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EDIÇÃO 145ANO 13 - ABRIL 2010

Nova redeSistema de ensino alia

tradição e modernidade

EnemQuestões e paradigmas

do novo exame

Ensino FundamentalO cuidado com a

aprendizagem das crianças

Boas ideias para aprimorar

o ensino no BrasilPresidente do Sieeesp defende contribuição do setor privado

para o ensino brasileiro

Benjamin Ribeiro,presidente do Sieeesp

Publicação mensal dos Sinepes, Anaceu, Consed, ABMES, Abrafi, ABM, IMDC, Fundação Universa e Sieeesp

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capa

Boas ideias para aprimorar o ensino no Brasil

Presidente do Sieeesp defende contribuição do setor privado para o ensino brasileiro e revela sua trajetória nas áreas educacional, social e, agora, política

“Se os governos federal, estaduais e munici-pais resolvessem prescindir dos estabele-

cimentos particulares de ensino, teriam que de-sembolsar mais de 25 bilhões de reais por ano”, defende o professor Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), segundo dados da Fundação Getulio Vargas. Acumulando experiência de mais de 30 anos na área educa-cional, o professor liderou, junto à Fenep, a ela-boração de um documento com propostas para a Conferência Nacional de Educação, realizada pelo Ministério da Educação (MEC).

Benjamin, que também é empresário e tem forte atuação na área social, como gestor da Socieda-de Beneficente Equilíbrio de Interlagos (Sobei), em São Paulo, agora também está entrando para a atividade política. Acompanhe entrevista con-cedida à Revista Linha Direta.

À frente da presidência do Sieeesp, como o se-nhor busca contribuir para a melhoria da qua-lidade do ensino?

Todos os anos promovemos viagens interna-cionais – já estamos na 12ª edição –, levando centenas de mantenedores de instituições de ensino para visitar, estudar e fazer intercâmbio com escolas de países do primeiro mundo. É a forma que encontramos de “importar” novas tecnologias e ideias para melhorar a qualida-de do ensino. Outra iniciativa é a realização do Congresso e Feira de Educação Saber, que, este

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Benjamin Ribeiro,presidente do Sieeesp

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ano, vai acontecer em setembro, com centenas de atividades e pa-lestrantes do Brasil e do exterior. Através dele, consigo prover as escolas de informações atuali-zadas sobre o setor educacional. Passam pelo evento cerca de 14 mil educadores, entre os mais de 30 mil visitantes. Além disso, o Sieeesp, entidade que represen-ta as escolas particulares pau-listas, adota algumas iniciativas que merecem ser destacadas, como os projetos PróBásico e o Escola Legal.

Em que consistem estes projetos?

Hoje, temos mais de 37 mil esco-las com cerca de 11 milhões de alunos matriculados. Se os gover-nos federal, estaduais e munici-pais resolvessem prescindir dos estabelecimentos particulares de ensino, teriam que desembolsar mais de 25 bilhões de reais por ano, sem contar os impostos pa-gos, beirando a casa dos 46%. Os números não são nossos, são da Fundação Getulio Vargas.

Em recente audiência com o mi-nistro da Educação, Fernando Haddad, tivemos a oportunidade de reivindicar, mais uma vez, a instituição do programa de bolsas de estudo, para alunos de baixa renda terem a oportunidade de cursar o ensino básico (da Edu-cação Infantil ao Ensino Médio) em instituições privadas. Trata-se do PróBásico. As instituições po-deriam aderir ao programa me-diante assinatura de um termo de compromisso. Em contraparti-da, os estabelecimentos ficariam isentos de impostos, contribui-ções e outras taxas, proporcio-nalmente às bolsas concedidas. Esse projeto, destinado ao ensino básico, tem o mesmo significado

do ProUni para o Ensino Superior, que é um sucesso e tem um forte apelo social.

