Richard MORSE: as Cidades Periféricas Como Arenas Culturais

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/ AS CIDADES "PERIFERICAS" COMO NAS CULTURAIS: / Rússia, Austria, érica Latina ti a pof s, fatos C, la le qᵫ a i a פ O ea e a ó m f ed es . .. G. " Tr s tes s m lo. N , e a e o um : O e lo. e , Tlosy d stas reflões sobre "as cidades como aren as culturais" seguem u linha d que interpre mo dinh de mun na e a Tav, umar a - f comumente dad como Richard M Morse font ou fors mOlrúes de mudan, não i à lta no nebuloso dominio de Iw Mumford, O "cultu cades". Tampou recoi a u siol que aa com lr a e- di, média e popular nos meios uos, ou nstirei imagens vida u a a p vjantes, ciss ou me- mo. O que mos bundo é o ambite uano, não mo derito e an o, mo rimenL�do e . cidad tomam-se e no fo t, atos. úlmos não repórteres ou pecisL1S em dióscos, participantes enOlvi- dos, que nçam sobre as fonl ou rs telec tuais e psíquicos de que dpm para interprer, não a con- dio uana, a condio humana. No d (mas m nunca perder Londres de vista); São - teruo e Vna na pefer medi ata; o de]aneiro e Buenos s na perifer Na· e lalO foi publdo Dojo Urn Hl, 10. nO $, ?0 19T. A du é : Fno evedo, rta por a c Gilno Velho. Ht, dJancito. l. 8 . nO 16. 1c5. p. 205-225.

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artigo traduzido para p português na revista estudos históricos

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    AS CIDADES "PERIFERICAS" COMO NAS CULTURAIS:

    /

    Rssia, Austria, rica Latina

    Estivemos algum tempo falando de cidades, wn dos temas favoritos de Cid,

    rom aquela idia dele de que a cidade no foi atada pelo bomem, mas lodo O

    cvlllrr/o, cvmwllcando essa espcie de nostalgia arqueolgica cvm que fala dos edtjictos cvmo se fossem seres bwnanos ...

    G. (;abre"" Infante:, Tres tristes tigres

    Norsos cidades n20 tm estilo. No obstallle, estamos agora COIlStatando que elas lb7J o que poderfamos chamar de um terccjro c;5:Iilo: O eslUo dar colsasque no

    tbn esli/o. Alejo Carpentier, Tlenlos y diferrmclas

    stas reflexes sobre "as cidades como arenas culturais" seguem

    uma linha de estudos que interpreta as cidades como cadinhos de mudana na era moderna. Todavia, ao iluminar a nf.se comumente cbda s cidades como

    Richard M Morse

    fontes ou foras mOlr.es de mudana, no vagarei solta no nebuloso dominio de I.ewis Mumford, O da "cultura das cidades". Tampouco recorrerei a uma sociologia que trabalha com cultura erudita, mdia e popular nos meios urbanos, ou reconstruirei imagens da vida urbana a partir de viajantes, romancistas ou memori.1istas. O que estamos buscando o ambiente urnano, no como descrito e analisado, mas como cxperimenLdo e expresso. As cidades tomam-se teatrOS e nossos infoffilantcs, atores. Estes ltimos no so reprteres ou especialisL1.S em diagnsticos, mas participantes en\'Olvidos, que se lanam sobre todas as fonleS ou recursos intelectuais e psquicos de que dispem para interpretar, no a condio urnana, mas a condio humana.

    NoSSls cicbdes so P-.uis (mas sem nunca perder Londres de vista); So Petersburgo e Viena na periferia mediata; Riode]aneiro e Buenos Aires na periferia

    Nala. Esre lalO foi public2do Dojollrna/ oj Urban HJslory, vol. 10. nO 04, 310 1984. A Indujo de:: Fn.ncisco de Castro Azevedo, revista por Dora Rocha c Gilbc.no Velho.

    l1stu"or Histricos, Rio dc:Jancito. vol. 8. nO 16. 1995. p. 205-225.

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    mais arnsrada. Os economistas tal.,cz rei. vindiquem terem divulgado esse modelo de ooncerllricidade. Em todo caso, nossa inves!igao no herda desse modelo nenhuma imputao necessria de dominao do centro ou de resposta mimtica da periferia. Estamos espreita de oon-

    traOOilCOtes e mensagens Vd.l'13Jltes.

    A primeira parIC deste artigo expe uma viso das cidades ociden!ai' do r0-mantismo ao modernismo, dando destaque u conrcibuies modemisras de So PelClsb"rgo e V"1Cf\a. F.sses casos suge,em as precondiiies para o modernismo na Amrica tina e tambm as resislncjas que podem desviar, acender ou me tamorfosear a inspirao modernista. AD Dostoievskl de So Pelersburgo e ao grupo de Viena oon!Capomos o Machado de Assis do Rio de Janeiro que, por ser confusamente ctico em mao modernidade, s agora pode ser apreciado como um ps-modernista. Seu quadro dantesco servir para dar ma inr preciso verso de Jos Luis Romero da evoluo latino-americana das cidades patrcias (1830-1880) para as hurguesas (1880-1930), uma aw1iao que ampliamos lembrando o surto modemistada dGid. de 1920. Uma sinopse final lenta definir o signifocado hislrico das cidades latinoamericanas como areoas culturais e !Caa resumidamente um quadro contemporneo que convida imerprelao.

