RMMG Suplemento 19 4 S1 Anestesiologia -...
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Editorial
19/4-S1
UMA PUBLICAÇÃO DA Associação Médica de Minas
Gerais – AMMG • Conselho Regional de Medicina de Mi-
nas Gerais – CRM-MG • Cooperativa Editora e de Cultura
Médica Ltda. – Coopmed • Faculdade de Ciências Médi-
cas de Minas Gerais – FCMMG • Faculdade de Medicina
da UFMG – FM/UFMG • Faculdade da Saúde e Ecologia
Humana – FASEH • Federação Nacional das Cooperati-
vas Médicas – Fencom • Secretaria de Estado da Saúde
de Minas Gerais – SES/MG • Secretaria Municipal de Saú-
de de Belo Horizonte – SMSa/BH • Sindicato dos Médicos
do Estado de Minas Gerais – Sinmed-MG • Unimed-BH
Cooperativa de Trabalho Médico Ltda – Unimed-BH.
Diretoria Executiva do Conselho GestorFrancisco José Penna – Presidente •
Helton Freitas – Diretor Financeiro •
Marcelo Gouvea Teixeira – Diretor de Relações Institucionais •
Conselho GestorAmélia Maria Fernandes Pessôa (Sinmed-MG) •
Antônio Carlos Martins Guedes (Coopmed) • Assuero
Rodrigues da Silva (FASEH) • Ciro José Buldrini
Filogônio (Fencom) • Cláudio de Souza (CRM-MG) •
Francisco José Penna (FM/UFMG) • Helton Freitas
(UNIMED-BH) • Marcelo Gouvea Teixeira (SMSa-BH)
• José Côdo Albino Dias (AMMG) • Ludércio Rocha
de Oliveira (FCMMG) • Nery Cunha Vital (SES/MG) •
Editor AdministrativoMaria Piedade Fernandes Ribeiro Leite
Secretária Suzana Maria de Moraes Miranda
Normalização Bibliográfi caMaria Piedade Fernandes Ribeiro Leite
Projeto gráfi co: José Augusto Barros
Produção Editorial: Folium
Tiragem: 1000 exemplares
Indexada em: LILACS – Literatura Latino-Americana
em Ciências da Saúde; PERIODICA – Indice de Revistas
Latinoamericanas; LATINDEX – Sistema Regional de
Información en Linea para Revistas Científi cas de
América Latina, el Caribe y Portugal.
Versão online: http://rmmg.medicina.ufmg.br/
Início da Publicação: v.1, n.1, jul./set. 1991
Correspondências e artigos
Revista Médica de Minas Gerais
Faculdade de Medicina da UFMG
Av. Prof. Alfredo Balena, 190 – Sala 12
30130-100 – Belo Horizonte. MG.Brasil
Telefone: (31) 3409-9796
e-mail (artigos): [email protected]
e-mail (correspondências): [email protected]
Prezados leitores,
A Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais – SAMG informa com
grande alegria e entusiasmo que, em 2009, completamos o nono ano de
publicações de artigos de revisão em anestesiologia.
Neste ano, buscando ampliar a visibilidade e a qualidade das matérias
veiculadas por meio da indexação em base de dados bibliográficas, alcan-
çamos um marco importante, pois, conforme anunciado no editorial do ano
passado, iniciamos preciosa parceria com a Revista Médica de Minas Gerais
- RMMG, que passará doravante, de forma suplementar, a editar os trabalhos
de interesse da SAMG. Com tais alterações os trabalhos publicados passarão
a ser distribuídos, semestralmente, como suplemento da RMMG.
Assim, nossas publicações passam a ser indexadas na base de dados
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – LILACS e
disponibilizada na Internet, texto completo, no site da RMMG
< http://rmmg.medicina.ufmg.br.> e no site da SAMG < www.samg.org.br.>.
Ao concretizarmos esta parceria caminhamos firmes, em direção ao
nosso maior objetivo, para fomentar as publicações científicas aos nossos
leitores e associados, solidificando a publicação como um poderoso instru-
mento de educação médica continuada no âmbito da comunidade médica.
Mantivemos, em 2009, a base ideológica proposta nos últimos anos, tra-
zendo para debate artigos de revisão do seguinte tema central – ANESTESIA
EM OBSTETRÍCIA, uma subespecialidade da anestesiologia em constante
progresso da ciência médica e dos recursos disponíveis a esta especialida-
de que desafia até mesmo os anestesiologistas mais experientes.
Anelamos que esta edição possa ser um importante instrumento
para a reciclagem dos conhecimentos, a fim de ser utilizado na prá-
tica diária. Agradecemos, desde já, a todos que colaboraram para a
realização desta nova fase.
A Comissão Editorial
Conselho Editorial do Suplemento da Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais
Coordenadores: Dr. Emerson Seiberlich Rezende, Dr. Wagner Fernandes Júnior,
Membros: Dr. Adriano Bechara de Souza Hobaika, Dra. Eliane Cristina de
Souza Soares, Dr. Fabiano Souza Araújo, Dr. José Roberto de Rezende Costa, Dr.
Ziltomar Donizetti de Oliveira Borges,
Contatos:
Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais
Rua Eduardo Porto, 575 - B. Cidade Jardim
30.380-060- Belo Horizonte/MG
Telefone: (31) 3291-0901 - E-mail: [email protected]
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sumário
19/4-S1
1 • Mensagem
da Comissão Organizadora
3 • Anestesia na gestante
com pré-eclampsia e
eclampsia
Anesthetic management of parturients with pre-eclampsia and eclampsia
Paulo César de Abreu Sales,
Newton Teixeira Franco
13 • Vasopressores em
bloqueios do neuroeixo
para cesariana
Vasopressors in neuraxial anes-thesia at cesarean sections
Vinícius Pereira de Souza,
Carlos Othon Bastos, Rômulo
Frota Lôbo, José Roberto de
Rezende Costa
Editorial
Foto: Logomarca da Sociedade de Aneste-
siologia de Minas Gerais
Artigos de Revisão
21 • Anestesia para ges-
tante cardiopata
Anaesthesia for pregnant
cardiac disease
Wanderley Rodrigues Moreira,
Lucas Cardoso de Andrade
63 • Parada cardíaca na
gestação
Cardiac arrest during preg-nancy
Raphael de Almeida Carva-
lho, Neuber Martins Fonseca,
Roberto Araújo Ruzi
68 • Normas de
Publicação
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ARTIGO DE REVISÃO
Instituição:Hospital Universitário São José
Endereço para correspondência:R: Cel. Antônio Garcia de Paiva, nº 79/ aptº 2004 –
B: São Bento. Belo Horizonte/MG
CEP: 30360-010.
E-mail: [email protected]
1 TSA/SBA - Professor de Anestesiologia da Faculdade de
Ciências Médicas/MG
Responsável pela Residência Médica de Anestesiologia do
HUSJ/MEC-SBA
Médico Anestesiologista do Hospital Universitário São
José – Belo Horizonte/MG2 ME-3 de Anestesiologia do CET do Hospital Universitário
São José – Belo Horizonte/MG
RESUMO
A pré-eclampsia é uma enfermidade multissistêmica associada à gravidez, com uma
incidência de 5% e que se manifesta a partir da 20ª semana de gestação. É caracteriza-
da por hipertensão materna (PA>140/90mmHg) e proteinúria (>300mg/dia). A pré-
eclampsia é uma das principais causas de nascimento prematuro em todo o mundo.
Um diagnóstico rápido e uma terapia imediata são essenciais para se obter um bom
prognóstico materno e fetal. O tratamento inclui medidas eficientes de diminuição da
pressão arterial para evitar graves complicações tais como hemorragia intracerebral
materna. Ao mesmo tempo, deve-se considerar uma mudança da perfusão utero-
placentária induzida por drogas, bem como as conseqüências que resultam da mesma
para o feto. O magnésio tem um papel essencial para a prevenção e controle das
convulsões. Do ponto de vista obstétrico, em caso de complicações é indicado o parto
cesárea (>34 semanas de gestação) como a terapia ideal. Comparada com a anestesia
geral, a técnica de anestesia do neuroeixo oferece à mãe e ao feto algumas vantagens,
mesmo considerando as contra-indicações do método de escolha.
Palavras-chave: Pré-eclampsia, Eclampsia, Hipertensão, Gravidez, Parto Cesariano.
ABSTRACT
Preeclampsia is a pregnancy-associated illness affecting multiple organ systems. Symp-toms typically occur after the 20th week of gestation and consist of hypertension (>140/90 mmHg) and proteinuria (>300 mg/day). It is one of the leading causes of premature birth worldwide and early diagnosis and treatment are essential for both fetal and maternal health. Therapy is aimed at lowering blood pressure sufficiently to prevent the most severe complications such as intracranial hemorrhages. At the same time attention must be paid to the possible untoward effects of blood pressure medications on uteroplacental perfu-sion and fetal well being. Magnesium is the cornerstone for both prevention and control of eclampsia cerebrovascular events. In cases of severe preeclampsia and eclampsia prompt delivery is indicated, often carried out by Cesarean section (>34 weeks of gestation). Com-pared to general anesthesia, regional anesthesia techniques offer certain advantages to both mother and fetus and in the absence of contraindications they are the methods of choice.
Key words: Preeclampsia, Eclampsia, Hypertension, Pregnancy, Cesarean section.
INTRODUÇÃO
A hipertensão associada à gravidez contribui consideravelmente para morbidade e
mortalidade materna (Tabela 1) durante o parto e representa um fator substancial do
nascimento prematuro. No tratamento interdisciplinar de pacientes com pré-eclampsia
Anesthetic management of parturients with pre-eclampsia and eclampsia
Paulo César de Abreu Sales1, Newton Teixeira Franco2
Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
Por que as gestantes morrem no periparto?
A incidência de pré-eclampsia está entre 3-5% em
nulíparas e 0,5% em multíparas.1 A eclampsia aconte-
ce entre 0,2 e 0,5% de todas as gestações, sendo que
o índice de mortalidade da mãe é de 2% e o índice
de mortalidade fetal é de 12%, sendo este bastante
alto.2 A HELLP síndrome acomete 10-14% dos pacien-
tes com pré-eclampsia e até 30% das pacientes com
eclampsia. A HELLP síndrome acarreta um índice de
mortalidade materna de 3-5% e é acompanhada de
uma mortalidade infantil de 15%.3
As causas de morte mais comuns entre pacientes
com pré-eclampsia e eclampsia são complicações
cerebrais como a hemorragia cerebral seguida por
complicações hepáticas e pulmonares. Em seis das
14 (47%) mortes maternas durante os anos de 2000 e
2002, ficou demonstrado que a mãe poderia receber
o tratamento convencional. Sendo assim, o potencial
de morte materna tem que ser visto como evitável.4
Classificação das doenças hipertensivas
associadas à gravidez
■ pré-eclampsia: hipertensão e proteinúria;
■ eclampsia: convulsões tônico-clônicas pré-parto,
periparto e até sete dias pós-parto;
■ HELLP síndrome: hemólise, elevação de enzimas
hepáticas e plaquetopenia (<100.000 μl);
■ hipertensão na gravidez: PA diastólica ≥ 90mmHg,
PA sistólica ≥ 140mmHg, ou cada elevação da
pressão arterial diastólica em 15mmHg e cada
elevação da pressão arterial sistólica em no míni-
mo 30mmHg. Cada elevação da pressão arterial
sistólica acima de 160mmHg tem que ser tratada;
■ hipertensão grave na gravidez: PA sistólica > 169
mmHg e diastólica > 109 mmHg.
A pré-eclampsia é um quadro de doenças as-
sociadas à gravidez e é caracterizada por hiperten-
são materna (PA>140/90mmHg) e proteinúria (>300
mg/24h). Ocorre frequentemente a partir da 20ª se-
mana de gestação ou no pós-parto e desaparece, no
mais tardar, três meses após o parto. A partir de uma
pré-eclampsia leve pode-se desenvolver uma pré-
eclampsia grave (Tabela 3), mas a mesma pode se
desenvolver sem o estado primário em poucos dias.
A pré-eclampsia é uma doença que se manifesta em
vários órgãos, tais como coração (aumento da lesão
e eclampsia, o papel do anestesiologista consiste em
garantir um parto sem dor com ajuda de procedimentos
analgésicos e anestesia para o parto cesariano. No mais,
o anestesista tem o dever de reconhecer precocemente
complicações cardiorrespiratórias, renais e cerebrais,
possibilitar um monitoramento invasivo adequado e, se
necessário, realizar um tratamento terapêutico intensivo.
Serão apresentadas as causas patogênicas da pré-
eclampsia e eclampsia (Tabela 2), estratégias de tra-
tamento estabelecidas, terapias medicamentosas, cri-
térios de escolha de monitoramento adequado, uma
ratificação precoce de riscos e uma posição diagnósti-
ca para possibilitar uma terapia adequada do paciente.
Tabela 1 - Causas de morte materna direta de acordo com estudos para a mortalidade materna
Causas de morte materna direta (durante a gravidez e até 42 dias pós-parto)
2000-2002 2003-2005
Trombose e tromboembolismo 30 41
Hemorragia 17 14
Óbitos no início da gravidez (Gravidez ectópica, aborto espontâneo, interrupção, etc.)
15 14
Síndromes hipertensivasSepse urogenital
1411
1818
Outras causas diretas de morte(Trauma, etc.)Morte relacionada à anestesia
0806
0406
Embolia de líquido amniótico 05 17
Número absoluto 106 132
Fonte: Adaptado de Schneider H, Düring P (2006) Hypertensive Schwanger-schaftserkrankungen. In: Schneider H, Husslein P, Schneider KTM (Hrsg) Die Geburtshilfe, 3. Aufl. Springer, Berlin Heidelberg New York Tokyo, S 296-301.
Tabela 2 - O risco relativo de desenvolver pré-eclampsia
Fatores de Risco Risco Relativo
Diabetes mellitus 2,0
Nuliparidade 3,0
Idade> 40 anos 3,0
Gemelaridade 4,0
Pré-eclampsia na família 5,0
Hipertensão arterial crônica 10,0
Síndrome antifosfolipídica 10,0
Doença renal crônica 20,0
Angiotensinogênio-Mutação genética (heterozigotos / homozigotos) 4,0 / 20,0
Pré-eclampsia grave prévia (antes da 28a semana de gestação) 120,0
Outros fatores de risco: obesidade (IMC> 26), coagulopatia materna e colagenoses
Fonte: Adaptado de Schneider H, Düring P (2006) Hypertensive Schwanger-schaftserkrankungen. In: Schneider H, Husslein P, Schneider KTM (Hrsg) Die Geburtshilfe, 3. Aufl. Springer, Berlin Heidelberg New York Tokyo, S 296-301..
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
o mecanismo de proteção antioxidante do organis-
mo materno. Consequentemente ocorre liberação de
substâncias tóxicas e transmissores celulares (exem-
plo: fator de crescimento endotelial, fator de cresci-
mento placentário e radicais livres) da placenta.7
Essa reação inflamatória local causa lesões endo-
teliais generalizadas com síntese reduzida de subs-
tancias vasodilatadoras como Óxido Nítrico (NO) e
Prostaciclina (PGE-2), o que leva a uma preponde-
rância relativa das substâncias vasoconstritoras e,
da célula endotelial, do tônus simpático e da resis-
tência vascular periférica), cérebro (hiperreflexia
generalizada, convulsões, cefaleia, distúrbios visuais
e hemorragia intracraniana), pulmão (edema pulmo-
nar, insuficiência respiratória aguda) e fígado (dor
em flanco direito, diminuição da função hepática,
náuseas e vômitos).
A eclampsia é caracterizada por convulsões
tônico-clônicas generalizadas (Tabela 4), sendo
que até 40% dos pacientes não apresentam os dois
sintomas característicos da pré-eclampsia, que são
hipertensão e proteinúria. As causas das convul-
sões provavelmente são a encefalopatia hiperten-
siva, o vasoespasmo cerebral, o edema cerebral, a
hemorragia cerebral e a isquemia cerebral. Quan-
do a paciente apresenta sinais e/ou sintomas de
eclampsia, os mesmos devem ser tratados o mais
rápido possível. A HELLP síndrome é o principal
diagnóstico químico (Tabela 5) em delimitação
para a pré-eclampsia e eclampsia. A HELLP síndro-
me agrava a evolução da doença em até 10-14% das
pacientes com pré-eclampsia.5 Com isso a mortali-
dade materna é de até 3%.6 Com trombocitopenia,
aumento de D-dímero, de fibrinas e do complexo
antitrombina III, é aconselhável a resolução do
caso o mais rápido possível.
Patogênese da pré-eclampsia e eclampsia
A patogênese da pré-eclampsia é ainda incerta.
Um distúrbio na implantação placentária causa uma
invasão insuficiente da decídua placentária e uma
formação defeituosa das artérias espirais, gerando
hipóxia. Um distúrbio de perfusão leva a um dese-
quilíbrio entre a liberação de radicais de oxigênio e
Tabela 3 - Classifi cação por gravidade da pré-eclampsia
Severidade Característica
Pré-eclampsia levePA sistólica ≥ 140 mmHg PA diastólica ≥ 90 mmHg Proteinúria ≥ 0,3 g/24 h
Pré-eclampsia grave
PA sistólica ≥ 160 mmHg PA diastólica ≥ 110 mmHg Proteinúria ≥ 5 g/24 hOligúria (400 ml/24 h) Trombocitopenia Elevação das aminotransferasesElevação de creatinina sérica Hiperreflexia, cefaléia, distúrbios visuais, epigastralgia, náuseas, vômitos Crescimento intra-uterino retardado
Tabela 4 - Sintomas da pré-eclampsia severa como uma expressão de doença multissistêmica associa-da à gravidez
Pressão Arterial PA sistólica ≥ 160 mmHg PA diastólica ≥ 110 mmHg
RinsProteinúria 5 g/24 h Aumento da creatinina séricaOligúria
Plaquetas Trombocitopenia <100.000
Fígado
Sinais de hemólise (↑ LDH, bilirrubina ↑) Disfunção hepática (↑ TGO, TGP ↑ e ↑ LDH) Hematoma cápsula hepática, Dor epigástricaVômitos
Coagulação Coagulopatia intravascular disseminada
SNC Cefaléias, hiperreflexia, convulsões, hemorragia intracraniana
Olhos Amaurose, hemorragia retiniana, papiledema
Pulmão Edema pulmonar
Placenta Prematuridade placentária
Feto Hipóxia fetal, morte fetal intrauterina
Fonte: Adaptado de Bäz E, Gogarten W (2006) Schwangerschaftsassozi-ierte Erkrankungen. In: Wappler F, Tonner P, Bürkle H (Hrsg) Anästhesie und Begleiterkrankungen. Thieme, Stuttgart, S 422-440.
Tabela 5 - Manifestações laboratoriais da pré-eclampsia e eclampsia
Pressão Arterial
Níveis de Sangue
HemoglobinaHematócritoPlaquetas
> 13 mg / dl> 38%<100.000/μl
Valores hepáticos
TGOTGP
Aumento de 3 vezes o desvio padrão
Valores renais
Ácido úricoCreatininaProteínas na urina
> 6 mg / dl> 1,2 mg / dl > 0,3 g/24 h
Parâmetros de hemólise
LDHBilirrubina (indireta)Haptoglobina (opcional)
↑ ↑ ↑> 1,2 mg / dl↓ ↓ ↓
Testes de Coagulação
QuickFibrinogênioD-dímero(ou testes similares, tais como: TAT / complexo trombina-antitrombina)
<70%<150 mg / dl↑ ↑ ↑
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
reflexa materna, a bradicardia e a acidose fetal.13,14
Mais um ponto negativo da Hidralazina está no
tempo de latência prolongado (>10 a 20 minutos
após sua administração).
A nifedipina é um bloqueador dos canais de cál-
cio, utilizada no tratamento de doença cardiovascu-
lar. Nos últimos 20 anos, diversos estudos tem sido
realizados sobre sua eficácia e segurança na utiliza-
ção em pacientes gestantes. Suas principais aplica-
ções neste grupo de pacientes são para o tratamento
da emergência hipertensiva, no tratamento da hiper-
tensão na gravidez por tempo prolongado, e também
como agente tocolítico.15
Profilaxia das crises convulsivas
O sulfato de magnésio é a droga de primeira
escolha para profilaxia e terapia de crises convulsi-
vas em pacientes com pré-eclampsia e eclampsia.
Sulfato de magnésio diminui o risco e a incidência
de crises convulsivas e é superior a substâncias
como, por exemplo, Fenitoína ou Diazepam no efei-
to anticonvulsivo.16
O mecanismo patológico do ataque convulsivo
na eclampsia é possivelmente por isquemia local
na base de um vasoespasmo cerebral. Provavel-
mente, a ação anticonvulsiva do sulfato de mag-
nésio é através de um bloqueio do receptor NMDA
(N-metil, D-aspartato) com consequente melhora
da perfusão cerebral.17
Instrução para o uso de sulfato de magnésio: dose
inicial: sulfato de magnésio 2-4 gramas, IV, 15-20 mi-
nutos; dose de manutenção: 1-2 gramas durante as
primeiras 24 horas; objetivo terapêutico: concentra-
ção sérica de magnésio 4-8 mg/dl (2-3,5 mmol/l) e
controle sérico de magnésio de seis em seis horas.
A incidência de efeitos colaterais depois do uso
do sulfato de magnésio é pouca, porém podem apa-
recer efeitos severos indesejados, aos quais o anes-
tesiologista deve estar habituado. Juntamente com
as náuseas e os vômitos, podem surgir casos de hi-
porreflexia tendínea. O exame do reflexo tendíneo
é utilizado clinicamente como parâmetro adequado
para a prevenção de uma overdose e deve ser sempre
complementado através de controle sérico de mag-
nésio de seis em seis horas. Depressão respiratória foi
observada em nível sérico acima de 10mg/dl. Após o
uso de relaxantes musculares, sob anestesia geral, é
frequente um aumento do bloqueio neuromuscular.
consequentemente, uma redução da perfusão orgâ-
nica. Ao mesmo tempo, é liberado Tromboxano-A2
(TX-A2), vasoconstritores ativos e plaquetas. Essa
disfunção endotelial, em combinação com um gran-
de número de causas inflamatórias e imunológicas
relacionadas à genética, leva a uma generalizada
diminuição da microperfusão tecidual em pacientes
com pré-eclampsia.8
Terapia medicamentosa hipertensiva da
pré-eclampsia e eclampsia
Por meio de uma terapia anti-hipertensiva con-
sistente e a disponibilidade de medicamentos sem
acentuados efeitos colaterais, o número de mortes
maternas relacionadas à pré-eclampsia foi reduzido
drasticamente.9 O objetivo da terapia anti-hiperten-
siva é a redução da pressão arterial materna sem o
comprometimento da perfusão utero-placentária.
Além disso, a deficiência de volume intravascular e
o edema (hipoalbuminemia, pressão coloido-osmó-
tica reduzida) representam um desafio terapêutico
a mais. A eficácia medicamentosa de substâncias
anti-hipertensivas é reduzida em pacientes com pré-
eclampsia. Em regra, a terapia anti-hipertensiva em
pacientes com pré-eclampsia e eclampsia é de res-
ponsabilidade do obstetra.
De acordo com as recomendações atuais, toda
grávida com pressão arterial sistólica ≥160mmHg
necessita de uma terapia anti-hipertensiva.10 É reco-
mendado definir uma terapia objetiva e interdisci-
plinar. O objetivo da terapia anti-hipertensiva não é
regularizar a pressão arterial materna, porque toda
redução da pressão arterial muito rápida ou muito
acentuada leva a uma redução da perfusão utero-
placentária, e isso acaba prejudicando o feto. A
principal função da terapia antihipertensiva é evi-
tar complicações maternas graves como o acidente
vascular cerebral materno.11
Até agora ainda falta prova científica de que uma
terapia hipertensiva em pacientes com pré-eclampsia
leva a uma melhora no estado da criança.
Na Alemanha, os medicamentos de primeira es-
colha para a terapia anti-hipertensiva, de acordo com
a orientação atual da Associação Alemã de Gineco-
logia e Obstetrícia para diagnóstico e terapia, são o
Hidralazina e o Urapidil.12
Nos Estados Unidos, a administração do Hidra-
lazina é bastante criteriosa, devido à taquicardia
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
Controle hídrico nas pacientes
com pré-eclampsia
O volume de plasma em pacientes com pré-
eclampsia é reduzido em comparação às grávidas
saudáveis. Pacientes com a forma leve de pré-eclamp-
sia apresentam déficit de volume intravascular baixo
(até 10%). Só com o aumento da sintomatologia o dé-
ficit de volume intravascular pode chegar a 40%. O
controle hídrico em pacientes com pré-eclampsia é
difícil porque, devido à alta permeabilidade vascular
e à baixa pressão coloido-osmótica, existe o perigo
de edema pulmonar. Na pré-eclampsia aguda foi ob-
servado que depois de uma terapia de volume ade-
quada houve um aumento da produção de urina.22
Faltam indicações de quanto e qual forma a te-
rapia hídrica em pacientes com pré-eclampsia deve
ser realizada. Até agora não pode ser comprovado
que pacientes com pré-eclampsia se beneficiaram de
uma expansão de volume de plasma.23
Tratamento intensivo medicamentoso de
pacientes com pré-eclampsia e eclampsia
O anestesiologista tem um papel importante no
tratamento intensivo interdisciplinar de pacientes
com pré-eclampsia e eclampsia. Estão em primei-
ro plano a restrição de fluidos para evitar o edema
pulmonar, o controle da hipertensão materna e a te-
rapia anticonvulsiva de pacientes com pré-eclamp-
sia e eclampsia.
Das medidas (Tabela 6) para o monitoramento
básico dos pacientes, normalmente fazem parte a
análise clínica e o julgamento do feto (movimento da
criança, cardiotocografia).
Em torno de 2,5% dos pacientes com pré-eclamp-
sia desenvolvem edema pulmonar na fase pós-parto,
de modo a que a intensa vigilância médica após o
nascimento deve ser necessária.24 A razão para o
edema pulmonar é a hipertensão arterial associada à
gravidez e ao aumento da resistência vascular. Além
disso, a proteinúria atua na redução na síntese de
albumina hepática, com consequente hipoalbumi-
nemia associada à diminuição da pressão coloido-
osmótica e da disfunção endotelial, caracterizando
a síndrome de Vazamento Capilar. É recomendado,
caso persista oligúria (<500 ml/24 h) e/ou edema pul-
monar, a instalação de um cateter Swan-Ganz para
avaliar a função do ventrículo esquerdo.25,26 Até 93%
O risco de efeitos colaterais cardiovasculares
parece ser pequeno na dosagem clínica. A terapia
inicial deve ser realizada sob o controle eletrocardio-
gráfico. Para um efeito desejado do sulfato de magné-
sio em pacientes com pré-eclampsia, leva-se em con-
ta uma melhora hemodinâmica materna, através da
diminuição da resistência vascular e um aumento do
índice cardíaco. Por serem os rins os órgãos que regu-
larizam a excreção do sulfato de magnésio, e por es-
tarem prejudicados nas pacientes com pré-eclampsia
e eclampsia, a incidência de intoxicação iatrogênica
pelo sulfato de magnésio é maior.
Uma hipermagnesemia com concentração sérica
de 12mmol/1 pode ser acompanhada por uma assis-
tolia. O procedimento de reanimação de grávidas de-
pois de uma intoxicação de magnésio recomenda a
administração de 1g de cálcio (uma ampola de 10ml
gluconato de cálcio) como antídoto.18
Em resumo, a vigilância da terapia de magnésio
deve conter os seguintes procedimentos: exame de
reflexo tendíneo, controle sérico de magnésio, eletro-
cardiograma e oximetria de pulso.
Terapia com ácido acetilsalicílico (AAS)
A pré-eclampsia é acompanhada por uma elevada li-
beração de tromboxano-A2, que predispõe a vasocons-
trição e agregação plaquetária aumentada. Uma opção
para a prevenção e terapia da pré-eclampsia é o uso de
pequenas doses de AAS (80-350mg a partir da 12ª sema-
na de gestação). Em um grupo de 59 estudos realizados
em mais de 37.000 pacientes ficou provada uma mode-
rada diminuição no surgimento de pré-eclampsia (17%),
nascimento precoce (8%), morte fetal intrauterina (14%)
e baixo peso ao nascer (10%). Até agora as dúvidas prin-
cipais são qual paciente seria beneficiada com essa te-
rapia, quando começar o uso de AAS e qual dose exata
dessa substância deve ser usada.19
É de interesse do anestesiologista o uso de
AAS, porque até agora foi sugerido um intervalo de
tempo de dois dias sem AAS antes da realização
de uma punção do neuroeixo, segundo a Associa-
ção Alemã de Anestesiologia e Medicina Intensiva
(DGAI).20 Na segunda recomendação, revisada em
2007, não se recomenda um intervalo de tempo
depois do uso de até 100 mg AAS.21 Durante o uso
de AAS, deve-se evitar o uso da heparina de baixo
peso molecular de 36 a 42 horas antes da punção
do neuroeixo ou a remoção do cateter.
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S3-S128
Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
tamento definitivo da pré-eclampsia é a interrupção
da gravidez. Numa fase precoce da gravidez com
pré-eclampsia leve, uma abordagem conservadora
com acompanhamento médico intensivo é de funda-
mental importância, pois entre a 25ª e a 32ª semana
de gravidez o prolongamento da gestação aumenta
em média dez vezes as chances de sobrevivência da
criança.30 Após a 32ª semana de gestação, o benefí-
cio para a criança é insignificante, e a gravidez deve
ser finalizada após a estabilidade da mãe e a admi-
nistração de glicocorticoides, no prazo de 48 horas,
para auxiliar na maturação pulmonar fetal (<34 sema-
nas de gestação).
Em uma idade gestacional superior a 34 sema-
nas, o parto deve ser induzido, devido à possível
transição de uma pré-eclampsia leve para uma for-
ma mais grave.
Na pré-eclampsia grave, a paciente deve ser hos-
pitalizada imediatamente, e a gravidez, finalizada.
Antes da realização de um parto planejado, fica a
estabilização materna em primeiro plano, evitando
outras complicações graves, tais como hemorragia
cerebral ou crises convulsivas.
Parto vaginal
No decurso de uma forma leve de pré-eclampsia,
o parto vaginal deve ser induzido. Uma vez que o ris-
co para a mãe, em caso de pré-eclampsia grave, é
alto, pode ser realizado um parto vaginal no início do
acompanhamento intensivo interdisciplinar de mãe e
feto, sempre considerando a experiência obstétrica31
(Tabelas 7 e 8). No parto normal de mulheres com
pré-eclampsia, é recomendada a analgesia peridural
(APN), levando em conta as indicações, para redução
do estresse pré-parto, a melhoria da perfusão utero-
placentária.9 Em comparação a pacientes com pré-
eclampsia grave com e sem APN no parto vaginal, foi
detectado que houve aumento da taxa de cesariana
após a instalação de uma APN. Ademais, a incidência
de complicações como edema pulmonar ou insufici-
ência renal se distingue entre os dois grupos.32
Comparação entre os procedimentos
anestesiológicos para parto cesáreo
Indicações para anestesia geral em pacientes com pré-eclampsia e eclampsia
de todas as gestantes com pré-eclampsia se bene-
ficiam de um cateter Swan-Ganz. A indicação para
cateterização invasiva nessas pacientes ainda deve
sempre ser decidida individualmente, porque a taxa
de complicações graves está em torno de 4%.27
A validade e o significado da pressão venosa
central e da pressão de oclusão do capilar pulmo-
nar (PCWP) nos últimos tempos é cada vez mais
questionada. Kumar et al. tem demonstrado que,
em voluntárias saudáveis não grávidas, não existe
correlação entre a PCWP e o volume de enchimento
ventricular esquerdo.28 Mesmo em pacientes com
pré-eclampsia grave, a pressão venosa central rara-
mente se correlaciona com o PCWP. Os parâmetros
hemodinâmicos de gestantes com pré-eclampsia
em comparação com as mulheres grávidas normo-
tensas mostram que as mulheres grávidas com pré-
eclampsia grave tem uma elevada resistência vas-
cular e baixo índice cardíaco.29 Tal monitoramento,
relativamente pequeno, de uma terapia invasiva
venosa central e/ou cateterismo pulmonar arterial
pode e deve ser substituído, no futuro, por cuidados
intensivos de pacientes com pré-eclampsia.
Momento do parto em função da
idade gestacional e gravidade
Para a administração de terapias obstétricas em
pacientes com pré-eclampsia, deve-se distinguir a
pré-eclampsia leve da grave (Tabela 3). O único tra-
Tabela 6 - Manifestações laboratoriais da pré-eclampsia e eclampsia
Monitorizarão da pressão arterial
PVC ou Pressão de oclusão da artéria pulmonar
Oximetria de pulso
Balanço urinário, excreção de proteína total, creatinina.
Parâmetros Laboratoriais:
Creatinina, uréia, ácido úrico, transaminases, bilirrubinas, gama-GT, LDH
Hemograma, com hemoglobina, hematócrito, leucócitos, haptoglobina, hemoglobina livre
TTPa, TC, fibrinogênio, dímero-D, a Antitrombina III, proteína C
Ultrassonografia, tomografia computadorizada (avaliação hepática hematoma)
EEG (potenciais convulsões)
RNM (isquemia cerebral, hemorragia)
PVC = Pressão venosa total; EEG = eletroencefalograma; RNM = ressonância nuclear magnética.
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
terial na intubação traqueal.38 A duração do bloqueio
neuromuscular após uma única administração de
succinilcolina não sofre influência, devido ao uso do
sulfato de magnésio.39 Magnésio potencializa apenas
o efeito de relaxantes musculares adespolarizantes,
sendo recomendado nestes casos o monitoramento
da função neuromuscular.40,41,42 O íon magnésio pode,
a partir de uma concentração sérica de 5 mmol/l, in-
duzir um bloqueio neuromuscular clinicamente rele-
vante e, assim, enfraquecer o reflexo muscular.
O controle rigoroso da pressão arterial é de fun-
damental importância para a paciente que está sen-
do submetida a anestesia geral. Deve ser para o be-
nefício da mãe dar o tempo que for necessário para
evitar um aumento adicional da pressão arterial, mes-
mo tendo razões fetais urgentes para a cesariana.
Comparação entre a raquianestesia e peridural
em pacientes com pré-eclampsia e eclampsia
Em um estudo retrospectivo comparando peridural
e raquianestesia em pré-eclampsia, houve diferença
nos padrões hemodinâmicos, porém sem prejuízo no
estado do recém-nascido. Visalyaputra et al. comparou
ensaios clínicos randomizados entre a raquianestesia e
a anestesia peridural para cesariana em pré-eclampsia
grave.41 A pressão arterial média após a raquianeste-
sia era estatisticamente menor do que após a aneste-
sia peridural. A diferença da pressão arterial sistólica
mais baixa possível dos dois grupos foi de no máximo
10mmHg e não é clinicamente relevante. No entanto, as
fases hipotensas (PA ≤ 100 mmHg) em todos os pacien-
tes foram curtas (≤ 1min), rápidas e facilmente tratáveis.
