Rio Cooperativo n°13
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Rio Cooperativo é uma publicação da Montenegro Grupo de ComunicaçãoContatos e Publicidade: (21) 2215-9463 - 2533-6009E-mail: [email protected]: www.montenegrocc.com.brSiga-nos: www.twitter.com/MontenegroGC
Editor executivo: Cláudio Montenegro(MTb 19.027 - [email protected])Redator-chefe: Leonardo Poyart(MTb 24.393 - [email protected])
Programação visual: Fernanda Seródio ([email protected])Gerência comercial: Paulo Oliveira (gerente) e Felipe NunesSecretaria administrativa: Marcia Fraga e Débora AraújoColaboraram nesta edição: Abdul Nasser, Guto Rolim, José Maria Gasalla eRonaldo GaudioPublicidade: Paulo Oliveira ([email protected])Fotos: Leo Poyart, Fábio Rego Barros, Arquivos Cecremef, Coopertur, OCB/RJ e SXC.
Distribuição: Lideranças cooperativistas, dirigentes, gerentes, cooperados e funcionários de cooperativas de todos os segmentos (agropecuário, consumo, crédito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo), empresários, administradores e gestores, assessores jurídicos, auditores, contadores, profissionais de recursos humanos, associações, sindicatos, federações e entidades de classe de forma geral, orgãos e instituições governamentais, universidades, clínicas e hospitais, fornecedores de produtos e serviços para cooperativas e demais formadores de opinião.
Artigos: os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores, não correspondendo necessariamente à opinião dos editores.
Envio de releases: [email protected] (cada release é avaliado pe-los editores, que, no entanto, não se comprometem com a obrigatoriedade de publicação dos mesmos).
Capa desta edição: SXCEdição nº 13 - Março de 2011
Sumário
TurismoConheça a Coopertur,
a mais novacooperativa de turismo
do Rio de Janeiro
Seções
Editorial
Circulando
Causa & Efeito
Opinião
Jogo Rápido
EntrevistaChristino Áureo, secretárioestadual de Agricultura ePesca do Rio de Janeiro
CapaA força da cooperação natragédia das chuvas na regiãoSerrana do Rio de Janeiro
DivulgaçãoOCB/RJ lança campanha Cooperativismo é Coisa Séria
Jubileu de OuroCecremef completa 50 anosrealizando sonhos
RequinteO diferencial dos serviços da Táxi Grafite, cooperativa de táxi especial
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Editorial
Cláudio MontenegroEditor Executivo
Caráter e ética, valores fundamentaispara os dirigentes cooperativistas
Aprincipal instituição cooperativista do Estado do Rio de
Janeiro se encontra, novamente, em processo eleito-
ral, desta vez para escolher os dirigentes que conduzirão a
casa durante o triênio 2011-2014. É o momento em que, a
cada três anos, as cooperativas filiadas à entidade maior do
cooperativismo fluminense devem analisar e refletir sobre o
que foi feito e o que se projeta para os próximos anos em
prol do sistema cooperativo estadual.
Os atuais dirigentes assumiram em 2008, trazendo a
resposta nas urnas de uma classe ansiosa por mudanças,
principalmente em relação ao tratamento dispensado às co-
operativas pelo antigo gestor, conhecido por seu tempera-
mento irascível e desagregador, tendo afastado as filiadas
do convívio com as questões do cooperativismo.
O Rio de Janeiro sofria com a falta de representatividade
junto às instituições cooperativistas nacionais, aos órgãos
governamentais e entidades de classe.
Os cursos e treinamentos oferecidos pela unidade esta-
dual do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativis-
mo não contemplavam as cooperativas na sua totalidade e
eram submetidos de cima para baixo, sem ouvir as necessi-
dades dos ramos e suas respectivas demandas.
O cenário com a entrada do grupo liderado pelo atual
presidente, Wagner Guerra, mudou completamente. Hoje,
a imagem do Rio de Janeiro perante os demais estados e
junto à OCB Nacional é de respeito e seriedade, algo con-
quistado com bastante perseverança dos gestores, dos
representantes estaduais dos ramos, da equipe de cola-
boradores empenhada em fazer um trabalho digno e com-
petente, e de uma Superintendência comprometida única e
exclusivamente com as funções que lhe foram designadas,
sem pretensões políticas ou interesses particulares.
Enfim, temos um novo quadro no cenário cooperativo do
Rio de Janeiro. Certamente ainda há muitas questões ainda
a serem tratadas, o que só poderá ser feito se houver a
“O homem que aspira à perfeição moral ocupa-se da virtude;o homem não comprometido com os valores morais pensa apenas na sua acomodação na terra;
o homem ético pensa apenas nos deveres e sanções;o homem sem ética pensa apenas nos seus direitos e benefícios.”
Confúcio
continuidade do trabalho iniciado e o verdadeiro comprome-
timento de quem assumir a casa a partir de abril de 2011.
Para tanto, as cooperativas devem analisar com cuidado,
seriedade, critério e espírito cooperativista as propostas,
projetos e, principalmente, o histórico de cada grupo concor-
rente. Não se deve avaliar apenas os nomes que encabeçam
as chapas, mas todo o conjunto: candidatos, assessores e
colaboradores. Nesta hora, é primordial levar em conta cri-
térios como caráter e ética, pois são valores fundamentais
para os dirigentes de qualquer instituição cooperativista.
Os princípios morais do verdadeiro dirigente, com com-
promissos voltados para toda a classe cooperativista, sem
atender a interesses pessoais, devem balizar o seu enten-
dimento político, classista e, acima de tudo, humanista de
cada questão que encontrará pela frente.
Respeito e dignidade não se conquistam da noite para o
dia, muito menos com bravatas ou ameaças. Isto só é possí-
vel como fruto de um trabalho transparente e íntegro, com
total dedicação, abnegação, espírito de equipe e cooperação.
Cabe às cooperativas fluminenses decidirem com total
sabedoria e criteriosamente o que querem para seu futuro.
De um lado, a possibilidade real de crescimento do Sis-
tema, a visibilidade de novos horizontes para seus negócios,
capacitação profissional séria para seus dirigentes, coopera-
dos, técnicos e familiares, e um futuro digno para o coopera-
tivismo fluminense, com respeito, dignidade e prosperidade.
De outro, uma volta ao passado, em que não se respeitava
o anseio das instituições filiadas, em que a palavra de ordem
era o desrespeito, a arrogância, a intolerância. E ainda, numa
terceira via, a possibilidade de se estagnar no tempo, largando
a instituição nas mãos de oportunistas e aventureiros.
A esperança está em nossas mãos. O que nos cabe é
decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.
Boa leitura e saudações cooperativistas!
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Circulando
Várias comunidades da cadeia produtiva de moda do Rio de Janei-
ro reuniram-se em dezembro, no Expo Brsail 2010, para fomentar e
divulgar o ‘Favelas Fashion Rio’. Mulheres de diversas cooperativas,
como Bordadeiras do Morro da Coroa, Retalhos Cariocas e Coostu-
rart desfilaram em evento realizado no centro de Convenções Sula-
mérica (ao lado, foto do desfile de modas).
Ocorreu ainda um fórum sob o tema ‘o desafio do desenvolvimen-
to dos empreendimentos comunitários’, onde o cooperativismo tam-
bém foi assunto de debates. A expectativa dos participantes era dar
o pontapé de uma série de ações ao longo de 2011. A presidente da
Coosturart, Cláudia Pereira de Siqueira, foi uma das palestrantes.
Favelas Fashion Rio
Fábi
o B
arro
s
Sobra Sicoob
A divisão dos resultados é um dos principais atrativos
do Sicoob – maior sistema cooperativo de crédito do Bra-
sil - em relação às instituições financeiras tradicionais.
Segundo informações distribuídas eletronicamente,
em todo o país, no ano de 2010 o Sicoob conquistou
13.070 associados, entre pessoas físicas e jurídicas.
Encerrou o exercício com 105 mil clientes (crescimento
de 14%). Outro destaque, o patrimônio líquido superou
a casa dos R$ 306 milhões (elevação de 22,9% em re-
lação a 2009).
O Sicoob também teve um crescimento no seu mo-
vimento na ordem R$ 222 milhões. Em comparação a
2009, o ativo circulante do Sistema subiu 20,83%. A
instituição ultrapassou o montante de R$1,3 bilhão de
ativos em 2010.
Somando-se 2009 e 2010, são R$ 95 milhões dis-
tribuídos entre os seus verdadeiros donos. Se não exis-
tissem instituições como o Sicoob, tal lucro estaria nas
mãos dos banqueiros públicos ou privados.
A Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Rio
de Janeiro está com inscrições abertas para a seleção
de projetos de inovação tecnológica em diversas áreas,
desde que atendam o desenvolvimento do estado. O va-
lor total dos financiamentos chega a R$ 10 milhões. Co-
operativas podem participar e, cada projeto selecionado,
poderá ser financiado em até R$ 400 mil. As inscrições
podem ser feitas até 31 de março no site da Faperj:
www.faperj.br/infaperj. Os resultados saem no dia 26 de
maio.
