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RODRIGO DE SOUZA AMARAL Uso de diferentes matrizes biológicas na dosagem de andrógenos em peixes-bois da Amazônia machos (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro São Paulo 2008

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RODRIGO DE SOUZA AMARAL

Uso de diferentes matrizes biológicas na dosagem de

andrógenos em peixes-bois da Amazônia machos

(Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro

São Paulo

2008

RODRIGO DE SOUZA AMARAL

Uso de diferentes matrizes biológicas na dosagem de

andrógenos em peixes-bois da Amazônia machos

(Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina Veterinária

Departamento:

Reprodução Animal

Área de concentração:

Reprodução Animal

Orientador:

Prof. Dr. Cláudio Alvarenga de Oliveira

São Paulo

2008

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome: AMARAL, Rodrigo de Souza

Título: Uso de diferentes matrizes biológicas na dosagem de andrógenos em peixes-

bois da Amazônia machos (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Medicina Veterinária

Data:____/____/____

Banca Examinadora

Prof. Dr. ___________________________ Instituição: ___________________

Assinatura: ___________________________ Julgamento: __________________

Prof. Dr. ___________________________ Instituição: ___________________

Assinatura: ___________________________ Julgamento: __________________

Prof. Dr. ___________________________ Instituição: ___________________

Assinatura: ___________________________ Julgamento: __________________

“Brindo à casa, brindo à vida, meus amores, minha família...”

Mar de Gente

O RAPPA

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Cláudio Alvarenga de Oliveira, meu orientador, pela amizade e pela

confiança depositada ao me aceitar como seu orientado, realizando meu sonho de

ingressar na pós-graduação do Departamento de Reprodução Animal –

VRA/FMVZ/USP;

Ao Dr. Fernando C. W. Rosas, pela amizade, pela confiança e incentivo na

realização deste trabalho, por abrir as portas do Laboratório de Mamíferos Aquáticos

– LMA/INPA para mim, e por todas as conversas e ensinamentos passados;

Ao Prof. Dr. Marcelo A. B. V. Guimarães pelo incentivo na realização deste

trabalho e pelo fornecimento de um dos conjutos comerciais para dosagem de

testosterona, impressindíveis para a realização deste trabalho;

À Dra. Vera M. F. da Silva, pelo apoio e confiança permitindo a realização deste

trabalho;

Ao Médico Veterinário José Anselmo D’Affonsêca Neto e aos tratadores Daniel,

Jeová, Marcelo, Nazaré e Raimundo, por toda a ajuda nas coletas das amostras, e

por todas as conversas e risadas;

Aos peixes-bois do LMA/INPA, em especial Tupy e Yanomama, por me aturarem

todos os dias durante o período de coleta;

A todos os pós-graduandos e funcionários do LMA/INPA, à Bernadete e ao

Javier, por terem feito o período de coleta mais divertido;

Aos meus avós e tias, por sempe me receberem muito bem, sempre fazendo de

tudo para me agradar, toda vez que vou a Manaus;

À Tecnopec Laboratórios, pelo fornecimento do hormônio Lecirelina,

impressindível para a realização deste trabalho;

À Médica Veterinária Josiane Almeida Sales pela ajuda no envio do hormônio

Lecirelina. Valeu Josi!!!;

À Técnica de Laboratório Maria do Socorro Pontes Silva e os demias técnicos da

Fundação de Medicina Tropical do Amazonas pelas dosagens de creatinina urinária;

À amiga Dra. Priscila Viau, grande companheira de laboratório, pela paciência, por

todos os ensinamentos passados, por todas as conversas e risadas, e pela

disposição em me aturar por mais quatro anos!;

À companheira de mestrado Renata Marino Romano pelo fornecimento dos

conjutos comerciais para dosagem de testosterona, impressindíveis para a

realização deste trabalho;

A todos os professores do VRA, pela amizade e pelos conhecimentos passados;

À secretária Harumi Dói Shiraishi, por toda ajuda nos trâmites burocráticos e por

sentir minha falta quando o corredor do VRA está silencioso;

Aos funcionários do VRA, por me ajudarem quando foi preciso, sempre com boa

vontade;

Aos pós-graduandos do VRA, grandes amigos, pelas conversas no corredor e

principalmente pelos churrascos;

A todos do LDH, grandes pesquisadores, por todas as discussões científicas,

conversas e risadas. Mulheres que levam a reprodução a sério!;

Aos agregados e visitantes constantes do LDH, por tornarem o local de trabalho

mais descontraído;

À minha irmã Fabiane, pela capa deste trabalho, sempre provando que seu diploma

serve para aguma coisa!;

Ao CNPq pela bolsa de mestrado concedida;

À Fundação Amaral, por sempre financiar meus projetos;

Ao Zé e à Ana Paula, por todo suporte na temporada paulistana;

Ao “núcleo candango da novela”, por fazerem me sentir em Brasília mesmo

estando em São Paulo;

Aos FF, por serem os FF...;

Aos grandes amigos “sirenólogos”, por reavivarem em mim a paixão pelos

peixes-bois, e por sempre me insentivarem a continuar trilhando este caminho;

A todos os meus grandes amigos espalhados pelo mundo, que se mostram muito

mais que “simples amigos”, me dando todo o apoio necessário e sempre se

esforçam para manter contato;

Aos meus pais e minhas irmãs, por sempre me apoiarem e permitirem que eu

seguisse em busca dos meus sonhos;

Ao Santo Expedito, por ouvir as nossas súplicas;

A Deus, sempre!

“O pescador, Ele sai bem cedinho, ele sai bem cedinho, ele vai pescar. O pescador, Ele ama o rio, ele ama o rio, o rio Amazonas. E você sabe por quê? Por que de baixo das águas Não existe só boto, Existe também o peixe-boi, o pirarucu e o tambaqui.”

(Autor desconhecido)

RESUMO

AMARAL, R. S. Uso de diferentes matrizes biológicas na dosagem de andrógenos em peixes-bois da Amazônia machos (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro. [Use of different biological matrices on androgens measurement in captive male Amazonian manatees (Trichechus inunguis)]. 2008. 85 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

O objetivo deste estudo foi verificar a viabilidade da dosagem de andrógenos em

amostras de saliva, secreção lacrimal, urina e fezes de peixe-boi da Amazônia

realizando um desafio hormonal. Dois peixes-bois amazônicos adultos machos (A-1

e A-2) foram submetidos a um protocolo de experimentação de doze dias (D-1 a

D10). No D0 os animais receberam uma injeção intramuscular de GnRH exógeno.

Amostras de saliva, secreção lacrimal, urina e fezes foram coletadas diariamente

(entre 08h00 e 09h00) e mantidas a -20°C até o ensaio. As amostras de fezes foram

liofilizadas, extraídas com metanol 80% e diluídas em tampão antes do

radioimunoensaio (RIE). As amostras de urina sofreram hidrólise ácida e foram

diluídas em soro bovino depletado. As amostras de saliva e secreção lacrimal foram

dosadas sem etapa de extração, porém, o ensaio foi adaptado para aumentar a

sensibilidade do teste. Os ensaios hormonais foram realizados utilizando um

conjunto comercial de RIE para testosterona total. Um pico de andrógenos

(mediana+2DI) somente foi observado nas amostras de saliva, urina e fezes de

ambos os animais. Porém, os picos de andrógenos fecais ocorreram depois (cinco

dias) dos picos de andrógenos urinários e salivares. Este intervalo está

correlacionado com o longo tempo de passagem da digesta pelo trato

gastrointestinal na espécie. Os picos salivares e urinários ocorreram muito próximos,

provavelmente com poucas horas de intervalo. Esses resultados demonstram que as

concentrações de andrógenos em amostras de saliva, urina ou fezes refletem

consistentemente os eventos fisiológicos e são ferramentas de grande utilidade no

monitoramento reprodutivo de peixes-bois da Amazônia.

Palavras-chave: Peixe-boi Amazônico. Radioimuniensaio. Reprodução. Sirênio.

Testosterona.

ABSTRACT

AMARAL, R. S. Use of different biological matrices on androgens measurement in captive male Amazonian manatees (Trichechus inunguis). [Uso de diferentes matrizes biológicas na dosagem de andrógenos em peixes-bois da Amazônia machos (Trichechus inunguis) mantidos em cativeiro]. 2008. 85 f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

The aim of this study was to verify the viability of androgens measurement in saliva,

lacrimal secretion, urine and fecal samples of Amazonian manatee by carrying out

hormonal challenge. Two adult male manatees (A-1 and A-2) were submitted to an

experimentation protocol of twelve days (D-1 to D10). On D0 the animals received an

intramuscular injection of GnRH-analogue. Salivary, lacrimal, urinary and fecal

samples were collected daily (between 08h00 and 09h00) and frozen at -20°C until

assayed. Fecal samples were lyophilized, extracted with 80% methanol and diluted in

buffer before the radioimmunoassay (RIA). Urine samples underwent acid hydrolysis

and diluted in depleted bovine serum. Salivary and lacrimal samples were assayed

without extraction step, but, the assay was adapted to improve the sensibility.

Hormonal assays were carried out with a commercial testosterone RIA kit. An

androgen peak (>median+2IQR) was observed only in salivary, urinary and fecal

samples of both animals. However, the fecal androgens peaks occurred later than

urinary and salivary androgens peaks. These intervals are correlated with the long

digesta passage time in this species. The salivary and urinary peaks were very close,

probably with few hours of interval. These results show that androgens

concentrations in saliva, urine or feces samples reflect reliably physiological events

and are powerful tool for reproductive monitoring of Amazonian manatees.

Key words: Amazonian manatee. Radioimmunoassay. Reproduction. Sirenian.