Medido pelo estado ácido-base e os testes de Apgar
dos recém-nascidos, não houve diferença entre os dois
procedimentos. Os autores concluem que o controle
da pressão arterial na raquianestesia, mesmo na pré-
eclampsia grave, representa um procedimento seguro.
Comparação de anestesia espinhal
em pré-eclampsia grave para gestantes
normotensas e gestantes submetidas
prematuramente ao parto
Em um estudo prospectivo, Aya et al. comparou
o comportamento hemodinâmico de pacientes com
pré-eclampsia grave e mulheres grávidas saudáveis
após a instalação de anestesia espinhal para a cesa-
Existem indicações para anestesia geral em pa-
cientes com pré-eclampsia e eclampsia para cesaria-
na, nomeadamente as contraindicações para a pun-
ção subaracnoidea (distúrbios da coagulação, HELLP
síndrome com plaquetopenia, sinais de hipertensão
intracraniana, etc.) e indicação obstétrica para a in-
terrupção imediata da gravidez através de cesárea, se
ocorrer risco de vida materno e/ou fetal. A incidência
de falha de intubação, por mucosa edemaciada em
obstetrícia, é dez vezes maior do que em pacientes
cirúrgicos gerais e, especialmente, pacientes com pré-
eclampsia parecem predispostas a terem uma dificul-
dade maior na manipulação das vias aéreas.33,34 A in-
cidência de falha na intubação obstetrícia é de 1:249.
Ficou esclarecido, em uma análise de insucessos de
intubação para a cesariana, que muitas vezes não ocor-
reu avaliação pré-operatória das pacientes ou o manejo
da via área não foi seguido de acordo com protocolos já
existentes. É recomendado implementar, através disso,
algoritmos de tratamento e conduta como, por exem-
plo, foi apresentado por Yentis. 35 Esses devem também
ser treinados periodicamente e interdisciplinarmente.36
Caso contrário, podem surgir complicações respirató-
rias em anestesias obstétricas eletivas.37 A intubação
traqueal em paciente com pré-eclampsia e eclampsia
deve ser realizada com sequência rápida. A elevação
da pressão arterial deve ser evitada durante a laringos-
copia e a intubação traqueal. Um aumento da pressão
arterial pode ser compensado pelo uso de opioides,
anti-hipertensivos e β-bloqueadores.
Em particular, a administração de magnésio intra-
venoso concomitantemente ao início da anestesia pa-
rece ser muito eficaz para evitar picos de pressão ar-
Tabela 8 - Indicação fetal para cesariana
Cardiotocografia patológica (por exemplo, desaceleração grave repetitiva)
Grave retardo do crescimento fetal (≤ percentil 5-10)
Oligodraminia intensa
Tabela 7 - Indicações maternas de cesariana
Após crise convulsiva, pré-eclampsia grave
Hipertensão grave
Oligúria / Anúria por aproximadamente 4 horas
Edema pulmonar
Trombocitopenia progressiva
Disfunção hepática progressiva, suspeita ruptura do fígado
Descolamento placenta (freqüência de 15% na HELLP!)
Hemorragia cerebral
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
em combinação com a administração de vasopresso-
res, a infusão rápida de cristaloides pode reduzir a in-
cidência de hipotensão para menos de 2% em mulheres
grávidas saudáveis para o parto cesárea sob raquianes-
tesia.47 Ainda não é certo se esse conceito também é vá-
lido para pacientes com pré-eclampsia, possivelmente
utilizando soluções coloides. Injeções repetitivas de bo-lus são contraindicadas. A menor dose possível deve ser
utilizada (hipotensão inicial, hipertensão secundária).
Condição dos recém-nascidos de acordo com
os diferentes procedimentos anestésicos
para cesariana na pré-eclampsia e eclampsia
Após a anestesia do neuroeixo para a cesariana,
os níveis de apgar da criança são maiores, mesmo em
pacientes com pré-eclampsia, em comparação com
a anestesia geral, ainda que a cardiotocografia for
semelhante no pré-parto. Ao mesmo tempo, após a
anestesia espinhal, ficou detectado um maior déficit
de base na análise do sangue umbilical arterial. No
entanto, os valores medidos estão no intervalo dos
valores obtidos após partos vaginais.14 Em uma com-
paração direta entre os procedimentos de raquianes-
tesia e anestesia peridural, não existe diferença em
relação à condição do recém-nascido em pacientes
com pré-eclampsia.42,48 Assim sendo, não existe uma
objeção a partir da perspectiva da criança à aneste-
sia espinhal para a cesariana.
Diagnósticos pré-operatórios em pacientes
com pré-eclampsia e eclampsia antes da
punção subaracnoidea
Em mulheres grávidas saudáveis, sem evidên-
cias de distúrbios de coagulação, a investigação
laboratorial é desnecessária.20 Para a paciente
com pré-eclampsia e eclampsia, a investigação
laboratorial da coagulação é mandatória antes
de se iniciar uma anestesia espinhal. O número
absoluto de plaquetas para que uma punção do
neuroeixo seja realizada sem riscos não está bem
definido. A abordagem está sob responsabilidade
médica do risco-benefício.
Em uma pré-eclampsia e eclampsia, apenas cerca
de 20% dos pacientes tem trombocitopenia <100.000/
μl, de modo que, para a maioria dos pacientes, não
existe uma contraindicação para uma punção peri-
riana.43 O risco relativo de desenvolvimento de hipo-
tensão arterial foi, em pacientes com pré-eclampsia
grave, reduzido em seis vezes (53,3 vs. 16,6%). A ne-
cessidade de efedrina foi de apenas metade (12,5 ±
7,2 mg vs 6,0 mg ± 0). As pacientes com pré-eclampsia
grave receberam mais volume intravenoso e menos
anestésico espinhal. A crítica dos resultados do pre-
sente estudo foi o peso diferente do recém-nascido.
Os recém-nascidos de pacientes com pré-eclampsia
grave, devido à relativa insuficiência placentária, fo-
ram significativamente mais leves (1496 ± 616 g vs. 3.067 ± 456 g). Isso seria uma declaração de estabilida-
de hemodinâmica, e ocorreriam diferentes manifesta-
ções da compressão aorto-cava pelo útero da grávida.
Em um estudo posterior, Aya et al. constatou o
comportamento hemodinâmico de pacientes com pré-
eclampsia grave em comparação com pacientes que
prematuramente tiveram que submeter a um parto ce-
sariano.44 O peso ao nascer dos recém-nascidos foi si-
milar em ambos os grupos (1000-1900 g). Os resultados
do primeiro estudo foram confirmados. Também nesse
estudo ocorreu o risco de hipotensão arterial após ra-
quianestesia. A facilidade de desenvolver hipotensão
em gestantes com pré-eclampsia grave foi significativa-
mente reduzida (53,3 vs. 16,6%), de forma que os fatores
associados à pré-eclampsia, como aumento da resistên-
cia vascular sistêmica e aumento da responsividade va-
sopressores, parecem ser a causa da estabilidade hemo-
dinâmica. Outra explicação reside talvez no aumento
de atividade simpática de pacientes com pré-eclampsia,
em comparação com grávidas normotensas.45
Avaliação do volume – hidratação
prévia em pacientes com pré-eclampsia
e eclampsia submetidas a anestesia do
neuroeixo para cesariana
A infusão rápida de grandes volumes de cristaloi-
des e/ou de coloides traz o risco de edema pulmonar
em pacientes com pré-eclampsia, devido às perturba-
ções da função endotelial e da baixa pressão coloido-
osmótica. Sobre o efeito da expansão plasmática com
soluções coloides em pacientes com pré-eclampsia,
houve apenas três estudos, os quais não indicam qual-
quer recomendação para o volume de hidratação an-
tes do estabelecimento de uma anestesia espinhal.23
Muito discutida atualmente é a infusão rápida de
cristaloides para a prevenção da hipotensão arterial
após raquianestesia para cesariana.46 Especialmente
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Anestesia na gestante com pré-eclampsia e eclampsia
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de plaquetas.5 Por existir um desequilíbrio da função
plaquetária, afirmações precisas quanto a essa função
necessitam da realização de outros testes, como o tes-
te do Fator de Agregação Plaquetária (PFA).49 O objeti-
vo principal da contagem plaquetária é determinar a
gravidade da HELLP síndrome (Tabela 9). Em média, o
valor mais baixo de plaquetas é medido 29 horas pós-
parto. Uma normalização dos valores plaquetários é
esperado em média entre 4 e 13 dias pós-parto.50,51
CONCLUSÃO PARA A PRÁTICA
A pré-eclampsia é uma doença multissistêmica
associada à gravidez, em que a mulher grávida está
ameaçada em especial pela hipertensão arterial.
Para evitar graves complicações, como hemorragias
intracerebrais maternas, a pressão arterial sistólica
≥160mmHg deve ser consistentemente tratada. Urapi-
dil e a Nifedipina são considerados a ferramenta de
escolha para a redução da pressão arterial aguda. As
convulsões tônico-clônicas diagnosticam a eclamp-
sia. Sulfato de magnésio é a droga de escolha para
profilaxia e terapia de crises convulsivas, assim como
outros agentes anticonvulsivantes. Para um ótimo tra-
tamento periparto do paciente com pré-eclampsia, é
indispensável a estreita comunicação entre o obste-
tra e o anestesista e uma adequada monitorização.
No caso de parto vaginal programado, recomen-
da-se a utilização precoce da anestesia peridural,
que, dependendo do andamento do parto, também
pode ser usada para a cesariana. Para a cesariana
eletiva e de urgência, a anestesia espinhal de dose
baixa é a mais indicada (por exemplo, 8 a 10 mg de
bupivacaína hiperbárica e 5 microgramas de sufenta-
nil ou 100 microgramas morfina). Em relação à hemo-
dinâmica materna e à condição do recém-nascido,
não existem diferenças clinicamente relevantes entre
a raquianestesia e anestesia peridural. Em contrain-
dicações para o procedimento espinhal, indica-se a
anestesia geral com indução por seqüência rápida.
Sulfato de magnésio assegura uma proteção eficaz
contra picos de pressão arterial durante a intubação.
Tabela 9 - Gravidade da HELLP Síndrome
Classe Plaquetas / μl
I <50.000
II 50.000-100.000
III > 100.000
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ARTIGO DE REVISÃO
Endereço para correspondência:R. Senhora das Graças, 130/802 - B. Cruzeiro. Belo Hori-
zonte/MG
CEP: 30310- 130
E-mail: [email protected]
1Membro do Comitê de Anestesia em Obstetrícia da SBA;
Diretor Científico da Sociedade de Anestesiologia de Mi-
nas Gerais; Coordenador do Serviço de Anestesiologia do
Hospital Mater Dei - BH/MG.2Presidente do Comitê de Anestesia em Obstetrícia da SBA;
Membro da Comissão Científica da Saesp; Corresponsável
pelo CET Integrado de Campinas.3Vice-presidente da SAEC; Coordenador do Serviço de
Anestesiologia do Hospital do Câncer do Ceará; Coordena-
dor do Serviço de Anestesiologia do Hospital Cesar Cals.4Anestesiologista Hospital Mater Dei - BHMG; Coordenador
da Clínica Gastrocenter - BH/MG; TSA-SBA; Mestre em Far-
macologia, ICB/UFMG; Médico legista pela ABML, IML/BH;
Integrante da diretoria AMML; Perito judicial.
RESUMO
Justificativa e objetivos: Os fármacos vasopressores sempre apresentaram um lugar
de destaque no controle da hipotensão arterial relacionada aos bloqueios do neuroeixo
em anestesia obstétrica. Este artigo tem o objetivo de discutir os diversos fármacos utili-
zados na prática clínica e as inúmeras estratégias descritas na literatura para a preven-
ção e tratamento da hipotensão arterial pós-raquianestesia para cesariana. Conteúdo:
Com a popularização da raquianestesia como técnica mais utilizada em anestesia para
cesariana, os vasopressores tornaram-se pedra angular para a melhoria dos resultados
maternos e fetais. Várias mudanças de paradigmas se apresentam nos dias atuais,
destacando-se a segurança na utilização de fármacos alfa-agonistas, particularmente a
fenilefrina. A efedrina já não tem sido mais considerada a primeira escolha em aneste-
sia obstétrica, pois pode causar redução no pH fetal. Conclusões: A administração pro-
filática e/ou terapêutica de agonistas alfa-adrenérgicos mostra-se segura e eficaz para o
controle da hipotensão arterial pós-raquianestesia, otimizando os resultados maternos
e fetais. Portanto, sugere-se revisão de conceitos.
Palavras-chave: Hipotensão; Raquianestesia; Vasoconstritores; Cesárea.
ABSTRACT
Justification and objectives: Vasopressor drugs have always been highlighted for the control of hypotension related to neuraxial blockade in obstetrical anesthesia. This article purpose is arguing the several drugs used in the clinical practice and the count-less strategies described in the literature for the prevention and treatment of arterial hypotension after spinal anesthesia for caesarian section. Content: With the populariza-tion of spinal anesthesia as the technique most used in anesthesia for caesarian section, vasopressors became the angular stone for the improvement of the maternal and fetal outcomes. Several changes of paradigms are introduced currently, highlighting the safe use of alpha-agonist drugs, particularly phenylephrine. Ephedrine has no longer been considered the unique first choice in obstetrical anesthesia, because it may cause reduc-tion in fetal pH. CONCLUSIONS: The alpha adrenergic prophylactic and/or therapeutic administration proved to be a safe and effective option for the hypotension control after spinal anesthesia, optimizing the maternal and fetal outcomes. Therefore, that is the time for reviewing old concepts!
Key words: Hypotension; Anesthesia, Spinal; Vasoconstrictor Agents; Cesarean Section.
INTRODUÇÃO
Os vasopressores constituem-se fármacos essenciais dentro do arsenal terapêu-
tico à disposição do médico anestesiologista. Sua administração tem o objetivo de
melhorar e/ou restaurar a perfusão adequada dos diversos órgãos e sistemas. Em
Vasopressors in neuraxial anesthesia at cesarean sections
Vinícius Pereira de Souza1, Carlos Othon Bastos2, Rômulo Frota Lôbo3, José Roberto de Rezende Costa4
Vasopressores em bloqueios do neuroeixo para cesariana
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Vasopressores em bloqueios do neuroeixo para cesariana
e tratamento da hipotensão, comprovando-se a segu-
rança para a administração de fenilefrina. A diferença
verificada nos estudos decorreu do maior valor de pH
da artéria umbilical em conceptos em que os vaso-
pressores alfa-agonistas foram administrados, quando
comparados com aqueles tratados com efedrina.
No início deste século, estudos realizados por
Ngan Kee et al.4, bem como por Cooper et al.5, de-
monstraram que o uso de efedrina para correção da
hipotensão arterial materna, ao contrário do que se
supunha, estava associado com um pH de artéria um-
bilical mais baixo em comparação com outros vaso-
pressores como a fenilefrina. Em 2004, Riley6 relatou
que a efedrina atravessa a placenta, levando a um
aumento na atividade metabólica fetal e subsequente
redução do seu pH arterial.
Embora a diferença dos resultados seja estatisti-
camente significativa, a relevância clínica ainda pre-
cisa ser mais bem estabelecida. No entanto, os dois
fatores reconhecidos de má evolução neonatal são o
pH da artéria umbilical abaixo de 7,2 e seu excesso
de base abaixo de 12, ambos os critérios encontrados
por Ngan Kee et al.4 e Cooper et al.5 em seus estudos.
BLOQUEIO SIMPÁTICO E HIPOTENSÃO MATERNA EM CESARIANA
A extensão do bloqueio neuro-axial necessária
para a realização de uma cesariana atinge neces-
sariamente os dermátomos torácicos. Observa-se
um bloqueio simpático que envolve toda a extensão
toraco-lombar, causando uma simpatectomia farma-
cológica abrangente e praticamente total.2 Esse blo-
queio anestésico causa vasodilatação periférica com
queda subsequente da resistência vascular sistêmica.
Assim, sobrevém em seguida e concomitantemen-
te diminuição do volume sistólico, queda do débito
cardíaco e hipotensão arterial. Como não há autor-
regulação para o fluxo útero-placentário, qualquer
diminuição do débito cardíaco materno correspon-
derá de forma direta a uma diminuição na oferta de
sangue, oxigênio e nutrientes ao concepto.7
O desenvolvimento dessa complicação acarreta
consequências materno-fetais potencialmente gra-
ves, desde que não seja adequadamente tratada.
Geralmente, a gestante apresenta náuseas, vômitos,
tontura e torpor secundários à diminuição do fluxo
sanguíneo cerebral, podendo evoluir para perda da
consciência e colapso cardiovascular na ausência
anestesia obstétrica, sua utilização apresenta inúme-
ras particularidades, decorrentes de seus efeitos sistê-
micos e locais sobre a circulação utero-placentária.1,2
Vários medicamentos e estratégias para a sua ad-
ministração são descritos; a administração de efedri-
na, por exemplo, quando ocorre queda da pressão
arterial basal acima de 20-30% já não é mais a melhor
evidência da literatura. Outras abordagens apresen-
tam, atualmente, impacto decisivo sobre a melhoria
das condições do binômio materno-fetal.
Este artigo tem o objetivo de discutir individual-
mente os fármacos vasopressores, assim como as di-
versas estratégias de sua utilização para a prevenção
e tratamento da hipotensão arterial relacionada aos
bloqueios espinhais, particularmente a raquianeste-
sia, durante a realização de cesariana.
A ESCOLHA DO VASOPRESSORAO LONGO DO TEMPO
Historicamente, a terapia vasopressora em aneste-
sia obstétrica evoluiu desde seus primórdios, quando
se evitava o uso de qualquer fármaco vasoativo, op-
tando-se apenas por medidas como hidratação e des-
locamento manual uterino para a esquerda, a menos
que os níveis pressóricos maternos caíssem significa-
tivamente. Atualmente, os vasopressores podem até
mesmo ser administrados profilaticamente em doses
elevadas, evitando-se quedas da pressão arterial, do
débito cardíaco e da perfusão utero-placentária.
Por mais de 20 anos, a efedrina foi considerada o
vasopressor de escolha em anestesia obstétrica. Acre-
ditava-se que, em virtude do aumento do débito cardí-
aco, seria o fármaco que menos prejudicaria o fluxo
sanguíneo uterino. Em 1974, Ralston et al.3 publicaram
um estudo demonstrando que a efedrina não causava
constrição arterial uterina, apesar da liberação pre-
ganglionar de noradrenalina. Dessa forma, esse vaso-
pressor manteria o fluxo arterial uterino e o pH fetal,
enquanto fármacos como a metoxamina, a menferter-
mina e o metaraminol diminuiriam o fluxo arterial ute-
rino, causando alterações ácido-básicas fetais intensas.
Fármacos alfa-agonistas como a fenilefrina e o metara-
minol eram contraindicados em anestesia obstétrica.
Entre os anos de 1991 e 2000, foram realizados sete
estudos comparando a efedrina com a fenilefrina em
pacientes submetidas a cesariana eletiva sob raquia-
nestesia. Os autores concluíram que não houve dife-
renças entre esses fármacos no que tange a prevenção
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Vasopressores em bloqueios do neuroeixo para cesariana
liberação endógena de noradrenalina dos terminais
neuronais presinápticos (ação indireta). É um fárma-
co resistente ao metabolismo da monoaminoxidase
(MAO) e da catecol-O-metiltransferase (COMT), re-
sultando em uma duração de ação prolongada. Os
efeitos cardiovasculares da efedrina se assemelham
aos da adrenalina, sendo cerca de 250 vezes menos
potente que esta catecolamina. A elevação da pres-
são arterial é menos intensa, porém, sua meia-vida
é dez vezes maior que a da adrenalina. Seu uso en-
dovenoso resulta no aumento da frequência cardía-
ca (receptores beta-1) e do débito cardíaco. Sua atu-
ação em receptores alfa leva a uma vasoconstrição
do leito arterial com aumento da pós-carga, além de
venoconstrição, acarretando um aumento no retorno
venoso e consequentemente do débito cardíaco.9
A efedrina causa uma diminuição dos fluxos re-
nal e esplâncnico e um aumento no fluxo coronaria-
no e na musculatura esquelética. A resistência vascu-
lar periférica pouco se altera, pois a vasoconstrição
inicial é compensada pelo estímulo nos receptores
beta-2, que promovem dilatação de outros leitos vas-
culares. Nos pulmões causa broncodilatação, fato
que o elege como vasopressor de escolha na gestante
asmática em crise. O principal efeito cardiovascular
da efedrina é o aumento da contratilidade miocárdi-
ca devido aos estímulos nos receptores beta-1 adre-
nérgicos. Ainda, uma segunda administração de efe-
drina pode produzir um efeito sistêmico menor que a
primeira, fenômeno denominado de taquifilaxia, que
ocorre com vários fármacos simpato-miméticos.
A efedrina apresenta um efeito mínimo sobre o
fluxo sanguíneo uterino, o que durante muito tempo
a fez o vasopressor de primeira escolha em obstetrí-
cia. Ela rapidamente atravessa a placenta, causando
um aumento das catecolaminas fetais circulantes,
levando a um aumento da atividade simpática, da
contratilidade miocárdica e da frequência cardíaca
fetal. Adicionalmente, a efedrina leva a um aumento
da atividade metabólica fetal e a uma diminuição
do pH fetal, quando comparada à fenilefrina e ao
metaraminol. A relevância clínica desse fato ainda
não foi estabelecida.5,10
Etilefrina
A literatura médica é escassa em relação à etilefri-
na. Entretanto, ainda é muito utilizada no Brasil, em
virtude de seu baixo custo. Sua ação se dá sobre os
de tratamento rápido e eficaz. O feto também sofre
as consequências dessa condição em decorrência
da redução do fluxo útero-placentário, que é direta-
mente dependente do débito cardíaco materno. Por
conseguinte, este último desenvolverá hipoxemia e
repercussões gasométricas na ausência de controle
eficaz das alterações hemodinâmicas na gestante.2
Além disso, a gestante apresenta aumento pro-
gressivo do volume uterino. Assim, quando assume a
posição supina, já apresenta sinais claros de aumento
da pressão venosa em membros inferiores, a partir de
aproximadamente 20 semanas gestacionais. Essa al-
teração intensifica-se até o final do terceiro trimestre.
Isso acontece em decorrência da compressão mecâni-
ca em vasos pélvicos e na veia cava inferior, dificultan-
do o retorno venoso ao coração e consequentemente
limitando o volume sistólico e o débito cardíaco ma-
ternos.7 Dessa forma, o deslocamento uterino manual,
ou através de aparatos específicos como cunhas ou
coxins, impõe-se quando estas pacientes assumem
a posição supina, tal como é necessária para a rea-
lização de inúmeras manobras e procedimentos obs-
tétricos. Quando esse desvio não é adequadamente
realizado, sobrevirão inevitavelmente hipotensão ar-
terial e queda do débito cardíaco materno, seguidas
de hipoxemia e alterações metabólicas fetais.2,7
As alterações hemodinâmicas podem ocorrer de
forma bastante precoce, intensa e dinâmica. Aproxi-
madamente quatro minutos após a instalação do blo-
queio, observa-se a redução máxima do volume sistó-
lico. Por sua vez, o pico da redução da pressão arterial
acontece cerca de seis a oito minutos após o início
da anestesia, com o estabelecimento do bloqueio na
região torácica.8 Rotineiramente, a monitorização é
realizada através da cardioscopia e de medidas indi-
retas da pressão arterial. Como a redução do volume
sistólico antecede a queda da pressão arterial, qual-
quer diminuição observada nesse parâmetro, obtida
pelos mecanismos indiretos de aferição, justifica sua
correção imediata por meio do uso de vasopressores.
FARMACOLOGIA DOS VASOPRESSORES
Efedrina
A efedrina é um agente simpato-mimético sin-
tético, de ação mista, ou seja, tem ação direta nos
receptores adrenérgicos, e também age através da
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Vasopressores em bloqueios do neuroeixo para cesariana
tensão pós-raquianestesia para cesariana apresenta-
ram menor número de episódios de taquicardia, hi-
pertensão e melhor perfil do pH da artéria umbilical,
quando comparado ao uso da efedrina.4
Fenilefrina
Trata-se de fármaco vasoconstritor sintético com
efeitos semelhantes à noradrenalina, embora com
potência inferior a esta.14 Exerce sua ação diretamen-
te como agonista dos receptores alfa-1 adrenérgicos
na circulação periférica, promovendo venoconstri-
ção (principal efeito do fármaco) e aumento da resis-
tência vascular sistêmica. A constrição dos vasos de
capacitância aumenta o retorno venoso e as pressões
de enchimento cardíacas (pré-carga); o aumento da
resistência vascular sistêmica, por sua vez, promove
o aumento da pós-carga. Seu mecanismo de ação
contrapõe-se, portanto, aos efeitos simpaticolíticos
dos bloqueios do neuroeixo, particularmente o blo-
queio subaracnoide, facilitando o controle pressóri-
co após a raquianestesia.
A fenilefrina apresenta efeitos mínimos em recep-
tores beta-adrenérgicos. Assim, não apresenta efeito
cronotrópico positivo como a efedrina.15 Ao contrá-
rio, a fenilefrina tende a apresentar um efeito crono-
trópico negativo secundário ao aumento do retorno
venoso, com diminuição do débito cardíaco.16 A bra-
dicardia secundária à administração de fenilefrina
pode necessitar de tratamento com antagonistas M2-
muscarínicos, como a atropina.
A fenilefrina apresenta meia-vida curta, sendo
rapidamente metabolizada pela COMT (o que não
ocorre com a efedrina) e pela MAO2. Pode ser ad-
ministrada em bolus ou em infusão contínua, sendo
comercializada em nosso meio em apresentação
de 10 mg.mL. Cuidados para a sua diluição e ad-
ministração são fundamentais para se evitar iatro-
genias.17 A diluição da fenilefrina é completamente
diferente da efedrina.
Lee et al.18 publicaram uma revisão comparando
os efeitos da administração da efedrina e da fenilefri-
na em cesariana. Os autores não evidenciaram dife-
renças para a prevenção e tratamento de hipotensão
arterial. Os conceptos em cujas mães se administrou
fenilefrina para controle pressórico apresentaram
maior pH da artéria umbilical (0,03 unidades), assim
como maior excesso de base, comparados com aque-
les onde as mães receberam efedrina.
receptores alfa e beta-adrenérgicos, semelhante aos
efeitos da efedrina. Seu início de ação é de um a três
minutos, e sua meia-vida de eliminação é de duas ho-
ras. É metabolizada no fígado, embora 90% do fárma-
co seja eliminado na urina de forma inalterada.
Belzarena11 realizou estudo comparativo entre
etilefrina e efedrina como vasopressor para correção
da hipotensão arterial materna em cesarianas eleti-
vas sob raquianestesia. O principal resultado do estu-
do foi a ausência de diferenças no efeito da efedrina
e da etilefrina para tratar a hipotensão arterial, o que
ocorreu com frequência quando se realizou a raquia-
nestesia para cesariana. O autor concluiu que, devi-
do à semelhança entre os fármacos e à diferença de
seus custos, a etilefrina pode ser considerada uma al-
ternativa como vasopressor em cirurgia obstétrica.11
Metaraminol
O metaraminol é um agente simpato-mimético
que estimula receptores alfa e beta-adrenérgicos,
com efeito proeminente sobre os primeiros. Esse fár-
maco sofre captação nos terminais nervosos pós-gan-
glionares simpáticos, onde substitui a noradrenalina,
agindo como um falso neurotransmissor. Também
apresenta efeito indireto por meio do estímulo à li-
beração de noradrenalina em terminais sinápticos.9,12
O metaraminol apresenta a capacidade de au-
mentar a resistência vascular sistêmica, agindo no
leito arterial e elevando a pós-carga, e de reduzir a
capacitância venosa, aumentando a pré-carga, além
de apresentar efeito inotrópico cardíaco, melhoran-
do a contratilidade miocárdica. Como vantagens adi-
cionais, apresenta uma curta latência e exibe baixa
variabilidade individual de resposta.8 Quando com-
parado à efedrina, o metaraminol produz uma maior
vasoconstrição periférica (leito arterial e venoso) e
menor efeito inotrópico direto no miocárdio, o que
denota um predominante efeito alfa adrenérgico.
Essa vasoconstrição causa, inclusive, decréscimo de
perfusões renal e cerebral.13 Frequentemente ocorre
bradicardia reflexa junto a esses aumentos pressóri-
cos, o que resulta em redução do débito cardíaco.
Tal fato pode até ser prevenido pela administração
prévia de atropina. Há estudos que comprovam seus
resultados favoráveis quando comparados com os da
efedrina em cesáreas (doses de 1,5 a 5,0 mg).4
Outros estudos clínicos descrevem que pacientes
que receberam metaraminol para o controle da hipo-
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Vasopressores em bloqueios do neuroeixo para cesariana
fármacos. Nesse contexto, os vasopressores mais es-
tudados tem sido a efedrina e a fenilefrina.
A maior parte dos estudos que utilizam a efedrina
profilática por via venosa avalia esse fármaco através
de infusão em bolus.21-27 As doses recomendadas va-
riam amplamente, indo de 5 até 30 mg. A maioria dos
autores demonstra a capacidade desse método em
diminuir significativamente a incidência de hipoten-
são materna sem, entretanto, eliminá-la. Além disso,
as doses mais elevadas tem sido relacionadas à hi-
pertensão reativa e a distúrbios ácido-básicos fetais.
A melhor dose de efedrina, correlacionando sua efi-
cácia para a prevenção da hipotensão e a redução de
seus efeitos colaterais, é de 12 mg. Essa dose, ainda
assim, é maior que aquelas utilizadas habitualmente.
A fenilefrina é outro vasopressor que tem sido
extensivamente avaliado para a profilaxia da hipo-
tensão após bloqueio do neuroeixo em obstetrícia.
A maior parte dos estudos avalia esse fármaco atra-
vés de um regime de infusão contínua,28,29,33 antece-
dido ou não por uma administração em bolus.10,34
Em decorrência das suas características farmaco-
lógicas e sua elevada potência, são raros os relatos
da utilização da fenilefrina apenas em bolus para a
profilaxia da hipotensão.27,34
A infusão preconizada de fenilefrina na litera-
tura varia em torno de 40 a 100 mcg/min-1.10,28,29,33,34
Quando se utiliza um bolus inicial antes dessa infu-
são, a dose média é de aproximadamente 100 mcg
infundidos em torno de dois a três minutos.10,34 Esses
estudos demonstram a eficácia desses métodos de
administração na redução, mas não na eliminação,
da incidência de hipotensão materna, especialmente
quando se utilizam concomitantemente expansão vo-
lêmica e cristaloides29 e as doses administradas estão
em torno de 100 mcg/min-1.28
Ngan Kee et al.10 titularam a infusão de fenilefrina
para a manutenção do nível pressórico em 100%, 90%
e 80% dos valores iniciais em pacientes submetidas a
raquianestesia para cesariana eletiva com 10 mg de
bupivacaína hiperbárica. Essas pacientes foram alo-
cadas em três grupos: G100, G90, G80, respectivamen-
te. A massa total de fenilefrina utilizada foi de 1520mcg
para G100, 1070mcg para G90 e 790mcg para G80. As
altas doses de fenilefrina administradas mostraram-se
seguras clinicamente para a mãe e para os concep-
tos. A incidência de náuseas e vômitos foi reduzida de
40% para 16% e 4% nos grupos G100, G90 e G80, res-
pectivamente. Os conceptos, por sua vez, apresenta-
ram média de pH da artéria umbilical de 7,32±0,04 no
Em pacientes com pré-eclampsia, Dyer e James19
descreveram recentemente a segurança da utilização
de baixas doses de fenilefrina, sem alterações do dé-
bito cardíaco, durante anestesia para cesariana.
MODO DE ADMINISTRAÇÃODOS VASOPRESSORES
Tradicionalmente, toleravam-se queda de até 30%
dos níveis pressóricos após a realização de bloqueios
do neuroeixo em pacientes normotensas e de 20%
em pacientes hipertensas; administravam-se vaso-
pressores apenas quando as quedas eram superiores
às relatadas. Novos paradigmas vem se apresentan-
do ao longo do tempo na literatura. A administração
profilática e/ou terapêutica segura de fármacos va-
sopressores tem um papel central nessa abordagem,
buscando melhorar e otimizar os resultados mater-
no-fetais, assim como a qualidade da assistência do
profissional anestesiologista.20
Terapia profilática
A fim de minimizar as consequências maternofe-
tais da hipotensão arterial relacionada aos bloqueios
do neuroeixo em anestesia obstétrica, diversos mé-
todos de administração profilática de vasopressores
tem sido propostos.
Uma das técnicas que tem sido preconizadas
consiste na administração intramuscular (IM) destes
fármacos. Essa via não consiste na primeira opção
para a maioria dos autores. A absorção irregular e
um tanto imprevisível do vasopressor podem levar
a concentrações plasmáticas reduzidas indesejáveis
no momento da ocorrência da hipotensão arterial, ou
elevadas demais em outros instantes, submetendo a
gestante a efeitos colaterais potencialmente graves.
A administração profilática intravenosa de va-
sopressores para controle da hipotensão após blo-
queios do neuroeixo em gestantes tem sido preferida
pela maioria dos autores. A resposta rápida e mais
previsível desses fármacos, associada à possibilida-
de de suspensão da administração na ocorrência de
efeitos colaterais significativos, é o motivo principal
da preferência por essa técnica.
Tanto a administração em bolus21-27 ou em infusão
contínua28-33 quanto a associação de ambas9,10,32-36 tem
sido sugeridas como modo de administração desses
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Vasopressores em bloqueios do neuroeixo para cesariana
Na tentativa de minimizar os efeitos colaterais
da administração de fenilefrina, a infusão contínua
de até 100 mcg/min tem sido descrita na literatu-
ra.19 Entretanto, a infusão contínua de vasopresso-
res necessita de bombas de infusão, apresentando
custo elevado.
Terapia combinada
O objetivo da associação de um agente alfa
com um de efeito beta-adrenérgico para a preven-
ção e o tratamento da hipotensão após bloqueio do
neuroeixo para cesariana consiste na tentativa de
redução dos efeitos deletérios de ambos os vaso-
pressores usados individualmente. Por meio dessa
associação, torna-se possível a diminuição da dose
de ambos os fármacos. Por exemplo, há a redução
da taquicardia relacionada com a administração de
efedrina juntamente com a minimização da incidên-
cia de bradicardia relacionada à fenilefrina. Além
disso, doses maiores de efedrina, quando usadas
como agente único, podem causar repercussões
metabólicas neonatais e taquicardia materno-fetal.
Esses efeitos indesejáveis podem ser atenuados
quando se associa a fenilefrina.