    To .. " as para o modornlsmDI Paris, So Polorsbur.o, Vlona

    AD recuperar a imagem da cidade na literatura europia e americana do sculo XVIII ao incio do xx, BurlOo Pike organiza seu rndocniocm tomo de duas lendncias I A primeira a mudana da esrase para o fluxo, da yjs.10 dos monumentos fisicos ou das classes sociais em n:Iaes 6"". para uma montagem de justaposies fluidas. A ou!Ca a viso da

    comunidade urbana como um todo padronizado que sucumbe ela cei1!Cada no individuo isolado dentro desse padro. O obsernulor toma-se uma lente particular apontada para a sociedade urbana, isolado como um personagem excntrco de Dickens ou o poetaneurotico de Baudelaire. O obsetv.rdor alienado de uma comunidade que se rcansfonnou em uma multidio ou eu. uma anticomunidade dotada de poder mas sem discernimento. Os arqutipos d

  • locar a cicL1de fuica sob um rontrole central, defend-Ia rontra insurreies, homogeneizar OS quat1le/S e garantir o distanciamento dos parisienses de seu hbital

    No tratarnen to evolucionrio de Benjamin, cada poca sonha rom a prxima na medida em que Paris caminha in rave1mente rumo ao seu momento de despenar em meio s convulses da ec0-nomia de consumo. Reconhecem-se "os monumentos da burguesia como ruinas antes mesmo de eles terem rudo". Podese naturaJmen te questionar se Paris foi a "capital do sculo XIX" ou to-somente a capital de um consumismo conspcuo, pois, pelos padres de comparaio do industrialismo capitalista, a Manchester de Tocqueville, Engels e Dickens seguramente superou Paris. Nenhuma cidade poderia ser a sede de todos os ingredientes que forjaram a lmpera moderna. Mais ainda, o modernismo nas artes e nas letcas - parcialmente definvel romo um assalto cognitivo s contcadies da modernidade - lIolcsceu sobre ananonismos que se mantiveram no-reconhecidos na consumista Paris, onde o passado era visto como cumulativo e at certo ponto era reverenciado, e tudo que era. novo era !ta ltima palavran Os moder nistas parisienses pouco se preocupavam com a questo da "identidade nacional" francesa.

    As lintaes de Bal:mc e BaudeJaire como profetas do esprito moderno se tomam aparerotes quando eles so colocados ao lado de DoslOievski, cuja So Petersburgo, peJa distncia mesma em que se encontrava do eixo Patis-Londres, estava em posiio de contriluir com mensagens de rara penetraio. Em seu esrudo sobre O "realismo rom.lnticott , Fanger trata Dostoievski como o herdeiro imediato de Bal:mc, de Dickens e de seu compatriota GogoL 4 Os trs, afirma ele, foram os primeiros a C'l'lorar a promessa da metrpole como tema de Ilc-

    C1I.TUWI 207

    io, e Dostolevski assoprou suas pelaI>" es ar a incandescncia. O talento des te ltimo para vislumbrar as ronseqncias funtlsticas e irracionais a que o pensamento e o esforo racionais podiam levar derivava em parte da vantagem arbitrria da origem em So PetersbUrgO, que fora erguida por ordem imperial em um pnlano finlands e modelada "romo uma janela para o Ocidente de urna cultura atrasada e profundamente no-europia, capital instllltnea de um vasto imprio ".) O narrador de Memrim de um subterrrflneo (1864) chamavaa de "a mais abstrata e in tencional cirJade de todo o mundo" I uma cidade cujo car:iter ilusionista a escurido e nvoa faziam ressa'tar, dando-lhe uma vida "at mosfrica". O capimlismo chegara atrasado e de forma abrupta, capturando e ... sua rede mundos sociais autnomos que no Ocidente estavam desmoronando. Comunidade e alienao, fenmeno e abstrao, senso romum e espiriwalidade colidiam violentamente. Difelentemente de Balzac e DickMlS, DostoJevskl no condescendia com a nos1algia e a eslr.lnbeza do perodo. Em sua ascenso para um rcalismo mais elevado, "o lastro cmiro foi deixado de lado, ... e o grotesco e o absurdo - rontra o pano de fundo da funtstica So Petersburgo - asrumiram uma rigidez existencial, urna belfla sombria e uma tragdia nova e inquestionvel".6 Embora os seus dramas tenham transrorrido em meio sordidez e alienao mais profundas, DostoJevskl no era um escritor naturalista, porque, ao eliminar o dtacbemenl do leilOr das sin1aes aberrantes, conquistou o reconhecimento do grotesco como um caminho para a belet;!, do sofrimento para a felicidade e da humilhao para a liberdade. Sua fuanha de ter tomado o absurdo ao mesmo tempo rotidiano e potico transformou-se na marca de autenticidade do modernismo ociden tal e, como se ver, em uma reveJaio para Robeno

  • 208 muool Hll1ijlOl - 1995/11

    Arll, dcadas depois, na diswuc periferia de Buenos Aires.

    As iOerses de sensibilidade de Dos-1Oie>ski advenem-oos de que o conslrUlO "ceolrO-periferia" craioeiro para a hislria cultural. Enquan 10 olhamos para Creo Ie para o modernismo, culminao de um sculo de cricicas alusiv.lS, e muitlS w ICS panicularizadas, da cullura capil.lista, DoslOievski nos prepara para ver i'".uis como uma arena primordial, e no como o bero d. exploso modem isca. No somenle O bappenfng de Paris [cauta profelas itinerancesda Emopa ceolta!e oriencaJ, da Espanha, da Irlanda e at " .... rno das Amricas, corno OS ingrediences para a prlse de conscmce h muilO vinham fcnnentando ao longo de um eixo escandinavo-germ.'inico, que se cscendia de Oslo e Copenhagen em dircio ao sul at Berlim,Zurique e Viena, confonnc proclamou O escrilOr din:unarques Gcorg Brandes em Mim oflhe modem breaklhrough (1883)

    7 Consideraiemos aqui o caso de

    V"lCIla porque foi bem estudado e porque serve nossa inveso Iatino-americana. Ao deixumos a So Pelersburgo de OoslOievski, partimos de um local de oonfrontaCS espirituais definitivas para ouICO que pe em oonfronlO idias filosficas e sociolgicas.8

    wgo de incio, Jani!< e Toulmin lembram-nos de Kakania, o apelido que no. beCl MusiJ deu sociedade vienense, cunhado ostensivamente com as iniciais im periais e reais K. K. (KafsX!rllch e KDnfgllch), 01.15 que Lmbm encerra a conoL,O excremcnLlI da linguagem infantil. (Os Lotino-americanos lcmbrar-se-o da "VL,gem cidade escura de Cacodlf)a", o equivalcnle infemal de Buenos Aires, que aparece no romance Adn Buenosayres de J..copoldo Marechal, de 1948.) A preocupao dos esludos sobre Viena que esta capiLlI de um imprio art:lico pareci., incapaz de engaL1C-se na locomotiva do progresso, de atingir o elhos burgu, da modernidade e da ulOpia Iecno-