Testosterone.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis).................................. 24

Figura 2 – Estrutura da molécula de testosterona.............................................. 29

Figura 3 – Figura esquemática das rotas de metabolismo e excreção da testosterona....................................................................................... 32

Figura 4 – Tanques dos peixes-bois da Amazônia no Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA...................................................................... 42

Figura 5 – Aplicação do análogo de GnRH na região do pedúnculo caudal de um T. inunguis................................................................................... 43

Figura 6 – Coleta de fezes de T. inunguis após drenagem do tanque de cambiamento..................................................................................... 44

Figura 7 – Coleta de urina de T. inunguis por compressão abdominal na região da vesícula urinária................................................................ 46

Figura 8 – Coleta de saliva de T. inunguis com o auxílio de uma colher de metal.................................................................................................. 46

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Representação gráfica da regressão linear entre a matriz salivar de T. inunguis e a curva padrão do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens).................................. 53

Gráfico 2 – Representação gráfica da regressão linear entre a matriz urinária de T. inunguis e a curva padrão do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens).................................. 54

Gráfico 3 – Representação gráfica da regressão linear entre a matriz fecal de T. inunguis e a curva padrão do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens).................................. 54

Gráfico 4 – Mudança na excreção de andrógenos salivares, lacrimais, urinários e fecais em resposta ao desafio hormonal com GnRH em dois peixes-bois da Amazônia machos mantidos em cativeiro (A-1 e A-2)................................................................................................. 58

LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 – Características dos peixes-bois da Amazônia utilizados neste estudo................................................................................................ 41

Tabela 1 – Controles de qualidade obtidos nos ensaios hormonais de andrógenos presentes na saliva, secreção lacrimal, urina e fezes de dois peixes-bois amazônicos machos adultos............................. 52

Tabela 2 – Resultados da regressão linear para o teste de paralelismo entre as matrizes salivar, urinária e fecal de peixes-bois da Amazônia e a curva do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens)................................................................. 53

Tabela 3 – Resultados das dosagens de andrógenos salivares, lacrimais, fecais e urinários, e de creatinina urinária (Cr) de um peixe-boi amazônico macho (A-1) durante o desafio hormonal........................ 55

Tabela 4 – Resultados das dosagens de andrógenos salivares, lacrimais, fecais e urinários, e de creatinina urinária (Cr) de um peixe-boi amazônico macho (A-2) durante o desafio hormonal........................ 56

Tabela 5 – Análise dos andrógenos salivares, lacrimais, urinários e fecais de dois peixes-bois da Amazônia machos em resposta ao desafio hormonal com GnRH......................................................................... 57

Tabela 6 – Resultados do teste de correlação linear de Pearson para as matrizes salivar, lacrimal, urinária e fecal de dois peixes-bois da Amazônia machos (A-1 e A-2) submetidos a um desafio hormonal com GnRH......................................................................................... 59

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A-1 Animal – 1

A-2 Animal – 2

cm Centímetro

Cr Creatinina

DI desvio interquartílico

dL Decilitro

G Giros

g Grama

GnRH hormônio liberador de gonadotrofinas

IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais

Kg Quilograma

LH hormônio luteinizante

M Molar

m Metro

m³ metro cúbico

mg Miligrama

mL Mililitro

mm Milímetro

µg micrograma

ng nanograma

pg Picograma

RIE radioimunoensaio

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 21

2 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................... 23

2.1 O PEIXE-BOI DA AMAZÔNIA................................................................... 23

2.1.1 Exploração do peixe-boi da Amazônia no Brasil....................................... 24

2.1.2 Aspectos alimentares e fisiologia digestiva............................................... 27

2.1.3 Metabolismo.............................................................................................. 27

2.1.4 Aspectos reprodutivos............................................................................... 28

2.2 TESTOSTERONA – SÍNTESE, METABOLISMO E EXCREÇÃO............. 29

2.3 UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES MATRIZES BIOLÓGICAS NA DOSAGEM HORMONAL........................................................................... 33

2.3.1 Utilização de diferentes matrizes biológicas na dosagem hormonal em sirênios....................................................................................................... 36

3 OBJETIVOS.............................................................................................. 39

4 MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................... 41

4.1 ANIMAIS.................................................................................................... 41

4.2 DESAFIO HORMONAL............................................................................. 43

4.3 COLHEITA DO MATERIAL BIOLÓGICO.................................................. 44

4.3.1 Fezes......................................................................................................... 44

4.3.2 Urina.......................................................................................................... 45

4.3.3 Saliva......................................................................................................... 45

4.3.4 Secreção lacrimal...................................................................................... 45

4.4 ANÁLISE HORMONAL.............................................................................. 47

4.4.1 Fezes......................................................................................................... 47

4.4.2 Urina.......................................................................................................... 48

4.4.3 Saliva......................................................................................................... 48

4.4.4 Secreção lacrimal...................................................................................... 49

4.4.5 Paralelismo................................................................................................ 49

4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................................. 50

5 RESULTADOS ......................................................................................... 52

5.1 PARÂMETROS DE QUALIDADE DOS ENSAIOS HORMONAIS............. 52

5.2 PARALELISMO......................................................................................... 53

5.3 DESAFIO HORMONAL............................................................................. 55

6 DISCUSSÃO............................................................................................. 61

6.1 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS SALIVARES................................ 61

6.2 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS LACRIMAIS................................ 62

6.3 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS URINÁRIAS................................ 63

6.4 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS FECAIS....................................... 64

6.5 COMPARAÇÃO ENTRE AS MATRIZES ANALISADAS........................... 65

7 CONCLUSÕES......................................................................................... 69

REFERÊNCIAS......................................................................................... 71

INTRODUÇÃO

21

1 INTRODUÇÃO

O peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis, MAMALIA: SIRENIA) é o menor

do gênero medindo até três metros de comprimento e pesando no máximo 450kg

(AYRES; BEST, 1979; CALDWELL; CALDWELL, 1985). Ocorre na Bacia

Amazônica, sendo o único sirênio exclusivamente de água doce (CALDWELL;

CALDWELL, 1985). Nos séculos passados, foi intensamente caçado para o

comércio de sua carne, gordura e couro (DOMNING, 1982). Atualmente, a espécie é

protegida por lei no Brasil, Peru e Colômbia e está classificada como “Vulnerável”,

tendo alto risco de extinção na natureza em médio prazo, pela Lista Vermelha das

Espécies Ameaçadas da IUCN (IUCN, 2006) e pelo Plano de Ação para os

Mamíferos Aquáticos do Brasil (IBAMA, 2001). Porém, a caça de subsistência ainda

persiste com certo grau comercial (ROSAS, 1994).

Alguns estudos sobre os aspectos reprodutivos do peixe-boi amazônico têm

sido realizados nas ultimas décadas (BEST, 1982b; PIMENTEL, 1998;

NASCIMENTO et al., 2002; RODRIGUES, 2002; RODRIGUES et al., 2003;

NASCIMENTO, 2004), porém as informações sobre a biologia reprodutiva da

espécie continuam escassas.

Trabalhos sobre endocrinologia reprodutiva em animais domésticos

normalmente são realizados com amostras sanguíneas. Porém, como alternativa na

coleta de sangue, o uso de diferentes matrizes, como fezes, urina ou saliva, tem se

mostrado como uma excelente ferramenta no monitoramento endócrino-reprodutivo

de animais selvagens, minimizando o estresse causado pela captura e contenção, e

possibilitando um acompanhamento endócrino diário dos animais. Entretanto, é de

suma importância avaliar se a técnica empregada na dosagem hormonal nessas

matrizes é capaz de demonstrar os eventos fisiológicos ocorridos na espécie

estudada.

Sendo assim, foi proposto, neste estudo, avaliar a viabilidade da utilização de

diferentes matrizes biológicas como ferramentas no monitoramento reprodutivo de

peixes-bois da Amazônia machos.

22

REVISÃO DE LITERATURA

23

2 REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura foi redigida em três principais tópicos, compreendendo:

1 – os aspectos biológicos e históricos do peixe-boi da Amazônia; 2 – a síntese,

metabolismo e excreção da testosterona; e 3 – a utilização de diferentes matrizes

biológicas na dosagem hormonal.

2.1 O PEIXE-BOI DA AMAZÔNIA

A ordem Sirenia compreende três gêneros recentes, Trichechus (peixe-boi),

Dugong (dugongo) e Hydrodamalis (vaca marinha de Steller), sendo este último

extinto em 1768 pela caça predatória. O gênero Trichechus apresenta três espécies

viventes: Trichechus inunguis (peixe-boi amazônico), Trichechus senegalensis

(peixe-boi africano) e Trichechus manatus (peixe-boi marinho) (DOMNING; HAYEK,

1986).

Sendo o menor dos sirênios, o peixe-boi amazônico (Figura 1) nasce medindo

entre 85-105 cm e pesando entre 10 e 15kg (BEST, 1984), e pode atingir até três

metros de comprimento e pesar até 450kg quando adulto (AYRES; BEST, 1979;

CALDWELL; CALDWELL, 1985; ROSAS, 1994).

Apresenta uma coloração de pele variando de cinza escuro a preto com a

presença de manchas brancas na região ventral, sendo estas características da

espécie (HUSAR, 1977; CALDWELL; CALDWELL, 1985). Porém, alguns indivíduos

podem não apresentar essas manchas, tendo a região ventral só levemente mais

clara que o dorso (ROSAS, 1994). Sua pele tem em média dois centímetros de

espessura, apresentando uma camada de tecido adiposo subcutâneo

aproximadamente do mesmo tamanho (MENDES, 1958; VERÍSSIMO, 1970).

24

Figura 1 – Peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis)

Possui pêlos esparsos pelo corpo, os quais especula-se terem a função de

sinalizar variações na velocidade e direção das correntes aquáticas (CALDWELL;

CALDWELL, 1985; REEP; MARSHALL; STOLL, 2002). Há uma maior concentração

de pêlos na região perioral de grande importância no contato entre os indivíduos, na

exploração do ambiente e também na manipulação dos alimentos (MARSHALL et

al., 2003). As nadadeiras peitorais não apresentam unhas, diferentemente dos

outros sirênios (CALDWELL; CALDWELL, 1985).

Sendo o único sirênio exclusivamente de água doce, o T. inunguis é

endêmico da Bacia Amazônica, ocorrendo desde os rios da Colômbia, Peru e

Equador até a ilha de Marajó no estado do Pará (BEST, 1984).

2.1.1 Exploração do peixe-boi da Amazônia no Brasil

A caça do peixe-boi amazônico no Brasil existe desde antes do período de

colonização, porém, seus registros são quase inexistentes. Sabe-se que a caça

tradicional era realizada pelos índios para o consumo da carne e gordura, sendo

estes considerados itens comuns na dieta local, e também para a utilização de seu

25

couro como escudo (HEATON, 1970) e de seus ossos na fabricação de gaponga

(isca na pesca de tambaqui), ponteira de lança e arpão, anzol e no artesanato

(PEREIRA, 1944; FERREIRA, 1972).