As áreas indicadas no edital são: aeroespacial, agro-
pecuária, aquicultura, biocombustíveis, biodiversidade,
biotecnologia, design, energias alternativas, energia
nuclear, medicina regenerativa, meio ambiente, nano-
tecnologia, naval, petróleo e gás, robótica, rochas orna-
mentais, saúde, segurança pública e defesa, siderurgia,
tecnologias da informação, tecnologias de comunicação,
transporte e TV Digital.
Rio dá R$ 10 milhões emnovos projetos
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Circulando
Decreto garante licença para taxistas
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, publicou
decreto que põe fim à polêmica envolvendo o corte da
frota de táxis na cidade.
O documento garante que nenhum taxista terá sua
concessão cassada e que a transferência para um cônju-
ge sobrevivente ou um terceiro está garantida. “Na prá-
tica, não vamos diminuir o número de táxis na cidade. Só
não vamos deixar aumentar”, explicou Eduardo Paes.
A notícia deixou aliviado quem trabalha no ramo e es-
tava com medo de perder o direito de dirigir pelas ruas da
cidade. Para a prefeitura, o táxi é uma atividade sem es-
tratégica para o Rio durantes os grandes eventos espor-
tivos dos próximos anos. (Fonte: O Dia)
Leo Poyart
O Sebrae vai apoiar projetos de cooperativas de
crédito de micro e pequenas empresas voltados para
o desenvolvimento de boas práticas. Para isso, acaba
de lançar um edital no qual estão previstos um total de
recursos não reembolsáveis da ordem de R$ 2,5 mi-
lhões. As cartas-consulta, documento de apresentação
do projeto, deverão ser entregues pelas unidades esta-
duais do Sebrae até o próximo dia 13 de abril.
No universo de mais de 1,4 mil cooperativas de crédi-
to existentes no Brasil algumas se destacam em criati-
vidade, inovação, desempenho e devem ter suas experi-
ências replicadas, pondera o diretor técnico do Sebrae,
Carlos Alberto dos Santos. “Esta chamada representa
importante instrumento para acelerar o amadurecimen-
to e aperfeiçoar a gestão das cooperativas que atuam
com os pequenos negócios”, destaca. Desde 2003, a
instituição desenvolve atividades de articulação institu-
cional e disseminação de conhecimento e melhores prá-
ticas do cooperativismo de crédito.
Uma comissão interna irá avaliar os
projetos. O edital encontra-se disponí-
vel no site www.uasf.sebrae.com.br.
(Fonte: Agência Sebrae)
As cooperativas de catadores de material reciclá-
vel de Duque de Caxias, na Baixa Fluminense, poderão
ter seus projetos de renda financiados pelo BNDES.
Essa possibilidade foi sinalizada no dia 14 de março
pela instituição.
Segundo o gerente do Departamento de Economia So-
lidária da instituição, Eduardo Lins de Carvalho, o BNDES
poderá oferecer empréstimos não reembolsáveis para
construção de galpões, compra de equipamentos e ca-
minhões. “O contrato precisa ser feito com a Prefeitura
e deve assegurar uma renda mínima para o catadores”,
afirmou. A ideia é desenvolver uma iniciativa semelhante
a aprovada para a capital fluminense, na qual o banco
financiará R$ 22 milhões para a construções de seis es-
tações para beneficiamento de produtos recicláveis.
O representante da Cooperativa de Catadores do
Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, Sebastião
Santos, acredita que as propostas atendem o plano
de negócios elaborado pelas cooperativas do aterro
mas espera que elas saiam do papel. “O problema é
quando isso será colocado em prática. São quase sete
mil pessoas nessa cadeia”, disse. O lixão de Jardim
Gramacho encerra as atividades no fim do ano.
(Fonte: Agência Sebrae)
Sebrae: R$ 2,5 milhões paracooperativas de crédito
BNDES financia projetos paracatadores do lixão de Gramacho
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Curtas
A exigência de análise sensorial para ava-
liar a fragrância, o aroma, a acidez, o sabor e
a qualidade do café torrado em grão e do café
torrado e moído foi adiada por dois anos, por
meio da Instrução Normativa n° 6, publicada
no dia 23 de fevereiro, no Diário Oficial da
União. O teste faz parte das normas esta-
belecidas no Padrão Oficial de Classificação
do Café, que começou a vigorar no mesmo
dia. Para que um produto seja considerado
de qualidade, é necessário apresentar o per-
centual máximo de 1% de impureza e de 5%
de umidade.
A Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO) trabalha
na produção de um banco de dados mundial
com informações sobre a emissão de gases de
efeito estufa lançados pela agricultura e seu
potencial para minimizar o aquecimento glo-
bal. O Brasil já está fazendo a sua parte ao
incentivar o uso de tecnologias que reúnem
eficiência produtiva e conservação ambien-
tal. O projeto da FAO avaliará a mitigação
dos efeitos climáticos e o Brasil contribui
com incentivos a técnicas que equilibram
produção e conservação ambiental.
Em um jantar que reuniu mais de 200 di-
rigentes e cooperados do Sistema Unimed,
cerca de 40 deputados e senadores e repre-
sentantes de entidades das áreas da saúde
e do cooperativismo, a Unimed do Brasil lan-
çou, em fevereiro, em Brasília (DF), a publica-
ção “Ações Político-Institucionais da Unimed
– Agenda 2011”. O documento contém um
panorama das novas ações políticas desen-
volvidas pela Confederação e as prioridades
legislativas do Sistema Unimed.
As exportações brasileiras de vinho, a
produção de uva na região Sul do país e o
consumo da bebida no mercado interno foram
temas da 21ª reunião da Câmara Setorial da
Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e
Derivados, que aconteceu em fevereiro, em
Brasília. O encontro contou com a participa-
ção de representantes do setor privado e do
governo. A integração da cadeia produtiva, a
partir da instituição de consórcio de coope-
rativas, também foi debatida na reunião.
Cooperativas constroem um mundo melhor
As Nações Unidas aprovaram, oficialmente, o slogan para o Ano
Internacional das Cooperativas (AIC), em 2012: As Cooperativas Cons-
troem um Mundo Melhor. Ao informar os membros, no dia 3 de de-
zembro de 2010, o Diretor Geral da ACI (Aliança Cooperativa Interna-
cional), Charles Gould, disse que o slogan transmite uma imagem de
modelo “baseado em valores”. Ele disse que a ACI estava estusiasmada
com o slogan. “Ambos os aspectos de desenvolvimento econômico e
social das cooperativas estavam contidos nestes valores pessoais que
coincidem com os princípios cooperativos”.
A ACI espera que um maior nível de reconhecimento público irá pro-
mover o surgimento de novas cooperativas e fomentar um ambiente
legislativo e regulatório favorável ao crescimento e desenvolvimento do
cooperativismo.
“Uma oportunidade com este potencial não deverá surgir outra vez.
Será nossa responsabilidade aproveitá-la e usá-la para relançar a mar-
ca cooperativa neste século”, disse Gould. “Acreditamos que isto é
essencial para fazer uma marca top-of-mind com o público.” O slogan
foi traduzido para os seis idiomas oficiais da ONU.
(Fonte: Boletim ACI)
O setor produtivo busca soluções para aliar a lucratividade com a
preservação do meio ambiente. Isso para garantir os insumos para o fu-
turo da produção. Um exemplo é o sistema de captação e aproveitamen-
to da água da chuva implantado pela Coopavel, em Cascavel (Paraná).
Com um investimento de R$ 1,5 milhão, a cooperativa adaptou os
telhados de alguns prédios de seu parque industrial, totalizando uma
área de 46 mil m2 para captação da chuva. Essa água - usada na lava-
gem de caminhão, limpeza de pátios e descarga de vasos sanitários -,
é armazenada em dois reservatórios que, juntos, têm capacidade para
reter 1,5 milhão de litros.
Na ponta do lápis, a água da chuva representa 5% do consumo total
diário da Coopavel, que é de 6,5 milhões de litros, sendo 5,6 milhões
apenas nos processos de beneficiamento de aves.
(Fonte: Comunicação Coopavel)
Coopavel investe em água da chuva
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Entrevista
O amigo das agros
Rio Cooperativo – Qual foi o panorama do setor em
2010 e como estamos hoje?
Nossa relação com o setor cooperativista é bastante
intensa e tradicional. Temos a nossa área de ação, fun-
damentalmente, nas cooperativas de produção. Também
existem algumas na área de mecanização rural e ele-
trificação rural, e estão surgindo boas cooperativas de
trabalho. O setor é muito forte, sendo que a maior parte
é formada por cooperativas leiteiras.
Por questões burocráticas e políticas de anos ante-
riores, o setor lácteo sofreu dificuldades, que desagua-
ram em situações complicadas ao longo dos anos. Mas
quando pudemos contar com parceria com o governa-
dor Sérgio Cabral Filho, possibilitou-se uma mudança
radical e muito importante, principalmente na questão
tributária do leite e seus derivados. Um forte exemplo
foi que o Estado zerou a alíquota do ICMS do leite e de
seus derivados.
Outra questão importante é que o setor reivindicava o
pagamento por parte do Estado dos créditos do ICMS, no
valor estimado de R$ 60 milhões. As cooperativas pode-
rão usufruir de grande parte desses recursos. Também
venho costurando, por meio de um conjunto de legisla-
ções já aprovadas – Leis nº 5.703, 5.814, 5.846 – que
permitirão, até 31 de maio de 2011, que os produtores
pleiteiem o recebimento desses valores junto ao Esta-
do, exclusivamente destinados a novos investimentos
em suas operações, sejam industriais, logísticas ou de
apoio ao produtor rural.