    lgica, e de prod'lZir. ponanlO, uma psi-cologia de classe mMi_ Os lemas ooroJrios desle so OS efeilOS da represso social sobre a poltica, a educao, a economia, os papis das mulheres e os h:bilOS sexuais. A pompa e deg.'incia da vida pblica e da classe superior expressavam uma "forntalidade pelriDcada" revestindo um caos culrural, um "esplendor nervoso" na fdiz expresso de MOClOn.9 Examinadas de perco, as glrias supedlciais uansformam-se em seu OpoSIO. Scborske afirma que os lileralOS vienenses careciam do esprito antiburgues de seus equivalences franceses ou do meliorisrno otimisla dos ingleses. Nem dgags nem engags, des olhavam para o imperador como um p:u-procelOr distanle; fultandolhes independncia, buscavam proleo na arisux:racia. Da, a preeminncia do anti-semitismo, da opereta, da psicanlise, que manifeslam, lOdos os crs, uma fuga da fruscrao burguesa para um passado mgico e reveladoro Da, ca.mbm, o sentido da valsa vienense - no, como pode parecer na verso exponada, uma cerimnia complacen Ie e arislOCrtica, mas uma dana demonaca de exorcismo, que abandona os compassos racionais da quadrilha para expressar ondas de desespero interior eill rodopios vertiginosos. Viena era, apropri.1d.,mente, a cidade de Alfred Adler, que props o "complexo de inferioridade".

    O coLopso inevitvel da poltica liberal em um meio oomo este Jeve dois resultados. Primeiro, fuvoreoeu o esceticisrno, a saber, a cransfonmio da cultura de uma fonle de valor em uma expresso de valor, isco , em uma cultura de hedonismo nervoso ou de extrema ansiedade. A psicologia subSluiu assw a poltica oomo foco de inleresse. IsIO produziu a segunda conseqncia: movimenlOS de massa cujo ardo polco residia no sioo.isrno, no an ti-

    serrususmo, no pan-germarusmo ou no soc:illsmo crisr;jo, cada um deles, sua rn.'UlciLa, uma revolta mntra a razo.

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    15 ODADES l'ERIftilClS rolO IlEIIAI UlTUWI 209

    Esses dois desafios convidav.un aromodaoe aocontr:ldesafo. Uma impor tante acomodao foi a crj;Jo da "Viena do Ringsuasse", que se comou, como sugere Schorske, um epteto to significativo como a "Londres vitorhna" ou a "Paris do Segundo Imprio". O plano do Ringstr:lsse oa um banoco s avessas,

    . .. . que usava as massas arqunetonu'3s nao para dominar o espao mas para mago.;. ftcl-lo. O espao era olJooi7:!do sem destinaes visveis. O bulevar em crculo ampulava a cidade de seus subrbios e suprimia as grandes perspectivas em be nefcio do Duxo circular. Os novos edifcios pblicos, baseados em modelos histricos considerados apropriados para cada caso, no se orientavam uns para os QUUOS estilstica e espacialmente. Os urbanislaS traduziram em termos fsicos as diretrizes polticas implcilaS de tempo e lugar: monumencalidade sem coordenao cen trai, mobilidade espacial sem integrao social.

    O contradesa60 veio de artlslaS e intelectuais que achavam a sociedade vienense patolgica por ter erguido barreiras monstruosas conlCa qualquer discusso profcua sobre a opresso em suas inmems formas. Eles se julgavam sem as ferramen IaS ou o idioma de diagnstico em um mundo em que cxplcx1iam sintomas: an ti-sentilismo, elevada taxa de suidios, rgidas coo.,.cnes sexuais, sentimen Ll1idwe nas artes, ambigidade p0-ltica, nadonallimos divisores. Tomada em seu conjunto, essa sintomatologia denunciava o dhrcio entre as realidades sociais e os pressupostos consensuais da arislOCr:Jcia dos Habsburgo. A situao exigia no persuas50 ou ideologia, ou mesmo anlise, e sim, de maneira mais fundamental, uma ou vrias linguagens que pudessem reSlabelecer o intercmbio entre as circunstncias e as tdes reues. O arquiteto Adolf Loos despojouse da omamenlao para deixar a funo transparente no projelO; Schoenberg ex-

    plodiu sistematicamente os cnones aceitos da composio musical; e Freud ekl'lirou impledosarnenteos sonbose os lapsos lingsticos da vida cotidiana. Mais significativo que todos foi Wittgenstein, cujo Tractatus Janik e Touimin proclamam como uma critica abrangente da prpria IinguageilL

    Transiso para o Novo Mundo

    A Siio Petersburgo de Dostoievsk.i e a Viena de WlIlgensaein moslCam que uma sociedade lubana recalcilCaOte pode inspirar . - de vanguarda. A periferia pasw assim a ser ceflUO. O que dizer ento das cidades latino-ameriemas em uma periferia mais distante, colonial' Sel que elas no ofereciam solos ainda mais frteis para mensagens profticas? Como sugerirei posteriormente, essas mensagens existiram, mas expressas em um idioma to "caseiro" que s agora sua fora se tomou aparente. At mesmo quando surgiu um mestre como o brasileiro Machado de Assis, s"as par:Ibolas brilha0 tes - tivCSSCi elas enroo trado p boco alm-mar - teriam parecido esquisitas ou obscuras s sensibilidades mesmetindas (para "53r um neologismo da poca) pela Europa capitalista.