No final do século XVI a atividade comercial utilizando a carne fresca, a

manteiga (a gordura extraída do animal), a mixira (carne frita e conservada na

própria gordura do animal) e a carne seca (utilizando as técnicas portuguesas de

salga e secagem) já havia começado. Porém, por volta do meio do século XVII

houve um crescente aumento na exportação tanto para as grandes capitais (Manaus

e Belém) quanto para os países europeus (PEREIRA, 1944). Ferreira (1903) relata

que somente em dois anos da década de 1780 o Pesqueiro Real da Villa Franca

(próximo a Santarém – PA) produziu o equivalente a mais de 1500 peixes-bois na

forma de carne salgada e manteiga.

Com a caça indiscriminada, no ano de 1786 o naturalista Alexandre

Rodrigues Ferreira, em um de seus relatos para a Corte Real Portuguesa sobre sua

expedição pelo Brasil (FERREIRA, 1903, p. 171), já demonstrava certa preocupação

com a conservação da espécie quando relatou:

Sem embargo de tantas utilidades, quantas são as que deste animal se tirão, nenhuma Policia tem até agora a sua pesca. Hum peixe-boy para chegar ao seu devido crescimento deve gastar annos; e em todos elles se harpoão a elto os que aparecem, não se distingue o tempo, em que as femeas andão prenhes, porque ou prenhes ou não, as perseguem; ellas não parem mais de 1 até 2 filhos por anno, e os filhos tirados do ventre das Mãys assim mortas para nada servem. Não se distingue o tempo da criação, porque antes hé felicidade para o harpoador, surpreender o filho para arpoar a Mãy; não se destingue a idade, porque pequenos, e grandes todos são harpoados. A vista do que nenhum espanto deve causar a sua raridade em alguns Lagos, onde não ha muitos annos, que se observão bastantes.

Porém, essa preocupação não foi levada a diante já que, mesmo assim a caça

continuou se intensificando cada vez mais.

Com o passar dos séculos a mixira foi se tornando o principal produto

comercial do peixe-boi, provavelmente por ter um maior tempo de conservação (três

a quatro meses) e por ser mais apreciada (PEREIRA, 1944; DOMNING, 1982).

Durante todo este período, o couro sempre foi sub-aproveitado por causa da

26

dificuldade na curtição sendo assim, na maioria das vezes, descartado pelos

caçadores (FERREIRA, 1903). Porém, por volta de 1934 curtumes no sudeste do

Brasil aprimoraram as técnicas de curtição do couro dando um pico na exploração

do peixe-boi (MENDES, 1958; DOMNING, 1982). Seu couro, por ser grosso,

resistente e durável, era utilizado na confecção de artigos para a indústria como

polias, correias de transmissão, mangueiras, juntas, entre outros (PEREIRA, 1944;

MENDES, 1958; DOMNING, 1982; BEST, 1984). Durante 20 anos estima-se que

entre 80.000 a 140.000 peixes-bois foram mortos nos lagos do estado do Amazonas

tendo o couro exportado para todo Brasil, Estados Unidos e países da Europa. Mas

no ano de 1954 sua exportação cessou abruptamente por razões não muito claras.

Possivelmente o comércio do couro terminou como resultado do aumento do uso de

borracha e materiais sintéticos (DOMNING, 1982; BEST, 1984).

Apesar do fim da indústria do couro, o comércio de carne continuou na

década de 50, sendo ampliado e tendo como principal produto a carne fresca devido

à disponibilidade de refrigeração. A caça se tornou tão intensa nesse novo mercado

promissor que voltou a apresentar picos de quase 7.000 animais caçados por ano na

década de 60 (tendo isso ocorrido anteriormente no início da década de 40). Porém

esse pico teve uma queda contínua no final da década de 60 até chegar ao ano de

1973 (ano em que a caça foi teoricamente banida no Brasil). Este declínio não pode

ser justificado pela disponibilidade de substitutos sintéticos como na indústria do

couro, podendo assim ser reflexo da diminuição populacional dos animais

(DOMNING, 1982).

Desde 1973 o T. inunguis está citado no Apêndice I da CITES (como animal

ameaçado de extinção). A espécie é protegida no Brasil desde 1967 pela Lei de

Proteção à Fauna (nº 5.197, alterada para 7.653 em 1988) e a partir de 1998 pela

Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605). Atualmente, além do Brasil, a espécie também

é protegida por lei na Colômbia e no Peru, e está classificada pela Lista Vermelha

das Espécies Ameaçadas da IUCN (IUCN, 2006) e pelo Plano de Ação para os

Mamíferos Aquáticos do Brasil (IBAMA, 2001) como “Vulnerável”, tendo alto risco de

extinção na natureza em médio prazo. Entretanto, a caça de subsistência ainda

persiste, com certo grau comercial (BEST, 1982a; ROSAS; PIMENTEL, 2001;

AGUILAR et al., 2006).

27

2.1.2 Aspectos alimentares e fisiologia digestiva

Os sirênios são os únicos mamíferos aquáticos estritamente herbívoros,

sendo animais monogástricos e apresentando fermentação cecal (BEST, 1981). Os

peixes-bois amazônicos passam de seis a oito horas por dia se alimentando sem

apresentar um ritmo circadiano aparente, podendo ser observados comendo a

qualquer hora do dia ou da noite (PEREIRA, 1944; BEST, 1981). Peixes-bois da

Amazônia de vida-livre comem exclusivamente plantas aquáticas e semi-aquáticas,

consumindo no mínimo 8% de seu peso vivo por dia com uma eficiência digestiva

entre 45-70%, dependendo do teor de fibras e minerais do alimento (BEST, 1981;

ROSAS, 1994).

Os sirênios apresentam um longo tempo de passagem do alimento pelo trato

gastrointestinal quando comparado com outros mamíferos (de um a três dias para

mamíferos de médio e grande porte), sendo esses tempos somente próximos aos

relatados para preguiça-de-três-dedos (Bradypus tridactylus) e coala (Phascolarctos

cinereus) (WARNER, 1981; CORK; WARNER, 1983; FOLEY; ENGELHARDT;

CHARLES-DOMINIQUE, 1995). O peixe-boi amazônico apresenta um tempo de

passagem entre 5-7 dias (ITAVO; ROSAS; CAVALLANTE, 1996), o peixe-boi da

Flórida entre 5-10 dias (LOMOLINO; EWEL, 1984; LARKIN; FOWLER; REEP, 2007)

e o dugongo entre 6-7 dias (LANYON; MARSH, 1995), variando de acordo com o

teor de fibra dos alimentos ingeridos.

2.1.3 Metabolismo

O peixe-boi amazônico apresenta uma baixa taxa metabólica, por volta de

64% menor do que a de mamíferos terrestres de tamanho similar. Este fator,

juntamente com a baixa freqüência respiratória e a tolerância a baixos níveis de

oxigênio e altos níveis de gás carbônico, são os que provavelmente permitem a

espécie realizar mergulhos de até mais de dez minutos de duração (GALLIVAN;

BEST, 1980).

28

Segundo Best (1983), o grande acúmulo de tecido adiposo durante os

períodos de maior disponibilidade de alimento (período de enchente e cheia dos

rios) e a baixa taxa metabólica são fatores essenciais para a sobrevivência do

animal durante as estações de secas prolongadas (época de baixíssima

disponibilidade de alimento). A combinação destes dois aspectos poderia fornecer

aproximadamente 200 dias de sobrevivência somente utilizando suas reservas de

gordura como fonte de energia.

2.1.4 Aspectos reprodutivos

Mesmo com a realização de alguns estudos sobre os aspectos reprodutivos

do peixe-boi amazônico nas ultimas décadas (BEST, 1982b; PIMENTEL, 1998;

NASCIMENTO et al., 2002; RODRIGUES, 2002; RODRIGUES et al., 2003;

NASCIMENTO, 2004), as informações sobre a biologia reprodutiva da espécie

continuam escassas.

Os testículos do peixe-boi da Amazônia são intra-abdominais e o dimorfismo

sexual mais aparente para a espécie é o posicionamento da abertura genital, onde

nos machos encontra-se mais próxima da cicatriz umbilical e nas fêmeas, mais

próxima ao ânus. Ambos os sexos possuem duas mamas localizadas na inserção

ventral das nadadeiras, sendo que as das fêmeas são mais desenvolvidas

(MARMONTEL; ODELL; REYNOLDS III, 1992).

De acordo com Best (1982b), o T. inunguis apresenta sazonalidade

reprodutiva, com os acasalamentos e nascimentos ocorrendo durante o período de

enchentes e cheias dos rios, coincidindo com o período de maior disponibilidade de

alimento (como relatado anteriormente). O ciclo estral é de aproximadamente 22

dias (NASCIMENTO, 2004), a gestação dura entre 11 a 12 meses (NASCIMENTO et

al., 2002) e em cada gestação nasce um filhote (BEST, 1984).

A idade de maturidade sexual é desconhecida, mas acredita-se que seja entre

5 e 10 anos baseado em observações anatômicas feitas por Rodrigues et al. (2003)

e em estimativas a partir dos dados para peixes-bois da Flórida (T. manatus

latirostris) (MARMONTEL; ODELL; REYNOLDS III, 1992; ROSAS, 1994).

29

2.2 TESTOSTERONA – SÍNTESE, METABOLISMO E EXCREÇÃO

A testosterona (17β-hidroxi-4-androsten-3-ona) (Figura 2) é um hormônio

andrógeno tendo, como todo hormônio esteróide, a molécula de colesterol como seu

precursor. Nos machos, a testosterona é produzida e secretada pelas células de

Leydig nos testículos. Nas fêmeas, pequenas quantidades desse andrógeno são

produzidas nas células da teca interna pela conversão de androstenediona e de

desidroepiandrosterona (DHEA) a testosterona, sendo essa, importante na síntese

de estradiol. A zona reticularis do córtex da adrenal também tem a capacidade de

sintetizar alguns andrógenos, como androsterona, 4-androstene-3,17-diona, DHEA e

3β,11β-diidroxi-4-androsten-17-diona, porém não consegue converter estes

andrógenos a testosterona por falta da enzima 17-cetoesteróide redutase

(NORMAN; LITWACK, 1997).