RC – E qual é o principal desafio nesta questão?
Quando se soma a isenção do tributo e o recurso
destinado pelo Estado, isso dará em 2011 um alento
especial ao setor diante do desafio que temos de dobrar
a produção leiteira até 2015. Em números produtivos,
em 2007 foram 470 milhões de litros de leite/ano. Em
2011 esses valores já chegam a 600 milhões de litros.
É um crescimento substancial. Para 2015, a meta é de
1 bilhão de litros/ano.
RC – Quais são as ações e programas da Secretaria em
prol das cooperativas no Estado?
Além da redução tributária, o conjunto de ações está
sintetizado dentro do Programa Rio Leite. Além disso,
há outros programas, como o Rio Genética, que melhora
a produtividade dos rebanhos e tem significativo efeito
sobre os produtores e as cooperativas. Já o Rio Rural,
é uma parceria com o Banco Mundial e que beneficia as
pequenas cooperativas vinculadas à agricultura familiar.
Através desse programa, conseguimos chegar às pe-
quenas comunidades do interior, levando saneamento ru-
ral, produção de agricultura orgânica e ecoamigável.
Em entrevista à Rio Cooperativo,
o deputado estadual e secretário de
Agricultura e Pecuária do Estado do
Rio de Janeiro, Christino Áureo, fez
uma retrospectiva do setor e apresentou
as perspectivas para os próximos anos.
Ele também falou da importante parceria
do Sistema OCB/RJ-Sescoop/RJ,
em prol de cooperativas e
dos pequenos produtores rurais.
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Através do Programa Rio Rural, o Estado está re-
alizando grandes investimentos na melhora e pavimen-
tação de estradas rurais Desde 2010 já investimos
R$ 25 milhões em máquinas e equipamentos para a
manutenção de estradas. Esse ano (2011) já são mais
de R$ 30 milhões, entre outras ações. São impor-
tantes programas modernizadores das atividades das
cooperativas.
RC – Quantas pessoas são beneficiadas, no total, por
todas essas ações? O que isso representa em termos
financeiros?
Em nosso Estado são 62 mil produtores agrícolas
e agropecuários. Pelo menos 20 mil são cooperati-
vados. É claro que o número de pessoas ocupadas
nessa atividade é bem maior. São mais de 150 mil
trabalhadores envolvidos direta e indiretamente nas
atividades. Se somarmos toda a cadeia (produtores,
atacadistas, distribuidores), são mais de 700 mil que
vivem da cadeia do agronegócio no Estado do Rio de
Janeiro.
O leite é um bom exemplo. Para se ter ideia do be-
neficio e montante envolvido, a cada R$ 1 do custo final
do leite de venda ao consumidor, são movimentados R$
5 no Produto Interno Bruto daquele Estado em que está
sendo produzida a atividade leiteira.
RC – Como tem sido a parceria entre a Secretaria e a
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB/RJ) e
o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativis-
mo (Sescoop/RJ)?
A parceria da Secretaria com o Sistema OCB/RJ-
Sescoop/RJ, bem como com a Federação de Agricultura
e Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Faerj) e o Ser-
viço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-Rio) está
indo muito bem. Temos áreas de grande interesse em
comum. O presidente da OCB/RJ, Wagner Guerra, é um
grande motivador dos princípios cooperativistas e que
fez um belo resgate do cooperativismo em nosso Esta-
do, beneficiando a todos os envolvidos.
Um excelente exemplo desta importante parceria se
deu na área educacional, no Colégio Estadual Comendador
Valentim dos Santos Diniz, localizado em São Gonçalo, na
antiga fábrica da CCPL. Lá, implantamos o Núcleo Avan-
çado de Educação em Tecnologia de Alimentos e Gestão
do Cooperativismo (Nata), em 2009. Através dele, estão
sendo formadas várias turmas ano após ano. O Nata ofe-
rece ensino médio integral no setor alimentício, com la-
boratórios com infraestrutura tecnológica completa para
capacitar jovens de comunidades carentes.
Os alunos têm a cadeira de Cooperativismo, com pro-
fissionais indicados pelo Sescoop/RJ, comprovando que
tudo se transforma pelo conhecimento e pela educação.
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A força dacooperação
Considerado a maior tragédia natural do Brasil,
ocorrida em Nova Friburgo, Petrópolis e Teresó-
polis, cidades da região Serrana do Rio de Ja-
neiro, o dia 11 de janeiro vai ficar guardado na
memória dos brasileiros como o nosso ‘11 de setembro’.
Quase 900 vidas foram ceifadas (entram na lista as
cidades de Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto),
mais de 20 mil pessoas perderam tudo e ainda há cerca
de 400 desaparecidos.
Palavras não faltam para descrever o drama daquelas
famílias. Mas a chuva cessou e a ajuda finalmente che-
gou. Milhares de pessoas de todo o país se comoveram.
Voluntários, prefeitos, governador, presidente da república
e Forças Armadas se uniram aos órgãos de Defesa Civil,
Corpo de Bombeiros e Polícias Civil e Militar. Todos com um
único objetivo: prestar socorro imediato em uma ação de
cooperação nunca antes vista na história deste país.
Também se multiplicaram pela internet as correntes de
ajuda. E o cooperativismo, mais uma vez, funcionou. Doa-
ções chegaram de todas as partes – em toneladas ao dia.
Corrente de solidariedade
O aumento do nível das águas do Rio Grande, que cor-
ta a cidade de Bom Jardim, em Nova Friburgo, provocou
uma enxurrada que destruiu pelo menos 15 casas. O
principal acesso do município com outras cidades, uma
ponte na RJ-116, foi destruído.
A cooperativa educacional Eiduc foi uma das que sofre-
ram com o impacto das chuvas, com cooperados ilhados
e falta de comunicação por semanas. A diretora pedagó-
gica, Gláucia Maria Bérgamo Aires, disse que com a cheia
repentina do Rio Grande, a água chegou em locais nunca
imaginados, atingindo mais de 15m de altura. “Por pouco
a água não chegou na nossa escola, no centro da cidade.
Cinco cooperadas perderam tudo dentro de casa e mui-
tas famílias de alunos também. Com isso, estamos au-
mentando os descontos nas mensalidades e oferecendo
isenção para alguns. Nossa preocupação é com a inadim-
plência que virá nos próximos meses”, ressalta.
Quase todos os cooperados ajudaram de alguma ma-
neira na distribuição de cestas básicas e na retirada da
Capa
A Prefeitura de Nova Friburgo se tornou quartel-general para direcionar as ações na região
11
lama das casas dos cooperados. “Também ajudamos na
separação de roupas e alimentos. Foram duas semanas
intensas vivendo em função de reorganizar o que ficou de
pé na cidade”, disse Gláucia.
Já na Escola Fribourg, no bairro Olaria, em Nova Fri-
burgo, três cooperados sofreram com as chuvas. Uma
professora perdeu tudo. Outras duas perderam gran-
de parte de bens materiais. A cooperativa uniu forças
e ofereceu ajuda a cada família. “Nossa preocupação é
com a integridade física de cada um. Graças a Deus,
todos os alunos estão bem. Alguns cooperados foram
atingidos. Oferecemos pronta ajuda, pois a vida tem que
continuar”, disse o presidente Germano Pereira.
Um dos cooperados que trabalhou incansavelmente no
resgate das vítimas, apoiando os bombeiros, foi o inspetor
de alunos, João Batista Lombreta.
O presidente da cooperativa de trabalho Interpress,
Marcos Ferreira dos Santos (Marcão), lembrou que as
pessoas são solidárias nessas horas. “Todos trabalha-
ram em conjunto. A população é muito aguerrida e acre-
dito que o espírito de cooperação envolve a todos.”
A Interpress não foi atingida e recolheu donativos de
porta em porta, entregando nos centros de apoio aos de-
sabrigados. O diretor financeiro e o presidente pararam
suas atividades e foram pessoalmente dar o suporte. Ape-
nas dois cooperados sofreram diretamente com a tragé-
dia, onde um familiar de um cooperado ficou preso em uma
casa. “Demos apoio imediato, socorrendo essa pessoa e
oferecendo abrigo à família do cooperado”, disse Marcão.
Intercooperação
Forte na produção de leite, cooperativas da região de
Carmo e de Macuco também sofreram com a destruição
de estradas. O problema na Cooperativa Agropecuária
de Carmo aconteceu no escoamento de produção, pois
várias barreiras caíram nas estradas. “Nosso prejuízo
foi mesmo no recolhimento e distribuição do leite”, disse
o diretor presidente, Francisco da Silva Câmara.
A Cooperativa de Prestadores de Serviços de Nova
Friburgo (Coopresenf), não foi atingida diretamente, mas
sofreu de alguma maneira com a tragédia. O presidente,
Almir Mendes, disse que as ações sociais foram impor-
tantes para auxiliar as famílias atingidas.
