Revista T - alguns artigos

66
PORTEFÓLIO T magazine Entrevista Armindo Araújo Reportagem Festival Sudoeste tmn Perfil Kanye West Roteiro Golegã Entrevista Aurea Roteiro Aveiro Entrevista/Perfil André Carrilho Reportagem de viagem Méribel & Courchevel Perfil/Entrevista Zé Diogo Quintela

description

Compilação de artigos publicados na "Revista T" (revista híbrida corporativa/entretenimento da tmn); Selection of articles published in "Revista T" (mobile telecom tmn's hybrid corporate/lifestyle magazine).

Transcript of Revista T - alguns artigos

Page 1: Revista T - alguns artigos

PORTEFÓLIOT magazine

EntrevistaArmindo AraújoReportagemFestival Sudoeste tmnPerfilKanye WestRoteiroGolegãEntrevistaAureaRoteiroAveiro Entrevista/PerfilAndré CarrilhoReportagem de viagemMéribel & CourchevelPerfil/EntrevistaZé Diogo Quintela

Page 2: Revista T - alguns artigos

tendências I design I

90

JUL

HO,

AG

OS

TO

20

09

91

JUL

HO,

AG

OS

TO

20

09

PORSCHEP’9522

Preço: €549,90Câmara de 5MPX

GPS e A-GPS (Wayfinder)Wi-fi

Ecrã táctil de 2,8” AMOLED Sensor de impressão digitalCartão de memória de 2GB Disponível em www.tmn.pt

Mais informações: www.mobileporschedesign.com

PORSCHEP’9521

Preço: €399,90iF Product Design Award 2008

Câmara de 3,2MPX Ecrã AMOLED rotativo de 2,2”Sensor de impressão digitalCartão de memória de 2GBDisponível em www.tmn.pt

Mais informações: www.mobileporschedesign.com

PERSONALIDADEPORSCHE

DOIS TELEMÓVEIS COM ASSINATURA

DE CULTO.

O PREMIADO P’9521 distingue-sedos demais telemóveis por diver-sos motivos. Começando pelo ele-mentar: o corpo é feito de uma sópeça de alumínio, com um ecrãtalhado em vidro mineral. O forma-to, assente num rectângulo devérti ces suaves, mantém-se fiel àlinguagem de design da marca:não há uma única linha supérfluano seu traçado. O visor pode serrodado até 180º, facilitando o usocomo câmara ou a visualização deimagens no ecrã de 2,2 polegadas.Mas a “pièce de résistance” é osensor de impressão digital incor-porado, que faz o tradicional PINparecer uma burocracia obsoleta.Em alternativa, este “scanner” po -de ainda funcionar co mo sistemade mar ca ção rápida (mediante aatri bui ção da impressão de ca da

dedo a um nú me roguar dado na agenda)ou como protecção doacesso a certas áreasdo telefone.

O SEU sucessor, oP’9522, também vemequipado com estama ra vilha. Fabricado àmão, em formato debarra, apresenta umacâmara de 5MPX e umecrã táctil AMOLED(que combina maiornitidez, melhor leitura

quando exposto à luz solar e menorconsumo de energia) de 2,8 pole-gadas com plementado por um te -clado nu mérico. Este ícone deestilo direcciona as suas atençõespara o capítulo multimédia e parauma panóplia de opções deconecti vidade, Internet de altavelo ci da de, GPS e aplicações deprodutividade.n

DECERTO não lhe parecerá estra -nho se começarmos por noticiar quea Porsche foi distinguida com três“iF Product Design Awards” – oschamados “Óscares do Design”.Porém, se acrescentarmos que osgalardões premeiam um relógio,uma linha de mobiliário de cozi nhae um telemóvel, aí talvez se ques-tione: «Então mas não estávamos afalar de automóveis?».Pois bem, muito para além dosautomóveis, que contribuíram parao seu inquestionável estatuto deculto, a marca alemã assenta toda acriação num conceito mais transver-sal: linguagem de design clara efuncional, cuidada selecção demateriais e um exigente processo defabrico, combinando tradição arte-sanal com o recurso à mais avança-da tecnologia. Foi com estes

princípios que Ferdinand AlexanderPorsche, neto do fundador da in síg -nia, criou o Porsche Design Studioem 1972. Dos estiradores do ateliersaíram já os mais diversos objectos:de relógios a botões de punho, pas-sando por malas de viagem, mobi -liário, torneiras ou maquinaria deapoio à medicina. E telemóveis,também, em parceria com a Sagem.

NA PONTADOS DEDOSO SENSOR DEIMPRESSÃODIGITAL INCOR- PO RADO FAZ OTRADICIONAL PIN PARECER UMA BUROCRACIAOBSOLETA.

Page 3: Revista T - alguns artigos

tendências I design I

90

JUL

HO,

AG

OS

TO

20

09

91

JUL

HO,

AG

OS

TO

20

09

PORSCHEP’9522

Preço: €549,90Câmara de 5MPX

GPS e A-GPS (Wayfinder)Wi-fi

Ecrã táctil de 2,8” AMOLED Sensor de impressão digitalCartão de memória de 2GB Disponível em www.tmn.pt

Mais informações: www.mobileporschedesign.com

PORSCHEP’9521

Preço: €399,90iF Product Design Award 2008

Câmara de 3,2MPX Ecrã AMOLED rotativo de 2,2”Sensor de impressão digitalCartão de memória de 2GBDisponível em www.tmn.pt

Mais informações: www.mobileporschedesign.com

PERSONALIDADEPORSCHE

DOIS TELEMÓVEIS COM ASSINATURA

DE CULTO.

O PREMIADO P’9521 distingue-sedos demais telemóveis por diver-sos motivos. Começando pelo ele-mentar: o corpo é feito de uma sópeça de alumínio, com um ecrãtalhado em vidro mineral. O forma-to, assente num rectângulo devérti ces suaves, mantém-se fiel àlinguagem de design da marca:não há uma única linha supérfluano seu traçado. O visor pode serrodado até 180º, facilitando o usocomo câmara ou a visualização deimagens no ecrã de 2,2 polegadas.Mas a “pièce de résistance” é osensor de impressão digital incor-porado, que faz o tradicional PINparecer uma burocracia obsoleta.Em alternativa, este “scanner” po -de ainda funcionar co mo sistemade mar ca ção rápida (mediante aatri bui ção da impressão de ca da

dedo a um nú me roguar dado na agenda)ou como protecção doacesso a certas áreasdo telefone.

O SEU sucessor, oP’9522, também vemequipado com estama ra vilha. Fabricado àmão, em formato debarra, apresenta umacâmara de 5MPX e umecrã táctil AMOLED(que combina maiornitidez, melhor leitura

quando exposto à luz solar e menorconsumo de energia) de 2,8 pole-gadas com plementado por um te -clado nu mérico. Este ícone deestilo direcciona as suas atençõespara o capítulo multimédia e parauma panóplia de opções deconecti vidade, Internet de altavelo ci da de, GPS e aplicações deprodutividade.n

DECERTO não lhe parecerá estra -nho se começarmos por noticiar quea Porsche foi distinguida com três“iF Product Design Awards” – oschamados “Óscares do Design”.Porém, se acrescentarmos que osgalardões premeiam um relógio,uma linha de mobiliário de cozi nhae um telemóvel, aí talvez se ques-tione: «Então mas não estávamos afalar de automóveis?».Pois bem, muito para além dosautomóveis, que contribuíram parao seu inquestionável estatuto deculto, a marca alemã assenta toda acriação num conceito mais transver-sal: linguagem de design clara efuncional, cuidada selecção demateriais e um exigente processo defabrico, combinando tradição arte-sanal com o recurso à mais avança-da tecnologia. Foi com estes

princípios que Ferdinand AlexanderPorsche, neto do fundador da in síg -nia, criou o Porsche Design Studioem 1972. Dos estiradores do ateliersaíram já os mais diversos objectos:de relógios a botões de punho, pas-sando por malas de viagem, mobi -liário, torneiras ou maquinaria deapoio à medicina. E telemóveis,também, em parceria com a Sagem.

NA PONTADOS DEDOSO SENSOR DEIMPRESSÃODIGITAL INCOR- PO RADO FAZ OTRADICIONAL PIN PARECER UMA BUROCRACIAOBSOLETA.

Page 4: Revista T - alguns artigos

directo I automobilismo I

14

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

Fala sempre no plural, como quem reconhece que não é só a si que deveos bons resultados obtidos. Armindo Araújo co meçou pelas motos,chegando a vencer o Troféu KTM 250cc (1999). Em 2000, foi assistirao rali de Santo Tirso e a sua vida mudou: trocou as duas rodas pelosautomóveis e, logo no seu primeiro rali, terminou em 2º lugar. Nesseano de estreia, sagrou-se campeão nacional. Tinha 23 anos. «As coisas

até poderiam ter corrido melhor, se eu tivesse começado mais cedo», desabafa o piloto daDream Team TMN. A verdade é que, desde então, venceu todas as competições nacionaisem que participou. Em 2007, subiu a fasquia, ao entrar para o Campeonato Mundial deRalis, na classe Produção (PWRC). Dias antes do arranque da sua terceira época no PWRC,fomos a Santo Tirso entrevistá-lo no seu «quartel-general». «A qualquer momento podemosser campeões do mundo», afiança, com serenidade. A uma prova do final da temporada,Armindo está em segundo lugar, numa luta acesa pelo título. Será que é desta?

TEXTO JOÃO MESTRE FOTOGRAFIA PAULO SOUSA COELHO

ARMINDOARAUJOO PRIVILEGIODE GANHAR

AS CORRIDAS DE UM PILOTO QUE NÃO ESTÁ HABITUADO A PERDER.

Page 5: Revista T - alguns artigos

directo I automobilismo I

14

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

Fala sempre no plural, como quem reconhece que não é só a si que deveos bons resultados obtidos. Armindo Araújo co meçou pelas motos,chegando a vencer o Troféu KTM 250cc (1999). Em 2000, foi assistirao rali de Santo Tirso e a sua vida mudou: trocou as duas rodas pelosautomóveis e, logo no seu primeiro rali, terminou em 2º lugar. Nesseano de estreia, sagrou-se campeão nacional. Tinha 23 anos. «As coisas

até poderiam ter corrido melhor, se eu tivesse começado mais cedo», desabafa o piloto daDream Team TMN. A verdade é que, desde então, venceu todas as competições nacionaisem que participou. Em 2007, subiu a fasquia, ao entrar para o Campeonato Mundial deRalis, na classe Produção (PWRC). Dias antes do arranque da sua terceira época no PWRC,fomos a Santo Tirso entrevistá-lo no seu «quartel-general». «A qualquer momento podemosser campeões do mundo», afiança, com serenidade. A uma prova do final da temporada,Armindo está em segundo lugar, numa luta acesa pelo título. Será que é desta?

TEXTO JOÃO MESTRE FOTOGRAFIA PAULO SOUSA COELHO

ARMINDOARAUJOO PRIVILEGIODE GANHAR

AS CORRIDAS DE UM PILOTO QUE NÃO ESTÁ HABITUADO A PERDER.

Page 6: Revista T - alguns artigos

directo I automobilismo I

mundo. Temos feito boas corridas,mas, por algum motivo, as coisasnão têm corrido como queríamos.Temos rodado dentro dos cincoprimeiros lugares e fazemos partedo lote de potenciais vencedores.Estamos a lutar por um lugar nafrente do Campeonato do Mundo.A nossa hora vai chegar.

Em 2008, planeava atacar o tí -

tulo mundial. O que correu mal?

No Campeonato do Mundo, acon-tecem tantos problemas… Umexemplo: em 2006, o campeão domundo foi o Nasser Al-Attiyah e,em 2008, com o mesmo tipo decarro, no mesmo grupo, com osmesmos adversários, não con-seguiu fazer um ponto sequer. Osresultados são muito voláteis. Nogrupo dos sete, oito primeiros,qualquer um pode ser campeão.Já tivemos muitos azares, masestamos com cada vez mais expe -riência. A qualquer momento po -demos ser campeões.

É esse o objectivo para este ano?

Aprendi que devo dizer que voufazer o meu melhor, que vou tra -ba lhar muito, e o resultado po deser o primeiro, segundo, quarto,quinto ou o sexto lugar, não sei.Depende dos problemas que tiver-mos. Mas se me perguntar setenho velocidade suficiente paraser campeão do mundo, respondoque sim.

Em termos de futuro, qual é o

seu grande objectivo?

Chegar a uma grande equipaofi cial do Mundial de Ralis (WRC)e ser campeão mundial absoluto.

E fora do rali, ambiciona brilhar

em alguma outra disciplina do

desporto automóvel?

Mais tarde, não digo não à pas-sagem para o todo-o-terreno. Já láfiz algumas participações. Quem

Já lhe aconteceu dar por si a

conduzir em estrada como se

estivesse em competição?

Não. Sou criticado pelos meus ami-gos por andar excessivamentedevagar. Quando tinha 18-19 anos,claro que fiz as minhas «habili-dades». Algumas bastante irres -pon sáveis, até. Mas, hoje em dia, a

minha postura é completamenteoposta. A adrenalina de conduzirdepressa é no sítio certo: nos ralis.

Quando não está a treinar ou a

competir, o que é que faz?

Estou com o meu filho, que temum ano. É ele que me carrega asbaterias – embora de noite masdescarregue muitas vezes.n

sabe se, depois dos ralis, não ha -verão umas participações ou umapermanência no campeonato detodo-o-terreno?

Dakar incluído?

Quem sabe?São provas que exigem outra

experiência…

Exactamente. Lá não é a rapidezpura que faz a diferença. Conta aexperiência, a equipa onde estamosinseridos. E muito espírito de sacri-fício. Se essa hora chegar, teremosde ter outra postura na corrida.

Qual é a receita para um bom

piloto de ralis?

O rali é mais uma corrida de“sprint”, mais curta, portanto po de -mos ser muito mais explosivos notempo que fazemos. Uma pro va co -mo o Dakar é mais de “endu ran ce”.Mas, neste momento, ainda es touna fase do “sprint”, da ex plosão.

Quem são os seus ídolos?

O Ayrton Senna e, actualmente, oSebastien Loeb, que está a fazeruma carreira fantástica no Cam -peo nato do Mundo de Ralis. Con -tudo, na posição em que estou,comecei a avaliar o por quê demuitas coisas – nun ca tirando omérito a estas duas pessoas, ocerto é que tiveram as equipascertas, estavam no sítio certo àhora certa. É preciso criar todo umconjunto de factores para quetudo corra bem.

Qual foi o pior momento da sua

carreira?

Ainda não tive um pior momentona minha carreira. Estive semprecom as equipas certas, os patroci-nadores certos, nos campeonatosde que mais gosto. Nunca tivenenhum acidente grave. Nãoposso apontar nada a não ser pe -quenas desistências. Tenho sidoum privilegiado.

22

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

CEDO SEAPRENDEO OFÍCIO“TIVE A PRIMEIRAMOTA AOS SEISANOS. DESDEMIÚDO QUE GOS -TAVA DE MOTAS,AUTOMÓVEIS,BICICLETAS. NAMESMA ALTURA,APRENDI A CON-DUZIR NO CARRODA MINHA AVÓ.”

23

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

DREAM TEAM TMNArmindo Araújo, patrocinado pela tmn desde 2007, integra a Dream Team TMN, uma sólida equipa dejovens e promissores atletas portugueses com provasdadas a nível internacional: Bernardo Sousa e ÁlvaroParente, no automobilismo; Michelle Larcher de Brito,no ténis; Tiago Pires, no surf; Francisco Lobato, na vela;e Hélder Rodrigues e Ruben Faria, no todo-o-terreno.

Como se sentiu quando con-

quistou a sua primeira vitória?

Foi muito saboroso. Foi no segundorali. Tinha alugado outro carro e,como não o conhecia, experimen -tei-o uns quilómetros antes de aprova começar. Consegui venceros pilotos que já estavam habitua-dos ao campeonato, que conhe -ciam bem as corridas. Eu era o no -va to. Ter ganho fez os patrocina -dores olharem para mim de outrama neira.

Como foi a adaptação a um

evento mundial como o PWRC?

O Mundial de Produção estáinserido no Mundial de Ralis,junto com os WRC, que são protó -ti pos, muito resistentes e sofisti -ca dos. Nós andamos num “GrupoN”, um carro de série com algu-mas alterações. O certo é que nóspassamos pelos mesmos sítiosonde os outros passam e temostrês dias de corrida. São provasmuito longas e duras, onde estetipo de carro sofre muito. Temosde ter alguma sorte e conhecerbem as corridas, porque estamos afalar dos melhores pilotos do

Page 7: Revista T - alguns artigos

directo I automobilismo I

mundo. Temos feito boas corridas,mas, por algum motivo, as coisasnão têm corrido como queríamos.Temos rodado dentro dos cincoprimeiros lugares e fazemos partedo lote de potenciais vencedores.Estamos a lutar por um lugar nafrente do Campeonato do Mundo.A nossa hora vai chegar.

Em 2008, planeava atacar o tí -

tulo mundial. O que correu mal?

No Campeonato do Mundo, acon-tecem tantos problemas… Umexemplo: em 2006, o campeão domundo foi o Nasser Al-Attiyah e,em 2008, com o mesmo tipo decarro, no mesmo grupo, com osmesmos adversários, não con-seguiu fazer um ponto sequer. Osresultados são muito voláteis. Nogrupo dos sete, oito primeiros,qualquer um pode ser campeão.Já tivemos muitos azares, masestamos com cada vez mais expe -riência. A qualquer momento po -demos ser campeões.

É esse o objectivo para este ano?

Aprendi que devo dizer que voufazer o meu melhor, que vou tra -ba lhar muito, e o resultado po deser o primeiro, segundo, quarto,quinto ou o sexto lugar, não sei.Depende dos problemas que tiver-mos. Mas se me perguntar setenho velocidade suficiente paraser campeão do mundo, respondoque sim.

Em termos de futuro, qual é o

seu grande objectivo?

Chegar a uma grande equipaofi cial do Mundial de Ralis (WRC)e ser campeão mundial absoluto.

E fora do rali, ambiciona brilhar

em alguma outra disciplina do

desporto automóvel?

Mais tarde, não digo não à pas-sagem para o todo-o-terreno. Já láfiz algumas participações. Quem

Já lhe aconteceu dar por si a

conduzir em estrada como se

estivesse em competição?

Não. Sou criticado pelos meus ami-gos por andar excessivamentedevagar. Quando tinha 18-19 anos,claro que fiz as minhas «habili-dades». Algumas bastante irres -pon sáveis, até. Mas, hoje em dia, a

minha postura é completamenteoposta. A adrenalina de conduzirdepressa é no sítio certo: nos ralis.

Quando não está a treinar ou a

competir, o que é que faz?

Estou com o meu filho, que temum ano. É ele que me carrega asbaterias – embora de noite masdescarregue muitas vezes.n

sabe se, depois dos ralis, não ha -verão umas participações ou umapermanência no campeonato detodo-o-terreno?

Dakar incluído?

Quem sabe?São provas que exigem outra

experiência…

Exactamente. Lá não é a rapidezpura que faz a diferença. Conta aexperiência, a equipa onde estamosinseridos. E muito espírito de sacri-fício. Se essa hora chegar, teremosde ter outra postura na corrida.

Qual é a receita para um bom

piloto de ralis?

O rali é mais uma corrida de“sprint”, mais curta, portanto po de -mos ser muito mais explosivos notempo que fazemos. Uma pro va co -mo o Dakar é mais de “endu ran ce”.Mas, neste momento, ainda es touna fase do “sprint”, da ex plosão.

Quem são os seus ídolos?

O Ayrton Senna e, actualmente, oSebastien Loeb, que está a fazeruma carreira fantástica no Cam -peo nato do Mundo de Ralis. Con -tudo, na posição em que estou,comecei a avaliar o por quê demuitas coisas – nun ca tirando omérito a estas duas pessoas, ocerto é que tiveram as equipascertas, estavam no sítio certo àhora certa. É preciso criar todo umconjunto de factores para quetudo corra bem.

Qual foi o pior momento da sua

carreira?

Ainda não tive um pior momentona minha carreira. Estive semprecom as equipas certas, os patroci-nadores certos, nos campeonatosde que mais gosto. Nunca tivenenhum acidente grave. Nãoposso apontar nada a não ser pe -quenas desistências. Tenho sidoum privilegiado.

22

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

CEDO SEAPRENDEO OFÍCIO“TIVE A PRIMEIRAMOTA AOS SEISANOS. DESDEMIÚDO QUE GOS -TAVA DE MOTAS,AUTOMÓVEIS,BICICLETAS. NAMESMA ALTURA,APRENDI A CON-DUZIR NO CARRODA MINHA AVÓ.”

23

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

DREAM TEAM TMNArmindo Araújo, patrocinado pela tmn desde 2007, integra a Dream Team TMN, uma sólida equipa dejovens e promissores atletas portugueses com provasdadas a nível internacional: Bernardo Sousa e ÁlvaroParente, no automobilismo; Michelle Larcher de Brito,no ténis; Tiago Pires, no surf; Francisco Lobato, na vela;e Hélder Rodrigues e Ruben Faria, no todo-o-terreno.

Como se sentiu quando con-

quistou a sua primeira vitória?

Foi muito saboroso. Foi no segundorali. Tinha alugado outro carro e,como não o conhecia, experimen -tei-o uns quilómetros antes de aprova começar. Consegui venceros pilotos que já estavam habitua-dos ao campeonato, que conhe -ciam bem as corridas. Eu era o no -va to. Ter ganho fez os patrocina -dores olharem para mim de outrama neira.

Como foi a adaptação a um

evento mundial como o PWRC?

O Mundial de Produção estáinserido no Mundial de Ralis,junto com os WRC, que são protó -ti pos, muito resistentes e sofisti -ca dos. Nós andamos num “GrupoN”, um carro de série com algu-mas alterações. O certo é que nóspassamos pelos mesmos sítiosonde os outros passam e temostrês dias de corrida. São provasmuito longas e duras, onde estetipo de carro sofre muito. Temosde ter alguma sorte e conhecerbem as corridas, porque estamos afalar dos melhores pilotos do

Page 8: Revista T - alguns artigos

directo I automobilismo I

Aprendeu primeiro a andar de

mota ou a conduzir um carro?

Penso que foi de mota. Tive a pri -meira [uma Graziella, mini-motaitaliana de inícios dos anos 70]aos seis anos. Desde miúdo quegostava de motas, automóveis, bi -cicletas. Na mesma altura, apren dia conduzir no carro da minha avó.

E o primeiro carro, foi com que

idade?

Aos 14 anos. Eu e um amigo com-prámos um a meias para fazerumas brincadeiras. Ainda me lem-bro: era um Mini preto. Já não otenho, infelizmente. Acho que foidestruído numa das nossas brin-cadeiras.

O que lhe passa pela cabeça

quando está quase a começar

uma prova?

Com os anos, o nervosismo vaipas sando. Agora, acima de tudo,temos uma enorme responsabili-dade. Temos de nos concentrar. Omeu pensamento é conseguir umaboa afinação do carro e dialogarao máximo com o meu engenheiropara termos um carro o mais “per-formante” possível.

Tem alguma superstição antes

de entrar em prova?

Costumo dizer que a minha gran -de superstição é não ser su pers ti -cioso. Nunca quis estar agarrado anada que, num dia que eu nãotivesse esse amuleto ou não fi -zesse esse determinado ritual, mepusesse a pensar: «não fiz aqui-lo!»… O que poderia pôr muitacoisa em causa.

Está com o Miguel Ramalho desde

2001. Não será para dar sorte…

O Miguel Ramalho é um navega -dor muito profissional. Já tinhamuita experiência quando co me -çou comigo. No primeiro ano, corricom um amigo de escola. Masdepois, por afazeres profissionais,

1977. Armindo José

Salgado da Silva Araújo

nasceu, no Porto, a 1 de

Setembro. Cedo demonstrou

grande interesse pelos

desportos motorizados.

Aos 6 anos, recebe uma

mini-mota de presente

e aprende rapidamente

a conduzir no Mercedes

da avó. Aos 14, compra

o seu primeiro carro, a

meias com um amigo:

um Mini.

1995. Torna-se vice-

-campeão nacional de

motociclismo, na classe

50cc. No ano seguinte,

termina em terceiro lugar

na Classe Júnior Consagra -

dos, em 125cc. Em 1999,

vence o Troféu KTM 250cc.

2000. Depois de assistir

ao Rali de Santo Tirso,

de cide aventurar-se no

mundo dos ralis. Estreia-se

na prova seguinte, em

Fafe, com um segundo

lugar. Termina a tempo -

rada com cinco vitórias,

dois segundos lu ga res

e o título de cam peão

nacional de Promo ção.

