e a tracklist você confe-re em tiny.cc/blackkeysmove

Trans-Continental Hustle, quinto disco de estúdio de Eugene Hütz e seu Gogol Bordello, já tem data de lançamento. No dia 27 de abril, as faixas listadas no tiny.cc/gogolmove ganham o mundo.

Novas faixas da Kate Nash têm vindo a público para revelar que a garota transita entre o pop descontraído do primeiro tra-balho e algo mais roqueiro. tiny.cc/katemove

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__Quando você pegar esta revista ainda vai dar tempo de correr para conferir de perto o Coachella, festival californiano que abre (em 16/04) extra-oficialmente a programação dos grandes festivais de música no hemisfério “de cima”. O novo projeto do Thom Yorke, do Ra-diohead, é um dos destaques.

__O novissimo Lions Nightclub abriu após o Carnaval em pleno centrão paulistano. Com esque-ma de carteirinhas para sócios, tem na programação inicial noites dos núcleos Chocolate (hip-hip, soul e funk, as quintas) e 3Plus (techno, house e afins, aos sábados).

__Em primeiro de março a MTV Brasil amanheceu com nova programação. Entre as novidades estão um programa voltado para cultura noturna, o MTV na Pista, apresentado por Kika Brandão. A parte de videoclipes ganha reforço nas madrugadas com novos sons e eletrônica indicados pelo rraurl, sempre as sextas, 2h30min.

__O LCD Soundsystem, padri-nho da disco-punk dos anos 00 e dono do essencial Sound of Silver (2007), está com trabalho no forno para este semestre. Trocando a cinzenta Nova Iorque pela ensolarada Los Angeles, James Murphy promete sons inspirados na soul dos anos 70.

RRAURLBLOGS

__A banda a ocupar o posto de melhor eletrônica-pop-britânica de 2010 (posto que em 2009 foi do duo La Roux) pode bem ser a Chew Lips. Com remixes de gente como Tepr e Two Door Cinema Club e datas em festivais como o texano South by Southwest, o trio está na ativa desde 2008 e lançou em fevereiro o primeiro ál-bum, Unicorn. As bases eletrônicas, as melodias sintéticas e a voz clara e metálica da vocalista Tigs são o destaque. Acrescente o clima low-tech, quase cru, sempre apoiado na presença de Tigs (forte candidata a personalidade cool de 2010), e você tem um dos destaques dessa safra de bandas lideradas por mulheres, fenômeno pós-Yeah Yeah Yeahs (e prestando claro tribudo a Karen O) que remete tanto ao feminismo punk dos anos 70 quanto à dance music inofensiva dos anos 90, sem necessariamente soar datado. Publicações bombadas como o NME, já colo-caram o trio no seu time de bandas “a ver” em 2010 e a banda também é aposta do bacana selo francês Kitsuné, que escalou para as edições 7 e 8 de suas coletâneas Maison. Ouça “Solo”, “Slick” e “Karen”.

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__1986. Eu tinha 16 anos, e o rock nacional era uma febre. Gastei meu primeiro salário comprando seis vinis: Dois, da Legião Urbana; O Rock Errou, Lobão; Selvagem?, Os Paralamas do Sucesso; Nós Vamos Invadir a Sua Praia, do Ultraje a Rigor; Mudança de Comportamento, do Ira! e Revoluções por Minuto, do RPM. Antes desta compra só havia dois vinis na minha “coleção”: Radioatividade, da Blitz, e Ballads, uma coletânea com 20 baladinhas dos Beatles, o primeiro disco que ganhei na vida.

Hoje é bem provável que haja em minha HD uma discoteca tão extensa quanto a que tenho em CDs e vinis, aproximadamente uns 7 mil álbuns. Mas nos últimos 15 anos não me lembro de ter comprado mais do que cinco discos em vinil, porém, o cenário parece estar mudando. Os vinis ressurgem – principalmente no mercado externo – como um interessante item de colecionado, pegando muita gente pela beleza e qualidade do material.

Para a reedição de seu álbum de estréia, Ten, o Pearl Jam preparou vários formatos para o mercado,

sendo que o mais caprichado inclui dois CDs, um DVD, quatro vinis (entre eles o disco duplo ao vivo Drop in The Park, oficialmente lançado apenas neste box) e uma fita k7, além de farto material de fotos e badulaques. Os Rolling Stones também capricharam na reedição do disco Get Yer Ya-Ya’s Out!, que junta três vinis, três CDs, um DVD, livreto e muito mais.

Na mesma linha, Stone Roses (Stones Roses Legacy Edition), Snow Patrol (Up To Now Box Set) e White Stripes (Under Great White Northern Lights) deixam fãs de queixo caído com suas edições super especiais. No Brasil, o vinil ameaça uma volta tímida com o investimento da Deckdisc no setor, embora seja bem difícil imaginar alguém gastando o salário comprando vinil. Mas se você quer uma dica, procure o site da Vinyl Land, um selo independente que já lançou compactos em vinil de seis artistas brasileiros, entre eles Autoramas, Lê Almeida e, mais recentemente, Rock Rocket. É um bom começo.

SCREAM & YELLBLOGS

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FORA do eixoBLOGS

__O caldo é grosso e vem de Rio Branco, no Acre. Caldo de Piaba é mais um daqueles ingredientes da música independente a que nenhum gourmet resiste: junta, num caldeirão, carimbó, brega, jazz, blues, rock, funk, ska e samba. Formada em 2008, a banda acaba de levar a sua música para o nordeste do país. A turnê percorreu 6.568 km entre Maceió, Arapiraca, Salvador e Recife. Acesse o diário de bordo em piabanokombao.blogspot.com.A banda faz parte do Coletivo Catraia, ponto Fora do Eixo no Acre. No primeiro semestre de 2010, o grupo vai lançar pelo CompactoRec, projeto da Fora do Eixo Discos. A promessa é de um trabalho que transita entre músicas populares, venezuelanas, bregas, bolero—“ou seja, um caldo doido!”, relata o baterista Renato di Deus.

__São Paulo está com data marcada para ser invadida. Depois de sincronizar mais de 80 cidades com o festival integrado Grito Rock, o Circuito Fora do Eixo concentra-se para tomar o eixo. No início de abril, o FestivalFora do Eixo, que une produtores e bandas independen-tes de todo o Brasil, vai ocupar a cidade. Dez dias, dez dos espaços mais significativos do indie rock paulistano. As noites serão embaladas por Macaco Bong, Porcas Bor-boletas, Minibox Lunar e outros grupos que despontam no país e compõem o trabalho em rede que marca a atuação do Circuito Fora do Eixo. Quem tiver pique acompanha ainda um ciclo de reflexões sobre a Tropicália e seus desdobramentos no universo da música independente de hoje. Anote!

Grito Rock 2010, o maior festi-val integrado da América Latina, mais uma vez estimula a circu-lação de músicos independentes em mais de 80 cidades. Confira a entrevista na Rádio CBN em tiny.cc/grito611

Em menos de dois anos, os amapaenses da Minibox Lunar já chamam a atenção de público e da crítica. Matéria da Folha de São Paulo destacou o isolamento geográfico como influência no som da banda.

Macaco Bong abriu a tempora-da do Auditório Ibirapuera em São Paulo. Com convidados de peso, mostraram porque são umas das principais bandas independentes do país. Assista mini-doc em nagulha.com.br

Portal Nagulha, uma revista eletrônica que reúne atrativos como a ágil cobertura audio-visual dos shows e festivais mais empolgantes, gravações exclusivas em áudio e outras novidades: www.nagulha.com.br

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No dia 27 de agosto de 2001, o primeiro álbum dos nova-iorquinos The Strokes foi lançado na Inglaterra. Um mês depois, quando finalmente aterrissou nos Estados Unidos, precisou de uma nova capa, menos sensual+1, e da troca da canção “New York City Cops” pela bem menos urgente “When It Started”. O retrato despretensioso que os cinco garotos haviam elaborado sobre a cidade em que viviam chegou em má hora, quase junto com os aviões que derrubaram as torres gêmeas. Ironicamente, Is This It acabou por se tornar o disco que salvou rock no século XXI. E não é só isso.

Em uma cidade efervescente—porém gigante—como Nova Iorque, a importância da música só fica evi-dente numa escala microscópica. Os músicos são como formigas. Como elas, circulam perdidos e desordenados na megalópole. Mas não há como ignorar o talento de algumas delas pra trilhar o caminho seguro de outras, tampouco o fato de o formigueiro gigante da Big Apple ter areia suficiente para as formigas talentosas, que deixam sua marca ao desvendá-la. Os Strokes são des-sas formigas, e desbravaram um cenário que deixava as imitadoras sem saber que caminho trilhar.

Pode parecer estranho, mas os 19 milhões de nova-iorquinos não tinham muitos lugares legais para assistir a shows de rock na virada do século. Se você estivesse em uma banda, dispunha de alguns palcos legais no Brooklyn e mais alguns em Manhattan para mostrar seu empenho. No Lower East Side (sudeste da ilha), ficava a Arlene’s Grocery,+2 bar e casa de shows em que o Strokes fez uma de suas primeiras apresentações. Fizeram outras tantas no Luna Lounge,

virando a esquina na Ludlow St. Foi no Luna que Gordon Raphael os viu pela primeira vez.

“Eu pensei ‘uau, eles têm um visual muito bom e agem com muita autoconfiança’. Mas não fiquei muito impressionado com a música. Como eu pre-cisava trabalhar, chamei eles até o meu estúdio para fazerem uma demo”, conta Raphael, que acabaria por produzir os três primeiros discos do Strokes, a começar pelo EP The Modern Age. “Eles diziam que tinham tido muito azar nas tentativas anteriores de gravar, e não achavam que fosse possível conseguir uma gravação boa de verdade. Falei para eles que, se me dessem três dias, gravaria três músicas”.