Figura 2 – Estrutura da molécula de testosterona

A síntese de testosterona está diretamente relacionada com a síntese de

GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas – gonadotropin releasing hormone)

pelo hipotálamo, o qual irá estimular a liberação de LH (hormônio luteinizante –

luteinizing hormone) pelo lóbulo anterior da hipófise. O LH, por sua vez, é o

responsável pela estimulação da síntese de testosterona nas células de Leydig

(NORMAN; LITWACK, 1997).

Parte da testosterona produzida se liga à ABP (proteína de ligação a

andrógeno - androgen binding protein), produzida nas células de Sertoli, mantendo,

30

assim, altas concentrações de testosterona nos túbulos seminíferos, fato este,

importante na espermatogênense. A outra parte é transportada para a corrente

sanguínea para atuação em outras partes do organismo (NORMAN; LITWACK,

1997).

Devido às suas propriedades lipofílicas, as moléculas de andrógenos livres

não são altamente solúveis em soluções aquosas como o sangue, podendo assim,

passar rapidamente pelas membranas celulares atingindo os órgãos-alvo ou ser

metabolizadas pelo fígado ou rim. Dessa forma, grande parte da testosterona

presente no sangue (por volta de 91%) está ligada a globulinas ligadoras de

hormônios sexuais (SHBG - sex hormone binding globulin) possibilitando um maior

tempo de circulação do hormônio na corrente sanguínea, o restante está na forma

livre (forma considerada biologicamente ativa – aproximadamente 3%) ou ligada à

albumina (uma ligação fraca, facilmente dissociada para a disponibilização da

testosterona – apoximadamente 6%) (NORRIS, 1997; NOZAKI, 2001).

A atuação dos andrógenos nos machos pode ser dividida em quatro

categorias: 1 – promover o desenvolvimento do trato reprodutivo masculino (pênis,

testículos, epidídimos, próstata, vesículas seminais, vasos deferentes e glândulas

bulbouretrais); 2 – desenvolver os caracteres sexuais secundários masculinos

(variando de acordo com cada espécie); 3 – promover um efeito estimulatório ou

anabólico no desenvolvimento do corpo (crescimento dos ossos, desenvolvimento

muscular, distribuição do tecido adiposo subcutâneo, crescimento de órgãos

acessórios); e 4 – atuação no sistema nervoso central (diferenciação de

determinadas áreas como hipotálamo e córtex cerebral e desenvolvimento da libido)

(NORMAN; LITWACK, 1997).

Os andrógenos também apresentam um papel importante nas glândulas

lacrimais, estimulando a secreção de lágrima, bem como, de seus constituintes

químicos, como sódio, potássio, proteínas e anticorpos. Estudos demonstram que

animais castrados apresentam uma redução no tamanho das glândulas lacrimais e

em suas funções secretórias, sendo estas, reestabelecidas após a suplementação

com andrógenos (SULLIVAN; BLOCH; ALLANSMITH, 1984; AZZAROLO et al.,

1997; MATHERS et al., 1998).

Os esteróides circulantes no sangue passam pelas células acinares e ductos

das glândulas salivares por difusão, devido sua solubilidade em membranas

lipídicas, e atingem a saliva. Esse mecanismo parece ser possível somente para os

31

esteróides não-conjugados, pois os esteróides conjugados não são suficientemente

lipossolúveis. A concentração dos esteróides salivares não é afetada por diferenças

na intensidade de produção de saliva (RIAD-FAHMY et al., 1982; VINING;

MCGINLEY; SYMONS, 1983). Em humanos, a testosterona salivar apresenta

valores próximos dos encontrados para a testosterona livre no sangue e por volta de

2% da concentração de testosterona total sanguínea (RIAD-FAHMY et al., 1982;

RILLING et al., 1996; FORDE et al., 2006).

Os hormônios esteróides presentes na circulação sanguínea são, em sua

grande maioria, metabolizados no fígado, porém alguma atividade catabólica

também ocorre nos rins (PALME et al., 1996; NORRIS, 1997; GRAHAM, 2004).

Inicialmente os andrógenos têm as suas duplas ligações reduzidas, inativando as

moléculas, e posteriormente são conjugados com glucoronídeos ou sulfatos

tornando-os hidrossolúveis. Os metabólitos podem retornar à circulação sanguínea

ou serem eliminados no duodeno através da bile. No sangue, os metabólitos são

filtrados pelos rins e eliminados na urina (SENGER, 2005). Os metabólitos

excretados no intestino podem sofrer ação bacteriana causando sua desconjugação.

Após isto, podem ser reabsorvidos pela circulação entero-hepática e transportados

para o fígado para serem conjugados novamente ou para os rins para serem

excretados. Os metabólitos não reabsorvidos (conjugados e não-conjugados) são

excretados pelas fezes (WHITTEN; BROCKMAN; STAVISKY, 1998; GRAHAM,

2004; TOUMA; PALME, 2005) (Figura 3).

32

Figura 3 – Figura esquemática das rotas de metabolismo e excreção da testosterona

33

2.3 UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES MATRIZES BIOLÓGICAS NA DOSAGEM

HORMONAL

O estudo da endocrinologia reprodutiva, em animais domésticos, normalmnte

é realizado com amostras sangüíneas, necessitando, em estudos mais profundos,

de coletas seriadas com intevalos curtos. Em animais selvagens e animais de

pequeno porte, essas coletas podem ficar impossibilitadas devido ao estresse

causado pela coleta (contenção física e/ou química do animal) (GUIMARÃES, 2003),

risco de flebite (animais que não apresentam vaso periférico de fácil puncionamento)

e/ou por volume sanguíneo insuficiente (CHELINI et al., 2005).

A partir dos conhecimentos sobre a distribuição dos esteróides pela corrente

sanguínea, a sua fácil passagem pelas membranas celulares, e seu metabolismo e

vias de excreção, vários trabalhos vêm sendo realizados sobre a fisiologia

reprodutiva de diferentes espécies de animais tanto de laboratório quanto

domésticos e selvagens utilizando diferentes matrizes biológicas.

Atkinson et al (1999) mensuraram progesterona em amostras de secreção

lacrimal de falsas-orcas (Pseudorca crassidens), porém não obtiveram correlação

com amostas plasmáticas. Até o presente momento não existe relato da utilizaçào

de secreção lacrimal na dosagem de andrógenos em humanos ou animais,

possivelmente devido ao baixo volume de amostra que se consegue obter na grande

maioria dos animais. Entretanto, a secreção lacrimal em peixes-bois da Amazônia,

como nos outros mamíferos aquáticos, é de consistência viscosa, espessa,

transparente, e de produção constante, principalmente quando o animal se encontra

fora d’água. Possivelmente esta secreção tem a função bacteriostática, lubrificante,

de proteção corneal e de redução da resistência hidrodinâmica, como sugerido para

golfinhos (YOUNG; DAWSON, 1992).

Amostras de saliva têm sido utilizadas na mensuração de esteróides

reprodutivos femininos (estrógenos e progesterona) e de glucocorticóides em

animais (VINCENT; MICHELL, 1992; PIETRASZEK; ATKINSON, 1994; CZEKALA;

CALLISON, 1996; CROSS; PINES; ROGERS, 2004; CROSS; ROGERS, 2004;

PEDERNERA-ROMANO et al., 2006). Já o uso de testosterona salivar tem sido

muito relatado em estudos comportamentais e de puberdade em humanos, devido a

sua grande facilidade de coleta (DABBS JR, 1993; HALPERN; UDRY;

34

SUCHINDRAN, 1998; CAMPBELL; SCHULTHEISS; MCCLELLAND, 1999;

GRANGER et al., 1999; GRANGER et al., 2004; SCHULTHEISS; WIRTH;

STANTON, 2004), entretanto, já existem relatos se sua utilização em estudos

reprodutivos e/ou comportamentais de lobos (Canis lupus) (HORVÁTH; ÚJVÁRY;

MIKLÓSI, 2007) e alguns mamíferos aquáticos mantidos em cativeiro como as

focas-monges-do-Havaí (Monachus schauinslandi) (THEODOROU; ATKINSON,

1998) e os golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) (HOGG; VICKERS;

ROGERS, 2005).

Os andrógenos urinários vêm sendo muito utilizados em estudos sobre

biologia reprodutiva e/ou comportamental de animais de laboratório, domésticos e

selvagens (em cativeiro ou vida-livre) devido a sua facilidade de coleta, podendo até

ser coletado diretamente do chão logo após a micção, e sua estreita correlação com

os andrógenos sangüíneos (LASLEY, 1985; DRAISCI et al., 2000; WILLIAMS et al.,

2000; GANSWINDT et al., 2002; MÖHLE et al., 2002; HAGEY; CZEKALA, 2003;

DECATANZARO et al., 2004; BUSSO et al., 2005; MARSHALL; HOHMANN, 2005).

Entretanto, o uso de andrógenos fecais em estudos reprodutivos é o de maior

difusão, dentre as matrizes anteriormente citadas, por ser a de mais fácil obtenção e

por necessitar de menor contato com o animal. Os andrógenos fecais já foram

mensurados em várias espécies de mamíferos (domésticos, de laboratório e

selvagens) e aves (LASLEY, 1985; BROWN; TERIO; GRAHAM, 1996; PALME et al.,

1996; HIRSCHENHAUSER et al., 2000; MÖHLE et al., 2002; GUIMARÃES, 2003;

DLONIAK et al., 2004; MORATO et al., 2004a; MORATO et al., 2004b; DIAS;

OLIVEIRA, 2006; LIMA, 2006; SCHWARZENBERGER, 2007).

A principal rota de excreção (fezes ou urina), o principal metabólito excretado

e sua forma (se conjugado ou livre) e o tempo entre a síntese do esteróide e a

excreção de seu metabólito nas fezes ou urina podem variar consideravelmente

entre as espécies e entre cada esteróide em uma mesma espécie animal (PALME et

al., 1996; SCHWARZENBERGER et al., 1996; WHITTEN; BROCKMAN; STAVISKY,

1998; GRAHAM, 2004). Estas informações são extremamente importantes para

correlacionar os hormônios estudados com os eventos fisiológicos e/ou

comportamentais observados, influenciando assim, em todo o delineamento

experimental a ser feito.