Recentemente, três estudos foram publicados
comparando a terapia combinada alfa e beta com
um beta-agonista isolado, mostrando benefícios e
limitações em cada. Mesmo com o emprego da tera-
pia combinada, os autores mostraram que 50% das
pacientes apresentaram hipotensão quando subme-
tidas a bloqueios. A administração de vasopressores
imediatamente após a realização do bloqueio é um
fator preponderante na diminuição da incidência de
hipotensão arterial materna.5,32,36
CONCLUSÃO
A efedrina foi considerada, por muitos anos, o
vasopressor de escolha em anestesia obstétrica. Re-
centemente, entretanto, os fármacos alfa-agonistas
passaram a ocupar lugar de destaque na prevenção
e no tratamento da hipotensão arterial, apresentando
favoráveis resultados maternos sem causar repercus-
sões negativas fetais identificáveis. O estrito controle
pressórico, por meio da titulação da administração
desses fármacos, melhora a qualidade da assistência
anestesiológica.
G100 contra 7,30±0,03 dos demais grupos. Os autores
concluem que, para otimizar o manuseio, a infusão
de fenilefrina deverá ser titulada para manter a pres-
são arterial próxima aos níveis basais.
Entretanto, somente a administração e titulação
de fenilefrina pode ser insuficiente para a preven-
ção da hipotensão arterial após o bloqueio subarac-
noideo. Ngan Kee et al.10 estudaram a incidência de
hipotensão arterial com a infusão profilática de fe-
nilefrina em altas doses (100 mcg/min), associadas
ou não à pré-hidratação com Ringer Lactato 2.000
mL, previamente à realização do bloqueio, submeti-
das a cesariana eletiva. Foram alocadas 102 pacien-
tes, randomizadas em dois grupos. A incidência de
hipotensão arterial foi reduzida de 28% para 1,9%
com a co-hidratação com Ringer Lactato. Apenas
uma paciente apresentou náuseas com esse proto-
colo. Os resultados maternos e neonatais não apre-
sentaram diferenças entre os grupos. A incidência
de hipertensão arterial, por sua vez, foi alta nesse
estudo. Os autores concluem que a combinação de
fenilefrina em altas doses com a concomitante infu-
são rápida de cristaloides se traduz em uma técnica
efetiva para a prevenção de hipotensão arterial con-
sequente à raquianestesia.
Terapia de resgate
Para a administração de vasopressores de res-
gate para o controle de hipotensão arterial, faz-se
necessário, inicialmente, a definição do limite de
hipotensão a ser tolerado. A administração desses
agentes poderá ser realizada em bolus ou em infu-
são contínua.
A taquifilaxia decorrente da administração de
efedrina deverá ser tratada com a administração de
fármacos alfa-agonistas que, exercendo ação direta
sobre a circulação periférica, possibilitarão o contro-
le do quadro pressórico.
A fenilefrina pode ser administrada em bolus que
variam de 20 a 100 mcg, por via endovenosa. Tanaka
et al.,35 em recente estudo, estimaram sua dose efeti-
va (DE95
) em bolus para a prevenção de hipotensão
arterial em 135 mcg. Para a prevenção de náuseas,
vômitos e hipotensão arterial, a DE95
obtida foi de 159
mcg. Tais doses descritas são maiores que as habi-
tualmente empregadas na prática clínica, podendo
também resultar em hipertensão em aproximada-
mente 28% dos casos.
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Faz-se necessário, portanto, a mudança de para-
digmas e a revisão de condutas clínicas habitualmen-
te empregadas na prática clínica da anestesia obsté-
trica. A utilização de fármacos vasopressores deverá
ter como focos a melhoria dos resultados materno-
fetais e a qualidade da assistência médica oferecida
às pacientes/clientes.
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ARTIGO DE REVISÃO
Endereço para correspondência:R. Victor Marinho de Andrade, 156
B. Jardim Arizona – Sete Lagoas/MG.
CEP: 35700-379
E-mail: [email protected]
1Anestesiologista do IPSEMG/BH, TSA/SBA2Médico no terceiro ano de Especialização em Anestesio-
logia do CET/SBA do Hospital IPSEMG
RESUMO
Gestantes com doença cardíaca habitualmente possuem prognóstico favorável tanto
materno quanto fetal. Com exceção das pacientes com a síndrome de Eisenmenger,
hipertensão pulmonar primária e síndrome de Marfan com aortopatia, morte mater-
na durante a gravidez em pacientes cardiopatas é rara. A gravidez por si só impõe
modificações hemodinâmicas significativas, colocando à prova o sistema cardiovas-
cular. Doença cardíaca reumática é a mais frequente nas gestantes, e o edema agudo
pulmonar, a complicação mais comum. Defeito do septo atrial é a cardiopatia congêni-
ta acianótica mais prevalente na população adulta, enquanto que a Tetralogia de Fallot
é a mais frequente das cardiopatias congênitas cianóticas. Gravidez e cardiopatia são
uma associação de grandes desafios para o anestesiologista. Para evitar complica-
ções decorrentes da morbidade ou mortalidade materno-fetal, o anestesiologista deve
conhecer a evolução da doença durante a gravidez. Aqui são discutidas a fisiopatolo-
gia, apresentação clínica e a condução anestésica das doenças cardíacas valvulares
adquiridas, das doenças cardíacas congênitas, da doença isquêmica do miocárdio e
das miocardiopatias na gravidez.
Palavras-chave: Complicações, morte materna; anestesia, gestante cardiopata; gravi-
dez, doença cardíaca; técnica anestésica, gestante cardiopata; considerações anestési-
cas; gestante cardiopata.
ABSTRACT
Pregnancy in most women with heart disease has a favorable maternal and fetal outcome. With the exception of patients with Eisenmenger syndrome, pulmonary hypertension primary, and Marfan syndrome with aortopathy, maternal death during pregnancy in women with heart disease is rare. Pregnancy per se imposes significant hemodynamic changes placing a major burden on the cardiovascular system. Rheumatic heart disease remains the most frequent heart disease in the pregnant population and the pulmonary edema is the most frequent complication. Atrial septal defect is the most frequent congeni-tal acianotic heart disease in the adult population, whereas tetralogy of Fallot is the most common cyanotic congenital heart disease. Pregnancy and heart disease present a unique challenge to the anesthesiologist. To avoid untoward complications resulting in significant maternal and/or fetal morbidity or mortality, the anesthesiologist must be familiar about the progression of heart disease during pregnancy. In this article, we review the patho-physiology, clinical presentation, and anesthetic management of valvular, congenital, vascular and ischemic heart disease, and cardiomyopathy in pregnancy.
Key words: Complications, maternal death; anesthesia, pregnant cardiac; pregnancy, cardiac disease; anesthesia technique, pregnant cardiac; anesthesia considerations, pregnant cardiac disease.
Anaesthesia for pregnant cardiac disease
Wanderley Rodrigues Moreira1, Lucas Cardoso de Andrade2
Anestesia para gestante cardiopata
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Anestesia para gestante cardiopata
FISIOLOGIA CARDIOVASCULARDURANTE A GESTAÇÃO E O PUERPÉRIO
A gravidez provoca importantes modificações
hemodinâmicas que podem não ser toleradas
nas pacientes com cardiopatia. O débito cardíaco
(DC), a frequência cardíaca (FC) e o volume san-
guíneo aumentam significativamente na gravidez.
A resistência vascular sistêmica (RVS) reduz duran-
te a gravidez, mas aumenta muito durante o parto.
O parto também causa um aumento do retorno ve-
noso (Tabelas 1, 2, 3 e 4).
Estudos hemodinâmicos em gestantes sadias
demonstram aumento do débito cardíaco, do traba-
lho do ventrículo esquerdo (VE) e do consumo de
oxigênio. O débito cardíaco aumenta em função do
aumento do volume sistólico, particularmente no pri-
meiro e segundo trimestres. No último trimestre, o
aumento do débito cardíaco é discreto e depende do
ligeiro aumento da frequência cardíaca que vai até
ao final da gravidez. A pressão de oclusão da arté-
ria pulmonar e a pressão venosa central não se alte-
ram uma vez que o aumento significativo da volemia
é contrabalanceado pela da redução da resistência
vascular sistêmica e pulmonar.
Durante a gravidez, o volume plasmático e o DC
aumentam de 45 a 50%. Na 16ª semana, 80% do au-
mento do DC são atingidos principalmente pelo in-
cremento no volume sistólico. A frequência cardíaca
começa a aumentar no início da gravidez e continua
até 32ª semana, quando atinge o máximo de aumen-
to (10-20 bpm). As dimensões das câmaras cardíacas,
avaliadas pela ecocardiografia, aumentam cerca de
2 a 5 mm durante a gravidez. A resistência vascular
sistêmica reduz devido à baixa resistência dos vasos
uterinos e elevados níveis de vasodilatadores. Essa
redução é acompanhada pela queda da pressão ar-
terial sistêmica durante o segundo trimestre. O fluxo
sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular au-
mentam. Renina, angiotensina e peptídeo natriuré-
tico atrial aumentam durante a gestação normal. A
gravidez induz um estado de hipercoagulação decor-
rente do aumento da concentração plasmática de fi-
brinogênio, fatores VII, VIII e X, e do inibidor do ativa-
dor de plasminogênio. Adesividade plaquetária está
aumentada e há resistência para ativar a proteína C.
Em posição supina, o fluxo sanguíneo dos membros
inferiores é reduzido devido à compressão da veia
cava inferior pelo útero gravídico, o que contribui
para maior tendência para hipercoagulação.
ANESTESIA EMGESTANTE CARDIOPATA
As cardiopatias são a primeira causa não obstétri-
ca de morte materna no ciclo gravídico puerperal e,
dessas pacientes, 25% tem doença cardíaca congêni-
ta.1-3 Estas estão presentes em 0,1 a 4% das gestantes
e a taxa de mortalidade, tanto materna como fetal,
depende do tipo da cardiopatia, da reserva funcional
de cada paciente e das medidas profiláticas e tera-
pêuticas adotadas.1,3
Nos países desenvolvidos, a cardiopata mais fre-
quente é a doença cardíaca congênita (70-80%) fruto
dos avanços das técnicas cirúrgicas e da terapêuti-
ca. A proporção de doença cardíaca congênita em
gestantes aumentou nas últimas duas décadas de 5%
para quase 80%, significando que 85% dos 7 em 1000
nascidos com doença cardíaca congênita agora atin-
gem a maturidade reprodutiva.
A atenção à gestante cardiopata deve considerar
as modificações hemodinâmicas da gravidez em re-
lação ao débito cardíaco, sobrecarga de volume, va-
riações dos níveis pressóricos e sua interpretação nas
diferentes fases da gestação. O atendimento deve ser
multiprofissional, realizando-se consultas com o obs-
tetra e o cardiologista durante o pré-natal.1-3
A prioridade no atendimento multiprofissional é
prevenir o surgimento de complicações graves, algu-
mas fatais, como a insuficiência cardíaca materna e
fetal, endocardite infecciosa, edema agudo pulmo-
nar, fenômenos tromboembólicos e arritmias (prin-
cipalmente fibrilação atrial e taquicardia paroxística
supraventricular materna e/ou fetal).
No Brasil a incidência das afecções cardíacas
no ciclo gravídico-puerperal varia de 1% a 1,5%,
sendo as doenças do coração a quarta causa de
óbito não obstétrico. Em 55% dos casos, a etiologia
é reumática (70% a 80% dos casos representados
pela estenose mitral). A mortalidade materna varia
de 1% a 30% nas portadoras de cardiopatias favorá-
veis à gestação (classes funcionais I e II), chegan-
do a 50% nas desfavoráveis (classes funcionais III
e IV). A mortalidade fetal varia entre 2% e 10% nas
cardiopatias do grupo favorável e chega a até 30%
no grupo desfavorável.
As principais repercussões para o concepto são o
retardo do crescimento intrauterino, prematuridade,
baixo peso ao nascer, cardiopatias congênitas, insu-
ficiência cardíaca fetal, fetos hidrópicos, arritmias
fetais, abortos e óbitos.
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 23
Anestesia para gestante cardiopata
cia clínica de regurgitação mitral pouco significante.
Volume diastólico final do VE e dimensões atriais gra-
dualmente retornam ao normal duas semanas após o
parto enquanto o espessamento da parede ventricular
regride no período de 24 semanas.2
Embora o DC permaneça relativamente constante
a partir da metade da gestação, há um significativo
aumento durante o trabalho de parto e imediatamen-
te após o parto. Em ambas as situações, o DC aumen-
ta 50%, e o volume sanguíneo, em torno de 300-500
ml a cada contração uterina. As mudanças hemodi-
nâmicas durante o trabalho de parto e o parto são
influenciadas pela técnica anestésica, especialmente
se a anestesia epidural for utilizada. Quinze a vinte
minutos após o parto e a dequitação placentária,
ocorre um significativo aumento do DC. Aproxima-
damente 500 ml de sangue são redirecionados para
a circulação materna, o chamado efeito autotransfu-
são da gravidez. Muitas das alterações fisiológicas da
gravidez resolvem e retornam ao normal vários dias
depois do parto. O DC permanece elevado por dois
O coração é remodelado durante a gravidez. Ocor-
re aumento de todas as câmaras cardíacas, particular-
mente do átrio esquerdo (AE), podendo, inclusive, pre-
dispor às arritmias supraventriculares e atriais. Devido
ao crescimento uterino determinando elevação do dia-
fragma, o coração é rodado para cima e para a esquer-
da, resultando em um desvio para o eixo esquerdo no
eletrocardiograma e aparência de cardiomegalia na
radiografia de tórax. Os diâmetros dos ânulos valva-
res aumentam, e a parede do VE torna-se espessada.
Sopros são frequentes durante a gravidez. Regurgita-
ção pulmonar e tricúspide ocorre em mais de 90% das
gestações normais. Um terço das gestantes tem evidên-
Tabela 1 - Modifi cações hemodinâmicas normais durante a gravidez
Variável fisiológica Gravidez a termo Trabalho de parto e parto Pós-parto
Débito cardíaco Aumento de 30-50% Aumento 50% Aumenta 60-80% com 15 a 20 minutos
Volume sanguíneo Aumento 30-50% Adicional 300-500 ml, a cada contração Retorna os níveis basais
Frequência cardíaca Aumento de 15-20 bpm Aumento depende do estresse e alívio da dor Retorna os níveis basais
Pressão arterial média Redução de 5-10 mmHg no meio da gestação
Aumento depende do estresse e alívio da dor Retorna os níveis basais
Resistência vascular sistêmica Reduz Aumenta Retorna os níveis basais
Consumo de oxigênio Aumento de 20% Aumenta com o estresse do trabalho de parto e o parto Retorna os níveis basais
Massa eritrocitária Aumento de 15 a 20%
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Tabela 2 - Modifi cações hemodinâmicas na gestação normal. Perfi l hemodinâmico normal durante a gesta-ção e pós parto
Variáveis mensuráveis Não gestante Gestante Variação
DC L/min 4.3+- 0.9 6.2 +-10 43%
FC bpm 71 +-10 83+- 10 17%
RVS dinas.cm.sec-5 1530 +- 520 1210 +- 266 - 21%
PAM mmHg 86.4 +- 7.5 90.3 +- 5.8 NS
POAP mmHg 6.3 +- 2.1 7.5 +- 1.8 NS
PVC mmHg 3.7 +- 2.6 3.6 +- 2.5 NS
PCO mmHG 20.8 +- 1.0 18.0 +- 1.5 - 14%
DC = débito cardíaco, FC = frequência cardíaca, RVS = resistência vascular sistêmica, PAM = pressão arterial média, POAP = pressão de oclusão da artéria pulmonar, PVC = pressão venosa central, PCO = pressão coloidosmótica , NS= Não Significativo
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Tabela 3 - Alterações cardiovasculares na gravidez
Redução da resistência vascular sistêmica e pulmonar
Aumento da frequência cardíaca
Aumento do volume plasmático com redução da massa eritrocitária e da pressão coloidoosmótica
Aumento do volume diastólico final e do débito cardíaco, presença da terceira bulha cardíaca e sopro sistólico ejetivo
Fonte: van Mook WNKA and Peeters L. Severe cardiac disease in pregnancy, part I: hemodinamic changes and complaints during pregnancy, and general manage-ment of cardiac disease in pregnancy. Curr Opin Crit Care,2005;11:430-434.
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6224
Anestesia para gestante cardiopata
pacientes com doença cardíaca, congênita ou adqui-
rida, que receberam cuidados terciários predizendo
o risco de evento materno adverso (edema pulmonar,
arritmia sustentada, acidente vascular cerebral, pa-
rada cardíaca ou morte de origem cardiovascular).4
Atribui-se um ponto quando presente: a) cianose
(SpO2) < 90% ao ar ambiente ou classe funcional > II;
b) obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo
e área valvar mitral < 2 cm2 ou área valvar aórtica <
1,5 cm2, com gradiente VE/Ao (ventrículo esquerdo/
aórtico) < 30 mmHg; c) disfunção ventricular sistêmi-
ca – fração de ejeção < 40%; e d) evento cardíaco
prévio: edema pulmonar, arritmia, acidente vascular
cerebral ou acidente isquêmico transitório. A taxa de
eventos adversos foi de 5%, 30% e 60% para 0, 1, e > 1
pontos respectivamente.
Toda paciente cardiopata deverá ser orientada
quanto ao planejamento familiar (que varia com o
tipo de cardiopatia), sobre o intervalo entre as gesta-
ções e qual método anticoncepcional mais indicado.
A respeito do número de filhos, geralmente consi-
dera-se de um a três filhos nas portadoras de insufici-
ência mitral ou aórtica, nas valvopatias corrigidas e
de baixo risco, e um filho nas pacientes de alto risco
cardiológico (prótese cardíaca biológica e metálica).
A gravidez deverá ser evitada nas portadoras da sín-
drome de Marfan, síndrome de Eisenmenger, depen-
dendo da repercussão hemodinâmica, nas cardio-
miopatias com grande aumento câmaras cardíacas e
fração de ejeção < 30%.5-7
Sobre o método de anticoncepção, a cargo do
obstetra, ressalta-se que os dispositivos intrauteri-
nos devem ser utilizados somente em pacientes de
baixo risco, pois aumentam a possibilidade de en-
docardite infecciosa.8
dias após o parto e gradualmente retorna aos valores
pré-gravídicos, entre duas semanas e três meses.
A avaliação cardiovascular inclui a história clí-
nica com sintomas cardíacos e achados de exame
físico durante a gestação normal (Tabela 5), o exa-
me físico (inspeção, palpação precordial e ausculta
– Tabela 6) e os achados eletrocardiográficos (Tabe-
la 7), radiográficos (Tabela 8) e ecocardiográficos
(Tabela 9). Por meio de exame minucioso com de-
talhamento de sinais e sintomas, pode-se distinguir
uma gestação normal de uma com sinais sugestivos
de cardiopatia (Tabela 10).
DETERMINAÇÃO DO RISCO GRAVÍDICOEM PACIENTES COM CARDIOPATIA
O risco gravídico compreende o risco obstétrico,
o risco cardiológico e o risco de doenças associadas
e/ou preexistentes.
Especificamente na gestante cardiopata, a ava-
liação do risco cardiológico inicia-se pela análise
dos critérios para quantificá-lo: causa da cardiopa-
tia (congênita ou adquirida), avaliação funcional,
anatômica e hemodinâmica (classes funcionais I,
II, III ou IV, conforme a classificação da New York Heart Association).
Dentre os critérios utilizados na avaliação cardio-
vascular da gestante cardiopata, destacam-se: área
valvar, ritmo cardíaco, fração de ejeção, uso de medi-
camentos, tempo de pós-operatório (cirurgia corretiva
ou paliativa), época da cirurgia e idade da paciente.
Ao lado dos conhecidos riscos associados às le-
sões específicas, um sistema de pontuação foi de-
senvolvido e validado pelo um seguimento de 562
Tabela 4 - Alterações cardiocirculatórias durante a gestação normal
Alterações em vários momentos (semanas)
Parâmetro 5ª 13ª 20ª 24ª 32ª 38ª
FC + +++ +++ +++ ++++ ++++
PAS = - - = + ++
PAD = - -- - = ++
VS + +++++ ++++++ ++++++ +++++ +++++
DC ++ ++++++ +++++++ +++++++ +++++++ +++++++
RVS -- ----- ------ ------ ------ -----
FE VE + ++ ++ ++ + +
+ <=5%, ++ 6-10%; +++ 11-15%; ++++ 16-20%; +++++ 21-30%; ++++++ >30%; +++++++ > 40%
Fonte: Andrade J, Ávila WS. Cardiopatia e gravidez. In: Barreto ACP, Souza AGMR. SOCESP – Cardiologia, atualização e reciclagem. Rio de Janeiro: Atheneu,1994. p.771-782.
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 25
Anestesia para gestante cardiopata
b. repetição ou aparecimento de cardiopatias con-
gênitas no feto, com menor ou maior repercussão
hemodinâmica, que suscitem a necessidade de
correção cirúrgica logo após o nascimento ou
nos primeiros meses de vida;
c. surgimento de arritmias fetais ou insuficiência
cardíaca fetal, que devem ser diagnosticadas e
tratadas no útero, com acompanhamento ecocar-
diográfico fetal;
d. orientação e prescrição do método anticoncep-
cional, sob responsabilidade do obstetra;
e. recomendação de medidas higienodietéticas, tais
como repouso, dieta com pouco sal (1,5 g/dia),
não fumar, não usar qualquer tipo de droga (co-
caína, maconha, crack e ópio), emprego de meias
elásticas e prática de atividades físicas passivas
ou ativas na dependência do bem-estar do binô-
mio materno-fetal e do tipo de cardiopatia e de
suas repercussões.
Estratificação de risco e aconselhamento de mu-
lheres com doença cardíaca estão indicados antes da
concepção. Os dados necessários para a estratifica-
ção de risco são prontamente adquiridos através da
história familiar e exame clínico, eletrocardiograma
e ecocardiografia transtorácico. Em pacientes cianó-
ticas a análise de gases sanguíneos está indicada.
No aconselhamento pré-concepção seis áreas
devem ser contempladas: a doença cardíaca subja-
cente, estado funcional materno, a possibilidade de
cuidados paliativos ou cirurgia corretiva, a avaliação
de fatores de risco adicionais, expectativa de vida
materna e capacidade para cuidar da criança e o ris-
co de doença cardíaca congênita na criança.
O intervalo entre as duas gestações deve ser de,
no mínimo, um ano, com avaliação cardiológica
prévia incluindo exame clínico, eletrocardiográfico,
ecocardiográfico e teste ergométrico antes da próxi-
ma gestação, quando permitida.3
O aconselhamento genético deve incluir o casal e
abordar os seguintes aspectos:
a. possibilidade de gravidez e uso de drogas poten-
cialmente teratogênicas, tais como anticoagulan-
tes orais, inibidores de enzima conversora de an-
giotensina, amiodarona entre outras;
Tabela 5 - Sintomas cardíacos durante a gestação normal
Capacidade reduzida de exercício
Cansaço
Dispnéia
Ortopnéia
Palpitações
Vertigem
Síncope
Fonte: Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr AC, Edmnds Jr H, Fed-derly BJ et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (Committee on management of patients with valvular heart disease). J Am Coll Cardiol,2006;48:e1-e148.
Tabela 7 - Achados eletrocardiográfi cos durante a gestação normal
Desvio do eixo QRS
Ondas Q pequenas e P invertida na derivação III (abolida pela inspiração)
Alterações no segmento ST e onda T (tocólise com beta agonista, cesareana)
Taquicardia sinusal frequente
Maior incidência de arritmias
Aumento da relação R/S nas derivações V2 e V1
Fonte: Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr AC, Edmnds Jr H, Fed-derly BJ et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (Committee on management of patients with valvular heart disease). J Am Coll Cardiol,2006;48:e1-e148.
Tabela 6 - Achados de exame físico durante a ges-tação normal
A. Inspeção
Hiperventilação
Edema periférico
Pulsação capilar
B. Palpação precordial
Impulso ventricular esquerdo rápido, difuso e deslocado
Impulso ventricular direito palpável
Impulso do tronco pulmonar palpável
C. Ausculta
Estertores basais pulmonares
Aumento do primeiro som cardíaco com desdobramento exagerado
Desdobramento exagerado do segundo som cardíaco
Sopros ejetivos mesossistólicos na borda esternal esquerda inferior e sobre a área pulmonar irradiando para incisura supraesternal e mais para o lado esquerdo cervical que para o direito
Sopros contínuos (rumor cervical venoso, sopro mamário)
Sopros diastólicos (raros)
Fonte: Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr AC, Edmnds Jr H, Fed-derly BJ et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (Committee on management of patients with valvular heart disease). J Am Coll Cardiol,2006;48:e1-e148.
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6226
Anestesia para gestante cardiopata
A definição da lesão cardíaca é fundamental para
estratificação do risco e para orientar a condução do
caso. A natureza da lesão residual ou sequela deve
ser esclarecida, especialmente a função ventricular,
pressão pulmonar, severidade das lesões obstrutivas,
persistência de shunts e presença de hipoxemia. Qua-
se todas as pacientes podem ser estratificadas em
grupos de risco: baixo, intermediário e alto (Tabelas
11,12, 13).9-13 O estado funcional materno é largamen-
te utilizado como preditor de resultados e mais fre-
quentemente definidos pelas classes funcionais I a IV.
O risco de a doença cardíaca recorrer nos descen-
dentes deve ser considerado. O risco da população
em geral é de 0,4 a 0,6%, e o risco específico parece
aumentar com determinadas doenças cardíacas.14-16
Em descendentes de primeiro grau, o risco é cerca
de 10 vezes maior, e a taxa de recorrência pode ele-
var-se de 10 a 15% após o nascimento de dois irmãos
afetados. Um padrão monogenético certamente não
acomete mais que 1 a 2% de todos os afetados. Apro-
ximadamente 4 a 5% dos pacientes com cardiopatia
congênita apresentam aneuplodia. Quando a doença
cardíaca é diagnosticada no pré-natal, a associação
com aneuplodia aproxima-se a 30%. Outros fatores
contribuem com apenas 1 a 2% das anormalidades
cardíacas observadas. A ecocardiografia fetal é ins-
trumento valioso para identificação de doenças car-
díacas congênitas no pré-natal (Tabela 14).
A gestante cardiopata deve ser acompanhada
através de uma rotina estabelecida para as situações
de gravidez de alto risco. Os princípios gerais podem
ser descritos como:
1. estabelecer o diagnóstico da paciente grávida
cardiopata: etiológico, anatômico e funcional;
2. classificar o grau funcional, segundo a New York
Heart Association, avaliando as repercussões he-
modinâmicas pelos exames clínico, eletrocardio-
gráfico e ecocardiográfico, parâmetros que per-
mitem a análise do risco cardiológico;
3. identificar os preditores de eventos cardíacos
maternos: insuficiência cardíaca, acidente isquê-
mico transitório ou acidente vascular cerebral,
arritmia, classe funcional > 2, cianose, obstru-
ção ventricular esquerda (área válvula mitral <
2 cm2, área da válvula aórtica < 1,5 cm2, ou pico
do gradiente do fluxo ventricular > 30 mmHg pela
ecocardiografia), redução da função ventricular
esquerda (fração de ejeção < 40%);
4. identificar os preditores de eventos adversos ne-
onatais: classe funcional > II ou cianose durante
Tabela 10 - Sinais e sintomas de uma gravidez nor-mal versus insufi ciência cardíaca
Pode estar presente em uma gravidez normal Sugere doença cardíaca
Fadiga Precordialgia
Dispnéia aos exercícios Dispnéia aos menores
esforços, ortopnéia, dispnéia paroxística noturna, tosse
Palpitações (taquicardia reentrada, extrassístoles atriais e ventriculares)
Flutter ou fibrilação, taquicardia ventricular
Pressão venosa jugular elevada Hipotensão sistêmica
Taquicardia sinusal 10-15% acima da FC normal
Taquicardia sinusal > 15% acima da FC normal
Pulso cheio
Terceira bulha presente Quarta bulha presente
Sopro sistólico Edema pulmonar
Edema tornozelo Derrame pleural
Fonte: Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr AC, Edmnds Jr H, Fed-derly BJ et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (Committee on management of patients with valvular heart disease). J Am Coll Cardiol,2006;48:e1-e148.
Tabela 9 - Achados ecocardiográfi cos e ao Doppler durante a gestação normal
Dimensões do VE ao final da sístole e da diástole discretamente aumentadas (quando o paciente é examinada na posição lateral)
Função sistólica ventricular esquerda inalterada ou discretamente maior
Moderado aumento nos tamanhos de átrio direito, ventrículo direito e átrio esquerdo
Dilatação progressiva dos ânulos valvares pulmonar, tricúspide e mitral
Regurgitação funcional pulmonar, tricúspide e mitral
Pequeno derrame pericárdico
Fonte: Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr AC, Edmnds Jr H, Fedderly BJ et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (Committee on management of patients with valvular heart disease). J Am Coll Cardiol,2006;48:e1-e148.
Tabela 8 - Achados à radiografi a de tórax durante a gestação normal
Retificação da borda cardíaca superior esquerda
Posicionamento horizontal do coração
Acentuação das imagens vasculares pulmonares
Pequena efusão pleural no período pós-parto precoce
Fonte: Bonow RO, Carabello BA, Chatterjee K, de Leon Jr AC, Edmnds Jr H, Fed-derly BJ et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association task force on practice guidelines (Committee on management of patients with valvular heart disease). J Am Coll Cardiol,2006;48:e1-e148.
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Anestesia para gestante cardiopata
11. a cardiotocografia serve para a avaliação das con-
dições fetais, ritmo e contratilidade uterina e aná-
lise do bem-estar fetal. É utilizada na gravidez du-
rante a cirurgia cardíaca para monitorizar o feto e
verificar os efeitos das drogas utilizadas durante o
procedimento;
12. a monitorização ambulatorial da pressão arterial
(MAPA) permite a avaliação dos níveis pressóri-
cos maternos na cardiopatia hipertensiva e para
adequação e controle dos medicamentos anti-
hipertensivos;
13. o exame do fundo de olho para avaliação do grau
de severidade da hipertensão induzida pela gra-
videz.4-6,17-20
PROCEDIMENTOS EM FUNÇÃO DA IDADE GESTACIONAL E ANTIBIOTICOPROFILAXIA
Complicações da gravidez contribuem significati-
vamente para morbidade e mortalidade materna. A
média geral das pacientes obstétricas que requerem
cuidados médicos em unidades intensivas durante
a gravidez é de 1 a 9 em 1.000 gestações.2 Em um
inquérito, a mortalidade materna foi de 11,5 mor-
tes maternas por 100.000 nascidos vivos durante o
período de 1991 a 1997. A taxa de mortalidade das
gestantes nas unidades de cuidados intensivos varia
de 12 a 20%. Uma revisão de 18 estudos relatando as
principais indicações médicas das gestantes para as
unidades intensivas mostrou: doenças hipertensivas
(eclâmpsia, pré-eclâmpsia, síndrome de Hellp) com
30,8%; quadros hemorrágicos (choque, descolamen-
to de placenta, hemorragia pós-parto) com 20,3%; e
complicações pulmonares (edema pulmonar, pneu-
monia, asma, síndrome da angústia respiratória do
adulto – SARA) com 16.7%.2
a visita pré-natal inicial, obstrução ventricular
esquerda, tabagismo materno, gestação múltipla,
anticoagulante durante a gravidez;
5. identificar as doenças cardíacas com indicação
formal para a cesariana: aortopatia com raiz da
aorta > 4 cm; dissecção aórtica ou aneurisma; tra-
tamento com warfarina por duas semanas;
6. reconhecer as condições que habitualmente
não requerem unidades de cuidados intensi-
vos para gestantes cardiopatas: defeito do sep-
to atrial corrigido, defeito do septo ventricular
corrigido sem shunt residual, defeito do ducto
arterioso corrigido, estenose pulmonar leve, vál-
vula aórtica bicúspide sem estenose, estenose
aórtica leve, regurgitação valvular leve (aórtica,
mitral, tricúspide, pulmonar), defeito do septo
atrial não corrigido sem dilatação do ventrícu-
lo direito ou sintomas, defeito septo ventricular
pequeno, restritivo, sem dilatação do ventrículo
esquerdo ou sintomas (Tabela 15);
7. eletrocardiograma de três em três meses;
8. ecocardiograma materno no início e no final da
gravidez. Quando realizado na 20ª semana, per-
mite avaliar a repercussão hemodinâmica da
cardiopatia na gestação pela análise do átrio es-
querdo, de fração de ejeção e da contratilidade
miocárdica;
9. ecocardiograma fetal deve ser realizado a par-
tir da 21ª-22ª semana de gravidez para avaliar as
condições cardiovasculares fetais. Pode ser re-
petido para avaliar as alterações do ritmo fetal,
das câmaras e fluxos intracardíacos, da definição
de insuficiência cardíaca e da afecção cardíaca,
reconhecimento das arritmias e para acompanha-
mento, em caso de tratamento fetal;
10. O Holter é utilizado para avaliação, acompanha-
mento e tratamento das arritmias maternas;
Tabela 11 - Risco de morbidade materna e morte resultante de determinadas lesões cardíacas na gravidez
Baixo risco Moderado risco Alto risco
Lesões cardíacas corrigidas Ventrículo único Classe funcional > 3
Shunt esquerdo-direito não complicado Ventrículo direito sistêmico História de cardiomiopatia periparto
Estenose pulmonar Coarctação aórtica não corrigida Hipertensão pulmonar
Regurgitação aórtica Uso de anticoagulantes Síndrome de Marfan com tamanho aórtico > 4 cm
Regurgitação mitral, prolapso válvula mitral Estenose mitral Disfunção ventricular esquerda severa
Estenose aórtica
Disfunção ventricular esquerda
Fonte: Dob DP, Yentis SM. Practical management of the parturient with congenital heart disease. Int J Obstet Anesth,2006;15:137-144.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 27RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 27 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6228
Anestesia para gestante cardiopata
A permanência hospitalar varia entre um e três dias,
com retorno rápido às atividades normais.
O implante de marcapasso pode ser realizado em
qualquer época de gestação, sem risco materno-fetal,
e as indicações são as mesmas para as pacientes não
grávidas. Atualmente tem sido indicado o implante
de marcapasso em mulheres com bloqueio atrioven-
tricular avançado, assintomáticas e com hipodesen-
volvimento fetal.
Uma questão fundamental é a avaliação das po-
tenciais indicações da monitorização hemodinâmica
invasiva em pacientes obstétricas, em que a gestante
cardiopata se destaca pelas indicações consagradas
e outras controversas (Tabela 16).
Procedimentos cirúrgicos cardíacos em gestantes
cardiopatas e não cardiopatas apresentam morbida-
de e mortalidade materna de acordo com a indica-
ção da cirurgia (Tabelas 17, 18 e 19).