Sensibilizados com o projeto de-fendido há mais de 15 anos pelo Sieeesp, senadores e deputados apresentaram projetos de lei que estão sendo estudados pelas diver-sas comissões para a instituição do PróBásico. A ideia surgiu há quase duas décadas e já foi apoiada por inúmeras prefeituras paulistas, que mantêm o projeto de isenção de impostos até hoje. Trata-se de uma permuta na qual as escolas particulares oferecem bolsas de estudo a alunos de baixa renda ou da rede pública em troca de tribu-tos municipais, tais como IPTU (Im-posto Predial e Territorial Urbano) e ISS (Imposto Sobre Serviços), no valor correspondente à anuidade escolar. O projeto se justifica, pois cobriria a falta de vagas existentes no ensino público, principalmente de creches; permitiria o acesso de alunos na rede particular sem one-rar os cofres públicos com gastos, como infraestrutura, manutenção de pessoal e equipamentos, entre outras despesas.

Já a campanha Escola Legal tem o objetivo de orientar os pais de alunos quanto à necessidade de escolher uma escola legalizada, que esteja devidamente registra-da junto aos órgãos competentes. Para isso, o Sieeesp certifica as es-colas com o selo Escola Legal.

Como a escola adquire o selo?

Ela deve ser associada ao Sieeesp para poder se inscrever e passar pelo processo de certificação. Aquela instituição que ainda não é registrada poderá ser orientada, em relação aos trâmites legais, pelo Departamento Técnico-Peda-

gógico do Sindicato. A iniciativa é um sonho antigo nosso, pois repre-senta a valorização da escola parti-cular, e é um serviço gratuito.

Se o Sieeesp, como represen-tante de instituições de ensino, pudesse sugerir reformas para a educação no Brasil, qual seria a principal sugestão?

No intuito de contribuir para a construção do Plano Nacional de Educação, as escolas particulares, por meio da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), e o Sieeesp elaboraram um docu-mento com suas proposições. Este foi enviado aos municípios paulis-tas como sugestão para a Confe-rência Nacional de Educação, rea-lizada pelo MEC.

O documento está esquematizado em seis eixos básicos. O primeiro deles trata do papel do Estado na garantia do direito à educa-ção de qualidade: organização e regulação da educação nacional. Propõe a construção e a implan-tação efetiva do Sistema Nacional de Educação e a articulação entre os sistemas estaduais, municipais e federal de ensino; leis comple-mentares que regulamentem a cooperação entre União, estados e municípios, como prevê a Consti-tuição de 1988; o aprimoramento dos processos de gestão; o enten-dimento mais amplo da função so-cial da educação; a criação e con-solidação de conselhos estaduais e municipais; priorização da edu-cação básica com a construção de uma política afirmativa de finan-ciamento; aproximação dos seto-res educativo e produtivo; criação do Fórum Nacional de Educação; fortalecimento do Conselho Nacio-nal de Educação; e redefinição do papel e das funções do MEC.

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Outro eixo fala de qualidade da educação, gestão democráti-ca e avaliação. Mais adiante, cita a democratização do acesso, per-manência e sucesso escolar. Novo item propõe a formação e valoriza-ção dos profissionais da educação. Um capítulo especial é dedicado ao financiamento da educação e con-trole social. O sexto eixo fala em justiça social, educação e trabalho: inclusão, diversidade e igualdade. O documento destaca que, embora reconhecida a especificidade dos conceitos envolvidos nesse eixo, na prática social, todas essas dimen-sões se realizam no contexto das relações de poder, das redefinições do capitalismo e das lutas sociais. O cunho político, prático e peda-gógico das políticas educacionais deve estar presente em todas as

instituições educativas, em todos os níveis e modalidades de ensino. A posição da escola particular no documento está muito bem fun-damentada e é reflexo de muitos anos de prática educacional de um grupo de profissionais. O intuito é colaborar para o aprimoramento do ensino no país.

Quando o senhor começou a se dedicar à educação e à área social?

Minha atividade profissional come-çou muito cedo, ainda na pequena Centenário do Sul, cidade parana-ense onde nasci. Aos 12 anos, mu-dei com minha família para a ci-

dade paulista de Rancharia. Como diretor social do Rancharia Clube, dei os primeiros passos na área da benemerência, promovendo ações sociais para aquela comunidade. Aos 22 anos, mudei-me para São Paulo e, desde então, persigo um grande objetivo, o de dar oportu-nidade de ensino a todos, e um en-sino de qualidade.