Três cooperados tiveram suas casas alagadas e interdi-
tadas pela Defesa Civil, com perda total de móveis e docu-
mentos. Sem condições de se deslocarem pelas estradas
vicinais, outros quatro cooperados, moradores de Chácara
do Paraíso, Bom Jardim e Lumiar, ficaram ilhados nos dias
seguintes às chuvas. A Coopresenf comprou alimentação e
móveis para os cooperados. “Iremos usar o Fundo de Re-
serva da cooperativa para oferecer empréstimo aos coo-
perados atingidos pelas chuvas. O pagamento ainda vai ser
definido, mas eles terão um bom prazo. Isso é importante
para não deixar que os cooperados tenham prejuízo com a
queda na produção cooperativista.”, disse Almir Mendes.
A intercooperação também funcionou em Bom Jardim,
entre as cooperativas de crédito Bom Credi, Credi Mata
(de Minas Gerais) e Cecremef (dos Empregados de Furnas
e do Sistema Eletrobrás). Com a ajuda das co-irmãs, a
Bom Credi foi a primeira instituição financeira que operou
nos dias seguintes às fortes chuvas no município.
As águas do Rio Grande levaram não só as pontes da
cidade, mas também todo o complexo de telefonia. Apesar
de ter havido apenas uma morte, diversas famílias ficaram
desalojadas e o comércio e indústrias destruídos.
“A cooperativa ficou sem acesso aos seus dados durante
um dia. Mas a co-irmã de Minas Gerais, Credi Mata, permi-
tiu a entrada de nossos funcionários para que acessassem
seus computadores e, assim, reduziram-se as perdas da
cooperativa. No entanto, precisávamos abrir as portas para
que os associados pudessem movimentar suas contas. Foi
aí que a Cecremef nos possibilitou acesso à intranet do Ban-
coob”, conta Bruno Erthal, diretor administrativo.
“No entanto precisávamos abrir as portas para que
os associados pudessem movimentar suas contas. Foi
aí que a Cecremef nos possibilitou acesso à intranet do
Bancoob”, disse. A ajuda foi fundamental, pois, até aquele
dia, todas as instituições financeiras da cidade encontra-
vam-se fechadas. Somente 12 dias após o desastre a
cooperativa teve seu acesso totalmente restabelecido. Um dos centros de distribuição de mantimentos
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senvolveu campanhas para arrecadação de mantimentos
e doação de sangue. É o abraço de solidariedade e de coo-
peração de toda a população cooperativista fluminense.
Recomeço
No difícil recomeço as cidades atingidas têm que lutar
para superar a dor da tragédia das chuvas. E o cooperati-
vismo será um forte aliado. Quem sabe agora, com a lama
que tomou conta de ruas e avenidas, soterrando casas e
pessoas, com os rios que mudaram seus rumos e com as
toneladas de pedras que desceram de encostas sobre as
cidades, ações e recursos financeiros necessários possam
ser dispensados para que a mudança no destino humano
não aconteça por meio de uma ‘tsunami do interior’.
Ainda não se sabe como os órfãos das chuvas segui-
rão sua vida ou mesmo quando os sobreviventes retor-
narão à normalidade. O que já sabemos é que o aque-
cimento global tende a jogar mais energia no sistema
climático do planeta. Ele não traz somente mais calor.
Traz, sim, eventos extremos. Os alertas são abundan-
tes, mas o que falta, é preparo em prevenção.
Enquanto se discute para saber se a culpa pela tra-
gédia é do aquecimento global ou das ocupações irregula-
res, os moradores atingidos seguem em busca de locais
para iniciarem uma nova vida. Os relatos e pré-avisos de
mortes continuam sendo enviados, da região Serrana e
de diversos pontos críticos do Estado. Resta, mais uma
vez, aguardarmos as autoridades fazerem a sua parte.
Uma grande operação (de guerra) cooperativista foi
montada em parceria com os órgãos do Estado e os seg-
mentos civis com um objetivo em comum: para que Tere-
sópolis, Petrópolis e Friburgo voltem a ser novos.
Moradores apostam em futuro melhorUm carro em meio aos destroços de cinco casas
Capa
Cooperativas ajudaram
O cooperativismo tem, nas suas raízes, a oferta de
ajuda ao próximo. É a paixão pelo seu semelhante na
mais simples das mensagens. Cooperar também é levar
amor e carinho aos mais necessitados.
Partiu de uma dezena de cooperativas a importante
ajuda aos desalojados da região Serrana do Rio. Coope-
rativas de táxi se organizaram em comboios para levar
doações às cidades atingidas pelas chuvas. Da Coope-
rativa de Cuidadores de Idosos e Doentes Dependentes
(Coopidade), com sede na capital do Estado, técnicos de
enfermagem e assistentes sociais foram para as cida-
des atingidas levando kits de higiene pessoal. “Nossos
profissionais se sensibilizaram e fizemos uma campanha
interna para arrecadar material de primeira necessida-
de e higiene. Também oferecemos um pouco de conforto
emocional aos idosos desamparados”, disse Rosa Maria
dos Santos, presidente da Coopidade.
Já a Cooperativa Agroindustrial Alfa (CooperAlfa),
com sede em Chapecó (Santa Catarina), enviou 14,5t de
alimentos. A decisão pela doação, segundo o presidente
da CooperAlfa, Romeo Bet “é o mínimo que se pode fa-
zer, coletivamente, diante de uma situação catastrófica
que contabiliza centenas de mortes e um número incon-
tável de pessoas desalojadas e desabrigadas”.
Bet disse que o montante representa praticamente
um quilo de comida cedido por cada uma das 15 mil fa-
mílias de agricultores associadas à Alfa. “Certamente a
maioria dos nossos associados aprovarão essa medida,
pois ninguém desejaria passar pelo que as milhares de fa-
mílias do Rio de Janeiro estão sofrendo”, sensibilizou-se.
O Sistema OCB/RJ-Sescoop/RJ entrou na ajuda e de-
13
14
OCB/RJ mostra que Cooperativismo é Coisa Séria
A OCB/RJ iniciou em fevereiro sua primeira campanha
institucional de divulgação de 2011 no Estado do Rio
de Janeiro, intitulada ‘Cooperativismo é Coisa Séria’.
Com o objetivo de mostrar a importância dos ra-
mos cooperativos e a legalidade das cooperativas, a
campanha é composta por peças impressas que estão
sendo veiculadas em 60 ônibus na região Metropoli-
tana do Rio e no Sul Fluminense, outdoors na Avenida
Brasil, próximo ao Caju, e na Radial Oeste (ambos no
Rio), mais 40 táxis, vans e kombis, além de filmetes
institucionais exibidos diariamente em todas as bar-
cas Rio-Niterói e Rio-Charitas. Também foi desenvolvi-
do um kit composto de adesivos e sacolas de lixo para
automóveis, folheto explicativo e camisas alusivas ao
mote da campanha.
A expectativa da instituição é de que a população em
geral passe a ver sob outra ótica o cooperativismo no
Estado do Rio de Janeiro, que possui mais de 250 mil
associados e emprega cerca de 10 mil pessoas.
Segundo o presidente da OCB/RJ, Wagner Guerra, a
campanha atende a um antigo anseio das cooperativas, que
foi, inclusive, pauta de sua plataforma eleitoral, em 2008.
“Estamos há muito tempo trabalhando o apoio junto
à OCB Nacional para esta divulgação, o que só nos foi
liberado agora. É um motivo de satisfação podermos fi-
nalmente dar este retorno às nossas cooperativas, na
expectativa de que possam ser mais conhecidas e res-
peitadas pela sociedade”, declarou Guerra.
O dirigente lembra que a campanha ‘Cooperativismo
é Coisa Séria’ estava programada desde junho de 2008.
Entretanto, problemas internos, - “Devidamente solucio-
nados”, afirma ele - acabaram adiando seu lançamento.
O presidente da entidade adianta que novas campa-
nhas já estão programadas para o decorrer de 2011, e
deverão atingir também outras regiões do Estado, como
Norte, Noroeste e Serrana.
“Queremos tornar o cooperativismo um movimen-
to conhecido por toda a sociedade fluminense, de for-
ma que todos reconheçam o trabalho sério e digno de
nossas filiadas. As cooperativas geram emprego, renda,
tributos, respeito e cidadania. Este é um compromis-
so que temos com o público cooperativista e que não
iremos deixar de lado um minuto sequer, principalmente
agora que somos novamente respeitados perante nossa
principal representação cooperativista nacional, a OCB”,
defendeu Guerra.
15
As peças da campanha
Ao lado, o registro fotográfico da aplicação de
cartazes em táxis, vans e kombis, todas de coopera-
tivas filiadas à OCB/RJ, confirmando, mais uma vez, o
compromisso da instituição em promover a intercoo-
peração. Na foto abaixo, o registro de uma das linhas
de ônibus que circulam com a campanha.
Mais abaixo, todos os cartazes e adesivos que
estão sendo veiculados nas diversas mídias exterio-
res, levando mensagens alusivas aos diversos ramos
cooperativos e incentivando a utilização de serviços
de cooperativas.
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Cecremef: 50 anos realizando sonhos
Equipe de colaboradores da Cecremef após treinamento
No Jubileu de Ouro da Cooperativa de Economia
e Crédito Mútuo dos Empregados de Furnas e
das demais empresas do Sistema Eletrobrás
(Cecremef), a felicidade em ver os sonhos dos coopera-
dos sendo realizado é a conquista mais importante.