A idade gestacional é fundamental para a indica-
ção e o uso de medicamentos (16ª, 20ª, 25ª e 32ª sema-
nas) é a época ideal para a realização de cirurgia car-
díaca.8-10,24 Valvoplastia por cateter balão e implante de
marcapasso variam entre 16ª e 28ª a 30ª semanas.5-7 An-
tes da 16ª aumenta a incidência de abortos, e após a 28ª
semana, a incidência de partos prematuros. Durante a
circulação extracorpórea, algumas medidas podem ser
adotadas para proteção do feto (Tabela 20). O tempo
aceitável de anoxia é de 30 minutos, e o de perfusão,
até 120 minutos. A circulação extracorpórea deve ser
com normotermia e fluxo pulsátil.24 Os inibidores de
prostaglandinas (indometacina) por via retal devem ser
utilizados na noite anterior à cirurgia e seis horas após
o procedimento, e o controle cardiotocográfico deve
ser realizado antes, durante e após a cirurgia.
A valvoplastia por cateter balão é um procedi-
mento adequado e eficaz quando utilizado durante a
gravidez, podendo até ser repetido, se for necessário.
Tabela 12 - Mortalidade materna associada a ges-tante cardiopata
Condição Mortalidade materna %
Estenose mitral classes I ou II 0-1.6
Estenose mitral classes III ou IV 5.0-7.0
Estenose aórtica 0-2.0
Hipertensão pulmonar 30-50
Válvula mecânica 1.0-4.0
Coarctação da aorta 0-2.0
Síndrome de Marfan (todas apresentações) 0-1.1
Síndrome de Marfan com fatores de risco 50
Síndrome de Eisennmenger 36
Cardiomiopatia periparto (CPP) na gestação atual 18-50
CPP em gestação prévia com insuficiência ventricular esquerda 19
IAM até 14 dias do pós parto 50
Fonte: Klein LL, Galan HL. Cardiac disease in pregnancy. Obstet Gynecol Clin North Am. 2004; 31:429-52.
Tabela 13 - Risco de mortalidade associada com a gravidez
Grupo 1: Baixo risco - mortalidade < 1%
Defeito septal atrial não complicado (DSA)
Defeito septal ventricular não complicado (DSV)
Persistência do ducto arterial não complicado (DAP)
Doença leve da válvula tricúspide/pulmonar
Tetralogia de Fallot corrigida
Válvula biológica
Lesões corrigidas sem disfunção cardíaca residual
Prolapso válvula mitral isolado sem regurgitação importante
Válvula aórtica bicúspide sem regurgitação significativa
Regurgitação valvar com função sistólica normal
Estenose mitral, Classe funcional NYHA I e II
Grupo 2: Risco intermediário - mortalidade 5% a 15%
Estenose mitral com fibrilação atrial
Shunt esquerdo-direito importante
Válvula artificial mecânica
Estenose mitral, classe funcional NYHA III ou IV
Estenose aórtica
Estenose pulmonar importante
Coartação aórtica não corrigida
Tetralogia de Fallot não corrigida
Cardiopatia congênita cianótica não corrigida
Infarto do miocárdio prévio
Disfunção ventricular moderada a severa
Síndrome de Marfan com aorta normal
História de cardiomiopatia periparto sem disfunção residual
Grupo 3: Risco alto - mortalidade 25% a 50%
Hipertensão pulmonar severa
Estenose aórtica severa
História de cardiomiopatia periparto com disfunção residual
Coartação aórtica complicada
Síndrome de Marfan com envolvimento aórtico ou valvular
Síndrome de Eisenmenger
Fonte: Davies GAL, Herbert WNP. Heart disease in pregnancy 2. Congenital heart disease in pregnancy. J Obstet Gynaecol Can. 2007; 29:409-14.
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 29
Anestesia para gestante cardiopata
A angioplastia pode ser realizada durante a gravi-
dez, os resultados tem sido satisfatórios; a colocação
de stents, no entanto, não tem sido referida.
As próteses metálicas ou biológicas podem ser
utilizadas, dando preferência às biológicas por não
exigirem o uso de anticoagulantes, que trazem risco
para o feto.
Profilaxia para febre reumática com antibioticote-
rapia (diário ou mensal), de acordo com as diretrizes
estabelecidas, é importante, assim como o manuseio
de complicações como a fibrilação atrial (FA) ou ede-
ma pulmonar.8 As recomendações oficiais da American
Heart Association sugerem que a antibioticoprofilaxia
para um parto não complicado é desnecessária, exceto
para os casos de próteses valvares cardíacas ou shunt sistêmico pulmonar cirurgicamente construído. Por cau-
sa das dificuldades em prever os partos complicados e
devido às consequências potenciais da endocardite, o
antibiótico profilático para todos os partos em pacientes
portadoras de doença cardíaca congênita parece razo-
ável - exceto para os casos de defeito septal tipo ostio secundum e pacientes com seis meses ou mais após re-
paro cirúrgico de defeitos septais ou ligadura cirúrgica
e divisão do ducto arterioso. Devido à alta taxa de mor-
talidade da endocardite infecciosa, muitos centros tem
estabelecido a prática de antibioticoterapia para o parto
e o puerpério. A justificativa para utilizar antibióticos é
baseada na ocorrência de bacteriemia assintomática e
transitória em aproximadamente 5% das gestantes no
parto e em relatos de endocardite no puerpério.11,24,27,28
Entretanto, não há nenhuma evidência de que a utili-
zação de antibioticoprofilaxia tenha algum impacto na
frequência da endocardite bacteriana.29
Outra abordagem diante dessas questões seria
indicar a profilaxia com antibiótico nas seguintes si-
tuações: cirurgia de troca valvar prévia (biológica ou
mecânica), malformações congênitas, endocardite
anterior, doença reumática ou outra disfunção valvu-
lar adquirida (mesmo após a cirurgia valvular), cardio-
miopatia hipertrófica e prolapso de valva mitral com
regurgitação. As novas diretrizes de antibioticoprofi-
laxia de endocardite bacteriana contemplam a não
necessidade do uso de antibióticos profiláticos em
pacientes com doença valvar nativa quando subme-
tidos a procedimentos odontológicos ou cirúrgicos.8
No entanto, por causa do efeito devastador da en-
docardite infecciosa, da simplicidade e baixo custo
da utilização do antibiótico profilático e da dificulda-
de em antecipar partos complicados, vários autores
defendem a utilização sistemática da prevenção.
Tabela 14 - Risco recorrente de doenças cardíacas congênitas
Risco de recorrência no feto (%)
Grau de parentesco com a doença
Cardiopatia materna Irmão (ã) Pai Mãe
Estenose aórtica 2% 3% 17.9%
Trajeto atrioventricular 2% 1% 13.9%
Defeito septo ventricular 3% 2% 9.5%
Estenose pulmonar 2% 2% 6.5%
Defeito do septo atrial 2.5% 1.5% 4.6%
Coarctação da aorta 2% 2% 4.1%
Persistência canal arterial 3% 2.5% 4.1%
Tetralogia de Fallot 2.5% 1.5% 2.6%
Fonte: Pilu G, Baccarani G, Perolo A, Picchio FM, Bovicelli L. Prenatal diagnosis of congenital heart disease. In: Fleischer AC, Manning FA, Jeanty P, Romero R, eds. Sonography in Obstetrics and Gynecology: principles and practice. 5th ed. Stamford, CT: Aplpleton & Lange; 1996. p.149-72.
Tabela 15 - Condições que não requerem unidade de cuidados intensivos em obstetrícia
DSA corrigido
DSV corrigido, sem shunt residual
DAP corrigido
Estenose pulmonar leve
Valva aórtica bicúspide sem estenose
Estenose aórtica leve
Regurgitação valvar leve: aórtica, mitral, tricúspide, pulmonar
DSA não corrigido sem dilatação do ventrículo direito (VD) ou sintomas
DSV pequeno, restritivo sem dilatação VE ou sintomas
Fonte: Gatt S. Pregnancy, delivery and the intensive care unit: need, outcome and management. Curr Opin Anaesthesiol,2003;16:263-267.
Tabela 16 - Potenciais indicações para monitoriza-ção invasiva em pacientes obstétricas
Indicações cardíacas:
Doença cardíaca valvar severa (estenose aórtica ou estenose mitral associado com hipertensão pulmonar)
Cardiomiopatia com fração de ejeção menor que 15-20%
Colapso cardiopulmonar súbito (embolia liquído amniótico ou embolia pulmonar)
Indicações pulmonares:
SARA com PEEP > 15 mmHg
Doença pulmonar severa com hipertensão pulmonar secundária
Edema pulmonar associado com pré eclâmpsia severa
Indicações renais:
Oligúria persistente a despeito da ressuscitação volêmica
Outras:
Choque séptico refratário a ressuscitação volêmica e terapia vasopressora
Fonte: Davies GAL, Herbert WNP. Heart disease in pregnancy 2. Congenital heart disease in pregnancy. J Obstet Gynaecol Can. 2007; 29:409-14.
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Anestesia para gestante cardiopata
TIPO DE PARTO NASGESTANTES CARDIOPATAS
O parto não deve ser induzido por razões cardí-
acas, e sim por indicações obstétricas. De um modo
geral, o trabalho de parto espontâneo e parto vaginal
é o preferido. Não há nenhuma evidência de que a
Tabela 17 - Princípios gerais do planejamento cirúrgico na gestante
Atraso no diagnóstico e na cirurgia são os principais fatores de morbidade e mortalidade;
O segundo trimestre é a fase gestacional mais segura para a mãe e o feto;
Técnicas cirúrgicas não devem ser modificadas por causa da gravidez;
Incisão mediana baixa ou transversa é a preferida na primeira metade da gravidez;
Incisão umbilical deve ser usada na segunda metade da gravidez;
Avaliação seriada do balanço hidroeletrolítico, do hematócrito e da hemoglobina;
O procedimento deve ser realizado (quando possível) em decúbito dorsal lateral esquerdo ou utilizando desvio lateral do útero;
Sedação adequada para minimizar as consequências do parto prematuro;
Descompressão gastrintestinal para prevenir vômitos e aspiração;
Pré-oxigenação antes da indução e da intubação;
Prevenção do íleo adinâmico;
Não usar quantidade superior a 1.500 ml de solução salina durante o parto;
Evitar solução glicosada durante o parto, pois favorece a hipoglicemia neonatal;
Cateterização vesical com sonda de Foley para prevenir retenção urinária;
Manutenção da rotina antibiótica;
Atenção quando houver edema de membros inferiores, que aumenta o risco de flebite por estase e de tromboembolismo no pós-operatório;
Não se recomenda deambulação precoce pelo risco de parto prematuro;
Prevenir as contrações uterinas com progesterona (250mg por via vaginal).
Fonte: Andrade J, Ávila WS. Cardiopatia e gravidez. In: Barreto ACP, Souza AGMR. SOCESP-Cardiologia, atualização e reciclagem. Rio de Janeiro: Atheneu, 1994. p.771-82
Tabela 19 - Morbidade e mortalidade materna em procedimentos cirúrgicos cardíacos
Indicação cirúrgica
Morbidade maternaMortalidade materna
(%) (%)
Doença vascular 19 9
Dissecção aórtica 34 22
Aneurisma de aorta 41 0
Disfunção prótese valvar 23 9
Anomalia congênita 17 0
Tromboembolismo pulmonar 44 22
Tumor cardíaco 43 0
Coronariopatia 75 0
Fonte: Chandrasekhar S, Cook CR, Collard C. Cardiac Surgery in the parturient. Anesth Analg. 2009; 108:777-85.
Tabela 18 - Medidas gerais para procedimento anestésico em gestante cardiopata
Controlar frequência cardíaca (70 a 90 bpm);
Tratar as arritmias cardíacas
Fazer o cálculo adequado da infusão de líquidos
Controlar a pressão arterial
Evitar oscilações da resistência vascular sistêmica e pulmonar
Evitar o uso de drogas depressoras do miocárdio
Fonte: Andrade J, Ávila WS. Cardiopatia e gravidez. In: Barreto ACP, Souza AGMR. SOCESP-Cardiologia, atualização e reciclagem. Rio de Janeiro: Atheneu,1994. p.771-782
Tabela 20 - Medidas de proteção fetal durante a circulação extra-corpórea (CEC)
Monitorização do tônus uterino e frequência cardíaca fetal na gestação > 24 semanas
Inclinação lateral esquerdo em 15º para prevenir ou atenuar compressão aortocava
Manter hematócrito materno > 28%
Manter saturação de oxigênio materno
Normotermia
Alto fluxo de perfusão durante a CEC (> 2.5 L/min/m2)
Aumento da pressão de perfusão (> 70 mmHg)
Reduzir tempo de CEC
Considerar fluxo pulsátil
Aplicar na interpretação de alteração de pH o alfa-Stat
Terapia tocolítica (sulfato magnésio, ritodrina ou terbutalina)
Obstetra e neonatologista de prontidão caso seja necessário a cesareana
Chandrasekhar S, Cook CR, Collard C. Cardiac Surgery in the parturient. Anesth Analg, 2009;108:777-85.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 30RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 30 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 31
Anestesia para gestante cardiopata
te na estenose mitral, limitando-se a reposição líqui-
da. Infusão hídrica rápida pode ocasionar edema
agudo de pulmão.
Determinados tipos de cardiopatia habitualmente
não necessitam de cuidados intensivos pós-operató-
rios. Em outras, a indicação é necessária e a monito-
rizarão invasiva imperativa. (Tabela 16).
Outra complicação na gravidez é a fibrilação
atrial aguda, que deve ser revertida prontamente
com cardioversão elétrica, em qualquer trimestre
gestacional. A persistência da fibrilação atrial eleva
em três vezes o risco de mortalidade materna.
A endocardite infecciosa é uma complicação
grave e pode ser fatal. Deve ser tratada clinicamente
durante a primeira semana e, depois, cirurgicamente,
sempre mantendo-se a antibioticoterapia.
A parada cardíaca materna é uma situação gra-
ve, tem alto índice de óbito materno, e as medidas
adotadas são as mesmas padronizadas para a rea-
nimação. Em relação ao feto, as medidas adotadas
dependem da idade gestacional, vitalidade e viabi-
lidade fetal. A posição de reanimação deve ser em
decúbito dorsal com desvio lateral do útero, utili-
zando coxim de apoio. As manobras de ressuscita-
ção precisam ser iniciadas o mais rápido possível,
com adequada ventilação. Se a idade gestacional
for superior a 28 semanas e houver insucesso na
reanimação, o feto deve ser retirado imediatamente
por via cesariana.
As crises hipertensivas são tratadas com hidrala-
zina em bolus e depois em infusão contínua. O sulfato
de magnésio é reservado para os casos de doença
hipertensiva específica da gravidez.
cesariana confere algum beneficio materno-fetal. En-
tretanto, para algumas pacientes com doença cardí-
aca grave, a cesariana eletiva será a melhor opção.
Os cuidados são os mesmos para as gestantes
sadias, incluindo evitar hipotensão e manter desvio
uterino. Balanço hídrico requer atenção especial.
Monitorização da pressão venosa central, capilar pul-
monar e pressão arterial contínua devem ser avalia-
das caso a caso.
Na maioria das pacientes com reserva circulató-
ria adequada, a epidural é a anestesia ideal. Muitas
pacientes tem um trabalho de parto rápido, particu-
larmente aquelas que estão em uso de digoxina, já
que essa droga parece ter um efeito direto no miomé-
trio, aumentando as contrações. A técnica anestésica
deve ser individualizada. A Tabela 21 refere-se às in-
dicações, restrições e contraindicações das técnicas
regionais mais frequentemente recomendadas para
analgesia de parto ou cesariana.
CUIDADOS CARDIOLÓGICOSDURANTE E APÓS O PARTO
A monitorização eletrocardiográfica e a oxime-
tria devem ser contínuas e o controle dos níveis pres-
sóricos deve ser realizado de cinco em cinco minu-
tos. O cateter de Swan-Ganz pode ser necessário
na medida dos níveis de pressão capilar pulmonar,
medidas volumétricas e medida contínua da satura-
ção de oxigênio venosa. Colocar sonda vesical de
demora. A posição mais adequada para o parto é a
semifowler. Evitar sobrecarga hídrica, principalmen-
Tabela 21 - Recomendações das técnicas regionais em pacientes com doença cardíaca
EM EA IM IA S E-D EISEN TF HPP DAC ESHI
RDU NA/NI NA/CA NA/NI NA/NI NA/NI NA/CA NA/CA CA/CA NA/C-NI NA/CA
Pa I/I C/I R/I R/I R/I I-C/C C/CA C-I/CA I/I C-I/C-NI
RCb I/ND I/ND R/I ND/ND ND/ND I/C I-C/AC I/AC I/I I/C-NI
BCb I/ND I/ND R/I ND/ND ND/ND I/C I-C/AC I/AC I/I I/C-NI
RBc I/NA NA/NA I/NA I/NA ND/NA ND/NA ND/NA C-I/NA I/NA I/NA
EM – estenose mitral, EA – estenose aórtica, IM – insuficiência mitral, IA – insuficiência aórtica, S E-D – shunt esquerdo-direito, – EISEN – Eisenmenger, TF – tetralogia de Fallot, HPP – hipertensão pulmonar primária, DAC – doença arterial coronariana, ESHI – cardiopatia hipertrófica, RDU – raquianestesia dose única, P – peridural, RC – raquianestesia continua, BC – raquianestesia combinada com peridural, RB – raquianestesia baixa – sacral, NA= não aplicável, NI= não indicado, CA= contra-indicação absoluta, I= indicado ou sem contra-indicação, C= controverso, R = recomendado, ND= dados insuficientes, Pa- baixas concentrações de anestésico local pela peridural: analgesia trabalho de parto ou epidural para cesareana em doses incrementais, opióides em todos os procedimentos, avaliação perfil da coagulação indicado, RCb- inicia-se com doses pequenas de opióides na raque ou com pequena dose de AL + opióide, RBc= pequena dose AL hiperbárico com ou sem opióide.
Fonte:Gomar C, Errando CL. Neuroaxial anaesthesia in obstetrical patients with cardiac disease. Curr Opin Anaesthesiol,2005;18:507-512.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 31RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 31 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6232
Anestesia para gestante cardiopata
fetal, com alterações nas cartilagens, nariz em sela,
retardo do crescimento, alterações dos núcleos de
ossificação dos ossos longos, cegueira, atrofia óptica
e síndrome de Down. Podem ser empregados entre a
12ª e a 34ª semanas, quando devem ser substituídos
pela heparina subcutânea, na dose de 10.000 unida-
des de 12/12 horas, ou por heparina intravenosa du-
rante o trabalho de parto. A heparina não atravessa a
barreira placentária.
Recomenda-se a amamentação para todas as pa-
cientes cardiopatas, inclusive aquelas em uso de anti-
coagulante oral. Inibir a lactação somente em pacien-
tes com insuficiência cardíaca classes funcionais III ou
IV que não respondem à terapêutica medicamentosa.
A lactação pode ser inibida com a bromocriptina.
CONDUTA EM DOENÇASCARDÍACAS ESPECÍFICAS
Doença cardíaca valvar
Generalidades
De maneira geral, as gestantes toleram melhor
as cardiopatias valvares tipo insuficiência do que as
tipo estenóticas. Isso pode ser explicado pela redu-
ção da resistência vascular sistêmica, o que levaria a
uma redução dos efeitos da regurgitação.
As novas diretrizes desenvolvidas pelo American College of Cardiology/American Heart Association
(ACC/AHA) e pela European Society of Cardiology
(ESC) no diagnóstico e tratamento das doenças car-
díacas valvares recomendam condutas intervencio-
nistas nos pacientes oligossintomáticos ou assinto-
máticos.8,9,31 Para lesões valvares com repercussões
hemodinâmicas, a intervenção cirúrgica ainda é o
tratamento de escolha.8-10
MEDICAMENTOS UTILIZADOSDURANTE A GRAVIDEZ
Os digitálicos são habitualmente seguros com
relato de baixo peso fetal (digoxina) e aumento da
contratilidade uterina (digitoxina). Os diuréticos tia-
zídicos devem ser empregados apenas no primeiro
trimestre, pois produzem trombocitopenia e icterí-
cia nos recém-nascidos. Os diuréticos de alça tem
como efeito secundário a possibilidade de redução
do crescimento intrauterino. Os betabloqueadores
apresentam efeitos colaterais como hipoglicemia fe-
tal, aumento da secreção das vias aéreas, hipotermia
e retardo do crescimento intrauterino. Amiodarona
tem efeitos colaterais para a mãe, em relação à tire-
óide, e para o feto, dependendo da dose e o tempo
de uso.26-30 A lidocaína não apresenta restrição para
o seu uso. Os hidantoinatos não devem ser usados
em virtude do risco de causar lábio leporino e fenda
palatina. A propafenona e mexitilina não devem ser
empregadas em gestantes. Alfa-metildopa não tem
contraindicação, sendo apenas referido redução
do perímetro craniano. A clonidina pode ser usada,
embora haja possibilidade de provocar bloqueio
atrioventricular no recém-nascido. O verapamil e
a anlodipina são utilizados na gravidez sem relatos
de efeitos adversos. Os vasodilatadores para o trata-
mento da angina e do infarto de miocárdio são ad-
ministrados por via oral ou sublingual sem relatos de
efeitos adversos no feto. A estreptoquinase pode ser
administrada na dose de 750 mg nos casos de infarto
agudo do miocárdio, com cautela, analisando-se a
relação risco-benefício. Nas grávidas com angina ou
infarto, a persistência da dor pode sugerir a neces-
sidade de cinecoronariografia e, eventualmente, a
angioplastia (Tabelas 22 e 23).
Os anticoagulantes orais devem ser evitados na
gravidez, principalmente entre a 6ª e a 9ª semanas,
pois podem desencadear a síndrome warfarínica
Tabela 22 - Efeitos adversos das drogas tocolíticas na gestante e no feto
Agente tocolítico Efeitos na gestante Efeitos no feto
MagnésioHipotensão arterial e colapso cardiovascular, edema
pulmonar, aumento da sensibilidade aos curares adespolarizantes
Perda da variabilidade da frequência cardíaca
Drogas beta-adrenérgicas Taquicardia, queda da RVS, hipocalemia, edema pulmonar Taquicardia fetal
Nitroglicerina Redução da pré-carga com hipotensão arterial, edema pul-monar Desconhecido
Inibidores da prostaglandinas Tempo de sangramento aumentado Fechamento prematuro do ducto arterioso
Fonte: Chandrasekhar S, Cook CR, Collard C. Cardiac Surgery in the parturient. Anesth Analg. 2009; 108:777-85.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 32RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 32 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 33
Anestesia para gestante cardiopata
Estenose mitral
Estenose mitral é a lesão valvar mais comum
na gestação. As causas predominantes da estenose
mitral são, em ordem decrescente: doença cardí-
aca reumática, doença cardíaca congênita, artrite
reumatoide, lúpus e síndrome carcinoide.32 Aproxi-
madamente 90% de todas parturientes com doença
cardíaca reumática tem estenose mitral como lesão
predominante.
A história natural da estenose mitral na gravidez
está envolta em uma significativa taxa de complica-
ções tanto maternas (edema pulmonar e arritmias)
quanto fetais (prematuridade e retardo crescimento
intrauterino).
Redução da área valvar mitral e piora do estado
funcional estão associadas com complicações ma-
ternas. Em pacientes com classe funcional III e IV, a
mortalidade materna é estimada em cerca de 7%, e
na classe funcional IV a mortalidade fetal pode atin-
gir até 30%.33
A área normal da valvar mitral é de 4 a 6 cm2, e a
severidade da estenose mitral é classificada de acor-
do com a área valvar: > 1,5 cm2 = leve, 1,1-1,5 cm2 =
moderada e < 1 cm2 = grave.32-34 A estenose mitral gra-
ve é definida como gradiente médio > 10 mmHg ou
área valvar < 1 cm2. A severidade da estenose mitral
avaliada pela medida da área valvar pelo ecodoppler
é o mais poderoso preditor de edema pulmonar, mas
essa técnica tende a superestimar a área valvar e su-
bestimar a gravidade da estenose.34
A intensidade da obstrução do fluxo sanguíneo
na estenose mitral é influenciada pelo orifício da área
valvar, pelo gradiente de pressão diastólica média
através da valva (entre o átrio e o ventrículo esquer-
dos) e pela duração da diástole. A gravidez, uma con-
dição de estresse cardiovascular, pode tornar mani-
festa uma estenose mitral até então assintomática. A
maioria das pacientes com estenose mitral moderada
a grave (área valvar mitral < 1,5cm2) mostra piora de
uma ou duas classes funcionais durante a gestação.
Frequentemente acompanhados de algum grau de
regurgitação mitral, problemas hemodinâmicos são
relacionados predominantemente com a obstrução
ao fluxo e com o aumento do gradiente pressórico
através da valva mitral estenosada secundariamente
aos aumentos fisiológicos da frequência cardíaca e
do volume sanguíneo.
A elevação da pressão atrial esquerda pode re-
sultar em arritmias atriais, as quais podem ocasionar
Independente da valvopatia, diante de uma pa-
ciente portadora de doença valvar adquirida, corri-
gida ou não, quatro questões primordiais devem ser
sistematicamente consideradas:
■ Avaliação minuciosa da etiologia e severidade da
disfunção valvar;
■ Avaliação criteriosa dos sintomas devido à valvo-
patia;
■ Avaliação das consequências da disfunção valvar,
especialmente da resposta ventricular esquerda a
sobrecarga volêmica e/ou pressórica;
■ Comparação dos resultados com as opções dis-
poníveis de tratamento intervencionista com a
evolução natural da doença.
Tabela 23 - Efeitos adversos de medicamentos em procedimentos cirúrgicos na gravidez no primeiro trimestre
Droga Efeitos no feto Perfil segurança
Diazepan Fenda palatina, lábio leporino com uso prolongado D
Midazolan Desconhecido C
Propofol Desconhecido B
Tiopental Desconhecido B
Etomidato Embriocida em altas doses em estudos com animais C
Cetamina Desconhecido, não usar no primeiro trimestre D
Fentanil, morfina Desconhecido B
Curares Seguro, não atravessam a placenta C
Adrenalina/Dopamina Desconhecido C
Vasopressina Desconhecido C
Efedrina Desconhecido C
Fenilefrina Relato de malformações menores C
Atropina Possíveis malformações menores C
Warfarina Malformações congênitas D
Heparina Não relatado B
Perfil de segurança de acordo com a Food and Drug Administration (FDA): A,B,C,D.A = estudos controlados não demonstraram riscos; B = sem evidência de risco em estudos com seres humanos mas em estudos com animais há evidência de risco/estudo em animais não demonstraram riscos mas não há estudos adequados com seres humanos; C = estudos em gestantes insuficientes e estudos com animais evidenciaram riscos ou foram insuficientes; D = evidência positiva de risco.Chandrasekhar S, Cook CR, Collard C. Cardiac Surgery in the parturient. Anesth Analg,2009;108:777-85.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 33RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 33 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
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Anestesia para gestante cardiopata
betabloqueadores, restrição de sal e uso criterioso de
diuréticos.39 Em relação aos diuréticos, deve-se estar
atento aos riscos de prevenir hipovolemia e redução
da perfusão uteroplacentária.39
Habitualmente, a antibioticoprofilaxia contra
febre reumática é realizada, apesar de as novas di-
retrizes não recomendarem o uso de antibióticos
profiláticos nos pacientes com doença valvar nativa
em procedimentos odontológicos ou cirúrgicos.11,40
A valvulotomia mitral percutânea mostrou-se segu-
ra na gestante, resultando em significativo aumento
da área valvar, geralmente acima de 2,0 cm2, com os
benefícios mantidos por vários anos. A presença de
anatomia desfavorável, de regurgitação mitral impor-
tante (> 2+) ou presença de trombo atrial contraindi-
cam a técnica. Essas situações impõem a cirurgia de
troca valvar (grau de recomendação classe I).8-10
Valvulotomia por balão atualmente é recomen-
dada quando sintomas estão presentes, mesmo com
moderada obstrução. Ela é adequada em pacientes
assintomáticas, nos casos de estenose moderada
a severa com pressões pulmonares elevadas no
repouso, e deverá ser considerada na situação do
início de FA.8-10,41-43
O reparo ou a troca da valva mitral devem ser
indicados durante a gestação apenas nos casos de
estenose grave (área valvar mitral < 1 cm2) refratários
aos medicamentos, ou naquelas situações em que o
acompanhamento médico ideal estiver impossibili-
tado. Quando a troca valvar é indicada, a seleção e
o tipo de prótese devem ser baseados no seu perfil
hemodinâmico, na durabilidade e na necessidade de
anticoagulação.
As indicações para valvotomia percutânea por
balão (VPB) com grau de recomendação classe I
seriam: I - sintomas com área de válvula mitral ≥1,5
cm2 ou pressão da artéria pulmonar > 50 mmHg no
repouso ou > 60 mmHg no exercício; II - nas pacientes
assintomáticas com morfologia favorável naquelas si-
tuações de pressão da artéria pulmonar anteriormen-
te descritas. Nos casos de FA de início recente, a VPB
é classe IIb.8-10 Entre valvoplastia e comissurotomia
cirúrgica, dar preferência à valvoplastia e realizá-la
entre a 13ª e a 28ª semana de gravidez. Evitar antes
da 13ª e após a 28ª semana pela elevada incidência
de abortos e maior número de partos prematuros,
respectivamente. Deve ser realizado controle com
exame clínico cardiológico associado a eletrocardio-
grama, ecocardiografia, dieta e medicamentos (beta-
bloqueador, diurético, digital).
um aumento da frequência ventricular e posterior
aumento da pressão do átrio esquerdo. Além disso,
a pressão oncótica plasmática reduzida durante a
gravidez e excessiva administração intravenosa de
líquidos periparto predispõem ao edema pulmonar.
Apesar da grande elevação na morbidade materna,
a mortalidade é rara, principalmente por causa dos
cuidados padronizados, embora haja aumento nas
taxas de prematuridade, retardo de crescimento fetal
e baixo peso ao nascimento.
A área valvar decresce aproximadamente em 0,09
a 0,17 cm2/ano.34 Além disso, o tamanho da área val-
var com estenose é relativamente fixo durante a di-
ástole, com mínima reserva valvular relacionado ao
fluxo. Hipertensão pulmonar reativa com aumento
da resistência vascular pulmonar (5 a 10 vezes) pode
causar falência do VD e regurgitação tricúspide.
Com a progressiva redução da área valvar, o
gradiente pressórico entre o AE e o VE aumenta,
causando dilatação do AE. A incidência de FA nes-
sas situações é de 30 a 70%. A minoria das pacien-
tes que permanecem com ritmo sinusal possui um
átrio pequeno, fibrótico e hipertensão pulmonar
secundária.35 Nos casos de átrio esquerdo > 75 mm
e FA crônica, a incidência de tromboembolismo au-
menta significativamente.
Durante a gravidez, volume sanguíneo e débito
cardíaco aumentam entre 30% a 50%, iniciando-se
no primeiro trimestre e atingindo o pico na 20ª a 24ª
semanas de gestação. Em pacientes hígidas, essas
mudanças são geralmente bem toleradas. Na maio-
ria dos casos de estenose mitral, o tratamento clínico
é suficiente. Porém, se a estenose é severa (classes
funcionais III ou IV), outras medidas podem ser ne-
cessárias, como a correção da estenose durante a
gestação, incluindo desde reparo valvar (cirúrgico
ou percutâneo) até a troca valvar.36 O índice da valva
mitral, obtido pelo ecocardiografia avaliando a mo-
bilidade, o espessamento, a calcificação do folheto
e o espessamento subvalvar pode ser usado para
predizer quais pacientes se beneficiam de uma val-
vuloplastia percutânea com balão, ou quais reque-
rem cirurgia para valvuloplastia ou troca mitral.37
Intervenções cirúrgicas devem preferencialmente ser
realizadas antes do planejamento da gravidez. A val-
vuloplastia percutânea por balão, no entanto, tem se
mostrado segura durante a gravidez.38
O tratamento clínico é direcionado para a redu-
ção da frequência cardíaca e diminuição da pressão
do átrio esquerdo, com restrição da atividade física,
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 34RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 34 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 35
Anestesia para gestante cardiopata
IM é uma doença progressiva na metade dos pa-
cientes afetados, causando um aumento estável de
volume regurgitado de aproximadamente 7 a 8 ml/
batimento/ano.50 É em geral bem tolerada, em virtude
do esvaziamento ventricular esquerdo secundário à
queda fisiológica da RVS. Em pacientes sintomáticas,
a terapia com diurético está indicada, e a digoxina
pode ser útil naquelas com função sistólica ventri-
cular esquerda comprometida. A hidralazina tem se
mostrado segura durante a gestação. Ela reduz a pós-
carga ventricular esquerda e previne a piora hemodi-
nâmica associada ao exercício isométrico durante o
trabalho de parto. Por causa do risco da perda fetal,
a cirurgia deve ser evitada, se possível, durante a gra-
videz, devendo ser empregada apenas em pacientes
com insuficiência cardíaca grave e comprometimen-
to hemodinâmico a despeito do tratamento medica-
mentoso adequado.
As causas de IM incluem febre reumática, trauma,
endocardite, infarto do miocárdio, doença cardíaca
congênita e degenerações mixomatosas do aparelho
valvar. Ecocardiografia e angiografia são métodos
definitivos de diagnóstico.
Na IM crônica, o AE adapta-se à sobrecarga
volêmica com dilatação e aumento da complacên-
cia. Esse mecanismo protege a circulação pulmo-
nar (arterial, capilar e venosa) da pressão induzi-
da pela sobrecarga volêmica. Entretanto, na fase
tardia da doença, o aumento da pressão do AE
é retransmitido de forma retrógrada elevando as
pressões pulmonares com risco de causar conges-
tão pulmonar e insuficiência ventricular direita. A
ejeção através da valva aórtica pode estar reduzi-
da em 50% a 60%. Essa redução dependerá da re-
sistência da valva aórtica e da relação com a valva
mitral. A redução da pós-carga reduz o fluxo de
sangue regurgitado e aumenta o DC.
O aumento do volume intravascular na gestante
pode comprometer o desempenho do VE e resultar
em congestão pulmonar, muito embora a redução da
RVP atenue este efeito. Dor, apreensão, contrações
uterinas ou estimulação cirúrgica associados com o
parto e trabalho de parto causam aumento da RVS,
através do tônus simpático, com risco de insuficiên-
cia ventricular esquerda e congestão pulmonar.
Nessas pacientes, deve-se prevenir a vasocons-
trição periférica, evitar depressão miocárdica, tratar
a FA aguda com cardioversão, manter a frequência
cardíaca normal ou discretamente elevada e monito-
rizar a pressão capilar pulmonar, quando indicada.
A via de parto é de indicação obstétrica, mas
usualmente está indicada a via vaginal com uso
de fórceps de alívio e analgesia peridural. Moni-
torização hemodinâmica invasiva está indicada
naquelas pacientes sintomáticas com área valvar <
1,5 cm2, e deverá se estender por várias horas no
período pós-parto.