“The Modern Age”, “Last Nite” e “Barely Legal” eram o retrato do Strokes que aos pou-cos conquistaria Raphael com a mesma força que começava a arrebanhar outros ouvintes: sujo, urgente e provido de ótimas melodias, no vocal sensual de Julian Casablancas e na guitarra marcante de Nick Va-lensi. As três músicas, tocadas através de uma ligação telefônica transoceânica, impressionaram também o inglês Geoff Travis, que voou até Nova Iorque para vê-los tocar—e imediatamente convencê-los a lançar a demo, da maneira que estava gravada, pela Rough Trade Records, gravadora indie que Travis fundara na transição dos anos 70 e 80 para lançar bandas como The Smiths.

Junto de The Modern Age, Travis levou para Londres o Strokes. “Os garotos foram embora e eu não ouvi nada. Três meses depois, Albert aparece dizendo, ‘Cara, assinamos contrato na Inglaterra com aquele disco que você gravou para a gente, e nós

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[+1] A capa original de Is This It:

[+2] Neste show de 2000, disponível no YouTube, a banda toca músicas que sairiam em Is This It e outras nunca lançadas: tiny.cc/strokesarlene

NO TEMPO EM qUE OS STROKES SAlVARAM O ROcK

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vamos sair em turnê por lá, porque fomos escolhidos pela NME como Song of the Week’”, conta Raphael. O sucesso veio primeiro na Europa, mas não tardou até que aquele EP de apenas três músicas despertasse os americanos de seu então esgotado sonho pós-grunge. “A mídia americana também começou a escrever sobre eles. E eram revistas como a Rolling Stone, que só escrevem sobre estrelas, produções milionárias, bandas contratadas por majors. Essa banda tinha con-trato com um pequeno selo indie na Inglaterra, mas não eram sequer distribuídos nos Estados Unidos—e estavam escrevendo sobre eles como ‘oh, algo está acontecendo, algo está acontecendo!’”.

Nos próximos meses, os americanos continu-aram a esperar pelo verdadeiro trabalho de estreia de seus filhos expatriados. Is This It saiu também pela Rough Trade, e também com produção de Raphael: “Tanto em Is This It quanto em Room on Fire os Strokes tentaram outros produtores antes de virem a mim, di-

zendo que ninguém mais sabia qual era o ‘som deles’”. “Uma coisa que posso dizer é que quando a

banda tocou ‘Take It Or Leave It’—e gravamos aquilo ao vivo—eu senti que tínhamos feito uma obra de rock ‘n’ roll monumental, que era exatamente o tipo de som que eu vivo para ouvir. Is This It me causou um sentimento de imenso poder e liberdade que durou por anos!”, sintetiza Gordon Raphael. Quem arremata é Geoff Travis: “Is This It é um disco avassalador e seminal. Ele merece todos os prêmios de melhor da década. Ainda hoje soa brilhantemente fresco e exci-tante. Pare de ler agora e coloque-o na vitrola”.

Depois de colocar o disco para tocar, volte para ler a entrevista exclusiva de Gordon Raphael. Ele concedeu a entrevista a seguir por telefone, diretamente de Berlin. A íntegra do papo, repleto de detalhes inéditos sobre a convivência do cara com o Strokes, você confere no site da NOIZE. Selecionamos algumas partes, destacadas a seguir.

[+] O Strokes começou a colocar vídeos da gravação

do sucessor de First Impressions of Earth. O primeiro está em tiny.cc/strokes2010

[+] Neste show [tiny.

cc/strokestavern]a banda toca Is This It na íntegra, no Horseshoe

Tavern, em 10/02/2001.

“QuAnto mAis trAbAlhAVA com JuliAn cAsAblAncAs, mAis eu perce-biA Que ele erA um cAntor geniAl.” ACIMA, Gordon rAphAel e JulIAn CAsAblAnCAs eM estúdIo

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Para começar: Is This It é o disco da década?Absolutamente. Antes de Is This It, o rock ‘n’ roll, essa coisa toda estava quase acabada. A maioria dos lugares em Londres e NY era para se ouvir discos, DJs e toda essa cultura. E depois que Is This It foi lançado, jovens que tinham crescido ouvindo techno e acid jazz de repente começaram bandas de rock.

Você vê como um acidente ter começado a trabalhar com Strokes?Sim, porque eu fui para New York trabalhar nas minhas próprias músicas, e sai à procura de qualquer banda que me deixasse gravá-la e me pagasse, para que eu pagasse meu aluguel. Então, quando os conheci, eles eram apenas mais uma banda.

E então o EP foi lançado em Londres e depois a atenção dos EUA se voltou para a banda…Eles fecharam com a Rough Trade, que lançou a demo, sem mais mixagem, e aí, Albert pegava pequenas caixas de CD e as levava a pequenas lojas de disco de Man-hattan, Kims Video foi uma delas, e perguntava “Você ficaria com três dos meus discos e os venderia, por favor?”. Tudo de maneira muito independente.

E daí para Is This It, o que aconteceu?Uma tempestade. Os garotos foram embora e eu não ouvi nada, então esqueci deles. E então, repen-tinamente, três meses depois, Albert aparece dizendo, “Cara, assinamos contrato na Inglaterra com aquele disco que você gravou para a gente, e na realidade nós vamos sair em turnê por lá, porque fomos escolhidos pela NME como Song of the Week. Então vamos correr para Londres e excursionar pela Inglaterra”. Eu pensei “uau, nenhuma banda com que já trabalhei assinou antes, e aqui estão eles, com uma grande tour na Inglaterra, que fantástico!”. Então a mídia americana começou a escrever sobre eles. E eram revistas como a Rolling Stone, que escrevem sobre bandas contrata-das por majors. Essa banda tinha contrato com um pequeno selo indie inglês, mas não eram sequer distribuí-dos nos EUA. E estavam escrevendo sobre eles como “oh, algo está acontecendo, algo está acontecendo!”.

De onde veio o som de Is This It, um disco de 2001 que não soa como nada da sua época?Todo mundo que eu conhecia estava usando as novidades do ProTools para deixar o som “grande” e sobrecarregado de camadas adicionais. Eu pensei: e se nós apenas gravássemos a banda no meu estu-diozinho, como verdadeiros músicos se divertindo e tocando uns com os outros? Eu vinha pensando em Raw Power, do Iggy and the Stooges, porque a versão original daquele disco soa como um completo caos de freak-outs estourados e mal balançados. Também es-tava vidrado em Skinny Puppy, uma banda eletrônica e gótica matadora, de Vancouver, que me inspirou a usar distorção nos vocais e a tornar os sons agressivos, impossíveis de ignorar.

Quem era o músico mais experiente?Acho que eram todos parelho, mas Nivk Valensi real-mente me impressionou de cara, ele tocava coisas doidas na guitarra. Albert tocava a base de uma forma fantástica, que fazia o som acontecer, entende? E quanto mais trabalhava com Julian Casablancas, mais eu percebia que ele era um cantor genial, ele podia fazer coisas muito loucas. Se ele tinha que cantar o verso de uma música, eu tocava um pedaço antes, e ele cantava uma melodia completamente nova, com letras ensandecidas, como se não soubesse o que es-tava fazendo. E aí, assim que a parte que ele precisava gravar chegava, ele cantava ela com perfeição – ainda que estivesse tirando sarro no início, ele simplesmente se focava e cantava como louco. E seu ritmo, seu tom e sua afinação eram tão superiores.

Você identifica o jeito de Julian cantar com Lou Reed?Eu acho que se você pegar Lou Reed e Bob Marley e achasse algo no meio disso, talvez encontrasse um paralelo. Quer dizer, ele definitivamente adorava a atitude new-yorkee de Lou Reed, mas as melodias do Julian são loucas, tomam conta do lugar, e seus ritmos são muito sexy. Lou Reed é muito cool, mas seu negó-cio é bem mais simples que o que Julian faz. Os dois são geniais.

[+] Leia a entrevista na íntegra em www.noize.com.br. Go!

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Como surgiu a ideia do Sem Nostalgia? Ou mel-hor, o que surgiu primeiro, a ideia do disco ou as faixas em si?A ideia, na real, se divide em duas. A primeira ideia que eu tive, na verdade, não era um disco. Foi quando em 94 eu fui tocar com os Doces Bárbaros em Londres num show no Royal Albert Hall. Atrás do Royal Albert tem o Museu de História Natural de Londres e uma das salas, a sala dos insetos, que era toda feita para criança, tinha umas máquinas como se fossem displays em que você botava o fone, visualizava os insetos e ao clicar neles, ia ouvindo os sons que eles faziam, descobria de que país eles eram... Quando eu ouvi aquilo, pensei que tinha tudo a ver com sintetizadores, porque era “de mentira”, sabe? Tinha a ver com músi-ca eletrônica e o lance da ambiência, como aqueles sons se misturavam ao ambiente e tal. Aí eu pensei que, “porra, podia usar os insetos como instrumentos, como ambiência”.Daí passou um tempo, quando eu tava em São Paulo na casa de um amigo ouvindo um disco do João Gil-

berto, eu comecei a aumentar os graves, mexer nas freqüências das caixas de som. Quando puxava o “gravão” do disco, o baixo do violão mudava muito sabe. Então eu pensei que poderia fazer um disco “voz e violão” que mexesse com essa parada da tradição, que eu pudesse avançar e me divertir com isso de várias formas. Aí eu decidi: “porra, quero fazer um disco voz e violão”. E fiquei com isso na cabeça por muitos anos.Finalmente, em 2008: “tá na hora, vou fazer esse disco porque ta há muito tempo na minha cabeça”, precisa-va dar uma esvaziada, poder pensar em outras coisas, sabe? Aí eu comecei a compor o disco e pensar de que maneira eu poderia fugir do esquema de dois ca-nais, só voz e violão. Começou a surgir essa ideia dos samples, comecei a samplear vários discos do Caymmi, do Baden, só os trechos com os caras tocando violão. Comecei a sacar que eu poderia fazer uma faixa no Jardim Botânico, de noite e pegar o ambiente. Come-cei então a ter várias ideias de como extrapolar aquilo, de como fazer o ‘voz e violão’ soar diferente.