    Em vez de uma digresso pela histria

    comparativa, apresentarei, ao acaso, duas chaves que podero ajudar a explicar a periferia mais distante. Primeiro, se Pedro, O Grande, criou o que para Dostoievski era lia mais abSlJ'ata e intencional cidade" do mundo, os espanhis do sculo XVI espalharam centenas de centros urbanos geomtricos atravs de um vasto continente e meio. tO Mas, dos pontos de vista poltico, socia1, econntico e eclesistico, esSls ddades e misses, se bem que plenamente intencionais, estav.un longe de ser abstraIaS. Seu signifICado logo se tomou transparen te para a populao nativa amerindia, e assim penn;me-

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  • dor ubquo, que ohOlle

    de

    'Ui

    - t l ' lt l

    pela violncia fia; a e moral. Os ajrjcam P'vado poiljLle, apcsudo nl\gue

    oonGa'l9l de tudo que t moliv.lo h ...

    mmo a em que j ou

    p:lI2 o pi6piio

    minaodocp..eumsi Ifil*! de ... iugana . . . I mqihK ..... a Nc:sIc: \IORUSO, a nova burguesia que

    cha""! a a'eno de Macbac10 nijo lQlIC'-b burguesia aGilu;a.iv.a de ftpfz.tc, Dic ..

    Bano

    Sua asc( nOO derone no da orpoizao intenciooal da pusona1jcbde,llt;tSda vi

    :ncaac:aaa por um golpe 0010 ou Ucjto da fortuna 5''35 regns rompona

    de

    um pro&e&oroupad,bWo, e o SI IrgillW:n. 10 de um plano de vida auloomo. inde-1< ndc:nse de infiuoebc rio'f1' pode proYOCat tas!

    A sociedode Wb102 de Moch.do p:uece f sa:$'jc:I e ele a aborda OOUM) um ;;103 ' lista, nunca oomo um terapeutil. Son

    2lI

    na for ... , sjenh61ja da iumina

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    romantismo ("a grande musa moribunda que gerou a nova gerno,,17), ele lambm no queria convelSa com o naturnIismo e o positivismo.18 Na verrlade, Ma-

    . chado tinha em parte .. mio ao afirmar que nada eslava "acontecendo". Hoje em dia, ainda chamamos o Brasil de econoaUClmenle dependente; o pas ainda tenta incorporar inovaes leQlolgicas; o republicanismo ainda problemtico; e, quando pensamos nas masS::Js, a escra vido ainda no foi abolida. Tudo isto ajuda a explicar por que Machado, com sua imaginao questionadorn, sua viso helerodoxa e sua fortaleza inlelectu:tl, tomou-se um pilar do eslabl/sbment como funcionrio minislerial e fundador de uma academia de letras franc6fi1a. 19

    O essenci:tl no se Machado foi um conserv.tdor, ou um jornalista ntinucioSO, ou um espectador irnico, mas que ele leve sua prpria viso cocrenle do espetculo. No dispondo de elementos para uma inlerprelao dialtica do processo soci..ll, ele via as estruturas sociais como con troladas por sentimen tos e paixes de indivduos. Da, seu L1Snio pelas Ir:ljelrias individuas - suas motivaes psquicas e os mecanismos ocultos da :tIma.

    A vida nessa sociedade faz com que as pessoas percam o controle de seu desti- . no, adotem mscaras e deformem os impulsos mais nobres. Nos romances da maturidade de Machado, os problemas sociais cedem di:U\1e da lUla "no inlerior do corno humano, onde reside sua causa ltima - o dio, a crueldade, a cobi! e a indiferena do amor pro. prio".20 Esle reino no oferece nicho para o homem do subterrneo de Dostoievski, porque nem apresenta a intromisso do cientismo e do utililarismo como implacvel nem comporta insinuaes de redeno apoc:tlptica. O que permanece uma moralidade (no sentido telr:tl) vasla e cheia de compartimentos que evoca, como que por meio de um

    espelho distorcido, a D/vlna comdia. Compreende-se esse mundo no por seus antecedentes, elementos e for-as, mas pelos principios mor:lS que discriminam o bem e o m:tI em toda a sua graduao. A verso de Dante uma sucesso montona e repetitiva de parbolas que exemplifiCam o desgniO de Deus, um p6s-vida em que as :tImas perdem toda iniciativa. Aquelas que cheg;tm ao inferno, cuja nica bagagem o cumprimento absoluto da paixo, voam ansiosamente rumo sua punio.21

    O Inferno deixou uma impresso durndourn em Machado. Ele cita IJ.Ulte 24 vezes, sem contar as referncias diretas ou indirelaS.22 So 19 as cilaes do Inferno (ele chegou mesmo a Ir:lduzir o Can to XXV) , e o leitor sen te-se tcn lado a especubr se, ao seu toque, o Rio de Janeiro no se Ir:lnsformaem um Inferno completo. No entanto, com apenas um inferno a divina comdia desaparece. A religio seadariza-se; a linha entre o mundo e o ps-vida se dissolve; o arrependimento cristo toma-se mero remorso; e o demnio, exorc.iz;J.do pela cincia, reaparece na pseudocincia, no espiritismo e nas curas mil1grosas.

    Os palamares em cireuJo do inferno pareceil remodelados por Dali na pis.1. gem urbana SUH' ,dt

  • AS aOAll[S "PEIIFtWS COlO AlDIAS UlTUIS 213

    Amrlc. Latin., 18301930. d dd.d .. patrcia. s cld.d .. burguesas

    da moda fr.mcesa e classes populares destinadas, ou condenadas, ao uso de roupas, comidas e anefuos locais. O medlo pelo, colhido no meio das duas, elll uma fuso infeliz. Ainda assim, a diviso

    As mensagens cifradas de Machado de elll compUcada A atrao da classe supeAssis, vagamente sugestiY.lS para os blll- rior pelo estilo e o disrurso europeus elll sileiros contemporneos, levaram dca- temperada pelo OIgulho da linhagem, das para atrair uma ooterle internacional por uma ordem herdada de deferncia, Foi necessrio que a roda da mudana do e pelo apego sentimental s origens remundo girasse em sua direo. Nesse gionais. Por outro lado, lo crio/lo no elll meio tempo, dispomos de proY.lS menos um etbos inteiramente nativo, pois os enigmticas dos atrilOS da modemizlo nicos nativos do Novo Mundo eram OS nas sociedades umanas Iatino-america- amerindios, que no tinham deixado nas. Jos Luis Romero fornece uma rica ma".,.s em HaY.llla, no Rio de Janeiro ou amostcagem desSlS provas em seu livro em Buenos Aires. Alm disso, "nativo" sobre "cidades e idias" btino-america- implica "aul.eIlticidade", como no na,... nas, que abrange cinco sculos e j con- rodn/cbestvo russo; e autenticidade im-quislOu seu lugar ao lado dos estudos pUca uma base para a aUlO-eXpresso e europeus ciT3dos acima.24 Sode interes- reconstruo. Todavia, mesmo na Guate-se aqui os captulos sobre as "cidades mal. e no Equador a cultura amerin(lia patricias" (1830-1880) e as "cidades bur- no poderia, para alm de vagas simpaguesas" (1880-1930). tias, ser IOmada seriamente como plata-