2001. Vence o Troféu

Citröen Saxo, com quatro

vitórias em seis provas.

É convidado para a equipa

oficial da Citröen. Em

2002, sagra-se campeão

nacional de ralis na classe

F3 e, nos anos seguintes,

torna-se tetra-campeão

nacional absoluto de ralis

(2003, 2004, 2005 e 2006).

Em 2005, passa a ser

piloto oficial da Mitsubishi.

SEGUIR EM FRENTE“SOU APOIADO PELAS MELHORES

EMPRESAS NACIONAIS. É SINAL DE RECONHECIMENTO. TODOS OS

ELEMENTOS ESTÃO REU NI DOS PARA EU CONTINUAR A CORRER

SEM PENSAR SEQUER EM PARAR.”14

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

Page 9: Revista T - alguns artigos

directo I automobilismo I

Aprendeu primeiro a andar de

mota ou a conduzir um carro?

Penso que foi de mota. Tive a pri -meira [uma Graziella, mini-motaitaliana de inícios dos anos 70]aos seis anos. Desde miúdo quegostava de motas, automóveis, bi -cicletas. Na mesma altura, apren dia conduzir no carro da minha avó.

E o primeiro carro, foi com que

idade?

Aos 14 anos. Eu e um amigo com-prámos um a meias para fazerumas brincadeiras. Ainda me lem-bro: era um Mini preto. Já não otenho, infelizmente. Acho que foidestruído numa das nossas brin-cadeiras.

O que lhe passa pela cabeça

quando está quase a começar

uma prova?

Com os anos, o nervosismo vaipas sando. Agora, acima de tudo,temos uma enorme responsabili-dade. Temos de nos concentrar. Omeu pensamento é conseguir umaboa afinação do carro e dialogarao máximo com o meu engenheiropara termos um carro o mais “per-formante” possível.

Tem alguma superstição antes

de entrar em prova?

Costumo dizer que a minha gran -de superstição é não ser su pers ti -cioso. Nunca quis estar agarrado anada que, num dia que eu nãotivesse esse amuleto ou não fi -zesse esse determinado ritual, mepusesse a pensar: «não fiz aqui-lo!»… O que poderia pôr muitacoisa em causa.

Está com o Miguel Ramalho desde

2001. Não será para dar sorte…

O Miguel Ramalho é um navega -dor muito profissional. Já tinhamuita experiência quando co me -çou comigo. No primeiro ano, corricom um amigo de escola. Masdepois, por afazeres profissionais,

1977. Armindo José

Salgado da Silva Araújo

nasceu, no Porto, a 1 de

Setembro. Cedo demonstrou

grande interesse pelos

desportos motorizados.

Aos 6 anos, recebe uma

mini-mota de presente

e aprende rapidamente

a conduzir no Mercedes

da avó. Aos 14, compra

o seu primeiro carro, a

meias com um amigo:

um Mini.

1995. Torna-se vice-

-campeão nacional de

motociclismo, na classe

50cc. No ano seguinte,

termina em terceiro lugar

na Classe Júnior Consagra -

dos, em 125cc. Em 1999,

vence o Troféu KTM 250cc.

2000. Depois de assistir

ao Rali de Santo Tirso,

de cide aventurar-se no

mundo dos ralis. Estreia-se

na prova seguinte, em

Fafe, com um segundo

lugar. Termina a tempo -

rada com cinco vitórias,

dois segundos lu ga res

e o título de cam peão

nacional de Promo ção.

2001. Vence o Troféu

Citröen Saxo, com quatro

vitórias em seis provas.

É convidado para a equipa

oficial da Citröen. Em

2002, sagra-se campeão

nacional de ralis na classe

F3 e, nos anos seguintes,

torna-se tetra-campeão

nacional absoluto de ralis

(2003, 2004, 2005 e 2006).

Em 2005, passa a ser

piloto oficial da Mitsubishi.

SEGUIR EM FRENTE“SOU APOIADO PELAS MELHORES

EMPRESAS NACIONAIS. É SINAL DE RECONHECIMENTO. TODOS OS

ELEMENTOS ESTÃO REU NI DOS PARA EU CONTINUAR A CORRER

SEM PENSAR SEQUER EM PARAR.”14

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

Page 10: Revista T - alguns artigos

18

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

19

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

directo I automobilismo I

2007. Depois de ganhar

tudo o que havia para

ganhar em competições

portuguesas, parte para

as provas inter nacio nais,

mantendo-se como piloto

da Mitsubishi. Estreia-se

no Campeonato Mundial

de Ralis, classe Produção,

com um quarto lugar no

gélido Rali da Suécia,

dando logo nas vistas

como o «melhor piloto

não-nórdico». Termina a

época na 14ª posição.

2008 Alcança, na sua

segunda época no PWRC,

o primeiro pódio, com um

terceiro lugar no Rali da

Acrópole, na Grécia – uma

das suas provas favoritas.

Termina a temporada no

oitavo posto.

2009. Depois de começar

a temporada com um

quarto lugar no trabalhoso

Rali da Noruega, alcança

um segundo lugar no Rali

do Chipre e conquista o

seu primeiro triunfo no

PWRC no Rali de Portugal.

Com isto, atinge o meio

da época no topo da

classificação geral.

Termina as duas provas

seguintes (Itália e Grécia)

em 3º lugar, caindo para o

segundo lugar da tabela,

a apenas quatro pontos do

líder. A decisão fica adiada

para a última prova da

temporada, o Rali do País

de Gales, disputada entre

23 e 25 de Outubro. Se

vencer, será o segundo

piloto português a triunfar

no PWRC – o primeiro foi

Rui Madeira, em 1995.

OBJECTIVO FUTURO“CHEGAR A UMA GRANDE EQUIPA

OFI CIAL DO MUNDIAL DE RALIS (WRC) ESER CAMPEÃO MUNDIAL ABSOLUTO.”

Vê esse negócio de família

como uma possibilidade para o

final da carreira?

Neste momento, não penso muito noassunto. Mas, no dia em que deixarde correr, será uma forte opção.

Até que idade pensa competir?

Enquanto me sentir motivado e comvontade, e enquanto achar que pos -so dar resultados a quem investe emmim. Em segundo lugar, en quantotiver apoios e as pessoas acredi -tarem no meu valor. Sou apoiadopelas melhores em pr e sas nacionais(entre elas, a tmn) e por uma marca.É sinal de reconhecimento, de queestou a trabalhar bem. Todos os ele-mentos estão reu ni dos para eu con-tinuar a correr sem pensar sequerem parar.

Ainda se lembra da sua estreia

na competição automóvel?

Lembro-me perfeitamente. Foi no

Rali de Fafe, num carro bastanteantigo, alugado a uma pessoa ami -ga. Cheguei ao último troço em pa -tado à milésima com o piloto queacabou por ganhar. Uma pessoaminha amiga estava tão preo cu -pada que eu tivesse um acidenteque, à entrada do último troço, medisse: «Estás em quarto lugar, a20 e tal segundos do terceiro, e oque está atrás de ti está a 30 e talsegundos, portanto ago ra é sólevar o carro até ao fim». E eudisse ao navegador: «Podemos irsem notas, já não é preciso ata -car». E chegámos ao fim. Perdi orali por dois ou três segundos.Podia ter vencido. Mas compreen-do a posição das pessoas que es -tavam comigo, porque realmentenão tinha apoios. Era mesmo umaaventura. Foi uma experiênciafan tástica.

ele decidiu parar com esta aventu-ra. Optei por contratar um nave -gador bem rodado no campeonatonacional. Foi quando conheci oMiguel. Entretanto, construímos umagrande amizade. Espero aca bar aminha carreira com ele.

Antes de ser piloto profissional,

o que é que fazia?

Frequentava o curso de RelaçõesInternacionais, na UniversidadeLusíada do Porto, e ajudava osmeus pais nas empresas [na áreados têxteis]. No momento em queentrei para uma equipa oficial, vique tinha de tomar opções e deci-di que a prioridade seria osautomóveis. Embora eu acompan-he os negócios das empresas, nãoocupo cargos de responsabilidadepara estar totalmente focado nasminhas corridas, nos meuspatrocinadores.

Page 11: Revista T - alguns artigos

18

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

19

AG

OS

TO,

SE

TEM

BR

O2

00

9

directo I automobilismo I

2007. Depois de ganhar

tudo o que havia para

ganhar em competições

portuguesas, parte para

as provas inter nacio nais,

mantendo-se como piloto

da Mitsubishi. Estreia-se

no Campeonato Mundial

de Ralis, classe Produção,

com um quarto lugar no

gélido Rali da Suécia,

dando logo nas vistas

como o «melhor piloto

não-nórdico». Termina a

época na 14ª posição.

2008 Alcança, na sua

segunda época no PWRC,

o primeiro pódio, com um

terceiro lugar no Rali da

Acrópole, na Grécia – uma

das suas provas favoritas.

Termina a temporada no

oitavo posto.

2009. Depois de começar

a temporada com um

quarto lugar no trabalhoso

Rali da Noruega, alcança

um segundo lugar no Rali

do Chipre e conquista o

seu primeiro triunfo no

PWRC no Rali de Portugal.

Com isto, atinge o meio

da época no topo da

classificação geral.

Termina as duas provas

seguintes (Itália e Grécia)

em 3º lugar, caindo para o

segundo lugar da tabela,

a apenas quatro pontos do

líder. A decisão fica adiada

para a última prova da

temporada, o Rali do País

de Gales, disputada entre

23 e 25 de Outubro. Se

vencer, será o segundo

piloto português a triunfar

no PWRC – o primeiro foi

Rui Madeira, em 1995.

OBJECTIVO FUTURO“CHEGAR A UMA GRANDE EQUIPA

OFI CIAL DO MUNDIAL DE RALIS (WRC) ESER CAMPEÃO MUNDIAL ABSOLUTO.”

Vê esse negócio de família

como uma possibilidade para o

final da carreira?

Neste momento, não penso muito noassunto. Mas, no dia em que deixarde correr, será uma forte opção.

Até que idade pensa competir?

Enquanto me sentir motivado e comvontade, e enquanto achar que pos -so dar resultados a quem investe emmim. Em segundo lugar, en quantotiver apoios e as pessoas acredi -tarem no meu valor. Sou apoiadopelas melhores em pr e sas nacionais(entre elas, a tmn) e por uma marca.É sinal de reconhecimento, de queestou a trabalhar bem. Todos os ele-mentos estão reu ni dos para eu con-tinuar a correr sem pensar sequerem parar.

Ainda se lembra da sua estreia

na competição automóvel?

Lembro-me perfeitamente. Foi no

Rali de Fafe, num carro bastanteantigo, alugado a uma pessoa ami -ga. Cheguei ao último troço em pa -tado à milésima com o piloto queacabou por ganhar. Uma pessoaminha amiga estava tão preo cu -pada que eu tivesse um acidenteque, à entrada do último troço, medisse: «Estás em quarto lugar, a20 e tal segundos do terceiro, e oque está atrás de ti está a 30 e talsegundos, portanto ago ra é sólevar o carro até ao fim». E eudisse ao navegador: «Podemos irsem notas, já não é preciso ata -car». E chegámos ao fim. Perdi orali por dois ou três segundos.Podia ter vencido. Mas compreen-do a posição das pessoas que es -tavam comigo, porque realmentenão tinha apoios. Era mesmo umaaventura. Foi uma experiênciafan tástica.

ele decidiu parar com esta aventu-ra. Optei por contratar um nave -gador bem rodado no campeonatonacional. Foi quando conheci oMiguel. Entretanto, construímos umagrande amizade. Espero aca bar aminha carreira com ele.

Antes de ser piloto profissional,

o que é que fazia?

Frequentava o curso de RelaçõesInternacionais, na UniversidadeLusíada do Porto, e ajudava osmeus pais nas empresas [na áreados têxteis]. No momento em queentrei para uma equipa oficial, vique tinha de tomar opções e deci-di que a prioridade seria osautomóveis. Embora eu acompan-he os negócios das empresas, nãoocupo cargos de responsabilidadepara estar totalmente focado nasminhas corridas, nos meuspatrocinadores.

Page 12: Revista T - alguns artigos

acontecimento I sudoeste tmn I

26

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

FESTIVALSW TMN

O ANO DA MAIORIDADE

Quatro dias, cinco palcos e 140 mil espectadores depois: memória de um Sudoeste que bateu todos os recordes. TEXTO JOÃO MESTRE FOTOGRAFIA RICARDO BENTO

27

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

THE NATIONAL

Page 13: Revista T - alguns artigos

acontecimento I sudoeste tmn I

26

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

FESTIVALSW TMN

O ANO DA MAIORIDADE

Quatro dias, cinco palcos e 140 mil espectadores depois: memória de um Sudoeste que bateu todos os recordes. TEXTO JOÃO MESTRE FOTOGRAFIA RICARDO BENTO

27

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

THE NATIONAL

Page 14: Revista T - alguns artigos

29

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

28

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

DEZ ANOS é já uma idade considerável. Não será detodo arriscado dizer que o Sudoeste atingiu a maturi-dade enquanto evento, tornando-se numa das para-gens obrigatórias do calendário estival português. Jálá vai uma década desde aqueles inéditos dias deAgosto em que uma herdade alentejana se transfor-mava num “Woodstock” à portuguesa e recebia,entre outros, Marilyn Manson, Blur e Suede. Nesta que foi a sua décima primeira edição, ofestival não necessitou de recorrer a nomes tãosonantes nem a artistas tão “mainstreamers”como noutros anos para garantir uma esmagado-ra adesão em termos de público.Talvez seja pela mística, talvez pelo ambiente,mas a verdade é que, apesar do seco calor alen-tejano e das nuvens de pó que são já umaimagem de marca do evento, a afluência depúblico foi mais que muita, situando-se naordem dos 35 mil espectadores diários. Nasoma dos quatro dias, a Herdade da CasaBranca registou 140 mil entradas, mais 30 milque em 2006 e um recorde absoluto.Este foi, possivelmente, o Sudoeste com mais«tá-se bem» por metro quadrado – o reggae foirei e senhor no cartaz dos quatro dias, não sópela presença do «príncipe» Damien Marley(que, a par de Manu Chao, polarizou asatenções do primeiro dia) no recinto principal,mas também pelo palco Positive Vibes, espe-cial izado em «servir» copiosas doses dodescontraído – mas não destituído – géneromusical. Porventura, terá sido essa dominante«boa onda» que motivou uma maior afluênciade famílias, o que traduz uma certa desmistifi-cação da carga de hedonismo desregrado fre-quentemente associada aos festivais de Verão. A lusofonia foi outra das grandes apostas docartaz deste ano – praticamente metade dassete dezenas de actuações tiveram como línguafranca o português. Vindo, não só de Portugal,mas também de Cabo Verde, de Angola e doBrasil. Entre outros, estiveram ao (bom) serviçoda língua de Camões Sérgio Godinho, Sam TheKid e Gilberto Gil, todos eles senhores deactua ções irrepreensíveis.

MÚSICA, EXPERIÊNCIAS

E MUITO MAIS.

DATA ROCK JAMES

SOLDIERS OF JAH ARMY

SAM THE KID (TOPO)BURAKA SOM SISTEMA (CENTRO)RAZORLIGHT (DESTAQUE)

Page 15: Revista T - alguns artigos

29

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

28

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

DEZ ANOS é já uma idade considerável. Não será detodo arriscado dizer que o Sudoeste atingiu a maturi-dade enquanto evento, tornando-se numa das para-gens obrigatórias do calendário estival português. Jálá vai uma década desde aqueles inéditos dias deAgosto em que uma herdade alentejana se transfor-mava num “Woodstock” à portuguesa e recebia,entre outros, Marilyn Manson, Blur e Suede. Nesta que foi a sua décima primeira edição, ofestival não necessitou de recorrer a nomes tãosonantes nem a artistas tão “mainstreamers”como noutros anos para garantir uma esmagado-ra adesão em termos de público.Talvez seja pela mística, talvez pelo ambiente,mas a verdade é que, apesar do seco calor alen-tejano e das nuvens de pó que são já umaimagem de marca do evento, a afluência depúblico foi mais que muita, situando-se naordem dos 35 mil espectadores diários. Nasoma dos quatro dias, a Herdade da CasaBranca registou 140 mil entradas, mais 30 milque em 2006 e um recorde absoluto.Este foi, possivelmente, o Sudoeste com mais«tá-se bem» por metro quadrado – o reggae foirei e senhor no cartaz dos quatro dias, não sópela presença do «príncipe» Damien Marley(que, a par de Manu Chao, polarizou asatenções do primeiro dia) no recinto principal,mas também pelo palco Positive Vibes, espe-cial izado em «servir» copiosas doses dodescontraído – mas não destituído – géneromusical. Porventura, terá sido essa dominante«boa onda» que motivou uma maior afluênciade famílias, o que traduz uma certa desmistifi-cação da carga de hedonismo desregrado fre-quentemente associada aos festivais de Verão. A lusofonia foi outra das grandes apostas docartaz deste ano – praticamente metade dassete dezenas de actuações tiveram como línguafranca o português. Vindo, não só de Portugal,mas também de Cabo Verde, de Angola e doBrasil. Entre outros, estiveram ao (bom) serviçoda língua de Camões Sérgio Godinho, Sam TheKid e Gilberto Gil, todos eles senhores deactua ções irrepreensíveis.

MÚSICA, EXPERIÊNCIAS

E MUITO MAIS.

DATA ROCK JAMES

SOLDIERS OF JAH ARMY

SAM THE KID (TOPO)BURAKA SOM SISTEMA (CENTRO)RAZORLIGHT (DESTAQUE)

Page 16: Revista T - alguns artigos

31

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

acontecimento I sudoeste tmn I

30

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

Para além dos cinco espaçosmusicais, todos com propósitosdiferentes – o Palco TMN, com osnomes mais sonantes; o PlanetaSudoeste, com os mais alterna-tivos; o Positive Vibes, dedicadoao reggae; a Tenda Parariso,voltada para a comédia e as artesperformativas; e a Music Box, dadaà dance music – a atenção dopúblico era também disputada porum sem-número de atracções para-lelas. É tendência corrente trans-formar estes eventos em ver-dadeiros parques temáticos e oSudoeste não poupou esforços noque respeita a manter entretidosos festivaleiros: o serviço de duchesem jeito de linha de lavagem deautomóveis, as corridas de com-boios a pedais, as massagens àborla e os duelos de percussão (oualgazarras de batucada, conforme

o ponto de vista), são só algunsexemplos. Mas a «barraquinha» mais concorri-da desta «feira popular» foi, semdúvida, o “bungee cart”. Fosse a quehoras fosse, o stand patrocinado pelaTMN era atacado por intermináveisfilas de corajosos que ansiavam pelaexperiência de cair a uma altura de50 metros dentro de um Smart (sus-penso por elásticos, claro). A dada altura, quase que era esque-cida a elementar razão de se estarnaquele sítio, àquelas horas: a mú -sica, que, todos os anos, transformaa pacata Zambujeira do Mar emcapital do país por quatro dias. E avontade de viver o maior festival deVerão em solo nacional, que, no anoem que assinalou o seu décimoaniversário, atingiu a maioridade,afirmando-se como uma marca dereferência do Verão português.

UM CARTAZ DIFERENTENESTA QUE FOI A SUA DÉCIMAPRIMEIRA EDIÇÃO, O FESTIVAL NÃONECESSITOU DERECORRER A NOMESTÃO SONANTES NEMA ARTISTAS TÃO“MAINSTREAMERS”COMO NOUTROSANOS PARA GARANTIR UMAESMAGADORAADESÃO EM TERMOSDE PÚBLICO.

A MÍSTICA, O AMBIENTE,

O «TÁ-SE BEM».

Page 17: Revista T - alguns artigos

31

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

acontecimento I sudoeste tmn I

30

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

Para além dos cinco espaçosmusicais, todos com propósitosdiferentes – o Palco TMN, com osnomes mais sonantes; o PlanetaSudoeste, com os mais alterna-tivos; o Positive Vibes, dedicadoao reggae; a Tenda Parariso,voltada para a comédia e as artesperformativas; e a Music Box, dadaà dance music – a atenção dopúblico era também disputada porum sem-número de atracções para-lelas. É tendência corrente trans-formar estes eventos em ver-dadeiros parques temáticos e oSudoeste não poupou esforços noque respeita a manter entretidosos festivaleiros: o serviço de duchesem jeito de linha de lavagem deautomóveis, as corridas de com-boios a pedais, as massagens àborla e os duelos de percussão (oualgazarras de batucada, conforme

o ponto de vista), são só algunsexemplos. Mas a «barraquinha» mais concorri-da desta «feira popular» foi, semdúvida, o “bungee cart”. Fosse a quehoras fosse, o stand patrocinado pelaTMN era atacado por intermináveisfilas de corajosos que ansiavam pelaexperiência de cair a uma altura de50 metros dentro de um Smart (sus-penso por elásticos, claro). A dada altura, quase que era esque-cida a elementar razão de se estarnaquele sítio, àquelas horas: a mú -sica, que, todos os anos, transformaa pacata Zambujeira do Mar emcapital do país por quatro dias. E avontade de viver o maior festival deVerão em solo nacional, que, no anoem que assinalou o seu décimoaniversário, atingiu a maioridade,afirmando-se como uma marca dereferência do Verão português.

UM CARTAZ DIFERENTENESTA QUE FOI A SUA DÉCIMAPRIMEIRA EDIÇÃO, O FESTIVAL NÃONECESSITOU DERECORRER A NOMESTÃO SONANTES NEMA ARTISTAS TÃO“MAINSTREAMERS”COMO NOUTROSANOS PARA GARANTIR UMAESMAGADORAADESÃO EM TERMOSDE PÚBLICO.

A MÍSTICA, O AMBIENTE,

O «TÁ-SE BEM».

Page 18: Revista T - alguns artigos

acontecimento I sudoeste tmn I

32

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

SUDOESTEEMNÚMEROSAo longo destes 10 anos, passa ram

pelo Sudoeste mais de 300 artistas

e DJ’s. Presentes em 5 edições, os

Da Weasel são a banda que mais vezes

pisou este palco. Os Placebo, que o

fizeram 3 vezes, são a banda

internacional mais assídua. Tudo isto se

não se contar com o DJ Rui Vargas,

que deu música aos festivaleiros em

todas as (11) edições. Ao todo, o

evento chamou à Zambujeira do Mar

1,2 milhões de pessoas – em média,

110.00 entradas por ano. 2007 foi

o ano de maior afluência, com cerca

de 150.000 pessoas – 18%

delas (isto é: 25.000) proveniente

de Espanha. E, segundo as autoridades

locais, tem um impacto de 10 milhões

de euros na economia do concelho de

Odemira (fonte: DN).

Os bilhetes, que em 1997 custavam

6000 escudos (cerca de 30 €),

custam agora 70 € (com oferta de

idêntico valor em chamadas TMN).

úti lPonha as músicas do Sudoeste tmn

a tocar no seu telemóvel. Toques

reais, “waiting rings” e mp3 de

Buraka Som Sistema, Cypress Hill,

Damian Marley, Groove Armada,

I’m From Barcelona, Phoenix, Sam

The Kid, Sérgio Godinho, Vanessa

da Mata e WrayGunn, entre outros,

disponíveis em www.tmn.pt.

UMA MARCADE REFERÊNCIA

DO VERÃO.

Page 19: Revista T - alguns artigos

acontecimento I sudoeste tmn I

32

NO

VE

MB

RO

, D

EZ

EM

BR

O2

00

7

SUDOESTEEMNÚMEROSAo longo destes 10 anos, passa ram

pelo Sudoeste mais de 300 artistas

e DJ’s. Presentes em 5 edições, os

Da Weasel são a banda que mais vezes

pisou este palco. Os Placebo, que o

fizeram 3 vezes, são a banda

internacional mais assídua. Tudo isto se

não se contar com o DJ Rui Vargas,

que deu música aos festivaleiros em

todas as (11) edições. Ao todo, o

evento chamou à Zambujeira do Mar

1,2 milhões de pessoas – em média,

110.00 entradas por ano. 2007 foi

o ano de maior afluência, com cerca

de 150.000 pessoas – 18%

delas (isto é: 25.000) proveniente

de Espanha. E, segundo as autoridades

locais, tem um impacto de 10 milhões

de euros na economia do concelho de

Odemira (fonte: DN).

Os bilhetes, que em 1997 custavam

6000 escudos (cerca de 30 €),

custam agora 70 € (com oferta de

idêntico valor em chamadas TMN).