Sem nostalgia nem contradição, o baiano-quase-carioca-com-pé-em-Recife Lucas Santtana chega aos 10 anos de carreira como

sempre fez: olhando para trás ao seguir em frente. Seu último ál-bum, Sem Nostalgia, desconstrói um dos maiores ícones da música brasileira – a voz e o violão – a partir de samples de Baden Powell,

Caymmi e Jorge Ben e canções. Belas canções.Dono de uma das mais importantes discografias da recente música brasileira, Lucas conta a NOIZE como insetos e ficar brincando com

equalizador ao ouvir João Gilberto podem influenciar um disco e fala também daquilo que o circunda: a internet, sua geração e,

sim, a música brasileira.

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Como foram as gravações? Lendo a ficha téc-nica, eu fiquei até meio assustado, vendo que você colocou dois bateristas fodas, como o Curumin e o Marcelo Callado+1, para tocar ba-teria no violão. Como foi escolher cada músico e produtor para cada faixa?Quando eu pensei no disco, eu chamei vários produ-tores e vários músicos, porque eu pensava que como era um disco que já tinha uma amarração, só podia ser voz e violão, quanto mais gente eu chamar para produzir junto comigo, gravar em estúdios diferentes, mais vai enriquecer uma coisa que é uma só, voz e violão. E daí eu comecei a chamar a galera que eu já trampo há algum tempo. Como o Curumin, que eu já tinha feito faixa do disco dele, o João Brasil que já tinha feito coisa junto, o Chico Neves, o Do Amor, que já tocavam comigo. Uma faixa que era samba-rock como “Um Amor Em Jacumã”, então eu chamava alguém com uma pegada samba-rock legal, como o Cu-rumin. No “Who Can Say Which Way”, que era uma parada meio rock, chamava o Do Amor, que é uma banda rock, mas não é tão rock assim. Enfim, eu chamava quem tinha a ver com a faixa, que pudesse catalisar o que a faixa pedia.

Esses seus 10 anos de carreira, foram os 10 anos que a indústria fonográfica ruiu. Mesmo sendo um artista muito bem adaptado a inter-net, você às vezes sente algo que, talvez não seja nostalgia, mas uma vontade de ter sido artista em outra época? Não, eu realmente sou um cara que não tem essa parada nostálgica, sabe? Eu acho que a época que a gente está vivendo é a época mais legal, mais democrática. É uma época, sim, muito difícil, porque todo mundo faz música, a concorrência é grande. Tem um lado muito legal que é esse de eu e toda essa galera da minha geração estar se inventando. A gente não está só fazendo música, a gente tá inventando

um jeito de fazer música, um jeito de viver de música, um jeito de empreender música. Não é que a gente não tenha gravadora, a gente nunca teve. Nunca teve gravadora, nunca teve jabá pra tocar em rádio. Então, a internet vira nossa única aliada. Por exemplo, em Recife, depois do show no Rec Beat, eu saí na rua e uma um monte de gente veio me parar para dizer ‘po, eu tenho um blog, coloquei teu disco para baixar lá’, sabe? Então, é muito boa essa coisa do boca-a-boca, do blog, de colocar aquele disco para 100 amigos seus que acessam aquilo lá. E pensar que isso é multiplicado por milhares de blogs. Acho legal viver esse tempo em que a gente está vivendo, mas não só isso, acho legal pensar sobre ele, não só do ponto de vista artístico, mas do ponto de vista do negócio da música mesmo.

Como você vê o Sem Nostalgia no meio deste renascimento da can-ção+2, sendo ele um disco que, de certa forma, tenta descon-struir e reconstruir essas canções?Eu acho que realmente essa coisa da canção

está voltando, porque essa coisa de groove, de você soltar uma batida e construir uma música em cima dela cansou um pouco, ficou nos anos 90. A canção que se defende sozinha, independente de ter uma sonoridade atrás, isso voltou. E ao mesmo tempo, na minha geração, gente como o Curumin, a Céu, têm muito essa história das texturas musicais, que é o meu barato. Apesar de fazermos canções, temos uma preo-cupação muito grande para que na hora que aquelas canções forem gravadas, não seja feito num arranjo tradicionalista. Ao contrário, a gente vai tentar colocar um arranjo com maior número de timbragens possív-el, para que seja tão interessante quanto a canção. Eu canso de ouvir canções bonitas, mas que quando são gravadas, isso é feito de uma maneira tão careta que a canção fica feia. Então, se não tiver som abraçando a canção, eu não curto muito. Tanto é que eu acho a MPB hoje uma coisa muito careta, na sonoridade.

noize.com.br

[+1] Do Amor e banda Cê do Caetano

[+2] De uns 3, 4 anos para cá, de

certa forma dá para falar que estamos

vivendo uma espécie de renascimento da

“canção brasileira”, algo que não é exatamente

samba, não é bossa nova, não é tropicália

nem jovem guarda, mas você nunca vai ouvir

um americano fazendo, por exemplo. .

“A gente não está só fazendo música, a gente tá inventando um jeito de fazer música, de viver de música, de em-

preender música. Não é que não ten-hamos gravadora – nunca tivemos.”

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Apesar de guardarem semelhanças, seus quatro discos têm ideias completamente dife-rentes. O que você acha que seria então seu som? O que te define?Meu som sempre foi textura musical. Canção com textura musical. Desde o primeiro disco meu barato sempre foi achar sonoridade, sabe? Achar sonoridade do instrumento, achar sonoridade da guitarra, do baixo e achar principalmente a sonoridade da faixa, que é tudo isso junto, que se forma e dá vida a um som só. Se você tirar a voz, o som que tem atrás é muito uma coisa de tapeçaria musical, de culinária, pode chamar do que você quiser.

Você acha que o título Sem Nostalgia talvez seja um resumo de como você conduz sua car-reira?É um resumo no sentido de que eu nunca quis muito reproduzir a música popular que veio antes de mim. E quando eu falo isso, não quer dizer que eu não goste. Eu gosto muito, mas nunca achei que teria sentido se eu fosse fazer “uma nova MPB”, sabe? Sempre achei essa ideia muito caída, tentar fazer o que já foi feito. Sempre achei que era mais arriscado e me daria mais tesão fazer coisas que nunca foram feitas.

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“Mais bandas, mais selos, mais público. É ine-gável! A peste se prolifera. Ainda falta infraestrutura, mais palcos e divulgação. Cadê a imprensa brasileira? Fico impressionado como os grandes veículos de di-vulgação de notícias ainda estão a ver navios. E mesmo quem fala de bandas, é a respeito de duas ou três. Alô, imprensa! Bom dia!”. Como é possível perceber nesse editorial escrito por Sérgio Vanalli no zine Broken Strings, de junho de 1993, os fanzines impressos não têm obrigações com ninguém. É a famosa liberdade do “faça você mesmo”. Eu poderia começar este texto da maneira que quisesse, ou, por exemplo, uma resenha de show dizendo que na entrada encontrei uns safa-dos de tal banda ou que enchi a cara, perdi os shows de abertura mas participei da maior roda punk da vida depois, em algum buraco underground pelo Brasil.

Os zines são o longo uivar dos coiotes da mídia. E esse é o grande barato. Ser livre para pensar pelas teclas da máquina de escrever sem revisar muito, dizer o que tiver vontade sem precisar manter um có-digo editorial ou ser imparcial. Produzidos artesanal-mente, sendo a maioria em offset (xerox), essas publi-cações marginais funcionam como centralizadores de idéias em comum e de informações que não circulam na mídia de massa. Se você não viveu a era de ouro dos zines, entre os anos 80 e 90, tente imaginar como

descobrir uma banda antes da internet. Tudo que saísse mais tarde na mídia convencional já teria passa-do por um zine. Era uma revolução digital antecipada, onde os correios faziam o papel da web.

O caráter transgressor “Havia um cenário independente que não era coberto. Até ter aquele boom do Nirvana, a grande mídia não dava atenção”, aponta Alexandre Cruz “Sesper”+1, vocalista do Garage Fuzz. Se a mídia de massa e as poucas revistas especializadas prati-camente ignoravam a cena independente brasileira, como conhecer novas bandas? Quais os lançamentos do mês? Onde ler uma entrevista de uma banda que tem apenas uma demo em K7 lançada? Eram os zines que assumiam esse papel.

A necessidade de uma divulgação mais abrangente, que colocasse as bandas em contato direto com seu público, fez muitos de seus integran-tes também se aventurarem nas páginas dos zines. “Como nos comunicávamos por correio, fazíamos o fanzine para ter um algo a mais para divulgar com a banda”, explica Sesper. Assim como ele, que editou o Crude Reality, Noise e Flores, o TV zine (que vinha com uma K7 de 45 min) e o zine de arte Introduct Zine+2, outros artistas entraram nessa.