O bloqueio peridural é a forma mais adequada
para analgesia de parto e anestesia para cesariana,
evitando uma rápida queda da resistência vascular
periférica naqueles pacientes incapazes de aumentar
o DC para manter a PA.35,41-48
Conduta para prática anestésica em pacientes
com estenose mitral:
■ oxigenoterapia, posição decúbito lateral esquerdo;
■ antibioticoterapia profilática;
■ restrição hídrica com monitorização invasiva
para manter pré-carga;
■ controlar frequência cardíaca – betabloqueado-
res, analgesia, fenilefrina ou metaraminol para
tratar hipotensão arterial (não usar efedrina);
■ prevenção/tratamento FA – digoxina, verapamil,
betabloqueador, amiodarona, cardioversão;
■ monitorização – ECG, oximetria de pulso, pressão
arterial invasiva, cateter artéria pulmonar na pre-
sença de hipertensão pulmonar –, manter pres-
sões de enchimento;
■ anestesia regional – epidural ou epidural combi-
nada com raqueanestesia, evitar queda abrupta
da resistência vascular periférica;
■ fórceps de alívio indicado para encurtar segundo
estágio de parto;
■ cesariana: peridural é a anestesia preferida, man-
ter as pressões de enchimento;
■ período pós-parto – avaliação crítica nas primei-
ras duas horas pós-parto, avaliar a utilização de
dose adicional de anestésico pelo cateter peridu-
ral no pós-operatório ou pós parto;
■ a amamentação é recomendada, a não ser em
caso de estenose mitral severa e com área valvar
< 0,9 cm2.
Insuficiência mitral
Insuficiência mitral (IM) é a segunda causa mais co-
mum de doença valvar na gravidez. Geralmente é bem
tolerada. Durante a gravidez, a incidência relatada de
congestão pulmonar é de 5,5%, FA de 4,3%, embolismo
pulmonar de 2,8% e endocardite infecciosa de 8,5%.49-50
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 35RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 35 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6236
Anestesia para gestante cardiopata
Durante o segundo estágio do trabalho de parto,
a manobra de Valsalva necessária para a expulsão
do feto envolve prolongado aumento da pressão in-
tratorácica com compressão das câmaras cardíacas
e redução da pressão transmural limitando o enchi-
mento cardíaco com redução do volume sistólico e
do débito cardíaco. Um aumento compensatório da
FC e da RVS ocorre na tentativa de manter a PA. Com
a liberação da pressão expiratória, o aumento da RVS
resulta na elevação da PA, a qual é mantida por cerca
de dois minutos. Contrações uterinas e manobra de
Valsalva frequentes acabam por determinar o não re-
torno a valores normais da RVS e, nas pacientes com
insuficiência aórtica ou mitral, determinam o aumen-
to do volume regurgitado. De fato, durante o segundo
estágio do trabalho de parto, ondas V típicas de fluxo
de regurgitação através da válvula mitral transmitido
para as veias pulmonares podem ser verificadas no
traçado da POAP, elevando a pressão diastólica da
artéria pulmonar.
Conduta anestésica:
■ oxigenoterapia, decúbito lateral esquerdo;
■ antibioticoterapia profilática;
■ controle da frequência cardíaca (70-80 bpm) –
betabloqueador, analgesia, fenilefrina, noradre-
nalina, metaraminol para tratamento da hipoten-
são arterial;
■ prevenção e tratamento da FA – digoxina, verapa-
mil, betabloqueador, amiodarona, cardioversão;
■ manter volemia;
■ monitorização – ECG (V5, análise segmento ST),
oximetria de pulso, cateter arterial contínuo, ca-
teterização da artéria pulmonar está associado a
alta incidência de arritmias;
■ anestesia regional – peridural contínua para anal-
gesia de parto, evitar queda abrupta da resistên-
cia vascular periférica, fórceps de alívio indicado;
■ cesariana – peridural ou anestesia geral venosa,
manter pressões de enchimento, controlar frequên-
cia cardíaca;
■ controle clínico de rotina e tipo de parto a critério
obstétrico;
■ a amamentação recomendada é a natural.
Estenose aórtica
Estenose aórtica (EA) reumática é rara durante
a gestação (0,5 a 3%) e ocorre em associação a do-
ença valvar mitral em cerca de 5% das gestantes.
Deslocamento uterino para a esquerda e cefalode-
clive de 10º ajudam a manter o retorno venoso. Infusão
volêmica pode ser necessária para manter as pressões
de enchimento do VE como resultado do aumento da
capacitância venosa induzida pela anestesia.
A incidência da FA na IM é de 30%, e da hipertensão
pulmonar é de 20% dos casos. A IM causa uma sobre-
carga volêmica no VE com uma hipertrofia ventricular
excêntrica. Uma redução da FEVE menor que 60% ou
um aumento da dimensão do VE ao final da sístole > 45
mm são indicativos de intervenção cirúrgica.
A insuficiência mitral é classificada como grave
se, além da presença do aumento do ventrículo es-
querdo ou átrio esquerdo, estiver associada no míni-
mo aos seguintes itens: angiografia 3+ ou 4+, Doppler
> a 0,7 cm, volume regurgitado > a 60 ml, orifício da
área regurgitada > a 0,40 cm2.
A valvuloplastia mitral está indicada, com grau de
recomendação classe I, nas pacientes sintomáticas
com fração de ejeção > 30% e dimensão do ventrículo
esquerdo ao final da sístole < 55 mm, e também na-
quelas pacientes assintomáticas com fração de ejeção
entre 30-60% ou dimensão do ventrículo esquerdo ao
final da sístole > 40 mm. Como classe IIa, estaria indi-
cada valvuloplastia mitral na presença de FA de início
recente, hipertensão pulmonar e sintomas com fração
de ejeção < 30% ou com dimensão do VE ao final da
sístole > 55 mm. Quanto à troca da valva mitral, have-
ria recomendação classe I nas pacientes sintomáticas,
com fração de ejeção > 30%, dimensão do VE ao final
da sístole < 55 mm e impossibilidade de valvuloplas-
tia. A troca mitral poderia ser considerada (classe IIb)
em pacientes com sintomas cuja fração de ejeção for
menor ou igual a 30% e dimensão do VE ao final da
sístole > 55 mm na impossibilidade de valvuloplastia.
Embora a RVP seja inferior ao normal da 16ª à 36ª
semana de gestação, ela retorna ao normal próximo
ao término da gravidez. Quando em posição supina,
toda paciente experimenta algum grau de compres-
são aortocava, com consequente aumento da RVS
para manter a pressão arterial. Mudança para decúbi-
to lateral melhora o retorno venoso, aumenta o débito
cardíaco e reduz a RVS. O sangue lançado a circula-
ção sistêmica pela contração uterina aumenta o volu-
me sanguíneo e contribui para o aumento as pressões
arteriais tanto a sistêmica quanto a pulmonar.
Analgesia epidural reduz o índex da RVP e POAP,
com aumento do índex cardíaco e do trabalho sistó-
lico do VE com consequente aumento dramático do
desempenho ventricular.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 36RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 36 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 37
Anestesia para gestante cardiopata
O grande risco é imposto pelo débito cardíaco
limitado, podendo afetar a pressão de perfusão co-
ronariana. Estas pacientes não toleram desvios vo-
lêmicos observados durante o parto e no período
imediato do pós-parto. A utilização do cateter da ar-
téria pulmonar pode ser útil para manter a pressão
de oclusão adequadamente elevada sem precipitar
edema pulmonar.
As indicações para cirurgia valvar (classe I) se-
riam para as pacientes sintomáticas com fração
de ejeção < 50%, ou quando estiver indicada outra
cirurgia cardíaca. Como classe IIb (pode ser consi-
derada) estariam aquelas situações de hipotensão
arterial durante exercícios, calcificação valva aórti-
ca, rápida progressão da estenose ou expectativa de
atraso da cirurgia.
O tipo de parto será indicado pelo cardiologista
nos casos de estenose aórtica severa e de gradiente
sistólico > 60 mmHg. Monitorizar continuamente o
elevado risco de arritmias, dissecção de aorta e mor-
te súbita. Evitar a infusão rápida de líquidos e fazer
cobertura antibiótica para o parto. Recomenda-se
anestesia geral nos casos de estenose crítica. A ama-
mentação recomendada é a natural, e o risco cardio-
lógico deve ser avaliado antes de uma nova gravidez.
O objetivo da anestesia é evitar queda da RVP e
bradicardia e manter o retorno venoso e enchimento
do VE. Medicação sistêmica, bloqueio de pudendo
e anestesia inalatória podem ser selecionados para
analgesia do trabalho de parto e parto. O tratamento
da hipotensão arterial inclui deslocamento uterino,
infusão de cristalóide e vasopressores (efedrina ou
metaraminol). Anestesia geral venosa é recomenda-
da para cesariana.
Insuficiência aórtica
As principais causas da insuficiência aórtica no
grupo de pacientes de insuficiência aórtica são a val-
va aórtica bicúspide, doença reumática, endocardite
prévia ou ânulo aórtico dilatado.53
O tempo diastólico reduzido, a queda da resistên-
cia vascular periférica, o aumento discreto da frequ-
ência cardíaca e as alterações fisiológicas induzidas
pela gravidez tornam a gestação, na paciente porta-
dora de insuficiência aórtica, quase assintomática.
Essas alterações acabam por reduzir o fluxo de regur-
gitação e, por consequencia, a intensidade do sopro,
a exemplo do que ocorre na insuficiência mitral.53
A raridade da doença, nas gestantes, deve-se ao
período latente típico de 35 a 40 anos entre a febre
reumática aguda e sintomas da estenose. Gestantes
assintomáticas não possuem risco aumentado du-
rante trabalho de parto, mas são vulneráveis à re-
dução do volume sistólico e hipotensão se a RVP for
abruptamente reduzida.
A área normal da válvula aórtica é de 2,6 - 3,5 cm2.
Gestantes com área valvar inferior a 1,5 cm2 evoluem
com dispneia aos esforços, angina, edema pulmonar,
pré-síncope e síncope. O desenvolvimento de sin-
tomas graves durante a gestação, especialmente se
refratários a terapia medicamentosa, pode requerer
interrupção da gravidez, reparo valvar cirúrgico ou
valvuloplastia percutânea com balão.
A estenose aórtica grave é definida na presença
de um ou mais dos seguintes critérios: velocidade do
jato aórtico maior que 4,0 m/s; gradiente médio maior
que 40 mmHg; área da válvula aórtica menor que 1,0
cm2 ou índex da área valvar menor que 0,6 cm2/m2.
Recomenda-se o controle clínico mensal ou quin-
zenal a partir do 7º mês, eletrocardiograma de rotina
mensal ou quando indicado, ecocardiograma mater-
no (um a dois exames) e ecocardiograma fetal a par-
tir da 22ª semana de gravidez. O ultrassom obstétrico
deve ser realizado mensalmente.
Pacientes com estenose aórtica possuem risco
aumentado quando submetidos a procedimentos
anestésicos. A hipertrofia ventricular esquerda
compensatória torna-o vulnerável à isquemia. O
estresse adicional imposto pelas modificações fi-
siológicas da gravidez e do trabalho de parto pode
resultar em situações instáveis, com mortalidade
materna tão alta como 17% e mortalidade fetal de
até 32%. A escolha da técnica anestésica deve ser
criteriosa. Os objetivos da anestesia são manter a
pré-carga, evitar hipotensão arterial sistêmica, is-
quemia, depressão miocárdica e evitar os extremos
da bradicardia e taquicardia.
Não existe consenso a respeito de qual técnica
anestésica seria a melhor para cesariana (anestesia
geral ou bloqueio neuroaxial). Em situações nas
quais a parturiente está bem, a técnica regional é ge-
ralmente reconhecida como superior. Habitualmente
é dito que, em casos críticos, a anestesia regional es-
taria contraindicada.
Entretanto, mesmo em casos críticos, exceto a
raqueanestesia em dose única, tanto a peridural con-
tínua, raqueanestesia contínua ou a combinação des-
tas técnicas têm se mostrado seguras.51-51
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 37RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 37 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6238
Anestesia para gestante cardiopata
mum. Geralmente é bem tolerada durante a gravidez,
sendo 85% das pacientes assintomáticas, mas pode
causar arritmias, bradicardia, insuficiência mitral e
morte súbita.
O PVM por degeneração mixomatosa é a doen-
ça degenerativa mais prevalente da valva mitral. A
rotura da corda e a endocardite infecciosa são as
complicações mais temíveis, gerando insuficiência
mitral aguda ou piorando uma insuficiência prévia.
Ansiedade, palpitações, distúrbios emocionais, des-
conforto torácico, tonteiras e hipotensão ortostática
habitualmente fazem parte do quadro clínico. Algu-
mas possuem características marfoinoides ou anor-
malidades do esqueleto torácico. O teste diagnóstico
definitivo é o ecocardiograma.
Considerações anestésicas incluem evitar hipovo-
lemia, bradicardia, vasoconstrição e depressão mio-
cárdica. Esses objetivos podem ser alcançados pela
analgesia epidural lombar.
Pacientes com PVM, especialmente aquelas com
uma valva mitral espessada e regurgitação mitral, es-
tão sob risco aumentado de endocardite infecciosa.
Apesar de controversa, a conduta de usar antibió-
ticos para profilaxia de endocardite bacteriana é a
prevalente.
Síndrome de Marfan
A gravidez em mulheres portadoras da síndrome
de Marfan (SM) impõe um problema duplo: complica-
ções cardiovasculares e um alto risco de as crianças
herdarem a condição.61 É uma doença autossômica
dominante, com 50% de risco de os filhos apresen-
tarem lesões musculoesqueléticas, cardiovasculares
e oculares. Existe uma história familiar em 85% dos
casos, sendo os demais casos consequências de no-
vas mutações. A prevalência é de 4-6 por 10.000, in-
dependente da raça, sexo ou etnia. As manifestações
cardiovasculares, isoladas ou associadas, incluem
prolapso de válvulas mitral e tricúspide e regurgita-
ção aórtica com dilatação e/ou dissecção.
Complicações cardiovasculares durante a gra-
videz incluem dilatação da aorta ascendente, o que
pode ocasionar o desenvolvimento de regurgitação
mitral, insuficiência cardíaca congestiva, dissecção
proximal e distal da aorta com possível envolvimento
das artérias ilíacas e coronárias.
Pacientes com SM que possuem apenas envolvi-
mento mínimo do sistema cardiovascular e diâmetro
Nas pacientes com insuficiência aórtica severa, o
fluxo coronariano, em vez de ocorrer durante a diás-
tole, ocorre predominantemente durante a sístole.54
Insuficiência cardíaca pode desenvolver-se em 3
a 9% dos pacientes durante a gravidez. A anestesia
deve evitar o aumento da RVS durante o trabalho de
parto, manter normal ou ligeiramente aumentada a
FC e evitar a depressão miocárdica.53,55
Insuficiência aórtica grave é definida pelo aumen-
to do VE associada a um dos seguintes itens: angio-
grafia 3+ ou 4+; Doppler maior que 0,6 cm; volume re-
gurgitado maior ou igual a 60 ml; fração regurgitada
maior ou igual a 50% ou orifício da área regurgitada
maior ou igual a 0,30 cm2.
Pacientes sintomáticas com fração de ejeção <
50% tem indicação de cirurgia de substituição val-
var (grau de recomendação classe I). Em outras
situações, a indicação cirúrgica parece razoável
(classe IIa) nas seguintes situações: achados eco-
cardiográficos com dimensões finais na diástole
do ventrículo esquerdo > 55 mm, dimensão dias-
tólica final > 75 mm, dimensão final sistólica do
ventrículo esquerdo > 50 mm, dimensão diastólica
final > 70 mm com aumento do ventrículo esquer-
do, ou em situações clínicas de intolerância aos
exercícios.8,9
A anestesia epidural contínua está recomendada
para analgesia de parto.53 Anestesia geral ou regional
é aceitável para cesariana. A raqueanestesia em dose
única não está indicada. A raquianestesia contínua
ou combinada com peridural ainda não tem dados
suficientes disponíveis para se estabelecer uma indi-
cação baseada em evidência.56
Anestesia regional evita os riscos associados
à anestesia geral tais como aspiração, dificuldade
de intubação e respostas cardiovasculares a larin-
goscopia.
Na verdade, há poucos dados na literatura para
guiar a conduta anestésica de parturientes com
doença aórtica ou pulmonar. A associação da es-
tenose pulmonar com a insuficiência aórtica (sín-
drome de Watson) apresenta-se como desafio, e
anestesia peridural com doses crescentes tem se
mostrado factível.57-59
Prolapso valvar mitral
Prolapso de valva mitral (PVM) ocorre em 5 a 10%
da população e é a lesão valva congênita mais co-
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 38RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 38 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 39
Anestesia para gestante cardiopata
Analgesia de trabalho de parto e parto com infu-
são contínua com opioides como o remifentanil, tem
sido descrita com excelentes resultados.62,63
Dupla lesão mitral ou aórtica
Na dupla lesão mitral, o controle clínico será de
rotina como na estenose mitral. O tipo de parto será
normal, e a anestesia, tipo peridural, raquidiana baixa
ou bloqueio pudendo. A amamentação recomendada
é a natural. Na dupla lesão aórtica, a evolução clínica
está relacionada ao grau de estenose. Nos casos de le-
sões moderadas a severas, o parto será por cesariana
e sob anestesia geral. A amamentação recomendada
está na dependência da severidade da lesão.
Lesões múltiplas
Mitral, aórtica e tricúspide. A evolução da gravi-
dez depende fundamentalmente da lesão mitral e
o tipo de parto depende da lesão aórtica. O tipo de
anestesia está relacionado à lesão predominante, e o
aleitamento é o natural.
Comissurotomia mitral prévia
Nos casos de comissurotomia mitral, o controle
clínico será de rotina. Contudo, observar o período
de pós-operatório (a gravidez apresenta menor risco
quando ocorrer entre seis meses e seis anos após a
comissurotomia). Átrio esquerdo com diâmetro en-
tre 35 e 40mm, área valvar residual de 2,5 a 3 cm2,
ritmo sinusal, fração de ejeção > 55% e a ausência
de fenômenos tromboembólicos reduzem o risco das
pacientes com comissurotomia mitral prévia. O tipo
de parto, a anestesia e o tipo de aleitamento são os
mesmos recomendados para as pacientes com este-
nose mitral. Na necessidade de antibioticoterapia,
dar preferência às cefalosporinas.
Valvoplastia prévia
O controle da gestação dependerá do tipo de le-
são residual, da área valvar na pós-dilatação, do tem-
po de realização da valvoplastia em relação ao início
da gravidez, grau funcional e área valvar atual, medi-
aórtico inferior a 40 mm geralmente toleram bem a
gravidez. A maioria das complicações ocorre próxi-
mo ao termo. A SM também pode ser responsável por
complicações obstétricas incluindo incompetência
cervical, sítio placentário anormal e hemorragias
pós-parto.
O tratamento da gestante com SM deve incluir o
aconselhamento pré-concepção e discussão dos po-
tenciais riscos maternos e fetais. Mulheres com dila-
tação aórtica e história prévia de dissecção estão sob
alto risco de complicações, nesse caso, a gravidez é
desaconselhada. Em contraste, o risco para pacien-
tes sem complicações cardíacas e com um diâmetro
aórtico normal é significativamente menor. Ainda
assim, um diagnóstico favorável não é garantido, e
a dissecção aórtica pode ocorrer, apesar de infre-
quente. Devido ao risco de progressão da dilatação
aórtica durante a gravidez, acompanhamento eco-
cardiográfico periódico está indicado. Aneurismas e
dissecções podem ocasionalmente envolver a aorta
descendente, e, por tal razão, o uso da ecocardiogra-
fia transesofágica parece preferido ao exame trans-
torácico. Durante a gestação, a atividade física vigo-
rosa deve ser evitada. A demonstração da redução
da taxa da dilatação aórtica e das complicações pelo
betabloqueador impõe o seu uso durante a gravidez.
Na presença de dilatação substancial ou dissecção
aórtica, o abortamento terapêutico ou parto prema-
turo pode ser indicado, dependendo da fase da ges-
tação (gestação a termo com parto cesareana, após
substituição da raiz aórtica, é descrita). 61 Em geral, a
cesariana é indicada de rotina e a anestesia regional
é a melhor opção.
Estenose congênita da artéria pulmonar
A estenose congênita da artéria pulmonar cons-
titui 13% de todas as doenças cardíacas congêni-
tas.62 A lesão pode ser valvar ou subvalvar (infun-
dibular). Monitorização hemodinâmica invasiva
(pressão arterial e pressão venosa central) está
indicada. Deve-se evitar bradicardia, depressão do
miocárdio, aumento do volume intravascular e re-
dução do retorno venoso e da RVS. Para o trabalho
de parto e parto, a anestesia peridural ou raquea-
nestesia com doses diluídas de anestésico local e
opióides é recomendada. Para cesariana, anestesia
geral com opioides é adequada, mantendo a RVP,
FC e contratilidade miocárdica.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 39RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 39 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6240
Anestesia para gestante cardiopata
em mulheres com próteses valvares estão relaciona-
dos à maior sobrecarga hemodinâmica, incidência
de eventos tromboembólicos, efeitos adversos fetais
causados pelas drogas cardiovasculares e anticoa-
gulantes. A experiência em mais de 1.000 gestações
indica que a maioria das pacientes assintomáticas ou
levemente sintomáticas antes da gestação tolera a so-
brecarga hemodinâmica da gravidez.
Na avaliação e condução das pacientes com pró-
teses valvares mecânicas as seguintes questões são
de destaque:
■ a difícil decisão referente às válvulas mecânicas,
especialmente em portadoras de insuficiência
valvular, é definir qual o melhor momento para
a cirurgia;
■ nos casos de troca de válvula aórtica, escolher uma
prótese mecânica adequada de forma que não tenha
uma área de orifício efetiva menor que 0.85 cm2/m2;
■ anticoagulação em pacientes com prótese mecâ-
nica aórtica (dois folhetos) deve ser mantida com
RNI entre 2,0-3,0 e as demais próteses mecânicas
e biopróteses entre 2,5-3,5 por três meses;
■ sangramento na paciente com prótese mecânica
é mais frequente do que trombose valvar. Trom-
bose ocorre em 1 a 3 % dos pacientes anualmen-
te, com eventos embólicos em 0,7% dos casos,
enquanto o risco anual de sangramento é de 2,7%;
■ mortalidade por complicações hemorrágicas é de
0.3%/ano e por complicações tromboembólicas
de 0,03%/ano;
■ trombose de valva mecânica em pacientes hemo-
dinamicamente estáveis deve ser primariamente
tratada com trombolíticos;
■ avaliar, no seguimento pós-operatório, a presen-
ça de disfunção ventricular esquerda, disfunção
ventricular direita, hipertensão pulmonar e com-
plicações mecânicas;
■ antibioticoprofilaxia para prevenção de endocar-
dite infecciosa;
■ regurgitação para ou transvalvar é detectada pela
ecocardiografia; quando surge mais tarde pode
ser inofensiva, mas pode indicar problema hemo-
dinâmico ou endocardite;
■ infecção de prótese valvar mecânica é uma com-
plicação séria e ocorre em 0,1 a 2,3% ao ano.
Anticoagulantes orais atravessam a placenta e
podem ser danosos ao feto, com risco de embriopa-
tia em 6-7%. O efeito teratogênico ocorre entre a 8ª e
a 12ª semana de gestação. A embriopatia pela war-
camentos em uso, número de gestações anteriores,
número de filhos vivos e número de abortos prévios.
As pacientes desse grupo são controladas da mesma
forma que as pacientes com estenose mitral. Podem
ser submetidas à nova valvoplastia durante a gravi-
dez. Contudo, avaliar previamente os riscos e os be-
nefícios de uma nova intervenção ou, eventualmente,
a limitação de outra gestação.
Permitida a gestação, ter acompanhamento car-
diológico de 20 em 20 dias e semanalmente do 7º
mês até o parto. Manter monitorização cardiológica
durante o parto, com oximetria digital e controle de
níveis pressóricos. A anestesia recomendada é a pe-
ridural. A amamentação é natural. Deve-se limitar o
número de filhos a um ou, no máximo, dois. O risco
cardiológico é decisivo quando se planeja outra gra-
videz. Devem ter cobertura antibiótica no parto com
cefalosporina (1ª ou 2ª geração), 1g venosa seguida
de 500 mg de 6/6 horas via oral, ou ampicilina 2g,
venosa ou intramuscular, associada a gentamicina 80
mg intramuscular.
Gestação em pacientes compróteses valvares cardíacas
A seleção da prótese valvar cardíaca em mulhe-
res em idade reprodutiva permanece difícil. Valvas
mecânicas de nova geração oferecem excelente
durabilidade, baixo risco de reoperação e perfil he-
modinâmico superior.8-10 No entanto, a necessidade
de anticoagulação esta associada à maior risco de
hemorragia materna e perda fetal. Valvas teciduais
tem um perfil hemodinâmico inferior, especialmente
com pequenos tamanhos valvares na posição aórti-
ca. Estão associadas a maior incidência de deteriora-
ção em pacientes jovens, a qual pode ser acelerada
durante a gestação, com uma taxa esperada de troca
valvar tão elevada quanto 30 a 50% em 10 anos. Ape-
sar de os homoenxertos valvares e novas valvas pe-
ricárdicas parecerem ter melhor hemodinâmica, in-
formação relativa à gravidez em mulheres com essas
valvas é limitada. Na população não obstétrica tem
sido relatado que os homoenxertos valvares apresen-
tam a mesma taxa de deterioração que a das valvas
porcinas bioprotéticas. O acompanhamento a longo
prazo de mulheres não gestantes submetidas ao pro-
cedimento de Ross exibiu taxas de reoperação de 24
a 38% e mortalidade de 15 a 39% em 10 e 20 anos,
respectivamente. Os riscos associados à gestação
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Anestesia para gestante cardiopata
■ HNF ou HBPM, como anteriormente, até 13ª se-
mana, substituída por warfarina até a metade do
terceiro trimestre, com nova substituição por he-
parina até o parto;
■ o uso de derivados cumarínicos ao longo da gra-
videz carreia um risco de 6% de embriopatia; esse
risco é reduzido com dose de warfarina < 5 mg/
dia ou acenocoumarol < 2,0 mg
■ substituição de derivados cumarínicos com HNF
ou HBPM da 6ª à 12º semana da gravidez elimina
o risco de embriopatia relacionada à anticoagu-
lação oral, mas está relacionada com risco de 9%
de trombose valvar;
■ derivados cumarínicos parecem ser seguros para
a mãe, com baixo índice de eventos tromboembó-
licos do que com o uso de HNF ou HBPM;
■ doses requeridas durante a gravidez para todos
os anticoagulantes podem ser diferentes dos regi-
mes fora da gravidez. O risco de trombose valvar
com HNF ou HBPM é provavelmente menor com
ajustamento rigoroso de doses baseado na moni-
torização da PTTa ou níveis anti-Xa;
■ todos os regimes de anticoagulação são poucos
estudados e estudos prospectivos são necessários.
Recomendações sobre a conduta de anticoagula-
ção em gestantes com próteses valvares mecânicas
estão incluídas em recentes publicações do Ameri-
can College of Cardiology / American Heart Associa-
tion (ACC/AHA) de 2006 e da European Society of
Cardiology de 2007, com nível de evidência C (ba-
seado em consenso de especialistas e/ou pequenos
estudos retrospectivos).
A elevada incidência de parto prematuro de
pacientes com próteses mecânicas justifica a
substituição da warfarina por heparina na 35ª ou
36ª semanas. A troca de warfarina pela hepari-
na deve ser realizada no hospital. Nas pacientes
de menor risco, incluindo aquelas com prótese
aórtica e prótese de segunda geração na posição
mitral, a terapia subcutânea com heparina pode
ser utilizada em toda a gestação (PTTa de duas a
três vezes o nível de controles). A mudança da via
subcutânea de heparina para infusão intraveno-
sa previamente ao parto eletivo pode ser aconse-
lhável porque permite a descontinuação quatro
horas antes do parto. Um nível mais elevado de
anticoagulação parece justificável em pacientes
com próteses mecânicas em posição mitral, com
mais de uma prótese mecânica, com fibrilação
farina apresenta um quadro polimorfo: ponte nasal
achatada, hipoplasia nasal, ossos nasais pequenos,
aletas nasais hipoplásicas, telecanto, obstrução de
vias aéreas superiores relacionadas com a estenose
de coanas, displasia pontual epifisária de ossos lon-
gos e placas vertebrais cervicais e lombares. Há o
risco de hemorragia intracraniana fetal e perda fetal
(34%), principalmente devido ao abortamento espon-
tâneo (25%). Um estudo sugeriu uma relação entre
complicações fetais e dose de warfarina com a maio-
ria dos efeitos adversos fetais, ocorrendo em doses
superiores a 5 mg/dia. Essa relação, no entanto, não
foi confirmada por outros estudos.
O risco de embriopatia pode ser eliminado pela
substituição do anticoagulante oral pela heparina. A
profilaxia tromboembólica para mulheres sob alto
risco (próteses de primeira geração – Starr-Eswads®,
Björk-Shiley® – em posição mitral, história de trom-
boembolismo mesmo em níveis de anticoagulação
adequados, fibrilação atrial) parece ser mais bem
alcançada com a anticoagulação oral (RNI de 3 até
4,5) pelas primeiras 35 semanas. Uma terapia alterna-
tiva para evitar a warfarina no primeiro trimestre é a
utilização de heparina não fracionada (HNF), inicia-
da na 6ª semana de gestação ou mais cedo e mantida
até 12ª semana, ou heparina fracionada (HF). Deve
haver monitorização estreita e ajuste da dose no pri-
meiro trimestre, substituição por warfarina da 13ª à
36ª semana e, a partir de então, nova substituição por
heparina até o parto. Como os níveis de pico nem
sempre podem predizer os níveis de queda, a anti-
coagulação deve se direcionar a níveis pré-dose de
antifator Xa maiores que 0,55 unidades/ml com hepa-
rina não fracionada e superior a 0,7 unidades/ml com
heparina de baixo peso molecular (HBPM) ou ainda,
no intervalo médio das doses, tempo de tromboplas-
tina parcial ativada (PTTa) de 2,5 até 3,5 segundos
(pré-dose = 2 segundos).
As últimas recomendações publicadas pelo Ame-
rican College of Chest Physicians para anticoagulação
em gestantes com prótese valvares são as seguintes:64
■ dose ajustada agressiva de HNF, administrada a
cada 12 horas por via subcutânea ao longo da gra-
videz: PTTa de duas vezes os níveis controle e co-
lhida entre as duas doses, ou níveis de heparina
anti Xa mantidos em 0,35 a 0,7 UI/ml;
■ HBPM por toda a gestação, em doses ajustadas de
acordo com o peso, ou o necessário para manter
um nível de heparina anti Xa quatro horas após a
injeção de cerca de 1,0 UI/ml;
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6242
Anestesia para gestante cardiopata
Portadoras de prótese mecânica
Para pacientes portadoras de prótese mecânica
normofuncionante, com anticoagulação controlada
e na faixa terapêutica com RNI entre 2,5 e 3 por pelo
menos três meses, é permitida uma gravidez apenas.
Analisar risco da gravidez, idade da paciente, grau
funcional atual, orientação quanto ao planejamento
da futura gravidez, riscos de malformação do recém-
nascido pelo uso do anticoagulante (pois este será
trocado durante a gravidez por heparina). O parto
deve ser por cesariana, com monitorização cardio-
lógica durante o trabalho de parto e sob anestesia
geral ou peridural. A anestesia regional, na ausên-
cia de contraindicação clínica, deverá ser realiza-
da somente após avaliar o perfil de coagulação da
paciente.65,66 O parto normal é contraindicado pelo
risco de sangramento meníngeo da criança no mo-
mento do acavalgamento das estruturas cranianas
nos períodos de dilatação e expulsivo. A paciente
deverá estar em vigência do uso de heparina no
momento do parto. Esta forma de anticoagulação
só deve ser modificada pelo anticoagulante oral no
puerpério, mantendo as duas formas até o RNI estar
outra vez em faixa terapêutica, para que a mulher
não corra risco de fenômenos tromboembólicos. A
amamentação deverá ser natural, a não ser que o
recém-nascido apresente sangramento nas fezes ou
a mãe não possa amamentar devido às suas condi-
ções cardiológicas. A cobertura antibiótica segue as
recomendações do Consenso do Departamento de
Cardiopatia e Gravidez da Sociedade Brasileira de
Cardiologia. Os filhos das portadoras de próteses
mecânicas geralmente são menores do que os filhos
das grávidas portadoras de outras cardiopatias.
CARDIOPATIAS CONGÊNITASNÃO CIANÓTICAS
Defeito septal atrial, defeito septal
ventricular, ducto arterioso patente
Generalidades
As principais lesões deste grupo são: defeito do
septo atrial (DSA), relativamente comum e, em geral,
tipo ostium secundum; defeito do septo ventricular
(DSV) e ducto arterioso patente (DAP).67 O efeito do
aumento do débito cardíaco durante a gravidez cau-
atrial e com história de embolização sistêmica. A
intensidade da anticoagulação deve ser monitori-
zada frequentemente e imediatamente corrigida,
se necessário. Em função de pequena dose de
aspirina ser segura durante a gestação e poder
reduzir a incidência de embolização sistêmica
ou óbito quando adicionadas à anticoagulação
oral, 100 mg de ácido acetilsalicílico (AAS) po-
dem ser associados para maximizar o efeito an-
titrombótico.
Diagnóstico e tratamento da trombose de valva mecânica durante a gravidez
Em pacientes portadoras de prótese valvar
mecânica com dispneia e evento embólico deve-
se considerar a possibilidade de trombose valvar.
Ecocardiografia transtorácica ou transesofágica
estão indicadas. Se esses exames não confirma-
rem ou afastarem o diagnóstico, fluoroscopia deve
ser realizada. A fluoroscopia é relativamente se-
gura, a dose da radiação para o feto é limitada e
é improvável o aparecimento de efeitos adversos.
Proteção com avental no abdome e pelve estão
indicados. A European Society of Cardiology não
estabelece conduta específica no tratamento de
trombose de valva durante a gravidez. Em situa-
ções fora da gravidez, a recomendação é fibrinó-
lise para pacientes críticos, quando a cirurgia não
é imediatamente disponível, e para aqueles pa-
cientes de alto risco cirúrgico; nos demais casos,
a cirurgia é o tratamento de escolha. Entretanto,
vários autores recomendam fibrinólise como pri-
meira escolha em todos os pacientes.
Portadoras de prótese biológica
Podem ter um a dois filhos, evolução normal da
gravidez, anestesia com bloqueio peridural e ama-
mentação natural. Devem ter cobertura antibiótica
com cefalosporina ou ampicilina e gentamicina. O
parto poderá ser normal ou com fórceps de alívio ou
cesárea, pois dependerá do estado da gestante, do
estado funcional das próteses, seu risco de ruptura,
grau de calcificação das próteses implantadas, tem-
po de implante das próteses em relação a gravidez e
número de fetos nesta gestação, assim como do rit-
mo do coração (se é ritmo sinusal ou fibrilação).