úti lPonha as músicas do Sudoeste tmn

a tocar no seu telemóvel. Toques

reais, “waiting rings” e mp3 de

Buraka Som Sistema, Cypress Hill,

Damian Marley, Groove Armada,

I’m From Barcelona, Phoenix, Sam

The Kid, Sérgio Godinho, Vanessa

da Mata e WrayGunn, entre outros,

disponíveis em www.tmn.pt.

UMA MARCADE REFERÊNCIA

DO VERÃO.

Page 20: Revista T - alguns artigos

retrato I música I

28

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

29

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

© CORBIS OUTLINE / VMI

DE OLHO NO TRONOTEXTO JOÃO MESTRE

KANYEWEST

KANYEWEST

Mais de doze milhões de discos vendidos, 14 “Grammy Awards” na

prateleira e quatro álbuns entre os 100melhores da primeira década do século

XXI, segundo a “Rolling Stone”. «O meu plano é tornar-me

o maior artista desta geração»,garante o “rapper” que, a 5 de

agosto, sobe ao palco doSudoeste tmn. Polémico, arrogante,

diligente. Será este o futuro rei da pop?

Mais de doze milhões de discos vendidos, 14 “Grammy Awards” na

prateleira e quatro álbuns entre os 100melhores da primeira década do século

XXI, segundo a “Rolling Stone”. «O meu plano é tornar-me

o maior artista desta geração»,garante o “rapper” que, a 5 de

agosto, sobe ao palco doSudoeste tmn. Polémico, arrogante,

diligente. Será este o futuro rei da pop?

Page 21: Revista T - alguns artigos

retrato I música I

28

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

29

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

© CORBIS OUTLINE / VMI

DE OLHO NO TRONOTEXTO JOÃO MESTRE

KANYEWEST

KANYEWEST

Mais de doze milhões de discos vendidos, 14 “Grammy Awards” na

prateleira e quatro álbuns entre os 100melhores da primeira década do século

XXI, segundo a “Rolling Stone”. «O meu plano é tornar-me

o maior artista desta geração»,garante o “rapper” que, a 5 de

agosto, sobe ao palco doSudoeste tmn. Polémico, arrogante,

diligente. Será este o futuro rei da pop?

Mais de doze milhões de discos vendidos, 14 “Grammy Awards” na

prateleira e quatro álbuns entre os 100melhores da primeira década do século

XXI, segundo a “Rolling Stone”. «O meu plano é tornar-me

o maior artista desta geração»,garante o “rapper” que, a 5 de

agosto, sobe ao palco doSudoeste tmn. Polémico, arrogante,

diligente. Será este o futuro rei da pop?

Page 22: Revista T - alguns artigos

retrato I música I

30

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

notícia

caiu como uma bomba. Em

julho de 2009, um mês após a

morte de Michael Jackson, o

“website” de en tre tenimento

AceShowbizz.com jurava a pés

juntos que Kanye West queria

ser o novo rei da pop, atribuindo-

-lhe frases como «É muito triste

ele ter partido, mas abre-se o

caminho para um novo rei da

pop e estou interessado em ficar

com o lugar.» Ou «Pri mei ro foi o

Elvis, depois o Michael, e agora,

no século XXI, é altura de ser o

Kanye a reinar.» Era tudo men -

ti ra, afinal. Desmentida pelo

próprio numa mensagem publi -

ca da em maiúsculas no seu

blogue: «Sinto-me mal por ter

feito as pessoas acreditarem que

eu seria capaz de dizer algo tão

despropositado. Assusta-me pen-

sar em que mais irão acreditar.»

A verdade é que ninguém ficou

(demasiado) boquiaberto com as

ale gadas declarações. Afinal,

estamos perante o artista que se

com parou a Picasso, aos Beatles

e a Marvin Gaye, e que em 2004

aban donou a cerimónia dos

D.R.

American Music Awards, após

per der o prémio de “Artista

Revelação” para a cantora de

“country” Gretchen Wilson.

«Fui, sem dúvida, roubado. Fui o

melhor novo artista deste ano.»

Ou que afirmou, numa conferên -

cia de imprensa em Singapura,

«Sempre que atuo penso: o meu

plano é tornar-me o maior

artista desta geração».

Há uma linha ténue entre a

arro gância pura e simples e a ar -

ro gân cia de quem sabe. E Kanye

West tem a lição bem estudada –

prova disso está em cada disco

que lança (e são já cinco em no -

me próprio, com o sexto pro me ti -

do para breve), invariavelmen te

elogiado pela crítica e bem-

-sucedido nas ta be las de vendas.

Enquanto não chega o novo

álbum (nem o aguardado “Watch

the Throne”, registo a duas

vozes, com Jay-Z), Kanye faz-se

repre sen tar nos “tops” com “My

Beauti ful Dark Twisted Fanta sy”,

lançado em novembro de 2010 e

já certificado com platina por

ven das superiores a um milhão de

cópias nos Estados Unidos. É cer -

to que ainda tem um longo cami -

nho a percorrer até alcançar os

números de “Late Regis tra tion”

(2005), galardoado com tri pla

pla tina. No entanto, se gun do o

“website” MetaCritic.com (que

compila a opinião dos críticos de

re ferência e faz a média das classi -

fi cações numa escala de zero a

100), “…Twisted Fantasy” me re -

ceu a pontuação mais alta da sua

dis cografia, com uma média de

94. Nos habituais balanços de fim

de ano, foi considerado o melhor

disco de 2010 por nada menos do

que 22 publicações de referência

– um primeiro lugar absoluto,

uns furos acima das nove ci ta ções

de “The Suburbs”, dos Arcade

Fire –, incluindo revistas como a

“Rolling Stone”, a “Billboard”

ou a “Time”, que já lhe havia

da do hon ras de capa sob o título

«O ho mem mais inteligente da

mú si ca pop» e o incluiu no lote

das perso nalidades mais influen -

tes de 2005 e 2010. Não foi só

pe los seus doze milhões de

álbuns ven didos.

Quando abre a boca, West tem

uma vasta audiência a ouvi-lo.

Seja quando apela ao boicote à

indústria de diamantes, quando

se mobiliza contra a discrimina -

ção de homossexuais no hip-hop

ou quando, na ressaca da devas-

tação do furacão Katrina, aponta

o dedo a George W. Bush pela

tardia resposta das autoridades,

afirmando, em direto e perante

milhões de telespectadores, que

o então presidente «não quer sa -

ber dos negros». Anos mais tar de,

Bush revelou que o episódio foi

um dos «momentos mais re vol -

tantes» da sua presidência. É esse

o poder de Kanye West.

KANYE (pronuncia-se “Ká-ni-ei”)

Omari West nasceu em Atlanta,

numa família de classe média,

filho do fotógrafo Ray West, ex-

-par tidário do movimento Pan te -

ras Negras, e Donda West, pro fes -

sora universitária. Aos 3 anos, os

pais divorciaram-se e a mãe leva-o

para Chicago. Frequenta boas

es colas, em permanente contacto

com as artes plásticas e a música.

Aos 10, vive um ano na China,

quando a sua mãe é convidada

pa ra lecionar na Universidade de

Nanjing. Os verões, esses eram

passados com o pai, que recorda

como «os outros miúdos tro ça vam

de Kanye, chamavam-lhe “China

boy”». Nos anos de liceu, acres-

centa a “Rolling Stone”, era go -

za do por usar aparelho e por ter

«dentes do tamanho de chicle -

tes». Em entrevista à “Time Out

London”, Kanye recorda a in fân -

cia de forma «ligeiramente» di fe -

rente: «Sempre fui seguido pelos

outros miúdos, desde o infantá rio.

A professora dizia que eu era um

líder nato.»

Cedo se apaixonou pelo hip-hop

e pelo imaginário de rebeldia que

o gé nero musical privilegia. Que -

ria ser “rapper” e produtor. Os pais

fi zeram o seu papel: convenceram-

-no antes a prosseguir os estudos e

ir para a universida de. Fre quen tou

ainda um ano do cur so de in glês,

mas não ficou fre guês. Con ven ceu

a mãe de que não precisava de

estudar mais – afinal, dizia, tinha

vivido toda a sua vida com uma

pro fessora. Iria ex pe rimentar o seu

sonho du ran te um ano e de pois

logo se veria. Para pagar a sua

parte da renda (uma das condições

O DISCO DE ESTREIA ‘THECOLLEGE DROPOUT’ FOICONSIDERADO “O ÁLBUM DERAP MAIS IMPORTANTE DONOVO SÉCULO” PELA ‘TIME’.

Aútil> A 5 de agosto, dia em que sobem

aos diversos palcos do Sudoeste tmnClã, dEUS, Marcelo Camelo e Patrice,

entre outros, todas as atenções se

centram no espetáculo de Kanye

West, uma megaprodução que

promete deixar muita gente de boca

aberta, tal como aconteceu no festival

californiano de Coachella. «Foi muito

difícil trazê-lo mas conseguimos.

Acho que a partir de agora se vai

passar a chamar Kanye Sudoeste»,

explica o promotor do evento, Luís

Montez, em tom de brincadeira.

> Ponha o Kanye West a cantar no

seu telemóvel. Envie SMS para o

12700 com o código 18444 para

ter “Runaway” como “waiting ring”

(preço: €1,60, com subscrição

mensal de €0,99).

Page 23: Revista T - alguns artigos

retrato I música I

30

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

notícia

caiu como uma bomba. Em

julho de 2009, um mês após a

morte de Michael Jackson, o

“website” de en tre tenimento

AceShowbizz.com jurava a pés

juntos que Kanye West queria

ser o novo rei da pop, atribuindo-

-lhe frases como «É muito triste

ele ter partido, mas abre-se o

caminho para um novo rei da

pop e estou interessado em ficar

com o lugar.» Ou «Pri mei ro foi o

Elvis, depois o Michael, e agora,

no século XXI, é altura de ser o

Kanye a reinar.» Era tudo men -

ti ra, afinal. Desmentida pelo

próprio numa mensagem publi -

ca da em maiúsculas no seu

blogue: «Sinto-me mal por ter

feito as pessoas acreditarem que

eu seria capaz de dizer algo tão

despropositado. Assusta-me pen-

sar em que mais irão acreditar.»

A verdade é que ninguém ficou

(demasiado) boquiaberto com as

ale gadas declarações. Afinal,

estamos perante o artista que se

com parou a Picasso, aos Beatles

e a Marvin Gaye, e que em 2004

aban donou a cerimónia dos

D.R.

American Music Awards, após

per der o prémio de “Artista

Revelação” para a cantora de

“country” Gretchen Wilson.

«Fui, sem dúvida, roubado. Fui o

melhor novo artista deste ano.»

Ou que afirmou, numa conferên -

cia de imprensa em Singapura,

«Sempre que atuo penso: o meu

plano é tornar-me o maior

artista desta geração».

Há uma linha ténue entre a

arro gância pura e simples e a ar -

ro gân cia de quem sabe. E Kanye

West tem a lição bem estudada –

prova disso está em cada disco

que lança (e são já cinco em no -

me próprio, com o sexto pro me ti -

do para breve), invariavelmen te

elogiado pela crítica e bem-

-sucedido nas ta be las de vendas.

Enquanto não chega o novo

álbum (nem o aguardado “Watch

the Throne”, registo a duas

vozes, com Jay-Z), Kanye faz-se

repre sen tar nos “tops” com “My

Beauti ful Dark Twisted Fanta sy”,

lançado em novembro de 2010 e

já certificado com platina por

ven das superiores a um milhão de

cópias nos Estados Unidos. É cer -

to que ainda tem um longo cami -

nho a percorrer até alcançar os

números de “Late Regis tra tion”

(2005), galardoado com tri pla

pla tina. No entanto, se gun do o

“website” MetaCritic.com (que

compila a opinião dos críticos de

re ferência e faz a média das classi -

fi cações numa escala de zero a

100), “…Twisted Fantasy” me re -

ceu a pontuação mais alta da sua

dis cografia, com uma média de

94. Nos habituais balanços de fim

de ano, foi considerado o melhor

disco de 2010 por nada menos do

que 22 publicações de referência

– um primeiro lugar absoluto,

uns furos acima das nove ci ta ções

de “The Suburbs”, dos Arcade

Fire –, incluindo revistas como a

“Rolling Stone”, a “Billboard”

ou a “Time”, que já lhe havia

da do hon ras de capa sob o título

«O ho mem mais inteligente da

mú si ca pop» e o incluiu no lote

das perso nalidades mais influen -

tes de 2005 e 2010. Não foi só

pe los seus doze milhões de

álbuns ven didos.

Quando abre a boca, West tem

uma vasta audiência a ouvi-lo.

Seja quando apela ao boicote à

indústria de diamantes, quando

se mobiliza contra a discrimina -

ção de homossexuais no hip-hop

ou quando, na ressaca da devas-

tação do furacão Katrina, aponta

o dedo a George W. Bush pela

tardia resposta das autoridades,

afirmando, em direto e perante

milhões de telespectadores, que

o então presidente «não quer sa -

ber dos negros». Anos mais tar de,

Bush revelou que o episódio foi

um dos «momentos mais re vol -

tantes» da sua presidência. É esse

o poder de Kanye West.

KANYE (pronuncia-se “Ká-ni-ei”)

Omari West nasceu em Atlanta,

numa família de classe média,

filho do fotógrafo Ray West, ex-

-par tidário do movimento Pan te -

ras Negras, e Donda West, pro fes -

sora universitária. Aos 3 anos, os

pais divorciaram-se e a mãe leva-o

para Chicago. Frequenta boas

es colas, em permanente contacto

com as artes plásticas e a música.

Aos 10, vive um ano na China,

quando a sua mãe é convidada

pa ra lecionar na Universidade de

Nanjing. Os verões, esses eram

passados com o pai, que recorda

como «os outros miúdos tro ça vam

de Kanye, chamavam-lhe “China

boy”». Nos anos de liceu, acres-

centa a “Rolling Stone”, era go -

za do por usar aparelho e por ter

«dentes do tamanho de chicle -

tes». Em entrevista à “Time Out

London”, Kanye recorda a in fân -

cia de forma «ligeiramente» di fe -

rente: «Sempre fui seguido pelos

outros miúdos, desde o infantá rio.

A professora dizia que eu era um

líder nato.»

Cedo se apaixonou pelo hip-hop

e pelo imaginário de rebeldia que

o gé nero musical privilegia. Que -

ria ser “rapper” e produtor. Os pais

fi zeram o seu papel: convenceram-

-no antes a prosseguir os estudos e

ir para a universida de. Fre quen tou

ainda um ano do cur so de in glês,

mas não ficou fre guês. Con ven ceu

a mãe de que não precisava de

estudar mais – afinal, dizia, tinha

vivido toda a sua vida com uma

pro fessora. Iria ex pe rimentar o seu

sonho du ran te um ano e de pois

logo se veria. Para pagar a sua

parte da renda (uma das condições

O DISCO DE ESTREIA ‘THECOLLEGE DROPOUT’ FOICONSIDERADO “O ÁLBUM DERAP MAIS IMPORTANTE DONOVO SÉCULO” PELA ‘TIME’.

Aútil> A 5 de agosto, dia em que sobem

aos diversos palcos do Sudoeste tmnClã, dEUS, Marcelo Camelo e Patrice,

entre outros, todas as atenções se

centram no espetáculo de Kanye

West, uma megaprodução que

promete deixar muita gente de boca

aberta, tal como aconteceu no festival

californiano de Coachella. «Foi muito

difícil trazê-lo mas conseguimos.

Acho que a partir de agora se vai

passar a chamar Kanye Sudoeste»,

explica o promotor do evento, Luís

Montez, em tom de brincadeira.

> Ponha o Kanye West a cantar no

seu telemóvel. Envie SMS para o

12700 com o código 18444 para

ter “Runaway” como “waiting ring”

(preço: €1,60, com subscrição

mensal de €0,99).

Page 24: Revista T - alguns artigos

1977. Nasce, a 8 de junho,

em Atlanta. Aos 3 anos,

após o divórcio dos pais,

muda-se para Chicago com

a mãe. Estudou em boas

escolas, teve aulas de

música e de artes plásticas

e chegou a frequentar a

universidade. Mas o apelo

do hip-hop falou mais alto:

aos 19 anos, desistiu

do curso e dedicou-se à

carreira de produtor.

2000.Surge a oportuni da de

de trabalhar para a Roc-A-

Fella, editora de Jay-Z,

onde dá nas vistas pelo bom

ouvido musical e pela ética

de traba lho. Colabora em

vários álbuns de sucesso,

entre eles “The Diary of

Alicia Keys”, que lhe vale

o “Grammy” de “Melhor

Canção R&B”.

2004. O seu ar pouco

“street” não lhe facilita a

vida quando envereda pela

carreira de “rapper”. Após

muitos nãos, consegue

convencer a Roc-A-Fella.

Em fevereiro, edita “The

College Dropout”; dois

meses depois, é disco

de platina por vendas

superio res a um milhão

de cópias (em junho,

chega à dupla platina).

Vence dois “Grammies”.

ca ra. Por fim, a Roc-A-Fella lá

pôs de lado o pre con ceito contra

“rappers” «beti nhos» e, em bo ra a

medo, apostou em Kanye.

“The College Dropout” viu a luz

do dia em fevereiro de 2004. Ven -

deu 441 mil cópias na primeira

semana, estreando-se no segundo

lugar da “Billboard”. Pôs o de ca no

Darryl McDaniels (Run-DMC) e

o ator-cantor Jamie Foxx de novo

a ouvir hip-hop. Valeu-lhe nove

no meações e dois “Grammies”:

“Melhor Álbum de Rap” e

“Melhor Canção Rap” (“Jesus

Walks”). A “Rolling Stone”

atribuiu-lhe a décima posição no

“ranking” dos melhores discos dos

anos 2000. E a “Time” elegeu-o

um dos 100 melhores de sempre,

classificando-o como «o álbum

de rap mais inteligente, engraçado

e importante do novo século.»

A partir daí, Kanye West «só» te ve

de manter a fasquia elevada. Em

menos de uma década, os obje ti -

vos que traçara no início da car -

rei ra – «chegar a disco de ouro ou

platina, ter canções universalmen -

te respeitadas e alguma influên cia

no panorama cultural, mudar a

so noridade da música e inspirar

novos artistas a trilharem o seu

próprio caminho» – foram todos

cumpridos. «Se eu dissesse que

não tinha já feito tudo isso, estaria

a dar-vos aquela “tanga” da falsa

modéstia hollywoodesca.» O que

se segue? O céu costuma ser o

limi te. E o trono continua vago. n

2005. Lança “Late

Registration”, que lhe vale

um “Brit”, três “Grammies”

e a tripla platina. Seguem-se

“Graduation” (2007; três

“Grammies”, dois “American

Music Awards” e um “Brit”)

e “808’s & Heartbreak”

(2008; um “Brit”). Entre

2008 e 2010 recebe outros

cinco “Grammies”, a título

de colabora ções.

2009. Kanye conquistou

lugar cativo nas várias listas

dos discos do ano desde

a estreia. Em dezem bro

de 2009, a “Rolling Stone”

incluiu todo o seu catálogo

na tabela dos 100 álbuns

da década: “808’s…” (63º),

“Graduation” (45º), “Late

Registration” (40º) e “The

College Dropout” (10º).

2010. “My Beautiful Dark

Twisted Fantasy” é o quinto

registo de estúdio deste

«super-homem capaz

de deixar meio mundo

de queixo caído e a outra

metade a esfalfar-se para

arranjar argumentos para

o facto de o queixo não cair

como aos demais», escrevia,

no “Ípsilon”, o crítico Mário

Lopes, que o considerou

dis co do ano – tal como

fizeram a “Spin”, a “Time”

ou a “Rolling Stone”.

do acordo), ar ranjou emprego

como operador de telemarketing.

À noite, traba lha va a criar batidas

para outros “rappers”. Não preci -

sou de espe rar muito até conse guir

o pri mei ro biscate a sério, para o

“MC” de Chicago Gravity, que lhe

rendeu oito mil dólares. Es ta va no

bom ca minho. Produziu, de pois,

uma série considerável de no mes

de se gun da linha do hip-hop

norte-americano, como Jermaine

Dupri, Foxy Brown ou Goodie

Mob, até que, com o virar do sé -

cu lo, encontra a sua rampa de

lan ça mento: a respeitada editora

Roc-A-Fella, de Jay-Z, onde lhe é

da da a oportunidade de ouro de

pro du zir algumas das faixas de

“Blueprint”, o novo álbum do

seu «patrão», que acabaria por se

tor nar um ponto de viragem

para am bos.

Com a carreira de produtor lan ça -

da, virou-se para o desafio nú me -

ro dois: gravar o seu próprio disco.

Primeiro tentou na casa que o co -

nhecia. Não ficaram convencidos.

Afinal, Kanye tinha ar de tudo

me nos de “rapper”. «Ele usava

pó los cor-de-rosa com o colarinho

le vantado e “mocassins” Gucci»,

recorda Damon Dash, então CEO

da editora. Isto numa altura em

que o rap era, acima de tudo, mú -

sica de rua, de gueto, e se vestia

de calças largas, camisolas de bas -

quete e sapatilhas do ta ma nho de

cacilheiros. Bateu a outras portas,

mas todas lhe foram fe cha das na

retrato I música I

32

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

33

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

KANYE IMPÔS-SE ATÉ NOMODO DE VESTIR, NUMAALTURA DOMINADA PELO‘LOOK’ DE GUETO.

D.R. D.R.

Page 25: Revista T - alguns artigos

1977. Nasce, a 8 de junho,

em Atlanta. Aos 3 anos,

após o divórcio dos pais,

muda-se para Chicago com

a mãe. Estudou em boas

escolas, teve aulas de

música e de artes plásticas

e chegou a frequentar a

universidade. Mas o apelo

do hip-hop falou mais alto:

aos 19 anos, desistiu

do curso e dedicou-se à

carreira de produtor.

2000.Surge a oportuni da de

de trabalhar para a Roc-A-

Fella, editora de Jay-Z,

onde dá nas vistas pelo bom

ouvido musical e pela ética

de traba lho. Colabora em

vários álbuns de sucesso,

entre eles “The Diary of

Alicia Keys”, que lhe vale

o “Grammy” de “Melhor

Canção R&B”.

2004. O seu ar pouco

“street” não lhe facilita a

vida quando envereda pela

carreira de “rapper”. Após

muitos nãos, consegue

convencer a Roc-A-Fella.

Em fevereiro, edita “The

College Dropout”; dois

meses depois, é disco

de platina por vendas

superio res a um milhão

de cópias (em junho,

chega à dupla platina).

Vence dois “Grammies”.

ca ra. Por fim, a Roc-A-Fella lá

pôs de lado o pre con ceito contra

“rappers” «beti nhos» e, em bo ra a

medo, apostou em Kanye.

“The College Dropout” viu a luz

do dia em fevereiro de 2004. Ven -

deu 441 mil cópias na primeira

semana, estreando-se no segundo

lugar da “Billboard”. Pôs o de ca no

Darryl McDaniels (Run-DMC) e

o ator-cantor Jamie Foxx de novo

a ouvir hip-hop. Valeu-lhe nove

no meações e dois “Grammies”:

“Melhor Álbum de Rap” e

“Melhor Canção Rap” (“Jesus

Walks”). A “Rolling Stone”

atribuiu-lhe a décima posição no

“ranking” dos melhores discos dos

anos 2000. E a “Time” elegeu-o

um dos 100 melhores de sempre,

classificando-o como «o álbum

de rap mais inteligente, engraçado

e importante do novo século.»

A partir daí, Kanye West «só» te ve

de manter a fasquia elevada. Em

menos de uma década, os obje ti -

vos que traçara no início da car -

rei ra – «chegar a disco de ouro ou

platina, ter canções universalmen -

te respeitadas e alguma influên cia

no panorama cultural, mudar a

so noridade da música e inspirar

novos artistas a trilharem o seu

próprio caminho» – foram todos

cumpridos. «Se eu dissesse que

não tinha já feito tudo isso, estaria

a dar-vos aquela “tanga” da falsa

modéstia hollywoodesca.» O que

se segue? O céu costuma ser o

limi te. E o trono continua vago. n

2005. Lança “Late

Registration”, que lhe vale

um “Brit”, três “Grammies”

e a tripla platina. Seguem-se

“Graduation” (2007; três

“Grammies”, dois “American

Music Awards” e um “Brit”)

e “808’s & Heartbreak”

(2008; um “Brit”). Entre

2008 e 2010 recebe outros

cinco “Grammies”, a título

de colabora ções.

2009. Kanye conquistou

lugar cativo nas várias listas

dos discos do ano desde

a estreia. Em dezem bro

de 2009, a “Rolling Stone”

incluiu todo o seu catálogo

na tabela dos 100 álbuns

da década: “808’s…” (63º),

“Graduation” (45º), “Late

Registration” (40º) e “The

College Dropout” (10º).