XeroX cultura

[+1] Alexandre tocou em outras bandas como Ovec, Psychic Possessor, Safari Hamburguers e Paura

Transgressão, pioneirismo, paixão. Como os fanzines impressos fizeram o papel dos blogs de hoje bem antes da internet.

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Nenê Altro do Dance Of Days, por exemplo, rodou o Antimídia, importante na virada do século, às vésperas da web 2.0. O gaúcho Daniel Villaverde, que tocava na banda Ornitorrincos, teve sua raiz ligada aos fanzines.

O movimento oculto destes impressos, quase como uma sociedade secreta, era a máquina que em-balava o circuito das bandas que estabeleceram a base para o movimento independente que conhecemos hoje. “Se agora a gente tem uma cena independente em que as coisas são mais fáceis é por que nos anos 90 tivemos toda uma geração pelo Brasil que batalhou, lutando com idealismo. As pessoas estavam ali porque realmente gostavam”, reflete Daniel Villaverde, que editou os zines Nuclear Yogurte e Infektos Muertos, ao lado de Gustavo Insekto.

A partir dos contatos por carta, o material ia circulando. Comprava-se discos, fitas ou camisetas en-

rolando o dinheiro em duas folhas de papel carbono+3 dentro da carta e torcendo para que a banda man-dasse o material de volta. A pirataria de fitas K7 era na verdade um tráfico de informação, um tesouro repas-sado só para os amigos. “Os blogs que hoje distribuem discos inteiros são os mais próximos do que fazíamos antigamente”, analisa Alexandre Cruz.

A diferença está toda no tempo. Assim como as fitas+4 demoravam para chegar nas mãos das pessoas, elas eram ouvidas na íntegra, com um prazer diferente do que hoje é o MP3. “Era uma ansiedade imensa (risos). Lembro de ficar folheando páginas de zines repetidamente pra ver, sei lá, a foto da banda ao vivo ou a capinha da demo, ou vinil e tentando imaginar [a música]. E a relação com o carteiro? Todo dia era uma expectativa pra ver se chegava uma carta, um catálogo de discos, um material”, relembra Frederico Finelli,

editor do zine mineiro Needle entre 95 e 98 e dono do selo Submarine Records+5.

Nada era descartável. No mínimo serviria de moeda de troca para conseguir outras coisas. Era dessa maneira que bandas de “fora do eixo” aparece-riam pelo mundo. Entrevistas feitas por carta, troca de flyers de bandas, vendas de K7 por catálogos impres-sos. Os zines uniam essas pessoas. Tendo o correio como principal via de comunicação, os endereços e caixas postais para contato eram informações funda-mentais, seja no editorial, entrevista, resenha ou onde mais fosse possível. Assim como acontece hoje, com a internet, qualquer pessoa, mesmo na menor cidade do País, poderia ter acesso ao que gostava—bastava interesse, vontade de mandar cartas e o endereço de um fanzine para abrir as portas da percepção.

De certa forma o mundo também estava ab-

erto aos zineiros. Mesmo as bandas de fora se dispun-ham a manter contato e enriquecer essas mídias inde-pendentes. “Eu entrevistei o Fugazi em 1996/97 por carta. Foram meses para um processo de pergunta e resposta se concretizar. Acho a internet incrível, mas por outro lado, possibilita um desfoque; é muita in-formação, muita urgência e na maioria das vezes tudo vira um nada” conta Finelli.

Todos essas cartas geravam um problema na hora de bancar os altos gastos com o correio. Nessa hora, o espírito transgressor que estava presente no conteúdo refletia-se também em uma artimanha. Bastava descolar o selo com vapor d’água, retirar o carimbo com uma daquelas pastas de dente cheias de bicarbonato de sódio e ele estava pronto para mais uma missão. “Eu morava no interior e isso era minha porta pro mundo. Uma maneira de extravasar a vida

noize.com.br

[+2] introductfanzine.blogspot.com/

[+3] O papel carbono servia para que as

máquinas de raios-X dos Correios não

identificassem o dinheiro.

[+4] Ótimo blog para encontrar

demos antigas em K7  demospradownload.

blogspot.com

[+5] submarinerecords.net

“eu eNtrevistei o fugazi em 1996/97 por carta. foram meses para um processo de perguNta e

resposta se coNcretizar.”FREDERIcO FINEllI

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chata naquela cidade. Eu escrevia cartas compulsiva-mente—15, 20 por dia. E todo dia chegava material, era só esperar o carteiro”, relembra Villaverde.

A paixãoA cultura dos zines serve-se da paixão, do

amor por determinado assunto ou prática. Um grande desejo de expressão de ideias, pensamentos, críticas, ou o que for, e o orgulho pessoal de ver a reper-cussão pública de algo absolutamente autoral e sem fins lucrativos. “O fanzine me dava um prazer imenso e muita satisfação pelo simples fato de divulgar as coisas que achava legais e que mereciam um espaço”, resume Marlos de Souza, editor do gaúcho And Chi-marrão For All. Tudo isso aproxima os zines da cultura alternativa ou punk, por mais desgastados que estejam os termos. Diz-se por aí que o primeiro zine como conhecemos hoje surgiu junto ao movimento punk na Inglaterra da década de 70 e chamava-se Sniffin’Glue. Outra versão diz que eles nasceram nos EUA, em plena grande depressão da década de 30. O primeiro fanzine (fan + magazine) teria se chamado The Comet, e falava de cinema e literatura de ficção científica.

A verdade é que desde o surgimento da imp-rensa no final do século XVI com Gutenberg, diversos zines já devem ter rodado o mundo sem que fossem chamados assim. No fim das contas, qualquer coisa que se classifique como zine será um. Os focados em música, especificamente, possuem alguns elementos que se repetem e que são importantes fomentadores da cultura. Os reviews de discos, por exemplo, tinham um impacto fortíssimo, basta pensar que eles eram a principal fonte de informação sobre o som das bandas. “Os fanzines eram o primeiro lugar pra onde as bandas mandavam seu material. Para elas, ver uma resenha de show, ou de demo tape em algum fanzine era como sair na Rock Brigade”, explica Marlos.

As entrevistas, claro, eram uma análise mais de-talhada dos grupos e a parte que exigia mais esforço jornalístico. Sem a possibilidade de ouvir o som ime-diatamente, a postura adotada nas respostas ganhava bem mais relevância. Outra parte importante contava a quantas andava o cenário de alguma cidade, quem

estava tocando, lançando ou surgindo. Com os fins lucrativos deixados de lado, falar de outros zines tam-bém era algo comum, numa espécie de mini-resenha com o endereço de contato. Tudo para que a “xerox mania” se disseminasse.

Uma evolução naturalA chegada da internet transformou os zines

em algo praticamente impensável de se fazer hoje em dia. A facilidade de se criar um blog online, podendo ser atualizado constantemente e com (supostamente) a mesma liberdade, foi deixando o papel, a cola e a tesoura quase obsoletos. “Um moleque hoje dificil-mente vai ter saco pra ficar sentadinho lendo um zine. Ele está é logado num site de rede social pirando em outras coisas e baixando o “track 04” que ele nem sabe de qual disco veio”, cutuca Fred Finelli. Aquela habilidade e esforço exigidos para a criação de um impresso foi substituída pelo template pronto de um blog, uma evolução natural.

Porém, assim como a internet não acabou com a televisão, que não derrubou o rádio, que não deixou o jornal ultrapassado, os blogs não substituem os zines. Apesar de todas as facilidades criadas pelo mundo online, o papel guarda um prazer tátil, além do poder da mobilidade. Ainda não estamos bem eq-uipados o suficiente para ler a NOIZE online ou um blog—seja usando iPads, Kindles ou o que for—no ônibus, numa fila ou no banheiro. “Eu gosto de blog, sou fã, mas o zine eu levo para onde quiser, é papel, fica. Esse zine aqui (mostra) tem 13, 14 anos e tá aqui, cara. Não é a mesma coisa que ler no computador”, explica Daniel Villaverde.

A estética também é importante. As artes em xerox, muitas vezes toscas, outras vezes geniais. A letra da máquina de escrever, que identifica o esforço. Todo esse romantismo não morre. Mesmo que a comunicação tenha mudado completamente, nada tira o valor de uma boa informação, especialmente se ela chegar até as suas mãos. No fim das contas, o que se perde com o aparente sumiço dos zines é maior do que o que se ganha com a internet.

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XeroX cultura

Em sentido horário: Maximum RocknRoll, AAAH!, Enxofre, Escarro Napalm

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Mini Veste:CAMISETA Vulgo

MUNHEQUERA Acervo

Fotos, Direção de Arte e Produção: Marco Chaparro e Rafael RochaTexto e Entrevista: Maria Joana Avellar

Agradecimentos: Eduarda Medeiros, Antônio Torriani.

