Roberto Ticoulat - Presidente do CECIEx - Artigo Revista PIB

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A verdadeira abertura de portos Pequenas e médias companhias interessadas em ganhar o mundo têm um aliado nas empresas comerciais importadoras e exportadoras ROBERTO TICOULAT* B uscamos, neste artigo, não criticar as diversas políticas assumidas por nossos governos, mas, sim, tentar incitar os futuros candidatos a presidente e a governadores a adotar novas po- líticas econômicas, principalmen- te para o comércio exterior. Dessa forma, poderemos voltar a crescer e enfrentar os desafios que batem à porta da economia. Fica claro para quem trabalha no setor que o Brasil nunca teve uma política de comér- cio exterior focada em aumentar a participação do país no vasto mer- cado mundial. Sempre adotamos, sim, políticas para cobrir déficits de balança de pagamentos, uma praga previsível e resultado do pouco ou ineficaz esforço do Made in Brazil. Projeções comprovam que se o Brasil aumentasse hoje a participa- ção no comércio mundial de irrisó- rio 1,2% para ainda medíocres 2%, a nossa economia poderia crescer cerca de 10% — um verdadeiro salto de quantidade e, fundamentalmente, de qualidade. Em períodos recentes, quando nossa agricultura respon- deu aos desafios de abastecimento de comida provocados pelo ingres- so de mais consumidores, consegui- mos criar excedentes importantes de divisas. O governo, no entanto, nem se- quer logrou administrá-los, princi- palmente pela conjuntura dos altos juros internos. Tardiamente, respon- deu com impostos sobre operações financeiras de forma a arbitrar as diferenças entre o juro interno e as taxas em outros países. Deixou, por- tanto, um extraordinário resultado para os especuladores estrangeiros, valorizando artificialmente o real e prejudicando o crescimento do país. Essa valorização favoreceu grande- mente o controle inflacionário, mas acabou condenando toda a cadeia da indústria ao baixo crescimento. Ainda há muito a se fazer em várias frentes para reverter os de- sincentivos a quem quer participar do mercado global. Mas avançamos consideravelmente para estender o acesso ao comércio internacional a um segmento, digamos, mais frágil nessa cadeia. Refiro-me às micro, pequenas e médias empresas, cujo esforço de exportação e presença em mercados mundiais podem ser simplesmente barrados pelo emara- nhado da burocracia. Para enfren- tar a complexidade da legislação e permitir a conquista de consumidores além de nossas fronteiras, as empresas comerciais importadoras e expor- tadoras são as maiores aliadas das micro, pe- quenas e médias em- presas dispostas a se inserir no mercado mundial. Contando hoje com um uni- verso de cerca de 15 mil empresas comerciais aptas a atender seto- res e produtos diversos, esse uni- verso empreendedor merece ser mais bem entendido e apoiado por todos os agentes econômicos. Afinal, são elas que têm conquis- tado mais e mais compradores de produtos brasileiros em mercados nunca antes imaginados em todos os continentes — por exemplo, na Ásia e no Oriente. Na realidade, as características das grandes tradings são mais adequadas aos mercados O país nunca teve políticas para ampliar sua presença no comércio exterior * Roberto Ticoulat é presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx), empresário e produtor do agronegócio. onde existe capacidade de comércio de grandes volumes de exportação e importação. Bons exemplos são as exportações das commodities agrícolas e minerais, assim como as importações de insumos para a indústria, em geral, e, no caso da agricultura, dos insumos para adu- bos e fertilizantes. As comerciais exportadoras fun- cionam, ao contrário das tradings, como as exporting houses das pe- quenas e médias empresas produ- toras no mercado interno. Estas companhias não têm a experiência dos mercados internacionais nem a disposição e os recursos para mon- tar e treinar caros departamentos de exportação. A atuação das em- presas comerciais é pautada pela facilitação e simplificação dos meca- nismos de exportação. As empresas comerciais, por exemplo, mapearam e conhecem grandes importadores em diferentes mercados, sabendo, assim, quais as mercadorias que se- rão vencedoras ali. E tudo isso sem onerar pesadamente os custos inter- nos das indústrias. Imaginem — como temos tido a oportunidade de reforçar em even- tos e encontros com exportadores — os custos fixos para a criação, den- tro das empresas, de departamentos para atender o mercado internacio- nal. Arrisco-me a afirmar que, mui- tas vezes, serão mais caros que os valores finais arrecadados em dóla- res ou outras moedas conversíveis — e, além disso, com uma carga exces- siva de documentos e autorizações regulatórias. Acolhidas dentro do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Expor- tadoras, o CECIEx (criado em junho de 2012), as empresas comerciais empregam especialistas em vários mercados e setores, conhecendo os detalhes de formalização correta de contratos e as regras de ouro da convivência em mercados peculia- res, como os que têm orientação re- ligiosa, entre muitos exemplos. Ao mesmo tempo, os esforços para participar desse xadrez co- mercial vão proporcionar novo e estimulante aprendizado para os empresários nacionais, principal- mente quando forem confrontados com a competição internacional den- tro de casa. As empresas terão de se internacionalizar e, para assegurar bons resultados, o melhor caminho é formar parcerias com as comer- ciais exportadoras e importadoras. Ao final, restará o aprendizado, tão importante para a modernização de nossas empresas. Um exemplo des- ses novos desafios concorrenciais é o surgimento, no mercado brasileiro, das cápsulas de café. Mesmo as em- presas brasileiras que não competem no mercado internacional precisam estar preparadas para o surgimento dessa forma de consumo, hoje pre- sente em cada esquina, em casa e nos escritórios. Elas devem ter condi- ções de enfrentar novas tecnologias surgidas em outras partes do mundo, até para defender seu mercado interno. O CECIEx, além de promover encontros de negócios com empresas que desejam se integrar ao mercado internacio- nal, também organiza missões internacionais e contribui para familiarizar as em- presas de porte médio e pequeno com as demandas de mercados cada vez mais globalizados. Sua maior missão é representar as demandas e pontos de vista dos produtores e promover ações de forma a eliminar os entraves para a internacionaliza- ção das empresas brasileiras. Comerciais exportadoras conhecem as regras dos mercados internacionais DIVULGAÇÃO 62 REVISTAPIB.COM.BR REVISTAPIB.COM.BR 63 Artigo