O tempo para metabolização e excreção dos esteróides pela urina está

relacionado com a taxa metabólica do animal, já a excreção pelas fezes, além da

35

taxa metabólica, está também relacionada com a taxa de passagem da digesta pelo

trato intestinal (do duodeno – onde o metabólito foi excretado pela vesícula biliar –

ao reto) (PALME et al., 1996; SCHWARZENBERGER et al., 1996; WHITTEN;

BROCKMAN; STAVISKY, 1998; MÖHLE et al., 2002; KRETZSCHMAR;

GANSLOßER; DEHNHARD, 2004; PALME, 2005)

Uma forma para a determinação das vias e tempo de excreção dos

esteróides e seus principais metabólitos de excreção é a aplicação de hormônios

radiomarcados na corrente sanguínea e posterior realização de coletas seriadas,

com intervalos curtos, de fezes e urina para a mensuração dos metabólitos

radiomarcados. Porém, deve-se lembrar sempre dos riscos inerentes de utilização

de substâncias radioativas em animais (GRAHAM, 2004). Este procedimento tem

sido realizado em várias espécies de animais domésticos e selvagens como forma

de validação fisiológica da metodologia empregada para a mensuração hormonal,

além da determinação do tempo e rotas de excreção. Para a grande maioria dos

animais o tempo de aparecimento dos metabólitos na urina é curto (menos de um

dia), já nas fezes pode variar de 12 horas a três dias (HINDLE; HODGES, 1990;

BROWN et al., 1994; MONFORT et al., 1995; BROWN; TERIO; GRAHAM, 1996;

PALME et al., 1996; SCHWARZENBERGER et al., 1996; WASSER et al., 1996;

MONFORT et al., 1997; BILLITTI; LASLEY; WILSON, 1998; HEISTERMANN et al.,

1998; VELLOSO et al., 1998; MOORMAN et al., 2002; BUSSO et al., 2005; TOUMA;

PALME, 2005).

Outra forma de garantir que as metodologias utilizadas nas análises

hormonais são capazes de expressar os eventos fisiológicos ocorridos, além

fornecer dados sobre o tempo para a excreção do metabólito, é a realização de

desafios hormonais (PALME et al., 2005). Trata-se da administração de uma droga

conhecidamente estimulante ou inibitória da produção hormonal para demonstrar a

relação de causa-efeito entre a administração exógena e a subseqüente produção

hormonal. Para a avaliação dos hormônios andrógenos pode-se utilizar uma

aplicação intramuscular de GnRH (que causará um pico de LH e posterior elevação

nos níveis de testosterona) ou de hCG (gonadotrofina coriônica humana – human

chorionic gonadotropin) que mimetizará a atuação do LH estimulando a produção de

testosterona.

O pico de testosterona pode ser observado tanto no sangue quanto nas

outras matrizes biológicas, sendo na forma de metabólito ou não. No sangue, já foi

36

observado em vários mamíferos que uma única dose intramuscular de GnRH

exógeno causa um aumento nos níveis de LH em aproximadamente 30 minutos e

um pico na testosterona plasmática entre uma a três horas após a aplicação (POST;

REICH; BINDON, 1987; GILMORE et al., 1991; BENNETT et al., 1993; BENNETT;

FAULKES; SPINKS, 1997; JUHÁSZ et al., 2000; SPINKS et al., 2000; HERBERT et

al., 2004; BROWN-DOUGLAS et al., 2005; ALLEN et al., 2006; BEIJERINK et al.,

2007; OOSTHUIZEN; BENNETT, 2007). Porém, nas outras matrizes biológicas, o

tempo para o aparecimento dos picos de LH e andrógenos irá depender de outros

fatores como a taxa metabólica, as vias de excreção do hormônio e fisiologia

digestiva da espécie, conforme já descrito anteriormente.

2.3.1 Utilização de diferentes matrizes biológicas na dosagem hormonal em sirênios

Alguns estudos já foram realizados utilizando esteróides urinários ou fecais de

sirênios. Com dugongos, Lanyon et al. (2005) mensuraram estrógenos e andrógenos

fecais de animais de vida-livre para verificar a existência de diferenças nas

concentrações hormonais entre os sexos e entre as faixas etárias, e Wakai et al.

(2002) dosaram progestinas e estrógenos urinários em uma fêmea cativa

monitorando suas variações durante dois anos. Com peixe-boi marinho da Flórida,

foram utilizadas amostras fecais, tanto de animais cativos quanto de vida-livre, para

analisar o ciclo estral, sazonalidade reprodutiva e diferenças nas concentrações

hormonais entre os sexos e entre as faixas etárias, dosando progestinas, estrógenos

e andrógenos (LARKIN, 2000; LARKIN; GROSS; REEP, 2005). Já para o peixe-boi

da Amazônia, foram realizados trabalhos comparando andrógenos fecais de machos

cativos com diferentes períodos do ciclo hidrológico dos rios da Amazônia e com a

precipitação pluviométrica (PIMENTEL, 1998), e utilizando estrógenos e progestinas

fecais para a verificação de sazonalidade e ciclo estral em fêmeas mantidas em

cativeiro (NASCIMENTO, 2004). Até o presente momento, nenhum trabalho foi

realizado com sirênios utilizando amostras de saliva ou secreção lacrimal na

dosagem hormonal.

Porém, tendo em vista que os sirênios são animais que apresentam algumas

características fisiológicas peculiares (como a taxa metabólica e a fisiologia

37

digestiva), todos os trabalhos relatam a necessidade de maior entendimento sobre o

tempo entre a síntese e a excreção dos hormônios esteróides nas espécies

estudadas para uma melhor compreensão dos resultados encontrados.

38

OBJETIVOS

39

3 OBJETIVOS

- Determinar o tempo necessário para que um pico de testosterona sérica

seja observado em outras matrizes biológicas tais como: fezes, urina,

saliva e secreção lacrimal.

- Validar biologicamente a utilização de fezes, urina, saliva e secreção

lacrimal como meios não-invasivos de mensuração de andrógenos por

meio de radioimunoensaio.

- Determinar a eficiência e a aplicabilidade da dosagem de andrógenos por

diferentes matrizes biológicas na espécie.

40

MATERIAL E MÉTODOS

41

4 MATERIAL E MÉTODOS

As descrições sobre os animais e a metodologia utilizada seguem nos tópicos

abaixo.

4.1 ANIMAIS

Foram utilizados dois machos adultos de peixe-boi da Amazônia (Quadro 1)

mantidos em cativeiro no Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus - AM,

alojados juntamente com mais 20 animais em três piscinas circulares (10m X 2,5m

de profundidade; 196m3) conectadas entre si por tanques de cambiamento (3,5m X

2,5m X 1,5m de profundidade; 13m3) (Figura 4). Cada tanque possui fonte de água e

drenagem independente. A água é retirada de um poço artesiano e circula pelos

tanques 24 horas por dia, tendo seus componentes químicos e físicos

periodicamente analisados. A temperatura da água variou entre 27 e 29ºC. Durante

o período de experimentação, cada animal foi mantido no tanque de cambiamento

para facilitar o manejo.

Os animais foram alimentados com capim colônia (Brachiaria mutica), além de

verduras e legumes diversos, em porções variadas, com o total de alimentos não

sendo inferior a 8% do peso de cada animal.

Animal Idade (anos) Peso (kg) Tamanho (cm)

A-1 > 28 325 251

A-2 > 27 216 244

Quadro 1 – Características dos peixes-bois da Amazônia utilizados neste estudo

42

Figura 4 – Tanques dos peixes-bois da Amazônia no Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA

43

4.2 DESAFIO HORMONAL

Os animais foram submetidos a um protocolo de experimentação de 12 dias

(D-1 a D10). No D0, foi aplicado o análogo de GnRH (Lecirelina, Gestran Plus -

Tecnopec - São Paulo/SP) para promover a produção de um pico fisiológico de

testosterona. A aplicação foi por via intramuscular, na região do pedúnculo caudal

utilizando agulha 40X0,8mm, na dosagem de 0,7µg/Kg (Figura 5).

Figura 5 – Aplicação do análogo de GnRH na região do pedúnculo caudal de um T. inunguis

44

4.3 COLHEITA DO MATERIAL BIOLÓGICO

As coletas foram realizadas diariamente (entre 08:00 e 09:00 horas) após a

contenção física dos animais causada pela drenagem do tanque de cambiamento.

Todo o material coletado era identificado com o nome do animal, data e hora da

coleta e congelado a -20ºC até a análise.

4.3.1 Fezes

A compressão do abdômen do animal no fundo do tanque devido à drenagem

do cambiamento sempre resultava em defecação. As fezes eram coletadas

imediatamente, com o soerguimento da nadadeira caudal, e condicionadas em

sacos plásticos (Figura 6).

Figura 6 – Coleta de fezes de T. inunguis após drenagem do tanque de cambiamento. Seta: amostra de fezes

45

4.3.2 Urina

A urina foi obtida com a lateralização do animal e compressão abdominal na

região da vesícula urinária seguindo a metodologia descrita por Pantoja (2004) e

armazenadas em frascos plásticos (Figura 7). Para compensar as variações no

consumo de água e no clearance renal, uma alíquota de cada amostra foi separada

para dosagem de creatinina urinária (Cr).

4.3.3 Saliva

A coleta da saliva foi realizada com o auxílio de uma colher de metal,

raspando levemente a mucosa bucal, e armazenada em frascos plásticos (Figura 8).

4.3.4 Secreção lacrimal

As amostras de secreção lacrimal foram coletadas, por gravidade,

diretamente da face do animal, utilizando tubos plásticos, sendo estas armazenadas

nos próprios tubos.

46

Figura 7 – Coleta de urina de T. inunguis por compressão abdominal na região da vesícula urinária

Figura 8 – Coleta de saliva de T. inunguis com o auxílio de uma colher de metal

47

4.4 ANÁLISE HORMONAL

Todo o material coletado foi dosado técnica de radioimunoensaio (RIE) em

fase sólida para testosterona total utilizando o conjunto diagnóstico comercial Coat-

A-Count® (Siemens, Los Angeles, CA, USA; antiga DPC Medlab) desenvolvido para

dosagem hormonal em soro humano.

Este conjunto diagnóstico comercial é um teste de competição entre

testosterona marcada (125I) e testosterona não-marcada (testosterona da amostra),

durante um tempo fixo, por sítios de ligação dos anticorpos específicos que se

encontram imobilizados nas paredes dos tubos de polipropileno.