WALVERDESMini e Marcos estavam lá quando um núcleo de amigos se

juntou para formar a adolescente e explosiva Walverdes em 1993. Eles também assistiram à gravação da Demo Amarela+1 no provável primeiro estúdio de Thomas Dreher em 1995, e acompanharam de perto a repercussão do álbum 90 Graus, lançado pela Monstro Discos em 1998. A dupla assistiu à

entrada de Patrick na banda, o debut em festivais nacionais e a participação do power trio no Video Music Brasil de 2006. Em quase duas décadas, eles estão sempre presentes quando os

barulhentos da Walverdes sobem no palco para honrar o lugar cativo que têm no coração do underground brasileiro. Não é por acaso: Mini, Patrick e Marcos são a Walverdes, e a gente

resolveu falar com eles para saber um pouco do que existe por trás de tanta história.

noize.com.br054\\

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Marcos Veste:CAMISETA Sound And Vision

JAQUETA VulgoJEANS King 55

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Mini, para você letra e música estão subordi-nados um ao outro? Letras como a de “Altos e Baixos” mais parecem desabafos curtos, compostos independentemente da melodia e do ritmo da música.Mini: Não sei se tem alguma regra, mas no nosso caso eu acho que a batida da música é a lei. As letras não obedecem sempre à harmonia ou à melodia, mas seguem o ritmo, sem dúvida. É um processo bem intuitivo, a gente encaixa a letra à medida em que vai tocando, na base do “Funciounou? Beleza, vamos adiante”. Vocês acham que mudaram a fama de “alu-cinados e antipáticos” (nas palavras do Mini) que tinham em 1994?Mini: Não, não, agora a gente é bem mais calminho e amigo. O que não adiantou muita coisa... Conforme vocês cantavam em “Novos Adul-tos”, vocês têm alguma bitolação em se manter fiéis ao rock e distantes da MPB? O grunge, o rock garageiro, o rock ‘n’ roll domi-nam os fones de ouvido de vocês?Mini: Não, esse lance de fidelidade ao rock eu acho bobagem. Essa letra é meio radical demais, é coisa de um desabafo de uma época. Eu não sou de forma alguma roqueiro fundamentalista, aliás, acho o rock péssimo enquanto religião porque engana todo mun-do com fantasias de eterna adolescência. E a maior parte dos deuses do rock ou vira pó muito cedo ou caricatura, dois destinos não muito almejáveis, vamos combinar. Cara, olha o que é a biografia do Dee Dee Ramone. O cara era um grande compositor, mas aq-uilo lá é deprimente...Patrick: Eu gosto de MPB anos 60 e 70, no meu pen drive tem Jobim, Chico, Caetano, Zé Ramalho, Belchior, Rita Lee, Raul... Mas na real escuto muita coisa além de rock, escuto reggae antigo, funk antigo, trash anos 80...

Naquela história dos Walverdes escrita pelo

Mini+2, ele conta que a preguiça foi uma das coisas que impediu a banda de crescer. Mas, muitos músicos preferem que tocar não seja uma obrigação, seja algo só pra divertir e tal. Vocês se arrependem de alguma coisa? Mini: Depois do 90 Graus a gente deixou de ser preguiçoso e a coisa toda andou melhor. Mas não tenho nenhum grande arrependimento. A gente fez o que dava pra fazer em cada época. Agora, definir a banda como diversão é muito pequeno porque acho que ela é bem mais que isso, mesmo que não seja nossa atividade principal. Quando a gente sai pra tocar, tem compromisso com o dono do bar ou o organizador do festival, tem um mínimo de qualidade que tem que apresentar, tem o nosso compromisso conosco mesmo de gostar de tocar. A gente não pode mais fazer fiasco, saca? Mas a gente também não pesa demais o assunto. Eu aprendi muito vendo outras bandas em festivais. Tem gente que acaba ten-do ataques histéricos por qualquer problema e só se estressa. É tênue a linha entre a busca por qualidade e o papel de diva.

Como definiriam o momento que a banda vive no presente? Quais os projetos de vocês para o futuro?Patrick: Momento “vamos lançar o disco novo logo”, que embaço isso. Falamos recentemente so-bre gravar um EP de covers, cada um escolher duas músicas. Vou escolher RUSH!

O slogan continua “Rock Pauleira, Conciso e Eficiente Desde 1993”?Mini: Não usamos mais isso. Mas continua sendo um bom resumo.

noize.com.br

[+1] A Demo Amarela está disponível para

baixar em tiny.cc/walverdes

[+2] tiny.cc/walvhist

[+] No blog walverdes15.blogspot.

com a banda comemora os anos de estrada

relembrando causos e casos perdidos no

passado.

Patrick Veste:CAMISETA Sound And Vision

CAMISA FLANELA VulgoJEANS King 55

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_por lidy araújolidyaraujo.com.br

Isto não é apenas uma guitarra, mas uma preciosidade, tanto que existem apenas 10 unidades à venda e ainda é preciso encomendar. Trata-se da Gibson SG, aquela usada por Angus Young, que foi customizada pela Evoke.

A VW Bus Speaker é uma caixinha de som para iPod. Com entrada USB, ela também pode ser usada no computador. A Kombi tem ainda relógio digital no vidro traseiro, rodas que se movimentam e faróis que acendem. E está em promoção.

O nome já diz tudo: Minoru 3D Webcam, uma webcam em terceira dimensão, que pode ser usada em programas de bate-papo, como MSN e Skype, e também na produção de fotos e vídeos. O único porém é a necessidade dos óculos 3D.

Que tal subir ao palco tocando um foguete? Por mais inusitado que pareça, é possível. A Celentano Woodworks fabrica, artesanalmente, instrumentos lúdicos que funcionam de verdade. A marca ainda aceita encomendas customizadas.

Está declarado o fim dos cinco minutinhos a mais de sono. O despertador do Darth Vader tem display digital e, quando o alarme toca, projeta a silhueta do vilão na parede. Já está em pré-venda, mas é ainda um protótipo e pode sofrer modificações.

Tarefa ingrata é escolher uma entre as mais de cem variações dos fones de ouvido da Kotori. Se nenhuma agradar, é só fazer a sua própria combinação pros 10 componentes do gadget. Além de lindos, têm ótima qualidade de áudio.

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Page 63: Revista NOIZE 31 - Março de 2010

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Page 64: Revista NOIZE 31 - Março de 2010

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Por mais que o sobrenome a anteceda, Charlotte Gainsboug não se contenta em ser uma cria. Depois de fazer o

que se esperava dela nos dois primeiros discos—e de já ter se embrenhado em universos bizarros do cinema, com ótimas atuações como em Anticristo—, agora ela aparece num clima super-relax em IRM. No álbum, todas as faixas são compostas e produzidas pelo camaleônico Beck, exceto “Le Chat Du Café Des Artistes”, com letra de Jean-Pierre Ferland, a única que destoa na atmosfera do CD. Mesmo causando estranheza, já que nos habituamos a ouvi-la sussurrando em francês, a moça se aventura no rock de “Greenwitch Mean Time” e no pop “Heaven Can Wait”. IRM traz a bela e sexy voz de Charlotte envolta em arranjos feitos sob medida. Ana Luiza Bazerque

Com uma lista de participações que inclui nomes da geração 2000 – Tunde Adebimpe, do TV on The Radio – e da

passada – Damon Alburn, do Blur e Gorillaz –, Heligoland é marcado pela melancolia em suas dez faixas. Depois da angus-tiante abertura de “Pray for rain”, com Adebimpe nos vocais, a quase dançante “Babel” ensaia um anúncio de ares menos cinzentos na doce voz de Martina Topley Bird, o que logo vai abaixo em “Splitting the atom”, com a parceria Horace Andy, ami-go de longa data da dupla. “Saturday come slow” une a interpre-tação mais do que inspirada de Alburn com o melhor arranjo do disco. Já “Flat of the blade” é a síntese do que o disco e, em geral, a obra do Massive Attack exigem: audições cautelosas, que mostram nuances anteriormente despercebidas. Lucca Rossi

Inspirado em ritmos da África, o primeiro álbum do Yeasayer, All Hour Cymbals (2007), falava na relação do

homem com a natureza sem soar tolo demais. Em Odd Blood, os americanos voltam com esse tom ritualístico. Os vocais de Chris Keatin dão unidade ao trabalho – e não raro aparecem sob efeito de vocoders. “Ambling Alp” tem belas melodias de teclado, além de uma percussão cheia de tamborins e chocalhos. Para quem gosta de linhas de baixo dançantes, “O.N.E.” é a pedida. Ainda que não haja nenhuma música tão boa quanto “Wait for the Summer”, de All Hour Cymbals, Odd Blood segura o Yeasayer numa posição relevante no novo rock psicodélico americano. E também funciona como trilha para espíritos sonhadores. Marcus Vinícius Brasil

Os ingleses do Hot Chip não atingiram por completo o declarado objetivo do novo álbum: fugiram do que se esperava,

mas não escaparam da mesmice. Todas as músicas seguem a linha romântica da faixa-título, e em poucas delas, como “Thieves in the Night”, sobrevive um resquício do vigor e da batida marcante, forte e pegajosa de singles anteriores como “Over and Over” e “Ready For the Floor”. Mas, mesmo sem fazer dançar, o disco pode possibilitar agradáveis momentos, seja no auto-tune discreto de “I Feel Better”, nos sintetizadores carregados de “We Have Love” ou no vocal feminino de “Alley Cats”. Ainda assim, tão coeso e harmônico quanto decepcionante e morno, One Life Stand pode muito bem estar condenado a uma sobrevida. Maria Joana Avellar

Baixa estatura e cara de criança: os rapazes do Vampire Weekend parecem ser tão novos que mal se dá a atenção para a maturidade musical que já tinham em seu pri-meiro CD – mas, mesmo assim, ela está lá. Em Contra isso fica ainda mais explícito: Apesar das percussões à la África terem menos espaço, o Vampire acerta nos riffs de guitarra acelerados que consagram o single “Cousins”. O clima festivo e divertido de “Holiday” também marca pontos, mas não é só de alegria que vivem os vampiros. A trinca que encerra o álbum implica certa reflexão com “Giving Up The Gun”, que ga-nhou clipe com Jake Gyllenhaal (!) e Joe Jonas (!!!), “Diplomat’s Sun”, história de amor firmada sobre samples de M.I.A., e a soberba “I Think UR a Contra”. Alex Correa

VAMPIRE WEEKENDContra

CHARLOTTE GAINSBOURG

MASSIVE ATTACK

YEASAYER

HOT CHIP

IRM

Heligoland

Odd Blood

One Left Stand

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VELVET UNDERGROUND & NICO | O primeiro disco do Velvet Underground é contemporâneo do Sgt. Pepper’s e do The Piper at the Gates of Dawn, mas os new yorkers não colheram os louros do sucesso como os ingleses. Ao menos, não imediatamente. O encontro entre a poesia devassa de Lou Reed e a viola hipnótica de John Cale, com alguns vocais de Nico, não agradou Columbia, Elektra e Atlantic, que se recusaram a lançar o disco, e nem os radialistas, que, depois do lançamento pela Verve, negavam-se a tocar a subversão musicada. Odes à heroína e ao masoquismo abriram caminho tanto para o punk quanto para o DIY do indie e fizeram do “disco da banana” o álbum mais profético do rock, como bem disse a revista Rolling Stone.