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O artigo "A verdadeira abertura de portos", de Roberto Ticoulat, presidente do CECIEx - Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras, traz uma análise sobre as oportunidades para as pequenas e médias empresas participarem do processo de internacionalização por meio de estruturas de fomento e promoção. O artigo foi publicado na Revista PIB, edição de Outubro/Novembro 2013. Está disponível também online no site www.revistapib.com.br e pode ser acessado na versão tablet.

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A verdadeira abertura de

portosPequenas e médias companhias interessadas em ganhar o mundo têm um aliado nas empresas comerciais importadoras e exportadorasRobeRto t icoul at*

B uscamos, neste artigo, não criticar as diversas políticas assumidas por nossos governos, mas, sim, tentar incitar os

futuros candidatos a presidente e a governadores a adotar novas po-líticas econômicas, principalmen-te para o comércio exterior. Dessa forma, poderemos voltar a crescer e enfrentar os desafios que batem à porta da economia. Fica claro para quem trabalha no setor que o Brasil nunca teve uma política de comér-cio exterior focada em aumentar a participação do país no vasto mer-cado mundial. Sempre adotamos, sim, políticas para cobrir déficits de balança de pagamentos, uma praga previsível e resultado do pouco ou ineficaz esforço do Made in Brazil.

Projeções comprovam que se o Brasil aumentasse hoje a participa-ção no comércio mundial de irrisó-rio 1,2% para ainda medíocres 2%, a nossa economia poderia crescer cerca de 10% — um verdadeiro salto de quantidade e, fundamentalmente, de qualidade. Em períodos recentes, quando nossa agricultura respon-deu aos desafios de abastecimento de comida provocados pelo ingres-so de mais consumidores, consegui-

mos criar excedentes importantes de divisas.

O governo, no entanto, nem se-quer logrou administrá-los, princi-palmente pela conjuntura dos altos juros internos. Tardiamente, respon-deu com impostos sobre operações financeiras de forma a arbitrar as

diferenças entre o juro interno e as taxas em outros países. Deixou, por-tanto, um extraordinário resultado para os especuladores estrangeiros, valorizando artificialmente o real e prejudicando o crescimento do país. Essa valorização favoreceu grande-mente o controle inflacionário, mas acabou condenando toda a cadeia da indústria ao baixo crescimento.