2010. “My Beautiful Dark

Twisted Fantasy” é o quinto

registo de estúdio deste

«super-homem capaz

de deixar meio mundo

de queixo caído e a outra

metade a esfalfar-se para

arranjar argumentos para

o facto de o queixo não cair

como aos demais», escrevia,

no “Ípsilon”, o crítico Mário

Lopes, que o considerou

dis co do ano – tal como

fizeram a “Spin”, a “Time”

ou a “Rolling Stone”.

do acordo), ar ranjou emprego

como operador de telemarketing.

À noite, traba lha va a criar batidas

para outros “rappers”. Não preci -

sou de espe rar muito até conse guir

o pri mei ro biscate a sério, para o

“MC” de Chicago Gravity, que lhe

rendeu oito mil dólares. Es ta va no

bom ca minho. Produziu, de pois,

uma série considerável de no mes

de se gun da linha do hip-hop

norte-americano, como Jermaine

Dupri, Foxy Brown ou Goodie

Mob, até que, com o virar do sé -

cu lo, encontra a sua rampa de

lan ça mento: a respeitada editora

Roc-A-Fella, de Jay-Z, onde lhe é

da da a oportunidade de ouro de

pro du zir algumas das faixas de

“Blueprint”, o novo álbum do

seu «patrão», que acabaria por se

tor nar um ponto de viragem

para am bos.

Com a carreira de produtor lan ça -

da, virou-se para o desafio nú me -

ro dois: gravar o seu próprio disco.

Primeiro tentou na casa que o co -

nhecia. Não ficaram convencidos.

Afinal, Kanye tinha ar de tudo

me nos de “rapper”. «Ele usava

pó los cor-de-rosa com o colarinho

le vantado e “mocassins” Gucci»,

recorda Damon Dash, então CEO

da editora. Isto numa altura em

que o rap era, acima de tudo, mú -

sica de rua, de gueto, e se vestia

de calças largas, camisolas de bas -

quete e sapatilhas do ta ma nho de

cacilheiros. Bateu a outras portas,

mas todas lhe foram fe cha das na

retrato I música I

32

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

33

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

KANYE IMPÔS-SE ATÉ NOMODO DE VESTIR, NUMAALTURA DOMINADA PELO‘LOOK’ DE GUETO.

D.R. D.R.

Page 26: Revista T - alguns artigos

lifestyle I ribatejo I

105

MA

O,

AB

RIL

20

08

104

MA

O,

AB

RIL

20

08

É INEVITÁVEL: fale-se na Gole gãe, por atacado, vêm à conversaos cavalos. E a feira de No vem -bro, que, por dez dias, traz umnovo pulsar às pacatas ruas davila ribatejana. Dizia-se, até,que a razão para visitar a “Ca pi -tal do Cavalo” era, única e sim-plesmente, a secular feira. Ora, foi (também) para dar àGolegã motivo para uma visitafora de época que nasceu o HotelLusitano, o primeiro e único decharme em terras de Vale doTejo. Instalado numa típica casaribatejana de inícios do século XX– a que foi acrescida uma AlaNova, de traço contemporâneo –,o Lusitano é já um dos maisapetecidos de Portugal, reco -men dado, logo no seu ano deestreia, pelo respeitado guiaCondé Nast Johansens. Para além do evidente bom gostodos seus interiores e dos confor-tos «quase caseiros» dos seusaposentos, este retiro no coraçãoda lezíria tem dois outros mo -tivos de grande interesse. Umdeles, o mais recente, é o PuroSpa, cujo cardápio propõe, entreoutros mimos, a Cabine de Flu -tuação, uma experiência únicade relaxamento em água de ele-vada salinidade, que provoca aflutuação natural, como se seestivesse no Mar Morto. A boa mesa é outro forte argumen-to a favor do Lusitano. O restau-rante do hotel apresenta um menuimaginado por José Avillez e exe-cutado (e actualizado) pelo “chef”Paulo Costa, cujo currículo inclui,a título de exemplo, os lisboetasBica do Sa pato e Eleven. A inspi-ração é ribatejana – como denun-cia a variedade de torricados nocapítulo das entradas – com umto que de cozinha de autor (per dão,

GOLEGÃRAÇA E RAZÃO

A TRADIÇÃO EQUESTRE E A LEZÍRIA SEM FIM, DE

BRA ÇO DADO COM A DESCONTRACÇÃO E O LUXUO SO

CON FORTO DE UMA GOLEGÃ DE CHARME.

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA PAULO SOUSA COELHO / EVASÕES

HOTEL LUSITANO.Um hotel de charme

com 24 quartos, em pleno

coração do Ribatejo, bem

no centro da vila. Tem

parcerias com a Escola

Equestre Lusitanus para

actividades diversas.

W: www.hotellusitano.com

RESTAURANTEHOTEL LUSITANO.Pratos sofisticados com

alma lusitana é a promessa

deste restaurante com

carta assinada pelo chefe

José Avillez. Existe

também um bar e uma

esplanada, para um

lanche ou uma sossegada

tarde de leitura.

T: 249979170

PURO SPA. Este

espaço de bem-estar

integrado no Hotel

Lusitano conta com três

salas de tratamento,

onde a água tem um

papel preponderante.

Uma verdadeira

viagem dos sentidos.

W: www.hotellusitano.com

HOTEL LUSITANO

HOTEL LUSITANO

Page 27: Revista T - alguns artigos

lifestyle I ribatejo I

105

MA

O,

AB

RIL

20

08

104

MA

O,

AB

RIL

20

08

É INEVITÁVEL: fale-se na Gole gãe, por atacado, vêm à conversaos cavalos. E a feira de No vem -bro, que, por dez dias, traz umnovo pulsar às pacatas ruas davila ribatejana. Dizia-se, até,que a razão para visitar a “Ca pi -tal do Cavalo” era, única e sim-plesmente, a secular feira. Ora, foi (também) para dar àGolegã motivo para uma visitafora de época que nasceu o HotelLusitano, o primeiro e único decharme em terras de Vale doTejo. Instalado numa típica casaribatejana de inícios do século XX– a que foi acrescida uma AlaNova, de traço contemporâneo –,o Lusitano é já um dos maisapetecidos de Portugal, reco -men dado, logo no seu ano deestreia, pelo respeitado guiaCondé Nast Johansens. Para além do evidente bom gostodos seus interiores e dos confor-tos «quase caseiros» dos seusaposentos, este retiro no coraçãoda lezíria tem dois outros mo -tivos de grande interesse. Umdeles, o mais recente, é o PuroSpa, cujo cardápio propõe, entreoutros mimos, a Cabine de Flu -tuação, uma experiência únicade relaxamento em água de ele-vada salinidade, que provoca aflutuação natural, como se seestivesse no Mar Morto. A boa mesa é outro forte argumen-to a favor do Lusitano. O restau-rante do hotel apresenta um menuimaginado por José Avillez e exe-cutado (e actualizado) pelo “chef”Paulo Costa, cujo currículo inclui,a título de exemplo, os lisboetasBica do Sa pato e Eleven. A inspi-ração é ribatejana – como denun-cia a variedade de torricados nocapítulo das entradas – com umto que de cozinha de autor (per dão,

GOLEGÃRAÇA E RAZÃO

A TRADIÇÃO EQUESTRE E A LEZÍRIA SEM FIM, DE

BRA ÇO DADO COM A DESCONTRACÇÃO E O LUXUO SO

CON FORTO DE UMA GOLEGÃ DE CHARME.

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA PAULO SOUSA COELHO / EVASÕES

HOTEL LUSITANO.Um hotel de charme

com 24 quartos, em pleno

coração do Ribatejo, bem

no centro da vila. Tem

parcerias com a Escola

Equestre Lusitanus para

actividades diversas.

W: www.hotellusitano.com

RESTAURANTEHOTEL LUSITANO.Pratos sofisticados com

alma lusitana é a promessa

deste restaurante com

carta assinada pelo chefe

José Avillez. Existe

também um bar e uma

esplanada, para um

lanche ou uma sossegada

tarde de leitura.

T: 249979170

PURO SPA. Este

espaço de bem-estar

integrado no Hotel

Lusitano conta com três

salas de tratamento,

onde a água tem um

papel preponderante.

Uma verdadeira

viagem dos sentidos.

W: www.hotellusitano.com

HOTEL LUSITANO

HOTEL LUSITANO

Page 28: Revista T - alguns artigos

autores), exemplificada pelo“sushi da Golegã” – trouxinhas deberingela e courgete grelhadas,recheadas de pato confitado. Acima de tudo, o Lusitano provaque a sofisticação também sobre-vive fora das grandes metrópolese sem grandes artifícios ou pre-tensiosismos. A Golegã é daque-las terras que não esquece a suaidentidade – trá-la, aliás, orgulho -samente ao peito, como umemblema. Será, discutivelmente,a mais ribatejana vila do Ribatejo– e o espírito que se vive durantea Feira do Cavalo comprova-o.Fazendo jus ao epíteto de“Capital do Cavalo”, a vila conti -nua a fazer da multissecular feira(que este ano se realizar entre 7 e16 de Novembro) uma montra doque de mais genuíno e castiço háno Ribatejo, naquele Ribatejo quenunca se esqueceu de onde veio epara onde (não) quer ir.�

RESTAURANTE DO HOTEL LUSITANO

106

MA

O,

AB

RIL

20

08

107

MA

O,

AB

RIL

20

08

lifestyle

FEIRANACIONAL DO CAVALOA SECULAR FEIRADECORRE, ESTEANO, ENTRE 7 E 16DE NOVEMBRO.PARA ALÉM DOCAVALO LUSITANO,O VERDADEIROPROTAGONISTADESTA GRANDEFESTA, CELEBRA--SE O SÃO MARTINHO, COMOATESTA O CHEIROA VINHO NOVO E A CASTANHASASSADAS. (WWW.HORSEFAIRLUSITANO.ORG)

Page 29: Revista T - alguns artigos

autores), exemplificada pelo“sushi da Golegã” – trouxinhas deberingela e courgete grelhadas,recheadas de pato confitado. Acima de tudo, o Lusitano provaque a sofisticação também sobre-vive fora das grandes metrópolese sem grandes artifícios ou pre-tensiosismos. A Golegã é daque-las terras que não esquece a suaidentidade – trá-la, aliás, orgulho -samente ao peito, como umemblema. Será, discutivelmente,a mais ribatejana vila do Ribatejo– e o espírito que se vive durantea Feira do Cavalo comprova-o.Fazendo jus ao epíteto de“Capital do Cavalo”, a vila conti -nua a fazer da multissecular feira(que este ano se realizar entre 7 e16 de Novembro) uma montra doque de mais genuíno e castiço háno Ribatejo, naquele Ribatejo quenunca se esqueceu de onde veio epara onde (não) quer ir.�

RESTAURANTE DO HOTEL LUSITANO

106

MA

O,

AB

RIL

20

08

107

MA

O,

AB

RIL

20

08

lifestyle

FEIRANACIONAL DO CAVALOA SECULAR FEIRADECORRE, ESTEANO, ENTRE 7 E 16DE NOVEMBRO.PARA ALÉM DOCAVALO LUSITANO,O VERDADEIROPROTAGONISTADESTA GRANDEFESTA, CELEBRA--SE O SÃO MARTINHO, COMOATESTA O CHEIROA VINHO NOVO E A CASTANHASASSADAS. (WWW.HORSEFAIRLUSITANO.ORG)

Page 30: Revista T - alguns artigos

direto I música I

Q uando pensava em ser atriz, um amigo desviou-a parao «bom caminho»: Rui Ribeiro ficou tão impressionadocom a pujança e a maturidade da voz de Aurea queresolveu compor-lhe uma canção à medida – deimedia to gravada e enviada à produtora Blim Records.A resposta apareceu em forma de convite para gravar

um disco. O resto é história; uma história das que raramente acontecem, eque em poucas palavras se resume a «sucesso merecido». E repentino. «Temsido uma série de boas surpresas, mas tenho uma equipa espetacular atrás demim. E tenho muito que lhes agradecer.» Agradecida mas não deslumbrada,Aurea reconhece que é um grande privilégio ter chegado onde chegou e sabeque manter-se fiel a si própria é parte do segredo.

14

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

15

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

DISCO DE PLATINA, GLOBO DE OUROE DIGRESSÃO NACIONAL. TUDO EM MENOS DE

UM ANO. AGORA, A CANTORA-REVELAÇÃOPENSA JÁ NUM SEGUNDO DISCO. MAS NÃO SÓ.

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA LUIS DE BARROS

ESTADO DE ALMA

Page 31: Revista T - alguns artigos

direto I música I

Q uando pensava em ser atriz, um amigo desviou-a parao «bom caminho»: Rui Ribeiro ficou tão impressionadocom a pujança e a maturidade da voz de Aurea queresolveu compor-lhe uma canção à medida – deimedia to gravada e enviada à produtora Blim Records.A resposta apareceu em forma de convite para gravar

um disco. O resto é história; uma história das que raramente acontecem, eque em poucas palavras se resume a «sucesso merecido». E repentino. «Temsido uma série de boas surpresas, mas tenho uma equipa espetacular atrás demim. E tenho muito que lhes agradecer.» Agradecida mas não deslumbrada,Aurea reconhece que é um grande privilégio ter chegado onde chegou e sabeque manter-se fiel a si própria é parte do segredo.

14

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

15

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

DISCO DE PLATINA, GLOBO DE OUROE DIGRESSÃO NACIONAL. TUDO EM MENOS DE

UM ANO. AGORA, A CANTORA-REVELAÇÃOPENSA JÁ NUM SEGUNDO DISCO. MAS NÃO SÓ.

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA LUIS DE BARROS

ESTADO DE ALMA

Page 32: Revista T - alguns artigos

direto I música I

O que gostava de lhes respon-

der agora?

Nada.Não guarda ressentimentos…

Que ideia! Não! Adorei a experiên-cia, adorei o “casting” com os ou -tros concorrentes. O meu irmão foicomigo, tocou guitarra, cantámos,fizemos amigos. Guardo muitoboas recordações desse dia.

Quando trocou o teatro pela

música congelou a matrícula.

Pensa voltar?

Não sei. Parei no último ano, jáfaltava pouco. Mas neste momentonão faz sentido regressar à univer-sidade. Até porque não dá.

E quando terminar este ciclo

de concertos?

Quem sabe?São talentos que se podem

complementar…

Sim… Há o caso da Lúcia Moniz,que faz muito bem as duascoisas. Para ser sincera, não seise vou sentir necessidade disso.Fui para Teatro meio à toa, semgran des expectativas, e acabei porapaixo nar-me pelo curso, pelarepresentação. Mas, de momento,limito-me a ser espectadora.

Onde aprendeu a cantar?

A minha mãe diz que eu empequenina, mal falava, já canta ro -lava. Mesmo sem saber a letra.Lembro-me de cantar músicas eminglês sem saber o que estava adizer – ouvia o que a cantora diziae tentava imitar. Acho que é umacoisa que nasceu comigo e foievoluindo com o tempo.

Lembra-se da primeira vez que

pisou um palco?

Foi no jardim-escola. Desatei acho rar [risos].

E quando pisou um grande

palco pela primeira vez?

Num concerto dos “Morangos comAçúcar”, no Pavilhão Atlân tico.Fiz dois duetos e cantei o “Okay

16

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

SINCERIDADEACIMADE TUDO“QUANDO VOUPARA O PALCO SOUEU. GOSTO MUITODE SER EU PRÓ PRIAE É ALGO QUEDEFENDO DESDE O PRINCÍPIO: NÃOVOU DEIXAR DE SÊ-LO POR NADA.”

17

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

É difícil manter-se fiel a si pró -

pria, não confundir a pessoa

com a «personagem» que está

no palco?

Não, porque sou a mesma pessoa.Não gosto de inventar personagensnem de assumir outros papéis:quando vou para o palco sou eu,dou muito de mim. E, claro, inter-preto os temas à minha maneira.Gosto muito de ser eu própria e éalgo que defendo desde o princípio:não vou deixar de sê-lo por nada.

A sua carreira não começa pelo

habitual «sempre sonhei com

isto». Foi a iniciativa do seu

amigo, o músico/compositor Rui

Ribeiro, que despoletou tudo?

Foi isso mesmo. Sempre gosteide cantar mas nunca pensei queo meu futuro fosse ser cantora.Lembro-me de estar num concer-to da Mariza e pensar «Como seráestar ali em cima? E ter todas es -tas pessoas a cantar as nossasmúsicas?». Mas pensar a sério napossibilidade de fazê-lo pro fis sio -nalmente? Nunca. Pensei tirar omeu curso, tal como os meuspais me educaram, e fazer tudocertinho.

Aos 15 anos concorreu ao “Ído-

los”. Como foi a experiência?

Os meus amigos sabiam que eugostava de cantar e insistiramcomigo, «Olha lá, Aurea, vai haverum programa para novos can-tores, porque não participas?» Eeu «Eh, não sei!». Andei numimpasse até que decidi: «OK, voufazer o “cas ting”». Fi-lo muitonaturalmente, sem pretensõesnenhumas. Foi giro.

Lembra-se do que o júri lhe disse?

Não gostaram. Já tinham uma ideiado que queriam: um artista feito,um artista completo. E eu eramuito miudinha. Não tinha osrequi sitos necessários para ser o«ídolo nacional».

1987. Áurea Sousa

nasce a 7 de setembro,

em Santiago do Cacém.

Era ainda pequena quando

a família se muda para

Silves. Cresce numa casa

de músicos – o pai toca

e canta fado, a mãe

é «envergonhada» mas

tem «uma voz lindíssima»

e o irmão é guitarrista.

2003. Aos 15 anos,

participa num “casting”

para o concurso televisivo

“Ídolos”, em Beja, mas

não passa da ronda inicial.

2005. Na hora de escolher

um curso, opta por Estudos

Teatrais, na Universidade

de Évora.

AUREA (2010)Álbum disponível no serviço

Ponha a Aurea a dar música a quemlhe liga. Para ter estes temas como“waiting ring”, envie SMS para o12700, acompanhado do respectivocódigo: “Busy (For Me)” (18634),“Love Me Tender” (18576), “OkayAlright” (18697). Preço: €1,60, comsubscrição mensal de €0,99.

Page 33: Revista T - alguns artigos

direto I música I

O que gostava de lhes respon-

der agora?

Nada.Não guarda ressentimentos…

Que ideia! Não! Adorei a experiên-cia, adorei o “casting” com os ou -tros concorrentes. O meu irmão foicomigo, tocou guitarra, cantámos,fizemos amigos. Guardo muitoboas recordações desse dia.

Quando trocou o teatro pela

música congelou a matrícula.

Pensa voltar?

Não sei. Parei no último ano, jáfaltava pouco. Mas neste momentonão faz sentido regressar à univer-sidade. Até porque não dá.

E quando terminar este ciclo

de concertos?

Quem sabe?São talentos que se podem

complementar…

Sim… Há o caso da Lúcia Moniz,que faz muito bem as duascoisas. Para ser sincera, não seise vou sentir necessidade disso.Fui para Teatro meio à toa, semgran des expectativas, e acabei porapaixo nar-me pelo curso, pelarepresentação. Mas, de momento,limito-me a ser espectadora.

Onde aprendeu a cantar?

A minha mãe diz que eu empequenina, mal falava, já canta ro -lava. Mesmo sem saber a letra.Lembro-me de cantar músicas eminglês sem saber o que estava adizer – ouvia o que a cantora diziae tentava imitar. Acho que é umacoisa que nasceu comigo e foievoluindo com o tempo.

Lembra-se da primeira vez que

pisou um palco?

Foi no jardim-escola. Desatei acho rar [risos].

E quando pisou um grande

palco pela primeira vez?

Num concerto dos “Morangos comAçúcar”, no Pavilhão Atlân tico.Fiz dois duetos e cantei o “Okay

16

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

SINCERIDADEACIMADE TUDO“QUANDO VOUPARA O PALCO SOUEU. GOSTO MUITODE SER EU PRÓ PRIAE É ALGO QUEDEFENDO DESDE O PRINCÍPIO: NÃOVOU DEIXAR DE SÊ-LO POR NADA.”

17

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

É difícil manter-se fiel a si pró -

pria, não confundir a pessoa

com a «personagem» que está

no palco?

Não, porque sou a mesma pessoa.Não gosto de inventar personagensnem de assumir outros papéis:quando vou para o palco sou eu,dou muito de mim. E, claro, inter-preto os temas à minha maneira.Gosto muito de ser eu própria e éalgo que defendo desde o princípio:não vou deixar de sê-lo por nada.

A sua carreira não começa pelo

habitual «sempre sonhei com

isto». Foi a iniciativa do seu

amigo, o músico/compositor Rui

Ribeiro, que despoletou tudo?

Foi isso mesmo. Sempre gosteide cantar mas nunca pensei queo meu futuro fosse ser cantora.Lembro-me de estar num concer-to da Mariza e pensar «Como seráestar ali em cima? E ter todas es -tas pessoas a cantar as nossasmúsicas?». Mas pensar a sério napossibilidade de fazê-lo pro fis sio -nalmente? Nunca. Pensei tirar omeu curso, tal como os meuspais me educaram, e fazer tudocertinho.

Aos 15 anos concorreu ao “Ído-

los”. Como foi a experiência?

Os meus amigos sabiam que eugostava de cantar e insistiramcomigo, «Olha lá, Aurea, vai haverum programa para novos can-tores, porque não participas?» Eeu «Eh, não sei!». Andei numimpasse até que decidi: «OK, voufazer o “cas ting”». Fi-lo muitonaturalmente, sem pretensõesnenhumas. Foi giro.

Lembra-se do que o júri lhe disse?

Não gostaram. Já tinham uma ideiado que queriam: um artista feito,um artista completo. E eu eramuito miudinha. Não tinha osrequi sitos necessários para ser o«ídolo nacional».

1987. Áurea Sousa

nasce a 7 de setembro,

em Santiago do Cacém.

Era ainda pequena quando

a família se muda para

Silves. Cresce numa casa

de músicos – o pai toca

e canta fado, a mãe

é «envergonhada» mas

tem «uma voz lindíssima»

e o irmão é guitarrista.

2003. Aos 15 anos,

participa num “casting”

para o concurso televisivo

“Ídolos”, em Beja, mas

não passa da ronda inicial.

2005. Na hora de escolher

um curso, opta por Estudos

Teatrais, na Universidade

de Évora.

AUREA (2010)Álbum disponível no serviço

Ponha a Aurea a dar música a quemlhe liga. Para ter estes temas como“waiting ring”, envie SMS para o12700, acompanhado do respectivocódigo: “Busy (For Me)” (18634),“Love Me Tender” (18576), “OkayAlright” (18697). Preço: €1,60, comsubscrição mensal de €0,99.

Page 34: Revista T - alguns artigos

E quando o ouviu pela primeira

vez: estava lá tudo o que queria?

Na altura, sim. Foi uma sensaçãode realização com 43 minutos deduração. Mas, com o tempo, odisco nunca fica exatamente comoqueremos. Ouvi-o uma se ma na ouduas depois de ter saído e pensei:«Teria gravado “isto” de maneiracompletamente diferente. E “aqui”tinha feito outra coisa!» Vai-seacrescentando sempre qual quercoisa, há sempre um defeito quegostaríamos de alterar.

O que espera estar a fazer

da qui a um ano?

Espero estar a trabalhar no segundodisco. Ando já a pensar nele, mas,com os concertos, não há tempopara muita coisa. Vou tentandoaproveitar todo o tempinho livre.

Está a compor?

Não. Ainda não vou compor –falta-me a maturidade…

Toca algum instrumento?

Não, é outra coisa penso emfazer: aprender um instrumentoe um pouco de teoria musicalpara me situar. Quem sabe issonão me puxe também paracomeçar a compor...

Se um dia gravar um disco de

versões, que temas não podem

faltar?

Adoro o “Natural Woman”, daAretha Franklin. E o “Try Me”, doJames Brown. “Man’s World”,também do James Brown… Hátantos temas, é com plicado es co -lher. Quando tive de decidir asversões para tocar em concerto, fizuma lista de temas [faz um gestona mesa, do tamanho de umafolha A4] que gostaria de cantar,mas só pude escolher dois…

Ao cantar músicas de outros

sente-as como suas?

Sim, acabo por me identificarcom elas. No momento em queas interpreto são minhas. Tenhoo máximo respeito por quem ascompôs e pelo intérprete ori gi -nal, mas na altura tento dar omáximo para interpretá-las à mi -nha maneira.n

direto I música I

19

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

2008. O músico (e colega

de universidade) Rui Ribeiro

fica tão impressiona do com

a sua voz que lhe compõe

um tema. Gravam-no e

enviam-no para a produtora

Blim Records, de Mem

Martins, que responde com

o convite para a gravação

de um disco. A matrícula na

universidade é congelada

para Áurea se dedicar ao

projecto a tempo inteiro.