WHITE LIGHT/WHITE HEAT | Se a primeira gravação do The Velvet Underground havia soado suja, a segunda soaria imunda. A microfonia reinava nas apresentações ao vivo da banda, que havia encontrado uma maneira de estourar a potência de seus amplificadores em nome de algo novo. Traduzido para estúdio, o vômito barulhento que vestia jaqueta de couro e óculos escuros se transformaria em músicas de dois dígitos de duração com solos atordoantes e gordos, a marca registrada do disco. Segundo o guitarrista Sterling Morrison, os engenheiros de som avisavam, durante a gravação, que os amplificadores estavam prestes a explodir, mas a banda queria testá-los até o limite. A despedida de John Cale é suja e bela.

THE VELVET UNDERGROUND | A substituição de John Cale por Doug Yule significou uma grande virada na postura sonora da banda. As canções registradas no terceiro disco revelavam um Lou Reed extremamente talentoso para composições mais “pop”, o que se confirmaria nos próximos anos. Contendo algumas das músicas mais originais do Velvet, como “Jesus”, “Some Kinda Love” e a belíssima “Pale Blue Eyes”, o álbum conta com uma mixagem alternativa, feita pelo próprio Lou Reed, entitulada The Closet Mix. “After Hours”, por sua vez, antecipa em 20 anos Cat Power e as moças de voz doce. Vale a pena conferir o Velvet Underground na corda bamba entre o pop facilmente digerível e a sutileza que só os gênios atingem.

por Gabriel Resende

DiscografiaBásica VelVet underground

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Depois de um hiato de pouco mais de três anos após o lançamento do elogia-díssimo Ys, Joanna lança Have one on me.

E se reinventa inimaginavelmente. Os arranjos saem de “voz e harpa” e chegam a um outro patamar de complexidade. Mesmo a voz de Joanna muda: nódulos nas cordas vocais suprimiram aquela agudez quase infantil. O álbum é uma obra barroca – cada detalhe planejado de forma acurada, e, entrementes, cheia de leveza – compassos e crescendos vertiginosos – com ápice em “Baby Birch” e “Does not suffice”. As letras continuam impecáveis – “On a Good Day” e “Jackrabbits” trazem uma Joanna menos tímida, mas com a mesma poesia latente que faz fãs mais antigos fecharem os olhos para captar cada palavra de seu extenso vocabulário. Fernanda Grabauska

No ano passado, o Nevilton, power trio de Umuarama (PR), despontou como grande promessa do indie nacional. Pres-

suposto, seu mais recente EP e o primeiro lançado oficialmente, segue apresentando o rock garageiro misturado com influên-cias de música brasileira da banda. A bem construída “Pressu-posto”, que estará no já gravado primeiro disco, ainda sem data de lançamento, combina riffs poderosos com vocais rasgados e melódicos na medida certa, enquanto que a bela “Singela”, com introdução impecável, mostra que, com a distorção desligada, o trio também funciona muito bem. “Vitorioso adormecido”, ou-tra do futuro álbum de estreia, gruda na cabeça já nos primei-ros versos: “Ele tem/ mania de ser João Ninguém”. Tudo indica que em 2010 a promessa se concretizará. Lucca Rossi

JOANNA NEWSOM NEVILTONHave one on me Pressuposto

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Gravar Beatles é sempre um perigo. Gravar um álbum inteiro dos Beatles é um risco ainda maior. Quando a obra em questão é o Abbey Road, cuja excelência foi imediatamente abraçada por público e crítica – aí a coisa se torna desafiadora. McLemore Avenue é o famoso disco dos Fab4 pelas habilidosas mãos do

Booker T. & The M.G.’s. O lendário grupo da Stax não esperou nem um ano para revisitá-lo, com a ausência de três canções – Maxwell’s Silver Hammer, Octopus’s Garden e Oh Darling. Os M.G’s desconstruíram o disco, organizando tudo em três grandes medleys e uma versão matadora de Something. Uma apropria-ção instrumental que revela ainda mais a força épica do canto dos cisnes não só dos Beatles, mas de toda uma década.

redescoberta

.: 05/04/2010_ Jónsi | Go“Ia ser um álbum acústico e quieto, mas eu queria sair um pouco disso, e, de alguma forma, explodiu” falou o ex-Sigur Rós Jónsi Birgisson, sobre o novo disco “Go”. Desde o lançamento da música “Boy Lilikoi” (que foi disponibilizada gratuitamente para download em dezembro), o disco é um dos lançamentos mais aguardados tanto pelo público quanto pela imprensa. Recentemente, o músico lançou o vídeo “Go Do”, promo do disco que está por vir. Confira no YouTube.

NnekaConcrete Jungle___Primeiro álbum da nigeriana Nneka a ser lançado nos EUA, Concrete Jungle mostra uma nova cara no mercado liderado por nomes como Lauryn Hill e Erykah Badu. Misturando R&B, hip hop, guitarras e reggae, o disco cumpre seu papel.

SpoonTransference___Instituição do indie rock, o Spoon lança seu 7º LP, Transference. Depois do relativo sucesso em 2007, com Ga Ga Ga Ga Ga, a banda parece tentar fugir do rótulo de “banda para poucos”. Com o bom Transference, é provável que isso aconteça.

NumismataChorume___Dizer que uma banda mistura psicodelia e samba pode soar antigo, mas o extremamente paulista Chorume é autêntico e ur-bano em todos os sentidos. O disco faz, a sua maneira, uma etnografia musical delicada de São Paulo.

confira

ta por vir

Quando for às ruas esta edição, muitos jornais terão falado bem de Karina Buhr. Um pouco de predição, outro tanto

de bom senso permitem fazer essa afirmação com segurança. Representante da boa música de Recife, Karina rima com a conterrânea Lulina também na voz econômica que, acompa-nhada por instrumentistas do mais alto escalão (Fernando Catatau, Marcelo Jeneci e sua cia. prolífica), canta letras singelas e diretas. Depois de entoar ciranda (“O Pé”), ironiza: diz que vai “fazer ciranda pra entrar na lei do incentivo”. Inovadora e tradicional como Recife, Karina (que é ex-Comadre Fulozinha) é surpreendente e ao mesmo tempo consciente da ironia que emerge da sinceridade de suas melodias pop. Fernando Corrêa

Minor Love foi produzido em um “estado de completo isolamento”, segundo Adam Green. Quase todos os instru-

mentos foram gravados pelo cantor e, à exceção de Rodrigo Amarante, quase nenhum músico era permitido no estúdio. O clima de afastamento é perceptível no disco. As composições têm certo despreocupamento, diferentemente de suas últimas obras. O ar é irônico, mas triste. Em faixas como “Give Them a Tolken” e “Goblin”, o minimalismo fica evidente. “What Makes Him Act So Bad” parece uma (ótima) faixa perdida de Velvet Underground. Em “Lockout”, uma guitarra distorcida e uma percussão mal tocada lembram uma gravação caseira. Minor Love é uma miscelânea pop, típica de um artista cheio de refer-ências, criativo, problemático e genial. Gustavo Foster

KARINA BUHR

ADAM GREEN

Eu Menti Pra Você

Los Campesinos! se mostram ainda jovens, não tão saltitantes, e sim mais ácidos e diretos. As letras brutal-

mente honestas de Gareth são gritadas por um composi-tor menos pretensioso em meio a melodias que ganharam complexidade.“The Sea is a Good Place to Think of The Future” é um belo exemplo de uma banda crescidinha– ao seu jeito weirdo de ser. “There are Listed Buildings” pode ser colocado diretamente no repeat. “In Media Res” é o ápice, sur-preende ao mergulhar em distorções eletrônicas sem medo e nos momentos certos. Alguns podem argumentar que sentem falta do instrumental desvairado dos primeiros trabalhos, mas a verdade seja dita: numa montanha russa, as descidas são bem mais intensas quando a subida é lenta. Carolina de Marchi

LOS CAMPESINOS!Romance is Boring

Minor Love

BOOKER T. & THE M.G.’SMCLEMORE AVENUE (1970)