    . forma para a reabilitao social. Do pon 10 As cidades patricias do periodo p6s-in-de vista cosmopoUT3no, a cultura amerin

    dependncia cresceram menos rapida- dia no era mais nativa do que as culturas mente do que seus blnterlonds em uma

    de origem africaoa ou ibrica. E para poca em que as populaes nacionais complicar ainda 1T1ais, os imigrantes 1a-eram consideravelmente "ruralizldas". I i.oos ou srios podiam temperar O criol-Depois das rupturas provocadas pela Itsmo das classes populares. O que sigoi-guerra e do desmanTelamenlO das buco-

    fica d7er que uma fuso plebia de ele-crncias coloniais, o poder foi reconstru-

    menlOS ex6genos talvez Casse mais au-do sobre bases preferencialmente des-

    lntica do que a cultura senhorial das centraJiz:Jdas e rurais. Este foi o apogeu

    eUtes tradicionais. lgico, ainda que aparentemente anr-quico, dos caudilhos regionais. Sem ex- O caso latino-americano no era igual ponaes lucrativas e a necessidade con- ao da Europa ocidental, na qual as cultu-comiLnte de empresariado e finanas ras nacionais podiam ser tranqilamente modernas, as cidades maiores assumi- assumidas. Nem elll o mesmo da Rssia, ram o papel "de parasiw" que Miguel onde eslavllios travavam baTalha com Samper atribuiu a Bogot em 1867.25 ocidentalizldores para afirmar uma cuI-Nesse ambiente de passividade, em uma tura indgena mais aulnlica e mais ver-poca em que as cid .. des ocidcolais, da dadeiramente crist do que a cultulll Europa e da Amrica do Norte, oesciam usurpadora. Tampouco tinha a ver com rapidamente com a onda da industriali- o dos japoneses, que criaram um Instituzao e do comrcio, OS viajantes ficavam 10 para O Estudo dos Uvros B:\maros (o inlrigados com a coexislnciagenernlizl- germe da Universidode de Tquio), com da de traos crioulos e estrangeiros, que o objetim de albiuar o que era minimapareciam anunciar uma eUte enamorada mente requerido do extico Ocidente

  • -

    paI2 aulOp . da sociOOade l0-cal. NaAUL'Wa I;uaoa O IObr-, baro oo

    uma volta do para-

    oos oam brsUeJJ n"io

  • gado; quando a gente tem muitas cabe-

    Em BueoosAires, cidade maior e mais ooslUopoli13, o dualismo da Caracas de Daniel Mendoza e,'ilh.ou-sc; embora sem enconlraCum desfixi", nos paradigmaslucion:rios dapoca.SuvcrfrilJ.. d __ "te, o poema gacho Fausto, de Esta.. nidao dei Campo (1834-1880), oom o sublrulo de "Impa .ses do gacho Anastasio d Pol1o sobre a aprf eotaio de o'a pe1'a", pode paico'v um f vrcio na linha oostumbrlsta de Mendoz;. 30 Trata-se, poli tu. de um eocootro 1U3is denso e compL ':0 entre /o cr:J1Jo e uma importao culrural erudila O poe m. inspirou--se 02 estria em Buenos Aires, em 24 de agosto de 1866, do FtnlSto de Gounod, encenadoem Paris pela primeira 'o elD 1859. Fala de um C1ipira que assslU pera e alguns dias mais aarde a ruuT3 para um amigo da melhor 1ll3Deira que pde CDlend-la.

    Quando rdlclimos sobre .... e oontraponto eolre o ingnuo e o cosmopolitano, surgem oomplicaes. Primeiro, apesar de usar o idioma ooloquial, dei Campo tia um intdecUI31 udxlOo-com simparias populares, claro - inspirado em um' lradio ladina da Iiterarura gacha. Segundo, desde a inaugurao do TealrO Colll em 1857 oom lA travtaJa, dei Campo vinha alimenmndo a idia de oonlr3smr o histriniro do paloo oom os sentimentos da plalia. Terceiro, a InIeIIfgmtsia argentina oonhecja r.l7D3>e1-mente Ix 111 oFausto de Goethe (Eslcoon Echevena, inldeC1loal da ''Gerao de 1837", j: se apropriara de seus lemas) e eSlava bastante pleparada para avaliar a verso de Gounod. QuarIo, o prOlagnnisla analfubelo de deI C'mpo fuz um reblO da pera que exigiria oom

    21S

    o line.o jraJiaoQ ou com a traduo paoholapublbd!aotesdaapu seotao no jomalEJ NaclcP!al. Fmal 11M' "te, o prprio (umpalsano, no um

    aultlliro), chamado de ARam sia eI PoIIo (Frango), aa uma 1

  • 216 ESTUDOS HlST(OS -Im/li

    uma narrativa, um jogo dentro de um jogo, uma relJexijQ sobre o drama-pera de Goelhe-Counod, conforme fora represen lado na feon teita longnqua da cidade modema que era Buenos Aires. Anderson Imbert o chama de galeria de espelhosdislOlccdores, com "transmutaes e duplicacs, simetrias e contrastes, cruzamentos e paralelas" .32 E ns somos levados a perguntar: se um poeta argentino pode satiriZlr deIkada mente o m,'U goslO da pera francesa, o que acontece com a construo cenlrO-periferia? Ser que os argentinos so paroquiais por consuntircm Goelhe e Gounod ou ser que os parisienses so paroquiais por no consumirem Estanislao deI Campo? Como um proft:ta, dei Campo mostrou ter m,lis agilid1de e vis.'io mltipla do que a capacidade de seu contemporneoJos Hemndez, autor do pico MarIfn FIeIlV, para tratar e dar forma a um conjunlO de questes. Nesse sentido, ele foi o precursor de Jorge Luis Borges e Julio Con:lzlf mais que de IUcardo Geiraldes e Eduardo Mallea.