Também sou delegado da Fenep, entidade que congrega sindicatos de estabelecimentos de ensino do país, e membro do Conselho da Confederacion Mundial de Ense-nanza Privada (Comep), com sede na Argentina. Mas meu interesse pela educação começou ainda em 1976, na Faculdade e Colégio Albert Einstein, estabelecimento de que sou diretor-presidente,

desde aquela época até os dias de hoje. Além disso, também sou di-retor-presidente da Faculdade e Colégio Morumbi Sul, desde 1989.

E como é a atuação do senhor na área social?

Entendo que o problema educa-cional brasileiro não está na desti-nação de recursos, mas sim na ges-tão, pois deparamos com prédios mal conservados, falta de profes-sores, poucos recursos didáticos e violência dentro das escolas. Como resultado, temos baixo rendimen-to dos alunos e um grande prejuí-zo para as gerações futuras. Mas, não podemos imaginar que essas

dificuldades serão vencidas ape-nas pelos governos. A sociedade é parte integrante desse contexto e deve dar a sua contribuição. Foi pensando nisso que, em 1984, um grupo de maçons idealizou uma entidade que pudesse amenizar essas carências da vida brasileira. Daí surgiu a Sociedade Beneficen-te Equilíbrio de Interlagos (Sobei), uma organização sem fins lucrati-vos que trabalha em prol do bem social. A entidade emprega 500 pessoas, atende 4.500 crianças, 2.000 idosos, 380 adolescentes e quase 600 mulheres.

As crianças são atendidas em oito creches e recebem formação in-tegral. Os idosos são atendidos principalmente nas áreas de lazer e esporte. A entidade foi ganhan-do notoriedade com seu trabalho e recebendo muitas doações atra-vés de convênios com várias em-presas. São tantas doações que instituímos um trabalho de redis-tribuição de alimentos para mais de 26 entidades. Para nós, é uma satisfação muito grande.

Quais são seus planos para 2010?

Acredito que este ano será bastan-te difícil para mim, já que vou lan-çar minha candidatura a deputado federal, um projeto já de alguns anos. Difícil porque sou presiden-te do Sieeesp, sou empresário e cuido da gestão da Sobei. Quando me perguntam se eu terei tempo para a política, eu digo não, mas vou encontrar, até porque sempre fui muito crítico a tudo que está acontecendo e tenho que fazer a minha parte. É um desafio. Na mi-nha primeira candidatura à Câmara Federal, consegui o respaldo e a confiança de mais de 81 mil paulis-tas da capital e do interior. ¢

...o problema educacional brasileiro não está na destinação de recursos,

mas sim na gestão...

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Cynthia Zaniratti,diretora da Rede Zatti

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contexto

Unindo o tradicional ao moderno

Rede Zatti chega ao mercado, propondo ações inovadoras para os setores administrativo, pedagógico e financeiro das escolas

É unindo o tradicional ao moderno que a Rede Zatti se apresenta ao mercado educacional. Com material di-

dático da educação infantil ao pré-vestibular, o sistema de ensino foi criado para atender as instituições particu-lares de ensino com produtos e serviços diferenciados e inovadores. Entre os destaques, estão a assessoria peda-gógica, em gestão e em marketing.

“Temos como objetivo atender às expectativas das escolas particulares da educação básica e surpreendê-las, através de soluções que proporcionem melhoria no desempenho educacional e também nos setores administrativo, peda-gógico e financeiro”, destaca a diretora da Rede Zatti, Cynthia Zaniratti. Em entrevista à Revista Linha Direta, ela revela as propostas do grupo e explica como a Rede pretende contribuir para a melhoria da qualidade do en-sino no Brasil.

A Linha Direta alegra-se em testemunhar o lançamen-to da Rede Zatti. O que propõe esse novo sistema de ensino?

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A Rede Zatti foi criada para ofe-recer às escolas particulares uma solução diferenciada, com ma-teriais didáticos e serviços edu-cacionais sistematizados e cus-tomizados. E já começamos com uma grande novidade: seremos a primeira rede de ensino a lançar o livro didático digital no Brasil.

Temos como objetivo atender às expectativas das escolas particu-lares da educação básica e surpre-endê-las, através de soluções que proporcionem melhoria no desem-penho educacional e também nos setores administrativo, pedagógi-co e financeiro. Buscamos propos-tas para o desenvolvimento com-pleto dos alunos, integradas a sua realidade e códigos de linguagem.