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Max, um menino de nove anos, faz ba-gunça em sua casa e é mandado para a cama sem jantar. A partir disso, fantasia uma floresta e uma longa travessia por um mar violento, até chegar ao lugar onde vivem os monstros, onde é co-roado seu rei. A história de Onde vivem os Monstros, livro infantil escrito e ilus-trado por Maurice Sendak, é composta por onze frases e uma porção de be-líssimas ilustrações. Que o diretor Spi-ke Jonze (de Quero ser John Malkovich e Adaptação) e o escritor Dave Eggers (editor da McSweeney’s) tenham feito deste material um longa-metragem é surpreendente. No aspecto técnico, o filme é um primor, com uma dire-ção de arte e efeitos especiais que impressiona pela sutileza, em especial

na expressão dos monstros. A trilha de Karen O. and the Kids é divertida (embora a ausência de “Wake Up”, do Arcade Fire, que tanto tocou nos trailers do filme, tenha feito falta). Mas mais surpreendente ainda é a profun-didade emocional que o filme abraça, reunindo nas figuras deprimidas dos monstros a essência dos sentimentos infantis de insegurança, deslocamento, ciúmes, amor, agressividade e, pairando acima de tudo, a solidão. Na dinâmi-ca das relações entre os monstros, podem ser espelhados toda a gama de sentimentos e ressentimentos humanos. Onde Vivem os Monstros é um destes filmes que, embora classificado como infantil, tem nos adultos o seu público ideal. Samir Machado

ONDE VIVEM OS MONSTROS

cinema

Claireece Precious Jones, protagonista do perturbador Preciosa – Uma história de esperança, tem 16 anos e o que pode se chamar de um arremedo de vida. Obesa, semianalfabeta e grávida pela segunda vez do próprio pai – o primeiro filho tem síndrome de down –, Precious, interpretada pela estreante Gabourey Sidibe, vive com a mãe, que a violenta moral e fisicamente. Com roteiro adaptado de Push, novela da poeta negra Sapphire e com cinco indicações ao Oscar deste ano, incluin-do a de melhor filme – a primeira para um cineasta negro na história – e dire-ção, para Lee Daniels, o longa se apoia nas atuações mais do que marcantes de Sidibe, que concorre a estatueta de melhor atriz, e de M’onique, de atriz

coadjuvante, na pele da violenta mãe.No filme, Precious torna-se síntese de um problema que até hoje – a história se passa no final da década de 1980 no Harlem, bairro de maioria negra e hispânica de Nova York – marca a so-ciedade americana: o abismo existente entre negros e brancos e a total falta de perspectiva para um jovem negro nascido no gueto.Apesar do sofrimento, Precious parece não ter força para reagir à mãe. A ajuda, então, vem de fora. Expulsa da escola, ela é indicada pela diretora a outra, que atende jovens com problemas de aprendizado. Incentivada pela profes-sora, começa a ler e a escrever o que sente. É o início tardio de uma vida que até ali não existira. Lucca Rossi

PRECIOSA

Diretor_ Spike JonzeElenco_Max Records,

Catherine Keneer, James Gandolfini e Ca-

therine O’HaraLançamento_ 2010

Nota_ 4,5 de 5

Diretor_ Lee DanielsElenco_ Gabourey Si-dibe, Mo’Nique, Rodney

Jackson, Paula Patton, Mariah Carey, Lenny

KravitzLançamento_ 2010

Nota_ 4,5 de 5

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The Drifter vai a fundo na vida “zen” do lendário surfista Rob Machado. A produção (dirigida por Taylor Steele e lançada pela Hurley) mostra um Rob ainda mais bicho-do-mato, cansado da vida de world tours e à procura de uma experiência transformadora. É na busca por respostas e pela chance de surfar ondas perfeitas sem crowd que ele segue para uma remota ilha da Indonésia. Nos deparamos com um cenário exuberante, ondas perfeitas e ângulos inusitados, muito bem explorados pelo diretor de fotografia Todd Heater. Se pode parecer estranho o surfista estar à procura de privacidade enquanto dois homens filmam todos seus passos, a bela trilha sonora, incluindo MGMT, Raconteurs, José González e próprio Rob com Jon Swift, compensa. Manu D’Almeida

Dirigido por Jason Reitman, de Obri-gado por Fumar e Juno, traz  George Clooney como um funcionário tercei-rizado cuja ocupação é demitirpessoas, trabalho de natureza desagra-dável que encara com otimismo e um certo senso de dever. Entre hotéis e aeroportos, defende seu modode vida isolado e sonha em acumular 1 milhão de milhas aéreas, até ter sua posição ameaçada por uma novata (Anna Kendricks), com uma proposta de demissões via internet. O filme se apoia sobre três bases bastante sólidas: as excelentes atuações de Clooney e das duas mulheres (Vera Farmiga in-terpreta uma mulher com maturidade e realismo pouco vistos em filmes), os ótimos diálogos e a atualidade da história, frente ao cenário recente da Crise Mundial. Samir Machado

AMOR SEM ESCALASde Jason Reitman (2010)

THE DRIFTER de Taylor Steele (2010)

COMO A GERAçãO SEXO DROGAS E ROCK’N’ROLL SAL-VOU HOLLYWOODde Peter Biskind (2009)

Quando Explode a Vingança pode ser visto com olhos de caça e de caçador. Como caça, o espectador está diante um maravilhoso western spaghetti, talvez o melhor, cheio de cenas dignas de antologia. Como caçador, também tem muito a ganhar, pois o filme de Sergio Leone é um dos mais contundentes tratados sobre a ressaca revolucionária dos anos 70. Debruçando-se sobre a Revolução Mexicana do início do século XX, o cineasta consegue colocar em evidência o desmoronar das utopias políticas pós-1968. Lá estão a referência maoísta, o IRA e uma enorme melancolia que – realçada pela música fantástica de Ennio Morricone – percorre as imagens até o fim. Leonardo Bomfim

QUANDO EXPLODE A VINGANçA (1971)

Redescoberta

Imagine um livro que conta como os cineastas da década de 70 – Spielberg, Lucas, Scorsese, Coppola, Altman, Ashby, Friedkin – tomaram o poder dos grandes estúdios de Hollywood e, de brinde, ainda apresenta as fofocas e os bastidores do período. Um exemplo: você sabia que Martin Scorsese ouvia London Calling enquanto o set de filmagem não estava pronto? Peter Biskind conseguiu tudo isso em seu Como a geração sexo-drogas-e-rock’n’roll salvou Hollywood.É a história da Nova Hollywood, capaz de gerar poder e dinheiro na mesma proporção em que destrói os personagens desse sonho. Que eles não sejam apenas vítimas, mas também protagonistas da própria derrocada, só a torna mais atrativa. A ganância, a megalomania, os excessos – está tudo em detalhes, muitas vezes nada honrosos, mas que dão um panorama claro e devastador da máquina de sonhos chamada Hollywood. Gabriel Innocentini

cinema livros //069

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O Coldplay se anunciou com a valsa “O Danúbio Azul”, de Strauss, emendada com a instrumental e convidativa “Life In Technicolor”. A sequência inicial deixou o público extasiado: passada “Violet Hill”, vieram “Clocks”, com raios de luzes passando por toda a Apoteose, “In My Place”, que teve seus refrões cantados a plenos pulmões pelos cariocas, e a fulgida “Yellow”, em que a manjada presença de balões de ar alegrou os fãs novamente.A cia. de Chris Martin não trouxe às terras tupiniquins sua maior estrutura – na América Latina, foi o palco B do Coldplay que entreteve o público. Ao todo, o palco con-tava com três setores – um deles, o mais próximo da pis-ta, recebeu o grupo para uma versão acústica de “Shiver”, que não animou. A combinação criada por equipamentos luminosos em movimento, Chris Martin saltando de um lado pro outro e chuvas de borboletas brilhantes fez com que “Lovers In Japan” alcançasse a excelência, vindo logo atrás de “Viva La Vida”, obviamente, que funciona ainda melhor ao vivo do que no estúdio. Ainda houve es-paço para a inédita “Don Quixote”, recebida com apatia.As viagens visuais nos telões eram experiências à parte. “Glass of Water”, lançada no EP Prospekt’s March, ganhou um dos backgrounds mais legais da noite, apesar de ser pouco conhecida. Do EP, também apareceram a lullaby “Postcards From Far Away” e a deliciosa “Life In Tech-nicolor II”, selecionada para fechar a apresentação com direito a chuva de fogos. Alex Correa

Tem coisas na vida que são injustas – uma delas é espe-rar 11 anos para poder rever o Metallica. Vou usar frase pronta e dizer que a espera valeu a pena. Noite quente, com uma lua cheia, brilhante e chamativa – alguém lembra desta mesma lua quando foi tocada “One” na primeira vez da banda em Porto Alegre? Eram mais de 21h30min quan-do The Good, The Bad and The Ugly começou a passar no telão. “Creeping Death” inaugurou o set com a força que os headbangers esperavam, e gritos de “die, die, die!” ecoa-vam no local. Na sequência, dois sons de Ride the Lightning: “For Whom the Bell Tolls” e a faixa-título, coroada pela gafe de James Hetfield se dirigindo à plateia: “Welcome to Metallica’s first time here”. Mais curiosa ainda foi a música seguinte, “The Memory Remains” – única da fase Load/Re-load presente no show – nem toda memória permanece, não é, Mr. Hetfield? O restante do set foi um passeio pela história da banda, com destaque para Ride the Lightning e Black Album, e omissão total do controverso St. Anger. Além de tocar com muita vontade, a banda é puro carisma. Rob Trujilo parece um adolescente, pulando com o baixo; Kirk Hammet e seus acenos conquistam o público; Lars Ulrich diverte com suas caretas; James se comunica com os fãs o tempo todo e mantém a energia. Erros durante o show? Sim, principalmente de Lars. Hetfield já não canta tão ras-gado? Não. Mas qual a graça de ver um show exatamente igual ao CD? Bom mesmo é esse Metallica, visceral, pesado e, sem sombra de dúvida, magnético! Ricardo Finocchiaro