O anticorpo utilizado apresenta as seguintes reações cruzadas (fornecidas

pelo fabricante): 100% testosterona, 20% 19-nortestosterona, 20% 4-estren-17-ol-3-

ona, 16% 11-cetotestosterona, 3.3% 5α-diidrotestosterona, 2.0% 19-

hidroxiandrostenediona, 1.7% metiltestosterona, 1.1% 4-estren-7α-metil-17β-ol-3-

ona, e <1% com (lista parcial) aldosterona, androstenediona, androsterona, 5-

androsten-3β,17β-diol, corticosterona, cortisol, cortisona, desidroepiandrosterona,

estradiol, estrona, progesterona e 11β-hidroxitestosterona.

A etapa de análise hormonal foi realizada no Laboratório de Dosagens

Hormonais do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (LDH-VRA-FMVZ/USP), São

Paulo – SP.

4.4.1 Fezes

As amostras de fezes foram secas em um liofilizador a vácuo (Savant

Instrument Speedvac Rotatory Evaporator, Forma Scientific Inc., OH, EUA) por 12

horas e peneiradas para remoção de alimentos não digeridos (pedaços de capim e

sementes). O material foi submetido à extração hormonal utilizando o protocolo

descrito por Graham et al. (2001).

Foi colocado 0,25g de fezes liofilizada e peneirada em um tubo de ensaio

juntamente com 5mL de metanol 80%. Os tubos foram tampados e suavemente

48

agitados por 15 horas utilizando um homogeneizador de sangue (AP22, Phoenix,

SP, Brasil). As amostras foram centrifugadas (500G, 15 minutos) e o sobrenadante

separado e armazenado a -20ºC até a análise.

Os extratos fecais obtidos foram diluídos (1:10) em tampão gelatina (0,061M

H2NaPO4.12H2O; 0,041M H2NaPO4.H2O; 0,015M NaN3; 0,154M NaCl; 1,0g gelatina;

pH 7,0) antes do RIE. A dosagem hormonal foi realizada de acordo com as

especificações do fabricante do conjunto diagnóstico comercial de RIE.

4.4.2 Urina

Antes do RIE, as amostras de urina foram submetidas a um processo de

hidrólise ácida para quebra das ligações com os conjugados. Foi pipetado 1mL de

urina para um tubo de ensaio e adicionado 200µL de ácido clorídrico (HCl, 12N). Os

tubos foram levemente tampados e incubados em banho-maria fervente por 15

minutos. Após isso, cada amostra de urina hidrolisada foi diluída (1:25) em soro

bovino depletado (carvão-dextran) e em seguida analisada hormonalmente.

Toda etapa laboratorial foi relizada de acordo com a metodologia proposta

pelo fabricante do conjunto diagnóstico comercial de RIE, com exceção do uso de

soro bovino depletado na diluição das amostras no lugar do calibrador “0” (soro

humano limpo de hormônio) por ser uma opção de baixo custo e com resultados

similares.

A creatinina urinária foi dosada colorimetricamente utilizando a reação de

Jaffé (TAUSSKY, 1954). Esta análise foi realizada na Fundação de Medicina

Tropical do Amazonas, Manaus – AM, usando o analisador químico Dade Behring

Dimension AR (Diamond Diagnostics, MA, EUA).

4.4.3 Saliva

As amostras de saliva passaram por dois ciclos de congelamento e

descongelamento, e posterior centrifugação para remoção dos mucopolissacarídeos

49

e outros resíduos. Após isso, foram submetidas a um protocolo de RIE adaptado das

metodologias propostas por Schultheiss et al. (2004) e Campbell, Schultheiss e

McClelland (1999) para aumentar a sensibilidade do teste.

Foram pipetados 200µL de saliva nos tubos de propileno e posteriormente

foram incubados por 24 horas em temperatura ambiente. Após a primeira incubação,

adicionou-se 1mL da testosterona radiomarcada e, então, os tubos foram para a

segunda incubação por 16-24 horas em temperatura ambiente. O material foi

decantado e os tubos foram medidos em contador gama por 2 minutos. Os

calibradores utilizados na construção da curva padrão foram diluídos 20 vezes em

água destilada.

4.4.4 Secreção lacrimal

Devido à caraterística peculiar das amostras de secreção lacrimal (formação

de uma gelatina consistente após o congelamento), essas foram submetidas a vários

ciclos de congelamento e descongelamento, e posterior centrifugação, até que aa

amostras se apresentassem liqüefeitas. O ensaio hormonal foi realizado seguindo o

protocolo adotado para as amostras de saliva.

4.4.5 Paralelismo

Foi realizado o teste de paralelismo utilizando matriz íntegra para avaliar se

as matrizes interferiram na ligação antígeno-anticorpo. Para tal, adicionou-se uma

concentração conhecida de testosterona a um “pool” de cada matriz com baixas

concentrações hormonais, o qual posteriormente foi diluído seriadamente utilizando

a própria matriz e dosado por RIE, comparando os resultados com a curva padrão. O

paralelismo não foi realizado para as amostras de secreção lacrimal por não ter

volume suficiente de amostras para a formação do “pool”.

50

4.5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados nas amostras urinárias foram corrigidos com o valor de

creatinina e expressos como ng/mg Cr, enquanto os andrógenos fecais foram

expressos como ng/g de fezes secas. Já a testosterona salivar e a testosterona

lacrimal foram expressas como pg/mL.

Devido ao número amostral ser pequeno, não foi possível realizar análises

estatísticas mais refinadas. Por não se ter um número grande de amostras do

período antes da aplicação hormonal, o qual possibilitaria o cálculo da média e do

desvio padrão, sendo estes os rotineiramente utilizados para a definição de pico

hormonal, optou-se por trabalhar com a mediana e o desvio interquartílico (DI) dos

dados, onde, assim, poderia se diluir os efeitos pós tratamento hormonal. A mediana

e o DI para cada matriz de cada animal foram calculados. Foi definido como pico

para cada animal como qualquer valor que ultrapassasse o dobro do DI acima da

mediana (pico > mediana+2DI) para cada matriz. O intervalo de tempo entre a

aplicação hormonal e o pico de andrógeno para cada matriz foi determinado e

comparado entre eles. Foram calculados os coeficientes de correlação de Pearson

entre as matrizes para cada animal e os valores foram considerados significantes

quando p<0,05.

A análise do paralelismo foi realizada comparando os resultados obtidos com

a curva padrão por regressão linear simples.

As análises estatísticas e os gráficos foram realizados utilizando os

programas estatísticos SPSS 12.0 (© SPSS, Inc.) e SigmaPlot 10.0 (© Systat

Software, Inc.).

51

RESULTADOS

52

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos são apresentados a seguir.

5.1 PARÂMETROS DE QUALIDADE DOS ENSAIOS HORMONAIS

O controle de qualidade dos ensaios de RIE foi realizado através da análise

dos coeficientes de variação intra-ensaio, o qual foi inferior a 13,30% para todas as

matrizes. As doses mínimas detectadas foram de 0,34 ng/dL, 0,08 ng/dL, 2,73 ng/dL

e 3,18 ng/dL de testosterona para os ensaios de saliva, secreção lacrimal, urina e

fezes, respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1 – Controles de qualidade obtidos nos ensaios hormonais de andrógenos presentes na saliva, secreção lacrimal, urina e fezes de dois peixes-bois amazônicos machos adultos

CPM Cap Lig. L.N.E Sensibilidade CV Intra CV Intra Ensaio

total B/B0 (%) % (dose ng/dL) Baixo Alto

Saliva 34152,5 48% 0,59% 98,9 (0,3448) 7,70% 12,49%

Secreção lacrimal

23336,3 56% 0,55% 99,5 (0,0784) 13,30% 1,44%

Urina 22778,5 46% 0,91% 90,8 (2,7253) 6,54% 8,02%

Fezes 36834,5 45% 0,30% 92,5 (3,1844) 1,63% 4,89%

53

5.2 PARALELISMO

Houve paralelismo entre a curva do conjunto diagnóstico comercial e as

curvas de diluição das matrizes (p<0,05 para as matrizes salivar, urinária e fecal)

dentro do intervalo de confiança de 95%, onde demonstra que as matrizes não

interferiram na ligação antígeno-anticorpo dos ensaios. Os resultados estão

expressos na tabela 2 e nos gráficos 1, 2 e 3.

Tabela 2 – Resultados da regressão linear para o teste de paralelismo entre as matrizes salivar, urinária e fecal de peixes-bois da Amazônia e a curva do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens)

Matriz F

(regressão) pa R2 (ajustado) Equação

Saliva 2308,5730 0,0149 0,9991 Y = 108,5381 + 1,0411.X

Urina 1184,0250 0,0001 0,9966 Y = 20,2244 + 0,6510.X

Fezes 474,6079 0,0002 0,9916 Y = 85,5676 + 0,5881.X

a – Significância = p < 0,05

Gráfico 1 – Representação gráfica da regressão linear entre a matriz salivar de T. inunguis e a curva padrão do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens)

Y = 108,5381 + 1,0411.X

Testosterona na curva padrão (ng/dL)

0 200 400 600 800 1000

Testosterona no "pool" de

saliva (ng/dL)

0

200

400

600

800

1000

54

Gráfico 2 – Representação gráfica da regressão linear entre a matriz urinária de T. inunguis e a curva padrão do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens)

Gráfico 3 – Representação gráfica da regressão linear entre a matriz fecal de T. inunguis e a curva padrão do conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens)

Y = 20,2244 + 0,6510.X

Testosterona na curva padrão (ng/dL)

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600

Testosterona no "poo

l" de urin

a (ng/dL

)

0

200

400

600

800

1000

Y = 85,5676 + 0,5881.X

Testosterona na curva padrão (ng/dL)

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600

Testosterona no "pool" de exrato fecal (ng/dL)

0

200

400

600

800

1000

55

5.3 DESAFIO HORMONAL

Os resultados obtidos nas dosagens hormonais e nas dosagens de Cr estão

expressos nas tabelas 3 e 4.