Assim, dizem os dirigentes, o foco é o homem, não
é o dinheiro. Mas muita felicidade foi construída com o
dinheiro do cooperado: aquisição de imóveis, formação
profissional, viagens internacionais, garantias com a
saúde e educação. Muitas histórias belas. Muitas ale-
grias e atividades beneficentes. Uma equipe que trans-
forma ações e realiza os sonhos dos cooperados.
O começo do sucesso
Março de 1961. Um mês inesquecível para todos que
usufruem da Cecremef. Imagina o que representa para
os 32 colegas de trabalho de Furnas Centrais Elétricas,
que decidiram lutar pela formação de sua cooperativa
em benefício dos empregados da empresa.
A Cecremef, maior cooperativa de crédito do Estado
do Rio de Janeiro, baseia-se nos valores da ajuda mútua,
responsabilidade, democracia, igualdade e solidariedade
para promover a melhora na qualidade de vida dos seus
associados. Instituição financeira privada e sem fins
lucrativos, tem por objetivo proporcionar bem-estar a
seus associados através de instrumentos financeiros,
da educação cooperativa e de programas sociais.
Composta por empregados de Furnas Centrais Elé-
tricas, Eletronuclear, Eletrobrás, Fundação Real Gran-
deza e Após-Furnas, e da Caefe, entre outras, mantém
há mais de duas décadas, um setor de Serviços Sociais
estruturado. Além de um consultório odontológico com
preços inferiores aos do mercado.
Localizada no escritório central de Furnas e com Pos-
tos de Atendimento Cooperativo em várias localidades,
possui 9.450 associados e 65 funcionários capacitados
na operação da instituição e comprometidos com a dou-
trina cooperativista. Também possui 46 representantes
19
Cecremef: 50 anos realizando sonhos
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regionais, que são associados escolhidos pela diretoria,
que trabalham voluntariamente para a Cecremef, operan-
do diversos serviços da cooperativa em todo o Brasil.
Seu objetivo é propor soluções para que os próprios
associados possam superar problemas e incrementar
sua qualidade de vida. Entre as atividades, existem cur-
sos, eventos culturais e esportivos que visam a desen-
volver o talento pessoal e o relacionamento interpesso-
al, além de projetos de incremento do bem-estar dos
cooperados e seus familiares.
Vários cursos são desenvolvidos ao longo do ano para os
cooperados. Como os empregados de Furnas moram próxi-
mos às usinas, em vilas residenciais com estrutura limitada,
as ações sociais são mais do que importantes para jovens e
para as famílias dos associados. São aulas de judô, banda de
música, ginástica rítmica, enfim atividades para não deixar a
ociosidade tomar conta dos filhos dos associados.
Em paralelo ao capital humano, uma estrutura tec-
nológica integrada garante a segurança e precisão das
operações. As operações são geridas por programas es-
pecíficos e as operações bancárias são realizadas atra-
vés de um sistema que controla as operações do Sicoob
em todo o País.
Fé e persistência
Com Terezita (Maria Thereza Rosália Teixeira Mendes, pre-
cursora do cooperativismo de crédito no Brasil), os funda-
dores aprenderam que o ideal resiste a normas e que ações
bem fundamentadas podem modificar as leis. Ao lutar por es-
ses ideais, a cooperativa operou, durante alguns anos, sem
um respaldo legal, mas com o apoio da diretoria de Furnas.
O primeiro presidente da cooperativa, Franklin Fernan-
des Filho, e os demais fundadores vislumbravam um longo
trabalho que contaria com a paciência dos associados e
administradores: naquele tempo, os empregados de Fur-
nas não tinham gratificações, auxílio-alimentação, serviço
médico nem reembolso de qualquer espécie.
Em 1973, foi árduo trabalho dos “três mosqueteiros”,
apelido ganho pelo trio formado por Alzira Silva de Souza
e os diretores Sebastião José de Mattos e Nelida Jasbik
Jessen. Este forte triunvirato, coeso e firme nas decisões
necessárias à recuperação da cooperativa, ganhou um 4º
companheiro – como no clássico de Dumas: o gerente
Paulo César Ferreira, que lutava pelos ideais da coope-
rativa ombro a ombro com os seus diretores. No mesmo
ano em que assumiu a casa, a diretoria estabeleceu 15
metas, entre elas: reestruturar os serviços da Cecremef
e reerguê-la das cinzas; organizar um sistema de comu-
nicação ágil com o quadro social; manter uma linha de
educação permanente; buscar um sistema integrado de
serviços com Furnas e a Fundação Real Grandeza.
São histórias como essa que fazem da Cecremef
uma união de fé e persistência, que vence a burocracia e
transforma a realidade.
Paixão e emoção
Segundo a atual presidente da Cecremef, Maria da
Conceição Lourenço Gomes, a cooperativa investe con-
tinuamente na equipe técnica. “São profissionais exce-
lentes e de grande qualidade”, diz a dirigente.
Uma das assembleias da cooperativa Dulciliam Pereira e Maria da Conceição
20
Conceição passou pela diretoria
social e de administração. Na ativa
em Furnas, divide seu tempo na pre-
sidência da cooperativa. “Na vida,
nada é por acaso. É muita satisfação
e reponsabilidade estar presidente. Mas o trabalho é
unido. Todo fim de ano sentamos com os gerentes e
traçamos as metas e planejamentos para o próximo
período”, diz.
Segundo ela, o serviço social está em contato direto
com o cooperado. “A cooperativa acontece ali. Ficamos
muito atentos às necessidades dos associados, pois nem
sempre eles vêm em busca de empréstimos. Às vezes pre-
cisam de palavras de incentivo e conselhos”, afirma.
Ao relatar a trajetória da Cecremef, Conceição emo-
ciona-se. Para ela, o dinheiro é apenas um veículo, e o foco
é o homem. “Ficamos muito mais felizes quando desenvol-
vemos nossos relatórios e vemos quantos empréstimos
saíram, quantos projetos sociais foram realizados, quan-
ta felicidade geramos com aquele dinheiro”, conta.
A felicidade da diretoria da cooperativa está na felici-
dade do associado. “Por exemplo, quando um associado
compra a casa própria mais perto do emprego e deixa de
acordar cedíssimo para ir trabalhar. Quando ele conse-
gue fazer uma viagem à Disney e o filho quase desmaia
de emoção”, detalha a presidente.
São exemplos como esses que mostram que a coope-
rativa não vive apenas de recursos financeiros, mas de
paixão e atenção pelo ser humano.
Coragem, humildade e espiritualidade
Dulciliam Correa Pereira, ex-presidente, está há
mais de 30 anos na Cecremef. Passou por vários car-
gos, como diretor financeiro, conselheiro fiscal, entre
outros. Na conversa com Rio Cooperativo, lembrou de
Dona Terezita, fundadora do sistema de crédito Desjar-
dins no Brasil.
Dulciliam falou sobre o uso dos recursos financeiros
para promover a qualidade de vida dos cooperados. “Isso
é que vale a pena. Numa estrutura cooperativista, o im-
portante é oferecer a menor tarifa para aquele que só
usa a conta-corrente e a maior remuneração para o apli-
cador. Senão, a cooperativa perde o sentido”, diz.
Para Dulciliam, preparar um sucessor para dar con-
tinuidade e até mesmo melhorar o que foi construido
é tão importante quanto dirigir a cooperativa no dia-a-
dia. Segundo ele, muitas pessoas foram analisadas em
10 anos. “O profissional tem que gostar de pessoas,
saber trabalhar em grupo. Normalmente queremos que
a pessoa seja o mais parecido com o atual presidente.
Mas o profissional tem que ter coragem, espiritualidade
e humildade. Essas são as caracteristicas de um bom
dirigente”, revela, lembrando o investimento na equipe.
“Com certeza formamos um belo grupo. Temos pelo
menos 11 funcionários que chegaram como mensageiros
e hoje ocupam cargos de chefia ou supervisão”, conta o
ex-presidente.
Mas a história da Cecremef não para por aqui. Ela
continua a ser escrita por seus associados, emprega-
Ao lado, centenas de associados participam de passeios anuais.
Acima, entrada da agência bancária da Cecremef em Furnas.
21
dos, parceiros e pelos jovens que estão vivenciando suas
primeiras experiências cooperativistas, assim como por
aqueles que virão a participar dos princípios cooperati-
vistas e viver os exemplos de ajuda mútua.
Momento marcante
Toda a crise é um momento de oportunidade. Em
2005, com a quebra da Central das Cooperativas de
Crédito do Estado do Rio de Janeiro (Cecrerj), a Cecre-
mef amargou um grande prejuízo. Os cooperados foram
convocados e a situação foi explicada em uma grande
assembleia.
“Alguns queriam sair, mas convencemos a maioria
a permanecer. Os empregados foram convocados para
propor ideias para superar a crise. Foram mais de 30
sugestões em pouquíssimo tempo”, relembra Dulciliam.
Diferente de uma empresa que entra em crise e de-
mite funcionarios, a Cecremef naquele momento sentiu a
necessidade de admitir dois. “O caminho, na crise, não é
retração, é o crescimento. Em nosso momento mais di-
fícil, o associado confiou na Cecremef. Eles perceberam
que até ali a cooperativa cuidou dele. E, a partir daquele
momento, era a hora dos cooperados cuidarem dela. E
assim foi feito e hoje estamos aqui”, destaca.