Ainda há muito a se fazer em várias frentes para reverter os de-sincentivos a quem quer participar do mercado global. Mas avançamos consideravelmente para estender o acesso ao comércio internacional a

um segmento, digamos, mais frágil nessa cadeia. Refiro-me às micro, pequenas e médias empresas, cujo esforço de exportação e presença em mercados mundiais podem ser simplesmente barrados pelo emara-nhado da burocracia. Para enfren-tar a complexidade da legislação e

permitir a conquista de consumidores além de nossas fronteiras, as empresas comerciais importadoras e expor-tadoras são as maiores aliadas das micro, pe-quenas e médias em-presas dispostas a se

inserir no mercado mundial. Contando hoje com um uni-

verso de cerca de 15 mil empresas comerciais aptas a atender seto-res e produtos diversos, esse uni-verso empreendedor merece ser mais bem entendido e apoiado por todos os agentes econômicos. Afinal, são elas que têm conquis-tado mais e mais compradores de produtos brasileiros em mercados nunca antes imaginados em todos os continentes — por exemplo, na Ásia e no Oriente. Na realidade, as características das grandes tradings são mais adequadas aos mercados

O país nunca teve políticas para ampliar sua presença no comércio exterior

* Roberto Ticoulat é presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx), empresário e produtor do agronegócio.

onde existe capacidade de comércio de grandes volumes de exportação e importação. Bons exemplos são as exportações das commodities agrícolas e minerais, assim como as importações de insumos para a indústria, em geral, e, no caso da agricultura, dos insumos para adu-bos e fertilizantes.

As comerciais exportadoras fun-cionam, ao contrário das tradings, como as exporting houses das pe-quenas e médias empresas produ-toras no mercado interno. Estas companhias não têm a experiência dos mercados internacionais nem a disposição e os recursos para mon-tar e treinar caros departamentos de exportação. A atuação das em-presas comerciais é pautada pela facilitação e simplificação dos meca-nismos de exportação. As empresas comerciais, por exemplo, mapearam e conhecem grandes importadores em diferentes mercados, sabendo, assim, quais as mercadorias que se-rão vencedoras ali. E tudo isso sem onerar pesadamente os custos inter-nos das indústrias.

Imaginem — como temos tido a oportunidade de reforçar em even-tos e encontros com exportadores — os custos fixos para a criação, den-tro das empresas, de departamentos

para atender o mercado internacio-nal. Arrisco-me a afirmar que, mui-tas vezes, serão mais caros que os valores finais arrecadados em dóla-res ou outras moedas conversíveis — e, além disso, com uma carga exces-siva de documentos e autorizações regulatórias. Acolhidas dentro do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Expor-

tadoras, o CECIEx (criado em junho de 2012), as empresas comerciais empregam especialistas em vários mercados e setores, conhecendo os detalhes de formalização correta de contratos e as regras de ouro da convivência em mercados peculia-res, como os que têm orientação re-ligiosa, entre muitos exemplos.

Ao mesmo tempo, os esforços para participar desse xadrez co-mercial vão proporcionar novo e estimulante aprendizado para os empresários nacionais, principal-mente quando forem confrontados com a competição internacional den-tro de casa. As empresas terão de se internacionalizar e, para assegurar bons resultados, o melhor caminho é formar parcerias com as comer-ciais exportadoras e importadoras. Ao final, restará o aprendizado, tão importante para a modernização de nossas empresas. Um exemplo des-ses novos desafios concorrenciais é o surgimento, no mercado brasileiro, das cápsulas de café. Mesmo as em-presas brasileiras que não competem no mercado internacional precisam estar preparadas para o surgimento dessa forma de consumo, hoje pre-sente em cada esquina, em casa e nos escritórios. Elas devem ter condi-ções de enfrentar novas tecnologias surgidas em outras partes do mundo,

até para defender seu mercado interno.

O CECIEx, além de promover encontros de negócios com empresas que desejam se integrar ao mercado internacio-nal, também organiza missões internacionais

e contribui para familiarizar as em-presas de porte médio e pequeno com as demandas de mercados cada vez mais globalizados. Sua maior missão é representar as demandas e pontos de vista dos produtores e promover ações de forma a eliminar os entraves para a internacionaliza-ção das empresas brasileiras.

Comerciais exportadoras conhecem as regras dos mercados internacionais

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