    Se detectamos um lampejo modernista no olhar de deI Campo, que ele sincopa as categorias de Jos Luis Romeco, esticando um fio conector do alto do periodo "patricio" concluso modernista dos anos "burgueses". 1510 no implica ingratido para com a robusta andaimaria de Romeco, uma vez que a sincopao exige uma estrutura de sustentao. Aceitase fucilmen te a caracterizao de Romeco da era burguesa como o perodo de haussm.1nniz:,'".lO da gran aldea, como o auge doei senor presidente ou do caudilho da belle poque. Qualquer amostragem de suas pinceladas produz um quadro convincente. Ele escreve sobre as sociedades urbanas que tinham comeado a se distinguir das cidades patriarcais do interior, controLdas ainda por aristocracjas vigorosas e bom" gneas, uma "democracia de fidllgos". Sociologicamente, porm, as estruturas

    de clien tel ismo familiar em grande parte se mantiveram, contra as instituics racionalizadas, que visavam objetivos especificas. Ao mesmo tempo, as elites urbanas comeuam a absorver grupos da c1as'i(! mdia e de imigrantes e a partilhar do elbos febril da especulao e do autoengrandecimento. Isso significou um afroux:unenw dos Iaos fumilia,es e das antigas associaes, exemplificado na substituio dos eventos religiosos por teatros, clubes e esportes.

    Os romances naturnlistas forneceram uma pawlogia (lessa sociedade quaseburguesa com relalOS de chicana financeira, de arrivismo e ostcn tao social, de suicdio, de prostituio, e os poetas e ensastas parnasianos - quaisquer que tenham sido as apreenses quanlO ao materialismo e opres.so social que possam ter exprimido - serviram ao gosw refinado dos poderosos contra a vulgaridade e o arcaismo das m"ssas. Para compensar o afro"'mmenlO dos laos f:un.il1res, as novas oligarquias juraram recuperar o carter patricio e excluir, reprimir ou pacificar os deserdados. Politicamente, a era do popu1ismo, ou a sua forma manipulada de "CPS1rismo democrti-co", estava mo. Aos grupos situados alm dos limites do mundo evolucionrio e europei:z:Jdo - como os indios dos pampas argen tinos. os campon escs de Sonora e Yucatn ou os chamados funticos do interior brasileiro - s restava a eliminao. Os intelectuais urbanos ratifica ram essa s campanhas assegurando seus leiwres do carter inalO ou ambientalmente adquirido das deficincias dos povos no-europeus.

    Certas caractersticas da pawlogio burguesa de Romero aplicam-se s cidades da Europa ocident.lI do perodo. No obsCUlte: como aprendemos com So

  • AS 00.(1)[\ "PERtRlC4l' mIO .\lUAS cu.TUiAJ\ 217

    Petersburgo e Viena, e como \'isvel no Rio de janeiro de Machado de Assis, no se pode dizer que a periferia reOita o centro. Uma imagem espelhada no telll raJmale autnoma alm da reverso gratuita de direita e esquerda. A cidade perifrica no mirntica, mas responde a uma lgica interna. Paris podia inspirar parcialmente, mas no podia in'icntar a biperconscincia do bomem do subterrneo de Oostoievski, ou a ps.icm:ll ise de freud, ou as paclbolas dantescas de Machado de Assis. Se os latino-americanos do f1n-de-sikle se preocuparam com o arcasmo e a entropia, isto se deveu, podelitOS supor, ao fuo de eles no enxergarem promessas redentoras de origeul popu1are nativa nem poderem antecipar com cerre711 como suas sociedades urbanas modernas reproduziriam uma dinmica da mudana.

    Aps a virada do sculo e dUra0 te as d

  • paulo .industrial A Il ... "'JS da dt''''da de 1920, h

    IOOU ta010 na culn Ira de ca'nrf do ta0go oa ruJtwa

    10&. Mais que outras cidades 'adoo-a ....... ficaoa', &IC!I

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    au'"'' ,tiro NjooI." I (1825-185S).

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    Janeiro de Nrlxlo de Assh, Ihais permksho ai". Na R/ccu, a modc ... khde bi ioau-

  • 220 ESIUOO1 HISTijeOl - 199snl

    ses sociais, para a liberao espontnea das foras sociais e psquicas reprimidas. Foi l que o homem do suhterrneo de Dostoie .. ki parou de se insinuar como uma enguia entre os pedesues e levantou-se para bater em cheio contra o oficia1 aristoccltico.

    A pactir da perspectiva Nevsk.i e dos buJevares de HaUSSOl.'UlR, Bennan mos-. lri seu contraste entre o modernismo do subdesenvolvimento e o modernismo das ruas parisienses. Por maior que fosse seu desprew pelo "progresso", Baudelaire sentia-se parte de urna turba que poderia se mobili",r para afirmar seus direilDS: "Ele pode sentir-se como um estranho no universo, mas est em asa como homem e como cidado nas ruas de Paris." Em So Petersburgo, nem as foras de produo ainda tinham sido implan tadas nem os oprimidos partilhavam de urna tradio defratemil. Da, o significado da manifestao de rua individual e a necessidade de invenrarurna cultura poltica subterr.inea ex n/h/lo. Este solo extico instilou no modernismo "urna incandescnci. .. desesperada que o modernismo ociden tal, lo mais vontade em seu mundo, raramente p0-der esperar alcanar". DostoievslU ensinava que, quando os homens do subtercineo afirmassem suas prprias abstraes e intenes, a espiritual iluminao de rua de So Petersburgo ganharia um novo brilho. Isto na verdade comeou a acontecer em 1905.