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 42RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 42 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
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Anestesia para gestante cardiopata
tensão pulmonar e arritmias atriais raramente ocorre
em mulheres em idade reprodutiva. Como a endocar-
dite é rara, a profilaxia antibiótica não está indicada
em pacientes com defeito septal atrial tipo secundum.
DSA secundum, não raro, permanece sem diag-
nóstico até a gravidez, quando o sopro do fluxo
pulmonar é exacerbado. Há um pequeno risco de
arritmias atriais em pacientes mais idosas devido à
sobrecarga volêmica do VD.
Recomendações com relação à gestação em pa-
cientes com DSA devem ser feitas em bases individu-
ais considerando lesões associadas, status funcional
e o nível de resistência vascular pulmonar. A embolia
paradoxal ocasionando acidente vascular tem sido
relatada em pacientes com forame oval patente du-
rante a gestação.7,31 Em um dos casos, o fechamento
percutâneo do forame oval patente foi realizado du-
rante a gestação, guiado por ecocardiografia.16
DSAs são subclassificados de acordo com sua
exata localização. Suas consequências fisiológicas
são essencialmente independentes da localização e
dependem, na verdade, do tamanho e da extensão
do shunt. O comportamento do shunt depende da
complacência dos dois ventrículos e do tamanho do
defeito. Um pequeno defeito (<5 mm) tem pouca re-
percussão hemodinâmica, ao contrário de um gran-
de defeito, por exemplo, com 20 mm. O diagnóstico
habitualmente é feito na infância, entretanto, alguns
casos somente são feitos na idade adulta. No início,
a complacência do VD é substancialmente maior do
que o VE, estando associado com o shunt esquerdo-
direito. O fluxo sanguíneo pulmonar (FSP) está au-
mentado, e hipertensão pulmonar desenvolve-se
com o tempo. Uma consequência dessas mudanças
fisiológicas é a dilatação do AD, AE, VD e artérias
pulmonares para acomodar o aumento do volume
sanguíneo. A complacência do VD cai, resultando na
redução do shunt ou inversão. Apesar de a hiperten-
são pulmonar aumentar com a idade, é raro que a
RVP exceda 500 dyn s cm-5. Raramente o DSA é de-
tectado pela dispneia ou mesmo pela insuficiência
cardíaca na infância, e o mais frequente é que seja
diagnosticado pela ecocardiografia, realizada por
outro motivo. Na idade, adulta o mais frequente é a
dispneia, arritmias atriais ou insuficiência cardíaca,
embora alguns pacientes permaneçam assintomáti-
cos até que ocorra inversão do shunt.75
Muito raramente, ao contrário do DSV, alguns ca-
sos de DSA fecham espontaneamente na infância.8,11
Na ausência de dilatação do VD, com aumento dis-
sa uma sobrecarga volêmica do ventrículo direito no
DSA e do ventrículo esquerdo no DSV e DAP. A sobre-
carga, no entanto, é geralmente é contrabalanceada
pela redução da resistência vascular periférica.68
Lesões de shunt esquerdo-direito pequenas a mo-
deradas são bem toleradas e grandes defeitos podem
estar associados a hipertensão pulmonar. Na presen-
ça da síndrome de Eisenmenger a gravidez deve ser
desestimulada.69
Ecocardiografia deve ser realizada para excluir
lesão residual ou sequelar, tais como disfunção ven-
tricular, elevação persistente da pressão pulmonar e
lesões associadas como regurgitação mitral no DSA
ou regurgitação aórtica em algumas formas de DSV.70
Tratamento cirúrgico tardio do DSA pode estar asso-
ciado com alta probabilidade de arritmia atrial.71
DSA, DSV e DAP, quando corrigidos na infância,
não requerem nenhum cuidado adicional durante a
gestação.1 A gestação, incluindo o trabalho de parto
e o parto, é geralmente bem tolerada. 67-70 Problemas
como arritmias, disfunção ventricular e progressão
da hipertensão pulmonar podem ocorrer em pacien-
tes com grande shunt e/ou hipertensão pulmonar pre-
existente.70 Ecocardiografia deve ser repetida durante
a gestação. O shunt esquerdo-direito pode ser inverti-
do pela elevação da resistência vascular pulmonar ou
pela vasodilatação sistêmica.70 Raramente emboliza-
ção paradoxal pode ocorrer.7 Recomendam-se filtros
nas vias de administração venosa para evitar bolhas
de ar e também utilização de solução salina na reali-
zação da anestesia peridural.
Alguns autores defendem o uso de AAS (100 mg)
após o primeiro trimestre de gestação devido ao es-
tado de hipercoagulação da gravidez.72 Em pacientes
com shunt residual e regurgitação valvular, a profila-
xia da endocardite está indicada.
Defeito septal atrial
O DSA geralmente é bem tolerado na gestação,
mesmo em pacientes com grandes shunts esquerdo-
direitos. O DSA ocorre em 17,5% das doenças cardía-
cas congênitas e é a lesão mais comum entre estas.
O risco de insuficiência ventricular esquerda está au-
mentado durante a gravidez e mortalidade materno/
fetal está entre 1 e 12%.
Gestantes com defeito septal não corrigido apre-
sentam maior incidência de aborto, parto prematuro
e sintomas cardíacos.30 O desenvolvimento de hiper-
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Anestesia para gestante cardiopata
ras do pós-parto podem ocasionar um shunt reverso
em mulheres com hipertensão pulmonar. Reduções
periparto na pressão sanguínea sistêmica devem ser
corrigidas por meio de agentes vasopressores (fenile-
frina). Gestação pós-operatória é mais bem tolerada
pela mãe, e a recorrência do DAP no feto é rara (<1%).
Os princípios da anestesia são: evitar aumento da
resistência vascular periférica, do volume sanguíneo,
e, na presença de hipertensão pulmonar, evitar redu-
ção da resistência vascular periférica e aumento da
resistência vascular pulmonar. Em caso de insufici-
ência ventricular, evitar depressão miocárdica. Em
relação à técnica da anestesia, a peridural é adequa-
da, e com a anestesia geral seguem-se as diretrizes
anteriormente apresentadas.
Defeito Septal Ventricular (DSV)
Mulheres com DSV isolado geralmente toleram
bem a gestação, apesar de insuficiência cardíaca con-
gestiva e arritmias terem sido relatadas. Estas incidem
em 7% das doenças cardíacas congênitas. O risco im-
posto pela gravidez após o fechamento de um DSV não
complicado não deve diferir daquele de pacientes sem
doença cardíaca. A incidência de DSV no concepto
tem sido relatada em 4 a 11%. Uma redução acentuada
da pressão sanguínea durante ou após o parto como
resultado de perda sanguínea ou anestesia pode levar
a shunt reverso em pacientes com hipertensão pulmo-
nar. O uso de vasopressores (fenilefrina) e reposição
de volume para estabilizar a pressão sanguínea devem
prevenir complicações futuras. Deve-se evitar o au-
mento da resistência vascular sistêmica e o aumento
da frequência cardíaca. Na presença de hipertensão
pulmonar, deve-se evitar redução da resistência vascu-
lar sistêmica e aumento da resistência vascular pulmo-
nar. Em relação ao trabalho de parto, parto vaginal ou
cesariana, a peridural contínua é uma técnica segura.
Na presença de DSV pequeno, geralmente o úni-
co risco é de endocardite. Antibioticoprofilaxia é
recomendada para os partos complicados ou instru-
mentalizados.11, 73
DOENÇA CARDÍACA CONGÊNITACOMPLEXA CIANÓTICA
O maior uso de procedimentos cirúrgicos paliati-
vos e corretivos para anomalias cardíacas congêni-
creto do FSP, o fechamento geralmente não é neces-
sário. DSA associado com aumento superior a 50%
do FSP deve ser fechado, para prevenir disfunção
do VD e arritmias atriais. Pacientes corrigidos antes
dos 25 anos de idade possuem expectativa de vida
geralmente normal. Tratamento realizado mais tarde
apresenta risco de morte prematura.
Apesar de os pequenos DSA serem geralmen-
te benignos, como um forame oval patente (FOP),
eles podem permitir embolia paradoxal. Aproxima-
damente 25 a 30% da população adulta tem FOP, e
a maioria dos casos não tem nenhum transtorno ao
longo da vida. Entretanto, alguns eventos cerebrovas-
culares espontâneos podem estar relacionados com
FOP. Isso levou a ACC/AHA (American College of Car-
diology/ American Heart Association) a recomendar
a ecocardiografia em todas as vítimas de AVC com
idade inferior a 45 anos.77
Ao contrário do DSA, o FOP não permite shunt es-
querdo-direito, mas permite um shunt direito-esquerdo
se a pressão do AD exceder a do AE, como ocorre, por
exemplo, no espirro. Apesar disso, nas neurocirurgias,
embolização venosa aérea pode ocorrer em até 50%
dos procedimentos, e a embolia paradoxal é rara.79, 80
Em geral, o fechamento do DSA requer cirurgia.
Atualmente, o fechamento transcateter tem demons-
trado resultados encorajadores e somente os resul-
tados a longo prazo darão certeza da consolidação
dessa revolucionária técnica.
Arritmias devem ser evitadas ou tratadas pronta-
mente, assim como o aumento da resistência vascu-
lar sistêmica. Na presença de hipertensão pulmonar,
deve-se evitar aumento adicional da resistência vas-
cular pulmonar. Para analgesia e trabalho de parto
ou cesariana, a peridural é uma boa indicação. Anes-
tesia geral pode ser realizada com segurança com os
critérios acima descrito.
Ducto Arterioso Patente (DAP)
O prognóstico materno do ducto arterioso patente
com shunt esquerdo-direito é geralmente favorável,
mas deterioração clínica e insuficiência cardíaca con-
gestiva podem ocorrer em algumas pacientes. Consti-
tuem 15% de todas as doenças cardíacas congênitas.
Não houve mortes maternas em um grande número
de pacientes com DAP. A necessidade de intervenção
cirúrgica durante a gestação é rara. Queda na resistên-
cia vascular sistêmica e hipotensão nas primeiras ho-
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 44RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 44 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 45
Anestesia para gestante cardiopata
protegidos pela obstrução da vida de saída do VD.
A exceção é para aquelas crianças que foram sub-
metidas a cirurgia tipo shunt arterial paliativo para
melhorar o FSP ou aquelas com conexões arteriais
pulmonares atípicas.
A tradicional cirurgia para esses pacientes é a
criação de shunt arterial sistêmico-pulmonar, por vol-
ta de dois a cinco anos de idade. A maioria dos casos
apresenta resposta satisfatória, alguns estão associa-
dos com hipoxia crônica, progressão da hipertrofia
VD levando a disfunção tardia do VD, problemas
com shunt arterial, distorção da artéria pulmonar e,
raramente, doença vascular pulmonar. Isso levou a
uma mudança radical da correção cirúrgica nessa
faixa etária, e cirurgias precoces nesses pacientes,
abolindo a cianose na fase inicial da vida, normali-
zando o fluxo sanguíneo pulmonar (FSP) e promo-
vendo crescimento da rede arterial pulmonar.
A maioria dos pacientes operados precocemente
é assintomática.83 Aproximadamente 10% dos pacien-
tes podem necessitar reintervenção cirúrgica mais
tarde. A sobrevida é de 85% dos casos até 35 anos de
pós-operatório, com função do VE normal por aproxi-
madamente 24 anos. Muitos problemas encontrados
durante a fase tardia do seguimento estão relaciona-
dos com a fisiologia atípica do ventrículo direito, e
incluem intolerância ao exercício, arritmias ventricu-
lares e morte súbita devido à regurgitação pulmonar
crônica. Para aqueles pacientes que desenvolvem
regurgitação pulmonar significativa, substituição da
válvula pulmonar está associada com melhora na to-
lerância dos exercícios e redução das arritmias.
As alterações hemodinâmicas associadas à gesta-
ção podem causar deterioração clínica em mulheres
com TF não corrigida cirurgicamente ou apenas par-
cialmente corrigida. Aumento no volume sanguíneo
e do retorno venoso ao átrio direito elevam a pres-
são ventricular direita, o que, combinado à queda
na resistência vascular periférica, pode produzir ou
exacerbar o shunt direito-esquerdo e cianose. São
considerados sinais de mau prognóstico: hematócri-
to materno acima de 60%, saturação arterial de oxi-
gênio abaixo de 80%, hipertensão ventricular direita
e episódio de síncope. Gestação em mulheres com
cianose está associada a elevadas taxas de aborta-
mento espontâneo, parto prematuro e retardo de
crescimento fetal.
Monitorização contínua da pressão arterial e ga-
ses sanguíneos durante o parto e trabalho de parto é
recomendada para pacientes cianóticas ou sintomá-
tas complexas cianóticas permitiu a mais mulheres
afetadas alcançarem a idade reprodutiva. Apesar de
gestações bem-sucedidas terem sido relatadas em
pacientes com doença cardíaca congênita (DCC)
parcialmente corrigida e não corrigida, a gravidez
está associada a maior risco nestas pacientes. Um
relato de 96 gestações em 44 pacientes com DCC
sem hipertensão pulmonar demonstrou complica-
ções cardiovasculares em 32% das pacientes (in-
suficiência cardíaca, eventos tromboembólicos,
taquicardia supraventricular e endocardite bacte-
riana periparto) resultando em óbito materno pós-
parto em uma paciente. Além disso, uma elevada
incidência de perda fetal (57%), partos prematuros,
recém-nascidos pequenos para a idade gestacional
e malformações congênitas cardíacas e não cardía-
cas foram relatadas.
Mais de 100 gestações em mulheres com reparo
intra-atrial para transposição de grandes artérias fo-
ram relatadas sem mortalidade materna. Pacientes
assintomáticas ou status funcional classe II antes da
gravidez parecem tolerar bem gestação.
Um relato descrevendo a experiência com 60 ges-
tações em 22 mulheres com transposição de grandes
artérias congenitamente corrigida indicou um resul-
tado favorável na maioria dos casos. A perda fetal e
morbidade materna foram, entretanto, mais elevadas
(insuficiência cardíaca congestiva, piora da regurgi-
tação valvar, endocardite, IAM). O risco de doença
cardíaca congênita nos conceptos de mulheres com
transposição de grandes vasos é incerto.
Tetralogia de Fallot
Tetralogia de Fallot (TF – obstrução de via de
saída ventricular direita, hipertrofia ventricular direi-
ta, defeito do septo ventricular e acavalgamento da
aorta) é a causa mais comum da DCC cianótica na
infância, com incidência de 10%. Embora esses qua-
tros defeitos estejam presentes, existe uma grande
variedade de apresentações complexas. Se não corri-
gidas, 70% das crianças morrem antes de dez anos de
vida, embora eventuais sobrevidas sejam possíveis.
Pacientes com TF quase invariavelmente cursam
com cianose importante, e, naqueles com leve obs-
trução do trato de saída do VD, a cianose pode ser
menos grave. Ao contrário dos pacientes com grande
DSV isolado, os pacientes com TF não desenvolvem
hipertensão pulmonar (HP) porque os pulmões estão
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6246
Anestesia para gestante cardiopata
resistência vascular pulmonar. Quando isso ocorre, a
evolução, teoricamente, é desfavorável, com sobrevi-
da média até os 30 anos de idade, apesar de relatos
de sobrevida até a sexta década. A sobrevida é subs-
tancialmente superior aos casos de hipertensão pul-
monar primária. Pacientes com lesão cardíaca mais
simples apresentam maior sobrevida do que aqueles
com lesões complexas.
O desenvolvimento da falência do VD é indicati-
vo de mau prognóstico. Arritmias são mal toleradas
bem como hipovolemia causando queda importante
do DC, pois esses pacientes são muito dependentes
da pré-carga.
Como consequência dessas limitações fisiológi-
cas, procedimentos cirúrgicos estão associados com
alta morbidade e mortalidade. Existe considerável
debate a respeito de realizar técnicas anestésicas
tipo bloqueio do neuroeixo, principalmente em fun-
ção da necessidade da manutenção da resistência
vascular sistêmica. No passado, anestesia geral era
uma indicação incontestável.84,85 Recentemente, a
anestesia regional tem se mostrado segura.87,88
Alguns autores concluíram que a mortalidade pe-
rioperatória está relacionada ao procedimento cirúr-
gico, mais do que à técnica anestésica.87,88 Além do
tipo de anestesia, outros riscos como embolização
não são insignificantes. Todas as linhas venosas de-
vem conter filtros de ar, e, na realização da peridural,
o teste da perda resistência deve ser realizado com
solução salina. O objetivo da monitorização intraope-
ratória é detectar mudanças hemodinâmicas súbitas
precocemente para evitar complicações. Não há es-
tudos para orientar o uso de monitorização cardíaca
invasiva. Monitorizarão da pressão arterial contínua
e oximetria de pulso são sensíveis indicadores das
mudanças do shunt direito-esquerdo, sendo habitu-
almente indicados.
Cesariana apresenta alta mortalidade, podendo
atingir 80% na presença de pré-eclampsia.89
A SE continua sendo associada a alto risco de
morbimortalidade materna. Duas revisões envolven-
do 55 e 65 mulheres, respectivamente, relataram mor-
talidade materna de 40%. Em pacientes não grávidas
submetidas à cirurgia não cardíaca, a mortalidade é
estimada em 10%.90,91
A causa de óbito materno frequentemente não
é esclarecida; geralmente ocorre entre os primeiros
dias e primeiras semanas após o parto, sendo prece-
dida por dessaturação e deterioração hemodinâmica
e clínica. Necrose fibrinoide difusa das arteríolas pul-
ticas. A incidência de defeitos cardíacos relatada em
neonatos varia de 3 a 17%.
O risco da gestação em pacientes com um bom
reparo cirúrgico é similar ao da população geral.
Pacientes que foram submetidas apenas a procedi-
mentos paliativos e tem problemas residuais, como
regurgitação pulmonar, obstrução ao fluxo de saída
do ventrículo direito, dilatação ventricular direita e
disfunção, estão ainda sob risco de desenvolverem
insuficiência cardíaca e arritmias durante a gestação.
Pacientes que foram submetidas a procedimentos de
derivação para melhorar a cianose podem desenvol-
ver hipertensão pulmonar, o que eleva o risco gesta-
cional. Em vista da melhora do prognóstico materno
e fetal após a correção cirúrgica esse procedimento
deve ser realizado antes da concepção.
Naquelas pacientes com correção incompleta e
defeitos residuais, tais como comunicação interven-
tricular com razão de fluxo pulmonar/fluxo sistêmico
maior que 1,5:1,0, obstrução na via de saída do ven-
trículo direito cuja pressão sistólica for maior que 60
mmHg ou com insuficiência ventricular direita devi-
da a regurgitação pulmonar, devem ser orientadas
quanto ao planejamento familiar. Para determinar o
risco de defeitos congênitos no feto, pacientes com
TF devem ser testadas com hibridização in situ fluo-
rescente para descartar síndrome de deleção 22q11
(resultados negativos desse teste indicam um baixo
risco de defeito fetal).82
Síndrome de Eisenmenger
A síndrome de Eisenmenger (SE) consiste em
hipertensão pulmonar com shunt reverso ou bidire-
cional em nível atrioventricular ou aortopulmonar.
O complexo de Eisenmenger é caracterizado por
uma resistência vascular pulmonar maior que 800
dynes.s.cm-5, com fluxo inverso ou bidirecional. É a
causa mais comum das doenças cardíacas cianóti-
cas no adulto, enquanto na criança a causa mais co-
mum é a Tetralogia de Fallot.
A evolução da SE é grandemente influenciada
pelo nível do shunt. Na clássica série de Wood, 80%
dos casos foram secundários a defeito do septo ven-
tricular (DSV) presente na infância, com pouco mais
de 2% na idade adulta.84 Na idade adulta, 92% dos ca-
sos são secundários a DSA.84
Muitas vezes o tratamento do fechamento cirúr-
gico do orifício do shunt não reverte as alterações da
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Anestesia para gestante cardiopata
tágio do trabalho de parto. Entretanto, em virtude do
maior risco de sofrimento fetal durante o trabalho de
parto vaginal e da necessidade potencial de cesarea-
na de emergência, a cesariana planejada é habitual-
mente preferida.
O tipo de anestesia para essas pacientes é contro-
verso. De um modo geral, bloqueio de condução está
contraindicado. Bloqueio neuroaxial (raqueanestesia
ou peridural) pode causar hipotensão arterial inad-
vertida, sendo potencialmente perigoso. Todavia, pe-
ridural em doses incrementais tem sido descrita com
sucesso para salpingotripsia bilateral e cesariana. 97,98
Alguns autores reconhecem na peridural a técnica de
preferência para analgesia do trabalho de parto, mas
a contraindicam para cesariana.16 Nessa situação, a
maioria dos autores recomenda anestesia geral.98, 99
A indução habitualmente é realizada com ceta-
mina associada a um opioide e um bloqueador neu-
romuscular, e a manutenção, com agente inalatório
como sevoflurano, mas anestesia venosa total tem
sido descrita.
A inserção de um cateter de Swan-Ganz pode ser
difícil e associada a arritmias, não sendo, portanto,
indicada de rotina.99, 100
Oxido nítrico inalatório foi utilizado com sucesso
para reduzir a pressão pulmonar e melhorar a oxige-
nação durante o TP e período pós-parto precoce em
duas pacientes com SE. As pacientes deram à luz dois
neonatos vivos que morreram entre dois e 21 dias
após o parto.87
Hipertensão Pulmonar Primária
Hipertensão pulmonar primária (HPP) é uma das
poucas condições cardiovasculares que, na gesta-
ção, continuam associadas a uma alta mortalidade
materna, estimada em 30% a 40%. HPP é raramente
encontrada em gestantes e possui alto risco de mor-
bidade e mortalidade, pouco alterada na última dé-
cada.94 Está associada a mau prognóstico fetal com
altas taxas de prematuridade, retardo de crescimento
fetal e perda fetal.
A evolução clínica é variável e não pode ser pre-
vista baseada na apresentação clínica, nos dados he-
modinâmicos e mesmo nos achados histológicos da
biópsia pulmonar. Em geral, a sobrevida média após
o início dos sintomas é de somente dois a três anos.102
A incidência de HPP é de 1 a 2 por milhão, com
predomínio nas mulheres na proporção 4-5:1.
monares foi encontrada em algumas pacientes, e em-
bolia pulmonar foi relatada à necropsia.92 Qualquer
hipovolemia causada por hemorragia ou hipotensão
arterial pode resultar em morte súbita.
A SE também está associada a mau prognóstico
fetal, com uma elevada incidência de perda fetal,
prematuridade, retardo de crescimento intrauterino
e morte perinatal.
O grau de hipoxemia materna é o maior preditor
de prognóstico fetal. Níveis de saturação de oxigê-
nio arterial inferior a 85% anterior a gestação estão
associados com apenas 12% de nascimentos vivos,
enquanto níveis de saturação superiores a 90% estão
associados a 92% de nascimentos vivos.93
A mortalidade depende da lesão determinante da
síndrome: defeito do septo ventricular (60%), defeito
septo atrial (44%) e ducto arterioso patente (42%).92
Pacientes com SE devem ser aconselhadas a não
engravidar. Uma vez grávidas, em face da alta taxa
de mortalidade associada com a continuação da gra-
videz (em torno de 30 a 50%, sendo 34% para parto
vaginal e 75% para cesariana), o tratamento de opção
é a indução do aborto terapêutico. Caso a gravidez
seja mantida, deve-se programar internação eletiva
no segundo trimestre.87
Oxigenoterapia contínua, anticoagulação e o uso
de vasodilatador pulmonar são objetos de contro-
vérsia. Um estudo nacional com 13 gestantes relatou
redução na taxa de mortalidade materna (23%) com
uso de oxigenoterapia, heparina e warfarínico 48 ho-
ras após o parto.87 Não existe consenso sobre o tipo
de parto mais adequado.
A conduta com a gestante deve incluir seguimento
estreito para detecção precoce da deterioração clíni-
ca. A terapia anticoagulante parece indicada no ter-
ceiro trimestre da gestação e por quatro semanas pós-
parto, na ausência de sangramento com warfarínico.
Como o parto prematuro é comum, a paciente de-
verá ser internada a qualquer sinal de atividade uteri-
na prematura. Muitas vezes a hospitalização eletiva é
recomendada. O trabalho de parto espontâneo é pre-
ferido à indução e deve reduzir a chance de prematu-
ridade ou necessidade de cesariana. Monitorização
da pressão arterial, cardioscopia e gases é essencial
durante o trabalho de parto e parto. A monitorização
do CO2 exalado é um indicador inadequado em pa-
cientes com shunt significativo, estando indicada a
monitorização com gasometria.
Oxigenoterapia está indicada. O uso do fórceps
de alívio está indicado para encurtar o segundo es-
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Anestesia para gestante cardiopata
póxia irreversível são as possíveis causas. A HPP está
associada a mau prognóstico fetal com elevadas in-
cidências de prematuridade, retardo de crescimento
fetal e perda fetal.
A hipercoagubilidade e a trombogenicidade pul-
monar aumentada na HPP tornam a profilaxia trom-
boembólica indicada no periparto. O ideal é que
essa prevenção ocorra durante toda a gravidez ou
pelo menos durante o terceiro trimestre e a fase ini-
cial do pós-parto.
Monitorização hemodinâmica e medida de gases
sanguíneos estão indicadas durante o parto e o traba-
lho de parto. Não há consenso a respeito da monitori-
zação da pressão da artéria pulmonar.113 Oxigênio deve
ser fornecido para prevenir hipoxemia, óxido nítrico
inalatório ou prostaglandinas inalatórias ou intraveno-
sas podem ser úteis para reduzir a RVP. A monitoriza-
ção deverá se estender por alguns dias após o parto.
O uso do cateter de artéria pulmonar (CAP) nas
gestantes com HPP, embora permita identificar pre-
cocemente a alteração da pressão da artéria pulmo-
nar, assim como a deterioração da função do VD, não
está associado com aumento da sobrevida.102 Alguns
autores defendem a utilização do CAP durante o par-
to e o período imediato pós-parto, destacando que
o reconhecimento e tratamento com vasodilatadores
pulmonares em conjunto com monitorização hemo-
dinâmica e anticoagulação para HPP reduzem as
complicações e mortalidade relacionadas à associa-
ção gravidez com HPP.
A severidade da doença é dependente da res-
posta dos vasos pulmonares aos vasodilatadores e
do grau de comprometimento do ventrículo direito.
Redução da pré-carga pela venodilatação ou com-
pressão aortocava é pouco tolerada. Redução da RVS
pelo bloqueio simpático pode ser fatal.
Parto espontâneo prematuro é o habitual. Parto
planejado por volta da 32ª-34ª semana é o ideal. Na
condução no período periparto, deve-se evitar au-
mento da resistência vascular pulmonar e manter a
pré-carga, a contratilidade do VD e evitar a redução
da pós-carga. Em geral, esses objetivos são alcança-
dos evitando-se aumento da RVP devido à hipoter-
mia, acidose, hipercabia, hipóxia, ventilação com
pressão elevada e agentes simpaticomiméticos como
adrenalina e noradrenalina.114
Outras técnicas tem sido descritas: opioides intra-
tecal com bloqueio de nervo pudendo, e raqueanes-
tesia combinada com peridural. Não há evidências
de superioridade de uma técnica sobre a outra.114
Gravidez em pacientes com HPP implica em ris-
co de 30% mortalidade, comparado com 30-40% na
síndrome de Eisenmenger e mais de 50% nos casos
de hipertensão pulmonar vascular secundária.16,103-107
O prognóstico é pior quando o índice cardíaco
está abaixo de 2l/min/m2 e a pressão do átrio direito
acima de 15 mmHg. Mulheres que toleram a gravidez
sem significativa deterioração clínica possuem um
prognóstico de sobrevida maior (> 6 anos) do que
aquelas que pioram significativamente com a gravi-
dez (< 2 anos).108
A HPP é definida clinicamente pela elevação per-
sistente da pressão da artéria pulmonar, pressão mé-
dia maior que 25 mmHg ao repouso, sem etiologia
conhecida. Está associada com a redução da síntese
vascular do óxido nítrico e prostaciclina, com o au-
mento da produção da endotelina e tromboxano, e
é caracterizada histologicamente pelo espessamento
da camada média e fibrose da íntima.109
A deterioração clínica ou óbito durante a gesta-
ção não podem ser previstos com base no estado
clinico pré-concepção. Deterioração sintomática, ge-
ralmente, ocorre no segundo e terceiro trimestres e
pode manifestar-se por fadiga, dispneia aos esforços,
síncope, dor torácica, palpitações, tosse não produ-
tiva, hemoptise e edema de membros inferiores. A
piora dos sintomas levou à hospitalização precoce
em muitos dos casos relatados. Embolia pulmonar é
um diagnóstico diferencial. Cintilografia pulmonar,
angiografia pulmonar, cateterização ventricular di-
reita ou angiografia pulmonar digital por subtração
podem confirmar o diagnóstico nos pacientes com
evidências ecocardiográficas de falência do ventrícu-
lo direito (dilatado, hipertrofiado, regurgitação tricús-
pide e desvio septal direito-esquerdo).
A ecocardiografia na gestante com suspeita de
hipertensão pulmonar superestima a pressão da ar-
téria pulmonar quando comparada com a cateteriza-
ção da artéria pulmonar. Aproximadamente 32% das
gestantes com pressão normal da artéria pulmonar
podem ser equivocadamente identificadas como por-
tadoras de hipertensão arterial pulmonar quando a
ecocardiografia for o único método propedêutico.110
O tratamento inclui heparina, oxigênio, nifedipi-
na, prostaciclina e óxido nítrico. A maioria das mortes
ocorre entre o segundo e o nono dia após o parto.11, 112
Apesar de a causa exata da morte não ser escla-
recida, isquemia e insuficiência ventricular direita
pelo aumento da resistência vascular pulmonar após
o parto, arritmias cardíacas, embolia pulmonar e hi-
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 48RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 48 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 49
Anestesia para gestante cardiopata
terceiro trimestre e no puerpério na primeira ou se-
gunda gravidez, com idade média de 32 anos.130 Mu-
lheres no pós-parto tem seis vezes maior risco de IAM
do que pacientes não grávidas.
Os fatores de risco para doença isquêmica do
miocárdio em mulheres mais jovens que 50 anos in-
cluem o tabagismo, a síndrome metabólica (uma en-
tidade complexa que associa a deposição central de
gorduras e a resistência à insulina a fatores de risco
cardiovasculares bem estabelecidos como hiperten-
são arterial, dislipidemia e diabetes melito), história
familiar de doença isquêmica do miocárdio, toxemia
da gravidez e o uso de contraceptivos orais. A asso-
ciação da síndrome metabólica com doença cardio-
vascular aumenta a mortalidade geral em cerca de
1,5 vez e a cardiovascular em 2,5 vezes.
Mulheres que tiveram neonatos de muito baixo
peso ao nascimento ou partos prematuros também
parecem estar sob risco aumentado de doença isquê-
mica do miocárdio.
O IAM tem sido relatado em qualquer estágio da ges-
tação e em mulheres de 16 a 45 anos. A incidência mais
elevada, no entanto, ocorre no terceiro trimestre e em
mulheres acima de 33 anos. O IAM tem sido observa-
do mais comumente em multíparas e com localização
na parede ântero-lateral. Muitos dos óbitos maternos
ocorreram no momento do infarto ou dentro de duas se-
manas. A mortalidade do IAM é alta (25-50%), principal-
mente se o infarto ocorre durante o período periparto.
Apesar de a doença aterosclerótica parecer ser
a causa primária do IAM, no periparto ela está asso-
ciada a angiografias normais em metade dos casos, e
sugere ser ocasionada por redução na perfusão coro-
nariana causada pela dissecção coronariana, secun-
dária a mudanças hormonais, por espasmo ou trom-
bose in situ.130-132 A despeito da presença do espasmo
não ter sido documentada e sua causa não esclareci-
da, ela tem sido sugerida como o mecanismo do IAM
em algumas situações, como hipertensão induzida
pela gestação e com administração com derivados da
ergotamina, bromocriptina, ocitocina e prostaglandi-
na (usada para suprimir a lactação ou sangramento
uterino), pacientes com feocromocitoma, embolismo,
arterite coronariana, anomalias congênitas das arté-
rias coronarianas e abuso de drogas ilícitas (especial-
mente a cocaína). A dissecção arterial coronariana,
principalmente no período pós-parto imediato, tem
sido comumente associada ao IAM periparto. A dis-
secção envolve a artéria descendente anterior esquer-
da em aproximadamente 80% dos casos e a artéria
Ocitocina deve ser usada com cautela, em infusão
contínua, lenta e baixa dose, pois pode causar redução
da RVS e elevação da RVP.115 Prostaglandina F2alfa
pode
causar vasoconstrição pulmonar e deve ser evitada.
Quando indicada a cesariana, a correta escolha
da técnica anestésica não é fácil e deve ser individu-
alizada. Habitualmente, o bloqueio neuroaxial não
é recomendado. No entanto, anestesia epidural cui-
dadosa, com doses incrementais, tem sido utilizada
com sucesso.116, 117
Anestesia geral venosa (opioide) minimiza o au-
mento da pressão pulmonar durante a laringoscopia
e evita os efeitos inotrópicos negativos dos agentes
inalatórios. Óxido nitroso aumenta a resistência vas-
cular pulmonar e deve ser evitado.
Tratamento agudo e prolongado com óxido nítri-
co via inalatória ou venosa e prostaglandinas inala-
tórias (prostaciclina – PGI2, epoprostenol) melhora a
função do endotélio pulmonar e o desempenho da
câmara cardíaca direita.106 O uso da PGI2 intravenosa
é limitado pelo risco de sangramento causado pela
inibição da agregação plaquetária, pela redução da
RVS e hipoxemia. Tratamento com óxido nítrico pode
ser limitado por causar inibição da agregação plaque-
tária ou metemoglobinemia, formação de metabóli-
tos tóxicos (nitratos) e pela dificuldade técnica para
sua aplicação. PGI2 via aerossol e o análogo sintético
iloprost são de fácil administração e mais eficientes
em reduzir a pressão na artéria pulmonar quando
comparados com PGI2 venosa ou ON inalatório.118
Relatos de casos demonstram a heterogeneidade
de resposta ao tratamento da HPP bem como os ris-
cos dos efeitos adversos com óxido nítrico e PGI.119-125
Infelizmente não há evidências que alguma interven-
ção reduz a mortalidade.119-125
O óxido nítrico inalatório pode ser uma alternati-
va no sangramento uterino pós-parto na falha a res-
posta com ocitocina.