2008. O tema “Okay

Alright” entra no alinha -

men to da banda sonora

da série “Morangos com

Açúcar”. E Aurea (o acento

caíra, entretanto, para

simplificar) é convidada

para cantar no espe tá culo

“Morangos ao Vivo”, no

Pavilhão Atlân tico, o seu

«batismo de fogo» em

grandes palcos.

2009. Em simultâneo

com a gravação do álbum,

canta com uma banda

de “covers” num bar de

Lisboa para ganhar

experiência em palco.

2010. “Aurea”, disco de

estreia, é lançado a 27 de

setembro. Grava uma ver-

são do clássico de Elvis

Presley “Love Me Tender”

para a edição portuguesa

da banda sonora do

espetáculo do Cirque du

Soleil “Viva Elvis”.

2011. Quatro meses após

o lançamento, “Aurea”

atinge o topo da tabela de

vendas e a marca de ouro;

um mês depois, é disco de

platina. Recebe o prémio

“Personalidade Feminina de

2010” na área de música,

pela revista “Lux”, e o

Globo de Ouro de “Melhor

Intérprete Individual”.

Alright”. Foi uma grande prova de fo -go. Estava tão nervosa… Mas correumuito bem – descobri uma força in -terior que nunca pensei que tivesse.

Imaginava que seria mais difícil?

Muito mais difícil. Antes de pisaro palco, sim, foi realmente com-plicado. A primeira música foi o“No One”, da Alicia Keys, emdueto com o [Paulo] Vintém. Eunão cantava na primeira parte,então fiquei a olhar para o públicoe a pensar «O que vou fazer? Vaisconseguir, Aurea? Está aqui tantagente…» O certo é que, quandochegou a minha vez de entrar,saiu tudo automaticamente.

Na altura estava já a gravar o

disco?

Ainda não estava pronto. A partir dagravação do “Okay Alright” em estú-dio apercebemo-nos de que algotinha mudado naquele tem po todo.Decidiu-se então fazer o “Busy”,para experimentar este novo registo.E resultou muito bem. A partir daícomeçámos a gravar o disco.

Faz sentido classificá-lo como

“soul”?

É uma mistura muito grande.Pode dizer-se que, na sua maioria,será “soul”. Mas estão lá maiscoisas misturadas – não gosto deetiquetá-lo com um só estilo.Prefiro que as pessoas ouçam ejulguem por si próprias.

Mas são inevitáveis as compa -

rações com esta ou aquela

artista. Isso incomoda-a?

Não. O que faço não é uma coisanova. É costume as pessoas com-pararem com o que já existe.

Revê-se mais na “soul” clássica

ou na nova?

Gosto muito da clássica – gostariaque o próximo trabalho fosse mais“rough”, mais “old school”. Mastambém gosto da “neo soul”, daJoss Stone, por exemplo. Adoro otrabalho dela, é uma das minhasmaiores in fluências atuais.

Quando começou o processo de

gravação, tinha ideia de como

queria que o disco soasse?

Não! [risos]

Page 35: Revista T - alguns artigos

E quando o ouviu pela primeira

vez: estava lá tudo o que queria?

Na altura, sim. Foi uma sensaçãode realização com 43 minutos deduração. Mas, com o tempo, odisco nunca fica exatamente comoqueremos. Ouvi-o uma se ma na ouduas depois de ter saído e pensei:«Teria gravado “isto” de maneiracompletamente diferente. E “aqui”tinha feito outra coisa!» Vai-seacrescentando sempre qual quercoisa, há sempre um defeito quegostaríamos de alterar.

O que espera estar a fazer

da qui a um ano?

Espero estar a trabalhar no segundodisco. Ando já a pensar nele, mas,com os concertos, não há tempopara muita coisa. Vou tentandoaproveitar todo o tempinho livre.

Está a compor?

Não. Ainda não vou compor –falta-me a maturidade…

Toca algum instrumento?

Não, é outra coisa penso emfazer: aprender um instrumentoe um pouco de teoria musicalpara me situar. Quem sabe issonão me puxe também paracomeçar a compor...

Se um dia gravar um disco de

versões, que temas não podem

faltar?

Adoro o “Natural Woman”, daAretha Franklin. E o “Try Me”, doJames Brown. “Man’s World”,também do James Brown… Hátantos temas, é com plicado es co -lher. Quando tive de decidir asversões para tocar em concerto, fizuma lista de temas [faz um gestona mesa, do tamanho de umafolha A4] que gostaria de cantar,mas só pude escolher dois…

Ao cantar músicas de outros

sente-as como suas?

Sim, acabo por me identificarcom elas. No momento em queas interpreto são minhas. Tenhoo máximo respeito por quem ascompôs e pelo intérprete ori gi -nal, mas na altura tento dar omáximo para interpretá-las à mi -nha maneira.n

direto I música I

19

AG

OS

TO,

OU

TU

BR

O2

01

1

2008. O músico (e colega

de universidade) Rui Ribeiro

fica tão impressiona do com

a sua voz que lhe compõe

um tema. Gravam-no e

enviam-no para a produtora

Blim Records, de Mem

Martins, que responde com

o convite para a gravação

de um disco. A matrícula na

universidade é congelada

para Áurea se dedicar ao

projecto a tempo inteiro.

2008. O tema “Okay

Alright” entra no alinha -

men to da banda sonora

da série “Morangos com

Açúcar”. E Aurea (o acento

caíra, entretanto, para

simplificar) é convidada

para cantar no espe tá culo

“Morangos ao Vivo”, no

Pavilhão Atlân tico, o seu

«batismo de fogo» em

grandes palcos.

2009. Em simultâneo

com a gravação do álbum,

canta com uma banda

de “covers” num bar de

Lisboa para ganhar

experiência em palco.

2010. “Aurea”, disco de

estreia, é lançado a 27 de

setembro. Grava uma ver-

são do clássico de Elvis

Presley “Love Me Tender”

para a edição portuguesa

da banda sonora do

espetáculo do Cirque du

Soleil “Viva Elvis”.

2011. Quatro meses após

o lançamento, “Aurea”

atinge o topo da tabela de

vendas e a marca de ouro;

um mês depois, é disco de

platina. Recebe o prémio

“Personalidade Feminina de

2010” na área de música,

pela revista “Lux”, e o

Globo de Ouro de “Melhor

Intérprete Individual”.

Alright”. Foi uma grande prova de fo -go. Estava tão nervosa… Mas correumuito bem – descobri uma força in -terior que nunca pensei que tivesse.

Imaginava que seria mais difícil?

Muito mais difícil. Antes de pisaro palco, sim, foi realmente com-plicado. A primeira música foi o“No One”, da Alicia Keys, emdueto com o [Paulo] Vintém. Eunão cantava na primeira parte,então fiquei a olhar para o públicoe a pensar «O que vou fazer? Vaisconseguir, Aurea? Está aqui tantagente…» O certo é que, quandochegou a minha vez de entrar,saiu tudo automaticamente.

Na altura estava já a gravar o

disco?

Ainda não estava pronto. A partir dagravação do “Okay Alright” em estú-dio apercebemo-nos de que algotinha mudado naquele tem po todo.Decidiu-se então fazer o “Busy”,para experimentar este novo registo.E resultou muito bem. A partir daícomeçámos a gravar o disco.

Faz sentido classificá-lo como

“soul”?

É uma mistura muito grande.Pode dizer-se que, na sua maioria,será “soul”. Mas estão lá maiscoisas misturadas – não gosto deetiquetá-lo com um só estilo.Prefiro que as pessoas ouçam ejulguem por si próprias.

Mas são inevitáveis as compa -

rações com esta ou aquela

artista. Isso incomoda-a?

Não. O que faço não é uma coisanova. É costume as pessoas com-pararem com o que já existe.

Revê-se mais na “soul” clássica

ou na nova?

Gosto muito da clássica – gostariaque o próximo trabalho fosse mais“rough”, mais “old school”. Mastambém gosto da “neo soul”, daJoss Stone, por exemplo. Adoro otrabalho dela, é uma das minhasmaiores in fluências atuais.

Quando começou o processo de

gravação, tinha ideia de como

queria que o disco soasse?

Não! [risos]

Page 36: Revista T - alguns artigos

lifestyle I aveiro I

99

FE

VE

RE

IRO,

MA

O2

00

9

98

FE

VE

RE

IRO,

MA

O2

00

9

OS COGNOMES são mais do quemuitos. Houve uma altura em queparecia mais apelativo chamar-lhe«Veneza Portuguesa» do que dá-laa conhecer pelos seus inimitáveistraços de identidade: as salinas,os barcos moliceiros, as barricas deovos-moles, a culinária com sabora mar. Agora (aliás, em Março de2008), Aveiro acumulou outro«título», o de cidade da Arte Nova,ao tornar-se na primeira (e única)representante nacional na RéseauArt Nouveau, um clube res tritoque inclui Barcelona, Bu da peste,Ha va na e Viena (www.artnouveau-net.eu). Que sirva, então, de pre-texto para um passeio junto aoscanais, com o Largo do Rossiocomo ponto de partida. As águasdo Canal Central reflectem algunsdos melhores exemplares destatraça arquitectó nica de inícios doséculo XX. E a figura de proa des sa«nova» cara de Aveiro é a CasaMajor Pessoa (R. Barbosa Maga -lhães, 9), em vias de ser converti-da no Museu de Arte Nova – comuma casa de chá “Belle Époque”incluída. Do lado de lá do canal, no local daantiga Companhia Aveirense deMoagens, encontra-se o CentroCiência Viva, face visível de outravocação recente da cidade: a cien -tí fica. Uma visita obrigatória paramentes curiosas de todas as idades. Mas retome-se o pulsar do Beira--Mar, esse pitoresco bairro que emanos recentes voltou à vida e setransformou no núcleo boémio dacidade. A pensar já na hora do jan-tar, marque-se mesa no Mer ca dodo Peixe, o restaurante mais re co -mendado das redondezas, situadono topo do centenário mercado quelhe dá nome. Tem vista privile giadapara o Canal dos Botirões e é exem -plar nos pratos de pescado fres co,nas caldeiradas e nas cata pla nas.Quem procurar novas inter pre ta ções

AVEIROARTES NOVAS

DESCARTEMOS AS COMPARAÇÕES: NÃO HÁ

OU TRA CIDADE ASSIM EM PORTUGAL. EIS ALGUNS

MOTI VOS PARA (RE)DESCOBRI-LA.

TEXTO JOÃO MESTRE

FOTOGRAFIA CONSTANTINO LEITE / EVASÕES

RESTAURANTE MERCADO DO PEIXE

CENTRO CIÊNCIA VIVA.Um museu que é

também uma «fábrica»

de conhecimento,

onde a experimentação

científica está ao alcance

de todos os visitantes.

W: www.fabrica.ciencia -

viva.ua.pt

HOTEL MELIÁ RIA.Um hotel de design

arrojado, debruçado sobre

o Lago da Fonte Nova,

no coração da cidade.

A lista de comodidades

inclui Wellness Center

e o Restaurante do Lago.

W: www.solmelia.com

MERCADO DO PEIXE.Uma referência na

boa mesa aveirense,

dedicado, como o nome

indica, à «carne do mar».

T: 234383511

Page 37: Revista T - alguns artigos

lifestyle I aveiro I

99

FE

VE

RE

IRO,

MA

O2

00

9

98

FE

VE

RE

IRO,

MA

O2

00

9

OS COGNOMES são mais do quemuitos. Houve uma altura em queparecia mais apelativo chamar-lhe«Veneza Portuguesa» do que dá-laa conhecer pelos seus inimitáveistraços de identidade: as salinas,os barcos moliceiros, as barricas deovos-moles, a culinária com sabora mar. Agora (aliás, em Março de2008), Aveiro acumulou outro«título», o de cidade da Arte Nova,ao tornar-se na primeira (e única)representante nacional na RéseauArt Nouveau, um clube res tritoque inclui Barcelona, Bu da peste,Ha va na e Viena (www.artnouveau-net.eu). Que sirva, então, de pre-texto para um passeio junto aoscanais, com o Largo do Rossiocomo ponto de partida. As águasdo Canal Central reflectem algunsdos melhores exemplares destatraça arquitectó nica de inícios doséculo XX. E a figura de proa des sa«nova» cara de Aveiro é a CasaMajor Pessoa (R. Barbosa Maga -lhães, 9), em vias de ser converti-da no Museu de Arte Nova – comuma casa de chá “Belle Époque”incluída. Do lado de lá do canal, no local daantiga Companhia Aveirense deMoagens, encontra-se o CentroCiência Viva, face visível de outravocação recente da cidade: a cien -tí fica. Uma visita obrigatória paramentes curiosas de todas as idades. Mas retome-se o pulsar do Beira--Mar, esse pitoresco bairro que emanos recentes voltou à vida e setransformou no núcleo boémio dacidade. A pensar já na hora do jan-tar, marque-se mesa no Mer ca dodo Peixe, o restaurante mais re co -mendado das redondezas, situadono topo do centenário mercado quelhe dá nome. Tem vista privile giadapara o Canal dos Botirões e é exem -plar nos pratos de pescado fres co,nas caldeiradas e nas cata pla nas.Quem procurar novas inter pre ta ções

AVEIROARTES NOVAS

DESCARTEMOS AS COMPARAÇÕES: NÃO HÁ

OU TRA CIDADE ASSIM EM PORTUGAL. EIS ALGUNS

MOTI VOS PARA (RE)DESCOBRI-LA.

TEXTO JOÃO MESTRE

FOTOGRAFIA CONSTANTINO LEITE / EVASÕES

RESTAURANTE MERCADO DO PEIXE

CENTRO CIÊNCIA VIVA.Um museu que é

também uma «fábrica»

de conhecimento,

onde a experimentação

científica está ao alcance

de todos os visitantes.

W: www.fabrica.ciencia -

viva.ua.pt

HOTEL MELIÁ RIA.Um hotel de design

arrojado, debruçado sobre

o Lago da Fonte Nova,

no coração da cidade.

A lista de comodidades

inclui Wellness Center

e o Restaurante do Lago.

W: www.solmelia.com

MERCADO DO PEIXE.Uma referência na

boa mesa aveirense,

dedicado, como o nome

indica, à «carne do mar».

T: 234383511

Page 38: Revista T - alguns artigos

HOTEL MELIÁ RIA HOTEL MELIÁ RIA

CENTRO CIÊNCIA VIVA

100

FE

VE

RE

IRO,

MA

O2

00

9

lifestyle I aveiro I

AVEIROEM CLUBE RESTRITOEM MARÇO DE2008, AVEIRO ACUMULOUOUTRO «TÍTULO»,O DE CIDADE DAARTE NOVA, AOTORNAR-SE NAPRIMEIRA (E ÚNICA)REPRESENTANTENACIONAL NARÉSEAU ART NOUVEAU, UMAREDE QUE INCLUI,ENTRE OUTRAS,BARCELONA,BRUXELAS, BU DA PESTE,HAVANA E VIENA.

ARTE NOVA.Entre 1904 e 1920, as famí lias

abastadas de Aveiro aderiram

em massa à mo da arqui tectó -

nica então em vigor por toda

a Europa, como demonstra

ção do seu poderio. Volvido

um século, é uma das novas

caras da cidade. O roteiro

começa no Largo do Rossio.

W: www.aveiro.co.pt/

ro tei ros.aspx

para os paladares tradi cio nais(com o peixe sempre em primeiroplano) deverá rumar ao Cais daFonte Nova e experimentar o res tau -rante do Lago, do Hotel Meliá Ria.Chegada a noite, o epicentro damovida estudantil é a Praça doPeixe. Nas imediações, contudo,também há onde viver a noite semexcesso de «espírito académico».No Botirão, por exemplo, um “winebar” que recria o velho espírito de

taberna. Ou no Clandestino, o baralternativo mais “in” de Aveiro, nonúmero 35 da Tenente Resende.Isto sem esquecer o MercadoNegro, que é, em simultâneo, umespaço cultural e um centro co mer-cial “indie”, instalado num dostais edifícios “art nouveau” juntoao Canal Central. Os fundadoresdefinem-no como «um espaço emconstante transformação». Esco lhe-ram a cidade certa. �

ARTE NOVA NA AV. LOURENÇO PEIXINHO

BOTIRÃO

Page 39: Revista T - alguns artigos

HOTEL MELIÁ RIA HOTEL MELIÁ RIA

CENTRO CIÊNCIA VIVA

100

FE

VE

RE

IRO,

MA

O2

00

9

lifestyle I aveiro I

AVEIROEM CLUBE RESTRITOEM MARÇO DE2008, AVEIRO ACUMULOUOUTRO «TÍTULO»,O DE CIDADE DAARTE NOVA, AOTORNAR-SE NAPRIMEIRA (E ÚNICA)REPRESENTANTENACIONAL NARÉSEAU ART NOUVEAU, UMAREDE QUE INCLUI,ENTRE OUTRAS,BARCELONA,BRUXELAS, BU DA PESTE,HAVANA E VIENA.

ARTE NOVA.Entre 1904 e 1920, as famí lias

abastadas de Aveiro aderiram

em massa à mo da arqui tectó -

nica então em vigor por toda

a Europa, como demonstra

ção do seu poderio. Volvido

um século, é uma das novas

caras da cidade. O roteiro

começa no Largo do Rossio.

W: www.aveiro.co.pt/

ro tei ros.aspx

para os paladares tradi cio nais(com o peixe sempre em primeiroplano) deverá rumar ao Cais daFonte Nova e experimentar o res tau -rante do Lago, do Hotel Meliá Ria.Chegada a noite, o epicentro damovida estudantil é a Praça doPeixe. Nas imediações, contudo,também há onde viver a noite semexcesso de «espírito académico».No Botirão, por exemplo, um “winebar” que recria o velho espírito de

taberna. Ou no Clandestino, o baralternativo mais “in” de Aveiro, nonúmero 35 da Tenente Resende.Isto sem esquecer o MercadoNegro, que é, em simultâneo, umespaço cultural e um centro co mer-cial “indie”, instalado num dostais edifícios “art nouveau” juntoao Canal Central. Os fundadoresdefinem-no como «um espaço emconstante transformação». Esco lhe-ram a cidade certa. �

ARTE NOVA NA AV. LOURENÇO PEIXINHO

BOTIRÃO

Page 40: Revista T - alguns artigos

traço I ilustração I

AO PRINCÍPIO, só queria desenhar.Mas nunca acreditou que issopudesse vir a ser uma profissão atempo inteiro. «No meu tempo,devia-se tirar um curso, ter umemprego numa empresa, fazer car-reira», explica. Entretanto, párapara se interrogar, rindo: «acho quejá posso dizer “no meu tempo”…?»André Carrilho nasceu em 1974,na Amadora. Começou por dese -nhar apenas para os amigos e

família. Divertia-se a caricaturá--los. A dada altura, a mãe muda-separa Macau e o jovem Andréacompanha-a. É lá que faz o 12ºano. E é lá que, por influência decolegas de escola, se aventuranos meandros da ComunicaçãoSocial. «Como é um meio muitopequeno, toda a gente se co -nhece. Tive a sorte de me daremalgum espaço no jornal “PontoFinal”.» Já não se lembra com

exactidão do primeiro desenho quepublicou. Tem, porém, a certezado primeiro que vendeu: «a cari-catura do Rocha Vieira, que era,então, o Governador de Macau».Hoje, aos 34 anos, André Carrilhoé o ilustrador português commaior visibilidade fora de portase um dos mais requisitados a ní -vel internacional. Já publicou no“New York Times”, na “VanityFair”, na “Harper’s Magazine”

Caricaturista, ilustrador, cartunista, realizador de animação, vj, designer gráfico.

As caras de um “self made man” que não alinha em discursos derrotistas.

80

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

81

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

ANDRÉCARRILHO

A ARTE DE TRABALHAR PARA O BONECO

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA PEDRO LOUREIRO

Page 41: Revista T - alguns artigos

traço I ilustração I

AO PRINCÍPIO, só queria desenhar.Mas nunca acreditou que issopudesse vir a ser uma profissão atempo inteiro. «No meu tempo,devia-se tirar um curso, ter umemprego numa empresa, fazer car-reira», explica. Entretanto, párapara se interrogar, rindo: «acho quejá posso dizer “no meu tempo”…?»André Carrilho nasceu em 1974,na Amadora. Começou por dese -nhar apenas para os amigos e

família. Divertia-se a caricaturá--los. A dada altura, a mãe muda-separa Macau e o jovem Andréacompanha-a. É lá que faz o 12ºano. E é lá que, por influência decolegas de escola, se aventuranos meandros da ComunicaçãoSocial. «Como é um meio muitopequeno, toda a gente se co -nhece. Tive a sorte de me daremalgum espaço no jornal “PontoFinal”.» Já não se lembra com

exactidão do primeiro desenho quepublicou. Tem, porém, a certezado primeiro que vendeu: «a cari-catura do Rocha Vieira, que era,então, o Governador de Macau».Hoje, aos 34 anos, André Carrilhoé o ilustrador português commaior visibilidade fora de portase um dos mais requisitados a ní -vel internacional. Já publicou no“New York Times”, na “VanityFair”, na “Harper’s Magazine”

Caricaturista, ilustrador, cartunista, realizador de animação, vj, designer gráfico.

As caras de um “self made man” que não alinha em discursos derrotistas.

80

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

81

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

ANDRÉCARRILHO

A ARTE DE TRABALHAR PARA O BONECO

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA PEDRO LOUREIRO

Page 42: Revista T - alguns artigos

traço I ilustração I

82

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

(EUA); na “Independent onSunday”, na “Word” (Inglaterra);no “El País”, no “El Mundo”(Espanha); no “Courier Interna -tio nal” (França); e no “NeueZürcher Zeitung” (Suíça). Istopara além do “Diário de Notí -cias”, do “Independente”, do“Público", do “Diário Econó mi co”e do “Expresso”. E de traba lhosde ilustração para diversas edi-toras, entre elas a nova-iorquinaRandom House.Surpreendentemente, André con-fessa-se pouco empenhado naprocura de trabalho. «Como játenho tanto trabalho e não tenhocapacidade para fazer mais,interessa-me muito mais ter duasou três contas fixas e ter tempolivre para me dedicar ao VJing, àanimação e a outras coisas quenão me dão tanto dinheiro masque gosto de ir fazendo.»Entre essas «outras coisas»,encontra-se a banda desenhada,a sua «primeira paixão». Houveaté (quem diria?) um longo período

“O SEGREDO DOMEU SUCESSO?

É UMA MISTURADE OPORTUNI DA-DE, CONTEXTO

E SOR TE... E CAPACIDADE

DE VER, BOAINTUIÇÃO.”

da sua vida em que desprezava ailustração. «Sempre achei maispiada a contar histórias», confes-sa. A ideia, essa, já anda a ger-miná-la – «tenho na minhacabeça uns cinco álbuns».Porém, é um trabalho moroso:«para fazer um álbum, preciso,pelo menos, de um ano». Nãoquer, no entanto, «morrer semlançar um».

SENTAMO-NOS a conversar numaesplanada do Chiado, interrompi-dos, de tempo a tempo, pela rui-dosa passagem de um eléctrico.Pergunto-lhe pelo segredo do seusucesso. «O segredo do meusucesso? É uma mistura de opor-tunidade, contexto e sorte.» Àreceita acrescenta, depois deuma breve paragem para pensar,«capacidade de ver… tenho umaboa intuição para apanhar as al -turas em que é preciso fazer umajogada». Comecemos pela sorte: em 2001,André Carrilho é convidado por

HONRAS.

Page 43: Revista T - alguns artigos

traço I ilustração I

82

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

(EUA); na “Independent onSunday”, na “Word” (Inglaterra);no “El País”, no “El Mundo”(Espanha); no “Courier Interna -tio nal” (França); e no “NeueZürcher Zeitung” (Suíça). Istopara além do “Diário de Notí -cias”, do “Independente”, do“Público", do “Diário Econó mi co”e do “Expresso”. E de traba lhosde ilustração para diversas edi-toras, entre elas a nova-iorquinaRandom House.Surpreendentemente, André con-fessa-se pouco empenhado naprocura de trabalho. «Como játenho tanto trabalho e não tenhocapacidade para fazer mais,interessa-me muito mais ter duasou três contas fixas e ter tempolivre para me dedicar ao VJing, àanimação e a outras coisas quenão me dão tanto dinheiro masque gosto de ir fazendo.»Entre essas «outras coisas»,encontra-se a banda desenhada,a sua «primeira paixão». Houveaté (quem diria?) um longo período

“O SEGREDO DOMEU SUCESSO?