Tabela 3 – Resultados das dosagens de andrógenos salivares, lacrimais, fecais e urinários, e de creatinina urinária (Cr) de um peixe-boi amazônico macho (A-1) durante o desafio hormonal

A-1

Saliva Lágrima Fezes Urina Cr Dias do desafio

(pg/mL) (pg/mL) (ng/g fezes secas) (ng/mg Cr) (mg/dL)

D-1 45,14 9,11 109,87 23,64 20,9

D0 47,46 74,46 122,05 25,00 11,6

D1 49,90 42,45 155,72 17,90 8,0

D2 260,37 52,98 112,45 18,67 12,2

D3 146,39 81,71 157,68 22,26 18,4

D4 100,64 8,05 124,02 13,14 23,0

D5 678,89 222,68 126,92 648,16 32,6

D6 106,74 29,88 147,82 24,12 0,7

D7 256,50 59,15 139,35 44,79 33,4

D8 125,53 81,02 151,10 63,45 12,3

D9 55,44 76,03 172,27 69,54 13,0

D10 93,47 114,24 293,78 19,13 14,2

56

Tabela 4 – Resultados das dosagens de andrógenos salivares, lacrimais, fecais e urinários,

e de creatinina urinária (Cr) de um peixe-boi amazônico macho (A-4) durante o desafio hormonal

A-2

Saliva Lágrima Fezes Urina Cr Dias do desafio

(pg/mL) (pg/mL) (ng/g fezes secas) (ng/mg Cr) (mg/dL)

D-1 231,68 111,58 147,47 201,87 10,6

D0 202,79 54,89 116,42 96,81 9,1

D1 399,92 100,88 138,43 243,21 4,7

D2 433,19 17,89 201,90 99,27 10,1

D3 733,71 163,29 289,68 370,44 9,5

D4 178,80 15,13 210,88 47,81 14,0

D5 245,23 12,14 350,10 18,47 22,4

D6 105,95 38,64 191,28 86,44 32,3

D7 301,48 37,57 443,64 70,47 8,7

D8 280,61 106,68 686,72 136,80 11,9

D9 168,41 89,95 445,86 128,47 19,4

D10 514,85 103,03 276,76 199,61 25,4

57

Foi possível observar, nos dois animais, um pico de andrógenos nas fezes,

urina e saliva após o desafio hormonal (Tabela 5 e Gráfico 4). Porém, o pico de

andrógenos somente foi tecnicamente observado no A-1 quando analisada a matriz

lacrimal.

Tabela 5 – Análise dos andrógenos salivares, lacrimais, urinários e fecais de dois peixes-bois da Amazônia machos em resposta ao desafio hormonal com GnRH

Matriz Animal Mediana (DI) (n=12)

Picoa Aumento (%)

Dias para o picob

A-1 103,69 (119,86) 678,89 554,73 5 Saliva

(pg/mL) A-2 262,92 (211,44) 733,71 179,06 3

A-1 66,81(41,88) 222,68 233,33 5 Secreção lacrimal

(pg/mL) A-2 72,42 (73,04) 163,29* 125,48 3*

A-1 23,88 (30,44) 648,16 2614,05 5 Urina

(ng/mg Cr) A-2 113,87 (117,73) 370,44 225,32 3

A-1 143,58 (32,38) 293,78 104,60 10 Fezes

(ng/g fezes secas) A-2 243,82 (193,16) 686,72 181,65 8

a – Pico de andrógenos = >mediana + 2 DI. b – Dias entre a aplicação do GnRH e a observação do pico de andrógenos. * – Tecnicamente não caracterizado como pico (valor < mediana + 2 DI).

58

Gráfico 4 – Mudança na excreção de andrógenos salivares, lacrimais, urinários e

fecais em resposta ao desafio hormonal com GnRH em dois peixes-bois da Amazônia machos mantidos em cativeiro (A-1 e A-2). O dia 0 representa o dia de administração do GnRH. Os símbolos abertos (�;�;�;�) indicam os picos de andrógenos

A-1

-2 0 2 4 6 8 10

Andrógenos salivares (pg/m

L)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

Andrógenos urinários (ng/m

g Cr)

0

100

200

300

400

500

600

700

Andrógenos fecais (ng/g fezes secas)

0

100

200

300

400

500

600

700

800Andrógenos lacrimais (pg/m

L)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

A-2

Dias do desafio hormonal

-2 0 2 4 6 8 10

Andrógenos salivares (pg/mL)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Andrógenos urinários (ng/mg Cr)

0

100

200

300

400

500

600

700

Andrógenos fecais (ng/g fezes secas)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Andrógenos lacrimais (pg/m

L)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

59

Observou-se uma correlação significante entre as matrizes salivar, lacrimal e

urinária para ambos os animais, fato esse não observado entre a matriz fecal e as

outras matrizes (Tabela 6).

Tabela 6 – Resultados do teste de correlação linear de Pearson para as matrizes salivar,

lacrimal, urinária e fecal de dois peixes-bois da Amazônia machos (A-1 e A-2) submetidos a um desafio hormonal com GnRH

A-1 A-2 Matrizes

r pa r pa

Saliva X Lágrima 0,7825 0,0026 0,5815 0,0473

Saliva X Urina 0,9058 < 0,0001 0,7685 0,0035

Saliva X Fezes -0,2091 0,5142 -0,0187 0,9540

Lágrima X Urina 0,8514 0,0004 0,9170 < 0,0001

Lágrima X Fezes 0,2494 0,4344 0,1443 0,6547

Urina X Fezes -0,1515 0,6384 -0,1264 0,6955

a – Significância = p < 0,05

60

DISCUSSÃO

1 Informação fornecida por D’Affonsêca Neto em Manaus, em 2005.

61

6 DISCUSSÃO

O manejo populacional de uma espécie, tanto cativa quanto de vida-livre,

necessita, como base, de conhecimentos prévios sobre a biologia da espécie em

questão, sendo um dos pontos fundamentais as informações sobre a biologia

reprodutiva. Alguns estudos foram realizados sobre a endocrinologia reprodutiva de

sirênios (FRANCIS-FLOYD et al., 1991; PIMENTEL, 1998; LARKIN, 2000;

NASCIMENTO et al., 2002; WAKAI et al., 2002; NASCIMENTO, 2004; LANYON;

SMITH; CARRICK, 2005; LARKIN; GROSS; REEP, 2005). Entretanto, este é o

primeiro trabalho realizando um desafio hormonal.

6.1 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS SALIVARES

Como previsto, um pico de andrógenos foi observado nas amostras de saliva

dos dois peixes-bois da Amazônia utilizados neste estudo. Porém, estes picos

aconteceram depois do período esperado (poucas horas após a administração

hormonal). Vários trabalhos têm demonstrado que as concentrações de testosterona

salivar estão intimamente correlacionadas com as concentrações plasmáticas em

humanos devido à grande facilidade que a molécula de testosterona é transportada

do sangue para a saliva (RIAD-FAHMY et al., 1982; VINING; MCGINLEY; SYMONS,

1983; DABBS JR, 1993; NEAVE et al., 2003; SCHULTHEISS; WIRTH; STANTON,

2004; WHEELER, 2006). Com isso, descartando a possibilidade de uma demora no

transporte da testosterona plasmática para a saliva, o atraso observado neste

estudo (5 e 3 dias para A-1 e A-2, respectivamente) pode ter ocorrido em

conseqüência de uma ação retardada do GnRH exógeno no eixo hipófise-gonadal.

A escolha da agulha utilizada a aplicação intramuscular (40X0,8mm) foi

baseada na rotina de manejo veterinário dos animais alojados no LMA – INPA

(informação verbal)1. Porém, possivelmente a agulha utilizada é curta para a

administração de fármacos pela via intramuscular em peixe-boi da Amazônia (devido

a sua grande espessura de pele e de camada de gordura

62

subcutânea (MENDES, 1958; VERÍSSIMO, 1970), fazendo com que a aplicação

tenha ocorrido na camada de tecido adiposo subcutânea, levando, com isso, a um

retardamento na absorção hormonal.

A absorção de fármacos pela via intramuscular ocorre tanto

hematogenicamente como por via linfática e geralmente é rápida. Uma das

desvantagens desta via é a possibilidade de deposição inadequada nos nervos,

vasos sanguíneos, gordura ou entre as fibras musculares dos revestimentos de

tecido conjuntivo. A taxa de absorção pela via subcutânea pode ser imprevisível e

depende de vários fatores, sendo o mais importante o fluxo sanguíneo na região,

porém, geralmente a taxa de absorção tende a ser mais lenta que pela via

intramuscular. Alguns fármacos são absorvidos tão rapidamente nos tecidos

subcutâneos como nos músculos, embora a absorção nos locais de aplicações em

regiões com concentração de gordura subcutânea fique sempre significantemente

retardada (FRASER et al., 1996; BROWN, 2001; SPINOSA; GORNIAK; BERNARDI,

2006).

Outro fator agravante para o atraso na absorção hormônio exógeno poderia

ser a taxa metabólica extremamente baixa apresentada pelo T. inunguis, sendo

equivalente a 36% da taxa de um mamífero terrestre de tamanho similar

(GALLIVAN; BEST, 1980; BEST, 1981).

Entretanto, não existem trabalhos sobre farmacocinética na espécie para

possibilitar o descarte de alguma dessas hipóteses (atraso na absorção pela

aplicação no tecido adiposo e/ou pela baixa taxa metabólica). Baseado nisso,

acredita-se que o GnRH exógeno tenha tido seu efeito (ativando o eixo hipófise-

gonadal) entre os dias 4 e 5 para o animal A-1 e entre os dias 2 e 3 para o animal A-

2.

6.2 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS LACRIMAIS

Foi observado um aumento de testosterona nas amostras de secreção

lacrimal em ambos os animais (D5 e D3 para A-1 e A-2, respectivamente), porém,

somente no animal A-1 este aumento foi considerado tecnicamente como pico (<

mediana + 2 DI). Os baixos valores observados durante todo o desafio hormonal nas

63

amostras lacrimais e as baixas porcentagens de aumento observadas (179,06% e

125,48% para A-1 e A-2, respectivamente) sugerem que, apesar de ser possível

dosar testoserona em amostras de secreção lacrimal, a matriz, nas condições

propostas, não é capaz de expressar todas as possíveis variações hormonais que

possam ocorrer no animal. Entretanto, como a matriz não foi validada

laboratorialmente, realizando a teste de paralelismo, não se pode descartar uma

possível interferência da matriz nas reações antígeno-anticorpo do ensaio.

O único trabalho realizado avaliando hormônios esteróides em secreção

lacrimal foi realizado por Atkinson et al. (1999) mensurando progesterona em falsas-

orcas. Entretanto, os autores não observaram correlação entre as amostras de

secreção lacrimal e de plasma sanguíneo. Porém, para testosterona em peixe-boi

amazônico, a matriz lacrimal apresentou uma correlação significante com a matriz

salivar (p < 0,05) e principalmente com a matriz urinária (p < 0,0004) nos dois

animais, sugerindo uma possível correlação com a matriz sérica.