    Berman sugere que a Amrica tina, na expresso de Octavio Paz, tambm esl "condenada modcrnid .. de" e agora abriga as conCronL"es que ele explora em So Petersburgo. Natur.wnente, a Amricatina urna hmlia de pases de difeieote5 Tr.ljelrias, e nela no se pode identificar com certem uma nica So Petersburgo. Por certo aceitamos implicitamente que aprise de conscience russa da dcada de 1860 repercutiu aqui na dcada de 1920, quando Maritcgui, em

    Lima, traou um diagnstico domstico revolucionrio comparvel ao de Tchernishevski, ou quando Roberto Artt descobriu o homem do subterrneo em Buenos Aires. Mas isto no quer di7er que os pa= em desenvolvimento repetem os estgios uns dos outros: eles no o fuzem, assim como no imitam os dos pases desenvolvidos. Afinal de contas, os sbios mexicanos estavam projetando Galileu e Gotssendi em sua capital ortOgonal an tes mesmo de So Petersburgo ser apenas um lampejo no olhar de seu fundador. A resposta latino-americana modernizao foi ao mesmo tempo mais dcil e mais recalcitrante do que a da Rssia, como inferimos de Machado de Assis.

    A est a questo. Se a perspectiva NevslU precedeu os bulevaces de Paris de urna gerao e a haussmanni",o do Rio de Janeiro se fez urna gerao depois deles, esta ltima parece urna nota de rodap, um reJJexo. A "perspectiva NevslU" de Machado de Assis no foi a avenida Central, que s foi na cidade nos anos fin:s de sua vida, mas a rua do Ouvidor, uma rua de dez quadras, estreita e tradicional, que se tomou a vitrine dos aaavios europeus e o ponto de encontro das elites. Aqui o escravo bbado ocasional ou a mulaaa insinuante eram intrusos, prias. Era rn."lis um ambiente que confirmava o status quo do que, como a perspectiva Ncvsk.i, o suspendia. O professor primrio da cidade do interior de Machado de Assis guardou da rua do Ouvidor a lembrana duradoura de ter visto um negro sendo levado para a forca.40 Mactinez Estrada traou concluso semelhante para a CalIe Florida, a grande rua comercial de Buenos Aires. Como a do Ouvidor, era uma rua antiga, sendo em 1823 a nica da cidade com pavimentao de pedra. A Calle Florida no urna insero confronaacional de modernidade. Suas vitrines expem mercadorias "acima de nossos meios e fora de nosso destino"; dentro de sua grande

  • AS OOAD[S "P[iIFt[A\- COIlO AROOI CUlTURAIS 221

    fico, "todos se enganam a si mesmos sem objetivo"; a Calle Florida cria iluses e no agenda. 41

    '

    Muitos hislDriadores, talvez dese.perados diante da multiplicidade da Amrica lna e impacien tes com sua resistncia seletiva aos axiomas da modernizao, acatam uma interpretao que fiz da regio o rabo do cachorro do capitalismo internacional. O envolvimento econmico com O exterior period.i7;J. seu tratamento e, para onde quer que olhem, do sculo XVI ao xx. detcct:lm a comercializao inexorvel dos laos humanos e a transformao de castas em classes. Nossas testemunhas internas, porm, sugerem que o mbo do cachono abanou com firmeza Os estopins urnanos de mudanas foram menos identificveis, ou menos porten IDSOS, do que em Sio Petersburgo ou Viena, e a Amrica lna de oOlem nio prodllziu nenhum Dostoievski ou Freud para virar o espelho na direo da modernidwe ocidenL-.I. Mas os artisL-.s modernisL-.s da dcada de 1920 e os romancisL-.s a partir da dcada de 1950 criam novas vises e levantam questes atuais. Ees desafClm a eficci3 do tempo evolucionrio. Questionam se os traumas e o molde formador do passado so cancelveis. Os romancistas exortam de milhares de maneiras a Amrica lna a esL-.belecer fronteiras racionalizao e ao desencanto. O modernismo , de muitts maneiras, coerente com o seu "realismo fantstico", e Gera via Paz afumou que, sem as energias criticas modemisL-.s, a Amrica L1tina ctiria no cesarismo frentico ou na fora opressom da burocracia. Mas, medida que o "jogo final" ps-modernista de Samuel Beckett avulta no horizonte, os caminhos cultul".lis passam a divergir ma is acen tuadamen te. O malicioso p..iImarote, O astuto Anastasio eI Pollo e o irnico homem do establ/sbment que foi Machado de Assis acabam revelando-se, nio esquisilDS, mas profticos. O resto

    do Ocidente dever finalmente dar ateno a eles e a seus sucessores.

    Os "redistas fmtstiros" no so ne cessariamente atrados, como Baudel.ite, Dostoievski e Freud, para temas da vida urbana, porque es'o annados com a recalcitrincia da mesma forma que com a ruptura. Ainda assim, a metrpole inevi

    _Lavelmente incendeia a imaginao,

    nao menos que a aldeia onrica, o rido in teriar brasileiro ou a fron teira am:\Znica. A tenl:ulva de identificar espaos urbanos emblemiticos na Amrica tina contemporlnea ab'y;tr1a o escopo deste artigo. Mas pode-se supor que eles no so os equivalentes dos bulevares parisienses ou da perspectiva Nevski, e que suas ambigidades so mais antigas do que as do RingSlr.Js.se de Viena. Mais que arenas de conllilD e lr.Jnscendncia, eles seriam arenas de acomodao e resistncia sob a sombm da autoridade onipresente mas nio onipotente. Revelari.m uma combinao inconsLwte de perspectivas, com o mais moderno e ocidental por Vl"7eS aparecendo gaslD pelo manuseio e com o mais venervel, e at mesmo o mais extico, freqentemente evidenciando a "razo vital" de Ortega. O mal mais ameaador aqui poderiam ser os p:Jdos mortais danteseos do Rio de Janeiro de Machado de Assis, e no neces.ariamente a desumanizao da "semiperiferia" de K:ka, embora a esperana de salvao talvez brilhe mais na religiosidade dos grupos ou nos vesgios da histria sempre presente do que na retrica populisla e na prosa da sociologia

    , . emptnca.