É UMA MISTURADE OPORTUNI DA-DE, CONTEXTO

E SOR TE... E CAPACIDADE

DE VER, BOAINTUIÇÃO.”

da sua vida em que desprezava ailustração. «Sempre achei maispiada a contar histórias», confes-sa. A ideia, essa, já anda a ger-miná-la – «tenho na minhacabeça uns cinco álbuns».Porém, é um trabalho moroso:«para fazer um álbum, preciso,pelo menos, de um ano». Nãoquer, no entanto, «morrer semlançar um».

SENTAMO-NOS a conversar numaesplanada do Chiado, interrompi-dos, de tempo a tempo, pela rui-dosa passagem de um eléctrico.Pergunto-lhe pelo segredo do seusucesso. «O segredo do meusucesso? É uma mistura de opor-tunidade, contexto e sorte.» Àreceita acrescenta, depois deuma breve paragem para pensar,«capacidade de ver… tenho umaboa intuição para apanhar as al -turas em que é preciso fazer umajogada». Comecemos pela sorte: em 2001,André Carrilho é convidado por

HONRAS.

Page 44: Revista T - alguns artigos

83

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

Jorge Silva, director de arte do “Público”, a colaborar nosuplemento “Mil Folhas”. Sem osa ber, é inscrito pelo próprioJorge Silva no concurso da So -ciety for News Design. Ganhou oPrémio de Ouro pelo seu porte-fólio individual. Isso bastou paradespoletar a carreira interna-cional do jovem ilustrador. «Quando o Jorge Silva foi lá parareceber o prémio…» Interrompo-o:«o André não foi receber oprémio?». A resposta: «não tinha

suplemento de domingo do “TheIndependent”, cuja directora gráficaintegrava o júri do concurso. Recordo-me de ter lido, numa ci -tação do próprio André, que, senão tivesse começado em Portu -gal, «nunca teria chegado aos jor-nais internacionais». Soa quase acontra-senso, já que o discursohabitual é precisamente o inverso.Não resisto a pedir explicações.«Em Portugal, não estamos nocentro de nada, estamos equidis-tantes de tudo o resto».

dinheiro para ir lá, porque, alémda viagem e da estadia em NovaIorque, tinha de pagar 400 dólarespara entrar na cerimónia». Valeu--lhe a ida de Jorge Silva. «Dei-lheum portefólio para ele entregar aquem achasse mais adequado.»Entregou-o ao “New York Times”.Passados três meses, André é con-vidado a desenhar para o suple-mento “Book Review”, onde acabapor fazer algumas capas. Entrava,assim, para um dos espaços deilustração mais cobiçados dosEstados Unidos. «A partir domomento em que se publica numsítio desses, há muita gente querepara em nós». E assim aconte-ceu, de facto.Em simultâneo, Carrilho é expos-to ao “Independent on Sunday”,

Completa, depois da passagem deum eléctrico: «temos referênciasequidistantes de tudo: dos ingle-ses, dos franceses, dos ameri-canos, dos japoneses». NosEstados Unidos, por exemplo, «aspessoas são muito mais for-matadas, há especializações paratudo», ao passo que, em Portu -gal, «somos os “desenrascas”,fazemos de tudo um pou co». Ereforça: «acho que, se não fosseportu guês, nunca tinha chegadoa trabalhar para os sítios ondetrabalho». Mas há mais: como emPor tugal «havia pouca gente a fazeristo, uma pessoa tem possibilidadede progressão no próprio meio». Outra vantagem de trabalhar cá:«tenho mais liberdade de movi-mentos. Lá fora, querem especifi-

camente aquilo que já viram.»Essa liberdade teve, porém, de serconquistada: «ao publicar lá fora,ganhei alguma tolerância cá». Nãopodia ser só facilidades…

A SUA PRIMEIRA era ir para Arqui -tectura. «Não conseguia arranjarprofissões que fossem de dese -nhar» e a Arquitectura aca bavapor ser uma espécie de malmenor, «era a coisa mais próxi-ma». Entretanto, repara que al -guns dos caricaturistas que mais

admirava trabalhavam em publici-dade ou design. Desco briu, então,o Design Gráfico, «um curso rela-tivamente recen te» que frequen-tou, regressado de Ma cau, noInstituto Superior de Belas Artesde Lisboa. No meio tempo, foifazendo alguns trabalhos de ilus-tração. E abriu um “atelier” com oilustra dor/de signer Luís Lázaro.Aperce bem-se, porém, de queestão «mais talhados para a cria -ção pessoal, pura e dura». E aquientra a tal boa in tui ção de queAndré falava: «comecei a desco-brir que o meu talento específicode caricatura não era coisa fácil deencontrar e que era valorizado nomercado». Per gun to-lhe quando éque se apercebeu de que iria seressa a sua profissão. A resposta,

“EM PORTUGAL, HOUVE TRÊSCRIA DO RES QUE FORAM SEMINAISE ESTÃO AO MAIS ALTO NÍVELMUNDIAL: O RAFAEL BORDALO

PINHEIRO, O STUART CARVALHAISE O ABEL MANTA.”

Page 45: Revista T - alguns artigos

83

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

Jorge Silva, director de arte do “Público”, a colaborar nosuplemento “Mil Folhas”. Sem osa ber, é inscrito pelo próprioJorge Silva no concurso da So -ciety for News Design. Ganhou oPrémio de Ouro pelo seu porte-fólio individual. Isso bastou paradespoletar a carreira interna-cional do jovem ilustrador. «Quando o Jorge Silva foi lá parareceber o prémio…» Interrompo-o:«o André não foi receber oprémio?». A resposta: «não tinha

suplemento de domingo do “TheIndependent”, cuja directora gráficaintegrava o júri do concurso. Recordo-me de ter lido, numa ci -tação do próprio André, que, senão tivesse começado em Portu -gal, «nunca teria chegado aos jor-nais internacionais». Soa quase acontra-senso, já que o discursohabitual é precisamente o inverso.Não resisto a pedir explicações.«Em Portugal, não estamos nocentro de nada, estamos equidis-tantes de tudo o resto».

dinheiro para ir lá, porque, alémda viagem e da estadia em NovaIorque, tinha de pagar 400 dólarespara entrar na cerimónia». Valeu--lhe a ida de Jorge Silva. «Dei-lheum portefólio para ele entregar aquem achasse mais adequado.»Entregou-o ao “New York Times”.Passados três meses, André é con-vidado a desenhar para o suple-mento “Book Review”, onde acabapor fazer algumas capas. Entrava,assim, para um dos espaços deilustração mais cobiçados dosEstados Unidos. «A partir domomento em que se publica numsítio desses, há muita gente querepara em nós». E assim aconte-ceu, de facto.Em simultâneo, Carrilho é expos-to ao “Independent on Sunday”,

Completa, depois da passagem deum eléctrico: «temos referênciasequidistantes de tudo: dos ingle-ses, dos franceses, dos ameri-canos, dos japoneses». NosEstados Unidos, por exemplo, «aspessoas são muito mais for-matadas, há especializações paratudo», ao passo que, em Portu -gal, «somos os “desenrascas”,fazemos de tudo um pou co». Ereforça: «acho que, se não fosseportu guês, nunca tinha chegadoa trabalhar para os sítios ondetrabalho». Mas há mais: como emPor tugal «havia pouca gente a fazeristo, uma pessoa tem possibilidadede progressão no próprio meio». Outra vantagem de trabalhar cá:«tenho mais liberdade de movi-mentos. Lá fora, querem especifi-

camente aquilo que já viram.»Essa liberdade teve, porém, de serconquistada: «ao publicar lá fora,ganhei alguma tolerância cá». Nãopodia ser só facilidades…

A SUA PRIMEIRA era ir para Arqui -tectura. «Não conseguia arranjarprofissões que fossem de dese -nhar» e a Arquitectura aca bavapor ser uma espécie de malmenor, «era a coisa mais próxi-ma». Entretanto, repara que al -guns dos caricaturistas que mais

admirava trabalhavam em publici-dade ou design. Desco briu, então,o Design Gráfico, «um curso rela-tivamente recen te» que frequen-tou, regressado de Ma cau, noInstituto Superior de Belas Artesde Lisboa. No meio tempo, foifazendo alguns trabalhos de ilus-tração. E abriu um “atelier” com oilustra dor/de signer Luís Lázaro.Aperce bem-se, porém, de queestão «mais talhados para a cria -ção pessoal, pura e dura». E aquientra a tal boa in tui ção de queAndré falava: «comecei a desco-brir que o meu talento específicode caricatura não era coisa fácil deencontrar e que era valorizado nomercado». Per gun to-lhe quando éque se apercebeu de que iria seressa a sua profissão. A resposta,

“EM PORTUGAL, HOUVE TRÊSCRIA DO RES QUE FORAM SEMINAISE ESTÃO AO MAIS ALTO NÍVELMUNDIAL: O RAFAEL BORDALO

PINHEIRO, O STUART CARVALHAISE O ABEL MANTA.”

Page 46: Revista T - alguns artigos

traço I ilustração I

84

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

85

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

MORADAS. André

nasceu a 26/07/1974, na

Amadora. Aos 10 anos,

mu dou-se para Lisboa,

on de estudou até ao 11º

ano. Entretanto, a sua mãe,

arquitecta do IGAPHE, é

transferida para Macau. É lá

que faz o 12º ano. Passado

um ano, regressa a Lisboa

(onde reside actualmente) e

ingressa no curso de De sign

Gráfico nas Belas Artes.

Que não che ga a con cluir,

por descontentamento.

EM PAPEL. Para além

dos trabalhos para jornais

e revistas, publicados em

Inglaterra, EUA, Espanha,

Suíça e França, ilustrou

também diversos livros,

tanto em Portugal como

no estrangeiro. Em 2007,

lan çou, em nome próprio,

a co lectânea “O Rosto do

Alpinista” e ilustrou o livro

“O Vírus da Vida”, do

mú si co/es cri tor JP Simões.

«Gosto mais do objecto

livro, porque o livro fica,

enquanto que a ilustração

em si é efémera», afirma.

OUTRAS ARTES.Em 2007, estreia-se na

ani ma ção, com a curta

“Jantar em Lisboa”, aplau-

dida em festivais de to do o

mun do. Actual men te, sonha

com a reali zação de uma

longa-me tra gem «ca paz de

riva lizar com o que de

me lhor se faz na ani ma ção».

E so nha também em lançar

um álbum de ban da dese -

nhada. Não será, porém, a

sua pri mei ra aven tura na

9ª Arte: em 2003, lançou

a colectâ nea de his tórias

curtas “Em Lume Brando”.

rida: «quando vi que estava a ga -nhar mais dinhei ro com a ilus-tração do que com o design».

A INSPIRAÇÃO vem dos própriostemas que lhe são dados. E tam-bém do cinema, da literatura, dapintura, de tudo excepto aprópria ilustração. «Um mestrede animação russo dizia aos alu -nos que se deve ir buscar inspi-ração a todas as outras áreasexcepto àquela onde a gente tra-balha.» As referências do mundoda ilustração, contudo, são mui -tas. Os seus ídolos são, em boaparte, portugueses. «Não é nacio -nalismo bacoco; ter no nossomeio pessoas que fazem coisasque temos em alta conta é muitoimportante.» Na hora de eleger asua maior referência, aponta AbelManta, «porque quando conhece-mos alguém com aquela quali-dade e vemos que é português,também nos apercebemos de queé possível fazermos qualquercoisa.» Adiantando um poucomais a conversa, André acaba porapontar uma tríade de “mestres”:«em Portugal, houve três cria do -res que foram seminais e estão aomais alto nível mundial: o RafaelBordalo Pinheiro, o Stuart Car -valhais e o Abel Man ta». Depoisrefere também os contemporâneos(e seus amigos) Nuno Saraiva,Luís Lázaro e Cris tina Sampaio. Erecorda o tem po em que colec-cionava as caricaturas de António(“Expre sso”), Vasco (“Público”) eCid (“Inde pendente”). Acrescenta ainda que «temosmuitos mais que também forammuito bons, mas não os conhece-mos, porque pouca gente prestaatenção a estas coisas». É tudo«uma questão de cultura, de edu-cação, das próprias escolas»,advoga. E, aí, assume-se «muitocrítico das universidades e do

ensino das artes em Portugal»,que classifica de «um bocadodeficiente». Adiante-se que ocurso de Design Gráfico nuncachegou a ser terminado. «De -sisti… naquela altura, fazer ilus-tração e usar um computador erasacrilégio», graceja. Peço-lhe, sem sucesso, paradefinir o seu traço. «Não façoideia» é a primeira resposta.Passado outro eléctrico, elaboraum pouco – «procuro dar algumanoção de fluidez e movimento adesenhos estáticos». Ainda tentaavançar a descrição – «se calhar,procuro fazer um realismo abstrac-to». Entretanto, recua – «mas nãodefiniria assim» – e ri-se. «Não sei,não sei como definir.»Se lhe perguntarmos quem é asua «vítima» favorita, responde,com pena, que gostaria queAntónio Guterres ainda estivesseem cena. Salienta, porém, que oque mais gosta é de caricaturarescritores. «Se eu tiver de fazer acaricatura de uma modelo»,exemplifica, «só tenho acesso afotografias normalizadas, onde háum esforço por eliminar defeitose irregularidades – e é nisso quea gente pega, as especifici-dades». Houve até uma vez(«uma única vez», garante) emque, após sete desenhos, setetentativas, teve de dizer aocliente que desistia. «Era umacara normal», justifica-se - «nor-malmente, são pessoas bonitas,que não têm nada de assimétri-co». É por isso que prefere osescritores, «porque temos acessoa fotografias que são “mais” eles,são mais “as pessoas”».

O PONTO mais alto da sua carreira,aponta em tom jocoso, foi quandoum trabalho seu chegou aoParlamento. «Ainda ontem, estavaa arrumar o “atelier” e encontrei

essa imagem: o Telmo Correia asegurar um desenho meu naAssembleia da República e adizer que era um escândalo».Que desenho era esse? «Quandoo Bagão Félix estava a reformulara Lei do Trabalho, fi-lo no corpode um cão, aos pés de umpatrão», sendo que «o patrão ti -nha charuto e era gordo». «Agrande polémica», conta, clara-mente divertido com a situação,«foi que os patrões não eram gor-dos nem fumavam charuto, mas ofacto é que perceberam que eraum patrão». Passado mais umeléctrico, continua: «quando sefaz uma imagem dessas, há quelidar com clichés colectivos». E a censura, André? «Não gostode falar de censura.» Ou melhor,é mais «uma questão de gosto»do que «uma questão de moral ouética». «É preciso testar», explica.«Testo os limites daquilo que possofazer: a experiência está em fazerum desenho que seja aceite masque seja pertinente e vá ao fundoda questão.» Um «jogo» queacaba por considerar divertido.«Até gosto de trabalhar dentro deum espaço confinado», afirma,sublinhando que isso o obriga a«usar alguma agilidade para fazerum desenho interessante». Enquanto trabalha no seu “ate-lier”, em Lisboa, André Carrilhoconvive com dezenas de dese nhosde sua autoria, que preen chem asparedes e restantes espaçoslivres. «São a minha porta, o meumeio de comunicação para omundo exterior», afirma. «Souuma pessoa introvertida, umbocado tímida, e assim convivocom a ideia que as pessoas têmde mim e do meu trabalho.» Oque, na sua opinião, acaba por seruma forma de se conhecer melhora si próprio. André Carrilho, apre-sento-lhe o André Carrilho.

“ACHO QUE,SE NÃO FOSSE

PORTUGUÊS,NUNCA TINHA

CHEGADO ATRABALHAR

PARA OSSÍTIOS ONDETRABALHO”

Page 47: Revista T - alguns artigos

traço I ilustração I

84

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

85

JAN

EIR

O,

FEVE

REIR

O,

MAR

ÇO

2007

MORADAS. André

nasceu a 26/07/1974, na

Amadora. Aos 10 anos,

mu dou-se para Lisboa,

on de estudou até ao 11º

ano. Entretanto, a sua mãe,

arquitecta do IGAPHE, é

transferida para Macau. É lá

que faz o 12º ano. Passado

um ano, regressa a Lisboa

(onde reside actualmente) e

ingressa no curso de De sign

Gráfico nas Belas Artes.

Que não che ga a con cluir,

por descontentamento.

EM PAPEL. Para além

dos trabalhos para jornais

e revistas, publicados em

Inglaterra, EUA, Espanha,

Suíça e França, ilustrou

também diversos livros,

tanto em Portugal como

no estrangeiro. Em 2007,

lan çou, em nome próprio,

a co lectânea “O Rosto do

Alpinista” e ilustrou o livro

“O Vírus da Vida”, do

mú si co/es cri tor JP Simões.

«Gosto mais do objecto

livro, porque o livro fica,

enquanto que a ilustração

em si é efémera», afirma.

OUTRAS ARTES.Em 2007, estreia-se na

ani ma ção, com a curta

“Jantar em Lisboa”, aplau-

dida em festivais de to do o

mun do. Actual men te, sonha

com a reali zação de uma

longa-me tra gem «ca paz de

riva lizar com o que de

me lhor se faz na ani ma ção».

E so nha também em lançar

um álbum de ban da dese -

nhada. Não será, porém, a

sua pri mei ra aven tura na

9ª Arte: em 2003, lançou

a colectâ nea de his tórias

curtas “Em Lume Brando”.

rida: «quando vi que estava a ga -nhar mais dinhei ro com a ilus-tração do que com o design».

A INSPIRAÇÃO vem dos própriostemas que lhe são dados. E tam-bém do cinema, da literatura, dapintura, de tudo excepto aprópria ilustração. «Um mestrede animação russo dizia aos alu -nos que se deve ir buscar inspi-ração a todas as outras áreasexcepto àquela onde a gente tra-balha.» As referências do mundoda ilustração, contudo, são mui -tas. Os seus ídolos são, em boaparte, portugueses. «Não é nacio -nalismo bacoco; ter no nossomeio pessoas que fazem coisasque temos em alta conta é muitoimportante.» Na hora de eleger asua maior referência, aponta AbelManta, «porque quando conhece-mos alguém com aquela quali-dade e vemos que é português,também nos apercebemos de queé possível fazermos qualquercoisa.» Adiantando um poucomais a conversa, André acaba porapontar uma tríade de “mestres”:«em Portugal, houve três cria do -res que foram seminais e estão aomais alto nível mundial: o RafaelBordalo Pinheiro, o Stuart Car -valhais e o Abel Man ta». Depoisrefere também os contemporâneos(e seus amigos) Nuno Saraiva,Luís Lázaro e Cris tina Sampaio. Erecorda o tem po em que colec-cionava as caricaturas de António(“Expre sso”), Vasco (“Público”) eCid (“Inde pendente”). Acrescenta ainda que «temosmuitos mais que também forammuito bons, mas não os conhece-mos, porque pouca gente prestaatenção a estas coisas». É tudo«uma questão de cultura, de edu-cação, das próprias escolas»,advoga. E, aí, assume-se «muitocrítico das universidades e do

ensino das artes em Portugal»,que classifica de «um bocadodeficiente». Adiante-se que ocurso de Design Gráfico nuncachegou a ser terminado. «De -sisti… naquela altura, fazer ilus-tração e usar um computador erasacrilégio», graceja. Peço-lhe, sem sucesso, paradefinir o seu traço. «Não façoideia» é a primeira resposta.Passado outro eléctrico, elaboraum pouco – «procuro dar algumanoção de fluidez e movimento adesenhos estáticos». Ainda tentaavançar a descrição – «se calhar,procuro fazer um realismo abstrac-to». Entretanto, recua – «mas nãodefiniria assim» – e ri-se. «Não sei,não sei como definir.»Se lhe perguntarmos quem é asua «vítima» favorita, responde,com pena, que gostaria queAntónio Guterres ainda estivesseem cena. Salienta, porém, que oque mais gosta é de caricaturarescritores. «Se eu tiver de fazer acaricatura de uma modelo»,exemplifica, «só tenho acesso afotografias normalizadas, onde háum esforço por eliminar defeitose irregularidades – e é nisso quea gente pega, as especifici-dades». Houve até uma vez(«uma única vez», garante) emque, após sete desenhos, setetentativas, teve de dizer aocliente que desistia. «Era umacara normal», justifica-se - «nor-malmente, são pessoas bonitas,que não têm nada de assimétri-co». É por isso que prefere osescritores, «porque temos acessoa fotografias que são “mais” eles,são mais “as pessoas”».

O PONTO mais alto da sua carreira,aponta em tom jocoso, foi quandoum trabalho seu chegou aoParlamento. «Ainda ontem, estavaa arrumar o “atelier” e encontrei

essa imagem: o Telmo Correia asegurar um desenho meu naAssembleia da República e adizer que era um escândalo».Que desenho era esse? «Quandoo Bagão Félix estava a reformulara Lei do Trabalho, fi-lo no corpode um cão, aos pés de umpatrão», sendo que «o patrão ti -nha charuto e era gordo». «Agrande polémica», conta, clara-mente divertido com a situação,«foi que os patrões não eram gor-dos nem fumavam charuto, mas ofacto é que perceberam que eraum patrão». Passado mais umeléctrico, continua: «quando sefaz uma imagem dessas, há quelidar com clichés colectivos». E a censura, André? «Não gostode falar de censura.» Ou melhor,é mais «uma questão de gosto»do que «uma questão de moral ouética». «É preciso testar», explica.«Testo os limites daquilo que possofazer: a experiência está em fazerum desenho que seja aceite masque seja pertinente e vá ao fundoda questão.» Um «jogo» queacaba por considerar divertido.«Até gosto de trabalhar dentro deum espaço confinado», afirma,sublinhando que isso o obriga a«usar alguma agilidade para fazerum desenho interessante». Enquanto trabalha no seu “ate-lier”, em Lisboa, André Carrilhoconvive com dezenas de dese nhosde sua autoria, que preen chem asparedes e restantes espaçoslivres. «São a minha porta, o meumeio de comunicação para omundo exterior», afirma. «Souuma pessoa introvertida, umbocado tímida, e assim convivocom a ideia que as pessoas têmde mim e do meu trabalho.» Oque, na sua opinião, acaba por seruma forma de se conhecer melhora si próprio. André Carrilho, apre-sento-lhe o André Carrilho.

“ACHO QUE,SE NÃO FOSSE

PORTUGUÊS,NUNCA TINHA

CHEGADO ATRABALHAR

PARA OSSÍTIOS ONDETRABALHO”

Page 48: Revista T - alguns artigos

COURCHEVEL & MÉRIBEL

destino I alpes franceses I

44

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

45

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

O luxo e o “glamour” de alta montanha lado a lado com as emoções

fortes dos chamados«desportos brancos». Tudo

isto com acesso ao domíniodos «Três Vales», um dos

maiores do mundo.

DIAS EMBRANCO

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA YVES CALLEWAERT / VOLTA AO MUNDO

Page 49: Revista T - alguns artigos

COURCHEVEL & MÉRIBEL

destino I alpes franceses I

44

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

45

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

O luxo e o “glamour” de alta montanha lado a lado com as emoções

fortes dos chamados«desportos brancos». Tudo

isto com acesso ao domíniodos «Três Vales», um dos

maiores do mundo.

DIAS EMBRANCO

TEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA YVES CALLEWAERT / VOLTA AO MUNDO

Page 50: Revista T - alguns artigos

46

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

47

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

DE TOPO. NA ALTIVEZ DOS SEUS 2738 METROS, O PICO SAULIRE CONTEMPLA COURCHEVEL E MÉRIBEL.ANTES DO REGRESSO ÀS PISTAS, REGALA-SE A VISTA NO RESTAURANTE LE PANORAMIC, CUJO NOME NÃO DEIXA MARGEM PARA DÚVIDAS.

ESCOLHA. O DOMÍNIO ESQUIÁVEL DOS «TRÊS VALES»É UM DOS MAIORES DO MUNDO E OFERECE DESAFIOS ÀMEDIDA DE CADA UM, COM MAIS DE 300 PISTAS BALIZADASE 600 QUILÓMETROS DE DESCIDAS.

×

Ù

destino I alpes franceses I

Page 51: Revista T - alguns artigos

46

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

47

NO

VE

MB

RO,

DE

ZE

MB

RO

20

09

DE TOPO. NA ALTIVEZ DOS SEUS 2738 METROS, O PICO SAULIRE CONTEMPLA COURCHEVEL E MÉRIBEL.ANTES DO REGRESSO ÀS PISTAS, REGALA-SE A VISTA NO RESTAURANTE LE PANORAMIC, CUJO NOME NÃO DEIXA MARGEM PARA DÚVIDAS.