Situações de emergência são dramáticas e até a
utilização de suporte por bypass cardiopulmonar par-
cial em paciente com HPP severa (com pressão da ar-
téria pulmonar de 120 mmHg obtida pelo Swan-Ganz)
para realização de cesariana tem sido descrito.126-129
DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA
O infarto agudo do miocárdio (IAM) é extrema-
mente raro na gestação, com incidência de 1 em
10.000-30 000 gestações, mais comumente durante o
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Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6250
Anestesia para gestante cardiopata
Abordagem terapêutica
Tanto considerações maternas quanto fetais
devem influenciar na abordagem terapêutica da
doença isquêmica cardíaca durante a gestação. O
sulfato de morfina não causa defeitos congênitos.
Por atravessar a placenta, pode causar depressão
respiratória neonatal quando administrado imedia-
tamente antes do parto. Relatos disponíveis mos-
tram que o uso da terapia trombolítica durante a
gestação não suportam um efeito teratogênico e a
maioria dos casos relatados apresentou resultados
materno e fetal favoráveis. Essa terapia, no entan-
to, está associada a risco de hemorragia materna,
especialmente quando administrada no momento
do parto. Graças a sua segurança na gestação, os
betabloqueadores parecem ser as drogas escolhi-
das. O uso de nitratos orgânicos e antagonistas
do cálcio em pacientes com isquemia miocárdica
aguda ou infarto tem sido descrito em um número
limitado de pacientes. Essas drogas devem ser uti-
lizadas cautelosamente para prevenir hipotensão
materna e sofrimento fetal. O uso de altas doses de
AAS durante a gestação é discutível porque há re-
latos de retardo de crescimento fetal e sangramen-
to no neonato e na mãe. Apesar de o uso de AAS
em baixas doses ser considerado seguro durante a
gestação, um estudo randomizado em larga escala
demonstrou que o uso prolongado de 100 mg desse
medicamento iniciado no segundo trimestre tam-
bém esteve associado a aumento de complicações
hemorrágicas e menor peso ao nascimento compa-
rado com o placebo.
A reperfusão coronariana por meio de angioplas-
tia transluminal percutânea ou cirurgia de bypass de
artéria coronariana foi relatada como bem sucedida
durante a gestação, a despeito de experiência ainda
ser limitada. Tais procedimentos devem ser evitados
durante o primeiro trimestre, se possível em função
dos potenciais efeitos deletérios fetais relacionados
com radiação ionizante, assim como com o bypass
cardiopulmonar.
A estratificação do risco do infarto agudo do
miocárdio durante a gravidez deve ser determinada
por meio de métodos não invasivos. Os níveis de co-
lesterol total, de colesterol LDL e triglicérides estão
aumentados durante a gravidez. A angiografia coro-
nária deve ser realizada somente nos casos com indi-
cação de angioplastia coronária ou o bypass cirúrgi-
co durante a gravidez.
coronariana direita em muitos outros. Outras causas
potenciais de IAM durante a gestação são doença co-
lagenovascular, doença de Kawasaki, anemia falcifor-
me e anormalidades hemostáticas.
Em um relato de caso, uma gestante de 19 anos,
sem fatores de risco para doença isquêmica do mio-
cárdio, apresentou IAM provavelmente causado por
embolia paradoxal, sugerido pelos dados evidencia-
dos pelo ecocardiograma transtorácico e transeso-
fágico de um formem oval patente e aneurisma do
septo atrial, uma associação que aumenta em cinco
vezes o risco de embolização sistêmica. 133,134
Formação de trombos e embolia arterial são conhe-
cidas sequelas de cardiomiopatia periparto, mas são
poucos casos de embolia de artéria coronarina.133, 135- 137
A abordagem diagnóstica da doença isquêmica
miocárdica na gestação é influenciada, em alguma
extensão, pelo procedimento diagnóstico que pode
lesar o feto e por alterações normais vistas durante a
gestação que podem mimetizar mudanças patológi-
cas. Inversão de onda T, onda Q na derivação III e um
aumento da razão R/S nas derivações V1-V2 são co-
mumente vistos na gravidez normal. Depressões do
segmento ST não associados à dor torácica ou anor-
malidades ecocardiográficas da mobilidade parietal
tem sido descritas durante cesariana eletiva e podem
imitar isquemia miocárdica.
Como a bradicardia fetal tem sido relatada duran-
te exercício máximo em mulheres normais, um pro-
tocolo de exercício submáximo com monitorização
fetal é recomendado para a avaliação de doença is-
quêmica miocárdica durante a gestação.
Cintilografias de perfusão miocárdica e ventricu-
lografia com radionuclídeos expõem o feto a algu-
ma radiação e devem ser usadas apenas quando o
benefício potencial ultrapassa os riscos. Por razões
similares, o cateterismo cardíaco envolvendo fluoros-
copia e cineangiocoronariografia devem ser usados
somente quando informações relevantes não podem
ser obtidas por outros métodos não invasivos. O retar-
do no diagnóstico de isquemia miocárdica e infarto
durante a gestação tem sido relatado em virtude do
baixo nível de suspeição. Concentrações de mioglo-
bina creatinocinase e creatinocinase com subunida-
des de músculo e cérebro (CK-MB) foram encontra-
das em níveis dobrados 30 minutos após o parto, ao
passo que o nível de troponina I permaneceu abaixo
do valor de corte para discriminação do infarto mio-
cárdico. Por essa razão, a troponina deve ser usada
para o diagnóstico de IAM após o parto.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 50RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 50 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S62 51
Anestesia para gestante cardiopata
DISSECÇÃO AÓRTICA
É sugerido um aumento do risco para a dissec-
ção aórtica (DA) durante a gestação. O principal
fator predisponente é a degeneração do colágeno
e elastina da camada íntima e média das artérias.
A hipertensão arterial e a síndrome de Marfan são
os principais fatores relacionados à sua ocorrência
durante a gravidez, além das doenças do tecido
conjuntivo com traço hereditário como a síndrome
de Marfan, a síndrome Ehlers-Danlos, coartação
aórtica, válvula aórtica bicúspide, aortite e hipopla-
sia do arco aórtico.
Ao longo dos últimos 50 anos, mais de 200 casos
de DA em associação à gestação foram relatados, a
maioria ocorrendo em mulheres com a síndrome de
Marfan, mas houve também casos relacionados a hi-
pertensão sistêmica, coarctação da aorta e uso de co-
caína ou crack. A DA relacionada à gestação pode ser
devida ao maior estresse hemodinâmico e alterações
na estrutura da parede vascular, parecendo ocorrer
mais no terceiro trimestre e período periparto. O sí-
tio mais comum de dissecção é a aorta proximal e a
ruptura aórtica ocorre geralmente durante o terceiro
trimestre ou no primeiro estágio do trabalho de par-
to. DA durante a gravidez é potencialmente letal para
a mãe e feto. O manuseio é complexo e depende do
tipo de dissecção e da idade gestacional. O sistema
de classificação de Stanford divide a dissecção aór-
tica em dois tipos: tipo A, envolvendo a aorta ascen-
dente independente do local do início da dissecção,
e tipo B, envolvendo a aorta distal até emergência da
artéria subclávia esquerda. A dissecção aórtica tipo B
é extremamente rara durante a gravidez, o tratamen-
to é predominantemente clínico, com controle rigo-
roso da pressão arterial.139
A dissecção tipo A é uma emergência cirúrgica.
Em uma revisão de 12 anos de casos de gravidez com-
plicada por dissecção aórtica, os autores sugeriram a
seguinte conduta: na gestante com dissecção aórtica
tipo A, o tratamento tem como objetivo salvar a ges-
tante e o feto.140-142 Antes de 28 semanas de gestação,
a cirurgia da reconstrução aórtica é realizada com
o feto intrauterino. Se o feto for viável, isto é, igual
ou superior a 32 semanas de gestação, realiza-se pri-
meiro a cesariana seguida da reparação aórtica, no
mesmo tempo cirúrgico. Entre 28ª e 32ª semanas de
gravidez, a conduta é determinada pela condição fe-
tal. A mortalidade fetal e materna na cirurgia cardio-
vascular é de respectivamente 20-30% e 2-6%.141
Abordagem da gestação
A abordagem da gestação deve focalizar a
redução do estresse cardiovascular durante a
gestação e o período periparto. A interrupção da
gravidez pode ser preferida em pacientes com is-
quemia grave ou insuficiência cardíaca em fase
inicial da gravidez. Durante o trabalho de parto,
analgesia adequada e suplementação de oxigênio
devem ser fornecidas, e, se desejado, o débito car-
díaco pode ser elevado pelo posicionamento da
paciente em decúbito lateral esquerdo. O trabalho
de parto na posição supina, no entanto, pode re-
duzir o retorno venoso e, assim, reduzir as pres-
sões de enchimento ventricular. Fórceps baixo
pode ser usado para encurtar o segundo estágio.
Cateterismo da artéria pulmonar com monitori-
zação hemodinâmica pode auxiliar na detecção
precoce e correção de anormalidades hemodinâ-
micas durante o trabalho de parto e parto. Apesar
de a cesariana eletiva não estar indicada em to-
dos os casos, pode ser adotada em pacientes com
isquemia ativa ou instabilidade hemodinâmica,
a despeito da terapia medicamentosa adequada.
Monitorização hemodinâmica contínua é acon-
selhável por várias horas pós-parto para detectar
piora hemodinâmica associada às alterações he-
modinâmicas já descritas.
ARTERITE DE TAKAYASU
A arterite de Takayasu frequentemente ocorre
em mulheres jovens, e há uma alta probabilidade
de gravidez em pacientes com essa condição. Uma
revisão da literatura revelou informação sobre ges-
tações em mais de 60 mulheres com doença de
Takayasu. A maioria dos casos mais recentemente
publicados teve prognósticos maternos favoráveis,
apesar de elevação pressórica com ou sem pré-
eclampsia. Insuficiência cardíaca e/ou insuficiência
renal podem ocorrer.
Habitualmente o prognóstico fetal é bom, entre-
tanto, existe o risco de atraso de crescimento, perda
fetal e parto prematuro. Nos casos descritos, a maio-
ria dos partos foi vaginal com uso de fórcipes de alí-
vio. O parto cesariano foi realizado basicamente por
indicações obstétricas, hipertensão materna ou do-
enças vasculares e, na grande maioria das pacientes,
sob anestesia epidural.
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 51RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 51 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S21-S6252
Anestesia para gestante cardiopata
muitas delas são de origem atrial e não apresentam
repercussões hemodinâmicas. Em mulheres saudá-
veis, complexos prematuros atriais e ventriculares
múltiplos e até frequentes podem ocorrer geralmente
sem efeito para a mãe ou o feto.
As arritmias são as principais causas de hospi-
talização dos adultos com cardiopatia congênita
(CC), representando quase metade das admissões de
emergências, sendo, em alguns casos, a primeira ma-
nifestação de doença cardíaca orgânica.151
Apesar de palpitações, vertigem e até síncope
serem sintomas relativamente comuns da gestação
normal, estão raramente associados a arritmias car-
díacas. As arritmias cardíacas, no entanto, quando
ocorrem na gravidez, podem ser ter efeitos hemodi-
nâmicos significativas, mesmo em pacientes com co-
ração normal. A redução pressórica ocasionalmente
associada a tais arritmias pode resultar em bradicar-
dia fetal e necessidade de tratamento imediato com
drogas antiarrímicas, cardioversão elétrica ou cesa-
riana de urgência.
Tipos de arritmias durante a gravidez
Extrassístoles atriais
Extrassístoles atriais são relativamente comuns,
com incidência de 58% (sintomáticas ou não) quan-
do as pacientes são submetidas a monitorização
eletrocardiográfica de 24 horas.147 Em condições
normais, são desencadeadas pelo estado hiperdinâ-
mico da gravidez ou por consumo de estimulantes
como café, chá, cigarro, álcool e descongestionan-
tes nasais. Podem ocorrer na doença reumática, na
cardiopatia hipertensiva, chagásica ou congênita.
Podem ser gatilhos para desencadeamento de FA,
flutter atrial, taquiarritmias supraventriculares ou ta-
quicardia atrial. No tratamento devem ser conside-
rados os fatores de risco citados e a compensação
do quadro hemodinâmico se houver algum grau de
insuficiência cardíaca associado.
Taquicardia ParoxísticaSupraventricular (TPSV)
Os mecanismos mais frequentes de TPSV são a re-
entrada nodal e reentrada atrioventricular envolven-
A taxa de mortalidade para dissecção aórtica pro-
ximal aumenta de 1 a 3% por hora após o início da
dissecção, aproximadamente 25% durante as primei-
ras 24 horas, 70% em uma semana e 80% em duas se-
manas.143 Em um grande estudo compreendendo um
período de 27 anos, a falha de diagnóstico ocorreu
em 85% dos pacientes com apresentação aguda da
dissecção aórtica.144 Também no período periparto
não é diferente.141, 142, 145.
A apresentação clínica mais comum é um início
súbito de dor torácica ou dorsalgia em até 96% dos ca-
sos, que é caracteristicamente lancinante. Geralmen-
te a dor possui característica migratória de acordo
com a evolução da dissecção, e sua presença pode
sugerir o local e a extensão da dissecção. A isquemia
de órgãos resulta da obstrução das artérias originá-
rias da aorta. Insuficiência aórtica aguda ocorre em
18-50% na dissecção proximal da aorta e, após a rup-
tura aórtica, é a causa mais comum de morte. Cerca
de 10 a 15% das pacientes apresentam anormalidades
regionais da parede ventricular devido à má perfusão
coronariana. A artéria coronariana direita é mais en-
volvida do que a esquerda, podendo ocorrer infarto
do miocárdio. Trombólise nesse cenário é fatal.
A ecocardiografia transesofágica fornece uma
poderosa e segura ferramenta no estabelecimento
do diagnóstico de dissecção aórtica. Durante a ges-
tação, esse método é preferível à tomografia compu-
tadorizada (a qual envolve exposição à radiação) e
ressonância magnética (cuja segurança durante a
gravidez ainda não foi completamente estabelecida).
A combinação de nitroprussiato intravenoso e agen-
tes bloqueadores betadrenérgicos é atualmente reco-
mendada para o controle da hipertensão em não ges-
tantes com dissecção aórtica e tem sido aplicada com
sucesso durante a gestação. No entanto, em função de
o nitroprussiato poder resultar em toxicidade fetal, deve
ser usado apenas no pós-parto ou em pacientes refra-
tárias a outras drogas e pode ser substituído por hidra-
lazina, nitroglicerina ou labetalol. Para evitar elevação
pressórica associada ao trabalho de parto e parto vagi-
nal em mulheres com DA, a cesariana é recomendada.
ARRITMIAS CARDÍACASNAS GESTANTES
A gravidez está associada a uma maior incidência
de arritmias em mulheres com ou sem doença cardí-
aca estrutural.147-150 Arritmias benignas são comuns e
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 52RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 52 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
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Anestesia para gestante cardiopata
cepção dos batimentos prematuros. Em um estudo
comparando mulheres grávidas sintomáticas (palpi-
tações, tontura e síncopes) com coração normal com
pacientes assintomáticas, os autores demonstraram
que a incidência de extrassístoles é semelhante em
ambos os grupos (49% versus 40%); entretanto, as pri-
meiras apresentaram maior quantidade horária em
relação ao grupo controle.156 Prevalência igual ou su-
perior a 50 extrassístoles por hora foi mais frequente
nas mulheres sintomáticas.
Na ausência de cardiopatia, o prognóstico é bom,
não havendo necessidade de tratamento, mesmo
nas formas mais complexas. As cardiopatias que
mais frequentemente cursam com extrassístoles são
a miocardiopatia dilatada, hipertensiva, chagásica,
prolapso da valva mitral, valvopatias (estenose aór-
tica, insuficiência mitral), miocardite aguda e síndro-
me do QT longo. Causas menos frequentes seriam a
insuficiência coronariana, síndrome do intervalo QT
longo congênito e displasia arritmogênica de ventrí-
culo direito.
O tratamento é necessário em pacientes sintomá-
ticas, cuja correlação com o eletrocardiograma foi
estabelecida ao Holter de 24 horas.
Taquicardia ventricular é uma ocorrência rara
na gestação e puerpério. Pode ocorrer em pacien-
tes sadias, mas geralmente está associada à cardio-
patia estrutural, drogas, anormalidades eletrolíti-
cas ou eclâmpsia.
O efeito da gestação em mulheres do QT longo
congênita é descrito. O período pós-parto esteve
associado a um significativo aumento no risco de
eventos cardíacos, incluindo óbito, parada cardíaca
abortada e síncope. O tratamento com bloqueadores
beta-adrenérgicos foi independentemente associado
a uma redução no risco de eventos cardíacos.
Taquicardia ventricular
A taquicardia ventricular é uma arritmia rara du-
rante a gravidez. O estado gravídico não predispõe ao
aumento da frequência dos episódios em pacientes
com história prévia dessa arritmia. Em mulheres não
grávidas geralmente, é secundária a cardiopatias.
Durante a gestação, a maioria dos casos ocorre em
mulheres sadias e o tipo mais comum é a taquicardia
ventricular idiopática cuja origem mais frequente é
na via de saída do ventrículo direito. Um dado im-
portante é descartar a possibilidade de consumo de
do via acessória (síndrome de Wolff-Parkinson-White
aparente ou oculta), sendo a primeira a mais frequen-
te e a segunda a que apresenta maior refratariedade
a terapêutica clínica.
A gravidez pode desencadear crises de taquicardia
pela primeira vez, fato que ocorre em 34% dos casos,
ou aumentar a frequência das crises em 29% dos casos.
Taquicardia atrial paroxística
A taquicardia atrial paroxística é uma arritmia
infrequente com incidência de até 4% em pacientes
encaminhados para estudo eletrofisiológico. As cau-
sas mais comuns são a intoxicação digitálica, doença
pulmonar obstrutiva crônica e lesões atriais no pós-
operatório de cardiopatias congênitas, cujos focos
estão localizados próximos às áreas de sutura.
Fibrilação e flutter atrial
Flutter e FA são raros durante a gestação normal
e geralmente estão associados as cardiopatias. A
FA, rara durante a gravidez, pode ser crônica ou pa-
roxística. As causas mais frequentes são cardiopatia
reumática (estenose mitral), miocardiopatia hiperten-
siva dilatada, insuficiência cardíaca, pericardite e car-
diopatia congênita que se acompanham de grandes
volumes atriais (CIA, anomalia de Ebstein, drenagem
anômala das veias pulmonares, atresia tricúspide).
Causas não cardíacas da FA são o hipertireoidismo,
doença pulmonar obstrutiva crônica, embolia pulmo-
nar e a forma idiopática (mediada pelo sistema ner-
voso autônomo). Em corações normais pode ser de-
sencadeada durante estresse emocional ou após uso
abusivo de álcool. Relatos descreveram FA durante a
gravidez acompanhando tratamento com terbutalina,
sulfato de magnésio e na síndrome de pré-excitação.
O flutter atrial é secundário, na maioria das vezes,
a cardiopatia estrutural. Está associado a condições
que provocam grandes dilatações atriais como mio-
cardiopatias e cardiopatias congênitas.
Extrassístoles ventriculares
O estado gravídico aumenta a frequência de ex-
trassístoles ventriculares e, geralmente, as pacientes
tornam-se sintomáticas em virtude da maior per-
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Anestesia para gestante cardiopata
e bloqueio completo, a arritmia tem sido tratada du-
rante a gravidez com marcapassos temporários ou
permanentes e numerosas gestações foram relatadas
em pacientes após a implantação do marcapasso.
Abordagem das arritmiasna paciente grávida
A avaliação cardiológica inicial em pacientes com
queixa de palpitações, síncopes ou tonteiras inclui
eletrocardiograma, monitorização eletrocardiográfica
contínua de 24 horas (Holter) ou monitorização transte-
lefônica (Looper), ecocardiografia e teste ergométrico.
De maneira geral, o tratamento das arritmias du-
rante a gestação não difere daquele empregado em
mulheres não grávidas.
Uma avaliação completa está indicada em pacien-
tes com arritmias durante a gestação para descartar
causas tratáveis como desequilíbrio eletrolítico, do-
ença tireoidiana e efeitos arritmogênicos de drogas,
álcool, cafeína e tabagismo. A causa identificável
deve ser tratada e o uso de drogas antiarrítmicas deve
ser iniciado apenas se a arritmia persistir ou for sinto-
mática, hemodinamicamente importante ou colocar
em risco a vida. Quando a terapia medicamentosa
parece necessária, a menor dose terapêutica segura
conhecida para o feto deve ser utilizada. Níveis séri-
cos terapêuticos e a indicação para a manutenção da
terapia medicamentosa devem ser reavaliados perio-
dicamente. Em virtude da imprevisível exposição à
radiação ionizante, a avaliação eletrofisiológica e o
procedimento de ablação por cateter são geralmen-
te postergados até o período pós-parto (embora haja
relatos de seu uso durante a gravidez). Cardioversão
sincronizada tem sido realizada com segurança em
todos os trimestres e pode ser empregada em pa-
cientes com taquiarritmias não responsivas a tera-
pia medicamentosa associadas a descompensação
hemodinâmica. Não tem sido relatada a inserção de
cardiodesfibrilador implantável mas gestações em
mulheres com este dispositivo foram relatadas como
livres de eventos.147-150
MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA
O diagnóstico da cardiomiopatia hipertrófica
(CH) é baseado na evidência ecocardiográfica inex-
plicável de hipertrofia miocárdica, com espessamen-
cocaína, um fator desencadeante dessa arritmia. Dos
casos de origem de cardiopatia estrutural, as causas
mais comuns são: miocardiopatia chagásica, dilatada
e hipertrófica, miocardiopatia periparto, valvopatias
(estenose aórtica ou insuficiência mitral), prolapso
de valva mitral, displasia arritmogênica do ventrículo
direito, cardiopatias congênitas operadas ou não (Te-
tralogia de Fallot) e insuficiência coronariana. O uso
indiscriminado de antiarrítmicos para tratamento de
extrassístoles ventriculares e a intoxicação digitálica
são causas que devem ser investigadas.
O tratamento deve ser direcionado à causa e indi-
vidualizado. Quando indicado o uso de drogas antiar-
rítmicas, deve-se dar preferência aos medicamentos
mais antigos, cujo metabolismo, efeitos terapêuticos
e colaterais são mais conhecidos.
Bloqueio atrioventricular total
O bloqueio atrioventricular total (BAVT) é uma
complicação incomum da gravidez. Nas últimas déca-
das, as indicações para implante de marcapasso defi-
nitivo sofreram grandes mudanças.152,153 Em gestantes
com BAVT sintomáticas no primeiro e segundo trimes-
tres, o marcapasso definitivo está indicado. Em pa-
cientes a termo ou em idade gestacional próxima a ele,
o marcapasso temporário deve ser implantando antes
de induzir e/ou conduzir o parto. Os critérios para im-
plantar o marcapasso provisório incluem bradicardia
resistente a atropina, bloqueio átrio ventricular de se-
gundo grau e FA com frequência ventricular baixa.154
Gestantes com BAVT congênito são raras. A dis-
tinção entre BAVT adquirido ou congênito é realiza-
da pela aplicação dos seguintes critérios: lesão foi
diagnosticada na infância, FC de repouso de 40 bpm
ou mais, ausência de cardiomegalia, configuração
QRS normal, tolerância à atividade física normal ou
discretamente reduzida, ausência de ataques tipo
Stokes-Adams.155 e precença de tendência de história
familiar. Embora o BAVT congênito possa estar asso-
ciado a alguma anomalia cardíaca, na maioria dos
casos inexiste qualquer outra anormalidade, mesmo
havendo presença quase constante de sopro sistólico
sugestivo de shunt esquerdo-direito.155 Dessa forma,
pacientes com BAVT podem permanecer assinto-
máticas durante a gravidez e ter trabalho de parto
sem complicações. Nas pacientes sintomáticas com
anormalidades de condução, incluindo bloqueio bi-
fascicular, bloqueio atrioventricular de segundo grau
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Anestesia para gestante cardiopata
ser favorável, mulheres com sintomas prévios à gravi-
dez tem um risco aumentado de prematuridade, com-
paradas com mulheres saudáveis. O risco de herdar a
doença pode ser tão alto quanto nos casos familiares
e menor em casos esporádicos.
A abordagem terapêutica da gestante com CH de-
pende da presença de sintomas e obstrução ao fluxo
do VE. Na paciente sintomática com CH obstrutiva,
deve-se tentar evitar perda sanguínea e uso de dro-
gas que possam levar a vasodilatação ou estimulação
simpática durante o trabalho de parto. Indicações
para terapia medicamentosa durante a gestação in-
cluem arritmias e sintomas de insuficiência cardíaca.
Betabloqueadores, diuréticos, amiodarona e an-
tagonistas de cálcio são drogas utilizadas no trata-
mento das pacientes sintomáticas.
Em vista do potencial efeito arritmogênico da
gestação, a implantação de um desfibrilador auto-
mático antes da gravidez deve ser considerada em
pacientes com história de síncope, arritmias amea-
çadoras a vida ou história familiar de óbito causado
pela mesma condição.
Parto vaginal demonstrou-se seguro. Nas pa-
cientes com sintomas de obstrução ao fluxo, o
segundo estágio do trabalho de parto deve ser
encurtado pelo uso do fórceps de alívio. O uso de
prostaglandina para indução do parto apresenta
risco pelo efeito vasodilatador. A ocitocina habitu-
almente é bem tolerada.
Os agentes tocolíticos, pela sua ação beta adre-
nérgica, agravam a obstrução no trato de saída do
VE e estão contraindicados. O sulfato de magnésio
não apresenta restrição quanto ao uso. Similarmente,
anestésicos espinhais e peridurais devem ser usados
com cautela, devido à vasodilatação induzida. A per-
da sanguínea excessiva deve ser evitada e, se ocorrer,
deve ser prontamente tratada.
Um estudo com 127 gestantes com miocardiopa-
tia hipertrófica demonstrou evolução favorável com
poucas complicações.158 19 pacientes (15%) foram
submetidas a cesariana sob anestesia geral; em 11
pacientes (8,7%) o diagnóstico foi feito antes da gra-
videz. Peridural foi realizada em 24 pacientes (18,9%)
sendo 11 (8,7%) com diagnóstico prévio. O gradiente
do trato de saída do ventrículo esquerdo não apresen-
tou alteração significativa (> 30 mmHg). 13 pacientes
(10,2%) com doença diagnosticada após a gravidez
também receberam peridural para cesariana. Três
dessas pacientes tinham um gradiente importante (>
30 mmHg), e outra havia sido operada de miomecto-
to ventricular excedendo dois desvios-padrão para a
idade.157,158 O contexto clínico é estudado por meio da
história médica, familiar, eletrocardiograma, ecocar-
diografia e monitorização por 24 horas com o Holter.
Uma resposta pressórica anormal ao exercício, defi-
nida como uma falha na elevação da pressão sistóli-
ca maior que 25 mmHg dos valores basais ou a queda
maior que 10 mmHg da pressão sanguínea máxima
durante o exercício, são sugestivas de miocardiopa-
tia hipertrófica.
A experiência relatada de aproximadamente
350 gestações em 200 mulheres com cardiopatia
hipertrófica sugere um prognóstico favorável mas,
ao mesmo tempo, um potencial para aumento de
morbidade e até mortalidade. Piora dos sintomas
como a dispneia e fadiga foram relatados em 15 a
20% dos casos e predominam nas pacientes sinto-
máticas antes da gravidez.
O quadro clínico cursa com dor torácica, palpi-
tações, períodos de vertigem e síncope. Há relatos
de casos isolados de arritmias como taquicardia
supraventricular resistente e mal tolerada com so-
frimento fetal, FA com deterioração hemodinâmica
requerendo cardioversão ou fibrilação ventricular
tratada com desfibrilação.
Aproximadamente 30% dos portadores de CH
apresentam gradiente pressórico em repouso na
via de saída do ventrículo esquerdo. Esse gradiente
pressórico é gerado por obstrução mecânica da via
de saída, com grande variabilidade espontânea, po-
dendo ser reduzido ou abolido por intervenções que
reduzam a contratilidade miocárdica (betabloquea-
dores) ou por aumento do volume ventricular ou da
resistência periférica (vasoconstritores, anestesia ge-
ral, exercício isométrico). De maneira inversa, o gra-
diente pode ser elevado por fatores que aumentam
a contratilidade miocárdica (inotrópicos positivos) e
fatores que reduzem o volume ventricular ou pressão
arterial (manobra de Valsalva, nitratos, hipovolemia,
exercício dinâmico, vasodilatadores).157
Aproximadamente 20% dos pacientes com gra-
diente na via de saída apresentam insuficiência mi-
tral de intensidade variável, o que agrava a hiperten-
são venocapilar pulmonar e a dispneia, contribuindo
para o aumento do átrio esquerdo e facilitando o sur-
gimento de arritmias supraventriculares.
A mortalidade materna relacionada com a gesta-
ção é baixa em pacientes com CH, sendo maior em
comparação com a população geral, e se deve às ar-
ritmias ventriculares. Apesar de o prognóstico fetal
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Anestesia para gestante cardiopata
■ para cesariana a anestesia geral é indicada; ha-
lotano pelo seu efeito inotrópico e cronotrópi-
co negativo é uma boa opção; cetamina deve
ser evitada;
■ peridural pode ser utilizada, desde que a resis-
tência vascular periférica seja mantida através
de aumentos de doses lentamente; anestesia
combinada – peridural com raquianestesia –
pode ser utilizada, desde que esses princípios
sejam mantidos;
■ a raquianestesia em dose única é relativamente
contraindicada;
■ deve-se realizar profilaxia antimicrobiana pelo
risco de endocardite bacteriana.159-160
CARDIOMIOPATIA PERIPARTO
A cardiomiopatia periparto (CPP) é uma forma de
cardiomiopatia dilatada com disfunção sistólica ven-
tricular esquerda que resulta em sinais e sintomas de
insuficiência cardíaca.161 A síndrome tem sido defini-
da por quatros critérios: 1) desenvolvimento de insu-
ficiência cardíaca no último mês de gravidez ou no
período de cinco meses após o parto; 2) ausência de
uma causa identificável para a insuficiência cardíaca;
3) ausência de doença cardíaca reconhecida anterior
ao último mês de gestação; 4) disfunção sistólica do
ventrículo esquerdo demonstrada pelos critérios eco-
cardiográficos clássicos, como fração de ejeção < 45%
e/ou encurtamento reduzido (> 30%), dimensão ao fi-
nal da diástole > 2.7 cm/m2. No entanto, há relatos de
casos de início precoce de CPP, durante o segundo e
terceiro trimestres de gestação, em uma minoria dos
pacientes. A incidência da doença é desconhecida e
é relatada de 1:4.000 a 1:15.000 partos, com maior inci-
dência nas populações mais subdesenvolvidas.
A causa é desconhecida, e entre as hipóteses
estão a de origem autoimune ou miocardite viral.162
Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum
em maiores de 30 anos. Parece comprometer mulhe-
res de vários grupos étnicos e está relacionada com
a primeira e segunda gestações em quase 60% dos
casos. Há uma forte relação entre o desenvolvimento
de CPP e hipertensão gestacional, gravidez gemelar e
o uso de terapia tocolítica.
A identificação de uma causa específica para in-
suficiência ventricular esquerda exclui o diagnóstico
de CPP. Disfunção e dilatação ventricular esquerda
são essenciais para o diagnóstico.163
mia anteriormente. Em 30% dos casos, o diagnóstico
da CH só foi realizado após o término da gestação.
Apesar de dados favoráveis à anestesia peridural,
a recomendação ainda é de cautela nas pacientes
com gradiente da via de saída do VE importante.158-160
Amiodarona tem sido associada com neuroto-
xicidade e hipotireoidismo fetal/neonatal. Tanto a
amiodarona quanto o betabloqueador estão asso-
ciados a atraso de crescimento intrauterino e morte
fetal. Conclusões definitivas são difíceis de serem
obtidas com tão poucos dados, mas estes sugerem
que essas drogas devam ser suspensas ou reduzidas
durante a gravidez.
Alguns autores recomendam a profilaxia contra
endocardite infecciosa, principalmente na forma
obstrutiva.
As medidas preconizadas para o manuseio cirúr-
gico dessas pacientes são:
■ manter o uso de betabloqueador ao longo da ges-
tação para as pacientes sintomáticas;
■ evitar o uso de digital ou drogas simpaticomiméti-
cas ou vasodilatadoras;
■ manter a volemia adequada durante o trabalho
de parto, durante a cirurgia e no pós-operatório
imediato;
■ monitorizar a pressão venosa central ou a pressão
capilar pulmonar nos casos mais graves ou em ci-
rurgias de grande porte;
■ durante o trabalho de parto, manter a paciente em
decúbito lateral, para evitar a redução do retorno
venoso pela compressão aortocava pelo útero;
■ a indicação de parto cesáreo fica condicionada
às indicações obstétricas ou para os casos de in-
suficiência cardíaca descompensada;
■ encurtar o segundo estágio do parto, com fórceps
de alívio, reduzindo e minimizando as manobras
de Valsalva;
■ usar betabloqueadores endovenosos para contro-
le da taquicardia e amiodarona para as arritmias
ventriculares e supraventriculares;
■ usar fenilefrina ou noradrenalina para correção
da hipotensão arterial grave;
■ na anestesia regional evitar taquicardia, inotrópi-
cos positivos e queda abrupta da resistência vas-
cular periférica;
■ na peridural analgésica manter retorno venoso e
resistência vascular periférica;
■ parece haver maior estabilidade hemodinâmica
com anestesia endovenosa em relação aos blo-
queios peridural ou subaracnoideo;
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Anestesia para gestante cardiopata
melhora significativa. Avaliações futuras dessas te-
rapias são necessárias.
Em alguns casos, o transplante cardíaco está in-
dicado, com taxa de sobrevida semelhante à miocar-
diopatia dilatada idiopática.
Gestações subsequentes em mulheres com CPP
estão frequentemente associadas a recaídas, levando
à disfunção ventricular esquerda, deterioração sin-
tomática e até ao óbito.165 De acordo com os dados
disponíveis, a taxa de recorrência da CPP em uma
nova gravidez é de 50 a 100% dos casos. Ausência
de cardiomegalia à radiografia de tórax realizada
seis meses após o diagnóstico indicaria um risco de
recorrência de CPP em 25% em uma nova gravidez.
Entretanto, um teste modificado de estresse com do-
butamina constatou que esses casos de recorrência
devem-se muito mais a uma disfunção ventricular
sistólica subclínica. Apesar disso, em pacientes com
CPP prévia com ecocardiografia sob estresse com
dobutamina normal, uma nova gravidez sempre é
considerada de risco.162,165
Apesar de a possibilidade de recaída ser maior
em pacientes com função cardíaca persistentemente
anormal, ela pode ocorrer naqueles que recupera-
ram completamente da cardiopatia. De maneira ge-
ral, uma nova gestação deve ser bastante discutida.
A conduta anestésica é determinada pela apre-
sentação clínica. Não há dados para sugerir qual via
de parto, normal ou cesariana, é a mais segura.