6.3 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS URINÁRIAS

Os picos de andrógenos foram observados na urina após 5 e 3 dias, para A-1

e A-2 respectivamente. Apesar do peixe-boi amazônico apresentar uma baixa taxa

metabólica, e do tempo de metabolização e excreção dos esteróides pela urina estar

relacionado com a taxa metabólica do animal, os resultados obtidos não devem

expressar o tempo real de metabolização e excreção dos andrógenos.

Considerando o atraso na ação do GnRH exógeno e a correlação significante

observada entre as amostras de saliva e urina em ambos os animais (p < 0,01), o

pico observado nas amostras de urina provavelmente ocorreu poucas horas após o

pico aparecer na corrente sanguínea, corroborando com o tempo de excreção dos

andrógenos pela urina observado em outros mamíferos (menos de 24 horas)

(MONFORT et al., 1995; PALME et al., 1996; BILLITTI; LASLEY; WILSON, 1998;

WILLIAMS et al., 2000; MÖHLE et al., 2002; GRAHAM, 2004; BUSSO et al., 2005).

64

6.4 DESAFIO HORMONAL X AMOSTRAS FECAIS

O tratamento com GnRH também causou um aumento significativo dos

andrógenos fecais nos dois machos utilizados nesse estudo (A-1 no D-8 e A-2 no D-

10). Adotando o atraso na ação do GnRH exógeno, o intervalo entre o possível pico

de testosterona no sangue (entre os dias 4 e 5 para o animal A-1 e entre os dias 2 e

3 para o animal A-2) e o pico de andrógenos observado nas fezes (entre cinco e seis

dias para ambos os animais) foi maior do que os relatados para outras espécies de

mamíferos herbívoros. O intervalo de tempo para o aparecimento dos andrógenos

fecais é por volta de 12-24 horas em ruminantes e entre 24-50 horas em animais

com fermentação cecal (eqüinos, suínos, rinocerontes, elefantes e primatas)

(PALME et al., 1996; SCHWARZENBERGER et al., 1996; BROWN, 2000; MÖHLE et

al., 2002; KRETZSCHMAR; GANSLOßER; DEHNHARD, 2004;

SCHWARZENBERGER, 2007)

Os metabólitos de esteróides são excretados via bile dentro do duodeno e são

transportados junto com o bolo fecal. Com isso, em espécies não-ruminantes, a

excreção dos esteróides fecais está intimamente relacionada com a taxa de

passagem do alimento pelo trato gastrointestinal (PALME et al., 1996;

SCHWARZENBERGER et al., 1996; SCHWARZENBERGER, 2007). Os sirênios

apresentam um longo tempo de passagem em comparação com o tempo de transito

gastrointestinal de outros mamíferos (WARNER, 1981; LOMOLINO; EWEL, 1984;

LANYON; MARSH, 1995; ITAVO; ROSAS; CAVALLANTE, 1996; LARKIN; FOWLER;

REEP, 2007). Itavo, Rosas e Cavallante (1996) observaram um tempo de passagem

gastrointestinal entre cinco e sete dias para peixes-boi da Amazônia, e este

resultado corrobora com o tempo de excreção dos andrógenos pelas fezes

observado no desafio hormonal (entre cinco e seis dias).

Os resultados não demonstraram correlação entre os andrógenos fecais e os

andrógenos urinários, salivares ou lacrimais, sendo claramente explicado pelo curto

período experimental e o grande intervalo entre os picos observados (cinco dias),

sendo este influenciado pelas vias de excreção.

65

6.5 COMPARAÇÃO ENTRE AS MATRIZES ANALISADAS

Como o pico de andrógenos foi observado tanto na urina quanto nas fezes,

não foi possível definir uma principal rota de excreção de andrógenos para a

espécie, sendo possível que o T. inunguis utilize as duas vias de excreção em

proporções próximas. Uma maneira de provar esta hipótese seria a administração de

andrógenos radiomarcados.

A administração de hormônios radioativamente marcados em animais

domésticos e selvagens tem sido usada para determinar a rota de excreção, o tempo

para a excreção e o tipo de metabólito excretado em maior quantidade na urina e

nas fezes (HINDLE; HODGES, 1990; BROWN et al., 1994; MONFORT et al., 1995;

BROWN; TERIO; GRAHAM, 1996; PALME et al., 1996; SCHWARZENBERGER et

al., 1996; WASSER et al., 1996; MONFORT et al., 1997; BILLITTI; LASLEY;

WILSON, 1998; HEISTERMANN et al., 1998; VELLOSO et al., 1998; MOORMAN et

al., 2002; TOUMA et al., 2003; BUSSO et al., 2005). Entretanto, este procedimento é

muito trabalhoso, necessitando coletas de amostras seriadas com curtos intervalos

de tempo (30 minutos a três horas) durante duas semanas, impossibilitando assim a

sua realização em peixes-bois amazônicos. Outro fator agravante é o risco inerente

no uso de substâncias radioativas em animais (GRAHAM, 2004).

Os resultados demonstraram a viabilidade da utilização de amostras de

saliva, urina e fezes para o monitoramento reprodutivo de peixes-bois da Amazônia

machos. Porém, a escolha de qual matriz biológica será usada no manejo

reprodutivo deve considerar a facilidade de coleta das amostras, as etapas

laboratoriais necessárias e se a matriz escolhida será capaz de responder a questão

levantada.

As amostras de saliva apresentam como desvantagens a necessidade de

contato íntimo com o animal para a realização de sua coleta (drenagem do tanque e

manipulação do animal), o baixo volume da amostra (em média 500µL) e a

obrigatoriedade de um ajuste no protocolo de RIE (aumentando o tempo para a

obtenção dos resultados). Sendo que, a grande vantagem é a proximidade com o

evento fisiológico o qual está sendo demonstrado, sendo este fator de grande

importância no manejo reprodutivo de espécies em cativeiro.

66

Do mesmo modo, as amostras de urina também necessitam de manipulação

do animal para a sua coleta e de etapas laboratoriais mais laboriosas como a

hidrólise para a desconjugação dos metabólitos e a dosagem de creatinina urinária

para a correção dos resultados. Porém, a vantagem em sua utilização, assim como a

saliva, é o fornecimento de resultados mais próximos do evento fisiológico.

Tanto para saliva quanto para urina, o problema da necessidade de drenagem

do tanque para sua obtenção poderia ser resolvido com o condicionamento dos

animais para colaborarem com as coletas, como já foi demonstrado com falsas-

orcas (ATKINSON et al., 1999) e focas-monge-do-Havaí (Monachus schauinsland)

(THEODOROU; ATKINSON, 1998) para coleta de saliva, e com orcas (Orcinus orca)

(WALKER et al., 1988; ROBECK et al., 2004), golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops

truncatus) (ROBECK et al., 2005), dugongos (WAKAI et al., 2002) e peixes-bois

marinhos (COLBERT et al., 2001; LIMA et al., 2005) para coleta de urina.

Já as amostras de fezes, são as mais fáceis de serem obtidas, podendo ser

coletadas boiando na água logo após a defecação. Porém, necessitam de liofilização

e extração hormonal tornado sua manipulação laboratorial mais trabalhosa. Outro

importante fator desfavorável à matriz fecal é o longo intervalo entre o resultado

obtido e o evento fisiológico. Apesar destas desvantagens, é a única matriz de fácil

trabalho em animais de vida-livre, por não necessitar de nenhum contato com o

animal (nem mesmo visual) para a sua coleta. Os animais podem ser rastreados por

radio-telemetria e as amostras coletadas nas proximidades de onde se encontra o

animal podem ser aliadas a técnicas de análises genéticas para a identificação do

indivíduo, como tem sido realizado com baleias-francas-do-Norte (Eubalaena

glacialis) (ROLLAND et al., 2005; HUNT et al., 2006; ROLLAND et al., 2006).

Há uma necessidade de mais estudos sobre o uso de secreção lacrimal no

monitoramento reprodutivo de peixes-bois da Amazônia machos, porém, nas

condições aqui apresentadas, sua utilização é inviável por não ser capaz de

demonstrar as variações hormonais ocorridas. Outros fatores que devem ser levado

em consideração são a forma de coleta (necessidade de manipulação do animal) e a

manipulação da amostra no laboratório (necessidade de vários ciclos de

congelamento e descongelamento para liqüefazer a amostra e uso do protocolo

ajustado como nas amostras salivares). Com isso, comparando as matrizes salivar e

lacrimal, onde as desvantagens de uso são as mesmas, a priimeira se apresenta

como uma melhor opção já é capaz de expressar os eventos fisiológicos.

67

Esses resultados, apesar de serem provenientes de somente dois animais e

do sexo masculino, podem ser utilizados como referência para estudos futuros sobre

a fisiologia reprodutiva de peixes-bois da Amazônia fêmeas, além de outros sirênios.

No entanto, é necessário sempre lembrar que a principal rota de excreção dos

esteróides pode variar consideravelmente entre as espécies, bem como entre os

esteróides em uma mesma espécie (SCHWARZENBERGER et al., 1996).

68

CONCLUSÕES

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7 CONCLUSÕES

Nas condições em que foi realizado o experimento, é possível concluir que:

- O conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens) foi

validado biologicamente para a quantificação de andrógenos salivares, urinários e

fecais de peixes-bois da Amazônia machos.

- Os andrógenos lacrimais, apesar de serem possíveis de ser mensurados pelo

conjunto diagnóstico comercial Testosterona Total Coat-A-Count® (Siemens),

aparentemente não são capazes de demonstrar os eventos fisiológicos em T.

inunguis de forma confiável.

- As concentrações de andrógenos presentes na saliva, urina ou fezes são capazes

de refletir consistentemente eventos fisiológicos, sendo uma importante ferramenta

no monitoramento reprodutivo de T. inunguis.

- Apesar dos andrógenos fecais apresentarem um longo intervalo entre o evento

fisiológico e sua observação, eles podem ser utilizados no monitoramento

reprodutivo de peixes-bois da Amazônia de vida-livre devido à facilidade na coleta

de amostras de fezes.

- Andrógenos salivares e urinários são capazes de refletir os eventos fisiológicos

mais próximos de sua ocorrência, se tornando ferramentas mais acuradas para o

manejo reprodutivo de peixes-bois amazônicos em cativeiro.

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REFERÊNCIAS

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