Com o desafio da utilização das novas tecnologias e a sua cons-tante evolução, precisamos ino-var com consistência pedagógica, integrando as novas mídias e as novas tecnologias aos processos educacionais, com muita respon-sabilidade e profissionalismo, e unindo o tradicional ao moderno. Apresentamos, também, uma so-lução única por meio de consulto-res educacionais, proporcionando um suporte de excelência na ges-tão das instituições de ensino.

Como nasceu a Rede Zatti?

Aliamos a experiência do nosso grupo empresarial a profissionais do segmento e, após uma análi-se detalhada das oportunidades mercadológicas, decidimos pela criação da Rede.

A partir de uma extensa pesqui-sa desenvolvida em escolas com educadores, gestores e especia-listas do segmento educacional e da experiência de profissionais

de diversas áreas, desenvolvemos uma proposta inovadora, com es-tratégias e ações pedagógicas, administrativas e de marketing, para atender às necessidades dos novos desafios propostos às insti-tuições educacionais. Aliamos a essas estratégias a participação de empresas do segmento tec-nológico e editorial com foco no setor educacional.

O que a Rede tem a oferecer às escolas? Quais são seus di-ferenciais?

Entendemos que precisamos atender as escolas com pro-dutos e serviços adequados a sua realidade regional e, mais do que isso, ser parceiros para o desenvolvimento de estratégias vencedoras, criando diferenciais

competitivos que possibilitem o atendimento das comunidades em que estão inseridas.

A grande maioria das escolas par-ticulares passa por momentos de indefinição e crise, transição em-presarial, além das dificuldades de definição estratégica de mo-delos de público e mercado a se-rem atendidos. Será oferecido um plano de atendimento que pro-picie às escolas, além de ganho institucional, o ganho financeiro, oferecendo materiais didáticos a preços muito especiais.

E para professores, alunos e fa-mílias, qual é a proposta?

Os professores terão acesso a um grande projeto de qualificação profissional, presencial e a dis-tância, além de suporte a todas as ferramentas que serão ofereci-das. Eles serão tratados como os atores principais da multiplicação e, portanto, teremos uma aten-ção especial com eles, buscando sempre valorizá-los com premia-ções por destaque e dedicação.

O nosso objetivo final é atender os alunos e, consequentemente, a família como um todo. Temos que recuperar o tempo perdido entre o discurso e a prática na educa-ção. Precisamos nos comunicar melhor e utilizar as ferramentas existentes para integrarmos as ações das escolas com as famílias. Queremos melhorar a relação dos alunos entre eles e deles com os

educadores e, para isso, lança-remos vários projetos especiais, que estão sendo desenvolvidos com muito critério.

Como a Rede Zatti espera con-tribuir para a melhoria da quali-dade do ensino no Brasil?

Não queremos ser mais um sis-tema de ensino, vamos fazer di-ferente, propondo sempre ações desafiadoras. Estamos qualifican-do a nossa equipe e contratando profissionais de notório saber. Va-mos buscar sempre as melhores práticas do ensino mundial para adequar ao nosso modelo e à rea-lidade brasileira. ¢

...seremos a primeira rede de ensino a lançar o livro didático digital no Brasil.

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O novo Enem: questões e paradigmas

Os processos seletivos para os cursos superiores no Brasil

sempre foram uma catástrofe. Com critérios estabelecidos por uma elite docente conservadora, quanto mais difíceis, acreditava-se que mais qualidade tinham. Ledo engano e triste manifestação. Os antigos concursos vestibulares sempre selecionaram aqueles que sabiam mais, por questões, em sua maioria, discursivas, de difícil ava-liação impessoal. Quanto menos os candidatos não sabiam, melhor classificados eram. Nunca se pro-curou conhecer, de fato, o quanto e o que era necessário saber como pré-requisito ao curso superior. Cada instituição sempre fez seus próprios processos seletivos, po-rém todas, sem exceção, busca-vam selecionar, e não classificar, os que mais sabiam os diversos con-teúdos. Nunca houve preocupação

com as competências mínimas (sa-ber fazer, saber aplicar) necessá-rias ao desenvolvimento daquele curso superior almejado. Difíceis e excludentes, separavam, mesmo, aqueles que mais sabiam daqueles outros que sabiam menos. Tudo sempre foi uma questão de saber, mais ou menos. Pouco se pensava em inclusão social pela educação superior.