ESCOLHA. O DOMÍNIO ESQUIÁVEL DOS «TRÊS VALES»É UM DOS MAIORES DO MUNDO E OFERECE DESAFIOS ÀMEDIDA DE CADA UM, COM MAIS DE 300 PISTAS BALIZADASE 600 QUILÓMETROS DE DESCIDAS.

×

Ù

destino I alpes franceses I

Page 52: Revista T - alguns artigos

destino I alpes franceses I

48

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

49

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

LYON

NICE

ITÁLIA

Avoriaz

SUÍÇA

Chamonix

COURCHEVEL

MÉRIBEL

FRANÇA

uma estrela, o La Table du

Kilimandjaro (do Hotel Kili man -

djaro, na Route de l’Altiport) e

o Le Farçon (em La Tania, a

pouco mais de três quilómetros

do centro de Courchevel), o

único que não fica na secção

1850.

Isto não significa

que seja necessário

vender os esquis

para pagar um jan-

tar. Basta descer

um pouco em alti-

tude e encontrará

onde reconfortar o

estômago e repor

as energias depois

de um dia de

«traba lho duro»

nas pistas. A cozin-

ha “savoyarde” é

particularmente

rica nesse campo.

Há os pan-alpinos

“ra cle t te” e “fondue savoyar de”,

onde o queijo é figura domi-

nante. E há a localíssima “tarti-

flette”, um substancial gratina-

do de batata, cebola, fiambre e

queijo “Reblochon” – também

especialidade regio nal, de

origem protegida.

EM PISTA. As cores

medem a escala de

dificuldade das pistas: do

fácil (verde) ao muito difícil

(preto), com o azul e o

vermelho de permeio. Em

Courchevel, há 15 pistas

verdes, 31 azuis, 35 vermelhas

e 9 pretas (“forfait” 6 dias:

€190; www.courchevel.com).

Méribel tem 73 pistas,

9 verdes, 34 azuis,

23 vermelhas e 7 pretas

(“forfait” 6 dias: €187;

www.meribel.net). Nos

«Três Vales», das 330 pistas

balizadas, 43 são verdes,

129 azuis, 125 vermelhas

e 33 pretas (“forfait” 6 dias:

€232;www.s3v.com).

TEMPERA TURA. No

tempo de Lindsay e Chappis,

era com “Genépi” que

se aquecia o corpo. Esta

aguardente regional continua

a ser uma opção para repor

a temperatura – mas há

sempre o reconfortante

chocolate quente, como

o do Le Tremplin, em

Courchevel 1850 (em frente

ao posto de turismo).

1945. No mesmo ano em que

George Orwell lançava “O

Triun fo dos Porcos” e a cerimó-

nia de entrega dos Óscares era

pela primeira vez transmitida

na rádio, a II Guerra Mundial

chegava ao fim. Após cinco anos

encarcerado num campo nazi, o

arquitecto francês Laurent

Chappis regressava à pátria.

Tinha então 30 anos e, debaixo

do braço, trazia o projecto – de -

senvolvido no período de cati -

veiro – para a criação de uma

estância de esqui na região hoje

conhecida como «Os Três Va -

les». Acontece que o projecto

encaixava no desígnio, assumi-

do pelo Conselho da Sabóia, de

dar à população algo para se

distrair dos ainda recentes hor-

rores da guerra.

Passado um ano, já o arquitec-

to estava no terreno, a traba -

lhar na construção de uma

«estância de esqui para o povo»

– a mesma que se havia de

tornar o destino de eleição dos

ricos e famosos quando o frio

chega à Europa. Chappis estava

longe de prevê-lo... E daí,

talvez não estivesse assim tão

distraído: como que estratifica-

da em pirâmide, Courchevel

foi desenhada em quatro

secções, baptizadas segundo a

sua cota de altitude, 1300,

1550, 1650 e 1850, sendo que a

escala de luxo e “glamour”

aumenta proporcionalmente.

Entre outros títulos não-oficiais,

Courchevel é conhecida como

«Saint-Tropez do Inverno»,

com as pistas a tomar o lugar

das praias. Como tal, o nível de

vida leva o respectivo «tributo»:

um café facilmente custa quatro

euros e uma refeição para duas

pessoas atinge, sem grandes

luxos, a barreira dos 100 euros.

Vinhos à parte, claro.

Praticamente tudo na estância

alpina gravita em torno do

«topo de gama». São as lojas,

das mesmas marcas que em -

prestam “glamour” às ruas de

Milão ou de Nova Iorque –

Hermès, Prada, Dior. São os

hotéis, que, excluindo Paris,

somam a maior oferta de luxo

de toda a França – e, de acordo

com um folheto do turismo

local, detêm o recorde de maior

número de estrelas por metro

quadrado. (Falando só na oferta

de topo, são seis os hotéis de

cinco estrelas, outros três em

vias de e 10 de quatro estrelas –

todos na cota 1850; a vista tem

o seu preço.)

E, claro, a juntar a estas, há as

estrelas do Guia Michelin, essa

“DESLIZES”PARA TODOSOS GOSTOSSIM, O ESQUI É REI.MAS HÁ OUTRASMODALIDADESDIS PONÍVEIS. COMOOS PASSEIOS DETRENÓ PUXADOPOR CÃES.

MADRID

FRANÇA

PARIS

LYON

NICE

BARCELONA

TURIMMILÃO

ROMA

conceituada instituição interna-

cional da boa mesa. Courchevel

arrebatou seis, atribuídas a qua-

tro restaurantes: o Le Chabichou

e o Le Bateau Ivre, ambos com

duas estrelas (e ambos na Rue

des Chenus, a menos de 100

metros de distância), e, com

Page 53: Revista T - alguns artigos

destino I alpes franceses I

48

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

49

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

LYON

NICE

ITÁLIA

Avoriaz

SUÍÇA

Chamonix

COURCHEVEL

MÉRIBEL

FRANÇA

uma estrela, o La Table du

Kilimandjaro (do Hotel Kili man -

djaro, na Route de l’Altiport) e

o Le Farçon (em La Tania, a

pouco mais de três quilómetros

do centro de Courchevel), o

único que não fica na secção

1850.

Isto não significa

que seja necessário

vender os esquis

para pagar um jan-

tar. Basta descer

um pouco em alti-

tude e encontrará

onde reconfortar o

estômago e repor

as energias depois

de um dia de

«traba lho duro»

nas pistas. A cozin-

ha “savoyarde” é

particularmente

rica nesse campo.

Há os pan-alpinos

“ra cle t te” e “fondue savoyar de”,

onde o queijo é figura domi-

nante. E há a localíssima “tarti-

flette”, um substancial gratina-

do de batata, cebola, fiambre e

queijo “Reblochon” – também

especialidade regio nal, de

origem protegida.

EM PISTA. As cores

medem a escala de

dificuldade das pistas: do

fácil (verde) ao muito difícil

(preto), com o azul e o

vermelho de permeio. Em

Courchevel, há 15 pistas

verdes, 31 azuis, 35 vermelhas

e 9 pretas (“forfait” 6 dias:

€190; www.courchevel.com).

Méribel tem 73 pistas,

9 verdes, 34 azuis,

23 vermelhas e 7 pretas

(“forfait” 6 dias: €187;

www.meribel.net). Nos

«Três Vales», das 330 pistas

balizadas, 43 são verdes,

129 azuis, 125 vermelhas

e 33 pretas (“forfait” 6 dias:

€232;www.s3v.com).

TEMPERA TURA. No

tempo de Lindsay e Chappis,

era com “Genépi” que

se aquecia o corpo. Esta

aguardente regional continua

a ser uma opção para repor

a temperatura – mas há

sempre o reconfortante

chocolate quente, como

o do Le Tremplin, em

Courchevel 1850 (em frente

ao posto de turismo).

1945. No mesmo ano em que

George Orwell lançava “O

Triun fo dos Porcos” e a cerimó-

nia de entrega dos Óscares era

pela primeira vez transmitida

na rádio, a II Guerra Mundial

chegava ao fim. Após cinco anos

encarcerado num campo nazi, o

arquitecto francês Laurent

Chappis regressava à pátria.

Tinha então 30 anos e, debaixo

do braço, trazia o projecto – de -

senvolvido no período de cati -

veiro – para a criação de uma

estância de esqui na região hoje

conhecida como «Os Três Va -

les». Acontece que o projecto

encaixava no desígnio, assumi-

do pelo Conselho da Sabóia, de

dar à população algo para se

distrair dos ainda recentes hor-

rores da guerra.

Passado um ano, já o arquitec-

to estava no terreno, a traba -

lhar na construção de uma

«estância de esqui para o povo»

– a mesma que se havia de

tornar o destino de eleição dos

ricos e famosos quando o frio

chega à Europa. Chappis estava

longe de prevê-lo... E daí,

talvez não estivesse assim tão

distraído: como que estratifica-

da em pirâmide, Courchevel

foi desenhada em quatro

secções, baptizadas segundo a

sua cota de altitude, 1300,

1550, 1650 e 1850, sendo que a

escala de luxo e “glamour”

aumenta proporcionalmente.

Entre outros títulos não-oficiais,

Courchevel é conhecida como

«Saint-Tropez do Inverno»,

com as pistas a tomar o lugar

das praias. Como tal, o nível de

vida leva o respectivo «tributo»:

um café facilmente custa quatro

euros e uma refeição para duas

pessoas atinge, sem grandes

luxos, a barreira dos 100 euros.

Vinhos à parte, claro.

Praticamente tudo na estância

alpina gravita em torno do

«topo de gama». São as lojas,

das mesmas marcas que em -

prestam “glamour” às ruas de

Milão ou de Nova Iorque –

Hermès, Prada, Dior. São os

hotéis, que, excluindo Paris,

somam a maior oferta de luxo

de toda a França – e, de acordo

com um folheto do turismo

local, detêm o recorde de maior

número de estrelas por metro

quadrado. (Falando só na oferta

de topo, são seis os hotéis de

cinco estrelas, outros três em

vias de e 10 de quatro estrelas –

todos na cota 1850; a vista tem

o seu preço.)

E, claro, a juntar a estas, há as

estrelas do Guia Michelin, essa

“DESLIZES”PARA TODOSOS GOSTOSSIM, O ESQUI É REI.MAS HÁ OUTRASMODALIDADESDIS PONÍVEIS. COMOOS PASSEIOS DETRENÓ PUXADOPOR CÃES.

MADRID

FRANÇA

PARIS

LYON

NICE

BARCELONA

TURIMMILÃO

ROMA

conceituada instituição interna-

cional da boa mesa. Courchevel

arrebatou seis, atribuídas a qua-

tro restaurantes: o Le Chabichou

e o Le Bateau Ivre, ambos com

duas estrelas (e ambos na Rue

des Chenus, a menos de 100

metros de distância), e, com

Page 54: Revista T - alguns artigos

51

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

O DIÁRIO BRITÂNICO “The Ti mes”

aponta Courchevel como uma

das 10 melhores estâncias do

mundo para não-esquiadores.

Não custa compreender porquê.

Com tanta oferta de requinte e

conforto, há até quem diga que

é um destino para quem prefere

o “après-ski” ao esqui propria-

mente dito. Não será tanto

assim. Manu Gaidet, tricam-

peão mundial de “freeride”,

garante que «é o melhor local

do mundo para a modalidade».

É claro que estamos a falar da

vertente mais radical dos

desportos de Inverno, em que

não há pistas balizadas nem

meios mecânicos para chegar ao

topo – e, aí, os mais afoitos têm

à sua disposição algo como 10

mil hectares de neve pura por

desbravar. Mas, mesmo no que

toca às vertentes menos ex -

tremas, as opções são exce-

lentes: 90 pistas, metade delas

de dificuldade elevada, 42% da

área coberta por canhões de

neve artificial e capacidade para

transporte de 70 mil esquia -

dores por hora. Por si só,

Courchevel reúne uma oferta

respeitável em qualquer lado do

mundo. Não é tudo: as possibili-

dades aumentam exponencial-

mente se tomarmos em conta o

domínio dos «Três Vales», um

dos maiores do mundo, que

engloba também as estâncias

vizinhas de Brides-les-Bains,

COMO IR. Os aeroportos

internacionais mais próximos

(com ligações a Lisboa e

Porto) são Lyon e Genebra,

ambos a cerca de duas horas

de qualquer uma das estâncias.

Voos a partir de €51, ida

e volta (www.easyjet.com).

Quem não quiser perder

tempo no “transfer” tem à

sua disposição o serviço de

héli-táxi (www.courchevel-

helicopter.com), que encurta

a duração do percurso para

30 minutos.

Méribel, La Tania, St-Martin-

-de-Belleville, Les Menuires,

Orelle e Val Thorens. Com um

só “forfait”, o esquiador tem

acesso a 600 quilómetros de pis-

tas marcadas, correspondentes a

uma área esquiável de 40 mil

hectares. Nem com um passe

para toda a temporada con-

seguirá alguém trilhar estas 330

pistas. E não é pelo tempo gasto

na fila para os meios mecânicos

– a capacidade de transporte

ascende aos 263 mil utilizadores

por hora.

PETER LINDSAY instalou-se na re -

gião oito anos antes de Lau rent

Chappis. O major britânico

deixou-se encantar pelo vale de

Les Allues, onde viu o terreno

ideal para uma estância de

esqui. A construção – coisa iné -

dita na época – obedeceu a um

rígido rol de normas, criado

pelo próprio Lindsay, privile-

giando os métodos, os traçados e

os materiais tradicionais. A

estância de Méribel fica por

detrás do pico Saulire, que ob ser -

va Courchevel do su doeste. Não

se pense, porém, que é «já ali» –

e o preço da corrida de táxi de

um lado ao outro recorda a série

de curvas e contracurvas que

separam as estâncias vizinhas.

Pode não ter a sumptuosidade

de Courchevel – talvez porque

já existia antes do esqui e de

Lindsay –, para não falar na

velha questão dos preços. Nas

casas, predomina a madeira, o

formato “chalet” e o aconchego

de uma lareira quando a noite

cai. Por muito regulamentada

que seja a construção, acabam

sempre por nascer os inevi -

táveis blocos de apartamentos –

aqui, porém, estão circunscritos

ao sector mais recente,

Mottaret, no topo da estância, a

1750 metros de altitude.

Méribel Village e Méribel

ficam na cota dos 1400 e 1450,

respectivamente.

Com 150 quilómetros de pistas

balizadas – e abundante ter-

ritório virgem para o «fora de

pista» -, estão garantidas umas

férias à prova de tédio. Um

aviso: se em Courchevel as pis-

tas se assemelham a auto-

-estradas, aqui parecem-se mais

com caminhos corta-fogo, ta -

lhados na floresta densa, o que

se pode revelar uma experiência

algo complicada para os menos

experimentados.

Seja como for, há sempre os tais

40 mil hectares dos «Três

Vales». Desafios à medida de

cada um é prato forte deste

enorme manto branco.

útilPreço de Roaming tmn na Croácia

(clientes pós-pagos/pré-pagos)

Chamada para Portugal ou

Croácia: €2,04/€2,083 p/min.

Chamada para outros países: €2,70 p/min.

Chamada recebida: €0,792/€0,793 p/min.

Chamada de dados: €0,352 p/100KB

Envio de SMS: €0,48/€0,644 p/SMS

SMS recebidos: gratuitos

Page 55: Revista T - alguns artigos

51

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

O DIÁRIO BRITÂNICO “The Ti mes”

aponta Courchevel como uma

das 10 melhores estâncias do

mundo para não-esquiadores.

Não custa compreender porquê.

Com tanta oferta de requinte e

conforto, há até quem diga que

é um destino para quem prefere

o “après-ski” ao esqui propria-

mente dito. Não será tanto

assim. Manu Gaidet, tricam-

peão mundial de “freeride”,

garante que «é o melhor local

do mundo para a modalidade».

É claro que estamos a falar da

vertente mais radical dos

desportos de Inverno, em que

não há pistas balizadas nem

meios mecânicos para chegar ao

topo – e, aí, os mais afoitos têm

à sua disposição algo como 10

mil hectares de neve pura por

desbravar. Mas, mesmo no que

toca às vertentes menos ex -

tremas, as opções são exce-

lentes: 90 pistas, metade delas

de dificuldade elevada, 42% da

área coberta por canhões de

neve artificial e capacidade para

transporte de 70 mil esquia -

dores por hora. Por si só,

Courchevel reúne uma oferta

respeitável em qualquer lado do

mundo. Não é tudo: as possibili-

dades aumentam exponencial-

mente se tomarmos em conta o

domínio dos «Três Vales», um

dos maiores do mundo, que

engloba também as estâncias

vizinhas de Brides-les-Bains,

COMO IR. Os aeroportos

internacionais mais próximos

(com ligações a Lisboa e

Porto) são Lyon e Genebra,

ambos a cerca de duas horas

de qualquer uma das estâncias.

Voos a partir de €51, ida

e volta (www.easyjet.com).

Quem não quiser perder

tempo no “transfer” tem à

sua disposição o serviço de

héli-táxi (www.courchevel-

helicopter.com), que encurta

a duração do percurso para

30 minutos.

Méribel, La Tania, St-Martin-

-de-Belleville, Les Menuires,

Orelle e Val Thorens. Com um

só “forfait”, o esquiador tem

acesso a 600 quilómetros de pis-

tas marcadas, correspondentes a

uma área esquiável de 40 mil

hectares. Nem com um passe

para toda a temporada con-

seguirá alguém trilhar estas 330

pistas. E não é pelo tempo gasto

na fila para os meios mecânicos

– a capacidade de transporte

ascende aos 263 mil utilizadores

por hora.

PETER LINDSAY instalou-se na re -

gião oito anos antes de Lau rent

Chappis. O major britânico

deixou-se encantar pelo vale de

Les Allues, onde viu o terreno

ideal para uma estância de

esqui. A construção – coisa iné -

dita na época – obedeceu a um

rígido rol de normas, criado

pelo próprio Lindsay, privile-

giando os métodos, os traçados e

os materiais tradicionais. A

estância de Méribel fica por

detrás do pico Saulire, que ob ser -

va Courchevel do su doeste. Não

se pense, porém, que é «já ali» –

e o preço da corrida de táxi de

um lado ao outro recorda a série

de curvas e contracurvas que

separam as estâncias vizinhas.

Pode não ter a sumptuosidade

de Courchevel – talvez porque

já existia antes do esqui e de

Lindsay –, para não falar na

velha questão dos preços. Nas

casas, predomina a madeira, o

formato “chalet” e o aconchego

de uma lareira quando a noite

cai. Por muito regulamentada

que seja a construção, acabam

sempre por nascer os inevi -

táveis blocos de apartamentos –

aqui, porém, estão circunscritos

ao sector mais recente,

Mottaret, no topo da estância, a

1750 metros de altitude.

Méribel Village e Méribel

ficam na cota dos 1400 e 1450,

respectivamente.

Com 150 quilómetros de pistas

balizadas – e abundante ter-

ritório virgem para o «fora de

pista» -, estão garantidas umas

férias à prova de tédio. Um

aviso: se em Courchevel as pis-

tas se assemelham a auto-

-estradas, aqui parecem-se mais

com caminhos corta-fogo, ta -

lhados na floresta densa, o que

se pode revelar uma experiência

algo complicada para os menos

experimentados.

Seja como for, há sempre os tais

40 mil hectares dos «Três

Vales». Desafios à medida de

cada um é prato forte deste

enorme manto branco.

útilPreço de Roaming tmn na Croácia

(clientes pós-pagos/pré-pagos)

Chamada para Portugal ou

Croácia: €2,04/€2,083 p/min.

Chamada para outros países: €2,70 p/min.

Chamada recebida: €0,792/€0,793 p/min.

Chamada de dados: €0,352 p/100KB

Envio de SMS: €0,48/€0,644 p/SMS

SMS recebidos: gratuitos

Page 56: Revista T - alguns artigos

×

53

MA

IO,

JUN

HO

20

09

52

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

BOA MESA. SEJA NO MAIS LUXUOSO RESTAURANTE DE HOTEL OU NA MAIS SINGELA “BRASSERIE”, EM ALTAMONTANHA DEFENDE-SE A ARTE DE BEM COMER. O LEBLANCHOT (MÉRIBEL) E O LA VIA FERRATA (COURCHEVEL)SÃO DISSO EXEMPLO.

PÓS-ESQUI. QUANDO A NOITE CAI, HÁ QUEM SE DEITECEDO PARA APROVEITAR O RAIAR DO DIA SEGUINTE. E HÁQUEM PREFIRA GASTAR AS ENERGIAS NÃO DESPENDIDASEM PISTA. COURCHEVEL É ASSIM MESMO: METADE ESQUI,METADE “APRÈS-SKI”.

Ù

Page 57: Revista T - alguns artigos

×

53

MA

IO,

JUN

HO

20

09

52

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

BOA MESA. SEJA NO MAIS LUXUOSO RESTAURANTE DE HOTEL OU NA MAIS SINGELA “BRASSERIE”, EM ALTAMONTANHA DEFENDE-SE A ARTE DE BEM COMER. O LEBLANCHOT (MÉRIBEL) E O LA VIA FERRATA (COURCHEVEL)SÃO DISSO EXEMPLO.

PÓS-ESQUI. QUANDO A NOITE CAI, HÁ QUEM SE DEITECEDO PARA APROVEITAR O RAIAR DO DIA SEGUINTE. E HÁQUEM PREFIRA GASTAR AS ENERGIAS NÃO DESPENDIDASEM PISTA. COURCHEVEL É ASSIM MESMO: METADE ESQUI,METADE “APRÈS-SKI”.

Ù

Page 58: Revista T - alguns artigos

destino I alpes franceses I

54

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

55

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

AQUILO QUE MAIS me impressionou da primeira vez

que estive em Méribel e em Courchevel foi a altitude:

montanhas e mais montanhas cobertas de neve, uma

panorâmica deslumbrante! Estas estâncias, na ver-

dade, oferecem mais ao adepto de “snowboard” ou de

esqui alpino. Pessoalmente, gosto mais da região

durante o Verão, para fazer ciclismo e “roller ski” – é

também um período mais calmo. No Inverno há mais

confusão turística e os preços são inflacionados.

Para praticar, prefiro as estâncias vizinhas de Clusaz,

a norte, ou St-Veran, a sul, mais apropriadas ao esqui

de fundo. Este ano, com a preparação específica para

as Olimpíadas de Inverno de 2010, em Vancouver, e

tendo de reduzir despesas, não posso regressar, mas se

pudesse ia já amanhã. O esqui na região é brutal.

Aliás, nem só o esqui: o visitante desfruta de delícias

gastronómicas, paisagens naturais e muito mais.

Vuokatti, na Finlândia, onde vivo e treino desde

2006, oferece um pouco de tudo para o esqui de

fundo, entre subidas e descidas. Nos Alpes, como se

está na alta montanha, é mais subir do que descer.

Mas isto, naturalmente, é um ponto (muito) positi-

vo para o esqui alpino, com “drops” são enormes e

longos.

A minha estância preferida nos Alpes Franceses é

St-Veran, considerada a aldeia mais alta da Europa

(2100m). Dispõe de pistas com menos gente, uma

tranquilidade extraordinária e uma paisagem

incrível. Bom local para treino em altitude! Aos

praticantes do esqui de fundo, aconselho também

Vercors ou La Clusaz, as estâncias preferidas dos

grandes atletas franceses. n

DANNY SILVA.O único atleta português

presente nos Jogos Olímpicos

de Inverno de 2006, em Turim,

repete a proeza para o ano,

em Vancouver, no Canadá.

Danny Silva já garantiu os

«mínimos» em esqui de fundo

– que está para o esqui como

a maratona para o atletismo,

por oposição ao esqui alpino,

uma prova de “sprint” –,

modalidade a que se dedicou

«a cem por cento há cerca de

seis anos». Nascido em New

Jersey, em 1973, cedo veio

viver para Almeirim. Passou

por França, onde trabalhou

numa multinacional (curiosa-

mente ou não, uma das suas

funções passava por testar

esquis), e desde 2006 que vive

em Vuokatti, no norte da

Finlândia. «Trabalho para um

instituto desportivo dedicado

às modalidades de neve,

nomeadamente as nórdicas

– esqui de fundo, combinado

nórdico e salto». Através

deste instituto, concluiu o

curso superior de terapeuta.

Danny Silva mantém actua -

lizado o seu website pessoal:

http://almadesportiva.tripod.com

ALTITUDE. HABITUADO AO RELEVO POUCO ACENTUADO DA FINLÂNDIA (E DO RIBATEJO, ONDE CRESCEU), DANNY SILVAFICOU IMPRESSIONADO COM A ALTITUDE, A INCLINAÇÃO E A IMENSIDÃO DESTAS MONTANHAS A PERDER DE VISTA.«UMA PANORÂMICA DESLUMBRANTE», RECORDA.