A onda agora é construir empresas e prédios
ecologicamente corretos e que se utilizam das va-
riações e forças da natureza para que a construção
não polua o meio ambiente.
Preservar a natureza, na verdade, não é algo
novo. Essa preocupação sempre existiu na Cecremef
e o que era um projeto tornou-se realidade.
A vila residencial de Mambucaba, em Paraty, re-
cebeu a primeira agência verde da cooperativa, o que
aumentou o conforto dos associados da região. O
projeto visou reduzir o impacto no meioambiente.
A agência tem, por exemplo, equipamentos de
captação solar que fornecem 30% da energia ne-
cessária à operação, projeto de iluminação que uti-
liza a luz natural, telhas brancas para redução da
temperatura do ambiente e lâmpadas econômicas. E
está em estudo um sistema de captação de água da
chuva para uso sanitário.
Primeira Agência Verde Bosque
A criação do Bosque Cecremef cumpriu o 7º Princí-
pio Cooperativista e fechou, com mérito, a gestão Dul-
ciliam Corrêa Pereira. O processo exigiu um longo cami-
nho. Começou numa Assembleia em 2008. Em seguida,
foram levantados os requisitos para sua implantação,
como seria a fiscalização e a manutenção do local, além
do acesso dos associados e moradores. O Bosque foi
chancelado pela Eletronuclear em novembro de 2009.
Após análises de viabilidade do projeto, as várias
etapas de planejamento e estudo arquitetônico-paisa-
gista, as mudas recompõem área da Mata Atlântica,
na Vila Residencial de Mambucaba, Angra dos Reis.
Da previsão inicial de 10.000 mudas, por questão
de espaço, 3.800 foram plantadas em 2010. Dulciliam
detalha que “o Bosque teve a parceria da Eletronu-
clear, mostra nosso compromisso com a Natureza e
reafirma nossa essência de cooperação. Há previsão
de ampliar a área e de plantio de novas mudas”.
22
Cecremef muda a vida de cooperados
Cooperados contam a importância da cooperativa em histórias de amor, perseverança e supe-
ração. Esses e outros depoimentos, bem como relatos de ex-presidentes e ex-diretores, fazem
Almiro Joaquim de RezendeAdministrador, Almiro Rezende associou-se logo de-
pois que entrou em Furnas, em 1972. A cooperativa per-
mitiu-lhe realizar um sonho que é uma linda recordação
para toda sua família: “Com meus dois filhos jovens, eu
e minha mulher fomos à Disney. Passaporte nunca fora
pensado em minha família. Financiamento, atendimento,
excelente apoio da agência turística e convivência com
colegas, tudo funcionou muito bem e refletiu o cuidado
que a cooperativa tem conosco.”
Elson Luiz das Neves SilvaCoordenador gráfico de Furnas, onde começou em
1982, Elson é associado há mais de 20 anos: “É im-
portante como a cooperativa analisa nossos proble-
mas e como não somos vistos, nem tratados como
‘necessitados’, mas como parceiros e com calor hu-
mano. É entidade financeira e um suporte para nossas
necessidades.”
Paulo Donizete Ferreira dos Santos“Vesti a camisa.” Desta forma, Paulo, assistente ad-
ministrativo e representante da cooperativa na Usina de
Estreito, conta que se associou à cooperativa imediata-
mente após ingressar em Furnas, em 1979. “Como re-
presentantes, sinto que somos uma referência. Partilho
com os sócios a alegria com o que conseguem por meio
da Cecremef. É muito gratificante ter este papel social.
Outro grande benefício é que a cooperativa nos possibi-
lita programar nossa vida financeira.”
Paulo KoslowskyUm dos pioneiros da cooperativa, Paulo reafirma,
aos 84 anos, a importância para sua família, que pos-
sibilitou formar os dois filhos em Veterinária e em
Educação Física, quando foi “muito bem atendido” na
obtenção de empréstimos.
Encarregado de Manutenção Mecânica de Furnas,
onde começou em 1967, explica o bem que todos usu-
fruem no crédito mútuo e na cooperativa, em especial:
“No conjunto de uma engrenagem, se um dente não fun-
cionar bem, todo o conjunto estará comprometido ou
perdido. É assim que vejo a cooperativa, com tantos
colegas solidários e sendo atendidos na hora certa em
suas necessidades.”
Alzira Silva de SouzaReferência do cooperativismo de economia e crédito
mútuo no Brasil, após décadas de dedicação à Cecremef,
seja como uma dos 32 fundadores, nos diversos cargos
que ocupou, ou ainda atuando nos bastidores, pergunta-
da se faria tudo de novo, após tantos sonhos, desafios e
realizações, respondeu: “Faria muito mais!”
Alzira relembrou que tudo começou com Maria There-
za Teixeira Mendes, que conheceu, nos Estados Unidos e
no Canadá, o bem-sucedido modelo do crédito mútuo de
cooperativas fechadas. Começava a surgir um movimen-
to cujo modelo privilegiava atender à classe operária,
sem acesso ao crédito e presa à agiotagem. Envolver-se
totalmente com o movimento foi, também, uma forma de
enfrentar o mercantilismo.
Helen Albuquerque Borges de MirandaA transformação da área do Bosque em um espaço
comunitário junto à natureza faz a cooperada Helen Mi-
randa declarar, com emoção, que conciliar seu trabalho
com a Gerência de Meio Ambiente e o Bosque Cecremef
é uma doação ao retorno do destino: “É como uma cons-
trução feita em cadeia, é a realização de um trabalho
conjunto, é uma prova de ajuda mútua, que só aumenta
meu compromisso com o cooperativismo.”
parte do livro que será lançado por ocasião das comemorações dos 50 anos da cooperativa. Registros fotográficos
também foram compilados na edição. Na página ao lado, algumas imagens marcantes.
23
Fatos em fotos
Na Assembleia Geral de 1981, a presença das famílias
Dulciliam e o logotipo em madeira produzido pelo associado Edson de Paiva Castelo Branco
Os 12 fundadores na comemoração dos 20 anos da cooperativa, em 1981; no destaque, Maria Rosália Thereza Teixeira Mendes
Ministro do Trabalho inaugura a sede da Cecremef
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O presidente Hiram de Castro Moraes recebe comitiva de Furnas
Capa do livro comemorativo dos 50 anos
24
Causa&Efeito
Abdul Nasser é especialista em Direito Tributário e em Gestão de Cooperativas.Ronaldo Gaudio é especialista em Direito Processual Civil e MBA em Business Law.
Ambos são sócios da Gaudio & Nasser Advogados Associados.
Sem entrar no mérito da inadequação da hipótese de
incidência da COFINS aos ingressos decorrentes de atos
cooperativos, em análise de recentes posicionamentos da
Receita Federal, é incoerente o posicionamento da RF fren-
te ao adequado tratamento ao ato cooperativo.
Adequado não significa isento ou imune, mas sim um tra-
tamento que permita a incidência tributária apenas naqui-
lo que realmente se coadune com a regra matriz tributária
respectiva. Um bom exemplo disso pode ser verificado ao se
comparar as Soluções de Consulta nº 91/2010 e 342/2010,
sendo a primeira referente a cooperativas de transporte de
cargas e a segunda relativa a cooperativas agropecuárias.
A primeira define: “As cooperativas de transporte rodoviário
de cargas poderão excluir, da base de cálculo da COFINS, os va-
lores repassados aos associados decorrentes da prestação de
serviços contratados pelas cooperativas, devendo contabilizar
destacadamente tais operações, comprová-las mediante docu-
mentação hábil e idônea com identificação do associado e do va-
lor da prestação dos serviços, bem como efetuar o pagamento
da contribuição do PIS incidente sobre a folha de salários.”
Já na segunda, a Receita diz: “Entre outras hipóteses e
respeitados os requisitos do art. 23 da IN SRF nº 635, de
2006, a cooperativa [agropecuária] pode descontar, do valor
das contribuições incidentes sobre sua receita bruta, bem
como manter, créditos calculados em relação a: a) bens para
revenda a associados, adquiridos pela cooperativa e de não as-
sociados; b) aquisições efetuadas no mês, de não associados,
de bens e serviços especializados utilizados como insumo na
prestação de serviços aplicáveis na atividade rural, relativos a
assistência técnica, extensão rural, formação profissional e as-
semelhadas e na industrialização da produção do associado; e c)
armazenagem da produção do associado. Todavia, a cooperativa
não pode descontar, do valor das contribuições incidentes sobre
sua receita bruta, tampouco manter, os créditos calculados em
relação a: a) repasse de valores aos associados, decorrentes da
comercialização de produto por eles entregue à cooperativa; e
b) receitas financeiras decorrentes de repasse de empréstimos
rurais contraídos junto a instituições financeiras.”
Ambas as operações têm a mesma natureza: a cooperativa
recebe os valores e repassa aos cooperados, porém, na agro-
pecuária, isto não pode ser objeto de exclusão. No transporte
de cargas, sim. Há um tratamento desigual entre contribuintes
em situação semelhante, o que é inconstitucional. O absurdo
se agrava quando se nota que a possibilidade de exclusão de re-
passes aos associados de cooperativas de transporte somente
é permitido às cooperativas de cargas, sendo vedado o mesmo
tratamento às cooperativas de transporte de passageiros.