fotos: 1 | Henrique Sauer 2 | Felipe Neves 3 | Victor Sá 4| | Eduardo Macarios

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SHOWs

Porto Alegre, Parque Condor, 28/01 São Paulo, Praça da Apoteose, 28/02

COLDPLAY METALLICA

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O maior Festival Integrado da América Latina, o Grito Rock foi realizado pela terceira vez na capital paulista, em plena sexta-feira de Carnaval. Organizado pelo Amerê Beta Coletivo, o Studio SP recebeu as atrações do Cir-cuito Fora do Eixo, realizador do evento em mais de 80 cidades.A primeira banda a se apresentar foi o Porcas Borboletas, de Uberlândia (MG). Na estrada com A Pas-seio, seu segundo álbum, o show deles está chegando ao seu ápice—tanto na pressão do instrumental base e na percussão afro-descendente, quanto nos efeitos, que são um espetáculo à parte assim como os vocalistas perso-nas à frente no palco. O público já conhecia grande parte das músicas satiricamente narrativas, com riffs proposital-mente tortuosos, descendentes da vanguarda paulistana. Na sequência, a atenção foi voltada para o Macaco Bong, de Cuiabá (MT), que logo no início fez com que todos chegassem juntos à mesma sintonia do universo instru-mental erótico que os consagraram como um dos me-lhores discos e shows dos últimos anos. Sem dúvida, é a banda referencial de uma nova era na cena independente, com uma expressão realmente inovadora. Eles tocaram algumas músicas novas que devem estar em um novo álbum, e mantiveram a energia no limite por mais de uma hora.Além disso, a Discotecagem Radiofônica Indepen-dência ou Marte trouxe a mixagem do melhor da música contemporânea brasileira para a pista, celebrando de manei-ra experimental o futuro que já começou. Jovem Pelerosi

A ressaca do carnaval não ajudou o The Name em sua passagem por Curitiba. O show do power trio de Soroca-ba na quinta-feira, 18, penúltimo da turnê da banda pelo sul do Brasil, podia ter levado bem mais gente ao James. Pena de quem perdeu; vai ter que esperar para ver um dos sho-ws mais enérgicos e divertidos da cena indie brasileira.O som do The Name é bastante calcado em Franz Ferdi-nand e Gang of Four: ênfase no baixo e na bateria, com a guitarra livre para brincar. Um dos motivos que os coloca à frente de tantas outras bandas com a mesma influência é a qualidade técnica dos três músicos, especialmente o baterista Alves—que alia uma pegada forte, perfeita para a pista de dança, a uma criatividade rítmica fora do comum.A apresentação foi rápida. O trio não precisou de mui-to mais do que meia hora para incendiar o James, com canções dançantes e divertidas como o novo single “You Want It Back Now”, lançado no final de 2009, e “Assonan-ce”, que contou com a participação da “Subburbia”—quin-teto curitibano que fez o show de abertura.Mas quem perdeu não precisa se desesperar. No palco, a banda não cansou de repetir que se divertiu como nunca na turnê. De acordo com o baixista “Molinari”, a banda deve voltar para a região no meio de 2010, depois de uma série de shows no Canadá e nos Estados Unidos—incluin-do uma participação no renomado festival South by Sou-thwest, que acontece em março, no Texas. As datas ainda não foram confirmadas. Chico Marés

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Curitiba, James Bar, 18/02 São Paulo, Studio SP, 12/02

GRITO ROCK SP THE NAME

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fotos: 5 | Elson Sempé Pedroso 6 | Guilherme SantosSHOWs

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Enquanto o calor na Capital do Sul batia algum recorde que desconheço, o único ponto em comum da plateia do Pepsi On Stage naquela fervorosa e romântica noite de quarta-feira era o fato de que todos os cabelos estavam presos. Uma das raras exceções era a imutável Dolores O’Riordan, que com um vestido brilhante e um casaco indefectível, ajudou a confirmar a onipresença do assunto—irlandeses não são mesmo acostumados a lugares tão quentes. Assim, quando o espetáculo sensorial da banda começou, a sequ-ência de hits poderosos me fez pensar que se tratava de uma estratégia para abreviar o sofrimento. “How”, “Animal Instinct” e “Linger” foram cantadas em coro, com direito a meninas na garupa e celulares levantados. Mas mesmo que a set list tenha priorizado os sucessos, a tática era outra: o show foi crescente. As canções lentas culminaram em um final arrepiante, de clássicos explosivos como “Salvation”, “Ridiculous Thoughts” e “Zombie”.Por saber que aquelas músicas eram importantes na trilha sonora da vida dos presentes, Dolores permeou a apresen-tação com as histórias de cada uma delas, o que contribuiu para deixar o clima noventista ainda mais nostálgico. “Ode to my Family”, que trata de carência e amor, foi cantada direto do gargarejo pela vocalista. A atmosfera se concluiu no bis, que passou pela intensa “Promises” e fechou com a doce “Dreams”, entre incontáveis elogios ao carinho e à resistência física das testemunhas de uma noite tão quente. Em tantos aspectos. Maria Joana Avellar

Entrar em um shopping, limpo e com ar-condicionado pa-rece estranho para um show de hardcore. Bem diferente do forno enfrentado pelos fãs de No Fun At All há 10 anos no Garagem Hermética, o show deste ano no Teatro do Bourbon Country foi mais um sinal da mudança dos tem-pos. A estrutura é incomparável, o público foi renovado e a lotação muito maior. Mas uma coisa não muda: quando soltam os acordes de músicas como “Believers”, “Beat’em Down”, “Catching Me Running Round” ou “Out of Boun-ds” a quebraceira entre aquela molecada (97% homens) é grande.O horário de shopping fez com que o show de abertura da Atrack fosse visto por não mais que 20 pessoas (das quais não me incluo). Logo depois, os suecos do NFAA subiram ao palco mostrando experiência pelos cabelos e intensidade pelo som. Logo na abertura com “Mine My Mind” e na sequência com “Believers” foi possí-vel sentir a precisão e o timing com que a banda executa suas músicas. A estrutura de palco ajudou nesse sentido e a proximidade física com o público fez dos intervalos entre os sons um bate-papo com o vocalista Ingemar Jans-son, que provocou: “Vejo muitas camisetas do Millencolin hoje… depois do show vocês podem ir ali comprar cami-setas do No Fun At All”.Quem viu pode fazer a cabeça. O NFAA privilegiou músicas antigas, aquelas que a maioria do público foi ouvir, diferente do que faz na Europa. Bom pra nós e para eles, que pelo visto se divertiram junto. O show encerrou com “Master Celebrator”, claro. Bruno Felin

THE CRANBERRIES NO FUN AT ALL Porto Alegre, Teatro do Bourbon Country, 27/01 Porto Alegre, Pepsi on Stage, 03/02

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__WC TOUR| O grande problema é que sinto uma necessidade fisiológica nos momentos menos propícios. Na beira da estrada, pouco antes de subir ao palco, no avião e por aí vai. Mas nunca dou sorte; nesse momento tão íntimo e sincero, a última coisa que a gente precisa é alguém reparando no que você está realmente fazendo. Pra dar um ex-emplo constrangedor, vou contar um fato que acon-teceu em Ribeirão Preto. Quase chegando na cidade, paramos em um posto muito porco. Por mim tudo bem, tinha enfrentado cada lugar que esse eu ia tirar de letra. Mas quando entrei na cabininha e vi que não tinha água nem papel, resolvi (mentalmente)

Qualquer coisa

alVes da tHe nameFALA SOBRE...

que não era tão urgente, que poderia usar o banheiro do próprio bar. Chegando no bar já tivemos que correr pra passar o som. E a vontade foi apertando. Acho que incon-scientemente até toquei as músicas mais rápido. Só sei que depois disso, saí correndo pro banheiro, já que o bar tava abrindo. Poxa, o banheiro era até OK, mas só tinha uma privada. Sentei e fiquei segurando a porta, que estava sem trinco. Mas o segurança, visto a minha tamanha correria, estranhou. Deve ter pensado que eu estava cheirando ou que eu ia transar comigo mesmo. O maldito bateu na por-ta e falou pra eu sair da cabine! POXA. Tinha acabado de sentar. Agora não tinha volta, a calça já estava arriada. Ele começou a forçar a porta e eu segurava. Pensei ter ganha-do, mas o cara encasquetou e subiu na pia pra olhar o que eu tava fazendo lá dentro. O que ele viu: eu, cagando feito uma criança. Esse é o problema de depender de banheiros alheios. A palavra higiene é tão relativa nesse assunto. Tem lugares fora do padrão de vida saudável que eu preferiria fazer numa sacolinha no carro e guardar ou parar na primeira moita que visse. Mas isso nunca aconteceu (salvo excessões da minha triste infância subindo as serras no banco de trás do carro). Um regra: fique de fora dos lugar-es que não tenham água e papel.Adivinha o que o úlimo necessitado que passou por lá fez sem água na privada? Cagou no chão. Claro! Isso! Imagino que seja mais fácil dar

uma mangueirada numa pilha de fezes no cantinho do que jogar um balde de água na privada! Agora, já dei muita sorte nas redes de postos maiores. Aquele banheiro brilhoso, lustroso e cheiroso! Me sinto tão bem que gostaria de um day-off ali perto só pra garantir um trono de rei. O chão brilha, a privada é limpa, o papel higiênico não é rosa e não lixa o seu traseiro, tem um espelhão bonito e até secadores de mão elétricos - embora eu ache estes inúteis. Se você der sorte, vai ter até trilha sonora. Nesses casos, é só relaxar e tomar um cafez-inho depois. O bem estar da viagem da banda está garantida. Sinceramente, a magia desses banheiros me intriga e o dia-a-dia desses lugares ainda é um mistério pra todos os necessitados. Uma coisa é verdade, nada é melhor do que sentar no seu próprio banheiro.

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