Page 59: Revista T - alguns artigos

destino I alpes franceses I

54

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

55

AG

OS

TO,

SE

TE

MB

RO

20

09

AQUILO QUE MAIS me impressionou da primeira vez

que estive em Méribel e em Courchevel foi a altitude:

montanhas e mais montanhas cobertas de neve, uma

panorâmica deslumbrante! Estas estâncias, na ver-

dade, oferecem mais ao adepto de “snowboard” ou de

esqui alpino. Pessoalmente, gosto mais da região

durante o Verão, para fazer ciclismo e “roller ski” – é

também um período mais calmo. No Inverno há mais

confusão turística e os preços são inflacionados.

Para praticar, prefiro as estâncias vizinhas de Clusaz,

a norte, ou St-Veran, a sul, mais apropriadas ao esqui

de fundo. Este ano, com a preparação específica para

as Olimpíadas de Inverno de 2010, em Vancouver, e

tendo de reduzir despesas, não posso regressar, mas se

pudesse ia já amanhã. O esqui na região é brutal.

Aliás, nem só o esqui: o visitante desfruta de delícias

gastronómicas, paisagens naturais e muito mais.

Vuokatti, na Finlândia, onde vivo e treino desde

2006, oferece um pouco de tudo para o esqui de

fundo, entre subidas e descidas. Nos Alpes, como se

está na alta montanha, é mais subir do que descer.

Mas isto, naturalmente, é um ponto (muito) positi-

vo para o esqui alpino, com “drops” são enormes e

longos.

A minha estância preferida nos Alpes Franceses é

St-Veran, considerada a aldeia mais alta da Europa

(2100m). Dispõe de pistas com menos gente, uma

tranquilidade extraordinária e uma paisagem

incrível. Bom local para treino em altitude! Aos

praticantes do esqui de fundo, aconselho também

Vercors ou La Clusaz, as estâncias preferidas dos

grandes atletas franceses. n

DANNY SILVA.O único atleta português

presente nos Jogos Olímpicos

de Inverno de 2006, em Turim,

repete a proeza para o ano,

em Vancouver, no Canadá.

Danny Silva já garantiu os

«mínimos» em esqui de fundo

– que está para o esqui como

a maratona para o atletismo,

por oposição ao esqui alpino,

uma prova de “sprint” –,

modalidade a que se dedicou

«a cem por cento há cerca de

seis anos». Nascido em New

Jersey, em 1973, cedo veio

viver para Almeirim. Passou

por França, onde trabalhou

numa multinacional (curiosa-

mente ou não, uma das suas

funções passava por testar

esquis), e desde 2006 que vive

em Vuokatti, no norte da

Finlândia. «Trabalho para um

instituto desportivo dedicado

às modalidades de neve,

nomeadamente as nórdicas

– esqui de fundo, combinado

nórdico e salto». Através

deste instituto, concluiu o

curso superior de terapeuta.

Danny Silva mantém actua -

lizado o seu website pessoal:

http://almadesportiva.tripod.com

ALTITUDE. HABITUADO AO RELEVO POUCO ACENTUADO DA FINLÂNDIA (E DO RIBATEJO, ONDE CRESCEU), DANNY SILVAFICOU IMPRESSIONADO COM A ALTITUDE, A INCLINAÇÃO E A IMENSIDÃO DESTAS MONTANHAS A PERDER DE VISTA.«UMA PANORÂMICA DESLUMBRANTE», RECORDA.

Page 60: Revista T - alguns artigos

éo outro lado

Vimo-lo a passar música no Sudoestetmn e partimos logo do princípio

de que também é DJ. Zé explicaporque é que meter discos

de vez em quando não faz dele um DJ. A MÚSICA DO ACASO35

MAR

ÇO,

AB

RIL

2008

ZTEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA PEDRO LOUREIRO

Page 61: Revista T - alguns artigos

éo outro lado

Vimo-lo a passar música no Sudoestetmn e partimos logo do princípio

de que também é DJ. Zé explicaporque é que meter discos

de vez em quando não faz dele um DJ. A MÚSICA DO ACASO35

MAR

ÇO,

AB

RIL

2008

ZTEXTO JOÃO MESTRE I FOTOGRAFIA PEDRO LOUREIRO

Page 62: Revista T - alguns artigos

o outro lado I zé diogo quintela I

ambujeira do Mar, 2 deAgosto de 2008. No palco principaldo festival Sudoeste tmn, Manu Chao«incendiava» a plateia, 37.000 al -mas ao rubro. Entretan to, e apesarda contagiante actuação do franco--latino, começou a notar-se, aindao concerto ia a meio, alguma movi-mentação rumo ao palco secun dá -rio. O motivo: acabara de entrar emcena a dupla 2 DJs do C******.Isto é: o jornalista Nuno MiguelGuedes e o humorista Zé DiogoQuintela, que, perante uma au diên -cia convicta de que iria assistir aumas quantas tiradas espirituosasao bom estilo do Gato Fedorento,«defenderam a ideia do não DJ atéà exaustão» – citando o Diário deNotícias de dois dias depois.Questionado sobre a sua carreira de

DJ («se é uma carreira, foi um“flop”», antecipa), Zé Diogo começapor estabelecer um ponto prévio:«eu não sou DJ; sou, quando muito,um “mete discos”; não misturo, nãocrio “batidas”, ou lá o que é». Ditoisto, avança com uma explicação:«foi a maneira que encontrei paraouvir a música de que gosto à noite.Normalmente, ninguém a punha.» Eque música é essa? Talvez BeachBoys, Bee Gees, Beatles, Abba, JeffBuckley, Weezer, Rufus Wainright,Dave Matthews, alguns dos seusartistas favoritos. Este «metimento de discos» não foium exclusivo do festival alentejano:«pus música algumas vezes, massempre em discotecas de amigos».

Foram raras as vezes em que o fezque não puramente por amizade.Porquê a Zambujeira, então? «Peloirrecusável que é, por exemplo, pôros Wham!, no Sudoeste», respon de.«Irrecusável e irresponsável.»

«FORA DO GATO FEDORENTO souuma pessoa normal, faço o mesmoque toda a gente faz quando nãotrabalha». Perante o convite paraesta entrevista, ficou, ao início, depé atrás. «Não acho que mereça aatenção do público. É muitomaçador», acrescenta. A questão,porém, é que, sem fazer grandeesforço, Zé Diogo é capaz deimprovisar três ou quatro piadas desituação no curto espaço de tempoque dura esta sessão fotográfica.E a ver dade é que, até para uma

pergunta simples (ou talvez não tãosimples assim) como «quem é o ZéDiogo Quintela quando não está afazer ninguém rir?», a resposta vemtemperada com o sentido de humorque lhe conhecemos: «o Zé Diogo(eu) é a mesma pessoa quandotenta fazer alguém rir (trabalho) ouquando tenta cozinhar (não é tra ba -lho, mas também faz rir)». Cozinha,portanto, não é o seu forte. «E nin -guém gosta que eu cozinhe», adianta.Comer, no entanto, é um dos seus“hobbies”. E ler, também. PhilipRoth, Evelyn Waughn e MiguelEsteves Cardoso são os seusautores de eleição. E, de momento,vai a meio de “Calma! (Cool it)”, do«ambientalista céptico» dinamarquês

Bjorn Lomborg. No que respeita amúsica, afirma que perde «maistempo a ler fofocas sobre os músi-cos do que sobre música propria-mente dita». Outro dos seus passatemposfavoritos é ver televisão. «É issoque o ajuda a relaxar, a esquecer aspreocupações do dia-a-dia?», per-gunto. «Ajuda a descansar; nãoajuda a esquecer nada, porque euassento tudo em agendas etelemóvel». Por falar em telemóvel:usa «um Nokia qualquer», que «erao mais barato, dentro dos que ti -nham as funções de que precisava».O seu «favorito do momento», asse-gura, como quem diz que essa é amenor das suas preocupações. Viro a agulha para outro lado, inda-gando se se preocupa muito com o

vestuário do dia-a-dia e se se consi -dera uma “fashion victim”. «Achoque a moda é que é a minha vítima.»Acessório favorito, tem? «Uso algu-mas t-shirts de que gosto até rasgar». Voltando à música. Se fosse parauma ilha deserta com gira-discos eelectricidade, Zé Diogo Quintelalevaria “Pet Sounds”, dos BeachBoys, “Crash”, da Dave MatthewsBand, “Grace”, de Jeff Buckley”,um “best of” dos a-ha e «o discocom as músicas da claque doSporting». Seria, sem dúvida, umnáufrago com um grande sentidode humor, sentado na sua ilhadeserta a ouvir «só eu sei porquenão fico em casa». Entre o vinil, oCD, o mp3 ou a obsoleta cassete,

z

VINIL,CD, MP3 OU CASSETE? «TANTO FAZ.CONSIGO SEMPRE RISCAR TUDO. APOSTO QUE

TAMBÉM CONSIGO RISCAR UM MP3».

Page 63: Revista T - alguns artigos

o outro lado I zé diogo quintela I

ambujeira do Mar, 2 deAgosto de 2008. No palco principaldo festival Sudoeste tmn, Manu Chao«incendiava» a plateia, 37.000 al -mas ao rubro. Entretan to, e apesarda contagiante actuação do franco--latino, começou a notar-se, aindao concerto ia a meio, alguma movi-mentação rumo ao palco secun dá -rio. O motivo: acabara de entrar emcena a dupla 2 DJs do C******.Isto é: o jornalista Nuno MiguelGuedes e o humorista Zé DiogoQuintela, que, perante uma au diên -cia convicta de que iria assistir aumas quantas tiradas espirituosasao bom estilo do Gato Fedorento,«defenderam a ideia do não DJ atéà exaustão» – citando o Diário deNotícias de dois dias depois.Questionado sobre a sua carreira de

DJ («se é uma carreira, foi um“flop”», antecipa), Zé Diogo começapor estabelecer um ponto prévio:«eu não sou DJ; sou, quando muito,um “mete discos”; não misturo, nãocrio “batidas”, ou lá o que é». Ditoisto, avança com uma explicação:«foi a maneira que encontrei paraouvir a música de que gosto à noite.Normalmente, ninguém a punha.» Eque música é essa? Talvez BeachBoys, Bee Gees, Beatles, Abba, JeffBuckley, Weezer, Rufus Wainright,Dave Matthews, alguns dos seusartistas favoritos. Este «metimento de discos» não foium exclusivo do festival alentejano:«pus música algumas vezes, massempre em discotecas de amigos».

Foram raras as vezes em que o fezque não puramente por amizade.Porquê a Zambujeira, então? «Peloirrecusável que é, por exemplo, pôros Wham!, no Sudoeste», respon de.«Irrecusável e irresponsável.»

«FORA DO GATO FEDORENTO souuma pessoa normal, faço o mesmoque toda a gente faz quando nãotrabalha». Perante o convite paraesta entrevista, ficou, ao início, depé atrás. «Não acho que mereça aatenção do público. É muitomaçador», acrescenta. A questão,porém, é que, sem fazer grandeesforço, Zé Diogo é capaz deimprovisar três ou quatro piadas desituação no curto espaço de tempoque dura esta sessão fotográfica.E a ver dade é que, até para uma

pergunta simples (ou talvez não tãosimples assim) como «quem é o ZéDiogo Quintela quando não está afazer ninguém rir?», a resposta vemtemperada com o sentido de humorque lhe conhecemos: «o Zé Diogo(eu) é a mesma pessoa quandotenta fazer alguém rir (trabalho) ouquando tenta cozinhar (não é tra ba -lho, mas também faz rir)». Cozinha,portanto, não é o seu forte. «E nin -guém gosta que eu cozinhe», adianta.Comer, no entanto, é um dos seus“hobbies”. E ler, também. PhilipRoth, Evelyn Waughn e MiguelEsteves Cardoso são os seusautores de eleição. E, de momento,vai a meio de “Calma! (Cool it)”, do«ambientalista céptico» dinamarquês

Bjorn Lomborg. No que respeita amúsica, afirma que perde «maistempo a ler fofocas sobre os músi-cos do que sobre música propria-mente dita». Outro dos seus passatemposfavoritos é ver televisão. «É issoque o ajuda a relaxar, a esquecer aspreocupações do dia-a-dia?», per-gunto. «Ajuda a descansar; nãoajuda a esquecer nada, porque euassento tudo em agendas etelemóvel». Por falar em telemóvel:usa «um Nokia qualquer», que «erao mais barato, dentro dos que ti -nham as funções de que precisava».O seu «favorito do momento», asse-gura, como quem diz que essa é amenor das suas preocupações. Viro a agulha para outro lado, inda-gando se se preocupa muito com o

vestuário do dia-a-dia e se se consi -dera uma “fashion victim”. «Achoque a moda é que é a minha vítima.»Acessório favorito, tem? «Uso algu-mas t-shirts de que gosto até rasgar». Voltando à música. Se fosse parauma ilha deserta com gira-discos eelectricidade, Zé Diogo Quintelalevaria “Pet Sounds”, dos BeachBoys, “Crash”, da Dave MatthewsBand, “Grace”, de Jeff Buckley”,um “best of” dos a-ha e «o discocom as músicas da claque doSporting». Seria, sem dúvida, umnáufrago com um grande sentidode humor, sentado na sua ilhadeserta a ouvir «só eu sei porquenão fico em casa». Entre o vinil, oCD, o mp3 ou a obsoleta cassete,

z

VINIL,CD, MP3 OU CASSETE? «TANTO FAZ.CONSIGO SEMPRE RISCAR TUDO. APOSTO QUE

TAMBÉM CONSIGO RISCAR UM MP3».

Page 64: Revista T - alguns artigos

o outro lado I zé diogo quintela I

38

MAR

ÇO,

AB

RIL

2008

Que tal foi a experiência do Gato Fedorento ao vivo?

Boa. Mas ainda bem que terminou.Qual de vós os quatro é mais engraçado?

São os três muito engraçados, cada qual à sua maneira.Tem um “sketch” favorito?

Gosto muito do «tsunami de informáticos». E do «javardolas que fala francês».

Que frase do Gato Fedorento lhe dizem mais quando o encontram

na rua?

«Falam, falam…»Que pergunta já não suporta que lhe façam em entrevistas?

Se é angustiante tentar ter piada e não saber se se vai conseguir.Qual é a sua opinião sobre o estado do humor em Portugal?

Está bom, com muita variedade.Se não fosse humorista, o que seria?

Não faço ideia.Onde é que não se vê daqui a 20 anos?

A trabalhar.

A PROPÓSITO...

[TEATRO] Já foi ver o Ricardo

Araújo Pereira, em “Como fazer coi -

sas com as palavras”?

Sim.O que achou?

Acho que ele fica muito melhor careca.[ARTE] Tem uma corrente ou um

artista favorito?

Não tenho artista favorito. [Gosto de]qualquer corrente, desde que sejagira. Mas em princípio prefiro quadrosem que pintam dentro das linhas.

[GASTRONOMIA] Que tipo de culi -

ná ria prefere?

A farta.[AUTOMÓVEIS] Que carro usa no

seu dia-a-dia?

O meu. Mas ando pouco.[DESAFIOS] Quais os seus princi-

pais desafios para o futuro?

Ter dinheiro suficiente para não mepreocupar que a crise afecte a minhafamília.

[MODA] Considera-se uma “fashion

victim”?

Acho que a moda é que é minha vítima.

DESCONVERSASSOLTAS

tanto lhe faz: «consigo sempreriscar tudo». E afirma-o orgulhosa-mente, como se dominasse umaarte perdida: «aposto até que tam-bém consigo riscar um mp3». Quando o seu Sporting joga emAlvalade, Zé Diogo é daqueles quenão ficam em casa: «tenho lá lugarcativo». E gosta de, todas as se ma -nas, jogar a sua futebolada. Háseis meses, começou também aaprender ténis, outra das suas mo -da lidades favoritas. Até aos 23anos, foi ainda jogador federado derugby. Agora só vê.

EMBORA NÃO SEJA fã da saga StarTrek, foi no papel de tripulanteintergaláctico, ao serviço das cam-panhas do Meo, que o público por-tuguês o viu durante este Verão.Porém, longe da ribalta, preparava--se já o aguardado “Zé Carlos”, pro-grama que marca o regresso datrupe Gato Fedorento à SIC. Nestesdias que correm, os quatro hu mo -ristas continuam extremamente ocu -pados, entre reuniões e gravações.Ainda assim, apesar do ritmo detrabalho, Zé Diogo vai conseguindotirar uns dias de férias. «Bastantes,felizmente.» Não consegue, contu-do, despir por completo a pele dehumorista e lá acaba por fazer rirquem estiver consigo. «É a mesmacoisa que perguntar ao um jorna -lista se, no seu tempo livre, não fazperguntas». Mesmo no poucotempo que estivemos com ele,soltou-se a risota por diversas vezes– nossa, entenda-se; porque ZéDiogo consegue lançar a sua piadacirúrgica e manter a cara séria,como se não fosse nada com ele. Falava-se de férias. Gosta de viajar,desde que «para não muito longe oumuito incivilizado». Londres é a suacidade de eleição – e é lá que ficao seu museu preferido, a NationalGallery. Em termos de países, elegeos Estados Unidos. O essencial é

que sejam férias de «não fazernada». «Na praia», por exemplo. E ohotel pode ser um qualquer, «desdeque a cama seja grande».

«TRABALHAR COM os meus ami-gos.» É aquilo que mais lhe agradana vida de humorista. As câmarasnão o põem nervoso. O que o inco-moda mesmo são as «estreias empalco» – recordando os tempos emque o Gato Fedorento andou a fazerespectáculos ao vivo. Mas tudo temum lado positivo: «o fim dessasestreias», um alívio que apontacomo o melhor momento da suacarreira. O palco, depreendo, nãoserá o seu lugar. Até porque nem seconsidera actor. Ou melhor: vê-seantes como um argumentista queteve de se tornar actor. Os maus momentos, ultrapassa-os«esperando que acabem». E os bons,comemora-os «com um lauto jantar».Confesso que desconhecia essapalavra. Lauto. «Abundante», fiquei asaber. Está-se sempre a aprender…Aliás: «conhecimento razoável dalín gua» é, para si, uma das duascarac terísticas essenciais de umhumorista. A outra é «bom poder deobservação». Uma espreitadela,ainda que superficial, ao trabalho doGato Fedorento corrobora a fórmula.Será essa, talvez, a receita para oestrondoso sucesso dos seus“sketches” – que, logo no dia se -guinte à sua transmissão televisiva,enriquecem o léxico quotidiano demilhares (milhões, talvez) de por-tugueses com as suas frases-chave.Exemplo clássico disso é a «tran-quilidade» de Paulo Bento. Ou «ohomem a quem parece que aconteceunão sei quê», que também trouxeno vo protagonismo à palavra «incó lu -me». Lá que falam, falam…, é verdade.Mas, mais que não seja, en sinam--nos umas quantas palavras caras,enquanto vão castigando os cos -tumes e, com isso, nos fazem rir.�

éZ

Page 65: Revista T - alguns artigos

o outro lado I zé diogo quintela I

38

MAR

ÇO,

AB

RIL

2008

Que tal foi a experiência do Gato Fedorento ao vivo?

Boa. Mas ainda bem que terminou.Qual de vós os quatro é mais engraçado?

São os três muito engraçados, cada qual à sua maneira.Tem um “sketch” favorito?

Gosto muito do «tsunami de informáticos». E do «javardolas que fala francês».

Que frase do Gato Fedorento lhe dizem mais quando o encontram

na rua?

«Falam, falam…»Que pergunta já não suporta que lhe façam em entrevistas?

Se é angustiante tentar ter piada e não saber se se vai conseguir.Qual é a sua opinião sobre o estado do humor em Portugal?

Está bom, com muita variedade.Se não fosse humorista, o que seria?

Não faço ideia.Onde é que não se vê daqui a 20 anos?

A trabalhar.

A PROPÓSITO...

[TEATRO] Já foi ver o Ricardo

Araújo Pereira, em “Como fazer coi -

sas com as palavras”?

Sim.O que achou?

Acho que ele fica muito melhor careca.[ARTE] Tem uma corrente ou um

artista favorito?

Não tenho artista favorito. [Gosto de]qualquer corrente, desde que sejagira. Mas em princípio prefiro quadrosem que pintam dentro das linhas.

[GASTRONOMIA] Que tipo de culi -

ná ria prefere?

A farta.[AUTOMÓVEIS] Que carro usa no

seu dia-a-dia?

O meu. Mas ando pouco.[DESAFIOS] Quais os seus princi-

pais desafios para o futuro?

Ter dinheiro suficiente para não mepreocupar que a crise afecte a minhafamília.

[MODA] Considera-se uma “fashion

victim”?

Acho que a moda é que é minha vítima.

DESCONVERSASSOLTAS

tanto lhe faz: «consigo sempreriscar tudo». E afirma-o orgulhosa-mente, como se dominasse umaarte perdida: «aposto até que tam-bém consigo riscar um mp3». Quando o seu Sporting joga emAlvalade, Zé Diogo é daqueles quenão ficam em casa: «tenho lá lugarcativo». E gosta de, todas as se ma -nas, jogar a sua futebolada. Háseis meses, começou também aaprender ténis, outra das suas mo -da lidades favoritas. Até aos 23anos, foi ainda jogador federado derugby. Agora só vê.

EMBORA NÃO SEJA fã da saga StarTrek, foi no papel de tripulanteintergaláctico, ao serviço das cam-panhas do Meo, que o público por-tuguês o viu durante este Verão.Porém, longe da ribalta, preparava--se já o aguardado “Zé Carlos”, pro-grama que marca o regresso datrupe Gato Fedorento à SIC. Nestesdias que correm, os quatro hu mo -ristas continuam extremamente ocu -pados, entre reuniões e gravações.Ainda assim, apesar do ritmo detrabalho, Zé Diogo vai conseguindotirar uns dias de férias. «Bastantes,felizmente.» Não consegue, contu-do, despir por completo a pele dehumorista e lá acaba por fazer rirquem estiver consigo. «É a mesmacoisa que perguntar ao um jorna -lista se, no seu tempo livre, não fazperguntas». Mesmo no poucotempo que estivemos com ele,soltou-se a risota por diversas vezes– nossa, entenda-se; porque ZéDiogo consegue lançar a sua piadacirúrgica e manter a cara séria,como se não fosse nada com ele. Falava-se de férias. Gosta de viajar,desde que «para não muito longe oumuito incivilizado». Londres é a suacidade de eleição – e é lá que ficao seu museu preferido, a NationalGallery. Em termos de países, elegeos Estados Unidos. O essencial é

que sejam férias de «não fazernada». «Na praia», por exemplo. E ohotel pode ser um qualquer, «desdeque a cama seja grande».

«TRABALHAR COM os meus ami-gos.» É aquilo que mais lhe agradana vida de humorista. As câmarasnão o põem nervoso. O que o inco-moda mesmo são as «estreias empalco» – recordando os tempos emque o Gato Fedorento andou a fazerespectáculos ao vivo. Mas tudo temum lado positivo: «o fim dessasestreias», um alívio que apontacomo o melhor momento da suacarreira. O palco, depreendo, nãoserá o seu lugar. Até porque nem seconsidera actor. Ou melhor: vê-seantes como um argumentista queteve de se tornar actor. Os maus momentos, ultrapassa-os«esperando que acabem». E os bons,comemora-os «com um lauto jantar».Confesso que desconhecia essapalavra. Lauto. «Abundante», fiquei asaber. Está-se sempre a aprender…Aliás: «conhecimento razoável dalín gua» é, para si, uma das duascarac terísticas essenciais de umhumorista. A outra é «bom poder deobservação». Uma espreitadela,ainda que superficial, ao trabalho doGato Fedorento corrobora a fórmula.Será essa, talvez, a receita para oestrondoso sucesso dos seus“sketches” – que, logo no dia se -guinte à sua transmissão televisiva,enriquecem o léxico quotidiano demilhares (milhões, talvez) de por-tugueses com as suas frases-chave.Exemplo clássico disso é a «tran-quilidade» de Paulo Bento. Ou «ohomem a quem parece que aconteceunão sei quê», que também trouxeno vo protagonismo à palavra «incó lu -me». Lá que falam, falam…, é verdade.Mas, mais que não seja, en sinam--nos umas quantas palavras caras,enquanto vão castigando os cos -tumes e, com isso, nos fazem rir.�

éZ

Page 66: Revista T - alguns artigos

PORTEFÓLIOT magazine

EntrevistaArmindo AraújoReportagemFestival Sudoeste tmnPerfilKanye WestRoteiroGolegãEntrevistaAureaRoteiroAveiro Entrevista/PerfilAndré CarrilhoReportagem de viagemMéribel & CourchevelPerfil/EntrevistaZé Diogo Quintela