Obviamente, tal situação pode ser ajustada por meio de ação
judicial, mas, até que a cooperativa promova tal ação, terá de ver
outras sociedades que operam da mesma forma e que estejam
sendo beneficiadas. A comparação é argumento importante para
estampar o tratamento inadequado. Estes são apenas alguns
efeitos do desconhecimento e da incompreensão do significado
de adequado tratamento tributário ao ato cooperativo. Mais
grave que isso, há desrespeito ao princípio da isonomia tributá-
ria, princípio geral de direito tributário.
A Receita Federal e o adequado tratamento tributário ao Ato Cooperativo
25
Novo cenário de mercado para cooperativasAs cooperativas inauguram uma
nova fase em sua inserção no merca-
do, reabrindo-se sua participação em
licitações públicas. A Lei Federal n°
12.349/2010 alterou a Lei 8.666/93.
No que concerne às sociedades coo-
perativas, muda a redação do inciso I
do §1° do art. 3° da Lei de Licitações,
impedindo explicitamente que o ad-
ministrador público impeça direta ou
indiretamente a participação de coo-
perativas em certames públicos.
A restrição jamais teve fundamento
jurídico correto, mas o STJ referendava
a restrição às cooperativas em contra-
tos públicos. Além do argumento de se
tentar evitar fraudes, o entendimento
baseava-se na equivocada percepção de
Em resposta à Solução de Con-
sulta nº 7/2011 à Receita Federal, as
cooperativas de serviços médicos que
atuam como operadoras de planos de
saúde recebem de pessoas físicas os
pagamentos pelos serviços por elas
prestados, emitem os respectivos re-
cibos/notas fiscais e estão obrigadas
A possibilidade de empresários e
gestores de cooperativas escaparem
de processos penais por crimes con-
tra a ordem tributária através do pa-
gamento dos débitos, diretamente ou
por parcelamentos fiscais, chegou ao
fim com a publicação da Lei 12.382
(Lei do Salário Mínimo). A novidade
afeta a estratégia adotada para evitar
possíveis condenações criminais.
Pela norma, se o pagamento integral
ou parcelamento não for efetuado antes
do recebimento, pelo juiz, da denúncia
Fim da extinção de punibilidade do crimetributário por pagamento ou parcelamento
Curtas
Causa: Trabalho. Legalidade de Terceiri-
zação não se analisa de forma dogmática
entre atividade meio e fim.
Efeito: Só a análise concreta de cada
modelo de estruturação da atividade eco-
nômica e do contrato de serviços pode
revelar se a terceirização é ou não lícita.
Causa: Taxistas. Lei Municipal do Rio n°
3.375/2000 impede suspensão de car-
teira de habilitação por pontos decor-
rentes de multas.
Efeito: Se o taxista for parado em blitz e
sua buscarem apreensão de carteira com
esse motivo, pode informar que o a lei im-
pede a apreensão. Se não acatado, com a
lavratura do auto de infração as providen-
cias podem ser tomadas contra o agente,
que será reputado autoridade coatora.
Causa: Crédito. Operações com asso-
ciados com restrições cadastrais ou ca-
dastro incompleto.
Efeito: Possibilidade de sanções do art.
44, da Lei 4.595/64 e inabilitação tem-
porária para gestão de instituições finan-
ceiras e equiparadas no âmbito do SFN.
que trabalhos “coletivos” por coopera-
tivas só poderiam ser executados se
fossem “absolutamente autônomos”.
Entretanto, na prática, não é. Está
sendo negado o direito dos sócios de
cooperativas autogerirem seus traba-
lhos com regras próprias.
Apesar de algumas leis serem con-
trárias à nova redação da lei 8.666,
em especial no estado de São Paulo, a
nova norma põe fim à divergência sobre
o tema e bloqueia a vigência do acordo
entre MPT e AGU para atos praticados
após 15/12/2010, bem como “revoga”
legislação contrária e anula lei não na-
cional posterior a ela e que verse tam-
bém em sentido contrário.
A conduta refratária do Poder Pú-
blico desafia, em tese, medidas de per-
tinente calibre, sendo os legitimados
não só as cooperativas, mas seus ór-
gãos de representação mais variados,
a sociedade civil organizada, órgão pú-
blicos de fiscalização e mesmo cidadãos
individualmente; além de denúncias di-
rigidas a ACI (Aliança Cooperativista
Internacional) e cortes internacionais
com jurisdição de pertinência temáti-
ca, tais como a Corte Interamericana
de Direitos Humanos. As possíveis in-
tercorrências e resistências do Poder
Público desafiam ações civis públicas,
ações de controle constitucional con-
centrado, ações populares, mandados
de segurança individuais ou coletivos,
ou outras com diferentes vieses.
do Ministério Público (quando o magis-
trado diz se aceita ou não a abertura da
ação penal), o processo criminal passa
a correr normalmente, ao contrário do
que acontecia anteriormente.
Mas há uma luz no caso, pois ad-
mite-se indiretamente a possibilidade
de suspensão da punibilidade por meio
do parcelamento, sendo condições
para isso o deferimento dessa mora-
tória antes do MP oferecer denúncia
e a adimplência total e irrestrita de
todas as parcelas.
DMED obrigatória para operadoras de planos de saúdeà apresentação da DMED.
Na mesma solução de consulta, a
Receita se posicionou no sentido de
que as cooperativas de serviços mé-
dicos estão impedidas de emitir notas
fiscais referentes a serviços presta-
dos por seus cooperados em nome
dos próprios cooperados.
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Com atendimento 24 horas, alto padrão de qualidade
e voltada à classe A, a Táxi Graffiti é a cooperati-
va do segmento que mais investe na qualidade de seus
serviços, acompanhando as transformações no que diz
respeito ao transporte e comunicação corporativa.
Analisando cada necessidade, a cooperativa, que iniciou
suas operações em 2008 e está localizada no Méier, pla-
neja a viagem e realiza o compromisso com competência e
exclusividade. Sua central de operações está na sede da
cooperativa, em Benfica, onde localiza-se o call center.
Carros grafites
Conforto e segurança é coisa séria na Táxi Graffiti. Os
carros têm, no máximo, três anos. Possuem todos os
acessórios, itens de segurança, sistema de transmissão
e recepção por meio de PDAs e rastreadores GPRS. “Tudo
isso para fazer de sua viagem a mais agradável possível”,
aponta o presidente da cooperativa, Dilson Barcellos.
A beleza e o requinte dos carros revelam um design úni-
co. “Todos são pintados na cor grafite, com faixas laterais
exclusivas, dando às viaturas uma aparência ímpar, facil-
mente reconhecida nas ruas”, ressalta Dilson. “Escolhemos
o grafite e associamos ao nome da cooperativa”, continua.
Os carros possuem seguro total de 100 mil por pas-
sageiro para casos de acidente. São novos e asseados
diariamente. A frota está em fase de expansão e conta
com modelos como Zafira, Astra, Vectra e Corolla.
Seus motoristas usam ternos e são treinados para
prestarem um serviço de elevado padrão. Falam, ao menos,
dois idiomas. A carga horária é mais baixa e, para isso,
possuem auxiliares com revezamento a cada 12 horas.
“Isso é importante para trazer segurança e tranqui-
lidade aos usuários pois os motoristas estão descan-
sados para não comprometer a segurança da viagem.
Assim, ele poderá transmitir mais prazer em dirigir a
Táxi Graffiti. Além disso, o usuário fica mais feliz em ser
transportado conosco”, conta o presidente.
Parceria e pagamento
A Táxi Graffiti possui convênios com várias empresas,
hotéis, terminais aeroportuários, agências de viagens e
turismo. Também aceita reserva para festas, casamentos,
viagens e turismo, além de trabalhar com todos os cartões
de crédito e débito com recebimento no próprio veículo.
De acordo com o presidente da cooperativa, os contra-
tos com as empresas possuem atendimento diferenciado.
“Além disso, viajamos para qualquer lugar do país.”
É luxo só! Leo
Poy
art
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A Coopertur é a primeira cooperativa de turismo no
Estado do Rio de Janeiro. Criada recentemente, em
agosto de 2010, com 21 cooperados, originou-se após a
Lei Geral do Turismo de 2008, que regulamenta o setor.
“Nosso s cooperados são oriundos da Abar (Associa-
ção dos Barqueiros de Angra dos Reis). Nosso objetivo é
fazer parte do mercado de turismo local, que está cres-
cendo consideravelmente todos os anos. Além disso,
distribuir renda de forma homogenia ao maior número de
pessoas”, diz o presidente David Plácido.
A Lei do Turismo trouxe alguns vetos, como o impedi-
mento da comercialização da atividade turística por asso-
ciações de classe. “Elas não possuem fins lucrativos ou
econômicos. Perante a Lei, as associações somente re-
presentam os anseios de uma comunidade”, explica David.
“Por isso, a associação não tem o direito de obter certifi-
cado do Ministério do Turismo (MT) para se qualificar como
atividade remunerada. Já as cooperativas são reconheci-
das pelo MT e possuem fins econômicos”, completa.