No ano passado, o atual ministro da Educação propôs à comunida-de universitária brasileira o uso do Exame Nacional do Ensino Mé-dio (Enem), num novo formato, como instrumento de certificação de conhecimento e competências mínimas para a habilitação para os cursos superiores. Uma nota obtida por uma prova bem elaborada por docentes experientes (que, espe-ro, sejam sempre do Ensino Médio, conhecedores da sua realidade),

cujos conteúdos serão aqueles mi-nistrados nas escolas de Ensino Mé-dio do país. Eu disse ministrados, e não apenas programados.

Não será fácil alcançar uma mé-dia nacional do que foi ensinado, tenha sido programado ou não. O que não poderá ser feito é buscar aquele conteúdo dado nas melho-res escolas do país, com os melho-res professores – o que só manterá o status quo. A ideia do novo ENEM não é essa, e sim possibilitar que mais alunos, de qualquer parte do país, possam ter condições de con-correr com os privilegiados.

É admirável a coragem do atual ministro de enfrentar antigos dog-mas educacionais. Os processos seletivos não são para buscar estu-dantes de melhor qualidade, mas sim para classificar alguns para as vagas existentes nos cursos supe-

Antonio Carbonari*

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riores. É isso mesmo, a lei é clara: o vestibular classifica, não selecio-na. E mais, os que têm mais defici-ências deveriam ir para as escolas de ponta para que fossem, diga-mos assim, lapidados pelos mais experientes e competentes pro-fessores, e não o contrário, como a elite docente pensa.

Em se tratando de classificar alu-nos para um determinado número de vagas, é de se esperar que os melhores também tenham uma boa chance, mas não excluindo os que não são. É a possibilidade de se fazer inclusão social. Todos esta-mos cansados de saber que o atual sistema privilegia majoritariamen-te os que estudaram nos melhores colégios e cursinhos preparatórios, os que têm maiores recursos, etc. Quando haverá de ser rompido esse sistema? Só com a coragem que nosso ministro está demons-trando, mesmo com os percalços naturais das ações corajosas.

Com o novo Enem, de qualquer lugar do país poderá vir um can-didato com boas notas para uma grande universidade, uma ótima faculdade ou qualquer outra insti-tuição de Ensino Superior de qua-lidade. A classificação se dará pela sua nota, em nível nacional, e não pelas suas condições sociais, de filiação ou posses. É realmente o rompimento de alguns paradigmas da velha educação conservadora. A aristocracia docente detesta fa-lar em mudanças.

O ministro Fernando Haddad é, de fato, muito corajoso e com-petente. Rompeu com as velhas tradições de só prestigiar alunos abastados com a criação do ProUni – aquele programa de bolsas do go-verno federal que troca vagas por

impostos (que são muito, mas mui-to mais baratos que custear vagas públicas e suas infraestruturas). Teve a coragem de trazer à baila assuntos de inclusão social, diver-sidade, cotas raciais e sociais, re-serva de vagas para minorias, etc. Isso sem falar que vem diminuindo os privilégios das castas docentes universitárias, com avaliação de desempenho, exigências de mais qualidade para todos os cursos superiores do país, inclusive para as instituições estatais (até então intocáveis).

Enfatizou, ainda, oportunidades de propiciar uma grande discussão na-cional sobre a importância do En-sino Superior no desenvolvimento sustentável do Brasil, um país que quer e merece estar na liderança do futuro do mundo. Como se não bas-tasse, foi também aprovado como lei o novo FIES, que, com certeza,

propiciará milhares e milhares de novos financiamentos estudantis, pela sua real aplicabilidade.

Faltou evidentemente um esforço adicional para o aumento substan-cial do número de vagas dos cursos superiores de necessidade nacio-nal, que está muito aquém daque-les dos outros países da América Latina, para não comparar com os demais países bem desenvolvidos que conhecemos sobejamente.

E aqui a culpa não é só do minis-tro, mas majoritariamente das

mais fortes entidades de classes e seus órgãos corporativos, que só pensam no atual mercado das pro-fissões e empregos, defendendo suas corporações, esquecendo-se da preparação dos jovens profis-sionais do futuro, das próximas gerações, em quantidades bem maiores que as atuais.