A conduta pode ser assim descrita: tratar a insufi-
ciência cardíaca com restrição hídrica e de sal, usar
diurético, digital, suporte inotrópico e monitorizarão
hemodinâmica invasiva quando indicada. A aneste-
sia peridural contínua ou combinada com a raque-
anestesia pode ser utilizada na cesariana. Anestesia
geral com opioide para evitar a depressão miocárdi-
ca tem sido indicada.165
GESTAÇÃO APÓSTRANSPLANTE CARDÍACO
Um estudo conduzido para determinar o prog-
nóstico da gestação em transplantadas identificou
47 gestações em 35 pacientes com 35 nascidos vi-
vos (74%).158 Abortamento terapêutico foi realizado
em cinco casos em virtude do curto intervalo entre
o transplante e a concepção. Alterações hemodinâ-
micas maternas durante a gestação pareceram bem
toleradas, e episódios de rejeição foram raros.
Dispneia, fadiga, dor torácica, palpitações, ganho
ponderal, edema periférico, embolização pulmonar
ou periférica e arritmias podem estar presentes no
curso da doença. O exame físico frequentemente re-
vela um aumento cardíaco, terceira bulha e sopros de
regurgitação mitral e tricúspide. O eletrocardiograma
pode exibir taquicardia, alterações do segmento ST-T,
anormalidades de condução e arritmias. Radiografia
de tórax geralmente mostra cardiomegalia e ocasio-
nalmente efusão pleural. A ecocardiografia com dop-pler comumente demonstra aumento das quatros câ-
maras cardíacas com acentuada redução na função
sistólica ventricular esquerda. Derrame pericárdico
pequeno a moderado, regurgitação mitral, tricúspide
e pulmonar podem ser evidentes. A apresentação clí-
nica e alterações hemodinâmicas são indistinguíveis
daquelas encontradas em outras formas de cardio-
miopatia dilatada.
O curso clínico da CPP é variável. 50 a 60% das
pacientes exibem recuperações completas ou quase
completas do estado clínico e função cardíaca geral-
mente dentro de seis meses pós-parto e o restante
das pacientes demonstra deterioração clínica poste-
rior, podendo direcionar-se para morte prematura ou
disfunção ventricular esquerda persistente e insufici-
ência cardíaca crônica.164
A insuficiência cardíaca aguda deve ser tratada
vigorosamente com oxigênio, diuréticos digitais
e agentes vasodilatadores. O uso de hidralazina
como agente redutor de pós-carga é seguro duran-
te a gravidez. O uso de nitratos orgânicos, dopa-
mina, dobutamina e milrinona tem sido relatado
em pequeno número de casos. O uso nesiritide
durante a gestação ainda não foi relatado. Nitro-
prussiato de sódio tem sido utilizado com sucesso
durante a gravidez, mas experimentos em animais
exibiram um potencial para toxicidade fetal. Os
inibidores da enzima conversora de angiotensina
têm um efeito teratogênico, podendo causar dis-
função renal, portanto não devem ser utilizados. A
terapia anticoagulante está indicada pelo aumento
de fenômenos tromboembólicos. Como a doença
pode ser reversível, o uso de balão de propulsão
intra-aórtico ou dispositivo de assistência ventri-
cular esquerdo pode auxiliar na estabilização das
condições da paciente. Um pequeno estudo retros-
pectivo sobre o uso de imunoglobulina intraveno-
sa mostrou um efeito favorável na recuperação da
disfunção ventricular esquerda. Pentoxifilina em
associação ao cuidado padrão proporcionou uma
RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 57RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 57 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
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Maior incidência de complicações maternas foi
constatada incluindo hipertensão arterial crônica,
pré-eclampsia, agravamento da insuficiência renal,
ruptura prematura de membranas e infecções. Ape-
sar dea perda fetal não parecer elevada, um aumen-
to na incidência de partos prematuros, retardo de
crescimento fetal e cesariana foram observados. Não
foram relatados óbitos maternos durante a gestação,
mas a incidência de óbito tardio foi alta em compa-
ração com mulheres saudáveis da mesma idade. Ne-
nhum dos neonatos apresentou malformações con-
gênitas, sugerindo ausência de efeitos teratogênicos
dos agentes imunossupressores.
A técnica anestésica é dependente da apresenta-
ção clínica, parecendo não haver contraindicação
para qualquer técnica.
Coartação da aorta
O prognóstico materno e fetal é geralmente favorá-
vel em casos de coartação da aorta.158,159 Risco de hiper-
tensão arterial grave, insuficiência cardíaca congestiva
e dissecção aórtica sempre estão presentes. Hiperten-
são arterial sistêmica é comum durante a gestação em
mulheres com gradiente de coarctação significativo. O
risco de doença cardíaca congênita é de 3 a 4%.
Como a incidência de hipertensão e endocardite
infecciosa na mãe e doença cardíaca congênita no
feto são maiores nas pacientes não corrigidas cirurgi-
camente, a correção está indicada antes da gravidez.
Medidas para reduzir a incidência de dissecção
aórtica e ruptura de aneurismas cerebrais durante
a gestação consistem em limitar a atividade física e
controlar a pressão arterial. Como o bloqueio adre-
nérgico pode reduzir o risco desses eventos pela re-
dução da tensão da parede aórtica, os betabloque-
adores devem ser as drogas anti-hipertensivas de
escolha. A correção cirúrgica da coartação tem sido
realizada com sucesso durante a gravidez e deve ser
indicada em pacientes com hipertensão sistólica gra-
ve, incontrolável ou insuficiência cardíaca.157 Não há
informação disponível em gestantes com coarctação
aórtica após dilatação percutânea.
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ARTIGO DE REVISÃO
Trabalho desenvolvido no Centro de Ensino e Treinamen-
to da FMUF de Uberlândia - Hospital de Clínicas da Uni-
versidade Federal de Uberlândia Sociedade Brasileira De
Anestesiologia
Endereço para correspondência:Rua Antônio Luiz Bastos, 300
Bairro Altamira II
Uberlândia-MG
CEP: 38402-274
E-mail: [email protected]
1Anestesiologista ME3 do Serviço de Anestesiologia (SE-
ANE) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de
Uberlândia2TSA/SBA; Professor Doutor da disciplina de Anestesiolo-
gia e responsável pelo CET/SBA da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Uberlândia; presidente da Co-
missão de Normas Técnicas/SBA3TSA/SBA; co-responsável pelo CET/SBA da Faculdade de
Medicina da Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
Durante a ressuscitação de uma gestante em parada cardiorrespiratória (PCR), o
anestesiologista tem dois pacientes em potencial: a mãe e o feto. O conhecimento
das alterações fisiológicas de uma mulher grávida é fundamental para que se obte-
nha sucesso na tentativa de reversão do colapso cardiorrespiratório. Posicionar a
paciente em decúbito lateral esquerdo, fornecer oxigênio a 100%, estabelecer acesso
intravenoso para administração de fluidos em bolus, considerar causas reversíveis da
PCR e identificar alguma condição médica que possa estar dificultando a ressuscita-
ção são medidas essenciais que devem ser tomadas durante o atendimento. Peque-
nas alterações no BLS (Basic Life Support) e no ACLS (Advanced Cardiovascular Life Support), no que se refere à gestante, auxiliam em prover manobras mais efetivas de
reanimação.
Palavras-chave: Parada Cardiorrespirtória; Gravidez; Ressuscitação.
ABSTRACT
During resuscitation of a pregnant woman with a cardiorespiratory arrest (CRA), the anesthetist has two potential patients, the mother and the fetus. Knowing the pregnant woman’s physiological changes is fundamental to successfully try to revert the cardiorespiratory collapse. The patient should be put in a left lateral decubitus position, given oxygen at 100%, an intravenous access should be established, in order to administer fluid bolus. Reversible causes of CRA should be considered and the medical conditions which may be making it difficult to resuscitate the patient should be identified. These are all essential measures that should be taken. Small changes in Basic Life Support (BLS) and in Advanced Cardiovascular Life Support (ACLS), regarding the fact that the patient is pregnant, help provide more effective resuscitation maneuvers.
Key words: Cardiorespiratory Arrest; Pregnancy; Resuscitation.
INTRODUÇÃO
Durante a tentativa de ressuscitação de uma mulher grávida, o assistente tem
dois potenciais pacientes, a mãe e o feto. Para a paciente grávida que está criti-
camente doente, o médico deve prover ressuscitação adequada, considerando as
mudanças fisiológicas que ocorrem na gravidez.1
Estudo americano avaliando paradas cardiorrespiratórias (PCR) relacionadas a
anestesia entre 1979 e 1990 revelou que a taxa de fatalidade de casos com anestesia
geral foi 16,7 vezes maior que com anestesia regional.2
Cardiac arrest during pregnancy
Raphael de Almeida Carvalho1, Neuber Martins Fonseca2 , Roberto Araújo Ruzi3
Parada cardíaca na gestação
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Parada cardíaca na gestação
Desfibrilação
A dose padrão preconizada pelo ACLS é de 360 jou-
les, se o desfibrilador for monofásico, e de 200 joules,
se o desfibrilador for bifásico, devendo-se, logo após
o choque, iniciar compressões torácicas e ventilação
por cinco ciclos (30:2), até nova checagem de pulso.7
Não há evidência de que o choque produzido pelo des-
fibrilador tenha efeitos adversos no coração do feto.
Removem-se todos os monitores fetais da paciente.
MODIFICAÇÕES DO ACLS (ADVANCEDCARDIOVASCULAR LIFE SUPPORT )
O tratamento preconizado pelo ACLS, no que se
refere às doses para desfibrilação, medicações e intu-
bação, aplicam-se para PCR em gestantes. Entretanto,
algumas considerações sobre via aérea, circulação e
diagnósticos diferenciais devem ser feitas.
Via aérea
Deve ser acessada uma via aérea o mais rapida-
mente possível. Devido ao risco de aspiração pulmo-
nar, pressão na cartilagem cricoide deve ser aplicada
antes e durante a intubação orotraqueal.
Usar no diâmetro interno um tubo traqueal 0,5 a
1,0mm menor do que aquele usado em mulher não grá-
vida, justificado pelo edema de via aérea característi-
co da gestante. Muitas mulheres grávidas queixam-se
de dificuldade com a respiração pelo nariz, e a nature-
za friável das mucosas durante a gravidez pode causar
sangramento grave, principalmente com a inserção
de cânulas traqueais8, sendo, portanto, recomendada
atenção redobrada durante essa manobra.
Respiração
O nível do diafragma sobe à medida que o útero
aumenta de tamanho e é acompanhado por um au-
mento nos diâmetros ântero-posterior e transverso da
caixa torácica. A partir do quinto mês, a capacidade
residual funcional diminui 20% em relação ao estado
não gravídico9, não sendo rara a ocorrência de rápi-
do estado de hipoxemia em gestantes, à qual soma-se
a elevada demanda de oxigênio. Criteriosa e adequa-
da ventilação é fundamentalmente necessária.
Algumas manobras básicas durante a ressuscita-
ção de uma gestante são recomendadas. Entre elas,
colocar a paciente em decúbito lateral esquerdo,
fornecer oxigênio a 100%, estabelecer acesso in-
travenoso para administração de fluidos em bolus,
considerar causas reversíveis da PCR e identificar
qualquer condição médica pré-existente que possa
estar dificultando a ressuscitação.
MODIFICAÇÕES DO BLS(BASIC LIFE SUPPORT )
Várias modificações no BLS padrão tornaram-
se necessárias nas pacientes grávidas em PCR.1 Na
idade gestacional de 20 semanas ou mais, o útero
gravídico pressiona a veia cava inferior e a aorta, di-
ficultando o retorno venoso e diminuindo o débito
cardíaco. Em pacientes críticos, essa obstrução pode
levar à hipotensão grave e ao choque, evoluindo para
uma PCR. A efetividade das compressões torácicas
é prejudicada pela diminuição do retorno venoso.
A descompressão da veia cava pode ser feita colo-
cando a paciente de 15º a 30º de decúbito lateral es-
querdo ou deslocando manualmente o útero para o
mesmo lado.1
Vias aéreas e respiração
Mudanças hormonais promovem insuficiência do
esfíncter esofageano inferior, aumentando o risco de
regurgitação. Por isso, deve-se aplicar pressão cricoi-
de durante ventilação com pressão positiva em qual-
quer mulher grávida inconsciente.
Circulação
Realizar compressões torácicas na região mais
alta do esterno, ligeiramente acima da metade dele
- isso irá corrigir a elevação do diafragma e do con-
teúdo abdominal causada pelo útero gravídico. De-
vem-se fornecer adequadas compressões torácicas e
observar o retorno completo do tórax, sempre evitan-
do interrupções durante as manobras, para que se te-
nha um efetivo débito coronariano e cerebral.3-6 Além
disso, segundo as diretrizes para PCR da AHA (Ame-
rican Heart Association) de 2005, a relação entre
compressões torácicas-ventilação deve ser de 30:2.7
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Parada cardíaca na gestação
O tratamento efetivo e de escolha para a intoxica-
ção e a administração de 1g de gluconato de cálcio.
Administração empírica de Ca++ pode ser salvadora.
Síndromes coronarianas agudas
Mulheres grávidas podem desenvolver síndromes
coronarianas agudas típicas e associadas com outras
condições clínicas. A angioplastia percutânea é o tra-
tamento de escolha.
DHEG (doença hipertensiva especifica
da gravidez) ou pré-eclampsia/elampsia
Os distúrbios hipertensivos, que ocorrem em aproxi-
madamente 7% de todas as gravidezes a termo, estão en-
tre as principais causas de mortalidade materna, respon-
dendo por um quinto delas.8 Desenvolvem-se depois da
20ª semana de gestação e podem produzir hipertensão
severa e evoluir com falência de vários órgãos. O não tra-
tamento pode resultar em morbidade intensa, podendo
facilmente converter-se em mortalidade materna e fetal.
Dissecção aórtica
Mulheres grávidas estão em risco aumentado
para dissecção aórtica espontânea.
Embolia pulmonar e AVC
Uso bem-sucedido de fibrinolíticos tem sido re-
portado no tratamento destas condições em mulhe-
res grávidas.
Embolia amniótica
Esta é uma condição grave, com mortalidade de
90%. O mecanismo não está esclarecido, provavel-
mente se deve à passagem de substâncias vasoati-
vas do líquido amniótico para a circulação materna,
levando a um quadro de hipotensão e hipoxemia.12
Entre as causas, podem ser citados trauma e amioto-
mia.13,14 Clínicos tem reportado sucesso com o uso de
bypass cardiopulmonar durante o trabalho de parto e
o período expulsivo.1
Verificar corretamente o posicionamento do tubo
com ausculta e/ou detector de CO2
(capnografia)1,
conforme estabelece a recomendação 1802/2006 do
Conselho Federal de Medicina (CFM).
O volume da ventilação precisa ser diminuído em
função da posição elevada do diafragma da gestante
e conseqüente diminuição do volume minuto, sob ris-
co de ocorrência de volutrauma pulmonar.
Circulação
Seguir o ACLS para doses de medicações. Medi-
cações como adrenalina, vasopressina e dopamina
levarão à diminuição do fluxo sanguíneo útero-pla-
centário. Entretanto, não há recomendação para mu-
dar ou ajustar as drogas habitualmente utilizadas.
Diagnósticos diferenciais
As mesmas causas reversíveis de parada cardíaca
que ocorrem em mulheres não grávidas podem ocor-
rer durante a gravidez. Os assistentes devem estar,
porém, familiarizados com doenças específicas da
gravidez e suas possíveis complicações. Os clínicos
devem tentar identificar causas reversíveis de para-
da cardíaca na gestação durante o procedimento de
ressuscitação, sem, contudo, interferir com outros
tratamentos.
Excesso de sulfato de magnésio
A sobredose iatrogênica pode ocorrer durante o
tratamento de gestantes com DHEG (doença hiper-
tensiva específica da gravidez) que recebem sulfato
de magnésio, particularmente naquelas com com-
prometimento da função renal. Descrições sobre
essa condição são encontradas na literatura.10,11 A
justificativa para essa ocorrência é de que o sulfato
de magnésio é quase totalmente eliminado pela uri-
na (90%) até 24 horas depois da administração endo-
venosa. O efeito clínico e a toxicidade relacionam-se
diretamente com a concentração plasmática. Níveis
terapêuticos são alcançados com 1,8 a 3,0mmol/L,
enquanto em níveis entre 3,5 e 5,0mmol/L já ocorre
manifestação clínica de perda de reflexo patelar. A
parada cardiorrespiratória é descrita com dose plas-
mática de 12mmol/L1.
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Parada cardíaca na gestação
Idade gestacional menor que 20 semanas
Cesariana de urgência não deve ser considerada,
pois o tamanho do útero não compromete o débito
cardíaco materno.
Idade gestacional entre 20 e 23 semanas
Deve-se realizar a cesariana com o intuito de sal-
var a mãe, já que a sobrevivência do feto é improvável.
Idade gestacional acima de 24 semanas
Realizar cesariana com o objetivo de salvar a mãe
e o filho.
Pontos que podem aumentar a
chance de sobrevivência do feto
■ curto intervalo entre a parada cardíaca da mãe e
a retirada do recém-nato;
■ mínima hipoxia materna;
■ agressivas e efetivas manobras de ressuscitação
realizadas na mãe;
■ disponibilidade de cuidados intensivos neonatais
assistenciais.
Concluindo, a assistência à gestante em PCR re-
quer conhecimentos sobre as mudanças na fisiologia
da mulher durante a gravidez, os prováveis diagnósti-
cos que levaram a essa condição e a tomada de deci-
são frente a uma PCR, sempre levando em considera-
ção o bem-estar do binômio mãe/filho.
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Trauma e overdose de drogas
Grávidas não estão isentas de sofrerem acidentes
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durante a gestação, e homicídios e suicídios não são
infrequentes nesse período.
CESARIANA DE EMERGÊNCIA EMGESTANTE COM PARADA CARDÍACA
Diante uma situação de parada cardíaca em grá-
vida, o responsável pela equipe de ressuscitação
deve considerar a necessidade de uma cesariana de
urgência. As melhores taxas de sobrevivência para
o recém-nascido com idade gestacional maior que
24 semanas ocorrem quando a cesariana ocorre até
cinco minutos depois de constatada a PCR. A mãe
não pode ser ressuscitada até que o retorno venoso
e o débito cardíaco sejam restaurados. A retirada do
bebê esvazia o útero, aliviando a obstrução venosa e
a compressão aórtica. A histerotomia também possi-
bilita a assistência ao recém-nato para uma eventual
ressuscitação.
Quatro a cinco minutos é o máximo de tempo
que o médico assistente tem para determinar se a
PCR pode ser revertida pelas intervenções do BLS e
do ACLS.
A paciente não deve ser transportada em PCR,
devendo a equipe obstétrica ser comunicada e a
cesariana de urgência ser realizada no próprio lo-
cal, após quatro a cinco minutos de tentativa de
reanimação.
O estabelecimento de um acesso venoso e uma
via aérea avançada requerem alguns minutos. Em
muitos casos, a cesariana não pode ser iniciada antes
da intubação traqueal e de um acesso venoso.
TOMANDO A DECISÃO PARAHISTEROTOMIA DE URGÊNCIA
Considerar idade gestacional
Embora o útero gravídico com 20 semanas já
comprometa o fluxo uteroplacentário, a vitabilidade
fetal inicia-se com 24 a 25 semanas. A idade gesta-
cional pode ser determinada com ultrassom portátil,
entretanto, seu uso não deve atrasar as manobras de
ressucitação e a histerotomia.
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12. Knobel E. Condutas no paciente grave. 3ª ed. São Paulo: Athe-
neu; 2006. 1910p.
13. Fletcher SJ, Parr MJA. Amniotic fl uid embolism: a case report
and review Resuscitation. 2000; 43:141-6
14. Judith A, Kuriansky J. Amniotic fl uid embolism following blunt
abdominal Injury.1998; 29(6): 475-7.
resuscitation: improved outcome during a simulated single lay-
rescuer scenario. Circulation. 2002; 105:645– 649.
5. Assar D, Chamberlain D, Colquhoun M, Donnelly P, Handley AJ,
Leaves S, Kern KB. Randomised controlled trials of staged tea-
ching for basic life support, 1: skill acquisition at bronze stage.
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6. Heidenreich JW, Higdon TA, Kern KB, Sanders AB, Berg RA, Nie-
bler R, et al. Single-rescuer cardiopulmonary resuscitation: ‘two
quick breaths’–an oxymoron. Resuscitation. 2004; 62:283-9.
7. Hazinski MF, Nadkarni VM, Hickey RW, O’Connor R, Becker LB,
Zaritsky A. Major Changes in the 2005 AHA Guidelines forCPR
and ECC Reaching the Tipping Point for Change. Circulation.
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8. Barash PG, Cullen B, Stoelting, RK. Anestesia clínica. 4ª Ed. Ba-
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RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 67RMMG Suplemento 19_4_S1_Anestesiologia.indb 67 11/18/09 1:56 PM11/18/09 1:56 PM
Normas de Publicação 1. Revista Médica de Minas Gerais (RMMG) destina se à publicação
de artigos originais, revisões, atualizações, resumo de teses,
relatos de casos ou notas técnicas inéditas de qualquer especiali-
dade médica.
2. A revista tem periodicidade trimestral (março, junho, setembro e
dezembro) com a seguinte estrutura: Editorial, Artigos Originais,
Artigos de Revisão, Atualização Terapêutica, Relato de Caso,
Educação Médica, História da Medicina, Cartas aos Editores, Agenda,
Comunicados das Instituições Mantenedoras, Normas de Publicação.
2.1. Para efeito de categorização dos artigos, considera-se:
a) Artigo Original: trabalhos que desenvolvam crítica e criação
sobre a ciência, tecnologia e arte da medicina, biologia e matérias
afins que contribuam para a evolução do conhecimento humano
sobre o homem e a natureza.
b) Artigos de Revisão: trabalhos que apresentam síntese atualiza-
da do conhecimento disponível sobre medicina, biologia e matérias
afins, buscando esclarecer, organizar, normatizar, simplificar aborda-
gem dos vários problemas que afetam o conhecimento humano sobre
o homem e a natureza.
c) Atualização Terapêutica: trabalhos que apresentam síntese atu-
alizada do conhecimento disponível sobre a terapêutica em medicina,
biologia e matérias afins, buscando esclarecer, organizar, normatizar,
simplificar a abordagem sobre os vários processos utilizados na
recuperação do ser humano de situações que alteram suas relações
saúde doença.
d) Relato de Caso: trabalhos que apresentam a experiência médica,
biológica ou de matérias afins em função da discussão do raciocínio,
lógica, ética, abordagem, tática, estratégia, modo, alerta de proble-
mas usuais ou não, que ressaltam sua importância na atuação prática
e mostrem caminhos, conduta e comportamento para sua solução.
e) Educação Médica: trabalhos que apresentam avaliação, análise,
estudo, relato, inferência sobre a experiência didático-pedagógica e
filosófica, sobre os processos de educação em medicina, biologia e
matérias afins.
f) História da Medicina: trabalhos que revelam o estudo crítico,
filosófico, jornalístico, descritivo, comparativo ou não sobre o desen-
volvimento, ao longo do tempo, dos fatos que contribuíram para a
história humana relacionada à medicina, biologia e matérias afins.
g) Cartas aos Editores: correspondências de leitores comentando,
discutindo ou criticando artigos publicados na revista. Recomenda-se
o tamanho máximo de 1000 palavras, incluindo referências bibliográ-
ficas. Sempre que possível, uma resposta dos autores ou editores
será publicada junto com a carta.
3. Os trabalhos para publicação devem ter até 16 páginas de texto,
incluindo ilustrações e referências (até 25), exceto os artigos da
seção “Relato de Caso” que devem ter até 8 páginas. A RMMG
reserva-se o direito de recusar artigos acima desses limites.
4. Os trabalhos recebidos serão analisados pelo Corpo Científico
da RMMG ( Editor Geral, Editores Associados, Conselho Editorial e
Consultores Ad Hoc). Um trabalho submetido é primeiramente protoco-
lado e analisado quanto a sua apresentação e normas, estando estas
em conformidade, o trabalho é repassado aos Editores Associados que
indicarão dois revisores da especialidade correspondente. Os reviso-
res são sempre de instituições diferentes da instituição de origem do
artigo e são cegos quanto à identidade dos autores e local de origem
do trabalho. Após receber ambos os pareceres, os Editores Associados
os avalia e decide pela aceitação do artigo, pela recusa ou pela devo-
lução aos autores com as sugestões de modificações. Um manuscrito
pode retornar várias vezes aos autores para esclarecimentos mas cada
versão é sempre analisada pelo Editores Associados e/ou Editor Geral,
que detém o poder da decisão final, podendo a qualquer momento ter
sua aceitação ou recusa determinada.
5. Os trabalhos devem ser digitados utilizando a seguinte configura-
ção: margens: esquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm;
tamanho de papel formato A4 (21 cm x 29, 7 cm); espaço entrelinhas
de 1, 5 cm, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12. conforme
estrutura estabelecida no item 9.
6. Para os trabalhos resultados de pesquisas envolvendo seres huma-
nos, deverá ser encaminhada uma cópia do parecer de aprovação
emitido pelo Comitê de Ética reconhecido pela Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do
Conselho Nacional de Saúde – CNS/196/96, e para os manuscritos
que envolveram apoio financeiro, este deve estar explicito claramen-
te no texto e declarados na carta de submissão a ausência de qual-
quer interesse pessoal, comercial, acadêmico, político ou financeiro
na publicação do mesmo.
7. Os trabalhos devem ser enviados para o endereço eletrônico
(e-mail: [email protected]), anexando o original
e suas respectivas ilustrações, anexos e apêndices; Parecer do
Comitê de Ética, quando houver; e a correspondência de submissão
do manuscrito, dirigida ao Editor Geral, indicando a sua originalidade,
a não submissão a outras revistas, as responsabilidades de autoria, a
transferência dos direitos autorais para a revista em caso de aceita-
ção e declaração de que não foi omitido qualquer ligação ou acordo
de financiamento entre o(s) autor(es) e companhias que possam ter
interesse na publicação do artigo.
8. Para efeito de normalização, serão adotados os “Requerimentos do
Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas” (International
Committee of Medical Journal Editors – ICMJE) (Estilo Vancouver)
disponível em:http://www.icmje.org/.
9. Todo trabalho deverá ter a seguinte estrutura e ordem:
a) Primeira página: título; título em inglês; nome(s) completo do(s)
autor(es), acompanhado(s) de seu(s) respectivos(s) título(s) e
afiliação(çoes); citação da instituição onde o trabalho foi realizado;
endereço para correspondência; indicação da categoria do artigo.
b) Segunda página: Título; título em inglês; resumo (em formato semi-
estruturado para os artigos originais)* do trabalho em português, sem
exceder o limite de 250 palavras; Palavras-chave (três a dez), de acor-
do com o DECS Descritores em Ciências da Saúde da BIREME (http://
decs.bvs.br/ ); Abstract (resumo em língua inglesa), consistindo na
correta versão do resumo para aquela língua; Key words (palavras-
chave em língua inglesa) de acordo com a lista Medical Subject
Headings (MeSH) do PUBMED) da National Library of Medicine
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=mesh);
c) Terceira página: TEXTO: Introdução, Material ou Casuística
e Método ou Descrição do Caso, Resultados, Discussão e/ou
Comentários (quando couber) e Conclusões;
d) Agradecimentos (opcional);
e) Referências como especificado no item 11 dessas normas;
*Nota: O resumo no formato semi-estruturado deverá ser adotado
para os artigos da categoria “artigos originais”, compreendendo,
obrigatoriamente, as seguintes partes, cada uma das quais devi-
damente indicada pelo subtítulo respectivo: Introdução; Objetivos;
Métodos; Resultados; Conclusões.
10. As ilustrações são denominadas: TABELA (tabelas e quadros)
e FIGURA (fotografias, gráficos e outras ilustrações) devem ser
colocadas imediatamente após a referência a elas. Dentro de cada
categoria deverão ser numeradas seqüencialmente durante o texto.
Exemplo: (Tabela 1, Figura 1). Cada ilustração deve ter um título e a
fonte de onde foi extraída. Cabeçalhos e legendas devem ser sufi-
cientemente claros e compreensíveis sem necessidade de consulta
ao texto. As referências às ilustrações no texto deverão ser mencio-
nadas entre parênteses, indicando a categoria e o número da tabela
ou figura. Ex: (Tab. 1, Fig.1). As fotografias deverão ser enviadas em
arquivos anexos, e não devem ser incorporadas no editor de texto;
podem ser em cores e deverão estar no formato JPG, em alta resolu-
ção (300 dpi) e medir, no mínimo, 10cm de largura (para uma coluna)
e 20cm de largura (para duas colunas). Devem ser nomeadas, possuir
legendas e indicação de sua localização no texto.
11. As referências são numeradas consecutivamente, na ordem em
que são mencionadas pela primeira vez no texto. Devem ser apresen-
tadas de acordo com as normas do Comitê Internacional de Editores
De Revistas Médicas, disponível em: http://www.nlm.nih.gov/bsd/
uniform_requirements.html. Os títulos das revistas são abreviados
de acordo com o “Journals Database” do PUBMED, disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=journals. As referên-
cias no texto devem ser citadas mediante número arábico sobrescri-
to, após a pontuação, quando for o caso, correspondendo às referên-
cias no final do artigo. Nas referências, citar como abaixo:
11.1.ARTIGOS DE PERIÓDICOS
a) Artigo padrão de revista científica
Incluir o nome de todos os autores quando são até seis: último
sobrenome, em caixa baixa, seguido da primeira letra dos demais
nomes e sobrenomes. Mais de seis autores indicar os seis primeiros
seguidos de et al.
You CH, Lee HY, Chey RY, Menguy R. Electrogastrografic study of
patients with unexplained nausea, bloating and vomiting.
Gastroenterology. 1980; 79:3114.
Viana MB, Giugliani R, Leite VH, Barth ML, Lekhwani C, Slade CM, et
al. Very low levels of high density lipoprotein cholesterol in four sibs
of a family with non-neuropathic Niemann-Pick disease and sea-blue
histiocytosis. J Med Genet. 1990 Aug; 27(8):499-504.
b) Autor corporativo:
The Royal Marsden Hospital BoneMarrow Transplantation Team.
Failure os syngeneic bonemarrow graft in post hepatitis marrow
aplasia. Lancet. 1977; 2:2424.
c) Sem autoria (entrar pelo título):
Coffee drinking and cancer of the pancreas (Editorial). BMJ. 1981;
283:6289.
d) Suplemento de revista:
Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenic bladder. Ann Intern
Méd. 1980; 92 (2 pt 2): 3168.
Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M. Functional asplenia: demons-
tration of esplenic activity by bone marrow sean (resumem). Blood.
1979; 54 (supl 1): 26.
11.2. LIVROS E OUTRAS MONOGRAFIAS
a) Autor(es) pessoa física:
Eisen HN. Immunology: an introduction to molecular and cellular
principles of the immune response. 5th ed. New York: Harper and
How; 1974.
b) Editor, compilador, coordenador como autor:
Dausset J, Colombanij D, editors. Histocompatibility testing 1972.
Copenhague: Munksgaard; 1973.128p.
c) Autor(es) institucional:
Royal Adelaide Hospital; University of Adelaide, Department of
Clinical Nursing. Compendium of nursing research and practice deve-
lopment, 1999-2000. Adelaide (Australia): Adelaide University; 2001.
11.2.1. Capítulo de livro:
Weinstein L, Swartz MN. Pathogenic properties of invading microor-
ganisms. In: Sodeman WA Jr, Sodeman WA, editors.
Pathologic physiology: mechanisms of diseases. Philadelphia: WB
Saunders; 1974. p.457-72.
11.2.2. Trabalhos apresentados em congressos, seminários, reuniões
etc.:
Blank D, Grassi PR, Schlindwein RS, Mello JL, Eckert GE. The gro-
wing threat of injury and violence against youths in southern Brazil.
Abstracts of the Second World Conference on Injury Control; 1993
May 2023; Atlanda, USA. Atlanda: CDC; 1993. p.1378.
11.3 DISSERTAÇÕES E TESES
Caims RB. Infrared spectroscopic studies of solid oxigens [Tesis].
Berkeley (Ca): University of California; 1965.
Borkowski MM. Infant sleep and feeding: a telephone survey of
Hispanic Americans [dissertation]. Mount Pleasant (MI): Central
Michigan University; 2002.
11.4. ARTIGO DE JORNAL (não científico)
Shaffer RA. Advances in chemistry are starting to unlock musteiries
of the brain: discoveries could help cure alcoholism and insom-
nia, explain mental illnes. How the messengers work. Wall Street
Journal, 1977; ago. 12:1 (col. 1). 10 (cl. 1).
11.5. ARTIGO DE REVISTA (não científica)
Roueche B. Annals of Medicine: the Santa Claus culture. The New
Yorker, 1971; sep. 4: 6681.
12. Agradecimentos devem constar de parágrafo à parte, colocado
antes das referências bibliográficas, após as key words.
13. As medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser
expressas em unidades do sistema métrico decimal (metro, quilo,
litro) ou seus múltiplos e submúltiplos. As temperaturas em graus
Celsius. Os valores de pressão arterial em milímetros de mercúrio.
Abreviaturas e símbolos devem obedecer padrões internacionais. Ao
empregar pela primeira vez uma abreviatura, esta deve ser precedida
do termo ou expressão completos, salvo se se tratar de uma unidade
de medida comum.
14. Lista de checagem: recomenda-se que os autores utilizem a lista
de checagem abaixo para certificarem-se de que toda a documenta-
ção está sendo enviada. Não é necessário enviar a lista. • Carta de
submissão assinada (assinatura digital) por todos os autores
• O manuscrito em arquivo .doc, contendo:
• Página de rosto com todas as informações solicitadas
• Resumo em português, com palavras chaves
• Texto contendo: introdução, métodos, resultados e discussão
• Resumo em inglês e palavras chave Summary/Keywords
• Referências no estilo Vancover numeradas por ordem de apareci-
mento das citações no texto
• Citações numeradas por ordem de aparecimento no texto com
algarismos arábicos
• Tabelas numeradas por ordem de aparecimento
• Gráficos numerados por ordem de aparecimento
• Legenda das figuras
15. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Editorial.
16. O Conselho Editorial e RMMG não se responsabilizam pelas opi-
niões emitidas nos artigos.
17. Em casos de não aprovação de artigos, os autores serão comuni-
cados por escrito. Os artigos reprovados não serão devolvidos.
18. Os artigos devem ser enviados para:
Revista Médica de Minas Gerais
Av. Alfredo Balena, 190
Prédio da Faculdade de Medicina, sala 12
30130-100 • Belo Horizonte • MG
Fone/Fax: (31) 3409-9796
E-mail: [email protected]
Rev Med Minas Gerais 2009; 19(4 Supl 1): S68
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