Dividir as riquezas oriundas deste setor e capacitar
profissionalmente os interessados em trabalhar com tu-
rismo estão nos planos da cooperativa. “Nosso objetivo
é transformar a Coopertur em uma máquina de fazer
turismo e uma marca conhecida em todo o território
nacional”, aposta o presidente.
O que a difere a cooperativa das agências tradicionais
Cooperativismo no paraísoestá no fato de compartilhar a renda e oferecer ao tu-
rista uma gama de opções em locação de embarcações.
Dentre os serviços, estão a locação de vários tipos de
lanchas, barcos, traineiras e escunas.
“Se existe um paraíso, é bem perto daqui”, disse
Américo Vespúcio, em 6 de janeiro de 1502, quando re-
latou em uma de suas cartas a descoberta de Angra
dos Reis. E falar sobre este paraíso é fácil: são 365
ilhas, consideradas uma das sete maravilhas do Rio de
Janeiro, e 104 praias - muitas servem de cenário para
gravações de filmes e novelas.
Angra, principal área de ação da cooperativa, destaca-
se por suas belezas naturais. “Quem conhece a cidade
se encanta. Mas os governantes da cidade têm muito a
aprender com turismo, carente de investimentos”, diz.
Al mare
David Plácido sempre foi um amante do mar e de-
seja estar perto dele até o último suspiro de sua vida.
“Comecei a trabalhar neste setor desde pequeno, jun-
to com familiares. Foi ao tomar posse, em 2008, como
presidente da Abar, que vi a necessidade dos associados
se profissionalizarem. Dessa maneira, teremos fôlego,
através de uma cooperativa, para concorrer de igual
para igual com os grandes empreendedores do turismo
de Angra”, conta.
Div
ulga
ção
28
Opinião
Um modelo de gestão empresarial baseado na confiança
surge em resposta aos desafios do mundo mo-derno,
no qual a complexidade do cenário organizacional e o nível
de incerteza crescem a cada dia. Entre os pensadores
que se dedicam às questões corporativas, a confiança
vem sendo valorizada e reconhecida como um mecanismo
que torna as relações humanas mais abertas e coopera-
tivas. Com isso, aumentam a integração, a fluidez e a fle-
xibilidade em todos os níveis da empresa, o que contribui
para o desempenho superior e o êxito competitivo.
Confiança é um precioso bem da empresa, um ativo
potencial intangível que integra seu capital social, e tam-
bém um diferencial competitivo de primeira grandeza, na
medida em que proporciona aprendizagem contínua, ino-
vação e diminuição dos custos com supervisão e contro-
les. Antes da globalização da economia e do acelerado
Direção por confiança,a nova tendência da gestão corporativa
José María Gasalla é palestrante e consultor empresarial nas áreas de Mudança e Desenvolvimento Organizacional, Recursos Humanos, Gestão de Pessoas e Desenvolvimento de Talentos.
Autor de diversos livros, entre eles “Da Confiança ao Compromisso” (www.gasalla.com)
desenvolvimento tecnológico começarem a revolucionar
o mundo corporativo, os modelos de gestão baseavam-
se em supervisão direta e controle. Eram desenhados
de tal modo que a estrutura hierárquica exercesse vigi-
lância sobre o funcionamento do sistema, o que deixava
implícita a falta de confiança em relação às pessoas.
Hoje, a economia sem fronteiras, a corrida tecnoló-
gica, a inclusão do conhecimento como recurso organi-
zacional e as pressões por ganho de competitividade e
eficiência estão provocando profundas transformações
nas empresas. Um número crescente delas vem desen-
volvendo, nos últimos anos, modelos de gestão com foco
não mais nas estruturas, mas nas pessoas – como Ges-
tão por Competências, Direção por Valores e Gestão da
Diversidade. O que a comparação entre o modelo com
foco na estrutura e o modelo com foco nas pessoas su-
29
gere é que quanto maior o controle, menor a confiança e
vice-versa. Em termos organizacionais, essa relação tem
grande importância, pois dá ao fenômeno da confiança
uma dimensão econômica. Significa que quando obtemos
um alto grau de confiança na empresa, podemos dimi-
nuir os mecanismos de controle e, consequentemente,
os custos para mantê-los. Não se trata de eliminar com-
pletamente o controle – visto que todo sistema, para
funcionar bem, exige algum tipo de mecanismo regulador
–, mas de questionar sua fonte e os meios pelos quais é
aplicado. Afinal, a “mente corporativa” está consciente
dos custos que o controle representa para a organiza-
ção e de como poderiam ser reduzidos com certo nível
de confiança?
Neste ponto é importante deixar claro que, ao falar
em confiança, não nos referimos à aceitação incondicio-
nal das decisões superiores por parte dos funcionários,
que é o que vemos em algumas empresas. Confiança é
um sentimento gerado quando a verdade é dita e pro-
messas são cumpridas. É bem verdade que, quando se
aceita uma promessa, deve-se assumir que ela pode ou
não se concretizar. Logo, a confiança implica certo risco
e traz consigo alguma incerteza, pressupondo uma en-
trega voluntária e consciente do grau de vulnerabilidade
que se está disposto a assumir. Não é algo, portanto,
que surge de forma natural e espontânea, mas nasce do
desejo de conhecer e compreender o outro para saber se
é digno de confiança. Tampouco é algo que se possa pedir
nem exigir, mas que se inspira.
Muitos se perguntam até que ponto é possível confiar
em um mundo no qual predomina a desconfiança. Mas
apesar desse panorama um tanto desolador, estou con-
vencido de que hoje, mais do que nunca, a confiança é
necessária para o desenvolvimento das organizações.
Como fenômeno emocional, ela predispõe as pessoas a
se integrarem umas às outras e se abrirem para trocas,
sem medo de perder a propriedade de experiências, co-
nhecimentos e competências. Fomenta a transferência
do saber e abre espaços de luz e interrelacionamento no
sistema, colaborando com o fluir da organização.
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JogoRápido Carlos Alberto Picorelli, representante estadual do ramo agropecuário do Rio de Janeiro
RC - As contratações do crédito
rural passaram de 56% do total
programado entre julho de 2010
e janeiro de 2011. Nesse perío-
do, em todo o país, os produtores
contrataram R$ 56,3 bilhões dos
R$ 100 bilhões previstos para a
agricultura. O número mostra
que os financiamentos do Plano
Agrícola e Pecuário 2010/2011
superaram em 20,5% o volume
contratado em período igual no
ano passado (R$ 46,7 bilhões).
A linha de crédito ofertada é
satisfatória?
Sim. Entretanto, observa-se
que os produtores terão dificul-
dades de enquadramento. A meu
ver, não adianta disponibilizar recursos variados e per-
mitir que o agente financeiro encare o produtor como se
fosse uma empresa urbana, dificultando sobremaneira a
análise de risco e não levando em conta as intempéries
climáticas, sazonalidades etc.
RC - Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), os recursos para custeio e co-
mercialização ultrapassam R$ 42 bilhões, o que repre-
senta quase 56% do valor previsto para a safra atual
(R$ 75,5 bilhões). Já os desembolsos dos programas
de investimento chegam a R$ 8,3 bilhões. Além desses
recursos, o governo colocou à disposição linhas espe-
ciais de crédito. Destaque para o Programa de Capita-
lização de Cooperativas Agropecuárias (Procap-Agro),
tendo liberado R$ 1,7 bilhão (85% do previsto). Qual
é a sua análise sobre esses números?
Acredito que o prazo ofertado para créditos deveria
seguir a linha de crédito rotativo. Isso com amortização
A importância do crédito rural para as cooperativas
dos juros do período e carência
de cinco anos, permitindo ao pro-
dutor uma adequação aos paga-
mentos. O crédito ofertado deve-
rá chegar ao produtor pelo preço
combinado e não com diversas
taxas bancárias e cartoriais em-
butidas alterando, assim, o valor
contratado e prejudicando, prin-
cipalmente, o tomador de peque-
nos créditos.
RC - Segundo dados do Governo,
outros R$ 869 milhões foram
contratados pelo Programa de
Desenvolvimento Cooperativo
para Agregação de Valor à Produ-
ção Agropecuária (Prodecoop), o
equivalente a 43,5% do previsto para safra.
A questão é como abraçar todos os envolvidos na ca-
deia produtiva. O agronegócio é – e será cada vez mais
– uma força produtiva em nosso Estado. De leite e deri-
vados à cana-de-açúcar, as cooperativas agropecuárias
fluminenses estão em crescimento pois existe demanda.
RC - E qual é a comparação em relação à safra
2009/2010?
Para se ter uma ideia, o Mapa informou que foram
aplicados R$ 34,7 bilhões em crédito rural na safra
2009/2010. A agricultura familiar ficou com R$ 8,7 bi-
lhões, enquanto os demais produtores e cooperativas
contrataram R$ 26 bilhões. Mas isso não significa que a
Prefeitura do Rio e o Governo do Estado não pararam de
distribuir recursos financeiros. Apesar dos problemas
climáticos que atingiram o Rio de Janeiro no início deste
ano, os recursos foram liberados. Mas a necessidade é
para já, para suprir uma carência de momento.
“O prazo ofertado para créditos
deveria seguir a linha de crédito
Rotativo, permitindo ao produtor
uma adequação aos pagamentos.”
Carlos Alberto Picorelli
Leo Poyart
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