    Cada pas, cada regiio da Amrica tina certamente possui ",cnas desse tipo. Se IOssemos procurar as mais amplamente expres.ivas, poderiamos esperar encontr-Ias na Afro.Amrica, o cintucio carnavalesco que se estende das Antilhas ao Brasil, onde as sociedades e as culturas sio menos segmentadas do que na IndoAmrica e menos bloquead-.s do que nas

  • m -

    =nca. Basta jX!lInr no T.opican". f ih Havana, de Cabiela Inbn "o calxart MAIS &bllloso do l\fUNOO", ou 00 prodigiosn

    batida e da guoracha de Macho CallucbO: NA YWh unra rois:a fenomenal; para fialle ou u:1s, remo quer que wx baboo:. Os dois C'SCI1Ofes enudazm um "()dcL ,." de IltJU gostO, roc.irtil2do, pl1!1C1l5ioso, e

    - -", cuI Iriden . . I' unta bJra es te, seOUCOIiK U Q ... ?;Ida, maliciosa, de origcos afn>.iI",

  • . ual " de gqpnresca 20 par.il OS nhl31$ I; eni_ . . - ' 1 :-' ui ' , . OSDIO,' '1"3aoesup m ta-sc .. 'nos e dissolulO.lS de dasses, de que p:utidp>m milhes de pcS'OOs 112 noite do

    & .. ense bemoporquis/umbrnfDOS fronlcir:ls n Y.IS, ou rec:Jn.icnovadas, da nosSl hisl{).. rb comum.

    N .....

    L Bwmn Pike, 1be 1ILIlfI' 01 lhe cIIy In modem IlJeraJure (Prina:ton. 1981).

    2. Walter lIenj:unin, Rejkctlons, Ir.1duzido para o ingls poc Edmuod JcphroIt (Nc. YorIc, 1979), p. 146-162. A lr.Iduio bmilcira .. 12 em Walter Benjamin: sociologia, oog:mizoW e lr.Id .. io de F12>io KoIbe (S10 p,uIo, 1985).

    3. ""On SOlDe motils in Baudehirc:", au J(ejlecllons, p. 15So200 (lr.Id,'O br:05ilc:ira "Sobte alguns temas < III &udebirc". em W ter Bcnj:lmin ct aL, re./OS eSDJIbldos (O. pensadores), SOo p,."o, 1975), bIa da r.oiv.a impotcnlC do pocca vis-Q.vis as cm5S3S metr"f> poIit:m:lS :unortos. Ver tamblu, de Ilenj:uniu, o.arres 8audelalre: a l)ric poel In lhe era of blgb capllaltsm, lr.Id"zido para o ingls poc HanyZobn (Iondn:s, 1973) ou Cbarles Boi" deloh e: um lrico no '"i,W do C"AplllIl/.sJno, tc:Idl[ziclo patil o portugus (XX" Jcy CarIo5 Martins B,s c H.rnerson Alycs Baptisa (5;0 P,ulo 1989).

    4. Don:lId F:u11lO',DosIoevskyand /'IlmQ7IIIc realtsm (Cbicogo, 1967).

    5. Bwmn Plk.c, op. aL, p. 89. 6. Don:lId FanIlO', op. cit., p. U6.

    223

    7. MlroIm 1lradbury e)amcs M. _ nc (orgo.), ModemIsm (Iiarm 1976). cap 3.

    a O aYau e !li ADanJ;;lOik c Sct:pN li Tou'mio. VlIJIiJInuuln', \''''1110 (NcA' YodOi. n. p. 253-95. Enudanto. o avnpcAI ,ImmCO afetho foi um antdOUl sanptt pi(:5cru:e par, O fcw

  • 224 ESTIIXlS HISTRJ(OS - Im/ll

    malismo e pomposidade brasileir:ls, Quando o telefone chegou Viena., "as cham3das limitavam-se a 10 minutos. dos quais pelo menos seis eram t.ornados poc deliasos arabescos proux:obrcs" (Monon, op, cil, p, 38), dificiJ im'giJUr que isso pudesse .contecel' no Rio deJaneiro, onde blagucs e congr:>amm.tQ5 suavizaram o advento da mexia ILdade, rejuvenescendo, dessa forma., as bicr.lCquias locais,

    17, "A nova gemo" (1879), em Machado de Assi Obra rompkla, op, cil" mI, lII, p, 810,

    18. Oickens, Thadcc' ay, B:dnc e Flaubc:t l est:lv.un nas CSt:lntes de Machado de Assis, mas Zola no, O que ele tinha de D:uwin e Spencer forneceu-lhe m:ueriaJ p3I'3 a "HlUl\.r niw", Clooda sobre o positivismo an Memrias pdslumas de Brs Cubas (1881) e Qufn.. ros Borba (1891), Jean Michel Massa, "LI bibliothl:que de Machado de Assis", Jlevtsla do Livro, vol, 6 (1961), 19S-238

    19, R MaesJnior, Machado de AssIs pblico (2' ed" Rio de Janeiro,

    1970),

    20, Helen Cald-u. Machado de Assis, lhe Braz/llan masler mui bis noveis (1lerkeley, 1970), p, 67,

    21, George Sanlay:m:l. "Dante", em 1bree pbllosopblcal poets (Cambridge, 1945), p, 73-135; Mark Van Oocen, "The Divine Comedy" , a.. 1be nobel volce (New Yori

  • AS OOADB f[ilftmus mIO AiEIIAS CllTUiAII 225

    38. M:lr.iball Berman, Tudo que slido desmancha no ar: a aventura da modelnldade, Op. ciL

    39. Ver tunbm Eugcne Lunn, Mar.x1sm& ,noderntsm (Berkeley, 1982).

    40. Jdfrey D. Necde1l, "1be origins ollhe Carioca BcUe Epoque" (dissertao pua Ph.D, Stanfoed Univasity, 1982), p. 381-6; Micio Tti, "Ouvidoc, a sedutota", an O mundo de Machado de Assis (Rio deJanciro, 1961), p. lIH4; Macb:ulo de Assis, QlIlncas Borba, C1p. 47, em Obras completas, op. ciL, vol l.

    41. Ezequiel Martinez futr.lda, )(.ray of the Pampa, uaduzido para o ingls por A1ain S"kllicki (AUSlin, 1971), p. 248-53 (primeira publiClo em 1933).

    42. G. C,b,= Infante, Tbree trapped 11 gers, tr.Jduzido para o ingls por Oonald Goro. ncr e Suz:mne Jill l.evene (New Yorl