Todas essas corporações também pensam naquele vestibular seleti-vo, querendo só os melhores, mais bem preparados, das melhores es-colas médias, esquecendo-se da-quela grande parcela da população de jovens que precisam entrar no mercado de trabalho, adentrando primeiramente os cursos superio-res a que conseguem ter acesso.

O novo Enem poderá ser uma re-denção para esses jovens. Venham de qualquer parte do país, de quais escolas puderam cursar, dos mais

distantes municípios e regiões, de quaisquer condições sociais. Com uma boa nota, conseguirão entrar na instituição que desejam – se as castas não inventarem 2ª etapa, 3ª etapa, provas adicionais, para, de novo, sofisticar o processo de fa-cilitação aos abastados. Realmen-te esse ministro é corajoso, bem intencionado e merece respaldo e apoio em sua iniciativa. ¢

*Diretor-presidente da Anhangue-ra Educacional

www.anhanguera.edu.br

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Os processos seletivos não são para buscar estudantes de melhor qualidade, mas sim para

classificar alguns para as vagas existentes...

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“SER” criança no Ensino Fundamental

A nova organização do Ensino Fundamental, com duração

de nove anos, absorveu as crian-ças com seis anos de idade, as quais estavam, até o momento, na Educação Infantil, com suas orientações pedagógicas específi-cas. Já que o ingresso desses alu-nos se deu de forma generalizada e obrigatória no país, precisa ser problematizado, considerando o ambiente, a estimulação, as características singulares deste público. Segundo Zenker (2008), um novo sujeito – criança – nasce. Se nas-ce um novo sujeito, nasce uma nova escola. Um novo educador. Um novo proje-to educacional. O Ensino Fundamental deve priorizar essa ideia, trazendo para o debate muito mais do que somente preocupações com atividades ou conteúdos.

Trabalhar com alunos de seis anos dentro de um programa de conteú dos e objeti-vos não é nada fácil, é complexo, desafiador e exige do professor um olhar diferenciado. Demanda esforço da escola para dimensio-nar seu trabalho, descartando a visão da criança como um adulto em miniatura. Tamanho desafio requer um educador preocupado com a formação social do aluno, que, através da sua afetividade e identidade, está construindo es-paços de autonomia, mas ainda

precisa do apoio do adulto. Pre-cisa sentir-se livre para construir ideias e conhecimentos, mas an-corado num olhar de orientação que não o deixe sentir-se insegu-ro, incapaz.

A proposta não é a de uma edu-cação voltada para a tutoria, mas sim de acompanhamento individu-al à criança que, nesta faixa etá-ria, está descobrindo suas possibi-lidades cognitivas e psicomotoras

autônomas. E trabalhar nessa perspectiva é desafio constante e diário. Será um tempo de tran-sição ou de novas construções e desconstruções de velhos paradig-mas que assolam o Ensino Funda-mental? Considerar a estruturação da rotina diária escolar é impor-tante para que a criança entenda que regras são formas de organi-zação da sociedade. E, ao mesmo tempo, possa liberar-se delas, re-tomando suas construções ainda

infantis e, a partir daí, abrir espa-ço para outras elaborações.

Chamo atenção para o “ser” criança nas suas dimensões cor-poral, mental e social, que de-manda um cuidado especial da escola para que não se perca ou se fragmente ao elaborar conhe-cimentos mais específicos. Se seu corpo precisa de movimento, sen-sações e abstrações, por que não utilizar essas necessidades para

ensinar a criança a apren-der? O ambiente escolar precisa superar sua forma tradicional de organizar o tempo, o espaço, a didá-tica. É importante propor aos alunos um espaço de aprendizagem significativa, onde haja possibilidades de expor emoções e sensações e trabalhar o lúdico.

É nessa relação de conhe-cimento e prazer que a criança se desenvolve. E

não há como negá-los, uma vez que acreditamos no potencial in-fantil como forma de acomoda-ção de conhecimentos que resul-tará na condição de sujeito ativo no exercício da cidadania. ¢

*Pedagoga, especialista em Su-pervisão Escolar e Sistema de Gestão e consultora em Gestão Educacional

www.projecta.edu.br

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Cibele Dias*